Hoje Macau 17 JUL 2015 #3374

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Director carlos morais josé

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s e x ta - f e i r a 1 7 d e j u l h o d e 2 0 1 5 • A N O X i v • N º 3 3 7 4

o valor dos restos

relatório

Que triste marfim

reportagem

páginas 2-3

china página 9

A culpa é do sistema A Associação Novo Macau entregou ao Ministério Público documentos sobre aquilo que diz ser um projecto de aquisição, por parte do CCAC, de um sistema informático destinado a controlar todas as formas de comunicação via internet. As informações vêm do Wikileaks.

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Página 7

Agência Comercial Pico • 28721006

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Ter para ler

Terra de azar isabel castro

Idiotas. Ricos contra pobres paul chan wai chi

páginas 17-18

opinião

wan li

Os imortais também morrem política página 5

hojemacau

wikileaks denúncias de controlo de telecomunicações

h

Diplomacia na China josé simões morais

Cem mil anos. Quase anabela canas


reportagem

Tratar dos resíduos de comida em Macau ainda não é uma moda que tenha pegado e, todos os dias, milhares de alimentos vão para o lixo. Por vezes tão intactos que poderiam ser aproveitados para alimentar outras bocas. O IFT aposta na transformação de comida em adubo e existem hotéis que pedem a recolha destes restos. Toneladas vão parar onde não devem

E

m todas as casas, restaurantes, escolas e mercados o desperdício de comida é geral. No mundo desenvolvido, em todos os países onde a cultura do buffet é apreciada, quilos e quilos de comida vão para o lixo. Macau não é excepção. Diminuir este desperdício seria algo relativamente fácil, mas é algo que depende da consciência das pessoas. Do total do lixo produzido em Macau, cerca de um terço diz respeito a resíduos alimentares. Uma enorme quantidade segundo especialistas ouvidas pelo HM, num território onde a recolha deste ‘lixo’ e a tecnologia de processamento da comida em adubo ainda não está popularizada – apenas algumas escolas, mercados e hotéis a praticam. Segundo os dados da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), o Centro de Incineração de Resíduos Sólidos tratou, no ano passado, 1240 toneladas de resíduos. Os restos de comida ocuparam 20% a 40% dos resíduos - entre 248 a 496 toneladas. Para o presidente da Associação de Ecologia de Macau, Ho Wai Tim, a quantidade é substancial. O especialista indica, contudo, que este tipo de restos contêm muita água, o que faz a máquina de incineração precisar de mais combustível e utilizar uma grande carga de electricidade. Contudo, na realidade, como o HM testemunhou, o tratamento dos desperdícios alimentares pode não ser assim tão difícil. Prova disso mesmo é a existência de máquinas de desintegração de resíduos alimentares: uma existe no centro de incineração e outras estão colocadas em sete mercados públicos, no Instituto de Formação Turística (IFT) e em vários hotéis. Frida Law é técnica superior do IFT e acompanha-nos numa visita ao campus da instituição. Desde o local onde é feita a separação dos resíduos de comida, até à máquina de reciclagem destes, o HM é convidado a ver tudo. “Na cantina, a comida é oferecida em forma de buffet. Pedimos aos nossos estudantes que valorizem os alimentos e só levem a quantidade

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Alimentos Mais de 20% dos resíduos são comida que podia ser

Um mundo de hoje macau

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de comida que conseguirem acabar. E. quando terminam as refeições e precisam de despejar os restos, estes têm de ser postos em diferentes caixotes”, começa por nos dizer. O primeiro recolhe arroz, massa, legumes e carne, mas não sopas, para evitar o mau cheio. Outro recolhe ossos e peles de fruta, alimentos que são mais duros e que precisam de ser desfeitos pela máquina de trituração, antes de passar para a máquina de desintegração. 
Frida explica-nos que, através da tecnologia biodegradável da máquina, entre seis a 24 horas, oito quilos de resíduos tornam-se num quilo de adubo. Adubo que serve como fertilizante para todas as plantas do campus.

Sistema parado

A Divisão de Higiene Ambiental do Instituto para os Assuntos Cívicos Municipais (IACM) assegura ao HM que existem as mesmas máquinas do IFT nos setes mercados públicos – no Iao Hon, Taipa e Patane, Toi San, S. Domingos, S. Lourenço e até no Mercado Abastecedor Nam Yue. No entanto, a recolha dos resíduos dos vendedores de legumes ou carnes e de comidas cozinhadas não é obrigatória. Apenas “aconselhável”. E o tratamento dos resíduos não tem acontecido. Ao visitar o mercado de S. Lourenço, testemunhámos que o sistema está parado. Empregadas de limpeza e vendedores disseram ao HM que a máquina de reciclagem dos alimentos parou de funcionar há mais de um mês, devido às “queixas de mau cheiro”.
 Confrontado com a questão, Ho Wai Tim concorda. Considera que essas máquinas não são adequadas, nem têm aceitação popular, porque ficam perto das casas da população. O presidente da Associação de Ecologia sugere que os resíduos dos mercados sejam antes recolhidos pela DSPA e, ao mesmo tempo, que seja criado um centro único de tratamento destes desperdícios alimentares. “Acredito que a tecnologia já está madura em Macau. Prevejo que, no início da criação desse centro, poderiam ser tratadas 25 toneladas de alimentos. Mais tar-

de cem toneladas e até se poderia atingir as 300 toneladas – o total dos resíduos de Macau”, frisa, convicto. Já o IACM explica que, “de facto, o cheiro não é tão mau, mas os vendedores acham que pode influenciar os seus negócios”. O IACM assegura ao HM que vai melhorar “a ventilação do sítio onde está colocada a máquina” e que esta vai ser ligada novamente. Se a reacção face a esta máquina parece menos boa da parte de quem produz mais deste tipo de resíduos, o IFT não parece estar muito preocupado com a situação. Frida Law assegura-nos que todos os estudantes têm em conta as regras e que a máquina “não produz mau cheiro, nem é assim tão nojenta”. “Para mim é como assar um porco”, disse, enquanto abria a tampa da máquina do campus. Lá

dentro, podemos ver um pó de cor castanha escura. Frida explica-nos que todas as quartas-feiras e sábados de tarde não se despejam resíduos no espaço, para que os que ainda lá estão assentem. O processo pode parecer complicado, diz-nos, mas basta saber as técnicas. Uma delas, curiosamente, é perceber por exemplo que os adubos feitos nestas máquinas podem estragar as plantas se os ‘ingredientes’ utilizados não forem bem misturados. “[Uma vez] não equilibramos a proporção de resíduos de legumes e carne e os adubos tinham muita acidez. As plantas morreram depois de serem plantadas com aqueles adubos. Desde então sabemos a necessidade dessa neutralização”, explica-nos. Frida Law considera que, sendo o IFT uma instituição pública, tem

a responsabilidade em educar e promover a valorização de comida. Isto, porque a utilização da máquina pode não só reutilizar comida que iria para o lixo, mas também diminuir a quantidade dos alimentos que teriam esse fim. “No início da utilização da máquina, em 2011, todos os dias recolhíamos 25 quilos de resíduos. Gradualmente, com a promoção aos estudantes, os resíduos diários chegaram aos 11 quilos diários. Isso mostra que a consciência deles aumentou.” Consciência que, na opinião da responsável, não existe, porque as coisas ainda funcionam muito à base do desconhecido. “Porco cru, galinha morta, gordura, sopas e comida cozida... tudo é posto na máquina, claro que há mau cheiro. Se fizessem a separação que fazemos, como não


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transformada em adubo

desperdícios

colocar lá a sopa, o cheiro seria evitável. Creio que se apenas as empregadas fazem a separação, é muito difícil. Se todos ajudarem, passa a ser fácil. Não é complicado, é uma questão de consciência” disse, quando soube que a máquina de separação do mercado está parada devido às queixas de mau cheiro. Frida não tem dúvidas: as pessoas sabem o que é despejado nas máquinas e é só por isso que as queixas surgem. Além disso, os mercados fazem negócios e isso é prioridade.

Tantos restos

Além dos mercados e das instituições de ensino superior, os hotéis e os estabelecimentos de comidas e bebidas – sobretudo os que oferecem buffet - são os que produzem mais desperdícios de comida. Num local como Macau

- onde os buffets ultrapassam uma dezena -, a DSPA criou um Prémio de Hotel Verde de forma a “elogiar os empreendimentos que cumpram a responsabilidade social de protecção ambiental e valorização de comida”. O índice “diminuição de resíduos de cozinha” faz parte da avaliação, mas as coisas nem sempre funcionam como na teoria. No total, há cinco hotéis – Taipa Square, Grandview, Grand Emperor, Waldo e Beverly Plaza – que incumbiram a DSPA de recolher estes resíduos. O Hotel Galaxy, que ganhou o prémio de prata do Hotel Verde em 2014, reutiliza os restos de comida dos restaurantes para a cantina de funcionários, “quando assegura a higiene da comida e a quantidade suficiente”, enquanto os restaurantes de outros empreendimentos, como da Sands, não enviam a comida nem para a cantina dos funcionários, nem para outros sítios. Ao HM explicam que “fazem o melhor para minimizar os restos de cozinha e de buffet”. Ao consultar os restaurantes dos hotéis que oferecem buffet, o HM conseguiu perceber que o Grand Orbit e o 360 Café na Torre Macau não recolhem os resíduos de comida. Já o Hotel Sofitel do Ponte 16 - que ganhou também o prémio de bronze de Hotel Verde em 2013 – não foi capaz de nos

dar uma resposta concreta. A funcionária das relações públicas, de nome Tracy Tam, respondeu-nos que, devido à actualização do sistema de tratamento de resíduos e à alteração do pessoal da direcção, não há disponibilidade para oferecer informações sobre o assunto. Foi, contudo, um dos restaurantes deste local que despertou a atenção de uma residente local, que contou ao HM o que viu após um buffet de almoço. “É demasiado desperdício alimentar. Tínhamos acabado de almoçar, passava das 14h30 e o buffet estava quase a fechar. Havia imensa comida, incluindo pão e sobremesas, e tudo, tudo, estava a ser empurrado para dentro de caixotes cinzentos de plástico. Ia tudo para o lixo. E era comida intacta. Estava boa. Até perguntei porque é que não a davam ao lar de idosos em frente, ou até aos funcionários. A resposta: não pode ser”, conta-nos Rita. A história não é a única. Lyn Cheng trabalha como empregada numa sala de banquetes do Hotel Wynn – o qual nunca ganhou o Prémio do Hotel Verde desde a criação em 2012 – e contou-nos que a quantidade de pratos nas festas chinesas é grande e normalmente os convidados não conseguem acabar todos os pratos. “No tipo chinês de banquete, existem 14 pratos para cada mesa de 12 pessoas, incluindo leitão, frango, peixe, arroz, massa, legumes, frutas e sobremesas. São muitos, quase nenhuma mesa consegue acabar toda a comida”, revela, contando-nos que, muitas vezes, os empregados guardam o resto dos pratos em segredo. “Alguns restos de comida são

Ho Wai Tim, presidente da Associação de Ecologia de Macau

muito preciosos, aproveitamos e comemo-los atrás da sala. Mesmo assim, não conseguimos acabar a comida, só que temos de a deitar no lixo. Se fôssemos descobertos pelos gerentes [a comer], ou a levar alimentos para fora do hotel podíamos ser despedidos.” A trabalhadora não sabe se existe reciclagem dos desperdícios alimentares, mas reparou que as empregadas da lavagem apenas despejam os resíduos num caixote, sem separação de outros tipos de lixo. Mas o que é certo para ela é que a quantidade de resíduos é grande.

Tratamento não chega à população

O presidente da Associação de Ecologia de Macau considera que o Governo não toma medidas suficientes para evitar o grande desperdício alimentar produzido por hotéis. E Ho Wai Tim concorda exactamente com o que Rita pensa. “No interior da China, o Governo e as associações sem fins lucrativos contactam directamente os hotéis para que os restos limpos da comida de buffet sejam transportados para lares de idosos, ou centros de portadores de deficiência. É muito comum. Mas em Macau, os hotéis têm medo de assumir os perigos de higiene e preferem despejar nos caixotes em vez de oferecer a outros. Isso é uma questão de responsabilidade social.” Ho Wai Tim sugere que o Governo crie instruções de higiene para que os hotéis eliminem os receios e que o transporte de restos de comida possa ser feito para outras instituições. Mas, apesar de todos os equipamentos existentes, será que a recolha de restos de comida pode chegar a cada casa de Macau? A Divisão de Higiene Ambiental do IACM admite que o tratamento ecológico dos resíduos de cozinha ainda não pode ser popularizado em geral, sendo que só o organismo é que recolhe os restos em associações sem fins lucrativos como lares de idosos, jardins de infância e escolas. Mas tudo depende da capacidade e “a capacidade da máquina principal da Taipa é limitada”, pelo que “não podem ser recolhidos todos os resíduos de cozinha feitos pela população, portanto actualmente só vêm de certos lugares”, como nos diz o organismo. No futuro, o IACM pensa em implementar também máquinas de desintegração de desperdícios alimentares em edifícios habitacionais, para que a tecnologia possa ser promovida entre os residentes em geral. Ho Wai Tim acredita também que essas instalações podem ser integradas na vida da população gradualmente: por exemplo, primeiro nas habitações públicas e depois nas privadas. Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo

“No interior da China, o Governo e as associações sem fins lucrativos contactam directamente os hotéis para que os restos limpos da comida de buffet sejam transportados para lares de idosos, ou centros de portadores de deficiência” “Em Macau, os hotéis têm medo dos perigos de higiene e preferem deitar [a comida] nos caixotes em vez de a oferecer a outros. Isto é uma questão de responsabilidade social” “Alguns restos de comida são muito preciosos, aproveitamos e comemo-los atrás da sala. Mesmo assim, não conseguimos acabar a comida, só que temos de a deitar no lixo. Se fôssemos descobertos pelos gerentes [a comer], ou a levar alimentos para fora do hotel podíamos ser despedidos” lyn Cheng Empregada do Hotel Wynn


política

O ensino especial e o da Língua Portuguesa estiveram em foco numa visita de Alexis Tam a Portugal, onde o Secretário referiu precisar da assistência do país na contratação de profissionais

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Visita Alexis Tam firma cooperação na educação com Nuno Crato

Profissionais made in Portugal Portugal, disse, “é essencial”. O Ministro fez questão de ressalvar a questão da continuidade da cooperação nesta área, até porque, como referiu, já há “uma boa relação com o Instituto Politécnico de Macau e a Universidade de Macau”. Recorde-se que a intenção do Governo é reforçar ainda mais o ensino da língua lusa, ao mesmo tempo que quer facilitar e permitir o reconhecimento de licenciaturas e documentos. Alexis Tam disse ao responsável português que pretende transformar Macau “num centro de excelência na formação da Língua Portuguesa na região da Ásia-Pacífico” e garantiu que esta tarefa conta “com a qualidade das instituições públicas e privadas existentes no território”.

