Hoje Macau 14 JUL 2016 #3613

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Mop$10

quinta-feira 14 de Julho de 2016 • ANO Xv • Nº 3613

Director carlos morais josé

Terras

O valor de quem opina página 4

Iec Long CCAC considera nula permuta de terrenos

Panchão fatal O relatório do Comissariado Contra a Corrupção sobre a troca de terrenos entre o Governo e os proprietários da antiga Fábrica de Panchões é explo-

sivo. Violações à lei, competências ultrapassadas ou cálculos errados são alguns dos argumentos usados pelo CCAC para bombardear este acordo.

Grande Plano

Mar do Sul

Águas Densas China

Edifício de Doenças

Sinais de perigo página 7

h A vida é um palco Longe de casa Manuel Afonso Costa

José Drummond

Lei Eleitoral

Reformas adiadas Creative Macau

Composição improvável Eventos

Página 5

opinião Queremos verLeocardo a bola


2 grande plano

Iec Long CCAC julga nula permuta de terrenos com Governo e fala em violação à lei

Violações graves à antiga Lei de Terras, competências ultrapassadas e um acordo nulo. É conhecida a conclusão da investigação do CCAC face à troca de terrenos da Iec Long com o Governo, numa história tão complexa que mete o ex-Procurador, o Secretário Ao Man Long, o ex-director Jaime Carion e muitas empresas

Era uma vez

O

acordo que o Governo fez com os proprietários da antiga Fábrica de Panchões Iec Long é nulo e viola a lei. A conclusão é do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), que diz que o acordo para a permuta de terrenos feito em 2001 está errado em vários princípios, que vão desde violações “graves à lei”, a falta de competência do director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) e a um cálculo de valores de terrenos prejudicial à RAEM. “O CCAC verificou algumas práticas da Administração Pública que violaram manifestamente o princípio da legalidade”, começa por apontar o organismo liderado por André Cheong. “As formas, os procedimentos e os princípios da permuta de terrenos estão previstos expressamente na antiga Lei de Terras, mas os adoptados na permuta do terreno da Iec Long desviam-se gravemente do disposto na lei. O [acordo] firmado pelo director da DSSOPT e pelo representante da Sociedade da Baía da Nossa Senhora da Esperança não está em conformidade com o disposto na antiga Lei de Terras.” Entre as falhas apontadas, estão o facto do director nem sequer ter exigido à Sociedade a apresentação do documento comprovativo dos seus direitos sobre todo o terreno da Fábrica de Panchões e o facto do valor do terreno da Iec Long incluir coisas que não devia. “Inclui não só o valor das parcelas que constituem propriedade privada e das aforadas, mas também o valor das arrendadas já devolvidas ao Governo, das parcelas vagas e das parcelas da propriedade do Estado. [Tudo] foi deduzido do prémio, o que violou manifestamente a igualdade das prestações consagrada na antiga Lei de Terras.”

Contornos de novela

O caso da troca de terrenos da Iec Long, na Taipa, voltou à baila em 2015, quando a Macau Concelears deu a conhecer que o Governo e os donos do terreno da Iec Long tinham celebrado um acordo onde

o Executivo se comprometia a conceder um lote na Baía de Nossa Senhora da Esperança, na Taipa, com 152 mil metros quadrados, em troca do terreno da fábrica, com 28 mil. A ideia do Governo era construir um parque temático no local e, depois de diversas sugestões e desacordos, o Executivo finalmente cedeu outros lotes. Foi em 1950 que o terreno da Fábrica foi concedido por arrendamento a Tang Kun Hong e Tang Ming Hong, proprietários da Iec Long, para que pudessem continuar a actividade. Na década de 1980, o Governo decide retirar a concessão devido ao declínio da indústria. Com a “fábrica parada”, não fazia sentido os terrenos estarem nas mãos dos empresários. O terreno da fábrica contava, contudo, com mais de 3200 metros quadrados de lotes privados, que pertenciam aos dois proprietários. Cada um deles acaba por passar essa parte, igualmente dividida, a herdeiros. Estes, por sua vez, acabam por fazer negócio com outras empresas, entre as quais a Companhia San Tat. O desejo de trocar os terrenos da Iec Long por outros continua e os titulares apresentam por mais do uma vez sugestões: primeiro pedem um terreno na ZAPE, que o Executivo rejeita, propondo a troca de um no Pac On. Mas o tamanho inferior leva a que os concessionários desistam da troca e apresentem, em 1997, um projecto de reaproveitamento de todo o terreno da Iec Long: no local querem construir 11 edifícios de habitação e comércio, mas tal não é autorizado pelo Governo. No mesmo ano, em Dezembro, os proprietários voltam a pedir um terreno da Baía de Nossa Senhora da Esperança. No ano seguinte, o Executivo aceita dar três lotes com pouco mais de nove mil metros quadrados e os proprietários não querem.

Dedo de Procurador

O caso começa a ficar mais complicado quando o herdeiro de um dos proprietários, Kong Tat Choi, passa não só a ser titular de parcelas

privadas no terreno da Iec Long, mas é-o também de um outro lote na Taipa. O BT27, na Rua de Fat San e Rua de Bragança, foi concedido em 1989 para a construção de um prédio de habitação. Quatro anos depois, Kong Tat Choi passa o lote à Companhia de Investimento e Fomento Predial Samtoly. Nesse mesmo ano, o Governo aceita uma alteração no plano de aproveitamento desde que a Samtoly pagasse 87 milhões de patacas de prémio adicional. “A Samtoly pagou a primeira prestação, bem como outras três prestações, no entanto recusou-se a pagar a última prestação do prémio vencida em 1995, no valor de 14,1 milhões de patacas.” Um conflito de pagamento leva a que os proprietários da Iec Long peçam ao Governo para ter “em consideração a resolução da disputa no processo da permuta do terreno da Fábrica de Panchões Iec Long”. O conflito dá-se porque os donos de dois lotes ao lado do BT27 pagaram “muito menos” do que a Samtoly para a alteração do projecto. A empresa pede para pagar menos, mas o Governo rejeita e a Samtoly passa ao ataque em tribunal porque não só não viu o preço do prémio do seu terreno reduzir, como não se viu satisfeito o pedido de permuta dos proprietários da Iec Long. E é aqui que entra o Ministério Público (MP). Em 1999, pede às Obras Públicas o processo do BT27 e pede ao organismo que fixe um novo prémio “mais razoável” para a Samtoly, de forma a existir uma conciliação das duas partes. A DSSOPT diz que a empresa pode ser isenta do pagamento da última prestação de 14,1 milhões e ser restituída de 12,5 milhões e, em 2000, o Procurador convoca uma outra reunião onde se decide que, como os donos do BT27 e da Iec Long são os mesmos, a questão passa a ser resolvida no processo de permuta de terrenos da Fábrica. “O Secretário para os Transportes e Obras Públicas aceitou a proposta do Procurador e no processo de negociação sobre a permuta do terreno da Baía de Nossa Senhora

da Esperança, além do terreno da Iec Long é tida em consideração a restituição do prémio do Lote BT27”, explica o CCAC. A Samtoly vê a DSSOPT sugerir a restituição de 66 milhões de patacas, contando com o pagamento da última prestação, e o terreno da Iec Long a ser avaliado em 136 milhões. O Secretário concorda e os titulares do terreno da Iec Long e os representantes da Samtoly dizem à DSSOPT que qualquer negociação e assinatura de documentos sobre a permuta do terreno na Baía de Nossa Senhora da Esperança ficaria a cargo da Sociedade de Desenvolvimento Predial Baía da Nossa Senhora da Esperança. É neste contexto que o director da DSSOPT assina em 2001 um acordo para a permuta de um terreno com 152 mil metros quadrados na Taipa, para construção de um complexo turístico e habitacional pela Sociedade. A empresa tem de pagar prémio, mas desse são deduzidos 428 milhões de patacas.

Não acaba aqui

É no ano seguinte que a Shun Tak entra na história. Em Fevereiro de 2002, a Sociedade da Baía pede a divisão do terreno no local homónimo em duas parcelas: uma delas, a A - com 99 mil metros quadrados - para ser entregue à empresa Shun Tak para a construção de um hotel. O Governo autoriza e a Shun Tak paga 500 milhões de dólares à Sociedade para poder desenvolver o terreno. Mas a Shun Tak não fica satisfeita e, três anos e um requerimento conjunto com a Propriedades Sub F depois, consegue que o Governo ceda à parceira uma área de mais de 18 mil metros quadrados nos NAPE para a construção de um hotel e habitação. Em troca, cede o mesmo espaço ao Governo na parcela A da Baía Nossa Senhora da Esperança. Não chega e, em 2006, a Shun Tak apresenta outro pedido, que não é aceite pelo Executivo: a troca do resto da parcela A, agora com 80 mil metros quadrados, por um terreno no Cotai com 65 mil me-


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na Taipa

Decisões que pesam O acordo de permuta “não está em conformidade com o disposto na antiga Lei de Terras e, do ponto de vista jurídico, tem por base um objecto impossível. Não é legalmente vinculativo para o Governo, sendo nulo” “O Governo não tem qualquer encargo para com a Sociedade de Baía da Nossa Senhora da Esperança ou quaisquer outras empresas a nível de concessão de terrenos” “Desde a sua celebração em 2001, o [acordo] nunca foi publicado no Boletim Oficial, o que viola a antiga Lei de Terras”

Hoje Macau

Nem o acordo, nem o processo “foram remetidos à Comissão de Terras” “Todas as parcelas da Iec Long são propriedade do Estado” “Uma vez que o terreno na Baía de Nossa Senhora da Esperança não foi concedido nos termos da lei, a Sociedade da Baía da Nossa Senhora da Esperança não podia dividir o terreno e ceder as parcelas divididas. [Mas] os procedimentos da concessão [à Shun Tak] foram realizados em conformidade com o disposto na antiga Lei de Terras. E, ao abrigo do contrato de concessão, Shun Tak já concluiu o aproveitamento do terreno e construiu neste terreno um complexo constituído por um hotel e por uma área residencial, sendo que tal hotel já entrou em funcionamento”

IC gasta cinco milhões em conservação que “não devia”

O tros quadrados, para a construção de um casino, hotéis e comércio. O ano passado, depois de ter sido dado a conhecer o caso, alegações de falta de transparência, transferência de interesses e dívidas ocultas do Governo foram imediatamente levantadas. Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, pediu ao CCAC que começasse uma investigação. A conclusão chega agora e não é meiga, sendo que a única empresa que fica com alguma coisa deste negócio é a Shun Tak. “O [acordo] não constitui instrumento legal através do qual

o Governo possa conceder ou prometer a concessão de terrenos, face à sua desconformidade com o disposto na antiga Lei de Terras (...) e porque violou o disposto na antiga Lei de Terras, tornando-se assim impossível que se considerem quaisquer efeitos jurídicos relativamente à permuta ou ao compromisso da permuta daquele terreno. Não é possível considerar que o mesmo configure um contrato de concessão legalmente vinculativo. Poderia considerar-se a possibilidade de o [acordo] ser considerado informal na perspectiva da sua natureza jurídica, mas, ainda assim, tal acordo informal

