Hoje Macau 16 JUN 2016 #3593

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Director carlos morais josé

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quinta-feira 16 de junho de 2016 • ANO Xv • Nº 3593

Mop$10

hojemacau ANM doação a jinan leva scott chiang até à esquadra

croupiers

o dilema dos tnr grande plano

china

O silêncio da revolução

A manifestação do passado dia 15 de Maio, em que se exigia a demissão do Chefe do Executivo na sequência da doação de cem milhões à Universidade de Jinan, parece estar na origem da chamada do presidente

da Novo Macau, entre outros, para prestar declarações na esquadra da PSP. Scott Chiang diz desconhecer as razões da convocatória mas adianta que “estão a tentar criar um caso contra os denunciantes”.

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h Feira do Livro Longe de casa amélia vieira

josé drummond

opinião

Minchi leocardo

ensino

Memória cultural página 6

exposição | alexandre marreiros

pistas da arquitectura eventos

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Na lista dos convocados


2 grande plano

hoje macau

As palavras de Cheang Chi Keong continuam a fazer mossa. Ontem três associações do sector do Jogo entregaram petições a pedir ao Chefe do Executivo para manter a política de não introdução de não residentes para a profissão de croupier. Associações pretendem continuar a reagir e uma delas pede a saída do deputado da Assembleia

Croupiers Chefe do Executivo recebeu mais três petições

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rês associações dirigiram-se ontem à sede do Governo para entregar petições a Chui Sai On. São mais reacções às palavras do deputado Cheang Chi Keong, que referiu ao jornal Ou Mun que o Executivo deveria ponderar a introdução de trabalhadores não residentes (TNR) para o cargo de croupier nos casinos. A Forefront of Macau Gaming juntou-se à Associação dos Empregados de Jogo de Macau para entregar uma petição com mais de 12 mil assinaturas. Não só estão insatisfeitos com as palavras de Cheang Chi Keong (deputado eleito pela via indirecta à Assembleia Legislativa), como pedem uma redução de TNR em vários sectores económicos. Dados do Governo mostram que já foram aprovadas mais de 210 mil quotas para TNR, sendo que as empresas locais já importaram mais de 180 mil TNR. Para os responsáveis das associações, este panorama faz com que os empregados portadores de BIR fiquem numa situação passiva na altura de discutir salários e condições de trabalho. As duas associações sublinharam que, embora os croupiers ainda não tenham sido afectados pela entrada de TNR, a verdade é que também são trabalhadores e sentem-se preocupados com a possível mudança de política. Os assinantes da petição esperam que Cheang Chi Keong possa voltar atrás nas suas declarações, para que seja mantida a justiça no acesso ao emprego. “A introdução de TNR não é adequada para o território”, disse Ieong Man Teng, presidente da Forefront of Macau Gaming. “Recolhemos as assinaturas dos trabalhadores do Jogo que se sentem descontentes com o discurso feito. O Governo já respondeu negativamente às declarações de Cheang Chi Keong e nós apoiamos isso, mas caso o Governo assuma

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mil assinaturas na petição da Forefront of Macau Gaming e da Associação dos Empregados de Jogo de Macau

Ng Kim Yip, outro responsável da Forefront of the Macau Gaming, disse que vão “realizar mais relatórios sobre a fiscalização das feiras de recrutamento. A saída de TNR é um tema que reúne consenso na sociedade e isso terá uma influência positiva no preço das casas”, rematou.

Grande “reacção social”

outra posição, vamos ter novas acções”, frisou.

Feiras inspeccionadas

Ieong Man Teng exemplifica. “Numa feira de recrutamento organizada pela Melco Crown estavam imensos candidatos locais à procura de emprego, e o Governo não precisa de estudar a introdução de TNR. Vamos fazer alguns relatórios sobre estas feiras de recrutamento e vamos entregá-los ao Governo”, adiantou. Nesta feira, “os candidatos começaram a chegar entre as sete e meia da manhã até às nove, tendo os responsáveis da operadora dito que as vagas já estavam preenchidas e que não havia mais quotas. Muitos dos candidatos não foram seleccionados através de uma entrevista e alguns deles ficaram muito insatisfeitos”, disse Ieong Man Teng. Cloee Chao, membro da Forefront of the Macau Gaming e secretária-geral da Associação dos Empregados de Jogo de Macau, garantiu que têm recebido queixas de candidatos a vagas de emprego que participaram em mais de dez feiras mas que não receberam quaisquer respostas. Os locais suspeitam, assim, que essas feiras não sirvam, de facto, para o recrutamento. Cloee Chao disse ainda que o sector dos croupiers está cheio e que algumas operadoras têm vindo a pedir aos empregados para gozarem os feriados ou licenças sem vencimento, ou então para saírem do trabalho mais cedo.

A associação de trabalhadores “Macau Selfhelper” defendeu em comunicado que as declarações de Cheang Chi Keong originaram uma “grande reacção junto da sociedade” e que a introdução de TNR só deve acon-

tecer quando há falta de recursos humanos locais. Também esta associação fala dos pedidos de licença sem vencimento feitos aos croupiers, o que mostra que o sector não necessita de mais recursos humanos. A “Macau Selfhelper” espera que o Governo garanta de forma clara a protecção dos direitos dos trabalhadores locais, esperando uma revisão quanto ao número de TNR. A associação frisou que a maioria dos TNR ilegais vem dos países do sudeste asiático,

“A introdução de TNR não é adequada para o território” O Governo já respondeu negativamente às declarações de Cheang Chi Keong e nós apoiamos isso, mas caso o Governo assuma outra posição, vamos ter novas acções” Ieong Man Teng presidente da Forefront of Macau Gaming

o que traz consequências negativas para os locais que estão à procura de trabalho. Tomás Chio (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo


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“É irracional que alguns sectores estejam vedados à população do exterior. É absurdo e um pouco xenófobo e do ponto de vista económico é irracional” Albano Martins economista

Inteligências e eleições

“Economicamente é um desastre”, dizem analistas

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Vozes do Jogo

m e d o de que trabalhadores não residentes (TNR) invadam o sector dos croupiers há muito que existe. Apesar do Governo ter referido sempre que a política não vai mudar, as acções de rua têm-se sucedido. Ao HM, Albano Martins garante que o deputado Cheang Chi Keong só agora veio levantar esta questão pelo facto da abertura dos casinos estar prestes a chegar. “Esse deputado é um dos principais interessados nos casinos e sabe que os casinos precisam de mão-de-obra. A maior parte dos empresários sabe que não tem qualquer sentido económico qualquer profissão estar confinada a locais. Mais dia ou menos dia alguém tinha de acordar. Interpretaram que os croupiers e os condutores tinham de ser locais por mero interesse político de ganhar votos e evitar no período eleitoral que alguma população se virasse contra eles. O que ele diz faz todo o sentido, é das poucas coisas felizes que alguma vez disse”, referiu o economista. Já o analista de Jogo Grant Govertsen não acredita numa mudança de política, e frisa que os casinos não estão por detrás destas declarações feitas ao jornal Ou Mun. “Os empresários, em geral, preferem um mercado aberto em vez de um mercado restrito, e os casinos têm a inteligência suficiente para perceber que esta medida poderá provocar polémica e que é difícil perseguir este objectivo. Não me parece que os casinos estejam por detrás destas declarações.” “Penso que não é algo que o Governo vá considerar (uma mudança na política). Os locais vão ficar muito

insatisfeitos se a política for alterada. Mas a realidade é que mais casinos vão abrir portas e não vão existir trabalhadores locais suficientes”, acrescentou.

Não dizer o que se pensa

Albano Martins defende o que tem vindo a defender desde o início. “Temos problemas complicadíssimos para resolver, não só a nível dos croupiers mas dos condutores de autocarros, e continuamos na mesma, não temos pessoas. Com a entrada em funcionamento dos novos casinos, vamos precisar de muitas mais pessoas e com essa medida tudo vai ficar mais complicado. Estão a criar uma situação difícil de pôr os residentes todos nos casinos, e isso não faz sentido. Economicamente é um desastre. É irracional que sectores estejam vedados à população do exterior. É absurdo e um pouco xenófobo e do ponto de vista económico é irracional.” O economista acredita que muitos deputados da Assembleia Legislativa (AL) defendem a manutenção da medida por medo da perda de votos. “Chui Sai On vai mantendo essa política irracional. O Chefe do Executivo, que não vai ter mais mandato nenhum, devia ter assumido com coragem que isso é irracional. Mas a sua postura não é, do ponto de vista económico, a mais correcta. Está com medo da sombra. A maior parte dos deputados não diz o que pensa porque tem medo dos votos no período eleitoral e deixou-se a economia estar amarrada a um grupo de pessoas que não sabe bem o que quer”, concluiu. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Mal-amado

Grupo pediu saída de Cheang Chi Keong do hemiciclo

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m grupo intitulado “Poder do Povo” entregou ontem uma petição à Assembleia Legislativa (AL) a pedir a saída de Cheang Chi Keong do cargo de deputado. Segundo um comunicado enviado às redacções, o grupo considera que as declarações do deputado indirecto têm um efeito negativo para os trabalhadores do Jogo e

representam um problema para o Governo. “Sabemos que Cheang Chi Keong não é eleito pela via directa e pelo público, não tem qualquer responsabilidade para com os cidadãos, então porque é que afirma coisas que podem tirar o ganha pão aos residentes?”, questionou o grupo. Este defende que os deputados recebem salários pagos pelos cofres públicos e

que Cheang Chi Keong fez declarações que prejudicam o interesse público, afirmando que este não tem qualificações para se sentar na Assembleia Legislativa. O “Poder do Povo” considera que o sistema de recursos humanos em Macau é mau, dando como exemplo o sector da construção civil, onde, afirmam, a maioria dos trabalhadores são não residentes. T.C.


4 política

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deputada Ella Lei acusa o Governo de dar explicações que “servem apenas para desviar a atenção do público e esquivar-se da questão”. Em causa estão os requisitos mínimos a ser cumpridos aquando do pedido de mão-de-obra importada para a construção civil. Numa interpelação oral, Ella Lei diz que em 2005, pela mão do ex-Secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, o Governo definiu um salário mínimo diário de 450 patacas como um requisito a ser cumprido. Montante este que até agora nunca terá sido actualizado, estando por isso “desfasado do actual nível de salários no sector”. Em 2015, os números mostravam que 10,8% dos trabalhadores do sector, um total de cinco mil, recebiam menos do que isso. Sinal de que os serviços do Governo estavam a “autorizar a importação de trabalhadores cujo salário se situava abaixo do critério de aprovação para a sua entrada”. Na altura, o Executivo explicou que os trabalhadores com baixo salário seriam “indivíduos com funções administrativas nos estaleiros de obras, jardineiros, responsáveis de armazéns, auxiliares e assistentes de lojas comerciais”. “Porém, segundo os dados que solicitei ao Gabinete para os Recursos Humanos, em diversas actividades, por exemplo, electromecânica, pintura e alvenaria, o salário mensal mínimo em 2015 era de 8 mil patacas, quase idêntico ao nível registado em 2014. Esses dados demonstram que existem, de facto, actividades e até profissões especializadas com salários inferiores a 11,700 patacas”, frisa a deputada.

