QUINTA-FEIRA 19 DE JANEIRO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3737
www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau
Novo Macau pressiona MP PÁGINA 4
VOTO DE PESAR
Explicações há muitas PÁGINA 5
AP
O agente da PJ filmado a espancar um cão, e cujo vídeo se tornou viral na internet, enfrenta agora um processo disciplinar. A ANIMA entrega hoje um protesto ao Governo e pede a pena máxima: 100 mil patacas de penalização.
SÓNIA E FLORINDA CHAN
GCS
O pior amigo ˜ do cao
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
hojemacau
MOP$10 PUB
DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
HK | CY LEUNG
ÚLTIMOS CARTUCHOS GRANDE PLANO
BNU
O banco na Montanha PÁGINA 9
Força inútil Dias todos ANTÓNIO CABRITA
JOÃO PAULO COTRIM
PUB
PÁGINA 7
EVENTOS
h
2 GRANDE PLANO
HONG KONG ÚLTIMOS PLANOS ANUAIS DE C.Y. LEUNG
É pelo menos essa a ideia que C.Y. Leung tem dele próprio. O Chefe do Executivo de Hong Kong apresentou ontem as Linhas de Acção Governativa para este ano. São as últimas da sua autoria. Sai com a noção de missão cumprida
C
OMEÇOU o discurso com um aviso nada meigo aos defensores da independência e terminou dizendo que todas as promessas feitas no manifesto eleitoral foram basicamente implementadas. C.Y. Leung esteve ontem no Conselho Legislativo de Hong Kong para a apresentar as suas últimas Linhas de Acção Governativa. De forma distinta do que acontece em Macau, em que o relatório de intenções é divulgado em Novembro, os grandes planos da região vizinha são anunciados já depois do ano novo. Na parte introdutória do discurso, Leung reiterou que Hong Kong é “parte inalienável” da China. “Todos os cidadãos têm a obrigação de cumprir a Lei Básica, e de salvaguardar a integridade territorial e nacional.” As últimas LAG do Chefe do Executivo que teve que lidar com o movimento Occupy serviram também para fazer um balanço dos últimos quatro anos. O líder do Governo salientou que a economia de Hong Kong teve um “crescimento moderado”, a taxa de desemprego manteve-se muito baixa e a Administração fez esforços no sentido de desenvolver as indústrias emergentes. Numa cidade onde a habitação é um problema grave, Leung salientou que os terrenos e as fracções disponíveis “aumentaram significativamente”, sendo que vários projectos estão a ser pensados ou já em fase de execução. Acrescentou também que o Governo fez o máximo que podia para aliviar a pobreza e ajudar os idosos. A questão da independência – um fenómeno que surgiu na segunda metade do mandato de C.Y. Leung – voltou a ser abordada no final do discurso. C.Y. Leung vincou que Hong Kong é uma parte inalienável da China não só do ponto de vista jurídico, mas também no sentido em que é uma realidade política reconhecida internacionalmente. E lembrou ainda que o elevado grau de autonomia de que goza o território “não é absoluto ou arbitrário”.
LUSA
O HOMEM QUE FEZ Num exercício de autocrítica, o Chefe do Executivo aproveitou a oportunidade para destacar as conquistas do seu consulado. “Há cinco anos, apresentei um manifesto eleitoral concreto e holístico. Ao longo destes cinco anos, publiquei anualmente um relatório para que a população ficasse a par da implementação do manifesto. Hoje, todos os compromissos da minha proposta foram basicamente respeitados”, afirmou. C.Y. Leung anunciou em Dezembro que não tencionava candidatar-se a um segundo mandato, embora o pudesse fazer do ponto de vista constitucional. O antigo empresário alegou motivos familiares para a saída de cena.
TERRAS POR CASAS
Quanto às medidas anunciadas pelo Chefe do Executivo para o último ano à frente dos destinos políticos de Hong Kong, Leung apresentou algumas ideias para tentar resolver o problema da escassez de terras e os elevados preços que se praticam no sector imobiliário. De acordo com a RTHK, o Chefe do Executivo pretende incluir mais terrenos com valor ecológico nos parques da região, em troca do desenvolvimento urbanístico de zonas nos arredores dos parques que têm um peso ecológico relativamente baixo. O primeiro local a mudar de estatuto é o Robin’s Nest, perto de Sha Tau Kok, que passará a ser um parque protegido, sendo que nos Novos Territórios vai ser criado o Long Valley Nature Park. Frisando que existe um contraste entre as vastas zonas verdes e as condições precárias em que a maioria das famílias de Hong Kong vive, com grandes limitações de espaço, C.Y. Leung desafiou a população a reexaminar o
O elevado grau de autonomia de que goza o território “não é absoluto ou arbitrário”
plano para a utilização de terras, de modo a que o território possa ter um desenvolvimento sustentado a longo prazo. “O problema da habitação em Hong Kong resume-se à utilização das terras, o que não é uma questão técnica, mas sim conceptual. Devemos pensar na questão de forma séria, científica e objectiva”, defendeu. O líder do Governo insistiu que é a falta de terras que faz com que a habitação tenha custos incomportáveis, e não os elevados preços da construção ou os prémios dispendiosos que são pagos pelas concessões. Apenas sete por cento das terras de Hong Kong são utilizadas para a construção de casas, sendo que 40 por cento da área total da região é ocupada por parques. Leung fez ainda outras sugestões para aumentar os terrenos disponíveis: o Governo vai revitalizar zonas rurais remotas para evitar a deslocação da população para
“Hoje, todos os compromissos da minha proposta foram basicamente respeitados.” C.Y. LEUNG CHEFE DO EXECUTIVO DE HONG KONG áreas com maior densidade populacional. Pretende-se ainda, deste modo, preservar a biodiversidade dos espaços rurais.
METRO MAIS CARO
O trânsito é outro aspecto destacado pelos órgãos de comunicação social locais. O Chefe do Executivo anunciou planos para reduzir a pressão nas estradas e melhorar as ligações no território. C.Y. Leung começou por destacar que há projectos importantes que estão a ser
3 hoje macau quinta-feira 19.1.2017 www.hojemacau.com.mo
TUDO
ENSINO EDUCAR PARA A PÁTRIA
O
Leung não se esqueceu de referir que a degradação do trânsito tem afectado a economia, a qualidade de vida da população e o ambiente, garantindo, contudo, que estão a ser feitos esforços para contrariar esta realidade. Ora, sobre o ambiente – uma questão complicada na região – o Chefe do Executivo anunciou que vão ser reservados 200 milhões de dólares de Hong Kong para melhorar o aproveitamento energético nos edifícios da Administração. O Governo está também a ponderar implementar legislação que permita controlar os resíduos produzidos, uma lei que deve entrar em vigor ainda este ano.
Chefe do Executivo quer destinar mais de 100 milhões de dólares de Hong Kong para reforçar o ensino da história da China nas escolas secundárias. O governante pensa também que o desenvolvimento das capacidades profissionais dos professores deve ser apoiado, para que possam conduzir os alunos a uma melhor compreensão do legado histórico chinês. O Departamento de Educação recomendou uma revisão dos currículos através da “atribuição de um peso igual tanto aos tempos antigos, como aos modernos, com
as várias dimensões políticas e culturais incorporadas no currículo”. O Executivo também tem planos para expandir o programa de subsídios para os alunos do pós-secundário que pretendam seguir certas carreiras profissionais. Este subsídio já apoiou cerca de mil alunos no ano passado, estudantes que pretendam investir em em áreas do saber tão diversas como a medicina, a arquitectura, a engenharia, as indústrias criativas e o turismo. No próximo ano lectivo, prevê-se que os subsídios cheguem a três mil alunos.
C.Y. Leung apresentou ainda a possibilidade de enviar para o estrangeiro 150 professores do ensino secundário, com bolsas de estudo pagas pelo erário público, para pequenos cursos de um a três meses. Está igualmente previsto que todas as escolas públicas de Hong Kong recebam um subsídio de 200 mil dólares de Hong Kong para promover a ciência e tecnologia. É de salientar que o Departamento de Educação providenciou um apoio similar às escolas primárias no ano passado.
Vão ser reservados 200 milhões de dólares de Hong Kong para melhorar o aproveitamento energético nos edifícios da Administração Nos mercados e nos centros comerciais, vai ser introduzido um projecto-piloto para separar os resíduos alimentares do restante lixo. Há novas medidas para os resíduos do sector da construção que vão começar a ser aplicadas em Abril.
CULTURA VIÁVEL
construídos a grande velocidade, entre eles a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, a estrada que liga Yau Ma Tei e Kowloon Bay, bem como a via periférica entre Central e Wan Chai. Depois, anunciou que vai ser feito um estudo de viabilidade para melhorar as ligações ao Aeroporto Internacional de Hong Kong, mas frisou que o metro continuará a ser a grande aposta do Governo no que toca às formas de transporte. Os preços dos bilhetes do MTR vão ser alvo de uma revisão, que deverá estar concluída antes de Julho, altura em que termina o mandato. Hong Kong tem muitas áreas onde é difícil circular a pé – outro aspecto que o líder do Governo gostaria de ver melhorado. Para já, vão ser definidas zonas-piloto para se fazerem estudos. Já em relação às áreas que venham a ser desenvolvidas no futuro, o objectivo é garantir redes de ciclovias.
Na apresentação das LAG, C.Y. Leung falou ainda do polémico projecto do West Kowloon Cultural District. O Governo vai atribuir à autoridade do distrito todos os direitos para o desenvolvimento das unidades hoteleiras e fracções residenciais da zona destinada às artes. O Chefe do Executivo entende que as autoridades podem avançar com estas infra-estruturas em parceria com o sector privado. Os lucros servirão para sustentar as operações da componente artística do distrito. A ideia não é pacífica: há quem tema que o West Kowloon Cultural District não passe de mais uma zona residencial, com as artes e a cultura a serem meros elementos decorativos. Já depois do discurso, em declarações aos jornalistas, C.Y. Leung negou que haja intenção de transformar o distrito num projecto comercial, mas salientou a necessidade de se garantir a construção de zonas com lojas e hotéis para que a área tenha viabilidade. I.C.
REACÇÕES ELES NÃO CONCORDAM
A
ala pró-democrata do Conselho Legislativo não concorda com a análise que C.Y. Leung faz do seu próprio trabalho. Ouvidos pela rádio pública da região, vários deputados criticaram o facto de o Chefe do Executivo não ter cumprido as promessas deixadas no manifesto eleitoral apresentado há cinco anos. O líder do Partido Cívico, Alvin Yeung, acusa C.Y. Leung de estar a encobrir as suas falhas com “mentiras”. “Não está, obviamente, a fazer um bom trabalho. Quando diz que cumpriu
o que prometeu quando se candidatou, está obviamente a mentir. Basta olhar para aquilo a que chamou plano universal de pensões. Não fez nada de substancial e não respondeu ao que lhe pedimos. É basicamente uma mentira”, disse. O responsável máximo pelo Partido Democrata, o deputado Wu Chi-wai, também considera que o Chefe do Executivo não esteve bem no seu exercício de autocrítica. “Não conseguimos encontrar uma única palavra sobre algo que tenha feito mal e que tenha tentado corrigir. Tentou dar uma lista
do que fez”, afirmou. “Acho que isto basta para se perceber porque é que tem havido tanto confronto social nos últimos cinco anos.” Já o deputado pró-Pequim Holden Chow, do DAB, aplaude os esforços de Leung. “Tem estado a fazer o máximo que consegue para cumprir as suas promessas, de modo a dar resposta a muitas das preocupações relacionadas com a qualidade de vida da população.” De forma geral, acrescenta o político, as Linhas de Acção Governativa ontem apresentadas devem ser “louvadas”.
