Hoje Macau 18 NOV 2016 #3699

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SEXTA-FEIRA 18 DE NOVEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3699

MOP$10 AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

hojemacau

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

METRO LIGEIRO

Caminho marítimo PÁGINA 5

DOCUMENTÁRIO

“Chá Gordo de Memórias” www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

ENTREVISTA

HONG KONG

PRESSÃO AMERICANA GRANDE PLANO

LAG 2017

JUSTIÇA | MANUELA ANTÓNIO DENUNCIA FALTA DE TRANSPARÊNCIA

BARRA PESADA Eram “excelentes” agora são “distantes”. Assim são caracterizadas as relações entre advogados e magistrados. Manuela António acusa os tribunais de criarem muros. EVENTOS PÁGINA 7

ESTUDO NA MESMA PÁGINA 4


2 GRANDE PLANO

EUA SENADORES REPUBLICANOS QUEREM LEI QUE PUNA A CHINA

UNCLE SAM NAO ES ˜

Primeiro foi uma comissão do Congresso, depois dois senadores. Os dias conturbados que se vivem na antiga colónia britânica são motivo de preocupação em Washington. Pequim só já pensa em Trump

O

S senadores norte-americanos Marco Rubio e Tom Cotton apresentaram esta semana uma proposta de legislação que visa punir quem tente restringir a democracia em Hong Kong. A Lei da Democracia e dos Direitos Humanos de Hong Kong irá “renovar o compromisso histórico dos Estados Unidos com a liberdade e a democracia em Hong Kong, numa altura em que a sua autonomia tem vindo a ser colocada cada vez mais em causa”, defendeu Cotton, num comunicado reproduzido pelas agências internacionais de notícias. Com esta proposta, pretende-se definir “medidas punitivas contra as autoridades de Hong Kong ou da China Continental responsáveis por atentarem contra a liberdade” na antiga colónia britânica, “especialmente no caso dos sequestros de certos editores e livreiros”. A legislação – que tem ainda de ser aprovada – irá, entre outros aspectos, servir para pedir ao Presidente norte-americano que identifique aqueles que foram responsáveis pela “vigilância, sequestro, detenção e confissões forçadas” de editores e jornalistas de Hong Kong. O objectivo é congelar bens que possam ter nos Estados Unidos e impedir que entrem no país. Tom Cotton considera que os Estados Unidos devem liderar o mundo no que diz respeito às exigências em relação à China: Pequim tem

de cumprir o acordo supranacional sobre a autonomia de Hong Kong que firmou com o Reino Unido. “A lei irá dar poderes ao Presidente para que Pequim seja responsabilizado, e enviar uma mensagem forte às autoridades chinesas que tentam acabar com a liberdade em Hong Kong e violam os compromissos sem que haja quaisquer consequências”, sublinhou o republicano. Para o senador, as grandes vantagens da antiga colónia britânica estão a ser desperdiçadas pelo Governo Central: “A identidade única, a tradição de liberdade, o Estado de Direito e a economia de mercado podem ser um modelo para a China, para que seja um actor mais importante no mercado internacional”. Marco Rubio encontrou-se esta semana com o activista pró-democrata Joshua Wong (ver texto nestas páginas), nos Estados Unidos, e teceu elogios ao papel que o jovem de 20 anos tem desempenhado “na luta pela democracia”. “Joshua Wong é um jovem impressionante que, juntamente com os seus colegas activistas, representa o futuro de Hong Kong – um futuro que não pode seguir o caminho do autoritarismo falhado e do partido único de Pequim”, atirou o senador republicano. Rubio acrescentou que, nos últimos tempos, o Governo Central chinês tem colocado em causa o princípio “um país, dois


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QUECE HONG KONG sistemas” e violado a liberdade dos residentes da região administrativa especial, um direito que devia estar garantido. “Isto foi revelado no último ano através do sequestro dos editores de Hong Kong e com o que aconteceu com o juramento na sequência das eleições legislativas de Setembro”, apontou. “E culminou na semana passada, com a intervenção sem precedentes de Pequim no sistema legal de Hong Kong, que impede dois deputados democraticamente eleitos de ocuparem os seus assentos.”

MAU PARA A ECONOMIA

A iniciativa legislativa dos dois senadores republicanos acontece na semana em que um painel do Congresso norte-americano apresentou um relatório sobre um

No documento defende-se uma investigação do Departamento de Estado sobre a autonomia e a liberdade em Hong Kong, sugerindo-se ainda um acompanhamento por parte do Congresso

“alarmante aumento” da ingerência da China em Hong Kong – o documento levanta mesmo questões sobre a continuidade do território enquanto plataforma financeira em termos mundiais. A comissão do Congresso responsável pela elaboração do relatório reflecte, sobretudo, o sequestro e detenção dos cinco livreiros que trabalhavam na antiga colónia britânica, dando ainda destaque ao que entende serem as pressões nos media e na liberdade académica. No documento de 33 páginas defende-se uma investigação do Departamento de Estado sobre a autonomia e a liberdade em Hong Kong, sugerindo-se ainda um acompanhamento da situação por parte do Congresso. “O posicionamento tradicional de Hong Kong enquanto centro financeiro tem implicações económicas importantes para os Estados Unidos, uma vez que as relações comerciais e os

investimentos entre ambas as partes são substanciais”, salientam os autores do relatório. No que diz respeito aos livreiros, a comissão escreve que “o incidente ameaçou a manutenção do princípio ‘um país, dois sistemas’”, acrescentando que as eleições de Setembro passado para o Conselho Legislativo aconteceram num clima de receio em relação a uma “alarmante interferência do continente em Hong Kong”. O documento foi apresentado numa altura sensível das relações entre Pequim e a antiga colónia britânica. Esta semana, o Supremo Tribunal da região deu razão à reivindicação do Governo de C.Y. Leung sobre os dois deputados eleitos pró-independentistas que não cumpriram os requisitos do juramento – não vão poder tomar posse. A decisão do tribunal de Hong Kong vai ao encontro da interpretação da Lei Básica que já tinha sido feita pelo Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional.

“A lei irá dar poderes ao Presidente para que Pequim seja responsabilizado, e enviar uma mensagem forte às autoridades chinesas que tentam acabar com a liberdade em Hong Kong.” TOM COTTON SENADOR

Hong Kong já reagiu ao relatório – as autoridades da região pedem que os países estrangeiros se abstenham de interferências nos assuntos internos do território.

MAIS AMIGOS

Entretanto, nos Estados Unidos, o embaixador chinês no país defendeu que Pequim e Washington devem evitar suspeitar das intenções estratégicas um do outro, numa mensagem que é já dirigida à presidência de Donald Trump. O republicano vencedor das eleições do passado dia 8 não foi meigo em relação à China durante a campanha eleitoral – os analistas entendem que será bem provável que mude de atitude quando chegar à Casa Branca. Para já, fica a declaração do diplomata Cui Tiankai: é importante construir o consenso e identificar prioridades comuns. “Temos de fazer esforços maiores para promover o entendimento mútuo e temos de ser cuidadosos para evitar suspeitas acerca das intenções de cada país”, vincou. “É inevitável que surjam problemas e desafios nos próximos quatro anos, mas acredito que, em termos gerais, no geral, a relação vai avançar de forma estável pelo caminho certo”, acrescentou o embaixador. Donald Trump e o Presidente Xi Jinping falaram no início desta semana ao telefone. O líder chinês defendeu que a cooperação é a única hipótese para as duas maiores economias do mundo, com Trump a comentar que ficou criado um “mútuo respeito claro”. Como terá acontecido um pouco por todo o mundo, a eleição do republicano gerou incertezas em Pequim, onde também se preparam mudanças ao nível da liderança política. Para já, e enquanto Trump não assume o cargo para se ver qual será a estratégia em relação ao país, os Estados Unidos vão mostrando a Pequim que há um lado da China que estão dispostos a contestar. H.M. (com agências) info@hojemacau.com.mo

O RECADO DE JOSHUA A TRUMP

O

jovem activista pró-democracia de Hong Kong Joshua Wong instou o Presidente eleito norte-americano a apoiar os direitos humanos na antiga colónia britânica, com o argumento de que estão sob ameaça de Pequim. “Sendo um empresário, espero que Donald Trump possa conhecer a dinâmica em Hong Kong e saiba que, para manter os benefícios do sector empresarial em Hong Kong, é necessário apoiar plenamente os direitos humanos para manter a independência judicial e o Estado de direito”, afirmou. Wong falava num evento em Washington, no Capitol Hill, organizado pelo painel do Congresso norte-americano que monitoriza os Direitos Humanos na China. Em 2014, Joshua Wong, na altura com 17 anos, foi o rosto dos protestos em prol do sufrágio universal em Hong Kong, que culminaram na ocupação durante 79 dias de algumas zonas da cidade. Já este ano, foi co-fundador do partido Demosisto, que defende um referendo sobre a “autodeterminação” e o futuro estatuto da região. O jovem activista disse ainda que a comunidade internacional tem a responsabilidade moral de “manter os olhos em Hong Kong”, alegando que o Governo Central está a atacar as liberdades consagradas no acordo que sustentou a transferência de administração. Joshua Wong afirmou também que os sete milhões de habitantes de Hong Kong merecem a democracia.


4 POLÍTICA

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GCS

AL AUMENTO DO SUBSÍDIO DE RESIDÊNCIA VOTADO NA SEGUNDA-FEIRA

É

já na próxima segunda-feira que os deputados à Assembleia Legislativa (AL) vão votar na generalidade a proposta de lei referente ao aumento do subsídio de residência para funcionários públicos, uma medida que foi revelada na passada terça-feira, no dia em que o Chefe do Executivo apresentou o relatório das Linhas

de Acção Governativa (LAG) para 2017. Actualmente o subsídio de residência é de 2472 patacas, sendo que a proposta de lei prevê um aumento de 33 por cento, o que significa que os trabalhadores da Administração poderão vir a receber um total de 3240 patacas de subsídio.

O debate de segunda-feira vai ainda servir para votar na generalidade a proposta de lei do Orçamento para o próximo ano, que prevê uma diminuição de 0,29 por cento, ou seja, menos 300 milhões de patacas. Está ainda agendada a votação sobre o projecto de lei do deputado José Pereira Coutinho, sobre a protecção de Coloane. Tal como

o HM noticiou, o debate tinha sido marcado para um dia em que o deputado não se encontrava no território, pelo que é agora de novo agendado. Na altura, Pereira Coutinho disse sentir-se “discriminado”, uma vez que tinha avisado previamente, por escrito, o presidente Ho Iat Seng quanto à sua ausência.

LAG 2017 GOVERNO TEM 36 ESTUDOS EM CURSO, DSPA LIDERA LISTA

As análises que nunca te disse O relatório das Linhas de Acção Governativa para 2017 revelou, pela primeira vez, o número de estudos que estão a ser efectuados pela Administração. São 36 no total, sendo que alguns arrancaram há alguns anos. Os Serviços de Protecção Ambiental lideram, com oito projectos por concluir

A

população ficou finalmente a saber quantos estudos está o Governo a efectuar no total. O relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano contém uma novidade em relação ao documento de 2016: especifica quantos estudos estão a ser efectuados por todos os departamentos públicos. No total são 36 os estudos que faltam concluir, não tendo sido revelados os valores gastos com estas análises, muitas delas realizadas por empresas de consultadoria. Em primeiro lugar surge a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) com um total de oito estudos por finalizar, sendo que muitos deles dizem respeito

a políticas a adoptar até 2020. A DSPA está a estudar a revisão intercalar do planeamento da protecção ambiental de Macau desde 2010, bem como a estudar a realização de um inquérito sobre a qualidade dos serviços de limpeza urbana e transporte de resíduos. Está ainda a ser estudada a viabilidade da expansão da central de incineração dos resíduos sólidos ou a viabilidade da construção de uma estação de tratamento de águas residuais com gorduras e óleos alimentares. Além do estudo ao tratamento do ambiente da zona costeira da areia preta e dos resíduos alimentares, a DSPA está ainda a realizar um “estudo complementar das fontes de poluição sonora e respectivas políticas de controlo”.

