Hoje Macau 17 JUN 2011 #2390

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

hojemacau MOP$10

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ • SEXTA-FEIRA 17 DE JUNHO DE 2011 • ANO X • Nº 2391

TEMPO TROVOADAS MIN 24 MAX 28 HUMIDADE 75-95% • CÂMBIOS EURO 11.4 BAHT 0.3 YUAN 1.2

AVANÇAR PARA TRANSPORTES SUSTENTÁVEIS • PÁGINA 14

Carlos Morais José

UMA VISITA ALGO ESTRANHA • PÁGINA 15

OPINIÃO

Jorge Rodrigues Simão

Longa espera e má qualidade

Má gestão do erário público terá consequências

Francis Tam planeia mudanças na AMM

O secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, teve de admitir que o prejuízo de 700 milhões decorrentes de fracas aplicações financeiras é resultado da má compra de capitais estrangeiros. Aos deputados da 3.ª Comissão Permanente da AL, onde se está a discutir o Regime da Reserva Financeira, Tam deixou no ar planos de uma reestruturação na Autoridade Monetária. > PÁGINA 4

• JOÃO Ó A RESPIRAÇÃO DA ARTE

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Au Kam San e Ng Kuok Cheong já desistiram de esperar pelas respostas de interpelações que enviaram ao Governo há cinco anos. Para os democratas, o pior nem é a espera, mas sim a falta de qualidade nas respostas. José Pereira Coutinho insiste que os altos cargos sejam responsabilizados pela falta de respeito. >Página 5

Consulado de Portugal debaixo de fogo A deputada Ho Sio Kam, nomeada pelo Chefe do Executivo, quer que o Governo interfira na forma como os chineses com passaporte chinês são tratados pelo Consulado de Portugal. Há discriminação, diz com base em experiência própria. >Página 6

GINA RANGEL BARBARAMENTE AGREDIDA • ÚLTIMA


SEXTA-FEIRA 17.6.2011 www.hojemacau.com.mo

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ACTUAL Imprensa oficial rejeita previsões negativas sobre economia chinesa

Está tudo bem por cá

DIPLOMACIA WEN VISITA TRÊS PAÍSES DA UE O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, inicia a 24 de Junho em Budapeste uma visita de cinco dias a três países da União Europeia, anunciou ontem o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. Além da Hungria, Wen Jiabao visitará o Reino Unido e a Alemanha, na segunda viagem de um alto líder chinês à UE desde o início do ano. O “número dois” do Governo chinês, o vice-primeiroministro executivo, Li Keqiang, visitou a Espanha, o Reino Unido e a Alemanha em Janeiro passado. A UE é o maior parceiro comercial da China e este país é o segundo mercado dos 27, a seguir aos Estados Unidos. Pelas estatísticas chinesas, em 2010, o comércio bilateral aumentou 30% em relação ao ano anterior, somando quase 400 mil milhões de euros. HONG KONG QUATRO MORTOS EM INCÊNDIO Quatro pessoas morreram e 20 outras ficaram feridas num incêndio num edifício no bairro de Hung Hom, em Kowloon, Hong Kong. De acordo com a imprensa local, que cita fontes dos serviços de bombeiros e de segurança de Hong Kong, o incêndio foi detectado às 3h00 de quarta-feira e só foi dominado duas horas e meia depois, estando as autoridades a investigar a origem do sinistro que teve início numa unidade utilizada como armazém de uma loja de fotografia. As autoridades não excluem a possibilidade de fogo posto e vão continuar a investigar as causas do fogo que acabou por ser combatido por quase uma centena de bombeiros apoiados por sete viaturas. Entre os mortos conta-se Wong Kin-wan, 37 anos, grávida de três meses e antiga professora de Shenzhen, e os seus dois filhos de um e seis anos e uma jovem de 18 anos. Vários feridos – cinco dos cerca de 20 que foram conduzidos aos hospitais -, entre os quais o marido de Wong Kin-wan, estão internados com queimaduras graves ou muito graves.

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M jornal chinês rejeitou ontem previsões negativas de especialistas ocidentais acerca de um eventual retrocesso no crescimento económico da China, afirmando que “o Governo e a sociedade desenvolveram uma crescente capacidade para lidar com crises”. “Há ainda um grande potencial para continuar a crescer e a actual dinâmica está longe de ter atingido o auge”, disse o “Global Times”, uma publicação em inglês do grupo Diário do Povo, órgão central do Partido Comunista Chinês, num editorial intitulado “A China pode avançar através de pontos de ruptura”. Num artigo publicado o mês passado, o economista Nouriel Roubini, que previu a crise financeira de 2008, sustentou que a economia chinesa “corre o risco de um acentuado abrandamento, muito provavelmente a partir de 2013”, quando os elevados investimentos públicos em linhas férreas e outras infra-estruturas se tornar “impossível”. “Todos os antecedentes históricos

de excessivo investimento, incluindo a Ásia Oriental na década de 1990 – acabaram com uma crise financeira e/ou um longo período de baixo crescimento”, alertou Roubini. O “Global Times” admitiu que “alguns problemas, se não forem bem controlados, podem provocar uma crise” e que “há mais descontentamento e queixas” no país, mas considerou que “a maioria não quer uma mudança revolucionária”. “Segundo os cálculos e previsões de peritos ocidentais, a economia chinesa já deveria ter entrado em colapso várias vezes (…) Enquanto o país não cometer erros estratégicos a dinâmica actual continuará”, disse o jornal. A economia chinesa cresceu em média cerca de 10% ao ano ao longo das últimas três décadas, tornando-se em 2010 a segunda maior do mundo, logo a seguir aos Estados Unidos. Para este ano, o Governo preconizou um crescimento de “cerca de 8 por cento”, com a inflação “em torno dos 4%”, mas, neste aspecto, a meta parece difícil de cumprir.

Em Maio passado, o Índice de Preços no Consumidor, um dos principais indicadores da inflação na China, subiu 5,5%, o valor mais alto em quase três anos. A subida de preços foi particularmente acentuada nos produtos alimentares, que aumentaram em média 12%.

PROTESTO DOS SEM CAMISA Um grupo de estudantes universitários de origem tibetana organizaram um protesto em tronco nu em Nova Déli, Índia, para denunciar maus-tratos à sua minoria étnica por parte dos chineses. Pequim afirma que a qualidade de vida na província tem melhorado desde que pôs mãos à região, em 1951, e reforçou a segurança militar em várias cidades tibetanas desde Março de 2008.

HONG KONG | ANTIGA PRESIDENTE DA CÂMARA DE COMÉRCIO CONDENADA

Três anos de prisão por fraude L

ILY Chiang Lai-Lei, antiga presidente da Câmara de Comércio de Hong Kong, foi condenada a três anos e meio de prisão por fraude e conspiração no caso da Pacific Challenge Holdings, companhia a que presidiu em 2001-2002. A justiça de Hong Kong provou o “papel de liderança” de Lily Chiang Lai-Lei no processo que envolveu o desvio 3,7 milhões de dólares de Hong Kong.

A pena de prisão da empresária de 50 anos foi reduzida em cerca de 30% pelo facto “de ter quatro filhos menores” e pelo seu “contributo para a sociedade”, avançou o jornal “South China Morning Post” na sua edição de ontem. Tahir Hussain Shah, de 45 anos, e Pau Kwok-ping, de 54 anos, co-arguidos do caso, foram condenados a dois anos e 19 meses de prisão,

respectivamente. Na leitura da sentença na quarta-feira, o juiz disse que as acções fraudulentas da empresária e dos dois cúmplices abalaram “a confiança dos investidores no sistema financeiro”. A filha do industrial Chiang Chen, e primeira mulher a dirigir a Câmara de Comércio de Hong Kong, não evidenciou nenhum sinal de emoção durante a leitura da sentença.


Alguns destes grupos, constituídos basicamente pelos homens mais ricos aqui do burgo, têm servido de obstáculo à implementação de medidas que beneficiariam grandemente o povo, talvez por entenderem que seriam contrárias aos seus interesses. Na verdade, têm oportunamente para os seus principais membros privilegiado a defesa dos seus interesses corporativos, aos invés de pensarem a RAEM como um todo e procurarem criar as condições para uma sociedade mais harmoniosa. Carlos Morais José P.15

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HK | DEPUTADOS APROVAM AUMENTO DE IMPOSTOS

Tabaco cada vez mais caro aqui ao lado O

Conselho Legislativo de Hong Kong aprovou na noite de quarta-feira um aumento de 41,5% das taxas aplicáveis ao tabaco vendido na antiga colónia britânica. Numa proposta de lei do Executivo de Donald Tsang que não foi pacífica na sua aceitação, a lei foi aprovada com 33 votos a favor, oito contra e 12 abstenções e é vista pelo secretário para a Saúde, Yoprk Chow Yat-ngok, como “um grande passo para o controlo do tabaco”. O mesmo responsável salientou também não entender porque o objectivo da cidade não poderá ser livre do fumo dos cigarros e salientou que um estudo recente revelou que 60% dos inquiridos eram favoráveis a um aumento dos impostos sobre o tabaco. O aumento dos impostos sobre o tabaco ocupou sete horas da reunião plenária do Conselho Legislativo, colocou lado a lado habituais rivais políticos e até foi aproveitada para salientar que o Governo tem de ser mais decidido no combate ao fumo dos

cigarros como sublinhou o pró-democrata Andrew Cheng Kar-foo, que defendeu que o “Governo deve fixar uma data para ter a cidade livre de tabaco” e considerou que tal é possível em dez ou 20 anos. Hong Kong tem tomado várias medidas legislativas e de gestão urbana que limitam significativamente o fumo e actualmente – nas zonas principais da cidade - já só é permitido fumar em pontos pré-definidos, uma medida idêntica a Singapura que estabeleceu pontos de fumo. Além disso, embora diferente da Cidade Estado que não permite a entrada de um único cigarro oriundo do estrangeiro quando um passageiro chega à cidade, Hong Kong permite apenas que os turistas e locais entrem na cidade com um máximo de 19 cigarros. Um maço de cigarros em Hong Kong custa actualmente, pelo menos, 40 dólares. O aumento de 41,5% das taxas aplicáveis ao tabaco será gradual.

Funcionários do Governo detidos por uso de químicos

Porcos intoxicados

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EZ pessoas, incluindo quatro funcionários do Governo, foram detidas na província chinesa de Jiangsu, sob a acusação de “negligência em cumprimento do dever”, num caso de criação de porcos com produtos químicos tóxicos, informou a agência oficial Xinhua. Os funcionários estatais pertenciam a departamentos de comércio, inspecção sanitária e veterinária do distrito de Jianye da cidade de Nankin, a capital da província de Jiangsu, adiantou um porta-voz do município. Os restantes detidos são seis talhantes, todos eles do matadouro de Xingwang, acusados de venderem comida envenenada, já que comercializaram os porcos, mesmo sabendo que tinham PUB

Aviso Devendo o sistema do teleférico da Colina da Guia ser submetido, de 20 a 27 de Junho de 2011, à regular inspecção de segurança anual, o mesmo se encontrará encerrado ao público. Pelo incómodo causado, pedimos sinceras desculpas. Macau, 08 de Junho de 2011. O Presidente do Conselho de Administração, Substº Lei Wai Nong www. iacm.gov.mo

sido alimentados com produtos nocivos para a saúde. A polícia confirmou que as análises a mais de 100 porcos do matadouro acusaram clenbuterol, um químico ilegal na indústria alimentar, PUB

utilizado para que os animais ganhem mais massa muscular do que gorda. A notícia foi divulgada pelo canal estatal chinês CCTV, e poucas horas depois foram detidas 22 pessoas.

Nas últimas semanas multiplicaram-se os casos de adulteração ou intoxicação de alimentos no mercado chinês, o que levou as autoridades a pedir a aplicação da pena de morte nos casos mais graves.


