Hoje Macau 15 MAR 2016 #3532

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

TERÇA-FEIRA 15 DE MARÇO DE 2016 • ANO XV • Nº 3532

MOP$10 SOFIA MOTA

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

ASSEMBLEIA

O destino de Rita PÁGINA 4

h

CRISTINA BRANCO

Fado nosso ENTREVISTA

Donos Guy Madin YAO FENG

hojemacau

OPINIÃO

DSPA ASSOCIAÇÕES QUEREM POLÍTICAS MAIS ACTIVAS

ARRENDAMENTO

PÁGINA 5

Factos no feminino TÂNIA DOS SANTOS

XI WA

AMOR À VERDADE

Ambiente de trabalho

Líderes de várias associações pedem ao novo director dos Serviços de Protecção Ambiental, Raymond Tam, que implemente mais políticas em defesa do ambiente e uma comunicação mais efectiva com os representantes do sector. E, frisam, o trabalho é para começar já porque nos últimos seis anos pouco ou nada foi feito.

EVENTOS

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GRANDE PLANO

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Despejos facilitados

BOI LUXO


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DSPA

GRANDE PLANO

AMBIENTALISTAS ESPERAM MAIS TRABALHO COM RAYMOND TAM

ACCAO IMEDIATA ´

Mais políticas de protecção ambiental e sobretudo mais comunicação com as associações. São estes os desejos de três ambientalistas para a liderança de Raymond Tam à frente dos Serviços de Protecção Ambiental. Joe Chan, Ho Wai Tim e Chang Kam Pui lembram que, em seis anos de existência, a DSPA poucas políticas implementou

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AYMOND Tam, antigo presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), está de regresso à Função Pública depois de enfrentar um polémico processo associado ao caso de atribuição de campas no Cemitério de São Miguel Arcanjo. Tam é, desde o passado dia 3 de Março, o novo director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA). Mas quais as expectativas que as figuras do sector depositam no responsável? Joe Chan, líder da União Macau Green Student, espera ver mais políticas implementadas pela DSPA. “Nos últimos anos apenas a Lei do Ruído foi implementada. Mesmo quando falamos de reciclagem ou outras políticas, o trabalho do novo director pode ser mais efectivo e [Raymond Tam] pode ser mais determinado em fazer algo para resolver os problemas actuais, para além do habitual discurso de ‘ainda estamos a analisar’”, referiu ao HM. “A DSPA estabeleceu um calendário para as políticas ambientais há muito tempo, mas muitas delas já ficaram para trás. Temos de as implementar depressa e já”, acrescentou. “Espero que traga uma nova forma de trabalhar para junto da DSPA. É uma direcção que existe desde 2009, mas as pessoas continuam a questionar a sua eficácia e o papel que deve ter em termos de protecção ambiental”, frisou ainda Joe Chan.

MAIS COMUNICAÇÃO

Ho Wai Tim, presidente da Associação de Ecologia de Macau (AEM), disse ao HM que o novo director da DSPA ainda não contactou com as associações da sua área desde que tomou posse, pelo que não consegue compreender quais as políticas que pretende implementar ao nível da protecção ambiental.

“Não há intercâmbio”, acusou. “É extremamente necessário que haja comunicação. Quando foi entrevistado pelos jornalistas não conseguiu expressar as suas ideias, o que fez com que a sociedade suspeitasse da sua capacidade de trabalho. A minha sugestão para

A minha sugestão para Raymond Tam é que apresente as metas concretas que tem para este ano, tanto às associações como aos meios de comunicação, porque o mandato dele é de apenas um ano. Não pode limitar-se a slogans” HO WAI TIM PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE ECOLOGIA DE MACAU

Raymond Tam é que apresente as metas concretas que tem para este ano, tanto às associações como aos meios de comunicação, porque o mandato dele é de apenas um ano. Não pode limitar-se a slogans”, referiu. Ho Wai Tim diz que, tanto a sociedade, como os membros do Conselho Consultivo do Ambiente, da qual faz parte, esperam compreender melhor os trabalhos levados a cabo pela DSPA. Ho Wai Tim acusou ainda a DSPA de avançar com poucas medidas, tendo em conta que foi criada há seis anos. O responsável adiantou que, no início, todos compreendiam a falta de políticas por se tratar de um organismo novo. Mas agora o Governo “não pode apresentar as mesmas desculpas” para não atingir os objectivos propostos.

“Pelo menos deve concretizar bem os seus planos a curto, médio e longo prazo. Fiquei insatisfeito com os conteúdos do plano de protecção ambiental, porque apenas refere os aspectos que precisam de ser melhorados, mas não mostra os indicadores quantitativos”, contou ao HM.

POUCAS TÉCNICAS

Chang Kam Pui, presidente da Associação de Protecção Ambiental e Gestão de Macau, referiu apenas que, enquanto esteve à frente do IACM, Raymond Tam se preocupou em plantar mais árvores no território, pelo que fez alguns esforços a nível ambiental. Mas, tal como Ho Wai Tim, Chan Kam Pui garante que é necessária uma maior comunicação.


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“Consideramos que o Governo não tem comunicado bem com o sector quanto aos assuntos relativos à protecção ambiental, com excepção do diálogo feito no Conselho Consultivo do Ambiente. Por exemplo, ao nível dos carros eléctricos, o sector não compreendeu bem como pode dar mais apoio às políticas do Executivo”, disse. Chang Kam Pui garantiu que a DSPA não consegue trabalhar de forma muito técnica, sendo um organismo que apenas consegue promover a protecção do ambiente. O responsável pede, por isso, que Raymond Tam adquira mais competências técnicas. Para Joe Chan, Raymond Tam deve trabalhar mais ao nível da poluição do ar. “Todos os cidadãos estão a ser afectados por este problema grave e esperamos que haja mais legislação para reduzir os carros em circulação e também que seja criada uma lei de impacto ambiental. Ouvimos esse projecto desde 2012 e o Governo já fez uma consulta pública mas desde então não ouvimos mais informações sobre esse diploma. Muitos projectos de construção já estão em desenvolvimento, incluindo o projecto de Coloane. Penso que é urgente implementar esta lei e também políticas para reduzir a poluição do ar”, rematou. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo

“A DSPA estabeleceu um calendário para as políticas ambientais há muito tempo, mas muitas delas já ficaram para trás. Temos de as implementar depressa e já” “Quando falamos de reciclagem ou outras políticas, o trabalho do novo director pode ser mais efectivo e [Raymond Tam] pode ser mais determinado em fazer algo para resolver os problemas actuais” JOE CHAN LÍDER DA UNIÃO MACAU GREEN STUDENT

“Estranhas” medidas Conselho Consultivo do Ambiente chegou ao fim

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Conselho Consultivo do Ambiente chegou oficialmente ao fim no passado dia 3 de Dezembro. Segundo contou Ho Wai Tim ao HM, o seu mandato não foi renovado, sendo que as nomeações dos membros, feitas em 2013, tinham apenas dois anos de duração. “Espero que o Conselho Consultivo do Ambiente volte a funcionar, já que foi cancelado em Dezembro passado. O director da DSPA deve ser o secretário-geral e assim podemos trocar ideias. O

Conselho serviria como um meio para compreendermos os seus planos e objectivos”, disse Ho Wai Tim. Para o responsável, a suspensão do Conselho Consultivo é uma medida “estranha”. O HM contactou ainda Fung Soi Kun, director dos Serviços Metereológicos e Geofísicos, que confirmou a não renovação do seu mandato. “Este Conselho já acabou e não nos foi dada nenhuma explicação”, referiu. Até ao fecho desta edição não foi possível apurar as razões para o fim do

Conselho Consultivo, que tinha mais de dez membros, incluindo o arquitecto Carlos Marreiros, Luis Gageiro, dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), ou Arnaldo Santos, actual presidente do Instituto de Habitação (IH). Junto do gabinete do Secretário para as Obras Públicas e Transportes apenas nos foi possível confirmar a extinção do Conselho, tendo sido explicado que não é necessária a publicação do despacho em Boletim Oficial (BO) a decretar o fim do organismo. A.S.S./F.F.

NOVO DIRECTOR. METAS DE SEMPRE

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novo director da DSPA recusou dar uma entrevista ao HM, mas não deixou de dar algumas explicações sobre as políticas que pretende desenvolver no seu mandato. Sem adiantar mais detalhes face àquilo que já disse na tomada de posse, Raymond Tam promete “optimizar constantemente a política sobre o tratamento de resíduos sólidos e melhorar a qualidade do ar, entre outros. “Promover-se-á também a conservação do ecossistema, com a finalidade de atingir o objectivo e a meta de melhorar a qualidade ambiental e assegurar a saúde dos cidadãos”, diz ainda.

Sobre a gestão dos resíduos, este ano deverá ser implementado o “Plano de Gestão de Resíduos Sólidos de Macau”, por existir um aumento contínuo da quantidade destes materiais no território. Nesta área, a DSPA pretende criar “incentivos políticos e económicos” e “colaborar na construção das instalações necessárias à recolha de recursos e optimizar as infra-estruturas”. Ao nível da reciclagem, a DSPA refere apenas que “deve ser criada uma plataforma diversificada”, para que haja um incentivo “à recolha selectiva dos resíduos junto dos cidadãos”. O organismo diz ainda que foram levados a cabo diversos trabalhos de sensibilização, sendo que, em conjunto com associações, foi feita a recolha periódica de três principais tipos de resíduos, a saber, papéis, plástico ou latas de alumínio/ferro. “Espera-se que no futuro possam ser reforçados os trabalhos referentes à redução de resíduos a partir da fonte e a sua recolha”. Quanto à poluição do ar, a DSPA considera tratar-se de “um dos trabalhos prioritários” do Executivo. “O Governo está a promover, passo a passo, as políticas e medidas respeitantes aos veículos novos importados, veículos em circulação, promoção dos veículos ecológicos e a melhoria da qualidade dos combustíveis para veículos”, refere a resposta da DSPA. O organismo garantiu que “estão ainda em curso o estudo e o planeamento da promoção de veículos ecológicos, com vista a melhorar a qualidade do ar das ruas de Macau por diferentes meios”. A.S.S.


4 POLÍTICA

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GONÇALO LOBO PINHEIRO

Da Suncity com amor?

Eleições Filipinas Candidata à presidência acusada de receber dinheiro de Macau

A

José Pereira Coutinho diz que sim, mas Rita Santos diz “nim”. Uma candidatura à AL pode não ser uma realidade tão certa como o colega e presidente da ATFPM afirma. Rita Santos diz que tudo dependerá de decisões pessoais e, apesar de preparada, diz que este pode não ser o caminho. Deputados desvalorizam

AL RITA SANTOS NÃO CONFIRMA CANDIDATURA

Tem destino?

