Hoje Macau 14 DEZ 2020 #4690

Page 1

MOP$10

SEGUNDA-FEIRA 14 DE DEZEMBRO DE 2020 • ANO XX • Nº4670 ANABELA CANAS

NOVO MACAU

TIAGO ALCÂNTARA

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

PASSEIO DE ZHAN ZIQIAN PAULO MAIA E CARMO

DSEJ

PENSAR DÓI

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

GCS

PÁGINA 4

ILHA DA MONTANHA

CASA NO ESCRITÓRIO PÁGINA 6

HABITAÇÃO

SANDES DE BETÃO PÁGINA 7

O QUARTO CONTINENTE JOSÉ SIMÕES MORAIS

DEZEMBRO

ANABELA CANAS

h

hojemacau ANOS

Olhos na Montanha O Comissariado da Auditoria considera que a gestão do projecto do Parque de Medicina Tradicional Chinesa, em Hengqin, sai cara ao erário público. A entidade criticou a Macau Investimento e Desenvolvimento por ter inflaccionado a estimativa de custos do projecto em vários milhares de milhões de yuan. O secretário Lei Wai Nong prometeu aumentar a fiscalização e fundir as mais de 20 subsidiárias da empresa de capitais públicos. O preço do parque está estimado em mais de 16 mil milhões de yuan.

PUB

GRANDE PLANO


2 grande plano

14.12.2020 segunda-feira

AUDITORIA

A MONTANHA DAS O PROJECTO DE MEDICINA TRADICIONAL CHINESA EM HENGQIN CONSIDERADO DISPENDIOSO

O Comissariado da Auditoria considera que o modelo adoptado pela Macau Investimento e Desenvolvimento para a gestão do Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa na Ilha da Montanha é “dispendioso” e deve ser revisto. Em reacção, Lei Wai Nong prometeu aumentar a fiscalização e fundir filiais

Comissariado da Auditoria (CA) considerou “dispendioso” e contraditório o modelo de desenvolvimento adoptado pela Macau Investimento e Desenvolvimento (MID) para a gestão do Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa em Hengqin (Ilha da Montanha). Segundo um relatório divulgado na passada sexta-feira, a entidade fiscalizadora questiona o modelo de gestão e construção “por conta própria” pela empresa de capitais públicos, sem que, para isso, tenham sido avaliados os prós e contras de outros modelos de desenvolvimento e respectivas estimativas de custos. “Em 2016, a MID fez uma estimativa dos custos de desenvolvimento de todo o Parque Industrial por conta própria, servindo esta estimativa de referência para as dotações a requerer junto do Governo (...) para os anos subsequentes. A auditoria verificou que antes de se optar pelo “modelo de desenvolvimento do terreno por conta própria, não houve qualquer análise às

“Não houve qualquer análise às vantagens e desvantagens de outros modelos de desenvolvimento e das estimativas dos custos.” COMISSARIADO DA AUDITORIA

vantagens e desvantagens de outros modelos de desenvolvimento e das estimativas dos custos de cada modelo de desenvolvimento. Tal mostra que a MID não levou a cabo uma análise abrangente e profunda das questões”, pode ler-se no relatório. O modelo adoptado foi o “arrendamento sem venda”. A auditoria entende que com uma análise comparativa de modelos de desenvolvimento do terreno teria sido possível “saber, com certeza, quais as vantagens e desvantagens, bem como os custos de cada modelo”. É também referido que o facto de a MID ter feito “preparativos para uma eventual venda dos

terrenos” demonstra que “houve contradições entre as decisões tomadas e a sua aplicação prática”. O CA aponta ainda que, de acordo com as estimativas apresentadas pela MID num novo plano elaborado em 2019, o valor total previsto para o parque de medicina tradicional chinesa seria de 16.353 milhões de renminbi, montante superior em 2.600 milhões de renminbi previstos nas estimativas elaboradas em 2014, que eram de 13.768 milhões. Ficam assim por explicar “os benefícios concretos do novo plano”, sendo que a MID “carece de clareza” sobre os resultados a alcançar e os fundamentos da análise que levou a cabo. A estimativa da MID prevê também a alocação de 6.501 milhões de renminbi, relativa aos custos de investimento em todos os projectos de construção em conta própria. Contudo, o CA refere que, se a empresa de capitais públicos continuasse a adoptar o modelo de desenvolvimento de conta própria sobre os terrenos cujo modelo de desenvolvimento não está definido, “os seus accionistas teriam de investir mais 8.262 milhões de renminbi”. O relatório dá ainda nota para o facto de a MID ter ido avante com o modelo de construção por conta própria, apesar de se ter verificado que a maioria dos potenciais


grande plano 3

segunda-feira 14.12.2020

S PATACAS investidores preferiam modelos alternativos. “Após a recolha e análise dos dados, verificou-se que a maioria dos potenciais investidores preferiam um dos seguintes modelos: arrendar o terreno ao titular do direito de uso, arrendar as instalações ou a construção conjunta. Porém, a MID acabou por decidir que todos os terrenos que já tivessem propostas de desenvolvimento seriam desenvolvidos por conta própria”.

RESORT À DERIVA

Também sobre o projecto de desenvolvimento integrado da Ruilian Wellness (Hengqin) Resort, dedicado à prestação de serviços de cuidados médicos, saúde e de hotel, o relatório do CA acusa a MID de apresentar “apreciações contraditórias” para justificar a opção de exploração por conta própria. “A MID nunca considerou nem analisou as vantagens e desvantagens da exploração de um hotel por conta própria e por conta de uma empresa que se vier a estabelecer no Parque”, aponta o CA. O documento refere ainda que a MID foi incapaz de fornecer documentos de análise e registos de trabalho relacionados com as estimativas de retorno a 10 anos, fixadas em 8,3 por cento, e apresen-

[Desde 2011] foram feitos seis aumentos de capital, no valor de 9.285 milhões de patacas

tadas pela empresa de consultoria em 2017. Em vez disso, e na ausência do relatório final, o organismo “apenas obteve um PowerPoint e um balancete elaborados na altura pela empresa de consultoria”. O ajuste da taxa interna de retorno para os 6,2 por cento com base num período de exploração a 20 anos apresentado em 2020 pela empresa de consultoria originalmente contratada e a nova empresa de consultoria, levantou também dúvidas ao CA. “Como a MID não analisou devidamente a taxa de retorno estimada pela empresa de consultoria, nem recebeu desta o relatório final, é difícil saber se a estimativa original era demasiado

optimista ou se o desenvolvimento do projecto de empreendimento não correu conforme o planeado”.

LUCROS E INCERTEZAS

Considerando que existem “incertezas quanto à possibilidade de o modelo de desenvolvimento actual chegar a um ponto de equilíbrio ou que venha a gerar lucro”, o CA considera que a MID deve rever várias questões “ponto por ponto”. Das opções a considerar, fazem parte a necessidade de constituir um grande número de subsidiárias, o estabelecimento de um mecanismo de fiscalização viável, definir o que se pretende com o Parque Industrial e o seu modelo de exploração e ainda fazer uma análise aos riscos dos investimentos feitos no empreendimento hoteleiro. “A MID deve analisar com rigor os modelos e o plano de desenvolvimento do terreno do Parque Industrial, e fazer com que as tarefas confiadas pelo Estado

SULU SOU PEDE SUSPENSÃO

A

través de interpelação escrita, Sulu Sou quer saber se o Governo pondera suspender o modelo de desenvolvimento “por conta própria” adoptado pela MID. O objectivo, segundo o deputado, é salvaguardar a boa utilização do erário público. Citando o relatório do CA, Sulu Sou aponta que foi escolhido “o caminho mais caro” e lembra que o Executivo deve assegurar as qualificações dos quadros superiores da MID. Isto, porque o presidente do conselho da administração da MID é simultaneamente o dirigente das 17 subsidiárias que operam no projecto do Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa. Por escrito, Sulu Sou pergunta ainda se o Governo está atento ao facto de existirem “menos de 20 funcionários locais” a trabalhar no projecto e se estão acauteladas as devidas oportunidades de promoção profissional.

sejam cumpridas com rigor para, deste modo, contribuir para o bom desempenho na cooperação entre Guangdong e Macau”, pode ler-se no documento. Além disso, o CA sublinha que, tratando-se de uma empresa de capitais públicos, antes de se decidir por investimentos que envolvam montantes significativos do erário público, “a MID deve explicar aos accionistas de forma clara e detalhada o investimento em causa, como será gerido o lucro, para assim provar que o investimento se justifica”. Desde a sua criação, em 2011, até 31 de Dezembro de 2019, a MID detinha, no total, 21 subsidiárias, incluindo 17 empresas a operar no projecto do Parque Industrial e quatro empresas a operar no projecto Zhongshan.

“Será avaliada (...) a situação operacional das filiais da MID e procedido, com pragmatismo, à fusão das mesmas.” LEI WAI NONG SECRETÁRIO

Durante o mesmo período, foram feitos seis aumentos de capital, no valor de 9.285 milhões de patacas, sendo que o valor total despendido nos projectos de investimento foi de 8.964 milhões. Deste valor, 8.074 milhões foram investidos no projecto do Parque Industrial e 890 milhões foram investidos no projecto Zhongshan.

