Hoje Macau 18 MAR 2016 #3535

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

SEXTA-FEIRA 18 DE MARÇO DE 2016 • ANO XV • Nº 3535

MOP$10

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

RÁDIO-TÁXIS

Corrida atribulada PÁGINA 6

h A cidade da Água Ovo da serpente JOSÉ SIMÕES MORAIS

VHILS

Muro das reflexões EVENTOS

MANUEL AFONSO COSTA

Casas para quem trabalha PÁGINA 4

OPINIÃO

Sotaque GONÇALO LOBO PINHEIRO

ANDRÉ RITCHIE

MARTA BUCHO

REABILITAR É VIVER

hojemacau CASO LISBOA PENAS DEIXAM ARGUIDOS FORA DA PRISÃO

Condenados à liberdade

Dos seis arguidos do Caso Lisboa apenas um, Kelly Wang, vai continuar no Estabelecimento Prisional de Macau. Isto porque as penas aplicadas a Alan Ho e a outros dos condenados pelo crime de exploração de prostituição foram já cumpridas durante a prisão preventiva.

ENTREVISTA

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PÁGINA 7

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FUNÇÃO PÚBLICA


2 ENTREVISTA

MARTA BUCHO COORDENADORA DO CENTRO FEMININO DA ARTM

“Tem havido um enorme esforço para melhorar a qualidade da saúde” Um trabalho que acontece 24 horas sem que notemos. Um reaprender a ser. Marta Bucho fala de um novo método, mais aberto e ocidental, para tratar de adictos. Há ainda muito trabalho no campo feminino, sendo a abertura e aceitação da população uma delas. Um dos objectivos é ainda trazer os alcoólicos e narcóticos anónimos para Macau

Falamos muito no Centro de Tratamentos Masculino da Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau e pouco do Feminino. Desde quando é que existe este espaço? Abrimos em 2010 e funciona um bocadinho à semelhança do centro para os homens. Pensámos que seria muito importante ter uma parte feminina. Queremos funcionar como uma comunidade terapêutica para mulheres com problemas de toxicodependência e alcoolismo também. Apesar de já termos registados casos de jogadoras, mulheres viciadas em jogo. Mas esta comunidade é mais pequena do que a masculina? Sim, são menos mulheres do que homens. Em termos de números, em cada cinco homens que entram no Centro Masculino, entra uma mulher neste Centro. O nosso número máximo de vagas é de oito mulheres, sendo que agora estamos com três mulheres e um bebé. Estamos também a acompanhar duas mulheres, uma que está presa, fora das instalações do Centro. Também recebem as crianças? Sim, filhos das nossas pacientes. Aceitamos senhoras com crianças, não é o primeiro caso. Fala-nos um pouco do processo. Como é estas mulheres chegam até ao Centro? A maior parte delas entrava pela programa da troca de seringas, agora isto já não acontece com tanta frequência porque as consumidoras já não são tanto de heroína, é mais o ice. Também podem entrar através de algum serviço da comunidade, seja o hospital, serviços que trabalham com famílias, associações, através do tribunal e também por famílias que sabem do nosso serviço e nos pedem ajuda. Depois de entrar, como se processa? Ainda estão a consumir?

Não, a não ser metadona. Algumas, só. O nosso objectivo é que haja uma processo de re-socialização, ou seja, aprender um conjunto de valores, regras e até de rotinas que lá fora não conseguem ter com os consumos. Aqui, as mulheres quando entram já não consomem. A não ser, claro, como disse, a metadona. Os membros da direcção da ARTM chegaram há pouco tempo de uma formação na Austrália. Novos modelos de tratamento? Foi uma formação muito, muito boa. Anossa ideia é utilizar a metodologia que eles usam e aplicá-la aqui em Macau. Se é possível ou não? Acho que sim. Funcionará como uma comunidade terapêutica. A ser aplicada já no novo Centro em Ká Hó? Quando é que abre? Sim, sim. Em Julho. E aí já queremos ter o nosso staff todo preparado e formado com esta nova metodologia. É difícil encontrar pessoas para trabalhar nesta área? Quantas pessoas tem o Centro? Sim, é. É difícil arranjar pessoas que gostem desta área e que tenham alguma capacidade de perceber. É que não é uma área tão comum como se possa imaginar. Quando falamos de uma comunidade terapêutica, estamos a falar de uma sociedade pequena, em que existem diferentes responsabilidades, diferentes hierarquias, mas tudo funciona com os pacientes. Voltemos então ao método. O que se pretende? A nossa ideia é criar o novo Centro numa grande comunidade terapêutica. Porque aqui é mais difícil, neste Centro. A começar pelo número de pessoas, que são poucas. E para criar uma comunidade, em princípio deverá existir um maior número. O nosso objectivo passa também por fazer mais promoção em termos de divulgação do nosso serviço, no tribunal, nos hospitais, na comunidade, para que haja mais

“A nossa ideia é criar o novo Centro numa grande comunidade terapêutica. (...). O nosso objectivo passa também por fazer mais promoção em termos de divulgação do nosso serviço, no tribunal, nos hospitais, na comunidade, para que haja mais mulheres e homens, também, para tratamento.” mulheres e homens, também, para tratamento. O paciente trata-se a si próprio? Os pacientes tratam-se a eles próprios, o papel deles é ajudarem os outros para se ajudarem a eles próprios. E tudo funciona de uma maneira muito suave, muito gira. Este método tem efectivamente resultados positivos e as pessoas acabam por mudar os seus comportamentos. Através do exemplo de alguém mais velho, conseguem perceber o que devem ou não devem fazer. Por exemplo, a honestidade. Tentamos muito que as nossas mulheres aqui do Centro sejam honestas e digam sempre a verdade. Na comunidade o facto de observarem alguém que “é como eles” a, por exemplo, ser chamado à atenção mas a aceitar e a mudar o seu comportamento, assumem o ensinamento. Por exemplo? Por exemplo, na Austrália, existem duas comunidades - uma para os

homens e outra para as mulheres. Entre si, eles podem falar, mas não criam relações. Não pode existir intimidade, seja ela sexual ou não. Se alguém o faz de forma imediata é conversado isso em grupo. A pessoa tal envolveu-se ou falou de tal forma para a outra pessoa, por exemplo. Há uma repreensão. E as pessoas compreendem porque percebem que estão a focar a reabilitação para outro ponto. Vejamos, as mulheres, pelos exemplos que temos, é muito fácil envolverem-se com os homens, porque procuram sentirem-se bonitas, [vestirem] uma roupa bonita. Isto, neste tratamento, não é bom. O que se pretende é que as mulheres consigam que, na vida delas, lá fora, não precisem de ninguém, sejam independentes, que encontrem nelas uma confiança e auto-estima que vem da própria e não de fora. Nas sessões [na Austrália], eles discutiam os assuntos de uma maneira que os utentes percebem [e que os fazia] perceber que o facto de se focarem noutras coisas está a prejudicar o seu processo de recuperação. Acha que é um método que será bem aceite? É difícil. É preciso fazer com que o nosso staff perceba a dinâmica do que é uma comunidade terapêutica, é difícil passar para quem já passou por um processo de recuperação e não uma comunidade terapêutica. É difícil também fazer o staff perceber que esta dinâmica é muito específica e tem mesmo de funcionar com a estrutura que vamos criar porque se não é pior do que não se fazer nada. Quando é que vão implementar este método? Esperamos que em Junho, com a mudança para as novas instalações em Ká Hó... tem de estar já a funcionar. Mesmo nos homens. São precisas mudanças. Existirão vagas para 50 homens, 20 mulheres e mais dez para cuidados continuados, para pessoas com HIV.


3 hoje macau sexta-feira 18.3.2016 www.hojemacau.com.mo GONÇALO LOBO PINHEIRO

“As mulheres preferem esconder e arrastam. Chegamos a ter mulheres que ganham problemas mentais... suicídios. As mulheres escondem até ao limite. Até as famílias o fazem.” No tratamento elas partilham? Depois de abandonarem as drogas, depois de deixarem a Metadona, sim, elas começam a aceitar. E é aí que partilham o que lhes aconteceu. E nós, claro, tentamos atribuir-lhes o mais apoio psicológico e psiquiátrico possível. Mas é o tempo e a aceitação do problema que irá resolver. Não conseguimos apagar a memória, mas vamos fazer com que a pessoa aceite o que aconteceu na vida dela, perceber que não é por culpa dela. Aceitar que isto é só uma parte da história delas e não um todo.

Quantos trabalhadores estão neste Centro? Para as mulheres somos nove, nos homens somos 14. É muita gente. É um serviço que trabalha 24 horas, à noite tem sempre de estar alguém. Somos duas assistentes sociais, depois quatro psicólogas e duas monitoras. O número baixo de utentes que o Centro recebe não é representativo da realidade de Macau? De todo. Não é, de todo. Sabemos que há muitos mais casos do que aqueles que nos aparecem, muitos mais. Mas não estamos a conseguir chegar a essas pessoas.

Porquê? Como é que se chega lá? É difícil à comunidade. Mas neste caso, neste Centro das Mulheres, talvez porque elas têm um papel diferente na sociedade. Por exemplo, a família esconde muito mais os casos de mulheres do que se fosse um homem. A mulher também acaba por arrastar o seu tratamento, por exemplo com a questão dos filhos. Estão a seu cargo e elas não querem deixar os filhos para vir para tratamento. E nem sempre é possível aceitar crianças, até por causa das sessões ou reuniões de grupo, é difícil estarem crianças, aliás é impossível.

“Queremos trazer os alcoólicos e narcóticos anónimos para Macau. Porque em termos de pós-tratamento é uma das formas para continuar a acompanhar os pacientes.”

E a própria mulher? Acha que é mais difícil ela aceitar e perceber que tem um problema? Mais do que os homens? Acaba por ser, sim. Porque quando as mulheres chegam aqui já estão num estado tão avançado de problemas de saúde, psicológicos, com doenças, que é mais difícil. As mulheres preferem esconder e arrastam. Chegamos a ter mulheres que ganham problemas mentais... suicídios. As mulheres escondem até ao limite.Até as famílias o fazem. E nesses casos, é transmitido ao Centro pelo hospital.

Tem esperança que essa tendência mude? Acho que as pessoas têm de perceber primeiro o que é que é um centro de tratamento. As pessoas acham que isto é uma pequena prisão e não é. Isto é uma pequena sociedade, uma pequena família em que as pessoas reaprendem a viver. Não é de todo uma prisão. Não é. Mas existem programas... Sim, o nosso programa é de um ano. Ao final desse tempo tentamos que a pessoa consiga arranjar um trabalho. Normalmente ficam seis meses, porque é o tempo em que as mulheres já se sentem melhor, o corpo já se readaptou. Ao sair, as dificuldades para as mulheres são evidentes? Muito, muito mesmo.As mais velhas é impossível arranjarem um trabalho. As que conseguem é em cafés ou casinos, em trabalho temporários. Os homens tem mais facilidade nisso. Na comunidade é também mais aceite que os homens sejam ex-consumidores do que as mulheres. Há um fenómeno: os homens ex-consumidores arranjam uma mulher que nunca foi consumidora, a mulher

consumidora vai sempre ao encontro de um homem que já foi consumidor. Porquê? Porque elas acham que não merecem mais do que aquilo. É muito raro as mulheres arranjarem companheiro que não tenham um passado de toxicodependência. As famílias também aceitam mais os homens do que as mulheres. O estigma é tão grande que acaba por ser uma barreira. A mulher é prisioneira não só da droga? Em termos de problema, quando é avaliado a questão dos consumos, percebemos que é só uma pequena parte de um historial que apresentam. Vítimas? Sempre. Grande parte delas com um historial de maus tratos na infância terrível, negligência grave. Está relacionado com o consumo? Acabar por estar, sim. Muitas delas foram crescendo com um trauma em que durante o seu percurso as drogas acabaram por ser bem aceites. As pessoas ficam anestesiadas e não sentem o que aconteceu. As feridas ficam adormecidas.

Depois do tratamento acompanham o paciente? Tentamos e uma das mudanças que queremos é mesmo essa. Queremos trazer os alcoólicos e narcóticos anónimos para Macau. Porque em termos de pós-tratamento é uma das formas para continuar a acompanhar os pacientes. Não sabemos quando é que conseguimos isto, porque temos de articular com Hong Kong, porque não temos ninguém que fale Chinês. Esta filosofia é muito famosa e funciona. Queremos muito implementar isto aqui. Por ser uma cultura diferente, o modelo será de difícil implementação? Em termos culturais, às vezes as pessoas dizem “ah os chineses não partilham”, sendo difícil implementar este modelo que queremos por ser mais ocidental e aberto. O que acho é que é uma aprendizagem. As pessoas aprendem a partilhar, a dar nome aos sentimentos que têm. Para nós [ocidentais], eu falo por mim, consigo ter um leque de sentimentos, bons ou maus para definir o que sinto. Para eles [chineses] é muito difícil dar nome ao que estão a sentir. Talvez porque não estão habituados a sentir e não estão habituados a expressar o que estão a sentir. Um dos pontos que focamos no tratamento é isso mesmo, olhar para nós próprios e conseguir definir o que é. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo


4 POLÍTICA

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Fronteiras abaixo

Função Pública GOVERNO ABRE NOVO CONCURSO PARA ATRIBUIR CASAS

Promessa cumprida O Governo abriu um novo concurso público para a atribuição de 110 moradias a funcionários públicos, algo prometido pela Secretária Sónia Chan em Novembro. José Pereira Coutinho mostra-se satisfeito e pede mais terrenos

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OI publicado esta quarta-feira o despacho que dá conta da abertura do segundo concurso público para a atribuição de apartamentos a funcionários públicos, três anos depois da atribuição de mais de uma centena de casas. Ho Silvestre In Mui, subdirectora da Direcção dos Serviços de Finanças, irá presidir ao júri do concurso. Esta medida já tinha sido anunciada em Novembro último por Sónia Chan, Secretária para a Administração e Justiça, no âmbito da apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG) da sua tutela. “Em 2012 abrimos um concurso para atribuição de 160 habitações e, entretanto, recuperámos mais de 110, que vão futuramente ser colocadas a concurso público para os funcionários

públicos”, disse a Secretária em Novembro. Contactado pelo HM, o deputado José Pereira Coutinho, que tem vindo a defender a atribuição destas moradias, revelou estar satisfeito com esta medida. “Tudo isto foi feito na sequência das nossas intervenções na Assembleia Legislativa (AL) e, pouco a pouco, estão a libertar as moradias. Depois deste concurso vamos continuar a dialogar com o Governo no sentido de promover

mais habitações aos funcionários públicos”, apontou o também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM).

VENHAM MAIS

“Não há dúvidas de que as moradias à disposição são, de longe, insuficientes para satisfazer as necessidades dos trabalhadores da Função Pública. Esperamos que o Governo tenha em consideração os valores que estão a

“Não há dúvidas de que as moradias à disposição são, de longe, insuficientes para satisfazer as necessidades dos trabalhadores da Função Pública. Esperamos que o Governo tenha em consideração os valores que estão a ser praticados no mercado, uma vez que houve uma quebra, e que possa adquirir mais casas para os trabalhadores”

ser praticados no mercado, uma vez que houve uma quebra, e que possa adquirir mais casas para os trabalhadores”, referiu Pereira Coutinho, que pede mais reserva de terrenos para a construção de mais casas. Tal medida, diz, poderá manter o número de recursos humanos na Função Pública e evitar saídas da Administração. “Espero que o Chefe do Executivo, na sequência das reuniões que tivemos com ele, emita instruções para reservar terrenos para a construção de torres habitacionais para os trabalhadores. Espero que haja uma viragem para manter a estabilidade dos recursos humanos, já que um dos fundamentos para a sua manutenção tem a ver com as condições de habitação e de aposentação”, considerou o deputado. Pereira Coutinho não deixou de lembrar a atribuição de 70 casas à Fundação Macau “para distribuir a pessoas do estrangeiro, a jovens da ONU”, algo que é, para si, “inconcebível”, rematou. Andreia Sofia Silva

JOSÉ PEREIRA COUTINHO PRESIDENTE DA ATFPM

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Nota positiva

APN Deputados de Macau “com bom desempenho” em Pequim

Aquarta sessão plenária da 12ª APN terminou ontem em Pequim. Segundo o Jornal Ou Mun, Ho Iat Seng considera que os representantes de Macau atingiram finalmente a “maturidade tanto na abordagem das suas ideias, como na supervisão dos trabalhos do Governo Central, corres-

pondendo aos requisitos” necessários para ser parte daquele grupo. Ho Iat Seng frisou sobretudo o aspecto de orçamento. “Sendo um representante à APN, deve conseguir ter em conta o orçamento do país. Caso não consiga compreender muitas das situações do

país, será difícil participar nos assuntos de gestão. Não importa de que sector é que provém, é preciso que saiba um pouco de tudo. Eu, sendo líder, exigi que todos os deputados estivessem a par das questões do seu país”, apontou. Ho Iat Seng referiu ainda que nenhum depu-

tado faltou às reuniões e cada um deles ficou responsável por relatórios finais das sessões. Por fim, o deputado admitiu que, em todos os discursos dos representantes de Macau, existiam pequenas falhas, ainda que todos iam ao encontro da situação real de Macau. Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo

Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, disse ontem que o Governo vai envidar esforços para “quebrar as restrições geográficas” com a China, “aperfeiçoando e inovando as próprias ideias e modos através dos vários mecanismos de cooperação existentes”. Lionel Leong falava no âmbito da realização do Seminário sobre Política de Investimento na China e referiu ainda que é necessário fornecer apoios e serviços de acompanhamento mais completos e mais visados para os sectores de Macau que pretendam investir e desenvolver as suas actividades no interior do país. “Os serviços das áreas económica e comercial do Governo da RAEM continuarão a criar, tal como sempre, mais plataformas de informação e de intercâmbio para todos sectores de Macau, incluindo macro, pequenas e médias empresas, profissionais e jovens”, disse Lionel Leong. Tudo para que haja “melhores oportunidades de emprego” e para um maior apoio às cidades do interior da China para “realizarem em Macau actividades de captação de investimentos”. O Secretário disse ainda no seu discurso que as “Opiniões Orientadoras sobre o Aprofundamento da Cooperação Regional do Pan-Delta do Rio das Pérolas”, publicadas recentemente em Pequim pelo Conselho de Estado, vão trazer uma “nova dinâmica para o desenvolvimento da economia de Macau”, bem como “condições mais favoráveis para o desenvolvimento das micro, pequenas e médias empresas, profissionais e jovens de Macau”. O Secretário não deixou de referir que a economia se encontra numa “fase de ajustamento profundo”, sendo que “muitos amigos agem com uma atitude de lutar numa batalha prolongada”. GCS

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líder da delegação de representantes de Macau à Assembleia Popular Nacional (APN), Ho Iat Seng, afirmou que o grupo participou nas reuniões de forma “responsável”, tendo cada deputado feito um discurso de forma activa sobre os pontos importantes a ser discutidos sobre Macau. O também presidente da Assembleia Legislativa dá, por isso, nota positiva aos deputados.