TNR Ella Lei acusa o Governo de se “esquivar” à questão

Explica lá isso melhor A deputada acusa o Governo de estar a recrutar TNR sem respeitar os requisitos mínimos. Em reacção Albano Martins diz que o Governo tem de respeitar as regras do jogo, para todos os sectores

Justo para todos

Confrontado com a questão, Albano Martins, economista, defende que sempre que pede – para a Sociedade Protectora de Animais de Macau (ANIMA) – trabalhadores não locais

“uma das exigências é que eles recebam o mesmo salário que os locais”. “Portanto eu não consigo perceber como é que o Gabinete de Recursos Humanos, a mim me concede trabalhadores com o mesmo grau de exigência – e eu acho muito bem – e na construção civil não o faz”, aponta. Esta é, para Albano Martins, a grande questão. Ella Lei levanta ainda a questão da “injustiça” para com os trabalhadores locais por colocar em causa “a política de recusa de substituição dos locais por mão-de-obra mais barata”. Ideia completamente refutada por Albano Martins. “Não há hipótese absolutamente alguma destes trabalhadores [locais] serem colocados de lado para serem importados outros. Não há hipótese nenhuma. Nem há universo de locais suficiente para alimentar a industria da construção. Quando as obras terminarem os TNR’s terão de voltar à China, portanto o número total de TNR’s agora irá diminuir em cerca de 50%”, desvalorizou. O que é preciso é, aponta, exigir ao Governo que cumpra as mesmas regras do jogo para todos os sectores. “A indústria da construção não está em recessão. Percebo que se importem TNR’s mais baratos quando a inflação é elevada e para fazer baixar o custo de vida. Mas neste caso concreto, não faz sentido a importação de trabalhadores a preço mais baixo. Não são estas as regras do jogo”, frisou. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

Regras para prédios com mais de 10 fracções

Sugerido fim do recurso para arrendatários

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O

s condomínios com mais de 10 fracções autónomas terão de ter um regulamento. A regra é definida pelo Regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio, em análise na especialidade. Uma regra, aponta Chan Chak Mo, presidente da 2ª Comissão Permanente, grupo responsável pela apreciação, “muito clara”. No fundo, explica Chan Chak Mo o que se pretende é que os edifícios “criem Assembleia Gerais”. “Sabemos que muitos edifícios não as têm, e também não existem

administração [de condomínios], por isso pretende-se, com a proposta, incentivar à criação das assembleias gerais e administrações”. Propõe então o regulamento que todos estes edifícios criem, na sua primeira reunião, um regulamento do condomínio, ou que aprovem o mesmo, caso já exista. Se os condóminos não aprovarem, ou que o mesmo não entre em vigor nos seis meses após a reunião, este regulamento deve voltar a votos. Se ainda assim não for aprovado, é a própria administração que o

aprova, conforme explica o presidente da Comissão. Administração esta, que em edifícios com menos de 100 fracções poderá ser composta apenas por uma pessoa. Igual ou superior a esse número as administrações terão de ter um mínimo de três pessoas na sua composição. A análise na especialidade continua para a próxima semana. Tal como já referido, em sessões passadas, Chan Chak Mo não sabe se os trabalhos irão estar terminados ainda nesta sessão legislativa. F.A.

deputado Mak Soi Kun entregou uma interpelação escrita ao Governo onde sugere a possibilidade dos arrendatários perderem o direito a recurso, caso uma acção de despejo de um imóvel chegue a tribunal. “Há que introduzir alterações às actuais disposições do Código do Processo Penal (CPP), nas acções de despejo interpostas por não pagamento de rendas, para poder cancelar o direito de recurso dos arrendatários. Isto para que não possam apresentar recurso no sen-

tido de reduzir uma série de procedimentos e tornar o processo mais rápido. O que pensa o Governo sobre esta situação?”, questionou. Mak Soi Kun alerta ainda para a alegada ausência de eficácia na resolução deste tipo de casos através de um processo sumário. “De acordo com especialistas e académicos há que reconhecer a realidade. Um caso de não pagamento de rendas entra em processo sumário e quando o proprietário da fracção ganha a acção descobre que o arrendatário já não está na

fracção, mas as portas e janelas estão bloqueadas e ainda lá estão os objectos do arrendatário. O que pode fazer o proprietário? O processo sumário teve os efeitos desejados? Atendendo às actuais rendas do sector imobiliário e com base em rendas de 12 meses, a maioria já excede 50 mil patacas, portanto “são poucos os casos de 50 mil patacas” a que se aplica o processo sumário. É possível que todo o caso possa durar três, cinco ou mesmo sete anos”, rematou o deputado. A.S.S.


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política

ANM Scott Chiang chamado a prestar declarações na PSP

Vozes do alto Curto e caro Questionado contrato da MTR Corporation com o Metro Ligeiro

O

deputado Si Ka Lon interpelou o Executivo quanto à celebração do contrato com a empresa MTR Corporation, de Hong Kong. O membro do hemiciclo refere que o contrato, assinado para a “gestão e assistência técnica do projecto do Metro Ligeiro de Macau”, vai custar aos cofres públicos um total de 474 milhões de patacas, quase seis vezes mais do que o valor pago à antiga empresa. Na sua interpelação escrita, Si Ka Lon citou os dados do relatório do Comissariado de Auditoria (CA), que fazem referência à contratação de uma empresa de consultadoria para o mesmo fim por 176 milhões de patacas. Esta empresa acabaria por ter o número de trabalhadores abaixo do que estava previsto nos primeiros dois anos de contrato, o que trouxe consequências negativas para a construção do Metro Ligeiro. O Governo voltaria a renovar por duas vezes o contrato com esta empresa, gastando 290 milhões de patacas. Si Ka Lon questiona a decisão do Governo em contratar a MTR Corporation, referindo que a sociedade tem dúvidas quanto à eficácia do contrato, já que é mais caro do que aquele que foi assinado e com uma duração mais curta. O número dois de Chan Meng Kam no hemiciclo pretende ainda saber quais as penalizações que serão imputadas à MTR Corporation caso as regras do contrato não sejam cumpridas. Um despacho do Chefe do Executivo determinou a assinatura do contrato até 2018. A empresa já foi escolhida para a “revisão independente da concepção do sistema e do comboio do Metro Ligeiro”, um contrato no valor de 7,5 milhões de patacas. A MTR Corporation tem estado ligada ao projecto desde 2002, data em que foi encomendado um estudo sobre a viabilidade deste sistema de transporte. Tomás Chio (revisto por A.S.S.)

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O presidente da Associação Novo Macau, Scott Chiang, foi convocado para prestar declarações na Polícia de Segurança Pública, alegadamente devido às manifestações promovidas a 15 de Maio que exigiam a demissão do Chefe do Executivo na sequência da polémica da doação da FM à Universidade de Jinan

S

cott Chiang foi ontem chamado para prestar declarações às autoridades. O activista pró-democracia afirma ao HM desconhecer os motivos da polícia para a sua convocatória. Segundo a Rádio Macau, um porta voz do corpo de Polícia de Segurança Pública (PSP) avançou que o presidente da Novo Macau é acusado de não cumprir a lei que regula as manifestações com a agravação de desobediência à polícia. O processo estará relacionado com as manifestações de 15 de Maio contra o Chefe do Executivo, organizadas pela Associação a que o activista pela democracia preside, sendo que a PSP continua com as averiguações depois do Ministério Público ter avançado com um processo contra Scott Chiang. O activista revelou ao HM que foram vários os membros da Associação Novo Macau (ANM) convocados pelas autoridades sendo que as mesmas não terão adiantado detalhes. No entanto, Scott Chiang já suspeitava que estaria a ser preparada uma

acusação contra si adiantando que “vários membros da ANM foram chamados pela PSP para falar acerca de um caso em determinada data que coincide com a manifestação de 15 de Maio” . Para o líder da Associação o que está a acontecer é que se “está a fabricar um caso contra aqueles que saíram à rua contra a doação” referindo-se ao recente financiamento por parte da Fundação Macau à Universidade de Jinan de 100 milhões de patacas. Os números facultados pela Novo Macau revelam que a manifestação agora em causa juntou mais de 3000 pessoas que pediram a demissão de Chui Sai On. Scott Chiang considera ainda evidente que o acto da PSP em convocar membros da Associação visa perseguir quem se opõe a esta doação bem como manifesta uma forma de repressão política de intimidação. “É desanimador ver que a administração não deu qualquer resposta à nossa exigência de reformas e de recuperação da doação, muito menos sobre a demissão” adianta, enquanto que “por outro lado estão a tentar criar um caso contra os denunciantes” afirma o visado. Scott Chiang considera ainda que “a resposta natural da administração não é focar-se no problema mas perseguir aqueles que o denunciam”. As declarações foram agendadas para esta manhã e só depois das mesmas é que se saberá ao certo a acusação de que é alvo.