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Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura encontrou-se esta terça-feira com o Ministro da Educação e Ciência português, numa reunião que serviu sobretudo para discutir a cooperação na área do ensino. Alexis Tam e Nuno Crato estiveram juntos no âmbito de uma visita do Secretário de Macau a Lisboa, onde Tam também visitou a Fundação Champalimaud. O anúncio foi feito através de uma nota de imprensa do Gabinete do Secretário, onde se pode ler que Macau e Portugal discutiram “projectos de cooperação na área da educação, nomeadamente na educação especial e ensino do Português”. A troca de experiências e intercâmbio de profissionais foi outro dos assuntos em cima da mesa. “O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura afirmou,

durante o encontro, que Macau necessita de técnicos especialistas nas áreas da terapia da fala e da terapia ocupacional. Nesse sentido, a cooperação com Portugal através da mobilidade de profissionais e especialistas nas áreas da educação especial, permitiria reforçar a formação de quadros qualificados e servir melhor a população de Macau”, escreve o Gabinete. Segundo o comunicado, o Ministro Nuno Crato mostrou-se “receptivo” a ajudar a RAEM, tanto que será o Ministério da Educação

a tratar de todos os trâmites para facilitar o processo de cooperação. “Esta solução permitirá conseguir resultados concretos mais rapidamente”, sublinha o Executivo.

Para Nuno Crato, Macau tem todo o potencial “para ser a porta para o ensino do Português na China”, pelo que a cooperação entre os governos de Macau e

“A cooperação com Portugal através da mobilidade de profissionais e especialistas nas áreas da educação especial permitiria reforçar a formação de quadros qualificados e servir melhor a população de Macau” Gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura

Terrenos Leong Veng Chai quer responsabilização dos altos cargos

Uma saga que está para durar L eong Veng Chai quer que o Governo assaque responsabilidades sobre os 16 terrenos não recuperados pelo Executivo por não corresponderem aos requisitos de declaração de caducidade. O assunto já foi falado na Assembleia Legislativa, discutido em sede de Comissão de Acompanhamento das Concessões Públicas e os deputados democratas já pediram uma audição em plenário, mas continua a causar dores de cabeça aos membros do hemiciclo. Ontem, Leong Veng Chai, número dois de José Pereira Coutinho, voltou a fazer uma interpelação sobre os terrenos, pedindo ao Executivo que indique quem foram os responsáveis pelas falhas que impediram que os lotes – alguns deles não aproveitados

a tempo – pudessem regressar ao poder do Governo. “O Governo deve responsabilizar os dirigentes em causa, nos termos do Estatuto dos Titulares dos Principais Cargos da RAEM e das Normas de Conduta dos Titulares dos Principais Cargos e justificar-se perante a população”, começa por indicar Leong Veng Chai, também membro da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau. “Vai fazê-lo?”

Falhas administrativas

O deputado pede ainda que os serviços responsáveis pelas concessões “revejam as lacunas nos procedimentos administrativos”, por forma a assegurar que sejam dadas respostas atempadas e que “os concessionários consigam

aproveitar os terrenos no devido tempo”. Leong Veng Chai aponta o dedo ao Executivo e diz que o caso já gerou uma desconfiança total do público face ao Governo, que “só divulgou informações depois de críticas furiosas da sociedade” e que estas eram tão pouco detalhadas que é impossível recuperar a confiança da sociedade. “Até hoje, ainda não vimos o ex-governante [Lau Si Io] a assumir as responsabilidades, portanto o Estatuto dos Titulares e as Normas de Conduta, em vigor há mais de seis anos, não passam de lixo”, atira ainda. Leong quer que seja Lau Si Io, ex-Secretário para as Obras Públicas e Transportes, a assumir responsabilidades e critica-o por “apesar

de tantos pedidos de deputados, nunca ter apresentado à Assembleia Legislativa o ponto de situação dos trabalhos de recuperação dos terrenos”. Algo que o deputado diz ter sido demonstrada uma clara vontade de “fugir ao assunto”. Recorde-se que, no total, há 113 terrenos que deveriam ser recuperados, mas 16 deles não podem sê-lo por falhas do Governo na emissão de plantas urbanísticas e licenças. J.F.

Medicina na mira

Alexis Tam teve ainda tempo de ouvir Nuno Crato agradecer ao Governo da RAEM pelo apoio dado à Escola Portuguesa de Macau, nomeadamente na resolução da questão das instalações da instituição. O Secretário assegurou que a EPM continuará a receber o “apoio necessário” por parte do Governo da RAEM para o desenvolvimento das suas actividades. Depois deste primeiro encontro, o Secretário visitou ainda a Associação Portuguesa de Agentes de Viagem “para apresentar Macau como um dos destinos do projecto turístico delineado pelo Governo Central: a Rota da Seda”, sendo que se deslocou também às instalações da Delegação Económica e Comercial de Macau (DECM) em Lisboa. Na agenda de Tam esteve ainda uma visita à Fundação Champalimaud, onde o Secretário teve oportunidade de se debruçar sobre a questão da medicina, área que tutela também em Macau. “Alexis Tam teve oportunidade de conhecer as instalações e os projectos de investigação e tratamento desenvolvidos pela Fundação, nomeadamente o centro clínico, o serviço de prevenção de risco e de diagnóstico de cancro, assim como os laboratórios de neurociências e as instalações de pesquisa científica”, pode ler-se no comunicado. O Secretário vai ainda ter, em Portugal, um encontro com o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo


política 5

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W

an Li, ex-presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN), faleceu esta quarta-feira na capital chinesa. A notícia foi dada pelo filho de Li, que indica que o pai morreu aos 98 anos de “doença não especificada”. Wan Li era uma figura incontornável no seio político do Partido Comunista da China, tendo desempenhado o cargo de Ministro dos Transportes e de vice-primeiro-ministro da China. Era visto como uma “voz liberal” na liderança comunista e foi o responsável por diversas reformas que tiveram lugar no continente. Wan era tido como “um dos oito imortais” – uma referência a um grupo de idosos revolucionários que sobreviveram às “limpezas” maoístas, como caracteriza a Agência France Press, e que ajudaram Deng Xiaoping, membro do grupo, subir ao poder. Foi presidente do Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular desde 1988 e durante cinco anos, tendo desempenhado o cargo quando se deu o Massacre da Praça de Tiananmen, em Pequim, em 1989. Nunca foi oficialmente conhecida a posição de Wan face aos protestos estudantis mas, ainda que não tivesse tentado opor-se ao massacre, Wan era um aliado do secretário-geral do Partido Comunista da altura, Zhao Ziyang, que foi deposto do cargo por manifestar apoio aos estudantes, tendo sido detido em prisão domiciliário até à sua morte em 2005. Wan Li chegou a ser perseguido em 1966-1976, durante a Revolução Cultural, especialmente porque nos anos 1970 começou a implementar reformas políticas,

Óbito Wan Li, ex-presidente do Comité Permanente da APN

O último dos “oito imortais” Morreu o homem que Chui Sai On diz ter apoiado a implementação da política de ‘Um País, Dois Sistemas’ e que se “empenhou de corpo e alma na elaboração da Lei Básica de Macau”. Wan Li tinha 98 anos e ficou marcado como um dos reformistas mais liberais da China nomeadamente na parte mais rural da China. Segundo a AFP, Wan foi dos primeiros líderes do país a reformar-se dos cargos do Governo, instando a que os cargos não fossem desempenhados pela mesma pessoa durante toda a sua vida, como era comum na China.

Pesar local

Wan Li era uma figura incontornável no seio político do Partido Comunista da China, tendo desempenhado o cargo de Ministro dos Transportes e de vice-primeiro-ministro

Guilherme Ung Vai Meng agraciado por França

Um Cavaleiro das Artes G uilherme Ung Vai Meng recebeu o título de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras do governo francês. Segundo a Rádio Macau, o presidente do Instituto Cultural mostrou-se satisfeito com este reconhecimento. “Fico muito feliz. Durante este ano muitos amigos e muitas organizações ajudaram-me. Sinto-me muito feliz por poder trabalhar no campo das artes, especialmente no intercâmbio da arte”, afirmou ao meio de comunicação. Guilherme Ung Vai Meng foi agraciado na quarta-feira por ocasião das comemorações do Dia Nacional da França em Macau. O cônsul da França para Macau e Hong

Kong, Arnaud Barthelemy, justifica esta decisão com o papel de Guilherme Ung Vai Meng na cooperação cultural entre a França e Macau. “Foi uma decisão rápida e óbvia de se fazer. Guilherme Ung Vai Meng tem sido fundamental pelo apoio dado para o desenvolvimento da cooperação cultural entre a França e Macau. Temos uma relação de trabalho de confiança com ele e com a sua equipa, e com

o Museu de Arte de Macau. Todos os anos organizamos grandes exposições em Macau e só o podemos fazer por causa do apoio de Guilherme Ung Vai Meng”, afirmou à Rádio Macau Arnaud Barthelemy.

Com pernas para andar

Barthelemy disse ainda que esta era uma forma de mostrar o apreço do país “e de mostrar o compromisso para continuar a trabalhar”, ressalvando que há intenções de se fazer mais e mais com Macau. “Pensamos que Macau tem um grande potencial no que toca à cultura, ao entretenimento e ao turismo. Há muitas coisas que queremos fazer em Macau”, disse.

Esta foi a primeira condecoração do governo francês atribuída em Macau por Arnaud Barthelemy, cônsul que representa os quase 300 franceses que cá moram. Barthelemy assumiu o cargo de cônsul de França em Hong Kong, em 2012 e deixa-o em finais de Agosto. “Tem sido um privilégio, às vezes muito exigente, mas sempre um privilégio. Penso que conseguimos fazer muita coisa em Macau e Hong Kong. A comunidade francesa em Macau é maior do que nunca. A França é o terceiro maior fornecedor de Macau, depois da China e Hong Kong – temos 10% da cota do mercado, o que é muito. Estamos satisfeitos com a importância desta relação entre França e Macau, que se desenvolveu bastante nos últimos anos”, referiu Arnaud Barthelemy, citado pela rádio.

Ontem, o Chefe do Executivo manifestou os seus pêsames pela morte do ex-presidente do Comité Permanente, fazendo questão de ressalvar que “Wan Li sempre promoveu a política nacional de abertura e reforma”. Em nota de imprensa, Chui Sai On diz que Wan prestou contributos de grande importância para o desenvolvimento da China, “inclusive para a construção de um sistema democrático” no país. O líder do Governo acrescentou ainda que Wan Li apoiou a implementação da política de ‘Um País, Dois Sistemas’, além de se ter “empenhando de corpo e alma na elaboração da Lei Básica de Macau”. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

Aterros Chefe do Executivo garante protecção do património

O Chefe do Executivo, Chui Sai On, garantiu ontem que o Governo “irá dar prioridade à protecção do património mundial e à elevação da qualidade de vida da população”, aquando da elaboração do plano director para os novos aterros. Em resposta aos jornalistas, o Chefe do Executivo disse “defender, de acordo com a lei, que o património mundial é um objectivo conjunto dos vários serviços do Governo”. Quanto à altura dos futuros edifícios na zona B, Chui Sai On frisou que o objectivo é que “na elaboração do plano director dos novos aterros a vista (das zonas da Penha e Guia) não fique comprometida”.


