Hoje Macau 18 JUN 2015 #3354

Page 1

www.hojemacau.com.mo

Mop$10

Q U i n TA - f e i r a 1 8 d e j u n h o d e 2 0 1 5 • ANO X i v • N º 3 3 5 4

marta ferreira

Director carlos morais josé

exposição

“saudade” invade MGM eventos centrais

hojemacau hk sufrágio é hoje votado. macau atento

Destinos cruzados

A proposta de reforma política elaborada por Pequim que define um sufrágio universal condicionado vai hoje a votos no Conselho Legislativo de Hong Kong. Do lado de cá, o Executivo olha com atenção para o destino que está a ser traçado na antiga colónia britânica. Especialistas prevêem dias difíceis para a RAEHK caso a proposta venha a ser chumbada pelos Democratas. pub pub

Agência Comercial Pico 28721006

grande plano página 3

rendas

Lei pode chegar até Agosto Pereira Coutinho fala de pressões no chumbo ao seu projecto de lei sindical. Apesar disso promete apoio a Chan Meng Kam no diploma sobre as rendas que, segundo o deputado, poderá estar pronto em Agosto.

política Página

4

salário mínimo Macau como caso único no mundo sociedade Página

6

opinião

De sexo a sexo tânia dos santos Página 18


2

diário de bordo

‘‘

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

por carlos morais josé

Não sei. Falta-me um sentido

ontem macau

como Dédalo, não compreendem e como o Minotauro enclausurados o percorrem, a decifrar os segredos da matéria e dar conta das representações das volutas da mente, a que se convencionou chamar espírito. Como cumprir então a nossa “obrigação” de procurar um sentido para as acções em que ao longo da vida nos comprometemos, ou não fossemos esse difícil animal “capaz de fazer promessas”? Do desespero ao tédio, que emerge quase que como panaceia incons-

ciente e perversa, deliberamos pouco e seguimos muito as vias que à nossa frente se abrem como inevitabilidades. Somos assim não porque tenhamos decidido assim ser, mas porque assim resultou o que somos. O controlo é, em geral, uma ilusão. Mas isso é também parte da beleza da vida e do seu sublime. O inesperado, o segredo para lá da curva, o acidente, o evento inquieto, é ainda o que nos resta de verdadeira singularidade e que nos empurra um

Trabalhadores da indústria da pesca, nas Filipinas, carregam atuns no Porto de General Santos. As Filipinas são um dos maiores produtores mundiais de atum fresco e enlatado, sendo que a indústria da pesca conta em cerca de 4% do PIB do país. EPA/RITCHIE B. TONGO

“Atravessar do Galaxy até à vila velha da Taipa obriga à passagem de seis faixas de rodagem que não têm um único semáforo ao longo de cem metros desde o principal acesso da vila”

“Não sei. Falta-me um sentido...”, reza um verso de Álvaro de Campos, espelhando talvez a consciência da finitude, a fraqueza do animal abandonado ao dever de entender o universo e de o narrar como os contadores de histórias, nos largos das cidades, narravam as vidas impossíveis dos deuses e dos heróis. Existe, pois, essa distância entre o mundo e esses mesmos sujeitos destinados a falar dele, a ler nas estrelas o destino, a coleccionar bibliotecas, construir labirintos que eles mesmos,

édito pouco mais além da manada infeliz a que pertencemos. Não saber, faltar um sentido, é o primeiro passo para essa “abertura” ao mundo, para uma possibilidade de conquista, de abrasamento de um território, apenas pela virtude de um olhar. Eles chegam inesperados e terríveis, esses artistas de olhar de bronze. De outro modo seriam rechaçados, esmagar-se-iam de encontro às permanentes muralhas da razão coxa, da culpabilidade e do esquecimento.

horah

Mohammad Cohen • Editor do Inside Asian Gaming, sobre o espaço urbano do Cotai

“Há 16 terrenos que não preenchem os requisitos de caducidade. Se não preenchem os requisitos, confesso que não estou a ver porque é que temos de divulgar [detalhes]” Raimundo do Rosário • Secretário para as Obras Públicas e Transportes, sobre os terrenos que já não vão ser reavidos pelo Executivo

“Pelas falhas na regulamentação, [os promotores de jogo] estão em melhor posição para permitirem a lavagem de dinheiro” IUOE • Numa carta enviada a Pequim

www. hojemacau. com.mo

“A política do Governo de Macau [sobre o salário mínimo] pode ser descrita como um caso especial no mundo” Estudo de Ao Io Weng, doutorando da Faculdade de Administração Pública da Universidade Renmin da China, sobre a questão do ordenado mínimo no território | P. 6

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo

l i g u e - s e • pa r t i l h e • v i c i e - s e

hojeglobal w w w. h o j e m a c a u . c o m . m o facebook/hojemacau twitter/hojemacau


grande plano

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

A proposta de sufrágio universal em Hong Kong já está a ser debatida no Conselho Legislativo, estando prevista para amanhã a votação final. Em Macau, Eilo Yu, Agnes Lam e Larry So prevêem um futuro difícil para o território caso os democratas chumbem a proposta

Sufrágio Com o não, Hong Kong terá caminho árduo, dizem especialistas

A batalha mora ao lado

“Votar contra neste momento não é apenas votar contra uma proposta, é quebrar a ligação com o Governo Central. Ninguém vai ganhar com isso, nem mesmo os democratas ou Hong Kong” “Assim que Hong Kong começar a ter o seu modelo de sufrágio universal, vai ser mais fácil para as pessoas em Macau traçarem o seu caminho”

M

uitos protestos e paralisações depois, os 70 deputados do Conselho Legislativo (LegCo) de Hong Kong começaram ontem a discutir a proposta de reforma política feita por Pequim, que determina o sufrágio universal com uma pré-selecção dos candidatos a Chefe do Executivo por parte de uma comissão, tida como próxima de Pequim. O campo pró-democrata já anunciou que não vai votar a favor da proposta do Governo Central, mas em Macau os especialistas temem um futuro complicado para o território caso isso venha mesmo a acontecer. “Votar contra a proposta vai tornar mais difícil o caminho de Hong Kong em relação a um progresso. Compreendo que os democratas não estão satisfeitos com a proposta, mas votar contra neste momento não é apenas votar contra uma proposta, é quebrar a ligação com o Governo Central. Ninguém vai ganhar com isso, nem mesmo os democratas ou Hong Kong. A situação política de Hong Kong poderá ficar afectada e esse não é o movimento certo”, disse Agnes Lam, docente da Universidade de Macau (UM), ao HM. Eilo Yu, docente de ciência política na UM, fala sobretudo de dificuldades em lidar com o período pós-chumbo. “Os democratas não vão votar a favor da proposta de

Agnes Lam Docente da Universidade de Macau

reforma, penso que não vai ter apoio suficiente e provavelmente não vai ser aprovada. Será difícil para o Governo de Hong Kong e para o Governo Central lidarem com a situação e com o período após a proposta de reforma política, no caso dos deputados não a aprovarem. Hong Kong vai ficar numa posição difícil e isso pode durar até às próximas eleições. Mas a sociedade pode ficar exausta com este debate e as pessoas podem abrandar um pouco”, disse o académico ao HM, numa clara referência aos acontecimentos do “Occupy Central” e aos protestos que continuam a invadir as ruas de Hong Kong.

Larry So, politólogo e ex-docente do Instituto Politécnico de Macau (IPM), considera que “vai tudo ficar como está”, dado a ausência de apoio por parte dos democratas.

Macau sem interesse

Do lado de Macau, o Executivo está a prestar atenção ao que poderá acontecer no LegCo, mas isso não significa que esteja interessado em algo semelhante, defendeu Eilo Yu. “Não me parece que o Governo de Macau queira um pacote de reformas nos próximos um ou dois anos. Temos de ver o que acontece em Hong Kong e a sociedade

Democratas em Macau divididos Jason Chao, membro da direcção da Associação Novo Macau (ANM) e promotor do referendo civil, deslocase amanhã para Hong Kong para dar apoio ao movimento, tal como Sulu Sou, presidente da ANM. E revela que ambos estão contra as ideias de Ng Kuok Cheong e Au Kam San para o sufrágio universal de Macau. “Estamos preocupados com o facto

3

de Ng Kuok Cheong e Au Kam San apoiarem o falso sufrágio universal. Discordamos totalmente deles, porque consideramos que deveríamos ter um verdadeiro sufrágio universal. Mas os dois deputados estão agora a apoiar essa ideia e defendem que é melhor ter esse modelo de sufrágio universal do que não ter nenhum. Não deveríamos aceitar isso”, frisou ao HM. Divisões

políticas à parte, Jason Chao acredita que Macau pode mesmo vir a adoptar o modelo de Hong Kong, apesar de não o desejar. “O Governo não está de todo interessado em ter um falso sufrágio universal, estamos muito satisfeitos com a manutenção do status quo e o sistema que está implementado.” O HM tentou contactar o deputado Ng Kuok Cheong, sem sucesso.

pode não procurar uma reforma do sistema para eleger o Chefe do Executivo. Pelo contrário, nas legislativas vão aparecer cada vez mais pessoas que querem competir e que gostariam de ter uma reforma. Parece-me que Pequim não quer ter outra batalha em Macau, como teve em Hong Kong.” Tanto Agnes Lam como Larry So defendem que a Assembleia Legislativa (AL) facilmente votaria a favor de uma proposta de sufrágio universal semelhante, sem o tumulto social que acontece na região vizinha. “Assim que Hong Kong começar a ter o seu modelo de sufrágio universal, vai ser mais fácil para as pessoas em Macau traçarem o seu caminho. A não ser que o Governo Central tenha outros ideais. A maioria vai seguir a tendência, não penso que teremos a mesma situação num futuro próximo”, disse Agnes Lam. “Macau não teria qualquer problema em passar este tipo de proposta”, rematou Larry So. O debate arrancou ontem às 11 horas da manhã, sendo que 200 agentes da polícia entraram no

“Será difícil para o Governo de Hong Kong e para o Governo Central lidarem com a situação e com o período após a proposta de reforma política, no caso dos deputados não a aprovarem” “Não me parece que o Governo de Macau queira um pacote de reformas nos próximos um ou dois anos. Temos de ver o que acontece em Hong Kong” Eilo Yu Docente de ciência política na UM

LegCo, algo inédito desde a transferência de soberania. Cerca de sete mil polícias foram destacados para as ruas, depois do episódio da ameaça de bomba ter levado dez pessoas para a prisão. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


4

política

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

Coutinho fala em pressões na Lei Sindical. Rendas com diploma até Agosto

A abstenção não me afecta

Pereira Coutinho Deputado

Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM).

Outras influências

Sobre a abstenção de Chan Meng Kam e Song Pek Kei face à Lei Sindical – o parceiro dos dois, Si Ka Lon, votou favor – Pereira Coutinho revela que já estava à espera dessa votação. “Acho que Chan Meng Kam e a sua parceira tiveram pressões a nível político, dos empresários, para retroceder na votação. Esta é a única razão que posso justificar o facto de Si Ka Lon ter apoiado e os outros dois se terem abstido.” Recorde-se que o deputado José Pereira Coutinho retirou do hemiciclo o seu projecto de Lei do Arrendamento para apoiar o diploma apresentado por Chan Meng Kam,

com a promessa de apoio deste na Lei Sindical, o que acabou por não acontecer. O deputado não votou contra, mas o projecto de Pereira Coutinho chumbou por falta de votos a favor suficientes. Na declaração de voto, Chan Meng Kam e Song Pek Kei justificaram-se com a conjuntura actual. “Há que ter uma Lei Sindical para proteger o exercício dos

Segurança Secretário com novo espaço no site

Para fiscalizar melhor C hama-se “Alarme da Polícia Sempre Soa” e é a nova coluna no website do Gabinete do Secretário para a Segurança. Um dos objectivos é, diz o gabinete de Wong Sio Chak num comunicado, permitir à população acompanhar e fiscalizar “permanentemente” a eficiência do trabalho levado a cabo pela tutela da Segurança e perceber se esta está em “conformidade com as Linhas de Acção Governativa”. Com a nova coluna, o Secretário para a Segurança pretende ainda que existam mais mecanismos de fiscalização “internos e externos”, além de que, no espaço, vão ser colocadas notícias sobre a actividade policial. “[O objectivo é] elevar o grau de

“O que queremos é uma lei que controle as rendas. Não vamos complicar as coisas e politizar. O que estamos a fazer é para o bem dos cidadãos”

transparência, reforçar o trabalho de gestão disciplinar do pessoal, alcançar o objectivo de auto-fiscalização e obter a atenção [da população]”, pode ainda ler-se.

