DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
MOP$10
SEXTA-FEIRA 17 DE MARÇO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3775
DINHEIRO NA FRONTEIRA
hojemacau
Não há duas sem três PÁGINA 5
A lei muda OPINIÃO ISABEL CASTRO
SALAS DE FUMO
À espera do padrão PÁGINA 7
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h
Coincidência de apelido JOSÉ SIMÕES MORAIS
Modo de perguntar PAULO JOSÉ MIRANDA
EDUARDO MARTINS
JOGO PATOLÓGICO
GRANDE PLANO
LIBERDADE DE ESCRITA PUB
EVENTOS
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
Cartas de ardor
YU HUA
2 GRANDE PLANO
VÍCIO JOGO PATOLÓGICO É UM PROBLEMA INVISÍVEL NA TERRA DOS CASINOS
Macau é uma cidade onde o jogo é, de longe, o principal motor económico. Com quase 40 casinos em pouco mais de 30 quilómetros quadrados, não é de estranhar que o vício de jogo seja algo endémico no território. O HM foi à procura de quem sofre e de quem trata
O destino trocou-lhe as voltas, mas o jogo e a heroína continuam no seu percurso. No entanto, S. não tem dúvidas de que, no menu dos vícios, “o jogo é a sua prioridade”. O seu caso não é único e encaixa perfeitamente no conceito de personalidade aditiva. Algo que não é de estranhar, uma vez que o vício dos jogadores patológicos tem perigosas semelhanças com a toxicodependência. “Em termos biológicos, cerebrais, o jogo e a droga acabam por tocar na mesma zona do cérebro, acontecem as mesmas reacções químicas, são libertadas as mesmas hormonas, são realidades muito semelhantes.” As palavras são de Marta Bucho, Coordenadora do Centro Feminino da Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM). Aliás, estudos indicam que os jogadores também têm sintomas de privação semelhantes, ou seja, ressaca. Em ambos os casos, o cérebro é inundado por serotonina e dopamina, hormonas que regulam o humor, a ansiedade, o humor, o sono, o stress e o prazer. “Normalmente, não temos uma libertação tão forte destes químicos”, explica Marta Bucho. Quem cai nas malhas do jogo, frequentemente, encontra neste prazer algo que lhe falta na vida. São coisas que andam de mãos dadas. Problemas psicológicos como depressão, traumas, stress, ansiedade e fobias podem ser precursores à adição. Estas pessoas acabam, muitas vezes, por “usar o jogo como forma de auto-tratamento”, explica a terapeuta. O uso de álcool e drogas também servem de meio de medicação, num mosaico aditivo muito complexo de tratar. Pessoas que têm deficit de atenção e hiperactividade fazem parte de outro grupo de risco, vulneráveis ao vício, encontrando no jogo uma forma para se focarem.
N
A cidade dos néones, o brilho ofusca aqueles que apostam mais do que podem cobrir. “Se tiver mil patacas, e for obrigado a escolher entre droga ou jogo, escolho o jogo”, revela S., um veterano de vários vícios. Com um historial vasto de consumo de opiáceos, este homem de 58 anos é um fantasma da velha Macau, em que o crime nos casinos era visível e transbordava para as ruas. Aos 14 anos a vida levou-o a entrar num gang onde vendia e consumia heroína. Foi agiota e fez de tudo um pouco no lado negro que ensombrava o glamour dos casinos. Hoje em dia, com a luz que a regulação fez incidir na indústria, já não dispõe das largas somas de dinheiro que apostava. No passado, como o dinheiro não era problema, o jogo também não.
SORTE MADRASTA
CASINO OMNIPRESENTE
Este problema agiganta-se com diversos factores. O sentimento de vergonha, e a aceitação social e cultural são dois elementos explosivos. “A cultura é um problema, porque entre os chineses há a ideia de que pode ser escondido e que a família consegue resolver a situação sozinha”, conta Elaine Tang, assistente social na Casa da Vontade Firme, uma instituição da Divisão de Prevenção e Tratamento do Jogo Problemático. Estes factores levam a que, na maioria dos casos, a procura de apoio seja tardia. “Quando procuram ajuda é porque já têm muitas dívidas e o problema é muito maior”, explica. Além disso, a rede familiar incorre no erro de julgar que se pagar as dívidas do jogador, a lição é aprendida. Mas o vício não funciona dentro destes parâmetros. Recusar ajuda a um familiar que esteja desesperado,
com agiotas à perna, pode ser o mais aconselhável. Outro dos problemas é a facilidade de acesso, a conveniência do jogo. Macau tem perto de 40 casinos, espalhados por pouco mais de 30 quilómetros quadrados. Além de ser mais bem visto que o consumo de estupefacientes, o jogo é uma presença constante e a cidade está estruturada para que se jogue. Os casinos facultam quartos, têm caixas ATM estrategicamente colocadas, comida e bebidas grátis. Aliás, a omnipresença é de tal magnitude que a Casa de Vontade Firme está ironicamente ao lado do L’Arc Casino. Ou seja, quem
O destino trocou-lhe as voltas, mas o jogo e a heroína continuam no seu percurso. No entanto, S. não tem dúvidas de que, no menu dos vícios, “o jogo é a sua prioridade”
procurar ajuda na instituição, que funciona sob a égide do Instituto de Acção Social (IAS), passa por vários casinos até lá chegar.
ATACAR O MAL
Elaine Tang, do IAS, destaca a complexidade da questão e a forma como cada caso é único. Quem chega à Casa de Vontade Firme fala com uma assistente social para que sejam aferidos os problemas que enfrenta. De seguida, delimitam-se prioridades na abordagem a cada caso, uma vez que os viciados que ali chegam trazem consigo dificuldades financeiras, familiares, laborais e sociais.
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que cai exausta na cama e dorme um dia inteiro. Depois do descanso, o ciclo repete-se. Na Casa de Vontade Firme não há uma abordagem farmacológica ao vício do jogo. Já no centro de reabilitação da ARTM essa é uma realidade incontornável, uma vez que a doença carece de um reequilíbrio químico. Depois de ser prescrita medicação, começa-se a atacar a desestruturação que o jogo patológico trouxe à vida da pessoa. “Voltamos a puxar os valores como a dignidade, honestidade, porque tudo se foi perdendo com o vício”, explica Marta Bucho. Inicia-se o processo de ressocialização do doente. Primeiro, tal como nas drogas, é necessário enfrentar a realidade de que a pessoa não deixará de jogar de um dia para o outro, há que proceder a uma redução de danos e a um desmame gradual. O passo inicial é aceitar o problema, só depois se pode ir reduzindo, aos poucos, a frequência com que se joga, a quantidade de dinheiro e o tempo que se passa no casino. Os estágios seguintes no caminho para a cura são a intervenção psicossocial e a vida em comunidade. Quem entra no centro de reabilitação da ARTM reaprende valores da ajuda mútua, o respeito pelos outros. Outro dos pilares de suporte é a solidariedade e a experiência dos jogadores que se encontram em recuperação há mais tempo.
NÚMEROS AZARADOS
“Pedem largas somas de dinheiro, dizem que pagam em prestações e chegam, também, a pedir que sejamos fiadores para recorrerem a empréstimos” junto da banca, conta Elaine Tang. Obviamente, os serviços não emprestam apoio monetário, mas fazem algo muito mais valioso no longo prazo. “Há pessoas que não têm um conceito do que é o dinheiro, porque nunca tiveram problemas financeiros”, explica a assistente social. Normalmente, este tipo de viciados não apresenta quadros clínicos de consumo de droga, mas não têm noções de poupança. “Tenho um caso de uma pessoa que tem de mar-
De 2011 a 2016, 856 pessoas recorreram aos serviços do instituto. Quanto à taxa de reincidência, o IAS apenas revela que o caminho para a recuperação é longo e árduo, e as recaídas muito frequentes
car todas as suas despesas diárias. Depois de seis meses, aprendeu quanto dinheiro precisa para sustentar a família todos os meses”, revela Elaine. Este paciente, com um casamento destruído pelo jogo, vive hoje em dia com o pai e é a ele que confia as suas finanças. Um dos casos que preocupa a assistente social é o de uma mulher que trabalha exclusivamente para sustentar o vício. Quando sai do emprego, vai para o casino onde passa a noite inteira a jogar, largando as mesas de jogo apenas quando chega a hora de regressar ao trabalho. Este ciclo pode durar três dias seguidos, sem interrupção, até
Elaine Tang conta que conhece jogadores com perdas que ascendem a dois milhões de patacas e que apenas auferem 20 mil por mês. A maioria destes casos chega ao IAS já numa situação complicada de resolver, com agiotas à perna, os pacientes a sentirem-se ameaçados. Com alguma frequência, este tipo de viciados, depois de receberem aconselhamento financeiro, não voltam à instituição. Os serviços do IAS começaram a registar os casos de viciados em jogo que procuraram ajuda nos seus centros a partir de 2011. Desde então, até 2016, 856 pessoas recorreram aos serviços do instituto. Quanto à taxa de reincidência, o IAS apenas revelou que o caminho para a recuperação é longo e árduo, e as recaídas muito frequentes. Um estudo elaborado pelo Instituto de Estudos sobre a Indústria do Jogo da Universidade de Macau revelou que, em 2015, havia 14 mil jogadores viciados, o que representa 2,15 por cento da população. Em 2016, a incidência de pessoas com problemas com jogo era de 2,5 por cento, um ligeiro aumento. No ano passado, segundo informação da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos de Macau, pediram auto-exclusão dos casinos
351 pessoas. Em contrapartida, as receitas brutas do sector continuam numa curva ascendente. Mas para que alguém ganhe, outros têm de perder, e há quem perca tudo. Entre a panóplia de casos de adição, os jogadores são os que têm maior tendência para o suicídio, mais significativa do que entre os consumidores de drogas. Apesar de ser uma realidade pouco estudada na região, a Universidade de Hong Kong fez um estudo que revelou que, em 2003, dos 1201 suicídios registados na cidade, 233 estavam relacionados com problemas de jogo, o que representa quase 20 por cento. De resto, uma larga fatia dos telefonemas recebidos pela Linha de Prevenção de Suicídio da Cáritas é relativa a desespero nascido nas mesas dos casinos. “Há diversos estudos que apontam que jogo e o suicídio estão muito ligados”, completa Marta Bucho.
É necessário enfrentar a realidade de que a pessoa não deixará de jogar de um dia para o outro, há que proceder a uma redução de danos e a um desmame gradual Apesar do brilho do Cotai, há uma parte de Macau que sente nas entranhas os excessos que o jogo arrasta consigo. L., de 46 anos, vai ao serviço extensivo do ARTM na Areia Preta, um centro de redução de danos que distribui seringas e refeições, comer uma sopa e conviver um pouco. Com um largo historial de consumo de heroína, metanfetaminas, álcool e tudo o que vier à mão, o jogo é uma das constantes da sua vida. Partilhou casa com toxicodependentes durante três anos e pensou várias vezes no suicídio. Parecia-lhe a única saída da miséria. Perdeu todo o dinheiro, perdeu a família, e teve dias em que perdeu a vontade de viver. A meio da entrevista ao HM levanta-se para mostrar a identificação para poder usufruir da refeição quente que a ARTM lhe providencia. A vida não lhe corre bem, mas quando fala no prazer que lhe dá um jogo de bacará os seus olhos brilham como os néones. João Luz
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4 POLÍTICA
hoje macau sexta-feira 17.3.2017
APN PEDIDA ISENÇÃO DE VISTO DE 72 HORAS PARA A ILHA DA MONTANHA
Kou Hoi In, deputado de Macau à Assembleia Popular Nacional, defende a isenção de visto por um período de 72 horas para a Ilha da Montanha, apenas para cidadãos dos PALOP e do Sudeste Asiático que viajem para Macau. Quatro deputados sugerem ainda a troca de produtos de gestão financeira com o Continente
Ir, estar e depois voltar do interior da China. Os deputados querem que, através deste regime, o território possa ser aproveitado como plataforma, de modo a favorecer o desenvolvimento do sector de locação financeira do país. Os quatro deputados afirmam ainda que os apoios da China são preciosos e fundamentais para Macau, sendo que o sector financeiro pode tornar-se um ponto importante para o território, uma vez que a RAEM não tem uma base forte nesta área. A ligação entre o mercado chinês e outros países poderia facilitar as exportações, defendem.
Kou Hoi In defende ainda que Macau deve promover mais as vantagens do seu sector financeiro junto do interior da China
O
objectivo é destacar a participação de Macau na política “Uma Faixa, Uma Rota”. O deputado de Macau à Assembleia Popular Nacional (APN) Kou Hoi In sugeriu em Pequim que se permita aos residentes dos países da língua portuguesa e do Sudeste Asiático a isenção de visto para a Ilha da Montanha por um período de 72 horas, via Macau. Kou Hoi In acredita que tal medida pode atrair mais turistas e empresários a passarem pelo território. O deputado também sugere que, dentro do prazo de autorização de saída, os visitantes do interior da China possam, ao viajar para Macau, deslocar-se várias vezes entre a região e a Ilha da Montanha. Kou Hoi In, que é também deputado à Assembleia Legislativa de Macau, considera que a medida pode fomentar a
O
deputado Ho Ion Sang pede ao Executivo mais acções de fiscalização no sector da habitação pública. “O Governo deve realizar acções especiais de fiscalização da qualidade dos projectos”, lê-se em interpelação. O tribuno considera que é missão do Executivo proceder ao reforço das acções de inspecção, de modo a garantir a respectiva fiscalização e gestão nas diversas fases do período de construção. Em causa, salienta, está a “má qualidade” dos edifícios destinados à habitação
comunicação entre Guangdong e Macau em termos de turismo.
FINANÇAS CÁ E LÁ
Kou Hoi In defende ainda que Macau deve promover mais as vantagens do seu sector financeiro junto do interior da China, de modo a encorajar as companhias de locação financeira do Continente a investirem em Macau e a iniciarem projectos conjuntos a pensar no mercado lusófono.