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Publicações ao abrigo do nº 1 do artigo 86 do Decreto-Lei nº 27/97/M, de 30 de Junho 1997

Relatório do Conselho de Administração Em 2010, o total de prémios brutos foi, aproximadamente, de 15 milhões, tendo o valor de prémios líquidos, em relação ao exercício anterior, registado um aumento na ordem de 16%. Em termos globais, o resultado líquido registou um decréscimo na ordem de MOP120,000, devido sobretudo ao aumento verificado nos gastos administrativos. O Conselho de Administração da Companhia tem o prazer de submeter o relatório e as demonstrações financeiras auditadas, referentes ao exercício findo em 31 de Dezembro de 2010, bem como a seguinte proposta de aplicação de resultados: Resultados Líquidos

MOP 2,700,888

Para Reserva Legal Para Resultados Transitados

(550,000) 2,150,888

O Presidente do Conselho de Administração, Stanley Au Chong Kit Macau, aos 28 de Março de 2011 Lista dos accionistas qualificados: Banco Delta Ásia, S.A.R.L.

99.87%

Nomes dos titulares dos órgãos sociais: Mesa da Assembleia Geral Ordinária: Banco Delta Ásia, S.A.R.L. Sr. Leung Chi Ping Sr. Lau Siu Lun Conselho de Administração: Sr. Stanley Au Chong Kit Sr. Lau Kai Hing Sr. Lau Siu Lun Sr. Leung Chi Ping Sra. Liang Run Yan Sr. Yeung Jar Wing, Louis Sr. Au Yeung Chi Keong, Bosco Fiscal Único: Sr. Gilberto Xavier Hy

Presidente Vice-Presidente Secretário Presidente Administrador Administrador Administrador Administrador Administrador Administrador

Síntese do Parecer do Fiscal Único O Balanço e a Conta de Exploração do Exercício desta Companhia foram elaborados de acordo com as leis vigentes em Macau e auditadas, e apresentam de forma clara a situação financeira da Companhia em 31 de Dezembro de 2010, assim como o resultado apurado nessa data. O Fiscal Único, Gilberto Xavier Hy Macau, aos 1 de Novembro de 2011

Síntese do Parecer dos Auditores Externos Auditámos as demonstrações financeiras da Companhia de Seguros Delta Ásia, S.A., referentes ao exercício findo em 31 de Dezembro de 2010, de acordo com as Normas de Auditoria vigentes em Macau, RAE, e sobre essas demonstrações financeiras expressámos a nossa opinião, sem reservas, no relatório datado de 28 de Março de 2011. Efectuámos uma comparação entre as demonstrações financeiras resumidas, preparadas pelo Conselho de Administração para efeitos de publicação, e as demonstrações financeiras que auditámos.

Em nossa opinião, as demonstrações financeiras resumidas estão consistentes com as demonstrações financeiras auditadas. Basílio e Associados Auditores Registados

Manuel Basilio Macau, aos 28 de Março de 2011


sociedade

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I

Wikileaks Novo Macau exige investigação do Ministério Público

Estou de olho em ti

A Associação Novo Macau quer que o Ministério Público investigue a alegada intenção de aquisição por parte do CCAC e da PJ de um sistema de controlo de telecomunicações. Jason Chao acredita que a Associação é o principal alvo. CCAC não comenta. PJ diz que não possui o software tiago alcântara

p Son Sang, Procurador do Ministério Público (MP) da RAEM, recebeu ontem à tarde documentos do website Wikileaks das mãos da Associação Novo Macau (ANM), para que leve a cabo uma investigação. Em causa estão os emails revelados pelo projecto de Julian Assange, que mostram que o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) e a Polícia Judiciária (PJ) mantiveram contactos com a empresa italiana Hacking Team no sentido de adquirir um software que permite controlar todas as formas de comunicação através da internet. O caso foi noticiado ontem pelo jornal Ponto Final, sendo que em Hong Kong a entidade homóloga do CCAC terá mantido conversações semelhantes, segundo o South China Morning Post. Jason Chao, membro da direcção da ANM, garante que o caso é “preocupante”, pois visa controlar “cidadãos, jornalistas e activistas” e viola normas que constam no Código Penal e no artigo “ilegítima intercepção de dados informáticos”, da lei que combate o crime informático. “As capacidades do sistema vão além dos métodos legais de investigação. Então porque é que a PJ tem vindo a desenvolver conversações no sentido de adquirir o sistema? Trata-se de algo ofensivo e intrusivo e claramente não é permitido no âmbito das leis de Macau”, começa por dizer. “Vamos entregar materiais ao Procurador para que leve a cabo uma investigação sobre a utilização deste sistema por parte da PJ. Descobrimos que o CCAC também teve contactos, mas não há documentos que revelem a aquisição do sistema”, acrescentou o activista.

Comunicado do CCAC

Jason Chao diz acreditar que a aquisição deste software visa controlar as actividades e contactos

Jason Chao Direcção da ANM

novidades no que diz respeito à tecnologia utilizada para combater o crime, não comentando uma eventual aquisição. “Para exercer as suas competências na investigação criminal de forma legal e eficaz, todos os meios e técnicas adoptadas nas diligências do CCAC são de natureza confidencial. Pelo exposto, o CCAC não vai comentar ou responder a perguntas relativas aos métodos concretos adoptados na sua investigação.” A entidade liderada por André Cheong refere ainda que “o CCAC tem de conhecer e entender a evolução das tecnologias na perspectiva da investigação e da contra-investigação”, sendo que “todos os meios e diligências de investigação adoptados estão em rigorosa conformidade com a lei, sobretudo com o disposto nos Códigos Penal, Código de Processo Penal e Lei de combate à criminalidade informática”.

“O CCAC não vai comentar ou responder a perguntas relativas aos métodos concretos adoptados na sua investigação.”

Sob controlo

“As capacidades do sistema vão além dos métodos legais de investigação. Então porque é que a PJ tem vindo a desenvolver conversações no sentido de adquirir o sistema? Tratase de algo ofensivo e intrusivo e claramente não é permitido no âmbito das leis de Macau”

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da ANM. “Não posso rejeitar essa possibilidade [da Novo Macau ser um dos alvos]. O que dizemos ao público é baseado com os documentos que vemos no Wikileaks. Não temos provas, mas não posso recusar essa possibilidade. Pessoalmente acredito nisso.” Apesar do pedido, a Novo Macau não acredita que o MP

possa desenvolver uma investigação isenta. “Segundo a minha experiência, não espero [uma investigação independente]. Claro que esperamos sempre que o MP olhe para esta questão de forma parcial.” Depois deste pedido de investigação, os membros da direcção da ANM vão testar os

seus telemóveis. “Se encontrarmos uma empresa de confiança vamos bloquear os telefones, caso estejam a ser espiados”, disse Jason Chao.

CCAC atento, mas não comenta

Entretanto o CCAC já reagiu às notícias através de um comunicado, onde diz estar atento às últimas

O HM contactou ainda a PJ, mas apenas nos foi garantido que, até ao momento, a PJ ainda não adquiriu nenhum software. Em comunicado, a PJ referiu ainda que “todos os trabalhos de detenção são executados de acordo com as leis e supervisionados pelos órgãos judiciais. No que diz respeito à monitorização de telecomunicações para investigação, esta deve ser aprovada pelo juiz”. À semelhança do CCAC, a PJ referiu que “precisa de consolidar os conhecimentos sobre novas tecnologias” no combate ao crime. Segundo os emails citados pelo Ponto Final, elementos do CCAC terão estado reunidos com responsáveis da empresa italiana em Outubro de 2013, em Singapura, para conhecer a tecnologia RCS (Remote Control System), que permite controlar qualquer tipo de comunicação via online, seja de telemóvel, skype ou emails, entre outros. Representantes da Hacking Team terão estado em Macau a pedido do CCAC para outra acção de demonstração também em 2013. Os emails revelam que o CCAC terá interesse em controlar os smartphones e pediu a máxima confidencialidade sobre o assunto. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


8 sociedade

hoje macau sexta-feira 17.7.2015

O deputado Ho Ion Sang considera que a qualidade das carruagens do Metro Ligeiro pode vir a deteriorar-se caso o parque de materiais e oficinas não fique concluído a tempo. O deputado quer saber pormenores do diálogo com empresa construtora

Metro Qualidade das carruagens questionada

Encomenda fora dos carris “O atraso do Metro Ligeiro, sendo uma obra pública de grande dimensão, só piora a situação do trânsito, mas também influencia de forma negativa o nosso centro mundial de turismo e lazer” Ho Ion Sang Deputado

A

possibilidade das carruagens do Metro Ligeiro poderem vir a sofrer de deterioração por falta de uso levou o deputado Ho Ion Sang a escrever uma interpelação escrita ao Governo. No documento, o deputado, que na Assembleia Legislativa (AL) preside à comissão para os assuntos de terras e concessões públicas, mostra-se preocupado com a possibilidade das carruagens chegarem a Macau sem que o parque de materiais e oficinas, na Taipa, esteja concluído, o que pode pôr em causa o funcionamento do Metro Ligeiro. Ho Ion

Sang pretende, assim, saber se o Governo tem medidas para contornar o problema, até que a discussão sobre o contrato, com a empresa construtora, esteja concluída. O deputado considera que o parque de materiais e oficinas pode ser considerado o “cérebro” de todo o sistema do Metro, garantindo a segurança da rede e a sua eficiência

de funcionamento, bem como a estabilidade dos equipamentos. Recorde-se que já este ano a comissão de deputados debateu o assunto, tendo Raimundo do Rosário assumido o atraso na obra do parque.

Males maiores

“O planeamento do trânsito influencia directamente a vida da população

e a competitividade do território. O atraso do Metro Ligeiro, sendo uma obra pública de grande dimensão, só piora a situação do trânsito, mas também influencia de forma negativa o nosso centro mundial de turismo e lazer”, referiu. Ho Ion sang citou notícias recentes que referem que 110 carruagens deverão chegar a Macau

em 2016, antes do Metro estar concluído. Para além da deterioração, o deputado teme que aumentem os custos de manutenção das carruagens. O deputado recordou que o Governo ainda está a negociar com a concessionária. Caso haja rescisão do contrato, o Executivo terá de fazer um novo planeamento do projecto, o que leva Ho Ion Sang a perguntar se já foram feitos os trabalhos de avaliação, para “diminuir ao mínimo possível as influências”. Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo

Hotel Estoril Arquitecto em defesa do valor do local

Associação pede medidas para utilizar materiais ecológicos

O

A

arquitecto Mário Duque defende que é preciso explicar o valor do Hotel Estoril. Em declarações na Rádio Macau, por ocasião dos debates sobre os dez anos de inscrição do património local na UNESCO, o profissional diz ainda que há várias questões que têm de ser tratadas no que toca ao património. “Nestes dez anos, possivelmente, o bom é o que já se vê e o mau é o que ainda falta fazer, que já devia estar feito, que se repercute em vários âmbitos da questão – tanto no âmbito técnico, como no âmbito de melhor consciência de quais os procedimentos a ter e a forma de lidar com as questões –, e sobre isso ainda há falta de termos estabelecidos para prosseguir com mais segurança e certeza em relação a essas questões”, explica à rádio. Sobre o Hotel Estoril, Mário Duque destaca que o edifício tem valor, mas salienta que é preciso saber explicá-lo a quem percebe menos de arquitectura. “Na qualidade de arquitecto, tenho uma

percepção muito particular em relação a isso. Os arquitectos reservam um bocado esse privilégio que é de saberem das questões e às vezes acabam por impô-las e elas não são sentidas da mesma maneira. A questão que se passa com o antigo Hotel Estoril é que é um edifício moderno, com todas as características de um edifício moderno, que qualquer arquitecto contemporâneo valoriza. O valor existe – o que é necessário é tentar passar esse valor, em moldes mais ou menos didácticos, e obter a sensibilidade das pessoas em relação a essas qualidades”, propõe. “Se isso não acontecer, é estar a insistir numa coisa que não faz qualquer sentido para a maior parte das pessoas.” Recorde-se que continuam a surgir opiniões diversas face à manutenção da fachada e até do edifício, depois de membros do Conselho do Planeamento Urbanístico e até um deputado terem sugerido deitar o edifício todo abaixo.

Associação de Indústria da Construção de Protecção Ambiental de Macau sugere que o Governo disponibilize maior área de construção para atrair os empreiteiros e empresários a utilizarem materiais mais amigos do ambiente. Segundo o Jornal do Cidadão, a ideia foi transmitida no âmbito do

seminário sobre “Inspecção de Tecnologia e Construção Urbana Verde”, realizado na quarta-feira. Ieong Tou Lai, presidente da associação, referiu que, embora os materiais ecológicos sejam mais caros, pode-se reduzir em 30 ou 40% os custos de energia, bem como proporcionar um ambiente mais confortável.