Mais perto do povo

Este é o segundo espaço dedicado especialmente à população em sites do Governo lançado recentemente, depois de Chui Sai On, Chefe do Executivo ter feito o mesmo. Para Wong Sio Chak, esta é uma hipótese de aproximação aos residentes. “Acreditamos profundamente que apenas com [esta coluna] se possibilitará ao pessoal em todos os níveis de hierarquia das autoridades de segurança [que] se mantenha sempre alertado e que as

Forças e Serviços de Segurança Pública e a sociedade, em comunhão de forças, se empenhem na reforma e optimização contínua de gestão

“[O objectivo é] elevar o grau de transparência, reforçar o trabalho de gestão disciplinar do pessoal, alcançar o objectivo de auto-fiscalização e obter a atenção [da população]”

direitos. Neste momento será que a actual conjuntura sócio-económica é a melhor para legislar sobre a matéria? Este projecto, comparando com 2014, não sofreu alterações e não concordamos com esta precipitação, tendo em conta o contexto social. Por isso abstivemo-nos. Apelamos ao Governo para iniciar de imediato os trabalhos.”

policial e na construção de uma equipa policial moderna caracterizada pela integridade e pela eficiência”, pode ler-se no comunicado. Na primeira mensagem, Wong Sio Chak diz que, uma vez que a conduta, ética e integridade do seu pessoal são pressupostos para a garantia da justiça e para a optimização de eficiência da execução da lei, “não serão toleradas a prática de quaisquer actos que violem a lei e a disciplina” e ainda que a tutela se congratula “com a ajuda da sociedade e dos serviços públicos, no sentido de fiscalizar a conduta ética”. Na mesma coluna serão divulgados eventuais caso de violação da lei por autoridades, as respostas face a esses casos e medidas de reorganização e saneamento internas, “por forma a facultar à sociedade a fiscalização da conduta ética do pessoal sob tutela da Segurança”. J.F.

Pereira Coutinho afirma estar “muito contente” pelo facto dos deputados exortarem o Governo a apresentar uma proposta de Lei Sindical. “Já é um avanço significativo, mas isto nada impede que para a próxima sessão legislativa eu volte à carga com a Lei Sindical”, disse. Si Ka Lon, número três de Chan Meng Kam, deu o seu apoio. “Há que implementar o quanto antes a lei, com vista a proteger os direitos dos trabalhadores. Da última vez votei numa posição diversa, e acho que o Governo deve avançar já com um projecto de lei, é uma irresponsabilidade do Governo. Por isso, votei a favor desta proposta.” Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

gcs

A

abstenção de Chan Meng Kam e Song Pek Kei em relação ao projecto de Lei Sindical de José Pereira Coutinho não vai fazer o deputado recuar na sua decisão de apoiar o projecto de Lei doArrendamento.Ao HM, Pereira Coutinho garantiu que a parceria política é para continuar, por estarem em causa “coisas distintas”. O deputado diz mesmo que a lei poderá ser votada na Assembleia Legislativa (AL) ainda antes deAgosto. “O que queremos é uma lei que controle as rendas. Não vamos complicar as coisas e politizar. O que estamos a fazer é para o bem dos cidadãos de Macau. Não é um diploma complexo e é nosso objectivo termos a lei cá fora já em Agosto”, referiu o deputado, também presidente da Associação dos

tiago alcântara

José Pereira Coutinho continua a apoiar o projecto de Lei do Arrendamento do deputado Chan Meng Kam, apesar da sua abstenção na Lei Sindical, e diz que tanto ele como Song Pek Kei “sofreram pressões” dos deputados empresários para não votarem a favor. O deputado acredita que a lei que controlará as rendas pode ser aprovada antes de Agosto

“Acho que Chan Meng Kam e a sua parceira tiveram pressões a nível político, dos empresários, para retroceder na votação”

Nomeados membros do Centro de Arbitragem de Administração Predial

O Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, nomeou Ieong Kam Wa para presidir o Conselho Arbitral do Centro de Arbitragem de Administração Predial. A nomeação foi tornada pública no início do mês em Boletim Oficial. O deputado Gabriel Tong será o jurista responsável do Conselho. Como representante da União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM) foi nomeado Chon Chong, enquanto Lei Chin Tou, o representante da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), Ao Ieong Kuong Kao, representante da Aliança do Povo de Instituição de Macau são também membros no Conselho. Da Associação de Administração de Propriedades de Macau foi nomeado Chui Ming Man e da Associação de Profissionais do Sector da Administração de Propriedades de Macau, Chau Kin Ping. As nomeações são feitas para um mandato de dois anos.


política 5

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

O

Comité das Nações Unidas (ONU) para a Eliminação da Discriminação da Mulher voltou a pedir ideias às organizações não-governamentais de Macau para que tracem o estado da legislação sobre a violência doméstica no território. Segundo confirmou ao HM Jason Chao, um dos membros da Coligação Anti-Violência Doméstica, o primeiro relatório será entregue até finais deste mês. “O Comité pediu indicações ao Governo sobre o progresso da Lei da Violência Doméstica e sabemos que está a ser discutida na Assembleia Legislativa (AL). A AL também não está a responder às recomendações feitas. Deveríamos agarrar esta oportunidade para voltar a submeter novos relatórios à ONU. Da parte da Associação Arco-Íris, vamos continuar a focarmo-nos na igualdade dos direitos dos indivíduos e pedimos que os casais do mesmo sexo sejam incluídos no diploma”, disse o também membro da Associação que defende os direitos LGBT. Depois deste relatório, deverá ser entregue à ONU “um outro mais detalhado sobre as implementações em Macau do tratado”, sendo que em Novembro Jason Chao irá deslocar-se a Genebra para uma reunião com representantes da ONU.

pub

Violência Doméstica ONU volta a pedir relatórios sobre Macau

A lei que não avança

Jason Chao, um dos membros da Coligação Anti-violência Doméstica, confirmou que o Comité das Nações Unidas voltou a pedir relatórios sobre o estado da legislação sobre o assunto. Até final do mês será entregue o primeiro de dois “Vou pessoalmente a Genebra, mas ainda não falámos sobre [que representantes de outras associações também irão]. É possível que mais representantes de Macau também participem no encontro, como Juliana Devoy (directora do Centro Bom Pastor)”, acrescentou ao HM Jason Chao.

Dados de Outibro

O último relatório preparado pela Coligação foi entregue à ONU em Outubro do ano passado. Nele retratava-se que uma em cada dez mulheres em Macau continuava a ser vítima de violência doméstica e temia-se o conteúdo de uma lei que ainda não tinha chegado ao hemiciclo.

“Estamos preocupados que a lei sofra de falhas fundamentais e não disponibilize protecção adequada”, podia ler-se. Em Novembro, as associações mostravam-se satisfeitas com a análise da ONU, que tinha tido em conta as suas recomendações. “Se olharmos para as recomendações do Comité penso que levaram em conta o nosso relatório. Fizemos uma descrição detalhada da actual legislação e, obviamente, o comité teve em consideração estas questões”, disse Melody Lu, membro da coligação, na altura, ao Jornal Tribuna de Macau. Ao mesmo jornal, Juliana Devoy disse tratarem-se de “boas notícias uma vez que o relatório é muito específico em assinalar algumas das questões que têm vindo a ser repetidas, como a punição dos agressores, porque anteriormente este não era o foco, mas antes a protecção da vítima”. Entretanto a proposta de lei já foi aprovada na generalidade, mas desde o início do ano que os deputados não reúnem para discutir a matéria. A última reunião serviu para falar com representantes da Coligação Anti-Violência Doméstica. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


6

sociedade

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

Salário Mínimo Para implementar é preciso mudar, diz estudo

Serviços de Estatística e Censos (DSEC) indicam que, em 2005, havia cerca de 42.500 pessoas que ganhavam menos de metade do rendimento mediano. Apesar do Governo, em 2008, ter colocado em prática o programa que atribui subsídios de forma temporária aos trabalhadores que ganhem menos de quatro mil patacas por mês, isto não foi suficiente para melhorar o cenário. Em 2009 ainda havia 46.200 que ganhavam menos de metade do rendimento médio da população trabalhadora como um todo. Devido aos dados, para o autor, “a pobreza do trabalho de Macau aumentou e as vozes da sociedade que querem definir o salário mínimo aumentaram igualmente”. Actualmente, com a mediana salarial mensal a 15 mil patacas, continuam a existir cerca de 41 mil pessoas que ganham menos do que este valor. E, mesmo com a implementação do salário mínimo, os trabalhadores da segurança e limpeza de edifícios vão receber por oito horas de trabalho diário, seis dias por semana, 6240 patacas mensais.

Macau único no mundo A forma como está a ser introduzido o salário mínimo em Macau é um caso único no mundo. Quem o diz é Ao Io Weng, académico e doutorando na Universidade Renmin da China, que estuda o tema no território. Para o autor, é preciso um reforço na consciência dos problemas sociais, investir na formação de empreendedores das políticas e aproveitar a abertura do Governo para se poder vir a ter um salário geral

“A

o contrário do que sucedeu noutros lugares, a proposta de salário mínimo do Governo de Macau tem aplicação limitada aos trabalhadores dos sectores da administração de condomínios, limpeza e segurança, em vez de ser aplicável a todos os sectores de actividade. Por esta razão, a política do Governo de Macau pode ser descrita como um caso especial no mundo”. Assim começa a análise levada a cabo por Ao Io Weng, doutorando da Faculdade de Administração Pública da Universidade Renmin da China, sobre a questão do ordenado mínimo no território. Num estudo publicado na última Revista da Administração, Weng contextualiza a análise com a proposta de lei do Governo sobre o salário mínimo e defende que é necessário apostar em diferentes frentes: maior consciência dos problemas sociais, formação de empreendedores, fortalecer o nível científico do reforço dos sistemas políticos e aproveitar a oportunidade-chave da abertura

Empreendedores políticos

política da parte da Administração. Abertura política que é justificada pelo académico pela aceitação do Governo em discutir com o Conselho de Concertação Social a implementação deste salário. Em parte, o académico defende que “actualmente Macau está num

“O salário mínimo não é apenas para melhorar o nível de vida dos trabalhadores e do poder de compra, mas também faz parte de uma sociedade justa e equitativa, sendo um elemento importante para garantir que os trabalhadores gozem de valores básicos e dignificantes”

período de rápido desenvolvimento e uma variedade de problemas sociais interligados estão a começar a vir à tona”. Assim, para se conseguir uma compreensão acertada dos problemas sociais é “preciso ter uma forte consciência do problema”. O Governo tem por isso, argumenta, que perceber qual a situação actual na sociedade relativamente ao salário mínimo e adicionar na sua agenda as “preocupações da sociedade”.

Da polémica

Ao Io Weng não esconde a “controvérsia” que o salário mínimo traz, mas será apenas através desta legislação que o Governo irá conseguir garantir que os trabalhadores recebam um salário base que lhes permita resolver os seus problemas. “O salário mínimo não é apenas para melhorar o nível de vida dos trabalhadores e do poder de compra, mas também faz parte de uma sociedade justa e equitativa, sendo um elemento importante para garantir que os trabalhadores gozem de valores básicos e dignificantes”, argumenta o académico, adiantando que o salário mínimo, do ponto de vista normativo, “é uma condição necessária de uma sociedade equitativa para que os cidadãos vivam com dignidade”.