CHUTAR PARA A FRENTE

Para o deputado José Pereira Coutinho, “criou-se uma cultura de estudos e pareceres externos, usando abusivamente o erário público, enquanto forma de atrasar a tomada de decisões ou de des-

responsabilizar governantes pela tomada de decisões”. Ao HM, o deputado defendeu que, “no geral, e olhando também para a DSPA, são demasiados os estudos realizados neste momento, tendo em conta que não estamos a ver que Macau tenha aproveitado o melhor possível desses estudos e que haja melhorias em termos de qualidade ambiental”. Coutinho defende mesmo a criação de um portal, no âmbito dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), que contenha todos os estudos em realização. “Muitas vezes há estudos concorrentes, estudos de diversas entidades para a mesma finalidade. Seria importante que o Governo publicitasse os estudos que foram encomendados e qual é o valor de cada um. Em termos de transparência governativa é importante que o Governo crie um portal para os estudos, no âmbito dos SAFP.”

GIT EM SEGUNDO LUGAR

O Gabinete de Infra-estruturas de Transportes (GIT), que deverá ser

extinto no próximo ano em prol da criação de uma empresa pública que venha a gerir o metro ligeiro, está em segundo lugar na lista de estudos por concluir, com um total de cinco. Todos eles dizem respeito ao metro ligeiro, estando a ser analisado o fluxo de passageiros, os benefícios socioeconómicos e a viabilidade da linha de Seac Pai Van, Hengqin e ligação leste entre Macau e Taipa. Na terceira posição surge o Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI), com quatro grandes estudos, que se debruçam sobre a quarta travessia entre Ma-

Não são revelados os valores gastos com estas análises, muitas delas realizadas por empresas de consultadoria

cau e Taipa e a sua viabilidade de construção, sem esquecer a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Com igual número de estudos está a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), que está a analisar a “qualidade do serviço de táxis”, a optimização dos cruzamentos com semáforos nos bairros da Areia Preta e Iao Hon e a criação de um sistema de controlo do tráfego centralizado. Organismos como o Instituto de Habitação (IH), que está a pensar sobre as “necessidades de habitação”, os Serviços de Correios ou o Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético estão no fim da tabela, com apenas um estudo por concluir. A Autoridade de Aviação Civil está a avaliar a “viabilidade de liberalização do transporte aéreo de Macau”, pedido há muito feito por vários sectores e deputados. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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F

OI uma hipótese deixada em aberto na última conferência de imprensa após a apresentação do relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2017. O Chefe do Executivo, Chui Sai On, admitiu que o segmento do metro ligeiro na península de Macau poderá fazer-se apenas pela orla costeira e não pelo centro da cidade. Dois arquitectos contactados pelo HM consideram que esta até pode ser a solução mais viável, resolvendo igualmente os problemas de tráfego. Dominic Choi, presidente da entidade Arquitectos sem Fronteiras, esteve ligado à concepção de algumas estações de metro no segmento da Taipa e considera que “há algumas questões técnicas a ter em conta quanto à construção do metro ligeiro no centro da cidade”. “Penso que não será possível termos o percurso do metro ligeiro no centro da cidade, a não ser que seja subterrâneo”, adiantou. “No centro não é tecnicamente possível construir o metro ligeiro e isso iria trazer um grande congestionamento. Se olharmos para a península, a parte mais fácil para construir seria junto à orla costeira, porque existe a passagem de transportes públicos e serão desenvolvidos novos aterros. Do ponto de vista do planeamento, penso que as pessoas poderiam, no centro da península, usar outros meios de transporte, como autocarros ou até bicicletas, por forma a reduzir o tráfego e o congestionamento”, defendeu. Dominic Choi considera que a construção junto à orla costeira vai servir residentes e turistas. “Para muitos moradores de certas áreas será difícil chegar ao metro ligeiro. Em Hong Kong, por exemplo, o sistema do metro já chega a muitas áreas da cidade mais remotas, e aí as pessoas têm de lá chegar através de carro ou autocarro. Não será possí-

Metro ligeiro TRAVESSIA NA ORLA COSTEIRA MAIS FÁCIL DE EXECUTAR

A beira rio plantado `

Chui Sai On admitiu a construção do metro ligeiro na península apenas junto à orla costeira. Ainda que não haja uma decisão oficial, dois arquitectos defendem que seria uma solução mais fácil de concretizar

POLÍTICA lução mista, que melhor sirva os interesses dos residentes em termos de mobilidade, do que apenas uma que sirva os turistas.” O arquitecto lamenta que se tenha demorado tanto tempo com um projecto desta natureza. “Já é mais do que altura de tomarem uma decisão. Vão evocar novamente os constrangimentos que existem por via das características específicas do tecido urbano de Macau, sobretudo as dificuldades relacionadas com a falta de dimensão das vias, densidade de construção, qualidade do solo e subsolo. O que pensávamos é que já tivessem sido feitos os estudos suficientes para encontrar as soluções ideais em termos de mobilidade”, concluiu.

“Nesta altura o Chefe do Executivo já sabe muito bem o que foi decidido, basta apenas escolher a melhor altura para o anunciar.” MIGUEL CAMPINA ARQUITECTO

vel ter um sistema de metro ligeiro que possa chegar a todas as pessoas. Se os turistas utilizarem o sistema do metro ligeiro isso já vai aliviar a pressão do centro da cidade. Ainda assim, há muita gente a residir junto à orla costeira, então um metro ligeiro junto

do rio não ficará assim tão afastado das pessoas.”

DECISÃO “ESTÁ TOMADA”

Para o arquitecto Miguel Campina a decisão final, que está prometida até Dezembro, há muito que está tomada. “Nesta altura o

Chefe do Executivo já sabe muito bem o que foi decidido, basta apenas escolher a melhor altura para o anunciar. É a chamada gestão do tempo em política. As questões técnicas já foram levantadas há muito tempo”, referiu ao HM.

Miguel Campina considera que a construção junto à orla costeira “será mais fácil de executar do ponto de vista técnico”. “É estranho que se passe a usar um meio de transporte de massas com duas características distintas, mas é preferível encontrar uma so-

Após a apresentação das LAG, Chui Sai On reuniu com os jornalistas e o metro ligeiro acabou por ser uma das grandes questões levantadas. “Não há um cancelamento total do metro em Macau. Em pormenor, depende das opiniões e dos estudos. Vamos finalizar a parte da Taipa e, depois, fazer a ligação a Seac Pai Van, à Ilha da Montanha. A partir daí vamos estudar: se é pela orla costeira, se é [seguindo] outras soluções”, disse o líder do Governo. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

ALEXIS TAM GOVERNO APOIA ASSOCIAÇÕES, MAS SEM GASTOS SUPÉRFLUOS

O

Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, disse ontem que o Governo vai continuar a apoiar financeiramente as associações de cariz social, mas sem despesismos. À margem da inauguração do centro de serviços sociais para doentes do foro psicológico, Alexis Tam falou da “intenção do

Governo de atribuir apoios e subsídios a associações, como forma de garantir a prestação de diferentes tipos de serviços e actividades junto da população”. Foi garantido que “o Governo apoia o desenvolvimento das associações e que irá continuar, através de apoios financeiros, a cooperar com as mesmas na organização de

mais serviços e actividades, sem esquecer a importância de alocar recursos de forma adequada, nomeadamente, na área da assistência médica, ensino e entre outros serviços sociais”. Citado num comunicado oficial, Alexis Tam falou da necessidade de criação de um “mecanismo de apoio ao desenvolvimento da

sociedade” nas áreas do ensino e assistência médica, sendo que estas “não podem sofrer quaisquer reduções de financiamento”. O Secretário garantiu que o Governo “possui ainda uma reserva financeira saudável, mas pretende gastar apenas o necessário sem cometer excessos inúteis”.


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HM • 2ª VEZ • 18-11-16

HM • 2ª VEZ • 18-11-16

ANÚNCIO Execução por custas/ multa/ FM1-12-0088-CDL-B indemnizações n.º ___________________

Juízo de Família e de Menores

Exequente: MINISTÉRIO PÚBLICO Executada: CHEONG UT MEI, titular do BIRM, ora au sente em parte incerta, com última residência conhecida em Macau, na Rua do General Galhardo, EDF. Sang Heng, 4.º Andar E. Faz-se saber que nos autos acima indicados são citados os credores desconhecidos para, no prazo de quinze dias, que começa a correr depois de finda a dilação de vinte dias, contada da data da segunda e última publicação do anúncio, reclamar o pagamento dos seus créditos pelo produto do bem penhorado abaixo referido sobre que tenham garantia real e que é o seguinte: BENS PENHORADOS Quantia de Comparticipação Pecuniária do ano 2015 e do ano 2016. Macau, aos 03 de Novembro de 2016. A Juiz de Direito

Execução Ordinária n.º

CV2-09-0130-CEO

2º Juízo Cível

EXEQUENTE: Hang Seng Bank Limited (恒生銀行有限公司), com sede em Hong Kong e sucursal em Macau, na Avenida Panorâmica do Lago Nam Van, nº 810, Edf. Fortuna Business Centre, 11º andar E-H, registo comercial nº 17558. EXECUTADA: Fábrica de Malhas Três Estrelas (Macau) Limitada (三星針織廠(澳門)有限公司), com sede em Macau, na Rua Dois do Bairro da Concórdia, nº 62, Edifício Industrial Vang Tai, 6º andar, “A6”, “B6”, “D6” e “E6” e “F6”, registo comercial nº 2516. Nos autos supra identificados, foi designado o dia 06 de Dezembro de 2016, pelas 09:30 horas, neste Tribunal, para a venda por meio de propostas em carta fechada, o bem penhorado abaixo identificado. Imóvel penhorado Denominação: Fracção autónoma “D12” do 12º andar “D”. Situação: Macau, na Avenida da Concórdia, nºs 159 a 199, no Patio da Concórdia, nºs 4 a 48, na Rua do Conselheiro Borja, nºs 156 a 176 e na Travessa Norte do Patane, nºs 25 a 31. Fim: Para indústria. Número de matriz: 070593. Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: 21915 a fls. 106v do Livro B106. Número de inscrição da propriedade horizontal: 26447 a fls. 52 do Livro F34. O valor da base da venda: MOP14.492.100,00 (Catorze Milhões, Quatrocentas e Noventa e Duas Mil, Cem Patacas). O preço da proposta deve ser superior ao valor da base da venda acima indicado. *** Os interessados na compra devem entregar a sua proposta em carta fechada, com indicação nos envelopes das propostas, a seguinte expressão “proposta em carta fechada”, “2º Juízo Cível” e o “Processo Número: CV2-09-0130-CEO”, na Secção Central deste Tribunal, até o dia 05 de Dezembro de 2016, até 17:45 horas, podendo os proponentes assistir ao acto da abertura das propostas. É fiel depositária o Sr. Chan Kai Ying, com domicílio profissional na Avenida Panorâmica do Lago Nam Van, nº 810, Edf. Fortuna Business Centre, 11º andar E-H, Macau, que está obrigado, durante o prazo do edital e anúncio, a mostrar o bem imóvel a quem pretenda examiná-lo, podendo fixar as horas em que, durante o dia, facultará a inspecção. Quaisquer titulares de direito de preferência na alienação dos imóveis supra referidos, podem, querendo, exercerem o seu direito no próprio acto da abertura das propostas, se alguma proposta for aceite, nos termos do artº 787 do C.P.C.M. Macau, em 11 de Novembro de 2016.