“Os antigos edifícios têm problemas de antiguidade como as infiltrações de água ou com as estruturas. Tendo em conta a entrada em vigor da Lei do Planeamento Urbanístico e a construção dos novos aterros, é uma boa altura para se promover a construção ambiental”, referiu. Uma das formas propostas para promover o uso de materiais ecológicos na construção civil seria a criação de incentivos comerciais. “Nas regiões vizinhas de Hong Kong e Singapura, se os empreiteiros utilizarem materiais ecológicos nos edifícios, podem ter direito a mais 5 ou 10% de área de construção. O Governo da RAEM poderia implementar essa medida”, concluiu. F.F.


china

hoje macau sexta-feira 17.7.2015

Comércio de marfim em Hong Kong afecta elefantes

A extinção mora ao lado A organização “Save the U Elephants” divulga no seu mais m grupo de defesa dos elefantes diz que o crescente comércio ilegal de marfim em Hong Kong está a empurrar estes animais para a extinção. A venda de marfim proveniente de reservas registadas oficialmente, anteriores à proibição de 1990, é autorizada para consumo interno em Hong Kong, mas um relatório da organização “Save the Elephants” (Salvem os Elefantes) indica ter encontrado um elevado número presas de animais mortos recentemente a serem vendidas como marfim antigo. “O comércio de marfim em Hong Kong é uma falha significativa nos esforços internacionais para acabar com o massacre de elefantes em África”, de acordo com o relatório da organização ambientalista, divulgado no Quénia e em Hong Kong. “Em nenhuma outra cidade analisada se encontram tantas peças de marfim à venda como em Hong Kong”, afirma Esmond Martin um dos autores do relatório. O relatório indica existirem mais de 30.800 peças à venda em 72 lojas. As compras são em 90% dos casos feitas por residentes da China, onde a procura de marfim é elevada. Combinado com a ineficácia dos controlos na fronteira com a China, o comércio de Hong Kong tem um impacto relevante nos esforços para acabar com a caça furtiva de elefantes em África. “Está a decorrer um massacre dos elefantes africanos, mas o Governo de Hong Kong ignora” a situação, disse Alex Hofford do grupo “WildAid”. “Ao longo de 25 anos, desde a proibição internacional, os comerciantes de marfim de Hong Kong têm aparentemente branqueado marfim de caça ilegal” através das reservas autorizadas, afirmou. O relatório descreve Hong Kong como o terceiro maior centro mundial de contrabando de marfim, depois do Quénia e da Tanzânia.

Falta de eficácia

Pequim tem desenvolvido esforços para contrariar este comércio, aumentando

recente relatório que o crescente comércio de marfim em Hong Kong está a levar a um cenário de extinção destes animais

pub

Notificação n.º 003/SS/GPCT/2015 Considerando que não é possível notificar os interessados, pessoalmente, por ofício, via telefónica, nem por outro meio, nos termos do artigo 68.º, do n.º 1 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, bem como dos respectivos procedimentos sancionatórios regulados no artigo 14.º do Decreto-Lei n.º 52/99/M, de 4 de Outubro, o signatário notifica, pela presente, de acordo com o n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, os infractores, constantes da tabela desta notificação, do conteúdo das respectivas decisões sancionatórias: Em conformidade com o artigo 25.º da Lei n.º 5/2011 (Regime de prevenção e controlo do tabagismo), e tendo em consideração as infracções administrativas comprovadas, a existência de culpa e não existência de qualquer circunstância agravante confirmada, o Director dos Serviços de Saúde determina que: 1. Foram aplicadas aos infractores, constantes da Tabela I em anexo, as multas previstas no artigo 23.º da Lei n.º 5/2011, no valor de 400 patacas (MOP 400,00) (cada infracção): Os factos ilícitos exarados nas acusações, provados testemunhalmente, constituem infracções administrativas ao disposto no artigo 4.º, porquanto resultam da prática de actos de “fumar em locais proibidos”, tendo sido os infractores notificados do conteúdo das acusações. (cfr.: Tabela I) 2. Além disso, os infractores podem ainda apresentar reclamação contra os actos sancionatórios junto do autor do acto, no prazo de quinze (15) dias, a contar da data da publicação da notificação, nos termos do artigo 145.º, do n.º 1 do artigo 148.º e do artigo 149.º do Código do Procedimento Administrativo, sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo 123.º do referido Código. Para efeitos do disposto no n.º 2 do artigo 150.º do mesmo Código, a reclamação não tem efeito suspensivo sobre o acto, salvo disposição legal em contrário. 3. Quanto aos actos sancionatórios, os infractores podem apresentar recurso contencioso no prazo estipulado nos artigos 25.º e 26.º do Código de Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 110/99/M, de 13 de Dezembro, junto do Tribunal Administrativo da Região Administrativa Especial de Macau, sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo 27.º do referido Código. 4. Sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo 75.º do Código do Procedimento Administrativo, para efeitos das disposições do n.º 7 do artigo 29.º da Lei n.º 5/2011, os infractores deverão efectuar a liquidação das multas aplicadas, dentro do prazo de trinta (30) dias, a partir da data de publicação desta notificação, no Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo, sito na Estrada de S. Francisco n.º 5, Macau. Caso contrário, os Serviços de Saúde submeterão o processo à Repartição das Execuções Fiscais da Direcção dos Serviços de Finanças para efeitos da cobrança coerciva, de acordo com o artigo 29.º do Decreto-Lei n.º 30/99/M e o artigo 17.º do Decreto-Lei n.º 52/99/M. 5. Não é de atender a esta notificação, caso os infractores constantes da tabela anexa tenham já saldado, aquando da presente publicação, as respectivas multas, resultantes da acusação. 6. Para informações mais pormenorizadas, os interessados poderão ligar para o telefone n.º 2855 6789 ou dirigir-se pessoalmente ao referido Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo. 17 de 06 de 2015. O Director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion Tabela I

Nome

1990 que não registos de importação legal de marfim para o território, e todas as vendas são oficialmente provenientes de reservas existentes. De acordo com os dados oficiais, 242 toneladas de marfim foram vendidas em Hong Kong entre 1990 e 2008, o que representa uma média de perto de 13 toneladas por ano. Desde 2010, as vendas registadas diminuíram para uma tonelada por ano, apesar da procura crescente e de o número de visitantes da China ter mais que duplicado no mesmo período. “A única maneira de resolver o problema é com uma proibição governamental da venda de marfim”, disse Hofford. LUSA/HM

N.º da acusação

Data da infracção

Data em que foram exarados os despachos de aplicação das multas 2015/6/17 2015/6/17

1

CHONG WAI KUONG

M

(*1)

74065XX(X)

100295534

2014/8/7

2

CARTER CARY JAMES

M

(*7)

M5942XXX

100308432

2014/8/12

3 4 5

FU WENG SENG DONG JIAHUA PENG, HSIN-CHENG

M M M

(*1) (*3) (*4)

73874XX(X) G31221XXX 306643XXX

100308963 100198837 100320076

2014/8/13 2014/8/14 2014/8/22

2015/6/17

6

XIE ZHIKUN

M

(*3)

E18459XXX

100296762

2014/8/23

2015/6/17

7

LIANG JIEWEI

M

(*2)

W44348XXX

100296774

2014/8/23

2015/6/17

8

HUANG HAOQUAN

M

(*2)

W95191XXX

100308636

2014/8/25 2014/9/2

2015/6/17 2015/6/17

9

ZHU XUNLIANG

M

(*2)

W92262XXX

100199053

10

ZHU JIKUI

M

(*2)

W77633XXX

100199065

2014/9/2

11

JIANG BIN

M

(*2)

W96760XXX

100234459

2014/9/13

2015/6/17 2015/6/17

2015/6/17 2015/6/17

12

ZHANG HENRY

M

(*8)

BA454XXX

100297421

2014/9/14

13

JIANG JUN

F

(*3)

G51965XXX

100296409

2014/9/21

14

LIU SHUYIN

M

(*2)

W67035XXX

100309802

2014/9/22

15

WU CHUNXIANG

F

(*2)

W80278XXX

100297530

2014/9/27

2015/6/17 2015/6/17

16 17

LI FENG SHENG YAN HAIBIN

M M

(*3) (*2)

E33101XXX W96023XXX

100297625 100325424

2014/10/1 2014/10/1

2015/6/17 2015/6/17

2015/6/17 2015/6/17

18

ZHANG HONG JIANG

M

(*2)

W67769XXX

100307280

2014/10/5

2015/6/17

19

ZHI LEI

M

(*2)

W67769XXX

100307543

2014/10/5

2015/6/17

20

FENG LIBO

M

(*2)

W63779XXX

100324741

2014/10/5

2015/6/17

21

JANSENA MR.AITHIRAT

M

(*5)

AA3018XXX

100317829

2014/10/6

2015/6/17

22

HUANG ZHAOUA

M

(*3)

G61954XXX

100296594

2014/10/11

2015/6/17

23

CHAN WAH YAU

M

(*1)

12196XX(X)

100210326

2014/10/11

2015/6/17

24

HOU JIANJUN

M

(*2)

W95761XXX

100296954

2014/10/18

2015/6/17

25

WANG ZHONG LI

M

(*3)

E24390XXX

100329246

2014/10/21

Data em que foram exarados os despachos de aplicação das multas 2015/6/17

26

GUNARDI HALIM

M

(*9)

A1050XXX

100328200

2014/11/10

2015/6/17

27

NING TAO

M

(*2)

W96580XXX

100329983

2014/11/14

2015/6/17

28

FU LONG BAO

M

(*3)

G45031XXX

100351661

2014/11/14

2015/6/17

29

ZHU FUPEI

M

(*2)

W84484XXX

100322418

2014/11/15

2015/6/17

30

GAO YINGPING

M

(*2)

W46778XXX

100222802

2014/11/28

2015/6/17

31

YU SANLONG

M

(*2)

W90916XXX

100322975

2014/11/29

2015/6/17

32

YANG LI

M

(*3)

E10814XXX

100322600

2014/11/30

2015/6/17

33

WANG ZHI QIANG

M

(*3)

G55630XXX

100277639

2014/12/6

2015/6/17

34

HE XIAO LONG

M

(*2)

W40200XXX

100323250

2014/12/6

2015/6/17

35

ZHANG SHIYAO

F

(*2)

C05114XXX

100350902

2014/12/18

2015/6/17

36

OUMAR TOURE SULTONOVA AZIZAKHON CLEMENTE VASCO ALEXANDRE DE ASSUMPÇÃO MAISCH HANS EBERHARD STEPHANIE RONAMINAR

M

(*6)

B0573XXX

100174695

2014/12/20

2015/6/17

F

(*10)

AA0433XXX

100356623

2014/12/24

2015/6/17

M

(*1)

50350XX(X)

100350976

2014/12/29

2015/6/17

M

(*11)

C9HX27XXX

100303987

2014/12/30

2015/6/17

F

(*9)

A8776XXX

100355843

2014/12/30

2015/6/17

Nome

os processos de contrabandistas e apreensões de marfim nas fronteiras, mas os activistas consideraram as medidas insuficientes. O aumento da procura de marfim na Ásia está na origem da subida do número de elefantes mortos em África, dado que as autoridades não conseguem desmantelar as redes de contrabando, alertaram. Mais de 30 mil elefantes foram chacinados no ano passado para satisfazer a procura de marfim e da China e no Extremo Oriente, onde as presas valem mais de 1,80 euros por quilograma. Na década de 1960, Hong Kong era um dos mais famosos e maiores centros de escultura de marfim do mundo. Desde

Sexo

Tipo e n.º do documento de identificação

37 38 39 40 Nota﹕ (*1) (*2) (*3) (*4) (*5) (*6) (*7) (*8) (*9) (*10) (*11)

Sexo

Tipo e n.º do documento de identificação

N.º da acusação

Data da infracção

Bilhete de Identidade de Residente da Região Administrativa Especial de Macau Salvo-conduto de residente da República Popular da China para deslocação a Hong Kong e Macau Passaporte da República Popular da China Passaporte de Taiwan Passaporte do Reino da Tailândia Passaporte da República do Mali Passaporte da Comunidade da Austrália Passaporte de Canadá Passaporte da República da Indonésia Passaporte da República do Usbequistão Passaporte da República Federal da Alemanha

9


10 publicidade

hoje macau sexta


EVENTOS

a-feira 17.7.2015

Filmes lusófonos e hispânicos no Porto para festival NAU

edição do NAU, onde se exploram “vocábulos, modos de expressão, intenções, objectivos e conceitos que nos são próprios e que nos distinguem”, realçam os promotores do festival, que é organizado pelo D.A.S (Desenvolvimento Artes Associação). O evento abre com um espectáculo de dança, ao ritmo do flamenco, com Charlotte Bispo e Nancy Fonseca a subirem ao palco pelas 21:30.

Herança ibérica

A

quarta edição do NAU Festival de Cinema e Artes de Expressão Ibérica arranca esta sexta-feira e prolonga-se até domingo, reunindo, na Biblioteca Almeida Garrett do Porto, filmes dos universos lusófono e hispânico que reflectem sobre uma “herança comum”. A organização refere na página oficial da internet do festival que o NAU pretende “reflectir assuntos culturais ou históricos de alguma forma relacionados com esta herança comum” entre falantes das línguas portuguesa e castelhana, acrescentando que “o desafio é descobrir, hoje e mais uma vez, a arte e o mundo através da nossa língua”. De acordo com informações a que a agência Lusa teve ontem acesso, serão apresentados filmes de Portugal e também de outros países e regiões de língua portuguesa, como Angola, Brasil, Cabo Verde, Goa, Guiné-Bissau, Macau, Macata, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Também contempladas no programa surgem produções espanho-

“O desafio é descobrir, hoje e mais uma vez, a arte e o mundo através da nossa língua”

las e de vários países da América Latina, como Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.

