Hoje Macau 18 ABR 2017 #3794

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FRONTEIRAS

ISABEL MACHADO, ESCRITORA

TERESA AIRES

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

Deputado “A beleza de HK? Não, também pode obrigado! abrir portas” PÁGINA 7

ENTREVISTA

Cenas de um casamento h VALÉRIO ROMÃO

A guerra perdida h PAULO JOSÉ MIRANDA

hojemacau

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HOJE MACAU

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MOP$10

TERÇA-FEIRA 18 DE ABRIL DE 2017 • ANO XVI • Nº 3794

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

HO IAT SENG ACABA COM AS “ESPECULAÇÕES”

“Cada deputado tem de assumir a responsabilidade pelo acto de carregar no botão” PÁGINA 6

CRISE NA COREIA

DIPLOMACIA DOENTE GRANDE PLANO

TÁXIS

BANDEIRADAS AO ALTO PÁGINA 8


2 ENTREVISTA

ISABEL MACHADO

TERESA AIRES

ESCRITORA

António Conceição Júnior

I

SABEL Machado não é uma estranha a Macau. Muito pelo contrário, aqui trabalhou na TDM entre 1989 e 2000, tendo sido igualmente professora de português no ensino secundário e de português como língua estrangeira, em Lisboa Regressou a Portugal no final de 2000. Depois de oito anos a trabalhar no Canal Parlamento, na Assembleia da República, em 2012 lançou o seu primeiro romance histórico “ISABEL I DE INGLATERRA E O SEU MÉDICO PORTUGUÊS”. Seguiu-se “VITÓRIA DE INGLATERRA, A RAINHA QUE AMOU E AMEAÇOU PORTUGAL”. Sempre na mesma editora, Isabel lançou o seu terceiro romance histórico, “CONSTANÇA,A PRINCESA TRAÍDA POR

“Há em Macau uma constância surpreendente” PEDRO E INÊS”, em 2015 e, recentemente, a sua última obra, “A RAINHA SANTA”. Pelas redes sociais pude aperceber-me do primeiro, depois segui o percurso do segundo e, finalmente, comprei o terceiro cujo conteúdo saboreei. Na sua breve

visita à RAEM, foi possível conversarmos sobre alguns aspectos do seu percurso como autora de romances históricos. Quais as suas impressões de Macau depois de 10 anos de ausência?

As minhas impressões de Macau são sempre, em primeiro lugar, emotivas. Desta vez não foi diferente. A estranheza pelo excesso de construção, de gente nas ruas ou de ruído foi muito rapidamente subjugada pelo encanto de voltar a

casa, é sempre um voltar a casa, do odor característico e de que sempre gostei, da textura. Macau é, para mim, uma sensação física de textura, que é boa porque é familiar, mesmo que não goste nada da humidade... Sobrepõem-se muito

rapidamente as sensações boas, as recordações maravilhosas prolongadas no presente porque tudo mudou mas há em Macau uma constância surpreendente também, pelo menos no mundo português de Macau. E há os amigos que são o melhor de tudo. É por eles que voltarei sempre. São as pessoas e o que vivemos com elas que fazem os sítios e as memórias e o mais emocionante do regresso é senti-los aqui, no mesmo sítio onde estavam há 10 anos, isto é, sem que o tempo beliscasse a nossa intimidade, a cumplicidade que vivemos juntos num tempo muito marcante. A Isabel Machado começou por chamar a atenção de quase todos os telespectadores da TDM pela sua beleza física. Porém o tempo deu a conhecer


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crevo chegue às pessoas, nunca me esqueço que estou a contar uma história e isso é que é uma sensação extraordinária: saber que vamos partilhar muitas horas de muitas vidas de que não sabemos nada, mas a quem podemos levar encanto, conhecimento, desfrute, alheamento dos problemas ou das tragédias que as afligem. Os leitores escrevem-me coisas muito bonitas. Eu gosto de críticas construtivas também, mas de tudo o que já me disseram o que mais me emocionou foi uma carta escrita à mão, enviada por uma jovem, aluna de Mestrado de Literatura, que me disse: os seus livros curam. Isto abalou-me profundamente. Esta jovem tinha estado com um problema grave, internada durante muito tempo e, por acaso, foi um dos meus livros que a acompanhou na fase mais crítica. Saber que aquela história lhe levou esperança ou a fez afastar-se da gravidade da sua situação durante umas semanas foi uma coisa que nunca esquecerei. Sim, já comecei a trabalhar num novo livro, não necessariamente um romance, desta vez...

uma mulher sensível, delicada e inteligente. Sente que a beleza física pode ser um anátema? Pode. Porque há uma pré-avaliação que, idealmente, nunca deveria ser feita sobre os outros. E essa avaliação imediata, que se sobrepõe a qualquer critério racional sobre a pessoa em causa, é, muitas vezes, injusta e preconceituosa. Quem é, num primeiro momento, avaliado pela aparência tem sempre de provar mais do que os outros. Mas, claro que não é tudo mau. A beleza também pode abrir portas. Como é lidar com o êxito, com os sucessivos lançamentos? Já estão na calha outros romances? Não sei se posso chamar êxito. É muito importante para mim que o que es-

Como surgiu na sua escrita o romance histórico e quanto de investigação cabe em cada obra e quanto de criação nela se incorpora? Surgiu por acaso, como quase tudo tem acontecido na minha vida. Através de um amigo de há muitos anos, recebi um desafio

“Quem é, num primeiro momento, avaliado pela aparência tem sempre de provar mais do que os outros. Mas claro que não é tudo mau. A beleza também pode abrir portas.”

“De tudo o que já me disseram o que mais me emocionou foi uma carta escrita à mão, enviada por uma jovem, aluna de Mestrado de Literatura, que escreveu: os seus livros curam.” de uma editora, A Esfera dos Livros, para fazer um romance histórico sobre um tema da minha escola. Disse logo que sim. Sempre gostei de escrever, a minha área de formação é a literatura não o jornalismo, ao contrário do que muitas pessoas pensam, sempre adorei História também e achei imediatamente que me sentiria bem naquele registo. Mas foi brutal. Chegava a acordar sobressaltada a meio da noite a pensar na loucura em que em tinha metido e isto só passou a partir do terceiro romance! A investigação é fundamental e é sempre a primeira parte do trabalho, embora nunca a abandone totalmente, mesmo quando já estou em pleno na escrita. Passo meses inteiros a estudar, a pesquisar documentos, cartas, se as houver, livros, testamentos, tudo é importante. Para ser credível, a ficção histórica tem de estar assente numa boa pesquisa e não estou a falar apenas dos factos. Falo de tudo. Dos costumes, da alimentação, do vestuário, do mobiliário, da linguagem... A partir daí, construo a ficção, seguindo a estrutura que estabeleci, o fio condutor que quero dar ao romance. No fundo, segundo a minha história dentro da História. Romance, em português, significa ficção e o romance histórico deve ser, acima de tudo, ficção. Por isso, o espaço para a criação é imenso, inesgotável, sem freio, o que é maravilhoso. No entanto, gosto de respeitar a História e tenho imenso cuidado com isso.

É notório que nos seus livros existe uma decidida preferência por personagens femininas. Esta escolha pode significar também o que se vem designando como escrita no feminino? Nunca tenho uma resposta convicta para essa pergunta. Não sei se a escolha pode significar exactamente isso, é certo que o mundo feminino é-me, naturalmente, menos enigmático...Tenho optado por personagens femininas mas isso não quer dizer que rejeite a ideia de ter uma personagem principal masculina, aliás já tive. No meu primeiro romance, a minha escolha recaiu numa mulher que eu sempre admirei, Isabel I Inglaterra, e nas suas ligações com Portugal na época na perda da independência, mas tinha como segunda figura, uma segunda figura muito importante, um homem, um médico judeu português fugido à Inquisição e que

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acabou na corte de Isabel I, como médico e espião. Esta pessoa existiu, não há quase nada sobre ele, teve uma vida fascinante e trágica, e quase metade do livro é na pele deste português praticamente desconhecido em Portugal, Rodrigo Lopes. Há quem diga que o meu romance mais feminino é Constança... Não sei, prefiro deixar essa avaliação para os leitores.

“Há muitos aspectos da História de Macau que me seduziriam para escrever um romance. E pessoas aqui nascidas também.”

Macau poderá ser cenário para um próximo romance? Haverá alguém aqui nascido ou radicado que a possa motivar a criar um personagem? Claro que pode, mas não é ainda o próximo! Há muitos aspectos da História de Macau que me seduziriam para escrever um romance. E pessoas aqui nascidas também.


4 GRANDE PLANO

Estados Unidos, China, Japão, Rússia e Coreia do Sul ainda acreditam ser possível chegar a acordo com Pyongyang por via diplomática. Mas entre a política errática de Trump e os caprichos de Kim, há quem esteja à espera da guerra a qualquer momento DESTAQUE

“Nas últimas duas semanas, o mundo testemunhou o poder e a determinação do nosso novo presidente [Donald Trump] com as operações lançadas na Síria e no Afeganistão.” MIKE PENCE

!

CRISE NA COREIA ESFORÇO DIPLOMÁTICO PODE PREFACIAR A GUERRA

O´ TIO, OO TIO ´

último ensaio balístico da Coreia do Norte falhou – o míssil explodiu quatro segundos depois de levantar vôo – mas a comunidade internacional está, de uma forma ou de outra, a perder a paciência para o regime de Pyongyang. O vice-Presidente dos Estados Unidos declarou que a “era da paciência estratégica acabou” em relação à Coreia do Norte, perante a indisponibilidade do regime para eliminar armas nucleares e mísseis balísticos. Aos jornalistas que o acompanharam na visita à fronteira entre as duas Coreias, Mike Pence disse que o Presidente norte-americano, Donald Trump tem esperança que a China use a sua “influência extraordinária” para pressionar a Coreia do Norte a abandonar as armas. Mas Mike Pence recomendou ontem a Pyongyang para não testar a “determinação” de Donald Trump em relação aos programas balísticos e nucleares norte-coreanos. “É melhor para a Coreia do Norte não testar a determinação e o poder das ForçasArmadas dos Estados Unidos nesta região”, disse Pence durante uma conferência em Seul em que esteve presente o chefe de Estado sul coreano, Hwang Kyo-Ahn. “Nas últimas duas semanas, o mundo testemunhou o poder e a determinação do nosso novo presidente [Donald Trump] com as operações lançadas na Síria e no Afeganistão”, declarou Mike Pence referindo-se aos ataques dos Estados Unidos contra o regime de Damasco e ao lançamento da bomba GPU-43 em território afegão.

TRATAR DO PROBLEMA À LA TRUMP

Donald Trump que na quinta-feira afirmou que o “problema” norte-

-coreano vai ser “tratado” já tinha anunciado o envio do porta-aviões norte-americano Carl Vinson para a península coreana, escoltado por três navios lança-mísseis e submarinos. No sábado, o regime da Coreia do Norte afirmou que o país está preparado para “responder à guerra total com a guerra total” e que um “ataque nuclear terá como retaliação um ataque nuclear”. Mike Pence está desde domingo na Coreia do Sul tendo-se deslocado hoje à zona de fronteira, uma das zonas mais militarizadas do mundo. “Nós destruiremos todos os ataques e vamos responder de forma esmagadora e eficaz a todo o tipo de utilização de armas convencionais ou nucleares”, disse também o vice-presidente norte-americano. Pence exortou a “comunidade internacional” a pressionar a Coreia do Norte. Por outro lado, Mike Pence, apesar de considerar positivas as posições de Pequim sobre a Coreia do Norte, acrescentou que os Estados Unidos estão “inquietos” em relação às medidas económicas adotadas pela República Popular da China contra a instalação do sistema antimíssil (THAAD) norte-americano na Coreia do Sul.

ASSIM OU ASSADO

O vice-presidente norte-americano disse que os Estados Unidos e aliados vão atingir os seus objectivos através de “meios pacíficos ou, em última instância, quaisquer meios necessários” para proteger a Coreia do Sul e estabilizar a região. Mike Pence, qualificou hoje de “provocação” o lançamento falhado de um míssil efectuado horas antes

pela Coreia do Norte, uma acção que fez prevalecer o clima de tensão na península coreana. “A provocação desta manhã do Norte é simplesmente o último acto dos riscos que cada um de vós enfrenta diariamente”, disse Pence Pence visitou uma base militar perto da Zona Desmilitarizada (DMZ), na fronteira coreana, Bonifas, onde se encontrou com militares e com as tropas norte-americanas ali estacionadas. Cerca de 28.500 militares norte-americanos estão actualmente estacionados na Coreia do Sul.

A RESPOSTA SERÁ TERRÍVEL

A visita surge numa altura de particular tensão na península coreana.

