MOP$10
TERÇA-FEIRA 16 DE MAIO DE 2017 s ANO XVI s Nº 3812
As mulheres de Uhlfelder
PAULO JOSÉ MIRANDA
Terrorismo ontológico
hojemacau
SOFIA MARGARIDA MOTA
DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
LADIES’ CLUB OF MACAU
DO FUNDO DO CORAÇÃO ENTREVISTA
Carta rasa
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JOGO ADVOGADO CONTESTA SUBCONCESSÕES E CRITICA GOVERNO
Para o advogado Sérgio de Almeida Correia, as três concessões de jogo (Venetian, MGM e Melco Crown) são ilegais e põem em causa os interesses de Macau. A realidade “bizarra”
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VALÉRIO ROMÃO
ESPÉCIES AMEAÇADAS
Lei pouco prática PÁGINA 5
das subconcessionárias potencia “con itos e práticas corruptas”, diz o causídico, que condena a conduta do Governo, acusando-o de fazer tábua rasa da questão.
Retratos OPINIÃO TÂNIA DOS SANTOS
PÁGINA 8
AVES VIVAS
A purga das galinhas PÁGINA 9
JOAN CORNELLÀ
HUMOR SEM PIEDADE
TATIANA LAGES
LIGA DE ELITE
Canarinhos marcam passo PÁGINA 13
AGÊNCIA COMERCIAL PICO s 28721006
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EVENTOS
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SOPHIE LEI PRESIDENTE DO INTERNATIONAL LADIES’ CLUB OF MACAU
Sophie Lei é a presidente do International Ladies’ Club of Macau, uma entidade que se dedica sobretudo a ajudar os que mais precisam. Ao HM, a responsável falou da actividade do clube e da sua importância para a sociedade
“É tudo uma questão de amor” Como é que entrou em contacto com o International Ladies’ Club of Macau (ILCM)? Conheci o clube em 1989 quando fui convidada para um dos seus eventos. Foi a primeira vez que também me juntei a um evento promovido por uma entidade deste género. Foi muito interessante, foi um almoço no Jockey Club e toda a gente usava um chapéu, com um estilo muito ocidental com o qual nunca tinha estado em contacto. Mais tarde, em 2016, fui patrocinadora e acabei por ir ao baile de caridade anual que o clube promove. Achei que a forma de angariar fundos era interessante e que tinha um fim louvável: ajudar os mais necessitados. O que é para si o ILCM? É uma associação em que todas as mulheres interessadas se podem juntar, quer sejam estrangeiras ou locais. Temos membros de muitas nacionalidades. Qualquer pessoa que viva em Macau pode juntar-se a nós, partilhar da nossa amizade e, ao mesmo tempo, conhecer pessoas de diferentes sectores. Por outro lado, e não menos importante, é um espaço em que as pessoas podem ajudar quem precisa.
“Não vamos ao encontro das instituições, mas estamos disponíveis para que venham pedir-nos apoio.”
Trabalham com muitas instituições de ajuda social no território e dirigidas a vários públicos. Qual é a área que considera que mais precisa de ajuda? O mais importante são as acções junto das crianças. Não só aquelas que vivem em orfanatos, mas também aquelas que sofrem de dificuldades de aprendizagem e que vêm de famílias desagregadas. Penso que precisam de mais apoio educativo porque também fazem parte do futuro do território. Temos de apostar em programas que lhes sejam dirigidos e, essencialmente, promover actividades educativas no período depois do horário escolar. Por outro lado, queremos, por exemplo, ter uma forma de dar
formação a empregadas que cuidam de idosos. Uma empregada do Sudeste Asiático não saberá como cuidar de uma idosa chinesa. Neste sentido, pretendemos dar formação de como cozinhar e tratar de acordo com a cultura. Quando falamos de necessitados, muitas vezes não estamos a falar de pobreza. Muitas pessoas precisam de dinheiro, de facto, para comer e ter uma vida decente, mas muitas vezes as pessoas também precisam de companhia, de cuidados. É tudo uma questão de amor. Se, com os nossos recursos, pudermos colmatar as necessidades financeiras, emocionais e sociais –, tanto melhor. Para isso, penso que precisamos de mais membros porque neste momento somos cerca de 200 e, em Macau, o número conta muito, principalmente para os possíveis patrocinadores. O que têm feito neste sentido? Temos dedicado muita da nossa ajuda às pessoas com deficiências. razemos, por exemplo, músico terapeutas de Hong Kong. Estamos também sempre prontos a ajudar as escolas que nos pedem apoio neste sentido. Uma outra faixa da população que é importante e que necessita de um apoio cada vez maior é a dos idosos. Há lares em Macau, mas os seus serviços não são suficientes. asta também que levantem a mão a pedir ajuda para que os ajudemos. Nós não vamos ao encontro das instituições, mas estamos disponíveis para que venham pedir-nos apoio. Às vezes, as pessoas pensam que podem ajudar sozinhas, mas isso é complicado porque vão tentar fazê-lo em alturas em que pode não ser necessário. Meses depois, por exemplo, já o é, e é bom que exista uma estrutura como a nossa que está sempre de portas abertas. Tentamos gerir os fundos consoante as necessidades. Por exemplo, no Inverno, quando está frio, as pessoas vão precisar de mais agasalhos. Se temos para dar, guardamos para essa altura. Tratamos
SOFIA MARGARIDA MOTA
ENTREVISTA
desta logística dedicada às necessidades do momento. Quando ajudamos na renda de espaços, não o fazemos de uma vez, mas sim faseadamente, porque assim temos também a certeza de que os donativos são utilizados devidamente.
“Estou muito orgulhosa por ser a primeira mulher chinesa neste papel e gostava que mais locais se juntassem ao clube.” Como é que conseguem os donativos e os patrocinadores? A maior parte dos donativos que recebemos deriva do nosso maior evento anual que é o baile de caridade. Com a iniciativa angariamos mais de 70 por cento dos fundos anuais que conseguimos. Temos também eventos mais pequenos de angariação, como jantares e alguns projectos especiais. Mas o baile é a nossa maior tradição. Todos os anos tem lugar entre Abril e Maio, e é onde nos encontramos com os nossos parceiros corporativos e com os patrocinadores. Apelamos também a todos os membros que se juntem à iniciativa e que venham com amigos e família. As inscrições no baile acabam por cobrir o custo do evento, por isso acabamos por ganhar donativos noutras vertentes: através das ofertas dos patrocinadores, de doações de serviços e de bens, estes últimos que entram em leilões que depois organizamos, e fazemos também rifas com prémios. Todo o dinheiro que angariam vai para programas de caridade? Sim, 100 por cento das verbas são dirigidas ao apoio das instituições
com as quais trabalhamos. Nestes 35 anos de existência, sentimo-nos muito orgulhosas. Nunca tivemos de pagar a funcionários porque todo o trabalho que fazemos no clube é voluntário. Não pagamos renda e pagamos as nossas despesas, quando nos encontramos, do nosso bolso. Depois temos também um bom contributo com as quotas que são de 500 patacas anuais, que podemos usar para as nossas actividades enquanto clube e que aplicamos em eventos nossos. Qual foi a sua motivação para se tornar presidente do clube? Foi muito natural. Recordo que o que mais gostei quando fui as primeiras vezes ao clube foi a forma como os membros se mostravam tão entusiasmadas com as actividades que faziam. Depois pensei, sou nascida em Macau, falo cantonês, inglês e percebo um pouco de português.
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Tenho amigos estrangeiros, chineses e portugueses. Foi quando me ofereci para ajudar. Depois foi natural, acabei por ser vice-presidente e, depois disso, presidente. Estou muito orgulhosa por ser a primeira mulher chinesa neste papel e gostava que mais locais se juntassem ao clube. Apesar de se chamar “International”, é em Macau; por isso, quem quer que esteja em Macau e possa comunicar em inglês é bem-vindo. Gostava de motivar mais mulheres locais a juntarem-se ao clube. Desta forma, penso, acabariam por fazer amigos provenientes de todo o mundo e, ao partilhar tempo com pessoas de vários lugares, podiam também percebê-las melhor, bem como às suas culturas. As pessoas pensam, muitas vezes, que é somente uma associação de caridade, mas é também amizade. Nasceu em 1982 e, nessa altura, não havia muitos estrangeiros em Macau. Quando a fundadora Brenda veio de
Hong Kong para Macau, notou que quem cá estava, oriundo de fora, estava muito só. Começou a sair com umas amigas e, passado algum tempo, pensaram que podiam fazer mais. Começaram a visitar orfanatos e a população mais idosa e foi assim que o clube começou. Ajudar os outros apareceu como uma espécie
“É pena que o termo ‘Ladies’ Club’ seja tantas vezes mal entendido, e que leve as pessoas a pensarem que este grupo de mulheres não faz nada e que só se quer divertir.”
de equilíbrio. Tinham uma vida boa, achavam que a deviam à sociedade e, de alguma forma, quiseram retribuir. É um clube social com um espírito comunitário. É um clube também sobre a amizade, principalmente para aquelas mulheres que vêm do estrangeiro. Chegam com o marido e com a família, sentem-se perdidas e precisam de se integrar. Esta também é uma boa plataforma para recomeçar uma vida em Macau sem se sentirem sozinhas. Como é o convívio entre mulheres de tantas culturas tão diferentes? Bem, por sermos mulheres, às vezes é um problema, mas acabamos sempre por resolver as situações. É a vida. O que interessa é que, no fim, todas saibamos que somos boas pessoas, com bom coração. As culturas acabam também por não ser um obstáculo. Por vezes, durante as nossas reuniões, temos discussões.
Somos mulheres independentes, de várias culturas, mas estamos também sempre juntas pelas nossas causas e sabemos disso. As pessoas olham muitas vezes para este tipo de clubes como estando longe da realidade e não têm noção do trabalho comunitário que fazem. O que acha disto? Este é um clube aberto a todas as mulheres e é uma das três associações de mulheres mais antigas de Macau. Por vezes, o próprio nome gera alguma confissão ao remeter para o conceito de senhora. Mas o nome ‘senhora’é só um nome bonito para mulheres. O termo mulher é mais prático e quando falamos de senhora parece que perde o valor. Todas estas mulheres que integram o clube já tiveram, por exemplo, uma vida como profissionais de alguma área. Muitas foram professoras, enfermeiras e mesmo engenheiras que
sempre trabalharam até chegarem a Macau. Depois desistiram de tudo para acompanhar os maridos e a família. Com a vinda, precisavam de tempo para tomar conta das crianças. Não é só uma senhora, estamos a falar de mulheres trabalhadoras e úteis até virem para Macau. Uma vez no território, tiveram de ter outras prioridades, tiveram de se dedicar mais à família, especialmente aquelas com filhos pequenos. Se tinham possibilidade financeira, escolheram ficar com as crianças, principalmente num ambiente estranho e novo como é Macau quando se chega. No entanto, resolveram também ocupar o tempo com trabalho social. É pena que o termo “Ladies’ Club” seja tantas vezes mal-entendido, e que leve as pessoas a pensarem que este grupo de mulheres não faz nada e que só se quer divertir. Não é verdade. Sofia Margarida Mota
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4 POLÍTICA
hoje macau terça-feira 16.5.2017
ELLA LEI GOVERNO POUCO ATENTO ÀS COZINHAS
A
falta de recursos humanos sente-se em diversas áreas e os restaurantes não escapam ao problema.Aconstatação é feita por Ella Lei, que quer o Governo a avançar com medidas para “impulsionar a formação de talentos no sector da restauração e bebidas”. O desejo é manifestado numa
interpelação escrita ao Executivo, em que defende que só com um plano concreto sobre a matéria será possível “encontrar pessoal local de qualidade, capaz de fomentar o desenvolvimento do sector e a candidatura de Macau a cidade gastronómica da UNESCO”.
A deputada recorda que um dos factores para o reconhecimento internacional de Macau é a qualidade dos profissionais da área. No entanto, Ella Lei não detectou, nos últimos anos, esforços das autoridades para garantir que quem trabalha em restaurantes tem formação adequada.
Como é hábito no seu discurso político, a deputada ligada aos Operários lamenta que o facto de o Governo não ter investido no sector da restauração tenha resultado numa dependência “cada vez maior” em relação aos trabalhadores importados, o que “causa dificuldades aos
residentes de Macau”. Ella Lei vinca que as remunerações nesta área são pouco atraentes, o que tem um
Wai Long NG KUOK CHEONG PROPÕE MUDANÇA DA CENTRAL DE INCINERAÇÃO
Tirar Maomé da montanha GOOGLE STREET VIEW
O Governo não parece estar disposto a ceder às preocupações dos sectores que têm vindo a contestar a construção de habitação pública na Avenida Wai Long. Ng Kuok Cheong tem a solução: que se tire do local o que atrapalha os mais críticos
N
ÃO tem sido bem recebida a intenção do Governo para os terrenos que, em tempos, estiveram destinados ao empreendimento de luxo La Scala. A Avenida Wai Long, sublinha Ng Kuok Cheong, não apresenta boas condições para a construção de habitação por causa da proximidade à central de incineração. Acontece que “não só o Chefe do Executivo” insiste na edificação de casas sociais no local, como “a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental está a planear trabalhos para a extensão da central de incineração”, constata o deputado à Assembleia Legislativa. Numa interpelação escrita sobre a matéria, o pró-democrata pede ao Governo que considere a possibilidade de transferir os depósitos
provisórios de combustível e a central que tanto descontentamento causa. Na missiva, oferece uma solução para a nova localização: a zona sul da ilha artificial da fronteira de Macau da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau.
“Numa cidade adequada para se viver, os equipamentos que podem causar impacto negativo na vida da população têm de ficar longe das zonas residenciais.” NG KUOK CHEONG DEPUTADO
Ng Kuok Cheong defende que, “numa cidade adequada para se viver, os equipamentos que podem causar impacto negativo na vida da população têm de ficar longe das zonas residenciais”. Na proposta que deixa, sustenta que se deve aproveitar a aproximação da entrada em funcionamento da Ponte do Delta para afastar do território instalações que possam ter consequências prejudiciais para a saúde dos residentes.
