Hoje Macau 16 JUL 2015 #3373

Page 1

www.hojemacau.com.mo

Mop$10

q u i n ta - f e i r a 1 6 d e j u l h o d e 2 0 1 5 • ANO X I V • N º 3 3 7 3

hojemacau

opinião

Devaneios fálicos Juvenis delirantes tânia dos santos

AL | terrenos responsáveis chamados para audição

Conta-me como foi

Os deputados pró-democratas não desistem de tentar apurar toda a verdade sobre os terrenos não recuperados pelo Governo. Ng Kuok Cheong e Au Kam San apresentaram

uma moção de audição na AL para que tanto os actuais como os antigos responsáveis pela matéria venham ao hemiciclo explicar detalhadamente o caso dos lotes perdidos.

página 4

Agência Comercial Pico • 28721006

pub

Director carlos morais josé

leocardo

Páginas 14-15

ensino

Cursos de fora em questão sociedade página

6

crime

Este Jogo está perigoso sociedade página

7

Plenitude e nulificação

h

primo levi

património

A história não se esconde grande plano


2

grande plano

hoje macau quinta-feira 16.7.2015

A ideia de classificar Património Casino Lisboa poderá fazer parte da lista o Casino Lisboa como património de Macau não causou surpresa Recorde-se que a arquitecta pelo Instituto Cultural (IC) numa casinos” é necessário que outros edifícios estejam incluídos na defendeu anteriormente que resposta ao HM. e é defendida por O instituto explica que já mesma lista. O arquitecto apontou a classificação é exagerada se arquitectos locais. A recebeu opiniões – duas – nesse o edifício da farmácia naAvenida 5 tiver como base da escolha “os sentido e que por isso vai proce- de Outubro – devido à sua ligação postais e imagens promocionais” necessidade de um der “ao estudo e à análise do valor com o Jogo – como um dos edifí- do casino. Maria José de Freitas acredita que é necessário um informações e opiniões”. No cios a acrescentar. estudo independente das estudo intensivo “tendo em conta dia de ontem, durante o debate as características culturais do levado a cabo pela Rádio Macau Ícones da cidade é defendido pelos sobre os dez anos de classifica- Para Maria José de Freitas o mais edifício e não só porque a sua profissionais, que ção do património mundial pela antigo casino local “é um dos imagem é conhecida”. O mesmo estudo foi ainda UNESCO, os arquitectos Vizeu edifícios mais emblemáticos de sugerem ainda que Pinheiro, Rui Leão e Maria de Macau”, logo faz sentido estar defendido por Rui Leão que José de Freitas concordaram com incluído os imóveis protegidos, explicou à publicação local que outros edifícios esta ideia. mas ainda assim é “importante é necessário que o processo de “Quando de fora se fala de entender Macau como um todo classificação esteja liberto da sejam classificados Macau, o que vem à cabeça das e olhar também para as zonas de ideia de “que não se pode mexer também em nada”. pessoas é a imagem do Lisboa. É transição”.

Por um novo modelo de controlo

N

Ainda na área da gestão, a arquitecta Maria José Freitas, no mesmo debate, frisou a urgência de um plano de gestão do património, apontando várias falhas à recente Lei do Património. “Estamos a viver com uma lei de 2013 mas que ainda não tem uma lista de edifícios classificados e que, no fim, está a funcionar com a lista de 1992. Parece-me que isto é um pouco dramático. Macau está a passar por uma fase com enormes desafios do ponto de vista do planeamento urbano com os novos aterros e, portanto, a não existência de um plano de gestão resulta numa falta de eficácia”, argumentou durante o debate.

Não sou o único

ão está excluída a hipótese de incluir o Casino Lisboa – o primeiro no território – na nova lista de bens imóveis do património de Macau. A ideia foi, de acordo com o jornal Ponto Final, avançada no passado domingo pelo académico e membro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios Michael Turner, e foi ontem reforçada

incontornável”, afirmou Rui Leão. “O hotel Lisboa não sai do nada. Havia as casas de fan-tan, de jogo tradicional, umas duzentas no Porto Interior e agora só há uma na Rua 5 de Outubro”, defendeu Vizeu Pinheiro, assinalando a necessidade do Governo estar mais atento à questão. Em declarações ao jornal Ponto Final, o mesmo arquitecto explicou a classificação “faz sentido” mas, partindo do princípio da iniciativa da “narrativa da história dos

“Quando de fora se fala de Macau, o que vem à cabeça das pessoas é a imagem do Lisboa. É incontornável” Vizeu Pinheiro Arquitecto

“O hotel transporta a ideia de um edifício em constante transformação. A classificação nunca pode passar pela ideia de cristalizar o edifício porque isso iria ser uma negação da própria estrutura pela maneira como ela existe”, defendeu, sublinhando a importância da classificação “por ser uma representação daquilo que a indústria do Jogo trouxe a Macau”. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

Em declarações à Rádio Macau, durante a participação no debate dos dez anos de património mundial, o arquitecto Vizeu Pinheiro apelou a um novo modelo de gestão do património local, criticando o poder centralizado do IC. “Isto vai contra o modelo aprovado pela UNESCO, que era a de uma gestão colegial. O património é de todos, não é do IC”, disse, sublinhando a existência de um instituo que possa gerir o património. “[O IC] não deve ser o senhor absoluto, que é o que está a acontecer”. O arquitecto foi mais longe frisando que “a grande pergunta é quem é que fiscaliza o fiscalizador. Quem controla o Instituto Cultural?”

o drama do plano de gestão


grande plano 3

hoje macau quinta-feira 16.7.2015

Novo Macau entregou relatório voluntário à UNESCO

Recado ao mau aluno

A Associação Novo Macau entregou ontem um relatório à UNESCO que denuncia a possibilidade da paisagem das zonas da Penha e da Guia ficar afectada com a renovação da Doca dos Pescadores e a Zona B dos novos aterros

N

uma altura em que se celebram os dez anos de classificação do património de Macau pela UNESCO, a Associação Novo Macau (ANM) entende que nem todas as informações correctas estão a passar lá para fora e decidiu entregar ontem um relatório à entidade. Nele, expõe os projectos urbanísticos que podem pôr em causa a paisagem da Colina da Guia e Igreja da Penha, como é o caso da renovação da Doca dos Pescadores ou a construção dos edifícios com cem metros de altura na Zona B dos novos aterros. AANM não esquece também a construção do edifício do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM. “É nosso dever cívico enviar este relatório”, disse Scott Chiang, membro da direcção da ANM. “O que pretendemos com este relatório é que a UNESCO olhe, de facto, para a situação geral [da protecção do património], porque acreditamos que há informações que têm sido escondidas da UNESCO e pensamos que assim podem fazer uma análise mais justa”, acrescentou.

A

ntes de entrar para a universidade, Liu Ziliang queria “conhecer o mundo” e decidiu, por isso, juntar-se ontem à primeira “visita guiada aprofundada” ao património de Macau que, devido “à influência portuguesa” considera “diferente da China”. Desde ontem e até ao fim do mês, o Instituto Cultural (IC) organiza, em parceria com uma agência de viagens, visitas guiadas ao património, incluídas no programa de celebração dos dez anos da classificação da UNESCO. Ontem, 65 turistas, a maioria da China e cerca de 20 de outros países, visitaram o Templo de A-Má, a Casa do Mandarim, o Largo do Lilau e a igreja e o Seminário de São José, terminando o passeio no Teatro D. Pedro V. “Este sítio era muito importante para a comunidade portuguesa”, explicou Leong In Fan, representante do departamento do património cultural do IC, perante o grupo de turistas que se abanavam com

A ANM lembra que o Governo está “obrigado”, pela ratificação da Convenção da UNESCO, a proteger toda a área envolvente dos edifícios históricos. “A negligência pelo contexto histórico e as reacções públicas em relação às paisagens da Colina da Guia e da Igreja da Penha pelo Governo revelam a ausência de um com-

“A negligência pelo contexto histórico e as reacções públicas em relação às paisagens da Colina da Guia e da Igreja da Penha pelo Governo revelam a ausência de um compromisso para com a sua conservação” Associação Novo Macau

promisso para com a sua conservação”, defendem. Scott Chiang frisou ainda que já reuniram com o Governo, a quem pediram para “tomar passos sérios” na protecção dos locais históricos. “Não basta preservar o património mas há que proteger a paisagem à volta e deixar as pessoas visitarem e conhecerem. Foi nisso que o Governo falhou e foi isso que foi assinado na convenção da UNESCO. E é isso que denunciamos neste relatório.”

Pelos negócios

O Executivo é ainda acusado pela ANM de ser pouco transparente. “Os relatórios oficiais, que nenhum de nós leu, foram bem recebidos nos encontros internacionais e decidiram que não havia necessidade de discutir a preservação. Mas no relatório que enviámos vemos que há muitos problemas por resolver, o que nos leva a pensar [sobre] o que constará nos relatórios enviados. Suspeitamos que o Governo não revelou todas as informações e apenas mostrou o outro lado a nível internacional.” Os activistas acusam ainda o Governo de se ter aproveitado do

conceito de património mundial para o favorecimento dos “interesses” do sector do turismo. “O Governo explorou o conceito de património mundial e não vemos que tenha havido nos últimos anos uma verdadeira motivação para

proteger o património”, disse Jason Chao, membro da ANM, que não põe de parte a possibilidade de vir a realizar mais iniciativas para chamar a atenção sobre a questão. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Turistas consideram património de Macau “muito diferente” do da China

Aqui é tudo mais interessante os panfletos informativos para afastar o calor, num dia em que as temperaturas chegaram aos 33 ºC e 95% de humidade. O primeiro teatro de estilo ocidental na China acolheu um grupo já cansado do passeio a pé e que

só aproveitou o ar condicionado durante cerca de 20 minutos – o suficiente para algumas fotografias à sala que acolheu o “Crazy Paris Show”, de Guy Lesquoy, o primeiro espectáculo de cabaret na Ásia. À porta do teatro, Liu Ziliang, de 17 anos, mostrava-se satisfeito com a visita que lhe deu a conhecer “a parte mais antiga e mais bonita de Macau”, uma cidade que apenas tinha visitado uma vez, em criança, quando veio com a família “fazer compras”. “Nessa altura não liguei ao Centro Histórico”, admite. Limpando o suor da testa, o jovem explicou que Macau é o primeiro lugar que visita desde que terminou os exames de acesso à universidade. A Igreja de São José, “muito grande e bonita”, foi o ponto que

mais gostou – a igreja e seminário foram construídos pelos jesuítas em Macau no século XVIII e fazem parte da lista de imóveis classificados pela UNESCO em 2005. Edifícios como este levaram o jovem a considerar que Macau tem “o seu estilo”, com “muita influência portuguesa” que torna a cidade “diferente da China”.

