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SEGUNDA-FEIRA 19 DE DEZEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3719
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
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FIDELIDADE GARANTIDA
As alterações à lei eleitoral foram sancionadas pelos deputados da Assembleia Legislativa. O novo juramento de fidelidade à pátria, que surge na sequência dos acontecimentos
em Hong Kong, levantou reservas no campo pró-democrata. Au Kam San fala de uma medida que estraga o princípio de “um país, dois sistemas”.
Dar dinheiro à história PÁGINA 8
ANTÓNIO FALCÃO
AL LEI ELEITORAL APROVADA
CASINOS
JULGAMENTO
DETALHES MAIORES PÁGINA 7
CONCERTO
Café com jazz EVENTOS
Filhos dos outros VALÉRIO ROMÃO
REUTERS
PÁGINA 4
CHINA
Vidas ocultas GRANDE PLANO
h
2 GRANDE PLANO
Depois de mais de três décadas com uma política de planeamento familiar muito restritiva, a China acabou com a política de filho único há um ano. A natalidade subiu e muitas pessoas que não se puderam registar constam agora dos assentos de nascimento. Mas existe um enorme problema para resolver: há 13 milhões de vidas que não sabem como recuperar o tempo perdido
CHINA NATALIDADE AUMENTOU 5,7 POR CENTO DEPOIS DO FIM DA POLÍTICA DE FILHO ÚNICO
GENTE NA SOM A
China termina este ano – o primeiro em que todas as famílias estiveram autorizadas a terem dois filhos depois de mais de três décadas de política de filho único –, com 17,5 milhões de nascimentos, o que representa um crescimento anual de 5,7 por cento. O número de nascimentos é o maior registado pelo país este século. O número, revelado pelo diário oficial Global Times, compara com os 16,55 milhões de nascimentos registados no ano passado, e demonstra um “crescimento estável” da natalidade após a flexibilização das políticas demográficas. Além disso, está de acordo com as expectativas, segundo responsáveis da Comissão de Planeamento Familiar e Saúde que, na semana passada, se reuniram para analisar os primeiros efeitos destas reformas. Os segundos filhos que nasceram em 2016 têm, à partida, um destino bem diferente daqueles que, de 1978 para cá, foram tidos por casais que já tinham uma criança. O fim da política de filho único veio acabar com um problema para muitas famílias e permitir o registo de pessoas que, até agora, não existiam para as autoridades, mas há um problema que atravessa já duas gerações que parece ser difícil de resolver: as pessoas que,
por terem vivido na sombra, perderam a possibilidade de estudar, de arranjar um emprego, de terem um vida normal. A residir em Pequim há 23 anos, Li Xue nunca frequentou uma escola, nem sequer durante um dia. A China tem um sistema de educação que prevê nove anos de ensino gratuito, mas Li ficou de fora do esquema. Também nunca teve, em 23 anos, qualquer
jovem tinham de pagar uma avultada multa para poderem registar a filha. Sem possibilidades para tal, Li Xue não entrou nos registos de nascimento chineses. Ao longo dos anos, a família fez vários esforços para legalizar a situação da jovem. Com o anúncio do fim da política de filho único e a autorização para um segundo descendente, Li conseguiu finalmente
Muitas pessoas sem registo cresceram e começaram as suas próprias famílias, dando assim início à segunda geração de crianças sem documentação apoio da segurança social. Não tinha autorização para casar, encontrar um emprego ou abrir uma conta bancária. Li Xue é a segunda filha dos seus pais. Por causa da política de filho único, em vigor entre 1978 e 2015, a jovem não fazia parte dos números oficiais da população chinesa. Li contou à Reuters que os pais tentaram registá-la quando nasceu na esquadra da polícia, mas os funcionários recusaram o pedido e pediram uma carta de autorização da comissão de planeamento familiar local, um requisito essencial para se ter um segundo filho. Sem carta para mostrarem às autoridades, os progenitores da
obter um documento que prova a sua existência. A mudança de política do controlo da natalidade fez com que pessoas na situação desta jovem tentem agora recuperar os anos perdidos, ainda que com a sensação de que o reconhecimento oficial do direito à existência chegou demasiado tarde e sem a certeza de que as autoridades as vão ajudar a recuperar o que ainda for possível reaver. Li Xue não pôde ter uma educação formal e lutou para aprender sozinha, recorrendo aos livros da biblioteca que eram requisitados em nome da irmã mais velha, uma
vez que a família não tinha condições financeiras para contratar um professor particular. “A minha mãe foi despedida do trabalho porque eu nasci”, conta a jovem, numa entrevista na casa onde a família vive em Pequim, uma habitação sem casa de banho e com um duche improvisado. “Tínhamos de viver, os quatro, com o salário muito baixo do meu pai.” Amãe de Li, Bai Xiuling, recorda que a filha costumava chorar quando via as outras crianças a caminho da escola. “Ela queria estudar, mas não podia. A minha filha perdeu nove anos de ensino gratuito. Não há dinheiro que possa comprar o tempo que perdeu e que já não volta”, afirma a antiga operária fabril.
SÃO 13 MILHÕES NO ESCURO
De acordo com os censos mais recentes, conduzidos em 2010, a China tem 13 milhões de cidadãos na situação de Li Xue, sem estarem registados – é quase um por cento da população do país. “A maior parte destas pessoas são crianças que nasceram enquanto a política de filho único esteve em vigor”, explica Jiantang Ma, o homem que liderava o Gabinete Nacional de Estatísticas da China aquando da realização dos censos. Um estudo feito no ano passado pela Academia de Pesquisa Macroeconómica, sob a alçada da
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BRA Comissão para a Reforma e o Desenvolvimento Nacional, permitiu concluir que quase metade dos cidadãos chineses que não estão registados são analfabetos ou não têm qualquer tipo de educação formal. Durante os anos de vigência da política de filho único, os segundos filhos não podiam ser registados no sistema de residência do país, a não ser que fosse paga uma pesada multa, uma regra que foi seguida com raras excepções. Também os filhos nascidos fora do casamento são considerados uma violação das regras apertadas de planeamento familiar, pelo que os casais que não contraíram matrimónio são obrigados a pagar uma multa para registar os filhos, dinheiro que nem sempre têm. A China é dos poucos países do mundo com um sistema de registo de residência – o “hukou” – que contém informação como nascimentos e casamentos. Uma pessoa sem um “hukou” não tem acesso a serviços públicos (como educação e sistema de saúde) e está impedida de casar, de encontrar um emprego e até de abrir uma conta bancária. A ligação entre a “política de filho único” e o “hukou” é controversa, com as autoridades governamentais chinesas a dizerem que o sistema de registo de residência é aberto a todos os cidadãos, sem quaisquer pré-requisitos. Mas as
Com o anúncio do fim da política de filho único e a autorização para um segundo descendente, Li Xue conseguiu finalmente obter um documento que prova a sua existência. A jovem tem 23 anos
famílias afectadas argumentam que há uma ligação clara. “Apesar de o ‘haikou’ e a política de filho único não deverem estar juntos, as autoridades locais têm relacionado estes dois aspectos durante anos porque descobriam que é uma forma de obrigar as famílias a obedecerem à lei de planeamento familiar”, comentou à Reuters Youshui Wu, responsável por um escritório de advogados em Zhejiang. Youshui Wu, que ajudou muitos casais chineses a registarem os segundos filhos, acrescenta que existe ainda em torno desta questão um lado económico: as multas pesadas a que estavam obrigados os casais prevaricadores eram uma fonte lucrativa de receitas para as autoridades locais.
CASA DE PORTAS FECHADAS
Dados recolhidos pelo advogado em 24 governos ao nível provincial, disponibilizados pelas autoridades, mostram que, só em 2012, a China arrecadou mais de 20 mil milhões de yuan em multas pagas por casais que tiveram um segundo filho sem autorização prévia. “Nenhum destes governos foi capaz de fornecer informações sobre o modo como estas verbas foram aplicadas”, explicou Wu. Wenzhuang Yang, um alto responsável da Comissão Nacional de Planeamento Familiar e Saúde,
nega que a “política de filho único” e as punições que lhe estão associadas tenham contribuído para impedir o registo a milhões de cidadãos. Numa conferência de imprensa este ano, o responsável disse que a comissão fez o que podia para remover os obstáculos criados pelas autoridades locais no registo de residência e que muitos cidadãos sem assento de nascimento foram agora incluídos no sistema ‘hukou’. Chunyan Liu, uma professora de Inglês solteira, conta que não teve capacidade financeira para suportar a multa que teria de pagar pelo nascimento da filha, que esteve sete anos sem ser registada. Em Abril deste ano, a criança passou a constar dos registos nacionais. “A multa em Pequim era muito elevada. Pensei muitas vezes nisso, mas era impossível deixar as autoridades saberem que tive uma filha sem permissão”, diz. Por não ter um ‘hukou’, a filha da professora não teve acesso a cuidados de saúde pagos pelo Governo. Também não podia comprar um bilhete de comboio ou sair do país. “Quando outros pais levavam as crianças à Disneylândia de Hong Kong, nós não nos atrevíamos sequer a pensar nisso.” “A minha filha tem agora sete anos e nunca pôs os pés fora de Pequim”, relata ainda, confessando
Um estudo feito pela Academia de Pesquisa Macroeconómica permitiu concluir que quase metade dos cidadãos chineses que não estão registados são analfabetos ou não têm qualquer tipo de educação formal
que continua preocupada com a possibilidade de as autoridades lhe exigirem o pagamento da multa. Apesar de toda a história pessoal que carrega, Liu considera ter “sorte”. No ano passado, tentou encontrar uma escola para a filha estudar, mas não conseguiu, por causa da falta de um registo de residência. “Agora, ela tem tudo aquilo que precisa para poder frequentar uma escola pública”, diz. Afilha de Liu ainda vai a tempo de não ficar excluída de educação. Mas o destino de muitos foi bem diferente: os investigadores da Academia de Pesquisa Macroeconómica dizem que mais de metade dos chineses sem registo já fizeram 18 anos. Muitos destes adultos não só viram vedados o acesso à escola, como tiveram dificuldades adicionais na procura de emprego, uma vez que não dispõem de documentação legal para serem contratados. O trabalho de investigação dá o exemplo de Liu Wei, da província de Henan, que não teve escolha: foi trabalhar para uma mina de carvão. Depois de a exploração ter fechado portas, ficou desempregado, uma vez que não conseguia arranjar um novo posto. Acabou a dormir na rua durante cinco anos.
OS FILHOS DE QUEM NÃO EXISTE
O isolamento social é um problema que não pertence a uma
só geração, com os investigadores a mostrarem dúvidas sobre os efeitos do fim da política de filho único para esta fatia da população. “Muitas pessoas sem registo cresceram e começaram as suas próprias famílias, dando assim início à segunda geração de crianças sem documentação”, escrevem os autores do relatório da Academia de Pesquisa Macroeconómica. Wenzheng Huang, especialista em demografia e antigo professor assistente em Harvard, explica que Pequim tentou encontrar formas de resolver o problema depois de os censos de 2010 terem colocado em destaque o facto de existirem 13 milhões de cidadãos chineses sem registo. “Tanto quanto sei, muitos desses segundos filhos ou filhos fora do casamento têm agora um ‘haikou’. O Governo Central começou a tratar do registo de residência de forma séria”, afirma o académico. “As autoridades reconheceram que a existência de tantas pessoas sem registo é um problema muito sério. Não só representa um preço muito elevado no desenvolvimento social, como tem causado uma enorme dor a muitas famílias.” HM
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PETIÇÃO EM BUSCA DO SUFRÁGIO UNIVERSAL
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Associação Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau, dos deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San, entregou uma petição à sede do Governo no sábado para pedir ao Chefe do Executivo que inicie o processo de reforma política, com vista à concretização da eleição por sufrágio universal em 2019. Os deputados confirmaram ainda a realização de um
fórum sobre o mesmo tema amanhã, dia em que se assinala a transferência de soberania de Macau para a China. O fórum terá lugar no jardim do Iao Hon. Na petição, os deputados do campo pró-democrata referem que Chui Sai On prometeu, no seu programa eleitoral de 2014, que “iria impulsionar o desenvolvimento do regime político democrata, em
cumprimento da Lei Básica”. Sobre a revisão da Lei Eleitoral, aprovada na generalidade na passada sexta-feira, a associação lamenta que não haja aumento dos assentos eleitos pela via directa na Assembleia Legislativa (AL). “Se o Chefe do Executivo não cumpre a sua responsabilidade e não dá o primeiro passo, as mudanças nos métodos de eleição para o Chefe
CHUI SAI ON EM PEQUIM ESTA QUARTA-FEIRA
HOJE MACAU
POLÍTICA
do Executivo ou para a AL podem avançar”, apontaram. Por forma a dar continuidade ao pro-
cesso, Ng Kuok Cheong e Au Kam San pedem que se arranque com uma consulta pública. A.K.