As caras envolvidas

S

ociedade de Desenvolvimento Predial Nossa Senhora da Esperança: tem como administradores Sio Tak Hong, membro de Macau no Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, presidente-fundador da Associação dos Conterrâneos de Kong Mun de Macau e membro do Conselho Executivo e da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo, e Tat Choi Kong, membro do quadro da Universidade de Macau e da Câmara de Comércio. Director das Obras Públicas: Jaime Carion, agora reformado Secretário para os Transportes e Obras Públicas: Ao Man Long, agora preso por 29 anos e meio por corrupção Procurador da RAEM: Ho Chio Meng, agora detido preventivamente, por acusações de corrupção Shun Tak: Pansy Ho Propriedades Sub F: Daisy Ho

dificilmente pode constituir fonte de direitos ou deveres jurídicos, devido à impossível concretização do respectivo objecto”, frisa o CCAC. O organismo aponta o dedo directamente às Obras Públicas, para dizer que a responsabilidade é deles e é “iniludível neste caso”. Diz ainda que o “dever de fundamentação” não foi cumprido pelo Governo em algumas decisões. Por exemplo, a sugestão do procurador na restituição à concessionária do Lote BT27 de mais de 60 milhões, sem qualquer indicação que justificasse esta mudança e o valor do terreno da Fábrica, que passou de 42,4 milhões para 136 milhões “sem fundamentação”. Apesar do terreno na Baía de Nossa Senhora não ter concedido nos termos da lei - o que impedia a Sociedade de dividir o terreno e ceder as parcelas divididas, “os procedimentos da concessão [à Shun Tak] foram realizados em conformidade com o disposto na antiga Lei de Terras. E, ao abrigo do contrato de concessão, a Shun Tak já concluiu o aproveitamento do terreno”, tendo até o hotel entrado já em funcionamento. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

CCAC atira ainda críticas face à conservação da Fábrica de Panchões, que custou aos cofres do Instituto Cultural (IC) mais de cinco milhões de patacas. Para o organismo, as reparações feitas de 2009 a 2015 deveriam ter sido paga pelos proprietários da Iec Long. “Nas acções de conservação da Fábrica, o IC não exerceu de forma plena as competências que o regime jurídico lhe atribui, dando origem asituações de incumprimento da lei e de embaraço. O IC suportou as despesas resultantes de trabalhos de reparação e reordenamento, mas nos documentos disponibilizados pelo IC não se encontra fun-

À espera de mais

damento que justifique o facto de tais despesas terem sido adiantadas pelo IC e também não se constata que o IC tenha cobrado ao ‘proprietário’ o montante de mais de cinco milhões de patacas entretanto despendidos.” O CCAC acrescenta ainda que a abertura do procedimento de classificação da Fábrica como património “é necessária e premente”, até porque já foram feitas as conservações. O organismo critica ainda o IC por não ter pedido quaisquer informações junto dos serviços de Obras Públicas sobre a propriedade da fábrica, ainda que tenha pedido ao proprietário autorização para lá entrar. J.F.

O Chefe do Executivo, Chui Sai On, já reagiu ao relatório, tendo admitido que já incumbiu entidades de continuar a dar acompanhamento ao caso. Uma dessas entidades é Raimundo do Rosário, que vai perceber os desenvolvimentos advindos da falta de vinculação jurídica da troca dos terrenos. O líder do Governo admite ainda que o CCAC vai agora investigar eventuais indícios criminais, “por exemplo de corrupção ou burla” e põe em cima da mesa a instrução de um processo disciplinar caso “se verifique infracção disciplinar cometida por funcionário público”. A DSSOPT diz apenas estar a fazer uma análise do caso e o HM não conseguiu estabelecer ligação com Jaime Carion, na altura director do organismo. Sobre as eventuais infracções penais neste caso o CCAC diz não ter “nesta fase” quaisquer comentários a fazer.


4 Política

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Lei de Terras Coutinho quer saber valores de consultadorias

Opiniões externas O deputado José Pereira Coutinho quer saber quanto é que o Governo gastou em consultadoria a escritórios de advogados antes da Lei de Terras ser apresentada no hemiciclo. Pereira Coutinho diz que há “interesses directos” a favor da nova proposta de Gabriel Tong e rejeita-a completamente

C

erca de três anos antes da proposta de Lei de Terras ser apresentada na Assembleia Legislativa (AL), o Governo terá contactado escritórios de advogados para ouvir opiniões quanto ao novo diploma. José Pereira Coutinho, deputado, veio ontem questionar os valores que terão sido pagos. “Sabemos que este diploma foi encomendado ao exterior, para a elaboração da proposta, e que participaram vários deputados, advogados da praça. Gostaríamos de perguntar qual foi o montante pago para a elaboração desse projecto ou outro em termos de consultadoria e quem são os escritórios que receberam esse projecto.” O deputado, que prometeu votar contra a proposta apresentada pelo deputado Gabriel Tong, como o HM já tinha noticiado, disse não compreender as razões

Secretário “cumpre a lei”

José Pereira Coutinho adiantou que existem “interesses directos” que querem que a proposta de Gabriel Tong avance, interesses de “pessoas que têm terrenos que vão ser objecto de caducidade”. Serão “deputados, advogados e ex-deputados, como é o caso de Ung Choi Kun, que assinou o parecer da Comissão, que nunca votou contra a lei e que agora está a barafustar”, frisa. “O assunto está agora a tocar-lhes na pele e sempre pensaram que conseguiriam dar a volta ao assunto. A Lei de Terras é um diploma que veio mudar toda a vivência de Ma-

Está muito bem assim FAOM contra proposta de Gabriel Tong

pelo deputado Gabriel Tong. O também vice-presidente da Assembleia Legislativa (AL) sugeriu que não seja feita uma ligação entre a Lei de Terras com a Lei Básica, porque o diploma recebeu, em 2013, o aval do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN), em Pequim. Lam Heong Sang disse mesmo que todas as propostas de lei são analisadas pela APN e que, caso a

Lei de Terras estivesse contra a Lei Básica, o diploma nunca teria avançado. Por isso, o dirigente da FAOM pediu aos envolvidos para não fazerem um “espalhafato por causa de um assunto normal”, muito menos para fazerem uma associação da lei com a mini constituição.

Tudo normal

Lam Heong Sang lembrou o facto da Lei de Terras ter

Tiago Alcântara

L

am Heong Sang, dirigente da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), disse ao jornal Ou Mun que a entidade está do lado do Governo quanto ao cumprimento da Lei de Terras e à recuperação dos terrenos cujo prazo de concessão está quase a chegar ao fim, mostrando, assim, uma clara posição discordante face à proposta apresentada

de advogados e deputados para agora virem defender uma nova interpretação do diploma. “Se naquela altura a lei foi aprovada por unanimidade e entrou em vigor sem qualquer problema, é curioso ver por que é que agora existe tanta celeuma.” Pereira Coutinho, que se apresentou na conferência ao lado de Rita Santos e sem o seu número dois no hemiciclo, Leong Veng Chai, disse estar contra a proposta de Tong, já que “não é correcto que os deputados apresentem normas interpretativas quando essa competência legislativa pertence ao Governo”.

passado por um longo processo de análise e votações por unanimidade. E frisou que tudo o que tem a ver com interesses leva a posições a favor e contra. “O Governo começou a recuperar os terrenos e é normal que as empresas concessionárias apresentem as suas reivindicações e peçam justificações, a menos que sejam insensatas.” No seminário ocorrido esta terça-feira, promovido pela Associação dos Empresários do Sector Imobiliário de Macau, liderada por Ung Choi Kun, a Lei de Terras foi alvo de várias críticas. Citado pelo Jornal do Cidadão, Paulo Tse, presidente da Associação de Construtores Civis e Empresas de Fomento Predial, disse que apoia a lei, mas que esta peca por não definir bem a responsabilização quanto ao aproveitamento dos terrenos. Lam Tak Wa, da Associação Geral do Sector Imobiliário, referiu que muitas das concessionários não aproveitaram os terrenos por estarem à espera das aprovações e planos do Executivo. Angela Ka e Tomás Chio (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo

cau. O engenheiro Raimundo do Rosário está a cumprir a lei”, frisou. Lembrando que são os tribunais quem deve analisar as responsabilidades quanto ao não aproveitamento dos terrenos, Pereira Coutinho quis saber porque é que em 25 anos de concessão nada foi feito. “O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais despendeu milhões de patacas e elevados recursos humanos para fazer a limpeza de toneladas de lixo em terrenos concedidos em regime de concessão provisória. Perguntamos porque é que esses terrenos não foram aproveitados durante esse tempo. Para apurar todas essas responsabilidades a sede própria são os tribunais. Poderá haver situações em que foi falha do Governo, mas na eventualidade disso acontecer, a entidade que deve ter a competência para apurar responsabilidades é o tribunal.” O deputado defende ainda que o que está a acontecer não vai afastar investimento. “Não acredito que essas questões afugentem os investidores de Macau. Pelo contrário, vai atrair mais investidores internacionais porque acham que há uma concorrência leal”, concluiu. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

ATFPM pede ensino da política local à UM

R

ita Santos e José Pereira Coutinho deixaram algumas sugestões à Universidade de Macau (UM), num encontro entre os dirigentes da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) e o reitor da instituição de ensino superior. Dos responsáveis, Wei Zhao ouviu que os alunos da instituição precisam de saber mais sobre política, ainda que não só. Pereira Coutinho fez questão de frisar que muitos jovens de Macau “não têm pensamento crítico, nem conhecem a cultura, História ou política”, bem como a própria Lei Básica. Algo que, para o também deputado e presidente da ATFPM, deve ser alterado com a ajuda da UM. “Sugerimos que sejam acrescentados aos planos de curso matérias que permitam aos jovens interiorizar os conceitos histórico-culturais e a literacia política.” Rita Santos pediu ainda que os estudantes sejam

incentivados a participar em actividades de índole social. A questão do recrutamento esteve também em cima da mesa. Para Rita Santos “Macau não é atractivo no recrutamento de talentos devido ao domínio da indústria do Jogo”. A presidente da Assembleia Geral disse também que existem muitos jovens que não têm horizontes quanto à carreira a seguir, “por isso a UM deve implementar os devidos estudos para se perceber os talentos que Macau vai precisar no futuro e facultar aos estudantes cursos adequados aos mesmos”. A questão da língua não ficou de fora, com Pereira Coutinho a dizer que a UM deveria abrir um curso de Chinês para que os estudantes soubessem falar fluentemente a sua língua materna, ao mesmo tempo que deve ser investido um esforço “na aprendizagem do Português e no ensino do Inglês”. J.F.


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Lei Eleitoral Sanções em caso de propaganda preocupam associações

Reforma em lume brando Terminou há um mês a consulta pública relativa à revisão e diversas associações e deputados fizeram questão de enviar as suas opiniões ao Governo. Entre os pedidos do costume – como o aumento dos deputados directos – houve também quem se focasse em questões como a campanha e as punições que desta podem advir

A

s sanções em caso de propaganda antes do prazo permitido foram algumas das preocupações de associações e deputados que entregaram opiniões ao Governo sobre a revisão da Lei Eleitoral. Para a Associação do Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), por exemplo, deveriam ser proibidas as actividades das listas candidatas dentro dos casinos, algo que o presidente do grupo, e deputado, relembra ter acontecido em 2013. “Não obstante as queixas apresentadas por outras listas concorrentes, a Comissão Eleitoral manifestou-se impotente para acabar com estas ilegalidades permitindo que estas concorrências desleais e ilegais continuassem a prosseguir com manifesta impunidade. Portanto, sugerimos que seja reforçada a fiscalização das empresas concessionárias incluindo casinos, para garantir a justiça da eleições”, pode ler-se no documento enviado ao Governo durante o período de consulta pública e cedido ao HM. Mak Soi Kun mostra-se também atento neste sentido. O Governo, recorde-se, sugeriu na revisão que as associações também possam ser condenadas, não só por actividades cá dentro, mas também pelas feitas lá fora. “Se houver alguém que queira trazer problemas a outros candidatos pode fazer passar-se por ele e promover-se nos sites de fora antes do período de campanha. Como é que o Governo vai tratar estes casos?”, questiona Mak Soi Kun, referindo ao HM que o Executivo não pensou bem na forma de agir quando sugeriu esta revisão. Na revisão à lei, o Governo propõe ainda a introdução

tir uma data para o chamado “campanha formal”, onde as pessoas fazem propaganda na rua por exemplo durante duas semanas, mas também permitir que, aquando do anúncio de concorrer, os candidatos possam expressar as suas opiniões, seja online ou não. Sem que tal seja considerado campanha.