Lionel Leong quer fim das “restrições geográficas” com a China


5 POLÍTICA

hoje macau sexta-feira 18.3.2016

GCS

SAFP VÃO ESTUDAR APTIDÕES DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

Mudar o que está mal Os Serviços de Administração e Função Pública vão estudar as aptidões dos funcionários públicos para mudar o actual sistema de chefias e as acções de formação realizadas. O sistema de acesso à Administração também vai mudar

O A bem do rigor AL Debate pedido por Ella Lei agendado para a próxima semana

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Assembleia Legislativa (AL) acolhe na próxima segunda-feira o debate proposto pela deputada Ella Lei, sobre a inclusão de cláusulas compensatórias nos contratos de obras públicas. Ella Lei considera que “o Governo deve incluir estas cláusulas nos contratos de obras públicas, “com vista a impulsionar o cumprimento rigoroso dos contratos, por parte dos empreiteiros, nomeadamente quanto aos prazos de conclusão das obras, evitando assim os sucessivos atrasos e excesso de despesas daí decorrentes”, lê-se na nota divulgada pela AL.

PARA CONGELAR

Na quarta-feira, surge novo plenário que vai servir para votar na generalidade o Regime de Execução de Congelamento de Bens, um diploma que surge numa altura em que Macau tem de responder às resoluções adoptadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para o combate ao terrorismo e da proliferação de armas de destruição maciça, já

que este ano o território vai ser alvo de uma avaliação por parte das autoridades internacionais. O diploma contém 33 artigos e determina que o congelamento dos bens pode ser feito em Macau ou em transportes com matrícula registada no território, às pessoas residentes da RAEM estejam elas onde estiverem, a transferências feitas para, de ou através de Macau e aos bens que estiverem no território. O Chefe do Executivo terá a decisão final sobre o congelamento dos bens, tendo o apoio da Comissão Coordenadora do Regime de Congelamento. A pessoa a quem forem congelados os bens terá direito a recorrer da decisão, cujo processo será julgado num tribunal superior. A lei terá de estar em vigor antes da avaliação feita por autoridades internacionais, sendo que a mesma deverá ter lugar em Julho. O mesmo plenário vai ainda servir para os deputados votarem a Conta de Gerência da AL de 2015 e ainda o 1º Orçamento Suplementar da AL para este ano.

Governo garantiu ao deputado Si Ka Lon que vai realizar uma série de estudos com vista a melhorar o funcionamento da Função Pública e, sobretudo, aproveitar os recursos humanos existentes. Em resposta a uma interpelação do deputado, Kou Peng Kuan, director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), confirmou que vai ser realizado “um estudo sobre a aptidão dos funcionários públicos”, o qual irá servir de base um novo “modelo de aptidão”. Os SAFP prometem ainda um estudo que visa o aperfeiçoamento do regime dos cargos de direcção e chefia, tendo por base o desenvolvimento dos trabalhos referidos. “Os SAFP irão planear e criar novos programas de formação tanto para os funcionários públicos como para os formadores. Formar-se-ão formadores qualificados para áreas diferentes”, pode ler-se na resposta ao deputado Si Ka Lon. “Para implementar a racionalização de quadros e a simplificação administrativa, o Governo pretende descobrir quadros qualificados, de entre os funcionários públicos,

para exercerem funções em diversos postos de trabalho, e escolhê-los para serem promovidos a cargos de direcção e chefia, os quais serão capazes de liderar os trabalhadores para um novo patamar”, garantiu Kou Peng Kuan.

MUDAR O ACESSO

Na resposta a Si Ka Lon, os SAFP afirmam que vão estudar ainda o “aperfeiçoamento do regime de acesso” na Função Pública, por forma a “implementar a racionalização de quadros e a simplificação administrativa, construir Macau através da formação de talentos, bem como para promover o desempenho dos trabalhadores desenvolvendo as suas potencialidades”. Os SAFP consideram substituir, de forma progressiva, as bases orientadoras, como as habilitações académicas ou experiência profissional, transformando o actual único meio de acesso em várias soluções viáveis, com o objectivo de alargar a possibilidade de promoção profissional dos trabalhadores da Função Pública. Para efectuar esta medida, Kou Peng Kuan referiu que vão ser estudados exemplos praticados em

“Para implementar a racionalização de quadros e a simplificação administrativa, o Governo pretende descobrir quadros qualificados, de entre os funcionários públicos, para exercerem funções em diversos postos de trabalho, e escolhê-los para serem promovidos a cargos de direcção e chefia” KOU PENG KUAN DIRECTOR DOS SAFP

outros países. “Nos países desenvolvidos ou em governos com elevada eficácia é criado um regime de acesso dos funcioná-

rios públicos baseado no desempenho e aptidão, o qual avalia aspectos como as habilitações académicas ou a capacidade de trabalho, entre outros.” Na apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano, a Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, já tinha anunciado a intenção de reformular o actual modelo de funcionamento da Administração, incluindo o acesso por parte dos trabalhadores. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

PUB HM • 2ª VEZ • 18-3-16

ANÚNCIO INTERDIÇÃO

CV3-16-0014-CPE

3º Juízo Cível

REQUERENTE: O MINISTÉRIO PÚBLICO. REQUERIDO: WONG KIN FAI, do sexo masculino, residente na Lar São Luís Gonzaga, Povoação de Cheok Ká, Rua de Tin Chon, Taipa-Macau. ***** FAZ SABER, que no Juizo Cível e Tribunal acima referidos, foi distribuída uma acção contra WONG KIN FAI, do sexo masculino, residente na Lar São Luís Gonzaga, Povoação de Cheok Ká, Rua de Tin Chon, Taipa-Macau, supra identificado, para o efeito de ser decretada a sua interdição por anomalia psíquica. Aos 10 de Março de 2016.


6 SOCIEDADE

hoje macau sexta-feira 18.3.2016

Rádio-Táxis DAVID CHOW APRESENTA OBJECÇÃO A CONCORRENTE

A corrida ainda não acabou David Chow mostra-se confiante na disputa pelas licenças de rádio-táxis, mas depois de defender que uma concorrente até era sinal positivo, apresentou uma objecção à nova candidatura. Não foi aceite. Ainda assim há a possibilidade de recorrer ao Chefe do Executivo

A

defesa de Ng Lap Seng pode estar, agora, mais dificultada devido à admissão de culpa de Francis Lorenzo, o embaixador da ONU da República Dominicana que terá participado num esquema para corromper o antigo presidente da organização. Lorenzo estava acusado em conjunto com o empresário de Macau Ng Lap Seng, que faz parte do Conselho Eleitoral do Chefe do Executivo e representou Macau na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. Lorenzo admitiu ontem num tribunal de Manhattan “que fez parte de uma conspiração para cometer

presidente explicou que a Comissão já tinha indicado que o lapso não constituía uma razão para não se aceitar a candidatura. Não contente, a empresa Lai Ou apresentou de imediato um recurso hierárquico, para apresentar uma nova objecção ao Chefe do Executivo já nos próximos dez dias.

HOJE MACAU

A

Companhia de Serviços de Rádio-Táxi Macau, candidata ao concurso para obtenção de cem licenças de rádio-táxis, não tem o caminho facilitado. Depois da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) ter aceite a sua candidatura, numa segunda vez, a companhia vê agora a corrida colocada em causa por uma objecção à decisão apresentada pela empresa concorrente, a Lai Ou Serviços de Táxi, presidida por David Chow. A Companhia de Serviços candidatou-se ao concurso público colocando os preços das taxas no documento de apresentação, algo chumbado pela Comissão de Abertura de Propostas. Depois de um recurso apresentado pela candidata, contudo, a Comissão considerou o lapso menor e deferiu-o, dando a possibilidade à empresa de se candidatar novamente. A abertura oficial aconteceu ontem. Numa primeira reacção à admissão da concorrente, David Chow mostrou-se despreocupado, alegando até que era uma situação boa para a sociedade, que poderia exigir mais das candidatas. No entanto, agora, a decisão do Governo, parece não agradar ao empresário. Ontem, um representante da empresa Lai Ou apresentou uma objecção contra a decisão do Governo, alegando que a Comissão violou as regras de candidatura. Depois de meia hora de avaliação, o presidente da Comissão, Chiang Ngoc Vai, tornou pública a recusa da objecção. O

SATISFAÇÃO TOTAL

Numa primeira reacção à admissão da concorrente, David Chow mostrou-se despreocupado, alegando até que era uma situação boa para a sociedade, que poderia exigir mais das candidatas. No entanto, agora, a decisão do Governo, parece não agradar ao empresário.

Em reacção, Cheong Chi Man, director da Companhia de Serviços de Rádio-Táxi Macau mostrou-se satisfeito com as decisões. O director está confiante na vitória do concurso, indicando que vai investir até 80 milhões de patacas para este tipo de transportes. Uma das apostas são carros de sete lugares sentados, sublinhou. No entanto, o director indica que quer “mudar os hábitos das pessoas de Macau que apanham táxis”, ou seja, que se faça uma reserva com antecedência para melhorar o serviço. Serviços sem barreiras para os portadores de deficiência é também uma das apostas prometidas, que é, aliás, exigida pelo Governo. No que diz respeito aos preços, a empresa define, segundo a proposta, uma taxa de chamada, de cinco patacas, sendo que as taxas de reserva ou incumprimento da mesma são livres, isto é, sem custo. Já a Lai Ou apresenta a taxa de chamada com 15 patacas e as de reserva e de incumprimento a cinco patacas. Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo

E o culpado sou eu

Arguido admite subornos e lavagem de dinheiro em caso de Ng Lap Seng

crimes de suborno e lavagem de dinheiro”, indicam as agências e média internacionais. Mas o representante dominicano também assumiu frente ao juiz que “aceitou pagamentos de Ng Lap Seng” nesse sentido e para entregar a John Ashe, presidente da Assembleia Geral da ONU entre 2013 e 2014. Esse dinheiro, disse ainda, foi pago a Ashe para que este “conseguisse apoio da ONU para a criação

de um centro de conferências em Macau”. Lorenzo admitiu que não foi apenas Ashe quem recebeu dinheiro. “Eu sei o que estava a fazer e estava errado”, afirmou Lorenzo, o terceiro a declarar-se culpado no caso, mas o primeiro relacionado directamente com Ng Lap Seng. A acusação diz que os pagamentos feitos por Ng Lap Seng ascendem a mais de 1300 milhões de dólares.

Os advogados do empresário de Macau já garantiram que a confissão de Lorenzo, detido em Outubro do ano passado, “não vai afectar” Ng Lap Seng e dizem que este “mantém a sua inocência”, declaração já feita no início do julgamento. Lorenzo poderá enfrentar uma pena de prisão de 63 anos, ainda que a sentença, segundo as agências, não deva ser assim tão pesada. J.F.

SANDS ESTÁ A CONTRATAR PARA O PARISIAN

A Sands China está à procura de contratar mais de 150 pessoas para o novo projecto da operadora no Cotai, o Parisian Macao. De acordo com a rádio, nos dias 21e 22 de Março, a operadora vai organizar uma feira de recrutamento, sendo que 95% das posições vagas são de áreas não relacionadas com o jogo. O Parisian Macao é esperado inaugurar na segunda metade deste ano.

MAIS DE CEM ILEGALIDADES EM HABITAÇÕES SOCIAIS

Um comunicado do Instituto de Habitação (IH) dá conta de mais de uma centena de casos de ilegalidades cometidas em fracções de habitação pública. O Instituto diz ter inspeccionado no ano passado 1005 apartamentos, onde foram detectados 117 casos irregulares. “Destes, 77 correspondem ao facto de os arrendatários não residirem nas fracções de forma permanente ou deixaram outras pessoas não envolvidas no contrato de arrendamento lá viver. Os arrendatários de 44 destas 77 fracções já entregaram os apartamentos ao IH depois de admitirem que cometeram ilegalidades. Os restantes 37 casos foram para tribunal, tendo começado já o processo judicial.” O instituto não diz quais as outras situações irregulares, apenas referindo que foram enviadas cartas de aviso e indica que vai “continuamente” fiscalizar a situação residencial da habitações sociais.


7 hoje macau sexta-feira 18.3.2016

A

LAN Ho e os outros cinco arguidos do chamado Caso Lisboa foram todos condenados a pena de prisão por um crime de exploração de prostituição. Mas o director-executivo da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM) não vai regressar à cadeia, à semelhança de outros quatro arguidos, já que cumpriu a pena imposta pelo tribunal enquanto aguardava julgamento. Só Kelly Wang tem de voltar ao Estabelecimento Prisional de Macau, onde fica para mais um ano e três meses de prisão. O Tribunal Judicial de Base (TJB) deu ontem a conhecer a sentença do caso, que tinha como acusados Alan Ho, Kelly Wang, vice-gerente de RP do hotel, Peter Lun, gerente-geral, Bruce Mak, gerente do Departamento de Segurança, Qiao Yan Yan, assistente de Kelly Wang, e Pun Cham Un. Os quatro primeiros iam acusados de 90 crimes de exploração de prostituição e de fundação de associação criminosa, enquanto os restantes respondiam pelo crime de participação em associação criminosa, com Pun a responder pelos mesmos crimes de exploração e Yan Yan por apenas três. O tribunal decidiu dar apenas como parcialmente provada a acusação fundamentada pelo Ministério Público (MP), tendo absolvido todos os arguidos da acusação de fundação ou participação em associação criminosa. O colectivo, presidido por Rui Ribeiro, apontou, até, lacunas

Caso Lisboa ARGUIDOS CONDENADOS. APENAS UM TEM DE CUMPRIR PENA

Punidos mas livres

enquanto em prisão preventiva, sai em liberdade.

TIAGO ALCÂNTARA

Os arguidos do Caso Lisboa, onde se inclui Alan Ho, foram absolvidos do crime de associação criminosa, mas todos vão condenados por exploração de prostituição – todos, contudo, e à excepção de Kelly Wang, saem em liberdade porque já cumpriram a pena imposta enquanto estavam em prisão preventiva

SOCIEDADE

MAIS DO MESMO

O mesmo acontece a Peter Lun e Bruce Mak: os dois trabalhavam “subordinados” a Alan Ho e agiram em cumplicidade, considerando o juiz que os dois foram “catapultados” para o enredo e que cumpriam ordens, ainda que conscientes da sua conduta. Apanharam cinco meses de cadeia cada um, penas que já cumpriram. Sete meses foi o veredicto dado a Qiao Yan Yan e Pun Cham Un, arguidos que auxiliaram Kelly Wang a angariar prostitutas e a extorquir-lhes dinheiro, ainda que a mando da gerente-geral de RP do hotel. Foram condenados por proxenetismo e exploração de prostituição e punidos com sete meses de cadeia, que já cumpriram.

CASO ISOLADO

ao nível da investigação neste âmbito. “Há um reparo que se prende com a associação criminosa. Compreende-se que todas as possibilidades têm de ser exploradas e que poderia haver essa possibilidade e também as vantagens que se teria na investigação se fosse [associação criminosa], mas não há um único facto que permita concluir tratar-se de associação criminosa”, começou por dizer Ribeiro, que acrescentou que os relatórios iniciais da Polícia Judiciária apontam logo que se está perante uma rede de exploração criminosa, sem que “nada houvesse de concreto”. “Havia a actuação comum [pactuante] do exercício da prostituição, mas a única estrutura de ‘organização’ era a do hotel onde trabalhavam. Apesar do apadrinhamento do Hotel Lisboa [nesse sentido], não nos é permitido concluir que os funcionários do

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meses foi a pena com que Kelly Wang foi punida por um crime de exploração de prostituição (falta cumprir um ano e três meses)

hotel se uniram em associação criminosa com vista àquele crime”, rematou o juiz, dizendo que há uma “apetência da polícia” em recorrer a este crime.

