Hoje Macau 15 JUL 2016 #3614

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sexta-feira 15 de Julho de 2016 • ANO Xv • Nº 3614

Director carlos morais josé

Lei laboral

Férias a dobrar? página 4

Táxis “Punição conjunta” preocupa deputados

O justo e o pecador Julgar empregados e proprietários pela mesma medida não agrada à maioria dos deputados que debatem a revisão do regime que regula o sector dos táxis. Para os deputados

muitas das infracções cometidas devem-se aos baixos salários e à falta de modernização dos transportes. A ausência de uma lista negra de infractores é outra das críticas apontadas.

Página 5

Tabus Eventos

Iec Long

Em estado de choque página 7

h Estrangeira para sempre Comércio marítimo Anabela CAnas

José Simões Morais

Mar do sul

Avisos de Pequim S. Tomé | Eleições

Em busca do sonho Grande Plano

Página 8

opinião Sons nunca ouvidos Fa Seong


2 grande plano

S. Tomé Um país em busca de estabilidade em altura de eleições

Ilhas verdes de esperança E

ste domingo, 17 de Julho, S. Tomé e Príncipe vai às urnas eleger o Presidente da República para os próximos cinco anos. Um país pouco badalado e que tem no sonho do petróleo uma esperança para ultrapassar a pobreza que o caracteriza. Ao mesmo tempo, anseia por uma estabilidade que passe da aparência à realidade interna. Com 41 anos de independência face ao colonialismo português, os candidatos ao Palácio do Povo são cinco, na sua maioria com historial político no país para que “as pessoas votem em quem conhecem”. Esta é, pelo menos, a afirmação de Manuel Pinto da Costa ao Deutsche Welle (DW).

Os candidatos

Herói da independência, Manuel Pinto da Costa é novamente candidato. Foi um dos membros fundadores do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP) e também do comité de libertação do país que o antecedeu, o Comité de Libertação de São Tomé e Príncipe. O MLSTP assumiu o poder após a independência das ilhas em 1975 e Manuel Pinto da Costa instaurou então o regime de partido único, tendo o seu mandato terminado em 1991. Em 2011 volta a ser eleito presidente em segunda volta eleitoral, contra Evaristo de Carvalho. Evaristo de Carvalho volta à carga nestas eleições. Apoiado pela Acção Democrática Independente (ADI), partido no poder em São Tomé e Príncipe, o candidato argumenta, acima de tudo, a estabilidade interna, estando o poder na sua totalidade entregue a um mesmo partido.

O próximo domingo é a data marcada para as eleições presidenciais de S. Tomé e Príncipe. Os cerca de 111 mil eleitores irão eleger o representante de Estado. Na corrida estão cinco candidatos para presidir um arquipélago com sonhos ainda por realizar Será “um presidente diferente porque irá cumprir escrupulosamente as regras da Constituição”, afirma no lançamento da candidatura em citação no DW. A antiga Primeira-Ministra, Maria das Neves, actual vice-presidente da Assembleia Nacional, é outra das candidatas. Concorre com apoio do seu partido, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP-PSD), o maior partido da oposição e do Movimento Democrático Força da Mudança (MDFM/PL). É a segunda vez que a economista tenta chegar ao Palácio do Povo , tendo já estado à frente do governo. Maria das Neves é uma Primeira-Ministra que deixa o poder em 2004. A demissão coincide com um processo de corrupção de que era alvo. As suspeitas estavam relacionadas com o desvio de fundos do Gabinete de Gestão das Ajudas (GGA) de São Tomé e Príncipe, ligado ao Ministério do Comércio e da Indústria, na sequência de uma auditoria relativa à actividade deste gabinete entre 2001 e 2003. Maria das Neves foi considerada inocente. Agora, a candidata aponta a necessidade premente da luta contra a pobreza. “Não posso deixar de manifestar a minha indignação perante um país

com tanta potencialidade, mas com um nível de pobreza tão exagerado”, afirma ao DW. Mais discretos são os candidatos Manuel do Rosário e Hélder Barros. O primeiro é professor do ensino básico e foca a atenção no cumprimento constitucional do país, sendo que considera a sua candidatura “divina”. O segundo encerra a lista. Radicado em Portugal, o antigo alto funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU) tenta chegar ao Palácio do Povo pela segunda vez consecutiva, depois de ter concorrido nas eleições de 2011 enquanto independente. “Já chega dos conflitos que têm prevalecido ao longo destas

“Às vezes passam dois a quatro dias sem fazer jantar em minha casa. No dia em que não se tem nada, passo fome sim” Domingas habitante da Roça de S. Agostinho

décadas de independência”, afirma o candidato em citação na DW. “Se conseguirmos ultrapassar essas divergências, que acho secundárias, então iremos todos juntos, numa só frente para, de facto, atacarmos os problemas que são reais e que são problemas de todos, os problemas de sub-desenvolvimento”, remata.

Na linha do Equador

S. Tomé e Príncipe é o arquipélago verde situado na linha do Equador ao largo do Golfo da Guiné. Um país menos falado do que os colegas africanos, pautado por dificuldades económicas e ainda com um longo caminho a percorrer no que respeita à estabilidade política interna. Histórica e economicamente, o sector da agricultura tem sido predominantemente a fonte de desenvolvimento, segundo dados do Banco Mundial. As exportações de cacau, café e óleo de palma são produtos de crescente exportação que, no entanto, ainda não são suficientes para compensar as também crescentes importações. Sendo o turismo de extrema importância na economia local, ainda não é suficiente para suportar um desejado crescimento económico de um país que depende da ajuda

internacional. Este auxílio está avaliado em 80%.

Petróleo prometido

As suspeitas relativas à existência de petróleo ao largo de S. Tomé já movem forças e entidades. Visto como uma possível alavanca económica de um país que sofre de escassez em todos os sentidos, a possibilidade de explorar petróleo, e assim conseguir uma fonte de rendimento e uma maior atenção internacional, é algo inevitável. A portuguesa Galp e a norte-americana Kosmos Energy têm planeado para Janeiro do próximo ano uma pesquisa sísmica conjunta de prospecção de petróleo em três blocos da Zona Económica Exclusiva (ZEE) de São Tomé e Príncipe. O anúncio foi feito pelo director da Agência Nacional de Petróleo, Orlando Sousa Pontes, durante a apresentação pública do estudo de impacto ambiental elaborado conjuntamente pela Kosmos Energy e publicada no Jornal Económico no passado mês de Abril. “A pesquisa sísmica em 3D está prevista para começar no início de Janeiro de 2017, com duração prevista para seis meses”, disse Sousa Pontes, sublinhando que “a área abrangida pela operação 3D é de 12.799 quilómetros quadrados”.


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é antigo e prende-se não só com questões políticas como, e essencialmente, por “rivalidades pessoais entre alguns dos elementos que participaram no processo de independência”. São estas tricas de foro pessoal que “têm contribuído negativamente para o desenvolvimento do país”. Por outro lado, diz, também é sabido o pouco investimento que S. Tomé recebe. Muitos dos projectos que avançam não vêem a luz do dia, sendo “por vezes iniciados, mas raramente continuados e ainda mais escassamente terminados”.

Eleições sem programa

Sem avançar com as estimativas do custo, Sousa Pontes disse que a área da operação dista 50 quilómetros do arquipélago são-tomense. Se o tempo parece próximo para alguns, já a ex-Ministra da Economia Cristina Dias vê esta exploração com cautela. Para Cristina Dias, “só lá para 2021 é que poderá haver exploração de petróleo e se os preços não continuarem a baixar”, afirma na publicação Odisseia dos Mares. Por outro lado, e dada a distância do “sonho prometido”, a responsável considera que o país deveria continuar a apostar seriamente no turismo qualificado e na exploração agrícola de produtos da terra. Por outro lado, lamenta que as novas gerações estejam a começar a optar pelo consumo de produtos importados e a deixar para trás o que se faz nas ilhas verdes.

Nem um barril

A expectativa do ouro preto já traz capitais para S. Tomé desde 2014. Na zona de desenvolvimento conjunto de S. Tomé e Nigéria, onde se perspectiva haver petróleo e gás, os lucros são repartidos, com 40% para S. Tome e 60% para a Nigéria. No total, a zona ocupa uma área de 34.500 quilómetros quadrados em águas profundas e tem nove blocos petrolíferos delimitados. Até agora ainda não se produziu um único barril de petróleo, mas, só com os contratos assinados com as empresas petrolíferas até agora, o Governo são-tomense já ganhou fundos. Ao todo, e segundo Luís dos Prazeres, presidente da Autoridade Conjunta São Tomé e Príncipe Nigéria, “o Estado são-tomense

já encaixou cerca de 77,8 milhões de dólares” através das receitas de “bónus de assinatura” na realização de duas rondas de licitação dos blocos petrolíferos, em que foram assinados cinco contratos de partilha de produção”, como indica a publicação DW.

Do outro lado do sonho

Mas a pobreza é ainda uma constante no país. O Banco Mundial alerta e as roças são disso prova. As grandes plantações de outrora

“Não há uma discussão de um programa eleitoral para as eleições que aí vêm” “A democracia não se faz com uma declaração solene, é preciso ser praticada, cultivada, trabalhada e aplicada por todos e o exemplo deveria vir de cima pela acção dos dirigentes” António Costa, Presidente da Associação de SãoTomenses e Amigos de São Tomé e Príncipe Macau-China

foram abandonadas aquando da independência e são agora reutilizadas. É nas roças que vivem muitas das famílias são-tomenses já sem as condições que um dia tiveram. Segundo reportagem do jornal Observador, é nestes espaços partilhados que se escondem vidas de pobreza que se repetem de geração em geração. Uma herança de falta, distante dos centros urbanos do arquipélago, em que a vida quotidiana é cheia de estratégias e truques para enganar a fome. “Às vezes passam dois a quatro dias sem fazer jantar em minha casa. No dia em que não se tem nada, passo fome sim”, conta Domingas, uma habitante da Roça de S. Agostinho. Começou a ajudar nos trabalhos de campo aos dez anos: “partia cacau, fazia capinação, ajudava a abrir valas para a água e a colocar adubos”. Agora o cacau é cada vez menos e Domingas também planta o milho que a filha Marlinda leva ao mercado da capital. As viagens ao mercado têm que ser bem calculadas porque não há dinheiro para fazer muitas. “E se a fome aperta o que é a gente vai fazer?”

S. Tomé do lado de cá

António Costa, Presidente da Associação de São-Tomenses e Amigos de São Tomé e Príncipe Macau-China e representante da comunidade na RAEM, prefere “não tomar partido por nenhum dos candidatos”, como diz ao HM. O argumento é que, acima de tudo, estes “defendam o país, independentemente do candidato ou da cor política que representam” e “desde que legitimamente eleitos”. É seu

Com 41 anos de independência face ao colonialismo português, os candidatos ao Palácio do Povo são cinco, na sua maioria com historial político no país para que “as pessoas votem em quem conhecem” desejo que o próximo responsável do Palácio do Povo venha a servir da melhor maneira o arquipélago. Para António Costa “a estabilidade interna ainda não existe, mesmo passados 40 anos da conquista da independência”. O desentendimento entre os partidos do governo e da presidência são a fonte desta meta inalcançada, ressalvando que a distância da terra mãe não permite verificar a veracidade da situação. Na perspectiva de que a cor do governo passe a ser também a da presidência, António Costa considera que poderia ser um “motivo de estabilidade”, enquanto lamenta a inexistência de uma acção concreta materializada “num plano bem definido, transparente e com uma execução clara para que possa ser visível a todos”. Mas, para a conquista da estabilidade há muito ainda a fazer, afirma o representante de S. Tomé na RAEM. No país, o problema

Para António Costa, a incapacidade de avanço para um desenvolvimento real vai desde a “má preparação dos locais, à falta de lucidez de quem gere o projecto” . “O compadrio” também é o modus operandi que vai “dominando as políticas são-tomenses e que acaba por boicotar o bom andamento do país”, justifica. Outro aspecto a ter em conta para o líder associativo é a falta de cultura democrática, sendo que o trabalho para o seu desenvolvimento cabe à Educação como “bandeira de qualquer governo de S. Tomé e Príncipe”. Prova disso são as recentes eleições. “Não há uma discussão de um programa eleitoral para as eleições que aí vêm”, afirma, “dando a sensação que presidenciais e legislativas se confundem”. Fala-se da pobreza e das crianças e outros “discursos bonitos”, mais ligados à acção governativa, quando “o que deveria constar do programa eleitoral seria uma discussão dos problemas prementes que o país atravessa”, opina António Costa, dizendo que é ainda necessário que os programas apresentam diferenças ideológicas, pois neste momento falam quase todos do mesmo. Mas, eleições são também sinónimo de esperança e, para António Costa, S. Tomé tem tido alguns desenvolvimentos: “foram feitas algumas escolas, expandiu-se o ensino primário e secundário” ao longo dos diferentes governos e apesar das dificuldades. Um desenvolvimento que “sabe a pouco” tendo em conta que se passaram quatro décadas. “A democracia não se faz com uma declaração solene, é preciso ser praticada, cultivada, trabalhada e aplicada por todos e o exemplo deveria vir de cima pela acção dos dirigentes”, diz o responsável, que ainda não vê um país a trabalhar com clareza e honestidade. À espera de domingo estão cerca de 111 mil eleitores. Sofia Mota

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4 Política

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Lei Laboral Passar dias de férias para o dobro?