Lei eleitoral JURAMENTO DE FIDELIDADE PREOCUPA PRÓ-DEMOCRATAS
Ter medo de contágios Os deputados da Assembleia Legislativa aprovaram, na passada sexta-feira, a lei eleitoral. Sem ser consensual, o diploma obteve elogios da maioria dos tribunos e as reservas foram manifestadas pela ala pró-democrata será um trabalho desnecessário e porque é que se tem de interpretar, à força, a Lei Básica”. O novo juramento de fidelidade surgiu na sequência da polémica em torno da tomada de posse de dois deputados eleitos pró-independentistas de Hong Kong e prevê que a fidelidade dos futuros deputados de Macau seja avaliada pela Comissão dos Assuntos Eleitorais.
APRENDER COM OS VIZINHOS
Kwan Tsui Hang integra o grupo de tribunos que concorda com a GCS
E
STÃO aprovadas na especialidade as alterações à lei eleitoral. O diploma, apesar de reunir o consenso da maioria dos deputados, acrescenta um novo juramento de fidelidade à pátria que foi mote do debate entre pró-democratas e restantes membros da Assembleia Legislativa. Para Ng Kuok Cheong, as mudanças não contribuem para a democratização do sistema político porque não se prevê a possibilidade de sufrágio directo universal. Por outro lado, para o deputado, as novas disposições sobre o juramento de fidelidade acontecem como “consequência das posições independentistas vizinhas, o que não faz sentido em Macau”. Para o tribuno pró-democrata, “não há necessidade de apertar mais o cerco”. “Não devemos aplicar do mesmo modo o que se está a fazer no outro lado: se há disputas lá não devíamos transferi-las para Macau”, sublinhou. Au Kam Sam concordou com o colega de bancada. “Não é preciso definir por escrito o cumprimento da Lei Básica e a fidelidade à RAEM.” O deputado, que considera que este é um juramento já está previsto na Lei Básica, frisa o carácter desnecessário da medida. “Estamos a estragar o princípio ‘um país, dois sistemas’. É uma situação redundante. Não é preciso colocar isto na nossa lei eleitoral”, afirmou. Au Kam San questiona ainda o Executivo se “este não
medida. “Manifesto a minha concordância total”, disse a deputada. “Estamos a absorver os ensinamentos do que se passa em Hong Kong, devemos aprender com eles e é ainda importante mostrar que Macau não os pretende repetir”, referiu. “Prevenir uma doença contagiosa” foram as palavras do deputado Mak Soi Kun para mostrar a sua concordância com o aditamento à lei eleitoral aprovada. “É bom saber o que se passa nas regiões vizinhas para nos podermos precaver: se houver nos vizinhos uma doença
contagiosa, temos de nos prevenir aqui também”, afirmou. Tommy Lau, por seu lado, frisou que Macau é um território inalienável da China e o mais importante é ser fiel ao país. Para o deputado, “este aditamento reflecte o princípio ‘um país, dois sistemas’”. A seriedade com que deve ser visto o juramento de fidelidade foi também sublinhada por Chui Sai Peng. “Podemos evitar que isto se torne uma brincadeira. Claro que a democracia e a liberdade têm os seus limites, não são direitos absolutos, temos de ter uma atitude muito séria em relação a esta questão”, disse. A secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, justificou o juramento tratando-se de uma medida para evitar que aconteça em Macau o que se passou em Hong Kong. “Trata-se de evitar que se verifique uma situação caótica da sociedade na eventualidade da ocorrência de casos semelhantes a Hong Kong”. Desta forma, “Macau tem enquadramento jurídico para lidar com a situação”, sublinhou.
CANDIDATOS COM DEPÓSITO
Outra das questões levantadas por alguns deputados foi a obrigatoriedade de um depósito de 25 mil patacas para os candidatos à AL. O montante é devolvido caso consigam um mínimo de 300 assinaturas que apoiem a sua candidatura. Para Au Kam San, a medida pode ser um obstáculo à candida-
O Chefe do Executivo, Chui Sai On, vai a Pequim um dia depois do aniversário da transferência de soberania da RAEM, ficando na capital chinesa até sábado. Segundo um comunicado oficial, a visita servirá para “apresentar o relatório de trabalho do ano de 2016”. A agenda será preenchida com “encontros com lideranças do Governo Central”, por forma a relatar “o ponto de situação dos trabalhos desenvolvidos este ano, além das prioridades governativas para 2017”. Alexis Tam, secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, irá exercer interinamente as funções de Chefe do Executivo.
tura dos interessados “com menos posses”. “Ao estipular esse requisito de depósito, claro que estamos a colocar um entrave ao acesso das pessoas interessadas em participar na eleição. Contesto veementemente esta posição”, disse. O deputado José Pereira Coutinho também manifestou reservas quando ao depósito monetário obrigatório. “A fixação deste montante deixa-me com muitas reservas. Se todos os residentes podem ser candidatos, esta é uma restrição”, sublinhou, não deixando de dizer que “25 mil patacas é uma quantia exagerada”. O Executivo explicou que o depósito serve de confirmação de credibilidade da própria candidatura e previne que “candidaturas menos sérias avancem”. “Isto visa evitar brincadeiras na participação nas eleições. Se as candidaturas tiverem menos de 300 assinaturas é uma eleição a sério? É um montante simbólico. O conceito é elevar a consciências das pessoas”, justificou o Governo.
“Se houver nos vizinhos uma doença contagiosa, temos de nos prevenir aqui também.” MAK SOI KUN DEPUTADO Foi também aprovada, na especialidade, a proposta de orçamento de 2017, que prevê receitas de 102,944 mil milhões de patacas, menos 0,3 por cento face ao Orçamento previsto para este ano, e despesas de 95,725 mil milhões de patacas, que representam mais 12,6 por cento na comparação anual. Sofia Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
5 POLÍTICA
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DEPUTADOS PEDEM MEDIDAS PARA UM MAIOR APROVEITAMENTO DA ORLA MARÍTIMA
Macau virado para o mar A definição da orla marítima de Macau pelo Governo Central e a abertura da circulação, através dos vistos individuais, para os barcos de lazer entre Zhongshan e o território estiveram na origem de algumas sugestões dos deputados à Assembleia Legislativa
C
OM uma área marítima de cerca de 85 quilómetros quadrados, o território deve comprometer-se a explorar esta orla da melhor forma. A ideia foi deixada na passada sexta-feira pelo deputado Chui Sai Peng. “Apesar das opiniões dos diversos sectores sobre a gestão de utilização desta
área, é consensual que deve ser utilizada para o desenvolvimento de Macau como centro marítimo de turismo e lazer”, disse. Para justificar a sugestão, o deputado referiu que o território está a duas horas de vários destinos periféricos importantes, entre eles, Hong Kong, Cuiheng, Hengqin, Kiangmen, várias zonas da província de Guandong, bem como “de outras áreas adjacentes de forte desenvolvimento económico e zonas piloto de comércio livre”. Segundo Chui Sai Peng, é fundamental que a abertura marítima do território seja aproveitada em todo o seu potencial. “Se as águas de Macau forem aproveitadas para reforçar a ligação entre as diferentes zonas, aumentando os recursos turísticos entre elas, o desenvolvimento do turismo marítimo através de viagens entre as diferentes ilhas dessa zona geográfica contribuirá para a cooperação regional, através também da exploração das características geográficas e culturais de Macau”, frisou. Para o efeito, não basta a autorização da circulação de iates entre Zhongshan e Macau, pelo que o tribuno sugere “um estudo de turismo individual nas áreas marítimas interligadas para que os turistas do interior da China possam gozar livre e convenientemente as deslocações a Macau”.
“A
FALTAM PORTOS
Ainda no período de antes da ordem do dia do plenário da passada sexta-
“O Governo deve arranjar um espaço para um novo terminal e aproveitar o antigo terminal do Porto Interior.” ANGELA LEONG
O
-feira, a deputada Angela Leong, salientou que apesar dos benefícios resultantes da circulação recentemente aprovada entre Macau e Zhongshan, é necessário promover mais esforços na cooperação com a zona vizinha. A deputada deu como exemplo a necessidade de formação nas áreas que acompanham o desenvolvimento do turismo marítimo. “O Governo deve ter planos para apoiar este sector transfronteiriço, apoiando as instituições de ensino a definirem políticas e formando, faseadamente, talentos para este sector”, disse. Por outro lado, disse ainda, as instalações preparadas para receber a abertura do território a embarcações de lazer não são suficientes pelo que “o Governo deve arranjar um espaço para um novo terminal e aproveitar o antigo terminal do Porto Interior”. Sofia Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
Exclusividade para autocarros ANTÓNIO FALCÃO
Au Kam San critica falta de vias para transportes públicos
tem como única solução o controlo dos veículos. “No entanto, estes aumentaram significativamente nos últimos anos, não só devido ao rápido crescimento económico,
mas também por causa das deficiências dos transportes públicos, da falta de resultados da construção do sistema de transportes colectivos e das dificuldades em apanhar
autocarro e táxi”, explicou Au Kam San. Como consequência, os residentes são obrigados a assegurar as suas deslocações. A prioridade, para o deputado, é assegurar a existência de vias dedicadas apenas aos transportes públicos. O deputado não deixou de apontar críticas ao Executivo que “anda a preparar a criação de uma via exclusiva entre a Barra e as Portas do Cerco”. No entanto, a via em questão “só vai até à Rua da Ribeira de Patane e está mal dividida”. Com a agilização da circulação dos transportes públicos, o deputado não tem dúvidas que “a maioria dos condutores vai acabar por ver que chega mais rápido de autocarro do que nos seus carros”. S.M.
deputado Chan Meng Kam acusou as Obras Públicas e o Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT) de “sofrer de uma deficiência congénita”. A acusação, dirigida especificamente às obras do metro ligeiro e aos trabalhos do GIT, teve como ponto de partida as declarações do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, que “referiu, no ano passado, que os trabalhadores do GIT são maioritariamente jovens que não conhecem bem os procedimentos administrativos”, apontou o deputado. “Trata-se de uma deficiência congénita.” Chan Meng Kam lembrou ainda que Raimundo do Rosário referiu que apenas “82 pessoas têm de dar resposta a muito trabalho, e estranho seria se não houvesse problemas”. Ao fazer referência ao metro ligeiro, o deputado frisou que “Macau não tem experiência nenhuma de gestão desta área, portanto se é o pessoal do costume a assegurar isto, já sabemos qual vai ser o resultado”. Chan Meng Kam considera que o problema dos atrasos e derrapagens orçamentais das obras públicas não são somente por causa da falta de recursos humanos. “A questão fulcral é a seguinte: terão os governantes capacidades decisórias, de liderança e de planeamento?”, lançou. Para o tribuno, o mais importante é que os órgãos de chefia tenham capacidade de previsão dos problemas para que estes possam ser resolvidos atempadamente e, desta forma, evitar “litígios desnecessários”. S.M. HOJE MACAU
única forma de resolver os problemas de trânsito é concretizar a primazia dos transportes públicos”, considera o deputado Au Kam San, preocupado com o aumento do número de viaturas nas estradas do território e com aquilo que considera ser a ineficácia das alternativas existentes. “Apesar do número de autocarros ter aumentado, os serviços prestados são cada vez piores”, afirmou. Se, em tempos, os autocarros representaram um transporte mais rápido, neste momento isso não acontece. “Para uma distância que antigamente demorava 30 minutos a percorrer, agora precisamos de mais de uma hora”, disse. Paralelamente, os serviços de táxis não são satisfatórios e os residentes “já desistiram porque é um problema que não tem cura”. Para Au Kam San, “não é possível melhorar os serviços de transportes públicos de Macau se se depender de mentalidades tradicionais”. O problema, que é agravado pelo aumento de carros privados,
Chui Sai Peng considera ainda que as consequências do investimento na exploração turística marítima vão “favorecer a distribuição da carga do trânsito e das instalações de superfície, criando novas actividades comerciais e postos de trabalho, e ainda vantagens turísticas regionais que outros sítios dificilmente conseguem copiar”.
