Hoje Macau 17 MAR 2016 #3534

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

QUINTA-FEIRA 17 DE MARÇO DE 2016 • ANO XV • Nº 3534 PUB

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

hojemacau

BENS

Pronto a congelar PÁGINA 5

CPU INSTITUTO SALESIANO EM ANÁLISE. ESTORIL GERA DISCÓRDIA

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Pilares da terra Os membros do Conselho de Planeamento Urbanístico reuniram ontem para analisar, entre outros, o projecto de reconstrução do Instituto Salesiano. Do encontro saiu a

defesa de preservação do estilo arquitectónico. Já quanto à decisão de não classificar o edifício do Hotel Estoril, muitas são as vozes que contestam o veredicto.

GRANDE PLANO

ERNESTO DABÓ

LIBERTAÇÃO CULTURAL ENTREVISTA

h

Paixões e virtudes

MANUEL AFONSO COSTA

ESPAÇOS VERDES

Para pior basta assim PÁGINA 4

FILMART

TAPETE PARA MACAU EVENTOS

TÁXIS

250 a caminho PÁGINA 7

CHINA

Propósitos aprovados ÚLTIMA

SOFIA MOTA

OPINIÃO Pirâmide invertida LEOCARDO


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PATRIMÓNIO CPU PEDIDOS MAIS LIMITES AO PROJECTO DO INSTITUTO SALESIANO

HOJE MACAU

GRANDE PLANO

TRAVAR PARA RECUPERAR

O

Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) debruçou-se ontem sobre o projecto de reconstrução do Instituto Salesiano, na Rua do Padre António, tendo os seus membros apoiado a manutenção do valor histórico de um edifício com mais de cem anos. Pedem, contudo, que o Instituto Cultural (IC) e a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) estabeleçam limitações quanto à reconstrução do projecto. “Muitas escolas optam por reconstruir para terem mais andares, por ser difícil pedir mais terrenos

ao Governo. Não sei se as Obras Públicas podem definir mais critérios para a reconstrução. Entendo que a fachada deve ser preservada e deve haver uma harmonia com o Centro Histórico. Não sei se será possível estabelecer limites para manter o estilo arquitectónico. Os próprios requerentes não entendem a história do edifício. O Conselho deve determinar com mais detalhe estas exigências”, apontou Lam Lon Wai, um dos membros do CPU. “Para preservar o edifício de forma global não é fácil”, apontou Lam Iek Chit. “Os estudantes disseram-me que esta escola tem uma história com mais de cem anos. As escadas

têm o seu valor próprio e devemos pensar mais sobre este projecto e não dizermos apenas que vamos preservar a fachada”, apontou o também membro do CPU.

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Os membros do Conselho do Planeamento Urbanístico defendem a preservação do estilo arquitectónico do Instituto Salesiano, por se tratar de um edifício centenário, e exigem limitações ao projecto de reconstrução. O plano foi aprovado, mas será alvo de alterações

ACELERAR PROCESSOS

Instituto Salesiano

Durante o processo de consulta pública foram apresentadas 918 opiniões ao CPU, sendo que algumas falam da necessidade de realização de uma consulta pública caso o projecto seja suspenso. “Falei com alguns professores que me referiram que este projecto existe há sete ou oito anos e penso que o Governo deve acelerar este processo”, referiu Lok Wai Kin.


3 hoje macau quinta-feira 17.3.2016 www.hojemacau.com.mo

“Governo não deve destruir o património tão facilmente” Hotel Estoril Associações e deputados contra decisão do Executivo

A “Entendo que a fachada deve ser preservada e deve haver uma harmonia com o Centro Histórico. Não sei se será possível estabelecer limites para manter o estilo arquitectónico. Os próprios requerentes não entendem a história do edifício.”

“Quanto aos pilares e à fachada devem ser mantidos. Deve ser cumprida esta exigência, à frente existe a Igreja de São Lourenço e perto temos a Sede do Governo. Temos de ponderar também em relação ao Centro Histórico de Macau. Se a escola pretender recuperar o estilo não discordamos”

LAM LON WAI MEMBRO DO CPU

LEONG WAI MAN REPRESENTANTE DO IC

“Há várias formas de manter as condições antigas e claro que esse não é o plano da escola. Mas se não limitarmos eles podem destruir”, avançou outro membro do CPU. Leong Wai Man, representante do IC, apenas referiu que o organismo “avalia o valor histórico” e que vai ser ponderado o seu valor arquitectónico. “Quanto aos pilares e à fachada devem ser mantidos. Deve ser cumprida esta exigência, à frente existe a Igreja de São Lourenço e perto temos a Sede do Governo. Temos de ponderar também em relação ao Centro Histórico de Macau. Se a escola pretender recuperar o estilo não discordamos”, apontou.

Raimundo do Rosário, Secretário para as Obras Públicas e Transportes, defendeu a presença do director do Instituto Salesiano na próxima reunião do CPU, sendo que alguns membros defenderam mesmo a realização de uma visita ao local. Apesar das questões levantadas, a maioria dos membros mostrou-se a favor do projecto de reconstrução, tendo o mesmo sido aprovado no seio da reunião, mas será alvo de alterações posteriores, a serem analisadas em conjunto pela DSSOPT e o IC. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

maioria dos membros do Conselho do Património Cultural (CPC) entendeu que o edifício do antigo Hotel Estoril não merece ser classificado, uma decisão que não gera acordo junto de associações ouvidas pelo HM. Em Setembro do ano passado, o grupo Root Planning, ligado ao urbanismo, entregou uma petição que pedia a classificação do edifício como património, tendo sido recolhidas mais de cem assinaturas nas redes sociais nesse sentido. Na rede social Facebook, o Root Planning mostrou-se descontente com a decisão do Governo. “Já tínhamos feito um pedido de avaliação do edifício do antigo Hotel Estoril em Agosto do ano passado e já tínhamos elaborado um projecto de suspensão do plano de reconstrução. Passado meio ano sabemos que o Instituto Cultural (IC) e o CPC decidiram que não vão iniciar o processo de classificação. Achamos isso lamentável”, pode ler-se. Ao HM, o deputado Ng Kuok Cheong defendeu que o Governo tratou a questão “de acordo com a lei”, já que a decisão foi tomada pelo Conselho. Mas acredita que os cidadãos podem reflectir sobre o grau de aceitação das decisões tomadas pelos membros do Conselho. “O Governo ouviu as opiniões da população e isso correspondeu ao processo de decisão do Conselho. Podemos criticar se

o Governo nomeou os membros errados, até porque estes não são eleitos directamente. Podemos duvidar da sua composição”, referiu Ng Kuok Cheong. O deputado pró-democrata apresentou em Fevereiro do ano passado uma interpelação escrita onde exigiu uma classificação do antigo Hotel Estoril como património cultural. Ng Kuok Cheong criticou o facto do IC nada ter feito depois da petição ter sido entregue.

GRANDES VALORES

Quem também lamenta a decisão do Executivo é Wong Ka Fai, presidente da Associação para a Reinvenção de Estudos do Património Cultural de Macau, defendendo que o Hotel Estoril está ligado à memória de pessoas famosas, como é o caso do magnata do Jogo, Stanley Ho. “O edifício era muito bonito na altura. Embora não tenha sido classificado tem um grande valor histórico. É uma pena o Governo ter tomado esta decisão”, apontou. Wong Ka Fai comparou o caso ao edifício da Rua da Barca, que o IC quer preservar, defendendo que o antigo Hotel Estoril tem mais valor e está menos destruído. Cheang Kuok Keong, presidente da Associação para a Protecção do Património Histórico e Cultural de Macau, e também membro do CPC, disse ter votado a favor da classificação, tendo ficado desapontado com o resultado. “Não se trata da questão se o edifício é feio ou não, mas temos de olhar também para a sua história, enquanto símbolo do desen-

volvimento do sector do Jogo”, disse. Para Cheang Kuok Keong, se Macau dá importância às indústrias culturais e criativas, então o edifício deve estar incluído no património local. “Esperamos que o Governo dê atenção à lei e não negue a petição que foi entregue, não deve destruir o património assim tão facilmente”, referiu.

MANTER A FACHADA

Ung Vai Meng, presidente do IC, referiu que “a autenticidade do antigo hotel é algo incerto”, tendo em conta os novos materiais encontrados pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), os registos no Arquivo de Macau e na Conservatória do Registo Predial. Ung Vai Meng disse que esses dados “não correspondem aos critérios de classificação para património da Lei de Salvaguarda do Património Cultural”. Wong Ka Fai não concorda com estas declarações. “Há muito património que sofreu várias reparações ou um acréscimo de diferentes materiais. Não se pode negar o valor de um edifício assim, porque os bens imóveis estão ligados a uma comunidade”, disse. Ung Vai Meng disse que ainda vai ser considerada a preservação do painel presente na fachada, da autoria do italiano Oseo Acconci. A associação de Wong Ka Fai defende a manutenção do painel, sendo que este espera que o IC continue com o plano de destinar este edifício a actividades juvenis e ao acolhimento do Conservatório de Música. O presidente do IC admitiu ainda que os especialistas “internacionais e do interior da China” que era suposto terem vindo avaliar a importância do edifício não chegaram a vir “por falta de tempo”. Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo


4 POLÍTICA

hoje macau quinta-feira 17.3.2016

GOVERNO NÃO QUER LIMITE MÍNIMO DE ESPAÇOS VERDES

Já está muito ‘green’ O verde que existe em Macau já é suficiente e não precisa de existir uma lei que imponha limites mínimos para os espaços verdes que existem em Macau. É assim que o IACM responde à deputada Ella Lei, que queria legislação neste sentido

O

Instituto para Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) afirmou numa resposta a Ella Lei que o Governo ainda não está a ponderar definir a proporção mínima de zonas verdes através da

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AULA Ling, deputada de Macau à Assembleia Popular Nacional, sugeriu que se diminuíssem as exigências para que os advogados de Macau pudessem obter qualificação para trabalhar no interior da China. Em Pequim, onde participa na reunião do Governo Central, Ling pediu ainda que os advogados do território possam trabalhar no continente de forma mais alargada. Segundo o Jornal Ou Mun, a deputada relembrou que o primeiro escritório onde trabalham advogados do interior da China, de Hong Kong e de Macau, na Ilha de Montanha, começou a operar no último mês, algo que, para Ling, representa um importante marco na colaboração judicial entre as regiões.

legislação. O instituto defende que a área de reserva ecológica e de lazer “já é grande”. Numa interpelação entregue ao Governo em Dezembro passado, Ella Lei questionava sobre a proporção de espaços verdes em Macau e inquiria o Go-

verno sobre se considerava que estes eram suficientes, alertando que não concordaria se a resposta fosse positiva. A deputada falava em muitos espaços verdes destruídos por projectos de construção e pedia, por isso, que o Governo definisse um

limite mínimo para a existência de zonas verdes no território, de forma a evitar “a diminuição constante desses espaços”. No documento de resposta, José Tavares, presidente do Conselho de Administração do IACM, respondeu que a área de espaços verdes atinge “mais de 12 quilómetros quadrados, ocupando 41,7% da área total do território”. Tavares diz que estas zonas verdes incluem ainda espaços de reserva ecológica e de lazer “que têm valor ecológico eleva-

O presidente do IACM diz ainda que, embora o Governo não considere legislar uma limitação mínima de espaços verdes, a Lei do Planeamento Urbanístico exige os princípios de “proteger e manter o equilíbrio ecológico e da natureza, bem como a sustentabilidade do ambiente”

Competências semelhantes Pedida acreditação para advogados locais trabalharem na China “Devido à Zona de Comércio Livre da Ilha de Montanha, o escritório está a ocupar um papel indispensável, bem como oferece serviços profissionais judiciais que são eficazes para as trocas comerciais, o comércio dos bens e o comércio dos serviços. E o escritório também pode mostrar como é único ao tratar de casos cíveis e comerciais sabendo utilizar qualquer lei, seja a do continente, seja a de Macau” disse. Para reforçar o papel de plataforma de Macau entre a China e os Países Lusófonos Paula Ling, também advogada no território,

sugere que se diminuam as exigências, para que os advogados possam “tratar de assuntos judiciais do continente”. Apesar de admitir a diferença entre os sistemas, estes, diz, têm o mesmo fundo portanto poderia ser feito um estudo para a possibilidade dos advogados de Macau poderem praticar no país, sugeriu, acrescentando que isto pode reforçar a cooperação comercial entre a China e Macau e, ao mesmo tempo, melhorar e desenvolver os sistemas judiciais dos dois locais. T.C.

do” e que ocupam 57% de toda a área desses espaços verdes. O presidente do IACM diz ainda que, embora o Governo ainda não considere legislar uma limitação mínima de espaços verdes, a Lei do Planeamento Urbanístico exige os princípios de “proteger e manter o equilíbrio ecológico e da natureza, bem como a sustentabilidade do ambiente”, algo que o presidente considera que “já protege de forma apropriada e suficiente” os espaços verdes de Macau. O responsável afirmou ainda que o Governo vai “activamente adicionar área verde ao território”, reservando, para isso, “uma certa proporção dos espaços nos novos aterros” para essa finalidade. Flora Fong

Flora.fong@hojemacau.com.mo

SUGERIDO FUNDO PARA EMPRESAS LOCAIS AJUDAREM SOCIEDADE

Um académico de Hong Kong sugeriu ontem que as empresas de Macau contribuam para um fundo de apoio aos trabalhos sociais, de forma a que possam cumprir, de facto, a sua responsabilidade social. Ernest Chui Wing Tak, professor da Universidade de Hong Kong, falava num seminário do Instituto Politécnico de Macau (IPM), quando deu como exemplo as associações sociais de Hong Kong que utilizam o dinheiro das grandes empresas para o seu trabalho diário. Segundo o canal chinês da TDM, o professor aconselhou as “grandes empresas de Macau” a estudarem juntas a criação de um fundo deste tipo, para apoiar financeiramente as associações de cariz social, de forma a que não estejam tão dependentes do Governo. Chui sugere ainda que as associações têm de diminuir a dependência do apoio do Governo, reforçando a independência financeira, embora diga que o Governo tem responsabilidade para com os assuntos sociais, sendo uma garantia para um ambiente estável.


