DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
TODA A MENTIRA GRANDE PLANO
ALESSIO BOGANI
REDE 5G
QUARTA-FEIRA 15 DE ABRIL DE 2020 • ANO XIX • Nº 4506
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hojemacau
COVID-19
Altas em alta PÁGINA 4
ATERRAR, É PRECISO ÚLTIMA
PETIÇÃO
Filipinos sem apoios PÁGINA 9
LEI SINDICAL
As falhas do relatório ANABELA CANAS
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TRILOGIA
ANABELA CANAS
GRATIDÃO
h
NUNO MIGUEL GUEDES
LIDA DA CASA
Cheios de nove horas No dia em que o Chefe do Executivo recebeu o deputado Sulu Sou, no âmbito da recolha de opiniões com vista à apresentação das Linhas de Acção Governativa, ficou também a saber-se que as exposições e debates de cada tutela do Governo decorrerão num só dia, em sessões de nove horas, com os trabalhos a desenrolarem-se entre as 15 e as 24 horas. No encontro com Ho Iat Seng, Sulu Sou voltou a insistir na definição de um caminho para o sufrágio universal.
JOÃO PAULO COTRIM
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AEROPORTO
2 grande plano
15.4.2020 quarta-feira
5G
A VIRALIDADE DO TEORIA QUE LIGA TECNOLOGIA À PANDEMIA CRESCE ONLINE
À margem do que a ciência decifra quanto à origem e características do novo coronavírus, no mundo virtual as conspirações à volta da rede 5G proliferam quase ao ritmo da pandemia. Desde servir como arma das “elites” para exterminar grande parte da população, ou meio de fragilizar o sistema imunitário, as conspirações convencem cada vez mais pessoas, enquanto as redes sociais tentam parar a disseminação de conteúdos falsos
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desinformação sobre a covid-19 está a ser quase tão difícil de conter como a própria pandemia. Uma das teorias de conspiração mais partilhadas, e que também tem sofrido inúmeras mutações, aponta a tecnologia 5G como a fonte, ou meio de propagação, da pandemia que percorre o mundo inteiro. Sem qualquer base científica, ou sequer correlação, as primeiras afirmações que ligaram a tecnologia de rede wireless de nova geração e o novo tipo de coronavírus começaram a circular nas margens da internet entre os
adeptos mais aguerridos do New Age e os seguidores do QAnon (uma rede de conspirações ligada à extrema-direita que protege Donald Trump e, entre muitas outras teorias, liga políticos da ala democrata a redes de tráfico sexual de crianças). A infância da teoria começou com a vaga asserção de que as elites globais, normalmente associadas a milionários judeus, estariam a usar o 5G para espalhar o novo coronavírus. A disseminação seria o segundo passo, com a partilha de vídeos e o empurrão de algoritmos que ampliam teorias que nasceram nos cantos mais recônditos da
Internet até aos média tradicionais. Pelo caminho, a “viralidade” contou com o empurrão de celebridades como os actores Woddy Harrelson e John Cusack e a cantora M.I.A., que partilharam as tais teorias entre os milhões que os seguem nas redes sociais. Depois das teorias que ligam a radiação provocada pelo 5G às doenças oncológicas, o surgimento do novo coronavírus uniu os dois bichos-papões. Uma das teses alega que as redes 5G provocam, do nada, infecção ou os sintomas da infecção. Uma teoria mais moderada refere que a tecnologia emite radiações que enfraquecem o sistema imunológico, tornando as pessoas mais susceptíveis à infecção. Inúmeras investigações, que passaram o crivo do método científico, demonstraram que as ondas de radiofrequência emitidas por telemóveis não têm energia suficiente para danificar o ADN de uma pessoa ou provocar aquecimento de tecidos. Aliás, os níveis de energia emitidos por telemóveis são menores que os emitidos por fornos micro-ondas e televisões. Outro factor descurado pelos teóricos de conspirações é a menor capacidade dos sinais de 5G, em comparação com o 4G, para penetrar objectos.
TEMPESTADE PERFEITA
Esta não é a primeira vez que a Internet é inundada com teorias sem base científica sobre a covid-19. Das teses que argumentam que o novo tipo de coronavírus é uma arma biológica criada em laboratório, passando pela alegação de que é um esquema do antigo CEO da Microsoft, Bill Gates, para despovoar o planeta, a covid-19 tem sido usada para criar múltiplos bodes expiatórios que afastam a
atenção do público para a forma como os governos lidam com a pandemia. Ainda no reino das teses, uma das mais bizarras indica que o novo coronavírus teve origem num culto composto por celebridades que usou um lote estragado de sangue
A conspiração começou com a vaga asserção de que as elites globais, normalmente associadas a milionários judeus, estariam a usar o 5G para espalhar o novo tipo de coronavírus
de criança para tratamentos de rejuvenescimento. Não é a primeira vez que a actualização de infra-estruturas wireless inspiram ligações a problemas de saúde, o mesmo aconteceu quando começaram a ser montadas as primeiras antenas de 4G. Ainda antes do início da pandemia, já a tecnologia 5G era apontada, sem suporte científico, como causa de uma série de maleitas, mas o surgimento da covid-19 deu uma nova vida às conspirações e mesmo a actos de vandalismo, com particular incidência no Reino Unido. De acordo com a BBC, antenas de redes móveis 5G têm sido incendiadas no Reino Unido, depois da ignição inicial da partilha de teorias de conspiração na Internet que ligam as infra-estruturas à propagação da pandemia. No início do mês, pelo menos três antenas arde-
ram completamente, sendo necessária intervenção dos bombeiros e da polícia. Em declarações ao portal noticioso The Verge, um porta-voz da Vodafone UK confirmou que num espaço de 24 horas quatro antenas haviam sido incendiadas, o que levou à abertura de investigações policiais. Pelo menos uma antena,
Inúmeras investigações científicas demonstraram que as ondas de radiofrequência emitidas por telemóveis não têm energia suficiente para danificar o ADN
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quarta-feira 15.4.2020
VÍRUS que não serve a rede 5G foi igualmente danificada em Birmingham. “Os nossos engenheiros estão a apurar as causas do fogo numa das nossas torres em Birmingham. A confirmar-se o fogo-posto, que parece plausível, vamos colaborar com a polícia de West Midlands para encontrar o responsável pelo crime”, referiu ao portal de notícias um porta-voz da EE, outra operadora de redes móveis. “Esta infra-estrutura servia milhares de pessoas na área de Birmingham, providenciando conexão 2G, 3G e 4G, ao longo de muitos anos. Vamos tentar restaurar o serviço o mais rapidamente possível, mas os estragos causados pelo fogo são significativos”, completou.
LIBERDADE VS VERDADE
A Comissão Internacional de Protecção contra
Radiação Não Ionizante, instituição de peritos científicos que analisam a forma como a exposição a campos electromagnéticos
“Os nossos engenheiros estão a apurar as causas do fogo numa das torres em Birmingham. A confirmar-se o fogo-posto, que parece plausível, vamos colaborar com a polícia para encontrar o responsável pelo crime.” EE EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES BRITÂNICA
usados em telemóveis, e outros objectos, afecta a saúde, afastou qualquer tipo de ligação entre o 5G e o coronavírus. “A teoria que afirma que o 5G tem impacto no sistema imunitário e que, por isso, faz as pessoas adoecerem, não tem qualquer base”, afirmou Eric van Rongen, presidente da instituição, à CNN. O cientista que refere que se existisse impacto deste tipo de radiação em doenças infeciosas “já teria sido detectado há décadas”. Enquanto não existe uma vacina para a covid-19, a cura da disseminação de informação falsa também é difícil de remediar. Ainda assim, plataformas de Internet e redes sociais começaram a dar os primeiros passos para limitar a propagação de desinformação sobre o novo tipo de coronavírus, apesar de tardiamente. Na semana passada, o YouTube baniu vídeos que ligam as redes 5G à covid-19, depois de inicialmente terem lavado as mãos da responsabilidade com a justificação de que o conteúdo não violava as políticas de publicação. Alguns destes vídeos tinham acumuladas centenas de milhares de visualizações. Também o Twitter reagiu, prometendo melhorar o algoritmo para identificar e banir a distribuição de informação falsa. “Vamos continuar a agir contra contas que violem as nossas regras, incluindo publicações de conteúdo que contenha alegações que carecem de verificação científica e que incitem a desarmonia social, pânico generalizado, ou caos de larga escala”, referiu um porta-voz da empresa à CNN. Actualmente, uma busca no Facebook que contenha as entradas 5G e coronavírus apresenta, na maioria, fontes e informação credíveis, apesar de ainda se poder encontrar algumas teorias de conspiração. A empresa de Mark Zuckerberg prometeu agir agressivamente para combater a disseminação de informações falsas, em particular as que possam inspirar actos de vandalismo, como os de incendiar antenas. João Luz (com agências) info@hojemacau.com.mo
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4 coronavírus
15.4.2020 quarta-feira
COVID-19 CONCEDIDA ALTA HOSPITALAR A DOIS DOENTES RECUPERADOS
A caminho do Alto de Coloane Dois doentes infectados com covid-19 tiveram ontem alta hospitalar e seguiram para isolamento no centro clínico do Alto de Coloane. Há também uma criança de nove anos recuperada, mas vai ficar à espera da alta do pai, uma vez que não tem outros familiares com quem ficar. Ontem foi o sexto dia consecutivo sem registo de novas infecções
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LVIS Lo, médico adjunto da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ), confirmou ontem a alta de mais dois pacientes recuperados de covid-19. Estes foram encaminhados para o centro clínico do Alto de Coloane onde vão cumprir um período de isolamento. Ontem não foram registados novos casos de infecção.
O 14º paciente a ter alta hospitalar, que correspondente ao 36º caso de infecção no território, é um residente de Macau que estuda em Portugal. O jovem chegou a Macau no dia 15 de Março depois de ter feito o voo Lisboa-Dubai-Hong Kong. No dia 17 de Março, apresentou sintomas de febre e dor de cabeça e foi submetido a testes de ácido nucleico que inicialmente
VIAGENS RESTRITAS
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s companhias aéreas estão a adoptar medidas mais restritas, a pedido das autoridades, para quem viaja para Macau, segundo Leong Iek Hou. “Neste momento, no estrangeiro, há muitos países com situações graves. Para assegurar a saúde da tripulação do avião e dos passageiros pedimos às companhias aéreas para verificarem a temperatura dos passageiros. Se estes apresentarem febre não entram no avião.” Além disso, cada passageiro deve apresentar uma declaração, antes de embarcar, que comprova que não está infectado com covid-19. As companhias aéreas estão também informadas das novas regras das fronteiras, pelo que as pessoas que não podem entrar no território não estão sequer autorizadas a efectuarem o check-in.
deram resultado negativo para a covid-19. No entanto, depois de vários dias em isolamento domiciliário, o jovem acusou positivo a 28 de Março. Alvis Lo adiantou que a situação clínica do paciente é estável, sem sintomas de febre ou do trato respiratório. A segunda alta anunciada ontem é a 15ª desde a primeira infecção em Macau e é relativa ao 35º caso confirmado de covid-19 no território. Trata-se de um jovem estudante, também residente de Macau, que estagiava medicina num hospital em Londres. Durante o estágio contactou com pessoas infectadas com covid-19, enquanto lhes prestava cuidados médicos sem usar máscara. O estudante teve sinais de febre no dia 24 de Março e testou positivo para o novo coronavírus a 28 de PUB
Anúncio Concurso Público N.o 5/ID/2020 «Serviços de limpeza na Sede e no Edifício Administrativo da Ala Oeste do Instituto do Desporto» Faz-se saber que em relação ao concurso público para o «Serviços de limpeza na Sede e no Edifício Administrativo da Ala Oeste do Instituto do Desporto», publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 14, II Série, de 1 de Abril de 2020, foram prestados esclarecimentos, nos termos do ponto 3.3 do programa do concurso, pela entidade que preside ao concurso e juntos ao processo de concurso. Os referidos esclarecimentos encontram-se disponíveis para consulta, durante o horário de expediente, na sede do Instituto do Desporto, sito na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, n.o 818, em Macau. Instituto do Desporto, 15 de Abril de 2020. O Presidente, Pun Weng Kun
Março. Neste momento, o seu quadro clínico é estável, explicou Alvis Lo. As autoridades confirmaram ontem que uma menina de 9 anos também preenche os requisitos para ter alta. “A criança está quase a recuperar e não tem sintomas muito óbvios. Fizemos vários testes de ácido nucleico com resultados negativos, já tem condições para ter alta, mas é preciso esperar que o pai tenha alta, pois é ele que toma conta da criança”, explicou Alvis Lo.
