Hoje Macau 16 MAR 2020 # 4487

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ABKOROVITS ROBERT

TDM

MACAU | PORTUGAL

ROTA DAS MÁSCARAS

COVID-19

USJ

QUARENTENA OBRIGATÓRIA

FUMO BRANCO

PÁGINA 4

PÁGINA 8

OPINIÃO

O CHICO ESPERTO JOÃO LUZ

GCS

PÁGINAS 2-3

MOP$10

SEGUNDA-FEIRA 16 DE MARÇO DE 2020 • ANO XIX • Nº4487

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

hojemacau

Está de volta Ao fim de quase um mês e meio sem ocorrências da Covid-19, Macau regista desde ontem um novo caso. A paciente infectada é uma sul-coreana de 26 anos e chegou a Macau na sexta-feira, vinda do Porto, onde esteve com o namorado português a visitar familiares. No sábado, após manifestar sintomas de tosse, dirigiu-se ao S. Januário onde foi diagnosticada com o novo coronavírus.

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ÚLTIMA


2 coronavírus

16.3.2020 segunda-feira

PAPEIS INVERTIDOS ´

COVID-19 RESIDENTES DE MACAU ENVIAM MÁSCARAS PARA PORTUGAL

No início da crise epidémica, as máscaras eram enviadas da Europa para a Ásia, mas com o aumento do número de casos da Covid-19 são vários os residentes que estão a mandar máscaras para Portugal para amigos e familiares. Temem a falta deste tipo de equipamento que, aos poucos, começa a ser usado nas ruas, mas cujo uso não é ainda obrigatório


coronavírus 3

segunda-feira 16.3.2020

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OM cada vez mais casos de Covid-19 na Europa, muitos residentes de Macau revelam-se preocupados com a falta de material de protecção em Portugal, numa altura em que, com 245 casos de infecção confirmados, continua a não ser obrigatório o uso de máscara. Neste sentido, são várias as pessoas que, de Macau, têm vindo a adquirir máscaras nas farmácias ou em plataformas de comércio online, como o Taobao, e as têm enviado para Portugal, para amigos e familiares. Rita Gonçalves, professora de yoga, enviou cinco pacotes de máscaras, em que cada um contém 50 máscaras simples, incluindo protecção para crianças. “Fartei-me de ver pessoas a dizer que não conseguiam arranjar máscaras e, em vez de ficar preocupada e frustrada, resolvi passar à acção. Se toda a gente enviar ajuda é mais fácil evitar tanta contaminação”, disse. A residente de Macau defende que as autoridades portuguesas não estão a ser tão rápidas a reagir na prevenção do surto como as autoridades de Macau. “Lá continuam a papaguear aos profissionais de saúde que a máscara é só para quem apresenta sintomas. Tenho dois primos que são enfermeiros e esse foi um factor decisivo, porque posso ajudar quem está mesmo perto de quem já está contaminado”, disse ao HM. Catarina Baptista, que trabalha como bibliotecária, também tem vindo a ouvir relatos directos de profissionais de saúde portugueses, um alerta que a fez agir. “Há um receio que faltem materiais e eles notam mesmo que os outros profissionais de saúde não estão muito atentos ou têm comportamentos de risco.” Cada residente tem direito a levantar 10 máscaras para 10 dias providenciadas pelos Serviços de Saúde de Macau (SSM), mediante a apresentação do Bilhete de Identidade de Residente (BIR). No entanto, fora desta remessa há outras máscaras, provenientes de outros locais, que podem ser adquiridas. Catarina Baptista diz já ter visto máscaras coreanas ou mesmo portuguesas.

“Sinto que em Macau não nos falta ajuda nessa questão, portanto não precisamos de ter tantas [máscaras] em casa. Vou enviar apenas para prevenção da minha família, amigos e pessoas que precisarem.” TATIANA ROCHA RESIDENTE

“Vou mandar máscaras para Portugal por duas razões. Tenho familiares que estão em grupos de risco, como idosos ou doentes cardiovasculares e diabetes. E vejo que em Portugal ninguém está a levar esta situação a sério, além de que as recomendações não são as mais adequadas”, frisou.

AJUDAS MÚTUAS

Nas redes sociais, há relatos de filas para o envio de remessas para Portugal, bem como de pessoas que enviaram centenas de máscaras. No caso de Tatiana Rocha, vai voltar a enviar máscaras que já tinha adquirido em Portugal, quando o surto da Covid-19 chegou à China. “Comprei máscaras em Portugal e trouxe-as para cá para nós usarmos e para darmos a amigos, mas agora vou enviar de volta”, contou ao HM.

“Vou mandar máscaras para Portugal por duas razões. Tenho familiares que estão em grupos de risco, como idosos ou doentes cardiovasculares e diabetes. E vejo que em Portugal ninguém está a levar esta situação a sério.” CATARINA BAPTISTA RESIDENTE

“Sinto que em Macau não nos falta ajuda nessa questão, portanto não precisamos de ter tantas em casa. Vou enviar apenas para prevenção da minha família, amigos e pessoas que precisarem. Se tiverem de se deslocar a algum local com multidões ou se tiverem de ir a um centro de saúde, acho que faz sentido estarem protegidos.” Se no início a comunidade chinesa em Portugal enviou centenas de máscaras para a China, constituindo a principal clientela das farmácias na compra deste tipo de produto, a situação agora inverteu-se. Tendo cumprido quarentenas voluntárias aquando do regresso da China, por altura do Ano Novo Chinês, são agora estas pessoas que encomendam máscaras para ajudar os portugueses. É o caso da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa, que está a promover uma encomenda colectiva de máscaras. A professora Wang Suoying está a promover esta iniciativa junto de sócios e pessoas próximas da associação, sendo que cada caixa, com 50 máscaras, custa cerca de 150 renmimbis. De frisar que, até à data, não há qualquer cidadão chinês a residir em Portugal infectado com o novo coronavírus.

FALTA DE MATERIAL

No sábado, a ministra portuguesa com a pasta da Saúde, Marta Temido, referiu que vão ser adquiridas um milhão de máscaras destinadas aos profissionais de saúde, tendo admitido que existem nos hospitais poucas quantidades de máscaras de protecção. "O equipamento de protecção individual (máscaras) tem de ser gerido muito criteriosamente, mas temos a preocupação de que os profissionais não se sintam desprotegidos para trabalhar", sublinhou a governante. Marta Temido expressou a intenção de generalizar o uso de máscaras cirúrgicas junto dos profissionais de saúde e anunciou um reforço de mais um milhão, que terá sido entregue nos últimos dois dias. "Aquilo que nos temos apercebido é que algumas instituições partiram para este surto com stocks relativamente baixos e, portanto, isso representou uma dificuldade adicional", apontou. Entretanto, farmácias de Espinho, cidade no norte do país, uma das zonas mais afectadas pela Covid-19, têm de reservar 10 por cento de máscaras e afins para Protecção Civil, uma medida com efeito até 9 de Abril. A reserva nas farmácias e outros fornecedores aplica-se a "máscaras cirúrgicas, máscaras FFP2 [contra aerossóis sólidos e/ou líquidos identificados como perigosos ou irritantes], óculos de protecção e batas impermeáveis", destinando-se a "uso exclusivo dos agentes de protecção civil". Andreia Sofia Silva (com Lusa) andreia.silva@hojemacau.com.mo

Pressão de pares Estudante chinesa de Macau deixou de utilizar máscara

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HEGOU ao Porto quando Wuhan entrou no léxico mundial pelas piores razões. Assistiu à distância ao encerramento de Macau durante o combate à propagação do novo coronavírus e sentiu na pele a aflição de ver os números de infectados subirem em Portugal. Peggy Chan, uma jovem residente de Macau, mudou-se para o Porto em Janeiro para estudar ao abrigo de um programa de intercâmbio entre dois estabelecimentos de ensino superior da RAEM e da cidade invicta. Quando aterrou no Porto, Peggy levava na bagagem máscaras cirúrgicas, objecto indispensável na Ásia, mas que é raro em Portugal. Antes de o surto do novo coronavírus começar a afectar severamente a Europa, a estudante foi a uma farmácia tentar reforçar o stock, tentativa que viria a ser frustrada. Não precisou esperar muito até receber uma recarga enviada pelo namorado. Cedo se apercebeu que era das poucas pessoas que tinham máscaras para usar. “Quando o surto chegou ao Porto, reparei que ninguém usava máscara, o que me fez sentir mal por usar”, contou ao HM a estudante. Peggy Chan não queria dar nas vistas, ou

motivar reacções xenófobas, fenómeno que se espalhou pelo mundo fora em reacção à origem do novo coronavírus e que não lhe passou despercebido. Além disso, a situação não lhe parecia assustadora ao ponto de furar a convenção social. “Não havia muitos casos em Portugal, e os que havia não eram na minha zona”, recorda.

REGRESSO MARCADO

Quando o número de infectados começou a subir, Peggy decidiu que o melhor seria evitar saídas da residência universitária. Desde então, a estudante teve sempre presente a ideia de regressar a Macau. Hoje faz parte de um grupo de largo de estudantes que pediram ajuda ao Gabinete de Gestão de Crises do Turismo e já tem viagem de regresso marcada para quarta-feira. Após o anúncio das medidas de contenção aplicadas em Hong Kong e Macau, encontrar voos tornou-se numa tarefa hercúlea. Até chegar ao aeroporto de Hong Kong, a estudante residente de Macau terá de fazer duas escalas (Zurique e Singapura). Quando chegar à RAEM irá cumprir os 14 dias de quarentena em Coloane, abdicando da hipótese de o fazer em casa. J.L.


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COVID-19 RESIDENTES VINDOS DO ESPAÇO SCHENGEN SUJEITOS A QUARENTENA

Carros para quase todos

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EPOIS de Hong Kong ter incluído, na sexta-feira, vários países do Espaço Schengen, onde consta Portugal, na lista de países com alta incidência epidémica, no sábado foi a vez de Macau tomar a mesma decisão, alargando a medida a vários países não europeus como os EUA, Austrália ou Nova Zelândia. Isso obriga a que todos os residentes da RAEM que viajem destes países para Macau e que aterrem no Aeroporto Internacional de Hong Kong tenham de cumprir uma quarentena obrigatória de 14 dias, incluindo estudantes que estejam a frequentar cursos no estrangeiro. Esta medida entra em vigor para residentes amanhã, dia 17, mas vigora desde sábado para estudantes. Ontem, na habitual conferência de imprensa do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, foi anunciado que será disponibilizado transporte a pensar nos residentes que podem fazer a sua quarentena em casa, em Macau, evitando permanecer em Hong Kong. Nesse sentido, o Governo decidiu disponibilizar transporte entre o aeroporto e Macau, mas, para já, esse serviço funciona apenas entre amanhã, 17, e domingo, 22. Dos 136 pedidos de apoio e informações feitos junto do Gabinete de Gestão de Crises de Turismo (GGCT), 86 pertencem a estudantes. O GGCT enviou 671 sms para números de Macau na Europa.

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Todos os residentes que estejam a viajar para Hong Kong oriundos do Espaço Schengen, EUA, Nova Zelândia e Austrália são obrigados a cumprir uma quarentena obrigatória de 14 dias a partir de amanhã. Para estudantes, a quarentena vigora desde sábado. Governo de Macau disponibiliza transporte para residentes a partir do Aeroporto Internacional de Hong Kong entre amanhã e o dia 22, mediante registo

TRAVÉS de uma interpelação escrita enviada ao Governo, o deputado Sulu Sou afirma ter recebido nos últimos dias, inúmeros pedidos de auxílio de estudantes de Macau em Portugal, que estão a encontrar dificuldades para regressar ao território ou receiam que o

SEGUNDA RONDA?

Leong Iek Hou explicou porque é que a imposição de quarentena chegou mais cedo para estudantes no estrangeiro. “Tendo em conta que os nossos estudantes no estrangeiro tiveram um contacto próximo com os locais [nos países estrangeiros], pelo que possuem um risco mais elevado do que os restantes residentes. Quando regressam a Macau têm contacto com familiares e risco de contágio é mais elevado.”

“A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) e o GGCT apelam a que todos os que regressem da Europa entrem em contacto connosco antes de chegar a Macau.” GOVERNO DE MACAU

“A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) e o GGCT apelam a que todos os que regressem da Europa entrem em contacto connosco antes de chegar a Macau”, disse um representante da DSEJ, que declarou já existir um formulário no website da DSEJ para o efeito, apenas destinado a estudantes. Os restantes residentes podem registar-se junto do GGCT.