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POLÍTICA

Taxa de retorno conservadora para a nova Reserva Financeira

Dinheiro apenas pelo seguro Gonçalo Lobo Pinheiro glp@hojemacau.com.mo

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STÁ nas mãos do Conselho Consultivo da Reserva Financeira qual a estratégia a ser aplicada ao dinheiro que será canalizado para o fundo da RAEM. O Governo, segundo o presidente da 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), Cheang Chi Keong, tem uma intenção bastante clara: obter o máximo de proveito. No entanto, o deputado garante que a melhor forma é continuar com políticas conservadoras no sentido de “prevenir riscos financeiros”. “Penso que o caminho é o de adoptar uma política de total segurança para correr menos riscos possíveis”, afirmou Cheang Chi Keong. Outros deputados já revelaram dúvidas sobre esta forma de rentabilizar os fundos da RAEM Parece assim que a política de potenciamento dos lucros continuará a ser feita a medo, tal como foi hábito da Autoridade Monetária de Macau (AMCM) com as aplicações financeiras, que demonstraram resultados “desastrosos” de acordo com especialistas da área económica. O Hoje Macau soube, de fonte segura, que os prejuízos das aplicações financeiras estão relacionados com “má aplicação em compra de

Filipa Queiroz

filipa.queiroz@hojemacau.com.mo

A

1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) reuniu ontem para discutir o trabalho em curso de revisão do regime de propriedade horizontal constante do Código Civil levado a cabo pelo Governo. No final da conferência, Kwan Tsui Hang disse aos jornalistas que os deputados estão preocupados com os conflitos entre condóminos e empresas de administração, atritos que consequentemente afectam os inquilinos gerando inúmeros problemas. A presidente da Comissão salientou que “as disputas são um problema recorrente e Macau que tem

capitais estrangeiros” e o Governo terá admitido isso ontem aos deputados durante a reunião da 3.ª Comissão Permanente da AL. A mesma fonte revelou que estará nos desígnios do Governo uma futura reestruturação da AMCM. Esta nova Reserva Financeira não visa assim fazer o contrabalanço das perdas noutros investimentos. Será sim um investimento ‘de per si’ com regras definidas pelo Conselho Consultivo da Reserva Financeira, a criar posteriormente, um órgão autónomo composto por profissionais de créditos firmados no sector financeiro e económico que será presidido pelo secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam. “Este órgão autónomo terá a competência para prestar consulta sobre como aplicar a Reserva Financeira e a criação do mesmo mereceu o acolhimento do Governo, com um aditamento desse ponto ao articulado em discussão”, revelou o deputado. A reunião de ontem entre deputados e Governo correu bem. De acordo com Cheang Chi Keong, a Comissão propôs ao Executivo um pacote de questões para serem negociadas. A maioria é de ordem técnica, questões que já foram redigidas no texto de trabalho entregue pelos deputados a Francis Tam.

Também foi acrescentada ao articulado da proposta de lei uma norma que sugere a criação de uma Comissão de Fiscalização da Reserva Financeira e estará a cargo da AMCM, onde todos os

elementos que a irão compor serão nomeados pelo Chefe de Executivo através de despacho.

BANDEIRA DAS LAG

Sempre vista com um ponto

Reserva Financeira da RAEM Para onde serão canalizados 152,9 mil milhões de patacas? Reserva Básica (150% das despesas estimadas)

74,5 mil milhões de patacas

Reserva Extraordinária

24,2 mil milhões de patacas

Reserva Cambial

54,2 mil milhões de patacas

fulcral nas Linhas de Acção do Governo (LAG), a Reserva Financeira será composta por 152,9 mil milhões de patacas. A reserva básica terá 150% do valor das despesas estimadas, que segundo contas do Governo, ronda as 74,5 mil milhões de patacas. A reserva extraordinária será de 24,2 mil milhões de patacas e a reserva cambial terá um valor de 54,2 mil milhões. “O valor da reserva básica equivale a 150% da despesa total dos serviços integrados e dos serviços com autonomia administrativa constante do último orçamento aprovado pela AL. As restantes disponibilidades passam a ser reserva extraordinária, sem mínimos ou máximos. Quando os valores da reserva básica cifrarem-se abaixo dos 150%, as verbas em falta devem ser completadas pelo Governo com recurso às dotações provenientes da reserva extraordinária”, explicou Francis Tam aquando da apresentação desta proposta de lei no final do ano passado. O parecer final da 3.ª Comissão estará disponível em breve com previsão de assinatura no mês de Julho. É expectável que a Reserva Financeira entre em vigor apenas no dia 1 de Janeiro de 2012 e a sua utilização, defendem os deputados, terá de ser sempre escrutinada na AL. “Sugerimos ao Governo que apresente, anualmente, um relatório de execução financeira que englobe os resultados do Conselho Consultivo da Reserva Financeira, da Comissão de Fiscalização da Reserva Financeira e da Gestão Cambial.”

GOVERNO QUER ACABAR COM CONFLITOS COM EMPRESAS DE ADMINISTRAÇÃO

Condomínios em brasa a ver com a desarticulação da legislação em relação à realidade social actual do território”. Kwan frisou que o Código Civil em utilização é “baseado na experiência europeia” e que por isso “está desadequado à realidade local”, e assegurou que o objectivo do regime é permitir que os condóminos possam ter “autodeterminação” na gestão dos imóveis. A deputada fez saber que há um grupo de especialistas a estudar o processo de revisão do regime de propriedade horizontal, inclusive foi encomendado

um inquérito à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Macau (UMAC) visando “obter soluções”. Mas entretanto já foi feita uma primeira auscultação à população e associações que determinaram uma série de pontos “importantes e complexos” sobre os quais o Executivo se irá debruçar.

NOVE PONTOS

As assembleias de condóminos são um problema central que precisa de ser trabalhado e devidamente legislados, segundo Kwan Tsui Hang.

A deputada referiu em primeiro lugar que apesar de existirem regras “muitas vezes é difícil ter a quota de condóminos suficiente para se realizarem as assembleias”, aliado ao regime de funcionamento não raras vezes duvidoso do colectivo depois da eleição. Também há dúvidas em relação à natureza jurídica daqueles organismos, e respectivos modelos de gestão. “Neste momento há várias situações problemáticas em relação à forma de gestão das assembleias de condóminos”, disse Kwan.

A deputada também enumerou o Fundo Comum de Reservas, questionando até que ponto estão salvaguardadas a segurança dos inquilinos e a gestão das verbas no caso dos “muitos prédios que já o têm”. A Comissão destacou ainda a importância de perceber quem são os responsáveis pelos regulamentos de condomínios, e quem é que pode participar na sua feitura. As despesas são outra das questões sobre a qual o Governo irá inclinar-se, com base na auscultação e análise das opiniões de cidadãos e

associações. “As falhas no pagamento do condomínio são um problema recorrente, é necessária regulamentação”, frisou Kwan. “No desenvolvimento do trabalho de revisão do regime de propriedade horizontal o Executivo vai definir sobre que pontos se irá debruçar primeiro, mas são todos importantes”, concluiu. O Governo estima que o relatório fique pronto no final do ano, altura em que será feita nova auscultação pública, seguindo-se o processo legislativo previsto para o início de 2012. A presidente da Comissão destacou ainda que o Governo vai servir-se do exemplo de casos semelhantes nas regiões vizinhas para encontrar soluções.


MELCO CROWN COMPRA 60% DO MACAU STUDIO CITY

A Melco Crown, que tem Lawrence Ho, filho de Stanley Ho, como co-proprietário, anunciou a compra de 60% das acções do Macau Studio City da eSun Holdings, um projecto de casino e entretenimento em Macau. O movimento de compra vai implicar que o projecto integrado de jogo, comércio e entretenimento a desenvolver nos aterros do Cotai seja encetado pela Melco Crown e pela New Cotai Holdings, entidade controlada por fundos geridos pela Silver Point Capital e pela Oaktree Capital Management. Nos termos do acordo, a Melco Crown vai adquirir de uma subsidiária da eSun Hodings, a East Ásia Satellite Television – uma percentagem de 60% das acções da Cyber One Group, o promotor do projecto Macau Studio City.

Interpelações escritas dos deputados caem no esquecimento

Vanessa Amaro

vanessa.amaro@hojemacau.com.mo

A

lei diz que o Governo tem 30 dias para responder uma interpelação escrita por um deputado da Assembleia Legislativa (AL), mas já se perdeu a conta de quantas vezes o prazo legal foi ultrapassado. O membro da AL que há mais tempo espera por uma carta é Au Kam San. Desde 2006, o democrata já soma oito documentos pendentes, dos quais já nem sequer se lembra o que questionava. Ainda assim, acredita que o pior problema no sistema de interpelações não é a

longa espera, mas sim a falta de qualidade das respostas por parte do Executivo. “O tempo de espera já diminuiu bastante ao longo do tempo, nota-se pelo menos que há um esforço em cumprir o prazo de 30 dias. Não me importo de esperar dois ou três meses e receber uma resposta completa, redigida com competência”, afirma ao Hoje Macau. No entanto, Au Kam San tem esperado há quase cinco anos. “Isso já é um exagero. Nem sequer me lembro do que interpelei e, provavelmente, o assunto já está esclarecido e não deve haver interesse em ser agora abordado.”

Ranking da espera* interpelações 1.º José Pereira Coutinho

5

2.º Kwan Tsui Hang, Ung Choi Kun, Mak Soi Kun, Ng Kuok Cheong

3

3.º Paul Chan Wai Chi, Au Kam San, Chan Meng Kam, Melinda Chan

2

4.º Angela Leong, Ho Ion Sang, Lee Chong Cheng

1

*Contabilizadas todas as interpelações deste ano que ainda estão à espera de resposta há mais de 30 dias

Os resistentes 1.º Au Kam San

6 interpelações desde 2006

2.º Ng Kuok Cheong e Iong Weng Ian

2 interpelações desde 2006

3.º Chan Meng Kam e Lee Chong Cheng

1 interpelação desde 2008

O

director do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado chinês, Wang Guangya, defendeu ontem ser “preciso envidar mais esforços na formação de quadros”. “A formação é muito importante”, realçou o responsável, que antes de partir para Pequim fez um breve balanço da visita oficial de três dias a Macau, que considerou “bastante frutífera”, na medida em que permitiu que se inteirasse ‘in loco’ da actual situação do território e do que “toda a população efectivamente pensa”. Além de ter chamado a atenção para a necessidade

KAHON CHAN

Senta e espera

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5 compilar dados para as respostas e não percebe como, com tanta demora, chega-lhe o que chega. “Há cartas que não dizem absolutamente nada.”

COUTINHO LADRA

Há cinco anos, o democrata indagou Edmund Ho sobre a ausência de um plano de auscultação pública para os novos aterros. O processo preliminar de recolha de opiniões foi concluído este ano, com o actual Governo a prometer mais estudos. Também em 2006 Au Kam San criticou o facto da Universidade de Ciência e Tecnologia (MUST) receber dinheiros do erário público, apesar de tratar-se de uma instituição privada. A resposta a ambos os temas nunca foi sequer redigida. De 2007, ficaram pendentes resposta referentes à falta de vistoria nos edifícios e os fundos distribuídos a várias associações locais pelas mãos da Fundação Macau. “Já nem vale a pena esperar”, constata o deputado. O democrata diz não guardar mágoas por ter sido ignorado, mas muda de humor quando o tema são os conteúdos das réplicas. “É um absurdo. Perguntamos, por exemplo, quatro questões e geralmente só nos respondem a uma ou outra e de forma muito vaga. Compreendo que há assuntos que demoram mais a ser analisados, mas cheguei à conclusão que não

mereço esperar pela coisa que me chegará às mãos a que o Executivo chama de resposta”, queixa-se Au.

NG SEM PACIÊNCIA

Além da falta de resposta e da longa demora, outro democrata – Ng Kuok Cheong – põe em dúvida as verdadeiras intenções do Executivo ao redigir um documento. “Cheira-me a desviar o foco da questão”, argumenta ao Hoje Macau. O colega de Au Kam San tem quatro interpelações pendentes (duas já levam cinco anos) e aponta de que não espera nada de volta há muito. “Não ia fazer outra coisa que esperar na vida”, diz a rir-se. Pelo menos da sua parte, Ng Kuok Cheong refere que com ou sem resposta os seus temas chegaram à opinião pública. “Sempre que envio uma interpelação ao Governo também envio-a para a comunicação social. A resposta é obviamente importante, mas mais importante ainda é chamar a atenção para determinados problemas.” O democrata compreende que os departamentos da Administração têm de perder algum tempo a

Para José Pereira Coutinho, que na quarta-feira enviou um ofício ao presidente da AL, Lau Cheok Va, a pedir explicações pela demora, falta responsabilizar quem está a falhar. A resolução n.º 2/2004 determina que a resposta deve ser dada em 30 dias corridos, mas em nenhum momento é referido que tipo de punição estaria prevista para quem não cumpre o prazo. “A lei n.º 15/2009 sobre o estatuto do pessoal de direcção e chefia não prevê nenhum tipo de responsabilização para quem não responda às interpelações dos deputados. A lei de responsabilização dos altos cargos só fala em deveres e direitos. É caso para dizer que quem é grande em Macau está acima da lei”, critica ao Hoje Macau o também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública. As queixas da demora sucedem-se por parte de Pereira Coutinho, sem que tenha havido mudanças. “Desde que sou deputado, bato na mesma tecla. Não me canso. O presidente da AL e o Chefe do Executivo têm de intervir para resolver o problema.” O que recebe como resposta também deixa o deputado de cabelos em pé. “Nunca dizem nada, apesar de eu constantemente frisar que espero um texto esclarecedor.” Pereira Coutinho acredita que este “método” não é apenas um desrespeito à Assembleia Legislativa, mas sim à toda a população de Macau.