TRATAMENTO EM ZHUHAI
Os responsáveis dos Serviços de Saúde de Macau (SSM) foram também confrontados com a situação de alguns residentes que procuram tratamento médico em Zhuhai, que tem três hospitais destinados ao tratamento da covid-19. “As autoridades de Zhuhai indicaram três hospitais onde
os residentes podem ter consulta, mas estes têm de apresentar uma declaração médica que comprove que não estão infectados. Não sabemos os números, pois os hospitais do Interior da China dominam as informações e não são obrigados ceder dados”, disse Alvis Lo. O médico defendeu que as deslocações a Zhuhai
TNR À PORTA
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lvis Lo, médico adjunto da direcção do CHCSJ, não afastou a possibilidade de serem alteradas as proibições de entrada no território a trabalhadores não residentes, consoante a evolução da pandemia. “É provável que alteremos as medidas, mas temos sempre de fazer uma avaliação global. Não podemos decidir ou tomar medidas de acordo com alguns números.”
podem acarretar riscos de contágio na comunidade. “Vamos seguir as nossas regras e medidas. Há uma diferença entre Hong Kong e Zhuhai. Em Hong Kong um terço dos casos de infecção são locais, enquanto que em Zhuhai há algum tempo que não há casos locais, apenas casos importados. Não podemos impedir ninguém de ir ao exterior fazer tratamento. As pessoas devem fazer o tratamento em Macau, mas temos de respeitar a opinião das pessoas”, frisou. Leong Iek Hou, coordenadora do Centro de Controlo de Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença, disse que desde 26 de Janeiro o Instituto de Acção Social recebeu 340 pedidos de ajuda, em que 100 são apenas pedidos de informação e 64 referem-se a ajuda do foro emocional. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
política 5
quarta-feira 15.4.2020
RELEMBRAR PROMESSAS
Outro dos temas discutidos ontem na reunião com Ho Iat Seng foi o acesso à habitação por parte dos jovens, questão já antes abordada pelo Chefe do Executivo, enquanto candidato. Segundo Sulu Sou, este é um tema que preocupa não só os jovens, mas também pais e, sabendo que Ho Iat Seng pretende promover um novo tipo de habi-
Sessões de meia-noite
HOJE MACAU
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Associação Novo Macau reuniu ontem com Ho Iat Seng no Palácio do Governo para a habitual auscultação antes da apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG). Após a reunião, agendada no próprio dia, Sulu Sou revelou ter sugerido ao Governo a calendarização para se implementar o sufrágio universal para o cargo de Chefe do Executivo. “Incitámos o actual Governo a definir um calendário claro e um caminho para a implementação do sufrágio universal para a eleição do Chefe do Executivo. Neste sentido, lembrámos também ao Chefe do Executivo que um bom líder ou um líder astuto não deve ter medo de enfrentar o sufrágio universal”, transmitiu Sulu Sou. Ainda sobre o tema, o deputado e presidente da associação lembrou que Ho Iat Seng admitiu a hipótese de avançar com reforma política e enfatizou que o primeiro passo deve ser dado com a calendarização para implementar o sufrágio universal durante este mandato. “O primeiro passo da reforma política deve ser dado pelo Governo da RAEM. O Chefe do Executivo deve ouvir a opinião pública para submeter ao Governo Central. O segundo passo será o Governo Central decidir parar ou não a reforma política”, explicou. O vice-presidente da Novo Macau sugeriu ainda que o Governo revele novas medidas de combate à covid-19 já na próxima segunda-feira. “Pedimos também ao Governo que reveja e monitorize algumas das medidas de combate à epidemia e que anuncie mais medidas para proteger o futuro dos trabalhadores e da economia. Estas medidas seriam bem-vindas”, apontou Sulu Sou.
Apresentação das LAG das tutelas em versão compacta noite adentro
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Sulu Sou, deputado “Lembrámos (…) ao Chefe do Executivo que um bom líder ou um líder astuto não deve ter medo de enfrentar o sufrágio universal”
LAG SULU SOU PEDE “PRIMEIRO PASSO” RUMO AO SUFRÁGIO UNIVERSAL
Discos pedidos
Ho Iat Seng recebeu ontem a Associação Novo Macau na habitual ronda de auscultações antes da apresentação das Linhas de Acção Governativa. Além do avanço da reforma política, a associação pediu medidas de combate à epidemia e um plano concreto de apoio à habitação destinada a jovens
tação para jovens já na próxima segunda-feira, espera “que sejam anunciadas medidas claras”. Dos pedidos da Novo Macau fez ainda parte a elaboração de um plano director de organização urbanística, sugestão que ganha peso depois com a recuperação de
terrenos que o Governo conseguiu nos últimos tempos. “O Governo deve avançar o quanto antes com a consulta pública do plano director e referimos dois casos em concreto: um relacionado com o terreno do alto de Coloane, ao qual deve ser dada especial atenção para a
protecção ecológica da zona, e o outro com as zonas C e D do Lago Nam Van. Por isso, esperamos que o Governo dê bom uso a essas parcelas que recebeu”, sublinhou Sulu Sou. Pedro Arede
info@hojemacau.com.mo
ANIMAIS IMPORTADOS IAM ASSEGURA SEGURANÇA ALIMENTAR NO TERRITÓRIO
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OSÉ Tavares, presidente do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), assegurou, em resposta a uma interpelação escrita de Pereira Coutinho, que não existe qualquer risco de contaminação de peste suína em Macau com animais importados. “Nos últimos
anos, na inspecção sanitária dos animais que entram em Macau, o IAM detectou vários casos de gripe das aves e adoptou medidas de prevenção e tratamento, tais como o abate, suspensão de venda no mercado, desinfecção ou suspensão da importação desses animais.
Até ao momento, não foi detectada qualquer doença referida na interpelação escrita sobre a importação de suínos vivos”, adiantou Tavares. Além disso, o presidente do IAM assegura que todo o processo de importação e venda de animais no ter-
ritório está sujeito a regras da Organização Mundial da Sanidade Animal e da Organização Mundial do Comércio (OMC). Nesse sentido, “os suínos vivos consumidos em Macau provêm do Interior da China e estão sujeitos à supervisão e ao controlo dos serviços
competentes do Interior da China”. “Só animais vivos saudáveis e livres de doenças podem ser exportados para Macau, em combinação com um certificado de sanidade animal emitido pelas pelos serviços competentes do local”, acrescentou José Tavares.
S Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2020 vão ser apresentadas pelo Chefe do Executivo na próxima segunda-feira, dia 20 de Abril na Assembleia Legislativa (AL). Aquelas que são as primeiras LAG de Ho Iat Seng enquanto líder do Governo terão um formato diferente do habitual, estando previstas sessões concentradas de apenas um dia, para a apresentação e debate de cada tutela do Governo. Tradicionalmente, tal como acontece com o Chefe do Executivo, cada secretário vai ao hemiciclo durante dois dias. O primeiro dedicado à apresentação das LAG da sua pasta e o segundo para responder às questões dos deputados. Contudo, desta vez, cada secretário terá de concentrar as duas tarefas no mesmo dia, desde as 15 horas até à meia-noite, em sessões de nove horas. Assim, depois da ida de Ho Iat Seng à AL nos dias 20 e 21 de Abril, a apresentação das LAG continua no dia 24 com a primeira sessão de nove horas com o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, como protagonista. A sessão seguinte é a 27 de Abril e ficará a cargo do secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong. Segue-se o secretário para a Segurança Wong Sio Chak no dia 29 de Abril e, já no mês de Maio, no dia 4, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Leong U. O último debate sectorial terá lugar a 6 de Maio com o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário.
COVID-19 NO HORIZONTE
É esperado que este ano as LAG estejam sobretudo centradas em políticas de revitalização da economia de Macau, fortemente afectada pelo impacto da covid-19 em todos os sectores de actividade. Exemplos de possíveis respostas à crise foram avançadas ao HM pelo o analista político e docente da Universidade de Macau (UM), Eilo Yu que espera maior coordenação no projecto político da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau ou pelo deputado José Pereira Coutinho, que defende a subsidiação de salários. É também esperado que o novo Chefe do Executivo cumpra algumas promessas feitas enquanto candidato, como soluções para aquisição de habitação, o reforço do serviço público de saúde ou a reforma da Administração Pública. P.A.
