Hoje Macau 18 FEV 2020 # 4468

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TERÇA-FEIRA 18 DE FEVEREIRO DE 2020 • ANO XIX • Nº4468

SOCIEDADE

AS GUERRAS LÁ DE CASA

PETIÇÃO

MOTORISTAS EM CRISE PÁGINA 5

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NORBERTO ROSA

OPORTUNIDADES ORIENTAIS ENTREVISTA

Jogo duplo O Governo confirmou ontem que os casinos podem voltar a operar a partir desta quinta-feira. Foi também anunciado que os trabalhadores não residentes, vindos do Interior da China, terão obrigatoriamente de cumprir um período de quarentena de 14 dias. A medida entra igualmente em vigor esta quinta-feira. “Implementamos políticas, tendo em consideração um ponto de equilíbrio”, afirmou Lei Wai Nong, justificando as novas medidas.

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PÁGINAS 2-3

hojemacau

RÓMULO SANTOS

PÁGINA 4

MOP$10

HOJE MACAU

HOJE MACAU

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ


2 coronavírus

18.2.2020 terça-feira

JOGO À PORTA FECHADA

COVID-19 CASINOS REABREM

EM DIA DE REFORÇO DE MEDIDAS NAS FRONTEIRAS

A partir da meia-noite de quarta-feira todos os trabalhadores não residentes provenientes da China terão de cumprir uma quarentena obrigatória de 14 dias. Residentes e turistas estão para já isentos. Também nos primeiros instantes do dia 20, os casinos podem voltar a abrir portas

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EMOS de garantir a tigela de arroz”, foi desta forma que Lei Wai Nong, secretário para a Economia e Finanças, justificou a reabertura dos casinos anunciada ontem, quando questionado sobre

a coerência da medida, divulgada a par com a obrigatoriedade de quarentena para todos os trabalhadores não residentes (TNR) provenientes do Interior da China, que queiram entrar em Macau. “Nós implementamos políticas, tendo em consideração um ponto de

ZHUHAI MAIS DUAS VÍTIMAS MORTAIS

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ubiu para quatro o número de mortos provocados pelo novo tipo de coronavírus na cidade de Zhuhai da província de Guangdong, que faz fronteira com Macau. As duas mortes anteriores ocorreram nos dias 6 e 12 de Fevereiro, respectivamente. No total, Guangdong regista 1.322 casos, o segundo número mais alto entre as 27 províncias e regiões semiautónomas da China continental, mas muito longe da cifra reportada pela província de Hubei, centro do novo coronavírus,

designado Covid-19. Em Macau, as autoridades de saúde confirmaram ontem que há 13 dias que não se registam novos casos de infecção. Dos 10 casos da doença no território, cinco pacientes já tiveram alta, estando os restantes cinco em observação e com “sintomas ligeiros”, transmitiu Chang Tam Fei , Coordenador dos Serviços de Urgência do Centro Hospitalar Conde S. Januário. Em Macau existem ainda 1363 casos excluídos e nas últimas 24 horas foram analisadas 168 amostras.

equilíbrio. Temos de contrabalançar políticas, o risco, a segurança e ainda a situação de Macau. Temos 84 mil trabalhadores não residentes ou de Macau que precisam de emprego, de voltar a trabalhar. E, por isso, temos de garantir a tigela de arroz deles. Temos, ao mesmo tempo, de salvaguardar a sua saúde, permitindo que trabalhem em locais com condições de higiénicas”, argumentou o secretário, por ocasião da conferência de imprensa diária sobra a situação do novo tipo de coronavírus. Assim, a partir das 00:00 de quinta-feira os casinos vão poder reactivar o seu normal funcionamento, interrompido desde o passado dia 6 de Fevereiro, quando o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, anunciou uma medida excepcional decretada para evitar a propagação do surto do novo tipo de coronavírus. O Chefe do Executivo de

Macau determinou agora, por despacho, que “é levantada a medida excepcional a partir das 00:00 de dia 20”, disse o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong. O responsável explicou ainda que os casinos terão um período de 30 dias a contar a partir de quinta-feira para poderem começar a abrir portas, sendo que, passado o período de transição, todos os casinos terão de estar abertos. Sobre as condições de reabertura dos casinos, Lei Wai Nong referiu que foram vários os factores ponderados e várias as medidas que terão de ser verificadas, tendo sido sempre colocado em primeiro lugar, a saúde da população e dos milhares de trabalhadores dos estabelecimentos. “A reabertura dos casinos teve por base uma apreciação muito cautelosa em relação ao risco de

transmissibilidade da infecção. Temos critérios para as mesas do jogo, que têm de manter uma distância mínima umas das outras e ainda temos orientações sobre a desinfecção do ambiente, a manutenção da higiene e salubridade do espaço, a obrigatoriedade de utilização de máscaras. Devemos sempre prestar atenção à saúde da população, pois não podemos abrir os casinos sacrificando a sua saúde”, vincou o secretário para a Economia e Finanças. Sobre os restantes estabelecimentos fechados aquando do decreto especial, o Governo esclareceu que, para já, cinemas, teatros, estabelecimentos de saunas e massagens, bares discotecas e ginásios, entre outros espaços, vão continuar encerrados até ordem em contrário, para prevenir o risco de contágio. Lei Wai Nong , afirma que vai estar atento à reabertura dos casinos


coronavírus 3

terça-feira 18.2.2020

TIAGO ALCÂNTARA

ESCOLAS REINÍCIO INCERTO

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s escolas de Macau continuam sem data de regresso à actividade. “Só quando a situação for mais estável nas regiões vizinhas, vamos considerar a reabertura das escolas”, afirmou a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U. Temos de ter em conta a situação epidémica das outras regiões, porque temos cerca de 3000 estudantes que actualmente moram em Zhuhai e que precisam de passar pelas fronteiras diariamente”, acrescentou. Além disso, a secretária considerou não estarem ainda reunidas as condições de reabertura das escolas pelo facto de “numa sala de aula haver sempre uma alta concentração de estudantes” e por actualmente considerar que alguns estudantes que estão noutras cidades da China estão mais seguros em suas casas.

e não descarta a possibilidade de voltar atrás com a medida caso haja algum incidente. “Prometo que vamos monitorizar de perto o grau de risco dos casinos. Se houver algum incidente, poderemos retomar as medidas”, assegurou.

QUARENTENA PARA TNR

O Governo anunciou ontem também que todos os TNR que estiveram no Interior da China nas últimas duas semanas, terão de fazer uma quarentena obrigatória de 14 dias antes de poderem entrar no território. A medida entra também em vigor, a partir das 00:00 de quinta-feira e a imposição de 14 dias de quarentena é tomada porque, apesar das várias medidas já impostas pelo Governo para reduzir o fluxo nas fronteiras, o movimento continua a ser considerável, sendo que, só no domingo, as fronteiras

registaram mais de “46 mil entradas e saídas do território”, explicou a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U. “Neste momento, a situação epidémica está numa situação muito severa”, acrescentou. No despacho do Chefe do Executivo, divulgado ontem pode ler-

“Temos 84 mil trabalhadores não residentes ou de Macau que precisam de emprego, de voltar a trabalhar. E, por isso, temos de garantir a tigela de arroz deles.” LEI WAI NONG SECRETÁRIO PARA A ECONOMIA E FINANÇAS

-se que “todos os titulares do título de identificação de trabalhador não residente que pretendam entrar na RAEM e que nos 14 dias anteriores à sua entrada tenham visitado o Interior da China, necessitam de se sujeitar à observação médica por 14 dias em locais na cidade de Zhuhai indicados pela autoridade sanitária e obter o certificado médico de não infecção”. De referir ainda que “por motivo de interesse público, nomeadamente a prevenção, controlo e tratamento da doença, socorro e emergência”, as autoridades podem dispensar “o cumprimento das medidas”. O decreto exclui assim, tanto residentes como os turistas que entrem em Macau vindos do Interior da China, da obrigatoriedade de fazer quarentena admitindo, contudo, que tal pode vir a acontecer no futuro, caso a situação epidémica assim o justifique.

