Hoje Macau 14 FEV 2020 # 4466

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SEXTA-FEIRA 14 DE FEVEREIRO DE 2020 • ANO XIX • Nº4466

MOP$10 PUB

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

ANTÓNIO CARVALHO NETO

NEGÓCIOS DA OCASIÃO

hojemacau

ENTREVISTA

MACAU / HONG KONG

OPINIÃO

MEXIDAS NO GABINETE

O ANO DO SILÊNCIO

PÁGINA 5

PAUL CHAN WAI CHI

Razões de combate O Governo anunciou ontem um conjunto de medidas para combater a crise desencadeada pelo novo coronavírus. O pacote económico, no valor de cerca de 20 mil milhões de patacas, a ser implementado faseadamente, abrange cinco grandes áreas: isenção ou diminuição de impostos, linhas de empréstimo para PME, desenvolvimento das competências profissionais e vales de consumo electrónico.

PÁGINAS 2-3


2 coronavírus

ANTI VIRAL COVID-19

GOVERNO ANUNCIA PACOTE DE MEDIDAS DE APOIO ECONÓMICO

GCS

14.2.2020 sexta-feira

Secretário para a Economia e Finanças anunciou ontem um conjunto de medidas anti-crise no valor estimado de 20 mil milhões de patacas destinados às empresas e à população para fazer face à situação do novo coronavírus. Além de isenção do pagamento de água e electricidade durante três meses, os residentes de Macau vão ter direito a vales de consumo no valor de três mil patacas

É

um verdadeiro cabaz de apoio económico que o Governo pretende injectar tanto nas empresas como na população, para fazer face às consequências provocadas pelo surto do novo tipo de coronavírus. Além de medidas de apoio directo à população, o secretário para a Economia e Finanças Lei Wai Nong anunciou ainda uma linha de empréstimos destinada às pequenas e médias empresas (PME) e medidas de apoio social para minimizar o impacto da situação nos que se encontram numa situação mais desfavorecida. “O Governo sabe das incertezas sentidas pela

população durante esta epidemia e a melhor solução para o problema é fazer face à situação. Por isso vamos lançar algumas medidas para atenuar as pressões sentidas”, começou por dizer Lei Wai Nong por ocasião da conferência de imprensa diária, promovida Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus. O secretário não perdeu tempo em enumerar as cinco grandes áreas de acção deste pacote de medidas excepcionais e que passam pela isenção ou diminuição de impostos, pela abertura de uma linha de empréstimo com juros bonificados para as PME, pelo reforço do apoio so-

FRONTEIRAS MAIS RIGOR

L

ei Wai Nong, secretário para a Economia e Finanças, admitiu ontem que o Governo pode vir a implementar medidas de controlo mais rigorosas na fronteira, numa altura em que continuam a cruzá-la diariamente mais de 10 mil pessoas. “O controlo do fluxo de pessoas é uma medida necessária, mas não podemos implementar esta medida somente através de uma ordem administrativa, temos de fazer uma avaliação geral, recorrendo a informações suficientes

para tomar esta decisão. Se o risco aumentar vamos tomar medidas mais rigorosas”, referiu Lei Wai Nong. Numa altura em que a concentração de residentes nas ruas parece estar a aumentar, o secretário deixou ainda um alerta. “Todos precisam de ter consciência. O surto na comunidade é um preço altíssimo que nós não podemos pagar e por isso espero que os cidadãos compreendam que temos de escolher uma maneira de viver mais segura”.

cial, desenvolvimento das competências profissionais dos trabalhadores e ainda pelo lançamento de vales de consumo eletrónico. O pacote de medidas excepcionais, orçamentado no valor estimado de 20 mil milhões de euros, irá ser implementado de forma faseada e de acordo com a apreciação da Assembleia Legislativa, explicou o secretário para a Economia e Finanças. Lei Wai Nong estabeleceu ainda uma fronteira com a situação vivida na altura do tufão Hato, afirmando que desta vez todos os sectores da sociedade têm de ser apoiados, sem lugar para particularizações.

“Espero que todos compreendam que esta epidemia é diferente do tufão Hato, que foi um ciclone tropical que envolveu dificuldades com estabelecimentos e áreas bem localizadas. Esta situação epidémica envolve dificuldades para todos os quadrantes da sociedade, desde cidadãos, até pequenas e médias empresas e foi por isso que adoptámos medidas de alto nível, onde não é possível fazer arranjos a pensar em casos especiais”, explicou. Sobre as medidas de alívio fiscal, o Governo anunciou que ao nível do imposto profissional irá proceder-se ao aumento da devolução da colecta para 70 por cento, até

FUNÇÃO PÚBLICA /CASINOS COMPASSO DE ESPERA

S

obre a possível reabertura dos casinos terminado o prazo de encerramento de 15 dias decretado pelo Governo, Lei Wai Nong referiu que a decisão depende da deliberação administrativa e da avaliação de risco. “A suspensão terminará no dia 19 de Fevereiro mas será prolongada ou não dependendo da decisão administrativa e também da avaliação do risco. Só se avaliarmos a situação como segura é que vamos abrir os estabelecimentos. Temos estado em comunicação estreita

com as concessionárias e respectivas entidades.” Já sobre o regresso à actividade da função pública, a secretária para os Assuntos Sociais Ao Leong U referiu que a decisão será “anunciada em breve” e que actualmente o Governo está “a estudar e a avaliar a situação epidemiológica para ver se na próxima semana irão recomeçar as actividades”. Todas as medidas tomadas pelo Governo são para poder iniciar o mais rapidamente possível as actividades”, acrescentou Ao Leong U.

ao limite de 20 mil patacas, bem como um aumento da dedução fixa ao rendimento colectável para os 30 por cento. Lei Wai Seng anunciou ainda que os residentes irão ficar isentos do pagamento da contribuição predial urbana das unidades habitacionais referente ao ano de 2019. Os residentes de Macau vão ainda ficar isentos do pagamento das tarifas da electricidade e da água durante três meses, entre Março e Maio.

INJECÇÃO DE DOIS MILHÕES

Destinado a “acelerar a recuperação económica da sociedade”, outra das novidades do novo pacote de medidas é o lançamento de vales de consumo no valor de três mil patacas. Os vales serão desenvolvidos pela Macau Pass, têm um prazo de validade de três meses poderão ser gastos em estabelecimentos comerciais da cidade. “O Governo de Macau vai atribuir aos residentes de Macau vales de consumo electrónico no valor de três mil patacas, que podem ser utilizadas nos restaurantes, no retalho, entre outras despesas. Têm a validade de três meses e esperamos que com esse apoio os residentes possam ultrapassar este momento difícil e promover o consumo local. Queremos desta forma investir 2,2 mil milhões de

patacas no mercado”, explicou Lei Wai Nong. Questionado sobre quais das medidas seriam aplicáveis a trabalhadores não residentes (TNR), o secretário confirmou que as medidas se destinam apenas aos residentes de Macau. “A cobrança dos impostos, as respectivas taxas e até alguns apoios para as PME e ajudas aos mais carenciados destinam-se exclusivamente a residentes de Macau. Quanto aos TNR vamos adoptar as suas complementaridades segundo a lei das relações de trabalho”, esclareceu Lei Wai Nong. A nível social, para os mais carenciados é acrescentada uma nova atribuição dos vales de saúde no valor de 600 patacas e a atribuição dos dois subsídios extra aos


coronavírus 3

sexta-feira 14.2.2020

Mais uma alta Natural de Wuhan saiu do hospital e pagou 52 mil patacas a pronto

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agregados que já beneficiavam de apoio económico.

APOIO ÀS EMPRESAS

Quanto aos apoios destinados às PME, o destaque vai para o facto de as empresas poderem beneficiar de um crédito com juros bonificados até um montante máximo de dois milhões de patacas, com uma taxa máxima de juros de 4 por cento, durante um período de três anos. Isto para as PME que obtenham empréstimos bancários motivados pela escassez de fundos operacionais relacionados com da epidemia. Simultaneamente, será lançado um plano de apoio especial para as PME criadas há menos de dois anos, podendo estas solicitar um apoio de 600 mil patacas, isento de juros, ficando

“Espero que todos compreendam que esta epidemia é diferente do tufão Hato (…). Esta situação epidémica envolve dificuldades para todos os quadrantes da sociedade” LEI WAI NONG SECRETÁRIO PARA A ECONOMIA E FINANÇAS

obrigado a pagar a dívida nos oito anos seguintes. Quanto ao restante apoio destinado às empresas, no que respeita ao Imposto Complementar de Rendi-

mentos, a colecta referente ao ano de 2019 vai sofrer uma dedução máxima de 300 mil patacas. Já a contribuição predial urbana para propriedades destinadas ao comércio

O pacote de medidas excepcionais, orçamentado no valor estimado de 20 mil milhões de euros, irá ser implementado de forma faseada e de acordo com a apreciação da Assembleia Legislativa

e industrial referente ao ano de 2019 terá uma dedução de 25 por cento. O Governo anunciou também a isenção por seis meses do imposto de turismo, que corresponde a uma taxa de cinco por cento do consumo feito nos estabelecimentos do sector dos serviços turísticos. Lei Wai Nong anunciou igualmente que o Governo irá proceder à devolução do imposto de circulação dos veículos comerciais referente ao ano de 2020, bem como para a isenção ou devolução do valor do imposto de selo para alvarás e licenças administrativas referentes a 2020. Pedro Arede com Lusa info@hojemacau.com.mo

S Serviços de Saúde anunciaram ontem a alta de mais uma paciente que tinha sido identificada, anteriormente, como o terceiro caso de infecção em Macau. Trata-se de uma mulher com 57 anos, natural de Wuhan, que chegou à RAEM, a 23 de Janeiro, através do Terminal Marítimo. “A mulher pagou a taxa de tratamento médico que foram 52 mil patacas. Entre os 10 casos confirmados registamos temos três curados, o que significa que ainda temos sete casos ligeiros”, afirmou ontem Lei Wai Seng, responsável pela urgência do Centro Hospitalar Conde São Januário. “A paciente teve alta por volta das 16h00 de hoje [ontem]”, complementou. A mulher tinha chegado a Macau na manhã de 23 de Janeiro, uma hora antes de Wuhan ter sido “fechada” devido à transmissão do coronavírus. Assim que entrou na RAEM apanhou imediatamente um táxi para o Hospital Kiang Wu, por sentir “tonturas”. Devido aos sintomas apresentados e à sua origem foi depois levada para o CHCSJ. Ontem, Lei Wai Seng recordou que o primeiro exame a esta mulher teve um resultado negativo. Porém, 48 horas depois, o resultado acabou mesmo por ser positivo. “A paciente recebeu um tratamento com a duração de 17 dias, sendo necessário utilizar esteróides e ainda recorrer à máquina de auxílio à respiração”, afirmou o médico sobre o tratamento. “A situação foi registada

com melhorias e de acordo com o segundo Raio-X realizado não detectámos sintomas da doença nem indícios, pelo que foi decidido que podia ter alta”, foi acrescentado. Após ser anunciada esta alta, o director do Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, admitiu que os resultados “estão a ser muito bons”, o que pode gerar desconfiança. Porém, recusou a ideia de haver informação escondida.