“Todos os residentes que venham para Macau precisam de fazer o seu registo para que o Governo possa enviar carros”, disse Inês Chan, representante da Direcção dos Serviços de Turismo (DST). “Só vamos enviar carros para os residentes que cheguem a Hong Kong de aviação, sendo que estes precisam de declarar o itinerário da sua viagem. Se os

residentes chegarem antes do dia 17 podem entrar em Macau sem problemas”, adiantou. Caso os residentes não tenham condições nas suas casas para realizarem o período de quarentena, poderão ficar alojados na Pousada Marina Infante. “Atodos aqueles que regressam do estrangeiro fazemos um inquérito no posto fronteiriço e fazemos uma avaliação de saúde,

PORTUGAL QUESTÃO DOS ESTUDANTES PREOCUPAM DEPUTADO SULU SOU

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para sabermos se tiveram contactos com os locais. Se tiverem sintomas serão de imediato encaminhados para o hospital para terem acompanhamento médico. Os que não apresentam sintomas são encaminhados para o local de quarentena”, disse Leong Iek Hou, coordenadora do Centro de Prevenção e Controlo da Doença dos Serviços de Saúde.

seu percurso académico possa vir a ser afectado. Segundo o deputado, existem no total 340 estudantes de Macau em Portugal que, a juntar ao facto de estarem a encontrar dificuldades na aquisição de passagens aéreas, receiam vir a ser submetidos ao período de quarentena obrigatória,

devido às novas medidas implementadas pelo Governo de Hong Kong para todos os indivíduos provenientes de um dos países da União Europeia. Expondo ainda que “alguns estudantes relataram ter sofrido tratamento hostil em Portugal” e que na Europa existem instituições de ensino superior ainda

em funcionamento, Sulu Sou pede ao Governo que entre em contacto com os estudantes afectados através do grupo designado para o efeito na plataforma Telegram, de forma a proteger os seus direitos e prestar auxílio aos que desejem regressar temporariamente. Para os que não pretendem regressar, Sulu Sou

questiona se o Governo pode prestar a assistência necessária através das suas delegações, quer em Portugal, quer na União Europeia. Por último, o deputado pede ainda ao Governo que alargue o programa de fornecimento de máscaras a estudantes no estrangeiro, além do ensino superior. P.A.

Inês Chan declarou que, para todos os que regressam depois de 22 de Março, ainda está a ser pensado um plano de transporte. “Muitas pessoas dizem que não conseguem ter um voo antes do dia 22, mas esta operação não é apenas decidida pelo Governo de Macau, e precisamos de comunicar com o Governo de Hong Kong. Só podemos, agora, disponibilizar este serviço neste período, mas se alguém não conseguir voltar antes do dia 22 também pode comunicar connosco.” A responsável da DST frisou que há estudantes que estão a combinar regressar a Macau no mesmo voo, algo que torna “mais fácil” as operações de transporte do Governo. Inês Chan deixou claro que ficar em Hong Kong a cumprir quarentena pode ser uma possibilidade. “Depois do dia 22 vamos tentar fazer o registo [dos residentes] e tentaremos fazer uma coordenação para a transferência directa de Hong Kong para Macau, mas teremos de coordenar com os serviços de emigração de Hong Kong. Se for necessário terão de ficar em Hong Kong.” Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


política 5

segunda-feira 16.3.2020

COVID-19 REFORÇADA COOPERAÇÃO COM GUANDONG EM HENGQIN

RUMORES DEPUTADOS APOIAM LEI QUE PUNE PRÁTICA “IMPORTANTE”

Palavras proibidas A segunda versão da criminalização dos rumores, que no início apontava às “notícias tendenciosas”, reúne o apoio dos deputados. Ho Ion Sang destaca que não haverá culpados sem dolo

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Chefe do Executivo Ho Iat Seng reuniu na passada sexta-feira com o governador da província de Guangdong, Ma Xingrui, sobre o aprofundamento da cooperação entre a província de Guangdong e Macau, em Hengqin (Ilha da Montanha). De acordo com uma nota oficial, Ho Iat Seng agradeceu a atenção e o apoio que o Governo Provincial de Guandgong “tem dispensado ao território, salvaguardando a estabilidade do abastecimento dos recursos, produtos alimentares frescos e bens de primeira necessidade da vida da população durante o surto epidémico do vírus Covid-19”. Perante Ma Xingrui, o Chefe do Executivo de Macau destacou ainda que devem ser aproveitadas as vantagens do príncipio “um país, dois sistemas”, a localização geográfica das duas regiões e os recursos de Hengqin como motores de fortalecimento da “investigação e a comunicação” e da “interligação de mecanismos” entre os dois territórios. Já o governador da província de Guangdong, elogiou os “resultados do controlo epidémico de Macau” e reforçou que Hengqin foi sempre um dos pontos essenciais na cooperação entre Macau e Guangdong, e que a construção de uma nova zona aí se deve à criação de condições para o desenvolvimento diversificado das indústrias de Macau. Sobre Hengqin, Ma Xingrui sublinhou ainda o objectivo de transformar Hengqin “numa nova plataforma e zona piloto para a exploração do princípio ‘um país, dois sistemas’”, vaticinado pelo Presidente Xi Jinping por ocasião das actividades comemorativas do 20.º aniversário da RAEM. P.A.

DA POLÉMICA

O

S deputados apoiam a segunda versão da Lei de Bases de Protecção Civil, que pune com pena de prisão quem criar e espalhar rumores durante situações de “emergência”. Segundo o presidente da 1.ª Comissão da Assembleia Legislativa, Ho Ion Sang, a segunda versão é mais clara e apaga da proposta “muitas incertezas”. “Há grandes alterações no artigo da primeira para a segunda versão. Os termos jurídicos menos claros, instáveis e as incertezas foram retiradas”, começou por sustentar Ho Ion Sang. “Passa a haver diferenciação entre quem cria o boato e quem o dissemina. Quem disseminar tem uma pena máxima inferior em um terço quando comparando com quem cria os rumores”, acrescentou. Na sexta-feira, no final de mais uma reunião com o Executivo, Ho Ion Sang sublinhou várias vezes que para haver condenação terá de se provar que o boato resultou na criação de pânico e que houve dolo. “O Governo foi muito claro e o artigo foi escrito de forma mais ri-

catástrofes ou incidentes sociais ou económicos for declarado o estado de “prevenção imediata”. “A comissão entende que é preciso haver punição para as pessoas que produzam e disseminem informações falsas que afectem a sociedade. Este artigo é muito importante”, apontou Ho Ion Sang, deputado ligado à União Geral das Associações dos Moradores de Macau.

gorosa, com o crime a ficar melhor definido. O Executivo explicou ainda que não quer criminalizar de ânimo leve. Por isso, foi mais rigoroso”, atirou o deputado. “Assim pode-se proteger a liberdade de expressão [...] Ficou mais claro que

uma pessoa normal só é punida se achar que vai criar pânico público ao divulgar uma informação falsa”, reforçou. Por outro lado, os deputados defenderam a necessidade de uma lei deste tipo quando no âmbito de

“A comissão entende que é preciso haver punição para as pessoas que produzam e disseminem informações falsas que afectem a sociedade.”

A Lei de Bases de Protecção Civil, proposta por Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, tem sido uma das mais polémicas nos últimos tempos. Em causa está o artigo 25.º que na primeira proposta punia rumores e “notícias falsas, infundados ou tendenciosas” por “quaisquer” motivos que pudessem “perturbar a cessão ou o alívio ou a tranquilidade” durante o estado de prevenção de emergência. Este estado de prevenção é o terceiro mais elevado dos cinco que vão ser criados com a nova lei e que podem ser declarados como forma de combater catástrofes e crises sociais e económicas. Além de uma petição com mais de 1.500 assinaturas contra o artigo, a proposta de lei teve ainda críticas de associações de jornalistas e de advogados. Por isso, na segunda versão, o Executivo clarificou que se criminalizam “informações falsas” sobre os incidentes ou operações de resposta e que estas têm de causar “pânico público”. Além disso, as pessoas precisam de ter intenção de causar esse pânico ou saberem que estão a espalhar informações que não correspondem à realidade. Para Ho Ion Sang, com as alterações apenas dois tipos de pessoas vão ser detidos: os que criarem rumores com a intenção de causar o pânico ou as pessoas que espalhem notícias ou informações falsas, mesmo depois destas terem sido desmentidas pelo Executivo. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

HO ION SANG DEPUTADO

PETRÓLEO LEONG SUN IOK DEFENDE AJUSTE DO PREÇO DOS COMBUSTÍVEIS

O

deputado Leong Sun Iok apelou em interpelação escrita para que haja ajustes ao preço dos combustíveis, indicando que em Macau o preço é elevado comparativamente a outras cidades, como Zhuhai e Hong Kong, quando se tem em consideração a dedução de taxas. Em causa está a queda dos preços do petróleo da Arábia Saudita.

No entender do deputado, apesar de os fornecedores locais de combustível terem seguido a tendência e diminuído o preço a retalho dos produtos de petróleo, isto não reflectiu a redução real. Nesse sentido, Leong Sun Iok defende que as autoridades devem estabelecer um sistema de supervisão do mercado de combustíveis

adequado, nomeadamente através da promoção do trabalho legislativo para leis sobre a concorrência leal e antimonopólio, de forma a garantir transparência de informação e competitividade efectiva, prevenindo abusos. Descrevendo como os combustíveis são necessários à vida diária e actividades económicas,

explica que o sistema de preços se encontra directamente relacionado com os interesses dos residentes. Assim, entre as questões dirigidas à Administração, o deputado quer perceber se é possível recorrer a mecanismos fiscais para incentivar as empresas a controlarem melhor os preços dos combustíveis.

Para além disso, quer saber se serão estudados sectores como a electricidade, água e telecomunicações com o intuito de criar uma entidade concessionária de serviços públicos, com o objectivo de reforçar as normas do mercado de produtos petrolíferos e integrar esta indústria no sector público.


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16.3.2020 segunda-feira

Anúncio【24/2020】 De acordo com o n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, são por esta via notificados, os seguintes mediadores imobiliários constantes na tabela em anexo: De acordo com os n.os 1 e 2 do artigo 38.º da Lei n.º 16/2012 relativa à “Lei da actividade de mediação imobiliária”, com a redacção dada pela Lei n.º 7/2014, o agente imobiliário acima referido deve apresentar contestação, por escrito, no prazo de 15 dias a contar da data da publicação do presente anúncio, e todas as provas testemunhais, materiais, documentais e demais meios de prova que sejam favoráveis ao seu contraditório. Caso não apresente a contestação no prazo fixado, ou a justificação constante N.º do processo

Designação do estabelecimento comercial

N.º da licença

98/MI/2017

LAM IOK KAM

PRINCE PROPERTY AGENCY

MI-10000689-6

29/MI/2018

WL REAL ESTATE AGENCY LTD

WL REAL ESTATE AGENCY LTD

MI-10002065-6

46/MI/2018

AGÊNCIA DE INVESTIMENTO BLOOMING, LIMITADA

AGÊNCIA DE INVESTIMENTO MI-10001001-5 BLOOMING, LIMITADA

59/MI/2018

AGÊNCIA IMOBILIÁRIA IAN OU, LIMITADA

AGÊNCIA IMOBILIÁRIA MI-10000992-8 IAN OU, LIMITADA

74/MI/2018

SEA SUN, LDA.

MI-10001925-8

COMPANHIA DE COMPANHIA DE REDE 107/MI/2018 REDE HABITAÇÃO HABITAÇÃO FELIZ, MI-10002209-3 FELIZ, LIMITADA LIMITADA

128/MI/2018

YU KA HEI

AGÊNCIA IMOBILIÁRIA MI-10001932-9 IMPERADOR

130/MI/2018

CHAN PENG KEONG

AGÊNCIA IMOBILIÁRIA MI-10000054-3 SKYLINE

MACAU JINYU 40/MI/2019 PROPRIEDADE INVESTIMENTO LDA.

MACAU JINYU PROPRIEDADE INVESTIMENTO LDA.