Doze dias de descanso A FAOM quer aumentar o número de dias de férias pagos a cada trabalhador. Miguel Quental e Agnes Lam dizem que 12 dias pagos seria o ideal, embora seja importante um estudo prévio. António Katchi fala de uma lei arcaica

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F e d e r a ç ã o das Associações dos Operários de Macau (FAOM) defende uma revisão da Lei das Relações Laborais e o aumento dos dias de férias pagos, já que há mais de 30 anos que os trabalhadores têm direito a apenas seis dias. Segundo o Jornal Tribuna de Macau, a FAOM defende que a medida também irá beneficiar o patronato. Contactado pelo HM, Miguel Quental, especialista em Direito Laboral, defende que o aumento de dias de férias pagos para o dobro, ou seja, 12 dias, seria a situação ideal. “Isso seria mais razoável. Os tempos mudaram e tudo deve ser revisto, a licença de maternidade e de paternidade. Mas penso que têm de ser os trabalhadores a reclamar por mais dias de férias. Nunca me pareceu que essa fosse uma preocupação. Sempre achei seis dias de férias muito pouco, mas nunca vi ninguém na rua a apelar a mais dias. Sempre me explicaram que é uma questão cultural”, defendeu. Miguel Quental defende ainda uma harmonização

no número de dias de férias pagos em Macau, já que, se a lei determina seis dias, há empresas que oferecem 12 e até 22 dias. “Pergunto-me porque é que uns trabalhadores têm seis dias e outros têm 22. Não são trabalhadores na mesma? Essa e outras questões sempre constituíram a grande diferença entre o privado e os funcionários públicos. Era bom que houvesse uma uniformização, compreendo que os funcionários públicos tivessem outras regalias no passado, mas acho que hoje em dia não se justifica uma diferença tão gritante a esse nível, tal como em relação a outras matérias”, referiu ainda Quental. Agnes Lam, académica e ex-candidata às eleições legislativas de 2013, referiu ao HM que a implementação dos 12 dias seria o ideal, mas que tal deve ser analisado primeiro. “Concordo que haja mais dias de férias pagos, mas quantos mais dias? Isso terá de ser estudado. Penso que temos de ter mais dias de férias pagos, mas de acordo com um estudo que realizei no passado há empresas que dão outro tipo de compensações e benefícios para atrair os trabalhadores. Temos de ter a certeza de como o mercado vai reagir a essa mudança. Poderemos sempre olhar para os exemplos existentes noutros países. Se Macau implementar essa medida agora a pressão vai ser demasiada e temos de

Governo quer incentivos fiscais para Regime de Previdência Central

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implementar isso a pouco e pouco”, concluiu.

Regras velhas

Para António Katchi, jurista, a manutenção dos seis dias de férias pagos “consagra um período mínimo que corresponde apenas a um terço daquele que foi fixado numa Convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT), adoptada há 46 anos”, constituindo este “um dos aspectos mais arcaicos da legislação laboral de Macau”. “Os dados comparativos apresentados pela FAOM são eloquentes e deveriam fazer o Governo - quer o actual, quer o anterior - corar de vergonha, tanto mais que Macau tem um dos valores mais altos do mundo em termos de PIB per capita”, referiu António Katchi. Katchi frisou que já em 1970 se assinou uma Convenção que determinava o período mínimo de três semanas de férias, algo que “infelizmente nunca foi estendido a Macau”. Segundo o JTM, Lei Chan U, vice-presidente da FAOM, referiu que Macau “só é melhor (neste aspecto) do que o interior da China e as Filipinas”. É a terceira pior região no ranking dos direitos de férias no mundo. “Ter férias contribui para os trabalhadores ganharem mais energia no trabalho, ficando mais motivados, pelo que isso irá beneficiar a empresa”, concluiu. Andreia Sofia Silva

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“Os dados comparativos apresentados pela FAOM são eloquentes e deveriam fazer o Governo - quer o actual, quer o anterior corar de vergonha, tanto mais que Macau tem um dos valores mais altos do mundo em termos de PIB per capita” António Katchi jurista

Um de cada vez s deputados começaram ontem a analisar na especialidade a proposta do Regime de Previdência Central não obrigatório. Segundo a Rádio Macau, o Governo pretende criar incentivos fiscais para que as empresas queiram aderir a este regime. No total, os incentivos, a serem criados, deverão abranger um total de 240 empresas que já possuem fundos de pensões privados. Para estas o Governo pretende gastar dois anos na implementação de incentivos, enquanto que o terceiro ano será destinado a cativar os cerca de 340 mil trabalhadores que não têm qualquer sistema de pensões que os proteja. O Governo não

deu informações mais específicas quanto aos incentivos que pretende criar. Contudo, os deputados voltaram a referir que o Governo deve focar-se na implementação de um regime obrigatório de contribuições. “O Governo reúne condições para incentivar as empresas mas creio que não é através de benefícios fiscais, mas sim tomar uma posição mais firme, para que as empresas passem a saber que o regime mais cedo ou mais tarde vai ser obrigatório”, disse a deputada Kwan Tsui Hang, que preside à 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), encarregue da análise deste diploma.

Kwan Tsui Hang disse ainda que os deputados vão demorar algum tempo até concluir a análise desta proposta de lei na especialidade. “Esta proposta de lei vai levar muito tempo, vamos então envidar todos os esforços para que dentro desta legislatura possamos ter o trabalho concluído.” Durante a votação na generalidade o Governo já tinha referido que pretende atrair, em primeiro lugar, as grandes empresas do território que já possuem fundos de pensões privados. Desde o primeiro momento que os deputados se mostraram contra a criação de um regime não obrigatório.

Governo planeia empréstimo para aprendizagem de línguas

O

Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, revelou que o Governo planeia avançar com um plano de empréstimos sem juros para incentivar os jovens a aprenderem línguas. A ideia foi transmitida durante uma reunião, na quarta-feira, com a Associação Industrial e Comercial de Macau, que serviu para “trocar impressões sobre o empreendedorismo jovem

e o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas”, divulgada ontem através de um comunicado. O objectivo do referido plano seria aumentar a “capacidade linguística e competitividade” dos jovens de Macau, de acordo com Alexis Tam. Segundo os Censos de 2011, em Macau havia 449.274 pessoas a falar Cantonês como língua corrente - 83,6% da população com idade igual

ou superior a três anos, enquanto as que falavam Mandarim, Inglês e Português representavam, respectivamente, 5% e 2,3% e 0,7%. Quanto ao domínio de outras línguas, 41,4% falavam Mandarim, 21,1% Inglês e 2,4% Português. Alexis Tam apelou ainda à sociedade “para ter atitudes positivas e abertas perante a competição, de forma a promover em conjunto o desenvolvimento de Macau”.


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Política

Táxis Deputados preocupados com “punição conjunta”

Regime em suspenso Os deputados estão preocupados com a questão da “punição conjunta” de taxistas e proprietários de táxi. Há quem defenda que as irregularidades praticadas se devem aos baixos salários e peça modernização na forma de chamar táxis. O Governo admite voltar atrás no caso das gravações de áudio dentro dos carros

S

e para Raimundo do Rosário existe uma clara relação empregador-trabalhador entre os proprietários dos táxis e os motoristas que os conduzem, o caso não é assim para todos os deputados. A maioria dos membros do hemiciclo que ontem participou num debate sobre os táxis e a revisão do regime que os regula fala em injustiças para com os donos dos carros. Uma das sugestões do Governo na revisão ao Regime de Táxis é a punição do infractor e do proprietário quando houver acumulação de irregularidades. A questão foi a que deu mais debate na Assembleia Legislativa (AL). “É difícil controlar o trabalhador em caso de transgressão”, começou por defender Cheung Iek Lap. “Os donos assim ficam preocupados. Se há, por exemplo, a detenção do veículo, como é? A punição deveria ser para o taxista, não para o dono”, juntou-se José Chui Sai Peng. O Secretário para os Transportes e Obras Públicas admite que há dificuldades na gestão diária dos táxis. “Temos 1500 táxis, 1500 donos. Cada contrato com dois ou três condutores e a comunicação é feita com as associações [de táxis]”, defende. “É muito difícil encontrar o titular da licença. Há motoristas por turno e às vezes até os próprios proprietários [dos carros] não conseguem encontrá-los”, junta-se Lam Hin Sang, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego. “Vamos pensar ainda se vamos punir [o proprietário], ainda não tomámos uma decisão.” Melinda Chan criticou o facto do Executivo não obrigar a que os proprietários se registem e tenham acesso ao que a deputada chama de “lista negra” dos maus condutores. “Se eles não sabem quem são os condutores que praticaram uma infracção, como é que conseguem escolher um bom motorista?”

Irregularidades justificadas

Para Ng Kuok Cheong o problema dos táxis e irregularidades que estes

praticam vai mais além do que o próprio sector. A falta de avisos nas paragens sobre o tempo de espera dos autocarros (que entretanto foi ontem anunciada pelo Governo, mas que já devia estar em vigor) e a falta de uma data concreta para o metro são as principais causas que fazem, para o deputado, que a dependência de um táxi seja assim tão grande. E permitem ilegalidades. “A falta de transportes públicos leva a que as pessoas não se importem de pagar mais por um táxi”, atirou, tendo sido contrariado pelo Secretário, que diz que “os transportes em Macau não são assim tão maus como se pinta”. “Reconheço os problemas do metro, mas a situação é tão difícil aqui como noutros países. E houve melhorias.” Foram diversos os deputados que falaram na medida de incentivos para o sector. Lam Heong Sang foi uma dessas vozes. O deputado diz que é injusto para os que cumprem a lei poderem a vir ser sancionados por fazerem bem o trabalho. E dá um exemplo: se param para apanhar um passageiro que os chama, são multados. Se não param porque só podem parar nos locais de largada e recolha de passageiros, então é como se rejeitassem o cliente. “Eles nem querem ir aos bairros antigos porque nem sequer podem parar”, acrescentou Pereira Coutinho. A questão das linhas amarelas “por quase toda a cidade”, como frisou Ho Ion Sang, é uma das que se junta aos altos preços das licenças e aos custos baixos de uma viagem de táxi, apontam os deputados. “Uma licença de oito anos custa milhões e eles têm de conseguir esse retorno durante esse tempo. Claro que vão aceitar levar pessoas que paguem 300 patacas. A razão está no preço da licença, até temos táxis com vários proprietários”, frisou Fong Chi Keong, que relembrou que em Macau “especula-se” em todos os negócios. Tsui Wai Kwan fala na falta de rendimentos altos – “19 mil patacas por mês” - pedindo até uma taxa

de dez patacas se os táxis forem chamados. Os taxistas têm o aluguer dos carros para pagar e outras questões, pelo que os salários não atraem, diz. “É mais difícil sobreviver respeitando as leis. E se os visitantes estão dispostos a pagar mais...”, lembrou Ng Kuok Cheong. “Ganham mais junto dos hotéis”, acrescenta Zheng Anting. “Entendemos que podemos adoptar outras soluções para prevenir este tipo de comportamentos”, frisou Rosário.

Gravações se quiser

A aceitação de gravações no interior dos táxis é, no geral, bem recebida tanto pelos deputados, como pelo sector. Ainda assim, o Governo admite que esta medida pode não vir a ser obrigatória. “Vamos analisar melhor as questões com os proprietários. Mas deverá ser voluntária, não obrigatória”, começou por dizer uma responsável das Obras Públicas. “Se os taxistas querem, então requerem junto da DSAT. Estamos ainda a estudar, por uma questão de equilíbrio entre os interesses e os dados pessoais. A gravação é positiva porque ajuda em casos de conflito.” De acordo com o Governo, o Gabinete de Protecção de Dados Pessoais admite que a inclusão de gravações pode ser viável.

Modernices necessárias

Quase todos os deputados que ontem participaram no debate requerido por Mak Soi Kun e Zheng Anting acertam agulhas na mesma coisa: é preciso medidas mais modernas. A Uber serve de exemplo: tem uma plataforma online para chamar os carros. Si Ka Lon diz mesmo que é “mais fácil apanhar um avião do que um táxi” em Macau, quando “nas cidades vizinhas já se implementaram sistemas electrónicos”. O deputado quis saber qual o plano do Executivo neste sentido, mas Raimundo do Rosário disse apenas que a portaria dos táxis em vigor desde 99 não ajuda.