4 POLÍTICA
hoje macau quinta-feira 19.1.2017
NOVO MACAU PEDE INVESTIGAÇÃO A SÓNIA CHAN E A FLORINDA CHAN
“A Administração está em apuros”
A Associação Novo Macau quer que o Ministério Público investigue os alegados favorecimentos a familiares de Sónia Chan e Florinda Chan para a sua contratação na Função Pública. Scott Chiang afirma que o Governo está a fazer de tudo para diminuir o impacto da defesa de Ho Chio Meng
A
S declarações em tribunal de Ho Chio Meng, ex-procurador da RAEM, continuam a fazer mossa. Desta vez é a Associação Novo Macau (ANM) que exige que o Ministério Público (MP) investigue os alegados favorecimentos familiares por parte de Sónia Chan, actual secretária para a Administração e Justiça, e Florinda Chan, a sua antecessora. Este pedido surge depois de dois deputados terem exigido a ida do Governo ao hemiciclo para prestar esclarecimentos sobre o mesmo caso. Ao HM, Scott Chiang, presidente da ANM, explicou que deseja uma investigação ao sistema de recrutamento na Função Pública, por considerar que os favorecimentos existem em todas as áreas da Administração. “Existem suspeitas que tiveram algum impacto junto da
confiança do público. Queremos que seja revelada a verdade em termos de recrutamento para a Administração. Acreditamos que este caso não será o único. Se foi revelado um caso verdadeiro, então de certeza que existirão muitos mais, porque é de Macau que estamos a falar. Se isso é verdade ou não cabe ao MP investigar e confirmar. Se for verdade, queremos travar este tipo de comportamentos”, disse. As expectativas da ANM são elevadas. “Quero que haja algum resultado. Acreditamos que este tipo de actividade tem vindo a ocorrer em Macau, então há algo que tem de ser descoberto. Espero que saia algo sólido desta investigação.”
EM APUROS
Questionado sobre se o facto de o julgamento de Ho Chio Meng estar a decorrer poderá levar ao atra-
“Se foi revelado um caso verdadeiro, então de certeza que existirão muitos mais.” SCOTT CHIANG PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO NOVO MACAU
so no arranque da investigação por parte do MP, o presidente da ANM nega que isso possa acontecer. “Não vejo porque é que esta investigação, que estamos a pedir ao MP, tenha de ser adiada só porque o caso Ho Chio Meng decorre nos tribunais”, afirma. “Este caso tem gerado imensas acusações por parte de Ho Chio Meng. Ele é inteligente o suficiente para utilizar o tempo que tem em tribunal para revelar as atitudes erradas dos outros, isso tem vindo a acontecer nas últimas semanas e tem gerado muitos títulos nos media. Isso tem causado algum impacto e colocou a Administração em apuros. Claro que o Governo vai tentar algo para diminuir o impacto de tais declarações”, declarou Scott Chiang. Sobre os pedidos de esclarecimento feitos por Ng Kuok Cheong e José Pereira Coutinho na Assembleia Legislativa, Scott Chiang não espera respostas concretas por parte do Executivo. “Espero que o Governo dê algumas justificações na AL, mas o que estou à espera é que sejam encontradas desculpas em vez de serem dadas respostas verdadeiras. Não queremos antecipar nada, só queremos arranjar todas as formas possíveis para encontrar a verdade por detrás deste caso”, referiu. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
Promessas de topo Chui Sai On quer promover Estado de direito
O
Chefe do Executivo, Chui Sai On, prometeu que irá “agilizar a formação de quadros na área jurídica”, uma ideia deixada na tomada de posse dos corpos sociais da Associação dos Agentes da Área Jurídica de Macau, que tem os deputados Vong Hin Fai e Chui Sai Cheong nos quadros dirigentes. Além da formação, o Chefe do Executivo pretende “promover, de forma ampla, o Estado de direito”, sobretudo ao nível do investimento em “maiores recursos na sensibilização e na promoção da Constituição e da Lei Básica”. Citado por um comunicado oficial, Chui Sai On referiu que o Governo “tem vindo a reforçar os trabalhos legislativos em conjugação de esforços com a Assembleia Legislativa (AL) e com os diversos sectores sociais no sentido de elevar a qualidade legislativa, procurando constantemente aperfeiçoar os regimes jurídicos”. Para o Chefe do Executivo, a criação de uma nova associação na área do Direito “surge num momento em que a RAEM, decorridos 17 anos do seu estabelecimento, se encontra a reforçar o aperfeiçoamento de regimes jurídicos”, sendo que se reveste “de um profundo significado, porque permitirá melhor aplicar a Constituição e a Lei Básica de Macau”. No discurso, Chui Sai On disse que o Executivo “continuará a empenhar-se na construção
de um governo diligente, íntegro, eficiente e justo, alicerçado no Estado de direito, dando relevância à promoção da reforma jurídica e do Estado de direito”. Precisamente sobre a construção do Estado de direito, Chui Sai On lembrou as palavras de Xi Jinping, Presidente da China. “É uma tarefa essencial e a sua concretização não é imediata. É responsabilidade do Governo orientar, desenvolver e aperfeiçoar essa tarefa, no seguimento da orientação formulada pelo Presidente Xi Jinping – através de trabalhos proactivos deve-se aprimorar constantemente a capacidade e o nível de governação conforme as leis da RAEM”, afirmou. Os fundadores da Associação dos Agentes da Área Jurídica de Macau reuniram há algumas semanas com o Chefe do Executivo, visando a união de advogados e juristas, quer trabalhem no sector público ou no privado. Vong Hin Fai, deputado nomeado e antigo mandatário da campanha eleitoral de Chui Sai On para o cargo de Chefe do Executivo em 2014, é um dos fundadores. Chui Sai Cheong, irmão de Chui Sai On, deputado eleito pela via indirecta e empresário do sector imobiliário, com um doutoramento em Direito, é outro dos fundadores da associação. A.S.S.
5 hoje macau quinta-feira 19.1.2017
Voto de pesar DEPUTADOS JUSTIFICAM OPOSIÇÃO A PROPOSTA DE PEREIRA COUTINHO
O do contra e a indecisa HOJE MACAU
Chan Iek Lap diz que votou contra porque não quer ser controlado por Pereira Coutinho. Ella Lei abstevese porque não teve tempo para pensar na proposta do colega. Os outros que poderiam ter inviabilizado a homenagem a Mário Soares não atendem o telefone. Neto Valente acha “lamentável”
V
OTARAM contra ou abstiveram-se, mas não fizeram declaração de voto para explicar por que não apoiaram o acto sugerido por Pereira Coutinho. Na passada terça-feira, no primeiro plenário após a morte de Mário Soares, o deputado propôs um voto de pesar pelo desaparecimento do antigo Presidente da República e primeiro-ministro português. Cinco deputados disseram que não, incluindo o vice-presidente da Assembleia Legislativa (AL), e outros dois preferiram o nim. O HM quis saber o motivo da atitude destes sete tribunos, todos eles com ligações aos Kaifong (as associações de moradores) ou aos Operários, as associações tradicionais com representação política no órgão legislativo. Chan Iek Lap, deputado eleito pela via indirecta, médico com um diploma tirado na Universidade de Jinan, votou contra. Resume a razão da luz vermelha na AL com duas palavras: Pereira Coutinho. “O modo como o deputado Pereira Coutinho apresentou a moção não foi muito apropriado”, defende. “A maneira de se expressar não foi adequada”, vincou, não sugerindo uma alternativa à forma como se deve propor este tipo de voto. O deputado garante que não vê qualquer problema em as pessoas manifestem o quanto lamentam a perda de alguém pelas quais têm “muito respeito”, mas entende também que o local escolhido por Coutinho não foi o melhor. “Podia ter sido através dos jornais ou de actos pessoais”, diz. Chan Iek Lap vai, porém, mais longe: “Votar a favor significa que estou a seguir a tendência geral.
POLÍTICA
Se não o fizer, se votar contra, sou criticado. Sinto que sou monitorizado”. O médico diz que não quer ser “controlado por Pereira Coutinho”. “Se todos os deputados votarem a favor, ele vai dizer que toda a gente considera que ele é bom. Portanto, está a usar um acto para me obrigar a concordar com algo”, afirma. O membro da direcção da Associação de Beneficência Tong Sin Tong alega que “até poderia nem ter votado”, bastando para tal sair do lugar. Mas votou – e foi do contra. Ainda assim, entende que “não é justo” considerar-se que, por não ter votado a favor, não respeita Mário Soares. “Expresso condolências profundas, sinceras. Realmente respeito o ex-Presidente e considero que foi uma grande pessoa. Deu muitos contributos para a relação luso-chinesa.”
“Julgo que os votos contra e as abstenções se devem ao facto de o proponente ser quem foi, o que é ainda mais lamentável.” JORGE NETO VALENTE PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS ADVOGADOS DE MACAU relata. Ella Lei reconhece que o regimento da AL prevê que, antes da ordem do dia, possa haver um período destinado à emissão de votos deste género, mas considera que “é preciso tempo para que as propostas sejam lidas”.
“Se se coloca um documento na nossa mesa sem termos tempo para ler com atenção, de facto não consigo, muitas vezes, tomar uma decisão”, confessa. “Já aconteceram situações semelhantes. Os documentos foram colocados repentinamente. Do meu ponto de vista, todas as decisões tomadas na AL merecem ser alvo de consideração com calma. Foi impossível tomar uma decisão num período de tempo tão curto”, reitera. A deputada não deixa, no entanto, de analisar o gesto de Pereira Coutinho como sendo “um acto pessoal” numa “sessão que é da Assembleia Legislativa”.
UMA QUESTÃO DE CIVILIDADE
Apesar das muitas tentativas feitas, foi impossível chegar à fala com os restantes deputados que não estiveram ao lado de
Pereira Coutinho no plenário desta semana. À margem da sessão, o proponente manifestou desagrado com o que aconteceu dentro da sala e lamentou a falta de memória dos colegas em relação à importância que Mário Soares teve no passado do território, com reflexos ainda hoje visíveis, nomeadamente ao nível demográfico. Na apresentação do voto de pesar, o deputado tinha sublinhado “o espírito humanista e de solidariedade para com os mais desfavorecidos, incluindo os de Macau, onde, por seu decisivo impulso, foram legalizadas dezenas de milhares de pessoas de etnia chinesa, sendo este um gesto humanitário do então Presidente da República para uma política consentânea à realidade de Macau e das suas gentes”. Pereira Coutinho falava da “Operação Dragão”, em 1990, em que foram legalizados cerca de 50 mil ilegais. Este processo de legalização aconteceu cerca de um ano depois de uma visita de Mário Soares ao território, em que se manifestou sensibilizado com casos de mães em situação irregular, com filhos legais em Macau, correndo o risco de as famílias serem separadas. Considera-se que a visita de Soares foi decisiva para a legalização destas pessoas. Sobre este episódio na Assembleia Legislativa, Jorge Neto Valente, presidente da Associação dos Advogados e amigo pessoal de Mário Soares, disse ao HM considerar “lamentável”. “Julgo que os votos contra e as abstenções se devem ao facto de o proponente ser quem foi, o que é ainda mais lamentável”, afirmou. “Lamentável que é, todavia, serve para mostrar que a civilidade ainda não é praticada em todos os sectores da sociedade”, rematou. Isabel Castro (com Angela Ka) info@hojemacau.com.mo
É PRECISO TER CALMA
Ella Lei foi uma das duas deputadas que optaram pela abstenção – também Kwan Tsui Hang, igualmente do sector dos Operários, escolheu esta forma híbrida de exercício do voto. Mas Lei tem uma justificação diferente da de Chan Iek Lap. O problema da licenciada em Administração Pública foi o tempo. “Não me abstive por o conteúdo da moção ter algum problema”, garante. “Recebi a proposta quando cheguei à sala e comecei a ler”,
FÓRUM MACAU CHINA TEM NOVO REPRESENTANTE
Ding Tian é o novo secretário-geral adjunto do Fórum Macau, indicado pela República Popular da China. Numa curta nota à imprensa, o secretariado permanente da entidade explica que as novas funções de Ding Tian surgem por indicação do Ministério do Comércio. É deixado ainda um resumo do currículo: trabalhou no Departamento de Ajuda Externa, possuindo “vasta experiência em assuntos da economia e comércio externo”. Desempenhou funções em Cabo Verde, no Brasil e em Timor-Leste, pelo que tem “um profundo conhecimento” sobre a realidade dos países lusófonos. Ding Tian domina fluentemente a língua portuguesa.