TRÊS CURAS

Até ao momento todas as pessoas que tiveram alta são naturais de Wuhan. No entanto, a mulher que teve alta foi a única até ao momento que efectuou ao pagamento das despesas no Centro Hospitalar Conde São Januário. Nos outros casos, uma empresária de 52 anos teve alta, mas terá recusado assinar um documento a reconhecer que ficava a dever 34 mil patacas ao hospital público. Esta foi a primeira alta e aconteceu no dia 6 de Fevereiro. A situação causou polémica, uma vez que a mulher foi fotografada pelos Serviços de Saúde com uma mala com um valor superior a 20 mil patacas. A mulher fez um pedido para ficar isenta da conta hospitalar. No segundo caso tratado, uma jovem de 21 anos teve alta na quarta-feira depois de 16 dias de tratamento, que corresponderam a uma factura de 25 mil patacas. A mulher pediu isenção, mas comprometeu-se a pagar no prazo de um mês, caso este seja recusado. J.S.F. / P.A.


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HOJE MACAU

14.2.2020 sexta-feira

Nancy Lee, vendedora “As únicas máscaras que [os residentes de Macau] conhecem são as máscaras cirúrgicas, acreditando que são capazes de os proteger completamente em todas as situações.”

EPIDEMIA LOJA DE ARTIGOS COREANOS DE DECORAÇÃO E FRAGÂNCIAS PASSOU A VENDER MÁSCARAS

Uma questão de partículas Uma loja de artigos coreanos tirou o que tinha nas prateleiras e passou exclusivamente a vender máscaras “Made in Korea” equivalentes às do tipo N95 ou superior. Segundo os responsáveis e as próprias autoridades coreanas, as máscaras cirúrgicas não oferecem a protecção necessária contra a transmissão do novo tipo de coronavírus

T

IRÁMOS tudo o que estava aqui e começámos a vender máscaras fabricadas na Coreia. Normalmente temos muitos artigos nas prateleiras como ambientadores, velas e malas, mas achámos que, neste momento, importante era ajudar a população de Macau”. As palavras são de Nancy Lee, funcionária da David´s Selection, uma pequena loja de artigos sul-coreanos situada na Calçada de Santo Agostinho. Na vitrine, avisos afixados em folhas amarelas e vermelhas para chamar a atenção de quem passa. Entre recomendações impossíveis

de compreender e máscaras cirúrgicas rasuradas com cruzes vermelhas, surge a mensagem “Don´t waste your money! This is for dust and common flu, not coronavirus”. No interior alguns clientes curiosos pegam em embalagens que descansam agora, onde há semanas atrás estava exposta uma distinta panóplia de fragrâncias e outros artigos para o lar. “A maior parte das pessoas que entra está só curiosa e acaba por não comprar porque desconhece e considera o preço caro”, partilhou com o HM a funcionária da loja. “Sinto-me preocupada e triste, porque os residentes de Macau não estão conscientes das vantagens da utilização

de máscaras do tipo KF94. As únicas máscaras que conhecem são as máscaras cirúrgicas, acreditando que são capazes de os proteger completamente em todas as situações”, rematou. Detalhando um pouco, “KF” é a abreviatura para

“Pequenas partículas infecciosas não conseguem ser filtradas pelas máscaras cirúrgicas.” HYO-JICK CHOI PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE ALBERTA

“Korean Filter” (filtro coreano), sendo o número que é indicado de seguida (KF94, KF99, por exemplo) diz respeito à percentagem de pequenas partículas que determinado modelo é capaz de bloquear. Os modelos KF94 são o equivalente coreano das máscaras comumente vendidas de protecção reforçada do tipo N95, que geram normalmente maior desconforto na respiração do utilizador pelo facto de praticamente não terem aberturas para o exterior, gerando maior calor. Na Coreia do Sul, e segundo informações do The Korea Herald, jornal em língua inglesa daquele país, as autoridades de saúde

emitiram inclusivamente um comunicado onde aconselham a população a “usar sempre máscaras com uma capacidade de filtragem KF94 ou superior”.

DE PAPEL?

Sobre as máscaras cirúrgicas, as mesmas que estão a ser vendidas através do plano de fornecimento do Governo de Macau, Nancy Lee disse ao HM que são uma protecção adequada apenas para partículas de tamanho considerável e que, por permitirem ter muitos espaços abertos junto ao nariz e boca, oferecem uma protecção reduzida contra o contágio de infecções como o novo tipo de coronavírus.

Os receios da funcionária são corroborados por um especialista citado no sábado passado pelo Business Insider, apontando que as máscaras cirúrgicas são aconselháveis apenas para impedir quem já está doente de passar a infecção para outras pessoas. “Pequenas partículas infecciosas não conseguem ser filtradas pelas máscaras cirúrgicas”, defendeu Hyo-Jick Choi, professor assistente de Engenharia Química e dos Materiais da Universidade de Alberta, nos Estados Unidos. “Simultâneamente (…) as máscaras cirúrgicas não possuem a função de eliminar o vírus, por isso, se as partículas concentradas na sua superfície estiverem infectadas, conseguem lá sobreviver algumas horas ou até mesmo uma semana”, explicou o especialista àquela publicação. Entretanto, enquanto mais um residente de Macau sai pelas portas do estabelecimento de mãos a abanar, Nancy Lee partilha que o problema do fornecimento de máscaras é tão grande que na Coreia do Sul o tipo de máscaras que está a vender em Macau já está esgotado. A sul-coreana que vive em Macau há mais de 10 anos acredita que a pequena empresa que tem mais dois estabelecimentos, “está a dar o seu melhor para ajudar a população”, até porque, ao contrário daquilo que está a acontecer no seu país natal, os preços não estão a ser inflaccionados. “Na Coreia é impossível encontrar estas máscaras porque estão esgotadas em todo o lado e, mesmo que estejam à venda, iriam custar qualquer coisa como 40 patacas cada. Aqui estamos a vendê-las por 30 patacas. Ofercemos por isso um preço mais baixo, com pouca margem para ajudarmos as pessoas de Macau”, apontou Nancy Lee. “O Governo da Coreia já proibiu a exportação deste tipo de máscaras por isso deverão acabar em breve”, acrescentou. Em Macau já foram vendidas 10 milhões de máscaras cirúrgicas ao fim das duas rondas de fornecimento, ou seja, metade da encomenda total feita pelo Governo de 20 milhões de unidades, confirmaram esta semana os Serviços de Saúde de Macau. Pedro Arede

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política 5

SCMP

sexta-feira 14.2.2020

CORONAVÍRUS AGNES LAM DEFENDE CIDADÃOS DE WUHAN

A

deputada Agnes Lam pediu ontem compreensão para as pessoas que abandonaram Wuhan momentos antes de ser declarado que a cidade ia ser encerrada. Num comentário nas redes sociais, a legisladora pede compreensão e considera que apenas as pessoas que saíram da cidade quando já sabiam que estava infectadas merecem ser repreendidas moralmente. Em relação aos que saíram sem perceberem a gravidade da situação no Interior, de forma a evitarem ficar isolados, ou os que saíram devido pânico face ao medo de serem infectados ou de não receberem os tratamentos adequados, mesmo que apresentassem sintomas de gripe, a deputada e académica considera que apenas se tratou do “instinto de sobrevivência” a funcionar. “Se imaginarmos as pessoas nesta situação, em que a informação não é transparente, as pessoas apenas pretenderam fugir devido ao pânico, o que é apenas o instinto de sobrevivência humana a funcionar. Nenhum de nós pode garantir que nas mesmas condições não decidia também fugir”, defendeu. Por outro lado, Agnes Lam condena aqueles que sabiam que estavam doentes, mas mesmo assim fizeram tudo para fugir de Wuhan ou da província de Hubei. “Acho que as pessoas que fugiram apesar de saber que estavam infectadas são as únicas que merecem condenadas devido à responsabilidade moral envolvida. As pessoas infectadas têm a responsabilidade moral de evitar viajar e fazer o que está ao seu alcance para prevenir que haja mais infecções”, sustentou a legisladora. No mesmo texto, Agnes aponta que o mais importante nesta fase não é perseguir os residentes de Wuhan que fugira, mas antes fazer com que essas pessoas que estão assustadas se sintam confortáveis para se entregar e poder proteger a sociedade.

Xia Baolong tem 68 anos, é vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e antigo secretário do Partido Comunista Chinês pela província de Zhejiang. Começou a sua carreira política na cidade de Tianjian, na década de 70

CONSELHO DE ESTADO SUBSTITUÍDO DIRECTOR DO GABINETE DOS ASSUNTOS DE HONG KONG E MACAU

Mudanças no tabuleiro

Xia Baolong passa a ser o novo director do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau, substituindo Zhang Xiaoming, depois de um intenso período de perturbação política na região vizinha. Para o analista político Larry So, Xia Baolong deve olhar mais para a recuperação económica, tendo em conta o impacto causado pelo surto do novo coronavírus, do que para questões políticas

A

China substituiu ontem o director do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau junto do Conselho de Estado, um dos mais altos quadros do país a ser afastado depois de meses de protestos pró-democracia em Hong Kong. Zhang Xiaoming foi substituído por Xia Baolong, alto funcionário da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CPPCC), o principal órgão consultivo do Partido Comunista. Zhang foi despromovido para vice-director do Gabinete de Ligação, detalhou o Conselho de Estado. De acordo com o canal televisivo RTHK de Hong Kong, Fu Ziying, director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, será vice-director do referido Gabinete do Conselho de Estado, tal como Luz Huining, seu congénere em Hong Kong. A promoção de Xia Baolong acontece numa altura em que a

China, tal como as regiões administrativas especiais, se deparam com uma crise económica causada pelo surto do novo coronavírus. Além disso, Hong Kong tem sido palco, desde Junho do ano passado, de protestos quase diários devido à proposta de lei da extradição, entretanto retirada do Conselho Legislativo. Esses protestos têm sido marcados por cenas de vandalismo e confrontos com a polícia. Além da proposta de lei da extradição, os manifestantes apelam a uma maior democracia no território. Esta é a segunda mudança que Pequim faz relativamente às regiões administrativas especiais no espaço de meses. Em Janeiro de 2019, o Governo Central substituiu o seu representante em Hong Kong. Luo Huining, vice-presidente do Comité para os Assuntos Financeiros e Económicos da Assembleia Nacional Popular, o órgão máximo legislativo da China, substituiu Wang Zhimin como director do

Gabinete de Ligação do Governo Central em Hong Kong.

APOSTA NA ECONOMIA

Xia Baolong tem agora o difícil dever de lidar com duas situações complicadas, mas, para o analista Larry So, uma delas terá de ficar na gaveta, pelo menos para já. “Quando Hong Kong recuperar desta crise causada pelo coronavírus, uma das coisas mais importantes será a recuperação da economia. Em Macau estamos numa situação semelhante. Mas em Hong Kong o mais importante neste momento é assegurar que todo o investimento estrangeiro permanece no território e que a confiança das pessoas seja recuperada”, adiantou ao HM. Para já, o novo direcor do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau deve focar-se “mais nas questões económicas do que propriamente nos aspectos políticos”. “A China está a dar mais importância ao desenvolvimento económico do que a desenvolver uma espécie de linha

ideológica em Hong Kong, uma vez que a crise do coronavírus trouxe distúrbios ao desenvolvimento económico do país”, frisou Larry So. Mas isso não quer dizer que o Presidente chinês Xi Jinping esteja esquecido da proposta de lei de extradição e das medidas que tem na manga para lidar com a polémica, destaca o analista. De acordo com o canal televisivo RTHK, de Hong Kong, Xia Baolong tem 68 anos, é vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e antigo secretário do Partido Comunista Chinês pela província de Zhejiang. Este começou a sua carreira política na cidade de Tianjian, na década de 70. Foi subindo na hierarquia do partido e assumiu funções de governador em Zhejiang em 2003. Tornou-se secretário do partido para a província em 2013. Nesse período, cerca de duas mil cruzes foram removidas de igrejas católicas em Zheijiang. Andreia Sofia Silva com Lusa andreia.silva@hojemacau.com.mo


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TIAGO ALCÂNTARA

14.2.2020 sexta-feira

PORTUGAL PRESIDENTE DA ESCOLA PORTUGUESA DE MACAU DEBATE DATA DOS EXAMES NACIONAIS

Jogar na antecipação Manuel Peres Machado está em Lisboa a discutir a possibilidade de adiar a data dos exames para os estudantes locais. Segundo o presidente da Escola Portuguesa de Macau, as autoridades portuguesas mostraram total abertura para encontrar uma solução que permita minimizar o impacto do coronavírus

O

presidente da Escola Portuguesa de Macau tem estado em Lisboa a reunir com o Governo português para discutir os moldes em que os alunos da instituição vão realizar os exames nacionais de admissão ao ensino superior.Adirecção da escola está preocupada com o impacto na preparação dos alunos causado pelo encerramento forçado, devido à epidemia do coronavírus.