JÁ ESTUDARAM?
O deputado conta ainda que, em Junho do ano passado, já tinha recebido uma resposta da Administração a uma interpelação da sua autoria, precisamente sobre a transferência do depósito provisório para combustíveis para a ilha artificial da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Na réplica enviada a Ng, dizia-se que seria feita uma avaliação à sugestão.
Agora, o pró-democrata insiste, pedido a divulgação dos resultados da análise à sua proposta. O projecto do Governo para os terrenos em frente ao Aeroporto Internacional de Macau, envolvidos no escândalo protagonizado pelo ex-secretário Ao Man Long, tem dado origem aos mais variados comentários e opiniões, sendo que quase todos são contra os planos do Executivo. Ainda no mês passado, a deputada e empresária Angela Leong defendeu a realização de uma consulta pública sobre o futuro planeamento dos lotes em causa. Já várias associações ligadas ao ambiente entendem que não deve ser sequer equacionada a construção de habitação no local. Vítor Ng (com I.C.)
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efeito directo na qualidade dos serviços prestados. Posto isto, a deputada pede ao Governo que avance com medidas concretas e que dê importância aos profissionais locais, perguntando ainda se é possível avançar com programa de formação com remuneração.
Perigosas partículas Questionada medição oficial da qualidade do ar
O
deputado José Pereira Coutinho enviou uma interpelação escrita ao Governo onde questiona a forma como é feita a fiscalização ao trabalho dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) no que diz respeito à medição da qualidade do ar no território. “Muitas vezes, as medições da qualidade do ar efectuadas pelos Serviços Meteorológicos e Geofísicos de Macau, em muitos dos seus postos, não correspondem à realidade, levando o cidadão a acreditar que a qualidade do ar não é assim tão má. A entidade responsável está a fiscalizar com total rigor, transparência e imparcialidade a informação transmitida pelos SMG?”, questionou o deputado. Além disso, Pereira Coutinho defende que Macau deveria adoptar os padrões europeus como referência. “Vai o Governo utilizar os padrões da União Europeia como referência por serem os padrões de qualidade do ar reconhecidos mundialmente, pelo facto de combaterem eficientemente a poluição?”, sugeriu ainda. A interpelação escrita fala do excesso de veículos como uma das principais causas de poluição atmosférica em Macau, mas também pela vinda dos ares poluídos do interior da China. Na perspectiva local, Coutinho quer saber se o Executivo tem planos para colocar nas estradas autocarros mais amigos do ambiente. “Devido ao elevado número de autocarros em circulação, estes são dos veículos que mais contribuem para a poluição do ar. Existe algum plano para a substituição gradual de todos estes veículos por veículos amigos do ambiente, mais em concreto, por veículos movidos a electricidade?”, questionou. “Os autocarros do sector do turismo, autocarros públicos e das concessionárias de jogo estão em circulação no território há décadas. Devido ao elevado número de autocarros em circulação, estes são dos veículos que mais contribuem para a poluição do ar em Macau”, remata. Andreia Sofia Silva
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5 hoje macau terça-feira 16.5.2017
A nova lei que regula as espécies ameaçadas vai ter poucos efeitos práticos, devido à publicação de um despacho pelo Chefe do Executivo em 2016. Ambas as legislações contêm a mesma lista de espécies a proteger, mas enquanto a nova lei determina o pagamento de multas, o despacho fala em crime de desobediência, com pena de prisão até um ano
A
lei de execução da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES) levantou um problema de hierarquia de leis, o que faz com que venha a ter poucos efeitos práticos. Aprovada na Assembleia Legislativa (AL) na semana passada, a lei que regulamenta a CITES contém uma extensa lista de espécies de animais e plantas a proteger, em tudo semelhante ao extenso rol incluído num despacho assinado pelo Chefe do Executivo em 2016. Nessa altura, a nova lei ainda estava a ser discutida em sede de especialidade na AL. Enquanto o despacho decreta a aplicação do crime de desobediência para os incumpridores, com penas de prisão que podem ir até um ano, a nova lei determina apenas o pagamento de
CITES LEI SOBRE ESPÉCIES EM PERIGO COM POUCOS EFEITOS PRÁTICOS
Multas ou prisão?
POLÍTICA Além disso, é referido que a comissão “manifesta o desejo de, na fase de preparação das iniciativas legislativas, seja prestada uma maior atenção ou sejam criados os necessários mecanismos para evitar a ocorrência futura de situações semelhantes, a bem da unidade, da certeza e da coerência do sistema jurídico”, pode ler-se.
MUDAR A LEI DOS ANIMAIS
O parecer da AL levanta ainda a possibilidade de uma futura revisão da lei de protecção dos animais, regulamentada pelo despacho do Chefe do Executivo em causa. “Aquando de uma eventual alteração legislativa do regime de gestão dos animais, e respectiva regulamentação complementar, deve definir-se uma melhor solução para eliminar este problema de concurso entre as leis.” A comissão entende que “este problema deve, para já, ser resolvido de acordo com as soluções técnicas existentes para as situações de concurso aparente”.
MULTAS SOBEM 39 MIL POR CENTO
multas. Tal vai criar condicionantes na hora de aplicar a nova lei. O parecer jurídico da AL, referente à lei de execução da CITES, alerta para a existência de uma sobreposição, origina-
“Há a possibilidade de concorrência entre os regimes sancionatórios previstos nesta proposta de lei e noutras leis relacionadas com a gestão dos animais ou com o comércio externo.” PARECER DA AL
da pelo próprio Executivo. “Se alguém importar um urso negro da Ásia para Macau sem a documentação prevista, ou se conseguir adquirir localmente um espécime desta espécie, estaria a cometer uma contravenção, punida com multa de 200 a 500 mil patacas, uma vez que se trata de uma espécie incluída na Convenção CITES. Mas como este animal consta na lista do despacho do Chefe do Executivo, essa infracção é punível com pena de prisão ou multa pelo crime de desobediência”, alerta o parecer. O mesmo documento afirma ainda que “não deixa de ser estranho que as opções de política legislativa subjacentes ao regime sancionatório, constante da proposta de lei, sejam reconhecidamente preteridas pelo facto de o despacho do Chefe do Executivo ter incluído uma vasta lista de animais no seu âmbito de aplicação”. “Há a possibilidade de concorrência entre os regimes sancionatórios pre-
vistos nesta proposta de lei e noutras leis relacionadas com a gestão dos animais ou com o comércio externo”, aponta o parecer, que dá conta da prevalência do crime de desobediência, previsto no Código Penal, face às restantes legislações. Se o Código Penal “estabelece uma hierarquia entre crimes e convenções, prevendo que o agente é punido a título de crime”, o regime geral das infracções administrativas e respectivo procedimento estabelece uma “hierarquia entre crimes e convenções”, onde
entre os crimes e as infracções administrativas, “dá primazia aos primeiros”.
GOVERNO FOI ALERTADO
Na discussão em sede de especialidade, a comissão permanente da AL alertou o Governo para evitar, no futuro, “situações de desarmonia no ordenamento jurídico local”. “A comissão manifesta a sua preocupação com as situações de incoerência entre aspectos materiais e de regime sancionatório, em especial por se tratar de duas iniciativas legislativas temporalmente tão próximas.”
A CITES vigora em Macau desde 1987. A nova lei sobre a execução desta convenção internacional determinou um aumento das multas que pode chegar aos 39 mil por cento. Se no decreto-lei de 1986 as multas variavam entre 500 a cinco mil patacas, os novos valores cifram-se entre 200 a 500 mil. “Estes montantes correspondem a um aumento entre 39.900 e 9900 por cento do valor mínimo e máximo de multas, respectivamente”, afirma o parecer. A lei foi aprovada na especialidade a semana passada na AL, depois de ter estado parada quase um ano. Entra em vigor no dia 1 de Setembro, uma vez que é necessária preparação por parte da Direcção dos Serviços de Economia e outras entidades. Andreia Sofia Silva
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ALIMENTAÇÃO PEDIDAS NOVAS REGRAS PARA RÓTULOS
A deputada Chan Hong tem sérias dúvidas sobre os trabalhos relativos à segurança alimentar levados a cabo pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais. Em interpelação escrita ao Executivo, mostra-se sobretudo preocupada com os produtos que chegam do Japão e que poderão conter níveis de radioactividade prejudiciais para a saúde. Na missiva, Chan Hong defende também que se deve avançar rapidamente para a revisão da legislação que dispõe sobre os rótulos dos alimentos, por entender que já não corresponde às características do mercado actual.
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hoje macau terรงa-feira 16.5.2017
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7 hoje macau terça-feira 16.5.2017
A recém-eleita direcção do Conselho Médico do Centro Hospitalar Conde de São Januário defende que os clínicos recémformados devem trabalhar 45 horas semanais, em vez das actuais 36. A falta de especialistas a isso obriga, afirma Fernando Gomes
São Januário PEDIDAS MAIS HORAS PARA MÉDICOS RECÉM-FORMADOS
O que há não é suficiente dicos da China Continental sem que sejam garantidas as devidas regalias. “Quando vêm médicos da China, já são colegas oriundos de hospitais do interior do país, de cidades onde não há hospitais de vanguarda”, apontou. “Falamos [da necessidade] de colegas experientes. É fácil contratar médicos recém-formados e médicos no fim da carreira. Não se pede um médico com mais de 60 anos que trabalhe ao mesmo ritmo de um médico com 40. Há um desgaste natural”, disse também o membro do Conselho Médico, que alerta ainda para o facto de a falta de especialistas condicionar a formação dos médicos em regime de internato.
C
ERCA de 200 médicos, num universo de 350, elegeram na última sexta-feira a nova direcção do Conselho Médico do Centro Hospitalar Conde de São Januário, um órgão consultivo que serve de ponte entre os médicos e a direcção do hospital público. A única lista candidata, constituída pelo médico Fernando Gomes, juntamente com Mok Tin Seak e Choi Nim (que preside ao Conselho), foi eleita por uma larga maioria de médicos, contou Fernando Gomes ao HM. No cumprimento do quarto mandato, o Conselho Médico quer que os especialistas recém-formados no São Januário possam ver-lhes atribuído um horário mais alargado, previsto por lei. “O que mais preocupa é o horário de trabalho dos colegas recém-formados. Muitos colegas têm um regime de horário de trabalho que é de internato permanente, e de momento está menos atribuído”, adiantou Fernando Gomes, que fala da necessidade de cobrir o vazio deixado pela falta de especialistas. “Muitos dos especialistas recém-formados não têm ainda o regime de trabalho das 45 horas, de disponibilidade permanente, e ainda trabalham as 36 horas
SOCIEDADE
“É fácil contratar médicos recém-formados e médicos no fim da carreira. Não se pede um médico com mais de 60 anos que trabalhe ao mesmo ritmo de um médico com 40.” FERNANDO GOMES MÉDICO
[semanais]. Atendendo à grande falta de médicos especialistas, é de aprovar e atribuir esse horário das 45 horas urgentemente”, acrescentou o médico.
POUCAS PROMOÇÕES
Fernando Gomes volta ainda a exigir a revisão do actual regime das carreiras dos médicos e de auxiliares de saúde, considerando
que a falta de promoções afasta as possibilidades de contratação por parte dos Serviços de Saúde (SS). Já em 2010 o médico considerava ser necessário mexer na lei. “Nessa altura achávamos que não iria repor uma série de benefícios em termos de promoção e, de facto, agora ainda se nota isso. O problema que se coloca é a contratação de profissionais
ao exterior, que é difícil, se não impossível”, frisou. No seio da comunidade médica do São Januário, há ainda quem defenda que “os contratos, ou a sua renovação, deveriam ter uma alínea respeitante à promoção, por exemplo”. “Os contratos não contemplam isso”, sublinhou. Fernando Gomes acredita que não é sequer fácil contratar mé-
“Não temos propriamente falta de médicos, porque temos muitos em formação, mas temos sim falta de especialistas. O especialista desempenha duas funções, não só na parte clínica, mas também na parte formativa. Os colegas internos têm de ser formados. Se uma pessoa tiver o seu horário sobrecarregado, é difícil ter um acompanhamento eficiente dos colegas que estão em formação. Os médicos não são robots”, concluiu. Andreia Sofia Silva
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PSP WONG SIO CHAK LAMENTA MAIS UM CASO A ENVOLVER AGENTES
O
secretário para a Segurança disse ontem lamentar “profundamente” ter tido conhecimento de “mais um caso de prática de actos criminosos e de abuso de poder praticados por agentes policiais”. Num comunicado em que não são dados pormenores, o gabinete de Wong Sio Chak refere que, relativamente ao caso descoberto pela Polícia Judiciária (PJ) no passado sábado, o
secretário “dedicou ao assunto a sua maior atenção, manifestando surpresa”. Porque em causa estão agentes policiais suspeitos de terem praticado crimes graves de associação criminosa para obterem proveitos, resultando em abuso de poder, Wong Sio Chak diz ter dado de imediato “orientações muito precisas à PJ no sentido de emprestarem o seu maior empenho e
eficácia nos trabalhos de investigação e de recolha de informações”. Além disso, o responsável pela tutela da Segurança determinou comandante da Polícia de Segurança Pública “a imediata instauração de processos disciplinares” aos arguidos, com “investigações rigorosas e completa fiscalização interna no âmbito da disciplina e da gestão do trabalho, a fim de colmatar lacunas existentes”.
De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, três agentes da PSP foram detidos, juntamente com outros indivíduos, por se suspeitar terem recebido subornos de pessoas que queriam entrar ilegalmente no território. O caso terá envolvido 39 milhões de patacas.