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POLÍTICA

AL LEI DE CONGELAMENTO DE BENS DEU ENTRADA PARA APROVAÇÃO

Primeiro passo contra o terrorismo

Macau vai este ano ser novamente avaliado por autoridades internacionais face à eficácia para congelar bens que ajudem a financiar terrorismo. Sem ter, actualmente, qualquer medida para tal, o hemiciclo já tem nas mãos a proposta de lei que pretende colmatar essa lacuna

J

Á foi entregue e admitida na Assembleia Legislativa (AL) a proposta de Lei de Execução de Congelamento de Bens. O diploma surge no âmbito de resoluções adoptadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para o combate ao terrorismo e da proliferação de armas de destruição maciça, num ano em que Macau volta a ser avaliado pelas autoridades internacionais. O território ainda não tem uma forma eficaz de congelar os bens que possam ser utilizados para fins deste tipo, como admite o Governo – autor da proposta de lei – na nota justificativa que acompanha a entrada do diploma no hemiciclo. Tal foi também já referido em 2007 pela Asia Pacific Group e pelo Group Of International Finance Centre Supervisions. “Nessa altura, a RAEM foi considerada apenas parcialmente cumpridora [das resoluções da ONU]”, pode ler-se no documento analisado pelo HM. “A RAEM será novamente avaliada pela Asia Pacific Group em 2016 no âmbito do sistema de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo, incluindo dois dos parâmetros dessa avaliação sobre o cumprimento das resoluções.”

Resoluções que passam pela aplicação de sanções financeiras específicas para quem cometer estes crimes e que passam pelo congelamento “sem demora” de fundos ou outros bens de qualquer pessoa ou entidade e que assegurem que não há qualquer tipo de financiamento indirecto para esses fins. Algo que a RAEM não consegue fazer actualmente. “É necessário que o Governo estabeleça, mediante produção legislativa, um regime de execução de congelamento de

“A RAEM será novamente avaliada pela Asia Pacific Group em 2016 no âmbito do sistema de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo, incluindo dois dos parâmetros dessa avaliação sobre o cumprimento das resoluções.” NOTA JUSTIFICATIVA DO EXECUTIVO

bens para suprir a insuficiência do ordenamento jurídico interno”, justifica o Executivo.

NAS MÃOS DO CHEFE

A proposta é composta por 33 artigos, que começam por identificar que os fundos em questão poderão ser valores em numerário, cheque, contas bancárias, imóveis, créditos, acções, entre outros bens. O congelamento vai impedir qualquer movimento, alteração ou transferência desses bens e pode ser aplicado a quem quer que esteja na RAEM ou em transportes com matrícula registada no território, às pessoas residentes da RAEM estejam elas onde estiverem, a transferências feitas para, de ou através de Macau e aos bens que estiverem no território. É ao Chefe do Executivo que cabe a decisão de congelar

os bens, sendo este, contudo, ajudado por um grupo – a Comissão Coordenadora do Regime de Congelamento que é, no entanto, escolhida pelo líder do Governo. Mas o sujeito lesado tem também direitos consagrados nesta proposta de lei, que passam, por exemplo, pelo direito à interposição de recurso da decisão de congelamento dos bens. Este recurso é julgado de forma “urgente” e por um tribunal superior. Ainda não há data para que a proposta de lei possa ser analisada e votada pelos deputados, mas ao que o HM apurou a próxima avaliação a Macau – que terá em conta a entrada em vigor desta lei ou, pelo menos, a sua aprovação – está marcada para Julho. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

Grace Poe

A tratar do assunto

Suncity “não comenta” alegadas doações a Grace Poe

A

Suncity Group disse ao HM “não querer comentar” a alegada doação de 150 milhões de pesos filipinos a Grace Poe, candidata à presidência das Filipinas. Numa resposta dada por telefone a este jornal, uma porta-voz do grupo junket disse que o caso está a “ser tratado” e que, por isso, não havia qualquer comentário a fazer. O jornal Daily Tribune, das Filipinas, escreveu esta semana que Poe teria violado a lei alegadamente por ter recebido dinheiro da Suncity Group, grupo junket de Macau que também opera no país. Poe, que concorre nas eleições de forma independente, já veio a público negar a situação, ainda que o jornal tenha apresentado documentos – que publica junto à notícia – e que mostram que Poe terá aceite “150 milhões de pesos (cerca de 25,8 milhões de patacas) em doações com fins políticos da Suncity”, no ano passado. “Um dos vouchers, de 50 milhões de pesos, tem a assinatura de Grace Poe”, assegura ainda o Daily Tribune. A Suncity, recorde-se, está a estender a sua base de operações para as Filipinas, depois de as receitas do sector do Jogo em Macau terem começado a baixar, especialmente no segmento VIP, controlado pela empresa. Notícias da imprensa local, datadas do ano passado, davam conta da abertura de salas VIP pela Suncity nas Filipinas, algo visto como um problema para Macau, já que a empresa poderia levar os jogadores de altas apostas para o país. Grace Poe lidera a corrida às eleições agendas para Maio. Apesar de ter escusado comentário aos HM, o jornal Macau Business Daily cita outro porta-voz da empresa a assegurar que a notícia é “falsa”. J.F.

DSEC E DSAL DIRECTORES POR MAIS UM ANO

O director dos Serviços de Estatísticas e Censos, Ieong Meng Chao, e o director dos Serviços para os Assuntos Laborais, Wong Chi Hong, vão ocupar os cargos por mais um ano, segundo uma publicação em Boletim Oficial que dá conta da renovação de contrato. Assinadas pelo Secretário para a Economia e Finanças, as renovações atribuem aos directores competências profissionais e “experiência adequadas para o exercício das suas funções.


6 POLÍTICA

hoje macau quinta-feira 17.3.2016

GONÇALO LOBO PINHEIRO

CPU PEDIDO GRUPO NA DSSOPT PARA PRÉDIOS DEGRADADOS

Obrigar a proteger

O deputado Mak Soi Kun defende a criação de um grupo de técnicos para a avaliação dos edifícios degradados nas Obras Públicas, por forma a obrigar os proprietários a fazer obras TIAGO ALCÂNTARA

“Isso está no Código Civil, mas quem tem essa competência? As Obras Públicas”, afirmou. O Secretário para as Obras Públicas e Transportes, Raimundo do Rosário, afastou essa hipótese. “Os proprietários têm esse dever de preservar o seu edifício e o Governo não pode enviar tantos editais para os prédios.”

JOSÉ TAVARES MEMBRO DA COMISSÃO PARA MACAU COMO PLATAFORMA PARA PLP

José Tavares vai ser membro da Comissão para o Desenvolvimento da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. O presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais integra a Comissão em substituição de Alex Vong, seu antecessor nos comandos do instituto. A Comissão surgiu por decisão do Chefe do Executivo e tem como objectivo “realizar estudos sobre a construção da RAEM como uma plataforma de serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa e elaborar as medidas e políticas necessárias”.

PLANOS GLOBAIS

PUB HM • 1ª VEZ • 17-3-16

ANÚNCIO INTERDIÇÃO

CV3-16-0014-CPE

3º Juízo Cível

REQUERENTE: O MINISTÉRIO PÚBLICO. REQUERIDO: WONG KIN FAI, do sexo masculino, residente na Lar São Luís Gonzaga, Povoação de Cheok Ká, Rua de Tin Chon, Taipa-Macau.

FAZ SABER, que no Juizo Cível e Tribunal acima referidos, foi distribuída uma acção contra WONG KIN FAI, do sexo masculino, residente na Lar São Luís Gonzaga, Povoação de Cheok Ká, Rua de Tin Chon, Taipa-Macau, supra identificado, para o efeito de ser decretada a sua interdição por anomalia psíquica. Aos 10 de Março de 2016.

Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

DIRECTOR DA DSPA INTEGRA MACAUPORT

Vai Hoi Ieong vai ser membro do Conselho de Administração da Macauport – Sociedade de Administração de Portos até 2018. O director dos Serviços de Protecção Ambiental foi nomeado para ocupar este cargo e o de membro da Comissão Executiva da mesma empresa por Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas em regime de comissão de serviço. A Macauport é uma empresa estabelecida em 1987, detida maioritariamente pela Marban Corp, da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, em 12% pela Nam Kwong, em 31,84% pelo Governo de Macau e com acções divididas entre “três accionistas de Portugal, Hong Kong e Macau”, cada um com 0,99%. A empresa explora o porto de Ká Hó e a sua fundação teve como objectivo “maximizar a indústria do território, nomeadamente na produção e comércio”. HOJE MACAU

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Código Civil determina que deve ser feita uma avaliação do estado estrutural de um edifício de cinco em cinco anos. Contudo, membros do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) defenderam ontem na 3ª reunião plenária do grupo a necessidade do Governo fiscalizar mais este aspecto. O deputado Mak Soi Kun, membro do CPU, pediu a criação de um grupo especializado no seio da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). “Temos de obrigar [os proprietários] a fazer inspecções de cinco em cinco anos. Quem é que tem qualificação para afirmar se um prédio está ou não degradado? Há cerca de quatro mil prédios com mais de 30 anos e muitos edifícios com mais de 70 anos. O Governo poderia ter um grupo de avaliação de prédios degradados, para saber como podemos preservar o património cultural”, defendeu. O responsável da DSSOPT garantiu que o Código Civil já possui uma norma nessa matéria, mas Chan Tak Seng, outros dos membros do CPU, refutou o argumento.

No âmbito da análise de dois edifícios localizados na Travessa dos Alfaiates, os membros do CPU pediram ainda ao Executivo para criar planos globais de preservação. “Discutir terreno a terreno não é nosso objectivo. Este é um exemplo clássico que mostra como temos de discutir as coisas de forma abrangente, temos de ter uma orientação. Nas zonas antigas temos de planear de forma abrangente. Há muitos proprietários que esperam a total degradação para não manterem a fachada”, disse Wu Chou Kit, também do grupo. “Os terrenos merecem a nossa atenção, mas temos quer ver a zona no seu todo. Não devemos estudar terreno a terreno. Quero que o Instituto Cultural possa discutir connosco um plano mais global. Se discutirmos prédio a prédio e não discutirmos de forma abrangente pode haver problemas”, referiu outro membro. “Se o Governo tiver um plano geral sobre o estilo de construção ou algo que pode incentivar os proprietários a manterem o estilo do edifício”, apontou Leong Sin Man. “Não sei se é viável fazer um plano sobre essa área, não sei se o Instituto Cultural terá essa possibilidade”, rematou Raimundo do Rosário, referindo-se especificamente aos projectos na travessa dos alfaiates.