“Perante um elevado número de entradas e saídas da população de Macau, temos de acompanhar a situação adoptando as medidas para os residentes de Macau que voltam da China, sendo implementada uma quarentena em casa de 14 dias. Mas só será implementada de acordo com a evolução da epidemia”, explicou Ao Ieong U. Já se o número de turistas voltar a subir, a secretária admite também que o Governo pode vir a ajustar as medidas de entrada no território. “Não afastamos a possibilidade de apertar as medidas de entrada para os turistas. Por exemplo, as declarações ou as despistagens sobre a possibilidade ou não de ter contraído alguma infecção relacionada com o coronavírus”. Para já, o que é certo é que os TNR que vêm de Zhuhai terão de cumprir a quarentena na própria cidade chinesa, ficando a reentrada em Macau dependente da apresentação de um certificado médico que comprove a sua não infecção pelo novo tipo de coronavírus. Terminada a quarentena em Zhuhai e obtido o certificado, os trabalhadores são depois transferidos para Macau num veículo dedicado ao seu transporte. Quanto aos TNR que tenham estado no Interior da China nos últimos 14 dias e cheguem a Macau vindos de outros sítios, como por exemplo o aeroporto de Hong Kong, terão também de “ficar em observação médica, em locais indicados pelas autoridades de Macau” e assumir as respectivas despesas, explicou o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong. Devido às medidas impostas relativamente aos TNR, o secretário Lei Wai Nong, voltou a apelar aos operadores dos casinos para arranjarem alojamento em Macau para os seus funcionários detentores de “blue card”. Pedro Arede com Lusa info@hojemacau.com.mo

TNR PEREIRA COUTINHO APOIA OBRIGAÇÃO DE QUARENTENA

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OSÉ Pereira Coutinho concorda com a decisão de obrigar os trabalhadores não-residentes a cumprirem um período de quarentena de 14 dias quando regressam a Macau vindos de Zhuhai, mas considera que a medida deveria ser estendida aos residentes. “Apoio esta medida e acho que todos trabalhadores não-residentes e turistas que estiveram no Interior têm de ser submetidos a quarentena”, afirmou Coutinho, ontem. “A questão afecta mais os não-residentes que trabalham em Macau, mas que vivem em Zhuhai. Esses indivíduos têm de fazer o “vai-e-vem” entre Macau e Zhuhai e seria mais seguro se ficassem a viver em Macau. Temos de ver isto como uma medida para este tempo de crise do coronavírus”, acrescentou. Por outro lado, o deputado considerou que a medida devia afectar igualmente os residentes que se desloquem ao Interior. “Quanto aos residentes de Macau acho que é normal que também lhes seja exigido a quarentena”, apontou, em declarações prestadas ainda antes de ser explicado que apenas os não-residentes seriam afectados. Se por um lado, José Pereira Coutinho deixou elogios à medida, por outro, criticou o facto de não entrar em vigor hoje, uma vez que se teme uma corrida à RAEM antes de se começar a exigir a quarentena, tal como aconteceu em Hong Kong. “Acho que a medida devia ser imediata”, atirou.


4 coronavírus

18.2.2020 terça-feira

COVID-19 INVESTIGADORA DIZ QUE ISOLAMENTO PODE ORIGINAR CONFLITOS FAMILIARES

O preço da clausura Loretta Lou, antropóloga, defende que a sociedade de Macau está mais unida no combate ao novo surto do coronavírus do que a de Hong Kong. O cumprimento das ordens para a população ficar em casa está a afectar mais as mulheres, podendo levar a conflitos familiares, alerta

Quanto a possíveis conflitos familiares, Lou sublinhou que “embora a permanência em casa possa significar mais tempo feliz e de qualidade para algumas famílias, os casais que lutam no seu relacionamento conjugal terão dificuldade em ficar num pequeno apartamento 24 horas por dia, sete dias por semana”. A docente, doutorada em Oxford e que tem o foco de trabalho na China, incluindo Hong Kong, Macau e Taiwan, lembrou que neste cenário os conflitos não se resumem a marido e mulher, “mas também entre filhos e pais, com os sogros, etc”.

Comércio Fornecimento limitado de lixívia e desinfectantes

Os residentes sentem que é cada vez mais difícil conseguir comprar lixívia e produtos de limpeza desinfectantes devido à epidemia Covid-19. O ponto da situação foi traçado por José Pereira Coutinho, ontem. “Já há bastante tempo que os supermercados e algumas farmácias deixaram de ter produtos desinfectantes básicos para os residentes de Macau. Já fiz chegar essa mensagem das queixas dos residentes de Macau à senhora secretária”, revelou o deputado. Creio que o Governo está a fazer todos os possíveis para manter o abastecimento destes produtos aos supermercados e farmácias”, completou. Face a esta situação o legislador apelou a que se evite a corrida aos supermercados porque isso só vai “prejudicar quem realmente precisa dos produtos”.

Algo que tem muito interesse em acompanhar quando a epidemia estiver sob controlo, de forma a poder responder, por exemplo, à questão se a permanência prolongada das famílias em casa precipitou o fenómeno de violência doméstica, apesar de não terem sido relatados casos nos ‘media’ e de, “em Macau,

Em termos globais, analisou Loretta Lou, “a sociedade de Macau está unida na luta contra o Covid-19”

como em outros lugares, a violência doméstica ser considerada ‘vergonha doméstica’ que não deve ser divulgada”, frisou.

A “OBEDIÊNCIA” DE MACAU

Na mesma entrevista, Loretta Lou defendeu que "a atitude obediente” da população de Macau ficou expressa quando acatou o apelo para ficar em casa para combater o surto, o que contrasta com “a rebelião” de Hong Kong. “Sendo elogiada como a ‘boa criança’ das duas regiões administrativas especiais, a atitude obediente dos cidadãos de Macau contrasta fortemente com a rebe-

PREVENÇÃO AGNES LAM PEDE MEDIDAS PARA GRUPOS “VULNERÁVEIS”

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deputada Agnes Lam quer saber que medidas de prevenção contra o coronavírus vão ser adoptadas a pensar nos grupos de risco como grávidas, idosos e pessoas com deficiência. É este o conteúdo da última interpelação escrita da legisladora, que aponta que certas pessoas podem ter mais dificuldades no acesso a comida, a fazer compras ou em prevenirem-se contra o surto do coronavírus Covid-19.

“Será que o Governo vai tomar medidas de resposta ao coronavírus a pensar nos grupos de alto risco e nas pessoas mais vulneráveis?”, pergunta a deputada no documento divulgado ontem. RÓMULO SANTOS

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antropóloga Loretta Lou defendeu à agência Lusa que a ‘clausura’ vivida em Macau por causo do surto do coronavírus Covid-19 parece estar a afectar mais as mulheres e pode provocar conflitos familiares. “O que sabemos agora é que as mulheres parecem ser mais afectadas pela permanência do que os homens, pois são as únicas responsáveis pela culinária e pelo ensino em casa”, sublinhou a investigadora da Universidade de Macau (UM), especializada em meio ambiente, bem-estar, movimentos sociais, moralidade e ética.

lião de Hong Kong”, concluiu a investigadora da UM. Afinal, “quando o novo Chefe do Executivo de Macau, Ho Iat Seng, instou a população de Macau a ficar em casa para ajudar a conter o vírus, a maioria das pessoas seguiu o conselho”. A docente sublinhou que “naturalmente, isso também é possível pelo facto de a maioria das pessoas em Macau trabalhar na indústria de jogos”. “Enquanto muitas pessoas em Hong Kong evitaram sair, outros que não podiam trabalhar tiveram de continuar a assegurar os negócios como sempre”, enquanto em Macau “quando os casinos estão fechados e muitas pessoas não têm motivos para deixar as suas casas”, frisou. Em termos globais, analisou Loretta Lou, “a sociedade de Macau está unida na luta contra o Covid-19”. E o facto de “as pessoas estarem satisfeitas em geral com as respostas e medidas do Governo reforça o seu sentido de comunidade”, sustentou. A antropóloga encontrou pelo menos uma excepção: “quando a primeira paciente que recebeu alta uma chinesa do continente - deixou Macau sem pagar sua taxa de tratamento, a divisão entre residentes de Macau e os 'free-riders' do continente emergiu rapidamente”, numa alusão àqueles que beneficiam de recursos, bens ou serviços, sem pagar o custo do benefício. A discussão pública e nas redes sociais surgiu quando a primeira paciente recebeu alta e saiu do território sem pagar o respectivo tratamento, um custo exigido a outros pacientes que, entretanto, tiveram alta. Esta “é uma questão que o Governo de Macau precisa tratar delicadamente, trabalhando para encontrar um equilíbrio entre o sentido humanitário, a justiça e diplomacia”, defendeu.

