SEGUNDA-FEIRA 17 DE OUTUBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3676
DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ PUB
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
TURISMO
hojemacau
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VISITA DEPUTADOS PROCURAM REFERÊNCIAS NOS VIZINHOS
Venham de lá estrangeiros
Diário de Pequim
ANTÓNIO GRAÇA DE ABREU
Pintores antigos XIE HE
Lutar pelas oportunidades que a nova Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau poderá trazer ao território foi um dos objectivos da visita de alguns deputados às regiões vizinhas. A procu-
TAILÂNDIA
SOFIA MOTA
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GRANDE PLANO
ASSEMBLEIA
De volta ao plenário PÁGINA 5
OPINIÃO
Estretor RUI FLORES
UM | PORTUGUÊS
As metas do director ÚLTIMA
ra de referências para evitar a marginalização da RAEM e estratégias para uma política de execução orçamental mais adequada estiveram no centro da deslocação.
CARMINHO
FADISTA SEM PELE EVENTOS
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Ponte da oportunidade
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TEMPOS DIFÍCEIS
MOP$10
2 GRANDE PLANO
No país das praias e do tempo quente prevê-se um período de instabilidade política que ninguém sabe quanto tempo vai durar. A morte do rei tailandês Bhumibol Adulyadej, que sempre foi um símbolo de unidade no país, traz um problema por resolver: o filho e herdeiro do trono é boémio, rebelde e distante da população
TAILÂNDIA MORTE DO REI GERA FUTURO INCERTO NO PAÍS
O PRINCIPE TATUADO ´
N
ÃO fossem os militares a fazer a vénia à sua frente ninguém acreditaria que aquele homem cheio de tatuagens nas costas e uma camisola branca, com a barriga a descoberto, fosse o herdeiro do trono tailandês. Este foi o episódio mais recente das muitas rebeldias cometidas por Maha Vajiralongkorn, aos quais se juntam os divórcios e casamentos e a nomeação de um caniche como tenente-geral da Força Aérea. Agora que o pai, Bhumibol Adulyadej, morreu ao fim de 70 anos de reinado, a sucessão do trono está em risco. A morte daquele que era o rei com mais tempo de trono (agora o lugar foi dado à rainha Isabel II de Inglaterra) deixou os tailandeses inconsoláveis. Já foi decretado luto nacional por um período de um ano, durante o qual os funcionários públicos irão vestir-se de preto e não poderá haver a participação em festividades nacionais. Para Francisco José Leandro, docente da Universidade de São José (USJ), os tempos são de incerteza. “O rei da Tailândia tem um papel fundamental em termos de unidade nacional, e nesse sentido vamos ver como vai ser a sucessão com o herdeiro, que parece que tem um carácter e um perfil bem diferente do pai. Mas a Tailândia passa agora por um momento difícil com a nova ordem constitucional, com a mudança do sistema político e
com um papel diferente em termos do equilíbrio das várias forças. Vai ser um período difícil.” O docente considera que a monarquia tailandesa não preparou bem o cenário de sucessão, já que o príncipe herdeiro está longe de ser adorado pelos tailandeses.
“A Tailândia passa agora por um momento difícil com a nova ordem constitucional, com a mudança do sistema político e com um papel diferente em termos do equilíbrio das várias forças. Vai ser um período difícil” “O rei da Tailândia tinha um património, uma influência junto da população conquistada ao longo de um grande período histórico, e é algo que o sucessor ao trono não tem” FRANCISCO JOSÉ LEANDRO DOCENTE DA UNIVERSIDADE DE SÃO JOSÉ
Muitos analistas referem que não está sequer preparado para ocupar o cargo que lhe está destinado. “O que estranho é que os monarcas preparam bem a sua sucessão, do ponto de vista do envolvimento na sociedade e participação nos actos sociais e na vida política. Quer-me parecer que não foi o caso da Tailândia. Isso cria uma certa incerteza. Em Espanha o rei abdicou mas houve uma transição normal, havia uma identificação com o príncipe Filipe. Não creio que isso aconteça na Tailândia. Acho que o papel do rei da Tailândia era muito pessoal e não constitucional, era mais uma figura por si só e não pelo cargo que ocupava”, acrescentou Francisco José Leandro.
JUNTA MILITAR À PARTE
A Tailândia tem atravessado um período conturbado em termos políticos, sendo que esta morte só vem adensar mais o cenário após a adopção de uma nova Constituição pela Junta Militar. Mas o académico Arnaldo Gonçalves acredita que esta não vai interferir no processo de sucessão. “A curto prazo, enquanto não se decidir a sucessão, vai haver uma situação de instabilidade. Tudo depende de como for gerido, vão haver reuniões do conselho executivo e há quem fale de ser a princesa (Maha Chakri Sirindhorn, filha mais nova do rei) a assumir o cargo, de ser uma melhor alternativa (contudo, o país não permite a subida de mulheres ao trono). Vamos ter que deixar amadurecer
a situação, para perceber qual a situação de poder na corte, para ver quem tem mais poder para assumir esse papel. Não me parece que a Junta Militar vá interferir no processo.” Para Francisco José Leandro, o rei tailandês era adorado como uma pessoa calma e de comportamento exemplar, e não tanto por ser o monarca do país. “O rei da Tailândia tinha um património,
“Vamos ter que deixar amadurecer a situação, para perceber qual a situação de poder na corte, para ver quem tem mais poder para assumir esse papel. Não me parece que a Junta Militar vá interferir no processo” “A decisão dos agentes [de turismo] de Hong Kong é um disparate. Estamos num período de precaução, mas a actividade económica continua a existir” ARNALDO GONÇALVES ACADÉMICO
3 hoje macau segunda-feira 17.10.2016 www.hojemacau.com.mo
Governo de Macau expressa condolências
S
uma influência junto da população conquistada ao longo de um grande período histórico, e é algo que o sucessor ao trono não tem. Acho que agora tem de haver um espaço de afirmação do herdeiro e vamos ver como isso vai ser encarado pela população tailandesa.” Não é certo ainda se o cenário do fim da monarquia se coloca. “O papel das monarquias tem sido dependente da realidade dos estados. Na Ásia temos exemplos como o do Japão, que neste momento está a lidar com a sucessão do imperador. A monarquia pode sair ou não, tudo
vai depender de como a sucessão se vai fazer.”
O MEDO DO TURISMO
Sendo um país onde o turismo é a principal actividade económica, já começam a surgir sinais de que esta não é a altura mais indicada para viajar para o país, postura que Arnaldo Gonçalves condena. “A decisão dos agentes de Hong Kong é um disparate. Estamos num período de precaução, mas a actividade económica continua a existir. Nos próximos dias acredito que haja alguma instabilidade, porque vão
haver funerais de Estado, mas quem vai para as praias...não tem de haver limitação. Não houve alterações significativas à segurança do país.” Mais uma vez é a prudência a fazer-se ouvir. “As agências fazem isso no sentido do alarmismo mas de uma certa prudência, porque ninguém sabe o que vai acontecer. Tivemos um referendo há pouco tempo, foi alterada praticamente a ordem constitucional. É difícil fazer prognósticos”, rematou Francisco José Leandro. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
ÓNIA Chan, Chefe do Executivo interina (Chui Sai On está em viagem oficial na China) enviou uma mensagem de condolências pela morte do rei tailandês. Segundo um comunicado oficial, o Executivo defendeu tratar-se de um monarca que “durante o longo reinado de setenta anos, dedicado ao seu país e ao seu povo, liderou a Tailândia pelo caminho do desenvolvimento estável e usufruindo sempre do profundo amor e estima de seus súbditos”. Sónia Chan referiu ainda que “manifesta a sua consternação pelo facto e expressa os mais profundos pêsames a todos os membros da Casa Real e ao povo da Tailândia”. Entretanto, na quinta-feira, milhares de tailandeses estiveram presentes à frente do palácio real para homenagear o rei Bhumibol, depois de 79 anos de um reinado que será seguido por um período de regência. O príncipe herdeiro Maha Vajiralongkorn, de 64 anos, surpreendeu ao pedir um “prazo” antes de subir trono, deixando por agora o país sem monarca. Neste contexto, os militares precisaram que em virtude da Constituição, Prem Tinsulanonda, até agora chefe do conselho privado do rei, será o regente por um prazo não especificado. Tinsulanonda tem 96 anos mas continua muito activo e é descrito pelos analistas como a eminência parda do palácio que mexe as cordas na cena política, nomeadamente os golpes de Estado militares. Esta regência “será temporária pois actualmente o trono está vago”, declarou à imprensa o vice-primeiro-ministro Wissanu Krea-Ngam. Prem Tinsulanonda, antigo general e ex-primeiro-ministro, era até agora o principal conselheiro do rei defunto.
ANO DE LUTO
Na sexta-feira, o príncipe herdeiro conduziu, no seio do palácio, o ritual budista do banho do
corpo do seu pai, primeira etapa de uma longa série de ritos que vão durar um ano. Desde o anúncio da morte do monarca na quinta-feira à noite, a capital Banguecoque tem alternado entre o branco e o negro. O Governo, que anunciou um período de luto de um ano, afirmou temer uma ruptura de «stocks’ no país. Bhumibol Adulyadej, hospitalizado quase continuamente nestes dois últimos anos, não apareceu em público há cerca de um ano. No entanto, o monarca foi a figura paterna do reino, reconfortante para muitos tailandeses que vivem na ideia de que ele era o “pai da nação” depois de décadas de propaganda, reforçada por uma lei de lesa majestade rigorosa. O último golpe de Estado em Maio de 2014 foi realizado para salvar a monarquia por um exército ansioso para entrar na cena política com a aproximação da sucessão, enquanto a personalidade do príncipe herdeiro preocupa muitos tailandeses. O príncipe passou grande parte do seu tempo na Alemanha e a sua personalidade, considerada instável, está a ser debatida, mesmo pelos assessores do palácio e generais no comando do governo, disseram analistas. HM/LUSA
4 POLÍTICA
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A
AL CENÁRIO DE “IMPEACHMENT” POSSÍVEL NA LEI, MAS IMPOSSÍVEL NA PRÁTICA
A norma faz de conta
Se antes de 1999 a Assembleia Legislativa podia apresentar moções de censura ao Governo, a Lei Básica manteve o mesmo mecanismo, mas bem mais rigoroso: é necessária a criação de uma comissão de inquérito, uma maioria de deputados a votar a favor e a decisão de Pequim. Especialistas e deputados falam de um cenário impossível de acontecer vassalagem à casta burocrática dirigente do Partido Comunista Chinês e procurem defender os interesses da primeira sem lesar os da segunda”. Para além disso, “prevê que a maioria dos deputados esteja politicamente alinhada com o Chefe do Executivo”.
GCS
Lei Básica manteve um cenário político que estava previsto no Estatuto Orgânico de Macau, antes de 1999, o qual dava poderes à Assembleia Legislativa (AL) para apresentar, livremente, moções de censura ao Governo. O modelo actual é, contudo, diferente e mais difícil de pôr em prática. Para destituir o Chefe do Executivo há que incumbir o presidente do Tribunal de Última Instância (TUI), que deve formar uma “comissão de inquérito independente para proceder a averiguações”, em casos de “grave violação da lei” ou “abandono das suas funções”. Só com o apoio de dois terços dos deputados poderá depois ser enviada uma moção de censura, “comunicando-a ao Governo Central para decisão”. O mecanismo existe mas o pontapé de saída nunca foi dado porque é praticamente impossível, disseram ao HM dois deputados e um jurista. José Pereira Coutinho, deputado eleito pela via directa, assume que tal cenário não vá acontecer enquanto não existir sufrágio universal para a eleição do Chefe do Executivo. “Não acho importante (isso acontecer) porque enquanto não tivermos um Chefe do Executivo eleito de uma forma mais legitimada pelo voto dos cidadãos, acho que não tem utilidade. Eleito por uma pequena elite de cidadãos e nomeado pelo Governo Central, é evidente que esta norma nunca teria pernas para andar”, disse a HM. Para o deputado, “a cultura chinesa não tem compatibilidade com esse tipo de articulados”. “Preferem resolver esses assuntos de forma mais subtil e fora da vista dos cidadãos. São muitas normas que neste momento vão ser objecto de recensão, algumas continuarão a existir no futuro mas continuarão a não ter aplicabilidade face à diferença da cultura ocidental com a oriental”, referiu. Para o deputado Ng Kuok Cheong, o mecanismo previsto no artigo 71 da Lei Básica serve somente para a China “ter Macau e Hong Kong sob controlo”. “É um sistema criado para que estas regiões estejam sob controlo”, referiu, acrescentando que só existirão moções de censura ao Executivo “se houver mudanças na China no futuro”.