6 hoje macau quinta-feira 19.1.2017
As autoridades estarão a contratar funcionários públicos no interior da China para as áreas técnicas e de tradução quando até poderiam contratar locais. A queixa é do deputado José Pereira Coutinho, que suspeita de abusos no recurso ao contrato individual de trabalho
Função Pública COUTINHO FALA DE ABUSOS NAS CONTRATAÇÕES
Um CIT para todos TIAGO ALCÂNTARA
POLÍTICA
“O Governo tem de disponibilizar alojamentos, o que leva ao aumento das despesas para o erário público. E os locais não gozam dessa regalia.”
O
deputado José Pereira Coutinho interpelou o Governo quanto ao recurso ao contrato individual de trabalho (CIT) para recrutar trabalhadores não residentes (TNR) do interior da China, sobretudo para os cargos de técnicos superiores e intérpretes-tradutores. O deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM) considera que existe um abuso no recurso a este tipo de contrato. “Segundo os dados estatísticos dos Serviços de Administração e Função Pública, até 30 de Setembro foram recrutados 2006 TNR através do CIT, ou seja, 6,63 por cento do total de trabalhadores recrutados. Face a esta percentagem, nem eu nem os cidadãos podemos concor-
O
subdirector do Centro de Política de Sabedoria Colectiva, ligado à União Geral das Associações de Moradores (Kaifong), Chan Ka Leong, considera que o processo das obras da zona A dos novos aterros é lento demais. Em declarações ao Jornal do Cidadão, Chan Ka Leong lembrou que, em Março do ano passado, já se havia completado 75 por cento da obra, mas depois, devido à falta de fornecimento da areia, o processo avançou apenas mais três por cento até Dezembro do ano passado. Por esta razão, Chan Ka Leong exige que, durante o período de fornecimento da areia, o Governo conclua as restantes obras o mais rapidamente possível, não só por
locais, defendendo que essas práticas afectam ao seu direito ao emprego.” Como o Governo contrata TNR tem, segundo a lei, de lhes fornecer alojamento, o que, aos olhos de Coutinho, são despesas públicas desnecessárias. “O Governo tem de disponibilizar aqueles alojamentos, o que leva ao aumento das despesas para o erário público. E os locais não gozam dessa regalia. Então será que é mesmo necessário recrutar pessoal do interior da China para os cargos de técnico superior e intérprete-tradutor?”, questionou.
PEREIRA COUTINHO DEPUTADO
dar que essa contratação aconteceu devido à escassez de profissionais ou em virtude da especial qualificação profissional do trabalhador. Portanto, há suspeitas de abuso desse tipo de contrato por parte dos serviços públicos, o que deixa a sociedade indignada”, escreveu o deputado.
Segundo Coutinho, as informações referentes às funções e salários destes trabalhadores não são claras. “Recebi queixas de cidadãos contra alguns serviços públicos, acusando-os de recorrerem ao CIT para recrutar trabalhadores do interior da
China para os cargos de técnico superior ou intérprete-tradutor. Falam de ambiguidades sobre as informações acerca das funções exercidas por alguns desses trabalhadores, e ainda sobre o facto de as funções em causa poderem ser plenamente exercidas por
Aterros a meter água Kaifong criticam atrasos das obras na zona A
estarem relacionadas com a vida dos residentes, mas também com o território e a sua posição ao nível internacional.
Chan Ka Leong nota que a zona A dos novos aterros urbanos influencia vários aspectos, tal como a ponte
Hong Kong-Zhuhai-Macau, a construção da quarta travessia entre a península e a Taipa e obras de cons-
O deputado deseja ainda saber se o Governo fez uma pré-avaliação quanto à necessidade de recrutamento destas pessoas. “Quanto às funções técnicas especializadas na área da tradução e interpretação, será que o Governo, antes de recrutar estes trabalhadores, avaliou se essas funções tinham de ser exercidas pelo pessoal do interior da China?”, rematou.
trução de 28 mil habitações públicas. Além disso, Chan Ka Leong acredita que os cidadãos de Macau e as pessoas que vivem entre Hong Kong, Zhuhai e Macau vão sofrer os impactos causados pelas obras. O responsável sublinha que a construção da
Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
zona A afecta o planeamento urbano, a habitação, o tráfego e o comércio. Como a obra da área em questão já leva com cerca de um ano de atraso, o membro dos Kaifong pede às autoridades para completarem os restantes 22 por cento o mais rapidamente possível. O responsável entende ainda que devem ser já planeados os trabalhos relacionados com as obras rodoviárias, drenagem e construção da rede eléctrica, a fim de conseguir ligar as respectivas obras com a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. As autoridades já estão a procurar um novo canal de fornecimento da areia. Embora o período de fornecimento da areia ainda esteja em curso, deverá acabar no início do Março.
7 hoje macau quinta-feira 19.1.2017
SOCIEDADE
O
vídeo que casou revolta na Internet, onde se vê um homem a bater num cão, ganhou novos contornos. A pessoa em questão é um agente da Polícia Judiciária que perdeu as estribeiras, ao que parece, depois de o seu cão ter roído um par de sapatos. O caso encontra-se em investigação e foi levantado um processo disciplinar contra o agressor. Ontem, em declarações à comunicação social, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, afirmou que “este caso não devia ter acontecido”, lamentando profundamente o sucedido. Acrescentou ainda, dirigindo-se ao homem em questão, que “como agente, precisa de respeitar a lei rigorosamente e ser um exemplo para os cidadãos”. Para Albano Martins, presidente da ANIMA, este é um assunto do foro da própria polícia, que em nada tem que ver com a aplicação da lei de protecção dos animais. “É o bom nome da instituição que está em causa, depois de o vídeo se ter tornado viral e ter levado à revolta das pessoas”, comenta. Não se trata, portanto, de uma acção motivada pela aplicação da lei, mas para limpar a imagem da corporação. “Estamos perante um agente graduado, que faz investigação policial, quem nos garante que não faz isto também a uma pessoa?”, interroga-se Albano Martins. Está também em questão a própria lei. Por enquanto, o caso em investigação não dá qualquer esperança de resolução ao activista de defesa dos animais. “A lei actual é muito vaga, portanto, o agressor vai conseguir escapar”, prevê. Como tal, a ANIMA entregará hoje, ao final do dia, uma carta de protesto ao Executivo, um protesto formal. Não o fizeram imediatamente para não reagir a quente, e esperar para perceber o que se iria fazer. A missiva mencionará que a situação filmada é flagrante e, “dentro do que está na lei, a pessoa deve apanhar a penalização máxima, que são 100 mil patacas”. A associação irá também exigir que se cumpra a lei e que o cão seja retirado ao agressor, para ser entregue a uma instituição de protecção dos animais.
Crueldade ANIMA PROTESTA JUNTO DO EXECUTIVO
O homem que bateu no cão O caso do polícia que foi filmado a maltratar um cão está a ser investigado e deu origem a um processo disciplinar. Além disso, a ANIMA apresenta hoje uma carta de protesto ao Executivo a pedir o cumprimento da lei e a retirada do animal ao agressor Aí, Albano Martins é peremptório, assumindo que “a ANIMA está disponível para o receber”.
A LEI FRACA
Entretanto, ficou a saber-se mais tarde que o cão foi ontem retirado ao dono pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), que se fez acompanhar pela polícia, para fazer uma análise detalhada aos ferimentos resultantes da agressão. Em comunicado, o IACM adiantou que esta diligência pretende averiguar se houve violação da lei de protecção dos animais. Em declarações à Agência Lusa, a PJ diz ter sido informada pela PSP, que efectua a investigação, que o animal foi examinado por um veterinário do IACM que concluiu que o incidente não teve natureza criminal. Para Albano Martins esta é uma falsa questão.
“O artigo 3º da lei proíbe o tratamento de animais por meios cruéis, ou tortura, que lhe inflija dor, ou sofrimento, não dependendo da verificação de lesões visíveis”, comenta. Para o presidente da associação o vídeo demonstra, claramente, tratamento cruel que inflige dor ao cão. Neste caso, a lei parece que não será aplicada, mas também revela uma fraqueza do próprio diploma que defende os animais. A
ANIMA avançou com uma proposta de lei onde se tipificavam todas as formas de maus tratos puníveis, para
O animal foi examinado por um veterinário do IACM que concluiu que o incidente não teve natureza criminal
que não restassem dúvidas. “Uma proposta que era um copy paste da lei de Singapura, mas esta lei actual é muito vaga e deixa de fora uma série de actividades, que podem fazer o que lhes bem apetecer”. Ou seja, o diploma, que entrou em vigor no passado dia 1 de Setembro, aplica-se apenas a donos de animais, esquecendo veterinários, lojas de animais e empresas de criação. “Está tudo de fora, nem se sabe quem é veterinário
porque não são reconhecidos por ninguém; as lojas de animais não são reguladas, podendo manter os animais em jaulas minúsculas”, alerta o presidente da ANIMA. Também quem cria animais não está sujeito a qualquer tipo de regulamentação. É caso para dizer que, em termos legais, a defesa dos direitos dos animais em Macau obedece apenas à lei do mais forte. João Luz
info@hojemacau.com.mo
PARQUÍMETROS MAIS DE 200 CARROS MULTADOS ESTE ANO Desde o início do ano, a Polícia de Segurança Pública (PSP) multou 239 automóveis por abusarem dos lugares de estacionamento com parquímetro, de acordo com comunicado oficial. Tudo isto em pouco mais de duas semanas, o que dá uma média superior de quase 120 carros semanalmente. Destes veículos, 97 tiveram de ser removidos, libertando os lugares com parquímetros. No comunicado, a polícia frisou ainda que continuará atenta à ocupação dos parques de estacionamento públicos para além do tempo limite, a fim de facilitar a procura de lugares para quem se desloca de carro em Macau.
8 SOCIEDADE
hoje macau quinta-feira 19.1.2017
O
Balanço de 2016 TURISTAS PERNOITAM MAIS EM MACAU
Passear com mais calma Os Serviços de Turismo apresentaram ontem os números relativos ao sector. No ano passado, mais de 30 milhões de turistas visitaram Macau, o que representou um aumento anual de 0,8 por cento. Quem vem cá tem ficado mais tempo nibilizar um leque de actividades que despertem o interesse de quem visita Coloane”, comentou Helena de Senna Fernandes. Além da deslocação do Museu do Vinho para Coloane, outra possibilidade é a exploração do mercado dos cruzeiros de pequenas dimensões, uma vez que Macau não dispõe de um cais de águas profundas para embarcações maiores. Está neste momento a ser negociada a possibilidade de criação de programas de cruzeiros mais pequenos entre a península de Macau, Taipa e Coloane. A DST tem facilitado reuniões entre os vários departamentos envolvidos e o operador, sendo que já se realizaram estudos para saber que tipo de barco usar, quais os trajectos, assim como outros aspectos da operação. Helena de Senna Fernandes prevê que estes projectos se concretizem até ao final deste ano.
