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SEXTA-FEIRA 16 DE OUTUBRO DE 2020 • ANO XX • Nº4632
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RÓMULO SANTOS
DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
GOVERNO
AS FARPAS DE AGNES
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RÓMULO SANTOS
PÁGINA 5
CASO IPIM
OPINIÃO
RECURSO A CAMINHO
A QUARTA VAGA
PÁGINA 7
PAUL CHAN WAI CHI
hojemacau ANOS
Aos seus lugares O plenário volta hoje ao activo, naquele que será o último ano desta legislatura. Com eleições previstas para o fim do ano que vem, espera-se um período “quente” na Assembleia Legislativa com temas como os problemas económicos, regras do jogo e a lei sindical a marcarem a agenda dos deputados ansiosos por satisfazerem os eleitores. Mas também há quem anteveja um ano relativamente calmo face aos apelos de união e estabilidade vindos do Governo Central e do Chefe do Executivo.
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GRANDE PLANO
O REI I XUNZI
DESMANTELAR ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO
O COMENTADOR VALÉRIO ROMÃO
MULHERES DE ITÁLIA GONÇALO M. TAVARES
2 grande plano
REINO DA ESTABILIDADE
Se, por um lado, o ambiente parece propício a desafios e a alguma instabilidade social, por outro, José Sales Marques, ex-presidente do Leal Senado entre 1993 e 2001, acredita que a prioridade, mesmo no hemiciclo, vai passar por uma política de estabilidade, motivada pelos apelos do Governo Central.
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EPOCA DE CACA ´ O último ano da Legislatura arranca num ambiente económico cheio de desafios, que pode acentuar as críticas ao Executivo. É também numa altura em que os deputados estão mais focados nas eleições, que diplomas como a Lei Sindical e as novas regras do jogo podem mesmo chegar ao hemiciclo. Porém, entre os especialistas ouvidos pelo Hoje Macau há quem acredite que a estabilidade vai ser o valor mais respeitado
“Entre as forças tradicionais como os Operários e os Moradores vão surgir críticas mais fortes, porque há o medo de perder eleitores. Estas forças sabem que também precisam de mostrar as garras.” JORGE FÃO EX-DEPUTADO
“Apesar de ser o último ano antes das eleições, não se esperam grandes novidades, porque o discurso político neste último ano tem sido no sentido de fortalecer a unidade na RAEM nos diversos sectores”, apontou Sales Marques, ao HM. “Estamos a viver esta situação e por isso tem havido apelos do Governo Central e do Chefe do Executivo à estabilidade e união [...] isto faz com que não acredite que as forças políticas criem qualquer problema à Administração”, sustentou. Para José Sales Marques, a nova prioridade na RAEM ficou bem demonstrada com os últimos desenvolvimento do caso Pearl Horizon, em que a empresa Polytex desistiu da indemnização contra o Governo no valor de 25 mil milhões de patacas. Ao mesmo tempo, a associação
RÓMULO SANTOS
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DEPUTADOS REGRESSAM DE FÉRIAS COM OLHOS POSTOS NA ECONOMIA E NAS ELEIÇÕES
SOFIA MARGARIDA MOTA
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OM a sessão do Plenário da Assembleia Legislativa (AL) marcada para esta tarde arranca o último ano da Legislatura. No próximo ano, lá para Setembro, deverá voltar a haver eleições para o hemiciclo. Por isso, é num contexto de pandemia, cortes orçamentais, diminuição de turistas, casinos vazios, e de redução dos orçamentos das famílias que os deputados eleitos pela via directa e indirecta vão ter a última oportunidade para mostrar que merecem a confiança dos votantes. Às condições governativas mais complicadas dos últimos anos, podem somar-se ainda outros temas complexos, como a definição de prioridades nos cortes orçamentais, a criação de uma Lei Sindical, que o Executivo já mostrou vontade de legislar, e ainda a futura lei para a atribuição das concessões do jogo, o motor da economia da RAEM. Face a este contexto, Jorge Fão, ex-deputado e líder associativo, considera que o Executivo vai ser alvo das críticas mais duras de todo o mandato dos actuais deputados eleitos pela via directa. “Como é o último ano de mandato dos deputados é natural que o Executivo seja atacado fortemente e bombardeado de vários lados. Claro que o Governo está bem protegido porque fez um bom trabalho na resposta à pandemia, mas é o último ano e as críticas são normais”, começou por dizer Jorge Fão, sobre as expectativas para os próximos tempos. “Mesmo entre as forças tradicionais como os Operários e os Moradores vão surgir críticas mais fortes, porque há o medo de perder eleitores. Estas forças sabem que também precisam de mostrar as garras e os dentes e isso acontece mais frequentemente no último ano do mandato”, acrescentou.
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que representava os lesados do edifício que nunca foi construído foi dissolvida, com o presidente a justificar a decisão com a necessidade de estabilidade social.
Neste contexto, o economista considera que vai ser um ano legislativo “com menos espaço para jogos políticos” e com “a segurança nacional e o amor pela Pátria e por Macau”
como as grandes bandeiras, de forma a promover a união.
DISTRIBUIÇÃO DE APOIOS
Mesmo num clima de apelo à estabilidade, há um desa-
grande plano 3
AO VOTO
talvez com alguns ajustes”, começou por explicar. “Mas, nos cortes há potencial para surgir um grande desafio, que é o facto de a Fundação Macau ter anunciado que vai restringir a distribuição de subsídios às associações”, reconheceu. É a distribuição de apoios e cortes do orçamento que, numa visão diferente de Sales Marques, leva Eilo Yu, professor na área da Governação e Administração Pública, a considerar que vai haver muito espaço para movimentações políticas entre os deputados. “Vai ser um ano com muito espaço para debates entre deputados, devido à escolha da política orçamental. Um dos temas que tem estado a ser discutido na sociedade é a necessidade de fazer cortes, e o assunto vai ser levado para a Assembleia Legislativa, não só porque é preciso definir prioridades, mas também porque é a primeira plataforma para os deputados convencerem os eleitores”, opinou o académico. “Nos últimos anos houve sempre recursos e o consenso era apostar na saúde pública. Só que este ano as coisas mudaram. Os recursos não vão chegar para satisfazer todas as pessoas e os deputados vão reflectir mais as ideologias e os interesses dos seus eleitores”, sublinhou. Para o académico, outro assunto que pode gerar um debate intenso é a escolha do ritmo de levantamento das restrições de controlo da pandemia. “Por um lado, temos pessoas que consideram que a prioridade tem de ser a saúde pública, por outro, vemos que há sectores muito preocupados com o impacto para o turismo. Não são grandes questões, mas são escolhas que geram conflitos, porque atingem interesses diferentes”, complementou.
GONÇALO LOBO PINHEIRO
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José Sales Marques considera que vai ser um ano legislativo “com menos espaço para jogos políticos” e com “a segurança nacional e o amor pela Pátria e por Macau” como as grandes bandeiras actuais terminam em 2022, mas podem ser prolongadas. Segundo Fão, o facto de o debate sobre as concessões do jogo estar próximo tem uma grande vantagem para o Governo, que passa por evitar que haja uma vaga de despedimentos e uma consequente onda de publicidade negativa, que facilmente pode chegar ao hemiciclo. Por sua vez, Eilo Yu não afasta a hipótese de o Governo ouvir os deputados sobre as concessões actuais, mas optar por prolongar as concessões existentes. A extensão de cada licença das operadoras de jogo por um período máximo de cinco
LICENÇAS DE JOGO
fio no horizonte que Sales Marques sinaliza, nomeadamente a redução dos apoios distribuídos às associações locais pela Fundação Macau. Este instituto, financia-
do pela RAEM, anunciou que para o próximo ano vai haver um limite no número de projectos financiados. “Vai haver cortes por parte do Governo, mas não
acredito que afectem os apoios sociais e os apoios à população, até porque o Chefe do Executivo já deu a entender que vai manter os cheques pecuniários,
Em termos de debates incontornáveis para a Assembleia Legislativa, o mais mediático deverá envolver a lei que vai regular a atribuição das novas concessões do jogo. Na última vez que falou sobre o assunto, Lei Wai Nong, secretário para a Economia e Finanças, afirmou que o diploma ia entrar na AL no próximo ano, mas não especificou se antes de 15 de Agosto, quando termina a sessão legislativa. As concessões
“Os recursos não vão chegar para satisfazer todas as pessoas e os deputados vão reflectir mais as ideologias e os interesses dos seus eleitores.” EILO YU PROFESSOR DA UM
anos é uma decisão que não necessita da aprovação dos deputados, como já aconteceu no caso da Sociedade de Jogos de Macau e MGM. “As pessoas têm discutido o futuro da indústria do jogo, mas há dois motivos fortes para adiar a tomada de decisões neste contexto. No Interior está a haver uma grande discussão sobre a fuga de capitais, que naturalmente também passa por Macau. E aqui as expectativas face às exigências que podem ser impostas às concessionárias desceram muito, porque elas estão a aguentar a mão-de-obra numa fase complicada”, observou. “Não seria descabido que surgisse um consenso para adiar a discussão para outra altura”, opinou. Se o debate avançar mesmo este ano, Eilo Yu não tem dúvidas que será muito participado e com visões antagónicas, entre deputados que defendem os interesses do patronato e outros alinhados com os trabalhadores do jogo.
LEI SINDICAL
Também no início do ano, Lei Wai Nong assumiu o compromisso de lançar uma consulta pública sobre a lei sindical. Face aos últimos desenvolvimentos económicos, a discussão pode sofrer atrasos. Para Jorge Fão, o Executivo vai adiar a proposta de lei, o que pode valer-lhe críticas: “Esta é uma proposta que é falada há muito tempo. Mas se o Governo não teve coragem para avançar com a lei quando a economia estava saudável, não é agora que vai enfrentar as queixas do patronato”, indicou. No entanto, o deputado José Pereira Coutinho já anunciou que vai propor uma Lei Sindical e que o diploma será discutido em Plenário. E este é um debate onde se decidem votos, considera Eilo Yu. “Nesta altura ainda se discute se é melhor ser o Governo a avançar ou os deputados. Mas, independentemente dessa vertente, vai ser uma lei com um grande impacto, não só para os trabalhadores, mas também para o patronato”, indicou. “Por isso, os deputados vão querer deixar clara a sua posição e os seus apoios face aos eleitores”, concluiu. João Santos Filipe
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4 política
16.10.2020 sexta-feira
PJ MACAU EXERCE “FORTE DEFESA DA SEGURANÇA DO ESTADO”, APESAR DOS PERIGOS
Jogar com três centrais frequentes”, uma suposta campanha torna maiores “os riscos relativos à segurança nacional”, declara o gabinete de Wong Sio Chak sem especificar.
GCS
O gabinete de Wong Sio Chak está confiante no trabalho feito para garantir “a forte defesa da segurança do Estado”, nomeadamente através da aprovação de leis que conferem competências à Polícia Judiciária. No entanto, alerta para o perigo das ameaças externas, “cada vez mais intensas”, e para o aumento dos riscos relativos à segurança nacional
ESTADO POLICIAL
Outro dos destaques do gabinete do secretário neste âmbito é a competência exclusiva da PJ para investigar crimes que põem em risco a segurança nacional, assim como o estabelecimento de unidades exclusivas para as investigações de crimes contra a segurança do Estado.
O gabinete de Wong Sio Chak salienta o efeito “estabilizador”, com “forte poder dissuasor” que a lei relativa à defesa da segurança do Estado desempenhou ao longo de 11 anos
O
gabinete do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, publicou ontem uma mensagem a resumir os feitos legislativos conseguidos nos últimos tempos para defender a segurança nacional de crescentes perigos externos. Um dia depois de ter participado na celebração dos 40 anos da zona económica especial, onde esteve Xi Jinping, Wong Sio Chak declara que “o Governo da RAEM e as autoridades de segurança têm gerido os dispositivos policiais de forma eficiente, e tem-se efectivado uma forte defesa da segurança do Estado”.