“Este mecanismo não serve, ou não pretende servir, para a luta política corrente, nem sequer para pontos altos nessa luta que possam ocorrer uma ou duas vezes por década” ANTÓNIO KATCHI JURISTA
SEMELHANÇAS E DIFICULDADES
Ao HM, o jurista António Katchi explica que o mecanismo previsto na Lei Básica “assemelha-se à figura do ‘Impeachment’ contra o Chefe de Estado, prevista em várias constituições presidencialistas, e não tanto à figura da moção de censura contra o Governo prevista em constituições parlamentaristas e semipresidencialistas.” “A disposição da Lei Básica exige uma ‘grave violação da lei’ ou o abandono de funções. Exige ainda
que esses factos sejam invocados e reconhecidos pelos deputados e sustentados por provas examinadas e reconhecidas por uma comissão de inquérito formada pelo presidente do TUI. Há, aqui, pois, uma fase para judicial enxertada no meio do processo político. Creio que fica claro que este mecanismo não serve, ou não pretende servir, para a luta política corrente, nem sequer para pontos
“A cultura chinesa não tem compatibilidade com esse tipo de articulados” PEREIRA COUTINHO DEPUTADO
altos nessa luta que possam ocorrer uma ou duas vezes por década”, explicou Katchi. O jurista e docente do Instituto Politécnico de Macau (IPM) referiu ainda que a impossibilidade de pôr na prática este mecanismo está ligada à forma de Governo instituído. Este determina que “o Chefe do Executivo e a maioria dos deputados representem a classe capitalista e prestem
“Neste quadro, seria difícil reunir o número de deputados necessário para propor essa moção de acusação. Mais difícil ainda seria alcançar-se o número necessário de votos favoráveis para aprovar a deliberação pela qual a AL incumbiria o presidente do TUI de formar uma comissão de inquérito independente para proceder a averiguações. E mais difícil ainda seria atingir-se o número de votos necessário para aprovar a moção de censura (dois terços dos 33, ou seja, 22).” Para Katchi, “quem se opõe ao Chefe do Executivo também não tem muitas razões para confiar no Governo Central e na casta dirigente do Partido Comunista Chinês. Das duas, uma: ou não se vislumbram razões suficientemente fortes para convencer o Conselho de Estado a exonerar o Chefe do Executivo e, então, o processo adoptado não teria o resultado almejado por quem o iniciasse (embora pudesse trazer outras vantagens políticas); ou existem tais razões e, então, seria processualmente mais económico tentar convencer o Conselho de Estado por outras vias”, rematou o jurista. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
5 POLÍTICA
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Regresso ao trabalho Enquadramento orçamental e revogação legislativa na ordem do dia da AL
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Assembleia Legislativa (AL) de Macau regressa esta semana aos trabalhos apreciando a prometida proposta de lei de Enquadramento Orçamental, que prevê a apresentação de um relatório intercalar da execução. O diploma, que vai ser debatido e votado na generalidade na terça-feira, vem determinar a apresentação ao hemiciclo de um relatório intercalar de execução, até 10 de Agosto de cada ano; e do relatório da execução orçamental do PIDDA (Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração), no prazo de 30 dias após o termo de cada trimestre. Quando da proposta de orçamento, que tem de ser apresentada em Novembro, constarem despesas relativas a projectos que impliquem encargos plurianuais, o Governo é também obrigado a facultar aos deputados dados adicionais, como o encargo total previsto ou estimado para cada um dos projectos, bem como as parcelas respeitantes ao do ano do orçamento em causa e, com carácter indicativo, de cada um dos anos subsequentes. A nova lei do Enquadramento Orçamental, que tem entrada em vigor prevista para 2017, vem ainda definir que o valor da dotação provisional (exclusivamente destinada a situações imprevistas) não pode exceder 3% do total das despesas orçamentadas. De acordo com a nota justificativa enviada aos deputados, o diploma tem como “ponto essencial” a “atribuição de maior transparência da operação financeira pública”.
LEIS QUE JÁ NÃO SERVEM
Na ordem do dia do plenário de terça-feira há ainda a apresentação e votação, também na generalidade, de uma proposta de lei de “determinação de não-vigência das leis e decretos-leis publicados no período compreendido entre os anos de 1976 e 1987”. O Governo de Macau concluiu os trabalhos de análise técnica das leis e decretos-leis (num total de 2.123 diplomas) publicados entre 1976 e 19 de Dezembro de 1999, dia da transferência do exercício de soberania de Macau de Portugal para a China, enumerando os diplomas ainda em vigor. “Existem certos diplomas que embora ainda estejam em vigor, já estão desactualizados e deixaram, na realidade, de ser aplicados ou não têm, de facto, razão de existir”, pelo que “o grupo de trabalho sugere também que sejam revogados expressamente, pretendendo-se assim dar mais um passo na simplificação do sistema normativo de Macau”, lê-se na nota justificativa. A sessão legislativa 2016/17 começa, no entanto, esta segunda-feira, com um plenário com dois pontos na ordem do dia: a apresentação do Relatório sobre a Execução do Orçamento de 2015 e do Relatório de Auditoria de Conta Geral de 2015; e do projecto de deliberação do plenário relativo à proposta do Orçamento Privativo da AL para 2017. Lusa/HM
Visita DEPUTADOS PROCURAM REFERÊNCIAS EM REGIÕES VIZINHAS
Pontes estratégicas
Deputados da AL deslocaram-se a Cantão, Shenzhen e Zhuhai para recolher informações que sirvam de referência às políticas a adoptar com a abertura da nova ponte e estratégias adequadas de execução orçamental
A
“
S oportunidades são para ser aproveitadas”, afirma o deputado Si Ka Lon após a visita de três dias a Cantão, Shenzhen e Zhuhai. Si Ka Lon considera que a conclusão da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau vai trazer muitas oportunidades de desenvolvimento mas é necessário ter em conta a gestão uma série de situações. Para o deputado, assuntos prementes são os modelos e a gestão da circulação, os transportes por parte de veículos pesados das três regiões e a possibilidade de passagem de carros privados locais pela infra-estrutura, na medida em que são questões que não reúnem consenso. Si Ka Lon espera que o Executivo tenha em con-
sideração as necessidades e vontades locais e que consiga propor a Pequim sugestões pertinentes de modo a assegurar a economia e o bem estar da sociedade civil de Macau e a aproveitar da melhor forma a existência desta ponte. “Se não se lutar pelas oportunidades voluntariamente, muitas delas poderão ser perdidas e, esse facto, poderá contribuir para a marginalização gradual da RAEM”,
frisa o deputado ao jornal Ou Mun. Si Ka Lon refere ainda que com a reabertura da Assembleia Legislativa (AL) e o examinar da proposta de Lei do Enquadramento Orçamental, irá propor que o Executivo passe a ter como referência alguns dos métodos de trabalho de Cantão.
ATENÇÃO AOS GASTOS
De modo a que não aconteça mais um der-
“Se não se lutar pelas oportunidades voluntariamente, muitas delas poderão ser perdidas e, esse facto, poderá contribuir para a marginalização gradual da RAEM” SI KA LON DEPUTADO
rape orçamental, a deputada Ella Lei, que também fez parte do comité que visita regional, salienta que há necessidade de transparência e de fiscalização dos orçamentos públicos. “Embora seja difícil Macau utilizar directamente o modelo de fiscalização da China continental, há muitos métodos que podem servir como referência”, afirma Ella Lei. Para a deputada, o país já começou a atribuir uma importância crescente à fiscalização e execução dos orçamentos de que dispõe e já tem medidas detalhadas para agir antecipadamente e antes que os problemas sejam efectivos. Para o efeito, Pequim recorre à ajuda de empresas para acompanhar os processos de
fiscalização, sugestão que poderia ser recebida pelo Governo local. Pelo contrário, Macau, com os sucessivos casos de gastos excessivos e de alterações orçamentais está a criar um descontentamento social crescente, ao qual o Executivo deveria estar atento, afirma Ella Lei. Os deputados da AL terminaram uma visita de três dias a Cantão, Shenzhen e Zhuhai em que visaram conhecer as referências que são tomadas nas regiões vizinhas e trocar opiniões sobre o planeamento, legislação, fiscalização e execução orçamental. Angela Ka (revisto por SM) info@hojemacau.com.mo
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AVISO COBRANÇA DO IMPOSTO PROFISSIONAL (DIFERENÇA DO ANO DE 2015) 1.
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2.
Aquisição de Dois Autocarros para o Instituto Politécnico de Macau Concurso público n.º 03/DOA/2016
3.
Faz-se público que, de acordo com o despacho de 28 de Setembro de 2016, do Exm.o Senhor Secretário para Assuntos Sociais e Cultura, se encontra aberto concurso público para a « Aquisição de Dois Autocarros para o Instituto Politécnico de Macau ». 1. Entidade que põe o serviço a concurso: Instituto Politécnico de Macau.
2. Modalidade de concurso: Concurso Público. 3. Objecto do Concurso: Aquisição de Dois Autocarros para o Instituto Politécnico de Macau
4. Prazo de validade das propostas do concurso: As propostas do concurso são válidas até 90 dias contados da data de abertura das mesmas.
5.
5. Garantia provisória: $27 600,00 (vinte e sete mil e seiscentas patacas), através de depósito no Serviço de Contabilidade e Tesouraria do Instituto Politécnico de Macau ou mediante garantia bancária a favor do Instituto Politécnico de Macau, em Macau 6. Garantia definitiva: 4% do preço global da adjudicação (para garantia do contrato). 7. Condições de admissão: Entidades com sede ou delegação na RAEM cuja actividade total ou parcial se inscreva na área objecto deste concurso. 8. Local, data e hora de explicação: Local: Sala de Reunião do Pavilhão Polidesportivo do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luis Gonzaga Gomes, em Macau. Hora e Data :10H00, 14 de Outubro de 2016. 9. Local, data e hora do limite da apresentação das propostas: Local: Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luis Gonzaga Gomes, em Macau. Hora e Data: 27 de Outubro de 2016, antes das 17H45. 10. Local, data e hora da abertura do concurso: Local: Sala de Reunião do Pavilhão Polidesportivo do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luis Gonzaga Gomes, em Macau. Hora e Data :10H00, 28 de Outubro de 2016. 11. A avaliação das propostas do concurso será feita de acordo com os seguintes critérios: - Preço (35%) - Responder aos requisitos (40%) - Garantia/ Serviços-pós-venda (10%) - Prazo de entrega de bens (10%) - Outras condições (5%) 12. Local, hora e preço para exame do processo e obtenção da cópia do processo: Local de exame: Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luis Gonzaga Gomes, em Macau. Local de obtenção: Divisão de Obras e Aquisições do Instituto Politécnico de Macau, sita na Rua de Luis Gonzaga Gomes, em Macau, mediante o pagamento de MOP100,00 (cem patacas). Hora: de 2a feira a 5a feira das 09H00 às 13H00 e das 14H30 às 17H45. 6a feira das 9H00 às 13H00 e das 14H30 às 17H30. Telefone: 8599 6123, 8599 6178, 8599 6287 Macau, aos 5 de Outubro de 2016 O Presidente em Exercício, Im Sio Kei
4.
6. 7.