A

Fundação Católica para o Ensino Superior Universitário, entidade que tutela a Universidade de São José (USJ), emitiu ontem um comunicado onde dá explicações adicionais sobre o processo de substituição do actual reitor, Peter Stilwell, sem, no entanto, referir o nome de Stephen Morgan, que foi avançado esta quarta-feira pela TDM Rádio Macau. “No final deste ano lectivo o actual reitor, P. Peter Stilwell, termina o

Na quarta-feira, Manuel Peres Machado esteve reunido com a Direcção-Geral de Educação e com a Direcção-Geral da Administração Escolar e em cima da mesa foi colocada a hipótese dos exames para os alunos de Macau serem realizados na segunda fase nacional, que para os locais contaria como primeira. “Estivemos a discutir este período difícil que levou ao encer-

ramento da escola e a manifestar a nossa preocupação sobre a interrupção das aulas, principalmente para os alunos que têm de fazer os exames nacionais”, contou Manuel Peres Machado, ao HM. “Estivemos a estudar a viabilidade de adiar a primeira fase dos exames para os alunos de Macau, mas essa possibilidade vai depender da data em que a escola voltar ao funcionamento normal”, acrescentou. Hoje, o presidente da Escola Portuguesa de Macau vai ter uma nova reunião com o Ministério de Educação e não está afastada a hipótese de haver outros encontros na próxima semana. Da parte do Governo português diz ter encontrado toda a vontade de encontrar uma solução para este problema. “Senti que há abertura total das autoridades de Portugal para encontrar uma solução e que há todo o apoio à escola. Agora, a solução encontrada vai depender

de quando voltarmos à actividade normal”, afirmou.

APOIO DOS PAIS

Ao HM, o presidente da Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau elogiou o facto de a direcção ter desenvolvimento esforços no sentido de falar com as autoridades portuguesas sobre os exames

“Estivemos a estudar a viabilidade de adiar a primeira fase dos exames para os alunos de Macau, mas essa possibilidade vai depender da data em que a escola voltar ao funcionamento normal.”

“Um enorme desafio”

Fundação Católica diz que processo de escolha de novo reitor está em curso

seu segundo mandato à frente da Universidade. Cabe à Fundação Católica escolher e nomear um sucessor, depois de consultados os membros do Conselho Superior da Universidade. A carta de consulta foi enviada aos seus destinatários dias antes do Novo Ano Lunar Chinês e não expirou o prazo de resposta”, lê-se.

A mesma nota diz ainda que “com os resultados da consulta em mão, a Fundação Católica irá deliberar sobre a nomeação de um novo Reitor. Nenhuma declaração adicional sobre este assunto será feita até à conclusão do processo”. Além disso, a Fundação acrescenta que “a universidade e a sua actual direcção contam com o total apoio da Diocese de Macau

e da Fundação Católica no excelente trabalho que desenvolvem”.

À DISTÂNCIA

É uma fase de mudança interna que obriga também à gestão de uma crise e, por isso, Peter Stilwell não quer falar, para já, do que correu bem e mal no trabalho que desenvolveu como reitor da Universidade de São José

nacionais. “Se é uma deslocação com a preocupação de falar com o Ministério de Educação e perceber se é possível ter um regime excepcional para os alunos que fazem o exame nacional, parece-me muito bem”, disse Filipe Regêncio Figueiredo. Além do presidente da EPM, neste momento há igualmente quatro docentes fora da Macau “por motivos pessoais de força maior”, explicou Manuel Peres Machado. “São ausências que não têm nada ver com o coronavírus e que iriam acontecer mesmo que a escola não tivesse fechado” justificou o presidente da instituição. “Mas as ausências não estão a afectar o trabalho destes professores através da plataforma online. Não há qualquer prejuízo para os alunos”, completou. O HM contactou a Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) sobre o facto de professores poderem colocar os conteúdos das aulas online fora do território. Na resposta, a DSEJ sublinhou que as escola tem autonomia para decidir como gere os seus recursos administrativos e financeiros.

(USJ), lugar que ocupou em 2012. No entanto, o ainda reitor comenta a adaptação que a instituição de ensino teve de fazer no âmbito da crise gerada pelo surto do novo coronavírus. Tal levou à adopção do modelo de ensino à distância, com o balanço a ser, para já, positivo. “Neste momento estou totalmente empenhado em conduzir a USJ através do enorme desafio que têm representado as medidas de prevenção contra a difusão do coronavírus”, começou por dizer.

João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

“Estamos em estreita colaboração com o Governo, ao mesmo tempo que migramos quase toda a nossa actividade para reuniões e ensino à distância. A participação de todos, alunos, funcionários e docentes, tem sido espectacular. As nossas equipas de IT e de desenvolvimento informático têm sido incansáveis na formação intensiva de toda a comunidade académica. Muito me orgulho do espírito de equipa e de entusiasmo de todos na USJ”, acrescentou ao HM. A.S.S.


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sexta-feira 14.2.2020

VOOS RECEBIDOS QUASE 90 PEDIDOS DE AJUDA DE RESIDENTES “RETIDOS”

IAM Mais de 454 toneladas de alimentos importados

O Instituto para os Assuntos Municipais anunciou que até ontem ás 15h00 tinham sido importadas 454 toneladas de alimentos, dos quais cerca de 180 toneladas são hortaliças e legumes frescos, 40 carne refrigerada, e 155 carne congelada. As restantes 31 toneladas e 48 toneladas dizem respeito a mariscos e frutas, respectivamente. Além destes alimentos, foram ainda importados 207 porcos vivos, cinco vacas para abate e 192 mil ovos.

FSS Pensões são pagas hoje

O Fundo de Segurança Social (FSS) atribui hoje a pensão para idosos ou a pensão de invalidez, informou o organismo através de um comunicado oficial. Tendo em conta a situação epidémica causada pelo novo tipo de coronavírus, o FSS informou que o pagamento será efectuado através de transferência bancária “aos requerentes que foram informados, em Janeiro, do deferimento de requerimento das referidas pensões”. O FSS apela ainda aos respectivos beneficiários “para não se dirigirem ao banco com pressa para confirmar o respectivo recebimento na conta, devendo, tanto quanto possível, permanecer em casa”, de forma a diminuir o risco de infecção causado pela concentração de pessoas.

Farmácia Empresas doam suplementos alimentares

A Sociedade Farmacêutica Hua Yuan Tang (Macau), Limitada e a Sociedade de Fabricação de Produtos Farmacêuticos Veng On (Macau) Limitada ofereceram ontem um lote de suplementos alimentares ao Governo, tendo estes sido recebidos pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U. De acordo com um comunicado, foram doadas ao Executivo 500 caixas de extracto de ginseng pela Sociedade Farmacêutica Hua Yuan Tang (Macau), Limitada, enquanto que a Sociedade de Fabricação de Produtos Farmacêuticos Veng On (Macau) Limitada doou 25 caixas de cápsulas de “anthocyanidin”, o que se traduz em 96 frascos de produto, três caixas de cápsulas de medicamentos chineses (96 frascos) e duas caixas de cápsulas de “broken ganoderma lucidum spore powder” (96 frascos).

Presos no aeroporto

Devido à epidemia do coronavírus de Wuhan, a maior parte dos residentes estava retida no Vietname e Filipinas, quando ligou à linha de apoio do Governo a pedir auxílio para regressar a casa

O

cancelamento e adiamento de voos relacionadas com o surto de coronavírus de Wuhan fizeram com que o Gabinete de Gestão de Crises do Turismo (GGCT) tivesse recebido 87 pedidos de ajuda de residentes, que se encontravam fora do território. A informação foi avançada pelo GGCT ao HM, na quarta-feira. Entre os residentes que se viram impedidos de voar para Macau devido a cancelamento ou adiamento de voos, 66 encontravam-se no Vietname, 20 nas Filipinas e 1 no Japão.

“Devido às restrições impostas pelo governo de diversos países, neste momento, várias companhias aéreas não se encontram a voar para Macau.” GABINETE DE GESTÃO DE CRISES DO TURISMO

No que diz respeito ao Vietname, o país encerrou todas as ligações aéreas com o Macau, Hong Kong e o Interior da China, numa primeira fase, mas acabou por voltar atrás e permitir que os voos com as Regiões Administrativas Especiais fossem retomados. Contudo, segundos os dados de ontem, não houve qualquer ligação a descolar e a aterrar no aeroporto de Macau que não tivesse como destino Xangai, Taiwan, Camboja e Tailândia. Por sua vez, as Filipinas, por ordem do presidente Rodrigo Duterte, cancelaram todas as ligações com o Interior da China, Macau

e Hong Kong, logo a 2 de Fevereiro. Esta foi uma ordem posteriormente prolongada até 28 de Março, numa situação que além de apanhar os turistas desprevenidos apanhou igualmente os trabalhadores não-residentes originários da ex-colónia espanhola.