8 SOCIEDADE
hoje macau terça-feira 16.5.2017
Jogo ADVOGADO QUESTIONA SUBCONCESSÕES E CRITICA POSTURA DO EXECUTIVO
O advogado Sérgio de Almeida Correia disse ontem num debate sobre o jogo que as três subconcessões do sector são ilegais. O Governo, aponta, “tem ignorado” a questão. O jurista defendeu o estabelecimento de seis concessões em 2020
“O
“Uma aberração legal”
ninguém pode ter garantias de que as concessões vão continuar no futuro com base no actual modelo”, disse ainda o advogado. Andreia Sofia Silva
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CASINOS PROIBIÇÃO DE FUMAR É ÚNICA
actual regime das subconcessões põe em causa os interesses de Macau” e acarreta “potenciais con itos de interesses e práticas corruptas”. Quem o diz é o advogado Sérgio Almeida Correia, que participou ontem numa conferência sobre jogo, intitulada “IV Annual Review of Macau Gaming Law”, na Fundação Rui Cunha (FRC). A iniciativa é promovida pela Universidade de Macau e conta anualmente com a presença de vários oradores. Para o advogado, a existência de três subconcessões (Venetian, MGM e Melco Crown) “não tem uma base legal”. “Não podemos encontrar a palavra subconcessão na lei e não podemos presumir que algo está escrito quando, na verdade, não está”, disse durante a sessão. “Se a ideia era ter mais do que três operadoras de jogo, isso deveria constar na lei, o que não é o caso”, acrescentou. Dessa forma, Sérgio Almeida Correia defendeu o estabelecimento de seis concessões de jogo quando
M
ACAU escapou aparentemente ileso do ataque virtual que teve lugar na passada sexta-feira e que afectou cerca de 100 países. A informação foi dada ao HM por Rui Pereira, especialista na área. “Em Macau não há ainda conhecimento de nenhum computador afectado tendo o ataque já sido travado.” No entanto, há que estar alerta, até porque “podem ainda existir emails que não foram abertos e que podem estar contaminados”. O aviso de cuidado com os emails que ainda estão por abrir é também dado pela Polícia Judiciária. A entidade
O
terminarem os actuais contratos de concessão (em meados de 2020). Para o advogado, esta medida iria de encontro à política anticorrupção definida por i Jinping e pelo Governo Central. “É importante olhar para a realidade bizarra das subconcessionárias e o interesse do Governo em não
“Não há uma base legal para as subconcessões e o Governo tem ignorado isto.” SÉRGIO DE ALMEIDA CORREIA ADVOGADO
continuar com as subconcessões nos moldes que existem actualmente. O Governo deve rever o actual regime e, se necessário, estender o número de concessões, mantendo seis concessões”, referiu. O advogado deu ainda mais exemplos do que considera ser uma “aberração legal”. “Não há uma base legal para as subconcessões e o Governo tem ignorado isto”, acusou. “A lei diz que o fim da concessão não implica o fim da subconcessão. Esta é uma aberração legal e deveria ser corrigida assim que possível, para que a situação não se repita. É um problema técnico que, assim que corrigido, não deverá trazer problemas de maior para o sector”, explicou.
REVERSÕES EM 2020?
Na visão de Sérgio Almeida Correia, o Executivo não tem qualquer
controlo sobre as operações das subconcessionárias. “O Governo é marginalizado nesta negociação e não tem ganhos com os lucros das operações das subconcessões, não controla os termos dessas operações. Isso penaliza os interesses da RAEM, porque há falta de transparência”, disse. Na sua apresentação, Sérgio de Almeida Correia abordou ainda a questão da possível reversão dos lucros, no fim das concessões, para o Governo. “No caso da extinção das concessões, tanto concessionárias como subconcessionárias vão enfrentar uma expropriação legal e devem preparar-se para isso, tendo em conta as devidas indemnizações”, apontou. “Não sabemos o que o Governo vai decidir, mas deve ser claro que
Ninguém chegou aqui Ciberataque internacional sem danos no território confirma que não há registo de lesados no território, sendo que, alerta, é preciso continuar a tomar medidas de precaução. Rui Pereira explicou ainda que se tratou de um Ransomware. “Basicamente foi um ataque que só atingiu o sistema operativo Windows e que encripta os ficheiros dos computadores.” Na investida deste fim-de-semana, estes ficheiros só poderiam ser desencriptados sob o pagamento em moeda electrónica, a bitcoin.
“Mais do que dirigido a computadores pessoais, foi um ataque que, contrariamente aos que eram conhecidos até há data, teve a particularidade de se propagar sozinho”, indicou. Trata-se, de acordo com o especialista, de uma forma nova de ataque virtual e temem-se novas investidas do género. Em comunicado, os Serviços de Administração e Função Pública dizem ter feito de imediato uma
avaliação do eventual impacto do Ransomware nos serviços públicos. Até às 12h de ontem, não havia registo de ataque, tendo a Administração funcionado normalmente.
UM POUCO POR TODO O LADO
Na vizinha Hong Kong, só há registo de um caso que atingiu um computador pessoal. Em Portugal, a empresa de energia EDPcortou os acessos à Internet da sua rede para prevenir eventuais ataques infor-
máticos e garantiu que não foi registado qualquer problema; já a Portugal Telecom alertou os seus clientes para o vírus perigoso a circular na Internet, pedindo aos utilizadores que tenham cautela na navegação na rede e na abertura de anexos no email. O BCP informou estar a normalizar a sua operação, depois de alguns clientes se terem queixado de problemas na realização de operações, na sequência de medidas preventivas tomadas pelo banco para evitar um ataque informático. No Reino Unido, foram reportados importantes problemas informáticos em
advogado Francisco Gaivão abordou na palestra a questão do consumo de tabaco nos casinos. Em declarações ao HM, o advogado referiu que “a opção de Macau é susceptível de alguma crítica e reflexão”. “O Governo centra a discussão nas salas de fumo, mas inicialmente disse que nem isso iria ser permitido. Isso seria um perfeito disparate, a coisa mais absurda do mundo. Seria um tiro nos dois pés”, apontou Francisco Gaivão. Apesar de o Governo ter optado por manter as salas de fumo, afastando o fumo das salas VIP, faz do caso de Macau único. “Esta decisão radical não tem paralelo em mais outra parte do mundo”, defendeu. “Fica tudo como estava, mas o Governo vai proibir que se possa estar sentado numa sala VIP a fumar. Imperou o mínimo de bom senso, pois vão ser permitidas essas salas, mas vai ser proibido fumar nas salas VIP, o que é um erro. Singapura, por exemplo, que tem uma jurisdição extremamente protectora dos direitos das pessoas, tem casinos e têm áreas para fumadores”, concluiu Francisco Gaivão.
hospitais do serviço nacional de saúde. Em Espanha, a multinacional de telecomunicações Telefónica foi obrigada a desligar os computadores da sua sede em Madrid, depois de detectar um vírus informático que bloqueou alguns equipamentos. Este tipo de vírus surge habitualmente por correio electrónico de “origem desconhecida”, com um documento em anexo e que o utilizador abre por engano. Sofia Margarida Mota (com Lusa) info@hojemacau.com.mo
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Aves vivas TRABALHADORES DO SECTOR APOIADOS PELO IACM
FORMAÇÃO PROFISSIONAL APROVEITAR OS ÚLTIMOS CARTUCHOS
De reunião em reunião Continuam as negociações entre o Governo e os vendedores de aves vivas depois da proibição do negócio, de forma a prevenir pandemias aviárias. Os trabalhadores do ramo vão receber um total de 14 milhões, enquanto a compensação aos patrões ainda se encontra em discussão
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EPOIS de terem sido sucessivamente detectados casos de gripe das aves, que resultaram no abate de milhares de animais, o Governo avançou para a proibição de venda de aves vivas. Ontem, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) reuniu com representantes do sector para serem acertados os apoios a um negócio em vias de extinção. No início do mês, Ung Sao Hong, do conselho de administração do IACM, afirmou que pretendia “evitar qualquer instabilidade na sociedade e proteger a saúde da população”. Do outro lado da barricada encontra-se quem faz deste negócio vida. “Apresentámos uma proposta ao sector que, em princípio, foi aceite”, explicou José Tavares, presidente do IACM, à saída da reunião com os representantes do ramo da venda de aves. Para os meses de Fevereiro a Abril, o Executivo comprometeu-se pagar 200 patacas por dia a cada trabalhador, uma quantia que José Tavares garante começar a ser dada em Junho. O presidente do IACM acrescentou ainda que se comprometeu a recompensar os funcionários com dois salários extra. Ficou também acordado que os 154 trabalhadores do sector serão apoiados com uma verba de 14 milhões de patacas, o que dá quase 91 mil patacas por cada funcionário. “Queremos que, com esta mudança, os direitos dos trabalhadores não sejam prejudicados e o Governo está disposto a ajudar nesse aspecto”, comentou Tavares. Os serviços chegaram a esta verba depois de receberem informação documental dos
patrões sobre o vencimento de cada empregado e o tempo de serviço prestado.
MANUTENÇÃO DA BANCA
José Tavares adiantou que um dos maiores focos de divergência com os representantes do sector
foi a natureza do apoio pecuniário. Os patrões queriam receber uma indemnização, enquanto a posição do Governo apontava no sentido de um apoio. As razões do Executivo prendem-se com a natureza do contrato de licença para venda nas bancas
Ficou acordado que os 154 trabalhadores do sector serão apoiados com uma verba de 14 milhões de patacas, o que dá quase 91 mil patacas por cada funcionário
SOCIEDADE
dos mercados que, no entender de José Tavares, é precária. Nesse sentido, o presidente do IACM explicou que “o Governo não tem a responsabilidade de indemnizar ninguém, mas sente a responsabilidade de os apoiar”. De forma a pagar estes apoios, os serviços municipais terão um reforço do Executivo. Outra das questões abordadas foi a manutenção das bancas por parte dos vendedores de aves, algo a que o IACM não se opôs, dando luz vez para o efeito. Como tal, foi perguntado aos empresários do sector se estão dispostos a mudar de ramo de negócio. “Após a reunião distribuímos um questionário para saber qual é a intenção dos operadores, no que respeita à mudança do ramo de actividade”, revelou José Tavares. Foi também discutida a compensação aos patrões das bancas, mas ainda não se chegou a um consenso nessa matéria. Chegou-se a falar numa quantia de dez milhões de patacas para cada vendedor, um montante que José Tavares considera “exorbitante”. O exemplo de Hong Kong foi elencado na reunião, quando em 2009 os vendedores de aves de capoeira foram indemnizados em 800 mil patacas. Tal quantia teria de ser ajustada aos níveis de custo de vida da actualidade. A bola, agora, está do lado dos representantes do sector, ficando o IACM a aguardar que valores serão trazidos para a mesa de negociações. O próximo round será na segunda-feira. João Luz
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No ano passado, aumentaram em cerca de 20 por cento as instituições que ministraram cursos profissionais. Em 2016, existiam 51 estabelecimentos que se dedicaram à formação profissional, mais nove do que no ano anterior. Quanto aos cursos, havia 1741 opções, mais 11,8 por cento do que em 2015. De acordo com um comunicado divulgado pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), participaram na vertente profissional de ensino 65.751 formandos, mais 9,6 por cento do que no ano anterior. O aumento de interessados neste tipo de aprendizagem deve-se ao facto de 2016 ter sido o último ano da segunda fase do “Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo”. Os residentes terão, afirma a DSEC, aproveitado os subsídios para este tipo de formação. Relativamente às preferências, a área do comércio e gestão liderou, com a escolha de 30,8 por cento dos formandos, seguida da informática, com 12,5 por cento, e das línguas, com 11 por cento do total dos alunos.
EDUCAÇÃO MELCO DÁ 1,5 MILHÕES DE YUAN PARA ESCOLA NA CHINA
O magnata Lawrence Ho, homem forte da Melco Resorts, doou 1,5 milhões de yuan para a construção de um complexo multiusos de uma escola primária na província de Hainão, no Sul da China. Em nota à imprensa, a operadora de jogo salienta que o gesto “demonstra o apoio da empresa ao desenvolvimento da educação das crianças nas zonas rurais” do Continente. A cerimónia de entrega do donativo decorreu no Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau. No mesmo comunicado, explica-se que as actuais instalações da escola primária de Guangnan são desadequadas, além de que o estabelecimento de ensino não dispõe de uma biblioteca e de equipamentos informáticos. O dinheiro dado pela Melco vai servir para construir um edifício com três pisos, que vai ser baptizado com o nome da operadora.
3300 MOTOCICLOS LEVADOS À INSPECÇÃO
Cerca de 3300 motociclos e ciclomotores com motor a dois tempos foram levados para o centro de inspecções desde que o Governo deu início ao plano que tem como objectivo tirar de circulação este tipo de viaturas. De acordo com uma nota à imprensa dos Serviços de Protecção Ambiental, 2900 proprietários receberam o apoio financeiro previsto no plano. Ao todo, até agora, foram apresentadas quase quatro mil candidaturas, tendo sido concluídos cerca de 3400 processos de apreciação e aprovação. Os serviços pedem aos proprietários que apresentarem as suas candidaturas com a maior brevidade possível, uma vez que o plano tem 30 de Junho como data limite.
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Cartoon JOAN CORNELLĂ€ TEM EXPOSIĂ‡ĂƒO PATENTE EM HONG KONG ATÉ DOMIN
EVENTOS
TensĂŁo e outros sons
Dança e música clåssica no Le French May
H
ONG Kong continua com uma profusĂŁo de eventos culturais para todos os gostos. No prĂłximo dia de Junho pode ser visto o espectĂĄculo de teatro-dança “Simon Sa sâ€?, que terĂĄ exibiçþes tambĂŠm nos dois dias seguintes. O evento parte do jogo infantil com o mesmo nome, em que os participantes tĂŞm de obedecer Ă s ordens de quem interpreta o papel de “Simonâ€?. Os jogadores sĂŁo eliminados sempre que desobedecerem aos comandos, ou nĂŁo corresponderem Ă vontade de quem dĂĄ as directrizes. O jogo vive da tensĂŁo entre obediĂŞncia e rebeliĂŁo Ă s ordens dadas, com a fronteira entre o verdadeiro e o falso a confundirem-se em palco. O espectĂĄculo ĂŠ uma co-produção da Unlock Dancing Plaza Le Phare, e do Centre ChorĂŠgraphique National du Havre-Normandie, onde quatro bailarinos dĂŁo movimento a vĂĄrios estados da natureza humana. SubserviĂŞncia e rebeldia, autenticidade e extravagância, e a tensĂŁo entre o absurdo e a determinação inabalĂĄvel. “Simon Sa sâ€? transmite a explosĂŁo resultante destas contradiçþes. Os quatro bailarinos do grupo viajaram para Le
Havre, em rança, onde trabalharam com a coreógrafa Emmanuelle Vo-Dinh. Após um processo de um ano e meio, a coreografia foi sendo apurada atÊ chegar aos palcos de Hong Kong, nos próximos dias , e de Junho, no Studio heatre do Centro Cultural de Hong Kong.
