Hoje Macau 19 FEV 2016 #3515

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

SEXTA-FEIRA 19 DE FEVEREIRO DE 2016 • ANO XV • Nº 3515

hojemacau

Droga de vida PÁGINA 5

OPINIÕES DE . . . FACEBOOK

ANDRÉ RITCHIE PAUL CHAN WAI CHI JOSÉ RODRIGUES SIMÃO

ANIMAIS

UM MUNDO CÃO

PÁGINA 4

LINDY HOP

Dança comigo

SHU GUANG ZHANG

Direito à diferença

EVENTOS

h Em dia nenhum Cristãos na China ANABELA CANAS

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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JOSÉ SIMÕES MORAIS

O reitor da Universidade Cidade de Macau promete um curso de Direito único no território. A criação de uma Faculdade de Gestão Urbana é uma das apostas da instituição de ensino superior. ENTREVISTA

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GONÇALO LOBO PINHEIRO

TRÁFICO


2 ENTREVISTA

SHU GUANG ZHANG REITOR DA UNIVERSIDADE CIDADE DE MACAU

A Universidade Cidade de Macau vai abrir um curso de Direito que assegura ser único no território e para o qual um dos professores convidados é Jorge Gouveia, da Universidade Nova de Lisboa. O reitor diz ainda que está nos planos da instituição abrir uma Faculdade de Gestão Urbana e outros cursos em dois ou três anos

“O nosso curso vai ter características diferentes dos outros” A Universidade Cidade de Macau (UCM) pretende disponibilizar este ano um curso de Direito. Como é composto este curso? Os actuais cursos que desenvolvemos incluem Humanidades, Artes e Ciências Sociais. Mas Macau desenvolveu-se muito ao nível das trocas com as entidades internacionais, incluindo os Países de Língua Portuguesa, pelo que consideramos que formar talentos de Direito para fazer intercâmbios internacionais [é necessário]. É verdade que em Macau existem três instituições do ensino superior que já abriram cursos de Direito: a Universidade de Macau, a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau e a Universidade São José, mas ainda pensamos que existe espaço para abrir um curso de Direito na UCM, porque o nosso curso vai ter características diferentes dos cursos da UM e da MUST. O curso dá mais importância ao nível prático dos conhecimentos de Direito e de Justiça. O sistema jurídico de Macau tem desenvolvido com as suas características ao longo dos anos da governação portuguesa e, desde da transferência da soberania, é diferente do sistema de Portugal e do interior da China. Queremos fazer com que os estudantes compreendam mesmo como se trabalha em Direito em Macau, quais são as técnicas. Portanto o curso foca-se em leis de Macau? É o principal conteúdo do curso. E a segunda parte é sobre o sistema jurídico relacionado com os Países

“Estamos a planear uma Faculdade de Gestão Urbana e os cursos de mestrado e doutoramento vão formar talentos na área de gestão urbana, que podem promover a criação da ‘cidade inteligente’ e da renovação urbana” de Língua Portuguesa, a que chamamos de “Direito comparado”. Esta parte pode ser ensinada em Chinês, Português e também Inglês. Também pensamos no facto de Macau se desenvolver como plataforma entre a China e esses países, bem como na política da China “Uma Faixa, Uma Rota”. Consultou a Associação dos Advogados de Macau (AAM) no planeamento deste curso? Fizemos largas consultas. Consultámos alguns especialistas e académicos de Macau, bem como os organismos públicos da área de justiça e deputados e fizemos pesquisas. Conseguimos respostas afirmativas de todos, mesmo quando alguns duvidaram porque é que a UCM precisava de abrir mais um curso de Direito num espaço tão pequeno como Macau, mas depois de compreenderem as características do nosso curso, todos nos apoiaram. Mas as consultas feitas incluem a AAM? Sim, a AAM também deu algumas opiniões e mostrou-se positiva. O plano da abertura do curso já foi

