Hoje Macau 15 ABR 2016 #3552

Page 1

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

SEXTA-FEIRA 15 DE ABRIL DE 2016 • ANO XV • Nº 3552

HOJE MACAU

hojemacau

ALZHEIMER

TERRITÓRIO DESCONHECIDO

Reféns do esquecimento

OPINIÃO

RELATÓRIO

Debate Rua Direitos de sobre por linhas rodas Macau tortas PÁGINA 4

ANDRÉ RITCHIE

PÁGINA 6

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

Capitão Elliot

JOSÉ SIΜÕES MORAIS

Ponto cego

ANABELA CANAS

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

TÁXIS | AL

h

PUB

GRANDE PLANO


2

C

HOI Chi Kin chegou a Macau nos anos 80, vindo de Fujian. Durante toda a vida foi professor de Química e a paixão pela matéria ainda não desapareceu. Explica-nos a tabela periódica, ainda que as nossas perguntas sejam outras. Fala-nos dos símbolos químicos que mais o fascinam e quase nos dá uma aula em Mandarim, enquanto nos sentamos com ele no Lar de Idosos Pou Tai. “Sou professor, sempre fui, e quis vir para Macau para dar aulas, mas a maioria aqui fala Cantonês”, diz-nos surpreendido. “Gosto de Macau. Quando estudava, fazia muitas perguntas aos professores. E os meus alunos também me perguntam coisas. Vocês sabem qual é o símbolo químico para...”. A conversa é interrompida pelo filho de Choi, que tenta regressar ao tema de que estamos a falar. É ele quem nos conta a história do pai. Agora com 82 anos, o idoso foi diagnosticado em Maio do ano passado com Alzheimer – está melhor, mas as memórias vão e raramente voltam. “O cérebro dele não é equilibrado. Quando foi diagnosticado ficou deprimido, raramente falava. Não se queria mexer e não entendia o que outros diziam.” O idoso reconhece o filho e assegura-nos que lhe ensina Química todos os dias. Rimos. O jovem abraça o pai e diz-nos com um sorriso rasgado que ele vai melhorar. Mas a verdade é que o Alzheimer continua a gerar muitas dúvidas. O primeiro caso documentado da doença foi também o que deu origem ao nome pelo qual hoje a conhecemos: Alois Alzheimer foi o médico que diagnosticou Auguste Deter, uma mulher que contava apenas 50 anos quando foi internada numa unidade psiquiátrica por não se recordar das mais básicas rotinas diárias – um elemento comum aos pacientes de hoje, que se esquecem de como lavar os dentes, ir à casa de banho ou até comer. Corria o ano de 1901 quando o médico alemão recebeu Auguste, mas Alzheimer nada conseguiu fazer até que, em 1906, uma autópsia ao cérebro da paciente lhe permitiu descobrir placas no cérebro, que ficam degenerados com “buracos”. O cérebro diminui e o resto é, ainda, um mistério. Mais de cem anos depois, sabemos que o Alzheimer é um tipo de demência que não está sequer associado à idade, como se interpretava há anos atrás. E pouco mais. “Pertence ao leque da demência. Mais de 50% dos casos de demência dependem desta doença.

ALZHEIMER FALTA DE CONHECIMENTO DA DOENÇA DIFICULTA VIDA DOS PACIENTES

LABIRINTOS ´ DA MEMORIA

Diz-se que as memórias são o nosso bem mais precioso. Mas, e quando elas nos falham, sem percebermos porquê? O Alzheimer continua a ser um assunto desconhecido, num território onde o envelhecimento populacional é uma das certezas do futuro O mais provável é manifestar-se depois dos 65 anos, mas há casos de pessoas - que chamamos de precoces – que a têm mais cedo”, explica-nos Ip Ka Hong, médico do São Januário. “O estado de degradação do cérebro depende da pessoa. Diferentes pessoas podem apresentar diferentes manifestações. Às vezes conseguem ser estáveis, mas a maioria evolui muito rápido. Não conseguimos prever. Na verdade, o que causa o Alzheimer a comunidade médica não sabe. Conhecemos a patologia, a existência de proteínas anormais. Sabemos que não há cura.”

ENTENDER O DESCONHECIDO

A dependência da família – ou de assistentes sociais – é algo inevitável. Da mesma forma, a paciência

HOJE MACAU

GRANDE PLANO

e o saber lidar com a situação é algo que tem de ser aprendido – tanto para o paciente, como para quem dele cuida. E algo que nem sempre é fácil. “É sem dúvida um grande fardo para a família. Não o podemos negar. Os centros de dia ajudam a que, pelo menos, a família possa descansar um pouco.” Em Macau, existem estes locais, bem como a Associação da Doença deAlzheimer, da qual é director Zeng Wen. O médico explica ao HM que a intenção é promover conhecimentos da doença e técnicas de cuidado. Esta, como em todo o mundo, ainda é bastante desconhecida e prova disso são os testemunhos das pessoas com quem falámos. Foi só quando caiu pela segunda vez que os médicos perceberam

que algo de errado se passava com Choi Chin Kin. “Deixou de conseguir andar. Deixou de se lembrar de algumas coisas”, diz-nos o filho, o mais velho de três irmãos e o único em Macau. A mãe morreu há 20 anos, algo que não sabemos se Choi se recorda. Choi está no lar apenas durante o dia, já que o filho pode tratar dele em casa. “Pagamos mil patacas por mês para ele ficar aqui de manhã até ao fim da tarde. E os serviços são muito bons”, conta-nos. Mas este não é o caso de todos. Estamos num consultório do São Januário, onde os Serviços de Saúde nos apresentaram alguns pacientes. Chan Chok I não responde a quase nada e é a nora que nos ajuda a perceber a sua história.

“O cérebro dele não é equilibrado. Quando foi diagnosticado ficou deprimido, raramente falava. Não se queria mexer e não entendia o que outros diziam” FILHO DE CHOI CHI KIN DOENTE DE ALZHEIMER

Tem 80 anos e foi diagnosticada há um ano e meio. Ainda consegue fazer as coisas do dia-a-dia, mas raramente sai de casa. “Dorme, come, vê televisão.” Vivia na China e veio para Macau há 20 anos, onde trabalhou numa fábrica de roupa. “Quando era mais nova fazia tudo. Agora, ainda cozinha e o que mais gosta é de chamar os netos para comer. Eles dizem que ela é uma chata, o foco dela é só esse. Sugerimos que vá passear para os jardins ou que fique em centros de idosos, mas não quer. Só quer cozinhar e chamar os netos para comer”, relata a nora. É ela quem principalmente toma conta da idosa e é ela que nos diz que, ainda que consiga fazer coisas sozinha, Cheang “confunde as horas do dia e da noite”. As únicas palavras que conseguimos arrancar da idosa é que gosta muito de arroz. E gosta de ver canal português da TDM. Foi por ter que repetir várias vezes as mesmas coisas que a família se apercebeu que algo não estava bem. O que é preciso, garantem os especialistas, é ter atenção aos sintomas. Porque estes existem, só que são muitas vezes associado à idade: é a senilidade, o velhote que já não tem juízo. “Podemos ter como alarmantes a perda de memórias que afectam a rotina profissional e pessoal.


3 hoje macau sexta-feira 15.4.2016 www.hojemacau.com.mo

“O que causa o Alzheimer a comunidade médica não sabe. Conhecemos a patologia, a existência de proteínas anormais. Sabemos que não há cura”

Não conseguem planear as coisas. Ficam confusos com o espaço e o tempo. Não se conseguem expressar e esquecem-se de como ler ou escrever. Estão sempre à procura de coisas que não sabem onde puseram”, indica Ip Ka Hong. Choram, riem. Têm medo da própria família, para eles, por vezes, meros desconhecidos.

QUEM FUI, QUEM SOU?

IP KA HONG MÉDICO DO SÃO JANUÁRIO HOJE MACAU

Imagine-se a fazer o caminho que faz todos os dias, do trabalho para casa. Agora, imagine que tudo à sua volta é estranho e que está num sítio que nunca viu. É assim a vida de Chan, desde que lhe foi diagnosticada a doença em 2010, depois da família achar estranha as suas mudanças de humor. Passeamos com ele ao longo de corredores que poderiam despertar memórias não fosse a doença não o permitir: fotografias de Macau remetem-nos para profissões que já não existem, para locais a preto e branco que deixaram de ser novos. Chan tem 75 anos e está já num estado muito avançado da doença, que progrediu rapidamente. Não se lembra da filha, com quem falamos, e está a dificultar-lhe muito o passeio que ela o obriga a fazer para que as pernas não se esqueçam de como se anda. “Até conseguia tratar dele próprio até ao ano passado. Agora nada. É frustrante.”

Nasceu na Tailândia e foi um empresário que sempre valorizou os negócios e os amigos. “Adorava falar com as pessoas e viajar, sobretudo na China continental.” Formou-se em Inglês e não esqueceu esta língua, nem o Tailandês com que fala às vezes com a filha, que não a percebe. “Fica acordado à noite e dorme de dia. Adorava correr, nadar e montanhismo. Agora, a sua conversa não faz sentido.” No seio familiar, o desespero existe, como o HM comprovou com algumas famílias. Até porque há coisas que não se entendem: como é que um doente consegue lembrar-se da sua infância ou adolescência e se esquece que há 40 anos teve um filho. O doutor Ip explica: “é sabido que o hipocampo é responsável por recolher as memórias mais ‘recentes’. A proteína que degenera o cérebro com a doença deposita-se maioritariamente aí e no lobo temporal frontal (adjacente ao hipocampo).” Como Choi, Chan está num lar durante o dia. Mas, além das poucas ajudas que as famílias se queixam de ter, há ainda os custos daquela que é “a mais cara doença” de sempre, como consideram cientistas, e as consequências que dela advêm - com a ideia de que vão perder memórias vem a depressão. “Medicamentos e dietas específicas podem ajudar”, mas o Alzheimer rouba anos de vida e é sempre fatal.

“O Alzheimer representa o maior desafio médico e social da nossa geração. Não se pode prevenir, curar ou abrandar. Mata tanto como o cancro” SAMUEL COHEN CIENTISTA DA UNIVERSIDADE DE CAMBRIGE Nasceu em 1947 e trabalhava numa fábrica têxtil, depois de regressar do Myanmar. Consegue levar-nos ao passado - a sua doença ainda está no início e ela “não se preocupa” sequer com o que o futuro lhe possa trazer. É ela quem nos diz isto tudo, muitas vezes em Inglês. “Tenho a mesma vida, vou às compras no supermercado, cozinho e cuido dos netos. Consigo cuidar de toda a família.”

Confessa que gosta de viajar – algo que fez muito depois de se casar. “A vida no Myanmar era pobre, havia muita guerra. Vim para cá com 25 anos e conheci cá o meu marido. Gosto de passear de manhã na Colina da Guia e adoro Iam Cha”, diz-nos sorridente, enquanto penteia o cabelo, antecipando a fotografia que lhe vamos tirar. Cohen estima que, em 2050, 150 milhões de pessoas em todo o mundo possam ter a doença, contra os cerca de 40 milhões que se acredita existirem agora. Em Macau, estima-se que a população envelheça a um ritmo considerável: até 2036, mais de 24% da sociedade de Macau terá mais de 65 anos. E a esperança média de vida vai manter-se alta. Para Cohen uma em cada duas pessoas no mundo poderá vir a “sofrer de Alzheimer ou ter de tratar de alguém que sofra com a doença”. E, assegura, pode ser qualquer um de nós. Joana Freitas (com Flora Fong) joana.freitas@hojemacau.com.mo

CURA POSSÍVEL?

Se Auguste ainda hoje fosse viva, continuava a não ser possível curá-la como não o foi há centenas de anos. Mas há quem considere que se poderia fazer mais. É que, como assegura Samuel Cohen, cientista que lidera há décadas estudos sobre a doença na Universidade de Cambrige, o que falta é investir mais recursos numa doença à qual ainda não foi dada a devida atenção, ainda que faça parte do top 10 das causas de morte a nível mundial. “O Alzheimer representa o maior desafio médico e social da nossa geração. Não se pode prevenir, curar ou abrandar. Mata tanto como o cancro, mas não se investe nem o dinheiro, nem o tempo que se investe na investigação ao cancro. Há uma falta de consciência muito grande”, disse, numa TEDTalk sobre o tema. Para pessoas como Fong Iok Ha isso poderia significar esperança. O pessoal médico do São Januário, que nos proporcionou o encontro com Fong, diz-nos que não se lembra de algumas coisas, mas ela garante-nos que só foi ao médico porque começou a ouvir mal, tendo sido depois transferida para o departamento que cuida da doença em 2014.

MACAU SEM NÚMEROS

N

ÃO há dados concretos sobre a quantidade de pessoas que podem sofrer com a doença em Macau, como nos explica Ip Ka Hong, médico do São Januário. “Podemos calcular com dados do ano passado: 53 mil pessoas eram idosas e destes cerca de 20% podem ter Alzheimer ou demência. Temos estatísticas de Taiwan e Hong Kong e podemos assumir que a partir dos 85 anos ou mais, mais de 20% tem doença.” Recentemente a Associação de Alzheimer de HK sugeriu a Macau a criação de uma base de dados sobre o problema. Por cá, a Associação da doença considera que o Governo dá atenção suficiente ao problema, que foi “uma das políticas mais faladas na campanha de Chui Sai On para Chefe do Executivo, em 2014”, como relembra Zeng Wen, director da Associação, ao HM. O responsável fala de palestras e avaliações que partiram da organização que lidera para

idosos e famílias, mas também admite que é necessária mais formação. “Os cuidadores devem ter técnicas suficientes para cuidar destes idosos.” Quem concorda é a filha de Chan, um dos idosos cuja história ficámos a conhecer, e que diz que nem sempre é fácil conseguir ajuda em Macau. “É muito importante e formação, porque o primeiro contacto com o paciente e família é o médico. Acho que Macau ajuda, mas ainda tem dificuldades, especialmente pela falta de conhecimento. Aconteceu-nos rejeitarem-nos de lares por considerarem que o caso não era sério. Temos a responsabilidade de cuidar deles, mas não a capacidade e, por isso, precisamos de pessoas treinadas. Gostava que se percebesse isso: o Governo tem de apostar mais na formação. É importante, porque em lares privados, por exemplo, os idosos só comem e dormem e eles precisam de actividades para não piorarem”, diz-nos. J.F.


