Hoje Macau 17 MAR 2020 # 4488

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TERÇA-FEIRA 17 DE MARÇO DE 2020 • ANO XIX • Nº4488

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GCS

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

ALTAMIRO DA COSTA PEREIRA

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA

PÁGINAS 2-3

PÁGINAS 4-5

ELOGIO A MACAU

MACAU PASS

VOTOS DE SAUDAÇÃO

TERMINAIS DE CONSUMO PÁGINA 7

hojemacau

Baixo risco Os Serviços de Saúde dizem que a possibilidade de surgir um novo surto de Covid-19, resultante do último caso diagnosticado no domingo a uma mulher sul-coreana vinda do Porto, é moderado. Sete pessoas que tiveram um contacto mais próximo com a paciente estão sob observação. Macau declarou ontem quarentena obrigatória para todos os que entram no território, com excepção de quem vem de Hong Kong, Taiwan e do Interior da China.

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PÁGINA 6

ADAGIO DE BARBER MICHEL REIS

FAUSTO AMÉLIA VIEIRA

ANTES DA MORTE

PAULO JOSÉ MIRANDA


2 coronavírus

17.3.2020 terça-feira

ALTAMIRO DA COSTA PEREIRA

“Negação em nada Horas antes do Conselho Nacional de Saúde reunir, em Portugal, e dias antes das escolas encerrarem por todo o país devido à pandemia da Covid-19, o director da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto escreveu uma carta a destacar o bom exemplo de Macau. Em entrevista, diz que o território “tomou medidas que se vieram a verificar correctas” e que o sistema de saúde público português não está preparado para este surto

DIRECTOR DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o surto do novo coronavírus uma pandemia. É uma declaração que peca por tardia? Acho que sim. Na verdade, há muito que existiam critérios técnicos para essa declaração, mas talvez a OMS tenha preferido adiar esta designação por critérios de natureza política, de modo a minorar o impacto público dessa declaração.

poder, a legitimidade e a obrigação de tomar este tipo de decisões. Mas os factos falam hoje por si. E sim, acho que Macau tomou todo um conjunto de decisões e de medidas que se vieram a revelar correctas. E, contra os factos já conhecidos em Macau não há argumentos.

Na carta que enviou ao Conselho Nacional de Saúde, destacou o facto de, à altura, Macau já não ter doentes ou novas infecções com a Covid-19. É um exemplo que as autoridades portuguesas deveriam ter seguido desde o início? Cada território tem as suas particularidades. Sejam elas geográficas, culturais ou políticas. E é muito difícil fazer julgamentos quando não estamos na pele de quem tem o

“Em alguns casos, os ‘graus de liberdade inerentes às democracias’, e até poderia acrescentar ‘ocidentais’, podem não ajudar a uma tomada de decisão firme e atempada.”

O Governo português não viu os sinais de alerta a tempo, quando teve meses para se preparar

desde os primeiros casos, em Dezembro? Repito o que já disse. É muito difícil fazer julgamentos quando não estamos na pele de quem tem a legitimidade e a obrigação de tomar este tipo de decisões. Na verdade, desconheço as razões porque o não fizeram, mas tenho também a certeza de que haverá muitas variáveis que, por não estar nessa pele, desconheço. Mas sim, neste momento acho que estaremos todos de acordo que se deveria ter feito mais. E que ainda falta fazer mais! Não só em Portugal, mas em muitos outros países. O que mais o preocupa na capacidade de resposta do sistema de saúde em Portugal? A eventual falta de sensibilização ou de reconhecimento, tanto por parte dos responsáveis da saúde como da população em geral, relativamente ao grave risco que a pandemia de Covid-19 representa

“Na verdade, nem o nosso Serviço Nacional de Saúde nem qualquer outro sistema está preparado para uma sobrecarga destas. Mas o estado de negação em nada ajuda a nos preparar para o pior!” para as pessoas e a sustentabilidade do sistema nacional de saúde. Na verdade, nem o nosso Serviço Nacional de Saúde nem qualquer outro sistema está preparado para uma sobrecarga destas. Mas o estado de negação em nada ajuda a nos preparar para o pior. Na carta que escreveu menciona “os graus de liberdade inerentes às democracias".


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ajuda”

Considera que as medidas restritivas impostas pela China foram as mais adequadas e necessárias. Há aqui uma politização da questão? Não creio. Sou um fervoroso adepto da liberdade e da democracia. E não defendo por isso mesmo qualquer ditadura ou sequer democracias musculadas. Mas, em alguns casos, os “graus de liberdade inerentes às democracias” e até poderia acrescentar “ocidentais” podem não ajudar a uma tomada de decisão

“Neste momento, acho que estaremos todos de acordo que se deveria ter feito mais. E que ainda falta fazer mais. Não só em Portugal, mas em muitos outros países.”

firme e atempada. Mas isso dependerá, sobretudo, do tal grau de reconhecimento do risco por parte de um dado governo. E, nalguns casos, dependerá ainda muito de quem num dado momento influencia as decisões desses governos ou autoridades de saúde. Como devemos olhar para este novo coronavírus em termos de metodologias terapêuticas e formas de abordar esta pandemia? Penso que ninguém terá dúvidas acerca do desconhecimento deste vírus. Mas, penso também que enquanto não existirem medicamentos mais específicos e inovadores, a utilização de métodos de tratamento convencionais, e já provados como eficazes, será uma medida adequada. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

A carta de alerta Em busca de “medidas mais restritivas”

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OI no passado dia 11 de Março, quando Portugal ainda não tinha chegado a uma centena de casos de infecção pelo vírus SARS-CoV-2 e quando as escolas estavam a dias de fechar portas, que Altamiro da Costa Pereira disse de sua justiça numa carta enviada ao Conselho Nacional de Saúde. O especialista em Epidemiologia e Saúde Pública alertou para a necessidade se tomarem, “com urgência, medidas mais restritivas que possam ainda vir a conter esta grave pandemia” em Portugal. O director da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto frisou o caso bem-sucedido de Macau no combate ao novo coronavírus. “Na China, uma vez reconhecida a magnitude do problema, rapidamente foram colocadas em prática medidas de quarentena cuja efectividade é hoje por demais notória. De facto, Wuhan começa a voltar à normalidade, Macau já não tem novos casos há mais de um mês, e em território chinês teme-se agora os casos importados! Já a Itália demorou mais tempo a tomar medidas mais restritivas, agindo maioritariamente de forma reactiva à medida que o número de novos casos disparava (e com os graus de liberdade inerentes às democracias)”, aponta. De frisar que Macau teve, entretanto, um caso importado, precisamente, da cidade do Porto, depois de ter estado 40 dias sem novas infecções.

Portugal poderá ter importantes consequências. Na verdade, é possível fazê-lo agora e prevenir ao máximo o número de novos casos de infecção, ou é possível manter a atitude que tem sido adoptada de apenas actuar quando surgem novos casos”. “Por mais problemas sociais ou prejuízos económicos que venham a existir, no imediato – face às eventuais medidas de contenção que urge serem tomadas –, estes serão certamente bem menores do que aqueles que poderão advir dentro de duas a quatro semanas quando enfrentarmos o pico da epidemia, já com um SNS exaurido e uma população desamparada e desiludida”. Neste seu contributo no âmbito da pandemia de Covid-19, em Portugal, Altamiro da Costa Pereira afirma que a sua “principal preocupação tem que ver com a limitada capacidade de resposta do SNS para enfrentar uma sobrecarga de procura”. “Se as dificuldades do SNS já eram evidentes antes da pandemia por Covid-19 (algo que se verifica, por exemplo, na dificuldade de manter urgências abertas e funcionais de alguns serviços hospitalares) e se a Linha de Saúde SNS24 já não consegue dar resposta a todas as chamadas neste preciso momento, é de esperar o pior – ou seja, uma situação mais próxima do colapso – com o passar do tempo e subsequente aumento exponencial do número de casos de infecção Covid-19”, sustentou.

UMA QUESTÃO DE “TIMING”

ACTUAR DE FORMA RÁPIDA

Na mesma carta, Altamiro da Costa Pereira defende que “o ‘timing’ para adopção das inevitáveis medidas mais restritivas em

Considerando que a voz do Conselho Nacional de Saúde Pública será muito importante para o aconselhamento das autoridades

de saúde e do Governo português, Altamiro da Costa Pereira defende que “actuar rapidamente de forma preventiva e efectiva parece-me ser uma absoluta necessidade nesta fase de evolução da epidemia”. “De facto, embora o enfrentamento de uma epidemia destas proporções e num mundo de tal forma globalizado seja algo inédito para todos nós, o facto de os primeiros casos de infecção Covid-19 em Portugal terem sido diagnosticados mais tardiamente que na maioria dos restantes países europeus abre-nos uma janela de oportunidade para implementarmos medidas efectivas de forma preventiva”, considerou o director da Faculdade de Medicina do Porto. Em seu entender, “é ilusório pensar que os próximos dias/semanas não trarão consigo muitos mais novos casos de infecção Covid-19. Nesse sentido, vale a pena olhar para os dois países com um maior número de casos confirmados de infecção e para o modo como foram capazes de responder à mesma”. No final, sublinha o especialista, Itália acabou por ter de decretar quarentena, mas quando o fez já mais de 9000 pessoas tinham sido infectadas e mais de 400 tinham morrido. Acresce que nos hospitais italianos, já há relatos da necessidade de fazer opções relativamente a quem tratar, e o descontrolo italiano foi parte da causa da rápida disseminação da infecção a outros países europeus. “A Itália mostra-nos que este último caminho pode revelar-se demasiadamente perigoso, tanto em termos humanos como em termos socioeconómicos”, frisa.