CORDAS VIVAS
Outro dos destaques do cartaz do Le rench Ma para o inĂcio do prĂłximo mĂŞs ĂŠ o concerto “Ne ising Star uartet in eethoven and Mozartâ€?, no dia de Junho, interpretado pelo grupo uartet Van Kuijk. O grupo que faz a sua estreia na edição deste ano do Le rench Ma em Hong Kong foi formado em e em venceu a competição Wigmore Hall String uartet Competition, em Londres. O uartet Van Kuijk ĂŠ considerado um dos mais promissores “ensemblesâ€?, deslumbrando os espectadores com concertos cheios de vida. ĂŞm recebido rasgados elogios da crĂtica, um pouco por todo o mundo. O grupo francĂŞs sobe ao palco da Hong Kong Cit Hall para um concerto Ăşnico, no dia de Junho, Ă s h, para um espectĂĄculo a nĂŁo perder. J.L.
QUERIDA NEGRITUDE O humor violento do catalão Joan Cornellà tem angariado fãs um pouco por todo o mundo. uem quiser ver os seus trabalhos ao vivo tem atÊ domingo, dia , oportunidade para o fazer. A exposição estarå em exibição na Galler em uarr a , em Hong Kong
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Neste exercĂcio literĂĄrio sob a aparĂŞncia de texto teatral, a re exĂŁo bem humorada explica muitos dos fatores da convivialidade africana em territĂłrio europeu. Estamos perante um exercĂcio puro de ficção e de liberdade: o autor dĂĄ voz aos africanos que vivem e viveram em Portugal, de um modo arejado e digno. O lado humano dos personagens africanos sobrepĂľe-se Ă s suas nacionalidades, mas nĂŁo aos seus costumes. Ondjaki deu-nos um texto cĂłmico e sĂŠrio, como se fosse um simples abraço a todos os que celebram a lĂngua portuguesa de cada um. Abderrahmane Ualibo, jornalista e poeta
Ilustraçþes de Rachel Caiano Nesta estória, Ondjaki aborda o mito da origem das chuvas. Esta Ê a estória da deusa Ombela ( chuva em umbundo), a que aprendeu a fazer chover usando as suas lågrimas.
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NGO
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EVENTOS
HOJE NA CHĂ VENA Paula Bicho
.ATUROPATA E &ITOTERAPEUTA s OBICHODABOTICA GMAIL COM
Galega Nome botânico: Galega officinalis L. FamĂlia: Fabaceae (Leguminosae). Nomes populares: CAPRĂ RIA; FALSO-ANIL.
“A
Hong Kong Themed Solo Exhibitionâ€? ĂŠ o nome da exposição que traz um dos cartoonistas do momento Ă regiĂŁo vizinha. Depois da estreia bem-sucedida do ano passado, CornellĂ passou o mĂŞs de Janeiro em Hong Kong a absorver o que se passa na cidade. De acordo com a organização do evento, o catalĂŁo tem investigado a metrĂłpole vizinha, “a festejar muito e a trabalhar poucoâ€?, numa tentativa de absorver e digerir a essĂŞncia. O resultado sĂŁo os 38 novos trabalhos que se encontram patentes na Gallery 27, na Quarry Bay, atĂŠ domingo. Como ĂŠ costume nos seus trabalhos, esta exposição vive da tensĂŁo entre a ingenuidade dos sorrisos dos personagens retratados e o grotesco, violento, resultado de situaçþes sociais que levam a amputaçþes e mortes violentĂssimas. NĂŁo existem assuntos tabus nas tiras do cartoonista que frequentemente se foca no suicĂdio, no aborto, no homicĂdio por razĂľes banais. No evento de Facebook criado pela galeria que acolhe a exposição, pode-se ler que “a natureza satĂrica dos trabalhos de CornellĂ levanta o tapete que cobre a cidade, permitindo que se olhe para a porcaria que se esconde por baixoâ€?. A luz que ilumina esse lado negro de Hong Kong ĂŠ o sentido
de humor desconcertante da obra do cartoonista.
SORRISO AMARELO
Joan CornellĂ tornou-se um fenĂłmeno viral nas redes sociais, tendo mais de 4,5 milhĂľes de seguidores no Facebook. Apesar de ser considerado por alguns como um artista perturbante, e por vezes ofensivo, o catalĂŁo usa uma linguagem simplista e infantil, apesar de abertamente sinistra, focada nas falhas da natureza humana. Nesta exposição, o sarcasmo da obra do espanhol incide sobre vĂĄrios aspectos da vida em Hong Kong. Com particular destaque para um cartoon de um homem a tirar uma selfie dentro de uma jaula onde vive. O cartoonista retrata as pobres condiçþes de habitabilidade e os minĂşsculos apartamentos onde os hongkongers vivem, acompanhado pela crĂtica Ă cultura da obsessĂŁo da partilha instantânea e de auto-retratos nas redes sociais.
“A natureza satĂrica dos trabalhos de CornellĂ levanta o tapete que cobre a cidade, permitindo que se olhe para a porcaria que se esconde por baixo.â€? ORGANIZAĂ‡ĂƒO DA EXPOSIĂ‡ĂƒO
Outra das obras em destaque na exposição ĂŠ a tira que retrata uma rapariga triste por ter o cabo desconectado do gira-discos. Um homem vem ao seu auxĂlio, sorridente, e coloca os dedos na tomada da electricidade usando o seu corpo como extensĂŁo para dar energia Ă aparelhagem. A mĂşsica começa a soar, para alegria da rapariga que dança feliz, enquanto o homem ĂŠ electrocutado, com sangue a jorrar dos olhos, nariz e ouvidos. Numa expressĂŁo que parece ultrapassar todos os limites do altruĂsmo, o homem continua a sorrir, apesar de trespassado de voltagem elĂŠctrica. Esta ĂŠ uma das assinaturas dos cartoons de CornellĂ , os sorrisos doentios das personagens, enquanto cometem atrocidades diluĂdas no estilo minimalista e inocente dos desenhos. Apesar de ser considerado por muitos sectores como um artista da Internet, de profundo mau gosto, Joan CornellĂ tem publicado as suas tiras em publicaçþes como El PeriĂłdico, o diĂĄrio catalĂŁo Ara e o New York Times. Numa entrevista ao South China Morning Post, o cartoonista explicava a relação entre comĂŠdia negra e a tragĂŠdia. “Temos de começar com a ideia de que quando rimos, rimos de algo ou alguĂŠm. Com empatia, ou nĂŁo, hĂĄ sempre um grau de crueldadeâ€?, dizia CornellĂ . JoĂŁo Luz
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OriginĂĄria do Sudoeste da Europa e Ă sia, a Galega habita lezĂrias e outros locais hĂşmidos formando volumosas moitas. Trata-se de uma herbĂĄcea de caule erecto e resistente, embora oco, alcançando um metro de altura. Tem folhas compostas, formadas por 11 a 19 folĂolos lanceolados, glabros (isento de pĂŞlos), terminados com uma pequena ponta curta e aguçada (mucrĂŁo) as ores, lilases, rosadas ou brancas, dispĂľem-se em grandes cachos sobre espigas terminais, e os frutos sĂŁo vagens castanhas-avermelhadas. Esta bela planta ĂŠ tambĂŠm cultivada na Europa e AmĂŠrica do Norte. Desconhecida na Antiguidade como planta medicinal, a Galega tem sido usada tradicionalmente desde o sĂŠculo XVI como remĂŠdio para diversas afecçþes, como por exemplo, mordeduras de cobras, vermes intestinais, peste e febre tifĂłide. Culpeper, famoso botânico e mĂŠdico inglĂŞs do sĂŠculo XVII, sugere esta planta em banhos para os pĂŠs cansados. TambĂŠm o Hill’s Universal Herbal, de , menciona as ores secas de Galega adicionadas a ĂĄgua fervente como uma infusĂŁo para induzir a sudação e ajudar a baixar a febre. Posteriormente, PĂo Font Quer, ilustre botânico e farmacĂŞutico espanhol do sĂŠculo XX, refere que, segundo experiĂŞncias realizadas, esta erva pode aumentar a produção de leite nas vacas entre 35 e 50%, razĂŁo pela qual tem sido amplamente cultivada como planta forrageira. Em fitoterapia sĂŁo usadas as partes aĂŠreas oridas. Composição Derivados da guanidina (galegina, hidroxigalegina), alcalĂłides (peganina), avonĂłides (galuteolina), taninos, saponĂłsidos, constituintes amargos, sais de crĂłmio e vitamina C. Cheiro aromĂĄtico desagradĂĄvel, sabor doce, algo amargo e adstringente. Quando mastigada, torna a saliva verde-amarelada. ACção terApĂŞutiCA Popularmente usada no tratamento da diabetes, a Galega suscitou a atenção dos investigadores em meados do sĂŠculo passado. VĂĄrios estudos realizados na dĂŠcada de 70 permitiram entĂŁo identificar a galegina, bem como outros derivados da guanidina, como sendo os responsĂĄveis pela diminuição dos nĂveis de açúcar no sangue dos diabĂŠticos. Atendendo Ă toxicidade destas molĂŠculas, novas investigaçþes conduziram Ă sĂntese da metformina,
um anĂĄlogo da galegina, porĂŠm um fĂĄrmaco com menor toxicidade, hoje em dia comummente administrado. Este ĂŠ apenas um exemplo de como os estudos de etnobotânica/etnofarmacologia sĂŁo importantes para a produção de novos fĂĄrmacos. No entanto, estes estudos sĂŁo tambĂŠm imprescindĂveis para a preservação de um patrimĂłnio cultural que tende a desaparecer com a perda de raĂzes Ă terra e a globalização. Mas voltemos Ă Galega. AlĂŠm dos compostos jĂĄ referidos, contribuem ainda para acção hipoglicemiante da planta os sais de crĂłmio. Pode ser Ăştil nas fases iniciais da diabetes tipo 2, como parte de um tratamento mais complexo. Considerada um diurĂŠtico suave e bem tolerado, esta erva ĂŠ indicada em caso de hipertensĂŁo, edemas, ĂĄcido Ăşrico elevado e infecçþes urinĂĄrias. Embora com efeitos mais modestos na espĂŠcie humana, ĂŠ ainda usada para aumentar a produção do leite nas mulheres a amamentar, estando isenta de efeitos adversos sobre o lactente. outrAs propriedAdes AlĂŠm das indicaçþes jĂĄ descritas, a Galega aumenta a sudação contribuindo para a eliminação de toxinas e a depuração do sangue; tem propriedades tĂłnicas, protege o fĂgado e inibe a agregação das plaquetas; ĂŠ ainda empregue em algumas afecçþes do tracto gastrintestinal (dispepsia fermentativa, diarreia). Como tomAr Uso interno: InfusĂŁo das partes aĂŠreas oridas: colher de sobremesa por chĂĄvena de ĂĄgua fervente. Tomar 3 chĂĄvenas por dia, antes das refeiçþes. Se pretender aromatizar, adicione uns frutos de Erva-doce. A Galega pode tambĂŠm ser tomada em unidoses, cĂĄpsulas e tisana, integrando fĂłrmulas de plantas, para a diabetes, emagrecimento e aumento e remodelação dos seios. preCAuçþes A Galega estĂĄ contra-indicada durante a gravidez, devido Ă inexistĂŞncia de dados sobre a sua segurança. Os diabĂŠticos devem usar a planta apenas sob vigilância de um profissional. azer tratamentos curtos – a planta pode originar uma aversĂŁo difĂcil de superar. O tratamento deve ser descontinuado caso ocorram dores de cabeça, nervosismo ou fraqueza. Em animais, a sua ingestĂŁo em grande quantidade provoca salivação exagerada, espasmos e paralisias. A planta fresca pode tornar-se irritante – usar sĂł a planta seca. Em caso de dĂşvida, consulte o seu profissional de saĂşde.