4 POLÍTICA

hoje macau sexta-feira 15.4.2016

GCS

Voos à vontade Aviação Deputado apela a mais fiscalização sobre qualidade dos serviços

S

Táxis DEPUTADOS QUEREM DEBATE SOBRE ALTERAÇÃO À LEI

Consenso se faz favor

A

Assembleia Legislativa (AL) aceitou um pedido de debate entregue pelos deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting sobre as alterações que o Executivo quer implementar no regulamento dos táxis. Numa altura em que as mudanças propostas estão a gerar muitos protestos por parte do sector, os deputados eleitos pela via directa querem, com o debate, “esclarecer as dúvidas da sociedade e evitar que sejam originados fenómenos de injustiça”. “A fim de permitir chegar a um consenso mais consolidado entre a população e o Governo em termos do futuro trabalho legislativo, apresentamos a plenário a presente proposta de debate sobre as alterações e o grau de penalização do regulamento dos táxis, que tem sido foco de atenção da população”, pode ler-se. Os deputados consideram que, “para um Governo responsável e que pretende

melhor servir a população”, é necessário chegar a um consenso com esta e com os diversos sectores da sociedade sobre o novo regulamento, por forma a garantir um diploma mais científico, realista e bem acolhido pelos cidadãos e que possa melhor salvaguardar os direitos e interesses legítimos destes últimos.

POUCA FISCALIZAÇÃO

Mak Soi Kun e Zheng Anting chamam a atenção para o facto das infracções cometidas por taxistas ocorrerem com frequência, apesar das regras

existentes. “Mesmo com medidas de fiscalização, são recorrentes as infracções, tais como a recusa da prestação de serviço, a escolha de clientes, os desvios, o regateio de preços e a cobrança abusiva de tarifas, que não só causam o descontentamento da população e dos turistas, como também denigrem a imagem de Macau enquanto destino turístico mundial”, frisam. “Para Macau, enquanto centro mundial de turismo e lazer, o transporte público é um dos parâmetros para avaliar a qualidade dos serviços de

“Mesmo com medidas de fiscalização, são recorrentes as infracções, tais como a recusa da prestação de serviço, a escolha de clientes, os desvios, o regateio de preços e a cobrança abusiva de tarifas” MAK SOI KUN E ZHENG ANTING

turismo. Porém, sendo uma das componentes indispensáveis do transporte público, os táxis têm sido criticados pelos cidadãos e turistas devido à qualidade do seu serviço”, alertam os deputados. O sector dos táxis tem estado em alerta nos últimos dias e são várias as vozes que têm vindo a falar sobre a nova lei. O último protesto contou com a participação de apenas 27 motoristas de táxi, tendo Tony Kuok, presidente da Associação de Mútuo Auxílio dos Condutores de Táxi, referido que a maioria dos taxistas está a favor da nova lei, não temendo uma fiscalização mais apertada por parte da polícia. Além da introdução de polícias à paisana, o Governo propõe introduzir gravações áudio não obrigatórias no interior dos veículos e retirar as licenças de circulação após a concretização de oito infracções. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Tomás Chio (revisto por J.F.) info@hojemacau.com.mo

TIAGO ALCÂNTARA

Mak Soi Kun e Zheng Anting querem debater as alterações que o Governo pretende implementar no regulamento dos táxis, para “esclarecer as dúvidas da sociedade e evitar que sejam originados fenómenos de injustiça”

I Ka Lon critica, numa interpelação escrita, o facto de o Governo não intervir nos problemas que afectam turistas e que estão relacionados com companhias de aviação que servem no aeroporto de Macau. O deputado quer saber por que razão o Executivo não fiscaliza a qualidade dos serviços oferecidos, se exige à CAM - Sociedade do Aeroporto que melhore o seu sistema de gestão de crises. O número dois de Chan Meng Kam lembrou que, recentemente, centenas de turistas ficaram três dias no aeroporto devido a sucessivos atrasos num voo que seguia para as Maldivas. Os turistas chegaram a pedir ajuda aos departamentos governamentais, mas a Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) respondeu que os registos de aviões desta companhia eram seguros e que o organismo não intervinha nos problemas comerciais das empresas. Contudo, há mais relatos de problemas com a empresa Mega Maldives. Si Ka Lon considera que a atitude do Governo em não intervir influencia negativamente a imagem de Macau como Centro Mundial de Turismo e Lazer e questiona: será racional que o Governo não fiscalize a qualidade dos serviços fornecidos pelas companhias aéreas que operam por cá? O deputado relembra que, para resolver problemas causados por avarias nos aviões, as autoridades do interior da China emitem sanções. E questiona: o Governo não vai imitar esta prática?

PEARL HORIZON MAIS UM PROTESTO NO DOMINGO

Um grupo de 20 proprietários do Pearl Horizon entregou ontem uma carta ao Tribunal de Última Instância (TUI), apelando a uma maior rapidez na conclusão no processo de caducidade do terreno onde iria ser construído o edifício. Segundo a MASTV, o mesmo grupo está a planear uma nova manifestação a realizar no domingo. Hou Peng Kuan, presidente da União de Proprietários do Pearl Horizon, referiu estar desapontado com o facto do processo não ter registado nenhum avanço, esperando que Sam Hou Fai, presidente do TUI, exija prioridade ao Tribunal Judicial de Base para julgar o caso. “O Governo não se mostra preocupado com a nossa situação e como o caso já está em processo judicial não quer negociar connosco”, disse. Os proprietários esperam que a sociedade preste mais atenção ao caso através do protesto.


5 hoje macau sexta-feira 15.4.2016

POLÍTICA

Terrorismo SUSPEITOS PODEM VER BENS CONGELADOS POR DOIS ANOS

Daqui não gastas mais Macau vai poder elaborar listas de suspeitos de ligações a actos terroristas e congelar os seus bens por um período de dois anos, para além das listas da ONU. Hipótese de recurso contencioso vai estar contemplada na futura lei

O

futuro Regime de Execução de Congelamento de Bens vai permitir a Macau elaborar listas de pessoas que possam estar ligadas a actos terroristas, para além dos pedidos feitos pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Caso seja Macau a elaborar uma lista de pessoas suspeitas, estas verão os seus bens congelados por um período inicial de dois anos. Depois disso caberá ao Chefe do Executivo a renovação do congelamento dos bens a cada ano, ou o seu fim, caso o suspeito seja declarado inocente. Já se a pessoa estiver na lista elaborada pela ONU, Macau apenas pode confirmar a identidade e o domicílio do suspeito para proceder ao processo de

congelamento dos seus bens. A ONU nunca poderá congelar bens devido ao facto destes se localizarem em Macau. As regras de congelamento de bens foram ontem discutidas no âmbito da reunião da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL). Kwan Tsui Hang, deputada que preside à Comissão, disse que os deputados querem garantir que não há erros na identificação de suspeitos. Por isso o novo regime prevê o recurso contencioso. “Temos de ver como é que podemos prever a protecção das pessoas que foram designadas quando ocorrer alguma situação

de engano e, se houver pessoas inocentes designadas, temos de prever um recurso contencioso, uma forma da pessoa recorrer dessa decisão”, disse. “A Comissão está mais preocupada com a salvaguarda dos interesses dos cidadãos de Macau para que os seus bens não sofram nenhum prejuízo. Não há nada que impeça a imposição de recurso pelos interessados. Temos de ver como é que o articulado da lei pode reflectir melhor esse aspecto”, acrescentou Kwan Tsui Hang.

PARA ONDE VÃO?

A Comissão discutiu ontem situações em que os bens congelados

possam acabar por ser revertidos para a RAEM ou outra jurisdição, mas os deputados e Governo não chegaram ainda a nenhuma conclusão. “São bens pessoais e não estamos a confiscar ou apreender. Discutimos este assunto mas é bastante complicado [e] já não vai ter a ver com esta proposta de lei, que apenas fala do congelamento. Tudo vai depender da sentença do tribunal”, referiu Kwan Tsui Hang. A deputada disse ainda acreditar que o Executivo terá capacidade para lidar com estes casos. “Acredito que o Governo tem capacidade para a execução porque vai colaborar com instituições financeiras. A nível internacional há sempre cooperação para evitar essas transferências. A proposta de lei regula apenas o congelamento de bens para evitar que esses bens sejam evitados para o financiamento de actos de terrorismo. Quando ficar provado que essa pessoa está envolvida [nesses actos], esses bens podem já ter sido desviados. Isso é diferente da apreensão ou confisco de bens. Mas caso a pessoa comprove que já não tem ligações a actos terroristas, pode fazer um pedido para que seja retirado o seu nome”, rematou. A 1.ª Comissão Permanente da AL está a trabalhar contra o tempo por forma a ter esta lei aprovada na especialidade a tempo da avaliação que será feita este ano a Macau pelo grupo para a Ásia-Pacífico contra o branqueamento de capitais. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

DSEJ REGIME EDUCATIVO ESPECIAL ENTREGUE ESTE ANO À AL Direcção dos Serviços para a Educação e Juventude (DSEJ) espera que o novo Regime Educativo Especial possa ser entregue na Assembleia Legislativa (AL) este ano para implementação, apesar da apresentação do diploma ter sido agendada para o primeiro semestre deste ano. A DSEJ já realizou uma consulta pública sobre a revisão do Regime Educativo Especial no ano passado, sendo que a

directora do organismo, Leong Lai, espera implementar um novo modelo de funcionamento do ensino especial em 2017 ou 2018. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, a chefe do Centro de Apoio Psico-Pedagógico e Ensino Especial da DSEJ, Chow Pui Leng, espera emitir directrizes para o currículo de ensino especial para as escolas, de acordo com as necessidades e capacidades de alunos,

elaborando vários níveis de aprendizagem. Chow Pui Leng referiu ainda que no ano passado foram convidados especialistas de regiões viziHOJE MACAU

A

nhas para ajudar a analisar a situação de ensino especial em Macau. Com base nessas opiniões a DSEJ irá emitir as directrizes para os currículos do ensino especial, elaborando seis níveis de aprendizagem. A responsável considera que como os alunos do ensino especial têm diferentes necessidades de aprendizagem, os docentes e pessoal de apoio devem elaborar programas de educação individualizada. O conteúdo de

programas devem incluir as experiências de aprendizagem, os níveis de conhecimentos, os potenciais e as dificuldades de alunos. A responsável espera também elaborar umas medidas e objectivos de ensino que sejam apropriadas para aumentar as capacidades de alunos do ensino especial, desenvolvendo as vantagens. F.F. (revisto por A.S.S.)

Não posso mais CCP Coutinho sem disponibilidade para assumir presidência

G

ANHOU as eleições sem concorrência, mas assume que não pode liderar vários dossiês ao mesmo tempo. Em declarações à Rádio Macau, José Pereira Coutinho garantiu que não vai assumir a presidência do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), anteriormente a cargo de Fernando Gomes, por não poder coordenar as várias áreas nas quais está envolvido. O novo presidente será escolhido, segundo a Rádio Macau, entre os dias 26 e 28 deste mês. “É evidente que tanto eu como Rita Santos não temos a disponibilidade temporal para trabalhar em tantos campos e áreas. Temos eleições para a Assembleia Legislativa já no próximo ano. A prioridade das prioridades será sempre Macau. Há muitos jovens conselheiros que estão a dinamizar as actividades do CCP. Penso que é importante rejuvenescer o Conselho que tem uma média de idades bastante avançada”, refere Pereira Coutinho que foi reeleito conselheiro em Setembro do ano passado, juntamente com Rita Santos e Armando de Jesus. Ontem a equipa esteve presente na residência consular para uma recepção oficial, tendo sido recebidos por Vítor Sereno, Cônsul-geral de Portugal em Macau. Pereira Coutinho disse que se tratou de um encontro “informal” e não de trabalho, mas voltou a apontar o dedo aos problemas existentes no Consulado. “O grande problema continua a ser os salários baixos. E o Consulado não tem recursos humanos suficientes para dar conta do recado. É uma questão que já levámos a Portugal e que fizemos chegar directamente ao Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. Portugal está a analisar essa questão”, explicou Coutinho, que espera uma decisão “o mais rápido possível”.


6 SOCIEDADE

O

hoje macau sexta-feira 15.4.2016

relatório sobre direitos humanos do Congresso norte-americano de 2015, tornado público ontem, mostra uma RAEM com pontos a acertar, mas com vontade de se melhorar. Uma análise ao anexo de Macau, englobado na análise da China, apresenta um território onde, apesar de existir um problema de tráfico humano, as autoridades governamentais “têm trabalhado a sua capacidade de perseguir os casos”. Em destaque estão quatro casos pendentes de pedido de asilo. Apesar, aponta o relatório, da lei de Macau garantir asilo ou estatuto de refugiado, e do próprio Governo estar apto a prestar todo o apoio necessário - como alimentação, habitação, serviços de educação e de saúde - os processos demoram mais do que um ano a serem resolvidos. Feitas as contas, apenas dois dos seis pedidos de estatuto de refugiado, em 2014, foram resolvidos. Os restantes quatro, indica o relatório, estão pendentes por falta de recursos ou por haver outros assuntos prioritários. A justificação foi dada pelo líder da Comissão para os Refugiados, Kong Chi, que afirmou que

Direitos Humanos RELATÓRIO SALIENTA PEDIDO DE ASILO E QUEIXAS CONTRA AUTORIDADES

Falhas apontadas O relatório sobre os direitos humanos dos EUA sobre Macau faz sobressair os casos, ainda por resolver, de pedidos de asilo a Macau. São ainda apontadas queixas de maus tratos por parte das autoridades, abusos a crianças e vários casos de violência doméstica. Apesar das falhas, Macau “esforça-se” para melhorar a resolução destes poderá demorar “vários anos”.

UM MUNDO MENOR

Em termos de violência e abuso, o documento mostra que se registaram mais queixas de abuso por parte das forças policiais. Durante a última metade do ano de 2014 e a primeira de 2015 foram reportados às autoridades 15 casos de abuso de força por parte da polícia, sendo que 12 deles, depois de uma investigação, foram considerados infundamentados. Houve ainda uma desistência. Do total, e até agora, apenas um dos queixosos conseguiu que a justiça lhe desse PUB

Governo da Região Administrativa Especial de Macau Serviços de Saúde

Aviso Para a comemoração do Dia Internacional do Enfermeiro 2016, a Comissão Organizadora dos Serviços de Saúde da RAEM, tem a honra de convidar todos os enfermeiros, alunos de enfermagem e enfermeiros reformados do território para o jantar de comemoração que se realizará no dia 6 de Maio, pelas 19:00H, no Restaurante “Plaza”. Contamos com a vossa presença. Local: Restaurante “Plaza” Data: 06/05/2016 (6a Feira) Hora: 19:00 (a partir das 15 horas a sala estará disponível para convívio). Programa: Jantar, sorteio, espectáculo de variedades, atribuição de prémio para os enfermeiros com 20 e 30 anos de serviço em prol do território Prazo de inscrição: até o dia 20/04/2016 (Inscrição esgota-se com o preenchimento dos lugares disponíveis) Inscrição e Contactos: - Os enfermeiros podem inscrições nas instituições que pertencem Serviços de Saúde, Hospital Kiang Wu, Hospital Universitário de Ciência e Tecnologia de Macau e Instituto Politécnico de Macau,. - Outros e-mail soucv@ssm.gov.mo - Enfermeiros reformados podem contactar a enfermeira Madalena Lei Ca Pou, nas horas de serviço 9h-13h, 14h30-17h (Tel: 83904810) Serviços de Saúde Comissão Organizadora do Dia Internacional do Enfermeiro

razão. O último caso ainda está pendente. No que respeita a menores, houve um caso abuso infantil registado entre Julho de 2014 a Junho de 2015. Os Serviços de Saúde (SS) indicaram, citados pelo relatório, que receberam sete casos suspeitos de abuso a crianças, esclarecendo que depois do tempo necessário de hospitalização as vítimas foram reencaminhadas para Organismos Não Governamentais “apropriadas”. São ainda mencionados os casos de suspeita de abuso sexual a uma criança

Em termos de violência e abuso, o documento mostra que se registaram mais queixas de abuso por parte das forças policiais

e três casos de violação de menores. Há também casos de comércio sexual, envolvendo crianças, mas o relatório não indica o número. Questionados pelo HM, os SS não avançaram com números.