MENOS É MAIS

Reagindo ao relatório do CA, o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong referiu, em comunicado, já ter dado instruções à MID para avaliar” de

forma aprofundada e efectiva” os seus modelos de gestão e operação. Em cima da mesa, estão planos de reforma e ajustamento globais, o reforço do mecanismo de fiscalização, a elevação da eficiência através do bom aproveitamento dos recursos públicos e ainda, a fusão de filiais da MID. As instruções vêm em linha com o que foi definido pelo Chefe do Executivo no relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2021. “Será avaliada, de forma global, a situação operacional das filiais da MID e procedido, com pragmatismo, à fusão das mesmas, pretendendo (...) simplificar a estrutura da MID, optimizando a sua gestão e melhorando a qualidade do seu desempenho”, avançou o secretário. Quanto aos terrenos que estão por explorar Lei Wai Nong aponta que “serão realizados estudos e delineados novos posicionamentos”, com o objectivo de “fazer melhores preparativos em prol do desenvolvimento industrial e fomentar a industrialização da medicina tradicional chinesa”. O secretário aponta ainda que os cargos da direcção “devem ser desempenhados por indivíduos dotados de senso comercial, conhecimento sobre eficiência económica e capacidade de gestão empresarial” e que, por essa razão, a colocação de pessoal será feita a partir de agora, tomando essa direcção Face às sugestões apresentadas no relatório do CA e as orientações do Chefe do Executivo, Lei Wai Nong exige que a MID avalie aprofundadamente todos os aspectos relevantes, “aquando da realização de quaisquer actividades de investimento ou projectos de desenvolvimento”, tendo sempre em mente “a utilização com cautela dos erários públicos”. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com


4 política

14.12.2020 segunda-feira

POLÍTICA DA JUVENTUDE DSEJ TROCA PENSAMENTO CRÍTICO POR “PRUDENTE”

Pensar dentro da caixa TIAGO ALCÂNTARA

ou prudente também se articulam alguns conteúdos que não contradizem o pensamento crítico”, disse Cheong Man Fai, acrescentando que por vezes traduções são alteradas devido a “questões linguísticas ou culturais”.

ESCALA EMOCIONAL

Apesar de o patriotismo ser uma das prioridades do plano para a Política da Juventude, não existem critérios para analisar se um jovem alcança o objectivo. Cheong Man Fai frisou que o “sentimento de amor pela pátria é um sentimento pessoal”, à semelhança do amor pela família, e que passa pela pessoa “estar ciente e saber que o Estado, o país, merece protecção”. A responsável esclareceu que há critérios para avaliar a implementação da política da juventude, mas não para apreciar o sentimento patriótico. “Será que os alunos vão ajudar ou dedicar-se ao país quando este enfrenta uma grande dificuldade? Tudo isso é difícil de avaliar. (...) Não vamos avaliar os alunos com critérios fixos”, descreveu.

A DSEJ garante que a independência de raciocínio está salvaguardada, apesar de a versão chinesa da Política da Juventude conter o termo “pensamento ponderado”, em vez de “crítico”. A chefe do departamento de juventude frisou que os alunos devem ter uma atitude prudente

A

Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) defendeu na sexta-feira a substituição do termo “pensamento crítico” por “ponderado” no documento em chinês da Política da Juventude para a próxima década. A chefe do departamento de juventude da DSEJ, Cheong Man Fai, argumentou que não se está a restringir o pensamento dos jovens, apontando razões culturais para a troca. “Na nossa cultura chinesa criticar pode ter um sentimento de negar, ou uma atitude ou posição oposta a tudo”, disse em conferência de imprensa.

No dia anterior, a Associação Novo Macau tinha alertado para as diferenças nos documentos em chinês e português. Sulu Sou considera que a troca do termo “pensamento crítico” está relacionada com o receio do impacto dos movimentos sociais de Hong Kong e outras regiões nos jovens de Macau. “Sempre enfatizámos o ‘critical thinking’ [como] um pensamento independente”, frisou Cheong Man Fai, descrevendo que os alunos “devem ter conhecimentos suficientes, uma visão alargada e assim poderem julgar o que é correcto ou incorrecto”. A responsável enten-

de que os jovens devem adoptar “uma atitude muito prudente”, só julgando as coisas depois de as conhecerem. A mudança de terminologia na versão em chinês surgiu durante a recolha de opiniões para a elaboração do documento. “Os alunos devem ter uma atitude ainda mais prudente. Depois de recolher as opiniões do público e revermos o significado deste termo, pensamos que o pensamento prudente ou moderado é melhor”, disse Cheong Man Fai. A responsável da DSEJ apontou que o público também considera o termo “mais adequado”. No entanto, não avançou de quem partiu a ideia. “É difícil indicar qual foi a associação que sugeriu a alteração desse termo”, disse a chefe de departamento. Em resposta aos jornalistas, frisou que a liberdade dos alunos se mantém. “Não estamos a mudar, limitar ou colocar uma restrição ao seu pensamento. Muito pelo contrário. O pensamento crítico será ainda mais restritivo, porque dentro do pensamento moderado

“O pensamento crítico será ainda mais restritivo, porque dentro do pensamento moderado ou prudente também se articulam alguns conteúdos que não contradizem o pensamento crítico.” CHEONG MAN FAI DSEJ

Wong Kin Mou, chefe do departamento de estudos e recursos educativos da DSEJ, defendeu que temas como o amor à pátria e a saúde mental dos estudantes têm recebido atenção, mas que “só com continuidade” é possível melhorar. A DSEJ recolheu mais de 500 opiniões durante as sessões de consulta pública sobre a nova Política da Juventude. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo

DSC Atribuídos louvores a 62 funcionários

O director da Direcção dos Serviços Correccionais (DSC), Cheng Fong Meng, desafiou os membros da direcção a demonstrar “espírito de equipa”, a serem “corajosos para assumirem as responsabilidades” e agirem com “ousadia” no âmbito das funções. Foi este o discurso do responsável, proferido na manhã de sexta-feira, na cerimónia de atribuição de louvores. No evento que contou com a participação do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, foram atribuídos louvores colectivos a 3 subunidades, a 62 trabalhadores e ainda medalhas por aposentação e medalhas por tempo de serviço a 95 trabalhadores.

Desemprego Leong Sun Iok quer Governo mais atento a jovens

O deputado Leong Sun Iok acredita que as formações subsidiadas para desempregados são eficazes, mas diz que é preciso melhorar as condições de acesso aos empregos, principalmente no final dos estágios. A ideia foi deixada no sábado, durante uma feira de emprego organizada pela Federação das Associações dos Operários de Macau. De acordo com declarações citadas pelos órgãos de comunicação em língua chinesa, Leong falou de desemprego estrutural devido à pandemia e apelou ao Executivo para arranjar soluções para licenciados que não conseguem entrar no mercado do trabalho. Ao longo de dois dias, 23 empresas disponibilizaram 1.500 empregos em áreas como a restauração, hotelaria e área dos transportes.


política 5

segunda-feira 14.12.2020

PANDEMIA AGNES LAM REVELA QUE PELO MENOS 150 FAMÍLIAS ESTÃO SEPARADAS

Separação de bens RÓMULO SANTOS

As restrições à entrada de estrangeiros em Macau levaram à separação de mais de 150 famílias. A deputada Agnes Lam já enviou três cartas ao Executivo com a intenção de sublinhar o impacto da medida

“Há sempre algumas pessoas que dizem: ‘Não voltem. Se querem encontrar-se porque não vão para o Reino Unido, ou para outro lugar, em vez de se juntarem em Macau?’ Há pessoas assim.”

C

ERCA de 150 famílias de Macau estão separadas devido à pandemia e às restrições fronteiriças. A informação foi avançada pela deputada Agnes Lam, ao Canal Macau, e tem por base os pedidos de auxílio que recebeu. Desde 19 de Março que trabalhadores não-residentes e turistas sem nacionalidade chinesa estão impedidos de entrar na RAEM. No caso dos estrangeiros, a entrada pode ser garantida desde Dezembro, desde que estejam no Interior nos 14 dias anteriores, onde a entrada também está restringida, e em condições especiais, como a existência

W

querem casos importados. Não querem mais. Querem manter o número sempre nos zeros casos de infecções”, explicou. Desde o início da pandemia, a RAEM registou 46 casos sem qualquer morte. O último caso identificado ocorreu a 25 de Junho. Agnes Lam acredita que apesar da situação, a medida de impedir a entrada de estrangeiros tem o apoio de parte da sociedade.

AGNES LAM DEPUTADA

de familiares na RAEM. Todos os processos têm de ser processados caso a caso pelas autoridades competentes de Macau, e não há entradas garantidas automaticamente. Anteriormente já tinham sido apresentados casos pontuais de famílias divididas, devido a um dos membros não ter nacionalidade chinesa, mas, ao Canal Macau, a deputada

AN Kuok Koi, conhecido como Dente Partido, recusa ser membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) e pede aos Estados Unidos para porem fim às “sanções maliciosas”. Foi desta forma que o ex-líder da tríade 14 quilates respondeu, através de uma mensagem de vídeo, depois de ter visto o seu nome, e a Associação Mundial de História e Cultura de Hongmen, que dirige, na lista negra do Departamento do Tesouro. “Sobre as sanções maliciosas que me foram aplicadas, e à Associação Mundial de História e Cultura de Hongmen, pelo Departamento do Tesouro dos EUA, declaro o seguinte: sou patriota, mas não sou membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês”, esclareceu. “É dito

afirma que recebeu mais de 150 queixas. “Desde as férias do Verão, entre Julho, Agosto até Setembro enviámos, não exactamente uma petição, mas uma carta ao Governo com toda a informação sobre estas famílias que pedem ajuda”, afirmou Agnes Lam. “Na altura, enviámos pedidos para mais de 80 famílias. A segunda vez que fizemos pedidos,

foi no final de Setembro, início de Outubro. Nessa altura, eram pedidos de 50 famílias. E depois fizemo-lo novamente no mês passado, em Novembro. Eram 20 e tal famílias- Fizemo-lo três vezes. No total, mais de 150 famílias”, acrescentou.