Localização de autocarros em app

“L

ocalização dos autocarros” é o nome da aplicação que procura facilitar os percursos para os utentes dos transportes públicos. A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) lançará a aplicação móvel, em versão teste, em finais de Julho. O dispositivo oferece informações de localização dos autocarros faseadamente. Na primeira fase, a aplicação disponibiliza informações de chegada à paragem de dez carreiras em tempo real, bem como a pesquisa das paragens mais próximas através da função de localização de telemóvel, facilitando o planeamento de deslocação do público, afirma o comunicado da DSAT. A possibilidade de download da aplicação está prevista para o final do mês. Para Setembro estão previstas as informações para mais 30 trajectos e assim por diante até atingir todos os autocarros.

Licenças que ficam

O

Governo disse ontem que não quer mexer nas chamadas licenças permanentes. Actualmente, existem 650 deste tipo de licenças para táxis, as únicas que o Executivo permite estarem em vigor desta forma. Perante a preocupação dos membros do hemiciclo, ontem, Raimundo do Rosário assegurou que estas licenças são para continuar. “Não pretendemos mexer nestas licenças. Não vão ser emitidas mais, mas também não vamos resgatar estas”, frisou Lam Hin San, director da DSAT. O responsável da DSAT diz que vão existir 1600 táxis a circular até final do ano, “número razoável que vai ajudar a diminuir o tempo de espera em um minuto, para 6,5 minutos”.

“A Uber recebe elogios da população. Sei que é proibido, mas a longo-prazo não deveria ser uma matéria a estudar”, arriscou até Ho Ion Sang, considerando que pelo menos o exemplo da empresa face à existência de uma app online para chamar carros deveria ser seguido. “A lei está

obsoleta. Precisamos de ter uma nova mentalidade.” Ella Lei e Fong Chi Keong foram outros dos deputados que pediram “instrumentos mais modernos”, tendo ZhengAnting referido até que chamar táxis por telefone é coisa do passado. Joana Freitas

Joana.freitas@hojemacau.com.mo


6 Sociedade

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Seac Pai Van Empresário queixa-se a Governo para acelerar projecto

Dez anos de impasse

Mais um empresário a dizer que não vê qualquer avanço na aprovação de um projecto para um lote em Seac Pai Van. O prazo termina em cinco anos, diz

C

ecil Chao Sze-Tsung, empresário da construção civil e director da Cheuk Nang Holding, de Hong Kong, disse ao jornal Ou Mun que adquiriu um terreno na zona de Seac Pai Van em 2005, mas que até agora o Governo ainda não deu qualquer avanço face à aprovação do projecto. A concessão

do terreno irá terminar daqui a cinco anos, alertou o empresário, que espera que o Executivo possa acelerar o processo. O terreno está pensado para receber um complexo de prédios habitacionais, um centro comercial e hotéis, um investimento que deverá rondar as oito mil milhões de patacas. O empresário alega que entregou o projecto em

Dinheiro a rodar

Novo museu do Grande Prémio vai custar 300 milhões

O

Governo vai realizar uma reestruturação das actuais instalações do Museu do Grande Prémio de Macau, estando previsto um orçamento de 300 milhões de patacas para um projecto que deverá estar concluído em Novembro de 2018. Quanto ao concurso público, deverá ser realizado no próximo ano, disse a directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes, citada pelo Jornal do Cidadão.

Helena de Senna Fernandes justificou os custos com a necessidade de reorganização das salas e da estrutura do Centro

2006 mas, passados dez anos, a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) continua a falar em “falta de recursos humanos para que o processo não avance”.

Outras prioridades

Outra das explicações dada pela DSSOPT, segundo o

Vinho em Coloane?

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O

empresário, prende-se com a necessidade de dar prioridade à construção de habitações públicas e empreendimentos de Jogo. Cecil Chao Sze-Tsung referiu ainda que já entregou o relatório de impacto ambiental e outros documentos adicionais, mas a planta de condições urbanísticas continua por aprovar. O empresário defendeu ao Ou Mun que o investimento estrangeiro visa construir projectos de qualidade em Macau, mas que o Governo nada faz quanto a isso. A Cheuk Nang Holding já terá enviado várias cartas ao Governo a pedir a celeridade do projecto, mas nunca recebeu respostas. Cecil Chao Sze-Tsung disse ainda temer que o seu projecto não fique concluído antes do fim do prazo de concessão do terreno, frisando que não é correcto o Governo reaver os pedaços de terreno dos empresários que os queiram desenvolver. O empresário adiantou que já fez vários investimentos em todo o mundo e que nunca teve de esperar uma década para ver um projecto aprovado, nem mesmo no interior da China.

uma resposta a uma interpelação escrita, Helena de Senna Fernandes dizia que uma das intenções do Governo era mudar o Museu do Vinho para Coloane, de forma a promover outras zonas de Macau como turísticas. Em declarações ao HM, contudo, a Direcção dos Serviços de Turismo explica que a questão ainda está a ser estudada. “De momento ainda decorre um processo de análise interna sobre o assunto, pelo que mais informações sobre este projecto serão anunciadas mais tarde”, frisou o organismo.

s visitantes que chegaram a Macau entre Janeiro e Junho viram os produtos e bens adquiridos mais baratos em 6,83% comparativamente ao período homólogo de 2015, indicam dados oficiais divulgados ontem. Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), os decréscimos mais significativos que levaram à diminuição do Índice de Preços Turísticos (IPT) verificaram-se no alojamento e transportes e comunicações, com recuos de 26,10% e 4,35%, respectivamente. Em contrapartida, os preços dos produtos alimentares, bebidas alcoólicas e tabaco e restauração subiram 2,42% e 1,71%, respectivamente, em termos anuais. Só no segundo trimestre, o IPT conheceu uma descida de 7% em termos anuais e de 8,25% face aos primeiros três meses do ano, devido principalmente à redução de preços do alojamento em hotéis e dos bilhetes de avião, de acordo com a DSEC. A variação do IPT médio dos quatro trimestres terminados no trimestre de referência, em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores, diminuiu 4,86%. Os decréscimos mais relevantes do índice de preços ocorreram nas secções de alojamento (-18,32%) e vestuário e calçado (-3,10%). O IPT reflecte a variação de preços dos bens e serviços adquiridos pelos visitantes em Macau. Este indicador caiu 0,86% em 2015 naquela que foi primeira queda no acumulado do ano desde que o IPT é divulgado. LUSA/HM

Tomás Chio (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo

O empresário adiantou que já fez vários investimentos em todo o mundo e que nunca teve de esperar uma década para ver um projecto aprovado, nem mesmo no interior da China de Actividades Turísticas, onde actualmente funciona o museu. A responsável explicou que a mesma estrutura funciona sem alterações há cerca de 20 anos, sendo necessária uma expansão das estruturas e ainda a introdução de mais viaturas para a exposição. A directora da DST

Preços turísticos mais baixos

afirmou ainda estarem a ser feitos contactos com mais entidades no sentido de introduzir algumas novidades no museu, como é o caso de vídeos em 3D, entre outros atractivos. Como o actual edifício contém salas para conferências e exposições, a directora prevê que as obras poderão afectar o seu normal funcionamento, sendo que, nesse período, o Centro de Actividades Turísticas estará fechado ao público. Este é um dos espaços mais frequentados por grupos de turistas que diariamente visitam Macau inseridos em excursões. T.C. (revisto por A.S.S.)

PSP deteve seis trabalhadores ilegais no Cotai

A Polícia de Segurança Pública (PSP) inspeccionou um estaleiro de obras no Cotai onde encontrou seis trabalhadores ilegais, entre os 943 a quem foi pedida identificação. Segundo a Rádio Macau, 64 dos trabalhadores do local eram locais e 879 trabalhadores não residentes. Os seis trabalhadores ilegais são de Hong Kong, interior da China e Sudeste Asiático. Têm entre 30 a 50 anos e fora, detidos juntamente com três responsáveis do estaleiro.


7 hoje macau sexta-feira 15.7.2016

Deputados pedem uma investigação mais profunda. Advogados consideram que a retirada dos terrenos permutados não tem consequências para a Shun Tak e um especialista do Centro “Um País, Dois Sistemas” considera existir uma violação à Lei Básica

U

m caso absurdo, chocante e que viola a Lei Básica. As repercussões do relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) sobre a troca de terrenos entre Governo e Iec Long já se fizeram sentir. Para o deputado Si Ka Lon o caso é “absurdo” e foi “o mais potente desde o retorno de Macau à pátria”. O número três de Chan

Iec Long Caso “chocante” e críticas sobre inércia do Governo

Baralha e volta a dar “Uma empresa e um director das Obras Públicas é que negoceiam uma troca de um terreno destes e só 16 anos depois da transferência é que se sabe? Ninguém nunca reparou nisso? Meng Kam no hemiciclo aplaude a iniciativa do CCAC e questiona a “inconsciência” encontrada no caso. “Uma empresa e um director das Obras Públicas é que negoceiam uma troca de um terreno destes e só 16 anos depois da transferência é que se sabe? Ninguém nunca reparou nisso? Onde está a supervisão?”, atira o deputado. Kwan Tsui Hang concorda, descrevendo o assunto como “cho-

Coutinho rejeita culpas de Carion

O

relatório do CCAC é claro: as trocas ilegais de terrenos foram feitas pelo ex-director das Obras Públicas, Jaime Carion, que representou a RAEM nesse sentido. O ex-responsável não reagiu ainda ao relatório, tendo-se mostrado sempre incontactável, mas o deputado José Pereira Coutinho não gostou da acusação. “O CCAC levanta algumas questões cuja responsabilidade põe nos ombros do ex-director da DSSOPT. Acho anedótico estar a culpar um ex-director, é uma forma simplista e fácil de sacudir a água do capote dos actuais dirigentes. Como ele já está aposentado é mais fácil acusar porque já não faz parte da família. Não acredito que se ele ainda fosse o director da DSSOPT o CCAC teria a coragem de o culpabilizar. Não aceito de maneira nenhuma que ele assuma a responsabilidade total, quando se trata de matéria de terrenos. Lau Si Io (Secretário a partir de 2007) está no activo e deveria ser ouvido e investigado. Na Lei de Terras já há muitos deputados [que o querem ouvir], eu próprio. Se ele fez alguma promessa que não está a ser cumprida tem de ser apontada a responsabilidade disciplinar”, frisou aos jornalistas.

cante”, pelo facto dos documentos nunca terem sido verificados por outra pessoa. A deputada também aplaude o CCAC e diz que o Governo deve retirar os terrenos trocados sem autorização. Algo que não é fácil. Uma das questões prende-se precisamente com a troca de terrenos entre os proprietários da Iec Long e outras empresas. Uma delas é a Shun Tak, que pagou 500 milhões de dólares de Hong Kong à Sociedade de Desenvolvimento Predial da Baía Nossa Senhora da Esperança em troca de 99 mil metros quadrados de terreno para a construção do Mandarin Oriental e dos prédios do One Central. O problema é que a Sociedade não tinha autorização para ceder o que quer que fosse.

Para mais tarde

O advogado Chio Song Meng considera que os empreendimentos da Shun Tak não serão afectados pelo facto do acordo ter sido agora considerado nulo pelo CCAC. Contudo, em declarações ao Ou

IC vai “acelerar” classificação da Fábrica

O

Instituto Cultural (IC) assegura concordar com as ideias deixadas no relatório e admite que vai acelerar a classificação da Fábrica de Panchões Iec Long. Para o instituto, acusado pelo CCAC de ter gasto cinco milhões de patacas em preservações que não eram da sua responsabilidade – e que levaram a um “embaraço” - a infra-estrutura tem grande importân-

Sociedade

cia. Mas o organismo também frisa que vai ter atenção às acusações de falta de cumprimento da lei. “A Fábrica possui um valor cultural importante, sendo um dos objectos do levantamento do património cultural. O IC irá acelerar a recolha de provas das informações relevantes e dar o início ao procedimento de classificação da Fábrica segundo as condições”,

diz. “O IC irá, segundo as sugestões emitidas pelo CCAC e em conformidade escrupulosa com a Lei de Salvaguarda do Património Cultural, tratar adequadamente os trabalhos de conservação e a responsabilidade e atribuição das partes envolvidas na reparação.” As ruínas da Iec Long são das melhores preservadas “em larga escala no sul da China”, mas o local foi abandonado

após o encerramento, em meados de 80. Até agora, o IC reparou um total de 16 edifícios, sendo que a oficina para produzir panchões, as paredes reforçadas contra explosões e o armazém “estão basicamente bem preservadas”. Em 2014, o IC assegura que enviou dois ofícios aos proprietários, mas apenas para exigir que estes cuidassem das plantas e ervas a mais. J.F.