“Convidámos especialmente um académico conhecido de Portugal – Jorge Gouveia – actual professor da Faculdade de Direito da Universidade Nova da Lisboa. É profissional em ensinar Direito Comparado”

entregue ao Governo em Agosto do ano passado e o Governo disse que vai fazer uma avaliação através de três ou quatro órgãos profissionais. Ainda não recebemos o resultado final da avaliação, mas ouvi dizer que a reacção geral é positiva. Não há ainda data para abertura do curso então. Ainda não. Porque sabemos que qualquer curso precisa da avaliação do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES), do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura e só depois é publicado. Espero que nos próximos dois a três meses recebamos um bom resultado e logo depois vamos admitir estudantes. No passado, a AAM aceitava apenas a candidatura de licenciados em Direito da UM para fazer o exame a advogado estagiário. O ano passado a questão da candidatura de licenciados da MUST foi resolvida. Preocupa-o que os futuros estudantes da UCM enfrentem o mesmo problema? Acredito que o nosso curso vai ser conforme aos meios básicos actuais de formação de talentos de Direito, respeitamos a forma. Temos muita confiança em formar licenciados que possam integrar esses exames. Já tem pessoal docente para o curso de Direito da universidade que dirige? Os professores têm também características especiais. Convidámos especialmente um académico conhecido de Portugal – Jorge

Gouveia – actual professor da Faculdade de Direito da Universidade Nova da Lisboa. Ele é profissional em ensinar Direito Comparado. Além disso, estamos a recrutar vários académicos que trabalhavam em Macau, incluindo um magistrado do Ministério das Relações Exteriores do Governo Central. Através do nosso pessoal docente e da orientação do curso, acredito que vamos ter um curso único. Preocupa-o que exista competição por académicos entre as várias universidades em Macau? É uma das nossas preocupações. Mas ouvimos opiniões de muitos especialistas. As resoluções para esta questão é que, quando o curso tem características específicas, cada universidade pode marcar a sua diferença. O Secretário-geral da AAM, Paulino Comandante, disse, numa entrevista ao HM, que se alguém quiser tirar o curso de Direito a sério, ou tira na UM ou vai para Portugal. Como avalia esta opinião? Concordo com isso. Em Macau é óbvio que os talentos jurídicos devam ter a capacidade de [falar] línguas. Por outro lado, devem compreender bem o próprio sistema jurídico de Macau, que já é diferente do sistema de Portugal, por exemplo, face às leis sobre mediação e auditoria, que são tão diferentes. Caso apenas se estudem as leis de Portugal, não é suficiente para o cenário de Macau. Tal como na MUST... não estou a criticar, mas não é adequado o curso focar-se em leis do interior da China. É preciso ter um equilíbrio entre o sistema jurídico de Macau e o Direito comparado. Ao nível do planeamento geral da universidade, como vai ser feito? A orientação da UCM teve como base modelos internacionais de


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funcionamento das universidades da cidade, que é servir uma cidade que tem uma longa história e um desenvolvimento económico dinâmico. Nós servimos Macau e as suas indústrias, tais como o turismo e lazer, gestão empresarial e de recursos humanos. No futuro, temos como meta reforçar a qualidade do ensino, desenvolver uma universidade característica e refinada. Na prática, não vamos expandir de forma larga o âmbito da universidade, porque não temos condições para, por exemplo, residências para estudantes. As actuais são separadas em edifícios habitacionais por toda a Macau. Além do curso de Direito, vão abrir mais cursos no futuro? Queremos desenvolver uns cursos com características que se adeqúem a Macau, incluindo a

promoção de um instituto de estudo sobre os PLP, formando estudantes que sabem a língua e compreendem a sociedade e cultura, a humanidade, cultura dos países, bem como ter conhecimentos de Ciências Sociais. Vão ser cursos de mestrado e de doutoramento e os primeiros em Macau. Cinco ou seis académicos provenientes de Portugal e do Brasil que trabalham em Macau há diversos anos já deram opiniões sobre os cursos. Como o Governo de Macau dá importância ao planeamento urbano, estamos a planear uma Faculdade de Gestão Urbana e os cursos de mestrado e doutoramento vão formar talentos na área de gestão urbana, que podem promover a criação da “cidade inteligente” e da renovação urbana. Outro curso em que ganhámos grande apoio do Governo é o de assistentes