Na manhã de domingo, Pyongyang realizou um teste de um míssil de médio alcance, que explodiu entre quatro a cinco segundos depois de ser lançado, de acordo com um responsável da Casa Branca. No sábado, antes do desfile militar organizado para comemorar o 105.º aniversário do nascimento do fundador da Coreia do Norte, Kim Il-Sung, o “número dois” do regime norte-corano, Choe Ryong-hae, prometeu que a Coreia do Norte estava preparada para dar “uma resposta nuclear a qualquer ataque nuclear”. Pyongyang lança regularmente mísseis de curto alcance, mas está a desenvolver mísseis de médio e longo alcance para tentar atingir as tropas


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Noites brancas

Pequim quer ajuda da Rússia para solucionar crise

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China quer colaborar com a Rússia para “ajudar a aliviar a situação (da Coreia do Norte) o mais rápido possível”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, ao seu homólogo russo Sergueï Lavrov. “O objectivo comum dos nossos dois países é fazer voltar todas as partes à mesa das negociações”, disse Wang durante uma conversa telefónica com Lavrov, segundo comunicado divulgado na página de Internet do ministério. O chefe da diplomacia chinesa disse que “a China está preparada para se coordenar estreitamente com a Rússia para ajudar a acalmar a situação na península e encorajar as partes envolvidas a retomarem ao diálogo”. Wang Yi fazia alusão às negociações a seis (Coreias, Japão, Rússia, China e Estados Unidos), as quais estão suspensas há anos. “Impedir a guerra e o caos na península está de acordo com os interesses comuns” de Pequim e Moscovo,

Choe Yong-Hae e Kim Jong Un

norte-americanas na Ásia e, eventualmente, território norte-americano. A Coreia do Norte realizou cinco testes nucleares, incluindo dois no ano passado. Imagens recolhidas por satélite sugerem que o país poderá estar pronto a efetuar um novo teste nuclar subterrâneo a qualquer momento. “A era da paciência estratégica acabou. Queremos ver a Coreia do Norte a abandonar o imprudente caminho de desenvolvimento de armas nucleares, e também o uso contínuo e teste de mísseis balísticos, que é inaceitável”, afirmou.

QUE A CHINA NOS VALHA

Em paralelo, o conselheiro para a segurança nacional do Presidente

norte-americano Donald Trump afirmou que os dirigentes chineses trabalham “estreitamente” com os EUA para resolver a questão nuclear norte-coreana. “Existe um consenso internacional, incluindo com os chineses e os dirigentes chineses, para dizer que a situação não pode durar”, declarou o general H. R. McMaster em entrevista à cadeia televisiva norte-americana ABC, a partir do Afeganistão, onde está deslocado. O militar sublinhou por diversas vezes a inquietação, segundo disse, dos dirigentes chineses. “Trabalhamos com os nossos aliados e parceiros, e com os dirigentes chineses, para desenvolver um leque de opções”, precisou.

sublinhou. Este apelo surge numa altura em que as relações entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos estão extremamente tensas. Neste contexto, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, advertiu que quem provocar uma guerra na península coreana “deverá assumir as suas responsabilidades históricas e pagar o preço”. “Se houver uma guerra, o resultado será uma situação em que todos perdem e ninguém sairá vencedor”, afirmou Wang, numa conferência de imprensa conjunta com o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Marc Ayrault. Devido ao aumento da tensão na região e ante um possível ensaio nuclear na Coreia do Norte, o ministro chinês desafiou todas as partes a retomarem o diálogo e a “não deixarem que as coisas evoluam até um ponto irreversível e incontrolável”. Pequim pediu contenção, enquanto Pyongyang ultima os

detalhes para as celebrações do aniversário do nascimento do fundador do país, este fim de semana, quando se teme que possa levar a cabo um teste nuclear. “A China opõe-se sempre com firmeza a qualquer acção susceptível de aumentar as tensões”, afirmou Wang, assinalando que, nesta crise, “o vencedor não será o que faça afirmações mais duras ou exiba mais músculo”. WangYi recordou o dizer chinês “as oportunidades estão sempre nas cri- ses”, para afirmar que o agravamento da tensão devolve actualidade à proposta chinesa de que todas as partes suspendam os ensaios, manobras e actividades militares, como um passo prévio para retomar o diálogo. “Esta é a oportunidade que devemos de procurar e aproveitar”, disse Wang, sublinhando que Pequim está disposto a “escutar qualquer proposta útil”. Um porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Geng Shuang, considerou que um teste nuclear por parte de Pyongyang seria “perigoso e irresponsável”.

ENTRETANTO, MAIS A SUL...

ABE PEDE DIPLOMACIA

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campanha para as eleições presidenciais na Coreia do Sul de 9 de maio, na sequência da destituição da Presidente Park Geun-hye, começou ontem com o candidato liberal Moon Jae-in a liderar nas sondagens. No total, 15 políticos registaram-se oficialmente como candidatos à presidência (o que supera o recorde de 12 nas presidenciais de Dezembro de 2007) e vão participar na campanha eleitoral de 22 dias, que termina na véspera da votação. Moon Jae-in, do Partido Democrático (com mais assentos no parlamento sul-coreano), é dado como o favorito para substituir no cargo Park Geun-hye, destituída a 10 de Março passado. Park está em prisão preventiva desde 31 de Março devido a ligações com um caso de corrupção. A campanha eleitoral deve centrar-se quase exclusivamente na luta contra a corrupção ou na limitação do poder dos grandes conglomerados empresariais sul-coreanos, a maioria dos quais implicados no escândalo que levou à destituição e detenção da antiga chefe de Estado. Uma possível reforma

constitucional que diminua o perfil presidencialista do Estado ou a instalação do escudo norte-americano antimísseis THAAD vão estar também em foco durante a campanha. Entre os principais candidatos, contam-se Ahn Cheol-soo, do Partido Popular (centro-esquerda), Hong Joon-pyo, do conservador Partido da Liberdade da Coreia (da ex-presidente Park), e Yoo Seong-min, do também conservador Partido Bareun. Moon Jae-in, que perdeu as presidenciais de 2012 contra Park, e Ahn Cheol-soo reúnem 80% das intenções de voto, de acordo com as últimas sondagens. Moon lidera as sondagens desde o início, apesar de na última semana a vantagem em relação a Ahn ter ficado reduzida a três pontos percentuais, segundo estimativas. Park Geun-hye foi a primeira chefe de Estado que a Coreia do Sul destituiu em democracia, pelo que estas serão as primeiras eleições antecipadas no país, desde que a junta do general Chun Doo-hwan autorizou a realização de eleições democráticas em dezembro de 1987.

primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, defendeu a diplomacia como meio para desarmar a Coreia do Norte, um dia depois do mais recente teste com um míssil de Pyongyang. “A Coreia do Norte está a mostrar o seu poder militar, mas é importante manter a paz através de esforços diplomáticos”, afirmou Abe durante uma reunião do comité do orçamento da Câmara Baixa da Dieta (parlamento), ao ser questionado sobre o mais recentemente lançamento de um míssil. De acordo com a emissora pública japonesa NHK, o chefe do executivo japonês pediu a Pyongyang que evite realizar mais provocações e considerou ser “necessário exercer mais pressão para que a Coreia do Norte responda seriamente ao diálogo”. Abe disse que para se conseguir estabilidade na região é necessário que Pequim, o principal aliado de Pyongyang, use a sua influência, e que Washington e Seul façam o seu papel, salientando ainda a ideia de cooperação com a Rússia. ACoreia do Norte efetuou no domingo um lançamento falhado de um míssil, que coincidiu com a chegada à Coreia do Sul do vice-presidente norte-americano, Mike Pence. Os Estados Unidos decidiram enviar para a península coreana o porta-aviões nuclear ‘Carl Vinson’ e a frota de ataque, após o lançamento de outro projétil a 05 de abril.


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O presidente da Assembleia Legislativa defende que o número de deputados que compõe o Conselho Executivo é elevado. Ho Iat Seng mostra disponibilidade para continuar no hemiciclo para evitar “especulações” quanto à possibilidade de ser candidato a Chefe do Executivo

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O Iat Seng, presidente da Assembleia Legislativa, reconheceu ser “bastante elevada” a proporção de deputados que integra o Conselho Executivo, órgão que adjuva o líder do Governo, entendendo que o número podia ser menor. “Acho que não há nenhum conflito” na acumulação de funções e “está consagrado na Lei Básica”, mas a proporção actual é “bastante elevada”, admitiu Ho Iat Seng em entrevista à agência Lusa. Ho Iat Seng recordou que a Lei Básica contemplou essa possibilidade para que “as vozes do órgão legislativo possam ser transmitidas ou veiculadas no Conselho Executivo” e para que “as opiniões ou políticas governamentais possam ser trazidas para o órgão legislativo”, mas o resultado pode estar aquém do pretendido. “Ainda temos que analisar bem, estudar melhor” o resultado dessa forma de funcionamento, observou Ho Iat Seng, que foi membro do Conselho Executivo durante cinco anos até renunciar a esse cargo, em 2009, quando foi eleito deputado pela via indirecta. Actualmente, o Conselho Executivo é composto por 11 membros, dos quais quatro são deputados (Cheang Chi Keong, Chan Meng Kam, Chan Chak Mo e Leonel Alves). “A Lei Básica não estipula

“O emaranhar de interesses é um desafio para o trabalho da Assembleia” o número, [mas] acho que o limite deve ser fixado em dois ou três”, defendeu.

HOJE MACAU

POLÍTICA

EVITAR ESPECULAÇÕES

Relativamente às eleições, marcadas para 17 de Setembro, Ho Iat Seng – que manifestou já vontade de continuar como deputado e, se os seus pares o desejarem, como presidente do hemiciclo -, não antecipou “alterações em termos substanciais” na composição da AL. Sobre outras eventuais ambições políticas – dado que chegou a ser apontado no passado como potencial candidato a Chefe do Executivo – afirmou que manifestou a vontade de voltar a participar na corrida eleitoral ao hemiciclo “exactamente para evitar essa especulação”. Sobre a metodologia para a constituição da AL, Ho Iat Seng afirmou não ver “grande probabilidade de alteração”. “Estou numa posição em que não me posso pronunciar”, respondeu, apesar de afirmar “estar de acordo com esse modelo” que pode, com efeito, ser alterado desde que reúna “consenso da sociedade”

“Os grupos de interesses não são representados no órgão central da APN.”

SEM PASSIVIDADE

Ho Iat Seng também rejeitou críticas relativamente a uma posição passiva do hemiciclo face a diplomas do Governo, ao sustentar que “há todo um processo de apreciação para que os diferentes interesses possam discutir”, além de que “cada deputado tem de assumir a responsabilidade pelo acto de ‘carregar no botão’”.

e haja “intenção ou vontade do Executivo” nesse sentido. Para além de presidente do hemiciclo, Ho Iat Seng é também um dos 175 membros do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN), um cargo que desempenha há 17 anos. “É um trabalho muito desafiante e a responsabilidade é diferente. É mais aliciante” do que ser presidente da AL de Macau, sublinhou. “Macau é um território de dimensão reduzida e esse emaranhar de interesses também é um desafio

para o trabalho da Assembleia. Todos os dias estamos a resolver questões de confrontação e correlação de interesses, mas na APN não são questões destas que se colocam [porque] os grupos de interesses não são representados no órgão central da APN”, concluiu.

FISCALIZAÇÃO AUMENTOU

Na entrevista, o presidente da AL assegurou também que houve “avanços” no trabalho de fiscalização por parte dos deputados e que hoje é maior do que no passado, apesar de

ELEIÇÕES APROVADA LEI DE RECENSEAMENTO ELEITORAL AUTOMÁTICO

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Conselho de Ministros em Portugal aprovou a proposta de lei que visa a introdução do recenseamento eleitoral automático para os cidadãos portugueses residentes no estrangeiro. O diploma será agora analisado pelos deputados da

Assembleia da República até à sua implementação. Segundo um comunicado emitido pelo gabinete

haver “limitações”. “Agora temos muito mais fiscalização – é um facto”, afirmou, reconhecendo que “muita matéria” do trabalho governativo “pode ser alvo de fiscalização”. “Dadas as limitações em termos de recursos humanos”, a AL apenas pode focar-se nas “consideradas fundamentais”, como os Assuntos de Terras e Concessões Públicas, Finanças, eAdministração, três áreas que têm respectivas comissões de acompanhamento, disse. A aprovação pelo plenário é outra questão, dependendo muito do ‘lobby’, ainda mais atendendo a que em Macau não existem partidos políticos, considerou. “Qualquer iniciativa legislativa que entre para apreciação tem de passar por um período de correlação de forças”, disse, dando o exemplo da lei sindical que se confronta com a força opositora do sector patronal. “Cada deputado está a representar o interesse do seu eleitorado – isso é natural em todo o lado do mundo”, afirmou. “É raro vermos uma iniciativa que não seja alvo de oposição ou de crítica – não seria saudável se isso não existisse”, argumentou ainda.

do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, a medida deverá abranger 1,2 milhões de portugueses que se encontram a residir fora do país. Com esta proposta, todos os portadores de cartão de cidadão ficam automa-

ticamente recenseados, eliminando-se o carácter facultativo do recenseamento para quem é emigrante. “A inovação legislativa proposta constitui uma importante reforma em matéria de desburocratização administrativa, uma vez que, para se inscreverem no

recenseamento eleitoral, os Portugueses no estrangeiro portadores de cartão de cidadão deixarão de ter de se deslocar às nossas embaixadas e aos nossos Consulados, evitando as despesas que estão associadas”, defende, em comunicado, José Luís Carneiro.

“É raro vermos uma iniciativa que não seja alvo de oposição ou de crítica – não seria saudável se isso não existisse.” “Não pode dizer que foi enganado. Ninguém pegou numa arma ameaçando-o para votar em determinado sentido. (…) Pode abster-se ou votar contra” e mesmo “usar do direito de fazer uma declaração de voto”, frisou. Relativamente às mexidas, por vezes substanciais, que as propostas de lei sofrem entre a fase da generalidade e da especialidade, Ho Iat Seng considerou que tal surge como “fruto dessa correlação de forças”. “O que sucede em todos os parlamentos”, sublinhou, defendendo que “a maioria das iniciativas tem obedecido à política ou intenção legislativa inicial”, estando plasmadas no parecer as razões pelas quais foram introduzidas alterações e todos os pontos de vista manifestados pelos deputados.