WANG GUANGYAN DEIXA MACAU COM UMA SÉRIE DE RECOMENDAÇÕES

Formar, construir e ouvir de formação de quadros locais, Wang Guangya considerou que a habitação pública é uma das questões que mais preocupa a sociedade quer de Macau, quer de Hong Kong, tendo frisado que os governos das duas regiões administrativas especiais “têm que dar muita importância”, já que é isso que os residentes esperam. Não obstante as preocupações transmitidas nos encontros que foi mantendo durante a estada em Macau,

o responsável do Conselho de Estado realçou que tem “muito boa impressão do que vai ser Macau”, afirmando estar “muito optimista” quanto ao futuro. Wang Guangya destacou ainda a particularidade de Macau ser um ponto onde as culturas oriental e ocidental convivem em “harmonia”, tendo voltado a focar a importância que Pequim atribui ao território. “O Governo Central sempre deu importância ao desen-

volvimento de Macau, em particular depois da transferência”, disse. Prova disso mesmo é que, em Março, a China aprovou o 12.º plano quinquenal que dedica “um capítulo especial a Hong Kong e Macau”, sustentou, frisando ainda que “há muitas políticas de apoio para o futuro desenvolvimento de Macau”. Em concreto, existem duas áreas-chave, apontou o responsável, explicando que a primeira visa

transformar Macau num centro mundial de turismo e lazer – e actualmente há já diversas infra-estruturas a serem desenvolvidas e melhoradas –, enquanto que a segunda é reforçar o papel de Macau como “plataforma” para a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa. “Macau desempenha um papel único porque agora é parte da China e as pessoas em Macau falam melhor português e conhecem a

cultura e sabem como lidar não só com Portugal, mas também com outros países lusófonos”, apontou. Ao indicar que, no futuro, o Governo Central vai apostar, em particular, na África e na América Latina, Wang Guangya disse ser seu desejo que representantes de Macau tenham um papel neste âmbito. “Nas nossas relações vamos deixar os representantes de Macau desempenharem um papel, indo connosco para estes países para vermos se podemos encontrar oportunidades para promover as relações económicas, comerciais e culturais entre Macau e estes países”, concluiu.


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SOCIEDADE

Consulado de Portugal acusado de tratar mal chineses com passaporte português

Portugueses de segunda Gonçalo Lobo Pinheiro e Virginia Leung glp@hojemacau.com.mo/ virginia.leung@hojemacau.com.mo

O

S funcionários do Consulado de Portugal estão a tratar com uma atitude prepotente e mesquinha os cidadãos portugueses de ascendência chinesa que ali se dirigem para renovar os seus passaportes. A denúncia partiu da deputada Ho Sio Kam, que, em conversa com o Hoje Macau, assegurou que alguns dos seus amigos viveram recentemente situações pouco abonatórias para os portugueses quando se dirigiram ao Consulado para tratar da sua documentação. Tudo aparentemente por uma questão de etnia. De forma no mínimo “grosseira” foi como os amigos de Ho terão sido tratados ao tentarem renovar os seus passaportes portugueses. Ao apresentarem-se no Consulado de Portugal em Macau, segundo o relato da deputada, aqueles cidadãos depararam-se com funcionários sem paciência para explicar os procedimentos necessários, chegando mesmo a causar sentimentos constrangedores com recurso a palavras e atitudes malcriadas. “Uma vez que já provámos as nossas identidades ao possuirmos o passaporte, não devíamos ser tratados como se estivéssemos a implorar para mantermos a cidadania portuguesa”, defende Ho Sio Kam.

Virginia Leung

virginia.leung@hojemacau.com.mo

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ONG Kong e Macau estão-se a tornar uma zona de trânsito privilegiada para disfarçar os rendimentos de actividades de corrupção, denuncia um relatório sobre corrupção na China divulgado esta semana pelo Banco do Povo da China. Embora divulgado só esta semana, o relatório “Formas métodos de monitoração de como pessoas corruptas da China transferem os seus activos para o estrangeiro” já tinha sido concluído em Junho de 2008, de acordo

Ho Sio Kam indicou também que o desdém não se verifica só nas relações cara-a-cara. “Para fazer uma marcação, a linha telefónica é difícil de aceder. Por e-mail também não adianta porque ninguém responde”, afirmou, denunciando o mau funcionamento da linha para marcações e do serviço de correio electrónico, alegadamente destinados a esse mesmo fim, mas que mais parecem, na opinião da deputada, serem “a fingir”. Sem conseguir reservar um lugar na fila por nenhum desses meios, o cidadão tem de se dirigir ao balcão pessoalmente, sem marcação – os amigos de Ho Sio Kam terão ido ao Consulado bem cedo, entre as 5h e as 6h (o balcão só abre às 9h), para não ficarem muito para trás na fila das pessoas que não conseguiram reservar lugar. É então que o cenário kafkiano se agrava, com apenas dez vagas por dia para quem não fez marcação prévia. “Desde a transferência de Macau, houve grandes melhorias nos funcionários do Governo e toda a gente apreciou essa mudança numa melhor atitude e maior eficiência nos serviços”, considera a deputada, sublinhando que todos os departamentos do Governo terão sofrido após a saída da Administração portuguesa uma grande mudança na forma de servir os cidadãos e estão agora sim empenhados em construir uma sociedade harmoniosa. Ho Sio Kam, deputada nomea-

da pelo Chefe do Executivo, espera conseguir merecer a preocupação do Governo para resolver esta questão. Uma sociedade harmoniosa, defende, só pode ser construída em conjunto por todas as pessoas em Macau, independentemente da sua nacionalidade, e todos os departamentos devem ter espaço a melhorias e actualizações na qualidade dos seus serviços.

ATENDIMENTOS COM CORTESIA

Confrontado com estas declarações por parte da deputada Ho Sio Kam, o cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Manuel Cansado de Carvalho, respondeu que se Ho Sio Kam fez as declarações na qualidade de deputada, “não responde aos deputados de Macau”. Se as declarações foram feitas como lesada, “pode sempre apresentar uma reclamação que será devidamente analisada”. Cansado de Carvalho relembrou que o Consulado faz centenas de atendimentos e que “o pessoal trata as pessoas com cortesia”. “As pessoas devem ser todas tratadas de modo igual e sem qualquer tipo de discriminação. De qualquer forma as questões que apresentou são meros casos abstractos dos quais não vou tecer comentários”, disse o cônsul.

FORMAÇÃO

O conselheiro em Macau do Conselho das Comunidades Portuguesas, José Pereira Coutinho, revelou ao Hoje Macau que “já há muito tempo que o Consulado tem

vindo a ser alertado para essas situações”. “Numa reunião já demos a conhecer o nosso ponto de vista ao cônsul, mas aparentemente a situação mantêm-se”, afirmou Pereira Coutinho. A representação do Conselho das Comunidades Portuguesas em Macau acredita que a solução

MACAU IDEAL PARA LAVAR ACTIVOS DE CORRUPTOS

Por debaixo do pano com a notícia avançada pelo “China Review News”. As conclusões revelam que Macau e Hong Kong fazem parte das principais rotas dos corruptos para transferência de dinheiro, indicando que cerca de 18 mil pessoas terão transferido por esses canais mais de 800 mil milhões de yuans (971 mil milhões de patacas) para o estrangeiro numa década.

passa por “formar o pessoal de atendimento ao público por forma a uniformizar a informação dada aos utentes”, que é coisa que, aparentemente, não acontece. “As regras de boa educação são essenciais para qualquer entidade que preste serviço ao público”, soltou Pereira Coutinho.

De acordo com o relatório, existem oito formas comuns utilizadas pelos corruptos para transferir o seu dinheiro para o exterior através de Hong Kong ou Macau. A forma mais simples e de custos mais reduzidos (mas que também comporta mais riscos e torna mais limitada a quantidade de dinheiro transferida) é simplesmente introduzir o dinheiro na bagagem e transportá-lo através da fronteira para Hong Kong ou Macau. Além disso, os corruptos também têm ao seu dispor uma série de “agências”

(ou bancos clandestinos) dispostas a prestar assistência mediante o pagamento pelo “serviço” de contrabandear o dinheiro. Depois de atravessar com sucesso a fronteira, o dinheiro é depositado num banco sob a designação de “foreign exchange” (divisas). Após o rápido desenvolvimento de Hong Kong e Macau e as reformas da China, os corruptos passaram a dispor de formas mais convenientes de absorver património público. Os casinos de Macau proporcionam também mais canais para trânsito de dinheiro sujo.


MENOS EXCURSIONISTAS, MAS MAIS TURISTAS

O número de excursionistas que entraram em Macau nos primeiros quatro meses deste ano diminuiu 2,7%, para 1,95 milhões, apesar de se manter o crescimento no número de visitantes. A diminuição do número de excursionistas entre Janeiro e Abril contrasta com o crescimento de 6,6% do número total de visitantes, para 8,76 milhões de pessoas. Só no mês de Abril, Macau recebeu menos 5% de excursionistas, para um total de 544 mil, mês em que entraram no território um total de 2,3 milhões de visitantes, mais 10,7% face ao mesmo mês de 2010. O maior número de excursionistas foi proveniente da China continental, com 408.461 pessoas, seguido de Taiwan e de Hong Kong com 27.491 e 24.718 pessoas, respectivamente.

Deputada critica demora do atendimento nos hospitais

Tempo de espera muito Leong Virginia Leung

Hospitalar Conde de São Januário e pelo Hospital Kiang Wu. As pessoas já estão habituadas a se dirigirem a um desses dois hospitais sempre que em necessidade de receber tratamento médico, mas, alerta a deputada: Macau está a tornar-se numa cidade internacional como mais de 550 mil habitantes e um grande afluxo de turistas. De acordo com os números fornecidos pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), há apenas 564 médicos e 1200 enfermeiros distribuídos entre os três estabelecimentos hospitalares (contando também com o Hospital da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau), o que a deputada considera insuficiente para os serviços médicos de Macau, e um sério problema de falta de pessoal, o que provavelmente é o que provo-

virginia.leung@hojemacau.com.mo

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EMPOS de espera demasiado longos nos hospitais foram alvo das críticas da deputada da Assembleia Legislativa (AL) Angela Leong, numa interpelação escrita apresentada esta semana e centrada na qualidade dos serviços de saúde em Macau. Quer no serviço público, quer no privado, protesta a parlamentar, os pacientes têm de esperar demasiado para serem atendidos, o que nalguns casos pode ameaçar o agravamento das enfermidades dos pacientes. Na sua interpelação, Angela Leong observou que a responsabilidade de proporcionar serviços médicos em Macau tinha sido assumida em conjunto pelo Centro PUB

APRESENTAÇÃO SOBRE RECOLHA DE OPINIÃO PÚBLICA

Cientificamente auscultando Filipa Queiroz

filipa.queiroz@hojemacau.com.mo

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OMO se deve e como não se deve auscultar a população? Em que é que a sondagem pública pode contribuir para melhorar o conhecimento da população sobre a sociedade? E como é feita a sua análise? Estas são algumas das questões a que Robert Chung Ting Yiu, director do Programa de Opinião Pública (POP) da Universidade de Hong Kong, tentará dar uma resposta amanhã, a partir das 15h, na Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). “Vou abordar a necessidade de padrões profissionais

para projectar, conduzir e relatar os resultados das sondagens de opinião”, explica Yiu ao Hoje Macau. “É algo particularmente importante nas sociedades onde a rede social e laços pessoais prevalecem sobre o profissionalismo e conhecimento científico.” Será o caso de Macau? “Eu fui convidado pela ATFPM para falar sobre pesquisas de opinião, provavelmente é porque há uma necessidade da sociedade em Macau de medir cientificamente a sua opinião pública”, sustenta o académico. É sabido que pelo menos o termo “auscultação pública” é altamente conhecido de qualquer pessoa que acompanhe a acção governativa

local. Questionado sobre a possibilidade de haver coisas a serem mudadas nos processos de sondagem locais, Yiu argumenta que “se o consenso assentar sobre o conhecimento científico ao invés de no “guanxi” (ideia central na sociedade chinesa que descreve a dinâmica baseada em redes personalizadas de influência), acho que a sociedade pode mover-se de forma mais rápida e mais feliz”. Quanto às diferenças entre Macau e Hong Kong o académico admite que existem, já que são duas sociedades muito diferentes histórica, económica e culturalmente, ressalvando no entanto que em termos de desenvolvimento da auscultação pública “devemos estar a convergir para alguns objectivos mais elevados”. Robert Yiu prevê que jornalistas, funcionários públicos e profissionais associados ao uso da pesquisa de opinião assistam à sua apresentação em Macau, que será proferida em cantonês.