12 CHINA
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Hong Kong ASILO REJEITADO A REQUERENTES QUE AJUDARAM SNOWDEN
Os desprotegidos
O CIBERATAQUE MAIS DE 20.000 INSTITUIÇÕES CHINESAS ATINGIDAS
A agência noticiosa oficial chinesa Xinhua avança ontem que o ciberataque de sexta-feira, realizado à escala global, atingiu mais de 29.000 instituições e centenas de milhares de dispositivos electrónicos no país. Entre as instituições mais afectadas constam universidades e escolas - 4.341 ou 15 por cento do total -, detalha a Xinhua, que cita o Threat Intelligence Cente do Qihoo 360, empresa de antivírus chinesa. Estações de comboio, correios, estações de serviço, hospitais, escritórios, centros comerciais e serviços governamentais foram também atingidos pelo ciberataque. O director da Europol, Rob Wainwright, revelou no domingo que o ciberataque provocou 200 mil vítimas, a maioria empresas, em pelo menos 150 países (ver página 8). PUB (- s 6%: s
S requerentes de asilo que ajudaram a acolher o ex-analista da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana Edward Snowden em Hong Kong, em 2013, viram os seus pedidos rejeitados na cidade chinesa, informaram ontem os advogados das famílias. Os advogados que representam os requerentes de asilo disseram que planeiam recorrer das decisões tomadas pelo director dos Serviços de Imigração, informou a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong. Os advogados também renovaram os apelos para que o Governo canadiano intervenha e conceda asilo aos requerentes. Um casal do Sri Lanka e os seus dois filhos, outro homem do Sri Lanka, e uma mulher das Filipinas com uma filha, foram to-
Edward Snowden
dos informados na semana passada de que os seus pedidos de asilo tinham sido rejeitados. Marc-Andre Seguin, advogado canadiano que representa as famílias nos pedidos para irem para o Canadá, disse que as mesmas tinham sido claramente visadas pelos funcionários da imigração. “Eles foram chamados para triagem e para entrevistas de deportação, todos no mesmo dia, em Março. As decisões a rejeitar os seus pedidos em Hong
Tensão alta ANÚNCIO ACÇÃO ORDINÁRIA
CV1-16—0110-CAO
1º Juízo Cível
Autora : NG CHING MUI, casada, de nacionalidade chinesa, residente em Hong Kong. Réus : 1. CLAUDINA GLICÉRIA MARQUES, com última residência conhecida no Japão, ora ausente em parte incerta.---------------------------------------------2. HERDEIROS INCERTOS de CLAUDINA GLICÉRIA MARQUES.--*** ---- FAZ-SE SABER, que pelo 1º Juízo Cível do Tribunal Judicial de Base da R.A.E.M., correm éditos de TRINTA DIAS, contados da segunda e última publicação deste anúncio, citando os Réus acima referidos, para no prazo de TRINTA DIAS, decorridos que sejam o dos éditos, contestarem, querendo, a Acção Ordinária, cujo pedido resumidamente consiste em: ------------------------------------------------------------- Ser julgada procedente por provada a presente acção e, em consequência: ------1. Ser declarada a extinção da enfiteuse do prédio urbano sito em Macau, na Travessa do Aterro Novo, n.º 6 C e Barca da Lenha n.º75, descrito na Conservatória do Registo Predial sob n.º8490, a fls.212v., do livro B25, inscrito na matriz sob o n.º21973; consequentemente, ----------------------2. Ser declarada a Autora proprietária do imóvel referido em regime de propriedade perfeita, e ainda --------------------------------------------------------3. Ser declarada a extinção da inscrição vigente com o n.º6524 de fls. 149v. do Livro G6 da Conservatória do Registo Predial relativa ao domínio directo do prédio urbano em crise. --------------------------------------------------- Tudo como melhor consta da petição inicial, cujo duplicado se encontra nesta secretaria à disposição dos citandos. --------------------------------------------------------- A intervenção dos citandos nos autos implica a constituição de advogado – art. 74º do C.P.C. de Macau. --------------------------------------------------------------------------- Caso seja requerido o apoio judiciário na modalidade de nomeação de patrono, o prazo da contestação interrompe-se desde a data em que o requerente junte aos autos o documento comprovativo do pedido de apoio judiciário (artº 20º da Lei nº 13/2012). ---- Tribunal Judicial de Base da R.A.E.M., aos 27 de Abril de 2017. ------------------
Austrália insta China a pressionar Coreia do Norte
O
primeiro-ministro australiano pediu ontem à China para usar a sua in uência junto da Coreia do Norte para p r fim aos testes de mísseis do regime. Malcolm Turnbull disse aos jornalistas, em Sydney, que a conduta da Coreia do Norte é “imprudente, provocadora e ilegal” e que a Austrália vai trabalhar com os Estados Unidos e outros países para impor sanções a Pyongyang. “A maior responsabilidade de trazer a Coreia do Norte à razão (…) é da China”, disse Turnbull. “Eles têm uma relação económica dominante com a Coreia do Norte e devido ao facto de terem uma grande in uência, têm a maior responsabilidade”, acrescentou. A Coreia do Norte disparou um novo míssil balístico no domingo, que disse ser um novo modelo de “médio e longo alcance”. De acordo com a agência de notícias estatal KCNA, trata-se de “um novo modelo de míssil balístico estratégico de médio e longo alcance, o Hwasong-12”. A agência sublinhou que o líder norte-coreano, Kim Jong-Un, “supervisionou pessoalmente o teste”.
Kong também chegaram no mesmo dia”, disse Seguin. “Estamos a falar de pessoas que entraram em Hong Kong com anos de diferença, que submeteram os pedidos de asilo em anos diferentes, e no entanto as decisões chegam ao mesmo tempo”, acrescentou, indicando que os clientes tinham “motivos para estarem preocupados”.
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O facto de Snowden ter procurado abrigo junto dos requerentes de asilo tornou-se mundialmente conhecido depois da estreia de um filme sobre o antigo funcionário da NSA. O documentário “Citizenfour”, de Laura Poitras, sobre o ex-analista norte-americano Edward Snowden, que denunciou a jornalistas, em 2013, a existência de um programa global norte-americano de vigilância, estreou-se em Portugal em 2015.
O novo míssil disparado pelas 05:30 locais de domingo atingiu uma altitude de 2.111 quilómetros, percorreu cerca de 700 quilómetros e caiu no Mar do Japão. A KCNA acrescentou que o disparo do míssil visou fazer um teste “às características e pormenores técnicos” da nova arma, “capaz de transportar uma grande e potente ogiva nuclear”. O míssil seguiu a trajectória planeada e caiu “exactamente no local previsto”.
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O teste do novo míssil balístico norte-coreano motivou reacções críticas de vários quadrantes: os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul pediram uma reunião de urgência do Conselho de Segurança das Nações, que foi já marcada para a tarde de terça-feira. A confirmação da reunião de urgência foi avançada nas Nações Unidas pela representação do Uruguai, país que preside ao Conselho de Segurança em Maio. O disparo do míssil balístico - o segundo no espaço de 15 dias - foi interpretado como um desafio, na sequência da recente eleição do novo Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-In. A NATO criticou o lançamento do míssil e apelou a Pyongyang para que
O filme, estreado nos Estados Unidos em 2014 e premiado este ano com um Óscar de melhor documentário, foi feito em Junho de 2013, registando os encontros que Edward Snowden teve com os jornalistas Glenn Greenwald, Ewen MacAskill e Laura Poitras, num hotel em Hong Kong, durante os quais denuncia o vasto programa de vigilância indiscriminada de comunicações da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana. A família do Sri Lanka disse que a publicidade sobre o seu envolvimento no caso de Snowden tinha feito com que os seus familiares no país fossem questionados, assediados e ameaçados pelas autoridades cingalesas. Também disseram que acreditam que agentes do Sri Lanka foram enviados a Hong Kong para os tentar localizar.
incentive o desanuviamento da tensão, em vez de insistir “nas provocações”. O míssil constitui “um incumprimento agrante de várias resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, o que pressupõe “uma ameaça à paz e à segurança internacional”. A União Europeia considerou o disparo “uma ameaça à paz e segurança internacional”, numa escalada da tensão na região. O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defendeu o agravamento de sanções contra a Coreia do Norte, na sequência deste último disparo. Também a China e a Rússia já reagiram, mostrando-se “preocupadas com a escalada de tensão” na península coreana. O Presidente russo, Vladimir Putin, e o homólogo chinês, Xi Jinping, “discutiram em pormenor a situação na península coreana” durante um encontro, em Pequim, e “as duas partes exprimiram a sua preocupação para com uma escalada de tensão”, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, aos jornalistas.
13 DESPORTO
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LIGA DE ELITE
ANÁLISE da 14ª jornada por João Maria Pegado
Canarinhos de asa curta TATIANA LAGES
tral Geofredo Sousa lesiona-se, deixando a sua formação a jogar com elementos. Aos minutos e com muita sorte à mistura o Monte Carlo chega a vantagem no marcador através de um golo injusto para o guarda-redes do Kei Lun na forma como o sofreu, ele que tinha estado em grande plano até esse momento. A seguir a este golo só se viu Kei Lun e aos minutos, Alexandre Silva finalmente conseguiu introduzir a bola dentro da baliza dando justiça ao marcador final de - . Grande jogo no estádio da aipa bastante emotivo com um resultado justo pela determinação do Kei Lun e pelo esforço do Monte Carlo que com dez homens em campo durante minutos conseguiu ainda estar em vantagem. Mas este não era o resultado que pretendiam e alegria estava toda na equipa de Josi Cler.
JOGADOR DA JORNADA s 3),6! +%) ,5. Gigante em tamanho mas também no jogo que realizou. Foi sempre o primeiro a parar os ataques rápidos do Monte Carlo, impressionante o posicionamento táctico, quase sempre adivinhando onde bola da equipa adversária iria sair para o ataque. Para de seguida e com grande qualidade, algo tem vindo a melhor com o passar dos anos, construir os ataques da sua equipa, sendo sempre o primeiro a organizar e clarificar o jogo do Kei Lun.
OUTROS JOGOS
R
EALIZOU-SE este fim de semana a décima quarta jornada da liga elite. Destaque para o empate do Monte Carlo frente ao Kei Lun. Com este resultado os canarinhos do território viram o enfica De Macau aumentar para cinco pontos de diferença a sua liderança na prova e foram ultrapassados no segundo lugar pelo CPK. Na luta pela a manutenção destaque para a vitória dos jovens da associação que assim reduzem a diferença para o Grupo Desportiva da Policia. O jogo grande da jornada teve lugar na sexta feira à noite, com o
Monte Carlo Vs Kei Lun. A equipa de Claudio oberto entrava para este jogo sem grande margem de manobra e o único resultado possível era a vitória. Do outro lado estava a equipa de Josi Cler bastante motivada com a excelente prestação neste campeonato. O Monte Carlo apresentou-se no seu sistema habitual - - e o Kei Lun num - - . A luta centrava-se a meio campo com a disputa dos capitães Silva e Anderson Oliveira, ambos a tentar obter o controlo de jogo, ora impedindo ataques rápidos ora organizando saídas rápidas para o ataque. Nenhuma das equipas jogava em ataque posicional,
EQUIPA DA SEMANA
devido às características dos seus avançados. Os treinadores montaram as suas equipas para jogarem em transições rápidas, tornando o jogo emotivo para o adepto e com muitas oportunidades de golo. Nesta forma de jogar destaque para Neto no Monte Carlo e Diego orges e Cesar elipe no Kei Lun. Ao intervalo os canarinhos venciam por - com golo de Keverson Santana e assistência de Neto. Para o segundo tempo o treinador do Monte Carlo fez duas alterações para ver logo no primeiro minuto o Kei Lun empatar a partida. Cesar elipe aproveitou um erro enorme de Ho Man ai, guarda redes internacional A pela selecção de Macau, e de baliza aberta fez finalmente o golo que tanto tinha procurado na primeira parte. O - estava feito. oi um balão de oxigénio para o Kei Lun tanto que aos minutos Josi Cler jogou a cartada decisiva: tirou Ismael e colocou Alexandre da Silva. Excelente o treinador do Kei Lun na leitura do jogo ao perceber que o desafio não passava pelo meio campo, tirou um médio mais defensivo, deixando esse trabalho para Silva(que jogão), e colocou mais uma unidade na frente. Já o treinador do Monte Carlo teve o azar do jogo após mexer pela última vez na equipa, o cen-
No sábado , Policia Vs Development eam, excelente resultado para os jovens da associação que assim reduzem a diferença para dois pontos para o oitavo classificado que é esta mesma Policia. No segundo jogo o Sporting Vs CPK , os Homens do CPK não podiam deixar escapar esta oportunidade para assaltar o segundo lugar e fizeram-no com competência derrotando os Leões do território que novamente mostram boa imagem vendendo cara a derrota. No domingo, o enfica De Macau não teve dificuldades em derrotar o KA I, fechando o jogo ainda na primeira parte com ao intervalo e finalizando com um
- ,aumentando para pontos a diferença para o segundo classificado. No outro o jogo mais uma derrota para o Lai Chi Vs Cheng ung. Com este resultado os velozes praticamente dizem adeus à Liga Elite.
