Hoje Macau 15 SET 2016 #3658

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

QUINTA-FEIRA 15 DE SETEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3658

AUTOCARROS ELÉCTRICOS

Provisórios ou definitivos? GRANDE PLANO

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

hojemacau

CASA DE PORTUGAL

Amélia dos votos doces PÁGINA 8

ALOJAMENTO ILEGAL CONFIRMADOS CASOS EM FRACÇÕES PÚBLICAS

CASAS DOS SEGREDOS

O Instituto de Habitação confirmou que existe alojamento ilegal em casas públicas. Serão cerca de 40 as ocorrências sob

suspeita em habitação económica, que se juntam às mais de 500 infracções registadas nos últimos cinco anos.

Gás

EM LUME BRANDO PÁGINA 5

VISITA

Queixas ocidentais PÁGINA 4

Exílio e alteridade

h

MANUEL AFONSO COSTA PUB

PÁGINA 7


2 GRANDE PLANO

AUTOCARROS ELÉCTRICOS MENOS POLUENTES MAS POUCO CATIVANTES

COM R0DAS PARA

A

Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) tem desde 25 de Agosto dois autocarros E02 a circular nas ruas de Macau. Durante 30 dias, esta parceria entre duas empresas de transportes públicos – a TCM e a Nova Era - vai fazer testes que futuramente irão ditar a viabilidade de se implementar este tipo de transportes em Macau. O HM quis saber como se comportam os veículos e como os avalia quem lá anda. A entrada no autocarro foi feita na Praça Ferreira do Amaral, em Macau.

“MENOS RUÍDO”

Às 10h55 chega então o autocarro. São poucos os que entram. Lá dentro três passageiros apenas. Um deles é Elven. Residente em Macau, tem 26 anos e diz que o ambiente é uma questão que lhe interessa e com a qual se preocupa. “Acho que é uma óptima ideia os autocarros serem eléctricos porque poupa muita energia e são menos poluentes. Para além disso são mais confortáveis e não fazem ruído. Estou muito satisfeito com esta medida e acho que devia ser para aplicar em definitivo. Além disso, este autocarro é muito pontual.” Já Clara Castilho tem 70 anos e diz que já experimentou por duas vezes este autocarro eléctrico. Não porque se preocupe com as questões ambientais, mas porque lhe dá jeito para o percurso que habitualmente costuma fazer. O ambiente passa-lhe um pouco ao lado, assumindo que em casa a única preocupação que tem é a de desligar as luzes e todos os electrodomésticos, quando não estão a ser usados. Não notou grandes diferenças entre os veículos eléctricos e os que circulam a diesel. “Talvez o ruído seja menos intenso”, disse ao HM. Um outro passageiro também quis partilhar a sua opinião com o HM. José (nome fictício) aponta

“São muito limpos, frescos, não fazem barulho e não poluem o ar” JENNY EMPREGADA DOMÉSTICA

o que considera como falhas. “Os assentos deste autocarro são mais estreitos e o design não é o melhor, nem o mais adequado para Macau, porque parece-me que levam menos passageiros em pé do que os outros autocarros. A porta demora muito tempo a abrir”, frisou. Jenny discorda de José. A empregada doméstica filipina de 29 anos apanha o E02 várias vezes. Sobretudo porque faz um percurso que lhe “dá jeito”. “São muito limpos, frescos, não fazem barulho e não poluem o ar”, diz ainda, acrescentando que gostaria de ver mais autocarros destes a circular. Quanto à sua contribuição para não poluir ou para ajudar o ambiente, admite ser pouca. “Lá em casa não fazemos separação de lixo, mas desligamos sempre as luzes e os electrodomésticos.”

ANDAR DEVAGAR

Estamos quase a chegar à ponte que atravessa para a Taipa e um passageiro, que não se quis identificar, reclama da velocidade. “Não passa dos 30 km, anda muito devagar e nas horas de ponta ninguém quer apanhar este autocarro. É bom porque não polui, mas

“Estou muito satisfeito com esta medida e acho que devia ser para aplicar em definitivo” ELVEN RESIDENTE

se a velocidade for sempre esta, ninguém vai andar nele, as pessoas têm pressa”, diz. “Como estes autocarros não circulam durante o horário de ponta, não percebemos se se adequam às necessidades de Macau.” O percurso, que termina no Edifício do Lago, tem 18 paragens e o período de circulação é das 10h00 às 13h30 e das 15h00 às 21h00, com cada trajecto a demorar uma média de uma hora. Kuok não parece importar-se com esta questão. A cidadã diz ao HM que já andou várias vezes na carreira E02. “Noto menos ruído, acho que são mais espaçosos, não sei se é por serem novos e limpos, e são mais confortáveis. Apoio esta acção porque é benéfica para o ambiente”, diz. Mas, quando questionada se esta é uma preocupação que a acompanha, admite que não. “Não faço nada para manter o ambiente mais verde.”

AO COMANDO

O motorista do E02 é o senhor Ip. Este é o primeiro dia que experimenta este veículo e, apesar de ainda estar em processo de adaptação, disse que nota “que a sensibilidade na condução é diferente de uns para os outros, nomeadamente na resposta às manobras”. “Este é mais lento”, frisa. Mais lenta também “é a abertura da porta e quando estão com pressa, os passageiros não gostam”, realça. A DSAT está neste momento a proceder à recolha de opiniões, através de uns formulários que estão dentro dos veículos e que são preenchidos pelos passageiros e entregues no terminal, ou basta deixá-los dentro do transporte. Estas respostas vão ser analisadas e poder ter um peso na decisão futura de implementar, ou não, este tipo de transportes públicos. No veículo, a distribuir os panfletos para recolher a opinião dos passageiros, estava Wong Hongwei, engenheiro que faz também

PERCURSO


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ANDAR? a supervisão dos autocarros eléctricos. Todos os dias faz o percurso desta carreira com a missão de supervisionar o funcionamento em termos de número de passageiros, consumo de energia e performance em geral. A manutenção, garante este engenheiro que veio da China continental, sai mais barata neste tipo de autocarro. “Os veículos a diesel, depois de circularem três mil a cinco mil

quilómetros, já precisam de trocar o óleo de motor e outras pequenas peças. Mas os nossos autocarros eléctricos que já andaram cerca de seis mil quilómetros, ainda não têm essa necessidade. Ainda não trocámos nada”, diz, acrescentando que “só é preciso fazer os carregamentos de electricidade”. Todas as noites os autocarros são carregados na oficina no Pac On. Basta um carregamento por

Dois autocarros eléctricos estão a circular há já um mês em Macau. Menos ruído foi a mais valia apontada pela generalidade das pessoas que já o experimentaram, que, contudo, continuam a não ver no ambiente uma preocupação

dia. “Basta estarem a carregar durante uma hora que chega para fazer o percurso diário”, garante Wong Hongwei. Por cada percurso completo, o E02 gasta “4% de electricidade, naquilo que se calcula serem 17 quilómetros”.

O FUTURO

Wong Hongwei admite ser um fervoroso defensor deste tipo de

veículos e diz mesmo que “a longo prazo, é a tendência”. Quanto à velocidade máxima, “é limitada a cerca de 100km/h, mas geralmente

4% de electricidade gastos, naquilo que se calcula serem 17 quilómetros

só pode ser conduzido até 80 km/h. No entanto, é mais do que os veículos a diesel que não vão além dos 69km/h”. Em relação à questão referida por alguns passageiros - de que a porta abria muito lentamente – o engenheiro avança que “isso não é possível porque o sistema utilizado é o mesmo: porta pneumática”. Com capacidade para 80 passageiros, este veículo é um AVASS, marca Australiana, com capacidade para cerca de 400 km com apenas um carregamento, segundo este mesmo responsável. Quando o limite da bateria está quase a ser atingido, “quando falta cerca de 20% de carregamento”, tem um sistema especial que se chama de protecção, que entra em modo de economia e dá um aviso. Até ao momento este limite nunca foi atingido porque, “depois de um dia inteiro a rodar na estrada, a bateria indica ainda ter 40% de energia disponível”, frisa o engenheiro ao HM.

“Noto menos ruído, acho que são mais espaçosos, não sei se é por serem novos e limpos, e são mais confortáveis” KUOK RESIDENTE Questionada sobre que balanço faz relativamente ao serviço experimental dos autocarros, quantos passageiros circularam, se o prazo experimental vai ser alargado e se já alguma previsão para a sua introdução definitiva, a DSAT não respondeu ao HM até ao fecho desta edição. Angela Ka (com D.G.) info@hojemacau.com.mo


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Alunos da RAEM em Portugal queixaram-se ao Chefe do Executivo da falta de docentes de Direito, tendo Chui Sai On dito que espera que a Universidade de Macau possa agir para resolver o problema. Gabriel Tong, director interino, diz que a formação de licenciados é uma das saídas

Visita ESTUDANTES QUEIXAM-SE DA FALTA DE DOCENTES DE DIREITO

Avisos do Ocidente GCS

POLÍTICA

professores. Gostaríamos que fosse elevada essa qualidade.”

APOSTA NOS BILINGUES

O encontro com cerca de uma centena de estudantes de Macau decorreu esta terça-feira à hora do jantar, tendo Chui Sai On destacado a importância do domínio de diferentes línguas. “Chui Sai On descreveu a formação de bilingues como uma tarefa árdua e enalteceu o valor que o Governo confere ao talento destes profissionais, esperando o regresso dos mesmos a Macau”, refere o comunicado. Além disso, o Chefe do Executivo “referiu que o facto dele próprio ter contacto com pessoas formadas na área do Direito permite concluir que o processo de aprendizagem e estágio afecta a formação das jurisprudências”. Chui Sai On deixou ainda sugestões aos estudantes. “Os estudantes de Direito que possam vir a trabalhar para o Governo ou empresas privadas necessitam de adquirir experiências, principalmente de forma a acumular e especializar os seus conhecimentos”, referiu.

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última etapa da visita oficial de Chui Sai On a Portugal ficou marcada por um encontro com estudantes de Macau que estão neste momento a seguir estudos no país. Segundo um comunicado oficial, os alunos disseram ao Chefe do Executivo que Macau não tem professores de Direito suficientes. Referindo-se apenas à Universidade de Macau (UM), Chui Sai On destacou “o incremento das condições” da instituição pública de ensino e “fez votos para que possa criar um grupo de professores qualificados”. Lembrando que a Faculdade de Direito da UM está neste momento à procura de um novo director, depois da saída de John Mo, o Chefe do Executivo referiu ainda que “o objectivo principal é que a UM possa formar talentos jurídicos adequados ao sistema legal praticado na RAEM”, disse, citado pelo mesmo comunicado. Chui Sai On lembrou o processo da transferência de soberania, em 1999, e as consequências que isso trouxe ao nível dos recursos humanos. Este “relembrou o processo de localização de leis, antes do regresso de Macau à pátria, em que a Faculdade de Direito da UM, por não ter adquirido ainda maturidade suficiente, registou falta de professores e membros na equipa de investigação”.

Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Ao HM, o director interino da Faculdade de Direito da UM, Gabriel Tong, admitiu a dificuldade de contratação de docentes, dada a matriz do Direito de Macau ser portuguesa e também devido ao facto do curso ser bilingue. “O nosso Direito tem uma tradição e uma raiz, se fosse possível um recrutamento internacional poderíamos arranjar professor mais facilmente. Mas há cadeiras

que necessitam de um investimento maior no que diz respeito ao Direito existente, a fonte dos académicos é mais reduzida, e isso depende sempre de Macau ou de Portugal.” Gabriel Tong acrescentou que uma das soluções poderá ser a formação de licenciados que queiram seguir a carreira docente. “Temos de assegurar uma boa equipa de professores para ensinarmos Direito de qualidade. Estamos a

CHUI SAI ON QUER CENTRO DE COOPERAÇÃO CHINA-LUSOFONIA

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“Chui Sai On descreveu a formação de bilingues como uma tarefa árdua e enalteceu o valor que o Governo confere ao talento destes profissionais, esperando o regresso dos mesmos a Macau”

Chefe do Executivo disse em Lisboa que pretende estabelecer em Macau um centro dedicado à cooperação económica entre a China e os países de língua portuguesa, o qual já está a ser estudado pelas autoridades locais. Segundo a Rádio Macau, Chui Sai On terá referido que essa é uma aposta estratégica do território e que deverá servir de ligação

entre as empresas de ambos os lados. O edifício, a construir de raiz, deverá ter serviços para empresas, espaços para feiras, reuniões e exposições. O Chefe do Executivo deixou mesmo o nome do futuro espaço: Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Económico-Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

encontrar maneiras de trabalhar com a nossa equipa para que no futuro possamos treinar para quem pretende exercer uma carreira académica. Demora algum tempo, mas acho que é uma saída”, adiantou o director interino. Já o deputado José Pereira Coutinho, também ele antigo aluno de Direito da UM, garantiu ao HM que a qualidade do ensino, em termos pedagógicos, baixou. “Houve sempre qualidade do ensino do Direito de Macau face à componente pedagógica, o que fez com que neste momento tenhamos juízes e procuradores de qualidade. Mas à medida que o tempo foi passando, e com a transferência da Administração, houve uma queda da qualidade do ensino, em relação à política de contratação de

XUE XIAOFENG VICE-DIRECTOR DO GABINETE DE LIGAÇÃO NA RAEM

O Conselho de Estado nomeou Xue Xiaofeng como o novo vicedirector do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, juntamente com mais três vice-directores. Xue Xiaofeng nasceu em 1961 e foi secretário da Comissão Permanente de Cantão e presidente da cidade de Zhongshan. Em 2011 assumiu os cargos de secretário da Comissão de Zhongshan e director da Comissão Permanente do Congresso Nacional do Povo de Zhongshan.