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7 ca que o serviço não seja prestado atempada e eficientemente. Reportando-se aos recentes exames de admissão para médicos estagiários, considerados exageradamente difíceis, Angela Leong questiona se o Governo tinha na manga alguma medida relevante para melhorar o mecanismo médico e se planeava ir dar resposta à escassez de profissionais clínicos. A deputada sugeriu também a eventual necessidade de o Governo abrir mais alguns cursos para profissionais de forma a elevar o seu padrão e também formar novos talentos para o sector. Construir mais um hospital é apenas resolver o problema de “hardware”, considera a deputada, mas apenas injectar dinheiro não irá resolver o problema do mecanismo médico. Por isso, defende, o Governo deveria estabelecer um comité médico abrangente para executar a avaliação de actualização para assegurar os padrões médicos. Angela Leong perguntou também quando iria o Governo publicitar a agenda e os níveis de progresso.


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ENTREVISTA

Ricardo Ribeiro, fadista

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OZ profunda e incomparável, Ricardo Ribeiro está entre os maiores fadistas da nova geração, apesar de o fado já não ser novo para ele, canta-o desde pouco mais que criança, vencedor da Grande Noite do Fado ainda adolescente, convívio estreito com os consagrados, desdobra-se em projectos com audácia, mas sem recorrer à falsa sofisticação e nunca à descaracterização do que é essencial no fado. Como se provará em mais esta internacionalização do fadista, no domingo, no auditório do Centro Cultural de Macau, também com a Orquestra Chinesa. Como antevê o concerto de domingo onde também cantará acompanhado pela Orquestra Chinesa de Macau? Para já, como um grande motivo de orgulho pela oportunidade. Por certo que darei tudo o que sei, como farão todos os artistas em palco, naturalmente. Ainda não tem 30 anos de idade, como foi o ponto de partida para o fado? Aos nove anos. Praticamente desde sempre tive a sorte de crescer no fado e ir conhecendo os “velhotes” consagrados, como o saudoso Fernando Maurício, o José Inácio, o Adelino dos Santos, a Dona Argentina Santos, a Dona Celeste Rodrigues, a Dona Beatriz da Conceição, D. Vicente da Câmara, o Rodrigo, pessoas que me têm acarinhado bastante e com quem aprendi e vou aprendendo imenso. Em concertos e em algumas gravações, nota-se em si uma abertura para um certo cosmopolitismo, mas sem descaracterizar a essência do fado e do fadista... Pois, as fusões são geralmente pouco “católicas”, quero dizer que uma revolução hoje pode ser uma tradição amanhã. O fado teve sempre mutações, mas existem regras e características que

ANTÓNIO FALCÃO | BLOOMLAND.CN

“O que mais gosto de ouvir é fado e música d

se mantiveram. Falando do acompanhamento dos guitarristas, por exemplo, se ouvirmos o Pedro Leal ou o Júlio Gomes a acompanhar a Amália, nota-se que há determinados temperos que ainda hoje os guitarristas tentam preservar. O fado é uma questão idiomática e tem temática própria, uma linguagem muito particular. Costumo dizer que é necessário ao fado

o tempero próprio para que o sabor seja especial, apelativo. Quando canto fados, canto-os dentro do espírito genuíno, que é o que eu realmente sinto. Por outro lado, quando canto outras coisas, nomeadamente os trabalhos que fiz com o músico Rabih Abou-khalil, não acrescentei fado, nunca tive essa intenção. Não sou contra as fusões musicais,

“As fusões são geralmente pouco ‘católicas’, quero dizer que uma revolução hoje pode ser uma tradição amanhã. O fado teve sempre mutações, mas existem regras e características que se mantiveram”

mas ressalvo sempre que devem ser feitas com o máximo de critério e conhecimentos. E é legítimo que se faça e ainda há muito, nesse campo, para fazer. Mas, se vamos misturar fado com estilos musicais muito mais ricos harmonicamente, é capaz de não resultar bem, o fado pode ficar prejudicado. O fado é uma canção muito simples, vive sobretudo da alma das pessoas, dos seus sentimentos, depois é que vem a racionalidade; e vive sobretudo destas coisas muito importantes: a melodia, o ritmo e, claro, a letra. A harmonia é um factor secundário, o que se destaca é a melodia e as letras a casarem com cada melodia. E há uma outra circunstância importantíssima: a humildade com que se abraça uma canção, perceber até onde como se pode ir e às vezes até ultrapassar essa barreira, mas sempre com determinada humildade. É frequente as plateias que não entendem a língua portuguesa, emocionaremse ouvindo fado. Como se explica? É verdade. Cada vez mais o fado está mais internacionalizado. Ainda há pouco cheguei de um espectáculo dia 10 de Junho, em Paris, no Théâtre de La Ville, com o Carlos do Carmo, o Camané, a Carminho, a Cristina Branco, e que, sem vaidade, foi um enorme sucesso. Estava muita gente da UNESCO, pois tratava-se de uma acção no âmbito da candidatura do fado a património da humanidade, muitos não falantes do português. Todos nós, os artistas, sentimos que estávamos a passar emoções, eles entendiam as nossas mensagens, os nossos fados. Melodia e letra, são o essencial do fado. Fadista não é quem quer... Fadista não é quem canta

amor e dor da mesma maneira. E na melodia é a mesma coisa, tem de emocionar simultaneamente com a mensagem que está no poema. Da sua geração terá amigos que se deixaram influenciar por outras músicas, anglosaxónica, por exemplo? Tenho amigos que não foram tocados pelo fado. Talvez por ouvir a minha mãe, com a sua muito bonita voz de pregão, a cantar durante a lida da casa. Um grande autor de letras de fado, uma personagem muito importante na história do fado e da cultura portuguesa, o poeta João Linhares Barbosa. Por sinal, tal como o Ricardo, natural do bairro da Ajuda... Isso mesmo, obrigado por ter reparado nesse pormenor que também me diz muito. Pois o Linhares Barbosa, entre centenas de letras, tem uma quadra que diz assim: “O destino é linha

FAZ em Agosto 30 anos que nas em Lisboa. Criado no bairro da A desde os nove anos que familiar o estimularam a cantar fado, o q lhe deu o 2.º lugar na Grande N do fado em 1996, sendo venced no ano seguinte. Entretanto, aos anos, já integrava o elenco fadis do restaurante típico “Os Ferreir na freguesia da Pena, ao lado d consagrado que considera seu m Fernando Maurício, e Adelino d Santos, guitarrista “de quem rec imensos ensinamentos”. Depois chamado ao Bairro Alto para ca no “Nô-Nô”, no “Faia”, no “Café Luso”, até vir o tempo de enfeiti os públicos de Alfama, por exem na casa de fados “Marquês da S “Mesa de Frades”. A carreira internacional começo nos inícios deste século, quando representa Portugal, por convite do Ministério francês da Cultura num festival de culturas realizad em Charente. Chega 2004 e a s participação numa homenagem Amália Rodrigues através de um compilação de gravações editad World Connection, juntamente c Ana Moura, Argentina Santos, C Branco, Joana Amendoeira, Ma


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com Helder Fernando

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do Egipto, Afeganistão, Líbano e Paquistão” “Nos dias de hoje há o desejo de tornar o fado uma canção mais apelativa para as plateias, principalmente para as plateias europeias e americanas. Ou seja pretende-se introduzir determinados componentes que tornem o fado mais apelativo. Isto não será pecado nenhum, pode até ser positivo, mas há que saber, há que respeitar e ver até onde se pode ir e como”

recta/ traçado à primeira vista/ Como se nasce poeta/ também se nasce fadista”. Nos intervalos de espectáculos, ensaios e gravações, que estilos de

sceu Ajuda, res que Noite dor s 15 sta ras”, do mestre, dos cebi sé antar é içar mplo Sé” e

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música prefere ouvir? Hoje em dia, praticamente não oiço música ocidental. As únicas músicas ocidentais que oiço são fado, folclore português e flamenco que gosto muito.

O que consumo com todo o agrado é música de Ustad Sarahang do Afeganistão, de Alim Qasimov do Azerbaijão, de Ravi Shankar e Pim Sam Jochida da Índia, de Ouleya Amartichitt de

Ouleya Amartichitt que é touareg, ou a música da Líbia, do Egipto, da Mauritânia e do Paquistão. A audição dessas músicas faz bem ao fado que canta? Faz muito bem, porque são músicas que têm a ver com muito do que nós sentimos. Gosto imenso, apesar de não entender as línguas. Felizmente estou a iniciar a aprendizagem da língua árabe, interessame bastante. Recordo, por exemplo, a participação em dois festivais na Argélia com o Pedro Jóia e que foram

COSMOPOLITA, MAS SEM DESCARACTERIZAR O FADO Fé, Jorge Fernando, Ciganos D’Ouro, Raul Marques, os Amigos da Salsa, V Império e Vozes da Rádio. Nesse mesmo ano (2004), Ricardo Ribeiro grava o seu primeiro álbum com fados tradicionais, mas com quatro excepções de autoria de Jorge Fernando, Paco Gonzaléz e Manuel Mendes e também com letras de José Luis Gordo e Rui Manuel. Tinha início o cosmopolitismo artístico deste fadista, sem jamais retirar genuinidade ao fado que canta. Prémio Revelação em 2005, pela Fundação Amália Rodrigues, e entrada no filme “Rio Turvo” de Edgar Pêra, juntamente com Teresa Salgueiro e Nuno Melo, onde interpreta um fado e uma canção de Fernando Girão. No mesmo ano, chega-lhe um convite do encenador Ricardo Pais para participar no espectáculo “Cabelo Branco é Saudade”, na companhia de Celeste Rodrigues, Argentina Santos e Alcindo de Carvalho. Do Teatro Nacional de São João para uma digressão europeia com passagens por importantes salas como a “Cité de la Musique de Paris”, o “Teatro de La Abadia de Madrid”, a “Ópera de Frankfurt”, o “Teatro

Mercadante de Nápoles” e a “Casa da Música” no Porto. No ano seguinte, novo Prémio Revelação instituído pela Casa da Imprensa e um dos temas (“A Lua e o Corpo”, de Rui Manuel de Oliveira e Alfredo Marceneiro), desse primeiro CD é escolhido para integrar a compilação do “Álbum Vermelho do Fado” que também conta com as participações de Camané, Amália

Rodrigues, Ana Moura, Argentina Santos, Cristina Branco, Gonçalo Salgueiro, João Braga, Joana Amendoeira, Gonçalo Salgueiro, Mísia, Kátia Guerreiro, Fernando Maurício. É ainda em 2005 que grava o Hino Nacional de Portugal em versão fado e em apoio à selecção de futebol participante no Mundial desse ano. Cinco álbuns gravados e a multiplicarem-se os concertos. Em

espectáculos inesquecíveis, foi um sucesso enorme. Já estão agendados novos concertos para muito breve. Ao contrário do que alguns pensam, são povos muito cultos que conhecem de Portugal, por exemplo, mais do que o nome do Cristiano Ronaldo. Falam de alguns dos nossos poetas, falam de Malhoa. Mas voltando à pergunta, realmente quase não oiço música ocidental, a não ser, de vez em quando, Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Sinatra, Michel Petrucciani ou Chick

2007, com o músico libanês Rabih Abou-Kahli, Ricardo Ribeiro actua no “Teatro S. Luis” em Lisboa e no “Teatro de São João” no Porto. Desta parceria nasce o disco “Em Português”, com poemas eróticos, internacionalmente aplaudido a ponto de ser considerado pela revista britânica “Songlines” um dos melhores 10 álbuns de 2008. Segue-se a participação de Ricardo Ribeiro no elenco do filme “Fados” de Carlos Saura, colabora em múltiplos projectos, por exemplo com João Gil, com Rão Kyao, com Pedro Jóia, enfim, definitivamente, vai despertando o interesse da crítica internacional. Em 2010 é o realizador João Botelho que o convida a participar no “Filme do Desassossego” onde interpreta dois temas. Outros músicos, outros lugares se seguem, até acontecer o concerto deste domingo à noite em Macau, no Centro Cultural, com os seus guitarristas e, em alguns temas, com a Orquestra Chinesa. Para muito breve, concertos no Líbano, com Rabih Aboukhalil e também gravações com um quinteto de Pedro Jóia, cancioneiro tradicional português e poemas árabes dos séculos XI e XII. O cosmopolitismo deste grande fadista nas suas mais variadas expressões.