NO CAMINHO CERTO

Durante o período em estudo, as autoridades de Macau receberam um total de 37 queixas de violação – só de mulheres – e foram presos 21 suspeitos por este crime. O relatório destaca a aprovação na generalidade da Lei de Prevenção e Combate à Violência Doméstica, frisando a não contemplação dos casais homossexuais na proposta de lei. É ainda mencionada a posição de vários grupos de defesa dos direitos das mulheres e de combate à violência doméstica, que indicam que este tipo de casos está a aumentar progressivamente. Entre Julho de 2014 a Junho de 2015 o Governo recebeu 306 denúncias de violência doméstica.

No grupo vulnerável das pessoas com deficiência o relatório destaca a postura de auxílio. Os casos de tráfico humano estão em destaque, sendo que o documento explica que não é o cenário perfeito, mas existem esforços claros na melhoria de Macau. Durante o período em análise foram detectados cinco

casos de tráfico humano, contrariamente aos 30 do ano de 2013. Tal como no relatório anterior, a comunidade macaense e a portuguesa continua a sentir “que não tem os mesmos direitos”, nem é tratada de igual modo, da comunidade chinesa. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

Nepalesa em segurança Acusação de venda de mulher “infundada”

E

STÁ concluída a investigação do caso de uma mulher nepalesa alegadamente vendida em Macau e as autoridades asseguram que a questão é infundada. “Segundo as declarações das pessoas envolvidas e as respectivas provas (...) até ao presente não se encontrou qualquer indício de que o caso envolve uma situação de tráfico humano para a exploração sexual ou do trabalho.”

O caso é de Janeiro do presente ano, tornado público pela comunicação social. Depois de tomar conhecimento a Polícia Judiciária (PJ), sem receber qualquer denúncia, avançou com uma investigação. “Através da Interpol, a PJ conseguiu obter informações da Polícia nepalesa. Foi confirmado, pelas autoridades de Katmandu, que uma mulher apresentou queixa à polícia nepalesa através da

internet”, explica a PJ num comunicado. O caso reporta a uma contratação, através de uma agência de trabalho, que ao final de oito meses não correu como previsto, sendo que a mulher terá sido despedida e retida. “Na sequência deste despedimento a mulher nepalesa pediu à agência de emprego uma indemnização por demissão pois, caso contrário, iria denunciar o caso à polícia

do Nepal e dizer que tinha sido vendida. Naquela altura, a agência de emprego pediu ajuda da PSP e o caso foi tratado como crime de ameaça”, explica a PJ. Feita a investigação nada foi confirmado. F.A.


7 hoje macau sexta-feira 15.4.2016

SOCIEDADE

Autocarros SISTEMA DE GPS AVANÇA DENTRO DE DOIS MESES

Demoras muito?

O sistema que vai permitir saber onde anda o autocarro e quanto tempo vai demorar até chegar à paragem vai estar em funcionamento em Junho

A

notícia foi dada pelo próprio director dos Serviços para osAssuntos de Tráfego (DSAT), Lam Hin San, no fim da primeira reunião do Conselho Consultivo do Trânsito: o sistema de GPS para os autocarros públicos entrará em funcionamento dentro de dois meses. Este sistema irá permitir aos usuários verificarem a localização real e o tempo de espera até à paragem onde se encontram. Lam Hin San alertou para a necessidade de um funcionamento experimental inicial para perceber a viabilidade do sistema, que apesar de melhorado tem de ser testado. “Macau tem prédios muito altos e ficam muito próximos uns dos outros, o que afectava a transmissão do sinal GPS. Por exemplo, por alguma razão, quando o autocarro estava no Fai Chi Kei, o que aparecia era que estava no Tap Seac ou noutro sítio qualquer. Levou-nos bastante tempo a alterar isto mas agora a precisão do sistema atingiu mais de 90%. Acho que agora é o tempo adequado para o apresentarmos para uso dos cidadãos”, explicou. O director disse ainda que, até ao momento, para a instalação dos receptores nos mais de 800 autocarros de Macau e painéis de informação, foram gastos 19 milhões de patacas. Sendo que as contas reais contam com mais “alguns milhões” gastos para a criação de aplicações para os telemóveis, permitindo que os mesmos estejam ligados por sinal GPS.

TUDO LOCAL

Nos próximos quatro anos 110 condutores irão reformar-se, ou seja “entre 10% a 14 % do total existente”. Ainda assim, Lam Hin San explicou que não pensa avançar com contratos a não residentes.

“Queremos encorajar os residentes que queiram servir a comunidade. Cada motorista, nos dias de hoje, presta serviço a mais de 540 cidadãos por dia, por isso queremos mais motoristas

também. Só assim teremos melhores serviços à população”, indicou aos jornalistas. Questionado sobre os autocarros articulados de 18 metros que o Governo quer colocar em circulação, o

“A precisão do sistema atingiu mais de 90%. Acho que agora é o tempo adequado para o apresentarmos para uso dos cidadãos” LAM HIN SAN DIRECTOR DA DSAT

director acredita que é uma medida que irá correr bem, sabendo que existem determinas zonas específicas para estes autocarros. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

Solidão sobre rodas

Rapaz deixado no autocarro da escola durante seis horas

U

M aluno da Escola Fong Chong, na Taipa, ficou esquecido durante seis horas no autocarro da instituição. A escola emitiu ontem uma declaração onde pede desculpa pelo sucedido e promete que casos semelhantes não vão voltar a acontecer. Os Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) vão hoje reunir com a entidade. Segundo o jornal Ou Mun, o caso ocorreu segunda-feira, quando o autocarro da escola fez o transporte dos alunos às oito da manhã, sendo que um aluno do jardim de infância acabou por ficar esquecido no autocarro. O professor do aluno também não contactou os pais para saber se a criança tinha faltado à escola ou se havia outro motivo para não estar presente. O condutor do autocarro acabou por encontrá-lo no veículo ao início da tarde, tendo avisado a direcção.

Só aí é que a escola contactou os pais do aluno e pediu a um funcionário para acompanhar o estudante e avaliar o seu estado de saúde. Contudo, as autoridades policiais foram chamadas e o aluno acabou por ser consultado no hospital nesse mesmo dia. No dia seguinte a escola emitiu um comunicado onde prometeu novas medidas. Ao canal chinês da Rádio Macau, a DSEJ garantiu que está a acompanhar o caso. “A escola admitiu que o caso se deveu à negligência de um funcionário e as escolas devem cumprir as orientações com rigor, verificando os números dos alunos e o serviço de transporte”, disse o responsável da DSEJ. A escola mandou publicar uma declaração nos jornais chineses Ou Mun e Jornal do Cidadão, alertando os restantes funcionários. Tomás Chio (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo

CARDIOLOGISTAS EM SIMPÓSIO DA MUST

A 30ª Edição do Fórum Médico Internacional Sino-Luso começa hoje e termina no próximo domingo. Um Fórum que tem reunido médicos de todo o mundo está, desta vez, subordinado ao tema da cardiologia, pois, segundo explica a Universidade de Ciência e Tecnologia (MUST), entidade organizadora, os casos de “ataques cardíacos têm aumentado progressivamente”. Num debate que irá reunir médicos de especialidades diferentes, como o director da ala de cardiologia do Hospital Conde São Januário, Mário Évora, o médico Jorge Sales Marques, o Director do Hospital da Cruz Vermelha de Lisboa, Manuel Pedro Pereira Dia de Magalhães, e a médica Maria Sampaio de Magalhães, serão apresentados novos tipos de tratamento e casos de estudo. Será ainda realizado um workshop, conduzido pelas mãos do médico Kenneth Coyle, da Califórnia, EUA, e decorrerá ainda um jantar no clube militar aos interessados. O simpósio acontece no domingo, com início às 9h00, no Landmark.


8 SOCIEDADE

hoje macau sexta-feira 15.4.2016

FMI PREVÊ QUEDA DE 7,2% NO CRESCIMENTO ECONÓMICO DE MACAU

O

mais recente relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) referente a Janeiro, intitulado “World Economic Outlook”, prevê que uma quebra de 7,2% no crescimento económico de Macau, ainda que fala de um aumento de 0,7% em 2017. Segundo um comunicado da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM), o FMI espera a manutenção de uma taxa de desemprego na ordem dos 2%. Já na área das finanças públicas, o FMI “prevê que a conta financeira

integrada do Governo da RAEM se mantenha positiva durante este ano e no próximo”. O FMI baixou a previsão do crescimento económico para este ano em 3,2%, enquanto que para 2017 essa previsão é de 3,5%. Face às últimas previsões trata-se de uma descida de 0,2% e 0,1%. O relatório aponta para “o agravamento da instabilidade dos mercados financeiros e a fraca procura dos países exportadores”, algo que atrasou o ritmo de recuperação da economia global. “O crescimento

ÍNDICE DE PREÇOS TURÍSTICOS CAI

económico deste ano continuará a ser desequilibrado, prevendo-se que os mercados emergentes e os sistemas financeiros em desenvolvimento acelerarão a recuperação da economia global”, pode ler-se. Em relação ao crescimento dos sistemas financeiros desenvolvidos, será de 1,9% este ano e de 2% para 2017, prevendo-se que o “crescimento económico dos mercados emergentes e os sistemas financeiros em desenvolvimento seja de 4,1% e de 4,6%”.

O Índice de Preços Turísticos (IPT) voltou a cair no primeiro trimestre deste ano, depois de em 2015 ter registado a primeira diminuição desde que é divulgado. O IPT caiu 6,67% em comparação com o primeiro trimestre de 2015 e 3,43% em relação aos três meses anteriores, segundo dos dados divulgados pelos serviços de estatística. O decréscimo mais acentuado foi nos preços dos alojamentos em que a queda foi de 23,80% em relação aos mesmos meses de 2015 e de 11,81% comparando com o trimestre anterior.Mantém-se assim a tendência de queda iniciada no terceiro trimestre de 2015 dos preços dos bens e serviços adquiridos pelos visitantes.Em 2015, o PIB de Macau caiu 20,3%, naquela que foi a primeira contracção anual da economia desde 1999.

CÂMARA NO BALNEÁRIO DE PISCINA GERA QUEIXAS. GPDP SUSPENDE USO

Videovigilância “sensível” Uma câmara de vigilância no balneário feminino da Piscina do Estoril levou à queixa de uma cidadã. Mas as autoridades dividem-se: a PSP diz que não há crime, o GPDP pediu a suspensão do uso. A câmara está “num local sensível”, ainda que tenha um aviso

U

MA mulher queixou-se à Polícia de Segurança Pública (PSP) depois de ter encontrado uma câmara de videovigilância dentro do vestiário feminino da Piscina Municipal do Estoril. A senhora, de apelido Lei, estava nua depois de ter saído do duche e foi filmada pela câmara. A PSP defende que não há qualquer crime, até porque há um aviso no balneário. Contudo, o Gabinete de Protecção de Dados Pessoais (GPDP) não tem o mesmo entendimento e está a investigar o caso, depois de ter pedido para a piscina suspender o uso deste equipamento. Lei contou a sua experiência ao canal chinês da Rádio Macau e também escreveu um texto publicado nas redes sociais, onde explica que foi à Piscina Municipal Estoril no dia 3 deste mês e, como de costume, mudou de roupa no vestiário feminino onde tem uma zona para guardar os bens dos nadadores, tomar duche e mudar de roupa.

Sem se aperceber do aviso que indica que está instalado o sistema de videovigilância dentro do vestiário, Lei disse que esteve nua durante vários minutos na parte onde estão os cacifos. Achou estranho, até porque as outras piscinas municipais não têm câmaras. Lei Tak Fai, comissário da PSP, afirmou ao HM que recebeu a queixa no mesmo dia, no entanto, como a câmara de videovigilância

é dirigida à zona onde se guarda os bens, tem como fim evitar furtos e está colocado um aviso claro no local não há qualquer violação à lei.

ZONA MISTA

“As zonas de mudar de roupa e de tomar duche não tem instaladas qualquer sistema de videovigilância. São zonas separadas”, disse. “Não vimos qualquer elemento criminoso neste caso”, continuou. Apesar

de tudo, as zonas ficam no mesmo espaço do vestiário feminino. A queixosa pediu ainda ao Instituto do Desporto para eliminar o vídeo que filmou o momento em que

estava nua. No entanto, o organismo rejeitou, explicou que os vídeos são eliminados automaticamente 30 dias depois da filmagem e esclareceu que “normalmente” ninguém consegue ver os

A queixosa pediu ainda ao Instituto do Desporto para eliminar o vídeo que filmou o momento em que estava nua. No entanto, o organismo rejeitou [o pedido]

vídeos, a não ser que aconteçam crimes e as autoridades policiais precisem de rever os registos”. A senhora considera que as mulheres se devem sentir à vontade no vestiário feminino e diz que não está a ser respeitada nem os seus dados pessoais protegidos. Ao contactar o advogado Hong Weng Kuan, este explicou que a lei proíbe a montagem do sistema de videovigilância dentro de vestiários e casas de banho. Mas neste caso, como a câmara está dirigida aos cacifos, pensa que “não há problema”, desde que esteja claramente sinalizado. Apesar de tudo, segundo uma resposta dada pelo GPDP ao HM, o gabinete recebeu a queixa da senhora Lei, e já começou um processo para acompanhar o caso, sendo que a investigação ainda está em andamento. O organismo diz ainda que a localização da câmara é “relativamente sensível” e o GPDP já contactou o Instituto de Desporto para tomar “medidas temporárias”, incluindo a suspensão do uso da câmara, arquivando o vídeo que gravou a senhora nua e proibindo consulta por qualquer indivíduo. O chefe do Departamento de Administração de Instalações Desportivas do Instituto de Desporto, Ho Wa, afirmou ao canal chinês da Rádio Macau que já adicionou placas para separar o vestiário e os cacifos. Flora Fong (revisto por J.F.) flora.fong@hojemacau.com.mo


9 hoje macau sexta-feira 15.4.2016

EUA ACUSAM PEQUIM DE AUMENTAR REPRESSÃO

São uns brutos

Zhiqiang, que em Dezembro foi condenado a três anos de prisão, com pena suspensa, por comentários que publicou na rede social chinesa Weibo, equivalente ao Twitter. Pu Zhiqiang, que foi advogado de vítimas de condenação a trabalhos forçados e do artista e dissidente chinês Ai Weiwei, tinha sido detido em meados de 2013.