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Medalhas e

VIDEOVIGILÂNCIA DEPUTADOS ESTÃO DE ACORDO COM RECONHECIMENTO FACIAL ULU Sou pretendia que a sua proposta para interpretar a Lei de Videovigilância, e impedir a aplicação da tecnologia de reconhecimento facial, fosse debatida no hemiciclo, mas a larga maioria do plenário impediu a discussão. A acção no hemiciclo validou a decisão tomada por Kou Hoi In, presidente da AL, e da Mesa da AL, que já antes tinham recusado a proposta por entender que era uma interferência nos poderes do Governo. A proposta foi chumbada com 27 votos contra, 0 abstenções e 4 votos a favor, que vieram dos democratas Ng Kuok Cheong, Au Kam San, José Pereira Coutinho e do próprio Sulu Sou. Na apresentação do recurso, Sulu Sou indicou não existirem garantias de que o reconhecimento facial seja implementado sem resultar em violações de direitos fundamentais.

“É a minha obrigação, como deputado, impedir a apresentação de uma lei sem limite nem controlo”, realçou o deputado. Após a votação, Agnes Lam, Song Pek Kei e Davis Fong, também em nome de Iau Teng Pio, justificaram a posição com o argumento utilizado anteriormente por Kou Hoi In, ou seja, a interferência nos assuntos do Governo sem autorização. Lam e Song defenderam ainda que o Executivo tem mecanismos para garantir o respeito dos direitos fundamentais e que o assunto já foi suficientemente debatido. “Sabemos que muitas pessoas estão preocupadas com o reconhecimento facial. Mas, o Governo já respondeu muitas vezes a estas questões. A tecnologia de reconhecimento facial implica as regras previstas nas Lei de Protecção de Dados Pessoais”, apontou Agnes Lam.

Ilha da Montanha Luz verde para lei na fonteira

A Assembleia Legislativa aprovou ontem a lei que permite que o Direito da RAEM seja aplicado na Ilha da Montanha, no espaço onde vai ficar o novo posto fronteiriço de Macau, que actualmente se encontra situado na Ponte Flor de Lótus. O diploma foi aprovado por unanimidade pelos deputados. Segundo esta lei, a região de Macau vai ficar obrigada ao pagamento de uma renda às autoridades de Cantão, mas o valor ainda não é conhecido. Anteriormente, os representantes do Executivo disseram que este valor vai ficar definido num protocolo que ainda tem de ser assinado e que vai ser “baixo” e principalmente “simbólico”. PUB

CONVOCATÓRIA Nos termos do n.º 1 do artigo 14.º dos Estatutos de Matadouro de Macau, S.A.R.L., convoco todos os membros da Assembleia Geral, para reunir no dia 30 de Março de 2020, às 10:00 horas, para a realização da reunião da Assembleia Geral, a ter lugar na sede da Sociedade, sita na Estrada Marginal da Ilha Verde, s/n, Macau. Ordem de trabalhos 1. Deliberar sobre o relatório do Conselho de Administração, do Conselho Fiscal e as contas relativos ao ano de exercício de 2019 ; 2. Aprovar a actualização de membro do Conselho de Administração e o seu mandato; 3. Outros assuntos de interesse para a sociedade. Macau, 13 de Março de 2020 Presidente da Mesa da Assembleia Geral Zhang Jie

O Covid-19 foi o grande assunto da primeira sessão da Assembleia Legislativa, após a pausa imposta pelas medidas de controlo da pandemia. Os deputados apelaram ao Executivo que aposte na diversificação da economia e em medida de protecção do emprego

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Assembleia Legislativa aprovou ontem por unanimidade um voto de saudação aos esforços do Governo e da população, no âmbito da resposta à pandemia do Covid-19. O voto foi proposto pelos deputados Ho Ion Sang, dos Moradores, Wong Kit Cheng, da Associação das Mulheres, e Leong Sun Iok, do Operários, naquela que foi a primeira reunião após o Ano Novo Chinês, altura em que se entrou na fase de prevenção e combate à pandemia. “A situação epidémica foi eficazmente controlada […] Mas, o surto registado desde o ano passado ameaçou gravemente a saúde pública. Nesta resposta, o Governo desenvolveu um grande trabalho, com o apoio de todos os sectores e da população. Também o pessoal da linha da frente manteve-se firme no seu trabalho, sem qualquer recuo”, recordou Leong Sun Iok. “Propomos um voto de saudação para expressar o nosso agradecimento a todos os que combateram a epidemia[...] e que agora vão fazer todos os esforços para recuperar a sociedade. Desejo a todos boa saúde”, acrescentou. A iniciativa foi aprovada com o apoio dos 31 deputados votantes. Apenas Angela Leong, que na altura da votação não estava no

hemiciclo, e o presidente Kou Hoi In, que não votou, não deram aval à proposta. O deputado Pereira Coutinho, que também preside à Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau, foi mais longe e pediu apoios para os funcionários públicos. “Que haja apoio a estes funcionários, que trabalham com todo o empenho e dedicação. Alerto, aqui, o Governo para que não esqueça estes trabalhadores e tenha em conta os seus interesses”, afirmou. Song Pek Kei propôs medalhas entregues pelo Chefe do Executivo para os trabalhadores da linha da frente e sugeriu a atribuição de um subsídio único para os profissionais de saúde.

DESEMPREGO

Na tarde de ontem, o Covid-19 dominou as intervenções dos deputados antes da ordem do dia. Apesar de durante a madrugada ter sido anunciado um novo caso importado de Portugal, facto que não foi ignorado, a agenda focou a necessidade de lançar medidas para relançar a economia. No que diz respeito à protecção dos trabalhadores, Ella Lei, ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), traçou um cenário negro das indústrias que dependem do turismo. “Algumas empresas, nomeadamente

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COVID-19 DEPUTADOS RECONHECEM ESFORÇOS DO GOVERNO E POPULAÇÃO

dos sectores do turismo, da hotelaria e do comércio, já exigiram aos seus trabalhadores o gozo de licenças sem vencimento, suspenderam o trabalho, reduziram salários ou pagaram apenas a remuneração de base. Portanto, os seus rendimentos sofreram reduções”, atirou Ella Lei. “Mais, muitos trabalhadores por conta própria estão sem emprego, e se param de trabalhar deixam de comer”, revelou. Também a deputada Wong Kit Cheng e Zheng Anting, ligado à comunidade de Jiangmen, alertaram que o desemprego é uma consequência da pandemia. Zheng justificou que as Pequenas e Médias Empresas, sem receitas, vão ter de despedir para sobreviver. “Com a queda do número de turistas decorrente da epidemia, algumas PME estão a atravessar um período


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difícil, e o despedimento e o desemprego são inevitáveis. Espero que o Governo preste atenção ao desemprego e que as empresas sejam solidárias para com os trabalhadores”, alertou.

DIVERSIFICAÇÃO

A diversificação da economia, que depende principalmente do jogo, foi outro dos pedidos dos deputados. O empresário Wang Sai Man apontou que o forte impacto do Covid-19, sentido na queda do número de visitantes vindos do Interior, deixou a ferida aberta. “Proponho ao Governo que estude o apoio às indústrias com potencialidades de desenvolvimento e forte capacidade de resistência a adversidades, como as de fabrico de produtos alimentares e medicamentos”, sugeriu.

Neste caminho, a Ilha da Montanha é vista como estratégica: “O desenvolvimento das indústrias já não pode ficar limitado aos actuais 33 km2 de terrenos. O Governo deve estudar como é que a Ilha de Hengqin pode ser uma plataforma para a diversificação adequada da economia”, indicou. Por sua vez Ip Sio Kai, representante do sector financeiro e Vice-Director-Geral da sucursal de Macau do Banco da China, defendeu maiores incentivos à indústria financeira. Segundo o legislador, este sector já é responsável

por um terço do Produto Interno Bruto de Macau e deve continuar a ser a aposta.

POR FAZER

Apesar do tom das intervenções ser de elogio aos trabalhadores, à população e ao Governo, José Pereira Coutinho não deixou de fazer um reparo à governação dos últimos 10 anos. Em causa esteve o facto de o Hospital das Ilhas e do Centro de Doenças Infectocontagiosas não estarem concluídos, apesar de serem projectos que se arrastam há anos.

Song Pek Kei propôs medalhas entregues pelo Chefe do Executivo para os trabalhadores da linha da frente e sugeriu que fosse atribuído um subsídio único para os profissionais de saúde

“O Codvid-19 expôs, uma vez mais, as graves falhas no âmbito da prevenção e protecção da saúde pública. A começar nos estranhos atrasos na construção do Edifício de Doenças Infecciosas e o Complexo Hospital das Ilhas, este último previsto para ser inaugurado em 2015”, atirou o legislador. O deputado frisou ainda que apesar dos atrasos “ninguém vai ter de assumir as devidas responsabilidades”. Por outro lado, Pereira Coutinho propôs um maior número de apoios financeiros e apontou que apesar de vários sectores terem entregue petições na sede do Governo, até ontem não tinha havido resposta às mesmas. João Santos Filipe

Joaof@hojemacau.com.mo

Lei sindical foi chumbada, deputados dizem aguardar iniciativa do Governo

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Assembleia Legislativa recusou ontem pela 11.ª vez uma lei sindical, desta feita proposta pelos Operários Lei Chan U e Lam Lon Wai, com 16 votos contra, 7 abstenções e 9 votos a favor. No hemiciclo vários deputados das forças tradicionais, como Ho Ion Sang, do Moradores, Wong Kit Cheng, da Associação das Mulheres, Song Pek Kei e Si Ka Lon, ambos da comunidade de Fujian, optaram pela abstenção. Os resultados acabaram por ser influenciados pela posição do Executivo, como admitiram vários deputados, depois de na sexta-feira o secretário da Economia e Finanças ter dito que o Governo estava comprometido com o objectivo de apresentar uma lei sindical. Foi este o argumento dos deputados Song e Si. “A legislação sindical é um trabalho que o Governo deve ter em conta para manter a harmonia entre os trabalhadores e os patrões”, afirmou Song, depois da abstenção. “Apoiamos a intenção de criar uma lei e reconhecemos que deve ser o Governo a apresentar uma proposta de lei. Espero que haja um calendário para os procedimentos o mais depressa possível”, acrescentou. Também Zheng Anting, número dois da lista encabeçada por Mak Soi Kun, preferiu abster-se, enquanto o líder da candidatura votou contra: “Na sou contra a proposta, mas o Governo diz que é o tempo oportuno e devemos esperar”, disse Zheng. “Se o Executivo vai ter a iniciativa, devemos esperar por eles”, frisou Mak.