PROSTITUIÇÃO CONHECIDA

O facto das mulheres da China continental se prostituírem desde os anos 1990 no espaço - tanto que desde 1995 já existiam tabelas de preços para quartos para estas mulheres – foi denotado pelo tribunal, que deixou cair também a acusação de que os arguidos cometeram 90 crimes de exploração de prostituição (um por cada mulher detida) e consideraram ser apenas um único. Aqui, a lei que contou foi a que entrou em vigor em 1997 – a Lei da Criminalidade Organizada – no artigo referente à exploração da prostituição que indica que “quem, com remuneração ou sem ela, angariar clientes para pessoas que se prostituem ou, por qualquer modo, favorecer ou facilitar o exercício da prostituição, é punido com pena de prisão até três anos”. Um crime que foi “criado de forma especial” pelo legislador de Macau, além do que se prevê já no Código Penal. “[Alan Ho] pugnava pela beleza [das mulheres], participava no processo de pré-selecção, associado ao facto de ser o responsável máximo do hotel, e era do seu conhecimento que as mulheres

angariavam clientes e tinham quartos. O simples facilitar [da actividade] é punível em Macau e ele fê-lo de forma consumada. Não importa o número de prostitutas, foi um acto uniforme ao longo do tempo”, indicou o tribunal, que disse ainda que, apesar de saber que isto acontecia publicamente desde 1995 - altura em que ficou responsável pelo hotel - e que haveria uma certa “permissividade” dado que funcionava desta forma sem qualquer contestação das autoridades há mais de 20 anos, Ho deveria ter “adequado a conduta ao invés de continuar a pactuar” com a actividade devido à entrada em vigor da lei que versa sobre a facilitação, em 1997. O director-executivo da STDM, sobrinho de Stanley Ho, foi assim condenado a um ano e um mês de prisão, graças ao “grau médio de ilicitude” da sua conduta. Ainda assim, como já cumpriu 14 meses

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meses de prisão foi a sentença dada a Alan Ho por um crime de exploração de prostituição (sentença cumprida).

Kelly Wang é, então, a única arguida que vai continuar presa. Falta-lhe ainda cumprir um ano e três meses de prisão, a maior pena aplicada no caso. O TJB considerou que Wang aproveitou-se da sua posição para exigir dinheiro a mulheres que se prostituíam – em quantias superiores a cem mil yuan -, mas como no crime de proxenetismo por que vai condenada não se afigura a carência ou dependência das mulheres, a sua conduta ilícita foi considerada de “grau médio”, até porque os valores recebidos não eram “elevados”. A mulher, contudo, não viu a sua pena suspensa devido “à dissimulação” com que actuou. Além de chamadas telefónicas, houve também testemunhas que deram como provado o comportamento de Kelly Wang que fica, para já, à espera de regressar ao EPM em liberdade, até que a sentença transite em julgado. O MP ainda pediu que Wang ficasse em prisão preventiva, mas o tribunal considerou que bastava as medidas de coação de apresentação semanal às autoridades e a proibição de ausência do território. Na leitura da sentença, que durou mais de quatro horas, esteve ausente o advogado de Alan Ho, Jorge Neto Valente. A decisão face a Alan Ho originou um coro de palmas e gritos nas bancadas da audiência, o que levou Rui Ribeiro a exigir silêncio. À saída do tribunal, Ho acenava satisfeito. Deixou o EPM às 15h30, mas não falou aos jornalistas. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo


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AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL 1.

2. 3.

Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, chegou ao seu término, e, que de acordo com o artigo 53.º da Lei n.º 10/2013 <<Lei de Terras>>, de 2 de Setembro, conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que devem os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Localização dos terrenos: - Rua de Pedro Coutinho, n.ºs 25 a 25AB, em Macau, (Edifício C.T.M.); - Avenida de D. João IV, n.ºs 51 a 57, Avenida Dr. Mário Soares, n.ºs 181 a 247 e Avenida do Infante D. Henrique, n.ºs 31A e 31B, em Macau, (Edifício Pak Kai Car Park); - Rua de Malaca, n.ºs 17 a 103, Avenida da Amizade, n.ºs 1405 a 1411, Rua de Luís Gonzaga Gomes, n.ºs 596 a 618 e Avenida de Marciano Baptista, n.ºs 54G a 68K, em Macau, (Edifício Hotel Golden Dragon); - Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, n.ºs 1086 a 1142J e Rua de Malaca, n.ºs 192 a 206, em Macau, (Edifício Casa Real Hotel); - Avenida da Amizade, n.º 1565 a 1595, Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, n.º 1470 a 1526, Travessa do Reservatório, n.ºs 33 a 95 e Rua Terminal Marítimo, n.ºs 24 a 78, em Macau, (Edifício Oceanus); - Estrada da Penha, n.ºs 378 a 378A, em Macau; - Travessa do Almirante Sérgio, n.ºs 1 a 1C e Rua do Almirante Sérgio, n.º 68, em Macau, (Edifício Veng Chou); - Travessa do Almirante Sérgio, n.ºs 3 a 7A, em Macau, (Edifício Cheong Seng); - Travessa do Almirante Sérgio, n.ºs 9 a 13 e Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 67 a 67B, em Macau, (Edifício Fong Yu); - Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 69 a 69AB, em Macau, (Edifício San Hei Court); - Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 69B a 69BA, em Macau, (Edifício Kong Heng); - Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 69C e 69CA, em Macau, (Edifício San Po Court); - Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 69D a 69F, em Macau, (Edifício Kong Tai); - Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 71 a 73A e Travessa do Sal, n.ºs 1 a 3 A, em Macau, (Edifício Kam Seng); - Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 39 a 43, em Macau; - Travessa do Almirante Sérgio, n.ºs 6 e 8, em Macau; - Travessa do Almirante Sérgio, n.ºs 76 a 76 A, em Macau, (Edifício Fong Lei); - Rua do Almirante Sérgio, n.ºs 78 e 84, em Macau; - Rua do Almirante Sérgio, n.ºs 86 a 88A, em Macau, (Edifício Hoi Tin); - Rua da Ribeira do Patane, n.ºs 31 a 35A, em Macau, (Edifício Son On); - Rua da Ribeira do Patane, n.ºs 49 a 51A, em Macau (Edifício Sunlight Court); - Avenida de Demétrio Cinatti, n.ºs 35 e 35 A e Rua da Ribeira do Patane, n.º 13, em Macau, (Edifício Chun Leng); - Rua do Visconde de Paço D´Arcos, n.ºs 322 a 326 e Avenida de Demétrio Cinatti, n.ºs 59 a 60 A, em Macau, (Edifício Lei Hing); - Istmo de Ferreira do Amaral, n.ºs 62 e 62 A e Estrada dos Cavaleiros, n.ºs 63 a 69, em Macau, (Edifício Industrial Tai Peng); - Rua Wo Mok, n.ºs 75 a 131, na Ilha da Taipa; - Rua Heng Long, n.ºs 114 a 128, na Ilha da Taipa; - Avenida Son On, n.ºs 433 a 467, na Ilha da Taipa; - Estrada de Pac On, n.ºs 691 a 847, Avenida Son On, n.ºs 974 A a 1040, Rua da Riqueza, n.ºs 75 a 131 e Rua da Tranquilidade, n.ºs 22 e 44, na Ilha da Taipa; - Avenida Wai Long, s/n, na Ilha da Taipa, (Aeroporto Internacional de Macau). Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam à Recebedoria destes serviços, situada no rés-do-chão do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Atendimento Taipa, para os efeitos do respectivo pagamento. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada. Aos, 4 de Fevereiro de 2016. O Director dos Serviços de Finanças, Iong Kong Leong

NOTIFICAÇÃO EDITAL (Reparação coerciva)

N.º 21/2016

Ng Wai Han, Chefe do Departamento de Inspecção do Trabalho, manda que se proceda, nos termos do n.º 3 do artigo 9.º e do artigo 11.º do Regulamento Administrativo n.º 26/2008, de 18 de Dezembro – “Normas de funcionamento das acções inspectivas do trabalho”, conjugado com o artigo 58.º, n.º 2 do artigo 72.º e n.º 2 do artigo 136.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, à notificação da transgressora do auto de notícia n.º 12/0708/2016, de 26 de Janeiro de 2016, “ESTABELECIMENTO DE COMIDAS FIRST EATSUN LIMITADA”, sita na The Macau Square lojas M e L R/C, Macau, para no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do dia seguinte ao da publicação do presente edital, proceder ao pagamento da multa aplicada, ao abrigo das alíneas 2) e 5) do n.º 3 do artigo 85.º da Lei n.º 7/2008 – “Lei das relações de trabalho”, no referido auto, no valor de Mop$30.000,00 (trinta mil patacas), por infracção ao disposto no n.º 1 do artigo 37.º e nos artigos 70.º, 72.º e 77.º da Lei n.º 7/2008 – “Lei das relações de trabalho”. Por outro lado, a transgressora também deve, no mesmo prazo, efectuar o pagamento da quantia em dívida às trabalhadoras Tam Choi Kun, Chao Iok Chi e Chao Lok Mui, no valor de Mop$453.711,00 (quatrocentas e cinquenta e três mil e setecentas e onze patacas), devendo ainda, nos 5 (cinco) dias subsequentes ao do termo do prazo acima referido, fazer prova dos pagamentos efectuados. A cópia do auto de notícia, a notificação, o mapa de apuramento da quantia em dívida às referidas trabalhadoras e as guias de depósito deverão ser levantados, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Inspecção do Trabalho, sito na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.ºs 221-279, edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, Macau, sendo facultada a consulta do respectivo processo. Decorrido os prazos acima referidos, a falta de apresentação do documento comprovativo do pagamento das quantias acima mencionadas pela transgressora implica a remessa, nos termos legais, do respectivo auto ao órgão judicial. Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais – Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 8 de Março de 2016. A Chefe do Departamento Ng Wai Han

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9 hoje macau sexta-feira 18.3.2016

A

Fundação Macau apoiou financeiramente mais de 800 grupos ou indivíduos no ano de 2015, distribuindo um total de 2,3 mil milhões de patacas em apoios. Para este ano, diz a Fundação, são precisas campanhas de encorajamento à poupança - só assim as associações irão conseguir utilizar melhor os seus recursos. Numa reunião entre o Conselho de Administração da Fundação Macau e os media chineses locais, na passada quarta-feira, Wu Zhiliang, presidente da Fundação, explicou que o organismo vai reforçar as relações de parcerias com as associações, aproveitando para alargar o âmbito dos benefícios públicos. Durante o ano passado, a Fundação apoiou mais de 2300 projectos.

SOCIEDADE

FUNDAÇÃO MACAU ATRIBUIU MAIS DE 2,3 MIL MILHÕES EM 2015

Cofre recheado

Milhares para a educação e mais de dois mil milhões em 2015. São dados do dinheiro atribuído no ano passado pela Fundação Macau, que diz vai fazer campanhas de encorajamento à poupança

MILHÕES NA EDUCAÇÃO

Dados distribuídos pela Fundação mostram ainda que esta atribuiu diversos tipos de bolsas a estudantes locais, ultrapassando 53 milhões de patacas. Subsidiou cinco escolas primárias e secundárias para fins de “melhoramento das suas infra-estruturas e equipamentos”, num montante que chegou aos 430 milhões de patacas.

Wu Zhiliang [presidente da FM] defendeu que este ano vai incentivar à poupança por parte das associações, sendo que os apoios devem ser melhor distribuídos pelos diferentes beneficiários O apoio financeiro a três instituições do ensino superior também “não foi pouco”. Wu Zhiliang acrescentou que os subsídios para as instalações de campus foram mais de 1,1 mil milhões de patacas, juntando ao investimento de dez milhões para que as nove instituições do ensino superior criassem uma base de dados, em conjunto, de compras das bibliotecas. Wu Zhiliang defendeu ainda que, este ano, vai incentivar à poupança por parte das associações, sendo que os apoios devem ser melhor distribuídos pelos diferentes beneficiários. Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo

ALUNO AGREDIDO EM CENTRO DE EXPLICAÇÕES

Um aluno do ensino primário foi agredido num centro de explicações na zona norte por um professor, tendo ficado ferido na zona do olho, depois de ter sido atingido com um molho de papéis enrolados. O pai da vítima fez queixa às autoridades e, após a visita de um responsável dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) à escola, o responsável pela sala confirmou as agressões. O centro de explicações em causa já suspendeu o professor, por forma a garantir a segurança e a saúde do aluno, tendo prometido ao pai e à DSEJ que casos destes não vão voltar a repetir-se.

Lotes em reflexão

Terrenos Casos imputáveis aos concessionários ainda estão em análise

A

Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) indicou que os nove terrenos não aproveitados que fazem parte de 48 lotes que podem ser casos imputáveis de não aproveitamento aos concessionários, ainda estão em processo administrativo e sob análise do Governo. A Administração indicou ainda que as informações vão ser publicadas quando houver resultados. A notícia foi dada através de uma resposta a uma interpelação escrita do deputado Si Ka Lon, que pedia a publicação de informações detalhadas sobre os terrenos não aproveitados. O director da DSSOPT, Li Canfeng, reiterou que dentro dos 113 terrenos concedidos, cujo aproveitamento não foi concluído dentro dos prazos, 48 lotes configuram razões de não aproveitamento e são imputáveis aos concessionários, o mesmo não acontecendo aos restantes 65. Em 2015, o Governo decidiu não declarar a caducidade de concessão de 16 dos referidos 48 terrenos e disse que existia a possibilidade de reaver, pelo menos, 26 das 65 parcelas cuja responsabilidade da falta de aproveitamento não é imputável aos concessionários. No entanto, a DSSOPT admite que neste momento está a acompanhar o processo administrativo de nove terrenos e a fazer uma análise sobre esses mesmos lotes. O director defende que vai publicar o resultado depois da sua conclusão. F.F.

CPU APROVOU PROJECTO COMERCIAL JUNTO AO GRAND EMPEROR

O Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) aprovou a construção de um edifício para fins comerciais, incluindo parque de estacionamento, com 93 metros de altura, o qual será construído ao lado do hotel Grand Emperor. Segundo o jornal Business Daily, o representante da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) confirmou que ainda é necessária a realização de um estudo de opinião pública sobre o projecto antes da aprovação final.


10 CHINA

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UBLICA o jornal oficial “Diário do Povo”, que as emissões de dióxido de carbono (CO2) relacionadas com a energia na China diminuíram 1,5% em 2015, representando a maior queda em termos de volume na comparação com outros países, reportando declarações na quarta-feira à Xinhua do director-executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol. “A diminuição das emissões da China devem-se principalmente a uma redução no uso de carvão”, disse Birol em entrevista. A reestruturação económica da China teve menos indústrias de uso intensivo de energia e os esforços do governo para descarbonizar a geração de energia reduziram o uso de carvão. Em 2015, o carvão gerou menos de 70% da electricidade na China, 10 pontos percentuais a menos que em 2011. No mesmo período, as fontes com baixas emissões de carbono aumentaram de 19% a 28%. A energia eólica e a hidroeléctrica registaram o maior crescimento, segundo a AIE.

EMISSÕES DE CO2 COM A MAIOR QUEDA A NÍVEL GLOBAL

Menos carvão, menos poluição

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EMISSÕES MUNDIAIS SEM MUDANÇA

As emissões globais de dióxido de carbono relacionadas com a energia -- a maior fonte de emissões de gás produtor do efeito estufa geradas pelo homem -- permaneceram estáveis pelo segundo ano consecutivo, de acordo com análises de dados preliminares para 2015 divulgados pela AIE. “As novas cifras confirmam as surpreendentes, mas bem-vindas, notícias do ano passado. Temos visto dois anos consecutivos em que as emissões de gás produtor do efeito estufa não estiveram a par com o crescimento económico”, disse Birol. “Há apenas alguns meses depois do histórico acordo COP21 em Paris, este já é outro impulso para a luta global contra a mudança climática”. As emissões globais de dióxido de carbono chegaram a 32,1 mil milhões de toneladas em 2015,permanecendo estável desde 2013, disse AIE.

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EM qualquer explicação oficial para a retirada do ar a série “Addiction” onde dois rapazes chineses se beijam na boca, a série foi interrompida para desespero dos milhões de outros adolescentes que a seguiam e ficaram impedidos de ver o final após 12 capítulos. Uma história sobre a vida e os amores de quatro estudantes homossexuais do ensino secundário agora desaparecida e sem deixar qualquer vestígio em plataformas na internet ou em aplicativos para smartphones. A produtora de “Addiction”, com sede em Pequim, informou

Em 2015, o carvão gerou menos de 70% da electricidade na China, 10 pontos percentuais a menos que em 2011

Em mais de 40 anos nos quais a AIE tem proporcionado informação sobre as emissões de CO2, apenas houve quatro períodos em que as emissões se mantiveram ou baixaram com relação ao ano anterior. Três desses -- no início da década de 1980, em 1992 e em 2009 -- estiveram associados com o enfraquecimento económica global.

MAIS GÁS NATURAL, MAIS NUCLEAR

Entretanto, o recente travão nas emissões ocorre face à expansão da economia. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) global cresceu 3,4% em 2014 e 3,1% em 2015. “É uma notícia muito boa que as emissões globais estejam estáveis. Vemos uma importante contribuição da China. Isso deve-se principalmente aos esforços do governo para impulsionar energias renováveis e outras tecnologias de energia limpa”, indicou Birol. “O governo chinês tem desenhado e aplicado com sucesso as políticas”, afirmou. “A estrutura energética da China será no futuro muito mais diversificada do que é agora. A principal energia na China tem sido o carvão e o petróleo nos últimos anos. Agora veremos menos carvão e mais energias renováveis, mais gás natural e mais energia nuclear”, disse. “Espero ver que os objectivos da China indicados no novo Plano Quinquenal sejam cumpridos com sucesso. Também espero ver as emissões da China caírem sequencialmente”, declarou Birol.

Homossexualismo penalizado Censura proíbe série LGBT

que o drama foi visto mais de dez milhões de vezes no dia seguinte à estreia e que tudo aponta para a campanha oficial contra o conteúdo “vulgar, moral e danoso” em qualquer meio de comunicação. “Por que proibiram este drama?”, pergunta um usuário na rede Weibo. “Há milhões de motivos por trás da manobra, mas a verdade é que eles têm medo dos gays”, escreveu outro.

