Hoje Macau 17 JUL 2020 # 4570

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

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ANDRÉ CARRILHO

SEXTA-FEIRA 17 DE JULHO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4570

MOP$10

hojemacau

A base do amor O Museu das Ofertas Sobre a Transferência de Soberania vai acolher uma nova infra-estrutura: a Base da Educação do Amor Pela Pátria em Macau. Com um orçamento de 2,5 milhões de patacas, o projecto dedi-

ANDRÉ CARRILHO

FALAR COM CRIANÇAS

cado a reforçar a “ideologia sobre o desenvolvimento do país”, através de exposições e actividades de formação sobre a cultura e a história chinesas, deverá estar pronto a ser visitado até ao final do ano.

EVENTOS

SOB O CÉU DE PALMYRA

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OPINIÃO

ANA JACINTO NUNES

RÓMULO SANTOS

GRANDE PLANO

CARLOS MORAIS JOSÉ

O HERÓI DA ALDEIA GONÇALO M. TAVARES

SEGURANÇA NACIONAL

VENTOS DO NORTE PÁGINA 5

PORTA GIRATÓRIA ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO

JOANA VALÉRIO ROMÃO

PERFEITA HARMONIA AMÉLIA VIEIRA

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17.7.2020 sexta-feira

DSEJ

PARA A MOCIDADE BASE DE AMOR À PÁTRIA NO MUSEU DAS OFERTAS CRIADA ATÉ AO FIM DE 2020

A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude pretende reforçar “a ideologia sobre o desenvolvimento do país” no plano educativo, porque é “importante formar alunos que amam a pátria”. É com base nestas premissas que vai nascer no Museu das Ofertas a Base da Educação do Amor pela Pátria e Macau. O projecto tem um orçamento de 2,5 milhões de patacas e deve estar concluído até ao fim do ano

“É

um reforço da ideologia sobre o desenvolvimento do nosso país”, referiu Cheong Man Fai, chefe do Departamento da Juventude da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), em relação ao Base da Educação do Amor pela Pátria e Macau. A infra-estrutura que nascerá no Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau ganhou contornos concretos ontem, em conferência de imprensa da DSEJ onde foram abordados os temas discutidos na Sessão Plenária do Conselho da Juventude. Face à ausência de material relacionado com outros temas pedagógicos na ordem de trabalhos da reunião do Conselho da Juventude (como Biologia, Matemática, Geografia, Línguas, etc), e à insistência sobre as prioridades educativas da DSEJ, Cheong Man Fai esclareceu que as restantes disciplinas não serão descuradas dos currículos

escolares. “Não vamos abdicar das outras disciplinas, claro que não. Mas o ensino do amor à pátria, com o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’, é um valor relevante para a RAEM. É muito importante formamos alunos que amam a sua

“Não vamos abdicar das outras disciplinas, claro que não. Mas o ensino do amor à pátria, com o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’, é um valor relevante para a RAEM. É muito importante formamos alunos que amam a sua pátria.” CHEONG MAN FAI CHEFE DO DEPARTAMENTO DA JUVENTUDE DA DSEJ

pátria, é também um dos nossos objectivos”, completou a chefe de departamento. A construção da Base da Educação do Amor à Pátria vai custar 2,5 milhões de patacas, incluindo as obras de remodelação no Museu das Ofertas e os custos dos equipamentos necessários, e deverá estar concluído e entrar em funcionamento até ao fim deste ano. A infra-estrutura pressupõe a adaptação de uma parte do Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau num espaço integrado para receber exposições, actividades de formação, multimédia, cinematografia e televisão. “Vamos ter uma área de exposição com elementos educativos e cursos de formação sobretudo sobre cultura e história chinesa. Além disso, vamos organizar palestras temáticas sobre temas como, por exemplo, o chá e exibir vídeos relacionados com a educação do amor à pátria e a Macau”, revelou Tsang Hio Ian, directora do Centro de Documentação Informação e Relações Públicas da DSEJ.

OBRAS EM CURSO

Em relação ao andamento das obras, Tang Hio Ian referiu que “estão a decorrer de forma tranquila e, em breve, serão realizadas as obras de remodelação do Interior”. Em relação a outro dos tipos de conteúdo político que será transmitido aos alunos, o Chefe da Divisão de Formação e Apoio ao Associativismo Juvenil, Luís Gomes lembrou que a DSEJ tem organizado palestras temáticas, assim como apoiado associações locais nesse propósito. O representante sustenta a importância destas acções para que “os jovens estudantes tenham um conhecimento mais profundo e correcto da importância da Constituição, da Lei Básica, do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ e da defesa da segurança nacional”. Não foi detalhado de que forma a DSEJ pretende que os alunos adquiram conhecimentos sobre a legislação que regula a segurança nacional.

A exaltação patriótica será prosseguida também através de acontecimentos fora do âmbito político, como por exemplo aproveitando as próximas Olimpíadas no Japão. Os representantes da DSEJ referiram que os jovens podem “conhecer o percurso dos atletas que representam a República Popular da China”, até chegarem ao nível olímpico e ao sucesso desportivo. “Pequenos pormenores” deste tipo podem ser abordados na “Base de Educação para promover o amor pela pátria e Macau”, acrescentou.

Também os feitos chineses na área da ciência aeroespacial podem servir o propósito de estimular o amor patriótico dos alunos de Macau, de acordo com o que foi divulgado ontem pela DSEJ. A participação dos estudantes nos eventos dinamizados na Base da Educação do Amor pela Pátria não é obrigatória. Isso foi assegurado, apesar de ter sido revelado que a DSEJ vai organizar um plano de participação a vários níveis, por turmas e grau de escolaridade.


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DE MACAU Neste aspecto, a chefe do Departamento da Juventude da DSEJ afirmou que “o ensino do amor à pátria e o conhecimento do país é necessário em todas as regiões”, mas que o objectivo também passa por ensinar conteúdos que escapam ao que está nos livros escolares. “Teremos mais recursos para que os alunos não aprendam só nas aulas”, acrescentou Cheong Man Fai. Outras das metas é criar em Macau um ambiente melhor para a aprendizagem, assim sendo, todos

“Os alunos da Escola Portuguesa de Macau são sempre bem-vindos [à Base da Educação do Amor pela Pátria] para conhecer melhor o desenvolvimento de Macau e da China.”

CHEONG MAN FAI CHEFE DO DEPARTAMENTO DA JUVENTUDE DA DSEJ

estão convidados para a Base da Educação do Amor pela Pátria. “Os alunos da Escola Portuguesa de Macau são sempre bem-vindos para conhecer melhor o desenvolvimento de Macau e da China”, declarou a chefe do Departamento da Juventude da DSEJ.

SIMBIOSE PERFEITA

Além das excursões e visitas de estudos de escolas ao Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau, a DSEJ revelou que vai contar com a co-

laboração com várias associações locais, tanto para visitas como para participar em eventos. A DSEJ irá articular com as associações formas para aproveitar a base, com a participação em palestras temáticas, a assistir a filmes, ou para organizar em conjunto acções de formação. O Conselho de Juventude discutiu nesta segunda sessão plenária de 2020 iniciativas para atrair a participação dos jovens. Foi também apreciada a “candidatura aos Prémios de Juventude de 2019” e apresentados relatórios de candidatura ao “Prémio de Actividades Juvenis” e ao “Prémio de Educação Cívica”. Na categoria das distinções, “o ‘Prémio Actividades Juvenis’ foi atribuído à Associação Geral de Estudantes Chong Wa de Macau, à Rede de Serviços Juvenis Bosco e à Associação de Juventude de Fu Lun de Macau, em resultado das seguintes actividades: Programa de estágio para alunos de Macau 2019 - “Experiência de trabalho na sociedade”; Bosco Teen 2019; e Desfile de moda dos jovens na

dupla celebração – “Vestuário de diferentes décadas” apresentado pela Associação de Juventude de Fu Lun de Macau. O “Prémio de Educação Cívica” foi atribuído à Associação de Juventude de Fu Lun de Macau, à Associação dos Jovens Voluntários de Macau e à Associação Geral de Estudantes Chong Wa de Macau, pelas seguintes actividades: Embaixadores da actividade “Fly Macau”; Exposição de resultados da comemoração do 70.º Aniversário da Implantação da República Popular da China, do 20.º Aniversário do Estabelecimento da RAEM e do 10.º Aniversário da prestação de serviços de voluntariado nas aldeias; e Ponte da História.

A DSEJ sustenta a importância de acções para que “os jovens tenham um conhecimento mais profundo e correcto da importância da Constituição, da Lei Básica, do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ e da defesa da segurança nacional” A criação da Base da Educação do Amor pela Pátria e por Macau está prevista nas linhas de acção governativa. Aliás, a 20 de Dezembro, na tomada de posse do novo Governo, que contou com a presença do Presidente chinês, Xi Jinping, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, já tinha salientado que o futuro de Macau passava por reforçar o patriotismo e a integração nacional. “Iremos reforçar os cursos de formação sobre a situação nacional aos funcionários públicos, no sentido de elevar a sua consciência nacional, (…) reforçar o patriotismo dos jovens [e] assegurar que o amor à pátria e o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ sejam transmitidos de geração em geração”, afirmou Ho Iat Seng no seu primeiro discurso como Chefe do Governo. A construção da ‘casa’ para promover o patriotismo entre os jovens surge num momento em que o Executivo veio em mais do que uma ocasião expressar o seu apoio incondicional à lei da segurança nacional imposta por Pequim à vizinha Hong Kong, revelando que há também espaço para “aperfeiçoar” a legislação sobre esta matéria em Macau. João Luz

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sexta-feira 17.7.2020

DSAJ André Cheong elogiou novo colega Lam Chi Long Esta semana Lam Chi Long deixou o cargo de Adjunto do Comissário Contra a Corrupção e mudou-se para a posição de chefe do gabinete do secretário para a Administração e Justiça. A alteração marcou o reencontro entre Lam Chi Long e o secretário André Cheong, que anteriormente tinha sido o Comissário do CCAC. O actual secretário para a

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Obras Resíduos de construção vão passar a pagar taxa O Executivo vai começar a cobrar pelos materiais e resíduos de construção que são deixados no único aterro existente em Macau. Actualmente, não é cobrado qualquer tipo de pagamento para deixar resíduos no aterro, o que faz com que exista no espaço uma grande quantidade de materiais. Porém, o Governo espera alterar este cenário com um regulamento administrativo anunciado ontem. Segundo a proposta, as construtoras vão

ter de pagar 71 patacas por 0,2 metros cúbicos de resíduos, quando estiverem separados e prontos para uma eventual reciclagem. No caso dos resíduos serem entregues misturados, o valor a pagar sobe para 108 patacas. De acordo com as explicações de Raymond Tam, director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) a quantidade de 0,2 metros cúbicos equivale a sensivelmente oito sacas de cimento com resíduos.

SEGURANÇA NACIONAL ENVIO DE AGENTES DEPENDE DO GOVERNO CENTRAL

vez que esse conteúdo é muito importante para a defesa nacional e para a nossa sociedade, depois de haver um projecto e a direcção do aperfeiçoamento, vamos auscultar as opiniões do público”, indicou.