Instituto de Habitação, aos 10 de Março de 2020. O Chefe da Divisão de Assuntos Jurídicos, Nip Wa Ieng

ANEXO

Mediador imobiliário

SOAR PROPERTY AGENCY LIMITED

da mesma não seja aceite por este Instituto, nos termos do n.º 3 do artigo 31.º da mesma Lei, é punido com multa de 5 000 a 25 000 patacas. Para consultar os respectivos processos, poderá, durante as horas de expediente, dirigir-se ao Instituto de Habitação, sito na Estrada do Canal dos Patos, n.º 220, Edifício Cheng Chong, R/C L, Macau ou contactar a Sr.a Wu, através do telefone n.º 2859 4875 (Ext. 743)

MI-10002323-4

Acto ilegal Sem obter o consentimento expresso do primeiro representado celebrou um contrato de mediação imobiliária com o segundo representado e prestou serviços de mediação imobiliária ao segundo representado Não ter comunicado ao Instituto de Habitação (IH) a cessação da contratação de um agente imobiliário, no prazo de 10 dias a contar da data da ocorrência do facto Não ter comunicado ao IH a alteração verificada quanto ao cumprimento dos requisitos para o exercício da actividade (não dispor de estabelecimento comercial), no prazo de 10 dias a contar da data da ocorrência do facto Não ter comunicado ao IH a alteração verificada quanto ao cumprimento dos requisitos para o exercício da actividade (pelo menos um dos seus administradores, directores ou gerentes não ser titular de licença válida de agente imobiliário e não dispor de estabelecimento comercial) no prazo de dez dias a contar da data da alteração ou do conhecimento da mesma Não ter comunicado previamente, no prazo de 30 dias, o facto de pretender abrir um novo estabelecimento comercial (1) Não ter comunicado ao IH a alteração do titular do órgão social, no prazo de 10 dias a contar da data da respectiva alteração (2) Não ter comunicado ao IH a alteração verificada quanto ao cumprimento dos requisitos para o exercício da actividade (pelo menos um dos seus administradores, directores ou gerentes não ser titular de licença válida de agente imobiliário e não dispor de estabelecimento comercial) no prazo de 10 dias a contar da data da alteração ou do conhecimento da mesma (1) Não ter comunicado ao IH a alteração verificada quanto ao cumprimento dos requisitos para o exercício da actividade (não ter licença válida de agente imobiliário), no prazo de 10 dias a contar da data da ocorrência do facto (2) Não ter comunicado ao IH a contratação e a cessação do vínculo laboral de um agente imobiliário, no prazo de 10 dias a contar da data da ocorrência do facto Não ter comunicado ao IH a alteração verificada quanto ao cumprimento dos requisitos para o exercício da actividade (não dispor de estabelecimento comercial), no prazo de 10 dias a contar da data da ocorrência do facto Não ter comunicado ao IH a contratação de um agente imobiliário, no prazo de 10 dias a contar da data da ocorrência do facto

Fundamento jurídico Alínea 2) do n.º 4 do artigo 19.º da “Lei da actividade de mediação imobiliária” Subalínea (3) da alínea 1) do artigo 22.º da “Lei da actividade de mediação imobiliária” Subalínea (1) da alínea 1) do artigo 22.º da “Lei da actividade de mediação imobiliária” Subalínea (1) da alínea 1) do artigo 22.º da “Lei da actividade de mediação imobiliária” Alínea 1) do artigo 13.º da “Regulamentação da Lei da actividade de mediação imobiliária” (1) Alínea 2) do artigo 22.º da “Lei da actividade de mediação imobiliária” (2) Subalínea (1) da alínea 1) do artigo 22.º da “Lei da actividade de mediação imobiliária”

Subalíneas (1) e (3) da alínea 1) do artigo 22.º da “Lei da actividade de mediação imobiliária”

Subalínea (1) da alínea 1) do artigo 22.º da “Lei da actividade de mediação imobiliária” Subalínea (3) da alínea 1) do artigo 22.º da “Lei da actividade de mediação imobiliária”


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GCS

segunda-feira 16.3.2020

Só, só, só mais uma!

Deputados sugeriram segunda ronda de cartão de consumo

A

partir de Maio os residentes vão ter acesso a um cartão de consumo com o valor de 3 mil patacas, numa medida vista como um estímulo para a economia interna. No entanto, e ainda antes do plano ter começado, os deputados já pediram ao Governo uma segunda fase do programa. A sugestão foi deixada na reunião de sexta-feira, entre o Executivo, representado pelo secretário Lei Wai Nong, e os deputados da Comissão de Acompanhamento da Administração Pública, presidida por Si Ka Lon. “Alguns deputados sugeriram uma segunda ronda do cartão de consumo electrónico”, revelou o presidente da comissão. No entanto, o Executivo não se comprometeu: “O Governo não respondeu à sugestão”, revelou o também deputado. Em relação a medidas concretas, foi dito aos deputados que o Governo está a dialogar com as instituições bancárias locais para a criação de empréstimos com juros subsidiados para profissionais por conta própria, como advogados, médicos, guias turísticos, taxistas ou artistas. Uma medida semelhante deve abranger igualmente as Pequenas e Médias Empresas formadas há menos de um ano, que não têm acesso a outros benefícios anunciados anteriormente. Neste caso poderá haver empréstimos de 600 mil patacas sem juros, numa medida que poderá custar até 11 mil milhões de patacas aos cofres públicos.

MAIS APOIOS

Nesta fase, os deputados mostram-se a favor de mais apoios, mesmo que o Executivo esteja reticente em apoiar sectores particulares. “O Governo diz que as medidas têm de ser para a toda a economia e não apenas para uma ou outra indústria”, apontou Si Ka Lon sobre a posição do secretário. No entanto, os deputados pedem mais apoios para alguns negócios como bares, discotecas ou karaokes. “São empresas que apoiaram as políticas do Governo e fecharam as portas. Agora esperam receber algum apoio”, indicou o legislador sobre a situação. “Eles tiveram de fechar as portas e os deputados sugerem apoios a estas empresas”, acrescentou. Ainda na sexta-feira, os deputados voltaram a negar a existência de “tráfico de influências”, prática que em Macau não é crime, na escolha da empresa Macau Pass para o sistema de cartão de compras electrónico. Si Ka Lon explicou que não haverá recursos ao pagamento de juros à empresa por parte do Governo nem haverá cobrança pela instalação dos terminais de pagamento da plataforma de pagamentos electrónicos. J.S.F.

Lei Wai Nong, secretário para a Economia e Finanças “A apresentação do projecto é uma responsabilidade dos deputados. Eles é que decidem [o que pretendem fazer e como votar]”

LEI SINDICAL SECRETÁRIO DIZ QUE DEVE SER O GOVERNO A AVANÇAR COM PROPOSTA

Uma sentença de morte

No último dia útil anterior à votação da Lei Sindical, o secretário para a Economia e Finanças defendeu que a proposta devia partir do Executivo, devido “à falta de consenso”. No entanto, recusou estar a condicionar o voto dos deputados

O

secretário para a Economia e Finanças defende que deve ser o Governo a avançar com uma proposta de Lei Sindical. As declarações de Lei Wai Nong foram feitas na sexta-feira, na Assembleia Legislativa, ou seja, no último dia útil antes do debate sobre o diploma, que está agendado para esta tarde. A proposta foi avançada pelos deputados Lam Lon Wai e Lei Chan U, da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), mas com esta posição do secretário pode mesmo chumbar, à semelhança das 10 propostas anteriores. “Como ainda não há um consenso é melhor ser o Governo a tomar a iniciativa [de apresentar uma proposta de Lei Sindical],

através de uma consulta pública e de um debate amplo”, afirmou Lei Wai Nong. “Depois do estudo anterior, decidimos que deve ser o Governo a avançar com a proposta”, atirou. Contudo, o secretário admitiu que não há um calendário para avançar com os trabalhos e que o facto de a prioridade passar pela resposta à pandemia da Covid-19 poderá fazer com que outros assuntos passem para segundo plano. Ao mesmo tempo, o secretário recusou responsabilidade no sentido de voto dos membros da Assembleia Legislativa, apesar de considerar que a proposta devia partir do Governo e de 7 dos 33 legisladores serem nomeados pelo Chefe do Executivo. “A apresentação do projecto é uma responsabilidade dos deputados.

Eles é que decidem [o que pretendem fazer e como votar]”, vincou. “Da parte do Governo, nós achamos que é oportuno e que há maturidades para apresentarmos uma proposta que represente a opinião da maioria”, completou.

ORÇAMENTO EM CARTEIRA

Também na sexta-feira, o secretário para a Economia e Finanças admitiu que o primeiro orçamento deste Governo vai ser discutido na quarta-feira no Conselho Executivo. Depois dessa fase entrará na AL, onde será votado pelos deputados. E numa altura em que o Governo aponta para um défice de 40 mil milhões de patacas, Lei Wai Nong recusou a possibilidade de haver medidas de austeridade e pediu confiança à população.

“Temos de estar confiantes. Temos o exemplo da SARS, em 2003, e também em 2009 houve a crise económica. Mais recentemente vivemos o período de 26 meses de ajustamento do mercado do jogo e houve o Hato... Apesar de todas estas situações, a nossa economia conseguiu desenvolver-se”, recordou. “É verdade que o impacto da epidemia foi repentino, mas nos últimos 20 anos o desenvolvimento de Macau foi sempre estável”, sublinhou. O secretário voltou ainda a referir, tal como tinha acontecido, que nesta fase o objectivo é utilizar as reservas acumuladas para estabilizar a situação da economia. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo


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16.3.2020 segunda-feira

UNIVERSIDADE DE SÃO JOSÉ CONFIRMADA FUTURA LIDERANÇA DO GALÊS STEPHEN MORGAN

Bem-vindo, senhor reitor

Está prevista para Julho a tomada de posse de Stephen Morgan como novo reitor da Universidade de São José. O director da Faculdade de Estudos Religiosos vai substituir Peter Stilwell na função

F

OI oficializada a escolha de Stephen Morgan para novo reitor da Universidade de São José (USJ), comunicou ontem a instituição de ensino superior. A tomada de posse deverá acontecer em Julho. Actualmente director da Faculdade de Estudos Religiosos, dá aulas na USJ desde Setembro de 2018. Vai assim substituir Peter Stilwell, cujo término do segundo mandato no final deste ano lectivo já era conhecido. A designação deu-se no dia 7 de Março, pela Fundação Católica de Ensino Superior Universitário. De acordo com o comunicado, a decisão foi tomada depois de se consultarem os membros do Conselho Geral e directores das unidades académicas sobre o perfil pretendido para a próxima pessoa a ocupar o cargo, bem como os desafios enfrentados pela USJ. A escolha foi comunicada no sábado, na primeira reunião do novo Conselho Geral da universidade pelo chanceler, o bispo Stephen Lee. Na reunião do Conselho Geral teve ainda lugar a apreciação dos critérios de equivalência de presença em módulos online, e a discussão de temas como as contas da Universidade desde 2012 e a evolução do número de alunos, com a validação de documentos sobre a progressão na carreira docente e atribuição do doutoramento honoris causa.

DO SACERDÓCIO E OUTROS “VÍCIOS”

Nascido no País de Gales, foi no Colégio de St Mary em Oscott que Stephen Morgan fez

Actualmente director da Faculdade de Estudos Religiosos, dá aulas na USJ desde Setembro de 2018. Vai substituir Peter Stilwell, cujo término do segundo mandato no final deste ano lectivo já era conhecido

a formação para o sacerdócio. Mais tarde, voltou aos estudos académicos no instituto de Maryvale, com uma licenciatura em teologia católica. Seguiu depois para Oxford, onde viria a fazer o seu doutoramento em teologia. Foi investigador associado do St Benet’s Hall entre 2013 e 2015, e mantém-se como membro do Conselho Académico das Conferências Quarterdeck. Mas de acordo com a sua apresentação na página da Universidade de São

José, tem uma vida para além da academia. Nos tempos livres, pesca truta e apoia equipas de rugby, e é ainda descrito como apreciador de boa cerveja e música antiga. A 14 de Fevereiro, a Fundação Católica para o Ensino Superior Universitário comunicou que lhe cabia a escolha e nomeação de um sucessor, após consulta dos membros do Conselho Superior da Universidade, mas que não seria feita nenhuma declaração adicional

sobre o tema até à conclusão do processo. Apesar da confirmação da USJ que agora surge, a Diocese de Macau ainda não teceu comentários. Recorde-se que Peter Stilwell assumiu o cargo de reitor em 2012, substituindo Ruben Cabral. Em 2015 chegou a ser falada a sua saída no ano seguinte, com o próprio reitor a mencionar que ia chegar à idade de jubilação, uma altura “simpática” para se “retirar e escrever memórias”.

ARMAZÉM DO BOI RESIDÊNCIA ARTÍSTICA FOCADA NA IMIGRAÇÃO

É

inaugurada na próxima sexta-feira, no espaço do Armazém do Boi, a exposição do programa de residência artística “Women in a Foreign Land – a Saiyin Project”. A mostra vai estar patente até 17 de Maio. É a primeira exposição deste ano no espaço, tendo o convite sido feito a um artista pós-1995.

Neste programa, Saiyin foca-se em assuntos identitários e de imigração, com o seu trabalho a desenvolver-se em volta das histórias de duas mulheres que emigraram respectivamente da China Continental e de Portugal para Macau. De acordo com o comunicado do Armazém do Boi, a exposição abrange vídeo,

fotografia e trabalhos de áudio, que incluem narrativas pessoais e referências aos espaços da vida diária das mulheres, explorando o dia a dia e as vidas amorosas destas pessoas. A mostra tem entrada gratuita. O artista vive e trabalha em Macau e Zhuhai, trabalhando com diferentes estilos, pas-

sando pela fotografia, vídeo, pintura a óleo, design gráfico e escrita. A nota explica que os seus trabalhos se focam em “explorar formas de exprimir amor e relacionamentos frágeis presentes” interligados com a sua vida. Tem como inspiração experiências diárias e reflexões sobre o tempo.