O secretário para a Segurança elenca as alterações aos regulamentos da organização, funcionamento, selecção e formação de pessoal e as leis das carreiras especiais da Polícia Judiciária como trunfos importantes para a salvaguarda da segurança nacional. Além disso, é
Infiltrações Ella Lei quer penas para quem não coopere ainda que, apesar de o Governo já ter efectuado alterações para agilizar os processos de resolução de
RÓMULO SANTOS
Ella Lei pretende que sejam feitas alterações a nível legislativo, de forma a que possam ser aplicadas coimas aos proprietários de edifícios suspeitos de ter problemas de infiltração que não aceitem cooperar com o Centro de Interserviços para Tratamento de Infiltrações de Água nos Edifícios, do Instituto de Habitação (IH). De acordo com o jornal Ou Mun, a deputada afirmou
problemas de infiltração de água nos edifícios, têm sido poucas as vítimas a demonstrar interesse em enveredar pelo processo, pois as probabilidades de resolver a questão são muito baixas. Além disso, segundo Ella Lei, vários residentes queixaram-se da morosidade do processo de verificação da existência de problemas de infiltração, facto que contribui para agravar a situação.
salientado no comunicado o papel “estabilizador”, com “forte poder dissuasor” que a lei relativa à defesa da segurança do Estado desempenhou ao longo de 11 anos. No entanto, o gabinete do secretário destaca que não vivemos tempos para baixar a guarda e que é
necessário apetrechar as autoridades com poderes e equipamentos para “aplicar uma defesa total e meticulosa”. Dessa forma, Macau pode fazer “face às tentativas e acções das forças externas que se destinam a impedir o desenvolvimento do nosso País e que se mostram cada vez mais intensas e
Também o combate aos crimes cibernéticos é mencionado pela mensagem de Wong Sio Chak, um tipo de criminalidade que “tem aumentado” com cada vez mais crimes convencionais a serem praticados através da internet. Em jeito de conclusão, o gabinete do secretário afirma que através da revisão de uma série de leis relacionadas com a PJ, com a coordenação da Comissão de Defesa da Segurança do Estado, Macau está apetrechado para garantir “a segurança do Estado e a estabilidade duradoura da RAEM em prol do bem-estar da população”. João Luz
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COOPERAÇÃO CHUI SAI PENG PREVÊ DESENVOLVIMENTO CONJUNTO DAS REGIÕES DE MACAU E SHENZHEN
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deputado José Chui Sai Peng defendeu, segundo o jornal Ou Mun, que o plano de reformas para Shenzhen apresentado pelo Conselho de Estado chinês constitui uma oportunidade de desenvolvimento conjunto com Macau. O deputado lembrou que o êxito da região de Shen-
zhen passa pela aposta nas áreas da inovação em ciência e tecnologia, o estabelecimento de um regime de importação de talentos e o impulsionar do mercado financeiro para a área digital e ecológica, factores que também são importantes para o desenvolvimento de Macau. Chui Sai Peng
explicou que Macau também precisa de melhorar nestas áreas. O deputado, que preside ao Centro de Incubação de Negócios para os Jovens de Macau, prevê que as duas regiões possam cooperar mais frequentemente nos próximos anos, sobretudo nas áreas do
empreendedorismo e das finanças. O plano piloto de reformas para cidade de Shenzhen, apresentado esta semana pelo Presidente Xi Jinping, tem como objectivo aumentar a autonomia e transformar a cidade numa metrópole inovadora, internacional e moderna em 2025.
política 5
sexta-feira 16.10.2020
Na casa do Chefe
FRONTEIRAS AGNES LAM CRITICA DUALIDADE DE CRITÉRIOS DO GOVERNO
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Agnes Lam indicou ontem que a adopção de critérios duplos pode levar à perda de confiança no Governo e colocar em causa as medidas implementadas. Por outro lado, a deputada não avança se gostaria de se recandidatar
Falta de confiança
Sede do Governo abre ao público a partir de amanhã, permitindo que ao longo do fim-de semana, além de visitas ao Palácio Protocolar e jardins do edifício, os visitantes possam desfrutar de exposições fotográficas, de flores e ainda de espectáculos musicais e de dança. Como acontece uma vez por ano, a visita à Sede do Governo permitirá circular por divisões habitualmente vedadas ao acesso do público, como a Sala Polivalente, a sala Flor de Lótus, onde é costume o Chefe do Executivo receber as visitas e também as salas Verde, Amarela e Azul destinadas respectivamente à recepção de convidados de honra, realização de cerimónias e banquetes oficiais. A exposição fotográfica denominada “Belos tempos de Macau” estará patente na Sala Polivalente, ao passo que a exposição de flores "Alegria à Nossa Volta" poderá ser visitada na zona poente do relvado do Palácio Protocolar. Será ainda possível assistir a uma série de espectáculos, nomeadamente, da Banda do CPSP e dos alunos da Escola de Música e Escola de Dança do Conservatório de Macau do Instituto Cultural. Do programa divulgado para sábado, destaque para as apresentações de harpa entre as 12h30 e 13h e para o espectáculo de dança chinesa, ballet e dança contemporânea às 15h e às 16h. Já no domingo haverá lugar a espectáculos de orquestra chinesa às 10h, 11h e 12h e aos concertos da banda da CPSP às 15h30, 16h30 e 17h.
HORÁRIO LABORAL
A Sede do Governo estará aberta ao público entre as 9h e as 18h sem pausa para almoço, existindo visitas guiadas em cantonês a cada 15 minutos na Exposição de fotografia “Belos tempos de Macau” e sobre os arranjos interiores do Palácio Protocolar. Durante os dias em que o espaço estará aberto ao público, serão tomadas medidas extraordinárias de gestão do trânsito na Travessa do Paiva, local de acesso à Sede do Governo. Não é permitida a entrada de animais de estimação, guarda-chuvas, comidas e bebidas. A utilização de máscara é obrigatória ao longo de toda a visita, bem como a apresentação do código de saúde e a medição de temperatura à entrada. P.A.
RÓMULO SANTOS
Sede do Governo abre ao público para exposições e espectáculos
A deputada considera que ia beneficiar se as comissões fossem abertas, mas que compreende quem defende o funcionamento actual, nomeadamente por haver pessoas para além dos deputados a darem opinião nesse contexto. Na conferência, indicou que o número de pedidos de ajuda ao seu gabinete aumentou com a pandemia. Até finais Setembro, recebeu 2.200 pedidos de ajuda de residentes e trabalhadores estrangeiro, que foram organizados em 435 casos. Destes, 35 por cento foram relacionados com a epidemia – nomeadamente residentes em Wuhan e famílias com membros fora de Macau – e 25 por cento com grupos desfavorecidos. A legisladora deu o exemplo de famílias com crianças com necessidades especiais colocadas em escolas longe de casa. Um problema que associou à falta de planeamento urbano e exclusão das partes interessadas nas decisões. Agnes Lam entende que o Governo deve melhorar na resposta a casos urgentes. A monitorização do sistema de indemnização do Governo e a adopção de medidas de apoio a longo prazo a vítimas de violência doméstica estão entre os temas a que pretende dar seguimento. Salomé Fernandes
info@hojemacau.com.mo
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LGUMAS medidas adoptadas recentemente pelo Governo têm revelado dualidade de critérios e podem levar a que a população perca confiança nas autoridades. O alerta foi deixado ontem por Agnes Lam numa conferência de imprensa sobre a terceira sessão legislativa. Para a deputada, a incongruência lógica nas decisões do Governo tem particular relevo nas medidas fronteiriças de combate à pandemia. “O Governo anunciou que vai fazer o Grande Prémio este ano e permitir aos pilotos vir a Macau se fizerem teste e quarentena durante 14 dias (...). Mas ao mesmo tempo sabemos que familiares de cidadãos de Macau, se tiverem passaporte estrangeiro, não podem entrar”, observou. A deputada acrescentou ainda que quem
WORLD PRESS AGNES assinou contrato com empresas de Macau não consegue entrar no território se for trabalhador estrangeiro. Esta adopção de critérios duplos pode levar a população a questionar se as medidas estão certas. “As pessoas começam a não confiar no Governo”, acrescentou, frisando que as autoridades precisam da cooperação dos cidadãos na prevenção pandémica.
“Agora não temos muito diálogo entre diferentes comunidades e, por vezes, há mal-entendidos.” AGNES LAM DEPUTADA
Por outro lado, Agnes Lam considerou “muito estranho” as limitações a trabalhadores não residentes no acesso à zona de churrascos em Hác Sá e referiu que a estrutura económica de Macau precisa de “bluecards” e trabalhadores estrangeiros, enquanto cidade internacional. “Agora não temos muito diálogo entre diferentes comunidades e por vezes há mal-entendidos. Para os locais é fácil sentir que os seus recursos estão a ser levados pelos estrangeiros”, disse.
SEM REVELAÇÕES
Sobre as próximas eleições para a Assembleia Legislativa, Agnes Lam diz que não decidiu se vai recandidatar-se, nem respondeu se gostaria de o fazer. Ficaram também por especificar os projectos de lei que pretende apresentar no ano que se segue.
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gnes Lam disse à TDM - Rádio Macau que não conhece a exposição do World Press Photo e que, por isso, não pode comentar o seu fecho abrupto. “Não sei o que é [o World Press Photo]. Não posso comentar. Vou informar-me primeiro”, disse. Agnes Lam referiu ainda que a questão da liberdade académica ou de expressão não está na sua agenda. “Para acompanhar esta questão, não posso apenas basear-me numa sensação. Tem de haver algo concreto. Em relação a esta questão, não me parece que haja muito que possa ser feito, uma vez que esta sensação surge por causa da questão de Hong Kong e a tensão entre a China e os Estados Unidos”. A deputada, que é também docente na Universidade de Macau, frisou que os professores “podem investigar o que querem”, admitindo, no entanto, que “pode haver quem sinta que a liberdade está a diminuir”.
Covid-19 Kaifong querem resultados de testes alargados a 14 dias Por ocasião de um encontro promovido com o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, o vice-presidente a União Geral das Associações dos Moradores de Macau (Kaifong),
Ho Ion Sang, defendeu o alargamento do prazo de validade dos resultados dos testes de ácido nucleico de sete para 14 dias. Em resposta, o Governo disse
que iria estudar cuidadosamente a proposta de alargamento e pediu compreensão à população sobre as medidas de combate epidémico actualmente em vigor.
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16.10.2020 sexta-feira
sociedade 7
sexta-feira 16.10.2020
IPIM EX-PRESIDENTE JACKSON CHANG VAI APRESENTAR RECURSO DA CONDENAÇÃO
Crónicas de um acusado
O antigo presidente do IPIM vai recorrer da pena de dois anos de prisão a que foi condenado no caso das fixações de residência. À revista de Hong Kong East Week, Jackson Chang diz ter a vida destruída tanto a nível profissional como pessoal
O
ex-presidente do Instituto do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), Jackson Chang, vai recorrer da condenação de dois anos de prisão efectiva pela prática de quatro crimes de violação de segredo e três crimes relacionados com irregularidades no preenchimento da declaração de rendimentos. A informação foi avançada ontem pela TDM – Rádio Macau. Recorde-se que a possibilidade de apresentar recurso tinha sido avançada na passada sexta-feira pelo seu advogado Álvaro Rodrigues, após a leitura da sentença sobre o esquema montado para lucrar com os processos de fixação de residência a cargo do IPIM. “Ainda há esperança. Vou falar com o meu constituinte na próxima semana e, em princípio, acho que é para recorrer”, disse na altura Álvaro Rodrigues. Apesar da decisão de apresentar recurso importa frisar que a sentença foi recebida com satisfação pelo próprio Jackson Chang, visto ter sido absolvido dos crimes mais graves de que foi acusado, como associação criminosa, corrupção e branqueamento de capitais. Por outro lado, a tornar-se definitiva, a decisão anunciada pelo Tribunal Judicial de Base implica que o ex-presidente do IPIM terá de cumprir mais sete meses de prisão, uma vez que já
East Week, ainda antes da confirmação da decisão de recorrer.