Avisam-se os Srs. contribuintes que a única prestação do referido Imposto (diferença do ano de 2015) é cobrada durante o mês de Outubro. No mês de pagamento, se os Srs. contribuintes não tiverem recebido o conhecimento de cobrança, agradece-se que se dirijam ao NÚCLEO DE INFORMAÇÕES FISCAIS, situado no r/c do Edifício “Finanças”, ao Centro de Atendimento Taipa ou ao Centro de Serviços da RAEM, trazendo consigo o conhecimento de cobrança ou fotocópia do ano anterior, para efeitos de emissão de 2.ª via do mesmo. Por outro lado, os contribuintes, que sejam titulares do Bilhete de Identidade de Residente da RAEM, podem recorrer aos quiosques desta Direcção dos Serviços para efectuarem a impressão de 2.ª via do conhecimento de cobrança pessoal. O pagamento pode ser efectuado, até ao último dia do mês de Outubro, nos seguintes locais: - Nas Recebedorias do Edifício “Finanças”, do Centro de Atendimento Taipa, do Centro de Serviços da RAEM ou do Edifício Long Cheng; - Os impostos/contribuições podem ser pagos por intermédio de cartão de crédito ou de débito emitidos pelo Banco da China ou pelo Banco Nacional Ultramarino (incluindo “Maestro” e “UnionPay”). O valor total de pagamento não pode ser superior a MOP$100.000,00 (cem mil patacas), sendo apenas permitido utilizar na operação um único cartão. Pode-se também optar pelo pagamento através do cartão “Quick Pass”, sendo que o valor total de pagamento não pode ser superior a MOP$1.000,00 (mil patacas). - Nos balcões dos Bancos a seguir discriminados: Banco da China Banco Comercial de Macau Banco Delta Ásia Banco Industrial e Comercial da China Banco Luso Internacional Banco Nacional Ultramarino Banco Tai Fung Banco OCBC Weng Hang - Nas máquimas ATM da rede Jetco de Macau, assinaladas com a indicação <<Jet payment>>; - Por pagamento electrónico [“banca-on-line”]: Banco da China Banco Luso Internacional Banco Nacional Ultramarino Banco Tai Fung Banco OCBC Weng Hang - Por pagamento telefónico “banca por telefone” : Banco da China Banco Tai Fung Se o pagamento for efetuado por meio de cheque, a data de emissão não pode ser anterior, em mais de três dias, à da sua entrega nas Recebedorias da DSF, e deve ser emitido a favor da <<Direcção dos Serviços de Finanças>>, nos termos das alíneas 2) e 3) do n.º 1 do Artigo 4.º do Regulamento Administrativo n.º 22/2008. Se o valor do cheque for igual ou superior a MOP$ 50.000,00, deverá o mesmo ser visado, nos termos da alínea 4) do Artigo 5.º do Regulamento Administrativo acima mencionado. Os contribuintes podem também efectuar o pagamento através do envio de ordem de caixa, cheque bancário ou cheque por correio registado para a Caixa Postal 3030. Não é possível enviar dinheiro, mas apenas ordem de caixa, cheque bancário ou cheque, devendo incluir-se um envelope devidamente selado e endereçado ao próprio contribuinte, a fim de se enviar posteriormente o respectivo conhecimento, comprovativo do pagamento. Note-se que devem ser respeitadas as regras descritas no ponto 4, relativamente aos cheques: - O envio para a caixa postal deve ser feito 5 dias úteis antes do termo do prazo de pagamento indicado no conhecimento de cobrança. Nenhum dos métodos acima mencionados acarreta quaisquer encargos adicionais aos contribuintes pela prestação do serviço de cobrança. Para a sua comodidade, evite pagar os impostos nos últimos dias do prazo. Aos 13 de Outubro de 2016. O Director dos Serviços Iong Kong Leong
AVISO Renovação da licença da agência de viagens e atenção para a garantia bancária e o seguro da responsabilidade civil profissional 1. Faz-se público que a renovação da licença da agência de viagens deve ser requerida até 30 dias antes do termo do seu prazo de validade e que a renovação da licença, quando requerida fora do prazo, está sujeita a uma taxa adicional, nos termos do estipulado no Decreto-Lei n.º 48/98/M, de 3 de Novembro, com a nova redacção dada pelo Regulamento Administrativo n.º 42/2004. As informações das formalidades e das taxas estão disponíveis na página electrónica da Indústria Turística de Macau desta Direcção de Serviços: http://industry. macaotourism.gov.mo/license/. 2. Nos termos do mesmo diploma, as agências devem ainda apresentar anualmente na Direcção dos Serviços de Turismo os documentos comprovativos de estarem em vigor a caução e o seguro; e o não cumprimento determina o encerramento temporário imediato da agência. 3. Chama-se a atenção dos titulares da licença da agência de viagens de que a licença bem como a caução e o seguro devem estar válida e em vigor e que a renovação da licença bem como a actualização da caução e do seguro devem ser realizadas no prazo legalmente estipulado. A par disso, devem dar cumprimento à disposição respeitante à obrigatoriedade da presença do director técnico na agência durante o seu funcionamento. Para esclarecimento, poderá ser contactada a Divisão de Licenciamento por via telefónica: 2831-5566, por fax: 2833-0518 ou por correio electrónico: dl@macaotourism.gov.mo. A Directora dos Serviços Maria Helena de Senna Fernandes
AVISO Renovação da licença de estabelecimentos de sauna e/ou massagem e de estabelecimentos do tipo de “health club” ou de “karaoke” Chama-se a atenção dos titulares das licenças dos estabelecimentos referenciados em epígrafe de que a renovação da licença deve ser requerida nesta Direcção dos Serviços antes do termo do seu prazo de validade e que a licença caduca quando não houver renovação antes do termo da validade. Após a caducidade da licença, caso o interessado queira continuar o exercício da actividade, deve requerer o novo licenciamento. As informações das formalidades e das taxas estão disponíveis na página electrónica da Indústria Turística de Macao desta Direcção de Serviços: http://industry.macaotourism.gov.mo/ license/. Para esclarecimento, poderá ser contactada a Divisão de Licenciamento por via telefónica: 2831-5566, por fax: 2833-0518 ou por correio electrónico: dl@macaotourism.gov.mo. A Directora dos Serviços Maria Helena de Senna Fernandes
7 POLÍTICA
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Trânsito PROPRIETÁRIOS IMPEDEM MELHORIA DA CIRCULAÇÃO NAS VIAS
Estradas desarticuladas Leong Veng Chai interpela o Governo a reunir com proprietários por forma a resolver problemas de trânsito oriundos da não ligação de estradas. O deputado alerta ainda para a insegurança rodoviária em Seac Pai Van
“Segundo as afirmações das autoridades, é necessário proceder à ligação de algumas vias, mas devido à falta de consentimento dos proprietários de imóveis tem sido impossível fazê-lo ao longo destes anos” LEONG VENG CHAI DEPUTADO Leong Veng Chai recorda que “no passado, para assegurar o interesse público, o Governo negociou com proprietários de imóveis com sucesso, e acabou por obter o consentimento para proceder à ligação de algumas vias. O que é que as autoridades fizeram nessas negociações? Têm algum registo disso?
Vão divulgar informações sobre o número de respectivas reuniões e onde é que estas aconteceram? De que medidas dispõem para melhorar o trânsito?”
MEDO EM SEAC PAI VAN
No que diz respeito a Coloane, o deputado deixou o alerta sobre a insegurança que se vive junto ao complexo de habitação pública de Seac Pai Vai, zona onde decorrem muitas obras e onde passam vários camiões. “Ao longo destes anos têm sido muitos os acidentes HOJE MACAU
L
EONG Veng Chai, deputado da Assembleia Legislativa (AL), considera que os proprietários de imóveis têm vindo a atrapalhar a falta de melhorias no trânsito e na circulação de vias, exortando o Governo a reunir com esses responsáveis. “Segundo as afirmações das autoridades, é necessário proceder à ligação de algumas vias, mas devido à falta de consentimento dos proprietários de imóveis tem sido impossível fazê-lo ao longo destes anos. A ligação da Avenida Horta e Costa à Rua Sul do Patane, a da Avenida Marginal do Patane à Avenida General Castelo Branco e a da Rua Sul do Patane à Rua Norte do Patane, onde se encontra a Escola Madalena de Canossa”, exemplificou.
de viação graves na Estrada do Altinho de Ká-Hó. São muitos os veículos pesados e os camiões basculantes que passam por aquela estrada, daí serem frequentes os acidentes de viação graves e o encontro de cadáveres de cães vadios.” “Para além de serem cada vez mais as pessoas que residem naquela zona, faltam vias para os residentes poderem fazer jogging, portanto são muito frequentes os conflitos entre peões e os veículos, o que constitui uma ameaça”, acrescentou. Leong Veng Chai deixou uma sugestão para o Execu-
tivo pôr em prática. “Para assegurar os interesses dos moradores de Seac Pai Van, assim como a sua segurança quando andam e fazem jogging nos passeios, as autoridades devem ligar a Avenida Vale das Borboletas à Avenida de Ip Heng e reduzir a curva do cruzamento entre a Avenida Vale das Borboletas e Estrada do Altinho de Ká Hó, com vista a melhorar o trânsito e reduzir os riscos para a segurança. Quando é que vão fazê-lo?”, rematou. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
Suborno debaixo de olho
Lei Eleitoral continua adequada, segundo Cheong Weng Chon
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ÃO é necessário que exista uma punição colectiva para que a lei seja cumprida. A premissa é adiantada pelo Comissário contra a Corrupção, Cheong Weng Chon, quando questionado da possibilidade de introdução de punição aos candidatos no caso de terem, na sua equipa eleitoral, culpados por crimes de suborno durante a campanha. “Sem punição colectiva não quer dizer que seja sem solução”, afirma o Comissário ao Jornal do Cidadão, enquanto adianta que “se se conseguir provar, ao nível jurídico, que o candidato está atento aos actos de suborno cometidos pelos membros da sua equipa, ou que incentiva e participa no crime, as leis actuais são perfeitamente capazes de abarcar essas situações”. No caso de introdução da punição colectiva, Cheong Weng Chon considera que poderiam acontecer casos de falsa imputação. O Comissário ilustra esta possibilidade dando o exemplo de que, de modo a prejudicar um candidato, o próprio funcionário
poderia acusá-lo injustamente.
INOCENTES ATÉ PROVA EM CONTRÁRIO
Por outro lado, considera parte do princípio legal, a não violação do princípio de presunção de inocência, e que só quando existem provas de que o candidato eleito tem conhecimento ou participação em actos de corrupção, é que se deve recorrer ao tratamento jurídico e punição penal. No entanto, Cheong Weng Chon não deixa de admitir as dificuldades que podem surgir no que respeita à prova de ligação directa entre a pessoa eleita e a que pratica suborno. Segundo o Jornal do Cidadão, há quem defenda que, quando exista crime, os candidatos possam não ser efectivamente desqualificados, sendo que os votos associados a suborno devem ser cancelados. Nesta situação, o Comissário sublinha a dificuldade em definir esse tipo de votos. Não obstante a concordância com o regime actual, Cheong Weng Chon reconhece que o mesmo poderá ser alvo de aperfeiçoamento gradual. Angela Ka (revisto por SM) info@hojemacau.com.mo
EDIFÍCIO DO FÓRUM MACAU DE PÉ ATÉ 2019
A conclusão do Edifício do Fórum Macau pode estar datada para 2019. A informação não é certa mas é uma esperança adiantada pela secretária-geral, Xu Yingzhen na sequência do acto simbólico do primeiro-ministro chinês, Xi Jinping. “Esperamos que este complexo esteja concluído na próxima Conferência Ministerial. Esperamos que sim, mas não vamos marcar um dia porque isto envolve diferentes procedimentos, concessões e estudos de viabilidade”, diz Xu Yingzhen. Na sua visita à RAEM, Xi Jinping inaugurou simbolicamente o Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa que integrará os três serviços do Fórum que incluirá um centro de serviços para empresários, espaços para exposições e um centro de formação.
8 SOCIEDADE A quinta edição do Fórum de Economia e Turismo Global, que decorreu durante o fimde-semana, apela novamente à diversificação das áreas do turismo, mas, e com não menos importância, do alargamento do público alvo num maior investimento direccionado a turistas internacionais
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aposta é na diferença. A ideia foi deixada pela Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, durante mais um Fórum de Economia e Turismo Global, e vai no sentido do que muito se tem ouvido falar. A matéria, mais uma vez sublinhada, esteve em destaque na quinta edição do evento que teve como mote a promoção dos contactos empresariais e o investimento entre a China e a Europa
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Fórum TURISMO PARA TODOS OS GOSTOS
Disco riscado bem como a discussão do modus operandi a ter para a almejada diversificação económica da região. A Secretária, que também representou o Executivo, avança ainda que “para transformar Macau num centro internacional de turismo temos de tirar partido das vantagens do princípio “Um pais, dois sistemas” e das vantagens culturais e geográficas. Neste sentido queremos impulsionar a cooperação regional e internacional do turismo, contribuindo para o desenvolvimento da economia na região e mesmo a nível global.” O elo entre a tecnologia e o sector é sublinhado por Edmund Ho. Para o vice-presidente do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês “o desenvolvimento da internet criou um novo normal para desenvolvimento sustentável do turismo” numa região onde esta é uma “actividade que beneficia a sociedade e é uma industria pacífica que une todo o mundo”.
nal de rádio da TDM, refere que o objectivo é “promover Macau junto dos mercados estrangeiros. Não queremos centrar-nos apenas num só mercado”, afirmou. Para o
efeito é necessário apostar em mercados alternativos ao da China continental. Por outro lado, Alexis Tam considera que não há que ter preocupações
com a qualificação de profissionais para receber gentes que não falem chinês, na medida em que já existe pessoal qualificado em Macau. “Não estamos preocupados. Temos gente qualificada. No futuro, mesmo que tenhamos mais turistas internacionais de países de língua portuguesa e que não falem apenas inglês também de temos de formar pessoas com bilingues. Estamos optimistas”,
Já Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, refere que Macau precisa de mais turistas internacionais. A intenção foi deixada no sábado, em que Alexis Tam, citado pelo ca-
Sofia Mota
sofiamota@gmail.com
Venham mais 20
Associação dos Macaenses comemora duas décadas
levantados, a ADM não desiste. “As pessoas, talvez por Macau ser muito pequeno, quando vêm determinadas acções por parte de uma associação ou dos seus dirigentes tendem a conotá-las com algum cariz político ou de qualquer outro género”, afirma o presidente.
