Hoje Macau 16 MAR 2016 #3774

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LAI CHI VUN

Comissão Protestos de olho nas chegam mensagens à cidade PÁGINA 5

PÁGINA 7

MACAU PEN CLUB

anos de literatura

EDUARDO MARTINS

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ELEIÇÕES

EVENTOS

O Nero da poesia JULIE O’YANG

Diário de um ornitólogo ANTÓNIO CABRITA

h

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hojemacau

SOFIA MARGARIDA MOTA

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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QUINTA-FEIRA 16 DE MARÇO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3774

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

JOSÉ MANUEL ROSENDO

A guerra dos mundos ENTREVISTA


2 ENTREVISTA

JOSÉ MANUEL ROSENDO REPÓRTER

“Quem vai fazer este tipo de reportagem não se pode queixar. E dormir no chão também não é nada do outro mundo. Já sabemos como é.”

“O jornalista não é um Como é que aconteceu fazer reportagem de guerra? Como é que a oportunidade surgiu? Lembro-me muito bem. O nosso saudoso Luís Ochoa passou por mim na redacção e perguntou-me se eu queria ir até ao Afeganistão. Não estava minimamente à espera, mas disse que sim. Acabei por não ir dessa vez. Isto foi em 2001, logo a seguir ao 11 de Setembro. A oportunidade voltou a surgir em 2003, com a invasão do Iraque. Aí, a Antena 1 enviou um jornalista para o Iraque e havia a possibilidade de entrarem tropas no país através da fronteira com a Turquia. E eu fui, nessa perspectiva, que acabou por não se concretizar, porque a Turquia não abriu a fronteira e, portanto, por ali não houve invasão terrestre, apenas permitiram que o espaço aéreo fosse utilizado. Confesso que fiquei um bocado frustrado. Ninguém passou, ficámos todos na zona turca. Acabei por ir lá quando soube que a GNR ia para o Iraque. Fiz a proposta de ir ver para onde é que a GNR ia, fomos lá fazer reportagem, em Nassíria. Depois, como já lá tinha estado, quando a GNR foi mesmo para o Iraque, fui eu também. A partir daí, fica aquele bichinho, não pela guerra, mas por tratar aquele tipo de informação, aquela área do mundo. Tinha uma noção da importância do Médio Oriente, mas essa noção cresceu muito a partir do momento em que comecei a acompanhar e a perceber que é uma coisa central em termos de política internacional, e é uma zona permanentemente em conflito. É uma zona também complicada de compreender. Há o obstáculo da língua, as características culturais e políticas são muito diferentes das nossas. Como é que se ultrapassa tudo isto? É curioso e, às vezes não temos noção disso, que o chamado Ocidente começou por ser ali. O Ocidente, há uns milhares de anos, era ali, na zona do Crescente Fértil, aquela zona que vai do Líbano, passa pelo norte do Iraque, pela Síria, pelo sudeste da Turquia, até pelo Irão. Aí era o Ocidente, em contraponto ao Oriente, que era na China, na zona do Rio Amarelo. Os povos começaram a deslocar-se para a Europa e o Ocidente é aquilo que hoje sabemos. Acho que é preciso ler muito, estudar muito. Para entender o Médio Oriente é preciso,

sobretudo, tentar escapar a alguns conceitos que estão enraizados e que não correspondem à realidade. À medida que vamos conhecendo o terreno, percebemos que há conceitos que interiorizámos – não todos, obviamente – que são retratos distorcidos da realidade. A realidade é diferente.

“Tento fazer sempre reportagem com pessoas lá dentro. Não é aquela reportagem que recorra muito a fontes políticas ou militares.” Nomeadamente na relação com a religião. Sim. Na maior parte daqueles países, o Islão é um pilar central da vida das pessoas. Mas não faz delas radicais, nem extremistas – não tem nada que ver uma coisa com a outra. Os povos árabes são como outros povos quaisquer, onde há pessoas más e pessoas boas, onde há pessoas radicais e outras mais ponderadas. Agora, como é uma região em permanente ebulição, que tem fronteiras artificiais, rica em recursos, onde meia dúzia de décadas em termos históricos não é nada – portanto, até há pouco tempo estava uma região colonizada –, tudo isso contribui para que haja até agora um conflito quase permanente naquela zona. E depois há a interferência externa que dificulta ainda mais as coisas. Para o Ocidente mais a Ocidente, até há poucos anos o Médio Oriente era um problema que não lhe dizia respeito. De repente, com as alterações políticas, a guerra, as vagas de refugiados, o Médio Oriente foi bater à porta das pessoas de outra maneira. O desconhecimento é o principal problema em relação à integração de refugiados? Acho que sim. É uma parte do problema que, se calhar, é potenciada pela situação financeira que a Europa atravessa. Mas, se os refugiados estão agora a bater à porta da Europa, a Europa bateu durante muito tempo à porta dos países

onde estas pessoas viviam. Essa é que é a questão. O Médio Oriente era uma questão de segunda linha em termos de actualidade. Era lá longe. De repente, percebemos que não é bem assim. Aliás, sobretudo os países do Sul da Europa deviam olhar com mais atenção para todo o Mediterrâneo. Neste momento, a política externa da União Europeia (UE) é uma coisa que ninguém sabe muito bem o que é, não se dá a devida atenção à questão do Mediterrâneo mas, de facto, é a nossa vizinhança próxima. Estamos mais próximos dos nossos vizinhos africanos do que do Norte da Europa. Também entendo que os países do Norte da Europa não tenham grande apetência por discutir os assuntos do Mediterrâneo. Isto é um dilema no qual a UE está envolvida, não sei como se poderá resolvê-lo, e é mau que tenham de se tomar decisões sobre pressão – nomeadamente por causa dos refugiados – não havendo uma política externa já definida para estabelecer uma relação com estes países que são a nossa vizinhança. A geografia é uma coisa à qual não se pode fugir: por muito que nós queiramos, não mudamos isso. Portanto, há que encontrar formas de estabelecer um relacionamento que seja bom para todas as partes. Tem de se encontrar esse ponto comum. Até que ponto deverá ser uma preocupação dos jornalistas, e de quem tem um conhecimento maior em relação ao Médio Oriente, ter um papel de sensibilização – diria até pedagógico, se quisermos – para que a integração dos refugiados em Portugal seja bem-sucedida? O jornalismo deve ter este papel de garantir que as pessoas têm acesso ao quadro todo. Sim. Mesmo que não seja com o objectivo pedagógico, o facto de divulgarmos informação correcta, de aprofundarmos os problemas, de darmos contexto às pessoas, isso faz com que, de facto, resulte numa atitude pedagógica em relação aos problemas. E acho que devemos fazer isso, dar a conhecer, informar, relatar com o máximo rigor, fugindo aos tais conceitos, aos lugares-comuns. Mas é preciso ter espaço para isso. E há espaço? Não há espaço suficiente, sobretudo em Portugal, o que tenho

SOFIA MARGARIDA MOTA

Porque não se trata de oferecer às pessoas os aromas que elas querem, os jornalistas não estão hoje a fazer o que devem. Faltam recursos, investimento, opções editoriais que permitam os caminhos certos a quem tem a informação como profissão. José Manuel Rosendo, jornalista da Antena 1, tem a carreira marcada pelos cenários de conflito, pelo Médio Oriente que aprendeu a conhecer nas piores circunstâncias. Uma conversa sobre a guerra, as ideias feitas que é preciso combater e a atenção que não se dá ao mundo

dificuldade em perceber. Temos três canais nacionais de televisão, 24 sobre 24 horas. Temos rádios nacionais. Perdemos horas e horas e horas a falar sobre futebol. Debates de gente sentada, a discutir se foi penálti ou fora de jogo, e com as imagens do respectivo jogo a andarem para trás, para a frente, para trás, para a frente. Perdemos horas. Bastava que se desse uma horinha por semana a estas questões – e não digo para falar apenas do Médio Oriente, estamos completamente afastados daquilo que se passa na Ucrânia, que é à porta da Europa. Se, neste momento, fizéssemos um inquérito e perguntássemos o que é que se passa, por exemplo, na Holanda, em termos de eleições, ou o que se passa na Alemanha, as pessoas não sabem. Pura e simplesmente não sabem, porque nós temos uma informação que mantém em agenda determinados assuntos – e não digo que não sejam assunto, continuam a ser, mas são mastigados e remastigados. Se há uma coisinha nova, para se dar esse acrescento de informação vai buscar-se tudo o resto, constrói-se


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vendedor de sabonetes” informativa tal que as histórias quase que vêm ter connosco, muitas vezes. Temos de ter os sentidos despertos para perceber, quando vamos a passar, onde é que está a história, e para perceber o ângulo. Depois, tem de se cuidar de tudo: os países em guerra funcionam de uma forma anárquica, os serviços não funcionam, a maior parte das vezes é preciso recorrer ao mercado negro para arranjar combustível, tenho de me preocupar com o carro, com o guia, com o tradutor, com as comunicações, com a alimentação, com o sítio onde vou dormir. Mas quem vai fazer este tipo de reportagem não se pode queixar, isto não é uma lamúria. E dormir no chão também não é nada do outro mundo. Já sabemos como é.

ali uma novela e lá vão dez minutos ou um quarto de hora de telejornal com aquilo. No dia seguinte, a história repete-se. Isto é muito complicado. Não sei como é que se dá a volta a isto. Dá-se a volta havendo vontade editorial, mas depois não há pessoas. Estamos numa situação complicadíssima. Voltando à guerra. Vários países percorridos, muitas situações complicadas. Para quem não é jornalista, como é chegar de repente, com uma equipa pequena – ou sozinho – a um cenário de guerra, recolher informação e passá-la de uma forma que, ainda por cima, não é visível, atendendo a que trabalha sobretudo na rádio? Como é que se conta essa guerra? A maior parte das vezes vou sozinho, sem mais ninguém. Só para ter uma ideia, recordo-me, por exemplo, de ver a CNN alugar um piso de hotel. Chegam lá e alugam um piso inteiro: produtores, jornalistas, câmaras, motoristas, segurança, tradutor. Em 2011, Kadhafi foge de Trípoli, entrámos

na cidade e os hotéis estavam fechados, porque a maior parte dos trabalhadores eram imigrantes dos países ali à volta e tinham fugido. Como caíram lá os jornalistas todos, reabriram à pressa dois ou três hotéis. Esperámos na recepção, deitados no chão, que nos dessem a chave do quarto. Esse hotel tinha um jardinzinho que era o único sítio onde se conseguia ligar o satélite. Recordo-me de ver a equipa da Al Jazeera, de manhã, a fazer os briefings, e eram mais de 20 pessoas. E isto só em Trípoli, não contando com os que já estavam na rua. Isto dá uma ideia da dimensão. Quem vai sozinho faz passo a passo. Somam-se contactos, conhecem-se fixers [locais que ajudam os correspondentes estrangeiros], vai-se tendo referências, e é com isso que se consegue trabalhar. Depois, tento fazer sempre reportagem com pessoas lá dentro. Não é aquela reportagem que recorra muito a fontes políticas ou militares, sobretudo em termos de informação pura e dura – acho que a maior parte das vezes somos enganados nesse tipo de coisas. Aquilo é de uma riqueza

Das muitas histórias que guardou, alguma que o tenha marcado particularmente? Há histórias. Há a de um camarada que depois morreu, e isso mexe um bocadinho connosco. Mas há histórias... Lembro-me que, no Líbano, tinha estado em Beirute e depois houve um dia em que decidimos ir para a sul, para a zona mais Hezbollah. Telefonaram-me da rádio a dizer que Israel tinha acabado de bombardear Qana e as agências estavam a dizer que foi um morticínio. Íamos a meio do caminho, fizemos um desvio e fomos para Qana. Israel bombardeou e atingiu um edifício que abateu, as pessoas tinham-se refugiado na cave, morreram lá em baixo, e muitas eram crianças. Quando cheguei lá, parámos e uma série de pessoas apareceu à volta do carro. Agarraram-me e percebi que me queriam mostrar qualquer coisa. Levaram-me para junto de uma carrinha, abriram as portas de trás e eram só corpos de crianças. Estavam as equipas de socorro a tirar as crianças lá de baixo, e adultos também. É uma imagem que fica. Como é que se lida com esse contacto com a morte? Presumo que a primeira vez seja muito complicada. É. Mas às vezes nem é preciso chegar à morte. Aconteceu-me agora no Iraque, da última vez que lá estive. A minha primeira preocupação é o som, obviamente, mas também faço fotografia, mas para mim. Quando percebo que tenho ali um espaço faço umas fotografias. Estava numa zona, à entrada de Mossul,

que era o primeiro posto da frente para onde eram transportadas as pessoas feridas nos combates. Era um corrupio brutal. Uns chegavam mortos, crianças, adultos, velhos. E eu estava ali a fazer fotografias daquele movimento. As pessoas que estavam ali, os militares, não tinham meios. Não se podia chamar hospital àquilo – era uma vivenda, com umas macas. Quando enchia – o fluxo era grande –, começavam a pôr as macas cá fora, na rua, no meio do pó. Às tantas chega um miúdo, que devia ter uns nove ou 10 anos, que vinha ferido, ensanguentado. Deitam o miúdo na maca, o médico põe-lhe a faca nas calças e abre. Quando vou a fazer a fotografia, vi que o joelho praticamente tinha desaparecido. Acho que foi a primeira vez que não fui capaz. Talvez por ter um filho daquela idade, naquele momento houve ali um clique, virei a cara e fui embora. Não sei porquê. Sabemos que na guerra morrem pessoas, que há bombardeamentos e que vamos encontrar pessoas mortas, inconscientemente até já vamos preparados para isso, mas, de facto, naquele momento, virei a cara. Se calhar fui mau jornalista na altura, não faço ideia. Passado um bocado voltei, mas aquela imagem daquele miúdo, ferido daquela forma... Não consegui.