PENSAR NO FUTURO
Jackson Chang, ex-presidente do IPIM “Sinto que a minha carreira foi destruída e a nível familiar tenho a vida desordenada.”
esteve mais de um ano em prisão preventiva. Nas primeiras declarações proferidas sobre o caso desde 2018, e de acordo com o portal Macau News Agency, Jackson Chang disse à revista de Hong Kong “East Week” que a sua carreira está “destruída” e que a nível familiar tem a vida virada do avesso.
Finanças Autoridade Monetária de Macau e CSRC assinam memorando de cooperação A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) e a “China Securities Regulatory Commission” (CSRC) assinaram um “memorando de cooperação” nas vertentes de prestação de apoios na supervisão, troca de informações, intercâmbio e formação de pessoal e prestação de assistência técnica, entre outras áreas. Segundo um comunicado, este memorando tem como base “o estreitamento cada vez mais intenso das relações estabelecidas entre os mercados financeiros da RAEM e do Interior da China”, permitindo “reforçar a
cooperação das duas partes na área dos valores mobiliários, no sentido de manter o funcionamento estável e regular dos mercados financeiros nas duas jurisdições”. O secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, esteve presente na assinatura do documento e frisou que o memorando vai permitir a criação de um “mecanismo de cooperação regulatória transfronteiriça entre as duas jurisdições no domínio dos valores mobiliários, o que contribui para o desenvolvimento da indústria financeira moderna em Macau”.
“Em certa medida, o julgamento provou que sou inocente, mas ainda estou a ponderar em apresentar recurso. Honestamente, fui detido e fui parar à prisão de repente. Por isso, sinto que a minha carreira foi destruída e a nível familiar tenho a vida desordenada”, disse Jackson Chang na edição de quarta-feira da revista
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Questionado sobre o impacto familiar que a relação que manteve com uma amante, também ela arguida no caso, ser agora do domínio público, Jackson Chang limitou-se a dizer que este era o momento de pensar apenas no futuro. “Agora não quero pensar nisso, vou pensar no futuro”, pode ler-se na East Week. A mesma publicação recorda ainda que a amante, Zheng Chu Mei, declarada inocente após a leitura da sentença do caso, já conhecia o ex-presidente do IPIM há vários anos, tendo trabalhado como acompanhante em vários karaokes em Zhuhai. Segundo a East Week, Zheng Chu Mei terá acompanhado Jackson Chang ao longo de várias viagens de negócio ao Interior da China, incluindo uma a Lijiang, na província de Yunnan. De frisar ainda que, de entre os 26 arguidos do processo de fixação de residência, constavam também a esposa de Jackson Chang, Angela Ip e a filha Júlia Chang, que foram declaradas inocentes de crimes de branqueamento de capitais. A esposa foi também absolvida do crime de inexactidão de elementos no preenchimento da declaração de rendimentos. Pedro Arede e Nunu Wu
pedro.arede.hojemacau@gmail.com
AMCM Reservas cambiais caem 2,3 por cento em Setembro
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As estimativas preliminares da Autoridade Monetária de Macau (AMCM) quanto às reservas cambiais apontam para um valor de 184,8 mil milhões de patacas no final de Setembro, de acordo com uma nota divulgada ontem. O montante registado representa uma queda de 2,3 por cento relativamente aos dados rectificados de Agosto, que atingiram 189,2 mil milhões de patacas. Quanto à taxa de câmbio, a pataca caiu tando mensalmente como em termos anuais, face às moedas dos principais parceiros comerciais de Macau. Detalhando, a taxa de câmbio efectiva da pataca foi de 105,2 em Setembro de 2020, registando um decréscimo de 0,51 pontos em relação ao mês anterior e um decréscimo de 3,14 pontos, relativamente a Setembro de 2019.
PRAIA GRANDE REJEITADO RECURSO SOBRE PROLONGAMENTO DA CONCESSÃO DE TERRENO
O
Tribunal de Última Instância (TUI) rejeitou o recurso apresentado pela Sociedade de Investimento Imobiliário Fong Keng Van SA relativo ao pedido de prorrogação do prazo de aproveitamento de um terreno situado na zona A do “Fecho da Baía da Praia Grande”. O pedido foi rejeitado pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, a 29 de Junho de 2016, tendo a Fong Keng Van SA recorrido para o Tribunal de Segunda Instância (TSI), que deu razão ao Governo. O TUI veio agora confirmar a decisão, apontando que “a recorrente não concluiu o aproveitamento do terreno antes do término do prazo do seu aproveitamento, que já tinha sido prorrogado até 18 de Agosto de 2008”. À data, a Administração também tinha “a intenção de prorrogar, por mais 36 meses, o processo de apreciação e autorização”, mas este ficou suspenso pelo facto de dois sócios da empresa “estarem constantemente em juízo para tratarem da questão do desenvolvimento do terreno”. Desta forma, o TUI entende que “a Administração não tem culpa por isto ter acontecido”. A Fong Keng Van SA acusava também o Governo de atrasar todo o processo relativo ao pedido de prorrogação, o que a impediu de desenvolver o terreno. Contudo, o TUI recorda que o Governo “entendeu que 15 meses não eram suficientes para concluir a obra de construção de um hotel de cinco estrelas com 28 pisos”, um facto que “não seria alterado pelo facto de a Administração ter tratado, ou não, do requerimento em causa com a maior brevidade possível ou de forma imediata”. O acórdão dá ainda conta de que, “apesar de o prazo de aproveitamento do terreno ter sido várias vezes prorrogado pela Administração até 18 de Agosto de 2008, a recorrente ainda assim não conseguiria concluir o aproveitamento do terreno no prazo estabelecido”. A.S.S.
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CCAC DOIS CASOS A ENVOLVER A DSAL ENCAMINHADOS PARA O MINISTÉRIO PÚBLICO
IPM Mestrado em Big Data com acreditação internacional
O Curso de Mestrado em Big Data e Internet das Coisas da Escola Superior de Ciências Aplicadas do Instituto Politécnico de Macau (IPM) obteve a aprovação na acreditação académica realizada pelo Instituto de Engenharia e Tecnologia (IET na sigla em inglês) do Reino Unido. A notícia foi divulgada
ontem pelo IPM, referindo este será o primeiro curso de mestrado na área das engenharias a ser acreditado com sucesso pelo IET, que funciona como agência de avaliação académica para o ensino superior de nível internacional. Os alunos que foram admitidos neste mestrado, a partir do ano lectivo 2019/2020, quando conseguirem a graduação passam a ser possuir a habilitação académica equivalente a engenheiro registado no Reino Unido.
CPSP Apanhados 31 trabalhadores ilegais no mês de Setembro
No mês passado, operações conjuntas da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais e do Corpo de Polícia de Segurança Pública detectaram 31 trabalhadores ilegais. Segundo informação relevada ontem pelas autoridades, os funcionários a laborar em situação irregular foram detectados no decurso de 522 inspecções. As operações de fiscalização incluíram terrenos de obras de construção civil, residências, e estabelecimentos comerciais e industriais. PUB
AVISO N.º 19/AI/2020 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se os infractoros abaixo discriminados:----------------------------------------------- 1. Mandado de Notificação n.° 690/AI/2020 :PHAM VAN PHUONG, portador do passaporte de Vietnam n.° N1853xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 180/DI-AI/2018 levantado pela DST a 26.09.2018, e por despacho da signatária de 16.09.2020, exarado no Relatório n.° 712/DI/2020, de 26.08.2020, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $250.000,00 (duzentas e cinquenta mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Rua Sete Bairro Iao Hon n.° 36, Edf. Kat Cheong, 1.° andar L (C140), Macau onde se prestava alojamento ilegal.------------------------------------------------------ 2. Mandado de Notificação n.° 745/AI/2020 :KE BAO, portador do Salvo Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° C61341xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 138.1/ DI-AI/2018 levantado pela DST a 17.07.2018, e por despacho da signatária de 06.07.2020, exarado no Relatório n.° 521/DI/2020, de 02.07.2020, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Praceta de Um de Outubro n.os 119-131-B, Edf. I Keng Kok, 8.° andar D, Macau. ----------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.----------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.-------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode os infractoros, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-----------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.-------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.-------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 30 de Setembro de 2020. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes
Delitos entre amigos
Dois casos investigados pelo CCAC, que envolvem suspeitas de corrupção, falsificação de documentos e burla foram encaminhados para o Ministério Público. Ambos implicam funcionários da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, que foram sujeitos a processos disciplinares
O
Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) revelou ontem que investigou um caso de falsificação e outro de burla que implicam funcionários da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), e que os processos foram encaminhados para o Ministério Público (MP). Uma chefia da DSAL, responsável pelos trabalhos de administração e finanças, terá aceite e tratado um pedido de subsídio de casamento apresentado por um colega, apesar de este o ter feito fora do prazo. “A referida chefia funcional chegou mesmo a escrever uma data e razão falsas relativamente àquele recebimento no referido pedido, alegando falsamente que o seu colega tinha apresentado o pedido de subsídio de casamento dentro do prazo legal”, descreve a nota. De acordo com o CCAC, o funcionário conseguiu assim “enganar” a DSAL, que aprovou o pedido, levando a Direcção dos Serviços de Finanças a conceder o subsídio de casamento ao colega de trabalho da função pública. O caso foi encaminhado para o Ministério Público. Os dois funcionários são suspeitos de terem cometido crimes de falsificação praticada por funcionário e burla. Note-se que o crime de falsificação praticada
DSAL “Caso se venha a verificar a prática de actos de violação da lei e da disciplina, irá ser tratada de acordo com a lei.”
por funcionário pode levar a uma pena de prisão de um a cinco anos, e de burla a pena de prisão até três anos ou multa. Este não foi o único caso dado a conhecer ontem pelo CCAC. Também foi investigado um formando de um curso da DSAL, que alegadamente cometeu um crime de corrupção. De acordo com o CCAC, o indivíduo previa que não ia passar na prova para obter o cartão de segurança ocupacional na construção civil. O indivíduo terá prometido duas
mil patacas ao supervisor da prova de avaliação, em troca de ajuda para passar. A investigação começou com uma queixa da DSAL e o caso foi encaminhado para o Ministério Público por suspeitas de crimes de corrupção activa.
PROCESSOS DISCIPLINARES
A DSAL respondeu às investigações do CCAC revelando que instauraram processos disciplinares aos funcionários em causa, e as subunidades
foram instruídas a reforçar a fiscalização do pessoal. “Caso se venha a verificar a prática de actos de violação da lei e da disciplina, irá ser tratada de acordo com a lei”, disse a DSAL, acrescentando que as instruções sobre os processos de trabalho vão ser melhoradas. Sobre a suspeita de corrupção activa, a DSAL disse apenas que vai manter o código de integridade e exigir uma conduta íntegra aos trabalhadores. Salomé Fernandes
info@hojemacau.com.mo
NANGKA HORAS EXTRA DURANTE O TUFÃO LEVARAM A QUEIXA À DSAL
A
presidente da Associação de Direitos dos Trabalhadores de Jogo, Cloee Chao apresentou na quarta-feira uma queixa à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) a reportar um caso de tratamento desigual sobre horas extraordinárias durante o tufão Nangka. Em causa está o facto de vários trabalhadores do Venetian
terem sido alegadamente obrigados a assinar um documento onde atestam ter trabalhado horas extraordinárias até às 16h quando, na verdade, só terão abandonado o posto às 19h, altura em que o sinal 8 foi substituído pelo sinal 3. “É incompreensível que tenham solicitado aos funcionários que trabalharam durante
a passagem do tufão Nangka a assinatura de um documento, onde consta que trabalharam horas extraordinárias até às 16h, quando eles já nos indicaram que só sairam do serviço às 19h”, afirmou Cloee Chao em comunicado divulgado ontem. Segundo a mesma nota, os funcionários em questão acabaram
por trabalhar durante a passagem do Nangka (nível 8), no total, 19h consecutivas, pois permaneceram no posto de trabalho após terem realizado o turno da noite. Na queixa dirigida à Associação de Direitos dos Trabalhadores de Jogo, os funcionários referiram ainda o facto de a empresa para a qual trabalham não ter aceite
contabilizar as horas extraordinárias trabalhadas, constituindo-se assim uma forma de tratamento desigual. “De acordo com procedimentos anteriores, os funcionários do turno da noite têm de trabalhar até o sinal 8 ser substituído”, refere Cloee Chao. N.W.
sociedade 9
sexta-feira 16.10.2020
SMG Depressão tropical a oeste das Filipinas não deve afectar Macau
A Direcção dos Serviços de Meteorológicos e Geofísicos (SMG) anunciou ontem que está em desenvolvimento uma depressão tropical a oeste das Filipinas, mas que se prevê “não representar uma ameaça para Macau”. Os SMG acrescentaram que, apesar de haver a possibilidade de se vir a intensificar, o sistema tropical deverá atravessar a parte central do Mar do Sul da China em direcção ao Vietname. Para hoje, está prevista “uma ligeira inundação no Porto Interior, entre as 8h e as 11h”, céu muito nublado intervalado de períodos de pouco nublado.