Assine-o TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo

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Justiça MANUELA ANTÓNIO FALA DE FALTA DE TRANSPARÊNCIA

Com pouca saúde GONÇALO LOBO PINHEIRO

A falta de transparência na justiça é o problema maior do sector. A advogada Manuela António salienta a necessidade de um melhor entendimento entre advogados e magistrados

A advogada não compreende a distância dos magistrados relativamente aos causídicos, “porque os advogados têm uma experiência e uma cultura de um bom e respeitoso relacionamento com os magistrados e não é salutar o que se está a passar”. “É necessário definir uma estratégia clara ao nível da justiça e da forma como a querem tratar em Macau”, remata.

“Hoje as portas dos tribunais, e sobretudo dos magistrados, estão completamente fechadas para os advogados.”

O

maior problema da justiça local é a forma de relacionamento entre os seus intervenientes, nomeadamente entre magistrados e advogados. A constatação foi feita por Manuela António, à margem de uma conferência sobre a protecção de dados pessoais, iniciativa que assinala a comemoração dos 30 anos do escritório da advogada. Para Manuela António, as relações no seio do sistema judicial passaram de “excelentes” a “distantes”, o que coloca questões no que respeita à transparência no sector. “Quando comecei a advogar em Macau, as relações entre magistrados e advogados eram excelentes, de um grande respeito e reconhecimento recíprocos. Hoje as portas dos tribunais, e sobretudo dos magistrados, estão completamente fechadas para os advogados”, lamenta.

MANUELA ANTÓNIO ADVOGADA Ainda assim, Manuela António considera que os problemas de relacionamento entre as partes são mais um obstáculo na história do sector em Macau e que, como tem acontecido, poderá ser eficazmente resolvido. A par da transparência, a advogada não deixa de mencionar outros problemas na área da justiça. “Há problemas de morosidade, de pouca independência, sobretudo relativamente à Administração”, explica, sem deixar de referir a escassez de recursos humanos que ameaça a prossecução da boa e rápida justiça. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

GPDP NÃO HÁ DATAS PARA COMISSARIADO

A

conferência de ontem, subordinada ao tema da protecção de dados pessoais, foi marcada pela ausência de agenda no que respeita a uma revisão do diploma actual e para a passagem do Gabinete de Protecção de Dados Pessoais (GPDP) a comissariado. Acerca da legislação, Vasco Fong, director do GPDP, reitera que “ao fim de mais de dez anos da entrada em vigor do diploma em causa, há alguns aspectos que se revelam insuficientes em relação à realidade com a qual temos de lidar”. “Se tiverem reunidas as condições, não se afasta a possibilidade de se avançar com um projecto de revisão da lei”, diz. No entanto, não há planos concretos e tudo

H

Á dez anos que a Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) do Instituto Politécnico de Leiria (IPL) aposta na aprendizagem do mandarim, tendo já formado cerca de 130 estudantes portugueses. A licenciatura em Tradução e Interpretação Português-Chinês/Chinês-Português foi lançada com uma turma de seis alunos e em parceria com o Instituto Politécnico de Macau

SOCIEDADE

HO CHIO MENG TEMPO PARA TUDO

depende de várias condições, em que se incluem os recursos humanos do gabinete e da agenda legislativa”. O mesmo acontece com a passagem do gabinete a comissariado, em que “depende da agenda do Governo”. “O diploma está basicamente concluído e tudo depende do Governo. Posso dizer que o diploma está concluído.” Relativamente aos desafios no que respeita à protecção de dados, Vasco Fong considera que “são grandes” e que, “com o aperfeiçoamento e introdução de equipamentos mais sofisticados, a vida está mais facilitada, mas os seres humanos passam também a estar controlados por estes equipamentos”.

M

anuela António acha surpreendente que “Ho Chio Meng tenha tido tempo, sem que ninguém à sua volta tenha dado conta, para cometer mais de 1500 crimes”. Relativamente ao facto de a defesa do ex-procurador ter visto ser recusada a confiança do processo, Manuela António considera que é mais um facto “lamentável”. “Não se compreende porque é que os tribunais podem ter o tempo que entendem para tomar as suas decisões, e que muitas vezes ultrapassa

Bilinguismo a sério

Cerca de 130 alunos aprenderam mandarim em parceria com IPM

(IPM), referiu o coordenador do departamento de Línguas e Literaturas da ESECS, Luís Barbeiro. Actualmente, o IPL conta tem como parceiros instituições de ensino superior de Macau, Pequim, Hainan, Jiangxi, e Sichuan. “Foi todo um mundo novo que se

abriu. Numa altura em que a actividade tradicional da escola, que era no domínio da educação, entrou em regressão, esta acabou por ser uma via em que se passou a apostar e tornou-se numa das marcas fortes da formação da ESECS, até porque a ida dos alunos para Macau e

Pequim é parte integrante do currículo”, explicou Luís Barbeiro. No ano lectivo 2016/17, a ESECS tem cerca de 130 alunos chineses a aprender português, provenientes das cinco universidades parceiras, bem como 102 estudantes portugueses a aprender chinês.

os prazos legais, e que a defesa tenha de cumprir os prazos e sem acesso ao exercício dos seus mais elementares direitos.” A situação, na perspectiva de Manuela António, reforça a desigualdade entre os agentes da justiça. “Todos têm prazos para praticar os seus actos. As partes, quando não os praticam dentro dos prazos, perdem o direito aos actos. Os magistrados não perdem o direito e praticam-no sem qualquer consequência”, explica.

A estrutura da licenciatura de quatro anos prevê que no 2.º e no 3.º anos os alunos portugueses tenham aulas em Pequim e Macau, enquanto os alunos estrangeiros vão para o Politécnico de Leiria. No 1.º e no 2.º anos, o currículo incide na aprendizagem da língua. Já nos dois últimos anos os alunos aprendem técnicas de tradução e interpretação. O último semestre é constituído pelo estágio, introduzido em 2012. “Qui-

semos proporcionar a ligação ao mercado de trabalho e às saídas profissionais”, acrescentou o docente. Esta licenciatura foi uma consequência natural das ligações que existiam entre o IPL e o IPM e que já permitia o intercâmbio de alguns estudantes de forma isolada. Apesar de inicialmente a procura ser pouca, “manteve-se o curso”. Hoje, as vagas disponíveis são sempre preenchidas.

HM/LUSA


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EDITAL

Edital n.º : 148/E-BC/2016 Processo n.º : 879/BC/2011/F Assunto :Demolição de obras não autorizadas pela infracção às disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) Local :Calçada Central de S. Lázaro n.º 15, Edf. Tim Cheung, parte do terraço sobrejacente à fracção 4.º andar A (CRP:A4), Macau. Cheong Ion Man, subdirector da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, no uso das competências delegadas pelo Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 38, II série, de 23 de Setembro de 2015, faz saber que ficam notificados Kuok Kin Fong e Kuok Kin Wa, do seguinte: 1. Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que no local acima indicado realizaram-se as seguintes obras não autorizadas: Obra 1.1 1.2

Infracção ao RSCI e motivo da demolição

Construção de um compartimento com cobertura em betão, janelas de vidro, pala metálica, paredes em alvenaria de tijolo e escada Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de evacuação. metálica. Construção de suporte metálico, cobertura plástica e gradeamento Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de evacuação. metálico sobrejacente ao compartimento referido no ponto 1.1.

2.

De acordo com o n.º 1 do artigo 95.º do RSCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/95/M, de 9 de Junho, foi realizada, no seguimento de notificação por edital publicado nos jornais em língua chinesa e em língua portuguesa de 11 de Dezembro de 2015, a audiência escrita dos interessados, mas não foram carreados para o procedimento elementos ou argumentos de facto e de direito que pudessem conduzir à alteração do sentido da decisão de ordenar a demolição das obras não autorizadas acima indicadas. 3. Sendo as escadas, corredores comuns e terraço do edifício considerados caminhos de evacuação, devem os mesmos conservar-se permanentemente desobstruídos e desimpedidos, de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 10.º do RSCI. Assim, nos termos do n.º 1 do artigo 88.º do RSCI e no uso das competências delegadas pela alínea 6) do n.º 1 do Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 38, II série, de 23 de Setembro de 2015, e por despacho de 08 de Novembro de 2016 exarado sobre a informação n.º 08333/DURDEP/2016, ordena aos donos da obra ou seu(s) mandatário(s) que procedam, por sua iniciativa, no prazo de 8 dias contados a partir da data da publicação do presente edital, à demolição das obras acima indicadas e à reposição dos locais afectados, bem como aos interessados e aos utentes que procedam à remoção de todos os materiais e equipamentos nele existentes e à desocupação dos locais acima referidos, devendo, para o efeito e com antecedência, apresentar nesta DSSOPT o pedido da demolição das obras ilegais, cujos trabalhos só podem ser realizados depois da sua aprovação. A conclusão dos referidos trabalhos deverá ser comunicada à DSSOPT para efeitos de vistoria. 4. Findo o prazo estipulado, não será aceite qualquer pedido de demolição das obras acima mencionadas. De acordo com o n.º 2 do artigo 139.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica-se ainda que nos termos dos n.os 1 e 2 do artigo 89.º do RSCI, findo o prazo referido, a DSSOPT, em conjunto com outros serviços públicos e com a colaboração do Corpo de Polícia de Segurança Pública, procederá à execução dos trabalhos acima referidos, sendo as despesas suportadas pelos infractores. Além disso, findo o prazo da demolição e da desocupação voluntárias, a DSSOPT dará início aos trabalhos de demolição e de desocupação, os quais, uma vez iniciados, não podem ser cancelados. Os materiais e equipamentos deixados no local acima indicado serão depositados num local a indicar à guarda de um depositário a nomear pela Administração. Findo o prazo de 15 (quinze) dias a contar da data do depósito e caso os bens não tenham sido levantados, consideram-se os mesmos abandonados e perdidos a favor do governo da RAEM, por força da aplicação do artigo 30.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M, de 15 de Fevereiro. 5. Nos termos do n.º 3 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 4 do artigo 10.º é sancionável com multa de $4 000,00 a $40 000,00 patacas. Além disso, de acordo com o n.º 4 do mesmo artigo, em caso de pejamento dos caminhos de evacuação, será solidariamente responsável a entidade que presta os serviços de administração e/ou de segurança do edifício. 6. Nos termos do n.º 1 do artigo 97.º do RSCI e do n.º 4 do Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 38, II série, de 23 de Setembro de 2015, da decisão referida no ponto 3 do presente edital cabe recurso hierárquico necessário para o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, a interpor no prazo de 8 (oito) dias contados a partir da data da publicação do presente edital. RAEM, 08 de Novembro de 2016 Pelo Director dos Serviços O Subdirector Cheong Ion Man

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 643/AI/2016 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora ZHOU GUIYING, portadora do passaporte da RPC n.° E24847XXX, que na sequência do Auto de Notícia n.° 16/DI-AI/2014 levantado pela DST a 27.01.2014, e por despacho da signatária de 12.07.2016, exarado no Relatório n.° 477/DI/2016, de 04.07.2016, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.° 1017, Edf. Nam Fong, Bloco 1, 10.° andar A, Macau.--------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-----------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo DecretoLei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.-----------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.-----------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 8 de Novembro de 2016.