7 POLÍTICA

hoje macau terça-feira 18.4.2017

O

deputado pró-democrata do Conselho Legislativo (LegCo) de Hong Kong Kenneth Leung foi impedido de entrar em Macau por razões de segurança, informou a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong. Kenneth Leung disse à RTHK que ia visitar Macau com a família, mas foi impedido de entrar e ficou detido durante cerca de uma hora, antes de ser enviado de volta de barco para Hong Kong. O deputado considerou ridícula a rejeição de entrada, argumentando que nunca teve problemas para entrar em Macau, nem no interior da China. No ano passado, os deputados Raymond Chan e Leung Kwok-hung - conhecido como ‘Long Hair’ ou ‘Cabelo Comprido’ também foram impedidos de entrar em Macau. As autoridades de Macau recusam-se a revelar o número de pessoas que proibiram de entrar na região, as razões pelas quais o fizeram ou a sua procedência, sob o argumento de que essas informações são confidenciais. O impedimento de entrada em Macau acontece com alguma regularidade, com a grande maioria dos casos a serem tornados públicos

Hong Kong DEPUTADO DO LEGCO PROIBIDO DE ENTRAR EM MACAU

Esta linha não cruzarás Kenneth Leung, deputado do Conselho Legislativo de Hong Kong, foi proibido de entrar em Macau este fim-de-semana. As autoridades referem-se apenas a questões de segurança para justificar a medida

pelos próprios visados, muitos dos quais políticos ou activistas da vizinha Hong Kong. A Polícia de Segurança Pública não tem por hábito apresentar motivos concretos, invocando, com

frequência, razões de segurança.

ANTIGAS PROIBIÇÕES

Em Outubro, quando da visita do primeiro-ministro da China, Li Keqiang, foram proibidos de passar a frontei-

ra pelo menos dez residentes de Hong Kong, incluindo activistas, mas também um deputado e um cineasta. Em 2015, o caso mais notório foi o da então deputada do Partido Democrático de Hong Kong também impe-

dida de passar a fronteira por motivos de segurança interna. Em declarações à Lusa, Emily Lau mostrou-se então “perplexa”, até porque a visita era de lazer e não havia figuras importantes

da China a visitar Macau nem protestos a acontecer - factores que propiciam habitualmente um maior número de interdições. No final de 2014, o episódio inédito envolvendo um bebé de um ano levou mesmo o chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, a pedir desculpa. A proibição de entrada sobretudo de políticos de Hong Kong tem sido uma preocupação levantada pela União Europeia e pelos Estados Unidos. Em Outubro, a Associação Novo Macau adiantou estar a trabalhar na criação de uma base de dados sobre violações aos direitos humanos, dando conta de que informações específicas sobre as proibições de entrada seriam compiladas num ficheiro especial. Trata-se de uma base de dados que pretende colocar à disposição de organismos da ONU, quando for a altura de rever a ratificação de instrumentos relacionados com a protecção de direitos humanos em Macau.

Filtro para não residentes

Elevadores em queda

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Ng Kuok Cheong insiste no controlo de trabalhadores estrangeiros

deputado Ng Kuok Cheong quer a redução de trabalhadores não residentes (TNR) em determinados sectores da economia local. O objectivo, afirma em interpelação escrita, é “facilitar a mudança de emprego para os residentes no território.” De acordo com o deputado pró democrata, os residentes que procuram uma mudança de emprego encontram muitas dificuldades. A razão, aponta, está no facto de “os TNR estarem em todos os sectores económicos locais”. Para Ng Kuok Cheong, a situação ameaça as oportunidades que poderiam ser dadas aos trabalhadores de Macau. O deputado recorda também que a grande necessidade de importação de mão-de-obra nos últimos anos foi essencialmente devida às construções relacionadas com a habitação pública

e aos novos empreendimentos do sector do jogo, no Cotai. No entanto, as obras em causa estão em fase final e, ainda que esteja a ser reduzido o numero de TNR, Ng Kuok Cheong considera que muitos destes trabalhadores tendem a permanecer no território.A razão, aponta, é a volatilidade do sector que não garante emprego futuro.

DADOS PÚBLICOS

No sentido de controlar o número de TNR, o deputado pede ao Executivo que divulgue os números de trabalhadores estrangeiros que se encontram com local fixo de trabalho bem como aqueles que estão em situações de trabalho temporário. Por outro lado, Ng Kuok Cheong questiona o Governo quanto às medidas que tem tomado para diminuir o número de TNR no território. Sendo que insta o Executivo à redução

Kwan Tsui Hang pede inspecção obrigatória

destes trabalhadores além da área da construção civil. A oposição de Ng Kuok Cheong à presença de mão-de-obra estrangeira não é nova. Em Outubro o deputado, em sessão plenária da Assembleia Legislativa, defendeu a criação de um “cerco” aos trabalhadores estrangeiros. A ideia seria prevenir a ilegalidade. “Espero que o Governo crie um mecanismo para que os residentes possam apresentar provas in loco dos ilegais. Todos os trabalhadores estão à espera deste mecanismo, e há preocupação de como se pode apresentar provas. Os locais esperam que possa ser cercado o local onde estão ilegais e depois a polícia possa de facto investigar se há trabalhadores ilegais ou não. Esperamos que os residentes possam ajudar o Governo a obter provas”, disse. V.N. com S.M.M.

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deputada Kwan Tsui Hang apelou à criação de um regime legal para garantir a obrigatoriedade das inspecções a elevadores. Em interpelação oral, Kwan Tsui Hang aponta o facto de o actual regime sobre os elevadores estar desactualizado. Ainda que, em 2013, o Governo tenha implementado instruções para a sua manutenção para garantir a segurança dos residentes, a sociedade, diz a deputada, “duvida da eficiência das referidas acções, uma vez que as empresas responsáveis não são obrigadas a cumpri-las”. Kwan Tsui Hang refere ainda os dados apontam para uma redução do número de elevadores inspeccionados entre 2014 e 2016. No ano passado, “apenas 1200 elevadores foram aprovados com certificado emitido pelo Governo, sendo que em 2014 foram cerca de 5200”, explica. A deputada questiona os números e defende que estes equipamentos continuam em funcionamento sem regras devidamente definidas por lei. O resultado, aponta, é uma ameaça permanente à segurança pública.

Kwan Tsui Hang não deixa de sublinhar que o facto do regime de inspecções não ter um carácter obrigatório, além de não garantir que sejam executadas, ilibam os responsáveis de responsabilidade na medida em que não são sancionados.

UMA QUESTÃO DE POUPANÇA

Na semana passada, o director da Associação de Engenheiros de Macau, Wong Seng Fat fez o mesmo pedido ao Executivo. Para o responsável o decréscimo registado no número de equipamentos inspeccionados entre 2014 e 2016 é sinal de que as empresas de gestão de edifícios se recusam a fazer a sua manutenção. A razão, apontou, é a poupança de dinheiro. Também para Wong Seng Fat, o principal responsável pela situação é o Executivo por não criar um regime legar que impute responsabilidades no não cumprimento sendo que, em primeiro lugar, terá que ditar a obrigatoriedade das inspecções. V.N. com S.M.M.

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8 SOCIEDADE

hoje macau terça-feira 18.4.2017

Táxis ASSOCIAÇÃO PODER DO POVO CONTRA AUMENTO DE TARIFAS

Bandeirada sem consenso

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sector dos táxis quer aumentar o valor da bandeirada, mas nem todos estão a favor dessa posição. O Governo ainda não tomou uma decisão sobre a matéria, mas a Associação Poder do Povo está contra um possível aumento e entrega hoje nas instalações da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) uma carta onde justifica a sua posição. Segundo um comunicado, Cheong Weng Fat, vice-presidente da associação, acha injustificado o aumento das tarifas cobradas pelos taxistas, uma vez que o preço de combustível de táxis sofreu uma redução, reduzindo o que, na opinião de Cheong Weng Fat, é uma das maiores despesas dos taxistas.

TIAGO ALCÂNTARA

A Associação Poder do Povo entrega hoje nas instalações da DSAT uma carta onde revela estar contra o aumento das tarifas de táxis. Governo ainda não tomou uma decisão, mas Cheong Weng Fat, vice-presidente, defende que os aumentos são “injustificados”

Kuok Leong Son, presidente da associação de taxistas, apoia a instalação de um sistema de videovigilância

Mesmo sem uma decisão do Governo, o possível aumento da bandeirada, que actualmente se situa nas 17 patacas, não gera consensos. Kuok Leong Son, presidente da Associação de Mútuo de Condutores de Táxi de Macau, disse ao Jornal do Cidadão que as tarifas de táxis não são actualizadas há mais de dois anos. Devido ao aumento contínuo dos custos do funcionamento de táxis, o responsável espera que o Governo possa aprovar a proposta de aumento, entregue à DSAT em Fevereiro deste ano.

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S Serviços de Saúde (SS) esclarecem em comunicado que “não é possível nem viável” instalar um serviço de urgência no Centro de Saúde do Carmo-Lago, localizado na Taipa. As razões prendem-se com o facto dos “recursos humanos, equipamentos e instalações” estarem programados para funcionarem no sistema implementado num centro de saúde, já que “um serviço de urgência presta serviços médicos durante 24 horas a utentes de todos os tipos, lidando com todos os tipos de trauma”. As autoridades esclarecem ainda que um serviço de urgência, é, por norma, “criado num hospital geral” e não num centro de saúde. Os SS esclarecem ainda que o hospital da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST) já possui “uma unidade de cuidados intensivos e disponibiliza serviços de 24 horas de análises laboratoriais de sangue e de exames imagiológicos, reunindo as condições suficientes para prestar apoios técnicos ao Posto de Urgência das Ilhas do Centro Hospitalar Conde de São Januário”. Os SS revelam ainda estar a estudar a possibilidade de implementação do sistema de marcação de consultas por telefone nos centros de saúde. Há, contudo, “de ponderar as medidas necessárias para evitar o abuso de serviço de marcação telefónica, que pode comprometer a prestação de cuidados aos cidadãos com necessidades reais”.

ILHA VERDE O EXEMPLO MORA AO LADO

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Além disso, como os cidadãos não estão satisfeitos com o serviço de táxis, Cheong Weng Fat quer que o Governo não só não aprove a proposta de aumento como melhore a fiscalização dos táxis, por forma a limpar a imagem do sector.

NÃO HÁ CONSENSO

SAÚDE CENTRO DO CARMO NÃO PODE TER URGÊNCIA

O assunto foi abordado no programa semanal da TDM Fórum Macau, onde Cheang Chong Fai, presidente da Associação dos Consumidores das Companhias de Utilidade Pública de Macau, disse concordar com o aumento, por ser um dos direitos dos taxistas. Ainda assim, o responsável lembrou que o sector tem a obrigação de prevenir as ilegalidades cometidas pelos taxistas, tal como o abuso na cobrança de tarifas. Cheang Chong Fai sugere que seja criado um sistema de videovigilância dentro de táxis,

RÁDIO-TÁXIS CONTINUAM A FALTAR VEÍCULOS

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nova empresa que gere o serviço de rádio táxis recebe, em média, quatro mil pedidos por dia, mas apenas 800 a 900 chamadas tiveram, de facto, direito a transporte. Os responsáveis da empresa fala da continuação da insuficiência ao nível do fornecimento de veículos, pois apenas 50 estão em operação.

por forma a assegurar os direitos dos taxistas e dos passageiros. Kuok Leong Son lembrou que as ilegalidades são cometidas por uma minoria de taxistas. O presidente da associação, para além de apoiar os aumentos da bandeira, apoia também a instalação de um sistema de videovigilância. Ainda assim, Kuok Leong Son disse estar desiludido com o Governo, uma vez que não foi ainda divulgada a proposta de lei de revisão do regulamento dos táxis. O diploma ainda não chegou à Assembleia Legislativa.

subdirectora da Associação de Beneficência e Assistência Mútua dos Moradores do Bairro da Ilha Verde, Chan Fong, pede ao Executivo que tome o exemplo de Zhuhai no que respeita à manutenção da qualidade da água na zona do Canal dos Patos. A responsável exemplifica com os trabalhos que tem visto a desenvolverem-se do lado do Continente em que existem, diz ao jornal Ou Mun, funcionários a limpar o lixo e as ervas daninhas ao longo do rio. Para Chan Fong esta deveria ser uma medida a tomar em Macau de modo a evitar a poluição que aquela zona do território enfrenta. De acordo com a mesma fonte, a subdirectora aconselha ainda as autoridades locais a redobrarem a vigilância na zona da Ilha Verde. A razão, aponta, é a entrada ilegal no território. O facto de não existiram casos registados este ano, justifica, deve-se ao aumento das medidas de fiscalização. No entanto, e temendo que a situação possa piorar com a construção do novo acesso entre Guandong e Macau, Chan Fong sugere que a zona da Ilha Verde venha a ser munida de câmaras de vídeo vigilância de modo a que as entradas ilegais em Macau possam ser registadas. O objectivo, refere, é garantir a segurança dos residentes daquela que é a zona mais habitada do território.


9 hoje macau terça-feira 18.4.2017

Visitas por motivo de jogo diminuíram em 2016

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Á menos turistas a visitar Macau apenas para jogar nos casinos. Dados relativos ao ano passado mostram que houve uma quebra de 1,5 por cento no número de visitantes que se deslocaram ao território apenas para este fim. Férias e compras estão no topo da tabela. Na cidade do Jogo não são apenas os casinos que importam. Dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), relativos ao ano de 2016, revelam que houve uma quebra de 1,5 por cento no número de turistas que vieram a Macau apenas para jogar. Se o ano passado este tipo de visitantes representou 6,6 por cento do total, em 2015 os números foram ligeiramente mais animadores: 8,1 por cento. A DSEC aponta que os turistas vindos de Hong Kong “superaram [os visitantes] de outros países ou territórios” no que ao jogo diz respeito, ainda que também tenha existido uma quebra de 3,8 por cento, já que 21,7 por cento dos turistas veio de propósito a Macau para ir aos casinos, face aos 25,5 por cento registados em 2015. Relativamente aos turistas vindos de Taiwan, as visitas por motivos de jogo representaram apenas 2,2 por cento. Em relação aos turistas vindos da China continental, a DSEC não apresenta dados referentes ao jogo, mas aponta que a despesa per capita destes turistas situou-se nas 1975 patacas, uma ligeira subida de 0,5 por cento. Os gastos foram feitos, na sua maioria, em compras (51,8 por cento) e alojamento (24,7 por cento). Em relação aos visitantes com visto individual, houve um decréscimo de despesas de 1,4 por cento, tendo os gastos sido feitos em compras (61,2 por cento).