Segundo a proposta, estas medidas podem passar por auxiliar as pessoas mais velhas e com dificuldades de deslocação na compra de comida e produtos desinfectantes, auxílio para

mulheres grávidas ou pessoas com deficiência e ainda a possibilidade de trabalharem a partir de casa, durante este período. Mas no que diz respeito às medidas de prevenção, Agnes Lam mostra-se igualmente preocupada com os trabalhadores na linha da frente no sector do jogo e das vendas a retalho. Neste sentido, questiona se vai haver formação para estes traba-

lhadores lidarem com pessoas que se suspeitem estar infectadas e se haverá a obrigatoriedade de utilizarem máscaras. Sobre estes pedidos, a deputada considera que estas são medidas para complementar o que foi feito até agora e que se exigem devido ao últimos desenvolvimentos e face ao regresso progressivo à actividade dos departamentos do Governo e dos sectores privados.


coronavírus 5

Um grupo de motoristas de autocarros de turismo fala em salários de 2 mil e 3 mil patacas e pede a Ho Iat Seng que sejam disponibilizados empréstimos sem juros para os profissionais do sector, numa altura em que o turismo entrou em crise devido ao Covid-19

HOJE MACAU

terça-feira 18.2.2020

U

PETIÇÃO CERCA DE 400 CONDUTORES PEDEM AJUDA A HO IAT SENG

Estrada amarga não há turistas a vir a Macau em número suficiente, os profissionais não conseguem ganhar mais do que o salário base. Face a este cenário, o deputado José Pereira Coutinho voltou a apelar à revisão das leis laborais e à criação de um regime que permita

uma lei dos sindicatos, assim como a negociação colectiva. No entanto, o deputado ligado à Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), aponta que a prioridade é outra: “Neste momento os condutores não têm trabalho, mas têm família e despesas fixas,

De acordo com os representantes de um grupo de 400 profissionais do sector há famílias em situação de carência, o que descrevem como “as ruas da amargura” RÓMULO SANTOS

M grupo de motoristas de autocarros de turismo pediu a Ho Iat Seng que crie medidas de apoio aos profissionais do sector com empréstimos sem juros e antecipação dos pagamentos do subsídio do Regime de Previdência Central Não-Obrigatório. O pedido de auxílio foi entregue ontem, às 15h00, na sede do Chefe do Executivo, com a assistência do deputado José Pereira Coutinho. De acordo com os representantes de um grupo de 400 profissionais do sector, há famílias em situação de carência, o que descrevem como “as ruas da amargura”. Uma das pessoas que assumiu a posição em que se encontra foi Wong Tim Iao, motorista que ficou desempregado na sequência do impacto do Covido-19 para o sector do turismo. Ontem, em declarações aos jornalistas, Wong admitiu que está a viver à conta da mulher, que recebe um salário na indústria do jogo que ronda as 10 mil patacas, e ainda de empréstimos de amigos. Além de pagar uma renda de 7 mil patacas, tem ainda de cobrir os custos de educação do filho, de 3 anos, e da filha de 7 anos. No entanto, a situação estende-se a outros profissionais, mesmo empregados. Isto porque a indústria pratica salários base de 2 mil a 3 mil patacas, com o restante a ser pago em função do número de turistas transportados. Como

como as rendas. Dada a gravidade da situação entenderam vir ter directamente com o Chefe do Executivo porque cada dia que passa é mais um dia de sofrimento e menos um dia de apoio”, disse Coutinho, durante a entrega da petição. “A prioridades neste momento passa agora por encontrar uma solução para estas famílias”, acrescentou.

SEGUROS E FÉRIAS

O problema em casa afecta principalmente os condutores dos autocarros de turismo, mas também há trabalhadores que conduzem

shuttles dos casinos. Alguns deste terão ficado sem trabalho, mas o Governo anunciou o encerramento dos espaços de jogo. Em relação às medidas para o sector, Wong Tim Iao queixou-se igualmente dos seguros praticados, que só cobrem despesas superiores a 50 mil patacas. Em caso de incidentes com um montante inferior são os condutores que têm de suportar os custos. Por outro lado, outra das queixas do sector passa pelo facto de muitos condutores não terem contratos a tempo inteiro, mas apenas a tempo parcial, o que faz com que não tenham direito a férias nem subsídios por doença ou apoios de assistência médica. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

FAOM Lei Chan U quer orientações para empresas privadas

Lei Chan U, deputado ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), defende que o Governo tem de emitir orientações de prevenção contra o coronavírus para o sector privado. Num texto enviado às redacções, Lei Chan U defende que o Executivo precisa de dar orientações aos privados sobre questões como a criação de planos de prevenção e controlo da epidemia nos locais de trabalho, instalação de purificadores de ar, obrigatoriedade do uso de máscaras, medição de temperatura, entre outros. O deputado da FAOM alertou ainda que apesar de não haver casos há vários dias consecutivos, a situação pode sofrer alterações e as pessoas não podem “relaxar” nesta guerra contra o vírus. Lei Chan U recorda ainda que numa fase em que a sociedade está a regressar progressivamente à normalidade, as pessoas precisam de assumir comportamentos mais responsáveis e de isolamento, de forma a evitar contágios.


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NORBERTO ROSA SECRETÁRIO-GERAL DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE BANCOS

Grande Baía “é mais uma oportunidade” Os dois protocolos assinados entre a Autoridade Monetária e Cambial de Macau, a Associação de Bancos de Macau e a Associação Portuguesa de Bancos têm sido divulgados junto da banca portuguesa e de expressão lusófona no sentido de fomentar investimentos. Norberto Rosa, secretário-geral da APB, diz que é importante a banca portuguesa diversificar parceiros, pensando também no Oriente, e que tanto o BNU como a sucursal do BCP em Macau foram importantes durante a última crise económica em Portugal A Associação Portuguesa de Bancos assinou dois protocolos, um com a Associação de Bancos de Macau e outro virado para a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa. Na prática, o que tem sido feito nesse sentido? Em 2018 tivemos uma reunião com a Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) numa perspectiva de colaboração entre as autoridades portuguesas, a Associação Portuguesa de Bancos (APB) e a Associação de Bancos de Macau (ABM). Posteriormente tivemos uma reunião com a ABM que nos convidou a participar nesta iniciativa, no sentido de estabelecer um protocolo não só com a ABM, mas também com associações de bancos de países de expressão portuguesa. Tudo com esse objectivo de promover a participação entre a China e esses países, onde Macau serviria como plataforma. A partir daí divulgámos esse protocolo

pelos bancos portugueses, porque depois, com base nesse documento, serão os bancos a proceder a uma articulação com as autoridades de Macau no sentido de desenvolver esse processo de cooperação. Cabe então a cada entidade estabelecer essa ligação. Sim. O que entendi desse processo foi que havia uma intenção do Governo de Macau e da China de promover a RAEM como uma plataforma a fim de estabelecer mais facilmente essa

“A China caracteriza-se por ter um excesso de poupança e de liquidez, e portanto, o facto de [Macau] ter uma bolsa de valores é outra alternativa para investimentos.”

relação entre Portugal, os países de expressão portuguesa e a China. Há aqui uma dupla função no sentido de os bancos, mesmo através dos países de expressão portuguesa, se poderem articular de forma mais adequada com a China quer em processos de financiamento ou desenvolvimento desses países, quer na actividade comercial.

“Havendo uma maior publicidade, penso que esse projecto [Grande Baía] teria vantagens e oportunidades para outros sectores que não apenas o financeiro.”