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 645/AI/2016 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor ZHANG JIANMIN, portador do Passaporte da RPC n.° E22904xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.°151/DI-AI/2013 levantado pela DST a 28.12.2013, e por despacho da Directora dos Serviços de Turismo, Substituta, de 07.09.2016, exarado no Relatório n.° 597/DI/2016, de 01.09.2016, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Alameda Heong San n.° 173-G, Nam Seng, 10.° andar A.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-----------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo DecretoLei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.-----------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.-----------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 8 de Novembro de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes


9 hoje macau sexta-feira 18.11.2016

A produção de manuais de História uniformizados com os do interior da China é uma iniciativa prevista para o ano lectivo de 2019/2020 que suscita, desde já, reacções diferentes. Tereza Sena acha que é uma iniciativa “louvável”, desde que reserve espaço para as particularidades de Macau. Larry So considera que se trata de um acto político

A

uniformização da produção de materiais escolares para a disciplina de História com o interior da China, medida anunciada esta semana pelo Chefe do Executivo, é vista por académicos do território de forma diferente. Os novos livros deverão chegar às escolas no ano lectivo de 2019/2020, confirmou Chui Sai On no debate sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG). Se para a historiadora Tereza Sena é uma iniciativa positiva, para o sociólogo Larry So trata-se de uma manobra política. “Faz sentido que a história da China seja ensinada em Macau, mas tem de existir uma parte reservada à história local”, afirma Tereza Sena ao HM. Macau é uma região administrativa especial e tem um passado diferente do da China e, mesmo com a uniformização dos manuais, “faz sentido que também tenha direito à sua própria história”. Os livros vão ser concebidos pela Direcção dos Serviços da Educação e Juventude (DSEJ) em conjunto com os serviços homólogos do Continente. “Apesar da concepção de livros de História

História ACADÉMICOS RETICENTES QUANTO AOS NOVOS MANUAIS

Pau de dois bicos de Macau ser um projecto recorrente no território, é louvável a iniciativa anunciada por Chui Sai On. Este é um projecto de que já se falou várias vezes e que, não se sabe porquê, acabou por não se concretizar”, explica a historiadora. No que respeita às equipas que poderão colaborar na produção dos manuais, com o conhecimento referente ao território, a historiadora considera que “hoje em dia há excelentes investigadores – tanto chineses como portugueses e de outras nacionalidades – no que respeita à investigação acerca da História local, pelo que há uma abordagem científica rigorosa”, sendo que um trabalho conjunto se afigura a melhor solução. Apesar de elogiar a iniciativa, não foi sem dúvidas que Tereza Sena recebeu a notícia. “Há conteúdos para fazer um manual. Agora, resta saber se o manual de que Chui Sai On fala será uma visão partilhada ou uma história direccionada”, lança, considerando que “a história de

Macau já ultrapassa até mesmo as abordagens mais nacionalistas”.

UMA VISÃO PARTILHADA

A historiadora sublinha que o trabalho feito em língua chinesa acerca da história do território “é muito interessante”, mas há outros, também de valor, e noutras línguas com outras origens. “Desde que seja uma visão partilhada de Macau, acho muito bem, até porque esta é uma terra que pertence a todos

e representa um lugar de encontro mundial, em que não há só chineses ou portugueses”, explica. Para a investigadora, o ideal será um manual que conte com o contributo dos vários grupos identitários que têm passado pelo território. Recorda ainda que “já existe uma academia em Macau em que há diálogo e há troca de conhecimento”, sendo que espera que a iniciativa espelhe o trabalho conjunto que tem vindo a ser feito

SOCIEDADE

“com os melhores e mais recentes contributos”.

POLITIQUICES

As directivas anunciadas por Chui Sai On representam, para o sociólogo Larry So, uma manobra política. “Penso que esta é uma orientação política porque o assunto pode ser crítico e é uma forma de manipulação”, defende ao HM. Para Larry So, o facto de as pessoas, desde pequenas, aprenderem as coisas de determinada maneira é algo que fica registado, e o modo como são dadas as informações pode fazer com que pensem que o que é bom e verdadeiro é o que lêem nos livros escolares: “Ficarão a pensar que é aquilo que se passou”. Para o analista, é claro que “com este tipo de iniciativa, os livros podem ser manipulados e isso é, de facto, um assunto político e não de conhecimento”.

Larry So não entende porque é que a produção de um livro escolar tem de ser feita por um Governo Larry So não entende porque é que a produção de um livro escolar tem de ser feita por um Governo. “Porque é que um Governo faz um manual?” questiona, considerando que “há pessoas na comunidade com formação em educação, com o conhecimento para o fazer e que podem realmente transmitir a história e não a afectar”. No entanto, não deixa de considerar que a história apresentada vai sendo mudada com o tempo. “Penso também que, de vez em quando, todos nós alteramos a história, até pela forma como a olhamos.” Larry So espera que os manuais anunciados “se cinjam à transmissão de factos sem terem associada uma interpretação ideológica”. No que respeita à história local, marcada pela presença portuguesa, Larry So considera que os conteúdos dos livros de História “não vão embaraçar as relações com os portugueses e que vão respeitar a sua presença de modo a promover promover uma amizade nova com o país, diferente da que existiu durante cerca de 400 anos”, na sequência das directrizes de Pequim dadas recentemente ao território, com a visita do primeiro-ministro Li Keqiang. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


10 ENTREVISTA

CATARINA CORTESÃO E TOMÉ QUADROS REALIZADORES

Fazem documentários sobre Macau porque é neste exercício onde a realidade toca a ficção que vão, também eles, pensando na cidade onde vivem. Catarina Cortesão e Tomé Quadros encontraram no chá gordo a formação de uma comunidade de fusão, o tempo do território. Para que a memória, que ainda existe, se viva já

“Chá Gordo de Memórias” é apresentado hoje ao final da tarde no âmbito da extensão a Macau do DocLisboa, uma iniciativa organizada pelo Instituto Português do Oriente. Não é o vosso trabalho mais recente. Catarina Cortesão (C.C.) – Não, não é. Este documentário foi feito no âmbito do Macau DocPower, com o apoio do Centro Cultural, em 2013/2014. Pelo facto de haver tempos muito curtos para a apresentação da ideia, filmagem e edição, dentro dessas limitações e do apoio que nos deram, iniciámos o projecto sobre o chá gordo. Começámos a fazer a nossa pesquisa, começámos a falar com vários intervenientes da comunidade macaense para nos informarmos sobre quem eram os grandes cozinheiros. Munimo-nos do nosso conselheiro, Fernando Sales Lopes, que estuda a gastronomia macaense há vários anos – tem uma tese de mestrado, é um investigador ligado a essa área, na vertente da gastronomia macaense como sinal identitário da própria comunidade. Tivemos várias conversas com ele, foi-nos apontando caminhos, também construímos os nossos. Fomos vendo quem eram os cozinheiros mais emblemáticos – Aida de Jesus, Graça Pacheco Jorge, Rita Cabral, Carlos Cabral, Cíntia Conceição Serro. Destas conversas que fomos tendo, mais questões foram surgindo em relação à gastronomia macaense e o projecto cresceu. E cresceu numa determinada direcção. E que direcção foi essa? Não queríamos fazer uma mera peça jornalística, esclarecedora do que é o chá gordo dentro da gastronomia macaense – pelo contrário, queríamos fazer uma narrativa fílmica a partir da mesa do chá gordo, onde estão os principais pratos da gastronomia macaense. Olhamos para a mesa do chá gordo, que é extensa, e nela vemos definidos não só o percurso e o que é a comunidade macaense, mas também o percurso dos portugueses até chegarem a Macau. Verifica-se o uso de ingredientes de Malaca, de Goa, de Angola, de Moçambique, e modos de confecção que, por sua vez, reflectem a aliança entre a cultura portuguesa gastronómica com a cultura chinesa, que também é bastante marítima. Daqui nasceu a primeira gastronomia de fusão, que é a gastronomia macaense. Dizia que, quando se olha para a mesa do chá gordo, vê-se a comunidade. C.C. – Vê-se a comunidade e a história de Macau dos últimos 300 ou 400 anos. Isso é muito notório logo

CATARINA CORTESÃO E TOMÉ QUADROS

A história que cabe num


ma mesa

11 hoje macau sexta-feira 18.11.2016

na primeira percepção e mais ainda quando se tenta saber de onde vêm os pratos e se fala com as cozinheiras, quando elas apresentam os livros de receitas. São autênticos tesouros, na medida em que vão circulando entre as melhores cozinheiras ou são cedidos às pessoas da família com mais apetência para continuar esse espólio e dar bom nome à família através dessa mesa. Quando as pessoas achavam que não havia alguém que pudesse continuar com esse testemunho de uma forma destacada na comunidade macaense, levavam os livros de cozinha para a cova. Ou seja, não transmitiam as receitas, não as partilhavam. Há receitas da Graça Pacheco Jorge, do livro que era da tia, em que está escrito em baixo ‘não partilhar esta receita com qualquer pessoa’. Como é que se faz uma abordagem mais cinematográfica a um tema que facilmente pode cair, em termos de tratamento, num documentário do género jornalístico? Tomé Quadros (T.Q.) – Procuramos, de alguma forma, seguir a máxima de John Grierson, quando diz que o documentário deve ser abordado de uma forma criativa – isto dito no final da década de 20 do século passado. Significa que pretendemos fugir do documentário como uma peça jornalística e encará-la como narrativa fílmica tout-court. Procuramos com isso introduzir mecanismos da ficção no documentário, procuramos dirigir os nossos entrevistados, na medida do possível, como se de actores se tratassem, procuramos ter um cuidado estético bastante grande – e não só, em termos de continuidade, de racord também –, para que tudo faça sentido. Desta forma, introduzimos um narrador presente – a Nair Cardoso, uma jovem macaense – que, no fundo, conduz o espectador pelas diferentes estórias que fecham este todo que é a narrativa fílmica acerca do chá gordo. Temos um fio condutor, uma história, que coincide com a realidade: a Nair regressa a Macau passados alguns anos de ter ido para Portugal e vem à procura de um livro de receitas que era do avô macaense. O livro tinha sido escrito pela avó chinesa, que tinha aprendido para que toda esta gastronomia macaense existisse em casa. Há um dia em que encontra este livro no sótão da casa e guarda-o. Vai procurar, através do livro, as raízes da identidade, memória e cultura macaenses. Claro que houve uma transformação muito grande da simbiose homem-cidade, mas essa memória, a cultura e a identidade perduram. É um documentário para memória futura? T.Q. – No fundo, o que procurámos com o documentário é que sirva como um espelho, que a própria comunidade se veja. Por exemplo, na questão das receitas, é muito complicado ter acesso e foi um dos

“O que procurámos com o documentário é que sirva como um espelho, que a própria comunidade se veja.” TOMÉ QUADROS maiores obstáculos, mais do que até ganhar confiança da parte dos intervenientes. Assistimos a um momento talvez único: a Cíntia Conceição Serro cedeu aos arquivos do Instituto Cultural todo o espólio que tinha herdado em termos de receitas e manuscritos escritos. Temos isso no documentário. É interessante ver que também há uma tomada de consciência por parte dos intervenientes, de que afinal esta memória deve ser mantida. Não são realizadores profissionais, na medida em que têm outras ocupações. Há vários anos que fazem documentários sobre a cultura de Macau. Como é que conseguem ir trabalhando nesta área, que exige todo um processo de pesquisa? Sentem muitas dificuldades? C.C. – Temos bastantes dificuldades pelo facto de sermos uma equipa muito pequena. Eu e o Tomé fazemos 80 por cento do trabalho. Depois contamos com o Daniel Saraiva para o som e agora temos uma nova pessoa que nos está a ajudar, o João Cordeiro. Temos ajuda nas filmagens e coloração. Nestes processos temos arranjado sempre alguém que nos ajuda por ser especialista na matéria. É muito difícil porque temos vidas profissionais exigentes e as nossas famílias. Isso faz com que exista alguma pressão, e de alguma forma, o tempo nos escape. O tempo que é dado aos projectos no Centro Cultural é muito pequeno, em seis meses temos de fazer tudo, o que cria muita pressão,

“Olhamos para a mesa do chá gordo e nela vemos definidos não só o percurso e o que é a comunidade macaense, mas também o percurso dos portugueses.” “Em Macau ainda não existe a memória construída em termos de narrativas fílmicas.” CATARINA CORTESÃO