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POLÍTICA

IPM no comando

Encontrada entidade independente para Regime de Avaliação independente

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Gás NEGOCIAÇÃO AINDA SUSPENSA. SINOSKY INICIOU TRANSFERÊNCIA DE CAPITAIS

Reestruturações internas Uma mudança nas acções internas da empresa continua a fazer com que o Governo aguarde novidades sobre o fornecimento de gás natural pela Sinosky

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nível interno da empresa e que a transferência de capitais acontece entre os accionistas. “As mudanças são ao nível das acções e apenas entre eles”, garante o Gabinete. Para já, informa ainda o Governo, “não há, por enquanto, mais novidades”. O Executivo assegura que continua a acompanhar de perto a situação e “a instar a concessionária a concluir os procedimentos relevantes o mais rapidamente possível”. O HM tentou perceber junto da empresa a situação do fornecimento do gás natural, mas não foi possível obter qualquer reacção da parte da Sinosky, que não prestou declarações.

MONOPÓLIO INÚTIL

O contrato de concessão do Serviço Público de Impor-

tação e Transporte de Gás Natural foi celebrado entre o Governo e a Companhia de Gestão de Participações e Energia Sinosky, Limitada há quase dez anos, em 2007. A empresa sediada em Macau foi criada um ano antes. Até ao momento, contudo, pouco foi feito para garantir a totalidade desse fornecimento e em Agosto do ano passado, os deputados da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas já levantavam dúvidas sobre a implementação de uma rede de gás natural no território, criticando que o prazo já passou de metade e ainda não foi celebrado um contrato de fornecimento a longo prazo de gás natural.

“A concessionária (Sinosky) apresentou ao Governo uma proposta de transferência de capitais. O Governo aguarda, neste momento, que a concessionária apresente o pedido oficial dessa transferência” GABINETE PARA O DESENVOLVIMENTO DO SECTOR ENERGÉTICO

Em Janeiro, aquando da tomada de posse de Hoi Chi Leong, o Executivo negava ter havido qualquer rescisão com a Sinosky – como fontes conhecedoras do processo garantiram ao HM em 2015 – e dizia que as negociações para resolver os problemas de fornecimento de gás natural se mantinham. Ainda assim, no ano passado, o Governo admitiu que as relações e comunicação com a Sinosky eram “difíceis”. A empresa, que deteria o monopólio por 15 anos, nunca forneceu gás natural à Companhia de Electricidade de Macau para que a operadora pudesse produzir energia eléctrica localmente. Quanto à distribuição de gás para uso da população, no Cotai há fornecimento em cerca de 50% e a empresa nunca conseguiu cumprir o contrato, como fizeram questão de recordar os deputados da Comissão que acompanha estes assuntos, em 2015. Joana Freitas

Joana.freitas@hojemacau.com.mo

POLÉMICAS RESOLVIDAS

Como noticiado no passado dia 13 pelo HM, o Executivo, com o novo Regime, diz que a ideia é que esta terceira entidade tenha como função uma avaliação independente do desempenho da Administração, de modo a que lhe seja conferida credibilidade, autodisciplina e imparcialidade. A iniciativa não ficou isenta de críticas e dúvidas, perante as quais a Secretária para a Administração e Justiça relembrou a introdução de um sistema de avaliação por uma “terceira entidade” aos funcionários de altos cargos. “A avaliação vai ser feita por uma instituição independente que não pertence ao Governo nem à Comissão para a Construção do Centro Mundial de Turismo e Lazer. Por enquanto, o Governo está a estudar como escolher uma instituição apropriada para depois ser responsável pela avaliação”, tinha indicado Lao Pun Lap, director do Gabinete de Estudo das Políticas, que não avança com calendários para a implementação deste sistema. Angela Ka (revisto por SM) info@hojemacau.com.mo

TIAGO ALCÂNTARA

Sinosky e o Governo mantêm as negociações sobre o fornecimento de gás suspenso porque a empresa está a reestruturar-se internamente. É o que confirma o Executivo ao HM, depois de, em Janeiro deste ano, Hoi Chi Leong ter assegurado que o objectivo do seu mandato era resolver a questão. Foi em Janeiro que o novo director do Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético (GDSE) assegurou que as negociações estavam em curso, sendo que todas as hipóteses contratuais estariam em aberto. Ontem, numa resposta ao HM, o mesmo organismo explica a situação actual entre a empresa e o Executivo. “A concessionária (Sinosky) apresentou ao Governo uma proposta de transferência de capitais. O Governo aguarda, neste momento, que a concessionária apresente o pedido oficial dessa transferência de capitais”, indica o GDSE. Questionado sobre mais detalhes, o organismo diz apenas que as mudanças estão a acontecer ao

Regime de Avaliação independente que o Governo quer implementar para fiscalizar o seu trabalho vai ser coordenado pelo Instituto Politécnico de Macau (IPM). É esta a terceira entidade escolhida, anuncia uma informação dada ontem pela assessora do Gabinete do Chefe do Executivo, Lei Ngan Leng, no programa Macau Talk do canal chinês da Rádio Macau. Lei Ngan Leng explica que “vai entrar em curso um processo de contratação de académicos e profissionais de carácter independente e que irão acompanhar diversos índices e dados”. Na base do Regime de Avaliação está a contenção de custos nomeadamente no que se refere a gastos que excedem o orçamento definido e à mão de obra, adianta Lei Ngan Leng, ao mesmo tempo que considera que “para um melhor resultado dos trabalhos de planeamento é necessário ter o apoio da população geral”. Aassessora referiu ainda que o Governo tem acompanhado a opinião pública online e que as sugestões dos residentes foram acrescentadas ao plano final.


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SOCIEDADE

MERCANTI MAIS LONGE DE MACAU

O sinal 1 de tempestade tropical continuava ontem içado, havendo a hipótese do Mercanti atingir a terra durante a manhã de hoje. Segundo a última actualização feita pelos Serviços Meteorológicos e Geofísicos , prevê-se que o tufão fique a uma distância acima dos 400 quilómetros de Macau, diminuindo assim a sua influência para a região. Antevêse que o tempo vá, contudo, ser influenciado: o céu vai apresentar-se muito nublado e com aguaceiros ocasionais, caso o movimento do tufão acelere ou caso a sua rota mude para uma direcção mais para norte. Hoje e amanhã à noite é possível que a população possa, ocasionalmente, ver a lua. Amanhã é o dia do Festival da Lua.

Alojamento Ilegal IH CONFIRMA CASOS EM HABITAÇÕES PÚBLICAS

Resmas de punições

A mais de 500 casos de prestação de alojamento ilegal juntam-se mais de 40 suspeitas relacionadas com fracções de habitação pública. O IH confirma ocorrências nas casas do Governo e fala em meio milhar de punições

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M cinco anos foram descobertos mais de 500 casos confirmados de prestação ilegal de alojamento e o Governo confirma a existência de fracções de habitação pública utilizadas para estes fins. Numa resposta a uma interpelação de Au Kam San, o Instituto de Habitação (IH) indica que “foram recebidas queixas e denúncias relacionadas com a utilização de fracções de habitação económica para prestação ilegal de alojamento”. No total, de 2014 até aos primeiros três meses do ano, o IH fiscalizou “mais de 3400 fracções de habitação económica”, tendo registado “mais de 40 casos suspeitos de infracção”. O organismo liderado por Arnaldo Santos diz que após recolha de provas não se verificaram indícios de prestação ilegal de alojamento “em parte dos casos”, mas cinco deles foram transferidos para a Direcção dos Serviços de Turismo (DST)

“para acompanhamento”, mais de 30 mantêm-se na subunidade jurídica do IH “para início dos procedimentos jurídicos” e três já foram punidos. O IH não diz qual a punição, referindo apenas que, em casos destes, poderá ser de multa ou de rescisão do contrato com o comprador. “A outra parte ainda está em curso de averiguação. Até 24 de Maio, a DST não constatou qualquer caso (...), mas se for apontado forte indício em posteriores averiguações, a DST vai aplicar um selo na porta do edifício ou fracções e instaurar o procedimento sancionatório”, indica o presidente do IH.

“Foram confirmadas 561 fracções a exercer actividade de prestação ilegal de alojamento”

O organismo diz que as inspecções foram feitas por iniciativa própria da DST, mas também por convocatória do IH depois de algumas denúncias. Também o Edifício do Lago, de habitação económica, está sob suspeita, mas “o IH está a acompanhar a situação com a PSP”.

ACTUAÇÕES MIL

Estatísticas da PSP mostram mais de 1300 inspecções desde 2011 ao primeiro semestre deste ano, feitas em conjunto com a DST. A estes números juntam-se 177 acções individuais da polícia, que perfazem – de 2011 a Junho de 2016 - “mais de 5400 fracções inspeccionadas”. “Foram confirmadas 561 fracções a exercer actividade de prestação ilegal de alojamento”, indica o IH. A PSP não pode tomar qualquer medida sem a presença da DST, já que é o organismo liderado por Helena de Senna Fernandes quem tem poder de actuação nestes casos.

A lei está a ser revista mas, depois de anos a defender a criminalização das pensões ilegais, os deputados que compõem a Comissão para os Assuntos da Administração Pública decidiram voltar com a palavra atrás. A mudança de opinião deve-se ao facto do Governo considerar que uma criminalização das pensões ilegais irá sobrecarregar os actuais recursos humanos e logísticos da PSP. A Comissão pretendia levar a revisão da Lei da Proibição de Prestação de Alojamento Ilegal até Agosto, mês em que chegou ao fim a sessão legislativa. Tal não aconteceu e o Governo mantém-se com a proposta sem que sejam conhecidas as alterações que esta vai sofrer. O HM tentou saber junto da DST mais informações, mas não foi possível até ao fecho desta edição. Joana Freitas

Joana.freitas@hojemacau.com.mo

EMPRESA DONA DE CENTRO COMERCIAL PASSA TERRENO AO GOVERNO

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Kimberley Investments Limited cedeu ao Governo o direito de propriedade perfeita do terreno onde vai nascer um centro comercial, entre a Rua de São Domingos e a Travessa da Sé. O anúncio foi ontem feito em Boletim

Oficial, num despacho que indica que confirma a concessão por arrendamento das 11 parcelas de terra que perfazem o lote de mais de 400 metros quadrados. Conforme o HM tinha avançado, o novo centro comercial vai nascer entre

a Rua de São Domingos e a Travessa da Sé, tendo sido as obras deste edifício que danificaram paredes e janelas da Casa de Lou Kau, no início do mês.Adona da obra é a Kimberley Investiments, uma empresa de Hong Kong, sendo uma companhia do

deputado Mak Soi Kun quem está responsável pela construção do prédio. Foi em 2014 que a empresa com sede em Hong Kong mostrou intenções de construir o centro comercial, que passa, primeiro, pela demolição de edifícios no local.

A empresa é representada em Macau pelo advogado Gonçalo Mendes da Maia, procurador da sociedade. O lote, com 496 metros quadrados, será aproveitado para a construção do edifício comercial que terá seis pisos. J.F.

MANIFESTAÇÃO NAS ALTURAS

Um grupo de operários subiu ontem a uma grua com cerca de 60 metros em forma de manifestação nos estaleiros do Lisboa Palace, no Cotai. Segundo o canal chinês da Rádio Macau a iniciativa teve como fim a exigência de pagamento de salários. A Direcção dos Serviços para os Assuntos laborais (DSAL) enviou um funcionário ao local e durante a tarde um dos três manifestantes terá sido ouvido pela entidade empregadora. O Corpo de Bombeiros cobriu o chão com colchões de salvamento mas até ao final da edição os funcionários ainda se encontravam sentados no topo da grua.