Corea; mas especialmente as músicas dos países que mencionei, especialmente do Egipto de que sou quase fanático. Pode considerar-se que o fado tem evoluído ou deve dizer-se que tem outras características? Tem caminhado. Mas só se saberá se evoluiu quando todos os conceitos mudarem para movimentos artísticos continuados. O necessário é sabermos para onde vamos levar o fado e como o vamos fazer. Pode dizer-se que existe evolução, embora para se ter ou sentir fado tem de se ter vivências. Tal como no flamenco. Nos dias de hoje há o desejo de tornar o fado uma canção mais apelativa para as plateias, principalmente para as plateias europeias e americanas. Ou seja pretende-se introduzir determinados componentes que tornem o fado mais apelativo. Isto não será pecado nenhum, pode até ser positivo, mas há que saber, há que respeitar e ver até onde se pode ir e como. Mas há, de facto, evolução. Grande parte das letras que hoje se cantam não são idênticas às de antigamente, não fazia sentido. Como prevê que seja o fado daqui a duas ou três gerações? O mesmo de sempre. O fado. Tem cantado e convivido com grandes nomes do fado ainda vivos. Algum ou alguns nomes do “fado de outras eras” que mais o tivessem impressionado? Armandinho, Alfredo Marceneiro, Martinho da Assunção, Berta Cardoso, Joaquim Campos e Maria José da Guia. Também toca guitarra clássica? Só para os amigos. Quando comecei a estudar guitarra clássica, foi apenas para riqueza pessoal, pois trabalhando com música, é importante aprofundar conhecimentos na matéria.


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CULTURA

Entrevista | Miguel Gonçalves Mendes, realizador de “José e Pilar”

“Só tenho pena de não poder estar aí” No fim-de-semana em que se comemora um ano desde a morte de José Saramago, a Livraria Portuguesa exibe “José e Pilar”, o filme de Miguel Mendes que mostra o lado nunca visto do escritor português Filipa Queiroz

filipa.queiroz@hojemacau.com.mo

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AZ amanhã um ano que José Saramago pousou a sua pena para sempre. Em Portugal uma série de iniciativas de homenagem ao escritor vão assinalar a data durante todo o fim-de-semana, e Macau não será excepção. No domingo, às 17h30, vai ser exibido na Livraria Portuguesa “José e Pilar”, o filme de Miguel Gonçalves Mendes que disse ao Hoje Macau que “só tem pena de não poder estar presente” na exibição no território da fita. O filme vai ser peça central no rol de tributos a Saramago também em Portugal. Sete meses depois da estreia nacional, o filme que mostra o quotidiano do Nobel da Literatura português e da amada Pilar del Rio vai ser exibido amanhã na Cinemateca Portuguesa, na presença do realizador e da viúva, e transmitido pela SIC em exclusivo. “José e Pilar” tem feito sucesso não só em Portugal como no Brasil, onde foi nomeado e também arrecadou uma série de prémios de cinema, contabilizando 40 mil espectadores em cinco meses de exibição contínua nas salas. Em Portugal foram quatro meses, com o também significativo número de 22 mil espectadores. Miguel Mendes, 32 anos, não tem tido mãos a medir com tanto sucesso. Está feliz com a reacção claramente positiva do público ao filme? Sim, é óbvio que fico muito feliz, primeiro que as pessoas tenham gostado do filme e tenham gostado honestamente. Também que o filme seja de alguma forma transversal e as pessoas se identifiquem com ele, até aquelas que não gostavam do José. Isso é uma coisa que me deixa muito feliz. Por outro lado, sempre tentei construir este filme tentando fugir ao que era o documentário tradicional, sobre o homem, sobre a obra. Queria basicamente construir uma história, uma espécie de

estrutura narrativa clássica em que narrava a vida deste homem que decidiu escrever um livro, que era a “Viagem do Elefante”, entretanto adoeceu, teve medo de não acabar o livro e quase milagrosamente consegue recuperar e acabá-lo. A história acaba por ser muito universal, e é uma história também de amor, de duas pessoas que se conheceram e que se amam e respeitam nas suas diferenças. O filme cria logo aí algum grau de empatia com o público. O filme bateu recordes de permanência em sala de um filme português, quer em Portugal quer no Brasil. Exacto, isso são coisas que me deixam obviamente muito feliz e orgulhoso mas foi efectivamente o fruto de muita dedicação e muito trabalho. Mais concretamente quatro anos de convivência com o casal José e Pilar. Exigiu um grande esforço para si? Sim e continua a exigir, que as minhas dívidas continuam a aumentar (risos). Mas resultou numa obra que é, acima de tudo, uma homenagem a uma pessoa que admirava? Não só fiz uma homenagem a uma pessoa que admirava como fiquei a ganhar muito mais com o privilégio que tive de conviver com estas pessoas [José Saramago e Pilar Del Rio], que são absolutamente inacreditáveis. Também acho que este filme colmatou de certa forma uma lacuna que era não

existir um retrato pessoal do homem. Existiam retratos políticos, filosóficos, mas não conhecíamos o José na intimidade que é no fundo o que este filme retrata. Para além do José... quer dizer, mostrar o que é que significa ser um prémio Nobel nos dias de hoje, as situações mediáticas, a relação com os fãs. As pessoas têm uma imagem muito romântica da vida de um escritor e a vida deles, como de qualquer

pessoa, não é tão romântica como se pensa. Recebeu muitas reacções ao filme, inclusive de personalidades conhecidas. Houve alguma que o tenha tocado mais? Em geral, lido com algum embaraço e vergonha com os elogios, parece falsa modéstia mas não é, fico sempre meio encavacado. Mas sim, houve uma série de reacções muito bonitas ao

Fim-de-semana na Livraria Portuguesa • SEXTA-FEIRA, 17 DE JUNHO, 18H00 Lançamento de “Penso eu de que...”, livro que reúne as crónicas de Pinto Fernandes no jornal Hoje Macau, um ano após a morte do autor

• SÁBADO, 18 DE JUNHO, 18H30 Abertura da Exposição “Memórias Portuguesas e Chinesas no Sudeste Asiático”, o regresso do pintor espanhol Charles (Carlos) Chauderlot à Galeria de Arte da Livraria Portuguesa.

• DOMINGO, 19 DE JUNHO, 17H30 Homenagem a José Saramago com projecção do documentário “José e Pilar” seguida de debate moderado pela Prof. Ana Paula Dias, do Instituto Português do Oriente

filme, desde o próprio Saramago e esposa, ao Fernando Meirelles, ao Luís Spúlveda. Sábado [amanhã] comemorase um ano da morte de José Saramago. Acha que os portugueses têm prestado a homenagem devida ao escritor? Acho sobretudo que as pessoas que o amavam neste país prestaram a devida homenagem. Aliás estes próximos dias são a prova disso. A Câmara Municipal de Lisboa juntou-se à Fundação José Saramago para fazer a cerimónia de deposição das cinzas no Campo das Cebolas [junto à oliveira centenária que o escritor refere no livro “As Pequenas Memórias”], vai haver a homenagem na Cinemateca organizada por nós em que o filme vai ser exibido, tal como outras um pouco por todo o país. E também em Macau. O que acha disso? Acho óptimo, só tenho pena de não poder estar aí. Fico muito contente que portugueses e chineses aí possam compartilhá-lo. Macau é uma cidade que eu gosto muito, guardo óptimas recordações. Aliás publiquei um diário dessa viagem no suplemento “Fugas”, do “Público”. Estive aí na altura da transição, três semanas ainda com a administração portuguesa e três semanas já com a administração chinesa, e queria voltar. E fazer um filme? Isso gostava muito, aliás tive um projecto para aí que nunca avançou, foi pena. Mas fala-se na hipótese de um filme passado aí, não sei se será possível ou não. Entretanto já tem outros projectos em mãos? Sim, tenho dois. Um é um filme sobre o 25 de Abril. Não sei se sabe onde são os terraços de Bragança [na Rua António Maria Cardoso, Chiado] em Lisboa, um edifício que era a antiga sede da PIDE e que vai ser transformado num condomínio de luxo? Então, no filme comemoram-se os 40 anos do 25 de Abril, várias famílias estão a mudar-se para lá e os espíritos dos torturados manifestam-se. É um projecto que estou a desenvolver com vários realizadores, quatro portugueses que filmam no Brasil e quatro brasileiros que filmam em Portugal. Ainda não tem data prevista de estreia.


DESPORTO Marco Carvalho info@hojemacau.com.mo

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U quase. Windsor Arch Ka I e Clube Desportivo Monte Carlo disputam ao fim da tarde de amanhã aquele que é porventura o mais importante desafio da edição de 2010/2011 do principal Campeonato de Futebol do território. Distanciados por apenas um ponto na liderança da classificação, os dois emblemas decidem qual das duas formações se perfila como a mais forte candidata ao triunfo na edição de estreia da Liga de Elite, numa altura em que faltam apenas duas jornadas para o final da prova. Campeão em título, o Windsor Arch Ka I dominou durante a maior parte da temporada, mas um inesperado desaire frente ao Futebol Clube do Porto a meio da semana passada acabou por colocar o grupo de trabalho orientado por Rui Cardoso numa situação melindrosa. Se conseguir derrotar o adversário, o Ka I pode festejar já amanhã o seu segundo campeonato consecutivo, mas o triunfo frente ao Grupo Desportivo Monte Carlo não se afigura fácil. A formação “canarinha”, que vai ser orientada nas duas últimas rondas da prova pelo treinador-adjunto William Long, entrou na Liga de Elite com o pé esquerdo, mas a chegada de reforços brasileiros acabou por ajudar a formação presidida por Firmino Mendonça a dar um pontapé na crise. Sem empatar ou vencer frente ao Ka I, o Monte Carlo adia para a última jornada a decisão do título, sendo que um triunfo catapulta o onze capitaneado pelo macaense Geofredo de Souza para a liderança do Campeonato. O conjunto “canarinho” já não se encontrava em posição de disputar a vitória na principal prova do desporto-rei do território desde 2008, ano em que o Monte Carlo

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Futebol | Ka I e Monte Carlo enfrentam-se em braço-de-ferro decisivo

Amanhã joga-se o Campeonato

se sagrou campeão de Macau pela última vez. A equipa era à época dirigida por Tam Iao San, treinador que é agora responsável pelo projecto das selecções jovens que evoluem sob a égide da Associação de Futebol de Macau. O técnico, que continua a acompanhar de forma muito próxima as lides do principal campeonato de futebol da RAEM, espera um duelo equilibrado entre aquelas que são actualmente as melhores formações do futebol de Macau, mas não ousa avançar com prognósticos. Para Tam, o Windsor Arch Ka I é a equipa que mais condições reúne para chegar ao título, mas o Monte Carlo compensa o défice de favoritismo com uma confiança a toda a prova. “Tive a oportunidade de assistir a um dos últimos treinos da equipa e fiquei surpreendido com o clima de confiança que existe no grupo de trabalho. O plantel é um plantel muito unido e isso nota-se dentro de campo. De qualquer forma, vão jogar contra a equipa que, a meu ver, tem os melhores valores

do futebol do território. Se o Ka I conseguir ultrapassar os problemas de disciplina táctica que evidenciou no último encontro frente ao FC Porto, estou certo que será um adversário muito difícil de bater”, defende. Jogadores como Kamilo Oliveira da Silva e Ricardo PUB Júnior, do lado do Monte Carlo e William Gomes ou Christopher Nwardou, do lado do Ka I, são atletas que poderão fazer a diferença se não forem devidamente neutralizados, defende o último técnico a levar o Clube Desportivo Monte Carlo ao triunfo no Campeonato. O encontro de amanhã coloca frente a frente os dois líderes da classificação, mas também os dois melhores marcadores da edição de 2010/2011 da Liga de Elite. William Carlos Gomes e Kamilo Oliveira da Silva são ambos brasileiros, mas essa – diz Tam Iao San – é uma das poucas características que os atletas têm em

CARLOS XAVIER GOSTAVA DE VER NUNO GOMES NO SPORTING Depois de anunciada a saída de Nuno Gomes do Benfica, multiplicam-se as previsões de onde poderá o internacional português vir a jogar. Do lado do Sporting, Carlos Xavier vê com bons olhos a contratação de Nuno Gomes, mas admite que esse cenário é... improvável. “Os bons jogadores são bem-vindos no Sporting. Não acredito que o Nuno, que tem um grande historial no Benfica, queira vir para o Sporting, não sei se é essa a sua vontade. Mas é sempre bem-vindo”, afirmou à Rádio Renascença. Ainda assim, o antigo jogador dos leões considera que o clube de Alvalade precisa de jogadores de outro tipo. “Ele está a terminar a carreira, o Sporting precisa de uma renovação, seria mais óbvio entrar um jogador com mais jogos em cima, ele tem jogado pouco, mas em termos de qualidade seria bem-vindo.” Nuno Gomes tem pelo menos, e para já, dois clubes

interessados nos seus préstimos. Os suíços do Servette e os mexicanos do Puebla. O treinador do Servette, o português João Alves, reconhece que gostaria de contar com Nuno Gomes na equipa, estando a contratação dependente das exigências de ordem financeira do ex-avançado do Benfica. “Nuno Gomes ainda está em condições de jogar e pode servir para o Servette”, disse João Alves em declarações à Rádio Renascença. Do lado mexicano, o Puebla, do principal escalão do país, já anunciou que Nuno Gomes é um sonho que pode tornarse realidade. “É verdade que o Nuno Gomes é uma possibilidade para o Puebla. Para nós, não há jogadores caros ou baratos, novos ou velhos. É tudo uma questão de qualidade. Pelo que estivemos a analisar, o Nuno Gomes ainda a tem, portanto interessa», confirmou José Luis Chargoy, vice-presidente do clube, ao Maisfutebol.