O mesmo de sempre

“Querem regular as ilegalidades, mas não há forma eficaz de o fazer. Como é que se define o que é campanha antes do prazo? Eles não definem” Agnes Lam Energia Cívica de um regime de responsabilidade penal colectiva que abranja actos cometidos também fora do território e a “consulta de leis avulsas”. Apesar de admitir que, desde a data da publicação da data das eleições até ao início da campanha decorre um período de proibição de campanha

durante seis meses que não é exactamente respeitado, o Executivo diz que não vai poder mudar as regras, para que o ruído das campanhas na rua não seja ainda maior para os cidadãos. Ao invés disso, vai aumentar o controlo e rever o limite dos gastos dos deputados, tendo limitado a 4,5 milhões de patacas o dinheiro que pode ser gasto com as eleições do próximo ano, menos 1,1 milhão do que em 2013. Agnes Lam, que preside o grupo Energia Cívica, explica ao HM que o colectivo pelo qual se candidatou em 2013 enviou opiniões ao Governo. E algumas delas versavam precisamente sobre as campanhas. “Querem regular as ilegalidades, mas não há forma eficaz de o fazer. Como é que se define o que é campanha antes do prazo? Eles não definem”, diz Lam ao HM, referindo ainda deveria exis-

Enquanto Agnes Lam não se focou no número de deputados no hemiciclo, não podia faltar o pedido que há muito tem vindo a ser feito. Ng Kuok Cheong e ATFPM foram algumas das entidades que voltaram a tocar no assunto, bem como a Novo Macau. “Só foi isso que pedi. Mais eleições directas, mais deputados eleitos directamente”, indica Ng Kuok Cheong, da bancada pró-democrata e eleito directamente, ao HM. “Infelizmente, o documento de consulta só refere alterações limitadas aos problemas menos importantes, excluindo núcleo de interesses como o aumento de número de deputados eleitos pela via directa”, acrescenta Pereira Coutinho. “Lamentamos que só existam 14 lugares eleitos por sufrágio directo, representando apenas 42,4%, do total. Esta percentagem é inferior à metade e carece de legitimidade democrática da maioria dos residentes. Por isso, o Governo, continua a não cumprir rigorosamente a Lei Básica.” O deputado dá como exemplo projectos de lei apresentados por deputados directos, que “são chumbados pelos deputados nomeados deixando muitos problemas sociais por resolver”. A ATFPM sugeriu, por isso, que “sejam urgentemente aumentados os assentos

por sufrágio directo”, mas também que sejam eliminados os assentos dos sete nomeados pelo Chefe do Executivo. “Esta forma de nomeação carece de representatividade democrática e não representa directamente os interesses dos cidadãos por possuírem agendas e interesses distintos. As suas palavras e votos afastam-se sempre dos legítimos direitos e interesses dos cidadãos, impedindo o desenvolvimento da democracia. Assim, propomos a gradual eliminação [destes] assentos.”

Contra monopólios

As opiniões enviadas pela Novo Macau, afirmou Jason Chao ao HM, focaram-se sobretudo “no facto do

Governo estar relutante em introduzir reforma política”. Fez “pequenas emendas”, mas não incluiu a forma de eleição, onde “há falta de integridade e seriedade” numa eleição cuja maioria não é votada pela população. Os assentos por sufrágio indirecto também mereceram atenção: Pereira Coutinho diz que são “autênticos monopólios políticos” e Agnes Lam pede uma forma diferente de eleição. Se são do sector de profissões específicas, por exemplo advogados ou médicos, os deputados devem candidatar-se directamente, diz, e não através de associações. Entre as sugestões estão ainda o pedido de prorrogação do prazo de recenseamento eleitoral e a regulação do voto online. A última proposta foi deixada por Mak Soi Kun que, apesar de não ter enviado o documento na consulta pública, assegura ter apresentado as sugestões directamente à AL. “Propus directamente à AL a regulação da eleição através da Internet. Perguntámos como é que o Governo vai regular a promoção das eleições online fora de Macau, como por exemplo, em Taiwan e nos EUA, onde há residentes de Macau”, indica ao HM. Joana Freitas

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EDITAL Decisão final relativa à notificação de reparação de prédio em mau estado de conservação Edital n.º : 21/E-AR/2016 Processo n.º : 19/AR/2015/F Local : Estrada dos Cavaleiros n.º 18 - 26/Rua Um do Bairro Iao Hon n.º 61 - 73/Rua Seis do Bairro Iao Hon 18 - 38, Macau/Rua Cinco do Bairro Iao Hon n.º 3 - 15, Edf. Heng Long, Macau. Li Canfeng, Director da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, faz saber que ficam notificados os condóminos, inquilinos ou demais ocupantes do prédio acima indicado, do seguinte: Em conformidade com o Auto de Vistoria da Comissão de Vistoria constante do processo em curso nesta Direcção de Serviços, o prédio acima indicado encontra-se em estado de conservação, pelo que, nos termos do n.º 2 do artigo 54.º do Decreto-Lei n.º 79/85/M (Regulamento Geral da Construção Urbana) de 21 de Agosto, foi instaurado um procedimento administrativo relativo à notificação da reparação do prédio acima indicado. No uso das competências delegadas pelo alínea 12) do n.º 5 do Despacho n.º 04/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 25, II Série, de 24 de Junho de 2015 e por despacho de 6 de Abril de 2016 do Chefe Substituto do Departamento de Urbanização da DSSOPT, Ao Peng Kin, foi homologado o Auto de Vistoria acima indicado. De acordo com os artigos 93.º e 94.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, foi realizada, no seguimento de notificação por edital publicado nos jornais em língua chinesa e em língua portuguesa de 14 de Abril de 2016, a audiência escrita dos interessados, mas não foram carreados para o procedimento elementos ou argumentos de facto e de direito que pudessem conduzir à alteração do sentido da decisão de ordenar a reparação do prédio acima indicado. Nos termos do n.º 2 do artigo 54.º do RGCU e por meu despacho de 8 de Julho de 2016, ordeno aos interessados que procedam, no prazo de 60 dias contados a partir da data da publicação do presente edital, à reparação do prédio acima indicado. Para o efeito, de acordo com as disposições do RGCU, os interessados deverão apresentar nestes Serviços o Pedido da Aprovação de Projecto (de Alteração) da Obra de Reparação / Conservação, no prazo de 10 dias contados a partir da data da publicação do presente edital. O impresso do respectivo pedido está disponível na página electrónica da DSSOPT. Findo o prazo acima referido, caso os interessados não tenham dado cumprimento à respectiva ordem, esta Direcção de Serviços aplicar-lhes-á a multa prevista nos artigos 66.º e 67.º do RGCU. Na falta de pagamento voluntário da despesa, nos termos do n.º 1 do artigo 142.º do Código do Procedimento Administrativo, proceder-se-á à cobrança coerciva da quantia em dívida pela Repartição das Execuções Fiscais da Direcção dos Serviços de Finanças. Nos termos do n.º 1 do artigo 59.º do RGCU e das competências delegadas pelos n.os 1 e 4 da Ordem Executiva n.º 113/2014, publicada no Boletim Oficial da RAEM, Número Extraordinário, I Série, de 20 de Dezembro de 2014, da decisão do presente edital cabe recurso hierárquico necessário para o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, a interpor no prazo de 15 dias contados a partir da data da publicação do presente edital. RAEM, 8 de Julho de 2016 O Director dos Serviços Li Canfeng


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Rumo às descobertas

Equipa da UM pioneira na descoberta de efeitos de artemísia

U

ma equipa de investigação da Universidade de Macau (UM) é pioneira na descoberta dos efeitos da artemísia contra danos induzidos por stress oxidativo e identifica ainda o mecanismos de acção desta planta. O resultado foi anunciado em comunicado de imprensa, que congratula a equipa liderada por Zheng Wenhua e que saiu da Faculdade de Faculdade de Ciências da Saúde da UM. O estudo constitui o primeiro relatório mundial sobre o efeito neuroprotector da artemísia e confere à planta um forte potencial de aplicação clínica, nomeadamente no que respeita ao tratamento de distúrbios do sistema nervoso central, adianta a UM. O desenvolvimento de medicamentos nesta área tem tido um crescimento significativo devido aos fenómenos recentes de envelhecimento populacional e incidência de doenças neurodegenerativas. A maioria dos projectos, porém, terão ficado pelo caminho

dada a dificuldade em ultrapassar a barreira sangue-cérebro sem efeitos secundários insuportáveis. As propriedades anti-malária da planta forma alvo do prémio Nobel da Medicina em 2015, pelos estudos conduzidos por Tu Youyou, sendo agora aprovada enquanto medicamento com a capacidade de transpor a barreira hemato-cefálica sem consequências graves. A propriedade neuroprotectora da artemísia abre um novo capítulo na pesquisa farmacológica deste composto sendo que, para Zheng Wenhua, o caminho a trilhar ainda é de muito trabalho para que se possam efectivamente proceder a aplicações clínicas. As descobertas foram publicadas nas revistas da especialidade Free Radical Biology and Medicine e Redox Biology, sendo que ambas as publicações lideram a credibilidade na pesquisa de radicais livres, endocrinologia e metabolismo, remata a UM.

Uepay Esperadas mais entidades para pagamentos online

Tempos modernos O economista Albano Martins considera que podem surgir mais instituições financeiras viradas para pagamentos online, à semelhança da recém criada Uepay. Um sinal de “modernização” do mercado, aponta

O

mercado financeiro local tem, pela primeira vez, uma instituição financeira virada para pagamentos online. A Uepay começa a funcionar com um capital social de 20 milhões de patacas e estará agora sujeita às regras de funcionamento a definir pela Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM). Na prática, quem optar por pagamentos via internet poderá usar esta plataforma pela primeira vez no território, já que nunca antes a AMCM terá recebido pedidos para o estabelecimento deste

Gonçalo Lobo Pinheiro

Sociedade

tipo de instituições financeiras, confirmou o HM. Para o economista Albano Martins, mais instituições como esta vão surgir. “Sei que pelo menos há mais um grupo de interessados, mas a verdade é que isso é provável de acontecer, sobretudo quando há casinos e muitas transacções via internet e é preciso assegurar alguma segurança. Há outras sociedades que estão a pedir abertura ao Governo para fazer esse tipo de operações. Isso é sinal de que o mercado está a desenvolver-se.”