Tanto e tão pouco

Candy Kong foi responsável pela visita turística criada especialmente para o 10.º aniversário da classificação do património de Macau. “[Os turistas] ficaram muito surpreendidos que num sítio tão pequeno haja tanto património. Tudo lhes pareceu novo por causa da mistura do oriental e ocidental, que acham muito interessante”,

descreveu a guia, ressalvando, no entanto, que foi o calor e humidade intensos que mais geraram reações dos visitantes. Wu Keng Kuong, director da agência de viagens que, em parceria com o IC, organiza estas visitas, garante não ser verdade que a maioria dos turistas apenas deseje fazer compras em Macau, onde impostos mais reduzidos e uma maior confiança na legitimidade dos produtos tornam as lojas atractivas. “Uma parte dos turistas quer fazer compras mas uma grande fatia quer conhecer o património de Macau. Os turistas estrangeiros gostam mais da construção oriental, enquanto os chineses preferem a de estilo ocidental”, descreveu. LUSA/HM


4

política

Os deputados da bancada pródemocrata querem o Governo no hemiciclo a dar explicações sobre os terrenos que acabaram por não ser recuperados e pedem a presença, não só dos actuais responsáveis da pasta, mas também dos antigos

hoje macau quinta-feira 16.7.2015

Terrenos Pró-democratas pedem audição sobre não recuperados

Vamos lá ouvir mais detalhes

N

g Kuok Cheong e Au Kam San apresentaram em conjunto uma moção de audição na Assembleia Legislativa para que sejam dadas explicações sobre os terrenos que não foram recuperados pelo Governo por “não reunirem condições de declaração de caducidade”. Os dois deputados da bancada democrata querem uma investigação sobre os 16 lotes e querem ouvir da boca do Governo informações sobre o assunto. Mas, Au Kam San e Ng Kuok Cheong não querem apenas os actuais responsáveis do Executivo no hemiciclo. Os dois deputados querem também os anteriores, como Lau Si Io, ex-Secretário para os Transportes e Obras Públicas, e Jaime Carion, ex-director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Recorde-se que, ao anunciar que os terrenos não podiam ser recuperados por não preencherem os requisitos de caducidade, Raimundo do Rosário, actual responsável pela pasta, admitiu que as falhas tinham sido do Governo, por este não ter emitido plantas urbanísticas e licenças a tempo. Ontem, numa nota justificativa apresentada à Assembleia Legislativa (AL), os dois deputados recordaram que já em 2010 tinham sido apreciados 113 lotes desocupados que não foram desenvolvidos de acordo com os contratos. Só um ano depois foi confirmado que

destes, 48 terrenos poderiam ser recuperados dos concessionários.

A luta continua

Este tem sido sempre o cavalo de batalha dos dois deputados que, na nota justificativa que acompanha o pedido de audição, apontam ainda que as autoridades “nunca revelaram as situações dos lotes, mesmo quando a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas fez perguntas sobre os detalhes”. Os dois democratas acham ainda que o anúncio “repentino” de Raimundo do Rosário fez o público suspeitar que os processos entre Executivo e os concessionários foram feitos por “debaixo da mesa”.

“De facto, nas informações dadas aos deputados pelo Governo antes de se alterar o mandato dos titulares dos principais cargos, disseram que não existiam terrenos desocupados que não reuniam as condições para recuperação. No

Nomeada nova Chefe de Divisão do Turismo de Negócios

entanto, o actual Secretário vem dizer que há 16 lotes e que estas foram decisões do antigo Governo. O Secretário está a fugir da responsabilidade, ou isto foi feito às escondidas de propósito?”, frisa a nota.

Este tem sido sempre o cavalo de batalha dos dois deputados que (...) apontam ainda que as autoridades “nunca revelaram as situações dos lotes, mesmo quando a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas fez perguntas sobre os detalhes”

Tong Heong In é a nova chefe da Divisão do Turismo de Negócios e Eventos da Direcção dos Serviços de Turismo, um cargo que vai desempenhar até 20 de Julho de 2016. Num despacho ontem publicado no Boletim Oficial, e assinado pelo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, Tong Heong In é a escolhida com base na vacatura do cargo, mas também “pela reconhecida competência profissional e aptidão para o exercício do cargo”. Tong em mestrado em Gestão de Empresas pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, um Bachelor of Arts — Advertising da National Chengchi University Taiwan, reconhecido como licenciatura pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior, e começou no Governo como adjunta-técnica da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, em 2006 e até 2008. Neste ano passou a técnica superior da Direcção dos Serviços de Turismo, lugar onde ficou até agora.

O pedido de audição ainda não foi aceite no hemiciclo, sendo que depois ainda terá de ir a apreciação e votação no plenário. Recorde-se que, da lista dos que não foram recuperados, fazem parte terrenos que pertencem, pelo menos, a três deputados que ainda se encontram em mandato na AL. Ng Kuok Cheong e Au Kam San consideram este um tema de interesse público e consideram, por isso, que vale a pena fazer a audição. Os deputados pedem ainda que seja criada uma comissão especializada para investigar as informações detalhadas destes 113 terrenos desocupados. Flora Fong (com Joana Freitas) flora.fong@hojemacau.com.mo

Pedido esclarecimento sobre “Bairro de Macau” na Ilha de Montanha

O deputado Si Ka Lon pede ao Governo explicações directas e claras sobre o projecto “Novo Bairro de Macau” previsto para a Ilha da Montanha. O deputado indaga a Administração sobre o funcionamento dos serviços sociais, a gestão e as leis a aplicar no projecto. Numa interpelação escrita, Si Ka Lon lembrou que a Comissão de Gestão da Nova Zona da Ilha de Montanha referiu, há pouco tempo, que o projecto inclui um lote de 200 metros quadrados para instalações de idosos, habitação e educação. Está ainda previsto que os residentes de Macau que vivam e trabalham na Ilha da Montanha possam usufruir dos serviços, que se pretendem iguais aos de Macau. No entanto, Si Ka Lon apontou que para além do plano de um hospital e dos lares de idosos, o conteúdo do projecto continua incompleto. Pergunta o deputado se os governos das duas regiões já chegaram a acordo em relação ao princípio de desenvolvimento e escolha do local para o projecto. Si Ka Lon quer ainda saber como irá funcionar a gestão do bairro.


política 5

hoje macau quinta-feira 16.7.2015

Condomínios Governo questionado sobre atraso na revisão de Regime

Já cá devia estar há muito tempo

O

deputado Leong Veng Chai quer que o Governo se justifique perante o atraso à revisão do Regime Jurídico da Administração das Partes Comuns do Condomínio. Com o fim da consulta pública, que aconteceu no ano passado, o deputado questiona a Administração quanto à calendarização do trabalho. “Qual é o ponto da situação legislativa do regime e quando

é que este pode ser apresentado à Assembleia Legislativa (AL) para apreciação?”, indaga o deputado. “Estamos agora em meados de 2015 e já se passaram seis meses, no entanto, ainda não foi apresentada a referida proposta de lei à AL, nem se registaram quaisquer avanços”, argumenta Leong Veng Chai, assinalando que “devido ao curto espaço de tempo é pouco provável que a respectiva iniciativa legislativa

tiago alcântara

A consulta pública terminou o ano passado, mas ainda nada se sabe sobre a revisão do Regime Jurídico da Administração das Partes Comuns do Condomínio. Leong Veng Chai pede contas ao Governo sobre um diploma que diz vai complicar a vida à população

“Estamos agora em meados de 2015 e já se passaram seis meses, no entanto, ainda não foi apresentada a referida proposta de lei à AL, nem se registaram quaisquer avanços”

Numa interpelação ao Governo, o deputado defende que a futura aprovação desta lei irá provocar o aumento do número de órgãos administrativos dos edifícios, algo que trará dúvidas à população sobre a composição e funcionamento dos mesmos. Assim, questiona o deputado, terá o Governo os meios disponíveis para prestar assistência e apoios técnicos garantindo o bom funcionamento dos órgãos? Ainda na mesma linha, Leong Veng Chai, indaga a Administração relativamente aos meios de incentivo aos proprietários dos edifícios para constituírem órgãos administrativos. “O facto de, durante anos, muitos edifícios baixos e velhos de Macau não terem uma boa administração predial deve-se à falta da constituição dos seus órgãos administrativos. (...) A fim de assegurar a segurança pública e sensibilizar, ao mesmo tempo, os proprietários para assumirem as suas responsabilidades, de que medidas dispõe o Governo para incentivar os proprietários desses edifícios a constituírem órgãos administrativos?”, questiona. filipa.araujo@hojemacau.com.mo

Habitação Social IH num dilema com saída de “famílias ricas”

Ricos ou assim-assim? O

tiago alcântara

Mais órgãos

Filipa Araújo

Leong Veng Chai Deputado

director do Instituto de Habitação (IH), Ieong Kam Wa, disse estar a sentir-se num “dilema” quanto à saída das “famílias ricas” das habitações sociais. O novo regime é, para já, uma proposta na revisão da Lei de Habitação Social, depois do Governo ter considerado que seria mais fácil que as famílias com rendimento superior ao dobro

seja concluída ainda durante o corrente ano”.

do limite máximo para a aquisição de uma casa destas (cerca de 18 mil patacas para um “agregado de uma pessoa”) saíssem da habitação social, para dar lugar a outros que mais precisam. Contudo, ontem, no programa “Macau Talk” do canal chinês da Rádio Macau, Ieong disse considerar que esta forma de tratamento vai causar muitas

preocupações a essas famílias, ainda que tenha salientado que é necessário manter um equilíbrio: enquanto o IH considera que essas famílias conseguem adquirir fracções no mercado privado, há muitas opiniões na sociedade que consideram que essas famílias devem usufruir dos recursos de habitação social. A questão está em consulta pública agora e, por isso, “o dilema”. No que toca à isenção de renda no valor de duas mil patacas para moradores de habitações sociais, algo que já foi implementado há quatro anos, o director do IH referiu que o organismo vai considerar a revisão deste regime, visando, mais uma vez, sobretudo as famílias ricas. O actual documento em consulta sugere também que os residentes que sejam moradores de uma habitação económica possam também candidatar-se a habitação pública, mas o director referiu que o IH ainda não considera alargar a aceitação de pedidos desses pedidos ainda que diz que não vai excluir essa hipótese no futuro para resolver as dificuldades de habitação desse residentes. Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo

Salário mínimo Deputada apela a apoio para trabalhadores não abrangidos

A

deputada Song Pek Kei considera que os trabalhadores que ganhem um salário baixo e não são abrangidos pela Lei do Salário Mínimo – a entrar em vigor em Janeiro do próximo ano – devem receber um apoio financeiro até o regime ser implementado em todos os sectores. Tal como já noticiado, o regime em causa será implementado no próximo ano e inicialmente abrangerá apenas os trabalhadores de limpeza e segurança. O salário mínimo corresponderá assim a 30 patacas por hora, 240 patacas por dia ou a 6240 patacas por mês, dependendo da forma de pagamento. Numa interpelação escrita, a deputada relembrou que os trabalhadores de limpeza e de

segurança recrutados por edifícios comerciais e industriais em autogestão, assim como 13 mil trabalhadores de outros sectores, estão a receber uma remuneração mais baixa do que o ordenado mínimo agora definido. Perante a situação, Song Pek Kei apela ao Governo que tome medidas de apoio para estes trabalhadores antes da lei em causa ser estendida para os outros sectores, tal como prometido pela Administração. Algo que só deverá ser aplicado em 2018. Como último ponto, a deputada quer ainda saber se a autoridade já elaborou uma proposta que trate dos conflitos de gestão predial trazidos pela implementação da Lei do Salário Mínimo. F.F.