Chan Meng Kam deputado Mun, alerta que entre a Shun Tak e Sociedade é provável que ocorra um processo. Também o advogado Miguel de Senna Fernandes aponta que o relatório do CCAC não tem qualquer efeito legal, portanto “tudo depende da posição do Governo”. Se o Governo decidir que os terrenos já permutados são nulos, a consequência será grande, avisa ao mesmo jornal. O HM tentou perceber junto das Obras Públicas se há algum tipo de consequência, mas não foi possível até ao fecho desta edição. Entretanto, sabe-se que Raimundo do Rosário fica responsável pela anulação de acordo. O Chefe do Executivo determinou que o Secretário para os Transportes e Obras Públicas vai ser o responsável pelo acompanhamento da anulação do acordo sobre a permuta de terrenos e pelas consequências dessa anulação. Num comunicado, Chui Sai On indica que “há algumas questões que

importa resolver” e é preciso que “a legalidade seja reposta”.

Lei Básica em risco

Num comentário feito pelo Coordenador do Centro de Estudos “Um País, Dois Sistemas” do Instituto Politécnico de Macau, Leng Tiexun, no Jornal Ou Mun, este considera que o caso viola a Lei Básica. O responsável relembra que o artigo 7º da Lei Básica indica que os solos e os recursos naturais são propriedade do Estado, excepto os que forem propriedade privada antes do estabelecimento da RAEM. Portanto, diz, não se pode produzir nova propriedade privada depois de 1999, “senão é uma directa violação da Lei Básica”. No caso da Fábrica de Panchões, todo o terreno ocupado pela fábrica foi considerado como propriedade privada, mas de facto só algumas partes do terreno o eram, relembra. Um dos responsáveis da Sociedade da Baía Nossa Senhora da Esperança é Sio Tak Hong, também membro da Conferência Chinesa e do Conselho Executivo local. É também presidente-fundador da Associação dos Conterrâneos de Kong Mun, ao lado de Mak Sui Kun, vice-presidente da mesma associação. Questionado sobre o paradeiro de Sio Tak Hong, o também deputado respondeu que não sabia se este estava em Macau. Mak Soi Kun disse apoiar o Governo, mas afirma que o relatório do CCAC “é uma descrição básica do caso e a informação fornecida é parcial”, pelo que não é conveniente fazer comentários. Angela Ka

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Joana Freitas

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8 China

hoje macau sexta-feira 15.7.2016

Mar do Sul Pequim promete agir perante provocações

O recado está dado

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equim prometeu ontem dar “uma resposta determinada” a todos os “actos de provocação” no Mar do Sul da China, dias depois de o tribunal internacional ter considerado ilegítimas as reivindicações chinesas sobre a disputa territorial com as Filipinas. “Se alguém tomar algum acto de provocação contra os interesses de segurança da China, com base na sentença, a China dará uma resposta determinada”, anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Lu Kang, durante uma conferência de imprensa.

A China reagiu furiosamente à decisão do Tribunal Permanente de Arbitragem (TPA), com sede em Haia, considerando-a ilegal e referiu que a sentença “não terá nenhum efeito sobre a política da China”, noticiou a agência AFP.

Pequim reivindica a soberania sobre 2,6 milhões de quilómetros quadrados do Mar do Sul da China, de um total de quase três milhões, contra outros países que fazem fronteira como as Filipinas, Vietname, Malásia e Brunei, tendo como

“Se alguém tomar algum acto de provocação contra os interesses de segurança da China, com base na sentença, a China dará uma resposta determinada” Lu Kang ministro dos Negócios Estrangeiros chinês

argumento uma linha que surge nos mapas chineses desde 1940. Os chineses alegam ter sido os primeiros a descobrir, nomear e a explorar aquela região estratégica, quer a nível militar, quer a nível económico. O TPA decidiu na terça-feira a favor das Filipinas no caso das disputas territoriais no Mar do Sul da China, apesar de Pequim insistir que não aceita a mediação de terceiros.

Zona quente

A China tem investido em grandes operações na zona, transformando recifes de corais em portos, pistas de aterragem e em outras infra-estruturas, com pretensões militares, referiu a AFP. Pequim iniciou exercícios militares no norte do Mar da China Meridional na semana passada, ao mesmo tempo que a marinha norte-americana, com base no Pacífico, anunciou o destacamento de porta-aviões para reforçar a segurança. Washington já referiu não querer tomar posição nestas disputas, mas a marinha norte-americana tem reforçado a presença de navios de guerra e aviões militares na zona contestada.

Chinês condenado a quase quatro anos de prisão por espionagem

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m cidadão chinês foi condenado a perto de quatro anos de prisão nos Estados Unidos da América por espionagem que envolveu informação militar norte-americana, revelaram as autoridades dos EUA na quarta-feira. De acordo com a sentença divulgada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América, Su Bin, de 51 anos, roubou “informação militar sensí-

vel” e colocou-a ao serviço da China. O homem foi condenado a 46 meses de prisão. “A condenação de Su Bin é um castigo pela sua participação confessa numa trama de ‘hackers’orquestrada pela Força Aérea do Exército Popular de Libertação [forças armadas chinesas] para roubar informação militar norte-americana sensível”, disse John Carlin, assistente do procurador-geral dos EUA.

“Su ajudou os ‘hackers’ militares chineses a aceder e a roubar informação sobre planos de aeronaves militares que são essenciais para a nossa segurança nacional”, acrescentou. Su Bin foi detido em 2014 no Canadá e, em Março passado, no âmbito de um acordo com as autoridades norte-americanas, confessou ter conspirado com dois militares chineses com o objectivo

de obter de aviões de combate dos EUA e de aeronaves de transporte militar. A imprensa estatal chinesa referiu-se recentemente a Su Bin como um herói. “Mostramos a nossa gratidão e o nosso respeito pelo serviço que prestou ao nosso país”, escreveu em Março, num editorial, o Global Times, jornal do grupo Diário do Povo, órgão central do PCC.

Li Keqiang felicita Theresa May

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, felicitou a nova primeira-ministra britânica, Theresa May, manifestando a vontade de Pequim de aprofundar a cooperação bilateral com o Reino Unido, informa ontem a agência oficial Xinhua. Numa mensagem, datada de quarta-feira, Li Keqiang afirma que as relações sino-britânicas têm estado em alta nos últimos anos, como atestam os frequentes intercâmbios e visitas de alto nível, o desenvolvimento sustentado de uma cooperação pragmática ou as crescentes trocas culturais e entre pessoas. A China aprecia o espírito pioneiro do Reino Unido no seu esforço de impulsionar a cooperação e está pronta a trabalhar para expandir e aprofundar as relações bilaterais de modo a melhor beneficiar os dois povos, afirmou Li Keqiang. A China aguarda a presença de Theresa May na cimeira do G20 que vai ter lugar em Setembro, em Hangzhou, frisou o primeiro-ministro da segunda potência mundial, manifestou ainda a esperança de um encontro quando for conveniente para ambas as partes.

Congresso dos EUA suspeita de pirataria chinesa

U

ma comissão do Congresso dos Estados Unidos levantou, na quarta-feira, a suspeita de que o Governo chinês se infiltrou em computadores de um regulador bancário norte-americano, o que os funcionários terão depois tentado encobrir. O sistema informático do Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) – a agência federal norte-americana que tem como principal função a garantia dos depósitos bancários – foi “pirateado por um governo estrangeiro, provavelmente o chinês”, refere um relatório divulgado pela Comissão para a Ciência, Espaço e Tecnologia, liderada pelos republicanos, segundo o qual a agência federal tentou depois esconder os ataques. “A repetida má vontade do FDIC para ser aberta e transparente para com a inves-

tigação da comissão levanta sérias preocupações sobre se a agência está ainda a tentar proteger informação”, diz o relatório. Segundo a comissão, o primeiro ataque foi detectado em 2010, seguindo-se outros em 2011 e 2013. “No total, 12 ‘estações de trabalho’ foram comprometidas e dez servidores do FDIC foram invadidos e infectados por um vírus criado pelo ‘hacker’”, de acordo com a mesma comissão parlamentar. “Até o computador da antiga presidente” do FDIC ficou comprometido, enfatiza o documento. O chefe da Agência de Segurança Nacional, Michael Rogers, disse ao Congresso, em Abril, que piratas informáticos chineses continuavam “envolvidos em actividades dirigidas contra empresas norte-americanas”.


9 hoje macau sexta-feira 15.7.2016

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imperador do Japão não tem intenção de abdicar, afirmou ontem o Palácio Imperial após notícias de que Akihito exprimira o desejo de encurtar o reinado, algo raríssimo na longa história do Trono do Crisântemo. “Não é de todo verdade”, afirmou na noite de quarta-feira, aos jornalistas, Shinichiro Yamamoto, um alto responsável da casa imperial japonesa. A cadeia de televisão pública NHK, citando fontes do palácio, informou na tarde de quarta-feira que o imperador, de 82 anos, pretendia abdicar, intenção que teria comunicado à mulher, a imperatriz Michiko, e ao filho e príncipe herdeiro do Japão, Naruhito, e adiantou que o octogenário iniciara já os preparativos para garantir uma sucessão estável. A agência noticiosa Kyodo também revelou informações semelhantes.

Daqui não saio

Palácio imperial do Japão nega que imperador tinha intenção de abdicar

A actual lei sobre a casa imperial, que rege o estatuto jurídico do imperador, não prevê um mecanismo legal de abdicação, pelo que seria necessária uma revisão do diploma para satisfazer essa eventual vontade. Se Akihito abdicasse seria a primeira vez que tal ocorreria na linha de sucessão imperial nipónica desde a do imperador Kokaku, em 1817.

Em silêncio

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, recusou ontem tecer comentários, invocando o carácter sensível do assunto, assim como o porta-voz do Executivo, Yoshihide Suga. Yomiuri Shimbun, um jornal de grande tira-

Região gem, noticia ontem que o Governo abordou, em segredo, essa possibilidade. Akihito chegou ao trono aos 55 anos, a 7 de Janeiro de 1989, após a morte do pai, o imperador Hirohito. Foi o primeiro a chegar ao trono desde a entrada em vigor da nova Constituição nipónica, aprovada em 1947, após o fim da ocupação norte-americana na sequência do final da Segunda Guerra Mundial. Os cinco anteriores imperadores do Trono do Crisântemo morrerem em funções: Hirohito (1926/1989), Taisho (1912/1926), Meiji (1867/1912), Komei (1846/1867) e Ninko (1817-1846).

Se Akihito abdicasse seria a primeira vez que tal ocorreria na linha de sucessão imperial nipónica desde a do imperador Kokaku, em 1817

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AVISO Renovação da licença da agência de viagens e atenção para a garantia bancária e o seguro da responsabilidade civil profissional Faz-se público que a renovação da licença da agência de viagens deve ser requerida até 30 dias antes do termo do seu prazo de validade e que a renovação da licença, quando requerida fora do prazo, será sujeita a uma taxa adicional, nos termos do estipulado no Decreto-Lei n.º 48/98/M, de 3 de Novembro, com a nova redacção dada pelo Regulamento Administrativo n.º 42/2004. As informações das formalidades e das taxas estão disponíveis na página electrónica da Indústria Turística de Macau desta Direcção de Serviços: http://industry.macaotourism.gov.mo/license/. Nos termos do mesmo diploma, as agências devem ainda apresentar anualmente na Direcção dos Serviços de Turismo os documentos comprovativos de estarem em vigor a caução e o seguro; e o não cumprimento determina o encerramento temporário imediato da agência. Chama-se a atenção dos titulares da licença da agência de viagens de que a licença bem como a caução e o seguro devem estar válida e em vigor e que a renovação da licença bem como a actualização da caução e do seguro devem ser realizadas no prazo legalmente estipulado. A par disso, devem dar cumprimento à disposição respeitante à obrigatoriedade da presença do director técnico na agência durante o seu funcionamento. Para esclarecimento, poderá ser contactada a Divisão de Licenciamento por via telefónica: 2831-5566, por fax: 2833-0518 ou por correio electrónico: dl@macaotourism.gov.mo. A Directora dos Serviços Maria Helena de Senna Fernandes

Assine-o Telefone 28752401 | Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo

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AVISO Renovação da licença de estabelecimentos de sauna e/ou massagem e de estabelecimentos do tipo de “health club” ou de “karaoke” Chama-se a atenção dos titulares das licenças dos estabelecimentos referenciados em epígrafe de que a renovação da licença deve ser requerida nesta Direcção dos Serviços antes do termo do seu prazo de validade e que a licença caduca quando não houver renovação antes do termo da validade. Após a caducidade da licença, caso o interessado queira continuar o exercício da actividade, deve requerer o novo licenciamento. As informações das formalidades e das taxas estão disponíveis na página electrónica da Indústria Turística de Macao desta Direcção de Serviços: http://industry.macaotourism.gov.mo/license/. Para esclarecimento, poderá ser contactada a Divisão de Licenciamento por via telefónica: 2831-5566, por fax: 2833-0518 ou por correio electrónico: dl@macaotourism.gov.mo.