“Para entender o Médio Oriente é preciso, sobretudo, tentar escapar a alguns conceitos que estão enraizados e que não correspondem à realidade.” E voltar ao dia-a-dia de uma redacção, dos assuntos que, de repente, perdem toda a importância? Isso é que é uma chatice, porque voltas, chegas à redacção e dizes “não se passa nada”. Começas a olhar para os assuntos e pensas “mas que importância é que isto tem?”. Essa é a parte mais difícil, retomar o ritmo da informação diária, corriqueira, ainda por cima porque valorizamos muito

a trica política. Gosto muito de política, a grande política – as políticas de desenvolvimento, de educação, esses temas fortes que devem ser debatidos com profundidade e agarrados com unhas e dentes – mas detesto a trica política, que não leva a lado algum. Passamos a vida com um que diz que o outro acordou mal disposto e depois vamos ouvir o que foi acusado de ter acordado mal disposto. Chegamos ao fim do dia, esprememos esta informação e vemos o que tivemos aqui: nada, na maior parte dos casos. Essa trica política faz parte do marketing político e deixamo-nos ir atrás dela. Se calhar é por isso que as pessoas se afastam um bocadinho de nós, e deixam de ler, de ouvir e de ver televisão, porque estão fartas. Não estamos a ser capazes de dar às pessoas aquilo que é realmente importante. Há vontade de voltar à guerra? Não digo voltar à guerra, mas vontade de voltar ao Médio Oriente, sim. Ninguém sabe muito bem o que vai por ali acontecer, há muito tempo que se fala na necessidade ou até na inevitabilidade de se redesenharem as fronteiras no Médio Oriente. No Iraque, vamos ver o que vai acontecer em Mossul. Não sei até que ponto continuará a ser como o conhecemos até 2003. Não sei se a Síria vai continuar a ser com as fronteiras que tinha até agora, há ali um problema entre xiitas e sunitas que não sei como vai acabar. Temos a Rússia agora metida em força na região, os Estados Unidos dão sinais de querer regressar, depois de Obama ter tido uma política em que passou a questão do Médio Oriente para segundo plano. É um tempo de expectativa e é preciso voltar lá, perceber o que está acontecer. Mas enquanto tivermos estas opções editoriais e esta falta de recursos... É preciso investimento na informação porque, se não há recursos, não há retorno financeiro, e então corta-se. Passado um tempo, os recursos são ainda menos, o retorno é ainda menos, e corta-se de novo. É o caminho para o abismo. Também é importante que quem invista na informação não veja nela um pote de rebuçados ou de sabonetes. A informação não é isso, é outra coisa. Houve alguém que disse, aqui há uns tempos, que deixámos de dar às pessoas o que é importante e passámos a dar aquilo que elas querem. Pronto, acabou. Isto é o inverso do que devia ser o jornalismo; é o vendedor de sabonetes, que dá à pessoa o sabonete com o aroma que ela quer. Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com


4 POLÍTICA

hoje macau quinta-feira 16.3.2017

APN DEPUTADOS DE MACAU PEDEM MAIS FUNCIONÁRIOS NAS FRONTEIRAS

Os deputados de Macau à Assembleia Popular Nacional solicitaram ao Governo Central mais inspectores nas fronteiras de acesso a Zhuhai. Com a entrada em funcionamento da ponte Hong KongZhuhai-Macau e do novo posto fronteiriço entre Guangdong e o território, os acessos vão sofrer alterações e a medida tem como fim não causar transtornos

Começar a pensar no futuro

A

S fronteiras com o Continente e os respectivos acessos voltaram a ser um dos tópicos abordados pelos deputados de Macau à Assembleia Popular Nacional (APN). Oito deputados sugeriram ao Governo Central o aumento de inspectores na fronteira de Zhuhai, uma ideia que vem na sequência da construção da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. A entrada em funcionamento da infra-estrutura está prevista para o final do ano e as obras do novo acesso fronteiriço entre Guang-

É complicado fazer um novo ajustamento do pessoal para satisfazer as necessidades das novas fronteiras mas, se tal não acontecer, o seu funcionamento vai sofrer um grande impacto

Uma mudança “imprudente” Pereira Coutinho questiona prazos para recenseamento eleitoral

em Setembro, o prazo fixado para a conclusão do recenseamento eleitoral é demasiado imprudente. Em consequência disto, alguns cidadãos, que já tinham reunido os necessários TIAGO ALCÂNTARA

O

deputado José Pereira Coutinho entregou uma interpelação escrita ao Governo onde questiona as razões para a antecipação das datas para o recenseamento eleitoral. Isto porque, antes de 2008, os residentes podiam recensear-se até ao dia 1 de Junho do ano de eleições. “Porque é que o Governo optou por terminar tão cedo o respectivo prazo?”, questiona. A lei do recenseamento eleitoral foi alvo de alterações nesse ano, tendo sido definido o prazo de 1 de Janeiro do ano de eleições para o recenseamento. “Vários cidadãos fizeram reflectir junto do meu gabinete o facto de que, tendo em conta que as eleições para a nova legislatura apenas terão lugar

dong e Macau decorrem a rápida velocidade, pelo que é necessário respostas imediatas, defende a representação do território nas reuniões que decorrem na capital chinesa. De acordo com o Jornal do Cidadão, os representantes locais consideram que, num futuro muito próximo, Zhuhai vai enfrentar falta de recursos humanos para o controlo das fronteiras que dão acesso a Macau. Para os representantes locais em Pequim, o aumento do controlo e de pessoal na fronteira não será fácil. A razão, apontam, está no facto de que, em 2014, as entidades responsáveis pelo controlo fronteiriço procederam a um ajustamento de recursos. Apesar de admitirem as dificuldades num novo reajuste, dadas as necessidades emergentes, sublinham que, caso o processo não aconteça, o funcionamento das ligações entre Macau e Zhuhai vai ser fortemente afectado. “É complicado fazer um novo ajustamento do pessoal para satisfazer as necessidades das novas fronteiras mas, se tal não acontecer, o seu funcionamento vai sofrer um grande impacto”, lê-se no órgão de comunicação social. Os deputados não deixam, no entanto, de fazer sugestões. Para o efeito, referem a urgência em dar início a um processo de recrutamento e formação de profissionais por parte dos departamentos responsáveis, sendo que

requisitos, não realizaram a inscrição no recenseamento eleitoral. Isto significa que agora já não podem cumprir os seus deveres cívicos”, escreve o deputado.

Pereira Coutinho faz mesmo uma comparação com os prazos vigentes em Hong Kong e Taiwan, que dão mais margem de manobra aos cidadãos para se inscreverem. “Em Hong Kong, o prazo de recenseamento para as eleições do Conselho Legislativo é até ao dia 2 de Julho do ano de eleições (em caso de coincidência com o ano de eleições para os conselhos legislativos distritais) ou até ao dia 2 de Maio do ano de eleições (em caso de não coincidência com o ano de eleição para os referidos conselhos distritais). Em

o Governo Central pode recorrer a funcionários de outros organismos, de modo a que sejam dispensados para ajudar no bom funcionamento da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau e do novo acesso fronteiriço Guangdong-Macau. Outra opção apontada por Lionel Leong (secretário para a Economia e Finanças), Kou Hoi In, Chui Sai Peng (deputados à Assembleia Legislativa de Macau), Paula Ling (advogada) e Lok Po (presidente do jornal Ou Mun) vai no sentido de adoptar, a título experimental, o modelo de acesso admitido para a Ilha da Montanha. No entanto, a maior dificuldade actual deste modelo assenta nas diferenças entre a legislação de Macau e da China Continental, pelo que será necessário proceder a arranjos nos respectivos regimes jurídicos. O incentivo à formação de profissionais nas áreas da ciência e tecnologia também foi alvo de debate nas reuniões de Pequim. José Chui Sai Peng, que desempenha funções como engenheiro civil, considera que a escassez de peritos nas referidas áreas está na origem dos atrasos na investigação local e afecta a criação de empresas por parte dos jovens. Para ultrapassar o problema, o deputado sugere que o Governo Central facilite a entrada de profissionais da China Continental, de modo a dar apoio e formação aos residentes.

Taiwan, o prazo de recenseamento para as eleições do ‘Legislative Yuan’ é até ao vigésimo dia anterior ao dia da eleição.” Dado que ambos os territórios têm maiores populações em relação à RAEM, José Pereira Coutinho diz não compreender a actual situação. “As eleições do órgão legislativo nas duas regiões referidas são mais complexas, pois o respectivo número da população eleitoral é muito maior do que em Macau. No entanto, o prazo para a inscrição no recenseamento eleitoral é muito mais longo do que em Macau.”

QUE PLANOS?

Perante estes dados, Pereira Coutinho pretende saber

quais os planos do Governo para incluir os potenciais eleitores que não foram a tempo de concluir o processo de recenseamento. “Devido ao termo precoce do prazo de recenseamento eleitoral e a uma divulgação insuficiente por parte do Governo, alguns cidadãos perderam a inscrição. Será que o Governo dispõe de alguns planos viáveis para que seja dado a mais cidadãos o reconhecimento sobre a actualidade das eleições da Assembleia Legislativa e possa ser efectuada a respectiva inscrição de forma atempada?”, inquiriu. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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“D

CONTRA A IGNORÂNCIA

A mensagem acima citada foi enviada pela Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). Confrontado com a posição da CAEAL, o presidente da associação e deputado José Pereira Coutinho desvaloriza os comentários feitos. “As nossas mensagens vão na sequência do apelo que se deve

Eleições COMISSÃO VAI “MONITORIZAR” MENSAGENS DE APELO AO VOTO

Ilegais não, mas quase... Muitos residentes já começaram a receber SMS de apelo à participação nas eleições. A Comissão de Assuntos Eleitorais assegura que tais actos ainda não são ilegais, mas promete estar atenta à situação. Pereira Coutinho, que tem enviado mensagens escritas, argumenta com a importância de apelar à participação no acto eleitoral ANTÓNIO FALCÃO

IA 17 de Setembro é o dia das eleições para a Assembleia Legislativa da RAEM. É favor, incluindo a família, estar em Macau para votar.” Este é um exemplo das mensagens de apelo ao voto que já começaram a ser enviadas aos residentes, sem que haja referências directas a candidatos, até porque as listas ainda não estão oficializadas. Apesar de não existirem queixas formais, os membros da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) afirmam terem tido conhecimento do envio de SMS e prometem estar atentos. “Ainda não notámos nenhuma irregularidade mas, para garantir a imparcialidade e a justiça nas eleições, não encorajamos as associações ou entidades a fazerem propaganda ou a chamar os outros a votar. Se a comissão verificar que alguém está a violar a lei eleitoral, iremos actuar”, disse apenas Tong Hio Fong, presidente da CAEAL. Nesta fase não é ilegal o acto de enviar mensagens a apelar à participação nas eleições, mas a CAEAL não incentiva tal gesto. “Não encorajamos, mas se não constituir uma irregularidade nós vamos monitorizar consoante o caso e decidiremos se vamos intervir. Se calhar, nesta fase a situação ainda não constitui uma irregularidade, mas as pessoas devem disciplinar-se. Se for uma contravenção podemos encaminhar para o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) ou para o Corpo de Polícia de Segurança Pública”, acrescentou Tong Hio Fong. “Temos comunicação com o CCAC para os casos que não estão expressamente a violar a lei. Não excluímos a possibilidade de qualquer caso que tenha violado a lei ser encaminhado para as entidades competentes e aguardaremos depois uma decisão”, disse ainda o presidente da CAEAL.

fazer à população para que seja mais participativa. O grande problema em Macau é que, na maior parte das vezes, as pessoas não sabem o que está a acontecer. É importante que reservem esse dia como um dia muito importante de participação política activa. Espero que o Governo faça mais nesse sentido”, defende. Pereira Coutinho afirmou ainda que muitos não estão sequer informados. “Esta data está a ser divulgada na comunicação oficial

e no Boletim Oficial (BO). Mas muitas pessoas não lêem o BO, não lêem jornais. Muita gente agradeceu-me pelo alerta que fizemos”, acrescentou o deputado.