PRISIONEIROS MALTRATADOS

A

repressão e coerção contra organizações e pessoas na China envolvidos na defesa dos direitos civis, políticos e das minorias étnicas “aumentou consideravelmente” em 2015, segundo o relatório do Departamento de Estado norte-americano sobre direitos humanos divulgado ontem. O documento aponta que “a repressão na comunidade jurídica foi particularmente grave, com advogados individuais e escritórios de advocacia que tratam destes casos, considerados sensíveis pelo Governo, a serem alvo de assédio e detenção”. O relatório refere que “centenas de advogados e profissionais ligados à advocacia foram interrogados, investigados e, em muitos casos, detidos em segredo durante meses sem acusação ou acesso a advogados ou familiares”. Segundo o Departamento de Estado norte-americano, “indivíduos e grupos considerados sensíveis pelas autoridades enfrentaram apertadas restrições à li-

berdade de se reunirem, professar a religião e viajar”. “As autoridades recorreram a medidas extralegais, como desaparecimento forçado e prisão domiciliar estrita, incluindo a prisão domiciliar dos respectivos familiares, para evitar a expressão pública de opiniões críticas”, acrescenta. O relatório também aponta que apesar de a lei garantir a liberdade de expressão e de imprensa, “as autoridades geralmente não respeitam estes direitos”. Um dos exemplos citados é o caso do advogado Pu

Além da morte de activistas nas prisões, incluindo no Tibete, o documento refere relatos de diferente acesso a tratamentos médicos por parte dos prisioneiros, dependendo do mediatismo dos seus casos. Neste aspecto, dá o exemplo da jornalista Gao Yu, de 71 anos, originalmente condenada a sete anos de prisão por alegadamente passar segredos de Estado para o exterior que, além de receber cuidados médicos especializados, viu em Novembro reduzida a sua sentença e obteve liberdade condicional médica e permissão para cumprir o restante tempo da pena fora da prisão. Por outro lado, dá o exemplo do repatriamento, em Julho do ano passado, de 109 uigures que estavam na Tailândia como um dos casos em que a China pressionou os países vizinhos a devolverem ao país requerentes de asilo ou refugiados reconhecidos pelo Alto Comissariado das Nações Unidas.

PROCESSOS POUCO CLAROS

O relatório aborda também os “numerosos casos” de funcionários de altos cargos

“As autoridades recorreram a medidas extralegais, como desaparecimento forçado e prisão domiciliar estrita, incluindo a prisão domiciliar dos respectivos familiares, para evitar a expressão pública de opiniões críticas” RELATÓRIO DO DEPARTAMENTO DE ESTADO NORTE-AMERICANO SOBRE DIREITOS HUMANOS

públicos e dirigentes de empresas estatais investigados por corrupção. Em Março, o procurador-geral Cao Jianming reportou à Assembleia Nacional Popular que em 2014 foram investigados 4.040 funcionários públicos por corrupção, incluindo 28 a nível provincial e ministerial ou superior, em 3.664 casos por corrupção, suborno e desvio de dinheiros públicos, cada um deles envolvendo mais de um milhão de yuan. “Embora a imprensa controlada pelo Estado tenha publicitado algumas das maiores investigações por corrupção, de uma forma geral foram dados poucos detalhes sobre o processo através do qual os funcionários do partido e Governo foram investigados por corrupção”, destaca o relatório. O caso dos livreiros de Hong Kong desaparecidos no final do ano passado em circunstâncias misteriosas, e que depois reaparecerem na China interior, foi também mencionado pelo Departamento de Estado norte-americano. PUB

CHINA

Para baixo se vai ao longe Maior redução do yuan em três meses

O

banco central chinês reduziu ontem o valor do yuan em relação ao dólar norte-americano em 0,46%, face à taxa de referência de quarta-feira, na maior queda desde Janeiro passado. O yuan não é inteiramente convertível, sendo que a sua cotação pode variar, no máximo, dois por cento por dia face a um pacote de moedas internacionais. Uma desvalorização da divisa chinesa permitirá estimular as exportações, uma vez que a produção nacional fica mais barata. Repetidos cortes na taxa de referência do yuan, desde Agosto passado, quando caiu quase cinco por cento numa semana, aumentaram o receio de que Pequim esteja a procurar desvalorizar a moeda para ganhar competitividade.

As autoridades têm rejeitado essa possibilidade. Em Março, as vendas ao exterior da China aumentaram 18,7%, em termos homólogos, para 1,05 bilião de yuan, segundo dados oficiais divulgados na quarta-feira. Aactividade manufactureira expandiu também pela primeira vez em nove meses. Pequim tem multiplicado as injecções de liquidez no sistema financeiro, enquanto aumenta as restrições cambiais, para apoiar a moeda e travar a fuga de capital. Na quarta-feira, o banco central disponibilizou 285,5 mil milhões de yuan a 17 instituições financeira através de acordos de recompra. Ontem, injectou 40 mil milhões de yuan através da sua operação regular no mercado.


10

Casa Garden EXPOSIÇÃO DE PINTURA A ÓLEO INAU

EVENTOS

Comemorar os cravos 25 de Abril João Afonso actua terça-feira no CCM

O

músico português João Afonso vai actuar em Macau na próxima terça-feira, num concerto integrado nas comemorações do 25 de Abril em que vai dar a conhecer o seu mais recente álbum “Sangue Bom”. O álbum foi editado em Fevereiro de 2014 e é constituído por 14 canções, todas compostas por João Afonso, exclusivamente com poemas dos escritores José Eduardo Agualusa e Mia Couto, de quem é amigo e “grande admirador das suas obras”. “Neste concerto vamos apresentar as canções de ‘Sangue Bom’ mas iremos também viajar no universo do meu trabalho, desde [o álbum] ‘Missangas’, e apresentar canções do meu tio José Afonso relacionadas com o 25 de Abril e com a liberdade”, disse à agência Lusa João Afonso. “Sangue Bom” é o sexto álbum de João Afonso, seguindo-se a “Missangas” (1997), “Barco Voador” (1999), “Zanzibar” (2002), “Outra Vida” (2006) e “Um Redondo Vocábulo” (2009). “Com a excepção de ‘Um Redondo Vocábulo’, que se compõe de canções de José

Afonso, “Sangue Bom” tem a particularidade de não ter palavras ou textos meus, ao contrário dos restantes CD. Este trabalho tem músicas minhas sobre os poemas de dois grandes escritores e grandes amigos: José Eduardo Agualusa e Mia Couto”, destacou.

MACAU NO CORAÇÃO

Com várias passagens por Macau e outras partes da Ásia, o músico recordou a actuação na RAEM em 2008 com o pianista João Lucas para fazer a apresentação do trabalho “Um Redondo Vocábulo”. “Macau está presente na minha vida e no meu imaginário desde sempre pois o meu pai viveu aí na infância e ainda hoje tenho familiares muito próximos e alguns amigos em Macau. No ‘Barco Voador’ tenho uma canção dedicada a Macau chamada ‘Rio das Pérolas’”, afirmou. “Todos os públicos são especiais e com características diferentes. Macau é particular e, apesar da distância geográfica, sinto que há uma atenção especial pelo que se faz em Portugal. Tenho sido sempre recebido com muito carinho por um público atento e participativo com o qual tenho

muita vontade de partilhar as novas canções”, acrescentou. Por outro lado, considerou emocionante cantar e comemorar em Macau a “Revolução da Liberdade”. O concerto de terça-feira, que acontece no Centro Cultural de Macau às 20h00, é promovido pela Casa de Portugal em Macau. No âmbito das comemorações do 25 de Abril vai ser ainda apresentado um disco com poemas alusivos à data de vários poetas portuguesas e musicados por artistas que trabalham com esta associação, disse a presidente Casa de Portugal, Amélia António, à Rádio Macau. Os bilhetes custam 50 patacas. LUSA/HM

“Na China, não há nenhuma outra obra de literatura que expresse de forma tão magistral a beleza da natureza humana como este livro [‘O Sonho do Pavilhão Vermelho’]” YAO FENG CURADOR DA EXPOSIÇÃO Zhang Bin, após oito anos de leitura, mostra agora ao mundo uma série de pinturas inspiradas na obra em que “o objecto da pintura é a alma, tentando, na sua forma original, mostrar uma ideia bonita e irreal através da alternância da cor do mundo, com a expectativa de conduzir o observador através do sonho que ele pretende representar”, remata o curador.

TERRA CAFÉ COM JAZZ ESTA SEXTA-FEIRA

H

OJE, a partir das 21h30, é altura de mais uma noite de Jazz no Terra Café, em Macau. Num iniciativa que propõe uma noite mensal dedicada a este estilo de música, este mês o convidado é Zé Eduardo ,um dos já incontornáveis nomes no Jazz português, segundo informação do site do intérprete e compositor e pedagogo. Destacado também pelo seu papel no que respeita à divulgação e promoção deste estilo musical através da criação de escolas e orquestras, Zé Eduardo

tem como pontos altos da sua carreira, entre outros, o convite em 2007 para dirigir o European Movement Jazz Orchestra. Segundo a mesma fonte, fazem ainda parte do seu currículo as participações com Mário Laginha, Maria João e o falecido Bernardo Sassetti, ou o projecto que junta três contrabaixos em que se junta a Carlos Barretto e Carlos Bica. Ainda em 1988 entrou para o Guinness Book of Records, com a ajuda de outros músicos, estabelecendo o recorde de 24

horas consecutivas a tocar o blues mais longo, num tema da sua autoria. Em resultado da prioridade que deu nos anos mais recentes à sua faceta de compositor e intérprete, editou em 2004 com o projecto Zé Eduardo Unit, “A Jazzar no Zeca” sendo que na sequência do sucesso deste disco foi levada a cabo, em Junho de 2005, uma digressão pela costa leste dos EUA, com a passagem pelo “mítico e já extinto CBGB.” O evento tem uma entrada no valor de cem patacas.

VENDANANALIVRARIA LIVRARIAPORTUGUESA PORTUGUESA À ÀVENDA ATÉ QUE CONSIGAS VOAR • José Gameiro

A

galeria principal da Casa Garden vai inaugurar a 19 de Abril, pelas 18h30, a exposição de pintura a óleo de Zhang Bin “O Sonho do Pavilhão Vermelho”, numa iniciativa da Fundação do Oriente. Segundo o curador Yao Feng, esta exposição tem origem num desafio a que o artista se propôs para uma interpretação do livro homónimo do título da exposição. O “Sonho do Pavilhão Vermelho” de Cao Xueqin é um livro clássico com uma forte conotação cultural. “Na China, não há nenhuma outra obra de literatura que expresse de forma tão magistral a beleza da natureza humana como este livro”, acrescenta o curador, sendo que existe um grande número de artistas na área da literatura, pintura, teatro, cinema e outras formas de arte que têm interpretado este clássico da literatura. Em forma de pintura, Zhang Bin é um dos poucos que terá posto mãos à obra. “Não importa de que forma, para mostrar o profundo significado do Sonho do Pavilhão Vermelho é preciso lê-lo e amá-lo.”

Um livro pessoal e profundo, em que o psiquiatra é tão humano como os pacientes; em que todos somos muito parecidos no sofrimento e na esperança. Quando as pessoas chegam ao consultório de um psiquiatra, já esgotaram todas as suas alternativas. Sentem-se perdidas, vazias ou profundamente tristes. Neste livro, José Gameiro, psiquiatra há 40 anos, dá-nos a oportunidade de sermos os seus olhos e os seus ouvidos. Em Até que consigas voar, encontramos relatos intimistas sobre o luto, os medos, a conjugalidade e todo um conjunto de feridas que não se vêem. Mostra-nos que podemos voltar a encontrar um rumo, mesmo quando enfrentamos o pior dos desgostos.

SON PIN

Levou oito an Pavilhão Verm diversas pintu Casa Garden

IDENTIDADE

O artista é natural da cidade de Harbin e estudou na Faculdade de Design e Belas Artes e no Centro de Artes Performativas em Pequim, de 1989 a 1994. Em 1994, formou-se e foi destacado pelo Governo Central para o “Orient Song and Dance Group” como designer. Tem desempenhado sempre funções de designer e foi responsável pela concepção de palcos em algumas grandes companhias de arte performativa de música e de dança, como a Beijing TV Party, a Shangai TV Party, a Shanghai International Automobile Expo, etc. Tem exposto na China e em diversas partes do mundo, como nos Estados Unidos, Coreia, etc. As suas obras já foram referidas em diversas publicações e fazem parte de colecções nacionais e estrangeiras. A exposição estará patente até 19 de Maio e conta com entrada livre.

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET

A FAMÍLIA PORTUGUESA NO SÉCULO XXI • Vários autores

Abordando problemáticas tão diversas como o divórcio, as novas formas de casamento e de família, a adopção, o acolhimento e a mediação familiar, a delinquência, a violência ou a doença no seio da família, entre muitas outras realidades, cerca de trinta especialistas da família dão-nos, pela primeira vez em Portugal, em textos rigorosos e científicos, o seu parecer sobre os (des)conhecidos e muito distintos universos familiares. A Família Portuguesa no Século XXI é um livro fundamental para olhar com rigor a sociedade portuguesa dos nossos dias.


UGURA NA TERÇA-FEIRA

NHOS NTADOS

nos a ler o livro “O Sonho do melho” e agora retrata-o em uras a óleo. Obras para ver na a partir da próxima semana

11 hoje macau sexta-feira 15.4.2016

EVENTOS

AGUALUSA FINALISTA DO MAN BOOKER INTERNATIONAL PRIZE O escritor angolano José Eduardo Agualusa é um dos seis finalistas do Man Booker International Prize deste ano, anunciou ontem a organização. A ‘shortlist’ inclui ainda Elena Ferrante (Itália), Han Kang (Coreia do Sul), Yan Lianke (China), Orhan Pamuk (Turquia) e Robert Seethaler (Áustria). José Eduardo Agualusa figura na lista dos seis finalistas com o livro «General Theory of Oblivion» («Teoria Geral do Esquecimento»), traduzido para inglês por Daniel Hahn. O anúncio do vencedor do Man Booker International Prize 2016 tem lugar a 16 de Maio. O vencedor ganha um prémio de 50 mil libras (64,3 mil euros) dividido equitativamente entre o autor e o tradutor da obra.