Judiciária Apreendida droga no valor de 53 mil patacas
A Polícia Judiciária (PJ) deteve três homens de nacionalidade vietnamita por suspeita da prática do crime do tráfico de droga. De acordo com infomações veiculadas ontem pelas autoridades, na altura das detenções um dos suspeitos tinha consigo 2.18 gramas de ice, ao passo que os outros dois traziam consigo 13.65 gramas de ice e yaba, ambas as substâncias da família das metanfetaminas. Contas feitas, o valor total dos estupefacientes apreendidos foi de 53 mil patacas. Além disso, após a detenção, um dos suspeitos admitiu que, no último mês, teria vendido droga em Macau no valor de 300 mil patacas. O caso seguiu para o Ministério Público onde os suspeitos vão responder pela prática dos crimes de tráfico ilícito de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas, consumo ilícito de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas e detenção indevida de utensílio ou equipamento.
Imigração ilegal Desmantelado caso de falsos trabalhadores das obras
Numa operação conjunta coordenada entre as polícias de Macau e Zhuhai, foi desmantelada mais uma rede criminosa dedicada a fazer passar imigrantes ilegais através do estaleiro de obras do futuro posto fronteiriço de Qiangmao. De acordo com informações divulgadas pela Polícia Judiciária (PJ), os imigrantes ilegais entravam em Macau disfarçados de trabalhadores da construção civil afectos à obra. Para o efeito, equipados com coletes reflectores e capacetes, os falsos operários entravam no estaleiro durante a pausa para almoço. No rescaldo da operação, as autoridades de Macau e Zhuhai detiveram quatro homens do Interior da China, sendo que entre eles se encontrava um imigrante ilegal. Segundo a PJ, pela organização da passagem e o empréstimo do kit de “trabalhador clandestino” a organização cobrava 12.000 renminbis.
MINISTÉRIO PÚBLICO PRISÃO PREVENTIVA PARA CASAL SUSPEITO DE BURLA DE 10 MILHÕES
Confinados em Coloane
O Ministério Público decretou a medida de prisão preventiva para o casal que terá burlado dois jogadores do Interior da China em 10 milhões de dólares de Hong Kong. Um dos arguidos é agente do Corpo de Polícia de Segurança Pública
O
casal suspeito de ter burlado dois jogadores do interior da China em 10 milhões de dólares de Hong Kong (HKD) na troca de fichas de jogo vai ficar em prisão preventiva enquanto aguarda julgamento. Segundo avançou ontem o Ministério Público (MP) em comunicado, a medida de coacção aplicada visa “evitar a fuga [dos arguidos] de Macau, a continuação da prática de actividades criminosas e a perturbação da ordem pública”, aponta um comunicado, citando justificações legais para a decisão. O MP acusa o casal da prática do crime de burla, punível com pena de prisão até 10 anos. Além disso, “sendo o arguido funcionário público”, e por ter violado “conscientemente a lei, circunstância essa que poderá constituir um
elemento crucial na avaliação do grau da sua culpa”, lê-se no comunicado. Recorde-se que o marido é agente do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP). Marido e mulher são suspeitos da prática de burla, por terem alegadamente abordado dois jogadores referindo que “podiam ajudar na troca das fichas de casino em numerário”, tarefa dificultada devido à falta de liquidez nas salas VIP. Assim sendo, os dois jogadores entregaram ao casal fichas de jogo no valor de 10 milhões de HKD. “No entanto, após a obtenção das fichas, os arguidos
utilizaram desculpas para adiar a troca e, mais tarde, disseram aos ofendidos que as tinham perdido em jogos”, explica o MP. Mais tarde, vítimas apresentaram queixa à polícia que interceptou a mulher na fronteira, enquanto que o agente do CPSP foi detido num apartamento em Macau.
MUITOS CASOS
Segundo informações avançadas pela Polícia Judiciária na semana passada, os dois jogadores entregaram 10 fichas com o valor individual de um milhão de HKD. O casal devolveu 1,08 milhão de
A medida de coacção aplicada visa “evitar a fuga [dos arguidos] de Macau, a continuação da prática de actividades criminosas e a perturbação da ordem pública.” MINISTÉRIO PÚBLICO
HKD em numerário, mas desapareceu de seguida, assim como as restantes fichas de jogo. A PJ adiantou que o agente do CPSP e a mulher ficaram uma semana a jogar numa sala VIP, onde gastaram as fichas que deviam trocar. O suspeito já havia trocado com sucesso fichas no valor de 20 milhões de HKD, a troco de uma comissão de 6 por cento. O MP alerta para o facto de, nos últimos tempos, se verificarem no território “diversos casos de burla análogos em que os delinquentes alegaram ajudar na troca de fichas em numerário”, o que constitui “uma ofensa ao património alheio e a perturbação da ordem social”. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
10 eventos
O fotógrafo Edgar Martins, ex-residente de Macau e actualmente a viver em Londres, está no grupo dos dez finalistas do festival Hangar Art Center European Photography Call, de Bruxelas, com um projecto que integra imagens captadas do topo dos prédios durante as várias pandemias que o mundo viveu nos últimos anos. O fotógrafo é também finalista dos relevantes prémios Paris Photo, Photo España e Meitar, de Israel
16.10.2020 sexta-feira
Um ano em FOTOGRAFIA EDGAR MARTINS FINALISTA DE VÁRIOS PRÉMIOS INTERNACIONAIS
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UM ano atípico para a maioria das pessoas, 2020 acabou por se revelar frutífero para o fotógrafo Edgar Martins. Ex-residente de Macau e actualmente a viver em Londres, o fotógrafo acaba de integrar o grupo de dez vencedores do festival Hangar Art Center European Photography Call, de Bruxelas, com um projecto fotográfico sobre o impacto desta e de outras pandemias. É também finalista de outros concursos internacionais, como o Photo España Best Photobook of the year, o Paris Photo & Aperture Foundation Book Awards, onde foi distinguido na
categoria de melhor livro de fotografia, e no Meitar Award for Excellence in Photography, de Israel. Todos os resultados finais serão tornados públicos em Novembro. Ao HM, Edgar Martins considera que estes são prémios “super importantes no contexto da fotografia contemporânea e, sobretudo, no contexto dos livros de fotografia”. Para o concurso do Hangar Art Center, de Bruxelas, Edgar Martins apresentou um projecto que aborda o impacto da pandemia na vida das pessoas, e não apenas a covid-19. Por mero acaso, Edgar Martins esteve na Ásia quando ocorreram as epidemias
Edgar Martins considera que estes são prémios “super importantes no contexto da fotografia contemporânea e, sobretudo, no contexto dos livros de fotografia” da SARS e H1N1, e aproveitou esse momento para fotografar as cidades a partir do topo dos edifícios. “Fui acumulando, ao longo dos anos, imagens do impacto das pandemias no dia-a-dia das cidades onde estava a viver. São imagens interessantes e que foram captadas em períodos do dia que, por norma, seriam bastante activos, tal como a manhã, quando as pessoas vão para o emprego. São imagens tiradas do topo de prédios altos, com vistas bastante alargadas da cidade. Estas imagens tornaram-se algo populares durante a pandemia, mas neste caso há uma certa ambiguidade nas imagens porque foram todas fotografadas com nevoeiro denso.” Mas Edgar Martins não se limitou a tirar fotografias, tendo feito também um trabalho de contraste. “Ao produzir estas imagens no meu laboratório escuro, fui guardando os testes de impressões e as provas. Com estes
detritos do processo fotográfico criei arte, sobrepondo os vários testes uns em cima dos outros. Criei então imagens totalmente abstractas mas que têm uma relação com as imagens paisagísticas produzidas no topo dos prédios.” O fotógrafo não tem dúvidas de que foi essa relação que mais captou a atenção do júri dos prémios do Hangar Art Center European Photography Call. “O que se tornou aliciante para o júri foi esta tensão entre essas duas abordagens distintas e o facto de ambas falarem tão bem da condição do fotográfico. Há uma tensão sobre em que consiste o processo criativo e fotográfico”, frisou o fotógrafo, que tomou a decisão de trabalhar com “bastantes constrangimentos a nível técnico e de equipamentos”. Esta decisão deu-lhe alguma liberdade, tendo surgido da ideia de que a definição de fotografia é feita,
“O que quis fazer foi criar todo um conjunto de restrições que me permitissem produzir imagens ou obras artísticas, mas sem ter de recorrer a tecnologia ou à máquina.”
eventos 11
sexta-feira 16.10.2020
m cheio
O nome Edgar Martins surge também na categoria dos melhores livros de fotografia do ano do prémio Paris Photo. “What Photography & Incarceration have in Common with an Empty Vase”, projecto de 2019 feito na prisão de Birmingham, Inglaterra, foi o escolhido
nos dias de hoje, com base numa “ideologia técnico-capitalista, em que anda sempre tudo à volta das últimas máquinas e lentes”. “De certa forma isso acaba por ter prioridade sobre o conceito do trabalho que se produz, e isto torna-se cada vez mais perceptível com a evolução da fotografia e com a evolução tecnológica. O que quis fazer foi criar todo um conjunto de restrições que me permitissem produzir imagens ou obras artísticas, mas sem ter de recorrer a tecnologia ou à máquina”, frisou.
MAIS PRÉMIOS
O nome Edgar Martins surge também na categoria dos melhores livros de fotografia do ano do prémio Paris Photo. “What Photography & Incarceration have in Common with an Empty Vase”, projecto de 2019 feito na prisão de Birmingham, Inglaterra, foi o escolhido. “É uma grande honra porque é um júri bastante conhecedor. Há milhares de livros que concorrem a este prémio e fiquei sensibilizado porque é um livro e um projecto muito importante do ponto de vista fotográfico e ético”, contou ao HM. Com este trabalho, o fotógrafo quis “abordar a prisão como um conjunto de relações sociais e não como um mero espaço físico, que é o mais comum”. Edgar Martins quis, assim, “repensar o tipo de imagem que associamos à prisão”. “Sempre fui muito crítico desse tipo de abordagem, que é sempre uma abordagem de temas como a violência, drogas, criminalidade, raça”, acrescentou. Edgar Martins é também finalista na categoria de melhor livro internacional do Photo España Best Photobook of the Year e do Meitar Award for Excellence in Photography, de Israel. Em relação a esta última distinção, o fotógrafo diz sentir-se “honrado”, tendo concorrido com um “projecto bastante distinto dos outros”. “É um projecto que também desenvolvi neste período de pandemia e foca-se na mão ou no gesto para contar uma história distópica da nossa civilização.” Isto porque a mão “é um elemento paradoxal, no sentido em que é aquilo que nos une e distancia das pessoas, e isso é evidente numa pandemia, pois a mão é responsável pela transmissão, mas ao mesmo tempo consola o amigo”. As imagens distinguidas nos prémios Paris Photo e Photo España iriam
passar por Macau, mas a pandemia fez adiar essas iniciativas.