6

sociedade

hoje macau quinta-feira 16.7.2015

tiago alcântara

Associações de Coloane entregam plano a Chui Sai On

Ensino Pedida mais fiscalização para cursos do exterior Só no primeiro semestre, o Governo autorizou a abertura de quatro novos cursos de mestrado Gestão Empresarial eArquitectura, FAOM tem um longo historial de ticos são da responsabilidade da cuja responsabilidade pertence à colaboração com universidades, respectiva instituição do ensino suem Macau, South China Normal University e especialmente com a South China perior do exterior. Aliás, compete, ministrados por à Huaqiao University. Só no ano Normal University na China, até ainda, à sua entidade colaborante, passado, segundo dados disponi- antes da transferência de soberania. em Macau, tratar dos assuntos universidades do bilizados pelo Gabinete de Apoio Será fácil ter um maior controlo administrativos gerais. Os destinaEnsino Superior (GAES), foram agora?”, questionou a académica, tários dos cursos do ensino superior exterior, em parceria ao criados 11 novos cursos, licencia- em declarações ao HM. “Penso que o não locais são, principalmente, os turas, mestrados e doutoramentos, Governo deveria ter a responsabilida- estudantes de Macau.” com a FAOM. A Teresa Vong não deixa de lemnão só de universidades do conti- de de aprovar cursos com qualidade académica Teresa nente mas também de Hong Kong por forma a salvaguardar os direitos brar que este fenómeno é também dos cidadãos”, disse ainda. resultado da “globalização” do e de Portugal. Vong defende uma ensino superior, que se tornou num Para Teresa Vong, directora do mercado para muitas universidades. Centro de Investigação em Educação Poucas palavras maior fiscalização da Universidade de Macau (UM), o O HM pediu uma entrevista ao Para além disso, “apesar de termos Executivo deveria fiscalizar mais este responsável pelo Centro da FAOM, 12 instituições do ensino superior destas ofertas tipo de oferta formativa. a qual foi recusada. O GAES não em Macau, os cursos que temos são educativas “Esta situação em Macau é única deu qualquer informação quanto muito semelhantes ou limitados. Isso

Estudar fora cá dentro

A

pesar da existência de quase uma dezena de universidades locais, o Governo autoriza a abertura de cursos do ensino superior ministrados por universidades do exterior, em parceria com o Centro de Estudos Amador da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM). Nos primeiros seis meses do ano foram criados quatro novos mestrados, nas áreas da Tecnologia, Direito,

e muito complicada. Sim, deveria existir um maior controlo da qualidade dos cursos que são oferecidos. Contudo, se olharmos para trás, o Centro de Estudos Amador da

a uma maior fiscalização, tendo apenas referido que a nova Lei do Ensino Superior irá continuar a regular estes cursos. “As acções académicas e os trabalhos didác-

“Esta situação em Macau é única e muito complicada. Sim, deveria existir um maior controlo da qualidade dos cursos que são oferecidos” Teresa Vong Directora do Centro de Investigação em Educação da UM

significa que não temos muitas escolhas”, diz.Aacadémica defende ainda que “para a perspectiva de Macau, os cursos dirigidos por instituições de fora, em termos de custos assumidos pelo Governo, são relativamente mais baratos do que os oferecidos localmente”. O HM tentou contactar as deputadas Kwan Tsui Hang e Ella Lei, da FAOM, mas até ao fecho da edição não se mostraram disponíveis para prestar declarações. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Seis associações de Coloane entregaram ontem um plano de desenvolvimento do local ao líder máximo de Macau, num encontro com Chui Sai On. Com o objectivo de melhorar as condições de Coloane, os representantes entregaram um plano “que se resume em acelerar o processo de desenvolvimento do centro e plano de desenvolvimento das vilas, tornar mais célere o reconhecimento dos direitos de propriedade com fins habitacionais, acelerar o desenvolvimento de infraestruturas públicas para a população usufruir, além de aperfeiçoar as instalações turísticas e de lazer”. Num comunicado à imprensa, o Governo explica que Chui Sai On garantiu, durante o encontro, que o Governo está atento e empenhado no aperfeiçoamento das infra-estruturas e na optimização do meio ambiente. Relativamente às questões do passado ainda não resolvidas e às condições de vida inerentes a esta herança, o Governo continua, defendeu, a ter firmeza em resolver em conjunto com a população, “de acordo com a lei e procedimentos existentes, os problemas conforme as prioridades”.

Macau Investimento e Desenvolvimento com novo administrador

A empresa Macau Investimento e Desenvolvimento, S.A. vai passar a ter Lo Chi Fai como administrador do Conselho de Administração em vez de Sam Kam San. O anúncio foi ontem feito em Boletim Oficial, num despacho assinado por Lionel Leong, Secretário para a Economia e Finanças. A publicação não indica o motivo da substituição, mas descreve que Lo Chi Fai vai desempenhar este cargo em regime de acumulação de funções. Recordese que a Macau Investimento e Desenvolvimento tem como presidente do Conselho de Administração Sou Tim Peng, director dos Serviços de Economia e Sam Kam San, também vogal do Fundo de Segurança Social, era um dos administradores. Lo Chi Fai, que agora ocupa este cargo, é delegado do Governo junto da Companhia de Corridas de Galgos Macau Yat Yuen. A Macau Investimento e Desenvolvimento é uma sociedade comercial criada em Junho pelo Executivo, que é responsável pela exploração e gestão da área da Ilha da Montanha e dos projectos a desenvolver conjuntamente entre a RAEM e a região vizinha.


sociedade 7

hoje macau quinta-feira 16.7.2015

PJ Crimes de Jogo voltam a aumentar Os crimes de Jogo, incluindo a agiotagem, voltaram a aumentar no primeiro semestre criminosa referente a 2014, a PJ “Os crimes apresentou um aumento de 16,3% do ano. A Polícia relacionados com dos crimes relacionados com o Judiciária registou Jogo, um total de 3023 crimes ao o Jogo, crimes longo do ano. A PJ garantiu que mais 108 inquéritos esses números se devem “à fase informáticos e de ajustamento” do sector, que tem burlas mantiveram a ou denúncias face vindo a sofrer quebras consecutitendência para subir. vas nas receitas há vários meses. a 2014 e diz ser Olhando para o cenário fora dos Isto significa que se necessário prestar casinos, o director da PJ concluiu torna necessário, que a segurança continua a existir mais atenção ao no território. “Registaram-se dipara os órgãos ferentes níveis de queda noutros ajustamento do policiais, prestar a crimes graves, nomeadamente, narcotráfico, extorsão, fogo posto, sector dos casinos máxima atenção aos

Maldita quebra

D

ados da Polícia Judiciária (PJ) ontem divulgados revelam que os crimes relacionados com o Jogo continuaram a subir no primeiro semestre do ano, face ao igual período do ano passado. De um total de 463 inquéritos ou denúncias a PJ recebeu um total de 571 nos primeiros seis meses, ou seja, mais 108. Só o crime de agiotagem levou a mais 37 inquéritos ou denúncias, para um total de 108 casos nesse período. Os dados foram divulgados no âmbito das celebrações do Dia da PJ, tendo o seu director, Chau Wai Kuong, chamado a atenção para a necessidade das autoridades prestarem mais atenção ao ajustamento do sector do Jogo. “Estes dados revelam que a segurança em Macau manteve-se estável e os crimes graves diminuíram. No entanto, os crimes relacionados com o Jogo, crimes informáticos e burlas mantiveram a tendência para subir. Isto significa que se torna necessário, para os órgãos policiais, prestar a máxima atenção aos reajustamentos no sector do Jogo, que poderão dar origem a impactos na segurança”, referiu Chau Wai Kuong no seu discurso. O director da PJ considerou ainda ser “necessário fazer o combate e prevenção eficaz no crime transfronteiriço praticado por não residentes e nos casos em que tanto as vítimas, como os autores do crime, não são de Macau”.