Sinais de progresso

O economista fala de um “sinal de modernização”. “O mercado financeiro de Macau é muito velho e não

“Há outras sociedades que estão a pedir abertura ao Governo para fazer esse tipo de operações. Isso é sinal de que o mercado está a desenvolver-se” Albano Martins economista

tem nada de novo, os próprios instrumentos que foram criados, como bancos de desenvolvimento, nunca apareceram, e é pela primeira vez uma lufada de ar fresco num sistema muito tradicional. É provavelmente um sinal de modernização.” Até agora alguns bancos facilitavam os pagamentos e transacções online mas não existia ainda uma instituição virada apenas para este segmento. O despacho publicado em Boletim Oficial alerta para o facto da Uepay Macau Sociedade Anónima ter apenas “como objecto social a prestação de serviços de pagamento através de internet e telemóvel”. Esta deve ainda “adoptar os estatutos previamente aprovados pela Autoridade Monetária de Macau e exercer a sua actividade pelas condições fixadas”. Albano Martins referiu ainda que existe um quadro legal para o estabelecimento deste tipo de instituições financeiras, nomeadamente o Regime Jurídico do Sistema Financeiro. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

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Quase duas centenas de pedidos de exclusão de casinos ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 24/P/16 Faz-se público que, por despacho de Sua Excelência, o Chefe do Executivo , de 17 de Fevereiro de 2016, se encontra aberto o Concurso Público para o «Fornecimento de Medicamentos do Extra-formulário Hospitalar aos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 13 de Julho de 2016, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, 1.o andar, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP74,00 (setenta e quatro patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria destes Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,30 horas do dia 12 de Agosto de 2016. O acto público deste concurso terá lugar no dia 15 de Agosto de 2016, pelas 10,00 horas, na sala “Sala Multifuncional” do Antigo Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo dos Serviços de Saúde, sita no r/c, da Estrada de S. Francisco, n.º 5, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP100.000,00 (cem mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 8 de Julho de 2016 O Director dos Serviços, Lei Chin Ion

A Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) de Macau registou, entre Janeiro e Junho, 172 pedidos de exclusão de acesso aos casinos. Do total, 163 pedidos foram de autoexclusão (ou 94,7%), enquanto os restantes nove submetidos a pedido de terceiros, de acordo com dados publicados ontem no site da entidade reguladora. No primeiro trimestre foram apresentados 90 pedidos, enquanto no segundo foram 82. Em 2015, foram registados 355 pedidos de exclusão de acesso aos casinos, contra 280 em 2014 e 276 em 2013. Ao abrigo da lei n.º 10/2012, que condiciona a entrada, o trabalho e o jogo nos casinos, o director da DICJ pode interditar a entrada em todos os casinos, ou em apenas alguns, pelo

prazo máximo de dois anos, às pessoas que o requeiram ou que confirmem requerimento apresentado para este efeito por cônjuge, ascendente, descendente ou parente em 2.º grau. A referida lei entrou em vigor em 1 de Novembro de 2012.


7 hoje macau quinta-feira 14.7.2016

Sociedade

Salas de fumo ilegais denunciadas por Associação

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Associação dos Empregados de Jogo de Macau entregou, ontem, uma petição aos Serviços de Saúde (SS) a acusar um casino de Macau de ter criado salas multifuncionais onde é permitido fumar. No comunicado, a Associação sublinhou que terão sido criadas dez salas denominadas de “multifunções”, nas quais os clientes podem fumar sem impedimentos ou restrições. Para a Associação, este é um caso em que se está a desafiar a lei e “concretiza uma ameaça para a saúde dos empregados do Jogo”. Cloee Chao, secretária da entidade associativa, disse ao HM que “este casino se situa na zona central de Macau, estando sete, das dez salas criadas, em funcionamento”. “O director dos SS já disse que não iriam ser criadas mais salas de fumo”, refere Cloee Chao, adiantando que estes espaços multifunções são ilegais e remetendo o caso para o Governo. A responsável espera ainda que o Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo possa acompanhar o caso, bem como investigar e castigar as violações. A Associação dos Empregados do jogo já é autora de uma outra petição, entregue este mês na Assembleia Legislativa, a solicitar a proibição completa de consumo de tabaco em casinos. T.C./S.M.

Alunos da EPM com notas acima da média

Os alunos da Escola Portuguesa de Macau (EPM) conseguiram, este ano, resultados acima da média nos exames do 9º ano. Segundo as declarações de Pedro Pisco, da EPM, à Rádio Macau, a média a Português foi de 63,3% contra os 57% registados em Portugal. Já a Matemática, a média ficou nos 74% enquanto que em Portugal foi negativa, tendo atingido os 47%. Pedro Pisco considera que as notas à disciplina dos números se devem ao “trabalho que se desenvolve na escola, junto dos alunos, e pelos apoios que têm: laboratório de Matemática, salas de estudo e os próprios apoios à disciplina”. Os resultados dos exames do 9º ano foram conhecidos anteontem e as notas estão desde as 16h00 de ontem afixadas.

Renovada composição do Conselho Ciência e Tecnologia

Rui Martins, vice-reitor da Universidade de Macau (UM), e Peter Lam, ligado ao Conselho da mesma universidade, fazem parte da composição do Conselho de Ciência e Tecnologia. Segundo um despacho publicado ontem em Boletim Oficial, um total de 19 membros, incluindo a ex-deputada nomeada à Assembleia Legislativa, Ho Sio Kam, viram renovada a sua nomeação.

Edifício de Doenças Moradores focam-se nas demolições “perigosas”

“Governo tem vindo a mentir” As demolições que estão a ser feitas para a construção do Edifício de Doenças Infecto-Contagiosas são “perigosas”, diz o porta-voz dos moradores, que teme pela segurança das crianças do jardim-de-infância

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stão contra a construção do Edifício de Doenças Infecto-Contagiosas e também consideram “perigosas” as demolições que estão a ser feitas para a sua construção. É esta a posição dos residentes que moram junto ao hospital Conde de São Januário, confirmou ao HM o seu porta-voz,Anderson Cheong. “Pensamos que as demolições são perigosas. Foi publicado um artigo no jornal Ou Mun em que especialistas de construção afirmam que é muito perigoso demolir os edifícios e destruir a montanha perto da zona residencial. Os edifícios podem colapsar ou sofrer outro tipo de incidentes. Não sei o que vai acontecer às crianças que es-

tão no jardim-de-infância e que brincam ao ar livre”, apontou. O porta-voz acusou o Governo de “ter mentido este tempo todo”. “Já mostramos várias evidências mas não somos ouvidos e apenas insistem naquilo que acham que é correcto. Vários deputados já disseram que o Governo não está a agir de forma correcta, mas tudo

continua. Começaram a demolir edifícios sem nenhum aviso.”

Seguros, dizem eles

Os Serviços de Saúde (SS) divulgaram ontem um comunicado onde afirmam que a demolição completa dos edifícios deverá ficar concluída num prazo de 120 dias, tendo sido feitas a vedação da área.

“Especialistas de construção afirmam que é muito perigoso demolir os edifícios e destruir a montanha perto da zona residencial. Os edifícios podem colapsar ou sofrer outro tipo de incidentes” Anderson Cheong porta-voz dos moradores

“Os SS salientam que as obras serão realizadas de forma a que a segurança dos residentes daquela área e da população em geral seja garantida e apelam aos residentes para que prestem a maior atenção à sua segurança no acesso à referida via, durante a execução das obras de demolição.” O Gabinete de Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) vai dar prioridade à demolição dos edifícios junto à via entre a porta traseira do edifício Ka On Court e a Estrada de São Francisco. No mesmo comunicado, o Governo volta a frisar a importância do projecto. “Apesar de algumas decisões políticas serem difíceis de obter consentimento de todos os residentes, é grato que a maioria dos residentes compreende e apoia o plano de construção do Edifício das Doenças Transmissíveis.” Quanto à histórica muralha localizada no local, os SS garantem que está em bom estado de conservação. “Estas ruínas possuem um valor histórico precioso. Entre Abril de 2013 e Julho de 2014, o Instituto Cultural (IC) procedeu ao trabalho de reparação e presentemente esta muralha está em boas condições. No planeamento de construção do edifício de doenças transmissíveis, tomou-se em consideração os diferentes aspectos da muralha. O IC estará atento à protecção das condições da muralha durante as diferentes fases das obras”, conclui o Executivo. Andreia Sofia Silva

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Creative Fotógrafos apresentam livro que junta música, poesi

eventos

Hotel Estoril em curta clandestina Grupo de Hong Kong entra no edifício para filmar

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que que o Estoril era a coqueluche de uma Macau que já não existe. “Foi umas das melhores atracções turísticas no seu tempo, com muitos visitantes a virem de Hong Kong”, ilustram. Por entre destroços alternados com a natureza que invade o espaço, os Urbex passam por quartos, ora interessantes, ora assustadores, reencontram restos do que foram cerimónias religiosas e estátuas de deuses chineses, casas de banho em cacos e um sem número de destroços que em breve ficarão para sempre esquecidos. A curta-metragem é um caminho de cinco minutos, inacessível. Saem tão clandestinamente como entraram, a trepar o muro que lhes serviu de acesso. Os Urbex são um grupo da cidade vizinha que se dedica à exploração clandestina de espaços abandonados para que estes não sejam esquecidos. S.M.

Ob

Urbex

Hotel Estoril e os seus dias contados não são alheios à vizinha Hong Kong. Num momento em que se aguarda a demolição do edifício, a equipa Hong Kong Urban Exploratio (Urbex) entrou porta adentro para mostrar ao mundo um dos marcos da arquitectura moderna do território. A informação, adiantada pelo jornal Ponto Final, dá a conhecer os jovens que formam parelha e entraram nas instalações de cara tapada, lanterna e câmara em punho. São anónimos que exploram os restos de uma história que não querem deixar de contar. O resultado é uma curta-metragem de seu nome “The condemned casino”. A película começa com as ruas de Macau e a entrada furtiva dos intervenientes. À medida que se aventuram no edifício devoluto, vão contando a sua história, retomando o tempo

É um projecto experimental que chega agora ao público. Rusty Fox e Chong Hoi, artistas locais, apresentam o livro “BRutAL”, que junta artes numa composição improvável

“B

RutAL” dá nome ao livro recentemente publicado pelos criativos locais Chong Hoi e Rusty Fox. Este é um foto-livro experimental, que concretiza um projecto que junta o design, a música electrónica e a poesia à fotografia. Vai ser apresentado na Creative Macau, a 21 de Julho, pelas 18h30. O projecto começou com o uso de uma fábula oriental de modo a representar um sentimento distópico do mundo. Segundo a organização, é um livro que retrata a complexidade de sentimentos que fazem parte da RAEM, um dia pertença portuguesa. É ainda uma abordagem contemporânea dos problemas emergentes globais, tais como a crise económica, a inflação e as questões sociais que

À venda na Livraria Portuguesa Nunca é Tarde • Carlos Carneiro Num pachorrento almoço de domingo, um engenheiro reformado à beira de completar 70 anos surpreende o filho, viajante profissional, ao sugerir-lhe que façam juntos uma viagem. Depois de duas garrafas de vinho, estes dois homens, com concepções radicalmente distintas da vida e que o tempo se encarregou de afastar, decidem empreender a maior das aventuras: uma volta ao continente africano. Para tornar o desafio ainda mais complicado, escolhem como meio de transporte uma velha Renault 4L… 
Carlos Carneiro filho e Carlos Carneiro pai mal podem imaginar o que o futuro lhes reserva. Mas, depois de anos de separação, esta aventura de 40 mil quilómetros, com as suas adversidades e peripécias, irá torná-los mais próximos do que nunca.

de alguma forma afectam o quotidiano de todos. “Há de alguma forma, receio de fazer parte da cauda da cadeia alimentar dentro desta sociedade capitalista”, afirma a organização em comunicado de imprensa.