ENTREVISTA

mas são opções que fazemos. Temos de gerir muito bem o tempo. Somos bastante curiosos e gostamos de ter a percepção daquilo que acontece. Em Macau ainda não existe essa memória construída em termos de narrativas fílmicas. Sobre o chá gordo não há nada, apenas alguns episódios em que as pessoas descrevem o que poderá ser, mas algo muito insípido. O grande desafio é que adoramos filmar e editar, e apreciamos o produto final. Depois de estar feito, passamos para outro, porque queremos fazer cada vez mais. Já estou a pensar no projecto seguinte. T.Q. – O cinema foi o lugar que nos deu a conhecer um ao outro e foi onde a memória futura teve lugar. A Catarina tinha alguma formação e trabalho feito em fotografia, com uma grande base no teatro, e com grande desejo de desenvolver algo na área do cinema. Partilhávamos o mesmo olhar e as mesmas preocupações, e procurávamos fazer cinema em conjunto. Eu trazia a formação da Escola das Artes do Porto, em som e imagem. Se calhar trazia um olhar mais formatado e menos livre, e a simbiose com um olhar mais livre e outro mais técnico resultou. O documentário surgiu como o modelo de pensar o cinema mais apropriado porque nós, além da questão do cinema, tínhamos a vontade muito própria de falar de Macau, que nos apaixona. Sentimos que havia um vazio por preencher. Havia que começar a trabalhar sobre a memória, cultura e identidade de Macau, e encontrámos o formato certo. Já estão a pensar no próximo documentário? T.Q. – Temos o “Time of Bamboo”, que está quase terminado, foi o projecto deste ano, que vem na sequência da memória de Macau. Há um paralelismo com o chá gordo em termos do conhecimento que passa de geração em geração. Não há um livro do saber do bambu, como as estruturas são calculadas. Tentamos fazer uma ponte entre o legado e aquilo que pode vir a ser o futuro do bambu. C.C. – Em relação a projectos de futuro, ando interessada sobre a questão linguística. Ando a reflectir porque é que é difícil ao estrangeiro falar chinês e as crianças não têm acesso à aprendizagem da língua. Não são apenas os portugueses, mas os estrangeiros em geral. Porque é que isso não acontece nas escolas? Qual é a questão, o problema? Tem que ver com uma questão de vivência? Acho que seria um tema interessante para fazer um documentário. Apetece-me fazer um documentário sobre crianças e jovens dentro dessa questão linguística, das diferenças das línguas, o ‘lost in translation’. Comecei a escrever um guião, embora seja para uma curta-metragem, que reflecte essa faixa etária. Mas é uma história que tem algumas aventuras, à volta dos portugueses, chineses e macaenses. É sempre esse o meu ponto de reflexão. Isabel Castro

isabel.castro@hojemacau.com.mo


12 CHINA

hoje macau sexta-feira 18.11.2016

TAIWAN MILHARES PROTESTAM CONTRA CASAMENTO HOMOSSEXUAL

M

ILHARES de manifestantes protestaram ontem em Taipé contra propostas de lei que pretendem tornar Taiwan o primeiro local na Ásia a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, argumentando que os valores da família tradicional seriam enfraquecidos. Manifestantes vestidos de branco e empunhando cartazes com slogans como “Ergam-se pela felicidade da próxima geração” encheram as ruas em torno do parlamento, onde uma comissão estava a debater o tema. Os apoiantes dos direitos dos homossexuais estão cada vez mais

esperançosos que o casamento entre pessoas do mesmo sexo se torne uma realidade sob a liderança do Partido Progressista Democrático, que controla o parlamento pela primeira vez. No entanto, vozes críticas têm ganhado força desde que a proposta para legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo passou na primeira fase no parlamento no início do mês. Apesar de Taiwan ser considerado progressista em muitos aspectos, as suas raízes confucionistas traduzem-se num forte sentido de adesão aos valores tradicionais, como lealdade familiar e hierarquia social.

INVESTIMENTO ESTRANGEIRO SUBIU 4,2%

O Investimento Directo Estrangeiro (IDE) na China subiu 4,2% entre Janeiro e Outubro, face ao mesmo período do ano passado, para 666.300 milhões de yuan, segundo dados oficiais difundidos ontem. Contudo, os investimentos recuaram 6,5% caso se tenha como referência o dólar, devido à desvalorização da moeda chinesa face à norte-americana ao longo do último ano. O Ministério do Comércio destacou o aumento do investimento no sector dos serviços. O capital externo no sector terciário subiu 9,1%, nos primeiros dez meses do ano, para 471.000 milhões de yuan, representando agora 70,7% do total. Na alta tecnologia, o IDE quase duplicou - subiu 90,2% em termos homólogos - para 79.180 milhões de yuan. Pequim está a promover uma reconfiguração do modelo económico da China, visando uma maior preponderância dos serviços, em detrimento da indústria pesada. Nos primeiros dez meses do ano, as empresas norte-americanas investiram na China mais 79,8% do que no mesmo período de 2015. Já o investimento oriundo de empresas sediadas em países da União Europeia avançou 41,5%.

Corrupção FUGITIVA MAIS PROCURADA REGRESSOU AO PAÍS

Bem-vinda a casa

A NAVE TRIPULADA INICIA REGRESSO À TERRA

A

nave espacial chinesa Shenzhou-11, tripulada pelos astronautas Jing Haipeng e Chen Dong, iniciou ontem o regresso à Terra, após separar-se do laboratório Tiangong-2, ao qual permaneceu fixada durante o último mês. Durante a manhã de ontem na China, a nave desconectou-se do Tiangong-2 e está previsto aterrar esta sexta-feira, segundo a agência oficial Xinhua. O Shenzhou-11 deve permanecer no espaço, próximo do laboratório espacial, até que receba do centro de controlo em Pequim ordem para entrar na atmosfera.

Jing e Chen partiram da base de lançamentos de Jiuquan, no deserto de Gobi, norte da China, a bordo do Shenzhou-11, em 17 de Outubro passado e atracaram no laboratório espacial no dia 19. Os astronautas viveram e trabalharam no laboratório espacial, que foi lançado em Setembro, onde realizaram experiências científicas e preparam o funcionamento da futura estação espacial chinesa, que deve começar a operar em 2022. O Tiangong-2 irá manter-se na sua órbita actual, a cerca de 393 quilómetros de distância da superfície terrestre.

fugitiva mais procurada pelas autoridades chinesas, Yang Xiuzhu, regressou na quarta-feira à China, no âmbito da campanha lançada por Pequim “Skynet”, que visa repatriar suspeitos de corrupção que escaparam para o estrangeiro. Yang, antiga vice-presidente da câmara de Wenzhou, na costa leste chinesa, aterrou em Pequim para se entregar às autoridades, depois de 13 anos evadida em países da Ásia, Europa e nos Estados Unidos da América. A mulher de 70 anos é acusada de ter desviado um valor equivalente a 37 milhões de euros. O seu nome aparecia afixado no topo da lista com os cem cidadãos da China mais procurados além-fronteiras, publicada pela secção chinesa da Interpol. Yang foi levada sob custódia, após ter sido acompanhada desde o avião por duas polícias, segundo imagens difundidas em directo pela televisão estatal. Trata-se do 37.º fugitivo que consta na lista dos 100 mais procurados por Pequim a ser repatriado, segundo a Comissão Central de Inspecção e Disciplina (CCID), o órgão máximo anti-corrupção do Governo chinês. A detenção de Yang é “um feito importante da coopera-

ção entre a China e os EUA no reforço da aplicação da lei anti-corrupção”, anunciou em comunicado a CCID. No ano passado, o órgão anti-corrupção do Partido Comunista Chinês (PCC) conseguiu também a repatriação do irmão de Yang, Yang Jinjun, suspeito de corrupção e suborno e que integrava também a lista dos mais procurados.

BATALHA POLÉMICA

A campanha “Skynet” tem sido também controversa, com alegações de que agentes chineses têm operado secreta-

mente além-fronteiras, sem o consentimento das autoridades locais. Após ascender ao poder, em 2012, o Presidente da China, Xi Jiping, lançou uma campanha anti-corrupção que

A mulher de 70 anos é acusada de ter desviado um valor equivalente a 37 milhões de euros

resultou já na punição de mais de um milhão de funcionários chineses. A campanha não inclui, porém, maior transparência, como exigir a declaração de bens aos membros do Governo ou a supervisão do PCC por um organismo independente. Na semana passada, um vice-ministro da Segurança chinês foi eleito presidente da Interpol, uma escolha inédita e que mereceu críticas por parte de advogados dos Direitos Humanos preocupados com os abusos e falta de transparência do sistema jurídico chinês.


em modo de perguntar

h ARTES, LETRAS E IDEIAS

hoje macau sexta-feira 18.11.2016

13

Paulo José Miranda

Nuno Moura

Além do teu trabalho como poeta, desenvolveste recentemente um trabalho editorial, com a tua douda correria, onde tens publicado poetas tão diferentes como sejam o caso de Carla Diacov (brasileira) ou António Poppe, e de Raquel Nobre Guerra e Vasco Gato. Talvez os primeiros se enquadrem mais naquilo que tem sido a tua própria poesia, o que mostra uma elasticidade de gosto tão magnífica quanto rara, no nosso pequeno rectângulo encostado ao Atlântico. Por tudo isso, os meus parabéns! Quais os teus critérios para a edição de um livro? Obrigado. Primeiro ter dinheiro para pagar à gráfica e à nossa compositora Joana Pires. Depois o critério vem com o próprio texto.

AÏNHOA ANANDA

“Estamos na Dinastia Flang”

Aplicas os mesmos critérios aos teus livros, imagino. Estás a preparar um livro novo? Vou corromper a Adília “é preciso desentropiar o critério todos os dias”, e ando com o Cavalo Alucinado, mas nem sempre estou para longas caminhadas na mata. Hoje aceitarias editar em outra editora que não fosse tua, ou isso não faz sentido para ti? Mais do que aceitar, eu desejo. Gostava muito de ser editado na Medula do Manuel A. Domingos. Como chegaste a esta nova poesia brasileira? A Carla Diacov e o Diego Moraes li-os antes em revistas literárias de Curitiba, mas nunca pensei que pudessem ser editados tão depressa aqui. Nos anos 80, 90 do século passado eu esperava dois ou três meses por um livro. Ia sempre nervoso aos Pedidos Internacionais da Livraria Portugal.

“É preciso desentropiar o critério todos os dias”, e ando com o Cavalo Alucinado, mas nem sempre estou para longas caminhadas na mata

Com aqueles funcionários adeptos da descontra, entre máquinas de escrever e Madeira, em número suficiente para se criar logo ali um sindicato. Agora alguém te diz ‘tens que ver isto, este autor’ e tu olhas e lês. E falas.

Gostava muito de ser editado na Medula do Manuel A. Domingos

Começaste também muito recentemente uma colaboração entre a Douda Correria e a Demónio Negro, de São Paulo, com a edição de Senhor Roubado, de Raquel Nobre Guerra, no Brasil. Editar-se-ão de seguida Catar Catataus, de Paola D’Agostino, Fruta Feia, de Miguel Cardoso e o teu Canto Nono. Queres explicar melhor como funciona esta colaboração? Troca de autores e textos. Ele tomou a dianteira e enviou-me alguns exemplares. São belos. Para quê estar a fazer

aqui, à maneira da Douda, se podemos ter os, digamos, originais-na-prensa? O Vanderley faz 50 exemplares a mais e envia-me. Recentemente afirmaste que consideras o António Cabrita o melhor poeta português vivo, e que isso causa muito espanto entre as pessoas. A mim, não me causa espanto, mas porque achas que as pessoas se espantam com isso? Porque se calhar pensam que é algum ministro ou dirigente desportivo, sem

desprimor algum. O presente nunca chega a tempo da escola. Na China antiga, na época da dinastia Tang, o mundo mais poético que existiu na face da Terra, para se ser mandarim, isto é, empregado público, o teste final (entre outros) era escrever o seu próprio poema, embora os poetas pudessem não ser mandarins, como nos excelsos casos de Li Bai e Du Fu. Quão longe estamos hoje deste mundo? E achas que só pode melhorar, ou ainda vai piorar? Estamos na Dinastia Flang, ainda usamos parafusos. Eu não seria um mandarim e, como diz a minha mãe ‘filho, eu não trocava isto por nada’. Normalmente diz isto de uma série qualquer de televisão.