Mais do mesmo

Recorde-se que já em Fevereiro, no balanço anual da actividade

furto e roubo, entre estes, houve uma descida de 38% nos casos de narcotráfico, assinalou-se uma descida de 30% nos casos de crime organizado e associação criminosa, uma redução de 18% no furto, uma queda de 28% no roubo, enquanto que a situação dos outros tipos de crime é semelhante à do ano anterior.” Apesar disso, os crimes de burla e ligados ao meio informático

reajustamentos no sector do Jogo”

Chau Wai Kuong Director da PJ

mantiveram a tendência de subida, alertou Chau Wai Kuong. “Foram registados 655 casos relativos aos processos (inquéritos) de burla em telecomunicações, os quais sofre-

Acusação no Sin Fong Garden “não é política” O procurador do Ministério Público (MP), Ip Son Sang, disse ontem à imprensa chinesa que a acusação feita a sete moradores do edifício Sin Fong Garden é “para manter as regras do Direito” e não é uma “acusação política”. Recorde-se que os moradores foram acusados do crime de desobediência qualificada por causa da manifestação realizada o ano passado em frente ao edifício.

ram um aumento de mais de 10% em igual período do ano passado. Isto demonstra que o sentido de segurança na área cibernética e de prevenção das burlas continuam escassos, por isso se deve trabalhar neste aspecto.” Em relação aos crimes praticados por menores de 21 anos, os relacionados com a droga são os mais comuns, mas ainda assim diminuíram, de 12 casos para apenas

nove no primeiro semestre. Houve menos três casos de furto, tendo ocorrido mais cinco casos de burla. Em relação aos crimes de teor sexual, os casos de violação tiveram uma ligeira subida, de nove para 12, enquanto que ocorreram apenas três casos de abuso sexual de crianças, número semelhante a 2014. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Tribunal Três homens condenados por furto em lojas

T

rês homens foram condenados pelo Tribunal Judicial de Base (TJB) a pena de prisão, depois de terem sido apanhados a furtar lojas de marcas famosas em Macau. O caso remonta a Março de 2013, mas só ontem foi divulgada a decisão do tribunal, já que um dos arguidos pediu recurso ao Tribunal de Segunda Instância. Os três homens “tiveram como alvos diversas lojas de bolsas e roupas sitas em Macau, em que, várias vezes, deram cobertura uns a outros ou distraíram a atenção dos empregados, para que os companheiros pudessem, sem serem descobertos pelos empregados, [pegar] em artigos das lojas, colocá-los em malas de mão munidas de folhas anti-detecção de cor prateada, e levá-los para fora das

lojas sem pagar, conseguindo, deste modo, apropriar-se de bolsas, óculos de sol e carteiras de marcas famosas”, pode ler-se no acórdão. O arguido que pediu recurso tinha sido condenado pela prática, em co-autoria e na forma consumada, de um crime de furto qualificado e um crime de furto, o que o levou a ser condenado a uma pena de dois anos e 9 meses de prisão efectiva. Ora, o Tribunal de Segunda Instância considerou que a o Tribunal Judicial de Base teve em plena consideração a intensidade da culpa do recorrente, a natureza e a gravidade dos crimes cometidos e que sua decisão “não merece nenhuma censura”. O Tribunal de Segunda Instância rejeitou, por isso, o recurso.


8

eventos

hoje macau quinta

Google Porto Património Mundial em 59 fotografias

O

Porto Património Mundial está desde esta terça-feira exposto, através de 59 trabalhos fotográficos, no Google Cultural Institute, plataforma que a Google criou em 2011 para a área da cultura. A exposição, terça-feira inaugurada oficialmente, resulta de uma parceria entre a Universidade do Porto, a Google e o Google Cultural Institute, é a primeira concebida por uma universidade portuguesa para essa plataforma e pode não ficar por aqui. “É um grande princípio. Queremos continuar com

mais e mais colaborações”, disse à agência Lusa a directora do Google Cultural Institute, a italiana Luisella Mazza. Adirectora daquele instituto afirma ainda que esta parceria “é importante porque pela primeira há a oportunidade de partilhar imagens históricas organizadas por peritos de Histórica de Arte em inglês e em português”. Os trabalhos foram feitos ao longo deste ano lectivo por 20 alunos do Mestrado em História daArte Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, havendo

também imagens do Arquivo Histórico Municipal. A professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e coordenadora do projecto, Maria Leonor Botelho, explicou à Lusa que foram seleccionadas “cerca de 150 imagens” sobre o Centro Histórico do Porto e, dessas, 59 foram eleitas para a exposição. O trabalho final é um olhar sobre o Porto antigo, com os seus ícones patrimoniais, mas também com alguma contemporaneidade, porque “o Porto Património Mundial tem de ser olhado numa direcção voltada para o futuro”, para o valorizar, realçou Maria Leonor Botelho. “Só conhecendo é que podemos valorizá-lo bem”, acrescentou. O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira elogiou a Universidade do Porto, porque, “uma vez mais, assume-se como principal actor desta cidade, o actor do futuro desta cidade”.

Londres Quarenta obras de Joana Vasconcelos expostas

M

ais de 40 obras de Joana Vasconcelos, de vários períodos da carreira da artista, vão estar em exposição na galeria Phillips, em Londres, desde ontem, até 30 de Agosto. Em destaque estará “Material Girl”, um novo trabalho de grande dimensão, em tonalidade rosa e ornamentada com luzes LED, para a série “Valquíria”, cujas peças são caracterizadas pelas formas tentaculares produzidas a partir de têxteis coloridos, bordados e de outras aplicações. Esta série, iniciada em 2004, é inspirada nas figuras na mitologia nórdica que sobrevoavam os campos de batalha, montadas em cavalos alados, que identificavam os futuros guerreiros do deus Odin.

Para o espaço da galeria, que tem uma área de 864 metros quadrados, a artista portuguesa fez novos trabalhos para a série de “Pinturas em crochê”, com espelhos e luzes LED, e criou o primeiro caracol gigante para o núcleo “Bordalos”, composta por animais em cerâmica, cobertos de rendas portuguesas. Joana Vasconcelos já expôs várias vezes em Londres e realizou uma grande mostra no ano passado, em Manchester, mas a última a solo na capital britânica data de 2012.

Recentemente viu também duas torres gigantes, em forma de castiçais, compostas por garrafas de vinho, serem instaladas nos jardins de Waddesdon Manor, em Buckinghamshire, no Reino Unido. Joana Vasconcelos, 42 anos, nascida em Paris, mas a residir em Lisboa e com ateliê na capital portuguesa, tornou-se na primeira mulher e criadora mais jovem a expor algumas das suas obras no Palácio de Versailles, em Paris, em 2012. Representou oficialmente Portugal na Bienal de Arte de Veneza, em 2013, num projecto comissariado por Miguel Amado, que levou um cacilheiro - Trafaria - transformado em obra de arte ao recinto principal da mostra internacional contemporânea.

À venda na Livraria Portuguesa Sérgio Godinho • Mútuo Consentimento

No ano em que passavam 40 anos da edição de “Os Sobreviventes”, o primeiro longa duração da sua carreira, Sérgio Godinho olhava em frente e apresentava um disco constituído por 11 novas canções como só ele sabe fazer. “Mútuo Consentimento” inclui algumas parcerias inéditas: Bernardo Sassetti, Noiserv, Francisca Cortesão (aka Minta), o percussionista António Serginho (Foge Foge Bandido) e a Roda de Choro de Lisboa são alguns dos que se juntaram à banda que tem acompanhado Sérgio Godinho nos últimos anos - “Os Assessores”.

O

músico português Rodrigo Leão está esta semana a gravar um novo álbum, em Lisboa, com o Coro e a Orquestra Gulbenkian, que sairá em Outubro e será apresentado ao vivo em Novembro, no Porto e em Lisboa. “É um disco mais espiritual, muito cinematográfico, é quase um momento de reflexão em relação à nossa existência”, afirmou o músico à agência Lusa, referindo que é o primeiro álbum feito de raiz a pensar numa orquestra. Rodrigo Leão, com o ensemble que habitualmente o acompanha, apresentará as músicas novas em três con-

Rodrigo Leão grava novo álbum co

Uma refle certos que vão contar com a participação do Coro e da Orquestra Gulbenkian - quase uma centena de pessoas -, sob a direcção do maestro Rui Pinheiro: a 18 de Novembro, no Coliseu do Porto, e nos dias 20 e 21 desse mês, no Coliseu de Lisboa. Neste projecto, que já tinha sido apresentado na nova temporada de música da Gulbenkian, grande parte dos temas é instrumental, mas

haverá duas ou três canções a serem interpretadas pela cantora Selma Uamusse, que tem colaborado com Rodrigo Leão. O músico tem andado a trabalhar em composições novas, desde o ano passado, e escolheu pouco mais de dez para a gravação do álbum. Além do coro, da orquestra e de Selma Uamusse, participa ainda o ensemble que normalmente acompanha o

Rua de S. Domingos 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • mail@livrariaportuguesa.net

Buraka Som Sistema • Komba

O sucessor de “Black Diamond”, gravado na vila algarvia de Monchique, conta com as colaborações de Igor Cavalera, fundador dos Sepultura, do austríaco Stereotyp e de outros nomes. A origem do nome Buraka Som Sistema, já se sabe, é o da freguesia da Buraca, na cidade da Amadora, arredores de Lisboa. O conceito de sound system, esse é oriundo da Jamaica.


eventos 9

a-feira 16.7.2015

hoje no prato Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

Ameixa Nome botânico: Prunus domestica L. Família: Rosáceas. Com origem no Cáucaso e Ásia Menor (Turquia) há mais de 2000 anos, e muito cultivada hoje em todos os continentes, a Ameixeira foi introduzida na Europa pelos Gregos e Romanos. É uma árvore que pode alcançar os 5 metros de altura, de frutos arredondados ou ovais, polpa carnuda, tamanho e cor diversos – há-os amarelos, verdes, vermelhos e pretos, de acordo com as suas cerca de 2000 variedades! As suas propriedades laxantes são conhecidas desde a Antiguidade, sendo igualmente recomendadas pelos médicos árabes e da Idade Média. Porém, as investigações actuais recaem sobre o seu potencial antioxidante, que aumenta nas Ameixas secas. No Extremo-Oriente, a Ameixa simboliza a plenitude sexual da mulher.

om Coro e Orquestra Gulbenkian

exão existencial músico: O quarteto de cordas formado por Carlos Tony Gomes, Bruno Silva, Denys Stetsenko e Viviena Tupikova, e ainda Celina da Piedade, no acordeão.

Ode à vida

O novo álbum, ainda sem título, “é um regresso à influência clássica”, descreveu Rodrigo Leão, depois de ter editado “A vida secreta das máquinas”, mas próximo da música electrónica, e “Espírito de um país”, álbum ao vivo gravado com a Orquestra Sinfonietta de Lisboa. Com um tema cuja letra foi escrita pela mulher, Ana Carolina, e outros com frases em latim retiradas de textos antigos, o álbum “é quase uma espécie de elogio à vida”. “Tem muita esperança, tristeza, tem todos os sentimentos que habitualmente estão presentes na minha música, a melancolia”, referiu.