VOTOS CONTRA

A mesma justificação foi ainda utilizada por Pang

RÓMULO SANTOS

recompensas

À espera de Ho

Chuan, nomeado pelo Executivo. “Depois de ouvir a explicação dos deputados percebi melhor a importância da lei sindical. Mas tenho de votar contra porque vou esperar que a proposta parta do Governo”, disse deputado nomeado. “Há quem diga que esta lei já demorou mais de 10 anos, mas espero que haja paciência e que se espere mais um bocadinho”, acrescentou. Além de Pang, também os restantes deputados nomeados pelo Chefe do Executivo, Ma Chi Seng, Iau Teng Pio, Wu Chou Kit, Davis Fong, Lao Chi Ngai e Chan Wa Keong, votaram contra. Quanto aos deputados dos Operário, Lei Chan U, Lam Lon Wai, Leong Sun Iok e Ella Lei admitiram o desapontamento com o resultado e preparam-se para cobrar a promessa a Ho Iat Seng e ao secretário Lei Wai Nong. “Lamento imenso que o projecto não tinha conseguido votos suficientes”, reconheceu Lei, numa declaração em nome dos colegas de “bancada”. “Quanto se candidatou, o Chefe do Executivo referiu que o mercado laboral não é muito saudável e são necessárias mudanças. O secretário para a Economia e Finanças disse o mesmo... Esperamos que honrem as suas palavras”, acrescentou. J.S.F.

Governação Electrónica Lei aprovada

Os deputados aprovaram ontem na especialidade a Lei de Governação Electrónica por unanimidade, com os 31 votos a favor dos 31 votos presentes. A votação do diploma ainda mereceu algumas considerações de José Pereira Coutinho, sobre as dificuldades de contactar funcionários dos diferentes serviços ou sobre a possível utilização de dados biométricos, e de Sulu Sou, em relação à inclusão da possibilidade de os cidadãos avaliarem os diferentes serviços online, mas acabou por receber luz verde.


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COVID-19 GOVERNO CONSIDERA NOVO CASO DE “RISCO MODERADO”

Um contágio comedido

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PÓS o anúncio do 11º caso com o novo tipo de coronavírus em Macau, os Serviços de Saúde (SS) consideram baixo o risco de um novo surto na comunidade. A declaração foi proferida ontem por Leong Iek Hou, do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença, após considerar o novo caso de “risco moderado”. “Conseguimos encontrar a origem. Acreditamos que não teve contacto com muitas pessoas na comunidade. Neste momento, não há grande possibilidade de surgir um surto na comunidade”, afirmou Leong Iek Hou, por ocasião da conferência diária sobre o novo tipo de coronavírus. Leong Iek Hou defendeu ainda que o reforço das medidas de controlo de fronteira anunciadas ontem, que alargam a obrigatoriedade de fazer quarentena a todas as regiões à excepção do Interior da China, Hong Kong e Taiwan são eficazes para combater a epidemia e que “podem reduzir o número de casos importados”. Momentos antes, apesar de admitir a “má notícia que foi o 11º caso” o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion mostrou-se também confiante nas medidas que têm sido tomadas.

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O Governo considerou baixo o risco de um novo surto na comunidade, apesar do novo caso confirmado de uma mulher sul-coreana oriunda de Portugal. Rastreado o percurso, há agora sete pessoas de contacto próximo, incluindo o namorado português que se encontram em observação

“Hoje [ontem] quando acordaram (…) muitos ficaram desiludidos e muita gente diz que perdemos essa batalha. Essa batalha é importante para todos os cidadãos e é graças à cooperação de todos que conseguimos algum sucesso, o que é muito importante para nós. Acho que esse resultado é a prova de que as medidas que tomámos estavam correctas”, disse Lei Chin Ion.

DE MÁSCARA

Fruto do novo caso confirmado em Macau, há sete pessoas de

contacto próximo com a 11ª paciente, entre as quais está o namorado português que já testou negativo para a Covid-19, confirmou Leong Iek Hou, partilhando também que todos se encontram em observação. Por volta das 00h30 do dia 14 de Março, a doente, uma hospedeira da Air Macau, chegou ao território através da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau e no mesmo dia começou a manifestar tosse ligeira, tendo-se deslocado no dia seguinte ao Centro Hospitalar Conde de São Januário.

“Trata-se de uma mulher de 26 anos (…) que vive no quinto bloco do One Oasis de Seac Pai Van. No dia 14 de Março começou a manifestar sintomas e também tosse leve (...) mas só no dia 15 começou a sentir tonturas e febre”, explicou Leong Iek Hou. A responsável dos SS revelou ainda o percurso feito pela paciente após ter manifestado sintomas, garantindo, contudo, que esta usou sempre máscara. “Depois de manifestar sintomas, pelas 14h10 seguiram no shuttle bus do One Oasis para o centro da Taipa (…) onde almoçaram em dois restaurantes. Depois foram fazer compras na farmácia e em algumas lojas coreanas e acompanhou o namorado ao cabeleireiro. Pelas 16h20 foram ao supermercado Park n´Shop e ainda a uma oficina para reparar o carro”, partilhou. Segundo Leong Iek Hou, no voo em que viajou a paciente e que saiu do Porto e fez escala no Dubai, seguiam a bordo 26 estudantes de Macau, sendo que três foram considerados de contacto próximo. Destes, um apresenta febre e está agora internado. Pedro Arede

info@hojemacau.com.mo

ESCOLAS REABERTURA EM CAUSA

TNR RESTRIÇÕES PODEM BAIXAR

Governo admitiu reavaliar o calendário de reinício das aulas depois de ter sido confirmado 11º caso em Macau. A posição foi reiterada ontem pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Leong U. A responsável partilhou ainda que a reabertura ou não dos estabelecimentos de ensino no prazo previsto está ainda dependente

secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong admitiu ontem que o Governo pode vir a adoptar medidas mais flexíveis nas fronteiras para os trabalhadores não residentes (TNR) já em Abril. “Como todos sabem agora no Interior da China a situação está estável e habitualmente regista mais casos importando do exterior. Também na província de Guangdong a situação é

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dos argumentos apresentados pelos respectivos serviços sobre a evolução da Covid-19 no território. “É impossível dizer que não vão existir novos casos porque esta é uma doença transmissível”, acrescentou Ao Leong U. A reabertura das aulas nos vários graus de ensino está prevista acontecer entre 13 de Abril e 4 de Maio.

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estável (...) e estamos a avaliar as condições. Talvez já no início de Abril possamos libertar ou ajustar as medidas contra os TNR, porque isto contribui muito para as actividades laborais em Macau”, partilhou Lei Wai Nong. Recorde-se que actualmente os TNR estão obrigados a cumprir uma quarentena de 14 dias em Zhuhai, antes de serem autorizados a entrar em Macau.

Fechado para balanço Macau impõe quarentena a todos

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Governo de Macau anunciou ontem que a partir das 00h00 de terça-feira quem chegar ao território, com excepção da China continental, Taiwan e Hong Kong, terá de ficar em quarentena de 14 dias. Esta medida é imposta a “todos os indivíduos que viajaram para estes países nos 14 dias anteriores à entrada no território”, disse, reforçando: “Têm de estar sujeitos a 14 dias de observação médica”, afirmou a secretária para osAssuntos Sociais e Cultura,Ao Ieong U, em conferência de imprensa. A responsável explicou que o local onde será feita a quarentena é indicado pelos Serviços de Saúde. “Não é ele [a pessoa] a optar onde fica sujeito a observação médica, quem escolhe são os serviços de saúde”, frisou. Qualquer pessoa, quer seja residente, trabalhador não residente, ou turista, que tenha estado num país considerado de alta incidência epidémica será reencaminhado para um hotel designado pelas autoridades. Caso o país não seja considerado de alta incidência epidémica, Ao Ieong U explicou que depois de avaliação, podem ficar isolados em casa para serem sujeitos a observação médica de 14 dias.

HAJA PONDERAÇÃO

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, pediu ainda ponderação a todos os que estejam a regressar do estrangeiro para Macau, incluindo residentes e estudantes. “As pessoas que residem no exterior, quando tomarem uma decisão devem reconsiderar bem se voltam a Macau ou não e devem ponderar todos os riscos durante a viagem. Para quem decide ficar deve tomar todas as medidas de precaução”, disse. O Governo de Macau providencia ajuda no transporte do Aeroporto Internacional de Hong Kong para residentes de Macau que viajem entre hoje e domingo, dia 22. Para providenciar uma segunda ronda de transporte, o Governo promete analisar a medida de apoio. “Se não conseguirem viajar entre os dias 17 e 22, podem comprar bilhete de avião para depois e tentarem inscrever-se, para que tentemos enviar transporte”, disse Inês Chan, representante da Direcção dos Serviços de Turismo (DST). Até ao momento o Gabinete de Gestão de Crises de Turismo (GGCT) recebeu 246 pedidos de registo, havendo 19 pessoas ainda sem voo marcado. A.S.S com Lusa


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Lau Kei Fong, AMCM “A Macau Pass para além do número do cartão de consumo não vai ter outras informações da população.”