Férias e compras são os dois principais motivos para a vinda de turistas. Olhando para o quadro geral, mais de metade dos visitantes vieram a Macau por motivo de férias (50,2 por cento), um aumento anual de 5,9 por cento face a 2015. As compras surgem em segundo lugar, com 9,6 por cento, mais 0,6 por cento em relação a 2015. A vinda devido a “visitas a familiares ou amigos” representou cinco por cento, menos 0,2 por cento em relação ao ano anterior. Também as visitas por motivos de “negócio e assuntos profissionais” registaram uma ligeira quebra, tendo passado de 4,7 por cento para 4,1 por cento em 2016. Houve também uma quebra de 4,5 por cento de visitas dos que utilizaram Macau como ponto de passagem.

TRANSPORTES SATISFAZEM MENOS

Em relação às infra-estruturas de turismo, quem visitou Macau revelou estar menos satisfeito com o funcionamento dos transportes públicos. Os níveis de satisfação fixaram-se nos 69,4 por cento, uma descida de 3,3 por cento face a 2015. Ainda assim, a DSEC aponta que “diminuíram em 1,6 por cento, para 11,7 por cento, o número de visitantes que se declaram a favor da necessidade de melhoria dos transportes públicos”. Os estabelecimentos de jogo registaram uma satisfação de 84,2 por cento, enquanto que a higiene ambiental deixou satisfeitos 81,9 por cento dos visitantes. A categoria “hotéis e similares” registaram uma satisfação na ordem dos 90 por cento, enquanto que os restaurantes obtiveram um menor grau de satisfação, em 1,4 por cento. A.S.S.

Encontro sadino O empresário de Macau expande os seus investimentos nos Países Lusófonos. Depois de Cabo Verde, chegou a vez de Portugal

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Macau Legend Development (MLD) reuniu-se com a Câmara Municipal de Setúbal, em Portugal, para preparar o pedido de classificação do empreendimento turístico da zona ribeirinha da cidade como Projecto de Interesse Nacional (PIN), revelou uma fonte autárquica à agência Lusa.

HOJE MACAU

Mais cidade, menos vício

DAVID CHOW EM SETÚBAL PARA DISCUTIR PROJECTO

Trata-se de um projecto que inclui um hotel, área comercial e residencial, um pavilhão multidesportivo, um parque de estacionamento e uma marina, e que tem um custo global de cerca de 246 milhões de euros (mais de 2,2 mil milhões de patacas). “Vamos fazer uma reunião de trabalho para começarmos a preparar o pedido ao Governo para que o pro-

jecto seja reconhecido como Projecto de Interesse Nacional (PIN), o que permitirá acelerar toda a tramitação junto de várias entidades da administração central”, confirmou à agência Lusa a presidente do município, Maria das Dores Meira. “A reunião só estava prevista para o próximo mês de Maio, mas o presidente da MLD, David Chow, quis an-

SOCIEDADE tecipar a data, aproveitando a viagem que está a fazer para Cabo Verde, onde a MLD já tem em andamento uma obra semelhante à que está prevista para a zona ribeirinha de Setúbal”, justificou. A autarca setubalense referiu ainda que a Câmara Municipal e a Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS) também já estão a preparar o caderno de encargos para o concurso público para construção da marina, a que a MLD terá de concorrer para poder concretizar o projecto que se propõe desenvolver na cidade de Setúbal. A MLD e a autarquia sadina assinaram o ano passado um memorando de entendimento para um projecto de turismo, lazer e entretenimento, na zona ribeirinha cidade de Setúbal. Na assinatura do memorando com a Câmara de Setúbal, a Macau Legend anunciou também um acordo não vinculativo com três empresas em Portugal - a Fundo Aquarius, Amorim Turismo e B&G - para constituir uma empresa responsável pelo desenvolvimento do projecto de Setúbal.

Por um lugar no mercado

Chau quer regulamento que incentive a inclusão de deficientes no mundo do trabalho

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PÓS a inclusão dos casos de deficiência congénita no âmbito da segurança social, Chau Wai I, secretária-geral da Associação de Reabilitação Fu Hong de Macau, alerta para a necessidade em avançar com o regulamento complementar que inclua os casos de invalidez no mercado de trabalho. A ideia, adianta, “é a criação de medidas capazes de encorajar os lesados a trabalhar e a sentirem-se activos”, referiu ao Jornal Ou Mun. Apesar de satisfeita com o plano de segurança social que pode vir a ser aplicado nos casos de invalidez por deficiência congénita, a responsável pela associação está preocupada que, como consequência, as pessoas não se sintam motivadas para trabalhar. De modo a evitar a situação, Chau Wai I sugere que o Governo avance

com um regulamento complementar que beneficie este tipo de situações. A secretária-geral refere ainda que os portadores de deficiência podem não ter capacidade para trabalhar as oito horas diárias pelo que, muitas vezes, são obrigados a desistir dos seus empregos. Chau Wai I pretende saber se, nestes casos, as pessoas podem voltar a solicitar o subsidio de invalidez. A responsável dá como exemplo o caso da vizinha Hong Kong em que os visados continuam a receber subsidio até que consigam uma situação de emprego estável e apropriada.

É PRECISO QUALIDADE DE VIDA

Os portadores de deficiência moderada, considera, continuam a não ter apoios suficientes de modo a garantir qualidade de vida, pelo que Chau

Wai I pretende saber se o Executivo pondera medidas para melhorar a situação. As alterações no âmbito da segurança social fazem parte da proposta de lei que ainda não deu entrada na Assembleia Legislativa e que prevê que os portadores de deficiências possam ter direitos iguais em termos de protecção social. “Vamos propor que o subsídio provisório de invalidez passe a pensão de invalidez”, sintetizou o chefe do Departamento de Solidariedade Social do Instituto de Acção Social (IAS). “Por isso, as pessoas que reúnem as condições podem passar a receber a pensão de invalidez, sendo o valor mensal de 3450 patacas”, indicou Choi Siu Un, na Comissão para os Assuntos de Reabilitação, no mês passado.


10 Exposição CENTRO DE DESIGN DE MACAU ACOLHE “EU”

Além do limite

HOJE MACAU

EVENTOS

Roland Flexner e Ai Weiwei juntos em exposição

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STÁ patente até 13 de Maio, na Galeria Massimo De Carlo em Hong Kong, a exposição única que reúne trabalhos de Roland Flexner e Ai Weiwei. Os artistas, que se cruzaram pela primeira vez em Nova Iorque nos anos 80, apresentam agora uma mostra que junta as tintas icónicas de Roland Flexner e dois trabalhos de Ai Weiwei, sendo uma das obras produzida durante a estadia na cidade americana. O artista chinês, apresenta uma instalação dedicada à delicadeza humana feita com um conjunto de ossos de porcelana. Paralelamente, Ai Weiwei mostra, pela primeira vez, uma escultura em peças de lego dedicada à temática da pintura. Para o efeito, o artista apresenta um conjunto de trabalhos realizados no início dos anos 90 em que, em cada um dos quadrados de cor preta, removeu parte da pintura acrílica de modo a chegar às camadas subjacentes. “É uma obra em que, através da exploração das camadas pintadas, é questionado o papel da pintura tradicional”, lê-se na apresentação do evento. Já Roland Flexner apresenta duas séries de desenhos que integram o seu já conhecido corpo de trabalho. O artista explora aqui a forma como o acaso e a oportunidade podem interferir na criação. Para o efeito recorre a uma série de técnicas que evitam o contacto directo entre o artista e o papel. Flexner usa a respiração, a manipulação, e mesmo o trabalho através do uso de água e da gravidade para dar movimento à tinta sobre o papel. O resultado final consiste em pictogramas que documentam o potencial do próprio material e o controlo do gesto e do movimento. De acordo com a apresentação da exposição,AiWeiWei e Roland Flexner estão, nesta

mostra, unidos na exploração dos limites da pintura em que o movimento e a técnica ultrapassam o limite das características dos materiais e incorporam, no processo, a narrativa.

OS AUTORES

Ai Weiwei, nascido em 1957 na China, reside e trabalha entre Pequim e Berlim. Em 1958, o Partido Comunista denunciou o pai, o poeta Ai Qing, e a família foi enviada para os campos de trabalho, perto da fronteira da Coreia do Norte e depois para província de Xinjiang. Regressa a Pequim com a família em 1976 onde estudou animação na Academia de Cinema. Foi para Nove Iorque no início dos anos oitenta e ao voltar à China, uma década depois, Ai Weiwei dedicou-se, além da criação própria, à promoção do trabalho de artistas independentes e à curadoria de exposições muitas vezes não autorizadas. Trabalha com recurso a vários meios e é um defensor dos direitos humanos e da liberdade de expressão. Foi ainda vencedor do Prémio Václav Havel em Dissidência Criativa em 2012 e do Prémio Embaixador da Consciência da Amnistia Internacional em 2015. Ai Wei Wei viu autorizada a sua primeira exposição na China Continental em 2015. Roland Flexner nasceu em Nice (França) em 1944. Vive e trabalha em Nova Iorque e o trabalho que tem produzido consta das exposições de algumas das mais prestigiadas instituições, entre as quais o Centro Pompidou em Paris, o Albright Know Museum, o Museu de Arte Contemporânea de Xangai e o Museu de Arte Nacional de Tóquio. O trabalho de Flexner foi ainda exibido na Whitney Biennial do Whitney Museum of American Art em Nova Iorque. Sofia Margarida Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

O Centro de Design de Macau acolhe até Junho a exposição “Eu”, da autoria de dois estudantes da Universidade Cidade de Macau. São trabalhos de design gráfico que visam mostrar as reflexões que se vivem no período da adolescência

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA

Exercício

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ICHAEL pegou na sua própria imagem e transformou-a para mostrar aquilo que ele e os jovens da sua idade pensam. As fotografias, feitas com recurso ao Photoshop, mostram um jovem pensativo em relação ao mundo que o rodeia, muitas vezes “perplexo” com o que vê, onde o cigarro acaba por ser a melhor companhia. São, no fundo, pensamentos

de quem já não é adolescente, mas também ainda não é adulto. Michael, juntamente com o seu colega Manson, são ambos estudantes do curso de design gráfico da Faculdade de Estudos e Gestão Urbana da Universidade Cidade de Macau e foram convidados a partilhar o seu trabalho no Centro de Design de Macau.Aexposição, intitulada “Eu”, mostra um lado mais introspectivo da juventude e estará patente até Junho.

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SER JORNALISTA EM PORTUGAL (PERFIS PSICOLÓGICOS)

COCA-COLA KILLER • António Victorino d’Almeida

Com José Rebelo e Alexandre Manuel O jornalista não existe: existem jornalistas – na sua diversidade, com as suas contradições, os seus conflitos, as suas aspirações, as suas desilusões. Ser Jornalista em Portugal restitui-nos essa realidade multifacetada de uma profissão tão admirada quanto zurzida.

Marcelino Bandeira, o Coca-Cola Killer, o filho do “Monstro do Dafundo” é o exemplo perfeito da inutilidade. Imbecil por natureza, possui, no entanto, a arte para se aproveitar do meio em que se movimenta e, acima de tudo, sabe transformar as derrotas em vitórias para, tal como tantos ilustres do Portugal de ontem e de hoje, se elevar nos píncaros da glória e da fama. Coca-Cola Killer é uma sátira divertida e inteligente sobre a hipocrisia e o cinismo, personificados num personagem fascisóide, que se aproveita do 25 de Abril para ascender na sua prezada carreira de Diplomata.


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EVENTOS

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os de ego “Tudo isto é sobre os adolescentes e os jovens que atravessam um período de lutas interiores”, contam os artistas ao HM. “Os jovens passam, muitas vezes, por um período de grande reflexão e esta exposição pretende mostrar esse lado.” Os trabalhos estão divididos por vários temas e mostram as vozes que os mais jovens têm e que nem sempre conseguem partilhar. “Nós pertencemos a esta geração, nós próprios somos jovens. E queremos dizer ‘olha para mim, é desta forma que eu penso e sinto’”, contou Michael. Para os autores, ser jovem nem sempre é fácil, sobretudo ao nível da afirmação de cada um na sociedade em que se insere. “Os jovens são sempre alvo de uma certa negligência, e não conseguem expressar a sua voz. Ainda não estão devidamente estabelecidos na

sociedade e, muitas vezes, é dada mais atenção aos adultos”, acrescentou o estudante.