JOVEM DETIDO SEGUNDA VEZ POR TRÁFICO DE DROGA

Um jovem local de 20 anos foi detido pela segunda vez por tráfico de droga, depois de um primeiro caso estar ainda em processo de investigação. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, a Polícia Judiciária (PJ) recebeu uma denúncia de que haveria pessoas a transportar drogas compradas no interior da China para Macau. Ontem de madrugada a polícia deteve o jovem no Parque Industrial Transfronteiriço, com dois sacos de Ketamina. Durante a investigação, a PJ reparou que o jovem já tinha sido detido há menos de um mês por estar envolvido num caso de tráfico de droga que está no Ministério Público.


8 SOCIEDADE

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Casa de Portugal AMÉLIA ANTÓNIO REELEITA PRESIDENTE. QUASE MEIA CENTENA DE VOTOS

Não era novidade pois liderava a única lista candidata. Amélia António voltou a ser eleita presidente da Casa de Portugal com cerca de meia centena de votos. O projecto quer-se de continuidade mas há caras novas na direcção. Quanto à dívida do Lvsitanvs está a ser saldada aos poucos

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ALTAVA uma hora para o fecho das urnas, mas novidade era coisa que não imperava para os lados da Casa de Portugal em Macau (CPM). Amélia António voltou a candidatar-se à presidência da associação e esperava pacientemente pela contagem dos votos que determinavam a sua reeleição. Foi pouca a adesão dos sócios, já que, aquela hora, apenas 46 pessoas tinham ido votar. Ao HM, aquela que é considerada o rosto da comunidade portuguesa falou da sua continuação a frente de um projecto que num ano organiza cerca de 200 actividades para miúdos e graúdos. “É um projecto com continuidade mas esperamos que com sangue novo possa haver algo novo para além dessa continuidade. Que haja novas ideias

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Feira Internacional de Macau (MIF na sigla inglesa) vai, na edição deste ano, ter “novidades”. O destaque está na inserção de agentes locais que vendem produtos dos Países de Língua Portuguesa (PLP), além de empresas convidadas em edições anteriores provenientes desses países. O objectivo, afirma o Instituto de Promoção do Comércio e Investimento (IPIM) em comunicado, é a aglomeração e diversificação dos produtos oriundos dos PLP, bem como dar a conhecer “a sua alta

ANTÓNIO FALCÃO

“Não escondo os encargos da Casa”

DECISÃO DE ALEXIS TAM “É ESTRANHA”

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mélia António não comenta a decisão do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura de não levar um restaurante português para as Casas Museu da Taipa, referindo apenas que é “estranha”. “O Secretário disse que nós queríamos fazer uma casa de fados lá porque não conseguíamos fazer outra coisa. Tive que explicar que me tinha sido transmitido que o Secretário queria que houvesse fado. Estávamos a estudar a maneira de conciliar tipos diferentes de animação e retomar um pouco a ideia do projecto antigo, que não era bem um restaurante, e algo que mantínhamos já desde as Ruínas de São Paulo. Quando nos feito o convite começámos a pensar a retoma desse conceito. Não era nossa vocação competir com outros restaurantes portugueses. Se isso foi traduzido ao senhor Secretário como um “nós não somos capazes de fazer”… penso que houve aqui alguma areia na engrenagem, não sei de onde saiu a areia. Eu só ando para a frente e preocupa-me mais o futuro do que o presente. Não entendo esta situação e a mudança de posição em relação ao restaurante.”

À mesa portuguesa

Produtos dos PLP voltam a estar em destaque na MIF

qualidade através desta plataforma internacional”. Segundo Fernando Marques, responsável da CME - Agência de Distribuição de Produtos dos PLP, “a MIF é a plataforma ideal” para a promoção deste tipo de comércio. O empresário de origem portuguesa mudou-se para Macau em 1998 por motivos profissionais e neste

momento tem como seus clientes alguns dos mais “prestigiados” hotéis instalados na RAEM. Com uma participação regular na MIF, o empresário garante que “tem tido uma boa reacção mercantil”. Fernando Marques adianta ainda que, na presente edição, serão introduzidos novos produto, como vinhos reconhecidos

e novas, e por isso apostamos na juventude.” A juventude traduz-se com a entrada de três novos rostos para a direcção. Todos os anos que há eleições para a CPM se coloca a grande questão: quem poderá substituir Amélia António? Até agora ninguém ousou dar o primeiro passo para criar uma lista candidata. Mas caso existissem outras propostas, a também advogada não iria voltar costas ao projecto, já que a dívida deixada pelo restaurante Lvsitanvs continua por saldar. Esta já é inferior a um milhão de patacas. “Gostava que aparecesse alguém porque acho que ao longo destes anos uns gostam do que se faz e outros gostam menos, e por isso é sempre positivo aparecer alguma cara nova. Acho que o confronto de propostas é sempre uma coisa positiva. Não acontece e sinto-me na obrigação (de continuar). Mesmo que existisse uma outra lista eu teria de concorrer, dada a situação económica que tem existido, e que tem sido melhorada. Não virava as costas.” Admite estar habituada aos poucos votos dos associados, que nesta altura são cerca de 800. “É sinal de que normalmente as pessoas usufruem das actividades das associações, mas depois não participam”, apontou.

COUTO NÃO QUER REGRESSAR

Não é apenas o carisma de Amélia António que a obriga a ser a eterna presidente. Para Carlos Couto, arquitecto e ex-vice-presidente, o maior problema é mesmo não haver um rosto que tenha tanta disponibilidade como a advogada tem. Ele próprio assume ter batido com a porta porque estava cansado, sendo que não pondera sequer voltar à direcção da CPM.

produzidos nas zonas fronteiriças entre Portugal e Espanha ou o Gin produzido por Portugal. O vinho em particular, refere o empresário, já foi galardoado com um prémio internacional e consequentemente alvo de curiosidade por parte de turistas chineses que o passaram a adquirir depois de terem entrado em contacto com a bebida em Macau. Pedro Almeida, que também integrará a esta edição da MIF, é distribuidor do presunto de raça Bisara e quer introduzir no território

“Gostava que aparecesse alguém porque acho que ao longo destes anos uns gostam do que se faz e outros gostam menos, e por isso é sempre positivo aparecer alguma cara nova” AMÉLIA ANTÓNIO PRESIDENTE DA CASA DE PORTUGAL DE MACAU “É difícil ser presidente da CPM e por vontade dela já teria saído, porque são de facto muitos anos. Mas é difícil arranjar um substituto para aquele lugar, porque pressupõe muito tempo. A Casa tem um ritmo muito grande de actividades”, disse o arquitecto ao HM. Neste momento o restaurante Lvsitanvs deverá manter-se na sede da CPM, não existindo projecto para uma mudança de espaço. Na zona norte, num prédio industrial, decorrem diariamente cursos de artes plásticas, música e ginástica, entre outras áreas. Há ainda o futebol e o hóquei em patins, que atrai crianças filhos de sócio, mas não só. Há uma semana a CPM abriu as portas ao público para que este perceba a dimensão de um projecto comunitário. Mas Amélia António quer repetir a iniciativa, para que os outros “percebam aquilo que nós fazemos para além do que vem nos jornais”. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

o “presunto híbrido” feito de carne de porco preto e porco branco. Como resultado desta edição, o empresário, que também é chef de cozinha, espera que este produto venha a ser escolha privilegiada dos hotéis da região. O evento vai decorrer de 20 a 22 de Outubro, no Venetian, e espera acolher mais de 130 expositores. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


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milionário Jack Ma vai investir em Macau. De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, o grupo Alibaba, que opera, entre outros projectos, a plataforma de pagamentos online Alipay, deverá estabelecer em Macau quatro planos de cooperação com o Governo e empresas locais. Três empresas de Macau assinaram protocolos para estarem inseridas na plataforma de compras Tmall Global. A parceria com o Governo vai ser feita através da Direcção dos Serviços de Economia (DSE), existindo o projecto de construir na Rua de São Domingos uma “avenida azul”. O objectivo é que os turistas possam vir a fazer pagamentos com o sistema Alipay nesta zona, sendo que o projecto deverá ser lançado a 12 de Dezembro deste ano.

SISTEMA CERTIFICADO

Vai ainda existir uma parceria com o Conselho dos Consumidores (CC) para o “projecto de autenticação dos estabelecimentos comerciais seguros”. O objectivo é que as lojas que já possuem o símbolo “Loja Certificada” possam integrar o sistema Alipay. AAgência Comercial Vang Kei Hong é uma das empresas que vai integrar-se na Tmall Global. Ip Choi Fai, presidente executivo, confirmou que a Tmall Global está a planear abrir o pavilhão de Macau online, sendo que a empresa deverá participar no projecto. O plano preliminar é começar a vender na China cerca de 50 a cem produtos locais e dos países de língua

Os peixes também choram PETA em campanha no Leal Senado

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Jack Ma

Alibaba GRUPO AGENDA COOPERAÇÃO COM MACAU

Abre-te sésamo

Os novos projectos de cooperação da empresa do milionário chinês Jack Ma vão ter ligação com o sistema de pagamentos online Alipay. Três empresas locais deverão ficar integradas na plataforma Tmall Global portuguesa neste website. Os vinhos portugueses vão ocupar cerca de 20 a 30% do pacote de produtos disponíveis para venda. Ip Choi Fai prevê vendas na ordem dos setes dígitos e adiantou que a empresa pode começar a

colaborar neste projecto também a partir de Dezembro. Cheong Chou Weng, presidente do Conselho de Administração do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM), incentivou, num discurso

público, as empresas locais a aproveitarem as oportunidades oferecidas pelo comércio electrónico para poderem promover as suas marcas e produtos.

Instituto Cultural (IC) lançou ontem um comunicado onde garante a protecção da Colina da Ilha Verde, classificada como sítio e protegida, consequentemente, pela Lei de Salvaguarda do Património Cultural. Para isso, assegura,

diz que vai “continuar a explorar a história e os recursos culturais da Colina da Ilha Verde, no sentido de proteger as atracções patrimoniais da mesma”. O Executivo diz ter feito um plano de ordenamento para a colina “no passado”,

de modo a aumentar a qualidade do ambiente e da vida de moradores na zona e ainda recomendações na área da salvaguarda do património. “O IC enviou continuamente aos departamentos relacionados pareceres sobre a protecção da Colina da Ilha Verde,

E passar hoje pelo Leal Senado pode ser confrontado com uma questão: sabe o que tem no seu prato e o sofrimento que demorou para chegar lá? O desafio é lançado pela PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) Asia, que lança mais uma campanha em prol dos animais e que, nesta acção específica, se foca nos peixes. “Quando toca a sentir dor e ter vontade de viver, os peixes são como os outros animais”, frisa Ashley Furno, porta-voz da PETA que vai estar também no Leal Senado. Furno e outra activista vestem a pele de sereias para, com pouco mais do que barbatanas como roupa, chamarem a atenção do público sobre os animais e “encorajarem as pessoas a não comer peixe”. Com sinais onde se lê “a pesca magoa”, as activistas juntam-se ao meio-dia junto da fonte do Senado. “Estamos a apelar às pessoas que tenham compaixão todos os dias, deixando o peixe e todos os outros animais fora dos seus pratos.APETAespera que estas ‘sereias’ ajudem as pessoas a perceber que

os peixes também são animais inteligentes, que sentem medo e stress quando são pescados com anzóis ou com redes, para serem retirados da água. Estudos científicos recentes mostram agora que os peixes são sensíveis e sentem dor tal como os cães e gatos”, realça a PETA em comunicado. A PETA diz ainda que a campanha pretende não só ajudar os peixes, mas outros animais – incluindo os humanos. A associação relembra as condições “cruéis” em que os animais têm de viver nos locais de criação para abate, o facto de que a agricultura animal “está a conduzir para problemas ambientais como as mudanças climáticas” e não só. “Comer derivados de animais leva a um mais alto risco de desenvolver diabetes, cancro, doenças coronárias e outras. E o peixe pode acumular altos níveis de toxinas, como insecticidas, mercúrio, chumbo e arsénico, às vezes a níveis que são nove milhões de vezes mais tóxicos do que as águas em que os peixes vivem”, frisa o comunicado. J.F.

Angela Ka (revisto por A.S.S.)

info@hojemacau.com.mo

MAIS DE 200 CÂMARAS ENTRAM HOJE EM FUNCIONAMENTO

IC GARANTE PROTECÇÃO DA COLINA DA ILHA VERDE

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SOCIEDADE

incluindo o limite da altura sugerido para alguns lotes, a conservação do convento e casamata militar na Ilha Verde e a protecção de corredores visuais, entre outros. Alguns dos pareceres foram absorvidos e adoptados”, frisa o Instituto.