Dos recursos públicos

As declarações de Scott Chiang coincidiram com a conferência de imprensa convocada pela Novo Macau para o anúncio de uma consulta pública sobre reformas na Fundação Macau (FM). Segundo a Rádio Macau, o objectivo é que a atribuição de subsídios seja mais transparente. “ A estagnação da economia torna o uso apropriado de recursos públicos uma prioridade”, defende o colectivo que lançou ontem e até 30 de Julho uma consulta pública. A intenção é receber sugestões acerca de reformas ao mesmo tempo que pede propostas quanto ao método de votação. O presidente da Novo Macau fala em interesse público: “não deve haver um monopólio de opinião e por isso levamos esta matéria à sociedade em geral” considerando que “o processo de deliberação é tanto

“É desanimador ver que a administração não deu qualquer resposta à nossa exigência de reformas e de recuperação da doação [à universidade de Jinan], muito menos sobre a demissão (...) estão a tentar criar um caso contra os denunciantes” Scott Chiang presidente da ANM ou mais importante que a decisão pública final”. A referida consulta é ainda para perceber se vale a pena “tentar manter os requisitos e a restrições do referendo de 2014 ou se o tor-

namos mais aberto ao público para que mais pessoas possam participar”, acrescenta. Em causa está o saber se deverá haver o mesmo grau de integridade utilizado no referendo de 2014 sobre as eleições para o Chefe do Executivo na altura em que se pedia o número dos bilhetes de identidade dos eleitores. A mostra de identidade esteve na origem da constituição como arguidos de alguns membros da organização da votação por violação da lei de protecção de dados. “Cabe ao público decidir se desta vez as regras poderão ser diferentes bem como diferentes também devem ser as regras da atribuição de subsídios da Fundação Macau” sendo que “as propostas para receber subsídios deviam ser publicas para que a população decida se é, ou não, justo que determinada organização receba, ou não, dinheiro”, remata o activista. Para além da atribuição de dinheiros públicos, Scott Chiang considera ainda que é importante acompanhar a sua aplicação e os relatórios de actividades, sendo que os mesmos devem ser tornados igualmente públicos. HM


6 sociedade

hoje macau quinta-feira 16.6.2016

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deputado Zheng Anting pediu o fim do modelo de ensino “duck stuffing”, em que os alunos se limitam a decorar aquilo que vai ser no exame. Os Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), em resposta à interpelação do membro do hemiciclo, confirmaram que isso pode vir a acontecer. Duas especialistas contactadas pelo HM consideram que o modelo de ensino baseado na memorização de conteúdos é algo cultural, defendendo que uma mudança irá ocorrer de forma gradual. “Não se mudam as mentalidades nem dos professores, nem dos alunos ou da própria sociedade de um dia para o outro, porque o facto das escolas se basearem nesse método não tem apenas a ver com os professores. Tem também a ver com as expectativas das famílias. Toda a sociedade, aos poucos, há-de mudar”, disse Ana Correia, directora da Faculdade de Psicologia e Educação da Universidade de São José (USJ). A memorização das matérias “é uma questão cultural, os alunos desta região gostam de aprender dessa maneira. É um estilo de aprendizagem que tem muito a ver com a cultura local”, acrescentou ainda. Teresa Vong, docente da Faculdade de Educação da Universidade de Macau (UM), também fala de uma mudança gradual. “Se o Governo quer reduzir esse sistema, tudo vai depender de como os professores estão preparados para isso ou se há métodos de ensino alternativos em uso. Não estou optimista porque há muitos professores que ainda usam a memorização como único método. Ainda há lugar para melhorar”, disse. “O grupo profissional de professores em Macau é muito jovem e isso dá-nos esperança de que ainda estejam em idade de aprender de encontrar alternativas”, lembrou Ana Correia. “Com o apoio de medidas incluídas na presente reforma educativa penso que os professores vão ajustar-se a modelos pedagógicos que põem o ensino mais focado no aprender do que obter produtos que têm um valor a muito curto prazo. Os alunos preparam-se para os exames mas esquecem tudo duas semanas depois, e o que fica é muito pouco”, acrescentou a directora da Faculdade de Psicologia e Educação da USJ.

Acima da média

Tanto Ana Correia como Teresa Vong referem que a memorização no ensino é uma ferramenta útil para a compreensão e aprendizagem, mas não deve ser a única. Há até quem tenha bons resultados no seguimento da vida académica. “Os alunos de Macau e desta região do mundo quando vão estudar para universidades estrangeiras

Ensino Fim do modelo de memorização será gradual

Estudantes sem voz Duas especialistas em educação defendem que o fim do modelo de memorização nas escolas vai acabar de forma gradual e que a mudança depende não só de professores mas da sociedade, por se tratar de algo cultural

obtêm geralmente resultados acima da média, comparando com alunos que pertencem a uma cultura não confuncionista. Os alunos que vêem das escolas de Macau para as universidades são muito variados. Há uns que, de facto, apanham bocadinhos das coisas e esses não conseguem depois partir do pormenor para o todo. Esses sim seguem pelo cami-

“Acredito que possamos promover um ambiente de ensino mais aberto e dar mais apoio aos alunos para que possam ter espaço para essa criatividade” Teresa Vong docente da UM

nho da memorização. Mas há outros alunos, que apesar de se sentirem confortáveis com a memorização, são capazes depois de passar daí para a compreensão e até para uma perspectiva critica”, frisou Ana Correia. Teresa Vong, que realiza visitas às escolas locais, fala de maus exemplos que continuam a ser o único modelo adoptado.

“Não se mudam as mentalidades nem dos professores, nem dos alunos ou da própria sociedade de um dia para o outro” Ana Correia directora da Faculdade de Psicologia e Educação da USJ

“Acredito que possamos promover um ambiente de ensino mais aberto e dar mais apoio aos alunos para que possam ter espaço para essa criatividade. Hoje em dia os estudantes não têm sequer uma voz. Em muitas aulas que observo há apenas uma forma de comunicação: o professor está de pé a falar até ao fim da aula e não há qualquer ligação com os alunos. Há muitos professores que forçam os alunos a memorizar o vocabulário em inglês, por exemplo”, rematou a docente da UM. Na sua interpelação escrita, o deputado Zheng Anting fez várias críticas ao modelo “duck stuffing”, o qual “priva os alunos do seu tempo de descanso e da vida extracurricular, e resulta na sua falta de capacidade para pensar e analisar de forma independente, enfraquecendo a sua competitividade social”, concluiu. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

No arranque dos exames nacionais a luta continua

É

uma luta antiga. A Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau (EPM) continua a reunir esforços para que os horários dos exames nacionais sejam alterados em Macau. Com o arranque ontem, os exames nacionais devem respeitar as regras do Ministério da Educação e por isso serem realizados à mesma hora. Acontece que com o fuso horário de Macau os alunos de cá realizam as suas provas às 16h30 e às 21h. “Todos os anos temos lutado para que a escola consiga falar com o Ministério da Educação de Portugal para que se conseguia resolver este problema”, começou por explicar, ao HM, Fernando Silva, presidente da Associação. O representante recorda que “há dois anos”, com as provas de aferição, alunos do ensino primário que “tinham de fazer os exames à noite”. Isto, aponta, sem contar com os alunos de Timor, onde se acrescenta mais uma hora do que em Macau. “Levantamos sempre este problema, mais do que uma vez. Nesse ano o Ministério da Educação atendeu o nosso pedido e mudou o horário”, recorda. No entanto, não é suficiente e a luta continua. “Temos tentado, a escola tem tentado expor o problema para ver se conseguimos reduzir um pouco as horas”, conta, assumindo “que tem sido muito difícil”. Não é segredo, até “porque está pedagogicamente provado”, que fazer os exames quando começa o dia é melhor. “Para os alunos do 10ª e 11ª ano até pode ser menos difícil, mas o mesmo não acontece com os alunos mais pequenos”, explica. Mesmo assumindo uma “luta quase inglória”, Fernando Silva garante que os pais vão continuar no caminho para a mudança. F.A.


7 hoje macau quinta-feira 16.6.2016

Ilha da Montanha Pais criticam localização de nova creche

ETAR Recepção de propostas para concurso dia 22

Filhos e enteados Uma boa notícia que parece não agradar todos. Pais acreditam que a nova creche, na Ilha da Montanha, beneficiará apenas quem por lá trabalha. Obras das mães desvaloriza e acredita ser o local indicado

A

lguns residentes de Macau não apoiam a criação de uma nova creche na Universidade de Macau, na Ilha da Montanha. A notícia foi avançada no início desta semana, pelo Governo, que indicou ser a Obra das Mães a explorar o espaço que poderá acolher até 200 crianças. Em reacções, alguns pais, em declarações à MASTV, defenderam que este novo espaço vai beneficiar apenas os trabalhadores da Universidade de Macau e pessoas que ali morem. É que, frisam, a distância é grande e com o trânsito que

de lá”, apontou, indicando que existem “vários estacionamentos” e que os problemas de trânsito não se fazem notar naquela zona. “Não é somente um serviço para quem mora na Ilha da Montanha”, remata.

Outras vozes

se faz sentir em Macau não permite um acesso fácil e rápido à Ilha da Montanha. “O sítio é muito longe, não será com certeza uma opção para nós. Acho que muitos pais que vivem deste lado vão concordar que aquele não vai ser um bom sítio. É muito mais conveniente novos espaços aqui em que temos só de caminhar, nem sequer precisamos de usar transportes”, explicou um dos encarregados de educação ao canal televisivo.

Os progenitores acreditam ainda que esta creche nasce para facilitar as acessibilidades e serviços da própria Ilha da Montanha, e os funcionários da Universidade de Macau.

Do outro lado

Van Iat Kio, presidente da Obra das Mães, mostra-se contra essa teoria, admitindo as vantagens. “Claro que a creche vem facilitar a vida dos funcionários, professores e estudantes, mas é muito perto da Taipa, pode facilitar também os residentes

Para a responsável da Creche D. Ana Sofia Monjardino dos Kaifon, este não será um espaço de sucesso. “Não é fácil ir buscar as crianças, por isso os pais não vão optar por esta creche”, apontou. Apesar de muitas creches terem aumentado as suas vagas para crianças ainda há necessidade de mais. A responsável acredita que com a construção de habitação pública, o Governo deve aproveitar para abrir mais creches. Ideia também já defendida pelo próprio Executivo, pela boca de Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. A taxa de natalidade, em Macau, está cada vez mais alta. Para resolver a falta de vagas nas creches, o Instituo de Acção Social (IAS), pretende aumentar o número para 10 mil, sendo que actualmente existem 20 mil crianças com idade para entrar na creche, mas só 8400 serão seleccionadas através de sorteio. O IAS revelou que até ao próximo ano, cinco novas creches vão abrir portas. Angela Ka (com Filipa Araújo) Info@hojemacau.com.mo

Centro de Transfusões de Sangue registou mais dadores o ano passado face a 2014. Segundo um comunicado oficial dos Serviços de Saúde (SS), o número de dadores actual é de 2,44% do número de dadores aptos para dar sangue, o que representa um aumento de 0,2% de dadores. Em 2015 foram registados mais de 12.700 cidadãos como dadores, sendo

que o centro recebeu mais de 13 mil unidades de sangue. O Centro de Transfusões pretende arrancar com uma série de iniciativas de promoção à doação de sangue junto dos estudantes universitários e dos “novos imigrantes”. Para isso a viatura de doação de sangue passará a estar estacionada “em diversos pólos universitários e de ensino superior, que mani-

festaram a sua total disponibilidade para colaborar nestas iniciativas”. A partir de Julho, locais “onde existe uma maior concentração de novos imigrantes” vão também receber a carrinha, que tem estado estacionada a título experimental na zona da Praia Grande, junto ao complexo comercial New Yahoan. Neste local a carrinha vai continuar a estar estacionada

Já existe data para a recepção das propostas para o concurso público da “Operação e Manutenção da Estação de Tratamento de Águas Residuais da Península de Macau (ETAR)”. O Governo recebe as propostas dos candidatos ao concurso no dia 22 deste mês, a partir das 9h30 da manhã, nas instalações da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA). A data original para a recepção das propostas estava agendada para o dia 7, mas o Governo decretou a suspensão do concurso devido à existência de um processo em tribunal, o qual teve origem na empresa CESL-Ásia.