UMA OPORTUNIDADE

Esta é a primeira vez que os dois jovens têm a oportunidade para expor os seus trabalhos. Tudo começou através de um docente da Universidade Renmin, em Pequim, que os convidou a mostrar as suas obras em Macau. “Todos estes trabalhos estão relacionados com diferentes personalidades, é sobre uma pessoal enquanto individuo. A ideia por detrás desta exposição é mostrar tudo o que um jovem pode ter dentro de si. Há também imagens abstractas, cujos nomes remetem para determinadas emoções ou acções”, contou Manson. Oriundos da China, Michael e Manson assumem que esta exposição está também relacionada com a pressão que

os jovens sentem no seio das famílias chinesas. “Tem um pouco a ver com isso, porque há a ideia de que os mais jovens representam a família a devem mostrar algo de diferente, por aprenderem mais depressa e terem acesso a coisas novas. Independentemente da idade que tenhas, há a ideia de que tens de fazer isso”, referiu Michael. A iniciativa no Centro de Design de Macau abriu portas aos dois jovens, que já foram convidados para realizar um trabalho de decoração de interiores em dois cafés. Contudo, Michael e Manson falam da existência de algumas dificuldades para singrar no mercado. “Há alguma limitação no mercado local, porque as empresas pensam que somos demasiado jovens e dão mais atenção aos profissionais que são mais conhecidos. É difícil ter oportunidades para quem está a começar. Por isso é que esta exposição é importante para mostrar o nosso trabalho”, afirmam. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

R A um dos mais importantes escultores portugueses, autor de um corpo de obra em que arte e vida são indissociáveis e dotado de uma voz única em que a ruralidade e a proximidade à natureza — consequência do nascimento, em 1937, na aldeia de São Mamede do Coronado, concelho da Trofa — se aliava ao estudo e profundo envolvimento com a filosofia oriental (Zen, Tantra, Tao). Alberto Carneiro morreu este sábado, aos 79 anos, no hospital de S. João, no Porto, onde estava internado. Com ele a natureza entrou dentro dos museus. “Avança-se pelo mundo de Alberto Carneiro como por uma floresta. Às escuras, tropeçando em árvores, raízes e pedras, até aparecer uma clareira e o céu explodir na luz desgovernada de um manhã de Inverno”,escrevíamos em 2014. Ao longo dos anos participou nas Bienais de Veneza (1976) e de São Paulo (1977), entre outras grandes exposições internacionais. Nas antológicas da sua obra, contam-se as apresentadas na Fundação Calouste Gulbenkian (1991), em Lisboa, na Fundação de Serralves (1991), no Porto, para além do Museu Nacional Machado de Castro (2000), em Coimbra, no Centro Galego de Arte Contemporânea (2001) de Santiago de Compostela, no Museu de Arte Contemporânea do Funchal (2003), e na Casa da Cerca, em Almada. “Se tivesse nascido na cidade, se tivesse vivido a minha primeira infância na cidade, a minha obra não seria o que é. Nem eu, provavelmente, me teria encontrado com este mundo”, dizia em entrevista publicada em 2013. “Sendo a mesma pessoa, fisicamente, o mesmo nariz, as mesmas orelhas, não seria o mesmo. A minha sensibilidade foi construída numa relação directa com essas coisas.Aprendendo a amar essas coisas. E não as dispensando”. A consciência da importância desta origem na sua formação e na forma de olhar o que o rodeava foi fundamental no seu percurso artístico, iniciado em 1947 numa oficina de santeiro onde trabalharia 11 anos.

O MUNDO CABE NUMA CEREJEIRA

Trabalhava sobre a natureza, os elementos, a água, a terra, o fogo e o ar. Na sua visão a obra de arte existia para

Alberto Carneiro (1937-2017)

Inventor de mundos, escultor da natureza questionar, para aumentar o campo de acção, para criar novas fronteiras e novos conceitos. “Eu e arte não sabemos ao certo quem somos, mas temos a certeza de sermos um do outro, e isto é tudo o que precisamos para a vida”, escrevia no texto de apresentação da retrospectiva de Serralves, Arte Vida / Vida Arte, em 2013. Nessa altura, numa visita guiada, olhando para as suas obras, dizia: “Isto é um sortilégio. Eu vibro mais com isto do que com a Mona Lisa — e considero-me uma pessoa culta em relação à arte. Mas não a mitifico. A essência da beleza da Mona Lisa e do Moisés, encontrámo-la também aqui.” Licenciado pela Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), em 1967, rumaria a Londres no ano seguinte. Na capital inglesa foi aluno dos escultores britânicos Anthony Caro e Philip King, no âmbito da pós-graduação que frequentou na Saint Martin’s School of Art. A primeira exposição individual aconteceu antes da viagem para Inglaterra, em 1967, na ESBAP. Entre 1975 e 1976, anos em que

estudou as formas e os procedimentos estéticos resultantes do amanho da terra, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Em paralelo à sua obra escultórica, deixou bibliografia, sob a forma de livros e ensaios, dedicados a Arte e Pedagogia. Foi professor de Escultura na ESBAP, na década de 1970, director pedagógico e artístico no Círculo de Artes Plásticas da Universidade de Coimbra, entre 1972 e 1985, e professor na Faculdade de Arquitectura na Universidade do Porto. Ao longo dos anos realizou mais de setenta exposições individuais e participou em mais de cem mostras colectivas, em Portugal e no estrangeiro. Além da presença em território português, deixa obras espalhadas por todo o mundo: The Stone Garden, em Gateshead, Inglaterra, uma escultura no parque metropolitano de Quito, Equador, outra em Wicklow, na Irlanda, outra na Aldeia Folclória Coreana, na Coreia do Sul, ou uma escultura na cidade de Taoyuan, na Ilha Formosa, para citar apenas alguns exemplos. in Público (editado)


12 CHINA

hoje macau terça-feira 18.4.2017

Depois de uma COMÉRCIO COM OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA SUBIU 32,6% queda no ano passado, as trocas comerciais entre a China e os Países Lusófonos em 10,35 mil milhões de dólares, valor que traduz parecem estar a um aumento de 35,64% em anuais homólogos. conhecer um novo termos As exportações da China para o Brasil atingiram crescimento

O regresso do irmão perdido

A

S trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa subiram 32,6% até Fevereiro, em termos anuais homólogos, para 14,84 mil milhões de dólares, indicam dados oficiais. Dados dos Serviços de Alfândega da China, publicados no portal do Fórum Macau, indicam que a China comprou aos países de língua portuguesa bens avaliados em 10,28 mil milhões de dólares – mais 43,74% – e vendeu produtos no valor de 4,56 mil milhões dólares – mais 12,97% comparativamente aos primeiros dois meses do ano passado. O Brasil manteve-se como o principal parceiro económico da China, com o volume das trocas comerciais bilaterais a cifrar-se

3,69 mil milhões de dólares, reflectindo uma subida de 27,61%, enquanto as importações chinesas totalizaram 6,66 mil milhões de dólares, mais 40,54% face aos primeiros dois meses de 2016. Com Angola – o segundo parceiro chinês no universo da lusofonia – as trocas comerciais cresceram 42,40%, atingindo 3,48 mil milhões de dólares. Pequim vendeu a Luanda produtos avaliados em 252,1 milhões de dólares – menos 7,72% – e comprou mercadorias avaliadas em 3,23 mil milhões de dólares – ou seja, mais 48,69%. Já com Portugal, terceiro parceiro da China entre os países de língua portuguesa, o comércio bilateral cifrou-se em 704,9 milhões de dólares – menos 12,84% –, numa balança comercial favorável a Pequim que

O primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada, com o Presidente Xi Jinping

vendeu a Lisboa bens na ordem de 425,3 milhões de dólares – menos 35,73% – e comprou produtos avaliados em 279,5 milhões de dólares, isto é, quase o dobro (+90,26%). A China estabeleceu a Região Administrativa Especial de Macau como plataforma para a cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa em 2003, ano em

que criou o Fórum Macau, que reúne a nível ministerial de três em três anos. São Tomé e Príncipe passou a fazer parte Fórum Macau no final de Março, após a China ter anunciado o restabelecimento dos laços diplomáticos com São Tomé e Príncipe, o que sucedeu dias depois de o país africano ter cortado relações com Taiwan e reconhecido a República Popular da China.

TRUMP ADMITE QUE CHINA NÃO MANIPULA MOEDA

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S Estados Unidos da América admitiram oficialmente que a China não está a manipular a moeda para impulsionar as exportações, contrariando as acusações lançadas por Donald Trump durante a campanha eleitoral. No relatório semestral sobre as taxas de câmbio, o Tesouro norte-americano garantiu que vai “vigiar de perto” as práticas de Pequim e também apelou à Alemanha para que reduza o excedente comercial com os Estados Unidos. No mesmo documento, a administração Trump identificou outros quatro países que precisam de ser supervisionados: além da China e da Alemanha, também o Japão, a Coreia do Sul, Taiwan e a Suíça foram sinalizados. Estes seis países são os mesmos assinalados pelo último relatório semestral da administração de Barack Obama. Numa entrevista na quarta-feira, Donald Trump disse que retira as acusações que fez durante a campanha porque sentiu que a China não tem estado a manipular a sua moeda nos últimos meses e porque considera que tais afirmações podem ameaçar a cooperação de Pequim para enfrentar a Coreia do Norte.

Neste contexto, o presidente chinês Xi Jinping encontrou-se com o primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada, em Pequim, dia 14 de Abril, pedindo entendimento mútuo e apoio sobre assuntos de interesse principal dos dois lados e preocupações principais.

UM NOVO CAPÍTULO

traram num novo capítulo, segundo Xi, que São Tomé e Príncipe voltou para a família China-África de cooperação amigável cumpriu com a direcção da época. “A China valoriza muito as contribuições importantes feitas pelo primeiro-ministro Trovoada na promoção da normalização das relações entre a China e São Tomé e Príncipe”, disse. Xi afirmou ainda que a China está disposta a trabalhar com São Tomé e Príncipe para promover juntamente a cooperação de benefício recíproco e o estabelecimento de uma parceria cooperativa compreensiva, com igualdade, confiança mútua e cooperação de ganho mútuo. Por seu lado, Patrice Trovoada disse que a continuação dos laços diplomáticos com a China recebeu apoio extensivo em São Tomé e Príncipe e que o seu país aderirá firmemente à política de Uma Só China.

As relações entre a China e São Tomé e Príncipe en-

De olhos mais abertos Imagem da China melhora nos EUA

D

E acordo com uma publicação do jornal americano Wall Street, datada de 4 de Abril, uma sondagem realizada pelo Pew Research Center (PRC) adiantou que 44% dos americanos tem uma opinião favorável face à China, o que se traduz em um aumento de 7% relativamente aos 37% obtidos no ano anterior. O inquérito apurou também um decréscimo do número de comentários negativos, dos 55% para os 47%. No relatório da sondagem pode ler-se que “o aumento das posições abonatórias face à China pode estar relacionado com o fato da ameaça económica do país asiático não ser actualmente tão preocupante”. A sondagem, realizada em Fevereiro e Março, contou com a participação de 1505 inquiridos. Os resultados do PRC apuram, assim, aquele que é o melhor resultado desde 2011, no qual 50% dos inquiridos elogiavam o crescimento da China. A sondagem apresenta também uma alteração da percepção da sociedade americana no que concerne à

culpabilidade atribuída à China pela perda de empregos nos EUA, sendo que 53% vêem a China como a causa, o que representa um decréscimo relativamente a 2015 (60%) e 2012 (71%). A questão da empregabilidade e a sua relação com a China ocupa o quarto lugar na lista de preocupações dos cidadãos americanos. Nas últimas semanas, o Ministério das Relações Exteriores chinês tem vindo a defender que o comércio e investimento entre a China e os EUA, não só criará empregos, como trará outros benefícios a ambos os países. O inquérito revelou que os americanos têm uma posição definida quanto à defesa dos seus interesses na região Ásia-Pacífico, com cerca de 6 em cada 10 americanos a defender o uso da força para proteger os aliados asiáticos de hipotéticas investidas militares da China. Nesta sondagem é também perceptível que democratas e jovens têm uma atitude mais positiva quanto à China. A postura republicana é também cada vez mais favorável.


13 hoje macau terça-feira 18.4.2017

CONSÓRCIO CHINÊS COMPRA AC MILAN

U

M consórcio chinês confirmou a compra do AC Milan, por 740 milhões de euros, à Finivest, empresa do antigo primeiro-ministro de Itália Silvio Berlusconi, que detém 99,93 por cento do clube italiano. O negócio, o maior investimento de sempre com capital chinês num clube europeu, surge depois de o grupo chinês Suning ter pago 270 milhões de euros por 70% do Inter de Milão, outro gigante italiano. Num comunicado conjunto, a Finivest confirma que vendeu a totalidade da sua participação de 99,93% no clube à Rossoneri Sport Investment Lux, empresa com sede no Luxemburgo e controlada pelo empresário chinês Li Yonghong. Os 740 milhões que serão pagos a Berlusconi incluem os 220 milhões de euros de dívida do clube ‘rossonero’. Os novos donos do clube comprometeram-se a recapitalizar o clube, segundo anunciaram em comunicado.

6,9% PUB

Este é um momento decisivo na história recente do AC Milan, há cinco anos envolvido numa grave crise financeira e desportiva, sendo que agora poderá voltar ao mercado com outra ambição. Trata-se igualmente do fim de ciclo de Silvio Berlusconi, que adquiriu o clube em 1986, sendo que nestes trinta anos de presidência conquistou 28 troféus, incluindo cinco das sete vitórias na Liga dos Campeões. O negócio esteve para ser fechado em Agosto passado, mas foi adiado por várias vezes, face às restrições impostas pelo Governo chinês na aquisição de activos estrangeiros não-estratégicos, ou em gastos “supérfluos”, especialmente na indústria do futebol. O clube reportou perdas de 93,5 milhões de euros, em 2015, e, apesar de não ter ainda apresentado o relatório de contas, as perdas no ano passado deverão ascender a mais de 70 milhões.

ECONOMIA CRESCE NO PRIMEIRO TRIMESTRE

A China, segunda maior economia do mundo, cresceu 6,9% no primeiro trimestre do ano, mais uma décima que nos últimos três meses de 2016, indicam dados publicados pelo gabinete de estatísticas chinês. Entre janeiro e março deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês chegou aos 18,06 biliões de yuan. O Governo chinês fixou para este ano uma meta de crescimento económico em torno dos 6,5%, depois de em 2016 ter sido de 6,7%, o número mais baixo desde 1990.