Segundo a nova lei recentemente promulgada, “nenhum drama de televisão deverá mostrar comportamentos ou relações sexuais anormais, como incesto, homossexualismo, perversão sexual, ameaça sexual, abuso sexual, violência sexual, etc”. Também estão proibidos os “romances extraconjugais” e as “aventuras de uma noite”. As regras ainda restringem programas que vão

“contra o sentimento nacionalista” ou promovam um “estilo de vida ostensivo”. — Os programas de TV não devem somente ter actores atraentes, mas também demonstrar valores — afirmou o director da divisão de TV na Administração de Médias Estatais, Li Jingsheng. — Não só é importante que entretenham, mas que também cumpram função educativa.

PORTO E VALE DO DOURO DESTACADOS EM JORNAL CHINÊS

O

principal jornal oficial chinês de língua inglesa, China Daily, dedica esta semana uma reportagem de uma página à cidade do Porto e ao Vale do Douro, onde destaca a cultura vinícola do norte português. “A mais antiga região demarcada de vinhos do mundo mantém um relevo áspero”, refere o jornal, numa descrição das “montanhas de xisto esculpidas pelos seus habitantes” e “talhadas por terraços com videiras”. O texto, assinado pelo jornalista britânico Erik Nilsson, surge acompanhado de fotografias de alguns ex-líbris da ‘Invicta’ e do Alto Douro Vinhateiro. “Esta é a casa - fonte única - do Vinho do Porto”, realça o autor, que a partir daquela região, classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade, narra a tradicional pisa das uvas em meados de Setembro. “Não se trata de um mero artifício”, diz, acrescentando: “É a única forma de manter intactas as sementes, que libertam o sabor amargo para o mosto”. Erik Nilsson descreve também o percurso de barco desde o Alto Douro até à Ribeira portuense, onde termina com uma referência às caves do Vinho do Porto, enaltecendo a “geleia, cremes e chá” criados a partir daquele néctar. O Porto “tempera todas as dimensões da vida local”, conclui. Fundado no início da década de 1980, o China Daily é o mais antigo jornal oficial chinês de língua inglesa, com edições diárias no continente, em Hong Kong e nos Estados Unidos da América, e edições semanais para a Europa e África.


11 • INVESTIMENTO ESTRANGEIRO CRESCE A China atraiu 53,63 mil milhões de Yuan em investimento estrangeiro directo (IED) em Fevereiro, 1,8% mais do que em igual mês do ano passado, segundo dados do Ministério do Comércio do país. No primeiro bimestre, o IED somou 141,88 mil milhões de Yuan, representando uma subida de 2,7% em relação o período equivalente de 2015, informou o ministério.

1,8%

CHINA

hoje macau sexta-feira 18.3.2016

COOPERAÇÃO LANCANG-MEKONG EM DEBATE

A primeira reunião dos líderes da Cooperação Lancang-Mekong (CLM) será realizada na próxima semana na cidade de Sanya, no sul da China, anunciou ontem o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Lu Kang. A convite do primeiro-ministro chinês Li Keqiang, os líderes do Camboja, Laos, Mianmar, Tailândia e Vietname participarão na reunião a 23 de Março, disse Lu. De acordo com o porta-voz, os líderes dos seis países trocarão opiniões sobre a promoção do mecanismo da CLM, o aumento da cooperação compreensiva de nível sub-regional e a promoção da integração regional.

Eu, Cheung, me confesso

Novo capítulo em caso dos livreiros desaparecidos

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Hong Kong CONSELHO LEGISLATIVO PEDE INQUÉRITO A DISTÚRBIOS

Investigar é preciso

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Conselho Legislativo de Hong Kong aprovou uma moção para estabelecer uma comissão para investigar as causas dos distúrbios do mês passado, mas o trabalho não deve começar até ao fim deste ano legislativo, em Julho. A moção, aprovada na quarta-feira e proposta por Alvin Yeung Ngok-kiu, do Partido Cívico, e Cyd Ho Sal-Ian, do Partido Trabalhista, foi apoiada por 24 deputados democratas. Yeung criticou o chefe do Executivo por classificar os distúrbios como “motins” antes de uma investigação cuidada. A expressão, repetida pela ala pró-Pequim, levou a que “conclusões não verificadas crescessem na sociedade”, disse. O deputado lamentou também que o Governo só estivesse preocupado em deter e condenar os envolvidos, recusando-se a estabelecer uma comissão para investigar as causas.

“Muitos cidadãos participaram nos confrontos com a polícia”, apontou o deputado do Partido Cívico, considerando que “tal mostra que o problema não pode ser imputado a um pequeno grupo”. “Pode ter sido causado por um forte descontentamento com o Governo, que não pode ser solucionado com a detenção de umas dezenas de participantes”, frisou.

ASSUNTO PARA NOVO PARLAMENTO

Os incidentes na zona de Kowloon, no primeiro dia do Ano Novo Lunar, causaram 130 feridos, vários detidos e, até à data, 50 acusados. Anteriormente, o Governo de Hong Kong rejeitou os pedidos para uma investigação independente, considerando que as investigações criminais são suficientes. Em declarações aos jornalistas, Ho admitiu que é “muito improvável” que a comissão comece a trabalhar

Os incidentes na zona de Kowloon, no primeiro dia do Ano Novo Lunar, causaram 130 feridos, vários detidos e, até à data, 50 acusados antes de o Conselho Legislativo de Hong Kong terminar esta sessão legislativa, já que há outras duas comissões à frente. “Mas acreditamos que o campo pró-democracia tem responsabilidade de colocar a necessidade de uma investigação nos registos da reunião. Também esperamos (…) que os deputados da próxima sessão legislativa levem este registo e necessidade em consideração”, disse.

M dos cinco livreiros de Hong Kong desaparecidos durante meses, que reapareceu há uma semana na antiga colónia britânica, admitiu que fez contrabando de “livros proibidos” (críticos em relação a membros do Partido Comunista) no interior da China. Segundo o South China Morning Post (SCMP), que escreve com base em informações do diário Sing Tao Daily – também publicado em Hong Kong, mas com uma linha editorial próxima a Pequim –, o livreiro Cheung Chi-ping reconheceu o contrabando de livros proibidos no interior da China, mas que podem ser vendidos em Hong Kong. Cheung admitiu a sua participação nesta actividade, mas disse que não era mais do que um “cúmplice” e que não tinha um papel importante no negócio. Também disse que não sofreu coacção ou tortura durante o período em que esteve detido no interior da China e que não foi obrigado a fazer nada contra a sua vontade. No entanto, não forneceu detalhes sobre a forma como entrou na China ou foi detido pelas autoridades chinesas, já

que as autoridades de Hong Kong não têm registo da sua saída do território.

MISTÉRIO CONTINUA

Este é um mistério que envolve outros quatro livreiros ligados à mesma editora de Hong Kong que publicava livros críticos do regime chinês. O seu desaparecimento, no final do ano passado, durou meses, tendo levantado suspeitas de que tivesse sido sequestrado pelas autoridades chinesas. O livreiro voltou a Hong Kong no dia 6 de Março (embora tenha regressado à China de forma quase imediata), dois dias depois do regresso a Hong Kong do seu chefe na editora, Lui Por, e retirou a queixa pelo seu desaparecimento. Segundo escreve o SCMP, o jornalista do Sing Tao Daily “esbarrou por acaso” com o livreiro, que entrevistou, e que lhe disse que “vivia livremente” na cidade de Dongguan, no sul da China, depois de ter sido libertado pelas autoridades chinesas.


12 EVENTOS

VHILS ARTISTA

É um dos mais internacionais artistas urbanos de Portugal e, desde há uns meses para cá, tem andado ocupado na produção de uma exposição encomendada pela Fundação de Arte Contemporânea de Hong Kong. Alexandre Farto – ou Vhils - é conhecido, entre outras coisas, por criar imagens com explosivos. A sua grande intenção é questionar o status quo. Vai intervir em Kowloon e Hong Kong, onde apresenta agora a exposição “Debris”

“O graffiti é um cancro visual” Em meados dos anos 90 entrevistei uma das primeiras crews portuguesas de graffiti que me dizia que a melhor forma de pintar sem ter problemas com a polícia era fazê-lo de dia. Que mudou entretanto? De certa forma ainda se pode pintar durante o dia, e há quem o faça, tudo depende do local e da ousadia de quem o faz. No entanto, é certo que a forma como o graffiti é visto, seja em Portugal ou noutros cantos do mundo, mudou muito desde então. Enquanto na altura era ainda uma prática meio desconhecida, que tinha tido pouco impacto junto da sociedade, a popularização do fenómeno e a saturação visual do espaço público que daí resultou veio aumentar a hostilidade com que é hoje encarado. Por um lado, é natural que assim o seja, pois é uma prática polémica e transgressora por natureza que joga com a reapropriação do espaço visual da cidade sem olhar a terceiros. Por outro, está na origem de uma nova vaga de criação artística que tem transformado o mundo. Em que medida sente que o seu trabalho é uma acção de intervenção? Areflexão que tenho desenvolvido com

o meu trabalho visa questionar sobretudo os pontos negativos presentes no modelo de desenvolvimento vigente, o modo como as transformações das últimas décadas têm afectado a identidade, quer das pessoas e comunidades, quer dos espaços que estas habitam. Este novo paradigma global tem trazido benefícios - temos estreitado o contacto e a interacção entre os povos do mundo. Mas, ao mesmo tempo, tem imposto uma crescente uniformização que tem erodido aquilo que nos distinguia e nos tornava únicos. Tem sido igualmente responsável por uma profunda descaracterização dos espaços que habitamos, das nossas cidades. Esta homogeneização tem afectado culturas diferentes de forma semelhante, afectando a identidade de todas. Interessa-me explorar esta fricção, este choque entre o global e o local, ao mesmo tempo que me interessa contactar com culturas de várias latitudes de modo a entender o processo e ajudar a divulgar algumas das suas consequências para com estas pessoas e comunidades. Agora é conhecido como um dos grandes artistas desta área. Mas

teve alguma fase em que pintava às escondidas? Se sim, quer contar algum episódio ou descrever essa fase? Sim, pintei graffiti ilegal às escondidas durante anos. Vivia obcecado com a pintura de comboios, faltava à escola, saía de casa à noite às escondidas, deixava de almoçar para guardar dinheiro para comprar tinta. Passava literalmente horas a estudar os movimentos de entrada e saída de comboios nos locais onde eram guardados. Apontava tudo num caderno, era um trabalho sério e rigoroso que me permitia controlar o tráfego, os pontos de fuga, os locais onde se podia pintar sem problemas evitando os seguranças, pessoal ferroviário ou a polícia. Quando comecei a transitar para um tipo de trabalho mais figurativo com base no stencil e fui deixando o graffiti mais vandalístico de parte, continuei a pintar na rua às escondidas, mas era uma coisa muito mais suave. Mesmo quando já expunha em galerias e era convidado para eventos institucionais, continuava a pintar às escondidas. Mas hoje em dia tenho outra vida e poucas oportunidades para o fazer.

Que é que a sua arte traz de novo ao mundo? Não sei se traz algo de novo ao mundo, mas gosto de pensar que poderá contribuir de uma forma ou outra para uma reflexão sobre alguns aspectos inerentes às sociedades urbanas contemporâneas e ao modelo de desenvolvimento globalizante que lhes dá forma. De uma forma geral, o trabalho procura reflectir sobre questões de identidade, sobre o modo como indivíduos e comunidades são hoje afectados pelas forças e estímulos presentes num meio que, à escala global, impõe padrões e condutas cada vez mais uniformes. Gosto de levantar questões, de chamar a atenção para determinados assuntos que considero importantes, mas não tenho a pretensão de oferecer respostas e soluções. Se não fosse artista era o quê? Não sei. Veio para Hong Kong recentemente. Porquê essa decisão? A decisão veio na sequência de um convite para trabalhar com a Fundação deArte Contemporânea de Hong Kong (HOCA), numa exposição individual que irá abrir no próximo dia 21 de Março (no Cais 4). Há algum tempo que tinha uma inclinação para assentar aqui durante alguns meses e desenvolver trabalho e esta exposição veio justificar esta deslocação. Hong Kong não é uma cidade pródiga em manifestações de intervenção urbana ao nível pictórico. Praticamente nem são vistos tags. Como tem sido a sua relação com a cidade, com os artistas, com as autoridades? Tem sido muito boa com todos, mas o trabalho que tenho desenvolvido


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“A reflexão que tenho desenvolvido com o meu trabalho visa questionar sobretudo os pontos negativos presentes no modelo de desenvolvimento vigente, o modo como as transformações das últimas décadas têm afectado a identidade, quer das pessoas e comunidades, quer dos espaços que estas habitam”

tem sido com base na sua maioria por comissões em contextos institucionais. Apesar de ter pouca presença de arte no espaço público, é uma cidade muito interessante em vários outros aspectos. Tem marcado muito a minha percepção do espaço urbano e o meu trabalho. Porquê a escolha da RAEHK e não de Macau? Pelo motivo que apontei acima. Tudo partiu do convite da HOCA para expor individualmente em Hong Kong. Teria todo o gosto em fazer o mesmo em Macau. Tem planos para fazer algum tipo de intervenção por cá? Planos e vontade tenho, tenho andado a sondar várias hipóteses mas ainda não se concretizaram. Gostava muito de o conseguir, vamos ver.

“[o graffiti]Pode ser visto como algo belo ou hediondo, mas é um fenómeno gerado pelo meio onde existe. Neste sentido pode ser visto como reflexo, ou até uma síntese, daquilo que existe de melhor e de pior nas sociedades urbanas contemporâneas”

Quais são os seus projectos actuais e futuros? Tem algum grande objectivo por concretizar? Objectivos tenho imensos. Alguns tenho conseguido concretizar, mas uma vez resolvidos dão lugar a outros por resolver. É isso que me faz andar em frente e querer fazer mais e melhor. Neste momento estou muito ocupado com a produção para esta exposição que abre dia 21 no Cais 4 em Hong Kong Central. Tem por título “Debris” e é a maior e talvez mais ambiciosa que já realizei. Apesar de ter vários outros projectos em diferentes fases de desenvolvimento, de momento toda a energia e recursos estão concentrados neste. Como surgiu a ideia de utilizar explosivos na sua arte? E, já agora, quantas paredes foram abaixo até descobrir a carga certa? Em termos materiais, o uso de explosivos pode ser visto como uma progressão natural da técnica de esculpir paredes e outras superfícies. Em 2010 andava à procura de um processo que fosse ainda mais destrutivo que me permitisse desenvolver uma reflexão sobre o modo como a crise económica que eclodiu em 2008 conseguiu fazer implodir aquilo que tínhamos como seguro nas sociedades prósperas (e sobretudo na Europa), dos valores éticos e sociais às instituições que nos regulam, trazendo à superfície todos os antagonismos e conflitos que pensávamos estarem enterrados há décadas. O conceito surgiu-me como resposta intuitiva a esta ideia de implosão, expressando o facto de que em alturas de crise económica e social basta uma pequena fagulha para trazer à superfície todas as camadas que pensávamos estarem soterradas sob o verniz da civilização. O processo de

desenvolvimento da técnica foi interessante, mas muito exigente. Tinha uma ideia que queria pôr em prática, mas nem sabia se seria possível. Pedi ajuda a uma equipa de especialistas em pirotecnia, que também não tinha ideia se iria resultar porque ninguém tinha pensado em usar cargas explosivas desta forma. Para desenvolver o primeiro projecto em 2010 levámos cerca de oito meses para afinar o processo e chegar às cargas certas. No final conseguimos, mas foi o resultado de muitas tentativas e muitos erros. Não deitámos nenhuma parede abaixo, mas danificamos algumas... Como descreve a estética do vandalismo? Como é que o vandalismo pode ser estético se não for fruto de uma propositada manipulação artística? Ou será apenas uma forma bombástica de descrever um processo, uma expressão de marketing? Sim, tem tudo a ver com manipulação intencional, mas não é uma expressão de marketing vazio. O conceito de vandalismo estético devo-o ao graffiti. Vem da ideia de que o graffiti é essencialmente uma prática destrutiva, vandalística, sem qualidades ou intenções estéticas. Eu gosto de subverter esta ideia ao trazer para um meio mais institucional muitas das técnicas e processos destrutivos que são empregues no graffiti para marcar e desfigurar superfícies no meio urbano. Uso-os para criar com uma intenção fundamentalmente estética e artística. Ao recorrer a este conceito e prática de criação através da destruição procuro subverter quer o conceito de vandalismo, quer o conceito daquilo que é artisticamente válido. O processo é muito importante no meu trabalho, mais até do que o resultado final, é

aí que se concentram as ideias e os conceitos que exploro. Podemos talvez ver este uso de processos destrutivos como uma espécie de manifesto de princípios. Bansky. Que ideia tem dele como artista? Será que é mesmo apenas uma pessoa? A sua obra, atitude e os conceitos que explora tiveram um grande impacto em mim quando comecei a explorar a técnica do stencil, por volta de 2003/2004. É um artista inteligente e criativo, que tanto sabe explorar o espaço público como manipular a opinião pública e os media e se tem mantido fiel aos seus princípios. Continuo a admirá-lo pelo que fez e ainda faz. Já trabalhei em alguns projectos com ele, alguns dos quais tiveram um impacto enorme. O contacto é sempre feito através da equipa que trabalha com ele. Há de facto uma pessoa por trás do trabalho, mas este é desenvolvido em equipa, uma vez que ele não dá a cara. Em que medida é que o secretismo de Bansky e do das velhas crews de graffiti faz sentido nos dias de hoje? Continua a fazer todo o sentido se as intervenções que se fazem são ilegais. Nesse sentido é natural que se queira preservar o anonimato. Tags. Que ideia tem sobre eles? O graffiti é essencialmente um cancro visual gerado por aquilo que o meio urbano oferece, tanto em termos materiais como imateriais. Pode ser visto como algo belo ou hediondo, mas é um fenómeno gerado pelo meio onde existe. Neste sentido pode ser visto como reflexo, ou até uma síntese, daquilo que existe de melhor e de pior nas sociedades urbanas contemporâneas.