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S inscrições de residentes no plano de subsídio de consumo do Governo, para receber cartões emitidos pela Macau Pass carregados com 3 mil patacas, arrancam amanhã e começam a ser usados em Maio. A vice-presidente da Macau Pass S.A. disse ontem em conferência de imprensa que hoje em dia existem 13 mil pontos onde se podem usar os cartões para pagamentos. “Nas últimas duas semanas realizámos várias sessões e nessas sessões conseguimos atrair mais de mil comerciantes a aderir ao nosso plano e a requerer o terminal. Cerca de 400 são vendilhões”, declarou Man Wong. O director dos Serviços de Economia, Tai Kin Ip, reiterou que o Governo não contribuiu financeiramente para a emissão e produção de cartões, ou despesas administrativas. A vice-presidente da Macau Pass afirmou que o objetivo é “ajudar na revitalização da economia”, estando ainda as pequenas e médias empresas isentas do pagamento da instalação de terminais.Arepresentante assegurou que depois do fim do programa de apoio, as entidades que queiram continuar a usar o terminal não terão

MACAU PASS ATRAÍDOS MAIS DE MIL COMERCIANTES EM DUAS SEMANAS

Atracção terminal

Tem aumentado o número de comerciantes a aderir ao plano da Macau Pass e a requerer terminal, no âmbito do programa de vales de apoio ao consumo do Governo. Nas últimas duas semanas, aderiram 400 vendilhões. A Autoridade Monetária de Macau explicou que a empresa não vai ter acesso a informações para além do número do cartão de consumo de pagar taxas. Para além disso, explicou que estão planeadas actividades para estimular o consumo, dando como exemplo um sorteio com prémio pecuniário. Questionada sobre o investimento que a empresa terá de fazer, nomeadamente pela não cobrança de formalidades administrativas, Man Wong referiu que a estimativa do custo é de oito dígitos. “Quanto à

Economia Taxa de juro volta a cair a reboque do dólar Acompanhando o ajustamento da taxa de juro levado a cabo pela “Hong Kong Monetary Authority” (HKMA), a Autoridade Monetária de Macau (AMCM) baixou ontem em 64 pontos a taxa de juro básica para 0,86 por cento. Este é o segundo corte na taxa de juro de referência no mês de Março motivada pelos efeitos da Covid-19. As informações foram divulgadas ontem através de uma nota oficial da AMCM onde consta que a descida está relacionada

despesa final não temos ainda um número para fornecer”, disse. De acordo com as declarações, foi duplicado o número de pessoal alocado ao apoio na instalação de terminais e tratamento de formalidades.Avice-presidente da Macau Pass mostrou-se confiante de que esses trabalhos podem ser feitos dentro do tempo disponível até à entrada em funcionamento dos cartões electrónicos.

com a indexação da Pataca (MOP) ao Dólar de Hong Kong (HKD) e com a salvaguarda do “funcionamento eficaz do regime de indexação cambial”. Por sua vez, o ajustamento da taxa de juro pela HKMA resultou da decisão tomada pela Reserva Federal dos Estados Unidos, no passado domingo, de cortar as taxas de juro de referência em 100 pontos base para zero e 0,25 por cento. Recorde-se que o dólar de Hong Kong está indexado ao dólar norte-americano.

Relativamente ao registo de um novo caso da COVID-19 no território, Tai Kin Ip observou que o plano será lançado de acordo com o previsto, mas admitiu a possibilidade de sofrer ajustes mediante instruções dos Serviços de Saúde.

de Março a 8 de Abril. Esta pode ser feita na página electrónica da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), sendo pedidos dados como o número de Bilhete de Identidade de Residente (BIR), nome e número de telemóvel, a par da escolha do local e data de levantamento do cartão. Os cartões podem depois ser levantados entre 14 e 30 de Abril e podem ser levantados em 116 balcões de bancos e 33 de serviços públicos, sendo que alguns dos locais prestam serviços em feriados públicos. Se o levantamento do cartão for pessoal basta mostrar o BIR original. Em caso de levantamento por representante é necessário levar também uma procuração ou declaração. Esta última é requisito, por exemplo, no caso de pais que façam o levantamento do cartão de filhos menores. Quanto a dados pessoais, o director do Departamento de Infra-estrutura Financeira e de Tecnologia de Informação da Autoridade Monetária de Macau, Lau Kei Fong, declarou que apesar de o equipamento utilizado ser da Macau Pass, o software é desenvolvido pelo Governo, pelo que o número do BIR e restantes informações são enviadas para o sistema da AMCM. “A Macau Pass para além do número do cartão de consumo não vai ter outras informações da população”, explicou. O Instituto de Acção Social (IAS) está em contacto com instituições para prestar ajuda a idosos e pessoas com deficiência que precisem de apoio para tratar destas formalidades. Ao nível das pessoas debilitadas, o IAS coordenou com sete equipas dos serviços de cuidados domiciliários e de apoio e 81 centros de serviços diurnos para idosos e de reabilitação subsidiados e associações. Note-se que apesar de depois de 31 de Julho, dia em que termina o programa, os cartões poderem ser utilizados como um MacauPass normal, no caso de o montante de cada cartão disponibilizado pelo Governo não ser todo gasto no período determinado, a verba é devolvida aos cofres públicos.

ACESSO LIMITADO

Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo

Recorde-se que o período de inscrição neste programa vai de 18

Fundo de Segurança Social Seis mil arriscam suspensão de pensões

Até ao final de Março, cerca de seis mil beneficiários das pensões de idosos e de invalidez precisam efectuar a prova de vida. Caso não tratem das formalidades, podem ver a atribuição dos apoios suspensos a partir de Abril, comunicou o Fundo de Segurança Social (FSS). Os interessados podem recorrer a quiosques automáticos dispostos

em mais de 50 locais em Macau, acompanhados do seu Bilhete de Identidade de Residente, ou presencialmente no Posto de Atendimento Provisório do FSS no Tap Seac, ou nos Centros de Serviços da RAEM das Ilhas e da Areia Preta. Por outro lado, os beneficiários sem capacidade de se deslocar devido a doença grave ou

dificuldades de mobilidade, podem enviar por correio ou recorrer a um representante para entregar o respectivo atestado emitido em 2020. Quem se encontrar fora de Macau pode optar por alternativas idênticas. De acordo com o FSS, cerca de 120.000 beneficiários concluíram as formalidades, representando 95 por cento da totalidade.


8 coronavírus

INFECTADOS POR PAÍS / REGIÃO (À HORA DO FECHO DA EDIÇÃO)

China Itália Irão Espanha Coreia do Sul Alemanha França E.U.A. Suíça Reino Unido Noruega Holanda Bélgica Suécia Áustria Dinamarca Japão Diamond Princess Malásia Qatar Austrália Canadá Grécia Portugal Républica Checa Finlândia Israel Singapura Bahrain Eslovénia Estónia Brasil Islândia Irlanda Roménia Polónia Hong Kong Tailândia Filipinas Indonésia Índia Egito Iraque Kuwait Arábia Saudita San Marino Líbano Paquistão Emiratos Árabes Unidos Luxemburgo Chile Perú Rússia África do Sul Eslováquia Taiwan Vietname Argentina Croácia Panamá Sérvia Argélia Brunei México Bulgária Albânia Colômbia Hungria Palestina Equador Bielorrússia Costa Rica Letónia Geórgia Chipre Armênia Malta Marrocos Azerbaijão Senegal Bósnia e Herzegovina Moldávia Omã Sri Lanka Afeganistão Tunísia Macedónia do Norte Ilhas Faroé Turquia Lituânia Venezuela Jordânia Burkina Faso Martinica Maldivas Cambodja Macau República Dominicana Bolívia Jamaica Cazaquistão Reunião Nova Zelândia Bangladesh Paraguai Uruguai Guiana Guiana Francesa Liechtenstein Mónaco Gana Guadalupe Honduras Uzbequistão Ucrânia Andorra Etiópia Porto Rico Ruanda Camarões Costa do Marfim Cuba Trindade e Tobago Ilhas do Canal Polinésia Francesa Guam Quénia St. Barth Seicheles Guatemala Nigéria Aruba Curação R.D.C. Namíbia Santa Lúcia São Martinho Ilhas Caimão Sudão Nepal Antígua e Barbuda Bahamas Butão C.A.R. Congo Guiné Equatorial Gabão Gibraltar Guiné Cidade do Vaticano Libéria Mauritânia Mayotte Mongólia São Vicente e Granadinas Suriname Eswatini Tanzânia Togo Ilhas Virgens Americanas

80880 24747 14991 8794 8236 6248 5423 3806 2218 1391 1292 1135 1058 1046 1018 898 845 696 566 401 375 341 331 331 298 278 255 243 221 219 205 203 180 170 158 150 149 147 142 134 129 126 124 123 118 109 109 107 98 81 75 71 63 62 61 59 59 56 56 55 55 54 54 53 52 51 45 39 39 37 36 35 34 33 33 30 30 29 25 24 24 23 22 22 21 20 19 18 18 17 17 16 15 15 13 12 11 11 11 10 9 9 8 8 8 8 7 7 7 6 6 6 6 6 5 5 5 5 5 4 4 4 4 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

17.3.2020 terça-feira

5937 Em estado

179221

crítico

Infectados

Co novel

4614 Casos suspeitos

1

PORTUGAL

Morto

327 PORTUGAL

países com casos de nCov países sem casos de nCov

Infectados

1

MACAU

Infectado

10 Curados

Macau

64 HONG KONG

Infectados

4

HONG KONG

81 Curados

Hong Kong

Mortos


coronavírus 9

terça-feira 17.3.2020

ovid-19 l coronavírus

7066

78285 Curados

Mortos

0 1-9 10-99 100-499 500-999 FONTES:

+1000

• https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/ opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/emergencies/diseases/ novel-coronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/ index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/geographical-distribution-2019-ncov-cases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/pneumonia

Ocorrências nas áreas afectadas

Dados actualizados até à hora do fecho da edição

Covid-19 vs SARS

CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO

200000 150000 100000 75000 50000 25000 12500 0

20

dias

40

dias

60

dias

Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto

80

dias

100

dias

120

dias

REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Shandong Jiangsu Chongqing Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Guangxi

INFECTADOS 67798 1361 1272 1213 1018 990 935 760 631 576 538 480 414 337 318 296 294

MORTOS 2641 7 20 1 4 6 1 6 5 6 3 13 5 3 6 1 2

REGIÃO Shaanxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete

INFECTADOS 245 174 168 146 132 136 121 91 91 76 75 71 149 59 18 11 1

MORTOS 2 2 5 2 0 3 1 2 1 2 0 0 3 1 0 0 0


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17.3.2020 terça-feira

HUBEI MENOS RESTRIÇÕES PARA REACTIVAR ECONOMIA

Circular é crescer

A

China está a flexibilizar as restrições na circulação de pessoas na província de Hubei, epicentro do novo coronavírus, visando permitir a retoma ao trabalho de milhares de pessoas em empresas com urgência de retomar a produção. A agência noticiosa oficial Xinhua noticiou ontem que as cidades da província estão a fretar autocarros para enviar de volta para o trabalho residentes que, em Janeiro passado, regressaram às terras natais para celebrar o Ano Novo Lunar e foram, entretanto, impedidos de regressar, devido ao surto. A medida surge numa altura em que as autoridades chinesas dizem que o surto, que começou em Dezembro passado, em Wuhan, atingiu o pico, e dão a situação como

O Presidente chinês, Xi Jinping, prometeu, no entanto, que as metas de crescimento económico para este ano vão manter-se. Citadas pela Xinhua, as autoridades locais disseram que, só na cidade de Huangguang, 750.000 trabalhadores migrantes não conseguiram ainda regressar aos seus postos de trabalho. Na semana passada, as empresas em Wuhan, a capital da província e a cidade mais afectada pelo surto, foram autorizadas a retomar “gradualmente” a actividade. controlada, enquanto permanecem vigilantes contra casos importados. As medidas drásticas impostas pelo Governo chinês para conter o surto levaram a uma quebra dos indicadores económicos para os níveis mais baixos em várias décadas.

