DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
TERÇA-FEIRA 15 DE NOVEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3696
MOP$10 SOFIA MOTA
LAG | CHUI SAI ON
Regresso à Horta GRANDE PLANO
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As razões do TUI PÁGINA 7
ESTUDO FUNÇÃO PÚBLICA COM BAIXO SENTIDO DE PERTENÇA
Festival de Cinema
PROCESSO À VISTA? EVENTOS
CHINA
Novo amigo americano PÁGINA 13
O preço das casas
h
PAULO JOSÉ MIRANDA
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hojemacau
PASSA TEMPO Os trabalhadores da Função Pública, apesar de se sentirem satisfeitos, têm um baixo sentido de pertença em relação à função que desempenham, para além de se envolverem pouco no
trabalho que desenvolvem quotidianamente. As conclusões são de um estudo realizado por duas associações ligadas à Associação dos Operários de Macau.
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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
CASO HO CHIO MENG
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LAG 2017 COMERCIANTES DA HORTA DA MITRA QUEREM POLÍTICAS PARA OS MAIS JOVENS
Chui Sai On fez na sexta-feira uma visita surpresa ao bairro que o viu crescer, pediu fiambre com ovos no café da esquina e perguntou como andavam os negócios para a zona da Horta da Mitra. Na hora do Chefe do Executivo ir à Assembleia Legislativa, os comerciantes do bairro revelam quais as políticas que querem ver concretizadas no ano que vem
SOFIA MOTA
GRANDE PLANO
BOM FILHO A C `
P
ELAS sete ou oito horas da manhã, os mais pequenos vestem o uniforme, os mais velhos as fardas dos seus empregos e todos saem à rua para mais um dia. Pelo meio, bebe-se um café. Sexta-feira simbolizou, contudo, um final de semana diferente para quem reside no Bairro da Horta da Mitra, graças a uma visita surpresa do Chefe do Executivo. Lam Mio Iong não viu Chui Sai On, mas lembra-se daquele ser o bairro onde, durante muitos anos, a família Chui viveu. “A geração do pai de Chui Sai On morava aqui e Chui Sai On cresceu neste bairro. Acho que voltou para visitar o bairro onde cresceu. A sua família tinha uma relação bastante boa com as pessoas do bairro.”
Por ali vendem-se pratos chineses que se comem na rua e que têm um preço mais baixo: monta-se uma mesa improvisada no passeio, come-se da tigela e já está. Ainda assim, a comerciante garante que o negócio dos vendilhões já conheceu melhores dias. “O meu negócio está pior porque os jovens desta geração preferem comer num restaurante e os vendilhões já não recebem muitos clientes. Mas quero continuar a ter este negócio por mais tempo.” Na fase de preparação das Linhas de Acção Governativa (LAG), o Chefe do Executivo costuma reunir-se com as associações tradicionais que lhe fazem pedidos e transmitem as maiores necessidades da população. Uma das medidas que deverão ser hoje
anunciadas na Assembleia Legislativa (AL) é o habitual aumento de salários na Função Pública, mas para quem não trabalha na Administração os receios são outros. “Acho que o Chefe do Executivo é próximo da população, mas o maior problema neste momento é a habitação, sobretudo para os jovens. Chui Sai On fez bastante para ajudar os idosos, aumentando os apoios sociais, mas depois os mais jovens enfrentam muitos problemas por causa do alojamento”, acrescentou Lam Mio Iong.
A FOTOGRAFIA NO JORNAL
Nem só de vendilhões de comida se faz o Bairro da Horta da Mitra. Há um mercado municipal, cafés, um templo e algumas lojas. O Chefe do Executivo entrou na loja do
senhor Yip, que orgulhosamente vai buscar a fotografia que saiu no jornal Ou Mun para nos mostrar. Chui Sai On “foi simpático” e “pelo menos quis saber como estão os pequenos negócios nesta zona”. “É muito bom que o Chefe do Executivo preste atenção a estas zonas e aos negócios”, adiantou Yip. E quais são os maiores problemas de quem trabalha ali diariamente? “O maior problema é a falta de um parque de estacionamento. Depois esta rua tem apenas uma direcção e as pessoas quando vêm fazer compras nesta zona não conseguem estacionar os carros”, disse. Além disso, há o habitual problema das rendas, numa zona de residentes e para residentes, sem turistas. “As rendas são
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ASA TORNA extremamente altas. Há 18 anos pagava cerca de 2800 patacas e agora pago 19 mil. Só quem é proprietário das lojas é que consegue sobreviver em Macau, os negócios individuais já estão numa situação mais difícil.” Para as LAG de 2017 Yip deseja “ver melhorias em quase todos os aspectos: na saúde, transportes, habitação. Este é o maior problema porque é impossível comprar uma casa em Macau e gostava que o Chefe do Executivo prestasse mais atenção à classe mais baixa da população.”
FIAMBRE COM CAFÉ
Uns metros mais à frente, Chui Sai On entrou no café Vai Kei sem pré-aviso. Pediu café misturado com chá e leite, mais fiambre com
ovos. No meio do rodopio da hora de almoço, a empregada confessa-nos que ficou “surpreendida” quando viu chegar o governante: sentou-se numa cadeira, como se fosse um cliente habitual. “Ele é simpático, vinha com um grupo grande de pessoas”, disse ainda a empregada do estabelecimento, que não quis dizer o que espera das LAG para o próximo ano, por não ser residente de Macau. Tomado o pequeno-almoço, o Chefe do Executivo decidiu ir conversar ao café do lado, chamado In Kei. “Perguntou-nos como está o negócio, só isso. Fiquei muito contente por ter vindo aqui fazer uma visita”, disse o senhor Lo. Na zona não se esperam grandes novidades no dia-a-dia ou melhoria aos negócios já existentes.
“O negócio está mais ou menos, aqui quase que não há turistas, só temos negócios ligados aos residentes, cafés, mercados, agências imobiliárias. Vou ficar contente se o Governo distribuir mais dinheiro pela população e se fizer políticas em benefício da vida da população. Mas claro que o dinheiro não chega, são necessárias mais políticas para os pequenos negócios”, resumiu Lo. A zona da Horta da Mitra está cheia de ruas e becos escondidos, sendo que o Chefe do Executivo só terá passado por uma delas. Quem não o viu de perto prefere não comentar a sua visita ou aquilo que espera para o território. Muitos deles fazem ali o seu negócio há décadas sem grandes mudanças. Por vezes o bairro torna-se um
O Chefe do Executivo entrou na loja do senhor Yip, que orgulhosamente vai buscar a fotografia que saiu no jornal Ou Mun Na zona não se esperam grandes novidades no dia-a-dia ou melhoria aos negócios já existentes grande palco graças à festividade do Duplo 2, que celebra o aniversário do deus local Tou Tei. São cinco dias em que a Rua Tomás da Rosa se transforma, com construções de bambus, leitões em cima de uma grande mesa e pessoas, muitas pessoas, que se juntam para ver os espectáculos das companhias de ópera Yue, de Guangdong. Aquilo que hoje é um misto de ruas, mercados, frutas frescas e templos foi, até meados do século XIX, uma mata e alguns casebres, sem ruas ou ordenamento urbano, segundo um artigo de José Simões Morais publicado na revista Macau. Só nos anos posteriores, quando Tomás de Sousa Rosa era governador de Macau, foi dada uma nova vida a uma zona consi-
derada insalubre, onde a população chinesa vivia. Chui Sai On passou num ápice numa zona cheia de história, conhecida em chinês por Cheoc Chai Un, ou Jardim dos Passarinhos. Ainda assim há quem admita ver o Chefe do Executivo muitas vezes naquela zona a passear, sozinho, pela calada da noite, chegando a entrar no templo que serve de casa às tradicionais festividades. Porque, afinal de contas, depois de um dia cheio de obrigações e compromissos políticos, sabe bem voltar a casa. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
Angela Ka
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4 POLÍTICA
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LAG SEM NOVIDADES, ESPECIALISTAS ESPERAM CONCRETIZAÇÃO DE POLÍTICAS
Novo relatório, as mesmas páginas
É
uma fase especial aquela que atravessa a vida política de Chui Sai On. O Chefe do Executivo vai hoje à Assembleia Legislativa (AL) com o segundo mandato na recta final e meses após ter apresentado o Plano de Desenvolvimento Quinquenal, com metas a cumprir nos próximos cinco anos. É por isso que três especialistas contactados pelo HM não esperam o anúncio de novas políticas hoje, mas sim o cumprimento de tudo o que já foi dito e prometido. “Não espero grandes diferenças em relação ao tom que Chui Sai On tem vindo a demonstrar nos últimos anos. Deverá apresentar medidas que garantam a manutenção dos apoios sociais, os cheques pecuniários... Não haverá grandes novidades”, disse ao HM Agnes Lam, docente universitária e ex-candidata às eleições legislativas. A presidente da associação Energia Cívica defende que tem havido uma maior abertura do Governo. “Os governantes têm sido bastante activos, enviam dirigentes para o programa de rádio numa base diária, onde se discutem problemas e soluções. Espero que tenham um melhor plano em termos de transportes.
ANTÓNIO MIL HOMENS
É quase certo que o Chefe do Executivo não deverá hoje anunciar nada de novo no âmbito das Linhas de Acção Governativa para 2017. Ainda assim, os especialistas anseiam pela concretização de políticas há muito prometidas e discutidas, nas áreas dos transportes, habitação, reforma da Administração e até democracia
“Não seria justo se ele apresentasse medidas para o próximo Chefe do Executivo.” LARRY SO ANALISTA
A questão do metro ligeiro é realmente preocupante.” “As pessoas esperam mais medidas ao nível dos transportes e habitação. Nos dias de semana há tráfego em todo o lado e nunca são resolvidos os pequenos ou grandes problemas no trânsito. A implementação do Plano Director é também urgente. Não são necessárias novas políticas, mas é necessário que se continue a trabalhar nas actuais medidas e na resolução destes problemas”, acrescentou Agnes Lam. Já o sociólogo Larry So defende que “não há novas políticas a serem anunciadas”. “Este será o último ano de mandato e não deverá ter nada de novo para anunciar. Em segundo lugar, tivemos o ano passado a apresentação do Plano de Desenvolvimento Quinquenal, que é um documento muito importante para os próximos cinco anos em termos de planeamento de terrenos, habitação pública ou segurança social.” “A minha hesitação prende-se exactamente com essa falta de novidade, ou então diria que as LAG vão manter as medidas que precisamos de ter para que a economia permaneça estável. O Plano de Desenvolvimento Quinquenal trouxe o tom que as políticas devem ter e uma direcção para o Governo, as LAG não deveriam ser muito diferentes disso”, disse ainda o sociólogo. Larry So defende que Chui Sai On vai apresentar hoje medidas para o seu Executivo cumprir, e não a pensar no seu
sucessor. “Não seria justo se ele apresentasse medidas para o próximo Chefe do Executivo. Este terá que seguir o Plano de Desenvolvimento Quinquenal, por isso estas serão medidas apresentadas para Chui Sai On e não a pensar no próximo Governo.”