O deputado aconselha que se permita em Macau a venda dos produtos da gestão financeira do Continente, e que o território leve também os seus produtos da gestão financeira para o interior da China a título experimental. Essa troca de serviços e produtos poderia gerar, na opinião do deputado, uma melhoria da qualidade do sector da gestão de activos de Macau, bem como criar condições de abertura do mercado ao interior da China,
aos países do Sudeste Asiático e aos países da língua portuguesa. Kou Hoi In, juntamente com Lao Ngai Leong, Lei Pui Lam e Iong Weng Ian, também deputados de Macau à APN, assinaram um documento para que a sugestão fique formalizada junto do Governo Central. A ideia dos quatro deputados é que se possa aprofundar a indústria de locação financeira e a cooperação entre as empresas de Macau e
Segurar o tecto
Ho Ion Sang pede fiscalização na habitação pública
pública. “Existem diversos problemas de qualidade nos projectos”, afirma. Ho Ion Sang compara a construção pública com a privada, sendo que salienta as diferenças entre ambas, em situações idênticas. “Por que razão é que os prédios de dimensão semelhante e concluídos ao mesmo tempo, se são privados, apresentam menos problemas de qualidade do que os prédios de habi-
tação pública, cuja qualidade é sempre má?”, lança. O desprendimento de azulejos, as infiltrações de água e o mau funcionamento dos elevadores são apontados como razões para “a habitação pública ser sinónimo de má qualidade”.
REVISÃO URGENTE
Ho Ion Sang recorda que, segundo o próprio Executivo,
nas Linhas de Acção Governativa para 2017, “tem vindo a ser dada uma grande importância ao assunto, e vão continuar os trabalhos de melhoramento do mecanismo de fiscalização e apuramento das eventuais responsabilidades nos termos previstos nos respectivos regimes e contratos”. O Executivo assegurou que “a aprovação
Na proposta apresentada na capital, defende-se que as sociedades de locação financeira de Macau devem ter um tratamento igual ao nível dos impostos em relação às sociedades estabelecidas nas zonas de comércio livre. A ideia era, assim, implementar a isenção do imposto para as empresas de Macau que desejem iniciar negócios no Continente, reduzindo a pressão financeira e fomentando o desenvolvimento rápido da indústria de locação financeira do território.
dos projectos, incluindo os de habitação pública, é efectuada nos termos do Regulamento Geral da Construção Urbana e que existe um mecanismo permanente para a fiscalização das especificações e à qualidade da obra”. O tribuno salienta que o regulamento em vigor data de “há mais de 30 anos e já está desactualizado”. Para o deputado, “devido à falta de um calendário concreto para os trabalhos de revisão do diploma, o Governo não consegue fiscalizar eficaz-
mente os projectos, o que pode constituir um risco para a segurança e qualidade das obras”. Neste sentido, o tribuno apela a uma revisão urgente do regulamento, até porque, e segundo o relatório das LAG, o Executivo pretende construir cerca de 12.600 fracções de habitação pública, no âmbito do plano a curto e médio prazo, e cerca de 28.000 na zona A dos novos aterros, no âmbito do plano a longo prazo. Sofia Margarida Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
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POLÍTICA
LEGISLATIVAS PROPAGANDA PROIBIDA DURANTE UM MÊS
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GCS
S candidatos às eleições legislativas estão proibidos de fazer propaganda eleitoral entre os primeiros dias de Agosto e 2 de Setembro. De acordo com a Rádio Macau, é o que resulta do calendário oficial para a constituição da próxima Assembleia Legislativa, divulgado ontem. Apesar do que está previsto na lei, é de esperar que a Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) recomende aos candidatos para não se promoverem antes do período oficial de campanha eleitoral. Citado pela emissora em língua portuguesa, o deputado pró-democrata Ng Kuok Cheong diz que o tempo dado é curto, mas concorda com a CAEAL. “O tempo não é muito. Mas é claro que vamos seguir as regras. Se todos cumprirem, haverá igualdade de concorrência”, entende. O período de campanha eleitoral está fixado em 14 dias: começa a 2 de Setembro e termina dois dias antes das eleições, marcadas para 17 de Setembro. Segundo o calendário divulgado ontem, a CAEAL tem até ao dia 26 de Setembro – quase duas semanas depois das eleições – para desqualificar candidatos. No acto eleitoral deste ano, pela primeira vez, a comissão pode impedir que um candidato seja eleito caso entenda que não é fiel a Macau enquanto Região Administrativa Especial da China.
AL COMISSÃO E GOVERNO CHEGAM A SOLUÇÃO PARA DETERMINAÇÃO DE VALORES
Dentro da lei ou fora dela Deputados e Executivo chegaram ontem a acordo em relação à forma de fixação do montante a partir do qual passa a ser obrigatória a declaração do dinheiro à entrada de Macau. A solução do Governo não agradava, mas a da Assembleia Legislativa também não foi acolhida. Optou-se por uma terceira via
D
OIS meses não bastaram para resolver um braço-de-ferro que acabou por ficar ontem solucionado. Alguns deputados da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa não concordavam que ficasse nas mãos do Chefe do Executivo a determinação do valor a partir do qual passará a ser obrigatória a declaração à chegada a Macau. A proposta de lei em causa – controlo do transporte transfronteiriço de numerário e de instrumentos negociáveis ao portador – atribuía competências ao líder do Governo, remetendo para despacho a fixação do montante. “A assessoria e alguns deputados entendem que, como da proposta fazem parte normas sancionatórias, e o montante é um critério importante, deve constar claramente da lei”, explicou Kwan
Tsui Hang, presidente da comissão. “Só que, decorridos dois meses, o Governo continuou a insistir que não deveria ser fixado na lei e não acolheu a proposta dos deputados.” A proposta de lei em análise prevê o preenchimento de uma declaração obrigatória para aqueles que chegam a Macau com mais de 120 mil patacas em dinheiro. O
A lei deverá entrar em vigor a 1 de Novembro. Os deputados preferiam que passasse a valer antes dessa data, mas o Governo precisa de tempo
articulado foi redigido com base em normas do Grupo de Acção Financeira (GAFI) na região Ásia-Pacífico, sendo que a declaração a ser preenchida nas fronteiras do território corresponde ao que vem escrito na Recomendação 32. O Governo ainda alegou que, no futuro, o Chefe do Executivo iria alterar o montante em causa seguindo a evolução das normas do GAFI, mas os deputados bateram o pé. Arranjou-se uma solução consensual. “Depois do debate, a maior parte dos deputados e os representantes do Executivo concordaram que esta proposta de lei visa cumprir as obrigações internacionais. Por outro lado, este montante não é fixado por nós – é pela Recomendação 32”, contextualizou Kwan Tsui Hang. A comissão propôs uma alteração ao artigo da polémica, “dizendo expressamente que este
montante é fixado de acordo com a Recomendação 32”. Deste modo, o assunto deixa de ser definido em despacho do Chefe do Executivo. “O Governo vai introduzir a alteração a este artigo. A lei não vai fixar um montante concreto”, sintetizou a deputada. A haver mudanças, “serão feitas através da emissão de uma ordem” do líder do Governo.
DE UM LADO PARA O OUTRO
Acomissão vai ficar agora a aguardar pela nova redacção da proposta de lei, que já tinha sofrido alterações em relação ao documento que foi submetido a votação na generalidade. Depois da reunião de ontem, Kwan Tsui Hang explicou que a lei deverá entrar em vigor a 1 de Novembro deste ano. Os deputados preferiam que passasse a valer antes dessa data, mas o Governo explicou à comissão que precisa de tempo – meio ano – para trabalhos de preparação, “como a elaboração dos formulários”. A proposta de lei foi aprovada na generalidade no início deste ano e tem como grande objectivo garantir que Macau cumpre as normas internacionais de combate ao branqueamento de capitais. Isabel Castro
isabelcorreiadecastro@gmail.com
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HOMICÍDIO SUSPEITO ENCONTRADO EM GUANGDONG
As autoridades policiais de Guangdong detiveram o alegado responsável pela morte de um homem de 50 anos, um caso que ocorreu no ano passado na zona da Horta da Mitra. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, o suspeito foi detido ontem em Tanzhou, no interior da China. A polícia de Guangdong encaminhou o detido até ao posto fronteiriço de Gongbei, tendo o homem sido levado à Polícia Judiciária (PJ) de Macau para que as investigações continuem. O crime terá sido cometido depois de uma desavença entre o suspeito e a vítima, que terá sido apunhalada com uma garrafa. Segundo informações da PJ, o suspeito tem cadastro e já esteve preso, sendo que conheceria a vítima há cerca de 20 anos.
QUATRO MESES PARA DEMOLIR OBRAS ILEGAIS NA ESTRADA DO REPOUSO
O
Governo concluiu os trabalhos de demolição das obras ilegais situadas numa loja, e no terreno devoluto contíguo, sito na Estrada do Repouso, que tinham sido iniciadas em Novembro do ano passado. O objectivo da intervenção prende-se com a reposição do local ao que estava previsto no projecto aprovado pelas Obras Públicas.Aos infractores vai ser aplicada uma multa, assim como o pagamento das despesas inerentes ao despejo. A demolição foi ordenada porque as obras em causa colocavam em perigo a integridade das estruturas dos edifícios adjacentes, assim como a segurança pública. Os infractores construíram clandestinamente uma infra-estrutura composta por um suporte metálico, vidros e tapume metálico nas paredes exteriores do anexo à loja em causa. Foi ainda demolida uma parte da parede exterior do edifício de forma a criar um acesso ao terreno devoluto contíguo ao estabelecimento. A construção clandestina tinha oito metros de altura e era composta por cobertura metálica, suporte, lona e um portão rolante. O grupo de demolição e desocupação das Obras Públicas justificou os quatro meses da intervenção com a dimensão das construções clandestinas a demolir, assim como a grande quantidade de materiais de construção nelas depositados. Outro dos factores a aumentar o tempo de intervenção foi a necessidade de reposição da parede exterior do edifício onde antes existia um vão. O terreno devoluto foi ainda vedado com rede metálica, uma vez terminada a limpeza do local. Em resposta a este caso, o Governo alerta os cidadãos que não devem executar obras ilegais e que se compromete a combater estes casos, levando a cabo acções de fiscalização de forma contínua e periódica.
SOCIEDADE
DROGA POLÍCIA JUDICIÁRIA DETEVE SETE PESSOAS
A Polícia Judiciária (PJ) deteve, por suspeitas de consumo de estupefacientes, sete pessoas oriundas do território, de Hong Kong, das Filipinas e da Mongólia, incluindo uma menor de 17 anos que se identificou como estudante. De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, as autoridades receberam informações sobre alegados actos de consumo de droga num apartamento situado no Istmo Ferreira do Amaral, tendo investigado a habitação. Durante a acção foram detidas duas pessoas no apartamento, tendo sido descobertos cinco pacotes de metanfetaminas. Depois, foram detidos os restantes suspeitos na Zona de Aterros do Porto Exterior e na área da Horta da Mitra, incluindo dois filipinos, que são suspeitos da venda de droga. A PJ descobriu um total de 36,7 gramas de metanfetaminas, num valor aproximado de 110 mil de patacas.
Salas de fumo SJM DIZ QUE UM ANO SERÁ SUFICIENTE PARA AS OPERADORAS
Venham de lá os detalhes Ambrose So, administrador da Sociedade de Jogos de Macau, acredita que as seis operadoras de jogo vão conseguir cumprir os novos padrões para a instalação de salas de fumo, e que um ano será tempo suficiente para isso. A empresa vai precisar de dez mil trabalhadores até 2018
A
S operadoras de jogo parecem estar preparadas para cumprir os novos padrões a definir pelo Governo para a instalação das salas de fumo nos casinos. A ideia foi deixada ontem por Ambrose So, administrador da Sociedade de Jogos de Macau (SJM). Segundo o canal chinês da Rádio Macau,Ambrose So sublinhou que as novas regras para a manutenção das salas de fumo nos casinos vão implicar uma grande mudança em termos de equipamentos. Ainda assim, o responsável acredita que a SJM e as restantes operadoras vão conseguir concluir os trabalhos de instalação das novas salas no prazo de um ano. Na última reunião da comissão permanente da Assembleia Legislativa encarregue de analisar a revisão da lei do tabaco na especialidade, ficou claro que as alterações à lei serão votadas já em Abril, mas os novos padrões para as salas fumos só serão conhecidos em 2018. “A entrada em vigor dos requisitos vai ser a 1 de Janeiro de 2018 e as salas de fumo têm de reunir os requisitos definidos por regulamento administrativo no prazo de um ano”, afirmou o deputado Chan Chak Mo. Chan Chak Mo disse ainda que “a instalação dos requisitos tem de ser concluída antes de 1 de Janeiro de 2019, visto o prazo para proceder às obras ser de um ano após a publicação do regulamento administrativo”. Ambrose So apontou ainda que não sabe qual o orçamento que será necessário para as mudanças de infra-estruturas. Será necessário esperar pelos requisitos para fazer as contas aos gastos.
DEZ MIL VAGAS NECESSÁRIAS Ambrose So
Ambrose So falou aos meios de comunicação social à margem
da inauguração do Centro de Recrutamento da SJM, que ficará localizado no edifício China Civil Plaza. Segundo um comunicado emitido pela empresa, a ideia de criação do centro visa garantir as “acções de recrutamento em larga escala” por parte da empresa. Tendo em conta a abertura do hotel Jai Alai e a inauguração do empreendimento Grand Lisboa Palace, no Cotai, a concessionária estima que irá necessitar de mais dez mil trabalhadores em várias áreas. A SJM volta a apontar a primeira metade do próximo ano como prazo para a abertura do Grand Lisboa Palace.
Ambrose So acredita que as operadoras vão conseguir concluir as obras nas novas salas de fumo Citada no comunicado, Angela Leong, presidente executiva da SJM, afirma que a abertura do centro está também relacionada com a necessidade de recrutar locais para as vagas da empresa. “Os cidadãos de Macau podem agora visitar o website e colocar os seus currículos online”, disse a empresária, sem esquecer a aposta nas redes sociais. No evento de inauguração esteve presente Shuen Ka Hung, ex-director dos Serviços para os Assuntos Laborais e actual presidente do Centro de Produtividade e Tecnologia de Macau. Andreia Sofia Silva (com Vítor Ng) info@hojemacau.com.mo
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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 105/AI/2017
MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 109/AI/2017
-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora ZHOU YAN, portadora do passaporte da RPC n.° E05092xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 110/DI-AI/2014 levantado pela DST a 31.08.2014, e por despacho da signatária de 27.02.2017, exarado no Relatório n.° 114/DI/2017, de 09.02.2017, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Travessa da Encosta n.° 46, Bo Fung Court, 3.° andar A onde se prestava alojamento ilegal.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-----------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.----------------------------------------------------------------
-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora HU GUINAN, portadora do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° W56352xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 29/DI-AI/2016, levantado pela DST a 02.03.2016, e por despacho da signatária de 27.02.2017, exarado no Relatório n.° 119/DI/2017, de 03.02.2017, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua do Terminal Marítimo, n.os 93-103, Edf. Centro Internacional de Macau, Bloco 4, 14.° andar B onde se prestava alojamento ilegal.-------------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ---------------------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-----------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.--------------
-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 27 de Fevereiro de 2017.