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O

que se é e não o que se faz, se diz. Essa realidade equívoca. Da obra e da representação. De si. Da imitação, de uma camada de sentido, sentida, eventualmente, mas uma segunda instância. De ser, parecer ser. Uma tangência pontual por definição geométrica. O que se é no que se faz, como um mal feito mesmo na perfeição alheia e distanciada do que é feito. Elaboração da mente mas a voar para longe. Do que é afinal anterior, subjacente, íntegro e absoluto. O que se é. Intangível nesse absoluto. Atingível por camadas. Fragmentos de se ser. O que está ao alcance do olhar. E nunca, quase nunca a totalidade no que nos deixamos fazer, ser visível. Revelados por partes. Como no papel da escrita. Branco, possível. A escurecer depois nuns pontos, pequenos nós, como grãos de terra, presos de letras avulsas de entre as infinitas possibilidades. Aquelas, por uma vez. Não outras. Todas as outras que não caem, presas numa outra página inalcançável. Como caminhos etéreos uns, visíveis outros, na disposição meticulosa das pedras e das ervas naturais. Das confinações físicas a fazer imperceptivelmente modular os passos até sem intensão, e a desembocar num sentido eventualmente imprevisto. Um caminho como texto escrito. Como este, menos óbvio do que se poderia querer ver. Mesmo depois. De onde se parte e onde se chega. Tudo variável. Como um caminho entre as árvores. Numa disposição indisciplinada de arbustos, ramos caóticos ou a viver a alturas imprevistas, a surgir de direcções que contrariam a ordem natural do crescer. Pequenos galhos e grandes braços caídos. Redes de folhagem que escondem depressões inesperadas do terreno, do lugar dos passos que afinal não são nunca a direito. O estalar das folhas secas, essa memória da infância a procurar distinguir ao olhar as que no chão produziam esse ruído, sabe-se lá porquê, apetecível. E aquelas que, menos secas, ou já húmidas frustravam esse ziguezaguear dos passos pela rua outonal, à procura de

ANABELA CANAS

Variável dominante


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de tudo e de nada

tão pequenino prazer. Como comer batatas fritas. Coisas talvez improdutivas do ser mas não do prazer. E um, como o outro, de tudo se faz. E no final a imagem. Uma de muitas. Uma pele de várias. E nela existimos? Na prova concreta do fazer, do caminhar, na forma passageira de tudo, o existir. Prévio mas já não palpável. Prova de ser ou de existir, não sei, de momento. Mas ser, é em geral uma existência impalpável embora inequívoca. Não sei onde. Mas ser encerrados nesse território irredutível de que só se manifesta um reflexo. O gesto temporal. Residual. Ser do corpo para dentro. Tem que chegar. Tudo me perturba às vezes. O olhar límpido e intencional, o olhar turvo e sem lugar. As pessoas que desviam o olhar. As que não ouvem. Os medos dos outros. As suas frágeis matérias desconhecidas e quebráveis. Não saber. Mais do que momentos. Pequenos, ínfimos mesmo, como rasgos de luz numa cortina-tempo. Por detrás da qual parece ser a realidade a ser. De passagem. Toldado momento-mundo. E passaram as palavras. E porque eram palavras-instante e não duraram, pensava-se que eram pouco verdadeiras mas é a alma que é plástica e o tempo que corre. E dos mesmos sentires se abeira de outros ângulos da mesma visão. Da mesma visão-palavra. De outro olhar-tempo. Prismático mas não oposto. Ou como organismo vivo, o olhar, as sensações, os sentimentos, agarrados a uma essência de núcleo escondido, mas em renovação epidérmica. Mesmo numa respiração descompassada, numa batida latejante nas têmporas a demonstrar que um órgão a ressentir-se, muito do metabolismo continua a sua rotina microscópica e arrumada. Gosto de arrumação. Gosto mesmo demais, de ordem e rigor. Objectos paralelos entre si. Linhas rectas de verticalidade e horizontalidade. Perturba-me a obliquidade da queda. Da composição. Tento adaptar-me à desarrumação do mundo, das ideias que não têm tempo para se organizar. De palavras e linhas demais para o tempo. Tento. E a tudo o que

é maior e não tem arrumação possível. E às brumas que ocultam e desocultam. E a realidade como uma terra de montanha, na secura e humidade específicas. Ou em vasos, e os minerais a alimentar plantas, mesmo nesse pequeno mundo de brincar. Essa terra onde ponho as mãos em dias demasiado etéreos, a compor o que é possível. Percebo porque me dói. São os grãos mais ásperos. Torrões ressequidos. Q uando me viro para esse lado na cama. Dores finas. Dispersas. Ando a tomar palavras sem prescrição médica. É o que é. Algumas, amargas e amareladas, ou rosadas ou em branco, redondas ou alongadas. Algumas, a cair como pedras no estômago e que não há água que desfaça. Palavras e vitaminas, para fortalecer a insegurança. Mas tiram-me o sono. E associadas ao álcool, então, é melancolia a entornar o vazio instalado. Derramam-se-me na noite e acordam-me sem razão. Crescem, dão-me trabalho e tiram-me o sono preguiçoso. Fica ali a olhá-las exibindo-se nuas e perfeitas, em arabescos de coreografia invejável. Mas antes chamar-lhes pensamentos. Igualmente impróprios e intrometidos mas dentro do seu lugar como ocupantes de visita. Elas, mais convictas e arrogantes dançam exigentes e definitivas. Demais e a mais. Palavras-comprimido. Palavras que me colhem em jejum sem estômago para elas. Ando indisposta de palavras, pessoas e vidas. Ah…Às vezes eu penso mesmo que vamos todos enlouquecendo. Com aquela crueza com que viro os olhos sempre para tudo, mas para começar e acabar sempre e com a maior veemência para mim própria. Não me poupo e seguramente menos do que a qualquer outro - que não poupo, eu sei, dentro de mim, eu sei e não poupo - há um canal sempre desimpedido aí. Sempre limpo de máscaras e panos aquecidos. Um estreito que se atravessa a nado sem maior esforço do que o de uma respiração ofegante. E mesmo esta, sabe-se, pode advir de tantas emoções e tantas pequenas inseguranças, que não é de pregar susto

Anabela Canas

de maior. Enlouquecendo de teatralidade, de experimentalismo sensitivo, de verdade no palco, de amoralidade. De imoralidade, de fantasia. De dispersão. De verdade. De cobardia. Enlouquecendo de coragem. De tudo. De desilusão e de ilusão feroz. De palavras demais e de palavras de menos. De não valer a pena. Nada. De tudo valer a pena, se a alma o suportar imaginar. De pensar os pensamentos e de pensar os sentimentos. Dos dilemas. Porque a certa altura tudo parece conduzir aí mesmo na mais escondida parte de cada um dos nossos olhares. Os antagonismos aparentes entre critérios e convicções, entre sintomas e verdadeiras causas profundas. E sempre um outro olhar a esculpir possibilidades de formas em nós. Penso. Penso mesmo. Mesmo naquela pontual euforia instalada no meio da maior perplexidade e impotência existencial. Coisa estranha. Em divergendo. Lírico, talvez. Descobridor. E um dia, abro a porta da rua, saio, e está ali o Batmobile. De certeza. E nos outros dias, alongo os passos para espaço mais amplo. Saio da minha rua– concha, da minha rua casulo e casa e da minha casa-pele, e caminho por lugares indistintamente só para depurar a respiração sem pensamentos de maior, naquela ocupação ligeira e ténue dos passos sobre passos que não dão muito espaço a espaços mentais. E caminho depressa, como sempre gostei de não caminhar devagar. Na rua. A lei das compensações. Deixar que o corpo adquira uma inércia firme e que seja o espaço a percorrer-me ligeiro como a vista numa janela de comboio. Em velocidade. A vertigem de caminhar em frente no tempo para não voltar atrás na memória. Por isso é vital a urgência do caminhar. Ou construir paisagens vazias. Caminhos de vazio. Daí a serem mortas, mortos, vai todo um apocalipse. Gosto dos vazios e da serenidade do que está vago. Vago para preencher pausadamente de todo o possível. De livros brancos e de páginas em branco. Como todas as horas vagas. Para caminhar.


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José Simões Morais

Gincana de automóveis na Feira de Macau E

M pleno Grande Prémio, escrevemos hoje sobre a primeira corrida de carros realizada em Macau, organizada por iniciativa do Sporting Club desta cidade, fundado dois meses antes, a 11 de Setembro de 1926 e inserida no programa das festas da Feira e Exposição Industrial. Às 14 horas de Domingo, 5 de Dezembro, com uma enorme assistência ocorreu a gincana de automóveis, presidida pelo Governador interino Almirante Hugo de Lacerda. Encontravam-se inscritos dezoito concorrentes, cuja lista era a seguinte: o carro número 1, conduzido por A. Luz trazia como acompanhante a Melle. A. Brandão; o n.º 2 por Lo Yam-Man (Lu-Ia-Pat), levava ao lado a Miss Choi; o n.º 3 por Dr. Pedro Lobato e damizela Amália Nolasco; o n.º 4 por Henrique Nolasco e D. Orlinda Leitão; o n.º 5 por Dr. Sousa Afonso e Melle. Luísa Ambar; o n.º 6 por F. Borralho e damizela B. da Silva. A única condutora feminina, Melle. Angelina Santos corria no carro n.º 7 acompanhada por Avelar Machado e ficou em segundo lugar. Já o carro n.º 8 guiado pelo Eng. Brandão de Vasconcelos trazia como pendura Melle. Maria Pacheco; o nº 9, conduzido por D. João Vila-Franca levava ao lado Melle. Beatriz Nolasco; o nº 10 com Elísio Mendes e damizela Alice Ribeiro; o nº 11 com Dr. António Leitão e Mme. Maria Gellion; o nº 12, Rui de Menezes e a sua esposa; o nº 13, Ten. A. Machado e Melle. A. Santos; o nº 14, Carlos Silva e Melle. Celeste Vidigal; o nº 15, M. Ribeiro e Melle. G. Silva; nº 16, M. Borges e Melle. B. Ramalho; nº 17, M. Contreiras e Melle. Si-Ling e o nº 18, L. Rodrigues e Melle. L. Rodrigues. No percurso foram colocados vários obstáculos para criar mais emoção e dar mais interesse à prova. Havia o serviço de fiscalização da pista e para a classificação dos concorrentes, sendo o júri composto pelos Srs., Capitão-de-Mar-e-Guerra Ivens Ferraz, Coronel J. A. dos Santos e Eng. C. Alves. “Os prémios foram seis e ganhos pela ordem numérica ascendente, pelos automóveis concorrentes números 10, 7, 12, 15, 3 e 11. Um dos concorrentes do carro nº 11 referiu que não quiseram aceitar o respectivo prémio, por não ter sido atendida uma reclamação feita ao júri”. Por ocasião da gincana houve apostas sobre os concorrentes, na forma de aposta proporcional

(pari-mutuel), pelo sistema das corridas de cavalos. Esta iniciativa reverteu com 20% da importância dos bilhetes vendidos a favor do Asilo da Santa Infância e o produto líquido foi distribuído por três prémios, cabendo ao primeiro 60%, ao segundo 25% e ao terceiro 15%. Os bilhetes premiados, que não foram pagos nesse dia, vieram-no a ser na sede do Sporting, à Avenida Ferreira de Almeida. Se só a 11 de Outubro de 1914 circulou o primeiro carro em Portugal Continental, um Panhard et Levassor, de 1200 centímetros cúbicos e 3,75 cavalos, guiado entre o Barreiro e Santiago do Cacém pelo Conde Jorge de Avillez, já em Macau e ainda antes de 1906, o chinês Chân Fóng (陈芳, 1825-1906) foi o primeiro a importar um carro, um Chevrolet. Em 1907 existiam já sete automóveis e em 1911, apareceu o primeiro táxi. Os registos mais próximos que encontramos da data desta gincana são de 1928 e referem haver na cidade 134 carros ligeiros particulares.