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Notificação n° 011/DLA/DHAL/2020 Considerando que não se revela possível notificar os interessados, por ofício ou telefone, da não renovação por dois anos das suas licenças, para efeitos das disposições do n.º 2 do artigo 31.° do Decreto-Lei n.º 16/96/M, de 1 de Abril, conjugado com os artigos 10.° e os n.os 1 e 3 do artigo 58.° do “Código do Procedimento Administrativo”, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, fica, pela presente, notificados, nos termos do n.º 2 do artigo 72.°, n.os 1 e 2 do artigo 93.º e n.os 1 e 2 do artigo 94.º do “Código do Procedimento Administrativo”, os titulares e eventuais interessados dos estabelecimentos de comidas abaixo indicados, que por despacho da Vice-Presidente do Conselho de Administração para os Assuntos Municipais deste Instituto, O Lam, exarado em 9 de Março do corrente ano, foi decidido iniciar o procedimento de cancelamento das respectivas licenças administrativas, bem como para, no prazo de 10 dias, a contar do dia seguinte ao da publicação desta notificação, apresentarem audiência escrita a este Instituto, a fim de se poderem pronunciar sobre o referido assunto, sem prejuízo da aplicação do disposto no n.º 3 do artigo 94.º do citado Código. Número 1 2 3 4 5
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Nome do estabelecimento CAFE T.H.S. HONOLULU (LICENÇA N.º 75/2005)
Endereço TRAVESSA DO ROQUETE, N.º 7A, R/C E K/C, MACAU AVENIDA DR. SUN YAT SEN, SOO’S COZINHA Nº. 205, EDIF. RIYAI ASCOR., (LICENÇA N.º 24/2007) R/C, LOJA F, TAIPA RUA DE ÉVORA, N. º 318, FA ESTABELECIMENTO DE SENG LEI SENG, LEI FUNG, BEBIDAS TOM N TOMS LEI HAU, LEI YENG, LEI (LICENÇA N.º 35/2016) MAU R/C F, TAIPA L’ OCCITANE CAFÉ LARGO DO SENADO, N.º 29, (LICENÇA N.º 32/1999) R/C, 1 E 2 ANDAR, MACAU ESTABELECIMENTO AVENIDA DE MARCIANO DE COMIDAS ARUNA’S BAPTISTA, N.º 92, EDF. MAHARAJA INDIAN CURRY HUNG ON, R/C E 1.º ANDAR, (LICENÇA N.º 99/2008) LOJA A, MACAU ESTRADA MARGINAL ESTABELECIMENTO DE DA ILHA VERDE, N.º 1106, COMIDAS LONG MUN CHAN COMPLEXO RESIDENCAL CHA CHAN TAN SOI CHEONG, R/C LOJA E, (LICENÇA N.º 23/2010) MACAU ESTABELECIMENTO DE AVENIDA DR. SUN YAT-SEN, COMIDAS GOLD JAPANESE N.º 1287, R/C E S/L, LOJA K, CUISINE MACAU (LICENÇA N.º 36/2000) AVENIDA DE ALMEIDA ESTABELECIMENTO DE RIBEIRO, N.º 60, R/C, 1-ANCOMIDAS I SON DAR, 2-ANDAR, 3-ANDAR, (LICENÇA N.º 46/2008) MACAU AVENIDA DO DR. RODRIGO RODRIGUES, N.º 316, E RUA ESTABELECIMENTO DE DE XANGAI, N.os 185-191, COMIDAS LOU SAI CHUN EDF. DA ASSOCIAÇÃO CO(LICENÇA N.º 50/2006) MERCIAL DE MACAU, R/C E S/L LOJAS C E D, MACAU RUA DE FRANCISCO XAESTABELECIMENTO DE VIER PEREIRA, N.o 133-C, COMIDAS KONG LOI FAT HEONG LAM SUN CHUN, (LICENÇA N.º 68/2011) R/C D, MACAU ESTABELECIMENTO DE COMIDAS ZAN KEI DE RUA ALEGRE, N.o 97, R/C E 1.º ANDAR, LOJA AL, TAIWAN MACAU (LICENÇA N.º 46/2002) ESTABELECIMENTO DE COMIDAS QUENTE E AZEDO DE ALEGRIA CHONG QING QUEN FA LENDA (LICENÇA N.º 120/2013) ESTABELECIMENTO DE COMIDAS SAM CHON (LICENÇA N.º 84/2012) ESTABELECIMENTO DE COMIDAS TOUNG KING (LICENÇA N.º 318/1997) ESTABELECIMENTO DE COMIDAS SAN CHEONG FAI (LICENÇA N.º 29/1998) ESTABELECIMENTO DE COMIDAS LAU SAN KEI (LICENÇA N.º 137/1997) ESTABELECIMENTO DE COMIDAS GRANDE MAGNATA (LICENÇA N.º 16/2014) ESTABELECIMENTO DE SOPA DE FITAS ZUK-SING DE SOENG BAN SIU CYU (LICENÇA N.º 30/2015) ESTABELECIMENTO DE COMIDAS THE HIVE (LICENÇA N.º 49/2016) ESTABELECIMENTO DE COMIDAS E CAFÉ FRESCO (LICENÇA N.º 33/2010)
Titular THE HONO, CAFÉ E RESTAURANTE LIMITADA SOO CHUN HUNG MARTIN REX CATERING LIMITADA L’OCCITANE (MACAU) LIMITADA RESTAURANTE LOTUS VIEW, LIMITADA
CHEANG KIT WENG
ESTABELECIMENTO DE COMIDAS TAJ MAHAL LIMITADA VASCO RESTAURANTE LIMITADA
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A falta de entrega de audiência escrita dentro do prazo acima estipulado, sem qualquer justificação, pressupõe que, apesar de serem notificados, nada têm a declarar, sobre o assunto supra. Poderão os interessados dirigirem-se dentro do horário de expediente, à Divisão de Licenciamento Administrativo, sita na Avenida da Praia Grande, n.os 762-804, Edf. “China Plaza”, 2.º andar, zona B do Centro de Serviços do IAM, Macau para entrega da audiência escrita, bem como, para consulta do processo. Aos 26 de Março de 2020.
O Chefe do Departamento de Higiene Ambiental e Licenciamento Fong Vai Seng www. iam.gov.mo
NOTIFICAÇÃO EDITAL (Execução coactiva)
N.º 23/2020
Lai Kin Lon, Chefe do Departamento de Inspecção do Trabalho, manda que se proceda, nos termos do n.º 3 do artigo 9.º e artigo 11.º do Regulamento Administrativo n.º 26/2008 – “Normas de funcionamento das acções inspectivas do trabalho”, conjugados com o n.º 2 do artigo 72.º e n.º 2 do artigo 136.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, à notificação da transgressora do Auto de Notícia n.º AT-99/2020/DIT, “COMPANHIA ICON LIMITADA” (Registo de comercial n.º SO 27506), para no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do primeiro dia útil seguinte ao da publicação do presente notificação edital, proceder ao pagamento da multa aplicada no aludido auto, no valor de MOP$140.000,00 (Cento e quarenta mil patacas), por prática das transgressões nos termos do n.º 3 do artigo 62.º e do artigo 77.º da Lei nº 7/2008 - “Lei das relações de trabalho”, e punidas nos termos da alínea 6) do n.º 1 e alínea 5) do n.º 3 do artigo 85.º da Lei n.º 7/2008 – “Lei das relações de trabalho”. Deve a transgressora efectuar ao pagamento da quantia em dívida aos trabalhadores FANG FENGYU, WONG CHAN CHU, WONG SEONG LUN, LI YU, CHEANG KIN SOI, WONG SAO LIN, WANG YUEXIA, CHEN XIHONG e CAI ZUYONG dentro do mesmo prazo, no valor total de MOP$278.745,2 (Duzentas e setenta e oito mil, setecentas e quarenta e cinco patacas e vinte avos). Por outro lado, deve a transgressora apresentar ao DIT os comprovativos dos pagamentos acima referidos nos 5 (cinco) dias subsequentes ao do termo do prazo acima referido. A transgressora acima mencionado poderá, dentro das horas normais de expediente, levantar as cópias do Auto, a notificação, o mapa de apuramento da quantia em dívida aos referidos trabalhadores e as guias de depósito, no Departamento de Inspecção do Trabalho, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.ºs 221-279, Edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, Macau, sendo-lhe também facultada a consulta dos processos n.ºs 1932/2019, 1964/2019, 2020/2019, 2142/2019 e 2278/2019, mediante requerimento escrito. Decorridos os prazos acima referidos, a falta de apresentação dos documentos comprovativos dos pagamentos efectuados, implica a remessa por este DIT, nos termos legais, os respectivos documentos ao Juízo. Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 3 de Abril de 2020. O Chefe do Departamento Lai Kin Lon
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quarta-feira 15.4.2020
RÓMULO SANTOS
ESTUDO ELLA LEI E LEONG SUN IOK INSISTEM NA CRIAÇÃO DE UMA LEI SINDICAL
História interminável Os dois deputados ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau insistem na criação da Lei Sindical e questionam a interpretação dada aos resultados do estudo feito pela Associação de Estudo de Economia Política de Macau, destacando a capacidade de os sindicatos ajudarem a resolver conflitos laborais
Ella Lei, deputada“Porque é que não indicou de forma rigorosa que mais de 40 por cento das pessoas queriam a legislação o mais rapidamente possível?”
O
relatório do “Estudo das condições sociais necessárias para se iniciar a discussão da Lei Sindical”, da autoria da Associação de Estudo de Economia Política de Macau, gerou reacções diversas por parte de deputados. Ella Lei frisou que a Lei Básica de Macau e as convenções da Organização Internacional do Trabalho aplicáveis a Macau já regulam a liberdade de organizar e estabelecer associações sindicais, pelo que a questão se cinge a “quando é que a lei será elaborada”, noticiou o Ou Mun. A forma como o relatório expôs alguns dos resultados
foi criticada por Ella Lei, nomeadamente a junção que entendeu como vaga dos números sobre quem considerou que a Lei Sindical deve ser debatida “5 anos depois”, “dentro de 5 anos” e que “não há necessidade para debate”. No seu entender, o objectivo era mostrar que, depois de excluídos os entrevistados com desconhecimento total da lei, “mais de 50 por cento de entrevistados mostraram que não era necessário debater a implementação da Lei Sindical”. Além disso, 45,81 por cento dos entrevistados e 42,26 por cento dos empregadores tinham opinião de que deveria ser “o quanto antes”.
“Porque é que não indicou de forma rigorosa que mais de 40 por cento das pessoas queriam a legislação o mais rapidamente possível? Este não é um número pequeno”, disse, citada pelo Ou Mun. A deputada apontou também que apesar de a Lei Sindical poder gerar reacções distintas em diferentes regiões, não causa recessão económica ou conflitos entre as partes patronal e laboral. Já Leong Sun Iok entende que as associações sindicais podem assumir um papel coordenado para resolver os conflitos entre as partes patronal e laboral. “Os especialistas de Lei Básica entrevistados também frisaram que a Lei Sindical não só assegurava os direitos da parte patronal, mas também a parte laboral. No entanto, os patrões e empregados entrevistados não conhecem as leis nem regulamentos laborais em geral, pelo que é fácil surgirem conflitos”, disse, também ao Ou Mun. Apontando que de acordo com dados das autoridades de 2018, alguns dos casos de conflitos laborais em Macau foram resolvidos depois de haver conhecimento das obrigações legais, o deputado defendeu que “se puderem ser elaborados a Lei Sindical e o direito de negociação colectiva, podem ser resolvidos, em certa
CCPPC Dirigentes associativos reúnem com Ho Iat Seng Ma Chi Ngai, presidente da Associação de Amizade dos Membros da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), reuniu, juntamente com outros dirigentes, com o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, no âmbito da apresentação do relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano. O encontro serviu para a troca de ideias sobre as LAG e a necessidade de implementação de medidas de combate à pandemia da covid-19. Foram também discutidos assuntos relacionados com o projecto da Grande Baía e a cooperação com a
Ilha da Montanha. Ma Chi Ngai fez ainda algumas sugestões a Ho Iat Seng, ligadas à necessidade de melhoria da cooperação de Macau com Guangdong e Hong Kong e de uma maior participação de funcionários públicos da RAEM nos trabalhos da CCPPC, sem esquecer a necessidade de aumentar os conhecimentos sobre a China. Ma Chi Ngai defendeu também maiores conveniências para os residentes de Macau no âmbito da pandemia da covid-19, bem como um reforço da educação dos jovens com ligação à China.
medida, os conflitos entre as partes patronal e laboral”.
POR ASSEGURAR
Sobre o relatório do estudo, Leong Sun Iok destacou que a maioria da população concordou com a legislação e os especialistas da Lei Básica apontaram que durante a elaboração do diploma só foram tidas em conta as preocupações da parte patronal, pelo que “só escreveram de forma abstracta que os residentes de Macau gozam do direito de organizar e participar em associações sindicais e em PUB
greves”. Mas a aplicação dos princípios consagrados nem sempre corresponde à teoria. “Embora a Lei Básica conceda que os residentes de Macau gozem de liberdade de expressão, de imprensa, de edição, de associação, de reunião, de desfile e de manifestação, bem como do direito e liberdade de organizar e participar em associações sindicais e em greves, na prática, recebo muitas queixas de que há responsáveis e membros de associações que são despedidos sem justa causa (...). Na falta da segurança da Lei Sindical,
os direitos e liberdades acima mencionados são difíceis de ser assegurados”, disse. Por outro lado, evocou a China Continental para exemplificar que a Lei Sindical pode ter um papel positivo em melhorar a produtividade das empresas e a qualidade dos funcionários. Recorde-se que no mês passado foi novamente chumbado um projecto de lei sindical, dessa vez apresentado na Assembleia Legislativa por iniciativa dos deputados Lam Lon Wai e Lei Chan U. N.W. e S.F.