CLASSIFICAÇÃO Jogos
V
E
D
GM
GS
DIF
P
1 - BENFICA
14
12
2
0
68
4
64
38
2 - C.P.K
13
11
0
2
38
10
28
33
3 - MONTE CARLO
13
10
1
2
48
18
30
31
4 - KEI LUN
14
7
2
5
39
26
13
23
5 - CHING FUNG
14
5
6
3
25
24
1
21
6 - TAK CHUN KA I
14
5
1
8
21
34
-13
16
7 - SPORTING
14
3
2
9
10
38
-28
11
8 - POLICIA
14
2
3
9
8
31
-23
9
9 - DEVELOPMENT
12
2
1
9
11
39
-28
7
10 - LAI CHI
14
1
2
11
11
55
-44
5
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
14
N
AS fotografias de Francisco Huguenin Uhlfelder (FHU), [refiro-me às fotografias de mulheres maduras] as mulheres aparecem diante de nós expostas ao esplendor do paradoxo humano: o lugar inalcançável da beleza. Digo: a intangibilidade da beleza surge-nos aqui mais intangível do que nunca. O que é que nos faz ficar tão angustiados face àquelas mulheres: a beleza que já foi, a beleza que ainda nos tenta ou reconhecermos que estamos vulneráveis à indagação desta manifestação omnipresente, à indagação do que é que vale a pena nesta vida? O mistério da beleza identifica-se nestas fotografias com o mistério da vida. Diante do limite extremo da beleza a desaparecer, a vida e a morte assumem uma consciência concreta, uma pedra de que não nos podemos desviar. A fotografia, mais ainda do que um texto, impede-nos de não ver o que está a acontecer na metáfora que o autor trabalha. Ainda que distraídos, ainda que não haja uma elaboração do problema que está diante dos nossos olhos, não é possível furtarmo-nos a ficar incomodados, como se estivéssemos mal sentados há muito tempo e na mesma posição. Porque exerce a beleza tanto poder sobre uma vida? Porque faz tanto frio (à vida que a contemplava e à vida que a transportava) quando a beleza se acaba ou se vislumbra o seu fim? A melancolia percorre o olhar destas mulheres que são convocadas a enfrentar a câmara. Em algumas das fotografias, consegue-se perceber muito bem o incómodo por parte de quem fica exposto, vulnerável à luz que há-de revelar esse exacto momento para sempre. É este “exacto momento” que inunda estes rostos de melancolia! Se a luz não fosse revelada, muito diferentes seriam as expressões nestes rostos. Saber antecipadamente que o “exacto momento” será revelado, será mostrado, é que introduz um arrepio existencial. Mais do que ser revelado ao mundo, o que arrepia é ser revelado ao próprio (pois o próprio toma como certo que o mundo o vê como a câmara o revela). Ninguém é como a sua revelação à luz de um “exacto momento” captado entre si e uma câmara, obviamente, mas quem se deixa fotografar sabe que vai enfrentar muito mais a imagem que os outros vêem de si, do que aquela que vê frente a um espelho. O que FHU capta na sua câmara, no fundo, é o medo. O medo de não se ser quem se é. O medo, por parte de quem é fotografado, de não se ir reconhecer na imagem que tem de si mesmo. Estas mulheres, outrora indiscutivelmente belas, sentem medo de não se encontrarem na revelação. FHU capta esse arrepio existencial, que é o medo de, ao nos olharmos na revelação de uma fotografia, ficarmos diante de um desco-
máquina lírica
As mulheres
EM FRANCISCO HUGUENIN UHLFELDER nhecido. Pode acontecer muito pior ainda: ficarmos diante de quem nos recusamos a ser (um desconhecido que não queremos aceitar que somos). Mas também pode acontecer algo muito mais simples: apenas não querermos ser lembrados da imagem que somos (embora geralmente estes recusem enfrentar a revelação). O que leva então estas mulheres a enfrentarem a câmara, exporem-se ao medo? Para além das diferentes circunstâncias e dos diferentes dias de cada uma das mulheres fotografadas, isto é, para além da subjectividade, importa tentar perceber a objectividade da exposição à luz da câmara. Nesta procura de razões objectivas, adiante-se três: porque sabem que ainda são belas; porque querem uma confirmação de como o mundo interpreta a sua beleza; porque querem afirmar as suas próprias vidas acima da imagem que o mundo possa ter delas. A quem sabe que é bela, a câmara não capta um ar de melancolia, nem causa arrepio nenhum. Só que a situação aqui não é “sabe que é bela”, mas antes “sabe que ainda é bela”. Este “ainda” muda tudo. Quem tem consciência de um “ainda”, tem um arrepio pela existência acima. Num jantar, entre apreciadores de vinho, quando se ouve a frase “ainda há vinho”, ouvem-se sem dúvida duas coisas contraditórias: isto está bom, por enquanto, mas vai ficar mau. E, se usarmos como exemplo aqueles que cheiram cocaína, torna-se mais visível: se ao “ainda” não se juntar “há muito”, eles pensam imediatamente que as coisas estão a ficar mal. Mas o exemplo que prefiro vem do desporto. Se, num jogo de futebol, uma equipa precisa impreterivelmente de marcar um golo e um dos seus jogadores ou adeptos pergunta o tempo que falta para o jogo acabar e a resposta é “ainda faltam cinco minutos”, esse ainda não traz muita alegria (embora haja esperança, por isso se justifica responder
“ainda”). “Ainda”, enquanto advérbio de tempo, põe-nos imediatamente reféns da duração, da medida da duração daquilo que o “ainda” acusa. O arrepio advém de, no fundo, a consciência nos dizer: isto está a acabar. No caso das mulheres das fotografias: a beleza está a acabar. No caso de quem fica diante das fotografias: a vida está a acabar. Se as mulheres destas fotografias sentiram um arrepio mais próximo do jantar dos apreciadores dos vinhos ou do adepto da equipa de futebol, provavelmente variou dependendo de cada uma delas e do ânimo subjectivo desse dia em frente da câmara, mas do “ainda” e do seu arrepio não se livraram. Por outro lado, a confirmação da beleza que essas mulheres possam ir buscar à revelação, por si só, mostra a situação em que se encontram as suas consciências: necessidade de confirmação. Quem está imerso numa necessidade de confirmação, do que quer que seja, está imerso em águas desconfortáveis. Necessidade de confirmação é muito diferente da necessidade de ouvir o que já se sabe, mas que se gosta de ouvir continua e repetidamente (o exemplo da mulher e da rapariga que necessita de ouvir que é bela, que necessita de ouvir o mundo repetir o que ela tão bem sabe). Necessidade de confirmação acerca de si, pois é exactamente do que se trata, só pode trazer também um valente arrepio pela existência acima. Por fim, as mulheres destas fotografias enfrentaram a câmara para enfrentar o mundo. Para mostrarem ao mundo que são maiores do que a beleza. Maiores do que a beleza que já foram (ou ainda são), maiores do que a expectativa de beleza que o mundo tem delas. Pode ser. Mas quem é que tem necessidade de se afirmar acima da beleza? Não é seguramente a mulher que nunca a teve, mas aquela
PAULO JOSÉ MIRANDA
que a teve ou que sente que está prestes a perdê-la. Afirmar-se diante do mundo (através da revelação) acima da beleza, só lembra a quem julga ser necessário essa afirmação. Uma mulher que nunca foi bela sabe que não precisa afirmar-se acima da beleza: ela é acima da beleza (pode-se também dar o caso de se sentir abaixo da beleza). Mas então porque é que estas mulheres se expuseram ao medo? Pela beleza. A mesma razão por que nós nos expomos à vida. Vemos agora mais claramente porque é que estas fotografias, que parecem simples retratos, nos perturbam tanto. Mesmo que a beleza desapareça do rosto, do corpo de uma mulher, nunca desaparece totalmente. Por vezes, fica apenas uma suspeita; outras vezes, um desejo de que ela ainda não tenha acabado; outras, uma memória, um modo de vida antigo que ficou incrustado nesta mulher de agora e que, tal como um vestido, não lhe assenta bem. O modo como os deserdados se comportam em relação à fortuna perdida são muitos, mas em nenhum desses modos vamos encontrar o esquecimento da fortuna perdida (da fortuna que foi interrompida). Só quem doa aquilo que herda ou pode herdar (recusando a herança) é que não tem a memória povoada por esse bem. Em verdade, a beleza perdida nunca se perde, acabamos é por deixar de vê-la. Mas ela continua lá, nestas mulheres, a fazer-se sentir sem uma luz que a traga até nós. Precisamente este deixar de se ver ou poder vir a deixar de se ver (a beleza que continua na memória) é que causa o arrepio existencial que a câmara de FHU capta exemplarmente. Como é possível não nos apaixonarmos por estas mulheres, pelos retratos que aqui mostram estas mulheres? Apaixonamo-nos pela beleza que julgamos perdida para sempre; apaixonamo-nos pela beleza que ainda resta; apaixonamo-nos pela dor que essas mulheres transportam, no receio de irem da luz às trevas; apaixonamo-nos por aquilo que fomos, por aquilo que somos ou por aquilo que seremos, consoante o caso, a idade e a sensibilidade de cada um dos observadores, ao reconhecermos a nossa vida na vida retratada dos nossos semelhantes, na vida retratada destas mulheres. Mas a paixão cai ainda mais longe: neste trabalho de FHU, apaixonamo-nos pela existência. Apaixonamo-nos pelo humano, comprimido pela totalidade do tempo de uma vida. Porque, como já vimos, este “exacto momento” só é exacto porque, para além dele mesmo, arremessa ainda a nossa compreensão para um antes e um depois do momento representado. Mas frente a estas fotografias, a nossa compreensão vai ainda mais longe: frente às retratadas, neste trabalho do fotógrafo, a compreensão arremessa-nos contra nós mesmos.
15 hoje macau terça-feira 16.5.2017
o ofício dos ossos
VALÉRIO ROMÃO
O
S dois rapazes entraram e sentaram-se. O autocarro estava estranhamente vazio, ao contrário do que seria expectável em hora de ponta. Esperaram por um momento de silêncio para começarem a falar: é fundamental repor a presença da morte no contexto da existência, disse um para o outro, não é por não falarmos do assunto que ele deixa de existir, completou, e em pouco tempo e à medida que a conversa prosseguia – dos pré-socráticos à Heidegger, da existência pragmática à existência enquanto doença – os restantes passageiros, cada vez mais desconfortáveis, iam divergindo o foco daquilo que os ocupara e, como acontece num acidente de trânsito, por mais incomodados que estivessem, não conseguiam deixar de prestar atenção àquela conversa. O mesmo acontecia no metro. Numa esplanada ensolarada do chiado. Na biblioteca nacional. Numa festa de aniversário na qual o momento de cantar os parabéns fazia lembrar um ensaio de um coro de coveiros. Na praia, até na praia. No início era apenas uma piada. Uma daquelas ideias que surgem quando se esgotam as conversas e os assuntos possíveis: e se começássemos a falar disto em sítios públicos, em voz alta, simulando uma conversa? “Isto” era filosofia ou, mais especificamente, o tipo de filosofia e de questionamento filosófico que nasce e se propaga quando um homem tem tempo suficiente para fazer as perguntas que não deve e que podem travar o curso normal da existência: o que faço aqui? O que fazemos aqui? Porquê? Para quê? Nunca pensaram que a brincadeira pudesse ter alguma consequência para lá de uma possível historieta para preencher o silêncio num futuro jantar de natal. E as primeiras experiências que fizeram, no autocarro, pareciam confirmar essa ideia. Para além de um silêncio breve que surgia sempre quando um deles mencionava morte, as pessoas pareciam imunes ao parasita filosófico que eles tentavam fazer crescer e multiplicar por meio da palavra. Foi quando um deles, numa epifania que atribuíram à cerveja, propôs aos restantes mudarem radicalmente a orientação da conversa – até àquele momento muito vocacionada para a produção de respostas, umas mais sofisticadas que outras – e passarem a tentar gerar, nos espectadores das conversas encenadas, perguntas, que tudo mudou.
PIETER CLAESZ, STILL LIFE WITH A SKULL AND A WRITING QUILL
Manual de terrorismo ontológico
As pessoas já não sorriam umas para as outras com condescendência quando eles começavam a falar daquelas estranhezas que fazem o assunto de quem tem demasiado tempo. Algumas, ao vê-los entrar, saíam. Uma ou outra pediam-lhes com gentileza para mudarem de tema, porque não tinham idade para aquilo, porque não tinham cabeça, porque não tinham disposição. Não podiam nem queriam serem surpreendidas naquele assalto pelo qual se viam desmunidas, subitamente, das certezas que fazem o chão da vida. Os autocarros foram progressivamente perdendo passageiros, assim como o metro e restantes transportes públicos. Ao entrar num táxi as pessoas detinham-se e dirigiam-se ao condutor: não vai falar daquilo, pois não? O Benfica sagrava-se
pentacampeão português à penúltima jornada perante um estádio praticamente vazio. As pessoas saíam de casa apenas por absoluta necessidade. Evitavam a televisão, onde aquilo já grassava também. A pergunta do ano, no Google, era “como evitar falar daquilo?” Alguns especialistas defendiam, em colunas de opinião, uma acção concertada e internacional para a produção de um documento, subscrito pelo maior número possível de países, através do qual se decretasse a ilegalidade e suspensão imediata daquelas conversas. “Uma espécie de convenção de Genebra da filosofia”, concluíam, incapazes de disfarçar o orgulho que a metáfora neles produzia, malgrado os tempos sombrios.
Um movimento de resistência auto-intitulado “porque não?” organizava, a espaços, marchas de protesto às quais acorriam algumas dezenas de pessoas. Infelizmente, bastava alguém distrair-se, mesmo que bem-intencionadamente, e fazer uma pergunta que pudesse sugerir aquilo para toda a gente dispersar e ficarem espalhados no chão, sublinhando a ironia e impotência do movimento, meia dúzia de cartazes apelando à fé e à confiança dos homens uns nos outros. Alguns dos rapazes que haviam começado a brincadeira tinham-se suicidado. Outros, esmagados pela culpa, procuravam uma forma de reverter aquilo. Falava-se em antídotos, vacinas, alinhamento de chakras. Mas era tarde demais. Aquilo não ia passar.
16 (F)UTILIDADES TEMPO
hoje macau terça-feira 16.5.2017
TROVOADAS
O QUE FAZER ESTA SEMANA Quinta-feira
TURISMO E CIDADES NA ÓPERA : VERONA Fundação Rui Cunha 18h30 às 20h30
MIN
?