CHAN MENG KAM OBRAS COM DEFICIÊNCIA CONGÉNITA
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hoje macau segunda-feira 19.12.2016
7 hoje macau segunda-feira 19.12.2016
Justiça HO CHIO MENG OUVIDO SOBRE 120 DE MAIS DE 1300 ADJUDICAÇÕES
Em mais um dia de julgamento, o ex-responsável pelo Ministério Público reiterou a inocência e explicou que, atendendo ao cargo que desempenhava, não controlava detalhes que, para a acusação, são prova de que cometeu crimes em adjudicações de serviços de limpeza e desinfestação
Detalhes além-procurador ANTÓNIO FALCÃO
antigo procurador da RAEM, Ho Chio Meng, foi ouvido na sexta-feira em tribunal sobre 120 adjudicações de um universo de mais de 1300 relativamente às quais responde, nomeadamente pelo crime de burla qualificada. A quarta sessão do julgamento de Ho Chio Meng, que liderou o Ministério Público entre 1999 e 2014, foi dedicada à adjudicação de contratos de obras, serviços e fornecimento do gabinete do procurador a empresas que, segundo a acusação, foram criadas por uma associação criminosa que Ho Chio Meng é acusado de chefiar. Dos mais de 1300 contratos, divididos, pela sua natureza, em 24 itens, o tribunal analisou apenas o
A
secretária para a Administração e Justiça de Macau, Sónia Chan, negou ter existido qualquer “troca de interesses” ou ilegalidade por ter recomendado, em 2008, um familiar seu para trabalhar no Ministério Público (MP). “Tenho um familiar que trabalha no MP. Na altura tive uma oportunidade, disse ao ex-procurador que havia essa pessoa. Eu não tinha poder de decisão na altura, sendo coordenadora do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP). Não era possível fazer pressão alguma. Não há troca de interesses, não há nada ilegal”, disse na sexta-feira Sónia Chan, que convocou os jornalistas, que assistiam a um plenário na Assembleia
ao pormenor – e, por isso, não se poder defender – por não terem sido transpostos na íntegra da acusação inicial para o despacho de pronúncia. Logo no arranque foi também o estado de saúde de Ho Chio Meng que esteve novamente em foco, depois de a audiência de quarta-feira passada ter sido suspensa da parte da tarde.
Ho Chio Meng diz que “não tem lógica” pensar-se que um procurador dá pareceres sobre os serviços de limpeza conjunto dos serviços de limpeza e desinfestação relativamente aos quais o antigo procurador responde pelos crimes de burla qualificada e participação económica em negócio em concurso aparente com o crime de abuso de poder. Em causa estão 120 contratos, cujo valor global dos supostos benefícios ilícitos corresponde a cerca de metade do montante total da adjudicação dos serviços de limpeza e desinfestação (14,6 milhões de 29,6 milhões de patacas). O tribunal analisou um a um, pelo que, a manter-se este ritmo, vão ser
precisas pelo menos dez audiências para Ho Chio Meng acabar de ser ouvido sobre as adjudicações. O antigo procurador voltou a negar ter dado instruções no processo de escolha, designadamente na substituição de uma empresa por outra, afirmando mesmo que “não tem lógica” pensar-se que um procurador dá pareceres sobre os serviços de limpeza. “Só vou saber se o procedimento está correcto” e não “se o preço é baixo, se [a empresa] tem novas máquinas (…) ou se está bem limpo”, apontou, sublinhando confiar nos
“fiéis” subordinados, e alegando ainda desconhecimento de casos em que os serviços adjudicados foram executados por empresas subcontratadas e aqueles que não foram cumpridos.
SAÚDE E ISOLAMENTO
O início da audiência de julgamento ficou, contudo, marcado por uma questão processual – que o tribunal considerou ter sido resolvida anteriormente –, mas que acabou por levar à sua suspensão por uma hora. Isto para permitir ao arguido reunir-se com o advogado para se inteirar de factos que afirmou desconhecer
“Não há nada ilegal”
Sónia Chan esclarece declarações de antigo procurador
Legislativa, para esta declaração no exterior da sala, depois de, um dia antes, ter evitado as perguntas da comunicação social. A secretária reage assim a declarações feitas em tribunal por Ho Chio Meng. O ex-procurador reconheceu que, sendo Macau pequeno, havia no seio do MP funcionários com relações familiares entre si e recordou que houve currículos que lhe passaram pelas mãos para potenciais recrutamentos. “As duas secretárias de apelido Chan [em referência a Florinda Chan e a Sónia Chan, respectivamente an-
tiga e actual secretária para a Administração e Justiça] chegaram a telefonar-me”, afirmou. O gabinete de Sónia Chan tinha já confirmado aos jornais Tribuna de Macau e Ponto Final que, em 2008, quando era coordenadora do GPDP, recomendou um familiar para trabalhar no MP, que acabou por ser contratado. A secretária negou, no entanto, quaisquer pressões e refutou a possibilidade de troca de interesses. Na sexta-feira, Sónia Chan admitiu que agora que desempenha um cargo elevado “a exigência da
sociedade é maior” e prometeu, “a partir de agora e no futuro”, ser “mais cautelosa” e ter um “desempenho que corresponda à expectativa do público”. CGS
O
SOCIEDADE
Em resposta ao presidente do Tribunal de Última Instância, Sam Hou Fai, o antigo procurador afirmou que a sua saúde piorou, mas que irá “tentar aguentar” e “fazer o possível” para continuar a cooperar com o tribunal, e garantiu ainda que não irá fazer mal a si próprio. Fez ainda questão de realçar o “cuidado” e o tratamento “muito humano” que tem recebido na prisão – onde se encontra desde Fevereiro – e onde referiu ter estado em isolamento. A próxima audiência está marcada para hoje. A realizar-se – tal irá depender do estado de saúde do antigo procurador – será a última antes das férias judiciais.
Quando questionada sobre que função exerce hoje no MP o seu familiar, a secretária disse não ter “mais informações para providenciar” e sublinhou que o poder de decisão era do MP. “Se ele precisa ou não de recrutar e se a pessoa correspondia às condições, isso foi decisão do MP. Eu não influenciei, apenas recomendei”.
FICA MAL NA ACTA
Na quinta-feira passada, o deputado Leong Veng Chai pediu uma investigação disciplinar à secretária devido a este caso, mas sem referir explicitamente o seu nome. Na sexta-feira, o jornal Ponto Final publicou declarações de Leong Veng Chai em que este diz que foi
aconselhado pelo Gabinete do Presidente da Assembleia Legislativa a retirar do discurso as referências a Sónia Chan e Ho Chio Meng. “Foi a primeira vez que isto aconteceu comigo. Foi-me dito que era melhor não colocar estas informações [referências a Florinda Chan, Sónia Chan e Ho Chio Meng]. Como o caso ainda está a ser julgado nos tribunais disseram-me que não é conveniente evocar o nome de Sónia Chan, nem do antigo procurador”, disse Leong Veng Chai ao jornal. “As recomendações foram feitas por parte do Gabinete do Presidente da Assembleia Legislativa”, indicou.
8 SOCIEDADE
hoje macau segunda-feira 19.12.2016
EDUCAÇÃO MACAU ULTRAPASSA MOÇAMBIQUE
A
Escola Portuguesa de Macau (EPM) está no topo da tabela dos estabelecimentos de ensino no estrangeiro dependentes do Ministério da Educação de Portugal. De acordo com a Lusa, a EPM teve uma média de 11,53 va-
lores, em 146 exames, e a média da Classificação Interna Final (FIC) foi de 14,11 valores. No ano passado, a escola do território tinha ficado em terceiro lugar. A primeira posição foi então ocupada por Moçambique.
Das quatro escolas portuguesas no estrangeiro que realizaram mais de cem exames do ensino secundário, apenas a de Díli, Timor-Leste, registou média negativa nas provas, de acordo com dados do Ministério da Educação.
No total, são oito as escolas portuguesas no estrangeiro, mas apenas quatro preenchem o critério dos cem exames, usado nas análises efectuadas pelaAgência Lusa, a partir de dados oficiais. Em segundo lugar, ficou a Escola Portuguesa de Luanda, em
Angola, com média de 10,74 num total de 263 exames. A média da CIF (resultante da avaliação contínua e da nota do exame) situou-se em 12,26 valores. Em Moçambique, a Escola Portuguesa realizou 302 exames, com média de 10,28 valores.Amédia da CIF
foi de 12,81 valores. A Escola Portuguesa Ruy Cinatti, em Díli, realizou 104 exames, tendo como média 6,99 valores. A CIF atingiu uma média de 13,19 valores.
Casinos DEFENDIDA AFECTAÇÃO DE RECEITAS PARA O PATRIMÓNIO
Jogo para preservar a história O Conselho do Património Cultural fez a última reunião do ano, onde discutiu a possibilidade da afectação das receitas com o jogo para a protecção de património de interesse cultural. Além disso, aprovou obras de restauro da Casa das Irmãs da Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor
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A passada sexta-feira, em reunião plenária do Conselho do Património Cultural, discutiu-se a possibilidade de propor ao Governo a criação de um fundo de protecção do património de interesse cultural através de capitais injectados das receitas do jogo. O órgão pondera alcançar este objectivo aproveitando a altura da negociação de renovação dos contratos do jogo. Bastaria para isso a inclusão de uma cláusula indexada que realce a importância da preservação do património cultural de Macau. Foi adiantado que a criação de um fundo com estabilidade financeira poderá beneficiar a cultura da cidade, não só na realização de obras, mas também na organização
de eventos virados para as artes, como festivais culturais. Outro dos momentos da reunião foi a aprovação das obras de intervenção no edifício das Irmãs da Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor. A ideia é restaurar a casa de traço arquitectónico português, construída na década de 30 do século passado, como uma residência particular. O imóvel, situado no lado leste adjacente ao Parque da Guia, é hoje em dia uma casa de acolhimento para mulheres vulneráveis, gerido pela congregação religiosa. Há muito tempo que se vinha degradando, com o telhado em péssimo estado, o que deixou o edifício totalmente permeável às chuvas. A decadência também se deve à humidade, a infiltrações e à formiga branca, levando ao apodrecimento de vigas de madeira e barrotes. Não só é uma questão de segurança para quem lá vive e trabalha, como um crime arquitectónico deixar ao abandono uma casa de elevado valor histórico. O arquitecto Carlos Marreiros, membro do conselho, alertou para a necessidade de uma intervenção de fundo, depois de pequenas re-
parações que se fizeram no telhado no passado mês de Outubro. “O Instituto Cultural (IC) precisa prestar um apoio de larga escala, em vez dos pequenos reparos que foram feitos recentemente”, comentou. O apoio do IC é fundamental, uma vez que a congregação não dispõe dos fundos necessários para as obras. De acordo com Leong Wai Man, chefe do departamento do património cultural do IC, vão avançar obras também num edifício centenário sito na esquina da Rua Central com
A criação de um fundo com estabilidade financeira poderá beneficiar a cultura da cidade, não só na realização de obras, mas também na organização de eventos virados para as artes
a Calçada de Santo Agostinho, além da casa das irmãs. “Estas obras serão feitas com recursos do IC, pois temos capitação orçamental para efectuar o restauro ou reparação”, avança Leong Wai Man.
PRIVADOS CHAMADOS À PEDRA
Estas obras ocorrem na sequência das anteriores intervenções em templos da cidade, como o pequeno Templo de Fok Ta Chi, no Bairro da Horta da Mitra, o Templo de Sin Fong, o Pavilhão do Buda da Longevidade e o pavilhão central do Templo do Bazar. Estes foram alguns dos quase 50 projectos de restauro promovidos pelo IC. Outro dos berbicachos abordados foi a carência de mão-de-obra qualificada do aparelho governativo para elaborar pareceres arquitectónicos, fiscalizações e mesmo obras. Levantou-se a hipótese de outsourcing, o que pode tornar a intervenção mais célere e aliviar o Governo da sobrecarga que tem com estes assuntos. Para Carlos Marreiros, a protecção do património “é uma questão moral, mas um trabalho muito com-
plexo, principalmente quando envolve propriedade privada”. O português explicou que, para alguns moradores, a designação de imóvel de património de interesse cultural é um fardo.Além da pressão para restauros, ainda ficam impossibilitados de fazer obras de fundo que alterem substancialmente a dimensão do edifício. Durante a reunião plenária discutiram-se formas de dirimir esta relação de forças, de forma a proteger a história arquitectónica de Macau. Uma delas é a permuta de terrenos, outra é a expropriação por interesse público. Existe no ordenamento jurídico local legislação para tratar estes assuntos, mas Marreiros comenta que “não se lembra de uma única expropriação nos últimos 50 anos”. Continua a ser uma questão problemática, mas o arquitecto acredita que no futuro haverá coragem política para proteger, efectivamente, o espólio arquitectónico de Macau. Carlos Marreiros acabou por dizer que é possível solucionar estes diferendos e rematou, em bom português, “que a esperança é a última a morrer”. J.L.