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15.4.2020 quarta-feira
CARTÕES DE CONSUMO LEVANTAMENTO ALARGADO ATÉ 17 DE JULHO
Calendário flexível
Tendo em consideração as medidas de quarentena impostas por Macau e regiões vizinhas, o Executivo decidiu alargar o prazo de levantamento dos cartões de apoio ao consumo. A nova data é agora 17 de Julho. Os subsídios começaram a ser distribuídos ontem Em visita aos postos de atendimento no Centro de Serviços da RAEM, na Areia Preta, o responsável indicou que o processo estava a correr “conforme o previsto”. Na primeira hora, 90 por cento dos que tinham marcado a sua vez para aquela área foram buscar os cartões. A mancha de pessoas visível no exterior do edifício, entre formulários de saúde e medições de temperatura, não se traduzia em fila para o levantamento dos cartões.
HOJE MACAU
O
prazo de levantamento dos cartões de consumo foi alargado até 17 de Julho. A decisão foi publicada no Boletim Oficial por despacho do Chefe do Executivo ontem de manhã, quando arrancou a distribuição deste subsídio. “Considerámos as medidas especiais de controlo de quarentena impostas nos últimos tempos principalmente pelas regiões à volta de Macau e também pela nossa autoridade de saúde”, explicou o director dos Serviços da Economia (DSE), Tai Kin Ip.
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Aviso Aceitam-se registos para o projecto “Subsídio para aquisição de material escolar a estudantes do ensino superior” Aceitam-se, a partir de hoje e até 29 de Maio, registos para o projecto “Subsídio para aquisição de material escolar a estudantes do ensino superior no ano lectivo de 2019/2020”. O montante do subsídio é de 3.300 patacas. Podem registar-se os estudantes, titulares do Bilhete de Identidade de Residente da RAEM, que frequentam, em instituições do ensino superior da RAEM ou do exterior, cursos do ensino superior, conferentes de graus académicos ou com a duração não inferior a dois anos lectivos. Os estudantes qualificados podem aceder à página electrónica da Direcção dos Serviços do Ensino Superior (www.dses.gov.mo), dentro do prazo definido, para se registarem on-line, podendo, ainda, pessoalmente ou através de representantes, como familiares e/ou amigos, dirigir-se ao Centro dos Estudantes do Ensino Superior da DSES (Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida, 68-B, Edifício Va Cheong, r/c B, em frente à paragem de autocarros do Jardim Lou Lim Ioc), ao balcão de recepção da DSES (Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues, 614A-640, Edifício Long Cheng, 7.o andar), ao Centro de Prestação de Serviços ao Público do Instituto para os Assuntos Municipais, no Centro de Serviços da RAEM (Rua Nova da Areia Preta, n.º 52), ao Centro de Prestação de Serviços ao Público da Zona Norte - Posto de Toi San (Avenida Artur Tamagnini Barbosa, n.º 127, Edifício D.ª Julieta Nobre de Carvalho, Bloco B, r/c), ao Centro de Prestação de Serviços ao Público da Zona Norte - Posto de Fai Chi Kei (Rua Nova do Patane, Habitação Social de Fai Chi Kei, Edifício Fai Tat, Bloco II, r/c, Lojas G e H), ao Centro de Prestação de Serviços ao Público da Zona Central (Rotunda Carlos da Maia, 5 e 7, Complexo da Rotunda Carlos da Maia, 3.º andar), ao Centro de Prestação de Serviços ao Público da Zona Central - Posto de S. Lourenço (Rua João Lecaros, Complexo Municipal do Mercado de S. Lourenço, 4.˚ andar), ao Centro de Prestação de Serviços ao Público das Ilhas (Rua da Ponte Negra, Bairro Social da Taipa, 75K, Taipa), ao Centro de Serviços da RAEM das Ilhas (Rua de Coimbra, n.º 225, 3.˚ andar, Taipa), ou ao Centro de Prestação de Serviços ao Público das Ilhas - Posto de Seac Pai Van (Avenida Vale das Borboletas, Complexo Comunitário de Seac Pai Van, 6.˚ andar, Coloane), para obterem o formulário de registo e apresentarem os respectivos documentos. Mais informações podem ser obtidas através da página electrónica da DSES ou pelo telefone 28571111, com sistema interactivo de resposta de voz. Aos 15 de Abril de 2020.
O Presidente do Conselho Administrativo Sou Chio Fai
Foi deixado um apelo aos cidadãos para respeitarem a data e localidade com que se registaram, mas indicado que quem não puder comparecer o pode fazer nas horas ou mesmo dias seguintes Para ontem estava planeado o levantamento do subsídio por parte de 30 mil pessoas nos diferentes pontos da cidade, estando 116 bancos e sucursais a apoiar na distribuição, além dos 17 órgãos do Governo participantes. No total, houve 658 mil inscrições para a
primeira ronda do apoio ao consumo. Foi ainda deixado um apelo aos cidadãos para respeitarem a data e localidade com que se registaram, mas indicado que quem não puder comparecer o pode fazer nas horas ou mesmo dias seguintes. Sem adiantar dados sobre o resultado esperado com esta medida, o director da DSE mostrou-se optimista. “Temos confiança de que com a injecção deste dinheiro é possível arrancar o ciclo económico, principalmente das pequenas e médias empresas afectadas nesta pandemia”.
DE OLHO NOS RUMORES
Reconhecendo existirem na internet rumores de revenda de cartões, Tai Kin Ip afirmou que qualquer troca de dinheiro pelos cartões será acompanhada. “Vamos fiscalizar de perto a situação”,
disse. E explicou que se podem fiscalizar os registos das lojas, para ver se todo o dinheiro foi usado no mesmo estabelecimento. Por outro lado, a segunda ronda de apoio ao consumo, entreAgosto e Dezembro deste ano, mantém-se em fase de preparação. “O nosso trabalho está concentrado na distribuição da primeira ronda. Isto é muito importante para nós”, disse o director, não revelando pormenores sobre o próximo passo. Sobre a reutilização do cartão para a segunda ronda, recomendou apenas para que quem teve o cartão agora emitido o conserve bem “porque os cartões não têm nome, e isso cabe à responsabilidade pessoal de quem o possui”. Salomé Fernandes
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DSSOPT PLANO DIRECTOR VAI A CONSULTA PÚBLICA ESTE ANO
A
Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) tem em mãos a proposta de Plano Director para o território elaborado pela Ove Arup & Partners de Hong Kong. De acordo com uma nota de imprensa ontem emitida, o Governo propõe-se a realizar a consulta pública relativa ao Plano Director ainda este ano. “Após a recepção do projecto do Plano Director de Macau apresentado pela entidade responsável pelo estudo, os departamentos competentes estão, nesta fase, a apreciá-lo. Uma vez concluída a sua apreciação, proceder-se-á atempadamente aos trabalhos de consultas
públicas. Esta Direcção de Serviços tem promovido a sua elaboração de acordo com o calendário definido, procurando realizar, ainda este ano, a sua consulta pública”, pode ler-se. A adjudicação do Plano Director de Macau à Ove Arup & Partners Hong Kong Limited foi conhecida em Março de 2018. A concessionária propôs-se realizar o projecto no prazo de um ano, tendo feito uma proposta de 11 milhões de patacas, a mais barata, face à proposta máxima de 88 milhões de patacas apresentada por outra concorrente. Além disso, a Ove Arup & Partners Hong Kong Limited apresentou também um calendário intermédio para o projecto, uma vez que as restantes empresas a concurso propunham a realização do Plano Director entre um período de três meses a dois anos.
Cibersegurança Registo de cartões pré-pagos até domingo Termina no domingo o prazo para os utilizadores de cartões pré-pagos registarem o seu nome verdadeiro. Depois desta data, termina o período de transição estipulado pela Lei da Cibersegurança, que entrou em vigor a 22 de Dezembro do ano passado. Quem não fizer o registo junto das operadoras de telecomunicações fica sujeito à suspensão dos serviços. Em comunicado, a Direcção dos Serviços de Correios e Telecomunicações
indicou que quem ficar nessa situação pode recuperar serviços ao efectuar o registo de nome verdadeiro até ao dia 16 de Outubro, “sendo os serviços do cartão pré-pago retomados após a conclusão do registo”. Além disso, a nota aconselha os cidadãos a utilizarem as plataformas electrónicas dadas pelas operadoras, de forma a evitar a aglomeração de pessoas nas lojas e reduzir o tempo de espera.
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quarta-feira 15.4.2020
Covid-19 Taxistas pedem detalhes sobre fundo de combate
O sector dos táxis pediu ao Governo para dar mais detalhes sobre o fundo de combate à pandemia no valor de 10 mil milhões de patacas, que prevê a atribuição de 10 mil patacas de apoio financeiro a cada taxista. Segundo revelou o jornal Ou Mun, os responsáveis do sector pretendem assim conhecer em pormenor quais as condições de aplicação e os documentos necessários para a elegibilidade dos condutores. Além disso, o sector está também preocupado com os mais de 500 trabalhadores que cessaram os contratos de trabalho nos últimos dois meses e que não sabem se poderão obter o referido apoio. De acordo com a mesma fonte, antes da crise provocada pela covid-19 Macau tinha 6 mil taxistas, já a contar com os trabalhadores a tempo parcial.
Avenida da Amizade Nova passagem superior abre quinta-feira
A partir de 16 de Abril abre ao público a passagem superior para peões na Avenida da Amizade, que liga a Rua do Terminal Marítimo e o Terminal Marítimo do Porto Exterior. A informação foi revelada ontem pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transporte (DSSOPT) que explica, em comunicado, que a nova passagem interliga duas vias superiores já existentes, numa ligação com cerca de 150 metros de distância que atravessa a Avenida da Amizade. De acordo com a DSSOPT, a obra pretende “facilitar o acesso dos peões” às passagens superiores da Rua do Terminal Marítimo e do Terminal Marítimo do Porto Exterior, e abrange ainda a instalação de elevadores nos dois lados da ligação pedonal da Rua do Terminal Marítimo.
PETIÇÃO ASSOCIAÇÃO DE TRABALHADORES MIGRANTES PEDE APOIO ÀS FILIPINAS
Na corda bamba
O Governo das Filipinas lançou um programa de apoio a trabalhadores no estrangeiro, mas os critérios limitam os beneficiários. A associação local Green Phillippine Migrant Workers Union lançou uma petição a pedir para serem abrangidos outros cidadãos
A
Green Phillippine Migrant Workers Union lançou uma petição online a apelar ao apoio financeiro do Governo das Filipinas. A associação quer ter acesso a um programa já anunciado, mas considera que as regras que determinam quem pode ser beneficiário “não são justas”. O Governo das Filipinas já tinha anunciado que vai apoiar cidadãos a trabalhar no estrangeiro que viram o seu emprego ser afectado pela pandemia da covid-19 com 200 dólares americanos, ou o montante equivalente na moeda do local onde se encontrem. É elegível quem tenha sido afectado pela perda involuntária de trabalho, devido à imposição de isolamento pelo país em que se encontra, ou por ter sido infectado com o vírus, estejam estas pessoas a trabalhar no exterior ou sejam elas
repatriadas para as Filipinas, sem receber qualquer apoio financeiro do país onde encontram ou dos seus empregadores. São abrangidos aqueles que tiverem os seus documentos de trabalho e passaporte regularizados, mas também trabalhadores sem documentos, quando estes ainda não tiverem sido processados, ou por alguma razão tenham perdido o seu estatuto. “Desde que os governos de diferentes países anunciaram as medidas de precaução a declarar isolamento, muitos estabelecimentos, escritórios e empresas ficaram paralisados há
já 50 dias, o que teve um grande impacto nas nossas finanças”, defende a Green Philippine Migrants Workers Union, observando que existem trabalhadores no estrangeiro em diferentes situações. A associação alerta para os trabalhadores que ficam em casa dos patrões, a maioria dos quais empregadas domésticas que não podem sair para enviar dinheiro às famílias, ou que chegaram mesmo a não receber salário porque os próprios empregadores também sofreram danos financeiros. E dá também como exemplo aqueles que
“A nossa organização e outros grupos estão a fazer o seu melhor para chegar a quem precisa através da angariação de donativos para lhes dar comida, mas estamos limitados para conseguir ajudar todos.” GPMWU
não têm apoio da entidade patronal e precisam de ajuda para pagar os custos básicos do dia a dia, como arrendar alojamento próprio. Os que tiverem visto os seus contratos terminar pelo impacto negativo nos negócios, incluindo trabalhadores que não conseguiram encontrar um trabalho novo e quem têm disputas laborais pendentes anteriores às declarações de estado de isolamento, são também mencionados pela associação.