O WORLD PRESS PHOTO
Questionado sobre o encerramento súbito da exposição de fotografias do World Press Photo em Macau, Edgar Martins alerta para as dificuldades
logísticas relativas à organização de exposições nesta fase da pandemia, mas afirma que este encerramento não o surpreende. “Não conheço todos os factos, mas se a exposição fechou por uma questão de censura ou política, se calhar há uns anos seria algo que me surpreenderia,
mas hoje em dia já não. Se foi essa a razão, é uma tragédia.” Edgar Martins alerta para o perigo de Macau se isolar em termos culturais caso estes episódios se repitam no futuro. “Se essa exposição encerrou por motivos políticos não me surpreende, mas acho que, de facto, de certa forma é o princípio do fim.
Macau sempre foi um sítio isolado do ponto de vista cultural, e se agora vamos começar a censurar exposições que vêm do estrangeiro, independentemente dos temas, vai-se tornar [um território] cada vez mais isolado”, rematou o fotógrafo. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
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16.10.2020 sexta-feira
HONG KONG PEQUIM AMEAÇA RETALIAR CONTRA NOVAS SANÇÕES DOS ESTADOS UNIDOS
“Interferências grosseiras”
A
China disse ontem que as novas sanções impostas pelos Estados Unidos contra funcionários responsáveis pela segurança de Hong Kong são uma tentativa de minar a estabilidade na região e ameaçou retaliar. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Zhao Lijian, disse que o país “opõe-se firmemente e condena veementemente” a Lei de Autonomia de Hong Kong dos EUA, que exige que o secretário de Estado norte-americano informe o Congresso sobre pessoas que violam os direitos civis no território. Dez funcionários do Governo central da República Popular da China e de Hong Kong foram incluídos no relatório este
ano, incluindo a Chefe do Executivo, Carrie Lam, e o Comissário da Polícia, Chris Tang. O relatório é uma “interferência grosseira” nos assuntos internos da China e expõe ainda mais as “intenções sinistras” de Washington, de “minar a prosperidade e estabilidade de Hong Kong” e “conter o desenvolvimento da China”, acusou Zhao. “Se os EUA insistirem em seguir este caminho, a China vai tomar contramedidas resolutas para salvaguardar a soberania nacional e os interesses de segurança, e salvaguardar os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas e pessoal relacionado”, acrescentou. As sanções incluem restrições na emissão de vistos e potencialmente
impedir negócios entre os indivíduos que constam na lista e instituições financeiras dos EUA.
POLÉMICA LEI
Os mesmos funcionários foram sancionados por
O relatório (...) expõe ainda mais as “intenções sinistras” de Washington, de “minar a prosperidade e estabilidade de Hong Kong” e “conter o desenvolvimento da China”
uma ordem executiva, em Agosto passado, logo depois de Pequim ter imposto uma lei de segurança nacional na antiga colónia britânica. “Através da imposição da Lei de Segurança Nacional, o [Partido Comunista da China] prejudicou as instituições democráticas, direitos humanos, independência judicial e as liberdades individuais em Hong Kong”, acusou a porta-voz do Departamento de Estado, Morgan Ortagus, num comunicado que acompanha o anúncio das sanções. Ortagus citou as detenções de manifestantes pacíficos, o envio de agentes de segurança chineses para o território e o “atraso politicamente motivado” das eleições de Setembro para a assembleia local, como prova de deterioração dos direitos prometidos a Hong Kong por Pequim na época da transferência da sua soberania, em 1997.
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AVISO N.º 22/AI/2020
AVISO N.° 23/AI/2020
-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se os infractores abaixo discriminados:-------------------------------------- 1. Mandado de Notificação n.° 761/AI/2020:WONG IO WENG, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.° 51563xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 222/DI-AI/2019, levantado pela DST a 13.08.2019, e por despacho da signatária de 26.06.2020, exarado no Relatório n.° 287/DI/2020, de 18.05.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua Cidade do Porto n.° 341, Kam Yuen, 10.° andar F onde se prestava alojamento ilegal.---------------------------------------------------------------------------------- 2. Mandado de Notificação n.° 762/AI/2020:YIN YINGWU,portadora do Passaporte da RPC n.° EB1305xxx e portadora do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° C67228xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 222.2/ DI-AI/2019, levantado pela DST a 13.08.2019, e por despacho da signatária de 26.06.2020, exarado no Relatório n.° 289/DI/2020, de 18.05.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Rua Cidade do Porto n.° 341, Kam Yuen, 10.° andar F.--------- 3. Mandado de Notificação n.° 764/AI/2020:ZHAO JUYING, portadora do passaporte da RPC n.° E50372xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 234/DI-AI/2018, levantado pela DST a 30.11.2018, e por despacho da signatária de 07.08.2020, exarado no Relatório n.° 568/DI/2020, de 10.07.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Praceta de Miramar, n.° 79, Jardim San On, Bloco 4, 14.° andar AB (correspondente no prédio ao 14.° andar Ba) onde se prestava alojamento ilegal.-----------------------------------------------Pelo mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. -------------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.--------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 07 de Outubro de 2020.
-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se os infractores abaixo discriminados:--------------------------------------- 1. Mandado de Notificação n.° 665/AI/2020:VU THI THUAN, portadora do Passaporte da Vietnam n.° B5910xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 87/DI-AI/2019, levantado pela DST a 03.04.2019, e por despacho da signatária de 15.09.2020, exarado no Relatório n.° 685/DI/2020, de 20.08.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua do Terminal Maritimo n.os 93-103, Edf. Centro Internacional de Macau, Bloco 4, 12.º andar A onde se prestava alojamento ilegal.---------------------------------------------------------------- 2. Mandado de Notificação n.° 760/AI/2020:YUE FENGXIA, portadora do Passaporte da RPC n.° E34062xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 233.1/DI-AI/2018, levantado pela DST a 29.11.2018, e por despacho da signatária de 30.07.2020, exarado no Relatório n.° 414/DI/2020, de 03.06.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Rua Cidade do Porto n.° 341, Edf. Kam Yuen, 5.° andar F.------------------------------------------------- 3. Mandado de Notificação n.° 766/AI/2020:DING CHENGCAI, portador do Salvo Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.o C64425xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 16/DI-AI/2019, levantado pela DST a 14.01.2019, e por despacho da signatária de 29.06.2020, exarado no Relatório n.° 334/DI/2020, de 20.05.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Taipa, Estrade Almirante Magalhães Correia n.° 239, Jardim Hoi Wan, 19.° andar Y onde se prestava alojamento ilegal.-----------------------------------------------Pelo mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. -------------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.--------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 07 de Outubro de 2020.
A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes
A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes
HK POLÍCIA FAZ BUSCAS EM ESCRITÓRIOS DE MAGNATA JIMMY LAI
A
polícia de Hong Kong realizou ontem novas buscas nos escritórios do magnata dos ‘media’ e activista pró-democracia Jimmy Lai, segundo o seu assessor. O assessor de Lai, Mark Simon, escreveu na rede social Twitter que 14 polícias entraram no escritório do fundador da empresa de ‘media’ Next Digital, detentora do jornal pró-democracia Apple Daily, e confiscaram documentos. Lai, de 71 anos, é uma figura pró-democracia que critica regularmente o governo chinês e de Hong Kong. Não está claro o que as autoridades procuravam ou por que realizaram a operação. A polícia de Hong Kong não respondeu até ao momento a um
pedido de comentário. “Falei com a polícia, eles disseram que permaneceriam até à chegada de nosso advogado”, escreveu Simon. “Mas não fizeram isso, pegaram nos documentos e partiram antes que o nosso advogado chegasse», acrescentou. Simon disse no Twitter que a polícia “ainda está a tentar transformar as disputas civis em casos criminais”. E adiantou que os fundos que Lai usava para apoiar o Apple Daily foram congelados. A polícia deteve Lai em Agosto, no âmbito da nova lei de segurança nacional de Hong Kong, e também fez buscas na sede da Next Digital, com o empresário a ser libertado mais tarde sob fiança.
QINGDAO DEZ MILHÕES DE TESTES EM 4 DIAS
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UASE 10 milhões de pessoas já foram testadas na cidade chinesa de Qingdao, no espaço de quatro dias, após a descoberta de um pequeno surto do novo coronavírus, revelaram ontem as autoridades locais. A campanha massiva de testes, que começou no domingo e que as autoridades esperam concluir em cinco dias, resultou na colecta de 9,9 milhões de amostras, segundo Luan Xin, o vice-presidente da câmara da cidade. O responsável garantiu que nenhum caso positivo adicional foi detectado entre os 7,6 milhões de resultados já obtidos. O surto, detectado este fim-de-semana, fez até à data 13 pacientes, disse Luan. No total, as autoridades locais pretendem rastrear até 9,4 milhões de habitantes e 1,5 milhão de visitantes. Qingdao é uma cidade costeira e turística, conhecida pela marca de cerveja “Tsingtao”. Os 13 casos de transmissão local identificados até agora em Qingdao, os primeiros desde meados de Agosto na China, resultaram na demissão do presidente do hospital, que foi colocado sob investigação, segundo a Comissão Municipal de Saúde. A maioria dos casos está ligada a este estabelecimento, mas as autoridades ainda não detalharam a origem do surto, que pôs fim a quase dois meses sem casos de infecção local na China. O diretor da Comissão de Saúde de Qingdao, responsável pelo atendimento médico na cidade, também foi “suspenso” das suas funções.
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sexta-feira 16.10.2020
O cais é a urgência. O embarque é agora
Xunzi
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XAMINEMOS como se deve conduzir a governação. Eis o que digo: que se promovam os meritórios e capazes sem esperar que ascendam nos escalões. Que se ponham de lado os incapazes sem hesitar. Que se executem aqueles que incitam os outros a más acções sem esperar por ensiná-los. Que se transforme o povo comum sem esperar por instrumentos governamentais. Se as divisões sociais ainda não estiverem estabelecidas, há que zelar por iluminar os elos apropriados. Se não conseguirem submeter-se ao ritual e yi [justiça], mesmo os filhos e netos de reis, duques, nobres e grandes ministros devem receber o estatuto de homens comuns. Se acumularem cultura e estudo, corrigirem as suas pessoas e condutas e se conseguirem submeter a ritual e justiça, mesmo os filhos e netos de homens comuns devem receber o estatuto de ministros, nobres ou grandes ministros. Assim, àqueles que se dedicam a ensinamentos vis, doutrinas vis, obras e capacidades vis, e àqueles que, de entre o povo comum são rebeldes e perversos, dá uma ocupação e ensina-os, e
O Governo do Verdadeiro Rei
dá-lhes também algum tempo. Encoraja-os com elogios e recompensas, disciplina-os com castigos e penas. Se os vês seguros nas suas ocupações, acalenta-os. Se não os vires seguros nas suas ocupações, abandona-os. Os cinco tipos de pessoas com limitações devem ser recebidos e acalentados pelos seus superiores, recebendo trabalho segundo os seus talentos. Emprega-as, alimenta-as e veste-as. Abarca a todas sem omissão. Aqueles que vão contra os tempos nos seus talentos e conduta devem morrer sem perdão. A isto se chama virtude Celeste, a isto se chama o governo de um verdadeiro rei. Da grande divisão a ser feita no ajuizar dos assuntos do governo: se usares o ritual para tratar aqueles que te chegam trazendo bondade, e usares castigos para tratar aqueles que chegam trazendo maldade, os meritórios e os não meritórios não serão misturados, nem será confundido o que é bom e o que é mau. Se os meritórios e não meritórios não forem misturados, daí nascerão heróis e homens notáveis. Se o bom e o mau não forem confundidos, então o estado e a família serão bem-ordenados.