EVENTOS

Analisado de forma neutra, um tag bem executado pode ser visto como um belo e interessante exercício de expressão caligráfica, mas para a maioria das pessoas é algo nefasto que exprime uma ideia de descontrolo. Para mim, quando bem executado, pode valer mais do que um graffiti elaborado, mas é uma apreciação individual. Também entendo o constrangimento que provocam. Os três melhores murais/pinturas urbanas para si e porquê? É cada vez mais difícil fazer uma escolha destas, pois hoje em dia há muitos artistas a produzir trabalhos excelentes em todos os cantos do mundo. Não querendo ser demasiado parcial prefiro realçar o excelente trabalho que vários artistas têm feito em Lisboa com o programa de arte pública da Galeria Underdogs. Um artista urbano que mereça destaque e porquê? O português AkaCorleone (Pedro Campiche), porque nos últimos anos tem vindo a demonstrar um amadurecimento notável no desenvolvimento do seu trabalho, tanto em peças de galeria como peças murais que pinta no espaço público. Tem desenvolvido uma linguagem visual própria, coerente e facilmente identificável, e tem ganho presença no estrangeiro. É um nome a seguir. No mesmo lote, e pelos mesmos motivos, podia ainda destacar o português Miguel Januário (±MaisMenos±). Música. Que relação tem com a sua arte e com a sua vida? Com a arte em si a ligação não é directa, mas quando trabalho estou sempre a ouvir música, é uma companhia constante e importante. Além disso é a melhor forma de bloquear o ruído do martelo perfurador. Será que a cultura de pintura urbana passou de contra-cultura a uma coisa comportada, quiçá posh e mainstream? Se assim é que espaço fica para a contra-cultura? É uma questão interessante, mas difícil de responder porque o desenvolvimento do fenómeno tem sido multiforme.A sua crescente popularização e aceitação têm feito com que parte tenha sido absorvida pela cultura dominante, mas há ainda uma outra parte que se mantém selvagem e indomada. O que vemos na galeria, no museu ou a ser aproveitado pelo mercado e pelas marcas é arte produzida por artistas ligados a esse meio das intervenções ilegais no espaço público, mas já deixou de ser arte selvagem de rua. Esta continua a viver na rua e para a rua e tudo indica que continua de boa saúde. Se há pureza tem de ser encontrada aí, naquilo que é feito de forma gratuita e é efémero por natureza. Manuel Nunes

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14 EVENTOS

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Wu Ming-yi ESCRITOR DE TAIWAN

“Mais importante que o sucesso ´ e a felicidade”

Holi que aí vem cor

Festival indiano vai transformar Hac Sá num arco-íris

N

O próximo dia 20 de Março, das 14h00h às 17h00 a praia da Hac Sá vai transformar-se num misto de cor, devido a mais uma comemoração do Holi Festival. Apesar da sua origem indiana, dadas as características históricas, culturais, sociais e performativas que o integram, o Holi tem vindo a ser realizado cada vez em mais regiões pelo mundo fora e Macau não é excepção. Foi Victor Kumar, indiano radicado em Macau, quem arregaçou as mangas para por Hac Sá a festejar uma das mais importantes celebrações indianas. De origens difusas, existem duas versões relativas à génese deste que é um dos cinco principais festivais indianos: alguns acreditam que a origem do Holi é Krishna, que enquanto pequeno e travesso se divertia em atirar água colorida às leiteiras que passavam, a outra abordagem, e talvez a mais divulgada e unânime, é referente à comemoração da vitória do bem sobre o mal personificada na morte de Holika na fogueira. Reza a lenda que, em tempos, o Hiranyakashipu, rei-demónio dominado pelo egoísmo e sede de veneração, seria por todos bajulado à excepção do seu filho Prahlad, que se manteve devoto de Vishnu. De modo a aniquilar Prahlad, a irmã do rei, Holika, pensando que era imune ao fogo, desafiou o sobrinho para entrarem os dois numa fogueira – contudo, parece que quem morreu carbonizada foi a tia e Prahlab terá saído imune das chamas. Esta victória sobre Holika terá também dado nome ao festival. Estão em ambas as versões implícitas duas das principais características do Holi: por um lado a fogueira - que ainda hoje abre as festividades e cujas cinzas, se crê,

são portadoras de boa sorte – e, por outro, as cores que alegram e são mote de toda a celebração enquanto portadoras de virtudes e agoiros de bom futuro.

Wu Ming-yi, considera que o lado mais maravilhoso da escrita é poder fazê-lo contra qualquer tipo de pressão existente. Nascido em Taiwan, e convidado do Festival Literário Rota das Letras, Wu Ming-yi debruça-se sobre a necessidade de cuidar do ambiente e fala ainda de como a felicidade é mais importante que o dinheiro

JUNTOS PELO BEM MAIOR

O Holi é actualmente, e acima de tudo, um festejar colectivo do bem, da chegada da Primavera e das colheitas que se avizinham, através da cor e da demonstração de amor universal. Curiosamente este é um dos raros momentos em que, na Índia, as pessoas se juntam para além das castas, origens, credos e preconceitos, fazendo do mesmo um grande espaço de encontro. Segundo a organização, este ano, o número de inscrições já superou as participações do ano passado. Victor Kumar afirma ainda, sob o mote, “acrescenta cor à tua vida”, que o “Holi Festival Macau” para além da recriação dos rituais que estão na sua origem, vai ter ainda muita dança, uma performance especial com características Bollywoodescas coreografadas pelo próprio e uma panóplia de actividades e jogos, em que os vencedores terão direito a prémios. E como nada disto se faz de barriga vazia, a acompanhar as festividades estão comes e bebes adequados à festa. Não esquecer o dresscode - tudo de branco (top e calça), para que se possa colorir com mais facilidade e participar activamente, “bem como receber as respectivas bênção”. A entrada está sujeita a registo prévio através do telefone 6393 2002 e custa 150 patacas. A organização admite ainda a possibilidade de alteração de data caso as condições meteorológicas não possibilitem a sua execução.

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA A ÚLTIMA CANÇÃO DA NOITE • Francisco Camacho Jack Novak – o conceituado guitarrista dos Bitters que há muito conquistou o respeito das elites e o coração das massas – desaparece misteriosamente durante uma digressão da banda pela Europa de Leste, numa madrugada pródiga em estranhos acontecimentos. O

incidente dá, por isso, origem a uma onda de especulações e deixa uma multidão de fãs na expectativa de uma verdade que, todavia, tarda em chegar. Um desses admiradores é o português David Almodôvar, crítico de música desempregado e caído em desgraça, que atravessa uma crise

existencial e tem um desafio quase impossível pela frente: descobrir o paradeiro de Vera e dar-lhe a derradeira prova de amor que ela lhe exige. Quando os destinos destes dois homens se cruzam, David vê-se confrontado com as motivações de dois desaparecimentos – o da mulher

F

ALAR sobre escrita com Wu Ming-yi é falar em desafios. Sempre que escreve e tenciona publicar alguma coisa, o escritor de Taiwan admite que tem de pensar sempre “se poderá ter algum problema”, ainda que também nos confesse que, na Ilha Formosa, onde nasceu, as coisas não são tão más quanto no continente. “Os escritores taiwaneses preocupam-se sobretudo com o problema da impressão e em ter leitores. Quando publicamos no estrangeiro queremos ser lidos. Já o Governo chinês dá atenção a muitas coisas e o desaparecimento dos livreiros de Hong Kong trouxe um grande alerta para o público. Queremos sempre que haja liberdade para cada publicação e, enquanto escritores, acreditamos que os leitores são inteligentes e que os maus livros vão ser eliminados com o tempo, pela história. Mas a verdade é que, quando era jovem, também não podia ler certos livros, ainda que os lesse com os meus colegas às escondidas. Os políticos nem sempre conhecem bem a humanidade e isso é um limite”, confessa ao HM. Wu Ming-Yi gostava de ver a literatura da ilha mais traduzida, de modo a fazer chegar a “cultura muito própria” de Taiwan ao Ocidente, que considera que vê Taiwan como a vê a China. “As pessoas que vivem em Taiwan sabem que não se trata apenas de política, a cultura é muito diferente”, assegura-nos. O também ambientalista fala-nos da sua ilha, que caracteriza como um território pequeno, com

pouco mais de 20 milhões de pessoas e onde “a cultura e a arte têm vindo a desaparecer graças à destruição do ambiente”. A protecção ambiental, diz-nos, sempre foi “um lado importante” da sua vida e muito popular na juventude de Wu Ming-yi.

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que ama e o do músico que idolatra – e empreenderá uma viagem que lhe permitirá conhecer um segredo que Jack já desistiu de guardar e, ao mesmo tempo, resolver o tremendo impasse em que se encontra. Com um ritmo imparável, diálogos sublimes e uma história surpreendente que

decorre em geografias tão distintas como o deserto de Marrocos ou a cidade de Berlim, “A Última Canção da Noite” é um romance de contrastes sobre os dilemas e as paixões que moldam a nossa vida quando a noção de mortalidade nos atinge de forma inescapável.


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“Nasci em 1971, a pior fase para a poluição, e acabou por ser natural que temas como a ecologia e a protecção do ambiente fossem abordados nas minhas obras”, diz-nos, admitindo que também enquanto dá aulas, já que é professor, aborda estes temas. “Dou uma aula onde se criticam as políticas ecológicas e onde todas as semanas discuto os assuntos relacionados com a protecção ambiental com os meus alunos. Soube do caso da construção de um edifício no Alto de Coloane e dou esse exemplo em relação ao que acontece em Taiwan, onde temos grandes cidades, mas onde não podemos ignorar as pessoas que querem manter um estilo de vida simples ligado ao campo. Espero que sejam os residentes a tomar uma decisão e não o Governo”, atira ainda.

RECORDAR É VIVER

Não é a primeira vez que está em Macau, porque já cá tinha vindo

“Queremos sempre que haja liberdade para cada publicação e, enquanto escritores, acreditamos que os leitores são inteligentes e que os maus livros vão ser eliminados com o tempo, pela história. Mas a verdade é que, quando era jovem, também não podia ler certos livros”

com a mulher e também para dar aulas. Do tempo que já passou, relembra o território como a “vila piscatória e tranquila” que era, ao invés da cidade barulhenta e moderna em que se tornou. Mas Wu Ming-yi assegura que é possível promover “uma convivência e equilíbrios entre a protecção ambiental e o desenvolvimento” urbano. Também a natureza luxuriante de Taiwan está ameaçada pela poluição e vícios da vida moderna, como diz o escritor, à semelhança da população aborígene e da identidade taiwanesa, temas que marcam, aliás, as páginas de “The Man with the Compound Eyes”, o único livro traduzido para Inglês de Wu Ming-Yi e o quarto que publicou. Inspirado no bucolismo dos antigos poetas chineses, o livro recupera um movimento literário taiwanês dos anos 1980, quando o desenvolvimento industrial despertou uma forte consciência ambiental na ilha.

EVENTOS

“Os jovens de Macau e Hong Kong sentem-se ansiosos em relação ao sistema político ou ao ambiente, os modelos de pensamento nestas regiões são semelhantes” Em Macau para a sessão deste ano do Festival Literário Rota das Letras, Wu Ming-yi falou com estudantes locais, que se mostraram até curiosos sobre a cultura da Formosa. Mas não é só isto que parece preocupar os nossos estudantes. “Os jovens de Macau e Hong Kong sentem-se ansiosos em relação ao sistema político ou ao ambiente, os modelos de pensamento nestas regiões são semelhantes. Mas, os pais deveriam encorajar os filhos que querem ser outras coisas, como ser pintores ou artistas de rua. Devem encorajar os seus filhos a encontrar o modelo certo para a sua vida, porque a educação chinesa não é assim. Os pais preocupam-se se os filhos vão ou não ganhar dinheiro. Eu digo sempre aos meus alunos que, mais importante do que ter sucesso, é termos felicidade.” Ainda que tenha pisado pela quarta vez a RAEM, esta foi a primeira vez que veio como escritor, um trabalho que Wu Ming-yi – cujo escritor preferido é Anton Tchekhov – tem de coadunar diariamente com o papel de professor universitário. “Parte do meu dia é passado a escrever e quero sempre ter sempre tempo livre para escrever, mas tenho um horário muito cheio, sobretudo com o trabalho da universidade. Só posso escrever as minhas obras nas férias ou feriados”, diz-nos.

MARÇO DE LOUCOS COM ALLIANÇE FRANÇAISE

Considerado pela organização como o evento mais importante do Festival Francófono de 2015, acontece no próximo domingo o espectáculo “Mars en Folie”. Uma demonstração ao vivo que pretende revelar a diversidade da música francófona. Assim, vêm de Genebra, Suíça, os Adieu Gary Cooper, um quarteto que se apresenta como um projecto “inspirado pelo romance de 1964 The Ski Bum de Romain Gary e que toca country-blues com um toque psicadélico”. Da França surge a vibrante Ginkgoa, cujo desafio refere ser “uma jornada com a missão de fazer canções francesas com um vibe americano e canções americanas com um toque francês. Da Pop ao Swing da velha Nova Iorque, com um mix de electro beats e poesia.” O evento, co-organizado pela Alliance Française de Macau, o Consulado Geral da Suíça em Hong Kong e a Universidade de Macau (UM), arranca às 20h00 no Hall U da UM. A entrada é livre.

Tomás Chio (com J.F.)

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CINEMATECA PAIXÃO PHILIP YUNG FALA DO PODER DO CINEMA

“Q

UÃO grande é o poder do cinema” é o título da palestra que será proferida pelo cineasta de Hong Kong Philip Yung, amanhã, das 15h00 às 17h00, na cinemateca Paixão.

Como argumentista, crítico de cinema e realizador, Philip Yung, atento aos fenómenos sociais, insiste no seu próprio estilo de escrever argumentos. Assumiu o cargo de

argumentista de vários filmes, incluindo “Rigor Mortis”, “As the Light Goes Out” e “Father”, entre outros. “Glamorous Youth”, a primeira longa metragem que escreveu e dirigiu, par-

ticipou em vários festivais internacionais de cinema em 2009. Com “Port of Call” também escrito e dirigido por si, Philip Yung obteve nove nomeações na 52ª edição dos Golden

Horse Awards em Taiwan no ano passado. Este trabalho venceu os prémios de Melhor Filme, Melhor Actor e de Melhor Atriz nos Hong Kong Film Critics Society Awards 2015 e

foi nomeado para a 35ª edição dos Hong Kong Film Awards. Nesta iniciativa será dado relevo ao “poder do cinema” com base na sua carreira e viagem mental de argumentista

a realizador. A entrada é livre, mas necessita de reservas que devem ser feitas no site do Instituto Cultural.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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LIAOCHENG A cidade da Água

S

EGUINDO o Grande Canal, numa viagem que desde Hangzhou nos levará para Norte até Beijing, tentamos acompanhar o curso desta longa estrada de água, hoje com uma parte dos seus mil e setecentos quilómetros desactivada. Encontramo-nos já no Oeste da província de Shandong (Montanhas Leste) e somos levados à cidade antiga de Liaocheng, que se revela uma agradável surpresa pois, sem nunca a ver registada nos Guias de Viagem, apresentou-se como um lugar turístico escolhido por muitos chineses. Trazemos a curiosidade em perceber como a dinastia Yuan conseguiu resolver o atravessar por água as montanhas, para ligar os celeiros do país, maioritariamente em Zhejiang, até à capital dos mongóis na China, Dadu, a actual Beijing. É a secção mais alta do Grande Canal e por isso, viemos saber como foi resolvido um dos maiores trabalhos chineses de engenharia hidráulica, o conseguir elevar os barcos a atravessar montanhas. A tarefa era difícil pois o terreno levantava uma série de questões, resolvidas com a ajuda de reservatórios e comportas. A construção dessa secção terminou em 1327, sendo realizada por elevadores de água a diferentes níveis, encontrando-se o mais elevado a quarenta e dois metros de altitude. Outro problema mais tarde resolvido foi a turbulência criada nas águas do Grande Canal quando o Rio Amarelo (Huang He), com um nível mais alto, nele caía. Partindo de Jining, em direcção a Liaocheng, a trinta e quatro quilómetros de Dongping o autocarro sai da estrada principal e entra por um desvio de terra batida onde os agitados solavancos molestam os passageiros e a poeira envolve todo o cenário. Os montes estão a ser esgravatados por enormes máquinas, muitos ficando no cume com o espaço reduzido a uma casa, que ali insiste em permanecer. O autocarro parado, na fila de veículos para atravessar o Rio Amarelo, permite-nos vislumbrar aquela paisagem lunar de obras,

fazendo os seus estaleiros lembrar o que terá sido a construção de muitas comportas e diques realizada na primeira metade do século XV, para que os sedimentos das águas do rio não atulhassem o Grande Canal, junto ao lago Dongping Hu. A solução foi dada por um cidadão, Bai Ying, durante o reinado do Imperador Chengzu (Yongle) da dinastia Ming, que propôs a escolha de um lugar onde o leito do canal fosse mais elevado. Nesse ponto, onde desaguava o Wen He, a água entrava no Grande Canal e dividia-se para o Sul e para o Norte. Ao longo do canal foram construídos alguns reservatórios, onde a topografia permitia assegurar um suplemento de água, sendo o seu fluxo equilibrado por trinta comportas. Os construtores fizeram o Grande Canal alimentar com as suas águas o Rio Amarelo, resolvendo assim o problema da turbulência e dos sedimentos que o rio transporta. Desde sempre o Rio Amarelo foi uma fonte de problemas e em 1855, no distrito de Lankao, província de Henan, de novo mudou a sua trajectória para Norte, o que levou o Grande Canal a deixar de ser navegável daí até à capital. Chegados ao Rio Amarelo, percebemos porque é que o autocarro percorre aquele desvio. Para o atravessar, uma ponte provisória feita de ferro, tipo ponte das barcas devido às quilhas dos flutuadores, contava com pilares de cimento para aguentar os inúmeros camiões que por ali transitavam. Meses depois aí voltamos a passar e já uma nova ponte está construída. A paisagem mudara completamente desde essa primeira passagem e a quantidade de montes que, apesar de muito surripiados de pedra ali se encontravam, agora desapareceram. Entrando de novo numa impecável estrada de asfalto, vamos passando por campos onde muitos fornos ainda servem para cozer tijolos. Em Donlong voltamos ao contacto com o Grande Canal; a princípio encontramo-lo seco e como vazadouro de lixo, mas, à medida que nos aproximamos de Liao-

cheng, aos poucos ganha largura e vai-se consolidando.