KLEBER MENDONÇA FILHO, ALMODÓVAR E PAUL VERHOEVEN EM CANNES Os mais recentes filmes de Pedro Almodóvar, Paul Verhoeven, Xavier Dolan e Jim Jarmusch integram em Maio o Festival Internacional de Cinema de Cannes, cuja competição contará também com “Aquarius”, do realizador brasileiro Kléber Mendonça Filho. O 69º. festival francês decorrerá de 11 a 22 de Maio. “Aquarius”, de Kléber Mendonça Filho, com Sónia Braga no papel de uma escritora que tem capacidade de viajar no tempo, integra a competição oficial, ao lado de vários regressos a Cannes, nomeadamente Pedro Almodóvar, com “Julieta”, Olivier Assayas, com “Personal shopper”, e o premiado Xavier Dolan, com “Juste la fin de monde”. O realizador holandês Paul Verhoeven, que estará em destaque este ano no IndieLisboa, terá na competição em Cannes o filme “Elle”. Nicolas Winding Refn, que venceu em Cannes o prémio de melhor realizador em 2011, regressa com “The neon demon”. “Toni Erdmann”, de Maren Ade, “La fille inconnue”, dos irmãos Dardenne, “I, Daniel Blake”, de Ken Loach, “Ma’Rosa”, de Brillante Mendoza, e “The last face”, de Sean Penn, também estarão em competição.

LIMPEZA DE MACAU NO SÁBADO

Realiza-se amanhã, pelas 19h30, no Largo do Senado, a “Noite animada sobre a limpeza da Cidade”. Organizada no âmbito das actividades comemorativas do “Dia Mundial da Terra”, esta iniciativa visa divulgar a importância e a necessidade de manter a cidade limpa. A iniciativa vai contar com a presença de associações de cidadãos estrangeiros que vivem em Macau, como a Associação dos Quezonianos de Macau, o Grupo de Trabalhadores Migrantes Indonésios Peduli e a Associação dos Conterrâneos do Vietname de Macau. A par disso, vão participar alunos da Escola São João de Brito.

UM COMUNICAÇÃO EM FESTA

O “CommFest” 2016 vai ter lugar de 18 a 22 de Abril na Universidade de Macau, realizandose a cerimónia de abertura às 12h55 do dia 18. Este é um festival de carácter anual promovido pelo departamento de Comunicação desta Universidade e será preenchido com uma série de actividades relacionadas com os média, destacando-se, segundo a organização, a exibição de filmes, fóruns e palestras temáticas bem como temas relacionados com o meio editorial de revistas e outras publicações. Este evento tem como objectivo promover a inspiração e a inovação no uso dos meios de comunicação em Macau.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

12

O Capitão Elliot e Lin Zexu magistrado do Império Celeste

F

AZENDO um rápido resumo do artigo da semana passada, cuja história versou sobre a dificuldade de entrar em Cantão, para aí residir, do Capitão Charles Elliot, nomeado pelo governo inglês a 7 de Junho de 1836 para superintendente do comércio britânico na China. O governador de Cantão só a 18 de Março de 1837 lhe deferiu o pedido, pois apenas a 11, ou 14 de Dezembro do ano anterior, se recebeu essa nomeação em Macau. Assim, nesta cidade ficou Elliot até 11 de Abril, quando finalmente pode seguir para Cantão o Ministro da Inglaterra. Segundo Ângela Guimarães, o Sistema Comercial de Cantão “só se pode considerar completo e oficializado em 1757, quando o comércio com os ocidentais é legalmente limitado ao porto de Cantão” e “vai durar até à I Guerra do Ópio”, assente “na tradicional concepção chinesa do mundo.” Possuindo produtos cujos estrangeiros muito apreciavam, tinham “este comércio organizado de maneira monopolística, na qual 13 Hongs, dos mais sólidos comerciantes do ramo, concentram o privilégio de comerciar com as feitorias estrangeiras, mediante o pagamento de somas significativas à corte imperial. O conjunto dos Hongs formam o Co-hong que, ainda dentro das regras da harmonia do sistema, é o responsável superior de todos os estrangeiros e o seu único intermediário nas relações oficiais com o poder imperial”. “Nessa base, o comércio, sendo considerado uma actividade privada, entre privados, não pressupõe relações diplomáticas” e “assim, os comerciantes estrangeiros admitidos a comerciar em Cantão apenas se relacionam com os comerciantes locais e dentro de um conjunto de regras muito estritas que visam a que a sua presença não perturbe excessivamente a ordem social vigente”, retirado do excelente livro Uma Relação Especial - Macau e as relações luso-chinesas (1780-1844) de Ângela Guimarães. Ainda segundo esta historiadora, a balança do comércio sino-britânico era muito desfavorável aos ingleses

que, para trocar pelo chá, porcelanas, seda e lacas, apenas tinham produtos de pouca relevância como, tecidos de lã e linho, ferro, cobre e quinquilharia provenientes de Inglaterra e da Índia traziam algodão bruto, marfim, sândalo, prata e ópio. A China exigia pagamento em prata, o que levou “à procura de um produto de compensação, que acabará por ser o ópio”.

ÓPIO COMO MOEDA DE TROCA

A importação de ópio foi alvo em 1729 de uma proibição oficial em Fujian e banida em todo o Império por Édito do Imperador Yongzheng (1722-1735) em 1731, segundo refere Jacques Gernet. Continuando com este sinólogo, “a cultura do ópio progride a partir do final do século XVIII depois da ocupação da Índia pelos Ingleses. A Companhia das Índias Orientais adquire os seus primeiros direitos territoriais no Bengala em 1757 e alargam-se ao Bihar em 1765. Em 1773, apodera-se do monopólio do contrabando de ópio para a China e desenvolve a cultura da papoila, primeiramente no Bengala e, depois, em Malwa, na Índia Central”. A Companhia Inglesa das Índias Orientais em 1781 começou a enviar unicamente ópio para a China e quinze anos depois, em 1796, a China proibia de novo a importação de ópio. Foi então que a Companhia Inglesa das Índias Orientais decidiu fazer de Macau o centro para o comércio desta droga e levada em contrabando, resultou, num crescimento das quantidades que entravam clandestinamente na China, no aumento do preço e em grandes fortunas para os contrabandistas, tanto ingleses, como alguns portugueses de Macau. Com a Revolução Francesa de 1789 ocorrera o desmoronamento das antigas instituições políticas e o monopólio das grandes companhias de privilégio estatal com o liberalismo, dominante a partir da década de 1830, deu acesso aos “comerciantes livres que, em regime de licença ou em contrabando, acabarão por dominar os sectores em que se envolvem”... e segundo Ângela

Guimarães, são eles, “os comerciantes da country trade, que assumem uma importância cada vez maior na percentagem do comércio” e no uso dos mecanismos fora-de-lei. Devido à tarifa imposta em Macau aos estrangeiros por Arriaga, os importadores ingleses passaram desde 1821 a ancorar os seus barcos com ópio na ilha de Lintin. “Em 1834, o parlamento inglês aboliu o monopólio (da East India Company) e liberalizou o comércio em Cantão”, segundo refere H. Gelber. Já Marques Pereira diz que, a 22 de Abril de 1834 os privilégios da Companhia Inglesa das Índias Orientais na China (EIC, East India Company) foram extintos e suspensa a sua sucursal chinesa devido ao progresso do contrabando privado de ópio. A 7 de Novembro de 1834, o Imperador Tou-Kuóng (Daoguang,

1821-1850) decretou novamente a proibição do tráfico do ópio. Mesmo assim, algumas dezenas de caixas de ópio foram tomadas a embarcações de contrabandistas e em 23 de Fevereiro do ano seguinte foram publicamente queimadas, em Cantão. Como todo este artigo está baseado em Marques Pereira e Luís Gonzaga Gomes, não usamos aspas para os citar. Já quanto às datas referidas, encontramos algumas delas diferentes para os mesmos acontecimentos e fruto das que pudemos investigar, percebe-se ter Gonzaga Gomes corrigido muitas delas.

DEIXAR ANDAR

Em 29 de Setembro de 1837 o enviado Elliot foi intimado ao dever de expulsar todos os negociantes e navios ingleses que traficavam em ópio, mas, fazendo


13 hoje macau sexta-feira 15.4.2016

José Simões morais

ouvidos de mercador, aconselhava-os a não levarem a sério tal proibição e essa ordem só deu aos seus concidadãos passado um ano, continuando assim o comércio a fazer-se. A 10 de Janeiro de 1838 foram apreendidas em Cantão algumas caixas de ópio a um residente inglês. Já os chineses apanhados no contrabando de ópio eram enforcados; tal aconteceu em 25 de Fevereiro em Cantão e a 5 de Abril, no lado de fora das muralhas de Macau, por ordem dos mandarins, ao chinês Kuo-Si-Peng, por ter sido apanhado, em flagrante delito, a vender ópio. O Governador de Cantão a 3 de Dezembro de 1838 ordenou a imediata suspensão do comércio estrangeiro, pois nesse mesmo dia fora apreendida uma porção de ópio, que se julgou haver sido importado pelo navio americano Thomas Perkins. O consignatário daquele navio e os europeus em cuja posse o ópio fôra descoberto foram expulsos. No dia 12, em frente das feitorias, por ordem das autoridades chinesas de Cantão, deu-se princípio à execução de um fumista de ópio. Opuseram-se ao acto os europeus e o padecente foi morrer noutro cadafalso. Assim, só em 18 de Dezembro de 1838, passado cerca de um ano após ser intimado, o plenipotenciário Elliot se apressou “a fazer uma intimação aos navios ingleses, empregados em comércio de ópio, para saírem do rio de Cantão no prazo de três dias”. Já desde 12 de Julho de 1838 tinha chegado a Macau, num navio de guerra, o Almirante Maitland, com instruções para proteger o comércio inglês. Jacques Gernet refere que “entre 1800 e 1820 tinham entrado na China 10 milhões de liang”, mas depois, só em três anos, entre 1831 e 1833, saíram 10 milhões. Os comerciantes ingleses em substituição da prata traziam como moeda de troca, o ópio cujo volume em 1834 era de vinte mil e quinhentas caixas e em apenas quatro anos subira para as quarenta mil caixas (variando cada caixa entre os 63 kg e os 71 kg). Perante tão assustador aumento exponencial do tráfico de ópio e a arrogância agressiva dos ingleses, que faziam tudo o que bem lhes apetecia e em constantes transgressões desafiavam à descarada o poder chinês, os governantes Qing consciencializaram-se do perigo que corriam. Por isso, em Dezembro de 1838 foi nomeado Lin Zexu (1785-1850) para acabar com tal comércio, maioritariamente feito pelo porto de Guangzhou. A 1 de Janeiro de 1839 foi restabelecimento temporariamente o comércio estrangeiro em Cantão, interrompido,

Em 29 de Setembro de 1837 o enviado Elliot foi intimado ao dever de expulsar todos os negociantes e navios ingleses que traficavam em ópio, mas, fazendo ouvidos de mercador, aconselhava-os a não levarem a sério tal proibição e essa ordem só deu aos seus concidadãos passado um ano, continuando assim o comércio a fazer-se por ordem das autoridades chinesas, em 3 de Dezembro do ano anterior.

O COMISSÁRIO LIN

Em 1836, o Imperador Daoguang (1821-1850) pedira aos seus principais ministros pareceres sobre como se deveria atacar o problema do ópio. Assim escutou quem defendesse a legalização do seu comércio, pois controlado acabava com o contrabando e a corrupção que daí advinha, podendo este ser uma importante fonte de receita. Houve

quem propusesse o incentivo ao seu cultivo, mas a maioria foi pela sua proibição, já que o ópio vinha minando a estrutura social chinesa. O Imperador Daoguang decidiu-se pela proibição e no dia 15 da décima primeira Lua do 18º ano do seu reinado (Dezembro de 1838, ou Janeiro de 1839) apontou o então Vice-Rei de Hugang (Hunan e Hubei), Lin Zexu para na qualidade de Qin Chai Da Chen, magistrado especial da Corte imperial e seu representante directo, tentar acabar com o consumo recreativo de ópio e o seu clandestino tráfico. Lin Zexu, nascido a 30 de Agosto de 1785 em Houguan (actual Fuzhou, capital da província de Fujian) de uma família sem muitos recursos, pois o pai como professor não ganhava o suficiente para dar uma vida desafogada aos onze filhos, mostrou desde criança grande talento. Lin Zexu, com o nome de cortesia Yuanfu, aos dez anos escrevia poemas e em 1799, com a tese “Lealdade ao País, orientar o povo e obediência aos pais”, foi o primeiro nos exames preparatórios, que davam acesso aos Exames Imperiais. Aos dezanove anos tinha já o título de Juren e em 1807 foi seleccionado para assistente de Zhang Shicheng, o Governador de Fujian. Em 1811, após aprovado nos exames do Palácio, já com o título de Jinshi foi durante sete

anos trabalhar na Academia Hanlin em Beijing, preparando-se em diferentes áreas para os futuros desafios. Apontado em 1820 como supervisor do Controlo de Cheias do Lago Hangjia, na província de Zhejiang, devido à sua intransigência contra os oficiais corruptos, o que lhe trouxe bastantes inimizades no seio dos oficiais civis, no ano seguinte deixou o cargo e regressou à terra natal. Alguns dos seus amigos oficiais reportaram a sua situação ao imperador Dauguang, que o apontou como Ancha da província de Jiangsu. Durante os trinta anos da sua brilhante carreira de Oficial Civil, passou pelo governo de catorze províncias e deu o seu melhor nos muitos altos cargos que exerceu, não se aproveitando deles para tirar partido e enriquecer. Vivendo com o espírito de abnegação, tentou disciplinar os seus subordinados contra a corrupção, que nessa altura grassava pela China da dinastia Qing. Foi um dos primeiros chineses a opor-se à política de fechar a China em si mesmo e procurou conhecer o pensamento e a tecnologia ocidental, para melhor resistir às incursões britânicas. Assim mandou traduzir os tratados estrangeiros sobre a produção de armas e barcos e, para saber o que eles pensavam e o que escreviam nos jornais tanto de Londres, como da Austrália, de Singapura, da Índia, assim como nos de Macau. Cidadão exemplar, Lin Zexu ficou conhecido por ter mandado queimar em Humen, na província de Guangdong, uma grande quantidade de ópio expropriado aos comerciantes ingleses, o que deu início à Guerra do Ópio. Mas ainda antes da chegada a Cantão de Lin Zexu, o Vice-Rei de Cantão, Deng Tingzhen, a 7 de Janeiro de 1839 ordenou que os seus meirinhos procedessem a uma busca em todas as habitações da cidade e apreendessem qualquer porção de ópio que nelas encontrassem, devendo ao mesmo tempo apoderar-se dos possuidores dessa droga proibida, para serem executados. É de notar neste facto que o povo de Cantão não consentiu que a busca se efectuasse sem que primeiro fossem vistas as habitações dos próprios meirinhos. A 26 de Fevereiro, defronte das feitorias europeias foi executado um chinês negociante de ópio e perante tal espectáculo os consulados arriaram, neste acto, as suas bandeiras. A 10 de Março de 1839 chegou a Cantão o célebre comissário imperial chinês Lint-sih-siu (Lin Zexu) e oito dias depois, por Édito ordenava que lhe fosse entregue sem demora todo o ópio existente em navios e na cidade.