TIAGO ALCÂNTARA
ano passado representou um virar de página para a hotelaria. Pela primeira vez numa década, o número de turistas a pernoitar em Macau foi superior aos que fizeram uma visita esporádica de um dia. Esta batalha ganha pelo sector hoteleiro deve-se ao aumento das pernoitas em quase 10 por cento, motivado por um leque de factores. “Há um aumento do número de quartos disponíveis, e uma maior possibilidade dos turistas conseguirem quartos mais baratos, uma vez que o preço médio baixou”, explicou à comunicação social Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo (DST). Acrescentou ainda que estes números reflectem o “grande esforço feito em termos de actividades, e da criação de diferentes zonas para turistas”. Outros factores chave foram a eficácia dos operadores na oferta de pacotes turísticos que implicam pernoitas em hotéis, assim como as campanhas promocionais que venderam a marca Macau.
Além da deslocação do Museu do Vinho para Coloane, outra possibilidade é a exploração do mercado dos cruzeiros de pequenas dimensões Os principais mercados continuam a ser os mais próximos, nomeadamente o interior da China, Hong Kong e Taiwan. 2016 registou mais de 20 milhões de visitantes do Continente, o que representou um ligeiro aumento de 0,2 por cento. Destes turistas, 44 por cento vieram da província de Guangdong. No que diz ao mercado de Taiwan, registou-se um aumento de 8,8 por cento, enquanto Hong Kong desceu 1,8 por cento. Em termos internacionais, o mercado coreano continua no topo da lista dos visitantes de Macau. Durante 2016, mais de 660 mil turistas coreanos visitaram o território, o que representou um crescimento perto dos 20 por cento.
APOSTA NO BRASIL
N
A tendência de subida também se fez sentir nos mercados do Sudeste Asiático, com a Tailândia a ser o país que mais cresceu em termos de turistas a visitar Macau, mais de 30 por cento. Outro dos mercados a crescer consideravelmente foi a Indonésia, 11,7 por cento,
JOGO MELCO ANUNCIA BÓNUS PRÉ-ANO NOVO LUNAR
É mais uma operadora do sector do jogo a responder aos apelos das associações de trabalhadores. A Melco anunciou ontem que vai atribuir um bónus no valor de um mês de salário aos funcionários que não ocupam lugares de gestão. A gratificação vai ser dada antes do ano novo lunar. Em comunicado, Lawrence Ho, presidente da empresa, destaca que, “através do apoio e da dedicação” de todos os trabalhadores, a operadora obteve “muitos bons resultados em 2016”. O responsável diz ainda acreditar que 2017 será um ano promissor para a companhia, bem como para os seus funcionários.
enquanto as Filipinas subiram 3,7 por cento. O número de visitantes japoneses aumentou cerca de 6,5 por cento. No que diz respeito aos Estados Unidos, o único mercado de longo curso entre os dez principais mercados turísticos da RAEM, 2016 viu um aumento dos 4,6 por cento
de turistas norte-americanos no território.
FICAR EM MACAU
Dados preliminares apontam para que, no ano passado, tenham pernoitado em hotéis de Macau mais de 15,7 milhões de pessoas, um crescimento anual de 9,8 por cento, representando 50,7 por cento do número total de visitantes. O período médio de permanência numa unidade hoteleira foi de 2,1 dias, tempo que a directora do DST pretende aumentar. Para tal é necessário diversificar a oferta. Uma das possibilidades é a exploração das potencialidades turísticas de Ka Ho, em Coloane. “Estamos a realizar um estudo pormenorizado para saber como podemos levar os turistas até lá, assim como dispo-
o ano passado visitaram Macau cerca de 9500 turistas brasileiros, o mesmo que em 2015, mas é um mercado apetecível para o DST. “Estamos a identificar áreas e segmentos para atrair turistas do mercado brasileiro”, explicou Helena de Senna Fernandes. Para já, a aposta brasileira ainda está a ser avaliada com um estudo de mercado mas é, para os Serviços de Turismo, um país interessante em termos de mercado de longo curso.
No entanto, o turismo de Macau tem desafios complicados pela frente em 2017. Em primeiro lugar, houve uma redução de 12 por cento do orçamento afecto ao Fundo do Turismo, algo que não assusta a directora do DST, que projecta uma “melhor maximização dos recursos”. Outro desafio é totalmente externo: a variação cambial. Com o dólar Americano mais forte, isso levará à subida do valor do dólar de Hong Kong, que por sua vez influenciará a pataca. Um efeito dominó que pode encarecer o destino Macau, retirando-lhe competitividade em relação a outros destinos. João Luz
info@hojemacau.com.mo
9 hoje macau quinta-feira 19.1.2017
SOCIEDADE
CONTAS RESTAURAÇÃO COM MAIS CLIENTES
D
ADOS ontem divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que os meses de Novembro e Outubro do ano passado foram importantes para o sector da restauração em termos de negócio. Cerca de 30 por cento dos inquiridos afirmaram que obtiveram melhores resultados em Novembro, tal como em Outubro, mês em que se realizou o Grande Prémio de Macau e o Festival de Gastronomia. Registou-se mesmo um aumento anual de volume de negócios de quatro por cento face a igual período de 2015. Segundo a DSEC, “de entre os proprietários de restaurantes, 55 por cento dos chineses, 35 por cento dos ocidentais e 25 por cento dos japoneses e coreanos declararam acréscimos homólogos do volume de negócios e superaram os resultados de Outubro em 6, 9 e 13 pontos percentuais, respectivamente”.
Metade dos proprietários que responderam ao inquérito da DSEC declarou ter registado “diminuições homólogas do volume de negócios”, ainda que estes empresários tenham sido semelhantes aos resultados do mês de Outubro. “Destaca-se que as quebras para os restaurantes japoneses e coreanos, bem como para os chineses foram inferiores às de Outubro em 13 e 6 pontos percentuais”, aponta a DSEC. Em relação à área do comércio a retalho também houve melhorias, tendo 30 por cento dos retalhistas entrevistados falado num aumento homólogo de quatro por cento em relação a Outubro de 2015. A DSEC destaca “o acréscimo homólogo do volume de negócios em todos os comerciantes de artigos de couro, devido ao favorável comportamento deste retalho”. Apesar disso, 53 por cento dos retalhistas confirmaram enfrentar um decréscimo de cinco por cento do volume de negócios.
GALAXY DESGRAÇA FAMILIAR NUM QUARTO DE HOTEL
D
OIS homens foram encontrados mortos ontem num resort de cinco estrelas em Macau, informou a Polícia Judiciária (PJ). As autoridades, que foram informadas pelos bombeiros por volta das 14h, indicaram à Agência Lusa que os dois homens não apresentavam ferimentos no corpo, ou seja, sinais de violência. No mesmo quarto de hotel foram ainda encontradas duas pessoas inconscientes – um homem e uma mulher – que foram transportadas para o hospital, disse a PJ. Fonte dos Serviços de Saúde disse à agência de notícias que ambas estão em coma no Centro Hospitalar Conde de São Januário. Em informação enviada posteriormente à Lusa, a PJ adiantou que as quatro
pessoas, de nacionalidade indiana, pertencem à mesma família: os dois homens mortos são pai e filho (52 e 24 anos), enquanto o homem e a mulher encontrados inconscientes são mãe e filho (45 e 20 anos). Quatro cartas e medicamentos foram encontrados no quarto de hotel, segundo a PJ, que ressalvou que a causa das mortes tem ainda de ser determinada através de autópsia. A PJ limitou-se a dizer que as quatro pessoas foram encontradas num quarto de hotel na Taipa, sem especificar qual. Segundo o jornal de Hong Kong South China Morning Post, trata-se do Hotel Okura, que integra o complexo Galaxy Macau, localizado na strip do Cotai.
Economia BNU INAUGUROU SUCURSAL NA ILHA DA MONTANHA
Patacas do lado de lá O Banco Nacional Ultramarino já tem presença em Hengqin e olha agora para a possibilidade de “imediatamente efectuar negócios” na moeda chinesa, bem como fomentar relações com países de língua portuguesa
E
STÁ finalmente inaugurada a já anunciada sucursal do Banco Nacional Ultramarino (BNU) na Ilha da Montanha. Segundo um comunicado da entidade, a abertura do espaço “representa um avanço inovador no reforço da cooperação económica entre Guangdong e Macau”. Além de se tratar do primeiro banco de Macau a abrir uma sucursal na China, esta inauguração vai ainda permitir “imediatamente efectuar negócios em renminbi, graças ao “Acordo de Concretização Básica da Liberalização do Comércio de Serviços em Guangdong”, estabelecido entre a China Continental e Macau no âmbito do Acordo de Estreitamento das Relações Económicas e Comerciais (CEPA). O comunicado aponta ainda que a presença do BNU em Hengqin se trata de um “excelente exemplo da cooperação entre Guangdong e Macau, através do estabelecimento de uma sucursal na China Continental sob as políticas preferenciais do CEPA”. “Com o apoio da sua casa matriz, a Caixa Geral de Depósitos, e da sua vasta rede financeira nos países de lín-
gua portuguesa (PLP), o BNU ajudará as empresas de Macau a expandir os seus negócios para a China Continental, promoverá uma cooperação mais estreita entre Macau e a província de Guangdong, e apoiará a consolidação de Macau como plataforma de serviços para a cooperação económica e comercial dos PLP”, aponta o mesmo comunicado.
SIM À QUALIDADE
No seu discurso, Pedro Cardoso, presidente da comissão executiva do BNU, referiu que a presença do BNU na China “representa um marco na
“O nosso principal objectivo é ajudar a reforçar a ligação entre os países de língua portuguesa e a República Popular da China.” PEDRO CARDOSO PRESIDENTE DA COMISSÃO EXECUTIVA DO BNU
expansão da nossa oferta de serviços financeiros para a província de Guangdong”. “Estamos comprometidos em fornecer serviços financeiros de elevada qualidade, assim como os serviços tradicionais de depósitos e empréstimos, operações cambiais e financiamento comercial”, disse ainda. “O nosso principal objectivo com a abertura da agência de Hengqin é assim ajudar a reforçar a ligação entre os países de língua portuguesa e a República Popular da China. É igualmente nosso objectivo reforçar o apoio aos nossos clientes de Macau que têm investimentos e negócios na China Continental e em particular em Guangdong”, frisou o presidente da comissão executiva. Pedro Cardoso disse ainda estar confiante quanto ao “futuro de Hengqin no âmbito do desenvolvimento global da região do Delta do Rio das Pérolas”. No ano em que celebra 115 anos de existência, o BNU pretende ainda “promover continuamente a cooperação económica entre a China e os países de língua portuguesa”.
10
Mais arte no lago
Inauguradas sábado duas exposição no Anim’Arte Nam Van
E
j á este Sábado que serão inauguradas as exposições “Gengibre Local – exposição colectiva de graffiti da nova geração” e “Impressão de Macau – exposição de pinturas do artista André Lui”, promovidas pelo Instituto Cultural (IC) em parceria com a Associação dos Artistas de Belas-Artes de Macau. As inaugurações terão lugar no espaço Anim’Arte Nam Van. A exposição “Gengibre Local” irá mostrar os trabalhos de PIBG, considerado o “pioneiro do graffiti em Macau”. As suas obras caracterizam-se por ter “personagens e animais em estilo humorístico e utilizadas cores vivas e contrastantes para retratar a vida com expressividade”. Segundo o IC, esta exposição visa mostrar a “arte urbana” bem como uma “nova geração de graffiters que apresentam a arte urbana nos
´
seus mais respectivos estilos”. Esta mostra estará patente até ao dia 6 de Abril. Por sua vez a exposição “Impressão de Macau” vai mostrar ao público cerca de 20 pinturas de André Lui, cujo trabalho se tem focado, desde 2006, no jardim Lou Lim Ieoc. Ainda assim, esta exposição vai mostrar ainda “os rascunhos rápidos de atracções do Património Mundial de Macau e de Nam Van, reunindo os temas dos jardins tradicionais chineses, do Centro Histórico de Macau onde se encontra a coexistência harmoniosa das culturas orientais e ocidentais, e de actualidade e passado de Nam Van”, aponta o IC. Esta mostra estará patente até ao dia 20 de Fevereiro. Ambas as exposições poderão ser visitadas pelo período compreendido entre as 10h00 e as 22h00, com entrada livre.