RESTAURAÇÃO EMPRESA DE CHAN CHAK MO COM PERDAS DE 376 MILHÕES

A

Future Bright, empresa de restauração controlada pelo deputado Chan Chak Mo, registou perdas de 376,8 milhões de dólares de Hong Kong no ano passado, e prepara-se para um ano muito negativo. Os resultados foram publicados na semana passada, num comunicado à Bolsa da RAEHK. A empresa opera na Grande China e viu os resultados agravados de forma significativa, uma vez que em 2018 as perdas tinham sido de 60,1 milhões de dólares de Hong Kong. Os resultados foram explicados com a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China e a instabilidade social em Hong Kong, que afectou inclusive os negócios na antiga colónia britânica. No entanto, a situação não apresentou melhorias, em relação ao corrente ano, a empresa admite que existe uma “situação terrível” motivada pela Covid-19 sem precedentes. “Com os encerramentos temporários da maioria dos restaurantes e lojas durante duas semanas, em Fevereiro de 2020, as receitas para o primeiro trimestre vão ser substancialmente reduzidas, sendo que é por enquanto ainda impossível calcular as perdas”, é admitido. “A administração espera que o ambiente de operações nos primeiros três trimestres de 2020 sejam muito duros. Já foram adoptadas medidas de contenção de custos (que incluem pedidos de redução de rendas) de forma a enfrentar esta tempestade de um ambiente de operações incerto”, é acrescentado. Além disso, também na sexta-feira, a Future Bright anunciou que conseguiu prolongar uma linha de crédito junto da representação de Macau do Banco da China no valor de 40 milhões de patacas, que vai estar activa até Abril de 2021.

Saúde Desinfectantes até 30% mais baratos

O Conselho de Consumidores (CC) observou descidas de preço entre 1 a 30 por cento em várias marcas de gel e álcool em spray, face ao registado a 6 de Março. Apesar disso, o preço de alguns desinfectantes subiu cerca de 20 por cento. Os resultados da investigação levada a cabo pelo CC divulgados na sexta-feira mostram o preço de 28 desinfectantes, incluindo álcool, gel, sabão e detergente, encontrados à venda em estabelecimentos locais, de forma a permitir aos consumidores compararem o valor dos produtos. Em comunicado, o organismo apelou a que as pessoas comprem estes produtos em quantidade proporcional às suas necessidades, de forma a “manter a estabilidade do mercado através do consumo racional”.


sociedade 9

segunda-feira 16.3.2020

Alfândega Detido com três milhões em moeda estrangeira

Um residente de Macau foi detido na passada quinta-feira, no posto fronteiriço de Gongbei, com moeda estrangeira no valor 3,3 milhões de patacas. A informação foi avançada ontem pelo canal chinês da TDM Rádio Macau. De acordo com a mesma fonte, o homem foi detido pelos serviços alfandegários após ter tentado passar na fronteira com 216 mil dólares e 178 mil euros em dinheiro, sem que para isso tivesse apresentado a respectiva declaração obrigatória. Recorde-se que quem entra em Macau transportando numerário ou instrumentos negociáveis ao portador, como cheques ou livranças, no valor igual ou superior a 120 mil patacas tem de o declarar, sob pena de multa.

Droga Apreendida cocaína no valor de 67 mil patacas

Dois homens, um residente de Macau e outro de Hong Kong, foram detidos na passada sexta-feira pela posse de cocaína no valor total de 67 mil patacas. De acordo com a Polícia Judiciária (PJ), o residente de Macau foi interceptado após terem sido apreendidas 21 doses de cocaína no valor de 32 mil patacas e com 7.19 gramas, no quarto de hotel onde se encontrava, no ZAPE. Já o cidadão de Hong Kong foi detido com 41 doses no valor de 35 mil patacas e com o peso total de 13.03 gramas. Segundo a PJ, o residente de Hong Kong alegou estar a passar por dificuldades financeiras e que era recompensado monetariamente com 80 dólares de Hong Kong por cada dose vendida. Os dois indivíduos já foram transferidos para o Ministério Público e são acusados de tráfico e consumo de estupefacientes, pondendo incorrer em penas de prisão de um a cinco anos, no primeiro caso, e de três meses a um ano, no segundo.

IAM 186 MULTAS POR CUSPIR PARA O CHÃO ENTRE JANEIRO E FEVEREIRO

Cospe patacas

Desde a entrada em vigor das medidas de prevenção e combate à Covid-19, e até ao fim de Fevereiro, o Instituto para os Assuntos Municipais registou 186 sanções contra cidadãos apanhados a cuspir para o chão, que resultaram na entrada de 111.600 patacas nos cofres do Governo

E

NTRE 21 de Janeiro, altura em que teve início o combate e a adopção de medidas de prevenção à Covid-19 em Macau, e o final de Fevereiro foram registadas 186 multas motivadas pelo acto de cuspir no chão. Os números dizem respeito ao acto em espaços públicos e foram fornecidos ao HM pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), entidade com a competência de sancionar a prática. Segundo o Regulamento Geral dos Espaços Públicos o acto de cus-

pir é punido com uma multa de 600 patacas, o que significa que, no caso de não terem existido agravantes ou atenuantes, os infractores terão entregue aos cofres do IAM uma soma de 111.600 patacas. Em relação aos valores para este ano, nota-se que desde que foram adoptadas medidas de prevenção e controlo houve uma redução do número de multas, o que pode estar relacionado com o facto de as pessoas se terem mantido em casa. Assim, nos primeiros dois meses do ano foram emitidas 456

multas por cuspo para o chão em lugares públicos, que acarreta custos de 273.600 patacas. Os dados mostram que nos primeiros 20 dias do ano houve uma média de 13,5 multas por dia, número que com as medidas de prevenção caiu para 4,65 multas diárias, nos quarenta dias seguidos às medidas de prevenção e controlo do Covid-19.

QUASE 1.788 MULTAS

Em relação ao ano passado, nos primeiros 20 dias houve um número

de ocorrências muito superior face ao ocorrido em 2019. De acordo com os dados disponibilizados pelo IAM ao HM, no ano passado foram registadas 1.788 multas devido ao acto de cuspir ou atirar muco para o chão. Este número significa que houve uma média diária de 4,89 multas, ou seja, abaixo do que acontece nos primeiros 20 dias deste ano e muito próxima da média desde a entrada em vigor das medidas de prevenção e até ao final do mês de Fevereiro. O Regulamento Geral dos Espaços Públicos define que o acto de “cuspir ou lançar muco nasal para qualquer superfície do espaço público, de instalações públicas ou de equipamento público” é sancionado com uma multa de 600 patacas. O dinheiro recolhido com as infracções reverte para os cofres IAM. O valor de 600 patacas é o mais elevado para as infracções tidas como comuns, o mais baixo é de 300 patacas, e está em vigor desde 2005, na sequência da criação do regulamento criado pelo então Executivo de Edmund Ho. João Santos Filipe

info@hojemacau.com.mo


10 coronavírus

INFECTADOS POR PAÍS / REGIÃO (À HORA DO FECHO DA EDIÇÃO)

China Itália Irão Coreia do Sul Espanha Alemanha França E.U.A. Suíça Noruega Reino Unido Suécia Holanda Bélgica Dinamarca Japão Áustria Diamond Princess Malásia Qatar Austrália Canadá Portugal Finlândia Républica Checa Grécia Barhain Singapura Israel Eslovénia Islândia Hong Kong Filipinas Estónia Roménia Irlanda Brasil Indonésia Tailândia Kuwait Polónia Iraque Egito Índia Arábia Saudita São Marino Líbano Emiratos Árabes Unidos Chile Luxemburgo Taiwan Rússia Eslováquia Vietname África do Sul Borneo Argélia Croácia Sérvia Argentina Bulgária Panamá Perú Albânia México Paquistão Palestina Hungria Geórgia Letónia Equador Marrocos Bielorrússia Costa Rica Chipre Senegal Colômbia Azerbaijão Arménia Omã Bósnia e Herzegovina Malta Macedónia do Norte Tunísia Afeganistão Maldivas Moldávia República Dominicana Sri Lanka Ilhas Faroé Macau Bolívia Martinica Venezuela Lituânia Nova Zelândia Jamaica Cazaquistão Cambodja Jordânia Guiana Francesa Liechtenstein Paraguai Reunião Turquia Uruguai Bangladesh Costa do Marfim Cuba Porto Rico Ucrânia Burkina Faso Ilhas do Canal Polinésia Francesa Gana Guadalupe Guam Honduras Mónaco Nigéria Aruba Camarões Curação RDC Namíbia Santa Lúcia São Martinho Seicheles Trindade e Tobago Guiana Sudão Andorra Nepal Antígua e Barbuda Butão Ilhas Caimão C.A.R. Guiné Equatorial Etiópia Gabão Gibraltar Guatemala Guiné Cidade do Vaticano Quénia Mauritânia Mayotte Mongólia Ruanda St. Barth São Vicente e Granadinas Suriname Eswatini Togo Ilhas Virgens Americanas Uzbequistão

80849 21157 13938 8162 6821 5176 4499 3045 2217 1199 1140 992 959 886 864 805 800 696 428 337 300 252 245 244 231 228 212 212 200 181 161 145 140 135 131 129 121 117 114 112 111 110 110 108 103 101 99 86 61 59 59 59 54 53 51 50 48 46 46 45 43 43 43 42 41 38 38 32 30 30 28 28 27 27 26 24 24 23 23 21 21 21 19 18 16 13 12 11 11 11 10 10 10 10 9 8 8 8 7 7 7 7 7 6 6 6 5 4 4 4 3 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

16.3.2020 segunda-feira

163315

5663 Em estado crítico

Infectados

Co novel

5847 Casos suspeitos

245 PORTUGAL

países com casos de nCov países sem casos de nCov

Infectados

1

MACAU

Infectado

10 Curados

Macau

145 HONG KONG

Infectados

4

HONG KONG

81 Curados

Hong Kong

Mortos


coronavírus 11

segunda-feira 16.3.2020

ovid-19 l coronavírus

6068

75959 Curados

Mortos

0 1-9 10-99 100-499 500-999 FONTES:

+1000

• https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/ opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/emergencies/diseases/ novel-coronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/ index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/geographical-distribution-2019-ncov-cases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/pneumonia

Ocorrências nas áreas afectadas

Dados actualizados até à hora do fecho da edição

Covid-19 vs SARS

CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO

200000 150000 100000 75000 50000 25000 12500 0

20

dias

40

dias

60

dias

Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto

80

dias

100

dias

120

dias

REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Shandong Jiangsu Chongqing Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Guangxi

INFECTADOS 67781 1351 1272 1213 1018 990 935 758 631 576 538 480 414 337 318 296 294

MORTOS 2641 7 20 1 4 6 1 6 5 6 3 13 5 3 6 1 2

REGIÃO Shaanxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete

INFECTADOS 245 174 168 146 132 136 121 91 91 76 75 71 145 28 18 10 1

MORTOS 2 2 5 2 0 3 1 2 1 2 0 0 3 1 0 0 0


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16.3.2020 segunda-feira

ITÁLIA ESPECIALISTAS CHINESES TENTAM AJUDAR A TRAVAR EPIDEMIA

Assistência sínica Os peritos de várias áreas da medicina, liderados pelo vice-presidente da Cruz Vermelha chinesa, aterraram em Roma na sexta-feira num avião carregado de toneladas de material médico

N

OVE especialistas chineses no novo coronavírus e várias toneladas de material médico chegaram a Roma na noite de quinta-feira num voo especial para ajudar a Itália, o país mais afectado da Europa, segundo uma fonte aeroportuária italiana.

A China, onde a pandemia começou no final de 2019 e que vê o número de casos agora cair significativamente, começou a enviar especialistas e equipamentos para vários países. O porta-voz diplomático chinês, Geng Shuang, disse na quinta-feira que, depois do Iraque e do Irão, "um grupo de nove pessoas será enviado com equipamentos de tratamento intensivo, suprimentos médicos e outros materiais” para a Itália. Os especialistas chineses, com rosto coberto por máscaras, foram recebidos por representantes do Ministério da Saúde italiano, segundo imagens de vídeo transmitidas à agência de notícias AFP pelo aeroporto romano de Fiumicino. No avião estavam "ventiladores, equipamento respiratório, de electrocardiograma, dezenas de milhares de máscaras e outros equipamentos de saúde", disse Francesco Rocca, presidente da Cruz Vermelha italiana. Segundo Rocca, são nove especialistas chineses, seis homens e três mulheres - liderados pelo vice-presidente da Cruz Vermelha chinesa, Yang Huichan, e pelo médico Liang Zongan – de várias áreas médicas e de enfermagem.