CHINA

Vinde e gastai

Turistas chineses voltam a liderar gastos nos países estrangeiros

O

S turistas chineses voltaram a liderar o ‘ranking’ dos viajantes que mais gastam quando viajam para o estrangeiro, seguidos pelos norte-americanos, alemães e britânicos, segundo dados da Organização Mundial de Turismo (OMT). A OMT

disse a semana passada que os turistas chineses gastaram 261.000 milhões de dólares em 2016, ou 12% mais que no ano anterior, em que o seu gasto atingiu 11.000 milhões de dólares. O número de turistas que saiu da China também aumentou 6%, para 135 milhões, um aumento que beneficiou

em especial países da região Ásia Pacífico como o Japão, Tailândia ou Coreia do Sul. Segundo a OMT, o turista chinês lidera os gastos turísticos no estrangeiro desde 2012 e as deslocações ao estrangeiro seguem uma tendência de crescimento de dois dígitos anuais desde 2004. O turismo dos Estados Unidos ocupa o segundo posto da lista, com um gasto de 122.000 milhões de dólares e um aumento em relação a 2015 de 8%, impulsado pela “valorização do dólar”. A Alemanha, terceiro na lista, gastou 81.000 milhões de dólares, enquanto o Reino Unido e a França, gastaram 64.000 milhões de dólares e 41.000 milhões de dólares, respetivamente.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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o ofício dos ossos

Valério Romão

Cenas de um casamento

Fassbinder na Berlinale, 1982

U

MA amiga foi convidada para tocar piano num casamento e, embora a profissão dela esteja de facto ligada à música, recusou por achar não ter nem talento nem tempo suficiente para se preparar para a ocasião. Acontece que quem convidou não estava disposto a aceitar um não como resposta, sobretudo porque o convite não envolvia retribuição financeira mas apenas a materialização da cortesia própria inerente às relações de amizade. Acresce o facto de ter descobrido – o que lhe causou tanto espanto quanto indignação – que os músicos cobravam para tocar, motivo mais que suficiente para continuar a insistir junto da minha amiga por uma solução simpática. “Não posso casar a minha filha sem música, menina”, lamentou-se. A ideia de entregar a mão da sua única filha numa cerimónia que não fosse tal qual a que tinha sonhado era-lhe inconcebível. Há poucas alturas na vida de uma pessoa pobre em que esta tem a possibilidade, ainda que de breve duração e exaurindo totalmente a sua capacidade financeira, de sair por momentos do estatuto a que a pobreza a remete. O casamento é, provavelmente, uma dessas ocasiões.

A minha amiga tentou arranjar alternativas que fossem adequadas. Perguntou pelo sistema sonoro da igreja. Acaso tivessem uma aparelhagem, ainda que módica, seria fácil conseguir um cd da marcha nupcial para colocar aquando da entrada da noiva. Infelizmente, a aparelhagem – assim como alguma da pouca arte sacra que a igreja tinha – fora roubara dois meses antes. Felizmente, a miniaturização e portabilidade da tecnologia forneceram uma solução que, embora longe da fantasia romântica do organista impecavelmente vestido de branco, tinha forçosamente de servir, dado ser a única. Uma pequena coluna bluetooth e um telemóvel fariam as vezes do órgão de tubos e, contando com a generosidade da reverberação típica das igrejas, o som ganharia um fôlego e músculo que disfarçaria o tamanho diminuto da coluna.

O grande dia chegou e, com ele, a típica procissão de horrores que ocorre quando as pessoas têm, de algum modo, de fazer por parecerem excepcionais. Todo o tipo de exageros são permitidos – e bem-vindos – e nos cabelos, na roupa, nas unhas, no calçado e na maquiagem a única nota dominante e transversal a todos eles é o excesso. A minha amiga, por sua parte, chegara já em cima da hora à igreja, vinda de uma aula de ioga e envergando uma singela t-shirt, umas calças pretas e uns ténis outrora brancos a rematarem o conjuntinho, perfeito para o dia-a-dia típico de uma juventude urbana descontraída mas manifestamente insuficiente para a singularidade da ocasião. Quando o fotógrafo de serviço passou por ela, esta apressou-se a apontar para a coluna e a fazer sinais com os dedos. “Não gaste cartão de memória comigo, também estou aqui em traba-

A mãe da noiva, pouco sensível aos caprichos informáticos, grita com as mãos como um napolitano. A noiva, essa, não consegue desacelerar mais o passo sem parecer ser portadora de uma deficiência motora qualquer

lho”, seria a tradução mais adequada para aqueles esforços gestuais. Convencido ou não, o fotógrafo seguiu o seu percurso. A minha amiga, por sua vez, apressou-se a testar telemóvel e coluna, dado a tecnologia sem fios ser tão conveniente como a espaços imprevisível e, se há dia em que as coisas deveriam, pelo menos, parecerem perfeitas, este era certamente o dia. Fora os típicos problemas de conexão iniciais, a coisa parecia funcionar. No dia anterior, o do ensaio, tinha tudo corrido muito bem. O som, malgrado o tamanho modesto da coluna, era amplificado pela reverberação natural da igreja e, se todos fechassem os olhos, em jeito de prova cega, ninguém diria que aquele órgão de tubos provinha de uma coluna literalmente capaz de caber na palma de uma mão. Naquele instante, e com a igreja cheia, era mais difícil antecipar o resultado mas, não havendo quaisquer alternativas, o plano mantinha-se. O momento finalmente chegou. A noiva, para comoção generalizada, dá os primeiros passos sobre a passadeira vermelha e a minha amiga espera pela indicação visual da mãe da noiva para dar voz à marcha nupcial. Esta assim faz, em jeitos de “já devia estar” e, sem surpresas, a aplicação falha. Não abre. De cada vez que vai ser lançada, colapsa num estrondo branco. A mãe da noiva, pouco sensível aos caprichos informáticos, grita com as mãos como um napolitano. A noiva, essa, não consegue desacelerar mais o passo sem parecer ser portadora de uma deficiência motora qualquer. A minha amiga, no meio do desespero, tem uma ideia redentora: o youtube. E lá se apressa a escrever “marcha nupcial” na barra de pesquisa e a carregar em play na primeira que lhe surge. A coluna finalmente ganha vida. Vai tudo correr bem. Claro que ela não se lembrou, no meio daquela confusão, de que o youtube vive dos anúncios que coloca em muitos dos vídeos. São apenas 10 segundos, coisa breve e logo mascarada pela ocorrência da música escolhida mas, de todos os anúncios possíveis, calhar logo um promovendo um qualquer teste de gravidez, é algo na ordem do karma. A minha amiga diz que ninguém ficou chateado e que todos acharam alguma graça ao sucedido. Mas ambos sabemos, mesmo sem falar disso, que a carreira dela de DJ de casamento acabou ali naquele dia.


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Paulo Maia e Carmo tradução e ilustração

ZHANG YANYUAN «Lidai Ming Hua Ji»

Relação das Pinturas Notáveis Através da História

Imagens mortas que cobrem uma parede são apenas semelhantes a gesso sujo. Nas pinturas verdadeiras cada pincelada revela a vida. Quem usar o pincel de modo deliberado para fazer uma pintura perde clamorosamente a arte da pintura, enquanto aquele que reflectir e movimentar o pincel sem qualquer intenção de fazer uma pintura, alcança a arte da pintura1. As suas mãos não ficarão rígidas, o seu coração não congelará e sem o saber ele realizará. Nem para as curvas e arcos, linhas direitas e pilares verticais ou vigas de ligação, nas suas pinturas ele não necessitará de régua ou de medidor de distâncias. Alguém me perguntou: «Como é que reflexões subtis e pensamentos profundos podem ser expressos em pinturas que não parecem ter sido acabadas de maneira exaustiva e intima?» Ao que eu respondi: «O espírito de Gu Kaizhi e Lu Tanwei não se percebe simplesmente nos contornos, está lá porque as suas pinturas são executadas de modo completo e exaustivo. As maravilhas de Zhang Sengyou e Wu Daozi são executadas com uma ou duas pinceladas através das quais as suas pinturas se completavam ou no partir e espalhar dos pontos e pinceladas; as suas pinturas pareciam inacabadas ou partidas.»

1 - A frase é mais uma reafirmação que se insere no desenrolar da teoria artística. No princípio do século VI, Liu Xie já tinha desenvolvido à volta do pictograma «Yi», a «ideia», o conceito da criação artística (no Wen Xin Diao Long, «O espírito literário e o esculpir de dragões»). Da leitura deste caracter percebe-se que é o coração «Xin» (ou seja, o espírito) que está na origem de todo o processo e a sua actividade é o pensamento, que preexiste ao encontro com a «realidade objectiva» do mundo exterior. É do encontro entre

o «pensamento» e essa «realidade objectiva» que nasce a «ideia», a intenção da obra que precede a sua execução. Donde a frase, atribuída a Wang Wei (699-759): «a ideia deve preceder o pincel». Depois, num dos Seis Princípios Essenciais Jing Hao (primeira metade do século X) falará da capacidade de «separar e isolar o essencial e de concentrar o espírito sobre a forma a dar às coisas.» (Ver Pierre Ryckmans, Les propos sur la peinture du moine citrouille amère, Plon, France, 2007, págs.31, 117)


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ENRIQUE MANUEL BENTO FIALHO é poeta e crítico de poesia. Tem uma dezena de livros publicados, desde 2000, e este, A Grua (volta d’mar, 2017), é o seu mais recente trabalho. Trata-se de um livro com vinte poemas, com os títulos de 1 a 20. A grua, que dá título ao livro, aparece em todos os poemas, como metonímia do humano. Do humano na sua solidão, no seu isolamento. Veja a última estrofe, do primeiro poema (p. 4): (...) não se mexendo é apenas uma grua parada a olhar trabalhos ao abandono nada que agite os corações receosos nada que provoque exaltações de espírito pois tudo o que é melancólico pode ser esquecido pois tudo o que é triste deve distrair-nos e ficar para sempre parado onde ninguém ligue onde ninguém dê por isso bem no meio de nós Através da grua vê-se melhor o humano. “há muito parada / a grua observa a obra” (p. 3) Há uma profunda desolação nas páginas deste livro. Mesmo quando aparece um faísca de esperança, ela surge apenas para que ilumine melhor a desesperança que habita um coração humano, a desesperança que habita este mundo de homens, como escreve o poeta no poema 12, à página 22: “(...) acredito nos homens / e na força das utopias / acredito nos horizontes que impelem à caminhada / para logo ao primeiro passo / tropeçarem no abismo / e das crenças e das utopias restar apenas / e tão-somente uma ideia vaga (...)” Pressente-se, ao longo destas páginas, a soar no fundo como se de um baixo contínuo se tratasse, que a vida humana existe para provar que tudo é desesperança. Aliás, poucos livros de poesia atingem este grau de desesperança que “A Grua” atinge, se é que algum se lhe pode comparar quanto à invocação desta erva daninha do humano. E aqui identifica-se dois tipos de desespero: 1) de todos aqueles à margem de uma vida boa ou dentro de parâmetros razoáveis, como se vivessem numa infra-humanidade; 2) a do poeta, aquele que, apesar de não partilhar essa infra-humanidade directamente, partilha através de uma consciência aguda, como se o poeta tivesse sido condenado a cantar a solidão e perfídia humana. A grua também se torna num lugar de referência – poder-se-ia dizer de peregrinação – para os marginais deste mundo, pelo menos da parte do mundo próximo da grua, como o poema 4 é exemplo maior. Desde o sem-abrigo, logo no início do poema – “entre tapumes de chapa o sem-abrigo / fez a cama com caixão de cartão / e tapou-se com folhas de jornal” – passando pela máfia russa – “entre tapumes a máfia russa enterrou vivos / uma puta e um chulo da concorrência” – passando também pela puta – “e fechou os olhos enquanto a puta / o mamava a troco de vinte euros”– até à primeira vez do amor – “entre tapumes um casal de namorados / fez amor pela primeira vez”. E ainda esse isolamento maior que é ser-se só num mundo completamente diferente do nosso: “entre tapumes um chinês recolheu-se / a chorar com saudades de casa”. A grua onde habita tudo o que é o humano nas margens de si mesmo e dos seus temores, como no poema 3, à página 8: ninhos de ratazanas abrigos de drogados e prostitutas indiferente a hábitos rastejantes a cegonha não se queixa prossegue o seu destino à margem das intempéries sociais que ateiam focos de discussão e raiva No fundo, como nos versos do poema 6 (p. 12): “a grua era um farol a servir de referência / aos náufragos de uma cidade turbulenta.” A grua tem assim múltiplos sentidos, mas todos como metonímia do humano, em múltiplos modos de apresentação. E, por conseguinte, a miséria humana não se poderia dizer apenas nas margens, ainda que seja aqui que ela se faça sentir com

máquina lírica

A guerra perdida mais eloquência ao longo do livro. A miséria humana é também a de todos aqueles que diariamente se dirigem ao trabalho, que repetem as suas acções quase mecanicamente ou, pelo menos, sem se perguntarem porque fazem isso, à imagem dos militares, que, segundo consta, não questionam as ordens dadas, como se lê no último poema do livro: “ainda nos comovem as sirenes / as mães com os filhos pela mão à entrada das / escolas / os homens fardados para o trabalho / com cara de quem vai para uma guerra perdida” (p.39), ou ainda “a caminho dos empregos como pregos” (p. 36). E a guerra já perdida para onde se caminha é a própria vida. Defender a vida, dia a dia, é essa guerra perdida. Perdida, não só porque não podemos ganhar, e sabemo-lo de antemão, mas também porque enquanto dura, a vida, estamos impedidos de fazer um gesto de paz, porque viver é estar continuamente em guerra. Percorre-se o livro com a sombra de que o mundo está podre, de que o humano é a grande doença do mundo, como fica bem claro no início do poema 14 (p. 26): não quero saber não me contem do mundo nem das suas mortes desliguei-me de tudo incluindo do cansaço com que me desligo Perante esta evidência, a do mundo a cair, a do mundo ser um lugar de expiação, vive-se de modo a não nos cruzarmos com essa consciência. Este é o mundo onde se rouba sem ter fome – “ó ladrões sem fome” (p. 35) – principalmente porque não se tem fome, e como se de um mandamento tratasse. O mundo não é um lugar lícito. Viver é – sempre o foi, mas é-o agora cada vez mais – empanturrar-se de entretenimento, de diversão. E a grua, na sua inutilidade – “uma grua inutilizada no centro da paisagem / como tudo quanto respira / como tudo quanto existe” (p. 27) – aparece-nos como profeta, como o filho de deus, que recebe todos os enjeitados da vida, pois são eles que melhor a dizem, e ilumina o estado em que está o mundo. A grua é o filho de deus que nos falta, que não encontramos nas igrejas, nos templos, nos gestos das pessoas. A grua recebe todos, principalmente os que não têm nada e os que expõem os seus defeitos. E porque a poesia não é deste mundo, é ela que dá testemunho desta descida da grua ao mundo. No fundo, a poesia morreu e não sabe disso. A poesia não levanta sequer o rabo da cadeira, não tem força para nada, no mundo de hoje (e talvez tenha sido sempre assim). Leia-se estas duas estrofes do poema 20 (p. 38): os poetas do meu tempo sobretudo as raparigas reivindicam grandes incêndios falam com a boca cheia de labaredas mas eu olho para eles e para elas e mais não vejo do que fósforos inofensivos