22
MAX
28
HUM
70-98%
s
EURO
8.80
BAHT
FAM | TEATRO COM DOCI PAPIAÇAM DI MACAU CCM | 20h00 FAM | TEATRO “O INFERIOR” CCM | 20h00
Sábado
FAM | TEATRO COM DOCI PAPIAÇAM DI MACAU CCM | 20h00
O CARTOON STEPH
SUDOKU
DE
CHU CHAN WA E CANTORES DE ÓPERA CANTONENSE DE MACAU FAM | 19h30
Diariamente
EXPOSIÇÃO DE AGUARELAS DE CHU JIAN & HERMAN PEKEL Fundação Rui Cunha | Até 25/5 EXPOSIÇÃO DE DANIEL VICENTE FLORES Albergue SCM | Até 4/6 EXPOSIÇÃO “AMOR POR MACAU” DE LEE KUNG KIM Museu de Arte de Macau | Até 9/7 EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 36
EXPOSIÇÃO | “TENTATIVE NOTEBOOK WORKS BY RUI RASQUINHO” Art for All Society, Jardim das Artes | Até 14/06
UM DISCO HOJE
Cineteatro
C I N E M A
1.16
FRATERNIDADE
FAM | TEATRO “O INFERIOR” CCM | 20h00
Domingo
YUAN
AQUI HÁ GATO
Sexta-feira
CHU CHAN WA E CANTORES DE ÓPERA CANTONENSE DE MACAU Cinema Alegria | 19h30
0.23
PROBLEMA 37
Os humanos, tal como as formigas, são seres gregários, que se aglomeram, anexam-se em vários ciclos sociais. Família, grupo de amigos, religião, condomínio, partido, nacionalidade, tribo urbana, tribo rural, mais o diabo a sete. Ok, dentro dos felinos tenho vários parentes. Mas um gato é um gato, esteja onde estiver, uma ilha de pêlo absorta em individualidade. Os homens e mulheres massificam-se, desdobram-se em múltiplas identidades, em facetas várias que muitas vezes chocam em paradoxos. São totalmente desprovidos de um sentido unitário. Mas há fenómenos de massa que unem estranhos, onde quer que estejam. O futebol é um desses fenómenos, que presumo ser transversal às outras paixões desportivas. Apesar dos vários ciclos sociais em que se encerram, os humanos perdem-se frequentemente em si. Mas um golo muda tudo. Ficam aos saltos, abraçam estranhos, partilham sorrisos, fazem brindes com shots que nunca deveriam ser bebidos e projectam idiotices ébrias. Fátima tem o efeito contrário, mas também num plano gregário de massas. No santuário o fio condutor é o sofrimento, a partilha de uma lobotomia colectiva assente na angustia. Independentemente da razão, todos sentem muito em comunidade, mesmo quando estão cabisbaixos com os olhos cativos no telemóvel. Estão condenados à partilha, mesmo que se queiram isolar ambicionando a independência dos gatos. Pu Yi
“THE EPIC” | KAMASI WASHINGTON
Arrancar uma discografia com um álbum triplo demonstra ambição e coragem ao alcance de poucos. Algo que não falta ao saxofonista norte-americano Kamasi Washington. O disco fez dois anos na semana passada e continua fresco, intemporal, pleno de força. Com músicas como “Change of the Guard”, “Askim” e a versão de “Clair de Lune” de Debussy, o disco de estreia de Washington catapultou o músico californiano para a ribalta, deixando os fãs a salivar pelo segundo registo em nome próprio. Um disco épico, na verdadeira acepção da palavra. João Luz
Alien: Covenant SALA 1
ALIEN: COVENANT [C] Fime de: Ridley Scott Com: Michael Fassbender, Katherine Waterston 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2
KING ARTHUR: LEGEND OF THE SWORD [C] Fime de: Guy Ritchie Com: Charlie Hunnam, Jude Law, Berges-Frisbey, Eric Bana 14.30, 16.45,19.15 21.30
SALA 3
29+1[B] Fime de: Kearen Pang Com: Chrissie Chau, Joyce Cheng, Ben Yeung, Babyjohn 14.30, 16.30, 21.30 SALA 3
GIFTED [B] Fime de: Marc Webb Com: Chris Evans, Octavia Spencer, Mckenna Grace 19.30
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17 hoje macau terça-feira 16.5.2017
sexanálise
Retratos
FERNANDO MEIRELLES, KÁTIA LUND, CIDADE DE DEUS
TÂNIA DOS SANTOS
P
EGO numa máquina fotográfica e tento capturar a essência do sexo. A imagem enche-se de cores e diversidade que enquadram os protagonistas: o prazer e a vergonha. O prazer luta pelos seus direitos enquanto que a vergonha tenta atrofiar qualquer tentativa de legitimidade prazerosa. Este conito é constante, repito, constante. As nódoas negras são visíveis, mas esta é daquelas lutas inevitáveis que têm que ser travadas. Contudo, este retrato pseudo-global não mostra que a tendência será a repressão sexual, e aí o oucault também concordaria. A variedade, a disponibilidade para uma exploração sexual plena e individual surgiu da nossa capacidade, como sociedade, de criar espaços de discussão para que assim acontecesse. omos capazes de enaltecer o prazer e o bem-estar para formas supremas do ser, mesmo que nos pareça que haja fortes contra-correntes a contestar esta possibilidade. O sexo é tão natural e primitivo como intelectual. A complexidade emocional, fisiológica, biológica e mental poderia ser a protagonista deste retrato, mas prefiro p -la no pano de fundo, como as estruturas necessárias para que o entendimento sexual evolua.
O retrato re ecte a eminência da libertação sexual, e isso será possível quando a política da culpa substituir a política do prazer. Na cultura popular a sexualidade é vista como uma forma rentável de lidar com o mercado. Pensamos que o mundo ocidental é liberal , mas só o é para fins comerciais porque o sexo vende. A hiper-sexualização social tem sido bem sucedida a mascarar o pudor que o sexo ainda é. As minorias sexuais são as que ainda mais levam por tabela. Aqui incluem-se as mulheres também. As mulheres que de minoria não têm nada são metade da população mundial mas que são tratadas como se a luta pelos seus direitos sexuais fossem desnecessários. Se me perguntarem, o retrato do sexo teria que incluir estas novas nuances discriminatórias com que me deparo diariamente, quando tento incutir em muitas cabeças de que há
Talvez uma máquina fotográfica não seja a ferramenta mais indicada para capturar tudo o que viaja na nossa imaginação. Talvez o sexo, o prazer e o tabu já não conseguem viver dissociados. Talvez o sexo tenha que ser assim mesmo
processos interpessoais que (ainda) afectam as mulheres particularmente e que têm que ser alterados. Se calhar este retrato merecia uma atenção particularmente feminina, particularmente queer, particularmente trans. Não que queira deixar os homens heterossexuais para atrás Nem pensar. Só que eles foram os protagonistas do sexo por demasiado tempo, já tiveram direito à sua voz. Uma nova era impõe-se. Imaginem tempos onde o prazer consegue o seu lugar na ribalta alvez seja útil pensarmos no sexo mais em relação aos seus potenciais objectivos e dissociá-lo de formas patriarcais que teimam em utuar - até nas cabeças ditas mais progressivas incessantemente, descontroladamente. Não sei se consegui fazer com que este retrato tivesse mais forma, ou se continua difuso, confuso e complexo. alvez o retrato do sexo consiga se expressar melhor no abstracto, no não dito, no emotivo íntimo. Ou talvez precise de corpos, de erótica de bom gosto que combata a pornografia barata que anda por aí a (infelizmente) formatar cabecinhas. Eu consigo imaginar corpos, muitos corpos que abraçam a pureza que a intimidade do sexo lhes traz. Posso imaginar também uma pessoa, ou um só sexo para reforçar a nossa individualidade sexual, as particularidades do que nos atrai e do que nos excita. alvez uma máquina fotográfica não seja a ferramenta mais indicada para capturar tudo o que viaja na nossa imaginação. alvez o sexo, o prazer e o tabu já não conseguem viver dissociados. alvez o sexo tenha que ser assim mesmo.
OPINIÃO
18 OPINIÃO
hoje macau terça-feira 16.5.2017
“To avoid the trap of Europe fragmenting on the economy, security, and identity, we have to return to the original promises of the European project: peace, prosperity and freedom. We should have a real, adult, democratic debate about the Europe we want. We need to restore democracy and sovereignty in Europe.” Emmanuel Macron
O
político novato que nunca desempenhou um cargo político electivo enfrentou uma nacionalista de extrema-direita, provinda dos antípodas da política francesa, pelo que a eleição presidencial pertencerá aos livros de história. Os eleitores franceses participaram na primeira volta das eleições presidenciais, que se realizaram a 23 de Abril de 2017.Após o encerramento e contagem dos votos, os resultados determinaram uma segunda volta, entre os candidatos Emmanuel Macron e Marine Le Pen, que se realizou a 7 de Maio de 2017. O terceiro lugar foi uma corrida renhida entre o esquerdista Jean-Luc Mélenchon e o republicano detentor de alguns escândalos e ex-primeiro ministro, Francois Fillon, que era único favorito de um partido francês. Há cinco anos, na última volta das eleições presidenciais, o socialista François Hollande venceu o então Presidente francês Nicolas Sarkozy da “União por um Movimento Popular (UMP na sigla em língua francesa) ”. O partido foi fundado em 2002, pelo ex-Presidente Jacques Chirac, dissolvido em 2015 e sucedido pelo “Os Republicanos”, fundado em 2015 e liderado por Sarkozy. Os dois partidos dominaram a vida política francesa desde a década de 1980, à semelhança dos partidos republicanos e democrata nos Estados Unidos, embora em França, os principais partidos sejam frequentemente apoiados por partidos menores parceiros de coligação. O ex-Presidente Hollande cumpriu apenas um mandato presidencial, e era de esperar que se recandidatasse, mas assediado por escândalos pessoais e taxas extremamente baixas de popularidade resolveu afastar-se, sendo a primeira vez que um presidente em exercício desde 1958, não se recandidata. O candidato Benoit Hamon, escolhido pelos socialistas para substituir Hollande, lutou para sair da sombra do seu antecessor, mas apenas conseguiu 6,36 por cento dos votos. O colapso do voto na esquerda dominante deveria ter beneficiado os republicanos, mas também tiveram enormes dificuldades. O primeiro a sucumbir foi Sarkozy, cuja tentativa de retorno à vida política francesa terminou em uma derrota humilhante e ficou em terceiro lugar em uma primária republicana. O vencedor dessa corrida foi Fillon, que parecia uma aposta certa para a presidência, até que surgirem alegações de que tinha pago salários à esposa e filhos com fundos públicos, trabalho que não realizaram,
FRITZ LANG, METROPOLIS
A marcha para a transform
e apesar de ter negado qualquer irregularidade, deteriorou a sua imagem e, teve de lutar pelo terceiro lugar com Mélenchon, fundador, em 2006, do movimento “França Insubmissa”, e seu actual líder. O movimento é uma continuação da “Frente de Esquerda”, constituída em 2008. O candidato Macron de trinta e nove anos, emergiu dos destroços dos dois clássicos partidos políticos franceses. Foi banqueiro e ex-ministro da economia e indústria de Hollande, socialista, independente e fundou o partido social - liberal, “Associação para a Renovação da Política”, mais conhecido por movimento progressista, “Em Marcha”, em 6 de Abril de 2016, que rapidamente atraiu centenas de milhares de membros e subiu nas sondagens, prometendo uma reforma da assistência social e do sistema de pensões, políticas favoráveis às empresas e aumento das despesas com a defesa e um novo projecto para a UE que passa pela sua dinamização. A fraqueza da esquerda e direita moderada, criou a circunstância ideal para um centrista como Macron, que apelou aos eleitores de Fillon e aos socialistas de direita, tendo enfrentado desafios tanto da direita como da esquerda, mas mesmo o aumento dramático de Mélenchon nas últimas semanas da campanha, chegou tarde demais para derrubar os apoiantes do “Em Marcha”. O valor do euro subiu no dia seguinte às votações que favoreceram Macron na primeira
volta das eleições, ao contrário das resultantes do voto no Brexit ou das eleições presidenciais nos Estados Unidos. O então candidato Macron é um forte defensor da UE, ao contrário da sua ex-rival Marine Le Pen que defrontou na segunda volta das eleições presidenciais. A líder da “Frente Nacional” de extrema-direita, desde 16 de Janeiro de 2011, mudou o partido racista e anti-semita fundado pelo seu pai Jean-Marie Le Pen, com um discurso mais próximo da maioria da população para tentar vencer as eleições presidenciais. A candidata apesar de vir do extremismo da política francesa foi uma das figuras mais reconhecidas na campanha eleitoral francesa, sendo figura de relevo em todos os meios de comunicação social nacionais e estrangeiros. O facto de ser anti-imigrante, economicamente conservadora e partidária da saída da França da UE e da OTAN, a sua eleição seria uma ruptura dramática da tradição política francesa, não diminuindo por tal facto, as suas possibilidades de poder eventualmente ganhar as eleições, que foram impulsionadas pelas preocupações sobre o terrorismo e a crise de refugiados, beneficiado do aumento de apoiantes em muitas partes do mundo, nomeadamente na UE e nos Estados Unidos às políticas anti-imigração. Apesar de sua forte campanha na primeira volta das eleições, teve a inteligência suficiente para considerar o maior obstáculo que representou o desafio de Macron, cujo
apoio político maioritário previsível, acabou por se formar. O candidato Hamon exortou os eleitores socialistas a apoiarem o novato, mesmo não sendo de esquerda, assim como o ex-primeiro-ministro Bernard Cazeneuve. O candidato Fillon, após conhecidos os resultados eleitorais, pediu aos eleitores para apoiar Macron, afirmando que a “ rente Nacional” tinha uma história conhecida pela sua violência e intolerância, e que o seu programa económico e social levaria a França ao fracasso. Os líderes da UE também apoiaram Macron, pelo menos em privado, pois esperavam evitar um outro Brexit, sendo benéfico que o candidato vencedor tivesse sucesso nas eleições para o fortalecimento da UE e da economia social de mercado. A última vez que a “Frente Nacional” esteve próxima de alcançar a presidência, foi em 2002, quando Jean-Marie Le Pen foi à segunda volta, mas os eleitores de todo o espectro político acabaram por derrotar a extrema-direita, tendo Jacques Chirac esmagado Le Pen com mais de 82 por cento dos votos, o maior desaire de uma eleição presidencial francesa, que contou com uma enorme participação, tendo a abstenção representado, apenas 20 por cento dos eleitores registados. A candidata Le Pen melhorou significativamente o seu círculo eleitoral, mas mais de 73 por cento dos eleitores na primeira volta, escolheram um candidato diferente da líder
19 hoje macau terça-feira 16.5.2017
OPINIÃO perspectivas
JORGE RODRIGUES SIMÃO
ação da França e da Europa