CIDADE FECHADA, CIDADE SEGURA

Para a deputada, as medidas que estão em vigor desde

“Eu amo o nosso país”

Wan Kuok Koi desmente Estados Unidos e sente-se difamado

que a ascensão e queda de uma nação diz respeito a todos. Eu amo o nosso país, a associação cumpre sempre as leis, e nunca comete ilegalidades, muito menos em nome da Iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’”, garantiu.

Na semana passada, o Governo dos EUA aplicou sanções a Wan Kuok Koi, o que significa que qualquer bem que tenha naquele país fica congelado, assim como os cidadãos norte-americanos ficam impedidos de estabelecer relações comerciais com ele. Foi também afirmado que fazia parte da CCPPC, informação desmentida pelo Governo de Pequim. Além disso, constava ainda que Wan utilizava a associação para promover a iniciativa Uma Faixa, Uma Rota, através de meios ilegais.

DIREITO À DEFESA

Wan Kuok Koi ataca as acusações, que considera difamatórias

Março, apesar de um relaxamento em Dezembro, são vistas pelo Executivo como fundamentais para transmitir uma imagem de segurança face a infecções por covid-19. “Parece que o Governo está muito preocupado com o nome de Macau como cidade segura. Têm medo, não querem mais casos. Eu acredito nisso”, interpretou face à rigidez das medidas. “Nem sequer

e resultarem em danos para a sua pessoa: “Protesto vigorosamente contra este tipo de conduta do Departamento do Tesouro dos EUA, e reservo o direito de defender os meus interesses”, frisou. “Peço aos EUA para acabarem imediatamente com estes actos que danificam a minha reputação e a da associação”, apelou. Segundo as justificações do Departamento do Tesouro, já desmentidas pelo Governo Central, Wan utilizou a Associação Mundial de História e Cultura de Hongmen em países como Camboja e Malásia para ajudar, por vezes por vias ilegais, Pequim a alcançar os seus objectivos no âmbito da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”. J.S.F.

“Há sempre algum tipo de discussões quando levanto a questão. Quando faço uma publicação, vejo que a família agradece, mas também há sempre algumas pessoas que dizem: ‘Não voltem. Se querem encontrar-se porque não vão para o Reino Unido, ou para outro lugar, em vez de se juntarem em Macau?’ Há pessoas assim.”, relatou a deputada. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

Covid-19 Quarentena para quem passou por Turfã em Xinjiang

Quem tenha passado nos 14 dias anteriores antes a entrar em Macau pela cidade de Turfã, na Região Autónoma de Xinjiang-Uigur, será sujeito a quarentena obrigatória durante 14 dias. A medida divulgada pelo Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, que entrou ontem em vigor, foi tomada tendo em consideração a evolução epidemiológica mais actualizada na Região Autónoma de Xinjiang-Uigur. Fica sujeito a quarentena obrigatória também quem tenha estado na Vila de Xipu em Chengdu, na província de Sichuan, nos 14 dias anteriores à entrada em Macau.


6 política

R

14.12.2020 segunda-feira

ESIDENTES alegadamente lesados na compra de fracções no Interior da China entregaram na sexta-feira uma petição ao Governo. De acordo com o deputado Pereira Coutinho, que apoiou a iniciativa, quase todos os indivíduos afectados apresentaram queixa no Interior da China, mas a resposta foi “sempre negativa”. “E é por não haver solução e não haver luz ao fundo do túnel que estão cá hoje (sexta-feira), para pedir a intervenção do Chefe do Executivo”, observou em declarações aos jornalistas. “Não tinham licença para ocupação habitacional. Foram ‘burlados’ porque sempre lhes disseram que não obstante as lojas serem para uso comercial, a parte de cima era destinada a habitação”, explicou. O deputado destacou ainda a intervenção de imobiliárias locais no processo. “Muitas dessas pessoas foram ter com empresas imobiliárias em Macau, cujos agentes sugeriram, e inclusivamente acompanha-

HABITAÇÃO GOVERNO RECEBE PETIÇÃO SOBRE COMPRA DE CASA NO INTERIOR DA CHINA

Um escritório por lebre

Vários residentes queixaram-se ao Chefe do Executivo de terem sido lesados na compra de casas no Interior da China e pediram ajuda. Depois das queixas apresentadas do outro lado da fronteira não terem surtido efeito, os lesados têm esperança que as comissões de trabalho criadas no âmbito da Grande Baía sejam a solução

ram essas pessoas a Zhuhai, para comprar essas fracções, recebendo uma comissão por esse trabalho”. Na procura de uma solução, o grupo que se sente lesado voltou-se para o Governo. Além de alertar a população para os riscos de investir na China Continental “face às diferenças de regimes e sistemas legais na resolução de litígios civis”, os residentes “estão esperançados que sejam encontradas soluções no quadro das múltiplas Comissões de Trabalho que foram constituídas nos últimos cinco PUB

AVISO N.° 48/AI/2020 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se os infractoros abaixo discriminados:----------------------- 1. Mandado de Notificação n.° 725/AI/2020: LAM SOI KAI, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.° 50456xx(x), que na sequência do Auto de Notícia n.° 126/DI-AI/2018 levantado pela DST a 27.06.2018, e por despacho da signatária de 17.11.2020, exarado no Relatório n.° 748/DI/2020, de 30.10.2020, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $690.000,00 (seiscentas e noventa mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada no Pátio de Lourenço Marques n.° 23-B, Kai Yuen Toi R/C O, Macau onde se prestava alojamento ilegal.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2. Mandado de Notificação n.° 851/AI/2020: HO SEK CHUN, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.º 51560xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 103/DI-AI/2018 levantado pela DST a 25.05.2018, e por despacho da signatária de 18.11.2020, exarado no Relatório n.° 865/DI/2020, de 27.10.2020, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Rua do Canal das Hortas, n.° 38, Edf. Toi San Peng Man Tai Ha, Bloco A, 2.° andar sala 216 onde se prestava alojamento ilegal. ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 3. Mandado de Notificação n.° 894/AI/2020: LEI CHI KIN, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.º 12462xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 231/ DI-AI/2018 levantado pela DST a 28.11.2018, e por despacho da signatária de 17.11.2020, exarado no Relatório n.° 916/DI/2020, de 09.11.2020, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.° 898, Edf. Iao I, 10.° andar H onde se prestava alojamento ilegal. ---------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Da p resente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 30 dias, conforme disposto na alínea a) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.-------------------------------------------------------------Desta decisão pode os infractoros, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-----------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.--------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.-------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 1 de Dezembro de 2020. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

anos no âmbito da expansão comercial e social da Grande Baía”, indica Pereira Coutinho em comunicado. Como estes grupos de trabalho têm comunicado sobre problemas profissionais, sociais e impostos, o deputado espera que o assunto seja posto “na ordem do dia”. O legislador estima que haja centenas de pessoas lesadas, mas aponta que por motivos profissionais, de privacidade, e de tentar recorrer a outras vias, muitas não querem dar a cara. “Em todo o caso, o problema é idêntico. Ou é falta de dinheiro para poder construir habitação, ou então vender gato por lebre. Ou seja, quererem impingir escritórios quando na realidade é impossível

“Muitas dessas pessoas foram ter com empresas imobiliárias em Macau, cujos agentes sugeriram, e inclusivamente acompanharam essas pessoas a Zhuhai, para comprar essas fracções, recebendo uma comissão por esse trabalho.” PEREIRA COUTINHO DEPUTADO

ter licença de ocupação habitacional”. O valor mais alto deverá atingir os quatro milhões de renminbis.

SENTIR NA PELE

Uma das lesadas, que marcou presença na entrega da petição, confirmou que a fracção que adquiriu não pode ser usada para fins habitacionais e que, caso o Governo não preste assistência será impossível resolver o problema. “Foi a primeira vez que comprámos casas no Inte-

rior da China e não sabíamos as cláusulas. Só depois de termos assinado e pago tudo é que fomos informados que as habitações eram, na verdade, escritórios”, partilhou. Aos jornalistas, a residente disse ainda que, desde que tomou conhecimento da fraude em Março, dirigiu-se a várias entidades públicas do Interior, tendo sido sempre aconselhada por todas elas para enveredar pela via judicial. Outra lesada que se deslocou à sede do Governo

Habitação Empréstimos caíram 60 por cento em Outubro O montante dos novos empréstimos para a habitação teve uma quebra de 59,8 por cento em Outubro, face ao mês anterior, para 2,74 mil milhões de patacas. Os dados foram revelados

na sexta-feira pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM). A maioria dos empréstimos foram destinados a residentes, com uma proporção de 98,7 por cento, ou seja 2,7 mil milhões

de patacas. Os empréstimos contraídos por residentes registaram uma quebra de 47,2 por cento. Já os empréstimos de não-residentes foram de 34,9 milhões de patacas.

para pedir ajuda contou que desembolsou 2,86 milhões de renminbi em Setembro de 2018 pela compra de uma habitação no Interior da China com fins comerciais. Contudo, apenas em Janeiro de 2019 teve acesso ao contrato, afirmando que “95 por cento das cláusulas defendem o promotor do imóvel”. Salomé Fernandes e Nunu Wu info@hojemacau.com.mo


sociedade 7

segunda-feira 14.12.2020

CLASSE SANDUÍCHE NOVO MACAU QUER LISTA DE ESPERA PARA ACESSO À HABITAÇÃO

Trânsito Lamborghini estaciona na rua e impede circulação

Um Lamborghini Aventador estacionou à frente da paragem de autocarro na Rua da Barca e bloqueou o trânsito na zona, na sexta-feira à tarde. Segundo a página de Facebook Macau Buses and Public Transport Enthusiastic, a situação aconteceu quando o condutor decidiu estacionar na paragem, junto a uma casa-de-banho pública. No

entanto, a viatura impediu a circulação do trânsito, o que levou as autoridades a serem chamadas ao local para rebocar o carro, cujo preço de mercado pode chegar aos três milhões de dólares de Hong Kong. A situação gerou mesmo uma concentração de pessoas no local e perturbou a circulação dos autocarros 8, 8A, 18 e 18A.