A Directora dos Serviços Maria Helena de Senna Fernandes

MISSA REALIZA-SE NA PRÓXIMA SEGUNDA-FEIRA, DIA 18 DE JULHO DE 2016, ÀS 18HORAS NA IGREJA DA SÉ UMA MISSA EM MEMÓRIA DO DR. SÉRGIO MIRANDA Comunica a todos os que queiram comparecer e fazendo-o em representação da Família enlutada e Amigos Pedro Redinha


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AFA Kay Zhang apresenta exposição para além da in

eventos

De quem é a taça?

Lançado concurso para desenhar prémio do Festival de Cinema

O

troféu “Prémio do Público” do primeiro Festival Internacional de Cinema de Macau, a decorrer entre 8 e 13 de Dezembro, será uma criação local. O desafio é lançado aos criadores locais para que apresentem um projecto para “a taça” que galardoará um dos 12 selecionados para a competição para melhor filme eleito pelo público. Os projectos candidatos serão submetidos à avaliação de um júri criteriosamente escolhido. Ao presidente Dante Ferretti, director artístico três vezes galardoado com o Óscar, junta-se um conjunto de nomes locais conhecidos pelo trabalho realizado em diferentes áreas. São eles: Chui Sai Peng, Buddy Lam, Carlos Marreiros, Ho Ka Long, Lok Hei, Pedro Ip, Si Ka Lon e Terry Sio. O concurso está aberto a todos os artistas residentes em Macau e as inscrições terminam a 9 de Setembro, sendo que não há qualquer restrição relativa a formas, materiais ou tamanho do

troféu. O vencedor do concurso terá como prémio o montante de 50 mil patacas e as inscrições podem ser feitas no site do Festival.

Equipa conhecida

Foi ainda dada a conhecer a equipa de curadores que irá acompanhar Marco Muller na organização deste primeiro Festival Internacional de Cinema. A notícia é adianta pelo Hollywood Reporter e citada no Ponto Final.

Da equipa que levará a cabo a programação e curadoria do festival constam nomes conhecidos pela experiência no sucesso de eventos idênticos: Deepti D´Cunha, Shan Dongbong, Marie-Pierre Duhamel, Sandra Hebron, Diego Lerer, Tomita Mikiko e Alena Shumakova. Marco Muller afirma ainda na mesma publicação estar “especialmente feliz por reunir mais uma vez com a equipa que tanto contribuiu para a criação de um programa tão diverso e atraente para os festivais de Veneza e de Roma. E que ajudou a trazer tantas estreias internacionais a Pequim e a Fuzhou”. À equipa junta-se ainda uma veterana da indústria cinematográfica asiática, Lorna Tee, a quem caberá assumir a direcção da gestão do festival. Nomes que também fazem parte deste festival são ainda Huang Jianxin, realizador chinês, Oh Jung-wan, produtor coreano ou ainda o produtor e guionista norte-americano James Schamus e o português Luís Urbano. S.M.

Dj português no Pacha

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ançar, todos juntos, dá o mote a mais uma noite do Pacha Macau. Desta feita ao comando do português Nigls, também conhecido por Miguel Santos. A edição conta com organização da Macau Dance Music Association (MDMA) , que quer pôr todos a mexer. Miguel Santos é uma figura activa na cena nocturna de Pequim e vê na música uma forma de expressão dos seus humores e emoções capaz de o inspirar no quotidiano, segundo conta na apresentação do evento. Desde os sons mais obscuros, melódicos ou melancólicos, o cardápio do DJ é variado e para todos os gostos. Outra característica de destaque é a capacidade que tem em mudar o ambiente de forma a não olhar para uma pista de dança assolada pela monotonia.

A ele juntam-se D-Hoo, Erick Leung, Hélio e Edu, para que a noite de 23 de Julho, que começa às 21h00, seja um evento a recordar. A MDMA nasceu da necessidade de algo mais, numa cidade marcada pelo crescimento económico desenfreado, pode ler-se no Facebook da colectividade. Os talentos locais são muitas vezes privados de oportunidades aquando do início de carreira e foi com este contexto que a MDMA surgiu enquanto plataforma de promoção do que se faz por cá. É uma associação composta por amantes da música e dança tendo como missão a descoberta de djs e produtores que Macau tenha para oferecer.

Enciclop tabu expressão do sexo e do desejo é inevitável. A artista recorre também ao nu, mas numa combinação de técnicas e materiais que no seu conjunto denomina de artigos visuais. Estamos perante uma enciclopédia imagética que pretende, por vontade da artista, deixar a questão da pureza artística... ou a falta dela.

A primeira exposição a solo da jovem artista Kay Zhang é uma compilação visual de trabalhos que desafiam o tabu sexual. Uma exploração desenhada e colada sobre corpos e desejo, de uma artista que desafia a própria pureza da arte

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ara lá dos limites da inocência e num pensar sobre ela e a sua antítese é a “tela” que dá corpo ao trabalho de Kay Zhang. A 1 de Agosto às 18h30 está marcada a abertura da exposição “INNOCENCEPEDIA”, que concretiza a primeira mostra individual da jovem artista chinesa. O evento terá lugar na Art for All Society (AFA) e traz à luz do dia o conjunto de trabalhos que marcam a estreia, a solo, da mestranda da Academia de Belas Artes de Pequim. Aluna de Xu Bing, um dos nomes que marcam o cenário artístico

À venda na Livraria Portuguesa À venda na Livraria Portuguesa A Vida Passou Por Aqui • Luís Francisco

Que relação poderá existir entre um motorista de táxi à beira da reforma, um toxicodependente que rouba carteiras, um arquitecto com mão leve, uma solteirona apostada em fazer o bem ou uma rapariga que disse aos pais que andava na faculdade e, afinal, vive à custa de um homem casado? Numa história com uma construção extremamente original, em que desfilam figuras muito diferentes, mas todas inesquecíveis, A Vida Passou por Aqui é uma espécie de confirmação da teoria do efeito borboleta: porque, na teia que é a vida, sempre que alguém puxa um fio, mesmo sem se dar conta, acaba por embaraçar, mais do que gostaria, as vidas alheias…

chinês contemporâneo pela sua linguagem criativa ligada à tipografia, Kay Zhang traz a Macau “INNOCENCEPEDIA”.

Para lá do tabu

A exposição aborda o sexo. Palavra associada muitas vezes a tabu, ao proibido que não se fala, à pornografia ou obscenidade. Assunto inerente à essência humana e a um conjunto de curiosidades partilhadas por muitos, como relembra a AFA. A exploração da componente sexual também se reflecte na arte, sendo muitas das vezes representada através da exploração da nudez. Para Zhang, a

Sem parar

Nascida em 1991, Zhang estudou pintura a óleo no Instituto de Belas artes de Sichuan em 2009. Esteve em Braunschweig, sendo que continuou, de regresso à China, os estudos na área da arte experimental. Actualmente a sua pesquisa e trabalho estão voltados para a arte contemporânea. Do seu leque de interesses contam o uso de diferentes meios e técnicas para abordar os assuntos que mais lhe interessam. Já viu o seu trabalho em diversas exposição na China continental e até na Suécia. A exposição na RAEM é o resultado de uma bolsa de estudo que a artista recebeu por parte da AFA para desenvolver trabalho na Academia de Belas Artes de Pequim. Os 33 trabalhos que vão ser apresentados combinam desenho e colagem, fruto dessa aprendizagem, avança uma responsável do AFA ao HM. A exposição está patente até 21 de Agosto e conta com entrada livre. Sofia Mota

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Rua de S. Domingos 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • mail@livrariaportuguesa.net Rua de S. Domingos 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • mail@livrariaportuguesa.net

Jonas Savimbi – no lado errado da História • Emídio Fernando

Biografia de Savimbi no momento em que se assinalam dez anos da sua morte. «Jonas Malheiro Savimbi, aos 32 anos, atingia a sua grande e almejada glória ao ser eleito, por unanimidade e aclamação, presidente de uma nova organização política, precisamente na mesma região onde viria a ser abatido 36 anos depois. Mais tarde, assumia que a ideia, de criar um novo movimento, nascera em Champaix, uma vila na Suíça, em conversas com Tony da Costa Fernandes e cujos estatutos começaram a ser redigidos por ambos.»


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nocência

pedia AFA

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hoje macau sexta-feira 15.7.2016

eventos

hoje na chávena Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

AGRIPALMA Nome botânico: Leonurus cardiaca L. São também usados o L. heterophyllus (da China) e o L. sibiricus (da Sibéria). Família: Lamiaceae (Labiatae). Nomes populares: CARDÍACA.

Com caules rígidos e erectos, de secção quadrada, muito ramificados e folhosos, a Agripalma pode alcançar 1,5 metros de altura; apresenta grandes folhas pecioladas, palmadas, divididas em 3 lóbulos dentados, as superiores, e 5 a 7 as inferiores, de cor verde-escura por cima e acinzentada por baixo; as flores são cor-de-rosa ou púrpura, bilabiadas e densamente vilosas, crescendo aos cachos nas axilas das folhas. Originária da Ásia Central disseminou-se pela Europa (excepto região mediterrânica) e América do Norte, onde habita em bosques, terrenos incultos e na berma dos caminhos, sendo também cultivada como ornamental. É uma planta melífera. Cultivada nos jardins dos mosteiros desde o século XV, a Agripalma foi uma planta de grande reputação. Mattioli, ilustre médico e botânico italiano do século XVI, afirmava ser «útil para tratar palpitações e ritmo cardíaco acelerado, espasmos e paralisia (…); liquefaz humores espessos e viscosos, estimula a urina e a menstruação e purga pedras nos rins». Um século mais tarde, Nicholas Culpeper referia que «não existe melhor planta para afastar os vapores de melancolia do coração, fortalecendo-o e alegrando a mente»! A partir do século XVIII, caiu progressivamente em desuso. Mas não totalmente, pois a investigação actual reconheceu algumas das suas virtudes. Em fitoterapia são usadas as partes aéreas floridas, de preferência da planta fresca. Composição Heterósidos cardiotónicos do tipo bufadienólidos (lavandulifoliósido), iridóides monoterpénicos (leonurina), constituintes amargos de natureza diterpénica (leocardina), flavonóides (caempferol, genkwanina, hiperósido, isoquercitrina, quercetina, quercitrina, rutina), ácidos fenólicos (cafeico) e seus heterósidos, taninos, saponósidos, alcalóides (estaquidrina, leonurinina), traços de óleo essencial; contém ainda glúcidos, betaína, colina, sais minerais (potássio). Odor intenso e desagradável. Acção terapêutica Tonificante do músculo cardíaco, a Agripalma reduz a frequência cardía-

ca e combate as arritmias; dilata os vasos sanguíneos, diminui a pressão arterial e é antioxidante. É usada na hipertensão, angina de peito, doença coronária e insuficiência cardíaca leve. Tem igualmente actividade sedativa, relaxante e indutora do sono, sendo empregue no alívio da tensão nervosa, ansiedade, insónia e ataques de pânico. É ideal nas perturbações neurovegetativas do coração, como palpitações e batimentos cardíacos acelerados ou irregulares, uma vez que acalma o coração e o sistema nervoso; neste contexto, é também muito recomendada como adjuvante nas perturbações associadas ao hipertiroidismo e à menopausa. Muito usada nos transtornos da menstruação, como atraso ou ausência da menstruação, ciclo irregular, dores e tensão pré-menstrual, a Agripalma regulariza o fluxo e o ciclo menstrual, atenua as dores associadas e tonifica os músculos lisos do útero estimulando as contracções uterinas. Adstringente e levemente amarga, esta erva tonifica o estômago e a função digestiva, favorece a eliminação de gases e auxilia a combater a diarreia. É usada na bronquite e asma pelas propriedades expectorantes e antiespasmódicas. Como tomar Uso interno: •Infusão das partes aéreas floridas: 1 colher de chá por chávena de água fervente. Tomar 3 ou 4 chávenas por dia. •Em ampolas, xarope, tintura, cápsulas e comprimidos, a Agripalma integra fórmulas para as afecções do coração, como sedativo do sistema nervoso e para a menopausa. •As flores frescas ou secas podem ser usadas para aromatizar sopas, especialmente de Lentilhas ou Ervilhas. Também são usadas na aromatização da cerveja. Precauções Não são conhecidos efeitos adversos nas doses terapêuticas. Respeitar as posologias – em altas doses, pode exercer uma acção demasiado intensa sobre o coração, devido aos heterósidos cardiotónicos, e alterar o ciclo menstrual. Devido ao óleo essencial, a planta pode provocar dermatite por contacto e fotossensibilização. Contra-indicada durante a gravidez e lactação. Não deve ser administrada em caso de fluxo menstrual abundante. Pode interagir com medicamentos cardiotónicos. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.