Os autores

Chong Hoi é pós graduado em Design Gráfico pelo Instituto Politécnico de Macau. Depois de alguns anos em Xangai, onde aprofundou carreira na área da publicidade e tem trabalho feito nas áreas de fotografia, literatura, música electrónica e arte de rua, regressa a Macau. Actualmente trabalha como designer no Museu de Arte de Macau, enquanto participa na realização de filmes documentais. O artista vê cada projecto criativo como uma oportunidade de crescer e promover o design de Macau ao

nível da classe mundial, insistindo em obras únicas capazes de comunicar com os outros. Para Chong Hoi, a fotografia é um meio e uma técnica de ver o mundo, sendo que considera este conceito como “além da criação”. Através das técnicas de composição e das faculdades oferecidas pelos equipamentos, o “verdadeiro espírito de fotografia é o de sentir o mundo através dos sentidos”, afirma o artista. Já Wang Lap Wong, conhecido artisticamente por Rusty Fox, sempre teve como preocupação os equilíbrios e desequilíbrios da cidade dentro da dinâmica dos seres que a habitam e que influenciam a própria percepção do conceito. Para o artista, “a maioria das pessoas anda como máquinas, dormentes e sem alma”. Neste contexto, a fotografia documental não tem limites, sendo que o seu trabalho pretende permitir ao

Rua de S. Domingos 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • mail@livrariaportuguesa.net

Um Pouco Mais de Fé • Patrícia Costa Dias Quando uma jovem se vê imersa num comportamento compulsivo totalmente fora de controlo, os pensamentos de suicídio instalam-se, misturados com uma veia cínica perante a sociedade. Ao ser apanhada em flagrante pela família, a opção da morte torna-se verdadeiramente clara. Afinal, como viver sem a máscara de «linda menina», de «boazinha», que todos pensavam que era? 
Como revelar não ser uma força da natureza, mas tão-só humana, com erros cometidos e segredos terríveis por revelar? Verídica e contada na primeira pessoa, Um Pouco Mais de Fé é uma história de sofrimento, fé e amor.


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ia e fotografia

eventos Nathalie Daoust

bra BRutAL

hoje macau quinta-feira 14.7.2016

Sonhos num país de pesadelo

Nathalie Daoust capta imagens proibidas na Coreia do Norte

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fruto proibido é o mais apetecido, já diz o ditado, e um território hostil torna-se facilmente apetecível a profissionais de várias áreas, nomeadamente da fotografia. Foi o que aconteceu com Nathalie Daoust, fotógrafa e cineasta canadiana, autora de “Sonhos Coreanos”, um projecto que capta imagens proibidas na Coreia do Norte.Apesar das limitações, a artista não baixou os braços. Sempre vigiada e em áreas permitidas, Nathalie foi mais além e arriscou a recolha de imagens inéditas e interditas. As dificuldade em viajar no reino de Kim Jong-un são mais que muitas. Do preço à dificuldade em chegar ao país, à vigilância extrema e manipulação dos visitantes, conhecer o coração da Coreia do Norte é impossível. Ali, só se vê o que é autorizado e só se fica nos hotéis aprovados. Só se fotografa sob vigilância, enquanto que as aldeias onde vive grande número da população com salários de cerca de um dólar mensal, ou os campos de concentração do tamanho de cidades onde estão encarceradas três gerações por crimes, não fazem parte do roteiro nem da permissão.

Viagem de risco público entender a relação, muitas vezes escondida, entre homens e os seres inanimados que os rodeiam. Tudo para que possa ter noção do extraordinário que existe na normali-

dade. Rusty Fox nasceu em Macau e é mestrado em Fotografia Documental pela University of South Wales. O evento marcado para a semana conta com a presença dos

Pavilhão do Panda reabriu, mas só com Hoi Hoi

autores, que vão explicar como o projecto nasceu e cresceu. A entrada é livre.

O Pavilhão do Panda Gigante já reabriu ao público, mas entre os visitantes que por lá passaram poucos sabiam que nasceram recentemente em Macau, pela primeira vez, dois pandas gémeos, que ainda estão longe dos olhares curiosos. No primeiro dia, segunda-feira, apesar de ser um dia de semana e de estar de chuva, aproximadamente cem pessoas foram visitar o Pavilhão, segundo dados recolhidos junto da bilheteira. Lá apenas encontraram o macho Hoi Hoi, enquanto se aguarda que a primeira aparição pública das duas crias – nascidas a 26 de Junho – com a sua mãe Sam Sam tenha lugar dentro de meio ano. As duas crias, ambas do sexo masculino, foram baptizadas uma semana depois de virem ao mundo, de Tai Pou e Sio Pou – nomes dados comummente a crianças e que significam, respectivamente, “grande bebé” ou “grande tesouro” e “pequeno bebé” ou “pequeno tesouro”, de acordo com o jornal The Macau Post Daily.

Sofia Mota

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“Tive que viajar através da China como uma turista”, diz Nathalie Daoust em entrevista à revista Another. “Depois de uma excursão de pesquisa, organizei uma segunda viagem” ao país onde não são permitidos fotógrafos alheios à Associated Press. Esta segunda incursão por terras de Kim Jong-un já foi feita especialmente para capturar imagens. Utilizou um passaporte que não era o seu, colocou a câmara à altura da barriga e um disparador remoto escondido debaixo do braço e fez-se à aventura. Ficou hospedada num pequeno hotel que mais parecia um “motel de estrada” e, apesar da sua estadia ser constantemente vigiada, com câmara analógica e disparador imperceptível, estava aberto o

caminho para conseguir imagens inéditas. A utilização do sistema analógico terá sido fundamental. “Acho que eles pensaram que seria uma amadora porque não usava uma câmara digital”, admite. A verificação que se faz aquando da captura de imagens “do querido líder” - para que nenhuma apresente cabeça ou pés cortado - também aqui não era possível, o que conferia à fotógrafa uma maior liberdade.

Ganhar consciência

O resultado é perturbador. Num misto de fotografia artística que roça as imagens eróticas do início do século passado, em tons sépia quase fantasmagóricos, Nathalie Daoust apresenta uma Coreia à vista de todos mas com o peso de realidade. São imagens à altura das entranhas, que convidam a quem as observa a uma imersão e consciencialização do que se passa naquele país, sendo que é este agora o objectivo da autora. Nathalie Daoust adianta ainda que passou “grande parte da carreira a explorar o mundo quimérico e fantasioso” de desejos e impulsos ocultos que estão na base dos sonhos e condutas de cada um e que os levam a ultrapassar os limites do convencional. Na Coreia, a exploração foi direccionada aos instintos de fuga, não como escolha individual, mas como modo de vida de quem é aglutinado pela nação. “Uma nação irreal” e produto de reinterpretações e ditames do poder. Agora, é objectivo do trabalho alertar todos para uma maior consciência do que ali se vive. Num país que obedece ao culto da personalidade de Kim Jong-Un, num regime opressivo, o projecto “Sonhos Coreanos” é um grito de esperança e alerta para que os governos de todo o lado sejam capazes de “impulsionar a mudança eficaz neste país”, refere Daoust na mesma entrevista. Sofia Mota

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10 China

hoje macau quinta-feira 14.7.2016

Mar do Sul Pequim diz ter “o direito” de instaurar zona de defesa aérea

O gigante contra-ataca

“Não transformem o Mar do Sul da China num berço de guerra” Liu Zhenmin vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês HM • 2ª vez • 14-7-16

ANÚNCIO Inabilitação

n.º CV3-16-0076-CPE

3º Juízo Cível

REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO.--------------------------------------REQUERIDO: KUAN SOK MAN, residente em Macau, na Avenida de Vale das Borboletas, Habitação Social de Seac Pai Van, Edifício Lok Kuan, Bloco IV, Torre B4A, 4.º andar D, Coloane.-------------------------------------------------* -----Faz saber que, no Juízo Cível e Tribunal acima referidos, foi distribuída um acção contra KUAN SOK MAN, feminino, maior, residente em Macau, na Avenida de Vale das Borboletas, Habitação Social Seac Pai Van, Edifício Lok Kuan, Bloco IV, Torre B4A, 4.º andar D, Coloane, supra identificada, para o efeito de ser decretada a sua inabilitação por anomalia psíquica.--------------------R.A.E.M., 04 de Julho de 2016.----------------------------------------------------

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equim afirmou ontem ter “o direito” de instaurar uma “zona de identificação de defesa aérea” (ADIZ, na sigla em inglês) no Mar do Sul da China, um dia depois de um tribunal internacional ter decidido contra as suas reivindicações em águas estratégicas. “A eventual necessidade de estabelecer uma [ADIZ] no Mar do Sul da China depende do nível de ameaça que enfrentarmos”, declarou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros Liu Zhenmin. “Não transformem o Mar do Sul da China num berço de guerra”, afirmou, em declarações aos jornalistas, insistindo: “o objectivo da China é transformar o Mar do Sul da China num mar de paz, amizade e cooperação”. A China reitera as suas reivindicações territoriais na região, que se estendem por quase toda a costa de países vizinhos, depois de o Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia ter decidido a favor das Filipinas, considerando não haver base legal para a pretensão de Pequim. Liu Zhenmin descreveu a decisão como um “pedaço de papel usado” durante uma conferência de imprensa, alegando que o tribunal tem sido “manipulado”. Os cinco juízes que avaliaram o caso “fizeram dinheiro com as Filipinas”, disse ainda Liu, acrescentando que “talvez outras pessoas também tenham ganho dinheiro” com o processo. Sublinhou também que quatro dos cinco juízes são de países da União Europeia e que o presidente, embora oriundo do Gana é um residente de longa data na Europa. “São estes juízes representativos?”, questionou, de forma retórica. “Entendem a cultura asiática?”

Seul quer soluções pacíficas A Coreia do Sul defendeu ontem uma resolução “pacífica e criativa” para as disputas no Mar do Sul da China, após a decisão do Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia sobre o conflito entre a China e as Filipinas. Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Seul manifestou o seu apoio à decisão anunciada na véspera que dá razão às Filipinas na contenda territorial entre Manila e Pequim. A Coreia do Sul “tem em conta a decisão do tribunal de arbitragem” e “deseja uma resolução pacífica da disputa através de esforços diplomáticos pacíficos e criativos”, assinalou a diplomacia sul-coreana, reafirmando também a necessidade de se defender a “estabilidade e a liberdade de navegação e de voos numa área que constitui uma rota comercial-chave”.

Autrália pede respeito Um antigo presidente japonês do Tribunal Internacional sobre Direito do Mar, Shunji Yanai, “manipulou todos os procedimentos” nos bastidores, alegou ainda o vice-ministro chinês. Yanai, antigo embaixador do Japão na Coreia do Sul e nos Estados Unidos, deixou o cargo em 2014.

Razões da História

Liu falava na apresentação de um ‘white paper’ sobre a resolução das disputas com as Filipinas, o país que levou o caso ao Tribunal Permanente de Arbitragem, com sede em Haia. A China foi “a primeira a descobrir, dar nome e a explorar e aproveitar” as ilhas do Mar do Sul da China e as suas águas, e “tem exercido contínua, pacífica e eficazmente” a sua soberania e jurisdição sobre elas”, refere Pequim no documento. Pequim boicotou os procedimentos do Tribunal Permanente de Arbitragem, afirmando que esta instância não tem competência para se pronunciar, e lançou uma ofensiva diplomática e publicitária para tentar desacreditar o tribunal. A China reivindica a soberania sobre quase todo o Mar do Sul da China, com base numa linha que surge nos mapas chineses desde 1940, e tem investido em grandes operações nesta zona, transformando recifes de corais em portos, pistas de aterragem e em outras infra-estruturas. Vietname, Filipinas, Malásia e Taiwan também reivindicam uma parte desta zona, o que tem alimentado intensos diferendos territoriais com a China. Em 2013, Manila levou o caso ao tribunal internacional, após 17 anos de negociações.

A Austrália avisou ontem a China que ignorar a sentença do Tribunal Permanente de Arbitragem (TPA), com sede em Haia, sobre as disputas territoriais no Mar do Sul da China é uma “transgressão internacional séria”. “Ignorar [a sentença] seria uma transgressão internacional séria”, afirmou a ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Julie Bishop, em declarações à cadeia de televisão australiana ABC. Bishop acrescentou que a decisão do tribunal internacional é “final e vincula legalmente” a China e as Filipinas, o país que levou a questão ao TPA. Para a Austrália, a sentença conhecida na terça-feira representa uma “oportunidade para provar que se podem negociar as disputas de forma pacífica”.