DEMOCRACIA E REFORMAS
Tong Ka Io, presidente da associação Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário, ligada aos deputados Au Kam San e Ng Kuok Cheong, garante que o mais importante é o progresso em relação à implementação do sufrágio universal. “O mais importante e fundamental é garantir o avanço da democracia em prol do desenvolvimento de Macau.” Além disso, Tong Ka Io acredita que a Função Pública continua a não funcionar como deveria. “Desde a transferência de soberania até agora, a administração pública tem vindo a deteriorar-se. O sistema de responsabilização tem sido bastante lento, pelo que as políticas públicas não reflectem os interesses públicos, mesmo que haja muitos casos em que duvidamos da existência de vários interesses privados em vez dos tais interesses públicos. É necessária uma reforma do sistema da administração pública, está pior e a gestão é bastante pobre. Não podemos ver políticas públicas bem-sucedidas. Pelo contrário, as medidas na área da habitação, economia ou transportes parecem não estar a ser bem-sucedidas. São essas as prioridades que temos”, concluiu. Andreia Sofia Silva
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AL DEPUTADOS QUESTIONAM DIPLOMA QUE REVOGA ANTIGOS DECRETOS-LEI
SAÚDE WONG KIT CHENG PEDE REVISÃO DAS CARREIRAS DOS ENFERMEIROS
A
A
1ª comissão permanente da Assembleia Legislativa (AL) começou ontem a discutir na especialidade a proposta de lei que propõe a revogação de decretos-lei que vigoram desde o tempo da Administração. Segundo a Rádio Macau, serão cerca de 500 leis que já não estão em vigor, o que causou estranheza junto dos deputados, que dizem não compreender as razões que estão por detrás desta nova proposta de lei. A prática, dizem, é “pouco comum”. “Segundo a explicação do Governo, há necessidade de esclarecer a sociedade sobre quais são os diplomas que já não
estão em vigor. Para os operadores de direito é mais fácil saber; para o público em geral, é mais difícil”, explicou a deputada Kwan Tsui Hang, citada pela emissora. A implementação da proposta de lei, sobre a determinação de não vigência das leis e decretos-lei publicados no período compreendido entre os anos de 1976 e 1987”, será semelhante a vários casos ocorridos em Portugal e até na China, terá dito o Executivo. A proposta de lei estabelece ainda que os direitos adquiridos ao abrigo das leis que vão agora ser expressamente revogadas estão garantidos.
deputada Wong Kit Cheng apresentou uma interpelação escrita ao Governo onde defende uma revisão do regime de carreiras no sector da enfermagem. A ex-enfermeira defende que o contínuo crescimento da população fez com que o actual número de profissionais desta área já não corresponda às actuais necessidades. “Existem preocupações em relação ao futuro da profissão e as motivações para o trabalho
são baixas”, apontou Wong Kit Cheng, tendo defendido ainda o aumento dos salários com a revisão do regime, tanto no sector público como no privado, por forma a atrair mais pessoas, sobretudo jovens, para a profissão. A deputada fala ainda da existência de injustiças na ascensão da carreira, já que os enfermeiros fora do quadro não poderão candidatar-se às posições de enfermeiro especializado dentro do quadro. Isso faz com que muitos enfermeiros
experientes fora do quadro fiquem restringidos quando querem ascender na profissão através do exame. Wong Kit Cheng lembrou que, em Julho deste ano, levantou a mesma questão ao Chefe do Executivo num plenário da Assembleia Legislativa (AL), tendo Chui Sai On prometido que Alexis Tam, secretário com a tutela da saúde, iria tentar resolver a questão. Até hoje não houve novidades, apontou a deputada. A.K.
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Função Pública ESTUDO REVELA BAIXO SENTIDO DE PERTENÇA DE TRABALHADORES
Vou só picar o ponto
ao stress originado pelo trabalho. Os resultados mostram ainda que os funcionários públicos têm uma atitude positiva no trabalho, com elevado grau de tolerância.
TIAGO ALCÂNTARA
Um estudo realizado pela Federação das Associações dos Operários de Macau revela que os funcionários públicos têm baixo sentido de pertença e pouco envolvimento no trabalho. Sentem-se, contudo, satisfeitos com o que fazem. Quanto ao stress, vem do dia-a-dia e não do trabalho
O estudo conclui que a sensação de stress ou cansaço vinda dos problemas do dia-a-dia é superior ao stress originado pelo trabalho
D
UAS associações com ligações à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) realizaram um estudo que revela que os trabalhadores da Função Pública têm um baixo sentido de pertença em relação ao cargo que desempenham, além do baixo envolvimento no trabalho que realizam diariamente. O estudo revela, contudo, que os funcionários sentem-se satisfeitos consigo mesmos, revelando uma elevada capacidade de tolerância. Realizado entre Julho e Dezembro pela Federação das Associações dos Trabalhadores da Função Pública e pela Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Origem Chinesa, em cooperação com o Departamento do
POLÍTICA
Estudos Políticas e da Informação da FAOM, o inquérito baseou-se em 1540 opiniões de funcionários públicos de 27 serviços. As razões que estarão por detrás deste baixo sentido de pertença devem-se à falta de consciência do seu papel enquanto funcionários públicos e às lacunas existentes
no regime de carreiras, sobretudo na possibilidade de ascensão na carreira. A FAOM sugere, portanto, que seja reforçada a formação de trabalhadores para que estes tenham mais a “consciência de servir a população”. A entidade defende ainda uma melhor distribuição dos
recursos humanos e das tarefas, bem como o estabelecimento de um meio de comunicação para facilitar o intercâmbio entre funcionários e superiores hierárquicos. Em relação aos níveis de stress, o estudo conclui que a sensação de stress ou cansaço vinda dos problemas do dia-a-dia é superior
Cerca de 60 por cento dos inquiridos têm entre 25 e 39 anos, sendo que 74 cento têm formação académica acima da licenciatura. Apenas 14 por cento dos inquiridos tem formação acima do mestrado. Quase 60 por cento dos entrevistados trabalham na Função Pública há menos de dez anos, sendo que 30 por cento têm um salário anual acima das 600 mil patacas, enquanto 11,9 por cento recebe menos de 100 mil patacas anuais. A FAOM considera que os inquiridos são, no geral, novos e contam com elevada formação académica, com uma média de antiguidade de dez anos. O estudo será apresentado à Administração para servir de referência. Angela Ka (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo
Lei para as áreas marítimas em consulta pública Diploma vai ser entregue à Assembleia Legislativa depois das eleições de 2017
O
Governo de Macau vai entregar no próximo ano aos deputados uma proposta de lei de bases para a gestão das áreas marítimas, depois de a China ter colocado sob sua tutela, há um ano, 85 quilómetros quadrados de águas. Em Maio foi criado um grupo de trabalho que reviu a legislação vigente na região relacionada com estas matérias e que ontem anunciou ter concluído que “existe a necessidade e é oportuna a elaboração de uma lei de bases de gestão das áreas marítimas, com vista a definir os objectivos e os princípios a que se deve obedecer em relação ao uso, gestão, protecção e desenvolvimento” das águas que estão sob jurisdição de Macau, segundo um comunicado divulgado. “É necessário fazer com que as normas agora existentes se adeqúem aos diversos diplomas e linhas estratégicas do país no âmbito marítimo, pelo que existe a necessi-
dade e é oportuna a elaboração de uma lei de bases”, acrescentou o director dos Serviços de Assuntos de Justiça do Governo de Macau, Liu Dexue, em conferência de imprensa. Até meados do próximo mês, está em consulta pública um documento com as linhas da proposta de lei de bases elaborada por este grupo de trabalho, que espera entregar à Assembleia Legislativa uma versão final no segundo semestre de 2017, já na nova legislatura, depois das eleições do próximo ano.
DEFINIR PRINCÍPIOS
Li Dexue insistiu que se trata de uma lei de bases e, por isso mesmo, apenas de um enquadramento, com princípios gerais, que servirão de base a planos e a outros diplomas e regulamentos mais pormenorizados sobre a gestão, protecção e exploração das águas marítimas de Macau.
A proposta agora em consulta pública tem como objectivos “garantir a conformidade da exploração e do aproveitamento das áreas marítimas da Região Administrativa Especial de Macau com o interesse geral nacional”, “aperfeiçoar a legislação sobre as áreas marítimas”, definir zonas funcionais, “proteger o meio marinho ecológico”, melhorar “o ordenamento e recuperação das áreas marítimas” e a qualidade das águas e desenvolver a economia ligada ao mar, segundo o mesmo responsável. A nível ambiental, por exemplo, no documento refere-se a necessidade de “controlar a quantidade global de emissão de poluentes”, de “definir o mecanismo de monitorização ambiental” das áreas em causa e de “avaliação de risco de catástrofe no mar”, assim como “elaborar o plano de contingência” em caso de catástrofe e de “acidentes de poluição”. Quanto ao desenvolvimento da economia marítima, o documento aponta, entre
outros aspectos, o incentivo da “pesquisa científica e tecnológica nas ciências marítimas”, a promoção da cooperação regional ou a aposta em “novos tipos de indústria de turismo marítimo”. Macau passou a ter sob sua jurisdição 85 quilómetros de águas marítimas a 20 de Dezembro de 2015, por decisão do Conselho de Estado da China. Em Março, Chui Sai O, disse que 2016 era “um ano crucial” para o território, defendendo a importância de “agarrar” as “oportunidades de desenvolvimento da China” e a criação de uma “economia marítima”. Já no início deste mês, o Chefe do Executivo anunciou que a região vai ter um plano de aproveitamento e desenvolvimento das zonas marítimas para os próximos 20 anos.
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hoje macau terça-feira 15.11.2016
HM • 1ª VEZ • 15-11-16
ANÚNCIO
EDITAL Notificação da decisão final relativa à reparação de prédio em mau estado de conservação Edital n.º : 47/E-AR/2016 Processo n.º : 52/AR/2016/F Local : Travessa dos Anjos n.º 1, Edf. Heng Cheong, Macau Li Canfeng, Director da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, faz saber que ficam notificados os condóminos, inquilinos ou demais ocupantes do edifício acima indicado, do seguinte: Em conformidade com o Auto de Vistoria da Comissão de Vistoria constante do processo em curso nesta Direcção de Serviços, o edifício acima indicado encontra-se em mau estado de conservação e carece de reparação, pelo que, nos termos do n.º 2 do artigo 54.º do Decreto-Lei n.º 79/85/M (Regulamento Geral da Construção Urbana) de 21 de Agosto, foi instaurado um procedimento administrativo relativo à notificação da sua reparação. No uso das competências delegadas pela alínea 12) do n.º 2 do Despacho n.º 11/ SOTDIR/2016, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 21, II Série, de 25 de Maio de 2016, o Chefe do Departamento de Urbanização da DSSOPT, Lai Weng Leong, homologou o Auto de Vistoria acima indicado através de despacho de 3 de Agosto de 2016. De acordo com os artigos 93.º e 94.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, foi realizada, no seguimento de notificação por edital publicado nos jornais em língua chinesa e em língua portuguesa de 15 de Agosto de 2016, a audiência escrita dos interessados, mas não foram carreados para o procedimento elementos ou argumentos de facto e de direito que pudessem conduzir à alteração do sentido da decisão de ordenar a reparação do edifício em mau estado de reparação e conservação acima indicado. Nos termos do n.º 2 do artigo 54.º do RGCU e por despacho de 01 de Novembro de 2016, ordena aos interessados que procedam, no prazo de 60 dias contados a partir da data da publicação do presente edital, à reparação do edifício acima indicado. Para o efeito, de acordo com as disposições do RGCU, os interessados deverão apresentar nestes Serviços o Pedido da Aprovação de Projecto (de Alteração) da Obra de Reparação / Conservação, no prazo de 10 dias contados a partir da data da publicação do presente edital. O impresso do respectivo pedido está disponível na página electrónica da DSSOPT. Findo o prazo acima referido, caso os interessados não tenham dado cumprimento à respectiva ordem, esta Direcção de Serviços aplicar-lhes-á a multa prevista nos artigos 66.º e 67.º do RGCU. Na falta de pagamento voluntário da despesa, nos termos do n.º 1 do artigo 142.º do CPA, proceder-se-á à cobrança coerciva da quantia em dívida pela Repartição das Execuções Fiscais da Direcção dos Serviços de Finanças. Nos termos do n.º 1 do artigo 59.º do RGCU e das competências delegadas pelos n.os 1 e 4 da Ordem Executiva n.º 113/2014, publicada no Boletim Oficial da RAEM, Número Extraordinário, I Série, de 20 de Dezembro de 2014, da decisão do presente edital cabe recurso hierárquico necessário para o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, a interpor no prazo de 15 dias contados a partir da data da publicação do presente edital. RAEM, 01 de Novembro de 2016
O Director dos Serviços Li Canfeng
Execução Ordinária
n.º
CV1-13-0025-CEO
Exequente: MELCO CROWN (MACAU), S.A., registada na Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis de Macau sob o n.º 24325 SO residente em Macau na Avenida Dr. Mário Soares, n.º 25, Edifício de Montepio, 1.º andar, Com. 13. Executado: 1 AMA INTERNATIONAL SOCIEDADE UNIPESSOAL LIMITADA, registada na Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis de Macau sob o n.º 28410 SO, residente em Macau na Travessa da Misericórdia, n.º 6, 2.º andar B; 2 CHEN MEI HUAN, de sexo feminino, titular do Bilhete de Identidade de Residente de R.A.E.M. n.º 1xxx3xx(7), residente em Macau, Taipa, na Avenida Tomás Pereira, n.º 889. ***
FAZ-SE SABER, que foi designado o dia 07 de Dezembro de 2016, pelas 10:00, no local de arrematação deste Tribunal e no processo acima indicado, para venda por meio de propostas em carta fechada, do seguinte bem penhorado: Imóvel 1.