DAS LIMITAÇÕES
“Precisamos mesmo de assistência financeira para sobreviver, tendo em consideração que vivemos noutro país. A nossa organização e outros grupos estão a fazer o seu melhor para chegar a quem precisa através da angariação de donativos para lhes dar comida, mas estamos limitados para conseguir ajudar todos”, pode ler-se. Recorde-se que os trabalhadores não residentes (TNR) de Macau foram excluídos dos apoios anunciados pelo Governo da RAEM no âmbito do impacto económico provocado pela covid-19, sob o fundo de 10 mil milhões de patacas. Uma decisão justificada na semana passada pelo secretário para a Economia e Finanças com a necessidade de tomar opções face aos recursos financeiros existentes. De acordo com dados da Direcção de Serviços de Estatísticas e Censos, no final de 2019 havia mais de 196 mil trabalhadores não residentes, dos quais 17,2 por cento eram oriundos das Filipinas. Salomé Fernandes
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10 coronavírus
(À HORA DO FECHO DA EDIÇÃO)
TOP 20 DOS PAÍSES
51065 Em estado crítico
1939463
459525
Infectados (total cumulativo)
COM MAIS CASOS 587173
Espanha
172541
Itália
159516
França
136779
Alemanha
130214
Reino Unido
88621
China
82249
Irão
74877
Turquia
61049
Bélgica
31119
Holanda
27419
Suiça
25807
Canadá
25680
Brasil
23723
Rússia
21102
Portugal
17448
Áustria
14146
Israel
11868
Suécia
11445
Irlanda
10647
Coreia do Sul
10564
Curados
Co novel
1307994 Infectados
(total cumulativo)
E.U.A.
15.4.2020 quarta-feira
(casos activos)
347 Curados
567 PORTUGAL
Mortos
PAÍSES LUSÓFONOS (total cumulativo)
Portugal
17448
Brasil
23723
Moçambique
21
Angola
19
Guiné-Bissau
38
Timor-Leste
6
Cabo Verde
10
São Tomé e Principe
4
PORTUGAL
países sem casos de nCov
Infectados (casos activos)
35 MACAU
PAÍSES ASIÁTICOS (total cumulativo)
China
82249
China | Macau
45
China | Hong Kong
1013
China | Taiwan
393
Coreia do Sul
10564
Japão
7645
Vietname
266
Laos
19
Cambodja
122
Tailândia
2613
Filipinas
5223
Myanmar
41
Malásia
4987
Indonésia
4839
Singapura
2918
Borneo
136
16534
países com casos de nCov
Infectados (casos activos)
10 Curados
HONG KONG
575 Infectados
Macau
(casos activos)
4
HONG KONG
434 Curados
Hong Kong
Mortos
coronavírus 11
quarta-feira 15.4.2020
68292
ovid-19 l coronavírus
Casos suspeitos
120879 Mortos
0 1-9 10-99 100-499 500-999 FONTES:
+1000
• https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/ opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/emergencies/diseases/ novel-coronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/ index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/geographical-distribution-2019-ncov-cases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/pneumonia
Ocorrências nas áreas afectadas
Dados actualizados até à hora do fecho da edição
Covid-19 vs SARS
CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO
2000000 150000 100000 75000 50000 25000 12500 0
20
40
60
dias dias dias Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto
80
dias
100
dias
120
dias
REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Shandong Jiangsu Chongqing Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Guangxi
INFECTADOS 67801 1475 1276 1254 1018 990 935 760 631 576 538 480 414 337 318 296 294
MORTOS 2641 7 20 1 4 6 1 6 5 6 3 13 5 3 6 1 2
REGIÃO Shaanxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete
INFECTADOS 245 174 168 146 132 136 121 91 91 76 75 71 162 77 18 13 1
MORTOS 2 2 5 2 0 3 1 2 1 2 0 0 3 1 0 0 0
12 china
15.4.2020 quarta-feira
HEILONGJIANG RECOMPENSA PARA QUEM DENUNCIAR ILEGAIS ORIUNDOS DA RÚSSIA
Chamem a polícia
U
MA província do nordeste da China prometeu pagar uma recompensa de até 5.000 yuans (cerca de 640 euros) a quem ajudar a interceptar viajantes oriundos da Rússia e que atravessem ilegalmente a fronteira, indicaram autoridades locais. A medida foi tomada pelas autoridades da província de Heilongjiang, que faz fronteira com a Rússia, na sequência de uma alta “inquietante” no número de novos casos da covid-19, na quase totalidade importados, mas de cidadãos chineses que regressaram ao país. Receando uma segunda vaga epidémica do novo coronavírus, Pequim proibiu nos finais de Março a entrada de cidadãos estrangeiros no território e reduziu ao
que regressaram da Rússia, elevando para 326 o total de infecções importadas.
PARA OS DOIS LADOS
essencial as ligações aéreas internacionais. A medida surge um dia depois de as autoridades de Harbin, capital da província de Heilongjiang, terem imposto um período de
quarentena de 28 dias para quem chega do exterior. Em causa está o facto de a região de Heilongjiang ter contabilizado terça-feira 79 novos casos da covid-19 entre os cidadãos chineses PUB
Num comunicado, as autoridades provinciais anunciaram ontem uma recompensa de 3.000 yuans a quem denunciar as travessias de fronteira, verba que poderá subir para os 5.000 em caso de captura dos prevaricadores, que terão de ser entregues à polícia. “É uma decisão que visa aumentar a prevenção e o trabalho de vigilância aos casos importados na província”, sublinha-se no documento. Por outro lado, Zhao Lijian, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, pediu ontem aos responsáveis chineses e russos da região fronteiriça para que tomem as “medidas necessárias” para cessar com as travessias ilegais da fronteira, estimando que mais de 100 mil chineses se encontram actualmente na Rússia Ontem, a Rússia indicou ter recenseado oficialmente 21.102 casos de coronavírus, de que resultaram 170 mortes. O Presidente russo, Vladimir Putin, ordenou já que se preparam “todos os cenários, mesmo os mais graves e mais extraordinários”. A China, por sua vez, contabilizou 3.339 óbitos em cerca de 82.000 casos.
COVID-19 EM CURSO TESTES DE DUAS VACINAS EM HUMANOS
A
China iniciou testes clínicos em seres humanos de duas possíveis vacinas contra o novo coronavírus, informou ontem a imprensa. Trata-se de duas vacinas inativadas, que consistem em microrganismos produzidos pela inactivação ou morte do vírus durante o processo de fabrico. A primeira vacina a ser testada obteve a licença para realizar ensaios clínicos no domingo e foi desenvolvida pelo Instituto de Virologia Wuhan, a cidade no centro da China onde os primeiros casos da doença foram detectados, em conjunto com a filial na mesma cidade da empresa estatal Sinopharm. A segunda vacina é o resultado do trabalho conjunto de várias empresas, num processo liderado
pela Sinovac Research & Development, empresa subsidiária da Sinovac Biotech, que também trabalhou numa vacina contra a Síndrome Respiratória Aguda e Grave (SARS), que surgiu na China, em 2003. Segundo a publicação chinesa Caixin, o projeto da Sinopharm - que conta com o apoio financeiro do ministério chinês da Ciência e Tecnologia - vai testar a vacina em 1.396 voluntários, recrutados na província de Henan, no centro do país, nas fases iniciais, que deverão decorrer até 10 de Novembro de 2021. Em meados de Março, as autoridades chinesas aprovaram o início de ensaios clínicos para outra vacina contra o coronavírus desenvolvida pela Academia Militar de Ciências.
EXPORTAÇÕES MARÇO DÁ SINAIS DE RECUPERAÇÃO
A
S exportações chinesas registaram uma queda homóloga de 3,5 por cento, em Março, sinalizando uma recuperação para as indústrias exportadoras do país, depois de quedas acentuadas em Janeiro e Fevereiro devido à pandemia da covid-19. De acordo com os dados divulgados pelas alfândegas da China, no conjunto, as exportações no primeiro trimestre caíram 6,4 por cento, em termos homólogos, depois de um declínio de dois dígitos registado em Janeiro e Fevereiro. Em Março, a balança comercial chinesa
alcançou um excedente de 18,5 mil milhões de dólares, depois de, nos dois primeiros meses do ano, ter registado um défice de 7,1 mil milhões de dólares.
No entanto, as autoridades alfandegárias alertaram para nova queda nas exportações, já que a pandemia obrigou alguns dos maiores mercados de exportação da China a adoptar bloqueios generalizados nas últimas semanas. "À medida que a covid-19 se alastrou pelo mundo, a economia global enfrenta uma crescente pressão de queda", disse um porta-voz das alfândegas. "As incertezas estão a aumentar e o comércio externo da China está a enfrentar maiores dificuldades", disse Li Kuiwen.
quarta-feira 15.4.2020
A tua voz edifica-me sílaba a sílaba
Trilogia
Cartografias
2. Occultatum Balanço como em alto mar, a caminho do vagão-restaurante, ao sabor do ruido embalador do comboio e em busca de uma bebida quente. Segue o coração. Foi como uma voz que ficasse a ecoar depois, desse papel. Um desconhecido, um encontrão brusco de ombros num estremeção da carruagem – agulhas, disse - e seguimos nos nossos sentidos opostos. Mas aquele livro gasto, ficou como se caído, esquecido ou intencional sobre a mesa. A floresta submersa, de B. que abri e folheei aleatoriamente e a surpresa foi bem menor do que o espanto. O fio que ligava Borges a Giacometti. E dentro, o papel dobrado em oito com força, como um marcador nas páginas nuas. Desdobrado como um mapa tantas vezes noutras carruagens, mostra-me uma mão estendida, impressa em tinta esverdeada, fina, a revelar texturas delicadas da pele. Plasmada, como mão de criança. E como se as linhas da mão se tornassem as de um coração-mapa. Ostentando o deslocamento mas não a mudança. Aqui um rio ali uma curva de vida, uma bifurcação. E agulhas, não de pinheiro mas das linhas do comboio. A mudar de direcção. O lugar estranho encontrado no mapa. Abetos. E sigo as linhas até esse ponto no meio da Ásia central. Enclausurado a dois mil metros de altitude, onde a montanha tomou a floresta no côncavo da mão, como aquela mão. Numa reviravolta em que a terra tremeu e afundou as árvores em águas cristalinas. Que belo. O silêncio das árvores. Elas fingem. Quando se remetem ao mistério do silêncio. Que não é dramática a sua voz reprimida. Elas não viram costas. Esperam. Caminho de mãos nuas e alma limpa para o lugar estranho. A render homenagem ao que é exterior e ícone e verdade e transcendência, porque algo maior tem que haver para que o olhar tenha campo, sem devassar e sem trazer. Fazer parte como prémio de ver. Dar. O que não pertence. Somente pelo pensar. Gostar. Às vezes eu queria simplesmente que tudo fosse delicado leve e intenso. A aprofundar sem ferir e a demonstrar sem imposição. Sentar-me na margem e mergulhar os olhos. As árvores estão tristes. Mas a natureza revira-se sobre si própria e desencanta gritos de poesia. Cadinho montanhoso e terno, ferido de realidade sem livro, sem voz, sem ouvido e sem vontade. Em que as coisas são e são mesmo se na sua forma insólita e inesperada de ser. São simplesmente e pasto ao discurso do poder das palavras, que tudo reviram, mesmo o que revolvido em si. Que agonia podia ser esta imagem. Mas é de uma serena e obstinada permanência. Que bonito, que leve, que intenso. Que estranho. Penso. Os troncos lívidos a despontar das águas e branqueados como ossos descarnados no sol impiedoso do deserto. Nus, de braços decepados e em contrição, direitos, em busca do alto e como se crescendo. Mas nunca o tempo vai vislumbrar novidade acima das águas. Somente o que cresce debaixo delas em segredo. Uma simbiose vegetal a aprisionar de parasitas felizes, algas, os braços generosos mantidos para sempre debaixo dessa água límpida que vista de perto nada guarda para si. Do olhar. De resto, tudo guarda e reserva. Num outro olhar, podiam ser mastros de navios afundados. Ou braços em oração. A floresta submersa, com a floresta de G. aquelas figuras de caminhantes em bronze, corroídas pelo meio e sempre sinónimo de resistência. Tudo o que se pode trazer em palavras sem que elas, as árvores, desmintam.