UM ACOLHE SEMINÁRIO NA ÁREA DA ECONOMIA
“Sanções internacionais, regime de instabilidade e padrões de dívida soberana” será o tema do seminário agendado para amanhã, dia 20, e que decorre na Universidade de Macau. O seminário conta com a presença de Francesco Passarelli, docente na Universidade de Coimbra e na Universidade Lusíada, em Portugal. O seminário tem lugar na faculdade de Direito da UM às 16h30.
À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA UM ENCONTRO • Milan Kundera
É já em Fevereiro que estreia em Macau o espectáculo “Made in Macau 2.0”, que retrata o tempo em que milhares de pessoas vieram do Continente para trabalhar nas fábricas de Macau. Teresa Lam, mentora do espectáculo de teatro documental, optou por contar a sua história de vida, num misto de ficção e realidade
F
OI por pouco que Teresa Lam não nascia no meio de uma fábrica de têxteis, a meio da noite. A mãe, imigrante oriunda da China, sem posses económicas, sentiu as fortes dores do parto e foi sozinha para o hospital. Estávamos em 1980 e em Macau o boom do turismo ainda não se fazia sentir. Havia dificuldades económicas e muitos procuravam emprego. Foi esta a realidade que Teresa Lam optou por retratar no projecto de teatro documental “Made in Macau 2.0”, que subirá ao palco do edifício do antigo tribunal nos dias 18 e 19 de Fevereiro. Ao HM, Teresa Lam explicou por que optou por ser a personagem principal da sua própria criação. “Este projecto é sobre a minha família, que saiu da China para se estabelecer em Macau, e conta a história de como cresci numa fábrica têxtil. Nos anos 80 e 90 as fábricas eram muito comuns. Claro que, depois, a indústria do turismo tornou-se dominante e todas as fábricas foram fechando. Faço parte da geração que assistiu a esta rápida mudança, porque nasci em 1980 e a primeira parte da minha vida vivi-a numa antiga colónia portuguesa, mas depois tive de regressar à China com a minha
ROLLING PUPPET
EVENTOS
ESPECTÁCULO “MADE IN MACAU 2.0” RECORD
“Sou da geraç assistiu à rápi família. Somos a geração que mais vivenciou esta rápida transformação da história de Macau.” Sendo uma mistura de teatro documental com storytelling, “Made in Macao 2.0” pretende mostrar à sociedade dos dias de hoje a história de um tempo passado. “Esta é uma colecção de memórias muito especial para as pessoas de Macau. Espero que o público possa recordar os tempos difíceis de Macau por comparação a uma fase em que temos o PIB mais elevado do mundo”, defendeu Teresa Lam. Para a mentora deste projecto, só faria sentido falar de si mesma se fosse para mostrar a história de tantas outras pessoas. “Pensei que, se fosse falar de mim, teria de ser
mostrando toda a Macau e como o território mudou. E como as ideologias foram mudando, porque os nossos pais mudaram-se para Macau devido à situação política na China naquela altura. As suas visões são muito diferentes. O público poderá ver como nascemos e crescemos. Praticamente nasci na fábrica.”
EXPERIÊNCIA CHECA
Esta não é, contudo, a primeira vez que este espectáculo sobe ao palco. Tudo começou em Praga, na República Checa, onde Teresa e Kevin Chio, produtor do espectáculo, fizeram os seus mestrados nesta área. “Em dois anos fizemos um projecto final e decidimos que tínhamos de fazer algo sobre Macau. Ficámos
RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET
A mais recente colecção de ensaios de Milan Kundera é uma apaixonada defesa da arte numa era que, segundo o autor, não valoriza a arte e a beleza. Com a cativante mistura de emoções e pensamento presente nos seus romances, Kundera revisita artistas cujas obras permaneceram importantes ao longo da sua vida: reflecte sobre a pintura de Francis Bacon, a música de Leos Janacek, os filmes de Federico Fellini e os romances de Philip Roth, Fiodor Dostoievski e Gabriel García Márquez. Aproveita também para fazer justiça a Anatole France e Curzio Malaparte, que considera serem grandes escritores caídos na obscuridade. Em “Um Encontro” a assinatura de Milan Kundera – os temas da memória e do esquecimento, a vivência do exílio e a defesa da arte modernista – cruza-se com as suas reflexões pessoais e histórias de vida. Elegante e provocador, Kundera segue as pisadas das suas antologias anteriores.
MIZÉ - ANTES GALDÉRIA DO QUE NORMAL E REMEDIADA • Ricardo Adolfo Nos arredores de Lisboa, Mizé, a boa da vizinhança, tenta conciliar os sonhos de uma vida de estrela com a rotina entre o salão unissexo e o bairro social Esperança. Mas não é fácil. Ela quer mais, muito mais. E está preparada para usar tudo o que tem para o conseguir. Por outro lado, Palha, que largou as saias da mãe para casar com Mizé, só quer manter o pouco que lhe resta - a começar pelo emprego a vender batatas fritas. Numa noite de enganos, Palha descobre aquilo que nunca quis ver. Desesperado, parte em busca da inocência de Mizé e acaba por desenterrar a sua própria mentira.
11 hoje macau quinta-feira 19.1.2017 PUB
DA VIVÊNCIAS NAS FÁBRICAS
ção que ida mudança” “Espero que o público possa recordar os tempos difíceis de Macau por comparação a uma fase em que temos o PIB mais elevado do mundo.” TERESA LAM DIRECTORA CRIATIVA muito felizes com um contacto que conseguimos com um centro de arte performativa local, um dos maiores de Praga. Foi importante porque a maioria dos teatros são em checo, mas este está aberto a profissionais do estrangeiro e, por isso, conseguimos apresentar o nosso projecto. Também cooperamos com artistas de Praga ligados ao teatro documental.” Para Teresa Lam, estar em Praga e apresentar lá o seu espectáculo foi importante do ponto de vista criativo. “Conseguiram transmitir-nos uma visão estrangeira ao projecto, porque muitas vezes introduzimos elementos de uma cultura, como os
pauzinhos, e não compreendemos como os outros vão olhar e entender esses elementos culturais.” No ano passado, Teresa Lam e Kevin Chio foram convidados para regressar à capital checa, onde fizeram a segunda fase do “Made in Macau 2.0”, que vai agora ser apresentada ao público local. Apesar de conter uma boa dose de realidade, “Made in Macao 2.0” também será feito de ficção. “O espectáculo vai mostrar a realidade, mas também alguma imaginação, sobretudo sobre o período anterior ao meu nascimento, quando os meus pais vieram para Macau. Abordo também os amigos dos meus pais, que não tiveram a mesma sorte de vir para o território. Fiz alguma pesquisa sobre isso e criei alguma ficção à volta desse período”, concluiu. O espectáculo está a cargo da companhia de teatro alternativo Rolling Puppet, fundada por Teresa Lam, e será apresentado ao público no dia 18 de Fevereiro às 20h e no dia 19 de Fevereiro às 15h. Os bilhetes já se encontram à venda. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
EVENTOS
12 CHINA
hoje macau quinta-feira 19.1.2017
PEQUIM CONTRA TAIWAN EM TOMADA DE POSSE NOS EUA
O
Governo chinês urgiu ontem os Estados Unidos da América a não permitirem que representantes de Taiwan assistam à cerimónia de posse de Donald Trump como Presidente no próximo dia 20 de Janeiro. “A China opõe-se a que as autoridades de Taiwan enviem funcionários à cerimónia e urgimos os EUA a que não tenham contactos oficiais com Taiwan”, sublinhou a porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying. “Transmitimos claramente a nossa posição, tanto à actual administração [norte-americana] como à futura”, referiu Hua, assinalando que o embaixador chinês em Washington, Cui Tiankai, assistirá à cerimónia. O ministério dos Negócios Estrangeiros de Taiwan assegurou esta semana que enviará uma delegação à tomada de posse de Trump lide-
rada pelo antigo primeiro-ministro Yu Shyi-Kun. Com anteriores administrações, Taiwan assistiu a cerimónias de posse, convidado pelo comité responsável pela organização, normalmente formado por legisladores norte-americanos. A questão taiwanesa tem sido motivo de tensão entre Trump e Pequim, depois de o presidente eleito dos EUA ter aceite uma chamada telefónica da Presidente de Taiwan, Tsai Ying-wen, quebrando com um protocolo de décadas da diplomacia norte-americana. Trump admitiu, entretanto, utilizar Taiwan como moeda de troca com a China, pondo em causa o princípio “uma só China”, visto por Pequim como garantia de que Taiwan é parte do seu território, e reconhecido por Washington desde 1979. PUB
HM • 1ª VEZ • 19-1-17
ANÚNCIO Acção de Processo Comum do Trabalho n.º
LB1-16-0181-LAC
Juízo Laboral
AUTOR: UN KUOK FUN, nascido em 01 de Agosto de 1956, titular do BIRM nº 7425022(6), residente na Rua dos Pescadores, nº 428, Edifício Hantee, 2º andar N, em Macau.-------------------------------------------------------------------RÉ: COMPANHIA DE EMILIO MA YENG MASSA CONSTRUTOR CIVIL, com sede na Rua Pedro Nolasco da Silva nº 43, Edifício Lei Fung, 2º andarA, em Macau.-------------------------------------------------------------------------------*** FAZ-SE SABER que pelo Tribunal Judicial de Base da RAEM, correm éditos de TRINTA DIAS, contados a partir da segunda e última publicação do anúncio, citando a ré COMPANHIA DE EMILIO MA YENG MASSA CONSTRUTOR CIVIL, acima identificada, para no prazo de QUINZE DIAS, findo o dos éditos, querendo contestar a petição inicial dos autos, de ACÇÃO DE PROCESSO COMUM DO TRABALHO acima identificados, apresentada pelo autor, na qual o autor pede que a presente acção seja julgada procedente por provada e, em consequência, ser a ré condenada a pagar ao autor a quantia de MOP$95,726.03 (noventa e cinco mil e setecentas e vinte e seis patacas e três avos), a que acrescem os devidos juros de mora até integral e efectivo pagamento.-------------------------------------------------------------------Tudo como melhor consta da petição inicial, cujos duplicados se encontram nesta Secretaria à sua disposição, sob pena de não o fazendo no dito prazo, seguir o processo os ulteriores termos até final à sua revelia.--------------Aos 06 de Janeiro de 2017.
GOVERNADOR DE LIAONING ADMITE TER ADULTERADO DADOS ECONÓMICOS
A verdade da mentira
U
M governador chinês admitiu que a sua província adulterou durante anos os dados económicos, escreveu ontem a imprensa estatal, nas vésperas de Pequim revelar as estatísticas do crescimento económico em 2016. As declarações de Chen Qiufa, governador de Liaoning, província do nordeste do país, confirmam as suspeitas levantadas por funcionários e analistas, chineses e estrangeiros, sobre o rigor dos dados económicos da China. A informação sobre o ritmo de crescimento económico do país, o motor da recuperação global após a crise financeira de 2008, afecta as decisões de investidores em todo o mundo. Citado pela agência oficial Xinhua, Chen Qiufa admitiu que, entre 2011 e 2014, os dados económicos
das cidades e condados sob a jurisdição de Liaoning foram minados por estatísticas falsas. Em 2014, um grupo de inspecção delegado por Pequim avisou Liaoning sobre a “prevalência de fraude nos dados da economia”. Num caso detectado em 2013, um condado daquela província apresentou receitas públicas 127% acima dos valores reais, segundo a Xinhua, que cita o órgão máximo anti-corrupção do Partido Comunista Chinês (PCC). No primeiro trimestre de 2016, depois de concluídas as investigações, Liaoning tornou-se a pri-
meira província chinesa a apresentar um crescimento negativo. Liaoning depende da indústria pesada, sobretudo dos sectores do aço e carvão, gravemente afectados por excesso de capacidade de produção e ineficiência. O Gabinete Nacional de Estatísticas chinês anuncia na sexta-feira os dados de crescimento económico relativos ao ano passado.