Entra hoje em funcionamento parte do Sistema de Videovigilância em Espaços Públicos. No total, 219 câmaras entram em funcionamento em diversos locais, como o Terminal Marítimo de Passageiros do Porto Interior e da Taipa, Parque Industrial Transfronteiriço Zhuhai-Macau, Posto Fronteiriço do Cotai, Portas do Cerco e Aeroporto, entre outros. Esta é a primeira fase do Sistema que vai ser processado em quatro fases, prevendo-se a instalação de 1620 câmaras ao todo. As 263 e 338 câmaras da 2ª e 3ª fases serão instaladas nas principais vias rodoviárias e deverão entrar em funcionamento a partir de Outubro. A instalação das 800 câmaras correspondentes à 4ª fase, em lugares isolados e com risco de segurança, está prevista entre 2017 e 2018.


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MÚSICA ORQUESTRA ULTRAMARINA EM CONCERTO LOCAL

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ACAU recebe a primeira edição do “Concerto Global dos Artistas Chineses” realizada fora de Pequim. O evento, que é realizado desde 2014, sai da capital e adopta o Salão da Universidade de Macau como anfitrião da primeira edição fora de portas.

O “Concerto Global dos Artistas Chineses” comemora, este ano, o 67º aniversário da República Popular da China e irá incluir no repertório obras comemorativas do 150º aniversário de Sun Yat-Sen. Lü Jia é também nome que consta do cartaz e que irá desempenhar as fun-

ções de director artístico do concerto. Sob a sua batuta, o espectáculo é uma composição de quase cem músicos provindos de 40 orquestras chinesas e internacionais e contará ainda com a presença de intérpretes como Yan Weiwen, Wang Xiufen e Yuanming Song.

O programa do evento inclui obras como “Elogio da Alvorada”,Abertura-Fantasia de “Romeu e Julieta” de Pyotr Ilyich Tchaikovsky, trechos da ópera “O Pavilhão das Peónias”; extractos da suite “Episódios da Vida Chinesa de Bao Yuan-kai”,o quarto andamento da Sin-

fonia n.º 9 em Mi menor de Antonín Dvořák; a abertura orquestral “O Nosso Sun Yat-sen”; “Eu Amo-te, China”; a “Canção do Toureiro” da ópera Carmen e a peça coral “Eu Amo a Montanha Wuzhi e o Rio Wanquan”. O concerto terá lugar a 24 de Setembro às 15h00. S.M.

Cinema “CARTAS DA GUERRA” ESCOLHIDO PARA REPRESENTAR PORTUGAL NOS ÓSCARES

“Valeu a pena continuar”

O filme do realizador Ivo Ferreira sobre a experiência do escritor António Lobo Antunes na guerra colonial foi o escolhido pela Academia Portuguesa de Cinema para representar Portugal na nomeação dos Óscares de Hollywood. “Cartas da Guerra” vai também estar nos Prémios Goya, em Espanha

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STREOU pela primeira vez numa sala de cinema de Macau, depois em Portugal e depois transpôs portas para o mundo. Agora está mais perto de Hollywood. Tem sido este o percurso feito pelo filme “Cartas da Guerra”, do realizador Ivo Ferreira, que acaba de ser escolhido pela Academia Portuguesa de Cinema para representar Portugal na nomeação dos Óscares da Academia Americana de Artes e Ciências Cinematográficas, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Ao HM, Ivo Ferreira disse estar satisfeito com mais um reconhecimento de um filme que já é considerado uma das melhores películas portuguesas do ano. “Fico muito contente, é mais um reconhecimento. Espero que as pessoas comecem a ir mais vezes ao cinema. Esta escolha vem na sequência do que tem acontecido com todas as nomeações e espero que ajude a promover mais o cinema português. Foi um filme que

começou com um processo difícil, é merecido para toda a equipa de técnica e artística. Valeu a pena continuarmos.” Ao jornal Observador, Paulo Trancoso, presidente da Academia Portuguesa de Cinema, explicou que “Cartas da Guerra” acabou por ser o filme escolhido num universo de quatro. “Montanha”, de João Salaviza, “Cinzento e Negro”, de Luís Filipe Rocha e “Amor Impossível”, de António-Pedro Vasconcelos, também foram analisados pelos 250 membros da Academia. Resta agora aguardar as decisões da academia norte-americana de cinema. Depois de ter sido finalista no prémio Urso de Ouro de Berlim, “Cartas da Guerra” vai também representar Portugal na categoria de Melhor Filme Ibero-Americano, nos Prémios Goya, da Academia Espanhola de Cinema. “Cartas da Guerra” transpõe para o cinema a história de amor vivida pelo escritor António Lobo Antunes e a sua primeira mulher,

Uma nova era

Desenvolvimento e partilha de recursos de documentos em conferência

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ACAU acolhe a 11ª Conferência sobre “Desenvolvimento de Cooperação e Partilha de Recursos Chineses”, que vai decorrer durante os dias 25 a 27 de Outubro no MGM. Co-organizada pelo Gabinete dos Assuntos Sociais e Cultura, a conferência resulta de uma cooperação internacional entre vários organismos que partilham a ambição comum de pôr em contacto todas as instituições de informação e bibliotecas espalhadas pelo mundo, que tenham na sua posse documentos antigos sobre a China. O objectivo é o de melhorar e agilizar a cooperação e a comunicação entre todos, de forma a facilitar a utilização dos recursos disponíveis de uma forma mais rentável. As inscrições para fazer parte do evento estão abertas para todos os interessados, desde estudantes universitários a outros profissionais ligados a bibliotecas ou à informação em geral. O formulário para a inscrição pode ser descarregado em www.library. gov.mo/zh-hant/ccdscr201 até dia 29 de Setembro.

PÓS-DIGITAL

Maria José, já falecida. As cartas trocadas durante o período em que Lobo Antunes esteve na guerra colonial, em Angola, foram transformadas no livro “D’este viver aqui neste papel descrito – Cartas da Guerra de António Lobo Antunes”. A organização das cartas esteve a cargo das filhas do casal.

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RASHOMON E OUTRAS HISTÓRIAS • Ryunosuke Akutagawa

EVENTOS

Um dos escritores mais importantes da literatura japonesa finalmente traduzido e editado em Portugal.As suas histórias, de leitura obrigatória nas escolas japonesas, influenciaram gerações de escritores, como Haruki Murakami, e inspiraram filmes de culto, a exemplo do famoso filme de Akira Kurosowa: “Rashomon — às portas do Inferno”. O presente volume colige as 18 mais significativas histórias deste autor em quatro períodos da história do Japão, servindo igualmente de guia ao leitor numa viagem fascinante pela história do país e da sua cultura: do Japão medieval, habitado por xoguns, camponeses e missionários cristãos portugueses até à sociedade moderna de início do século XX, que vive as consequências da guerra contra a China e a Rússia e a pré-euforia imperialista.

Margarida Vila-Nova, esposa de Ivo Ferreira, desempenha o papel da esposa de Lobo Antunes. Nos restantes papéis estão Miguel Nunes, Ricardo Pereira, Tiago Aldeia, João Luís Arrais e Pedro Ferreira. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

O tema da iniciativa deste ano é “Era Pós-digital - a Cooperação, utilização e Promoção dos Recursos Chineses”. A conferência almeja a introdução de mais e melhores trabalhos de digitalização entre as bibliotecas e as várias instituições de informação, incluindo partilha de fontes e a cooperação, uso de recursos, promoção e tecnologia, entre outros, para aprofundar o conhecimento e o desenvolvimento da organização e a utilização de todos os recursos à disposição. Participantes de várias origens foram convidados para o evento. Vêm da China continental, Hong Kong, Taiwan, Singapura, Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido. Também foram convidados para estarem presentes vários profissionais de Macau. A conferência vai decorrer em Inglês e Mandarim, com tradução simultânea.

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET

O ESTRANHO CASO DA RAPARIGA RAPTADA • Spencer Quinn

O Estranho Caso da Rapariga Raptada apresenta uma das mais originais duplas de detectives do romance contemporâneo. Bernie é o anti-herói, divorciado, sem um tostão no bolso e que se bate pela custódia do filho. Chet é o narrador canino, que tenta sem muito sucesso compreender os bizarros costumes humanos. Juntos oferecem uma história onde não falta nada: humor, ritmo, uma intriga inteligente e um suspense arrepiante. E, sobretudo, uma visão tocante da relação ancestral entre o homem e o seu cão. “Spencer Quinn fala duas línguas fluentemente – a dos cães e a do suspense. Por vezes revela-se hilariante, noutras tocante e aqui e ali chega a ser assustador. O meu sincero conselho é que corram para a livraria mais próxima e agarrem este romance único”, diz Stephen King.


12 CHINA

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Eram um dos casais mais pobres da aldeia onde viviam, mas ainda assim foi-lhes negado o apoio dado pelo Estado a famílias carenciadas. Familiares e vizinhos acreditam que foi o desespero aliado à pobreza que levou esta a mãe a cometer este acto

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incidência de pobreza extrema na China, voltou esta semana a ser tema de debate por uma mãe ter morto os seus três filhos depois de lhe ter sido negado o rendimento mínimo. Yang Gailian, de 28 anos, utilizou um machado para matar os filhos, de seis, cinco e três anos, na província de Gansu, no noroeste da China, noticiou na terça-feira a imprensa

Pobreza MÃE MATA TRÊS FILHOS MENORES E SUICIDA-SE

Desespero fatal chinesa A mulher suicidou-se a seguir, ingerindo pesticida. O marido, Li Keying, acabou também por pôr fim â vida, depois de realizado o funeral. Eram um dos casais mais pobres na aldeia de Agushan, segundo escreveram os jornais, mas foi-lhes negado o subsídio destinado pelo Governo às famílias com rendimentos baixos. O comité da aldeia justificou a decisão apontando que o seu rendimento anual era superior a 2.300 yuan, por pessoa.

DA CORRUPÇÃO

Testemunhos de familiares difundidos na imprensa, contudo, garantem que o apoio foi anulado porque o casal rejeitou subornar os funcionários locais.

“Olhem agora para a exuberância que foi o G20”, ironizou um internauta no Sina Weibo, o Twitter chinês, aludindo à renovação da cidade de Hangzhou, na costa leste da China, visando receber a cimeira de dois dias. Os trabalhos demoraram seis meses e envolveram milhares de

“Enquanto alguns gozam de uma boa vida nas cidades, a China continua a ser um país em desenvolvimento, com grandes desequilíbrios” HU XINGDOU ESPECIALISTA EM PROBLEMAS SOCIAIS

operários, ilustrando os esforços de Pequim para promover a imagem da China no exterior. Outro internauta reagiu assim: “Somos uma sociedade brutal, em que as pessoas se comem umas às outras”.

POBRES E RICOS

Ao jornal Global Times, o especialista em problemas sociais Hu Xingdou disse que o caso “serve para alertar o público e o Governo de que, enquanto alguns gozam de uma boa vida nas cidades, a China continua a ser um país em desenvolvimento, com grandes desequilíbrios”. Xiang Songzuo,

EX-DIRECTOR DO GNE INVESTIGADO POR CORRUPÇÃO

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Tribunal Supremo Popular da China anunciou ontem que decidiu impor “medidas coercivas” ao ex-director do Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês Wang Baoan, que está a ser investigado por corrupção, sem pormenorizar quais. Segundo a lei chinesa, entre as “medi-

das coercivas” figuram a obrigação de se apresentar em tribunal, ser posto em liberdade sob fiança, ficar em prisão domiciliária ou ser detido. Wang Baoan, 52 anos, que até ao início do ano dirigiu o organismo encarregado de calcular e anunciar os dados económicos do país, foi expulso do

Partido Comunista Chinês (PCC), no mês passado. Wang é um funcionário na “bancarrota moral”, considerou o órgão máximo anti-corrupção do PCC, acusando-o de frequentar hotéis e locais de luxo e de usar a sua posição para obter dinheiro e favores sexuais, “de forma insaciável”.