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Elementos de ética, visões do Caminho PARTE I
Se as coisas forem assim, a tua reputação crescerá todos os dias, todos sob o Céu te estimarão, o que ordenares será executado, o que proibires parará e o trabalho de um verdadeiro rei será levado a cabo. Em todos os casos ajuizados, se fores implacável e severo, não mostrando agrado por quem tenta oferecer-te os seus préstimos, então os teus inferiores terão receio e não se aproximarão. Serão cavilosos, fechados, e não se aplicarão totalmente. Se as coisas forem assim, os assuntos importantes ficarão em risco de resvalar. Se, ao contrário, fores leniente e mostrares agrado para com aqueles que tentam oferecer-te os seus préstimos, mas não os conseguires controlar, com isso virão também ensinamentos vis e as doutrinas especulativas proliferarão grandemente. Se as coisas forem assim, ajuizar dos assuntos se tornará demasiado complexo e o trabalho se tornará moroso. Também isto causará dano à governação. Por isso, quando se segue um modelo, mas não se discute sobre ele, os casos que o modelo não abrange serão decerto mal resolvidos. Se se defende uma posição, mas não se tem abertura de es-
pírito, os casos para além do cargo que se detém decerto resvalarão. Seguir um modelo e discuti-lo, defender uma posição e manter o espírito aberto, de modo a que não hajam conspirações, nenhum bem fique por fazer nem se cometa um só erro em cem casos – estas são coisas de que só a pessoa exemplar é capaz. O espírito de serviço público e de igual tratamento são a balança de um cargo, e o equilíbrio e harmonia são o fio de prumo no ajuizar dos assuntos. Nos casos para os quais existe um modelo, age segundo ele. Nos casos para os quais não existe modelo, lida com eles segundo a categoria apropriada. Este é o modo mais elevado de ajuizar os assuntos. Ser parcial e não ter um princípio orientador é um modo perverso de ajuizar os assuntos. Mas há casos em que ter um bom modelo resulta, ainda assim, no caos. Contudo, desde os tempos antigos até hoje, nunca se ouvi falar de que caos tenha resultado de ter uma pessoa exemplar ao leme. Existe um ditado: “A ordem nasce da pessoa exemplar. O caos nasce do homem comezinho.” Isto exprime o que quero dizer.
Tradução de Rui Cascais Xunzi (荀子, Mestre Xun; de seu nome Xun Kuang, 荀況) viveu no século III Antes da Era Comum (circa 310 ACE - 238 ACE). Filósofo confucionista, é considerado, juntamente com o próprio Confúcio e Mencius, como o terceiro expoente mais importante daquela corrente fundadora do pensamento e ética chineses. Todavia, como vários autores assinalam, Xunzi só muito recentemente obteve o devido reconhecimento no contexto do pensamento chinês, o que talvez se deva à sua rejeição da perspectiva de Mencius relativamente aos ensinamentos e doutrina de Mestre Kong. A versão agora apresentada baseia-se na tradução de Eric L. Hutton publicada pela Princeton University Press em 2016.
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Tonalidades António de Castro Caeiro
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RIMEIRO, começa-se pelos móveis grandes. Mas não se tiram logo. Têm de se esvaziar as gavetas e prateleiras. As gavetas e as prateleiras pesam, mas quando estão cheias, tornam-se impossíveis de carregar. Antes de os móveis que não cabem no elevador começarem a ser levados pelas escadas abaixo, temos de abrir gavetas, ver o que há de valor, aquilo com que queremos ficar, separar o trigo do joio, mas sem apego ou sentimento. É uma decisão pragmática. Ficamos com as taças para Champanhe, porque nos lembram as festas de aniversário de tios há já tanto tempo falecidos, mas que outrora fizeram celebraram os seus 40 anos. São mulheres nuas que suportam nos ombros e cabeça a taça propriamente dita. Fica também a caixinha que serviu de porta-medicamento à velhinha tia. Muita coisa tem valor, mas muita não tem. O valor de que se fala é comercial, porque o outro são camadas de tempo, não é sedimento apenas no fundo do rio do tempo que se confunde com a areia e o lodo. As camadas do tempo são o próprio rio que passa sobre as coisas e as alaga. O rio do tempo é apenas suspeitado pelos trabalhadores que vão pegar nos móveis e esvaziar a casa. Para quem lá viveu décadas, lá jantou todos os domingos
16.10.2020 sexta-feira
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O desmantelamento
de décadas de vida, os móveis da casa, as paredes, o tecto e o chão, a janela com a sua paisagem, tudo está habitado pelas vidas das pessoas que viveram nessa casa. As vidas das pessoas mortas não desaparecem quando são cremadas e enterradas. É viscosa, mantém-se agarrada ao mundo
As vidas das pessoas mortas não desaparecem quando são cremadas e enterradas. É viscosa, mantém-se agarrada ao mundo interior de uma casa. Está lá com os sobreviventes que se lembram de como os vivos enchiam uma casa. Enchiam tanto que a casa sem eles está vazia
interior de uma casa. Está lá com os sobreviventes que se lembram de como os vivos enchiam uma casa. Enchiam tanto que a casa sem eles está vazia. E saem talheres, terrinas, pratos, pires e travessas, copos para todo o serviço, serviços de chá, chávenas de café e chá. Vai a mesa redonda onde tantas vezes tomamos refeições e se falava do que se tinha passado nessa semana no mundo e nas vidas de todos. Tantas alegrias e tristezas partilhadas a olhar para a ponte 25 de Abril, um dinossauro de metal pintado de cor bordeaux, omnipresente na paisagem de Alcântara. Foi o móvel onde estava a televisão e a mesinha com Cognac. Um olhar inspector vê agora a sala vazia, cheia de pó e sujidade, tiras de papel e plástico, a alcatifa velha, a parede atrás do móvel grande pintada ainda com uma cor diferente das restantes paredes. Ninguém via. Não fazia mal. E foi também desmantelada a cozinha onde eles cozinhavam competentemente. Os bifes com ovo estrelado e batata frita para o sobrinho, mas quando vinha o Verão, o pequeno apartamento no meio de Lisboa cheirava a campo e mar com sardinhas assadas ou bacalhau com alho picado. Todos esses cheiros e aromas assomam da casa inteira e têm uma presença poderosa. O corredor fica vago do móvel gigantesco que servia de apoio
para se guardar ainda mantas e roupa que não cabiam nos outros armários. Foi uma lufada de ar fresco quando os homens o tiraram de lá para fazer passar a máquina de lavar a roupa e o frigorífico. Já não há roupa para lavar para o dia seguinte nem comida para guardar no frigorífico. Da sala de estar, levaram o móvel da televisão, o sofá-cama, as poucas estantes com livros de contabilidade e engenharia. Eram poucos. Não se lia muito para além das revistas que tinham fotografias e reportagens inventadas ou verdadeiras das gentes que lá aparecem. Aquela pequena mesinha ao centro, circular, com o cinzeiro de casa de quem não fuma onde sempre o tio punha as chaves de casa, para saber onde estavam. Havia na marquise a fechar uma varanda imensa uma arca frigorífica, uma dispensa para garrafas de vinho “fino” e Whiskey. Tudo está a ser levado naquelas horas da manhã, semanas depois do sobrevivente do casal ter morrido. Não tiveram filhos. Do quarto, começaram por esvaziar a roupa vazia dos velhos tios mortos, sem gente para a vestir ou despir-se dela. Ocos foram os roupeiros com roupa de meia-estação, Outono e Primavera e os casacos pesados para o Inverno de Lisboa ou as viagens que faziam ao estrangeiro: Áustria que era “tão linda”. Foram também as roupas leves de Verão, blusas e um casaquinho fresco. Depois, levaram o móvel do espelho, a pequena televisão que tinha sido posta no quarto, quando a velhinha já estava moribunda. Não prestava atenção ao que via, mas ouvia o terço rezado aos domingos. O velho e pequeno altar com um Santo António ou terá sido um Cristo foi despregado e estava ainda no chão. Também foi com as cadeiras que serviam para se sentarem damas de companhia, enfermeiras e a pouca família que ainda restava, quando vinha de visita. A covid-19 não deixou fazerem-se muitas visitas. Os mantimentos eram deixados à porta do prédio. A enfermeira vinha buscá-los de máscara e luvas, em pleno confinamento. A velha tia não pode receber visitas durante muito tempo e quando as recebeu já não era tempo. E a cama onde, deitada, me perguntava: “já vais?”, quando eu ia e dizia que vinha depois da parte da tarde para saber dela. Já não me ouvia dizer que regressaria. Adormeceu. A cama tinha sido desmontada e esperava no corredor para se desfazerem dela. Lá dormiram também de dia, porque a velhice nos prega à cama. Lá terão amado também na noite de núpcias. Nas noites em que se abrasaram, ter-se-ão amado naquela cama. Essas noites de amor e companhia e ternura, essas noites de solidão, frio e velhice até aos ossos não poderem dobrar-se sem dor e desconforto, a vida está nas tábuas arrumadas do que foi a cama deles.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 15
sexta-feira 16.10.2020
Ofício dos Ossos Valério Romão
O comentador desejável
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Á muitos anos que não tenho televisão; quer dizer, tenho um ecrã de não sei quantas polegadas ao qual está acoplada uma box android por onde entra o mundo dos filmes e séries. Bem sei que a televisão mudou muito. Dos dois canais da minha adolescência passámos para os 160 do pacote mínimo oferecido pelos principais fornecedores de internet. Um sujeito já não é obrigado a regular o seu horário pelos programas que quer ver; a qualquer hora pode recuar no tempo e assistir à final do Roland Garros como esta foi transmitida originalmente. A televisão, para poder competir com a internet e a sua infinidade de conteúdos, modernizou-se – não é estranho que a essa modernização corresponda uma tendência para mimetizar a forma da internet. A modernização também chegou ao estranho mundo do comentário televiso. Nos poucos e longínquos anos em que fui jovem, os comentadores vinham à televisão na qualidade de especialistas. Eram veterinários a falar da encefalopatia espongiforme nas vacas, engenheiros agrónomos a avisar para o míldio da vinha e o Nuno Rogeiro a falar de tudo quanto acontecia lá fora, pela razão de pescar algum inglês e de ter uma parabólica a bombar na CNN vinte e quatro horas por dia. Os critérios para se ser comentador, hoje em dia, “achataram a curva”, se me é permitido a metáfora epidemiológica da moda. É necessário saber muito menos de muito mais coisas. O comentador contemporâneo ideal consegue num momento discorrer sobre uma crise humanitária no médio oriente e, no momento seguinte, alinhavar um diagnóstico relativo aos problemas de balneário no Boavista. Tudo isto, claro está, sem que nos últimos vinte anos se tenha assistido a qualquer incremento na capacidade de processamento de dados do humano. O milagre não decorre do facto de o comentador contemporâneo estar de algum modo melhor apetrechado para a complexidade do mundo e dos seus desafios. O comentador contemporâneo não estuda mais do que o seu vetusto predecessor, não o ultrapassa em largueza ou profundidade de saber. O comentador contemporâneo é apenas o decalque contemporâneo da nossa precisão de conhecimento, e esta, por via das transformações inerentes à súbita abundância na disponibilidade de tudo quanto pode ser estudado, tem-se vindo a tornar cada vez mais competente na acumulação ecléctica de banalidades. O nosso medo de perder pitada e de sermos socialmente humilhados na confissão de que pouco ou nada sabemos do cinema russo dos anos setenta ou das mais recentes técnicas de recorte genético acaba por nos manipular a adquirir uma vaga notícia de conhecimento que passa
pela coisa em si. Este conhecimento em pó raramente é desmascarado pelo simples motivo de raramente um especialista o auscultar. Os especialistas, além de raros, são cada vez menos apreciados. São símbolos indesejáveis da nossa ampla mediocridade, são recordatórios pe-
los quais antevemos agoniados o longo percurso que é necessário para que um sujeito seja capaz de assomar a cabeça à tona do oceano de banalidades em que normalmente navega. O comentador contemporâneo é ainda, muito especialmente na política, ca-
O comentador contemporâneo é apenas o decalque contemporâneo da nossa precisão de conhecimento, e esta, por via das transformações inerentes à súbita abundância na disponibilidade de tudo quanto pode ser estudado, tem-se vindo a tornar cada vez mais competente na acumulação ecléctica de banalidades
paz de equacionar e resolver em abstracto todos os problemas que, em concreto, não foi capaz de desenlaçar. Muitos dos comentadores de alto gabarito na televisão portuguesa, com honras de programas semanais com nomes pomposos, nos quais se prestam as explicar às criancinhas deste lado do ecrã a incompetência ou a excelência daqueles que nos governam, fizeram parte de um ou mais dos executivos responsáveis pelo estado-de-coisas a que chegámos. A tudo isto se prestam sem qualquer assomo de decoro pela contradição inerente a explicar uma calamidade de que historicamente fizeram parte. O púlpito do comentário é uma espécie de água baptismal através da qual se redime ou se esquece todo um passado lamacento. Sigam-me para mais receitas.