DEFEITOS CRÓNICOS
As declarações de Chen constituem uma admissão rara de um problema sistémico nas estatísticas sobre a segunda maior economia do mundo.
“A inflação do Produto Interno Bruto (PIB) é uma doença crónica - não acontece apenas em Liaoning.” AGÊNCIA OFICIAL XINHUA
A promoção dos funcionários locais depende da performance económica dos sítios onde estes exercem os cargos, numa política que incentiva à adulteração dos dados. Em dezembro, o responsável máximo das estatísticas da China acusou funcionários locais de “alterarem” os dados sobre a economia e avisou que os infratores serão “severamente punidos”. O próprio primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, expressou já dúvidas sobre a credibilidade dos dados estatísticos do país, numa conversa com o embaixador dos Estados Unidos na China, em 2007, revelada no Wikileaks. “A inflação do Produto Interno Bruto (PIB) é uma doença crónica - não acontece apenas em Liaoning”, afirmou a Xinhua, notando que naquela província, contudo, o problema é “particularmente grave”.
QUASE 100 MIL GALINHAS SACRIFICADAS EM TAIWAN Mais de 93.846 galinhas foram abatidas em Taiwan devido a oito surtos de gripe aviária desde o início do ano, informaram ontem as autoridades da Ilha Formosa. Os dois surtos levaram ao sacrifício de 30.032 aves, em duas explorações em Yunlin, no sudoeste do país, informou o Departamento de Inspecção e Quarentena. Na região, nomeadamente no Japão e na Coreia do Sul, também foram registados diferentes surtos de gripe aviária que obrigaram ao abate de milhões de aves.
13 CHINA
hoje macau quinta-feira 19.1.2017
M
AIS de uma dezena de advogados chineses pediram a demissão do presidente da máxima instância judicial da China, após este ter apelado aos juízes para que não caiam na “armadilha ocidental” da separação de poderes. Zhou Qiang, que lidera o Supremo Tribunal Popular da China, disse que os tribunais do país devem resistir à “ideologia errada” do ocidente, como a democracia constitucional, separação de poderes e independência do sistema judiciário. O “papel dirigente” do Partido Comunista (PCC), que governa o país desde 1949, é um “princípio cardial”, estando o sistema judicial subordinado ao poder político. Ainda assim, nos últimos anos foram realizadas algumas reformas a nível local, visando garantir maior independência dos juízes. Porém, citado pela agência oficial Xinhua, Zhou lembrou que a ideologia é um factor importante na avaliação de funcionários do Governo e que aqueles que
A ratoeira
Pedida demissão de presidente do Supremo após crítica à separação de poderes
violarem os requisitos ideológicos devem ser punidos. Segundo informou o jornal de Hong Kong South China Morning Post (SCMP), os comentários de Zhou levaram mais de uma dezena de advogados a pedir a sua demissão. Zhou Qiang “não está à altura do seu cargo ao contrariar a tendência mundial de independência do sistema judicial”, afirmou o grupo num baixo assinado, citado pelo SCMP.
QUE REFORMA?
Zhou Qiang “não está à altura do seu cargo ao contrariar a tendência mundial de independência do sistema judicial.” ABAIXO ASSINADO DE UM GRUPO DE ADVOGADOS
Após ascender ao poder, em 2013, o Presidente chinês anunciou uma reforma no sistema legal, visando garantir o primado da lei. No entanto, o regime promoveu uma campanha repressiva contra activistas pró-democracia e advogados que trabalham em casos considerados sensíveis para o Governo. Desde 2015, centenas de advogados chineses dos direitos humanos foram detidos, interrogados e alguns condenados à prisão por “subversão do poder do Estado”.
NOVE MORTOS EM ACIDENTE EM MINA DE CARVÃO
Nove pessoas morreram devido à queda parcial de uma mina no norte da China, durante trabalhos de manutenção, em mais um acidente mortal numa mina da segunda maior economia mundial, informou ontem a agência oficial Xinhua. A equipa de resgate conseguiu retirar uma pessoa com vida, que se encontra a receber tratamento hospitalar. A China é o maior produtor de carvão do mundo e acidentes mortais em minas do país são notícia quase todas as semanas. Em 2015, morreram 171 pessoas em acidentes em 45 minas na China, segundo dados da Administração Nacional de Energia do país. Muitos acidentes ocorrem em depósitos que operam ilegalmente e não colocam em prática medidas de segurança básicas.
PUB
ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 3/P/17 Faz-se público que, por despacho de Sua Excelência, o Chefe do Executivo, de 9 de Dezembro de 2016, se encontra aberto o Concurso Público para a «Prestação de Serviços de Limpeza ao Centro Hospitalar Conde de S. Januário e aos Edifícios de Administração», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 18 de Janeiro de 2017, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita no 1º andar, da Estrada de S. Francisco, n.º 5, Macau (Antigo Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo), onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP 91,00 (noventa e uma patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo). Os concorrentes deverão comparecer na “Sala Multifuncional”, sita no r/c, da Estrada de S. Francisco, n.º 5, Macau no dia 24 de Janeiro de 2017 às 9,30 horas para uma reunião de esclarecimentos ou dúvidas referentes
Assine-o TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo
www.hojemacau.com.mo
ao presente concurso público seguida duma visita aos locais a que se destinam a respectiva prestação de serviços. As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 14 de Fevereiro de 2017. O acto público deste concurso terá lugar no dia 15 de Fevereiro de 2017, pelas 10,00 horas, na “Sala Multifuncional”, sita no r/c da Estrada de S. Francisco, n.º 5, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP1.140.000,00 (um milhão, cento e quarenta mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 12 de Janeiro de 2017 O Director dos Serviços Lei Chin Ion
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
14
diários de próspero
António Cabrita
I
BSEN, o maior dramaturgo do século XIX, esteve vinte anos fora da Noruega e foi nesse período que se tornou uma estrela do teatro internacional. Durante parte da sua ausência o seu verdadeiro lar foi o Café Maximilian, em Munique, onde, com a sua barba flamejante e os inúmeros jornais espalhados pela mesa, era um ponto de atracção e de admiração dos turistas. De tal modo que quando voltou à Noruega, o dono do Maximilian, em desespero, contratou um figurante de grandes barbas e semelhanças físicas com o dramaturgo, para ocupar a sua mesa todos os dias durante três horas a folhear jornais com um idêntico recolhimento e ímpeto físico a dobrá-los. Aquele que não passava de um símbolo e que viveu sempre com tantas dificuldades materiais, tornara-se vital para a sobrevivência do café. Igualmente, é hoje incalculável o volume de negócios, de eventos musicais e de lucro que tem movido o nome e a música de Mozart. Algo que seria muito estranho para o coveiro que em 6 de Dezembro de 1791 o enterrou na vala comum, como alguém imprestável e facilmente substituível. E poucos nomes cristalizam melhor como símbolo de uma civilização, a europeia. Há poucas semanas li que o Gaudi teria acabado os seus dias a pedir esmola a quem passava nas Ramblas. Espantado, vasculhei em várias fontes e não consegui perceber se o genial arquitecto acabou mesmo na miséria profunda se a informação não passava de uma força de expressão. Mas apurei que acabou em grandes dificuldades financeiras e que o seu aspecto era o de um homem cujos problemas já faziam negligenciar a higiene e o estado da sua indumentária. Ou seja, morreu aquém da dignidade que impunham as suas obras. E hoje há maior símbolo de Barcelona? Servem estes exemplos para constatar: os valores que fomentam o status social apresentam-se o mais das vezes invertidos – tendo em conta aquilo que no futuro verdadeiramente renderá, aquilo que alargará a liberdade expressiva do homem e lhe dilata o imaginário, ou seja, as modalidades de ser. Demos um exemplo: o futuro de Cristiano Ronaldo, assim que deixar de jogar à bola é nulo; comparativamente quantos conhecem o nome de Júlio Pomar, cuja obra continuará viva daqui a cinco séculos?
CASPAR DAVID FRIEDRICH, WANDERER ABOVE THE SEA OF FOG
A força do que é inútil
Nestes tempos incautos de esvaziamento da promessa humanista, trucidada pelo primado da economia e da estatística, urgia que os valores do símbolo recuperassem terreno na escala da hierarquia social. Hoje vivemos sobre a ditadura do
Nestes tempos incautos de esvaziamento da promessa humanista, trucidada pelo primado da economia e da estatística, urgia que os valores do símbolo recuperassem terreno na escala da hierarquia social
utilitarismo e da funcionalidade. Os quais dependem duma obturação do simbólico. Daí a haver uma ultrapassagem dos regimes simbólicos no imaginário colectivo vai uma enorme distância. «No universo do utilitarismo, um martelo vale mais que uma sinfonia, uma faca mais que um poema, uma chave de fenda mais que um quadro: porque é fácil compreender a eficácia de um utensílio, enquanto é sempre mais difícil compreender para que podem servir a música, a literatura ou a arte», lembra Nuccio Ordine. Mas esta é a mesma dimensão reducionista que faz do sexo um mero exercício de fisiologia, numa monocordia pornográfica, e perdeu de vista a inteligência, a criatividade, do erotismo. Eis a primeira mentira que é preciso desalojar, a de que vivemos num mundo pós-simbólico – deu-se apenas uma des-
locação nos suportes mediáticos. Hoje há livros e viés da Gestão, por exemplo, que se servem da lição dos clássicos greco-romanos para vender melhor, persuadir melhor, agenciar os negócios ou prodigalizar uma dinâmica de grupo; já inversamente, não há um livro de literatura dessa área que possa dizer-se que tenha nutrido o imaginário humano com o mesmo teor vitamínico e duração. Quando um arauto neo-liberal vai ao cinema e se presta a alimentar a segunda maior indústria dos EUA dar-se-á conta do que é que está a fazer? Está a entrar na caverna de Platão e a dar sequência à engrenagem dos mitos? Aquela mesma criatura que depois virá defender que vivemos num estádio pós-simbólico saliva pela sequela de Blade Runner: a narrativa que triunfou porque cerziu a fábula dos «amores contrariados» (a mesma de Romeu e Julieta) com o mito do Fausto, numa trama futurista. Apetece dizer que o afluxo da sociedade neo-liberal contemporânea não passa do exacerbamento do “complexo de Midas” vivido à sombra da “síndrome de Midas”. O complexo prende-se com o medo (incutido desde a infância) de não se ser capaz de valorização social, no sentido do sucesso económico, e a síndrome, no seu epítome, clarifica o ódio por tudo que não seja “dinheiro” e não traduza a ascensão social por via dos bens que o “ouro” autoriza, querendo reverter em fobia “regeneradora” o que afinal se apresentava como um handicap em Midas: a amputação da sua sensibilidade. Temo que com a investidura de Trump se irão acrescentar dois elementos aleatórios a esta conjugação já de si perigosa: uma celebração do imaginário do casino (a aposta no jogo e no bluff enquanto impulsionadores do económico, do social, até mesmo da guerra, aliás como corolário do sistema de Wall Street) e uma nova e arbitrária escalada da infantil cruzada do numerário contra o simbólico. Entretanto, seria bom lembrar: nada que assente exclusivamente no plano da vida material trouxe alguma vez alguma coisa de relevante à memória dos povos. Por fora disto, tudo o que é inútil se nos afigura irrenunciável: do amor à dignidade ou à melancolia na música de John Surman, o saxofonista que quis conhecer o vento (os abismos do free jazz) para enfim nos tocar o coração.