“N

ÃO é uma decisão. Eu ainda não tomei essa decisão”, clarificou Rita Santos, presidente da Assembleia Geral da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM), relativamente a uma possível candidatura à Assembleia Legislativa (AL), confirmada pelo colega e presidente da Associação José Pereira Coutinho. Depois das eleições, no passado sábado, José Pereira Coutinho, também deputado, confirmou que Rita Santos seria candidata já nas próximas eleições, em 2017. Informação que é desmentida pela própria. “Nem sequer falei com a minha família. Hoje (ontem) comecei a receber telefonemas sobre isso. Eu não confirmo. Não estou certa que o vá fazer”, explicou ao HM. Agarrada ao mote de “tempo para a família”, Rita Santos explica que deixou as suas responsabilidades como presidente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa para se dedicar a “100%” aos seus. “Deverei entrar de novo

na vida política? Quer dizer, quero estar com a minha família, sou de uma família muito numerosa e quero continuar isso e por isso tenho que estar disponível para estar presente. Eu vejo pelo Pereira Coutinho: o trabalho que ser deputado da AL dá. Não sei se quero isso”, apontou, embora sinta que está “preparada para assumir” essa função. “Não vou confirmar uma coisa que não está decidida. Não sei”, reforçou.

SEM PRESSAS

Questionado sobre a possibilidade de um lugar do hemiciclo ser ocupado pela comendado-

“Nem sequer falei com a minha família. Hoje (ontem) comecei a receber telefonemas sobre isso. Eu não confirmo. Não estou certa que o vá fazer” RITA SANTOS PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA GERAL DA ATFPM

ra, o deputado Au Kam San desvaloriza. “Os deputados eleitos por sufrágio directo não ocupam mais de metade dos lugares e é o Governo que orienta o funcionamento da AL, por isso, seja quem for o deputado eleito para ocupar aquele lugar não terá a capacidade de trazer mudanças ao que quer que seja”, explicou ao HM. Para o deputado, que já anunciou retirar-se nas próximas eleições, “estas novidades” não irão afectar o funcionamento da própria AL. Diferente seria se o número de deputados eleitos por sufrágio directo fosse maior. “Isso sim é importante”, rematou. Para a deputada Kwan Tsui Hang o público deve respeitar todos as candidaturas às futuras eleições no próximo ano. “Não quero estar a comentar sobre isto porque não quero ser injusta para os candidatos. Temos de respeitar todos os residentes que se possam candidatar”, apontou, frisando que é “demasiado cedo para qualquer candidatura”. Outros deputados não quiseram comentar a eventual candidatura. Filipa Araújo (com T.C.)

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

candidata à presidência filipina Grace Poe está a ser acusada de ter recebido dinheiro da Suncity Group, grupo junket de Macau que também opera no país. Poe, que concorre nas eleições de forma independente, nega e diz que é falso. “Primeiro, isso não é, de todo, verdade”, disse Grace Poe aos média filipinos, acrescentando que foi a oposição quem lançou o documento como tentativa de arremesso de “propaganda negra” contra si, devido à corrida à presidência das Filipinas. Uma notícia avançada pelo jornal filipino Daily Tribune ontem dava conta que Grace Poe teria aceite 150 milhões de pesos filipinos – aproximadamente 25,8 milhões de patacas – do grupo Sun City de Macau, liderado por Alvin Chau. O jornal cita documentos – que publica junto à notícia – e que mostram que Poe terá aceite “150 milhões de pesos em doações com fins políticos da Sun City”, no ano passado. “Um dos vouchers, de 50 milhões de pesos, tem a assinatura de Grace Poe”, assegura ainda o Daily Tribune, que diz que “duas leis” podem ter sido violadas.

DEJÁ VU

O jornal assegura que esta não é a primeira

vez que Grace Poe é posta em xeque face a contribuições para a sua campanha: “está já a ser criticada por ter utilizado helicópteros em campanha, que admitiu terem sido emprestados” por duas empresas. Poe assegura saber que aceitar este tipo de contribuições “é contra a lei filipina” e nega que a assinatura nos documentos seja, de facto, a sua. “Porque é que eu haveria de fazer isso? É fácil encontrar documentos que provem que não é verdade e desafio-os a fazerem-no”, disse à imprensa do país. A Suncity, recorde-se, está a estender a sua base de operações para as Filipinas, depois de as receitas do sector VIP em Macau terem começado a baixar, especialmente no segmento VIP, controlado pela empresa. Notícias da imprensa local, datadas do ano passado, davam conta da abertura de salas VIP pela Suncity nas Filipinas, algo visto como um problema para Macau, já que a empresa poderia levar os jogadores de altas apostas para o país. Grace Poe lidera a corrida às eleições agendas para Maio, entre quatro outros concorrentes. O HM tentou obter um comentário junto da Suncity, mas não foi possível. J.F.

ALTERAÇÕES A PROJECTO DE TOI SAN CUSTAM QUASE NOVE MILHÕES

A JPC Consultadoria de Arquitectura Limitada tem nas mãos a alteração do projecto de habitação pública de Toi San. O serviço – que surge depois de as obras terem sido paradas – custará ao Governo 8,89 milhões de patacas, que serão pagos até 2019. A habitação pública da Rua Central de Toi San deveria estar concluída em 2013, mas o projecto original incluía três andares subterrâneos, algo que não deverá acontecer devido ao impacto nos edifícios antigos vizinhos.


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NOVO PORTAL DE INFORMAÇÕES SOBRE RENOVAÇÃO URBANA

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AIMUNDO do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, informou, na passada sexta-feira, que será criado um portal para o Conselho para a Renovação Urbana, que pretende permitir aos cidadãos terem mais conhecimento sobre o trabalho deste grupo. A

apostar na “transparência”, Raimundo do Rosário quer que seja criado este portal para que, “de modo rápido e fácil”, a população consiga aceder às informações dos trabalhos do Conselho, que levantou ondas na sociedade por incluir membros do sector da construção e por ter

vindo substituir o anterior grupo responsável pelo reordenamento antigo. Raimundo do Rosário frisa ainda que o grupo é constituído por 29 membros, “dos quais 21 são provenientes de diferentes associações cívicas, nomeadamente do sector de construção, imobiliário,

obras, bancário, advocacia, turístico, entre outros”. Na primeira reunião, que aconteceu na passada semana, o tema principal foi o próprio regulamento interno do Conselho e os futuros trabalhos. Raimundo do Rosário informou que em breve será realizada a próxima reunião.

POLÍTICA

HO IAT SENG TUDO PELA DIVERSIFICAÇÃO

O presidente da Assembleia Legislativa, Ho Iat Seng, afirmou, durante a sua visita a Pequim, que Macau não deve estar preocupado com o desenvolvimento, ou a influência das medidas anti-corrupção na economia de Macau, porque o mais importante é a diversificação. O também membro permanente da Assembleia Popular Nacional (APN), explicava, aos jornalistas, que muitos funcionários públicos do interior da China jogavam nos casinos em Macau e com isso trouxeram problemas, “algo que está a mudar” devido às acções de anti-corrupção levadas a cabo pelo Governo Central. Estas acções “trouxeram uma influência negativa a Macau”, mas é algo que pode não ter tanto peso quanto se pensa. Ho Iat Seng acredita que o que é importante é a diversificação e não o desenvolvimento económico.

Arrendamento CPP EM REVISÃO PARA SIMPLIFICAR ACÇÕES DE DESPEJO

Toca a andar daqui para fora O Governo está a fazer a revisão do artigo ligado às acções de despejo nos arrendamentos. Sobre o aumento das rendas ou o atraso no pagamento destas nada será feito pela Administração

U

M dos artigos a ser revistos no Código de Processo Civil está relacionado com os arrendamentos, anunciou o Executivo numa resposta ao deputado Mak Soi Kun. De acordo com o documento, analisado pelo HM e assinado por Liu Dexue, director dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ), a ideia é simplificar as acções de despejo e não colocar um tecto às rendas. “A DSAJ encontra-se a acompanhar os trabalhos de revisão globais do Código de Processo Civil, consistindo um dos conteúdos da actual proposta de alteração em dar mais um passo na simplificação da acção de despejo”, começa por indicar o organismo. A ideia é tornar o processo mais eficiente, permitindo “ao locador interpor, de forma ainda mais fácil e acelerada, o processo de acção de despejo” nas autoridades e “aperfeiçoar o regime de comunicação”. A questão do não pagamento das rendas é comum no território, de acordo com o que tem vindo a ser defendido por deputados. A DSAJ diz estar agora a recolher opiniões do sector jurídico e judicial, sendo que vai, mais tarde, “analisar e estudar as opiniões recolhidas e decidir a orientação e âmbito da alteração”. Posteriormente, lê-se ainda na resposta, vai ser lançada uma consulta pública. Mak Soi Kun tinha questionado a DSAJ sobre melhorias às leis que regulam o arrendamento, nomeadamente quanto à subida das rendas e de atraso nos pagamentos, já no ano passado. Na resposta agora disponível, o organismo assegura que o Governo tem dado “muita atenção

à situação do desenvolvimento do mercado de arrendamento e tem dedicado esforços para o aperfeiçoamento ao nível jurídico”. Foram, contudo, deputados que apresentaram na Assembleia Legislativa um projecto de arrendamento que impõe um tecto máximo às rendas, entre outras questões que não são reguladas por lei avulsas, visto que o Governo disse não querer interferir “muito” no mercado privado.

AINDA MAIS SIMPLES

“A DSAJ encontra-se a acompanhar os trabalhos de revisão globais do Código de Processo Civil, consistindo um dos conteúdos da actual proposta de alteração em dar mais um passo na simplificação da acção de despejo” LIU DEXUE DIRECTOR DOS SERVIÇOS PARA OS ASSUNTOS DE JUSTIÇA

Liu Dexue relembra, no documento, que foram feitas alterações em 2004 ao CPP e à Lei de Bases de Organização Judiciária, que vieram permitir que as acções de despejo que consistem na falta de pagamento da renda e não sejam superiores a 50 mil patacas possam ser julgadas por um tribunal singular. Agora, no entanto, e depois de em 2014, Chu Lam Lam, directora dos Serviços da Reforma Jurídica e do Direito Internacional, dizer que as regras para acções de despejo já eram simples, o Executivo admite vir a simplificar ainda mais este sistema. Em 2014, o Executivo dizia também que os limites à actualização das rendas podem ser conseguidos através “de negociação entre senhorios e inquilinos”. Algo que o projecto de lei dos deputados está a tentar modificar, mas que o Executivo diz não querer mexer, à semelhança do artigo referente ao atraso no pagamento das rendas. “Já existe no Código Civil em vigor um regime que permite ao senhorio exigir uma indemnização”, remata Liu Dexue. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo


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ASSEMBLEIA GERAL CONVOCATÓRIA

Nos termos do Artº 34º, nº 1. al. a) dos Estatutos em vigor, convoco a Assembleia Geral Ordinária para reunir na sua sede, sita na Avenida Doutor Mário Soares, nº 25, 3º andar (4º piso) do Edifício “Montepio”, no próximo dia 30 de Março de 2016, pelas 17H15, com a seguinte ordem de trabalhos: 1ª - Discussão e votação do relatório e Conta de Gerência do ano de 2015 e do parecer do Conselho Fiscal; e 2ª - Outros assuntos de interesse da Associação. No caso de não comparecer nesse dia e hora indicados, o número de associados mencionado no nº 1 do Artº 36º, considera-se desde já convocada nova reunião, que se realizará no mesmo local decorrida uma hora, com qualquer número de associados. Montepio Geral de Macau, ao 1 de Março de 2016.