h artes, letras e ideias

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A Bolsa no comércio marítimo português N o artigo O Lavrador do Mar Português, publicado neste jornal no dia 9 de Outubro de 2015, tratamos sobre a navegação portuguesa, desde o primeiro rei de Portugal até D. Dinis. Agora aqui completamos esse assunto, levando a História até ao final da dinastia Afonsina, apresentando quem preparou a entrada dos portugueses no Oceano Índico. Segundo Vitorino Nemésio: “Desde o século XII havia trocas com Bruges, e logo com centros de vulto espalhados por França e Inglaterra. D. Sancho I recebia direitos de panos descarregados no Porto, e, pelo menos um século de-

pois, a seda e o linho abretanhado, os bordados a ouro e as plumas ocupavam os almotacéis (oficiais que fiscalizavam a venda nos mercados). Os mercadores portugueses gozam de isenções especiais em portos do Norte da Europa, e em Maio de 1293 têm regiamente confirmada a sua primeira bolsa. Cada armador que tivesse navio a largar para Inglaterra, Flandres, Normandia ou Bretanha contribuía para um duplo depósito em numerário em Portugal e em Flandres, a fim de cobrir pleitos, perdas e outros percalços. Com isto a construção naval desenvolve-se”. Depois de um território continental conquistado e dos problemas nacio-

nais resolvidos, Portugal rumou para o mar, enquanto os seus vizinhos ainda separados em reinos cristãos (Astúrias, Leão, Narrava, Castela e Aragão) continuavam na árdua tarefa de expulsar os mouros da Península Ibérica, luta por vezes interrompida para se guerrear entre eles.

Almirantado

“A conquista de Marrocos constituiu, sem qualquer dúvida, o primeiro projecto expansionista português, uma vez terminada em 1250 a reconquista do Algarve, de que era o prolongamento natural” como Luís Filipe Thomaz na sua obra De Ceuta a Timor escreve a

partir do que diz o Padre A. J. Dias Dinis. Ainda “em meados do século XIII já se documenta em Lisboa o <paço dos navios> e a existência de mestres e carpinteiros navais”, adita Vitorino Nemésio. “Em finais de Trezentos, a estrutura naval portuguesa acusava algumas centenas de marítimos, entre quadros e pessoal subalterno, possibilitando o lançamento das mais variadas empresas: guerra ofensiva, guerra defensiva, fossados de mar, corso, pirataria, empreendimentos comerciais, etc.” como refere Oliveira Marques. Segundo Luís de Albuquerque, foi estabelecido em 1293 o “contrato entre os mercadores


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José Simões morais

e confirmado por D. Dinis, criando como que um banco de comércio para apoio das relações, que eles mantivessem com os entrepostos comerciais de além-mar. “Um dos sinais da importância crescente da guerra marítima foi a organização do almirantado, cujas primeiras notícias remontam a 1288, com um tal Domingos Martins à sua cabeça. De 1307 a 1316 foi almirante Nuno Fernandes Cogominho,” como refere Oliveira Marques e Maria Fernanda Espinosa Gomes da Silva adita, “tendo morrido Nuno Fernandes Cogominho, primeiro detentor do título de almirante-mor”, “a escolha recaiu em Manuel Pessanha, homem de grande experiência marítima e também comercial, pois as duas actividades estavam, para um italiano do século XIV, naturalmente ligadas. O novo almirante possuía úteis conhecimentos, não só em Itália, como em Inglaterra, onde, ao serviço

de Eduardo II se encontravam dois seus irmãos, Leonardo e António.” O acordo com D. Dinis “consignava a hereditariedade do cargo na família Pessanha. Quando deixasse de haver sucessor legítimo e apto para o ofício, este voltaria à coroa.” Assim em 1 de Fevereiro de 1317, o genovês Manuel Pessanha (Pezagno) foi contratado pelo Rei D. Dinis como Almirante mor para reorganizar por completo a frota da “marinha portuguesa, convertendo-a em instrumento eficaz de guerra no mar”, Oliveira Marques. “Por outro lado, os vassalos corsário e todos os outros alcaides e arrais das galés existentes passavam a ficar sob as ordens do Almirante”, segundo António Borges Coelho. Em 1325 morreu D. Dinis e sucede-lhe o filho D. Afonso IV, com o cognome O Bravo, que reinou entre 1325 a 1357. Altura em que se estabelecem “em Lisboa permanentemente mercadores florentinos, genoveses, prazentins, milaneses, escorcins, catalães, biscainhos e ingleses”, segundo António Borges Coelho. O genovês Manuel Pessanha serviu também como Almirante no início do reinado de D. Afonso IV, sendo preso pelos castelhanos, conjuntamente com o seu filho primogénito Carlos em 1337, num combate naval junto ao Cabo de S. Vicente. Foram libertados dois anos mais tarde, quando Portugal e Castela fizeram as pazes, tendo Afonso XI de Castela solicitado em 1340 o auxílio naval português contra os mouros em Cádis, onde os cristãos derrotaram uma armada de oitenta galés dos

Depois de um território continental conquistado e dos problemas nacionais resolvidos, Portugal rumou para o mar, enquanto os seus vizinhos ainda separados em reinos cristãos (Astúrias, Leão, Narrava, Castela e Aragão) continuavam na árdua tarefa de expulsar os mouros da Península Ibérica, luta por vezes interrompida para se guerrear entre eles

reis muçulmanos de Granada e Marrocos. De salientar que o Almirantado foi concedido sem interrupção aos membros da família Pessanha até ao reinado de D. Afonso V, apesar de como refere Maria Fernanda Espinosa Gomes da Silva se saber “que pelo menos desde o reinado de D. João I, os almirantes não mantinham os vinte genoveses estabelecidos, pelo que o rei se declarava desobrigado da tença de 300 000 libras que então lhe era reclamada”.

Início dos Descobrimentos

Segundo uma carta de 1341 ao Papa Clemente VI, o Rei D. Afonso IV diz ter enviado uma esquadra (capitaneada por Nicolau de Recco) a explorar as Ilhas Canárias em 1336, marcando essa data o início das descobertas portuguesas. Tal iniciou um longo diferendo com Castela. Refere Vitorino Nemésio, “O incremento da vida marítima acentua-se com as pretensões de D. Afonso IV às Canárias”. A 30 de Outubro de 1340, ocorreu a Batalha do Salado onde os merinidas de Marrocos e de Granada são derrotados pelo Rei de Castela e Leão, Afonso XI e o de Portugal, Afonso IV, que uniram esforços, tendo sido a última tentativa de os mouros reconquistarem a Península Ibérica. No ano seguinte, o Papa Bento XII elogiava “a gente portuguesa <tão experimentada e audaz nas coisas pertencentes à guerra naval, pela prática e exercício delas, que dificilmente se poderia encontrar outro povo mais competente>. É tão competente que em Julho desse mesmo ano (1341) uma armada florentina, genovesa, castelhana e portuguesa partia de Lisboa em direcção às Canárias aprisionando alguns habitantes e apropriando-se de peles de cabra, cebo, óleo de peixe e pau vermelho para tingir”, como refere António Borges Coelho. O Rei D. Pedro I (1357-1367), o Justiceiro, em 1363 investiu o seu filho bastardo D. João, futuro D. João I, como Mestre da Ordem de Avis, criada por bula papal em 1319. Com as providências oficiais de D. Fernando, houve o incremento da vida marítima, “de uma maneira economicamente orgânica” como refere Vitorino Nemésio. “É ele que destina gratuitamente as madeiras reais para os navios de certo bojo, ele que isenta de impostos a entrada de material, as encomendas de navios no estrangeiro, as cargas da primeira viagem e metade das da volta; ele enfim que, com pequenas ressalvas, dá ao serviço náutico o mesmo valor do serviço militar e favorece as parcerias de investimento naval.”

A importância dos homens do mar para o Rei D. Fernando (1367-1383) está bem explícita na lei de 6 de Junho de 1377 pois, “outorga aos mercadores de Lisboa que quiserem fazer naus de 100 tonéis para cima, importantíssimos privilégios que estenderá depois aos armadores de Lisboa e Porto que construam navios com mais de 50 tonéis. Podiam talhar madeira nas matas reais de graça e sem embargo. A madeira, ferro e fulame importado ou os navios comprados não pagam dízima. Concede-lhes os direitos da primeira carregação para o estrangeiro e metade da dízima de todos os panos e mercadoria que tragam de Flandres ou França na primeira viagem de retorno”, segundo António Borges Coelho.

A burguesia mercantil

“A bolsa de mercadores protegida por D. Dinis é por D. Fernando alargada ao seguro marítimo na Companhia das Naus, com peritos da régia confiança propostos ao seu bom funcionamento e uma bolsa em Lisboa e outra no Porto para arrecadarem as percentagens devidas sobre os fretes. Assim se reparavam naufrágios e avarias, tanto de temporais como de corso. Os segurados ficavam inclusivamente protegidos contra execuções iníquas, sujeitando-se os próprios navios da Coroa ao pacto comum. Do acréscimo desta actividade resultou uma burguesia mercantil progressivamente poderosa. É ela que aconselha D. Afonso IV na legislação tributária; é dela que saem alguns enviados a Inglaterra no tempo de D. Dinis e depois, para concertarem partes comerciais desavindas e esboçarem convénios de trocas, como o tripeiro Afonso Martins Alho, que prepara o primeiro tratado com a Inglaterra, firmado a 20 de Outubro de 1353. Enfim, a revolução de 1383, triunfante com o Mestre de Avis, consolida o papel da burguesia mercante nos negócios do Estado”, Vitorino Nemésio. Segundo refere Artur Teodoro de Matos, o prejuízo que a conquista de Ceuta trouxe para o grupo mercantil foi grande. “Aliás, tal asserção é também reforçada por Zurara quando diz que o rei, para financiar a empresa, se apropriara de navios e mercadorias disponíveis e explorara, por dois anos, o comércio com a Inglaterra e a Flandres”. Nos dez anos de regência de D. Pedro II (1439-1449), voltou-se a investir na navegação, atingindo-se o Cabo Branco e o Golfo de Arguim, onde os portugueses fizeram uma feitoria.


h Estrangeira para sempre F

lora. Fugida das antigas Índias portuguesas, já não lembro de onde. Da desonra de um casamento desfeito, de um amor, ou de um azar qualquer que nunca era para ser casamento. Da vergonha. Da família. Ou a da família, dela. Renegada. Lavava a roupa por horas sem contar no tanque da varanda. Esfregava a roupa e revolvia-a envolvendo tudo no sabão azul e branco. Mesmo mágoas antigas, até sobrar só aquilo que a movia de uns dias para os outros. Dobrava e voltava e batia e espremia e desdobrava e molhava e ensaboava e enrolava de novo. E rolava a roupa em rolinhos nas caneluras gastas do tanque. Ou prendia com uma mão e estendia com a outra, a massa informe das roupas. Como massa de tender – como eu gostava dela. Esfalfava-se meticulosa, amorosamente e sem pressa. Comigo hipnotizada pela tarefa repetida e porque gostava dela. As mãos finas de unhas alongadas, murchas de tanta água e de horas. O futuro por companhia, as mãos como metáfora. E cantava. Com uma voz clara como uma pedra. Não melódica nem muito bela na musicalidade. Ela também. Não era bonita. Ou era, afinal. Antes com o som limpo e natural das coisas naturais. Cantava sempre e o rosto, mesmo fechado nunca transparecia tristeza. Tudo e nada abria ali um sorriso rasgado com uns dentes enormes e daquele tom particular de marfim na pele muito escura. Lustrosa. Falava a sorrir como se a alma nunca lhe coubesse. Os olhos de córnea amarelada, rasgados e dolentes, vítreos. Líquidos como vidro. Vivia num quarto, e depois noutro, e noutro. Todas as economias se transformavam num enxoval de colchas, toalhas e rendas, lençóis nunca estreados, cobertores. A sonhar com um casamento e voltar. Sempre só. Nos seus sonhos. Impecável, de roupa clara, severa, sem idade, quase como engomada e o eterno lenço de sair à rua. Claro, acetinado, sempre como novo e apertado com lassidão debaixo do queixo. Em torno de um cabelo espesso e negro apanhado e enrolado com ganchos. Tão lasso, o nó do lenço, que escorregava sempre. E ela ajeitava. Talvez um laivo de charme nesse deixar escorregar e compor. E deixar cobrir os ombros e subi-lo de novo. Apertar e depois afrouxar…Magra, tão magra. Com os malares volumosos a saltar da pele. A comer mal. Sempre. Para repartir desigualmente o que tinha, com o seu sonho remoto. Sem idade. Percebo agora que muito nova e já sem idade. Como da família mas sempre numa reserva de humildade estranha para quem nos tinha tan-