Há então uma aposta no financiamento de grandes projectos. Sim. Tem duas vertentes. Por um lado, temos esse financiamento [no sentido de] poder haver investimentos cá em Portugal e em outros países de expressão portuguesa. Por outro lado, essa plataforma também poderá ajudar a que empresas que queiram ter relações comerciais com a China sejam apoiadas pelos bancos através desta plataforma. Poderá haver a possibilidade não só de fazer investimentos em actividades já existentes, adquirindo instituições ou empresas, como também de fazer novos investimentos. [Os protocolos] poderão facilitar essa articulação e aí os bancos podem vir a ter um papel importante no apoio às empresas portuguesas e às empresas chinesas que se queiram estabelecer em Portugal, nomeadamente através dos bancos de capital chinês que poderão facilitar essa actuação. Aí Macau poderá também ter um papel preponderante como o interface nesse processo.

visível ao longo dos anos, e não apenas recentemente? Isto tem um momento histórico para acontecer. Portugal viveu também uma crise financeira bastante grande e está ainda num processo de recuperação. Esta abertura da China e de Portugal à entrada de capitais chineses foi uma alteração estrutural que aconteceu recentemente. Antes não havia uma grande participação de capital chinês em Portugal e isso veio aprofundar o relacionamento entre os dois países. Tem-se assistido, por outro lado, a um aumento significativo da estrutura do comércio externo português, em que a China é um mercado importante. Neste momento penso que todas essas tendências poderão ser potenciais com este apoio dos bancos e o apoio da RAEM. Qual é a vantagem? É que há ali uma melhor percepção e compreensão do comportamento de Portugal e, por outro lado, também percebem melhor o comportamento da China. Há aqui uma facilidade de entendimento.

Os vinte anos da transferência de Administração de Macau celebraram-se o ano passado. Esta aproximação no sector financeiro com Portugal deveria ter acontecido de forma mais

Numa intervenção que fez em Macau falou de uma maior estabilidade do sector bancário na zona Euro depois dessa crise. É importante ter alternativas por parte dos bancos face aos desa-

fios que a zona Euro comporta? A China deve fazer parte da alternativa? É sempre importante alguma diversificação. No caso concreto das instituições em Macau, como o BNU e a sucursal do BCP, o [seu] papel foi importante no período de crise em que os bancos passaram por dificuldades. Isto porque [esses dois bancos] continuaram a contribuir para resultados positivos e para a liquidez das instituições financeiras portuguesas quando elas passaram por dificuldades de liquidez. [Essa presença] amenizou, [os bancos] não tinham a dimensão suficiente para impedir que houvesse uma crise, mas amenizou de alguma forma. Ter uma maior diversidade geográfica é importante para mitigar os riscos. Ou seja, uma vez que estamos na Europa onde existem dificuldades estruturais, que se prendem com o facto de estarmos com taxas de juro de referência do BCE negativas, de termos um sistema bancário maduro, com pouca capacidade de crescimento, o facto de existir alguma diversidade mitiga os riscos do sistema bancário nacional, apesar da melhoria que se registou nos últimos anos. A situação dos bancos está hoje muito melhor do que estava há dois ou três anos, mas há ainda problemas estruturais. O sector bancário português deve estar atento ao projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau? É mais uma oportunidade de negócios. Pelo que entendi da apresentação do projecto da Grande Baía estamos a falar de um projecto megalómano no sentido de ter uma grande dimensão, e poderão haver aqui outras oportunidades de negócios fundamentalmente em determinadas áreas industriais portuguesas, nomeadamente da construção, onde os bancos poderão apoiar essas empresas a participarem nesse grande projecto. Em Portugal é um assunto pouco conhecido. Havendo uma maior publicidade, penso que esse projecto teria vantagens e oportunidades para outros sectores que não apenas o financeiro. Mas os bancos

HOJE MACAU

ENTREVISTA


7 terça-feira 18.2.2020 www.hojemacau.com.mo

que já têm presença em Macau poderão apoiar essas empresas que queiram participar na Grande Baía. Como olha para a presença do BNU em Macau? Surpreende-o este desenvolvimento do banco ao longo dos anos? O BNU tem de ser visto de uma perspectiva quase institucional, quase como o representante de Portugal e mais do que uma instituição em particular. O BNU foi criado como um banco emissor com actividade comercial e está em Macau desde 1902 e foi sempre banco emissor com maior autonomia a partir dos anos 80. O relacionamento com a AMCM e a China foi sempre bom.

O banco continua a ter grande prestígio e o facto de ser banco emissor continua a ter essa importância. Esse reconhecimento foi feito pela China quando prorrogou o prazo para

“No caso concreto das instituições em Macau, como o BNU e a sucursal do BCP, o [seu] papel foi importante no período de crise em que os bancos passaram por dificuldades.”

continuar a ser o banco emissor. A China tem reconhecido, e a RAEM tem continuado a reconhecer o BNU como uma entidade que contribui para o desenvolvimento da região, uma entidade com prestígio. Esta evolução do BNU não é surpresa. Macau está a passar por uma fase de mudanças no seu sector financeiro, com o fim do regime offshore, por exemplo. Fala-se também na criação de uma bolsa de valores mais virada para o mercado dos países de língua portuguesa. É uma outra oportunidade para o sector bancário? [O projecto da bolsa de valores] está articulado com a possibilidade dos

próprios países de expressão portuguesa usarem mais o renmimbi. Estive em Macau na altura em que houve a emissão dos panda bonds. A criação de uma bolsa de valores poderá estar mais associada a esse tipo de entidades que tenham uma maior ligação entre a China e os países de expressão portuguesa. No futuro, algumas empresas poderiam usar a bolsa de valores até para se financiarem se tiverem uma actividade importante na China. Há aqui uma questão importante. A China caracteriza-se por ter um excesso de poupança e de liquidez, e portanto, o facto de [Macau] ter uma bolsa de valores é outra alternativa para investimentos. De alguma maneira

isso poderá ser a forma de algumas empresas terem uma ligação mais intíma com a China em termos comerciais. As empresas poderão também ter vantagens em ter algum capital ou financiamento através de uma bolsa de valores em Macau, mas isso só o futuro o dirá. Mas compreendo que haja essa intenção de tornar Macau numa perspectiva mais alargada em termos de actividade, ou seja, tornar o território num centro financeiro com várias vertentes. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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18.2.2020 terça-feira

71811 Infectados

10644

Covi novel cor

7264

Em estado crítico

Casos suspeitos

FONTES: • https://gisanddata.maps.arcgis.com/ apps/opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/ emergencies/diseases/novelcoronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019ncov/index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/ geographical-distribution-2019-ncovcases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/ new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/ pneumonia

OUTROS

INFECTADOS POR PAÍS / REGIÃO 70553 75 65 58 35 30 22 20 16 16 15 15 12 10

Interior da China Singapura Japão Hong Kong Tailândia Coreia do Sul Malásia Taiwan Alemanha Vietname Austrália EUA França Macau

9

Reino Unido

9 8 3 3 3 2 2 1 1 1 1 1 1 1

Emiratos Árabes Unidos Canadá Itália Filipinas Índia Rússia Espanha Nepal Cambodja Bélgica Egipto Finlândia Sri Lanka Suécia

369

Cruzeiro Diamond Princess países com casos de nCov países sem casos de nCov

Infectados

7

MACAU

Infectados

3 Curados

Macau

58 HONG KONG

Infectados

1

HONG KONG

1

Curado

Hong Kong

Morto


coronavírus 9

terça-feira 18.2.2020

id-19 ronavírus

1775

11369

HOJE NA CHÁVENA

Curados

Mortos

1-99 10-99 100-499 500-999 1000-9999 +10000 Ocorrências nas áreas afectadas

Dados actualizados até à hora do fecho da edição

Covid-19 vs SARS

CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO

70,000 12,000 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0

20

dias

40

dias

60

dias

Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto

80

dias

100

dias

120

dias

REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Jiangsu Chongqing Shandong Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Shaanxi