15 hoje macau quinta-feira 19.1.2017
diário de um editor
João Paulo Cotrim
HORTA SECA, LISBOA, 9 JANEIRO Dia que começa com correio é dia maior; ano que começa assim, espero que expluda. O próprio livrinho vestiu-se envelope, foi trazido pelo e teve que se abrir com corta-papéis. «O ano em que o calendário avariou» contém poema homónimo de Manuel António Pina interpretado pela M2N Press, dos queridos Marta Madureira e Pedro Amado, ou seja, «composto em caracteres móveis de 10 e 16 pt, de Grotesco corrente (Antiga Inglesa) e Bodoni itálico. Impresso em cartolina offset 315 e printeset de 50 g/m2 numa Adana HS2 em Dezembro.» Puro gozo. Os caracteres dançam no que dizem e no que figuram abrindo transparências delirantes, segundas leituras, divertimentos. E depois o verde surge segunda cor, que tinge também a linha que coze os cadernos. A mistura de tempos em que vivemos na arte das impressões em papel pode multiplicar a fauna no jardim das delícias. «Naquele ano espantoso/cada um podia ter à vontade/as suas manias/ porque todos os dias eram os dias todos». Obrigadinho é que lhes desejo. (Paradoxo por resolver: mando cada vez menos cartas.) ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, LISBOA, 10 JANEIRO Ao mesmo tempo impressionante e divertida, a mais comovente das despedidas a Mário Soares: povo que grita, «Soares é fixe!». A simplicidade constituiu-se assim moldura exacta para a solenidade das homenagens. O militante anti-fascista, o político e conspirador incansável, o bon vivant com sentido de humor, o grande leitor e apreciador de artes plásticas, atraído pelos mares, o ensaísta mais ou menos polémico, o cosmopolita bem relacionado, o estadista com causas, o ministro, o primeiro-ministro, o presidente da república, tudo e mais alguma coisa, que o homem foi do tamanho do século, tudo resumido numa frase de campanha, singela e quase banal, uma brisa de Verão. E depois regressei ao dicionário (Houaiss, 2003), como há anos fazia semanalmente, para ver o que se esconde na palavra e logo a surpresa: ajustado, que possui firmeza, confiável, dotado de inteireza, forte, que agrada. Mesmo o primeiro dos significados – rectângulo de madeira ou ferro destinado a susten-
MURNAU, FRAME DE FAUST
Dias todos
tar locomotiva – faz sentido se pensarmos no tempo enquanto comboio. De alta velocidade. CENTRO CULTURAL DE BELÉM, LISBOA, 12 JANEIRO Ouvir uma conversa está longe de ser o mesmo que vê-la. A voz, só por si, concentra atenções. Creio que se perderá menos, portanto, do primeiro Obra Aberta quando for transmitido, dia 16, na Rádio Renascença. Ao vivo, em sala cheia, a Maria João Costa geriu, com a mestria que se lhe reconhece, o ritmo do dueto entre os brilhantes professores, tradutores, ensaístas, Frederico Lourenço e António de Castro Caeiro. E com que corpo estas vozes se apresentaram! Não podia ter começado de melhor maneira a primeira fase deste projecto, em boa hora acolhido por Elísio Summavielle. Uma seta disparada na direcção dos tristes pedagogos que dão o ensino da filosofia como tempo perdido, dispensável obstáculo na formação veloz e eficaz das novas gerações. Cada um a seu modo iluminou com cristalino pensamento o tempo que atravessamos. Além das obras respectivas – Novo Testamento (Quetzal), a ambi-
ciosa tradução que marcou este Natal, no caso do Frederico, e para o António, Um Dia Não São Dias (abysmo), tentativa de discernir o modo como apercebemos o tempo –, pedimos aos convidados para atirarem ao lume da discussão outros títulos da actualidade, escolhas que incluíram Fédon, de Platão (Guimarães), a Obra Poética, de Sophia (Assírio & Alvim), Ser e Tempo, de Heiddeger (ed. bras. Unicamp), ou Doutor Fausto, de Thomas Mann (D. Quixote), entre outros. Destabilizadora, esta sabedoria que atravessa o tempo em baixo contínuo. Fiquei a matutar na leitura do António: haverá criação sem amor? «O Fausto da tradição em que assenta o de Goethe vende a alma ao Diabo para comprar tempo de juventude. Era um homem velho cheio de mundo e de vida, mas sem o amor que apenas tarde na vida lhe acena. O Fausto de Mann também vende a alma ao Diabo e é tempo a moeda de troca, mas é um jovem músico. O tempo que pretende é para a criação artística. E é por amor que o Diabo lhe exige precisamente não amar. O olhar do amor passa a ser para Fausto o olhar da perda e da morte. Tudo o que vê morre. Ganha 24
anos, mas pode trocar-se a possibilidade de amar pela possibilidade de criar?» Desconhecia em mim o nervoso miudinho que me pregou à parede do fundo a jogar pingue-pongue de mãos nos bolsos. CASA FERNANDA BOTELHO, VERMELHA, CADAVAL, 15 JANEIRO O pretexto foi a entrega do Prémio Literário Fernanda Botelho dedicado ao conto, patinho feio da edição nacional. «Os portugueses não se interessam por contos…», dizem os nossos editores, como se não dependesse deles tentar fugir aos interesses, ou, pelo menos, expandi-los. E esquecendo Aquilino, Brandão, Herberto, Sophia, Sena, Mário de Carvalho, Cardoso Pires ou a própria Fernanda Botelho, cuja casa visitámos em seguida. Devido ao amoroso dinamismo da sua neta, Joana, tornou-se centro cultural que, além de preservar o espólio, em colaboração com o Centro de Estudos Comparatistas, irradia propostas de promoção de leitura e interpretações multidisciplinares da obra. Outro caso sério, capaz de afinar (em feminino) o nosso olhar sobre o século XX. Em breve, na abysmo.
16 DESPORTO
O
hoje macau quinta-feira 19.1.2017
Campeonato de Carros de Turismo de Macau (MTCS, na sua sigla inglesa) já tem calendário provisório para a temporada de 2017. A competição promovida pela Associação Geral Automóvel Macau-China (AAMC) vai voltar a apostar em dois eventos e ambos a realizar no Circuito Internacional de Zhuhai, como demonstra o calendário de provas para este ano do circuito permanente da cidade continental chinesa adjacente à RAEM. O primeiro “Festival de Corridas de Macau” está marcado para 27 e 28 de Maio, sendo que o segundo fim-de-semana está agendado para 24 e 25 de Junho. Esta é uma boa notícia para os pilotos locais que, na sua maioria, preferem competir na pista de Zhuhai, devido à conveniência da localização e às condições da própria pista. Isto, para além dos custos menores que acarreta competir em Zhuhai, comparando com outras pa-
F
OI ontem apresentada à comunicação social a equipa de futebol de onze do Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong. A apresentação não podia ter sido feita em melhor atmosfera, tendo sido realizada depois de uma expressiva vitória por 3-0 na jornada inaugural do campeonato da II divisão de Macau. “Mais do que um projecto competitivo, este é um projecto diplomático pioneiro a nível mundial”, declarou o Cônsul-geral, Vítor Sereno, também capitão
Carros de Turismo CAMPEONATOS DE MACAU VOLTAM A ZHUHAI
Uma aposta na estabilidade ragens que o MTCS visitou na última década, como por exemplo, o circuito de Fórmula 1 de Sepang, na Malásia. Nos dois últimos anos, em parceria com a Associação Automóvel de Hong Kong (HKAA), a AAMC organizou três fins-de-semana de corridas no Circuito Internacional de Guangdong. Neste momento o circuito localizado nos subúrbios da cidade de Zhaoqing tem duas datas reservadas e por confirmar para o mês de Março para realizar o “GIC Challenge” de 2017. Estes eventos serviram nos últimos anos para os pilotos de Macau preparem os seus carros antes das jornadas decisivas do MTCS que, para além de atribuírem
os títulos aos pilotos do território, qualificam-nos para as corridas de carros de turismo do Grande Prémio de Macau.
NOVIDADES EM 2017?
Apesar da estabilidade do calendário, 2017 poderá ser um ano de grandes novidades para os pilotos de carros de turismo locais. Segundo apurou o HM junto de diversas fontes, há
movimentações para uma eventual alteração nos regulamentos técnicos da categoria “AAMC Challenge”, destinada às viaturas de preparação local com motores 1.6 Turbo e cujos elevados custos de preparação das viaturas têm sido colocados em causa pelos pilotos. Ao mesmo tempo, poderão também existir mudanças no programa de corridas de suporte do Grande
O primeiro “Festival de Corridas de Macau” está marcado para 27 e 28 de Maio, sendo que o segundo fim-de-semana está agendado para 24 e 25 de Junho
Diplomacia nas quatro linhas Equipa do Consulado estreia-se na segunda divisão
de equipa. Que se saiba, não existe outra equipa diplomática que participe numa competição desportiva federada. Para o diplomata, o desporto é uma via de aproximação de comunidades, e esta iniciativa visa “fomentar a participação activa dos portugueses na vida da RAEM”, e estreitar os laços que unem Portugal, Hong Kong e a China.
A equipa do consulado, que se constituiu em 2013, tem sido convidada para participar em jogos tanto nas duas regiões administrativas especiais, como na China Continental. O futebol tem sido um veículo que proporcionou, de acordo com Vítor Sereno, o desenvolvimento de relações privilegiadas com países como as Filipinas,
Vietname, Camboja, Indonésia e Tailândia. Além de estreitar laços com o exterior, a constituição da equipa criou uma atmosfera de team building entre os próprios funcionários do consulado. Entre os 23 jogadores que constituem o plantel, seis fazem, ou fizeram, parte do staff diplomático. O próprio cônsul-geral diz, com humor, que “aos 46 anos tenta fazer
Prémio de Macau que terão impacto directo no número de pilotos do território apurados para o grande evento do mês de Novembro. As próprias provas de qualificação dos pilotos locais para as corridas de carros de turismo de suporte do programa do Grande Prémio poderão sofrer alterações na sua essência e não se restringir, como até aqui, apenas aos pilotos da RAEM. A Taça AAMC de GT, que no passado foi um título atribuído aos participantes em provas seleccionados do campeonato GT Asia Series, também poderá regressar este ano.
pela vida, e marcar uns golos”, apontando como meta, pelo menos, repetir os 11 golos que marcou na época passada. A equipa do consulado tem vindo a subir de escalão de ano para ano, numa ascensão meteórica. Ficou em terceiro lugar da 3.ª divisão na última época, campeões da 4.ª divisão em 2015, sendo que em 2017 Vítor Sereno promete fazer o melhor possível e “dignificar as camisolas” que vestem. Durante a apresentação da equipa para a nova temporada, o cônsul-geral
Sérgio Fonseca
info@hojemacau.com.mo
aproveitou para fazer uma saudação especial à equipa da Casa de Portugal, que também compete na 2.ª divisão de Macau, assim como aos patrocinadores. Vítor Sereno fechou a sua intervenção agradecendo à comunidade portuguesa nascida, ou radicada, em Macau e em Hong Kong, pelo apoio incondicional à equipa. A formação terá oportunidade para retribuir o apoio prestado nas quatro linhas. H.M.