to afecto. Um certo orgulho. Ou a noção de que os sacrifícios na comida só a ela diziam respeito e viriam a tornar-lhe a felicidade possível. Um dia. Um dia que nunca chegou. Ela sim. Foi chegando. Cada vez mais longe e mais abaixo. Um dia, noutra década muito mais à frente. A uma barraca. Não uma casa decrépita ou sórdida. Uma barraca daquelas feitas de restos de coisas. Em que cada pedaço era o remendo do que nunca foi outra coisa. Arrendada. Também se arendam coisas assim. E sempre como se mesmo para além das intempéries reais dos invernos, só fosse importante para ainda guardar o enxoval e abrigar os cães. O cabo dos trabalhos para realojá-la depois já de toda a vizinhança desaparecer. Não havia lugar para ela com os cães. E sem eles, para ela também não. Eles e o enxoval do sonho. O sonho também de reaver poupanças confiadas ao empregado de um banco e desaparecidas em parte incerta da vida ao longo de anos. Enganada sempre e confiante o suficiente para voltar a ser. O enxoval renovado dos desaparecimentos sucessivos de quartos e portas mal seguras. Desapareceu, estrangeira como sempre, durante muitos anos, porque as pessoas desaparecem e a vida fecha-se sobre elas. E um dia fez dezenas de quilómetros para nos ver. A pé. Porque a terra anda-se a pé se não fôr possível de outra maneira. Que emoção. Incompreensível como sempre no mesmo português cantado e estrangeiro, ou pior. Muito silêncio pelo meio, a memória a recuar mais para perto do sonho. Suja como nunca tinha sido, envergonhada, carinhosa como sempre, mas veio pelos pêsames e não por ela. Soubera. Depois fomos nós os mesmos quilómetros para lá. Ver o que não se entendia do que dizia. E entender só o que era possível. Sem os cães, nunca. Revolvia os caixotes por comida para eles. Não precisava de mais nada e não queria mais nada. Só o que tinha sido dela. Tão sem idade como sempre mas muito mais ressequida, com muito menos dentes. E a cheirar mal. E os cães doentes. E sempre aquela desconfiança talvez real de que não se podia afastar muito dali para resolver a vida, porque alguém lhe rondava as tábuas mal acrescentadas da porta. O enxoval de novo e sempre em perigo. Os sonhos, não sei se ainda nítidos mas o enxoval, sim. Flora. Menina Flora, sempre tratada assim, com respeito e para todos, nunca de outra maneira, porque solteira. Para sempre solteira no sonho, cada vez mais casada com ele e menos com a realidade. E estrangeira para sempre.

anabela canas

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de tudo e de nada

Anabela Canas


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A mesma fórmula Taça Mundial da FIA não sofrerá grandes alterações este ano

A

pesar de ainda não revelado à imprensa, a Federação Internacional do Automóvel (FIA) já tem tudo alinhavado para a segunda edição da Taca GT Macau - Taca GT Mundial da FIA, que se irá disputar no mês de Novembro nas ruas da RAEM, como parte do programa de provas do 63º Grande Prémio de Macau. Serão poucas as novidades a introduzir este ano, continuando a prova a ser exclusivamente destinada a viaturas FIA GT3. Apesar da FIA ambicionar a longo prazo tornar esta corrida numa prova com um formato mais longo e até com trocas de pilotos, o formato de 2016 irá continuará a ser o mesmo, com uma Corrida de Qualificação de 12 voltas no sábado e a Corrida decisiva de 18 voltas, ou 75 minutos de duração, no domingo. No que respeita aos participantes, em vez de três carros, este ano cada construtor estará limitado a inscrever dois carros oficiais apenas, o que irá reduzir os esforço das marcas. A FIA irá no entanto continuar a cobrar 30 mil euros de inscrição para os construtores, para além

de seis mil euros por cada carro que alinhe na prova. A exemplo do ano transacto, os pilotos amadores (categorizados como Bronze pelo sistema da federação internacional) continuarão a ser aceites na corrida, mas terão que cumprir o critério da qualificação máxima de 107% da melhor volta na qualificação para tomarem parte nas corridas de sábado e domingo. Com as inscrições a encerrarem no final de Agosto, a lista oficial de participantes, em que o Comité da Taça GT Mundial da FIA tem a última palavra, será conhecida no mês de Outubro, aquando da tradicional Conferência de Imprensa oficial do maior evento desportivo de carácter anual da RAEM. A empresa anglo-francesa SRO Motorsports, que organiza com sucesso as Blancpain GT Series na Europa, também terá já renovado a sua parceria com a Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC), mantendo assim a sua posição de ponte com as equipas estrangeiras e construtores automóveis. Entretanto, o Instituto do Desporto já abriu o concurso público, que termina a 27

de Julho, para a angariação de um patrocinador para a corrida.

E quem vem?

A quatro meses da prova, apenas a Porsche e a Lamborghini mostraram interesse público em participar na corrida. Contudo, como em anos anteriores, a Audi e a Mercedes-Benz, que venceu a corrida o ano passado, também deverão marcar presença oficial devido aos interesses que têm no mercado asiático. Os planos para a prova da Aston Martin, Bentley, McLaren, BMW ou Nissan são por agora desconhecidos. Certo é que a Ferrari não se fará representar oficialmente, como aliás é tradição da marca italiana, que oficialmente só se faz representar oficialmente na Fórmula 1. Contudo, esta estratégia da casa de Maranello poderá não impedir que os espectadores que assistirem às corridas do Circuito da Guia tenham a oportunidade de ver em acção um dos novos Ferrari 488 GT3, avaliados em cerca de cinco milhões de patacas, pois estes poderão aparecer nas mãos de concorrentes privados. Sérgio Fonseca

info@hojemacau.com.mo


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opinião

A CANHOTA

Fa Seong 花想

M

Os sons nunca ouvidos

acau, esta pequena cidade próspera e internacional, aparentemente tem tudo: grandes receitas, grandes casinos, grandes edifícios de luxo, segurança social, qualidade de vida (para alguns), pessoas de diferentes países... Mas o facto é que um espaço não pode ser meramente os seus aspectos especiais, os não vulgares, ou que apenas não trilham o caminho comum. É triste, bem triste, quando ouço que determinadas lojas vão fechar a porta em Macau. Não estou a falar de lojas de marca, nem restaurantes que ofereçam set lunch para aumentar o volume de negócios, mas sim lojas que vendem artigos antigos, produtos criativos e artísticos, ou desta vez, uma loja onde se vendiam discos de música independente. E é este o foco desta minha crónica. Chama-se Pin-to Música e é (ou era) uma loja escondida no Leal Senado. A entrada e o corredor do edifício onde fica é sempre utilizada por uma sapataria do primeiro andar para colocar cartazes e promover a sua mercadoria “tão barata” (99 patacas).

“É triste, bem triste, quando ouço que determinadas lojas vão fechar a porta em Macau. Não estou a falar de lojas de marca, nem restaurantes que ofereçam set lunch para aumentar o volume de negócios, mas sim lojas que vendem artigos antigos, produtos criativos e artísticos” Paisagens que nada combinam com a livraria Pin-to, mesmo no outro lado da sapataria, nem com a loja de música do andar de cima. Não sei se algum dos caros leitores já teve a oportunidade de ir a essa loja de música, que tem precisamente dez anos de história. A livraria até é conhecida pelas pessoas de Macau - pelos menos todas as vezes que fui lá não fui a única cliente, havia vários outros a escolher livros, a ler livros no sofá ou a brincar com os dois gatos que lá habitam). Regressei à Pin-to Música há mais de meio ano. O espaço pequeno e super calmo, é um sítio onde se pode ouvir música bem especial: electrónica, Jazz, clássicos experimental... Mesmo que sejam tipos de música que não costumo ouvir nem conheço bem, no momento em que entrei na loja senti-me confortável e especial. Acho que se deve ouvir música sem limites e, com a minha curiosidade de sempre, gosto de conhecer diversos tipos de música. Mas a página do Facebook da loja trouxe notícias tristes na semana passada. A Pin-to Música vai fechar a porta no fim deste mês, porque o senhorio não renovou o contrato de arrendamento.

“(A abertura da) Pin-to Música foi uma decisão pessoal, caprichosa e inoportuna. Felizmente, nestes anos, a música funciona de acordo com os seus passos. Mas finalmente vamos sair deste pequeno espaço que conseguimos com esforço há dez anos”, escreveu o dono no facebook. Sem hesitar muito, essa novidade motivou-me a dar mais uma volta à loja. Como de costume, na Pin-to Livros havia vários clientes, mas ao entrar na Pin-to Música, apenas estava a funcionária, sozinha, com a música. Era para conversar com o dono mas ele não estava, pelo que acabei por falar com a funcionária. Pedi para que me recomendasse uns CDs, preferencialmente de música bem ligeira, e ela apresentou-me uma cantora de Inglaterra e um CD de mistura de piano, guitarra e outros instrumentos. Durante a escolha, aproveitei para conversar com a jovem funcionária. Para ela, ali não há diferença entre os dias úteis e os fins-de-semana, porque todos os dias são iguais – com poucos clientes. Ela compreende, porque considera que em todo o mundo o mercado de livraria é sempre maior do que o da venda de CDs.

Quis saber qual é o plano depois do fecho da loja, mas a funcionária não quis falar mais sobre isso. Só através do Facebook consegui saber mais. Para o dono, a abertura da loja foi um “acto experimental”. Queria saber como é que neste mercado de música tão pequeno em Macau, as músicas que ele escolhe trazem repercussões ou ressonâncias. Confia que “cada pessoa, desde que aberta a isso, pode sentir a beleza de música” e é possível encontrar amigos do peito mesmo que se goste de música tão pouco popular. E isso tornou-se até o lema que ensinou aos seus funcionários: “apresentar músicas pouco populares com uma atitude amigável”, partilhou no Facebook. Aprecio muito o espírito do dono: tem recursos limitados e enfrenta este mercado de “lei da selva” (em chinês 弱肉強食), mas conseguiu fazer o que gosta, contrariando a regra de criar negócios iguais aos outros e dando, ao mesmo tempo, oportunidade para que sons pouco conhecidos pudessem “estrear” neste território. “Há quem considere que aquelas músicas são tão insignificantes que não têm nenhuma força de influência, mas para nós deixar aquelas músicas expressarem-se é o significado da abertura da loja”, disse. Como não sei se posso ainda passear numa loja de música deste estilo comprei ambos os CDs que a funcionária recomendou e tentei mudar um pouco o hábito de, quando quero ouvir música, abrir o YouTube ou uma aplicação no telemóvel. Regressei a um momento que me faz feliz: pôr o CD na aparelhagem durante uma tarde preguiçosa.


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Aguaceiros

O que fazer esta semana Diariamente

Exposição “Transient”, de Sofia Arez (até 23/07) Creative Macau Exposição “Rostos de uma cidade – duas gerações/ quatro artistas” Museu de Arte de Macau (até 23/10)

min

27

max

32

hum

70-95%

euro

8.87

baht

Exposição “Voice on Paper”, de Papa Osmubal Fundação Rui Cunha (até 22/07) Exposição “O Pintor Viajante na Costa Sul da China” de Auguste Borget Museu de Arte de Macau (até 9/10) Exposição “Edgar Degas – Figures in Motion” MGM Macau (até 20/11)

o cartoon steph

Sudoku

de

Exposição “Reminescent – Portugal Macau” Galeria Dare to Dream (até 22/07) Exposição “Cnidoscolus Quercifolius” - Alexandre Marreiros Museu de Arte de Macau (até 31/07) Exposição “ Exposição do 70º Aniversário” - Han Tianheng Centro Unesco de Macau – (até 07/08) Exposição “Color” 2016 Centro de Design de Macau Exposição “Pregas e dobras 3” de Noël Dolla Galeria Tap Seac (até 09/10)

Cineteatro

C i n e m a

1.19

Animais, nossos amigos

Escultura “Ligação com Água” de Yang Xiaohua Museu de Arte de Macau (até 01/2017)

Exposição “Dinossauros em carne e osso” Centro de Ciência de Macau (até 11/09)

yuan

aqui há gato

Exposição “Memórias do Tempo” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12)

Exposição “Artes Visuais de Macau” Instituto Cultural (até 07/08)

0.22

Solução do problema 37

problema 38

Um filme hoje

Não consigo perceber as pessoas que dizem não gostar de animais, odiá-los, não lhes ligar nenhuma. São seres que apoiam mais os humanos do que eles próprios entre eles. São seres que ajudam entre a nossa própria raça, que eu gato sei bem como é mimar alguém quando é preciso. A falta de um animal em casa é, muitas vezes, sinónimo de solidão. Eu bem vejo aqui no jornal, quando alguém precisa de não se sentir sozinho... vem ter comigo. Compreendo alergias e coisas que tais, mas confesso que nunca percebi a aversão à natureza de que sofre a população de Macau. São coisas que não encaixam na minha mente de gato, tal como não encaixa as justificações de que “é só um cão ou gato” e por isso não merece grande importância. Ontem uma amiga nossa aqui do jornal perdeu um animal que lhe era muito querido. Chorou, tendo até sido repreendida por um outro alguém que passava e que disse: deixa lá, é só um animal. Não é. É um amigo e parte da família. E se calhar deviam aprender a respeitar-nos mais. Sentimos e percebemos quando alguma coisa está mal, melhor que muitos humanos. E eu espero que quando me Pu Yi for também chorem por mim.