da “Frente Nacional”, constituindo um sinal bastante sólido acerca da forma como as pessoas iriam votar no dia 7 de Maio de 2017, não tolerando que Le Pen viesse a ganhar as eleições na segunda volta. O escrutínio da primeira volta deu a Macron 24,01 por cento, a Le Pen 21,30 por cento, a Fillon 20,01 por cento e a Mélenchon 19,58 por cento. O recém-chegado político centrista Macron acabou por derrotar na segunda volta das eleições a candidata de extrema-direita, Le Pen. Assim, o pro-europeu Macron obteve 66,1 por cento dos votos, que representam 20,75 milhões de eleitores e Le Pen 33,9 por cento, que representam 10,64 milhões de eleitores e que tinha prometido um referendo “Frexit” se ganhasse as eleições. A abstenção foi de 25,44 por cento e os votos brancos e nulos de 11,47 por cento. A vitória de Macron representa um virar de página na longa história dos cinquenta e nove anos da “Quinta República Francesa”, sendo o mais jovem presidente eleito. O resultado eleitoral foi uma rejeição enfática ao nacionalismo primário francês. A candidata Le Pen, esperava que a mesma vaga populista que fez Donald Trump vencer as eleições nos Estados Unidos e que teve o seu apoio de Putin, se repetiriam em França. Macron tem pela frente enormes desafios, devendo para além do que consta do seu programa eleitoral, encontrar os medicamentos certos para curar as divisões sociais expostas pela áspera campanha eleitoral
e trazer fé e segurança reavivada, que minore a raiva, ansiedade, e as dúvidas que muitos expressaram ao votar em um extremismo agudo de direita. A vitória de Macron foi a terceira em seis meses, após as eleições na Áustria e na Holanda, em que os eleitores europeus derrotaram os populistas de extrema-direita que queriam restaurar as fronteiras em toda a Europa. A eleição de um presidente francês que defende a unidade europeia também pode reforçar a UE no seu complexo processo de divórcio com a Grã-Bretanha. A campanha presidencial francesa foi a mais imprevisível que há memória em que muitos eleitores rejeitaram os programas de ambos os candidatos. A França moderna sem-
O ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Sigmar Gabriel, disse uma verdade cruel: se o Presidente Macron falhar nos próximos cinco anos, Le Pen será Presidente, e o projecto europeu será como um osso atirado aos cães
pre foi governada pelos socialistas ou pelos conservadores. Quer Macron como Le Pen desviaram essa tradição da direita - esquerda. A França enviou uma incrível mensagem para si, para a Europa e para o mundo. Macron era um desconhecido dos eleitores antes de exercer as suas turbulentas funções como ministro da economia e indústria de 2014 a 2016, tendo assumido um repto gigantesco quando deixou o governo do presidente socialista Hollande e concorreu como independente na sua primeira campanha. O seu movimento político inicial, optimisticamente denominado de “Em Marcha” enraizou-se em apenas um ano, aproveitando a ânsia dos eleitores por novos rostos e ideias. É um momento de glória para a França e para a UE, porque depois do Brexit, e da eleição de Donald Trump, o populismo foi derrotado. Apesar da sua derrota, a subida enorme do número de votantes em Le Pen, pela primeira vez, marca um progresso pessoal e político e realça uma aceitação crescente da sua feroz plataforma anti-imigração. Le Pen foi a terceira candidata mais votada nas eleições presidenciais de 2012. Após estas eleições a sua atenção volta-se imediatamente para as próximas eleições legislativas em França, a realizar, em 11 e 18 de Junho de 2017. Macron vai precisar de uma maioria para poder governar de forma eficaz, tendo o movimento “Em Marcha”, mudado o nome para partido “República em Marcha”, para disputar as eleições legislativas e que é liderado desde 8 de Maio de 2017, por Catherine Barbaroux. Le Pen teve uma votação histórica e maciça, que no seu entender, tornou o partido na principal força de oposição contra os planos do novo presidente. O número de votos obtidos por Le Pen representa quase o dobro dos votos obtidos pelo seu pai nas eleições presidenciais de 2002. As visões de pólos opostos de Macron e Le Pen foram apresentadas a quarenta e sete milhões de eleitores registados em França e com a maior escolha possível. As fronteiras fechadas de Le Pen confrontaram-se às abertas de Macron. O compromisso deste com o livre comércio competiu contra as propostas daquela para proteger os franceses da concorrência económica global e da imigração. O desejo de Le Pen de libertar a França da UE e do euro como moeda comum foi contra o argumento de Macron, de que ambos são essenciais para o futuro da terceira maior economia da Europa. Além de capitalizar a rejeição dos eleitores do monopólio esquerda -direita do poder, Macron também teve sorte, pois o ex-primeiro-ministro conservador Fillon, um dos seus adversários mais perigosos, foi prejudicado pelas alegações de que a sua família tinha beneficiado de empregos financiados durante anos pelos contribuintes. O Partido Socialista ruiu e o seu candidato foi abandonado pelos eleitores que queriam punir Hollande, o Presidente mais impopular da França desde a II Guerra Mundial. Macron preside a uma nação que, quando a Grã-Bretanha deixar a UE em 2019, se tornará o único Estado membro com armas nucleares e assento permanente no Conselho de Segu-
rança da ONU. A votação também mostrou que os sessenta e sete milhões de franceses estão profundamente divididos, angustiados pelo terrorismo e pelo desemprego crónico, preocupados com o impacto cultural e económico da imigração e temendo a capacidade da França de competir com gigantes como China e o Google. Macron prometeu uma França que iria enfrentar a Rússia, mas que também iria procurar trabalhar com o Vladimir Putin na luta contra o Estado Islâmico, cujos extremistas reivindicaram ou inspiraram vários ataques na França, desde 2015. Tendo tomado posse a 14 de Maio de 2007, o novo Presidente francês tem um vasto e ambicioso programa liberal - conservador, que não é de esquerda, nem de direita, não se propondo reformar a França, mas transformá-la, sem rupturas, baseadas no trabalho e responsabilidade. Quanto à área económica propõe medidas como o eliminar de cento e vinte mil postos de trabalho na administração pública nos próximos cinco anos; realizar uma poupança na despesa pública de sessenta mil milhões de euros durante o seu mandato; destinar cinquenta mil milhões de euros ao investimento público nos sectores de futuro; cortar o cabaz de impostos que sobrecarregam as empresas, acompanhada da redução dos impostos locais. A estratégia económica procurará melhorar as despesas públicas, responsabilizar os particulares e relançar o emprego com investimentos, para além de financiar a educação e a formação profissional. Quanto à área social propõe uma reforma global do sistema nacional de contribuições e de protecção social, procurando exibilizar o mercado de trabalho, assim como a aposentação, que sofrerá uma grande mudança. Quanto à área política propõe moralizar a vida política, com legislação mais apropriada, considerando-se a favor de uma reforma parcial do modelo eleitoral a duas voltas, benéfico aos grandes partidos, por um modelo com certa dose de proporcionalidade, para facilitar a situação dos partidos mais jovens e emergentes. Quanto à área da segurança propõe reforçar a polícia e as forças de segurança, sugerindo novas formas de cooperação europeia. Quanto à UE considera que já funciona a várias velocidades, sendo a favorável ao inicio de reformas feitas por outros países, para poder adquirir poder e prestigio na Europa. Quanto à área social e cultural aposta no modelo laico francês, avançando ideias mais ou menos gerais e pouco comprometedoras sobre a nova França multicultural. O presidente social reformista maquilha todas as suas iniciativas com doses aleatórias de ecologia, radicalismo e respeito à diversidade. O ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Sigmar Gabriel, disse uma verdade cruel: se o Presidente Macron falhar nos próximos cinco anos, Le Pen será Presidente, e o projecto europeu será como um osso atirado aos cães. A UE por sua parte terá de voltar à essência e natureza do projecto da sua fundação, deixando de ser a Europa dos políticos, tecnocratas e burocratas, para passar efectivamente a ser a tão anunciada e desejada e não praticada, Europa dos cidadãos.
“
Mas hoje que a viagem se aproxima/Da Estação onde tenho que descer/Cada vez mais me afasto/em cada dia/Da idade de ouro donde vim/Num tempo em que o tempo inexistia” José Maria Rodrigues
terça-feira 16.5.2017
ITÁLIA EXPLORADORES DE MIGRANTES E REFUGIADOS DETIDOS
A polícia italiana anunciou a detenção de várias pessoas associadas a uma rede mafiosa que se suspeita ter-se infiltrado nos serviços de concessão de asilo, transformando-os num mercado, com a ajuda de uma associação católica. O clã Arena, da poderosa máfia calabresa, é suspeito de ter ganhado grandes somas de dinheiro fornecendo serviços destinados aos centros de acolhimento de refugiados e migrantes de Isola Capo Rizzuto, um dos maiores de Itália e de Lampedusa. A mega operação, que contou com de 500 agentes, decorreu durante a noite e visou 68 pessoas suspeitas de associação criminosa, fraude, desvio de capitais públicos e roubo, anunciou, segundo a agência France Presse, a polícia de Catanzaro, no sul de Itália) em comunicado.
COREIA DO NORTE PUTIN CRITICA LANÇAMENTO DE MÍSSIL
O Presidente russo, Vladimir Putin, considerou ontem “contraproducente e perigoso” o lançamento de um míssil, no domingo, pela Coreia do Norte, mas pediu que se deixe “de intimidar” Pyongyang e se privilegie uma solução pacífica. “Somos categoricamente contra o alargamento do clube das potências nucleares, incluindo à Coreia do Norte […] Somos contra e consideramos [o lançamento] contraproducente, nocivo e perigoso”, afirmou Putin numa conferência de imprensa em Pequim. Mas, prosseguiu o Presidente russo, “há que deixar de intimidar a Coreia do Norte e encontrar uma solução pacífica para resolver o problema”. A Coreia do Norte disparou um novo míssil balístico no domingo. Segundo a agência de notícias estatal KCNA, trata-se de “um novo modelo de míssil balístico estratégico de médio e longo alcance, o Hwasong-12”.
PORTUGAL MARCELO “FELIZ” COM NÚMEROS DO CRESCIMENTO
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O Presidente da República manifestou-se ontem “feliz” com os números divulgados pelo INE, mas pediu que “não se embandeire em arco” e se mantenha o valor ao longo do ano para que Portugal possa crescer “claramente acima dos 2%”. “Não embandeirar em arco, ficar feliz, para não dizer mesmo bastante feliz, e tentar manter este ritmo ou um ritmo próximo no resto do ano”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, questionado pelos jornalistas, no final de uma aula-debate no Liceu Camões sobre Álvaro Cunhal, em Lisboa. O chefe de Estado sublinhou que “se se mantiver” o ritmo de crescimento da economia - segundo o INE, 2,8% no primeiro trimestre de 2017 face ao mesmo período do ano passado e 1% comparando com o trimestre anterior - poderá atingir-se o valor a que apelou: “Um crescimento claramente acima dos 2%”. “Vamos ver se se mantém, se se mantiver pode dar um número histórico”, afirmou, escusando-se a pronunciar se o Governo poderá rever em alta a sua previsão de crescimento para este ano.
CTCC ÁVILA ADMITE QUE NÃO FOI UMA ESTREIA FÁCIL
Desafio supremo
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ODOLFO Ávila iniciou a sua participação no Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC) com um terceiro lugar. Apesar de ter subido ao pódio, o piloto de Macau teve que suar as estopinhas para lá chegar. Aliás, Ávila foi obrigado a fazer duas corridas de recuperação no Circuito de Zhuhai. “ ivemos algumas dificuldades inesperadas na qualificação”, explicou o piloto do território ao HM que foi obrigado a recuperar da nona posição da grelha de partida até ao último lugar no pódio. “Felizmente o trabalho fora de
pista foi bem feito e no domingo, principalmente na primeira corrida, o comportamento do carro melhorou bastante, dando-me a possibilidade de conduzir nos limites e avançar na classificação”, salientou Ávila que na segunda corrida voltou a ter que fazer exactamente o mesmo. A grelha de partida da segunda corrida do CTCC é este ano determinada pela classificação inversa dos doze primeiros classificados da primeira corrida, o que daria a Ávila o 10º posto para o arranque do segundo confronto. Todavia, Ávila foi obrigado a arrancar do 13º lugar da grelha de partida, pois recebeu uma penalização
“Neste campeonato as lutas no meio do pelotão são muito aguerridas e é preciso uma atenção suplementar, pois ao mesmo tempo que tentas ultrapassar o carro que segue à tua frente, atrás de ti há quem queira tirar partido da situação e roubar-te a posição. Não há tempo para relaxar.” RODOLFO ÁVILA PILOTO
de três posições por uma alegada manobra perigosa, ao ultrapassar o BAIC Senova D60 de Darryl O’Young, durante a primeira corrida. Pela segunda vez no mesmo dia, o piloto do Volkswagen Lamando GTS nº9 ultrapassou vários adversários ao longo das 11 voltas ao circuito da cidade chinesa adjacente a Macau, terminando no sétimo lugar, garantindo preciosos pontos para o campeonato. “Não foi tão fácil como parece. Ora ganhava lugares, ora perdia lugares”, esclareceu o piloto que deu os primeiros passos no automobilismo no Kartódromo de Coloane, que lembra que “neste campeonato as lutas no meio do pelotão são muito aguerridas e é preciso uma atenção suplementar, pois ao mesmo tempo que tentas ultrapassar o carro que segue à tua frente, atrás de ti há quem queira tirar partido da situação e roubar-te a posição. Não há tempo para relaxar.”
UMA NOVA REALIDADE
Apesar da sua já substancial experiência no automobilismo e até ter no currículo o vice-campeonato do TCR Asia Series de 2015, as corridas de Turismo
são um mundo relativamente novo para Ávila. “A experiência conta muito no automobilismo e os meus adversários já correm nesta disciplina há anos. Eu nunca fiz nenhuma temporada completa de carros de Turismo. Fiz duas provas do campeonato TCR asiático, incluindo o Grande Prémio de Macau, e duas provas do CTCC o ano passado. E foram duas provas em que não deu para aprender muito, pois tivemos diversos problemas no carro”, explicou o piloto português. “As corridas de Turismo são muito diferentes das corridas de Fórmulas ou GT em que participei no passado. Os carros obrigam a um estilo de condução diferente e as corridas também são diferentes, pois os andamentos são muito mais equilibrados, as corridas mais curtas e há mais toques”, acrescenta o piloto oficial da SAIC Volks agen 333 Racing. O C CC continua no fim-de-semana de 3 e 4 de Junho, com a visita ao Circuito Internacional de Guangdong. Ávila nunca correu no sinuoso circuito localizado na cidade chinesa de Zhaoqing, algo que não o incomoda, pois “vou encarar este fim-de-semana com a mesma atitude e vontade. Darei o meu melhor em pista e acredito que os resultados vão continuar a aparecer”. Sérgio Fonseca
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