CONTAS TRÁGICAS

No avião estavam “ventiladores, equipamento respiratório, de electrocardiograma, dezenas de milhares de máscaras e outros equipamentos de saúde.” cios Estrangeiros da China, Wang Yi, garantiu ao seu homólogo italiano, Luigi Di Maio, o apoio de Pequim na luta contra o novo coronavírus. O novo coronavírus responsável pela Covid-19 foi detectado em Dezembro, na China, e já provocou mais de 6.000 mortos em todo o mundo, levando a Organização Mundial de Saúde a declarar a doença como pandemia. O número de infectados ultrapassou as 162 mil pessoas, com casos registados em mais de 120 países e territórios, incluindo Portugal, que tem 245 casos confirmados.

Num telefonema ocorrido na terça-feira, o ministro dos Negó-

COVID-19 ENTRADAS NO PAÍS SUJEITAS A QUARENTENA

EUA EMBAIXADOR CHINÊS CONVOCADO POR CAUSA DE TEORIA CONSPIRATIVA

ECONOMIA PEQUIM DIZ QUE 95% DAS GRANDES EMPRESAS FORA DO EPICENTRO JÁ OPERAM

A

W

O

S autoridades de Pequim anunciaram ontem que as pessoas que chegarem do exterior serão colocadas em centros de quarentena a partir de segunda-feira, para proteger o país de casos importados do novo coronavírus, anunciou a imprensa. Até ao momento, os viajantes do exterior tinham de ficar em auto-isolamento durante duas semanas, mas a partir de agora apenas as pessoas que relatem “circunstâncias especiais” não serão remetidas para essas estruturas, onde terão de cumprir as exigências e inteirar-se do custo da estadia, noticiou o diário oficial chinês em língua inglesa Beijing Daily.

A China registou ontem 20 novos casos de contaminação por coronavírus, 16 dos quais vieram do exterior. As autoridades chinesas intensificaram as medidas de vigilância para pessoas que regressem do exterior. O número de casos registados continua a diminuir no país ao contrário de outros países onde estão a aumentar. Todos os voos internacionais que tinham previsto aterrar no segundo aeroporto da capital chinesa, Daxing, são agora desviados para o antigo aeroporto de Pequim, onde cada chegada é controlada e monitorizada, informou a agência de notícias Xinhua no sábado.

ASHINGTON convocou sexta-feira o embaixador chinês nos EUA, depois de uma autoridade chinesa ter divulgado uma teoria conspirativa segundo a qual os militares dos Estados Unidos poderiam ter introduzido o novo coronavírus em Wuahn. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian, escreveu na sua conta da rede social Twitter, na quinta-feira, que declarações recentes das autoridades sanitárias dos EUA levavam a concluir que os Estados Unidos podem ter sido responsáveis pela introdução do novo coronavírus na região chinesa onde teve início a pandemia de Covid-19. “Quando é que apareceu o paciente zero nos Estados Unidos? Quantas pessoas estão infectadas? Quais são os nomes dos hospitais? Pode ter

vindo dos EUA quem trouxe a epidemia para Wuhan”, escreveu Zhao, referindo-se a um depoimento no Congresso de Robert Redfield, diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças norte-americano, onde este admitiu que algumas mortes por gripe nos EUA foram mais tarde identificadas como casos de Covid-19. “A disseminação de teorias da conspiração é perigosa e ridícula. Queremos alertar o Governo (chinês) de que não a toleraremos, para bem do povo chinês e do mundo”, disse ontem uma fonte do Departamento de Estado norte-americano, reagindo às declarações do porta-voz da diplomacia chinesa. Zhao recordou que centenas de atletas do Exército norte-americano estiveram em Wuhan, em Outubro de 2019, para os Jogos Militares do Exército.

vice-ministro da Indústria da China, Xin Guobin, disse sexta-feira que cerca de 95 por cento das grandes empresas do país localizadas fora da província de Hubei, epicentro da epidemia do novo coronavírus, já retomaram a actividade. "A China está a tentar voltar ao trabalho depois de impor restrições apertadas ao transporte e mobilidade das pessoas como forma de conter a propagação do vírus", disse Xin, em conferência de imprensa, em Pequim. As medidas, apesar de "incomuns", permitiram ao país "conter a epidemia de forma preliminar", segundo o vice-ministro. "Voltar ao trabalho, retomar a produção e a actividade comercial é essencial e está a ser feito de maneira coordenada", afirmou. Fora de Hubei, a taxa de negócios que já retomaram actividade, entre as grandes e as pequenas e médias empresas é de 95 por cento e 60% por cento,

respectivamente, segundo o responsável. Embora tenha descrito o momento actual como "positivo", reconheceu que as empresas chinesas ainda enfrentam "escassez de fundos, de pessoal e de fornecimento". "Em geral, a eficiência da operação da cadeia industrial é baixa", admitiu Xin, acrescentando que "a disseminação do vírus pelo mundo está a criar muitas incertezas quanto ao retorno ao trabalho na China". "A China vai coordenar com outros países para promover o retorno à actividade", afirmou. "Faremos todo o possível para minimizar o impacto da epidemia e garantir que o desempenho industrial se fixe no nível certo", acrescentou. A China anunciou na quinta-feira que o pico da epidemia no país foi atingido, mas ainda não suspendeu as rigorosas medidas de prevenção que mantêm grande parte da população em casa.


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segunda-feira 16.3.2020

A

S cheias de sexta-feira na cidade de Díli afectaram grande parte da zona central e leste da capital timorense e provocaram um morto e quatro feridos, com mais de 300 pessoas deslocadas, segundo a Protecção Civil. Segundo um relatório a que a Lusa teve acesso há já mais de 3.500 pessoas afectadas, com danos nas casas, tendo vários residentes, contactados pela Lusa, confirmado a perda quase total dos seus bens. A zona de Bidau, no centro da cidade, tem mais de mil pessoas afectadas, a que se somam quase 830 em Santa Cruz, 621 em Becora, quase 590 em Hera e cerca de 450 no Bairro Pité. A vítima mortal, uma jovem de 16 anos, vivia na zona de Becora, tendo os quatro feridos regressado a casa depois de terem sido assistidos no Hospital Guido Valadares. Os 300 deslocados estão catualmente alojados temporariamente em três centros, dois da Protecção Civil e um na Igreja de Bidau. Além de intervenções em vários pontos da cidade, com limpeza e remoção de terra, lama e lixo, continuam a decorrer as operações de limpeza na Escola Portuguesa de Díli, entre outros locais. Continuam igualmente a decorrer trabalhos de remoção de água

Dilúvio em Díli Cheias fazem um morto, quatro feridos e 300 deslocados

e lama no Palácio Presidencial e água potável está a ser fornecida às populações das zonas mais afetadas. Dois dos locais que suscitaram preocupação estão ambos relacionados com as medidas de preparação para a eventualidade do Covid-19 ser confirmado em Timor-Leste. As cheias causaram problemas e perda de equipamento e material na Clínica de Vera Cruz, local

onde o Governo pretende instalar eventuais casos críticos. Também o Laboratório Nacional – que estava a ser preparado para poder começar testes ao Covid-19 – ficou inundado, com uma operação de limpeza a decorrer durante o fim de semana. Rajesh Pandava, da Organização Mundial de Saúde (OMS) – que apoiou a limpeza – explicou à Lusa

que os trabalhos foram concluídos e que o espaço deverá ficar preparado na segunda-feira para recolher e preparar testes que terão, ainda, que ser enviados para Darwin, no Norte da Austrália.

APOIO PARA TODOS

O Ministério das Obras Públicas está a liderar os trabalhos de limpeza de ruas e outras infraestruturas, numa cidade onde era visível, ainda ontem, a lama e o lixo acumulado em muitos locais. O trânsito está condicionado ou mesmo bloqueado em várias zonas da cidade, com o sol a secar

a lama em muitos locais, causando nuvens de pó. Grande parte das zonas continuam ainda cheias de lama, detritos e lixo, com as famílias, empresas e instituições a continuarem a complicada tarefa de limpeza, com perdas materiais significativas. O relatório refere que tanto timorenses como estrangeiros têm estado a entregar comida e bens não-alimentares na Protecção Civil que começaram a ser distribuídos, com outros apoios oficiais e de agências nacionais e internacionais, aos afectados. Dados definitivos sobre as famílias afectadas ainda estão a ser recolhidos, especialmente porque a zona afectada é muito vasta, com o foco da recolha de informação a ser agora a zona de Becora, localizada entre duas ribeiras que romperam as margens. Várias empresas locais têm vindo a apoiar as tarefas de apoio e recuperação, especialmente na entrega de água às comunidades afectadas. Responsáveis de agências internacionais ouvidos pela Lusa notam que o próximo passo essencial é “garantir que é implementado um bom plano de distribuição” para “que o apoio chega a todos os que precisam”.

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EDITAL Edital n.º Processo n.º Assunto

: 16 /E-BC/2020 : 434/BC/2019/F : Demolição de obra não autorizada pela infracção às disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) Local : Rua de Eduardo Marques n.º 5, EDF. Fortuna, parte do terraço sobrejacente à fracção 5.º andar B, Macau. Chan Pou Ha, Directora da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, faz saber que ficam notificados o dono da obra ou seu mandatário, bem como os utentes do local acima indicado, cujas identidades se desconhecem, do seguinte: 1. Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que no local acima indicado realizou-se a seguinte obra não autorizada: Obra Infracção ao RSCI e motivo da demolição Construção de um compartimento com cobertura metálica, Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do gradeamento metálico e rede metálica. caminho de evacuação. De acordo com o n.º 1 do artigo 95.º do RSCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/95/M de 9 de Junho, foi realizada, no seguimento de notificação por edital publicado nos jornais em língua chinesa e em língua portuguesa de 15 de Novembro de 2019, a audiência escrita dos interessados, mas não foram carreados para o procedimento elementos ou argumentos de facto e de direito que pudessem conduzir à alteração do sentido da decisão de ordenar a demolição da obra não autorizada acima indicada. Sendo as escadas, corredores comuns e terraço do edifício considerados caminhos de evacuação, devem os mesmos conservar-se permanentemente desobstruídos e desimpedidos, de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 10.º do RSCI. Assim, nos termos do n.º 1 do artigo 88.º do RSCI, por despacho de 6 de Março de 2020 exarado sobre a informação n.º 00568/DURDEP/2020, ordena aos interessados que procedam, por sua iniciativa, no prazo de 8 dias contados a partir da data da publicação do presente edital, à respectiva demolição e à reposição do local afectado, bem como à remoção de todos os materiais e equipamentos nele existentes e à sua desocupação, devendo, para o efeito e com antecedência, apresentar nesta DSSOPT o pedido de demolição da obra ilegal, cujos trabalhos só podem ser realizados depois da sua aprovação. A conclusão dos referidos trabalhos deverá ser comunicada à DSSOPT para efeitos de vistoria. Findo o prazo da demolição e da desocupação, não será aceite qualquer pedido de demolição da obra acima mencionada. De acordo com o n.º 2 do artigo 139.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M de 11 de Outubro, notifica ainda que nos termos dos n.os 1 e 2 do artigo 89.º do RSCI, findo o prazo referido, a DSSOPT, em conjunto com outros serviços públicos e com a colaboração do Corpo de Polícia de Segurança Pública, procederá à execução dos trabalhos acima referidos, sendo as despesas suportadas pelos infractores. Além disso, findo o prazo da demolição e da desocupação voluntárias, a DSSOPT dará início aos respectivos trabalhos, os quais, uma vez iniciados, não podem ser cancelados. Os materiais e equipamentos deixados no local acima indicado ficam aí depositados à guarda de um depositário a nomear pela Administração. Findo o prazo de 15 (quinze) dias a contar da data do depósito e caso os bens não tenham sido levantados, consideram-se os mesmos abandonados e perdidos a favor do governo da RAEM, por força da aplicação do artigo 30.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M de 15 de Fevereiro. Nos termos do n.º 3 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 4 do artigo 10.º é sancionável com multa de $4 000,00 a $40 000,00 patacas. Além disso, de acordo com o n.º 4 do mesmo artigo, em caso de pejamento dos caminhos de evacuação, será solidariamente responsável a entidade que presta os serviços de administração e/ou de segurança do edifício. Nos termos do n.º 1 do artigo 97.º do RSCI, da decisão referida no ponto 3 do presente edital cabe recurso hierárquico necessário para o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, a interpor no prazo de 8 (oito) dias contados a partir da data da publicação do presente edital. 1.1

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RAEM, 6 de Março de 2020 A Directora dos Serviços Chan Pou Ha