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A
Patriotismo VISITA À CHINA DE GRUPO LIDERADO POR ANGELA LEONG ALVO DE POLÉMICA
Mais vale ficar em casa
Um grupo de 60 trabalhadores de casinos de Macau, liderado pela deputada Angela Leong, esteve este mês em Jinggangshan, na província de Jiangxi, para um curso patriótico de uma semana. A presença de gente ligada ao jogo no berço do comunismo chinês não caiu bem Angela Leong – que liderou o grupo e esteve acompanhada por elementos do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM –, escreveu ao Global Times a explicar a razão da visita de estudo. “Desde o regresso de Macau à China, o território tem conhecido um crescimento económico assinalável com o grande apoio da nossa mãe pátria. Sentimo-nos gratos por isso, mas também consideramos que as pessoas mais jovens, especialmente os trabalhadores dos casinos, sabem pouco da história da China”, afirmou a também deputada à Assembleia Legislativa. Leong disse ainda que é o quarto ano consecutivo que organiza visitas a Jinggangshan para os seus funcionários, mas esta foi a primeira vez que convidou representantes de outras concessionárias. A Galaxy, a MGM, a Melco Crown, a Sands China e a Wynn Macau aceitaram o repto.
TIAGO ALCÂNTARA
história é contada pelo jornal oficial do Partido Comunista Chinês (PCC), o Global Times. A visita a Jinggangshan de um grupo de 60 funcionários de casinos de Macau foi alvo de duras críticas nas redes sociais chinesas, com uma discussão acesa sobre o significado deste tipo de peregrinação. Todos os anos, milhões de visitantes deslocam-se aos locais que, no passado, serviram de palco a momentos decisivos para o aparecimento do PCC para prestarem homenagem aos líderes comunistas e aprenderem mais sobre a estrutura partidária. Mas a visita do grupo de Macau – liderado por Angela Leong, identificada pelo jornal como sendo “a quarta mulher” do magnata de Stanley Ho – foi sobretudo ridicularizada na blogosfera. Os organizadores argumentam que o curso de educação patriótica em Jinggangshan – “o berço da revolução chinesa” – serviu para transmitir aos participantes a noção de espírito de sacrifício. A justificação não bastou para apaziguar os ânimos daqueles que não concordam com operadores de casinos a prestarem homenagem aos revolucionários do PCC, que encaravam o jogo como um “pecado capitalista”, razão pela qual foi (e continua a ser) proibido no Continente.
ELES NÃO SABEM DE HISTÓRIA
Durante o curso, o grupo de funcionários – de todas as operadoras de Macau – usaram os antigos uniformes do Exército Vermelho, foram a “locais revolucionários”, cantaram canções comunistas e prestaram homenagem aos mártires da revolução. Em suma, fizeram as actividades que, por norma, são disponibilizadas nos pacotes de “turismo vermelho”, explica o Global Times. “Para mim, a actividade que não esquecerei foi quando cantámos canções todos juntos. Aprendemos várias”, contou ao jornal Johnny Long, um gestor de 35 anos a trabalhar na SJM. “Não parece ter uma influência directa naquilo que fazemos mas, através destas actividades, aprendemos a sentir o espírito Jinggangshan: trabalhar de forma árdua, apesar das adversidades, e atrevermo-nos a inovar. Isto é muito relevante para a nossa vida”, acrescentou.
SOCIEDADE
DA PROIBIÇÃO AO MORALISMO
Angela Leong disse que é o quarto ano consecutivo que organiza visitas a Jinggangshan para os seus funcionários, mas esta foi a primeira vez que convidou as outras concessionárias Também a trabalhar na Sociedade de Jogos de Macau, Amanda Lee destaca da semana de curso uma visita em que passou pelos principais locais onde estiveram
os líderes revolucionários. “Estivermos num trilho que foi feito pelos soldados do Exército Vermelho. Cozinhámos ao ar livre com recursos muito limitados.”
Apesar de quem trabalha nos casinos considerar necessário prestar homenagem aos revolucionários da China, escreve o jornal oficial, a China nem sempre foi tolerante em relação a jogadores e operadores da actividade. O jogo, como se sabe, é ilegal no Continente e frequentes vezes acusado de causar distúrbios e problemas sociais. Em 1949, com o aparecimento da República Popular, passou a ser proibido. Durante muitos anos, o jogo era considerado um dos “seis vícios”, ao lado da prostituição, a pornografia, o consumo de drogas, a superstição e o tráfico humano. Entre 1949 e 1979, contextualiza o Global Times, as pessoas que eram apanhadas a cometerem
crimes relacionados com apostas iam parar a campos de reeducação como forma de punição. Apesar da proibição interna, é conhecida a apetência dos chineses pelo jogo: há estimativas que apontam para que, em 2014, os apostadores do país tenham perdido 95,4 mil milhões de dólares em casinos fora da China Continental ou em salas de jogo clandestinas no país. O jornal explica que a grande procura pelo jogo beneficiou Macau ao longo dos últimos anos, mas escreve também que a luta contra a corrupção desencadeada em 2012 pode fazer com que “os dias bons tenham chegado ao fim”, havendo uma grande incerteza em relação ao futuro do sector. Nas críticas que o diário recolheu para escrever o artigo, nota-se uma postura de grande censura em relação aos casinos. “Muitos cibernautas do Continente consideram que a deslocação a locais revolucionários por representantes de casinos é tão inapropriada que chega a ser quase irónica.” “Os revolucionários ficariam zangados se soubessem quem lhes prestou homenagem”, escreveu um utilizador do Weibo. “Quem vem a seguir, as tríades de Hong Kong?”, lançou outro cibernauta. “Para os chineses do Continente, os casinos não fazem um trabalho honesto, é injustificável do ponto de vista moral. Por isso, quando se aproximam de algo sagrado, isso é particularmente desarmonioso”, lê-se num comentário do Beijing News. “Apesar de os casinos serem legais em Macau, os operadores devem respeitar a lei e a cultura da China Continental quando realizam actividades no Continente. Deixem de ir a Jinggangshan no futuro.”
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Concerto NOITE DE JAZZ ESTA QUARTA
EVENTOS
Conta-me histórias
Exposição no Venetian com obras vencedoras de concurso
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Venetian terá em exposição, até ao próximo dia 29, os trabalhos vencedores da primeira edição do concurso “Macao’s Past & Present CreativeArts”. Os premiados foram conhecidos na passada quinta-feira. Na lista há alguns nomes de artistas portugueses, como é o caso de Laura Nogueira Li, que ganhou a medalha de ouro na categoria de desenho e pintura, ou ainda de Paulo Reis, que foi também distinguido com a medalha de ouro na categoria escultura/3D. Paulo Reis é escultor e tem vindo a realizar cursos nesta área na Casa de Portugal em Macau. Os vencedores vão receber prémios que, na sua totalidade, têm um valor de 150 mil patacas. Foi ainda entregue um prémio numa categoria especial, referente ao novo empreendimento Parisian, recentemente inaugurado no Cotai. O prémio “Macao’s Past & Present Creative Arts” foi
lançado em Agosto e visa “apoiar a arte e indústrias culturais de Macau”, estando aberto a todos os artistas locais. A iniciativa conta com o apoio da Sociedade de Artistas de Macau, Associação de Multimédia e Fotografia de Macau e ainda a Associação de Designers de Macau, sem esquecer o Instituto Cultural e a Direcção dos Serviços de Turismo.
PELA DIVERSIFICAÇÃO
Segundo um comunicado oficial, este prémio visa promover, por parte da operadora de jogo Sands China, “o ambiente artístico local e apoiar o Governo de Macau a diversificar as indústrias locais, para além de promover, junto do público, o património e o centro histórico. Por este motivo, todos os artistas participantes tiveram de realizar a sua obra de arte com base no património e na história de Macau. A organização aceitou ainda
trabalhos relacionados com “arquitectura inovadora, resorts integrados, festivais e eventos de larga escala”. As obras pretendem ainda “explorar as ruas e sítios menos conhecidos, bem como o dia-a-dia dos residentes, por forma a mostrar as características locais e a dimensão social de Macau”. Wilfred Wong, presidente da Sands China, referiu, no mesmo comunicado, que a organização “ficou surpreendida com a qualidade dos trabalhos submetidos, algo que resulta numa exposição que o público vai gostar de ver”.
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A Associação Promotora de Jazz de Macau organiza esta quarta-feira, no Café Terra, um concerto com quatro músicos locais e um da Malásia. Mars Lee, presidente da entidade, irá tocar guitarra e garante que dar um concerto num café é a melhor forma de desfrutar do ambiente
SONS C CAFEÍN A
noite desta quarta-feira, dia 21, promete ser bem diferente ali para os lados do Café Terra, localizado junto ao Teatro D.Pedro V. Isto porque a Associação Promotora de Jazz de Macau irá organizar um concerto em que o próprio presidente da entidade, Mars Lee, vai tocar ao lado de mais dois músicos locais e um malaio. A entrada é gratuita e, segundo contou ao HM Mars Lee, o objectivo é fazer com que o público aproveite o som do jazz de uma outra forma. “Esta não é a primeira vez que tocamos em cafés e é sempre uma experiência enriquecedora, porque apesar de não ser um espaço muito grande, as pessoas gostam de estar a ouvir música enquanto estão sentadas com a sua bebida. É sempre bom realizar este tipo de eventos.” Com entrada gratuita, este evento fecha o ano de actividades da Associação Promotora de Jazz de Macau, que recentemente organizou a 5ª Semana de Jazz de Macau,
com um concerto no Centro Cultural de Macau (CCM).
BOAS SENSAÇÕES
Actuar num café é diferente de actuar num palco, mas ainda assim Mars Lee espera uma boa recepção por parte do público. “Diferentes concertos provocam diferentes sensações, e as pessoas sentem-se
À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA URBAN SKETCHERS EM LISBOA - DESENHANDO A CIDADE • Eduardo Salavisa Cerca de duzentas pessoas de mais de vinte países encontraram-se em Lisboa com o único intuito de desenharem e falarem sobre desenho. Dezoito espaços no Chiado e zonas envolventes foram objecto da observação e do registo por parte dessas pessoas, que usam regularmente o caderno como suporte para este tipo de desenho. Este desenho, essencialmente de observação foi também motivo de reflexão por desenhadores experimentados. O livro é o resultado dessa troca de experiências.
OS SEGREDO
Conheça as h ioga, banhos da rotina de p Veja abaixo u uma constipa segredo da su foguete, bran mergulha a su
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TA-FEIRA NO CAFÉ TERRA
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COM NA bem neste tipo de ambiente. É uma cultura importante no jazz, estar calmo a ouvir música, e neste café consegue-se este tipo de ambiente.” O presidente da Associação Promotora de Jazz de Macau defende que mais concertos poderiam ser realizados no território, numa altura em que há cada vez mais cafés a abrir
portas. “A música pode ajudar. A música ao vivo é ainda uma grande questão em Macau, devido aos problemas do barulho, com a nova lei.As pessoas estão a gostar mais de música ao vivo. Esperamos que no futuro haja mais locais como este.” Mars Lee planeia realizar mais concertos deste tipo no próximo ano, mas ainda nada
HOJE NA CHÁVENA Paula Bicho
Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com
Papoila da Califórnia NOME BOTÂNICO: ESCHSCHOLZIA CALIFORNICA CHAM. FAMÍLIA: PAPAVERACEAE. Nativa do Oeste da América do Norte, mais precisamente da Califórnia tal como refere o seu nome, esta erva é também muito cultivada como ornamental, em parques e jardins, devido à sua grande capacidade de propagação e beleza das suas flores. Trata-se de uma herbácea, que pode alcançar mais de meio metro de altura, com folhas muito recortadas e flores de cor viva, geralmente laranja ou amarela. O uso da Papoila-da-Califórnia como planta alimentar e medicinal é muito antigo. Os povos indígenas norte-americanos usavam as folhas cozidas como alimento e a seiva era empregue como analgésico para acalmar as dores de dentes, de cabeça e da barriga; as propriedades sedativas da planta também eram suas conhecidas e já foram confirmadas pelos investigadores. Actualmente, são usadas em fitoterapia as partes aéreas floridas.