MENOS VOTOS NULOS

A reunião de ontem da CAEAL serviu ainda para analisar a nova forma de elaboração dos boletins de voto por forma a apoiar os deficientes visuais, uma vez que, nas eleições legislativas de 2013, muitos votos foram considerados nulos.

CAEAL NÃO VAI DEFINIR CRITÉRIOS PARA MEDIA

P

airam no ar algumas dúvidas quanto ao tratamento noticioso que deve ser dado nas eleições deste ano, após declarações recentes do presidente da CAEAL. Tong Hio Fong garantiu ontem que não serão definidos critérios

POLÍTICA

para os órgãos de comunicação social. Estes “devem saber o que é propaganda eleitoral e o que constitui uma irregularidade, devem saber o que podem relatar e o que não podem”. “Vocês é que determinam o que é

permitido. Por mais exemplos que nos apresentem agora, a questionar o que constitui uma irregularidade, digo o mesmo: todos os actos que não respeitem esses artigos [da lei Eleitoral] constituem uma violação à lei.” Tong Hio

Fong disse mesmo que “a comissão já referiu que não pode ensinar à comunicação social como fazer, cabe à entidade, à ética profissional e disciplina definirem o que podem e não podem relatar. É esse o vosso dever.”

“Nestas eleições a nossa comissão irá criar boletins para facilitar [o voto] a essas pessoas com dificuldades visuais. Alguns votos foram considerados nulos porque os carimbos não foram colocados de forma correcta, então falámos sobre a melhor forma de os colocar”, explicou Tong Hio Fong, sem adiantar dados quanto ao número de votos nulos registados em 2013. A comissão quer ainda resolver problemas ao nível das notificações dos lugares onde os residentes podem ir votar. “Considerando as últimas eleições para a AL, um grande número de eleitores não conseguiu receber as notificações. Talvez tenham existido enganos ou não soubessem a qual assembleia de voto se deveriam deslocar. Houve inconveniências. Temos trabalhado para melhorar a situação. Se esses eleitores tiverem alterado a residência, devem mudar

“As nossas mensagens vão na sequência do apelo que se deve fazer à população para que seja mais participativa.” PEREIRA COUTINHO DEPUTADO a morada”, concluiu o presidente da CAEAL. A cronologia das eleições, que define questões como o período de campanha eleitoral e apresentação de candidaturas, é publicada hoje. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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hoje macau quinta-feira 16.3.2017

Anúncio【N.º 54/2017】

Anúncio 【N.º55/2017】

Nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, são por esta via notificados os seguintes representantes dos agregados familiares candidatos a habitação económica:

Nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, são por este anúncio notificados, os representantes dos agregados familiares candidatos à aquisição de habitação económica, do seguinte:

Representante do agregado familiar candidato a habitação económica

Número do boletim de candidatura

HONG CLARA

82201340465

ZONG GUOLING

82201305285

LEONG WAI KIT

82201341055

LEONG SOK IAN

82201339459

Causa e fundamento legal da exclusão de adquirente seleccionado Falta de entrega dos documentos necessários para a avaliação do requerimento no prazo fixado (Nos termos da alínea 2) do n.º 1 do artigo 28.º da Lei n.º 10/2011, alterada pela Lei n.º 11/2015)

Nos termos do artigo 93.º e do artigo 94.º do Código do Procedimento Administrativo, os representantes dos agregados familiares candidatos a habitação económica acima mencionados podem apresentar, por escrito, a sua contestação e todas as provas testemunhais, materiais, documentais ou demais provas, no prazo de 10 dias, a contar da data de publicação do presente anúncio. Caso não procedam à respectiva entrega dentro do prazo referido, não serão considerados. Em caso de dúvidas, poderá dirigir-se ao Instituto de Habitação, sito na Travessa Norte do Patane, n.º 102, Ilha Verde, Macau, durante as horas de expediente, ou contactar a Sr.a Lei, através do tel. n.º 2859 4875 (Ext. 747), para consulta do processo.

Representante do agregado familiar candidato a habitação económica

WONG HANG IENG

Número do boletim de candidatura

82201329294

(O rendimento e o património do agregado familiar candidato) Não reunirem os requisitos de acesso à compra das fracções (Nos termos do n.º 3 do artigo 14.º e alínea 1) do n.º 1 do artigo 28.º da Lei n.º 10/2011, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 11/2015)

82201336252

Falta de entrega dos documentos necessários para a avaliação do requerimento no prazo fixado (Nos termos da alínea 2) do n.º 1 do artigo 28.º da Lei n.º 10/2011, alterada pela Lei n.º 11/2015)

Instituto de Habitação, aos 13 de Março de 2017. O Chefe da Divisão de Assuntos Jurídicos, Nip Wa Ieng

HOI KAM FAI

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 146/AI/2017 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora QIAN MEILAN, portadora do Passaporte da RPC n.° E13650xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 137/DI-AI/2014 levantado pela DST a 06.11.2014, e por despacho da signatária de 27.02.2017, exarado no Relatório n.° 157/DI/2017, de 13.02.2017, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Praceta de um de Outubro n.os 119-131-B, Edf. I Keng, 9.° andar H onde se prestava alojamento ilegal.----------------------------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-----------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.----------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 27 de Fevereiro de 2017. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 147/AI/2017 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora JIANG YIMEI, portadora do Passaporte da RPC n.° G26629xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 137/DI-AI/2014 levantado pela DST a 06.11.2014, e por despacho da signatária de 27.02.2017, exarado no Relatório n.° 158/DI/2017, de 13.02.2017, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Praceta de um de Outubro n.os 119-131-B, Edf. I Keng, 9.° andar H onde se prestava alojamento ilegal.----------------------------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.----------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 27 de Fevereiro de 2017. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

Causa e fundamento legal da exclusão de adquirente seleccionado

Nos termos dos artigos 93.º e 94.º do Código de Procedimento Administrativo, o Instituto de Habitação (IH) notificou, através de oficio, os referidos representantes dos agregados familiares candidatos à aquisição de habitação económica para que apresentassem, no prazo de 10 dias, justificação escrita, não sendo a mesma considerada quando submetida fora do prazo, considerando-se como desistência. Os representantes dos respectivos agregados familiares candidatos à aquisição de habitação económica não apresentaram qualquer justificação escrita dentro do prazo fixado, pelo que o presidente do IH aprovou, de acordos com os despachos exarados nas Propostas n.º 0031/DAJ/2017 e n.º 0055/DAJ/2017, a exclusão dos referidos agregados familiares de adquirentes seleccionados. Caso não concorde com a decisão acima referida, deve ser apresentada reclamação ao presidente do IH (sem efeito suspensivo) nos termos do artigo 149.º do Código de Procedimento Administrativo no prazo de quinze dias a contar da data da publicação do presente anúncio, ou/e intentar a acção do recurso contencioso ao Tribunal Administrativo dentro do prazo legal nos termos do artigo 25.º do Código do Processo Administrativo Contencioso. Atenciosamente Instituto de Habitação, aos 14 de Março de 2017 O Chefe da Divisão de Assuntos Jurídicos, Nip Wa Ieng


7 hoje macau quinta-feira 16.3.2017

Lai Chi Vun DEMOLIÇÃO DOS ESTALEIROS ORIGINA PROTESTO JUNTO DO IC

Ecos chegam ao Tap Seac não passam pela sua demolição, discordando da opção do Executivo. A recuperação pode ser feita com recurso à tecnologia existente, acredita. Citando a Lei de Salvaguarda do Património Cultural, o presidente da associação defende que o IC deve ser responsável pelo processo de Lai Chi Vun, pois cabe a esta entidade olhar para os lugares com maior necessidade de preservação. No entanto, o responsável pela Nova Associação dos Trabalhadores da Indústria de Jogo de Macau critica o facto de o IC ter permitido que a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes tenha começado a demolir o que resta dos antigos estaleiros. “As autoridades deveriam ter iniciado o processo de avaliação há muito tempo. Se isso tivesse acontecido, os estaleiros não teriam sido demolidos”, apontou.

HOJE MACAU

Duas associações protestaram ontem junto ao Instituto Cultural para exigir que o Governo avalie os estaleiros de Lai Chi Vun do ponto de vista histórico e para que mantenha as estruturas que ainda não foram abaixo. É ainda exigida a intervenção do CCAC

C

ERCA de uma semana depois da demolição de dois estaleiros em Lai Chi Vun, duas associações resolveram adoptar outro método de contestação e resolveram protestar junto das instalações do Instituto Cultural (IC). Na praça do Tap Seac estiveram representadas a Nova Associação dos Trabalhadores da Indústria de Jogo de Macau, presidida por Cheng Lok Sun, e a Associação Sonho Macau. O ambientalista Joe Chan também se juntou à iniciativa. O objectivo do protesto foi solicitar às autoridades a preservação dos estaleiros de Lai

CCAC PARA QUE TE QUERO Chi Vun, tendo sido pedido que comecem os trabalhos de avaliação do local como património cultural imóvel. Foi ainda

MAIS DE 130 DIZEM NÃO

I

a ontem com 134 assinaturas a petição “Não à Demolição dos Estaleiros de Lai Chi Vun”, uma iniciativa que está a decorrer através de uma plataforma online que pretende travar a destruição das estruturas em Coloane. Os mentores do abaixo-assinado defendem que os estaleiros “representam a memória de uma indústria naval que em Macau teve grande importância, sobretudo numa época em que o território dependia quase exclusivamente das vias marítimas”. Este conjunto construído “constitui uma forma de património arquitectónico que, sendo construído pelos próprios carpinteiros, valida uma identidade cultural própria”, refere-se ainda. Os subscritores propõem a manutenção das estruturas de madeira dos estaleiros e a sua recuperação para instalação de actividades ligadas à cultura, de áreas museológicas a artesanato, passando por ateliers artístico-pedagógicos e zonas lúdicas.

O

deputado Leong Veng Chai insta o Executivo acerca das “verdadeiras razões” que levaram ao cancelamento do fogo-de-artifício na passagem de ano. De acordo com o tribuno, o facto de não ter havido o espectáculo que acontece anualmente foi fonte de “frustração para os residentes”. Para Leong Veng Chai, é necessário saber o porquê de não terem sido tomadas medidas com a devida antecipação para evitar imprevistos. O deputado

SOCIEDADE

exigido que os responsáveis do Governo divulguem o resultado da avaliação e o futuro planeamento dos estaleiros. Em comunicado, as associações apontam que os estaleiros de Lai Chi Vun são um sinal de que existiu em Macau uma indústria naval, devendo, por essa razão, ser considerado património. Os responsáveis lembram ainda que a concepção dos estaleiros nunca foi feita por arquitectos profissionais, por isso são peças únicas em Macau e possuem um valor importante.

HÁ UMA SAÍDA

Para Cheng Lok Sun, existem alternativas para os estaleiros que

“Criticamos o Governo por causa dos actos de corrupção e benefícios que possam ocorrer no caso de Lai Chi Vun e, por isso, achamos que o processo deve ser investigado.” CHENG LOK SUN PRESIDENTE DA NOVA ASSOCIAÇÃO DOS TRABALHADORES DA INDÚSTRIA DE JOGO DE MACAU

Frustração sem preço

Deputado pede esclarecimento pelo cancelamento de espectáculo

questiona se o Executivo “chegou a averiguar a eventualidade de terem existido circunstâncias pessoais”, lê-se em interpelação escrita. Por outro lado, o colega de Pereira Coutinho na Assembleia Legislativa pretende ainda saber se os contratos feitos com as empresas responsáveis pelos transporte e prepa-

ração do espectáculo têm cláusulas que impliquem compensações em caso de falhas. Leong Veng Chai quer que o Executivo esclareça se existe “a previsão do pagamento de uma indemnização por incumprimento contratual ou a sujeição de uma multa em caso de impossibilidade de prestar o serviço em

conformidade com o prazo previsto”.

DINHEIRO NÃO É TUDO

Cheng Lok Sun defende ainda que o Comissariado Contra a Corrupção deve iniciar uma investigação sobre o caso. “Criticamos o Governo por causa dos actos de corrupção e benefícios que possam ocorrer no caso de Lai Chi Vun e, por isso, achamos que o processo deve ser investigado.” O presidente da associação espera ainda que haja mais deputados que possam representar as vozes dos cidadãos nas próximas eleições, o que poderia contribuir para uma preservação da povoação e dos estaleiros.