INFECTADOS 58182 1322 1246 1171 1006 973 930 626 552 541 495 457 381 332 301 290 240

MORTOS 1696 4 16 0 3 6 1 0 5 2 3 11 4 1 3 0 1

REGIÃO Guangxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete

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18.2.2020 terça-feira

SUDESTE ASIÁTICO PEQUIM DISCUTE MEDIDAS DE CONTENÇÃO COM PAÍSES DA REGIÃO

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Unidade de combate

SAÚDE AUTORIDADES PEDEM A DOENTES RECUPERADOS QUE DOEM PLASMA

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S autoridades de saúde da China pediram ontem às pessoas que se curaram da infecção pelo novo coronavírus para doarem sangue a fim de ser extraído plasma para ajudar a tratar quem está em estado mais grave. Os laboratórios farmacêuticos estão a tentar desenvolver tratamentos e vacinas contra o novo coronavírus Covid-19. O plasma de doentes já curados contém anticorpos que podem ajudar a reduzir a carga viral em doentes graves, segundo disse aos jornalistas um responsável da comissão nacional de saúde da China. Onze doentes hospitalizados emWuhan, o epicentro da nova epidemia, receberam transfusões de plasma na semana passada, acrescentou em conferência de imprensa, Sun Yanrong, do centro biológico do Ministério da Ciência chinês. Um desses doentes que recebeu a transfusão já regressou a casa, um outro apresentou melhorias significativas e os restantes estão a dar sinais de recuperação. Um laboratório nacional da China assegurou também que os doentes que receberam transfusões de plasma registam melhorias logo nas primeiras 24 horas.

MNE A organização da reunião, “em tão pouco tempo”, demonstra a sua “vontade e determinação” para enfrentar dificuldades através de esforços coordenados

O

ministro chinês dos Negócios Estrangeiros viajará para o Laos entre 19 e 21 de Fevereiro, para abordar com os homólogos da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) medidas de combate ao novo coronavírus. O porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Geng Shuang disse que, como “vizinhos próximos”, os países da ASEAN têm a tradição de prestar apoio mútuo, e lembrou que, durante a crise da Síndrome Respiratória Aguda e

Grave (SARS), ou pneumonia atípica, em 2003, a organização também realizou uma cimeira. “Desde o início da epidemia do Covid-19, a China e os países da ASEAN mantêm estreita comunicação e colaboração”, disse o porta-voz, sublinhando que a organização da reunião, “em tão pouco tempo”, demonstra a sua “vontade e determinação” para enfrentar dificuldades através de esforços coordenados. Geng revelou que o ministro, Wang Yi, vai explicar as medidas tomadas pela China para combater a epidemia, e que espera discutir com os seus

homólogos o estabelecimento de um mecanismo permanente de cooperação pública em questões de saúde. Segundo o porta-voz, a capital do Laos sediará, simultaneamente à reunião ministerial, uma reunião de médicos especialistas da ASEAN, organização composta por Brunei, Birmânia, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Singapura, Tailândia e Vietname.

DOS NÚMEROS

No total, existem 70.553 casos de infecção na China continental, que exclui Macau e Hong

Kong. Entre aqueles casos, 58.182 foram reportados pela província de Hubei, epicentro do surto e onde várias cidades foram colocadas sob quarentena, com saídas e entradas interditas, uma medida que abrange cerca de 60 milhões de pessoas. No total, o país reportou 1.775 mortos. Há ainda a registar um morto na região chinesa de Hong Kong, um nas Filipinas, um no Japão, um em França e um em Taiwan. Os países do Sudeste Asiático e o Japão registam o maior número de casos para além da China.

HONG KONG POLÍCIA PROCURA AUTORES DE ROUBO DE PAPEL HIGIÉNICO

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M camião que transportava papel higiénico foi ontem alvo de um assalto à mão armada em Hong Kong, onde a escassez do produto motivou uma corrida ao comércio local, anunciou a polícia. As autoridades informaram que um motorista de um camião foi assaltado por três homens em frente a um supermercado

em Mong Kok, um dos bairros historicamente dominados pelas tríades locais. “O motorista foi ameaçado por três homens, armados com facas, que roubaram pacotes de papel higiénico no valor de mais de mil dólares de Hong Kong “, indicou um porta-voz da polícia. Imagens de vídeo difundidas por

meios de comunicação social locais mostravam investigadores da polícia em redor de vários blocos com papel higiénico, à frente de um supermercado. Há cerca de duas semanas que encontrar papel higiénico se tornou difícil em Hong Kong, apesar das garantias do Executivo de que o fornecimento de

bens não será afectado pelo surto do coronavírus Covid-19. Os supermercados não têm conseguido reabastecer com rapidez suficiente, e longas filas de clientes formam-se à porta das lojas ainda antes da abertura, à procura de outros bem como arroz, massas, detergentes e desinfectantes.

PARLAMENTO PONDERADO ADIAMENTO DE SESSÃO PLENÁRIA

O

órgão máximo legislativo da China poderá adiar a sua sessão plenária, o mais importante evento anual da agenda política chinesa, revelou ontem a imprensa estatal, numa altura em que o país enfrenta o surto do novo coronavírus. Segundo a agência noticiosa oficial Xinhua, o Comité Permanente da 13.ª Assembleia Nacional Popular (ANP) vai deliberar uma proposta de adiamento da sua sessão plenária, cujo inicio estava previsto para 5 de Março. Durante a sessão anual, que dura 10 dias, os quase 3.000 deputados, eleitos por cinco anos, a partir das assembleias das diferentes províncias, regiões autónomas, municípios, regiões administrativas especiais e das forças armadas do país, estão encarregues de aprovar projectos de lei, o relatório do Governo ou o orçamento de Estado. O Comité Permanente da ANP, presidido por Li Zhanshu, vai avançar com aquela proposta durante a sua sessão bimensal, que se realiza em Pequim, na próxima semana. A mesma sessão vai rever um projecto de lei que visa proibir o comércio ilegal de animais selvagens e eliminação dos “maus hábitos” de consumo de animais selvagens “para garantir a vida, saúde e segurança das populações”.


terça-feira 18.2.2020

De que me vale sair, se me constipo logo?

Uma asa no Além Paulo José Miranda

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UIGI Pirandello disse numa entrevista que dividia os escritores em dois grupos: aqueles que se encantavam com o que viam, com o que acontecia fora deles e passavam a descrevê-lo a quem chamava escritores naturalistas; e aqueles que se surpreendiam com o que se passava dentro deles mesmos, com a incongruência entre o que sabiam e faziam, o desconhecido enorme que os habitava, a quem chamava escritores filosóficos. Termina por dizer: “Infelizmente faço parte do segundo grupo.” O seu conterrâneo Marcello Crocetta, nascido em 1975 em Agrigento, pode ser também considerado um escritor desse segundo grupo. Os seus livros são todos de textos curtos, alguns de duas páginas, e desde o início que dividiram a crítica italiana, considerando-os entre pequenos contos e crónicas. Recentemente, quando esteve em Portugal, numa entrevista concedida à poeta e jornalista Inês Fonseca Santos, para o programa de TV “Todas as Palavras”, Crocetta disse acerca desse assunto: “Aquilo que escrevo é conto. A matriz é sempre a ficção. Se algo acontece comigo, ou penso acerca de um acontecimento ou comportamento social, a tendência natural da minha escrita é criar uma personagem ou personagens e pulverizar o eu, de que a crónica tanto vive. Se acontece, por vezes, o texto desenvolver-se na primeira pessoa, não sou eu que falo, mas uma ficção. Eu não tenho opiniões, e seguramente menos conhecimento ainda para dissertar acerca de um assunto, embora me julgue capaz de criar “eus” fictícios que se movem em determinados cenários que talvez não sejam mentira. Aliás, todos sabemos que o eu é uma ficção não assumida enquanto tal. A minha escrita leva apenas essa premissa à conclusão ficcional. Se eu não sei quem sou, se me ponho a discorrer acerca de um assunto, como este aqui e agora, é evidente que é uma ficção.” Quando Fonseca Santos lhe pergunta: “Então, qual a diferença entre o que acaba de dizer e um conto que escreve?” responde: “Não sei. Mas suspeito que seja a apresentação do corpo. Estas palavras colam-se a mim, parecem ser expressões minhas – ou pelo menos é desse modo que tendemos a ver –, as que escrevo separam-se naturalmente de mim.” Esta sua resposta faz-nos lembrar de imediato o conto “Amanhã Serei Bonita”, do seu livro “Apresentar Argumentos à Beira do Suicídio”, de 2003, em que a narradora ao passar a lista do que tem para fazer nesse dia, durante o seu pequeno-almoço – três horas de exercício no ginásio, meditação, yoga, passar

na loja de produtos naturais –, pensa “Fui eu mesma que pensei isto? Isto sou eu mesma? É isto que eu quero fazer?” Crocetta mostra-nos que nem aquilo que parece termos escolhido fazer pode ser expressão de um “eu”, mas uma ficção. Neste caso, uma ficção colectiva, mais ou menos abrangente. A pulverização do eu a que Marcello Crocetta se referia na entrevista acima citada não tem a ver com uma teoria, mas com uma vivência do autor, que não distingue entre o que consideramos não saber de facto