DA RETOMA

Para as empresas que produzem bens e serviços essenciais a retoma deve ser imediata, incluindo empresas de equipamento médico e farmácias, serviços públicos como fornecimento de gás, electricidade ou PUB

aquecimento, supermercados de produtos frescos e a produção agrícola. As empresas de outros sectores de actividade, mas com “grande importância na cadeia produtiva nacional e internacional”, poderão retomar o trabalho após obterem autorização. As outras empresas não poderão reiniciar actividade até 21 de Março. Regras semelhantes serão aplicadas nas áreas de “alto risco” no resto da província: empresas ligadas à prevenção da epidemia, necessidades básicas e serviços públicos podem voltar ao trabalho. Situada no centro da China, a província de Hubei registou e concentra a maioria dos casos e mortes devido à Covid-19 registados a nível mundial, 67.798 e 3.099, respectivamente. As medidas de isolamento afectaram quase 60 milhões de pessoas distribuídas por 15 cidades da província.

INDÚSTRIA REGISTADA MAIOR QUEDA DE SEMPRE

A

produção industrial da China registou nos dois primeiros meses do ano o maior declínio em três décadas, devido às medidas para travar a propagação do surto do novo coronavírus, foi ontem anunciado. De acordo com o Gabinete de Estatísticas chinês (GNE), o indicador registou uma contração de 13,5 por cento, um número muito abaixo das previsões dos analistas, que apontavam para um crescimento de cerca de 1,5%, durante o mesmo período, e que representa a maior queda

desde o início dos anos 1990, quando começou a haver registos. “É um número muito inferior ao previsto e aponta para uma recessão mais profunda do que durante a crise financeira internacional de 2008”, apontou a consultora britânica Capital Economics, num relatório. Entre Janeiro e Fevereiro passados, a taxa de desemprego subiu para 6,2 por cento, enquanto as vendas a retalho e o investimento em activos fixos caíram 20,5 por cento e 24,5 por cento, respectivamente.

Região 公開招標公告 Open Tender Notice “澳門國際機場客運大樓更換MVAC冷水主機連配件, 裝修4間機房﹑保安檢查及出境櫃台區域之設計及建 造工程 (RFQ-267)” 之公開招標 “Design and Build-Replacement of MVAC Chillers and Accessories and Renovation of four Mech. Rooms, Security Check and Immigration Area in PTB (RFQ-267)” 1. 2. 3.

4.

5.

6.

招標實體: 澳門國際機場專營股份有限公司 Company: Macau International Airport Co. Ltd. (CAM) 招標方式: 公開招標 Tendering method: Open tendering 目的: 選擇富有經驗之承建商進行澳門國際機場客運大樓更換MVAC冷水機連配件, 裝修4間 機房﹑保安檢查及出境櫃台區域之設計及建造工程。 Objective: To seek for a fully experienced Contractor to perform the Design & Build of the replacement work of MVAC chillers and accessories, renovation work of four Mech. Rooms and Security Check and Immigration Area in the Passenger Terminal Building at Macau International Airport. 招標文件: 至截止投標日止,有意者可瀏覽CAM 官方網站 www.camacau.com 查閱招標文件及 相關資料。 有意參與投標人士應時常留意上述網站以獲取涉及招標文件並得隨時公佈的最 新附加資訊、說明或修改內容。 Release of tender documents: Tender Documents and other pertinent information are available on www. camacau.com until the deadline for submission of Bidders’ proposals. Please always check the website for additional information, clarification or modification which may be published from time to time, of the Tender Documents. 遞交投標書地點、截止日期及時間: 遞交投標書地點:澳門氹仔偉龍馬路機場專營公司辦公大樓四樓接待處` 截止日期及時間:2020年4月17日中午12:00前 (澳門時間) 收件人必須註明為: 執行委員會主席 恕不接納截止時間後所收到之投標書 Location and deadline for submission of Bidders’ proposals: Reception on 4th Floor, CAM Office Building, Av. Wai Long, Taipa, Macau Before 12:00 noon on 17 April 2020 (Macau Time) The addressee of the proposal shall be Chairman of the Executive Committee. The proposals received after the stipulated deadline will not be accepted. 澳門國際機場專營股份有限公司保留不表明因由而全部或部份拒絕任何投標書之權利。 CAM reserves the right to reject any proposals in full or in part without stating any reasons. -完-END-

JAPÃO AUTOR CONFESSO DO MASSACRE DE 19 DEFICIENTES CONDENADO À MORTE

O

autor confesso do maior massacre no Japão nos últimos 75 anos, o de 19 pessoas deficientes, foi condenado ontem à morte e durante o julgamento insistiu que a felicidade das suas vítimas foi a sua motivação para os crimes. O Tribunal Distrital de Yokohama condenou Satoshi Uematsu, de 30 anos, à pena de morte pelo assassínio de 19 moradores de um centro para deficientes em Sagamihara, a cerca de 50 quilómetros a oeste de Tóquio. Uematsu entrou na madrugada de 26 de Julho de 2016 num centro dedicado a pessoas com problemas mentais e, depois de imobilizar a equipa de funcionários que estava no local, esfaqueou os residentes enquanto estes dormiam. O ataque durou cerca de 50 minutos, durante os

quais matou 19 pessoas com idades entre 19 e 70 anos e feriu outras 24, de um total de 149 pessoas com deficiências que residiam nas instalações. O autor do crime, que tinha trabalhado no centro três anos e meio e morava a apenas 500 metros, escolheu como vítimas alguns dos pacientes com maior grau de deficiência, segundo o seu próprio relato. Uematsu entregou-se numa esquadra perto da sua residência carregando três das facas usadas no ataque. Em declarações à polícia e no julgamento, insistiu que sua motivação era “salvar” as suas vítimas e torná-las “felizes”. Na decisão, o juiz do Tribunal Distrital de Yokohama, que presidiu o julgamento, Kiyoshi Aonuma, disse que, embora pudesse

“entender o sentimento” que motivou o ataque, a decisão leva em consideração “a enorme crueldade” do crime e a sua “grave” consequência”, de acordo com trechos do texto difundidos pelo canal público de televisão NHK. “A sua maneira de pensar sobre várias pessoas com deficiência baseia-se na sua experiência de trabalho. Não podemos dizer que seja um pensamento patológico”, disse Aonuma, referindo-se à responsabilidade criminal do acusado, cujas capacidades mentais foram avaliadas pela sua defesa durante o processo. O caso de Sagamihara é o maior massacre cometido no Japão desde o final da Segunda Guerra Mundial e chocou e indignou o país.


terça-feira 17.3.2020

O que eu amo não sei. Amo em total abandono

Compositores e Intérpretes através dos Tempos Michel Reis

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Samuel Barber (1910-1981)

O poderosamente espiritual Adagio de Barber Adagio for Strings

S

AMUEL Barber, que tinha frequentado o reputado Curtis Institute of Music de Filadélfia entre 1924 e 1932, sabia que o Curtis String Quartet, formado em 1932, estava a planear uma digressão europeia nos últimos meses de 1936, e projectou escrever um quarteto para o agrupamento tocar em Itália. O compositor tinha passado um ano a estudar na Academia Americana em Roma, depois de receber o cobiçado “Prix de Rome” na Primavera de 1935. Graças a uma extensão do seu Pulitzer Fellowship, pôde permanecer na Europa durante o Verão e Outono de 1936, instalando-se numa pequena casa de campo em St. Wolfgang, na Áustria, com o seu companheiro, o também compositor Gian Carlo Menotti. Foi aqui que a maior parte do quarteto foi composto, durante a sua reclusão de cinco meses na pequena localidade suíça. Barber, no entanto, não concluiria a peça a tempo da digressão do Curtis Quartet. Assim, após ter terminado o quarteto, este foi estreado, numa versão provisória, pelo Pro Arte Quartet, no dia 14 de Dezembro de 1936, na Academia Americana sediada na Villa Aurelia em Roma. A versão final só seria estreada no dia 28 de Maio de 1943, pelo Budapest Quartet, na Library of Congress em Washington, D.C. O Quarteto de Cordas em Si menor, Op. 11, o primeiro e único quarteto de cordas de Barber, não terminou da forma que o compositor pretendia, pois o segundo andamento eventualmente ofuscou toda a obra quando o transcreveu para orquestra de cordas com o título Adagio for Strings, por sugestão do famigerado maestro Arturo Toscanini, com quem tinha travado conhecimento em 1936, em Roma. Além disso, o projecto do último andamento nunca se concretizou realmente, e a peça como um todo ficou marcada como um veículo para dar vida ao Adagio. O primeiro andamento tem mérito, no entanto, na medida em que mostra Barber a experimentar um estilo um pouco afastado do seu idioma hiper-melódico habitual. O trabalho final tem dois andamentos. O primeiro, Molto allegro e appassiona-