Para Leong Veng Chai, não basta que o trabalho, orçamentado em 2,2 milhões de patacas, não tenha sido pago pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST). “Quando as actividades públicas são canceladas ou adiadas,

existem custos sociais bastante elevados”, justifica, sendo que o “cancelamento do espectáculo de fogo-de-artifício causou frustração a vários residentes”. Em causa está a situação referente ao espectáculo anual de fogo-de-artifício marcado para a meia-noite de 31 de Dezembro de 2016. O evento foi cancelado a 29 de Dezembro e a entidade responsável, a DST, justificou a falha com “a impossibilidade do transporte do material pirotécnico para

Vítor Ng

info@hojemacau.com.mo

Macau”. O imprevisto, reitera Leong Veng Chai, “deixou toda a população chocada”. O deputado considera que o Executivo “deve proceder com antecipação aos necessários trabalhos preparatórios quando se trata deste tipo de actividades públicas”. O tribuno exemplifica com as situações dos casinos em que não se registou qualquer incidente capaz de atrasar os festejos de ano novo. Sofia Margarida Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


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hoje macau quinta-feira 16.3.2017

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 139/AI/2017 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora GUO XINGQIONG, portadora do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° C26634xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 53/DI-AI/2016, levantado pela DST a 13.05.2016, e por despacho da signatária de 27.02.2017, exarado no Relatório n.° 152/DI/2017, de 13.02.2017, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua de Kunming n.° 92, Phoenix Garden, 10.° andar C onde se prestava alojamento ilegal.-------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. -----A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.---------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 27 de Fevereiro de 2017. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 96/AI/2017 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor WANG FUGEN, portador do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° W90622xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 18/DI-AI/2016 levantado pela DST a 17.02.2016, e por despacho da signatária de 27.02.2017, exarado no Relatório n.° 105/DI/2017, de 25.01.2017, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Rua de Pequim n.° 36, Edf. I Chan Kok, 8.° andar D, Macau onde se prestava alojamento ilegal. -----O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.--------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.-------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.-------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 27 de Fevereiro de 2017.

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes


9 hoje macau quinta-feira 16.3.2017

SOCIEDADE

Saúde FINANCIAMENTO A PARTICULARES ASCENDE A 313 MILHÕES DE PATACAS

E o ouro vai para...

O suspeito do costume. Os apoios financeiros concedidos pelo Governo a privados no sector da saúde durante o quarto trimestre de 2016 foram superiores a 313 milhões de patacas. Desta soma total, o Hospital Kiang Wu e o seu Instituto de Enfermagem ficaram com a maior fatia

O

S números estão aí. O Boletim Oficial (BO) revelava ontem que, para o financiamento a instituições de saúde, saíram dos cofres dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), no último trimestre de 2016, uma soma superior a 313,665 milhões de patacas. Deste total, o Hospital Kiang Wu ficou com 255,340 milhões, o que representa uma fatia de 81,4 por cento do bolo inteiro. O Instituto de Enfermagem Kiang Wu recebeu quase 24 milhões de patacas. Se juntarmos ambas as instituições do universo Kiang Wu, o volume de investimento público no grupo ascendeu a 279 milhões de patacas. Este valor corresponde a 89 por cento do total do financiamento concedido pelos Serviços de Saúde no último trimestre do ano passado. Os apoios prestados não foram referentes exclusivamente a despesas referentes aos últimos três meses de 2016. Por exemplo, o subsídio protocolar para a prestação de consultas externas, serviços de urgência e vacinação do hospital privado recebeu mais de 32 milhões de patacas referentes ao ano inteiro. Mas a maior fatia de investimento foi para o subsídio protocolar relativo a internamentos no Kiang Wu, com um valor que ficou a meio milhão dos 160 milhões de patacas – mais de metade do financiamento total.

MUITOS ZEROS

Outra das instituições em destaque no BO, e que fica no segundo lugar do pódio do financiamento, é a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), com uma quantia de quase 14 milhões de patacas. Este valor corresponde a 4,4 por cento do investimento dos SSM em serviços de saúde privados. As maiores parcelas foram para o apoio financeiro à Clínica

O investimento público no grupo Kiang Wu ascendeu a 279 milhões de patacas, o que corresponde a 89 por cento do total do financiamento concedido

dos Operários, para o Centro de Recuperação e para os cuidados domiciliários. Dos 14 milhões de patacas, pouco mais de 71 mil foram alocadas ao serviço de exames do cancro cervical de mulheres na clínica da FAOM. A medalha de bronze na corrida aos milhões do financiamento público a instituições privadas foi para a Associação de Beneficência Tung Sin Tong, com um total de 11,680 milhões de patacas. A entidade fica, assim, com 3,72 por cento do investimento dos SSM em instituições privadas durante os últimos três meses do ano passado. Do dinheiro que foi para a associação, mais de 5,75 milhões de patacas serviram para suportar o serviço de consultas externas e estomatologia de crianças no último trimestre de 2016. As obras do Centro de Acupunctura e Fisioterapia dos Idosos receberam uma quantia de 5,7 milhões de patacas. O BO revelou ainda que a Cruz Vermelha de Macau recebeu pouco mais de um milhão de patacas referente ao apoio financeiro para o transporte de doentes, enquanto a Caritas de Macau recebeu perto de 350 mil patacas, com a maior parcela destinada à prestação de assistência médica nos asilos da instituição. A Associação Geral das Mulheres de Macau teve um apoio de 1,633 milhões de patacas. A soma foi distribuída entre o serviço de exame do cancro cervical realizado no Centro de Protecção de Saúde da Mulher e consultas de psicologia. Outro das instituições financiadas foi a Associação de Nova Juventude Chinesa de Macau, que recebeu um total de quase 1,80 milhões, sendo que a maioria do investimento foi para a clínica da associação. João Luz

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HABITAÇÃO VENDAS TRIPLICARAM EM FEVEREIRO

A

S transacções de imóveis destinados a habitação em Macau triplicaram em Fevereiro, em termos anuais homólogos, acompanhadas por um aumento do preço médio do metro quadrado, indicam dados oficiais ontem divulgados. Segundo os dados disponibilizados no portal dos Serviços de Finanças – respeitantes às fracções autónomas destinadas à habitação declaradas para liquidação do imposto de selo por transmissão de bens –, foram transaccionadas 546 casas no mês passado, mais 203 por cento ou o triplo comparativamente às 268 do mesmo mês de 2016. O preço médio por metro quadrado também aumentou em termos anuais homólogos – passando de 73.733 para 88.440 patacas. Das três áreas de Macau, a península foi onde se verificou o maior número de transacções (427), com um preço médio de metro quadrado de 81.752 patacas. Já na ilha da Taipa foram vendidas 84 fracções autónomas, com o preço médio por metro quadrado de 94.726 patacas, enquanto em Coloane se transaccionaram 35 com o preço médio por metro quadrado de 139.374 patacas – um aumento de 150 por cento em termos anuais homólogos. Face a Janeiro, diminuiu tanto o número de transacções (menos 99) como o preço médio por metro quadrado (menos 1287 patacas).


10 EVENTOS

Literatura ERIC CHAU, VICE-PRESIDENTE DO MACAU PEN C

Sonhos em extinção

“Nem todos quere

“O

que se percam as características de Macau. “Nos últimos anos, Macau tem mudado muito e de forma muito rápida.” As alterações não se registam apenas na aparência do lugar. A maior mudança deu-se nas mentalidades das pessoas. “Antes do início do desenvolvimento abrupto de Macau, nos anos 2000, as pessoas tinham uma vida simples em que os desejos eram poucos. Com o enriquecimento da região, temos mais escolhas e as pessoas começaram a querer mais”, defende. Esta mudança de mentalidade dá origem à mudança física e “a arquitectura deixa de ter importância para dar lugar a edifícios que tragam dinheiro”. “Quero, com os meus trabalho, ter um apontamento que possa comunicar um pouco do que foi a cultura de Macau”, diz.

LITERATURA AOS BOCADOS

A escrita no território existe, considera, sendo que

SOFIA MARGARIDA MOTA

Sonho da Ilha Verde” é o mais recente projecto de Rai Mutsu. Desta feita, o jovem escritor de Macau vai além das palavras e integra um projecto com várias dimensões artísticas. A música está a cargo da banda de Fortes Pakeong Sequeira com o projecto Blademark e a imagem é da responsabilidade da realizadora Emily Chan. A ideia é continuar o trabalho a que Rai Mutsu se dedica desde que começou a escrever: preservar uma Macau prestes a desaparecer. “Este trabalho aborda os bairros pobres que existiam na Ilha Verde e onde cresceram muitos dos artistas locais”, afirma ao HM. “São sítios cheios de histórias de infância e que caracterizam as formas de pensar dos locais”, acrescenta. As histórias, ensaios e poesia de Rai Mutsu procuram sempre as memórias do território. Para o escritor, esta é uma forma de evitar

“As várias comunidades têm diferentes formas de pensar que, por vezes, podem causar conflitos. A literatura feita e partilhada podia ter um papel importante em desmistificar preconceitos, resolver conflitos e atenuar as diferenças culturais.”

está muito fragmentada e, por isso, “não tem peso”. A língua é o maior obstáculo, quer para o lado de quem escreve em português, como para quem o faz em chinês. A razão, aponta, é não existir uma verdadeira plataforma capaz de traduzir as obras das várias comunidades de Macau para que se possam conhecer umas às outras. Rai Mutsu escreve para a comunidade chinesa, porque é quem o consegue ler. No entanto, fica o lamento: “Temo que os meus livros não cheguem às outras comunidades”. O abismo de entendimento entre as culturas de Macau, considera, poderia ser colmatado com a própria literatura. “As várias comunidades têm diferentes formas de pensar que, por vezes podem causar conflitos. A literatura feita e partilhada podia ter um papel importante em desmistificar preconceitos, resolver conflitos e atenuar as diferenças culturais”, aponta. Rai Mutsu gostava de viver da escrita, mas “viver como autor em Macau só é fácil se o objectivo não for ganhar dinheiro”. Não obstante, considera que o território dá liberdade criativa, mas “o que acontece é que as pessoas acabam por ir trabalhar para o Governo e, como tal, têm de passar a ter mais cuidado com o que escrevem”. As soluções passam por adoptarem heterónimos ou mesmo deixarem a escrita. Outros há, afirma, que recorrem à ficção ou à poesia. A razão, aponta, é serem géneros que permitem múltiplas interpretações. Rai Mutsu lança a 24 de Setembro um novo livro de poemas, “Desta Vez Venho Sozinho”. Sofia Margarida Mota

RAI MUTSU ESCRITOR

sofiamota.hojemacau@gmail.com

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA GRAÇAS E DESGRAÇAS DA CORTE DE EL-REI TADINHO • Alice Vieira

“Não se trata do retrato de mais um rei de Portugal. El-Rei Tadinho, sua futura mulher (uma fada desempregada, que entretanto se fizera passar por bruxa) e restante família vivem algumas desgraças ora do campo do quotidiano ora do fantástico. O rei oferece a filha (que não tem! — só mais tarde dá pelo engano) em casamento a um dragão; a única bruxa do reino, embora contrariada, decide ajudá-lo; o dragão engana-se e casa com esta última... É impossível não se achar graça, tal a ironia, a prodigiosa imaginação e o alucinante desenvolvimento. (A partir dos 8/9 anos).”

EDUARDO MARTINS

Rai Mutsu escreve para recordar Macau

Há 30 anos, um grupo de escritores do território criava a Associação de Escritores de Macau, também conhecida como o Macau Pen Club. Eric Chau, vice-presidente, fala dos projectos para o futuro e de como deve ser promovida a leitura entre os mais jovens

N

O início eram as ideias, a vontade de partilhar palavras escritas na solidão, pequenos contos, poemas, romances. Em 1987 nascia a Associação de Escritores de Macau, ou o Macau Pen Club, e desde então que o panorama literário de Macau em língua chinesa tem ganho outra dimensão.

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET

CRÍTICA DA RAZÃO CÍNICA • Peter Sloterdijk

Crítica da Razão Cínica, publicado por ocasião do bicentenário da Crítica da Razão Pura de Kant, é, antes de mais, uma crítica da modernidade. Para Peter Sloterdijk, o actual cinismo resulta da perda das ilusões iluministas. No nosso tempo, enquanto «falsa consciência», é um fenómeno generalizado que Sloterdijk detecta nos mais diversos campos, da vida privada à religião. Como resposta a este cinismo moderno, e para que ele possa ser ultrapassado, o autor sugere a redescoberta das virtudes do antigo cinismo ou, mais exactamente, do kinismo, que passa pelo riso, a insolência e a invectiva. Surgida na Alemanha em 1983 e considerada então por Habermas como a principal obra filosófica das últimas décadas, Crítica da Razão Cínica permite-nos também entender melhor o trajecto intelectual de Sloterdijk e as polémicas suscitadas pelos seus livros mais recentes.