Em Janeiro passado, as autoridades anunciaram a investigação, por alegada corrupção, a Wang, que foi nomeado director do GNE em Abril de 2015, depois de ter ocupado o cargo de vice-ministro das Finanças, ao longo de três anos. O anúncio ocorreu quatro horas após o responsável ter defendido a “robustez”

da economia chinesa, durante uma conferência de imprensa em Pequim. Os dados económicos elaborados pelo GNE sobre a economia chinesa são olhados com suspeição por vários analistas estrangeiros, que os acusam de serem “pouco fiáveis”.

economista-chefe no Agricultural Bank of China, considerou na sua conta oficial nas redes sociais que a “situação reflecte exactamente a dura realidade da pobreza na China”, acrescentando que “por um lado, temos funcionários corruptos a desviar centenas de milhões a cada instante e os ricos que gastam aos milhares por dia, competindo para ver quem compra mais, enquanto do outro lado estão os que vivem numa pobreza tão extrema que perdem a vontade de viver”. Yang e Li e os três filhos viviam com a avó e o pai de Yang numa pequena casa de tijolo, com chão de terra batida. As suas “mais valiosas possessões eram três vacas e 12 galinhas”, segundo o jornal China Youth Daily. A mulher lavrava a terra, enquanto Li era um dos milhões de rurais chineses que ocorrem às cidades em busca de todo o tipo de trabalho. Segundo o Global Times, o homem tinha um vencimento anual de 7.000 yuan, quase metade enviado para casa, visando garantir a subsistência da família. A desigualdade social é uma das principais fontes de descontentamento popular no “gigante” asiático, onde um terço da riqueza está concentrado em apenas 1% da população. O rendimento ‘per capita’ em Pequim ou Xangai, as cidades mais prósperas do país, é dez vezes superior ao das áreas rurais, onde quase metade dos 1.350 milhões de chineses continua a viver. Segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas chinês, 70 milhões de chineses continuam a viver abaixo da linha de pobreza, fixada pelo país num rendimento anual inferior a 2.800 yuan. A mesma fonte detalha que o rendimento anual ‘per capita’ dos residentes rurais na China fixou-se em 10.772 yuan em 2015, menos do que muitos países africanos. No mesmo ano, a China ultrapassou os Estados Unidos da América em número de bilionários.

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EDITAL Edital nº : 26/E-OI/2016 Processo nº : 496/OI/2013/F Assunto : Início do procedimento de audiência pela infracção às disposições do Regulamento Geral da Construção Urbana (RGCU) Local : Travessa de S. Domingos n.º 16, Edf. Pou Pou On, fracção 5.º andar F (CRP: F4), Macau. Cheong Ion Man, subdirector da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), no uso das competências delegadas pelo Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 38, II Série, de 23 de Setembro de 2015, faz saber que fica notificado o proprietário do local acima indicado, Lei Leong Hei, do seguinte: 1. Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que no local acima indicado realizaram-se as obras não autorizadas abaixo indicadas, as quais infringiram o disposto no n.º 1 do artigo 3.º do DecretoLei n.º 79/85/M (RGCU) de 21 de Agosto, alterado pela Lei n.º 6/99/M de 17 de Dezembro e pelo Regulamento Administrativo n.º 24/2009 de 3 de Agosto, pelo que as mesmas são consideradas ilegais: Obra 1.1 Alteração da rede de abastecimento de água da fracção.

1.2

Instalação de pala metálica na parede exterior junto à fracção. (5 partes no total)

2. Nestas circunstâncias e nos termos dos artigos 52.º e 65.º do RGCU, ordena ao infractor que proceda à demolição das obras ilegais referidas no ponto 1 e à reposição da parte afectada de acordo com o projecto aprovado por esta Direcção de Serviços, e informa que incorre em infracção sancionável com multa de $1 000,00 a $20 000,00 patacas. 3. Nos termos dos artigos 93.º e 94.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, o interessado pode apresentar a sua defesa por escrito e as demais provas para se pronunciar sobre as questões que constituem objecto do procedimento, bem como requerer diligências complementares, no prazo de 10 (dez) dias contados a partir da data da publicação do presente edital. 4. O processo pode ser consultado durante as horas de expediente nas instalações da Divisão de Fiscalização do Departamento de Urbanização desta DSSOPT, situadas na Estrada de D. Maria II, n.º 33, 15.º andar, em Macau (telefones n.os 85977154 e 85977227). RAEM, 09 de Setembro de 2016 Pelo Director dos Serviços O Subdirector Cheong Ion Man

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13 CHINA

hoje macau quinta-feira 15.9.2016

As queixas do costume

norte-americanas para o país no sector agrícola estariam acima do nível actual, de 20.000 milhões de dólares por ano, que correspondem a 200.000 postos de trabalho.

EUA questionam subsídios atribuídos a produtores de cereais

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DO PROTECCIONISMO

S apoios atribuídos pela China aos produtores de milho, trigo e arroz “respeitam” as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), garantiu ontem Pequim, após Washington ter apresentado queixa sobre o que considera incentivos comerciais “injustos”. Os Estados Unidos da América alegam que a China, o maior produtor mundial de trigo e arroz, distribuiu “apoios aos preços de mercado”, no total de 100.000 milhões de dólares, um valor superior ao permitido pela OMC. O apoio estatal “torna os produtores chineses mais competitivos nos mercados internacionais”, acusou Washington.

ESTÁ LEGAL

O Ministério do Comércio chinês disse entretanto, que já recebeu o pedido de consulta por parte dos EUA, através do mecanismo de resolução de litígios da OMC, mas insistiu que os apoios são “legais”, avançando ainda que, “agricultura é uma indústria essencial em qualquer país e é fundamental

para os interesses económicos dos produtores agrícolas”, segundo comunicado difundido na terça-feira. O apoio dado pelo Governo ao sector é uma “prática internacional comum”, refere. Segundo as autoridades norte-americanas, a China tem atribuído

subsídios ao sector acima do valor de 8,5% dos preços de referência dos grãos, definido pela OMC. O Secretário da Agricultura dos EUA, Tom Vilsack, afirmou que “se a China estivesse disposta a operar segundo o regime estipulado pela OMC”, as exportações

Muitos destes empregos são em Estados como Iowa ou Kansas, que devido às particularidades do sistema eleitoral norte-americano têm um papel muito importante nas eleições presidenciais do país. Tanto Donald Trump como Hillary Clinton, ambos candidatos, dos partidos Republicano e Democrata respectivamente, coincidem na opinião de que os EUA devem rever a sua política comercial com a China, mostrando-se favoráveis a um maior proteccionismo. A queixa contra alegados subsídios atribuídos aos produtores de grãos é a 14.ª iniciada pelos EUA contra a China, desde que o Presidente Barack Obama assumiu funções, sendo que Washington ganhou todos os casos durante este período. Mas a China garante que “irá sempre proteger activamente os seus interesses industriais e comerciais”, aponta o comunicado do ministério do Comércio chinês.

LI KEQIANG VISITA CUBA E CANADÁ

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, vai participar na 61.ª sessão da Assembleia das Nações Unidas, em Nova Iorque, de onde partirá para visitas oficiais ao Canadá e Cuba. Segundo anunciou Hua Chunying, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, o périplo de Li decorrerá entre os dias 18 e 24 de Setembro. O responsável chinês viaja a convite do secretário-geral da ONU, o primeiro-ministro do Canadá e o Presidente de Cuba, Raúl Castro. Tanto Ban Ki-moon como Justin Trudeau estiveram recentemente na China, onde participaram da cimeira do G20. Em 2014, o Presidente chinês, Xi Jinping, visitou Cuba, dois anos após o seu homólogo Raúl Castro ter estado em Pequim.

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ANÚNCIO [N.º 73/2016]

ANÚNCIO 【N.º 75/2016】

Para os devidos efeitos vimos por este meio notificar os candidatos de habitação económica abaixo indicados, nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro:

Nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica-se, por este meio, o representante do agregado familiar da lista de candidatos a habitação económica abaixo indicado:

Nome TAI IN SIU CHOI SAO CHAM HONG CHAO WENG HE HUIXIN PAO LAI MEI

N.º do Boletim de candidatura 82201338968 82201307547 82201326558 82201333625 82201307434

Dado que os candidatos acima indicados foram seleccionados na lista com a ordenação, nos termos do artigo 26.º da Lei n.º 10/2011 (Lei da habitação económica), alterada pela Lei n.º 11/2015, é necessário realizar-se a apreciação substancial, pelo que este Instituto informou os candidatos acima indicados, através de ofícios, para se dirigirem pessoalmente ao Instituto de Habitação (IH) às horas fixadas nos respectivos ofícios, para apresentarem os originais dos documentos comprovativos, no sentido de efectuar a verificação das informações declaradas nos boletins de candidatura, porém, os ofícios não foram recebidos e foram devolvidos. Assim, os candidatos acima indicados devem dirigir-se pessoalmente ao IH (junto da Escola Primária Luso-Chinesa do Bairro Norte), sito na Travessa Norte do Patane, n.º 102, Ilha Verde, Macau, antes do dia 17 de Outubro de 2016, para apresentarem os originais dos documentos comprovativos, no sentido de efectuar a verificação das informações declaradas nos boletins de candidatura. Nos termos da alínea 2) do n.º 1 do artigo 28.º da lei acima indicada, caso verifique que os candidatos não apresentem os documentos indicados, dentro do prazo fixado, os adquirentes seleccionados serão excluídos do concurso. Para mais informações poderão dirigir-se pessoalmente ao IH, nas horas de expediente ou consultar através do telefone n.o 2859 4875. Instituto de Habitação, aos 14 de Setembro de 2016 O Presidente, Arnaldo Santos

Nome CHONG VAI LENG

Número do boletim de candidatura 82201303398

Dado que o representante do agregado familiar acima referido é proprietário de fracção autónoma com finalidade habitacional na Região Administrativa Especial de Macau, nos cinco anos anteriores à data da apresentação da candidatura e até à data da celebração da escritura de compra e venda da fracção de habitação económica, este Instituto informou o candidato acima referido, através de ofício n.º 1603300056/DHEA, de 1 de Abril de 2016, de que deveria apresentar, por escrito, a sua contestação, no prazo de 10 dias, a contar da data de recepção daquele ofício; não tendo o candidato acima referido entregue qualquer contestação dentro do prazo definido, pelo que, nos termos da alínea 1) do n.º 1 do artigo 28.º da Lei n.º 10/2011 (Lei da habitação económica), alterada pela Lei n.º 11/2015, e por despacho do signatário exarado na Prop. n.º 1297/DHP/DHEA/2016, foi decidido proceder à sua exclusão de adquirente seleccionado. Caso não concorde com a respectiva decisão, nos termos dos artigos 148.º, 149.º e do n.º 2 do artigo 150.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, pode ser apresentada reclamação, sem efeito suspensivo, no prazo de 15 dias, a contar da data de publicação do presente anúncio ou, nos termos do artigo 25.º do Código de Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 110/99/M, de 13 de Dezembro, pode intentar acção judicial no Tribunal Administrativo, no prazo de 30 dias, a contar da data de publicação do presente anúncio. Instituto de Habitação, aos 14 de Setembro de 2016. O Presidente, Arnaldo Santos


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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“Doloroso atingir o nada / viajando entre o tudo // pesa-me o caminho” ou da perda “é com a ausência que vivo / cresce a distancia das coisas / tudo é já intocável” Pois é necessário que o criador se desfaça de um mundo para poder ganhar outro.

GONÇALO LOBO PINHEIRO

A. Estes exercícios podem ir da pura retórica ou de uma busca e de uma demanda, mas visam sempre a perfeição. Aquilo que Fernando Sales Lopes nos oferece tem mais o sentido de uma demanda, de uma procura interior mas também de uma partilha. Na voz de Sales Lopes fala a sua voz própria mas também uma experiência que o ultrapassa. “Aprendi tudo como me ensinaram / (…) Mas não me ensinaram / (Talvez nem o soubessem) / o que sentimos / quando / tanto tempo depois / numa velha igreja em ruínas / se ouve rezar em português / (…)”. A sua voz tanto se apaga diante daquilo que ele sente que mais do que ele o justifica, como faz sentir a sua presença, própria, idiossincrática. Ele pensa, ou pensará, que alguma realidade o justifica, quando eu penso que é o contrário que acontece, é o poeta, e no caso ele, que pode justificar e tudo justifica. E por isso para mim, na maior parte das vezes em que Fernando Sales Lopes utiliza a primeira pessoa do plural, em boa verdade refere-se, mas com pudor, à primeira pessoa do singular. “Somos dos que nunca mais regressámos / desde a longa caminhada das Índias / Perdidos, para sempre, no interior de nós / (…)”. O plural, vagamente majestático, e a ideia de uma pertença não negada limita-se a reforçar o destino próprio. A aventura colectiva serve apenas ou pelo menos essencialmente como caução para si mesmo, ainda que o poeta o não considere eventualmente nos seus pressupostos ideológicos. O nós tem tendência, progressivamente, a não representar senão o eu, mesmo que, por pudor insisto, se esconda por detrás de um plural. “Se querem saber de nós, procurem // Procurem em todas as terras / onde o mar se espreguiça em largos areais / Procurem no sonho, onde não penetram”. É claro que os poemas possuem uma referencialidade histórica e cultural, mas apenas enquanto pretexto para que se possa falar de si próprio sem constrangimento e por essa via este nós, mesmo que também se deixe ler assim, e essa ambiguidade é em si mesmo um recurso estilístico entre os