-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 27 de Fevereiro de 2017. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes
A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes
MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 117/AI/2017
MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 173/AI/2017
-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifiquese o infractor PENG SHIMO, portador do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° W64822xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 43/DI-AI/2016, levantado pela DST a 05.04.2016, e por despacho da signatária de 27.02.2017, exarado no Relatório n.° 127/DI/2017, de 06.02.2017, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.° 255, Edf. Kam Fai Kok, 12.° andar CC (correspondente no prédio ao 13.° andar C) onde se prestava alojamento ilegal.--------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ---------------------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-----------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.--------------
-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor HAN GUIQUAN, portador do Salvo-conduto de Residente da China continental para deslocação a Taiwan n.° T10653xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 15/DI-AI/2016, levantado pela DST a 03.02.2016, e por despacho da signatária de 19.10.2016, exarado no Relatório n.° 680/DI/2016, de 12.10.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Rua de Luis Gonzaga Gomes n.° 136, Edf. Lei San, 10.° andar F.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010.----------------------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-----------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.--------------
-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 27 de Fevereiro de 2017.
-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 08 de Março de 2017. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes
A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes
9 hoje macau sexta-feira 17.3.2017
O
JUSTIÇA CONDENADO POR INJURIAR FUNCIONÁRIOS
O Tribunal Judicial de Base condenou um homem, de apelido Lo, à pena de dois meses e 15 dias de prisão efectiva, assim como ao pagamento de uma indemnização de duas mil patacas pela alegada prática do crime de injúria agravada a um funcionário público. O caso remonta a 5 de Julho de 2016, quando o indivíduo em causa foi avistado por dois funcionários do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) a deitar uma beata de cigarro na via pública. No seguimento da ocorrência, os trabalhadores do IACM dirigiram-se ao arguido e pediram-lhe a identificação, de forma a levantar o respectivo auto de notícia. De acordo com o Ministério Público, que fez uma nota de imprensa sobre o caso, foi aí que o indivíduo terá começado a dirigir palavrões a um dos funcionários. Apesar de ter sido advertido para cessar este comportamento, o arguido terá insistido no comportamento, continuando o insulto. Foi chamada a polícia, tendo o indivíduo sido detido. O arguido interpôs recurso da decisão judicial, pelo que a sentença ainda não transitou em julgado.
GAES APOIADOS EMPRÉSTIMOS ABAIXO DAS 360 MIL PATACAS
As regras do jogo
Foram ontem anunciados mais detalhes sobre o plano de comparticipação de juros dos empréstimos para ensino de línguas no estrangeiro. Só serão suportados empréstimos inferiores a 360 mil patacas, sendo que 30 por cento do montante é pago quando o curso for concluído
A
deputada Kwan Tsui Hang pretende saber quais os resultados de um ano de funcionamento da equipa de prestação de serviços psicológicos comunitários, criada pelos Serviços de Saúde de Macau (SSM) em Julho do ano passado. Para a deputada, continuam a existir muitas famílias com elementos a necessitar de apoio psicológico ou psiquiátrico, mas que desconhecem a existência do serviço. “Alguns dos familiares dos pacientes afirmam que não têm forma de ficar a par do teor dos respectivos serviços, nem canais para pedirem o respectivo apoio. Eu também cheguei a consultar o website dos SSM, mas não encontrei informações relacionadas”, escreveu a deputada numa interpelação escrita entregue ao Governo. Kwan Tsui Hang pretende saber ainda se os SSM vão promover mais este serviço. “Quais os meios de que dispõem os SSM para promoverem os serviços desta equipa? Vão ou não aumentar
Onde pára o doutor? Questionados resultados da equipa de psicologia
os meios para a sua divulgação e reforçar os trabalhos de promoção, de modo a facilitar que os doentes e familiares com necessidades tomem conhecimento dos serviços prestados pela referida equipa e peçam o seu apoio?”
superior, os custos de vida básicos e as despesas de transporte de ida e volta.
DATAS A CUMPRIR
GCS
Governo avançou com mais pormenores sobre o “Plano de Apoio de Pagamento dos Juros de Crédito para a Formação Linguística de Graduados do Ensino Superior”, uma medida criada para apoiar estudantes com menos de 45 anos que estejam a aprender português, mandarim ou inglês em universidades fora de Macau. Segundo um comunicado, apenas os empréstimos inferiores a 360 mil patacas serão tidos em conta, sendo que o prazo de pagamento dos juros será “fixado conforme a duração do curso”, ou seja, “no máximo de dois anos. Além disso, “o montante máximo de empréstimo para ser apoiado no pagamento dos juros é fixado conforme o tipo de língua e a duração de curso”, sendo que nunca pode exceder as 360 mil patacas. O apoio a ser dado aos estudantes será monitorizado pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) que irá, numa primeira parte, pagar 70 por cento dos juros. “Os restantes 30 por cento serão atribuídos após a conclusão de curso e os beneficiários entregarem os respectivos documentos comprovativos”, pode ler-se. Todas as prestações do apoio serão pagas mensalmente. O apoio financeiro irá abranger empréstimos para estudos, incluindo ainda as propinas a pagar à instituição do ensino
SOCIEDADE
A deputada oriunda da Federação das Associações dos Operários de Macau alerta ainda para o facto de existir o projecto de lançamento de uma segunda equipa, sendo que ainda não foram avançados mais detalhes. “Qual o ponto de situação do
Kwan Tsui Hang
O GAES explica que os residentes permanentes podem concorrer a este apoio, desde sejam titulares de “grau de licenciatura ou equiparado” e que “tenham estudado em instituições do ensino superior ou escolas secundárias de Macau por um período continuado não inferior a três anos, cumulativamente.” Os cursos alvo de apoio por parte do Governo devem conter aulas presenciais, sendo que a sua duração não deve ser superior a dois anos. Já a duração dos cursos de Mandarim não deve ser inferior a seis meses, enquanto que, para cursos de Português ou Inglês, a duração não deve ser inferior a nove meses. A medida será implementada a partir da próxima terça-feira em parceria com seis bancos. O objectivo é incentivar e apoiar “os residentes licenciados de Macau a frequentarem, no exterior, cursos de formação linguística” nas três línguas, de modo a “aumentar as suas capacidades linguísticas e ampliar os seus horizontes”, e também para que se possa “formar para a sociedade quadros qualificados que dominam diversas línguas, aumentando ainda mais a capacidade global de concorrência de Macau”.
trabalho da equipa desde a sua entrada em funcionamento, em Julho do ano passado? E quais os resultados? Numa reunião do Conselho Consultivo dos Serviços Comunitários da Zona Norte, em Novembro do ano passado, o Governo revelou que ia preparar a criação de uma segunda equipa. Qual o ponto de situação?”, questiona. Kwan Tsui Hang recorda ainda as recomendações da Organização Mundial de Saúde, que afirma que “os doentes mentais devem ser integrados nos bairros comunitários e conviver com as suas famílias, ao mesmo tempo que recebem o devido tratamento, até conseguirem recuperar por completo a sua saúde”. “O Governo criou ou não mecanismos que permitam às famílias aprender os conhecimentos necessários para viverem com os doentes recuperados, assim como receber apoio adequado em caso de necessidade?”, inquiriu ainda a deputada. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
10 CHINA
hoje macau sexta-feira 17.3.2017
TAIWAN PEDE À CHINA QUE RESPEITE A SUA DEMOCRACIA
Sem condições
O
Gabinete de Taiwan para os Assuntos da China Continental apelou ontem a Pequim para que respeite a democracia de Taiwan, reconheça a sua existência e não exija condições políticas prévias para os contactos bilaterais. “Manter a paz e estabilidade no estreito da Formosa é a política estabelecida pelo
governo desde que assumiu o poder, em 20 de Maio passado”, afirmou em comunicado o organismo de Taipé encarregue dos contactos com Pequim. O comunicado surgiu em resposta ao apelo do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, para que Taipé aceite o principio “Uma só China”, visto como uma garantia de que a ilha é parte da República Popular
TEMPOS DIFÍCEIS
As relações entre Pequim e Taipé atravessam um período de renovadas tensões, desde a eleição da Presidente de Tsai Ing-wen, do Partido Democrata Progressista, que defende a independência do território. Uma conversa por telefone entre Tsai e o então presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que por várias vezes disse que poderia reconsiderar a política “Uma só China”, levou ao pico das tensões.
e não uma entidade política soberana. A nota emitida por Taipé refere ainda que a China continental deve aceitar as diferenças no desenvolvimento dos regimes políticos de cada lado do estreito de Taiwan e reconhecer e respeitar a existência da democracia e da sua opinião pública. “Só então as relações entre os dois lados do esPUB
MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 199/AI/2017 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora LAI SHAOHONG, portadora do Passaporte da RPC n.° G42606xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 28/DI-AI/2015, levantado pela DST a 23.03.2015, e por despacho da signatária de 15.12.2016, exarado no Relatório n.° 784/DI/2016, de 12.12.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Avenida da Praia Grande n.° 85, NAN YUN, 4.° andar A (correspondente no prédio ao 5.° andar A).------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010.----------------------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-----------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 14 de Março de 2017. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes
treito [de Taiwan] poderão desenvolver-se de forma construtiva”, lê-se.
A nota emitida por Taipé refere que a China continental deve aceitar as diferenças no desenvolvimento dos regimes políticos de cada lado do estreito de Taiwan e reconhecer e respeitar a existência da democracia e da sua opinião pública Após essa chamada, o Governo são-tomense anunciou o corte das relações diplomáticas com Taipé e o reconhecimento da República Popular da China, numa decisão que a imprensa estatal chinesa disse tratar-se de um castigo para Tsai. Pequim considera Taiwan uma província chinesa e defende a reunificação pacífica, mas ameaça usar a força caso a ilha declare independência. Taiwan, a ilha onde se refugiou o antigo governo chinês depois de o Partido Comunista (PCC) tomar o poder no continente, em 1949, assume-se como República da China.
PEQUIM DIZ QUE O SEU PLANO PARA A CRISE COREANA É O “ÚNICO REALISTA”
O
governo chinês afirmou ontem que a sua proposta para reduzir as tensões na península coreana é o “único plano realista” e desafiou os Estados Unidos da América a surgir com uma ideia melhor. O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, sugeriu na semana passada um pacto, em que a Coreia do Norte suspenderia o seu programa nuclear em troca do fim das manobras militares conjuntas dos EUA e Coreia do Sul. Washington rejeitou a proposta de Pequim e o secretário de Estado norte-americano Rex Tillerson sugeriu ontem uma abordagem mais dura ao afirmar em Tóquio que os esforços diplomáticos para controlar a Coreia do Norte, nos últimos 20 anos, falharam. “Face às actuais circunstâncias, acreditamos que a [proposta da China] é o único plano correcto, racional e viável”, afirmou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Hua Chunying.
“Se os EUA ou outro país tiverem um plano melhor, uma proposta melhor, podem avançar”, acrescentou. “Se a proposta for favorável a reduzir as actuais tensões e a trazer as partes envolvidas de volta ao diálogo e negociações, de forma a resolver a questão nuclear coreana, nós teremos uma atitude construtiva e aberta”, afirmou Hua. As afirmações da porta-voz chinesa foram feitas quase ao mesmo tempo em que Tillerson falava em Tóquio, não sendo claro se as suas afirmações eram uma resposta directa ao secretário de Estado norte-americano. No Japão, onde Tillerson iniciou um périplo pela Ásia que inclui ainda paragens em Seul e Pequim, o secretário de Estado afirmou que é necessária “uma nova abordagem” nas negociações com Pyongyang e que a China precisa de desempenhar o seu papel para manter o país vizinho sob controlo.
OBSERVATÓRIO PARA ESTUDAR ORIGEM DOS RAIOS CÓSMICOS EM CONSTRUÇÃO
A China está a construir um observatório a mais de 4.000 metros de altura que deverá ser o mais exacto do mundo no estudo de raios cósmicos, partículas sub-atómicas que se deslocam a velocidades próximas à da luz. Segundo escreve o jornal oficial Diário do Povo, o país investirá 1.200 milhões de yuan na instalação, que visa permitir aos cientistas melhorar a sua compreensão do universo. Daocheng, uma zona montanhosa na província de Sichuan, no sudoeste do país, a 4.410 metros acima do nível do mar, acolherá o observatório, designado LHAASO, e cuja construção deverá estar concluída em Janeiro de 2021. Os raios cósmicos de alta energia foram descobertos no início do século XX e, apesar de se desconhecer como se formam, os cientistas pensam que através do estudo destes se poderá começar a entender os mecanismos naturais da aceleração de partículas a velocidades fora do alcance humano. O LHAASO servirá para analisar a física dos raios cósmicos, assim como a origem da sua aceleração e propagação da radiação com níveis inéditos de precisão.
11 CHINA
hoje macau sexta-feira 17.3.2017
A
China e a Arábia Saudita acordaram ontem estudar projectos conjuntos, em diferentes áreas, num valor total de 60.500 milhões de euros, durante a vista do rei Salman bin Abdulaziz a Pequim. O Presidente chinês, Xi Jinping, recebeu o monarca no Grande Palácio do Povo, numa visita em que ambos os lados estiveram acompanhados por uma larga comitiva empresarial e ministerial. Os dois líderes presidiram à assinatura de 14 memorandos de entendimento em várias áreas, desde o comércio, energia ou cultura, que poderão resultar em projectos no valor total de 60.500 milhões de euros, segundo o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhang Ming. Entre os acordos anunciados consta um memorando de entendimento entre a firma chinesa Norinco e a gigante da Arábia Saudita Aramco, a firma estatal que controla a indústria do petróleo no país. A petroquímica Sabic e a principal refinaria da China, a Sinopec, acordaram também estudar o desenvolvimento de projectos em ambos os países. “Xi e o rei Salman são velhos amigos. Têm uma relação muito boa”, destacou Zhang Ming.