OMC FUNG PING KUEN CONTINUA COMO CHEFE DA DELEGAÇÃO ECONÓMICA

Fung Ping Kuen viu renovada a sua comissão de serviço como Chefe da Delegação Económica e Comercial de Macau junto da Organização Mundial do Comércio (OMC). De acordo com um despacho ontem publicado em Boletim Oficial, e assinado pela chefe do Gabinete do Chefe do Executivo, O Lam, Fung Ping Kuen vai manter-se no cargo por mais dois anos por ter “experiência e capacidade profissional adequadas para o exercício das suas funções”. A recondução acontece a partir de 1 de Maio.


7 hoje macau quinta-feira 17.3.2016

Táxis GOVERNO VAI ATRIBUIR MAIS 250 ALVARÁS PARA CARROS COMUNS

Venham lá mais boleias público aberto em Outubro passado. Agora, a DSAT atribui mais 250 licenças. Num comunicado enviado ao final da tarde, a DSAT frisa isso mesmo. “Visto que alguns alvarás de licença de táxis [terão] o seu prazo terminado sucessivamente, e para responder à procura do público no que se refere aos serviços de táxis, o Governo lançou o presente concurso público”, pode ler-se.

TIAGO ALCÂNTARA

O Governo decidiu abrir novo concurso público para que haja mais táxis pretos a circular no território – este decorre até 14 de Abril

O

Executivo abriu um concurso público para a atribuição de mais 250 licenças para táxis pretos, numa ordem que chega do Chefe do Executivo e vem ontem publicada em Boletim Oficial. De acordo com o despacho, o preço base de licitação para cada alvará é de 200 mil patacas. No despacho assinado pelo director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), Lam Hin San, é dado ainda conta que o organismo fica responsável pelo concurso e que este termina a 14 de Abril pelas 18h00. As propostas são abertas a dia 17 do mesmo mês. A atribuição de mais 250 licenças de táxi foi uma promessa do Governo, depois de algumas autorizações para estes carros terem caducado e enquanto não são retomados os serviços de rádio-táxis. O ano passado, em Maio, o Executivo atribuiu 200 novas licenças de táxis pretos, visto que 230 anteriores veriam a sua licença caducada até ao final de 2015. A estes, juntaram-se mais cem, depois de um concurso

CERTIFICADO DE HABILITAÇÕES

“Visto que alguns alvarás de licença de táxis [terão] o seu prazo terminado sucessivamente, e para responder à procura do público no que se refere aos serviços de táxis, o Governo lançou o presente concurso público” COMUNICADO DA DSAT

GUIA ESTUDO SOBRE CONSTRUÇÃO DO TÚNEL ATÉ JUNHO

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Temos de respeitar a decisão do TUI”, disse Ip Son Sang, esta tarde, à margem da tomada de posse de Kan Cheng Ha como juiz presidente do Tribunal Colectivo dos Tribunais de Primeira Instância. A rádio diz ainda que Ip Son Sang foi questionado sobre as razões de o antigo procurador do MP não ter sido suspenso das funções que desempenhava, assim que começou a investigação e sobre se essa foi uma intenção para que fosse apanhado em flagrante delito. “Não posso dizer que foi uma estratégia de investigação”, afirmou, escudando-se depois no facto de não poder fazer muitos comentários. Ho Chio Meng é suspeito de ter favorecido empresas, algumas de familiares, na adjudicação de obras e serviços durante dez dos 15 anos em que foi procurador do MP. Está actualmente em prisão preventiva.

A este concurso estão habilitadas pessoas singulares que sejam portadoras de BIR ou titulares de direito de residência na RAEM, sendo que os alvarás têm a duração de oito anos e não podem ser transmitidos. Há ainda exigências face ao tipo de automóvel a ser utilizado. “O titular do alvará deve utilizar um veículo com a lotação de quatro e cilindrada igual ou superior a 2000cc, para além de corresponder às normas de emissão de gases de escape Euro IV ou superior”, indica o Governo. Hoje, a DSAT abre as propostas candidatas às cem licenças especiais para rádio-táxis, sendo que há duas empresas na corrida. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

PROCURADOR DO MP AO LADO DO TUI SOBRE CASO HO CHIO MENG procurador do Ministério Público (MP), Ip Son Sang, coloca-se do lado da decisão do Tribunal de Última Instância no que diz respeito à recusa em aceitar o pedido de habeas corpus de Ho Chio Meng. De acordo com a rádio, o procurador falou pela primeira vez sobre o caso do seu antecessor, assegurando que “as investigações continuam com diligências de inquérito”. Pedindo que seja respeitado o “princípio de inocência presumida”, Ip Son Sang defende que, tal como disse o TUI, Ho Chio Meng não estava ao abrigo do estatuto de magistrado, porque coordenava a Comissão de Estudos do Sistema Jurídico-Criminal. Ou seja, não desempenhava as funções de procurador-adjunto, apesar de constar como tal em documentos oficiais. “O senhor Ho Chio Meng foi nomeado director daquela Comissão.

SOCIEDADE

Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) assegura que o estudo sobre a viabilidade de construção de um túnel pedestre na Colina da Guia poderá estar concluído no segundo trimestre deste ano. O organismo anuncia o calendário numa resposta à deputada Kwan Tsui Hang, que tem vindo a interpelar o Governo sobre a questão. Na resposta, a DSSOPT assegura que há mais medidas para incentivar a deslocação a pé naquele local, que passam, por exemplo, pela construção de um elevador situado entre o Jardim da Flora e o Trilho da Colina da Guia, algo que ainda está em discussão entre o organismo e o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM).

Li Canfeng, director da DSSOPT, não avança calendário específico, porque diz que várias obras vão ser concluídas ou começar este ano. Este ano começarão também os trabalhos respectivos à construção do túnel da Guia se, de facto, o resultado do estudo indicar que há a possibilidade de este vir a existir. Kwan Tsui Hang, contudo, tinha dito que a DSSOPT já concordou com a viabilidade do sistema do túnel, assim como já escolheu as entradas da obra, sendo elas uma perto do Jardim da Flora e outra nas bombas de gasolina na ZAPE. A obra terá um comprimento total de 300 metros, ligando as zonas da Horta e Costa, do Porto Exterior e do Reservatório. Ainda este ano fica também completo o mirante da Taipa Pequena, acrescentou o organismo. T.C.

MANDARIM PASSA A EDIFÍCIO COM “UTILIDADE TURÍSTICA”

O Hotel Mandarim Oriental, nos NAPE, passou a deter o título definitivo de edifício com “utilidade turística”. De acordo com um despacho ontem publicado em Boletim Oficial, e assinado pelo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, o Mandarim cumpriu os requisitos para a transformação. Estes passam pelo facto de “ser explorado no hotel um restaurante com ementa de cozinha tradicional macaense e de cozinha tradicional portuguesa, não necessariamente em exclusivo”, “ser dada prioridade de emprego aos residentes de Macau, bem como aos que tenham frequentado, com aproveitamento, cursos ministrados no Instituto de Formação Turística e nas demais instituições locais de formação na área hoteleira” e “dispor de pessoal, na recepção, habilitado a falar correctamente as línguas oficiais e o Inglês”.


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IPM DE DIRECTOR A VICE-PRESIDENTE

SOCIEDADE

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Im Sio Kei, director da Escola Superior de Administração Pública do Instituto Politécnico de Macau (IPM), é o novo vicepresidente do instituto. Numa publicação em Boletim Oficial, Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, nomeia o responsável para o cargo, sendo que este entra com funções retroactivas ao início de Março até ao fim do ano lectivo de 2016/2017.

LOU KAU REABRE NO SÁBADO

A Casa de Lou Kau reabre este sábado, depois de ter sido destruída uma parede devido à derrocada do edifício em obras junto ao imóvel classificado. “Por razões de segurança e do ambiente do local”, o Instituto Cultural encerrou temporariamente a Casa de Lou Kau para levar a cabo medidas de inspecção e limpeza, depois de o organismo ter feito as reparações necessárias. A empresa de Mak Soi Kun, Companhia de Engenharia Soi Kun, foi a responsável pela derrocada e o IC assegurou que esta iria ter de pagar os danos.

Orfanato Helen Liang

Docomomo ASSOCIAÇÃO QUER CLASSIFICAR EDIFÍCIOS DA “ARQUITECTURA MODERNA”

Paredes entre nós

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Associação Docomomo Macau inaugura, esta sexta-feira, uma exposição que pretende ser muito mais do que uma mostra de arte. Ao longo dos últimos dois anos, os membros da Associação têm realizado um trabalho de campo ao fazer o levantamento de edifícios que considera serem exemplares de arquitectura modernista e que estão em risco. A ideia é não só mostrá-los, através da exposição, à população, como propor uma classificação de alguns deles. Do grupo de peças expostas – são 39 – “há duas ou três que já estão classificadas”, apontou o arquitecto Rui Leão, que preside à Associação. Este trabalho tem como objectivo “chegar a uma argumentação” para que se possa avaliar ou não uma possível classificação. Rui Leão indica ainda que este não é um trabalho que termina com a exposição, mas sim de continuidade.

“Entendemos isto como um trabalho de levantamento [em andamento] não é uma lista definitiva da arquitectura do período [Modernista]. Isto é um conjunto de edifícios que achamos, por várias razões, que eram os mais prioritários e significativos. Há outros que são igualmente importantes, mas que por uma razão ou outra não estão incluídos nesta lista”, esclareceu. Um dos exemplos é o orfanato Helen Liang, na Praia Grande, de

Manuel Vicente. Outro é o Infantário da Guia, de Chorão Ramalho.

DA NARRATIVA

Este é um trabalho que corresponde ao objectivo principal que a Docomomo pretende desenvolver, que é “a documentação do património do movimento moderno”. A questão da documentação é “muito importante” porque é ela que permite que exista “um registo completo do edifícios”, como também permite “fazer uma

“Entendemos isto como um trabalho de levantamento [em andamento] não é uma lista definitiva da arquitectura do período [Modernista]. Isto é um conjunto de edifícios que achamos, por várias razões, que eram os mais prioritários e significativos”

avaliação [a partir do registo]”. Muitas vezes, apontou o arquitecto, o facto de não existir uma “narrativa dos edifícios” faz com que os mesmos “fiquem vulneráveis em determinada circunstância”. A ideia do trabalho, aponta ainda Leão, é que haja uma documentação feita, “independentemente das circunstâncias”, para que quando o edifício estiver em risco, ou for eventualmente sujeito a alteração, possa ter algo escrito que permite que todos os seus intervenientes Governo, arquitecto, construtores, entre outros - percebam melhor como têm de lidar com ele em particular. Na exposição, em conjunto com Hong Kong, podem ser apreciados painéis com fotografias, indicações gráficas e plantas. O local escolhido é a Casa Garden e a inauguração acontece pelas 18h45, a 18 de Março. Filipa Araújo

RUI LEÃO ARQUITECTO

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

CORRUPÇÃO DIPLOMATA ENVOLVIDO COM NG LAP SENG VAI ASSUMIR CULPA

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RANCIS Lorenzo, o diplomata da República Dominicana que responde num caso de alegada corrupção que envolve a ONU, deverá declarar-se culpado em tribunal. A situação poderá representar um entrave à declaração de inocência de Ng Lap Seng, empresário de Macau, já

que – de acordo com o advogado de Lorenzo – a admissão de culpa vai “implicar a pessoa que vai acusada juntamente” com o diplomata dominicano. A admissão de culpa de Lorenzo foi anunciada num documento entregue pelo próprio advogado ao tribunal e citada pela

Reuters, que indica que a sessão estava marcada para começar na madrugada desta quinta-feira em Macau, 13 horas a menos em Manhattan. O empresário e representante político de Macau Ng Lap Seng foi formalmente acusado pela justiça norte-americana de conspiração e suborno,

num caso que envolve o ex-presidente da assembleia-geral da ONU John Ashe, estando acusado de participar num esquema de subornos a dirigentes da Organização das Nações Unidas (ONU) durante três anos. O magnata terá tentado conseguir o apoio de Ashe para a construção

de um “centro de conferências milionário” para a ONU em Macau, usando Francis Lorenzo, o embaixador das Nações Unidas na República Dominicana, para transferir esses pagamentos. Ng Lap Seng sempre disse que pretende declarar-se inocente. J.F.