é concreto. “Somos uma associação sem fins lucrativos e temos algumas propostas submetidas ao Instituto Cultural. Estamos à espera de respostas. Vamos tentar organizar alguns concertos”, rematou. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET
OS DAS PESSOAS QUE NUNCA FICAM DOENTES • Gene Stone
EVENTOS
histórias reais de 25 pessoas que, com hábitos simples, não adoecem há anos. Alho, levedura de cerveja, frios de manhã, canja de galinha. Estes ingredientes separados são apenas alguns dos que fazem parte pessoas que nunca adoecem. Mas não são os únicos truques das pessoas chamadas de super-saudáveis. um caso que faz parte do livro: Bill Thompson, um empresário com pouco mais de 60 anos, não apanha ação há duas décadas e os resultados do seu eletrocardiograma parecem o de um rapaz de 20 anos. O ua saúde extraordinária está no peróxido de hidrogínio, um líquido usado para fazer combustível de nquear celulose para a indústria de papel, remover cera de ouvido e limpar bancadas. Todos os dias Bill ua cabeça numa solução de peróxido de hidrogínio e água morna e sente o vigor de um adolescente.
Composição Alcalóides (alocriptopina, aloprina, californidina, celeritina, criptopina, escolicidina, laurascolcina, protopina, quelidonina, sanguinarina), glicósidos de flavonóides (isoquercitrina, rutósido), ácidos orgânicos, um corante carotenóide (escolciaxantina) e, na planta fresca, heterósidos cianogénicos (ácido succínico). Os alcalóides têm uma estrutura semelhante à da morfina, mas sem os seus efeitos adversos. Acção terapêutica Embora seja um parente próximo da Dormideira ou Papoila-do-ópio (Papaver somniferum), a Papoila-da-Califórnia é uma planta segura, sem causar dependência, sendo adequada para crianças. Tem propriedades sedativas e relaxantes, acalma a ansiedade, induz o sono e melhora a sua qualidade, exercendo um efeito suave mas eficaz sobre o sistema nervoso central e regularizando a função psicológica.
Está indicada na ansiedade, nervosismo, stress, irritabilidade, insónia, depressão, neurastenia, angústia, melancolia, sensibilidade às mudanças do tempo, labilidade constitucional do sistema nervoso e perturbações neurovegetativas. É ainda recomendada na hiperactividade das crianças, pesadelos e enurese nocturna. Outras propriedades Com actividade antiespasmódica e analgésica, a Papoila-da-Califórnia é também usada nas dores de cabeça, enxaquecas, dores de estômago, dores menstruais e neuralgias. Estão igualmente descritas propriedades diuréticas e sudoríficas. As raízes foram utilizadas tradicionalmente para suprimir o fluxo de leite nas lactantes. Como tomar • Uso interno: Infusão das partes aéreas floridas: 1 colher de chá por chávena de água fervente. Tomar 2 ou 3 chávenas por dia. Em caso de insónia, tomar uma das chávenas à noite. Também pode ser tomada em ampolas, tintura ou cápsulas, em fórmulas de plantas para a ansiedade e nervosismo, insónia, depressão e perturbações do ciclo menstrual. Precauções Não estão descritos efeitos adversos e a planta não apresenta toxicidade nas dosagens habitualmente administradas. Fazer tratamentos descontínuos. Está contra-indicada na gravidez, lactação, crianças menores de seis anos de idade e em caso de glaucoma. Não usar em concomitância com medicamentos tranquilizantes (benzodiazepinas) ou outros sedativos, anti-histamínicos e bebidas alcoólicas, devido à possível potenciação dos efeitos sedativos. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.
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AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL 1.
Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, chegou ao seu término, e, que de acordo com o artigo 53.º da Lei n.º 10/2013 <<Lei de Terras>>, de 2 de Setembro, conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que devem os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Localização dos terrenos: - - - - - - - - - - - - -
2.
3.
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Avenida dos Jardins do Oceano, n.ºs 83 a 147 e Avenida dos Jogos da Ásia Oriental, n.ºs 1276 e 1342, na Iha da Taipa, (Edifício Jardim Beira-Mar Lei Loi Tak); Rua Cidade de Lisboa, n.ºs 130 a 160E, na Ilha da Taipa, (Edifício Bela Vista); Rua Cidade de Lisboa, n.ºs 70 94 e Estrada de Sete Tanques, n.º 134, na Ilha da Taipa, (Edifício Esplendor); Rua Cidade de Lisboa, n.ºs 233 a 273, na Ilha da Taipa, (Edifício Magnífico); Rua Cidade de Lisboa, n.ºs 55 a 195, na Ilha da Taipa, (Edifício Majestade); Rua Cidade de Lisboa, n.ºs 229A a 229D, na Ilha da Taipa, (Edifício Maravilha); Rua Cidade de Lisboa, n.ºs 271 a 297, na Ilha da Taipa, (Edifício Panorama); Estrada de Sete Tanques, n.ºs 315 a 501, na Ilha da Taipa, (Edifício Jardins de Lisboa); Estrada de Sete Tanques, n.ºs 315 a 501, na Ilha da Taipa, (Edifício Jardins de Lisboa); Estrada de Sete Tanques, n.ºs 1308 a 1460, na Ilha da Taipa, (Edifício O Pico); Avenida Dr. Sun Yat Sen, n.ºs 410 a 468 e Rua de Siu Heng, n.ºs 4 a 18, na Ilha da Taipa, (Edifício Wa Fung); Avenida de Kwong Tung, n.ºs 115 a 147 e Rua de Viseu, n.ºs 114 a 148, na Ilha da Taipa, (Edifício Fast Garden); Rua de Chiu Chau, n.ºs 28 a 90, Rua de Fat San, n.ºs 104 a 184, Rua de Bragança, n.ºs 313 a 363 e Rua de Aveiro, n.ºs 89 a 149, na Ilha da Taipa, (Edifício Kinglight Garden); Estrada da Ponta da Cabrita, s/n, na Ilha da Taipa, (Cemitério Hau Si); Avenida de Luís de Camões, n.ºs 18 a 216N, Beco de Lotus, n.ºs 12 a 170C e Estrada Nova de Hac-Sá, n.ºs 181 a 291, na Ilha de Coloane, (Edifício Hellene Garden – Lote I a VII).
Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam à Recebedoria destes serviços, situada no rés-do-chão do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Atendimento Taipa, para os efeitos do respectivo pagamento. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada. Aos, 7 de Novembro de 2016.
O Director dos Serviços de Finanças Iong Kong Leong
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13 CHINA
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PEQUIM DIZ QUE CAPTUROU ‘DRONE’ DOS EUA POR SEGURANÇA
Aguas agitadas ´
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Ministério da Defesa chinês disse que a captura de um ‘drone’ submarino norte-americano por parte da marinha foi devido a motivos de segurança e que vai devolver o aparelho conforme pedido do Pentágono. Em comunicado divulgado na noite de sábado, o porta-voz do Ministério da Defesa chinês, Yang Yujun acusou também o Pentágono de “exagerar” o incidente ocorrido na quinta-feira nas águas do Mar da Sul da China, algo que considerou “inapropriado”. O Departamento da Defesa norte-americano garantiu este sábado que tinha chegado a um “entendimento” com Pequim para a devolução daquele veículo não tripulado que, segundo Washington, se dedicava a
trabalhos de investigação científica. Yang explicou que um barco chinês que navegava no Mar do Sul da China localizou na tarde de quinta-feira um aparelho não identificado e que, para evitar causar algum dano ao navio ou aos seus tripulantes, decidiu examiná-lo “de maneira profissional e responsável”. Uma vez realizados esses testes, acrescentou o porta-voz chinês, verificou-se que se tratava de um ‘drone’ submarino dos Estados Unidos, pelo que, após comunicarem com os norte-americanos, as autoridades asiáticas aceitaram devolvê-lo. O porta-voz da Defesa chinês lamentou que o Pentágono tenha tornado público o assunto “de forma unilateral” e “exagerada”, o que, afirmou, não ajudou a resolver a disputa.
“A China continuará a vigilância contra estas relevantes actividades dos Estados Unidos e tomará as medidas de resposta necessária.” PORTA-VOZ DA DEFESA CHINÊS Yang criticou, por outro lado, a prática de os Estados Unidos enviarem navios e aviões de combate para realizar missões de reconhecimento nas águas chinesas. “AChina opõe-se veementemente a estas actividades e pede à parte norte-americana que as detenha. A China con-
CHINA QUER EVITAR GUERRA COMERCIAL COM EUA MAS ESTÁ A PREPARAR-SE
A tinuará a vigilância contra estas relevantes actividades dos Estados Unidos e tomará as medidas de resposta necessária”, advertiu o porta-voz.
MAR CONCORRIDO
O incidente do ‘drone’ no Mar do Sul da China coincidiu com a publicação esta semana, por parte do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais (CSIS) de Washington, de imagens de satélite que alegadamente mostram a instalação de armamento militar em ilhas artificiais construídas por Pequim nessas águas. A Malásia e o Vietname, que disputam com a China a soberania de vários arquipélagos no Mar do Sul da China, manifestaram a sua preocupação por essas defesas militares, enquanto as Filipinas disseram na sexta-feira que não vão protestar por isso.
China quer evitar uma guerra comercial com os Estados Unidos, mas está a preparar-se para a eventualidade de acontecer, disse sábado o vice-ministro chinês das Finanças Zhu Guangyao, alertando que seria “prejudicar ambas as partes”. Estas declarações à cadeia de televisão oficial CCTV são feitas num momento de tensão entre as duas potências em matéria comercial, mas também no campo político, depois da captura por Pequim de um ‘drone’ norte-americano no mar da China Meridional, que foi tornada pública na quinta-feira, (ver texto principal). Uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, que são também os principais parceiros comerciais, acabaria por prejudicar as duas partes, alertou o vice-ministro das Finanças chinês. “Esperamos que não aconteça”, disse Zhu Guangyao, numa intervenção num fórum eco-
nómico que decorreu em Pequim. O governante chinês explicou, também, que, em caso de se iniciar uma guerra comercial, a China teria de recorrer aos canais de comunicação bilaterais, como a organismos como a Organização Mundial do Comércio (OMC). Na passada segunda-feira, a China pediu hoje à OMC que inicie consultas com a União Europeia (UE) e os Estados Unidos da América sobre os seus métodos para impor taxas ‘antidumping’contra produtos chineses. O Ministério do Comércio chinês informou, em comunicado, que pediu a mediação da OMC, através do mecanismo de resolução de disputas, por considerar que Bruxelas e Washington falharam nos seus compromissos. Pequim entende que, depois de se cumprirem 15 anos desde a sua entrada na OMC, todos os membros do organismo deviam conceder ao país o estatuto de “economia de mercado”.
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Aviso da mudança de instalações
ACTIVISTA DESAPARECIDO “REVELOU SEGREDOS DE ESTADO”
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activista dos direitos humanos e ex-advogado Jiang Tianyong, desaparecido há quase um mês na China, é acusado de ter “revelado segredos de Estado ao estrangeiro”, indicou na sexta-feira um jornal oficial chinês, citando a polícia. Jiang Tianyong ocupou-se de uma série de assuntos sensíveis, como os dos seguidores do movimento religioso Falun Gong (interdito na China), das famílias das vítimas do escândalo do leite contaminado (de 2008) ou ainda do famoso activista cego Chen Guangcheng actualmente exilado nos Estados Unidos. A licença para exercer advocacia
foi-lhe retirada em 2009, devido ao seu activismo, segundo a Amnistia Internacional. Jiang Tianyong desapareceu a 21 de Novembro na cidade de Changsha, no centro do país, antes de embarcar a bordo de um comboio com destino a Pequim. Qualquer passageiro na China deve mostrar a sua identidade na hora de embarcar, mas Jiang Tianyong terá apresentado o documento de identificação de uma outra pessoa, segundo noticiou na noite de sexta-feira no seu portal na Internet o Fazhi Ribao (Legal Daily), um jornal do Partido Comunista chinês, citando a polícia.
De acordo com a mesma fonte, Jiang Tianyong foi colocado em detenção administrativa durante nove dias. “A investigação mostra (…) que ele possuía documentos contendo segredos de Estado, que estava em contacto com estruturas, organizações e personalidades estrangeiras, e que entregou ilegalmente segredos de Estado ao estrangeiro”, escreve o Legal Daily. O activista ficou desde 1 de Dezembro sujeito a “uma medida coerciva penal”, uma expressão vaga que indica uma restrição da sua liberdade de movimentos. “Jiang Tianyong confessou”, garante ainda o mesmo jornal oficial.