Na análise, o autor argumenta que após a transferência de soberania, a liberalização do Jogo em 2002, especialmente, conduziu Macau a uma economia que tem visto um rápido desenvolvimento. Algo que não trouxe apenas coisas positivas. “A vida dos cidadãos em geral melhorou, enquanto o fosso entre os ricos e os pobres, obviamente se intensificou”, escreve, indicando que o salário mínimo servirá “para tentar resolver o problema da ‘pobreza do trabalho’”. Há mais de 12 anos que a implementação de um salário mínimo está a ser discutida, sendo que, finalmente, foi aprovada a lei que estipula um salário mínimo para porteiros e empregados de limpeza. Contudo, dados da Direcção dos

“A pobreza do trabalho de Macau aumentou e as vozes da sociedade que querem definir o salário mínimo aumentaram igualmente”

O nível científico do reforço dos sistemas políticas é um segundo ponto defendido pelo autor. Ao Io Weng acredita “a formulação de políticas não é apenas responsabilidade do Governo e os grupos sociais também têm a responsabilidade de propor regimes políticos”. Mas para isso é preciso que cada grupo “apresente um programa que precisa de ter alguma justificação científica”. Outro ponto defendido é a formação de empreendedores políticos. O académico acredita que o Governo deve “exercer plenamente o papel de empreendedor de políticas e reforçar a sua função de suavização do processo político”. No processo político, argumenta, os empresários políticos desempenham um papel muito importante, por terem fortes capacidades de comunicação e capacidade de persuadir, diminuindo assim a resistência dos grupos sociais e do público. “Embora a actividade de abrandamento seja uma tarefa longa e difícil no campo da educação, é indispensável para melhorar o processo político em Macau. Portanto, o Governo, na implementação dos objectivos da política de formação de talentos, deve considerar que a formação de empreendedores das políticas deve ser um dos pontos-chave. Por fim, e por considerar que há um “sinal de abertura política”, o académico considera ser necessário aproveitar esta fase do Governo. Uma abertura que poderá empurrar soluções políticas para a agenda da Administração, tornando possível “reduzir a resistência” na implementação de uma lei geral. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo


sociedade 7

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

Encontro Jovens macaenses a contribuir para “desenvolvimento” da RAEM

Embaixadores de Macau lá por fora Começou ontem o terceiro encontro de jovens macaenses, que tem como objectivo mais do que criar laços. Duarte Alves, da organização, diz que também estes jovens querem contribuir para um melhor desenvolvimento do território

D

uarteAlves, presidente da Associação dos Jovens Macaenses, acredita que a comunidade mais nova poderá ajudar ao desenvolvimento de Macau. Este é, pelo menos, um dos objectivos do terceiro encontro da comunidade juvenil macaense, que ontem começou. O presidente da Associação, que organiza o evento, explica ao HM que o encontro passa por permitir aos jovens de segunda e terceira gerações de macaenses, ou até os que nasceram lá fora, mas têm raízes aqui, que conheçam o território e criem laços, mas não só.

“É mais uma oportunidade que temos para trabalhar par o bem da comunidade, em conjunto. Conhecermo-nos melhor uns aos outros, termos oportunidades também para discutir vários assuntos sobre a sociedade em Macau e como podemos conseguir dar o nossa contributo para o desenvolvimento da RAEM, na qual a comunidade jovem está também inserida”, aponta Duarte Alves.

Governo apoia

Na preparação do programa, a Associação de Jovens Macaenses teve encontros oficiais com o Governo:

Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alex Vong, presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, e Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, foram alguns dos representantes que se sentaram à mesa com Duarte Alves. “Sempre tivemos constante apoio do Governo na organização

do encontro e de outras actividades.” Com 41 participantes de 12 casas espalhadas pela diáspora, o encontro quer abrir portas à “criação de laços que possam durar largos e largos anos”, de forma a que os jovens macaenses que acabam por regressar aos seus países de origem mostrem mais de Macau além do que é conhecido lá fora.

Com 41 participantes de 12 casas espalhadas pela diáspora, o encontro quer abrir portas à “criação de laços que possam durar largos e largos anos” “Quando voltarem aos países onde moram, vão ser os embaixadores de Macau e vão mostrar o que Macau é, o que Macau tem”, explica Duarte Alves, que acrescenta ainda que também poderá haver um contributo económico. “São jovens empresários de diversas áreas e vêm para cá também para verem o que podem fazer para manter a ligação, não só na amizade mas também na área económica.” O presidente da Associação explica ainda que os encontros e trabalhos a ele subjacentes são para continuar, até porque “a contribuição para o desenvolvimento da RAEM não implica que estes jovens estejam sempre em Macau”. Joana Freitas (com Andreia Sofia Silva) joana.freitas@hojemacau.com.mo

pub

AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO PREDIAL URBANA 1. 2.

A única prestação da Contribuição Predial Urbana referente ao exercício de 2014, é cobrada nos meses de Junho, Julho e Agosto do ano corrente. No mês de pagamento, se os Srs. contribuintes não tiverem recebido o conhecimento de cobrança, agradece-se que dirijam ao NÚCLEO DE INFORMAÇÕES FISCAIS, situado no r/c do Edifício “Finanças”, ao Centro de Atendimento Taipa ou ao Centro de Serviços da RAEM, trazendo consigo o conhecimento de cobrança ou fotocópia do ano anterior, para efeitos de emissão de 2.ª via do mesmo. Por outro lado, os contribuintes, que sejam titulares do Bilhete de Identidade de Residente da RAEM, podem recorrer aos quiosques desta Direcção de Serviços para efectuarem a impressão de 2.ª via do conhecimento de cobrança pessoal. 3. O pagamento pode ser efectuado, até ao último dia do mês indicado no conhecimento de cobrança (Junho, Julho e Agosto), nos seguintes locais: - Nas Recebedorias do Edifício “Finanças”, do Centro de Atendimento Taipa, do Centro de Serviços da RAEM ou do Edifício Long Cheng; - Os impostos/contribuições poderão ser pagos por intermédio de cartão de crédito ou de débito emitidos pelo Banco da China ou pelo Banco Nacional Ultramarino (incluindo “Maestro” e “UnionPay”). O valor total de pagamento não pode ser superior a MOP$100.000,00 (cem mil patacas), sendo apenas permitido utilizar na operação um único cartão. Pode-se também optar pelo pagamento através do cartão “Quick Pass”, sendo que o valor total de pagamento não pode ser superior a MOP$1.000,00 (mil patacas). - Nos balcões dos Bancos a seguir discriminados: Banco da China Banco Comercial de Macau Banco Delta Ásia Banco Industrial e Comercial da China Banco Luso Internacional Banco Nacional Ultramarino Banco Tai Fung Banco OCBC Weng Hang - Nas máquinas ATM da rede Jetco de Macau, assinaladas com a indicação <<Jet payment>>; - Por pagamento electrónico (“banca-on-line”) : Banco da China Banco Nacional Ultramarino Banco Tai Fung Banco OCBC Weng Hang - Por pagamento telefónico “banca por telefone” : Banca da China Banco Tai Fung 4. Se o pagamento for efectuado por meio de cheque, a data de emissão não poderá ser anterior, em mais de três dias, à da sua entrega nas Recebedorias da DSF, e deve ser emitido a favor da <<Direcção dos Serviços de Finanças>>, nos termos das alíneas 2) e 3) do n.º 1 do Artigo 4.º do Regulamento Administrativo n.º 22/2008. Se o valor do cheque for igual ou superior a MOP$ 50.000,00, deverá o mesmo ser visado, nos termos da alínea 4) do Artigo 5.º do Regulamento Administrativo acima mencionado. 5. Os contribuintes podem também efectuar o pagamento através do envio de ordem de caixa, cheque bancário ou cheque por correio registado para a Caixa Postal 3030. Não é possível enviar dinheiro, mas apenas ordem de caixa, cheque bancário ou cheque, devendo incluir-se um envelope devidamente selado e endereçado ao próprio contribuinte, a fim de se enviar posteriormente o respectivo conhecimento, comprovativo do pagamento. Note-se que devem ser respeitadas as regras descritas no ponto 4, relativamente aos cheques: - O envio para a caixa postal deve ser feito 5 dias úteis antes do termo do prazo de pagamento indicado no conhecimento de cobrança. 6. Nenhum dos métodos acima mencionados acarreta quaisquer encargos adicionais aos contribuintes pela prestação do serviço de cobrança. 7. Para a sua comodidade, evite pagar os impostos nos últimos dias do prazo.

Aos 5 de Junho de 2015. A Directora dos Serviços Vitória da Conceição

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 18/P/15 Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 1 de Junho de 2015, se encontra aberto o Concurso Público para <<Fornecimento de Produtos de Limpeza Específicos para Máquinas Industriais de Lavar a Roupa para a Secção de Tratamento de Roupas e de Limpeza dos Serviços de Saúde>>, cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 17 de Junho de 2015, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, 1.º andar, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP 48,00 (quarenta e oito patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo).

As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 7 de Julho de 2015. O acto público deste concurso terá lugar no dia 8 de Julho de 2015, pelas 10,00 horas, na sala do <<Museu>> situada junto ao C.H.C.S.J. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP 18.300,00 (dezoito mil e trezentas patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 11 de Junho de 2015 O Director dos Serviços Lei Chin Ion

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 22/P/15 Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 1 de Junho de 2015, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento e Instalação de Dois (2) Sistemas de Anestesia com Respectivos Monitores aos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 17 de Junho de 2015, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, 1.o andar, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP43,00 (quarenta e três patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo). As propostas serão entregues na Secção de Expediente

Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 13 de Julho de 2015. O acto público deste concurso terá lugar no dia 14 de Julho de 2015, pelas 10,00 horas, na sala do «Museu» situada junto ao C.H.C.S.J. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP33.600,00 (trinta e três mil e seiscentas patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 11 de Junho de 2015 O Director dos Serviços Lei Chin Ion


8 sociedade

P

ansy Ho, filha do magnata Stanley Ho e co-presidente da MGM China, disse ontem aos jornalistas que o plano do Governo em avançar com a proibição total do fumo nos casinos está a gerar uma onda de receios em todo o sector do Jogo. “Se essa questão me preocupa? Preocupa-nos a nós, a todas as seis operadoras”, disse, à margem da apresentação de mais uma edição do Fórum do Turismo Global, que decorre em Outubro (ver caixa). Pansy Ho não quis, contudo, fazer mais comentários sobre um estudo divulgado pelas seis operadoras de Jogo esta terça-feira, que mostra que 66% dos 34 mil trabalhadores da indústria inquiridos apoiam a manutenção das salas de fumo, enquanto que 47%

Tabaco Pansy Ho diz que proibição nos casinos gera receios

Os dados estão lançados hoje macau

A co-presidente da MGM China diz que a intenção do Governo de proibir na totalidade o fumo nos casinos “preocupa” todas as seis operadoras, não tendo, contudo, comentado os resultados de um inquérito ontem divulgado

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

dos jogadores das salas VIP defendem que a proibição total terá um “impacto negativo” na economia local e no emprego. “Os dados do inquérito estão publicados e são o que são, apenas partilhámos a informação do inquérito. Caso haja mais questões devem ser colocadas aos departamentos de relações públicas das seis concessionárias”, apontou a empresária.

Sem comentários

Questionada sobre o anúncio de venda de 16% das acções da MGM International Resorts por Kirk

Kerkorian, Pansy Ho considerou não ser a altura ideal para fazer projecções sobre a possível compra dessas acções. “Penso que esta não é a melhor altura para fazer comentários. Essa informação acaba de ser avançada e é difícil comentar algum tipo de interesse. Pessoalmente não penso que isso

“Se essa questão me preocupa? Preocupanos a nós, a todas as seis operadoras”

vá trazer algum efeito na MGM International Resorts”, referiu. As acções, avaliadas em 1,75 mil milhões de dólares norte-americanos, pertencem à Tracinda Corporation Holding desde 2009, data em que Kirk Kerkorian, fundador do MGM Grand Hotel, em Las Vegas, decidiu reduzir a sua presença na empresa em 37% de uma participação accionista de 54%. Foi aí que nomeou a empresa Tracinda e a Fundação Lincy, das filhas Tracy e Linda. Kirk Kerkorian faleceu esta semana aos 98 anos de idade. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Actividades de poupança energética já este Verão

P Galaxy Expectativas eram muito altas

O presidente da Galaxy Entertainment Group, Lui Che-Woo, disse que o volume de negócios na nova fase da operadora em Macau não conseguiu atingir as suas expectativas. De acordo com a revista Macau Business, que cita a Bloomberg, Lui disse aos jornalistas depois da reunião annual que os negócios “satisfaziam, mas não tanto quanto esperado”. Lui acredita, contudo, que estes vão melhorar em dois meses.

oupar é a palavra chave para o Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético (GDSE), que este ano, aliando-se à Companhia de Electricidade de Macau (CEM) e à União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM), organiza a “Acção de Conservação de 5% de Energia”. A actividade decorre durante a semana da Conservação Energética, entre 14 e 20 de Junho. O que se pretende, explicou a representante do GDSE, Lio In Kuan, numa conferência de imprensa, é que durante os meses de maior

consumo de energia, entre Julho e Setembro, as famílias de Macau estejam sensíveis para o tema e consumam menos. Subordinada ao tema “Com todas as famílias juntas a agir, não vai ser difícil conservar 5% de energia”, as famílias ao participar nesta actividade estarão sujeitas a ganhar um prémio, decidido por sorteio. “Todos os utentes participantes nas acções, que pouparem 5% ou mais no consumo de energia eléctrica, de Julho a Setembro de 2015, do que no mesmo período do ano passado estarão habilitados a participar automaticamente

no sorteio”, pode ler-se numa nota à imprensa. Para participar os residentes terão que se inscrever até 31 de Agosto. O consumo de electricidade é calculado com base nas facturas de Julho a Setembro prevalecendo o mês de cobrança constante das facturas. Os participantes não precisam de fazer o cálculo, já que o sistema informático da CEM os processa automaticamente. Os participantes que conseguirem poupar 5% de energia estarão automaticamente habilitados a participar no sorteio, que acontecerá a 16 de Novembro.