Fracção autónoma: “A7” do 7.º andar “A”. Situação: Estrada Lou Lim Ieok n.ºs 619 a 699. Fim: Habitação. Número de matriz: 040719. Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: n.º 21986-I de fls. 168v do Livro B104A. Número de inscrição da propriedade horizontal: n.º 8061 do Livro F33K. Número de inscrição da propriedade: n.º 177340 do Livro G, aí hipotecada a favor de MELCO CROWN (MACAU), S.A., pela inscrição n.º 126378C. O valor base da venda: MOP$20.728.750,00 (Vinte Milhões, Setecentas e Vinte e Oito Mil, Setecentas e Cinquenta Patacas). ***
2.
Fracção autónoma: “B7” do 7.º andar “B”. Situação: Estrada Lou Lim Ieok n.ºs 619 a 699. Fim: Habitação. Número de matriz: 040719. Número de descrição na Conservatória do Registo Predial n.º 21986-I de fls. 168v do Livro B104A. Número de inscrição da propriedade horizontal: n.º 8061 do Livro F33K. Número de inscrição da propriedade: n.º 177340 do Livro G, aí hipotecada a favor de MELCO CROWN (MACAU), S.A., pela inscrição n.º 126378C. O Valor base da venda: MOP$20.642.230,00 (Vinte Milhões, Seiscentas e Quarenta e Duas Mil, Duzentas e Trinta Patacas). ***
3.
Número de descrição na Conservatória do Registo Predial n.º 21853-V de fls. 151 do Livro B101A. Número de inscrição da propriedade horizontal: n.º 3359 do Livro F15K. Número de inscrição da propriedade: n.º 79346 do Livro G, aí hipotecada a favor de MELCO CROWN (MACAU), S.A., pela inscrição n.º 126378C. O Valor base da venda: MOP$2.619.465,00 (Dois Milhões, Seiscentas e Dezanove Mil, Quatrocentas e Sessenta e Cinco Patacas).
1º Juízo Cível
Fracção autónoma: “A3” do 3.º andar “A”. Situação: Estrada Governador Albano de Oliveira n.ºs 282 a 410, Avenida de Kwong Tung n.ºs 46 a 176, Rua de Braga n.ºs 1 a 107, Rua de Chaves n.ºs 3 a 11. Fim: Habitação. Número de matriz: 040709.
*** 4.
Fracção autónoma: “B3” do 3.º andar “B”. Situação: Estrada Governador Albano de Oliveira n.ºs 282 a 410, Avenida de Kwong Tung n.ºs 46 a 176, Rua de Braga n.ºs 1 a 107, Rua de Chaves n.ºs 3 a 11. Fim: Habitação. Número de matriz: 040709. Número de descrição na Conservatória do Registo Predial n.º 21853-V de fls. 151 do Livro B101A. Número de inscrição da propriedade horizontal: n.º3359 do Livro F15K. Número de inscrição da propriedade: n.º 79346 do Livro G, aí hipotecada a favor de MELCO CROWN(MACAU), S.A., pela inscrição n.º 126378C. O Valor base da venda: MOP$2.619.465,00 (Dois Milhões, Seiscentas e Dezanove Mil, Quatrocentas e Sessenta e Cinco Patacas). ***
São convidados todos os interessados na compra daquele bem a entregar na Sessão Central deste Tribunal, as suas propostas, até ao dia 06 de Dezembro de 2016, pelas 17:45, sendo que o preço das propostas devem ser superior ao valor acima indicado, devendo o envelope da proposta, conter, a indicação de “PROPOSTA EM CARTA FECHADA” bem como o “NÚMERO DO PROCESSO: CV1-13-0025-CEO”. No dia da abertura das propostas podendo, querendo, os proponentes assistir ao acto. Durante o prazo dos editais e anúncios, os proponentes, a fim de proteger os seus interesses, podem, caso queiram, antes de apresentar quaisquer propostas dirigir-se ao fiel depositário, Sr. Ng Dik Hang Nestor, com domicílio profissional em Macau, na Alameda Dr. Carlos D`Assumpção, no. 255263, Edifício China Plaza, 6.º andar H / I, o fiel depositário, por sua vez, está obrigado a mostrar o bem a quem pretenda examiná-lo, podendo fixar as horas em que, durante o dia, facultará a inspecção. Quaisquer titulares de direito de preferência na alienação do bem supra referido, podem, querendo, exercer o seu direito no próprio acto de abertura das propostas, se alguma proposta for aceite, nos termos do art. 787.º do C.P.C. *** Na R.A.E.M., 26/10/2016 O JUIZ
7 hoje macau terça-feira 15.11.2016
Caso Ho Chio Meng TRIBUNAL DESMENTE OPINIÕES VEICULADAS NOS MEDIA LUSOS
Está tudo em ordem TIAGO ALCÂNTARA
O Tribunal de Última Instância fez ontem um esclarecimento invulgar sobre o caso Ho Chio Meng. O órgão presidido por Sam Hou Fai veio garantir que os advogados do exprocurador tiveram mais do que um mês para preparar a defesa
É
uma nota à imprensa pouco comum, atendendo ao modo como, por norma, os tribunais de Macau lidam com matérias deste género. O Tribunal de Última Instância (TUI) escreveu ontem um comunicado às redacções em resposta a “alguns órgãos de comunicação social portuguesa”, por terem “reflectido a preocupação de alguns advogados pelo facto de a audiência de julgamento do ex-procurador da RAEM se iniciar a 5 de Dezembro próximo”. Em causa estará a comparação com outros julgamentos em processo penal, bem como o curto prazo que o advogado do arguido teria para preparar o processo. O TUI começa por explicar que “os julgamentos com arguidos presos têm sempre prioridade relativamente ao julgamento dos outros processos em que não se verifica este condicionalismo”, admitindo que, por norma, “os tribunais de primeira instância marquem julgamentos com arguidos presos para datas um pouco superiores a cinco meses”. O órgão recorda, no entanto, que “tais tribunais
têm centenas de julgamentos para realizar”, o que não acontece com o TUI: “Este tribunal tem, neste momento, apenas este julgamento em primeira instância”. Ho Chio Meng vai ser julgado no TUI devido ao cargo que exercia à data dos factos.
CONSULTA SEM PROBLEMAS
O tribunal diz também que “não é verdade que os advogados do arguido tenham apenas um mês para ler o processo e preparar a defesa”, divulgando alguns detalhes sobre o processo. Deduzida acusação
pelo Ministério Público, o arguido requereu a abertura de instrução no passado dia 29 de Agosto. A 6 de Setembro, o juiz de instrução declarou a abertura da instrução e desde essa data que “os advogados
do arguido têm tido pleno acesso ao processo” no TUI. “O processo foi consultado muitas vezes, simultaneamente, por vários advogados do arguido. Aliás, até à data, nunca o arguido
“O processo foi consultado muitas vezes, simultaneamente, por vários advogados do arguido. Aliás, até à data nunca o arguido ou os seus advogados se queixaram de falta de acesso ao processo.” TRIBUNAL DE ÚLTIMA INSTÂNCIA
CENTRO PARA O TURISMO NASCE NO IFT
M
ACAU tem, a partir de hoje, um Centro Global para a Educação e Formação em Turismo para “elevar a qualidade dos recursos humanos na indústria turística”. De acordo com um despacho do chefe do Executivo, publicado em Boletim Oficial, o centro, criado no Instituto de Formação Turística (IFT), “visa através da cooperação com a Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas, elevar a qualidade dos recursos humanos na
SOCIEDADE
indústria turística e reforçar a capacidade de estabelecer políticas, legislações e mecanismos”. Oferecer programas de educação e formação turísticas, incluindo a organização de visitas e estágios, e realizar estudos de investigação na área do turismo são duas das competências do centro. Um coordenador e um coordenador-adjunto do centro serão nomeados de entre os trabalhadores do IFT por despacho do
presidente do instituto, em regime de acumulação de funções, explica o mesmo despacho. A estrutura surge numa altura em que Macau procura fazer a transição para um destino de turismo e lazer para reduzir a dependência económica do sector do jogo. Segundo a estimativa mais conservadora do Plano Geral do Desenvolvimento da Indústria do Turismo de Macau, dentro de uma década, o território deverá acolher 33 milhões de
visitantes por ano. Já outro dos cenários projectados no mesmo plano prevê até 40 milhões, com contas feitas a um crescimento médio anual de cinco por cento. Considerando o primeiro cenário, e a percentagem mínima de crescimento de um por cento ao ano, em 2020, Macau deve ser o destino escolhido por mais de 32,2 milhões de visitantes – sensivelmente mais cinco por cento relativamente aos 30,7 milhões registados em 2015.
ou os seus advogados se queixaram de falta de acesso ao processo”, garante o tribunal. Recorde-se que a data de início do julgamento de Ho Chio Meng foi tornada pública na passada quinta-feira. Detido desde Fevereiro deste ano, o antigo responsável máximo pelo Ministério Público é acusado de uma longa lista de crimes, de peculato a abuso de poder, passando por burla e participação económica em negócio. Ao todo, vai responder em tribunal por 1536 crimes – da acusação constam ainda mais algumas centenas, mas são crimes em concurso aparente, pelo que em julgamento se decidirá qual dos delitos será aplicável. Pelo que foi divulgado aquando da detenção, a investigação em torno do ex-procurador e dos restantes arguidos foi desencadeada no ano passado, depois de o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) ter recebido uma denúncia. Além de Ho Chio Meng, o caso envolve duas antigas chefias do Ministério Público, o ex-chefe do gabinete do procurador e um assessor, vários empresários locais e dois familiares de Ho Chio Meng. Para já, ainda não são conhecidos detalhes sobre o que terá acontecido – sabe-se apenas que, em causa, está a adjudicação de quase duas mil obras nas instalações do Ministério Público, sempre às mesmas empresas. Os crimes terão ocorrido entre 2004 e 2014, e as empresas envolvidas terão recebido um valor superior a 167 milhões de patacas. O CCAC acredita que, deste valor, 44 milhões de patacas terão sido encaixados pelos arguidos. Isabel Castro
isabel.castro@hojemacau.com.mo
CASINOS MAIS RECUSAS À PORTA POR CAUSA DA IDADE Entre Janeiro e Outubro, em média, por mês, perto de 28 mil menores de 21 anos viram recusada a entrada nos casinos de Macau, segundo dados da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) facultados à Agência Lusa. O número – 280 mil em dez meses – supera o registado no cômputo do ano passado (236 mil). Ao abrigo da lei de condicionamento da entrada, do trabalho e do jogo nos casinos, em vigor desde Novembro de 2012, os casinos do território estão impedidos de contratar ou de permitir o acesso aos espaços de jogo por parte de menores de 21 anos. A lei foi beber a outras ordens jurídicas, que embora consagrem os 18 anos como a maioridade definem o tecto dos 21 anos para o exercício de actividades como a entrada em espaços de jogo. A lei prevê sanções administrativas para quem violar as regras, cujas multas oscilam entre as mil e as dez mil patacas. É ainda imposto um “dever de fiscalização” às concessionárias de jogo, cujo incumprimento é penalizado com coimas que vão de dez mil até 500 mil patacas.
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hoje macau terça-feira 15.11.2016
ANÚNCIO Concurso Público Serviços de segurança no Fórum de Macau gerido pelo Instituto do Desporto Faz-se saber que em relação ao concurso público para o «Serviços de segurança no Fórum de Macau gerido pelo Instituto do Desporto», publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 44, II Série, de 3 de Novembro de 2016, foram prestados esclarecimentos, nos termos do ponto 3 do programa do concurso, pela entidade que preside ao concurso e juntos ao processo do concurso. Os referidos esclarecimentos encontram-se disponíveis para consulta, durante o horário de expediente, na sede do Instituto do Desporto, sito na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, n.º 818, em Macau. Instituto do Desporto, 16 de Novembro de 2016. O Presidente, Pun Weng Kun.
EDITAL
Notificação relativa à audiência sobre reparação de prédio em mau estado de conservação Edital n.º : 52/E-AR/2016 Processo n.º : 50/AR/2010/F Local : Rua de Tomás Vieira n.º 7 e Pátio da Águia n.º 5, Macau.
Li Canfeng, Director da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, faz saber que ficam notificados a proprietária Associação dos Conterrâneos de Apelido Lau do Veng Fok Tong de Macau e os inquilinos ou demais ocupantes do prédio acima indicado, do seguinte: Em conformidade com o Auto de Vistoria da Comissão de Vistoria constante do processo em curso nesta Direcção de Serviços, o prédio acima indicado carece de reparação e encontra-se em mau estado de conservação, pelo que, nos termos do n.º 2 do artigo 54.º do Decreto-Lei n.º 79/85/M (Regulamento Geral da Construção Urbana) de 21 de Agosto, foi instaurado o procedimento administrativo relativo à notificação da sua reparação. No uso das competências delegadas pela alínea 12) do n.º 2 do Despacho n.º 11/SOTDIR/2016, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 21, II Série, de 25 de Maio de 2016, o Chefe do Departamento de Urbanização da DSSOPT, Lai Weng Leong, homologou o Auto de Vistoria acima indicado através de despacho de 27 de Julho de 2016.