Ponderada abertura de mais cartórios notariais

A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ) emitiu um comunicado onde afirma que “irá ponderar a criação de mais cartórios notariais”, tendo em conta a “distribuição populacional das diferentes zonas de Macau e a necessidade dos serviços”. A DSAJ explica ainda que a mudança do 1º Cartório Notarial, actualmente a funcionar no rés-do-chão do edifício da Santa Casa da Misericórdia (SCM), se deve não só a uma melhor gestão dos recursos financeiros, como ao facto da zona norte não possuir ainda um cartório notarial, sendo uma zona com “uma densidade populacional bastante elevada”. O Governo paga uma renda de 1,2 milhões de patacas à SCM, cujo contrato termina em Dezembro deste ano. António José de Freitas, provedor da SCM, já se mostrou descontente com esta decisão.

Seac Pai Van vai receber cinco centros de saúde

Os Serviços de Saúde (SS) vão instalar cinco centros de saúde na zona de habitação pública de Seac Pai Van. Segundo um comunicado, “as obras de remodelação (do posto de saúde provisório) serão concluídas no prazo de dois meses por forma a disponibilizar, o mais rapidamente possível, melhores condições para a prestação de cuidados de saúde aos residentes daquela zona do território”. As obras acontecem devido à cedência de um espaço por parte do Instituto da Habitação (IH), o que permitiu a expansão.

Autocarros Ligeiras melhoras nos recursos humanos

Saúde Mais dadores de sangue em 2015

O

sociedade

em todas as terças-feiras da primeira semana de cada mês, entre as 13h00 e as 18h00. À mesma hora e no mesmo período estará estacionada em frente do Centro de Saúde de Fai Chi Kei. Já no Jardim da Cidade de Flores, na Taipa, a viatura de recolha de sangue estará parada todas as terças-feiras da segunda e quarta semana do mês, no mesmo horário.

A falta de motoristas no sector dos autocarros públicos foi ontem tema de debate no programa Macau Talk, do canal chinês da Rádio Macau, tendo os responsáveis das três operadoras referido que o problema se mantém, apesar do aumento do número de passageiros. As empresas falam, contudo, de algumas melhorias, ao nível de aumento não só de trabalhadores como de funcionários mais jovens. “Além de serem atraídos pelo salário, houve muitos que entraram porque acham que é um trabalho que lhes permite dar algum contributo”, disse Cheng Beng Can, vice-director geral da Sociedade de Transportes Colectivos de Macau, disse.


8 Artes Alexandre Marreiros expõe no MAM

eventos

“Uma leitura do tempo com T maiúsculo” Arquitecto, mas apaixonado por desenho e pelo trabalho manual desde pequeno, Alexandre Marreiros foi para o Rio de Janeiro estudar os grandes arquitectos brasileiros contemporâneos mas acabou apaixonado pelas favelas. Um lugar onde “as coisas vão-se aniquilando mas sempre com um final feliz”. O resultado é “um registo documental que acabou na pintura”

C

omo arquitecto interessa-me a arquitectura que se desenvolve de uma forma vernacular. A casa, o lugar onde nós como humanos nos sentimos seguros”, começa por nos contar Alexandre Marreiros. Foi para o Rio de Janeiro estudar os grandes arquitectos contemporâneos brasileiros mas acabou, como ele diz “fulminado, de uma forma quase alérgica” pelas favelas. Um fenómeno urbano que descreve como “um manto bordado que cobria aquelas montanhas”. É também esta ligação quase natural do construído pelo homem com o disposto pela natureza que interessou Marreiros. “O Rio tem aquela topografia especial, montanhosa, e é admirável como pessoas sem know-how conseguiram adaptar-se ao local e o deixam falar por si, como a acção do homem se adapta ao que já lá estava”, diz Alexandre, confessando mesmo que “não conseguiria fazer um manifesto arquitectónico melhor”. Naturalmente, Alexandre não acha a melhor forma de vida mas considera que “à medida de que vai sendo construída a história bate sempre certo, há uma relação com o lugar. As coisas vão-se

soldados ao Rio de Janeiro após a Guerra dos Canudos, onde encontraram condições miseráveis de habitação na primeira favela do Brasil, o morro da Providência. Mas, para Alexandre, as favelas também “são cor e são luz”, que assim começa por explicar ao HM como chegou a este trabalho. O objectivo não é o de gerar grandes reflexões mas sim o de “proporcionar algumas pistas que possam conduzir as pessoas a descodificarem as histórias que existem na arqui-

O objectivo não é o de gerar grandes reflexões mas sim o de “proporcionar algumas pistas que possam conduzir as pessoas a descodificarem as histórias que existem na arquitectura e que são transportadas para a pintura”

aniquilando mas há sempre um final feliz” Curioso por saber como tudo aquilo se desenvolvia passou grande parte dos seis meses que esteve no rio de Janeiro a deambular pelo Complexo do Alemão (o maior complexo de favelas do mundo) e na favela do Tabajaras.

Indo às origens

“Cnidosculos Quercifolius”, assim se designa a exposição, é o baptismo latim para - a planta favela, endémica do Brasil, que deu origem ao termo “favela” como fenómeno de habitação marginalizada, ilegal. Uma definição que, garante Marreiros, “deve-se a ao regresso dos

À venda na Livraria Portuguesa Novas Receitas da Doçaria Portuguesa • João Luís

“Novas Receitas de Doçaria Portuguesa” é um conjunto de 156 receitas da melhor doçaria portuguesa. Desde os doces conventuais como os papos de anjo, as barrigas de freira, os pastéis de Santa Clara, passando pelos doces do Algarve, pelos travesseiros de Sintra, pelas compotas caseiras, pelos gelados, licores, pudins, até ao nosso tão tradicional arroz-doce, estão aqui reunidas as soluções para satisfazer o paladar mais exigente.

tectura e que são transportadas para a pintura”, explica.

O particular que forma o todo

“Tento apresentar ao observador a ideia de espaço que começa com um registo de desenho e um registo fotográfico exaustivo e acabou, por minha necessidade, na pintura”, adianta Alexandre, porque só a pintura consegue “transportar o registo para uma composição de cor, de espaço, de vazio, de afastamento entre as coisas que também podem ser lidas como um todo”. A sua sensação da favela. Um local delimitado, onde em que o particular forma o todo. A fita cola colorida, que pode ser observada nalguns dos trabalhos, surge pelo interesse plástico que o material lhe suscitou e por lhe aportar a cor da favela. “Aparece de uma forma tosca porque ou faço as coisas muito certinhas ou muito toscas. Ando nessa procura”. Para Alexandre, “as favelas são como a construção de um quadro”. “Um lugar onde existe um espaço e um limite, em que as formas, as linhas e as manchas se vão adequando a esse limite”, explica. “A preocupação foi transportar para esta exposição o que entendo ser a arquitectura hoje em dia”. Ou seja, para Alexandre a arquitectura é “a história das

coisas construídas, vividas, habitadas e que manifestam sempre a sua cultura”. Para o artista, “através da arquitectura podemos ler o nosso tempo. A favela não fazia sentido há 200 anos mas hoje é necessária. É uma leitura do tempo com T maiúsculo. “

Transformação fulminante

Macau não podia fugir da conversa e aproveitámos para saber como Alexandre Mar-

reiros vê a cidade. A resposta não tardou. “É fulminante a forma como se transforma.” A falta de planeamento, todavia, é algo que o preocupa esperando que este venha a existir pelo menos nos novos aterros. “Ainda consigo ler muitas histórias nesta tradição de conquista de terras ao mar. Afastar tecido antigo do que se foi desenvolvendo

Rua de S. Domingos 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • mail@livrariaportuguesa.net

Corpo Ideal em 8 Semanas • Pedro de Medeiros

Quer manter ou diminuir o seu peso? - Minimizar a celulite? - Combater aquele estado depressivo que teima em não a largar? - Manter ou melhorar a sua performance física? - Aperfeiçoar a sua silhueta? O seu preparador físico Pedro de Medeiros, com uma longa experiência na área do exercício físico e da saúde, irá acompanhá-la durante 8 semanas, dia a dia, explicando-lhe, passo a passo, os exercícios que deve executar e os alimentos que deve ingerir, de modo a atingir o seu objectivo.


9 hoje macau quinta-feira 16.6.2016

Creative Macau com pintura de Sofia Arez

Inaugura no próximo dia 23 a exposição de pintura de Sofia Arez, no espaço da Creative Macau. Segundo a organização “Transient” é uma mostra de trabalhos que “sai da escuridão”, sendo que é da mesma que pode nascer a luz. Adianta ainda que “precisamos de um mundo de sombras , de coisas que não podem ser facilmente explicadas que suspeitamos ou imaginamos.” A ambiguidade dos trabalhos de Sofia Arez assenta no pensamento e percepção humana resultantes dum misto de atmosferas que emergem mais do que de uma forma única e singular, de um misto de ritmos, luzes e cor. A artista plástica nasceu em Lisboa onde se licenciou em belas Artes, tendo mudado para Macau em 2012. Do seu percurso artístico constam obras em escultura, pintura desenho ou fotografia e vídeo que vão da exploração de emoções mais profundas às recentes paisagens vazias. O evento que tem início às 18h30, estará patente ao público até 23 de Julho e conta com entrada livre.