Exílio e alteridade

demais, assume o desígnio de um eu desdobrado. E ao longo do livro sê-lo-á cada vez mais. Até não ser senão isso. É como se dentro do próprio texto, da sua narrativa implícita, assistíssemos à metamorfose do poeta cidadão deste mundo no demiurgo de um mundo outro e novo. B. Neste livro de Sales Lopes assistimos à narrativa dessa metamorfose, com avanços e recuos, como não podia deixar de ser. Os partos são difíceis: 1. A expressão do anseio

“O branco que só este sol me dá / Cedo. Muito cedo / Que o cinzento de sempre logo fará desaparecer // Deixem-me mergulhar nesta luz / Estou farto de grades”. 2. E depois a certeza “Aquilo que eu vejo é só meu. Só eu o vejo assim” 3. Mas antes do Mundo, antes do seu nascimento há a angústia do nada “Olho a profundidade / um imenso vazio / a totalidade do nada” 4. E há momentos cruciais O momento e cito do “sono dos deuses / no infinito dos tempos” em que o demiurgo está “suspenso no vazio”. Ou o momento da dor

C. Ao mesmo tempo que o texto dá conta do nascimento de um mundo mostra-nos a trama que o engendra. O que alimenta ideologicamente o mundo novo é a problemática da relação. A tensão é, ao longo do livro, permanente entre o Eu Poético e o Outro e se algumas vezes esse Outro aparece configurado com as roupagens do Mesmo, em muitos momentos o Outro é expressão de pura alteridade. O elemento mais sedutor na poética de Fernando Sales Lopes, reside mesmo no facto de que o Outro é compósito e nele não se distingue, por vezes, o que é da ordem da mesmidade ou da alteridade. Como se para lá do Eu ou seja da sua ipseidade, não fizesse muito sentido a separação entre os dois pronomes pessoais que em geral se opõem: o Nós e o Eles. Todos são da ordem do Nós e todos são ao mesmo tempo Outro relativamente ao Eu que é Nós. E em certos momentos o próprio Eu se dilui no caudal caótico da indiferenciação. “Deambulo por estas ruas sem esquadria / Veias aonde o sangue roça as margens / (…) / Confundo-me / Tudo e todos vivem em mim e eu sou já um deles”. Na maior parte das vezes a procura do outro é orientada por Eros. Como neste intenso poema: “Queria navegar-te / rasgando canais / pela terra virgem // Desvendar-te os mistérios / numa orquídea lilás / explodindo em Budas / de ouro… // E depois… amar-te // Deslizando pelo veludo / da tua pele branca / e macia. // Na volúpia dos cheiros / sobre um imenso / pano laranja // Açafrão benzido / que te cobrisse / na loucura do êxtase // Misturados nas águas / que são o teu sangue / E na terra que a consome / até ao mar // Ao grande mar / dos nosso suados corpos” Mas eros, pode ser amor ou amizade. A grande aventura da alteridade é a assunção de que o que promove a diferença é o abraço…


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fichas de leitura

O outro transcende-me como facto do mundo, mas fá-lo de uma forma dinâmica. Ele provoca uma mutação na minha intencionalidade. A consciência recebe o outro como um facto insólito. A minha intencionalidade só pode ser imediatamente ética quando é estimulada pelo outro. Porque o outro é, apesar da sua inalienável alteridade, a erupção, fenomenologicamente outra, de mim mesmo. O outro sou eu separado da minha autoconsciência. O outro sou eu sem o abrigo da minha identidade. Eu torno-me abrigo para o meu semelhante porque ele coabita o meu mistério, a minha condição, porque ele, sou eu visto a partir de mim próprio, porque todos somos o outro. A nossa condição é sermos sempre o outro. Se nos desfizermos do outro é de nós mesmo que nos desfazemos. “Eis-me de volta / dos tempos // do cravo / da canela / do gengibre / da pimenta // Ficou este abraço / que nos torna diferentes…” Pois a alteridade deve persistir sempre. E porque um dos mais poderosos referentes da diferença é a cor, Fernando Sales Lopes traz a cor à sua intenção fenomenológica e poética e o que nos diz é que as cores não comportam em si uma essência, a essência permanece, aquilo que é substantivo e axial sofre a mutação das cores para ficar inalterável (inalterado), ou seja não reduzido ao mesmo. “Negro / Negro como os malabares / que te adoram // Negro / pelos fumos / dos incensos e óleos // As setas do teu martírio / escondem-se / sob colares floridos / grinaldas de abolim / com que te pagam / o milagre do amanhã // Levámos-te santo de Roma / transformaram-te em ídolo // Ganesh / duma outra fé”. É a transcendência intrínseca do mundo que fundamenta a intencionalidade fenomenológica e é essa intencionalidade que fundamenta o papel dinâmico a priori da consciência. Por isso a consciência é fenomenológica mas também transcendental, pois que ela está desde sempre comprometida com o mundo que visa. Não há qualquer coisa como o mundo e a consciência, separados à maneira cartesiana. O mundo é mundo para a consciência e a consciência é consciência de e para o mundo. É neste contexto que o outro aparece como figuração / encenação da transcendência. Eu viso-o porque sou visado. Eu respondo a um apelo, a uma provocação. Este livro de Sales Lopes está cheio de momentos em que esta dramatur-

Sales Lopes, Fernando, 2014, Geometria & Exercícios em Busca da Perfeição, Macau 2014 Cota: 821.134.3(512.318)-1 Lop

gia é consagrada. Mas eros predomina como intriga e tensão, uma vez que a inalienável relação com o Outro não é ontologicamente neutra. A relação com o outro não é Logos. A alteridade é Eros. A alteridade é talvez ainda mais. A alteridade é a sabedoria de Eros. Ora na génese desta sabedoria do amor está o desejo. “Entreabertas, as janelas / rasgam as paredes de açafrão // Para lá das conchas / aqueles imensos olhos / negros, sedutores, / misteriosos / fixos e indiferentes // Por eles viajo / numa paixão sem tempo // Eu sabia que estavas à minha espera”. (P. 35) Repare-se como aqui, neste poema que citei, aparece clara a ideia nuclear de que a alteridade é desejo e eros ou seja como eu disse acima, a ideia de que “Eu viso porque sou visado”. A ideia afinal de que eu respondo a um apelo, a uma provocação”. E essa ideia aparece neste caso reforçada por uma espécie de antecipação estruturante. De alguma maneira o mundo do Outro não é uma descoberta fortuita. O mundo do Outro é a descoberta de uma confirmação. Ora, só há confirmação e ao mesmo tempo descoberta se houver ambivalência. Ou seja se eu procu-

rar o Outro com a certeza de que ele me espera. Ora, o que determina que eu saiba que ele me espera é o desejo de que assim seja. E reversivamente é essa convicção e certeza que reforça a determinação da minha procura e que desde logo, a montante a justifica. Ora só há uma possibilidade para esta confluência, para que eu possua a certeza de ir encontrar aquilo que eu procuro e que ressalve-se desde já é sempre da ordem da aventura; essa possibilidade enraíza no facto de que como eu disse acima: “o outro é, apesar da sua inalienável alteridade, a erupção, fenomenologicamente outra, de mim mesmo. O outro sou eu separado da minha autoconsciência. O outro sou eu sem o abrigo da minha identidade”. Repare-se como de uma assentada confluem para a compreensão todos os elementos da alteridade, tal como aqui a concebo e que o texto poético de Sales Lopes confirma e cauciona: --- A coincidência entre o Mesmo e o Outro e ---- ao mesmo tempo a sua inalienável separação. e sobretudo --- o sentimento de aventura e perigo que o outro encerra. Perigo que aparece apenas como aventura, desejo e epopeia sem regresso, portanto às avessas de todas as odisseias. Em Sales Lopes, no seu livro, prevalece um inequívoco sentido da errância, de uma diáspora sem fim. No livro nós encontramos todas estas referências de forma explícita: --- “Quero navegar o universo / talvez por dentro de mim / e que fique escrita em verso / a grande viagem sem fim”. --- “Somos o vinho da loucura. / O herói e o vencido, da grande aventura / que é estarmos em todo o lado diferentes / mas nós!” --- “Deambulo por estas ruas sem esquadria / Veias aonde o sangue roça as margens / Taufu, tendas, t’chá, gente que me apetece abraçar / Confundo-me / Tudo e todos vivem em mim e eu sou já um deles”. --- Somos dos que nunca mais regressámos / desde a longa caminhada das Índias / Perdidos, para sempre, no interior de nós / (…). Sublinho sem ambiguidades possíveis, este último verso “Perdidos, para sempre, no interior de nós”

Manuel Afonso Costa

O Outro é uma aventura sem fim. O outro está sempre aí, ganho e perdido, perdido mas procurado e ganho por que encontrado e logo por isso perdido. O Outro está e estará sempre dentro de mim. Então por que o procuro? Justamente porque é a mim que eu procuro. Procuro o Outro em mim, procuro-me a mim na diáspora essencial que me coloca diante do outro. Sempre em movimento, sempre em travessia. Não há paragem nem regresso. Mas se procuro o outro dentro de mim sei bem que não acabarei por encontrá-lo, mas nesta procura, nesta demanda corro risco de me perder eu próprio. Simplesmente à boa maneira levinasiana a alienação que aqui se esboça, o esboroamento da minha autarcia identitária é a grande chance no quadro justificativo do meu processo salvífico. O Outro é um desafio permanente e eterno para o desejo. E, volto a repetir, a expressão desse desejo é e será sempre eros, mas em boa verdade só o desejo de eros, mais do que eros propriamente, exprime toda a tensão ontológica da relação com o outro. O desejo de uma casa e o seu inevitável abandono, a procura de um abrigo e a urgência da demanda, da aventura e do perigo. E ocorre-me aqui um poema de Pessoa … (Mensagem, III Parte, O Encoberto, Os Símbolos, Quinto Império). Excelente jogo de oxímoros e que começa assim: “Triste de quem fica em casa / Contente com o seu lar”. D. Mas porque mais importante do que outro, é o desejo, como já disse, aproximo-me do fim com este notável poema, que o é enquanto poética mas também enquanto ideologia: “Imagino-te / Sobre lençóis de seda “ numa explosão de vida // Nua, nessa etérea cama de ópio / do teu sorriso // Já vejo os crisântemos / abrindo em explosão de desejo // E o véu transparente / a descobrir-te // Sinto a pura sede do teu corpo // (…) // Alguém te pega no braço / e com um sereno sorriso / olhas-me numa despedida / sem regresso // (…) // Tu ficas, vestal branca, dentro de mim” Todo o poema é sobre o desejo do Outro e a sua impossível realização. *No quadro da colaboração de Manuel Afonso Costa com a Biblioteca Pública de Macau-Instituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de Leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.


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José Drummond

Querida, embora dar umas beijocas debaixo da torre? P

ARIS é habitualmente considerada a cidade das luzes e a cidade do amor. No número de clichés que contribuem para essa definição incluem-se, entre outros, a viagem de barco no Sena ou simplesmente um passeio à beira rio, os campos Elísios, a atmosfera de Montmartre e de Montparnasse, a Notre Dame, uma ida a um espectáculo no Moulin Rouge, um jantar no Tour D’Argent, os inúmeros Museus, os cristais dos candeeiros de rua, o escrever os nomes dos enamorados num cadeado para colocar na Pont Des Arts e mandar a chave para o rio e, claro, uma beijoca debaixo da Torre Eiffel. Depois existe a língua francesa, na qual tudo o que for dito num determinado tom parece incitar à beleza e a tudo o resto que gostamos de associar com o amor. Mas o amor já não é como era. Os enamorados têm que escolher outras pontes, noutras cidades, pois a tradição, iniciada em 2008, fez com que um milhão de cadeados, com três toneladas de peso, fizesse ruir uma parte da Pont Des Arts em 2014 e, em virtude disso, as autoridades francesas removeram todos os cadeados dessa e de outras pontes. Como se não bastasse, no ano passado, Paris tornou-se também numa das cidades vítimas de atentados terroristas. Hoje em dia uma visita à Torre Eiffel implica ter que passar por medidas extremas de segurança e a tal beijoca poderá ter que ser dada a uma distância considerável. Das mais de 30 réplicas da Torre Eiffel que já existiam por esse mundo fora podiam-se contar na China com: a de Harbin, uma imitação não assumida de 336 metros que serve de torre de comunicações e que portanto não nos interessa para este devaneio; a de Hangzhou, no famoso empreendimento de luxo falhado e hoje cidade fantasma, nos subúrbios da cidade, com 108 metros; a de Shenzhen, também com 108 metros, no parque temático “Window of the Worlds que em dias de céu limpo pode ver-se a partir dos Novos Territórios de Hong Kong; e a

de Pequim, no parque temático “World Park”, que serviu de cenário para o filme “The World” de Jia Zhangke, e que foi construído em 1993 (depois do de Shenzhen). Ora a Torre Eiffel de Pequim existe no tamanho real do da torre original e esse facto faz realmente diferença pois praticamente tudo o resto no parque é uma réplica em miniatura. Jia Zhangke aproveita inclusivamente isso para o plano inicial do filme e para uma nota no discurso de um dos personagens. A nossa torre não é tão ambiciosa como a de Pequim na altura mas tem metade do tamanho da de Paris que tem 320 metros, ficando assim à frente, em tamanho, da de Shenzhen e da de

holandesas, uma praça portuguesa, uns canais de água venezianos interiores, uma pretensa Gotham, e nem sei mais o quê que fico tão entediado que quase adormeço quando começo a pensar nisso? E qual é a próxima réplica? O Taj Mahal? O Big Ben? Uns Guerreiros de Terracota? Uns túmulos da Dinastia Han? Ou umas Ruínas de São Paulo com o dobro do tamanho, que mudam de cor quando a caravana passa? E quantos espaços todos iguais deresorts, com carpetes semelhantes, mármores semelhantes, e nem sei mais o quê que já adormeci, precisa Macau? Quantas lojas mais da Dior, da LV... Ok. Ok. Ok!!! Estou a desconversar.