Ng Lap Seng vai


10 EVENTOS

ERNESTO DABÓ

Podia ser o Mohamed Dabó, mas para que pudesse ir à escola teve que mudar de nome. Hoje é Ernesto Dabó, convidado do Roteiro Literário, o músico, escritor, jurista, activista cultural e político que deu a conhecer ao Hoje Macau a vida que fez com que faça o que faz

“O essencial é praticar tudo aquilo que é a recomendação positiva de qualquer religião. Faço questão de fazer da vida um acto de partilha. Enquanto conseguir isso estou seguro que estou bem”

“Qualquer individuo é um produto cultural” As histórias têm um início… a cultura na sua vida, como aconteceu? Começou em casa. Os meus pais motivaram-me desde muito cedo para o estudo e então começamos todos em casa a relacionarmo-nos com os livros, com outras esferas da cultura e aí por diante. No meu caso particular, desde muito cedo senti que tinha um gosto especial por estas áreas e em determinado momento já estava a fazer música e depois a escrever e assim por diante. Uma educação motivada para o conhecimento numa família Muçulmana que o pôs a estudar na Missão Católica. Como é que isto aconteceu? Nasci em Bolama, e o meu pai era um indivíduo que tinha a sua visão da vida, tinhas os seus conceitos e o regime colonial não oferecia muitas escolhas, nomeadamente as estruturas escolares. As mais abertas eram as chamadas missões católicas que davam instrução primária. Mas para ser matriculado nessas escolas, para ser aluno tínhamos que praticar a religião cristã: estudar a catequese, ir às missas e inclusivamente o meu nome Ernesto é uma imposição colonial. Naquele tempo, para ser matriculado tínhamos que ter um nome cristão. O que também aconteceu no meu caso. Quando me fui matricular mostrámos o meu nome e disseram que não era possível, quando chegámos a casa o meu pai pegou no nome Ernesto e disse “o importante é que ele vá para a escola”. Houve ainda a particularidade do meu pai nunca ter pressionado ninguém para a sua fé. Admitiu que nós praticássemos a religião que entendêssemos. E o meu caso foi esse, conheci a religião cristã, evolui na mesma até que cheguei a uma altura em que disse “agora não pratico nada”. Agora

SOFIA MOTA

MÚSICO, ESCRITOR, ACTIVISTA

“Estava no conjunto como vocalista do grupo e lá no fundo disse “ isto vem mesmo a calhar, vou dar tudo por isto e vou fazer uma tropa de música e assim ninguém me põe a fazer guerra contra mim mesmo” penso que há qualquer coisa que gere este universo e respeito muito isso, mas o essencial é praticar tudo aquilo que é a recomendação positiva de qualquer religião. Faço questão de fazer da vida um acto de partilha. Enquanto conseguir isso estou seguro que estou bem . Também é conhecido pela sua actividade politicamente interventiva, e em plena época colonial, dirigida à independência. Quando a determinada altura foi para Portugal, já tinha esta consciência? Como é que esta problemática ganhou forma? Quando fui para Portugal ainda não tinha esta consciência, era ainda muito novo, com 13 ou 14 anos. Ela nasce também com a minha família. Na altura estava em Portugal com um irmão meu e ele já percebia o que se estava a passar no país. O meu pai também mais uma vez, foi alguém que estava ligado em Bolama, a essa corrente de pessoas que já estavam a perceber que a libertação nacional era um projecto que tinha que ir para a frente. Associando estas questões comecei a observar o que se passava,

a aprender e a ler, e como gostava muito de ler fui aprofundando as coisas. Depois também tive a sorte de ter bons amigos, com quem cresci e que alguns, da classe média portuguesa, eram também gente com uma cultura muito diferente e que me deram muitas dicas no sentido de perceber o que se passava. E depois também era fácil entender que eu era diferente. Sou negro, estou numa sociedade portuguesa, branca, que na altura, por sinal, não era assim tão culta e desenvolvida e juntando o meu carácter e a minha curiosidade em saber o que se estava a passar e porque fui forjando a minha consciência política até ter percebido, “ah, afinal é isto e não tem nada de mal, afinal a prova está aqui e agora compreendemos que afinal estávamos todos no mesmo barco”. Era o fascismo a fazer estragos em Portugal e era o colonialismo a fazer estragos na Guiné e eram comba-

“Fechava-me no quarto a pensar ‘mas, caramba, estão pessoas amigas aqui, ninguém tem nada contra mim enquanto pessoa e depois vês pessoas que o que têm para fazer é matar’. É das coisas mais absurdas que já vi na vida e que me marcou profundamente”


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Cabo Verde, Angola e Moçambique, foi aí que, finalmente, conclui esse processo “de tomada de consciência”. No contacto com a realidade. Estava fora da Guiné deste garoto e foi um choque brutal, extramamente interessante. Os meus amigos e os meus colegas da tropa que conhecia bem e que tínhamos confidências, também estavam contra a guerra mas não podiam fazer nada. E chego à Guiné e a guerra está a fazer mal às pessoas que não a querem . Foi um drama humano que não sei explicar. Vivi isto de forma dramática, fechava-me no quarto a pensar “mas, caramba, estão pessoas amigas aqui, ninguém tem nada contra mim enquanto pessoa e depois vês pessoas que o que têm para fazer é matar”. É das coisas mais absurdas que já vi na vida e que me marcou profundamente. Um outro aspecto é que a vida militar permitiu-me amadurecer como homem. Saber que eu devo contar comigo em primeiro lugar. Não tem pai, nem mãe nem irmão, é a tropa. Mas no fundo posso dizer que não me arrependo de nada nessa trajectória porque me valorizou muito. Aliás, em toda a minha vida tenho tido dificuldades e problemas , mas graças a esta escola de vida também tenho sabido saber sair e saber entrar. E tive a sorte de não confundir nada. De separar as águas, por isso é que mantenho as amizades que tenho, que são fraternas.

tentes pela democracia em Portugal e combatentes lá também. Gostei imenso de ter vivido este período. Ainda antes do 25 de Abril, e já com essa consciência política, ingressou no exército, na Armada Portuguesa. Como foi para si estar na “trincheira do inimigo”? Sim, foi das coisas mais giras que me aconteceram na vida. Fui recrutado, porque na altura era mesmo assim, mas ( vou-lhe revelar aqui algo que nunca revelei) eu já tinha relações com as estruturas que funcionavam da luta pela libertação. E quando entro para a Marinha, vou, e acontece uma coisa milagrosa – ainda há dias tivemos um almoço em Lisboa para celebrar os 45 anos desse encontro – um capelão da unidade resolveu criar um conjunto musical e como vinha com alguma experiência da Escola Agrícola onde tinha estado, convidaram-me para participar no

projecto e participei. Aquilo ganha dimensão e o capelão propôs aos comandos da altura da Marinha para que esse conjunto, chamado “Os Náuticos”, começasse a animar no Ultramar, que fizesse uma digressão . Estava no conjunto como vocalista do grupo e lá no fundo disse “ isto vem mesmo a calhar, vou dar tudo por isto e vou fazer uma tropa de música e assim ninguém me põe a fazer guerra contra mim mesmo. E isso foi no fundo o que fiz, mas essa passagem pela vida militar foi ainda uma escola de vida muito importante para mim. Em que sentido? No sentido, por exemplo, humano! Estamos num período de guerra e as amizades que ganhei nesse período ainda hoje são as maiores amizades que tenho. Depois do ponto de vista da minha consciencialização, essa digressão em que estivemos na Guiné,

“As nossas crises têm como fundo a alienação, uma crise cultural. No dia em que a nossa elite política começar a reflectir na cultura nacional e com a realidade nacional, tenho a impressão que vai ser mais humilde e mais responsável”

Em 74 regressa à Guiné, e paralelamente inaugura o mercado musical Guineense com os Djorson e o disco “folclore da Guiné.... Antes de regressar, ainda em Lisboa, com uns amigos em Lisboa criámos esse grupo, ainda na tropa. E gosto de criar, não consigo estar sem criar, e naquela altura disse “temos que ter um disco, Angola tem, Moçambique também, todos têm, nós também vamos ter que ter um disco. Então peguei no projecto, ensaiámos, gravámos e fui ter com o meu mais velho Rui Mingas que já tinha uma carteira de relações, era uma figura respeitada e tinha vários contactos. Ele disse que ia ver o que podia fazer, ligou ao Victor Mamede que foi o produtor do nosso disco e gravámos um single com duas canções e foi o primeiro disco da discografia da Guiné. Cobiana Djazz, mais que um agrupamento musical, um projecto multifacetado... Iniciou-se como um agrupamento musical, mas para mim extravasou essa condição, aliás até estou a preparar um ensaio acerca disso que se chamará “ O movimento Cobiana Djazz”. Desencadeou uma série de consequências na nossa vida cultural, quebrou uma série de tabus, o primeiro é que não se cantava em crioulo coisas modernas, uns até diziam que o crioulo não era uma boa língua para cantar e nós

EVENTOS

começámos a cantar em criolo o que motivou com este projecto a criação de poemas em crioulo e letras para músicas. Os espaços nobres de dança em Bissau alargaram para as periferias, e mais, começou a ser um instrumento de divulgação de várias ideias e influenciou várias coisas da vida da sociedade guineense e pela primeira vez uma cultura urbana estava a ganhar espaço. Passado pouco tempo as canções da Guiné Bissau já estavam a circular pelo mundo fora, transformando-se em mais um veículo da luta que estava a decorrer. Extravasou os limites de uma simples orquestra e tornou-se um movimento cultural.

“O elemento de dominação mais importante é cultural, faz a pessoa negar-se a si mesma e subjugar-se ao outro, e segui-lo sem saber que tem o seu próprio caminho” Da sua relação entre as experiências que foi tendo e o que faz... Qualquer individuo é um produto cultural, por isso se quiser fazer arte, se quiser produzir cultura, não há outra reserva, a reserva que tem é aquele que temos em nós. O seu último trabalho escrito “PAIGC: Da Maioria Qualificada à Crise Qualificada” é um um livro político de um homem da política e das artes que (re)olha para o seu país. Como é que o vê, bem como à cultura e à sua importância, nos dias que correm? As nossas crises têm como fundo a alienação, uma crise cultural. No dia em que a nossa elite política começar a reflectir na cultura nacional e com a realidade nacional, tenho a impressão que vai ser mais humilde e mais responsável. Porque às vezes estão com cargos políticos mas a reflectir como se fossem administradores coloniais, e isso choca. “Podem tirar o homem da favela mas não podem tirar a favela do homem”, é isto que sente, mas no que respeita a esse pensamento colonial? É isso! O elemento de dominação mais importante é cultural, faz a pessoa negar-se a si mesma e subjugar-se ao outro, e segui-lo sem saber que tem o seu próprio caminho. E a luta de libertação é um factor de cultura porque rompe com isto e porque permite seguir por ti e para ti. HM


12 EVENTOS

hoje macau quinta-feira 17.3.2016

Cinema DST LEVA PRODUTORES LOCAIS À FILMART E APRESENTA FESTIVAL INTERNACIONAL

Plataforma de tapete HOJE MACAU

Vem aí o maior festival de cinema, tudo indica, já organizado em Macau e, aproveitando a maré, o Governo levou pela primeira vez uma dúzia de produtores locais ao Hong Kong Filmart. Uma plataforma entre o Ocidente e a Ásia Oriental, para levar os produtores locais a mercados de alto impacto, com Busan e Cannes no horizonte, é do que fala a DST

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já anunciado Festival Internacional de Cinema de Macau teve esta segunda-feira, pela primeira vez, um contacto entre os principais responsáveis executivos e a imprensa. No cocktail organizado pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST), num hotel contíguo ao Hong Kong Filmart, estiveram presentes o director do Festival, Marco Mueller, a própria directora da DST, Helena de Senna Fernandes, Johnny To, conhecido realizador de Hong Kong e padrinho do evento, e produtores locais, entre vários outros convidados do sector de Macau e Hong Kong.

BUSAN, CANNES, O MUNDO

Depois de uma visita ao pavilhão de Macau, onde estiveram, até hoje, os doze produtores locais, Helena

de Senna Fernandes falou aos jornalistas explicando que a “HK Filmart é um evento estabelecido, com 20 anos”. Por isso, e por ser de fácil acesso, recaiu nesta feira a primeira aposta do Governo neste tipo de iniciativas. Senna Fernandes adiantou ainda que a aposta “enquadra-se na estratégia do Governo de impulsionar as indústrias criativas”,

adicionando ainda que a ideia da DST é “estimular o contacto entre os produtores locais e as companhias de fora de Macau”. Questionada se essa não seria uma actividade mais apropriada para o Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau, ou outra entidade dos Serviços de Economia, a directora da DST foi dizendo que “esta é uma acção

MACAU OU MACAO?