Curso sobre relações Ásia-Portugal na Fundação Oriente

Para que a memória não se perca, a Fundação Oriente organiza o curso de formação avançada “Os Olhos da Ásia: História e Memória dos Portugueses”, orientado pelo Professor Doutor Jorge Santos Alves, da Universidade Católica Portuguesa. A iniciativa tem lugar na Casa Garden e é destinado a todos os interessados na presença portuguesa na Ásia e nas relações histórico-culturais entre este continente e Portugal, desde o século XVI até à actualidade. Jorge Santos Alves tem como interesses o ensino e a investigação principalmente orientados para os Estudos Asiáticos, em particular a História da Ásia do Sueste Pré-Colonial, História da China e de Macau, bem como as relações luso-chinesas. Mais recentemente a sua pesquisa tem-se orientado também para as redes islâmicas no Oceano Índico até ao século XVII. Composto por cinco sessões com a duração de duas horas cada, a formação decorrerá de 11 e 15 de Julho e conta com participação livre sendo que as inscrições estão limitadas a 20 pessoas.

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menos bem. É uma cidade que ainda me conta histórias bonitas mas com alguns capítulos mais negros de permeio.” Mas também existem vislumbres do futuro que, para ele, será “uma massificação de descaracterização”, com alguma pena sua mas, como não acredita que a arquitectura seja intemporal, mas sim “muito efémera”, entende que a descaracterização que se adivinha será apenas uma marca do que foi este tempo de agora. “Não é mau nem bom, mas talvez outro tipo de estratégia fosse mais adequado”. Algo o anima, todavia, a recente abertura da faculdade arquitectura dá-lhe esperança. “Espero que. daqui a uns anos, (os novos arquitectos) possam ter uma opinião clara

e, acima de tudo, competente da cidade.”

A culpa é do desenho

Nascido em 1984 em Cascais, Portugal, Alexandre Marreiros estudou artes no liceu, formou-se em arquitectura pela Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa, onde posteriormente obteve o grau de mestre. “O que me conduziu à arquitectura foi o desenho. Sempre gostei de desenhar. Fiz muitas cabanas , muitas árvores, muitos carrinhos de rolamentos. Tive um percurso de artes antes mas na altura de decidir optei pela arquitectura sem nunca me desligar muito das artes plásticas”. Exibiu em exposições colectivas em Lisboa, individualmente na Galeria GivLowe e na Casa Lusitana. Recentemente, participou

“A preocupação foi transportar para esta exposição o que entendo ser a arquitectura hoje em dia” como artista convidado no Festival Silêncio de Lisboa e no Festival Literário de Macau. Em 2015 recebeu uma menção honrosa da Ilustração Contemporânea Portuguesa. Vive e trabalha em Macau. A exposição inaugura hoje, pelas 18:30H no Museu de Arte de Macau. Manuel Nunes

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10 china

hoje macau quinta-feira 16.6.2016

Único museu do país dedicado à Revolução Cultural silenciado

Limpo, mais limpo não há Em 2005, Pen Qian, um antigo ajudante do presidente da câmara de Shantou, ao saber que muitas das vítimas dos linchamentos dos guardas revolucionários foram enterrados na zona, construiu o museu. Ao reformar-se entregou a gestão ao governo. Agora foi tapado por cartazes de propaganda comunista e, no local, polícias à paisana disfarçados de turistas, impedem a imprensa de fotografar ou filmar e interrogam os jornalistas que se aproximam

S

ituado numa montanha nos arredores da cidade de Shantou está o único museu da China que presta homenagem às vítimas da Revolução Cultural (19661976), um local que neste ano, quando o início do movimento completa 50 anos, foi silenciado e passou a correr perigo. Não é tarefa simples chegar ao museu. Os guias de viagens poucas informações dão e não há placas indicativas ao longo da estrada que

leva ao Tashan Park, um parque natural de espessa vegetação onde está o memorial. Para passar despercebido, o museu tem aspecto de templo tradicional, embora nem muros ou lápides mostrem imagens budistas, mas sim os nomes de mais de 300 pessoas acusadas de serem “contra-revolucionários” durante os anos 60 e 70. Logo na está uma estátua e um retrato, respectivamente, de Yu Xiqu, um prestigiado juiz local que sofreu, como outros aí mencionados, graves abu-

É melhor esquecer

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Anúncio 【N.º 201606-2】 Torna-se público que, nos termos do artigo 29.º do Regulamento Administrativo n.º 5/2014 (Regulamentação da Lei do planeamento urbanístico), a DSSOPT vai proceder-se à recolha de opiniões dos interessados e da população respeitantes aos projectos de Planta de Condições Urbanísticas (PCU) elaborados para as zonas não abrangidas por plano de pormenor mas inseridas nos lotes abaixo indicados: ─ Processo N.º: 89A109, Terreno junto ao Largo Tam Kong Miu-Coloane; ─ Processo N.º: 90A152, Terreno junto à Rua da Ribeira do Patane-Macau; ─ Processo N.º: 91A034, Terreno junto à Estrada Marginal da Ilha Verde-Macau; ─ Processo N.º: 91A099, Rua da Barca nos 14D-14F-Macau; ─ Processo N.º: 92A047, Estrada da Vitória no 22-Macau; ─ Processo N.º: 92A208, Rua do Passadiço no 2 e terreno junto à Rua do Passadiço-Macau; ─ Processo N.º: 95A092, Calçada das Chácaras nos 14-16-Macau; ─ Processo N.º: 2005A055, Terreno junto à Rua Nova do Parque Industrial - Parque Industrial Transoronteiriço Zhuhai - Macau (Zona de Macau) Lote B2 - Parcela B2b-Macau; ─ Processo N.º: 2006A045, Terreno junto à Estrada de Cacilhas-Macau; ─ Processo N.º: 2008A113, Rua do Visconde Paço de Arcos nos 255 a 259-Macau; ─ Processo N.º: 2009A011, Terreno junto à Estrada do Campo-Coloane; ─ Processo N.º: 2011A015, Terreno junto à Avenida do Aeroporto-Taipa; ─ Processo N.º: 2013A014, Rua do Lilau no 16-Macau; ─ Processo N.º: 2013A030, Terreno junto à Rua de S. Tiago da Barra, Doca de D. Carlos I-Macau; ─ Processo N.º: 2015A040, Terreno junto à Rua da Ribeira do Patane-Macau; ─ Processo N.º: 2015A086, Rua de Nossa Senhora do Amparo no 25 e Pátio da Mina no 12-Macau; ─ Processo N.º: 2015A088, Rua dos Ervanários no 16-Macau; ─ Processo N.º: 2016A003, Rua de Miguel Aires nos 12-14-Macau. Para efeitos de referência, os projectos de PCU para as zonas dos lotes supracitados que não estão abrangidas por plano de pormenor já estão disponíveis para consulta no Departamento de Planeamento Urbanístico, situado na Estrada de D. Maria II n.º 33, 19º andar, Macau, e encontram-se afixados na Rede de Informação de Planeamento Urbanístico desta Direcção de Serviços (http://urbanplanning.dssopt.gov.mo). O período de recolha de opiniões tem a duração de 15 dias e decorre entre 20 de Junho de 2016 e 04 de Julho de 2016. Caso os interessados e a população queiram apresentar as opiniões sobre os referidos projectos de PCU de zona do território não abrangida por plano de pormenor, deverão preencher o formulário O011,o qual pode ser descarregado nos websites http://urbanplanning.dssopt.gov.mo ou www. dssopt.gov.mo, ou levantado nesta Direcção de Serviços (Estrada de D. Maria II n.º 33, Macau), podendo submetê-lo no período de recolha de opiniões através dos seguintes meios: ─ Comparecendo pessoalmente: Estrada de D. Maria II n.º 33, Macau, durante o horário de expediente nos dias úteis ─ Correio: Estrada de D. Maria II n.º 33, Macau (o prazo limite de entrega é contado a partir da data de envio indicada no carimbo do correio) ─ Fax: 2834 0019 ─ Email: pcu@dssopt.gov.mo Serão consideradas as opiniões respeitantes aos projectos de PCU de zona do território não abrangida por plano de pormenor elaborados para os lotes, quando forem apresentadas de acordo com as exigências acima indicadas. Para mais informações podem pesquisar o website http:// urbanplanning.dssopt.gov.mo e para qualquer informação adicional queiram contactar o Centro de Contacto desta Direcção de Serviços (8590 3800). Macau, aos 13 de Junho de 2016

O Director da DSSOPT, Li Canfeng

Tsé-tung, que a Revolução Cultural foi um erro, evite relembrá-lo publicamente e, menos ainda, citar as vítimas concretas. Neste caso, foi um líder comunista local que decidiu criar o museu. Peng Qian, um antigo ajudante do presidente da câmara de Shantou, construiu o espaço e foi o que, possivelmente, salvou a estrutura de ser demolida. Contou Peng que decidiu criar um lugar para homenagear um assunto tão delicado na China, após ficar a saber que muitas das vítimas dos linchamentos dos guardas revolucionários foram enterradas na Montanha Pagoda. Nos primeiros anos de funcionamento, o museu chegou a atrair uma certa atenção dos média, e até recebeu doações milionárias para a sua manutenção. Todavia, em 2014, pouco antes de se aposentar, Peng cedeu a gestão ao governo, o que fez com que este caísse no esquecimento e que, nas últimas semanas, viesse a ser presa da censura.

sos por parte dos guardas vermelhos. A 16 de Maio deste ano foi comemorado, com quase total silêncio da imprensa oficial e das instituições, o 50º aniversário do início daquele período turbulento e, desde então, todo o museu foi tapado por cartazes de propaganda comunista. Na entrada, sobre o cartaz que indica que ali fica o museu é possível ler outro que diz “Acto de promoção dos valores nucleares do socialismo”. Alusões ao “Sonho Chinês”, o mantra ideológico do actual presidente Xi Jinping, repetem-

-se nas paredes forradas de cartazes, decoradas com foices e martelos e imagens da porta da Praça da Paz Celestial. Não é fácil observar outros detalhes, já que polícias à paisana, que se fazem passar por turistas, tentam impedir a imprensa de fotografar e filmar o lugar,

e interrogam os jornalistas que se aproximam.