O Executivo admite a possibilidade de haver uma comissão com agentes do Interior a operar em Macau, mas a decisão é do Governo Central. Outro dos destaques que saiu ontem do Conselho Executivo foi o desmentido de que o subsídio de Natal da função pública seria cortado

SUBSÍDIO DE NATAL GARANTIDO

Eles é que decidem RÓMULO SANTOS

possibilidade de Macau criar uma comissão com agentes do Interior para executar a lei da segurança nacional é uma decisão que tem de ser tomada pelo Governo Central. Este aspecto foi esclarecido ontem pelo secretário para a Administração e Justiça e porta-voz do Conselho Executivo, André Cheong, após ter sido questionado se as alterações à legislação da lei da segurança nacional vão criar um comissariado só com agentes do Interior, como acontece em Hong Kong. “[A criação de uma comissão com agentes do Interior] é uma decisão do Governo Central”, afirmou André Cheong, após ser questionado sobre uma eventual imitação do modelo de Hong Kong. Em relação às comparações com a região vizinha, o secretário explicou que o cenário da lei de salvaguarda da segurança nacional é diferente, porque a RAEM tem legislação sobre este aspecto desde 2009. “Macau já tem uma legislação que criou uma entidade de coordenação para a aplicação da lei. Após a aprovação da legislação em discussão na Assembleia Legislativa [de alteração à lei da Polícia Judiciária] vamos também ter um órgão para execução”, acrescentou. O Governo não tem escondido que está a trabalhar em mais documentos para complementar a legislação existente. André Cheong sublinhou que há um grande empenho local para garantir a segurança nacional, mas não adiantou mais pormenores sobre o conteúdo dos trabalhos. Porém, face à importância do assuntou, apontou que vai haver uma consulta pública sobre as alterações. “Temos de aperfeiçoar os procedimentos, porque a lei foi feita em 2009. [...] Uma

Administração e Justiça elogiou ontem o colega e explica que a mudança estava em cima da mesa desde a mudança do Governo, em Dezembro. Porém, na altura considerou-se que era importante que Lam ficasse mais uns meses no CCAC para permitir que o novo comissário, Chan Tsz King, tivesse alguém com experiência para a transição de pasta.

André Cheong, porta-voz do Conselho Executivo “Temos um conselho de avaliação que vai analisar as diferentes situações e só depois vamos decidir [sobre o congelamento do ordenado dos funcionários públicos].”

Face aos rumores de que o subsídio de Natal dos funcionários públicos estava em risco de ser cortado, como parte do plano de Ho Iat Seng para reduzir a despesa pública, o secretário desmentiu a possibilidade. “Espera-se que a população não acredite nesta informação falsa e que continue empenhada no desenvolvimento e na recuperação da economia de Macau”, apelou André Cheong. Por outro lado, o representante apontou que os cortes não vão afectar a vertente social. “O Governo tomou uma decisão de reduzir as despesas dos serviços públicos. Mas, mais uma vez, queria mencionar que tal, como foi referido pelo Chefe do Executivo, não vai prejudicar a vida da população, afectar os serviços prestados ou os vencimento e regalias dos funcionários públicos”, garantiu. Por outro lado, e apesar do pessimismo face à economia e aos impactos da covid-19, não foi dado como certo que não haja aumentos no próximo ano na função pública. As nossas previsões não são optimistas [...] Mas a decisão sobre o congelamento dos ordenados dos funcionários públicos no próximo ano vai depender do desenvolvimento e da situação económica de Macau. Temos um conselho de avaliação que vai analisar as diferentes situações e só depois vamos decidir”, explicou. João Santos Filipe

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17.7.2020 sexta-feira

CASO IPIM EX-PRESIDENTE IRENE LAU OUVIDA NA SEGUNDA-FEIRA

A senhora que se segue

As testemunhas do IPIM vão começar a ser ouvidas na próxima semana. A ex-presidente, Irene Lau, deverá ser uma das primeiras a prestar declarações, já na segunda-feira. Ontem, foram abordados dois casos de pedidos de residência que acabaram por ser rejeitados pelo IPIM

A

S testemunhas do Instituto para a Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM) começam a ser ouvidas na próxima semana no Tribunal Judicial de Base, sobre o caso das autorizações de residência. Irene Lau, que assumiu a presidência do IPIM em regime de substituição na sequência da suspensão de Jackson Chang, mas que, entretanto, já saiu do cargo, deverá depor na segunda feira. Na semana passada, o Ministério Público arrolou Irene Lau como testemunha para prestar esclarecimentos sobre consensos no Con-

selho de Administração do IPIM mencionados por Glória Batalha. De acordo com uma intervenção da advogada Icília Berenguel, o Ministério Público prescindiu de cerca de 20 testemunhas, mas a defesa manteve sete. Hoje, devem ser ouvidas as últimas testemunhas do Comissariado Contra a Corrupção (CCAC), uma das quais vai depor a propósito da acusação de associação criminosa. Dois processos de fixação de residência em que terá havido falsificação de documentos foram ontem analisados. A alegada edito-

OUTRA NEGA

PUB HM • 1ª VEZ • 17-7-20

ANÚNCIO Proc. INSOLVÊNCIA n.º

CV3-18-0005-CFI

3º Juízo Cível

REQUERENTE: MELCO RESORTS (MACAU) S.A., com sede em Macau, na Rua de Évora, nºs 199-207, Edf. Flower City, 1º andar A1, Taipa. ----------------REQUERIDO: NIE JINRONG, ausente em parte incerta, com últimas moradas conhecidas em Macau, na Rua de Seng Tou, nº 447, Edf. Nova Taipa Garden, Bloco 27-Peonia, 9º andar E; na Avenida do Almirante Magalhães Correia, nº 41, Ind. Kek Seng, Bloco 3, 3º andar U; e na China, 廣州市番禺區沙頭街大羅塘銀平 路49-55號. -------------------------------------------------------------------------------------*** FAZ-SE SABER que, pelo Tribunal, Juízo e processo acima referido, correm ÉDITOS DE TRINTA (30) DIAS, contados da segunda e última publicação do anúncio, citando o requerido acima identificada, para no prazo de DEZ DIAS, decorrido que seja o dos éditos, responder ao pedido de ser declarada em estado de insolvência, pelos fundamentos constantes da petição inicial que se encontra a disposição da citanda nesta Secção, podendo com a resposta, juntar documentos e oferecer testemunhas, que apresenta na audiência de discussão e julgamento, e, ainda que não responda, é permitido ao devedor fazer-se representar na audiência. Tudo conforme melhor consta do duplicado da petição inicial que neste 3º Juízo Cível se encontra à sua disposição e que poderá ser levantado nesta Secretaria Judicial nas horas normais de expediente. ------------------------------------------------- A intervenção do citando nos autos implica a constituição de advogado – artº 74º do Código Processo Civil de Macau. --------------------------------------------------Macau, 10 de Julho de 2020

o seu registo em Março de 2017 por ter estado suspensa mais de um ano. No seguimento do caso, o IPIM solicitou em 2018 mais documentos, como transferências bancárias de salários e imposto profissional, entre outros, para a arguida justificar as suas funções tendo em conta que a publicação Agora Macau tinha deixado de funcionar. Para solucionar o problema, mensagens exibidas em tribunal indicam que chegou a ser equacionado fazer o pedido por via de outra empresa, mas já não havia mais companhias disponíveis para o efeito. Dados os poucos dias de férias que a requerente passou em Macau e a suspensão da revista, o IPIM acabou por não renovar a residência.

ra Ouyang Yushuang é uma das envolvidas. Apresentou pedido para residência junto do IPIM, indicando que ia integrar quadros dirigentes, ao trabalhar no jornal Agora Macau como gerente geral e editora, com um salário de 40 mil patacas. Para esse efeito, submeteu um contrato celebrado com Ng Kuok Sao, o empresário acusado de criar uma rede criminosa para vender autorizações de residência. O documento previa um horário de trabalho entre as 9h e as 17h, e um dia de descanso semanal. O IPIM autorizou o pedido, por considerar o salário acima da média. No entanto, os registos fronteiriços mostram que a arguida nunca passou mais

de dez dias no território por ano. Entre 2012 e 2014, esteve em Macau num total de 19 dias. “Não vemos como possa ter trabalhado no Interior da China para essa revista”, disse a testemunha do CCAC, descrevendo que era um meio de comunicação de baixa dimensão, com pouca tiragem e sem registo de filial na China. Os registos bancários mostram que havia depósitos regulares de 40 mil patacas, com excepção de alguns

meses, mas que o dinheiro era depois retirado, como é o caso de uma transferência de 200 mil patacas para Ng Kuok Sao.

REVISTA SUSPENSA

Na altura da renovação foi detectada outra incongruência: a empresa esteve suspensa. De acordo com a testemunha, o IPIM procurou saber junto do Gabinete de Comunicação Social a situação da revista, que informou ter sido cancelado

Hoje devem ser ouvidas as últimas testemunhas do Comissariado Contra a Corrupção, uma das quais vai depor as propósito da acusação de associação criminosa

Na sessão, foi também abordado o caso de Tang Yunjian, que pediu residência com base em investimento relevante. Uma investigadora do CCAC, chamada a testemunhar, indicou que foram transferidas 60 por cento das acções da Companhia de Viagens Internacional Hung Long para o requerente, que não exercia quaisquer poderes de administração. O CCAC explicou que os corpos gerentes continuaram a ser Ng Kuok Sao e Wu Shu Hua. No pedido ao IPIM, o arguido apresentou um plano que previa um investimento inicial de 15 milhões, seguido de outro de 22 milhões. O CCAC indicou que primeiro foram depositados nove milhões, e reconhece que o investimento podia ser feito gradualmente, mas apontou como problema que “não foi ele que financiou”. No entanto, também nesta situação o pedido foi rejeitado pelo IPIM, por entender que as actividades, nem o volume do investimento, não eram relevantes para diversificar a economia de Macau. Salomé Fernandes

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Telemarketing Song Pek Kei quer multas mais pesadas A deputada Song Pek Kei defende uma revisão da legislação em vigor para aplicar multas mais pesadas a quem viola a lei de protecção de dados pessoais. Foi desta forma que a legisladora, ligada à comunidade de Fujian, reagiu às multas de 1,08 milhões de patacas aplicadas ao salão de beleza Hoi Sheung

Sociedade Unipessoal Limitada. Esta empresa foi responsável por várias chamadas telefónicas de telemarketing desrespeitando os dados pessoais acabando por ser punida. Porém, Song considerou, em declarações ao jornal Ou Mun, que há mais empresas envolvidas em esquemas semelhantes e

que as leis actuais dificultam as investigações das autoridades, principalmente nos casos transfronteiriços. Por este motivo, a legisladora apelou às autoridades para reforçarem a promoção e o combate e para reverem as leis com vista ao preenchimento das lacunas legais.


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sexta-feira 17.7.2020

GALAXY TRABALHADORES LOCAIS DESPEDIDOS FORAM RECRUTADOS, DIZ DSAL

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Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) adiantou, em reunião com responsáveis da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), que alguns dos trabalhadores locais despedidos pela Galaxy já voltaram a trabalhar. Segundo o jornal Ou Mun, dezenas de

trabalhadores foram recrutados com sucesso e estão a trabalhar desde quarta-feira. Os representantes dos trabalhadores apontaram, na mesma reunião, que

mais de 300 trabalhadores receberam a notificação de despedimento entre os dias 7 e 9 de Julho, sendo que alguns deles tinham contrato até final deste mês. Vários operários continuaram nas obras de expansão do empreendimento e consideram injusto o facto de os TNR manterem o posto

de trabalho. Além disso, registaram-se queixas devido a redução salarial ou compensações abaixo do valor esperado. Na reunião, que contou com a presença da deputada Ella Lei em representação da FAOM e Kong Hin Man, coordenador do gabinete da Federação da Indústria da

Construção Civil de Macau, a DSAL adiantou também que 292 trabalhadores buscam emprego e que vai procurar organizar, dentro de 10 dias úteis, entrevistas de emprego. Relativamente às queixas sobre reduções salariais e baixas compensações, a DSAL promete acompanhar os processos.