DE E PARA TODOS
No entanto, e nesta altura da vida, a associação pretende afirmar-se como uma “plataforma em que todos possam estar presentes independentemente da sua orientação e sensibilidade política” afirma Miguel Senna Fernandes enquanto adianta que é objectivo
O QUE NÃO FALTA É ESPAÇO
Já Pansy ho, secretária-geral do Fórum de Economia e Turismo Global, considera que ainda existe espaço para o desenvolvimento do mercado do sector. A união entre empresários e Administração num caminho comum, é fundamental sendo que Pansy Ho sublinha a importância do papel das empresas privadas na diversificação do turismo. “Acho que a economia poderá voltar a estabilizar. No entanto, como é que é possível encontrarmos um equilíbrio? Aindústria deve ter já começado a aperfeiçoar-se e por isso, para além de termos o jogo, ainda temos outros eventos para atrair os turistas”, afirma a também directora executiva do MGM. Macau foi ainda elogiado pelo próprio Secretário geral da Organização Mundial do Turismo, Taleb Rifai, que define o território como uma constante surpresa na sua fusão cultural. A 5ª edição do Fórum ficou também marcada pelo lançamento do Guia de Turismo Sentir Macau.
GENTE DE OUTROS LADOS
ÃO 20 anos de Associação dos Macaenses (ADM). Duas décadas marcadas “por altos e baixos e nem mesmo nas priores alturas, quando todos pensam em desistir, nós o fizemos”, afirma, ao HM, Manuel Senna Fernandes, presidente da associação que representa a comunidade Macaense. Apesar dos limites que a ADM atravessa e que lhe têm sido transversais ao longo da existência, para Manuel Senna Fernandes o balanço é, no geral, positivo. Os desafios são muitos e as questões essencialmente ligadas à escassez de fundos e de recursos humanos marcam os trabalhos da associação que não quer ver a identidade local morrer. São razões de regozijo, a persistência. Mesmo diante dos preconceitos muitas vezes
afirmou o Secretário, citado na mesma fonte. Foi ainda sublinhado o trabalho que tem vindo a ser efectuado pelas instituições de ensino e formação locais, em que tanto as universidades como o Instituto de Formação Turística (IFT) têm tido um papel fundamental capaz de ser comparável, no caso do IFT a “qualquer universidade de topo” da Suíça, nesta área.
da associação manter-se neutra de modo a que caibam todos. “Neste momento, somos uma associação respeitada e com lugar no mapa. Não temos projectos concretos para o futuro mas o sonho é sermos uma entidade chave não só dentro de Macau mas por toda a diáspora”, refere quando questionado acerca do futuro. O motivo para este desejo já existe e é porque “a comunidade macaense já está em todo o lado e a ADM pode vir a ter um papel de relevo nas relações com a diáspora
CUIDADO PARA NÃO ACABAR
Representante da comunidade Macaense, não é sem preocupação
que Miguel Senna Fernandes refere a sua tendência para a diluição. E é com este processo “de extinção” em conta que a associação continua a tentar manter uma dinâmica com fôlego, quer em actividades de entretenimento que ajudem a preservar o que é Macaense quer com acções, nomeadamente colóquios, que abordem a “identidade da terra”. “É preciso não deixar morrer as coisas e estar numa constante missão de alerta da própria comunidade porque sem isso temo que o desaparecimento seja inevitável”. É este o panorama que a ADM quer evitar e que, por isso, “tentar estar sempre a fazer alguma coisa”. Na calha está ainda a abertura da nova sede até ao final deste mês e com mais uma etapa conseguida a ADM pretende reorganizar-se e preparar-se para a continuidade. S.M.
MACAU QUER AUMENTAR EM MAIS DE 60% OS TURISTAS ESTRANGEIROS
Macau espera, nos próximos anos, conseguir um aumento de 66% no número de turistas estrangeiros. Segundo o canal de rádio da TDM, meta é traçada pela directora dos Serviços de Turismo, Maria Helena de Senna Fernandes: “Neste momento, temos cerca de três milhões de visitantes internacionais. No futuro, esperamos ter entre quatro a cinco milhões”. Senna Fernandes diz não ser possível falar em percentagens sobre o número total de turistas, uma vez que é expectável que haja também cada vez mais turistas chineses a visitar Macau.
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DSEJ RELATÓRIO FAZ BALANÇO POSITIVO DE MEDIDAS PARA O ENSINO
TRABALHADOR ENGOLIDO POR CIMENTO
Percurso de sucesso
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ORAM implementadas com sucesso 80% das medidas previstas pelo Planeamento para os Próximos Dez Anos para o Desenvolvimento do Ensino Não Superior (2011 a 2020). A conclusão faz parte da avaliação intercalar divulgada a semana passada pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). A informação foi registada pelo director funcional da DSEJ, Tang Wai Keong, que afirmou que “80% dos trabalhos definidos no planeamento foram implementados de modo ideal”. Entre os quinze diplomas previstos no planeamento, doze já foram lançados ou concluídos, sendo que os restantes, nomeadamente os pontos relacionados com o ensino
Foi ontem encontrado um homem morto enterrado em cimento. O corpo foi encontrado no fundo de um balde com 13 metros de altura e é de um trabalhador da fábrica de cimento da Rua das Canforeiras, em Coloane. Segundo a investigação preliminar da Polícia Judiciária, o corpo não apresenta indicadores de que tenha existido acção criminal, sendo que seguiu para avaliação no departamento de medicina legal.
TIAGO ALCÂNTARA
Apesar de uma grande maioria das medidas previstas no Planeamento para os Próximos Dez Anos para o Desenvolvimento do Ensino Não Superior (2011 a 2020) estar em bom andamento, ainda há caminho a fazer. Revisões legislativas e novo centro de Português em Seak Pai Van são prioridades
MAIS UMA TONELADA DE PEIXE MORTO NO PORTO INTERIOR
recorrente, vão ser implementados a partir de agora.
CONSULTAS EM ATRASO
Segundo o jornal Ou Mun, o Chefe do Departamento de Estudos e Recursos Educativos, Wong Kin Mou, justificou as demoras na revisão do Regime Educativo Especial e do Regime do Ensino Técnico-Profissional que tinham data de conclusão definida para os anos de 2014 e 2015. “Na realidade, a consulta pública demorou mais tempo do que o esperado”, afirmou, ao mesmo tempo que garantiu que vai cumprir “as sugestões dos residentes o mais rapidamente possível sendo que as novas metas se situam em 2016 e 2017.” Segundo o responsável, o regime educativo especial já procedeu
ao estudo da viabilidade das opiniões das escolas e dos pais e, ainda este ano, se vai finalizar a Proposta de Revisão. Quanto ao regime do ensino técnico-profissional, o exemplar do diploma está em fase de discussão interna e agendado para o próximo ano o início da consulta preliminar de modo a
“80% dos trabalhos definidos no planeamento foram implementados de modo ideal”
que possa seguir para o processo de legislação. Relativamente à formação dos talentos bilingues, e segundo o Jornal de Cidadão, Tang Wai Keong adianta que o financiamento à aprendizagem através de bolsas irá aumentar e que a formação irá abranger o comércio entre a China e os países de língua portuguesa (PLP) nas áreas de contabilidade e finanças. O Plano Quinquenal prevê a construção de formação de português em Seak Pai Van e a utilização da língua como prioridade no plano de desenvolvimento das escolas. Angela Ka (revisto por SM) info@hojemacau.com.mo
TANG WAI KEONG DSEJ
DRONES MENOS ALTITUDE PARA MAIS SEGURANÇA
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HAN Weng Hong, director da Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM), em resposta comunicação social, justificou a medida que impede os drones de voarem a mais de 30 metros de altitude, como sendo uma acção de segurança. Nas declarações
prestadas à comunicação social e divulgadas pelo Jornal do Cidadão, o director assegurou que durante a elaboração deste ou de qualquer outro regulamento sob a sua tutela, a referência prioritária é a manutenção das condições de segurança por parte de utilizadores e residentes.
SOCIEDADE
Na concepção do Regulamento da Navegação Aérea que define as novas normas aplicadas aos drones, Chan Weng Hong explica que foram ouvidos vários quadrantes da população. “Como Macau é pequeno, mas com muita gente e vários tipos de construções, os re-
gulamentos tomam também em consideração a distribuição da cidade, a densidade populacional, as exigências básicas das autoridades, bem como o equilíbrio na utilização dos drones pelos seus utilizadores, justifica”. A restrição da altitude de voo máxima dos drones
abaixo de 30 metros tem sido fonte de controvérsia entre profissionais de várias áreas que utilizam técnicas de captação de imagem aérea. Outra medida relacionada é a proibição do voo destes objectos à noite. A.K. (revisto por SM)
Foi encontrada mais uma tonelada de peixe morto no Canal dos Patos. A notícia é avançada em comunicado da Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA), depois de no dia 13 deste mês terem sido encontrados 400 quilos, e nos dias 11 e 12, cerca de duas toneladas. O organismo assume que estes peixes mortos terão sido trazidos pela corrente. No entanto e segundo informação divulgada a semana passada pela Direcção de Protecção Ambiental, a entidade terá procedido à recolha de água para análise.
DETIDO SUSPEITO DE ROUBAR JOGADORES
Um homem foi detido por roubar 200 mil dólares de Hong Kong de uma apostadora no Cotai. O assalto terá sido levado a cabo por dois homens no passado mês de Agosto tendo a vítima apresentado queixa do roubo de 200 mil HKD ganhos em apostas. Segundo o jornal Ou Mun, um dos suspeitos, quando entrou em Macau foi detido na emigração pela Polícia Judiciária. O suspeito negou ter cometido o delito, mas admitiu que estava a entrar em Macau para roubar dinheiro a apostadores.
10 CHINA
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DA FÁBRICA DE AÇO A MOTORISTA DA UBER
Muda de vida
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IAO Yu tinha uma “tigela de ferro” (expressão em chinês para emprego vitalício), numa firma do Estado, que lhe valia 4.000 yuan (quase 550 euros) por mês. No início deste ano, a sua vida mudou. “A empresa acumulava prejuízos e deixou de pagar aos trabalhadores. Demiti-me e vim para Pequim”, contou à agência Lusa o jovem chinês de 29 anos, natural da província de Hebei. “Agora, sou motorista da Uber”. Antes de partir rumo à capital, Xiao trabalhou na indústria siderúrgica, um dos sectores mais afectados pelo excesso de capacidade de produção na China. O país asiático produz mais aço do que os outros quatro gigantes do sector - Japão, Índia, EUA e Rússia - combinados. Bruxelas e Washington culpam a produção chinesa, que dizem estar “completamente descoordenada” da procura do mercado, pela queda do preço do aço, o que coloca em risco milhares de emprego na Europa e EUA. Em Fevereiro passado, Pequim anunciou que reduzirá a capacidade de produção do sector até 150 milhões de toneladas, nos próximos anos. Na indústria do carvão, alumínio ou cimento, o panorama é idêntico, e o Ministério de Recursos Humanos e Segurança Social da China calcula que, até 2020, só nas indústrias do aço e carvão, o país extinguirá 1,8 milhão de postos de trabalho. Mas o Governo chinês prefere falar em “transição do modelo económico” e apela a uma “visão compreensiva” da economia chinesa. “Uma visita a uma unidade da indústria pesada talvez dê a
impressão de que a economia está a enfraquecer, mas numa zona tecnológica sente-se pujança económica”, argumentou o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, em Março passado.
NA PRÁTICA
Xiao Yu personifica esse cenário. “A trabalhar com a Uber ganho 13.000 yuan por mês. Deduzindo os gastos com gasolina, fico com 8.000 yuan “, contou. É um valor duas vezes superior ao que X i a o ganhava na fábrica de aço, justificado também pelas longas jornadas ao volante: “em média, trabalho 15 horas por dia”.”Mas é a vantagem da Uber: cria emprego para quem de outra forma não teria sustento”, explicou. A terra natal de Xiao, Handan, no interior de Hebei, foi durante décadas um importante marco da industrialização chinesa. “Acidade antiga de Handan deve rejuvenescer como a capital do aço”, proclamou o antigo líder comunista, Mao Zedong, em 1958, no início do “Grande Salto em Frente”, uma campanha que visou “acelerar a transição para o comunismo”, através da colectivização da agricultura e a mobilização da população para a produção de aço. Aquela campanha acabaria por se revelar um desastre, mas as estatais do sector siderúrgico fundadas na região ganhariam novo ímpeto décadas mais tarde, com a entrada da China na globalização.
“A trabalhar com a Uber ganho 13.000 yuan por mês. Deduzindo os gastos com gasolina, fico com 8.000 yuan “ XIAO YU O país asiático absorveu então as indústrias “sujas” do ocidente, atraídas pela mão-de-obra barata e falta de regulamentos ambientais. Um exemplo emblemático desse
processo é o alto-forno utilizado pela Handan Iron and Steel, a principal produtora de aço de Handan. Nos anos 1990, a estrutura foi desmantelada e enviada, peça por peça, desde o Vale do Ruhr, na Alemanha, onde durante o século XX foi utilizada pela ThyssenKrupp, a maior fabricante de aço germânica. Hoje, Handan é uma das cidades mais poluídas da China, com o seu céu quase sempre coberto por um espesso manto de poluição. As partículas tóxicas no ar, contudo, deixaram de ser o único problema em Handan: “Agora, é também muito difícil encontrar lá emprego”, disse Xiao.