O poderosamente espiritual Adagio for Strings é familiar à maior parte dos ouvintes, mesmo que não sejam capazes de o identificar. A obra, que incorpora sentimentos de profunda perda e dor, nasceu no caos de um continente à beira do apocalipse

to, está estruturado na forma-sonata livre. Reminiscente de Beethoven e diferente, em termos de retórica, da maioria das obras de Barber, é estruturado em torno de motivos rítmicos, em lugar de se basear numa melodia central carregada de emoções. O segundo andamento, Molto adagio; molto allegro, começa com uma das melodias mais famosas da história, a lenta e sensível cantilena que se tornou, na versão para orquestra de cordas, o Adagio for Strings. A segunda metade do andamento, Molto allegro (originalmente destinado a ser o último) é uma recapitulação bastante desinteressante e superficial do material do primeiro andamento. O poderosamente espiritual Adagio for Strings é familiar à maior parte dos ouvintes, mesmo que não sejam capazes de o identificar. A obra, que incorpora sentimentos de profunda perda e dor, nasceu no caos de um continente à beira do apocalipse. O Adagio, estreado no dia 5 de Novembro de 1938 pela NBC Symphony Orchestra sob a batuta de Arturo Toscanini no Studio 8H no Rockefeller Center em Nova Iorque, perante uma audiência seleccionada, estabeleceu uma posição firme na consciência americana como a personificação musical do luto colectivo. Foi tocado nos funerais de Franklin Roosevelt, Albert Einstein e Grace Kelly. Três dias após o assassinato de John F. Kennedy, Jackie Kennedy organizou a sua execução numa sala vazia pela National Symphony Orchestra em sua homenagem; uma gravação desta actuação foi lançada nas estações de rádio e televisão, que a adoptaram como um hino não oficial de luto durante as semanas subsequentes. A obra foi também tocada por orquestras em todo o mundo na sequência das tragédias do 11 de Setembro . Oliver Stone usou-o como tema de seu filme de referência, “Platoon”. O seu poder reside na sua simplicidade e profundidade de sentimento e há poucas obras que tenham um acesso tão directo às emoções das pessoas.

SUGESTÃO DE AUDIÇÃO: • Samuel Barber: Adagio for Strings Los Angeles Philharmonic Orchestra, Leonard Bernstein - Deutsche Grammophon, 1993


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Amélia Vieira

17.3.2020 terça-feira

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Fausto

T

momento da putrefação e precisamos de Mefistófeles, de Fausto, para passar a viagem sombria. Estamos barricados e cada um regressa à sua parte de vida que sustente a legenda daquilo de que verdadeiramente é capaz. Mefistófeles, no entanto, no seu registo grosseiro, acaba por não ter poder para encantar Fausto, pois este, na sua deriva, jamais ANTON KAULBACH, FAUST UND MEPHISTO

UDO neste momento me lembra Fausto — sem a longa versão do fabuloso intérprete, é certo — mas pela ruína diária do nosso quotidiano todo ele barricado pela distância viral. Talvez seja o momento épico não esperado que produziu em nós trágica interrogação dado que as nossas vidas parecem ter sofrido uma ruptura estranha que faz agora das quarentenas o tempo necessário para a reflexão e a visitação dos mitos esquecidos. Aparecer é também revelar condições para a manifestação, seja ela de que natureza for. Criámos o campo do manifestado e por vezes ainda invocámos a sua aparição. Quando esta obra apareceu na Europa veio mergulhada numa busca esotérica que permitiu ao seu autor contemplar formas remotas da cultura europeia, ao mesmo tempo que foi construída em pleno avançar do racionalismo, e muita dessa matéria hermética transforma Goethe em matéria poética. Neste sentido, poder-se-á afirmar que não pode haver passagem sem a união das duas. Fausto, como todas as grandes obras, é também uma "lei orgânica" toda e qualquer realidade mergulha na tragédia de cada indivíduo, de cada colectivo, não da mesma maneira, mas exposta a leis severas que lhes são comuns. Uma obra assim transformadora tem em si os elementos imperecíveis para alturas de crise. Em coro evocámos os Arautos de todas as ajudas, tivemos respostas para as necessidades, elaborámos sistemas de tráfico intenso, controlávamos as nossas vidas e controlávamos as de outros, mas o tempo da crise muda o rosto dos nossos feitos fabricados e põe-nos perante a sujeição do próprio destino. E este é desmesuradamente desconhecido para nós. Por outro lado, a infantilização do bem e do mal há muito que cumpriu as suas metas numa espécie de hipertexto global e a jusante uma sombra de desígnios imponderáveis deve, e pode, levantar-se. O silêncio profundo a que a obra se remeteu é um sono mais... as caldeiras por fora fervem! Este é agora o

se esquecera de quem era e das ruínas do gozo. Ele renuncia ainda a todas as outras coisas que o desviam de um centro onde um outro encontro se dá. Para Fausto, as circunstâncias exteriores deixaram de lhe tocar e o seu grande trabalho alquímico que arranca do pântano reintegra uma outra natureza. Uma parte - parte I - quase nos relem-

bra a viagem de Tobias, partindo com Rafael e o cão atrás, seguindo-os. Ele vai casar-se com a prima que matou sete maridos pois que o diabo tinha ciúmes dela. Também Fausto em transe para o suicídio muda de ideias ao escutar a Páscoa que se aproximava e sai com um amigo, acompanhados na marcha por um cão farejador, esse cão no entanto era o próprio Mefistófeles com quem sela um pacto. Muitas coisas que nos entram ao caminho podem ser a versão de uma visita com que temos de saber lidar, talvez ela precise de nós para os seus atalhos e não seja para já o inimigo a abater. A longa luta trará aos caminhantes o tempo certo para as despedidas. Do cão de Tobias mais ninguém falou. Os cães das nossas selvas civilizadas estão em estado pouco próprio para escolher seguidores, e são os homens que os seguem agora nos caminhos onde nada destas coisas parecem ter sentido. Mas pode ainda ser a parábola do guardião do diabo que lhe está subjacente. Tudo vem dos animais e foi até um Peixe que curou a cegueira de Tobite, aquela mescla de ensinamentos que fez cair as cataratas, em outras cataratas, que são agora a nossa outra cegueira. A culpa do agente infeccioso é um manual de probabilidades que nos leva a querer desistir da própria cura e os anjos não fecham fronteiras. Fausto que percorreu tantos caminhos, encontra-se agora na sua fase de aceitação, as cinzas recuperadas dão lugar à renúncia e outra marcha se avizinha na rota do herói. É uma experiência nova que lhe vai servir de libertação. Ele vai falar da sua destreza e cumprimento de um dever sagrado e o auto deve ser escutado em época de extremo calafrio. Mefistófeles Ora dizei-me cá, meus cachorrinhos: nessa panela aí que estais mexendo? Os Animais Fartas sopas cozemos para mendigos. Sem nunca perder de vista um Fausto repugnado, digamos que há um caldo funesto nestas entranhas.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

terça-feira 17.3.2020

uma asa no além Paulo José Miranda

A

pequena peça de teatro em um acto, «Antes da Morte e Depois da Vida», tem uma história trágica para além do próprio tema tratado. Meses depois de publicada, a sua autora, Klasina Bakker suicidava-se em sua casa aos 37 anos. Na altura, 2002, o assunto veio para os jornais interligando-se com a sua peça, que retratava precisamente a história de um homem, Jan Meijer, que ia ao médico para que este o ajudasse a morrer. Mas há uma contextualização que é necessário fazer. Em meados de 2002, a Holanda legalizava a eutanásia e descriminalizava o suicídio assistido. Havia, contudo, uma série de condições: era preciso que a doença diagnosticada fosse incurável e que o paciente estivesse a sofrer de uma dor insustentável, sem perspectiva de melhoras. O paciente devia fazer o seu pedido de auxílio para morrer estando totalmente consciente e manter a vontade ao longo de um tempo determinado. Dias depois do lançamento do livro, Bakker disse numa entrevista que foi isso que a levou a escrever o livro. Aliás, era por demais evidente. Já não era tão evidente Jan Meijer ser uma espécie de alter-ego dela. Jan Meijer na sua consulta diz ao médico: «Gostava que me ajudasse a morrer em paz. Sei que há comprimidos que se podem tomar e acabar de vez com isto, sem dor, como se nos deitássemos para dormir.» Ao médico não lhe escapa a expressão «acabar de vez com isto», ao que Jan esclarece que o «isto» é a vida. O médico fica atónito com a resposta e o comportamento de Jan. Há uma pequena passagem logo no início que é preciso ler: «DOUTOR: Diga-me uma coisa. Desde quando começou a ter esta ideia de...

«Antes da Morte e Depois da Vida» JAN: Querer morrer? DOUTOR: Sim. Desde quando essa ideia o persegue? JAN: Bem, tanto quanto me lembro, há bastante tempo. Mas, assim, com um carácter mais decisivo, mais planificado, desde há dois anos a esta parte. Mais ou menos. Quando as dores começaram a tornar-se insuportáveis. DOUTOR: Nunca lhe ocorreu fazê-lo por sua própria iniciativa? Sei lá, tomar comprimidos, um tiro na cabeça, cortar os pulsos, atirar-se de um prédio abaixo? JAN: Claro que não, doutor. E é precisamente por isso que estou aqui. É que não me quero matar. Quero morrer apenas, não me quero matar. Quero morrer, porque a minha doença não me deixa viver dignamente. Por isso é que pretendo o tal comprimido. Soube que já o utilizam nos hospitais. DOUTOR: Sim, é certo. Mas só é utilizado em doentes terminais e quando se torna evidente qualquer impossibilidade de inverter a situação. Ninguém dá comprimidos apenas porque alguém decide que não gosta da vida.