C

orria o cocktail quando um dos empregados de mesa se acerca da nossa reportagem. Pergunta-nos: “este evento não é de Macau?” Respondemos que sim. Homem um pouco para lá da meia-idade, figura típica de Hong Kong, pelos traços, ou pelo jeito, ou pelo sotaque, continuava confuso: “mas Macau não é escrito com ‘U’?”, reinquiria. Explicámos que era a versão inglesa do termo, mas o senhor não ficou mais esclarecido. Continuámos argumentando que, talvez, porque o Turismo fala normalmente para estrangeiros, terá resolvido adoptar essa versão. Riu-se, encolheu os ombros e lá foi abanando a cabeça para mais uma ronda por entre os convivas.

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA A VIDA PASSOU POR AQUI • Luís Francisco Que relação poderá existir entre um motorista de táxi à beira da reforma, um toxicodependente que rouba carteiras, um arquitecto com mão leve, uma solteirona apostada em fazer o bem ou uma rapariga que disse aos pais que andava na faculdade e, afinal, vive à custa de um homem casado? Numa história com uma construção extremamente original, em que desfilam figuras muito diferentes, mas todas inesquecíveis,AVida Passou porAqui é uma espécie de confirmação da teoria do efeito borboleta: porque, na teia que é a vida, sempre que alguém puxa um fio, mesmo sem se dar conta, acaba por embaraçar, mais do que gostaria, as vidas alheias…

conjunta entre a DST e o Instituto Cultural (IC)” e admite que, no futuro, possam existir mais parceiros governamentais no projecto. Será, então, o cinema encarado como um elemento de turismo para Macau? A esta questão, Helena de Senna Fernandes começou por dizer que “não”, emendando rapidamente para um “não só”, explicando: “o cinema de Macau é sempre visto como uma indústria criativa e como é estratégia Governo apoiar o sector, e o Turismo é o Governo, estamos a dar o nosso contributo”. O pavilhão de Macau foi decorado sob um tema baseado em fotografia, numa linha gráfica reminiscente de tempos passados e algo acanhado para as 12 empresas, o que levou mesmo a organização a retirar um dos objectos da decoração – um cilindro na forma de

um rolo de película para Reflex, onde se exibiam os filmes dos produtores. Algo que não feriu a visualização dessas películas, uma vez que existia outro ecrã e, assim, foi dado mais espaço.

DISTRIBUIÇÃO E COMISSÃO DE CINEMA

Os produtores locais presentes na Filmart estavam, de uma forma geral, agradados com a iniciativa e pretendem a continuação deste tipo de apoio governamental. Todavia, alguns sugerem aperfeiçoamentos e falam de outro tipo de necessidades. Para Denise Lau, da Novart, que já no ano anterior tinha apresentado na Filmart um directório de produtores locais e locações (em colaboração com a Associação CUT e o apoio do IC), há falta de “apoios ao nível da distribuição, pois as empresas locais mesmo que produzam uma

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET

JONAS SAVIMBI – NO LADO ERRADO DA HISTÓRIA • Emídio Fernando Biografia de Savimbi no momento em que se assinalam dez anos da sua morte. «Jonas Malheiro Savimbi, aos 32 anos, atingia a sua grande e almejada glória ao ser eleito, por unanimidade e aclamação, presidente de uma nova organização política, precisamente na mesma região onde viria a ser abatido 36 anos depois. Mais tarde, assumia que a ideia, de criar um novo movimento, nascera em Champaix, uma vila na Suíça, em conversas com Tony da Costa Fernandes e cujos estatutos começaram a ser redigidos por ambos.»


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série, ou outro produto de televisão, não têm forma de escoar”. Campbell McLean, da Aomen.tv, que aproveitou a feira para introduzir um documentário sobre George Chinnery, estava satisfeito com a oportunidade de “estar presente em tão importante feira sem custos de instalação”, como explicou ao HM. O responsável considera ainda que, “no futuro, este tipo de eventos precisa de mais preparação para nos apresentarmos condignamente” - os produtores tiveram cerca de um mês para se prepararem. “Deveria existir um esquema de financiamento para deslocações a este tipo de eventos para que os produtores escolham os mercados mais indicados para os seus produtos”, ressalvou. Em termos do papel do Governo, Campbell entende que “Macau deveria ter a sua própria Comissão

de Cinema”, que define como “uma entidade focada no financiamento de produções locais e na prestação de serviços de locações e programas de incentivo para equipas estrangeiras filmarem em Macau”. Um facto que o produtor aponta como crucial para o desenvolvimento das capacidades locais. O mercado local, para McLean, “está mais maduro do que há dez anos” quando se começou. “Há mais pessoas com habilitações, mas precisa-se de mais oportunidades para financiamento”. Uma solução seria a produção local pelo que Campbell refere que, neste âmbito, “a TDM está a perder uma grande oportunidade”. Manuel Nunes

Info@hojemacau.com.mo

“MY DEAR CHERRY” APRESENTADO NA FUNDAÇÃO RUI CUNHA

Palco intercontinental

Marco Mueller confiante com Macau como hub de cinema

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grande curiosidade da conferência de imprensa que teve lugar esta semana em Hong Kong, onde estiveram uma dúzia de realizadores locais, residia no primeiro contacto com Marco Mueller, o futuro director do Festival de Cinema de Macau. Futuro, porque tudo ainda está em processo de organização como esclareceu a directora da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes, no discurso de abertura. “Não tenho muito para dizer sobre o festival porque ainda estamos a montar a estrutura”, revelou, adiantando que Mueller “foi o escolhido para gerir o festival”, o que também vem confirmar a presença forte do Turismo na organização do evento apesar de, oficialmente, ser uma iniciativa de uma associação local, a Macau Films & Television Productions and Culture. Marco Mueller começou o seu discurso demonstrando confiança “na visão de transformar Macau num hub mundial para a produção de filmes”, ressalvando a impor-

DST

vermelho

EVENTOS

tância que a Ásia Oriental tem dado a este sector. O futuro director do Festival de Macau considera ainda o evento como “um ponto focal para dar mais visibilidade aos filmes da Ásia Oriental e do resto do mundo”, numa acção que também visa “incrementar a distribuição e o intercâmbio entre cineastas e produtores”. A escolha das datas não é feita ao acaso (29 e 30 de Outubro) pois surge, explica Mueller, “no período dos grandes lançamentos”, pelo que o responsável espera ver Macau transformada numa plataforma. “Há necessidade de um hub destes”, diz.

Uma combinação entre competição e galas com especial ênfase para o género asiático que o experiente director de festivais espera venha a ser “uma porta para o mercado Chinês”. Johnny To, apresentado como o primeiro embaixador do evento, foi, disse Mueller, o grande responsável pela sua visão de Macau por há muitos anos ter feito as apresentações. Num discurso muito breve, To apelou aos cineastas para apoiarem e trabalharem juntos. A madrinha do festival será, também de Hong Kong, a realizadora Ann Hui. M.N.

Rugby de parabéns

Associação celebra 20 anos com campeonato na TIS

O

S 20 anos de prática de rugby em Macau vão ser celebrados no próximo dia 19 de Março, no sábado, no campo desportivo da Escola Internacional de Macau (TIS, na sigla inglesa). O evento, organizado pela Associação de Rugby de Macau e pelo Clube de Rugby “Os Morcegos”, quer comemorar não só a presença da modalidade na RAEM, como a promoção do desporto como modalidade Olímpica. As festividades têm início às 11h30, com o Festival de Mini-Rugby, em que “Os Morcegos” trazem à região perto de 400 praticantes da modalidade, com idades compreendidas entre os cinco e os dez anos. No total

Cherry Ho lança o seu álbum de estreia, “My Dear Cherry”, este sábado numa cerimónia acompanhada pela interpretação e conversa com a artista na Galeria da Fundação Rui Cunha. Patrocinado pelo Instituto Cultural, o evento conta aquela que é uma das embaixadoras dos “Outstanding Teenagers” da Associação de Jovens Cristãos de Macau. Cherry quer, através da partilha da sua experiência pessoal, “transmitir valores positivos à juventude local, nomeadamente no ultrapassar as adversidades na perseguição dos seus sonhos”. Em 2012, em plena ascensão de carreira, devido a um problema de coluna, Cherry ficou impossibilitada de andar durante dois anos. Com a ajuda da família e amigos recuperou gradualmente e foi restabelecendo a auto-confiança até ao momento presente, em que canta e dança em palco. A cerimónia é uma co-organização da produtora local SP Entertainment e a Associação dos Jovens Cristãos de Macau e terá lugar no dia 19 de Março, pelas 15h00 com entrada livre.

serão 31 equipas – o dobro do ano passado - de oito clubes, em 66 jogos. Às 15h30, o Clube de Rugby com a equipa “Macau Rugby” - dá as boas-vindas à equipa senior de Hong Kong, os Valley Rugby FC, que vêm “fortemente motivados depois de uma época de bons resultados nos diferentes campeonatos de Hong Kong”. Será o seu primeiro jogo de 15, aqui na RAEM, e é esperada uma competição “à altura” dos seus intervenientes e do evento que integram. O Presidente do Clube de Rugby “Os Morcegos”, Simon Carrington, refere: “Estamos felizes por acolher todas estas equipas de Hong Kong. Inclusivamente não conseguimos

aceitar todos os pedidos de participação neste evento.Apesar da nossa pequena dimensão em relação a estes clubes de Hong Kong, o rugby continua em crescimento em Macau ao mesmo tempo que os pais vão descobrindo os benefícios deste desporto nas crianças. Ensinamos o espírito de equipa, desportivismo, respeito, fitness e prazer de jogar – valores que nós julgamos muito importantes para as suas vidas e para o desporto”. Aentrada para o evento é livre.

FAM MAIS ESPECTÁCULOS COM DESCONTOS ATÉ DOMINGO

Dada a procura “entusiasta do público” face à nova edição do Festival de Artes de Macau (FAM), o Instituto Cultural (IC) vai realizar actuações adicionais dos espectáculos mais populares, cujos bilhetes estão já à venda. Os espectáculos são “Contos de Fadas do Mundo do Caos”, pela Associação Breakthrough, no dia 7 de Maio (sábado), pelas 15h00, “As Obras Completas de William Shakespeare (Resumidas)”, pela Associação de Arte Godot, no dia 14 de Maio (sábado), pelas 15h00 horas, e a peça de teatro infantil de marionetas “Círculos”, por Step Out, nos dias 21 e 22 de Maio (sábado e domingo), pelas 20h00. O desconto na compra antecipada de bilhetes terminará no domingo.