OUTROS DIVERTIMENTOS

No dia anterior à gincana automóvel, a 4 de Dezembro, ocorreu às 21:30

no ringue, instalado no meio da Feira ou no cinematógrafo da Exposição, como noutro artigo de A Pátria vem referido, três combates de boxe entre jogadores de Hong Kong e Macau, tendo os últimos vencido em toda a linha. Nesse Sábado, despertando um enorme interesse entre o público, o programa tinha como ponto forte o combate de boxe a opor o mais afamado pugilista de Macau, o amador Sr. Pinto da Silva contra o Sr. Kid Raymond, profissional de Hong Kong e cujo palmarés era invejável, pois vencera por KO, ou aos pontos, os últimos dez combates que realizara, parecendo não haver rivais à altura. Ambos traziam dois dos seus alunos para complementar o programa e aquecer a plateia, jogando-se assim três combates de dez rounds cada um. O júri era composto pelo Tenente-médico João Rosa e o Tenente José Lopes Bragança por Macau e de Hong Kong, o Sr. Ligores e Noronha. O primeiro combate opôs João Conceição contra Batling Ilartino, tendo o representante de Macau vencido no segundo round. O seguinte foi entre Joaquim P. Góis e o representante de HK, J. Soares, que perdeu por pontos ao oi-

Em 1907 existiam já sete automóveis e em 1911, apareceu o primeiro táxi. Os registos mais próximos que encontramos da data desta gincana são de 1928 e referem haver na cidade 134 carros ligeiros particulares

tavo round. Por fim veio o combate mais esperado e o que trouxera toda aquela assistência ao recinto. Pinto da Silva venceu logo no segundo round Kid Raymond e se houve um certo desconsolo pela brevidade do combate, a vitória de Macau elevou os ânimos aos habitantes desta cidade, habituados nos desafios desportivos a perder para Hong Kong. O programa para o feriado de 1 de Dezembro e dia seguinte, propunha no Campo da Feira uma importante festa organizada pelas tropas terrestres da guarnição militar da cidade. Apresentava “divertimentos nunca vistos em Macau, tais como, o combate de galos pelos timorenses, dança de guerra pelos praças indígenas de Moçambique, com lanças e cutelos afiados”. Outras surpresas não específicas estavam programadas e constaram de saltos suecos, corrida de velocidade de 80 metros, lançamento de granadas, corrida de bicicleta (negativa), assim referia A Pátria, de onde retiramos grande parte das informações aqui registadas. Realizaram ainda, corrida de estafetas (com sarilhos), de obstáculos e de púcaros, assim como luta de tracção com equipa de oito praças. Na preparação destes praças, para a festa ter o melhor brilho possível, concorreram vários oficiais, sob a orientação do Coronel Joaquim dos Santos. No dia 2 fez-se um jogo de futebol entre as selecções da Marinha e do Exército. De referir que o preço da entrada geral no Recinto da Exposição Industrial e Feira de Macau custava 5 avos nota ou prata, ou 10 avos cobre. Nessa altura o jornal A Pátria custava 10 avos em prata. À venda havia também, para comodidade das famílias numerosas, ou colectividades, maços de dez e cem bilhetes, a custar respectivamente 50 avos e 5 patacas prata e podiam-se comprar antecipadamente na Direcção das Obras Públicas do Porto, na Livraria Portugália, na 1ª Secção à Praia Grande e na filial do Banco Nacional Ultramarino. Pelos 12 mil bilhetes de entrada para a Exposição, vendidos até ao fim da tarde do dia da inauguração, percebe-se o enorme interesse que esta teve na cidade e arredores, encontrando-se o recinto, com uma iluminação deslumbrante, até à meia-noite apinhado de visitantes.


17 hoje macau sexta-feira 18.11.2016

contramão

ISABEL CASTRO

As minhocas MEL BROOKS, YOUNG FRANKENSTEIN

isabelcorrreiadecastro@gmail.com

N

INGUÉM estava à espera de novidades, eu não estava à espera de novidades, às tantas não é suposto haver novidades. No que toca a Linhas de Acção Governativa, já ficaria satisfeita se houvesse alguém dentro do Executivo com capacidade e força política para fazer cumprir metade dos grandes projectos anunciados no passado. É um estudo comparativo que devia ser levado a cabo: uma análise aos planos anuais de quem alegadamente manda na terra, desde a transferência de Administração, para se tentar chegar a uma taxa de execução de ideias. Trabalho chatinho e demorado, eu sei. E inglório. Ninguém estava à espera de novidades e todos nós sabemos, mais ou menos, do que é que a casa gasta. Ainda assim. Não consigo deixar de ficar incomodada com a incapacidade – ou a falta de desejo – de respostas concretas. Da conferência de imprensa onde fui, onde esteve o Chefe do Executivo, ficou-me a imagem do costume: muito gosta esta gente de adiar decisões (ou de não revelar decisões) com o pretexto dos estudos. O metro: não se compreende como é que, depois de se dar a volta às entranhas da Taipa, continua a não haver uma decisão final sobre o que vai ser o metro em Macau, por onde é que vai passar e a quem vai servir. Recordou Chui Sai On que os planos apresentados ao longo dos anos deram polémica. Faz parte, é assim em todos os lados. A falta

de consenso – essência da democracia, diria eu – é, aqui, um grande obstáculo (ou uma excelente desculpa) para quem tem a obrigação de decidir. E porque não se decide, surgem ideias peregrinas, contestações mais profundas vindas de gente influente. Há umas semanas, três deputados à Assembleia Legislativa viram a luz: faça-se um metro só na Taipa, com ligação à Barra, e pronto, está feito, ou quase. Para evitar o caos na península, o melhor é um monocarril pela orla costeira, que os turistas vão achar piada. Se houver umas carruagens temáticas – sugiro eu – vão achar mais piada ainda. O Chefe do Executivo não comprou a ideia de um sistema de metro ligeiro para as ilhas, mas admitiu a possibilidade de um trajecto costeiro, sem entrada na cidade. Mas não sabe. Ou não diz. Também não diz ou não sabe – são os estudos, pá, são os estudos – o que vai acontecer ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) com a criação de um órgão municipal no próximo ano. Sei que, às vezes, não parece, mas o IACM – ou um

Não se copiam soluções com o pretexto da especificidade local, como se as pessoas daqui fossem especiais de corrida. Às tantas são, dada a incapacidade de se relacionarem com quem vem de fora e que não tem o cérebro à venda

organismo com as mesmas funções – é uma coisa muito importante numa cidade. Se já está a ser concebido um órgão municipal e o Chefe do Executivo não sabe – ou não diz – o que vem a seguir, é sinal de que há algo profundamente errado. O IACM é capaz de ter sido o maior erro concretizado no pós-transferência de administração. Decidiram acabar com as câmaras municipais, a de Macau e a das Ilhas, e criaram uma entidade com uma estrutura orgânica estranha. Acabaram com as assembleias municipais e assim se acabou com um bom mecanismo para ouvir as queixas das freguesias, que passaram a ser matéria com estatuto para o órgão legislativo. Acabou-se com a concorrência entre Macau e as Ilhas – a minha câmara faz melhor do que a tua –, coisa muito saudável a uma terra que se quer com algum brio. E o pior: o Governo assumiu problemas de gestão municipal que se transformaram em papões políticos. Já foi tudo inventado. Os grandes problemas de Macau são, sobretudo, questões do quotidiano. Mas os grandes pensadores do território complicam o que, não sendo simples, já foi resolvido noutros lados. E estudam aquilo que, noutras cidades, já deixou de ser matéria de reflexão há muito tempo. Não se copiam soluções com o pretexto da especificidade local, como se as pessoas daqui fossem especiais de corrida, diferentes de todas as outras. Às tantas são, dada a incapacidade de, como temos visto nos últimos tempos, se relacionarem com quem vem de fora e que não tem o cérebro à venda por meia dúzia de milhões de patacas. No meio do reboliço habitual de Novembro, este mês vai estranho. O ar está denso, está pesado, às tantas é melhor deixar tudo como está e não mexer muito, afinal habituaram-nos a isso e não temos nada que ver com as possibilidades de mobilidade do futuro ou com quem limpa o chão que pisamos.

OPINIÃO


18 (F)UTILIDADES TEMPO

C H U VA

hoje macau sexta-feira 18.11.2016

?

FRACA

O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente VAFA - SALÃO DE OUTONO Casa Garden

MIN

22

MAX

26

HUM

80-95%

EURO

8.57

BAHT

EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12) ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017)

O CARTOON STEPH

PROBLEMA 123

UM DOCUMENTÁRIO HOJE

SUDOKU

DE

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 122

C I N E M A

1.16

NÃO QUERIA SER SANDUÍCHE

EXPOSIÇÃO “O ARAUTO DOS TEMPOS: O POETA F. HUA-LIN” Academia Jao Tsung-I (até 13/11)

Cineteatro

YUAN

AQUI HÁ GATO

EXPOSIÇÃO “SE EU ESTIVESSE EM SÃO FRANCISCO/MACAU” Fundação Rui Cunha

EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11)

0.22

Há sempre expressões curiosas para retratar momentos do nosso dia-a-dia. Uma delas foi referida ontem vezes sem conta na Assembleia Legislativa: a classe média é a classe sanduíche. Aquela que jamais comprará uma casa. Cujo ordenado, do pai e da mãe, custa a esticar até ao fim do mês. É aquela família que até tem um ordenado jeitoso, em comparação com muitos países europeus, mas que aqui só dá para as coisas básicas e alguns jantares fora (se não houver muitos filhos), e que não dá acesso a apoios sociais. E perguntam porque é que somos quase todos sanduíches em Macau? É a economia, estúpido. Não conseguimos ter molho, nem ketchup, nem sabor; somos más sanduíches, com glúten, com tudo o que é mau. Mau queijo, mau fiambre, frango cru. Estão a ver a ideia? É assim a classe média e, sim, a culpa é do Governo. Não há um controlo nas rendas e ainda ninguém percebeu que, daqui a um ano ou dois, a especulação imobiliária poderá andar de novo por aí, ainda mais em força.Andam à volta com estudos e índices e não se trava o problema a sério, porque muitos dos empresários são deputados que são donos de casas que têm associações e que têm interesses. E por aí fora. A nós, classe média, residentes com um ordenado modesto, resta-nos comprar um carro num território poluído. A casa só nos aparece em sonhos bons. Até o supermercado pode começar a ser um pesadelo. Pu Yi

AMANDA KNOX | ROD BLACKHURST, BRIAN MCGINN

Um documentário sobre um dos casos mais mediáticos dos últimos tempos, que aconteceu em 2007. Em Peruggia, Itália, uma estudante norte-americana, de nome Amanda Knox, viu-se envolvida num processo judicial sobre a morte de uma outra estudante Erasmus. Um triângulo amoroso terá estado na origem do crime. Anos depois, Amanda Knox foi declarada inocente mas, ainda assim, há muitos que duvidam do papel que realmente teve num processo enigmático. Andreia Sofia Silva