JAN: Peço desculpa, doutor. Não gostar da vida não foi decisão minha. A decisão que me cabe é apenas pôr-lhe fim. Nada mais do que isso. Não gostar da vida é algo que tenho. É uma doença. E que muito me faz sofrer, garanto-lhe. (o doutor levanta-se e dirige-se a uma das prateleiras) DOUTOR: O que é que o leva a crer que seja uma doença? JAN: Porque, pelo que me é dado a ver, não é natural. De modo geral, as pessoas gostam de viver ou, se não gostam, tentam pelo menos não pensar nisso e vivem como podem. Com maior ou menor gosto pela vida. Não é assim, doutor?» Surgem aqui dois pontos importantes ao longo de toda a peça: a diferença entre morrer e matar-se, e a consciência clara de que não gostar de viver é uma doença (não é uma decisão). Jan quer morrer devido à doença terminal «não gostar de viver», mas não se quer matar. Depois de várias perguntas acerca do seu histórico clínico, se tinha tido doenças mentais, etc., o médico adianta que está nas mãos de Jan provar que realmente tem uma doença terminal e que as dores são insustentáveis. Grande parte da peça

A vida pode ser insuportável, por que então vivê-la? Se tudo é relativo, se não há verdade absoluta, porque teimamos em fazer da vida o último bastião da verdade, o último bastião do absoluto. Continuar a viver não tem maior valor do que decidir morrer

desenvolve-se nesta tensão contínua entre o cepticismo do médico e a argumentação quase angustiante de Ian. Mas há um momento em que tudo muda. Quando o médico julga estar diante de um caso único, um caso de estudo e poder tirar partido disso. «DOUTOR: «O único problema filosófico é o suicídio. (...)». Conhece o autor? IAN: E o que é que isso tem a ver para a nossa conversa, doutor? Já lhe disse que não me quero suicidar. DOUTOR: Precisamente por isso! Você não quer viver, mas também não se quer matar. É um problema novo, homem. Compreende o que lhe quero dizer? IAN: Não estou bem certo disso. Mas também é coisa que não me interessa. Já lhe tinha dito anteriormente que não me interesso por filosofias.» Independentemente da qualidade da peça, que hoje me parece bastante datada, teve a qualidade de trazer para o debate público a relatividade da vida. O valor da vida não é absoluto e Klasina Bakker mostrou-nos isso com o seu suicídio. A sua morte é indissociável da peça de teatro que escreveu. Não é por acaso que Jan tem precisamente a idade dela. A vida pode ser insuportável, por que então vivê-la? Se tudo é relativo, se não há verdade absoluta, porque teimamos em fazer da vida o último bastião da verdade, o último bastião do absoluto. Continuar a viver não tem maior valor do que decidir morrer. No passado 12 de Março fez 17 anos que Klasina Bakker se suicidou. No próximo ano a sua morte atinge a maioridade.


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comunicado, divulgado no domingo, a SAS referiu que várias medidas restritivas tomadas por muitos Governos, como o encerramento de fronteiras, tornaram a procura internacional de viagens aéreas “praticamente inexistente”.

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YUAN

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VIDA DE CÃO

MEMÓRIA Donald Trump é a negação de tudo o que é ciência. Não é o único no seu quadrante político e no oposto, na esquerda, também há demasiada gente a colocar a ideologia acima da ciência. A negação do conhecimento e dos factos pelas crenças é cada vez mais transversal. Não admira por isso que Trump tenha dito que o Covid-19 era como a gripe ou até menos grave. Trump é o mestre das redes sociais, percebe como ninguém o imediatismo de um meio em que qualquer post com três dias fica perdido. Mas, o mais interessante é que muita gente na RAEM que, no início, também dizia que a então “pneumonia de Wuhan” era menos grave que a gripe nos Estados Unidos, tenha virado e se dedique a escreve grandes lençóis com críticas, que até são justas, e recomendações aos Governos de fora. Felizmente para muitos o facebook não tem espelho nem memória. Um último destaque para a libertação do Chan Kin Man. Esteve preso durante 11 meses por causar “distúrbios públicos”. Na verdade o crime foi ter sido uma das pessoas envolvidas no Occupy Central, movimento que de violência só teve os ataques da polícia. Ataques, na altura, unanimemente muitos condenados, mesmo que hoje se diga o contrário. Chan foi um pacifista e poderia ter sido uma ponte entre azuis e amarelos, ou se preferirem Governo, polícia e população. Mas, a vontade política na RAEHK foi diferente e ensinou-se a seguinte lição à população: se forem para as ruas vão para a prisão. A escalada da violência também é o resultado disto. As pessoas sabem que uma vez na rua já não há nada a perder... João Santos Filipe

21 22 Cineteatro C I N E M A UM DARK PASSION PLAY | NIGHTWISH (2007) DISCO HOJE 2 5 1 8 9 3 4 6 7 7 4 3 5 8 2 1 6 9 THE INVISIBLE 20 MAN [C] 4 6 9 5 CALL 7 OF1THE WILD 8 [B]3 2 5 9 6 4 3 1 8 2 7 A banda Nightwish é uma 3 das mais 8 7 3 2 6 4 5 9 1 1 influentes 8 2 e7que9 6 3 5 4 mais contribuiu para esta2 5 BIRDS OF PREY [C]3 belecer 1 4 5 3 MY 2 SPACE 9 [B] 6 7 8 9 o metal 7 1sinfónico. 3 5 4 2 8 6 1 2 4 Com a voz da soprano Tar6 9 8 1 5 7 2 4 3 6 2 num 5 mundo 9 1 8 7 4 3 ja Turunen, 3 9 7 principalmente de vozes 7[B] 3 2 6 BATTLE 4 8OF JAGSARI 1 [C]5 9 8 3os finlandeses 4 2 6 7 9 1 5 masculinas, THE CAVE 3 9 1 desde cedo se destacaram. 3 2 4 9 8 6 7 1 5 3 chegou 1 7em 820054 5 6 9 2 A crise 5 2 6 com a separação 5 1 7 4 3 2 9 8 6 2 5 8com6a vo-7 9 4 3 1 calista. Face à adversida5 7 9 1 de, o 4 compositor 9 8 6 7 1 5 3 2 4 6 9do grupo, 1 2 3 5 7 8 5 1 Tuomas Holopainen, respondeu com Dark Passion 9 6 Play. A música de abertura 23 “The24 Poet and the Pendulum”, com mais de 13 6 2 4 7 9 5 3 8 1 3 mostrou 9 2 imedia6 5 8 7 4 1 minutos, 22 tamente que os Nightwish 3 8 7 4 2 1 9 5 6 1 muito 5 7 tinham mais 4 para2 9 8 6 3 7 4 6 9 dar. 6João4 Santos 9 1 5 8 6 3 7 4 2 8Filipe7 3 1 9 5 2 6 3 1 2 6 1 5 4 9 8 3 THE7CAVE 7 1 9 5 8 2 6 3 4 7 4 7 3 9 2 1 8 5 6 4 4 3 5 9 6 7 2 1 8 9 1 2 5 4 8 6 Propriedade 3 7 Fábrica 2 de1Notícias, 9 2 8 6 1 4 3 5 9 7 7 4 Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo 1 5 2 3 M.Tavares; 7 6João4Paulo9Cotrim;8José Drummond; José Navarro 9 2de Andrade; 4 José 8 Simões 1 Morais; 6 Luis 3 Carmelo; 7 5 Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e 8 6 Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo 4 www. 9 3 1 Rasquinho; 8 2 Paul6Chan7Wai Chi;5Paula Bicho; Tânia dos5 3 Steph 2 Grafismo 9 4Paulo1Borges,8Rómulo 6 Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Santos7 Cartoonista 4 6 9 2 Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada hojemacau. 8 Yue,66.º andar 1 A, Macau 3 Telefone 7 528752401 4 Fax228752405 9 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo 8com.mo 7 6 9 Calçada 5 4de Santo1Agostinho, 2 n.º319, Centro Comercial Nam 2 8 1 SALA 1

14.45, 19.30

Um filme de: Leigh Whannell Com: Elisabeth Moss, Adis Hodge, Storm Reid 15.00, 18.00

Um filme de: Chris Sanders Com: Harrison Ford, Karen Gillian, Dan Stevens 17.00 SALA 3

Um filme de: Cathy Yan Com: Margot Robbie, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollet-Bell 20.45

Um filme de: Peter Segal Com: Dave Bautista, Chloe Coleman 14.15, 19.15

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Um filme de: Tom Waller Com: Jim Warny, Ekawat Niratworapanya, Tan Xiaolong, Erik Brown

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A transportadora aérea Scandinavian Airlines Systems (SAS) suspendeu temporariamente desde ontem, a maioria dos voos e dez mil funcionários, ou 90 por cento do pessoal, devido à crise causada pelo coronavírus. Em

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Um filme de: Kwak Kyung-Taek, Kim Tae-Hun Com: Kim Myung-Min, Choi Min-Ho, Kim Sung-Cheol, Kim In-Kwon 14.15, 19.15


opinião 15

terça-feira 17.3.2020

macau visto de hong kong

DAVID CHAN

EPOIS da actividade laboral ter regressado ao normal, o Governo anunciou finalmente o calendário da reabertura das escolas. As aulas do 12º ano começam a 30 de Março, para os estudantes se prepararem para os exames de acesso à Universidade. A 13 de Abril regressam à escola os alunos do 10º e do 11º ano; uma semana mais tarde, a 20 de Abril, será a vez dos alunos do 3º ciclo; a 27 de Abril as aulas do 1º e do 2º ciclos vão ser retomadas e, finalmente, a 4 de Maio será a vez dos infantários e das escolas de educação especial. Após este anúncio os pais vão sentir-se aliviados. As escolas estão fechadas desde os finais de Janeiro. Embora os jovens tenham continuado a estudar online, depararam-se com muitas dificuldades de ordem técnica. Por exemplo, como instalar certos programas, como lidar com falhas de rede e como lidar com alguns programas que só podem ser utilizados a nível local. Sem ultrapassar estes problemas, não podiam acompanhar o ensino online. A concentração das crianças do 1º ciclo não é por natureza muito elevada, especialmente quando os professores só aparecem nos ecrãs dos computadores, o que claramente dificulta o estudo. Nesta fase, é muito difícil conseguir um ensino online bem sucedido sem o apoio dos pais. Enquanto os pais estiveram em casa puderam acompanhar os filhos, mas, após ter sido restabelecida a normal rotina de trabalho, é impossível manter este apoio. O anúncio do calendário da reabertura das escolas vai ajudar a aliviar a pressão a que os pais estiveram sujeitos, sobretudo aqueles que têm crianças mais pequenas. São sem dúvida boas notícias. Olhando para este calendário salta-nos à vista o facto de prever uma reabertura faseada. O Governo decidiu que as escolas não iam reabrir todas ao mesmo tempo, mesmo depois de não se ter registado nenhum caso de infecção por coronavírus durante mais de um mês. A prioridade são os estudantes que preparam o ingresso nas Universidades; a seguir regressam os alunos do 10º e do 11º ano. Nesta altura, é muito importante que os estudantes do 12º ano estejam bem preparados de forma a não terem de ser colocados em Universidades fora do território. Desde que tudo continue a correr bem, e não haja mais nenhum surto na cidade, o resto dos alunos podem voltar à escola. Primeiro voltam os do 3º ciclo e depois os do 2º e do 1º ciclo. Estes procedimentos destinam-se a garantir