comum. “São ambos jogadores que trazem uma enorme mais valia ao futebol do território, mas são jogadores muito diferentes. O William é um jogador mais individualista e que cria mais desequilíbrios. É forte no um para uma, mas também é mais fácil de neutralizar se um defesa se mantiver atento. O Kamilo é mais forte do que o William mas não é tão bom no confronto directo com o adversário. É um jogador que depende mais da equipa, mas é aquilo que chamamos um verdadeiro matador: consegue estar sempre no sítio certo à hora certa”, esclarece o treinador. Com mais de seis dezenas de golos marcados entre ambos, Kamilo e William Gomes poderão ser duas das referências de um jogo que promete emoções fortes e que chama ao território olheiros

de alguns dos clubes que disputaram este ano o principal campeonato de futebol da vizinha Região Administrativa Especial de Hong Kong. Apesar de não arriscar prognósticos, Tam Iao San não esconde as expectativas que nutre para o encontro. O antigo treinador do Monte Carlo espera que o desafio de amanhã seja aberto, em prol de um bom espectáculo de futebol: “Que possa ser um jogo com bom futebol de parte a parte. Ao Ka I basta um empate, mas espero que a equipa não entre em campo amanhã para jogar para esse resultado. No estádio vão estar treinadores de Hong Kong e seria bom que alguns jogadores pudessem mostrar o que valem, até porque merecem jogar num campeonato mais competitivo que o campeonato do território”, remata.


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PERFIL

DANIEL AUGUSTO DE MELO E PINTO | PROFESSOR DO SECUNDÁRIO E TREINADOR DE FUTEBOL

O sonho que transpõe fronteiras Patrícia Ferreira

PATRÍCIA FERREIRA

patricia.ferreira@hojemacau.com.mo

Tudo começou com a paixão pelo

futebol quando era criança. O desejo de um dia ser um craque da bola levou Daniel Augusto de Melo e Pina a deixar o seu país para correr atrás do sonho. Nascido na ilha de São Vicente, em Cabo Verde, trabalha como professor de Educação Física em Macau, e integrou-se rapidamente na vida do território. Prova disso é ter-se tornado membro da Associação Amizade de Macau e estar a aventurar-se como actor no grupo de teatro “Dóci Papiaçam”. Daniel licenciou-se em Educação Física e Desporto e tirou um mestrado na Universidade de Macau. Cá chegou há mais de 25 anos e não tem dúvidas em considerar-se um macaense. A idade é segredo, mas não tem problemas em revelar que já fez de tudo na vida. Até foi cantor profissional em Cabo Verde e carrega a proeza de ter sido parte da banda “Pilon”, a primeira a gravar um álbum. Foi ainda modelo, mas sempre foi o futebol que lhe fez sonhar alto. “Ter sido manequim foi uma mistura de sensações que ao mesmo tempo me enriquecia o espírito. Mas o desporto foi sempre a minha fascinação.” Se não era o futebol, era o desporto em geral. A actividade física estava presente diariamente na sua rotina. “Nunca fui um aluno brilhante, mas tudo o fazia, fazia sempre com o desporto ao lado.” No futebol, chegou longe. Fez parte da selecção de Cabo Verde e foi o primeiro atleta cabo-verdiano a representar o seu país na antiga União Soviética. Sabia que se lá continuasse, nunca chegaria ao nível profissional na modalidade. “Não podia de maneira alguma ser profissional em Cabo Verde. Por isso, decidi ser futebolista em Portugal.” O orgulho de ter vestido a camisola de Cabo Verde era grande, mas o desejo de vingar em campo falou mais alto. “É claro que estou orgulhoso do meu país e de poder ser reconhecido, mas como qualquer outro cabo-verdiano queria sair, apostar mais alto.” Foi então que, em 1979, deixou a ilha de São Vicente rumo a Portugal, a carregar na bagagem a esperança de ser futebolista profissional. Para trás ficaram os estudos por terminar. A vida não foi fácil a partir de então. Daniel fala nas dificuldades de adaptação e dos sacrifícios feitos

para atingir o objectivo. “Ainda me lembro de quando cheguei à Coimbra no dia 1 de Dezembro e daquele Inverno, do terrível frio que passei até me habituar.” Os desafios que tinha pela frente eram muitos e não havia tempo a perder. Entrou para a equipa principal da Académica e quando os treinos acabavam, tirava o equipamento para vestir outro – o de estudante. “Tinha de estudar à noite e ao mesmo tempo treinar. Esse esforço fez-me crescer como homem e futebolista.” Um acaso acabou por tirá-lo de Coimbra e trazê-lo a Macau. Foi escolhido pelo empresário local Carlos Assunção, que estava a recrutar sete futebolistas internacionais para reforçar a equipa do território. A meta era ambiciosa: fazer um bom trabalho para a qualificação de Macau para o Campeonato do Mundo. “Fiquei muito feliz por ter sido seleccionado, por julgarem que eu estava entre os melhores.” Aterrou em Macau em 1983 a achar que ia apenas jogar na selecção, mas acabou por ir ficando e construiu toda uma vida cá. Mais uma adaptação e mais dificuldades. Sentiu a primeira crise quando o patrão da equipa deixou o território de forma repentina, por motivos não esclarecidos. “Naquele momento parecia que estávamos sem chão. Isso mudou a minha vida não só porque foi um choque, mas porque foi uma lição, que heroicamente soube ultrapassar.” Agora é treinador da equipa do Futebol Clube de Porto de Macau há dois anos e levou a equipa a ser vice-campeã do torneio local no ano 2010. O tempo é ainda ocupado com a função de professor nas escolas secundárias. Para Daniel, Macau é “um dos melhores lugares do mundo”, pela segurança e pelo bemestar que oferece. “Sinceramente não comparo Macau com nenhum outro lugar porque é um dos melhores lugares onde se pode viver bem”. Plantou cá raízes e já colheu frutos. Casou-se com uma rapariga que conheceu no território e tem dois filhos. Macau tornou-se assim parte de si. “Sinto-me realizado, com uma família maravilhosa e uma vida tranquila”. Planos para partir não existe. A sua casa é agora em Macau, onde realizou o seu sonho de sempre.


[f]utilidades Cineteatro | PUB

[ ] Cinema

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SALA 2

SUPER 8 [C] Um filme de: J. J. Abrams Com: Elle Fanning, Kyle Chandler, Ron Eldard 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

SALA 1

SALA 3

Um filme de: Martin Campbell Com: Ryan Reynolds, Blake Lively, Peter Sarsgaard 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

Um filme de: Matthew Vaughn Com: Michael Fassbender, James McAvoy 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

GREEN LANTERN [B]

X-MEN FIRST CLASS [B]

VERTICAIS: 1-Repugna. Carruagem de duas rodas, entre os antigos Romanos. 2-Emprega-se também como partícula expletiva. Que tem ácido prússico. 3-Televisão. Insistir em. 4-Que tem ravinas. Símbolo químico de ósmio. 5-Erector. Molusco, da ordem dos acetabulíferos decápodes. 6-Nome de uma letra do alfabeto grego. Moléstia do gado ovino, papeira. 7-Fábrica, oficina, engenho. Conjunto de fragmentos. 8-Para estimular, excitar. Deixar-se possuir de. 9-Manada de porcos. Antigo peso de Malaca. 10-Troge. Associação Bandeira Azul da Europa. 11-Flexão feminina de mau. Espécie de cunha, para segurar a retranca nos navios.

SOLUÇÕES DO PROBLEMA HORIZONTAIS: 1-ENTREGUE. TM. 2-NAVAL. SIARA. 3-JO. VARIADO. 4-O. RITON. UGT. 5-ACENO. ACAIA. 6-ICORE. ODOR. 7-CAAS. ISBA. A. 8-INVOLVER. AM. 9-SAA. UANAMBE. 10-IDROL. GRAAL. 11-OO. SACA. ZEA. VERTICAIS: 1-ENJOA. CISIO. 2-NAO. CIANADO. 3-TV. RECAVAR. 4-RAVINOSO. OS. 5-ELATOR. LULA. 6-G. RO. EIVA. C. 7-USINA. SENGA. 8-EIA. COBRAR. 9-ADUADA. MAZ. 10-TROGIO. ABAE. 11-MA. TARAMELA.

REGRAS |

Insira algarismos nos quadrados de forma a que cada linha, coluna e caixa de 3X3 contenha os dígitos de 1 a 9 sem repetição SOLUÇÃO DO PROBLEMA DO DIA ANTERIOR

Su doku [ ] Cruzadas

HORIZONTAIS: 1-Dado ou confiado a alguém. Túlio. 2-Relativo a navios ou navegação. Senhora. 3-O m q. Job. Inconstante, leviano. 4-Antigo vaso grego. Siglas dum sindicato. 5-Gesto com a mão ou com a cabeça. Planta medicinal. 6-Plus. Cheiro. 7-Nome de algumas tribos indígenas do Brasil, em Mato Grosso. Cabana dos camponeses russos. 8-Envolver. Símbolo químico de amerício. 9-Antiga medida oriental, correspondente ao módio romano. Ave. Brasileira. 10-Citrato de prata. Vaso Santo, que segundo a crença Jesus se sérvio na ceia. 11-Berço. Gato selvagem de Madagáscar. Zeia.

[Tele]visão www.macaucabletv.com TDM 13:00 13:30 14:30 19:00 19:30 20:25 20:35 21:00 22:00 22:58 23:00 23:30 01:10 01:40

TDM News - Repetição Jornal das 24h RTPi DIRECTO Ásia Global (Repetição) Ganância Acontecimentos Históricos Telejornal Jornal da Tarde da RTPi Viver a Vida Acontecimentos Históricos TDM News Herbie: Fully Loaded (Herbie: Prego a Fundo) Telejornal (Repetição) RTPi DIRECTO INFORMAÇÃO TDM

RTPi 82 14:00 Telejornal Madeira 14:30 Desafio Verde 15:15 Café Central 15:30 Com Ciência 16:00 Bom Dia Portugal 17:00 Grande Reportagem-SIC 17:45 Portugueses Sem Fronteiras 18:00 Quem Tramou Peter Pan? 19:00 Estado de Graça 20:00 Jornal Da Tarde 21:15 O Preço Certo 22:00 Encontros Imediatos 22:30 Recantos 23:00 Dia de Portugal TVB PEARL 83 06:00 Bloomberg West 07:00 First Up 07:30 NBC Nightly News 08:00 Putonghua E-News 08:30 ETV 10:30 Inside the Stock Exchange 11:00 Market Update 11:30 Inside the Stock Exchange 11:32 Market Update 12:00 Inside the Stock Exchange 12:02 Market Update 12:30 Inside the Stock Exchange 12:35 Market Update 13:00 CCTV News - LIVE 14:00 Market Update 14:40 Inside the Stock Exchange 14:43 Market Update 15:58 Inside the Stock Exchange 16:00 ZingZillas 16:30 Mr. Moon 17:00 The Penguins of Madagascar 17:30 Ben 10 Ultimate Alien 18:00 Putonghua News 18:10 Putonghua Financial Bulletin 18:15 Putonghua Weather Report 18:20 Financial Report 18:30 Green Challenge: Golfing World 19:00 Global Football 19:30 News At Seven-Thirty 19:50 Weather Report 19:55 Earth Live 20:00 Money Magazine 20:30 Green Cuisine 21:30 Leading Brands of the World 21:35 Weekend Blockbuster: Meet the Spartans 22:30 Marketplace 22:35 Weekend Blockbuster: Meet the Spartans 23:20 The CEO Connection 23:25 World Market Update 23:30 News Roundup 23:45 Earth Live 23:50 Dolce Vita 00:20 America’s Next Top Model 01:10 Get Reel Music Mix 01:35 European Art at the MET 02:00 Bloomberg Television 05:00 TVBS News 05:30 CCTV News ESPN 30 12:00 15:00 15:30 18:30 19:30 20:00 20:30 21:00 22:00