CHINA E ARÁBIA SAUDITA COM PROJECTOS ATÉ 60.500 MILHÕES DE EUROS
Reais entendimentos
ALIANÇAS REFORÇADAS
A visita de três dias surge depois de Xi se ter deslocado no ano passado à Arábia Saudita, na primeira vista de Estado de um líder chinês ao Médio Oriente nos últimos sete anos. O rei Salman bin Abdulaziz Al Saud, 81 anos, aterrou na quarta-feira em Pequim, com uma comitiva composta por 1.000 pessoas, e já depois de ter estado no Japão, Malásia e Indonésia, parte de um périplo de um mês pela Ásia. A China tem procurado aproximar-se do Médio Oriente, enquanto a Arábia Saudita reforça as suas alianças no leste asiático, face à incerteza quanto à política externa do presidente dos Estados Unidos,
V
ÁRIOS operadores de cruzeiros estão a desviar para o Japão itinerários com paragem inicialmente prevista na Coreia do Sul, face à reticência dos turistas chineses em visitar aquele país, devido à instalação do sistema antimísseis THAAD. Em nota publicada ‘online’, a norte-americana Royal Caribbean explicou que os cruzeiros com paragem prevista na Coreia do Sul cancelaram estas escalas, substituindo-as por deslocações ao Japão, até Dezembro. “Estamos a fazer o nosso melhor para trocar as paragens em portos da Coreia
Donald Trump. Pequim é um dos principais clientes do petróleo dos países do Médio Oriente, mas tradicionalmente opta por uma postura de não intervenção na região. Porém, desde que Xi ascendeu ao poder, em 2012, o país adoptou uma nova abordagem, que inclui mediar a discussão entre diferentes partes envolvidas no conflito sírio.
O Presidente chinês lançou também a iniciativa Nova Rota da Seda, um plano que visa reforçar as rotas comerciais entre a China e a Europa, através da construção de estradas e linhas ferroviárias de alta-velocidades entre as duas regiões. “Esta visita irá impulsionar e continuar a melhorar a qualidade das nossas relações”, disse ontem
Muda de rumo
Cruzeiros com turistas chineses trocam Coreia do Sul pelo Japão
“Xi e o rei Salman são velhos amigos. Têm uma relação muito boa.” ZHANG MING VICE-MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS CHINÊS
do Sul por portos no Japão, que são mais atractivos para os consumidores”, lê-se no comunicado. A Royal Caribbean atribuiu esta decisão à “precaução” perante a “nova situação na Coreia do Sul”, sem referir o início da instalação do sistema antimíssil norte-americano THAAD na península coreana. Já a italiana Costa Cruceros retirou a Coreia do Sul dos destinos asiáticos disponíveis na versão chinesa da sua página na Internet. No sábado passado, a operadora italiana protagonizou um caso de boicote, quando mais de três mil turistas chineses se recu-
Xi ao rei, no início do encontro entre os dois. A China é, desde 2015, o principal parceiro comercial da Arábia Saudita, que durante vários anos foi o principal fornecedor de petróleo do país asiático. É a primeira visita do monarca à China, desde que assumiu o trono, em 2015, após a morte do seu meio-irmão Abdullah.
saram a sair do cruzeiro durante uma escala na ilha sul-coreana de Jeju. A decisão dos turistas obrigou ao cancelamento de dezenas de autocarros e guias turísticos, segundo informou a imprensa local.
A CULPA É DO SISTEMA
Seul e Washington concordaram no ano passado em instalar o sistema antimísseis Terminal High Altitude Area Defence (THAAD), após a Coreia do Norte realizar sucessivos testes nucleares e com mísseis. Pequim considera que aquele sistema constitui uma ameaça ao seu território. No mês passado, o
grupo Lotte Group, a quinta maior empresa da Coreia do Sul, que trespassou os terrenos ao Governo sul-coreano para a instalação do THAAD, disse que foi forçada a suspender a construção de um parque de diversões na China avaliado em milhares de milhões de dólares, depois de as autoridades terem levantado questões de segurança. Vários estabelecimentos do grupo na China foram também encerrados. Os consumidores chineses fazem frequentemente boicote a produtos ou marcas de um determinado país com o qual a China atravessa um período de tensão.
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Literatura YU HUA FALA DE LIVROS, CENSURA E INFLUÊNC
Sete anos de películas
Sound and Image Challenge recebe filmes até 20 de Agosto
V
será a imagem oficial da oitava edição do evento. Para Lúcia Lemos, o prémio poderia ser melhor, mas é apenas um começo para que os designers gráficos de Macau possam mostrar os seus trabalhos. Entre os dias 20 de Maio e 20 de Julho, os interessados poderão submeter as suas propostas, sendo que os finalistas terão direito a uma exposição na Creative Macau, que estará aberta o público entre os dias 23 de Novembro e 30 de Dezembro.
CHAMAR A EXPERIÊNCIA
Em sete anos, a direcção do festival recebeu cerca de cinco mil filmes a concurso, de países tão diversos como Espanha, Estados Unidos, França ou Brasil, entre outros. Só o ano passado, o Sound and Challenge International Festival recebeu 1650 produções, que resultaram em 41 filmes nomeados. Este ano há outra novidade que, diz Lúcia Lemos, pode representar uma maior chamada de atenção em relação ao evento: o convite de antigos vencedores para fazerem parte do júri.
“Creio que o grande júri pode atrair mais submissões. Vamos convidar os vencedores internacionais das outras edições para a competição de ‘Short Films’, e isso vai contribuir para melhorar. São pessoas da área e têm a experiência pessoal como vencedores, do nosso e de outros festivais. Vai qualificar mais ainda e dar mais autoridade [ao festival]”, sublinhou Lúcia Lemos. Além da visualização de filmes, o Sound and Image Challenge International Festival vai integrar masterclasses e palestras sobre os filmes visionados, marcadas já para o período entre 5 e 8 de Dezembro. Logo a seguir, nos dias 9 e 10, serão transmitidos os filmes finalistas, incluindo filmes extra, cuja selecção ficou a cargo de alguns curadores convidados. A Cinemateca Paixão, que é inaugurada oficialmente este mês, poderá ser outro local para a transmissão dos filmes, mas há ainda detalhes por confirmar. Os prémios variam entre as quatro e as 20 mil patacas. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
HOJE MACAU
EM aí mais uma edição do festival Sound and Image Challenge International, organizado pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM) e pela Creative Macau. Os jovens realizadores terão a oportunidade de submeter os seus filmes até ao dia 20 de Agosto, sendo que a sétima edição do evento conta com algumas novidades. Será feita uma pré-selecção de 50 películas que depois irão a concurso. Apesar de se manterem as categorias de Ficção, Documentário e Animação, nas competições “Shorts” e “Volume”, cai a categoria de Publicidade. “Em 2015, começámos a definir as categorias cinematográficas, mas achamos que a publicidade não fazia muito sentido, por ser algo mais televisivo. Vai ganhar mais a ficção, o documentário e a animação”, explicou Lúcia Lemos, responsável pela Creative Macau e directora do Sound and Challenge International Festival. Outra novidade prende-se com a criação da competição “Festival Poster”, em que o projecto vencedor
À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA A IMORTALIDADE • Milan Kundera O sexto romance de Milan Kundera emerge a partir de um gesto casual de uma mulher para o seu instrutor de natação, um gesto que cria uma personagem no espírito de um escritor chamado Kundera. Tal como a Emma de Flaubert, ou a Anna de Tolstói, a Agnès de Kundera torna-se num objeto de fascínio, de indefinida nostalgia. A partir dessa personagem nasce um romance… um gesto da imaginação que personifica e articula o supremo domínio de Kundera sobre o romance e a sua finalidade: explorar a fundo os grandes temas da existência.
Presas asas Yu Hua é um dos principais nomes da literatura contemporânea chinesa. O autor, que oscila entre romances autorizados e ensaios proibidos na China Continental, não abdica da liberdade da escrita. Está em Macau para participar no Rota das Letras
O
autor de “Viver”, “A China em Dez Palavras” e “Crónicas de Um Vendedor de Sangue” está em Macau para participar no festival literário Rota das Letras. Conhecido pela sua escrita “violenta” que retrata essencialmente a sociedade ao tempo da Revolução Cultural, época em cresceu, Yu Hua tem no seu trabalho um retrato do absurdo. No entanto, não é um non-sense confinado ao contexto chinês. “Passa-se no Continente mas podemos ver o absurdo em todo o lado porque está na vida diária. A China é um exemplo e um país cheio de contradições”, referiu num encontro realizado ontem com a imprensa. Alvo de censura em várias obras, nomeadamente ensaios, o autor explica que
“não há muitas preocupações quando em causa estão romances”. A razão, aponta, é que o trabalho de ficção pode incluir o uso de estratégias muito diferentes para expressar o que gostaria de dizer de forma explícita. Quando se trata de ensaios, como “A China em Dez Palavras”, que é proibido no Continente, a expressão é diferente. “Temos de dizer as coisas de forma directa”, assume. A proibição do livro, diz, não foi surpresa. “Mal escrevi a primeira palavra, ‘Povo’, em que falo do 4 de Junho em Tiananmen, sabia que aquele livro nunca seria publicado na China”, aponta. No entanto, continuou a escrever tendo em consideração o mercado de Taiwan e de Hong Kong. Para o autor, a atitude do Governo Central é “infantil”. Enquanto escritor, Yu Hua considera que o maior requisito é a independência seguida de sentido crítico. Actualmente, aponta, é mais fácil ser crítico. “Temos de admitir que o Governo Central é mais tolerante agora do que antes e conseguimos ouvir mais vozes críticas que podem ou não ser aceites”, diz, acrescentando que “o sentido de independência na escrita deve ser sempre prioritário à crítica”.
EDUARDO MARTINS
EVENTOS
DO ESQUECIMENTO
A Revolução Cultural é um tema transversal nos livros de Yu Hua, quase como se fosse uma inevitabilidade. “O meu período de estudos em criança apanhou a década da Revolução. O que passei naqueles anos influenciou o resto da vida, porque o pensamento acerca do mundo nasce das experiências tidas nesses anos e que, depois, vão sendo revisitadas”, explica.
O facto de continuar dentro de histórias daquela altura é importante ainda hoje. Para Yu Hua, o problema que se levanta na actualidade é o facto de “os mais novos não saberem nada do que se passou na Revolução Cultural”. O autor sublinha que os tempos e acontecimentos que marcam a história recente da China estão a ser apagados
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NEWBORN - 10 DIAS NO KOSOVO • Amadora BD 2011 - Prémio Juventude / Prémio Melhor Desenho de Autor Português de Ricardo Cabral “O Kosovo do Ricardo não é o mesmo país que encontramos nas notícias e nos títulos dos principais órgãos de comunicação ou nos relatórios e telegramas diplomáticos de Bruxelas, Nova Iorque, Moscovo e Washington. Munido de lápis e câmara fotográfica, Ricardo vê para lá da superficialidade do estereótipo político, e capta a vida linda que as pessoas comuns levam no seu dia-a-dia.”
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CIAS
hoje macau sexta-feira 17.3.2017
s livres
Lu Xun. Na altura era um autor de que não gostava. Obrigado o recitar o poeta chinês que não entendia, Lu Xun só mais tarde regressou à vida de Yu Hua e participou das suas referências fundamentais. Após os anos conturbados na década de 1950, deram entrada na China vários livros e com eles os “três mestres” de Yu Hua. “O meu primeiro professor foi o escritor japonês Yasunari Kawabata.” Com a leitura do autor nipónico, Yu Hua sentiu que se estava a afastar de si mesmo. “Mais tarde senti-me preso por ele, estava a imitá-lo e não estava a ser eu. Foi quando em 1996 encontrei Kafka. Salvou-me a vida”, recorda. Não é que tenha aprendido a escrever com o autor checo. Mais que isso, foi Kafka que ensinou a liberdade da escrita a Yu Hua. “Percebi que podia escrever o que me apetecesse. Kafka deu-me o direito e as asas da liberdade.” O terceiro professor foi William Faulkner, o autor que lhe “educou os sentimentos”. A literatura ocidental constitui o instrumento da sua escrita e, sem a sua presença, muitos dos seus livros nunca teriam existido, admite. Os clássicos são imperdíveis, até porque acompanham a escrita, mesmo que de forma subliminar. Tolstoi é um exemplo de referência. Yu Hu, apesar de ateu, não deixa de mencionar a Bíblia como referência maior porque, considera, “é o melhor livro do mundo”.
MACAU NUMA PALAVRA
e que é precisamente essa a intenção das autoridades. “O Governo Central é o primeiro a proibir a discussão das coisas. No ano passado, na altura do aniversário da Revolução, pensei que fosse feito algum festejo, mas tal não aconteceu, não vi nada. A informação na Internet acerca da Revolução Cultural estava completamente bloqueada”, ilustra. Yu Hua considera que o comportamento dos dirigentes, 50 anos depois, está a dar resultados porque “os jovens não sabem nada e nem se preocupam em saber”. Na sua opinião, a situação é perigosa e a história precisa de ser recordada para que se evitem repetições. “Hoje em dia, a Revolução Cultural aparece no dia-a-dia das pessoas como se fosse a dinastia Qing, está muito distante.” Ainda assim, entende que é um período
da história da China que vai deixar um rasto para sempre.
KAFKA, SALVA-VIDAS
Não é fácil escolher as obras que conseguiu ler durante a juventude e que lhe marcaram o rumo literário. Mas “havia uma cópia impressa de um livro de Alexandre Dumas, na altura banido”. As opções eram limitadas e só podia ler
“Hoje em dia, a Revolução Cultural aparece no dia-adia das pessoas como se fosse a dinastia Qing, está muito distante.”