ANABELA CANAS
Anabela Canas
h
As árvores são tão dramáticas e intensas se ouvidas de perto. Um pouco do que se silencia perene e em pausa. As montanhas enrugaram numa expressão de sentir e nelas, como uma bolsa lacrimal, este Kaindy Lake, onde se afundou a pequena floresta de abetos, que se desnudou e que no segredo de muitos anos desenvolveu plantas aquáticas, escondidas na profundidade. Vistas no todo, dão essa impressão de estar invertidas, numa mansidão dramática de avestruz que esconde o vasto pescoço nas águas e longe do olhar. Penso onde estaremos, face a este espectáculo do mundo Se nos troncos estéreis em espera e imutáveis, ou abaixo da linha do visível nesse misterioso e pressentido efervescer de vida e ruídos coados. Uma vida que fervilha, como em torno dos ossos dos mortos varejam bichos, enquanto há de que se alimentarem. Percorro com ansiedade as páginas de silêncio à espera do encontro com as melhores palavras. Aquelas em que melhor se lê aquilo que alguém queira nelas colocar como um enfeite festivo. Mas não há rigor no silêncio nem há nas palavras, porque, neste como nelas, há o que lê e o que a si se lê.
Como é estranho esse mundo de árvore que esconde a cabeça. Escuto murmúrios na volta da luz que se faz suave e na água que transparece até ao fundo
Sabemos que interpretamos e como dificilmente há fuga à mutação do real. Como o sentimos. O que nos faz sentir. Num espelho de palavras com que o vemos, definimos e pensamos. Mais perigosamente se fizermos como um fotógrafo que persegue apaixonadamente uma fotografia que sempre quis fazer, até que um dia lhe apareça. E baste carregar no botão da máquina. Seguimos por vezes o mapa como linhas da mão. Seguimos onde leva o coração e é a paisagem que escolhemos que se impõe. A pensar na propriedade das palavras e em como este silêncio – aqui e lá - pode ser a paragem entre duas estações para repensar o caminho. Como é estranho esse mundo de árvore que esconde a cabeça. Escuto murmúrios na volta da luz que se faz suave e na água que transparece até ao fundo. Que não esconde, afinal. Como se para que elas possam ver, mesmo de ouvidos tapados e olhos fechados, até ao céu. Que passa até lá abaixo, e vai ao seu encontro como de amigo amuado e triste. Que doçura do céu e da água cristalina. Em redor, somente o presente estático e imutável. Naquelas aparentes copas, mergulhadas nas águas, imagino a ânsia do silêncio do mundo. As árvores estão tristes. Ou estamos tristes nelas como numa ética estética ou poética que nelas queremos ler. Mas estão em silêncio e isso é certo. E como é belo este silêncio. Depois, sinto que chega, talvez por terra, mesmo. Ou sacudindo penas arrepiadas do frio que está. Sei, aí mesmo nas minhas costas onde vai pousar a mão. E quaisquer palavras ditas passarão a ser a voz deste lugar.
13
h
Divina Comédia Nuno Miguel Guedes
My only reward if I finally understand what human presence is, what absence, or how the self functions within such emptiness, such length of time, how nothing stops tomorrow the body keeps remaking itself rising and falling on the bed as though being hewn now sick and now in love hoping that what it loses in touch it gains in essence.
15.4.2020 quarta-feira
Da difícil gratidão SASSAN TABATABAI, PENELOPE WAITING
14
Katerina Rooke, Says Penelope (excerto); trad. Christina Lazaridi
H
Á gente lá fora, garanto. Por muito que nos confinemos, que em conjunto ou sozinhos sejamos obrigados à nem sempre agradável tarefa de todos os dias sermos confrontados com o que fomos, o que somos e o que iremos ser há esta certeza: está gente lá fora, gente que nos ama, gente que amamos. Esta constatação que nos habituámos a subestimar torna-se agora quase um farol diário que nos guia nestes dias escuros. Aparece quando menos esperamos e ao mesmo tempo mais esperamos: um aceno, um telefonema, uma sugestão que pode ir de uma receita a um conselho de leitura ou outros ainda mais existencialistas. Quer-me parecer que o desafio que estes dias nos propõem é o mesmo de sempre: como estar grato quando devemos estar gratos? A questão da gratidão - que a mim me parece mesmo ser um valor civilizacional - é agora colocada com uma força que sempre surge nas dificuldades. Como agradecer – mais difícil: porquê agradecer – a um tempo de incertezas e que nos priva dos outros que estimamos? Se fizermos esta questão já estaremos no bom caminho. Escrevo num domingo de Páscoa, o que para crentes como eu significa o final de um período de introspecção para a passagem da certeza do que acreditamos: a ressurreição. Depois de morrermos, nascemos outra vez neste dia, com novas esperanças e as antigas intactas e talvez reforçadas. É natural que este optimismo me influencie na escrita destas palavras; mas a verdade é que não é preciso ser crente para identificar os pequenos sinais do que deveria ou poderia ser a nossa vida como seres humanos. Reciprocidade e entrega vêm agora ao de cima. Ainda há pouquíssimo tempo e certamente não por acaso alguém que estimo me perguntava pelo Tratado de Gratidão, de São Tomás de Aquino – algo que conheço bem e que estupidamente quase esqueci. Nele o filósofo e teólogo
Tomás de Aquino divide a gratidão em três graus principais: reconhecer (ut recognoscat) o benefício recebido; o segundo, em louvar e dar graças (ut gratias agat); o terceiro, em retribuir (ut retribuat) conforme as suas possibilidades. Esta doutrina está ainda presente no nosso quotidiano através da linguagem: quando dizemos
“obrigado” estamos justamente a reiterá-la, tornando-nos obrigados à retibuição. No alemão e inglês vai-se mais longe: o étimo comum do verbo agradecer – zu danken em alemão, to thank em inglês – é o mesmo: pensar (zu denken/to think). Faz sentido: só está realmente agradecido quem pensa no favor que recebeu.
A questão da gratidão - que a mim me parece mesmo ser um valor civilizacional - é agora colocada com uma força que sempre surge nas dificuldades. Como agradecer – mais difícil: porquê agradecer – a um tempo de incertezas e que nos priva dos outros que estimamos?
Aprender a gratidão é algo que podemos levar destas horas pálidas. Outro alguém que amo apresentou-me à poeta grega cujos versos estão em epígrafe. A descoberta desta poesia – um misto de sensualidade e ausência desejada, a coberto dos mitos clássicos – tem-me ajudado a dar um passo de cada vez. Descubro que todos agora somos Penélopes, tecendo e desfazendo a tapeçaria dos dias pacientemente, à espera do Ulisses que aqui é a normalidade. Mas tal como o herói de Homero, esses dias regressarão diferentes. A nossa tarefa, nada fácil mas possível, será esperá-los tecendo e desfiando com os fios da ausência forçada. E sobretudo, sobretudo dizer “obrigado” e à gratidão ficarmos obrigados.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 15
quarta-feira 15.4.2020
João Paulo Cotrim
SANTA BÁRBARA, LISBOA, QUINTA 26 MARÇO (BIS) Insisto. As lombadas andam inquietas com tanta atenção de olhos e mãos. Fingem o pó, para evocarem exteriores. E desafiam em distintos momentos deste longo dia com outras maneiras de caminhar sobre o tempo, de o desatar, de brincar com ele, às escondidas, à apanha. Afinal, passo o dia a fazer noite, como Colin a desgraçada figura que cavalga «A espuma dos dias», desse cintilante Boris Vian (ed. Frenesi) que há-de ser celebrado este ano, por via das redondas datas. A ver vamos, que este opressivo discorrer via produzindo em grande velocidade calhaus, belos e redondos. O realismo mágico, fórmula tristonha, pertence a outras paragens, bem sei, e por lá pode ficar o seu desajuste, mas o quotidiano destas paisagens, longe no tempo e no lugar dessas outras, ergue-se movediço, com uma dinâmica delirante que cruza mecânico e orgânico, sensação e matéria. De tal maneira, parecemos andar sobre perfume, com gozo e facilidade. Sinal maior, a casa muda a sua arquitectura consoante o que à sua volta se experimenta, se conhece, se sente, se vive. A casa enquanto nosso prolongamento, parte de nós, corpo concreto. Nos dias da espuma, a vida pode ser leve, até que a desgraça a contamine, o amor a sofrer com nenúfares a habitarem pulmões. A vida podia ser distinta, mas «nem sempre as coisas podem correr bem». Tenho que concordar com a resposta, até porque pela parte que me toca, também «podiam não correr sempre mal». As coisas são o que são, mas estamos fartos de saber que essa força que faz as coisas serem o que sempre foram tem a ver com quem ganha com isso. As coisas podem sempre ser feitas de maneira outra. Agora ficou manifesto, gritante. Um viscoso quotidiano, oposto ao do par amoroso Colin e Chloé, escorre de «Les choses» (ed. Juillard) e agarra-se-me. Logo me vejo com o narrador, que podia ser Georges Perec talvez «un autre» sociólogo, a observar aquelas vidas na casinha de bonecas, fascinado pela «aisance» de vidas forradas a coisas, sustentadas por elas, nelas esgotadas. O supremo objecto de desejo do bem-estar quedo e ledo, a sociedade de consumo então nos seus alvores (subtítulo: uma
Lida da casa RENE-MAGRITTE, THE SIX ELEMENTS
Diário de um editor
história dos anos sessenta), a felicidade feita venenosa «souplesse». Outro par, que se esgota no conforto modesto, mas que aspira ao luxo, supremo hedonismo no qual a cultura se torna apenas sinal de estatuto, marca, sem transgressão nem sangue. Apenas uma coisa mais. Não há sombra de verdade, portanto de tragédia, apenas pilhas a gastarem-se agradavelmente. «Francamente insípido», eis as duas últimas palavras da novela. O trânsito do tempo breve ao infinito, diz a sinopse, faz-se gancho enterrado na carne macerada para me puxar para levar a «La cuarentena» (ed. Alfaguara). Juan Goytisolo, outro dos grandes inquietos, interpelado pela morte de uma amiga, pela morte amiga?, resolve viajar. A quarentena onde me leva é a dos místicos sufis, que ele coloca em diálogo com Dante e «Divina Comédia». Afinal, corresponde ao momento em que, entre Terra e Céu, as almas se transfiguram e ganham um corpo subtil. Ganhamos suprema ligeireza para ir onde for preciso para vestir o corpo certo, o da eternidade. Como bom herege, tece «uma rede de significações para além por cima do espaço e do tempo, ignora as leis da verosimilhança, descarta as noções caducas de
personagem e trama, abole as fronteiras de realidade e sonho, destabiliza o leitor multiplicando os níveis de interpretação e registo de vozes, apropria-se dos acontecimentos históricos e serve-se deles como combustível ao serviço do seu projecto», ou seja, «viver, morrer e ressuscitar». As suas palavras afirmam o processo de criação como quarentena e fala mesmo em «cordão sanitário, com protecção e barreiras». Por que raio se queixam então os escritores de domingo a passear cursor na rede? Tomo nota das pistas, há que regressar aos místicos, apetece-me o quietismo. Sem perder a leveza, a ligeireza do pó que viaja. Não se deve limpar o pó dos livros. A ele voltaremos. SANTA BÁRBARA, LISBOA, DOMINGO, 12 ABRIL Peregrinando por entre a morte, cada um frankstein feito à força de peças de drone e corvo a percorrer ruas vazias a espelharem o nada nosso que nos dais hoje, celebra-se a brutal possibilidade da ressurreição. Sinal de que parte do carácter dos dias se perdeu – obrigando o mano António [de Castro Caeiro], mais tarde ou mais cedo, a acrescentar capítulo ao seu «Um dia não são dias»
– até neste calendário se procura saber do futuro da edição, do livro, da leitura. Sílvia Cunha, da «Visão», lançou inquérito (e as respostas podem ser lidas aqui: https://visao.sapo.pt/atualidade/ cultura/2020-04-12-covid-19-o-mundo-dos-livros-vai-sobreviver-a-pandemia-quatro-editores-respondem/). Por mais que tente abafá-la com a razão, ando sempre com o perfume de uma probabilidade outra no bolso. «A chegada a pés juntos do tempo nas nossas vidas, com esta travagem brusca, pode, de facto e, de novo, esperançosamente, mudar alguns comportamentos. Não creio que regressaremos a nenhuma época de ouro, que estará sempre por definição em passados e mitos, mas isso exigirá das editoras (e outros actores da tragicomédia editorial) novas respostas que respondam a novas necessidades. Sem dúvida que se abriram portas de um grande laboratório, assim haja quem queira agora manipular os aceleradores de partículas, que não será a aplicação acéfala de pomada na pele carcomida do marketing. Condenado o objecto-livro a uma comunidade de nichos, será daqui que surgirão as propostas mais interessantes.» SANTA BÁRBARA, LISBOA, SEGUNDA, 13 ABRIL Quem tem medo do quotidiano? Mal se levantava o grande turbilhão de pó, o José Luiz [Tavares] compôs uma «litania em tempos de coronavírus», exigindo sem temor mais tempo ao tempo. «Agora sim,/ que é antes de toda a dor,/ ainda no corpo tens cor,/ e sobe-te à boca/ centos de sabores.// Mas ainda não ao grande sim,/ porque maravilha-te estar aqui/ (só mais um instantinho),/ embora penses na mão da eternidade/ ou como é doce o despenhamento.» Agora mesmo (mas ainda haverá agora?), a Rita [Taborda Duarte] anuncia-me que «incorreu na falta» de escrever poema pandémico, cheia de loiça suja. «O poeta tem de bater com estrondo/ a porta da linguagem/ nas trombas do mundo;/ trancá-la por dentro: um poeta tem de escrever/ a métrica centrifugada dos lençóis/ encharcados nas ventas da poesia.// (...) Um poeta tem de escrever.// E só deve baixar os versos/ para chafurdar a esfregona no tinteiro.»