Crocetta escreve através de “eus” que ganham existência através de uma escrita que é atravessada pela crença de que nada em nós nos pertence, nem o desconhecido

e aquilo que nos é imposto pelo grupo social a que pertencemos. Nós não somos nós apenas por desconhecermos o futuro ou não termos todos os dados para tomar uma decisão acerca da nossa vida, nós não somos nós por isso e por também assumirmos comportamentos que têm a ver com o nosso “habitat”. Comida saudável, horas de ginásio, meditação, yoga não fariam parte da vida de Pamela – a narradora de “Amanhã Serei Bonita” – se tivesse nascido há 50 anos. Ao tomar o pequeno-almoço, no seu bonito apartamento de Roma, dá-se conta de que talvez as suas decisões, o que julga serem as suas decisões, não passem de decisões de outros por ela. No seguimento dessa reflexão, Pamela pensa ainda: “Mas se eu agora decidisse deixar de ir ao ginásio, de fazer meditação e yoga, seria eu a decidir?” É este pensar exaustivo de Pamela acerca da possibilidade de não existência de um eu dentro de si que agonia o leitor, não só neste conto, mas em quase todos os contos de Marcello Crocetta. A partir daquele momento Pamela passa a viver na vertigem da não existência do

eu ou, melhor seria dizer, na vertigem da confirmação da não existência do eu. De cada vez que pensa algo, pensa que não há um ela mesma a pensá-lo, mas que alguém pensa por ela, o que acaba por levá-la ao suicídio. Suicídio que acaba por se tornar assassínio, pois alguém dentro dela a levou a esse gesto final. Dias antes de se matar, de alguém a matar, envia uma mensagem pelo telemóvel à sua amiga Manuela, dizendo: “Alguém em mim me está a matar”. Este “alguém em mim” é o motor da escrita de Marcello Crocetta, que segundo ele é incompatível com a crónica. Esta exige um “eu” que se assuma como se existisse, e Crocetta escreve através de “eus” que ganham existência através de uma escrita que é atravessada pela crença de que nada em nós nos pertence, nem o desconhecido. Apesar disto, termina por dizer na entrevista a Inês Fonseca Santos: “Mas não tenho nada contra a crónica. Só que ela não me assenta bem.” No fundo, a escrita de Marcello Crocetta não anda longe das reflexões que moviam a do seu conterrâneo Luigi Pirandello.


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Amélia Vieira

18.2.2020 terça-feira

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O fenómeno do hospedeiro

Amélia Vieira

Quando se viaja pela Judeia um profundo pesar assola o coração desde o princípio Chateaubriand

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TRAVESSEMOS então este deserto pois que é Natal no mundo e sem ele não há a festa. Aquela faixa estreita e alta, por onde todas as colunas de um estranho fogo se levantam, é um corpo, um organismo, um efeito anatómico, e o seu estreito desenho nos mapas parece-nos ainda uma serpente emplumada, e se grandes extensões na Terra são mais ou menos estáticas, neste corredor tudo o que muda nos fez mudar também. O metabolismo deu certamente origem a um “órgão” não assimilável pelo conjunto do todo, uma árvore trepadeira perto do jardim do paraíso onde querubins guardiões ainda vigiam o mistério

vegetal do seu reino. Daqui, todos se foram em diásporas e reinos disseminados para o corpo mundo que os circunscreveu ao seu domicílio de estranhos hospedeiros, mas o órgão retorna, e mesmo quando não está no local de origem sente as dores fantasmas do amputado, e é este órgão que se vê submetido a uma luta infinda perante o corpo que se instala por fim no local nascido. Foi a dissidência da sua condição original que criou o coração, e nós ainda caminhamos à procura do centro, ponto indizível do tal órgão indesejado neste corpo em circuito fechado

que expele sémen e detritos, mas que pode vir um dia a ser o lugar da habitação: somos escravos e estrageiros no corpo habitado e não sabemos onde está nele o local mais santo. Tocar nesse corpo é o convite ao hospedeiro na funda gruta da sua estalejaria, mas se o corpo apenas nascer, não saberá desta função. Se da casa de David vier um longo entendimento, essa casa é a Arca e transportar o seu enigma convidar-nos-á a dançar enquanto pelo deserto a marcha vai. Quem regressou da viagem veio por uma estrela. Foi na época de um corpo

Com compassos de espera até ao estertor final nós vamos prosseguindo tão sós como num qualquer deserto e faltanos ainda saber da rota deste desconhecido habitado

muito sombrio que não deixou de sentir a sua vocação, e se nas margens de um Mar Morto a imortalidade o tomou, é por que o mar é um elemento que morrerá quando todo o deserto cobrir o detrito que foi a humanidade, e nem por isso fomos menos sagrados a um tempo que esse menino que nasceu. Que nascer era tudo que os profetas almejavam para libertar o seu mundo da morte constante, da fuga sem fim, da diáspora, dos ódios de todos. Nascer em qualquer lado sempre a andar, e regressar um dia apenas pelos sonhos- por um imperecível sonho- que só um corpo tão glorioso não apagara. Quando toda a memória dele se for estaremos perdidos dentro de nós, o corpo quer viver, mas a sua alma, não, e tudo lhe serve de combate a um confronto épico onde a matéria se endeusa para cobrir a fria corrente... Sem que o saibamos podemos estar mortos dentro do corpo a pedir ao desejo que nos traga um sentido para não morrermos de terror. Os que vaguearam pelas vagas de inimigos retornaram ao lar, os dissidentes desse lar deram-nos uma luz, mas, se o corpo estiver coberto de musgo pela passagem dos presépios, apenas andaremos em busca do nosso refúgio imaginário. O deserto onde nasce um deus não precisa de mais nada que ser um ponto de infinito entre as Nações. Nem nós, corpo imenso, somos capazes de cobrir a sua grandiosa desolação, nem entender os rios onde se chorou para a ele retornar. Ao nosso corpo juntemos as palavras do Levítico, 19, 3334: «Não oprimireis o estrangeiro que permanecer na vossa terra» o que não conhecermos de nós que seja bem-vindo e se junte para a transformação; os nossos órgãos de fogo não podem destruir toda a grande casa! Com compassos de espera até ao estertor final nós vamos prosseguindo tão sós como num qualquer deserto e falta-nos ainda saber da rota deste desconhecido habitado. Veste-se de usura e é indecifrável nos seus desígnios? Despe a usura e cobre-se de um manto bom e protector? É porque veio da sua própria necessidade ocupar o tempo no espaço que deve ser melhorado e criar luz nas próprias entranhas. Diz-nos ainda que seis órgãos servem o ser humano e três escapam ao seu controlo, e nesta aventura saberemos o que temos de integrar. Nada se passa muito além e, no entanto, é sempre para longe que reflectimos e desconhecidos de nós mesmos, festejamos. Estamos na hospedaria mas está tudo preenchido, não temos lugar.... e quando damos por nós fomos parar a um local improvável, nos confins do mundo, desértico, com as dores de parto de um mistério por decifrar. Guardemos os segredos e caminhemos.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

terça-feira 18.2.2020

Compositores e Intérpretes através dos Tempos Michel Reis

Henri Vieuxtemps (1820-1881)