Assine-o TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo

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A Presidente da Assembleia Geral, Rita Botelho dos Santos


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Plano Quinquenal TRÂNSITO E QUALIDADE DE VIDA SÃO PRIORIDADES

Melhoria do trânsito, estabilidade da economia e a garantia da qualidade de vida da população de Macau. Eis as principais opiniões transmitidas pelas associações no âmbito da consulta pública sobre o Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM

J

Á são conhecidas as opiniões recolhidas junto de 41 associações locais quanto ao Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM, anunciado por Chui Sai On nas Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2016. Segundo o comunicado ontem divulgado pelo Gabinete de Estudo das Políticas (GEP), o trânsito, a melhoria do ambiente e das condições de vida e uma economia estável são os grandes objectivos que têm de ser cumpridos aquando da elaboração do plano quinquenal de Macau. As associações pediram “a elevação constante da qualidade de vida dos cidadãos”, no sentido

A

Comissão Organizadora do Grande Prémio, anteriormente cancelada, está de volta, mas com diferenças: desta vez não há remunerações para os membros que dela fazem parte. Segundo publicação em Boletim Oficial, a Comissão voltará a ter a responsabilidade de coordenar a actividade dos vários serviços da Administração Pública e de várias entidades da sociedade no âmbito da organização do Grande Prémio de Macau, sem que no entanto, os principais membros recebam qualquer vencimento, seja em salário ou pagamento extra, como anteriormente acontecia. A nova Comissão volta a ser presidida pelo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura,Alexis Tam, tendo ainda um coor-

TIAGO ALCÂNTARA

A palavra às associações

de existir uma “preocupação com a facilidade de mobilidade” ou “a construção de mecanismos de longo prazo para a habitação”. É ainda pedido o “estabelecimento do sistema de segurança social sustentável” e a “elevação do nível do serviço de saúde para responder às necessidades futuras”.

DAS PRIORIDADES

Quanto à área do “desenvolvimento dos projectos prioritários”, as associações defendem que o plano quinquenal deve prestar “atenção ao melhoramento do trânsito nos próximos cinco anos” e que seja feito um “planeamento geral e a construção dos projectos prioritá-

rios do trânsito”, sem esquecer o metro ligeiro. Na área económica, espera-se uma “manutenção do desenvolvimento estável da economia”, sobretudo ao nível da sua diversi-

ficação. As associações esperam a “alteração da situação do monopólio da indústria do Jogo”, para além de exigirem “maior apoio ao desenvolvimento das Pequenas e Médias Empresas (PME)”. Ao nível do turismo, é pedida uma “internacionalização do mercado turístico, da fonte de turistas e dos produtos”. O comunicado expressa ainda a vontade das associações de verem um “resultado manifesto na protecção ambiental”. Deve existir “atenção com o desenvolvimento dos projectos prioritários da protecção ambiental nos próximos cinco anos”, para além da necessidade de se apostar na “eficácia da publicidade e da educação ambiental”. Na área educativa as associações pedem a “elevação do nível de educação”, ao nível do ensino não superior e superior, para que “os diversos quadros qualificados possam responder ao desenvolvimento social no futuro”. Pede-se ainda que o futuro plano quinquenal aposte num “reforço da eficiência de governação” e que aposte na melhoria da “racionalização de quadros e da simplificação

Volta sem prémio

GP Comissão Organizadora é novamente criada. Desta vez sem remunerações

denador, dois coordenadores-adjuntos e um secretário-geral, além de três representantes do Gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, cinco representantes da Direcção dos Serviços de Turismo e um membro de diversos organismos

públicos, como os Serviços de Saúde, Bombeiros, Serviços de Alfândega e da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Na Comissão estará também um representante da Associação Geral de Automóvel de Macau-

-China e seis individualidades de “reconhecido mérito na área do turismo e do desporto de Macau”. Ainda não há nomes sobre quem vai tomar o lugar nestes cargos, ainda que ontem tenha já havido a primeira reunião oficial da Comissão. Alexis Tam vai designar os futuros membros em despacho no Boletim Oficial. Esta Comissão poderá ainda, tal como a anterior, constituir subcomissões. Os encargos com o seu funcionamento serão suportados pelo orçamento privativo do Fundo do Desporto. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

SOCIEDADE

As associações pediram “a elevação constante da qualidade de vida dos cidadãos”, no sentido de existir uma “preocupação com a facilidade de mobilidade” ou “a construção de mecanismos de longo prazo para a habitação” administrativa”. É ainda sugerido que seja feita a aposta na “elevação da qualidade dos serviços prestados pelos funcionários públicos”. O GEP garante que 80,9% das opiniões são “favoráveis”, enquanto que 13,9% são opiniões neutras, sem esquecer as opiniões desfavoráveis, que ocupam apenas uma percentagem de 5,2%. Segundo o GEP, “as opiniões das associações foram colectadas pelos membros” desses grupos, num período de consulta que durou entre Novembro de 2015 e o passado mês de Fevereiro. Andreia Sofia Silva

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DEZ PARQUES DE ESTACIONAMENTO MAIS CAROS EM MAIO

A partir de Maio, uma dezena de parques de estacionamento vão ficar mais caros, especialmente na zona norte e na Taipa. Os lugares para automóveis ligeiros vão custar seis patacas por cada hora durante o período diurno e metade por cada hora durante o período nocturno. Já os destinados a motociclos e ciclomotores custarão duas patacas de dia e uma pataca à noite. Ao mesmo tempo, deixam de existir passes mensais nestes dez parques, que são os Auto-Silos da Rua da Tranquilidade, do Edifício Mong In, do Edifício Mong Sin, do Lido, do Edifício da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, do Edifício Fai Fu, do Edifício Cheng Chong, do Edificio Cheng Choi, do Edificio Cheng Chun e do Parque Central da Taipa. Uma nota do Governo justifica o aumento dos preços com o facto destes não serem “actualizados desde há muitos anos” e estarem “desfasados do desenvolvimento do mercado”. A subida pretende, ainda, aumentar a rotatividade na ocupação dos lugares de estacionamento nas horas de ponta.


8 SOCIEDADE

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TIAGO ALCÂNTARA

CONSELHO DOS CONSUMIDORES ALERTA PARA CARNE COM ANTIBIÓTICOS

C

Coloane CPU “NÃO TEM DIREITO” A PEDIR DETALHES, DIZ GOVERNO

Agenda governamental

O

Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) não tem poderes para pedir mais informações ao Governo sobre a construção de um edifício de luxo junto

ao Alto de Coloane, já que, segundo o regulamento administrativo, apenas se pode pronunciar sobre projectos entregues pelo Executivo. Segundo o Jornal do Cidadão, Loi Hoi Ngan, membro do CPU e professor PUB

“Segundo o regulamento, os membros não têm direito a pedir informações, só podendo discutir os assuntos que são incluídos na agenda das reuniões” LOI HOI NGAN MEMBRO DO CPU E PROFESSOR DO IPM do Instituto Politécnico de Macau (IPM), explicou que “segundo o regulamento, os membros não têm direito a pedir informações, só podendo discutir os assuntos que são incluídos na agenda das reuniões”. Ainda que não negue que possam ser pedidos mais detalhes “depois das reuniões”, questionado sobre os deveres do CPU nesta matéria, por se tratar de uma construção que poderá pôr em causa a protecção de Coloane, Loi

Hoi Ngan não quis comentar, referindo que todos os membros do CPU se preocupam com o desenvolvimento e o planeamento do urbanismo de Macau, mas devem “respeitar a agenda prevista”. “Podemos discutir uma alteração do regulamento administrativo no futuro”, apontou o docente.

ELEBRA-SE hoje o Dia Mundial do Consumidor e o tema escolhido para a edição deste ano é “Antibióticos Fora do Menu”, conforme explica o Conselho de Consumidores (CC). Numa campanha mundial, lançada pelo Conselho Internacional de Consumidores, da qual faz parte o grupo de Macau, o CC apela a que todos os sectores de restauração parem de servir e vender carnes de animais com antibióticos. “A questão da resistência dos micróbios aos antibióticos tem vindo a amplificar cada vez mais, pelo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) indicou que se não for adoptada uma acção urgente, o ser humano poderá entrar numa era de pós-antibióticos, onde infecções comuns e pequenas lesões que têm cura há dezenas de anos podem voltar a ser

letais”, defendeu o CC em comunicado à imprensa. Actualmente, metade dos antibióticos produzidos mundialmente são utilizados na indústria agrícola, sobretudo na promoção do crescimento e prevenção de doenças de animais domésticos, e não para a cura de doenças.Até 2030 espera-se que o uso de antibióticos na indústria agrícola aumente dois terços, de 63 mil toneladas para 105 mil toneladas. O CC explica ainda que vai entrar em cooperação com o Centro de Segurança Alimentar do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) a fim de organizar a realização de palestras de sensibilização sobre as legislações relativas a resíduos de medicamentos veterinários e à segurança alimentar, divulgando ainda a lista de substâncias proibidas para o uso junto das “lojas certificadas” de restauração. F.A.

TUDO ÀS CLARAS

Loi Hoi Ngan referiu ainda que existe um debate no seio do CPU sobre a área da protecção ambiental onde poderá nascer o empreendimento da empresa de Sio Tak Hong, mas, diz, todos os relatórios das reuniões estão publicados e o processo é “transparente”. Para o académico, os cidadãos podem observar o desempenho dos membros caso tenham preocupações a este nível. O Jornal do Cidadão ouviu ainda Leong Chong In, também membro do CPU, que referiu que a construção de um edifício de cem metros de altura junto à montanha pode afectar o meio ambiente e a floresta, defendendo a suspensão da construção. Contudo, admitiu que é impossível que não haja desenvolvimentos nesta zona. Tomás Chio

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MACAU STORY HOUSE FECHA POR FIM DE CONTRATO DE ARRENDAMENTO

A Macau Story House fechou, ou está suspensa, até a Associação de História Oral de Macau, grupo responsável pelo espaço, encontrar um novo local. O contrato de arrendamento foi terminado e, sem renovação, o espaço teve de fechar portas. “Espero que encontremos outro sítio para poder continuar. Acho que o Governo deve investir mais nos seus recursos, como por exemplo utilizar prédios antigos que reúnam as condições para uso. É preciso investir na cultura e fortalecer o poder cultural na sociedade”, afirmou Lam Fat Iam, presidente da Associação, ao jornal Ou Mun. A funcionar desde 2012, Lam Fat Iam lamenta o fecho do espaço que é um “plataforma cheia de cultura, com espaço para leitura”. Com apoio do Governo, o presidente explica que só falta arranjar um local, pois dinheiro para as rendas “não é problema”.