IPIM Feira atrai empresas novas

O presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), Lau Wai Meng, indicou que este ano aumentou o número de empresas que participaram pela primeira vez na Feira de Produtos de Marca da Província de Guangdong e Macau. A iniciativa contou com mais de 400 expositores. Lau Wai Meng reconheceu que “agora é um

pouco difícil para os turistas chineses visitarem Macau”, e que o IPIM queria atrair mais visitantes ao território para fazerem compras – não apenas no local do evento, mas também para verem outros locais de Macau. O presidente da entidade considera que a feira ajuda a economia, ao dar a conhecer o território e a trazer mais turistas, criando negócio.

Turismo Aniversário da RAEM sem fogo

À semelhança dos festejos da Passagem de Ano, a Direcção dos Serviços de Turismo decidiu não organizar o espectáculo de fogo-de-artifício para comemorar o

21º aniversário da RAEM. A medida foi tomada para evitar a concentração de um grande número de pessoas e reduzir os riscos no âmbito da luta à propagação da pandemia.

À procura das chaves

Lista de espera e preço sem interferência do mercado privado são dois dos desejos da Associação Novo Macau em relação à habitação para a classe sanduíche. Sulu Sou quer também medidas especiais para os jovens conseguirem fracções

R

OCKY Chan, vice-presidente da Associação Novo Macau (ANM), defendeu que os preços das casas da classe sanduíche devem ser definidos com base no valor de construção e no poder de compra dos candidatos, sem influência do mercado imobiliário privado. Em comunicado, a ANM explicou que defende também a criação de um sistema de pontuação e lista de espera. O representante da associação entende que o benefício seria mútuo: ajudar o Governo a perceber o nível de procura para cada tipo de habitação, e permitir aos candidatos planear melhor a vida por terem acesso a mais informação, como o tempo de espera para uma casa. “A oferta de habitação económica e social vai inevitavelmente ser afectada por novos tipos de habitação como a destinada à classe sanduíche, e apartamentos para idosos”, diz a nota. Rocky Chan entende que o Governo deve definir a prioridade, alvo e distribuição dos diferentes tipos de habitação – social, económica e de classe san-

duíche – e planos gerais que promovam as funções de complementaridade entre cada modalidade.

TRATAMENTO ESPECIAL

A Novo Macau teme que a habitação para a classe sanduíche não responda às necessidades dos jovens, a menos que sejam criados mecanismos especiais

nos concursos de acesso. Face às recomendações do limite mínimo de rendimentos dos candidatos, a ANM quer que sejam criadas opções como o arrendamento antes da compra, candidaturas independentes ou outras medidas preferenciais para jovens. Caso contrário, podem ser “completamente excluídos”.

A ANM quer que sejam criadas opções como o arrendamento antes da compra, candidaturas independentes ou outras medidas preferenciais para jovens. Caso contrário, podem ser “completamente excluídos”

De acordo com a nota, Sulu Sou frisou que Macau tem sido marcado pela ausência de política de habitação ao longo de vários anos e que “face aos preços desproporcionalmente altos para a habitação privada, a insatisfação dos jovens com problemas habitacionais tornou-se um grande factor de instabilidade social”. A consulta pública sobre o plano de habitação para a classe sanduíche terminou na sexta-feira. Salomé Fernandes e Nunu Wu info@hojemacau.com.mo


8 memória

14.12.2020 segunda-feira

Do passado dia 9, quarta-feira, até dia 12, sábado, um grupo de jornalistas de órgãos de comunicação social de Macau, em línguas portuguesa e inglesa, foi convidado pelo Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM para um passeio por Cantão, Zhaoqing e Jiangmen. Durante a viagem fomos acompanhados também por elementos do Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, do Gabinete de Comunicação Social e por jornalistas de televisões de Guangdong. Na China Clássica, tal como no Barroco português, quando um poeta era convidado para uma refeição ou meramente para visitar alguém, normalmente retribuía escrevendo um poema sobre a ocasião, dedicado aos seus hóspedes. Pois bem, decidi fazer o mesmo. Aqui ficam esses poemas, antecedidos de breves explicações sobre os lugares que os inspiraram. Em filigrana, fica também a saudade destes sítios mágicos onde um dia espero voltar. Carlos Morais José

Uma viagem sem fim

A Academia Militar de Huang Pu foi fundada em 1924, sob a égide conjunta do Kuomitang e do Partido Comunista Chinês. O seu objectivo era treinar oficiais que liderassem as tropas do país. Foi a primeira vez que os dois partidos estabeleceram um protocolo de cooperação, só reforçado durante a ocupação japonesa. Na verdade, a Academia Militar de Huang Pu formou generais que acabaram por se encontrar de lados opostos da barricada. Antigos colegas vieram a ser denodados inimigos, tal como aconteceu na Academia de West Point, nos EUA, quando da Guerra Civil americana. Hoje este espaço lembra como ambos são patriotas e partilham da ideia de que “só há uma China”. Zhou Enlai, primeiro-ministro de Mao Zedong, deu aqui algumas aulas. Mais tarde, foi o criador do princípio “um país, dois sistemas”, cujo objectivo era, numa primeira fase, a reunificação com Taiwan. Deng Xiaoping alargou o conceito a Macau e Hong Kong. AAcademia Militar de Huang Pu permanece como símbolo dessa possibilidade e desejo de unificação.

Que outro trilho encontrarei para a paz, além do improvável paradoxo? Sob o céu, é infinda a profusão de flores e a teimosia dos homens. Cresceremos separados até, de tão grandes, já não percebermos para que outro mar, indiferentes a tudo e a todos, nadaram as nossas diferenças. *

NA ACADEMIA MILITAR DE HUANG PU Ao sr. Yin Rutao

Falta alcançar o cume ainda nublado da montanha. Falta olhar o mar e compreendê-lo como se ele fora um oceano. O restaurante Panxi fica na cidade de Cantão. É um espaço antigo, tradicional, de excelente comida cantonense. Vários pratos do dim sum ganharam formas de animais (galinhas, peixes, porcos, coelhos), acrescentando um toque divertido ao sabor delicioso que nos proporcionam. Cá fora, num dos pátios do restaurante, descobri estas portas de idade indefinida. Por uma qualquer razão, a sua beleza de imediato me inspirou este poema:

RESTAURANTE PANXI Portas e lírios que se abrem ao meu coração — conheço de perto o desconcerto dos sinais.

Ainda assim fico de fora uma outra eternidade da vida que me recuso viver.

Pego no último dim sum e suavemente o levo aos lábios, aos dentes, à língua, e sei que me mastigo sem pressa. Ainda é cedo para a ceia ou assim quero crer, num breve assomo de vaidade. * Shawan fica em Panyu, um concelho a sudoeste de Cantão. A sua história remonta a mais de 800 anos. Neste sítio encontramos as raízes da família Ho, da qual faz parte o primeiro Chefe do Executivo de Macau, Edmond Ho. Um magnífico templo ali erigido presta homenagem a essa família. Nele encontramos as tábuas que registam os nomes dos antepassados e certificam a antiguidade do clã. Em Shawan, passeámos pelas ruas onde pontificam edifícios cuja traça remonta aos Ming, aos Qing e aos primeiros anos da República. Su Shi (苏轼), também conhecido como Su Dongpo, foi um grande poeta da dinastia Song. Comparando a sua poesia com a de Li Bai (李白), o expoente máximo da poesia da dinastia Tang, Su Shi terá referido que os seus versos, ao contrário da delicadeza dos poemas do primeiro, lembravam o rufar de um tambor.

SHAWAN, PANYU Naquele tempo ainda rufavam os versos de Su Shi. Era o tempo em que a fénix sobrevoava cidades, sem lugar onde pousar. Muitos erravam pela terra. Outros desciam às aldeias e mostravam os dentes como fazem os lobos no inverno. Foi então que em Panyu te encontrei,


memória 9

segunda-feira 14.12.2020

outros minérios, que conferem uma estranha beleza a estas pedras que são, a um tempo, suaves e rijas.

PEDRA-DE-TINTA

*

Naquele templo vazio de deuses e onde manda a certeza das famílias. Passaria os meus dias contigo se as minhas palavras te comovessem e por ti não voltaria a arder no meu país. * A norte de Zhaoqing, muito perto da cidade onde Matteo Ricci viveu de 1583 a 1589, fica uma montanha que se debruça sobre um lago de águas verdes. É um cenário de uma beleza transcendente, onde o espírito se acalma, mas subitamente viaja por trajectos internos, que ignoram fronteiras ou limites. Chamam-lhe Dinhu (Lago do Tripé), um nome pequeno para exprimir tanta beleza.

A cidade de Zhaoqing repousa nas margens de um lago onde sete formações rochosas pontilham a paisagem. Nele passeámos de barco à tardinha e das suas margens espreitei as luzes que à noite faíscam nas águas escuras.

LAGO DAS SETE ESTRELAS Sob as montanhas, os pés assentes nas águas verdes do lago, agradecia à borboleta que me ensinava o caminho.

DINHU Não era o lago mas os teus olhos, não era a montanha mas o teu corpo, e eu, súbdito do verde de um lugar, logo me encerro nesta ânsia de não ter sentidos porque, quando a noite de novo apaga o mundo, ao prescindir da tua beleza, sentir é um mero sinónimo de dor.