14

h Ponto cego

T

ODO o espelho é terrível. Não o disse Rilke. E no entanto apetecia-me dizer. Não é inocente. A enorme ternura de Rilke pelas grandes amantes infelizes, o reconhecimento da impossibilidade de uma vida perpetuamente suspensa no abismo, e face a isso a síntese da afirmação de vida e morte como uma mesma coisa, nas suas Elegias, concentra nos anjos o paradigma. Belo e terrível, desejável e distante. Como se na inacessibilidade e só aí, pudesse dimensionar-se um amor desmedido. Talvez. A superação da miséria humana em transgressão, num voo pelas camadas de maior altitude rumo à descoberta da beleza sublime da alma. E eles, criaturas zelosas, redentoras ou monstruosamente e inacessivelmente narcísicas. Mesmo no seu olhar. Quando o que reflecte se espelha no reflectido. “Todo o anjo é terrível”. Foi o que ele disse. Na realidade o que poderá ser um anjo senão um espelho em que se reflecte de nós aquilo com que mais se identifica o nosso ser, de olhar e desejo, ou que mais gostamos de ver limpidamente reconhecido, aceite, amado e velado, de longe ou perto. Como só os anjos podem. Anjos como espelhos que escolhemos, às vezes, por defeito de inevitabilidade. A que nos prendemos mesmo sem querer. Que devolvem o que nunca lhes demos. Estranhos em que sem aceitar, reconhecemos uma imagem distorcida. As pessoas sentem-se espelhadas e espelham-se nisso. A prata límpida mesmo se falível. A limpidez do erro. Humano. Tornado transcendente. São belos os espelhos. Os anjos. Mas é de espelhos que falo. Imediatos e irreprimíveis. Imperfeitos e circunstanciais. No tempo, na luz, no desencanto, na suspeita. São belos mas abusivos por vezes. Os espelhos não conhecem a mais do que numa certa forma de ser prismática. Exacerbado o olhar no momento com uma distorção incontornável. Uma imagem parada. Etérea e desenraizada. Bidimensional, sem pontes entre as várias camadas de sentido. O sentido de si. A memória e

as suas estranhas incursões a modelos, a conceitos e a padrões. Basta não olhar e desaparece esse olhar que nos não pertence, mas pelo contrário rouba. E refaz. Como num livro de imagens Pop up. Que é preciso abrir para que se construam. Naqueles é preciso olhar. E o olhar devolvido pode arrepiar, revoltar, entristecer. No que tem por defeito ou por excesso. Como vozes. Ecos. Devoluções enganosas. Que nos apanham desprevenidos. Como os espelhos nos conhecem mal. Por vezes passo por eles, superfícies estanhadas ou vidros numa rua, distraidamente e sem esperar, e mal me reconheço. Quase uma outra pessoa, uma outra idade, um outro momento de mim, uma outra tristeza que já não é. E no entanto, dados suficientes para me saber eu. Uma imagem do eu. Uma delas. No momento único, irrepetível e eterno em si. Como uma acentuação excessiva ou um nivelamento que modera aleatoriamente volumes, texturas e formas precisas que sei de mim. Uma imagem. Não mais que uma imagem. Incompleta. De que não me posso defender. Os espelhos têm essa liberdade absoluta de revelar sem perdão nem emenda. De magoar. De iludir. Como se tudo lhes fora permitido, roubam. Devolvem aquilo que lhes não foi cedido. Como os olhares de outro. Não cabe em nenhum lugar um ensaio sobre o espelho. E teria que falar de Borges. Não ter ilusões. Não mais do que aquelas que momentaneamente nos assaltam sobre a fiabilidade deste. Quando o perscrutamos interrogativamente, ansiosamente necessitados de uma resposta que cale uma voz qualquer. Que teima em moer e minar, de temor ou inevitabilidade, a própria mutável construção que vamos edificando de nós. O espelho, tão escrito e descrito, é o eu o que não sou eu. Tudo e a desmedida de tudo o que se lhe opõe por relação por empatia similitude reflexão, reacção. Discurso. Com ida e retorno sobre si. Tudo e tudo o resto que se lhe refere. Reflecte. Inspira. Sinuoso, enganador, sedutor. Próprio ou alheio. Abusivo ou desejado. O discurso, qualquer discurso em espelho. Identificação e rejeição. O ser, o parecer, o ver, o saber e

o não querer. Quantos encontramos de nós ao olhar o espelho. De entre os que tememos os que amamos e os que rejeitamos. Que desconhecido coincidente de um ângulo de nós. Eu não posso em alguns dias julgar outra maldade que não a minha e qualquer outra complacência. Para além de toda a falibilidade humana, antes de saber se o outro é, há que saber ser. Se se é. Que relação ou elo há entre o momento do olhar e a eternidade de ser. Quanto de nós pomos no outro que nos olha e quanto dele. Quanto de nós é cru e violento e quanto fabricado no exílio da ficção. Nem sempre as partes permitem intuir a estrutura de um todo. Há por vezes vestígios de qualquer coisa atávica e visceral da memória do que somos, ao espelho. Sinto isso mesmo quando ela não me trata por tu. E me pergunta por alguém exterior que é ela, e alguém estranha que sou eu. Como nas fotografias do corredor. E eu vejo que no meio de tudo o que é perdido, há algo essencial que ainda estrutura, numa arquitectura de segurança, alguém que se perdeu e continua numa perda progressiva. Apesar de tudo, consola-me. Na medida do que ainda é possível. É que, comigo, ela dorme, nos intervalos das perguntas. Ela que foi mãe, memória e espelhos. Também. E dessa perda, é como se o essencial se filtrasse no que fica. E cada dia limpo e inicial a fluir na matéria do tempo. E dessa amálgama de memórias e de imagens refectidas, é por vezes a custo que não me confundo e afogo. Dissolução. Cada um sofre da sua em particular. Ou imune nas suas radicais contradições. Mas é uma forma de destruição perigosa. Sinto. Sinto-a como nunca. E paraliso. Sem meios de reunir as franjas que começam a escapar-me dos dedos. Cada vez mais dedos desprotegidos sem uma mão que os feche e una e aperte e junte e reúna no tacto a inúmeras sensações da proximidade, da familiaridade. O que é o olhar senão uma apropriação de algo ou de alguém com que nos cruzamos. Gosto de observar o olhar dos outros. Gosto de fruir as sensações que emanam das coisas através do olhar dos outros. O

olhar é mágico na sua predação incontida. Não gosto daquelas pessoas que não conseguem fixar o olhar no olhar dos outros por uma fracção de segundo sequer. Em que as pálpebras se quebram de súbito e a íris rola para baixo e para os lados sem estabilizar. Há um limite para cada um. Há também o imite do respeito pelo conforto do outro. E que saber aliviar o outro da insistência de um olhar. Libertá-lo dessa inquisição ou dessa vigilância. O olhar do espelho. Do outro. I am silver and exact. I have no preconceptions. Whatever I see I swallow immediately Just as it is, unmisted by love or dislike. I am not cruel, only truthful ‚ The eye of a little god, four-cornered. Most of the time I meditate on the opposite wall. It is pink, with speckles. I have looked at it so long I think it is part of my heart. But it flickers. Faces and darkness separate us over and over. Now I am a lake. A woman bends over me, Searching my reaches for what she really is. Then she turns to those liars, the candles or the moon. I see her back, and reflect it faithfully. She rewards me with tears and an agitation of hands. I am important to her. She comes and goes. Each morning it is her face that replaces the darkness. In me she has drowned a young girl, and in me an old woman Rises toward her day after day, like a terrible fish.

E no poema de Sylvia Plath, Mirror, ouve-se a voz do espelho. Porque é disso que se trata também. Da inevitável reciprocidade com que passamos. Olhando ou devolvendo um olhar. Espelhados nele ou difusamente distorcidos. E nesse espelho-olhar podemos morrer. Somos o que somos. Somos o que somos na vida em que passamos, dos outros que não nós. Nem sempre se gosta de admitir que somos em parte o que somos de acordo com o olhar do outro. Que somos diferentes pessoas – seres- com cada um dos outros e menos ainda que somos em parte corruptíveis pelo olhar do outro. Vendemo-nos por vezes por isso para isso. Ou tentamos não o fazer. Não mudar de roupa, de penteado e de andar. De leituras e de vícios. De olhar. Mas pode


15 hoje macau sexta-feira 15.4.2016

Anabela Canas

ANABELA CANAS

de tudo e de nada

acontecer reconhecermo-nos nesse outro que passa e de passagem reflecte, de uma forma maior, um detalhe que ninguém viu, uma liberdade que ninguém deixou existir, uma admiração específica, um olhar que vê. E gostar desse olhar pelo que reflete de nós. E que honestamente somos, ou queremos ser. Ou uma coincidência de fantasias que se cruza feliz. Somos momentos na esteira universal de sensações e memórias dos outros. Momentos ínfimos, pontuais e descartados ou em continuidade. O conforto ou desconforto de sermos diferentes do somos com cada um e de sermos diferentes do que somos com alguns, de sermos de maneira forçada o que gostaríamos de ser ou de sermos sem mais delongas só o que nos saiu naquele momento reflectido. Um dia acontece

vermo-nos ao espelho de algum olhar e sermos exactamente coincidentes, óbvios e assim naturalmente tão parecidos connosco, que se entende de repente que é em parte isso que procuramos. O exercício da autenticidade em luta de morte com as capas e as máscaras. Acontece por vezes esse olhar escravizante não ser o de quem se ama. Mas isso também é preciso que seja possível no rol de inúmeras combinações de possibilidades aleatórias. Circuitos viciosos que por vezes desgastam e confundem. Precisar de encontrar com mais nitidez uma nova imagem. Própria. Um grande círculo descrito em torno de um lado B da vida. Por vezes. Outros seres e outras emoções. O teste da liberdade de ser a partir do grau zero. As medidas. Depois, resta saber que parte de

mim volta que parte de mim fica. A importância das partes no todo. E se por vezes os espelhos, em vez de oferecerem uma história e uma personagem, oferecem ao espectador a possibilidade de encarnar a sua história num personagem pré-dado, resta a resignação de se ser também aquilo que vive no olhar de outros. Questões de uma difícil e penosa identificação. Recriamos uma noção de ser em si que necessita de ser incorporada numa imagem que o espelho oferece, mas com muito a reelaborar. Será que somos quando ou o que não sabemos que somos? Ou o problema do ser passa simplesmente pelo assumir de uma certa consciência de si, sem que a questão da verosimilhança se coloque?

Mas o ser é em si e não nos outros, no olhar e saber dos outros. Não é aí que se estrutura. Nem no querer ser. Os espelhos confundem mas não mudam. Não nos mudam. Na pose. No eco do espelho. Quando tenho dúvidas, penso em breve sei quem sou. É o que me faz suportar o tempo. É a idade. Esta idade estranha que resume tantas. Para trás e aproximadas pela frente. E misturadas. E dizer das idades é dizer o menos de tudo isto. E porque hoje em dia, há dias de eco, de sombra de reflexos e de nada. Dias do tempo do saber quem sou. A pose e a espera que se adianta no espelho. Antecipação. Porque o meu olhar como o do outro anda incompleto. Tal como na retina. Em cada olhar um ponto cego.


16 PUBLICIDADE

hoje macau sexta-feira 15.4.2016

Notificação n.º 001/SS/GPCT/2016 Considerando que não é possível notificar os interessados, pessoalmente, por ofício, via telefónica, nem por outro meio, nos termos do artigo 68.º, do n.º 1 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, bem como dos respectivos procedimentos sancionatórios regulados no artigo 14.º do Decreto-Lei n.º 52/99/M, de 4 de Outubro, o signatário notifica, pela presente, de acordo com o n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, os infractores, constantes da tabela desta notificação, do conteúdo das respectivas decisões sancionatórias: Em conformidade com o artigo 25.º da Lei n.º 5/2011 (Regime de prevenção e controlo do tabagismo), e tendo em consideração as infracções administrativas comprovadas, a existência de culpa e não existência de qualquer circunstância agravante confirmada, o Director dos Serviços de Saúde determina que: 1. Foram aplicadas aos infractores, constantes da Tabela I em anexo, as multas previstas no artigo 23.º da Lei n.º 5/2011, no valor de 400 patacas (MOP 400,00) (cada infracção): Os factos ilícitos exarados nas acusações, provados testemunhalmente, constituem infracções administrativas ao disposto no artigo 4.º, porquanto resultam da prática de actos de “fumar em locais proibidos”, tendo sido os infractores notificados do conteúdo das acusações. (cfr.: Tabela I) 2. Além disso, os infractores podem ainda apresentar reclamação contra os actos sancionatórios junto do autor do acto, no prazo de quinze (15) dias, a contar da data da publicação da notificação, nos termos do artigo 145.º, do n.º 1 do artigo 148.º e do artigo 149.º do Código do Procedimento Administrativo, sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo 123.º do referido Código. Para efeitos do disposto no n.º 2 do artigo 150.º do mesmo Código, a reclamação não tem efeito suspensivo sobre o acto, salvo disposição legal em contrário. 3. Quanto aos actos sancionatórios, os infractores podem apresentar recurso contencioso no prazo estipulado nos artigos 25.º e 26.º do Código de Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 110/99/M, de 13 de Dezembro, junto do Tribunal Administrativo da Região Administrativa Especial de Macau, sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo 27.º do referido Código. 4. Sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo 75.º do Código do Procedimento Administrativo, para efeitos das disposições do n.º 7 do artigo 29.º da Lei n.º 5/2011, os infractores deverão efectuar a liquidação das multas aplicadas, dentro do prazo de trinta (30) dias, a partir da data de publicação desta notificação, no Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo, sito na Avenida da Amizade, N.o 918, “World Trade Center Building”, 15.o andar, Macau. Caso contrário, os Serviços de Saúde submeterão o processo à Repartição das Execuções Fiscais da Direcção dos Serviços de Finanças para efeitos da cobrança coerciva, de acordo com o artigo 29.º do Decreto-Lei n.º 30/99/M e o artigo 17.º do Decreto-Lei n.º 52/99/M. 5. Não é de atender a esta notificação, caso os infractores constantes da tabela anexa tenham já saldado, aquando da presente publicação, as respectivas multas, resultantes da acusação. 6. Para informações mais pormenorizadas, os interessados poderão ligar para o telefone n.º 2855 6789 ou dirigir-se pessoalmente ao referido Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo. 14 de 03 de 2016.