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entre oriente e ocidente
16.10.2020 sexta-feira
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FICÇÃO, ENSAIO, POESIA, FRAGMENTO, DIÁRIO
Gonçalo M. Tavares
Mulheres de Itália (5) Ancilla é advogada e tenta resolver ao telefone mais um problema complicado entre vizinhos. Ela sabe que quanto mais tempo durar a má vizinhança mais ela vai ganhar dinheiro e por isso alonga a conversa e finge gostar das anedotas que o ingénuo cliente conta não percebendo que mais uma anedota é mais tempo que ele vai pagar no fim. Andromeda sobe para cima de um banco porque disse que viu um rato, mas Andreo garante que não era um rato mas um outro bicho qualquer. E diz que um dia vai haver no mundo uma inundação de ratos e essa expressão assusta-a ainda mais e ela começa a gritar. Angela tem um ar duro e pesado e está debaixo de um motor a confirmar se as válvulas foram roubadas ou envelheceram. Tem óleo na cara e cospe para mostrar que é igual a qualquer outro bruto que está por ali. Angelica está vestida de bailarina, mas o vestido tem mais de vinte anos e ela já nem cabe nele, nem sabe os passos. Anita diz ao irmão Cralo - que tem dois anos e não entende
ILUSTRAÇÃO ANA JACINTO NUNES
nada - que quer mudar para Paris no próximo ano, que já não aguenta Itália e que quer começar uma vida nova e ter um namorado francês. É mais fácil ter um namorado francês, se viver em frança - diz ainda ela ao irmão que não percebe uma palavra. Anna lê o jornal e sorri para Alberti. E diz: as notícias estão sem sentido. E depois diz ainda: Vou começar a ler as frases de trás para a frente a ver se, em vez de desastres e mortes, surge algo melhor. Annabella lê uma carta antiga da mãe e descobre que o pai não é aquele que está na sala há muitos anos, não é aquele que agora está há muitas horas a arranjar as cordas do violino para ela tocar. Annagrazia está no pátio e chama puta a uma amiga que está no primeiro andar e que se escondeu atrás da janela. Puta, puta, puta. Quem rouba o namorado de Annagrazia já sabe que não vai dormir bem durante muitos meses. Puta, puta, puta, repete Annagrazia.
(f)utilidades 17
sexta-feira 16.10.2020
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45 Cineteatro SALA 1
AVA [C]
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2 5 6 4 3 7 1 44 6
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DORAEMON THE MOVIE: NOBITA’S NEW DINOSAUR [A]
SALA 2
FATIMA [B]
Um filme de: Marco Pontecorvo Com: Stephanie Gil, Sonia Braga, Joaquim de Almeida, Goran Visnjie 14.30, 16.45, 19.30
HOTEST THIEF [B] Um filme de: Mark Williams
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1 3 5 6 7 4 2
7 4 1 2 5 6 3
5 6 7 3 2 1 4
6 2 4 5 1 3 7
C I N E M A
Um filme de: Tate Taylor Com: Jessica Chastain, John Malkovich, Common, Greena Davis 14.30, 19.30, 21.30
FALADO EM CANTONENSE Um filme de: Imai Kazuaki 16.45
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 42
3 2 4 1 6 1 7 5
PROBLEMA 43
S 43 5 U 1 6D3 O2 K 4 7U
3 1 2 7 4 5 6
2 1 6 7 4 3 46 1 6 5 6 2 1 3 7 2 5 4 5 7 www. hojemacau. 5 3 4 com.mo
3 14 7 66 5 2 4 3
4 56 1 33 2 77 6
7 2 44 1 6 33 5
Com: Liam Neeson, Kate Walsh, Jeffrey Donovan, Jai Courtney 21.45 SALA 3
GREENLAND [B]
Um filme de: Ric Roman Waugh Com: Gerard Butler, Morena Baccarin, Scott Glenn 14.15, 21.30
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5 7 4 3 2 6 1
4 1 6 7 5 2 3
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46 UMA SÉRIE HOJE
5 4 5 7 1 3 Esta série história 6 2 conta 3 a1 4da 5 ETA, uma organização terrorista espanhola que lutou pela 2 5 7 6 2 1 independência do País Basco e que, entretanto, foi desman7 2 Etxebarrieta, 3 6 4 telada.7Txabi da organização, a 7 de 3 2 5líder 4 matou 5 aquele 7 6 Junho3 de 1968 que foi a primeira vítima do 4 1 4Pardines. 3 2 grupo,6o agente Poucas horas depois, Etxe15 3 barrieta1foi morto 6 pela 2 Guarda 5 7 Civil. Esse dia fatídico deu 6 2início a uma guerra que faria
THE CONFIDENCE MAN JP ESPISODE OF THE PRINCESS [B] FALADO EM JPONÊS LENGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Ryo Tanaka Com: Masami Nagasawa, Masahiro Higashide, Fumiyo Kobinata 16.30, 19.00
9.33
BAHT
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Centenas de manifestantes juntaram-se no centro de Banguecoque, desafiando um decreto ontem adoptado que instaurou o estado de emergência para proibir reuniões de mais de cinco pessoas e dispersar uma manifestação contra o Governo e a monarquia. “Libertem os nossos amigos”, gritavam os manifestantes, já que pelo menos quatro líderes de um protesto iniciado na quarta-feira, para exigir a renúncia do Governo e reformas da Constituição e da monarquia, foram detidos. O Governo da Tailândia decretou ontem de manhã o estado de emergência na capital, proibindo reuniões com mais de cinco pessoas.
DESAFIO AO ESTADO DE EMERGÊNCIA
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mais48 de 800 mortos e duraria 50 anos. “A Linha Invisível” relata também a Espanha no período da ditadura franquista. Andreia Sofia Silva
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A LINHA INVISÍVEL | BARROSO MARIANO | 2020
3 7 4 5 4 1 2 3 7 5 6 5 2 1 6 3 2 5 1 4 6 7 4 3 7 2 AVA 5 6 7 2 1 4 3 7 1 2 6 7 5 3 4 7 4 6 5 3 2 1 3 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes 6 4 5 1 2 3 4 7 6 1 5 Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; 2 Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; 2 Maia1e Carmo;6Rita Taborda 3 Duarte; Rosa Coutinho6 7Cascais;1Rui Filipe 4Torres;5Sérgio Fonseca; 3 2 Paulo Cabral; Rui Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Namora; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo1 Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Xinhua Secretária e Publicidade 1 Lusa; 6GCS;2 76 n.ºde19,redacção 1 Madalena 5 da3Silva(publicidade@hojemacau.com.mo) 6 2 7 4 AssistentedemarketingVincentVongImpressãoTipografiaWelfare Morada Calçada de7 Santo Agostinho, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo 4
18 opinião
16.10.2020 sexta-feira
um grito no deserto
A quarta vaga
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pandemia de covid-19 surgiu no início deste ano e ainda não deu sinais de estar a chegar ao fim. Em algumas zonas, a pandemia tem registado um padrão de altos e baixos, como é o caso de Hong Kong, que enfrenta agora uma terceira vaga. Ainda não se sabe se a fronteira entre Hong Kong e Macau vai ser reaberta. A segunda fase do cartão de consumo electrónico, implementada pelo Governo de Macau, termina em Dezembro, mas a maioria dos residentes da cidade já tinha gastado a quase totalidade das 5.000 patacas no final de Setembro. Actualmente, Macau ainda enfrenta um grave declínio económico e, apesar da retoma da política de vistos individuais implementada pela China, o número de turistas do continente decresceu substancialmente, quando comparado com o fluxo habitual antes da pandemia. Para além disso, a maior parte destes turistas vêm a Macau fazer compras o que não contribui para as receitas da indústria do jogo. Os casinos continuam praticamente vazios. Segundo os promotores de jogo, vêm muitos menos jogadores da China para Macau, porque o Governo Central está a fazer um controlo apertado de saída de divisas, na medida em que a economia chinesa sofreu também um forte revés devido aos efeitos da pandemia.
Como as vacinas contra a COVID-19 estão ainda em fase de ensaios clinícos e o virus continua a sofrer mutações, sendo que a sua origem permanece desconhecida, é muito provável que venhamos a enfrentar uma quarta vaga de infecções. Possivelmente, só quando todos desenvolverem anti-corpos a pandemia possa finalmente terminar. Se houver uma quarta vaga de covid-19, acredito que todos a vão conseguir superar. Mas já quanto à quarta vaga de distúrbios politicos que acompanharão a pandemia, não posso afirmar o mesmo porque os vírus políticos são muito mais terríveis e complicados de combater do que os biológicos, e encontrar uma cura para aqueles é sem dúvida muito mais difícil. O falecido académico americano, Samuel P. Huntington, fez uma previsão no famoso livro, A Terceira Vaga: Democratização, onde afirmava “…não é previsível que venha a haver uma quarta vaga de democratização durante o século XXI. Avaliando pelo que se registou no passado, os dois factores decisi-
Cada decisão tomada pelos líderes políticos pode provocar vagas gigantescas e muitos decisões erradas podem ter consequências devastadoras. Um tsunami político é mais assustador do que um tsunami verdadeiro ou do que um tsunami económico
vos que vão determinar a futura consolidação e expansão da democracia são o desenvolvimento económico e a liderança política”. Será que a covid-19 vai fazer desencadear uma quarta vaga de democratização? Alguns analistas afirmaram que o impacto económico da covid-19 se iria fazer sentir seis meses após o aparecimento do primeiro surto. A indústria do jogo em Macau, a Cathay Pacific Airways de Hong Kong e o multinacional HSBC Bank, encontram-se todos em estado de letargia, e o mercado imobiliário da China está à beira do colapso. Quando o sector industrial e o sector financeiro na China deixarem de estar em sintonia, vai desencadear-se uma reacção em cadeia que devastará a economia. O que me parece particularmente preocupante é a questão da liderança política quando esse dia chegar. As perturbações sociais de longa data em Hong Kong afectam as relações sino-americanas, criando um efeito-borboleta. Cada decisão tomada pelos líderes políticos pode provocar vagas gigantescas e muitos decisões erradas podem ter consequências devastadoras. Um tsunami político é mais assustador do que um tsunami verdadeiro ou do que um tsunami económico. Os habitantes de Macau não têm campo de manobra, por isso vão ter de confiar na liderança do Chefe do Executivo. A recuperação da vitalidade da economia, a possibilidade de se controlar uma provável quarta vaga da pandemia, são questões que vão depender do desempenho económico e político dos líderes mundiais, bem como a possibilidade de virmos a acolher uma quarta vaga de democratização.