Notificam-se os interessados que no prazo de 10 (dez) dias, contados a partir da data da publicação do presente edital, devem dar cumprimento à ordem emanada no Auto de Vistoria, ou apresentar no mesmo prazo, conforme o disposto no artigo 94.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, as alegações escritas relativas à decisão do procedimento da reparação do prédio acima indicado, podendo requerer diligências complementares acompanhadas de documentos. Se findo o prazo acima referido os interessados não derem cumprimento à respectiva ordem nem apresentarem quaisquer alegações escritas, tal não afecta a decisão tomada por esta Direcção de Serviços. Além disso, caso necessário, esta Direcção de Serviços pode aplicar aos infractores a multa estabelecida nos artigos 66.º e 67.º do citado diploma legal. Os interessados podem consultar o processo durante as horas normais de expediente nas instalações da Divisão de Fiscalização do Departamento de Urbanização desta DSSOPT, situadas na Estrada de D. Maria II, n.º 33, 15.º andar, em Macau. RAEM, 01 de Novembro de 2016 O Director dos Serviços Li Canfeng
9 hoje macau terça-feira 15.11.2016
Em contagem decrescente para mais uma edição do Grande Prémio de Macau, os Serviços para os Assuntos de Tráfego dão a conhecer as medidas que se aplicam ao trânsito e as alterações nos autocarros. Há 43 carreiras que têm percursos diferentes nos próximos dias
Grande Prémio ALTERAÇÕES NO TRÂNSITO A PARTIR DE AMANHÃ
Baralha e volta a dar
jardim das Artes, passará a efectuar-se em dois sentidos de circulação, das 10h de quarta-feira às 19h de domingo. Ao mesmo tempo, ficarão vedadas ao trânsito as duas faixas centrais para inversão de marcha, existentes no lado oposto à Rua de Cantão e junto à Praça de Ferreira do Amaral. O troço da faixa direita da Avenida de Marciano Baptista, junto ao Fórum de Macau, ficará demarcada ao uso de autocarros, das 20h de quarta-feira à 01h da madrugada do dia 21, segunda-feira.
Os Assuntos de Tráfego deixam um conselho aos residentes: devem planear o percurso que vão fazer, sair de casa mais cedo e optarem por andar a pé
A
O que obriga um circuito citadino: todos os anos, com a chegada do Grande Prémio de Macau (GPM), há que repensar o trânsito dentro e fora da Guia. Ontem, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) deu a conhecer as alterações previstas para os próximos dias, que implicam, desde logo, a mudança provisória os itinerários de 43 carreiras de autocarros. De quinta-feira a domingo, as carreiras 1A, 3, 3A, 10, 10A, 10B, 10X, 12, 28A, 28B, 28BX, 32, AP1 (em direcção ao Aeroporto) e N1A deixam de parar no Terminal Marítimo do Porto Exterior. Em alternativa, os passageiros poderão optar por duas carreiras (12X e 31), sem terem de pagar, para se deslocarem entre o terminal marítimo e a Praça de Ferreira do Amaral, ou entre o terminal marítimo e o Fórum. O serviço da carreira H2 será também suspenso. Para aliviar a pressão viária em algumas vias, explica a DSAT, deixará de se efectuar
SOCIEDADE
escalas nas paragens “Campo Desportivo Mong-Há” e “Centro Actividades Turísticas”. As carreiras 8 e 28C não vão passar pela Travessa da Amizade, mas sim pela Rua de Malaca em direcção à Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, suspendendo-se a paragem “Jai Alai”. O terminal destas carreiras mudará temporariamente para a paragem provisória do Fórum. Além das carreiras 5, 5X, N1A e N2, foi mudado
o circuito das carreiras 1A, 3, 3A, 8, 10, 10A, 10B, 10X, 12, 23, 28A, 28B, 28BX, 28C e 32 que passarão pela paragem “Av. R. Rodrigues/ Hotel Nam Yue”, mas nela não efectuarão escala. Na paragem “Ouvidor Arriaga / Xavier Pereira”, as carreiras 1A, 3A, 10, 10B e 17 irão passar mas não fazem escala, ao passo que as carreiras 16, 28B, 28BX, AP1 e N1B vão efectuar escala. Além da carreira 32, as carreiras 1A, 3A, 10, 10B, 17, 28B, 28BX
e N1B vão passar pela “Est. do Reservatório”, mas não efectuarão escala. A DSTA explica que, para que os residentes fiquem a par do ajustamento do circuito das carreiras durante a realização do GPM, as operadoras do serviço de transportes públicos vão afixar os avisos nas paragens em causa. Além disso, os Assuntos de Tráfego vão mobilizar pessoal para várias paragens e vias para prestar apoio aos passageiros, e deixam um
conselho aos residentes: devem planear o percurso que vão fazer, sair de casa mais cedo e optarem por andar a pé “ou em outros meios de transporte público”.
MUDANÇAS AO VOLANTE
Vão ser ainda implementados alguns condicionamentos provisórios em várias vias de Macau. O troço da Rua Cidade de Sintra, entre a Praça de Ferreira do Amaral e a Avenida 24 de Junho, situada a sul do
Amanhã, a partir das 21h, e até às 18h de domingo, o viaduto da Estrada da Bela Vista passará a processar-se em dois sentidos de circulação e será invertido o sentido de circulação no troço da Estrada da Bela Vista, entre o Edifício Fok Hoi e o viaduto da Estrada da Bela Vista, ou seja, os veículos poderão passar pelo Edifício Fok Hoi em direcção ao viaduto da Estrada da Bela Vista. O troço da Estrada de Ferreira do Amaral, entre a Rua de São João Bosco e a Estrada de D. Maria II, passará a efectuar-se em dois sentidos de circulação. Por sua vez, a execução do corredor exclusivo para transportes públicos na Avenida de Almeida Ribeiro, durante os feriados e domingos, será suspensa no domingo: os veículos poderão circular normalmente entre a Rua Central e a Rua dos Mercadores.
10 EVENTOS
MIFF EVENTO SEM MARCO MUELLER AVANÇA COM TRANSTORNOS, MAS CONFIANTE
MUELLER EM TRIBUNAL?
A primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Macau é marc Mueller da direcção. Mais do que para a apresentação do cartaz, a confe ontem foi marcada pela ausência do italiano de renome que prometia lev
A
Associação de Cultura e Produção de Filmes e Televisão de Macau, co-organizadora do MIFF, fez saber ontem, em nota de imprensa, que “irá exigir a Marco Mueller todas as responsabilidades decorrentes do incumprimento contratual, por todos os meios ao seu alcance, incluindo a via judicial”. Helena de Senna Fernandes admite a possibilidade de abertura de um processo contra o director demissionário, dadas as circunstâncias da sua saída. Para a associação, o que está em causa é o incumprimento do compromisso assinado pelo director italiano. “Marco Mueller faltou ao compromisso assinado como director do Festival conforme acordo assinado com a Associação de Cultura e Produção de Filmes e Televisão de Macau [sic]”, lê-se na mesma nota. É a segunda vez que se anuncia uma primeira edição de um festival internacional de cinema de Macau organizado por esta associação. No ano passado, o evento também terá estado para acontecer, sem ter sido realizado. Helena de Senna Fernandes, confrontada com a situação, não adiantou as razões que levaram a iniciativa a ficar pelo caminho e os representantes da associação não se pronunciaram em conferência de imprensa, nem avançaram com mais informações acerca de um eventual processo contra Marco Mueller.
A
conferência de imprensa destinada à apresentação do programa da primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Macau (MIFF, na sigla inglesa) ficou essencialmente marcada pela ausência de Marco Mueller. O italiano que, até ao passado domingo, era o director do evento e que apresentou demissão é agora substituído pela directora dos Serviços do Turismo e representante da Comissão Organizadora, Maria Helena de Senna Fernandes. A iniciativa, que vai ter lugar entre os dias 8 e 13 de Dezembro, irá, à partida, decorrer sem grandes alterações, afirma Senna Fernandes, não deixando de sublinhar que o MIFF vai sofrer contratempos. “Não posso dizer que não há transtornos com a saída de Marco Mueller, mas estamos confiantes, porque um festival não é feito por uma só pessoa mas da junção do trabalho de várias partes.”
SOFIA MOTA
O FESTIVAL QUE VIR TUDO NA MESMA
Até ontem, o programa previsto para a primeira edição do MIFF não tinha sofrido qualquer alteração apesar da saída do director. “A maioria dos filmes foi escolhida por Marco Mueller, mas também há convidados especiais que a Comissão Organizadora contactou por achar que podiam ter um ângulo diferente, de modo a construir um programa mais completo”, explica Senna Fernandes. A actual responsável pelo evento justifica que, das reuniões a que assistiu em que pudessem ter existido divergências quanto à inclusão de
obras, nunca os diferendos deixaram de ser resolvidos, sendo que, na sua perspectiva, não foi por discordâncias de programação que Marco Mueller terá pedido a demissão. Encontrar um substituto para o demissionário director está, nesta
À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA A COR DAS CEREJEIRAS • António Graça de Abreu
António Graça de Abreu, tendo por base os haiku, poemas curtos nascidos no Japão, convida-nos a viajar pela melodia das palavras, a divertirmo-nos e a deixarmo-nos seduzir pela graciosidade da sua poesia que nos mostra a diferença entre o vulgar e o raro, entre o trivial e o transcendente. Segundo palavras do autor, os poemas reunidos neste livro foram “compostos no silêncio, no fluir das estações do ano, após a suave ou agitada exaltação do corpo, no deslumbramento de caminhadas por muitos e sinuosos atalhos do mundo, como pequenos poemas de circunstância, quase sempre fruto da espontaneidade no abrir das palavras.
altura, fora de questão. Para Helena de Senna Fernandes, “não seria justo colocar outra pessoa para de repente assumir esta tarefa, sem mais nem menos, e que já tem a assinatura de outra pessoa”. No entanto, e tendo em conta edições
futuras, a Comissão Organizadora admite que já está à procura de quem assuma o cargo – ainda assim, é uma tarefa que, de momento, exige calma. “Há pessoas em todo o mundo que têm este tipo de experiência e há pessoas qua-
RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET
CIDADE PROIBIDA • Eduardo Pitta
«Em “Cidade Proibida” deparamos com um fresco ao mesmo tempo minucioso, cruel e desencantado da sociedade portuguesa contemporânea. [...] Não tenho dúvidas aliás de que Cidade Proibida, se Pitta fosse inglês, seria facilmente candidato ao Booker. Mas será que teria (ou terá) hipóteses, em Portugal, de ganhar um merecido prémio da APE?» – José Mário Silva, Diário de Notícias.