9 hoje macau terça-feira 15.3.2016

U

M dono de um barco de pesca fez uma reclamação junto do canal chinês da Rádio Macau afirmando que o seu barco ficou danificado com a queda de um contentor a semana passada, na zona do Porto Interior. Os estragos deverão custar cerca de 200 mil patacas, sendo que a queda do contentor terá afectado mais quatro barcos. O dono do barco referiu que não pode pescar e que não tem fundos para reparar o transporte. Kuok, filha do dono do barco, explicou que “outros donos ficaram insatisfeitos porque a Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA) não emitiu nenhum aviso depois da ocorrência do caso, tendo bloqueado o canal junto dos barcos danificados”. Kuok referiu ter receio que não tenha acesso a uma indemnização. Num comunicado, a DSAMA defendeu que na mesma noite do acidente entrou em contacto com os Serviços de Alfândega para investigar a localização do contentor, por forma a evitar que este afecte a segurança dos restantes barcos. Foi nessa fase que o canal do Porto Interior foi bloqueado, tendo a DSAMA garantido que se mantém a ordem de navegação e que foram emitidos avisos temporários para os barcos. Até ao momento a DSAMA nada disse quanto ao pagamento de indemnizações, mas prometeu ajuda aos donos dos barcos “de acordo com a lei”. F.F.

Contentor em fúria

Porto Interior Dono de barco de pesca exige indemnização

200 mil patacas, valor dos danos provocados pela queda do contentor

DOZE DETIDOS POR TENTATIVA DE ENTRADA ILEGAL

As autoridades detiveram 12 pessoas que ontem tentaram entrar ilegalmente em Macau. De acordo com a rádio Macau, seis têm passaporte vietnamita e os restantes são cidadãos da China. Os vietnamitas foram capturados por volta da uma da madrugada, quando procuravam a nado chegar a terra, perto do Jockey Club. Cerca de duas horas mais tarde, as autoridades capturaram em Coloane um barco suspeito, com seis homens da China. A rádio avança que um desses homens será o cabecilha de uma rede de transporte ilegal de imigrantes da China para Macau e, por isso, foi entregue ao Ministério Público para ser deduzida acusação. Os outros 11 imigrantes ilegais, com idades compreendidas entre os 19 e 49 anos, continuam detidos. De acordo com os Serviços de Alfândega, os homens afirmaram que vinham com o objectivo de encontrar trabalho e para fins de entretenimento. Em 2015, registaram-se 3140 casos de entrada ilegal no território.

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SOCIEDADE


10 ENTREVISTA

CRISTINA BRANCO

Esteve em Macau para um concerto onde mostrou o Fado bem português, ao lado de Mário Laginha. Convidada do Rota das Letras, Cristina Branco fala do percurso marcante da literatura na sua vida, de ser mulher e do sentimento único de ser fadista De estudante de Comunicação Social à música e, mais concretamente, ao Fado. Como é que este caminho aconteceu? Foi tudo muito rápido. De facto, era estudante de Comunicação Social e em determinado momento comecei a interessar-me pelo Fado. Pela música já era muito interessada, já ouvia imenso Zeca Afonso, Chico Buarque, os brasileiros... muito jazz, muito blues. Gostava muito de cantar, mas para mim, claro. Estava tudo lá, apesar de nunca ter imaginado ser cantora na minha vida. A determinada altura surge um convite para ir ouvir uma noite de fados, fui porque na altura estava a descobrir, não o Fado, mas a voz da Amália Rodrigues, porque o meu avô me tinha dado um disco [dela] pelo qual me apaixonei. E fui pela curiosidade de ouvir o som das guitarras ao vivo. Alguém perguntou se podia cantar. Eu cantei e fiquei completamente rendida àquela magia. De facto, sempre que o fado acontece e há aquela empatia com o público, há qualquer coisa ali. Ainda no outro dia, alguém em França me disse isso: há um misticismo que se passa naquela relação dos instrumentos com a voz, da voz com o público, há uma empatia muito grande. Há coisas que não se explicam e foi assim que comecei. Na verdade, todo o meu trabalho de fim de curso foi sempre à volta da música, com o ritmo, com a interpretação... Está aqui no âmbito do Rota das Letras, mas também na sua carreira a literatura está muito presente. Sempre gostei muito de literatura,

SOFIA MOTA

FADISTA

gosto muito de literatura portuguesa, gosto muito escrever e acima de tudo gosto da Língua Portuguesa. Tenho a certeza de que de cada vez que se pega num poema em Língua Portuguesa, um poema de um autor que seja menos conhecido, só pelo facto de ser cantado passa para um público muito mais vasto. Pessoas que se calhar não conhecem determinado autor passam a conhecer, pelo simples facto de alguém o cantar. Porque a música é mais imediata, porque há pessoas que não lêem mas ouvem música. Há uma série de condicionantes para que isso aconteça, portanto a literatura entra por aí e por um gosto especial. Na minha casa sempre houve muitos livros, portanto também faz parte da minha educação. Criou personagens para o álbum “Alegria”. Como é que surgiu esta ideia, normalmente também tão associada à literatura? A intenção não era que fosse um disco exclusivamente virado para a literatura mas no fundo são todos um bocadinho, porque vou sempre pedir [letras] a autores. Os meus discos têm uma vertente muito literária porque eu peço-as a muitos escritores portugueses. No caso do “Alegria” foi talvez mais específico, porque é uma leitura feita por mim antes dos autores. Construi as personagens, fui eu que lhes fiz o BI, disse o que é que elas faziam, como é que se chamavam, de onde vinham e para onde iam, quais eram os sonhos e as angústias e depois dei cada uma aos seus autores e pedi-lhes que escrevessem um poema à volta daquela pessoa. No fundo era criar quase um livro sonoro.

“O Fado só pode ser cantado na Língua Portuguesa” A sua carreira é recheada de colaborações. Como é que funciona este processo? É por empatia acho. E isso acontece quando se gosta muito de determinado autor. As coisas têm que acontecer de forma espontânea e, no caso do Mário [Laginha], uma vez que vamos estar com ele, também foi assim. Trabalhamos na mesma companhia, com a mesma gente, e as coisas acabaram por acontecer naturalmente. A primeira vez que o Mário colaborou comigo foi com “Margarida” que o Camané também gravou e cantou. Na verdade o tema foi feito para o

Camané, mas fui eu a primeira pessoa que o gravou. Perguntei se o Mário gostava de fazer uma música para mim e ele disse ‘olha porque é que não tentas o ‘Margarida’?’ Por acaso, não tenho certeza se foi assim que começou, mas depois fomos fazendo mais coisas. O Mário entra nos meus discos com várias composições. Acontece sempre por acaso, não é uma coisa premeditada. Não acredito na premeditação. O Fado só pode ser cantado na Língua Portuguesa? O Fado só pode ser cantado na Lín-

gua Portuguesa porque é Português. Só se canta em Português porque é uma língua que surge naquele país e é a música certa para se cantar naquela língua. Ao cantarmos noutra língua estaremos a descaracterizar aquilo que é o Fado e, se é suposto termos algo que é nosso, o Fado será certamente uma dessas coisas. Não é que não haja uma tentativa de apropriação, antes pelo contrário, até acho que é um privilégio ver que pessoas de outras culturas cantam o Fado. Mas tenho a certeza que essas pessoas vão cantar o Fado na Língua Portuguesa e não nas suas. Porque isso não seria Fado. Não que também não cante noutras línguas, ou o faça com a guitarra portuguesa, mas interpretar uma música noutra língua com guitarra portuguesa é uma música noutra língua interpretada com guitarra portuguesa. Fado, Fado é em Português. A Cristina tem uma carreira internacional. Como é que acha que os ouvintes que não entendem a Língua Portuguesa percepcionam o fado? As pessoas não percebem Português e acontecem várias coisas nesse processo. Existem pessoas que desconhecem a Língua Portuguesa e de repente se apaixonam e querem saber mais só porque ouviram Fado, outras já conhecem a língua e descobrem o Fado pelo gosto que têm pela língua. Existem várias formas de chegar a uma convergência, que é o Fado. Cantar no Oriente é muito diferente do Ocidente?


“Acho que o último disco é sempre o mais maduro, pelo menos do meu ponto de vista. Não consigo fazer um disco sem que tenha algo para dizer” tenha algo para dizer. Nunca aparece um disco que seja só uma imposição editorial. É mesmo porque tem que ser e, normalmente, são discos que marcam períodos importantes da minha vida. A minha história. O “Menina” é um disco que fala de mulheres. O disco fala de uma mulher que ao chegar a determinada idade, e de ter passado por vários estágios na sua vida, consegue concluir que está de bem com o que aconteceu. “Menina” é também “meninas”, “menina” é várias mulheres também em Português, é a “menina” solteira, é a “menina” prostituta. Na verdade, chamamos a tudo “menina”. Este disco pode ser um auto-retrato, portanto. Acho que é uma homenagem à condição feminina, sendo eu profundamente feminista.