O Director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion Tabela I

Nome

Tipo e n.º do documento de identificação

Sexo

N.º da acusação

Data da infracção

Data em que foram exarados os despachos de aplicação das multas 2016/03/14

1

YIM JONGIK

M

(*7)

M22987XXX

100355073

2015/07/06

2

LIU DAI

M

(*2)

C05831XXX

100390922

2015/07/08

2016/03/14

3

李小英

F

(*4)

R0662XX(X)

100147014

2015/07/08

2016/03/14

4

LUN KA HEI

M

(*4)

V1128XX(X)

100276823

2015/07/11

2016/03/14

5

CHEN LIANRONG

F

(*3)

E02594XXX

100391790

2015/07/11

2016/03/14

6

RAMANDEEP

M

(*8)

H1403XXX

100393241

2015/07/15

2016/03/14

7

M

(*1)

72274XX(X)

100263375

2015/07/24

2016/03/14

M

(*1)

51063XX(X)

100263387

2015/07/24

2016/03/14

9

CHON KUN SEN ALMEIDA,ANTONIO RODOLFO LONG XULAN

M

(*9)

22047XXX

100367656

2015/07/25

2016/03/14

10

LAI KAI YUAN

M

(*2)

C09466XXX

100367694

2015/07/25

2016/03/14

8

11

謝彪

M

(*3)

E46446XXX

100203563

2015/07/26

2016/03/14

12

M

(*2)

C09848XXX

100209995

2015/07/27

2016/03/14

M

(*3)

G57348XXX

100367331

2015/08/01

2016/03/14

14

WEN, LUO HAI CHENG, XIAO SONG LEI CHI HANG

M

(*1)

12227XX(X)

100023856

2015/08/04

2016/03/14

15

IP LONG

M

(*1)

13558XX(X)

100367559

2015/08/08

2016/03/14

16

WANG HSIN-YEN

M

(*5)

307375XXX

100204367

2015/08/10

2016/03/14

17

LIAO DESHENG

M

(*2)

W94259XXX

100397134

2015/08/13

2016/03/14

18

邓仙花

F

(*3)

E33610XXX

100203608

2015/08/15

2016/03/14

19

TANG IOK NAM

M

(*1)

13400XX(X)

100367874

2015/08/23

2016/03/14

20

WANG YING

F

(*2)

C11926XXX

100364991

2015/08/26

2016/03/14

21

SUN CHAO

M

(*2)

W70651XXX

100376669

2015/08/26

2016/03/14

22

WU LICAI BOCOUM HAMIDOU MA QUAN ZHI

M

(*3)

G36375XXX

100203236

2015/08/27

2016/03/14

M

(*10)

1XXX/2015/C.I.

100400018

2015/08/29

2016/03/14

M

(*2)

C22905XXX

100367921

2015/08/30

2016/03/14

N.º da acusação

Data da infracção

13

23 24

25

馬双

M

(*2)

C14900XXX

100203262

2015/09/05

Data em que foram exarados os despachos de aplicação das multas 2016/03/14

26

DING ZHONGWEN

M

(*3)

E34053XXX

100348597

2015/09/08

2016/03/14

27

孙汉发

M

(*3)

E13478XXX

100147088

2015/09/09

2016/03/14

28

KANO MAKOTO

M

(*6)

TH4909XXX

100397700

2015/09/10

2016/03/14

29

HOI, SAI MAN

M

(*1)

74405XX(X)

100348210

2015/09/16

2016/03/14

30

KUANG XINWAN

M

(*2)

W93018XXX

100366082

2015/09/20

2016/03/14

31

LIAO JIANAN

M

(*2)

C21000XXX

100367969

2015/09/20

2016/03/14

32

CAO, YASAN

M

(*3)

E03911XXX

100203286

2015/09/22

2016/03/14

33

HUYNH CAN BOI

M

(*9)

22122XXX

100400537

2015/09/25

2016/03/14

34

LIN, SHENG XIN

M

(*3)

E47569XXX

100405492

2015/09/29

2016/03/14

Nome

Nota﹕ (*1)

Tipo e n.º do documento de identificação

Sexo

Bilhete de Identidade de Residente da Região Administrativa Especial de Macau

(*2)

Salvo-conduto de residente da República Popular da China para deslocação a Hong Kong e Macau

(*3)

Passaporte da República Popular da China

(*4)

Bilhete de Identidade de Residente da Região Administrativa Especial de Hong Kong

(*5)

Passaporte de Taiwan

(*6)

Passaporte japonês

(*7)

Passaporte da República da Coreia

(*8)

Passaporte indiano

(*9)

Título de Identificação de Trabalhador Não-Residente

(*10) Notificação do Serviço de Migração


17 hoje macau sexta-feira 15.4.2016

?

(F)UTILIDADES

TEMPO PERÍODOS DE CHUVA MIN 22 MAX 27 HUM 80-99% • EURO 9.01 BAHT 0.22 YUAN 1.23

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje PALESTRA SOBRE REALIDADE AUMENTADA Universidade de Sao José, 18h30 Entrada livre

AQUI HÁ GATO

MOLENGO

DIA DO VINIL Rádio Macau, das 7h00 às 20h00 Entrada livre para pôr a tocar o seu disco preferido

Amanhã CONVERSA COM PATRICK DEVILLE Livraria Portuguesa, 18h00 Entrada livre CONCERTO JOÃO AFONSO “SANGUE BOM” Centro Cultural de Macau, 20h00

O CARTOON STEPH DE

CONCERTO ORQUESTRA CHINESA DE MACAU Teatro D. Pedro V, 20h00 Bilhetes a 60 patacas CONCERTO DA BANDA EXPERIENCE Centro de Design de Macau, 20h00 Bilhetes a 120 e 150 patacas

Diariamente EXPOSIÇÃO DE DINOSSAUROS Centro de Ciência de Macau EXPOSIÇÃO DE PINTURA CABO-VERDIANA “DISTANT SHORE” (ATÉ 21/04) Casa Garden Entrada livre

Cineteatro

C I N E M A

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 68

PROBLEMA 69

UM FILME HOJE

SUDOKU

EXPOSIÇÃO “AS CORES DE MACAU”, DE CAI GUOJIE Fundação Rui Cunha, 16h00 (até dia 22) Entrada livre

Sou um gato molengo, muito molengo. O tempo lá fora não ajuda à actividade e com a mantinha branquinha que colocaram em cima do computador torna-se difícil não me deixar levar pela preguiça. Enquanto me enrolo e passo as patinhas no focinho vou vendo a vida passar. De vez em quando lá abro um olho e espreito os movimentos que me rodeiam. Barulhos de dedos a baterem nas teclas, frases soltas pelas paredes, as notícias a determinadas horas, tudo isto faz parte do quotidiano. Eu já me habituei, mas percebo que aos que não estão habituados ao serviço, e aos que chegaram há pouco tempo, isto possa parecer estranho, possa até mesmo parecer confuso. Não é. Garanto-vos. Não há nada como a balbúrdia de uma redacção. Os barulhos, as notícias, as especulações, as teorias da conspiração, as condenações aos erros (próprios e dos outros), o entusiasmo de uma boa notícia, o silêncio barulhento da necessidade de ideias novas... tudo isto enquanto o mundo lá fora acontece, devagar e rápido. Tudo isto enquanto eu salto e balanço-me entre um sono e outro. Entre um gole de água (eu não gosto de leite, ok?!) e um biscoito com cheiro manhoso. Eles, jornalistas, editores e directores, vão ali vivendo e no dia seguinte voltam, voltam com a mesma vontade de contar o que os seus olhos vêem, o que os ouvidos ouvem. Voltam com a mesma vontade para mudar o mundo. E eu, sempre aqui, sereno, a olhá-los. Pu Yi

“TEN YEARS” (NG KA LEUNG, 2015)

Como vai ser Hong Kong daqui a dez anos? É o que sugere o filme que é considerado “profecia” da sociedade desta cidade vizinha. Conta com cinco histórias individuais filmadas por cinco realizadores e com um conteúdo “sensível” : a procura pelos direitos humanos, da democracia, da liberdade de imprensa e até da “independência de Hong Kong” são os temas, que fizeram até com que a China continental proibísse qualquer comentário sobre o filme. Com a película, Ng Ka Leung, um dos planeadores, quer mostrar a realidade que poderá ser o futuro, através de conversas informais com os residentes. Flora Fong

10 CLOVERFIELD LANE SALA 1

Com: Mary Elizabeth Winstead, John Goodman 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

Filme de: Cedric Nicolas-Troyan Com: Chris Hemsworth, Charlize Theron, Emily Blunt 14.30, 16.30, 21.30

SALA 3

THE HUNTERSMAN: WINTER’S WAR [C]

THE HUNTERSMAN: WINTER’S WAR [3D] [C] Filme de: Cedric Nicolas-Troyan Com: Chris Hemsworth, Charlize Theron, Emily Blunt 19.30 SALA 2

10 CLOVERFIELD LANE [B] Filme de: Dan Trachtenberg

TRIVISA [C] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Frank Hui, Jevons Au, Vicky Wong Com: Lam Ks Tung, Richie Jen, Jordan Chan 14.15, 16.00, 21.45

ZOOTOPIA [A] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Byron Howard, Rich Moore 17.45, 19.45

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Manuel Nunes; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


18 OPINIÃO

hoje macau sexta-feira 15.4.2016

sorrindo sempre

*** “Rua de Macau” foi rodado numa época em que a cidade se transformou num grande estaleiro, palco da primeira onda de construção dos novos empreendimentos da indústria do jogo, bem como de outras tantas infra-estruturas materializadas pelo governo visando preparar Macau para a metamorfose que advinha. O tempo passa num instante e o filme – que contou com a colaboração do autor desta coluna – está perto de fazer 10 anos. Pelo que ora se decidiu desenvolver aqui uma sequela, uma actualização e contextualização com a nova realidade – de uma forma muito pessoal e peculiar. *** Rua de Macau II No dia seguinte Miri, confusa e sozinha em casa, contempla a ideia de ir ter com Miguel

Rua de Macau II SÉRGIO PEREZ, RUA DE MACAU

R

UA de Macau” é um filme da autoria do nosso cineasta Sérgio Perez. Lançado em 2008, conta a história de Miri, uma chinesa de Macau sofisticada, recém-regressada do estrangeiro onde concluiu os seus estudos. (*) Miri deixa-se deslumbrar pela nova indústria do jogo. Sente-se atraída pela escala, opulência e requinte das novas propriedades acabadas de inaugurar. Por outro lado, entusiasma-se também com a nova comunidade de expatriados anglofónicos que vai populando Macau e com a qual se identifica. A pequena cidade adormecida onde Miri cresceu, transformou-se e deixou de ser o backwater onde nada se passava. Agora sim, é uma cidade. E internacional. Por mero acaso – e depois de ter rejeitado um expatriado à porta de um bar – Miri decide dar uma volta a pé por Macau. É assim que descobre um pequeno e humilde restaurante português nas vísceras da malha antiga da cidade. Interessa-se pelo estabelecimento onde fotografias antigas de Macau com jogadores de hóquei em campo na Caixa Escolar enfeitam as paredes e onde se come minchi ao som de música em patuá. Mas, sobretudo, interessa-se por Miguel, um rapaz Macaense simples, interessante e bem-parecido, filho do dono desse pitoresco estabelecimento. Apaixonando-se por Miguel, Miri acaba também por se apaixonar pelo charme do seu antigo Macau. Mas um dia cai em si e decide que não é nada daquilo que quer – e regressa ao seu Macau do bling-bling.

ANDRÉ RITCHIE

para lhe explicar a razão da reacção brusca e agressiva da noite anterior. Na verdade, tratou-se tudo de um equívoco. Miri sabe que deixou Miguel magoado e, por isso, sente-se mal. Tem a consciência pesada e quer ir ter com ele para que possam pelo menos manter uma relação como amigos. No entanto, hesita. Não por medo ou por pensar que, regressando ao restaurante onde Miguel trabalha, irá emocionar-se novamente com aquele ambiente de fotografias antigas, comida portuguesa e músicas em patuá. Tem também a certeza que nem o olhar charmoso de Miguel a fará vacilar. O problema não está aí. Miri hesita porque o restaurante fica numa zona altamente inacessível da cidade. É que Miri é sofisticada, mas mora nos blocos de habitação social de Seac Pai Van. Não conduz porque a carta de condução que tirou no estrangeiro ainda não foi aceite em Macau – a última explicação que lhe deram foi que no país onde tirou a carta conduz-se do lado contrário, pelo que o processo demora um pouco mais. Vai ter de ir de autocarro. É uma viagem longa – está habituada a comutar diariamente apenas entre Seac Pai Van e Cotai, onde trabalha – e não lhe agrada a ideia de ter de atravessar a cidade toda num autocarro que, quase sempre, está cheio de operários das obras que circulam em grupo porque vivem todos juntos em apartamentos transformados em dormitórios. Ainda assim, persistente, vai ao seu iMac e faz uma pesquisa para saber qual o autocarro que deve apanhar para se chegar àquele fim-do-mundo. Enerva-se porque não consegue encontrar, de uma forma intuitiva, a informação que procura. E recorda-se que o website da Reolian era, nesse aspecto, o melhor de todos pois permitia visualizar todas as linhas de autocarro em interacção com imagens de satélite do Google Maps. Agora, encontra apenas tabelas e mais tabelas com números dos autocarros e respectivas paragens identificadas ou pelo nome da rua ou, pior, pelo nome do prédio adjacente – e mais nada.

“Like, I’m supposed to know all the names of the streets or the names of the buildings? WTF?”. Frustrada e irritada, Miri dá um muro na parede. Por sorte, esta manteve-se intacta – podia ter sido pior. É no meio disto tudo que Miri recebe uma notificação no seu iPhone 6. Trata-se de um aviso de chuvas intensas. Por essa razão, as escolas vão-se manter fechadas. “Good”, pensa Miri. Finalmente algo positivo, pois não havendo escola haverá menos tráfego – a eventual viagem até ao restaurante será menos morosa. No entanto, à cautela, decide ficar em casa e não arriscar pois desconfia que a notificação de chuvas intensas se trate apenas de um simulacro. Nunca se sabe e não vale a pena verificar pela televisão pois também eles participam nos simulacros. *** Miguel está sentado sozinho numa mesa do restaurante onde trabalha. É-lhe servido pelo pai um minchi com arroz branco, mas sem ovo estrelado – Miguel ficou traumatizado com o episódio dos ovos falsos vindos da China e, desde então, deixou de comer ovo. Nem a criação do Centro de Segurança Alimentar o curou desse trauma. A imagem que viu no noticiário de uma falsa gema de ovo cozida com textura a borracha a saltitar como uma bola de pelota basca ficou-lhe gravada na memória para sempre. Com ovo ou sem ovo, Miguel decide ir ter com Miri. Sabe que ela mora no Seac Pai Van, que isso fica no fim-do-mundo, mas está decidido a embarcar numa viagem que, com azar, poderá até vir a ser mais longa do que uma ida a Hong Kong. Miguel tem uma mota, mas prefere ir de autocarro. É que, mesmo com a faixa reservada para motociclos da Ponte de Sai Van, tem consciência do perigo que é atravessar a ponte de mota. Amor é também determinação e coragem, está certo. Mas Miguel perdeu recentemente um amigo, vítima de um acidente, e não quer arriscar.