Taiwan responde em força Taiwan enviou ontem uma fragata para a ilha Taiping, no disputado arquipélago Spratly, para mostrar a sua rejeição à sentença do tribunal internacional que na terça-feira negou a Taipé direito a 200 milhas de zona económica exclusiva. A Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, sublinhou, numa declaração a partir da fragata transmitida pela televisão, a sua determinação na defesa da soberania de Taiwan sobre Taiping e outras ilhas do Mar do Sul da China. No entanto, defendeu que deve ser encontrada uma solução através da negociação entre os vários países que pretendem o controlo das Spartly.“As disputas devem resolver-se pacificamente, através de negociações multilaterais”, disse Tsai, que assegurou que Taiwan está disponível para cooperar com todos os envolvidos “para promover a paz e a estabilidade no Mar do Sul da China”.Na terça-feira, o gabinete da Presidente afirmou que Taiwan “rejeita totalmente” a sentença do Tribunal Permanente de Arbitragem (TPA), com sede em Haia, e que “fará tudo o que for possível para salvaguardar a soberania e o território do país e proteger os seus interesses”.


11 China

hoje macau quinta-feira 14.7.2016

Braço de ferro

UE adverte Pequim de que defenderá siderurgia afectada por aço chinês

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União Europeia advertiu ontem que vai defender a indústria siderúrgica afectada pelas importações baratas de aço da China, salientando que esta questão fará parte da sua decisão sobre se Pequim é uma economia de mercado. “Vamos usar todos os meios à nossa disposição para defender a nossa indústria do aço”, disse ontem o presidente da Comissão Europeia (CE), Jean-Claude

“Vamos usar todos os meios à nossa disposição para defender a nossa indústria do aço” Jean-Claude Juncker presidente da CE

Juncker, numa conferência de imprensa no final da 18.ª cimeira China-UE.

À mesa

A China e a UE concordaram ontem criar um grupo de trabalho para estudar as exportações de aço chinesas para a Europa e avaliar a criação de um mecanismo de acompanhamento. Segundo dados oficiais chineses divulgados por Juncker, as exportações de aço chinesas para o mercado da UE aumentaram em 28% e preço caiu 31% no mesmo período. “Estes números mostram claramente que estamos perante um problema muito sério”, acrescentou o presidente da CE. Os europeus têm insistido para que as autoridades chinesas presentes na cimeira acelerem as suas reformas económicas, em especial as medidas para resolver o

excesso de capacidade da sua indústria pesada, porque cria distorções nos mercados mundiais. Nos últimos anos, a China tem sido objecto de várias medidas ou investigações por “dumping” (produção subsidiada que mantém o preço abaixo do custo de fabrico). O presidente do executivo da UE advertiu a China de que há “ uma inter-relação” entre esta questão e o relatório que Bruxelas deverá fazer no final do ano sobre se o gigante asiático é uma economia de mercado (uma questão relacionada com o 15º. aniversário da entrada da China na Organização Mundial do Comércio [ OMC]). Jucker disse que estes assuntos poderiam ser separados, mas que sublinhou que “sentimento geral” na UE é que eles devem “ser estudados em conjunto.”

Exportações e importações diminuem no primeiro semestre

As exportações da China desceram 2,1% no primeiro semestre deste ano face aos primeiros seis meses do ano passado, e as importações baixaram 4,7% no mesmo período, anunciaram ontem as autoridades aduaneiras chinesas. O gigante asiático vendeu a outros países o equivalente a 958 mil milhões de dólares, ao passo que as compras ao estrangeiro chegaram a 708 mil milhões de dólares, cerca de 639 mil milhões de euros. Olhando só para Junho, as exportações da segunda maior economia do mundo cresceram 1,3% face ao mês homólogo de 2015, enquanto as importações caíram 2,3%.

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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 339/AI/2016

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 343/AI/2016

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora LE THI DUNG, portadora do passaporte do Vietnam n.° N1586xxx e do Título de Identificação de Trabalhador Não-Residente da RAEM n.° 14524xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 76/DI-AI/2014, levantado pela DST a 04.07.2014, e por despacho da signatária de 14.04.2016, exarado no Relatório n.° 272/DI/2016, de 06.04.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua Sete Bairro Iao Hon, n.° 36, Edf. Kat Cheong, 2.° andar J (C226) onde se prestava alojamento ilegal.------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. -----------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 29 de Junho de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora LI CHUNHUA, portadora do Salvo-conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° C15495xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 89/DI-AI/2015, levantado pela DST a 02.08.2015, e por despacho da signatária de 30.06.2016, exarado no Relatório n.° 408/DI/2016, de 10.06.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua de Paris n.° 101, Tai Fung Bloco 4 (Edifício Hil Fung), 9.° andar O onde se prestava alojamento ilegal.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ----------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 30 de Junho de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 364/AI/2016

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 368/AI/2016

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor CHEANG KAI VENG, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.° 50810xx(x), que na sequência do Auto de Notícia n.° 91/DI-AI/2014, levantado pela DST a 25.07.2014, e por despacho da signatária de 26.05.2016, exarado no Relatório n.° 339/DI/2016, de 03.05.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua do Terminal Marítimo n.os 93-103, Edf. Centro Internacional de Macau, Bloco 4, 5.° andar B, Macau onde se prestava alojamento ilegal.-------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ----------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 29 de Junho de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor CHAU Chuen Ngai, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente de Hong Kong n.° P0713xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 87/DI-AI/2014, levantado pela DST a 17.07.2014, e por despacho da signatária de 26.04.2016, exarado no Relatório n.° 308/DI/2016, de 18.04.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua de Xiamen n.° 18-G, Edf. Nam Fong, bloco 2, 17.° andar N, Macau onde se prestava alojamento ilegal.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ----------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 29 de Junho de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes


h

hoje macau quinta-feira 14.7.2016

artes, letras e ideias

12

a saga da taipa

José Drummond

Que estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa? 20. O estripador

“M

eu Amor. Escrevo-te cheia de medo. Aquele medo que dizem ser o grande motivador. Medo de falhar. Medo de não conseguirmos provar a nós próprios do que somos capazes. Medo de não conseguir ser aquilo que sempre sonhámos. Mas, na verdade, comigo, não é assim. O medo inibe-me. E tenho medo de nunca mais te voltar a ver. E isso não me motiva. Pelo contrário. Destrói-me. Para mim o grande motivador é o amor. O que o medo faz é enublar as nossas percepções e, desse modo, perdermos o sentido do que a realidade pode realmente ser. Toda esta sociedade em que vivemos foi construída sobre o medo. Usa-se o medo para tudo. Os patrões com os empregados. Os países mais poderosos com os mais fracos. Todas estas guerras. Todas estas injustiças. Tudo feito com o uso dessa grande arma opressiva que é o medo. O medo cala-nos. O medo deve ser confrontado. É um grande desafio. Confrontar o medo pela ilusão que realmente é. E só sei uma forma. Há que confrontar o medo com o amor. E o amor que tenho por ti é tão grande. Mas hoje estou cheia de medo. Medo de não conseguir escapar. Quando

estava preparada para lhe dizer tudo, como que pressentindo algo, este verme fechou-me no quarto. E quando abriu a porta foi para me dizer que tinha o meu passaporte e que sabia muito bem o que se passava. Assustei-me. Assustei-me tanto. Eu já devia ter lido os sinais. As suas mudanças de humor repentinas. E é por isso que estou cheia de medo. Ainda não sei como vou conseguir fazer-te chegar esta carta. Mas irei conseguir. Irei conseguir porque é o amor que me motiva. O medo inibi-me. E tu tens que saber o que está realmente a acontecer. Estou com tanto medo de amanhã. Meu querido Chaoxiong. Não sei como explicar como me sinto quando penso em ti. Hoje à noite sonhei que era uma estilista de sucesso e que preparava as minhas modelos para uma passagem de moda em Xangai. E que o hotel onde estava tinha um restaurante chinês e um ocidental. E que decidi de repente fazer a festa com as modelos no ocidental. Porque sempre quis conhecer o meu pai. Nunca te falei no meu pai. Um francês que trabalhava na bolsa de Hong Kong que desapareceu por altura da transferência. Ele e a minha mãe tinham-se casado um ano antes e a minha mãe estava grávida de 6 meses quando ele desapareceu. Descobriu-se posteriormente que ele poderia estar ligado a um esquema de subornos de um membro influente da sociedade de construção e que ao recusar continuar possa ter sido envolvido nalgum caso de débito com as tríades. Nada está provado. Eu continuo a acreditar que ele está vivo em algum lugar. No meu sonho eu dirijo-me a esse restaurante e entro na sala de banquetes para ser recebida com forte aplauso. Mas sinto-me tão cansada apesar de tão feliz pelo meu sucesso. Tu levas-

-me até ao meu lugar e em segredo dizes-me que agora eu posso descansar e que de seguida iremos fazer a nossa sonhada viagem à volta ao mundo. E falas-me de sítios exóticos. Com praias paradisíacas. E eu oiço a tua voz em sussurro. Com nomes de sítios que ecoam felicidade. Bahamas. Seychelles. Maldivas. Eu nuca soube para onde viajar. Estas tuas sugestões no meu sonho são lugares-comuns. Mas toda esta minha vida é um lugar-comum. Toda esta minha canseira e infelicidade por não estar contigo é um lugar-comum. Até o medo é um lugar-comum. E eu não quero deixar que o medo me leve ao desespero. O desespero é uma doença mortal. Uma doença do espírito. Um abismo. Um abismo de desespero.

cana que muito admiro. Sylvia Plath. Conheces? Chama-se “Mad Girl’s Love Song” e é como eu me sinto hoje. Uma “mad girl”. “I shut my eyes and all the world drops dead; I lift my lids and all is born again. (I think I made you up inside my head.) The stars go waltzing out in blue and red, And arbitrary blackness gallops in: I shut my eyes and all the world drops dead. I dreamed that you bewitched me into bed And sung me moon-struck, kissed me quite insane. (I think I made you up inside my head.) God topples from the sky, hell’s fires fade: Exit seraphim and Satan’s men: I shut my eyes and all the world drops dead. I fancied you’d return the way you said, But I grow old and I forget your name. (I think I made you up inside my head.) I should have loved a thunderbird instead; At least when spring comes they roar back again. I shut my eyes and all the world drops dead. (I think I made you up inside my head.)”

Chaoxiong deixa-me dizer-te, neste ano de 2029, que eu, uma mulher com 37 anos, ainda acredito na felicidade porque tu existes. Deixa-me dedicar-te um poema de uma poetisa ameri-

Não fiques triste meu querido. E não tenhas medo. O medo inibe e é mau para todos. Não deixes que esta minha carta não te faça acreditar. Acredita meu doce. Para sempre tua. Daphne.”