A ANTIGUIDADE DA ZONA

Chegamos a Liaocheng já a noite começa a tomar conta da cidade e por isso, escolhemos o hotel junto ao terminal de autocarros. Apenas necessitando de atravessar a rua, somos abordados por algumas pessoas que nos oferecem quartos por um baixo preço, angariando assim muitos clientes. Ficamos no oitavo andar do hotel e pela janela do quarto, a visão nocturna mostra não haver muitas luzes indicativas da extensão e altura da cidade. Há dois mil e quinhentos anos, no Período Primavera e Outono, para o

local onde Liaocheng se encontra o Duque Huan do Estado de Qi marcou uma reunião com todos os duques dos estados afectos à dinastia Zhou do Leste. Aí, na Primavera de 679 a.n.E., o Duque Huan (685-643 a.n.E.) foi escolhido como chefe da Aliança Beixing, nome da localidade onde se realizou o encontro, hoje Juancheng, na municipalidade de Liaocheng e que deu a supremacia ao Estado Qi. Após a reunião, tropas Qi foram enviadas para aí erguerem uma guarnição militar, rodeando-a por árvores Jiao Liao, árvores cheias de espinhos. O local tornou-se estratégico e importante para os Qi, sendo esse bosque em Beixing mais tarde fortificado com


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José Simões morais texto e foto

muralhas e no seu interior um povoado começou a crescer. No século XIII passou a ser a cidade de Liao, aquando da construção de uma nova via para o Grande Canal. Acordamos e o nevoeiro acinzenta o dia. Desconhecendo a real dimensão de Liaocheng, apanhamos um táxi para nos levar a percorrer a secção Huitong do Grande Canal, que a atravessa. Transportados por uma larga avenida para Oeste, passamos depois por quarteirões, quais degraus numa escada horizontal, onde o VW-Santana vai circulando e sobre uma ponte, o taxista aponta para o lado direito. Vemos o curso de água interrompido por um monte de terra; mas sorridente, coloca-nos a olhar para o outro lado, onde uma marginal bem arranjada leva os nossos olhos até à ponte feita de vários arcos. Daí reparamos na circunvalação em quadrado, que concentricamente envolve por água o pólo originário da cidade. Encontramo-nos perante o Museu do Grande Canal e após visitado, seguimos pelo passeio junto à água, de ponte em ponte. Ornamentadas por estátuas de leões, umas grandes à entrada, outras mais pequenas no vão das pontes e a que nos parece a mais anti-

Se para um estrangeiro, o que esta cidade tem para mostrar não parece significativo, (...) já para o turismo interno mostra-se com grandes potencialidades, tanto culturais, como históricas e de lazer. Esconde ainda por baixo da terra muitos episódios do livro da História antiga da Civilização chinesa ga, tem nos pilares junto à água representações do dragão Baxia.

O PAGODE DE FERRO

A secção Huitong do Grande Canal alimenta este lago, cujo centro é uma grande ilha, onde se encontra a parte antiga de Liaocheng e para lá chegarmos, atravessamos pontes que ligam pequenas ilhas. Na margem Oeste do Grande Canal, a Guilda Shanshan, conhecida também pelo Templo ao Sábio Guan, levou sessenta e cinco anos a ser construída. Começada em 1743, no tempo do Imperador Qian Long, só terminou em 1809, após muitas extensões para lhe dar os mais de três mil metros quadrados da área que ocupa. Ao longo do canal, pelo jardim onde habitualmente os mais idosos se juntam para jogar cartas, xadrez chinês e go, estão gaiolas com pássaros colocadas nos ramos das árvores para estes, quais filhos únicos, passarem a tarde em convívio. Acompanhando a água, atravessamos uma rua, onde ao fundo vemos a Torre do Tambor, edifício que normalmente marca o centro das cidades. Continuamos para um outro extremo da ilha e aí, as antigas casas foram deitadas abaixo e reconstrói-se a continuação do parque, que se pretende a envolver a zona Norte. Os lagos de água parada estão cheios de pescadores pelas suas margens, enquanto vão sendo rasgados canais para dar continuidade ao que se vai fazendo no centro da cidade, embelezando e criando espaços verdes para lazer. Por fim, após passar por uma ponte de pedra a ser construída com o suporte de terra a servir de apoio ao arco, chegamos junto ao Pagode de Ferro, que com dez metros de altura, é um dos quatro ainda existentes na China. Situa o local do antigo Templo de Long Xin, já inexistente, e na área todos os edifícios estão por terra, sobrando entulho. Nesta viagem temporal, mediada por cinco anos, voltamos ao núcleo da cidade antiga de Liaocheng. Na primeira estadia, a paisagem urbana da ilha central mostrava-se com um forte contraste em relação à cidade nova que a circunda. O quotidiano desenrolava-se sem grande trânsito e as pessoas vi-

viam como em aldeia, sendo as casas térreas e antigas, muitas muralhadas e com pátio, onde o tempo parecia ter parado e muito se diferenciava da outra parte da cidade. Agora, dentro já de um urbanismo cuidado, os novos prédios avançam a cidade e entre eles, o canal Huitong, construído no século XIII, vai sendo dragado aos poucos. Por fim o lago, onde a cidade ganha espelho. Toda ela mostra aos nossos olhos o que estes não se tinham apercebido aquando da visita ao antiquíssimo local de Yang Cheng em Changzhou, província de Jiangsu. Aí faltava o balão para subir e ver de cima o que seria um povoado há três milénios. Essa visão foi-nos oferecida no Museu do Grande Canal, onde varandas em cada um dos três andares permitem ver por cima a planta de Liaocheng.

A ACTUALIDADE DO ANTIGO

Sem perceber como, encontramo-nos na parte antiga da cidade, onde as ruas e passeios, que eram em terra, vão sendo revestidos com pedra e quanto mais nos aproximamos do centro, mais intenso o trabalho das obras. Entramos por estreitas ruas, cujos altos muros escondem os pátios das casas, sendo a nossa curiosidade satisfeita por portões abertos a mostrar de frente um mural de azulejos a receber quem entra. Já no centro da ilha, a Torre Guangyue foi construída por Chen Yong em 1374 e usou os materiais que sobraram da reconstrução da cidade, feita dois anos antes. Esta, transformada de terra para pedra, passou nessa altura a chamar-se Feng Huang Cheng, cidade Fénix. Da Torre Guangyue, partem quatro ruas e em torno dessa praça, alguns Bancos perceberam há muito, que aí virá a ser o lugar mais turístico da cidade e por isso colocaram agências nos edifícios para ela virados. Também uma casa com jardim bem arranjado parece ser um museu de alguém famoso, mas está fechado. Depois um outro edifício, este de madeira e de grandes dimensões, chama a atenção e ao tentar entrar, dizem-nos que o museu de pintura fica no outro lado do mesmo complexo.

Continuando a explorar a cidade antiga dentro da ilha percebemos que esta não terá mais de três quilómetros de diâmetro. Ao passear por um dos seus cantos, encontramos um idoso vestindo roupas que já desapareceram do quotidiano chinês, o que nos chama a atenção e pedindo para o fotografar, aceita. Já nas despedidas diz-nos algo e pelo gesto parece pedir para lhe enviarmos a fotografia. Retiramos o bloco do bolso e passando-o para as suas mãos, começa a escrever, o que pensamos ser o endereço, mas este não pára e ocupa a folha toda. Tentamos saber em todos aqueles caracteres onde a se encontra a morada e então, com poucas palavras, convida-nos a ir a sua casa. Den Jin Lu nascera em 1925 em Liaocheng e aos dez anos servira como ajudante voluntário no exército. Já em 1936 juntou-se a Zhou Enlai durante dois meses e desde Julho desse ano passou a seguir Fan Zhu Xian, entrando em 1940 para o Exército e tornou-se membro do partido Comunista passado três anos. Estudou na universidade e combateu os japoneses, tendo o senhor Den em 2004 escrito sobre essa época e o seu superior Fan Zhu Xian. Ainda nessas deambulações damos com um artista que, pelas dimensões da folha de papel de arroz onde desenvolve a reprodução de uma pintura a tinta de água, necessita da rua para atelier. Olhando ao fundo os altos edifícios, saímos da cidade antiga pela longa e bonita ponte de mármore branco. Com vinte e um arcos, tem as pedras gravadas em relevo com imagens retiradas da novela do século XIV, Margem da Água (ShuihuZhuan), a representar histórias como a de Wu Song bateu num tigre até este morrer, ou Sun Er-Niang tornou-se dono de um restaurante, matando e comendo os seus comensais. Na segunda visita, em 2012, estranhamos o que os nossos olhos vêem. A cidade antiga está a ser muralhada, contando já com uma grande frente e uma porta. Chegados à parte nova da cidade, seguimos para apanhar o autocarro em direcção a Linqing e continuar a perseguir o Grande Canal. Liaocheng é uma cidade com vasto potencial para surpreender pela positiva os visitantes. Se para um estrangeiro, o que esta cidade tem para mostrar não parece significativo, comparado com os muitos locais de grande qualidade e antiguidade que existem pela China, já para o turismo interno mostra-se com grandes potencialidades, tanto culturais, como históricas e de lazer. Esconde ainda por baixo da terra muitos episódios do livro da História antiga da Civilização chinesa, que ficarão para outra história.


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fichas de leitura

Manuel Afonso Costa

O ovo da serpente: secularização e progresso O

romance Os Sonâmbulos consta de três volumes, a saber, Pasenow ou o Romantismo: 1888; Esch ou a Anarquia: 1903; e Huguenau ou a Objectividade: 1918. O primeiro volume mergulha arqueologicamente no século XIX. Tudo leva a crer que foi aí que a crise começou. Terá sido aí que um certo mal estar civilizacional começou a fazer o seu caminho. E nesse primeiro volume o que interessa ressalvar é a brutal ascensão das massas, o Ovo da Serpente, associada à inevitabilidade da defesa dos valores da Modernidade, ou seja, progresso, felicidade para o maior número, ascensão social, democracia e direitos. Alguns intelectuais terão pensado levianamente que era possível promover tudo isto, que representava uma rotura imensa com a tradição e que ao mesmo tempo o sistema axiológico se mantivesse incólume e, ainda, que no fundo fosse possível adequar a nova ordem ao espartilho da ordem antiga, hierarquizada, disciplinada, diferenciada, portanto holista numa palavra, quando deveria ser óbvio que a revolução individualista e de massas exigia uma ordem nova, com valores de outra natureza, desde logo porque o equilíbrio e harmonia orgânica seriam abalados desde os seus alicerces e pressupostos e a primeira fase da fragmentação alucinante iria produzir como não podia deixar de ser e veio a acontecer, intranquilidade, desespero, insegurança e sobretudo vazio político mas também axiológico. Foi esse vazio que as modalidades endurecidas da modernidade exploraram sob várias formas, que aqui não vêm agora ao caso. Esch simbolizará premonitoriamente o esforço de organização do caos e nesse sentido o esforço de reconfiguração dos valores desmoronados. Tenho para mim que Esch, quer dizer Broch, não assumiu tanto quanto devia uma crítica ao tempo ultrapassado e portanto persiste sempre

Broch, Hermann, Os Sonâmbulos, Edições 70, Lisboa, 1989 Descritores: Literatura, Austríaca, Romance, Império AustroHúngaro, Primeira Guerra Mundial, Valores, Crise, Fascismo, trad. de António Ferreira Marques, 167, [1] p. 2 v.:23 cm Cota: C-4-4-259,260

neste tipo de exercícios uma vontade de regeneração pelo regresso que embaraça em vez de desembaraçar e portanto a superação inclui o removido mas não à maneira hegeliana enquanto aufbhung dialéctica mas enquanto nostalgia. Como não há uma proposta de superação radical assente numa crítica e condenação das sociedades de antigo regime constitutivamente iníquas e moralmente decadentes abre-se a porta à reificação ideológica dos modelos que a história removeu, a formas de tirania agora sem a caução que a metafísica lhes conferia. O fascismo e o comunismo mais não são do que o holismo antigo imposto de forma autoritária. O terceiro volume consagra o arrivista sem valores, niilista, ou seja o arauto de uma expansão vitalista de uma ideia de poder e de domínio. Trata-se do individualismo mal interpretado, levado às suas últimas consequências. Mas Broch nunca compreendeu o individualismo senão na sua versão deletéria de independência e egoísmo, na sua versão leibnitziana de mónadas sem portas nem janelas, de gerador portanto de fragmentação e caos e jamais na sua perspectiva emancipadora da autonomia assente na ética kantiana. Nunca se perceberam muito bem, ou não se quiseram perceber, os motivos pelos quais Kant foi tão coerentemente anti eudemonista e as razões pelas quais a sua deontologia ética e moral promove o imperativo categórico, à margem da mínima suspeita de sentido do interesse egoísta, ao mesmo tempo que remete todo esse universo para um avatar

HERMANN BROCH, de origem judaica, nasceu a 1 de Novembro de 1886 em Viena, à época capital do Império Austro-Húngaro. O consagrado escritor veio a falecer nos Estados Unidos da América em New Haven no estado de Connecticut no dia 30 de Maio de 1951. Teve como a maior parte dos judeus daquele tempo uma vida atribulada, tendo sido preso pelos alemães logo após a anexação da Áustria à Alemanha em 1938. Conseguiu contudo ser libertado, através da intervenção da comunidade intelectual, em particular de James Joyce, e depois acabou por emigrar primeiro para o Reino Unido e finalmente para a América. Durante anos dedicou-se a uma vida de aventura e boémia durante a qual se casou e separou várias vezes. Casou primeiro com Franziska von Rothermann e mais tarde com Milena Jesenská. Por causa de Eva Von Allesch, jornalista, ex-modelo nu e designada a Rainha do Café Central, Broch rompeu o casamento com Jesenská, que, ao que parece começou uma relação com o escritor Franz Kafka. Antes do seu primeiro casamento tinha-se convertido ao catolicismo. Pôs termo a esta fase da sua vida vendendo os seus bens e dedicando-se completamente aos estudos e à literatura. Estudou Matemática, Psicologia e filosofia na Universidade de Viena entre 1926 e 1930 e conviveu com insignes escritores, como Rainer Maria Rilke, Elias Canetti e Robert Musil. Da sua obra destaca-se justamente A Morte de Virgílio considerada a sua obra prima, mas também Os Sonâmbulos e Os Inocentes no domínio da ficção. No domínio do ensaio merece menção honrosa, o Geist Und Zeitgeist: Essays zur Kultur der Moderne, que reúne seis ensaios do autor. Em língua portuguesa apareceu com o título Espírito e Espírito de Época--- Ensaios sobre a Cultura da Modernidade, onde se discute, em particular, a questão do kitsch na modernidade.

do individualismo na sua versão hedonista e utilitarista. Herman Broch não percebeu ou percebeu, mas ao desafio complexo da Modernidade, com as suas inevitáveis crises de crescimento, prefere o retorno a um mundo mais estável, mais disciplinado, como se de resto isso fosse ainda possível. Coerentemente ao menos foi buscar as causas da sua ideia de decadência onde elas de facto, sejamos justos, se começaram a manifestar, ou seja naquela época da história em que o edifício da secularização, da autonomia, da liberdade e portanto do humanismo se começou a construir, quer dizer no Renascimento. Ele é corajoso no diagnóstico, ainda que esteja completamente errado: A origem da crise está n’ “Aquela época criminosa e rebelde que é chamada de Renascimento, aquela época que cindiu a estrutura de valores cristã em uma metade católica e outra metade protestante, aquela época em que, com o desmoronamento do órganon medieval, principiou o processo de dissolução dos valores que duraria quinhentos anos e no qual se deitou a semente da modernidade, (…)” Notável a clareza do equívoco. E mais lucidamente ainda Broch não deixa de salientar que não obstante não se pode nem deve imputar a responsabilidade a nenhuma das partes do complexo sistema, seja o

individualismo, seja o protestantismo, seja a revolução humanista e científica, seja lá o que for. A culpa para Broch reside, usando uma ideia de episteme à maneira de Foucault, no puzzle conceptual moderno, no modo como as mesmas categorias se organizaram de modo diverso e para ele calamitoso. Eu penso modestamente que sei, mas penso que Herman Broch não sabia, provavelmente não o poderia saber: que a transformação nuclear que fez desmoronar o órganon medieval e no plano social esse organon é holista e corporativo, não foi o Renascimento, nem a Reforma, foi a revolução epistémica desencadeada no interior da própria Idade Média e protagonizada por Dun Scoto e Guilherme de Occam. É a posição do nominalismo na Questão dos Universais que promove a dissolução da harmonia social medieval. Provavelmente até o Renascimento é já um epifenómeno e uma consequência da revolução nominalista. Mas, e não pretendendo adequar-me excessivamente à cartilha ideológica marxista da teoria do reflexo entre o domínio económico-social da infraestrutura e o tecto da superestrutura, quem se atreverá a não reconhecer o papel determinante, na corrosão do holismo corporativo medieval, das transformações económicas e sociais que começam na baixa Idade Média com as sucessivas revoluções económicas, em torno das actividades agrícolas, artesanais, comerciais e demográficas que culminarão na revolução urbana que aos poucos vai modificar a configuração social da Europa e onde acabarão por se evidenciar dinamismos revolucionários deletérios relativamente à ordem tradicional e propiciadores de uma reconfiguração social de tipo novo e inédito, de algum modo. Afinal o individualismo emergente que o nominalismo consagra no plano intelectual possui os contornos de uma transformação sistemática dos modos de vida, das relações sociais e de poder, às quais não foi estranha a revolução das comunas ou dos concelhos. Para quê tapar o sol com a peneira da ignorância, quando qualquer estudo sistemático e integrador das múltiplas dimensões do processo histórico aponta para modificações estruturais e, parece-me, irreversíveis. A modernidade não foi uma opção, a Modernidade era o nosso destino.