US Open Championship 2011 1st Round Total Rugby 2011 MLB Regular Season 2011 Texas Rangers vs. New York Yankees US Open Championship Highlights 2011 - E2 (LICE) Sportscenter Asia Football Asia 2011/12 (Delay) Baseball Tonight International 2011 US Open Championship Highlights 2011 (LIVE) US Open Championship 2011 2nd Round

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The Jerk Ace Ventura: Pet Detective Ace Ventura When Nature Calls Knucklehead Love HaPPens The Informant! Proof Of Life

CINEMAX 42 12:00 13:45 15:45 17:00 18:45 21:45 22:00 23:30

Babylon 5: Third Space Platoon Frankenstein (1931) Invasion Of The Body Snatchers A Bridge Too Far Epad On Max 115 Passenger 57 Spartacus: Blood And Sand

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20:00 21:00 22:00 23:00 00:00

What A Tool - Annihilators The Shift 2 Kidnap & Rescue - Proof Of Life Forensics: You Decide The Shift 2

NATIONAL GEOGRAPHIC CHANNEL 51 12:30 Megastructures - SMART Tunnel 13:25 Pirate Patrol - Drug Test 15:15 Salvage Code Red - Blown Away 16:10 Big, Bigger, Biggest 17:05 Dogtown - Crisis Dog 18:00 Extraordinary Dogs 19:00 Every Singaporean Son 20:00 Megastructures - SMART Tunnel 21:00 Wild Case Files 22:00 Mystery Files 23:00 Taboo - Gross Food 00:00 Wild Case Files ANIMAL PLANET 52 13:00 Corwin’s Quest - The Eagle’s View 14:00 Weird Creatures With Nick Baker 3 15:00 Wild Hearts- Growing Up...Lynx 16:00 Wildest Africa - Okavango 17:00 Animal Cops Miami 18:00 Animal Cops Philadelphia 19:00 Groomer Has It - The Fashion Show 20:00 Corwin’s Quest - The Lion’s Pounce 21:00 Wild Hearts: Growing Up Wild 22:00 Wildest Africa - Namibia 23:00 Animal Cops Miami 00:00 Corwin’s Quest - The Lion’s Pounce HISTORY CHANNEL 54 13:00 Modern Marvels 14:00 And Man Invented Animals... 16:00 Top Shot 17:00 Swamp People 18:00 The Universe 19:00 Modern Marvels 20:00 Swamp People 21:00 Icons Of Power 23:00 Sudirman Arshad 00:00 Top Shot BIOGRAPHY CHANNEL 55 13:00 Intervention 14:00 Christina Onassis 15:00 Storage Wars 16:00 J.K. Rowling: A Year In The Life 17:00 Obsessed 18:00 Intervention 19:00 Rendezvous With Simi Garewal 19:30 Shatner’s Raw Nerve 20:00 Tough Love Couples 21:00 Heavy 22:00 Gene Simmons: Family Jewels 22:30 Storage Wars 23:00 Intervention 00:00 Celebrity Ghost Stories AXN 62 12:15 13:05 13:55 14:50 15:40 16:30 17:25 18:15 19:10 20:05 20:35 21:05 23:50

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OPINIÃO p er sp ect i va s Jorge Rodrigues Simão

Sustentabilidade dos transportes “Streets in the cities serve many purposes besides carrying vehicles and city sidewalks – the pedestrian parts of the streets – serve more purposes besides carrying the pedestrians. Those uses are bound up with circulation but are not identical with it and in their own right they are at least as basic as circulation to the proper working of cities. A city sidewalk by itself is nothing. It is an abstraction.” The Death and Life of Great American Cities, Jane Jacobs

O

crescimento dos transportes rodoviários de mercadorias durante as últimas décadas é um dos factores mais responsáveis pelo aumento da procura no sector dos transportes. Este crescimento e o declínio do caminho-de-ferro que lhe está associado têm implicações ambientais graves. O impacto ambiental do transporte rodoviário de mercadorias, é cinco vezes mais pernicioso em termos de emissões de dióxido de carbono (CO2) do que os comboios e 25 vezes mais nocivo em termos de acidentes rodoviários. Perante estas enormes disparidades no comportamento ambiental, ainda é mais impressionante que na indústria europeia a distribuição das actividades com elas relacionadas estejam a transferir-se para o transporte rodoviário e a abandonar as alternativas. Este processo encontra-se particularmente avançado na União Europeia (UE) com transferências significativas de mercadorias do caminho-de-ferro para a estrada. As economias dos transportes de mercadorias por caminho-de-ferro e por estrada aceleraram esta transferência. O sector rodoviário recebe investimentos maciços, enquanto as infra-estruturas ferroviárias decresceram em número e aumentaram o preço na generalidade dos países, à medida que os governos impõem taxas de lucros irrazoáveis e discriminatórias ao financiamento dos investimentos no sector ferroviário, e ao uso das vias rodoviárias para arrecadarem receitas que ajudem a cobrir a dívida pública. Mais importante que as economias são as amplas mudanças que se registam na organização da produção e do consumo. Estas reduziram a necessidade de armazenar materiais em determinados pontos na cadeia da produção e substituíram o transporte de materiais que era altamente eficiente, de modo a chegarem “just-in-time”. A função do transporte tornou-se então uma componente altamente integrada do sistema total de produção e distribuição. A esta transferência para níveis mais elevados de dependência do transporte rodoviário e para mais deslocações dos produtos chama-se logística ou transporte “just-in-time”. A concentração espacial da produção ao longo do tempo e o aumento das distâncias no transporte rodoviário de mercadorias só foram possíveis graças às economias de tempo proporcionadas

pelas auto-estradas. As empresas exteriorizam os seus custos internos, incorporando o sistema de auto-estradas no seu processo produtivo. Isto só é possível graças às economias de tempo e aos baixos custos dos transportes na Europa, que tem aumentado significativamente por força da crise sistémica global, seguida da recessão e das más políticas económicas, financeiras e fiscais, criando um deficit orçamental excessivo na quase totalidade dos Estados da “Zona Euro”, não cumprindo os critérios de Maastricht no seu limite máximo de 3 por cento. Todavia, o aumento maciço nos custos de transporte constituem uma alternativa muito mais favorável do que produzir e armazenar os produtos, num grande número de operações de menor dimensão que implicam mais acordos locais de distribuição. O aumento dos acordos de distribuição locais, geraria uma redução dos quilómetros percorridos pelos veículos pesados de transportes rodoviário de mercadorias e um menor impacto ambiental, mas seria muito mais dispendioso para a indústria. As economias de tempo geradas pelo transporte rodoviário reorganizaram totalmente o comportamento, a localização e a distribuição das empresas, aumentando substancialmente os danos ambientais. A concentração espacial destinada a reduzir o número de entrepostos e aumentar as distâncias percorridas, pelos veículos pesados de transportes de mercadorias continua a verificar-se. Estes processos de concentração espacial e de aplicação de conceitos logísticos, intensificaram-se com a criação do “Mercado Único” na UE, por exemplo, e com a alteração da legislação do mercado de transportes associada a essa evolução. A desregulação dos transportes internacionais, segundo o qual os veículos pesados de transportes de mercadorias de qualquer Estado-membro da UE podem fazer viagens domésticas noutro Estado-membro, contribuiu para a redução dos preços dos transportes rodoviários, mas aumentou os níveis de poluição, os acidentes rodoviários e o congestionamento de tráfego. Entretanto, os caminhos-de-ferro e os meios de transporte combinados (caminhos-de-ferro e estradas que funcionam em conjunto com suportes infra-estruturais adequados) sofreram um decréscimo, visto que a logística realça as vantagens das operações rodoviárias. Os comboios de alta velocidade vieram ultimamente melhorar a situação, unindo cidades longínquas num espaço de tempo reduzido, quando comparado com o tempo para o mesmo percurso realizado por estrada. As economias de tempo e a reestruturação das zonas de acesso geraram quantidades con-

sideráveis de actividade transportadora suplementar e deram um impulso enorme aos meios de transporte rodoviários, dada a flexibilidade e rapidez com que estes reagem a alterações nas preferências por outros locais. Os níveis futuros do transporte rodoviário de mercadorias, quer à escala internacional, quer à escala interurbana, constituem um dos problemas ambientais mais difíceis de resolver não apenas na UE, mas também em países de economias emergentes e de grande superfície como é o caso do Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC). Não é provável que as zonas do globo com taxas de consumo mais elevadas possam atingir a sustentabilidade sem redefinir os conceitos de tempo e de economias de tempo. O escritor alemão Michael Ende, no seu romance infantil “Momo”, descreve as diferenças entre uma sociedade orientada para alcançar economias de tempo, e outra em que as actividades humanas se processam ao longo de distâncias mais curtas, com níveis mais elevados de interacção social. Todavia, não é necessário fantasiar acerca de uma nova utopia que altere o curso das coisas e valorize o tempo de modo a não acelerar o ritmo do consumo de recursos, nem a criar uma maior procura de infra-estruturas de apoio a distâncias cada vez maiores, quer para as pessoas, quer para o transporte de mercadorias. Aredefinição do conceito de tempo deveria valorizar mais a conservação dos recursos, a produção local, consumo e o transporte não motorizado para viagens curtas e as periferias ricas em termos sociais. Se o tempo fosse avaliado de modo a que as economias de tempo não se traduzissem em vantagens monetárias, então as tendências para o transporte rodoviário que se constatam nas políticas nacionais de transportes da maioria dos países desenvolvidos, e dos países das principais economias emergentes, seriam eliminadas, e estas sofreriam uma alteração drástica no sentido do transporte sustentável, privilegiando a acessibilidade em detrimento da mobilidade, e hierarquizando os meios de transporte, dando primazia aos peões e aos ciclistas, seguidos pelos transportes públicos e no final da lista, aos automóveis, regulamentando e estimulando a aquisição dos movidos a energias alternativas. A aceitação das vantagens reais que decorrem da valorização do tempo gasto na interacção social, utilizando estabelecimentos, infra-estruturas e espaços verdes locais, exerce uma influência considerável nas alterações a introduzir, quer no planeamento do uso do solo, quer na organização das infra-estruturas,

de modo a que uma grande parte das nossas actividades diárias, possa ser satisfeita através de deslocações locais, em vez de sermos obrigados a percorrer distâncias longas. A escritora e pensadora urbanista canadiana Jane Jacobs, demonstrou em 1970, no seu livro “The Economy of Cities”, que continua profundamente actual, até que ponto as cidades podem beneficiar de comunidades locais fortes, sobretudo quando comparadas com as alternativas distantes fomentadas pelas auto-estradas, transportes aéreos e comboios de alta velocidade. O fascínio pelas economias de tempo, a concentração espacial e a mobilidade crescente, levam-nos a ter uma noção muito difusa das vantagens ambientais, sociais, comunitárias e económicas proporcionadas pela produção e pelos métodos locais de consumo. Uma estrutura local de consumo proporcionaria infra-estruturas de mais alta qualidade, no que respeita quer às deslocações locais até cinco quilómetros por exemplo, quer a grupos de zonas urbanas e suas envolventes. No essencial, as estruturas nacionais e as boas redes de infra-estruturas locais, permitiriam satisfazer a procura crescente de transportes e de infra-estruturas. Os impactos ambientais associados a esta procura de transportes, como gases de estufa, chuvas ácidas, depleção do ozono na estratosfera, perda de “habitat” e ameaças à biodiversidade, por exemplo, não podem ser reduzidos por meios técnicos (conversores catalíticos), nem por regulamentos (teor sulfuroso dos combustíveis). A tributação pode surtir algum efeito, mas os debates travados no âmbito da UE e a ausência de conclusões sérias quanto aos impostos sobre a energia à base de carbono, revelam as dificuldades que se deparam quanto a esta opção. As alterações no planeamento do uso do solo, uma maior proximidade dos locais uns dos outros e das sedes daquelas infra-estruturas que obrigam as pessoas a deslocar-se, o investimento em meios de transporte que apoiem as deslocações locais e o empenho no fomento de transportes multimodais de mercadorias são susceptíveis de reduzir a procura e de proporcionar uma qualidade de vida superior à que é gerada pela hipermobilidade e pelo crescimento. Todas estas políticas são discriminadas em prol da análise e da avaliação dos investimentos, dos processos que avaliam as economias de tempo e do tempo encarado como uma mercadoria que pode ser convertida em unidades monetárias e utilizada como um lucro a contrapor a custos limitados, numa fria análise custo-benefício. Esta distorção e deturpação do tempo, constitui a poluição do tempo no seu estádio mais simples.


Façamos, pois, as acções ordinárias de um modo Padre Manuel Teixeira [1912-2003]

extraordinário.