13 hoje macau quinta-feira 14.7.2016

fichas de leitura

Manuel Afonso Costa

A vida é um palco T

chekhov é considerado um dos maiores contistas de todos os tempos mas, para mim, o seu teatro não lhe fica a dever nada. Do seu teatro eu destaco além da Gaivota: O Tio Vânia, As Três Irmãs e O Cerejal. Alguém falou de um teatro de humores e de uma vida submersa no texto; nada mais certeiro. Tolstoi detestava o teatro de Tchekhov, mas detestava de igual modo Shakespeare, ora como sabemos, no melhor pano cai a nódoa. Possuo o sentimento de que não sou capaz de escrever sobre Tchekhov. Seguramente saberei e serei capaz de falar de Tchekhov e de escrever sobre ele na generalidade da sua vida e obra, daquilo que se tornou trivial acerca dele. E ainda lhe poderei acrescentar muito do que é possível ler sobre ele e que é vasto, e às vezes muito bom, como os textos iluminados de Nabukhov, por exemplo, mas escrever sobre ele de um modo absolutamente pessoal, tenho sérias dúvidas. E não é porque não o compreenda, ou porque não goste, ou outro tipo de sentimentos assim. É uma espécie de bloqueio que resulta do facto de que o compreendo tão profundamente, como nenhum outro escritor, e por isso não sou capaz e portanto não sei. A impotência é uma forma de sabedoria da não sabedoria. A parte da obra de Tchekhov que é responsável por esse bloqueio, por essa impotência, é o teatro, que é também a parte da sua obra onde o indizível se apresenta mais nítido. Um indizível nítido parece um paradoxo, mas não é, atrevo-me a dizer. O teatro de Anton Tchekhov que já li abundantemente e que também já vi no palco e no cinema interpela-me com tal intensidade que fico reduzido a uma pura emoção, mas a uma emoção vencida e jamais triunfante. Uma emoção que

Tchekov, Anton, Contos e Narrativas, Estúdios Cor, Lisboa 1972 Descritores: Literatura Russa, 402, [3] p.:20 cm, Tradução Lopes Azevedo Cota: C-11-4-235

promove a desistência e o silêncio. Eu sei o que ele quer exprimir, nem tenho dúvidas sobre isso, mas não sou capaz de o definir pacificamente. Em última análise porque o que ele quer dizer e exprime, à sua maneira, é justamente o que a vida não pode exprimir senão assim: um arrepio sem palavras, um cenário omnisciente sem legendas. A minha paralisação verbal é quase da ordem do respeito cerimonial. Faço, pode-se dizer, um silêncio expressivo, um silêncio que diz tudo. A primeira peça que li dele foi a Gaivota e depois disso já vi a Gaivota, tanto no teatro como no cinema e a sensação foi sempre a mesma, aquilo é a vida, não a vida concretizada, realizada e também verbalizada, mas a vida do desejo não realizado, do sonho apenas entrevisto, de um sentimento muito vago do falhanço, da perda, do irreparável. Parece que Tchekhov deixou de se dedicar ao teatro depois da péssima reacção à apresentação de Gaivota. Eu compreendo a má reacção, pelos mesmos motivos que

Anton Pavlovitch Tchechov, nasceu no dia 29 de janeiro de 1860 e faleceu na Floresta Negra em Badenweiler, no dia 15 de julho de 1904. Cursou e exerceu medicina toda a vida, considerando que a ciência médica era a sua mulher legítima enquanto que a literatura, a que se dedicou também toda a vida, era uma espécie de amante. Abençoada amante, apetece dizer. Dentro da literatura evidenciou-se a sua arte de dramaturgo e contista, genial em ambos os registos. Há duas notas prévias que se devem considerar quando se pretende tentar escrever sobre Tchekhov. Uma é o facto de que a sua técnica do uso do fluxo de consciência é absolutamente original e precursora e aparece na obra com uma naturalidade, única na história da literatura, que a torna imperceptível. A outra é a deliberada ausência de juízos morais o que produz nos textos a aparência de uma espécie de inércia, do ponto de vista axiológico, embora jamais a tenham. Como é que ele o consegue!? Aí residirá o maior mistério da genialidade da sua forma de expressão.

enformam este meu texto. A Gaivota é provavelmente o texto do escritor em que tudo o que tenho vindo a dizer e espero dizer ainda até ao fim deste breve excurso, se confirma de modo sublime. A Gaivota é todo o mistério do génio de Tchekhov condensado, a sensação poética e existencial do ‘por viver’. Este ‘por viver’ não remete para um futuro ou um passado, é sempre no presente que a falha está presente e presentifica a vida com esse sentimento de falhanço antecipado. Essa é a sensação de todas as outras peças também, verdadeiras epifanias do que é evanescente, volátil, que a vida anuncia e nos rouba, e isto permanentemente ao longo dela, … não é sempre o mesmo o que se adia, o que fica suspenso, o que se perde, ou mesmo só o anúncio reiterado dessa perda. Não é sempre o mesmo empiricamente falando, mas é de facto sempre o mesmo, enquanto metamorfose ontológica da incompletude e da carência. É sempre o mesmo, no fim de contas. E é sempre a mesma a emoção não dramática dessas perdas sucessivas. O dramático reside na ausência de dramatismo, nas peças de Anton Tchekhov, e isso consubstancia uma suavidade sofrida, uma tristeza não convulsiva, … E é esta ausência de pathos que me intriga e me perturba e me paralisa.

Eu evidencio a Gaivota em detrimento do Tio Vânia, por exemplo, apenas porque a questão da arte está na Gaivota de forma mais explícita. Pressente-se em toda a obra de Tchekhov uma certeza: só a arte poderá, se é que pode, superar as aporias existenciais. A vida é um novelo embaraçado que a vida não desembaraça. A arte vem em seu auxílio, procurando superar as antinomias irresolúveis, porém percebe-se que a fronteira entre a arte e a vida não é nítida e que a arte, ela própria, se embrulha em outras antinomias tão irresolúveis quanto aquelas. O novelo existencial prevalece agora num plano sublimado, onde as metalinguagens não logram o efeito de distanciamento procurado e esperado. É sempre a vida que cobre o campo de todas as referencialidades ... Contudo esse Tio Vânia que usei como exemplo para contrapor A Gaivota, é provavelmente a peça onde o que referi a propósito do sentimento de perda é mais expressivo e melhor conseguido. Os anseios fazem corpo com as frustrações, as tentativas de regeneração, condenadas ao malogro, exprimem-se em ideais de fuga e abandono e por fim o desgaste acaba por conduzir ao triunfo da rotina, que exprime o sentimento de derrota, de um epos dos vencidos, pois o que se perde jamais se resgata e apesar das alterações, que são sempre superficiais, prevalece o rumor profundo do que não muda e se torna asfixiante. Sem falsa modéstia talvez tenha acabado por escrever sobre Tchekhov aquilo que de facto será o essencial da sua obra literária justamente na sua essência, uma essência não substancial, despida de ênfase ou retórica, aparentemente banal e prosaica mas de uma intensidade dramática avassaladora e tanto mais estranha quando e porque é plenamente conseguida com tão escassos recursos. Aí reside o génio absoluto do dramaturgo e contista russo. No fim de contas acaba por se tratar de uma ironia extrema, num autor que cultivou a ironia como provavelmente mais ninguém. *No quadro da colaboração de Manuel Afonso Costa com a Biblioteca Pública de Macau-Instituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de Leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.


14 (F)utilidades tempo

Muito

hoje macau quinta-feira 14.7.2016

?

nublado

O que fazer esta semana Diariamente

Exposição “Transient”, de Sofia Arez (até 23/07) Creative Macau Exposição “Rostos de uma cidade – duas gerações/ quatro artistas” Museu de Arte de Macau (até 23/10)

min

26

max

32

hum

70-95%

euro

8.85

baht

Exposição “Voice on Paper”, de Papa Osmubal Fundação Rui Cunha (até 22/07) Exposição “O Pintor Viajante na Costa Sul da China” de Auguste Borget Museu de Arte de Macau (até 9/10) Exposição “Edgar Degas – Figures in Motion” MGM Macau (até 20/11)

o cartoon steph

Sudoku

de

Exposição “Reminescent – Portugal Macau” Galeria Dare to Dream (até 22/07) Exposição “Cnidoscolus Quercifolius” - Alexandre Marreiros Museu de Arte de Macau (até 31/07) Exposição “ Exposição do 70º Aniversário” - Han Tianheng Centro Unesco de Macau – (até 07/08) Exposição “Color” 2016 Centro de Design de Macau Exposição “Pregas e dobras 3” de Noël Dolla Galeria Tap Seac (até 09/10)

Cineteatro

C i n e m a

Finding Dory Sala 1

Falado em cantonês Filme de: Andrew Stanton 14.15, 16.05, 19.45

Falado em cantonês, Legendado em chinêse Inglês Filme de: Longman Leung, Sunny Luk Com: Aaron Kwok, Tony Leung Ka Fai, Chow Yun Fat 14.30, 16.30, 19.30, 21:30

Finding Dory [3D] [A]

Sala 3

Finding Dory [A]

Falado em cantonês Filme de: Andrew Stanton 21:30

The Secret life of Pets [A] Falado em cantonês Com: Chris Renaud, Yarrow Cheney 14:15, 16:00, 19:30 Sala 2

Cold war 2 [C]

1.19

Mar azul

Escultura “Ligação com Água” de Yang Xiaohua Museu de Arte de Macau (até 01/2017)

Exposição “Dinossauros em carne e osso” Centro de Ciência de Macau (até 11/09)

yuan

aqui há gato

Exposição “Memórias do Tempo” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12)

Exposição “Artes Visuais de Macau” Instituto Cultural (até 07/08)

0.22

Solução do problema 36

problema 37

Um livro hoje

Hoje pela manhã deitei-me ali no parapeito a ver a água do lago. Tinha um pequeno reflexo azul esverdeado, coisa que há muito não via. Às vezes vou para ali ver as gaivotas pedaladas por turistas e que flutuam em círculos numa “piscina” parda e pequenita. Também ainda não entendi porque é que num laguito tão grande aqueles barcos de recreio estão confinados a uma espécie de circuito fechado em que andam aos círculos. Faz me lembrar o treino dos amigos cavalos, coitados. Mas voltando ao assunto, estranhei a visão e pareceu-me bonita. Parecia água. Não sou animal dado ao chapinhanço, o que não quer dizer que não entenda que os humanos e outros patudos gostem de dar uns mergulhos. Não no lago, que não podem. Aliás, por aqui mergulhos parecem mais comportamentos de risco dadas as restrições por tudo quanto é sítio. Mas, o que me preocupa é mesmo este mar que envolve o território. Um mar castanho, um mar que de mar pouco tem e que mais se assemelha a uma poça cheia de terra, uma espécie de lamaçal maior e mais líquido. Parece que aqui só a terra é precisa. Terras para casas e prédios e casinos, mais aterros, mais túneis e mais cor castanha ou poluição. Mais do mesmo. Hoje tive um lamiré do que se perde com isso. Imaginei a praia de Hac Sá ou Cheoc Van banhada por um mar azulinho que poderia fazer as delícias de residentes, ou de cães e dos peixes que, coitados, independente de gostar de os petiscar, até eu sei ver que começam a não ter onde morar. Enfim, um mar que é mar. Pu Yi

“The Great Gatsby” (F. Scott Fitzgerald, 1925)

Provavelmente terá visto o recente filme de Baz Luhrmann com DiCaprio, mas já leu o livro? Para mim, foi leitura obrigatória na escola preparatória. Não queria ler, o Inglês atrapalhava-me, mas o meu pai obrigava-me. Em boa hora. Não só me ajudou a abrir as portas do idioma de Shakespeare, como me deu as primeiras luzes sobre que era isso do “Sonho Americano” que tanto se falava. A história de um rapaz do campo que foi atrás do sucesso por amor, por Daisy, o seu amor perdido. Uma história sobre o valor do idealismo e dos sonhos. Uma lição sobre como mudar a nossa vida quando conseguimos colocá-la acima de trivialidades como sobreviver o dia a dia, no cenário “louco” dos anos 20. Manuel Nunes

Three Falado em cantonês, Legendado em chinêse Inglês Filme de: Johnnie To Com: Zhao Wei, Louis Koo, Wallace Chung 14:30, 18:00, 19:45, 21.30

The Secret life of Pets [A] Falado em cantonês Com: Chris Renaud, Yarrow Cheney 16:15

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15 hoje macau quinta-feira 14.7.2016

opinião

bairro do oriente

E

Chiu! A malta quer ver a bola!