KAREN ELIZABETH TORNOE

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Regresso às aulas

a “segurança”. Os estudantes das escolas secundárias são mais velhos e mais maduros que os das escolas primárias. Se houver um problema, as escolas dos mais crescidos terão

Será que vai haver necessidade rever as matérias que foram dadas online, sobretudo por causa das dificuldades informáticas que os estudantes tiveram de enfrentar? Como é que vai ser feita a avaliação, os trabalhos que fizeram em casa vão contar para a média? Vai haver um período normal de férias de Verão?

mais facilidade em lidar com a situação. Posto isto, estes preparativos são absolutamente razoáveis. É evidente que a abertura das escolas é o primeiro passo. Mas existem ainda muitos outros problemas por resolver. Será que vai haver necessidade rever as matérias que foram dadas online, sobretudo por causa das dificuldades informáticas que os estudantes tiveram de enfrentar? Como é que vai ser feita a avaliação, os trabalhos que fizeram em casa vão contar para a média? Este ano vai haver um período normal de férias de Verão? Ou vai haver apenas uma breve interrupção nessa altura? Estas são questões que as escolas vão ter de resolver. No anúncio da reabertura das escolas, as Universidades não foram mencionadas; mas não foi apontado nenhum motivo para esta decisão. Os estudantes universitários vêm de todo o mundo, China, Portugal, Filipinas,

América, etc. Confrontados com os surtos de infecção em muitos países europeus, teremos de colocar os estudantes estrangeiros em quarentena quando regressarem a Macau? Será mais adequado manter os cursos a funcionar online? Os problemas que foram acima mencionados, relativos às escolas primárias e secundárias, também vão ocorrer nas Universidades. Sem um debate aprofundado de todas estas questões, será difícil anunciar a reabertura do ensino superior. Não queremos que os finalistas continuem a adiar a sua graduação, nem eles vão desejar que o novo semestre, que começa em Setembro, continue a ser afectado por esta epidemia. A reabertura das escolas de todos os níveis de ensino é uma prioridade. Claro que compreendemos que este é um processo complexo que afecta os estudantes, os pais e os professores de Macau e que tem de ser tratado de forma cuidadosa.

Professor Associado do IPM • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau • legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


Somos fiéis a nós próprios, nada mais.

SJM LUCROS LÍQUIDOS SUBIRAM 12,5% EM 2019

HENGQIN MACAU VAI TER INSTITUTO DE PESQUISA INDUSTRIAL

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Sociedade de Jogos de Macau (SJM) registou um aumento de 12,5 por cento dos lucros líquidos nos resultados anuais do ano passado. O lucro atribuível a proprietários da empresa atingiu 3,2 mil milhões de dólares de Hong Kong, quando em 2018 o valor foi de cerca de 2,8 mil milhões. Em comunicado ontem divulgado pelo grupo fundado por Stanley Ho, é indicado que as receitas líquidas da SJM foram de 33 mil milhões de dólares de Hong Kong, uma quebra de 1,5 por cento face ao ano anterior. Já o EBITDA ajustado do grupo, que se refere aos resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações, fixou-se em 4,2 mil milhões de dólares de Hong Kong, mais 13,2 por cento relativamente a 2018. Na mesma nota, a SJM referiu que o Hotel Grand Lisboa, em Macau, teve uma taxa de ocupação média de 93,8 por cento, na totalidade do ano, uma quebra de 1,7 por cento. O trabalho de construção no Grand Lisboa Palace ficou terminado no final de 2019, tendo sido feito um pedido para as licenças relevantes de forma a entrar em operação na segunda metade do ano corrente. O CEO da Sociedade de Jogos de Macau mostrou-se satisfeito com os resultados ao nível do EBITDA ajustado e os lucros. “A SJM entrou em 2020 numa posição forte para enfrentar os desafios do ano”, disse Ambrose So, citado na nota, acrescentando uma mensagem de apoio ao Governo no combate ao coronavírus.

Portugal Registada primeira vítima mortal fruto da Covid-19

Produção em massa Fabrico diário de máscaras em Zhuhai supera um milhão de unidades

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STA semana, Zhuhai vai passar a ter uma capacidade de produção diária de 1,2 milhões de máscaras faciais, de acordo com um oficial do departamento de Indústria e Tecnologia da Informação de Zhuhai mencionado numa notícia na página electrónica do Governo Municipal da cidade vizinha. De acordo com o noticiado, no dia 12 de Março, a produção diária de máscaras de empresas locais excedeu as 800 mil, das quais 280 mil eram do tipo N95 e 240 mil normais, registando-se a continuação do crescimento da produção. Encontram-se em Zhuhai 40 fabricantes de suprimentos de emergência e a produção vai além das máscaras, alargando-se a produtos como fatos protectores, ambulâncias, reagentes e dispositivos médicos. Num contexto em que a procura por estes produtos aumentou a nível global, há empresas na cidade vizinha a indicar que vão expandir o seu negócio para incluir a manufactura de másca-

Portugal registou a primeira morte de uma pessoa infectada com o novo coronavírus, anunciou ontem a ministra da Saúde, Marta Temido. Trata-se de um homem de 80 anos, que tinha “várias patologias associadas” e estava internado há vários dias, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, disse a ministra, que transmitiu as condolências à família e amigos. O anúncio foi feito numa conferência de imprensa em Lisboa, no Ministério da Saúde, na presença também da directora geral da Saúde, Graça Freitas. A vítima mortal era Mário Veríssimo, de 80 anos, antigo massagista do Estrela da Amadora e amigo de Jorge Jesus. PUB

terça-feira 17.3.2020

PALAVRA DO DIA

Jean Anouilh

ras ou aumentar a sua capacidade de produção. Uma delas é a Zhuhai Geijan Medical Science & Technology, que produz mais 150 mil máscaras diariamente e como parte da sua estratégia de desenvolvimento ambiciona passar a abranger diferentes tipos deste produto, como máscaras para crianças.

MILHÕES EM ARMAZÉM

Um representante do Departamento de Finanças de Zhuhai mencionado no artigo apontou que a cidade tem armazenadas seis milhões de máscaras, 39 mil

A cidade (Zhuhai) tem armazenadas seis milhões de máscaras, 39 mil fatos protectores, 22 mil óculos de protecção, mais de 300 mil pares de luvas

fatos protectores, 22 mil óculos de protecção, mais de 300 mil pares de luvas, bem como termómetros, equipamento e reagentes para testar ácido nucleico, substâncias para a Covid-19, e material desinfectante. Recorde-se que em Macau já decorre a sexta ronda de distribuição de máscaras, com as primeiras cinco a terem envolvido a compra de 28 milhões destes bens por parte do Governo. Apesar de o sistema vigente para garantir a sua distribuição aos cidadãos, dados do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus apontam que serviços públicos como os Serviços de Saúde e a Direcção de Serviços do Ensino Superior continuam a receber pedidos de informação ou esclarecimento sobre assuntos que abrangem o fornecimento e qualidade das máscaras, ou o registo online para a aquisição de máscaras dos estudantes no exterior.

O lado do Chimelong International Ocean Resort, em Hengqin, vai nascer mais um estabelecimento de ensino de Macau, desta feita um instituto internacional de investigação académica para a área industrial. De acordo com informação veiculada pelas autoridades municipais de Zhuhai, o projecto insere-se no plano de cooperação entre Macau e Hengqin nas áreas da ciência e inovação tecnológica e na construção da Grande Baía enquanto hub científico internacional. O projecto tem reservado um terreno com 31,26 hectares de área, na Vila de Xiaohengqin em Hengqin, divido em duas parcelas. Grande parte da área reservada, 21,19 hectares, será usada para cultivo, enquanto os restantes 10,07 hectares estão destinados à construção do instituto. Acriação deste organismo está em linha com a plano de desenvolvimento da Grande Baía, que define como meta para Macau a aposta em recursos educativos e o estabelecimento de laboratórios de nível nacional. Na ilha de Hengqin estão instaladas várias infra-estruturas de investigação científica, como os laboratórios de medicina tradicional chinesa da Universidade de Macau e da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau, o Laboratório lunar e planetário de Macau, entre outros. J.L.

Alemanha Trump impedido de ter exclusividade de vacina O Governo da Alemanha negou ontem qualquer possibilidade de os Estados Unidos adquirirem os direitos exclusivos de uma vacina contra o novo coronavírus que está a ser desenvolvida por um laboratório alemão. A posição surge depois de, no domingo, o diário alemão Die Welt ter noticiado, citando fontes próximas do executivo alemão, que o Presidente norte-americano, Donald Trump, estaria a tentar, com elevados incentivos financeiros, garantir o direito exclusivo de uma potencial vacina contra

o coronavírus em que trabalha o laboratório alemão CureVac. "Os nossos laboratórios estão a trabalhar para conseguir uma vacina para todos, sem exclusividades", disse a porta-voz do Governo alemão, Ulrike Demmer. O "interesse comum", frisou, é "lutar contra a pandemia" que "não conhece fronteiras", pelo que não são concebíveis restrições desse tipo. "Descartamos completamente essa possibilidade", afirmou também uma porta-voz do Ministério da Economia alemão.


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