Hangzhou. Boa. Fixe. Infelizmente não tem um chapéu de cowboy, como a da cidade Paris no Texas, mas não interessa porque “Paris não é Paris sem a Torre Eiffel”, como disse o Cônsul Geral de França para Hong Kong e Macau a determinado momento. Mas quantas mais Torres Eiffel é que o mundo precisa? E quantas mais réplicas precisa Macau? Já não chega o Coliseu de Roma, a Grande (pequeníssima) Muralha da China, umas ruas

Diz-me o Facebook que o que as pessoas gostam mesmo é destas pirosadas portanto embora lá viver alegremente nesta cidade por entre dois mundos no qual se vai adensando um abismo imenso entre eles. Vamos fechar os olhos e partilhar o mundo da ilusão fatela, todo “nice” e brilhante, e fazer “gosto”. Sim, embora fazer isso, pois sendo uma cidade tão pequena tudo passou já a ser parte do parque temático e os residentes, quer queiram

quer não, são também uma atracção. O outro mundo onde realmente se vive, que tem pessoas ricas a insultar aqueles que acham serem inferiores a eles, não interessa. O mundo do tráfico humano não interessa. O da violência doméstica também não. O das injustiças e dos desequilíbrios, não interessa. Voltando ao que se esmiuçava no início. Paris e o Amor. Ah, o Amor. Essa palavra tão forte que faz até o mais duro dos corações palpitar. Pois é “Parisian loves locals”. É assim que se tenta seduzir os residentes oferecendo “Instant Rewards” e “Special Offers”. Quanto à inequívoca exploração do tema do amor dedicarei os meus pensamentos para outro texto. Quero mesmo ficar-me pela análise da frase na sua versão em chinês, na qual deparamos com uma manipulação publicitária mais eficaz que o “love locals”. Ora na versão em chinês, 巴黎 人愛我, lê-se literalmente “Paris pessoa 巴黎人 ama 愛 eu 我”, portanto “Parisian loves me”. É esta inversão de quem fala e de quem pensa que se opera como sedução psicológica. Em vez de assumir a oferta como se fosse o sujeito, dizendo 巴黎人愛你 “Parisian loves you” (Parisian ama-te), o alterar do sujeito de tu 你 para eu 我 imprime no cérebro a segurança desejada, como se estivéssemos a falar para nós próprios, como se nos assegurássemos a nós próprios que é bom, que vale a pena. É exactamente esse o truque psicológico. A definição para os locais também não é deixada ao acaso e acontece com o caracter amor 愛, em chinês tradicional e não no simplificado 爱, que seria a oferta mais óbvia para os turistas da China Continental . Agora o que falta dizer é que é feio tentar comprar o amor e que ninguém nos pode obrigar a amar de volta. Mas isso não interessa e não importa se a Torre Eiffel é um dos monumentos com mais réplicas no mundo. O mais importante é que agora podemos passar uma noite completamente romântica a dar umas beijocas debaixo da nossa própria Torre Eiffel.


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TEMPO

?

AGUACEIROS

O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente

MIN

25

MAX

30

HUM

75-95%

EURO

8.97

BAHT

EXPOSIÇÃO “THE RENAISSANCE OF PEN AND INK CALLIGRAPHY AND LETTERING ART DE AQUINO DA SILVA Armazém do Boi (até 18/09) EXPOSIÇÃO “ROSTOS DE UMA CIDADE – DUAS GERAÇÕES/ QUATRO ARTISTAS” Museu de Arte de Macau (até 23/10) EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12)

O CARTOON STEPH

EXPOSIÇÃO “O PINTOR VIAJANTE NA COSTA SUL DA CHINA” DE AUGUSTE BORGET Museu de Arte de Macau (até 9/10) EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11) EXPOSIÇÃO “PREGAS E DOBRAS 3” DE NOËL DOLLA Galeria Tap Seac (até 09/10)

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 80

PROBLEMA 81

UM FILME HOJE

SULLY SALA 1

S STORM [C]

FALADO EM CANTONENSE LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: David Lam Com: Louis Koo, Julian Cheung, Vic Chou, Ada Choi 14.15, 16.00, 17.45, 21.45

TRAIN TO BUSAN [C]

FALADO EM COREANO LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Yeon Sang-ho Com: Gong Yoo, Ma Domng-Seok, Choi Woo-sik 19.30 SALA 2

SULLY [B]

Filme de: Clint Eastwood, Aaron Eckhart Com: Tom Hanks 14.15, 16.00, 17.45, 21.30

AT CAFE 6 [B]

SUDOKU

DE

C I N E M A

YUAN

1.19

VALORES MAIS BAIXOS

EXPOSIÇÃO COLECTIVA DE ARTISTAS DE MACAU IACM (até 30/10)

Cineteatro

0.22 AQUI HÁ GATO

EXPOSIÇÃO DE PINTURA “INSPIRAÇÃO INOVADORA”, DE MAK KUONG WENG Jardim Lou Lim Iok (até 16/10)

ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017)

(F)UTILIDADES

Ser gato de redacção não é fácil. Tenho mimos, e até tenho tudo, mas também tenho os humores da malta que por cá trabalha e que variam de dia para dia ou de agenda para agenda, mais ou menos frustrada. Ainda esta semana apercebi-me de que houve uma reunião de uma tal coisa de renovação urbana. Acho muito bem, até porque esta Macauzinha bem que precisa de um plano de reconstrução das zonas antigas e da sua preservação. Não há locais sem história, e se os há são amorfos, o que eu não gostava que acontecesse por cá. Mas pois bem, parece que - sem aviso prévio - era uma reunião à porta fechada. Logo por aí, não pelo secretismo mas pelo desrespeito por aqueles que disso queriam fazer notícia, a coisa não correu bem. Três horas de espera depois, a esperança, que dizem é a última a morrer, padeceu de facto. Finda a reunião vamos a conclusões: Nenhuma! Continuamos nos estudos e mais estudos e mais grupos para isso, enquanto umas paredes vão caindo e outras vão sendo demolidas. Paralelamente são os casinos os reis do futuro sem lugar nem origem, se calhar porque quem os faz não tem tempo a perder, porque os estudos até podem ser tão rápidos quanto as necessidades que verdadeiramente os motivam e porque a “vontade” se impõe mesmo que seja uma vontade comandada a números. Pu Yi

“RELATOS SELVAGENS” (DAMIÁN SZIFRON, 2014)

“Relatos Selvagens” é um filme do realizador argentino Damián Szifron, realizado em 2014 e que em 2015 ganhou o Óscar de Melhor Filme estrangeiro. E percebe-se porquê! São seis histórias ao longo de duas horas de filme. Umas mais intensas que outras, mas têm sempre uma moral. E mais do que isso, são histórias do dia-a-dia que podem levar um pacato cidadão ao extremo. “Relatos Selvagens” tem a música certa no momento certo e pode até tornar-se desconcertante. Para fechar com chave de ouro, a última história é arrebatadora. “Até que a morte nos separe.” Não pode deixar de ver, ou até de rever. Hoje Macau

FALADO EM MANDARIM LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Neal Wu Com: Zijian Dong, Cherry Ngan, Lin Bohong, Ouyang Nini 19.30 SALA 3

NINE LIVES [A]

Filme de: Barry Sonnenfeld Com: Kevin Spacey, Jennifer Garner, Christopher Walken 14.15, 18.00, 19.45, 21.30

TRAIN TO BUSAN [C]

FALADO EM COREANO LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Yeon Sang-ho Com: Gong Yoo, Ma Domng-Seok, Choi Woo-sik 15.50

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18 OPINIÃO

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CRISTINA SEMBLANO in Esquerda.net

Q

UEREMOS presumir da bondade do governo no que respeita ao compromisso de uma nova orientação estratégica da banca pública, da mesma forma que queremos presumir da bondade dos novos administradores para a aplicar. A inflexão estratégica deve resultar da definição clara da missão de serviço público cometida à empresa a qual se reflectirá obrigatoriamente no modelo de organização, com a necessária segregação de funções e tarefas, o lugar devoluto ao controlo, o processo de nomeações e o perfil dos nomeados, etc. Ora, se ainda não nos foi dada a conhecer a missão de serviço público que será cometida à CGD, o mesmo não sucede com pontos fulcrais da sua “nova” organização e, neste sentido, por mais voltas que demos, deparamo-nos com o inexplicável, a saber: o modelo proposto ao BCE e que foi, em parte, “chumbado” por este é o da banca pública de uma república bananeira, não a de um país minimamente “sério” e, a fortiori, democrático. Quiseram as circunstâncias que fosse o órgão sem qualquer legitimidade democrática que é o BCE, a pronunciar-se sobre aspetos que os princípios da ética e da boa governação a par da regulamentação na matéria exigem, e que o Governo teimou em calcar não obstante as chamadas de atenção vindas repetidas vezes a público. Louvamos o Governo por ter conseguido negociar com Bruxelas a não-assimilação da capitalização da banca pública a uma ajuda de Estado, mas não podemos senão reprová-lo no modelo de organização que queria e/ou quer implementar: desde o aumento do número de administradores numa empresa que se pretende amputar de milhares de postos de trabalho, aos conflitos de interesses decorrentes da presença na administração de representantes de grupos privados em relação de negócios com a CGD e aos subjacentes ao modelo de controlado-controlador, passando pela política de género reveladora de um machismo de Estado inaceitável. Ver o opaco BCE a “preocupar-se” mais com transparência do que o governo português e com as incompatibilidades das nomeações que este pretendia fazer à cabeça da empresa pública com a própria lei do País de que ele deveria ser o fiel guardião, eis que pode parecer a priori risível, como risível pode parecer a ponta de feminismo a mais – ou de machismo a menos – deste órgão supranacional em relação a um governo nacional de que se poderia legitimamente esperar que fizesse da luta pela igualdade de género, na condução das empresas – e a fortiori das empresas que tutela – um dos seus cavalos de batalha.

CHRISTOPHER NOLAN, INCEPTION

Banca pública, interesses privados?