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NADADOR MORRE EM COMPETIÇÃO NO PORTO DE HONG KONG FESTA DE NATAL DOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS DE 2016 Comunica-se a todos os aposentados e pensionistas dos serviços públicos, que o tradicional jantar da Festa de Natal deste ano, como habitual à moda chinesa, se realizará no Restaurante Plaza, respectivamente nos dias 1 de Dezembro (5a feira) e 2 de Dezembro (6a feira). Local de inscrição: Avenida Panorâmica do Lago Nam Van, n.os 796 - 818, Fortuna Business Centre (FBC), Macau (Ao lado do silo do “New Yaohan”)
Data e hora de inscrição (Sem interrupção) 23 de Outubro (Domingo) 24 de Outubro (2 feira) a
25 de Outubro (3a feira)
Das 9:00 às 17:00
13.º andar Fundo de Pensões
Das 9:00 às 18:15
14.º andar Fundo de Pensões
Obs:Favor seleccionar, entre as duas datas, a data do jantar que pretende participar, antes da sua inscrição. As vagas esgotam-se após preenchidas. Os interessados devem apresentar o original de um dos seguintes documentos pessoais para tratarem da sua inscrição: • Cartão de Identificação de Subscritor do Fundo de Pensões; • Bilhete de Identidade de Residente de Macau e nota de abonos. Mais se comunica que cada pessoa, para além da sua própria inscrição, poderá ainda proceder à inscrição, no máximo, de mais 2 titulares de pensão. Para informações, é favor de ligar para o n.° 2835 6556 ou aceder à página electrónica deste Fundo www.fp.gov.mo.
Um nadador morreu afogado no sábado, em Hong Kong, e outro ficou em estado crítico, quando participavam numa competição anual no porto da cidade. A imprensa local avança que o homem que morreu, com cerca de 40 anos, foi levado para o hospital após ser retirado da água inconsciente. Uma mulher, perto dos 60 anos, foi também tirada da água inconsciente e encontra-se agora nos cuidados intensivos do hospital. A competição de 1.500 metros contou com cerca de 3.000 nadadores que percorreram a distância entre os dois molhes, em pontas opostas do porto de Hong Kong.
“Para quem trabalha nas indústrias do aço e mineração é cada vez mais difícil garantir sustento”, explicou. Da última vez que falou com a Lusa, Xiao tinha acabado de se mudar de Pequim para Qingdao, cidade balnear, na costa noroeste do país, que foi no passado uma concessão alemã e famosa pelo seu festival de cerveja anual. Através do Wechat (o Whatsapp chinês) o jovem enviou uma foto do mar. “Aqui, os salários não são altos, mas o céu está sempre azul. Em Pequim ou em Handan, o céu está quase sempre enegrecido”, observou. Lusa
11 CHINA
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PEQUIM VAI LANÇAR MISSÃO ESPACIAL TRIPULADA
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China vai lançar uma missão espacial tripulada na segunda-feira, avançou ontem a agência de notícias oficial Xinhua. Os astronautas Jing Haipeng e Chen Dong vão estar a bordo da nave espacial Shenzhou-11 quando esta partir do centro de lançamento Jiuquan, no deserto Gobi, segundo a Xinhua. Os tripulantes devem chegar ao laboratório espacial chinês, Tiangong-2, em 48 horas e aí ficar por mais 30 horas antes de regressarem à Terra. Jing, um astronauta de 50 anos que já foi duas vezes ao espaço, vai comandar a missão até ao laboratório, que foi lançado em Setembro. Jing e Chen vão realizar projectos de investigação relacionados com reparação de equipamentos em órbita, medicina aeroespacial, física e biologia espacial, relógios espaciais atómicos e tempestades solares. Pequim tem vindo a investir no seu programa espacial, na tentativa de acompanhar os progressos dos Estados Unidos e da Europa. Anunciou em Abril
que quer enviar uma nave espacial “perto de 2020” para orbitar Marte, aterrar e colocar um ‘rover’ para explorar a superfície do Planeta Vermelho. Pequim vê o programa espacial como um símbolo do progresso da China e da sua emergência como potência mundial. O primeiro ‘rover’ lunar foi lançado em 2013 e apesar dos problemas mecânicos, sobreviveu além das expectativas, deixando apenas de funcionar no mês passado. No entanto, até agora, a China tem reproduzido apenas actividades em que os Estados Unidos e a União Soviética foram pioneiros há várias décadas. A China pretende desenvolver a sua própria estação espacial em 2022 e eventualmente levar um dos seus cidadãos à lua.
XI JINPING ACREDITA NO FUTURO DOS BRICS
O
Presidente chinês, Xi Jinping, reafirmou ontem a confiança no futuro dos BRICS como locomotora económica mundial, apelando para a renovação da confiança nos países deste bloco: Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul. “O potencial e a força dos BRICS em termos de recursos, mercado e força de trabalho não mudaram e o desenvolvimento dos países a médio prazo é positivo”, disse Xi durante a ronda de discursos prévios no âmbito da Declaração de Goa da VIII Cimeira dos países deste mecanismo. Xi declarou que a economia global passa por uma “recuperação enganosa” e que estão a aparecer novos desafios associados às inovações científicas, uma revolução tecnológica e uma transformação industrial que está a emergir de forma rápida.
Neste sentido, apelou para se “reimpulsionar” a confiança nos BRICS, chamando o mundo dos negócios a apostar nestes países e a continuar a cooperação no seio do mecanismo. Xi destacou a necessidade de dar vigor ao novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS e convertê-lo numa marca de referência para a comunidade internacional e para as agências de desenvolvimento. A VIII Cimeira dos BRICS realiza-se em Goa, ocidente da Índia, com a recuperação da economia dos seus membros no centro da agenda. Com cerca de 43% da população mundial, 30% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e 17% do comércio global, os BRICS querem explorar alternativas de recuperação para voltarem a ser motores de desenvolvimento mundial.
Angola CHINESES ARRANCAM COM REABILITAÇÃO DE BARRAGEM
Cheios de energia
A
obra de reabilitação e reforço de potência no aproveitamento hidroeléctrico no rio Luachimo, construída ainda no período colonial português na província angolana da Lunda Norte, financiada por um banco chinês, vai permitir fornecer electricidade a 186.371 famílias. O anúncio foi feito pelo ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, de visita à província e que na quinta-feira consignou a empreitada, avaliada em 210 milhões de dólares, à empresa China Gezhouba Group Company (CGGC). A barragem data de 1958, no tempo colonial português, construída então para servir sobretudo o sector mineiro, e a obra de reforço de potência da barragem que agora arranca permitirá fornecer electricidade, dentro de três anos, à cidade do Dundo e a outras localidades vizinhas. O plano do Governo angolano para o sector eléctrico daquela província
diamantífera no interior norte do país compreendia, numa primeira fase, a reabilitação e o reforço da produção de energia em Luachimo, de oito para 36 megawatts, bem como a recuperação de nove antigas subestações eléctricas do tempo colonial, paralisadas há 30 anos.
GRANDE EMPREITADA
A Lusa noticiou em Agosto último que esta empreitada vai ser financiada em 160 milhões de euros pelo banco chinês Industrial and Commercial Bank of China (ICBC). A informação consta de um documento do
Ministério das Finanças a que a Lusa teve acesso, referente à execução orçamental nos primeiros três meses de 2016, referindo com isso que já este ano foi garantido o financiamento junto do ICBC para cobrir 85 por cento do investimento necessário. A empresa portuguesa COBA foi contratada em Agosto de 2014, por 7,5 milhões de euros, para elaborar o projecto de execução, assistência técnica especial, aprovação de projectos dos equipamentos electromecânicos e eléctricos da barragem.
A barragem data de 1958, no tempo colonial português, construída então para servir sobretudo o sector mineiro, e a obra de reforço de potência da barragem que agora arranca permitirá fornecer electricidade, dentro de três anos, à cidade do Dundo e a outras localidades vizinhas
Envolve, além da reabilitação e reforço de potência, a construção de uma segunda central, sendo justificada pelo Governo angolano face às “projecções de crescimento da procura de energia eléctrica” no país, a médio e a longo prazo, e em função disso pela “necessidade de aumento acentuado da capacidade de produção”. A obra tem uma duração prevista de 37 meses, e a também portuguesa Efacec foi contratada em 2014, por 83 milhões de dólares, pela NIARA POWER, enquanto subcontratada da companhia chinesa CGGC, responsável pela empreitada, para fornecer equipamentos geradores. Envolverá globalmente a reabilitação dos equipamentos da barragem já existente e a construção de uma nova central hidroeléctrica, que será equipada com quatro novos grupos geradores de nove megawatts cada um.
12 EVENTOS A fadista portuguesa Carminho actuou em Macau no sábado no âmbito do Festival Internacional de Música. Horas antes falou do novo disco que sai em Novembro, só com músicas de Tom Jobim, e da vontade de gravar com um músico chinês
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vinda a Macau concretizou-se, por fim, após uma tentativa falhada de vinda ao território onde se fala português. Carminho, uma das fadistas portuguesas mais conhecidas da actualidade, actuou no Festival Internacional de Música de Macau (FIMM) e procurou, sobretudo, chegar a um público vasto, que represente o território. “A expectativa é encontrar um público distinto, uma plateia que represente o lugar onde vou. É um público que muitos deles não ouviram fado antes, ou têm um avô que tinha uns discos em casa. Macau é um lugar único no mundo, porque consegue ter duas culturas numa só, tão distintas, mas manter-se ao longo destes anos com a preservação da língua e de todos estes elementos que reconhecemos nos letreiros e nas ruas.”
Fado CARMINHO LANÇA NOVO ÁLBUM EM NOVEMBRO COM SONS DE BOSSA NOVA
“Não tenho pele, sou uma intérp Carminho, prestes a celebrar dez anos de carreira, lança em Novembro um álbum que não é de Fado, mas sim de Bossa Nova, só com músicas de Tom Jobim, compositor e músico brasileiro, o qual foi gravado no Rio de Janeiro. “Foi um convite da família de Tom Jobim para fazer um disco com o seu repertório, todo escolhido por mim.” Jacques Morenlabaum é o produtor de um trabalho que conta com participações de Chico Buarque e Marisa Monte. Quando lhe perguntamos se foi fácil despir a pele de fadista, Carminho assume: “não tenho pele, sou uma intérprete”. “O fado é como vivermos num país e quereremos viajar. Nós somos a mesma pessoa, não somos outra pessoa. Como não me sinto com a pele de fadista não me sinto sufocada por ela, tenho a pele de intérprete e posso assumir diferentes linguagens. O Fado é o meu maior amor, é a minha língua mãe. É onde me sinto em paz total, é o que gosto de ouvir. Houve sempre o universo do Fado na minha casa e à minha volta, mas o expressar-me nasceu comigo antes do Fado”, acrescentou. Carminho assume-se livre nas suas escolhas musicais. “Ao longo deste tempo tive a oportunidade de viajar muito com o Fado. E não só no Brasil, mas em Espanha, por exemplo. Há duetos com outros artistas e são momentos de abertura e de encontro. O Brasil foi outro destino que acabou por acontecer, e é um destino natural por causa da língua. Mas estou sempre aberta a outras experiências,
e acho que o Fado sempre me libertou, nunca me prendeu.”
CANTAR COM MÚSICOS CHINESES
Depois da experiência de gravar um disco no Brasil e de já ter pisado palcos nos Estados Unidos, América Latina, Europa e até Tailândia e Coreia, Carminho admitiu que gostava de gravar com um artista chinês. “Seria uma experiência interessante, já pensei nisso.
Com nove anos de canções, Carminho defende que ainda é cedo para comemorar, porque uma década nos palcos é quase nada. “Gosto de pensar que ainda falta muito para os meus dez anos de carreira, para os meus 35 anos. Tudo se vai construindo, até porque não acho que dez anos de carreira seja algo que se comemore, porque é muito pouco.” Contudo, a realização em cada trabalho discográfico
esteve sempre presente. “É sempre bom uma introspecção e retrospectiva do que estamos a fazer. A minha grande alegria é de nunca ter abdicado do que gosto e do que sou, em nenhum momento. Os meus discos, o que eu canto e faço, é fruto do que eu gosto. Todos os meus discos foram o meu melhor naquele momento. Isso é um motivo de grande realização pessoal, e isso também me dá vontade de continuar. dá-me vontade
“O fado é como vivermos num país e quereremos viajar. Nós somos a mesma pessoa, não somos outra pessoa. Como não me sinto com a pele de fadista não me sinto sufocada por ela, tenho a pele de intérprete e posso assumir diferentes linguagens”
À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA OS DOZE • William Gladstone
É importante conhecer bem a música e estar por dentro de uma linguagem, seja ela falada ou não. Já viajei bastante na China e sei as dificuldades que existem de comunicação básica. Mas depois existe outra comunicação, a dos gestos, dos sorrisos, da empatia. Se houvesse algum artista que me inspirasse, e vice-versa, tinha de ser algo bilateral. Acho que a música não tem limites.”