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hoje macau quinta-feira 17.3.2016

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 2/P/16 Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 3 de Março de 2016, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento de Material de Consumo Clínico para a Divisão da Farmácia dos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 16 de Março de 2016, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, 1.o andar, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP 48,00 (quarenta e oito patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral

destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 17 de Maio de 2016. O acto público deste concurso terá lugar no dia 18 de Maio de 2016, pelas 10,00 horas, na sala do «Auditório» situada junto ao C.H.C.S.J. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP 24,200.00 (vinte e quatro mil e duzentas patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 11 de Março de 2016. O Director dos Serviços Lei Chin Ion

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 9/P/16 Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 3 de Março de 2016, se encontra aberto o Concurso Público para a «Prestação de Serviços de Pulverização do Óleo Larvicida aos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 16 de Março de 2016, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, 1.o andar, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP33,00 (trinta e três patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria destes Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São

Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,30 horas do dia 8 de Abril de 2016. O acto público deste concurso terá lugar no dia 11 de Abril de 2016, pelas 10,00 horas, na “Sala Multifuncional” do Antigo Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo dos Serviços de Saúde, sita no r/c, da Estrada de S. Francisco, n.º 5, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP62.400,00 (sessenta e duas mil, quatrocentas patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 11 de Março de 2016. O Director dos Serviços Lei Chin Ion

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 10/P/16 Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 3 de Maçro de 2016, se encontra aberto o Concurso Público para o «Fornecimento de Medicamentos e Outros Produtos Farmacêuticos para a Convenção das Farmácias (2ª parte)», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 16 Maçro de 2016, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, 1.o andar, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP64,00 ( sessenta e quatro patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria destes Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral

destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 5 de Abril de 2016. O acto público deste concurso terá lugar no dia 6 de Abril de 2016, pelas 10,00 horas, na “Sala Multifuncional” do Antigo Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo dos Serviços de Saúde, sita no r/c, da Estrada de S. Francisco, n.º 5, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP100.000,00 (cem mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 10 de Maçro de 2016. O Director dos Serviços, Lei Chin Ion

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 11/P/16 Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 4 de Março de 2016, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento de Reagentes exclusivos para o Laboratório de Hematologia dos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 16 de Março de 2016, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, 1.o andar, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP52,00 (cinquenta e duas patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria destes Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral

destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 14 de Abril de 2016. O acto público deste concurso terá lugar no dia 15 de Abril de 2016, pelas 10,00 horas, na “Sala Multifuncional” do Antigo Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo dos Serviços de Saúde, sita no r/c, da Estrada de S. Francisco, n.º 5, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP150 000,00 (cento e cinquenta mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 11 de Março de 2016 O Director dos Serviços Lei Chin Ion


15 hoje macau quinta-feira 17.3.2016

CHINA

Tudo como dantes Primeiro-Ministro Hong Kong continuará a ter “alto grau de autonomia”

O

PEQUIM “NÃO VACILARÁ” NA PROTECÇÃO DA SOBERANIA TERRITORIAL

Firmes e hirtos

O

primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, assegurou ontem que a China “não vacilará na determinação em defender a sua soberania e integridade territorial”, numa altura de crescente tensão em torno de disputas no Mar do Sul da China. Pequim insiste que tem direitos históricos sobre a quase totalidade daquela área do Pacífico, onde disputa territórios reclamados também pelas Filipinas, Malásia, Taiwan, Vietname e Brunei. E assegura que a instalação de unidades e equipamento militares nas ilhas que controla na região é uma resposta “à intrusão” norte-americana. Em conferência de imprensa, Li Keqiang instou os países vizinhos e os EUA a esforçarem-se para “manter a estabilidade regional e a harmonia” na região e considerou “natural” que haja diferenças. “Enquanto nos tratarmos com sinceridade e procurarmos soluções para as diferenças através de canais diplomáticos, a estabilidade regional será mantida”, afirmou. No início do mês, a porta-voz da Assembleia Nacional Popular (ANP), o órgão máximo legislativo chinês, Fu Ying, acusou os

EUA de militarizar o Mar do Sul da China. “A maioria das embarcações e aviões militares que atravessam aquele território são dos Estados Unidos da América”, afirmou a antiga vice-ministra dos Negócios Estrangeiros. Pequim está também preocupada com a possibilidade de Washington instalar o sistema antimísseis THAAD (Terminal High Altitude Area Defense) na vizinha Coreia do Sul. “O desenvolvimento é a nossa máxima prioridade, a China necessita de estabilidade nos países

“Enquanto nos tratarmos com sinceridade e procurarmos soluções para as diferenças através de canais diplomáticos, a estabilidade regional será mantida” LI KEQIANG PM CHINÊS

vizinhos e um ambiente pacífico para o seu desenvolvimento interno”, defendeu Li, perante centenas de jornalistas, no encerramento da sessão anual da ANP.

ALGUMAS MELHORAS

Li vê ainda “sinais de melhoria” nas relações entre a China e o Japão, com quem mantém renovadas tensões em torno da soberania das ilhas Diaoyu, mas ressalvou que estas “ainda são frágeis e não estão plenamente estabilizadas”. No entanto, o primeiro-ministro apostou no fortalecer das relações com Tóquio e a Coreia do Sul. Em Novembro passado, os três países realizaram, em Seul, a primeira cimeira conjunta desde 2012, que se deverá repetir este ano na capital do Japão. “Acredito que os três países podem ter uma forte cooperação no sector de manufactura avançada para desenvolver produtos de alta qualidade”, apontou. O chefe do Governo defendeu ainda as relações com a Rússia, afirmando que os países “não cederão às pressões de terceiras partes, ou às alterações de circunstância na esfera internacional”. “A China mantém uma postura de não-alinhamento”, frisou.

primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, assegurou ontem que Hong Kong continuará a gozar de um alto grau de autonomia, num momento em que a opinião pública da região crítica as intervenções do Governo central em assuntos internos do território. “O alto grau de autonomia não se alterou nem se alterará”, assegurou Li, na única conferência de imprensa que realiza todos os anos. A afirmação do responsável chinês surge num período de deterioração nas relações entre Hong Kong e Pequim, devido à designada ‘revolução dos guarda-chuvas’. Em 2014, aquele movimento levou milhares de pessoas para a rua em protesto por uma democracia plena no território e contra a intervenção do Governo central no processo de escolha dos líderes locais. Em Fevereiro passado, uma operação policial contra a venda ambulante ilegal de comida nas ruas de Hong Kong acabou em confrontos violentos, com 90 pessoas feridas e 54 detidos. Questionado sobre esse incidente, Li limitou-se a manifestar a sua confiança no executivo de

Hong Kong e nos habitantes da região especial administrativa chinesa para enfrentar futuras dificuldades. “Acreditamos que o Governo de Hong Kong tem a capacidade e o povo de Hong Kong a sensatez para gerir adequadamente os complexos assuntos (que ocorram) em Hong Kong”, afirmou, no encerramento da sessão anual da Assembleia Nacional Popular (ANP), o órgão máximo legislativo chinês. “O futuro (do território) será brilhante”, frisou.

UMA CHINA

Quanto a Taiwan, que Pequim considera uma província sua e não uma entidade política soberana, Li assinalou que o Governo central insiste na implementação de medidas para aumentar a cooperação económica e comercial entre ambos os lados. Após anos de aproximação de Pequim, os eleitores do território elegeram no ano passado Tsai Ing-Wen, que se afirma a favor da identidade e soberania da ilha em relação a Pequim. “Enquanto ambas as partes reconheçam que existe apenas uma China, poderemos tratar de qualquer assunto”, vincou Li.

GARANTIAS DE RECONVERSÃO SEM “PERDA MASSIVA DE EMPREGOS”

L

I Keqiang, assegurou ontem que a reconversão industrial em curso na China não resultará na “perda massiva de empregos”, apesar dos sectores do aço e do carvão terem já anunciado 1,8 milhão de despedimentos. A China “continuará a reduzir o excesso de capacidade” na indústria, ao mesmo tempo que “evitará a perda massiva de empregos”, enfatizou Li em conferência de imprensa. Pequim está a encetar uma transição no modelo económico do país, visando uma maior preponderância do sector dos serviços e o encerramento de unidades de indústria pesada vistas como “improdutivas”. No fim de semana passado, milhares de mineiros manifestaram-se no nordeste do país contra

os planos da sua empresa - o maior conglomerado de exploração de carvão da China, a estatal Longmay - de eliminar cem mil postos de trabalho. No encerramento da sessão anual da Assembleia Nacional Popular (ANP), o órgão máximo legislativo chinês, o primeiro-ministro assegurou que o Governo tem “os recursos financeiros” para apoiar os trabalhadores despedidos. Li anunciou no início do mês a criação de um fundo de 100 mil milhões de yuan para subsídios e compensações para trabalhadores que percam o emprego no âmbito do processo de reestruturação industrial. O responsável afirmou ontem que aquele fundo poderá ser aumentado, caso seja necessário, afirmando ainda que os sectores dos serviços e tecnologia ajudarão a absorver a mão-de-obra dispensada. Quanto ao sistema de pensões, Li defendeu que o “Governo chinês é capaz de garantir o pagamento das reformas”.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

16

A comédia trágica de paixões e virtudes L

HONORÉ DE BALZAC nasceu em Tours no dia 20 de Maio de 1799 e faleceu em Paris, no dia 18 de Agosto de 1850. Foi educado durante sete anos no colégio oratoriano de Vendôme, onde imperava um modelo de educação muito rigoroso e severo. Nesse colégio acumulou experiências que ajudaram a fabricar o grande escritor em que se tornou. Desde logo a sua paixão literária, pois enviado inúmeras vezes para uma espécie de solitária, aproveitava para ler tudo o que podia. Mas acumulou também lições desagradáveis, a começar pelo sentimento de degredo e exclusão e a culminar no desprezo dos seus colegas. O balanço dessa fase é de inadaptação e indisciplina e quiçá de revolta íntima. Depois de um novo período de grande infelicidade, agora em Paris, em que chegou a tentar o suicídio, entrou na Sorbonne onde teve a sorte de ter sido aluno de Guizot e Victor Cousin. É mais ou menos assente que é na sua obra que se dá ruptura com o Romantismo e é por isso considerado o

fundador do Realismo na literatura moderna, porém ficou célebre pelas sua profundas análises psicológicas timbradas de finas perspectivas históricas tanto sociais quanto económicas e finalmente políticas. Foi, nesse plano o verdadeiro cronista dos costumes da sua época. Estou a pensar no período histórico posterior à queda de Napoleão Bonaparte em 1815, época em que se assiste em França ao desenvolvimento da economia capitalista e ao florescimento da burguesia e às suas primeiras dissensões e clivagens. Foi provavelmente o mais prolífico escritor de todas as literaturas e de todos os tempos. A sua Comédia Humana consiste, pelo que se apurou, em 95 textos literários, romances, novelas e contos. Alguns tornaram-se clássicos da história da literatura universal e de leitura obrigatória, como são os casos de, por ordem de minha preferência: As Ilusões Perdidas de1839, Eugénia Grandet de 1883, que analisamos aqui, o Père Goriot de 1834 e a Mulher de Trinta Anos de 1832.

AMENTAVELMENTE a Biblioteca Central de Macau não tem o livro de Honoré de Balzac, As Ilusões Perdidas, do ciclo a Comédia Humana, e digo lamentavelmente pois era sobre essa obra que eu mais gostaria de escrever. Terei assim que providenciar no sentido de que esse magnífico romance venha a enriquecer o espólio da Biblioteca o mais depressa possível para depois poder escrever sobre ele. Não podendo escrever sobre a obra prima referida decidi-me a escrever sobre o romance Eugenia Grandet que é seguramente a par do Père Goriot, do Coronel Chabert, da Mulher de Trinta Anos e de Esplendores e Misérias das Cortesãs uma óptima alternativa. Passemos agora finalmente à Eugenia Grandet, essa jovem provinciana que aos vinte e três anos conhece de forma fulminante o fogo da paixão. Quando aparece assim, a paixão é sem recurso e de uma violência tal que pode consumir uma vida ou simplesmente redimi-la. Sendo filha de família abastada, enriquecida no negócio vinhateiro, à jovem estava destinado um dos muitos pretendentes da região de Saumour, nas margens do Loire, pois a sua fortuna e a sua beleza lhe davam o direito de poder escolher pelo nabal abaixo, tal era a fartura. Não obstante tudo se complicou com a chegada de um primo de ascendência aristocrática, de nome Charles Grandet, filho de um homem carregado de dívidas. A paixão pelo jovem ---- distinto e educado pelos padrões urbanos da capital, que logo a seduziram, ela que era provinciana e imatura ---- foi, como disse, fulminante, mas rápida e esclarecida também foi a oposição de seu pai, homem avisado e avaro por natureza. O romance é também sobre a avareza extrema deste ex tanoeiro enriquecido através do casamento. Tudo isto acontece no período da Restauração, época favorável às mais variadas formas de arrivismo. Eugénia, pelo contrário, é dotada de enorme candura e bondade e terminará a sua existência promovendo a caridade e a beneficência. É preciso dar um passo atrás e deixar por agora a questão do enredo e dos temas que daí relevam para nos fixarmos no plano ideológico do romance. Aproveito para dizer que essa estratégia passa em mim por um acrescentado respeito pelo potencial leitor,