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Conheco , o sal da tua boca

Du Jin e o gosto da beleza das coisas antigas

Paulo Maia e Carmo texto e ilustração

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U Sheng (268-178 a. C.) também conhecido simplesmente como «Mestre Fu» aproveitando uma homofonia do caracter sheng, é uma personagem histórica que, de forma algo misteriosa, está associada à recuperação de um dos «Cinco Clássicos». De acordo com o grande historiador Sima Qian quando o imperador Wen de Han (r. 180157 a. C.) mandou percorrer o país em busca dos «Estimados Documentos» (Shangshu) só havia uma pessoa capaz de o apresentar e era esse erudito natural de Jinan, actual Zouping (ou Zhangqiu) na Província de Shandong. Segundo alguns relatos porque o escondera na parede da sua casa quando o imperador Qin Shihuang ordenara em 212-13 a. C. a lendária «queima dos livros e o enterro dos eruditos vivos» (Fenshu Kengru). De acordo com outros tê-lo-ia guardado na memória. De qualquer forma e porque já era muito idoso na altura, o imperador ordenou que lhe fosse feita uma inquirição pelo erudito Chao Cuo. A figura de Fu Sheng idoso, muito magro, é representada num retrato à maneira de um imortal, sentado de pernas cruzadas num tapete rústico com um rolo de papel na mão um tinteiro e um pincel numa mesinha, num rolo de pintura horizontal a tinta e cor sobre seda, que se encontra no Museu de Belas Artes de Osaka. O enorme prestígio da pintura deriva também de a sua autoria ser atribuída ao lendário pintor e poeta dos Tang, Wang Wei (699-759). Mas a lembrança desse encontro

onde se presume um diálogo revelador entre os dois eruditos perduraria. Na dinastia Ming, um pintor daria a esse momento um carácter estável como a celebração de um inolvidável momento histórico. Du Jin (activo entre c. de 1465-1509) era natural de Dantu, actual Zhenjiang (Jiangsu) mas foi em Pequim, na companhia de pintores eruditos como Shen Zhou ou Tang Yin que seria reconhecido. A sua pintura «O erudito Fu Sheng transmitindo o Livro dos Documentos», rolo vertical em tinta e cor sobre seda (147 x 104,5 cm) que se encontra no Metropolitan Museum em Nova Iorque, ilustra a ocasião do célebre encontro num recinto cultivado com a dignidade de um jardim imperial. Lá está o modelo do homem velho muito magro sobre um tapete mas agora o seu corpo vai-se confundindo com os retorcidos troncos aonde está encostado. Sobre o ombro do diligente Chao Cuo, portanto desde o lugar do observador, vemo-lo a escrever apoiado numa mesa tudo o que escuta. Entre os dois uma mulher, que o pintor se esmerou para acentuar a beleza, é a filha (ou neta) do sábio que está a traduzir o que é dito num dialecto local para uma língua acessível ao que escreve. Tal como uma outra pintura sua que está no Museu de Xangai representando as Quatro Artes do Erudito, conhecido como «Os dezoito sábios», o pintor mostra o seu apreço pelo passado tal como aconselhara Confúcio: «Alegra-te com a Antiguidade, exercita-te no seu conhecimento».


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

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José Simões Morais

Casa dos Expostos

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ARA os recém-nascidos não serem deixados em plena rua abandonados, foi em 1838 atribuído às Câmaras Municipais o encargo de os acarearem e promover a sua criação e à Mesa dos Enjeitados, também conhecida por Mesa dos Santos Inocentes, recolher as verbas para as despesas, mercê, principalmente, de esmolas. A Santa Casa da Misericórdia de Macau, pelo menos desde o início do século XVII, tivera a seu cargo a Casa dos Expostos, chamada também dos Enjeitados, encontrando-se o hospício instalado na parte posterior do Cartório, bloco comum à Igreja, e de vistas para o claustro. Com fraca vigilância e sem acções de fiscalização exteriores durante o século XVIII, parecia abandonada, apesar de ter recebido cifra a atingir os três contos de réis, isto é, 3000 taéis, segundo uma representação de 1789 à Rainha. “Os poucos dados conseguidos mostram, naqueles anos, a existência média à roda de 120 crianças; às amas pagavam 2 máses (7 gramas) de prata e 30 catis (um pouco mais de 18 kg) de arroz, por mês. As amas gozavam ainda a regalia de mestre curandeiro chinês, que, por avença para pela Casa, as ia tratar quando necessário. As <de fora> recebiam 1 a 2 taéis (1 tael = 37,799 g) de prata por mês, sem direito a arroz, mas parece ter sido corrente tomarem à sua conta, mais de um exposto, com a paga equivalente. Para despesa total, já em pleno período de restrições (início do século XIX), apura-se ser ainda entre 1600 a 1800 taéis por ano, mais ou menos de acordo com a média do 1% indicada pelo Ouvidor Arriaga para a cobrança na alfândega, verba, porém, reputada insuficiente. Em todo o caso é de frisar quanto tal despesa era, ao tempo, ligeiramente superior à do hospital dos enfermos”, segundo o médico José Caetano Soares (JCS), cujas suas informações nos socorrem neste artigo. Em Portugal, no alvará de 18 de Outubro de 1806, tornado extensivo ao Ultramar, o assunto dos expostos merecera atenção especial: «Determino que em todas as Misericórdias, nas eleições anuais se eleja um Irmão para Mordomo dos ditos Expostos. Para que esse piedoso estabelecimento (Casa dos Expostos) não venha a ofender os bons costumes, que as justiças obriguem as mulheres solteiras, que se souber andam pejadas, a darem conta do parto, a pagarem a criação e tomarem conta dos seus filhos. Quando, porém, aconteça haver um parto secreto e se recorra ao Provedor da Misericórdia ou ao Mordomo dos Expostos, serão eles obrigados a prestar o socorro pedido, procurando-lhe uma mulher morigerada (de bons costumes) que em segredo assista ao parto, fazendo conduzir o exposto à roda,

ou entregando-o a uma ama, que o crie... sem que se indague a qualidade da pessoa, nem se faça acto algum judicial, de que se possa seguir a difamação.» Arquivo das Missões. “O uso em que estão os moradores, ou mais suas mulheres, de comprarem raparigas que os chineses vendem com facilidade, principalmente, havendo carestia de arroz e mandar lançá-las na roda, não tendo o problema nada de peculiar em Macau, era preciso pôr um termo a isso. De causas diversas, desde as de natureza económica, até às de ordem moral, mais ou menos ligadas à frouxidão de costumes ou à libertinagem, esse aspecto da ilegitimidade dos filhos levaria a admitir o desumano conceito de tolerar o abandono dos recém-nascidos, mormente pela mãe”, segundo o JCS. Em 1811, mereceu atenção do Desembargador Miguel de Arriaga que comunicaria, também, à Secretaria de Estado: <Há na Misericórdia a administração deste pio Instituto (Casa dos Expostos) socorrido pelos réditos dos legados deixa-

dos pelos benfeitores com essa aplicação, a que acresce a anual consignação de 2% (?) tirados da alfândega sobre as fazendas grossas. A Portaria-Circular de 1834 mandava pedir: <Exposição circunstanciada do estado em que existem os estabelecimentos dos Expostos, com indicação do número que anualmente recebem, vencimentos das amas, quanto tempo dura a criação de cada um, que destino recebem ultimados da sua criação, se há edifícios em que estejam todos reunidos e quanto se deve às amas...> A Portaria foi recebida em Macau, mas se teve resposta da mesa, não foi encontrada.

MANIFESTO CONTRA A RODA

“Pelos elevadíssimos índices de mortalidade, dessas Casas de Expostos, a que outras razões, tanto morais, como até materiais, traziam extraordinário agravo, passou a tornar-se mais opressivo o mal-estar e o geral descontentamento, até que em 1853 o Dr. Tomaz de Carvalho, professor ilustre da Escola Médica de Lisboa,

“Enjeitado ... escusas de procurar. Os registos são mudos, nem tiveram olhos ou ouvidos quando te vieram introduzir na roda fatal. Uma volta mais e perdeste pai, mãe, família, herança, nome, amor, afectos, túmulo, ... enfim, tudo”

rompeu na <Gazeta Médica> com a memorável campanha - <Abaixo a Roda dos Expostos>. A grande autoridade do seu nome, bem apoiada nos elementos colhidos na maternidade do Hospital de S. José, a pouco e pouco transformada em antecâmara da Roda e, acima de tudo, o desassombro de quem se sente forte na luta por uma causa justa. <A roda foi inventada como remédio à imoralidade das exposições na via pública... Como instituição fez o seu tempo e tem de ser abolida... As leis civis e religiosas impõem deveres ao matrimónio, a roda só com uma volta desliga dos que são mais sagrados ... A lei e a religião dizem que o filho é da família, a roda responde que basta ser da comunidade. A ciência diz que o novo ser precisa do primeiro leite e do primeiro amor de mãe, a roda trata a ciência como visionária e confia o filho aos afectos de uma cabra ou aos mais animais da primeira mercenária que se apresenta... E depois, corrida a volta fatal, hei-lo deserdado da família, do nome, aquele que não teve culpa de ter nascido e da desumanidade dos pais, ou do vício das instituições ... E uma vez homem, quem são os seus amigos, os seus parentes, onde o túmulo daqueles, cuja perda deve sentir? É o número tal do registo, os outros números são os seus irmãos... Os enjeitados formam assim uma raça separada do resto do género humano, são uma espécie de escravos, que à imitação dos antigos pertenciam à sociedade, mas raça sem família, ... sem nome, não é desta ou daquela terra, deste ou daquele país... Que amor quereis que ele tenha ao solo em que a sua mãe despiedosa o depositou, às instituições absurdas que consentiram tamanha desumanidade e que nem lhe permitem a averiguação da sua família? ... Enjeitado ... escusas de procurar. Os registos são mudos, nem tiveram olhos ou ouvidos quando te vieram introduzir na roda fatal. Uma volta mais e perdeste pai, mãe, família, herança, nome, amor, afectos, túmulo, ... enfim, tudo. Teu pai é só Deus, tua família és tu, a tua herança o trabalho, o teu nome um número, o teu túmulo a terra onde te achares... És um cativo sem redenção, a tua mãe para se reabilitar condenou-te, estás a pagar o pecado original... Em nome da religião atacada na essência, .... a roda deve acabar...> Não obstante o apoio, logo recebido, tanto da Imprensa, como mesmo das instâncias governamentais, só em 1866, ainda parcialmente, e, por fim, em 1876 foi possível abolir de maneira definitiva o sistema da Roda”, segundo escreve José Caetano Soares.


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Cartografias Anabela Canas

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U o fio de Ariane. É tempo de voltar á minha rua. Ficar em casa. Aquele fio que me ficou para pensar. Desenrolar e contar. Em metros. Ou, daquele momento antes, mais de quatro mil quilómetros em linha recta. Longitude para oeste de Alagoas. Desenrolo o novelo deste fio em que se poderia voltar atrás. Mas do Perú as lindas açucenas que manipuladas por emigrantes holandeses e levadas para o Brasil, deram estes híbridos a provar que o homem inventa a natureza e o espanto. Estes bolbos vivem comigo há anos. Não há erro para rever e refazer invertendo os passos. Esta tentação melancólica sempre à espreita em cada pequeno salto na geografia desenhada sobre a mesa. O que fica para pensar e tem que ser. Irreprimível. A sorte foi lançada. Alea jacta est. Diz-se quando aquilo que determinará um resultado já foi definido e só resta esperar que se revele. Os dados estão lançados. Uma sorte ou um destino. Ou recuando no fio, uma predestinação. É o que podemos dizer todos os dias, feitas as contas ao feito e não feito. E que o destino é mais forte do que o livre arbítrio. Que concluir em alívio ou desesperança? Porque é assim que fica o mundo todas as noites em que nos deitamos para dormir. E depois, logo se vê. Fio a fio, cores, pontos e padrões nessa tapeçaria em que se misturam os tempos, que se tece sem saber, mas depois num todo. Para onde foram os dados. Não há abismos sem deles ou de onde o desenho. Para isso nos demoramos a pensar na complexidade de tudo. Pomos um pé de um lado, outro do outro, colocamo-nos de um lado ou do outro, ou voamos em círculos alargados a perscrutar o horizonte em amplitude e profundidade, de uma distância segura mas com a liberdade infantil de correr o risco se isso nos tomar a alma. O fio em volta. Ou o fio da navalha. Aquilo que corta a realidade em duas, a todo o momento. Aquilo que poderia ter-se tornado e sido, e aquilo que afinal foi, é. E como saber se a primeira hipótese, mera hipótese, alguma vez teve alguma possibilidade de ser? Aí nos perdemos em conjectura inglória presa ao que era sonho, mais do que ao que de facto algum dia podia ter sido desenhado, ou temos um instante de lucidez mediúnica, prevendo o potencial futuro de um passado que se arrumou noutro rumo. Ao ponto de se dizer: foi sem querer. O mundo a que chegámos. E mais do que isso, sem ter sabido o contrário no fazer. A pensar no fio de Ariane, mas é sempre o fio da navalha o que surge e o corta sem remédio. Caminho de risco de ferida grave. A verdade cortante e não emendável. Aqueles que não acreditam num destino. Como eu. Mas mesmo se não existir, é um fado subterrâneo o que fia a linha da vida. Que nos faz ser estoicos ou desisten-