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15.4.2020 quarta-feira
(f)utilidades 17
quarta-feira 15.4.2020
TEMPO
POUCO
NUBLADO
TRAGÉDIA EMINENTE
32 9 2 8 5 4 1 3 6 7 34 2 37 3 7 6 5 3 1 9 8 4 6 4 36 7 39 5 4 2 1 9 6 8 3 6 7
5 6 1 8 3 7 9 2 4
3 7 4 2 6 9 1 8 5
6 4 3 9 8 2 7 5 1
7 9 2 4 1 5 6 3 8
8 1 5 3 7 6 2 4 9
4 8 7 6 9 3 5 1 2
8
2 3 9 1 5 8 4 7 6
6 2 8 9 3 2 1 4 9 5
9 4 5 1 2 4 2 6 7 8
2 8 6 3 4 1 9 4 5 7
7 3 4 8 5 5 2 7 6 1 8
5 4 8 2 6 7 8 3 4 9 9 1
9 7 3 1 2 5 8 6 4 6 1
8 9 2 7 9 5 4 3 1 8 6 4
5 1 6 4 5 9 2 2 3 7 8
3 4 7 7 6 8 9 1 9 2 5 5
5 3 2 8 1 2 3 6 5 7 4 4 5 9
1 6 8 8 4 9 7 4 9 5 3 2
4 2 6 5 8 3 6 1 7 9 1 3
25
HUM
5 0 - 9 0´%
naufrágios de refugiados e pela epidemia do novo coronavírus. Numa mensagem enviada ao chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, o ministro maltês dos Negócios
•
EURO
8.75
Estrangeiros, Evarist Bartolo, sublinha que 650 mil pessoas estão neste momento nas praias da Líbia em situação humanitária "desesperante" tentando alcançar a Europa.
1 5 6 7 2 4 8 9 3
1 2
Cineteatro
C I N E M A
SALA 1
BIRDS OF38 PREY [C]
Um filme de: Cathy Yan Com: Margot Robbie, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollet-Bell 15.30, 21.00
9
BLOODSHOT [C]
3
4 7 1 3
Um filme de: David S. F. Wilson Com: Vin Diesel, Eiza Gonzalez, Sam Heughan, Toby Kebbel, Guy Pearee 18.00 SALA 2
6
FANTASY ISLAND [C] Um filme de: Jeff Wadlow
7 2 9 SOLUÇÃO DO PROBLEMA 36
6 3 9 5 4 8 2 7 1 7
8 1 5 7 7 6 9 3 9 2
MAX
BAHT
0.24
YUAN
1.13
VIDA DE CÃO
CIÊNCIA À MODA DE MACAU Confesso que não estou surpreendida com os resultados do estudo produzido pela associação de Kevin Ho relativamente à possível implementação de uma lei sindical em Macau. Mas acabo sempre por me surpreender por quererem fazer de nós mais parvos do que aquilo que realmente somos. E em matéria de lei sindical, penso que já muitos limites foram ultrapassados neste ponto. O Governo irá apresentar a proposta de lei, ponto final parágrafo. Já se percebeu que todas as tentativas de deputados de apresentarem este diploma sairão goradas. Entretanto, Ho Iat Seng, que já prometeu apresentar a proposta, vai deixar o assunto na gaveta porque tem assuntos mais graves a tratar, tal como a crise da covid-19. No entanto, nunca como agora uma lei sindical foi tão necessária, uma vez que a economia corre o risco de colapsar aos poucos, com despedimentos em massa e algumas falências de pequenas e médias empresas. Onde ficam os direitos dos trabalhadores no meio disto tudo? Sobre os resultados do estudo em causa, não me surpreendem tendo em conta que Kevin Ho é, ele próprio, um empresário e, portanto, membro do patronato. E que espécie de estudo é este que cita especialistas vários sem que saibamos os seus nomes? Quais são os entendidos da Lei Básica que foram ouvidos? Quais os académicos escolhidos, e quais os critérios? É ciência à moda de Macau, para inglês ver. Andreia Sofia Silva
PROBLEMA 37
1 1 9 5 7 3 4 5 2 6
18
O governo de Malta apelou ontem à União Europeia para que seja lançada uma acção urgente que evite um desastre humanitário na Líbia, país atingido pela guerra civil,
S 5U8 D 4 7O 3 6K9 U 1 4 6 9 2 8 7 1 2 3
MIN
40
3 7 8
6
Com: Michael Peña, Maggie Q, Lucy Hale, Austin Stowell 14.30, 17.00, 19.30 SALA 3
7
THE TRANSLATORS [B]
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Um filme de: Regis Roinsard Com: Lambert Wilson, Olga Kurylenko, Riccardo Scamarcio 15.00, 20.15
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THE TURNING [C]
8
Um filme de: Floria Sigismondi Com: Mackenzie Davis, Finn Wolfhard, Brooklynn Prince, Barbara Marten 17.45
1 8 3 9 8
5 4
7 6 2
UM LIVRO HOJE
“MORTE AOS TRAIDORES!” | MIGUEL MARUJO | 2018
"Morte aos traidores! A história improvável do mais controverso partido político português" é o nome da obra do jornalista Miguel Marujo que conta a história do único partido político português de inspiração maoísta, o PCTP-MRPP (Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses / Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado). Nele conta-se a história dos seus primórdios e de como Arnaldo Matos, fundador, teve o primeiro contacto com o maoísmo em Macau. Uma obra fundamental para se perceberem certos momentos da história da política portuguesa. Andreia Sofia Silva
8 THE TURNING
5
2 6 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes 1 Colaboradores 6 5 Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José 2 7 3 Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje www. 8 6 2 Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare hojemacau. com.mo Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo 9 1 7 6 5 3
18 opinião
15.4.2020 quarta-feira
DIÁRIO DO POVO ONLINE
C
Revista Nature pede desculpa e apela ao fim da estigmatização
OM a pandemia de Covid-19 em todo o mundo, várias autoridades governamentais e ógão de comunicação social associaram o vírus letal com Wuhan, a cidade chinesa onde o surto de Covid-19 foi primeiramente detectado. Embora não haja provas que indiquem que o vírus é originário de Wuhan, políticos como o Presidente dos EUA, Donald Trump, referiram-se ao patógenico como o ‘‘vírus chinês’’ - um acto malicioso que originou crimes de ódio e descriminação contra comunidades asiáticas. A 7 de Abril, a revista Nature publicou um editorial intitulado: ‘‘Parem com o estigma do coronavírus agora’’, ressaltando que a pandemia está a alimentar uma onda de racismo e descriminação, especialmente contra os povos asiáticos. A educação e a investigação vão também pagar o preço. A famosa revista exortou ao término da politização do vírus e dos ataques racistas. ‘‘Seria trágico se o estigma, alimentado pelo coronavírus, levasse a que os jovens asiáticos abandonassem as universidades internacionais, interrompendo a sua educação, reduzindo as suas e as oportunidades de outros e deixassem a pesquisa mais pobre’’, pode ler-se no artigo. Segue-se o artigo completo:
prioridade máxima, mas para alguns essa conduta pode chegar tarde demais, incluindo para muitos dos mais de 700,000 estudantes chineses de todos os graus académicos a estudar fora da China. A maioria está na Austrália, Reino Unido e Estados Unidos. Muitos regressaram a casa após a suspensão das instituições onde estavam devido a quarentenas, outros não tiveram a possibilidade de o fazer. Os estudantes hesitam em voltar, em parte por medo de racismo, juntamente com a incerteza sobre o futuro dos seus cursos e por não saberem quando as viagens internacionais serão retomadas. Estes jovens irão experienciar perdas humanas e materiais. Mas as implicações para estudantes da China e de outros países asiáticos têm implicações vastas para a academia também. Isto significa que as universidades em países afectados tornar-se-ão menos diversas - algo que não acontece há gerações.