“The Legend of Tarzan” (David Yates, 2016)

Sabemos como Tarzan cresceu, mas este filme descreve a história depois de Tarzan ter encontrado o sua amor, Jane. Tarzan deixa a sua vida selvagem, para viver em Londres sob o nome John Clayton III. Mas Tarzan é convidado para regressar ao Congo para servir no Parlamento. Acaba por ser utilizado pelo Capitão Rom, um corrupto caracterizado pela sua ganância e desejo de vingança. Rom captura Jane e Tarzan vê-se num problema para resolver... Tomás Chio Finding Dory Sala 1

Falado em cantonês Filme de: Andrew Stanton 14.15, 16.05, 19.45

Falado em cantonês, Legendado em chinêse Inglês Filme de: Longman Leung, Sunny Luk Com: Aaron Kwok, Tony Leung Ka Fai, Chow Yun Fat 14.30, 16.30, 19.30, 21:30

Finding Dory [3D] [A]

Sala 3

Finding Dory [A]

Falado em cantonês Filme de: Andrew Stanton 21:30

The Secret life of Pets [A] Falado em cantonês Com: Chris Renaud, Yarrow Cheney 14:15, 16:00, 19:30 Sala 2

Cold war 2 [C]

Three Falado em cantonês, Legendado em chinêse Inglês Filme de: Johnnie To Com: Zhao Wei, Louis Koo, Wallace Chung 14:30, 18:00, 19:45, 21.30

The Secret life of Pets [A] Falado em cantonês Com: Chris Renaud, Yarrow Cheney 16:15

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hoje macau sexta-feira 15.7.2016

Airi Oguri, estudante japonesa de Português

“Portugal é semelhante ao Japão”

A

ntes do boom desenfrado do turismo chinês em Portugal, já os japoneses gostavam de visitar o país e os seus lugares mais tradicionais. Airi Oguri, jovem estudante de Língua Portuguesa da Universidade de Macau (UM), confirma isso mesmo. “Portugal é um país muito semelhante ao Japão e é o melhor país para os japoneses morarem.” A jovem apaixonou-se pela língua de Camões muito cedo, aos 16 anos. Em Macau encontrou o lugar certo para aprender e explorar todos os idiomas que aprendeu. Contudo, ainda fala Português de modo tímido, como quem tem medo de errar e necessita de analisar cada expressão portuguesa e cada palavra que ainda lhe é estranha. “Estudei um ano no Brasil quando tinha 16 anos de idade. Depois entrei para a Universidade de Estudos Estrangeiros de Quioto para não esquecer o Português que tinha aprendido”, contou ao HM. Apesar de já ter visitado Portugal, há cerca de quatro anos, é para o Brasil que Airi quer voltar um dia, talvez por se sentir tão próxima do país das praias e do samba.

Natural de Wakayama, a sul da cidade de Osaka, Airi Oguri deseja também aprender Chinês. “Quero aprender esta língua porque também é importante para arranjar trabalho no futuro, por isso decidi vir para Macau.” Neste momento a estudante encontra-se no Japão, mas é para a RAEM que deseja voltar. “Acho que só aqui posso aprender mais sobre as minhas outras línguas, como o Português, o Chinês ou o Inglês.”

Macau, terra desconhecida

Quando chegou à pequenina Macau, Airi Oguri não sabia os lugares para onde podia sair e onde podia comer. Esteve um ano aqui mas não conheceu apenas o pequeno território, tendo optado por viajar por outros países da Ásia. “Passei seis meses em que estava muito pouco tempo em Macau e praticamente só viajava para outros países, porque as viagens aqui são muito mais baratas. Mas aqui também tive experiências interessantes. Comecei a ir muito às piscinas e saía com as minhas amigas. A minha experiência em Macau foi óptima”, revelou.

Dos lugares por onde passou, Airi Oguri tem mais saudades das Filipinas, “porque tem praias lindas”, e Taiwan, onde diz ter muitos amigos. Macau até seria um bom território para viver, dado os elevados salários, aponta. “Vivi um ano como estudante e achei caro, tinha sempre de me preocupar com os preços para não gastar muito. Mas acredito que deva ser um sítio interessante para viver. Macau tem uma coisa boa que é o facto de ficar muito perto da China ou de Hong Kong. Foi um sítio onde fiz amigos de várias nacionalidades e não apenas chineses.” Quando não está a estudar, Airi Oguri gosta de se exercitar no ginásio, para manter a boa forma. Enquanto espera por uma oportunidade, a jovem continua a sonhar com a sua profissão ideal. “O meu sonho é ser consultora na área social e nos seguros, gostava de um dia poder ter a minha própria empresa.” Para atingir o seu objectivo, a jovem já tem o seu caminho bem definido. “Para realizar esse sonho tenho de estudar várias línguas e tirar vários cursos. É por isso que gostava de morar fora do Japão, para não me esquecer das línguas”, conclui.

Em Macau, Airi não deixou de frequentar bares bem portugueses e beber a típica cerveja com amigos lusos e estrangeiros. A cada palavra nova aprendida no decurso das conversas banais mostrou uma imensa curiosidade. Para ela, esta entrevista, que a deixou muito feliz, também representou uma oportunidade para se dar a conhecer e para praticar mais a língua à qual já deu tanta dedicação, contou. Quando lhe perguntamos como descreve Portugal, Airi Oguri utiliza uma palavra única, que nos define por inteiro e que não tem sequer tradução numa outra língua: a saudade. Apesar de a ter aprendido na sala de aula, numa terra que é chinesa e também portuguesa, é saudade que Airi Oguri parece sentir. Saudade de Portugal, que visitou há quatro anos com a irmã. Mas saudade também do Brasil, dono de um outro Português que lhe é familiar. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


“ Académicos locais em Cambridge

O Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) vai organizar mais uma viagem de formação para docentes e investigadores das instituições do ensino superior de Macau para participarem no Curso de Verão, realizado na Universidade de Cambridge. Esta é a segunda edição desta iniciativa após os resultados positivos obtidos no ano passado. No programa deste ano estão incluídas áreas como o comércio, gestão, ciências sociais e comportamentais. Entre os muitos candidatos, foram selecionados 20 docentes e investigadores que se vão deslocar a Cambridge para participar em nove dias de formação intensiva.

pérolas / não tinha / só orelhas / pendentes / vazias / mas ouvia / no rosto / olhos despertos / na pele / de seda crua / laivos / de leite / e lua”

Alberto Eduardo Estima de Oliveira

UE MNE Francês chama mentiroso a Boris Johnson

Sinais de crise

Preços da habitação atingem mínimos históricos Wong Chi Wai, responsável pela área de habitação da imobiliária Jones Lang La Salle, disse ontem que os preços da habitação atingiram o seu mínimo, tendo afastado a possibilidade do panorama ser ajustado. No primeiro semestre do ano registou-se uma quebra de 15% na compra e venda de imóveis, valores comparados a igual período do ano passado. A taxa de retorno também caiu 1,6%. Para Wing Chi Wai estes números trouxeram uma estabilidade no volume de transacções, pois os preços atingiram os valores mais baixos de sempre.

Polícia deteve um homem nu no Jardim da Flora

Um homem de 30 anos de idade, residente, foi ontem apanhado pela polícia no Jardim da Flora totalmente nu da cintura para baixo. Segundo o jornal Ou Mun, o residente estará desempregado e terá mostrado por três vezes o corpo nu a pessoas que passavam no jardim com os seus filhos. O suspeito acabou por admitir o acto à polícia.

MGM viola Lei do Tabaco

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Seringas com sangue caem do Hou Kong Garden

Residentes do Hou Kong Garden revelaram que alguém tem estado a atirar seringas com sangue dentro do alto do prédio na zona norte da Taipa, o que levou a que peões corressem o risco de ficar feridos. O caso chegou às redes sociais, onde alguns internautas revelaram que já em Maio aconteceram casos semelhantes, que originaram queixas às autoridades. Os comentários criticam a polícia, dizendo que, só não houve actuação porque não houve ainda alguém que ficasse ferido. O local, queixam-se, é uma cantina de drogas.

sexta-feira 15.7.2016

O

chefe da diplomacia francesa, Jean-Marc Ayrault, criticou ontem a escolha de Boris Johnson para ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) do Reino Unido, chamando-lhe «mentiroso». «Na campanha mentiu por várias vezes aos britânicos. Agora é ele que está encostado à parede para defender o seu país, mas também para que seja clara a relação com a Europa. O que me importa é a unidade dos 27», afirmou Ayrault num entrevista a uma estação de rádio. O MNE francês mostrou-se também preocupado em relação ao que será a relação entre as diplomacias gaulesa e britânica: «Preciso de um parceiro com quem possa negociar, que seja credível e fiável».

Jean-Marc Ayrault diz ainda estar preocupado com o que diz ser «mais um sinal» da crise política no Reino Unido após o resultado do referendo.

Outros críticos

Aliás, os sinais de preocupação face a Boris Johnson, um dos protagonistas da campanha pró-Brexit, ter sido escolhido para chefiar a diplomacia britânica surgem um pouco de todo o lado, incluindo do seio do Parlamento Europeu e da Alemanha. O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Frank-Walter Steinmeier, acusava Boris Johnson de irresponsabilidade e de ter tentado fugir após a decisão dos britânicos de abandonar a UE. «Sinceramente, acho que é escandaloso», disse aos jornalistas.

«Achamos que isto é uma brincadeira de mau gosto e que os britânicos estão perdidos», diz uma fonte do Parlamento Europeu citada pela BBC. Já o presidente do Parlamento Europeu, Martin Shulz, também considerou que o Governo da já nova primeira-ministra britânica, Theresa May, não quebra um «perigoso círculo vicioso» que prejudicará o Reino Unido e a Europa. Em comunicado, Schulz frisou que «o Reino Unido tem que quebrar este perigoso círculo vicioso que tem impacto directo no resto da Europa», referindo-se aos ministros que May escolheu para «resolver problemas internos no partido» e «perdendo o objectivo do interesse nacional».

oi o MGM o casino que violou a lei anti-tabaco. A confirmação foi feita pelos Serviços de Saúde (SS), depois de uma denúncia da Associação dos Empregados de Jogo. Ontem, em comunicado, os SS explicam ter feito uma inspecção surpresa ao casino, onde encontraram não só salas multinacionais onde o casino “não impedia pessoas de fumarem”, como nove pessoas que fumavam em locais proibidos. De acordo com um comunicado dos SS, foi verificado que em algumas áreas separadas dentro do casino não se encontravam afixados os dísticos de proibição, “tendo sido assim violada a disposição prevista no artigo 6 da Lei de Controlo do Tabagismo”. Os Serviços de Saúde elaboraram um auto de vistoria e abriram um processo para dar o devido seguimento. A lei indica que, com excepção das salas de fumadores autorizadas, é proibido fumar nas áreas comuns de jogo dos casinos. Actualmente em Macau estão autorizadas 86 salas de fumadores e encontram-se na fase de apreciação 21 pedidos de criação de sala de fumadores apresentados pelos casinos. A lei também indica que é obrigatória a afixação, de forma visível, nos locais onde é proibido fumar, incluindo as alegadas salas multi-funcionais, dos dísticos aprovados por regulamento administrativo. “Caso o estabelecimento onde é proibido fumar não afixe dísticos aprovados por regulamento administrativo, de forma visível, a mesma pode constituir infracção, a qual é sancionada com multas de dez mil a cem mil patacas.” J.F.


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