Cantar não, porque estamos a fazer o que sabemos fazer. Mas é diferente. Aqui há uma delicadeza qualquer que não se explica, é tudo muito diferente. Repare neste facto: temos que enviar rigorosamente o nosso repertório para que seja traduzido ao mínimo detalhe, o que impossibilita que possamos fazer alterações ao programa. Isso condiciona tudo, muda tudo. E depois a forma como as pessoas ouvem e o respeito imenso por aquilo que estamos a fazer. Ao deixar cair a última nota, às vezes não sabem muito bem como é que é, onde reagir, como é que fazemos. Batemos palmas agora, ou batemos palmas depois? Nota-se uma certa tensão que é positiva. Acho que há um carinho especial neste género de público quando ouve a nossa música. Vem aí um novo álbum, “Menina”. Qual a expectativa? Acho que é grande. Acho que o último disco é sempre o mais maduro, pelo menos do meu ponto de vista. Não consigo fazer um disco sem que

“Ao cantarmos noutra língua estaremos a descaracterizar aquilo que é o Fado e, se é suposto termos algo que é nosso, o Fado será certamente uma dessas coisas”

Feminista, mulher, mãe, cantora. Como é a gestão desta vida de mulher? É muita coisa. O meu marido costuma dizer que eu consigo abrir e fechar janelas com muita facilidade. A verdade é que quando entro em casa, entro em modo mãe, só e exclusivamente mãe. Não só por mim, mas também por imposição dos meus filhos. Não há cantora, não há artista. Tenho que ser exclusivamente aquilo que eles querem e gosto de o ser. Não gosto de misturar as tintas, mas na verdade, umas coisas entram nas outras necessariamente. A minha atitude enquanto cantora muda a partir do momento em que sou mãe. As coisas acabam por se misturar, é inevitável. Neste estar em Macau, sente alguma identificação? Há sempre qualquer coisa, porque a partir do momento em que vamos andando pela rua e há palavras que surgem em Português, há qualquer coisa que desperta de repente e pensamos: como é que é possível? A dada altura da história de um país, termos entrado em meia dúzia de cascas de noz e chegado a sítios tão longe... isso impressiona nesse sentido. Depois acho que somos sobejamente diferentes para percebermos que estamos a fazer com que haja uma afirmação da Língua Portuguesa e da cultura portuguesa num território que já se afastou de nós. E afastou-se tanto que a língua já só reside apenas em monumentos. O que acho que talvez seja menos correcto é que a língua não seja mais falada, não se ouça mais pela rua, ou que não existam mais referências à Língua Portuguesa. Passou também a ser um monumento. Hoje Macau

11 hoje macau terça-feira 15.3.2016 PUB

ENTREVISTA


12

XI WA

EVENTOS

“Quando a minha mente está cheia, escrevo”

POETA E AUTORA DE “AFTER HEAVEN IS SHANGAI”

UM CONFERÊNCIA SOBRE TECNOLOGIA COM RUI MARTINS

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UI Martins orienta, na próxima quarta-feira, uma conferência sobre a evolução do Laboratório de Referência do Estado de Sinais Análogos e Mistos VLSI da Universidade de Macau (UM). Na conferência, o professor irá abordar a história do laboratório desde a sua criação há 20 anos, até aos dias de hoje, onde se assume como um dos principais laboratórios da especialidade na China. Em discussão, também a sua afirmação no mundo competitivo da electrónica de ponta. Os Laboratórios de Referência do Estado são uma iniciativa do Governo Chinês que surgiu durante o período da política de abertura do início dos anos 80. Estabelecidos em 1984, estes laboratórios têm como premissa permitirem aos cientistas e académicos mais reputados do país conduzirem investigações nas mais diversas áreas para apoiarem o desenvolvimento tecnológico e económico do pais. Rui Martins é vice-reitor da UM e ganhou reconhecimento internacional por via das suas conquistas ao longo dos anos na área da microelectrónica, tendo chegado à instituição em 1992. Recentemente, foi eleito por unanimidade como Membro Correspondente da Academia Portuguesa de Ciências. A conferência acontece amanhã, pelas 17h00 no Edifício de Investigação da UM. As entradas serão gratuitas mas requerem inscrição prévia no site da instituição.

Xi Wa nasceu no Tibete e agora reside em Pequim. Chegou a Macau para mostrar não só os seus poemas, mas também os seus sentimentos. A escritora admite a solidão, mas acredita que cada um tem um destino diferente. Actualmente, confessa, há muitos chineses que se estão a dedicar pura e simplesmente à poesia

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No Sudão, ele foi inspector-chefe até ter visto a sua família ser assassinada às mãos dos islamitas. Agora, exilado no Cairo, Makana procura sobreviver prestando serviços como detective privado. Por sorte, o seu novo cliente tem dinheiro, muito dinheiro: dono de um clube de futebol, Saad Hanafi recorre aos préstimos de Makana justamente para que este encontre a estrela maior da sua equipa, Adil Romario, desaparecido em condições misteriosas.

É a sua primeira vez em Macau? Que impressões sobre esta cidade? Sim, é a primeira vez. Gosto muito deste sítio, visitei o Cotai e percebi porque é que as pessoas do interior da China gostam desta cidade. O modelo de consumo é diferente, já não se importam tanto com dinheiro, mas apreciam o ambiente confortável e a sua beleza. Depois visitei também o Museu de Macau, que é bastante rico. Pareceu-me que os trabalhadores protegem bem os pormenores do museu, com um espírito profissional. Macau traz-me uma impressão muito boa, é pequeno mas é moderno e tranquilo, pode-se observar a civilização, a raiz da cultura e a história de Macau através de pequenos detalhes à vista de todos. No domingo passado, fez uma leitura de poemas no edifício do Antigo Tribunal. Quais os poemas que escolheu para a audiência de Macau? E as suas mensagens? Li dois poemas meus, chamados Shi Tang e Sonambulismo. Quando os escolhi, não pensei em trazer quaisquer sentimentos especiais a Macau. Na verdade, não sou boa a ler poemas e estes dois são os que

domino melhor. E também os que gosto mais. Já teve tempo para apreciar o ambiente literário de Macau? Até agora ainda não contactei com muitos escritores do Rota das Letras. Mas gosto e respeito muito o poeta Yao Feng (Yao Jingmin), que é muito famoso. Escreve muitos poemas clássicos, explora muito a poesia. Parece-me que é muito considerável e elegante, causa-me muito boa impressão. O que já aprendeu com ele? Leio sempre os poemas dele, mas penso que não consigo aprender a escrever como ele. É único e respeito-o muito. Como é que cria as suas obras no dia-a-dia?

“Digo a verdade, com seriedade. Amores, dores… transfiro todos os sentimentos para a poesia”

Consigo ser séria no meu trabalho, mas também sou séria na minha vida, concentro-me e dedico-me completamente a cada assunto que tenho pontualmente. Durante o processo de escrita, escrevo os meus sentimentos, desde as sensações físicas até às mentais. Digo a verdade, com seriedade. Amores, dores… transfiro todos os sentimentos para a poesia. Portanto, escreve o que sente? Cada poeta escreve de forma diferente. Não sou uma pessoa que nunca pára de escrever. Mesmo que sinta algo que me impressiona muito, não escrevo logo, mas guardo no meu coração e relembro muitas vezes até ao momento indispensável, em que a minha mente está cheia, e escrevo. Mas esses sentimentos têm de passar sempre pelo filtro do meu espírito e coração, porque se eles

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HEREGES • Leonardo Padura

Em 1939, o S.S. Saint Louis, onde viajavam novecentos judeus fugidos da Alemanha, passou vários dias ancorado no porto de Havana à espera de autorização para desembarcar. Um rapaz, Daniel Kaminsky, e o tio aguardam no cais a saída dos familiares, confiantes de que estes tentariam os oficiais havaneses com o tesouro que traziam escondido: uma pequena tela de Rembrandt, na posse dos Kaminsky desde o século XVII. Mas o plano fracassou e o transatlântico regressou à Europa, levando consigo qualquer esperança de reencontro e condenando muitos dos seus passageiros. “Hereges” é um romance absorvente sobre uma saga judaica que chega até aos nossos dias e que vem confirmar o autor como um dos narradores mais ambiciosos e internacionais da língua espanhola.


13 hoje macau terça-feira 15.3.2016

EVENTOS

PORTUGAL CASA DE MACAU CELEBRA 50 ANOS E PEDE TESTEMUNHOS

A Casa de Macau em Portugal festeja 50 anos e, para comemorar a efeméride, vai lançar um livro que relata os principais acontecimentos desde a sua fundação em 1966. Por isso, se souber de histórias que se enquadrem neste percurso de meio centenário da Casa, ou se tiver fotografias é convidado a enviar-lhes o seu testemunho. Para efeito, pode mandar um texto até 500 palavras e ainda juntar fotos ou outros documentos que entender relevantes para a história da CMP.

KAREN MOK NO STUDIO CITY

desaparecerem alguns dias depois de terem aparecido não acho que valha a pena escrevê-los. O que conta, o que me importa, é o tempo que ficam guardados em mim, no meu coração. É escritora a full-time? Trabalho também para uma revista e sou organizadora de eventos de pinturas tradicionais chinesas, escrevo também comentários sobre as pinturas. Um dos pintores convidados para o Rota das Letras, Ouyang Shijian, foi sugerido por mim. É muito jovem e pouco conhecido na China continental e o facto de conseguir ter a oportunidade de mostrar as suas obras em Macau faz-me sentir muito comovida. Como avalia o actual ambiente da escrita na China continental? Sou uma pessoa que não contacta

muito com o exterior, mantenho uma distância com outros poetas. Sou uma pessoa que vive com a solidão e acho que não tenho capacidade para comentar [a vida dos outros]. Ou comento, mas não mudo. Faço o que faço, digo a verdade e o que posso estar a

“Penso que, quanto mais experiência tenho, mais consigo expressar os poemas que sinto estarem mais ligados ao meu coração e sinto que estou mais sincera [a escrever]”

sentir, mas também comento o que considero que pode melhorar. Apesar de ser uma pessoa fechada, sei que existe no interior da China um bom número de pessoas que luta pelos seus poemas, que não fazem outras coisas excepto escrever poesia, com muita insistência e exigindo muito deles próprios.

A Xi Wa começou a escrever desde a infância? Eu gosto de poesia desde a infância, mas comecei por escrever romances quando tinha 20 e tal anos. Vários anos depois, pensei ser poeta porque senti que o meu interesse essencial era a poesia. Comecei a vida de poeta desde 2006 e até agora.

Mas acha que as novas gerações lêem muito a literatura do seu país? Nem todos os jovens lêem. Apenas uma pequena parte que tenha gosto, sensibilidade ou talento para a língua [chinesa]. O facto é que muitos jovens não se interessam por poemas e também não é preciso obrigá-los a interessarem-se, porque eu acredito muito no destino: cada um tem o seu gosto e talento para desenvolver: ou filmes, ou pinturas, ou tecnologia.

Já está a preparar novas obras? Neste momento não, porque a criação surge subitamente. Não planeio trabalhos fixos para mim. Mas onde vivo, o que experimento, o que compreendo é sobre o que escrevo. Penso que, quanto mais experiência tenho, mais consigo expressar os poemas que sinto estarem mais ligados ao meu coração e sinto que estou mais sincera [a escrever]. Flora Fong

Flora.fong@hojemacau.com.mo

FRC EXPOSIÇÃO DE PINTURA TRADICIONAL CHINESA INAUGURA HOJE

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ÃO cerca de 40 as obras de dois artistas da pintura tradicional chinesa que vão estar em exibição na Galeria da Fundação Rui Cunha a partir de hoje. Liu Hongxing é conhecido pelas suas obras de pintura de paisagem e Hao Zhiguo é reconhecido pelo seu

alto nível de técnica de pintura de retratos e animais. Os dois artistas são também consultores do Grupo de Jornal e Media do Instituto de Artes de Qingdao. Segundo a organização, “o objectivo desta mostra é estender pontes de criatividade entre Macau

e China, para que os artistas locais e o povo de Macau possam ter mais uma plataforma para conhecer o novo aspecto de arte de pintura de água tradicional chinesa”. A organização está a cargo da Fundação Rui Cunha, da Associação de Promoção da Industria

Cultural e Criativa de Macau, do Grupo de Jornal e Media do Instituto de Artes de Qingdao e da Cultura da Luyart Internacional Limitada. A abertura da exposição está marcada para hoje pelas 16h30, sendo que esta estará patente até ao dia 14 de Abril. A entrada é livre.