17 hoje macau quinta-feira 17.3.2016

fichas de leitura

Manuel Afonso Costa

Balzac, Honoré de, Eugenia Grandet, Livraria Chardon, Porto, [s.d.]. Descritores: Literatura Francesa, Romance, A Comédia Humana, Realismo literário e burguês, tradução por Joao Grave, 246 p.:16 cm. Cota: A PED/B158e.2 o que significa não abusar da sinopse. Uma sinopse deve ser o mais parcimoniosa possível e portanto ser capaz de estimular a leitura de um livro sem roubar o posterior prazer que no caso de um romance será sempre indissociável das vicissitudes da história. É por isso que em todas as minhas recensões eu evito ser demasiado exaustivo em relação ao enredo. Considera-se que na obra de Balzac, o romance que funciona como precursor do Realismo e desse modo como elemento nuclear da trama da transição do Romantismo para o Realismo, mas ainda no contexto epocal e eu diria sentimental do Romantismo, é justamente este Eugenia Grandet e sendo assim ele é um romance muito emblemático, tanto na obra de Balzac, como mais especificamente na História da Literatura. Nesta perspectiva a heroína do romance é uma personagem inaugural. Sabese que Balzac traz para os seus romances todos os grupos sociais, embora se tenha tornado exímio a caracterizar o modo de vida burguês, que é a classe que se começa a tornar dominante no seu tempo. Ora, tratar o tempo presente e trazer para os romances as contradições do seu tempo, assim como os sentimentos, as virtudes e os valores, é uma das características maiores do realismo literário. Além disso triunfa também o gosto e até a obsessão, pelo descritivismo de tudo o que habita o romance sob a forma de décor e cenário, ou seja de tudo aquilo que compõe a riqueza variada da realidade. Tudo isso se irá consumar em Flaubert mas já está anunciado em Balzac ou Dickens, por exemplo. É preciso perceber que a entrada pormenorizada e exaustiva da realidade se conjuga com as crenças positivistas e evolucionistas da época plasmadas nas obras quer de Augusto Comte quer de Darwin. O homem é um produto do seu meio. A relação complexa dos seres com o seu meio determina formas de adaptação dinâmicas e não nos esqueçamos que é neste contexto também que a historicidade faz a sua entrada fulgurante na cultura, na filosofia e nas mentalidades, embora à época ainda muito influenciada pelo historicismo romântico de um Thierry ou de um Guizot, que como sabemos foi mestre de Balzac na Sorbonne. Daqui decorreu também sob a influência do

objectivismo positivista uma inusitada paixão pela análise objectiva da realidade social onde os seres humanos são entrevistos à luz dos seus complexos sistemas de adaptação e confronto um pouco como os demais seres vivos. Não andaremos longe de um certo organicismo social para cuja caracterização rigorosa importa não deixar escapar nada. Daí que tal como para os sentimentos, instrumentais no processo adaptativo, o que interessa é a sua

análise preferencialmente objectiva e sobredeterminada pelas condições ambientais, assim também para a caracterização externa da personagem interessa valorizar o que a liga ao seu enquadramento social e histórico-epocal. E portanto tudo é trazido para a narrativa: os locais, os lugares, os interiores das casas, o vestuário, os adornos, etc. Enfim, estou a referir-me às questões de Tempo e Lugar, variáveis por excelência da estética realista. Para

além disso, nos romances de Balzac, as personagens não representam estereótipos sublimados mas antes pessoas comuns, tais como o médico, o gráfico, o jornalista, o comerciante, o funcionário, o banqueiro, o libertino, o poeta, a cortesã, o advogado e sendo assim o que justamente os caracteriza é o seu modo de vida, a sua actividade social e os valores que daí decorrem. A arte do Realismo literário, torna-se naturalmente muito sociológica e historicizante como reflexo da contaminação naturalista das ciências sociais. Pode-se dizer que Balzac trouxe para a vida social burguesa e popular os temas reservados anteriormente às classes aristocráticas. Num certo sentido ele democratizou o drama e a tragédia. A expressão Comédia Humana é extremamente feliz. Anteriormente o trágico e o próprio drama estavam reservados às elites. Ao povo restava apenas a desacreditada comédia. Designar por Comédia Humana o que no fim de contas é o drama e o trágico, foi um golpe de génio, pois o termo ‘comédia’ aparece ironicamente e quase como expressão de uma crítica implícita mas através da cópula com o elemento ‘humana’ procede-se a um alargamento de campo revolucionário e ao mesmo tempo a uma desconstrução do significado do semantema ‘Comédia’ que de uma forma subtil passa a representar toda a dimensão da vida humana na sua natureza polimórfica e polissémica avessa à compartimentação. A concepção é burguesa e moderna. A obra de Balzac aparece no seu escopo mais fundamental com uma vocação universalista. Longo foi o caminho percorrido desde que a plebe grega dos hoplitas do Demos exigiu ter também acesso ao paraíso. E eu diria que neste plano simbólico culmina com esta democratização da tragédia levada a cabo pela cultura contemporânea. A igualdade reina agora finalmente na terra e no céu, e eu acrescentaria: e também no inferno.

*No quadro da colaboração de Manuel Afonso Costa com a Biblioteca Central de Macau-Instituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de Leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.


18 (F)UTILIDADES C H U VA

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

?

FRACA

ROTA DAS LETRAS: “REDOLOGY – LEITURA DE ‘O SONHO DA CÂMARA VERMELHA’”, COM LIU XINWU Antigo tribunal, 18h00

ROTA DAS LETRAS: “TEMPO E POESIA” COM MATILDE CAMPILHO Antigo tribunal, 19h00

MIN

15

MAX

19

HUM

85-99%

EURO

8.87

BAHT

Amanhã

ROTA DAS LETRAS - PROJECÇÃO DE FILMES: “A USELESS FICTION”, “WHEN FELICITY CALLS” E “FARMING OF THE WASTELAND” Cinemateca Paixão, 20h00

ESTRADA DA FÚRIA PARA A CASA BRANCA

O CARTOON STEPH DE

Sábado

CAMPEONATO DE ANIVERSÁRIO DE RUGBY TIS, 11h30 ROTA DAS LETRAS: “WORKSHOP DE ESCRITA: COMO ESCREVER UM ROMANCE GENIAL” – PARTE I COM RUI ZINK Livraria Portuguesa, 11h00 ROTA DAS LETRAS: “WORKSHOP DE ESCRITA: COMO ESCREVER UM ROMANCE GENIAL” – PARTE II COM RUI ZINK Livraria Portuguesa, 15h00 ROTA DAS LETRAS: “SESSÃO PARA PEQUENOS LEITORES”, COM MARITA CONLON-MCKENNA Sala de leitura do The Ritz Carlton, 15h00 ROTA DAS LETRAS: LANÇAMENTO DO LIVRO “EU TAMBÉM ESTIVE EM MACAU DURANTE A GUERRA”, COM SOFIA ANDRADE E RICARDO PINTO, E “QUARTO CRESCENTE – LIVRO DE CONTOS E OUTROS ESCRITOS” Livraria Portuguesa, 18h00

Diariamente

EXPOSIÇÃO “COLOUR EXCHANGE” (ATÉ 10/04) Casa Garden EXPOSIÇÃO “MA-BOA, LIS-CAU”, DE CHARLES CHAUDERLOT (ATÉ 19/03) Museu de Arte de Macau EXPOSIÇÃO “UM SÉCULO DE ARTE AUSTRÍACA” (ATÉ 3/04) Museu de Arte de Macau HISTÓRIA NAVAL (ATÉ 9/04) Arquivo Histórico de Macau

Cineteatro

C I N E M A

SALA 1

FALADO EM CANTONÊS Filme de: Alessandro Carloni, Jennifer Yuh 14.15, 16.00, 19.30

Filme de: Robert Schwentke Com: Shailene Woodley, Theo James, Jeff Daniels, Naome Watts, Maggie Q 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

KUNG FU PANDA 3 [3D][A]

SALA 3

GODS OF EGYPT [B]

FALADO EM EM MANDARIM LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Wei-Hao Cheng Com: River Huang, Wei-Ning Hsu 14.15, 17.45, 21.30

KUNG FU PANDA 3 [A]

FALADO EM CANTONÊS Filme de: Alessandro Carloni, Jennifer Yuh 17.45 Filme de: Alex Proyas Com: Nikolaj Coster-Waldau, Brenton Thwaites, Gerard Butler 21.30 SALA 2

THE DIVERGENT SERIES: ALLEGIANT [B]

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 50

PROBLEMA 51

UMA SÉRIE HOJE

SUDOKU

ROTA DAS LETRAS: “A PECULIAR FORMA DE VIDA DOS ESCRITORES” Antigo tribunal, 18h30

YUAN

1.23

DECISÕES

SISTEMA DE ÓXIDO NITROSO ULTRA-NACIONALISTA

ROTA DAS LETRAS: “TODAS AS ROTAS: SESSÃO ABERTA DE MÚSICA E POESIA” Vasco Bar, Grand Lapa, 21h30

ROTA DAS LETRAS: “SESSÃO PARA PEQUENOS LEITORES”, COM MARITA CONLON-MCKENNA Sala de leitura do The Ritz Carlton, 15h00

0.22 AQUI HÁ GATO

DEMAGO GIA

TEMPO

hoje macau quinta-feira 17.3.2016

Tomo muitas decisões. Decido o que vestir (sim, porque este gato gosta de umas roupinhas de vez em quando), diariamente decido o que comer, o que fazer, decido em que secretária me deitar. Parece uma coisa automática, mas quando tomo grandes decisões, fico sempre agitado. Antes de tomá-las, nenhum gato pode saber se o que escolhemos é certo ou errado. Então fico cheio de medo e ansiedade. Sou muito cobarde, mas faço de conta que sou corajoso e extrovertido e continuo a tomar decisões. Andando e andando, quanto mais incertezas tenho sobre os resultados, mais me parecem erradas as escolhas. Fico confuso, muito confuso. 
E acabo por falar comigo próprio: “É hora de repensar se esta decisão é correcta ou errada.” Uma vez li uma frase que dizia que “as contrariedades da vida não dependem de decisões, não importa quantas decisões se toma, podem ser sempre encontrados obstáculos”. A frase parece ser pessimista, mas para mim, até é optimista. É verdade: não sei, não sei o resultado de decisões que venha a tomar, mas assim sei que não posso culpar as decisões que fiz pelos obstáculos que me apareceram. E a frase continua: “Só quando nos fazem avançar é que as decisões são boas”. Todos tomamos decisões, sejam correctas ou erradas. Todos temos momentos altos e baixos. C’est La Vie! Concordo com a poeta do Tibete Xi Wa, que disse que “cada um tem um destino diferente”. Pode-se entender que Deus decide, mas também pode ser sermos nós a decidir. Já pensou nisso? Pu Yi

“ANIMALS” (MIKE LUCIANO E PHIL MATARESE, 2016)

Um série de animação que acompanha a vida de animais que, tal como os humanos, passam por crises existenciais, identitárias, fetiches e ilusões. Há ratos frustrados, pombos confusos com o género, insectos nas vicissitudes da meia idade, gatos de elite, etc. Todo um mundo paralelo ao humano na incrível cidade de Nova Iorque. Pela mão da HBO, estão lançadas as componentes para uma animação diferente. Hoje Macau

THE TAG ALONE [C]

LONDON HAS FALLEN [C] Filme de: Babak Najafi Com: Gerard Butler, Aaron Eckhart, Morgan Freeman 16.00, 19.30

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19 hoje macau quinta-feira 17.3.2016

OPINIÃO

bairro do oriente LEOCARDO

F

UI observando reacções durante os dias que se seguiram à detenção do ex-procurador do Ministério Público da RAEM, Ho Chio Meng, dando primazia ao que dizia a imprensa em Portugal. Em Hong Kong diz-se mais ou menos o mesmo que deste lado, e claro que aqui e ali era possível identificar a opinião mais ao jeito de provocação, coisas próprias da rivalidade regional entre os dois pólos do Rio das Pérolas. Tive mais curiosidade em observar o que se dizia em Portugal, não tanto na imprensa, que praticamente decalcou a informação que recebeu de Macau e das agências, mas da “vox populi”, que se expressa nas caixas de comentários, redes sociais e afins – afinal um juiz é um juiz quer em Portugal, quer na China, e certamente não faltariam as habituais opiniões mais inflamadas, que dão conta “do fim disto tudo”. Portanto compre já freguesa, que se está a acabar. Como não podia deixar de ser, as opiniões repartiam-se entre a indignação, por se tratar de um magistrado e ser colocada em causa a credibilidade da Justiça, ou ainda a estupefacção, e aqui teciam-se considerações sobre valores abstractos como a “honestidade” e a “ganância”. Pelo menos foi o que deu para perceber entre tantos erros ortográficos, obscenidades e impropérios vários de teor étnico-cultural – é preciso não esquecer que para muitos portugueses a China e os chineses ainda são uma realidade longínqua e oblíqua. Como se não bastasse, ainda estava bem fresca na memória a notícia do casal chinês que foi jogar no Casino Lisboa e deixou a filha de cinco anos sozinha em casa, vindo a pequena cair da varanda do apartamento onde habitava com os pais, num empreendimento de luxo perto da capital, precipitando-se para uma morte trágica e lamentável. Estes pais são um dos contemplados com os famigerados “golden visas”, uma ideia do anterior Governo de direita para atrair investimento chinês para Portugal, mas que se deparou recentemente com um hiato devido a “lusitanismos”, aqueles problemas tão nossos, tão castiços. Depois do ex-procurador ainda tivemos mais uma notícia nada abonatória para a imagem ainda mal formada que os portugueses têm do país do meio, desta vez dando conta de um casal do continente que vendeu a filha de apenas 18 dias de vida por 3200 euros, dinheiro que investiram num exemplar do novo modelo de uma marca de telemóveis de topo da gama líder do mercado, e um motociclo. Se procurarem esta notícia na “net”, vão encontrar outra muito semelhante reportando-se a Outubro de 2013. Tenho sempre enormes dificuldades em falar da China ou dos chineses com os amigos e os conhecidos em Portugal, e mesmo os