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ENRI François Vieuxtemps, nascido em Verviers no dia 17 de Fevereiro de 1820 e cujo bicentenário se assinalou ontem, foi talvez o maior representante da escola violinística franco-belga. Criado num ambiente familiar impregnado de música, recebe as suas primeiras lições do seu pai, violinista aficionado e construtor de violinos, prosseguindo os estudos com um conterrâneo do seu progenitor, Lecloux-Dejonc, que aponta nele grandes qualidades. Em 1826, com apenas seis anos, inicia a sua carreira concertística com o Concerto para Violino e Orquestra n.º 5 de Jacques Rode. Em 1827 dá o seu o primeiro concerto em Bruxelas, travando conhecimento com o violinista e compositor Charles-Auguste de Bériot, que acede a admiti-lo nas suas classes do Conservatório de Paris. Vieuxtemps muda-se para a capital francesa em 1829. No entanto, o casamento de Bériot com a cantora lírica Maria Malibran e a sua partida de Paris em digressão de concertos, levam Vieuxtemps a regressar a Bruxelas, onde alterna os estudos com uma importante actividade concertística pelo seu país e pela França, Alemanha, Itália e Estados Unidos, colaborando em especial com a eminente meio-soprano Pauline Viardot, irmã de Malibran. Numa digressão pela Alemanha em 1833, com apenas treze anos, conhece e torna-se amigo de Louis Spohr e Robert Schumann, que o compara o jovem virtuoso a Nicollò Paganini. Durante a década seguinte visita várias cidades europeias, impressionando com o seu virtuosismo não apenas o público, mas também compositores famosos como Hector Berlioz e o próprio Paganini, com quem trava conhecimento na sua estreia londrina em 1834. Com aspirações a tornar-se também compositor e tendo já tido lições com o reputado Simon Sechter em Viena, passa o Inverno de 1835-36 a estudar composição com Anton Reicha em Paris, datando a sua primeira composição de 1836: o Concerto para Violino n.º 2 em Fá sustenido menor, Op. 19. A sua juventude e o seu virtuosismo criam-lhe uma fama lendária. Entre os seus compositores mais admirados encontra-se Beethoven, de quem se converte em intérprete favorito do seu Concerto para Violino, Op. 61. Em 1837 e 1839 realiza digressões na Rússia, onde adquire uma grande reputação. Durante a segunda digressão escreve o Concerto para Violino n.º 1 em Mi Maior, Op. 10, estreado em Paris em 1841 com o aplauso de Wagner e Berlioz. Em 1843 e 1844, efectua a primeira digressão de concertos nos Estados Unidos, compondo para a ocasião Souvenirs d’Amérique, Op. 17. Na sequência da digressão americana, segue-se uma tournée pela Alema-

MARIE ALEXANDRE ALOPHE

O Paganini belga

nha, onde Vieuxtemps comporia uma nova obra, o Concerto para Violino n.º 3 em Lá Maior, Op. 25, muito influenciado pelo seu amado Concerto para Violino de Beethoven. Em 1844 casa-se com a pianista vienense Josephine Eder, e entre 1846 e 1852 estabelece-se na Rússia como violinista da corte, violinista solista dos Teatros Imperiais de São Petersburgo e professor do conservatório

desta cidade. Ali compõe, para além de muitas outras obras, um dos seus concertos mais conhecidos, o Concerto para Violino n.º 4 em Ré menor, Op. 31, descrito por Berlioz como “uma sinfonia para violino”. Apesar de ter assinado um contrato de seis anos com a corte russa, foi-lhe permitido dar concertos fora desse país durante as suas férias anuais, continuando a actuar em toda a Europa.

A sua juventude e o seu virtuosismo criam-lhe uma fama lendária. Entre os seus compositores mais admirados encontra-se Beethoven, de quem se converte em intérprete favorito do seu Concerto para Violino, Op. 61

Vieuxtemps regressa à sua Bélgica natal em 1852 e permanece em Bruxelas até 1854, quando se muda para Dreieichenhain, perto de Frankfurt, onde permaneceria por mais de dez anos. A sua segunda digressão aos Estados Unidos teve lugar em 1858, onde actuou 75 vezes em menos de três meses! Em 1858, o seu amigo Hubert Léonard e professor do Conservatório de Bruxelas encomenda-lhe uma obra para ser utilizada num concurso de violino da instituição. Entre 1858 e 1859 Vieuxtemps compõe o Concerto para Violino n.º 5 em Lá menor “Grétry”, Op. 37, obra de grande sensibilidade e tom romântico. O concerto foi expressamente concebido para testar as capacidades de alunos muito avançados do instrumento, mas manteve-se no repertório por mérito próprio e provavelmente ultrapassa o Quarto Concerto em popularidade. Devido a uma situação política cada vez mais difícil, deixou a sua casa em Dreieichenhain em 1866 e estabeleceu-se em Paris. A sua mulher Josephine morreu de cólera em 1868, o que o levou a fazer uma longa pausa na sua intensa agenda de concertos. Embarcou na sua terceira digressão pelos Estados Unidos em 1870, influenciado a aceitá-la em parte pelo início da Guerra Franco-Prussiana. Durante essa tournée, actuou 121 vezes em meio ano. Em 1871, depois de ter recusado duas vezes cargos de ensino, aceitou finalmente uma cátedra no Conservatório de Bruxelas. Os seus alunos mais famosos foram Eugène Ysaÿe e Jenö Hubay. Em Setembro de 1873, enquanto se encontrava em França num concerto de caridade para ajudar vítimas da Guerra Franco-Prussiana, sofreu uma apoplexia e perdeu o uso do braço direito, tendo ido morar para Paris com a sua filha e genro, voltando gradualmente a compor e até a tocar, embora não publicamente. Após uma tentativa abortada de voltar às aulas no Conservatório, resolveu mudar-se com a sua irmã para Mustapha, na Argélia, onde o marido desta residia. Ai dá continuidade ao seu trabalho criativo e compõe os seus dois últimos concertos: o Concerto para Violino n.º 6 em Sol Maior, Op. 47 dedicado à violinista Wilhelmine Normand-Neruda e, logo a seguir, o Concerto para Violino n.º 7 em Lá menor, Op. 49, dedicado a Hubay que o visita na Argélia. Permaneceu um compositor ativo quase até ao dia da sua morte, no dia 6 de Junho de 1881. O seu corpo foi transladado para a Bélgica onde Vieuxtemps foi recebido como um herói nacional e enterrado em Verviers, a sua cidade natal. SUGESTÃO DE AUDIÇÃO: • Vieuxtemps: Violin Concerto No. 5 • Viktoria Mullova, violin, Academy of St. Martin in the Fields, Sir Neville Marriner – Philips, 1989


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Bong Joon Ho é nestes dias um dos realizador mais famosos do mundo após ter conquistado o óscar para melhor filme com Parasita. No entanto, a temática da luta de classes é muito anterior como nos mostra Snowpiercer. Neste filme, uma experiência falhada com o clima torna a Terra inabitável e a humanidade fica reduzida aos habitantes de um comboio que vivem num microcosmo. Neste ambiente é criado um novo sistema de classes em que quanto mais à frente mais importância se assume. A história do filme segue a tentativa de uma revolução por parte dos mais desfavorecidos. João Santos Filipe

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de Regulamentação Nuclear (FANR) aprovou a licença da empresa Nawah para operar o reactor 1 da central”, disse Hamad Alkaabi numa conferência de imprensa em Abu Dhabi, acrescentando que as operações terão início num “futuro próximo”.