Modos de expressão

As várias produções, exibidas ao longo de cinco sessões, serão avaliadas por um júri composto pela artista plástica Helena Medeiros,

pelo dramaturgo Jorge Palinhos, pelo encenador Luís Mestre e pelo cineasta Tiago Afonso. Dos vários trabalhos cinematográficos que serão apresentados encontram-se “Mi Primer Beso”, do espanhol Albert Manich, “Teresa”, do brasileiro Lilih Curi e “Alegria do Lar”, da portuguesa Ana Isabel Martins, entre muitos outros. Para além do cinema, também a fotografia, o teatro e os audiovisuais em geral estão incluídos nesta quarta

Venetian Miriam Yeung em Setembro

A cantora e actriz de Hong Kong Miriam Yueng tem concerto agendado para Macau no próximo dia 19 de Setembro, na Cotai Arena do Venetian. O espectáculo insere-se na digressão mundial que a artista está a realizar, intitulada “Let’s Begin”, sendo que os bilhetes já estão à venda a partir de hoje. Os preços variam entre as 280 e as 1280 patacas, este último valor reservado à área VIP.

No sábado, entre duas sessões dos filmes a concurso, haverá lugar para uma conferência intitulada “Haja Luz”, na qual o tema será a “fonte da vida nas artes”, tendo como oradores a jornalista e escritora Vanessa Ribeiro Rodrigues, o arquitecto e fotógrafo Francisco Varela, o designer de luz José Nuno Sampaio e ainda o realizador Luís Miranda. No domingo, serão entregues, pelas 21:30, os prémios aos filmes e autores distinguidos, sendo esta quarta edição encerrada às 22:15 com uma sessão de fados.

Primeira Disneylândia do continente chinês em Xangai

Nove amores locais e Melodias Originais

A

D

primeira Disneylândia do continente chinês deverá abrir na próxima primavera em Xangai, após quatro anos de construção e um investimento de 5.500 milhões de dólares, anunciou ontem a imprensa oficial chinesa. Os promotores esperam atrair dez milhões de pessoas logo no primeiro ano, disse um responsável do ‘resort’ de 28 quilómetros quadrados onde o parque está integrado. Além de interagirem com personagens da “Guerra das Estrelas” ou passearem simplesmente pela Avenida Mickey, os visitantes poderão

pernoitar num dos 800 quartos do Toy Story Hotel. O pacote inclui também uma “Ilha da Aventura” e “Jardins de Imaginação”. Situada na área de Pudong, a margem oriental do rio que atravessa Xangai, a nova Disneylândia é a segunda aberta na China, depois de Hong Kong, em 2005. Para o presidente da Disney, Robert Iger, “a abertura da Disneylândia de Xangai “será o momento mais excitante dos 41 anos que trabalhou na empresa”, disse o China Daily. Segundo o jornal, Robert Iger “provou pessoalmente

todas as comidas que serão servidas nos restaurantes do parque”, que terão em conta o gosto local. “Este parque tem a Disneylândia no coração, mas será também singularmente chinês”, afirmou o empresário. Trata-se do maior investimento da Disney fora dos Estados Unidos, em parceria com um consórcio chinês, Shanghai Shendi Group, que detém 57% do capital. Sede de um município com quase 25 milhões de habitantes, Xangai é considerada a “capital económica da China”.

À venda na Livraria Portuguesa A Sombra do Vento • Carlos Ruiz Zafón

A Sombra do Vento” é um mistério literário passado na Barcelona da primeira metade do século XX, desde os últimos esplendores do Modernismo até às trevas do pósguerra. Um inesquecível relato sobre os segredos do coração e o feitiço dos livros, num crescendo de suspense que se mantém até à última página. Numa manhã de 1945, um rapaz é conduzido pelo pai a um lugar misterioso, oculto no coração da cidade velha: O Cemitério dos Livros Esquecidos. Aí, Daniel Sempere encontra um livro maldito que muda o rumo da sua vida e o arrasta para um labirinto de intrigas e segredos enterrados na alma obscura de Barcelona. Juntando as técnicas do relato de intriga e suspense, o romance histórico e a comédia de costumes, “A Sombra do Vento” é sobretudo uma trágica história de amor cujo eco se projecta através do tempo.

11

epois do primeiro álbum lançado “Melodias Originais Macau Volume I”, no ano passado, as nove vozes locais voltam a estar juntos para um concerto que promete animar a plateia no dia 8 de Agosto. Como surpresa os jovens vão cantar e dançar músicas do seu primeiro álbum, mas não ficam por aqui, pois vão ainda desvendar algumas das novas músicas, que farão parte do segundo álbum de originais. David Chan, Anabela Ieong, Fanny Cheong, Hyper Lo, Cherry Ho, Bighead Cheong, AJ, Josie Ho and

Jose Rodrigues são os novos jovens de Macau que, juntamente com a banda Era The Dot, irão encher o auditório do Instituto Politécnico de Macau música e glamour. O concerto está agendado para as 20horas e os bilhetes podem ser adquiridos nas instalações da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) ou na Associação dos Artistas de Macau. Num comunicado à imprensa a organização avança ainda a data para o lançamento do segundo álbum de originais: “Melodias Originais Macau Volume

II”, agendado para 12 de Setembro. Tal como no primeiro trabalho, todas as vendas do álbum irão reverter para uma associação que este ano é a Associação dos Pais do Portadores de Deficiência Mental. Apostando nas suas vozes e no seu talento Macau mostra-se atento a causas nobres. Os jovens, indica o documento, pretende alertar a comunidade para a deficiência mental, deixando ainda uma mensagem de coragem e de luta pelos seus sonhos a todos os envolvidos directa ou indirectamente. F.A.

Rua de S. Domingos 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • mail@livrariaportuguesa.net

A Salvação de Wang Fô e Outros Contos Orientais • Marguerite Yourcenar

Invulgares, oníricos, com elementos que vão do sobrenatural ao mito e à lenda, estes contos vão beber a inspiração ao Oriente para daí abrirem as suas asas e conseguirem o que apenas a grande literatura consegue: abarcar o mundo, tocar a universalidade. Um pintor assombrado pelas imagens que cria, um herói traído, uma mãe que cuida do filho recém-nascido após a sua própria morte, uma deusa infeliz…Com uma linguagem sublime capaz de desvelar os mais secretos significados, Yourcenar aponta directamente ao âmago da natureza humana e a noções tão fundamentais como a vida e a morte.


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artes, letras e ideias

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A SEGUNDA EMBAIXADA PORTUGUESA À CHINA

“A

10 de Julho de 1522 saiu do porto de Malaca para a China, Martim Afonso de Mello Coutinho, com seis navios, de que eram capitães ele e Vasco Fernandes Coutinho e Diogo de Mello Coutinho, seus irmãos, com Pedro Homem, Duarte Coelho e Ambrósio do Rego” segundo refere Marques Pereira. E com ele continuando: “Esta expedição, ordenada por el-Rei D. Manuel, é considerada pelos historiadores como a segunda embaixada de Portugal a este império” (à China). “Em 1521 D. Manuel procurava controlar o comércio com a China tendo concebido duas rotas para a pimenta, uma entre Cochim e Lisboa e outra entre Pacém e Cantão”. Já João Paulo Oliveira e Costa assinala: “Quando morreu, a 13 de Dezembro de 1521, D. Manuel I estava certamente convencido de que a influência portuguesa se estendera definitivamente até à Ásia Oriental. Mas quando o soberano despachava as armadas no seu reino do Extremo Ocidente, os acontecimentos precipitavam-se no Extremo Oriente; a política manuelina caminhava aí para o fracasso”. A frota partira de Lisboa para a Índia a 5 de Abril de 1521 e como Embaixador do Rei D. Manuel à China ia Martim Afonso de Melo, o qual era fidalgo da sua casa e tinha o porte e entendimento para esta negociação. Fora nomeado para, após findar o trabalho de Embaixador, ser Capitão da fortaleza a edificar na costa chinesa, sem estar sobre a alçada da Índia, pois levava poderes semelhantes aos desses governantes. Para consolidar e aumentar os conhecimentos da construção naval que Fernão Peres de Andrade tinha trazido da China, pretendia-se aí construir um navio, para o qual seguia Manuel Mendes de Vasconcelos como capitão dessa futura embarcação. “A bordo da nau Conceição ia Martim Afonso de Melo e estava acompanhado pelos seus irmãos, Vasco Fernandes Coutinho e Diogo Melo (nomeado para feitor dessa fortaleza), um cunhado, Simão de Miranda e muitos criados que há muito serviam na família”, como escreve Marques Pereira. Em Chaul, na Índia, Martim Afonso de Melo encontrou-se com Simão de Andrade, que deixara “a orla costeira chinesa, na monção de 1520, sem que se agudizasse a reacção chi-

nesa, o que só aconteceu alguns meses depois” logo, “desconhecedor dos eventos ocorridos depois da sua partida”. E continuando com João Paulo Oliveira e Costa: “Simão de Andrade, certamente entusiasmado com o negócio que realizara e com a forma autoritária como se impusera, transmitiu na Índia a Martim Afonso de Melo uma imagem optimista da situação. E Martim Afonso seguiu viagem disposto a construir a primeira fortaleza na China, conforme lhe ordenara o rei” e esperava vir a encontrar Tomé Pires já regressado a Cantão.

A sombra de Simão de Andrade Encontrava-se o Embaixador Tomé Pires em Beijing desde meados de 1520, ou Janeiro de 1521 como as fontes portuguesas indicam, à espera de ser recebido pelo Imperador Zhengde. Os memorandos que iam aí chegando relatando os distúrbios provocados por Simão de Andrade e os seus homens em Tamão, assim como a conquista de Malaca pelos portugueses, um porto tributário da China, colocaram em maus lençóis a Embaixada. Com o falecimento do Imperador Zhengde em 20 de Abril de 1521, logo foi esta obrigada a sair da capital, devido à suspensão obrigatória de todas as actividades e regressar a Guangzhou. Numa viagem muito lenta, só lá chegaram a 22 de Setembro de 1521, permitindo aos mensageiros da corte de Beijing muito antecipadamente entregar as instruções para o governo de Guangzhou, mas não trazendo ordem para prender a Embaixada. Os anteriores desmandos de Simão de Andrade, de pura pirataria, criaram o primeiro equívoco grave nas relações com as autoridades locais, trazendo-lhes graves problemas pois tinham sido responsáveis pelo arranjar de uma solução forjada para a Embaixada de Tomé Pires ter podido seguir até Beijing. “A complexidade da questão deve ter beneficiado Simão de Andrade que, assim, não foi imediatamente atacado por forças imperiais, mantendo a prática dos abusos” como refere Gonçalo Mesquitela e com ele continuando: “O simples facto de tais factos sucederem implicava uma imensa responsabilidade das autoridades respectivas que, antes de um acto de força, a autorizar

ou ordenado por Pequim, eram os primeiros a estar interessados em resolver a situação...”

A primeira batalha entre portugueses e chineses Simão de Andrade deixou por volta de Setembro de 1520 a orla costeira chinesa sem ter esperado pelo regresso do Embaixador Tomé Pires, que por essa altura estaria na capital da China. Se a embaixada passou em Beijing quase um ano, ou apenas três meses, não há até agora como confirmar, e por morte do Imperador Zhengde teve que daí sair a 22 de Abril de 1521, só chegando a Guangzhou em 22 de Setembro de 1521, como diz A. Cortesão. “Entretanto, antes de Tomé Pires chegara a Cantão Diogo Calvo, com alguns navios” segundo L. Albuquerque,

mas Cortesão diz que chegou “a Tamão a nau Madalena, pertencente a D. Nuno Manuel, a qual viera de Lisboa sob o comando de Diogo Calvo. Outros navios se lhe tinham junto em Malaca, entre eles, um de Jorge Álvares que, no ano anterior, não pudera ir com a esquadra de Simão de Andrade por o seu junco ter aberto uma veia de água. Quando (entre finais de Maio e Junho) em Cantão foram recebidas as instruções enviadas de Pequim contra os portugueses, juntamente com a notícia da morte do Imperador, os chineses imediatamente se apoderaram de Vasco Calvo, irmão de Diogo Calvo, e de outros nossos compatriotas que se encontravam comerciando na cidade” A. Cortesão. E prosseguindo com este venerável historiador investigador: “Além de apreenderem alguns dos navios portugueses, os chineses, com uma grande armada de


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José Simões Morais

juncos, bloquearam a Madalena e outros navios nossos que se encontravam em Tamão, entre os quais dois juncos que, em 27 de Junho de 1521, haviam aportado com Duarte Coelho. Poucas semanas depois chegou Ambrósio do Rêgo, com dois outros navios”. Luís Gonzaga Gomes refere: “Em 27 de Junho de 1521, Duarte Coelho chegou a Tamão, num junco, acompanhado doutro, pertencente aos moradores de Malaca, ambos fortemente armados. Ao saber do ânimo predispostamente hostil em que os chineses se encontravam contra os nossos, Duarte Coelho pretendeu sair, mas, verificando que os juncos que se encontravam no porto não possuíam armamento suficiente para repelir uma agressão, deixou-se

O encontro entre os governantes da cidade e o Embaixador Tomé Pires decorreu na Mesquita Huaisheng, que continua hoje a existir na Rua Guangta, no centro de Cantão

ficar, para os ajudar a escapar e principalmente, pelo facto de Jorge Álvares, seu íntimo amigo, se encontrar tão doente, que veio a falecer, onze dias após a sua chegada...” Segundo uma nota de João Paulo Oliveira e Costa: “Foram precisamente Ambrósio do Rego e Duarte Coelho que abriram as hostilidades junto a Cantão”. E regressando ao que diz A. Cortesão: “Tantos eram já os tripulantes portugueses mortos em combate, ou aprisionados e depois chacinados, que nessa altura já não havia bastantes para todas as embarcações, de modo que Diogo Calvo, Coelho e Rêgo resolveram abandonar os juncos a fim de melhor guarnecer os três principais navios. Assim se fizeram à vela em 7 de Setembro, mas logo foram atacados pela esquadra chinesa. Contudo, conseguiram escapar, graças a um tufão providencial (<por especial determinação de Nossa Senhora>, segundo Barros opina) que dispersou os juncos inimigos, aportando a Malaca em Outubro de 1521.” João Paulo Oliveira e Costa diz: “No ano de 1521, as águas de Cantão só foram visitadas por mercadores privados e pelos navios da feitoria de Malaca.”