“Tem muita esperança, tristeza, tem todos os sentimentos que habitualmente estão presentes na minha música, a melancolia” O álbum conta ainda com arranjos de Carlos Tony Gomes e a colaboração do arranjador Steve Bartek, com quem Rodrigo Leão tinha já trabalhado na banda sonora do filme norte-americano “O mordomo”. Rodrigo Leão, 51 anos, está ligado à música portuguesa desde a década de 1980, tendo participado na

fundação de grupos como Madredeus e Sétima Legião, e colaborado com vários músicos, entre os quais Beth Gibbons, Neil Hannon, Adriana Calcanhotto e Ryuichi Sakamoto. Mais recentemente, editou os álbuns “A montanha mágica”, “Espírito de um país”, gravado ao vivo com a Orquestra Sinfonietta de Lisboa, e “A vida secreta das máquinas”, de pendor mais eletrónico. A par deste trabalho, Rodrigo Leão tem composto para cinema e outros projectos artísticos, nomeadamente os filmes “O mordomo” e “A gaiola dourada” e a exposição “Florestas submersas by Takashi Amano”, patente no Oceanário de Lisboa. Grande oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 2014, Rodrigo Leão editará o novo álbum em Outubro, através da Universal Music.

Composição Com uma combinação equilibrada de vitaminas (A, B2, B3, B5, B6, ácido fólico, C, E, K, betacaroteno), minerais (cálcio, enxofre, fósforo, magnésio, potássio, sódio) e oligoelementos (cobalto, cobre, ferro, iodo, manganésio, selénio, zinco), a Ameixa é rica em fibras (celulose, pectina), açúcares (sorbitol) e água; contém ainda ácidos orgânicos, di-hidroxifenilisatina e pigmentos. É pobre em proteínas, gorduras e apresenta um baixo valor calórico. Polpa doce, sumarenta e delicada; casca fina e amarga. As Ameixas secas perdem água e vitamina C e, mais energéticas, concentram açúcares, fibras e demais nutrientes. Acção terapêutica A mais famosa das propriedades da Ameixa é a sua acção laxante suave e eficaz, para a qual contribuem vários dos seus constituintes: a pectina, uma fibra solúvel, absorve a água no intestino, aumentando o volume das fezes e tornando-as mais moles e fluidas, ao mesmo tempo que protege e suaviza as paredes das mucosas digestivas; a di-hidroxifenilisatina estimula suavemente os movimentos peristálticos, acelerando o trânsito intestinal; a celulose e o sorbitol adjuvam. Atendendo a que se trata de um laxante seguro, não irritante, a Ameixa pode ser ingerida durante longos períodos de tempo, sendo ideal para crianças, idosos e pessoas com o

intestino delicado. É muito recomendável para reeducar o intestino preguiçoso (atonia intestinal), na obstipação crónica e síndrome do cólon irritável. Tem actividade diurética e depurativa, beneficiando situações de ácido úrico elevado, gota e reumatismo. Contribui igualmente para a saúde óssea e a prevenção da osteoporose – o consumo regular de Ameixas secas por mulheres após a menopausa impede a reabsorção óssea, aumentando a sua densidade mineral e reduzindo o risco de fracturas. Outras propriedades A Ameixa baixa os níveis de colesterol LDL no sangue, reduz a pressão arterial e contribui para manter o bom estado das artérias, prevenindo a arteriosclerose; protege o coração pela actividade antioxidante e anti-inflamatória. Reforça as defesas contra bactérias, vírus e fungos, e neutraliza os radicais livres, protegendo as células dos seus efeitos danosos, retardando o processo de envelhecimento e protegendo contra certos tipos de cancro, nomeadamente do cólon. Contribui para a saúde da pele, previne as rugas e fortalece o cabelo, evitando a sua queda. Como consumir As Ameixas frescas devem ser encorpadas, brilhantes e macias, e a polpa deve ceder ligeiramente a uma suave pressão dos dedos. Muito perecível, deve ser conservada num local fresco ou na gaveta do frigorífico, apenas por uns dias; pode ainda ser congelada. Sugestões: As Ameixas podem ser ingeridas frescas, secas, demolhadas ou cozidas, em sumos, purés ou em calda. Em saladas de frutas e/ou com frutos secos. Em recheios ou para acompanhar pratos de aves, porco ou caça. Em compotas, doces, pudins, bolos e sobremesas. Secas: podem ser consumidas durante todo o ano. Podem ser demolhadas durante a noite e ingeridas em jejum (como laxante: tomar a água a seguir). A dose habitual é de 6 a 12 Ameixas por dia. Em vinho, licores ou aguardentes. Precauções Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.


10

china

hoje macau quinta-feira 16.7.2015

Hong Kong Estudantes acusados por protestos anti-Pequim

Crescimento económico no 1.º semestre excedeu previsões

A consolidar o reequilíbrio A

O

líder do movimento estudantil Scholarism, Joshua Wong, e o actual secretário-geral da Federação de Estudantes de Hong Kong, Nathan Law, foram esta terça-feira acusados de obstrução à polícia no âmbito de protestos anti-China realizados no ano passado. Wong, de 18 anos, e Nathan, de 22 anos, já reagiram, acusando as autoridades de estarem a fazer uma caça às bruxas contra activistas pró-democracia em Hong Kong. “É perseguição política... É dissimular que estou a ser acusado por ter participado num protesto legal”, disse Joshua Wong. As acusações contra os estudantes estão relacionadas com um protesto pacífico realizado em Junho do ano passado, durante o qual foi queimada uma cópia de um “livro branco” de Pequim sobre Hong Kong. Este protesto ocorreu meses antes das grandes manifestações contra o plano de reforma política para aquela Região Administrativa Especial chinesa, as quais paralisaram várias zonas da cidade durante dois meses e meio, até Dezembro. “Se nós fomos acusados porque queimámos o livro branco, isso significa que os manifestantes podem enfrentar mais pressões no futuro, quando se opuseram às políticas do governo de Hong Kong ou do governo central”, afirmou. O advogado Michael Vidler, que representa Wong, questionou a demora na detenção e acusação ao estudante, uma vez que o seu paradeiro era do conhecimento das autoridades. “Tudo isso aumenta a suspeita de que se trata de uma perseguição ao invés de policiamento adequado”, disse à AFP. A polícia não fez nenhum comentário no imediato. Joshua Wong e Nathan Law vão apresentar-se em tribunal na sexta-feira com outros dois activistas -- Raphael Wong e Albert Chan -- que na semana passada foram acusados por obstrução à justiça no protesto de Junho.

segunda economia mundial manteve um crescimento de 7% no segundo trimestre de 2015, excedendo várias previsões internacionais, e confirmando a “nova normalidade” defendida pelo governo chinês. Duas sondagens citadas pela Televisão Central da China previam que o Produto Interno Bruto chinês abrandaria para 6,9% entre Abril e Junho, mas segundo anunciou ontem o Gabinete Nacional de Estatísticas do país, o crescimento foi igual ao do trimestre anterior (7%). “A economia nacional manteve-se num raio adequado, com os grandes indicadores a recuperaram gradualmente, indicando estabilização e melhoria”, assinalou o Gabinete. Aquele valor (7%), que coincide com a meta apontada pelo governo chinês, excede também a previsão do Fundo Monetário Internacional acerca do crescimento económico da China em 2015 (6,8%). Comparando com igual período do ano anterior, o crescimento da economia chinesa no primeiro semestre de 2015 abrandou 0,4 pontos percentuais. Se aquele valor (7%) se mantiver ao longo do ano, será o mais baixo do último quarto de século. Na última década, a economia chinesa cresceu em média 9,9% ao ano e em 2010 tornou-se a segunda maior do mundo, à frente do Japão e da Alemanha. Mas em vez de abrandamento, os líderes chineses preferem falar em “reequilíbrio”, argumentando que o actual

crescimento económico do país traduz “uma nova normalidade”, mais “sustentável”, centrada no consumo e na inovação e não tanto nos grandes investimentos em obras públicas e exportações, como outrora.

Bons indicadores

No primeiro semestre de 2015, a produção industrial da China cresceu 6,3%, o investimento em activos fixos aumentou 11,4% e as vendas a retalho, um dos principais indicadores do consumo interno, subiram 10,4%, disse o Gabinete Nacional de Estatísticas do país. Entre Janeiro e Junho deste ano, o PIB chinês atingiu 29,7

biliões de yuan, aumentando 7% em relação ao primeiro semestre de 2014, indicou a mesma fonte. O porta-voz do Gabinete Nacional de Estatísticas da China, Sheng Laiyun, realçou a “vitalidade” da economia chinesa, mas alertou que a recuperação económica global está a ser “lenta e tortuosa”. “Temos de estar conscientes que as condições económicas internas e externas ainda são complexas (…) As bases para a estabilização da economia da China precisam de ser mais consolidadas”, disse. Segundo anunciou na terça-feira a Administração-geral das Alfândegas chinesas, o comér-

“Temos de estar conscientes que as condições económicas internas e externas ainda são complexas (…) As bases para a estabilização da economia da China precisam de ser mais consolidadas” Sheng Laiyun Porta-voz do Gabinete Nacional de Estatísticas da China

cio externo da China caiu 6,9% no primeiro semestre de 2015. A queda maior (15,5%) foi nas importações, o que proporcionou à China um excedente comercial recorde de 1,61 biliões de yuan, mais do dobro do saldo registado em igual período de 2014. Outra fonte de incerteza, que afecta mais de 120 milhões de investidores, a Bolsa voltou a cair na terça-feira (1,16%), interrompendo três sessões seguidas de recuperação, e ontem de manhã, a queda no Index Composite de Xangai foi ainda maior (2,4%). A última vez que o PIB chinês cresceu abaixo de 7% foi em 1990, o ano que se seguiu à sangrenta repressão do movimento pró-democracia da Praça Tiananmen. Naquele ano, a economia chinesa cresceu apenas 3,9%, ainda menos do que os 4,2% registados em 1989 e 7,4 pontos percentuais abaixo do crescimento de 11,3% alcançado em 1988.

pub

O HM errou

COMISSÃO DE REGISTO DOS AUDITORES E DOS CONTABILISTAS Aviso Torna-se público que já se encontra finalizada a correcção da primeira prestação das provas para a inscrição inicial e revalidação de registo como auditor de contas, contabilista registado e técnico de contas, realizadas no ano de 2015 nos termos do disposto na alínea c) do artigo 2º do Regulamento da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, pela referida Comissão. Os respectivos resultados serão notificados aos interessados até ao dia 23 de Julho, solicitando-se aos mesmos que contactem com a Sra. Wong, através do nº 85995343 ou 85995344, caso não recebam a mencionada notificação.

Direcção dos Serviços de Finanças, aos 10 de Julho de 2015

O Presidente do Júri, Iong Kong Leong

No artigo da secção “Ócios e Negócios”, sobre o novo restaurante português “Mariazinha”, onde se lê que Filipa Rodrigues é esposa de Nélson Rocha, deve ler-se sócia. Ao contrário do que está escrito, Joana Rocha é sim a esposa do proprietário do “Mariazinha”. Aos leitores e aos visados as nossas desculpas.