Fór um de Turismo vai convidar Portugal e Espanha A quarta edição do Fórum de Turismo Global irá decorrer entre os dias 12 e 14 de Outubro e o programa foi ontem apresentado não só por Pansy Ho, secretária-geral do evento, mas também por Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, e Isaac Lai, chefe do gabinete de Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Pansy Ho garantiu que vão ser endereçados convites aos Ministros do Turismo de Portugal e Espanha para estarem presentes no Fórum, cuja edição de 2015 pretende apostar na estratégia de “Uma Faixa, Uma Rota”, bem como lembrar os dez anos de adesão do património de Macau à UNESCO. Novidade é a presença do Peru, México, Colômbia e Chile, sendo a primeira vez que a América Latina se faz representar no evento. Pansy Ho referiu que estes países não só estão atentos aos serviços oferecidos por Macau como na possibilidade de poderem entrar no mercado chinês. “Estamos numa zona com cem milhões de pessoas e esses países dão muita importância a Macau pela entrada no Delta do Rio das Pérolas. No passado, Macau não era mais do que jogo mas hoje já não é assim, é cada vez mais um destino turístico de entretenimento”, referiu. Em Outubro será ainda apresentado o relatório das novas tendências do turismo global.


sociedade 9

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

O

FIC Atribuídos cem milhões a projectos

Fundo das Indústrias Culturais (FIC) divulgou ontem que despendeu metade do valor inicialmente previsto para o efeito de financiamento de empresas e projectos locais. No total, foram cem milhões de patacas entregues para os 73 projectos financiados. Entre as empresas seleccionadas para receber o fundo, que pode ir até aos nove milhões de patacas, está a empresa de um dos familiares do vogal do FIC, que acabou por ser afastado pelo Governo. Leong Heng Teng recusou-se a identificar o nome da empresa, referindo apenas que a selecção dos candidatos foi efectuada antes de toda a investigação do Executivo e do Comissariado Contra a Corrupção ter lugar, pelo que não foi necessário reavaliar o projecto. “Esses projectos foram aprovados ainda antes da ocorrência do caso de Chao (...) Cumprimos as regras e os requisitos legais, percorrendo o procedimento estabelecido para avaliar e aprovar”, disse Leong aos média, na sessão de apresentação das empresas, ontem. O caso, recorde-se, diz respeito a Chao Son U, cujo afastamento pelo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura se deveu a “implementar mais rigor e transparência” do FIC. Alegadamente, segundo funcionários do fundo, o vogal terá tentado fazer pressão para que o projecto do familiar fosse aprovado.

Lista tardou, mas chegou O Fundo das Indústrias Culturais divulgou, finalmente, os montantes e nomes de 50 dos 73 projectos qualificados a receber apoio. No total, foram gastos cem milhões de patacas para design de produto, espectáculos e marcas. Entre as entidades, está a empresa do familiar afastado do FIC

Desistir do prémio no pódio

Dos candidatos, 13 empresas concorrentes acabaram por desistir do financiamento depois de já se encontrarem na lista de aprovados. O presidente do FIC justifica as desistências com duas razões: “eles desistiram porque acham o valor concedido muito baixo e consideram que foi atribuído tardiamente”, nomeadamente para projectos em datas específicas, como são concertos. Algumas das empresas, assegura Leong, iriam receber mais de um milhão de patacas, mas consideraram o valor baixo. Houve ainda três reclamações, todas elas relacionadas com o atraso na decisão e atribuição do financiamento e requisitos alegadamente demasiado exigentes para cumprir.

Leong Heng Teng deixou ainda claro que o FIC serve de “complemento ao investimento já feito pelas empresas”, não pretendendo ser um orçamento para a totalidade de um projecto. Contudo, o FIC exige que os projectos apresentados sejam cumpridos como descritos, mesmo com menos dinheiro, pelo que foi acusado

Entre as empresas seleccionadas (...) está a de um dos familiares do vogal do FIC, que acabou por ser afastado pelo Governo

de estar a exigir projectos que as empresas não conseguiam cumprir com o dinheiro que lhes foi atribuído. Através de um comunicado, o FIC explica que se trata de “garantir a aplicação lógica e eficiente” dos recursos públicos. “O FIC exige que a empresa beneficiária seja obrigada a exe-

Hospital SS garantem que profissionais não trabalham horas extra

O

s Serviços de Saúde (SS) garantem que os profissionais do hospital público não estão a trabalhar demasiadas horas, depois de terem sido “difundidas algumas reclamações de que o Centro Hospitalar Conde de São Januário não considerou a situação de falta de recursos humanos” quando decidiu implementar a medida de prolongamento do horário de funcionamento das consultas externas em alguns serviços de especialidade. Num comunicado, os SS garantem que avaliaram as diversas necessidades de

recursos humanos no hospital e que as áreas abrangidas por esta medida “concordaram” com a ideia. Os SS negam que estas medidas tenham provocado “horários de trabalho pesados e impactos sobre o desempenho profissional e a saúde física e mental dos profissionais”. Recorde-se que o hospital público implementou a 1 de Junho, a título experimental, a nova medida para que possa ser reduzido o tempo de espera de marcação das consultas externas e para treinar os novos profissionais de saúde

que farão parte do novo hospital na Taipa. “Refira-se que, apesar da aplicação de horas de funcionamento flexíveis, as horas de trabalho dos profissionais de saúde destas especialidades não sofrerão nenhuma alteração. Ou seja, não há aumento das horas de trabalho efectuado. Aliás esta medida pretende evitar excesso de pressão física e mental sobre os profissionais de saúde devido ao horário extraordinário”, dizem os SS. A medida será implementada por um período de três meses.

cutar o respectivo projecto na dimensão descrita nas informações apresentadas. Parte das empresas que acham que as verbas de apoio financeiro concedidas são bem diferentes do que as solicitadas, e, pensam em desistir a recepção do apoio financeiro por não terem angariado fundos suficiente para desenvolverem os projectos”, escreve ainda.

Espaços para fazer e vender

A atribuição foi feita a dois tipos de projectos, sendo eles plataformas de serviços e projectos comerciais comuns. No que toca às plataformas, estas deverão servir para “reduzir os custos de funcionamento”, preparando-se para oferecer cerca de 110 espaços como armazéns, estúdios ou lojas. “Irão fornecer 110 espaços de trabalho a longo prazo, por preços relativamente baixos e arrendamento de espaços a curto prazo para vendas e exposições” e outras actividades, explicou o responsável do FIC. A selecção deu primazia às empresas com bastante experiência, em média, de cinco anos. Entre os projectos escolhidos estão vários que tencionam expandir-se além-fronteiras, tendo pedido apoio para exposições e bolsas de contacto no estrangeiro. Outras debruçaram-se sobre o comércio electrónico e formas de vender os seus produtos online. Há ainda lojas tradicionais “de memória colectiva da população” que pretende transformar-se para condizer com os tempos. A marca Cocoberryeight, de Bárbara Barreto Ian encontra-se entre os qualificados, tendo sido atribuídas 164.500 mil patacas para a criação de um centro de moda em Macau. Oito das 50 empresas já reveladas vão receber, cada uma, mais de cinco milhões de patacas e concentram-se em projectos de design, vestuário e moda, desenvolvimento de marcas e fornecimento de serviços comerciais e plataformas empresariais. No total, apenas quatro destas vão receber um empréstimos sem juros, ficando as restantes com pagamento de projectos, que deverá ser dinheiro a fundo perdido. Leonor Sá Machado

leonor.machado@hojemacau.com.mo

EPM Prisioneiros com gripe

Quinze prisioneiros do Estabelecimento Prisional de Macau foram submetidos a tratamento médico após terem manifestado sintomas gripais. De acordo com um comunicado dos Serviços de Saúde (SS), os 15 homens tinham entre 28 e 47 anos e ficaram internados num andar da prisão. Os sintomas de gripe começaram a ser detectados no passado dia 15 de Junho após registo de vários sintomas relacionados com infecção respiratória, acompanhados de febre, tosse e dores de garganta. Os prisioneiros foram submetidos a tratamento pelo médico da prisão, que considerou o estado destes 15 prisioneiros como “ligeiro”. Não houve registo de casos com complicações graves. De acordo com a nota, o EPM procedeu à recolha das amostras do tracto respiratório dos doentes para análise laboratorial e os prisioneiros afectados foram submetidos a isolamento.


eventos

hoje macau quinta

antónio mil-homens

José Drummond

10

Exposição “Saudade” inaugurou ontem com organização da AFA e do MGM

Um sentimento só nosso

“S

audade” é o nome da exposição que inaugurou ontem no MGM, com a particularidade de ser uma das primeiras mostras colectivas de expressão totalmente portuguesa. O intuito, explicou o curador José Drummond, é tentar transmitir o significado deste sentimento para cada um dos 12 artistas convidados. Nela participam os fotógrafos Carmo Correia e António Mil-homens, o pintor Victor Marreiros, a artista plástica Sofia Arez, Adalberto Tenreiro, Rui Calçada Bastos, Marta Ferreira e a dupla fundadora do Lines Lab, Clara Brito e Manuel Correia da Silva. Ao HM, Drummond explicou que a ideia passa por transmitir o amor e sentimento

de pertença com que os portugueses que por aqui passam, ficam. Quase como uma espécie de dicotomia saudosista que se sente por Macau quando se está em Portugal e vice-versa. “O tema da saudade surgiu porque os portugueses que cá estão há muito tempo têm saudades de Portugal e o contrário também acontece, não esquecendo que é também o mais português dos sentimentos, difícil de explicar, mesmo na Língua Portuguesa”, começou por dizer ao HM o curador da mostra.

presença portuguesa no Oriente. Fazem parte de “Saudade” dez fotografias da sua mais recente mostra individual, que teve lugar na Casa Garden. Para Carmo Correia, a aceitação do convite passa

Uma dúzia em um

São 12 os artistas que se unem sob o tema da saudade, sentimento único que vai além do que é “sentir falta de uma pessoa ou de alguma coisa”, diz Drummond. No MGM

À venda na Livraria Portuguesa Passageiro do Fim do Dia • Rubens Figueiredo

estarão expostas mais de 40 obras, algumas delas já parte de exposições ou obras lançadas. É o caso das fotografias seleccionadas de Carmo Correia, que estão também presentes na sua mais recente obra sobre a rui rasquinho

Com o artista José Drummond na linha da frente, o MGM inaugurou ontem a primeira mostra totalmente portuguesa, sob o tema do sentimento mais luso do mundo: a saudade. Esta é a primeira vez que uma operadora de Jogo investe numa exibição colectiva de expressão totalmente portuguesa

Prémio PT Literatura; 
Prémio São Paulo de Literatura Cansado depois da semana de trabalho, oprimido pelo calor, distraído com o que se passa à sua volta e com a leitura, Pedro inicia uma viagem pessoal. Tudo o que vê e pensa cristaliza-se num novo conhecimento. Como na cena em que Darwin descreve a captura de uma aranha por uma vespa: «uma caçada tão sistemática quanto a de um cão que persegue uma raposa». «Passageiro do Fim do Dia» é um romance necessário que nos obriga a lembrar o que esquecemos.

não só pela identificação com o tema, mas também pela diferenciação de público, comparando com aquele que visitou a mostra anterior. “Normalmente não gosto de repetir um trabalho dentro de Macau, mas esta foi uma excepção, porque o público-alvo do MGM não é, de forma alguma, aquele que tinha na Casa Garden, porque são dois espaços completamente diferentes”, avança a fotógrafa. Outro dos artistas convidados é António Mil-Homens, também fotógrafo de profissão. As suas peças do MGM têm, no entanto, uma particularidade: trata-se de uma sobreposição de planos de imagem que tentam reflectir o passado e presente, expor a dicotomia entre a memória

Rua de S. Domingos 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • mail@livrariaportuguesa.net

Break it Down – Demolição • Lydia Davis

Ex-mulher de Paul Auster, Lydia Davis escreve muitas das 34 crónicas que compõe este livro a seguir ao divórcio. Feminista convicta, arrasa o género masculino, mas o ódio destilado em alguns dos textos parece dirigir-se implicitamente ao ex-marido. As crónicas são poderosas, fazendo jus ao estilo inconfundível de Davis: mensagens veladas, acutilantes, breves e surpreendentes. Esta é mais uma obra talhada para se tornar um ícone do feminismo.


eventos 11

carmo correia

a-feira 18.6.2015

continue e seja só a primeira de muitas”, acrescentou.