“Se uma batalha foi ganha (a da capitalização pública) falta ganhar a guerra: a de uma banca pública ao serviço do interesse colectivo” Aqui param todavia as nossas referências ao BCE, cujo objectivo não era, de forma alguma, o de louvar o banco central – desprovido, repetimo-lo de qualquer legitimidade e intentos democráticos – mas tão-somente o de pôr em evidência, por contraste, o nível a que desceu o governo português nesta matéria. Isto, porque de fora das críticas do BCE e até, com a sua bênção, ficaram aspectos não menos preocupantes que importa realçar. O primeiro tem a ver com o fim dos tetos salariais dos gestores públicos, que levaram à alteração do estatuto de gestor público. O mínimo que se poderia esperar do governo era que fosse bater a outra porta, quando o então vice-presidente do BPI exigiu como contrapartida para assumir as rédeas da banca pública que se eliminassem os tetos salariais a aplicar a si e aos seus pares. Em vez disso, o governo acatou e legiferou para que a sua vontade fosse cumprida. A preocupação do gestor de uma empresa pública e a fortiori de um banco público – e do governo que o nomeia - é a res publica, é a capacidade de “sentir” a missão de serviço público e de agir no sentido de a corporizar. Ser gestor público deve corresponder a uma vocação, não ao exercício de funções permutáveis com o privado. O que o governo deveria fazer era limitar as remunerações dos dirigentes do setor privado, não fazer implodir os tetos salariais do sector público, cavando ainda mais a obscena e intolerável discrepância das remunerações no seio das empresas do nosso País. O segundo aspecto preocupante que deve interpelar-nos são os interesses não representados no Conselho de Administração da Empresa Pública. O mesmo governo que diz querer redefinir a missão da banca pública por forma a que esta se possa colocar ao

serviço da economia, é o mesmo que aceitou ver representados no Conselho de Administração os grandes grupos económicos nacionais e estrangeiros, de forma quase exclusiva. Quid da representação das pequenas e médias empresas portuguesas que correspondem a 97% do tecido empresarial do nosso País como o lembrou há pouco e, a este respeito, o economista Eugénio Rosa? Ou estará o governo à espera que os seus interesses sejam corporizados e assumidos pelos representantes dos grandes grupos económicos? Quid da representação dos interesses dos consumidores que seria mais do que legítima na banca pública? Quid da representação dos trabalhadores deste país? Se, porventura, alguns dos sectores da sociedade civil supramencionados não tiverem experiência bancária que se tranquilizem os espíritos. Que se lembrem dos casos BPN, BPP, BCP, BES, BANIF e, sobretudo que tenham sempre presente que a questão da banca pública é uma questão eminentemente política, antes de ser económica ou técnico-bancária. O terceiro aspecto preocupante que persiste, é o do modelo do controlado-controlador alegremente “validado” pelo BCE a título “provisório” e sujeito a apreciação daqui a seis meses. Mas acaso cabe na cabeça de alguém exigir que os seus actos de gestão (ou do órgão que tutela) sejam controlados por quem está sob a sua alçada e que o accionista possa abdicar das suas prerrogativas de escolher os controladores, deixando-as aos controlados? Não, não se trata de pôr em causa a ética de ninguém, trata-se sim de exigir que sejam respeitadas, na banca pública, as regras elementares da boa governação. Neste aspecto, o governo vai de contradição em contradição. Depois de

ter começado por explicar que o aumento do número de administradores não executivos (que, finalmente, não se viria a concretizar) se devia à necessidade de dar a estes o tempo suficiente para controlar os actos de gestão dos executivos, o governo veio-nos dizer que não havia qualquer problema na acumulação num só indivíduo das funções de condução da gestão e do controlo da mesma, devido ao facto de haver um único accionista! Ora, é precisamente devido ao facto de haver um único accionista – e de esse accionista ser o Estado – que as funções de controlo, normais em qualquer empresa e a fortiori em empresas sistémicas como é o caso da banca, devem assumir a maior relevância. O modelo do controlado-controlador é motivo de uma apreensão tanto maior quanto a proveniência dos controlados e controladores é praticamente a mesma: o banco privado BPI. Com efeito, para além de tal homogeneidade ser nefasta do ponto de vista da gestão de uma empresa que deve implicar diversidade criadora, e garantir a continuidade da gestão, ela é potencialmente favorecedora de conluios, não acautelando o interesse público. Repito, não se trata de pôr em causa a ética de ninguém, mas sim de afirmar que a condução de qualquer empresa (e a fortiori de um banco público) deve apoiar-se num modelo organizacional exemplar promovendo uma exigente segregação de funções e tarefas e a distinção clara entre órgãos de gestão e de controlo. Se a banca é um assunto demasiado sério para ser deixado aos banqueiros, esta afirmação reveste ainda maior acuidade tratando-se da banca pública. Eis porque consideramos que todos os cidadãos e forças que defendem a existência de uma banca pública não se podem comprazer na vitória alcançada pelo governo na manutenção da CGD na esfera pública. Adormecer sobre esta vitória, é esquecer os interesses primordiais não representados na banca pública e aceitar um modelo de governação não acautelador do interesse colectivo; é esquecer que a banca pública pode continuar, como no passado, a constituir um instrumento de transferência de valor da esfera pública para os grandes grupos económicos de que seria exemplo, a compra pela CGD da filial do BPI em Angola, cuja eventualidade já foi evocada; é esquecer enfim, que, quando nos congratulamos com a Caixa que se mantém pública, não é da mesma Caixa que falamos: em cima da mesa, estão de novo supressões de centenas de balcões e de milhares de postos de trabalho e a alienação total ou parcial de delegações em países onde residem os nossos emigrantes. E, no meio disto tudo, continuamos a deparar-nos com a ausência gritante da definição da missão da banca pública e do debate que lhe deve estar subjacente, tratando-se de um banco que é de nós todos. Se uma batalha foi ganha (a da capitalização pública) falta ganhar a guerra: a de uma banca pública ao serviço do interesse colectivo.


19 hoje macau quinta-feira 15.9.2016

OPINIÃO

bairro do oriente LEOCARDO

UITOS se recordarão certamente do despedimento de Eric Sautedé, o professor de Ciência Política da Universidade de S. José que foi saneado por aquela instituição de ensino superior por “emitir opiniões de natureza política”. Esta foi mesmo uma das manchetes de um periódico em Portugal: “Professor de Ciência Política afastado por emitir opiniões de natureza política”. Um paradoxo que teria a sua piada caso não fosse trágico para a imagem da instituição que tomou esta decisão e para a própria imagem do território. Por mais que a memória seja curta, por mais ombros que se encolham e por mais que se olhe para o lado, há dois anos foi posta a xeque uma das garantias contempladas pelo segundo sistema que vigora na RAEM: a liberdade de expressão. No mesmo ano tivemos o caso de Bill Chou, outro professor da mesma área que viu a sua relação laboral com a Universidade de Macau terminada, naquele que foi o “annus horribilis” para o primeiro executivo liderado por Chui Sai On, e que culminaria com a realização do infame “Referendo Civil”, e logo por altura da sua eleição para um segundo mandato como primeira figura política da RAEM. Não terá sido por acaso que a tão aguardada remodelação do elenco governativo efectuada em Novembro seguinte incluíu mudanças na pasta responsável pela educação.

Aquele que anda com os sábios, será cada vez mais sábio, mas o companheiro dos tolos acabará mal. Provérbios 13:20

Conheci Eric Sautedé na sequência dessa sucessão de eventos, mais por iniciativa dele, que terá ficado com curiosidade em saber quem eu era, uma vez que dei um grande plano ao incidente no meu blogue. Fiquei a conhecê-lo a ele e à sua encantadora esposa Emilie, também ela docente na mesma Universidade, e a este ponto gostava de reafirmar que conhecia ambos da televisão e da imprensa escrita, onde eram frequentemente auscultados em relação a temas relacionados com a actualidade política do território, mas desconhecia o facto de serem casados um com o outro. Um casal de gente culta, educada, diria mesmo humilde, atendendo quer ao “background” de ambos, quer

LUCHINO VISCONTI, L’ÉTRANGER

M

Não se esqueçam da hospitalidade; foi praticando-a que, sem o saber, alguns acolheram anjos. Hebreus 13:2

L’Étranger

à bagagem cultural que revelavam, em suma, nada que me desse a entender que se tratava aqui de uma dupla de agitadores, fraccionistas ou como ainda alguém sugeriu, “espiões ao serviço da França” – é preciso ter bastante imaginação. Mesmo os comentários que alegadamente estiveram na base do afastamento do docente são completamente inócuos, e longe estaria Sautedé de imaginar que algo de tão fútil lhe poderia vir a trazer tamanhos dissabores. Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo - a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens - não provém do Pai, mas do mundo. 1João 2:15,16

Não bastou à USJ afastar Eric Sautedé, pois também a sua esposa Emily perdeu o cargo de deado da faculdade de ciência política, cargo esse para o qual trabalhou bastante, e que de um dia para o outro viu fugir-lhe das mãos, numa decisão que só pode mesmo ser entendida como intimidatória. A face de todo este agravo foi o director da Universidade, que é também um sacerdote católico assaz

“Será Macau isso mesmo, um “mal” para quem ousa revelar um espírito crítico?” conhecido da nossa comunidade, e para quem a vida não ficou nada fácil depois disso. Muito se conjecturou sobre as razões de um acto que nos remete a um período da História da própria Igreja de que esta pouco se orgulha – ou não se deveria orgulhar de todo. Falou-se do interesse maior da USJ, nomeadamente na eventual concessão de um terreno para o novo campus, o que depois de muita hesitação acabou mesmo por acontecer. O custo material dessa empreitada, que desconheço, pode ser quantificado, mas o mesmo não se pode dizer do seu custo imaterial, quer moral, quer espiritual. Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’”. Mateus 4:4

Sautedé deixou-nos no mês passado, indo com a família leccionar aqui ao lado em Hong Kong. Depois de verem fechar-lhe as portas no território, parte para onde muito provavelmente será mais um dos “delitosos de opinião”, muitos dos quais vêem a sua entrada barrada neste lado devido às suas posições e ideologia políticas. Não se pode dizer portanto que a RAE vizinha ficou a ganhar, mas a nossa certamente que nada beneficiou com tudo isto, e mesmo o próprio Eric Sautedé aceitou o seu destino com uma candura que provavelmente muitos de nós não teria; investiu em habitação própria neste território para onde veio quando o seu filho mais velho tinha um ano, e onde nasceu o seu segundo, e ambos vão agora precisar de fazer novos amigos, como quem começa tudo de novo, e como se viesse a fugir de uma guerra, ou de um grande mal. Será Macau isso mesmo, um “mal” para quem ousa revelar um espírito crítico? E mais importante que isso, é assim que queremos atrair os quadros qualificados que tanta falta nos fazem em tantos quadrantes? Perguntas que ficam no ar, e que acabam por adquirir um mero estatuto de retórica.


O

grupo químico e farmacêutico alemão Bayer anunciou ontem o acordo para comprar a empresa norte-americana Monsanto, num negócio que envolve cerca de 60 mil milhões de euros. “A Bayer e a Monsanto assinaram esta quarta-feira um acordo de fusão”, ao preço de 128 dólares (114 euros) por acção, em dinheiro, anunciou a Bayer em comunicado. “A transacção associa duas actividades diferentes, mas fortemente

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Chega-me, na brisa fresca, a algazarra das crianças. / A lorcha que vem da pesca / nem acorda as águas mansas. / Sonham os montes distantes, / sob um firmamento que arde”

quinta-feira 15.9.2016

Benjamim Videira Pires

Tem química

Bayer compra Monsanto por 60 mil milhões de euros

complementares”, relacionadas com a área agrícola, sementes e pesticidas, acrescenta o comunicado. A empresa norte-americana Monsanto tinha rejeitado, no passado mês de Maio, a oferta apresentada pelo grupo alemão Bayer para a adquirir por 55,2 mil milhões de

euros (62 mil milhões de dólares), mas mostrou-se disponível para negociações. “Acreditamos nas vantagens substanciais de uma estratégia integrada (...) e sempre respeitámos a actividade da Bayer”, afirmou na altura o presidente da Monsanto, Hugh Grant, acrescentando que a empresa estava a ser subavaliada na proposta apresentada e que também não oferecia garantias necessárias para o financiamento da operação. Desconhecem-se os desenvolvimentos das negociações, mas o certo é que a compra foi ontem anunciada, sendo também avançado o valor de aquisição, cerca de 60 mil milhões de euros, superior em quase 5 mil milhões de euros em relação à oferta anterior. O objectivo da Bayer é criar um gigante mundial de produtos químicos e sementes geneticamente modificadas. A Monsanto tem sido alvo de várias acções de contestação, especialmente contra os organismos geneticamente modificados, pesticidas e outros produtos químicos, que a empresa produz.

MERKEL DEFENDE LIBERDADE RELIGIOSA

A chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu ontem o pleno direito à liberdade religiosa, incluindo o uso da burca, destacando, porém, a necessidade de restringi-lo em certos âmbitos da vida pública, onde o rosto descoberto é necessário, como perante a justiça. A liberdade religiosa implica “poder fazer-se expressão pública da mesma”, afirmou Merkel na Conferência Interparlamentar sobre Liberdade Religiosa, a decorrer hoje em Berlim e realizada pela União Cristão-Democrata (CDU), o partido a que preside, e o partido irmão, União Social-Cristã da Baviera (CSU). A líder alemã admitiu que o uso do véu integral é “um grande obstáculo” à integração na sociedade alemã e legitimou, por outro lado, as restrições que a CDU/CSU quer impor ao seu uso nos espaços públicos.

FUNDAÇÃO TRUMP SOB INVESTIGAÇÃO

O procurador-geral do estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos, o democrata Eric Schneiderman, anunciou ontem que abriu uma investigação à Fundação Donald J. Trump por causa de algumas das suas transacções. «Preocupa-nos que a Fundação Trump tenha incorrido em alguma prática irregular», disse Schneiderman em entrevista à televisão CNN, afirmando agir «na qualidade de regulador das organizações com fins não-lucrativos do estado de Nova Iorque». O procurador acrescentou que o objectivo da investigação é «garantir que ([a fundação] está a cumprir as leis que regem as organizações de beneficência em Nova Iorque».


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