O que sou eu? Serei a pedra em que a tinta dos dias se desfaz? Ou serei a tinta que se esfrega no mundo para nele escrever os meus dias? * Kaiping, perto da cidade de Jiangmen, é uma aldeia classificada pela UNESCO como Património Mundial. Nela pontificam as famosas torres de vigia que, altaneiras, guardam o território adjacente. Tratam-se de edifícios construídos com o dinheiro enviado pelos chineses ultramarinos para a sua terra natal, já que são desta área grande parte dos que emigraram para outros países, principalmente no século XIX, devido à pobreza endémica que grassava na região. Incapazes de esquecer as suas origens, esses homens e mulheres, regularmente mandavam dinheiro aos membros da sua família que na China se haviam quedado. As torres serviam de habitação, mas sobretudo de protecção pois delas se vigiavam os campos circundantes onde amiúde surgiam bandidos, sequiosos de extorquir aos camponeses os magros frutos do seu labor. Depois, eram também testemunhos do prestígio de cada linhagem. Geralmente, os chineses faziam questão de vir morrer à sua terra.

KAIPING

E, nesse transe, de asas e frágeis cores, de árvores e amáveis flores, sei que me perderia para raramente me voltar a encontrar. * Na aldeia de Baishi, no condado de Duan, produz-se, pelo menos desde a dinastia Tang, uma das quatro mais famosas pedras-de-tinta de toda a China. É um minério de origem vulcânica, escuro ou verde, no qual por vezes aparecem “olhos”, ou seja, inclusões de

* Xinhui é celebre pelas suas cascas secas de tangerina (chen pi), cujo uso milenar se desdobra da culinária à medicina. A vila que visitámos, e onde reside um museu, é percorrida por uma fragância leve que aos poucos entontece. Vem das lojas e vem das árvores, vem do pescoço das moças que, distraídas (como só as mulheres sabem ser distraídas), contornam a timidez dos rapazes e se transformam em promessas. Sobreveio um poema, de travo popular.

“Para viver o mundo, para morrer Portugal” Padre António Vieira

Do alto desta torre avistam-se dois mundos. Mas em cada viga, mora uma lágrima; Em cada tijolo, habita um suspiro; Em cada quarto, reside uma dor.

TANGERINAS As raparigas dançam e cantam sem alarido, Rapazes, atrás das árvores, propõem-se para marido. Quem será o escolhido?

Em terra estrangeira laborei pela vida. Tive, contudo, de voltar para a meus ossos dar descanso.

Há no ar odor a verão, que a todos entontece. E quando o dia esmorece, é tempo de reunião.

E, neste torrão familiar, fiz por erguer uma torre. Não sei se algum dia nela chegarei a ser feliz.

Tangerina, tangerina, traz-me aquela menina. Vou-lhe apanhar o cabelo e da vida fazer selo.

Nenhum país acolhe de bom grado mortos alheios. Só enquanto vivo deram alguma utilidade à minha pele.

Tangerina, tangerina, faz de mim homem feliz. Soa alto a concertina — espero por um petiz.


10 china

14.12.2020 segunda-feira

HK NEGADA FIANÇA A JIMMY LAI APÓS CONHECIDA A ACUSAÇÃO

Chamado à pedra

J

IMMY Lai, magnata dos ‘media’ e defensor da democracia em Hong Kong, viu no sábado a sua fiança ser rejeitada após ter sido acusado por violar a nova lei de segurança nacional do território semiautónomo Lai conheceu na sexta-feira uma acusação de conluio com grupos estrangeiros para colocar em risco a segurança nacional de Hong Kong, por mensagens que colocou na rede social Twitter e comentários que fez em entrevista a meios de comunicação internacionais. O jornal Apple Daily - de que Jimmy Lai é proprietário e conhecido pelo seu comprometimento com o movimento pró-democracia – escreveu no fim-de-semana que Lai é acusado de ter pedido a países, organizações e pessoas estrangeiras para imporem sanções ou para se envolverem em actividades hostis contra Honk Kong ou contra a China.

A análise do seu processo judicial foi adiada para 16 de Abril, a pedido dos procuradores, que alegaram que a polícia precisava de mais tempo para rever mais de mil ‘tweets’ e de comentários de Lai, segundo uma peça do Apple Daily. Lai, que se encontra detido por acusações de fraude,

após uma busca da polícia às instalações dos seus meios de comunicação, foi visto algemado enquanto os guardas o levavam da cadeia ao tribunal.

REACÇÃO DO REINO UNIDO

Pequim impôs no início deste ano a lei de segurança nacional

A análise do processo judicial foi adiada para 16 de Abril, a pedido dos procuradores, que alegaram que a polícia precisava de mais tempo para rever mais de mil ‘tweets’ e de comentários de Jimmy Lai

em Hong Kong, contestada pela comunidade internacional, após protestos do movimento pró-democracia na ex-colónia britânica. A nova lei proíbe a secessão, subversão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras para interferir nos assuntos de Hong Kong, restringindo a liberdade de expressão e de reunião. O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, usou a sua conta de Twitter para comentar que a lei de segurança em Hong Kong “brinca com a justiça”, pedindo a libertação de Lai, com quem reuniu no início deste ano, dizendo que o seu único crime foi falar a verdade sobre o Governo autoritário do Partido Comunista Chinês. Na sexta-feira, o Governo britânico mostrou preocupação com a situação de Jimmy Lai. “O Reino Unido continua muito preocupado com a disposição das autoridades de Hong Kong de continuar com procedimentos legais contra figuras pró-democracia, como Jimmy Lai”, disse um porta-voz do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

PUB

AUTOMÓVEIS VENDAS CRESCERAM DOIS DÍGITOS EM NOVEMBRO

A

S vendas de automóveis na China aumentaram dois dígitos em Novembro, ilustrando a rápida recuperação do país asiático da pandemia do novo coronavírus, mas continuam em terreno negativo no conjunto do ano. As vendas de utilitários desportivos, 'minivans' e 'sedans' no maior mercado do sector aumentaram 11,6 por cento, em termos homólogos, para 2,3 milhões de unidades, segundo a Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis. No total, as vendas de veículos, incluindo camiões e autocarros, aumentaram 12,6 por cento, para 2,8 mi-

lhões de unidades. Entre Janeiro e Novembro, no entanto, as vendas caíram 7,6 por cento, em relação ao mesmo período de 2019, fixando-se em 17,8 milhões de unidades. As vendas de automóveis para o ano inteiro estão assim em vias de diminuir pelo terceiro ano consecutivo, após atingirem o pico em 2017. Em Novembro, as vendas de veículos híbridos ou totalmente eléctricos na China mais que duplicaram, aumentando 104,9 por cento, em relação ao ano anterior. Nos primeiros 11 meses de 2020 aumentaram 3,9 por cento, em relação ao ano anterior.

1ª Vez publicado no dia 2012-12-14 ANÚNCIO Autos de Execução Fiscal n.º

2011/93/011667/90 REF ___________________

Exequente: Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização, sito na Rua Dr. Pedro José Lobo, nº 1-3, Ed. Banco Luso Internacional, 6º andar, Macau. --------------------Executado: LEE IN LEONG, masculino, casado, titular do B.I.R.M., residente na Rua da Silva Mendes nº 33, Edif. Grand View Garden, 7º Andar “D”, Macau. -----------------------------*** ----FAZ-SE SABER que nos autos acima indicados são citados os credores desconhecidos dos Executados para, no prazo de QUINZE DIAS, que começam a correr depois de finda a dilação de vinte dias, contados da data da segunda e última publicação do anúncio, reclamar o pagamento dos seus créditos pelo produto do bem penhorado sobre que tenha garantia real e que é o seguinte: ------------------IMÓVEL PENHORADO ----Denominação da fracção autónoma: “D7” do 7º andar “D” (1/2 fracção). ----------------------------------------------------Situação: sito em Macau, N.º 33 da Rua da Silva Mendes, Edif. Grand View Garden. --------------------------------------------Finalidade: Habitação. --------------------------------------------Número de matriz: 37831. ----------------------------------------Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: n.º 19596 a fls. 63V do Livro B41. -----------------------A registada a favor do executado pela inscrição: n.º 6565 a fls. 149V do Livro G91A. ---------------------------------------* Na R.A.E.M., 2 / Dezembro / 2020

Ciência Cápsula com amostras da Lua inicia regresso à Terra

A cápsula espacial chinesa que transporta as primeiras amostras da superfície lunar em mais de quatro décadas iniciou ontem a viagem de regresso à Terra de três dias. A sonda lunar Chang'e 5, que orbita a Lua há cerca de uma semana, ligou os quatro motores por cerca de 22 minutos para sair da órbita lunar, informou ontem a Administração Espacial Nacional da China, numa mensagem na rede social. No início deste mês, o módulo tinha pousado na Lua, perto de uma formação denominada de Mons Rumker, área em que se acredita ter sido o local de actividade vulcânica antiga, tendo sido recolhido perto de dois quilos de amostras. Espera-se que a cápsula lunar pouse no norte da China, na região da Mongólia Interior, depois de se separar da nave espacial e flutuar de paraquedas. Estas serão as primeiras amostras da superfície lunar obtidas pelos cientistas desde a sonda Luna 24, da União Soviética, em 1976.


segunda-feira 14.12.2020

Seja noite só, torre o dia em chama.