A pirâmide invertida JOSEPH KOSINSKI, OBLIVION

portugueses recém-chegados à RAEM demoram ou nunca chegam sequer a assimilar alguns conceitos paradoxais à sua cultura, e mais importante, à sua moral. Se vêm mais ou menos preparados para o “choque” da primeira, o da segunda pode apanhá-los de surpresa. Para entender o que pode levar uns pais a negligenciar a segurança de uma filha menor para passar a noite toda no casino, ou quiçá uma volta ou duas completas aos ponteiros do relógio, ou ainda outro casal a vender um recém-nascido, com a aquisição de bens de luxo em mente, é preciso entender o valor que se dá à vida humana numa e na outra cultura. Não é exagero se disser que uma derrocada numa das muitas minas que operam em condições de segurança precárias na China que cause mais de cem mortes é “uma mera estatística”. Por outro lado, em Portugal no ano de 2001 caiu uma ponte em Entre-os-Rios, causando a morte a perto de 60 pessoas, um acontecimento que mereceu vasta e demorada cobertura mediática, sendo referido pontualmente durante os meses que se seguiram, e com os familiares a amigos das vítimas a assinalar cada aniversário da tragédia “in loco”, com pompa e circunstância.

Na China vão-se dando mais derrocadas, os mineiros morrem às centenas, e para os que vão sobrevivendo, a vida continua. Até ver. Isto pode parecer uma análise um tanto ou quanto crua do país e do seu povo, mas se não for dirimente de me mandarem a tal sítio, pelo menos servirá para pensarem duas vezes se tiverem em conta que estamos a falar de uma população mais de cem vezes superior à nossa, com 400 milhões de trabalhadores migrantes – 40 vezes mais que a população total de Portugal. E empregos para esta gente toda, como é? Quanto a esse particular, uma das grandes dificuldades com que me deparo quando troco impressões sobre este complexo e delicado tema que é o choque cultural entre o Ocidente e o Oriente é explicar a forma como é encarado o fenómeno da prostituição. E para este argumento fiquemos pela prostituição comum, o sexo remunerado seguindo os trâmites mais básicos das trocas comerciais, ou “toma lá, dá cá”, em termos mais leigos. É impossível relativizar o tema da prostituição numa conversa com um ocidental, especialmente se for do género feminino, sem dar a entender que

“Tenho sempre enormes dificuldades em falar da China ou dos chineses com os amigos e os conhecidos em Portugal, e mesmo os portugueses recém-chegados à RAEM demoram ou nunca chegam sequer a assimilar alguns conceitos paradoxais à sua cultura, e mais importante, à sua moral”

estamos a menosprezar a componente do degredo e da humilhação que implica para uma mulher precisar de vender o corpo, mas esta é daquelas coisas que temos que deixar a meio da viagem de avião para este lado, senão pensem nisto: o que iam fazer todas essas mulheres na China, em números quem sabe na ordem dos milhões, para sobreviver? Roubar, e eventualmente matar, se for necessário chegar a tal? A própria pena de morte tem que se lhe diga, especialmente a forma bastante despreocupada com que o regime executa os condenados por crimes puníveis com o castigo máximo previsto na lei, descurando em muitos casos os mais elementares preceitos da jurisprudência dos padrões ocidentais. Eu não arriscaria a dizer que abolir a pena capital na China surtisse resultados práticos. Pelo que entendo do que eles entendem uns dos outros, esta figura serve como que um garante de que pelo menos se pensa duas vezes antes de se apostar, negociar ou arriscar a vida. Na China a pirâmide que o psicólogo norte-americano Abraham Maslow idealizou, e que representa a hierarquia das necessidades, adquire uma configuração menos convencional. Enquanto para nós a ambição é ascendente, e das necessidades mais básicas almejamos à realização pessoal, e no geral uma sociedade mais livre, mais justa e mais tolerante, na China eles tiveram séculos a fio para racionalizar os factos e dar asas ao seu espírito criativo, e hoje tentam a todo o custo manter-se algures entre os dois estratos mais baixos da pirâmide, tentando no mínimo sobreviver. Por enquanto. Depois logo se vê.


a ostra deu à costa mas o pescador / foi atrás do peixe. / perdeu a pérola mas ganhou / a prata das escamas. / pescador de margem / num rio de pérolas a correr para o mar. / a rede / é uma teia de aranha entre as banianas / da praia grande”

quinta-feira 17.3.2016

Jorge Arrimar

China PLANO QUINQUENAL APROVA CRESCIMENTO ANUAL DE 6,5% ATÉ 2020

EUA CLINTON E TRUMP GANHAM NA FLORIDA

Os propósitos de Xi Jinping

O republicano Donald Trump e a democrata Hillary Clinton venceram a maioria das primárias das presidenciais norte-americanas que decorreram na terça-feira, incluindo na Florida, considerado um estado estratégico neste processo. A vitória de Donald Trump na Florida levou mesmo Marco Rubio, senador por este estado, a retirar-se da corrida à Casa Branca. A votação na Florida é importante porque o vencedor das primárias do Partido Republicano elege todos os delegados deste estado. Durante as primárias, são eleitos delegados às convenções nacionais do Partido Republicano e do Partido Democrata que, por sua vez, nomearão os candidatos de cada uma das forças políticas às eleições presidenciais dos EUA, que decorrerão em Novembro.

A

Assembleia Nacional Popular (ANP) da China aprovou ontem o XIII plano quinquenal do país (2016-2020), que prevê um crescimento anual da economia de pelo menos 6,5%. O plano quinquenal da China até 2020 é o primeiro desde a chegada do Presidente Xi Jinping ao poder e prevê que em 2020 o Produto Interno Bruto chinês (PIB) seja o dobro do de 2010. Após quase duas semanas, o plenário da ANP, o órgão legislativo chinês, terminou ontem a sua reunião anual, dando luz verde ao documento. O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, afirmou, numa conferência de imprensa no final da votação, que vê “mais esperanças do que dificuldades” na economia da China e descartou a possibilidade de o país vir a sofrer uma “aterragem forçada”. Li disse estar confiante em que a segunda economia mundial cumpra os objectivos estabelecidos para este ano e defendeu que a China está numa “boa posição” para evitar riscos financeiros. Em 2015, a economia chinesa cresceu 6,9%, o ritmo mais baixo dos últimos 25 anos e aquém dos 7% que tinha estimado. No mesmo período, o sector dos serviços representou pela primeira vez mais de metade do PIB, à frente da indústria e agricultura. As perspectivas para este ano indicam um crescimento entre

PYONGYANG ESTUDANTE AMERICANO CONDENADO A 15 ANOS DE TRABALHOS FORÇADOS

6,5 e 7% do PIB, que a inflação se mantenha em torno dos 3% e a criação de 10 milhões de postos de trabalho urbanos (depois de em 2015 terem sido gerados 13,12 milhões).

OUTRAS METAS

O documento prevê que a população chinesa chegue aos 1.420 milhões de pessoas em 2020 (actualmente ronda os 1.280 milhões), que 60% vivam em áreas urbanas (hoje são 50%), que não haja ninguém abaixo do limiar da pobreza e que a es-

perança média de vida aumente em um ano. Segundo o documento aprovado pela ANP, Pequim vai criar um fundo de 100 mil milhões de yuan para subsídios e compensações para trabalhadores que percam o emprego no âmbito do processo de reestruturação industrial. O XIII plano quinquenal pretende modernizar a indústria da China e responder à excessiva capacidade de produção industrial em certos sectores. Por outro lado, a China vai aumentar o tecto máximo do seu défice

público para 3% do PIB, para dinamizar o crescimento económico. O documento prevê que as linhas ferroviárias de alta velocidade tenham 30 mil quilómetros em 2020, face aos 19 mil actuais, e que unam 80% das grandes cidades do país. Segundo o XII Plano Quinquenal, a China vai investir 800 mil milhões de yuan na sua rede ferroviária e 1,65 mil milhões de yaun nas estradas. A China tem a maior rede de comboios de alta velocidade do mundo, seis vezes superior à de Espanha, a segunda mais extensa.

Um estudante norte-americano foi ontem condenado a 15 anos de trabalhos forçados na Coreia do Norte por tentar roubar um cartaz de propaganda política de um hotel onde estava hospedado em Pyongyang, informou a agência japonesa Kyodo. Otto Frederick Warmbier, estudante de 21 anos da Universidade da Virgínia, foi condenado pelo Tribunal Supremo norte-coreano depois de ter reconhecido publicamente o seu “delito”, numa confissão descrita como podendo ter sido forçada pelas autoridades norte-coreanas. Warmbier, que foi preso no início de Janeiro quando tentava abandonar o país, disse mais tarde que tinha removido o cartaz político de uma área reservada ao pessoal no hotel de Pyongyang, que estava a ser usado pela excursão na qual estava integrado. A Coreia do Norte utilizou noutras ocasiões as detenções de norteamericanos para iniciar negociações com Washington, já que ambos os países não mantêm relações diplomáticas, escreve a agência EFE.

HONG KONG ”BALADA DE UM BATRÁQUIO” NO FESTIVAL DE CINEMA

O

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filme de Leonor Teles “Balada de um batráquio” compete este mês na secção de curtas-metragens do Festival Internacional de Cinema de Hong Kong, depois de em Fevereiro ter sido premiado em Berlim. O filme expõe comportamentos xenófobos em relação a membros da etnia cigana em Portugal, abordando a prática de colocar sapos de cerâmica em lojas, cafés e restaurantes para afastar os ciganos, que têm várias superstições ligadas ao animal. A curta-metragem venceu a 20 de Fevereiro o Urso de Ouro da competição de

curtas-metragens do Festival Internacional de Cinema de Berlim. Segundo Leonor Teles, que tem raízes ciganas por parte do pai, o filme “não apresenta só uma problemática mas tenta, de certa forma, combatê-la”, uma vez que a própria realizadora sentiu a “urgência” de destruir vários desses sapos em frente à câmara. O filme de Leonor Teles volta a uma competição internacional já este mês, no festival de cinema de Hong Kong, que arranca na segunda-feira e que integra na programação outros nomes portugueses.

Do programa geral do Festival Internacional de Cinema de Hong Kong deste ano fazem parte “Visita ou memórias e confissões”, de Manoel de Oliveira, a trilogia “As Mil e uma noites”, de Miguel Gomes, e “Cartas da Guerra”, de Ivo Ferreira, que integrou a competição oficial do Festival de Berlim deste ano. Integram ainda o cartaz de Hong Kong os documentários “Os Olhos de André”, premiado no festival de cinema Indie Lisboa, do realizador António Borges Correia, e “Eldorado XXI”, uma co-

-produção luso-francesa, realizada por Salomé Lamas. Todos eles terão duas exibições em Hong Kong dentro da programação do festival, que dura 15 dias. O cartaz junta mais de 240 filmes de um universo de 66 países e territórios, num alinhamento que a organização do festival define como sendo “o mais eclético de sempre”, contando com 63 estreias mundiais, internacionais e/ou asiáticas. Fundado em 1976, o HKIFF (na sigla em inglês) é o mais antigo festival de cinema da Ásia e um dos mais reputados.


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