No âmbito da sua tournée mundial “Regardez”, a actriz, cantora, compositora, produtora e filantropa Karen Mok vai actuar em Macau no próximo dia 16 de Março. A tour, onde Mok também assume o papel de directora musical, conta com a presença de Arai Soichiro, vencedor do prémio Golden Melody para melhor produtor. Conhecida pelo seu estilo singular e camaleónico, Karen fará do concerto também uma passagem de moda apresentando diferentes visuais, desde um look de mulher fatal do jazz ao de uma fada, para o que contará com a ajuda de uma equipa de famosos designers de Taiwan, França, Indonésia e Hong Kong. Temas como “Diva” e “Faremewell”, ou as baladas “Departures” and “Precious” são de aguardar no alinhamento da artista para além de um solo de guzheng. O concerto acontece amanhã no Studio City, pelas 20h00. O preço dos bilhetes varia entre as 580 e as 1280 patacas.

BRITISH BUSINESS ASSOCIATION OF MACAU COM PALESTRAS MATINAIS

A British Business Association of Macao (BBAM) vai organizar pequenos-almoços com palestras de negócios, sendo hoje o evento inaugural, das 8h00 às 9h00. A ter lugar no Saint Regis, a actividade vai contar com Janet McNab, directora-executiva do Sheraton Macau e do St. Regis, como oradora principal. A “Breakfast Business Briefings” vai acontecer mensalmente, convidando empresários sedeados em Macau ou que tenham por cá aberto novas empresas, “de forma a oferecer perspectivas internacionais e locais” sobre diferentes negócios. O custo do pequeno-almoço com palestra é de 180 patacas, sendo gratuita a entrada a membros da Associação. As inscrições devem ser feitas junto da BBAM.


14 CHINA

hoje macau terça-feira 15.3.2016

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ILHARES de mineiros manifestaram-se este fim de semana na província chinesa de Heilongjiang (nordeste) contra os planos da sua empresa - a estatal Longmay - de eliminar cem mil postos de trabalho, avançou ontem um jornal de Hong Kong. Trata-se de um dos maiores despedimentos em massa no país nos últimos anos e surge num período em que Pequim se esforça para reduzir o excesso de capacidade de produção no sector secundário chinês. De acordo com dados avançados anteriormente pela imprensa estatal, a Longmay Mining Holding Group, que emprega 240 mil trabalhadores, registou perdas anuais de cinco mil milhões de yuan no último exercício. Segundo o jornal South China Morning Post, unidades da polícia armada na localidade de Shuangyashan dispersaram os mineiros que estavam no protesto. Vídeos entretanto difundidos na internet mostram os trabalhadores a gritar

MILHARES EM PROTESTO CONTRA DESPEDIMENTO DE CEM MIL MINEIROS

Eliminação em massa palavras de ordem contra os líderes locais e a exibir cartazes onde se lê: “Queremos viver, queremos comer”.

EM QUE FICAMOS?

No mesmo dia, o governador da província de Heilongjiang, Lu Hao, reconheceu pela primeira vez que existem salários em atraso na empresa, o maior grupo especializado em exploração de carvão no país, prometendo apoios financeiros. As declarações surgem dias após Lu, que se encontra em Pequim a participar na sessão anual do órgão legislativo chinês, ter afirmado que a Longmay não devia “nem um cêntimo” aos seus trabalhadores, o que poderá ter motivado as manifestações. Depois de três décadas a crescer em média quase 10% ao ano, a China cresceu 6,9%, no ano passado, o

“Queremos viver, queremos comer” PALAVRAS DE ORDEM DA MANIFESTAÇÃO

ritmo mais lento do último quarto de século. Até há pouco tempo, os líderes chineses apontavam que um crescimento de 8% era indispensável para “manter a estabilidade social”. Hoje preferem falar de um desenvolvimento mais “sustentável”. De acordo com o Ministério de Recursos Humanos e Segurança Social da China, só nas indústrias do carvão e do aço, a China deverá extinguir 1,8 milhão de empregos ao longo dos próximos anos. Na semana passada, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, confirmou a criação de um fundo de cem mil milhões de yuan para apoiar os trabalhadores despedidos. Nos anos 1990, o nordeste da China, centro da indústria pesada chinesa desde as primeiras décadas após a fundação da República Popular, experienciou o encerramento de várias empresas obsoletas, resultando em dezenas de milhares de despedimentos e consequentes protestos. Quase dois terços da energia consumida na China (66%) é proveniente do carvão.

PUB HM • 2ª VEZ • 15-3-16

ANÚNCIO Execução Ordinária n.º

CV1-15-0129-CEO

1º Juízo Cível

Exequente: 中國工商銀行(澳門)股份有限公司 BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA CHINA (MACAU) S.A., com sede em Macau.----------------------Executado(s): 歐幹威(AU KON WAI), portador do B.I.R. n.º xxx2862(9), residente na Rua Nova do Comércio, n. 20-Edifício “Kam Seng” 4.º andar A.--------------------麥綺雯(MAK I MAN), portadora do B.I.R. n.º xxx2733(8), residente na Rua Nova do Comércio, n. 20-Edifício “Kam Seng” 4.º andar A.-------------------*** FAZ-SE SABER que nos autos acima indicados são citados os credores desconhecidos do executado para, no prazo de QUINZE DIAS, que começam a correr depois de finda a dilação de vinte dias, contados da data da segunda e última publicação do anúncio, reclamar o pagamento dos seus créditos pelo produto do bem penhorado sobre que tenha garantia real e que é o seguinte:-----Imóvel penhorado Denominação: FRACÇÃO AUTÓNOMA, designada por “BD-18”, do 18.º andar BD, para habitação, do prédio sito em Macau, com o(s) n.º 87 a 187 da Rua Sul do Patane, n.º 623 a 655 da Avenida Marginal do Patane, n.º 465 a 583 da Av. Marginal do Lam Mau, e, com os n.º 2 a 180 da Praça das Orquídeas, descrito na Conservatória do Registo Predial de Macau sob o n.º 22136, a fls. 28 do livro B-132, inscrita definitivamente a favor dos executados sob o n.º 191151 do livro G, e na matriz predial da freguesia de Nossa Senhora de Fátima, sob o art. 73245, com o valor matricial de MOP$142.400,00.-------------------------------------------------------- Sobre a fracção autónoma supra identificada foi constituída uma hipoteca definitivamente registada na Conservatória pela inscrição n.º 173474 do Livro C, a favor do banco exequente, BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA CHINA (MACAU) S.A., com sede em Macau.---------------------------------------------R.A.E.M., 29/02/2016

ACTIVISTA ADVERTE PARA PERIGOS VINDOS DE TRUMP

XI JINPING APELA À “INOVAÇÃO” NAS FORÇAS ARMADAS

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O

M antigo líder do movimento pró-democrático estudantil chinês de Tiananmen em 1989 criticou ontem o aspirante a candidato à Casa Branca Donald Trump, advertindo que os Estados Unidos arriscam abandonar as suas preciosas liberdades. Wu’er Kaixi afirmou estar a falar em nome dos dissidentes chineses que existem em todo o lado ao condenar o magnata do imobiliário, que na semana passada descreveu os protestos de 1989 em Pequim como um “motim”. “Depois de 27 anos no exílio desde esse ‘motim’ (…) eu penso que posso falar por qualquer companheiro chinês exilado e preso ao condenar Trump”, escreveu Wu’er Kaixi num comentário publicado na sua página oficial no Facebook. “Não estou sozinho ao apelar a cada norte-

-americano que ofereceu refúgio aos chineses, incluindo a mim (...), para pôr de lado disputas partidárias e unir-se contra Trump”, sublinhou o activista chinês. Para Wu’er Kaixi, o magnata republicano é “inimigo dos valores pelos quais os Estados Unidos se definem: os mesmos valores que há muito têm dado esperança às vítimas de poderes opressivos em todo o mundo” “Aqueles de nós que lutaram pelas liberdades em qualquer lugar no mundo temem que algo esteja prestes a mudar nos Estados Unidos América”, acrescentou. Wu’er Kaixi viveu nos Estados Unidos depois de fugir da China na sequência dos protestos, estando a viver em Taiwan há duas décadas. Tentou voltar à China, por várias ocasiões, mas a entrada foi-lhe sempre negada.

Presidente da China, Xi Jinping, instou no domingo o Exército de Libertação Popular (ELP) “a inovar-se em todos os aspectos”, afirmando que os próximos cinco anos serão cruciais para o desenvolvimento da Defesa nacional. “Acapacidade de inovação é um factor-chave que vai determinar o futuro das Forças Armadas chinesas”, apontou Xi, durante um encontro com legisladores do ELP, naAssembleia Nacional Popular (ANP). Xi, que é também presidente da Comissão Militar Central (CMC), o braço político do ELP, sublinhou a “importância estratégica” do desenvolvimento de tecnologias militares de ponta. Além de visar a modernização do aparelho militar chinês, a reforma no exército, com conclusão prevista para 2020, pretende reforçar o controlo “centralizado e unificado” da CMC. Em Novembro passado, Xi disse não querer que restem dúvidas sobre a “liderança absoluta” do Partido Comu-

nista Chinês (PCC) nas Forças Armadas, para que estas se mantenham na “direcção política certa”. A sessão anual da ANP, o órgão máximo legislativo chinês, decorre até amanhã, em Pequim, e irá definir o 13.º Plano Quinquenal, que norteará a política económica do país entre 2016 e 2020. Os cerca de 3.000 delegados deverão aprovar um aumento de 7,6% no orçamento para a Defesa, face ao ano passado, para 954 mil milhões de yuan, o menor crescimento desde 2010. Desde finais dos anos 1990, os gastos militares da China avançaram cerca de 600%, tendo em conta a inflação, e ultrapassaram quase sempre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Como resultado, a China, que tinha um orçamento militar inferior ao de Taiwan - ilha que Pequim considera uma província sua - tornou-se o segundo país do mundo com mais gastos naquele sector, superado apenas pelos EUA.


luz de inverno

Boi Luxo

Guy Maddin, Peter Tscherkassky.