Ex-deputado e antigo membro da Associação Novo Macau Democrático
PAUL CHAN WAI CHI
opinião 19
sexta-feira 16.10.2020
MÁRIO DUARTE DUQUE
Plano Director III
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DA MORFOLOGIA URBANA URBANISMO PRESCRITIVO OU DESCRITIVO formação de urbanista obtém-se por vias diversas. Pode ter origem na engenharia, na geografia ou na arquitectura e, em função disso, os contributos de especialidade podem ser na área das infra-estruturas, da demografia, dos transportes e da distribuição dos usos, ou mesmo somente para a integração de todos esses contributos numa morfologia urbana, cuja aptidão continua a ser exclusivo da formação urbanista com origem na arquitectura. Essa realidade não é mais do que o resultado da especialização e autonomização do conhecimento, sendo que todos esses contributos são simultaneamente necessários. Por sua vez as situações podem reclamar a predominância de um desses contributos, tendo em conta as prioridades e os objectivos a que o plano deve dar resposta e, nesse exercício, é possível identificar qual desses contributos está em comando ou foi negligenciado. No caso do Projecto de Plano Director para a RAEM suscita-se que a circulação e a distribuição de usos tenham estado em comando e que o contributo mais ténue tenha sido a morfologia urbana. Para a questão importa ter em atenção duas tradições de urbanismo que são o “prescritivo”, de matriz predominante anglo-saxónica, e o “descritivo” de matriz mais continental europeia. O primeiro pratica-se por via de parâmetros e índices a que as edificações devem obedecer, o segundo define a morfologia urbana a que as edificações devem corresponder. Chegados aqui, fácil é admitir que o “urbanismo descritivo” é mais garante de uma paisagem urbana qualificada do que o “urbanismo prescritivo”, e que o “urbanismo prescritivo” pode ser responsável por uma paisagem urbana estéril por excessiva normalização paramétrica. Reportando à realidade da RAEM todas essas situações estão presentes e permitem este aval.
Nas zonas da cidade não sujeitas a Plano de Pormenor praticou-se “urbanismo prescritivo” na última metade do séc. XX por influência de Hong Kong, onde a ocupação foi resultado de um algoritmo que tinha a área do lote como variável mais definidora. Por via da disparidade das dimensões dos lotes e da possibilidade de se aglutinarem lotes para uma única edificação, a imagem urbana resultou aparentemente desregulada e deveras acidental. Como resultou totalmente homogénea por normalização da única variável em presença, i.e. a dimensão e a configuração do lote, inscritas na mesma operação urbanística, como é o caso do Bairro do Hipódromo. Por outro lado, o “urbanismo descritivo” aconteceu por via do recurso a soluções tradicionais ou a projectos tipo, que respeitavam planos marginais de fachadas. Disso, o Porto interior foi o exemplo mais relevante, todavia mais delapidado. Como também aconteceu por via de Planos de Pormenor, que é o caso do Plano dos Novos Aterros do Porto Exterior (o NAPE) e o Plano de Fecho da Baía da Praia Grande. O primeiro pautado pelas regras da matriz geométrica abstracta e racional, o segundo por uma matriz geométrica extraída da paisagem local. Fora de qualquer uma destas situações de urbanização, as ocupações são resultado de instrumento de planeamento urbano ainda prévio designado por “zonamento”, o qual significa apenas bolsas de território afectas a uma determinada finalidade. Não é ainda molde de urbanização, muito menos garante de paisagem urbana qualificada. No Projecto de Plano Director para a RAEM que se encontra em consulta, as novas zonas habitacionais da Zona A dos Novos Aterros tem esta descrição visual:
E, face aos elementos de interpretação atrás descritos, o mesmo tanto pode antever um modelo de “urbanismo descritivo” a que as edificações devem obedecer, todavia sem render uma paisagem urbana interessante ou qualificada, ou antes um resultado estéril de “urbanismo prescritivo”, por excessiva normalização paramétrica. Não sendo nem uma coisa, nem outra, estamos perante um resultado ainda prévio de apenas “zonamento” para a finalidade habitacional. Qualquer coisa que dantes podíamos representar ingenuamente assim:
Porque era este o nosso arquétipo de casa, e agora passámos a representar premeditadamente em “cruz” porque esse passou a ser o novo, recorrente, e aparentemente único arquétipo de casa. A questão releva porque, muitas vezes, é somente e exactamente “zonamento” o que se pratica e se concretiza, por falta de exercício de morfologia urbana. A questão também releva porque é exactamente preocupação do Projecto de Plano Director a preservação da paisagem, nomeadamente a preservação dos avistamentos notáveis, mas não a criação de paisagem e de avistamentos novos igualmente notáveis, nomeadamente de zonas residenciais. A questão é em tudo semelhante à preocupação na defesa do património histórico, sem cuidar da relevância do que se constrói hoje, e de acrescentar património histórico ao futuro. Da mesma forma que se almeja que os nossos padrões de consumo se norteiem cada vez mais por essencialidade, a edificação a realizar no futuro, com capacidade de ser duradoura, deve pautar-se pela confiança naquilo que é desejável persistir.
Da mesma forma que se almeja que os nossos padrões de consumo se norteiem cada vez mais por essencialidade, a edificação a realizar no futuro, com capacidade de ser duradoura, deve pautar-se pela confiança naquilo que é desejável persistir
As pessoas podem duvidar do que dizes, mas acreditarão no que fizeres. Lewis Carroll
Pandemia Fórum sino-lusófono de cooperação no horizonte
Kilimanjaro Tanzânia pede apoio para combater incêndio
A China está a estudar a criação de um fórum sino-lusófono de cooperação e prevenção de epidemias, anunciou ontem o porta-voz do Ministério do Comércio chinês, que salientou também o papel do Fórum Macau enquanto ponte entre a China e os países lusófonos durante a pandemia. A ideia é reforçar “a cooperação na área da saúde e prevenção de epidemias entre a China e os países de língua portuguesa”, explicou o porta-voz na conferência de imprensa regular do ministério. Por outro lado, Pequim vai procurar promover as exportações na área da alimentação dos países lusófonos para a China, acrescentou. O mesmo porta-voz salientou o papel da Região Administrativa Especial de Macau na articulação com os países de língua portuguesa durante a pandemia, em especial através do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.
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I Liga Sporting-Gil Vicente joga-se a 28 de Outubro
O Sporting-Gil Vicente, da primeira jornada da I Liga portuguesa, que foi adiado em Setembro devido aos testes positivos para o novo coronavírus nas duas equipas, vai disputar-se em 28 de Outubro, informou ontem a Liga de clubes. De acordo com o comunicado emitido Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), esta “foi a data encontrada pelos clubes e pelo operador [televisivo], para que se realize” o encontro em atraso, no Estádio José Alvalade, com início marcado para as 21:45. O horário “mais tarde do que é habitual” deve-se, segundo a LPFP, ao acordo existente entre a UEFA e os clubes europeus, que impede que haja sobreposição de jogos das divisões principais com os da Liga dos Campeões. Em 28 de outubro, uma quarta-feira, realizam-se encontros da segunda jornada da principal competição europeia de clubes.
Japão Testes de combate ao surto em estádio quase cheio
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O Japão autorizou a realização de três partidas de basebol no estádio Yokoama com lotação quase completa, para testar medidas de combate à disseminação do novo coronavírus, anunciou ontem o ministro da Economia, Yasutoshi Nishimura. Os três jogos deverão realizar-se entre 30 de outubro e 1 de Novembro, devendo o recinto, que acolherá as competições olímpicas de basebol e softebol, ter público a 80 por cento da sua capacidade total, fixada em 34.000 lugares. Nishimura, encarregue do programa de prevenção contra a pandemia de covid-19, explicou que os jogos “são uma experiência”, a cerca de oito meses dos Jogos Olímpicos Tóquio2020, adiados para o Verão de 2021, devido à doença que já provocou mais de um milhão e noventa e três mil mortos em todo o mundo. Yuji Kuroiwa, governador da província de Kanagawa, na qual se localiza o estádio, manifestou a esperança de que este tipo de testes “sejam um grande passo para o sucesso dos Jogos Olímpicos”.
sexta-feira 16.10.2020
PALAVRA DO DIA
Proibido baixar a guarda CDC alerta para perigo de segunda vaga “devastadora” de covid-19 em África
O
director do CentroAfricano de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC) alertou que se os países e as pessoas abrandarem as medidas contra a covid-19 haverá uma segunda vaga com "consequências devastadoras". "Apelo fortemente ao continente para que não baixe a guarda porque as consequências seriam devastadoras", advertiu John Nkengasong, durante a conferência de imprensa semanal sobre a evolução da pandemia no continente africano. Desde que a primeira infecção continental foi detectada a 14 de Fevereiro, no Egito, a região acumulou pouco mais de 1,6 milhões de casos (4,2 por cento do total mundial), mais de 39.000 mortes (3,6 por cento do total mundial) e 1,3 milhões de pessoas recuperadas, segundo os últimos dados divulgados ontem pelo CDC África, uma agência que funciona no âmbito da União Africana (UA).
Cinco países são responsáveis por 69 por cento das infecções notificadas no continente, com destaque para a África do Sul, que concentra 43 por cento dos casos, equivalente a quase 700 mil pessoas, numa lista em que figuram também Marrocos, Egito, Etiópia e Nigéria. Depois do pico registado em Julho, a evolução da pandemia abrandou, mas nas últimas quatro semanas o ritmo de contágios acelerou, havendo um aumento médio de 7 por cento das novas infecções, de acordo com o viro-
“Não podemos permitir-nos uma segunda vaga no continente devido à fadiga, as nossas economias não sobreviveriam.” JOHN NKENGASONG ÁFRICA CDC
logista camaronês, que destacou também o "aumento médio de 8 por cento no número de novas mortes por semana" durante esse período. "Atingimos um ponto crítico na nossa resposta" à crise do coronavírus; já assistimos a grandes reduções no número de casos, mas agora estamos a assistir a aumentos", alertou Nkengasong.
PERIGO DE MORTE
O director do África CDC avisou que o continente não pode dar-se ao luxo de abrandar as medidas de contenção e avisou que a fadiga tem de ser combatida. "Não podemos permitir-nos uma segunda vaga no continente devido à fadiga, as nossas economias não sobreviveriam", concluiu o responsável. África registou nas últimas 24 horas mais 254 mortes devido à covid-19, para um total de 39.122, havendo 1.603.982 infectados, mais 11.433, segundo os últimos dados relativos à pandemia no continente.
Governo da Tanzânia pediu ontem meios de reforço, nomeadamente helicópteros e aviões, para ajudar a apagar um incêndio no Monte Kilimanjaro, a montanha mais alta de África, com 5.926 metros. O Ministro dos Recursos Naturais e Turismo, Hamisi Kigwangalla, disse ontem na sua conta na rede social Twitter que pediu o apoio de helicópteros e aviões de combate a incêndios para ajudarem os mais de 500 bombeiros que estão a combater as chamas nas encostas do Parque Nacional do Kilimanjaro. O fogo espalhou-se, tornando-se mais difícil controlar as chamas, disse Kigwangalla, acrescentando que “o desafio é o vento forte, o prado seco e o mato”. O incêndio já queimou 28 quilómetros quadrados de vegetação e está agora muito activo numa área conhecida como Monte Kifunika, explicaram as autoridades do parque. Os bombeiros fizeram progressos no controlo do fogo, mas, depois, os ventos fortes reacenderam os incêndios na quarta-feira, provocando enormes chamas que podiam ser vistas até 30 quilómetros de distância, na cidade de Moshi, no norte da Tanzânia. O incêndio destruiu ainda o Campo Turístico Horombo, queimando 12 cabanas e equipamento solar, disse Kigwangalla. O fogo começou no domingo à tarde, na área de Whona, uma paragem para os que escalam o Monte Kilimanjaro, uma das principais atracções turísticas da Tanzânia, e utilizam as rotas de Mandara e Horombo, afirmou o ministro, que adiantou ainda que a causa deste incêndio é desconhecida.