Três suspeitos de terrorismo abatidos

A Polícia chinesa matou esta segunda-feira três suspeitos de terrorismo e feriu um deles, todos armados com facas, que resistiram à prisão na cidade de Shenyang, no nordeste do país, informaram as autoridades locais. O caso ocorreu quando as forças de segurança realizavam uma operação antiterrorista em Shenyang, que acabou com a detenção de outras 16 pessoas. A Polícia encontrou os supostos terroristas num apartamento alugado na cidade. Os supostos terroristas atacaram os agentes com facas e gritaram “slogans jihadistas”, segundo a televisão estatal CFTV.


região

hoje macau quinta-feira 16.7.2015

Tailândia ONU apela à retirada de acusações contra jornalistas Um australiano e uma tailandesa estão acusados de difamação da marinha e enfrentam Chutima Sidasathian, editor e redactora do jornal Phuketwan, penas que podem começou esta segunda-feira. ir até sete anos Os jornalistas estão a ser julgados por alegadas acusações de prisão vertidas num parágrafo em que

Cuidado com a língua

A

ONU instou a Tailândia a retirar as acusações contra dois jornalistas, um australiano e uma tailandesa, por alegada difamação da marinha, citada num artigo sobre tráfico humano, informou ontem a imprensa local. Caso sejam condenados, os jornalistas podem ser punidos com penas de até sete anos de prisão. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos instou o Governo tailandês, em comunicado, a defender as normas internacionais dos “direitos dos jornalistas e outros para difundir a informação que é do interesse público legítimo”, noticia o diário Bangkok Post. O julgamento contra o australiano Alan Morison e a tailandesa

citaram textualmente a agência Reuters. Apesar da queixa contra os jornalistas do Phuketwan, a agência Reuters não foi alvo de qualquer acusação pelo artigo original que acabou citado pelos visados.

Tradução em questão

Morrison disse à agência Efe estar “optimista” perante a falta de “argumentos” da acusação no julgamento que termina na quinta-feira, embora os juízes tenham até 30 dias para deliberar e emitir a sentença. O parágrafo em questão, publicado em Julho de 2013, cita um alegado traficante que acusa as “forças navais tailandesas” de lucrar com o tráfico de pessoas. Segundo Morison, a marinha tailandesa traduziu erradamente a

frase como “a Marinha Real Tailandesa”, no parágrafo que fazia referência a navios tailandeses que podiam ser de outros corpos policiais ou militares. “A liberdade de imprensa, incluindo a liberdade dos jornalistas para trabalhar sem medo de represálias é essencial para promover a transparência e prestar contas sobre os temas de interesse público”, refere o texto difundido pelas Nações Unidas. Jornalistas da agência Reuters ganharam o prémio Pulitzer com a cobertura do tráfico humano do mar de Andamão até à Tailândia e Malásia. Em Maio passado, o tráfico de imigrantes, sobretudo de muçulmanos birmaneses e do Bangladesh, tornou-se numa crise humana regional depois de vários barcos à deriva terem sido resgatados pela marinha da Tailândia, Malásia e Indonésia. Entretanto, a Malásia e Indonésia comprometeram-se a acolher temporariamente os imigrantes, incluindo da minoria étnica ‘Rohingya’. Os ‘Rohingya’ são considerados pelas Nações Unidas a minoria étnica mais perseguida em todo o mundo e fazem perigosas viagens de barco a partir da Birmânia.

pub

Aviso Avisam-se todos os interessados que está aberto o concurso comum, de ingresso externo, de prestação de provas, para o preenchimento de onze lugares de assistente técnico administrativo de 1.ª classe, 1.º escalão, área de oficial administrativo, da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, de acordo com as condições referidas no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau, n.° 28, II Série, de 15 de Julho de 2015, e cujo prazo de apresentação das candidaturas termina no dia 4 de Agosto: - Lugares vagos no quadro — oito (8) - Lugares a preencher em regime de contrato além do quadro — três (3) Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, aos 8 de Julho de 2015.

Assine-o Telefone 28752401 | Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo

A Directora, Leong Lai

11

www.hojemacau.com.mo


h

hoje macau quinta-feira 16.7.2015

artes, letras e ideias

12

fichas de leitura*

Manuel Afonso Costa

Plenitude e nulificação

S

e Isto é um Homem de Primo Levi, deve ler-se com o estômago vazio e numa fase da nossa existência marcada pelo equilíbrio, pois o conteúdo desta obra pode revolver as tripas e perturbar de uma forma irreversível. Eu, com total sinceridade, nem me preocupo que o conteúdo deste texto esteja relacionado com o que se passou no âmbito da Segunda Guerra Mundial e portanto no quadro das práticas nazis. Isso para mim seria reduzir o significado do texto assim como a sua exemplaridade universal. Isto passou-se vezes sem conta e infelizmente voltará a passar-se. Penso que Primo Levi, apesar de confessar que jamais perdoou aos alemães o que passou e sofreu no campo de concentração de Auschwitz, não descreveu a sua experiência como forma de retaliação ou vingança mas na perspectiva da denúncia de que os homens podem atentar contra a humanidade quer na pessoa dos outros quer na sua própria pessoa. Tenho tendência a ler o livro na sua dimensão ambivalente. O homem que ali, desde o título é equacionado e posto em causa, embora com juízos morais distintos, inequivocamente distintos, é o carrasco e a vítima. É difícil aceitar como sendo homem aquele que submete o Outro (homem) aos tratos a que foram submetidos nos campos de concentração, e não apenas os judeus, mas também os russos e os ciganos, por exemplo. E é ainda difícil continuar a ver um homem na vítima destruída de toda a sua humanidade; na vítima reduzida a coisa, coisa que não conta para nada, coisa inútil. É evidente que o adjectivo ‘inútil’ é neste caso redundante quando nos estamos a referir a pessoas pois uma pessoa não pode nem deve ser instrumentalizada, na medida em que o respeito pela pessoa humana reside na liberdade da sua finalidade própria, como muito bem diz o Imperativo Categórico de Kant na sua segunda formulação. De facto os juízos são muito diferentes neste nosso caso. Por um lado, um ser humano, no caso o judeu e em particular Primo Levi, é esvaziado da sua humanidade através da violência e do sofrimento que lhe é infligido

Levi, Primo, Se Isto É Um Homem, Teorema, Lisboa, 1988 Descritores: Literatura Italiana, Romance, Segunda Guerra Mundial, Nazismo, Campos de Concentração, Auschwitz, Holocausto, trad.de Simonetta Cabrita Neto, 176 p.:21 cm Cota: C-6-1-179

e que pretende anulá-lo, reduzi-lo a coisa sem o mínimo valor e por outro lado, outro ser humano, no caso os alemães, mas não só como mostra Levi, auto esvazia-se da sua humanidade através da imoralidade radical dos seus actos. Neste segundo caso a nulificação advém paradoxalmente do exercício de uma plenitude, a plenitude absoluta do mal. Vale a pena transcrever este curtíssimo texto de Primo Levi e que antecede a narrativa propriamente dita. Sem mais palavras: Vós que viveis tranquilos Nas vossas casas aquecidas, Vós que encontrais regressando à noite Comida quente e rostos amigos: Considerai se isto é um homem Quem trabalha na lama Quem não conhece paz Quem luta por meio pão Quem morre por um sim ou por um não. Considerai se isto é uma mulher, Sem cabelos e sem nome Sem mais força para recordar Vazios os olhos e frio o regaço Como uma rã no Inverno. Meditai que isto aconteceu: Recomendo-vos estas palavras. Esculpi-as no vosso coração Estando em casa andando pela rua, Ao deitar-vos e ao levantar-vos; Repeti-as aos vossos filhos. Ou então que desmorone a vossa casa, Que a doença vos entreve, Que os vossos filhos vos virem a cara.

Primo Levi nasceu em 1919, no seio de uma família judia liberal, na cidade de Turim. Em 1934 entrou para o liceu onde foi aluno do filósofo Norberto Bobbio e do grande escritor Cesare Pavese. Primo Levi acabou os estudos secundários em 1937 e entrou para a Universidade de Turim, para estudar química, onde se formaria em 1941. Depois da fundação da República Social Italiana liderada por Mussolini, Levi juntou-se ao movimento da resistência, aos partisans portanto, designado Movimento Justiça e Liberdade. Primo Levi e muitos outros militantes da resistência, foram presos pelas milícias fascistas e enviados para o campo de detenção de Fossoli, perto de Modena; e em 1944 foram enviados para Auschwitz. Ao fim de onze meses terríveis Levi, tendo sobrevivido, foi libertado pelo Exército Vermelho. Dos 650 judeus italianos mandados para Auschwitz com Levi, apenas vinte sobreviveram. Assim que voltou à Itália, Levi começou a escrever sobre suas experiências no campo de concentração e sobre sua jornada de regresso a Itália. Desse trabalho ficaram dois clássicos: Se Isto é um Homem e A trégua. Publicou mais livros mas quase todos sem sucesso, salvo a obra O Sistema Periódico que foi considerado pela Academia de Londres o melhor livro de ciência alguma vez escrito. Levi morreu a 11 de Abril de 1987, depois de cair no vão da escada interna do prédio de três andares onde vivia, duvidando-se até hoje que não tenha sido suicídio. Sobre isso Elie Wiesel disse que “Primo Levi morreu em Auschwitz quarenta anos antes”.

Parecem palavras bíblicas, mas são de uma outra dimensão. Esta mensagem é do homem e em nome do homem. Esta mensagem bem que podia encabeçar um dia um catecismo secular e humanista.

*No quadro da colaboração de Manuel Afonso Costa com a Biblioteca Central de MacauInstituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de Leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.


( F ) utilidades

hoje macau quinta-feira 16.7.2015

?