Algo estranho são os cerca de setenta dias de perseguição das autoridades chinesas a estes mercadores até eles fugirem. Como conseguiu Duarte Coelho sepultar Jorge Álvares a 8 de Julho de 1521 em Tamão, onze dias depois da refrega? Questões que não vimos explicadas! Segundo L. Albuquerque: “Duas semanas depois da partida destas naus, Tomé Pires e os seus companheiros chegaram a Cantão. Estavam irremediavelmente entregues à sua trágica sorte.” “Do navio de Diogo Calvo ficaram presos, além de Vasco Calvo, sete outros portugueses e quatro servidores, os quais escaparam à matança por dizerem que pertenciam à Embaixada de Tomé Pires” A. Cortesão.

O triste fim da Segunda Embaixada Voltamos agora à segunda Embaixada, com que iniciamos este artigo e que, de Lisboa fora enviada à China a 5 de Abril de 1521 pelo Rei D. Manuel. Um ano após Martim Afonso de Melo Coutinho ter saído de Lisboa “com a missão de consolidar a amizade que julgava já estabelecida entre portugueses e chineses, e conduzir novo embaixador, pois tinha como certo que nessa altura Tomé Pires estaria de regresso” segundo A. Cortesão, de Cochim partiu em Abril de 1522 com quatro barcos e em Pacém carregou pimenta, tendo chegado a Malaca em Julho. Nessa praça, Martim Afonso de Melo tomou conhecimento dos incidentes ocorridos no Verão do ano anterior em Cantão. Acautelado em Malaca, aí reforçou a sua armada e juntou o junco comandado por Duarte Coelho e o barco Santiago capitaneado por Ambrósio do Rego (que já tinha sido feitor e provedor da Fazenda em Malaca), os mesmos que abriram as hostilidades contra os chineses em 1521 nas águas em frente ao porto de Tunmen. Saiu a frota de Malaca no dia 10 de Julho de 1522 para a ilha de Tamau (Lantau). Levava Martim Afonso de Melo Coutinho ordem do Rei D. Manuel (que já tinha morrido a 13 de Dezembro de 1521 e agora era D. João III o Rei de Portugal) para ir “ao porto de Tamou, e procurando amizade com o rei daquela grande província, a China, edificar nele, ou noutro lugar que mais acomodado parecesse, uma fortaleza em que ele ficasse por capitão. Facilitava o negócio ter mandado Fernão Peres de Andrade um embaixador ao mesmo rei, que foi Tomé Pires; e não havia até então novas do que mal lhe saíra a jornada” segundo refere o Frei Luís de Sousa, nos Annaes de D. João III. A 4 de Agosto de 1522 chegou Martim Afonso de Melo “à ilha de Tamou (Tamão), e entrou no porto acompanhado de Diogo de Melo, e Pedro Homem,

com tanta confiança e descuido, como se entrara na barra de Goa. E foi na pior conjunção que pudera ser, porque em terra nadavam os chineses encarniçados na prisão do embaixador Tomé Pires e seus companheiros, e muito mais no roubo de seu fato e fazenda, que era muita e boa; e no mar corria a costa uma armada grossa da mesma província, por ser monção em que acudiam àquele porto navios de várias nações a fazer seu trato.” E continuando com Frei Luís de Sousa: “Procurou Martim Afonso tomar língua da terra; mandou um barco e outro ao general da armada. Não lhe tornando nenhum, entendeu que estava tudo de guerra, e que fizera erro em se meter no porto. Determinou sair-se ao mar largo. Não esperavam mais os chineses que ver o movimento que fazia. Tanto que viram que os nossos se faziam à vela, foram sobre eles com todo seu poder, disparando muita artilharia. Era o partido muito desigual, e acrescentou a desigualdade um desastre; deu fogo na pólvora do navio de Diogo de Melo, voaram as cobertas para o céu, e foi toda a gente ao mar, uns mortos, outros nadando. Era Pedro Homem tão animoso que lhe não tolheu a vista de tantos inimigos mandar alguns homens no batel a ver se podia salvar Diogo de Mello e foi parte a falta deles para ser acometido com mais ousadia dos chineses, e com menos dificuldade entrado. Era Pedro Homem de corpo agigantado, e de forças e ânimo igual. Pelejou de maneira, que se o não acabara um tiro de fogo, contra quem não valem forças nem esforço, pudéramos dá-lo por vencedor de um exército inteiro. E isto é certo, que tiveram tanto que fazer os chineses com ele só, e com o seu navio, que isso valeu a Martim Afonso para não se entenderem com ele. Assim vendo que não tinha outro remédio, (Martim Afonso de Melo) se fez à vela para donde viera, e chegou a Malaca em meados de Outubro do mesmo ano; e daí se passou à Índia na monção. E deste modo se malogrou também a segunda embaixada portuguesa à China.” Annaes de D. João III. Jorge dos Santos Alves resume: “Nas duas semanas que se deteve naquela zona, os navios de Martim Afonso enfrentaram dezenas de juncos” e “incapazes de manter os adversários à distância sofreram a abordagem e então os combatentes portugueses foram literalmente submersos por vagas sucessivas de assaltantes.” “A armada chegou à China a 4 de Agosto de 1522, mas só se deteve aí 14 dias, retirando-se de seguida, deixando para trás dois navios afundados e um grande número de mortos, entre eles Diogo de Melo e Pero Homem.” Num ápice de um ano, tinham falhado as duas primeiras embaixadas portuguesas ao Império do Meio e os chineses vencido duas batalhas navais.


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Cem mil anos. Quase

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ento-me na varanda ampla, com um cigarro. Consolo breve e repetido. E penso nos cem mil anos que passaram desde que amei aquele homem. Pela primeira vez. Que um dia chegou terrível e partiu a minha vida em duas, antes e depois. Dor e esquecimento. E em cada um desses lugares - porque o são - eu. Metade de mim. E só quando no esquecimento se dilui a consciência de que o é, algo se reconstrói. Penso se valeu a pena querer morrer. Penso se valeu a pena esquecer para depois voltar a amar com o mesmo desespero. Porque o desespero tem um rosto particular para cada amor. Digo, para cada pessoa. Sou eu que sou desistente, ou, pelo contrário, uma amante que assume repetidamente o fardo doce de amar a sós...para depois percorrer o caminho de retorno à solidão a sós. Cem mil anos sem conseguir amar para sempre, esquecer para sempre, nem morrer como tal. Vem-me à memória o poema de Poe: “From childhood’s hour I have not been As others were; I have not seen As others saw; I could not bring From the same source I have not taken My sorrow; I could not awaken My heart to joy at the same tone; And all I loved, I loved alone.” E dele, a dizer, só que chegou e partiu bem antes. Envolto na suas trevas. Sento-me olhando a praça velha, a torre do relógio, e espero. Ele viria às seis. Disse. Mas às quatro já eu comecei a ser infeliz. Porque a minha espera sabe-se em vão. Olho para baixo demasiadas vezes para a descrença que tenho de o ver surgir de uma das esquinas. E eu sei que terei que esperar a lentidão do avanço perverso do tempo, para às seis começar a confirmar essa certeza incrédula. E só lá para as dez conseguirei deixar de esperar. Nesta, como em outras alturas da vida, seria melhor parar o relógio, e fingir que nada se sucede a nada. E ser, quanto muito apanhada dramaticamente no inesperado. E de cada vez que me debruço da varanda, sinto-me como Nástienca de Noites Brancas, inclinada da ponte sobre o Neva, a ser quanto muito encontrada pelo Sonhador. Lembro-me então que há muito não consulto o Livro de Areia, não me debruço sobre o acaso que é a alma desse pequeno oráculo que surgiu como tal, não sei se pelo meu fascínio pelas demandas, que parecem estabelecer linhas de um destino que não controlo e está traçado, se pelo desespero de respostas siderais ao meu vazio de orientação. A mala negra de viagem, jaz de entranhas em desalinho desde o primeiro dia, no sítio em que foi poisada. E dela extraio o pequeno livrinho de capa negra de cartolina mate, e folhas finas de um azul triste. E deslavado nas pontas, por efeito da luz. Amarelado, melhor dizendo. Concentro-me como sempre no amor que tenho a esse pequeno livro de um grande escritor. Abarco-o com as mãos quase enclavinhadas de expectativa, como sempre. Lembro que das últimas vezes que o fiz, e repetidamente, abri o livro das respostas, de olhos fechados como é do meu ritual, e apontei um dedo às cegas. Inacreditavelmente o meu dedo apontava um ponto cego numa página azul e vazia entre capítulos. Fazia o sentido que fazia. Reafirmado e confirmado. Nada a fazer. Hoje, o mesmo procedimento, e o oráculo foi firme na resposta: “Chamo-lhe Utopia”. Lendo o resto da

frase: “voz grega que significa não existe um tal lugar”. Com assinatura: Quevedo. É mais uma vez uma página de início de capítulo. E este aparece um pouco acima daquele ponto preciso em que apontei o dedo com a força, já o disse, do desespero. E a este cabe o título: “Utopia de um homem que está cansado”. Borges nunca me falha na emoção de nele me encontrar. Na realidade há muitos anos que o leio assim. De forma errática. Falta-me o tempo. Aquele tempo de que ele me fala ao coração. A mistura dos tempos. E há um sabor particular nesta forma de abordar o texto, baralhando uma ordem que, sendo inevitável, em Borges parece apelar à subversão. A essa mecânica do olhar sem ordem pré-estabelecida, que se prende tanto com a sua explicação do tempo. A tarde fez-se noite entretanto, prolongada até ao limite que a melancolia devida àquele dia, permitiu. E de súbito, como um animal instintivo sem razão, levantei-me sem saber porquê naquele exacto instante e não antes ou ligeiramente depois, e entrei. Naquele quarto de hotel no centro de Praga, amplo, confortável, no seu requinte retro e no seu desgaste. Dependendo da luz e do olhar, mas sobretudo do fio de pensamento imediatamente anterior, propício a enlevar o espírito a um estar melancólico, decadente e nostálgico, ou a tombar sem apelo num completo desalento. A pensar no que não foi, que sendo para não ser, apesar de tudo determinou a específica tonalidade deste início de noite. Que não teve contudo a qualidade de ser perda. Porque, “Mesmo que os anos da (…) vida fossem três mil ou dez vezes três mil, (…) ninguém perde outra vida senão a que vive agora nem vive outra senão a que perde. O termo mais longo e o mais breve portanto são iguais; morrer é perder o presente, que é um lapso de tempo brevíssimo. Ninguém perde o passado nem o futuro, pois a ninguém podem tirar o que ele não tem. (…) todas as coisas giram e voltam a girar pelas mesmas órbitas” (Marco Aurélio). Passo pela mesa baixa logo imediatamente em frente à janela, e apalpo um fruto da taça decorativa - incrível como os frutos têm também esse pendor de adorno - um pêssego enorme e aveludado como era de esperar. O aroma intenso e inimitável, excepto talvez na tonalidade de uma pele, a remeter para a memória do perfume, que me lembra de súbito qualquer coisa para lá do alcançável, provavelmente na infância. E coloco-o de novo mansamente na taça. Sem apetite, por agora. O olhar sem se prender a nada, faz-me girar como em torno de um eixo, de forma algo automática e sem ânimo, e retomar a moldura da janela. Pensar naquele meu amor. E naquele meu amado, o que não é a mesma coisa. Aquele amor que, disse-o Borges na voz de Quevedo, é a utopia. Muitas emoções a somar, no mesmo dia em que visito Kafka no cemitério. Um pouco depois deito-me sobre a cama e quero morrer, mas simplesmente adormeço. Até aqui, ele o adjectivou, sem querer. Acordo lentamente como vinda de um lugar longínquo, e, desentranhada à força, retorno ao embalo agradavelmente preenchido pelo ruído do comboio em andamento. (E, do registo imaginado de duas vidas, vagamente contidas sua representação em duas páginas, que se deixam engolir pela ficção de duas linhas finais, chego ao ponto de onde parti). Aqui houve noite. Amanheceu.