FUNDAÇÃO CASA DE MACAU SUBSCRITO PAPEL COMERCIAL DA HOLDING DO GRUPO ESPÍRITO SANTO

À espera da última tranche Em 2013 a Fundação Casa de Macau subscreveu papel comercial da holding do Grupo Espírito Santo, a Espírito Santo International, no valor de 100 mil euros. Depois da falência do grupo, a fundação já viu ser-lhe devolvidas três tranches por parte do Novo Banco, faltando uma fatia de 25 mil euros. Mário Matos dos Santos, presidente da fundação, mostra-se revoltado com o investimento feito

F

ORAM 100 mil euros investidos em papel comercial com a promessa de uma taxa de juro de 4,5 por cento e que por pouco não deitaram tudo a perder. A Fundação Casa de Macau, com sede em Lisboa e presidida por Mário Matos dos Santos, subscreveu 100 mil euros em papel comercial da holding do Grupo Espírito Santo (GES), a Espírito Santo International (ESI), com sede no Luxemburgo. Segundo a acusação do Ministério Público (MP) em Portugal, a subscrição foi feita aquando da 45.ª emissão de papel comercial da ESI, realizada aos balcões do Banco Espírito Santo (BES) entre os

dias 11 e 13 de Novembro de 2013, e com maturidade a 19 de Novembro de 2014. Sem reembolso, a emissão de papel comercial “gerou prejuízo de 28,5 milhões de euros em seus tomadores, clientes do BES”, aponta a acusação. Mário Matos dos Santos recorda-se que foi a própria gerente da sucursal do BES em Carcavelos, zona de

Lisboa, que lhe fez a proposta de subscrição de papel comercial da ESI. “Na altura subscrevemos 100 mil euros, mas depois comecei a ver que as coisas não estavam bem. Tentei uma acção no Luxemburgo e passados 7 ou 8 meses responderam-me a dizer que não, que o valor não passava para o fundo. Entretanto o Governo [português] iniciou um

“Na altura não estava muito convicto da gestão do banco e percebi que havia uma bolha induzida. Confiámos nas pessoas e até ali não tínhamos tido razões de queixa.” MÁRIO MATOS DOS SANTOS PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO CASA DE MACAU

processo de ressarcimento por escalões, em que se pagavam 4 tranches. É o caso em que estamos. Já recebemos 3 tranches e falta-nos uma quarta tranche”, contou ao HM. O presidente da fundação acredita que a última tranche, no valor de 25 mil euros, deverá ser paga ainda este ano. “Na altura havia uma garantia, a taxa de juro era boa e decidimos experimentar. Pessoalmente comecei a perceber que as coisas não estavam bem e disse aos meus colegas [da Fundação] para sair [do banco], mas não saímos a tempo.”

DEIXAR O NOVO BANCO

A Fundação Casa de Macau conseguiu encerrar todas

DSAL 30 ilegais detidos em Junho

Acções conjuntas levadas a cabo pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais e Corpo de Polícia de Segurança Pública levaram à detecção de 30 trabalhadores ilegais. No mês de Junho foram realizadas 554 inspecções em locais tão diversos como os estaleiros da construção civil, residências e estabelecimentos comerciais, entre outros.

as suas contas no já falido BANIF e, com o colapso do BES, pretende encerrar as suas contas no Novo Banco. “Ainda lá tenho 100 mil euros que deveria ter tirado e ainda não tirei. Não me interessa o futuro daquele banco, tenho muita pena dos que lá trabalham, mas não acredito num banco em que eu, como cidadão, tenho de passar a minha vida a pagar por ele. Só estou à espera da vinda da última tranche para depois liquidar totalmente tudo o que temos lá.” Mário Matos dos Santos assegura que a fundação “precisa sempre de liquidez, mas programa a sua liquidez”. A aquisição de papel comercial da ESI era uma das soluções encontradas para manter a situação financeira da fundação à tona. “Na altura não estava muito convicto da gestão do banco e percebi que havia uma bolha induzida. Confiámos nas pessoas e até ali não tínhamos tido razões de queixa. Logo a seguir aquilo começou a correr mal, foi quase declarada a falência da Espírito Santo Investimento no Luxemburgo, que também tinha uma antena familiar na Suíça, e quando tentámos sair já era tarde”, confessou. Criada em 1975 e com sede no Luxemburgo, a ESI era a holding do GES e reunia todos os investimentos da família Espírito Santo e toda a parte financeira do grupo. Dela dependiam três sub-holdings. A ESI, juntamente com mais seis empresas do GES, está acusada de crimes que vão desde a burla qualificada a corrupção passiva, falsificação de documentos e branqueamento de capitais. Andreia Sofia Silva

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17.7.2020 sexta-feira

TIAGO ALCÂNTARA

AVIAÇÃO CHINA PLANEIA REDE DE AEROPORTOS NA REGIÃO ATÉ 2025

Grande Baía dá-te asas Um plano divulgado pela Administração Estatal da Aviação Civil prevê a construção de uma rede de aeroportos na área da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. O projecto, que traça objectivos até 2035, prevê ainda esforços para elevar o estatuto de Hong Kong como centro internacional da aviação

DSAL Mais de 1600 inscritos no plano de estágios A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) anunciou ontem que, das 1.800 vagas de estágio disponibilizadas pelo “Plano de experiência no local de trabalho”, 1.618 foram ocupadas. As inscrições no plano que tem como mote “Vencer as dificuldades causadas pela epidemia e criar melhores perspectivas de trabalho”, terminaram no dia 6 de Julho. Segundo uma nota divulgada pela DSAL, o objectivo da iniciativa é ajudar os jovens de Macau “a adquirir conhecimentos práticos que possam ser

aplicados no local de trabalho, a aprender técnicas no trabalho, a aumentar a sua competitividade e também a acumular experiência profissional”. O organismo esclarece ainda que está neste momento a seleccionar, por meio de sorteio electrónico, que cargos serão atribuídos aos candidatos, visto que “o número de inscrições para determinados postos de estágio excedeu o número de vagas oferecidas”. A lista de candidatos seleccionados para a fase de entrevistas será divulgada a 9 de Julho. PUB

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 448/AI/2020 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora LONG XIAOYA, portadora do Passaporte da RPC n.° E16351xxx e portadora do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° W91483xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 173/DI-AI/2018 levantado pela DST a 08.09.2018, e por despacho da signatária de 08.07.2020, exarado no Relatório n.° 460/DI/2020, de 11.06.2020, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Rua de Cantao n.° 72-R, Edf. I San Kok, 16.° andar E onde se prestava alojamento ilegal.-----------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.--------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo DecretoLei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.---------------------------------Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.-----------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 8 de Julho de 2020. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

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China pretende concluir até 2025 a construção de uma rede de aeroportos de nível internacional na área da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. De acordo com um plano divulgado ontem pela Administração Estatal da Aviação Civil e citado pelo China Daily, o objectivo passa por “continuar a liderar em termos globais, de escala, competitividade e capacidade de inovação, o sector da aviação civil”. O plano será desenvolvido em duas fases. A primeira terá início em 2022 e culmina com a construção de infra-estruturas em 2025. Pelo meio, será dada prioridade à definição das políticas inter-regionais e de apoio mútuo entre as cidades da Grande Baía. A segunda fase, passará essencialmente por potenciar todo o projecto até 2035. Ou seja, numa altura em que a Grande Baía já terá acolhido uma rede de aeroportos de “classe mun-

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d ir ecto r dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), Leong Weng Kun, garantiu ontem que o corte orçamental a ser imposto pelo Governo no sector público em 2021, não vai afectar a qualidade dos serviços meteorológicos. Contudo, o responsável admitiu a necessidade de reduzir despesas de outra forma, acrescentando que os cortes podem mesmo ultrapassar a exigência do Executivo. “Estamos a planear fazer um ajustamento tendo em conta um corte superior a dez por cento. Por isso, talvez haja necessidade de prescindir de alguns equipamentos e reduzir a forma como executamos algumas operações, mas prometemos que não vamos diminuir a qualidade dos nossos serviços por causa do corte orçamental”, sublinhou Leong Weng Kun,

senvolvimento da indústria de aviação civil e o desenvolvimento conjunto de uma rede de transportes terrestres e aéreos. O plano divulgado ontem aposta em directrizes como o aumento da influência internacional da aviação na Grande Baía, o reforço das instalações de segurança aeroportuárias, a construção de um regime logístico aéreo eficaz e profissional e o desenvolvimento de uma rede de transportes unificada a pensar em pessoas e mercadorias.

HONG KONG NO RADAR

A fim de internacionalizar o papel da Grande Baía como região ideal para “viver trabalhar e viajar”, o plano define cinco grandes áreas de acção

dial, ecológica, segura e inteligente”, o plano define ainda as metas a atingir até 2035. A fim de internacionalizar o papel da Grande Baía como região ideal para “viver, trabalhar e viajar”, o plano traça

cinco grandes áreas de acção: construção de infra-estruturas de nível internacional, promoção do desenvolvimento coordenado a nível regional, estabelecimento de serviços de aviação de alto nível, de-

Das tripas coração

SMG garantem continuidade da qualidade dos serviços

por ocasião da apresentação e funcionamento do novo Centro de Vigilância Meteorológica dos SMG. Ficou ainda a garantia de que nenhuma das 13 estações automáticas de controlo meteorológico será removida. Sobre os recursos humanos, apesar de a gestão não ser autónoma do Governo, o director dos SMG assegurou que o número de pessoal é “estável”, não prevendo contratações nos próximos dois anos. No evento, Leong Weng Kun, vincou ainda a necessidade de promover conhecimentos relacionados com a meteorologia, para que seja mais fácil a população compreender as decisões tomadas, sobretudo,

quando a impervisibilidade é uma constante. “Estamos a fazer o nosso melhor para promover (…) algum do nosso conhecimento, porque achamos que, se os cidadãos e os media souberem mais, vão perceber as nossas dificuldades. As previsões meteorológicas têm um certo grau de imprevisibilidade que não podemos controlar (…), ao ponto de podermos falhar as nossas previsões e desiludir a população”, explicou. Exemplo desse conhecimento foi transmitido ontem, com a apresentação do sistema actualização do mapa de trajectória de tempestade tropical, que permite indicar a posição

De acordo com o plano da Administração Estatal da Aviação Civil, com a coordenação regional como pano de fundo, serão também feitos esforços para elevar ainda mais o estatuto de Hong Kong como centro de aviação a nível mundial. Ao mesmo tempo, os papéis distintos dos aeroportos em Guangzhou, Shenzhen, Macau e Zhuhai serão fortalecidos. Pedro Arede e Nunu Wu

pedro.arede.hojemacau@gmail.com

e o caminho actual, passado e estimativo da ocorrência.