Saudade é quando um artista quiser

Aqui, a saudade assume diferentes formas, inspirações, histórias, passados e memórias para cada um dos autores, apresentando uma série de trabalhos variada, mas que se une através de um mesmo tema. É o “objecto” que mais importa, mas são vários os meios artísticos empregues, nomeadamente instalações, pintura, fotografia e trabalhos de outra natureza, que Sofia Arez

e o distanciamento. “O meu tema pessoal é a Metamorfosis e tem três trabalhos que têm que ver com transformações – concretamente de três pontos da cidade – que também são saudade do antigo Macau”, começa por explicar. Uma das imagens problematiza o desaparecimento de uma conhecida barbearia do território, aliada à eternização do presente. “São duas fotografias impressas separadamente em tela para dar o efeito tridimensional do antes e depois, onde apliquei uma distorção para dar o aspecto de queda”, continuou Mil-Homens. Se Victor Marreiros opta pela apresentação de pinturas que reflectem figuras e sentimentos humanos, a artista plástica Sofia Arez preferiu concentrar-se em fenómenos mais naturais, através de uma espécie de ensaio de luz. “[Os meus trabalhos] são fragmentos de copas de árvores vistos de baixo ao longo do dia, desde o amanhecer até ao anoitecer”, esclarece. Trata-se, no fundo, de um trabalho que discursa sobre a luz e a passagem do tempo. “Captado o momento, fica ali eternizado”, continua. Saudade é, para a artista, a palavra que “nos une a todos”, sejam artistas ou simplesmente portugueses que estão num país estrangeiro que, ainda que tenha um pedaço da terra de Camões, não o é verdadeiramente. “É uma aposta [do MGM] na arte que espero que

estão, directa ou indirectamente relacionados com o verter da saudade na arte. O próprio curador tem também quatro fotografias em exposição. Todas elas são de grande dimensão e tentam espelhar um pouco mais do que apenas a saudade. “O meu trabalho tem uma ligação muito forte com temas bastante existenciais, como a solidão, o amor, o sonho e, em virtude disso, também a memória”, conta. Para “Saudade” especificamente, o artista vai apresentar trabalhos que mostram a “tensão do que é visível e invisível, do que é e não é perceptível e de reportar um lado de sonho e de memórias que se começam a desvanecer”.

Do público ao apoio das artes

Também Drummond diz rever-se “completamente” na questão da saudade dicotómica que existe em quem vive entre dois mundos: Portugal dos portugueses e Portugal de Macau. A exposição, frisa, não se destina apenas à comunidade portuguesa, mas sim a todo o público em geral, pretendendo-se com ela dar a conhecer um pouco de Portugal em Macau. Para Carmo Correia, a iniciativa é “bastante interessante e bem escolhida para Macau”, não esquecendo que “se adapta perfeitamente” aos trabalhos da fotógrafa. “Quem deixa Macau ou por cá passa fica sempre com saudade”, confessa ao HM. Já António Mil-Homens concorda com Carmo Correia e mostra-se satisfeito com a

iniciativa do MGM, deixando a sugestão de que os seus pares sigam as pegadas da operadora. “Acho que isto tem que ver

pub

com a predisposição do MGM em apoiar a arte, algo que me agrada sobremaneira”, diz. A mostra tem entrada gratuita e

estará em exibição até 30 de Setembro. Leonor Sá Machado

leonor.machado@hojemacau.com.mo


12

N

procissão

aprovavelmente primeira igreja de Macau, baptizada com o nome de um dos Santos mais amado dos portugueses, realiza-se todos os anos a procissão de S. António e ocorre no Domingo seguinte ao dia 13 de Junho. Assim foi de novo este ano e no último dos treze dias, a trezena em honra de S. António, foi celebrada a missa presidida pelo Bispo de Macau, que lotou a Igreja Paroquial de Santo António. Finda a cerimónia religiosa, ao som do repicar dos sinos, saiu a procissão para num pequeno giro pela praça de Luís de Camões. Seguindo à frente o estandarte, vinha logo atrás um grupo de jovens da Escola do Santíssimo Rosário e um pequeno grupo de crianças espalhando pelo caminho pétalas de rosa sobre as quais passou o andor com a imagem do santo, sendo acompanhado por centenas de católicos da comunidade de Macau. Com especial veneração ao Santo António de Lisboa e à sua igreja em Macau, a comunidade católica continua a nutrir uma intensa fé e estima ao seu Santo, perpetuando o amor que no passado lhe votaram os antigos marinheiros, soldados e população em geral. Para não repetir o que escrevemos neste jornal a 13 de Junho de 2014, no artigo com o título “O Soldo de Santo António” deixamos agora aqui um breve resumo da sua vida, assim como uma descrição da procissão realizada em 1905 e outros documentos que entretanto nos chegaram às mãos sobre a festa do grande Taumaturgo Santo António. Santo António tinha o nome de Fernando de Bulhão e nasceu em Lisboa provavelmente no dia 15 de Agosto de 1195. Entrou aos 15 anos para um Convento e em Julho de 1220 obteve autorização para ser admitido no convento franciscano, onde tomou o nome de António, assistindo no ano seguinte ao capítulo geral da Ordem Franciscana, onde conheceu S. Francisco de Assis. Perante o exemplo de humildade e votos de pobreza do fundador da Ordem, o frade António resolveu levar uma vida de eremita e assim, passou nove anos no eremitério do Monte Paulo, junto a Forli. “Quem visse António, humilde português, modesto e tímido, lavando a louça do convento de Monte Paulo, jamais pensaria que aquele frade <de pouco préstimo, de aparência idiota ou de quem se não podiam esperar grandes coisas> (Legenda Prima, fonte principal da biografia antoniana), viria a ser um dos mais famosos santos da igreja” como refere Leopoldo Danilo Barreiros. Certo dia, descendo a Forli, o Ministro Provincial obrigou-o a subir ao púlpito para fazer a pregação à assembleia de religiosos. Com tamanha eloquência a realizou, que a comunidade pediu ao superior para destinar o frade António à pregação e ao ensino. Assim come-

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

Santo António em Macau

çou o seu magistério em Bolonha, Montpellier e Pádua, onde em 1226 escreveu muitos sermões e outras obras, sendo louvado pelo Papa pelo seu conhecimento da Bíblia. No Verão de 1231 retirou-se para

o Convento de Camposampiere e numa floresta próxima passou dias e noites em oração, descendo apenas para a ceia. A 13 de Junho de 1231 sentindo que chegara a sua hora, confessou-se e cantou o seu hino

Com especial veneração ao Santo António de Lisboa e à sua igreja em Macau, a comunidade católica continua a nutrir uma intensa fé e estima ao seu Santo

predilecto a Nossa Senhora, “O gloriosa Domina”, falecendo nesse mesmo dia em Pádua com 36 anos de idade. A 31 de Maio de 1232 foi pelo Papa Gregório canonizado como Santo António de Lisboa e elevado às honras dos altares.

De soldado a capitão

Segundo nos diz o Padre Manuel Teixeira, S. António foi alistado em Macau como soldado em 1623, vindo de Goa incorporado com mais cem soldados portugueses

no primeiro presídio militar que acompanhou o primeiro governador, D. Francisco Mascarenhas. No entanto, como refere Leopoldo Danilo Barreiros, no exército em Portugal “só foi alistado, por D. Afonso VI, quando se travou a batalha de Montes Claros”, em que os portugueses venceram em 1668, conseguindo Portugal por fim ver reconhecida a sua independência, assinada no Tratado de Lisboa entre dois novos reis, Afonso VI (1656-67) de Portugal e Carlos II


procissão 13

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

Este ano a procissão seguiu um itinerário novo, passando pelas espaçosas ruas do Bazar, o que cativou muitos chineses daquele bairro (1665-1700) de Espanha. “Ao fim de quinze anos de soldado, foi o Santo promovido a capitão, devido aos bons serviços prestados” e continuando com o que diz Leopoldo Danilo Barreiros: “D. Maria I, em Janeiro de 1780, deu-lhe a patente de tenente-general...”. No entanto, em Macau, S. António, que como soldado recebia seis reis por mês de soldo, em 9 de Maio de 1780, foi-lhe suspenso o salário, já que o Senado recebeu instruções para que cada fortaleza tivesse uma guarnição real de vinte soldados. O padre Manuel Teixeira refere: “Por coincidência começou a cidade a sofrer contínuos desastres que o povo ingénuo logo atribuiu ao desacato feito ao Santo, que fora substituído por um soldado de carne e osso.” Por tal razão, a 17 de Setembro de 1783, o governador Bernardo Aleixo de Lemos de Faria solicitou do Senado a renovação da matrícula de Santo António. E Luís Gonzaga Gomes complementa: “a 27 de Dezembro de 1783 (...), o Senado, reconhecendo a necessidade da protecção deste Santo, resolveu dar-lhe outra vez alta, com o vencimento do soldo de capitão e com o título de Capitão da Cidade.” Não só foi promovido a capitão, com um ordenado de cinco pardaus, mas o Senado mandou-lhe pagar os salários atrasados. O que veio a acontecer a 12 de Junho de 1784, quando “foi a vereação da Câmara, em pomposo cortejo, à Igreja de Santo António, depositar aos pés do Santo a quantia referente ao respectivo soldo, tendo o vigário da Igreja passado o respectivo recibo”. Deixaremos para artigo posterior os restantes soldos que foram pagos e as outras patentes que Santo António teve em Macau.

Antigas procissões

Numa publicação de Macau de 1905 está descrita a procissão realizada nesse ano: “No dia 18 de Junho celebrou-se com grande luzimento na igreja paroquial de Santo António a festa do grande Taumaturgo Santo António de Lisboa. De manhã, pelas 10 horas, cantou missa de pontifical o Exmo. Revmo. Snr. Bispo de Macau, expondo em seguida o Santíssimo Sacramento. Ao meio dia dirigiu-se Sua Exa. Revma. processionalmente à Casa de Beneficência onde benzeu um lauto jantar fornecido pelo Cofre do “Pão dos Pobres” a 300 pobres portugueses e chineses. As mesas ocupavam várias salas e estavam bem dispostas e ornamentadas sendo a comida muito abundante e variada. À mesa serviram as boas religiosas canossianas coadjuvadas por algumas senhoras de Macau e de fora de Macau, que muito concorreram para tornar

simpático este belo número do escolhido programa das festas. À tarde houve vésperas solenes presidindo o muito Reverendo CónegoArriaga e sermão pelo distinto orador sagrado e professor do Seminário diocesano Revdo. Pe. Francisco dos Reis. Após o sermão saiu a procissão do costume presidindo Sua Exa. Revma. o Snr. Bispo. Este ano a procissão seguiu um itinerário novo, passando pelas espaçosas ruas do Bazar, o que cativou muitos chineses daquele bairro; pois não só se prestaram da melhor vontade a recolher os artigos expostos fora das lojas antes

da procissão e a conservar as ruas limpas, concordando assim com a solicitude da Exma. Câmara, mas até assistiram à procissão com o máximo respeito e manifestaram a muitas pessoas desejo de serem avisados no próximo futuro ano para fazerem uma manifestação respeitosa à passagem da mesma. Muitas pessoas receavam que os chineses praticassem algum desacato, mas afinal este receio era infundado porque eles não só não hostilizam a religião católica mas muitas vezes concorrem com donativos e alguns até com somas avultadas para reparos de igrejas, obras de beneficência, etc. etc. Uma das maiores aspirações de Santo António fora o ir pregar ao meio dos povos de gentilidade para atrair pelas suas pregações à fé de Jesus Cristo e tanto os amava

ele que o seu mais ardente desejo era derramar o sangue a fim de os ganhar para a religião do divino Crucificado. Não se devem pois escandalizar os crentes com o facto