BUSCA POR ALTERNATIVAS

Às pessoas afectadas pelo cancelamento ou adiamento de voos que não conseguem regressar a Macau, o GGCT recomenda que procurem alternativas e sugere o aeroporto de Hong Kong em muitos dos casos. “Devido às restrições impostas pelo governo de diversos

países, neste momento, várias companhias aéreas não se encontram a voar para Macau. Existem no entanto outras companhias aéreas a fazer a ligação para Hong Kong”, é reconhecido. “O GGCT aconselha aos residentes de Macau a optarem por voos alternativos para o seu regresso a Macau, tanto através de Hong Kong ou outros destinos. Devido à constante evolução da situação pede-se ainda aos residentes de Macau que pesquisem e prestem atenção às informações mais actualizadas de voos disponíveis”, é acrescentado. Apesar das ligações marítimas entre Macau e Hong Kong terem

sido todas suspensas, inclusive a que circulava entre a RAEM e o Aeroporto Internacional de Hong Kong, os residentes ainda podem recorrer à Ponte Hong-Kong-Zhuhai-Macau para efectuarem as ligações. Na resposta enviada, ao HM, o GGCT recorda ainda que os residentes que encontrarem problemas ao longo das suas férias podem contactar a linha disponível 24 horas através do +853 2833 3000. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo


8 ENTREVISTA

ALBERTO CARVALHO NETO PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE JOVENS EMPRESÁRIOS PORTUGAL-CHINA

“Sou contra retirar vantagens de uma crise” Empresário e presidente da Associação de Jovens Empresários Portugal-China, Alberto Carvalho Neto lamenta que, com o surto do novo coronavírus, as empresas que exportam material médico para a China tenham aumentado bastante os preços, em muitos casos na ordem dos 1000%, num claro aproveitamento da situação. Carvalho Neto fala de “retracção” em Macau, dada a quebra na importação de produtos alimentares e de um impacto negativo no turismo em Portugal De que forma é que a crise do coronavírus está a afectar o comércio entre Portugal e a China? Em Portugal está a notar-se muito uma contracção. A não ser num sector muito específico que é a venda de equipamentos e máscaras cirúrgicas para a China. Isso está a levar a uma discrepância bastante grande de valores e de stock, e infelizmente está a registar-se um grande aumento de preços. Há esse tipo de procura por toda a Europa e norte de África, ao ponto de em muitos países não existir stock disponível. Relativamente aos produtos que são exportados para Macau e China, essa exportação tem diminuído bastante devido ao facto de não haver consumo. Mas acredito que no máximo dentro de três meses o mercado possa voltar ao normal e aí poderá existir de facto uma oportunidade para as empresas portuguesas, que podem começar desde já a tentarem fazer contactos. Contactos para que tipo de vendas? Enlatados, conservas, produtos que sejam fáceis de transportar e

mente, mesmo as mais pontuais e reduzidas, mas que representam uma grande percentagem para as empresas portuguesas. É algo que vai afectar bastante a nossa balança comercial. Não falo do volume de negócios das grandes empresas, pois as que estão a sofrer mais são as pequenas empresas, e nem falo daquelas que têm média dimensão. Mas dentro da crise pode haver uma pequena oportunidade. Em que sentido? Tem a ver com o facto de o tecido empresarial chinês, tanto as PME como associações, estarem dispostas a, pela primeira vez, pagarem pela nota de encomenda. Isso tem a ver com o facto de estarem todos à procura de material médico, máscaras essencialmente. É preciso cuidado pois podem estar a com-

que tenham grande valor nutritivo, porque a partir do momento em que a situação estagnar o consumo vai voltar, e teme-se um consumo mais desenfreado. Mas a verdade também é que Portugal, tal como outros países, vai sofrer bastante com esta crise, nomeadamente no turismo. As grandes companhias aéreas deixaram de fazer alguns voos para a China, que era um grande mercado e em expansão. Portanto, isto tudo vai afectar a economia mundial. A curto prazo o impacto para as Pequenas e Médias Empresas (PME) vai ser enorme. Estamos a falar de grandes perdas e algumas já se começaram a reflectir nas encomendas do Ano Novo Chinês. Normalmente estas encomendas começam entre Setembro e Novembro, e nesses meses ainda houve bastantes encomendas. Em Novembro notou-se uma redução, mas depois em Janeiro e Fevereiro estagnou. Para as PME há realmente uma estagnação brutal pois as encomendas não estão a sair, e em algumas zonas da China as encomendas pararam completa-

“Este poderá ser um bom ano para nós, como país, trabalharmos em conjunto e tentarmonos aproximar dessas oportunidades que existem para começarmos a ter produtos no terreno.”

“Acredito, sim, que deveríamos começar a pensar como é que iríamos reagir numa crise do género. Qual a nossa capacidade de armazenamento, de resposta? Como é que os nossos hospitais estão preparados?” prar coisas falsas e fora da validade, então as empresas chinesas estão a tentar contactar várias empresas portuguesas, nomeadamente na área da indústria farmacêutica. Portanto nesse sector há um grande volume de bens transaccionados, mas há uma grande quebra nos outros. Isso faz com que as PME portuguesas que normalmente vendem para a China e que têm de estar à espera alguns meses para receber, possam agora renegociar melhor a forma de pagamentos. Neste sentido concorda com as declarações da ministra portuguesa da Agricultura, que defendeu que a crise do coronavírus pode gerar oportunidades para o sector empresarial. Sou contra retirar vantagens de uma crise, sobretudo uma crise de saúde. Há dias falei do facto de determinadas empresas e associações na Europa estarem a aproveitar-se deste caso para aumentarem exponencialmente os preços de produtos médicos.Acho que é errado. Uma coisa é haver uma lei da oferta e da procura, outra é o exagero de ter margens de mil por cento, é exagerado e errado. Acho errada essa percepção de oportunidade, mas tudo depende da forma como a ministra o disse. Mas as oportunidades que talvez possam surgir serão ao nível de se abrir um leque de exportações. Há muitos produtos que não podem ainda ser exportados para a China. Tal como a carne de porco? A carne de porco pode ser exportada a carcaça, mas não é isso que

queremos de Portugal. Durante anos tentou-se fechar o processo dos transformados de carne de porco, que é o que dá valor ao país, e não a carcaça. Provavelmente este será um bom momento para, nos próximos dois ou três meses, Portugal voltar a reagir e pedir à China para finalizar processos de uma forma mais célere, porque a China vai precisar de mais produto. Há também uma maior confiança nos produtos oriundos da Europa, depois de uma crise desta natureza. Muito. Para se ter uma ideia, o que está a acontecer é que empresas chinesas têm tido a preocupação de comprar produtos certificados na União Europeia porque têm medo de ser enganados. Daqui a dois ou três meses pode haver de facto uma oportunidade para voltarmos à carga com os nossos produtos, sobretudo de consumo alimentar, porque a China vai precisar bastante. No caso de Macau, que importa sobretudo produtos alimentares, onde se incluem vinhos, espera-se uma grande quebra, uma vez que a maioria dos restaurantes estão a fechar. Vai haver uma grande retracção. Acredito que venha a ter um grande impacto [a crise do coronavírus], porque os casinos fecharam, o consumo de vinho baixou e nada acontece. Aí sim vamos ter um grande impacto na nossa economia de exportação. Quanto tempo demorará a recuperar o volume de negócios perdido em relação a Macau? Depende muito do que vai acontecer e da abertura do mercado. A China consegue activar meios para conseguir estancar o problema e acho que nós, na Europa, devemos aprender com isso, o que é muito importante. Neste momento, se tivermos uma crise desse género, não estamos preparados. Nem em meios económicos nem em termos de procedimentos das empresas. No caso da China, continuam a existir serviços básicos como a recolha de resíduos sólidos e tratamento de água. Na Europa,


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nem temos legislação para obrigar as pessoas a ficar de quarentena. Portanto acho que a maioria parte dos países europeus devem começar a repensar como é que a Europa age num momento de crise deste género. Esta crise fez, de certa forma, repensar modelos de negócio? Acredito que tem de se repensar numa estratégia, sobretudo nós [Portugal] a nível nacional. Há bastantes anos que a China tem convidado a estarmos presentes em zonas de comércio livre […] e os primeiros a chegar são quem realmente consegue estar mais

“Daqui a dois ou três meses pode haver de facto uma oportunidade para voltarmos à carga com os nossos produtos, sobretudo de consumo alimentar, porque a China vai precisar bastante.”

próximo do mercado. Nós, como país, devemos repensar como é que queremos estar na China. Este poderá ser um bom ano para nós, como país, trabalharmos em conjunto e tentarmo-nos aproximar dessas oportunidades que existem para começarmos a ter produtos no terreno. Aí poderemos desenvolver o nosso e-commerce. O problema é que, normalmente, as empresas portuguesas não querem apostar com o parceiro chinês e o parceiro chinês também não sabe como vão as coisas acontecer e o e-commerce não funciona porque há muito tempo de espera para chegar ao produto.

Está a haver uma resposta suficiente por parte das associações empresariais portuguesas a esta crise? A AICEP tem estado muito atenta a estas questões. Sei que tem havido reuniões para tentar apoiar as empresas portuguesas e para reorganizar o calendário de eventos, porque tudo o que estava agendado para Janeiro, Fevereiro e Março foi tudo cancelado. Isto obrigou a custos para os empresários e associações. Acredito, sim, que deveríamos começar a pensar como é que iríamos reagir numa crise do género. Qual a nossa capacidade de armazenamento, de

resposta? Como é que os nossos hospitais estão preparados? Por isso é que é importante criarmos um grupo de trabalho relativo a procedimentos. É também necessário rever a legislação, porque eu não me sinto seguro num país onde a quarentena não é obrigatória. As associações e confederações têm de começar a discutir este tipo de sistemas porque são sistemas de ruptura, que podem levar a um grande impacto na economia. Acima de tudo, o nosso Governo tem de olhar para isto. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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60349 Infectados

8030 Em estado

Covi novel cor

13435 Casos

crítico

suspeitos

FONTES: • https://gisanddata.maps.arcgis.com/ apps/opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/ emergencies/diseases/novelcoronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019ncov/index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/ geographical-distribution-2019-ncovcases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/ new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/ pneumonia

OUTROS

INFECTADOS POR PAÍS / REGIÃO 59,822 53 50 33 28 28 19 18 16 16 15 14 11 10

Interior da China Hong Kong Singapura Tailândia Coreia do Sul Japão Malásia Taiwan Alemanha Vietname Austrália EUA França Macau

9

Reino Unido

8 7 3 3 3 2 2 1 1 1 1 1 1

Emiratos Árabes Unidos Canadá Itália Filipinas Índia Rússia Espanha Nepal Cambodja Bélgica Finlândia Sri Lanka Suécia

175

Cruzeiro Dream Princess países com casos de nCov países sem casos de nCov

Infectados

7

MACAU

Infectados

3 Curados

Macau

53 HONG KONG

Infectados

1

HONG KONG

1

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Hong Kong

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id-19 ronavirus

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HOJE NA CHÁVENA

Curados

Mortos

1-99 10-99 100-499 500-999 1000-9999 +10000 Ocorrências nas áreas afectadas

Dados actualizados até à hora do fecho da edição

Covid-19 vs SARS

CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO

60,000 12,000 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0

20

dias

40

dias

60

dias

Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto

80

dias

100

dias

120

dias

REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Jiangsu Chongqing Shandong Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Fujian Hebei Shaanxi

INFECTADOS 48206 1241 1169 1145 968 910 872 570 525 509 451 395 366 315 279 265 229

MORTOS 1068 1 8 0 2 4 1 0 3 2 1 8 3 1 0 2 0

REGIÃO Guangxi Hainan Yunnan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Ningxia Xinjiang Mongólia Interior Hong Kong Qinghai Taiwan Macau Tibete

INFECTADOS 222 157 156 135 126 117 116 87 84 64 63 61 53 18 18 8 1

MORTOS 1 3 0 1 0 0 2 2 1 0 0 0 1 0 0 0 0


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ENSINO ALUNOS E PROFESSORES ESTRANGEIROS ACONSELHADOS A VOLTAR A CASA

Regressos forçados

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ILHARES de professores e estudantes estrangeiros na China estão a ser aconselhados pelas respectivas universidades a voltarem aos seus países, numa altura de indecisão face à propagação do coronavírus por todo continente chinês. Vários estudantes e professores contactados pela agência Lusa dizem terem sido aconselhados a regressarem a casa por período indefinido. “Por favor, regresse a casa, pode voltar assim que a guerra contra o surto acabar”, lê-se numa das mensagens a que a Lusa teve acesso. Professores de línguas estrangeiras em escolas de ensino primário ao secundário, ou treinadores de futebol no ensino básico - ocupação de cerca de cem portugueses na China - estão ainda a ser notificados de que os seus salários serão reduzidos, em alguns casos para o equivalente ao salário mínimo por lei da cidade onde trabalham. Em Pequim, por exemplo, o salário mínimo está fixado nos 2.200 yuan, um valor que não cobre metade da renda mensal de um quarto na área metropolitana do município. Nas províncias mais pobres do país, o salário mínimo ronda os 1.500 yuan. Milhões de trabalhadores deveriam ter já regressado das suas terras natais, mas a rápida propagação do vírus levou as autoridades a prolongar o feriado nacional e a recomendar às empresas que deixem os funcionários trabalharem a partir de casa.