AINDA NÃO ACABOU

Quando questionado sobre se é normal que apenas tenha ocorrido uma tempestade tropical até agora, Leong Weng Kun lembrou que ainda faltam mais de dois meses para acabar a época dos tufões e mantém a previsão feita no final de Março. “Já tivemos a primeira ocorrência a meio de Junho e prevemos para este ano entre quatro a seis tempestades tropicais (…) em que, pelo menos um deles, será um tufão severo. É difícil dizer se é ou não normal que só tenha ocorrido um tufão, pois ainda estamos a meio de Julho e ainda faltam os meses de Agosto e Setembro”, apontou. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com


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sexta-feira 17.7.2020

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Polícia Judiciária (PJ) anunciou a detenção de mais uma pessoa devido à prática do crime de pornografia com menores, o que faz com que este seja o terceiro indiciado nos últimos dias. Trata-se de uma empregada doméstica, de 33 anos, natural das Filipinas, detida na quarta-feira após ter partilhado um vídeo em que uma adolescente aparece em actos sexuais com um homem maior de idade. O alerta para o conteúdo partilhado na internet foi dado pela Interpol à PJ, que depois começou a investigar a situação. No vídeo em causa, com a duração de cinco minutos, pode ver-se um adulto envolvido em actos sexuais com uma menor, de feições asiáticas. Após ter sido detida, a mulher reconheceu ter partilhado o vídeo através das redes sociais e afirmou ter enviado o conteúdo a um amigo que se encontra fora de Macau. Sobre a origem do ficheiro, a filipina apontou ter sido recebido através de um outro amigo, que também vive fora da RAEM. Quando a PJ investigou o telemóvel da suspeita encontrou outros vídeos pornográficos que envolvem jovens, o que levou as autoridades a acreditar que a detida tinha o hábito de assistir a pornografia. Todavia, o vídeo da menor já tinha sido eliminado. Ao HM, a PJ explicou que o caso revelado ontem não tem ligações com os outros dois anunciados anteriormente. A mulher foi reencaminhada para o Ministério Público (MP) e está acusada da prática do crime de pornografia infantil, que é punido com uma pena que pode ultrapassar os oito anos de prisão.

CRIME EMPREGADA DOMÉSTICA DETIDA POR PARTILHAR VÍDEO PORNOGRÁFICO COM MENOR

Não há duas sem três No espaço de dias, a polícia anunciou o terceiro caso de pessoas que partilharam através da Internet conteúdos pornográficos com menores. O caso de ontem não está relacionada com os anteriores

PARTILHAS PROIBIDAS

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PJ emitiu ontem um comunicado a apelar para que as pessoas não partilhem vídeos ou imagens com pornografia de menores o que constitui um crime “grave”. “Mesmo que os materiais pornográficos acima mencionados sejam transmitidos, exibidos ou cedidos

entre amigos a qualquer título ou por qualquer meio, ou adquiridos ou detidos para esses fins [...] é punido com pena de prisão máxima até 3 anos”, apontou a autoridade. Por este motivo, a polícia defende que o melhor é mesmo não visitar sites pornográficos.

APRESENTAÇÕES PERIÓDICAS

Os outros dois casos envolvem um residente de Macau e um outro homem, um trabalhador não-residente das Filipinas. Ambos foram detidos depois de também terem partilhado vídeos pornográficos com menores. Segundo as autoridades, nestes casos o alerta para os eventuais criminosos foi dado pela Interpol, que tinha recebido denúncias por parte de administradores de certos servidores. Nos telemóveis e equipamentos informáticos apreendidos foram encontrados vídeos e fotografias com menores. Após terem sido ouvidos pelo MP, ambos ficaram obrigados a

Trata-se de uma empregada doméstica [...] e foi detida quarta-feira após ter partilhado um vídeo em que uma adolescente aparece em actos sexuais com um homem maior de idade

apresentações periódicas, enquanto as investigações criminais ainda decorrem. Face aos casos descobertos nos últimos dias, o MP apelou “aos cidadãos para denunciar de imediato” possíveis crimes com menores, de forma a garantir “um ambiente seguro para os menores crescerem saudáveis”. Até ao momento não se conhecem vítimas de Macau ligadas a estes casos. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

Sangue Suspensas doações de quem esteve fora de Macau O Centro de Transfusões de Sangue dos Serviços de Saúde anunciou na quarta-feira que estão suspensas por 28 dias, as doações de sangue de determinados grupos de indivíduos. Para fazer face à evolução da epidemia de covid-19, o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus esclarece, em comunicado, que

estão suspensas as doações de sangue de pessoas que estiveram fora de Macau e do Interior da China e que tiveram contacto próximo com casos confirmados da doença. Impedidos de fazer doações estão também os indivíduos diagnosticados com a infecção pelo novo coronavírus, sendo “que não podem doar sangue até 28 dias depois do

seu resultado do teste de ácido nucleico passar para negativo”. No comunicado é também deixado um alerta: “caso o doador de sangue apresente sintomas de febre, tosse, fadiga, dores musculares e diarreia nos 28 dias após a doação de sangue, deve notificar imediatamente o Centro de Transfusões de Sangue”.


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17.7.2020 sexta-feira

Para além dos e LITERATURA ANDRÉ CARRILHO PUBLICA PRIMEIRO LIVRO PARA A INFÂNCIA

Chama-se “A menina com os olhos ocupados” e é o primeiro livro virado para os mais novos em que André Carrilho assume, pela primeira vez, o papel de ilustrador e autor de uma obra. Lançado em Portugal pela mão da editora Bertrand, o livro pretende chamar a atenção para o tempo que as crianças gastam com gadgets, mas é também uma forma de o autor conversar com os próprios filhos

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MA menina passa os dias inteiros com os olhos colados a um ecrã e não se apercebe do mundo que a rodeia. Até que, um dia, o telemóvel que utiliza diariamente desaparece. É esta a história do novo livro de André Carrilho, ilustrador que agora se aventura como autor, e se intitula “A menina com os olhos ocupados”. A apresentação foi feito em Portugal pela editora Bertrand. Ao HM, André Carrilho, ex-residente em Macau, contou que esta é também uma obra onde aproveita para conversar com os filhos. “Comecei a escrever este livro depois de ter sido pai”, apontou. “Comecei a deitar a minha filha à noite e o ritual para ir dormir incluía ler uma história. À força de ler tantas histórias comecei a perceber que os

livros são ideais para falar com as crianças sobre alguns assuntos e para criar comunicação com elas, e havia alguns assuntos que eu queria falar com os meus filhos sobre os quais não encontrei livros. Um deles era sobre o mundo da tecnologia e dos gadgets, então escrevi este livro para ter uma ferramenta que me permitisse falar com os meus filhos sobre isso.” Carrilho, que sempre usou a ilustração como o foco principal do seu trabalho, assume agora que

as imagens que desenhou são complementares à história, incorporando outros elementos que as palavras não traduzem. Além da comunicação com os filhos, André Carrilho recorre a “A menina dos olhos ocupados” para chamar a atenção para a problemática relação entre as crianças e a tecnologia. “O meu livro chama a atenção para isso, mas não faço juízos de valor em relação aos pais que põem os filhos a olhar para os telemóveis. É difícil ser pai e o telemóvel é uma

“Quero repetir esta experiência [de lançar um livro infantil] e tenho várias ideias. Já fiz livros para outras pessoas, ilustrei esses livros, mas agora gostava mais de me focar a escrever esses textos.” ANDRÉ CARRILHO AUTOR E ILUSTRADOR


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sexta-feira 17.7.2020

ecrãs

FOTOGRAFIA GONÇALO LOBO PINHEIRO AJUDA A AMI

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fotojornalista português Gonçalo Lobo Pinheiro, radicado em Macau há 10 anos, doou dois mil euros para ajudar a AMI Assistência Médica Internacional a combater a covid-19 junto das populações refugiadas e deslocadas no Bangladesh. Durante mais de três meses o fotojornalista teve à venda nas redes sociais um total de 20 cópias de uma imagem captada no Myanmar em 2014. Foram vendidas 12 imagens, no valor de 125 euros cada uma, tendo o fotojornalista doado o resto do montante. Citado num comunicado, Gonçalo Lobo Pinheiro agradeceu a

todos os que adquiriram as fotografias. “Uma foto tirada no Myanmar para ajudar os refugiados Rohingya penso que faz todo o sentido. É preciso colocar um ponto final neste problema”, acrescentou. As populações refugiadas e deslocadas no Bangladesh, que

vivem em áreas propensas a desastres naturais, encontram-se entre os mais expostos ao novo coronavírus e com menos acesso a assistência médica, por falta de condições socioeconómicas. A fim de dar apoio a estas pessoas, a AMI iniciou uma nova parceria com a organização Bangladesh Integrated Social Advancement Programme (BISAP), que apoia os refugiados Rohingya e as comunidades de acolhimento na região de Chittagong, no leste do Bangladesh.

IC INSCRIÇÕES PARA SUBSÍDIOS PARA PRODUÇÃO DE ÁLBUNS

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Instituto Cultural (IC) aceita, a partir de hoje, inscrições para o “5.º Programa de Subsídios à Produção de Álbuns de Canções Originais”, as quais devem ser apresentadas até ao dia 30 de Setembro. Segundo um comunicado, o programa deste ano divide-se em duas categorias de subsídios, a de álbum e de mini-álbum. Em cada uma delas será atribuído um subsídio um montante máximo de 270 mil e 135 mil patacas, respectivamente, para cada álbum seleccionado, além de ser feita uma apreciação ao trabalho e ser dado aconselhamento profissional aos músicos. Os subsídios serão atribuídos a um máximo de 3 e 6 beneficiários para as categorias de álbum e mini-álbum,

respectivamente. Os candidatos à categoria de álbum devem assumir a função de produtor discográfico ou intérprete do álbum a título individual, ou em regime de co-produção com um conjunto vocal, banda ou grupo. Por sua vez, os candidatos à categoria de mini-álbum devem assumir a função de intérprete do álbum a título individual, ou a título colectivo, com um conjunto vocal ou banda. Os álbuns subsidiados por este programa não devem incluir compilações ou álbuns de grandes êxitos. O Programa cobrirá os custos de produção musical e o design da capa do álbum, bem como os custos de promoção do mesmo.

APE MÁRIO CLÁUDIO VENCE PRÉMIO DE ROMANCE E NOVELA

O grande ajuda. O que acho é que pais e filhos devem ter consciência de como fazer e impor limites. Este livro é no fundo o começo de uma conversa sobre esses limites e de como podemos encarar o mundo de várias maneiras.”

MAIS AUTOR

André Carrilho, cujos cartoons sobre a actualidade noticiosa são publicados com regularidade em publicações como a Vanity Fair ou o Diário de Notícias, assume querer “ser mais autor”. “Quero repetir esta experiência [de lançar um livro infantil] e tenho várias ideias. Já fiz livros para outras pessoas, ilustrei esses livros, mas agora gostava mais de me focar a escrever esses textos.” Até agora o autor assume que tem recebido “boas reacções, que

estão a dar-me bastante ânimo”. Apesar de o lançamento de “A menina com os olhos ocupados” ter ocorrido em tempos de pandemia, a verdade é que a altura não podia ser a mais ideal. “O livro estava pronto para ser lançado logo que Portugal entrou em confinamento e tivemos de mudar os nossos planos, mas depois falando com a editora chegámos à conclusão que as pessoas precisavam mais do livro do que nunca, porque as crianças estavam em casa e era preciso dar o contraponto, ao invés de estar sempre a olhar para a televisão dar um livro para eles lerem”, rematou André Carrilho. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

escritor Mário Cláudio venceu o Grande Prémio Romance e Novela 2019 com a obra "Tríptico da Salvação", anunciou ontem a Associação Portuguesa de Escritores (APE). É a terceira vez que Mário Cláudio é distinguido com este prémio, depois de o ter vencido em 1984, com "Amadeo", e em 2014, com "Retrato de rapaz". De acordo com a APE, que atribui o prémio em conjunto com a Direcção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas (DGLAB), a decisão do júri foi por maioria, sublinhando-se "o invulgar domínio da língua portuguesa e o modo como [o autor] prende a atenção do leitor, criando linhas de expectativa na composição do xadrez narrativo". "Tríptico da Salvação", editado pela Dom Quixote, "volta a pôr em cena a extraordinária competência do autor para recriar ambientes: cores, sons, sabores", justifica o júri.