de, em obediência a um designo particular do zeloso pároco da freguesia e com a aprovação do Exmo. Prelado, a procissão haver este ano percorrido, além das ruas do costume, um dos bairros da cidade mais povoado de gentios. Decerto que os havia em maior número e menos respeitadores da religião de Jesus Cristo nos países que o nosso santo tanto desejou evangelizar e era justamente isso o que poderosamente actuava em seu ânimo para o fazer abraçar a vida de religioso missionário e se não conseguiu realizar esse primeiro designo, foi porque a Providência o destinava a ir pregar ao meio de bárbaros hereges cuja pertinácia no erro era sumamente danosa para a fé dos povos em meio dos quais viviam. Uma procissão religiosa e devotamente levada a efeito por entre uma população gentílica que a ela assiste respeitosamente é um esplêndido triunfo da fé que muito agradará ao glorioso Taumaturgo. Feliz ideia pois a que este ano se pôs em prática pela primeira vez depois de tantos anos em que, não sabemos por que motivo se deixou de fazer! Acresce a isto a vantagem de dar a procissão um giro completo, sem necessidade de passar mais de uma vez pela mesma rua e de ter que voltar ao acanhado Largo de S. Paulo, como nos outros anos fazia, ou de dar um giro enorme como no ano passado se fez, por uma excepção justificada pelo facto de se inaugurar ao culto público e solene a nova imagem do Padroeiro da Freguesia. À noite continuou o bazar, aberto na véspera, e houve uma brilhante iluminação no Largo de Camões onde tocou a banda da guarda policial. Para além de uma orquestra composta de amadores de Hong Kong que generosamente se ofereceu para dar mais brilho a esta festa, houve também variado fogo-de-artifício assistido por uma multidão de povo que se juntou no Largo de Camões. Sobre as especiais festividades do sétimo centenário da morte de S. António, em 1931, realizaram-se com uma pompa e magnificência poucas vezes excedidas nos anais da história eclesiástica de Macau. José Simões Morais Texto e fotos


h

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

fichas de leitura*

artes, letras e ideias

14

Manuel Afonso Costa

Luminosidade e transparência

D

e Virginia Woolf ficaram célebres algumas proposições que se citam recorrentemente como esta do seu ensaio A Room of One’s Own: “A woman must have money and a room of her own if she is to write fiction” e que é considerada uma peça chave do seu feminismo, embora por maioria de razão seja sobretudo sintomática da posição do artista moderno, depois do romantismo. Penso que não será difícil de compreender o valor programático deste encerramento estratégico que pressupõe isolamento e autonomia, relativamente a uma corrente da literatura que inventou o fluxo de consciência. No que agora nos interessa eu destacaria o papel que justamente o fluxo de consciência desempenha nas obras mais importantes de Virginia Woolf, particularmente nos seus dois romances mais geniais, Mrs Dalloway e Into the Lighthouse. Por via da mestria no uso da analepse e da memória e ainda pela menor importância da intriga, a autora é muitas vezes comparada a James Joyce, Marcel Proust ou Joseph Conrad, o que me parece abusivo e despropositado. Nem a rememoração apresenta as características sentimentais de Proust, sentimentais e contínuas, nem as características caóticas de Joyce, quase crípticas, nem finalmente a obscuridade ambígua de Conrad. Na prosa de Virginia Woolf, tudo é luminoso e tanto quanto possível transparente. Nada nos textos da escritora inglesa nos inquieta e nada na sua obra abusa da alegoria, como acontece em Conrad. Mas também não me parece que ela aposte em planos narrativos anacrónicos à maneira de Joyce onde o tempo apresenta uma dimensão frágil e oscilante. Em Virgínia Woolf o fluxo de consciência opera por parcelas do tempo, mas no interior de cada parcela em particular obedece às regras de sedimentação cronológica, não como em Proust em que a memória se confunde com a consciência do vivido mas à semelhança de uma rememoração construída. O que eu quero dizer para que se possa entender melhor é que em Virgínia Woolf não estamos na presença de uma memória em que se pretende salvar o passado, já que a escritora usa apenas a memória como cenário para outra coisa e essa outra coisa é ficcional sendo documental, ou seja, finalmente, essa outra coisa é artificial podendo contudo ter acontecido, porque o importante não reside

Woolf, Virgínia, Rumo ao Farol, Europa-América, Lisboa 1992 Descritores: Literatura Inglesa, Romance, Modernismo, Fluxo de Consciência, Memória, tradução de Lucília Rodrigues, 169 p.:18 cm. Cota: C-2-3-226

no facto de ter acontecido ou não mas no facto de que permite ao autor poder instalar-se num terreno fluido para que o fluxo de consciência se possa livremente exercitar e assim explanar os elementos reflexivos que são a chave da obra. Em resumo: enquanto tudo parece ter acontecido em Proust e porém tudo parece nebuloso e longínquo, em Woolf tudo se apresenta luminoso e transparente ainda que pareça não ter acontecido. A obra de Proust esgota-se no trabalho de recuperação do passado a partir da memória; a obra de Virginia Woolf pressupõe uma memória como enquadramento, mas o cenário só é importante pelo poder que a narratividade exerce sobre ele. O que se acrescenta à memória é que é importante e o que importa na memória não é a obscuridade do seu labor, que dá conta das dificuldades intrínsecas da analepse, mas a clareza da memória como um quadro. Este quadro colocado diante de nós aparece como se desdobrássemos um rolo de papel e através desse acto toda a realidade do passado surgisse assim de repente iluminada pelas cores vibráteis do artista. Neste plano a obra de Woolf é ainda da ordem da poesia como imitação e pintura, o seu modernismo é tendencialmente neoclássico, mas profundamente modernista de facto. O modernismo tem tendência a identificar identidade pessoal e memória e é esse o

Virginia Woolf nasceu a 25 de janeiro de 1882 em Kensington, Londres e faleceu a 28 de Março de 1941 por afogamento no Rio Ouse, Sussex, em Inglaterra. Em boa verdade Virginia Woolf suicidou-se pondo termo a uma vida tristemente pautada também por crises de bi-polaridade assumida. Virginia Woolf pertenceu ao célebre grupo de Bloomsbury e foi entre as duas guerras uma das vozes mais distintas e relevantes da literatura inglesa e europeia do Modernismo. Mrs Dalloway é seguramente a sua obraprima e um dos textos mais geniais da literatura universal de todas as épocas e lugares, contudo justo é que se diga que este To the Lighthouse (Ao Farol) não lhe fica atrás em praticamente nada. Além de novelista e ensaísta Virginia Woolf desempenhou ainda o importante papel de editora. Recentemente a obra de Virginia Woolf voltou a ganhar uma inusitada projecção por via de dois acontecimentos adjacentes e complementares: Michael Cunningham publicou em 1998 o aclamado romance Horas, no qual convivem três mulheres relacionadas com o livro de Woolf, a começar pela própria escritora, a sua amante e a personagem principal, Mrs Dalloway ela mesmo, novela esta que foi levada ao cinema. As duas obras foram acompanhadas de grande sucesso, o livro porque recebeu o prémio Pulitzer e o filme porque a actriz que representa o papel da escritora, ou seja Nicole Kidman, recebeu o óscar pela representação.

entendimento que prevalece em Proust, mas para Virginia Woolf o que interessa é a não identificação, porque o autor desaparece e porque o passado só aparece em relação ao presente como modelo de contrafacção histórica e não como expansão retrospectiva. Acaba por ser justamente o contrário do que acontece com Proust pois em vez da identidade ser procurada por expansão retrospectiva ou seja em direcção ao passado é esse processo que estilhaça a identidade. Proust conta o modo como a identidade do ego se constitui ou constituiu, Virgínia Woolf o modo como o ego se decompõe ou decompôs. Neste plano, porém essencial, Virgínia Woolf é mais moderna que Proust. O romance começa pela casa de verão dos Ramsay em Hebrides, na Ilha de Skye. A Sra. Ramsay propõe ao filho James uma visita ao farol no dia seguinte. O Sr. Ramsay contesta essa possibilidade na perspectiva de que o tempo não estará propício para passeios. Entre os três nasce uma discórdia imediata mas mantida numa tensão não explícita, … Restará, afinal, saber se a viagem ao farol se acabará por realizar ou não e em caso afirmativo, quando, … Sempre direi que o romance, escrito em 1927, está do ponto de vista narrativo centrado numa unidade de tempo concentrada, e nesse tempo que aqui é o tempo diegético do narrador omnisciente, tudo se resolve, em dois dias apenas, contudo separados por um lapso de tempo de dez anos. O romance consta assim essencialmente de três partes e a parte central parece decorrer entre esses dois dias, mas é ela que torna os dois dias, separados por dez anos, verosímeis, como se nenhum tempo tivesse decorrido. Em boa verdade no fluxo de consciência e na analepse que o organiza tudo se passa em escassos segundos e quantas vezes por uma ordem arbitrária, mas convenhamos quem organizou esta possibilidade de contar uma história, com um princípio, meio e fim, não necessariamente por esta ordem foi a arte do modernismo, provavelmente influenciada já, no caso deste romance, como de outros, pela arte narrativa do cinema. *No quadro da colaboração de Manuel Afonso Costa com a Biblioteca Central de Macau-Instituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de Leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.


artes, letras e ideias 15

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

Amélia Vieira

TOCAR DO VERBO AMAR

H

outros geométricas, outros fixas, outros móveis. A Terra é regular, ao lado deste filho que não sustém a sua órbita. Uns são areia e magna, outros pedra e diamante, outros doença hereditária, outros quase invencíveis. Mas, há de facto os encontros. Encontros raiados de magia, de sagrado, que magicar nunca serão o mesmo que consagrar (aqui, as palavras querem dizer coisas e não a mera técnica do exercício da escrita.) Que, de tão preciosos, são remetidos, processados para um local outro, como selados com uma marca reconhecível. Há partes que se procuram como derivas de continentes que se encaixam, formas que se buscam, que têm saudades, nunca se sabendo como defini-las. Um Picasso, o beijo

á muitos instantes que podem inspirar para sempre as nossas vidas. Instantes como pactos gravados e por nós sentidos como se fossem presentes, dádivas. Quais altas instâncias que nos devolvem o bem que fizéramos e num relâmpago nos beneficiam. Os milagres são acasos muito particulares, sem aviso prévio, nem aparente sentido, mas que na génese têm a sua razão. Ao fazerem-se tais constatações, somos nós também que definimos as benesses da mensagem gravada em rito. Nem sempre somos merecedores! A vida ardilosa e plena de trabalho, asfixia o bom desenvolvimento de uma visão periférica dando como adquiridas as conclusões benignas. Mas nem tanto! Tudo o que está exposto ao grau da gravidade exulta em nós como queda contínua, daí, o caos permanente, a consequência errática, o labor em círculo, a não aquisição de outros “órgãos” que apenas e ainda nos estão prometidos como potências geradoras de coisas outras. Serão então tributos? Janelas mais além? Lampejos, cintilações, assombros? Serão talvez lembranças e recados, antevisões, merecimentos? Talvez isso tudo e um pouco mais. Possivelmente uma aritmética composta de subtis harmonias que se revelam plataformas de um entendimento maior, nem sempre mesurável com o dom dos sentidos e da razão. Por que há efectivamente muita coisa que não sabemos de nós mesmos e muito de nós que gostaríamos até de desconhecer. Sabemo-nos falíveis, frágeis, ingratos, soberbos, tristes, incompreendidos, machucados, mas nunca sabemos até onde vai o dom de ser. A opacidade criou no Homem grutas de invisíveis recortes, cavernas de obscuridade, lesões da anima, e a alma não é um levante, trazemo-la com ela até merecermos um sopro de incondicional amor divino que dentro das batalhas funciona como talismã. Se a Terra é cada vez mais igual, já o Homem é cada vez mais diferente. Muitos vivem no substrato da primeira essência como se de taumaturgos e lapas metabólicas de grandes quaternários, se tratasse. Têm ardentes fomes, e desejos tamanhos, que não existe universo que os mantenha saciados. Outros, porém, renunciam, como se tivessem escalado o fardo de uma primeira etapa, e fossem por umas escadas, tão altas como as de Jacob, que num sopro sonâmbulo, viu agitarem-se os que iam e os que vinham, numa dança imparável de Eternos Retornos. Outros, ainda, desenvolveram qualidades mediúnicas, e