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de tudo e de nada

Anabela Canas

Anabela canas


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( F ) utilidades

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?

tempo aguaceiros ocasionais min 26 max 31 hum 75-95% • euro 8.68 baht 0.23 yuan 1.28

Cineteatro

O que fazer esta semana

Hoje

ant-man Sala 1

minions [a]

FALADO EM CANTONÊS Filme de: Pierre Coffin, Kyle Balda 14.15, 16.00, 17.45, 19.30

minions [3d] [a] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Pierre Coffin, Kyle Balda 21.30

Festival “Kill The Silence” Live Music Association, 19h00 Bilhetes das 50 às 250 patacas

Filme de: Peyton Reed Com: Paul Rudd, Michael Douglas 14.30, 16.45, 21.30

ant-man [3d] [B] Filme de: Peyton Reed

Festival de Cinema NY Portuguese Shorts Fundação Oriente, 17h00 Entrada livre

Diariamente

Exposição “O legado de Amílcar Cabral” Casa Garden, 18h30 (até 31/07) Entrada livre Exposição “Saudade” (até 30/9) MGM Macau Entrada livre “A Arte de Imprimir” (até Dezembro) Centro de Ciência de Macau Entrada livre

Exposição de Artes Visuais de Macau (até 2/8) Pintura e Caligrafia Chinesas Edifício do antigo tribunal, 10h00 às 20h00 Entrada livre Musical “A Bela e o Monstro” (até 26/6, de quinta a domingo) Venetian Macau Bilhetes entre as 280 a 680 patacas Exposição “Valquíria”, de Joana Vasconcelos (até 31 de Outubro) MGM Macau, Grande Praça Entrada livre

Filme de: Gil Kenan Com: Sam Rockwell, Rosemarie DeWitt 14.15, 18.00, 21.30

ted 2 [c]

Filme de: Seth MacFarlane Com: Mark Wahlberg, Amanda Seyfried, Morgan Freeman 16.00

17 de JUlHO

Criado Tribunal Penal Internacional

Festival “Kill The Silence” Live Music Association, 19h00 Bilhetes das 50 às 250 patacas

Exposição “De Lorient ao Oriente - Cidades Portuárias da China e França na Rota Marítima da Seda” Museu de Macau (até 30/08) Entrada livre

poltergeist [c]

Aconteceu Hoje

Amanhã

Exposição “Who Cares” (até 28/07) Armazém do Boi, 16h00 Entrada livre

Sala 3

Filme de: Gil Kenan Com: Sam Rockwell Rosemarie DeWitt 19.45

ant-man [B]

Festival de Cinema NY Portuguese Shorts Fundação Oriente, 19h00 Entrada livre

Com: Paul Rudd, Michael Douglas 19.45

poltergeist [3d] [c]

Sala 2

Noite de Piano na Galeria Fundação Rui Cunha, 18h00 - 20h00 Entrada livre

Exposição “Ao Risco da Cor - Claude Viallat e Franck Chalendard” Galeria do Tap Seac (até 9/08) Entrada livre

Cinema

U m d i s c o h o j e “Science & Faith” (The Script, 2010) Com o guitarrista Mark Sheehan e o baterista Glen Power, o cantor Danny O’ Donaghue começa logo bem a primeira faixa do álbum com a música “You Won’t Feel A Thing”. A canção descreve a situação de alguém apaixonado que não se importa com as dificuldades da vida. Depois, “For The First Time”, brinda-nos com o single mais conhecido, onde é dada a conhecer a cruel realidade do povo da Irlanda que enfrentou a crise económica. “Science & Faith” é o segundo álbum desta banda de pop-rock irlandesa e vale a pena ouvi-lo. Flora Fong

• A 17 de Julho de 1998 a ONU funda o Tribunal Penal Internacional. O Tribunal Penal Internacional é o primeiro tribunal penal internacional permanente. O objectivo do TPI é promover o Direito internacional e o seu mandato é de julgar os indivíduos e não os Estados (tarefa do Tribunal Internacional de Justiça). É competente somente para os crimes mais graves cometidos por indivíduos: genocídios, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e os crimes de agressão. O nascimento de uma jurisdição permanente universal é um grande passo em direcção da universalidade dos Direitos humanos e do respeito do direito internacional. Segundo a resolução XXVIII da Organização das Nações Unidas (Princípios da Cooperação Internacional na Identificação, Detenção, Extradição e Punição dos Culpados por Crimes contra a Humanidade), adoptada em 1973, todos os Estados devem colaborar para processar os responsáveis por esses crimes. Neste dia, no ano passado, dá-se ainda a queda de um Boeing 777 da Malaysia Airlines (Voo MH17) com 295 pessoas a bordo, na fronteira da Ucrânia com a Rússia. Este foi o voo de passageiros regular e internacional entre Amsterdão e Kuala Lumpur, operada pela companhia aérea Malaysia Airlines. Em 17 de Julho de 2014, um Boeing 777-200ER que realizava esta rota, caiu perto de Grabove, no oblast de Donetsk, no leste da Ucrânia, a 40 km da fronteira com a Rússia, transportando 283 passageiros e 15 tripulantes de vários países. Foi o segundo incidente da companhia aérea em menos de cinco meses, após o desaparecimento do voo MH370 no início de Março de 2014. Às 15h30 UTC a Malaysia Airlines informou que tinha perdido o contacto com o voo. Relatos iniciais do governo ucraniano informaram que a aeronave foi abatida a uma altitude de 10 mil metros por um míssil terra-ar disparado utilizando o sistema de mísseis Buk.

João Corvo

fonte da inveja

Serias rosa se desfolhar-te

não fosse um trabalho infinito.


opinião

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Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com

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contramão

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hama-se Chyn, tem três meses de existência incompletos e uma vida cheia de azares. A bebé que esta semana mereceu a atenção dos jornais nasceu com uma série de problemas de saúde – problemas graves de saúde. Tem síndrome de Down, malformação cardíaca congénita, deficiência na artéria do ventrículo direito e hipertensão pulmonar. Como se não lhe bastasse a má sorte de ter nascido frágil, Chyn teve ainda o azar de nascer em Macau. Um azar nunca vem só. Chyn é filha de filipinos. Lia ontem num jornal que os pais vivem em Macau há mais de dez anos, um facto que não tem qualquer importância para o sistema. São trabalhadores não residentes e, nessa estranha condição em que se encontram, não têm direito a cuidados de saúde para a filha. Chyn precisou de assistência médica à nascença e continua a precisar. Pelo que sei, os pais necessitam de 300 mil patacas para que possa ser operada, para que tenha uma vida mais ou menos condigna, no quadro de azares com que nasceu. É dinheiro que não têm, dinheiro impossível de ganhar com os salários que lhes são pagos. Chyn nasceu em Macau mas não é de cá – o sistema não a reconhece como sendo de cá. Chyn não é de lugar algum. Não aceito o argumento da abertura de precedentes: não me interessa se o caso de Chyn poderá causar um problema ao Governo. Esta bebé precisa de ajuda, precisa de assistência médica que os pais não podem pagar, e as autoridades de Macau devem apoiar esta família. É a obrigação moral de quem tem responsabilidades políticas. Macau não pode continuar a ser a terra onde nascer pode ser sinónimo de azar. Cabe ao Chefe do Executivo e ao secretário para os Assuntos Sociais e Cultura definirem, com urgência, uma nova política de saúde para os trabalhadores não residentes e para os seus filhos. As consultas públicas sobre a matéria são perfeitamente dispensáveis: todos sabemos já que há uma série de deputados e alguns sectores em Macau que são contra um catálogo de direitos mínimos para os trabalhadores não residentes. Para as Ellas Lei desta cidade, os trabalhadores não residentes têm apenas o direito a serem remunerados pelo trabalho que fazem, de preferência a valores mais baixos do que aqueles que cá residem. O resto não interessa. Porque a melhoria de condições para os trabalhadores não residentes jamais será motivada por uma mudança de mentalidades, por um apelo social mais ou menos generalizado, torna-se ainda mais importante que seja o Governo a

Richard Boleslawski, Men in White

Terra de azar Não aceito o argumento da abertura de precedentes: não me interessa se o caso de Chyn poderá causar um problema ao Governo. Esta bebé precisa de ajuda, precisa de assistência médica que os pais não podem pagar, e as autoridades de Macau devem apoiar esta família. É a obrigação moral de quem tem responsabilidades políticas tomar uma decisão política, por mais difícil que possa ser. A crise no jogo também não serve de desculpa: Macau continua a ter dinheiro para que possam ser respeitados os mais básicos direitos dos homens. É urgente inventar um sistema para que os trabalhadores não residentes tenham apoios diferentes das pessoas que estão aqui de passagem. Recorrendo a um jargão político muito apreciado localmente: o contributo dos pais de Chyn para Macau é muito maior do que o de um turista que passa uma noite na cidade, entre as Ruínas de São Paulo e um casino no Cotai. Trabalhadores com bluecard, crianças nascidas em Macau e turistas não podem ser metidos no mesmo saco no que diz respeito à saúde. Invente-se um sistema – e outro para que os filhos dos não residentes tenham acesso à educação. O argumento da sobrecarga dos serviços – de saúde e de educação – também não me convence. A maioria dos trabalhadores não residentes opta por deixar os filhos no país de origem. Os custos da saúde e da educação contribuem para esta opção, mas as questões práticas da vida quotidiana pesam ainda mais. Macau não ia ter uma enchente de bebés filipinos na pediatria do São Januário se fossem alteradas as regras com que se joga com quem tem muito pouco. Inventem um sistema qualquer. Já. Hoje, de preferência. Há uma bebé nascida em Macau ignorada por Macau – valer-lhe-á a solidariedade de Macau, da Macau dos cidadãos, não da Macau política, aquela que devia estar cá para todos os cidadãos, independentemente da cor do cartão que transportam na carteira. Macau hoje envergonha-me. E sei que vai continuar a envergonhar.


18 opinião

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paul chan wai chi*

um grito no deserto

N

os últimos anos, as reservas financeiras do Governo da RAEM cresceram de uma maneira impressionante, devido ao encaixe adicional derivado dos impostos sobre o Jogo, o que levou os nossos governantes a esbanjar dinheiro em vários programas de ajuda social e outras regalias exorbitantes, tais como o Plano de Comparticipação Pecuniária no Desenvolvimento Económico e o aumento anual dos salários dos funcionários públicos do território. Por sua vez, a Lei de Enquadramento Orçamental existe apenas no papel, chegando alguns departamentos governamentais a apresentar apenas estimativas sobre as despesas que contam incorrer no exercício das suas funções, em vez de serem obrigadas a seguir um orçamento pré-aprovado. Já ninguém se espanta quando as grandes empreitadas públicas são apresentadas ao público somente com a data de início dos trabalhos, não sendo os responsáveis capazes de afirmar com certeza quanto tempo essas mesmas obras vão demorar. Tudo isto leva com que muitas pessoas tenham passado a descrever o nosso Governo como “um bando de pessoas incompetentes com dinheiro a mais”. Esta abundância de dinheiro ajuda sem dúvida a resolver muitos problemas. Mas quando nos deparamos com uma nova realidade em que o dinheiro começa a escassear e os responsáveis continuam apesar disso a demonstrar a mesma incompetência, que futuro nos aguarda? Quais as razões que forçaram as autoridades gregas a aceitar medidas de austeridade impostas pelos países credores? Que medidas adicionais implementaram os mesmos responsáveis de modo a evitar a fuga das poupanças dos gregos para países terceiros? O mundo contemporâneo é constantemente manipulado pela classe política, que se deixa influenciar por movimentos populistas. Ao mesmo tempo, a sociedade encontra-se entranhada de um enorme egoísmo e individualismo. Mas que futuro se espera para uma sociedade onde os seus residentes se preocupam exclusivamente consigo próprios? Se a RAEM decidisse cancelar o Plano de Comparticipação Pecuniária no Desenvolvimento Económico para 2016, seria de esperar que uma grande parte da população optasse por protestar nas ruas em forma de protesto! Para exacerbar ainda mais a situação, as acções de companhias chinesas cotadas na bolsa, conhecidas como A-shares, têm verificado uma descida enorme nos seus preços, o que é sintomático de problemas maiores na economia chinesa. As autorida-

Norman Jewison, Fiddler on the Roof

Idiotas ricos contra idiotas pobres

des locais têm prometido uma restruturação da economia desde a altura da transferência de soberania, mas os nossos governantes não resolveram esta questão até ao presente momento. Em vez disso, assistimos ao fim do monopólio da STDM na indústria do jogo e a introdução do Visto de Visita Individual para os residentes do continente que tencionam visitar Macau, o que acabou por

“Quando nos deparamos com uma nova realidade em que o dinheiro começa a escassear e os responsáveis continuam apesar disso a demonstrar a mesma incompetência, que futuro nos aguarda?”

reforçar ainda mais o papel do jogo como a indústria principal da RAEM. Mesmo assim, o Governo não conseguiu encontrar maneiras de alterar a situação da nossa economia, mantendo-se a dependência num só sector. Hoje em dia, após desperdiçar inúmeras oportunidades para implementar sucessivas reformas económicas e industriais, verifica-se que o cerne da questão não é decidir o montante das reservas financeiras ao dispor do território, mas prende-se na realidade ao facto de os nossos governantes não se terem esforçado o suficiente para resolver estes problemas, limitando-se apenas a apresentar soluções que os beneficiavam financeiramente. Relativamente aos 16 terrenos desaproveitados que saíram da lista de recuperações do Governo, ou aos prédios da Zona B das novas zonas urbanas, ou ao terreno situado em Seac Pai Van, na ilha de Coloane, destinado à construção de apartamentos de luxo, como também ao próprio desenvolvimento do Alto de