O Passeio de Zhan Ziqian na Primavera

Paulo Maia e Carmo texto e ilustração

Y

ANG Jian (541-604) que inicialmente tinha o título de «duque de Sui», durante a dinastia Zhou do Norte (557-581) formaria uma nova dinastia e para a nomear fez uma mudança na morfologia do caracter «sui» que significa «seguir», retirando-lhe uma partícula que implica o «caminhar», inaugurando um período breve no tempo mas influente na História. Foi o primeiro sinal dado por aquele que ficaria conhecido como Wendi, «o imperador culto» (r. 582-604) da sua vontade de projectar o espírito fazendo-o agir sobre a matéria, modificando-a. Se no plano da cultura data dessa dinastia Sui (581-618) um renascimento do ideal de unificação sob a égide dos Han, como sucedera com Qin Shihuang (r. 221-210 a. C.) a que agora se juntava a conversão imperial ao Budismo, a sua acção no espaço geográfico ficaria marcada por grandes obras, como o início da construção em 589 do Grande Canal, a ligar a capital Changan ao rio Amarelo, a continuação da construção da Grande Muralha e depois uma nova capital em Kaifeng. Da sua actividade militar expansionista, um episódio, a conquista de Jiankang (Nanquim) aos Chen e a deslocação dos seus nobres para Norte resultou num profícuo despertar da curiosidade dos aristocratas da Corte pelas singularidades intelectuais do Sul. Este é também o tempo em que se revela uma nova forma de perceber a pintura em que, dado que na sua essência está o dinamismo dos seus componentes, tem o nome de

pintura «shanshui». A mais antiga dessas pinturas registada pelos historiadores é nomeada com dois caracteres: you, chun, «Passeio de Primavera». Do seu autor pouco mais se sabe que um nome. Zhan Ziqian terá nascido em Yangxin, actualmente em Shandong, as suas datas de nascimento e morte desconhecidas, sabe-se que foi um funcionário do Estado, activo nessa segunda metade do século VI. É referida a sua habilidade para pintar pavilhões, pessoas e cavalos porém esta é a única pintura dele que hoje podemos observar e mesmo ela é seguramente uma cópia, feita algures durante a dinastia Song. A pintura em rolo horizontal (tinta e cor sobre seda, 43 x 80,5 cm) que se encontra no Museu do Palácio, em Pequim, executada com as características habituais das pinturas que usam os pigmentos minerais naturais verde, a partir da malaquite e azul, da azurite, conhecidas como qinglu, seriam populares durante a seguinte dinastia Tang, o que se percebe no comentário que Zhang Yanyuan (c.815-c.877) fez sobre ele: «As pinturas do período medianamente antigo eram feitas de maneira concisa e cheia de detalhes; são extremamente graciosas.» Mais do que tornar visível a dicotomia mística original própria do Daoísmo entre as águas (yin) e as montanhas (yang) será de notar como, na aurora de um novo género de pintura, estão representadas pessoas num acordo explícito com a natureza, integradas mas ao acaso, caminhando.

h

11


12

h

José Simões Morais

14.12.2020 segunda-feira

O quarto Continente

O

nome América apareceu pela primeira vez em Abril de 1507 num pequeno livro, Cosmographiae introductio, escrito por Martin Waldseemüller, cónego da Lorena em França, onde referia ter Americus Vespucci descoberto o novo continente, e no mapa colocou sobre a representação deste a palavra América, pois os continentes têm nomes femininos. Só mais tarde deu pelo erro, mas a rápida difusão do livro espalhou o nome e assim ficou a chamar-se América, segundo Daniel J. Boorstin em Os Descobridores (Gradiva, 1987), de onde provem algumas informações deste artigo. Américo Vespúcio (1454-1512) era um florentino ao serviço da família Medici em Espanha desde 1495 e como feitor e armador juntou-se em 1499 à expedição chefiada por Alonso de Ojeda. Nesse ano partiriam também Vicente Yañez Pinzon e Diego de Lepe a fim de explorar ao longo das costas do continente, que já se acreditava poder não ser a Ásia, apesar de Cristóvão Colombo, ao partir para a terceira viagem, onde então andava, crer ainda ser o Sinus Magnus (a Grande China) e tentava encontrar o Cabo de Catígara, como Ptolomeu chamara à ponta Sudeste do continente asiático, na península de Malaca, a Aurea Chersoneso, ou Quersoneso. Alonso de Ojeda (1470-1516), que acompanhara Colon numa das viagens, “foi o primeiro de quantos espanhóis se lançaram na exploração da região de Pária [Venezuela], descoberta por Cristóvão Colombo na sua viagem de 1498, e que se antolhava produtora de avultadas riquezas, como o nome de Costa das Pérolas, que por essa época lhe foi dado, testemunha. Partiu de Puerto de Santa Maria nos princípios de Abril de 1499, levando consigo o grande cartógrafo e piloto espanhol Juan de La Cosa [que acompanhara Colon nas duas primeiras viagens], e o mercador florentino Américo Vespucci”, segundo Damião Peres, que refere, “Na sua viagem de ida deve ter-se cingido à derrota seguida por Colombo, mas veio abordar a costa setentrional sul-americana um tanto mais a Leste do que aquela: <descobri ao meio-dia terra firme e corri por ela quase duzentas léguas até Pária>, segundo sua própria afirmação. De Pária navegou Hojeda para a ilha do Haiti, onde se conservou cerca dum semestre, e daí regressou à Espanha, onde chegou pouco mais dum ano após a partida.” Na costa da actual Venezuela, ao comando de dois navios Vespúcio separou-se da expedição de Ojeda e foi explorar para Sul do Sinus Magnus, onde Colon pensara ter chegado, à procura do Cabo de Catígara, para passar ao Índico. Não o encontrou nas 400 léguas navegadas ao

longo da costa, crendo assim poder tratar-se de um novo continente, mas teve tempo para observar e estudar as estrelas do hemisfério Sul.

NEGÓCIO DAS ESPECIARIAS

À caravela juntou-se em 1497 a nau e segundo Veríssimo Serrão, «Como a estrutura da caravela não garantia o êxito de uma viagem de tamanho alcance, deu-se preferência a embarcações de maior equilíbrio e robustez para vencer as intempéries do oceano. Por isso se utilizaram naus de três mastros, com a vela triangular na mezena e pano redondo com duas quadrangulares nos mastros do meio e da proa. Tratava-se de uma inovação náutica que assegurava melhor os objectivos científicos que a viagem pressupunha”. Inúmeras eram as expedições enviadas por o Rei D. Manuel (1495-1521) e entre elas a de Duarte Pacheco Pereira, que em segredo foi e veio em 1498 às ainda desconhecidas terras de Vera Cruz. Já a 8 de Julho de 1497, de Belém, Lisboa, largara a primeira frota à Índia capitaneada por

Vasco da Gama. Com quatro naus velejou para Sul ao longo da costa africana mas, ao contrário de Bartolomeu Dias, fugiu das calmarias equatoriais rumando a Sudoeste, fazendo a volta no Atlântico para com um alísio de flanco encontrar os ventos fortes do Sul e passando o Cabo chegou ao Índico. Na Índia atingiu Calicute a 20 de Maio de 1498 e no regresso, a súbita doença de seu irmão Paulo da Gama, levou-o a aportar na Ilha Terceira, mandando à frente Nicolau Coelho a transmitir ao Rei a boa nova do caminho marítimo para a Índia. Este chegou a Cascais a 9 de Julho de 1499 e só dois meses depois apareceu Vasco da Gama, recebido com pompa por D. Manuel, que o cumulou de honras e benefícios. O carregamento de especiarias cobriu largamente os custos da expedição, no entanto, dos 148 tripulantes que partiram, só 55 voltaram, segundo Oliveira Marques.

PEDRO ÁLVARES CABRAL E O BRASIL

A segunda frota enviada à Índia tinha dez naus e três caravelas e era capitaneada por

A segunda viagem de Américo Vespucci, agora às ordens de D. Manuel, partiu a 13 de Maio de 1501 com três caravelas e em 64 dias atingiu a zona portuguesa de Vera Cruz

Pedro Álvares Cabral, com uma tripulação de 1200 homens, entre eles, Nicolau Coelho, Bartolomeu Dias e o irmão Diogo, assim como oito franciscanos. Largou a 9 de Março de 1500 e sem fazer escala nas Canárias e nas ilhas de Cabo Verde, onde passou a 22 de Março, aí gastou sem sucesso dois dias à procura de uma nau perdida. Aproveitou depois o vento alísio de Nordeste para singrar até próximo do Equador, zona de calmaria, onde apanhou o alísio de Sudeste e realizou a grande volta, atravessando o Atlântico. Ao fim de um mês, a 22 de Abril tinha terra à vista. No dia seguinte pisaram a Terra de Vera Cruz, que viria a chamar-se Brasil, devido ao pau-brasil, árvore de madeira encarnada abundante nessa costa. Em Porto Seguro, como baptizaram o local, permaneceram dez dias, enviando Cabral o pequeno navio dos mantimentos para Gaspar de Lemos ir dar nota ao Rei D. Manuel daquele achado, conhecido, mas mantido em segredo. Do continente sul-americano partiram a 2 de Maio, pois o foco estava no Oceano Índico, o mar do comércio, em espaço de domínio português. Na costa oriental africana, Diogo Dias deu com uma ilha, baptizada então de São Lourenço, mais tarde Madagáscar. A armada em Setembro chegou a Calicute e após negociar com o samorim, instalou uma feitoria, atacada em 16 de Dezembro por nativos muçulmanos, morrendo vários portugueses, entre eles, o escrivão Pêro Vaz de Caminha. Como represália, Cabral bombardeou Calicute e seguiu para Cochim, onde encontrou amigável acolhimento do hindu Rajá, inimigo do samorim, seu vizinho do Norte. Cochim e Calicute situavam-se na costa Malabar, onde crescia o gengibre e a melhor pimenta de todo o Oriente, sendo importantes portos de comércio desde a Antiguidade. Mais tarde, em Cochim os portugueses fizeram em 1503 a sua primeira fortaleza na Índia, ficando então como capital até à conquista de Goa em 1510. A 31 de Julho de 1501, Pedro Álvares Cabral chegava a Lisboa, após alguns barcos terem naufragado no Índico, mas vinha, segundo Joaquim Veríssimo Serrão, com uma “carga de 200 quintais de especiarias, obtidas a bom preço, o que se traduziu num verdadeiro negócio para a coroa portuguesa.” A segunda viagem de Américo Vespucci, agora às ordens de D. Manuel, partiu a 13 de Maio de 1501 com três caravelas e em 64 dias atingiu a zona portuguesa de Vera Cruz (Brasil) e navegando para Sul, entrou na parte espanhola até à Patagónia. Sondara quase toda a costa Oriental e sem aparecer o Cabo de Catígara, reconheceu ser um novo continente, que viria a tomar o nome América.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