Paulo José Miranda

a atear queimadas de entulho raivas amenas pautam explosões de entusiasmo e a paixão com que falamos uns dos outros cai por terra como estrume a fertilizar exíguos canteiros de alegria Chegados aqui resta-nos terminar. Pois neste livro até o bem parece conversa e gestos de bêbado. Mas há alguma coisa boa neste livro? De outro modo, há alguma coisa boa que este livro nos mostre, para além da consciência cortante do estado miserável do mundo e dos homens? Há! Mostrar-nos que precisamos de ver. Não é urgente o amor. É urgente ver. É urgente a consciência da existência do fora de nós. Impossibilitados que estamos de nos olhar a nós mesmos, neste mundo que nos pisa, neste mundo em que o emprego nos suga as horas e a alegria e a possibilidade de pensar, e nos empanturra de entretenimento, é urgente olhar as coisas como se nos olhássemos a nós. Uma grua, um sapato, uma árvore que resiste nos baldios, podem despertar-nos para a nossa vida. Ver lá fora é preciso, diz-nos este livro. Talvez o diabo tenha criado o ecrán de televisão, o ecrán de computador, o ecrán, para nos impedir de ver o mundo, de ver as coisas, de ver os outros. Porque o mundo que nos aparece nos ecráns não é o mundo, mas um filtro do mesmo. No ecrán o que nos aparece é a distancia, uma distância em relação ao mundo. O mundo é o que nos é próximo. Embriagados de distância, afastamo-nos de nós e do mundo. Antes de terminar, com um poema de Henrique Manuel Bento Fialho, acrescento que a capa do livro foi concebida pela Inês Ramos. 14. não quero saber não me contem do mundo e das suas mortes desliguei-me de tudo incluindo do cansaço com que me desligo acordo a olhar para ti e espanto-me basta-me tal espanto apontas para oeste na direcção de um mar infindo de aventuras perdidas como o ponteiro de uma bússola indicas-me os caminhos do ocidente e eu penso que nestas terras nunca o sol nasceu não quero ocorrências enterro-me nos lençóis com tudo desligado nem música consigo ouvir registo num pequeno caderno as últimas vontades (ser transformado em cinza e largado no lixo como se nunca tivesse existido) e ensaio um possível epitáfio para os meus dias (acidente que não sonha apenas delira não dorme apenas arfa) não quero saber se prescrevem poemas a quem como eu olha os caminhos que indicas e vê uma obra embargada em edifício emparedado uma grua inutilizada no centro da paisagem como tudo quanto respira como tudo quanto existe simplesmente não quero saber está vento tenho frio o céu nublado pesa-me nos olhos que fecho enquanto enterro mais um pouco o corpo por debaixo dos lençóis


17 hoje macau terça-feira 18.4.2017

TEMPO

POUCO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente EXPOSIÇÃO “I AM 038: UMA EXPOSIÇÃO DE UM ARTISTA AUTISTA”

?

NUBLADO

MIN

23

MAX

30

HUM

60-98%

EURO

8.52

BAHT

Art Garden | Até 23/4 EXPOSIÇÃO “AFTERWARDS – WORKS BY LEE SUET-YING” Armazém do Boi | Até 22/4 EXPOSIÇÃO “MAORGANIC - WORKS BY ALAN IEON, TKH, JACK WONG, RUSTY FOX” Armazém do Boi | Até 22/4

O CARTOON STEPH

INSTALAÇÃO “FLUXO DE TONS” DE PAN JIN LING E PAN JIN XIA Pavilhão de Chun Chou Tong | Até 7/5 EXPOSIÇÃO “VIAGEM SEM TÍTULO” Museu de Arte de Macau | Até 14/5 EXPOSIÇÃO “VELEJAR NO SONHO” DE KWOK WOON Oficinas Navais N.º1 | Até 23/4 PROBLEMA 19

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 18

SUDOKU

DE

Armazém do Boi | Até 7/5

EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY

YUAN

1.16

A MECANIZAÇÃO DA POLÍTICA

EXPOSIÇÃO “OVERLOOK THE MACAU CITY” DE CAI GUO JIE

DE YEN-HUA LEE

0.23

AQUI HÁ GATO

Torre de Macau | Até 14/5

INSTALAÇÃO “SEARCHING FOR SPIRITUAL HOME II”,

(F)UTILIDADES

Em Macau estamos habituados a ouvir os mesmos temas por diversas vezes, em diferentes períodos de tempo. A razão prende-se com o facto desses mesmos temas estarem relacionados com problemas que permanecem eternamente por resolver. Há uma espécie de mecanização em quase tudo o que se faz no meio político local. Há um relatório do Comissariado da Auditoria ou do Comissariado contra a Corrupção, há uma reacção abstracta do Executivo, algumas declarações aos media, e pronto. Não sabemos se há, efectivamente, uma mudança. Os deputados voltam a questionar a ausência de respostas, a ausência de tudo. É provável que daqui a um ano voltemos a ler os mesmos relatórios, sobre problemas semelhantes, que permanecem dentro de portas, dentro de gavetas. Os deputados vão voltar a colocar as mesmas questões. O ciclo mecânico vai repetir-se. Gostava de não voltar a escrever estas linhas. Gostava que escrever que os trabalhadores da Função Pública são íntegros e percebem as leis com as quais têm de lidar. Gostava de ver acções, em vez de palavras. Não gosto de coisas mecânicas, estáticas. Pu Yi

Museu de Arte de Macau (Até 05/2017) EXPOSIÇÃO “ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL” DE ANABELA CANAS Galeria da Livraria Portuguesa

Cineteatro

C I N E M A

FAST & FURIOUS 8 SALA 1

THE BOSS BABY [B] FALADO EM CANTONENSE Fime de: Tom McGrath 14.15, 16.00, 19.30

THE BOSS BABY [3D] [B] FALADO EM CANTONENSE Fime de: Tom McGrath 17.45

SWORD ART ONLINE THE MOVIE: ORDINAL SCALE [B] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS Filme de: Tomohiko Ito 21.30 SALA 2

FAST & FURIOUS 8 [C] Filme de: F. Gary Gray

UM DISCO HOJE

“THE VERY BEST OF JOHNNY CASH” | JOHNNY CASH

Nada melhor para ouvir Johnny Cash do que um “best of”. “ The very best” é um conjunto de canções que reúnem que sintetizam os melhores temas do compositor. São três discos que representam o percurso artístico do autor de “Hurt” com temas que vão desde o “I walk the line” , “Ring of fire” e “Home of the blues”. A colectânea traz ainda algumas faixas extra que contam com a participação de June Carter e de Carl Smith. Sofia Margarida Mota

Com: Vin Diesel, Michelle Rodriguez, Dwayne Johnson 14.15, 16.45, 21.45

FAST & FURIOUS 8 [3D] [C] Filme de: F. Gary Gray Com: Vin Diesel, Michelle Rodriguez, Dwayne Johnson 19.15 SALA 3

SMURFS: THE LOST VILLAGE [A] Filme de: Kelly Asbury 14.15, 16.00, 17.45, 19.30

A SILENT VOICE:THE MOVIE [B] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Naoko Yamada 21.30

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Sofia Margarida Mota Colaboradores António Cabrita; Anabela Canas; Amélia Vieira; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; João Paulo Cotrim; João Maria Pegado; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Manuel Afonso Costa; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fa Seong; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


18 PUBLICIDADE

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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 197/AI/2017 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor SHA CHENGSUI, portador do passaporte da RPC n.° E30512xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 146/DI-AI/2014 levantado pela DST a 26.11.2014, e por despacho da signatária de 29.03.2017, exarado no Relatório n.° 219/DI/2017, de 07.03.2017, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.° 779-D, Edf. Chung Yu,10.° andar F, Macau onde se prestava alojamento ilegal.------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.--------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.--------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.--------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.-----------------------------

Regime de qualificações nos domínios da construção urbana e do urbanismo Curso de formação I.

Destinatários: Os profissionais não inscritos ou inscritos há menos de um ano na Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), e outros profissionais inscritos, nos termos do disposto no n.º 3 do artigo 67.º da Lei n.º 1/2015 de 5 de Janeiro, que aprova o Regime de qualificações nos domínios da construção urbana e do urbanismo e no artigo 36.º do Regulamento Administrativo n.º 12/2015 de 10 de Agosto de 2015 que aprova a Regulamentação do regime de qualificações nos domínios da construção urbana e do urbanismo.

II.

Local de realização da formação: Estrada de D. Maria II, n.º 33, 5.º andar, Macau

III.

Prazo de inscrição: De 18 de Abril a 5 de Maio de 2017

IV.

Local de inscrição: Os interessados devem entregar durante o horário de expediente na Secção de Atendimento e Expediente Geral da DSSOPT, situada no rés-do-chão da Estrada de D. Maria II, n.º 33, em Macau, o boletim de inscrição devidamente preenchido, juntamente com a fotocópia do bilhete de identidade de residente da RAEM.

V.

Levantamento do boletim: O boletim de inscrição está disponível na página electrónica da DSSOPT (http://www.dssopt. gov.mo) ou pode ser levantado pessoalmente no endereço da DSSOPT acima referido.

VI.

Horário do curso:

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 29 de Março de 2017. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 198/AI/2017 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora CHEN KUNWEI, portadora do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° W93528xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 146.1/DIAI/2014 levantado pela DST a 26.11.2014, e por despacho da signatária de 29.03.2017, exarado no Relatório n.° 220/DI/2017, de 07.03.2017, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.° 779-D, Edf. Chung Yu, 10.° andar F, Macau.------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro. -----Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.----------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.------------------------------------------------------------

Turmas

Datas

Horário

A

20 de Maio de 2017

9:15-12:15, 15:00-17:00

27 de Maio de 2017

9:15-12:30, 14:30-17:30

Língua veicular

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 29 de Março de 2017. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

10 de Junho de 2017 9:15-12:15, 15:00-17:00

Cantonês (com interpretação simultânea em língua portuguesa)

B

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 202/AI/2017 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora NGUYEN THI THUY, portadora do passaporte do Vietnam n.° B4281XXX e B9000XXX, que na sequência do Auto de Notícia n.° 75/DI-AI/2015, levantado pela DST a 03.07.2015, e por despacho da signatária de 29.03.2017, exarado no Relatório n.° 224/DI/2017, de 07.03.2017, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua Cinco Bairro Iao Hon n.° 39, Mau Tan, 1.° andar I (Sala D149) onde se prestava alojamento ilegal.-------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010.---------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Observações: 1. Os candidatos devem indicar no boletim de inscrição, por ordem de preferência, as turmas em que se pretendem inscrever. 2. Os candidatos devem indicar a língua veicular pretendida (cantonês ou português).

VII.

Propina: Gratuita

VIII.

Admissão: Devido ao número limitado de vagas, os candidatos inscritos serão admitidos de acordo com a seguinte prioridade: - Profissionais inscritos há menos de um ano, à data da entrada em vigor da Lei n.º 1/2015, de 5 de Janeiro; - Profissionais não inscritos anteriormente mas que à data de entrada em vigor da referida lei exerciam funções na RAEM; - Profissionais inscritos há menos de 10 anos na DSSOPT; - Outros profissionais, segundo a ordem de recepção dos pedidos de inscrição no curso.

IX.

Certificado de frequência: Aos formandos que tenham assistido a 100% das aulas de curso, será atribuído um certificado de frequência emitido pela DSSOPT.

X.

Observações: (1) Os boletins de inscrição entregues fora do prazo de admissão serão considerados prioritariamente no próximo curso de formação a organizar pela DSSOPT; (2) Não serão aceites os candidatos que frequentaram cursos de formação especial organizados pela DSSOPT; (3) Tendo em conta que não se aplica aos trabalhadores de Administração Pública o disposto no n.º 1 do art. 18.º da Lei n.º 1/2015 de 5 de Janeiro relativo ao pedido de inscrição na DSSOPT para exercer funções de elaboração de projectos, direcção ou fiscalização de obras, as suas candidaturas não serão aceites; (4) A DSSOPT reserva-se o direito de decisão final em caso de litígio ou em caso de cancelamento de turmas devido à insuficiência de inscrições; (5) Para mais informações sobre o curso ou sobre o andamento dos pedidos, queiram contactar o Centro de Informações da DSSOPT através do telefone n.º 8590 3800 ou consultar a nossa página electrónica (http://www.dssopt.gov.mo).