Este romance extraordinário e inesquecível conta a história de Max, um herói invulgar que é lançado pelo destino numa viagem de descoberta do segredo por trás da antiga profecia Maia sobre o final dos tempos - previsto para 21 de Dezembro de 2012. Através de várias aventuras espectaculares em Jerusalém, Atenas, Londres, Índia, Istambul, China, Japão e México, vai sendo revelado aos leitores como Max e Os Doze cumprem a missão que o destino lhes reserva. Estará a antiga profecia Maia correcta? Estará de facto próximo o fim do mundo tal como o conhecemos? Ou haverá um sentido oculto, mais profundo e misterioso, para esta profecia arcana? Combinando elementos do ‘thriller’ do romance iniciático e da literatura esotérica, Os Doze é um dos livros mais invulgares e cativantes dos últimos tempos.
RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET
NEGROS ANOS • Zhang Jie
A obra-prima da escritora que verteu numa epopeia sublime a história da China no século XX Para atingir o seu objectivo de poder e impedir a modernização, o comunismo maoista violou os sentimentos mais sagrados, estruturantes, da cultura da China, lançando os filhos contra os pais, impondo a toda a sociedade uma violentíssima convulsão. Estes são os negros anos descritos por Zhang Jie. Violência dilacerante cuja lembrança ainda hoje ensombra o coração da China, mas que não conseguiu desintegrar a textura intima da irredutível humanidade do povo chinês.
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de fazer novos discos, de não ter medo de arriscar.”
A MELHOR FASE DOS FADISTAS
Ao lado de Carminho existe nomes como o de Ana Moura, Mariza, Gisela João, Camané e tantos outros que seguiram o legado que Amália Rodrigues deixou. Mas mesmo com novas vozes e novas formas de interpretação, para Carminho o Fado é uma linguagem viva, que não muda na sua génese. “Sou da nova geração e há uma nova geração que aí vem. Não há um novo Fado. O Fado continua a andar, se vai por um caminho ou outro...o Fado é uma linguagem viva. Mudou com a Amália, e continua a mudar constantemente, porque os artistas têm um ADN próprio. Interpreto canções que não são Fado, mas eu venho desse ADN e dessa cultura. Os meus discos têm sempre fados tradicionais porque essa é a minha raiz. O Fado tem de ser respeitado e preservado, e não podemos chamar de tudo Fado. O Fado caminha, porque é uma linguagem viva.” Se hoje os fadistas têm maiores oportunidades de actuação e se viajam mais lá fora, a verdade é que, para Carminho, esta não é a época de ouro do Fado, apesar de crescerem as casas de Fado em Lisboa e deste género musical ser hoje Património Mundial Imaterial da UNESCO. “É preciso conhecer muito bem o Fado para falar da sua melhor fase. Já houve outras fases de ouro muito grandes, uma fase onde existe a Beatriz da Conceição, a Amália Rodrigues, o Alfredo Marceneiro. Talvez esta seja a melhor fase para os fadistas, porque na altura não se viajava tanto. Mas são poucos os fadistas que viajam muito e que têm uma carreira internacional. Falo da Kátia Guerreiro, Mariza, Ana Moura, Ricardo Ribeiro, e depois há umas viagens. Mas mesmo assim todas estas carreiras têm dimensões distintas, mas é um universo pequeno para o mundo inteiro. Ter uma carreira internacional não é ir cantar lá fora, é estar nos circuitos internacionais”, concluiu Carminho. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
SOFIA MOTA
prete”
EVENTOS
Portugalidade cuidada pela China Vinte anos de transferência são mote para série documental
S
ÃO cinco os documentários que sublinham os 20 anos de transferência do território e que tentam abordar as relações entre Macau e Portugal em todas as suas vertentes. A missão está a cargo de António Fraga e Helena Madeira que, a meio caminho de mais uma película, lamentam o fraco emprenho do sangue luso em manter as características no território. António Fraga e Helena Madeira estão pela quarta vez em Macau para dar continuidade a um projecto totalmente dedicado às características e interacções da região. A sua presença na RAEM deve-se não só à apresentação do segundo “capítulo” da série documental “Macau, 20 anos depois”, como à rodagem de mais “um episódio” dos cinco documentários que integram o projecto de celebração dos 20 anos de transferência. Tudo começou com um filme que se chamava “Macaenses em Lisboa” conta António Fraga. Com o desenrolar da produção, a equipa sentiu necessidade de filmar o lugar das histórias que tinham ouvido na capital de Portugal e ficaram “fascinados com Macau”, relembra o realizador. Ao mesmo tempo, o sentimento foi de que faltaria ilustrar “o outro lado, o dos portugueses que cá vivem”. Dentro deste alargamento de concepção, Helena Madeira propõe a realização de um total de cinco documentários em que cada película aborda temas diferentes e a
série culminará com Macau, 20 anos, em 2019.
ENTUSIASMO ALHEIO
Actualmente, a dupla está a filmar o terceiro documentário que trata da portugalidade em Macau. “Dar e Receber - a portugalidade em Macau” é o nome ao filme que pretende abordar o que se tem feito para preservar os traços do outro lado do mundo que continuam presentes no quotidiano local. O documentário, que está agora em rodagem ,vai precisamente a meio e o balanço deixa já uma percepção de que “é inegável a portugalidade e a presença dos portugueses em Macau” começa por explicar António Fraga, ao mesmo tempo que enfatiza o património imaterial deixado pela presença lusa. No entanto , do que tem percebido é que, esta preservação cultural é, acima de tudo, devida à China. “É este o feedback que estamos a receber com muita evidência e ao mesmo tempo com alguma pena”, expressa o realizador. “Não é pena de que seja a China a entusiasta desta preservação, é antes que Portugal não seja parceiro na tarefa”, desabafa. No entanto o optimismo também está patente nesta continuidade dos legados lusos na região, sendo que “não se sente muito orgulho por parte das pessoas em fazerem parte dessa tal portugalidade ou empenho em a fortalecer”. Adupla não deixa, no entanto, de frisar que ainda há quem se empenhe a manter a portugalidade em Macau e a Casa de Portugal é o exemplo mais proeminente. Sofia Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
“MACAU, 20 ANOS DEPOIS” • Doc. 1 – MACAENSES EM LISBOA, ilusão ou realidade • Doc. 2 – PORTUGUESES EM MACAU, o outro lado da história • Doc. 3 – DAR E RECEBER – a portugalidade em Macau • Doc. 4 – INTERCULTURALIDADE – a lusofonia em Macau • Doc. 5 – UNS E OUTROS EM MACAU, 20 anos depois
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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Bob Dylan
Todas as condecorações são armadilhas U MA imagem perseguia-me em tempos já remotos. Se me perguntassem o que fazia, onde estava, o que pretendia, dizia sempre, não estarei lá, aí, nesse lugar onde me querem abandonar, como se abandona um cão velho numa estrada perdida. Ou então dizia, não, não me chamem poeta, não é uma atribuição que me pertença, nunca poderia sê-lo. Agora que já passou muito tempo desde a minha última fuga de Hibbing, prefiro que me recordem como o expedicionário musical que sempre fui. Ou tão-só como o rapaz do trapézio, o que é sempre bonito, quando penso que sou hoje um septuagenário que sorri à morte. Como sempre, tenho a dizer-vos que a face do perpetrador se anuncia a cada passo e que se esconde habilmente. Para onde quer que nos viremos, ela surge-nos, espreita-nos, como um abismo que nos espreita. O que vai acontecer?, perguntar-me-ão. Terá de haver uma explosão de algum tipo. A densa chuva irá cair, inevitavelmente. Recordem-se do último verso dessa canção, quando digo: «projectéis de veneno invadem as águas». O que queria eu dizer? Apenas isto: que somos tomados de assalto por mentiras, continuamente. Cercados por mentiras proferidas pelas inúmeras cabeças falantes que estão em todo o lado. Abram os jornais, liguem a televisão, circulem pela web. Olhem para essa gente que nos invade o tempo e o espaço. Vejam como nos roubam, como nos esvaziam o crânio, nos roubam a alma, esses filhos da puta sem remissão! Não sei o que pensam os mais novos de tudo isso, mas seria bom que parassem um minuto, que se permitissem a si mesmos um minuto. Hoje, nem de Hibbing poderia fugir, nem sequer faria sentido. Para onde quer que se vá, a merda é sempre a mesma. Para que servem então as canções, as minhas, as dos outros, os inúmeros poemas escritos, ditos,
A minha vida continua a ser a rua que eu piso, e a música, e a velha guitarra aqui a meu lado enquanto escrevo este texto, são meros utensílios de uma procura, de um impulso que me foi fiel e ao qual fui fiel. Recebi condecorações por isso. (...) Mas não lhes atribuo grande importância. Parece-me uma trivialização do que disse, escrevi, cantei. No seu pior, todas as condecorações são armadilhas. Caí em algumas. Lamento-o
reditos? Para que se permitam um minuto, o vosso minuto. Nenhum de nós tem já morada ou origem. A minha vida continua a ser a rua que eu piso, e a música, e a velha guitarra aqui a meu lado enquanto escrevo este texto, são meros utensílios de uma procura, de um impulso que me foi fiel e ao qual fui fiel. Recebi condecorações por isso. A última das quais, das mãos do Presidente Obama. Mas não lhes atribuo grande importância. Parece-me uma trivialização do que disse, escrevi, cantei. No seu pior, todas as condecorações são armadilhas. Caí em algumas. Lamento-o. De resto, o mundo é irreformável. Como mudar o mundo se todos se afadigam na defesa dos seus interesses? Como? O que me foi e é caro na ideia de revolução prende-se com uma hipótese de fuga num mundo irrespirável e talvez inapelável e sem fuga. Mudar a vida, diria o Rimbaud da minha juventude nova-iorquina. A poesia? Nunca ninguém a leu. Não é de agora. Foi sempre assim. A poesia ofende e ninguém gosta de ser ofendido. Ofender é também inspirar, mas quem é que quer inspirar ou ser inspirado? É um perigo. Um perigo para todos e para cada um. Quem se faz inspirado passará a habitar os seus próprios sonhos. E quem quer isso? Pior coisa só mesmo viver na rua. Tudo começa no sonho e na rua, mas paga-se caro. Muito caro. Não há dinheiro que pague tal dívida. Afinal, serei apenas, quem sabe, um cão velho que por aqui anda há muito, mas que espera pelo novo ainda, e ele não chega, em nenhuma manhã chegará certamente. Em verdade vos digo que não me sinto velho, não, mas continuo a ouvir os mesmos discos que ouvia no início, os blues do Delta: Son House, Robert Johnson, Skip James. Ah, e por vezes, regresso ainda a Woody Guthrie. Originalmente publicado em Relâmpago, 29-30, «Poesia e revolução», pp. 127-8.
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diário (secreto) de pequim (1977-1983)
PEQUIM, 7 de Julho de 1978 O Sporting está na China. Depois de vencer o Porto por 2-1, na final da Taça de Portugal aí veio a rapaziada verde a caminho de Pequim. Trouxeram uma grande comitiva, 41 personagens entre jogadores, dois árbitros, fotógrafos, jornalistas e figuras públicas. Como não há ainda relações diplomáticas, foi o PCP (m-l), único partido reconhecido pelo PC chinês, quem mexeu os cordelinhos para a concretização da viagem e, para dar sequência ao trabalho, cá estão os militantes Carlos Ricardo e Mourato Costa, meus amigos nas lides partidárias em Lisboa, com o disfarce de serem dirigentes da ADAPC (Associação Democrática de Amizade Portugal-China). O Eduíno Gomes (Vilar), secretário-geral do PCP (m-l), também é um grande sportinguista. Tudo tem funcionado quase na perfeição. Veio também o Veiga Simão, antigo ministro da Educação de Marcelo Caetano e ex-embaixador na ONU e hoje próximo do PS, como uma espécie de chefe da delegação desportiva, mas com uma missão política semi-secreta, a de entregar uma carta do nosso presidente Ramalho Eanes endereçada ao Hua Guofeng ou ao Deng Xiaoping saudando os homens mais poderosos da China e solicitando os bons ofícios de ambos para o rápido restabelecimento das relações diplomáticas.1 O futebol foi divertido, uma vitória de 2 a 0 sobre a selecção da China e um empate 0 a 0 com a equipa de Pequim. Os chineses já dão uns bons chutos na bola e gostei de ver o Estádio dos Operários de
Pequim cheio como um ovo, eram mais de 100 mil chineses entusiasmados, a aplaudir. No fim do segundo jogo tive a sorte de regressar do estádio para o hotel Pequim -- onde os jogadores e comitiva estão alojados --, viajando no autocarro juntamente com os craques verdes, o Manuel Fernandes, o Inácio, o Laranjeira, o Artur, o Jordão (que chegou de canadianas à China, por estar em recuperação de uma perna partida).