Mário Cláudio é o pseudónimo literário de Rui Manuel Pinto Barbot Costa, nascido em 1941 no Porto. Licenciou-se em Direito e lançou a sua primeira obra, um livro de poesia intitulado “Ciclo de Cypris”, em 1969. Com uma obra que se estende pelo conto, novela, crónica, teatro,

escrita infantojuvenil, ensaio e romance, Mário Cláudio já recebeu várias distinções literárias, nomeadamente o Prémio PEN-Clube Português de Novelística, o prémio D. Dinis e o Prémio Pessoa (2004), pelo conjunto da obra. Mário Cláudio foi agraciado com as comendas da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, de ‘Chevalier des Arts et des Lettres’, atribuída pelo Ministério francês da Cultura, e da Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. No final do ano passado, recebeu título de doutor 'honoris causa' da Universidade do Porto, pelos 50 anos de vida literária e pela colaboração cívica que desenvolve a partir daquela cidade. O júri do Grande Prémio de Romance e Novela 2019 integrou José Manuel de Vasconcelos Ana Paula Arnaut, António Pedro Pita, Cândido Oliveira Martins, Isabel Cristina Rodrigues e José Carlos Seabra Pereira.


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17.7.2020 sexta-feira

XANGAI AIR FRANCE AUTORIZADA A REALIZAR SEGUNDO VOO SEMANAL

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Marcella Chow, Banco de investimento JP Morgan Asset Management “Esperamos ver uma melhoria contínua nos próximos trimestres.”

COVID-19 CHINA TORNA-SE NA PRIMEIRA ECONOMIA A REGISTAR CRESCIMENTO

Passos de um gigante

As intensas medidas restritivas, impostas pelas autoridades chinesas, parecem ter dado resultado. O país, apesar do ritmo lento, registou, entre Abril e Junho, um crescimento económico de 3,2 por cento

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C h i n a tornou-se o primeiro grande país a retomar o crescimento económico, desde o início da pandemia da covid-19, alcançando uma expansão inesperada de 3,2 por cento, no segundo trimestre, foi ontem anunciado. De acordo com o Gabinete Nacional de Estatísticas chinês, os dados mostraram uma melhoria dramática, depois de ter sido retomada a actividade económica, em relação à contracção de 6,8 por cento registada no trimestre anterior, o pior desempenho da economia do país desde 1970. No entanto, o crescimento alcançado entre Abril e Junho foi, ainda assim, no ritmo mais lento desde que a China começou a divulgar dados trimestralmente, no início dos anos 1990. “Esperamos ver uma melhoria contínua nos próximos trimestres “, apontou Marcella Chow, do banco de investimento JP Morgan Asset Management, num relatório. A China, onde a pandemia do novo coronavírus começou em Dezembro passado, foi o primeiro

país a tomar medidas de confinamento altamente restritivas, mas também o primeiro a reabrir, em Março, depois de o Partido Comunista ter declarado vitória no combate contra a doença. “A economia nacional foi de uma contracção para se expandir”, disse o GNE, em comunicado. Economistas consideraram que a China vai recuperar provavelmente com mais rapidez do que outras grandes economias, devido à decisão do Governo chinês de ter imposto medidas de prevenção mais restritivas. As autoridades isolaram cidades com um total de 60 milhões de pessoas e suspenderam o comércio e viagens após terem reconhecido a gravidade da epidemia, no final de Janeiro. O sector manufactureiro e outras indústrias estão a regressar aos níveis normais de actividade, mas os gastos dos consumidores permanecem fracos, devido à insegurança laboral. Cinemas e alguns negócios permanecem encerrados ou com limitações no número de pessoas que podem atender.

“A pandemia está a criar vencedores e perdedores”, disse Bill Adams, da consultora PNC Financial Services Group, num relatório. “A manufactura está a liderar a recuperação da China”, apontou. Analistas do sector privado afirmaram que até 30 por cento da força de trabalho urbana, ou até 130 milhões de pessoas, podem ter perdido o emprego, pelo menos temporariamente. Cerca de 25 milhões de empregos podem ter desaparecido para sempre este ano.

O MELHOR E O PIOR

Em Maio, o Partido Comunista prometeu gastar 280 mil milhões de dólares para estimular a economia, incluindo a criação de nove milhões de novos empregos, mas evitou juntar-se aos Estados Unidos, Japão e Europa no lançamento de pacotes de estímulo no valor de biliões de dólares, devido ao receio de aumentar o endividamento público. No segundo trimestre do ano, a produção industrial subiu 4 por cento, recuperando-se de uma contracção de 8,4 por cento no trimestre anterior, após

a reabertura das fábricas que fornecem telemóveis, sapatos, brinquedos e outros bens para todo o mundo. As vendas do retalho caíram 3,9% por cento, em termos homólogos, uma melhoria em relação à contracção de 19 por cento, no trimestre anterior, quando milhões de famílias permaneceram confinadas em casa. As vendas do comércio electrónico cresceram 14,3 por cento, acima dos 5,9 por cento registados no trimestre anterior. As medidas para combater a pandemia paralisaram sectores inteiros da economia mundial e levaram o Fundo monetário Internacional (FMI) a fazer previsões sem precedentes nos seus quase 75 anos: a economia mundial poderá cair 3 por cento em 2020, arrastada por uma contracção de 5,9 por cento nos Estados Unidos, de 7,5 por cento na zona euro e de 5,2 por cento no Japão. A pandemia de covid-19 já provocou mais de 579 mil mortos e infectou mais de 13,4 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

companhia aérea francesa Air France obteve ontem autorização para iniciar uma segunda ligação aérea com frequência semanal entre Paris e Xangai, a “capital” financeira da China, informou a embaixada francesa em Pequim. A autorização surge após o Governo francês ter exercido forte pressão ao limitar os voos das companhias aéreas chinesas, por questões de reciprocidade em relação à Air France. A China reduziu drasticamente o número de ligações aéreas com o exterior, no final de Março, à medida que o surto de covid-19 se alastrou pelo mundo. A partir de 8 de Junho, porém, Pequim autorizou várias empresas estrangeiras, incluindo a Air France, a realizar uma ligação aérea por semana de e para o país. Como a China tem três grandes empresas que realizam voos internacionais - Air China, Eastern China e Southern China - conseguiu no conjunto realizar três ligações aéreas China - França por semana.

A França deseja obter os mesmos direitos para a Air France, ou seja, três ligações semanais com o país asiático, e não apenas um, como era o caso até agora. Em comunicado de imprensa publicado na quinta-feira, a embaixada francesa na China “congratula-se com a autorização concedida à Air France-KLM para operar a partir da próxima semana uma segunda ligação semanal entre Paris e Xangai”. A mesma fonte evoca ainda “uma primeira ligação semanal entre Amesterdão e Xangai”, pela Air France. O anúncio acontece no dia seguinte a uma conversa por telefone entre Wang Yi, o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, e Emmanuel Bonne, assessor diplomático do Presidente francês, Emmanuel Macron. “Durante o diálogo, os dois lados chegaram a um acordo sobre a retoma o mais rapidamente possível dos voos regulares entre a China e a França”, avançou a agência noticiosa oficial Xinhua.

Importação Ovelhas portuguesas banidas

As alfândegas chinesas baniram as importações de ovelhas e produtos relacionados de Portugal, alegando um aviso da Organização Mundial de Saúde Animal sobre um surto de paraplexia enzoótica dos ovinos na Guarda. A notícia foi avançada ontem pela versão em língua chinesa do Global Times, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, e cita a Administração das Alfândegas da China. A mesma fonte justificou a decisão com um aviso da Organização Mundial de Saúde Animal sobre um surto de paraplexia enzoótica, doença neurodegenerativa fatal que acomete o sistema nervoso de ruminantes, sendo mais comum em ovinos, detectado entre 70 ovelhas no distrito da Guarda, norte de Portugal. Portugal não está autorizado a exportar carne de ovelha ou produtos relacionados para a China, confirmou à agência Lusa fonte diplomática, acrescentando que as autoridades portuguesas estão ainda em processo de negociação.


sexta-feira 17.7.2020

Não olho altares, não rezo, não ajoelho

FICÇÃO, ENSAIO, POESIA, FRAGMENTO, DIÁRIO

entre oriente e ocidente Gonçalo M. Tavares

O herói da aldeia É muito comum, nos livros antigos, falarse do Atlas que levava o mundo às costas. Noutros mapas, o mundo em vez de ser levado por um brutamontes, era conduzido, tranquilamente, por uma tartaruga que rodava à velocidade exacta da rotação da terra. Agora, com novos cálculos e novos aparelhos para ver, já se percebeu que não há tartaruga – ou, pelo menos, àquilo a que os antigos chamavam tartaruga, os modernos chamam rotação da terra, atracção gravítica, ou o que seja - e outros nomes mais científicos e menos animalescos. Porém, a hipótese da tartaruga não deixou, mesmo no século XXI, de ser absolutamente fascinante para algumas crianças - e esta capacidade da abrir a boca em oh de espanto intenso não deve ser desvalorizada. O mundo deve continuar a espantar-nos senão é melhor sairmos daqui para outro lado. Mas agora, dizia, na aldeia, não há atlas, homem forte a levar o mundo às costas, nem tartaruga, há um homem simples, Ramiro, que leva às costas uma garrafa de gás de cada vez. Um homem forte, mas à medida humana e não mitológica. Leva uma garrafa de gás cheiinha através de subidas íngremes a que nenhuma camioneta, ou mesmo motorizada, consegue ter acesso. Não há, pois, alternativa. O homem, que de costas parece um caminhante solitário com a sua mochila bem cilíndrica, o homem é uma espécie de herói modesto, herói da província – pois é ele que leva ali às costas calor e luz. E quem leva às costas calor e luz futuros, quem leva às costas, no fundo, uma parte significativa e essencial do futuro – material para ver as coisas quando está noite e material para não tremer com as temperaturas baixas – quem tem esta responsabilidade merece ser valorizado. O homem, que já tem as costas tortas de tanto calor e luz e futuro que distribuiu por casas colocadas, plantadas, como árvores loucas, em sítios quase inacessíveis, esse homem então recebe, por vezes, umas moedas a mais, e um copo de vinho. O que é bem pouco para um herói, mas cujas proezas fizeram dele, afinal, pouca coisa: para o exterior, um marreco de quem os meninos da cidade, que nada percebem de esforço e de questões míticas, troçam.