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CLUB

hoje macau quinta-feira 16.3.2017

EVENTOS

em promover romances na China” se aposte em mais actividades por parte das bibliotecas públicas, que consigam atrair os mais novos para a leitura de romances ou contos. “Os docentes das escolas sempre comunicaram com o Macau Pen Club no sentido de promovermos mais a paixão pela leitura junto dos alunos, mas penso que essa deve ser uma responsabilidade dos professores. Não é sequer responsabilidade dos escritores, que apenas se devem focar em produzir literatura e escrever bons livros. Deveríamos fazer mais coisas para promover essa paixão pela leitura, e espero que essa situação melhore.” Para Eric Chau, também as livrarias “deveriam desenvolver um papel mais activo em termos de promoção da paixão pela leitura junto das crianças e adolescentes”. “As actividades desenvolvidas pelas bibliotecas públicas nem sempre são interessantes e muitas vezes são mais PUB

Convidado do festival Rota das Letras, Eric Chau, vice-presidente do Macau Pen Club, falou ao HM dos projectos para o futuro. Em Setembro ou Outubro deverão ser realizadas várias actividades para celebrar o 30.º aniversário do Macau Pen Club, incluindo a aposta numa maior promoção da revista do grupo, que se publica desde o início da associação. Actualmente o Macau Pen Club conta com 93 membros, e o interesse dos mais jovens não diminuiu. “Há cada vez mais pessoas interessadas em aderir ao Macau Pen Club, mas nem todos podem aderir. Precisam de já ter alguns trabalhos publicados e o ponto mais importante é que têm de ter qualidade. Há muitos membros que estão a aderir

à associação, mas não tantos quanto os interessados”, contou Eric Chau ao HM. Ainda assim, o Macau Pen Club continua a não estar aberto à comunidade de escritores de língua portuguesa ou inglesa, embora, para Eric Chau, essa pudesse ser uma realidade. “Queremos atrair mais escritores portugueses ou ingleses, mas nem todos os nossos membros dominam estas línguas. O festival Rota das Letras deveria apostar mais nessa conexão de escritores, promover eventos em conjunto e levar a uma partilha de ideias. Espero que este festival possa desempenhar um papel mais importante a este nível.” Não obstante, a literatura portuguesa desde sempre

teve influência nos escritores locais. “Tem inspirado muitos dos nossos escritores chineses. Muitos dos nossos membros ficaram muito interessados em ler os romances do escritor José Saramago, Prémio Nobel da Literatura. Mas o maior desafio na ligação entre escritores chineses e portugueses continua a ser a tradução. O foco do Macau Pen Club continua a ser os leitores chineses, e o nosso funcionamento é ainda muito baseado nos escritores chineses”, acrescentou o vice-presidente.

UM PLANO DE LEITURA?

Sendo este um território onde os mais novos lêem muito pouco, mas onde as bibliotecas estão cheias de leitores de jornais, Eric Chau pede que

focadas para as pessoas que já gostam de ler. Deve ser feito o contrário”, acrescentou. Questionado sobre a possibilidade da adopção de um plano de leitura por parte do Governo, que incluiria livros recomendados às escolas [à semelhança do que acontece em Portugal], Eric Chau lembra a pequenez de Macau e do mercado. “Em termos da recomendação de livros, Macau é um território tão pequeno. Em Hong Kong, Taiwan e China já há muitas recomendações de livros, e o Governo de Macau ou as próprias entidades podem fazer referência a essas recomendações. Mas criar uma lista de livros obrigatórios não é o mais importante. O mais importante é que tipo de estratégias devem ou podem ser adoptadas pelas bibliotecas públicas para atrair os estudantes”, apontou.

O GIGANTE DIFERENTE

Outra das realidades do panorama literário local é que se

publica muito, mas vende-se pouco. O acesso ao mercado chinês não é fácil, mas o vice-presidente do Macau Pen Club assegura que nem todos querem ir mais longe. “Nem todos os escritores de Macau estão interessados em promover os seus romances na China. Não têm esse grande objectivo de atingir os leitores da China, não têm essa ambição.” Além disso, “há diferenças, incluindo diferenças culturais, e se vendermos directamente os livros de Macau na China, penso que será difícil aos leitores do Continente entenderem o contexto das obras, o que está por detrás do romance. Há muita comunicação nas aplicações, nas redes sociais, mas publicar e vender um livro de Macau na China é difícil por causa da lei, que é mais restrita”, rematou Eric Chau. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


12 CHINA

hoje macau quinta-feira 16.3.2017

LI KEQIANG GUERRA COMERCIAL REDUÇÃO DE POLUIÇÃO PODE EVITAR TRÊS MILHÕES DE MORTES PREMATURAS COM WASHINGTON NÃO comerciais mais importantes do mundo. “Independentemente dos choques que esta relação sofra, a China espera que continue a avançar na direcção certa”, afirmou Li Keqiang que revelou ainda que funcionários dos dois países estão a discutir um encontro entre Trump e o Presidente chinês, Xi Jinping. O primeiro-ministro da China reafirmou o compromisso de Pequim com o comércio livre, numa reacção à postura proteccionista de Trump e em contraste com as denúncias de que a China permanece o país mais fechado entre as principais economias do mundo. A China vai abrir mais os seus mercados, apesar das “fricções no comércio e investimento”, disse Li. “Damos as boas-vindas aos nossos parceiros para partilhar connosco as oportunidades criadas pelo desenvolvimento da China”, afirmou.

AFP

primeiro-ministro da China, Li Keqiang, disse ontem que os líderes chineses não querem travar uma guerra comercial com os Estados Unidos da América e manifestou optimismo numa melhoria das relações. “Não desejamos uma guerra comercial entre os dois países. Isso não tornará as nossas trocas comerciais mais justas”, disse Li, na conferência de imprensa de encerramento da sessão anual daAssembleia Nacional Popular, afirmando que as duas potências devem “defender interesses estratégicos”. O Presidente dos EUA, Donald Trump, prometeu subir os impostos sobre as importações oriundas da China, visando retaliar o que considera serem práticas comerciais injustas de Pequim. As afirmações do líder norte-americano suscitaram preocupações em relação a uma resposta por parte da China, que poderia destabilizar uma das relações

Perigo que vem do ar

A

China pode evitar três milhões de mortes prematuras em cada ano, se reduzir a poluição atmosférica para o nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo um estudo publicado ontem na The British Medical Journal (BMJ). O estudo foi realizado por investigadores chineses, que estudaram os efeitos da poluição atmosférica sobre as mortes registadas em 38 grandes cidades do país, que têm uma população de 200 milhões de pessoas no total, entre Janeiro de 2010 e Junho de 2013. Durante este período, a concentração diária de partículas finas PM10, emitidas sobretudo pelo tráfego rodoviário, sistemas de aquecimento e agricultura) atingiu, em média os 92,9 microgramas (µg) por metro cúbico (m3) nas 38 cidades, com um máximo de 136 µg/m3 em Urumqi, situada no noroeste, e um mínimo de 66,9 µg/m3 em Qinhuangdao, 300 quilómetros a leste de Pequim. A OMS recomenda que o valor médio anual seja reduzido para os 20µg/m3, quando, na realidade, mais de 80% das pessoas que vivem nas cidades, à escala mundial, estão expostas a níveis de poluição que ultrapassam este limite. As partículas PM10 (cujo diâmetro é inferior a 10 microns) são particularmente perigosas, porque podem alojar-se nas vias respiratórias. Ao estudarem as 350 mil mortes ocorridas nas 38 cidaPUB

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 95/AI/2017 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora WANG ZHUANMEI, portadora do passaporte da RPC n.° G34728xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 18/DI-AI/2016 levantado pela DST a 17.02.2016, e por despacho da signatária de 27.02.2017, exarado no Relatório n.°104/DI/2017, de 25.01.2017, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Rua de Pequim n.° 36, Edf. I Chan Kok, 8.° andar D, Macau onde se prestava alojamento ilegal.------------------------------------------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.----------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 27 de Fevereiro de 2017. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

MINIHARM

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des entre 2010 e 2013, os investigadores, dirigidos por Zhou Maigeng, do Centro de Controlo de Doenças de Pequim, descobriram que uma subida da concentração em PM10 de 10µg/m3 estava associada a um aumento do número diário de mortes na ordem dos 0,44%.

MAIS EXPOSTOS

A exposição às PM10 revelou-se particularmente mais nefasta para as mulheres e os

adultos com mais de 60 anos, segundo o estudo. Teve também um impacto mais importante sobre as doenças cardiovasculares, com um aumento das mortes em 0,62% por cada aumento das PM10 em 10µg/m3, enquanto nas outras patologias a subida foi só de 0,26%. Os investigadores chegaram ao número de três milhões de mortes prematuras que se poderiam evitar cada ano na China fazendo um

INDÚSTRIA REESTRUTURAR CUSTARÁ UM MILHÃO DE EMPREGOS

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número de postos de trabalho perdidos devido à reestruturação dos sectores do aço e do carvão ascenderá a um milhão em 2017, afirmou ontem o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang. “É o número a que estimamos que ascenderão as pessoas afectadas pela reestruturação, se somarmos este e o ano passado”, afirmou Li, no encerramento da sessão anual do legislativo chinês. Entre os afectados, 720.000 pessoas receberam “assistência efectiva”, enquanto algumas centenas de milhares

“cálculo básico”, baseado designadamente numa população chinesa de 1,33 mil milhões de habitantes. Mas sublinharam que este número está subestimado, “porque o efeito da poluição atmosférica pode ser mais importante nas zonas rurais (que não fruam estudadas) e porque as PM10 têm um efeito sobretudo no longo prazo”.

de afectados pela reestruturação não encontraram ainda um novo trabalho. Li explicou que a China tem um fundo de 100.000 milhões de yuan para assistir os trabalhadores despedidos. O primeiro-ministro chinês disse ainda que Pequim não permitirá um “desemprego massivo” e que a perda de postos de trabalho gerou “forte pressão sobre o Governo”. Pequim fixou como meta para este ano criar onze milhões de empregos nas cidades, um milhão a mais do que em 2016, que Li Keqiang diz que servirá para compensar pelos empregos perdidos devido à reestruturação industrial. Sobre a situação geral do mercado laboral chinês, Li revelou que mais de 7,5 milhões de recém-licenciados entrarão este ano no mercado de trabalho, um “recorde histórico”. Apelou ainda à “responsabilidade social” das empresas chinesas como catalisadoras para a criação de emprego e sugeriu que apoiem os seus antigos empregados com subsídios. Pequim está a encetar uma transição no modelo económico, visando uma maior preponderância do consumo e do sector dos serviços, em detrimento das exportações e investimento público. Só na indústria do aço, a China quer reduzir a produção, ao longo dos próximos cinco anos, entre 100 a 150 milhões de toneladas - 12,5% do total produzido pelo país.


na ordem do dia 热风

Julie O’yang

h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Porque é que o 1º Imperador da China foi o Nero da poesia? 秦始皇烧的第一本书

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primeiro livro que o Imperador Qin, o Primeiro Imperador, queimou foi ( 诗经) O Livro dos Cânticos. E porquê? Não terá sido pelas as suas abundantes e explícitas referências sexuais que retratavam os nossos antepassados e os seus lamentos e padecimentos nos arrozais. O Livro dos Cânticos, também conhecido como, Clássico de Poesia, é a mais antiga colectânea de poesia chinesa, incluindo 305 obras datadas de um período compreendido entre os séculos XXI e VII AC. Pensa-se que muitas destas líricas foram escritas por mulheres, ou pelos menos, por alguém que assumia um ponto de vista feminino. Inicialmente o clássico continha 3000 cânticos. Confúcio, que organizou a compilação oficial, eliminou 90% do material e seleccionou apenas cerca de 300 cânticos que viriam a ser estudados e memorizados por estudiosos chineses e de outros países vizinhos, durante mais de dois milénios. Estes “300” ficaram na versão aprovada, porque segundo Confúcio eram os que melhor serviam o Ritual Confuciano e as boas maneiras. Comparados com os antigos egípcios, gregos ou romanos, que relevavam os comércios e as intrigas dos

O Imperador Qin esqueceu-se que os cânticos são teimosos. Mesmo depois de ter queimado todas as cópias, as mães continuaram a cantá-los aos filhos e às filhas e estes seguiram-lhes o exemplo

deuses, os heróis e as suas batalhas, os poetas chineses que escreveram o Livro dos Cânticos sentiam menos curiosidade pelos seres superiores e ignoravam-nos completamente. Os chineses preferiam cantar os lamentos das pessoas vulgares, as queixas do seu dia a dia e as injustiças que sofriam. Será que esta diferença se pode explicar de alguma forma? Talvez porque as antigas sociedades grega e romana eram sobretudo constituídas por cidades-estado e os seus cidadãos e aristocratas procurassem o entretenimento; histórias de heróis de coração bondoso e de deuses intrometidos e de espíritos malvados (Egipto) que os empurravam de guerra em guerra. Os chineses por seu lado não parecem ter encontrado encanto nenhum na guerra. Em vez disso, os poetas anónimos, na sua maioria mulheres, preferiam cantar a vida (e as suas agruras) e perseguir a esperança. Podemos facilmente imaginar que a vida ao longo das margens do Rio Amarelo era dura e desagradável e obrigava os chineses a ter uma mentalidade terra a terra, sem ilusões e prática. O Imperador Qin não conseguiu tolerar esta abertura e esta franqueza. O Imperador era muito sensível às críticas depois de ter unificado a China debaixo do “mesmo tecto” e tomou consciência do poder corrosivo dos cânticos que, embora aparentemente inocentes, falavam da vida do dia a dia do seu império “acabado de estrear”. Mas o Imperador Qin esqueceu-se que os cânticos são teimosos. Mesmo depois de ter queimado todas as cópias, as mães continuaram a cantá-los aos filhos e às filhas e estes seguiram-lhes o exemplo. O Livro dos Cânticos chegou aos nossos dias apesar dos métodos agressivos de um soberano autoritário que viveu há mais de 2.000 anos.