A partir do dia 19 de Dezembro, o Primeiro Cartório Notarial instalado no Largo do Senado nº 16, edifício de Santa Casa da Misericórdia, r/c, passa a funcionar na Rua Nova da Areia Preta nº 52, Centro de Serviços da RAEM, 2º andar, Macau. Os números de telefone (28574258), de fax (28355205) e o endereço electrónico (1cn@dsaj.gov.mo) mantêm-se inalterados. Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça, aos 15 de Dezembro de 2016
O Director Liu Dexue
h ZHANG ARTES, LETRAS E IDEIAS
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YANYUAN «Lidai Ming Hua Ji»
Relação das Pinturas Notáveis Através da História Descobertos estes venturosos augúrios no tempo de Baoxi (Fuxi) no rio Jung, crónicas e pinturas começaram a aparecer1. No tempo de Xuanyuan (Huangdi, o imperador Amarelo) eles foram encontrados nos rios Wen e Lo, e Shihuang (o inventor da pintura) e Cangjie (inventor da escrita) deram-lhes as suas formas. A estrela Kuei com raios pontiagudos é a soberana da literatura na Terra e Cangjie, que tinha quatro-olhos, ao olhar para cima, para o céu, viu imagens a cair (da estrela) e combinou-as com pegadas de pássaros e tartarugas2. Desta maneira as formas dos caracteres foram fixadas. O Criador já não podia mais esconder os seus segredos e então fez descer uma chuva de milho-miúdo; os espíritos e os demónios já não conseguiam esconder as suas formas e logo bradaram na noite3. Nessa altura pintura e escrita eram a mesma coisa e não denotavam diferenças. Foram então inicialmente inventados os traços pictóricos mas eram ainda bastante sumários (incompletos). Como não havia meios para transmitir ideias, foi inventada a escrita, e como não havia maneira de mostrar as formas, inventou-se a pintura, tudo de acordo com os desígnios do Céu e da Terra e dos antigos Sábios.
1 - Nas Conversações, Confúcio faz uma alusão a esse momento inicial quando se lamenta: «A Fénix já não vem mais, o Rio não faz aparecer nenhuma marca: para mim todas as esperanças estão perdidas.» (Livro IX, 8, in Conversações de Confúcio, Editorial Estampa, Lisboa,1991, p.94), referindo-se aos sinais anunciadores de um Sábio-Salvador que secretamente sonhava vir a ser. As marcas que vieram do Rio eram os Oito Trigramas que estão na origem do Yijing, o Livro das Mutações, que Fuxi teria recebido de um dragão saído desse rio. 2 - Carapaças de tartaruga inscritas com ideogramas com propósitos de adivinhação foram escavadas cerca do ano 1900 em Anyang, a capital da dinastia Shang (15001050 a. C.) em Henan porém, vestígios de escrita em conchas e ossos descobertos em Dingggongcun, Shandong, c. 1930-31, no seio da cultura Longshan foram datados de c.2600-2000 a. C. (In Britannica.com) 3 - Referência a uma passagem do Huainanzi, o Livro dos Sábios de Huainan, composto durante a dinastia Han, no segundo século a. C.
Paulo Maia e Carmo tradução e ilustração
15 hoje macau segunda-feira 19.12.2016
Amélia Vieira
Carta ao pai A
PROXIMAMO-NOS do Natal que tal como o seu nome indica é uma festa dedicada à Natividade, ao grande projecto que é ser nascido sempre por um mistério mais vasto do que a fecundação ou anunciação. Nascer será sempre o mais belo mistério que temos para festejar, só que esta Festa está repleta de “Cartas ao Pai”, Pai Natal, esse grande senhor velho, emblematicamente, um Saturno feliz que distribui presentes pelos filhos de todos e nos deixa a pensar no patriarcado benévolo e generoso e que é quase como Deus na sua ubiquidade. Depois quem nasce também é menino e da Natividade fica um suporte maternal receptivo e bom, mas sem grande expressão na simbologia final. Nem sempre as Cartas ao Pai são tão beneméritas e de expectante satisfação. Não, nem os pais são aqueles seres enormes e escarlates que nos protegem nos nossos desassombros perante a dádiva. Existem diálogos e cartas temíveis nesta saga dos pais monoteístas de índole patriarcal e, muito a propósito, a célebre « Carta ao Pai» de Franz Kafka e o diálogo de Jesus no Monte das Oliveiras e o passeio de Abraão com o filho Isaac — ele que expulsará também o seu filho Ismael para o deserto... São encontros verdadeiramente marcantes para a vida dos filhos. Esta é a Carta que pode ser a súmula de muitas outras na relação intempestiva e sombria que estes homens tiveram, numa tribo de progenitores, onde esta relação imediata pareceu sempre ameaçada. Kafka transmite toda a profunda mágoa e tristeza num desabafo, diria intimista e na primeira pessoa, e tenta sem dúvida curar a sua ferida de progenitura. .... se eu pretendia fugir de ti, devia fugir também da família, incluindo a Mãe, podia-se sempre encontrar protecção junto dela..... Tu mostraste-te sempre afectuoso e afável com ela, mas quanto a isso, também a poupaste muito pouco, tal como a nós... Um sacrifício que se denuncia por tormento e mágoa de um pai que imperava no topo de um medo profundo, inconsciente, cultural... Uma saga que não deixa ao varão mais do que a sua lei e temor pelo elo da progenitura e assim exerce o seu domínio. Esta «Carta ao Pai» não é uma Carta ao Pai Natal! Porque o pai é seminal ,não busca mais
vir uma tal censura da boca do meu filho. E a minha autorização para o teu casamento não impediu as tuas censuras, pois tu provas que, de qualquer forma, sou o responsável pelo teu não casamento. Se não me engano muito, ainda me parasitas com esta Carta enquanto tal”.
lação, mas apesar dos teus esforços exteriores, não as tornas mais difíceis para ti, mas bem mais suportáveis. Mas enquanto eu te acuso, tão abertamente como o penso tu queres livrar-me a mim também de toda a culpa...
que a continuação da sua espécie por meio de uma realidade que não chega para manter vivo um homem e se Isaac tem a protecção do Anjo, já em Jesus, o Pai derradeiramente se silenciou no estertor da imploração do Filho. Por isso, nós fomos cobrindo de flores e de luzes a chegada de um menino e pondo homens vestidos de vermelho para alegrar esta festa. Ela não devia dar continuidade a uma imperiosa manifestação patriarcal. Mas Kafka, como judeu, também não tinha Natal, esta não era a sua Festa, mas o reflexo dela mantem-se na continuidade da mesma saga, porque da mesma essência se trata aqui. Creio mesmo que este seria um belo presente de Natal na rota da desocultação desta herança - este livro - mas como o tempo é de festa, talvez a família, mesmo cristã, não ficasse com a consciência tranquila de que ela é de facto uma boa instituição.
E esta culpa, na qual se inscreve a filiação, tem no entanto o mérito de em si possuir um vínculo inquebrantável, como se sem ela a própria noção de vida nestes abismos patriarcais fosse inexistente. Existe ainda uma prática transcendental e bela que é a dos judeus ralharem literalmente com Deus, expondo-lhes as suas mágoas, mas numa tal e tão tocante manifestação, que uma razão linear e fora daqui não entenderia. Mais tarde, este pai tem a autoridade exacta de um castrador, quando impede Kafka de casar com a mulher que ele ama, o que por uma lealdade entre homens acaba por ser obedecida, e diz:
... Afirmas que facilito as coisas para mim fazendo recair sobre ti a culpa da nossa re-
eu queria nunca mais estar “no caminho da tua felicidade” e em segundo não quero ou-
Prova-se assim a vontade de ser Um no Pai, de ser Um no Filho, e esta alternância que desmente o mito do individual faz do patriarcado uma história ultra-secreta ou de um amor louco ou de uma vertente consubstancial à vida. Por fim, o Filho entrega-se e espelha-se no Pai que o diz soltar para que cresça, porque olhar para trás, só mesmo uma mulher para ficar transformada numa estátua de sal. A mulher de Lot é uma estátua à desobediência, toda ela petrifica, segundo as leis que aqui estão inscritas. Talvez que Filho e Pai não tenham costas e se debrucem numa forma multifásica para continuarem assim tão indivisos. As Mães têm “costas largas” e acontece sagrarem a vida pela Festa da Natividade, não olhando muito também para trás quando as leis lhes levam os filhos e não sabendo exactamente o porquê do seu imenso amor não os proteger. Seja o que for a Carta, aqui vai um pedido ao Pai Natal: abençoar as mães e deixá-las no repouso maravilhoso dos seus dias e que os filhos as reconheçam sem precisarem de escrever Cartas. Kafka ainda considerou durante algum tempo ir à Palestina, a eterna terra do Pai, mas adoece morrendo pouco depois. O grande insecto podia ser, nestas paragens da mente da «Carta», uma estranha Louva-a-Deus, elemento mórbido para um elo assim, que fugiu sempre em frente, num secreto horror, também ele, de poder ser também a própria mulher de Lot, e se viu defronte à imagem do seu mais angustiante medo, que bem pode estar inscrito nalgum gene masculino que representa a saga fascinante do patriarcado. Sabemos que engolir “sapos” pode significar consubstanciar um príncipe, mas que consubstancial, só mesmo ao Pai. Querido pai Perguntaste-me recentemente por que motivo eu afirmava ter medo de ti ... começa assim então a longa Carta.
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hoje macau segunda-feira 19.12.2016
o ofício dos ossos
Valério Romão
Os filhos dos outros N
A minha vida civil trabalho em informática, e não raras vezes tenho de ir a Barcelona, ora para resolver problemas específicos da empresa em Portugal, com ajuda dos meus colegas espanhóis, ora para assistir aos infindáveis monólogos motivacionais a que as pessoas, por inexplicável obstinação semântica, continuam a chamar “reuniões”. A frequência das idas e vindas faz com que acabemos por acompanhar, em jeito de folhetim, a vida uns dos outros: quem casou, quem se separou, quem finalmente se apercebeu de que pagar o dízimo do ginásio sem lá pôr os coutos uma única vez não era suficiente para levar a bom porto o projecto biquíni, que tanto sentido fazia enquanto resolução de ano novo. O Raul era o mais caladinho dos meus colegas, uma espécie de contraponto ao típico espanhol, normalmente tão efusivo e entusiasmado como ruidoso. O Raul não, caladinho, no seu canto, dedos ágeis sobre o teclado, olhos postos na pantalla onde desfila aquele sânscrito digital que faz com que as coisas que têm que funcionar funcionem. Interrompia-o amiúde, para saber de um procedimento ou para pedir acesso a uma base de dados que ele administrava. Eu associava a sua cordialidade à sua introversão: o Raul não discutia com os colegas, não levantava a voz e, ao contrário dos restantes elementos do departamento, aceitava as reprimendas ocasionais do chefe num silêncio de eremita. Eu sabia da vida dele o que me iam dizendo: que era casado, malgrado ninguém conhecer a sua mulher, por ele nunca a ter levado aos jantares para os quais ambos eram convidados ou ao Family Day, que morava na periferia de Barcelona, como quase toda a gente que trabalhava na empresa e que estava à espera de um filho há cerca de catorze meses. Como, perguntava-se, entre risotas, catorze meses, insistiam os colegas do Raul, sem conterem a galhofa, se espera un elefante, rematavam, para gargalhada geral.