João Rocha para falar com os intérpretes da comitiva, eles próprios poderiam tratar da compra da droga benfazeja. Ignoro qual foi o resultado. No estádio dos operários toda a equipa do Sporting foi recebida e cumprimentada pelo general Chen Xilian (1915-1999), um velho combatente da guerra contra o Guomindang de Chiang Kai-shek (participou na Longa Marcha!) e contra os japoneses, hoje membro do
teriores do grande Oceano Pacífico --, aconchegadas pela natureza, as areias ao sabor de marés docemente recatadas. Na vinda, o comboio atravessou a cidade de Tangshan arrasada pelo tremor de terra em Julho de 1976. Há dois anos atrás, a China Comunista foi abalada pela morte dos seus três maiores governantes, morreram as pessoas, as inteligências sinuosas, os homens que encabeçaram o longo processo revolucionário que,
O presidente João Rocha, que percebeu viver eu em Pequim, veio, em privado, fazer-me uma pergunta singular. Queria saber onde poderia comprar uns pós chineses, milagrosos, que faziam maravilhas no revigoramento sexual masculino. Não era para ele, tinha sido o pedido de um amigo. Eu até pensei que poderia ser para dar aos jogadores que assim ocupariam melhor os tempos livres. Creio que se tratava de uma mezinha explosiva elaborada a partir de corno de rinoceronte, produto caro, às vezes falsificado, de facto à venda em farmácias de medicina tradicional chinesa, mas eu não era especialista na matéria. Disse ao
Politburo do Partido Comunista da China, comandante militar de Pequim e um dos vice-primeiros ministros. Tudo isto é sinal da importância que os chineses deram à visita do Sporting, alargando a via que conduzirá em breve ao estabelecimento das relações diplomáticas.
em 1949, culminou com a fundação da República Popular da China. Em Janeiro de 1976 faleceu o primeiro-ministro Zhou Enlai, o companheiro sempre fiel a Mao que pôs em execução quase todas as medidas políticas que, para o bem e para o mal, modelaram a Nova China. Em Junho, chegou a hora final do marechal Zhu De (Chu Teh), o supremo comandante militar e estratega da revolução chinesa. Em Setembro, desapareceu para sempre Mao Zedong, o revolucionário determinado e implacável que levou a nau da revolução comunista a bom porto e depois, como timoneiro, foi protagonista de devastadores naufrágios.
BEIDAIHE, 21 de Julho de 1978 Estou na praia, de férias, com a gente das Edições em Línguas Estrangeiras, em Beidaihe, numa estância balnear duzentos quilómetros a nordeste de Pequim. A vila abre-se numa sucessão de pequenas baías no mar de Bohai -- águas in-
António Graça de Abreu
O terramoto de Tangshan, cidade situada a setenta quilómetros das praias de Beidaihe, provocou 260.000 mortos numa urbe habitada por um milhão de pessoas. 1976 foi o ano do Dragão, com convulsões na terra chinesa, centenas de milhares de mortos, o desaparecimento dos três maiores dirigentes do Partido e do Estado, tudo sinais dolorosos da chegada ao fim de uma época. A China começou a mudar. Há três dias atrás, ao passar por Tangshan, atravessei ainda um gigantesco amontoado de ruínas. O comboio caminhou ao longo de três ou quatro quilómetros entre o que haviam sido ruas, casas, armazéns e complexos industriais. Tudo devastado, destruído, paredes solitárias, escombros, estruturas retorcidas, pedras e mais pedras amontoadas no sopé das habitações de outrora. Os olhos diante da catástrofe e da morte. Chego a Beidaihe. Trouxe a minha bicicleta que viajou no furgão do comboio e me foi entregue impecavelmente protegida por tiras de cartão canelado. Sou alojado num complexo turístico destinado a quadros do Partido Comunista. Dá para comprovar -- para o meu cada vez menos ingénuo espanto --, as mordomias e privilégios de que se rodeiam os homens importantes, ou tidos como tal, dentro do aparelho de Estado. Têm direito a muitos luxos, habitações confortáveis, seguranças pessoais, criados e criadas. Destinam-me um quarto espaçoso, meio espartano mas confortável e funcional, com um jardinzinho à frente, logo depois a praia de areia fina.
Mergulhos nas águas tépidas do Oceano Pacífico, caminhar ao longo do recorte das baías, pelas bermas do mar, encontrar os pescadores que ao entardecer saem para a pesca e, de noite, pintalgam a superfície do oceano com as luzes fortes suspensas dos lampiões dos barcos descendo sobre a água, para chamar o peixe. Tenho bicicleta e rodas para andar. Quilómetros e quilómetros a pedalar pelas estradinhas em volta de Beidaihe, para entrar por dentro de aldeias de camponeses, por milheirais, campos de sorgo, para beber uma chávena de chá com esta gente, fotografar velhos e crianças, e continuar viagem. Subo ao pavilhão da Pomba Branca. Do alto, debruçado sobre o oceano, o sucessivo estendal das ondas, as águas avançando num rendilhado suave sobre as areias da praia, a imensidão do oceano e um poema que Mao Zedong escreveu exactamente aqui, neste torreão sobre o mar, no Verão de 1954. Traduzo: Beidaihe Cascatas de chuva nas terras do norte, ondas brancas sobem até ao céu. Os barcos de pesca, para além de Qinhuangdao, desapareceram no imenso oceano. Navegaram para qual lugar? Há mil anos, Wu, o imperador de Wei brandiu o chicote, viajou para Jieshi, a leste. Da sua viagem permanecem apenas os poemas. Hoje, o vento de Outono ainda me entristece, mas como o mundo mudou…
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XIE HE «Guhua Pinlu»
Memória e Classificação dos Pintores Antigos Segunda Classe. 3 Homens. Gu Zunzhi, Lu Sui eYuan Qian (notáveis nos termos habituais relativos à forma e vitalidade, ideias novas e velhas tradições). Terceira Classe. 9 Homens. Yao Tandu, Gu Kaizhi, Mao Huiyuan, Xia Zhan, Dai Kui, Jiang Sengbao, Wu Jian, Zhang Ze, Lu Gao. (Destes homens apenas Gu Kaizhi e Dai Kui persistiriam famosos na História Chinesa). Gu Kaizhi de Wuxi. Época da dinastia Jin. O seu estilo era fino e subtil, o seu pincel sem defeitos, no entanto o seu trabalho prático era inferior às suas ideias, e (no seu caso) a fama ultrapassa a realidade1.
1 - Gu Kaizhi (c.345-c.406), assim grafado em pinyin mas que nas línguas ocidentais também aparece como «Ku K’ai-chih»,ou «Kou K’ai-tche» é uma personagem lendária fundamental na história da cultura, subsequentemente considerado um dos fundadores da pintura na China. A crítica que aqui Xie He lhe faz seria fortemente contestada e a sua lenda perduraria. Escritores posteriores descrevê-lo-iam como «triplamente notável: pelo seu espírito, pela sua pintura e pela sua excentricidade». São-lhe atribuídos vários escritos, preservados no Lidai Ming Hua Ji, (Registo de Pinturas Famosas de Todas as Dinastias) de Zhang Yanyuan, como de resto o foi este texto de Xie He. Eles incluem o ensaio poético Leitian Fu ou três ensaios: um sobre o método de fazer cópias através do traço passado por cima do original, outro sobre certos elementos da pintura de paisagens, outro ainda será uma descrição detalhada de uma imagem daoísta designada Yun Taishan, «A Montanha do Terraço das Nuvens». Diz-se que poderá ter pertencido à seita Tianshi Dao, a Seita dos Mestres Celestes que se desenvolveu em Wuxi, a sua cidade natal, uma ramificação do Dao Jiao, o Daoísmo religioso que se separa do Daoísmo filosófico de Laozi e Zhuangzi. A sua ligação a um certo Daoísmo mágico é ilustrada por várias anedotas como a história do retrato que teria feito da filha de um vizinho. Quando esta lhe resistiu teria espetado uma agulha no lugar do coração da imagem e a rapariga teria ficado doente, quando a retirou ela recobrou a saúde. Este entendimento do retrato como um «duplo» da realidade, que viria a ter diferentes entendimentos ao longo da História, insere-se na concepção do Qiyun que Guo Ruoxu (séc. XI) identificaria com o «influxo espiritual que vem animar a imagem na sua comunhão silenciosa entre o artista e o modelo». (ver Nicole Vandier-Nicolas, Peinture Chinoise et Tradition Letrée, Expression d’une Civilisation, Seuil, Paris, 1983, p.22)
Paulo Maia e Carmo tradução e ilustração
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AGUACEIROS
O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje
CONVERSAS COM MÚSICA: “LADY MCBETH”, COM SHEE VÁ E FREDERICO RATO Fundação Rui Cunha, 18h30
MIN
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MAX
30
HUM
60-95%
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EURO
8.76
BAHT
Amanhã
ABERTURA DA EXPOSIÇÃO “LOST IN THE MOBIUS - TAIWAN E MACAU” Armazém do Boi (até 20/11)
Sábado
SIMPÓSIO SOBRE CINEMA NA CHINA (CREATIVE MACAU) Auditório do Museu de Arte de Macau, 10h00
O CARTOON STEPH
EXPOSIÇÃO DE PINTURA LUSÓFONA Clube Militar (até 23/10) EXPOSIÇÃO “O ARAUTO DOS TEMPOS: O POETA F. HUA-LIN” Academia Jao Tsung-I (até 13/11) EXPOSIÇÃO DE PINTURA “INSPIRAÇÃO INOVADORA”, DE MAK KUONG WENG Jardim Lou Lim Iok (até 16/10) EXPOSIÇÃO COLECTIVA DE ARTISTAS DE MACAU IACM (até 30/10) EXPOSIÇÃO “ROSTOS DE UMA CIDADE – DUAS GERAÇÕES/ QUATRO ARTISTAS” Museu de Arte de Macau (até 23/10) SOLUÇÃO DO PROBLEMA 99
UM LIVRO HOJE
ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017) EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11)
Cineteatro
C I N E M A
CELL SALA 1
CELL [C] Filme de: Tod Williams Com: John Cusack, Samuel L. Jackson, Isabelle Fuhrman, Stacy Keach 14.30, 16.30, 21.30
MISS PEREGRINE’S HOME FOR PECULIAR CHILDREN [B] Filme de: Tim Burton Com: Eva Green, Samuel L.Jackson, Judi Dench, Asa Butterfield 19.15 SALA 2
THE ACCOUNTANT [C] Filme de: Gavin O’Connor
PROBLEMA 100
Com: Ben Affleck, Anna Kendrick, J.K. Simmons 14.30, 16.45, 19.15, 21.30
SUDOKU
DE
EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12)
1.18
LUGARES, PRECISAM-SE
ABERTURA DA EXPOSIÇÃO “INTERPOSITIONS” DE LAI SUT WENG Macau Art Garden
WORLD PRESS PHOTO Casa Garden
YUAN
AQUI HÁ GATO
ABERTURA OKTOBERFEST MGM, 17h00
Diariamente
0.22
O LMA vai fechar. Não é esta casa em particular. É a falta que sítios destes fazem por estas bandas. Lá por ser gato, gosto de dançar, gosto de música e de me divertir. Gosto de conhecer sons vindos de outros lados e de me surpreender com eles. Gosto de festas e de locais que, à sua maneira, se distinguem. O LMA era um pouco assim. Aquele 11º andar, escuro e pequeno acabava por ser uma das únicas alternativa cá do burgo a uma noitinha diferente. Mas é óbvio que apesar do dizer que afirma que quem corre por gosto não cansa, a realidade é diferente, cansa e muito, e muitas vezes por ser um gosto não é valorizado. Para existirem estes espaços é necessário que exista gente a trabalhar, e muito. Sinto-me também uma espécie de ingrato se alguma vez considerei que as pataquitas que pedem de entrada poderiam ser muito. Era tão pouco para, às vezes, tão bom. E, acima de tudo, era único neste canto do sul da China. Fica a deixa a quem interessar: lugares assim precisam-se! Vontade também e reconhecimento não é mal pensado. Pu Yi
GENESIS – SEBASTIÃO SALGADO
Genesis é um livro sem palavras e com muitas histórias. O mais recente trabalho do fotografo Sebastião Salgado é só mais um constatar de um talento que transforma qualquer imagem numa narrativa em tons cinza. São expressões, animais, paisagens, um mundo de vida, olhado a rigor e passado para imagem como que por magia. Genesis, para ver e rever e imaginar. A ter, não na prateleira, mas sempre mais perto. Sofia Mota
SALA 3
MR. RIGHT [C] Filme de: Paco Cabezas Com: Sam Rockwell, Anna Kandrick,Tim Roth 14.15, 17.50, 21.30
SADAKO VS KAYAKO [C] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Koji Shiraishi Com: Mizuki Yamamoto, Tina Tamashiro, Masanobu Ando 16.00, 19.30
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OPINIÃO
dissonâncias
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A
O estertor de uma candidatura