Dreams Visions Madness

S

E o cinema fosse mais Maddin andávamos todos bem regalados e com uma vida prenhe de cores misteriosas. Prenhe é uma boa palavra porque carrega um sentido viscoso e cheio e os filmes de Maddin também. O primeiro filme que dele vi, My Winnipeg, 2007, passou num ciclo do Centro Cultural de Macau como sendo um documentário. Não sei se é. Um crítico do The Guardian, estupidamente, afirma que, lembrando um pun de Eliot que transmite que um livro como Finnegans Wake é suficiente, um filme como The Forbiddem Room chega, quando, na verdade, muitos filmes deveriam ser assim. Há poucas décadas, tomar um banho era um ritual semanal, o banho de sábado, o Grande Banho da Semana. Hoje em dia, inutilmente, toma-se banho todos os dias. Assim como os banhos, também os filmes se tornaram banais. How do I know this? People have told me, that’s how. Depois de se ver The Forbidden Room (de 2015, co-autorizado por Evan Johnson) nada parece improvável e temos de aceitar o que nos é dito. Como pode um capitão de um pequeno submarino desaparecer e, ao invés, ser substituído por um homem da floresta que subitamente aparece aos 4 marinheiros que a pequena cápsula náutica alberga? É difícil de acreditar mas está lá, bem patente, em cores antigas, para todos verem. Nem tudo se passa no interior do submarino. Intercala-se esta história com uma de lenhadores que se prestam a salvar uma mulher bonita do encarceramento a que a obrigaram os homens do grupo dos Lobos Vermelhos. Os filmes de Guy

h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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estão cheias de mulheres bonitas. As provas de admissão ao primitivo grupo são terríveis e incluem Bater numa Bexiga ou Empilhar Vísceras. Nem todos são admitidos. Outras sub-tramas preenchem o filme, episódios de amor; bastante sexo e um louco que escapa de um comboio que faz a ligação entre Berlim e Bogotá; uma história faustiana; numa lógica de histórias dentro de histórias, ao contrário de, por exemplo, Brand Upon the Brain!, 2006, que segue apenas uma trama autobiográfica (ver o doc. 97 Percent True). Não tendo visto Keyhole, de 2012, não sei bem que tipo de evolução poderá ter-se dado, para lá da escolha de um conjunto de episódios pouco relacionados uns com os outros. As histórias de The Forbidden Room aparecem envoltas num aspecto de filme mudo de cores saturadas, muitos truques e uma música sedutora, um aspecto dos seus filmes que não é secundário, a par do resto do tratamento do som, mas que Maddin molda de um modo muito subtil, por vezes quase inaudível (ver o curta metragem de Maddin Footsteps). Brand Upon the Brain!, que foi praticamente todo filmado com câmaras de Super 8 e se passa todo ele numa ilha que alberga um orfanato, mantém sempre uma intoxicante estética do mudo, com o uso frequente de intertítulos e de imagens coadas por um filtro redondo. Não é difícil de perceber que a estética do cinema mudo - uma época de liberdade, experimentação e surpresa - sirva, com a sua dimensão obsessiva e onírica, de subtexto a muitos filmes contemporâneos. Difícil de perceber é que alguém diga que não são precisos mais filmes destes, excessivos e belos.

A propósito de The Forbidden Room recordo um autor que utiliza material já filmado para compor as suas peças, Peter Tscherkassky. Ambos exibem um trabalho aturado e saturado de manipulação de imagens. Outer Space, 1999, (9:58min.), é o melhor filme de terror/ficção científica que há, uma espécie de Benilde ou a Virgem Mãe com apenas uns minutos - a ameaça do que vem do espaço. No seu repetitivismo martelado e cubista espelha filmes normais que nos lembram que, quando menos esperamos, a nossa vida banal pode sofrer uma súbita transformação. Outer Space, assim como outros filmes seus, utiliza imagens do filme de 1981, The Entity, de Sidney J. Furie, em que uma mulher é violada por uma força misteriosa. Diferentemente do cinema estrutural de, a exemplo austríaco, Kurt Kren, os filmes de Tscherkassky mantém uma linha narrativa suficiente ao seguimento de uma pequena trama. Os seus filmes são muito curtos mas levam anos a fazer (não são muitos) porque são minuciosamente trabalhados, fotograma a fotograma, um labor de amor e de paciência. Há outros autores austríacos que usam footage de outros filmes, como Martin Arnold*. Estes não são os únicos austríacos vanguardistas. O cinema austríaco, não sendo um cinema poderoso, tem um conjunto firme de cineastas de vanguarda. A Tscherkassky juntam-se Peter Kubelka, Kurt Kren, Valie Export, Lisl Ponger (autora do delicioso Passagen) ou Martin Arnold, para além de autores mais recentes**. Dream Work, 2002, (11min.), tem semelhanças com a sua fantasia científica,

um desconforto doméstico desta feita onírico (o de Outer Space é real) repetitivo e noisy, próprio ao prolongamento da agonia e do mistério, oferecido em apreciação à arte cinematográfica de Man Ray. Usa metragem do filme de S.J.Furie acima referido. Instructions for a Light and Sound Machine, 2005, (16:21min.), é um western. Mostra-nos minuciosamente o que se passa no íntimo deste género, de uma maneira que num western clássico não vemos, a minúcia do tiro e o momento entre a vida e a morte. De certo modo, o cinema é sempre a visão de um comboio a chegar a uma estação ou de um grupo de operários a sair de uma fábrica. Esta curta usa fita de The Good, the Bad and the Ugly, 1966, de Sergio Leone. Manufraktur, 1985, (2:54min.), é um outro filme fracturado ou fragmentário, com carros e textos publicitários. Porsches, um Peugeot 404, um Lancia Fulvia e acho que um Ford GT. Gosto muito, é muito ruidoso e quase irritante. Espero com indisfarçada ansiedade uma fantasia sexual, The Exquisite Corpus, último filme de Tscherkassky, estreado no passado Festival de Cannes.

* ver A.L.Rees, A History of Experimental Film and Video. ** Tscherkassky é responsável por um livro, publicado em 2012, sobre esta matéria: Film Unframed: A History of Austrian Avant-Garde Cinema, e é o fundador da sixpackfilm, uma organização destinada à promoção da experimentalia austríaca (co-editora do livro acima referido). Existe também uma editora de DVD chamada Index cujo intento reside na divulgação de filmes e vídeos experimentais austríacos.


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Yao Feng

Poema e foto

Donos esta cidade que nos alimenta, este céu que nos faz crescer as asas, este rio que nos testemunha os doces momentos, bem como estas janelas que nos ignoram os segredos são sempre nossos se sempre estamos juntos


17 hoje macau terça-feira 15.3.2016

TEMPO

C H U VA

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FRACA

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

MIN

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MAX

18

HUM

75-90%

EURO

8.88

BAHT

ABERTURA DE EXPOSIÇÃO DE PINTURA TRADICIONAL CHINESA Fundação Rui Cunha, 16h30

Amanhã

O CARTOON STEPH

CONFERÊNCIA SOBRE TECNOLOGIA COM RUI MARTINS Universidade de Macau, 17h00

Diariamente EXPOSIÇÃO “MA-BOA, LIS-CAU”, DE CHARLES CHAUDERLOT (ATÉ 19/03) Museu de Arte de Macau Entrada livre EXPOSIÇÃO “UM SÉCULO DE ARTE AUSTRÍACA” (ATÉ 3/04) Museu de Arte de Macau Entrada livre

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 48

EXPOSIÇÃO “CAIXA DE MÚSICA” (ATÉ 3/04) Museu da Transferência Entrada a cinco patacas

Cineteatro

C I N E M A

PROBLEMA 49

UMA SÉRIE HOJE

SUDOKU

DE

HISTÓRIA NAVAL (ATÉ 9/04) Arquivo Histórico de Macau Entrada livre

YUAN

1.23

A BELEZA DAS PALAVRAS DESENHADAS

LANÇAMENTO DA OBRA “DICIONÁRIO CRONOLÓGICO DA IMPRENSA PERIÓDICA DE MACAU DO SÉCULO XIX (1822-1900)”, DE DANIEL PIRES Academia Jao Tsung-I, 18h30 Entrada livre

ROTA DAS LETRAS: “LEMBRANDO BOCAGE” COM DANIEL PIRES, PEDRO BARREIROS E MARIA ANTÓNIA ESPADINHA Antigo tribunal, 19h00

0.22 AQUI HÁ GATO

ROTA DAS LETRAS: “WORKSHOP DE ESCRITA CRIATIVA” COM BENGT OHLSSON Universidade de Macau, Departamento de Inglês, 10h00

ROTA DAS LETRAS: “LITERATURA GUINEENSE: EVOLUÇÃO E PERSPECTIVAS” COM ERNESTO DABÓ Antigo tribunal, 18h00

(F)UTILIDADES

Sou um gato que encarna Macau na perfeição, já que falo as duas línguas oficiais. Mas isso não deixa de me surpreender sempre que vejo traduções de uma língua para outra. Tenho dado umas voltinhas ali pelo edifício do antigo tribunal, onde decorre um festival literário, e deparei-me com poetas portugueses traduzidos para Chinês. Confesso que, por alturas em que já devo estar na minha segunda vida, continuo a surpreender-me com estas pequenas grandes coisas. Traduzir um livro Português, e ainda por cima de poesia, para Chinês, é como subir uma montanha muito alta e, lá no topo, quase morrer ofegante. Ainda assim, haverá gente disposta a escalar estas montanhas, pequenas ou grandes, para levar as palavras portuguesas à China e aos falantes de Mandarim. São esforços feitos de forma quase individual, quase como aqueles atletas que competem sem apoios do Governo, apenas por amor à camisola. Traduzir do Português para Chinês ainda é isso, sem esquecer as grandes apostas que já se vão fazendo da parte de instituições locais. Mas não há uma máquina oleada que traduza e ponha a vender essas traduções em grandes mercados. Talvez isso surja quando eu estiver na minha terceira vida. Pu Yi

“POWER” (COURTNEY KEMP AGBOH, 2014)

Um clube nocturno transformado em casa de lavagem de dinheiro para um dos maiores traficantes de droga de Nova Iorque. Mas Ghost (Omari Hardwick) não sabe se quer continuar com o lado ilegal da sua vida e tem, diariamente, de balançar duas escolhas... Produzida pelo rapper 50Cent, responsável também pela banda sonora, esta série é de prender ao ecrã desde o primeiro episódio. Joana Freitas

THE DIVERGENT SERIES: ALLEGIANT SALA 1

GODS OF EGYPT [B]

Filme de: Alex Proyas Com: Nikolaj Coster-Waldau, Brenton Thwaites, Gerard Butler 14.30, 16.45, 21.30

MERMAID [B]

FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Stephen Chow Com: Deng Chao, Show Lo, Zhang Yu Qi, Jelly Lin 19.30 SALA 2

THE DIVERGENT SERIES: ALLEGIANT [B]

Filme de: Robert Schwentke Com: Shailene Woodley, Theo James, Jeff Daniels, Naome Watts, Maggie Q 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 3

LONDON HAS FALLEN [C] Filme de: Babak Najafi Com: Gerard Butler, Aaron Eckhart, Morgan Freeman 14.15, 16.00, 17.45, 21.45

THE ROOM [B]

Filme de: Lenny Abrahamson Com: Brie Larson, Jacob Tremblay, Joan Allen, William H. Macy 19.30

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


18 hoje macau terça-feira 15.3.2016

RUI TAVARES

in Público

Quem rebenta primeiro?