Se Yu Hua escolhesse uma palavra para Macau, dentro da lógica do livro “A China em Dez Palavras”, seria a “ignorância”. O termo, explica, deve-se ao facto de não conhecer o território. No entanto, não deixa de anotar as mudanças, nem sempre muito positivas, que constata. Numa visita em 1996, recorda, Macau era mais limpo. “Lembro-me de passear de carro perto do mar e a água era limpa. Na altura, pensei que Macau fosse muito asseado”, diz. A ideia agora é outra. Sente-se a poluição e, “não estando como Pequim, aproxima-se desse estado”, lamenta. Sofia Margarida Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
O
“
Cinema, Manoel de Oliveira e Eu”, de João Botelho, e “Colo”, de Teresa Villaverde, integram o Festival Internacional de Cinema de Hong Kong, com os brasileiros “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, e “Corpo Eléctrico”, de Marcelo Caetano. Mais de 230 filmes, incluindo cinco estreias mundiais, oito internacionais e 56 asiáticas, de 65 países e territórios, vão ser exibidos durante o Festival Internacional de Cinema de Hong Kong (HKIFF, na sigla inglesa), que vai decorrer entre 11 e 25 de Abril. O documentário “O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu”, no qual o realizador João Botelho revela a admiração pela obra e a relação com o cineasta, vai ser exibido a 16 e 21 de Abril, depois de se ter estreado nas salas de cinema em Outubro, e de ter marcado presença no festival IndieLisboa e em Locarno. O cinema sobre Manoel Oliveira, que faleceu em 2015 aos 106 anos, parece cativar o HKIFF que, na edição do ano passado, incluiu “Visita ou Memórias e Confissões”, um filme biográfico que o cineasta rodou nos anos 1980 e pediu para só ser mostrado após a sua morte. “Colo”, de Teresa Villaverde, um filme sobre uma geração desamparada que não soube reagir à crise, que se estreou, em Fevereiro, no festival de Berlim, vai ser exibido a 13 e 19 de Abril.
EVENTOS
Cinema na nossa língua aqui ao lado Portugal e Brasil em festival de Hong Kong A presença portuguesa completa-se com a realizadora Salomé Lamas, seleccionada para a competição de curtas-metragens do HKIFF com “Coup de Grâce”, que esteve na ‘luta’ pelo Urso de Ouro da categoria no Festival de Cinema de Berlim. Na mesma secção participa “A moça que dançou com o diabo”, do realizador brasileiro João Paulo Miranda Maria. Na edição anterior do Festival Internacional de Cinema de Hong Kong, o prémio de melhor curta-metragem foi atribuído a “Balada de um Batráquio”, de Leonor Teles. Do Brasil, destaque para o filme “Aquarius”, que o realizador Kléber Mendonça Filho filmou com a actriz Sônia Braga sobre memória, persistência e vida na cidade, que, aliás, se estreou ontem nas salas de cinemas portuguesas. O cinema brasileiro está ainda representado por “Corpo Eléctrico”, de Marcelo Caetano, com exibições a 13 e 24 de Abril, e por “Rifle”, a primeira longa-metragem de ficção de Davi Pretto, a 17 e 25 do próximo mês. Na programação do HKIFF figura ainda “Porto”, longa-metragem do realizador brasileiro Gabe Klinger, roda-
da em 2015 e co-produzida por Portugal, e o filme “A Morte de Luís XIV”, do espanhol Albert Serra, também rodado em Portugal.
NÚMEROS REDONDOS
O 41.º Festival Internacional de Cinema de Hong Kong abre com o filme “Love off the Cuff”, do cineasta de Hong Kong Pang Ho-Cheung, e encerra com a película “mon mon mon Monsters!”, do taiwanês Giddens Ko, ambos em estreia mundial. Pang Ho-Cheung realizou “Isabella”, um filme que decorre no período da transferência de administração de Portugal para a China, em 1999, cuja banda sonora – influenciada pela música portuguesa, particularmente pelo fado – recebeu o Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim em 2006. O HKIFF vai assinalar o 20.º aniversário da transferência de Hong Kong do Reino Unido para a China com um programa especial, com entrada livre, intitulado “Mudança de Paradigma: O Cinema de Hong Kong no pós-1997”, que inclui a exibição de 20 filmes considerados representativos do cinema local das últimas duas décadas. O 10.º aniversário da morte do realizador chinês Edward Yang também não vai passar em branco, estando prevista uma retrospectiva de sete filmes, com a exibição a ser acompanhada pela presença da sua mulher, Kaili Peng, e do seu parceiro criativo de longa data, Hsiao Yeh. Vários realizadores reputados internacionalmente vão visitar Hong Kong, como Olivier Assayas, vencedor do prémio de melhor realizador no Festival de Cannes do ano passado, que irá apresentar “Personal Shopper”, ou a realizadora polaca Agnieszka Holland, premiada em Berlim com o filme “Spoor”. Fundado em 1976, o HKIFF é o mais antigo festival de cinema da Ásia.
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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José Simões Morais
Marquês por coincidência de apelido A
O escrever sobre um macaense, logo os seus apelidos mostram uma teia de casamentos que nos obriga, para dar um enredo coerente, a desmultiplicar as pesquisas por uma série de gerações e famílias. Assim, como a maior parte delas tem parentescos entre si, não faltará em Macau, por muito que custe, quem seja familiar de Albino Francisco de Paiva de Araújo (1824-1872). O Padre Manuel Teixeira refere, “Era filho de Mariana Vicência de Paiva, de raízes beirãs, e de Albino Gonçalves de Araújo, de raízes brasileiras. A sua genealogia entronca com macaenses ilustres, oficiais do Exército e da Armada” e sobretudo ligadas ao comércio, sendo nessa altura o ópio a mercadoria mais importante e de maior valor, que levou nos séculos XVIII e XIX ao enriquecimento dos muitos europeus a viver em Macau. A mãe, Mariana Vicência nascera a 22-7-1802 na “Cidade do Santo Nome de Deus”, sendo filha de Inácia Vicência e de Francisco José de Paiva. O pai do nosso biografado era Albino Gonçalves de Araújo, natural do Rio de Janeiro, Brasil, da freguesia de Nossa Senhora de Candelária, (e segundo Jorge Forjaz nascera em 1797), vindo a falecer em Macau a 24 de Janeiro de 1842, sendo filho de José Gonçalves de Araújo, natural da Ribeira da Pena e de Ana Francisca de Araújo, nascida em Rio Pardo, Rio Grande do Sul, Brasil. Albino José Gonçalves Araújo foi inspector encarregado da aferição dos pesos e medidas e da taxação dos géneros alimentícios, o “almotacé da Câmara em 1824 e irmão da Santa Casa da Misericórdia, eleito a 9 de Abril de 1829” e “era proprietário do navio Conde de Rio Pardo, que fazia viagens para o Rio e Lisboa. Deixou uma grande fortuna, que foi depois criteriosamente administrada e aumentada por sua mulher”, D. Mariana Vicência de Paiva, com quem se casara “no oratório das casas de seu sogro (freguesia de S. Lourenço) a 7 de Novembro de 1823”, segundo Jorge Forjaz quando fala da família Araújo, mas, ao tratar sobre os Paiva refere a data de 8 de Janeiro de 1823. Já o Padre Manuel Teixeira indica que a 7 de Janeiro de 1823 foram casados pelo Frei João de Sto. António, O.F.M., comissário da Terra Santa e Vigário de S. Lourenço, tendo como testemu-
Videira Pires refere que Domingos Marques “foi Fidalgo da Casa Real, com brasão de armas, irmão de Marques de Távora, no reinado de D. José I” e daí a nota que Jorge Forjaz dá do testemunho de Alberto Alemão, que diz, “Domingos Marques era estribeiro-mor do Duque de Aveiro e foi envolvido também no caso dos Távoras, tendo chegado a ser interrogado e preso”. (...) “Teria cerca de 28 anos quando se deu o célebre atentado [1758] contra o Rei D. José, que originou a terrível perseguição aos Távoras...”
A FAMÍLIA RIBEIRO GUIMARÃES
Albino Francisco de Araújo de Paiva
nhas o conselheiro Manuel Pereira e o comendador Domingos Pio Marques.
AS FAMÍLIAS PAIVA E MARQUES
A mãe do nosso biografado, Mariana Vicência de Paiva nasceu na freguesia de S. Lourenço em Macau a 22-7-1802, segundo o P. Manuel Teixeira, enquanto Jorge Forjaz indica o dia 21, sendo baptizada aos 28 desse mês e morreu no Porto, na Rua de Santa Isabel a 26 de Maio de 1885. Era ela filha legítima de Francisco José de Paiva e de Inácia Vicência Marques, duas das mais influentes famílias de Macau, que enriqueceram com o comércio marítimo. Ambas, os Paiva e os Marques, eram provenientes do lugar de Vila do Mato, freguesia de Midões, concelho de Tábua, Beira Alta e o pai de Inácia Vicência, Domingos Marques chegara a Macau por volta de 1760. Sendo Francisco José de Paiva, o marido de Inácia Vicência, também nascido na
Não faltará em Macau, por muito que custe, quem seja familiar de Albino Francisco de Paiva de Araújo (1824-1872)
mesma localidade (lugar Vila do Mato), parece ter chegado a Macau chamado por Domingos Marques. Assim Francisco José de Paiva, nascido c.1758, viera para Macau por volta de 1780 e casou-se na Sé a 24 de Novembro de 1795 com Inácia Vicência Marques. Foi comendador da Ordem de Cristo e faleceu a 27 de Novembro de 1822, ficando sepultado na Igreja de S. Francisco. E continuando com as informações de Jorge Forjaz, “Depois da sua morte a sua firma passou a denominar-se Viúva Paiva & Filhos e tinha escritórios em Cantão, que eram dirigidos por Joaquim José Ferreira Veiga”. Inácia Vicência Marques, avó pelo lado materno de Albino Francisco de Paiva de Araújo, era filha de Domingos Marques e de Maria Ribeiro Guimarães, natural de Macau. Domingos Marques, que faleceu em Macau a 12 de Janeiro de 1787, “foi procurador do Senado em 1768, 1783 e 1784 e exerceu ainda os cargos de escrivão do Leal Senado e de juiz e administrador da Alfândega. Em 1774 foi eleito almotacé da Câmara. Deve ter-se dedicado ao comércio, onde certamente realizou capitais substanciais, pois foi proprietário do Mato do Bom Jesus e deixou à Santa Casa da Misericórdia o importante legado de 1015 taéis”, segundo Jorge Forjaz. Já Benjamim
Domingos Marques teve seis filhos de Maria Ribeiro Guimarães, cujo pai era João Ribeiro Guimarães, provedor da Sta. Casa em 1753, sendo tesoureiro e procurador do Senado, quando a 27 de Fevereiro de 1773 foi preso, por ter passado aos mandarins chineses uns recibos para se lhes fazer entrega do inglês Francis Scot, acusado de ter assassinado um chinês. Segundo Jorge Forjaz, João Ribeiro Guimarães nascera em S. Miguel de Freixomil em Braga e era um “rico negociante e proprietário de navios em Macau. Foi procurador do Leal Senado em 1755, 1765 e 1782; almotacé da Câmara em 1763 e provedor da Santa Casa da Misericórdia em 1769”. Este casou-se por duas vezes, tendo da sua primeira esposa, Inácia de Oliveira Paiva, duas filhas, Mariana Francisca Guimarães e Maria Ribeiro Guimarães, que mais tarde aparece com o nome de Maria Francisca dos Anjos Ribeiro Guimarães. Refere Jorge Forjaz, “Há aqui uma qualquer mistificação genealógica que não consigo deslindar. Refiro-me ao facto de um neto deste casal (Domingos Pio Marques de Noronha e Castelo-Branco), no processo de justificação de nobreza que levou à concessão de armas, ter afirmado que a sua avó Maria Ribeiro Guimarães, se chamava... Maria Francisca dos Anjos Ribeiro Guimarães de Noronha e Castelo Branco, conseguindo com isso que lhe fossem concedidos armas destes dois últimos apelidos. Como naquele processo de justificação não provou como é que a avó tinha direito àqueles apelidos (o que, pelos dados disponíveis, não parece crível), estou em crer que estaremos perante uma qualquer tentativa de corrigir a história... <ad usum delfini>! História diferente da nossa personagem principal, Albino Francisco de Paiva de Araújo, que em Paris se tornou marquês por coincidência de apelido.
15 hoje macau sexta-feira 17.3.2017
em modo de perguntar
Paulo José Miranda
Cláudia R. Sampaio
“A poesia requer sempre um silêncio” Tens três livros de poesia publicados: Os Dias Da Corja (Do Lado Esquerdo, 2014), A Primeira Urina Da Manhã (Douda Correria, 2015) e Ver No Escuro (Tinta da China, 2016), sentes que são livros estanques, com estéticas e propósitos literários distintos ou há uma continuidade entre eles, tanto ao nível temático quanto estético? A nível temático acho que há uma continuidade. Os meus livros falam muito de perda, solidão e de uma barreira que está sempre quase a ser ultrapassada além-limite. Quanto à forma, sinto que mudei um pouco, há uma evolução, fui-me descobrindo. Escreveste, não sei se ainda escreves, roteiros de telenovelas. Achas que isso te marca negativamente perante a crítica ou perante a maioria dos leitores de poesia. Ou hoje em dia os leitores de poesia separam com mais facilidade a poesia do que se tem de fazer para ganhar a vida? A crítica não me preocupa e nem sequer penso se isso marca negativamente a opinião que podem ter acerca da minha poesia. São coisas tão distintas que acho que não se pode confundir um trabalho que não dependia de mim com aquilo que realmente sou e que atravessa o que escrevo. Acho que as pessoas que me rodeiam pensam o mesmo. Participas num grupo de leitura de poesia e música, Belos, Recatados e do Bar, juntamente com o músico Pedro Moura, o poeta José Anjos, o escritor Valério Romão e o filósofo António de Castro Caeiro. Gostas de ler poesia em público, ou para ti só faz sentido num projecto como esse que vocês têm? E como nasceu essa ideia? Os Belos, Recatados e do Bar já existiam antes de eu e o Pedro Moura fazermos parte do grupo. Um dia convidei-os para lerem no meu café literário Folhas d’Erva (que entretanto já encerrou) e eles insistiram para que eu também me juntasse à leitura e para que o Pedro tocasse. Correu tão bem que a partir daí já não nos separámos. Gosto de ler poesia em público porque é uma coisa esporádica e que nesses momentos me dá bastante prazer. Há outros momentos em que só me faz sentido ler aqueles mesmos poemas quando estou sozinha. A poesia requer sempre um silêncio. Mas
ao ler em público há uma partilha com o outro, acabamos por despertar a atenção para certos poemas e muitas vezes é uma maneira de os darmos a conhecer. Em pouco tempo de publicação, desde 2014, parece-me que tens tido um reconhecimento bastante bom por parte da critica e do público? Concordas? Não sei. Houve sim uma maior visibilidade com o Ver no Escuro (Tinta-da-China) e,
“O que sinto é que as pessoas se interessaram novamente por poesia, mesmo as gerações mais jovens, e estão a deixar de lado o estigma de que a poesia é uma coisa lamechas para gente triste.”
por consequência, acabei por ter mais retorno quanto à opinião de leitores que gostaram muito e que me enviam mensagens via Facebook a agradecer por tê-lo escrito, o que me deixa sempre num misto de surpresa e de contentamento. Entendes que a poesia hoje em Portugal atravessa um bom momento? Sim, sem dúvida. O que sinto é que as pessoas se interessaram novamente por poesia, mesmo as gerações mais jovens, e estão a deixar de lado o estigma de que a poesia é uma coisa lamechas para gente triste. Basta ver a sala cheia de caras novas num evento de poesia para perceber isso. Também há cada vez mais gente a escrever e mais editoras interessadas em publicar novos poetas, o que é sempre bom. Desde que isto tudo não faça da poesia um espectáculo oco de variedades, acho belíssimo. Que projectos tens para este ano, ou intenções?