FANTASTIC BEASTS & WHERE TO FIND THEM SALA 1

SALA 3

FALADO EM CANTONENSE LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Makoto Shinkai 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

Filme de: Ron Howard Com: Tom Hanks, Felicity Jones, Irrfan Khan 14.15, 21.30

SALA 2

FANTASTIC BEASTS & WHERE TO FIND THEM [B] [3D]

YOUR NAME [B]

FANTASTIC BEASTS & WHERE TO FIND THEM [B] Filme de: David Yates Com: Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol, Erza Miller 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

INFERNO [B]

Filme de: David Yates Com: Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol, Erza Miller 16.30, 19.00

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Cabrita; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


19 PERFIL

FACEBOOK

hoje macau sexta-feira 18.11.2016

MARTA PEREIRA, LOCUTORA

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“A rádio fala para as pessoas”

ESDE pequena que a rádio ocupa grande parte da vida de Marta Pereira. Da infância, recorda que os pais trancavam a porta da sala para não aceder à aparelhagem. Para evitar os discos riscados, eram-lhe oferecidos rádios que “atirava para o chão para tentar ver as pessoas que estavam lá dentro”. Desde essa altura que a paixão pela rádio não a larga “porque é uma magia e continua a ser uma companhia, a rádio fala para as pessoas”. A locutora da Rádio Macau viu a vida mudar quando sentiu, na pele, o desemprego em Portugal e o avião rumo a Macau foi a solução, ao aceitar uma proposta de emprego no território. “Trabalhava como jornalista em Portugal e, em virtude da situação de crise económica que o país começou a atravessar, os órgãos de comunicação social começaram a definhar e acabei por ficar desempregada”, recorda ao HM. Incapaz de “ficar parada”, decidiu investir num projecto pessoal e integrar um curso no Cenjor na área de jornalismo digital quando surgiu a proposta para vir trabalhar para Macau. Em registo de surpresa, Marta Pereira decidiu arriscar. “A proposta para vir para cá apanhou-me desprevenida, é

certo. As primeiras questões que coloquei foram o que vou fazer e quanto vou ganhar para saber se, realmente, compensaria vir”, explica. Com as respostas na mão, a decisão não durou mais do que uma semana a ser tomada e passado um mês estava a chegar ao território. “Não foi uma decisão difícil, até porque gosto de aventuras e de desafios, e esta oportunidade pareceu-me mais um desafio que poderia colocar na minha carteira”. Em vésperas de mudar de vida e de lado do mundo, Marta Pereira, que não conhecia Macau, tentou, pelos meios que podia, perceber o lugar que a esperava. “Quando aceitei a proposta comecei à procura de tudo o que dissesse respeito ao território mas não criei muitas expectativas, até porque já aprendi que o não devo fazer. Vinha com os pés relativamente assentes na terra.” A chegada, há cerca de um ano, foi um misto de sensações em que as questões eram, essencialmente, “que luzes são estas, que cheiro é este?”.

NINGUÉM SE ENTENDE

A grande dificuldade que encontrou foi a linguagem. “Sou uma pessoa, se calhar

fruto da minha profissão, que gosta de comunicar. Chego a Macau e, de repente, tenho a barreira intransponível da língua.” Ingenuamente, Marta Pereira estava à espera que a língua portuguesa se falasse mais no território. “Queria comunicar e não conseguia, e isso foi muito difícil para mim”. No entanto, o problema “já está devidamente ultrapassado”. A exigência do entendimento atalhou e desenvolveu outros caminhos. “Aprendemos a desenvolver outras formas de comunicação e muitas vezes recorremos à mímica para nos fazermos entender”. Mas Marta Pereira não cruzou os braços perante o muro linguístico e inscreveu-se na licenciatura de ensino da língua chinesa como língua estrangeira no Instituto Politécnico de Macau por achar que “poderia, de alguma forma, facilitar a comunicação e o conhecimento das vivências da comunidade chinesa, até porque é muito difícil entrar no meio deles, e o facto de falar a língua poderia abrir portas nesse sentido”. Por outro lado, e a pensar no futuro, o facto de conhecer a língua poderia ser uma mais-valia em termos profissionais futuros. A falta de tempo e a complexidade no estudo

de um sistema linguístico muito diferente daquele a que estava habituada fazem com que “esteja a ser muito difícil a conjugação entre trabalho e aulas”. Questões de linguagem à parte, Marta Pereira não sentiu dificuldades de maior. Para a locutora, “o ser humano é camaleónico e adapta-se muito facilmente às circunstâncias”. Hoje, sente-se “perfeitamente aculturada” apesar de existirem ainda algumas diferenças culturais que a perturbam. Mas é também na diferença cultural que encontra o fascínio. “Acho incrível poder conviver com comunidades tão diferentes”, afirma, salientando as particularidades de Macau, “uma cidade que não dorme e de contrastes”. “Temos a cidade moderna, das luzes e dos casinos e, em contraponto, temos a Macau antiga, com prédios cinzentos, com os rituais de se comer na rua e dos mercados exteriores. Este contraste é absolutamente delicioso.” Entre um e outro, Marta Pereira não tem preferências: gosta de viver em ambos. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


Da polícia de trânsito, com o poder da confusão, vem longe a solução

sexta-feira 18.11.2016

Atlântido

DUTERTE AMEAÇA ABANDONAR TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

Contra-ataque filipino

CHUI SAI ON CELEBRA ANIVERSÁRIO DA UNIVERSIDADE DE JINAN

À semelhança de Vladimir Putin, o Presidente das Filipinas ameaça repudiar o Tribunal Penal Internacional e juntar-se à China e à Rússia se estes “decidirem criar uma nova ordem”

FRANÇA PM ACHA « POSSÍVEL» MARINE LE PEN GANHAR AS PRESIDENCIAIS

Estes homicídios foram alvo de críticas dos Estados Unidos, grande aliado militar de Manila, e pela ONU. Duterte reagiu com insultos ao Presidente norte-americano, Barack Obama, e ao secretário-geral da ONU, mas convidou Ban Ki-moon a visitar o país para conhecer a campanha anticriminalidade, e garantiu que o governo nada tinha cometido ilegalidades.

“Se a China e a Rússia decidirem criar uma nova ordem, serei o primeiro a aderir”

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Presidente filipino, Rodrigo Duterte, ameaçou ontem imitar a Rússia e abandonar o Tribunal Penal Internacional (TPI), na sequência das críticas internacionais contra a sua violenta guerra contra a droga. Na quarta-feira, Moscovo anunciou a intenção de retirar a assinatura do tratado fundador do TPI, que acusou de não ser “verdadeiramente independente” e de não estar à altura das expectativas suscitadas. “Talvez eles [russos] tenham julgado o TPI inútil, por isso se retiraram”, afirmou Duterte à imprensa, em Davao (sul), pouco antes da partida para o Peru, onde vai participar numa cimeira regional. “Talvez os imite. Porquê? Porque estes tiranos desaver-

RODRIGO DUTERTE PRESIDENTE FILIPINO

gonhados só atacam pequenos países como nós”.

TOCA A ABATER

Rodrigo Duterte venceu, em Maio, por esmagadora maioria as presidenciais, com a promessa de matar

milhares de criminosos e acabar com o tráfico de droga. Desde que tomou posse, mais de 1.800 suspeitos foram abatidos pela polícia, e continuam por explicar os homicídios de 2.600 pessoas, de acordo com estatísticas oficiais.

No mês passado, a procuradora-geral do TPI, Fatou Bensouda, afirmou estar “profundamente preocupada” com aqueles homicídios, acrescentando que os responsáveis podiam vir a ser julgados. Rodrigo Duterte denunciou estas ameaças e prometeu “arrastar na queda” quem o quiser prender, ao mesmo tempo que reiterou a ameaça de abandonar a ONU, que culpou de não ter conseguido impedir guerras que mataram “milhares de mulheres e crianças”. “Se a China e a Rússia decidirem criar uma nova ordem, serei o primeiro a aderir”.

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primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, voltou a pedir ao sector privado para aumentarem os salários com o fim de acabar com a deflação crónica que afecta a terceira economia mundial, informou ontem a imprensa local. Pelo quarto ano consecutivo, Abe pediu aos executivos das principais empresas do país que aumentem os salários base dos seus funcionários.

“As subidas salariais no próximo ano são essenciais para continuar o ciclo de crescimento económico”, afirmou o líder conservador, que acrescentou que estes aumentos “devem ser pelo menos tão volumosos como os de 2016”. O aumento salarial é um dos instrumentos do chamado “Abenomics”, o programa económico do Governo que pretende criar

um ciclo de crescimento dos lucros das empresas, dos salários e do consumo para terminar o ciclo deflacionário que afecta o Japão há quase duas décadas. Durante os últimos três anos, as grandes empresas japonesas de automóveis ou de electrónica deram aumentos aos seus funcionários com contratos sem termo, mas tal não foi suficiente para incentivar em termos gerais

O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, considerou ontem que «é possível» Marine Le Pen, candidata do partido de extrema-direita Frente Nacional, ganhar as presidenciais de 2017 em França, impulsionada pela vitória de Donald Trump nos EUA. «É possível», disse Valls numa conferência economia em Berlim em resposta a uma pergunta sobre se Le Pen tem hipóteses de vencer nas eleições previstas para 7 de Maio. «Todos os estudos de opinião dizem que a candidata Marine Le Pen estará presente na segunda volta. [...] Isso que dizer que o equilíbrio da vida política francesa vai mudar completamente», prosseguiu, alertando para «o perigo que a extremadireita representa» numa altura em que as atenções estão centradas nas primárias dos partidos de esquerda e de direita

PORTUGAL SETE DETIDOS PELAS MORTES DO CURSO DE COMANDOS

Seis instrutores e um médico foram ontem de manhã detidos, na Amadora, pela morte dos dois instruendos do curso de Comandos Hugo Abreu e Dylan Silva, em Setembro. Os detidos serão levados para o presídio militar de Tomar e amanhã deverão ser presentes ao juiz, em Lisboa. Os suspeitos são acusados dos crimes de abuso de autoridade por ofensas à integridade física. A operação está a ser liderada pela procuradora Cândida Vilar, do DIAP de Lisboa e pela Polícia Judiciária Militar.

GLOBE SOCCER AWARDS RONALDO E FERNANDO SANTOS NOMEADOS

JAPÃO PM PRESSIONA EMPRESAS PARA SUBIREM SALÁRIOS

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O Chefe do Executivo estará hoje em Cantão para participar nas celebrações do 110º aniversário da Universidade de Jinan, onde “serão discutidos meios de acelerar a transformação da universidade num centro educacional de alto nível.” Segundo um comunicado oficial, está prevista uma reunião com o reitor da universidade, Hu Jun, bem como um encontro com alunos de Macau actualmente a estudar na instituição.

o consumo, principal motor da economia nacional. Em 2015, o salário mensal médio no Japão aumentou 0,2% em termos nominais, mas desceu 0,1% em termos reais (incluindo o efeito da wnflação), o que representa a quinta queda anual consecutiva.

O goleador português Cristiano Ronaldo e o seleccionador Fernando Santos estão entre os nomeados para o prémio de melhor jogador e melhor treinador, respectivamente, dos Globe Soccer Awards, que irá decorrer no Dubai, numa cerimónia marcada para 27 de Dezembro. Além de Cristiano Ronaldo, Gareth Bale (Real Madrid), Antoine Griezmann (Atlético Madrid), Lionel Messi (Barcelona), Gonzalo Higuaín (Juventus) e Jamie Vardy (Leicester). No prémio de melhor treinador, Fernando Santos (Portugal) terá a concorrência de Zinedine Zidane (Real Madrid), Unai Emery (PSG), Massimiliano Allegri (Juventus) e Claudio Ranieri (Leicester).


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