*No quadro da colaboração de Manuel Afonso Costa com a Biblioteca Central de Macau-Instituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de Leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.


19 hoje macau sexta-feira 18.3.2016

FEDERAÇÃO DE MOTOCICLISMO DE PORTUGAL ESPERA MANTER QUOTA NO GP MOTOS

Qualidade portuguesa está garantida na grelha

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líder Benfica visita no domingo o ‘aflito’ Boavista, numa jornada da I Liga de futebol em que o Sporting recebe o Arouca, dois testes que podem ser difíceis para os candidatos ao título. Os ‘encarnados’, sem os castigados Jardel e Mitroglou, têm a actual melhor série no campeonato, com quatro triunfos seguidos, e a oito jornadas do fim estão proibidos de escorregar, face à proximidade ‘leonina’ (a dois pontos e com vantagem no confronto directo). A visita ao Bessa – campo onde o FC Porto goleou (5-0), mas o Sporting empatou (0-0) -, um palco sempre difícil, acontece apenas depois de o Sporting entrar

“A participação de pilotos portugueses no Grande Prémio de Macau está dependente do amável convite da Comissão Organizadora do Grande Prémio à FMP. Satisfeito este pressuposto, o que nos agradaria seria de, pelo menos, manter a participação dos anos anteriores”

CGPM

N

O próximo mês de Novembro, Macau celebra o seu 50º Grande Prémio de Motos, um evento que será tão relevante para a RAEM, como também o é para Portugal, onde o evento goza de muitos aficionados. Mantendo a boa relação com as entidades responsáveis da RAEM, que dura desde o tempo da Administração portuguesa do território, a Federação de Motociclismo de Portugal (FMP) quer estar representada à altura na celebração da quinquagésima edição. André Pires e Nuno Caetano foram nos dois últimos anos os únicos representantes de Portugal na prova. Caetano, que o ano passado se viu privado de participar na corrida do Circuito da Guia devido a uma lesão na clavícula, após se ter qualificado em 30º, anunciou em Fevereiro o abandono das pistas. Na sua página oficial da rede social Facebook, o experiente piloto português, 24º classificado no Grande Prémio de Macau em 2013 e nome habitual nas principais provas de estrada mundiais, revelou que decidiu pendurar o capacete para se dedicar totalmente à sua vida profissional e familiar. Contudo, a FMP está confiante que se irá manter bem representada no evento de fim de época.

ARMANDO VIEIRA MARQUES DIRECTOR-GERAL E MEMBRO DA COMISSÃO DE VELOCIDADE DA FMP

“A participação de pilotos portugueses no Grande Prémio de Macau está dependente do amável convite da Comissão Organizadora do Grande Prémio à FMP. Satisfeito este pressuposto, o que nos agradaria seria de, pelo menos, manter a participação dos anos anteriores”, explicou ao HM Armando Vieira Marques, Director-Geral e Membro da Comissão de Velocidade da FMP.

TUDO SOBRE RODAS

Apesar da ausência certa de Caetano e dos rigorosos critérios de selecção de participantes, o dirigente português está tranquilo quanto à qualidade da participação lusitana na prova, pois existem “outros pilotos que já participaram no Grande Prémio de Macau e que poderão cumprir com os critérios de elegibilidade”, diz. Poucos dias depois de Caetano ter dito adeus à competição, André Pires aproveitou para, também na rede social Facebook, revelar que um dos seus projectos para 2016 será competir no TT da Ilha de Man, a prova rainha da especialidade. Pires, que está mais habituado à competição em autódromos no Campeonato Nacional de Velocidade, onde foi campeão de Superbike em 2014, para além de contar com dois título nacionais em 125GP e SuperStock 600 no seu currículo, ainda não definiu onde correrá este ano, mas é praticamente presença confirmada na prova de Macau se Portugal mantiver a quota de dois convites. O motociclista de Vila Pouca de Aguiar foi 20º classificado na edição passada do Grande Prémio, aos comandos de uma Yamaha, tendo logo na altura deixado claro “querer vir cá outra vez” este ano. Sérgio Fonseca

info@hojemacau.com.mo

Na rota do título

Liga Nos Benfica visita o Bessa. Sporting recebe o melhor Arouca da época

em campo, o que acontecerá no sábado, a partir das 18:30. No Benfica, Rui Vitória continua com baixas importantes e terá uma vez mais que mexer na defesa, pelo que deverá recuar o médio grego Samaris para o eixo, fazendo dupla com o sueco Lindelöf, chamado pela primeira vez esta semana à sua selecção. Na equipa de Erwin Sanchez, muito perto da zona de descida (16.ª) e que teve um ‘balão de oxigénio’ com um triunfo em casa do Marítimo (3-0), o central Nuno Henrique e o médio Anderson Santos irão cumprir castigo.

DESPORTO

Quanto ao Sporting, que também está proibido de perder, na perspectiva de manter pressão sobre o Benfica e ainda ambicionar o primeiro lugar, recebe o Arouca, equipa que atravessa a sua melhor fase. O conjunto orientado por Lito Vidigal já causou na primeira volta muitos constrangimentos aos ‘leões’ (venceram nos descontos) e chega a Alvalade sem perder há sete jornadas (cinco vitórias e dois empates). Uma série que coloca a equipa, que não contará com o castigado Adilson Goiano, no

quinto lugar da I Liga. O último desaire dos arouquenses aconteceu à 19.ª jornada, a 23 de Janeiro, e precisamente na visita ao Benfica (3-1). A campanha do Arouca contrasta com a do Vitória de Setúbal (13.º), que após um razoável início de campeonato foi perdendo terreno e não vence há sete jogos, acumulando três empates e quatro derrotas. Os sadinos, que estão cinco pontos acima da linha de descida, recebem o FC Porto, com o favoritismo do lado dos ‘dragões’, pese embora as oscilações que a equipa de José Peseiro continua a demonstrar. A seis pontos do Benfica, o FC Porto ainda é candidato ao título, mas o ‘tropeção’ recente (derrota por 3-1) em Braga – sobretudo depois de

ir vencer à Luz (2-1) – e as exibições sofríveis não têm dado muito crédito à equipa ‘azul e branca’.

BOLA A RODAR

A 27.ª jornada tem início esta sexta-feira, com o ‘europeu’ Rio Ave (sexto) a receber o Marítimo (12.º), enquanto o Paços de Ferreira (sétimo), a um ponto dos vila-condenses, joga no domingo na Mata Real com o Moreirense. Ainda na luta europeia está também o Vitória de Guimarães – apesar de vir de uma derrota em casa com o Paços (1-0) -, embora a equipa de Sérgio Conceição leve nos últimos seis jogos quatro empates (um dos quais com o Sporting) e duas derrotas. Os vimaranenses, que estão a dois pontos do sexto

lugar, visitam no domingo o Nacional (11.º). Confortável na quarta posição está o Sporting de Braga que no domingo recebe o União da Madeira (15.º). Na zona de descida, o Tondela (18.º), que já tem dez pontos de diferença para o penúltimo, lugar igualmente de descida, recebe o Belenenses, enquanto a Académica (17.ª) joga em casa com o Estoril-Praia. Acima do lugar da Académica, com mais um ponto e dois estão, respectivamente, o Boavista (que recebe o Benfica) e o União da Madeira (que vai a Braga). Lusa


20 (F)UTILIDADES TEMPO

C H U VA

hoje macau sexta-feira 18.3.2016

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

?

FRACA

MIN

16

MAX

21

HUM

85-99%

EURO

9.07

BAHT

ROTA DAS LETRAS - PROJECÇÃO DE FILMES: “A USELESS FICTION”, “WHEN FELICITY CALLS” E “FARMING OF THE WASTELAND” Cinemateca Paixão, 20h00

Sábado

CAMPEONATO DE ANIVERSÁRIO DE RUGBY TIS, 11h30 ROTA DAS LETRAS: “WORKSHOP DE ESCRITA: COMO ESCREVER UM ROMANCE GENIAL” – PARTE I COM RUI ZINK Livraria Portuguesa, 11h00

O CARTOON STEPH

ROTA DAS LETRAS: LANÇAMENTO DO LIVRO “EU TAMBÉM ESTIVE EM MACAU DURANTE A GUERRA”, COM SOFIA ANDRADE E RICARDO PINTO, E “QUARTO CRESCENTE – LIVRO DE CONTOS E OUTROS ESCRITOS” Livraria Portuguesa, 18h00

Domingo

CONCERTO MARS EN FOLIE, COM ADIEU GARY COOPER E GINKGOA Universidade de Macau, 20h00

Diariamente

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 51

EXPOSIÇÃO “UM SÉCULO DE ARTE AUSTRÍACA” (ATÉ 3/04) Museu de Arte de Macau HISTÓRIA NAVAL (ATÉ 9/04) Arquivo Histórico de Macau

Cineteatro

C I N E M A

KUNG FU PANDA 3 SALA 1

FALADO EM CANTONÊS Filme de: Alessandro Carloni, Jennifer Yuh 14.15, 16.00, 19.30

Filme de: Robert Schwentke Com: Shailene Woodley, Theo James, Jeff Daniels, Naome Watts, Maggie Q 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

KUNG FU PANDA 3 [3D][A]

SALA 3

GODS OF EGYPT [B]

FALADO EM EM MANDARIM LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Wei-Hao Cheng Com: River Huang, Wei-Ning Hsu 14.15, 17.45, 21.30

KUNG FU PANDA 3 [A]

FALADO EM CANTONÊS Filme de: Alessandro Carloni, Jennifer Yuh 17.45 Filme de: Alex Proyas Com: Nikolaj Coster-Waldau, Brenton Thwaites, Gerard Butler 21.30 SALA 2

THE DIVERGENT SERIES: ALLEGIANT [B]

PROBLEMA 52

UM FILME HOJE

SUDOKU

DE

ROTA DAS LETRAS: “SESSÃO PARA PEQUENOS LEITORES”, COM MARITA CONLON-MCKENNA Sala de leitura do The Ritz Carlton, 15h00

EXPOSIÇÃO “MA-BOA, LIS-CAU”, DE CHARLES CHAUDERLOT (ATÉ 19/03) Museu de Arte de Macau

1.23

O TEMPO

ROTA DAS LETRAS: “A PECULIAR FORMA DE VIDA DOS ESCRITORES” Antigo tribunal, 18h30

EXPOSIÇÃO “COLOUR EXCHANGE” (ATÉ 10/04) Casa Garden

YUAN

AQUI HÁ GATO

ROTA DAS LETRAS: “SESSÃO PARA PEQUENOS LEITORES”, COM MARITA CONLON-MCKENNA Sala de leitura do The Ritz Carlton, 15h00

ROTA DAS LETRAS: “WORKSHOP DE ESCRITA: COMO ESCREVER UM ROMANCE GENIAL” – PARTE II COM RUI ZINK Livraria Portuguesa, 15h00

0.22

Chegamos a mais um fim-de-semana. Uma semana que termina e tantas vezes distraídos nem percebemos como o tempo passa. Eu não reparo. Ouço por aí dizerem: “o tempo passa a correr”. Sinto o mesmo, e entre miares e espreguiçadelas, vou debatendo esse assunto. Pergunto-me muitas vezes o que é o tempo e o que representa ele na nossa vida. Há o tempo bem passado e o mal passado. E se o tempo fosse palpável, o que seria? Que forma teria? Redonda? Quadrada? E que cor? Que cor tem o tempo? Pergunto-me ainda quanto tempo me resta. A mim, gato, sei que ainda me faltam vidas. Afinal de contas cada um de nós tem sete e eu ainda tenho algumas para gastar. Mas e a vocês humanos? Quanto tempo vos resta? Quanto tempo têm para comprarem a casa que querem? O carro? Tirar o curso que sempre ambicionaram? Ou fazerem aquela viagem que programam há anos? Quanto tempo vos resta para concretizar os vossos planos? E para pedir desculpa? E para dizer amo-te? E obrigada? Quanto tempo vos resta para dizerem as verdades presas no peito, que vos vai inchando, inchando até um dia ser tarde de mais? Quanto tempo vos resta para largarem o que não é importante e serem felizes? Tic, Tac, Tic, Tac... O tempo está a contar. Bom fim-de-semana leitores. Pu Yi

“GODS OF EGYPT” (ALEX PROYAS, 2016)

Quem se interessa por mitologia grega, consegue também interessar-se pela mitologia egípcia e este filme apresenta-nos uma batalha entre as divindades Horus e Set, mas em 3D. Gerard Butler protagoniza um deus impiedoso, Set, usurpando o trono do Egipto. Uma ameaça à humanidade. Um jovem corajoso, de nome Bek. Tomás Chio

THE TAG ALONE [C]

LONDON HAS FALLEN [C] Filme de: Babak Najafi Com: Gerard Butler, Aaron Eckhart, Morgan Freeman 16.00, 19.30

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21 hoje macau sexta-feira 18.3.2016

OPINIÃO JOSÉ MANUEL PUREZA in Esquerda.net

Á regras europeias para salvaguardar a dignidade dos milhares de homens e de mulheres que buscam a Europa como porto de abrigo na fuga à guerra que a própria Europa alimenta nos seus países? Não, não há. O que há é o cada um por si, num campeonato de xenofobia em que quem erguer muros mais altos e fechar fronteiras com mais cadeados ganha. Depois venham-me falar de “tradição humanista da Europa” e de “berço da civilização”! Depois venham-me falar de “construção europeia” ou de “europeísmo convicto” – eu vos responderei que aquilo que está a acontecer é o oposto de tudo isso: é o regresso da barbárie contra as multidões supérfluas, é a adoração da liberdade de circulação de capitais a tomar como vítima no seu altar sagrado a liberdade de circulação de pessoas, é a desconstrução europeia em velocidade de cruzeiro, é o avesso de qualquer outro europeísmo que não o dos mercados financeiros sem pátria e sem rosto.

“Sobre as “regras europeias” pode dizer-se o que se diz dos arremedos de Primavera em Fevereiro: têm dias…” É por estas e por outras que dirigentes socialistas europeus como Moscovici ou Dijsselbloem bem podem, em uníssono com Schäuble ou Merkel, dizer ao governo português que as medidas adicionais de austeridade não são um caso de ‘se’ mas sim um caso de ‘quando’. A Europa que se esboroa nas fronteiras da Grécia com a Macedónia e nas políticas de confisco dosa bens aos requerentes de protecção internacional à Dinamarca é a que faz farronca com Portugal e esmaga Atenas ao mesmo tempo que estende a Londres a passadeira da diferenciação em função da nacionalidade entre beneficiários de protecção social. Moscovici e Dijsselbloem falam grosso a Lisboa a olhar para Madrid e para Roma. São gente que não faz ideia do que seja isso de uma Europa defensora dos direitos humanos, que ignora por inteiro o que seja isso de um contrato social que contraste a Europa da China. O consenso de que Portugal precisa é o que o defenda da imposição de mais austeridade pela cegueira ideológica de gente assim. Será esse o ‘teste do algodão’ dos consensos tão exuberantemente anunciados pelos actores políticos que deles se querem campeões. Os consensos políticos ou servirão para defender as pessoas contra mais ataques da austeridade ou servirão convictamente as tais “regras europeias”. Ou seja, para a desconstrução da Europa e de Portugal.

PHILLIP NOYCE, RABBIT-PROOF FENCE

H

Para que serve um consenso?