Coloane, ou o terreno da Bacia Norte do Patane que foi leiloado em 2008 e ainda o local do ainda não-acabado “Ocean World” constituem uma grande parte das zonas a reclamar para o desenvolvimento urbano que todavia permanecem por ser utilizadas ou sobre as quais não se consegue definir a quem pertencem os títulos de propriedade. Contudo, e a meu ver, estes terrenos só podem pertencer a um pequeno grupo de pessoas inteligentes mas com planos secretos, que não se inibem de fazer pouco dos restantes cidadãos de Macau. Se a população local não pretender acabar como os gregos ou mesmo como tantas outras vítimas das crises dos mercados financeiros da China, vai ter então de abandonar a sua zona de conforto e abandonar a procura de ganhos imediatos, nunca se esquecendo de deixar de acreditar nas reconfortantes mentiras articuladas pelos políticos. Costuma-se dizer que nada é de borla neste mundo, e que mais vale um pássaro na mão do que dois a voar, não se podendo ter tudo. A bonança que se tem vivido no passado, especialmente aquela vivida pelo mercado imobiliário do território, não podia durar para sempre, e todos devíamos estar a par desta realidade. Na verdade, os nossos políticos são controlados pela elite financeira, para quem o mais importante é a preservação dos seus interesses económicos, especialmente no que diz respeito ao sector imobiliário. Sobre isto mesmo, Raimundo Arrais do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, disse recentemente que “quando o sector imobiliário se encontra dotado de influência e poder suficientes para conseguir vender um terreno que havia sido alocado pelo Governo para a construção de um mercado na Alameda Dr. Carlos D’Assumpção, que mais podemos nós esperar?” Infelizmente, a maioria da população opta por permanecer silenciosa mesmo quando novos desenvolvimentos imobiliários tapam a vista do Farol da Guia, dos Jardins Lisboa na Taipa ou mesmo do Alto da Penha em Macau. Esta atitude irresponsável faz com que seja muito difícil mudar o paradigma actual, e espera-se assim que a própria vista das suas casas venha a desaparecer no futuro próximo, sendo substituída por ainda mais betão armado e cimento. Ainda por cima, quando comparado ao risco que os nossos compatriotas chineses enfrentam para poder manifestar a sua própria opinião, algo que merece arriscar as penas de prisão impostas por um regime autoritário, ainda mais imbecil parece o silêncio contido das gentes de Macau. *Ex-deputado e membro da Associação Novo Macau Democrático

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


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hoje macau sexta-feira 17.7.2015

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Filipa Bento, professora de música

“É aqui que vou ficar” F

oi no envolvente Largo do Lilau que Filipa Bento agendou connosco a sua entrevista. “Este é um dos meus sítios favoritos em Macau”, partilhou, sem esconder que a lista é grande. A paixão pelo território é impossível esconder e a professora de música, mais precisamente de violino, faz questão de gritar aos sete ventos que adora “viver aqui”. A ideia de abraçar uma aventura no estrangeiro há muito que residia no coração de Filipa. “Durante muito tempo falei com o Luís (marido) para emigrarmos, não sei explicar bem porquê. As coisas estavam a piorar em Portugal – apesar de estar numa situação muito confortável – e tinha algumas dúvidas para o futuro”, partilha. Filipa Bento era professora no Conservatório de Sintra, escola e equipa que mais saudades lhe traz depois de dois anos em Macau. “Vou esta semana a Portugal ao final de dois anos e de facto tenho muitas saudades daquela equipa espectacular que tinha de colegas, chefes e directores. Éramos uma espécie de família, ainda hoje digo a ‘minha directora’ ou os ‘meus colegas’. Sei que vou entrar lá e estarei em casa, passe o tempo que passar”, frisa. O marido da professora, também ele do mundo da música já que é baterista, sempre se mostrou um pouco mais reticente perante a ideia de sair do seu país natal. “Ele sempre me disse que emigraria se eu

conseguisse arranjar um sítio qualquer, um país, um lugar qualquer onde se falasse Português e [para o qual] toda a sua banda pudesse também emigrar. O desafio era enorme, mas nunca desisti de convencer a banda e ao final de pouco tempo já todos queriam emigrar. Perceberam que em Portugal iria ser difícil”, relembra.

Bilhete de ida

Um dia, habituando-se à ideia que emigrar não estaria nos próximos planos do casal, é o marido de Filipa que vê um anúncio que pedia uma banda portuguesa para o território. “O Luís chegou a casa e perguntou-me: queres ir para Macau? A minha reacção foi pensar ‘caramba tinha mesmo que ser a China?’”, conta. Em poucos meses, marido e banda voavam para este lado do mundo, mas Filipa ficou em Portugal com a única filha do casal. “Quisemos perceber as condições que existiam aqui, se havia possibilidade para mim a nível profissional e também condições para a nossa filha. Estivemos três meses separados e foi o momento mais difícil”, conta a violinista, frisando que Macau já estava a marcar a sua vida sem que ela sequer conhecesse o território. O clima, a comida, os hábitos e costumes da sociedade fizeram com que Filipa se apaixonasse desde o momento em que chegou. “Adoro este clima”, diz ao HM, entre palavras soltas.

Ao olhar em redor, Filipa Bento observa uma mesa composta por residentes a conversar e, atrás de si, uma outra pessoa, sentada num banco confortavelmente. Ao fundo, duas adolescentes passeavam os cães de estimação. “Isto tudo”, apontou, “eu gosto disto tudo, dos residentes, do tipo de vida, desta humidade, gosto de não ter que me preocupar em usar casaco, gosto de estar na rua à noite, gosto de conseguir passear com a minha filha”.

Um amor para sempre

Mas nem tudo foi fácil. “A fase mais difícil foi toda a parte burocrática. Vim para cá, porque como casal achámos que a distância iria trazer marcas irremediáveis, e quisemos estar juntos. Portanto vim para cá sem trabalho, fiz vida de ‘dondoca’, ia para o café o dia todo para não ficar trancada em casa – que era outro problema”, lembra. Filipa e Luís deixaram uma casa de “várias assoalhadas, espaçosa e com muita luz exterior” na zona de Oeiras e vieram para uma casa “muito local”, apenas com duas janelas. Depois de algum tempo neste sistema que “mexeu muito com os sentimentos” da professora de música, Filipa Bento começou a ter propostas de trabalho para dar aulas privadas de violino. “Não o podia fazer porque ainda estava à espera dos papéis para os documentos de residente e isso irritava-me profundamente, sentia-me

sempre pressionada. Tinha vindo de uma vida totalmente independente, em que andava sempre a mil à hora, e de um dia para o outro estava sem ter um rendimento mensal e sem actividade”, aponta. Ao final de um ano, os documentos saíram e Filipa conseguiu abraçar os projectos para os quais tinha sido convidada, que por sua vez começaram a crescer cada vez mais. No dia em que conversou com o HM, a professora vinha do seu último dia de trabalho antes da férias. Este ano fez parte de vários projectos de diferentes escolas de Macau, dando aulas a alunos de todas as nacionalidades. “Foi um desafio, por muito que me esforce em aprender a falar Chinês há muitas coisas que não consigo, então tenho que criar meios de comunicação”, acrescenta. Vídeo, imagens, gestos e som são uma constante nas suas aulas. Depois de muitas aventuras – e de muitas provas de amizade entre Macau e Portugal - Filipa Bento está rendida ao território. “Desde a directora do Conservatório me colocar no quadro da escola e aceitar uma licença sem vencimento durante dois anos, para que eu pudesse ter certeza que é em Macau que quero estar, até ao mínimo pormenor, tudo aconteceu. E tenho certeza que é aqui que vou ficar. Já não me imagino a viver em Portugal”, termina de sorriso rasgado. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo


hoje macau sexta-feira 17.7.2015

cartoon

o vaso

por Stephff

Ásia Banco Desenvolvimento prevê crescimento de 6,1% para a região

Crescer e multiplicar O Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD) previu ontem que os países em desenvolvimento da Ásia cresçam 6,1% este ano e 6,2% em 2016 devido à lenta recuperação dos Estados Unidos e ao abrandamento da China. Na actualização do relatório anual de perspectivas apresentado ontem em Pequim, o BAD também destaca a incerteza provocada pela crise da Grécia na Zona Euro e as potenciais consequências sobre a procura europeia por produtos asiáticos. A instituição, com sede em Manila, coloca a Índia como o país com o mais rápido crescimento no próximo biénio, com previsões de 7,8% para este ano e de 8,2% para o próximo. Depois da Índia, segue-se a China, país para o qual projecta um crescimento de 7% em 2015 e 6,8% em 2016. A fechar o pódio figuram as Filipinas, país para o qual o BAD prognostica um crescimento de 6,3% em ambos os anos. A emergência da Índia converte a Ásia Meridional (Paquistão, Afeganistão, Bangladesh, Butão, Índia, Maldivas, Nepal e Sri Lanka) na zona com previsões de maior crescimento em 2015 e 2016 – 7,6% ao ano –, que supera assim a Ásia Oriental (China, Taiwan, Coreia do Sul,

Hong Kong e Mongólia), com 6,3% este ano e 6,2% em 2016.

Sub-total

Para a sub-região do Pacífico (Ilhas Cook, Fiji, Kiribati, Ilhas Marshall, Micronésia, Nauru, Palau, Papua Nova Guiné, Samoa, Ilhas Salomão, Timor, Tonga, Tuvalu e Vanuatu) espera um crescimento de 9,9% em 2015 devido ao início das exportações de gás liquefeito na Papua Nova Guiné, o qual abrandará para 5% em 2016. As expectativas de crescimento para o SudesteAsiático (Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia Birmânia, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietname) são de 4,6% este ano e 5,1% no próximo. Para a Ásia Central (Arménia, Azerbaijão, Geórgia, Cazaquistão, Quirguizistão, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão) o BAD perspectiva 3,5% em 2015 e 4,2% em 2016. “É provável que o crescimento mais lento da China tenha um assinalável efeito no resto da Ásia dada a sua dimensão e as suas estreitas relações com outros países da região”, afirmou o economista chefe do BAD, Shang-Jin Wei, em comunicado. O relatório do BAD inclui perspetivas de crescimento de 45 países e regiões que a instituição considera em vias de desenvolvimento (Japão está excluído), os quais registaram um crescimento médio de 6,3% em 2014.

China Vagas de repressão de direitos humanos

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Mais de 200 advogados, funcionários de escritórios de advocacia e activistas estão a ser alvo de uma nova vaga de repressão das autoridades chinesas, denunciou ontem a organização Human Rights Lawyers Concern Group. Segundo disse à agência espanhola EFE a organização com sede em Hong Kong, a polícia chinesa interrogou, nos últimos dias, muitas pessoas envolvidas em casos de direitos humanos. Desconhece-se a acusação contra os detidos, à excepção do advogado Sui Muqing, acusado de “incitamento à subversão do Estado”.

Jovem piloto de Macau Andy Chang voltou a competir

Capacete fora do armário W ing Ching Chang, ou Andy Chang, como é conhecido no mundo automobilístico internacional, regressou no passado fim-de-semana à competição. O jovem piloto da RAEM que, desde da estreia no Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 o ano passado, andava afastado das pistas, participou na prova do Campeonato da Europa FIA de Fórmula 3, que no fim-de-semana se disputou em Zandvoort, na Holanda. Arredado da competição automóvel ao mais alto nível devido à falta de apoios para participar na temporada completa do competitivo europeu da especialidade, Chang juntou-se à equipa inglesa Fortec Motorsport para fazer o restante da temporada no lugar que até aqui pertencia ao chinês Cao Hongwei, sendo presença quase garantida na corrida de final de ano nas ruas de Macau. Num fim-de-semana composto por três corridas, entre 34 concorrentes, Chang partiu para a primeira corrida do 32º lugar

para subir doze posições durante a acidentada corrida e terminar no “top-20” da classificação. Na segunda corrida, marcada pela intervenção do “Safety-Car” em duas ocasiões, o piloto do território foi o 26º da geral, quatro posições acima do seu lugar de partida. Por fim, na derradeira corrida no sempre difícil traçado holandês, o piloto de 18 anos que reside em Oxford, terminou novamente no 26º posto. O Campeonato da Europa FIA de Fórmula 3 regressa no primeiro fim-de-semana de Agosto a Spielberg, na Áustria, e depois segue para Portugal, para uma ronda no Autódromo do Algarve. Entretanto, Chang está esta semana na Alemanha com a sua equipa a

testar um Fórmula Renault 2.0 no circuito de Nurburgring para preparar a prova de Setembro no mítico circuito germânico.

Inscrições abrem em Agosto

Entretanto, as inscrições para o Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 – Suncity Grupo – Taça Intercontinental de F3 da FIA arrancam em Agosto. O director do Departamento do Circuito de Campeonatos e Secretário Geral Desportivo da FIA, Frederic Bertrand, afirmou na Conferência de Imprensa de apresentação do evento realizada em Abril que a Fórmula 3 teve sempre um enorme sucesso em Macau e, hoje, a categoria está muito forte no Japão, como na Europa. Bertrand disse ainda acreditar que a Taça Intercontinental de F3 da FIA irá, uma vez mais, atrair uma lista de inscritos forte e as corridas serão um espectáculo fabuloso. O 62º Grande Prémio de Macau realiza-se entre os dias 19 e 22 de Novembro deste ano. Sérgio Fonseca

info@hojemacau.com.mo


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