Eu acompanhara a história do filho desde o início. A tímida alegria quando anunciara a novidade no escritório e a reacção dos colegas, adubando-o generosamente com palmadões nas costas, genial, coño, vincavam, o seu sorriso envergonhado perante aquela inédita demonstração de efusividade, ele que estava habituado a que o interpelassem somente quando alguma coisa corria mal e as felicitações do chefe, habitualmente reservado, até soavam bem, naturais, humanizando-o inesperadamente, mas como nem um nem outro estavam habituados aquele trato sem farda
o chefe rematava, seco, em jeito de pai: ahora hay que trabajar aún más, Raul. Os meses passaram tão depressa como o tempo pode passar num escritório. O entusiasmo dos colegas, sobretudo quando se acercava a data na qual se esperava que o pequeno Raul nascesse, deu lugar a um silêncio consternado e árido de perguntas, porque o pequeno Raul, desafiando todos os prazos conhecidos para o desenlace da concepção humana, não havia meio de nascer. Ora era uma complicação clínica que impedia o parto, oram era dois obstetras que se desentendiam sobre a
“Raul passou pela secretária e meteu na mochila os poucos objectos pessoais que lá tinha: uma caneta de tinta permanente, dois livros de poesia, uma miniatura articulada do Wall-e. Despediu-se educadamente dos colegas, como sempre. Nunca mais o vimos.”
forma mais adequada de entregar aquela criança ao mundo, ora era porque se aproximava o Natal e aquela altura, tão confusa como exasperante, não dava jeito nenhum. Não dava jeito nenhum, chegou mesmo a dizer. Aquele silêncio de sepulcro, tão inesperado como contranatura – sobretudo para um espanhol – deu rapidamente lugar à zombaria e o filho do Raul tornou-se de repente uma metáfora para tudo quanto tardava demasiado tempo naquele escritório. Mas esta impressora, não imprime, reclamava a directora financeira, para logo alguém por detrás do anonimato de um monitor replicar: deve ser filha do Raul. E o café, quando é que pediram o café, nunca mais chega esse café? Filho do Raul. Ainda não pagaram o subsídio de férias? Filho do Raul. Esse relatório, como vai? Filho do Raul. A piada durou até o director de recursos humanos, eventualmente necessitado de mostrar algum serviço, decidir convocar o Raul e o chefe do Raul para uma reunião cuja agenda era de ponto único. Raul, esta empresa, principiou o director de recursos humanos, não tem por hábito imiscuir-se na vida pessoal dos seus funcionários, mas há-de convir que esta situação, tendo em conta o seu carácter inusitado, pede de certa forma um esclarecimento, e acredito que o seu chefe estará de acordo comigo neste ponto, ao que o director de informática anuía, silenciosamente, com um acenar de cabeça. Raul, finalizava, podemos saber o que se passa com o seu filho? Saindo da reunião, Raul passou pela secretária e meteu na mochila os poucos objectos pessoais que lá tinha: uma caneta de tinta permanente, dois livros de poesia, uma miniatura articulada do Wall-e. Despediu-se educadamente dos colegas, como sempre. Nunca mais o vimos. Há duas semanas fui a Barcelona e lembrei-me de o procurar, de o rever. Mas não tinha a sua morada, não tinha o seu telefone. Não sabia nada dele. Na verdade, nunca soube. Só podia ser uma personagem.
17 hoje macau segunda-feira 19.12.2016
Motos STUART EASTON POISA O CAPACETE
Tetra-vencedor retira-se
A
CONTEÇA o que acontecer até Novembro de 2017, uma coisa é certa, a lista de inscritos do 51º Grande Prémio de Motos de Macau será mais pobre. O tetra-vencedor da prova de motociclismo da RAEM, Stuart Easton, anunciou que aos 33 anos irá pousar o capacete e dedicar-se à família e ao negócio de venda de automóveis dos pais. Depois de 18 anos a competir ao mais alto nível, onde somou dois títulos de campeão britânico da categoria de Supersports, Easton teve dois acidentes graves na sua carreira, um deles, em 2011 na North West 200, em que esteve em estado crítico. O susto não o demoveu e o escocês continuou a correr nos palcos mais importantes da velocidade a nível mundial. Easton venceu no Circuito da Guia de 2008 a 2010, voltando a repetir o triun-
DESPORTO
fo na edição de 2014. Este ano, na sua despedida de um circuito que tantas alegrias lhe deu, o “Ratboy”, como era conhecido no meio, terminou a corrida na sexta posição, aos comandos de uma BMW. Easton despede-se do Grande Prémio, mas continua a ter o recorde da melhor volta ao traçado da RAEM em duas rodas, ao ter rodado em 2:23.616 na edição de 2010 com uma Kawazaki. Em declarações à revista Bike Sport News, a quem deu a entrevista de anúncio da despedida das pistas, Easton lembrou a surpresa que foi correr no Circuito da Guia pela primeira vez. “Quando fui a Macau pela primeira vez, não sabia o que era uma corrida citadina. O McGuiness falou nisso e eu pensei que correr de motas no Inverno era uma grande ideia e estava pronto – não foi preciso muito para me persuadir. Quando lá cheguei é que fiquei a perceber o que era um circuito citadino. Mas isto foi na época pré-internet e ninguém me disse como seria…” Sérgio Fonseca
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PUB HM • 1ª VEZ • 19-12-16
BENFICA SACODE A PRESSÃO
AGRADECIDOS AO CHAPECOENSE
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O
Benfica venceu sábado o Estoril-Praia, por 1-0, em jogo da 14.ª jornada da I Liga de futebol, marcado pelo regresso de Jonas, e sacudiu a pressão da aproximação do FC Porto, que somando mais um jogo estava a um ponto. Num jogo de ‘serviços mínimos’, o Benfica apadrinhou a estreia do treinador do Estoril, o espanhol Pedro Gómez Carmona, com um triunfo por 1-0, com um golo marcado pelo mexicano Raul Jiménez, aos 61 minutos, na conversão de uma grande penalidade. O regresso do brasileiro Jonas, após quase quatro meses de ausência devido a uma infecção bacteriana do tornozelo direito que o afetou na sequência de uma intervenção cirúrgica, acabou por ser um dos momentos do encontro. O avançado, que tinha alinhado pela última vez na terceira jornada da I Liga a 27 de Agosto (vitória,
por 2-1, frente ao Nacional), entrou no relvado do Estádio António Coimbra da Mota, aos 79 minutos, rendendo Raúl Jiménez. Jonas fez apenas o terceiro jogo da temporada, depois de ter marcado na Supertaça de Portugal diante do Sporting de Braga (vitória, por 3-0) e ter alinhado frente ao Nacional. Com os três pontos somados frente ao Estoril-Praia, o Benfica recolocou em quatro a vantagem que detêm na liderança para o FC Porto, segundo classificado, que na quinta-feira venceu o Marítimo, no Estádio do Dragão, em jogo antecipado à 15.ª jornada. Os portistas voltam a jogar na segunda-feira, desta vez para a 14.ª jornada, defrontando o Desportivo de Chaves, novamente no Estádio do Dragão, e em caso de vitória ficam novamente a um ponto do Benfica, embora com mais um jogo.
avançado do Atlético Nacional Orlando Berrio agradeceu ontemo apoio dos adeptos da Chapecoense, após terminar o Mundial de clubes de futebol no terceiro lugar. “Estiveram todos connosco e essa foi uma das motivações para os nossos bons desempenhos”, afirmou Berrio, depois do triunfo por 4-3 no desempate através de grandes penalidades no encontro de atribuição do terceiro posto do Mundial, diante dos mexicanos do Club América, que terminou empatado 2-2 no tempo regulamentar. O Atlético Nacional deveria ter defrontado a Chapecoense, a 30 de Novembro, em jogo da primeira mão da final da Taça sul-americana, em Medellín, mas o acidente aéreo que vitimou grande par-
te da formação brasileira ditou o cancelamento dos embates. A Chapecoense foi declarada vencedora do troféu, a pedido do clube colombiano, o que aproximou os clubes e os seus adeptos. “A Chapecoense não é do nosso país, mas os seus adeptos e simpatizantes estiveram connosco e isso deixa-me muito contente”, frisou Berrio. O treinador do emblema colombiano, Reinaldo Rueda, também recordou a tragédia, assegurando que, durante o jogo, jogadores e equipa técnica pensaram nas famílias das vítimas. Em 29 de Novembro, a queda do avião da companhia boliviana Lamia perto de Medellín (Colômbia) causou a morte a 71 das 77 pessoas que seguiam a bordo, incluindo a maioria dos jogadores da Chapecoense, dirigentes e jornalistas que acompanhavam a equipa, que se preparava para disputar a primeira mão da final da Taça sul-americana com os colombianos do Atlético Nacional.
ANÚNCIO Execução Ordinária n.º
CV2-16-0117-CEO
2º Juízo Cível
Exequente: INTERNACIONAL PROMOTOR DE JOGO SOCIEDADE UNIPESSOAL LIMITADA (國際博彩中介人一人有限公司), com sede em Macau, na Avenida da Amizade, nº 201, Edifício San Kin Yip Comercial Centre, 8º andar J Executado: LI JUN (季軍), masculino, maior, com última residência conhecida na China, 中國北京市朝陽區京順路109號院2號樓, ora ausente em parte incerta. *** Correm éditos de trinta (30) dias, a contar da segunda e última publicação do anúncio, citando o LI JUN, para no prazo de vinte (20) dias, decorrido que seja o dos éditos, pagar ao exequente a quantia de MOP$25.787.500,00 (Vinte e Cinco Milhões, Setecentas e Oitenta e Sete Mil, Quinhentas Patacas), o montante acima aludido deve ser acrescido de juros, à taxa anual de 29,25% e 2% de juros comerciais, a contar de 1 de Março de 2014 até ao pagamento integral da dívida. Até no dia 10 de Junho de 2016, o executado deve pagar ao exequente os juros, no valor de MOP18.391.256, 42. Pedido alternativo: Caso o Mm. o Juiz não entender que os juros moratórios dos dois recibos de MARKER devem ser acrescidos a 2% juros comerciais, assim calcula-se os juros de mora fixados pelo exequente e executado (ou seja o triplo de juro legal estabelecido em Macau, ou seja 29,25%) até à data do pagamento integral da dívida. Até no dia 10 de Junho de 2016, o executado deve pagar ao exequente os juros, no valor de MOP$17.214.216,01. Condenar ao executado o pagamento das custas judiciais, designadamente os honorários da mandatária do exequente, ou no mesmo prazo, deduzirem oposição por embargos ou nomearem bens à penhora, sob pena de, não o fazendo, ser devolvido ao exequente o direito de nomeação de bens à penhora, seguindo o processo os ulteriores termos até final à sua revelia. Tudo conforme melhor consta do duplicado da petição inicial que neste 2º Juízo Cível se encontra à sua disposição e que poderá ser levantado nesta Secretaria Judicial nas horas normais de expediente. E ainda que é obrigatória a constituição de advogado caso sejam opostos embargos ou tenha lugar a qualquer outro procedimento que siga os termos do processo declarativo. Macau, aos 24 de Novembro de 2016. ***
18 (F)UTILIDADES TEMPO
POUCO
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NUBLADO
O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente
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BAHT
EXPOSIÇÃO “ONLOOKERS” DE ALLEN WONG Art Garden (Até 18/12) EXPOSIÇÃO “O TEMPO CORRE” DE LAI SIO KIT Casa Garden (Até 08/01) EXPOSIÇÃO “SOLIDÃO”, FOTOGRAFIA DE HONG VONG HOI Museu de Arte de Macau
O CARTOON STEPH
PROBLEMA 142
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 141
UM DISCO HOJE
SUDOKU
DE
C I N E M A
1.14
ONDE A ALMA FOI MORRER
EXPOSIÇÃO “CHANGE OF TIMES” DE ERIC FOK Galeria do IFT
Cineteatro
YUAN
AQUI HÁ GATO
EXPOSIÇÃO DE KRISTINA MAR E GERALDE ESTADIEU Creative Macau, (Até 30/12)
EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)
0.22
Mais uma visita do meu espião alado. Desta vez trouxe-me um relatório do outro lado do espelho, as suas primeiras impressões do Cotai. Vinha com os olhos esbugalhados de espanto e excesso de exposição a néons. Demasiadas luzes tornam a navegação nocturna perigosa, muito mais difícil abordar arestas, calcular ângulos, apreciar o brilho das estrelas, distinguir a lua no céu. A strip do Cotai não tem alma, é plástico, isento de identidade, “wanna be”, é uma terra que não existia e que continua em conflito com a existência. Parece um local fadado ao declínio, superlativo, monumental sem impressionar, um desafio jocoso à subida do nível do mar. Feito de engenharia e o motor económico, sem dúvida, mas um enxerto de Las Vegas no Oriente. A réplica da Torre Eiffel é um bom exemplo do excesso de sumptuosidade sem alma. Não se replica alma, não se copia história. O Cotai é o sítio onde a autenticidade foi morrer. Nunca vi esta cidade de luzes que o pássaro me descreveu, mas parece-me um lugar a evitar. Não que eu vá alguma vez a algum lado. Sempre que saio da redacção a coisa dá para o torto para os meus lados. Mas se algum dia arriscar meter as patas fora de casa, prefiro largar pêlo e perseguir ratos em becos com alma. Pu Yi
SEASONS OF YOUR DAY | MAZZY STAR