O que Miguel não sabe é que está para vir uma grande tempestade de chuvas intensas. Miguel, sendo Maquista, tem por teimosia instalado no seu telemóvel a versão em língua portuguesa da aplicação que faz essas notificações – mesmo sabendo que, por esse motivo, essas tardam a chegar porque precisam de ser traduzidas; ou por vezes não chegam sequer a ser enviadas. No caso em concreto, fica-se sem perceber bem o que aconteceu – o filme não revela esse pormenor desnecessário. Por outro lado, o seu pai irritou-se com todo o episódio dos anteneiros e a partir daí deixou-se de ver televisão no restaurante. É que o homem, sendo um antigo de Macau, apreciava a clandestinidade do sistema montado pelos anteneiros e das 90 patacas que pagava por mês que lhe dava acesso a todos os canais, incluindo o tal de desporto tailandês onde via o seu futebol. Assim, quando se deu cabo do esquema e se criou a Canais de Televisão Básicos de Macau, S.A., por solidariedade com os anteneiros o velho botou prontamente a televisão no lixo. Desconectado e sem informação actualizada, Miguel está à espera do autocarro numa paragem provisória sem cobertura – porque a rua está em obras para a instalação de cabos da MTEL – quando cai uma chuvada que o deixa molhado até à cueca. Frustrado, regressa ao restaurante. *** Passado uns tempos, quis o destino que Miri ganhasse uma oportunidade para finalmente ir ter com Miguel ao restaurante: foi notificada pelo Centro de Saúde da Areia Preta para ir a uma consulta marcada uns anos atrás. É que, tal como muitos que não têm casa própria, Miri mudou de casa umas 20 vezes antes de se fixar em Seac Pai Van. E, pelo percurso, chegou a morar na Areia Preta. Deslocou-se a essa zona da cidade através da Uber. Por azar, o carro que a transportou foi parado pela polícia. Miri é persuadida pelos agentes da autoridade a confessar que estava a utilizar um transporte ilegal. Ao condutor foi aplicada uma multa pesada. Atrasada, Miri acaba por faltar à consulta. Decide então caminhar em direcção ao restaurante. Para a sua enorme surpresa, o estabelecimento já lá não estava. No seu lugar encontra uma loja que vende não se sabe bem ao certo o quê. Perdida, Miri pergunta ao homem da loja – um sujeito com ar de artista – pelo restaurante. “Não sabes?”, respondeu o artista. “Não aguentou a renda e fechou as portas!”. Surpreendida e insatisfeita, Miri responde: “E tu? Como aguentas tu a renda?” “Tenho um subsídio do Fundo das Indústrias Criativas.” Miri encolhe os ombros e desiste.Afasta-se de tudo e todos, sorrindo sempre. (*) “Rua de Macau” tem a duração de 45 minutos e está disponível no YouTube: https://www.youtube.com/ watch?v=8GYv8afEq6c


19 hoje macau sexta-feira 15.4.2016

PERFIL IOA HIN GALLERY

JANA DVORSKA, PROFESSORA DE INGLÊS

“Imagino-me a escrever poemas na praia”

E

STÁ em Macau há cinco anos. Foi o amor que a trouxe e foi o amor que quase a levou. Mas isso são outras histórias porque a realidade é que Jana gosta de estar por cá: “é um sítio maravilhoso”, diz. “Mal cheguei, senti-me imediatamente feliz”, explica. E foi em Outubro que chegou. Pois é, porque o pior viria a seguir. Primeiro com o frio e depois com as humidades. Mas é o frio, especialmente o deste último Inverno, que a mói mais: “foi horrível, detesto frio”. Isto apesar de ter crescido em Calgary, no Canadá, “onde temos seis meses de Inverno” diz Jana e, talvez por isso, tem uma paixão assolapada pela praia: “Imagino-me a escrever poemas na praia e a viver assim”, confessa Jana, em inglês, a língua que considera a sua principal. É também a que ensina, mas não a única que domina. Italiano, Francês, Português e, claro, Checo – Jana é checa - fazem parte do seu repertório. Foi para o Canadá com a família aos cinco anos e aos 21, depois de se formar em Francês e Sociologia, voltou para República Checa sozinha, “porque precisava de experienciar a cultura”, conta. Nasceu em Ostrava mas foi para Praga, “a Paris do Leste”, apelida, uma cidade que adora, “especialmente aquelas ruas medievais, o castelo, a ponte Charles..”, exemplifica. Foi aí que tudo começou a mudar quando

conheceu um português que trabalhava na mesma empresa.

MEIA VOLTA AO MUNDO

Apaixonaram-se e mudaram-se para Manchester onde desenvolveu uma atracção pelo futebol pois, explica, “tínhamos um amigo que trabalhava para o Cristiano Ronaldo e ele foi simpático, assinou-nos umas T-Shirts e deu-nos bilhetes para um par de jogos”. Dois anos e picos depois seguiram para Lisboa onde viriam a estar um ano mas o suficiente para Jana dizer que o seu clube é o Benfica e para confessar que “talvez queira para lá voltar um dia”. Desporto é algo que faz parte da sua vida. “Fazia muito ski e patins em linha em Calgary mas agora faço yoga, medito todos os dias e gosto de correr nos trilhos da Taipa e de Coloane”. Voltávamos a Macau e, por falar em trilhos, Jana espera que as ideias de urbanização em Coloane não vão avante “porque é o único espaço verde que anda temos desimpedido e precisamos dele”. A falta de jardins e espaços verdes é mesmo o que ela menos gosta em Macau. “Percebo que a cidade é pequena mas talvez se pudesse fazer um esforço para termos mais jardins e espaços para andar a pé e de bicicleta”, diz.

GOSTO PELO ENSINO

Quando falamos de sonhos Jana diz que vive perto deles, pois faz o que mais gosta: ensinar. “Fiz outras coisas na vida mas

ensinar é a minha profissão, é o que mais gosto.” É professora na Escola Secundária Hou Kong, onde adora estar, depois de passar pelo Instituto Politécnico, pela Universidade de São José, pela Universidade Cidade de Macau (UCM) e pela Escola das Nações, esta uma experiência menor para ela porque “os estudantes vêm de famílias ricas e por isso são muito pouco respeitadores”. Apermanência em Macau “tem sido óptima para a minha própria educação”, diz, pois aqui tirou um mestrado em Educação e um diploma de pós graduação na mesma especialidade.

para perguntarem o que entenderem. Até perguntas pessoais”. Esse à vontade levou-a a um episódio que não esquece quando, ainda na UCM, uma aluna veio confessar-lhe que era lésbica, como a pedir conselhos, pois tinha medo de o confessar aos pais. Jana tranquilizou-a e deu-lhe coragem. Foram apenas dois semestres e nunca mais a viu pessoalmente mas segue-a pelo Instagram onde percebeu que ela tem colocado imagens com uma namorada nova. “Fiquei feliz. Deve estar tudo a correr bem”, esclarece.

DECORAR MUITO E OPINAR POUCO

E viver em Macau? “Macau é um paraíso para adultos”, diz, mas foi logo adiantando que também permite “qualidade de vida e é um sítio fácil para encontrar os amigos e é segura. Isso é muito importante”. Além disso, “acontece muita coisa como o Festival de Cinema que aí vem, o Festival Literário, há música, muitas bandas locais”, aclara. Também considera que a cidade “dá muitas oportunidades, é óptima para trabalhar, proporciona bons salários e várias oportunidades de trabalho. Também é uma boa base para explorar a Ásia”, conta. Tudo somado, “é um sítio especial e sinto-me privilegiada por aqui viver”, confessa.

“A dificuldade de ensinar chineses é terem pouca confiança e poucas oportunidades para falarem. Passam a vida a memorizar. Por isso estou sempre a dar-lhes oportunidades para falarem, para nos conhecermos mutuamente”, diz Jana, considerando ser essa a principal pecha no sistema educativo local. “Memorizar datas, nomes é ridículo na era do Google”, afirma ainda Jana, que considera que os alunos chineses “têm poucas oportunidades para formarem uma opinião sobre os factos” - o que a jovem tenta providenciar nas suas aulas, pois. “Na minha classe quero é que eles participem, que falem. Não há nada para memorizar”. Para a jovem professora a relação que se desenvolve com os alunos é, por isso, essencial: “ponho-os à vontade para falarem,

UM PRIVILÉGIO

Manuel Nunes

info@hojemacau.com.mo


Mergulho-me na vida, / na voz deste bazar, / Com lojas, / tendas, / vendedores de rua: / É um rio de rumor e cor, / tentacular, / Que flui, / reflui e, / de repente, / estua.” Camilo Pessanha

CCAC ASSOCIAÇÃO PEDE A CHUI SAI ON COMBATE À CORRUPÇÃO

“Conluio ainda é grave” A associação ligada aos deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San entregou uma carta ao Chefe do Executivo onde pede um Governo mais transparente nos processos de aquisição de bens e serviços

A

Associação Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau espera que o Chefe do Executivo corrija os problemas apontados no relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), sobretudo a situação de corrupção na adjudicação de bens e serviços por parte dos departamentos do Governo. A entidade pede que seja criado um mecanismo para que esses casos sejam discutidos na Assembleia Legislativa(AL). Os deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San, bem como outros membros da Associação, entregaram ontem uma carta na Sede do Governo, criticando a situação de alegado conluio entre os funcionários públicos e empresários ligados às obras públicas, incluindo o processo de aquisição de bens e serviços. A Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau recordou que vários relatórios de auditoria tam-

e as despesas nos sites oficiais para que a sociedade verifique.

NOVAS MEDIDAS

bém apontaram problemas como o abuso de poder e a adjudicação de serviços que não corresponde ao sistema jurídico em vigor. “Os poderes públicos têm falta de transparência, não há um regime de responsabilização nem um mecanismo de fiscalização mais democrático, assim, o abuso de poder e corrupção são resultados óbvios”, apontou a Associação. “O Chefe do Executivo prometeu em 2009 criar um Governo transparente e tomar decisões políticas baseadas em critérios científicos. No entanto, sete anos depois, a situação de conluio

é ainda grave, o que é muito irónico. Isso deve prejudicar profundamente o futuro da RAEM”. A Associação espera que o Chefe do Executivo reaja aos problemas revelados nos relatórios do CCAC e da auditoria nos próximos três anos do mandato, quebrando a “caixa negra” que existe nos poderes públicos. Pedem ainda a criação de um mecanismo de fiscalização mais transparente e democrático. Além disso, a Associação espera que os serviços públicos publiquem de forma periódica os seus projectos

O Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, reagiu ontem em comunicado ao relatório do CCAC, tendo referido que “atribui grande importância” aos casos apontados. “O Governo vai acelerar o processo de melhoramento e de optimização do actual regime de aquisição, conforme a importância e urgência. Em primeiro lugar, vai introduzir alterações às normas sobre valores de aquisição que têm sido adoptadas ao longo de mais de 20 anos, através de um regulamento administrativo, cuja elaboração já está concluída, tendo entrado a referida revisão em processo legislativo”, lê-se, sendo que a Direcção dos Serviços de Finanças “irá reforçar a supervisão sobre a aplicação das normas respeitantes à aquisição e tomar medidas apropriadas para o seu aperfeiçoamento”. Flora Fong (revisto por A.S.S.) flora.fong@hojemacau.com.mo

BANCO MUNDIAL ACORDA COM BANCO ASIÁTICO DE INVESTIMENTOS

O

PUB

Banco Mundial (BM) e o Banco Asiático de Investimentos em infra-estruturas (BAII), instituição financeira internacional proposta pela China e da qual Portugal é membro, assinaram na quarta-feira o primeiro acordo de co-financiamento. Com sede em Pequim e um capital de 100 mil milhões de dólares (30% assegurado pela China), o BAII estima que este ano emprestará cerca de 1,2 mil milhões de dólares.

Os projectos conjuntos com o Banco Mundial devem compor uma “parte considerável” daquele valor, esclareceu o BM em comunicado, citado pela agência oficial chinesa Xinhua. A mesma nota detalha que os dois bancos internacionais “estão a analisar quase uma dúzia de projectos co-financiados em sectores como transportes, recursos hídricos e energia na Ásia Central e sul e leste da Ásia”. Visto inicialmente em Washington como um concorrente

sexta-feira 15.4.2016

ao BM e ao Fundo Monetário Internacional (FMI), duas instituições sediadas nos Estados Unidos e habitualmente lideradas por norte-americanos e europeus, o BAII acabou por suscitar a adesão de mais de vinte países fora da Ásia, da Austrália à Alemanha. Com uma participação de cerca de 13 milhões de dólares, Portugal é um dos 57 membros fundadores, enquanto o Brasil é o nono maior accionista, com uma participação de 3.181 milhões.

Das grandes economias mundiais, apenas os EUA e o Japão ficaram de fora. De acordo com o Banco Mundial, cerca de 1,2 mil milhões de pessoas no mundo carecem de acesso a electricidade e 2,4 mil milhões não têm acesso a serviços de saneamento básico. O acordo é “um passo importante no sentido de responder às enormes necessidades do mundo em termos de infra-estruturas”, afirmou o presidente do BM, Jim Yong Kim, citado pela Xinhua.

Uma vacina contra o mal Mais de 350 punidos por venda ilegal de vacinas na China

M

AIS de 350 funcionários chineses foram despromovidos ou afastados por negligência na sequência do desmantelamento de uma rede de venda ilegal de vacinas, no maior escândalo de saúde pública ocorrido na China nos últimos oito anos. O caso envolve o armazenamento sem condições, transporte e venda ilegal de vacinas - muitas fora de prazo - avaliadas em 570 milhões de yuan, segundo a imprensa estatal. Na sequência do desmantelamento daquela rede, que operava desde 2011 em 24 províncias e cidades, entre as quais Pequim, a polícia chinesa deteve já 202 pessoas e abriu 192 processos criminais. Funcionários da Administração Estatal de Alimentação e Fármacos e da Comissão Nacional da Saúde e Planeamento Familiar chinês, assim como 17 autoridades locais “serão responsabilizados”, segundo uma decisão do Conselho de Estado chinês. “A qualidade e segurança das vacinas

estão relacionadas com a vida e saúde das pessoas, especialmente das crianças, sendo por isso uma linha vermelha que não pode ser ultrapassada”, lê-se na decisão tomada após uma reunião presidida pelo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang. O escândalo “expôs uma supervisão negligente das vacinas e a inércia de alguns funcionários”, acrescenta.

FARMACÊUTICAS SOB INVESTIGAÇÃO

Entre as vacinas vendidas, destaca-se as contra a poliomielite, raiva, garrotilho, encefalite ou hepatite B. Segundo a agência oficial chinesa Xinhua, a polícia está a investigar 29 companhias farmacêuticas por alegado envolvimento. O caso voltou a aumentar a preocupação entre a população chinesa para com a insegurança em vários sectores, como o alimentar. Em 2008, a adulteração de leite infantil com melanina por 22 marcas locais resultou na morte de seis bebés e em 300 mil intoxicações.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.