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WANG CHONG

王充

OS DISCURSOS PONDERADOS DE WANG CHONG

Aquilo que era inicialmente turvo e oculto, acaba por se exprimir claramente em palavras. Fragmentos de “Autobiografia” – 9

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ADO que o jade se esconde no interior da pedra e a pérola no ventre do peixe, argumentam-me que o profundo está sempre oculto. Porém, quando o seu brilho atravessa a pedra ou a carne do peixe, será legítimo dizer ainda que se encontram ocultas? O mesmo se passa com as minhas ideias antes de serem transcritas para placas. Escondidas no mais profundo do meu espírito, ocultas como o jade ou a pérola, acabam por se manifestar, tal como aqueles, em todo o seu brilho, fulgentes como as estrelas no firmamento, claros como o relevo da terra. Aquilo que era inicialmente turvo e oculto, acaba por se exprimir claramente em palavras e, a partir daí, as próprias ideias se estabelecem solidamente. As palavras lun heng significam “debater e ponderar”. Seja escrevendo ou falando, convêm exprimir-se com clareza. Os sábios falam com elegância, mas tudo o que dizem é ininteligível e deixa de imediato adivinhar onde querem chegar: os seus leitores são como cegos que subitamente recobram a visão, ou como surdos que tornam a poder ouvir. Uma criança cega durante três anos, que de súbito visse os seus pais, não os reconheceria imediatamente: como se regozijaria? Uma árvore de grande porte à beira de uma estrada, um longo canal perto de uma represa, eis dois exemplos de elementos da paisagem que ninguém pode ignorar. Mas mesmo homens como Yao e Shun ficariam perplexos se lhes dessemos por referência uma árvore enfezada e dissimulada, ou um canal curto e escondido. Os fisionomistas dividem os traços do rosto em mais de setenta categorias: se o rosto se mostrar limpo, as variações de tez são perfeitamente visíveis e os fisionomistas dificilmente se enganarão nos seus presságios. Mas se enganarão nove vezes em cada dez se o rosto se apresentar enegrecido e coberto de imundice. Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho

Wang Chong (王充), nasceu em Shangyu (actual Shaoxing, província de Zhejiang) no ano 27 da Era Comum e terá falecido por volta do ano 100, tendo vivido no período correspondente à Dinastia Han do Leste. A sua obra principal, Lùnhéng (論衡), ou Discursos Ponderados, oferece uma visão racional, secular e naturalista do mundo e do homem, constituindo uma reacção crítica àquilo que Wang entendia ser uma época dominada pela superstição e ritualismo. Segundo a sinóloga Anne Cheng, Wang terá sido “um espírito crítico particularmente audacioso”, um pensador independente situado nas margens do poder central. A versão portuguesa aqui apresentada baseia-se na tradução francesa em Wang Chong, Discussions Critiques, Gallimard: Paris, 1997.


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diários de próspero

António Cabrita

Diários de guerra de um ornitólogo 10/03/2017 É o quarto telemóvel que me impinge desde que me sentei na esplanada. Não desiste. Já passaram na rua uma trintena de grávidas. Dois vendedores de dvds piratas esperam encostados à acácia que eu me levante para me acossar. Uma miúda de olhos de boga, tão afadigada a digitar no seu cell, fica tremendamente desiludida quando eu a interrompo só para lhe perguntar as horas... E extensões eléctricas, não quer? Fazem sempre jeito. Vendo duas tábuas de engomar pelo preço de uma. Quarenta e um graus, e o café não tem gelo. A minha mulher liga-me, Faz cinquenta dias que entregaste o relatório - como se estivesse nas minhas mãos. Não me pagam, interpôs-se uma guerra idiota entre a bondade e a administração do Estado. Um gala-gala sobe pela acácia. Abro o gmail, um aluno enviou-me a proposta do seu projecto de fim de curso, pedindo que o supervisione. Dou uma leitura na diagonal. É uma vala comum onde se esqueceram de deitar os corpos. Não há uma vírgula onde se note que a criatura esteve quatro anos na universidade. Face a este caos, é preciso um método, um simulacro de ordem. Como faço tudo ao contrário do que é costume, descanso fazendo traduções, assim como outros pescam o merlin ou vão ao Kruger fotografar os leões. Tenho uma péssima, uma canhestra relação com as línguas. Leio quotidianamente em várias delas mas é frequente sentir-me como quem lê as pegadas de tartaruga na praia, incerto sobre a morfologia do animal que aqueles sinais indicam. É porque me é difícil que persisto. Da mesma forma que só a dificuldade me levou a não abandonar a escrita. Estou para todas as línguas como Moisés para as costas de Deus. E sentindo ao perto a luz dos sessenta afigura-me inútil invejar aqueles que por berço articulam os vocábulos alheios como morrões que displicentemente abandonam nos cinzeiros. Traduzo numa espécie de selvático urbanismo mental, em inconspícuo labor, enquanto na rua os jacarandás se desnudam ou a casca do limão cai no gim. É aquilo a que chamo: os diários de guerra de um ornitólogo. Sem dar-me conta reuni quinhentas páginas de poesia, traduzidas do espanhol, do francês, do inglês, do

italiano. Ia agora editar todos os hispânicos, duzentas páginas. Mas o editor, numa atitude infantil de animal birrento, quis polemizar em 360 graus e disparou no seu próprio pé, pondo-se fora do baralho. Creio que só uma coisa terão em comum, os meus poetas: a ideia da destruição da linguagem não lhes é afim. Se nos atermos ao que dizia Bataille: «a poesia há-de ser o comentário de sua própria ausência de sentido», nenhum deles abraçaria tal dogma. Contudo, já os imagino a assentir com o que Andrès Sánchez Robayana anotou no seu diário: «A poesia é agora, para mim, um novo estado de consciência. Um estado ilegível. Porém um estado que provém da leitura paródica do ilegível. Por um momento, vejo, leio o ilegível. Não é decifrar um inimigo, mas sim vivê-lo» (La Inminencia/ Diarios, 1980-1995, pág.44). São coisas muito distintas. De SALVADOR ESPRIU (19131985), catalão, um poema, OS JACINTOS: «Sentir sem mais,/ conhecer de cada coisa/ o lhano e simples nome, carícia/ como a de abril sobre as folhas novas/ enquanto a luz de chuva da tarde/ se reclina pouco a pouco entre os jacintos./ Claro momento da flor, reflectida,/ e por vezes recôndita: beleza/ última do seu recorte nos meus olhos./ Depois,

pelo ar, ténue/ recordação, o mais além do intenso verde/ da erva que molha esta chuva lenta». 14/03/2017 A minha mulher, Teresa Noronha, editora e escritora, foi convidada para um encontro de literatura infantil, em Lisboa. Aceitou e tendo o passaporte caducado foi renová-lo. A um mês da partida. Pagou a taxa de urgência, para o levantar em cinco dias. Na data indicada pelo recibo deslocou-se à Migração. Nada. Mais uma semana de peregrinações. Nada. Um dia fez finca-pé, queria que a esclarecessem sobre o atraso do seu passaporte. Ao fim de três horas, sentiram-se maçados e resolveram ir verificar. Tem um problema com o seu processo… Que problema? Tem um «V», uma abreviatura em vez de um nome e na fábrica recusaram fazer o passaporte… E por que não me avisaram logo, para se resolver? Esqueceu… No dia seguinte, ela levou a cópia da certidão de nascimento requerida. Como se a Migração não tivesse um cadastro identitário dela há cinquenta anos, como se... Entregou a cópia ao “chefe” e reforçou a sua urgência. Explicando, a) que o problema fora dos serviços, a funcionária que recebera os documentos requeridos não assinalou a anomalia; que pagara uma

taxa de urgência; que a urgência agora era total pois ia representar Moçambique num encontro dos Palops com data marcada. O “chefe” descansou-a, o seu processo “vai ser muito bem encaminhado!”. E tudo desacelerou. Talvez porque a senhora foi maçadora. Talvez pelo motivo não-declarado que de outra vez levou uma funcionária a dizer descaradamente a uma filha nossa, Menina, pagaste a taxa de urgência, mas se não me deres mil o teu documento fica pronto daqui a seis meses... Talvez só por incompetência e relaxe... Embora “muito bem encaminhado”, houve descaminho. O V tornou-se “um caso” e o passaporte não saiu. E a minha mulher não compareceu no encontro. Dá um enorme cansaço insistir em viver num país que todos os dias se afadiga a maltratar os seus melhores elementos, porque a qualidade destes ilumina a mediocridade reinante. Ah, mas porque não recorreram ao Ministro da Cultura, que vocês conhecem, perguntam amigos. Exactamente porque não podemos colaborar com o estado das coisas, a nenhum preço. Queremos um país onde seja possível a um cidadão comum ser respeitado pela simples inerência dos seus direitos. Mesmo que a honestidade seja o que nos trama, preferimo-la. Seguir-se-á o protesto.


16 DESPORTO

hoje macau quinta-feira 16.3.2017

Automobilismo CIRCUITO PERMANENTE EM HONG KONG BEM VISTO POR CÁ

Um sonho aqui ao lado

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PESAR de várias tentativas frustradas do passado, Hong Kong continua a sonhar em ter o seu próprio circuito de automobilismo. A organização com sucesso de uma corrida citadina do Campeonato FIA de Fórmula E, para carros eléctricos, no passado mês de Outubro, e a recente possibilidade de nascer um complexo para os desportos motorizados no Kai Tak Sports Park, atirou novamente este tema para a praça, ao ponto desta matéria ter sido levada ao Conselho Legislativo de Hong Kong. Em Macau, este projecto, a concretizar-se, será muito bem-vindo. Com seis anos de experiência no planeamento do Grande Prémio de Singapura, o australiano Simon Gardini é um dos dois designers responsáveis por avaliar a zona do antigo Aeroporto Internacional de Kai Tak onde poderá nascer o circuito. Na conferência de imprensa organizada pela Associação Automóvel de Hong Kong (HKAA), Gardini explicou que “dado os constrangimentos da zona em termos de desenvolvimento, nós não estamos a falar sobre um circuito Fórmula 1. Estamos a falar de corridas citadinas, e poderá ser algo para FIA Grau 2, o que nos permite ter tudo menos Fórmula 1, como corridas de GT, super carros, turismos, etc”. O desenho da pista ainda está numa fase embrionária, mas poderá ter 2.4 quilómetros de perímetro, sendo que terá que ser construída segundo as exigentes normas da FIA e integrada nos outros complexos desportivos já projectados para o recinto. Lawrence Yu Kam-kee, o actual presidente da HKAA, ambiciona que Kai Tak seja o palco do evento anual da Fórmula E, em vez do circuito improvisado no Porto Vitória e desenhado pelo arquitecto português Rodrigo Nunes. Este tópico foi levado ao Conselho Legislativo de Hong Kong pelo deputado Michael Tien. “De facto, zonas vizinhas como Macau, Japão, Taiwan, Coreia do Sul, Singapura ou Malásia há muito que apostaram nas corridas de automóveis e por vezes têm eventos que atraem milhares de espectadores, para além do benefício económico adicional”, disse o deputado na sua intervenção, relembrando que “Hong Kong organizou o ano passado pela primeira vez

uma pequena prova da Fórmula E. Em dois dias tivemos 21,000 espectadores. Foi um bom espectáculo e foi igualmente bom porque 7% dos espectadores eram turistas de fora”. Tien aproveitou para clarificar que “apesar de eu não ser um entusiasta de automobilismo”, o facto de existir “uma grande parcela de terra, deve ser um bom caso para se estudar”. Para o também membro do Conselho Distrital de Tsuen Wan, “Hong Kong está absolutamente qualificada para ter uma pista. Para além da pista, a infra-estrutura pode

incluir hotel, restaurantes, áreas de recreação, fonte termal e uma série de outro tipo de estruturas”. Dada a proximidade à Disneyland, o deputado do Novo Partido do Povo salientou as sinergias que poderão ser criadas em termos de turismo e lazer. Isto, porque “para além das corridas de carros, a pista pode ser usada para provas e actividades de ciclismo”.