Uma perda para todos
PAREM COM O ESTIGMA DO CORONAVÍRUS AGORA
A pandemia está a alimentar o racismo e descriminação deploráveis, especialmente contra os povos asiáticos. A educação e investigação irão também pagar um preço. Quando a OMS anunciou em Fevereiro que a doença causada pelo novo coronavírus se chamaria Covid-19, o nome foi rapidamente adoptado por organizações envolvidas em comunicar informação de saúde pública. Além de nomear a doença, a OMS estava implicitamente a enviar um sinal àqueles que haviam erroneamente associando o vírus a Wuhan e à China na sua cobertura noticiosa - incluindo a Nature. Isso foi um erro da nossa parte, pelo qual nos responsabilizamos e pedimos desculpa. Ao longo dos tempos, era comum associar o nome das doenças virais com os locais ou regiões onde os primeiros casos ocorriam - tal como o síndrome respiratório do Oriente Médio, ou o vírus zika, cujo nome se associa a uma floresta no Uganda. Mas em 2015, a OMS apresentou as directrizes para parar com esta prática e reduzir o estigma e impactos negativos, tais como medo ou fúria, dirigidos a estas regiões e
aos seus povos. As directrizes salientam que os vírus infectam todos os seres humanos: quando um surto ocorre, toda a gente está em risco, independentemente de quem seja ou de onde vem. Ainda assim, à medida que os países se debatem para controlar a propagação do novo coronavírus, uma minoria de políticos continua a usar um guião anacrónico. O Presidente Donald Trump repetidamente associou o vírus com a China. O deputado brasileiro Eduardo Bolsonaro - filho do presidente Jair Bolsonaro - descreveu o
As directrizes [da OMS] salientam que os vírus infectam todos os seres humanos: quando um surto ocorre, toda a gente está em risco, independentemente de quem seja ou de onde vem
sucedido como sendo ‘‘culpa da China’’. Políticos de outros países, incluindo o Reino Unido, estão também a dizer que a responsabilidade é chinesa. A continuação da associação de um vírus e doença por ele causada com um local específico é irresponsável e tem de parar. Enquanto epidemiologista de doenças infecciosas, Adam Kucharski lembra-nos no seu livro As Regras do Contágio, publicado em Fevereiro, que a história determina a estigmatização de comunidades, sendo que é, por isso, necessário ter o máximo cuidado. Em caso de dúvida, o melhor a fazer é buscar aconselhamento e interceder pelo consenso das evidências.
Ataques racistas
Não o fazer tem consequências. É inequívoco que desde que o surto teve início, as pessoas com descendência asiática em todo o mundo foram alvo de ataques racistas, com custos humanos elevados - por exemplo, para a sua saúde e o seu quotidiano. As autoridades dizem estar a tornar os crimes de ódio numa
Ao longo de décadas, as universidades lutaram para incrementar a diversidade, e os vários países implementaram políticas de encorajamento da mobilidade académica internacional. A diversidade é valiosa por si só. Encoraja o entendimento e o diálogo entre culturas, bem como a partilha de pontos de vista e formas de estar. Sempre foi um combustível para a investigação e inovação. Além disso, um campus diverso é necessário para o melhoramento de políticas e estruturas, de modo a que universidades - e a publicação de pesquisas - possam ser mais inclusivas. Muitas barreiras à diversidade mantêm-se: na edição de Abril da edição de física da Nature, por exemplo, investigadores e comunicadores de ciência da China, Índia, Japão e Coreia do Sul, elencaram exemplos de descriminação e outros factores que os previnem de ter voz em revistas internacionais (S. Hanasoge et al. Nature Rev. Phys. 2, 178–180; 2020). Muitos líderes querem ouvir e agir sob aconselhamento científico especializado para lidar com esta pandemia e salvar vidas. Na terminologia, o aviso é claro: temos de fazer tudo que pudermos para evitar e reduzir a estigmatização; não associar a Covid-19 com grupos de pessoas ou locais específicos; e enfatizar que os vírus não descriminam todos estamos em perigo. Seria trágico se o estigma, alimentado pelo coronavírus, levasse a que os jovens asiáticos abandonassem as universidades internacionais, interrompendo a sua educação, reduzindo as suas e as oportunidades de outros e deixassem a investigação mais pobre - especialmente quando o mundo depende dela para se recompor. O estigma do coronavírus tem de parar - agora.
opinião 19
quarta-feira 15.4.2020
sexanálise
D
Em casa não há só conforto
URANTE este período de isolamento todos nós lidamos com o estar em casa da melhor forma que podemos. A casa é um sítio seguro para muitos de nós, e para muitos não é. Venho aqui relembrar do que precisamos de ser relembrados – agora que nem podemos ver o mundo lá fora com os nossos próprios olhos. O isolamento é para quem tem as condições para fazê-lo. Claro que venho falar-vos do desconforto relacionado com o sexo, relacionamentos e família. Há várias formas como o desconforto do lar é o resultado de desigualdade sociais profundas e estruturais (como não existirem condições dignas de habitação). Mas dentro dos temas que interessam explorar aqui – de sexo e essas coisas – o caso mais alarmante de desconforto é o de violência doméstica. Ficar preso numa casa com um agressor é uma situação extremamente difícil de ser gerida. Há muitas instituições que estão sensíveis a este problema e têm desenvolvido formas de dar apoio, por telefone – e especialmente por mensagem. Quando uma situação de violência poderia ter momentos de pausa, e de privacidade, com a rotina que nos afastava do lugar dilemático que é uma casa, aqui está a pandemia para complicar estas estratégias. Quando nos dizem que para travar esta guerra basta ficar no sofá a ver séries, esquecem-se que esse sofá pode estar cheio de picos. Sentar-se relaxadamente pode não ser uma possibilidade. Depois claro que há outros problemas que podem surgir. Em Xi’an, assim que o confinamento imposto foi flexibilizado, houve um aumento considerável nos pedidos de divórcio. Depois de meses em confinamento os casais trouxeram as suas dificuldades e não conseguiram lidar com elas. Há quem diga que foram decisões apressadas e que muitos mudaram de ideias. Há quem diga que eram más relações à partida e que mais cedo ou mais tarde estes casais iriam divorciar-se. Não sabemos ao certo qual a resposta certa. De acordo com os depoimentos de casais em confinamento parece que a coisa pode dar para os dois lados: ou criar momentos de re-conexão, ou promover o afastamento, o desentendimento e a confusão. Desde discussões sobre as melhores formas de se protegerem ‘Não toques em maçanetas! Lava as mãos durante 20 segundos! Deixa a roupa suja fora de casa!’em combinação com ‘Estás a ser paranoico’. Até à dificuldade de criar espaços de comunicação e conexão ao mesmo tempo que se mantêm espaços de privacidade (há quem se esconda no guarda-roupa). A vida ficou em suspenso independentemente das condições. Imaginem quem tinha acabado
EDWARD HOPPER, HOTEL ROOM
TÂNIA DOS SANTOS
uma relação amorosa? Não há como mudar de casa, ou mudar de vida. Uma suspensão que até poderia ser boa se fosse noutra altura. Ficar preso em casa com o ex-companheiro soa-me a premissa tonta para uma daquelas comédias românticas que Hollywood já fez. As famílias, ainda assim, fazem malabarismos com a lida da casa, com os
filhos, e com a produtividade que muitos ainda impõem, como se nada de especial estivesse a acontecer – é preciso manter a normalidade, é preciso manter a economia. Se, para alguns, este confinamento deu a oportunidade para respirar e repensar na vida, no sexo, nas relações, nos desejos e anseios, no mundo e no estado das coisas;
Esta pandemia traz o melhor e o pior de cada um de nós, ao mesmo tempo, sem dó nem piedade. Obriga-nos a uma adaptação a um contexto muito particular - finalmente percebendo que uma casa é tão complexa como tudo o resto
para outros essa possibilidade não é assim tão óbvia. A casa e o isolamento podem não ser lugares de conforto, e estar ali suspenso, um pesadelo. Vale ficar de mau humor e espernear. Vale contar com a solidariedade dos outros para dar sentido ao desconforto. O isolamento é para quem pode, não consigo repetir vezes suficientes. Não consigo parar de pensar nos países onde a desigualdade é atroz e isto se mostra ainda com mais clareza. Esta pandemia traz o melhor e o pior de cada um de nós, ao mesmo tempo, sem dó nem piedade. Obriga-nos a uma adaptação a um contexto muito particular - finalmente percebendo que uma casa é tão complexa como tudo o resto.
Uma força menor aplicada persistentemente é igual a uma força maior. PALAVRA DO DIA
Wilhelm Leibniz
PUB
Da terra para o ar Documentos para pedido de aterros concluídos em 2021
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TÉ ao final de Março do próximo ano, o Governo e a CAM - Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau devem terminar os documentos necessários para requerer a realização de aterros, um pedido que “logo” será submetido ao Governo Central. A informação foi avançada pelo presidente da Autoridade de Aviação Civil (AACM), Chan Weng Hong, em resposta a uma interpelação escrita de Leong Sun Iok. “Actualmente, o Governo da RAEM e a CAM estão a elaborar o projecto de obras de aterro, avaliação do impacto ambiental e outros documentos necessários para a instrução do requerimento de utilização da área marítima, prevendo-se que a preparação dos documentos esteja concluída no primeiro trimestre de 2021”, diz a nota, onde se menciona ainda que a obra de expansão da zona sul do terminal de passageiros do aeroporto fique concluída de forma a entrar em funcionamento no segundo semestre de 2021. Já as perguntas sobre a liberalização do mercado da aviação civil tiveram direito apenas a uma resposta vaga, sem que o presidente da AACM revelasse pormenores sobre o que se segue ao fim do contrato de concessão
que garante à Air Macau direito de exploração exclusiva. “O Governo está a considerar opções diferentes e irá continuar a manter comunicação com o Governo Central quanto a essa importante polícia de aviação”, comentou.
COOPERAÇÃO REGIONAL
No âmbito da Grande Baía, Chan Weng Hong observou que o sector vai desenvolver o transporto aéreo público e a aviação executiva, bem como “fornecer serviços aéreos diversificados para residentes de Macau e passageiros do Delta do Rio das Pérolas”. O deputado Leong Sun Iok tinha defendido que os aeroportos de Hong Kong, Macau e Zhuhai iam “colaborar mais e enfrentar mais concorrência” com a entrada em funcionamento da ponte, e que as características do território deviam ser desenvolvidas “em complementaridade” com os outros aeroportos. Neste sentido, a AACM explicou que serão adoptadas “medidas flexíveis para apoiar as empresas aéreas locais e estrangeiras na exploração dos serviços aéreos de e para Macau”, a par de “uma boa fiscalização” sobre a implementação do plano de desenvolvimento do aeroporto e a melhoria das suas infraestruturas. S.F.
Saúde Cheques de 600 patacas até 2022 Foi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) o despacho que implementa o programa de comparticipação nos cuidados de saúde para o ano de 2020. Trata-se de uma medida de apoio destinada aos residentes permanentes atribuída através de vales de saúde electrónicos, no valor de 600 patacas cada, e que podem ser usados até 30 de Abril de 2022. Este programa “destina-se exclusivamente à comparticipação nos serviços de medicina de família
prestados por profissionais de saúde”, estando abrangidos os residentes permanentes com residência em Macau e também os que vivem fora do território. Para terem acesso ao apoio pecuniário, os que vivem no estrangeiro devem apresentar atestado médico “passado ou confirmado por autoridade competente do local onde o beneficiário reside ou por documento emitido por instituição médica ou de solidariedade social reconhecida no mesmo local”.
FMI/Previsões Economia de Macau cai 29,6% em 2020 A economia de Macau deverá regredir 29,6 por cento este ano, devido à pandemia da covid-19 segundo as Perspetivas Económicas Mundiais ontem divulgadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). De acordo com o documento ontem divulgado pelo FMI, a economia de Macau, que em 2019 encolheu 4,7 por cento e que este ano deverá recuar
29,6 por cento, em 2021 terá um crescimento substancial de 32 por cento. Em termos de desemprego, a taxa da capital mundial do jogo permanecerá praticamente residual: 2 por cento este ano e no ano seguinte de 1,8 por cento, indicou o FMI. Quanto à inflação, deverá fixar-se nos 2 por cento em 2020 e nos 2,3 por cento no ano seguinte.
quarta-feira 15.4.2020