“Há cada vez mais gente a escrever e mais editoras interessadas em publicar novos poetas, o que é sempre bom. Desde que isto tudo não faça da poesia um espectáculo oco de variedades.” Tenho um livro pronto, já com editora e que sairá em breve. A única coisa que está a atrasar o processo é a falta de título, o meu eterno calcanhar de Aquiles. Entretanto já comecei a escrever outro livro, que é uma espécie de história-poema-longo e que terá uma banda sonora do Mário Fonseca, em piano. A ideia é, para além de publicar o livro acompanhado de cd, fazermos espectáculos ao vivo. Também gostava de conseguir arranjar um trabalho.
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hoje macau sexta-feira 17.3.2017
17 hoje macau sexta-feira 17.3.2017
LIGA DE ELITE
A
DESPORTO
ANTEVISÃO da jornada por João Maria Pegado
Pontos pela sobrevivência
oitava jornada da Liga Elite tem um calendário com jogos muito interessantes, dos quais deverão resultar confrontos bastante equilibrados e emotivos. O destaque da análise desta jornada vai para a luta entre as equipas do final da tabela. Sporting Macau Vs Development Team, sexta-feira às 21:00h no Estádio da Taipa - um jogo em que ambas as equipas estão proibidas de perder pontos, sob o risco de verem um adversário directo na luta pela permanência afastar-se. Depois de ter estado três épocas consecutivas a disputar o campeonato, conseguindo manter-se entre os lugares cimeiros da tabela, o Sporting De Macau esta temporada, após uma mudança de Direcção e com o fim da ligação ao seu patrocinador das últimas quatro temporadas, esteve inclusivamente em risco de não participar no presente campeonato. A poucos dias do começo do mesmo, foi anunciado que os leões iriam participar, mas desta vez com uma mudança de política interna. A aposta em jovens locais passou a ser o rumo a seguir. Pode dizer-se que esta aposta tem tido resultado, visto ter-se começado a ver alguns jogadores com potencial, dos quais se destacam o avançado Tony Lopes e o lateral esquerdo Roy Fong. Após as primeiras jornadas onde a equipa defrontou equipas do top 5 da tabela onde coleccionou derrotas, que podem ser consideradas normais, mas onde igualmente mostrou uma boa imagem, excepto contra o Kei Lun. Frente a equipas do seu campeonato a história tem sido outra, com excepção da derrota no último minuto frente ao KA I, a equipa orientada por Nuno Capela tem conseguido pontuar sempre. Com isto espera-se um Sporting dominador na maior parte do jogo, visto ter jogadores mais rodados na primeira liga do que o seu oponente. Posto isto, só um resultado se impõe: a vitória. A equipa da associação tem vindo a subir de qualidade, tendo mesmo conquistado os 4 pontos que tem de momento nos últimos três jogos, conseguindo inclusive a vitória no último encontro frente ao Lai Chi que, como o Sporting, é um adversário directo na fuga aos últimos lugares. Por isso estará neste jogo motivada
com este excelente resultado e vai querer contrariar esse favoritismo de domínio de jogo do Sporting e é sabido o quanto estes jovens gostam de jogar contra os Leões do território. Excelente jogo em perspectiva no estádio da Taipa. Na tabela classificativa neste momento os verde e branco estão no 9º lugar com 3 pontos, a um ponto da Development Team que se situa acima da linha de água em 8º com 4 pontos. De referir que o Sporting tem
neste momento um jogo a menos, devido ao caso ‘Juninho’,no qual a Associação de Futebol de Macau tirou o ponto no empate, a 1 golo, entre Lai Chi e Sporting. Até haver uma decisão sobre o caso, estas equipas ficarão sem o jogo disputado.
JOGOS INTERESSANTES
No sábado, a jornada começa às 18:30h com o KA I vs Lai Chi. A equipa dos velozes terá que pontuar para tentar ganhar pontos, tanto ao
Sporting como à equipa da associação, que se defrontam entre si. Não vão ter tarefa fácil, já que o KA I está a demonstrar o seu melhor futebol da época. Após o reforçar a equipa durante o campeonato e o regresso em pleno de William Carlos Gomes, o KA I tem estado em bom plano. Às 20:30h defrontam-se CPK e Polícia. O onze de Inacio Hui quer voltar às vitórias depois da derrota frente ao Benfica e para tal terá que levar de vencido o conjunto
CLASSIFICAÇÃO Equipas
P
V
E
D
GM
GS
DiF
Pontos
1
BENFICA
7
6
1
0
36
2
34
19
2
MONTE CARLO
7
6
0
1
22
11
11
18
3
C.P.K.
7
5
0
2
18
8
10
15
4
KEI LUN
7
4
1
2
22
13
9
13
5
CHING FUNG
7
2
4
1
12
10
2
10
6
TAK CHUN KA I
7
2
1
4
9
17
-8
7
7
POLICIA
7
2
1
4
5
14
-9
7
8
DEVELOPMENT
7
1
1
5
8
26
-18
4
9
SPORTING
6
1
0
5
5
15
-10
3
6
0
1
5
2
23
-21
1
10 LAI CHI
da Polícia, uma equipa sempre complicada de bater, que conta no seu plantel com Chon Kit, guarda redes que se tem destacado mais neste início de campeonato com grandes exibições entre os postes.
DOMINGO.
Às 18:30h temos um Benfica Vs Kei Lun. Jogo onde o favorito será sempre o Benfica, mas atenção a esta equipa de Josi Cler. O Kei Lun possui um meio campo experiente, comandado por Silva e na frente muita fantasia, onde Taylor Gomes tem estado em evidência. No entanto, nota-se a falta de um guarda-redes que dê mais consistência defensiva. Julgo, no entanto que, com maior ou menor dificuldade, os encarnados irão resolver os problemas impostos pelo seu opositor, mas terão que jogar no mesmo nível de intensidade que a equipa do Kei Lun, logo desde o início, pois poderão ser surpreendidos. Por último Monte Carlo Vs Cheng Fung (20:30), onde os golos aparecerão com certeza. Duas equipas que gostam de jogar ao ataque e que dispõem de grande executantes nessa fase do jogo. Destaque para Neto no Monte Carlo e Ronieli no Cheng Fung.
18 OPINIÃO
hoje macau sexta-feira 17.3.2017
“The triple bottom line (TBL) thus consists of three Ps: profit, people and planet. It aims to measure the financial, social and environmental performance of the corporation over a period of time. Only a company that produces a TBL is taking account of the full cost involved in doing business. In some senses the TBL is a particular manifestation of the balanced scorecard. Behind it lies the same fundamental principle: what you measure is what you get, because what you measure is what you are likely to pay attention to. Only when companies measure their social and environmental impact will we have socially and environmentally responsible organisations.” The Economist Guide to Management Ideas and Gurus Tim Hindle
JAMES CAMERON, AVATAR
O crescimento
O
grande tema revisitado do capitalismo nos velhos países industrializados, é reduzir os funcionários, aumentar o impacto da tecnologia e percentagem das pessoas idosas, sem um rendimento que lhes permita uma vida digna, o que por si deve ser a mola suficiente para promover um plano de reformas ao capitalismo, que faça que a economia crescer de forma sustentável. O historiador inglês, Eric Hobsbawm, no seu livro “The Age of Extremes: The Short Twentieth Century, 1914 -1991”, referia-se à história do século XX, como sendo o século curto, porque tinha começado em 1914, com a I Guerra Mundial e terminado em 1989, com o colapso da União Soviética. Afirmava Hobsbawm que a versão oposta à soviética também estava falida, pois a fé teológica em uma economia que afectava totalmente os recursos à economia, através de um mercado sem restrições, em uma situação de concorrência ilimitada; um estado de coisas que se acreditava que não só produzia o máximo de bens e serviços, mas também o auge de felicidade era o único tipo de sociedade que merecia o epíteto de livre. Os seus críticos reagiram imediatamente, considerando uma vingança do velho marxista, aludindo ao pensamento político do historiador. Passados mais de vinte anos, damos conta que o capítulo desse livro intitulado de “Rumo ao milénio”, tem alusões proféticas, e que teria sido excelente ter levado em consideração. O livro assinala os problemas fundamentais da actualidade, como o demográfico e o ecológico. Era essencial determinar como alimentar-se-ia uma população mundial dez anos maior em número, com cerca de nove a dez mil milhões de pessoas em 2050, sabendo que um quinto será de idosos, ou seja, cerca de dois mil milhões de pessoas. Os países ricos enfrentarão a imigração em massa, que iriam causar graves problemas políticos internos, o que soa familiar, ou munir-se de barricadas inúteis para protegerem-se dos imigrantes.
Quanto aos problemas ecológicos entendia como cruciais, mas não tão explosivos a curto prazo. Se o indicador de crescimento económico se mantivesse indefinidamente nos níveis da segunda metade do século passado, teria consequências irreversíveis e catastróficas para o ambiente natural do planeta. O que obrigaria a ter uma política ecológica radical e realista por sua vez. Tudo o que reforça o conceito de economia sustentável é ferramenta importante para a abertura do caminho almejado. Enquanto isso, o progresso tecnológico incessante continuou a deslocar e a transformar empregos. A globalização fez mudar as indústrias do centro para a periferia à procura de custos mais baixos e enfraqueceu mecanismos estatais para gerir as consequências sociais dos novos processos económicos e houve uma enorme transferência de indústrias procurando mão-de-obra barata, desde os países mais ricos aos mais pobres, com todas as suas indesejáveis consequências sociais. O mesmo ocorreu, também, no interior de cada país rico e esta é uma boa explicação para entender a reacção dos ingleses ao votar a saída da Grã-Bretanha da União
Europeia (UE). Até agora não existia nenhuma ameaça credível que impulsionasse o capitalismo e os seus principais actores, a procurar reformas rápidas e eficientes e em certa medida, o Brexit, ou abandono britânico da UE, pode comparar-se com a queda da União Soviética, não importando apenas o que aconteça no Reino Unido, pois mais grave seria a fractura e a desintegração do velho projecto de unidade continental. As organizações supranacionais enfraqueceram a noção de Estado-Nação, mas também o fizeram as forças internas com movimentos autonómicos, como a Escócia na Grã-Bretanha, ou a Catalunha em Espanha. O que se divisa com claridade, é que muitas pessoas não estão de acordo com a globalização, porque não entendem a sua utilidade ou conveniência na sua vida diária. Sentem-se assustadas pelos avisos, acrescidos de ameaças, e sobretudo, estão com ira. É o que se observa no momento de votarem, e com transparência afirmam, que votam contra as elites dirigentes, governantes, teóricos, empresários e em especial bancos que os submetem a uma vida pior que a prometida, e para se libertarem sentem necessidade de
resgatar o poder entregue a essas elites, ainda que seja, para cair nas mãos de uma nova burocracia. A situação real observada apresenta matizes graves do jogo perigoso político e societário em este momento da história. Os autores e consultores defendem que as empresas devem assumir a liderança de uma das batalhas mais concretas que se tem travado em matéria de protecção ambiental. Não é uma opinião unânime. Muitos críticos defendem que não é uma boa estratégia, pôr a raposa em frente do galinheiro, pois o que dizem, e existe alguma razão é de que não se pode omitir o facto de a história revelar os danos e negligências das empresas em matéria ambiental. Há que fazer muito mais e rapidamente para alterar essas práticas prejudiciais. É certo que pela primeira vez, os países se uniram com solenidade, para atingirem metas como as de travar ou reverter a deterioração climática e combater o efeito dos gases de estufa, que o Presidente Donald Trump afirma serem de mera falácia, apregoando o abandono do Acordo de Paris pelos Estados Unidos. Todavia, existe um longo caminho a percorrer das palavras às acções, mesmo
19 hoje macau sexta-feira 17.3.2017
OPINIÃO perspectivas
JORGE RODRIGUES SIMÃO
sustentável
com os prazos a reduzir. Os principais países em processo de industrialização aderem às metas de modo estridente, mas pouco fazem para as cumprir. Primeiro, querem obter um nível de desenvolvimento que detém os países industrializados. Até há pouco tempo as preocupações conservacionistas eram cheias de boas intenções. O sociólogo inglês John Elkington introduziu o conceito de “Triple Bottom Line (TBL)”, pela primeira vez, em 1994, e usado mais tarde no seu livro “Cannibals With Forks: The Triple Bottom Line Of 21st Century Business,” publicado em 1997, demonstrando como todas as empresas podem e devem ajudar a sociedade a alcançar três objectivos interligados, que são a prosperidade económica, protecção ambiental e equidade social, questões que estão no topo da agenda corporativa. O TBL mede o grau de responsabilidade social de uma empresa, o seu valor económico e o impacto ambiental. O desafio é representado pela dificuldade de medir os objectivos social e ambiental, o que exige que os três objectivos sejam avaliados pelos seus méritos. O empresário alemão Jochen Zeitz, que usa a sua fortuna para alterar as opiniões mundiais
sobre as alterações climáticas, publicou o primeiro relatório no âmbito do TBL concluindo que para realizar uma economia sustentável, os líderes das empresas devem assumir os três objectivos definidos como metas. O livro “The Breakthrough Challenge: 10 Ways to Connect Today’s Profits with Tomorrow’s Bottom Line”, que tem como autores John Elkington e Jochen Zeitz, publicado em 2015, defende a ideia de que o ataque crescente à globalização, o maior poder das
O novo cenário é definido pelo trabalho de cinco tendências globais, como os avanços tecnológicos, alterações na demografia, ciclos económicos globais, urbanização, escassez de recursos e alterações climáticas
empresas multinacionais e a incidência de uma recessão generalizada tornam mais difícil a acção dos governos. O argumento tem sentido. Se há catástrofes naturais e deterioração do ambiente e, se as pessoas não têm emprego e não tem recursos, e se o sistema financeiro entra em colapso, estão em sério perigo os lucros das empresas. As empresas devem tentar, pelo menos, uma economia sustentável não pela filantropia, mas na procura dos seus interesses. Todavia, em momento algum subestimam os referidos autores, o esforço a realizar. Os trabalhos pendentes incluem o impulso de novas estruturas como as Empresas B que reinvestem todos os seus lucros no crescimento da firma, princípios contáveis sólidos e verdadeiros, cálculo real dos verdadeiros retornos, alcançar benefícios no plano humano, social e do planeta, eliminação de subsídios ou incentivos com efeitos destrutivos, transparência plena, alterar a forma como se educam e formam os líderes empresariais do futuro e eliminar o curto prazo. Esses são os requisitos a cumprir. O uso generalizado das mídias sociais e da análise de dados torna cada vez mais fácil seguir e observar o comportamento de uma empresa.