segunda-feira 14.12.2020

Anabela Canas

Q

UE me desculpe, se surge todos os anos assim. Nem é que seja um mês pior do que os outros. Mas avizinha-se e o golpe nunca falha mês adentro. Como um Cristo a antever o abraço de pietá. O que é isto, dezembro. Um comboio aguardado no cais de embarque, cheio de expectativas e contas. Um comboio em que me vejo embarcada e já foi. Agora há que seguir. Eu não tenho nada. Mas eu celebro porque tenho um corpo, espaço. E cobertores sempre a mais. Nunca hei-de ter frio. Muito se esconde sobre a cama por debaixo de um cobertor. Uma criança de olhos arregalados e sono espantado a pedir a mesma história de sempre, pela milionésima vez e dedinhos pequeninos a sentir e a agarrar. Um gato quando se tem pressa e entre mãos umas meias finas de seda nunca imunes àquelas unhas agudas de brincar. Um cão grande do tamanho de um sofá da sala escondido com medo do trovejar da natureza. E, um dia, tudo lembrança. A lembrar fragmentos de canções. Nina. Depois títulos, grandes títulos, dos quais simplesmente se podia costurar um texto, como uma manta de retalhos bem unidos a fazer sentido. Tanto já dito e escrito e precisar de continuar. Repetir, talvez. Algo pessoal com respeito. Por este corpo que é único mesmo se pequenas as suas incursões às palavras que são de ida e volta. Dezembro é mês em que não suporto ficar. Ao ponto de encerrar todo um ano e reinventar todas as cartas e desejos. É a vertigem da viagem. Acabar e recomeçar sempre. Partir. Celebrar. Dou números às coisas. O desta, em forma de crónica, é o número cinquenta, redondo como os zeros que se aproximam na meia-noite de fim de algo. De ano. Cinquenta desta leva e seriam celebrados também cento e cinquenta crónicas no todo, mas uma foi e veio por terra e só voltou dois anos depois. Portanto não pode contar a dobrar. Assim se perfazem para a semana e haverá que voltar a celebrar. Esta escrita nunca imaginada possível. O insólito e inesperado encontro de todas estas palavras entre si. E celebrar é o acto contínuo de viver. E de encontrar. Celebro porque já tive pais. Porque já tive cães, mesmo os que não eram meus mas era como se fossem. Um por um dia e morreu porque já vinha da rua a morrer. E gatos. E um por vinte anos e esse era meu mas também se era já não é. E já tive crianças que também não eram minhas mas era como se fossem tão amadas e minhas que eram. É o que lhes acontece. Escaparem-se-nos. E depois, deixarem-se reencontrar como um passado ou uma promessa. Celebro por tudo o que me trouxe ao dia de hoje e a amanhã. E depois logo se vê. Tenho uma vida, um cor-

Dezembro ANABELA CANAS

Cartografias

po. Cuido, mas cuido pouco. Por isso é o mesmo de sempre com estas diferenças incontroláveis. Bebo, fumo. Doces a mais e amarguras a mais. A sedosa alienação das gorduras. E uma raposa por uma noi-

te na cozinha um mocho por uns tempos a comer atento pedacinhos de carne crua. Ele apanhava pássaros de cantar, com armadilhas de visco de madrugada que ficavam escondidos por debaixo de panos

“Dou números às coisas. O desta, em forma de crónica, é o número cinquenta, redondo como os zeros que se aproximam na meia-noite de fim de algo. De ano. Cinquenta desta leva e seriam celebrados também cento e cinquenta crónicas no todo, mas uma foi e veio por terra e só voltou dois anos depois.”

translúcidos para não se distraírem. E, de novo, nada disto é meu mas é da minha vida. Com quem diz eu tive uma fazenda em áfrica porque o livro. E pássaros bonitos a fazer ninho, rolas a perturbar o sono tudo no sótão e acho que acaba aqui a lista. E o que parecem metáforas mas não são. É isto a escrita. O que parece e o que é. E vice versará sempre. Mas a menos que sobre o grito, que é sempre puro. Há que celebrar, partir. Esta viagem. Num comboio por um sul que atravessa montanhas em túneis de profundidade exasperante. O estrondo da luz depois e de novo o mergulho na escuridão por debaixo destas toneladas imensas de rocha, pesadas e inabaláveis. Em escarpas que, súbitas, deixam espreitar lá abaixo a antiguidade de passagem. É o sabor de décadas a montante, o que fere de emoção e alimenta a seta. Cravada fundo na europa. O comboio a ferir o flanco. Túneis atrás de túneis a evidenciar os acidentes da terra íngreme. A parecer a vida, nesta alternância de luz e escuridão e sempre com os focos artificiais a cumprir o inevitável. A suprir o inevitável, deveria dizer. A viagem de comboio é lenta porque a terra é grande mesmo se o comboio é rápido. Combinámos para lá das montanhas e ao fundo do último túnel. Destes. Vamos chegar enxovalhados. É estranho, até, como a vida de três dias se nos amarfanha visivelmente no rosto e nas roupas, de nada fazer senão deixarmo-nos ir ao encontro. Mesmo que chegue mais cedo, é certo que sempre gostei destes apeadeiros imprevisíveis de solidões adormentadas arrumadas como possível no desconforto de bancos corridos de madeira. Luzes fracas amarelas e a atravessar a noite não vão os viajantes, alguns de lado nenhum, perder o próximo comboio do meio da noite. Lá fora a avançar no cais. Aquele momento de apanhar um comboio nocturno e chegar ao lugar marcado. Mas antes, sentar. O início da viagem com todo o resto pela frente. Pela noite fora. E lá no fundo, tu. Enrosco-me no cobertor de lã quente com a cabeça apoiada na janela para a noite e olho o outro dobrado no banco em frente. Havemos de nos deitar naquele alto descampado e frio, que não será frio porque temos estas mantas. Para contemplar estrelas e contá-las no céu sem fim. Um momento que não é para datar. Coisas sem essas coisas. E sempre e enquanto dura, este som continuo e embalador. Mecânico. As rotações mecânicas do comboio pela noite fora. A levar em frente. E em frente, amanhã. Não olho agora pela janela. A noite só me devolve o meu reflexo e as luzes amarelas da carruagem.


14 (f)utilidades TEMPO

MUITO

14.12.2020 segunda-feira

NUBLADO

MIN

14

MAX

20

HUM

MEMÓRIA HISTÓRICA

19

5 3

6

9 4

3

7

1

5

7 2 5 8 2 4 5 3 9 3 1 4 3 1 6 5

6 7 4

9.66

BAHT

0.26

YUAN

1.21

O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, participou ontem na cerimónia do Dia Nacional de Luto pelas vítimas do massacre de Nanjing. Estima-se que em entre Dezembro de 1937 e Janeiro de 1938, o exército japonês tenha massacrado entre 40 mil e 300 mil cidadãos chineses, durante a invasão da China.

21

8 5

PROBLEMA 21

9 5 2

3 7

6 1 9 9 2 4 9 6 6 4 3 7 1 4 8 7 8 9

SALA 1

SALA 2

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS Um filme de: Sotozaki Haruo 14.30, 16.45, 17.15, 21.30

FALADO EM PUTONGHUA LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Liao Ming-yi Com: Austin Lin, Nikki Hsich 14.30, 21.30

THE RENTAL [C]

FIND YOUR VOICE [B]

6 1

6 9 4 2 2 5 7 8 3 5 1

1 7 3 9 8 9 4 3 2 5 6 4

8 5 2 1 3 6 1 7 2 9 4

2 4 9 5 3 9 7 5 6 1 8 8

3 1 8 6 9 2 5 4 2 7 3 6

5 6 7 8 4 4 1 2 9 2 3

3

6 8 4

1

A

i WeirDO [B]

THE MOVIE DEMON SLAYER: KIMETSU NO YAIBA MUGEN 22 TRAIN [C]

Um filme de: Dave Franco Com: Dan Stevens, Alison Brie, Shiela Vand 14.30, 16.30. 19.30, 21.30

4

6 5 4 2

8 1

FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Adrian Kwan Com: Andy Lau, Lowell Lo, MArk Lui, Hugo Ng 16.30, 19.30

UM PODCAST HOJE Não é fácil de ouvir. “Verified” conta histórias de mulheres de diferentes partes do mundo com um elemento em comum: viajaram até Pádua, em Itália, e fizeram “couchsurfing” em casa de um polícia. Aí, foram drogadas e vítimas de abuso. Os primeiros episódios tornam evidentes as dificuldades das vítimas

VERIFIED I STITCHER E IRPI na jornada pela descoberta do que lhes aconteceu e pela obtenção de justiça, desde a falta de confiança em relatos de uma vítima a dificuldades das autoridades em lidar com casos que aconteceram além-fronteiras. O primeiro episódio começa com os planos de viagem de uma rapariga portuguesa. Salomé Fernandes