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 29 de Março de 2017. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 223/AI/2017 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora WANG XIAOMAN, portadora do Salvo-conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° W84459xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 125/DI-AI/2015, levantado pela DST a 26.10.2015, e por despacho da Directora dos Serviços de Turismo, Substituta, de 05.08.2016, exarado no Relatório n.° 539/DI/2016, de 01.08.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.os 361-B-361-K, Edf. I On Kok, 19.° andar A onde se prestava alojamento ilegal.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. --------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma. -----O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau. -----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 29 de Março de 2017. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

24 de Junho de 2017 9:15-12:30, 14:30-17:30


19 hoje macau terça-feira 18.4.2017

sexanálise

Dia de beijos

KRIS KRISTOFERSON E BARBRA STREISAND, A STAR IS BORN

TÂNIA DOS SANTOS

D

IA 13 de Abril foi o dia internacional do beijo! Há quem diga que na verdade é no dia 6 de Julho, mas que raio interessa? Não precisamos de muitas desculpas para celebrar os beijos uma, duas, três, as vezes que quisermos por ano. Durante estes dias houve uma divulgação das fantásticas razões pelas quais deveríamos beijar cada vez mais. Há beijos para todos os gostos e vantagens de saúde para todos os gostos também. Incentivamos espalha-beijos (se consentidos!) para dias de primavera mais felizes e um sistema imunitário mais forte. Aliás, um estudo de 2003 mostra que beijar o vosso mais que tudo durante 30 minutos poderá ajudar a diminuir os sintomas de renites alérgicas. Alguém sofre de alergias de primavera? E mais, beijar queima calorias (poucas, umas 4 ou 5 calorias) e obriga o movimento de muitos músculos faciais. As trocas de saliva previnem as cáries e estimulam o sistema imunitário (a troca de bactérias põem o sistema a funcionar). Beijar também faz com o nosso sistema endócrino liberte aquelas hormonas felizes que nos relaxam e que melhoram a nossa vida.

Este dia foi criado para não nos esquecermos que o beijo, para além da sua formalidade social e de muitas vezes ser considerado um pró-forma de sexo, pode ser apreciado por si só, na sua simplicidade e singularidade. Um momento de intimidade que poderia ser igual a um outro qualquer, mas que se caracteriza pela proximidade dos lábios e das línguas. Os bons beijos são longos - fazem parar o tempo, o espaço e prendem-nos a uma realidade única de proximidade com o outro. Claro que pode sempre continuar por actividades de trocas (ainda) mais marotas. Sexo sem beijos é possível mas acho que concordarão que não é o melhor. Consciente ou inconscientemente sabemos das vantagens das trocas de saliva e do toque de línguas sedosas e húmidas. A origem do beijo ainda não é clara e os antropólogos atiram com várias teorias. Uma delas é de que o beijo veio de alguma coisa parecida ao que os pássaros fazem aos filhos, passar a comida através da boca, outros dizem que desenvolveu-se através de um ‘snifar’ social que rapidamente se tornou num toque de boca, porque deve

Os bons beijos são longos fazem parar o tempo, o espaço e prendem-nos a uma realidade única de proximidade com o outro

saber muito melhor enrolar a boca no outro do que o nariz (será que isso explica o beijo à esquimó aka inuit?). Outros falam em instinto, na naturalidade do acto, como se estivéssemos programados para beijar. Toda a normalidade que é o amor e a intimidade passa por descobrirmos o beijo e de o explorarmos a nosso bel-prazer. Claro que o beijo é um bom cartão de visita para conhecermos o outro melhor. Se os olhos são a janela da alma, o beijo na boca é uma ponte para entrarmos num mundo partilhado pelos dois. Por mais ou menos romântico que o vosso primeiro beijo tenha sido, de certeza que se lembram dele com alguma clareza. A surpresa que será sentir o toque das línguas pela primeira vez, e gozar uma ligação etérea de prazer. Na esfera pública, os beijos têm uma visibilidade mais reduzida (daí a importância dos dias internacionais) e nem sempre foram bem aceites. Os beijos podem ser considerados perversos. Já foram proibidos em vários países e em várias épocas e até foram censurados nos tempos áureos do cinema. O beijo do ecrã não podia durar mais do que x tempo, não poderia envolver língua e não poderia ser dado na horizontal. Agora já assistimos de tudo, e cada vez mais o beijo na boca começa a ser bem recebido, até em público. Porque se na China era difícil identificar um casal de apaixonados, já vemos, ainda com alguma timidez, alguns sinais de carinho em público, ainda que a norma seja deixar os beijos (e a intimidade) em privado.

OPINIÃO


Se o dinheiro deixasse de ser o poder central da devolução humana, ai que ricas florestas! Atlântido

DIRIGENTE ANTI-CORRUPÇÃO ERA... CORRUPTO

O principal órgão anti-corrupção do Partido Comunista da China (PCC), responsável por uma campanha que já puniu mais de um milhão de funcionários chineses, informou ontem que está a investigar um dos seus altos quadros. Zhang Huawei, antigo inspector e com um cargo equivalente ao de vice-ministro, está a ser alvo de investigação por “graves violações da disciplina”, avançou a Comissão Nacional de Inspeção e Disciplina, utilizando a terminologia que descreve habitualmente os casos de corrupção. Os inspectores da Comissão são responsáveis por examinar as práticas das autoridades chinesas a todos os níveis, na procura de indícios de corrupção.

FILIPINAS ABU SAYYAF DECAPITA PESCADOR

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O grupo extremista filipino Abu Sayyaf decapitou um pescador que tinha sequestrado, informaram ontem fontes militares, pouco depois de a organização perder um dos líderes num conflito com exército. Noel Besconde, capitão de um barco de pesca filipino que tinha sido sequestrado em Dezembro no Mar de Celebes, foi decapitado na passada quinta-feira no sul do país por membros do grupo rebelde, disse o porta-voz do exército, Ray Tiongson. Os extremistas cortaram a cabeça da vítima e gravaram um vídeo a que as Forças Armas das Filipinas tiveram acesso. O Abu Sayyaf tinha pedido um resgate de três milhões de pesos (570 mil patacas) em troca da libertação, mas o montante não foi pago, de acordo com o exército. A nova execução acontece depois de o exército ter matado um dos líderes do grupo, Abu Rami, durante um confronto armado na ilha de Bohol, no centro do arquipélago filipino, considerado um duro golpe contra os extremistas.

Lusodescendentes GALO DO SIÃO EM BANGUECOQUE

Ser português assim...

N

O recém-aberto museu dos lusodescendentes de Banguecoque não há galos de Barcelos, mas sim um primo asiático: quem saúda os turistas no Baan Kudichin é o Galo do Sião. Este pequeno museu, instalado numa casa da família de Navinee Phongthai, abriu pela primeira vez no dia de Natal de 2015, mas voltou a fechar para obras e tem estado informalmente aberto desde Março de 2016, esperando-se uma inauguração oficial este ano, até porque, explica a proprietária, este é o ano chinês do Galo, também celebrado na Tailândia. O Baan Kudichin – ‘Baan’ significa casa e ‘Kudichin’ é nome do bairro – fica numa zona de Banguecoque onde ainda se concentram os descendentes dos portugueses que para ali se mudaram no século XVIII, vindos da antiga capital Ayutthaya, onde combateram ao lado do rei tailandês contra os birmaneses. A cidade caiu, mas os portugueses foram recompensados com um terreno onde está actualmente o bairro de Santa Cruz. O museu nasceu da vontade de Navinee Phongthai, cuja família vive em Santa Cruz há 240 anos, de exibir o espólio dos antepassados. O material que foi acumulando reflecte o modo de vida daquele bairro, intimamente ligado a uma herança portuguesa mas que vai além dela, com tradições particulares nascidas do cruzamento de muitas culturas (portuguesa, tailandesa, chinesa, vietnamita). Ao Baan Kudichin não é possível chegar de carro, já que os veículos só têm como se deslocar até uma das estradas que circundam o bairro, junto a uma escola ligada à igreja de Santa Cruz. A partir daí segue-se a pé e todos os caminhos vão dar à igreja, imponente, olhando o rio Chao Phraya. No largo há várias imagens católicas, um Cristo crucificado, Santa Teresa, São Paulo. Para lá da igreja, as ruas estreitam-se, ladeadas de pequenas casas de traçado tradicional tailandês, mas onde são frequentes os ornamentos católicos. O bairro é pacato, silencioso, repleto de plantas e flores, e os poucos residentes que circulam acenam e sorriem a quem passa.

Santa Cruz é uma das três áreas com presença portuguesa, mas nas outras duas pouco mais sobram que igrejas, a do Rosário e a da Conceição. Mas só ali há uma comunidade que se destaca pela comparência assídua nas missas de domingo. À entrada do museu chama a atenção o galo, branco sobre um fundo vermelho, mais curvilíneo que o português, com pestanas e um colar ao pescoço. “O galo de Barcelos é o símbolo dos portugueses. Nós aqui, como portugueses, decidimos criar uma imagem nova, é o galo do Sião”, explica à Lusa Navinee Phongthai, manifestando espanto ao descobrir que a missa da noite de Natal, onde o bairro acorre em peso, se chama, em Portugal, Missa do Galo. No piso térreo, o Baan Kudichin oferece um café ao ar livre e a loja de souvenirs, onde o galo do Sião está estampado em ímanes, malas, ‘t-shirts’ e outros objectos. A exposição começa no primeiro andar, com um cartaz, sob o título “Origem portuguesa do Sião”, com nove fotografias de homens. “Tento mostrar como os portugueses se transformaram em tailandeses. Este é o retrato do Vasco da Gama, que foi mudando até ser o meu tio. Não é giro?”, atira a dona do museu, apontando para o primeiro e para o último homem da sequência. Este piso oferece alguma informação histórica sobre a presença portuguesa na Tailândia, incluindo palavras ainda hoje usadas, como ‘salada’, ‘sala’, ‘padre’, ‘porto’, entre outras. Mas é no segundo andar que estão guardados os ‘tesouros’, material de cozinha, quarto e algum entretenimento. “Este era o quarto dos católicos, temos uma imagem de Nossa Senhora, de Jesus”, aponta Navinee Phongthai. Em cima da cama o ‘véu das três cul-

turas’, que pertencia à sua avó, uma espécie de xaile português usado para ir à missa, feito de seda chinesa e que se colocava ‘à moda tailandesa’. Ao lado fica o material de cozinha, com tudo o que era preciso para fazer o típico ‘Kanom Farang’, o bolo ‘estrangeiro’, inspirado na massa dos queques portugueses e considerado tradicional de Santa Cruz. “Fazíamos a receita portuguesa mas como não tínhamos leite nem manteiga, usávamos só leite de coco, açúcar e ovos”, explica, apontando para os utensílios da tia, que “fazia sobremesas muito bem”. Os doces são, aliás, a herança portuguesa mais disseminada na Tailândia, onde o ‘Foi Tong’, fios de ovos, foi elevado a sobremesa nacional. Mas não há só doçaria. Em cima de uma mesa taças com pratos envernizados mostram tradições gastronómicas bem conhecidas em Portugal, ainda que sofram algumas adaptações: torresmos, frango estufado, guisado de carne e cozido à portuguesa. O Baan Kudichin conta ainda com uma sala, no piso térreo, onde vai ficar uma árvore genealógica das 17 famílias do bairro. O espaço ainda está praticamente vazio, mas salta à vista uma enorme fotografia de grupo, a preto e branco, com os membros da comunidade em 1957, cada pessoa com um número colado. Em cima de uma mesa está um livro com uma página para cada número, com a intenção de que quem visite o espaço deixe ali informação sobre as pessoas, de modo a saber-se do seu paradeiro. “Somos 17 famílias, mas agora já todos mudaram para um nome tailandês, misturaram-se com outros, tornaram-se como eu”, diz sorridente a dona do museu, com feições asiáticas. Inês Santinhos Gonçalves Lusa

terça-feira 18.4.2017

MACAU RECUPERADOS 63 TERRENOS EM OITO ANOS

O Governo recuperou, ao longo dos últimos oito anos, 63 terrenos ilegalmente ocupados, com uma área global de cerca de 336 mil metros quadrados, o equivalente a mais de 30 campos de futebol, foi ontem divulgado. A mais recente parcela recuperada, com uma área de 2.900 metros quadrados, localizada na vila da Taipa, vai ser aproveitada para a construção do edifício do departamento policial das Ilhas, indicou a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transporte (DSSOPT) em comunicado. O terreno em causa tinha sido ocupado como depósito de contentores, materiais de construção e máquinas e vedado com tapumes e portão metálicos, segundo a DSSOPT. O Governo criou um grupo interdepartamental com a missão de combater a ocupação ilegal de terrenos, o qual deu início, em Março de 2009, às acções de despejo.

TURISMO QUASE UM MILHÃO NA PÁSCOA

Neste fim-de-semana alargado de Páscoa, entraram em Macau quase 814 mil pessoas. Os dados são relativos ao período entre sexta-feira e domingo. Especificamente no dia de ontem, atravessaram as fronteiras para o território, mais de 90 mil pessoas, no período entre a meia-noite e as 11 horas. Das entradas registadas ontem, cerca de 67 por cento dos visitantes eram oriundos da China Continental e a grande maioria usou a Posto Transfronteiriço das Portas do Cerco.


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