A grande parte das pessoas declara que suportam as suas decisões de compra neste tipo de informação que recolhem, e que é designado por “transparência radical”, conforme alcunhou Allen Hammond, um dos ex-Chefe do Departamento de Comunicação do World Resources Institute. A informação obtida na Internet permitiria aos ambientalistas procurar maiores padrões éticos das empresas, mas tudo indica que a grande alteração não é a nova ferramenta que dispõem os activistas para exercer maior pressão. É especialmente efectiva entre os clientes e compradores, sobretudo, os geracionalmente que fazem parte da geração do milénio, ou seja, os nascidos entre 1980 e 2000. A expectativa dos consumidores é de que as marcas sejam totalmente transparentes nas suas práticas comerciais, pois fazem um uso intenso das mídias sociais, permitindo que um potencial cliente se torne amigo da marca, e a expectativa é que a marca se comporte como uma amiga. Este novo conceito de “transparência radical”, onde todos sabem tudo, o que todos fazem, apresenta uma dificuldade, pois existem muitas empresas que não estão preparadas para fazer as alterações que esta nova situação exige. As empresas que prefiram ganhar confiança junto dos seus clientes, têm que aceitar e facilitar o escrutínio público, que é algo mais que melhorar as práticas habituais. É mostrar sem reservas o que ocorre dentro da empresa. A economia global, começa lentamente a recuperar e a melhorar, em algumas áreas geográficas, de forma mais clara que outras, pois durante a recessão, a situação válida foi sobreviver. A atenção, actualmente, concentra-se no crescimento, um motor moldado por forças externas com capacidade para transformar a sociedade e os negócios. O novo cenário é definido pelo trabalho de cinco tendências globais, como os avanços tecnológicos, alterações na demografia, ciclos económicos globais, urbanização, escassez de recursos e alterações climáticas. O impacto que podem ter essas tendências está a mudar de forma drástica as expectativas que a sociedade tem sobre o mundo dos negócios. Quando uma empresa funciona de forma coerente com essas tendências, adquire fiabilidade que é a base de toda a relação e transacção em qualquer mercado. É como se adquire a famosa licença para exercer a actividade. O curto prazo por mais tentador que seja, não funciona. Não existe medicação para se voltar ao inicio e todos os líderes empresariais devem concentrar-se no TBL. É essencial saber que a forma de fazer negócios incide sobre o nível de utilidades, a comunidade onde está inserida e o impacto sobre o ambiente e planeta, apesar de nos últimos anos, as sondagens terem revelado que aumentou de forma sustentável a fé e confiança que o público tem nas empresas, e muitos líderes do sector continuam empenhados em reduzir o que entendem como sendo a ausência da verdade.
20 OPINIÃO
hoje macau sexta-feira 17.3.2017
um grito no deserto
JOHN WOO, A BETTER TOMORROW
17 de Setembro
P
ORQUE é que o dia 17 de Setembro vai ser uma data importante? Porque é o dia em que os residentes de Macau vão ser chamados às urnas para eleger os deputados da 6ª. Assembleia Legislativa. Esta data esteve também na origem da demissão de Jason Chao da vice-presidência da Associação de Novo Macau e da sua saída de membro deste grupo político. Jason não se vai candidatar à Assembleia, mas pretende monitorizar o processo eleitoral como independente para impedir irregularidades como subornos, intimação ou coerção dos eleitores, troca de favores, compra e venda de votos etc., e garantir que esta eleição venha a ser verdadeiramente equitativa, justa, transparente e integra. A monitorização não pode ser apenas efectuada pela Comissão de
Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa e não se pode esperar que os grupos que se candidatam tenham auto-disciplina suficiente. Os gastos de cada candidatura têm um tecto de 3,5 milhões, uma soma elevadíssima para candidatos sem grandes meios financeiros, mas que para os ricos e poderosos não passa de uma gota de água no oceano. Muitos deles terão gasto bem mais que este valor antes do início da campanha eleitoral. Os alvos da monitorização de Jason também incluem os candidatos da Associação de Novo Macau. Foi por este motivo que se demitiu, para garantir que a sua avaliação venha a ser equitativa e justa.
Só podemos esperar da população de Macau uma atitude pró-activa e um voto massivo que diga “NÃO” à corrupção eleitoral
Se alguém afirmar que não houve corrupção nos anteriores processos eleitorais para a Assembleia não passa de um mentiroso. Se por outro lado alguém acreditar nesta afirmação não passa de um idiota! A Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa já teve ocasião de convocar uma reunião com representantes dos media para os sensibilizar para uma certa disciplina no tratamento dos candidatos. Pede-se que façam a cobertura de todas as campanhas de forma equitativa, objectiva e justa. Os membros da Comissão têm vindo a sublinhar que durante o período eleitoral os media só podem cobrir as campanhas relatando as actividades desenvolvidas pelos candidatos, abstendo-se de fazer propaganda a favor de qualquer um deles. Infelizmente, alguns órgãos de comunicação social promovem candidatos potenciais trazendo-os constantemente para as luzes da ribalta. Saliente-se, no entanto, que representantes dos jornais de língua portuguesa tentaram informar-se junto da Comissão sobre os procedimentos a adoptar e não receberam qualquer resposta satisfatória sobre o assunto. Por este motivo, a monitorização independente do processo eleitoral para a Assembleia torna-se cada vez mais necessária. Mas não são só os media locais que estão interessados na demissão de Jason. Os jornalistas da China continental estão a seguir-lhe os passos de perto, devido à singularidade da sua personalidade no panorama do movimento social de Macau e à originalidade do seu pensamento e da sua acção. Em 2013, dos três grupos que se candidataram às Legislativas pela Associação de Novo Macau, só o que era liderado por Jason causou preocupação às autoridades locais, apreensão que as levou a tentar diminuir a sua influência. Podemos afirmar que, dos democratas de Macau, Jason é o único que se mantém fiel ao seu ideal e que nunca coloca os seus interesses pessoais no prato da balança. Quanto à questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo defendo uma posição diferente da de Jason, mas, no entanto, não posso negar que a sua insistência nos princípios e nos procedimentos é bem mais honesta do que as tácticas dos políticos experientes. Conheci Jason na altura em que colaborei com o jornal “Macau Concealers” dirigido pela Associação de Novo Macau. A sociedade local não lhe deu muitas oportunidades. A falha em atingir os objectivos eleitorais da Associação de Novo Macau para a Assembleia em 2013 não pode ser-lhe atribuída, mas sim a alguns membros da Associação egoístas e auto-centrados. O tempo e os factos já o provaram amplamente. Já que Jason suspendeu a sua ligação à Associação de Novo Macau em prol da monitorização do processo eleitoral de 17 de Setembro, só podemos esperar da população de Macau uma atitude pró-activa e um voto massivo que diga “NÃO” à corrupção eleitoral. Ex-deputado e membro da Associação Novo Macau Democrático
PAUL CHAN WAI CHI
21 hoje macau sexta-feira 17.3.2017
OPINIÃO
contramão
ISABEL CASTRO
A lei muda
TATE TAYLOR, THE HELP
isabelcorreiadecastro@gmail.com
Q
UEM conhece a política de Macau sabe bem como é que isto funciona. Pelo modo como o sistema está organizado, há poucos políticos na terra. Além de serem poucos, são ainda menos aqueles que têm vontade – e interesse ou interesses – em dizerem o que pensam, o que não pensam, o que querem e o que gostariam de ver acontecer. Não temos candidatos em posição de partida para a corrida à poltrona do Chefe do Executivo que digam umas coisas de vez em quando. Temos uma Assembleia Legislativa em que a maioria continua a não ser eleita por sufrágio directo e universal. Não temos uma assembleia municipal. Não temos partidos políticos, com os desejos próprios de quem quer subir na estrutura e, por isso, vai dando nas vistas com umas ideias mais ou menos arejadas. Os politólogos cabem numa mão cheia, sendo que ainda sobram dedos para os especialistas em economia. A escassez de gente a falar de política tem consequências cívicas e sociais, e tem também impacto para quem faz jornalismo. Colocando o problema em termos mais práticos: é uma grande chatice. É difícil arranjar quem fale de política para alimentar secções sobre a matéria num jornal. Não é, por isso, de espantar que os protagonistas não sofram grandes variações.
Para os órgãos de comunicação social, sobretudo os de língua portuguesa, as eleições legislativas são sempre uma oportunidade de conseguir perceber o que vai na alma de gente que, durante a legislatura, se fecha em copas. Os meses que antecedem o momento do voto tornam-se, por isso, ligeiramente mais interessantes: quem não fala português, nem inglês lá arranja maneira de se fazer entender; quem por norma se mantém sossegado põe o dedo no ar a acusar a presença. No momento em que escrevo este texto, paira uma grande incerteza sobre o que podem ou não os jornalistas escrever no próximo Verão. Há uns dias, a Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa “exigiu” que, no período entre a afixação das listas e o início da campanha eleitoral, o “período de proibição da propaganda, os amigos da comunicação social tomem medidas para não sugerirem aos eleitores a votação em algumas listas ou candidatos”. Se o fizerem, estarão a desrespeitar a lei eleitoral em vigor, que foi recentemente alterada – e umas das alterações prende-se, precisamente, com a propaganda eleitoral. Pelas notícias que me chegaram, depreendo que a comissão pretende fazer uma ultra-extensiva interpretação do artigo em causa e aplicá-lo aos órgãos de comunicação social. Em termos práticos, a mensagem deixada pela comissão eleitoral significa que, a partir do momento em que se souberem, oficialmente, quem são as listas que se propõem a sufrágio, um jornalista não poderá fazer entrevistas a candidatos por correr o risco de estar a prevaricar. Seguindo a lógica do que foi dito, terá de fazer 20 entrevistas a 20 cabeças-de-lista, se ao acto eleitoral se apresentarem 20 candidaturas,
e publicá-las todas no mesmo dia, para que nenhum dos candidatos tenha mais destaque do que os outros. Escusado será dizer que esta solução é inviável. Como também é impossível passar 15 dias – os tais do período que se pretende apolítico – sem entrevistar candidatos, os poucos políticos de Macau. Corri a lei de trás para a frente e vice-versa. Não consegui encontrar base jurídica que sustente as afirmações que foram feitas pelo presidente da comissão. O artigo que versa sobre propaganda eleitoral não se aplica à comunicação social.
Jamais serei capaz de escrever meios textos, falar com meios entrevistados, fingir que o que está a acontecer só existe pela metade Diz a lei que se entende por propaganda eleitoral “a actividade realizada, por qualquer meio, para divulgar mensagem que reúne, cumulativamente, os seguintes requisitos: dirige a atenção do público para um ou mais candidatos; sugere, de forma expressa ou implícita, que os eleitores votem ou deixem de votar nesse candidato ou candidatos”. Explica-se ainda no artigo em questão que se entende por “público” os residentes da RAEM e as pessoas colectivas que gozam de capacidade eleitoral. Ora um jornal não é uma actividade realizada para divulgar uma mensagem. O jornal é um
conjunto de páginas que se fazem todos os dias, ou todas as semanas, conforme a periodicidade, e que não se realiza para divulgar esta ou aquela mensagem. Sucede ainda que a lei determina ser necessário, em simultâneo, chamar a atenção para determinado candidato e sugerir de forma explícita ou implícita (a subjectividade é uma treta), que os eleitores votem nele. Por último, mas não menos importante, o artigo sobre a propaganda eleitoral aplica-se a um público que são os residentes da RAEM e pessoas colectivas que gozem de capacidade eleitoral. Deixa de fora turistas, não residentes e também pessoas que moram nos nossos antípodas, e que lêem os jornais através dessa invenção chamada Internet. Não consigo compreender, assim, como é que esta norma poderá ser aplicada à comunicação social no exercício das suas funções diárias: falar com pessoas e escrever sobre pessoas, para as pessoas. Não sou a única com estas dúvidas que ganharão contornos cada vez mais problemáticos à medida que as eleições se aproximam. O assunto voltou a ser abordado esta semana junto da comissão que, uma vez mais, não foi capaz de deixar uma ideia clara sobre a matéria. Aguardam-se esclarecimentos, que já foram solicitados pela Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau, e que, a bem da garantia dos direitos mais elementares, deverão chegar quanto antes. Como sou do entendimento que a liberdade de expressão, a liberdade de informação, e o dever e o direito de ser informado devem ser respeitados – e o respeitinho é muito bonito –, jamais serei capaz de escrever meios textos, falar com meios entrevistados, fingir que o que está a acontecer só existe pela metade e que o resto se vê daqui uns dias.