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ROU FILME
cada pela saída repentina de Marco erência de imprensa realizada var o território ao mundo
ESTREIAS MUNDIAIS E ASIÁTICAS
O
lificadas para assumir este tipo de tarefas. Não é altura para precipitar a situação, mas sim para acalmar os ânimos”, diz Helena de Senna Fernandes. Tudo indica que a programação prevista para a primeira edição do MIFF não vai sofrer alterações e, até ontem, nenhum dos convidados declinou os convites. “Quando publicámos a notícia da demissão de Marco Muller, fizemos saber a informação a todos os contactos associados ao festival, e até à data, ainda não recebemos nenhuma recusa por parte dos nomes até agora confirmados”, explica a directora dos Serviços de Turismo. “Os filmes que estão divulgados também já assinaram acordo com evento pelo
“Não posso dizer que não há transtornos com a saída de Marco Mueller, mas estamos confiantes, porque um festival não é feito por uma só pessoa.” HELENA DE SENNA FERNANDES RESPONSÁVEL PELO MIFF que, caso não queiram prosseguir com a sua participação, terão as consequências previstas”. Sofia Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
cartaz da primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Macau é composto por 49 filmes. A informação foi adiantada ontem na conferência de imprensa promovida pela comissão organizadora do evento. Do programa relativo à competição internacional, a mais prestigiada do evento, constam 11 películas, todos eles estreias, mundiais ou asiáticas. As origens são diversas e os filmes vêm de França, Inglaterra, Índia ou Japão. Ainda em competição oficial está a estreia no grande ecrã de “Sisterhood”, da realizadora local Tracy Choi, ou “São Jorge”, do português Marco Martins, metragem que valeu a Nuno Lopes o prémio de melhor actor da secção “Horizontes” do Festival de Veneza. Os 11 filmes em competição concorrem a nove prémios dos quais se destacam os de melhor filme, melhor realizador ou melhores actores de ambos os géneros. Do júri fazem parte cinco elementos presididos pelo produtor e realizador indiano Skekhar Kapur, que já viu as suas obras nomeadas para os Óscares e Baftas. O festival inclui ainda várias rubricas e em competição há uma secção especialmente dedicada à Ásia, a “Hidden Dragons”. A comissão organizadora sublinhou a importância das “masterclasses” – duas – que vão ser levadas a cabo por Gianni Ninnari, Tom McCarthy e Bobby Cannavale. Do programa consta ainda uma secção de competição de curtas-metragens de modo a incentivar a produção e divulgação local. As inscrições abriram ontem e fecham a 30 de Novembro. O MIFF abre o ecrã com “Polina”, a 8 de Dezembro, uma produção francesa que conta a história que junta a sétima arte e a dança contemporânea na personagem que dá nome à película. A realização está a cabo de Angelin Preljocaj e Valérie Muller, e o elenco conta com Anastasia Shevtsova e Juliette Binoche. Os bilhetes estão à venda a partir da próxima segunda-feira e os preços são de 50 patacas para as sessões normais e de 80 para as sessões em 3D.
hoje macau terça-feira 15.11.2016
EVENTOS
Ann Veronica Janssens
A casa na tela
Sophie Whettnall
Semana da Bélgica traz artistas do país até Hong Kong
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ÁRIOS artistas belgas têm obra exposta na região vizinha durante esta semana. Alguns são consagrados; outros são menos conhecidos. Há espaço ainda para o debate sobre as colecções e o investimento em obras de arte. São vários artistas que expõem pela primeira vez em Hong Kong, em dois espaços diferentes – o KEE Club e o ArtOne. As exposições têm a curadoria de Emilie Rolin Jacquemyns, uma cidadã belga residente na região vizinha. Sendo um dos países com mais coleccionadores de arte per capita, a Bélgica tem vindo a desenvolver-se como um centro importante para a divulgação do trabalho de artistas contemporâneos. A organização das exposições em Hong Kong destaca que as obras levadas até à antiga colónia britânica mostram não só artistas consagrados, mas também novos talentos da Bélgica, que espelham um país “rico em cultura e expressão artística”. Dos 13 nomes com trabalhos representados no KEE Club encontram-se Harold Ancart, Ann Veronica Janssens e Sophie Whettnall. Ancart foi recentemente distinguido pelo Financial Times como um dos artistas mais importantes do ano. Nascido em Bruxelas, vive e trabalha em Nova Iorque. A Hong Kong leva um único trabalho, sem nome. “Utilizando o espaço e a repetição nas suas instalações de arquitectura e nas obras em papel, o trabalho de Harold Ancart é frequentes vezes minimalista, com recurso a motivos como papagaios, a selva e palmeiras”, descreve a organização. Ann Veronica Janssens “utiliza a distribuição da luz, da cor e superfícies reflectoras para revelar a instabilidade da percepção do tempo e do espaço através de ins-
talações, projecções e esculturas”. Nascida no Reino Unido, a artista vive em Bruxelas. Em Hong Kong, apresenta o trabalho “Espelho Mágico”. Sophie Whettnall, que vive e trabalha em Bruxelas, foca-se na luz mas também na sua ausência, bem como na paisagem – um tema recorrente nas suas obras, marcadas por “elementos naturais que reflectem conceitos e percepções contraditórias”. Quem passar pelo KEE Club pode ver “Border Lines #26”, numa mostra que foi inaugurada ontem e que termina na próxima sexta-feira.
IMAGENS E IDEIAS
No ArtOne, a exposição é da responsabilidade do fotografo Yves Ullens de Schooten, com o trabalho “O Teatro das Luzes”. Trata-se de fotografia abstracta “para expressar a emoção e a energia da luz e da cor”. A exposição – “Materiais e Contraste” – pode ser visitada até sábado. Sobre as exposições que agora organiza, a curadora Emilie Rolin Jacquemyns explica que quis levar até Hong Kong um conjunto variado de artistas para que o público pudesse ficar com uma ideia do que é a Bélgica. “De cada vez que olho para o trabalho deles, está ali uma parte da nossa cultura, da nossa história e do nosso modo de vida. A luz está no centro de todos estes trabalhos, até mesmo quando é subtil e minimalista. Para mim, existe uma sensação de calma que une todas estas peças, uma noção de brilho e uma expressão de cor que fazem com que a Bélgica fique mais perto de mim, aqui em Hong Kong.” Além das exposições, amanhã, no KEE Clube, há um debate sobre colecções e investimento em arte, a cargo do consultor de arte Jehan Chu, a partir das 19h.
12 CHINA
hoje macau terça-feira 15.11.2016
EXPORTAÇÕES BENS PORTUGUESES CAEM 25% ATÉ SETEMBRO
A
S exportações de bens portugueses para a China caíram 25,1% nos primeiros nove meses do ano, face ao período homólogo de 2015, para 483,8 milhões de euros, de acordo com os dados do INE. Em igual período, as importações subiram 1,3% para 1.358,4 milhões de euros, com o saldo da balança comercial negativo para Portugal em 874,5 milhões de euros, segundo informa-
ção do Instituto Nacional de Estatística (INE). No final de Setembro, Pequim era o 11.º cliente de Lisboa e o seu sétimo fornecedor. No ano passado, havia 1.356 empresas exportadoras para o mercado chinês, mais 170 do que em 2014, altura em que Portugal era o 71.º cliente de Pequim e o seu 66.º fornecedor. Com objectivo de fortalecer a interacção entre empresas e instituições
dos dois países, arranca na terça-feira, em Lisboa, o primeiro Fórum Económico Portugal-China, organizado pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa e pela Fundação AIP. Entre os principais grupos de produtos vendidos a Pequim em 2015, os veículos e outros materiais de transporte lideravam a lista (com um peso de 41,9% das exportações daquele ano), seguido dos minerais
e minérios (18,1%), máquinas e aparelhos (8,9%), pastas celulósicas e papel (7%) e alimentares (4,1%). No ano passado, as vendas de veículos e outros materiais de transporte caíram 20,1% (para 351,8 milhões de euros), enquanto as de minerais e minérios subiram (14,3% para 152,1 milhões de euros). As exportações de serviços de Lisboa para Pequim recuaram 33,2% em 2015, face ao ano
VENDAS A RETALHO AUMENTARAM 10% EM OUTUBRO
anterior, para 108,5 milhões de euros, e as importações aumentaram 9,4% para 262,4 milhões de euros, o que representa um saldo comercial negativo para Portugal em 153,9 milhões de euros.
Economist CONSUMO PRIVADO IRÁ CONTRIBUIR PARA QUASE METADE DA ECONOMIA
Mudança de paradigma
O
consumo privado contribuirá para quase metade da economia chinesa, em 2030, segundo a unidade de análise da revista The Economist, após no ano passado ter constituído pela primeira vez o principal motor de crescimento do país. A Economist Intelligence Unit (EIU) prevê que o poder de compra dos consumidores chineses cresça a um ritmo médio de 5,5%, até ao final da próxima década, compensando a queda no investimento público e exportações. “O volume do aumento do consumo privado chinês que estimamos para os próximos 15 anos é superior ao nível actual do consumo na UE [União Europeia]”, refere o estudo. Pequim está a encetar uma reconfiguração do modelo económico do país, visando uma maior preponderância do consumo interno, em detrimento das exportações e do investimento em grandes obras públicas. Em Outubro, as exportações da maior potência comercial do planeta recuaram pelo sétimo mês consecutivo, com as empresas chinesas forçadas a subir os preços, face ao aumento dos custos com a mão-de-obra e produção. Por outro lado, no ano passado, o consumo privado subiu 8,4%, em termos homólogos, superando o ritmo de crescimento da economia chinesa, que se fixou em 6,9%. Os consumidores chineses contribuem agora para 38% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, uma percentagem que é pela primeira vez superior ao investimento público e às exportações.
As vendas a retalho na China aceleraram em Outubro 10%, segundo dados oficiais ontem divulgados, um pouco abaixo das expectativas, num sinal negativo para a segunda maior economia mundial. O índice de produção industrial, que mede a actividade nas fábricas, oficinas e minas da China, subiu 6,1%, em termos homólogos, também um pouco abaixo das previsões. O investimento em activos fixos, um indicador chave para medir a despesa do Governo em infra-estruturas, propriedades e maquinaria, aumentou 8,3%.
para atrair empresas chinesas e estrangeiras, que procuram escapar ao aumento dos custos nas cidades costeiras. Isto ajudou a aumentar os níveis de rendimento, emprego e criação de riqueza”, refere o EIU. Mas serão os grandes centros urbanos - Pequim, Cantão, Xangai e Shenzhen - que continuarão a ter o maior número de habitantes com rendimento elevado.
Os analistas da revista britânica The Economist prevêem que, em 2030, o consumo privado represente 47,4% do PIB chinês
Na análise enviada esta semana aos investidores e a que agência Lusa teve acesso, os analistas da revista britânica The Economist prevêem que, em 2030, o consumo privado represente 47,4% do PIB chinês. O estudo refere que 35% da população chinesa, ou cerca de 480 milhões de pessoas, terão um rendimento médio alto ou elevado, um segmento que situa acima dos 10.000 dólares. Trata-se de um aumento significativo, face aos actuais 132 milhões
de consumidores chineses - dez por cento da população - com um rendimento anual acima daquele montante. Já a percentagem de população com rendimentos mais baixos - inferiores a 2.100 dólares - deverá cair dos actuais 36,9% para 11%, enquanto aquela com rendimentos mais elevados - acima dos 32.100 dólares - aumentará de 2,6% para 14,5%. “A China vai parecer-se mais com uma sociedade de classe média, apesar de que a desigualdade
continuará a constituir um desafio”, refere o estudo do EIU.
POR TODO O LADO
Os analistas consideram ainda que os altos rendimentos se tornarão mais dispersos: as cidades de Changsha, Chengdu e Wuhan e o município de Chongqing, todos situados no sudoeste do país, terão cada um pelo menos dois milhões de consumidores com rendimento elevado. “Estas cidades recorreram a mão-de-obra e terrenos baratos
Em Xangai, por exemplo, o número de residentes com um rendimento anual acima dos 32.100 dólares corresponderá a 43,2% da população - 10 milhões de pessoas. “Estes aumentos previstos nos níveis de rendimento significam que os hábitos de consumo dos chineses também vão sofrer alterações”, refere o estudo. Os economistas do EIU prevêem que os novos consumidores com rendimento médio baixo vão consumir mais produtos e serviços, enquanto aqueles do segmento médio alto vão comprar produtos de marca e com qualidade. Já o aumento da população com rendimentos elevados acarretará novas formas de consumo, que beneficiarão os sectores dos seguros e de gestão de património. “Entender como o comportamento do consumidor chinês se vai desenvolver nos próximos 15 anos será importante para as empresas se anteciparem”, sublinha o estudo.
13 hoje macau terça-feira 15.11.2016
CHINA
Sentido proibido
Milhares em manifestação de apoio a Pequim e contra a independência em Hong Kong
M
ILHARES de pessoas em Hong Kong participaram no domingo numa manifestação em defesa do governo da China e da sua decisão de proibir dois deputados independentistas de repetirem os juramentos necessários para exercerem o cargo. Cerca de 40 mil pessoas segundo a Aliança Anti-independência de Hong Kong, organizadora do protesto, e 28 mil segundo a polícia, concentraram-se junto à sede do Governo local empunhando grandes bandeiras da China, para mostrar o seu apoio à intervenção de Pequim na vida política e judicial da cidade. Entoando ‘slogans’ como “Lutar contra a independência de Hong Kong, apoiar a interpretação”, os manifestantes expressaram o seu apoio à interpretação que Pequim fez à Lei Básica (mini-constituição) de Hong Kong na semana passada, em que anulou os juramentos dos deputados por terem sido feitos “de uma maneira que não é sincera ou solene”. Pequim considerou que dois deputados, Sixtus Baggio Leung Chung-hang e Yau Wai-ching, esgotaram as suas opções para assumir os cargos, ao recorrerem a insultos e linguagem desrespeitosa em relação à China durante o primeiro juramento. Os dois ficam assim impedidos de repetir o juramento, após o conflito que se gerou no hemiciclo devido ao seu comportamento. O caso estava a ser analisado nos tribunais de Hong Kong quando Pequim avançou com uma interpretação que muitos consideram irreversível.