13

tempo aguaceiros ocasionais min 27 max 32 hum 65-95% • euro 8.74 baht 0.23 yuan 1.28

Cineteatro

O que fazer esta semana

Sexta-feira

Cinema

ant-man Sala 1

minions [a]

FALADO EM CANTONÊS Filme de: Pierre Coffin, Kyle Balda 14.15, 16.00, 17.45, 19.30

minions [3d] [a] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Pierre Coffin, Kyle Balda 21.30

Festival “Kill The Silence” Live Music Association, 19h00 Bilhetes das 50 às 250 patacas

Sala 3

poltergeist [c]

Filme de: Gil Kenan Com: Sam Rockwell, Rosemarie DeWitt 14.15, 18.00, 21.30

poltergeist [3d] [c] Filme de: Gil Kenan Com: Sam Rockwell Rosemarie DeWitt 19.45

Sala 2

ant-man [B]

Filme de: Peyton Reed Com: Paul Rudd, Michael Douglas 14.30, 16.45, 21.30

ant-man [3d] [B]

Noite de Piano na Galeria Fundação Rui Cunha, 18h00 - 20h00 Entrada livre

Com: Paul Rudd, Michael Douglas 19.45

Filme de: Peyton Reed

ted 2 [c]

Filme de: Seth MacFarlane Com: Mark Wahlberg, Amanda Seyfried, Morgan Freeman 16.00

Festival de Cinema NY Portuguese Shorts Fundação Oriente, 19h00 Entrada livre

Aconteceu Hoje

Sábado

Nasce Mário Dionísio

Festival “Kill The Silence” Live Music Association, 19h00 Bilhetes das 50 às 250 patacas Festival de Cinema NY Portuguese Shorts Fundação Oriente, 17h00 Entrada livre

Diariamente

Exposição “O legado de Amílcar Cabral” Casa Garden, 18h30 (até 31/07) Entrada livre Exposição “Saudade” (até 30/9) MGM Macau Entrada livre “A Arte de Imprimir” (até Dezembro) Centro de Ciência de Macau Entrada livre Exposição “Ao Risco da Cor - Claude Viallat e Franck Chalendard” Galeria do Tap Seac (até 9/08) Entrada livre Exposição “Who Cares” (até 28/07) Armazém do Boi, 16h00 Entrada livre Exposição “De Lorient ao Oriente - Cidades Portuárias da China e França na Rota Marítima da Seda” Museu de Macau (até 30/08) Entrada livre Exposição de Artes Visuais de Macau (até 2/8) Pintura e Caligrafia Chinesas Edifício do antigo tribunal, 10h00 às 20h00 Entrada livre

h o j e h á f i l m e “Rocky Balboa” (Sylvester Stallone, 2006) Ele quase dispensa apresentações. Rocky Balboa começou por ser um humilde lutador de bairro, passando por anos de glória, até que se reforma. A morte da mulher fá-lo isolar-se, mas a paixão pelo boxe volta a surgir, depois de um jogo de consola mostrar que Rocky vencia o actual campeão do mundo de pesos pesados. Apesar de ser uma vitória virtual, a luta provoca muita curiosidade e os dois acabam mesmo por se confrontar. E, agora, quem sai vencedor? Joana Freitas

Musical “A Bela e o Monstro” (até 26/6, de quinta a domingo) Venetian Macau Bilhetes entre as 280 a 680 patacas Exposição “Valquíria”, de Joana Vasconcelos (até 31 de Outubro) MGM Macau, Grande Praça Entrada livre

16 de JUlHO

• A 16 de Julho de 1916 nasce em Lisboa o crítico, escritor, pintor e professor português Mário Dionísio. Personalidade multifacetada, Mário Dionísio teve uma acção cívica e cultural marcante no século XX português, com particular incidência nos domínios literário e artístico. Licenciou-se em Filologia Românica em 1940 na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi professor do ensino secundário e, depois do 25 de Abril, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde havia sido estudante. Foi autor de uma obra literária autónoma (poesia, conto, romance). Fez crítica literária e de artes plásticas, realizou conferências, interveio em debates, colaborou em diversas publicações periódicas, entre as quais: Seara Nova, Vértice, Diário de Lisboa, Mundo Literário 1 (1946-1948), Gazeta Musical e de todas as Artes. Prefaciou obras de autores como Manuel da Fonseca, Carlos de Oliveira, José Cardoso Pires, Alves Redol. Teve uma forte ligação às artes plásticas. Além da actividade como pintor (desde 1941), foi um dos principais impulsionadores das Exposições Gerais de Artes Plásticas e integrou o júri da II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian. Enquanto artista plástico usou os pseudónimos de Leandro Gil e José Alfredo Chaves. Participou em diversas exposições colectivas, nomeadamente nas Exposições Gerais de Artes Plásticas de 1947, 48, 49, 50, 51 e 53. Realizou a sua primeira exposição individual de pintura em 1989. Mário Dionísio desempenhou um papel de relevo na teorização do Neo-realismo português, “movimento literário que, nos anos de 1940 e 1950, à luz do materialismo histórico, valorizou a dimensão ideológica e social do texto literário, enquanto instrumento de intervenção e de consciencialização”. No contexto das tentativas de reforma cultural encetada pelos intelectuais dessa corrente, através de palestras e outras acções culturais, “participou num esforço conjunto de aproximar a arte e o público, de que resultou, por exemplo, a obra ‘A Paleta e o Mundo’, constituída por uma série de lições sobre a arte moderna”. Morreu em 1993.

fonte da inveja

O tempo só existe quando nos separa.

João Corvo


14

opinião

hoje macau quinta-feira 16.7.2015

Tânia dos Santos

sexanálise

Stuart Rosenberg, Cool Hand Luke

taniarsdossantos@gmail.com

Devaneios fálicos

D

espedidas de solteira convidam a um exagero fálico, quer queiramos ou não. Tivemos a sorte de a meio da organização de uma despedida de solteira de referências sci-fi a pedido da noiva, caírem do céu uns bilhetes para um espectáculo musical com homens nus. Muito apropriado. Lá fomos ver e ouvir as danças e canções de um grupo de homens que orgulhosamente exibiam os seus pénis. Provavelmente foi esta a primeira oportunidade de ficar a admirar assim de certa distância pénis na sua pluralidade e diferença. Timidamente (a corar!) ficámos a calcular proporções entre alturas e tamanhos quando estrategicamente alinhados estes homens nus ficavam cantarolando versos contra o preconceito do nu masculino. Tenho ideia que é generalizado que o pénis é objectivamente feio (note-se: a vulva também). Não erecto então, é ainda mais aborrecido, sem graça e sem jeito definido. Houve quem então se focasse nos rabinhos, outras nas barrigas semi-tonificadas ou tonificadas de todo. Um festival para os olhos, passe a expressão inglesa. E dançavam

bastante, abanavam-se bastante. Enfim, foi tema de conversa para este grupo de mulheres todo um fim-de-semana. Devaneios fálicos na sua mais pura forma de partilhas e confissões que não o seriam de outra forma, se não tivessem um contexto tão óbvio. Desde pénis com formas de lápis invertido, virado para a esquerda ou para a direita, em todas as tonalidades de cor-de-rosa. Há de tudo. Claro que estas conversas tiveram que passar pelas múltiplas definições de masculinidade e atracção. A conclusão a que chego é que nós (o nosso grupinho de mulheres) não precisamos de provas empíricas de um pénis lustroso e gigantesco para uma masculinidade assumida. O Paul Newman em “Cool Hand Luke”, parece que assume uma masculinidade normalmente entendida e suportada por homens, da qual eu pouco entendo. Quem conhece o filme há-de saber. O que há de heróico em comer muitos ovos de uma só vez? Não sei, digam-me vocês. Pelo Paul Newman derreto-me totalmente, mas pela sensibilidade e o sentido artístico que um actor de tamanhas proporções e tamanha beleza podem esperar. Mas esta sensibilidade artística a roçar o romântica já faz parte das expectativas de muitas mulheres, com mais ou menos legitimidade.

Ou seja, se cruzarmos as expectativas de engate entre homens e mulheres muito provavelmente encontramos discrepâncias. Entenda-se que há mulheres para toda uma diversidade de critérios, por isso, e por razões óbvias, não há uma fórmula universal para uma masculinidade atraente, e é o que nos salva, porque senão andávamos sempre atrás dos mesmos espécimes.

Entenda-se que há mulheres para toda uma diversidade de critérios, por isso, e por razões óbvias, não há uma fórmula universal para uma masculinidade atraente, e é o que nos salva, porque senão andávamos sempre atrás dos mesmos espécimes

Recentemente à conversa com uma conhecida numa festa qualquer, vim a descobrir que ela participava num fórum de ajuda aos homens. Nada de patológico ou especialmente grave, mas é qualquer coisa como uma plataforma onde homens expressam as suas dúvidas e pedem conselhos na busca de coragem - para abordar aquela gaja toda boa, com classe e confiança. Baixos, gordinhos, carecas, o que quer que seja. O objectivo é explicar ao sexo masculino sobre a atracção na mais óbvia das concepções, i.e., segurança e auto-estima. De bem verdade que há concepções masculinas sobre a masculinidade na minha opinião deveras preocupantes, e.g., os homens que se ficam na fundamental estupidez quando pensam que conseguem comprar alguém no séc. XXI no mundo ocidental. Talvez em países de percepção mais tradicional de género como, por exemplo, na China, onde se acredita que os homens mais ricos presenteiam orgasmos muito mais potentes - dizem os estudos “científicos” - nunca confessados na minha estadia na China continental. Uma apropriação evolutiva, quem sabe. E assim vos deixo com o Hallelujah na versão mangalho: Maaan-galho, maaaaan-galho, man-galho, man-galho, man-ga-lho-o!.


opinião 15

hoje macau quinta-feira 16.7.2015

Leocardo

bairro do oriente

J

oshua Wong Chi-Fung, natural de Hong Kong, 18 anos de idade, estudante e activista, doravante referido pelo nome de “Joshua”. Amos Yee Pang-San, natural de Singapura, 16 anos de idade, estudante, doravante referido apenas pelo seu nome inglês “Amos”. Dois jovens, duas caras larocas, duas cabecinhas pensadoras, só que muito confusas. Joshua e Amos são o paradigma do jovem ideólogo da burguesia nas cidades mais capitalistas da Ásia. Se no clássico de 1955 que o imortalizou, James Dean era o “rebelde sem causa”, estes serão com toda a certeza os “rebeldes sem causa alguma” – e andam desesperadamente procurando uma. Joshua apareceu em 2011 durante os protestos contra o plano de Pequim de implementar nas escolas de Hong Kong uma disciplina de Educação Patriótica, algo que nesta região do sul da China tem inevitavellmente a conotação de “lavagem cerebral”. Com apenas 14 anos de idade na altura, o jovem Joshua destacou-se pela sua postura de confrontação com as autoridades, que muito provavelmente ficaram saber como lidar com a situação – afinal era uma criança que ali estava. Além da componente de “street fighter”, sempre de megafone em punho e rosto pueril, que mal consegue segurar os óculos, o activista adolescente destacou-se ainda pelos seus dotes de retórica, bastante desenvolvidos para a idade. Enquanto os outros jovens de 14 anos escutavam Justin Bieber e seguiam apaixonadamente a quadrologia “Twilight”, Joshua fazia activismo político, e chegou mesmo a fundar um movimento a que se deu o nome de “schoolarism”, e quando ouvi falar disto pela primeira vez, juro que pensei tratar-se de uma escola de pensamento já existente. Poucos se podem orgulhar de ter fundado uma ideologia antes de ter barba. Só que nem Joshua tem barba, nem a sua retórica pernas para andar. Foi um nascimento prematuro. Comecei a seguir de perto a sua actividade há pouco mais de um ano, e fiquei espantado com a forma como debita as frases feitas colhidas do jardim da pró-democracia chinesa, um eufemismo que designa o que não passa de oposição ao Governo Central, e ao próprio regime. Abandonado o plano de Pequim no sentido de “ensinar” aos patriotas de Hong Kong como a mãe deles é uma mãe, como tal deve ser respeitada, surgiu o fenómeno “Occupy Central”, que paralisou o centro financeiro de Hong Kong durante semanas em nome de coisa nenhuma, a não ser a prática de um desporto radical muito na berra aqui na região: “chatear a China”. Joshua exibiu o seu imberbe ego