Existir é milagre

O museu foi construído em 2005 e é quase um milagre continuar de pé mais de dez anos depois, tendo em conta que, embora o governo chinês reconheça oficialmente, após a morte de Mao

Nos primeiros anos de funcionamento, o museu chegou a atrair uma certa atenção dos média, e até recebeu doações milionárias para a sua manutenção

Shantou, um dos principais portos do sul da China, está a mais de dois mil quilómetros de Pequim, o epicentro da Revolução Cultural, mas a distância não a livrou, como ao resto do país, dos excessos da época, na qual milhões de pessoas foram indiscriminadamente perseguidas. Embora a Revolução Cultural seja tema de livros e filmes na China - o facto de que quase toda a população do país naquela época tenha sofrido dificulta a censura total - o Museu de Shantou é o único dedicado integralmente a este período. Existe pelo menos outro museu no país que menciona o período de terror dos guardas vermelhos, o de Jianchuan (centro do país), mas não está dedicado de forma exclusiva a esta matéria, e dá uma imagem neutra ao facto histórico, sem mencionar as vítimas. Apesar do silêncio no aniversário de 16 de Maio, o jornal oficial do Partido Comunista, “Diário do Povo”, que possui uma versão online em português, publicou no dia seguinte um editorial admitindo que a Revolução Cultural foi “um caos interno que trouxe enormes catástrofes” e aventurou-se mesmo a dizer que nunca se repetirá. EFE


11 China

hoje macau quinta-feira 16.6.2016

A semana passada Tóquio protestou junto de Pequim pela aproximação de um navio da marinha chinesa a águas japonesas junto às ilhas Diaoyu. Ontem foi um navio militar chinês que entrou mesmo em águas territoriais do Japão. Nunca tal tinha acontecido

A testar as águas

pela zona, mas esta foi a primeira vez que uma incursão envolveu um barco militar.

A adensar desde 2102

Navio militar chinês entrou em águas territoriais japonesas

U

m navio militar chinês entrou ontem em águas territoriais do Japão, no sudoeste do país, uma semana depois da aproximação de uma fragata da China às ilhas Diaoyu, disputadas pelos dois países. O navio entrou em águas territoriais japonesas pelas 03:30 de ontem perto da ilha de Kuchinoerabu, localizada a cerca de 70 quilómetros de Kyushu (sudoeste do Japão), disseram fontes do Ministério da Defesa de Tóquio à rádio e televisão pública japonesa NHK. O navio militar chinês, que foi detectado por aviões P-3 das Forças de Autodefesa (exército) do Japão, estava a navegar em direcção sudeste e deixou as águas japonesas pelas 05.00, de acordo com as mesmas fontes. Um porta-voz do Executivo japonês confirmou

este incidente incomum, sublinhando que Tóquio solicitou uma explicação a Pequim, depois de na semana passada ter apresentado um protesto formal pela aproximação de um navio

da marinha chinesa a águas japonesas junto às ilhas Diaoyu administradas de facto por Tóquio. Navios da guarda costeira chinesa navegaram no passado com frequência

O Ministério da Defesa japonês também informou na semana passada que foi detectada a presença de três navios militares russos numa área contígua às Diaoyu precisamente no momento em que o barco chinês navegava na zona. A disputa territorial entre a China e o Japão em torno das Diaoyu tem décadas, mas agravou-se em Setembro de 2012, depois de Tóquio ter anunciado a compra de três dos cinco ilhotes do pequeno arquipélago, de apenas sete quilómetros quadrados, administrado, de facto, pelo Governo japonês. O arquipélago desabitado, mas potencialmente rico em recursos minerais, fica no Mar da China Oriental, a cerca de 120 milhas náuticas de Taiwan, que também reclama a sua soberania, e a 200 milhas náuticas de Okinawa, no extremo sul do Japão.

Três casos humanos de gripe aviária

As autoridades chinesas confirmaram ontem três casos humanos de infecção com gripe aviária H7N9, uma semana depois de Hong Kong ter suspendido a venda de aves vivas e morto milhares de aves num mercado local. Um dos casos reportados refere-se a uma camponesa de 68 anos que vive na província de Hebei e foi, entretanto, levada para Pequim, devido ao agravamento dos sintomas. As análises do hospital confirmaram o vírus, apesar de a paciente assegurar que não teve contacto recente com aves vivas. Os outros dois doentes foram diagnosticados na cidade de Tianjin, a cerca de 120 quilómetros de Pequim, e ambos desenvolveram uma severa pneumonia depois de terem estado em contacto com aves mortas. A estirpe H7N9 é uma das mais graves do vírus da gripe aviária e afecta aves e seres humanos, podendo provocar danos respiratórios e falhas no funcionamento de órgãos vitais. Descoberta em 2013, nas proximidades de Xangai e outras zonas do leste da China, contagiou até à data cerca de 400 pessoas, entre as quais mais de cem morreram.

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DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE FINANÇAS AVISO Nos termos da alínea c) do n.º 1 do artigo 100.º do Código de Processo Penal, por remissão do artigo 277.º do Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 87/89/M, de 21 de Dezembro, e em cumprimento do n.º 3 do artigo 328.º do mesmo Estatuto, é notificado o funcionário aposentado da Direcção dos Serviços de Finanças ANTÓNIO JOSÉ MARQUES VIEGAS VAZ de que, em 8 de Março de 2016, foi dado início à instrução do processo disciplinar contra si instaurado, por Despacho do Director dos Serviços de 22 de Fevereiro de 2016. Para os efeitos previstos no n.º 3 do artigo 329.º do mesmo Estatuto, mais é notificado o arguido para comparecer perante a instrutora do referido processo, no dia 27 de Junho do corrente ano, pelas 10:30 horas, a fim de ser ouvido em declarações no 9.º andar do Edifício da Direcção dos Serviços de Finanças, sito na Avenida da Praia Grande, n.ºs 575, 579 e 585, na RAEM. Direcção dos Serviços de Finanças, 10 de Junho de 2016. A Instrutora, Ana Trindade


h artes, letras e ideias

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Amélia Vieira

Feira do Livro

Vejamos se nesta feira que Mercúrio aqui traz acharei a vender paz que me livre da canseira em que a fortuna me traz Auto da Feira, Gil Vicente

C

om esta personagem alegórica do deus Mercúrio, tem lugar a Feira do Livro entre Maio e Junho, os meses consagrados a Mercúrio, e a transacção da palavra como comércio. As Feiras são para mim locais desabridos, muito abertos, populosos, arrivistas, cheios de entulho, pois que é certo que uma Feira, mesmo de hortaliças, é um microcosmos difícil de nos adentrarmos. Reconheço sem dúvida o lúdico, a quantidade, a variedade, o colorido mas, neste caso, prefiro então as pequenas Feiras com o pó das Estações que assentam nas dobradiças das tendas como as velhas carroças de ciganos abandonadas, continuando num canto com interessantes nichos abertos à voragem das aquisições. Mas vamos para a Feira! Olhando ao redor não se sabe por onde entrar e o melhor é sempre o propósito fixo para não deambularmos diante de infindas florestas de nada, de livros infantis, de direito, das Testemunhas de Jeová, daqueles pobres escritores parados, sentados... o microfone, os discursos que se vão ouvindo de alguém que está lançando qualquer coisa, a fealdade alarmante das gentes que, coitadas, vão assim, à vontade, e se lhes nota o estado das suas carnes como um castigo a transportar. Mais além, sim, um cheiro bom - são farturas - que o nome encanta só pela abastança, que nestes locais não há, dado que, como bem sabem, os pobres têm grandes dificuldades quase em comer, quanto mais para grandes sacadas de livros a bons preços, que por acaso até nem estão tanto assim. Enfim, é um equívoco na subida e uma desilusão na descida, de modo que a Feira seja apenas louvável como tradição e quase nunca como agente cultural. Assina-se muito, assina-se para sempre, assinamos cheques, livros, registos, assinamos tudo inteligivelmente como fazendo parte da cultura dos assinantes. Depois de assinados, em pequeninas “bichas” que o tempo não está para “bicha” grande (revelando que esta

tendência deve ser influência anglo-saxónica pela compostura) as pessoas escorregam suavemente para uma quase inexistente troca de palavras. Fala-se pouco, vê-se muito, cambaleia-se... Claro, é uma Feira, cada um faz como acha melhor e o melhor ainda não foi pensado, que é simples, tão simples que já nem se pensa nisso: a leitura é um exercício com regras como outra coisa qualquer, ou seja, um grande leitor é um metódico, tal qual como um sacerdote tem horas, há que ter método, postura física e um mundo que ele próprio define como propiciador de elemento ritualizante, dado que o livro é um elemento com aura e não raro tem até o poder de nos submeter à sua tirania tal como os ritmos da fé. Pois bem, chegados aqui, toda este alienado e alienante propósito de leitura como elemento transportável, que ora serve para adormecer, levar para a praia, ler pelos cantos, torna a leitura

quase um mau costume. Sabemos nós, os leitores por vocação, que só começamos a “ler” na releitura, que nessa actividade está o segredo do magistério da palavra, porque nada pode ser lido com carácter de urgência a menos que se trate de escrita informativa, jurídica, técnica; mas a literatura, mais propriamente aquela a que se dá tal epíteto, não é um receituário: está unida à inventividade que acrescenta mais espaço à capacidade onírica e mental, dado que é para isso que a palavra também serve, como um caminhar da transformação do Homem e da sua ampliação, na capacidade, evidentemente, de acrescentar esse novo, essa inquietação, esse despertar : o leitor deve sentir-se incomodado. O leitor não pode deixar-se andar pela deambulação inconsciente do seu bem-estar, pois que o excesso de passividade torna a mente imprópria para estruturar uma leitura ou mesmo ter

dela qualquer sentido crítico, a absorção das coisas fáceis é imprópria para a complexidade humana e, mais do que nunca, o leitor de agora devia ser iniciado e conduzido. Não influenciado, devia ser informado do mau uso e da má postura que está a dar à leitura. Neste tempo de todas as epifanias das leituras não compreendemos que leitor é este. Há gente a morrer de trauma fonético... Nunca o delírio atingiu tanto o espectro auditivo e das sombras vêm vozes que nos mandam escrever sem noção da “bomba atómica” que pode ser um verbo mal rolado... Mas, dado que a inércia crassa entre os enfadonhos tratados, teses, invencionices sem mérito, pesporrências várias, e muito linguarejar, ainda há substrato para um cruzeiro a vapor. Há verbos que nem sussurrados já são possíveis ou mesmo escutados... como um - Amo-te - por exemplo. No entanto, é preciso escrever muito sobre o amor. O ventrículo de todas as vozes e de todos os sons e de todas as letras, visto nestas Feiras, parece ter produzido mais insanidade que saber e em locais inesperados, é certo, subitamente o revelado, o livro, a letra exacta, pode ser encontrado. * A personagem alegórica do início do texto é o Diabo de Gil Vicente, que parecendo esgotado do seu artifício, apela à paz , a tréguas, para o libertar do cansaço de uma busca indistinta, tão desorientada, a que o próprio chama Fortuna. Má Fortuna! E também a «Biblioteca» de Umberto Eco um opúsculo muito bom sobre o objecto-livro, o elemento que se tira, que se desloca, que se vende, que se anseia, que se dá, que se partilha, as inúmeras formas de nos posicionarmos sobre ele apelando aos seu interesse gratuito. Este é também mais ou menos um Auto e não creio que interesse muito numa qualquer Feira.