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O fio da navalha ANABELA CANAS

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tes, adiar e entregar a deus, como se deus existisse também. Aqueles que não acreditam em Deus. Como eu. Mas se chegam a sentir num abandono, que só pode ser uma distracção deste, uma ignorância, um desviar os olhos para outros desígnios. Todas as vezes que acreditamos na inevitabilidade, todas as vezes que esperamos ou desistimos de esperar, mas nos sentamos para ver o que vier. Como se algo trouxesse, consistente como um plano, aquilo que não se avista mas podemos pensar algures e por chegar. Todas as vezes que se baixa os braços como se nada em nada contribuísse para nada. E aquelas em que pressentimos ou intuímos procurando ver mais longe. O futuro não existe a menos que o inventemos, ou em cada peça de uma construção, que colocamos sobre outra. Em cada traço, em cada palavra e

A vida tem uma forma encriptada de produzir perguntas. Por isso tantas vezes falhamos nas respostas

em cada escolha numa montra infindável. Uma potencialidade a desenhar um palimpsesto. Um fio condutor. Como um destino. Ou fado. Lanço os dedos à terra. Essa matéria real onde ficam pegadas. Disponho os bolbos já inquietos na terra. Em alguns, o verde já a despontar como uma esperança ou uma pressa no inevitável. E penso se é a altura, se será tarde e estarão zangados, alguns. Na memória das flores luxuriantes do ano passado, vejo as deste ano. Como se escondidas à espera de voltar e as mesmas. Que não existem, que podem muito bem não chegar a nascer de todos eles. Ou de nenhum. Rego. A possibilidade daquele estonteante vermelho futuro. Sedoso e cheio. Aquela quase incandescente qualidade de cor quando abrem enormes, mas menos do que o repetido espanto quando os contemplo incrédula. Quando abrem e se abrem. Mas algo me faz hesitar. Se alguma coisa está certa neste gesto é o absurdo rigor inevitável naquilo que vai acontecer. Uma coisa ou o seu contrário. E ambas se chamam com o mesmo nome. Amarílis inevitável. No nascer, ou ficar por nascer. Onde se pode ler esse destino, por agora secreto como todos? Nunca no fio de Ariane - a vida, fora do labirinto. Fibra de uma fiação sempre

a tempo. De fazer e desfazer. Desenrolar e depois voltar atrás por outro caminho. Até acertar. Um destino meticuloso de tentativa e erro. Apagados até a obra final. É, apenas o fio da navalha. Este, sem a possibilidade de voltar atrás, ao início de tudo pelo mesmo caminho, e aí, escolher por tentativa e erro outra possibilidade. Até ao destino querido e escolhido. Um fio, esse, afiado com o tempo. Ou rombo e inócuo. Inútil. Cada escolha a cortar o destino em dois em cada momento. O que se torna possível e o que se torna impossível. E a vida, sempre em frente. Qualquer que se demonstre vir a ser. A vida tem uma forma encriptada de produzir perguntas. Por isso tantas vezes falhamos nas respostas. E não é o que somos, o que desejamos, sequer, mas cruzamentos de linhas que se tocam por momentos, indecifráveis e continuam o seu caminho muitas vezes divergente. Uma oportunidade desconhecida. E perdida sem culpa nem perdão. Fossemos tão dependentes das falhas, da beleza, da luz, e quantas mortes não teríamos em crédito para morrer. Olho para as mãos (o que fazer?). Acamo cuidadosamente mais um punhado de terra fofa em torno dos bolbos. E depois, olho para longe.


desporto 17

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UMA semana terrível para todos os desportos a nível mundial, com cancelamentos e adiamentos em catadupa em todas as modalidades, a indústria e os seus agentes tentam manter uma certa normalidade e vão-se preparando para quando a vida retomar ao normal. Michael Rutter deu na passada sexta-feira uma entrevista ao Shropshire Star, onde confirmou que nos seus planos para a nova temporada está um regresso ao Grande Prémio de Macau este ano, onde com certeza tentará vencer pela décima vez no Circuito da Guia. Mais, aos 48 anos, o filho do ex-piloto Tony Rutter não tem planos para abrandar e espera também estar à partida de outros grandes eventos como a Ilha de Man TT ou a Classic TT. “O ano passado fiz tudo o que tinha planeado fazer e, possivelmente, ainda mais”, disse o britânico, recordista de vitórias do Grande Prémio de Macau de Motos, à publicação da região de West Midlands. “Até venci o Grande Prémio de Macau e, embora tenha sido provavelmente uma sorte (a corrida teve apenas uma volta competitiva ao circuito). Na minha idade, fiquei muito satisfeito como tudo correu e ficarei bastante agradado se conseguir repetir alguns sucessos outra vez este ano” Conhecido no meio como “The Blade”, Rutter continuará focado no seu novo projecto pessoal, a Bathams Racing. A equipa recebeu por parte da BMW Motorrad o estatuto de “equipa de fábrica”, tendo contratado à Suzuki os serviços de Richard Cooper. A Bathams Racing assim irá preparar duas

MOTOCICLISMO MICHAEL RUTTER VAI VOLTAR AO GP COM NOVA MOTO

Apontar à décima

francês Sébastien Ogier (Toyota Yaris) venceu no sábando o Rali do México, terceira prova da temporada, e assumiu o comando do Campeonato do Mundo, com 62 pontos, antes do Rali de Portugal. A organização mexicana decidiu dar por terminada a prova de forma a contornar as restrições que se avizinham em diversos aeroportos mundiais, pelo que não foram atribuídos os cinco pontos extra da ‘power stage’, uma das três especiais previstas para ontem que foram canceladas. Desta forma, Ogier terminou com o tempo de 2:47.47,6 horas e com 27,8 segundos de vantagem

ADEUS À SUPER HONDA

Depois de conquistar a 53ª edição do Grande Prémio de Macau de Motos, Rutter vai encostar a preciosa Honda RCV213V-S, uma moto proveniente do MotoGP e que estava avaliada em dois milhões e meio de patacas. O estatuto de equipa oficial da BMW da Bathams Racing e a maior competitividade da mais recente geração de motos da marca de Munique são razões mais que suficientes para Rutter deixar a Honda de lado. “A Honda atingiu alguma idade, como acontece com todas as motos, porque estas novas motos são ainda melhores”, explicou Rutter. “Nós somos uma equipa oficial da BMW este ano e apesar de eu tecnicamente poder tripular qualquer moto que goste, acho que fica melhor que a equipa esteja toda com motos iguais.” Esta parceria com a BMW permite à equipa de Rutter receber a ajuda em termos de electrónica e se algum “update” for lançado, a Bathams Racing irá ser a primeira a receber o material. Recorde-se que o ano passado, em Macau, a BMW S1000 RR inscrita pela MGM by Bathams Racing, tripulada por Peter Hickman, o pole-position e segundo classificado, já exibiu algumas das novidades técnicas a aplicar na competitiva máquina germânica em 2020. Sérgio Fonseca

info@hojemacau.com.mo

Michael Rutter, piloto “Somos uma equipa oficial da BMW este ano e apesar de eu tecnicamente poder tripular qualquer moto que goste, acho que fica melhor que a equipa esteja toda com motos iguais.”

RALIS SÉBASTIEN OGIER VENCE NO MÉXICO E LIDERA MUNDIAL

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novas Superbikes e duas Superstock, colocando-as a correr nas principais corridas de estrada e também no Campeonato Britânico de Superbikes.

sobre o campeão mundial, o estónio Ott Tanak (Hyundai i20). O finlandês Teemu Suninen (Ford Fiesta) fechou os lugares do pódio, a 37,9 segundos do vencedor. O galês Elfyn Evans (Toyota Yaris), um dos líderes do campeonato à partida da jornada mexicana, nunca conseguiu acompanhar o ritmo do seu companheiro de equipa, terminando na quarta posição, a 1.13,4 minutos de Ogier. O belga Thierry Neuville (Hyundai i20), o outro líder do Mundial com os mesmos 42 pontos de Evans, foi apenas 16.º classificado depois de este sábado ter regressado à prova no sistema

super-rali após desistir sexta-feira com um problema eléctrico no seu Hyundai. Com estes resultados, Ogier, que igualou as seis vitórias do compatriota Sébastien Loeb no México e subiu ao comando do Mundial, com 62 pontos. “Uma vitória é uma vitória, mas esta tem um sabor diferente de qualquer outra”, assumiu o piloto da Toyota, no final. A Toyota lidera o Mundial de Construtores, com 110 pontos. Devido ao cancelamento do Rali do Chile e ao adiamento do da Argentina, a próxima prova do Campeonato do Mundo é o Rali de Portugal, de 21 a 24 de Maio.

BRASIL SORTES DIFERENTES PARA FLAMENGO E SANTOS

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Flamengo, de Jorge Jesus, voltou ontem a triunfar na Taça do Rio de futebol, enquanto o Santos, de Jesualdo Ferreira, esteve a vencer, mas permitiu a reviravolta, no Campeonato Paulista, em jogos à porta fechada no Brasil. Com o mítico Estádio Maracanã totalmente ‘despido’ de público, o Flamengo chegou a estar em desvantagem perante a Portuguesa, mas deu a volta ao marcador nos últimos minutos e venceu por 2-1, na terceira jornada da Taça do Rio, a segunda volta do Campeonato Carioca.

O Flamengo lidera isolado a prova, com nove pontos, mais três que a Boavista, que é segunda classificada. Também sem público nas bancadas, o inverso aconteceu com Jesualdo Ferreira no Santos, que foi para o intervalo com uma vantagem de 1-0 no campo do São Paulo, acabando por permitir, na segunda parte, a reviravolta da equipa da casa, que triunfou por 2-1. Mesmo com a derrota, o Santos continua a liderar o Grupo A do Campeonato Paulista, com 15 pontos, mais cinco que o Oeste, segundo posicionado.


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FILHOS DA GUERRA 14

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O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) assegurou ontem que um milhão de crianças sírias nasceram como refugiadas, depois de terem fugido de uma guerra no país que ontem completou nove anos. “Cerca de 4,8 milhões de crianças nasceram

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na Síria desde que começou o conflito, há nove anos. Mais um milhão nasceram como refugiadas em países vizinhos. Continuam a enfrentar as devastadoras consequências de uma guerra brutal”, declarou a Unicef em comunicado.

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16 Cineteatro C I N E M 4 7 8 5 2 6 1 3 THE INVISIBLE MAN [C] 5 1 9 4 CALL 7 OF3THE WILD 6 [B]2 2 3 6 1 8 9 5 4 BIRDS OF PREY [C] 3 2 4 9 MY 5 SPACE 1 [B] 8 7 6 9 5 8 4 7 2 1 1 8 7 3 BATTLE 6 2OF JAGSARI 9 [C]5 THE CAVE [B] 8 6 1 2 3 4 7 9 9 5 3 7 1 8 4 6 7 4 2 6 9 5 3 8

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UM2 FILME HOJE 5 1 8 9 3 4

5 7 2 9 8 3 6 4 1

2 9 8 7 5 1 3 4 9 8 3 1 4 2 5 6

22 7 5 1 9 6 8 3 2 4

“BLACKKKLANSMAN” | SPIKE LEE

4 9 8 7 2 3 1 5 6

3 6 2 1 5 4 7 8 9

5 4 7 3 9 2 8 6 1

8 3 9 5 1 6 4 7 2

2 1 6 4 8 7 5 9 3

4 5 6 2 8 3 1 9 7

1 3 2 4 8 7 5 6 9

Um filme de: Kwak Kyung-Taek, Kim Tae-Hun Com: Kim Myung-Min, Choi Min-Ho, Kim Sung-Cheol, Kim In-Kwon 14.15, 19.15

7 2 1 8 3 9 5 6 4

Há uma árvore no meio da avenida. É uma árvore qualquer, sem nada de especial a não ser o facto de ter sido plantada a meio da avenida. Durante o ano muda de cor e esse ritmo prossegue inalterável apesar de existir na separação dos dois sentidos, sujeita aos humores dos automóveis. Mas esta árvore não morre facilmente. A poluição diária não a destrói. Espera por esse grande vento que a derrubará, um suzuki ou um mercedes, conduzido por uma rapariga inocente e alcoolizada. A árvore não protestará. A árvore não é grande nem frondosa. Pelo contrário: lembra uma figura de Giacometti 20 e a existência ténue daqueles seres que frequentam 5 7só. Distingui1 8 3 ruas de6um9homem -a nitidamente, 7 3 8 numa 2 6torção 4 de1 pescoço, quando atravessei pela 1 2 4 9 3 5 7 última vez a avenida a correr, 4 6a passadeira 1 8 5e o 3carro9 ignorando da rapariga de 3 7 9hálito 4 inocente 2 1 6e alcoólico. Não sei se ainda lá está 8 erecta 5 2a meio 6 9da aveni7 4 a árvore da. A 2 desgraça polui. 4 6súbita 5 não 7 9 8 Desta vez, cheguei ao outro lado. 5 1 7 3 8 6 2 Carlos Morais José