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15 ed i t or i a l Carlos Morais José

Uma visita estranha Achei a visita do director do Gabinete de Ligação para os Assuntos de Hong Kong e Macau, no mínimo, um pouco estranha. Depois dos protestos que ocorreram ali na ex-colónia britânica, talvez Wang Guangya tenha alterado o seu próprio plano e a passagem pela RAEM acabou por se revestir de contornos menos esperados. Com efeito, como explicar que se tenha escusado a um encontro com os jornalistas? Não terá Wang o necessário jogo de cintura político para enfrentar e responder a perguntas eventualmente difíceis? Ora se o não tem não deveria ter sido nomeado para este cargo, pois é de esperar que nas duas regiões, onde também existem jornalistas não-alinhados essas questões inevitavelmente teriam de acontecer. E daí não viria mal ao mundo nem à China, como se verifica quando Wen Jiabao, Hu Jintao ou Xi Jinping se deslocam a países do Ocidente. Ora ao fugir com o rabo à seringa, o responsável não melhorou a imagem do regime. Antes pelo contrário. Depois as passagens pelos casinos. Por que razão escolheu Wang Guangya visitar os edifícios da Galaxy e da SJM ao invés de, por exemplo, se apresentar em duas universidades? É mau sinal, sobretudo para uma cidade que pretende diversificar a sua economia e não ser totalmente dependente do jogo, nomeadamente como meio de proporcionar emprego noutras áreas aos seus residentes. É certo que o jogo existe e é a principal fonte de rendimento, mas com certeza que não precisa de publicidade nem exposição pública, muito menos da credibilização que uma presença deste tipo proporciona. E por que razão escolhe os referidos concessionários e não outros? As visitas de Estado não deveriam privilegiar umas entidades privadas e desvalorizar as outras. Será porque os concessionários em questão são maioritariamente de capitais chineses? A ser assim, tal também não ficaria lá muito bem e roçaria alguma xenofobia. Depois as suas declarações finais sobre a necessidade do governo ouvir mais as associações. A sério? Quais? Certamente que não se referia ao Novo Macau Democrático. Quantas às outras, ditas tradicionais, há muito que o governo da RAEM as ouve, por vezes até demais. Quanto a mim, alguns destes grupos, constituídos basicamente pelos homens mais ricos aqui do burgo, têm servido de obstáculo à implementação de medidas que beneficiariam grandemente

A contestação em Hong Kong pode ter perturbado Wang que aqui terá optado por procurar refúgio entre os poderosos ansiosos de lhe agradar. De Pequim esperamos a postura cultural, as directivas sábias, a palavra de compostura, a defesa da identidade de Macau. E não foi isso que desta vez se passou o povo, talvez por entenderem que seriam contrárias aos seus interesses. Na verdade, têm oportunamente para os seus principais membros privilegiado a defesa dos seus interesses corporativos, aos invés de pensarem a RAEM como um todo e procurarem criar as condições para uma sociedade mais harmoniosa. Posto tudo isto, parece-me que Wang Guangya está talvez mal informado sobre os mandarins locais, pois Pequim deveria precisamente limitar o seu extremo poder nesta sociedade e coartar as suas ambições, possibilitando ao governo o terreno necessário para criar políticas justas e transparentes, que defendam realmente a população em geral e não os aristocratas do dinheiro em particular. Repito: a contestação em Hong Kong pode ter perturbado Wang que aqui terá optado por procurar refúgio entre os poderosos ansiosos de lhe agradar. O povo não é sereno, mas é verdadeiro e não é bom estar sistematicamente ao lado de quem o oprime, sem outro objectivo para além do seu próprio enriquecimento De Pequim esperamos a postura cultural, as directivas sábias, a palavra de compostura, a defesa da identidade de Macau. E não foi isso que desta vez se passou.

rapidamente. Espera-se que o executivo não resolva fazer estudos, encomendar projectos e outras habilidades. O que é realmente preciso é criar campanhas publicitárias de carácter educativo e fiscalizar sem dó nem piedade os transgressores. Assim como as coisas estão é que não dá. * Enquanto a ecologia está na moda, com poupanças de energia e etc., os empreiteiros preparam-se para destruir a Taipa Pequena com os tais de “Jardins de Lisboa”. Plano

sinistro. Ao contrário do que alguns optimistas afirmam, não tenho a certeza de que o governo vai chumbar o projecto. São os tais interesses dos mandarinetes deste território que se sobrepõem ao bem comum. De facto, se Chui Sai On os ouvir, como quer Wang Guangya, de certeza que ali vamos ter mais um monstro de betão. Só espero que ali do lado de Zhuhai, nomeadamente na Ilha da Lapa não se lembrem de construir na montanha que dá um belo enquadramento verde a Macau. Nós por aqui, entretanto, vamos construindo e destruindo o pouco verde que nos resta.

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* Uma reportagem do Hoje Macau sobre o elevado número de pessoas atropeladas em passadeiras vem provar, infelizmente, aquilo que há muito andamos a pregar: o governo faz ouvidos moucos à necessidade de intensificar as campanhas rodoviárias. Na verdade, a situação é insuportável e a tendência é para piorar se nada for feito e

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Vanessa Amaro Redacção Filipa Queiroz; Gonçalo Lobo Pinheiro; Joana Freitas; Patrícia Ferreira, Rodrigo de Matos; Virginia Leung Colaboradores António Falcão; Carlos Picassinos; José Manuel Simões; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas Arnaldo Gonçalves; Boi Luxo; Correia Marques; Gilberto Lopes; Hélder Fernando; João Miguel Barros, Jorge Rodrigues Simão; José I. Duarte, José Pereira Coutinho, Luís Sá Cunha, Marinho de Bastos; Paul Chan Wai Chi; Pedro Correia Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia António Falcão, Gonçalo Lobo Pinheiro; António Mil-Homens; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Laurentina Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Av. Dr. Rodrigo Rodrigues nº 600 E, Centro Comercial First Nacional, 14º andar, Sala 1407 – Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


cartoon

SEXTA-FEIRA 17.6.2011 www.hojemacau.com.mo

por Steff

ENCARNAÇÃO, MILAGREIRO Queria 1800 votos para ser eleito. Depois afirmou que ficaria contente se as gentes de Macau lhe dessem 100 votos. No total obteve 64 votos e de Macau apenas dez. O grande amigo foi o Brasil. “Dez votos é pouco, mas nos países da Ásia e Oceânia o Partido Nacional Renovador (PNR) ficou logo atrás dos partidos com assento parlamentar e à frente do PCTP/MRPP e do PPM”, constatou José Miguel Encarnação ao Hoje Macau. O PNR conseguiu nestas eleições legislativas o melhor resultado de sempre nos Círculos da Emigração – 112 votos - e Encarnação “ajudou” com 64 votos. “Para quem gastou 1500 patacas com a propaganda, penso que fiz o meu trabalho”, justificou. Encarnação assumiu que o PNR não é o melhor partido para se ir a eleições, muito por culpa do estigma a que está constantemente associado. “Sendo o partido que é, mal visto socialmente, é muito positivo quando se consegue umas gracinhas.” O candidato de Macau promete voltar em 2015, mas só se for com “uma máquina muito melhor oleada”. “A minha vontade é de avançar daqui a quatro anos. Tenho de ver se há vontade das pessoas em quererem de novo um candidato de Macau. Uma coisa é certa, não avanço com 1500 patacas nem num partido com estas conotações sociais”, enfatizou José Miguel Encarnação. - G.L.P.

E. COLI BACTÉRIA NOS HAMBÚRGUERES Seis crianças foram ontem hospitalizadas em Lille, no norte de França, depois de terem comido hambúrgueres congelados, devido a um infecção alimentar associada a um tipo raro de bactéria E.coli. As autoridades precisaram que o caso não tem qualquer ligação com a epidemia na Alemanha. “O estado [de saúde das crianças] mantém-se grave mas não preocupante. O prognóstico vital não está de forma alguma comprometido”, indicou uma porta-voz da Agência regional de Saúde (ARS) francesa. As crianças estão hospitalizadas desde quarta-feira depois de terem sido vítimas de “diarreias hemorrágicas graves” aparentemente associadas ao consumo de hambúrgueres congelados da marca “Steaks Country” vendidos na cadeia alemã Lidl.

ABU BAKAR CONDENADO

Gina Rangel barbaramente agredida

“Se não for eu a matar-te, alguém o fará”

G

EORGINA(Gina) Rangel, de 59 anos, figura prestigiada da comunidade macaense e irmã do ex-secretário para a Administração, Educação e Juventude, Jorge Rangel, foi barbaramente agredida na passada quarta-feira por um vizi-

nho de etnia chinesa, no elevador do prédio onde ambos habitam. Segundo Gina Rangel contou ao Hoje Macau, tudo começou quando o homem, com cerca de 40 anos, indelicadamente a empurrou para alcançar o botão do elevador. A senhora chamou-lhe então a atenção

para a necessidade de haver alguma educação entre as pessoas, ao que o homem respondeu com uma série interminável de insultos em cantonês, nos quais a expressão “tiu lei lo mo” terá sido das mais suaves. Durante o resto da viagem, os insultos não pararam, subindo constantemente de tom, o que levou Gina Rangel a empurrá-lo, com a normal indignação de quem se vê radicalmente insultada e em termos extremamente ordinários. Aresposta não se fez esperar e foi na forma de uma série selvática de socos, que a deixaram no estado que se pode constatar na fotografia que aqui publicamos. O elevador acabou por descer até ao átrio do prédio onde a cena de pancadaria continuou, sem que o porteiro se dignasse intervir. Foi um rapaz, também vizinho, que acabou por se meter no meio, evitando que Gina Rangel continuasse a ser agredida até que chegou a polícia. Já na presença dos agentes da autoridade, o homem voltou-se para ela e ameaçou: “Se não for eu a matar-te, alguém o fará”. Gina Rangel acabou por se deslocar à esquadra da Taipa, onde apresentou queixa, tendo em seguida sido levada ao hospital onde lhe foram ministrados os primeiros socorros. “Ele disse-me para eu ir para a minha terra, não sabendo certamente que a minha família vive em Macau há dez gerações”, concluiu visivelmente nervosa e combalida a vítima de tão bárbara agressão. Contudo, não corre perigo de vida. O Hoje Macau sabe que casos como este, sempre com insultos aos “estrangeiros”, têm vindo a acontecer um pouco por toda a cidade, fazendo temer quem não é de etnia chinesa pela sua segurança neste território. – C.M.J.

CHINA CONTRA INTERFERÊNCIA NO MÉDIO ORIENTE Rússia e China são contrários a interferências estrangeiras nos distúrbios no mundo árabe, afirmaram ontem os presidentes dos dois países, que são pressionados pelas potências ocidentais para exercer maior pressão sobre o regime sírio. “As duas partes acreditam que a busca de soluções para a situação nos países do Médio Oriente e norte da África deve decorrer no campo legal e por meios políticos”, afirma-se um comunicado assinado pelos presidentes Dmitri Medvedev e Hu Jintao. INDONÉSIA IMÃ RADICAL CONDENADO O influente imã indonésio Abu Bakar Bashir, considerado o porta-voz do islamismo radical, foi ontem condenado a 15 anos de prisão por ter apoiado um grupo clandestino que planeava atentados contra as autoridades e contra estrangeiros. “Abu Bakar Bashir, 72 anos, foi condenado por ter fornecido apoio financeiro ao grupo AlQaeda em Aceh”, que actuava na selva da província de Aceh, na ilha de Sumatra. Figura emblemática do islamismo radical na Indonésia, Bashir foi julgado pela terceira vez por actos de terrorismo. Ele foi vinculado a uma série de atentados violentos na década passada, em particular às explosões que provocaram a morte de 202 pessoas no ano de 2002 em Bali. IRÃO ONDA DE VIOLAÇÕES COLECTIVAS Relatos recentes de violações colectivas praticados por grupos no Irão estão a causar preocupação entre as mulheres e a levantar questões sobre valores sociais no país, informa Mohammad Manzarpour, do serviço persa da BBC. Numa aldeia religiosa e conservadora perto da cidade de Isfahan, mulheres que participavam de uma festa privada foram sequestradas e foram vítimas de violações colectivas perpetradas por criminosos que as ameaçaram com facas. Uma semana depois, uma estudante universitária foi atacada e violentada por desconhecidos num campus fortemente protegido na cidade sagrada de Mashhad. Em ambos os casos, autoridades acusaram as vítimas de não usarem véus ou hijabs e de comportamento “não islâmico”. Os casos recentes ganharam repercussão, e os subsequentes comentários pejorativos feitos pelas autoridades despertaram indignação entre grupos de defesa das mulheres, que há tempos se queixam do crescente número de casos de assédio sexual no país.


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