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ILUSTRAÇÃO ANA JACINTO NUNES


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tonalidades António de Castro Caeiro

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STA luz crua, este calor, transportam-me para a Praça de Londres. A viagem de Alcântara até lá não é longa. Mas teria de acrescentar uns 50 anos para a fazer. Havia um Hotel com portas giratórias que me fascinavam, quando era criança. Não sei bem se a luz e o calor eram o elemento comum. Mas identifico-os como elementos da atmosfera em que estava mergulhado. Olhava para a porta giratória, entrava e saia por ela. Era dourada. Havia um porteiro que me conduzia na entrada e saída. Talvez fossem umas duas ou três vezes as que lá terei ido. A minha percepção do que se passou foi transformada pelo tempo. Muitas vezes tenho revisitações desses momentos em várias alturas do ano, em várias estações, em momentos diferentes da minha vida. O Hotel não existe, o porteiro fardado já terá morrido. Já nem sequer vou para aquela zona da cidade onde ia muitas vezes. Ia à Mexicana ter com o meu pai ou ao consultório da rua Guerra Junqueiro. Nem sempre ou quase nunca me lembrava do momento mágico da porta giratória diferente de todas as outras portas. A porta giratória faz-nos entrar para dentro ou sair para fora, mas temos

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A porta giratória

de atenção, para não ficarmos do lado que não queremos. E há portas giratórias que temos de empurrar e outras que são mesmo mágicas, funcionando como se sentissem a nossa presença e deslocação. Mas é esta luz crua e este calor que me transportam para esse momento no tempo que muitas vezes revisito em aproximações de altura como se estivesse a produzir imagens num “Drone”. As minhas lembranças do passado não decalcam nunca as percepções, transformam-nas. Mesmo quando são reproduções do que se passou no plano do chão eu tenho muitos mais pontos de vista do que aqueles que efectivamente se fixaram na realidade. Se vi de frente, de

certeza que imagino como é ver de um lado e de todos os lados, de cima e de baixo, de dentro e de fora. Mas imagino também a realidade como se voasse sobre ela. Agora faço todo o percurso do autocarro 756 a voar. Directo à Praça de Espanha que vejo lá em baixo com trânsito, voo sobre a João XXIII e curvo tenso sobre o que foi o cinema Londres e desço de pé sobre o local onde esteve o Hotel. É diferente o sítio onde agora chego e aquele de que me lembrava. Chego agora e é inverno. Tenho provavelmente trinta e muitos anos, quase quarenta. Não há luz crua nem calor. É já um momento melancólico da minha vida. Não há o esplendor ina balável da infância,

Nenhuma lembrança repete a percepção, nenhuma memória é exactamente como foi na realidade, nenhum sentimento outrora é o mesmo agora. Recordar é possível a partir do coração que pulsa e nos sacode de novo e permite uma repetição, nunca mecânica, mas a partir do interior, de dentro para fora

cheia sempre de relva e beira-mar, relva e beira-mar, pinheiros, azul, que estão também nos edifícios da cidade, nos Hotéis da infância, nas portas giratórias que giram para entrar e sair, mas também só para girar sem ser para girar nem para sair. A essência de uma porta na infância, giratória ou não é diferente da essência de uma porta na idade adulta, tal como a essência de um Hotel é diferente na infância e na idade adulta. A porta giratória é só para girar. O Hotel é só para ter uma porta giratória, uma cidade inteira é só para ter a luz crua, e o sol, o calor. Na idade adulta, a porta é para entrar ou para vedar entrada, para sair ou expulsar. O hotel é para fazer o que se faz em Hotéis, dormir ou tudo o que se faz sem ser dormir, a cidade é tudo o que alberga o cansaço das pessoas que já não encontram nenhum emaravilhamento, para quem a luz crua implica um resguardo de óculos escuros, o calor é uma temperatura de que se gosta ou acha insuportável. Na palavra recordação há mais qualquer coisa do que memória ou lembrança. Tal como em acordar, vemos lá escondida a palavra coração. A palavra recordação exprime um acordar de novo. Não é uma memória. Não é de certeza uma memória intelectual ou das que se pode ter a olhar para fotografias ou das que nos lembram coisas ou pessoas. Recordar é uma acção. Talvez por isso se diga que recordar é viver. Recordar não é viver menos ou o viver possível quando já não se vive. Quando dizemos que recordar é viver achamos que estamos acabados, já não vivemos e agora lembramo-nos do passado, passamos o tempo todo a vasculhar álbuns de fotografias, vídeos de crianças, baptizados e casamentos, férias ao estrangeiro, e eu sei lá o quê. Quando dizemos “recordar é viver” interpretamos mal o que o verbo diz. Não quer dizer que não seja o que se faz, quando se está acabado e há momentos em que nos sentimos acabados, não fazemos fé em nada, não acreditamos em nenhuma possibilidade ou até só que tudo é impossível, o que é uma tremenda possibilidade. Recordar é viver quer dizer: fazer de novo o que fizéramos mas de uma maneira completamente nova. Nenhuma lembrança repete a percepção, nenhuma memória é exactamente como foi na realidade, nenhum sentimento outrora é o mesmo agora. Recordar é possível a partir do coração que pulsa e nos sacode de novo e permite uma repetição, nunca mecânica, mas a partir do interior, de dentro para fora. Temos de aprender a ver e a escutar o que é que as visitações nos querem dizer, porque é que nos lembramos do calor e da luz, do princípio, da sorte que é termos sido principiantes. Temos de testemunhar essa sorte que foi um acaso e agora é inexorável.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

sexta-feira 17.7.2020

OFício dos ossos

Valério Romão

A Joana

T

IRANDO os obscenamente ricos cujos investimentos e negócios os impossibilitam de não fazer dinheiro, mesmo que amarrados a uma cadeira até ao final das suas vidas, muito pouca gente ficou melhor do que estava com a pandemia e respectivo confinamento. Uma das raras excepções terão sido os animais de estimação. Estes, habituados a estar em casa à espera de que o dono regresse do trabalho, viram-se subitamente brindados com a presença ininterrupta dos seus cuidadores. Em boa verdade, estando juntos fizemos caminhos opostos: quanto mais confinámos, mais eles desconfinaram. Eu tenho bichos desde que me lembro. O meu pai era caçador e sempre tivemos cães. Recordo-me com especial carinho de um casal de Épagneul Breton a que o meu pai chamou Tarzan e Chita. A fêmea ficava em casa durante o dia e o macho ia com ele para o trabalho. O meu pai foi telhador durante algum tempo, em França. O cão subia as escadas e andaimes para estar perto dele enquanto este trabalhava. Mas não conseguia descer. O meu pai tinha de o trazer às costas. Lembro-me de uma fotografia documentando esse pequeno número de circo amador. Ter-se-á perdido numa das muitas mudanças de casa. Para infelicidade e incompreensão do meu pai, que fora educado para ver nos bichos um valor equivalente ao seu uso, eu queria um gato. Os cães eram muito grandes para mim; muito apegadiços, muito desprovidos da noção de espaço pessoal. E, muito especialmente depois de lhes chover em cima, cheiravam mal. Os gatos pareciam-me mais simpáticos do ponto de vista social, na medida em que porventura eram mais parecidos comigo nesse aspecto: prezavam e exigiam algum distanciamento e, ao contrário dos cães, eram parcimoniosos na distribuição do amor. O meu pai acedeu. A contragosto, deu-me um gato. O Sr. Sardinha. Quando entrei no curso de filosofia, bastos anos mais tarde, uma colega de casa reuniu-nos para nos perguntar se nos importávamos que ela adoptasse uma gatinha. Que seria ela a cuidar da comida, da areia e de toda as coisas práticas relativas ao bicho, que a educaria tanto quanto possível para não destruir a pouca mobília que tínhamos; que não nos preocupássemos: os gatos passam praticamente desapercebidos,

dizia-nos. Eu disse logo que sim. Desde que regressara de França com dez anos que não tinha um gato (o meu pai teve paciência para uma excepção, o Sr. Sardinha, e durou até numa viagem para Portugal ele mijar o carro todo e o meu pai amaldiçoá-lo até à quinta geração de descendentes). Recebemos a pequena bichana com o entusiasmo da novidade. A Inês, cons-

ciente da diplomacia necessária para dirimir os pequenos conflitos capazes de surgir numa casa na qual as pessoas não estão ligadas por laços familiares, insistia noite após noite para que a gatinha dormisse no quarto dela. Mas esta miava e miava e passado algum tempo a Inês tinha de lhe abrir a porta. A gata vinha ter comigo e dormia na minha cama. Uma semana volvida sobre este

Os gatos pareciam-me mais simpáticos do ponto de vista social, na medida em que porventura eram mais parecidos comigo nesse aspecto: prezavam e exigiam algum distanciamento e, ao contrário dos cães, eram parcimoniosos na distribuição do amor

ritual diário, a Inês confidenciou-me: eu acho que ela te adoptou. Eu acenei silenciosamente que sim com a cabeça e o assunto da paternidade ficou encerrado ali. A gata mudara de mãos sem mudar de casa. Chamei-lhe Joana e viveu comigo dezasseis anos mais. A única ninhada que teve, de um gato mais afoito que conseguiu entrar em casa pela janela, teve-a em cima de mim, estando eu a dormir. Viu-me acabar o curso de Filosofia. Viu nascer o meu filho Guilherme, de quem cuidava como se fosse filho dela: quando este acordava choramingando vinha-nos chamar. Dormia ao lado do berço dele. Dediquei-lhe um livro – Dez razões para aspirar a ser gato. Foi o bicho mais extraordinário que tive oportunidade de conhecer. Salvou-me mais de um milhão de vezes. É para ela que escrevo hoje.


16

h

Amélia Vieira

17.7.2020 sexta-feira

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A perfeita harmonia

C

ANSADOS desta adrenalina viral que tanto desfalece como se põe a gritar bem alto aos nossos ouvidos, quase nos esquecemos que Maio é uma zona de entendimento farto e fértil, levantámos a cabeça e lá estava ele, o tempo das açucenas, dos frutos e das flores, das coitas de amor, das bailias e do chão a cheirar a vida como um útero perfumado. Tudo aqui apetece! - Apetece a dança, apetece a vida, apetece ter-te, apetece ver-te, e apetece olhar a longa virtude da modificação que fez tudo tão bonito.- As cerejeiras em flor - as flores da cerejeira - antes do fruto cair como botão em nossas bocas tão ávidas, tão rubras, tão felizes por saberem da redondeza dos frutos nascidos. Mesmo na Lua-Nova, Maio fica de noite clara e cheiros brancos como linho lavado, fica uma zona de voluptuoso enlace que não esquecemos , e brindamos nele uma alegria sempre tão renovada! Contemplamos os livros antigos e lá estão as marcas de amores eternos como os «Poemas Celtas» que dá título a este artigo. Repleto de seiva da antiga tradição, nós estamos muitas vezes em contacto com Deus e agradecemos cada instante, saem então de nós as lianas da prisão imposta, dos sacrifícios, dos abandonos, e tudo fica preenchido ao ponto de se saber que todo o mal se esquece perante os momentos em que o belo se impõe. O mês emblemático do bravo povo não o é menos nos mais pacíficos, e a unanimidade que gera encaminha-nos para uma zona de epifania que nunca nos deve deixar indiferentes. Mergulhados numa embriaguez de sons, odores e cores, nós, os que envelhecemos, saboreamos ainda os Cânticos de Salomão, esse Maio, trajando uma noiva eterna chamada Jerusalém, mas é muito mais que esta mulher, ela é a jovem enamorada, a virgem que cria o espaço enaltecido para todos os ardores, e quando em êxtase nos aproximamos desta tempestade tudo em nós se cura e fica em suspensão . Uma ressurreição celular! Os celtas não são nem menos verdes, nem menos poéticos no seu louvor, e a recolha dos seus versos - celto medievais- dão conta dos mesmos ritos enaltecedores que povoam as suas graças até à saga do rei Artur « reverdecer e florir em obras amáveis»: estes povos do frio detestavam o Inverno, e dele pareciam sair com o condão de uma profecia sempre mais verde, e na voz de um poema oral que é de um refinamento que contrasta com as suas armaduras «....depois te levantas da calma das ondas, como jovem príncipe coroado de rosas» pouco alongavam a vista no oceano, Maio é bem mais um instante da terra, não precisa de distân-