BENÉFICO PARA NÓS

A construção um circuito permanente de automobilismo na RAEM é algo fora de questão, dada a perceptível falta de espaço

Um novo circuito em Hong Kong “poderá prometer melhores infra-estruturas para as equipas de Macau utilizarem como base, não só dando apoio aos pilotos da RAEM, mas também desenvolvendo esta vertente comercial do desporto motorizado.” DUARTE ALVES VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS JOVENS EMPRESÁRIOS DE MACAU

para o levantamento de uma infra-estrutura desta natureza. Desde 1996 que o Circuito Internacional de Zhuhai, a cerca de 45 minutos de distância das Portas do Cerco, é o palco favorito para os pilotos do território exercitarem as suas capacidades ao volante quando o Kartódromo de Coloane não é uma alternativa. Contudo, devido à complicada logística, causada pelas limitações na importação de veículos de competição construídos no estrangeiro, e os elevados custos de transporte, uma outra opção na região será sempre recebida de braços abertos. Existe uma certa unanimidade quanto às vantagens que poderão trazer aos agentes do território o aparecimento de novo complexo na região vizinha. “A existência de qualquer pista perto de Macau trará sempre vantagens para os pilotos locais. É sempre mais um lugar para treinar, praticar e competir. Sendo localizado fora da China Continental, os trâmites de importação e exportação dos carros e equipamentos serão sempre mais fáceis de resolver”,

explicou fonte conhecedora do meio automobilismo do território que pediu anonimato ao HM, realçando que um dos benefícios mais palpáveis está na evolução daqueles que representam Macau nos eventos motorizados: “Podemos comparar a “performance” dos pilotos locais, antes e depois da existência das pistas permanentes vizinhas de Zhuhai e Cantão. Com a existência destas duas pistas, os pilotos locais conseguiram evoluir muito a técnica de condução e afinação dos carros”. Conhecedor do automobilismo asiático e com uma vasta experiência internacional, Duarte Alves também concorda que um circuito em Hong Kong irá ser muito positivo para os desportos motorizados em Macau, pois “um circuito e infra-estruturas para o desporto motorizado numa região vizinha e de fácil acesso, em especial se for de alto nível, é sempre uma mais valia, não só para os pilotos, como também para as equipas que competem sob a bandeira da RAEM”. O engenheiro de pista da B-Quick Racing e da Phoenix Asia Racing acredita que um circuito aqui ao lado irá beneficiar os desporto motorizados da RAEM “é mais um circuito para adicionar ao leque de opções para treinar e competir, podendo assim oferecer uma oportunidade para os pilotos progredirem. O facto de Hong Kong estar tão perto, oferece também mais flexibilidade para os pilotos que tenham uma agenda mais apertada”. Alves, que é também vice-presidente daAssociação dos Jovens Empresários de Macau, relembra que o circuito permanente mais próximo da RAEM é o de Zhuhai, que é base operacional da grande maioria das equipas com licença desportiva de Macau e acolhe as duas provas do Campeonato de Carros de Turismo de Macau, hoje “apresenta falta de investimento e fraca manutenção”. Já um novo circuito em Hong Kong “poderá prometer melhores infra-estruturas para as equipas de Macau utilizarem como base, não só dando apoio aos pilotos da RAEM, mas também desenvolvendo esta vertente comercial do desporto motorizado”. Alves alerta também que outras variáveis irão entrar na equação do sucesso deste circuito, pois ”tudo dependerá dos custos de arrendamento das garagens, logística e também de mão de obra. Como qualquer investimento, tudo dependerá se o circuito será financeiramente atractivo para as condições que oferece, comparado a outros circuitos da região. Resumindo, como é típico nesta indústria, as condições financeiras irão ditar se os pilotos e equipas conseguirão tirar máximo proveito”. Sérgio Fonseca

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TEMPO

C H U VA

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

?

FRACA

MIN

17

MAX

20

HUM

75-95%

EURO

8.49

BAHT

ROTA DAS LETRAS | CONCERTO CHRISTINE HSU Venetian Theatre | 20h30

Diariamente EXPOSIÇÃO | “ANSCHLAG BERLIM – DESENHO DE CARTAZES DE BERLIM” Galeria Tap Seac

O CARTOON STEPH

EXPOSIÇÃO “WORKS BY LEI CHEOK MEI” Armazém do Boi | Até 26/3 EXPOSIÇÃO “CONFUSION OF CONFUSIONS - WORKS BY YOYO WONG” Armazém do Boi | Até 26/3 EXPOSIÇÃO “VELEJAR NO SONHO” DE KWOK WOON Oficinas Navais N.º1 | Até 23/4 EXPOSIÇÃO “SOLIDÃO”, FOTOGRAFIA DE HONG VONG HOI Museu de Arte de Macau PROBLEMA 198

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 197

UM FILME HOJE

Cineteatro

C I N E M A

SUDOKU

DE

EXPOSIÇÃO “ENTRE O OLHAR E A ALUCINAÇÃO” DE JOÃO MIGUEL BARROS Creative Macau (Até 25/3)

YUAN

1.15

O MUNDO DOS ESCROQUES

ROTA DAS LETRAS | “AUTORES E SEUS LIVROS”, COM GRACE CHIA, JESSICA FALEIRO E CLAIRE KEEGAN Edifício antigo tribunal | 19h00

EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)

0.22 AQUI HÁ GATO

ROTA DAS LETRAS | “HARVEST E A IMPORTÂNCIA DAS REVISTAS LITERÁRIAS NA CHINA” Edifício antigo tribunal | 18h00

EXPOSIÇÃO “TRACING LINERS”, DE JOÃO PALLA Casa Garden

(F)UTILIDADES

Conspiram e fermentam fel pelos cantos. As almas dos patifes, mesmo os mais altaneiros com posição de respeito, não pertencem aos panteões da respeitabilidade, mas à treva mais abjecta. Não são dignos da companhia infecta das ratazanas, os porcos têm nojo deles. As flores murcham à sua passagem, os céus escurecem, os aromas tornam-se fétidos com a pestilência da morte. A peçonha que segregam é, invariavelmente, regurgitada retornando à fonte. Vestem fatos de mascarado prestígio, vivem de nariz empinado, mas os seus desígnios são os mais pobres entre o povo que anda debaixo do sol. Alimentam-se da profanação do belo, do puro, do honesto. Vivem nas antípodas da graciosidade, fazem emboscadas vis aos corações puros, sem medir consequências. Vêem na bondade fraqueza, olham para a dignidade com o desdém dos assassinos vingadores. Não suportam a verdade e não lhes podem escapar, como a queda, a aceleração gravitacional da integridade aniquiladora. Que a Terra se abra e fossilize a arrogância, a mesquinhez, a violência para que ali fique um monumento subterrâneo e a espécie consiga evoluir, livre destas aberrações genéticas. Os seus destinos são o cadafalso, a parede de execução, o retorno vingador do karma, o ocaso. Pu Yi

“O QUE ESTÁ PARA VIR” | MIA HANSEN-LOVE | 2016

Depois de “Elle”, a actriz francesa Isabelle Hupert volta a desempenhar o papel de uma mulher dona das suas convicções e onde as emoções demoram a aparecer. Em “O Que Está Para Vir”, faz o papel de uma professora de Filosofia que, de repente, vê a vida virada do avesso e começa a repensar a sua forma de estar e de agir. Um filme que poderia dar muito mais ao telespectador, que está cheio de momentos potenciadores de algum dinamismo, mas que acaba por se limitar a ser uma forma de reflexão sobre a vida. Ainda assim, não deixa de ser interessante. Andreia Sofia Silva

SILENCE SALA 1

KONG: SKULL ISLAND [C] Filme de: Jordan Vogt-Roberts Com: Tim Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson 14.30, 16.45, 21.30

KONG: SKULL ISLAND [C][3D] Filme de: Jordan Vogt-Roberts Com: Tim Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson 19:15 SALA 2

SILENCE [B] Filme de: Martin Scorsese

Com: Andrew Garfield, Adam Driver, Liam Neeson 14.30,17.30, 20.30 SALA 3

THE GIRL WITH ALL THE GIFTS [C] Filme de: Colm McCarthy Com: Gemma Arterton, Sennia Nanua, Paddy Considine 14.30, 16.30, 21.30

LA LA LAND [B] Filme de: Damien Chazelle Com: Ryan Gosling, Emma Stone 19.15

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Sofia Margarida Mota Colaboradores António Cabrita; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


18 OPINIÃO

hoje macau quinta-feira 16.3.2017

bairro do oriente

JAY ROACH, TRUMBO

Neo-mini-dicionário

H

OJE decidi fazer uma coisa diferente, e compilar alguns neologismos, bem como termos e expressões que passaram a adquirir um sentido diverso do original, depois de passarem pelo inferno das redes sociais. Espero que não detestem muito.

Abortismo: apoio à prática do aborto, como parte do plano para o Genocídio Branco. Anti-Semitismo: qualquer demonstração de relutância em aceitar a política expansionista e o comportamento criminoso do estado de Israel. Benfica: não sabendo bem do que se trata, é aquele ou aquilo que tem a culpa de tudo; “a culpa é do Benfica”. Burguês: um indivíduo que sabe escrever; “Ao contrário de muito burguês a quem o paizinho pode pagar os estudos, existe gente que teve de começar a trabalhar muito cedo e não aprendeu a escrever devidamente. De qualquer maneira e independentemente dos estudos, todos temos direito a opinar.” (da página do PNR). Capitalismo: um horror porque o dinheiro está nas mãos dos outros, mas uma maravilha na hora de atacar os esquerdalhos. Cientistas: esquerdalhos pagos pelo George Soros para nos impingir a teoria do aquecimento global e prejudicar o humilde negócio familiar das petrolíferas. Direitinha: alguém que se diz de direita,

mas que na verdade não passa de mais um esquerdalho. Estalinista: pessoa que se opõe à verborreia demente do fadista João Braga. Esquerdalho: basicamente qualquer indivíduo que não partilha de ideologias fascistas e não seja um reaccionário. Fascismo: ideologia de esquerda; “Mussolini pertenceu ao Partido Socialista italiano e Hitler ao Partido Nacional Socialista”. Feminazis: partidárias radicais dos ideais feministas, que “são lésbicas e querem acabar com os homens”. A existência destas implica que toda e qualquer pretensão do feminismo seja “uma grande treta”. Genocídio Branco: a teoria de a vinda de refugiados e imigrantes para o Ocidente faz parte de um plano maior com vista à extinção de raça branca. A sério. George Soros: bilionário americano relativamente discreto até há poucos anos, quando lhe foi atribuída a autoria da “Conspiração globalista”. Globalismo: a ideia de um mundo sem fronteiras. Uma coisa “terrível”.

Nova Ordem Mundial (NOM): Parece qualquer coisa saída de um plano diabólico de Lex Luthor, ou do imperador Ming, mas “estamos a caminho dela”, com a ajuda do Globalismo, Soros, abortocionistas, feminazis, etc

Globalização: coisa boa quando se vai comer ao chinês e fazer compras no Toys’R’Us, péssima quando se vive paredes meias com imigrantes. Invasão Uterina: vinda para o Ocidente de mulheres islâmicas “que têm oito filhos EM MÉDIA cada uma”, com o intuito de contribuir para o Genocídio Branco. Islamo-fascismo: é melhor nem procurar saber do que se trata. Liberalismo: “uma doença mental”. Vem também em versão “neo” e “ultra”. Maoista: pessoa que se opõe à realização de palestras onde o convidado seja o Dr. Jaime Nogueira Pinto. Me(r)dia: os media convencionais, que “escondem a verdade”. Nazi: lengalenga infantil; “- És um ganda nazi! - Não não, nazi és tu!” Neo-marxismo: supostamente o mesmo que Marxismo, só que da era tecnológica; na prática é tudo que não se insira neste rol de disparates que estou aqui a debitar. Nova Ordem Mundial (NOM): Parece qualquer coisa saída de um plano diabólico de Lex Luthor, ou do imperador Ming, mas “estamos a caminho dela”, com a ajuda do Globalismo, Soros, abortocionistas, feminazis, etc. Politicamente Correcto: serviu durante muito tempo para que certas pessoas não ouvissem o que não gostam, e é actualmente desprezado por estas mesmas pessoas para que possam dizer os disparates que muito bem entenderem. Refujihadista: deixem para lá. Salazar: ditador que morreu pobre e decrépito, tal como o país que deixou; D. Sebastião do saudosismo lusitano. Trump: o santo e a senha; quem é anti-Trump não entra no clube Trump, e vice-versa.