13 hoje macau quinta-feira 16.6.2016

a saga da taipa

José Drummond

Que estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa? 8. Ela

O

pôr do sol perdeu o seu brilho púrpura e tornou-se, de um azul escuro. Um azul frio. Um azul que se obscurece. Que surge de dentro de um cinza pálido e que se deixa desaparecer sem cor. Um pôr do sol que nunca mais foi primaveril. Desde que te foste embora que este pôr do sol existe, assim, sem vida, e, por isso, não existe mais primavera, e, por isso, só existe inverno. O sol aparece, mas aparece sempre desaparecendo. E desaparece, e desaparece. Como uma ilusão qualquer de um ilusionista sem talento. Aparece mas não o vemos. Sabemos que ele lá está e quando estamos quase a acreditar desaparece. Desaparece, sem nos darmos conta, em tons de azul escuro. Uma ilusão de maus fígados, destinada a maltratar a esperança. O sol que se foi onde não havia laranja. Não havia mais laranja. Nem amarelo. Nem havia mais qualquer cor de rosa na névoa fina. O sol frio, e como o sol tu, tu que desapareceste. E eu que começo a sentir frio. E eu que desço para o jardim e permaneço à volta de mim, à volta de nós. E eu que volto a esta janela, a esta cama, a estes amontoados de roupa por lavar onde consigo ainda sentir o teu cheiro. E eu que desapareço, assim, como o sol, como uma ilusão sem talento de um ilusionista de rua. Aqui onde desapareço é o lugar onde me vou encontrar. Aqui onde desapareço é o lugar por onde me vou embora. E vou conseguir. Vou conseguir atravessar aquela ponte faça sol ou chuva. E o porteiro irá dizer aos novos inquilinos que eu era uma mulher jovem. E irá confundir-me com a vizinha do 10º andar que tem o mesmo corte de ca-

belo. E irá dizer que me chamo “Sushi” porque não confia em japoneses. Porque ela, embora não seja japonesa, tem uma tatuagem de um “koi Fish” nas costas em estilo japonês. E ele imediatamente a colocou nessa gaveta. Não confiar nos japoneses é vulgar na China. Dores históricas e políticas que pouco têm a ver com as pessoas dos dias de hoje mas que mantêm a sua influência nas relações dos dois países. Não confia neles porque o pai teve que fugir de Cantão durante a invasão e nunca mais viu a mulher que deixou para trás. Repetia vezes sem conta que quando o pai voltou para a buscar ela tinha desaparecido. Uma vez chorou em modo de confissão culpabilizando-se que ela tinha desaparecido por causa dele. Porque quando ele chegou a Macau uma semana depois do pai, ainda bebé de meses, no meio de um transporte de galinhas, ela teria ficado para trás por não haver lugar para ela. E que quando o pai conseguiu voltar a Cantão nunca mais a encontrou. E que, como se isso não bastasse, o pai foi morto quando ele tinha 6 anos por causa de um erro cometido num serviço, no qual, o ‘patrão’ o deixou ser emboscado pela seita adversária. Ninguém nunca saberá a verdade do que aconteceu à mãe daquele septuagenário. E muito pouca gente saberá realmente o que aconteceu ao pai. Disse ainda nessa vez que o pai foi-lhe entregue numa urna na qual sentiu o cheiro a sangue nas cinzas. Irá confundir-me com ela de todas as vezes e no final irá sempre lembrar-se da vez que viemos de férias da Europa e eu lhe ofereci um pacote de queijadas de Sintra. Irá lembrar-se disso porque as memórias, boas ou más, nunca desaparecem.

Sempre pensei nela como a heroína de um romance policial. Uma rapariga solteira capaz de atrair jovens empresários e que após uma sucessão de más decisões se vê acusada do assassinato de um político. Não sei se porque sempre que olho para ela nunca traço um retrato realista e me deixo inebriar por entre imagens e sentimentos ficcionais ou se porque por vezes penso em como seria bom poder ter uma aparência perfeita e afinal ser mesmo como ela. Ser mesmo como ela por eu querer ser a heroína de um romance. Ter realmente importância. E não este lento desaparecer nesta ténue insipidez do tédio. Neste pôr de sol que perdeu o seu brilho. Outras vezes penso nela daqui a vinte anos. Penso nela casada e feliz e sem mágoas. E sem lágrimas derramadas em paixões juvenis. E sem lágrimas derramadas em amores perfeitos. Ter esperança é o que me tem ajudado a passar por momentos difíceis. Mas essa desaparece como desaparece o sol. O sol que aparece desaparecendo.

Ela é assustadoramente bonita. Ao pé dela eu sou assustadoramente vulgar. Quis sempre acreditar que essas diferenças escapassem ao porteiro por causa da sua idade. Que com a idade dele não se consiga apreciar os cânones de beleza dos dias de hoje. Lembro-me de quando a vi pela primeira vez. Os meus olhos fixos e ela indiferente. Como se estivesse habituada a ter pessoas a olhar para ela com os olhos fixos. A pergunta “Quem é ela?” repetiu-se na minha cabeça em eco infinito, com ressonância intensa, percorrendo de um lado ao outro todos os compartimentos da memória numa tentativa louca de encontrar uma resposta. Ela fez o seu melhor para parecer indiferente mas a sua intuição feminina deve lhe ter dito que eu já estava à mais de 10 minutos de olhos abertos na sua direcção. A empregada do café surpreendeu-me ao perguntar-me se desejava alguma coisa mais. Nesse momento, em que o feitiço foi quebrado por momentos, os papéis inverteram-se e quando voltei a olhar para ela dei com os seus olhos como setas a fazer uma avaliação de mim de alto a baixo.


14 (F)utilidades tempo

hoje macau quinta-feira 16.6.2016

?

trovoadas

O que fazer esta semana Hoje

Exposição “Cnidoscolus Quercifolius” Alexandre Marreiros Museu de Arte de Macau - 18h30

min

27

max

30

hum

75-95%

euro

8.99

baht

Música “ Serenata Romântica” - Orquestra de Macau Teatro D. Pedro V, 20h00 “Traços de Tinta sem Pincel”

Yang Yimo

Centro Unesco de Macau, 18h30

Sábado

o cartoon steph de

Exposição “Edgar Degas – Figures in Motion” MGM Macau Exposição “Arts Fly” Broadway Macau (até 28/06) Exposição “Artes Visuais de Macau” Instituto Cultural (até 07/08) Exposição “Aguadas da Cidade Proibida”, de Charles Chauderlot Museu de Arte de Macau (até 19/06) Exposição “Tibet Revealed” Galeria Iao Hin (até 20/06)

Solução do problema 107

Exposição dos alunos de Arquitectura da USJ Creative Macau (até 18/06) Exposição dos alunos de Design da USJ Creative Macau (até 18/06) Exposição “Dinossauros em carne e osso” Centro de Ciência de Macau (até 11/09) Exposição “Reminescent – Portugal Macau” Galeria Dare to Dream (até 22/07)

Cineteatro

C i n e m a

Alice Through the Looking Glass Sala 1

now you see me 2 [b] Filme de: Jon M. Chu Com: Mark Ruffalo, Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Lizzy Caplan 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 Sala 2

Alice through the looking glass [b] Filme de: James Bobin Com: Johnny Depp, Anne Hathaway, Mia Wasikowska 14.30, 16.30, 21.30

problema 108

Um livro hoje

Sudoku

Exposição “Unamed” e concerto de Sylvie Xing Chen Fundação Rui Cunha (até 25/06)

1.21

Telhados de “vidro”

Música “Noite de Piano” Fundação Rui Cunha, 20h00

Diariamente

yuan

aqui há gato

Amanhã

Música ““Rapsódia Chinesa - Obras de Peng Xiuwen” – Orquestra Chinesa de Macau Teatro D. Pedro V, 20h00

0.22

Sou gato, muito doméstico até, mas não me inibo de umas escapadelas como todos sabem. Gosto de ver coisas e estar a par do que se passa por cá, para além da redacção. Não fosse eu amante dos telhados gosto daqueles passeios no lusco fusco pelas casas de outros tempos. É lá que encontro velhos amigos e que vejo a vida passar. Se o andar telhado acima, telhado abaixo já de si acarreta riscos, ultimamente a coisa piorou. Foi a igreja de St. Agostinho que não se aguentou e agora o Instituto Cultural, que, segundo soube pela redação, avisa que há mais quatro edifícios em risco. Companheiros de proza de fim de tarde há que ter cautela que parece que aquelas inspecções duas vezes por ano não são anti-chuva ou trovoada nem poupa os devotos. Assim para já desviem-se de igrejas, seminários, capelas e coisas que tais. Como se não bastasse a cultura foi apanhada na maré e o Armazém do Boi está na lista. Sim, aquela apropriação aparentemente bem idealizada do antigo matadouro para estas coisas da arte independente que se faz por cá e que aqui entre nós, muito bem! Castigo de Deus já me foi dito ou alguma inércia no que respeita à reabilitação de espaços devolutos para coisas maiores. Religiosidades à parte, esta coisa da cultura até podia ser ideia a continuar sem por em causa os que por lá passam e a aproveitar as casas e talentos da terra! Entretanto caros compinchas, redobro de cuidado que a malta quer-se inteira, não vá o diabo tecê-las. Pu Yi

“Catch 22” by Joseph Heller

Este clássico do séc. XX, é uma história sobre a perda da fé que nos chega com a ascensão do poder burocrático. O título é o equivalente em português de “pescadinha de rabo na boca”. No caso, uma sinistra regra burocrática, “Catch 22”, que assola Yossarian, o tripulante de um bombardeiro americano, que acha que as missões onde está envolvido são desenhadas para o matar e que todos à sua volta são loucos. Mas a regra não o deixa fugir. Uma história que não deixa ninguém indiferente, antes pelo contrário. Sátira, humor negro e a lógica imbatível que demonstra como a guerra é uma loucura, mas também a instituição militar e, muito provavelmente, a vida moderna. Manuel Nunes

Alice through the looking glass [b][3d] Filme de: James Bobin Com: Johnny Depp, Anne Hathaway, Mia Wasikowska 19.30 Sala 3

Warcraft: The Beginning [c] Filme de: Duncan Jones Com: Travis Fimmel, Paula Patton, Ben Foster 14.30, 16.45, 21.30

Warcraft: The Beginning [c][3d] Filme de: Duncan Jones Com: Travis Fimmel, Paula Patton, Ben Foster 19:15