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Os Emirados Árabes Unidos permitiram o início das operações da central nuclear de Barakah, a primeira no mundo árabe, anunciou ontem o representante permanente do país na Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). “A Autoridade Federal

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VIDA DE CÃO

FRÁGIL Não sou especialista em saúde, nem tenho intenções de ser. Contudo, se virmos a taxa de mortalidade do COVID-19 em Wuhan e fora da província de Hubei parece muito claro que as mortes se devem mais à falência do sistema de saúde local do que à mortalidade da doença. As imagens de uma mãe que tentava levar a filha aos tratamentos para a leucemia em Hubei mostra como a saúde faliu na província. Este aspecto por si só devia ser uma grande lição para o Interior, que espero que tire as ilações devidas, mas também para Macau. A resposta do Governo de Ho Iat Seng tem sido justamente elogiada. Mas se tivesse surgido um surto local teria o sistema de saúde de Macau capacidade de resposta? Respondo com um redondo não. No início, o número de camas para isolamento rondava as 350, o que é alarmante. É chocante como uma região tão traumatizada com a SARS não tem melhores equipamentos para as doenças infecto-contagiosas. Mas não é surpreendente. Chui Sai On foi uma nulidade que teve sorte de governar num período em que o dinheiro nunca parou de entrar. No entanto, em questões de segurança da população fez zero. Em relação aos tufões foi preciso acabar a sorte e morrerem 10 pessoas com o Hato para criar um mecanismo de resposta adequado. Na saúde aconteceu o mesmo. Em dez anos não conseguiu terminar um hospital, nem um centro de doenças infecto-contagiosas, o que nos deixa a todos numa posição vulnerável. Resta-nos esperar que a RAEM continue a ser protegida pela sorte nos próximos meses e o Governo de Ho corrija as vulnerabilidades deixadas por Chui. Chega de jogar à roleta russa com a segurança da população. João Santos Filipe

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; ; João Santos Filipe; Pedro Arede Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


opinião 15

terça-feira 18.2.2020

macau visto de hong kong

DAVID CHAN

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Regresso ao trabalho

melhor notícia que tivemos esta semana foi a ausência de novos casos de coronavírus em Macau. Esta notícia confirma que até agora não fomos atingidos pela epidemia. Numa cidade pequena e densamente povoada como Macau, um surto epidémico seria muito perigoso. A questão fundamental é como manter Macau saudável. É sabido que o vírus se transmite pelo ar. Se conseguirmos eliminar o contacto entre as pessoas, a transmissão do vírus terminará. Para evitar as concentrações, os departamentos governamentais reduziram ao máximo a prestação de serviços, as empresas interromperam as suas actividades e os estudantes ficaram em casa. Há alguns dias, o Governo

de Macau aconselhou a população a não se deslocar ao Fai Chi Kei para comprar máscaras, de forma a evitar a permanência de muitas pessoas no mesmo local. Todas estas medidas tiveram como objectivo impedir a concentração pessoas, de forma a eliminar as condições que permitem a transmissão do vírus. Os funcionários públicos voltaram ao trabalho esta segunda-feira. A reabertura

A retoma dos serviços públicos, da actividade comercial e das aulas, é importante, mas a saúde da população de Macau também o é. Não nos devemos precipitar no regresso à normalidade. É importante seguir à risca os conselhos dos profissionais de saúde

dos serviços públicos vai fazer-se de forma faseada. Em certos casos, alguns serviços só reabrem ao público mais tarde. A população deverá compreender e aceitar estas decisões. O regresso gradual dos funcionários públicos implicará a retoma gradual da actividade empresarial. As empresas precisam dos seus empregados. Em Macau, existem mais de 100.000 trabalhadores estrangeiros. No entanto, muitos deles regressaram à China durante os feriados do Ano Novo chinês. Como é sabido, a China continental está em estado de alerta e foi implementado o controlo de fronteiras. Para estes trabalhadores é, para já, impossível o regresso a Macau. Pode daqui deduzir-se que as empresas que os empregam irão ser afectadas. Posto isto, esperamos que os empregadores compreendam esta situação, bem com os colegas que certamente irão ficar sobrecarregados de trabalho. Todos temos de ser tolerantes. O regresso às aulas só acontecerá após a normalização dos serviços e da actividade empresarial, por não ser uma urgência imediata. Como é natural, quando as pessoas voltarem ao trabalho, as multidões regressa-

rão às ruas. Se, mesmo nestas circunstâncias, não se registarem novos casos de infecção viral, os estudantes poderão voltar às aulas. Desta forma protegemos ao máximo a saúde dos jovens e das crianças. É necessário ser paciente para aguardar o regresso da normalidade. O tempo de espera é tempo perdido. Os exames foram adiados, as receitas das empresas diminuíram e os serviços públicos estão suspensos, durante este período de espera. Todos são afectados. Por causa desta paragem, o Governo vai injectar 20 mil milhões de patacas na economia da cidade, para aliviar temporariamente os danos causados. A retoma dos serviços públicos, da actividade comercial e das aulas, é importante, mas a saúde da população de Macau também o é. Não nos devemos precipitar no regresso à normalidade. É importante seguir à risca os conselhos dos profissionais de saúde. Quando os médicos forem de opinião que o risco de transmissão do vírus está ultrapassado, então será altura de tudo voltar ao que era, e isso será o que de melhor podemos esperar para Macau.

Professor Associado do IPM • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau • legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


A realidade tem demasiadas cabeças. PALAVRA DO DIA

Bob Dylan

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Sons virais Músico fez canção para ajudar vítimas do Covid-19

M

U I T O próximo da China, que diz ter visitado 150 vezes, o músico e compositor Jean-françois Maljean decidiu recorrer à sua arte para ajudar a mudar as mentalidades em relação ao novo surto do coronavírus, mas também ajudar as vítimas da epidemia. Em declarações ao HM, o compositor belga explicou como surgiu a oportunidade de compor uma balada ao piano. “Foi uma decisão tomada entre duas pessoas. Tenho um amigo, um parceiro em Wuhan, que tem uma empresa de produção e costumamos trabalhar juntos. E foi-me sugerido fazer uma canção sobre esta crise. No início hesitei, mas depois achei que compor uma canção poderia ajudar a aumentar a consciência dos ocidentais em relação a este problema.” Tendo actuado na cidade de Wuhan “três ou quatro vezes” e assumindo uma identificação com a China e os chineses, o músico belga diz não compreender a discriminação que se tem verificado com o surto do novo coronavírus. “O primeiro motivo pelo qual fiz a canção foi dar coragem à população chinesa para que lutem contra a epidemia, para dar força às fa-

mílias dos doentes que faleceram. Quis ajudar, juntar algum dinheiro para ajudar a combater esta crise. Mas vejo algumas reacções dos ocidentais que não aprovo. Adoro a China e tenho muitas histórias com chineses e fiquei desapontado com tudo isto. Espero que as atitudes das pessoas mudem para que não haja discriminação.”

SONS ANTIGOS

Jean-françois Maljean, que diz sempre ter feito música de fusão, decidiu incorporar o som de uns sinos tradicionais chineses, famosos na província de Hubei. Três pessoas trabalharam na letra, incluindo o autor inglês Robert Muray, que finalizou o texto. A interpretação está a cargo de Noemie Manjou, filha do músico, que é cantora profissional. “Esta é a primeira vez que trabalhamos juntos. Quando o projecto da canção apareceu pensei naturalmente nela [para interpretar a música]. A sua voz é perfeita para a canção e é muito fácil trabalhar com ela”, concluiu. Esta música terá uma versão chinesa “em breve”. “Não espero ter sucesso para mim próprio”, rematou Jean-françois Maljean. A.S.S.

Imóveis Vendas com quebra no ano passado Em 2019 o número de transacções de fracções autónomas e lugares de estacionamento teve uma quebra de 26,9 por cento face a 2018, de acordo com os dados da Direcção de Serviços de Estatística e Censos. Por esse motivo, o valor das transacções cifrou-se em 62,24 mil

milhões de patacas, o que representa que caiu 30,5 por cento face a 2018. Apesar das redução das vendas, o preço médio por metro quadrado por fracções habitacionais ficou praticamente estável, desvalorizando 0,8 por cento, face a 2018, para 107.522 patacas por metro quadrado.

Dados Pessoais Gabinete prorrogado por dois anos O Governo anunciou a prorrogação por mais dois anos do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais. A extensão do gabinete até 2022 foi anunciada ontem, em despacho do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, no Boletim Oficial. “Considerando que o Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais

necessita de exercer as atribuições que resultam dos objectivos previstos no Despacho do Chefe do Executivo n.º 83/2007, é aconselhável que seja prorrogado por dois anos o prazo para o funcionamento desta equipa de projecto”, pode ler-se no despacho do Chefe do Executivo.

terça-feira 18.2.2020


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