Várias universidades suspenderam o início do semestre por um período indefinido. Outras apontam para Maio, a seguir ao feriado do Dia do Trabalhador.

PROJECTOS SUSPENSOS

A decisão das universidades pode afectar uma aposta estratégica de Pequim, que tem, nos últimos anos, procurado atrair estudantes de todo o mundo, parte da sua ambição por maior influência global.

O país asiático é já o terceiro maior destino para estudantes estrangeiros, superado apenas pelos Estados Unidos e Reino Unido. O país asiático tinha como meta receber meio milhão de estudantes oriundos de diferentes partes do mundo este ano. A China é também o segundo maior destino para estudantes africanos, a seguir a França, atraindo centenas de estudantes oriundos dos países africanos de língua oficial portuguesa.

Todos os anos, o ministério chinês da Educação oferece seis bolsas de estudo a estudantes portugueses e destinadas a cursos livres, gerais ou avançados, em todas as áreas. O Instituto Confúcio, organismo patrocinado por Pequim para assegurar o ensino de chinês, e que está presente em cinco universidades portuguesas - Aveiro, Coimbra, Lisboa, Minho e Porto -, oferece também programas de intercâmbio na China. Os do curso de Tradução e Interpretação Português/ Chinês - Chinês/Português, do Instituto Politécnico de Leiria (IPL), cumprem também um ano lectivo na Universidade de Línguas Estrangeiras de Pequim. Na Universidade de Estudos Estrangeiros de Tianjin, cidade a 120 quilómetros de Pequim e que tem um protocolo com o Instituto Confúcio de Lisboa, os alunos e professores que optarem por ficar estão proibidos de sair do ‘campus’. Uma aluna e dois professores oriundos de Portugal permanecem na universidade. O país asiático é o maior emissor de estudantes estrangeiros - mais de 662.000 chineses estudam fora do país, a maioria nos Estados Unidos e Reino Unido. A decisão de Washington e da Austrália de proibir a entrada a quem esteve na China nos últimos 14 dias está também a afectar milhares de estudantes chineses matriculados em universidades norte-americanas, e agora impedidos de regressarem às aulas.

AUTOMÓVEIS VENDAS CAEM E PROLONGAM CRISE DO SECTOR

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S vendas de automóveis na China caíram, em Janeiro passado, à medida que o surto de um novo coronavírus paralisou o país, prolongando a crise num sector em contração nos últimos dois anos. As vendas de veículos utilitários desportivos, ‘minivans’ e ‘sedans’ no maior mercado automóvel do mundo caíram 20,2 por cento, em relação ao mesmo mês no ano anterior, para 1,6 milhão de unidades, segundo a Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis. “As empresas estão sob enorme pressão”, admitiu a Associação em comunicado.

A indústria sofreu, assim, o impacto da decisão de Pequim de prolongar o feriado do Ano Novo Lunar, que este ano calhou em 24 de Janeiro, visando evitar a propagação do vírus, designado Covid-19, e que ditou o encerramento de fábricas e concessionárias. Em 2019, as vendas de automóveis caíram pelo segundo ano consecutivo na China, à medida que a guerra comercial com Washington e a desaceleração da economia chinesa afectaram a confiança do consumidor. “No curto prazo, a produção e as vendas de automóveis serão muito afectadas”, previu a associação.

“O sistema de fornecimento de componentes será também interrompido”, advertiu ainda. A queda nas vendas é um golpe para as fabricantes globais, cujo aumento das receitas depende do mercado chinês, face a crescimentos anémicos nos Estados Unidos e na Europa. A China concentra 27 por cento da produção mundial de automóveis, face a 7 por cento em 2003, quando enfrentou um surto de pneumonia atípica. O encerramento de fábricas no país constitui assim um entrave na cadeia de produção global de componentes automóveis.

“Cortina de fumo”

Huawei volta a refutar acusações de espionagem dos EUA

A

Huawei declarou ontem que as acusações dos EUA de que o Governo chinês terá acesso a uma “porta traseira” dos seus telemóveis não passam de uma “cortina de fumo”, garantindo que nunca acedeu secretamente a redes de telecomunicações. “As acusações dos EUA sobre a Huawei usando interceptação legal não passam de uma cortina de fumo e não se inserem em nenhuma lógica no domínio da segurança cibernética. A Huawei nunca acedeu secretamente às redes de telecomunicações, nem temos a capacidade de fazê-lo. O Wall Street Journal está claramente ciente de que o Governo dos EUA não pode fornecer nenhuma evidência para apoiar suas acusações e ainda assim optou por espalhar as mentiras ditas por funcionários dos EUA”, refere a fabricante chinesa em comunicado. De acordo com funcionários norte-americanos citados pelo jornal The Wall Street Journal na quarta-feira, os produtos da empresa chinesa representam um risco para a segurança, considerando que a fabricante tem vínculos muito estreitos com o Governo chinês. “A Huawei é apenas um fornecedor de equipamentos. Nessa função, ter acesso a redes de clientes sem a sua autorização e visibilidade seria impossível. Não temos a capacidade de contornar as operadoras, controlar o acesso e tirar dados das suas redes sem ser detectado por todos os ‘firewalls’ normais ou sistemas de segurança”, disse ainda. A fabricante chinesa reitera assim que a segurança cibernética e a protecção de privacidade do utilizador são as suas principais prioridades e que as observações feitas por funcionários dos EUA ignoram completamente o enorme investimento e as melhores práticas da Huawei e das operadoras. “Estamos muito indignados com o facto de o Governo dos EUA não terem poupado esforços para estigmatizar a Huawei usando questões de segurança cibernética. Se os EUA descobrirem as violações da Huawei, pedimos novamente solenemente que divulguem evidências específicas em vez de usar os media para espalhar rumores”, refere.

PORTA DOS FUNDOS

Segundo o The Wall Street Journal, citado pela AP, funcionários norte-americanos afirmam que a Huawei Technologies pode aceder secretamente às redes de telemóveis em todo o mundo através de “portas traseiras” desenhadas para serem utilizadas pelas forças de ordem pública. Os serviços de inteligência norte-americanos apontam que a Huawei teria tido essa capacidade secreta durante mais de uma década, disseram funcionários dos Estados Unidos, enquanto a Huawei rejeita essas acusações.


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sexta-feira 14.2.2020

Tirei da boca um pássaro a cantar

entre oriente e ocidente Gonçalo M. Tavares

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FICÇÃO, ENSAIO, POESIA, FRAGMENTO, DIÁRIO

“Cavalo velho conhece o caminho”

Provérbio chinês

Sobre as nuvens e os mitos

V

EJAMOS o que diz a etimologia; “Origem da palavra meteoro. Do grego meteoros, literalmente “o que está no ar, o que está por cima de nós”. O plural meteora era o termo genérico para tudo o que se observava no céu, como as nuvens, os ventos, o granizo, o arco-íris, os relâmpagos, etc.” Daí o termo meteorologia, que não é apenas a previsão dos meteoros e da sua trajectória, mas sim a previsão de todos os acontecimentos que surgirão no ar. Em suma, tudo o que não está no chão diz respeito à meteorologia. Podemos pensar assim numa meteorologia em que a trajectória dos aviões seriaincluída. Descrever-se-iam nuvens, relâmpagos, ventos nefastos, mas também as muitas trajectórias dos aviões. Curioso notar que a meteorologia - como a descrição de tudo o que está no ar e de tudo o que está acima de nós - já perdeu toda a potência religiosa inicial. A tudo o que está no ar ou acima de nós os antigos chamavam de divino. Podemos assim pensar num antigo boletim meteorológico em que, a cada fim do dia, se falaria da disposição do divino: como seriaprevisível que os deuses, que estão no ar e acima de nós, se comportassem na próxima semana. Essa seria, então, uma arte de profetas. E, de facto, os profetas foram substituídos por análises de tendências - que sintetizam muitos números complexos, médias e etc. - e por gráficos complicados. Os antigos profetas, esses belos cavalos velhos, quase sempre cegos, viam imagens do futuro na cabeça. A sua cegueira permitia-lhes ver o que os outros não viam. A sua cegueira era, portanto, a sua fonte de força. Agora, os profetas cegos são substituídos por instrumentos de ver muito longe e com muito pormenor. Cada profeta foi trocado por satélites, antenas estranhas e cem mil telescópios de grande potência. Da não visão passou-se para a visão do mais pequeno pormenor da realidade. Aliás, é tal a potência de alguns desses telescópios que estes não vêem apenas pequenas coisas afastadas no espaço, vêemtambém coisas afastadas no tempo. Quebraram o mundo habitual da visão, que era o do espaço. Agora, com os grandes instrumentos científicos, vê-se o tempo. Mas sim, o mais importante é isto: o que antes era religião, mito e imaginação está transformado em boletim meteorológico. Ganhámos ciência, mas perdemos qualquer coisa. ILUSTRAÇÃO ANA JACINTO NUNES


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tonalidades António de Castro Caeiro

14.2.2020 sexta-feira

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Semiótica

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sinal de proibido, um círculo vermelho com um hífen branco - lembra-me sempre por associação imediata a bandeira da Suíça - está bem pendurado na cancela amarela, mesmo no meio da rua onde habitualmente arrumo o carro. Antes mesmo de lá chegar, contrariado, claro, corto à esquerda, a única opção para virar de que disponho, se não quero ficar parado, especado no meio da estrada. Ao fundo da rua, está o sinal azul de sentido obrigatório com a seta branca virada para a direita. Tomo esse rumo. Guio por ruas intersectadas por outras com sinais de proibição de virar à direita e à esquerda, que, na vertical a estrada negra na horizontal, sobre o fundo branco, é proibida a vermelho. Automaticamente, respondo às interdições e às proibições, obedeço de olhos bem abertos ao obrigatório sem pestanejar. O caracter deontológico é plasmado na condução sob pena de, ao desobedecer, a integridade física do próprio e de terceiros ser posta em causa. O problema que me é posto resulta do fecho de uma rua, presumivelmente para obras. O problema obriga a um programa de resolução: como estacionar o carro na proximidade, ir onde se tem de ir para tratar do que se tem de tratar. As soluções não são desenhadas no papel, nem na imaginação, nem na fantasia, nem no GPS. Nunca tinha passado pelas ruas pelas quais passei até estacionar o carro onde acabei por as ter estacionado. Desde o primeiro confronto com o problema que obriga a uma solução durante a condução, e, na verdade, uma solução que passa por manobras ao volante, sem parar o carro no meio da rua, virando o volante para a esquerda, reduzindo a velocidade, engatando a primeira, subindo a rampa, até ao segundo momento quando, depois de ter cortado a rua, me deparo com um novo sentido obrigatório de rumo à direita, e assim sucessivamente, até ter soluções para a esquerda e direita. Quando essas possibilidades se me apresentaram, houve um primeiro momento em que uma má escolha me fez regressar ao ponto de partida, tendo sido obrigado a conduzir no perímetro de um círculo. Da segunda vez, tendo chegado a essa bifurcação, segui, sem saber onde iria dar, pela segunda opção, no sentido contrário. Quando encontramos sentidos proibidos ou sentidos obrigatórios, escolher, por estar condicionado, tem a sua opção determinada. Há um jogo contínuo entre antecipação vazia, não abstracta, mas concreta e tensa, que pergunta sem verbalizar:

“e agora? onde vai dar esta estrada?” e o preenchimento que vai esclarecendo o sentido das opções tomadas ainda que demore tempo, o tempo de fazer uma rua ou mais ruas em toda a sua extensão, até chegar finalmente a um ponto conhecido de uma rua ou de um bairro da cidade, a partir do qual se trace uma linha de orientação com uma direcção

definida até ao ponto terminal, onde queremos ir, estacionar o carro, sair, ir fazer o que temos de fazer, ao ir onde temos de ir. A antecipação projecta-se de antemão sem que haja qualquer espécie de reflexão do género “deixa lá ver onde isto vai dar”. Não há tempo. Tudo acontece rápido demais, dá-se ao mesmo tempo em que se age, guia o carro, faz

Os sinais de trânsito assinalam realidades heterogêneas e é decisivo compreender o que exprimem e que interiorizemos as suas indicações. Mas os seus conteúdos perceptivos visuais “nada dizem” por si sozinhos sem a interpretação semiótica do seu sentido simbólico e as nossas acções na condução têm de expressar na perfeição a codificação: obrigatório, proibido, interdição, perda de prioridade

escolhas, toma medidas, nos resolvemos mesmo sem saber onde vamos dar, mas continuamos, porque ficar parados no meio da estrada não é opção. “Vemos” sempre mais do que achamos que vemos. A nossa percepção da realidade, quando conduzimos, está montada numa acção hermenêutica que é semiótica pragmática. Eu explico-me. O que é que uma rodela de metal vermelha com um hífen branco? O que é uma rodela de metal azul com uma seta branca a apontar para a direita e para a esquerda, dada a sua posição, mas também podia ser para cima e para baixo? O que é que um triangulo branco de base invertida com rebordos vermelhos? O que é uma rodela branca de rebordo vermelho com o que parece ser uma minhoca no seu interior e um traço vermelho a cortar o seu diâmetro? Os sinais de trânsito assinalam realidades heterogêneas e é decisivo compreender o que exprimem e que interiorizemos as suas indicações. Mas os seus conteúdos perceptivos visuais “nada dizem” por si sozinhos sem a interpretação semiótica do seu sentido simbólico e as nossas acções na condução têm de expressar na perfeição a codificação: obrigatório, proibido, interdição, perda de prioridade. Estamos sempre mais à frente do que o tempo presente em que nos encontramos. Não só porque estamos dentro do carro e percebemos tudo o que está mais próximo de nós mas simultaneamente temos uma percepção, através do vidro, do sinal na cancela, o sinal no poste no passeio junto à parede lá ao fundo da rua, ou porque vemos já a bifurcação ou cruzamento lá ao fundo, a curva acentuada, a descida ou subida íngremes. Temos uma percepção dinâmica que nos desmobiliza ou mobiliza para “fazer” ou “não fazer” toda a estrada. Quando encontro a estrada fechada, eu não “vejo” toda a estrada que podia ser feita “na minha imaginação”, mas há uma “frustração” de expectativas, a intenção de passar por lá, aí estacionar e deixar o carro, a intenção como possibilidade mental, desfaz-se. Refaz-se outra intenção de significação que se projecta sobre a estrada, por onde agora conduzo, sem saber onde vai dar, se corto à esquerda ou à direita, se sigo em frente. As possibilidades apresentam-se mas não são estáticas, não se esgotam nos “troços” de estrada que me estão dados a ver - muito diminuídos na visão deles por causa dos prédios - mas são antecipados em projecção espontânea como caminhos que vão dar a sítios, ainda que indeterminados.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

sexta-feira 14.2.2020

OFício dos ossos

Valério Romão

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GORA é a eutanásia. Temos diversão para pelo menos dois meses. Ou até começar o Europeu de futebol, onde todos os olhos recairão sobre a selecção lusa, capitaneada por aquele moço cujo ego compete com os objectos mais maciços do universo na capacidade de distorcer tempo e espaço. Agora é a eutanásia e toda a gente tirou da gaveta de competências em repouso o manual de bioética aplicada. Nas ruas e nas redes sociais pululam especialistas. Gente que por estudo ou dedicação apaixonada consegue traçar, de Aristóteles a Peter Singer, a história das ideias das quais resultam a configuração actual dos conceitos de indivíduo e sociedade. Como naqueles filmes onde um sujeito sente vergonha alheia das peripécias por que passa uma personagem, é constrangedor de ver. Mas é sempre assim, seja o assunto a tourada prós e contras, o aborto e o valor da vida ou a legalização da dormência na perna direita e a neurofisiologia. Se há coisa que não falta neste país é especialistas. E se há entidade a quem as discussões acaloradas sobre um assunto dito fracturante dão jeito, é ao governo. Não só lhes calham bem que eclodam espontaneamente como reflexo de uma proposta de um partido minoritário como, em não

Lusitânia blues acontecendo per se, as promove. Porque enquanto se fala da adopção e co-adopção por casais do mesmo sexo e das casas de banho mistas e da mudança de nome aos dezasseis anos não se fala da taxa homeopática de natalidade neste país, não se discutem os salários de vergonha que não permitem sequer a um sujeito aquecer a casa no Inverno (quando consegue ter casa, que a moda agora é o co-living, outro nome para a pobreza), quanto mais sonhar com uma semana nas Canárias, oblitera-se toda e qualquer conversa sobre os muito milhões que todos os anos são injectados em bancos cujos quadros superiores recebem ordenados e prebendas

em linha com os seus congéneres europeus. Não é que não importem as questões ético-sociais que amiúde eclodem no espaço público. O problema é que quem nos governa atira para a rua as discussões sobre avanços civilizacionais, dando uma ilusão de promover o esclarecimento sobre os assuntos que tem em mãos e guarda para si, numa inescrutabilidade que chega a ferir os olhinhos (como no caso das audições parlamentares à porta fechada) todos as matérias restantes. E de discussão acalorada em discussão acalorada lá se vão perdendo uns direitos, uns dinheiros, uns serviços, até deste país restar apenas a legislação mais progressiva do

Enquanto se fala da adopção e co-adopção por casais do mesmo sexo e das casas de banho mistas e da mudança de nome aos dezasseis anos não se fala da taxa homeopática de natalidade neste país, não se discutem os salários de vergonha que não permitem sequer a um sujeito aquecer a casa no Inverno (quando consegue ter casa, que a moda agora é o co-living, outro nome para a pobreza)

mundo, uma dúzia de criaturas a morar no centro das cidades e um imenso ror de gente entre a sopa dos pobres e as sandes de pão com queijo na fila para a Caparica. O Medina está-se bem a cagar para a opinião especializada do povo quando sonha com a baixa sem carros ou com a criação de “doze polos turísticos” fora de Lisboa, com o pretexto de “reduzir as tensões que o desenvolvimento do turismo gera junto dos residentes” mas cujo resultado vai obviamente ser a multiplicação da turistada para gáudio de quem ambiciona chegar a primeiro-ministro ou, pelo menos, dar nome a um par de ruas. O aeroporto do Montijo, sobre o qual recaem as mais fortes reservas técnicas e ambientais foi referendado? Foi sequer discutido? As injecções de capital a bancos falidos? Tudo quanto não é de cariz “progressivo” é conversado nos bastidores, representado na assembleia e aprovado num dia de festa. Esta é a democracia portuguesa, que todos os dias acorda surpreendida com os ventos do populismo, que sopram um pouco de todo o lado, e que se entretém a cuidar dos superiores interesses de quem está ao volante enquanto os seus fundamentos erodem todos os dias até quem mais cedo ou mais tarde a coisa caía de podre. Em Portugal é assim que as coisas más ou boas chegam ao fim: por exaustão.


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Crónico Oriente Duarte Drumond Braga

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IR-SE-IA que os poucos goeses que escrevem em língua portuguesa após 1961 o fazem numa língua forçosamente deslocada. Ela perdeu o seu sustentáculo social, dado pelo colonialismo português, e parte dos seus referentes simbólicos, que soçobraram com a integração de Goa na União Indiana. Ao contrário das literaturas africanas escritas na mesma língua, para quem a independência foi assentamento de batismo, para a goesa o fim do colonialismo implicou no ocaso de uma longa tradição que remonta a 1556, ano da introdução da imprensa no subcontinente, via Goa. Apesar disto, de alguma forma certos temas, figuras-tipo, situações narrativas da antiga literatura chamada “indo-portuguesa” continuam de outra forma, em outras línguas, o que me leva a crer que um livro como Preia-Mar, romance inédito de Epitácio Pais publicado há poucos anos em Goa (Edição de Paul Melo e Castro e Hélder Garmes. Taleigão: Goa 1556/Golden Heart Emporium, 2016), se encontra de alguma forma em contato com essas outras tradições dentro da literatura goesa. Num mundo romanesco onde a referência portuguesa (colonial, se quisermos) já não existe, nem a comunidade católica se encontra valorizada, o autor está condenado a ser um “fala-só”, o que certamente se manifesta no contexto de

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Epitácio Pais e a literatura de Goa

produção e de circulação de Preia-Mar: um póstumo, o que diz muito sobre ele: póstumo, que rem relação à vida do autor, quer da língua em que escreveu o livro. Por outro lado, em obras goesas da atualidade escritas em inglês ou traduzidas para o português e do português para o inglês, muitas delas se vêm ainda ligadas aos significantes desse mundo “indo-português”, como no caso dos romance Skin, de Margaret Mascarenhas (falecida o ano passado), escrito em inglês, mas no qual as personagens falam português. Epitácio Pais (1924-2009) foi um excelente contista da comunidade católica – que é também a de língua portuguesa – de Goa. O seu Os Javalis de Codval (1973) já se havia publicado em Portugal (Editora Futura), por iniciati-

Preia-Mar é uma janela aberta não apenas para uma tradição literária esquecida, mas também para uma Goa vista, em português, pelos próprios goeses

va de Manuel de Seabra. Preia-Mar é um romance também escrito nos anos 70, e que ficou anos escondido numa gaveta e que abre uma janela para um mundo perdido de língua portuguesa, ou para ela perdido, em outra perspetiva. O livro possui um tom semelhante àquele que encontramos nos contos e em ambos se sente aquele efeito de deslocamento na linguagem do autor. Por exemplo: “Imprimo à vida um rumo diferente da arqueologia que norteia a nossa grei”, pensa o protagonista na p. 68 ao desejar tornar-se pescador. Na verdade, enquanto língua literária o português de Epitácio é bem diverso das contemporâneas linguagens dos autores africanos, mas também não é o português escorreito de um José Cardoso Pires, que tende a escolher vários dos mesmos temas marginais. Pode o vocabulário ser duro e explícito, mas dentro de um estilo arrevesado próprio dos escritores goeses. De fato, o português como veículo da modernidade literária em Goa é uma questão que este romance também coloca e que a crítica terá ainda que enfrentar. Ao mesmo tempo, Preia-Mar é um romance muito contemporâneo, pela sua descrença perante os vários discursos em conflito na arena social: o discurso tradicionalista da família católica de Leo, de alta classe mas decadente; o da modernidade e da tecnologia de uma

nova Índia encarnado em vários personagens com os quais Leo se relaciona e ainda o neo-espiritualismo simplista dos hippies, em busca de uma Índia milenar numa Goa mais habituada à presença de estrangeiros do que a outra Índia. O protagonista Leo – uma espécie de anti-herói pós-colonial, numa terra em que ninguém, nem mesmo ele, é modelo de virtudes – encarna bem o pessimismo do autor face à Índia sua contemporânea. Aquele pessimismo exprime-se também em uma série de casos de marginalidade, exploração e oportunismo que se desenham em torno de Leo e que sugerem ser a ideologia do livro uma espécie de neo-realismo sem marxismo, passe o absurdo. Nesta Goa pós-colonial todos são viciados em qualquer coisa ou procuram pequenos esquemas para obter dinheiro, à exceção de uma mulher-anjo quase camiliana (autor certamente lido em Goa) que acaba por redimir Leo pelo casamento, solução ex machina que resolve vários dos problemas do protagonista. Para terminar, merece ser sublinhado que a publicação em 2016, na Índia, de um romance em português é um fato extraordinário em si mesmo, a tal ponto que é possível falar deste fenómeno editorial enquanto sinédoque da condição do português em Goa. Corajoso investimento, este de um livro que, na Índia, só poderá ser lido por uma reduzida comunidade. Em 50 anos, ela praticamente se desenvencilhou do português, trocando-o pelo inglês, como se vê pelo próprio nome da editora (Goa 1556/Golden Heart Emporium), ou pela troca das placas de rua no bairro das Fontainhas, em Pangim. Assim, neste livro se encontra resumida toda a situação dessa língua. Podemos, como Galileu, afirmar que algo ainda se move em torno dela; certamente não uma forma de “lusofonia”, antes algo que se organiza multilinguisticamente como um sistema independente, inserto em um sistema maior, o indiano. Isto significa que o português na Índia tem uma vida própria, que escapa à sistematicidade postiça da lusofonia e que, por essa razão, um brasileiro ou um português terão dificuldade em compreender. Certamente que um indiano de um outro estado não: este poderá só não compreender o que é dito na língua em si, a sua praxis. Em suma, Preia-Mar é uma janela aberta não apenas para uma tradição literária esquecida, mas também para uma Goa vista, em português, pelos próprios goeses.