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Manuel Nunes; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


15 hoje macau quinta-feira 16.6.2016

bairro do oriente

leocardo

Jerry Lewis, The Nutty Professor

A quimera do minchi

H

oje gostaria de dedicar mais a um artigo a esse interminável processo de integração numa sociedade que me vai parecendo cada vez menos estranha, mas na qual nem tudo facilmente se entranha (vénia à Pessoa do poeta, já agora). E por falar em entranhar, mastigar, degustar e engolir, há no seio da comunidade macaense, que aproveito para saudar, a noção de que todos os seus “cozinhadores” sabem fazer “Minchi” – e aqui por “cozinhadores” quero dizer qualquer um que se consiga orientar na cozinha, e não necessariamente um “chef”, qui vendê merenda pá juntá unchinho sapeca pa olá filo-fila crecé, sân nunca? Deveras. O “Minchi” é um prato que basicamente consiste de carne de vaca e de porco moída (em inglês “minced”, daí o seu nome) e frita com chalotas picadinhas, posteriormente misturada com batatas cortadas em pedacinhos e fritas separadamente, e tudo servido numa cama de arroz branco com um ovo estrelado por cima – eis o “Minchi” clássico. Atente-se ao

uso o abuso dos “inhos”, ora nas chalotas que são picadinhas, ora nas batatas (ou batatinhas) em pedacinhos, mas o “Minchi” é mesmo assim, um “pratinho”, que não é complicado de se fazer, agrada a miúdos e graúdos, e nem é preciso dentes rijos para o poder apreciar. Aliás, pensando melhor, nem é preciso ter dentes, de todo. O “Minchi” é o prato-bandeira de Macau e dos macaenses, por assim dizer. Não vou ao ponto de afirmar nem a brincar que “quem não gosta de Minchi não é macaense”, pois ultimamente essa temática tem dado pano para mangas – digamos apenas que uma casa macaense com certeza, há sempre “Minchi” sobre a mesa. A diferença entre cada “Minchi” reside no tempero, conforme o gosto de cada um, e o segredo – se o há – está na quantidade e na qualidade do “sutate”, outro nome que se dá ao comum molho de soja. Assim a pergunta que se impõe é a seguinte: onde se come “o melhor Minchi de Macau”? Lá está, esta é

“O “minchi” perfeito está para os macaenses como a pedra filosofal estava para os antigos alquimistas”

uma pergunta impossível de responder, assim como impossível é também confeccionar o “Minchi” perfeito, que reúna o consenso dos exigentes palatos maquistas. Se perguntarem a dez macaenses “quem faz o melhor Minchi de Macau”, sete respondem “a minha mãe”, e é possível que os restantes digam “a minha mulher/irmã/tia”, e é muito improvável que elejam o da sogra como o melhor (por respeito à sua própria mãezinha, pensavam o quê?). Se pedirem para indicar um estabelecimento, é de esperar alguma hesitação, após a qual respondem “o sítio A não é mau”, ou “fulano tal faz assim-assim”. Agora não esperem é que digam que “é bom” e muito menos “o melhor”, o que seria entendido quase como um sacrilégio! Cuza? Estopôr! Azinha zaprecê de io sa diante! Caso o leitor se queira aventurar nessa quimera do “Minchi”, atrevendo-se a alcançar a perfeição e obter a aprovação unânime dos Macau-filo, desiluda-se: o “minchi” perfeito está para os macaenses como a pedra filosofal estava para os antigos alquimistas. Pode ser que fique aprovado, mas mesmo que lhe digam que o seu “minchi” é “muito bom”, prepare-se para de seguida levar com “...mas o da minha mãe é melhor”. E olhe que ainda é o melhor que lhe pode acontecer, pois se lhe disserem que “não é mau”,quer dizer que “é péssimo”. Mas a culpa é sua, também – quem o mandou ser ui di sevandízio? Qui astrevido!

opinião


Macau envelhecido nas fachadas; / rostos, / aguarelas nos postigos; / luzes, / sombras; / contrastes muito antigos; / fios, / gaiolas, / roupas penduradas.” António Correia

Tolerância somos nós Pequim diz ter feito “progressos extraordinários” nos Direitos humanos

A Maioria apoia fim de aves de capoeira vivas

C

pub

erca de 57% dos inquiridos mostra-se a favor da substituição do abastecimento de aves de capoeira vivas por aves de capoeira refrigeradas. Este é um dos resultados do relatório da consulta pública sobre o assunto ontem divulgado, sendo que 42% estão “expressamente contra” o fim das aves vivas nos mercados. Segundo um comunicado, 26% dos inquiridos considera que a medida deve ser implementada nos próximos dois anos, enquanto que 33% se mostrou indiferente quanto à altura de implementação. “Considerando outras condições adicionais, como a saúde pública a longo prazo, a percentagem dos cidadãos que estão contra esta medida desce de 42% para 39%”, aponta o comunicado. Cerca de 80% dos entrevistados mostrou-se indiferente quanto ao tipo de carne utilizada nos restaurantes, porque “os cidadãos já se habituaram a consumir aves refrigeradas ou congeladas nos estabelecimentos de comidas”. O inquérito foi realizado com o apoio do Instituto Politécnico de Macau (IPM), tendo sido inquiridos 1026 pessoas e 187 responsáveis por restaurantes. O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) promete “continuar a manter a comunicação com o sector para conhecer as suas dificuldades e necessidades, no sentido de tomar as medidas mais adequadas quando dos trabalhos preparatórios da implementação da referida medida”.

China alcançou “progressos extraordinários” na implementação do seu segundo plano para os direitos humanos, incluindo avanços na liberdade religiosa e protecção social em regiões afectadas por “extremistas religiosos e separatistas”, considerou ontem Governo chinês. Quase todos os trabalhadores religiosos na China são abrangidos pelo sistema de segurança social, com 96,5% a beneficiar de seguro de saúde e 89,6% a descontar para o sistema de pensões, aponta um relatório difundido pelo Departamento de Informação do Conselho de Estado chinês sobre a evolução dos direitos humanos no país entre 2012 e 2015. “A liberdade de crença religiosa está completamente garantida e os direitos e interesses das minorias étnicas foram efectivamente protegidos na China”, proclama o documento. Ao contrário dos governos e opinião pública dos países mais ricos, que enfatizam a importân-

quinta-feira 16.6.2016

cia da liberdade e direitos políticos individuais, Pequim defende “o direito ao desenvolvimento” como “o mais importante dos direitos humanos”. O mesmo relatório detalha que, entre 2011 e 2015, o Estado chinês gastou 200 milhões de yuan na renovação e ampliação de instalações religiosas no Tibete, uma das regiões chinesas mais vulneráveis ao separatismo.

Pobreza e conflitos

Em Xinjiang, região do noroeste da China palco de frequentes conflitos étnicos entre chineses da minoria étnica muçulmana Uigur e a maioria Han, 70% dos gastos públicos foram destinados às áreas da educação, emprego, segurança social e ambiente, destaca. O documento revela ainda que, nos últimos três anos, o número de habitantes das zonas rurais que viviam abaixo da linha de pobreza - menos de 2.300 yuan por ano - diminuiu 43,1 milhões, para 55,8 milhões, o que corresponde a 4% da população.

“A liberdade de crença religiosa está completamente garantida e os direitos e interesses das minorias étnicas foram efectivamente protegidos na China” Relatório do Conselho de Estado chinês A questão dos direitos humanos continua a ser uma fonte de tensão entre a China e os governos dos países mais desenvolvidos, sobretudo na Europa e América do Norte. Segundo um relatório recente da organização de defesa dos direitos humanos Chinese Human Rights Defenders (CHRD), o número de presos políticos no país quase triplicou desde que o actual Presidente chinês, Xi Jinping, ascendeu ao poder, em 2013.

EPM Recluso morreu no hospital

Um recluso da prisão de Macau, de 57 anos, oriundo da China, morreu ontem no hospital, para onde foi transportado de urgência, estando por confirmar a causa de morte, informou a Direcção dos Serviços Correccionais. Em comunicado, o organismo indica que o homem apresentou “subitamente dificuldades e contracções espasmódicas” ao início da madrugada e, após assistência prestada no Estabelecimento Prisional de Coloane, foi transferido de ambulância para o hospital, onde, depois de infrutíferos socorros, acabaria por ser confirmado o óbito. A causa de morte ainda não foi confirmada pelo hospital. Segundo a Direcção dos Serviços Correccionais, conforme a ficha clínica na prisão, o recluso, que padeceria de rinite alérgica há mais de dez anos, tinha historial de abuso de metanfetamina ‘ice’, “carecendo de tratamento periódico durante a reclusão”. Entre finais de Maio e princípios de Junho, foi assistido nos serviços clínicos da prisão por revelar sintomas de asma.

Defendida saúde gratuita para idosos a viver na China

O deputado Zheng Anting entregou uma interpelação escrita ao Governo onde fala da possibilidade de comparticipar na totalidade as despesas de saúde dos idosos de Macau que vivam no interior da China. O número dois de Mak Soi Kun no hemiciclo quer ainda saber em que fase está o estudo sobre essa medida. Zheng Anting questionou ainda o Executivo sobre a possibilidade de aumentar os subsídios para idosos, lembrando que em Macau existem cerca de 58 mil idosos. Para além disso, os pedidos dos Serviços de Saúde (SS) sobre os idosos com mais de 60 anos têm aumentado, lembrou. O deputado, também membro da Associação dos Conterrâneos de Kong Mun de Macau, pede um aumento de mil patacas anuais nos subsídios, através do programa de comparticipação nos cuidados de saúde, por forma a corresponder aos pedidos e a diminuir a pressão sentida nos hospitais.

China Three Gorges compra parque eólico na Alemanha

A empresa China Three Gorges (CTG), accionista maioritário da EDP, anunciou ontem que chegou a acordo para comprar a Meerwind, operadora de um dos maiores parques eólicos em alto mar da Alemanha, ao fundo norte-americano Blackstone Group. O gigante estatal chinês refere em comunicado que a aquisição lhe permite não só somar activos, como também integrar os técnicos especializados da Meerwind, que desenvolveram e geriram a construção e operação daquele projecto. O valor do negócio não foi ainda divulgado, mas o jornal oficial chinês China Daily fixou-o em 1,6 mil milhões de euros. O parque eólico Meerwind consiste em 80 turbinas, cada uma com capacidade de 3,6 megawatts (MW). Para a CTG trata-se de “um dos mais promissores projectos de energia eólica na Europa”.


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