cia, o paraíso está ao redor de cada um num espaço nunca expansionista, mas abundantemente vivo, em nichos, recantos, coisas que a mão pode percorrer. E é este lado da manifestação simples e boa que nele nos encanta, pois que nem sempre o que é bom, louvado e gratificante, fica na linha do horizonte das coisas a contar, elas, nascem por vezes sob os nossos pés que hoje perderam um pouco da rota dos outroras campos em flor. A Europa é ainda o vaso das Primaveras, do mito de Maio que inunda toda a bacia do Mediterrânio, o Touro que a rapta está normalmente coroado de flores, não é um Boi agreste, mas um farto ídolo carnal que seduz mulheres e deusas, é um sopro de volúpia ambiental que as transporta nuas em seu dorso e não o raptor indómito que puxa as vítimas pelos cabelos, parecem serenas e protegidas pelas fartas carnes e pelo aroma que lhes vem das hastes deixando claro que o sossego da vítima pode

ser um prazer acrescido onde entra ainda a confiança: «melodiosa mais do que harpa, áurea mais do que ouro...» Safo. Os mesmos ramos de giesta estão presentes, e a romana deusa Flora já era enaltecida mais acima entre os celtas, Maia era a flor amarela dos campos perfumados que unia um continente em litanias e festivos cortejos de amor. Ainda hoje existe na Europa uma festa com função falocrática conhecida como o Mastro de Maio, depois de erguido, a dança com fitas multicores e logo os rapazes cobriam de flores as janelas das amadas que desejavam cortejar. Maio nunca nos fala da bênção do amor maduro, é uma festa de jovens enamorados, as Maias que em território português eram jovens raparigas vestidas de branco enfeitadas com grinaldas de flores amarelas, as raparigas que faziam o Maio- Moço e o levavam pelas ruas a cantar... este amor tão novo como tudo em volta é que faz o seu deleite. É o tempo do corpo em flor, fecundo e

forte que aqui festejamos, aquela época em que tudo faz sentido, é natural, penetra e cria: nada de estéril se encontra em seu redor e o cortejo da natureza abençoa os amantes. Parece eterno, mas quando o encontramos na roda do tempo, vemos que passou, dele nos vestimos então mais um pouco em louvor à vida, àquela que nos parecia tão forte, tão robusta, tão intensa e única, e com Maio fazemos então as pazes com esse corpo já cansado pelas rotinas, e enquanto ele dura pensamos como foi maravilhoso ter sido algures neste exacto tempo, tão amado. Um jovem garboso de muitos encantos/ Senhor generoso e amigo leal é o mês de Maio a erva do vale luzindo.... as noites são leves e os dias não pesam e é esplendoroso o voo do falcão e o melro negro do mês de Maio. Poema galês ( século XIV) Para o país das cerejeiras em flor!


(f)utilidades 17

sexta-feira 17.7.2020

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BEYOND THE DREAM [C] Um filme de: Chow Kwun-wai Com: Terrance Lau, Cecilia Choi 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2

Um filme de: Todd Robinson Com: Sebastian Stan, William Hurt, Christopher Plummer 14.30,21.30

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS

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SALA 3

SUMIKKOGURASHI:GOOD TO BE IN THE CORNER [A] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADA EM CHINÊS Um filme de: Mankyu 14.30, 16.00, 17.30, 19.45

LIGHT F MY LIFE [C]

Um filme de: Casey Affleek Com: Anna Pniowsky, Casey Afflek, Tom Bower, Elisabeth Moss 21.30

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colónia portuguesa a permitir então a reabertura de cerca de 250 hotéis, após mais de três meses de confinamento. O ministro-chefe daquele estado, Pramod Sawant, anunciou uma quarentena de três dias, desde ontem, e recolher obrigatório durante a noite, por causa do aumento de infecções.

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Um filme de: Setsuro Wakamatsu Com: Koichi Sato, Ken Watanabe 16.45, 19.00

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THE LAST FULL MEASURE [C]

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O estado de Goa decretou novo confinamento, numa altura em que o país se aproxima de um milhão de casos de covid-19 desde o início da pandemia, foi ontem anunciado. Goa, um dos estados indianos menos afectados, tinha decidido abrir ao turismo há apenas duas semanas, em 2 de Julho, com o Governo da antiga

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UM FILME HOJE

6 5 4 6 2 7 2 1 Por vezes7diz-se1muito2 com4pouco3e valha-nos a arte. “Vulgaria” é, à primeira vista, 4 um filme 4 6 ligeiro 3 de5comédia 2 feito em Hong Kong que chegou aos ecrãs em3 2012.Além da 5 7 entre 1brilhante 6 equi4 3 funcional paração um produtor de cinema e pelos púbicos, a comédia 1 2 5 7 3 1 protagonizada por Chapman To tece, com ligeireza, distinções culturais en3 6 2e chineses 4 do1Interior 5 tre hongkongers e traça um retrato rocambolesco do 72 3 5 7de Hong 6 mercado 5 1cinematográfico Kong e das relações familiares num 5 4 mercado de trabalho implacável. Entre

bestialismo, 46 truques para sexo oral e a produção de um filme pornográfico, “Vulgaria” diz mais sobre Hong Kong do que muitas teses de doutoramento, ou artigos de opinião. João Luz

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VULGARIA | PANG HO-CHEUNG

3 4 7 5 4 5 7 1 3 2 6 1 5 2 6 2 3 1 4 5 6 7 7 1 LIGHT 4 OF MY2LIFE 5 7 6 2 1 4 3 6 3 1 7 7 2 3 6 4 5 1 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes 5 2 6 3 3 4 5 7 6 1 2 Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José 2 Paulo7Maia3 6 Cabral; 1 Rui4 7 Fonseca; 5 Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; Miranda; e Carmo;4 Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cascais; 3 Rui Filipe2 Torres; Sérgio João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare 4 6 5 1 1 6 2 5 7 3 4 Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo 48


18 opinião

17.7.2020 sexta-feira

um grito no deserto

filósofo da antiga China, Lao Tzu, disse, “A felicidade e a desgraça andam de mãos dadas. A felicidade traz muitas vezes consigo o infortúnio e o infortúnio está sempre escondido na felicidade”. Todas as coisas deste mundo têm aspectos positivos e aspectos negativos, à semelhança dos polos positivo e negativo das forças electromagnéticas. Os acontecimentos encaminham-se na direcção positiva quando chegam ao extremo da negatividade. A positividade e a negatividade são duas faces da mesma moeda, não forças opostas como Hegel nos demonstrou através da sua dialéctica. Toda a gente sabe discorrer sobre a razão, mas apenas muito poucos agem de forma razoável. O egoísmo daqueles que detêm o poder mergulha o mundo na confusão e na inquietação. As obras de Orwell, “O Triunfo dos Porcos” e “1984” ultrapassaram largamente a ficção, foram antevisões do mundo em que vivemos. Só aqueles que fizeram uma leitura aprofundada destas obras podem entender a verdade subentendida nas entrelinhas e por isso evitarão cometer os erros descritos nestes textos “ficcionais”. A pandemia de COVID-19 tem vindo a assolar o mundo nos últimos seis meses. Enquanto escrevo este artigo, há registo de mais de 13 milhões de infectados a nível global e o número de mortos anda perto dos 600.000, e isto para não falar do enorme abalo económico que já se faz sentir por toda a parte. Este vírus não apareceu do nada. Se surgiu na natureza ou se foi criado em laboratório, é um enigma que só pode ser desvendado pelos cientistas através de estudos aprofundados sobre o seu processo de mutação. Mas esta pandemia trouxe consigo grandes mudanças a nível planetário, para além de todo o sofrimento que já causou. O Partido Comunista da China foi fundado em 1921, apenas dois anos depois do Movimento do 4 de Maio (1919), o mesmo ano em que Sun Yat-sen estabeleceu o Governo Nacional em Guangzhou (Cantão). No plano internacional, 1918 foi o ano do fim da I Guerra Mundial e da fundação da Liga das Nações, impulsionada pelo então Presidente americano Woodrow Wilson. Quer estivessemos na China ou na Europa há cem anos atrás, a vida seria certamente mais difícil do que é agora. No entanto, a vitalidade e as crises florescem em tempos difíceis, o que comprova a filosofia de Lao Tzu. Volvidos 75 anos do final da II Guerra Mundial, e 40 e tal anos após a China ter

GILBERT GARCIN: EXISTENCE IS ELSEWHERE

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Cem anos de mudanças

PAUL CHAN WAI CHI

implementado a política de reformas e de abertura, parece que a Humanidade deixou de celebrar os tempos de paz. O barril de pólvora, constituído pela situação geopolítica de Médio Oriente persiste e o Museu Hagia em Istambul vai voltar a ser uma mesquita. O ping-pong diplomático entre a China e os Estados Unidos vai tornar-se uma guerra comercial. Hong Kong, desde há muito distinguida com o título de “Pérola do Oriente”, está

2020 é o ano decisivo para que Macau procure pelas suas mãos próprias a mudança, ou então para que fique à espera de ser mudado

actualmente desfeita em pedaços tão afiados que fácilmente cortará as mãos dos que lhe estão próximos. E, mais, sob o domínio dos nacionalismos e dos populismos o mundo está a tornar-se um local muito perigoso. Deng Xiaoping disse que o progresso das reformas não podia ser revertido, porque voltar atrás nos conduziria a um beco sem saída. A COVID-19, as frequentes cheias, os diversos tremores de terra, as pragas de gafanhotos, a lei de segurança nacional em Hong Kong, o conflito Sino-Indiano, a contenda Sino-Americana….são testes constantes à sabedoria e perseverança da nação chinesa. O resultado positivo ou negativo que daqui pode advir dependerá apenas da responsabilidade colectiva do povo chinês. A 15 de Julho, os visitantes que cuzarem as fronteiras entre Macau e a Província de

Ex-deputado e antigo membro da Associação Novo Macau Democrático

Guangdong deixam de ser submetidos a quarentena obrigatória. Com esta decisão espera-se trazer alguma dinâmica à economia das duas regiões, num cenário em que ainda existe receio de propagação da COVID-19. Nos 20 anos que decorreram após o regresso de Macau à soberania chinesa, a cidade tem vivido quase exclusivamente da indústria do jogo, e nunca reflectiu sobre as consequências de depender economicamente de um único sector. Nestes últimos seis meses em que se tem feito sentir o impacto da pandemia, o Governo da RAE e a população devem ter compreendido a realidade actual de Macau. Posto isto, 2020 é o ano decisivo para que Macau procure pelas suas mãos próprias a mudança, ou então para que fique à espera de ser mudado.