LEOCARDO


19 hoje macau quinta-feira 16.3.2017

sexanálise

O Complexo Materno

N

ÃO acreditem se alguém insistir na naturalidade da maternidade. Se Freud referia-se aos impulsos sexuais da forma enfatizada como o fazia, era porque acreditava numa perspectiva de ser humano onde o sexo é a actividade biologicamente determinada mais importante. O sexo leva à gestação e a gestação traz-nos, depois de uns ideais nove meses, um bebé. Todos estes passos são naturais, o que levou a crer que tudo o que venha para além disso também será normal, fácil e natural. Ser-se mãe (ou pai) está de facto associado a complexas formas hormonais de vinculação, mas isso não é evidência de absolutamente nada. Não torna nada ‘natural’ só porque falamos de formas de activação fisiológica. Pensemos nas mães, por exemplo, quando se tornam responsáveis pelo bem-estar de um bebé que se desenvolveu dentro de si durante uns bons largos meses - nem sempre sentem as suas emoções alinhadas com a expectativa do que é ser uma (boa) mãe. O susto que não será quando se apercebem nos tempos conturbados que ainda virão. As dores de parto são simplesmente o fim da gestação, mas o início de tudo. Dores de peito, bebés que não param de chorar, ou que têm preguiça de mamar! Noites sem dormir que pioram o desespero de tentar fazer as coisas bem feitas enquanto completamente exaustas. Suponho que já tenham ouvido falar das famosas depressões pós-parto, resultantes de uma predisposição hormonal para a tristeza acompanhada da sensação de podermos estar a falhar como mães. A nossa cabeça entra em curto circuito quando nos pressionamos ao limite para ser aquilo que não podemos: não podemos ser mães geneticamente programadas e preparadas para tudo. O lado negro da maternidade está um tanto ou quanto envolvido em tabu. Como entendemos as mulheres naturalmente cuidadoras e maternais, é muito estranho pensarmos que existem mulheres arrependidas por terem filhos, ou que, de forma ainda mais dramática, tenham fantasias homicidas. As dificuldades emocionais que muitas mulheres têm que ultrapassar quando se vêem com filhos nos braços não são do conhecimento geral. Estas dificuldades são vistas como atípicas – mas contribuem para um entendimento da maternidade de uma forma mais inteira, mais complexa, mais real. Percebemos melhor que não

VITTORIO DE SICA, TWO WOMEN

TÂNIA DOS SANTOS

basta ligar os fusíveis para o mecanismo maternal funcionar, é preciso tempo e alguma esperança de que estamos a fazer o melhor que podemos. E mais - fala-se no relógio biológico que todas as mulheres sentem em alguma altura das suas vidas, o desespero do corpo de não ter sido fecundado e não ter gerado vida. Dizem as vozes mais experientes que lá para os 30 e poucos que o tic-tac não nos deixará em paz (e vai nos pôr a babar sempre que virmos as bochechas redondinhas daqueles seres humanos pequeninos e amorosos). Ser mulher também é sonhar em ter filhos e ter uma família, mas não conseguirmos. Este é o (ainda outro) lado negro da maternidade: estarmos convencidas que estamos

Há mulheres que deprimem assim que vêem o seu bebé, há outras mulheres que se apaixonam perdidamente. Não nascemos mulheres para naturalmente tornarmo-nos mães. Aprendemos

neste mundo para procriar e não estarmos biologicamente preparadas para o fazer. O útero prega-nos partidas e priva-nos desta possibilidade - há mulheres que nem útero têm! Percebem o drama? Brincámos com bonecas toda a infância para não poder ter um filho de verdade. Para além de uma sentida desilusão pessoal, a sociedade também não é muito simpática para com as mulheres inférteis. No pior dos casos tratam-nos como se fossemos defeituosas ou incompletas. Talvez esta tentativa de complexificar a maternidade tenha saído mais dramática do que desejaria. Simplesmente tento reforçar uma perspectiva mais abrangente de certos fenómenos que estão intimamente relacionados com expectativas de género, que prendem os movimentos das mulheres que fazem o melhor que podem nas condições que nos são oferecidas. Há mulheres que não foram feitas para ser mães e que o são. Há mulheres que até seriam umas mães porreiras e não querem sê-lo. Há mulheres que não podem ser mães biológicas, mas que ainda assim conseguem ser mães de crianças com quem criam laços fortes de vinculação. Há mulheres que deprimem assim que vêem o seu bebé, há outras mulheres que se apaixonam perdidamente. Não nascemos mulheres para naturalmente tornarmo-nos mães. Aprendemos.

OPINIÃO


Velhas contas/compromissos/e outras combinações/tudo se arruma/por fim!/P´ra que não haja enguiços/ou mesmo perturbações/é mister que seja assim!” José Carvalho Rego

Filipinas VICE-PRESIDENTE ATACA CAMPANHA CONTRA DROGAS KIM JONG-NAM ADN DOS FILHOS NA CONFIRMAÇÃO DA IDENTIDADE

A

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S autoridades da Malásia utilizaram o ADN de um dos filhos de Kim Jong-Nam, residentes em Macau, para confirmar a identidade do corpo do meio-irmão do líder da Coreia do Norte, disse ontem o vice-primeiro-ministro da Malásia. Os investigadores “confirmaram a identidade do corpo de Kim Jong-Nam, através da análise de ADN obtida a um filho” da vítima, disse Ahmad Zahid Hamidi. O vice-primeiro-ministro da Malásia não divulgou mais informações sobre as investigações que decorrem em Kuala Lumpur. Não se sabe, assim, como é que as autoridades obtiveram a amostra de ADN ou a qual dos filhos pertence. Depois de ter deixado a Coreia do Norte, em 2001, Kim Jong-nam mudou-se com a família para Macau. O filho mais velho de Kim Jong-il terá dividido o seu tempo entre o território e Pequim, numa primeira fase, sendo que, nos últimos tempos, viajaria com frequência por vários países, mas os filhos e a mulher permaneceram durante vários anos em Macau. Na semana passada, foi divulgado um vídeo do filho mais velho de Kim Jong-nam. Numa mensagem de 40 segundos, Kim Han-sol dizia estar com a irmã e a mãe, afirmando que a família vive dias complicados. As agências internacionais de notícias afirmavam ontem que existem receios de que Kim Han-sol possa ser agora alvo de um ataque semelhante ao que vitimou o pai. Kim Jong-Nam morreu depois de ter sido atingido na cara com agente VX, quando se encontrava no Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur, no dia 13 de Fevereiro. Ia apanhar um voo com destino a Macau. A Malásia tinha confirmado oficialmente a identidade do corpo na passada sexta-feira, mas ainda não tinha especificado o processo de obtenção do ADN.

Desafio a Duterte

A

vice-presidente das Filipinas exortou ontem os cidadãos do seu país a “desafiarem as gritantes violações dos seus direitos”, numa referência crítica à violenta campanha do Presidente Duterte contra as drogas, considerada “criminosa” por várias organizações. Numa declaração em vídeo a ser mostrada num fórum da ONU, Leni Robredo disse que o problema das drogas ilegais nas Filipinas não se pode resolver “só com balas”. O discurso de Robredo constitui uma das mais fortes críticas ao Presidente Duterte, que repetidamente atacou o fórum de direitos humanos. No discurso ao fórum da ONU sobre mortes extrajudiciais, em Viena, Robredo cita queixas específicas sobre abusos, incluindo a forma como familiares de suspeitos traficantes e consumidores de droga têm sido ameaçados quando a polícia não consegue encontrar os alvos principais. Robredo recorda que mais de 7.000 pessoas foram assassinadas em “execuções sumárias” em nome da guerra contra as drogas lançada por Duterte após ser eleito Presidente no Verão passado. Nas Filipinas, o vice-presidente é eleito numa eleição separada da presidencial e Robredo pertence a um partido político diferente do de Duterte.

RELAÇÕES DIFÍCEIS

Robredo é um dos poucos políticos de topo nas Filipinas que se tem manifestado contra a campanha de execuções em nome da luta contra as drogas promovida pelo Presidente. A relação entre ambos os políticos é muito difícil e Duterte não

quinta-feira 16.3.2017

LI KEQIANG “NÃO SERÁ FÁCIL” ATINGIR CRESCIMENTO DE 6,5%

O

Leni Robredo

convida a vice-presidente para as reuniões do seu gabinete. Na mensagem agora divulgada, Robredo denuncia também que a pena de morte poderá regressar em breve às Filipinas, algo que considerou “um erro grave” porque viola as normas internacionais da ONU. Robredo conclui pedindo a Duterte que empreenda uma “guerra contra a pobreza” e não contra os consumidores de droga. Duterte tem sido alvo de críticas da comunidade internacional e de organizações humanitárias,

Robredo pediu a Duterte que empreenda uma “guerra contra a pobreza” e não contra os consumidores de droga

que o acusam de, na sua operação para limpar os bairros das drogas, cometeram-se milhares de execuções extrajudiciais de traficantes e toxicodependentes. Num relatório divulgado no final de Janeiro, a Amnistia Internacional revelou que a polícia filipina, sob ordens directas do Presidente Rodrigo Duterte, tem vindo a assassinar cidadãos pobres com a desculpa de que está numa luta contra as drogas, forjando provas e chegando a contratar assassinos. “Agindo de acordo com instruções do mais alto nível do governo, a polícia das Filipinas matou e pagou a outros para matar milhares de alegados envolvidos em crimes com drogas, numa onda de execuções extrajudiciais que podem constituir crimes contra a Humanidade”, indicou a Amnistia Internacional no relatório “Se é pobre, é morto: Execuções Extrajudiciais nas Filipinas”.

LIGA DOS CAMPEÕES ASIÁTICA EQUIPA DE ANDRÉ VILLAS-BOAS VENCE URAWA POR 3-2 O Shanghai SIPG, treinado pelo português André Villas-Boas, isolou-se ontem na liderança do Grupo F da Liga dos Campeões de futebol da Ásia, ao vencer por 3-2 na recepção aos japoneses do Urawa Red Diamonds. A equipa chinesa chegou ao intervalo a vencer por 3-0, com golos de Shi Ke, aos 10 minutos, e dos brasileiros Elkeson, aos 45, e Hulk, antigo jogador do FC Porto, aos

52, mas permitiu que o Urawa se aproximasse perigosamente durante a segunda parte. A equipa japonesa ganhou novo ânimo com o golo do brasileiro Rafael, aos 73 minutos, na marcação de uma grande penalidade, e Endo, aos 84, reduziu para 3-2, mas a reacção nipónica ficou-se por aí e o Urawa terminou mesmo com menos um jogador, na sequência da expulsão de Koroki, aos 90+1.

primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, considerou ontem que “não será fácil” para a China cumprir com a meta de crescimento económico de 6,5%, e que Pequim está “plenamente consciente” dos riscos que ameaçam aquele objectivo. “Um crescimento de 6,5% não é uma velocidade moderada e não será fácil de conseguir”, reconheceu Li, no encerramento da sessão anual do legislativo chinês. No discurso que abriu a sessão, há dez dias, Li fixou como principal objectivo económico do país asiático para este ano alcançar um ritmo de crescimento económico de “cerca de 6,5%” - duas décimas abaixo do alcançado em 2016. Li Keqiang defendeu que, apesar de o ritmo de crescimento da segunda economia mundial ter abrandado nos últimos anos, continua a ser um dos principais motores da economia global. “Se fossemos capazes de alcançar o objectivo de 6,5%, em 2017, seria gerada mais riqueza adicional do que no ano passado, porque este é um crescimento alcançado sobre uma base maior, de 74 biliões de yuan “, disse. “Acreditamos que este objectivo é coerente com as leias da economia e, além disso, permite que nos centremos mais na qualidade do crescimento económico”, acrescentou. Nas últimas três décadas, a economia chinesa cresceu em média quase 10% ao ano, mas desde 2010 que tem vindo a abrandar consecutivamente, à medida que o Governo enceta uma transição no modelo económico, visando uma maior preponderância do consumo e do sector dos serviços, em detrimento das exportações e investimento público.


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