puro momento alquímico pode encarnar naquilo que os olhos serão efectivamente os últimos a ver. Sabemos como os amantes se cansam da vida, a vida nunca é amante, a vida mor mordaça, é ferida. Um impulso de rotinas, de grandes ciclos cansados, de partes massacrantes, de zonas viciadas, com tantas fantasias de felicidade quantas as desilusões. A nossa mente construiu o espectro da Felicidade esse cenário invisível por onde ninguém passa, e todos se esforçam para parecer habitá-lo, danificou-nos. Talvez seja por isso que no puro amor existe a única realidade possível, aquele acontecimento em que forjamos a nossa consciência humana transfigurada. Não é preciso sonhá-lo. Ele, a haver, manifestar-se-á. Também não parece emplumado, nem ataviado de coisas: é fresco como as sombras, como a frescura das sombras, melhor dizendo, porque nos é desconhecido e temos de o viver com as túnicas do repouso. Quanto mais elaborada é a mente humana mais amorosa se torna a

sua prática, é um tecido alvíssimo composto de um requinte tal que nenhuma filigrana se lhe iguala. Nos interstícios tem a lucidez da mente e algo de tão perdoável que faz dos amorosos aqueles grandes seres parados. Quando estamos perto sentimos-lhe o aroma, a dimensão sagrada, o dom maior, a bonança interna como um lago de luz… sentimos algo que milagrosamente nos harmoniza e orienta deixando para trás o entulho das defesas e o massacre dos sentidos. Estamos num campo abençoado! Manter tal situação como rotina exige entrega, exercício constante e ordem. Encontrar alguém nesta viagem ainda é mais bonito… é como a certeza de que fomos contemplados. Dizia Safo: «Vedado é o choro na casa de um poeta, nunca um tal pesar se apartará de nós». Entrar com botas cardadas nestes antros pode provocar catástrofes naturais, desabamentos de terra, chuvas incontroláveis e mudar alguma coisa no equilíbrio das forças naturais. Os muito amados nem sempre são os mais felizes mas talvez os mais protegidos, os mais férteis em produzir reacções e, se de fora vierem agrestes, o fora que são se transformará para os praticantes (que desconhecem os factos) a insolvência dos seus dias. Aliás, a Fé e o Amor são a mesma gema de um Ovo duplo. Não se deve dar às sensações e aos sentimentos o epíteto de Amor, seria reduzi-lo a uma escala natural. Ora o Amor não é natural dado o seu carácter absolutamente excepcional. Está fora ainda da regra, não sendo contudo um desregramento. É de uma simplicidade que enlouquece. Portugal é um país onde não se sonha, onde o amor é uma caricatura de um gemido fadista, de um passional informe e onde até a palavra em si se fez tabu. Não sei o que buscam os poetas nem esta literatura descarnada, talvez dizer qualquer coisa que nem eles nem ninguém entende. É uma vingança apelidar e nascerem poetas como cogumelos, a vingança contra o Poeta. A descrença democrática do seu labor, a desordem fascista da sua grosseria, a usura mais ingénua, a indecência mais indecorosa. «Para que serve afinal um poeta em termos de indigência?», já Holderlin perguntava. Eu acho que para

nada, mesmo para nada. Mas há um hiato aberto no tempo: os poetas servem para aperfeiçoarem o Amor, não para o descobrirem, porque o Amor não se desoculta, mas pode ser visitado: “o amor que sinto por ti, é uma chama, que ilumina a penumbra do que sou; a mão do Amor corrige a natureza” (Elizabeth Browning, in Sonetos Portugueses). São sonetos na bela forma Camoniana que dedicou àquele que viria a ser seu marido o também poeta Robert Browning. E diria mais: pois que toda a lira, desde que é tocada por mão de mestre, é boa. E ser amada de um grande coração é ter valor. Todo o valor do Amor é ser amor, mais nada. E nada o legitima mais que a própria inocência da sua via, da sua natureza alada, do seu enlace de matizes, da sua voz que chama e do ouvido atento à sua doce mensagem. Tudo desaparecerá e arrefecerá um dia, menos o amor que num tubo de ensaio irá intacto para o lugar de onde emanou e aí todos os nomes dos Amantes serão por fim revelados. Os amantes são as peças de um corpo incompleto, aqueles que ligam a deidade aos canais da existência, nem sempre são as certas todas as formas de amor buscadas, mas são para nós as derivas de uma lembrança. Enquanto ele não chegar, a nossa vida também não nasceu. Por muitas vidas erraticamente o iremos buscar, até desvivermos nele toda a eternidade merecida. Porque, afinal, ele é merecimento. Conquista da luz sobre a obscura forma aceite, talvez mesmo o que contemplámos no fundo da nossa eternidade. Para compensar a fome temos a finança, para alargar as vistas os grandes horizontes, para saborear, os repastos, mas para amar não há ninguém. Ninguém que tivéssemos encontrado com esse dom, porque os dons se vão quando deixamos de os contemplar. Creio no “cadáver adiado que procria” no equilibrado sentido das funções e essa certeza não me dá nada. As certezas são as coisas mais terríveis que inventamos. São espectros. Ninguém procura a morte, dado que nos está ainda reservada como certeza, ninguém ama a certeza. Certos de tantos efeitos, desfazemos longamente os véus destes teares que nos parecem defesas para tanta insatisfação. Porém, e como diria Catarina de Médicis em pleno massacre da Noite de Bartolomeu: Haverá um dia em que o Homem, será amigo de outro Homem. Sem dúvida, no tempo do Amor.


16

china

O

último preso relacionado com os protestos pró-democracia na praça de Tiananmen em 1989 será libertado em Setembro de 2017, depois das autoridades chinesas terem reduzido a pena aplicada em um ano, divulgou ontem uma organização local. Num comunicado, a organização Dui Hua, que defende os direitos dos presos na China, confirmou a redução da pena de Miao Deshun, que na altura dos protestos tinha 25 anos, mas sem precisar o motivo que originou esta decisão, nem o dia exacto da libertação ou o atual estado físico do detido. “Quando for libertado, [Miao Deshun] terá passado mais tempo na prisão do que aquele que viveu como um homem livre”, frisou a organização. Em 1989, Miao Deshun, um operário fabril, foi detido com outros quatro amigos na noite de 4 de Junho, pouco depois de o exército chinês ter irrompido com tanques nas ruas de Pequim e de ter acabado, com recurso à força, com quase sete semanas de protestos pró-democracia.

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

Último preso de Tiananmen será libertado em 2017

Uma vida de cativeiro “Quando for libertado, [Miao Deshun] terá passado mais tempo na prisão do que aquele que viveu como um homem livre”

A detenção deste homem aconteceu depois de centenas – milhares segundo algumas fontes – de estudantes e de trabalhadores em greve pub

terem morrido no massacre de Tiananmen. Na altura, os manifestantes estavam concentrados na emblemática praça para exigir reformas

HM-1ª vez 18-6-15 Acção de Interdição n.º CV2-15-0019-CPE 2º Juízo Cível Requerente: O Ministério Público. Requerido: Hong Fok Kun (洪福官), maior, filho de Hong Ho Toi e de Cheng Kuai Mui, residente na Rua 3 do Bairro da Areia Preta, nº 66, edf. San Mei On, bloco 2, 1º DG, Macau. *** FAZ SABER que foi distribuída ao 2º Juízo Cível do Tribunal Judicial de Base de R.A.E.M., a Acção acima mencionada, contra Hong Fok Kun (洪福官), para o efeito de ser declarada a sua interdição por anomalia psíquica.

Macau, aos 29 de Maio de 2015. *****

Penas atenuadas

Com base nesta acusação, o regime chinês condenou

Assinado acordo de livre comércio com Austrália

O Anúncio

democráticas e o fim de uma corrupção desenfreada. Depois de enfrentar, juntamente com outros operários, o exército chinês, o jovem Miao Deshun, actualmente com 51 anos, foi acusado de “incêndio intencional” por ter alegadamente arremessado um contentor contra um blindado em chamas.

Miao Deshun à morte, mas a sua execução foi suspensa por diversas vezes, tendo sido posteriormente anulada. Na altura, muitos acusados foram condenados à pena capital ou à prisão perpétua, mas as autoridades chinesas acabaram por substituir algumas destas sentenças com penas menores. Ao longo dos anos, milhares de presos acabaram por ser libertados, de acordo com os dados das organizações de defesa dos direitos humanos. No total, menos de 100 pessoas acabaram por ser executadas, segundo diversas fontes. Em declarações à agência espanhola EFE, um ex-companheiro de cela de Miao Deshun relatou que o homem sempre mostrou uma atitude combativa dentro da prisão. A organização não-governamental Defensores Chineses dos Direitos Humanos acredita que foi este o motivo que condicionou ao longo dos anos a libertação de Miao Deshun.

ministro chinês do Comércio, Gao Hucheng, e o ministro australiano do Comércio e do Investimento, Andrew Robb, assinaram, esta quarta-feira, em Camberra, o “ Tratado de Livre Comércio (TLC) do Governo da República Popular da China e o Governo da Austrália “. Iniciadas em Abril de 2005, as negociações acerca do Tratado de Livre Comércio terminaram em Novembro passado. A assinatura do acordo estabeleceu as bases para o processo de ratificação nos dois países e para a sua entrada em vigor o mais cedo possível. O Tratado de Livre Comércio entre a China e a Austrália referiu dezena de áreas, tais como mercadorias, serviços, investimento e outras, alcançando a meta de ser “abrangente, bem qualificada e equilibrada em interesses”.

O documento foi um dos acordos em género com o maior nível de liberalização assinados entre a China e outros países. Após a entrada em vigor, o TLC vai promover o fluxo de capitais e recursos e o intercâmbio interpessoal entre os dois países, e impulsionar a complementaridade económica de forma mais duradoura e profunda, de modo a que as indústrias e os consumidores dos dois países desfrutem de mais benefícios. O documento fechado nesta quarta-feira é mais um acordo assinado pela China com uma economia importante da Ásia-Pacífico, além da Coreia do Sul. Com a assinatura, a China e a Austrália podem aprofundar as relações económicas e comerciais com a realização do benefício mútuo e complementaridade de vantagens económicas.

Pequim vai aumentar investimentos para sustentar economia

A China vai intensificar os “investimentos efectivos” em sectores importantes para sustentar a economia, afirmou esta quarta-feira o gabinete do governo. O governo irá aumentar o investimento para transformar bairros pobres e casas degradadas, ampliar os investimentos em infraestruturas de electricidade rural e instalações de armazenamento de grãos, informou o Conselho Estatal após uma reunião ordinária. O gabinete também disse que vê crescentes factores positivos na economia, mas não deu mais detalhes.

Cerca de 16.000 porcos morrem afogados em inundação

As chuvas torrenciais que têm afectado a região chinesa de Guangxi causaram a morte de cerca de 16.000 porcos numa quinta que ficou inundada, escreve ontem o jornal oficial China Daily. A quinta estava localizada na cidade de Liuye, onde choveu durante 20 horas consecutivas. Milhares de cadáveres de animais apareceram a flutuar na água, apesar de alguns se terem conseguido salvar ao subir para zonas elevadas, como telhados, relatou a agência oficial Xinhua. As autoridades já começaram a recolher os cadáveres e a proceder à sua esterilização, já que muitos começaram a decompor-se. As autoridades receiam a propagação de doenças epidémicas, já que os cadáveres podem contaminar a rede fluvial de Guangxi.