4 7 5 8 2 3 2 5

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 20

9 3 6 7 5 8 1 8 4 7 2 5

6

2 6 1 7 9 8 7 4 6 1 4 3 5 9 4 Cineteatro 2C I 6N4 E M

20

7 2 1 4 6 9 4 3 3 8 5 2

2 3 8

S U D O K U

22

EURO

9

9

8 5 5 7 2 3 7 1 1 6 9

20

2

4 23

60-95% ´

9 5 9 6

24

6

1 3 8 2 7 6

1

9THE RENTAL 3 8

Propriedade de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes 4 Colaboradores 8 Fábrica 2 Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Lobo Pinheiro; 3 Gonçalo 6 Gonçalo5M.Tavares;JoãoPauloCotrim;JoséDrummond;JoséNavarrodeAndrade;JoséSimõesMorais;LuisCarmelo;MichelReis;NunoMiguelGuedes;PauloJoséMiranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Namora; David 4 www. 1 Chan; 3 João 7Romão;JorgeRodriguesSimão;OlavoRasquinho;PaulChanWaiChi;PaulaBicho;TâniadosSantos GrafismoPauloBorges,RómuloSantosAgênciasLusa;XinhuaFotografiaHoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare hojemacau. com.mo 3 n.º19,CentroComercialNamYue,6.ºandarA,Macau Telefone28752401Fax28752405e-mailinfo@hojemacau.com.moSítiowww.hojemacau.com.mo Morada Calçada de Santo Agostinho, 1 9 4


opinião 15

segunda-feira 14.12.2020

ai, portugal, portugal ANDRÉ NAMORA

A loucura das heranças 1. Nunca pensei que alguma vez tivesse de escrever sobre a loucura que a pandemia da covid-19 provocaria nos portugueses um comportamento absurdo quanto à necessidade de obter dinheiro e bens por qualquer meio, relativamente à obtenção de heranças. As pessoas, muitas, milhares, segundo me informou um advogado, têm tido um comportamento de teor variado sobre conseguirem ficar com o dinheiro e outros bens que um dia lhes haveria de caber um dia, não agora. Um dia quando os seus pais ou avós morressem. O processo que se tem gerado sobre as heranças tem provocado um chorrilho de dificuldades processuais maior do que era costume em todo o país. Antes, em alguns casos, os processos de heranças levavam anos a resolver devido ao desentendimento entre os herdeiros e algumas vez só se resolviam nos tribunais. E agora, não será mais demorado? Quase que não dá para acreditar no que se está a passar neste Portugal. As dificuldades económicas de milhares de portugueses estão a provocar um aumento desmesurado da procura de serviços como habilitações de herdeiros e partilhas por óbitos nos cartórios notariais. Muitos até estão a fazer os seus testamentos. Toda esta gente quer é urgentemente resolver o que está pendente e daí realizarem o testamento. Toda a mecânica jurídico-burocrática deverá ser, até ao final deste ano e primeiro trimestre de 2021, superior à registada em anos anteriores. A preocupação com a possibilidade de adoecer sem deixarem assegurada a situação dos cônjuges ou filhos fez também aumentar a realização de testamentos. Tal é o receio de morrer que este vírus tem provocado, que os preocupados esquecem-se que a chamada gripe invernal mata anualmente mais de três mil pessoas e que todos os dias morrem centenas de cidadãos vítimas de cancro, AVC, ataques cardíacos e até por causa da asma. E não têm sido apenas os testamentos que têm aumentado, igualmente as procurações, doações e partilhas em vida. No entanto, praticamente inverosímil é o caso de os mesmos cartórios notariais registarem uma diminuição de vinte por cento na sua actividade normal, nomeadamente, nas escrituras de compra e venda de imóveis. Mas há a outra face da moeda que nos deixa ainda mais perplexos. Os notários têm-se deslocado aos lares de terceira idade a fim de efectuar os registos necessários com a assinatura obrigatória dos patronos. Os notários vão aos lares e depois choram. Ficam contaminados e são obrigados a encerrar os escritórios. Até aos dias de hoje, desde o início da pandemia, já estiveram encerrados 40 cartórios notariais. 2. O tema que na semana que findou mais deu que falar já nós tínhamos esclarecido aqui

os nossos leitores na edição do passado dia 16 de Novembro. Refiro-me ao caos em que se encontra a situação na TAP, onde o caso já levou a um imbróglio entre o primeiro-ministro e o ministro das Infraestruturas, o tal que pretende de qualquer forma o lugar de António Costa como líder do PS. O ministro Pedro Nuno Santos desejava levar a solução da TAP à Assembleia da República e os deputados que decidissem como reestruturar a companhia aérea. Nesse ponto, António Costa esteve muito bem e disse ao

“A TAP tem sido alvo nos últimos anos de um prejuízo escandaloso, administrada vergonhosamente por incompetentes e acordos financeiros pouco sérios.”

ministro que os problemas governamentais devem ser resolvidos pelo governo e não por outros órgão de soberania. Nestes dias têm-se vivido momentos degradantes sobre a situação na TAP. Tudo pode acontecer: o povo ter de pagar a injecção financeira de mais de três mil milhões de euros, caso a Comissão Europeia aprove a proposta de reestruturação, a qual nem foi apresentada ao Presidente da República; podemos assistir a cerca de três mil despedimentos como prenda de Natal aos trabalhadores da TAP e proceder-se à venda de mais de 20 aeronaves. E ainda podemos ficar sem companhia aérea de bandeira, disse o mesmo ministro, caso a União Europeia rejeite a proposta portuguesa de reestruturação da empresa, o que constituiria uma tragédia na ligação com os portugueses que vivem na diáspora e com outros povos do nosso antigo Ultramar, não mencionando os Açores e a Madeira. A TAP tem sido alvo nos últimos anos de um prejuízo escandaloso, administrada

vergonhosamente por incompetentes e acordos financeiros pouco sérios. Este ministro que tutela a TAP chegou ao dissabor de os sindicatos da empresa o desmentir e provar que o governante tem mentido aos portugueses quando afirmou que os pilotos da TAP ganhavam muito mais que os que laboram nas principais companhias aéreas europeias, o que é falso. Com este ministro, nem a TAP nem o país irão longe e o que mais se lamenta é que a criatura se gabe, sem qualquer modéstia, de que ele é o único a decidir sem medo, o único com coragem disto e daquilo. Coragem? Só se for aquela “coragem” de ter deixado o seu Maserati escondido para que ninguém visse que um socialista é pior que muitos capitalistas quando se dirigiu a uma cerimónia oficial onde estava presente quase toda a governação do país e uma multidão popular... *Texto escrito com a antiga grafia


“Ninguém é sério aos 17 anos.”

Fundação Oriente Jornalista da TDM vence prémio Reportagem

A jornalista da TDM Inês Santinhos Gonçalves venceu o Prémio Macau-Reportagem, atribuído pela Fundação Oriente, com o trabalho “Animais de Farmácia”, foi ontem anunciado. A reportagem, exibida no Canal Macau da TDM, em Janeiro de 2019, “aborda um tema relevante da cultural local”, num trabalho “solidamente documentado” e que convoca “diferentes vozes para a análise do assunto em causa”, sublinhou a Fundação Oriente, em comunicado. De acordo com o júri, “a reportagem foi conduzida de forma estruturada e clara, constituindo um bom exemplo do género textual em apreço”. Outra reportagem foi distinguida com uma menção honrosa: “O último estertor da pista infame”, da jornalista Sílvia Gonçalves, publicada no jornal Ponto Final, em Julho de 2018.

PUB

O

Clube Militar de Macau comemora 150 anos num ano “extremamente difícil” devido à pandemia e que testa mais uma vez a capacidade de a instituição se reinventar, salientou à Lusa um dos membros da direção, Manuel Geraldes. O Clube Militar passou por momentos “extremamente difíceis ao longo da sua História”, o edifício, “de grande e rara beleza”, chegou a fechar, “serviu de casa de refugiados” da guerra e de repartição de finanças, “mas sempre soube ressuscitar” e a assumir-se como ponto de encontro entre as comunidades locais e lusófonas, frisou. O ex-presidente da instituição privada, desde a sua fundação, admitiu “momentos menos felizes”, mas destacou sobretudo as “fases de grande glória”, que contam histórias de encontros de culturas, chinesa e portuguesa, das forças armadas com a sociedade civil. Desde a sua fundação, em 1870, existem momentos que Manuel Geraldes faz questão em enumerar, orgulhoso da forma como a associação conseguiu, à semelhança de Macau, preservar a História onde habitam tantas culturas diversas. Alguns exemplos: Em 1912, recebeu o primeiro Presidente da República Popular da China, Sun Yat Sen, que “veio a Macau para

segunda-feira 14.12.2020

PALAVRA DO DIA

TIAGO ALCÂNTARA

Arthur Rimbaud

Uma salva de palmas Clube Militar assinala 150 anos e testa “a capacidade de se reinventar”

estar com os seus amigos, que lhe tinham dado apoio”, lembrou. Na década de 60 do século passado, após servir de alojamento a refugiados da guerra e de funcionar como repartição de finanças, resgatou “a sua actividade normal como ponto de reunião e convívio, não só para oficias das forças armadas, (…) mas também com a sociedade civil”.

DEPOIS DE ABRIL

Em 1975, novo teste à capacidade de adaptação, após “as forças ar-

madas terminarem a sua missão em Macau”, cuja renovação dos estatutos ajudou a abrir ainda mais a instituição à sociedade, com o clube a abraçar, gradualmente, a vocação “ao longo dos anos 80 e 90 como um importante ponto de encontro da comunidade portuguesa”, acrescentou. Um ano depois de ter celebrado os 20 anos da transferência de Macau para a China, o Clube Militar celebra agora os seus 150 anos, num momento que trouxe

muitos e inesperados desafios à instituição, muito por culpa da pandemia. “Foi um ano muito difícil para toda a gente, (…) mas para o clube em si, na sua estrutura e conceito de sustentabilidade, foi tremendo. Temos alguma preocupação, mas por outro lado estamos confiantes (…) que em conjunto vamos encontrar uma solução”, disse.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.