desporto 17

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Fazer ainda melhor

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Campeão Delfim Mendonça Choi vai manter a aposta

Aviso De acordo com o Despacho do Chefe do Executivo n.° 109/2005, os requerimentos visando a renovação de licenças anuais, a emitir pelo Instituto para os Assuntos Municipais, devem ser tratados, anualmente, entre Janeiro e Fevereiro, salvo se outro prazo estiver fixado em disposição legal. Na falta de regime especial, a não renovação da licença anual no supramencionado prazo implica a cessação da actividade licenciada, salvo se o interessado proceder à respectiva regularização no prazo de 90 dias. Caso efectue o pedido de renovação da licença anual no período de regularização de 90 dias, fica sujeito a uma taxa adicional calculada nos seguintes termos: • • •

Dentro de 30 dias, a contar do termo do prazo para a apresentação do pedido de renovação da licença: 30% da taxa da licença em causa; Dentro de 60 dias, a contar do termo do prazo para a apresentação do pedido de renovação da licença: 60% da taxa da licença em causa; Dentro de 90 dias, a contar do termo do prazo para a apresentação do pedido de renovação da licença: 100% da taxa da licença em causa.

Para um melhor conhecimento dos titulares de licença, é apresentada a seguinte tabela descritiva com o tipo de licenças a renovar entre 1 de Janeiro e 29 de Fevereiro de 2020

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ELFIM Mendonça Choi sagrou-se em 2019 campeão da categoria “1950cc ou Superior” do AAMC Challenge, competição também vulgarmente conhecida como Campeonato de Carros de Turismo de Macau. Já com planos bem definidos para o futuro a curto prazo, o jovem piloto aguarda que a vida volte ao normal para começar a preparar a nova temporada. “Vou regressar aoAAMC Challenge e, uma vez mais, vou continuar na categoria 1950cc e Superior”, disse o piloto macaense ao HM, que obviamente ambiciona regressar ao Grande Prémio de Macau no final do ano. Apesar de existirem agora sérias dúvidas se as duas provas do AAMC Challenge se vão realizar, como inicialmente previsto, no Circuito Internacional de Zhuzhou - pois apenas quatrocentos quilómetros separam a cidade de Wuhan, onde começou o surto do novo coronavírus, da cidade da província de Hunan - Mendonça Choi gosta da ideia da única competição de automobilismo da RAEM mudar de cenário este ano. “Acho que é sempre bom correr numa nova pista”, afirma o piloto que apenas se iniciou no automobilismo em 2017, acreditando que esta potencial ida à nova pista de Zhuzhou “será um bom desafio”. Dado que todos os circuitos da Repú-

blica Popular da China estão encerrados até nova ordem, a preparação para a nova temporada faz-se por agora em frente ao computador: “Nós temos um simulador para treinarmos”. Em 2019, no Circuito Internacional de Guangdong, na cidade de Zhaoqing, o piloto de matriz portuguesa conquistou o seu primeiro título de pilotos, com uma vitória na segunda corrida da época, ajudando a sua equipa SLM Racing Team a sagrar-se campeã de equipas.

MAIS LÁ FORA

Tal como em 2018 e 2019, o jovem piloto da RAEM planeia dividir as suas participações no AAMC Challenge, com algumas corridas além fronteiras, para continuar a ganhar experiência e assim preparar melhor a sua participação no mês de Novembro, no Grande Prémio de Macau. “Este ano, se os tempos difíceis passarem, espero correr no Japão (TCSA Touring Car Series in Asia) e na Malásia (Malaysia Championship Series), porque a competição por lá é forte”, explicou Mendonça Choi. Para estas potenciais participações, o piloto não levará o seu habitual Mitsubishi Evo7, mas usará um dos carros que pertence à equipa SLM Racing Team.

UM CASO MAL-RESOLVIDO

A temporada passada só não foi sublime para Delfim porque a Taça FOOD4U de

Carros de Turismo de Macau do 66º Grande Prémio de Macau não lhe correu de feição. “Terminei em oitavo na minha classe no Grande Prémio de Macau, mas fiquei desapontado com o meu resultado (11º da geral). Tinha colocado como objectivo terminar no Top 5. Isto, porque preparei-me, a mim e ao meu carro, muito bem, mas na sessão de qualificação não consegui realizar um bom tempo devido à bandeira vermelha. Tive que arrancar do 34º lugar, quase o último carro na grelha de partida, e fiquei bastante desiludido na altura.” Sendo que esta prova é a mais importante do calendário para qualquer piloto do território, “dei o meu melhor na corrida para conseguir um bom resultado”, no entanto, “na partida (lançada) tivemos outro problema. Nem todos os carros estavam juntos no momento do arranque, porque um carro da frente estava muito lento, mas mesmo assim a Torre de Controlo colocou a luz verde, o que não foi justo para os carros que estavam atrás.” O piloto do carro nº17 não esconde que “foi um resultado desapontante” numa temporada temporada quase perfeita, mas a confiança não ficou abalada, pois “espero que consiga fazer melhor no Grande Prémio em 2020”. Sérgio Fonseca

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Tipos de Licença Licença para estabelecimento de venda a retalho (de carnes frescas/ refrigeradas/congeladas) Licença para estabelecimento de venda a retalho de vegetais Licença para estabelecimento de venda a retalho de pescado Licenciamento para animais de competição Licenciamento de outros animais – cavalos Licença anual de lugares avulsos no mercado Licença de vendilhões Licença de reclamos e tabuletas de carácter permanente Licença de reclamos em veículos Licença de pejamento de carácter permanente Licença de esplanada Os locais e as horas de expediente, para o tratamento de requerimentos de renovação de licenças, são os seguintes: Centro de Serviços do IAM: Avenida da Praia Grande, n.° 762- 804, Edf .China Plaza, 2.°andar, Macau. Centro de Serviços da RAEM das Ilhas Rua de Coimbra N°225, 3.° andar , Taipa. Centros de Prestação de Serviços ao Público: Centro de Prestação de Serviços ao Público da Zona Norte Rua Nova da Areia Preta, n.º 52, Centro de Serviços da RAEM, Macau. Centro de Prestação de Serviços ao Público da Zona Norte - Posto de Toi San Avenida de Artur Tamagnini Barbosa n.º 127, Edf. D.ª Julieta Nobre de Carvalho, Bloco B, R/C , Macau. Centro de Prestação de Serviços ao Público da Zona Norte - Posto do Fai Chi Kei Rua Nova do Patane, Habitação Social de Fai Chi Kei, Edf. Fai Tat, Bloco II, R/C, Lojas G e H, Macau Centro de Prestação de Serviços ao Público da Zona Central Rotunda de Carlos da Maia, n.os 5 e 7 , Complexo da Rotunda de Carlos da Maia, 3.º andar, Macau. Centro de Prestação de Serviços ao Público da Zona Central - Posto de S. Lourenço Rua de João Lecaros, Complexo Municipal do Mercado de S. Lourenço, 4.°andar, Macau. Centro de Prestação de Serviços ao Público das Ilhas Rua da Ponte Negra, Bairro Social da Taipa, n.º 75K, Taipa. Centro de Prestação de Serviços ao Público das Ilhas - Posto de Seac Pai Van Avenida de Vale das Borboletas, Complexo Comunitário de Seac Pai Van, 6.˚ andar, Coloane - 2.ª a 6.ª feira: das 9:00 às 18:00 horas (Funciona durante as horas de almoço). Os formulários de pedido de renovação das supramencionadas licenças (excepto para a Licença de Vendilhões) poderão ser obtidos no website do IAM (www.iam.gov.mo). Para mais informações, queira ligar para a Linha do Cidadão, através do telefone no 2833 7676. Macau, 11 de Novembro de 2019 Presidente do Conselho de Administração para os Asuuntos Municipais, José Maria da Fonseca Tavares www. iam.gov.mo


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DIAS DE RESCALDO

Os incêndios que lavravam no estado australiano de Nova Gales do Sul, o mais atingido durante meses de incêndios florestais devastadores, já estão sob controlo, disseram ontem os bombeiros locais à agência de notícias AFP. “Desde esta tarde,

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QUANDO A PORCA TORCE O RABO

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Com 10 episódios, a série Irmãos de Armas conta com diferentes realizadores, como Steven Spielberg ou Tom Hanks, e acompanha a acção Companhia Easy na frente 60 Guerra ocidental da Segunda

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VIDA DE CÃO

É em momentos de crise que se evidenciam talentos, capacidades ou mesmo fracassos. A crise causada pelo surto do coronavírus em Macau revelou algo que todos nós já sabíamos: que a diversificação económica pura e simplesmente não existe. Com os casinos fechados, como estão as Pequenas e Médias Empresas? Às moscas e a definhar, com a corda ao pescoço. Onde param as lojas ligadas ao sector das indústrias culturais e criativas, uma das bandeiras políticas do Governo para diversificar a economia? Estão fechadas, também com dificuldades em manter as rendas e assegurar o negócio. Investir em Macau é arriscado, porque basta um sopro de vento para não se conseguir aguentar uma renda. As coisas são muito voláteis e quem faz pequenos negócios não aguenta com as enormes pressões do mercado imobiliário, muito menos com os salários dos seus trabalhadores, o que gera também uma crise laboral. É uma bola de neve. Cabe ao Governo alterar a lei laboral e a legislação relativa às rendas para que os diversos sectores consigam fluir de uma outra maneira. É preciso sair do século XX para finalmente cairmos no século XXI. Se os empresários e os proprietários deixarem. Andreia Sofia Silva

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todos os incêndios em Nova Gales do Sul estão sob controlo”, declarou um porta-voz dos bombeiros rurais de Nova Gales do Sul, congratulando-se com essas “boas notícias” após meses de crise sem precedente no país.