22 OPINIÃO

hoje macau sexta-feira 18.3.2016

sorrindo sempre

O sotaque

RA eu estudante do Liceu e tinha umas amigas de origem africana que, quando juntas, falavam português com um sotaque próprio da terra delas. Faziam-no a brincar, mas não eram propriamente low-profile quando o faziam e até era visível um certo orgulho da parte delas. Um dia, para provocar, perguntei-lhes porque apenas falavam assim quando entre si: ou seja, para onde ia aquele sotaque quando falavam comigo e com outros, porque revertiam logo para um português de pronúncia neutra? A resposta que obtive foi categórica: “e porque não falas tu com sotaque macaense quando estás connosco?” ***

No meu ano de caloiro no Porto fui um dia jantar com uma conterrânea minha, Macaense, estudante universitária que já lá estava desde o ano lectivo anterior. À boa maneira maquista, a nossa conversa à mesa foi feita num misto de português e chinês. Contudo, quando chegou o empregado de mesa e começámos a fazer o pedido, algo de totalmente inesperado deixou-me boquiaberto: da minha amiga, Macaense de gema com apenas um ano de vivência na Invicta, saiu um português com fortíssima pronúncia do Porto. Frase que me ficou na memória: “E para mim é um cuópu de beinho bráunco”. *** Uma das coisas que me fascina em Singapura é o Singlish, uma vez que representa bem o melting pot que é aquela Cidade-Estado. Além disso, não posso deixar de achar piada ao sotaque dessa particular forma de inglês e, sendo eu falante de chinês, consigo compreender na perfeição algumas expressões típicas do Singlish. Uma das minhas favoritas é o “like this also can” (leia-se “lái this also caaaaaan”), equivalente ao kam tou tak (*) em chinês. Costumava ir com alguma frequência a Singapura. Em tempos fui convidado para o casamento de uns amigos meus e, na igreja, tive de fazer uma leitura em inglês. No final da cerimónia uma senhora veio dar-me os parabéns pela minha excelente pronúncia. Fiquei surpreendido pois sempre considerei o meu inglês uma mistela, um broken english fruto do que aprendi no Liceu – onde tive bons professores – complementado com o que fui apanhando pelo caminho com os meus amigos filipinos e anglo-saxónicos de origem diversa. “Really?”, respondi sem esconder a minha surpresa. “Mine’s not really British or the Queen’s English, is it?”, acrescentei.

“Well.. For one thing, it sounded like proper English, not Singlish…”, respondeu. *** Caríssimo leitor, este é um assunto sensível para nós, Macaenses: o nosso sotaque quando falamos português e, numa abordagem mais alargada da questão, o nosso domínio da língua portuguesa. E ainda outros complexos. Não sendo linguista ou intelectual, homem da cultura, orador de conferência ou profundo conhecedor da História de Macau – muito menos do tipo que só é capaz de falar do antigamente, do presente tem pouca opinião e do futuro nem um pouco de visão – atrevo-me ainda assim a debruçar-me sobre este tema. O sotaque Macaense é como o Minchi: cada casa tem o seu, não existe propriamente um standard. Mas, tal como o Minchi, tem as suas características principais que todos reconhecem. O sotaque em si não é um problema e não tem mal nenhum: é o que é e até podia ser motivo de orgulho ou a nossa imagem de marca, tal como o Singlish em Singapura. O problema é quando o sotaque é misturado e/ou confundido com o português gramaticalmente mal falado, que por sua vez é associado àquele que não é instruído. Conversa de elitista? Não. A conversa do “tem curso, não tem curso” é um complexo que de certa forma herdámos de Portugal, onde ainda se mantém a formalidade de se colocar o título à frente do nome das pessoas – é o senhor doutor, o senhor arquitecto ou o senhor engenheiro – e até se inventou o título Comendador para quem não tem canudo. (Não fique ofendido quem tem esse título, não é minha intenção desrespeitar quem não teve a oportunidade de tirar um curso superior e que subiu a pulso com base nos conhecimentos da “escola da vida”, e que por essa razão até merece a minha maior consideração). O caríssimo leitor poderá não concordar com esse ponto de vista, mas entenda como SOFIA COPPOLA, LOST IN TRANSLATION

E

ANDRÉ RITCHIE

a opinião de quem o sentiu com alguma intensidade ao longo da sua infância no seio da comunidade Macaense. Não sendo propriamente do tempo em que se anunciava no jornal que fulano de tal, filho de tal, tinha partido para Portugal para prosseguir com os seus estudos superiores – sim, porque ir estudar para Portugal era motivo suficientemente importante para notícia no jornal – é um facto que esses tempos existiram aqui em Macau, pelo que regressar da Metrópole com canudo na mão conferia por si só um certo estatuto na nossa comunidade ao recém-licenciado.

O sotaque Macaense é como o Minchi: cada casa tem o seu, não existe propriamente um standard. Mas, tal como o Minchi, tem as suas características principais que todos reconhecem O sotaque prende-se então com isso tudo, com esses complexos todos, e naturalmente com a insegurança de muitos. Aliando-se isso tudo às crises de identidade e todas as tempestades emocionais que nós, Macaenses, de vez em quando, por razões diversas, enfrentamos dada a nossa natureza mestiça, isso tudo leva a que por vezes tenhamos comportamos inexplicáveis no que concerne ao uso da língua portuguesa. Não é por acaso que temos a expressão “torâ português” em Patuá, a qual se refere àquele que, de uma forma forçada e pouco natural, procura falar português com pronúncia de Portugal. Há umas décadas atrás chegámos até a ter no hemiciclo um ilustre Macaense que o

torrava de forma particularmente anedótica, transformando todos os “r” em “rr”. Aliás, o senhor era de tal forma diligente que até aplicava essa fórmula ao seu próprio nome. Por outro lado, há também aqueles que, por insegurança, têm vergonha de falar português à frente de determinadas pessoas, refugiando-se no inglês ou no chinês. Em que ficamos, então? Não tenho nenhuma conclusão e nem sequer me atrevo a tecê-las. Mas apetece-me referir que, felizmente, muitos são os que não têm complexos nenhuns e falam à sua maneira, com o sotaque maquista e mesmo cometendo calinadas gramaticais. E ainda bem que assim é. Afinal o Patuá, de que tanto nos orgulhamos e do qual se deriva a nossa maneira particular de falar português, é também fruto de uma interpretação local da língua portuguesa, com inúmeras frases e expressões feitas com base numa construção gramatical chinesa e, de certa forma, um português mal falado, não? Além disso, Não estamos nós já habituados de ver na televisão, mesmo da boca dos ilustres políticos portugueses dirigentes do nosso país, erros de português? Os habituais “há-des” em vez do “hás-de”; o “interviu” em vez do “interveio”; o “evolóiem” em vez do “evoluem”; o “fostes” em vez do “foste”… Portanto, se o senhor doutor de Portugal pódi, porque temos nós tantos complexos, porque nós tamém num pódi?

SORRINDO SEMPRE

Karma hits you back, costuma-se dizer. No entanto, este ditado muito em voga nas redes sociais é aplicável nas situações em que fazemos mal a alguém, certo? Ora, porquê decidiu o karma hit me back numa situação em que tratei bem alguém é algo que não consigo compreender. Pois que há tempos escrevi um artigo a defender a polícia de Hong Kong na sequência daquela (absurda) revolta do yu tan. E, numa interpretação mais abrangente do artigo, defendi também os representantes do Governo que são vulgarmente maltratados pela população. (**) Contudo, dias a seguir, acabei eu por ser vítima de maltrato de um polícia de trânsito. Estava o senhor a passar-me a multa quando me aproximei do carro. Sem eu ter dito uma única palavra que fosse, o agente da autoridade decide desancar-me de cima a baixo, com um tom de voz agressivo em que faltaram apenas os palavrões para completar a coisa. Não me contive e respondi que achava inadmissível ele falar assim comigo. Houve uma pequena troca de palavras, embora nada do outro mundo porque, ainda assim, mantive a calma – ao contrário do outro. Moral da história? Nada de especial. Mas não havia necessidade. (*) 咁都得 : em tradução directa para português, o equivalente a “assim também pode” (**) “Rebeldes do Yu Tan”, edição de 19 de Fevereiro de 2016 do jornal Hoje Macau


23 hoje macau sexta-feira 18.3.2016

PERFIL HOJE MACAU

GONÇALO FERREIRA, COLORISTA

A

“Trabalhar com o Johnny To seria um sonho”

NTES de vir para Macau, Gonçalo trabalhou durante sete anos na Tóbis. Saiu por causa da privatização. Corrigiu a cor de filmes de vários realizadores como Manoel de Oliveira, Pedro Costa, Edgar Pêra ou João Botelho e, por cá, além de continuar na área, é também formador com workshops no Icenter e um módulo na Universidade de São José. Veio para Macau porque “o processo de privatização da Tóbis foi doloroso”. Uma situação que não entendeu pois, diz, “apesar de ser um processo difícil nós tínhamos trabalho. Eu estava a fazer 16 horas por dia...”, recorda. Mas não recebia a horas, a mulher estava na mesma empresa e, com filhos para criar, criou-se o cenário perfeito para a mudança. “Já cá tinha estado duas vezes e tinha gostado imenso. Depois tinha os filmes de Hong Kong no meu imaginário, cresci a vê-los, o Johnny To... e queria fazer um bocadinho parte disto”. Não pensava que conseguir manter-se como colorista por aqui, mas hoje, cinco anos volvidos, aos 39 anos de idade, Gonçalo confessa nunca ter pensado fazer tanta correcção de cor apesar de, lamenta, “a maioria ser publicidade e não cinema”. Isso fica a dever-se, na sua opinião, “filmar-se mais em Macau, apareceram as novas câmaras digitais que são muito complexas a nível de cor, e eu já tinha alguma experiencia com elas..”, explica.

Trabalho suficiente para já ter justificado o investimento numa estação de trabalho. Gosta de viver em Macau, não pensa ficar por cá, mas também não tem planos para se ir embora: “Sentimos saudades de Portugal; da família, dos amigos, do mar...” Tem 3 filhos, um de 12, outro de nove e uma menina de seis, a única sem memória de Portugal. A indecisão tem a ver com o facto de já ter sentido “mais esperança na vida em Macau”, porque, explica, “não é um sitio barato para viver”. O lado positivo são os amigos que tem feito e os vários destinos que se espraiam à volta como as Filipinas, o Japão, Taiwan ou a Tailândia que, de outra forma, seriam de difícil acesso.

CINEMA, SEMPRE

Sempre quis trabalhar em cinema e, especialmente, em pós produção. Via-se como editor mas o advento dos processos digitais abriu a nova profissão de colorista. Antes, explica Gonçalo, “era um processo físico, de revelação de película, onde era apenas possível definir se o filme seria mais claro ou mais escuro, mais quente ou mais frio”. Estavam estas novas ferramentas a surgir quando entrou nos laboratórios da Tóbis. Respondeu a um concurso onde apareceram 100 mas só entravam três, e conseguiu ser escolhido. Foi trabalhar num grande projecto de restauro da RTP e depois, “tive sorte”,

confessa, “estava tudo a começar e acabei por ser formado pelos tipos da Da Vinci”.

COR QUE CONTA HISTÓRIAS

“A correcção de cor é um complemento do guião, um suporte da história, a segunda parte do trabalho do director de fotografia, é o trabalho das sensações, do apuro da mensagem que o filme pretende passar”, elucida Gonçalo. Dando exemplos, refere-se aos “clichés do cinema de hoje onde as cenas quentes são geralmente amarelas, as frias mais azuladas, as de noite são esverdeadas ou azuladas...” Aí quisemos saber porque se convencionou que a noite seria azul e Gonçalo revela: “foi a técnica que os americanos desenvolveram nos westerns, a “American Night”. Filmavam de dia e depois tornavam tudo azul e mais escuro para parecer noite. Há mesmo imensos filmes desses, que se tornaram numa piada, em que se vê os actores a andarem à noite com sombras por todo lado”.

COSTA E TO

Pedro Costa é o cineasta preferido de Gonçalo. “Fiz a correcção de todos os seus filmes até ao momento”, diz orgulhoso, um trabalho que considera “dar-lhe um prazer especial porque as sessões com o Pedro Costa são muito diferentes, e porque gosto dos filmes dele”. Uma diferença que, para

Gonçalo, acontece “porque ele abandonou a ideia de grandes equipas e prefere trabalhar apenas com grupos mais reduzidos, para aproximar mais a equipa, ele, a câmara e o actor. Um processo quase promíscuo, que depois também se reflecte na cor. Para além disso, com Pedro Costa percebi que o cinema pode ser muita coisa.” Mas há algo que pode mesmo adiar significativamente uma eventual partida de Macau: Johnny To, o icónico realizador de Hong Kong, de quem Gonçalo se considera grande fã, e a oportunidade até pode estar próxima. Foi a propósito do filme de outro realizador, mas “o curioso é que tudo aconteceu à conta de Pedro Costa”, explica Gonçalo, pois o produtor do To é fã do realizador português e quis conhecer o Gonçalo: “um dia apareceu-me lá no estúdio para me conhecer e foi engraçado porque ele só me fazia perguntas sobre o Pedro Costa e eu só lhe fazia perguntas sobre o Johnny To” (risos). Para já, irá trabalhar num filme do mesmo produtor mas de outro realizador. Mas a pergunta ‘gostarias de trabalhar com o Johnny?’ já lhe foi colocada. Manuel Nunes

info@hojemacau.com.mo


sexta-feira 18.3.2016 PUBLI-REPORTAGEM

Voluntários da Sands China Ajudam a Fazer Sabonetes Reciclados e Embrulham Presentes Para Idosos ESTAS ACÇÕES JUNTO DA COMUNIDADE RESULTARAM DE UMA PARCEIRA COM O PROJECTO CLEAN THE WORLD E O CENTRO COMUNITÁRIO DE SEAC PAI VAN PARA A INTEGRAÇÃO DA FAMÍLIA UMA ASSOCIAÇÃO PERTENCENTE À UNIÃO GERAL DE ASSOCIAÇÕES DE MORADORES DE MACAU

N

o passado dia 23 de Fevereiro, um grupo de Embaixadores da Boa Vontade da Sands China passou a tarde a fazer sabonetes reciclados e a embrulhar presentes para idosos que vivem sós, num evento organizado em conjunto com o Projecto Clean the World e o Centro Comunitário de Seac Pai Van para a Integração da Família, membro da União Geral de Associações de Moradores de Macau. A tarde iniciou-se com uma apresentação aos Embaixadores da Boa Vontade do programa de reciclagem do Projecto Clean the World e da respectiva parceira com a Sands China e a respectiva empresa-mãe a Las Vegas Sands Corp. (LVS). Em todo o mundo, e desde 2011, o Projecto Clean the World e a LVS já reciclaram, mais de 50 toneladas de resíduos produzidos nas instalações da LVS transformando-os em 550.000 sabonetes, que foram oferecidos a pessoas necessitadas em Macau e em todo o mundo. A seguir à formação, os Embaixadores da Boa Vontade começaram a trabalhar na separação, recolha e embalagem dos sabonetes. Terminada a tarefa, os Embaixadores começaram a preparar as pacotes-presente para oferecer durante o Ano Novo Chinês a membros do Centro na sua grande maioria idosos que vivem sós. De seguida, os Embaixadores da Boa Vontade dividiram-se em pequenos grupos e foram a casa dos idosos entregar-lhes pacotes-presentes. “Fazer sabonetes reciclados e colocá-los (literalmente) nas mãos de quem deles precisa para bem das respectivas

saúde e higiene é um trabalho que salva vidas, ” afirmou Jolene Han, gestora da filial asiática da Clean the World. “É fantástico ver que os voluntários da Sands China contribuír com o seu tempo e a sua energia para um trabalho importante como o do projecto Clean the World.”

estes Embaixadores já contribuíram com mais de 7.300 horas de serviço comunitário voluntário, distribuídas por mais de 90 actividades diferentes. A Sands China Ltd., considera que iniciativas deste género são fundamentais para cimentar o seu empenhamento em causas sociais e o seu envolvimento comunitário.

Flávio Sam, responsável do Centro Comunitário para a Integração da Família, disse-nos: “Gostámos muito de participar nesta acção de ajuda com os Embaixadores da Boa Vontade da Sands China. Os nossos idosos que vivem sós apreciam muito as visitas domiciliárias – foi realmente uma bela forma de os ajudar a começar o Ano Novo.”

Criada em 1983, a União Geral das Associações de Moradores de Macau, é uma organização patriótica sem fins lucrativos dedicada a abraçar as políticas do Governo Central, envolvendo os cidadãos em actividades sociais, servindo a comunidade, oferecendo assistência e lutando para proporcionar uma vida melhor a grupos referenciados. A organização tem como objectivo ajudar a estimular melhor habitação, cuidados de saúde-infraestruturas e educação em Macau.

Um dos Embaixadores da Boa Vontade, declarou: “Sempre apreciei associar-me a actividades comunitárias que nos permitem interagir com os nossos idosos. Ficam sempre tão contentes por nos ver, e dá-me uma enorme alegria perceber que, desta forma, posso contribuir com algo para a minha comunidade.” O programa de Embaixadores da Boa Vontade implementado pela Sands China procura dar aos seus funcionários oportunidades para servir a comunidade local, organizando actividades e iniciativas destinadas a ajudar a construir um Macau melhor. A iniciativa conta com um corpo de 500 voluntários, vindos das diversas instalações da Sands China – O Venetian de Macau, a Sands Macau, O Plaza Macau e a Sands Cotai Central. Desde que o Programa teve início, em Agosto de 2009,

A Clean the World é uma empresa social que tem como missão salvar milhões de vidas em todo o planeta, através da distribuição de sabonetes reciclados e produtos de higiene a crianças e famílias necessitadas. A Clean the World é o maior reciclador global de artigos hoteleiros. Em toda a América do Norte tem mais de 4.000 Hotéis e Resorts como parceiros e ainda outros 500 parceiros na área da promoção de eventos. Desde 2009, a Clean the World já distribuiu mais de 25 milhões de sabonetes a crianças e famílias de 99 países, ao mesmo tempo que leva a cabo uma missão de salvaguarda ambiental, ao impedir que 3.800 toneladas de desperdícios hoteleiros poluam o planeta. Informação adicional encontra-se disponível em www.cleantheworld.org.

• Um grupo de Embaixadores da Boa Vontade da Sands China passou uma tarde a reciclar sabonetes e a preparar pacotes-presente para idosos que vivem sós durante um evento organizado em parceria com o Projecto Clean the World e o Centro Comunitário para a Integração da Família de Seac Pai Van, membro da União Geral de Associações de Moradores de Macau

• Embaixadores da Boa Vontade da Sands China visitaram idosos que vivem sós para entregar pacotes-presente no âmbito da comemoração do Ano Novo Chinês.


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