opinião 19

sexta-feira 17.7.2020

a outra face

CARLOS MORAIS JOSÉ

P

ASSARA por Palmyra mas de Palmyra não saíra. Um esgaço de gente, eu, somente, a espaçar entre os doentes. Palmyra nunca ficava para trás e nós — que bem para a frente andávamos! Talvez às voltas, em círculos vários, complexas ovais, mas ali estava de novo Palmyra, sob as nossas sombras esticadas; e a noite que se aproximava; e o suão se levantava. E em Palmyra dormiria. Ali atendia o dia. A noite pertencia à lei. Todas as noites as passei em Palmyra. Vagueei sob arcos e arcadas, grandes portas e escadas, visitei ruelas, lojas, tabernas. Conheci os donos das esquinas, os senhores dos bairros. Era, amiúde, convidado para jantar. Conheci mulheres e elas conheceram-me, embora a nenhuma me vinculasse por me saber mera passagem. Todos os dias saía de Palmyra e me metia ao caminho. Talvez de um forte, talvez do mar, de um porto. Sonhava barcos no dorso do meu camelo. E comandava embalado toda uma tripulação. Pensava na cidade onde pretendia atracar. Teria ela mar ou um mero rio? Depois sentia um solavanco maior, um bramido e despertava do meu devaneio. A besta acabava de se ajoelhar, já noite crua, às portas da cidade de Palmyra, não muito longe da Fonte Eterna, de onde tantas vezes olháramos o contraluz do castelo e, num gelo súbito, tremêramos. Estava em Palmyra e outra noite se estendia à minha frente. Um velho recolhia cacos. Interpelei-o: “Velho Mestre, apresenta-me à rainha. Ouvi que ela ordena sobre Persas e Romanos e ainda outros povos cujo nome é terrível e não se deve pronunciar”. O velho aquiesceu. Nessa noite, adormeci sossegado na taberna. Mas outro dia espairecia e ao caminho eu me fazia. E para Leste me dirigi, para Leste indiquei o meu olhar. Desta vez fi-lo sozinho, oscilante no dorso de meu dedicado animal. E, em devaneios, sob o sol ainda tépido da manhã, o velho do nada me aparecia e me dizia ter a rainha anuído a meu tão ousado intento. E o coração pulsava desmedido sob a pele, pois já longe me julgava. Forte bramido: meu camelo que ajoelha e eu acordo em terra de Palmyra, lá no seu largo outonal. Ali aterro em solo quente, ainda oscilante da viagem, mas quente fornalha, a escaldar, quase miragem, não fossem reais as armas que estendidas me esperavam. E, por detrás de estandartes, de homens de várias artes, soldados e generais, ministros e sicofantes; sem manobra de intenção, surge impávida a rainha. “Dizem-me que queres sair de Palmyra e não o consegues. Todos os dias, porém, o

Sob o céu de Palmyra

tentas. Levas a tua magra tenda e ala pelo deserto, que preferes a esta cidade. O que pretendes de mim?” “Que intercedas junto aos deuses que me tramam. Morfeu e a sua dama. Os deuses dos caminhos desta terra, os do deserto, os da falta de água.” “Vai-te, homem. Sai da minha cidade. Ninguém quer ouvir o teu resmungo, a acidez da tua língua estrangeira, a rigidez desse discurso, as várias cores dos teus costumes.” E gargalhava. E assim, sob tochas, me levaram à rua e da rua ao largo e do largo às muralhas onde o meu camelo me esperava. O dia já despontava.

A bondade divina permitiu a miríade dos seres e das manias. Por isso, também para a tua doença haverá um lugar sob a roda do céu.

E montado por mim dei. Tinha finalmente a esperança, sagrada por ordem real, de me afastar de Palmyra. E tão crente, tão seguro, estava de por fim poder partir que — mal ordenei ao bicho: “Oriente!” — dei por mim logo a dormir. Sonhava com a cidade que eu tanto desejava e via Palmyra ao fundo, chorosa e definhada. Lá para trás, ficava. Palmyra, a santificada, a da fonte sempiterna, a sempre núbil do deserto. E por toda a noite errei. Devo ter dado voltas e revoltas, ter voado da gangrena ao desespero, editado ânsias de corvos e prateleiras de ícones abandonados. Era o mundo um cemitério. Vasto, orgíaco de morte. Acordei num bramido de joelhos. Era ainda em Palmyra onde, do pesadelo, o nobre animal me acoitava. Havia uma porta entreaberta e um guarda, que generoso acolhia: “Entra, palerma. Todas os dias...: para onde tanto vais?...” “Tenho um encontro prometido em Samarra. Mas em Palmyra sempre me vejo e dela não consigo sair. Quando me afasto

de Palmyra, logo adormeço e sonho, desemboco em devaneios e sempre por mim dou de volta, a esta mesma cidade. Tentei o chá, o café, as raízes interditas. Mas sempre os devaneios me tomam. Diz-me — tu que vês os homens e as mulheres a passar —, o que posso eu fazer?” “Continua a tentar, rapaz. Todos dias. Mantém pronta a tua tenda. Alguma vez o camelo te levará para Oriente e te depositará ainda estremunhado no mercado de Samarra, onde cumprirás o teu encontro. Ninguém te poderá acusar de chegares atrasado ou de não teres firmemente tentado. “Entretanto, devaneia no dorso do teu animal e pelo teu pé nas travessas desta cidade. O que poderás fazer é devanear: de dia pelo deserto e de noite pelas tabernas de Palmyra.” O guarda, que era um crente, acrescentou ainda: “A bondade divina permitiu a miríade dos seres e das manias. Por isso, também para a tua doença haverá um lugar sob a roda do céu.”


O homem não é mais do que a série dos seus actos. Georg Hegel

COVID-19 VACINA DA UNIVERSIDADE DE OXFORD COM “RESULTADOS PROMISSORES”

GUANGDONG MEDIDAS PROVISÓRIAS PARA VEÍCULOS EM ALTERAÇÃO

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S autoridades de Guangdong divulgaram que estão a alterar as medidas provisórias para os casos de matrícula única de Macau, e que pediram a aprovação e a impressão de documentos ao Governo da Província de acordo com o procedimento, noticiou o jornal Ou Mun. A medida é apresentada como uma resposta dos Serviços de Segurança Pública da Província de Guangdong à proposta apresentada por Zhu Haisheng, membro do Comité Permanente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) de Cantão, sobre estes veículos entrarem em Zhuhai. Além disso, Zhuhai está a consultar os serviços relevantes de Macau para relaxar as restrições aos carros de matrícula única de Macau. Desde 1 de Novembro do ano passado que as instituições de segurança pública emitem licença electrónica de matrícula de entrada provisória para os carros de Macau, em vez de ser emitida em papel. A licença tem validade de um ano, podendo os veículos entrar e sair da Ilha da Montanha várias vezes durante o período válido, sem necessidade de novo pedido.

Turquia Jornalista alemão condenado à revelia

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Um tribunal de Istambul condenou ontem a dois anos e nove meses de prisão por “propaganda terrorista” o jornalista turco-alemão Deniz Yücel, do diário germânico Die Welt, e que em 2017 esteve detido preventivamente um ano na Turquia. O tribunal considerou que Yücel, actualmente na Alemanha, cometeu um delito de “propaganda a favor da organização terrorista armada PKK [Partido dos Trabalhadores do Curdistão, a guerrilha curda ativa na Turquia]”, pelo qual cumpriu com um ano e meio de prisão, uma pena agora agravada para dois anos e nove meses por ter cometido esse delito “na imprensa e de forma reiterada”. A detenção de Deniz Yücel em 2017 motivo um conflito diplomático entre Berlim e Ancara.

sexta-feira 17.7.2020

PALAVRA DO DIA

Frédéric Auchère Instituto de Astrofísica Espacial de França “Estas fogueiras são totalmente insignificantes, mas, ao somar os seus efeitos em todo o Sol, podem ser a contribuição dominante para o aquecimento da coroa solar.”

Fogueiras inéditas Satélite solar europeu mostra imagens de explosões nunca vistas

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S primeiras imagens do Sol transmitidas pelo satélite europeu Solar Orbiter permitiram ver explosões à superfície da estrela que nunca tinham sido observadas com tal pormenor, afirmou ontem a Agência Espacial Europeia (ESA). O que os cientistas chamam de “fogueiras” são “parentes pequenos das explosões solares que podemos observar a partir da Terra, milhões ou milhares de milhões de vezes menores”, afirmou o investigador David Berghmans, do Observatório Real da Bélgica.As imagens foram captadas quando a Solar Orbiter estava a 77 milhões de quilómetros do Sol, a meio caminho entre a Terra e a estrela. Segundo a ESA, os cientistas desconhecem para já se as “fogueiras” são como as explosões grandes, mas em ponto pequeno, ou se têm uma explicação diferente,

mas teorizam que podem estar a contribuir para “um dos fenómenos mais misteriosos do Sol”. “Estas fogueiras são totalmente insignificantes, mas, ao somar os seus efeitos em todo o Sol, podem ser a contribuição dominante para o aquecimento da coroa solar”, afirmou FrédéricAuchère, do Instituto de Astrofísica Espacial de França. A coroa solar é a camada mais externa do Sol, que se projecta milhões de quilómetros para o espaço a uma temperatura de um milhão de graus centígrados, enquanto à superfície da estrela a temperatura ronda os 5.500 graus. Os cientistas não sabem exactamente o que faz com que a coroa aqueça tanto.

A CAMINHO

A Solar Orbiter, que foi lançada a 10 de Fevereiro, tem seis telescópios apontados ao sol e quatro instrumentos que fazem

medições em torno da nave de fenómenos como o vento solar. Quando acontecem explosões solares, são libertadas partículas de energia que fazem aumentar o vento solar projectado do sol para o espaço em volta de si, e que podem provocar tempestades magnéticas que afectam telecomunicações e redes de energia na Terra. Os instrumentos permitem também medir o campo magnético na parte de trás do Sol, o que acontece pela primeira vez na história, porque a Solar Orbiter está num ângulo diferente do que a Terra. Nos próximos dois anos, a Solar Orbiter aproximar-se-á até ficar a 42 milhões de quilómetros do Sol, quase um quarto da distância do Sol até à Terra. O satélite foi construído no Reino Unido e o projecto tem 19 países europeus coligados, incluindo Portugal, bem como a agência espacial norte-americana.

S testes clínicos em humanos da potencial vacina contra a covid-19 que a Universidade de Oxford criou tiveram “resultados prometedores” e desencadearam a resposta imunitária que se pretendia, afirma ontem a imprensa do Reino Unido. Os testes em humanos, que desde Abril envolveram cerca de mil voluntários sãos, permitiram aos cientistas concluir que o projecto de vacina gera anticorpos e células do sistema imunitário que podem enfrentar o novo coronavírus. No entanto, ainda falta demonstrar que essa resposta imunitária combinada basta para evitar a infecção, salientam os investigadores, que mesmo assim consideram que o efeito conseguido é muito positivo. O presidente da comissão de Ética de Investigação de Berkshire, que aprovou os testes em Oxford e continua a acompanhar o trabalho dos investigadores, afirmou que a equipa está “absolutamente determinada” a conseguir uma vacina viável. “Ninguém pode falar de prazos. As coisas podem correr mal, mas a realidade é que, em conjunto com uma grande empresa farmacêutica [a AstraZeneca], essa vacina poderia estar disponível em Setembro e é para esse objectivo que se está a trabalhar”, assinalou. O ministro britânico da Saúde, Matt Hancock, indicou que os investigadores, entre os quais está uma equipa do Imperial College London, estão a tentar conseguir o “melhor cenário” possível para pôr em circulação uma vacina ainda este ano, mas admitiu que o mais provável é que a vacina só chegue em 2021. “Também estamos a trabalhar em outras potenciais vacinas em todo o mundo, incluindo nos Estados Unidos da América, Alemanha e Holanda”, acrescentou Hancock.


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