PRÓS E CONTRAS
Adecisão adoptada pelo Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular da China foi criticada por activistas pró-democracia e especialistas legais de Hong Kong, que a encararam como um golpe à independência judicial de Hong Kong, o que levou centenas de advogados e juízes da cidade a sair em protesto na passada terça-feira. A manifestação de domingo, uma das maiores dos últimos anos a favor da presença da China em Hong Kong, levou às ruas deputados da cidade próximos do regime comunista. “A China nunca irá tolerar a divisão da nação”, disse o deputado Michael Tien. A ala pró-democracia ainda não se pronunciou publicamente sobre a decisão do Governo chinês e o Supremo Tribunal de Hong Kong não emitiu ainda a sua decisão sobre se os dois deputados devem ser impedidos de assumir os cargos.
O
Presidente chinês, Xi Jinping, e o futuro homólogo norte-americano, Donald Trump, concordaram ontem reunir-se “em breve” para discutir a relação entre os dois países, noticiou a televisão estatal CCTV. Numa conversa por telefone, Xi e Trump “prometeram manter um contacto próximo, construir boas relações de trabalho e reunir em breve para uma troca de opiniões em assuntos de interesse mútuo”, referiu o canal. Durante a campanha eleitoral, o país asiático foi um dos alvos preferidos do magnata nova-iorquino, que acusou a China de “manipulação da moeda”, ou “batotice” e ameaçou taxar os produtos chineses em 45%. Trump chegou a chamar a China de “inimigo” e prometeu enfrentar um país que diz considerar os EUA “palermas”. O presidente eleito sugeriu, no entanto, que não se quer envolver em disputas externas e recusou o Tratado Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), um acordo que visa a criação da maior área de livre comércio do mundo e que a China vê como prejudicial aos seus interesses. A CCTV cita Trump, que afirmou que “a China é um grande e importante país, cujo desenvolvimento surpreendeu o mundo”. “Os EUA e a China podem beneficiar-se mutuamente”, disse.
XI JINPING E DONALD TRUMP VÃO “REUNIR EM BREVE”
Olhos nos olhos
O Presidente norte-americano eleito e o Presidente chinês combinaram para breve uma reunião para trocar opiniões. Em cima da mesa estarão temas de “interesse mútuo” O termo usado pela CCTV “benefício mútuo” - é frequentemente utilizado pela diplomacia chinesa.
MAR DE INCÓGNITAS
As posições contraditórias e ambíguas de Trump deixam dúvidas sobre a forma como lidará com a China, a segunda maior economia mundial e detentora de um poderoso aparelho militar. Durante a administração de Barack Obama, Washington reforçou a presença militar e diplomática no leste asiático, levando Pequim a adoptar uma política assertiva, face ao que considera uma tentativa de conter a sua influência económica e geopolítica.
“Os EUA e a China podem beneficiar-se mutuamente” DONALD TRUMP
Mas Trump não propôs soluções para questões estratégicas que perturbam as relações, como as reclamações territoriais de Pequim no Mar do Sul da China, o programa nuclear da Coreia do Norte ou o futuro de Taiwan. O vencedor das eleições norte-americanas indicou ainda que os EUA estão cansados de pagar pela defesa dos seus aliados, como o Japão e a Coreia do Sul, sugerindo que estes países deviam desenvolver as suas próprias armas nucleares. Mark Williams, analista da consultora Capital Economics, sugeriu anteriormente numa nota que se os “EUA estiverem menos envolvidos na Ásia, Pequim terá a oportunidade de definir a integração política e económica da região nos seus próprios termos”. Isso poderá incluir um acordo comercial que exclua os EUA, como o TPP excluiu a China.
EM ANDAMENTO
Pequim já está em negociações para instituir a Parceria Econó-
mica Compreensiva Regional (RCEP, na sigla em inglês), uma área de comércio livre que inclui países do sudeste da Ásia, a China, Índia, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia. No total, abarcará mais de 3.000 milhões de pessoas. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Austrália afirmou mesmo na quinta-feira passada que, caso o TPP falhe, “o vácuo que seria criado deverá ser preenchido com o RCEP”. Questionado sobre a ameaça de Trump vir a taxar os produtos chineses, o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês lembrou na semana passada que o comércio bilateral entre os dois países aumentou 200 vezes nas últimas décadas, beneficiando ambos os lados. “Qualquer chefe de Estado nos EUA que considera os interesses dos seu país e do seu povo irá fazer a escolha certa”, disse.
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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Amélia Vieira
Furor e mistério Dans les rues de la ville il y a mon amour, peut importe oú il va dans le temp divisé. Il n´est plus mon amour chacun peut lui parler. il ne se souvient plus qui au juste l´aima et l´éclaire de loin pour qu´il ne tombe pas.
Saber que o mal vem sempre de mais longe do que pensamos e que nem sempre morre na emboscada que lhe lançámos. René Char
E
STA é a obra que todo o poeta gostava de poder reunir sem lhe arderem os dedos e secarem os olhos à medida que vai percorrendo o ciclo do tempo criativo com a gravidade dos que precisam de unir as pontas destes véus por vezes tão soltos, tão sós, tão perdidos, entre as multidões de opacidade vária em que o mundo se tornou, podendo fazer de um poeta, também, um ser em desintegração. Só que, ele tem esse fio de prumo no acento de todas as fórmulas por onde desliza, e em mistério e pensamento, reúne o que esse divino imanente que o habita o manda interpretar. Ao contrário da lixeira poemática dos dias em que se tornaram as referências, com actos isolados e “papéis bordados a tinta” sem nenhuma intimidade com a estrutura poética de uma vida, aqui, isso nunca era passível de ter acontecido. Char, abandonou os pragmatismos da vida comum para interpretar um destino e fê-lo na singular e alquímica experiência de um iniciado. Coisas que se não forem exactamente assim, jamais serão o que quer que seja que valha a pena contemplar. O poeta René Char não era outra coisa a não ser um poeta. Não era um fazedor poemático isolado, e isso, só por si, é de um maravilhamento sem limites, nós, os que nos damos, não suportamos a acumulação de funções, nós, os que amamos , amamos sempre, e mais, a mesma coisa, aquela com que nos casámos nos dias felizes dos juramentos eternos. Nenhuma leviandade, nenhum cansaço, nenhuma infidelidade entram no imenso espírito de um poeta, não pode viver com a fealdade de uma traição nem com uma permanente falta de atenção para consigo num esquecimento sem memória, pois que ele constrói e une todas as memórias e por vezes, a falta de rigor e o desconhecimento dos outros face à sua, sempre, e naturalmente, gentil pessoa, abrasa-o, pois que não sabe como encaminhar os outros e não entende a distância que o mantém tão isolado. Sim, a Humanidade não é polida, nem sensível à sua existência neste mundo, muitas vezes mandam-
Há que viver, até para continuar fazendo a obra, viver é muito abstracto, e, se não houver uma causa, um amor, uma demanda... para que serve uma vida? Para que serve o prazer isolado dos dias sem um fio condutor de alguma eternidade? -no fazer coisas que ele só de ouvir se envergonha, pois não sabem, que o seu pacto é uma fera consciência que não sabe transmitir numa linguagem imediata. No entanto, há que viver, até para continuar fazendo a obra, viver é muito abstracto, e, se não houver uma causa, um amor, uma demanda... para que serve uma vida? Para que serve o prazer isolado dos dias sem um fio condutor de alguma eternidade? Neste momento histórico vivemos uma interface programática de incentivo à criatividade, só que, as pessoas andam na mansidão terrível dos regimes como se cumprissem pactos com eles, e, na profunda superfície de vidro vazio « Furor e Mistério» não está, por que para estar, seria preciso uma natureza religiosa, uma espécie de êxtase perante o abismo daquilo que é o vazio e o desconhecido , era preciso, entretanto, que a palavra fosse uma lava de matéria ardente para ser desocultada: nada disto nos dita nestes dias dos frémitos do esvaziamento pelas explicações indevidas, como se tudo fosse explicadamente acessível e em tudo tivéssemos que orientar o pequeno mundo que vai
sendo o global instante de um reconhecimento vário. Se há uma« Homenagem e Fome» em verso livre numa destas páginas, ela transmite o mundo de Elliot junto daqueles ossos que se tornariam vida....“Hão-de viver estes ossos?”- Aqui é uma Mulher e não a Senhora de Elliot, toda semente para feras ansiosas, numa hora esteva de ossadas.... daquele homem que para melhor a adorar recuava indefinidamente....com esta sorte sabia então que a terra não iria morrer e a fome era só o tormento de uma espera.. ..- Perguntarme-ão, do poético da composição, pois que nada existe de mais poético que a carga de uma insuportável vontade que não se rende ao espaço da diversão narrativa que retira a força da tenção. Dar às pessoas uma dose articulada de resultados é adormecê-las, e ao manter a máxima inquietude, a linguagem, é o puro exercício poético. O amor que em tempo de consubstancialidade assume o integrar o outro é mais que possessividade, é a legenda de uma absorção radical que se deseja, e « Allégeance» é um fenómeno sonoro de longos mistérios a cumprir:
Nós que atravessamos tão sós os nossos instantes, que trabalhamos para as auroras como se as conhecêssemos, que ficamos nos limbos das terras alheias, que não tendo chão, também perdemos o gosto de andar, não estamos nos locais que outros deviam ocupar. Ou estamos? E se sim, por que não os ocupam? E se estamos por que não fazemos pontes? Toda esta mágoa...este tecer, e ler a beleza que aqui está, nos faz...não sei, prisioneiros, e depois não mais estaremos juntos sorrindo com o gosto dos dias nos nossos rostos.... Char, nesta bela recolha diz que o poeta vive na maldição, isto é, assume perigos perpétuos e renovados do mesmo modo que recusa, com os olhos abertos, aquilo que outros aceitam com os olhos fechados: o proveito de o ser. Passando por todos os graus solitários de uma memória colectiva, da qual as regras do jogo o excluem. Neste imenso brilhantismo incandescente faz a obra cujo resultado é mais do que podemos suportar, e, no tempo das leves brisas estas Fúrias tão gentis revolvem a nossa natureza que deve estar disforme de tanta voz dissonante e matéria volátil, nós que agarrados às Barcas aguentamos os lemos, não nos atiramos à água por medo da fúria magnética. No fundo as sereias cantam...mas, quem as encanta são ainda os poetas que presos aos mastros continuam a misteriosa Viagem. E agora que as correntes se foram nos silêncios dos cânticos, nos vazios dos mares, talvez não se entenda por que se morre nas travessias das guerras que preparámos só por não sabermos compor. Sempre que deixamos os Ofícios dos Mistérios os mares tornam-se grandes sepulturas, e os nossos olhos, secam, para não ler o mapa de um mundo que se liquefaz e se desfaz. « Viver com semelhantes homens» tenho tanta fome... durmo sob a canícula das provas. Viajei até à exaustão, a fronte sob o enxugadouro nodoso. Já não é a vontade elíptica da escrupulosa solidão... mostrai os vossos desígnios e essa vasta abdicação do remorso! Tanta gente! São nossos irmãos.