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Á uns anos era difícil imaginar como se podia chegar ao fascismo. Agora é quase mais difícil não imaginar outra coisa. Há demasiados lugares no mundo onde a catástrofe política está a um par de eleições de distância — ou menos. E em vários outros lugares, da Rússia à Hungria e à Turquia, o futuro já chegou — só está, como dizia o outro, mal distribuído. O grande jogo global é hoje a vontade de colapso. Por um lado, essa vontade de colapso é o resultado da concorrência entre poderes: cada senhor neo-feudal está investido em saber quem rebenta antes, se ele ou os seus adversários. Fora das elites, a obsessão pelo colapso é apenas o reverso da falta de horizontes. Sem nada de positivo a poder imaginar para o país, o continente ou o mundo, resta temer — ou antecipar — o seu declínio com estrondo. O seguinte exercício é revelador. Escrevam num motor de busca da internet o início de uma frase com o nome de um país, federação ou região do mundo. Como é hábito, o computador preencherá o resto da frase com as buscas mais populares no mundo. Fiz esta pesquisa principalmente em inglês, mas imagino que noutras línguas a coisa não será muito diferente. Se escrevermos “irá a Rússia...” o computador completa — “...atacar a Turquia?”. A segunda opção mais popular é “colapsar”? “Irá a Europa...” — “colapsar?”. Em segundo lugar, a pergunta mais popular era se o euro iria subir. A terceira, se o euro iria desaparecer. “Irão os Estados Unidos...” — “atacar o ISIS?”. Em segundo lugar: “colapsar?”. “Irá a Turquia...” — “invadir a Síria?”. “Colapsar” é a segunda pergunta mais popular. Para o Brasil, a pergunta mais popular (em inglês) é se conseguirá organizar os jogos olímpicos a tempo (em português é: “será que o Brasil tem jeito?”). Para o Japão é se irá afundar-se. Para a China, “colapsar”. Para a Arábia Saudita, “colapsar”. Para o Egipto, “colapsar”. Para o Reino Unido — “sair da UE?”. Para a Alemanha “crescer de novo?” mas logo seguida de “fechar as fronteiras?”. Para a França, todas as perguntas são belicis-

KATHRYN BIGELOW, THE HURT LOCKER

OPINIÃO

“O grande jogo global é hoje a vontade de colapso.” tas: “invadir a Síria?”, “bombardear a Síria?”, “atacar a Síria?”. A Espanha: “dividir-se?”. E o mundo: “irá acabar?”, “acabar em 2016?”. Enfim. Perguntas optimistas, só duas: “irá a Índia tornar-se numa superpotência?” e “irá o Irão crescer sem sanções?”. Já agora, as mais populares perguntas sobre Portugal (em inglês) são, em primeiro lugar, se “irá unir-se com a Espanha”, e em segundo lugar “ganhar o Euro2016”. Só em terceiro se “irá sair do euro”. Alguns dirão que

isto demonstra a pouca validade do exercício. Mas em português os resultados são mais sugestivos: “será que Portugal vai melhorar?”. Em segundo lugar a triste pergunta: “será Portugal um país desenvolvido?”. Desta volta pelo estado de alma mundial não resulta nenhuma pergunta esperançosa: ninguém quer saber que país ou continente vai chegar a Marte, descobrir a vacina contra o zika ou atingir o pleno emprego. O mundo está profundamente mergulhado no pessimismo. Mesmo quando não perguntamos sobre países. Sabem o que acontece se escrevermos, em inglês, “será q...”? O computador (ou a consciência global por detrás dele) responde logo, pressuroso: — “será que Trump ganha as eleições?”.


19 hoje macau terça-feira 15.3.2016

OPINIÃO

sexanálise

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Alguns factos (no feminino)

STES não são os segredos do sexo no feminino, esses deixo ao critério de cada um descobri-los a seu tempo. E quando eu digo descobrir, refiro-me à contínua exploração que, na individualidade e em conjunto, deve ser exercitada e promovida. Há, contudo, informações sobre bem-estar sexual que merecem alguma atenção. Aqui vai uma pequena nomeação de factos no feminino, para a mulher emancipada e para o homem que a acompanha.

JEAN-LUC GODARD, LE MÉPRIS

TÂNIA DOS SANTOS

MENSTRUAÇÃO

Dizem os estudos, e até a cultura popular, que os homens não têm grande interesse em envolver-se no acto sexual quando o ‘Benfica joga em casa’. Não há grande mistério nisso. O que os estudos também mostram é que as mulheres estão muito mais propensas a atingir o orgasmo em dias mais sangrentos. Para além de que, para curar dores menstruais incomodativas, não há eficácia que iguale os orgasmos, uma forma não-medicamentosa para ajudar ao bem-estar. Ademais, e tentando não ser muito gráfica, este é um período especialmente lubrificado. Mas, é claro, percebe-se a aversão. O cenário pós-sexo em menstruação mais facilmente se assemelhará a um cenário de chacina. Recomenda-se o evitamento de lençóis brancos e talvez vislumbrar a possibilidade de gozar o tempo em conjunto na banheira, com superfícies muito mais fáceis de serem limpas. Compreendo que pondo assim as coisas, o sentimento gore e sangrento continue a ser impossibilitador. Contudo, a menstruação é normalíssima. Vivam com isso, os dois.

VIBRADORES

Os vibradores foram criados como terapêutica para a histeria. Para quem não sabe, a histeria caracterizava-se como uma popular condição psicológica exclusivamente feminina durante o séc. XIX, de sintomas somáticos fortes. A razão seria uma má resolução sexual e por isso teria que ser compensada com artefactos. Actualmente, vibrador é o brinquedo sexual por excelência e o bestseller de qualquer sex shop pelo mundo. Os inquéritos sugerem que as mulheres começam a considerá-lo como um objecto doméstico essencial, para as solteiras e as casadas. O aspecto ‘sketchy’das sex shops é que ainda impedem uma frequência mais normalizada. Espera-se que sempre

que mulheres (ou casais) comecem a exigir um serviço de vibradores especializado e de qualidade, o estigma associado a usuários de lojas de sexo decairá. Quanto mais comum, mais normal se tornará. Porque as possibilidades para um vibrador na vida amorosa do casal são quantas as que queremos ter. Duas palavras em interrogação: Penetração dupla?

A CARECA LÁ EM BAIXO

Os pêlos púbicos são agora, mais do que nunca, alvo de grande desdém. O que começou

por uma prática feminina espalhou-se para uma prática masculina também. Em certos círculos sociais, quanto menos peludos na zona genital, melhor. A preferência começa a ser cada vez melhor disseminada graças à pornografia e à disponibilidade de casas de depilação que prometem um serviço pêlos free. Há quem se sinta mais limpa(o) ou higiénica(o) com os seus genitais descobertos do arbusto que a puberdade fez crescer. Mas qualquer que seja a preferência é sempre bom insistir que os incomodativos pêlos existem

“Essa discreta pontinha alimentada por sensivelmente 8000 nervos é causadora de muito prazer e não pára de crescer. (...) Não esquecer que é o único órgão no corpo da mulher dedicado exclusivamente ao prazer e ao orgasmo (o ponto G é um candidato ao mito urbano) e por isso há que tratá-lo bem, e o parceiro que se encarregue dos cuidados também”

como uma barreira protectora de infecções e inflamações, e que por isso a sua ausência expõe alguma vulnerabilidade. Agora que os cavalheiros ficam contentes com uma careca quando o trabalho é oral, isso, sem dúvida. Diz-se muito mais confortável.

CLITÓRIS

Essa discreta pontinha alimentada por sensivelmente 8000 nervos é causadora de muito prazer e não pára de crescer. Sim, quando se chega aos 80 anos o nosso tão especial orgão sexual estará 2.5 vezes maior do que na purbedade. Diferenças pouco visíveis mas que poderão justificar o sexo fantástico das senhoras octogenárias. Não esquecer que é o único órgão no corpo da mulher dedicado exclusivamente ao prazer e ao orgasmo (o ponto G é um candidato ao mito urbano) e por isso há que tratá-lo bem, e o parceiro que se encarregue dos cuidados também. Para a semana há mais.


O primeiro pregão da luz insegura, / a cercada voz do azul das ilhas, / a marítima sombra das palmeiras / ardendo entre as águas e a bruma.” Eugénio de Andrade

terça-feira 15.3.2016

À procura de equilíbrios China Reformas para pacificar Uber e táxis convencionais

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Governo chinês anunciou ontem que prepara reformas legais para os táxis convencionais e os novos aplicativos de transporte móveis, como o Uber, após mais um ano de disputa entre aqueles dois serviços. Segundo explicou o ministro dos Transportes chinês, Yang Chuantang, especialistas e membros do sector estão a debater o estabelecimento de novas regulações, visando uma “profissionalização” dos serviços móveis, que inclui ainda empresas chinesas, como o Didi Kuaidi. “Novos produtos chegaram progressivamente a PUB

cidades onde a relação entre a oferta e a procura não é equilibrada, causando instabilidade no mercado”, explicou Yang, numa conferência de imprensa à margem da sessão anual da Assembleia Nacional Popular, o órgão legislativo chinês. “Isto exige administração e reformas institucionais”, realçou. O responsável chinês lembrou que o conflito entre os

táxis tradicionais e os novos aplicativos não é exclusivo da China, citando os protestos levados a cabo por taxistas em Madrid e Paris, e assinalou que algumas práticas “não são viáveis a longo prazo”. “Os subsídios (atribuídos a passageiros e condutores), por parte de empresas de transporte, procuram aumentar a sua quota de mercado a curto prazo e são competitivamente injustos para os táxis”, disse.

NOVA ERA

Os atritos entre os serviços móveis e os operadores de táxis convencionais provo-

caram já a proibição daqueles aplicativos em algumas cidades chinesas e investigações por alegada prática de concorrência desleal. No entanto, os serviços de transporte ‘online’continuam a expandir-se no “gigante” asiático, acompanhando o rápido aumento do número de internautas no país - 688 milhões. O ministro chinês instou ainda os táxis a adaptarem-se à nova era criada pela internet, que abriu espaço para “serviços diversificados”, para que haja lugar para novos competidores, permitindo “ao mercado ditar os preços”.

MORREU NICOLAU BREYNER

O actor Nicolau Breyner morreu, esta segunda-feira, aos 75 anos. O corpo do actor foi encontrado em casa, por volta das 15h00, depois de Nicolau Breyner não ter aparecido na sua escola, a Nicolau Breyner Academia, nem atender os telemóveis. O actor estava desde Outubro a gravar a telenovela A Impostora, para a TVI, que ainda não estreou. A morte decorreu na sequência de um ataque cardíaco, de acordo com a TVI24. Recorde-se que em 2009, foi diagnosticado ao artista um cancro na próstata. João Nicolau de Melo Breyner Lopes nasceu a 30 de Julho de 1940


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