Nicholas Ray, Rebel Without a Cause

Juvenis, delirantes juvenis

de uma forma que se pode considerar quase pornográfica, demonstrando muita vontade de derrubar, nenhuma de construir, e ainda menos em propor alternativas. O pináculo do ridículo deu-se quando levou a cabo uma greve de fome que nem chegou a cinco dias, pois aparentemente esta modalidade de activismo dá “fome” – o que ajuda a explicar o sentido do seu nome. O preocupante é a forma como fala de “desobediência civil”, que confunde com uma espécie de “birra do sono”. O melhor era alguém lhe explicar que se tudo o que se lê nos livros fosse aplicável por qualquer um, bastando para tal apenas “querer”, aprendia-se qualquer língua lendo uma vez uma vez um dicionário dessa mesma língua. Ou em alternativa podiam ver se ele tem chichi. Amos é uma variante de Joshua que se pode considerar na linha do “same same, but different”. Ambos adolescentes (Joshua é dois anos menos novo), ambos de etnia

“Nem Joshua tem barba, nem a sua retórica pernas para andar. Foi um nascimento prematuro”

chinesa, ambos muito longe de saber o que implica nascer de etnia chinesa para um quinto da população mundial. A diferença entre os dois génios ingénuos? O “habitat”: o “quasi-homo protestis paranadis” conhecido por Amos move-se por Singapura, a cidade-estado por excelência, que para os olhos de muitos ocidentais é uma sociedade faraónica onde o povo leva chicotadas todo o dia, todos os dias, enquanto arrasta os blocos de pedra para construir as pirâmides. O “faraó”, para uns, e “pai de Singapura” para outros foi Lee Kuan Yew, desaparecido a 23 de Março último aos 91 anos, mais de uma década depois de se retirar da cena política. Enquanto primeiro-ministro de Singapura, Lee foi muitas vezes acusado de excesso de autoridade, ficando talvez um patamar acima do ditador comum, com a diferença dos singaporeanos que supostamente o deviam temer viverem uma vida consideravelmente próspera. Se em termos de qualidade da democracia em Singapura, ou da falta dela, ninguém melhor que os próprios singaporeanos para julgar, e talvez a maior parte não tenha razão de queixa – digo eu, que não tenho percepção de qualquer estrangulamento das liberdades civis naquele local em particular, e mesmo tendo lá estado, não

dei conta de um povo oprimido. Mas quem sou eu, quando Amos, que tinha cinco ou seis quando Lee saiu de cena, consegue em 15 segundos dizer dele o que nem o mais audaz dos seus opositores diria em dez anos? Decorriam ainda as cerimónias fúnebres do fundador da cidade estado, e este jovem, que chegou a ganhar um prémio de realização quando tinha 11 anos, faz um vídeo onde insulta Lee a um ponto que mesmo em qualquer democracia ocidental lhe valeria um belo sarilho. Não foi esfolado e mergulhado em sal, e foi necessário recorrer a uma tecnalidade para agir judicialmente contra ele. As imagens de Amos ao lado dos pais cada vez que vai responder a tribunal dizem tudo; um casal com um rosto pesaroso, furioso até, e ele sorridente, como quem pregou uma partida que fez toda a gente rir. Pobres pais. É possível que muito boa gente com mais que idade para ter juízo aprecie este tipo de chicana política, e mesmo muitos jovens batem palmas a estes dois exemplares do que a “democracia” representa nesta região do globo. Para mim não passa senão de aparecer num jogo decisivo e da maior responsabilidade, a contar para o campeonato da gente grande, e apresentar em campo a equipa de juvenis. Sai goleada, certamente.

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


hoje macau quinta-feira 16.7.2015

cartoon

Toyota chama à revisão 625 mil híbridos em todo o mundo

O

fabricante automóvel Toyota Motor chamou ontem à revisão cerca de 625 mil carros híbridos em todo o mundo devido a uma falha de software que pode reduzir o poder motriz e fazer mesmo com que pare. A empresa, considerada o maior fabricante automóvel mundial, com sede em Aichi (centro do Japão), informou que a avaria não provocou qualquer acidente, nem ferimentos aos ocupantes. O defeito afecta os modelos Prius + (comercializado como Prius V ou Prius Alfa, em determinados mercados) e o Auris híbrido, fabricados entre Maio de 2010 e Novembro de 2014. Do total, 160 mil foram comercializados na Europa, 120 mil na América do Norte e aproximadamente 340 mil no Japão, enquanto os restantes 5000 foram vendidos em África e em outros mercados. A actual configuração de software destes automóveis pode causar um sobreaquecimento

de transístores, que, se danificados, podem levar, em primeiro lugar, ao acender de várias luzes de aviso, segundo a Toyota. Na maioria dos casos, o veículo entraria em “modo de segurança”, o que reduz a força motriz do carro e permite conduzi-lo apenas por uma distância limitada. Em última instância, explica a Toyota, o sistema hibrido desactivar-se-ia e o automóvel ficaria parado. A empresa explicou que as viaturas afectadas devem ser levadas aos concessionários em que foram adquiridos, onde será efectuada uma actualização do software, operação estimada em cerca de meia hora. O problema foi detectado numa altura em que a Toyota, a par com outros fabricantes japoneses, tem ainda muito presente as massivas chamadas à revisão devido a avarias nos ‘airbags’ da companhia Takata, que terão estado na origem de pelo menos oito mortes.

Japão Cinco mortos e mais de 3000 hospitalizados devido a onda de calor

pub

Cinco pessoas morreram e mais de 3.000 outras tiveram que ser hospitalizadas no Japão devido a uma onda de calor que tem afectado o país na última semana, informaram ontem os ‘media’ locais. A onda de calor tem sido registada em grande parte do arquipélago, tendo a temperatura superado os 39 graus centígrados em Gunma e Fukushima (centro), acompanhados por uma humidade superior a 63%. Além das cinco vítimas mortais, todas de avançada idade, foram hospitalizadas cerca de 3.200 pessoas em todo o país nos últimos oito dias, com sintomas relacionados com as elevadas temperaturas, metade das quais com idade igual ou superior a 65 anos, segundo dados oficiais citados pela agência Kyodo. Do total, oito encontram-se em estado crítico, de acordo com a televisão estatal NHK. As previsões meteorológicas apontam para uma descida da temperatura desde ontem, devendo a máxima atingir 35 graus centígrados no centro do país, sendo que quase todo o arquipélago se verá coberto por nebulosidade atraída pelo tufão Nangka.

por Stephff

histórico acordo nuclear iraniano

Tinta

eixo dos não-tão-maus-assim

Tinta

afinal já não é um diabo assim tão grande

Filipinas Tartarugas resgatadas após seis meses em cativeiro

Espécie em vias de extinção M ilhares de tartarugas raras foram resgatadas nas Filipinas, após terem sido mantidas em cativeiro, em péssimas condições, durante seis meses, pondo em risco a extinção da espécie, anunciou ontem uma perita em vida selvagem. Oficiais da vida selvagem invadiram o armazém a 17 de Junho passado, na cidade de Bataraza, perto do extremo sul de Palawan, nas Filipinas, tendo encontrado mais de quatro mil ‘tartarugas de água doce’ vivas e 90 mortas. Neste resgate, foram também encontradas 3.831 ‘tartarugas de floresta Palawam’, uma espécie em perigo, bem como 160 ‘tartarugas folha’ e 25 ‘tartarugas de caixa do sudeste asiático’. “Este número iguala a restante população estimada de ‘tartarugas de floresta Palawan’na natureza, levando assim a espécie até à extinção”, revelou Sabine Schoppe, directora do Programa de Conservação das Tartarugas Philippine Freshwater. Aparentemente, os répteis foram armazenados sem comida, nem água, durante seis meses. “As tartarugas estavam em péssimas condições”, afirmou Sabine Schoppe, explicando que estas foram transferidas para um centro de resgate de crocodilos

em perigo, na capital provincial de Puerto Princesa, nas Filipinas, o único local na ilha capaz de abrigar um número tão elevado de animais. Muitas das tartarugas resgatadas sofriam de uma variedade de doenças e lesões, tendo os veterinários trabalhado em contra-relógio para salvar os animais, disse Sabine Schoppe, em comunicado. Desde que foram resgatadas, morreram 360 tartarugas, cerca de 230 estão

ainda a ser tratadas e as restantes foram lançadas de volta na natureza, adiantou Schoppe. O guarda do armazém foi interrogado pela polícia, mas não foi detido, revelou Jannifer Lyn Yap, membro da divisão de regulação e aplicação de Palawan para o Desenvolvimento Sustentável, um órgão do Governo encarregado de proteger a vida selvagem na ilha. O proprietário continua foragido, acrescentou. O comunicado divulgado revela que existem suspeitas de que as tartarugas estavam destinadas aos mercados de Hong Kong e da China. “A nossa suposição é de que elas tivessem como fim os mercados chineses, onde são procuradas como alimento ou animais de estimação”, afirmou Jannifer Yap. As ‘tartarugas folha’ resgatadas são consideradas “quase ameaçadas” segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza, com sede na Suíça. Já as ‘tartarugas de caixa do sudeste asiático’ são consideradas “vulneráveis” pela mesma organização. Nas Filipinas, manter em cativeiro ou negociar tartarugas florestais Palawan é punível com penas de prisão e multas avultadas.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.