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máquina lírica
Paulo José Miranda
O preço das casas C
ORRIA o ano de 2002, e a editora Gótica lançava um livro de poesia chamado O Preço das Casas, de Joaquim Cardoso Dias. Livro com 62 páginas e 40 poemas, divididos em duas partes: “Entrada de Emergência” e “De Uma Porta à Outra”. O título, somado à inscrição de Ruy Belo, antes do início do livro – Só as casas explicam que exista / uma palavra como intimidade – sugere-nos logo uma leitura junto da fenomenologia. Embora o preço das casas, a que o título se refere, também seja o preço de mercado, o preço que pagamos pelo imóvel, o preço que pagamos com o suor do corpo, o preço das casa aqui é antes de mais o preço da intimidade que nasce entre quatro paredes, o preço da intimidade que nasce entre um coração e outro ou, melhor seria dizer com Cardoso Dias, o preço da intimidade que nasce entre um animal que cheira outro animal – escreve o poeta à página 28, no poema “Another Shade Ten Minutes”: “(...) onde um animal olha outro animal olhando-lhe (...). No fundo, o preço das casas é o preço de amar. Mas o que é amar, neste livro, e que se adivinha que também seja na vida? Esta pergunta – o que é amar – lembra-me sempre um verso de Pedro Tamen: “Amor, é amar”. Aquela vírgula ficou para sempre no meu coração. E aqui neste livro de Joaquim Cardoso Dias a pergunta não é menos pertinente. Começa assim o livro, com o poema “Sem Mentir”: ainda não sei se o amor esteve aqui de luz acesa e se caminhou nu toda a noite pelo tecto do quarto mas eu tirei a roupa toda bebi água e não te telefonei qualquer coisa assim atirou-me de bruços para o coração e lembrei-me de te esquecer desde o começo muito longe e alto nas escadas de incêndio foda-se como acreditar que te amo sem mentir Poucos são os livros com começos tão felizes como este. De uma felicidade amarga, como toda a felicidade revisitada – “(...) Nessun maggior dolore / che ricordarsi del tempo felice / ne la miséria (...) / Não há maior dor / que recordar o tempo feliz / já na miséria” (Dante, Divina Comedia, Canto V, vv. 121-23). E o que é um bom poema, se não uma felicidade revisitada? Mas este poema dá-nos o tom do livro, em quatro penadas: uma casa vazia, a noite onde não se dorme, o amor que só tem carne e por isso estraga-se, e a necessidade imperativa de mentir, não só para que o amor exista, mas também para que a vida exista. Escrever poemas aparece logo no início do livro, como a arte superior de mentir. Porquê superior? Porque admite para si mesma a sua essência longe da verdade. Leiase este poema de uma cintilação rara, “Enquanto A Noite”:
não tenhas medo é tudo o que sei fazer duas das minhas mãos pelo teu cabelo enquanto a noite essa idade onde descreveras o calor à volta de mim e um pouco mais sei por isso quem morre neste poema Escrever é mentir, viver é mentir-se. E, entre as mentiras da escrita e da vida, há apenas a beleza; a beleza dos versos, como o início deste poema, e a beleza dos corpos, capazes de descreverem o calor à nossa volta. Ponto de vista este que é reforçado no poema “Mitologia”: “finjo que acredito em ti: amo-te /e sem o saber todos os sonhos / caíram no fim das tuas palavras antes da única verdade / se ter ferido encostada tanto / ao meu peito”. A única verdade: o corpo, a beleza. Há um verso de Ruy Cinatti, que ecoa aqui com uma força ainda maior: “Quem não me deu Amor, não me deu nada” – este livro de Cinatti, O Livro do Nómada meu Amigo, é aliás um livro que brilha na escuridão destes poemas. Mas aqui em Cardoso Dias, poderíamos traduzir para: Quem não me deu Beleza, não me deu nada. Pois o amor é apenas parte inexistente, ou desconhecida, da beleza. Assim, o preço das casas é o preço dos corpos, o preço da beleza, o preço daquilo que faz a vida ser vivida, que faz a vida valer a pena, que faz, no fundo, a vida ter preço. Escreve o poeta em “Salsugem@hotmail.com”: “um segre-
do é a alquimia mais sincera / uma contradição comum com interesse individual // neste sentido amo-te tanto e amo-te muito // e publicar esta ausência contrária / é um erro trágico que irei pagar com o teu corpo.” Esta contradição comum com interesse individual, com que o poeta nomeia o segredo, essa sinceridade única, que é o silêncio que une dois corpos, e condenada a acabar assim que se enuncia, é também a vida. A vida é um segredo. Do ponto de vista da técnica, aquilo que mais salta aos nossos olhos, é a duplicidade do verso, como no poema “Mitologias”: “e sem o saber todos os sonhos / caíram no fim das tuas palavras (...)” No primeiro verso somos levados a pôr uma vírgula entre “saber” e “todos”, acabando por ler: e sem o saber, todos os sonhos... Mas o poeta não quis a vírgula porque não quer que se leia apenas assim, quer também que se leia: e sem o saber todos os sonhos... Mesmo sem saber todos os sonhos, ou sem saber “todo” o que seja, que é a condição humana, tudo nos cai ao chão, tudo cai ao chão, como no poema de Dylan Thomas. Terminemos com este poema de Joaquim Cardoso Dias: O PREÇO DAS CASAS não foi ao mesmo tempo uma viagem o mesmo ar entre o teu sorriso ou esta navegação politica da idade mas eu acreditei em tudo desde a primeira vez em que estivemos juntos eu dava meia volta e a lua lá estava durante o sono no meu espelho de atravessar os mares iludindo a vontade de chorar até a temperatura se tornar insuportável na interpretação quase televisiva do mundo de repente pouco sabíamos um do outro e a sensibilidade ficou assombrosamente maior por denunciar a minha barba cada vez mais insistente agora só o teu corpo consegue despir-me agora posso sonhar até deixar de ter e teremos perdido tudo por engano amor e durmo contigo sem ninguém ver esta rosa do fundo da minha cabeça dormirei contigo esta noite aqui devagar onde atiro pedras a todos os sentidos apago a luz e espero o sono as pálpebras limpam este desejo no movimento da respiração já não tenho comprimidos para te esquecer Joaquim Cardoso Dias publicou recentemente um novo livro de poesia com o título Pornografia Doméstica, pela editora Gulliver. E, tal como O Preço das Casas, também já está esgotado.
16 DESPORTO
hoje macau terça-feira 15.11.2016
LIPPI LIBERTAR SELECÇÃO CHINESA DE MENTALIDADE DE “COITADINHO”
O
novo treinador da selecção chinesa de futebol, o italiano Marcello Lippi, considera que a sua equipa precisa de se libertar da mentalidade de “coitadinho”, na véspera de se estrear frente ao Qatar. Lippi, que conduziu a Itália ao título de campeã do mundo em 2006, afirmou que a China precisa de um milagre para se qualificar para o Mundial de 2018, apon-
P
tando como prioridade recuperar a confiança. “É importante que a equipa recupere a confiança”, afirmou numa entrevista ao ‘site’ oficial da FIFA, na véspera do jogo que ontem se disputou em Kunming, no sudoeste do país. “Iremos concentrar-nos primeiro no embate frente ao Qatar e depois com a Coreia do Sul. O nosso objectivo é ir ao Mundial. Espero que
ORTUGAL e Suíça, vencedores frente a Letónia (4-1) e Ilhas Faroé (2-0), mantiveram este domingo o seu ‘braço de ferro’ sem cedências no Grupo B de apuramento para o Mundial de futebol de 2018. No Grupo H, a Bélgica continua a liderar só com vitórias, depois de uma goleada sobre a Estónia (8-1), enquanto a Grécia marcou nos descontos e evitou a derrota em casa com a Bósnia-Herzegovina (1-1), para segurar a segunda posição, apesar de ter perdido pontos pela primeira vez. No Estádio Algarve, Cristiano Ronaldo ‘bisou’ (28 e 85), marcando o primeiro de grande penalidade, tendo ainda falhado outra (59), e William Carvalho (69) e Bruno Alves (90+2) apontaram os outros
consigamos um milagre”, disse. A China é o último classificado do grupo A da zona asiática de qualificação para o Mundial, que se disputará na Rússia, somando apenas um ponto, após quatro jogos. Lippi admite que mesmo que a equipa falhe a passagem à fase final, “é preciso garantir que registou progressos para o futuro”. “Devemos
então focar-nos na próxima Taça da Ásia”, disse. A China já assumiu o desejo de se tornar uma potência no futebol, mas a sua participação em mundiais resume-se à edição de 2002, dispu-
tada na Coreia do Sul e Japão, que terminou com zero pontos. A nação mais populosa do mundo, com cerca de 1.375 milhões de habitantes, figura em 84.º no ‘ranking’ da FIFA.
TÉNIS JOÃO SOUSA SUBIU UM LUGAR NO ‘RANKING’. GASTÃO ELIAS TRÊS
Os portugueses João Sousa e Gastão Elias subiram um e três lugares, respectivamente, no ‘ranking’ mundial de ténis, cujos primeiros 40 lugares permaneceram inalterados, enquanto decorre o Masters, em Londres. Na hierarquia liderada pelo britânico Andy Murray, seguido do sérvio Novak Djokovic e do suíço Stan Wawrinka, Sousa surge agora no 43.º lugar, enquanto Elias ocupa o 83.º posto. O terceiro português no ‘ranking’ é Pedro Sousa, actual 189.º classificado, após descer três posições. O ‘rankking’ feminino também sofreu apenas alterações pontuais, com o triunfo na final da Fed Cup da República Checa frente à França, sem, no entanto, alterar a ordenação das 20 primeiras, com a alemã Angelique Kerber no primeiro posto, à frente da norte-americana Serena Williams e da polaca Agnieszka Radwanska. Michelle Larcher de Brito mantém-se no 233.º posto.
Mundial 2018 PORTUGAL EM LUTA CERRADA COM A SUÍÇA
Sem cedências golos lusos, num jogo em que o suplenteArturs Zjuzins ainda deu um empate momentâneo aos defensivos letões, aos 67. Derrotado pela Suíça no início da campanha, o campeão europeu manteve assim o segundo lugar do Grupo B a três pontos dos helvéticos, que foram muito perdulários no ‘magro’ triunfo por 2-0 sobre as Ilhas Faroé, o quarto em outros tantos jogos.
CONFIRMAÇÕES E SURPRESAS
Em Lucerna, a Suíça enviou duas bolas ao poste e desper-
diçou inúmeras situações e venceu com tentos de Eren Derdiyok (27) e do ‘capitão’ Stephan Lichtsteiner (83). Mais robusta foi a vitória da Hungria, terceira classificada, com sete pontos, que goleou em casa Andorra, por 4-0. O veterano avançado Zoltán Gera (33), o defesa Ádám Lang (43), o médio Ádám Gyurcsó (73) e o avançado Ádám Szalai (88) construíram o resultado. Em Atenas, a Grécia conseguiu um empate nos
descontos na recepção à Bósnia-Herzegovina. Em desafio muito ‘quente’, com expulsões do bósnio Dzeko e o grego Papadopoulos, ambos aos 79, Tzavellas, aos 90+5 minutos, redimiu a ‘traição’ de Karnezis (32), que tinha dado vantagem aos visitantes, com um auto-golo. Com os benfiquistas Samaris e Mitroglou no ‘onze’, o conjunto helénico cedeu os primeiros pontos o grupo H e é agora segunda com 10, face aos
sete do rival e ao pleno de 12 da Bélgica, que abalroou a Estónia com esmagador 8-1. No estádio Rei Balduíno, em Bruxelas, Mertens (16 e 67) e Lukaku (83 e 88) bisaram num desafio que teve ainda golos de Meunier (08), Hazard (25), Carrasco (62) e auto-golo de Klavan (64) - o único tento estónio foi apontado por Henri Harnier (29). O Chipre venceu Gibraltar 3-1 e amealhou os primeiros pontos neste gru-
po, frente a uma adversário ainda a zero. No Luxemburgo, a Holanda foi surpreendida quando Chanot (44), de penalti, igualou, depois de Robben ter dado vantagem à selecção ‘laranja’. Depois do intervalo, dois tentos de Depay (58 e 84) repuseram a normalidade no encontro do grupo A, liderado pela França com 10 pontos, mais três do que Holanda e Suécia. A Bulgária, que venceu a Bielorrússia com golo solitário de Popov (10), é quarta com seis pontos, enquanto o rival tem apenas dois, num grupo no qual o Luxemburgo é o último, com um. Lusa
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TEMPO
POUCO
O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente VAFA - SALÃO DE OUTONO Casa Garden
?