Há mulheres que cantam bem e, depois, há Hope Sandoval, a voz da banda norte-americana Mazzy Star. Sandoval combina sensualidade e doçura num registo único, em canções que apetecem quando o frio chega. Apesar do sucesso nos meios mais alternativos na década de 90, os Mazzy Star estiveram 17 anos sem gravar. “Seasons of Your Day” é um disco de 2013 para ouvir por estes dias. Isabel Castro ROUGE ONE: A STAR WAR STORY
Filme de: Gareth Edwards Com: Felicity Jones, Diego Luna, Ben Mendelsohn, Donnie Yen 14.15, 16.45, 19.15, 21.45
ALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Ryota Nakano Com: Rie Miyazawa, Joe Odagiri, Tori Matsuzaka, Hana Sugisaki 14.15, 19.15
SALA 2
SING [A]
SALA 1
ROUGE ONE: A STAR WAR STORY [B]
DEATH NOTE: LIGHT UP THE NEW WORLD [C] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Shinsuke Sato Com: Tatsuya Fujiwara, Kenichi Matsuyama, 14.15, 16.45, 19.15, 21.45 SALA 3
HER LOVE BOILS BATHWATER [B]
FALADO EM CANTONENSE Filme de: Garth Jennings 16.30
ROUGE ONE: A STAR WAR STORY[3D] [B] Filme de: Gareth Edwards Com: Felicity Jones, Diego Luna, Ben Mendelsohn, Donnie Yen 21.30
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19 hoje macau segunda-feira 19.12.2016
JOSÉ PACHECO PEREIRA in sábado
STEVEN SODERBERGH, CHE
A histeria das classificações
E
XISTE hoje, como sinal do reducionismo e simplismo que vai crescendo na vida política portuguesa, uma verdadeira histeria das classificações. A morte de Fidel foi disso um bom exemplo, com metade do mundo a acusar quem não dizia que ele era “ditador” de ser conivente com todas as ditaduras, e a outra metade indignada com o modo como Fidel era equiparado a Pinochet e mesmo a Salazar. Depois vinha outra habitual palermice a que estamos cada vez mais habituados, a medida das ditaduras pelo número de mortos que tinham causado, uma boa maneira de atirar Fidel ao fundo, e de reabilitar a ditadura soft de Salazar. O número de mortos conta certamente para não metermos tudo no mesmo saco, e aí Hitler e Estaline são a primeira divisão, mas a contabilidade exige outros critérios, que são históricos e políticos. Por exemplo, na contabilidade de Salazar incluímos os mortos pela PIDE, ou em manifestações, mas excluímos os mortos da guerra colonial. Deixemos essa sinistra contabilidade que pouco nos diz sobre a natureza das personalidades e dos regimes, a não ser que são, regra geral pouco amigos da vida humana. Voltemos a Fidel. Fidel foi várias coisas; um combatente contra a ditadura de Batista e a corrupção da máfia, do jogo e da prostituição que faziam de Cuba o entreposto daquilo que o moralismo americano não queria no seu território; foi, num jogo perigoso que ele jogou plenamente, “empurrado” pelos americanos para os braços geopolíticos da URSS; passou de proponente de uma via diferente de fazer a revolução, que competia com o comunismo soviético e o chinês, para
um dos mais ortodoxos apoiantes da URSS, sendo um dos primeiros, com Cunhal, a apoiar a invasão da Checoslováquia; moldou, como aconteceu também em África, o sistema de partido único a uma variante de “comunismo cubano” que implicou desalojar os velhos comunistas para o exílio nos países do Pacto de Varsóvia e substituí-los pela elite que vinha da guerrilha; conheceu conspirações americanas e tentativas de assassinato contínuas e também algumas conspirações soviéticas, e acabou órfão do poder soviético quando este ruiu em 1989. O regime cubano permaneceu num país pobre, com algumas e relevantes conquistas sociais, mas encurralado no seu futuro a que apenas Obama mostrou uma alternativa, que Trump vai querer fechar. Os americanos ajudaram, com uma política incentivada pelos exilados cubanos contra-revolucionários, a isolar Cuba e a consolidar o regime castrista, os russos davam -lhe petróleo enquanto puderam mas exigiam disciplina naquilo que eram os seus interesses mundiais. Fidel pelo meio ia sobrevivendo assente numa repressão que conheceu diferentes fases, mas que era sempre muito dura. Sim, Fidel foi um ditador, havia uma polícia política, prisões e execuções, praticamente até à véspera da sua retirada por doença, com o processo do general Arnaldo Ochoa como estertor final. Os Papas e Obama, alguns dirigentes latino-americanos que desafiaram o boicote americano e alguns países europeus que tinham relações históricas
Fidel é visto cada vez mais como um nacionalista cubano e menos como um dirigente comunista
com Cuba, como Espanha, funcionaram como moderadores do regime com algum sucesso, mas Cuba não é uma democracia e os seus dirigentes são um misto de nostalgia guerrilheirista e de aparelhismo burocrático à soviética. Porém, no exterior, as “imagens” de Cuba e de Fidel traduziam as sucessivas contradições da sua história e a fixação revolucionária em Fidel e Che, permitia a gerações de órfãos de qualquer revolução aí procurar um modelo diferente. Na verdade, numa procura de legitimidade romântica, que era simbólica, mas não histórica e muitas vezes despolitizada. Que o digam os múltiplos dirigentes da direita portuguesa que foram ao beija-mão de Fidel quando este esteve recentemente em Portugal, ou mesmo o Presidente da República que foi a Cuba para ter uma photo opportunity com Fidel. Surpreendentemente não ouvi os que agora gritam por “ditador” criticar essa viagem e o encontro. Mas hoje só se percebe as multidões nas ruas de Cuba – e nem tudo é encenado – se tivermos em conta que, com a evolução da história, Fidel é visto cada vez mais como um nacionalista cubano e menos como um dirigente comunista. Estas mutações ocorrem na história várias vezes, e nem apagam o passado, nem deixam de ter significado no presente. Para os cubanos que conheceram a colonização espanhola, a “libertação” pelos americanos, depois a subjugação por uma aliança muito comum na América Latina entre os interesses económicos americanos e os ditadores locais, e que se sentem afrontados pelo longo embargo dos EUA, que vivem perigosamente perto do maior poder mundial, o nacionalismo é identitário. Como estamos numa Europa que acha que a identidade nacional acabou – está muito enganada –, nem sempre percebemos estes fenómenos, que a histeria das classificações coloca fora do lugar.
OPINIÃO
Na Tailândia há dois lutos. Um pelo rei que morreu, outro pelo que lá puseram Atlântido
segunda-feira 19.12.2016
Rodas baixas
MACAU MAIORIA DOS JOVENS AFIRMAM QUE SÃO CHINESES
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Kwan Tsui Hang defende revisão das licenças especiais de condução UMA altura em que se reacende a polémica sobre a introdução de trabalhadores não residentes (TNR) no sector de transportes, a deputada Kwan Tsui Hang interpelou o Governo sobre a necessidade de rever o regime de licenças de condução especiais. Também o deputado Au Kam San fez recentemente o mesmo pedido na Assembleia Legislativa. A deputada relembra que já em 2009 o Governo tinha prometido a revisão da lei, tendo anunciado que em 2012 a proposta ficaria concluída. No entanto, em Abril de 2015, o Executivo revelou que ainda seria necessária uma avaliação mais profunda, por forma a coordenar com outros regimes. “Quanto tempo vai demorar a revisão dos trabalhos? O Governo é capaz de confirmar uma data de conclusão?”, questionou. Para a deputada da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), apesar do sector dos transportes não permitir a importação de condutores, a verdade é que existe um “grande número de motoristas não residentes cujo âmbito de operações já não se restringe pelas fronteiras”. Para Kwan Tsui Hang, isso causa um grande impacto ao nível do serviço de shuttle bus dos casinos ou transporte de empregados, já que muitos dos motoristas usam de forma indevida a licença especial de condução para fazerem este tipo de trabalhos, acusou.
USO INDEVIDO
Para a deputada da FAOM, são esses motoristas a operar de forma indevida que retiram hipóteses de emprego aos locais. “De acordo com o regulamento vigente, só é permitido aos TNR com licença especial conduzirem automóveis pesados de mercadorias ou de passageiros na fronteira entre Macau e o interior da China. No entanto, ao longo destes anos, as autoridades nunca foram capazes de impedir estes condutores de terem outros empregos, o que faz com que a licença especial esteja a ser usada indevidamente.” Angela Ka (revisto por A.S.S.)
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GALINHAS E POMBOS VIVOS VOLTARAM A SER POSTOS À VENDA
Tudo como dantes
A
S aves de capoeira voltaram ontem a ser postas à venda depois de, na passada terça-feira, ter sido detectado o vírus da gripe aviária no mercado abastecedor, originando a primeira infecção humana na cidade. Segundo o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), a importação de aves vivas, que estava suspensa, foi restabelecida no sábado. Os trabalhadores do instituto recolheram amostras para inspecção sanitária e os resultados não apontaram para a existência de qualquer anomalia. Este primeiro lote é constituído por cerca de 8700 galinhas e 1400 pombos. Em comunicado, o IACM explica que, com o restabelecimento da venda de aves de capoeira vivas, o instituto procedeu, de novo, à limpeza e desinfecção total das bancas dos mercados de Macau, sendo que se continuam a aplicar várias medidas de supervisão. Na terça-feira, as autoridades abateram cerca de 10 mil aves de capoeira e suspenderam a sua venda depois de o vírus ter sido detectado num stock de 500 galinhas sedosas. Por motivos de segurança, foram
abatidas todas as aves que se encontravam no mercado abastecedor, incluindo 6730 galinhas e cerca de três mil pombos. Na madrugada de quarta-feira, as autoridades anunciaram que, devido ao contacto com os animais, um homem tinha sido infectado com o vírus, sendo o primeiro caso detectado num humano em Macau. O homem de 58 anos, dono de uma banca de venda de aves por grosso, foi sujeito a testes no hospital que deram positivo, indicando que estava infectado com H7N9. O homem não apresentava sintomas e foi colocado na ala de isolamento, a receber tratamento. O dono da banca foi uma das duas pessoas a contactar com as aves infectadas. O outro foi o condutor do veículo de transporte das galinhas que, sendo da China, foi encaminhado para as autoridades chinesas. As autoridades apuraram que a mulher do homem infectado terá sido a única pessoa com quem teve contacto próximo, considerando-se, por isso, baixo o risco de uma epidemia. Este fim-de-semana, os Serviços de Saúde explicavam que o
proprietário da banca continuava a ser sujeito a tratamento de medicamentos antivirais, encontrando-se bem. A mulher estava ainda sob a observação médica, estando ambos em isolamento voluntário no Centro Hospitalar Conde de São Januário.
TUDO NORMAL
Os 95 indivíduos considerados como “pessoas de contacto normal” – os trabalhadores do Mercado Abastecedor Nam Yue, o pessoal do IACM e do Corpo de Bombeiros que tiveram contacto com este caso confirmado – encontram-se todos sujeitos à observação médica. Nenhum deles tinha apresentado qualquer sintoma. Esta foi pelo menos a terceira vez este ano que o vírus da gripe aviária foi detectado em Macau. O Governo já defendeu que, por motivos de saúde pública, deveria deixar de haver venda de aves vivas. No entanto, a medida continua sem data, já que um estudo realizado em Junho deste ano revelou alguma oposição popular, tendo em conta a importância que a população dá à carne fresca, em particular em épocas festivas como o Ano Novo Chinês.
M estudo realizada pela comissão dos assuntos juvenis da União Geral das Associações de Moradores de Macau (Kaifong), em colaboração com a Associação de Juventude das Comunidades, mostra que 70 por cento dos jovens entrevistados admitem que são chineses. Segundo o Jornal do Cidadão, o estudo que investiga o sentido de pertença dos jovens ao território ocorreu no dia 4 deste mês e recolheu 903 opiniões dos jovens entre 18 a 45 anos com entrevistas na rua. A equipa de investigação disse ainda que 60 por cento dos inquiridos estão optimistas sobre o desenvolvimento futuro da China, enquanto que 56 por cento presta atenção ao desenvolvimento do país. Além disso, 54 por cento dizem sentirem-se optimistas quanto ao desenvolvimento futuro de Macau, enquanto que 66 por cento afirmam sentirem-se orgulhosos pela sua identidade de residente de Macau. Já 73 por cento tem confiança sobre a execução da política “um país, dois sistemas”. Por outro lado, 60 por cento dos inquiridos discordam o desempenho satisfatório dos deputados da Assembleia Legislativa (AL) e 56% não concorda que as opiniões dos cidadãos são capazes de influenciar a elaboração das políticas pelo Governo. Apenas 51 por cento dos jovens concorda que a votação à Assembleia Legislativa do próximo ano vai ser capaz de decidir o futuro de Macau.