( F ) utilidades

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

tempo

pouco

?

nublado

min

28

max

33

hum

65-90%

euro

8.97

baht

0.23

Cineteatro

O que fazer esta semana

yuan

17

1.28

C i nema

the last five years Sala 1

jurassic world [b]

Filme de: Colin Trevorrow Com: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Irrfan Khan 14.30, 16.45, 21.30

jurassic world [3d] [b]

Filme de: Colin Trevorrow Com: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Irrfan Khan 19.15

Diariamente Exposição “Saudade” (até 30/9) MGM Macau Entrada livre

Sala 2

spl 2: a times for consequences [c]

falado em cantonês/mandarim legendado

“A Arte de Imprimir” (até Dezembro) Centro de Ciência de Macau Entrada livre

Exposição “De Lorient ao Oriente - Cidades Portuárias da China e França na Rota Marítima da Seda” Museu de Macau (até 30/08) Entrada livre

U m d i s c o h o je

Exposição “Murmúrio da Impermanência”, Pinturas a óleo de André Lui Chak Keong (até 27/06) Fundação Rui Cunha Entrada livre Exposição “Valquíria”, de Joana Vasconcelos (até 31 de Outubro) MGM Macau, Grande Praça Entrada livre

the last five years [b] Filme de: Richard Lagravenese Com: Anna Kendrick, Jeremy Jordan 14.15, 16.00, 17.45, 21.30

san andreas [b]

Filme de: Brad Peyton Com: Dwayne Johnson, Kylie Minogue Carla Gugino 19.30

18 de JUNHO

Rende-se Paul Pot, morre Saramago

Exposição “Who Cares” (até 28/07) Armazém do Boi, 16h00 Entrada livre

Musical “A Bela e o Monstro” (até 26/6, de quinta a domingo) Venetian Macau Bilhetes entre as 280 a 680 patacas

Sala 3

Aconteceu Hoje

Exposição “Ao Risco da Cor - Claude Viallat e Franck Chalendard” Galeria do Tap Seac (até 9/08) Entrada livre

Exposição de Artes Visuais de Macau (até 2/8) Pintura e Caligrafia Chinesas Edifício do antigo tribunal, 10h00 às 20h00 Entrada livre

em chinês e inglês Filme de: Cheang Pou-soi Com: Tony Jaa, Louis Koo, Simon Yam, Wu Jing, Zhang Jin 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

“Devotion” (Jessie Ware, 2012) Este é o terceiro álbum da artista britânica Jessie Ware, que antecede o mais recente, “Tough Love”. No entanto, “Devotion” é manifestamente mais dedicado à música electrónica com uma voz melódica e nada acelerada. Este álbum venceu o World Music Award no ano passado, tornando-se assim no Melhor Álbum do Mundo. Ao fazer uma pesquisa rápida online, descobrem-se coisas curiosas como o facto de Ware ter vivido no mesmo apartamento de Adele. A cantora e compositora vive desde sempre em Londres e parece querer continuar uma sólida carreira no mundo da música pop com influência electrónica. “Devotion” aparenta, no panorama geral, ser um dos álbuns mais bem construídos e pensados de Jessie Ware. Leonor Sá Machado

fonte da inveja

• A 18 de Junho de 1997, Pol Pot, líder cambojano dos Khmer Vermelhos, rende-se finalmente. Neste dia em 2010, morre o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago. Saloth Sar, também conhecido como Pol Pot, foi um revolucionário comunista que liderou o grupo Khmers Vermelhos, governante do Camboja, mais conhecido por ser responsável pelo genocídio cambojano. Pot estudou em França, de 1949 a 1952, numa escola particular, fazendo parte de um grupo de estudantes cambojanos que se opunha ao poder do rei Norodom Sihanouk. No início de 1953, retorna ao Camboja sem ter terminado os estudos. Após a independência do país, ocorrida nesse mesmo ano, junta-se ao Partido Comunista Indochinês. Em 1960 foi fundado o Partido dos Trabalhadores Khmers, no qual Saloth Sar se filia, mudando o nome para Pol Pot. Em 1963, torna-se chefe do partido, que em 1966 muda a sua denominação para Partido Comunista Khmer. Atraído pelo maoísmo e irritado pela dominação vietnamita sobre o seu partido, recebe o apoio chinês. Em 1970, o general Lon Nol derruba Norodom Sihanouk. É o início da guerra civil. Os monarcas aliam-se aos Khmers vermelhos contra o novo governo. Phnom Penh é tomada pelos comunistas, que renomeiam o país como «Kampuchéa democrática». Tem início aí o genocídio cambojano: uma grande parte da população é massacrada a mando de Pol Pot. Pot defendia uma sociedade 100% agrária e ordenou a destruição de qualquer rasto de tecnologia. No campo, o trabalho começava às quatro da manhã e terminava às 22h00. Os camponeses recebiam uma chávena de arroz a cada dois dias. Mais de 90% da classe artística foi exterminada. Pol Pot ainda recebeu abrigo e apoio na Tailândia e nunca foi julgado por genocídio.

João Corvo

Confessar uma infidelidade é um acto tremendamente egoísta.


18

opinião

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

Tânia dos Santos

sexanálise

Stanley Kubrick, Eyes Wide Shut

taniarsdossantos@gmail.com

De sexo a sexo

O

sexo caracteriza-se pela versatilidade inusitada a que se propõe, na sua semântica ou na morfologia da sua actividade, este alicerça a vida de muito boa gente que se entrega ao complicado universo de relações humanas. O sexo encontra-se no entendimento de género, no desejo e no afecto, no marketing e no consumo. Sob o véu que o tabu (ainda) carrega, a sexualidade mostra-se nas mais inocentes formas de agir e nos mais ingénuos dos entendimentos. Teria escrito uma carta de agradecimento a Freud pelo seu esforço e contributo à fornicação, ademais, pela fantástica capacidade de se incluir na cultura popular pós-moderna com os mistérios que a sexualidade se envolve. Se o sexo (e o desejo) é popular, ao seu mistério agradecemos. Tenho dificuldade em ir em conversas onde o sexo, na sua complexidade conhecida, é reduzido a um instinto. Sim, é verdade que há a necessidade de uma legitimidade biológica para fugir de concepções sexuais de uma absurdidade metafísica sem igual. Contudo, a vantagem de aplicar um modelo inserido na dinâmica de relações e actos de

comunicação a que o mundo se rege, insiste no glamour que o sexo merece e que dele nos entusiasma. Afinal o que seria do sexo do séc. XXI sem pornografia, comédias românticas, revistas femininas ou viagra? A verdade é que não sabemos e nunca havemos de descobrir. O sexo contemporâneo vive na imaginação individual e colectiva, nos paradigmas intelectuais a que se insistem

E é isto: na sede pela competição quantitativa e qualitativa pela performance, o sexo salpica-se de uma crueldade movida pelo desejo de ser o melhor. Surpresa! Parece que não há grande consenso sobre o significado de ser bom na cama (ou fora dela). O pessoal faz como pode

e, consequentemente, na sua tão excitante discussão ideológica. O sexo presenteia, satisfaz, magoa e ofende. A sede que nos leva a beber um copo de água dificilmente chega a ter tão confusas proporções. Um professor e amigo sugere que a sexologia dificilmente deveria ser abordada como uma terapêutica de cariz individual mas inserida nas problemáticas conjugais (porque se temos sex problems, temos marital problems).Ainserção do sexo na problemática relacional tem de ser melhor considerada, especialmente porque transpõe os limites de uma cama conjugal, para as extras- e para todas as outras relações, sugestões e pressões sociais que põem em desconforto aquilo que a actividade deveria ser: saudável e confortável, para todos os envolvidos. Fantasiar sexualmente é um exercício adorável. Um manifesto à criatividade sexual e íntima urge em ser escrito e declamado entre mulheres e homens conjuntamente. Strap-ons, ménage à trois, aquilo das 50 sombras de qualquer coisa, clareamento anal caseiro. De Olhos Bem Fechados do Kubrick. Lovely jubbly. Pano para muitas mangas. O problema (como tantos outros) é que as representações do sexo estão muito longe de ser unânimes. Ainda bem e ainda pior, é que a sua diversidade leva a um desentendimento por vezes interessante, por vezes problemáti-

co, mas que poucas pessoas têm consciência da sua natureza. E não, os homens não são de Marte e nem as mulheres são de Vénus (literatura encontrada em bibliotecas masculinas que em nada lhes poderá ter ajudado a um relacionamento heterossexual feliz). Homens e mulheres são o que se fazem deles, na tentação irresistível de fazer generalizações. Já se sabe que os homens medem o seu Júnior na esperança de atingir um heroísmo sexual isento de esforço, e as mulheres discutem os seus tamanhos no café, espalhando a fama dos detentores de um tal objecto fálico que facilmente se compra numa sex shop, em muito melhores condições. E é isto: na sede pela competição quantitativa e qualitativa pela performance, o sexo salpica-se de uma crueldade movida pelo desejo de ser o melhor. Surpresa! Parece que não há grande consenso sobre o significado de ser bom na cama (ou fora dela). O pessoal faz como pode. A proposta é simples: um tema daqueles que precisam de ser discutidos, por cada conjunto de palavras que teimam em ser escritas. Uma tentativa de integrar as ideias e as experiências do sexo na sua pluralidade, ou, pelo menos, pensar nelas. Ideias carregadas na bagagem de quem salta por aqui, ali, por Macau e por acolá. Exercícios de semi-associação livre do tal tema do sexo.


opinião 19

hoje macau quinta-feira 18.6.2015

Leocardo

Acalorado e mal rimado

bairro do oriente

(Um poema) Mas o que é isto? Quem é aquele ali a chegar? Será possível o que me está a dizer? No casino, com tanto mal, não se pode fumar? Mas ó rapaz, só cá vem quem se quer perder!

Ai que calor, este sol, mais a humidade, Que me deixam a suar em cascata Não há um Verão nesta cidade Em que o sol assim forte não bata. Suando em bica, que desconforto Sem sombra, nem locais de lazer Neste tempo que me deixa quase morto Digam-me: o que posso eu fazer?

Que raio de calor, até parece castigo Suor caindo pelo rosto, que cruel destino Ao Deus dará, sem guarida nem abrigo: Ou se fica em casa, ou se vai para um casino.

Mas porquê, diga lá, se for capaz Que importa a saúde, se depois de falido Catarro, efizema, bronquite, tanto faz, Que já ficou na mesma...perdido (pois...)

Em mais de vinte anos de Macau Ainda não me consegui habituar Um calor destes lá em Portugal Sempre dava para ir a banhos de mar

Um casino? Boa ideia, mal posso esperar! Sento-me lá, peço um café ou um chá, O dia todo a relaxar, nem é preciso jogar Nem roleta, nem “slots”, nem bacará.

Mas o que diz, repita por clemência, O jogador perde, e da ponte resolve saltar E quando lhe fizerem a autópsia na urgência Tem pulmões limpos para apresentar?

Aqui não há banhos: só banhadas Para refrescar, só os ares-condicionados E Onde expostos, com as roupas suadas Nos arriscamos a ficar constipados.

Que vida mansa, a do vício alheio E ainda chamam ao jogo um “inferno” Sinto-me quase em casa, e pelo meio Puxo de um cigarro, sonho com o Inverno.

Sei que é estranho, e nada habitual Ver-me assim rimar, Aleixo sem eira nem beira Peço-vos só que não me levam a mal Foi o calor, que me fritou a mioleira.

cartoon por Stephff

trump a presidente


hoje macau quinta-feira 18.6.2015

pub

portugal PJ arresta pertences da família Espírito Santo

A nós os vossos bens

E

lementos da Polícia Judiciária estavam ontem a efectuar diversas buscas em vários pontos do país com o objectivo de arrestar bens a pessoas ligadas ao “Universo Espírito Santo”, disse à Lusa fonte ligada ao processo. A mesma fonte explicou que as buscas, a realizar em casas e escritórios, decorrem em vários locais do país e pretendem arrestar bens no âmbito do processo judicial “Universo Espírito Santo”, que investiga crimes económicos e envolve a família que era dona do Banco Espírito Santo (BES). Segundo confirmou à Lusa a Procuradoria Geral da República, as “diligências incluem cinco buscas, bem com a concretização de arresto de bens”. No processo, o Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) investiga crimes de burla qualificada, fraude fiscal e branqueamento de capitais. Em Maio, a Procuradoria-Geral da República esclareceu, em comunicado, que o arresto de bens a pessoas ligadas ao “Universo Espírito Santo” visa

impedir “uma eventual dissipação de bens”, que ponha em causa pagamentos em caso de condenação. O Ministério Público promoveu “o arresto preventivo de bens imóveis e valores patrimoniais de outra natureza titulados por pessoas singulares e colectivas relacionadas com o denominado ´Universo Espírito Santo´”, explicita-se no comunicado. E justifica-se depois a medida como “uma garantia patrimonial que visa impedir uma eventual dissipação de bens que ponha em causa, em caso de condenação, o pagamento de quaisquer quantias associadas à prática do crime, nomeadamente a indemnização de lesados ou a perda a favor do Estado das vantagens obtidas com a actividade criminosa”. Na altura, o MP indicou que correm, neste momento, 29 inquéritos, entre processos principais e apensos relacionados com o denominado “Universo Espírito Santo”. A notícia das buscas de ontem foi avançada pelo Correio da Manhã.

Faleceu presidente de Comité da Assembleia Popular

O Presidente do Comité Permanente da Oitava Assembleia Popular Nacional, Qiao Shi, faleceu a semana passada em Pequim, com 91 anos de idade. Os restos mortais do ex-Presidente da APN serão cremados na capital, na sexta-feira. O Governo da RAEM vai colocar a bandeira a meia-haste, como forma de fazer luto por Qiao Shi.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.