NUBLADO
MIN
22
MAX
29
HUM
65-98%
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EURO
8.61
BAHT
EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12) ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017)
O CARTOON STEPH
PROBLEMA 121
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 120
UM LIVRO HOJE
SUDOKU
DE
C I N E M A
YUAN
1.16
DEMISSÕES QUE ENVERGONHAM (COF COF)
EXPOSIÇÃO “O ARAUTO DOS TEMPOS: O POETA F. HUA-LIN” Academia Jao Tsung-I (até 13/11)
Cineteatro
0.22
AQUI HÁ GATO
EXPOSIÇÃO “SE EU ESTIVESSE EM SÃO FRANCISCO/MACAU” Fundação Rui Cunha
EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11)
(F)UTILIDADES
É certo que não podemos nem devemos dizer mal de tudo, mas também é certo que não temos hipótese: não nos mostram mais nada se não isto. Primeiro foi um director do Grande Prémio de Macau, agora o responsável pelo Festival Internacional de Cinema de Macau. Lá escrevia a grande escritora Margarida Rebelo Pinto que não há coincidências e teremos de ver qual será a terceira pessoa que se farta de levar com a cruz e bate com a porta também. Estas demissões acontecem em todo o lado e não apenas aqui. Haverá o outro lado do jogo, neste caso do filme. Mas presumo que o facto de um director deste calibre bater com a porta desta maneira, a semanas do festival começar, deva indiciar alguma coisa. Quando me chateiam muito fico arrepiado e mio como se tivesse com o cio. Just saying. Só não me vou daqui embora porque me dão comida e bebida. O problema, para além de aparecerem demissões quase de seguida, é aquilo que o povo pensa delas: já se sabia, isto era bom demais para ser verdade, Macau é isto, o Governo é aquilo...ponhamos os pontos nos is: se nem com o Jogo somos internacionais então é porque algo não está a correr bem. Nunca terra onde não há desemprego, ninguém é despedido por fazer borrada ou ainda onde ninguém se demite, estas demissões dão que pensar. Pu Yi
NA SOMBRA DA PRESIDÊNCIA | FERNANDO LIMA | 2016
Fernando Lima acompanhou o presidente da República portuguesa, Cavaco Silva, nos dez anos em que este esteve em Belém. O episódio das alegadas escutas, que envolveu o primeiro-ministro, José Sócrates, acabou por colocá-lo numa outra sombra. Um livro que, sendo alvo de reflexão (deveria ou não ser escrito? Representa ou não uma perda de confiança?), é fundamental para compreender um pedaço da história política contemporânea. Andreia Sofia Silva
INFERNO SALA 1
YOUR NAME [B] FALADO EM CANTONENSE LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Makoto Shinkai 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 2
INFERNO [B] Filme de: Ron Howard Com: Tom Hanks, Felicity Jones, Irrfan Khan 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 3
TROLLS [A]
FALADO EM CANTONENSE Filme de: Mike Mitchell, Walt Dohrn 14.15, 16.00, 19.30
TROLLS [A] [3D] FALADO EM CANTONENSE Filme de: Mike Mitchell, Walt Dohrn 17.45
DOCTOR STRANGE [B] Filme de: Scott Derrickson Com: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams 21.30
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18 OPINIÃO
hoje macau terça-feira 15.11.2016
macau visto de hong kong CHRIS CHIBNALL, BROADCHURCH
DAVID CHAN
O Reino Unido e o exemplar respeito da lei
N
O passado dia 19 de Julho, o Tribunal de Primeira Instância do Reino Unido deu início à análise do caso apresentado por Gina Miller e outros. O réu era o Governo do Reino Unido. Esta sessão foi constituída para se proceder a um exame judicial Ao contrário de Portugal, no Reino Unido não existe um corpo legal administrativo. A “lei administrativa” está incluída na lei civil. O exame judicial é um procedimento legal indexado ao Tribunal de Primeira Instância do Reino Unido. Por norma, analisa queixas contra o Governo apresentadas por cidadãos comuns. Tem por objectivo rever actos administrativos efectuados pelo Executivo. Aqui não se trata de julgar a capacidade do Governo para realizar os actos. O Tribunal vai focar-se nos actos em si, e determinar se são ou não legais. Por exemplo, existe um requisito estatutário que determina que no caso de o Governo desejar reclamar um terreno para construção, digamos de um Centro Comercial, terá de pedir um relatório a uma agência de protecção ambiental. Se não o fizer, qualquer pessoa afectada por essa decisão pode processar o Governo e solicitar um exame judicial, alegando que houve quebra do requisito estatutário. Se houver provas suficientes que determinem a violação do requisito o Governo perde o caso.
Na presente situação, os queixosos alegaram que o Governo do Reino Unido deveria ter apresentado notificação da sua intenção de abandonar a União Europeia, ao abrigo do artigo 50 do Tratado da União Europeia, apresentando essa decisão a voto no Parlamento, com debate deliberativo em profundidade sobre as suas implicações e objectivos. O Secretário de Estado para os Assuntos do Brexit defendeu que a activação do artigo 50 era uma prerrogativa Real e que dispensava a consulta dos membros do Parlamento. Gina Miller ainda alegou que, como as notificações ao abrigo do artigo 50 não podem ser revogadas, na prática acabam por ser anulados uma série de Actos Parlamentares. A Constituição consagra que os Actos Parlamentares não podem ser alterados sem o consentimento do Parlamento. A audiência ficou concluída a 18 de Outubro. O Tribunal deliberou e publicou a sua decisão a 3 de Novembro. Os juízes não deram razão ao Governo quanto à prerro-
“A aplicação da lei não se faz pela força, mas através do poder da palavra. Estes procedimentos baseados no respeito da lei – são um exemplo a seguir por todos, e um modelo para a resolução de qualquer contenda”
gativa Real sobre o artigo 50 do Tratado da União Europeia. Mais tarde será decidida a forma como tal disposição deveria ter sido tomada. Os juízes descreveram o Acto 1972 da Comunidade Europeia como o mais eficaz para “compreender o efeito directo da lei da EU no sistema legal nacional”, e defendem que não é plausível que a intenção do Parlamento tenha sido defender a capacidade da Coroa para, de forma unilateral, alterar o sentido do artigo através do exercício das suas prerrogativas. Simultaneamente, na Irlanda do Norte, outros processos legais contra o Governo ficaram concluídos a 28 de Outubro, mas o Tribunal permitiu que quatro dos cinco queixosos pudessem apelar para instâncias superiores. O resultado final do exame judicial não é conhecido por enquanto. Mas os princípios legais e o estado de direito implantado no Reino Unido são exemplares. O Tribunal determinou que o Governo tinha falhado porque na altura da adesão do Reino Unido à União Europeia, a aprovação foi dada pelo Parlamento. Portanto, quando o Reino Unido quis sair, o Parlamento deveria ter aprovado essa decisão. E porquê? Porque a vontade do Parlamento é soberana. A legislação proposta pela Coroa tem de obter o consentimento das Câmaras Parlamentares. Esta é a famosa doutrina da “soberania Parlamentar”. O Parlamento pode alterar uma lei sempre que quiser. No entanto, a Coroa não pode fazê-lo apenas através do exercício das suas prerrogativas, a menos que a própria lei o permita. Na Proclamação 1610, a Coroa declara solenemente não interferir na lei comum, na lei estatutária nem nos costumes. Na medida em que a lei da UE afecta directamente a lei do Reino Unido, o
parlamento deve autorizar as alterações que forem feitas. Consequentemente, o exercício das prerrogativas Reais, por si só, não basta. Esta foi a decisão do Tribunal de Primeira Instância, quer se concorde com ela ou não. O julgamento reflecte claramente que a Coroa não tem poder para alterar a lei. Este impedimento é o símbolo do “estado de direito”, demonstrando que todos são iguais perante a lei, mesmo estando na posse do mais alto poder administrativo. Se até a Rainha, a pessoa mais importante do Reino Unido, obedece à lei, não há motivo para que as outras pessoas não obedeçam. Porque a Rainha obedece à lei, o Tribunal tem o poder de julgar o Governo. Porque o Governo obedece à lei, a decisão tomada pelo Tribunal pode ser aplicada. A aplicação da lei não se faz pela força, mas através do poder da palavra. Estes procedimentos baseados no respeito da lei – são um exemplo a seguir por todos, e um modelo para a resolução de qualquer contenda. Este caso permite-nos compreender claramente os alicerces do sistema jurídico-legal britânico. O Supremo Tribunal do Reino Unido já agendou para Dezembro uma audiência para analisar o recurso do Governo da decisão do Tribunal de Primeira Instância. A audiência terá lugar entre 5 e 8 de Dezembro, mas a decisão só deverá ser divulgada no início de Janeiro de 2017. Nicola Sturgeon, Primeiro Ministro escocês pediu que o Director Jurídico do seu Governo (Scottish Lord Advocate) esteja presente no Tribunal. Espera-se uma nova batalha legal. Estejamos atentos aos próximos desenvolvimentos. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
19 hoje macau terça-feira 15.11.2016
sexanálise
N
Conversando
ÃOvivemosnomundo dos contos de fadas, dos finais felizes ou dos desejos realizados. Das duas uma, ou engolimos sapos ou conversamos sobre as coisas até chegarmos a um acordo sobre o que queremos. Com o amor e o sexo passa-se a mesma coisa, nem sempre vemos acontecer aquilo que queremos que aconteça. Entretanto, muitos corações partem-se e muitos relacionamentos deixam de existir – mas outros se calhar precisam de ser melhorados. O aconselhamento matrimonial/de casal/ sexual está constantemente a exigir mais e melhor comunicação entre as pessoas. Mas o que é que isso quer dizer? O que é que quer dizer comunicar melhor? Depois de um dia de trabalho intenso e cansativo, chegamos a casa perto do nosso mais que tudo e não pensamos conscientemente sobre esta questão comunicativa. A comunicação simplesmente acontece, quer queiramos ou não. Em momentos de tensão esta comunicação parece refugiar-se no véu da introspecção e da individualidade. Enganamo-nos se pensamos que nada passa cá para fora. E não há nada de errado com isso, ter maus dias e ter dias de stress é normal. Estes obstáculos emocionais são normais. Eles podem ser a causa (ou consequência) daquilo que sentimos como pessoas, enquanto casal ou enquanto pessoa em sociedade. Tal como as dores de crescimento, estes momentos de tensão são necessários ao desenvolvimento de um relacionamento mais forte, mais seguro, mais profundo connosco próprios e com os outros. Num relacionamento temos que lidar com o dupla problematização entre o indivíduo e o colectivo que é uma daquelas coisas chatas e difíceis de conseguir. A solução simples a ser sugerida é a boa comunicação, a complicada, é praticá-la. Uma boa comunicação não é debitar tudo aquilo que pensamos sem qualquer filtro. Boa comunicação sugere uma abertura e honestidade que está em sintonia com o que o outro pode receber, digerir e assimilar. Não me interpretem mal, não estamos totalmente à mercê do outro, mas o outro tem que ser considerado. Se a comunicação não é dialógica, trata-se de um monólogo. Vamos por um exemplo, imaginem uma terrível incompatibilidade sexual. Vocês
MICHAEL GORDON, PILLOW TALK
TÂNIA DOS SANTOS
engatam, dão beijinhos vão para a cama e a coisa corre verdadeiramente mal. Mas talvez se pudessem falar sobre isso a coisa poderia melhorar, se a linguagem corporal não conseguir veicular a mensagem, talvez umas palavras conseguirão. O que dizem? ‘Olha, isto não correu muito bem, o que podemos fazer para melhorar?’ Soa tão diplomático, não soa? Mas poucos o fazem porque é muito pouco romântico. Resolver problemas não é romântico ou sexy, é chato porque é muito real. Quem é que aguentaria encontrar o amor da sua vida e perceber que ele afinal não sabe proporcionar um bom cunnilingus? Ele pode aprender! Mas se não derem a entender que a tarefa não está a ser bem desenvolvida, ele nunca saberá que há espaço para melhorar. ‘A falar é que a gente se entende’ pode soar a cliché mas é talvez das condições mais necessárias para
“‘A falar é que a gente se entende’ pode soar a cliché mas é talvez das condições mais necessárias para uma vida amorosa e sexual feliz. Ninguém lê a tua mente, ninguém sabe como lê-la, por isso é melhor explicar o que se passa na tua cabeça”
uma vida amorosa e sexual feliz. Ninguém lê a tua mente, ninguém sabe como lê-la, por isso é melhor explicar o que se passa na tua cabeça. Eu percebo que ‘falar’ sobre dificuldades não seja muito divertido, mas pode ser. Sugiro que tentem incluí-la saudavelmente na vossa vida sexual. Se tiverem sessões temáticas do tipo, a noite BDSM, brincadeiras marotas na banheira, o dia do coito ao ar livre, porque não, o sexo das dúvidas. Um dia programado para mexer no corpo um e do outro e reagir em tempo real, falando abertamente sobre o que gostam e não gostam. Se sentem as bochechas a corarem só de pensar em tamanha honestidade, podem planear uma sessão de dúvidas às escuras, o que interessa é que experimentem com o à vontade que o sexo tão precisa. Sem ofender ninguém! É preciso ter tacto. Dizer ‘o teu sexo oral é terrível’ faz com que o ouvinte se sinta envergonhado e pode fazê-lo fechar-se ainda mais à discussão. Não esquecer de dizer as coisas com jeito e pensar na sinergia, afinal, o sexo é a dois (ou a mais) e não é de responsabilidade isolada de um ser. Não é o outro que simplesmente não tem técnica de língua, o que recebe é que também não gosta muito da forma como é feita. Isto para reforçar que o melhoramento sexual não é universal – não há uma técnica universal na cama. O que funciona para uns, não funciona para outros. Daí a importância da dinâmica criada entre o casal. Os dois é que juntamente criam o seu universo sexual, as suas fantasias e desejos. O sexo é partilha, quando bem comunicada.
OPINIÃO