22 (F)UTILIDADES TEMPO
C H U VA
hoje macau sexta-feira 17.3.2017
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FRACA
O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje
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ROTA DAS LETRAS | “SOBRE CRÍTICA LITERÁRIA”, COM TANG XIAODU E CHENG YONGXIN| Edifício do Antigo Tribunal | 19h00 ROTA DAS LETRAS | “DOZE MORADAS DE SILÊNCIO TRIBUTO A AL BERTO”, COM Edifício do Antigo Tribunal | 21h00 ROTA DAS LETRAS | CONCERTO CHRISTINE HSU Venetian Theatre | 20h30
O CARTOON STEPH
EXPOSIÇÃO “TRACING LINERS”, DE JOÃO PALLA Casa Garden EXPOSIÇÃO “WORKS BY LEI CHEOK MEI” Armazém do Boi | Até 26/3 EXPOSIÇÃO “CONFUSION OF CONFUSIONS WORKS BY YOYO WONG” Armazém do Boi | Até 26/3 EXPOSIÇÃO “VELEJAR NO SONHO” DE KWOK WOON oficinas Navais N.º1 | Até 23/4
EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)
UM DOCUMENTÁRIO HOJE
EXPOSIÇÃO “ENTRE O OLHAR E A ALUCINAÇÃO” DE JOÃO MIGUEL BARROS Creative Macau (Até 25/3)
Cineteatro
C I N E M A
SILENCE SALA 1
KONG: SKULL ISLAND [C] Filme de: Jordan Vogt-Roberts Com: Tim Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson 14.30, 16.45, 21.30
KONG: SKULL ISLAND [C][3D] Filme de: Jordan Vogt-Roberts Com: Tim Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson 19:15 SALA 2
SILENCE [B] Filme de: Martin Scorsese
PROBLEMA 199
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 198
SUDOKU
DE
EXPOSIÇÃO “SOLIDÃO”, FOTOGRAFIA DE HONG VONG HOI Museu de Arte de Macau
1.15
PRETO E BRANCO
ROTA DAS LETRAS | “ENTRE O OLHAR E A ALUCINAÇÃO”, COM KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau | 19h00
EXPOSIÇÃO | “ANSCHLAG BERLIM DESENHO DE CARTAZES DE BERLIM” Galeria Tap Seac
YUAN
AQUI HÁ GATO
ROTA DAS LETRAS | “AMOR E ISOLAMENTO NO ROMANCE”, COM CLAIRE KEEGAN E ZHANG YUERAN Edifício do Antigo Tribunal | 18h00
Diariamente
0.22
Entre a opulência dos milhões, dos biliões e dos zeros que se acumulam por extenso antes das patacas, há quem viva do ar, de barriga vazia. Sem lirismos de estar na sarjeta a olhar para as estrelas, ou para os néones, sem o conforto de lençóis de linho e constelações de cosméticos. Há quem tenha fome e recorra às sopas caridosas das instituições que amparam. São autênticas histórias de amor, entre guerreiros de acção social e os esfarrapados que o fausto deixa para trás. Morre-se com a pele no osso, delira-se em prazeres químicos que atam a dor e a miséria num nó doce, amigo, recorrente. Partilham-se lágrimas e seringas, a planetas de distância da Cartier e dos stands da Lamborghini. O botox aqui é outro, mas também é injectado, também afaga e reconforta. Vive-se de sopa em sopa, a da malga e a da colher, a escassos quilómetros de múltiplas mesas distinguidas pelo saber gastronómico de uma marca de pneus. Morre-se todos os dias de chinelos, sem dentes que se vejam, com olhares vazios e adormecidos pelo caldo entorpecedor. Ganham-se milhões, jogam-se milhões, e por vezes só uma unidade é requerida, desejada, necessitada para sobreviver mais um dia. Há dois mundos nesta cidade que estão a anos-luz um do outro, que estão nas antípodas um do outro, que são o reverso um do outro. Vejo ambos nitidamente e não consigo distinguir qual deles o mais sujo. Pu Yi
THE BEATLES: EIGHT DAYS A WEEK | RON HOWARD | 2016
Um documentário que conta mais uma parte da história da maior banda de todos os tempos. Os anos de tournée dos Beatles, a forma como os quatro membros se começaram a sentir enquanto banda e a vontade de fazer projectos individuais, sobretudo da parte de John Lennon e Paul Mccartney. Fica a história de uma banda que criou histerias colectivas de adolescentes, amores que não foram correspondidos, belas canções e composições. Porque os The Beatles não foram apenas uma boys band dos anos 60. Andreia Sofia Silva
Com: Andrew Garfield, Adam Driver, Liam Neeson 14.30,17.30, 20.30 SALA 3
THE GIRL WITH ALL THE GIFTS [C] Filme de: Colm McCarthy Com: Gemma Arterton, Sennia Nanua, Paddy Considine 14.30, 16.30, 21.30
LA LA LAND [B] Filme de: Damien Chazelle Com: Ryan Gosling, Emma Stone 19.15
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23 hoje macau sexta-feira 17.3.2017
PERFIL
YU JIANG, ESTUDANTE, TRADUTOR E INTÉRPRETE
E
O exercício da descoberta
STÁ a dar os primeiros passos, ainda muito tímidos, no mundo da tradução, mas a paixão pela língua inglesa começou desde muito cedo. Natural de Yunnan, na China, Yu Jiang veio para Macau estudar uma segunda língua e, ao contrário de muitos jovens do seu país, a língua portuguesa não foi a sua escolha. “Para mim, o português é mais difícil e percebi que não iria conseguir pronunciar certos sons. Mas agora comecei a estudar espanhol como terceira língua, porque me parecia um pouco mais fácil, e desde então tenho vindo a encontrar várias semelhanças com o português. Talvez aprenda português no futuro”, contou ao HM. Ainda em Yunnan, Yu Jiang começou a interessar-se pela língua estrangeira que agora estuda na universidade. “Comecei a aprender inglês desde muito cedo, apesar de ainda não me considerar um falante bilingue de inglês e chinês”, afirmou. “Nessa altura, achava que era um língua muito bonita e que poderia ter um papel fundamental na construção de pontes entre culturas e comunidades. A comunicação,
sobretudo se for entre diferentes grupos de pessoas, é um tema que me fascina e do qual gosto muito.” Já no ensino superior, Yu Jiang espera que o curso lhe possa dar acesso, sobretudo, a um mundo fora da China. “Decidi então tirar um major em inglês, na esperança de conseguir estabelecer ligações com pessoas de diferentes comunidades no futuro, usando a língua. A tradução e a interpretação são os métodos mais importantes para atingir esse objectivo.” Fora do mundo das palavras e dos caracteres, e da constante tentativa de ambos fazerem sentido, Yu Jiang assume “adorar ler romances”. E faz mesmo uma incursão por autores da nova geração literária da China, que contam histórias que originam reflexão sobre aquilo que o país foi um dia. “O romance de que mais gosto, e que faz parte das minhas leituras recentes, é ‘To Live’, de Yu Hua. Através deste romance pude conhecer uma história dura onde os personagens sofrem de várias dores causadas pelo contexto especial da China naquela altura. Inspirou-me sob diferentes
perspectivas, através da história, vida e seres humanos”, contou.
OUTROS MUNDOS
Em Macau, cedo Yu Jiang percebeu a complexidade cultural desta sociedade e como pessoas de vários locais interagem umas com as outras. Ainda assim, o jovem acredita que os colegas da sua idade deveriam tentar ver mais vezes o mundo lá fora, para lá dos livros e das salas de aula. “Em vez de os mais jovens estarem focados nos seus estudos na universidade, poderiam tentar ou ter a iniciativa de se exporem a mais coisas diferentes, como eventos culturais, questões sociais, projectos experimentais, por exemplo”, disse. “Poderiam também expor-se a pessoas diferentes e a diferentes comunidades, para saírem da sua zona de conforto. Isso permitir-lhes-ia ter novas experiências onde pudessem explorar os seus interesses e paixões, e também experiências de vida diferentes”, acrescentou o estudante. Yu Jiang defende que essa abertura pode ajudar a abrir portas, traçar caminhos.
“Poderiam, com essas experiências, ter uma perspectiva mais clara do que vão fazer com o seu futuro e a sua carreira. Até porque a vida é um processo constante de exploração, em que vamos vivendo coisas que não esperamos e sem o valor esperado. Mas se não as vivêssemos nunca saberíamos o que são.” Por ser uma sociedade “culturalmente muito diversa”, com “chineses, que são a maioria, mas também portugueses, filipinos e indonésios”, deveria ser feito mais do ponto de vista institucional para promover todas essas diferenças. “Para lá da cultura chinesa local, virada para o cantonês, acredito que o Governo poderia promover mais a cultura no sentido de incluir mais as culturas das minorias, de modo a mostrar a imagem de Macau como um território onde não existe só uma indústria do turismo, que é próspera, mas também onde diferentes culturas coexistem.” Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
Nam San na Taipa, a qual o governo pertence.
sexta-feira 17.3.2017
Atlântido
BANCO DO JAPÃO MANTÉM POLÍTICA MONETÁRIA INTACTA FRANÇA CASAL DETIDO POR METER BEBÉ NA MÁQUINA DE LAVAR
Um casal foi acusado pelas autoridades em França por colocar uma bebé de 15 meses dentro de uma máquina de lavar, em Perpignan, no sul do país. Os serviços sociais desconfiaram quando a mãe da bebé a levou ao hospital para ser tratada por pequenas marcas e escoriações. A senhora disse que a criança tinha caído, mas quando confrontada pela polícia mudou a história e admitiu que o seu parceiro, de 22 anos, tinha colocado a criança no tambor da máquina de lavar de uma lavandaria, dando algumas voltas ao tambor com a mão, sem fechar a porta nem ligar o aparelho. O homem terá dito que queria apenas embalar o bebé, “para o livrar do seu mau feitio”, mas o ministério público francês acusa-o de tortura. A mãe, que disse que não tinha impedido o parceiro por medo, uma vez que ele era regularmente violento com ela, é acusada de não ter impedido um crime, mas saiu em liberdade após pagamento de fiança, informa o jornal britânico The Daily Telegraph. A criança foi retirada à mãe e está ao cuidado dos serviços sociais
LUÍS FILIPE VIEIRA E JESUS NA MESMA MESA
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O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, e o treinador do Sporting, Jorge Jesus, foram vistos sentados à mesma mesa, faz agora uma semana, num dos mais antigos e sofisticados hotéis de Lisboa. Apesar de casual, o encontro entre os dois acabou por sentá-los à mesma mesa, na zona do bar do hotel. Que se saiba, terá sido a primeira vez que tal aconteceu desde que Vieira e Jesus terminaram, no verão de 2015, uma relação profissional de seis anos. Segundo algumas testemunhas, e após o cumprimento normal ao verem-se, terá partido do presidente do Benfica a iniciativa de convidar Jesus a sentar-se. Segundo as mesmas testemunhas, Vieira e Jesus não estiveram muito tempo juntos, mas o suficiente para serem notados.
Cuidado com as curvas
O
Banco do Japão manteve ontem intacto o seu programa de flexibilização monetária, cuja meta é conseguir uma subida estável dos preços de cerca de 2% para pôr fim a uma década de deflação. A reunião mensal do banco japonês terminou um dia depois de a Reserva Federal norte-americana ter subido as taxas de juro em 0,25 pontos percentuais pela primeira vez desde Dezembro, exercendo uma pressão nas taxas de longo prazo nos Estados Unidos e no Japão. Ainda assim, o Banco do Japão não considerou necessário modificar o seu programa baseado na flexibilização “quantitativa e qualitativa” e no controlo da curva dos rendimentos. O banco vai continuar a adquirir dívida soberana japonesa no valor de 80 biliões de ienes por ano para que o rendimento dos títulos japoneses a dez anos permaneça perto dos 0%. No que toca às taxas a curto prazo, o organismo vai continuar a investir em depósitos dos bancos a uma taxa de referência de -0,1%. As compras massivas de activos vão continuar a centrar-se na aquisição de fundos cotados e imobiliários para que a sua carteira aumente a um ritmo anual de seis biliões e 90 mil milhões de ienes (49.314 milhões e 739 milhões de euros), respectivamente. Vai também continuar a aumentar o valor do seu portfólio no que
toca a títulos corporativos a curto e longo prazo, a um ritmo anual de 2,2 e 3,2 biliões de ienes (18.083 e 26.303 milhões de euros).
BOAS TENDÊNCIAS
O Banco do Japão considera que a terceira economia mundial mantém a sua “tendência de recuperação moderada” e que o consumo, pilar do PIB nacional, se mantém sólido. As exportações e a produção industrial estão a recuperar, indica o comunicado divulgado no final da reunião. O investimento
O banco vai continuar a adquirir dívida soberana japonesa no valor de 80 biliões de ienes por ano para que o rendimento dos títulos japoneses a dez anos permaneça perto dos 0%
imobiliário e público mantém-se “mais ou menos plano”, enquanto a inflação continua perto de 0%, longe da meta de 2%. O Banco do Japão tenta desde 2013 promover a subida dos preços, mas a recente queda do preço do petróleo que reduziu os efeitos do seu programa e obrigou a adiar a data de conclusão dos seus objectivos para depois de 2018. Ainda assim, o IPC (Índice de Preços no Consumidor) subiu em Janeiro, pela primeira vez em 13 meses, o que pode indicar uma recuperação futura dos preços.
FILIPINAS DEPUTADO PEDE PELA PRIMEIRA VEZ DESTITUIÇÃO DE DUTERTE
O
deputado filipino Gary Alejano apresentou ontem na Câmara dos Representantes o primeiro pedido de um processo de destituição do Presidente Rodrigo Duterte pelo seu alegado envolvimento em assassínios e outros crimes. O documento, disponibilizado aos ‘media’ pelo congressista da oposição depois de o ter apresentado na Câmara Baixa, exige a
destituição do Presidente por “violação culposa da Constituição, traição da confiança pública, subornos e outros crimes”. Trata-se da primeira tentativa de iniciar um
‘impeachment’ contra o actual Presidente das Filipinas desde que este assumiu o cargo no final de Junho do ano passado. A moção tem poucas probabilidades de passar, já que dos 292 membros do parlamento, pelo menos 267 são considerados aliados de Duterte, e o Presidente continua a gozar de um amplo apoio popular entre os filipinos.
Alejano, cujo partido integra os militares que realizaram um golpe de Estado falhado em 2003, assegurou que “as acções e actuações do Presidente constituem as bases adequadas para um processo de destituição do Presidente da República das Filipinas”. As alegadas acções criminosas estariam relacionadas, segundo o portal Rappler, com os “esquadrões da morte” de Davao, quando
Duterte era presidente da câmara da localidade no sul do país, bem como com mais de 7.000 mortes ligadas à polémica “guerra contra as drogas”, a nível nacional. O pedido do deputado vai chegar ao presidente da Câmara Baixa e este vai remetê-la para um comité que decide se existe fundamento para o levar à ordem do dia do hemiciclo, algo que aconteceria em Maio.