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Mundial. Este é também um retrato cru da realidade do dia-a-dia dos soldados, que é mostrado com base nos acontecimentos vividos por alguns dos que fizeram parte da Companhia Easy, desde

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o dia D até á vitória final. Em muitos casos as histórias acabam abruptamente devido à morte no campo da batalha ou por ferimentos que afastam as personagens do cenário de guerra. João Santos Filipe

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; ; João Santos Filipe; Pedro Arede Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo

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um grito no deserto PAUL CHAN WAI CHI

INTERROGATED SILENCE EVGENIA EMETS

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URANTE a alvorada do Ano Novo chinês, o surto de pneumonia provocada pelo novo coronavírus em Wuhan alastrou-se a todo o país. Embora Macau não tenha fechado as fronteiras, o Governo da RAEM pede aos cidadãos que permaneçam em casa e que saiam apenas se for estritamente necessário. As escolas estão encerradas, os departamentos oficiais reajustaram os horários de serviço, os casinos, os locais de entretenimento público e os recintos desportivos fecharam as portas e a única opção que resta aos residentes é ficar em casa. A cidade tornou-se silenciosa; as Ruínas de São Paulo, normalmente habitadas por multidões ruidosas, estão agora em silêncio. Tenho estado em casa, onde passo a maior parte do tempo a navegar online e a acompanhar a par e passo as notícias relacionadas com a evolução da pneumonia. Tem surgido uma grande quantidade de video-clips e de publicações onde as pessoas manifestam a sua preocupação com a situação actual. Entre eles, houve um que me impressionou particularmente. Tem o título “Um Ano Novo muito silencioso” que nem sequer foi muito divulgado pelos média. O video-clip, que tem a duração de quatro minutos, é narrado por alguém cuja voz imita a do Presidente Xi Jinping. Quando ouvi a frase “este Ano Novo chinês está muito silencioso” proferida numa voz familiar, admirei o talento do narrador. Para além de imitar a voz do Presidente, a mensagem é muito específica, repleta de palavras inspiradoras e de confiança na capacidade de vencermos a epidemia. Finalmente fala-nos de esperança, lembrando que “depois da tempestade vem a bonança”. Mas será que a bonança vai chegar? Segundo as palavras de Zhong Nanshan, um consultor sénior chinês da área de saúde, vai levar pelo menos alguns meses até que isso aconteça. Até lá, para revitalizar a economia teremos de enfrentar enormes desafios. No

O ano do silêncio

O Dr. Li Wenliang lembrou ao povo chinês que uma sociedade saudável não pode ser dominada por “certos vícios”. Este novo ano, tão terrivelmente silencioso, dá-nos oportunidade de reflectir sobre a raiz dos problemas Ex-deputado e antigo membro da Associação Novo Macau Democrático

entanto, se a causa do surto deste novo coronavírus não for identificada, outra tragédia, semelhante à que foi provocada pela Síndrome Severa Aguda Grave (SARS- sigla em inglês), será inevitável. O médico Li Wenliang, que alertou para a possibilidade desta epidemia se transformar numa ameaça semelhante à SARS, declarou que “revelar a verdade é mais importante do que reivindicá-la”. Li Wenliang veio a falecer, vítima deste novo vírus e a sua morte despertou a inquietação do público face à autodenominada transparência do Governo. Num país repleto de câmaras de vigilância e de tecnologias sofisticadas de reconhecimento facial, os criminosos não têm onde se esconder. Além disso, o sistema de controlo fiscal implementado pelo Governo chinês expõe facilmente quem comete fraudes, sem, contudo, ser capaz de detectar os negócios ilegais que decorrem no Mercado de Mariscos de Huanan em Wuhan, e localizar a origem deste novo vírus de forma a controlar a sua propagação. No entanto empenha-se em manter sob vigilância quem dá os alertas. Não será esta uma questão a ponderar? Independentemente de quaisquer considerações, a Província de Guangdong é a zona do país onde se consome mais carne de animais selvagens e o surto de SARS em 2003 foi também aí que surgiu. Macau tem uma “caverna de morcegos” em Ka-Ho na área de Coloane, onde se aloja uma vasta população destes animais, mas nunca aconteceu nada deste género na cidade. Diz-se que o surto desta pneumonia em Wuhan está relacionado com os morcegos, mas eu acredito que está muito mais dependente dos comportamentos humanos. Passaram-se quarenta anos desde que Deng Xiaoping iniciou as reformas e abriu a China ao resto do mundo. A China, o gigante adormecido, acordou e fortaleceu-se. O plano original implicava o desenvolvimento da economia e do sistema político. No entanto, a concentração no desenvolvimento económico e a negligência em relação às reformas políticas originou inevitavelmente uma série de problemas. O Dr. Li Wenliang lembrou ao povo chinês que uma sociedade saudável não pode ser dominada por “certos vícios”. Este novo ano, tão terrivelmente silencioso, dá-nos oportunidade de reflectir sobre a raiz dos problemas.


Se eu fosse acreditar em tudo o que penso, ficaria louco. PALAVRA DO DIA

Mário Quintana

Bons velhos tempos

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operadora de jogo MGM China, com dois casinos em Macau, anunciou uma receita líquida em 2019 de 2,9 mil milhões de dólares americanos mais 19 por cento em comparação com 2018. Em destaque estão os resultados do MGM Cotai, a funcionar desde Fevereiro de 2018, responsável por uma receita de 1,326 mil milhões de dólares americanos em 2019, quase o dobro do montante arrecadado em 2018. Já o MGM Macau registou 1,578 mil milhões de dólares

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ministra da Saúde disse ontem que as autoridades estão a equacionar distribuir formulários aos viajantes de certas regiões chinesas para Portugal para despistar possíveis contágios com o novo coronavírus, estando também a distribuir informação nos aviões. Falando aos jornalistas portugueses, em Bruxelas, no final de uma reunião extraordinária de ministros da Saúde da União Europeia (UE) sobre o surto do Covid-19, Marta Temido indicou que o Governo português está a analisar “a eventual aplicação de questioná-

americanos em 2019, o que representa uma perda nas receitas homólogas. Em 2018 tinha alcançado 1,721 mil milhões de dólares. O grupo registou um EBITDA ajustado (resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) de cerca de 735 milhões de dólares americanos em 2019, em comparação com os 574 milhões de dólares registados em 2018. No mesmo comunicado, o grupo disse ter registado no último trimestre de 2019, um aumento de 6 por cento na receita líquida, fixando-se em 727 mi-

lhões de dólares americanos. No quarto trimestre do ano, o MGM China aumentou em 31 por cento as receitas obtidas através do jogo de massas e uma diminuição de 20 por cento nas receitas do jogo VIP (grandes apostas), devido à “redução de 33 por cento no volume de negócios no MGM Macau”. No mesmo período em análise, o EBITDA ajustado aumentou 10 por cento, registando 185 milhões de dólares.

DIFÍCEIS PREVISÕES

A MGM China, admitiu também prejuízos no jogo em

Macau durante o primeiro trimestre “e, potencialmente, depois disso”, bem como no mercado dos EUA, devido ao surto do coronavírus Covid-19. “Esperamos que o impacto possa ter impacto material nos resultados operacionais da MGM China no primeiro trimestre de 2020 e, potencialmente, depois disso”, indicou em comunicado a empresa, que, tal como todos os outros casinos em Macau, fechou as salas de jogo a 5 de Janeiro, a pedido do Governo local. “Embora o surto tenha sido amplamente concentrado na China, na medida em que o vírus afecta a disposição ou capacidade dos clientes de viajar para as propriedades da empresa [mãe] nos Estados Unidos (devido a restrições de viagem ou de outra forma), os resultados domésticos das operações da companhia também podem ter um impacto negativo”, pode ler-se na mesma nota. A MGM China sublinhou que “é actualmente incapaz de prever a duração da interrupção dos negócios em Macau, se a suspensão das operações vai continuar para além do período de 15 dias ou o impacto da redução de fluxo de clientes”.

Por onde andaste?

Portugal equaciona distribuir formulários para viajantes

rios de proveniência de identificação dos últimos contactos nos viajantes provenientes de determinados espaços”. De acordo com a ministra, o objectivo é despistar “contactos recentes dos passageiros” com pessoas infectadas. “Estamos a preparar já o estávamos a preparar ao nível da Direção-Geral da Saúde - e poderemos equacionar isso nas próximas horas e nos próximos dias”, referiu Marta Temido.

A ministra indicou que, desde o passado domingo, Portugal está também a distribuir informação a bordo sobre novo coronavírus em voos entre a China e Portugal. “Os nossos voos já foram preparados com todo o tipo de materiais para serem distribuídos pelos viajantes com informação detalhada sobre o que podem ser sintomas, o que devem fazer e com números de contacto”, isto é, “informações úteis para

quando [estes cidadãos] entram em Portugal poderem ser encaminhados, se alguma coisa se passar com eles”, precisou Marta Temido.

EUROPA UNIDA

Bruxelas acolheu ontem uma reunião extraordinária de ministros da Saúde da UE, convocada de emergência pela presidência do Conselho, na qual os 27 discutiram o reforço da coordenação ao nível europeu para prevenir

a propagação do novo coronavírus. De acordo com a ministra portuguesa, mais do que medidas novas, deste encontro saiu um “acordo sobre princípios gerais” entre os países, que assenta sobre uma “coordenação da actuação entre os Estados-membros, da preparação e no foco na capacidade de adaptação e de preparação para a evolução epidemiológica”. Não decidido no encontro, mas também não excluído para já, está um eventual controlo nas fronteiras da União Europeia (UE) de pessoas infectadas.

EPA

JOGO RECEITAS LÍQUIDAS DA OPERADORA MGM SOBIRAM 19 POR CENTO NO ANO PASSADO

COVID-19 REPORTADOS 15.152 NOVOS CASOS NUM DIA

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China reportou ontem 254 novas mortes e 15.152 novos infectados em 24 horas pelo novo coronavírus, designado Covid-19, num aumento recorde que resulta de uma alteração na metodologia da contagem. O número total de mortes pelo surto, inicialmente detectado em Dezembro passado, fixou-se ontem em 1.370, enquanto o número de casos confirmados ascendeu a 59.823, em toda a China continental. Além do continente chinês, Hong Kong, Filipinas e Japão (ver breve) reportaram um morto cada um. A província de Hubei, de onde o vírus é originário, registou, nas últimas 24 horas, 242 mortos, mais do dobro em relação ao dia anterior. Também o número de infectados ultrapassou em quase dez vezes os casos reportados na quarta-feira. Foram registados mais 14.840 novos casos da infecção na província, fixando o total em mais de 48 mil. O novo método de contagem inclui “casos clinicamente diagnosticados”, mas que não foram ainda sujeitos a exame laboratorial e, portanto, ausentes até agora das estatísticas. Os atrasos no diagnóstico do vírus podem ser significativos, já que muitos pacientes aguardam até uma semana pelos resultados dos exames em laboratório, que são enviados para Pequim. Permitir que os médicos diagnostiquem directamente os pacientes permitirá que mais pessoas recebam tratamento, inclusive em vários hospitais construídos de raiz em Wuhan especificamente para o tratamento de infectados com o Covid-19.

Japão Mulher infectada com o coronavírus morreu

O ministro da Saúde do Japão anunciou ontem o primeiro caso de morte no país de uma pessoa portadora do novo coronavírus (Covid-19), mantendo-se cauteloso quanto à causa da morte da mulher de 80 anos. “A relação entre o novo coronavírus e a morte dessa pessoa não está estabelecida”, disse Katsunobu Kato durante uma conferência de imprensa, adiantando que o resultado positivo do teste foi confirmado depois da morte. No Japão, “este é o primeiro caso de morte de uma pessoa que o teste deu positivo” para o novo coronavírus, afirmou o ministro japonês.


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