4 6 5 3 1 9 7 8 2

Um filme de: Peter Segal Com: Dave Bautista, Chloe Coleman 14.15, 19.15

4 6 9 5 7 1 8 5 6 2 1 7 9 3

“BlacKkKlansman” con7 3real2de 6um 4 ta a 8história polícia 1 negro, 4 5o primeiro 3 2 9 facto raro na América dos 9 que 8 consegue 1 5 7 anos61970, infiltrar-se 7 3 no2 Ku6 Klux 4 8 Klan, a partir de um inu3 primeiro 2 4 contacto 9 8 6 sitado telefónico. 5 1 Após 7 4longas 3 2 conversas ao telefone, 9 8 6 7 1 5 Ron Stallworth ganha a confiança dos líderes do grupo 23racista e consegue infiltrar-se. Outro colega, 4 7veste9 a 5 por 6 acaso2 judeu, sua pele 3 nas 8 reuniões 7 4 pre2 1 senciais da organização 1 5a partir 8 6do 3 para9a sabotar interior. 2 6 Hoje 1 Macau 5 4 9

6 3 9 7 4 5 1 8 2

6 9 3 1 7 4 8 2 5

O OUTRO LADO

24 9 1 8 3 4 3 8 1 3 9 2 6 5 8 7 6 4 5 7 1 9 5 6 1 5 7 4 2 9 8 3 7 9 6 2 7 4 2 6 4 8 7 3 1 9 THE CAVE 5 9 1 2 8 8 3 7 7 1 9 5 8 2 6 8 2 7 9 6 7 3 9 2 1 8 5 6 4 4 3 5 9 6 7 2 1 6 Fábrica 4 de5Notícias, 3 Lda Director Carlos 5 8 6João Luz;3José7C. Mendes 2 Redacção 1 9Andreia Sofia Silva; João2Santos8Filipe;6Pedro1Arede4Colaboradores 3 5 Propriedade Morais4 José Editores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo 2 José 8 Drummond; 6 4 José7Navarro de Andrade; José1Simões 5 Morais; 2 Luis3Carmelo; 7 Michel 6 Reis; 4 Nuno 9 Miguel 8 Guedes; Paulo José Miranda; 9 2Paulo4Maia 8 1Rita6Taborda3 Cotrim; e Carmo; Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; 4 Chan3Wai 2Chi; Paula 8 Bicho; 5 Tânia dos Santos Cartoonista 4 9 Steph3Grafismo 1 Paulo 8 Borges, 2 Rómulo 6 7Santos5Agências Lusa; Xinhua5Fotografia 7 Hoje3Macau; 2 Lusa; 9 GCS;4Xinhua1 Paul Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada 7 5 3 1 9 8 7 6 9 5 4 1 2 3 8 6 1 3 7 5 4 de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo

SALA 3

18 5 6 7 2 2 3 9 8 4 8 1 5 6 7 4 3 1 5 3 4 9 2 8 7 3 9 5 1 7 www. 1 6 9 hojemacau. 8com.mo 4 2 6

3 2 7 4 5 1 9 6 8

VIDA DE CÃO

9 7 4 6 3 5 2 1 8

Um filme de: Chris Sanders Com: Harrison Ford, Karen Gillian, Dan Stevens 17.00

Um filme de: Tom Waller Com: Jim Warny, Ekawat Niratworapanya, Tan Xiaolong, Erik Brown

2 8 4 5 1 9 7 3 6

1.14

6 2 5 8 4 1 9 3 7

14.45, 19.30

Um filme de: Leigh Whannell Com: Elisabeth Moss, Adis Hodge, Storm Reid 15.00, 18.00

Um filme de: Cathy Yan Com: Margot Robbie, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollet-Bell 20.45

7 3 1 8 4 6 2 5 9

YUAN

1 8 3 2 7 9 6 4 5

SALA 1

SALA 2

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 17

8 6 9 1 4 2 7 5 3

PROBLEMA 18

7 4 5 6 2 8 6 1 9 7 3 5

4 3 2 7 9 1 6 8 5

19 9 6 5 7 3 2 1 8 4

0.25


opinião 19

segunda-feira 16.3.2020

reencarnações

C

O Chico Esperto

OMECEI a escrever este artigo por impulso na noite de segunda-feira passada, faz hoje uma semana. A relativização e verborreia surreal sobre a pandemia nas redes sociais impulsionou-me a escrever esta carta de amor ao mitra que chama “sócio” a estranhos e ao doutorado em “eu é que sei”. Quando escrevi a primeira parte desta crónica ainda não havia fotos da praia de Carcavelos cheia, ou festa do coronavírus em Aveiro. Mas tenho de dar a mão à palmatória e referir que, desde então, Portugal acordou um pouco do torpor fantástico que por vezes coloca o país noutro planeta, imune à realidade. Assim sendo, este retrato social já chega um pouco tarde, mas ainda existem largas bolsas populacionais destes espécimes que sabem muito mais sobre epidemiologia que a comunidade científica, ou que atravessam uma fase de pouco amor à vida. Mas, aqui vai o retrato social dos dois polos da perigosa relativização do momento histórico que o mundo está a atravessar pelos piores motivos. O Covid-19 trouxe à luz do dia o espectro amplo do chicoespertismo luso, transversal a todas as classes. Vai do mitra do bairro ao indivíduo culto mais bem informado. Para o mitra, a reacção marialva à epidemia faz parte da sua génese, é algo que constitui a sua identidade, antes de desatar a chorar e a clamar pela santa mãezinha que está no céu, agarrado ao crucifixo. Até lá, ladra barbaridades do género: “oh, essa constipação chinoca é para meninos, eheh [escarro no chão]. Eu? Alguma vez? Tá-se mesmo a ver, agora despentear a bigodaça com essas máscaras panascas! Mas eu ando aqui a comer gelados com a testa, não?! Isto é tudo uma cambada de gatunos, é o que é, só querem roubar o Benfica. Um bagacinho e isso vai ao lugar”. É natural que o mitra reaja com ignorância brutamontes, é a única coisa que conhece. Reage ao coronavírus como reage ao orçamento de Estado, que não compreende, ou ao nascimento de um filho, que também lhe escapou às contas. O gajo informado é, naturalmente, mais complexo, mas partilha um factor essencial com o mitra. Nada o ultrapassa no que toca à interpretação da actualidade. Ambos lêem o mundo de formas diferentes, mas interiormente são experts em saúde pública, epidemiologia e todas as categorias do Trivial Pursuit. Ah, e em gajas, claro, não estivéssemos nós nas pastagens do marialva

“THE GENIUS”, ABKOROVITS ROBERT

JOÃO LUZ

lusitano, essa manifestação quasi-equestre, o mito fantástico entre o Eduardo Prado Coelho e o Zezé Camarinha. Regressando ao gajo informado. Ninguém lhe passa a perna. Ui, era só o que faltava. Então e as coisas que leu e/ou escreveu online, plenas de sentido de humor, acutilância e crua e desapaixonada factualidade? Mesmo que por vezes resvale para asserções parolas pseudo-poéticas, à la Gustavo Santos, do género “o medo é que mata, não o vírus”. Está visto que tudo não passa de alarmismo desenfreado, um golpe nas nossas liberdades, uma gripe um bocado mais chata, uma deriva autoritária, o resultado de vivermos num Estado mamã, etc. O indivíduo informado, de repente, transforma-se no fã nº1 do Glenn Beck,

Não estou aqui a defender que o poder político é um esteio de pureza, pelo contrário, é uma fossa séptica onde a decência se afoga. Mas não é necessário puxar a ciência para esse lodaçal onde um porco parece um bicho asseado

que achava que os FEMA camps do tempo do Obama eram campos de extermínio de rednecks patriotas. A pessoa culta torna-se num ser que não consegue distinguir entre pânico e prevenção, imune a lições importadas de casos de sucesso ou de trágico insucesso. Num ápice, o gajo que leu tudo de Sartre a Eco, passando pelos clássicos, torna-se no mitra que encara a ciência como uma agremiação de marrões que não deixam copiar nos exames e que nunca beijaram uma mulher. De repente, tudo é uma conspiração para sabe-se lá o quê. No meio de tanta desinformação e da cobertura pornográfica das televisões portuguesas, que causaram fatiga de coronavírus, perdem-se muitas oportunidades para se estar calado e não dizer alarvidades. Oportunidades que o chicoespertismo nunca desperdiça. O chicoespertismo tem acalmado nos dias que correm. As chapadas de realidade são pequenos cursos introdutórios à humildade, mesmo que no íntimo sobreviva aquela chama rebelde do cepticismo. Não estou aqui a defender que o poder político é um esteio de pureza, pelo contrário, é uma fossa séptica onde a decência se afoga. Mas não é necessário puxar a ciência para esse lodaçal onde um porco parece um bicho asseado. Para já, gostaria que a prudência e o bom-senso fossem a nota dominante do futuro próximo do meu país. Para o bem de todos, inclusive dos “chicos espertos”.


A violência é o último refúgio do incompetente. PALAVRA DO DIA

Isaac Asimov

GCS

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Vírus do Porto Primeira infecção importada de Portugal depois de 40 dias sem novos casos

M

ACAU voltou a registar um caso do novo coronavírus depois de 40 dias sem novas infecções, confirmado ontem à noite pelo Centro de Coordenação e Contingência do Novo Tipo de Coronavírus.Ainfectada é uma sul-coreana, diagnosticada ontem à noite, que chegou a Macau na passada sexta-feira, oriunda do Porto. De acordo com as autoridades, a doente, com 26 anos de idade, é uma trabalhadora não residente, que saiu de Macau no passado dia 30 de Janeiro e acompanhou o namorado português que esteve no Porto para visitar familiares. O casal chegou a Hong Kong na sexta-feira num voo proveniente do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, que fez escala no Dubai. Por volta das 00h30 de sábado, chegaram a Macau através da Ponte HKZM e logo nesse dia a doente começou a

manifestar sintomas de tosse ligeira. Nessa tarde, os sintomas evoluíram para um estado febril, razão pela qual se dirigiu ao Centro Hospitalar Conde de São Januário. Após o teste de ácido nucleico foi diagnosticada com infecção pelo novo coronavírus e foi encaminhada para a enfermaria de isolamento do hospital. Actualmente, a situação clínica da paciente é normal, de acordo com as autoridades. O namorado de nacionalidade portuguesa é classificado como caso de contacto próximo e os Serviços de Saúde estão a investigar outras pessoas com contacto. A doente viajou no voo EK380 no lugar 31J, da Emirates, que fez escala no Dubai. As autoridades apelam aos passageiros que vieram no mesmo voo para contactarem o Centro de Coordenação para acompanhamento. João Luz

info@hojemacau.com.mo

ENSINO REINÍCIO DAS AULAS DE TODOS OS NÍVEIS ATÉ 4 DE MAIO

A

TÉ ao próximo dia 4 de Maio, os alunos de todos os níveis de ensino vão poder regressar faseadamente às respectivas salas de aula. O calendário completo do reinício das actividades escolares do ensino não superior foi divulgado na passada sexta-feira pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). Já os alunos do Ensino Superior poderão voltar a ter aulas, de forma condicionada, a partir do dia 1 de Abril. O regresso das aulas do ensino não superior irá acontecer entre 13 de Abril e 4 de Maio, estando também agendando o regresso não oficial dos finalistas do ensino secundário complementar já a partir do dia 30 de Março. Assim, no dia 13 de Abril recomeçam oficialmente as aulas do ensino secundário complementar, já com os alunos do 10º e 11º. Segue-se o ensino secundário geral (3º ciclo), a partir de 20 de Abril e o reinício das aulas para os alunos

do 4.º, 5.º e 6.º ano, a partir de 27 de Abril. Já o dia 4 de Maio marca o regresso das aulas para o 1.º, 2.º e 3.º ano do ensino primário, incluindo o ensino infantil e o ensino especial. Quanto aos alunos universitários, a Direcção dos Serviços do Ensino Superior (DSES) anunciou no sábado passado, ter chegado a um consenso com as instituições do ensino superior de Macau, sendo as aulas retomadas, parcialmente, no dia 1 de Abril. Segundo anunciou Chan Kun Hong, da DSES, o regresso será apenas para alunos finalistas, preferencialmente de Macau, sendo destinado a disciplinas, avaliações, laboratórios, estágios, apresentações de relatório e defesa de teses presenciais. Para os restantes estudantes, segundo a DSES, o reinício das aulas irá depender da evolução da situação epidémica e será sempre comunicado com uma antecedência de 14 dias. P.A.

segunda-feira 16.3.2020


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