semana horribilis de Donald Trump na campanha eleitoral norte-americana parece não ter fim. Foi apenas no dia 7 de Outubro que o vídeo de 2005 sobre o seu alegado “modus operandi” com as mulheres foi divulgado. Enfraquecido pela divulgação do vídeo, que surgiu na imprensa americana e um pouco por todo o mundo dois dias antes do segundo debate eleitoral com Hillary Clinton, a opinião pública decretou que, mais uma vez, ele havia perdido o embate. A seguir ao debate, surgiram as primeiras alegações de assédio sexual alegadamente perpetradas por Trump. Partem de mulheres, aparentemente insuspeitas, com mais de 60 anos, que nunca se quiseram fazer ouvir e que só saíram do anonimato impulsionadas agora pelo facto de que ele, na discussão com Clinton, ter dito que nunca praticara qualquer comportamento que se assemelhasse a um avanço sexual não consentido. Entre esse momento e este fim-de-semana, o candidato republicano transformou-se numa espécie de saco boxe em que os sucessivos golpes começam a produzir um impacto cada vez mais profundo. No momento em que escrevo estas linhas são já 11 as mulheres que se expuseram publicamente, afirmando que foram vítimas do “predador sexual” Trump. A consequência imediata é a queda nas sondagens. É evidente que numa sociedade como a norte-americana, puritana, conservadora nos costumes (como são frequentes as polémicas sobre casamento homossexual, aborto, adopção por casais homossexuais ou consumo de drogas), a linguagem de Donald Trump seria tudo menos adequada para conseguir convencer o voto decisivo das mulheres. Numa altura em que a igualdade de género foi considerada por António Guterres, futuro secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), como prioridade para o seu mandato e em que vários Estados europeus transpõem a convenção do Conselho da Europa para a prevenção e combate à violência contra mulheres e violência doméstica, que criminalizou, por exemplo, o piropo, a campanha contra Trump não irá parar, tornando irrelevante o debate final entre os dois candidatos marcado para a próxima quarta-feira (quinta em Macau). No entanto, apesar de toda a polémica e da queda nas sondagens, Trump ainda atrai um número considerável de eleitores. A média das sondagens nacionais mais recentes revela que 40 por cento dos americanos registados para votar gostariam de ver o republicano na Casa Branca. A média das sondagens nacionais, dos institutos e das empresas
JAY ROACH, THE CAMPAIGN
RUI FLORES
que regularmente actualizam as previsões quanto ao resultado final das eleições de 8 de Novembro, dá conta de que a antiga secretária de Estado tem uma vantagem de cinco pontos percentuais. Apenas numa dessas sondagens Trump aparece à frente de Clinton, com uma vantagem de dois pontos percentuais. Trump chegou até aqui com o discurso típico dos populistas, contra as elites, pela defesa do homem comum, do “nós” contra “eles”. “Eles”, os hispânicos, os muçulmanos; “nós” os brancos, os “verdadeiros” americanos. O realizador Michael Moore,
Acossado, provavelmente ferido de morte (passe a imagem de cariz político), Trump vai disparar em todas as direcções para tentar beliscar Clinton. Mas Hillary, como política experiente que é, vai passar pelo debate como um árbitro da liga inglesa de futebol em dia de dérbi: discretíssima. A 21 dias das eleições, parece que não há volta a dar
autor de um documentário notável, “Where to invade next” (que deveria ser visto por todos aqueles que estão descrentes no que conseguiu alcançar a Europa da igualdade, da fraternidade, da solidariedade e dos direitos humanos), começou há meses uma campanha contra Trump, apelando à mobilização contra o candidato republicano. Tocando a rebate as campainhas dos riscos que os Estados Unidos correriam caso Trump vencesse, Moore foi dos primeiros a elencar as razões do êxito do discurso o candidato, que aponta particularmente ao homem branco, da classe média, do Upper Midwest, que foi ao longo dos anos mais recentes perdendo postos de trabalhos e poder de compra, por causa do declínio da produção industrial em quatro estados nucleares da economia norte-americana, Michigan, Ohio, Pensilvânia e Wisconsin. Consequência de acordos como o NAFTA, o acordo de comércio livre da América do Norte. Mas, fora o discurso destinado ao homem branco da classe média – muito focado nas questões económicas, afinal a preocupação cimeira dos eleitores – Trump foi perdendo capacidade de atracção e vê-se agora chamuscado pelo seu passado. Trump não foi capaz de agregar. Alienou o voto hispânico com a mensagem da construção de um muro para isolar os Estados Unidos do México; não convenceu os afro-americanos com a pergunta “What the hell do you have to lose?”. E afastou os mais tolerantes com a mensagem de que iria banir a entrada de todo e qualquer muçulmano nos Estados Unidos. Devido ao discurso populista, anti sistema, anti elites, Donald Trump transformou-
-se num alvo fácil. Apanhou muitos socos, mas o homem branco manteve-o de pé. Agora nem o “verdadeiro” americano nem os líderes republicanos o conseguem conservar à tona da água. As mulheres, que segundo as sondagens têm muitas dúvidas sobre a seriedade de Hillary Clinton, estão agora em massa no campo da candidata democrata. Se as eleições fossem hoje e se apenas as mulheres fossem autorizadas a votar, Hillary seria eleita com 458 votos do colégio eleitoral (contados todos os votos dos 50 estados, nesta eleição indirecta do Presidente norte-americano). Se apenas os homens fossem às urnas, Trump seria eleito com 350 votos do colégio eleitoral. Para se ganhar a Casa Branca é preciso garantir 270 votos. Apesar de irrelevante quanto ao resultado final, o debate desta quinta-feira é imperdível. Não, evidentemente, para esclarecer o que quer que seja. Há muito que os debates políticos não contribuem para esclarecer, adicionar votos ou alargar a base de apoio. São apenas um momento – mais um – de infotainment. Tão apetecido como um qualquer episódio dos fenómenos televisivos “Game of Thrones” ou “Veep”. Acossado, provavelmente ferido de morte (passe a imagem de cariz político), Trump vai disparar em todas as direcções para tentar beliscar Clinton. Mas Hillary, como política experiente que é, vai passar pelo debate como um árbitro da liga inglesa de futebol em dia de dérbi: discretíssima. A 21 dias das eleições, parece que não há volta a dar. Nem o gongo parece poder salvar Trump.
“ O
tufão Sarika atingiu a ilha filipina de Luzon ontem de manhã, arrancando telhados, derrubando postes de electricidade e obrigando mais de 12 mil pessoas a fugir para zonas mais seguras, informaram as autoridades. Pequenos deslizamentos de terras e inundações foram também registados, um dia depois de o ciclone passar por uma zona remota da ilha e matar uma pessoa, com outras três desaparecidas. “Os telhados de algumas casas foram arrancados e a electricidade foi cortada nalgumas áreas”, disse à agência AFP Mina Marasigan, porta-voz do Conselho de Gestão de Redução de Riscos em Desastres. “Deslizamentos de terras de menor dimensão foram registados, bem como inundações. Estamos à espera que o tufão passe para fazer uma avaliação completa”, acrescentou. Marasigan disse ainda que cerca de 12.500 pessoas deixaram as suas casas e procuraram refúgio em abrigos criados pelo Governo e em casa de familiares. Onze pessoas foram resgatadas depois de o barco onde viajavam naufragar ao largo da ilha de Samar na sexta-feira, enquanto cerca de mil barcos e 6.500 passageiros ficaram retidos nos portos. A agência de desastres informou que 290 voos comerciais, incluindo 63 com destinos internacionais, foram cancelados devido ao mau tempo. A porta-voz adiantou ainda que 23 alpinistas tiveram de ser resgatados no norte do país. As Filipinas são frequentemente atingidas por tempestades, cerca de 20 por ano. Em 2013, o tufão Haiyan, o mais forte alguma vez registado a tocar terra, causou 7.350 mortos ou desaparecidos.
TÉNIS ANDY MURRAY VENCE EM XANGAI
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O tenista britânico Andy Murray, número dois mundial, venceu ontem o Masters 1000 de Xangai, depois de bater o espanhol Roberto Bautista Agut, 19.º do ‘ranking’. Frente à grande surpresa desta edição (eliminou o sérvio Novak Djokovic, líder do ‘ranking’, nas meias-finais), Murray ainda sentiu algumas dificuldades no primeiro ‘set’, que venceu por 7-6 (7-1), mas acabou por resolver o duelo com muito mais facilidade no segundo parcial, que ganhou por 6-1. Murray, que ainda mantém viva a esperança de terminar o ano no topo da classificação mundial, venceu o torneio de Xangai pela terceira vez, depois de 2010 e 2011, tendo perdido a final de 2012. Quanto a Bautista Agut, que disputou a primeira final de um torneio da categoria 1000, a mais importante depois dos ‘Grand Slam’, surgirá na segundafeira no 13.º lugar da classificação mundial.
Carlos Marreiros
segunda-feira 17.10.2016
UM DEPARTAMENTO DE PORTUGUÊS COM METAS AMBICIOSAS
Novo director, nova vida O departamento de Português da Universidade de Macau apresenta através do novo director, Yao Jingming, um conjunto de medidas para pôr o Português de qualidade na ordem do dia
O
novo director do departamento de Português da Universidade de Macau, Yao Jingming, promete várias novidades, desde um centro de formação de professores, produção de material didáctico, planos de leitura a um centro de tradução. “Estamos a trabalhar muito para tentar trazer algumas mudanças ao departamento de Português”, disse à Lusa o também poeta e tradutor, que assumiu o novo cargo em meados de Agosto. A lista de projectos acaba por se revelar extensa. O académico espera em breve pôr em funcionamento um centro de ensino e formação de professores, que trabalha em parceria com o Fórum Macau e com outras faculdades da Universidade de Macau (UM). Pretende ainda uniformizar os manuais utilizados e está a trabalhar na criação, pela primeira vez, de materiais didácticos próprios. Está também na calha a criação de um centro de tradução que funcione com entidades externas à UM e vai avançar com um plano de leitura lusófona. Yao explicou que o Centro de Ensino e Formação em Língua Chinesa e Portuguesa, além de pensado para servir os alunos do departamento, pretende oferecer formação a professores de Português locais e da China. “Muitos professores são jovens, não têm experiência suficiente e, por isso, precisam de formação”, disse. O centro, que Yao espera que esteja a funcionar em 2017, será também vocacionado para o “apoio linguístico” a cursos profissionalizantes ou intensivos para alunos ou quadros de países lusófonos, quer de outras faculdades da UM, quer os ministrados pelo Fórum
HOJE MACAU
FILIPINAS MILHARES DEIXAM AS SUAS CASAS À CHEGADA DO TUFÃO SARIKA
Moles degraus/paredes pálidas/onde/num repente/o céu derramou todo o seu azul/doirado/de um verão tão húmido.”
ser um chinês – o primeiro a dirigir o departamento – pode ser uma mais-valia: “Se calhar, como chinês, conheço melhor as características dos alunos, a maneira de ser deles, as dificuldades que encontram. Para nós não é uma língua fácil de aprender. Por isso estamos a fazer algumas mudanças, a uniformização de programas ou de materiais, porque assim os chineses conseguem estudar de forma mais sistemática. Tudo tem de estar claro, em vez de ‘Olha uma fotocópia, amanhã é outra fotocópia’. Isso causava alguma confusão”. Em elaboração está também um plano de leitura que “se calhar vai ser uma coisa obrigatória” e inserida na avaliação contínua. “Cada aluno tem de ler um número determinado de títulos”, explica, indicando que a lista de obras está agora a ser elaborada.
EDUARDO LOURENÇO, OBRIGATÓRIO
para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, conhecido como Fórum Macau. Em relação aos materiais de ensino, já fez arrancar a produção de uma gramática de língua portuguesa, “tendo em conta as características dos alunos locais”, e um livro sobre cultura dos países lusófonos, sendo esta a primeira vez que o departamento o faz.
Tal é “muito importante”, já que os alunos “querem ter materiais sistemáticos, correntes, para estudar passo-a-passo”. Enquanto esta produção não é finalizada, foram já uniformizados os materiais didácticos, para quebrar com o padrão de “cada um ensina à sua maneira”.
PROXIMIDADE CULTURAL
Este é um dos pontos em que Yao concede que o facto de
Um autor que constará da lista é Eduardo Lourenço, que Yao já recomenda aos seus alunos de mestrado. “Através de qualquer livro dele vão ficar a conhecer muito mais, não só sobre a história, mas o pensamento e a maneira de ser dos portugueses”, disse. Yao propõe ainda a criação de um núcleo de tradução. A ideia surgiu no seguimento de um projecto em que está envolvido, de tradução de clássicos da literatura em chinês e português, apoiado pelo Governo central da China. As obras portuguesas, entre 16 ou 18, vão ser as primeiras a ser traduzidas, de autores como Camões, e Fernando Pessoa, mas também contemporâneos como António Lobo Antunes, Gonçalo M. Tavares e José Luís Peixoto. Numa fase posterior, serão traduzidas obras chinesas para português, um “desafio ainda maior” já que “quase não há sinólogos em Portugal que possam assumir esse trabalho de tradução”. Lusa/HM