17 hoje macau quinta-feira 19.1.2017
TEMPO
C H U VA
O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente
EXPOSIÇÃO “VELEJAR NO SONHO” DE KWOK WOON Oficinas Navais N.º1
?
FRACA
MIN
16
MAX
20
HUM
75-95%
•
EURO
8.51
BAHT
EXPOSIÇÃO “33 ANOS NA RÁDIO DO LOCUTOR LEONG SONG FONG” Academia Jao Tsung-I (Até 05/02)
O CARTOON STEPH
PROBLEMA 160
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 159
C I N E M A
UM DISCO HOJE
SUDOKU
DE
EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)
Cineteatro
YUAN
1.16
OS FALSOS
EXPOSIÇÃO “ART FOR ALL , 9º ANIVERSÁRIO” Macau Art Garden (Até 22/01)
EXPOSIÇÃO “SOLIDÃO”, FOTOGRAFIA DE HONG VONG HOI Museu de Arte de Macau
0.22 AQUI HÁ GATO
EXPOSIÇÃO “CHANGE OF TIMES” DE ERIC FOK Galeria do IFT
EXPOSIÇÃO “52ª EXPOSIÇÃO DO FOTÓGRAFO DA VIDA SELVAGEM DO ANO” Centro de Ciência (Até 21/02)
(F)UTILIDADES
Há todo um mundo de diferenças entre nós, animais, e as almas com duas pernas que andam por aí, a quem alguém decidiu chamar seres humanos. Não percebo nada de evolução das espécies, nem quero saber. Já aqui tive oportunidade de deixar claro que não quero confusões com outros animais, os elogios a cães, cavalos, lagartixas e sapos deixam-me piurso, mas também não é essa a razão pela qual me apropriei de um computador alheio para vos escrever. Com homens e mulheres nunca houve confusões, o que muito aprecio, porque é um género que me deixa louco, mais vezes do que aquelas que seria de esperar, eu, gato, que dependo da ração e da água que eles me dão.Hoje bato nestas teclas porque me faz uma particular confusão ver as almas com duas pernas cuspirem no prato onde comem. É, para começar, um gesto deselegante, coisa que não suporto, por ter sido criado com a boa educação felina que se deseja a um gato preto de pêlo bem tratado. Depois, é uma estupidez: nunca se sabe se não se volta a comer nesse prato sem que tenha sido lavado. Dizem que os gatos não conhecem dono. Energúmenas afirmações que saem de bocas tortas, incapazes de perceber que a lealdade não é andar a roçar o pêlo pelas pernas de quem dá mais jeito, a abanar a cauda de falso contentamento. A lealdade é não cuspir no prato onde se comeu toda a vida. E erguer o focinho nos momentos em que a solenidade assim o exige. Pu Yi
AS CIDADES | CHICO BUARQUE
Com os tempos confusos que se vivem no Brasil, passou de amado a bastante detestado por alguns. Por aqui, a política alheia é coisa que não nos interessa quando ouvimos a voz de um dos melhores músicos de sempre. “As Cidades”, disco de 1998 rodado vezes sem conta, transporta-nos para dias mais quentes, mais azuis, mais amarelos, por um Chico que sabe ser de todas as cores e cantar para todas as almas. Isabel Castro
A STREET CAT NAMED BOB SALA 1
SALA 3
Filme de: Denis Villeneuve Com: Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker 14.30, 16.45, 19.15, 21.30
FALADO EN MANDARIM LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Simon Hung Com: Yuan Huang, Megan Lai, Darren Wang 14.30, 21.30
ARRIVAL [B]
SALA 2
A STREET CAT NAMED BOB [B] Filme de: Roger Spottiswoode Com: Luke Treadaway, Joanne Froggatt, Ruta Gedmintas 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
10000 MILES [B]
SING [A] FALADO EM CANTONENSE Filme de: Garth Jennings 16.30, 19.30
www. hojemacau. com.mo
Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Cabrita; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
18 PUBLICIDADE
hoje macau quinta-feira 19.1.2017
Aviso Avisam-se todos os interessados que está aberto o concurso de prestação de prova, para o preenchimento do seguinte lugar, em regime de contrato administrativo de provimento da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, de acordo com as condições referidas no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau, n.°3, II Série, de 18 de Janeiro de 2017, e cujo prazo de apresentação das candidaturas termina no dia 7 de Fevereiro: - Um lugar da carreira de auxiliar de ensino, 1.º escalão (área de informática) A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, aos 11 de Janeiro de 2017. O Director, substituto, Lou Pak Sang (Subdirector)
19 hoje macau quinta-feira 19.1.2017
bairro do oriente LEOCARDO
É um mundo cão
1) Circulou pelas redes sociais no início da semana um vídeo que dava conta de um caso de maus tratos a animais, que indignou qualquer pessoa de bem, e deixou as associações dos direitos dos animais à beira de um ataque de nervos. Nas imagens recolhidas por um amador (aparentemente) da janela da sua casa, vê-se um indivíduo a espancar brutalmente um cão do terraço de um edifício anexo, durante cerca de um minuto. Mais tarde veio a saber-se que o agressor é um agente da Polícia Judiciária, e aparentemente fora do seu horário de turno, naquele que deve ser o seu “remanso do lar” – lá se foi a desculpa de que o animal estava a ser interrogado, e mostrava-se pouco disposto a colaborar com as autoridades. Nem por acaso, e logo para azar do actor principal daquela fita, ainda no ano passado a AL aprovou (finalmente) uma lei que criminalizou a “biqueirada ao cachorro”, uma exótica e bizarra forma local de lidar com o “stress”. A PJ abriu um inquérito, e veio muito oportunamente condenar a conduta do seu agente (e é preciso não esquecer a tal leizinha, pois...). Acho mal e acho bem – o comportamento do agente, e a prontidão da resposta por parte das autoridades, respectivamente. Isto de molestar criaturas de sangue quente está completamente “off”, e ao contrário do oficial do GP de Macau que enxotou à vassourada um cão que se atravessou na pista durante os treinos, aqui “não havia nexexidade” nenhuma.
No caso da AL, devem o estatuto a...Mário Soares, entre outros. Ó, a ironia. E que Pátria é essa que estes patrioteiros idealizam, onde nem se respeitam os mortos? 2) Por falar em AL, o deputado José Pereira Coutinho apresentou na última terça-feira no hemiciclo um voto de pesar pelo desaparecimento de Mário Soares, figura inalienável dos últimos 40 anos da História de Macau, e da transição do território para a R. P. China em 1999. Achei a ideia boa, mas não gostei da “entrega” por parte do sr. deputado; leu mal, depressa, atabalhoadamente, ignorando quase por completo a pontuação. Podia estar nervoso, cansado, não interessa, pois logo a seguir o quadro ficou completamente borrado: o voto foi aprovado com 13 votos a favor, cinco contra, e duas abstenções. Quanto a estas últimas, quem acha que a intensidade da ordem de trabalhos da AL (?) não deixa tempo para sentimentalismos, tem todo o direito a ser tótó, mas...votar contra? Um voto de pesar por uma pessoa que faleceu, e que nunca lhes fez qualquer mal – antes pelo contrário – e...votam contra?!?! Não me surpreendeu que tenha vindo dos sectores patrióticos cá do burgo, mas...para quê? Quem é que lhes encomendou o sermão? Parece que a memória é mesmo curta, e que nem ainda há nem dois meses um outro elemento do órgão legislativo local ficou com um enorme “melão” depois de uma demonstração de “patriotismo” durante uma visita ao continente, e que não agradou ao seu destinatário. E sabem porquê? Porque sois ricos. Não “marxistas”, e muito menos revolucionários. E no caso da AL, devem o estatuto a...Mário Soares, entre outros. Ó, a ironia. E que Pátria é essa que estes patrioteiros idealizam, onde nem se respeitam os mortos?
OPINIÃO
“ O motorista e as cadernetas
Sei também/de misses/a posarem nos templos que foram/de cavalos e cães/a babarem apostas nos dias a ser/de penhores/a marcarem as esquinas de ser/Sim eu sei” João Rui Azeredo
O antigo motorista oficial do ex-procurador da RAEM foi ouvido ontem em tribunal. Contou que ajudava a cobrar rendas de familiares e amigos do arguido e falou dos encontros que o magistrado tinha com mulheres
PUB
Ho Chio Meng terá tentado reaver prova apreendida
A
história foi contada ontem em tribunal pelo antigo motorista de Ho Chio Meng. De acordo com a Rádio Macau, que tem estado a acompanhar o julgamento, Ho Chio Meng terá tentado recuperar um documento apreendido durante buscas feitas pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC), numa altura em que estava já sob investigação. Em causa está uma caderneta bancária do cunhado, encontrada na casa do motorista do ex-procurador. O funcionário, de nome Mak Hak Neng, confirmou cobrar rendas em nome de familiares e de um amigo do arguido. Ouvido no Tribunal de Última Instância como testemunha da acusação, Mak Hak Neng disse que, a pedido de Ho Chio Meng, “ajudava” a executar contratos de arrendamento referentes a fracções e a
2006, passava a fronteira, “mensalmente”, com montantes entre 100 mil a 300 mil dólares de Hong Kong. O Ministério Público apontou que os valores “ultrapassavam o limite estabelecido por lei”, mas a testemunha não esclareceu se alguma vez teve problemas na Alfândega, conta a Rádio Macau parques de estacionamento em nome do cunhado de Ho Chio Meng, Lei Kuan Pun, e de Mak Im Tai, empresário arguido no processo e amigo de longa data do antigo líder do Ministério Público. O motorista oficial do ex-procurador explicou que era o responsável por “ver se [os arrendatários] pagavam as rendas” e, por isso, estava na posse de cadernetas bancárias de Lei Kuan Pun e de Mak Im Tai. Os documentos foram encontrados pelo CCAC durante uma busca à residência da testemunha.
A emissora relata que Mak Hak Neng confirmou também que, a pedido de Ho Chio Meng, foi ao CCAC pedir a devolução da caderneta do cunhado do ex-procurador, mas o documento permaneceu apreendido como prova. A testemunha admitiu ainda que transportou grandes quantias de dinheiro para Zhuhai em nome do ex-procurador, sendo que os valores eram depositados numa conta individual de Ho Chio Meng. O motorista disse, a partir de 2005 ou
QUARTOS E HOSPEDEIRAS
A acusação tentou também provar que Ho Chio Meng tinha encontros com mulheres em quartos de hotel, em Macau e Zhuhai, pagos pelo Ministério Público. A agenda telefónica do motorista do ex-procurador foi uma das provas apresentadas: Mak Hak Neng registou contactos de várias mulheres, que terão sido dados por Ho Chio Meng. Alguns destes contactos tinham a expressão “cor vermelha” associada ao nome e, na versão da testemunha, seriam “hospedeiras”.
quinta-feira 19.1.2017
O motorista revelou também que chegou a transportar estas mulheres para hotéis e fez o check in em quartos que nunca utilizou, porque as chaves eram entregues a Ho Chio Meng. A acusação mostrou duas facturas referentes a uma das reservas feitas em nome do motorista: uma está assinada com o carácter “Mou”, que acusação diz ser uma mulher; outra terá sido assinada pelo ex-procurador, às duas da manhã. Ontem, foi também ouvida uma escuta telefónica entre a testemunha e Ho Chio Meng. A chamada foi feita na véspera de Mak Hak Neng prestar declarações no CCAC. O motorista começou por negar o telefonema, mas acabou por confessar, depois de ter sido ameaçado de processo-crime por mentir sob juramento. Na conversa, o ex-procurador diz ao motorista: “Não fales muito”. A testemunha garantiu, no entanto, que não contou o que se passou durante o depoimento no CCAC a Ho Chio Meng, nem a outros arguidos no processo.