sta semana que amanhã finda teve um sabor diferente para os Portugueses, mundo da Lusofonia em geral e todos os seus simpatizantes (Ola Galicia, mando aquí un gran abrazo!). A noite de domingo para segunda marcou um momento que ficará para sempre guardado na nossa novecentista História como o fim de todos os “eu já sabia, e com eles os “o que é que tu querias?”, e ainda os “não se esperava outra coisa”, já para não falar dos insuportáveis “o contrário é que seria de admirar” - Portugal ganhou uma grande competição internacional futebolística! Não, não foi em Sub-17, Sub-19, Sub-21, Submarinos, nem no torneio de Toulon para os tolos, e nem no insípido, irrelevante e indiferente torneio olímpico (o que já não era mau de todo; era melhor que nada...): foi no Euro! Esse mesmo, o Europeu de futebol organizado pela UEFA, seniores, masculinos e sem ser para cegos, amblíopes e outros deficientes, presidiários, sem abrigo, sacerdotes católicos ou de orientação especificamente LGBT - um Euro a sério! Sim, um desses! Não, não está a sonhar! Teve graça, por acaso teve. Foi a expressão máxima da ironia, que num torneio onde praticamente a nossa selecção andou duas semanas por França a “apanhar bonés” e sem dar uma para a caixa, acabaria por contornar os Adamastores, e sem dar ouvidos aos velhos do Restelo lá fez da Tormenta esperança, e da esperança certeza. Não fomos tanto assim iguais aos gregos em 2004, como por aí se disse, e talvez as semelhanças se ficassem pelo título conquistado na final frente à equipa da casa, mais nada – e logo por azar fomos nós. Sejamos honestos: ninguém esperava grande coisa dos gregos, que foram como um pobrezinho a quem fazemos sempre uma sandes quando nos bate à porta, ou damos umas roupas que já não queremos, até ao dia quando nos distraímos e o ingrato nos rouba as pratas. Sim, eu sei que esta metáfora pode não ser do gosto de muita gente, mas lá está: não se pode agradar a gregos e troianos. Nem encontro muitas semelhanças entre esta epopeia com a outra dos dinamarqueses em 92, quando nem se haviam qualificado para o torneio final na vizinha Suécia, mas acabariam repescados por um motivo atroz: a guerra na ex-Jugoslávia, país que tinha ficado em 1º lugar no grupo da Dinamarca. E assim os “vikings” – são todos “vikings” estes dinamarqueses, noruegueses e agora até os islandeses, valha-me Odin para aturar tamanha presunçåø – foi até ali ao lado mostrar a holandeses e alemães como se faz. Um típico argumento de Hans-Christian Andersen com realização de Ingmar Bergman, portanto. Chato, frio, descartável – a nossa aventura foi outra, meus. Foi a vez

David Cronenberg, Videodrome

leocardo

Ganhámos o jogo que interessava antes do jogo que decidia, e aí fomos tudo o que nos tem faltado, cum camano. Finalmente fomos grandes na hora de ser grandes do “não estamos nem aí”, e mais ninguém senão o nosso capitão poderia ter sintetizado todo este sentimento numa só frase: “Se perdermos, que se faça amor” (versão auto-censurada). E que final memorável aquela em Paris, meus senhores. Como tivemos garra, e como olhámos o adversário nos olhos sem medos, e podia vir qualquer um que estava ali Portugal; os novos, os velhos, os brancos e os pretos e até um cigano! Tínhamos um madeirense, dos Palopes um de cada se não estou em erro (terá faltado

S. Tomé? Moçambique? Who cares?). Até com dois desertores contávamos nas nossas fileiras, um tal “monsieur Adrien” e um outro “monsieur Raphael”, e ainda o Cédric que nasceu na Alemanha, o Pepe que importámos do Brasil, e como cereja no topo do bolo o nosso guarda-redes, que se chama...Patrício. De ir às lágrimas, de tão poético, que até parecia estar escrito que seria desta. E a comandar todo esta macedónia de lusitanidade? O Santos. Tinha que ser com um Santos que íamos lá. Ou com um Silva, ou quem sabe um Antunes, alguém que transmitisse aquela imagem de quem acaba de abrir a tasca e atende os primeiros fregueses do dia enquanto limpa a um pano as mãos que haviam acabado de esquartejar um galinácio: “ Atão o quéque vai ser póchenores? Um eurozito? Então sai um eurozito qué a especialidade da casa”. Não foi nenhuma tragédia grega, não senhor. Nem o rei ia nu, nem haviam sereias, e só ganhámos um jogo no tempo útil, e depois? Ganhámos o jogo que interessava antes do jogo que decidia, e aí fomos tudo o que nos tem faltado, cum camano.

Finalmente fomos grandes na hora de ser grandes. Pelo meio fomos repescados, mal amados, desprezados – e até pelos nossos, e eis os velhos do Restelo para a epopeia ficar completa. Até cheguei a ter pena dos maldizentes, coitaditos, que quiseram dar uma de chicos-espertos que apostam em todos os cavalos menos um, e no fim ganha esse, que à partida até parecia manco e aparentava um ar de que depois da corrida ia directo do Hipódromo para a fábrica da cola. Mas pode ser que esta vitória lhes ensine uma lição, especialmente aos aficionados do pessimismo, aos profetas da desgraça que apregoam os seus ais ao ritmo do velhinho e decrépito faduncho lusitano: “ai como EU sofro”, “ai como EU ganho mal”, “ai como EU sou infeliz”, e depois? Não tem cunha? Tivesse! Não rouba? Roubasse! Se for apanhado? É porque foi burro, e eu não vejo os que estão bem na vida a queixarem-se de como estes adoram arrastar os restantes com eles para a fossa do “ai Jesus como sofro, coitadinho de mim”. Vão lá sofrer para outro lado e não chateiem, que a malta quer ver a bola. E Portugal foi campeão ou não? TOMA!


Ah quem me dera / estar aí / ter um rio / só para mim / Lentamente / armar a rede / e içar a esperança / Firme / sem estar em terra / Estendido na água / sem andar à deriva / E viver! / De costas voltadas / como tu”

quinta-feira 14.7.2016

Fernando Correia Marques

Eventos MICE agradam a gregos e troianos

DICJ quer expandir mercado de máquinas de jogos

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recente investimento na realização de eventos que contribuem para o desenvolvimento da indústria das convenções e exposições (MICE, na sigla inglesa) tem-se revelado do agrado não só das organizações de grande envergadura, como das pequenas e médias empresas que confirmam um aumento de receitas aquando das iniciativas. É o que diz um comunicado de imprensa do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM), onde é possível verificar que Macau já pode ser considerada a “primeira escolha pelos responsáveis que escolhem o território para o seu evento”. Robin Lee, Director da Jeunesse Greater China, explica que a cidade goza de uma localização privilegiada, complementada por excelentes infra-estruturas e instalações especializadas para a realização de convenções e exposições. A empresa planeia organizar encontros internos quatro vezes por ano, cada um com cerca de 12 mil participantes e Macau surge como a primeira escolha para a realização deste tipo de eventos. As pequenas e médias empresas também dão aval a estes eventos, visto que o aumento de visitantes contribui para o desenvolvimento da economia comunitária local, indica o IPIM, que assegura que vários proprietários de estabelecimentos comerciais situados na Rua do Cunha consideram que a realização de eventos de grande dimensão no Cotai impulsiona o número de visitantes na zona, o que contribui para um aumento de mais de 10% nas receitas diárias.

Detidos dois suspeitos de tráfico de droga

A Polícia Judiciária (PJ) deteve, na segundafeira, uma mulher local e um homem do interior da China por tráfico de droga. A mulher de 42 anos, toxicodependente, é acusada de traficar estupefacientes do interior da China entre Janeiro e Março últimos. Esta já é a terceira detenção que sofre este ano e está neste momento a aguardar julgamento. Depois de inspecionar a casa da suspeita, a PJ apreendeu estupefacientes no valor de três mil yuan. A mulher admitiu ter comprado as drogas na China continental e a conhecidos num jardim na zona norte. O segundo detido no mesmo dia traficava num hotel da Taipa e admite que esta é a primeira vez que está envolvido nesta actividade, sendo que recebe mil patacas por cada transacção. pub

Amigos de longa data

aulo Martins Chan, director dos Serviços de Coordenação e Inspecção de Jogos (DICJ), pretende expandir o mercado das máquinas de jogos nos casinos, por forma a responder à quebra registada no sector VIP. Segundo um comunicado oficial, Paulo Chan terá dito que “o futuro desenvolvimento do sector assenta no reforço no crescimento das salas comuns, nomeadamente através do fornecimento de diferentes modalidades de jogos de máquinas de jogo, com vista a aumentar as receitas deste domínio ao nível do das salas VIP”. Essa aposta visa responder “ao ajustamento estrutural do sector do Jogo para implementar a diversificação e o desenvolvimento sustentável da economia”, disse ainda o director da DICJ. Estas declarações foram proferidas após uma reunião do organismo com duas empresas de certificação de máquinas de jogo. As duas empresas terão mostrado “pleno apoio a essa medida”, sendo que “crêem que as máquinas de jogo possam servir de estímulo neste aspecto, na medida em que as mesmas oferecem uma experiência de entretimento e lazer aos visitantes”.

Juncker diz que não negociará “de forma hostil” saída do RE

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presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse ontem que não irá negociar “com mentalidade hostil” a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e assegurou que sentirá a falta do primeiro-ministro cessante, David Cameron. “Não irei negociar com o Reino Unido com uma mentalidade hostil, temos sido parceiros na UE durante mais de 40 anos e aliados, ainda que não todos, na Aliança Atlântica”, disse ontem Jean-Claude Juncker, numa conferência de imprensa, no final da cimeira China-UE. O presidente do executivo Comunitário assegurou que nas negociações que se irão abrir quando o novo Governo britânico comunicar formalmente o seu desejo de deixar a União Europeia, “não haverá lugar para o ódio, para a vin-

gança, nem para o contrário da amizade”. Neste sentido, disse que quando o Reino Unido sair, o que em linguagem comunitária se denomina, “um país terceiro”, que espera que as relações sejam “as mais estreitas possíveis”.

O antigo chefe do Governo luxemburguês Jean-Claude Juncker assegurou que mantém “uma excelente relação pessoal” com David Cameron, apesar de este se ter oposto à sua nomeação como presidente da Comissão Europeia, e que “irá sentir a sua falta”.

Das farpas

“Não irei negociar com o Reino Unido com uma mentalidade hostil, temos sido parceiros na UE durante mais de 40 anos” Jean-Claude Juncker presidente da CE

Segundo a imprensa britânica, Theresa May, que tomou ontem posse como nova primeira-ministra, em substituição de David Canmeron, declarou que Jean-Claude Juncker será o próximo a conhecer “o seu carácter difícil”, ao que o presidente do executivo Comunitário reagiu de forma irónica, dizendo que a mesma “irá conhecer em breve as suas próprias dificuldades”. O presidente da Comissão Europeia avançou que “não acredita que vá ter grandes problemas com Theresa May”.

Casa de penhores enganada em 600 mil dólares de HK

Dois homens foram recentemente detidos pela Polícia Judiciária (PJ) por um crime que remonta a 2012, referente a uma burla no valor de 600 mil dólares de Hong Kong feita a uma casa de penhores na ZAPE. A notícia é dada pelo canal chinês da Rádio Macau, que fala no envolvimento de um elemento que trabalhou neste estabelecimento durante dois meses e mais um cúmplice. O ex-funcionário, depois de conhecer a rotina da casa, terá feito com que o seu cúmplice se fizesse passar por amigo do marido da dona do estabelecimento e telefonasse para a loja a solicitar dinheiro para o “amigo” que precisava de ajuda. O empregado que levou o montante pedido acabou por suspeitar que se trataria de uma burla e denunciou posteriormente o caso à PJ. O suspeito que fez o telefonema acabou por admitir à PJ que tinha recebido 40 mil dólares por ter realizado o telefonema tendo ainda sido receptor do montante total.


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