“Não é adequado o curso focar-se em leis do interior da China. É preciso ter um equilíbrio entre o sistema jurídico de Macau e o Direito comparado”

sociais, que é diferente dos cursos da UM e do IPM e foca-se em gestão de trabalhos sociais, em vez de assistentes da linha frente, em aconselhamento psicológico a idosos, portadores de deficiência e de jovens problemáticos. Esperamos ainda criar um Instituto de Educação de Artes na UCM, para que os estudantes não assistam apenas a exposições ou espectáculos mas também obtenham conhecimentos e apreciem, de facto, arte. Prevemos que nos próximos dois a três anos comecemos a implementar estes cursos. A UCM mudou-se para o antigo campus da Universidade de Macau. Como vê esta alteração? A nossa universidade mudou para o antigo campus da UM oficialmente há alguns meses. Arrendamos sete edifícios, o que melhorou de forma larga as condições ao nível das infra-estruturas de ensino. O ano de 2015 foi importante para o desenvolvimento da UCM, porque voltámos a este campus que é a base do ensino superior de Macau. Na história, surgiu a

Universidade da Ásia Oriental e depois dividiram-se na UM, no Instituto Politécnico de Macau (IPM) e na Universidade Aberta, que levou à alteração do nome e serviu de base para a criação da UCM em 2010. Nestes cinco anos, o presidente do Conselho, Chan Meng Kam, esforçou-se muito pelo desenvolvimento da UCM. Qual a renda que a UCM paga ao Governo ? Considero que não existe segredo sobre isso, penso que o Governo também o anunciou. Assinámos um contrato de arrendamento para utilização de cinco anos e depois depende da situação para decidir o uso por mais tempo. O que eu sei é que a renda de um edifício - Bloco 1 – agora é residência de professores, é mais de cem mil patacas mensais. Na lista de subsídios atribuídos pela Fundação Macau, a UCM figura sempre como uma das beneficiadas. No último trimestre de 2015 o apoio foi de 157 milhões de patacas. Como considera este

apoio do Governo? Como é que a UCM confirma o uso apropriado deste dinheiro público? Agradecemos muito o grande apoio da Fundação Macau. O subsídio é muito importante para nós, porque quando mudámos para o novo campus a UM não deixou quase nenhum equipamento nem mobiliário, e as instalações não foram alvo de manutenção já durante algum tempo. Precisámos de reparar as instalações em três meses, portanto o subsídio foi usado principalmente para criar uma nova biblioteca – a antiga está ocupada pelo Instituto de Formação Turística (IFT), renovar o campus e comprar equipamentos, a fim de assegurar o funcionamento da universidade de forma segura e confortável. Aproveitámos a altura de renovação para aumentar o nível informativo inteligente do campus, agora todos os estudantes precisam de passar cartões para entrar nas salas de aula e nos laboratórios. Os custos foram grandes e usámos o dinheiro de forma apropriada. Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo


4 POLÍTICA

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GOVERNO DECIDE CONTEMPLAR TODOS OS ANIMAIS PARA PENA DE MAUS TRATOS

És um cão ou és um rato? Um ano de prisão para quem maltratar qualquer animal. O Governo cedeu ao pedido dos deputados e vai contemplar todos os animais, contrariamente à versão inicial da proposta, que só incluía cães e gatos

É

a terceira versão da proposta de Lei de Protecção dos Animais que o Governo apresenta à 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), presidida pela deputada Kwan Tsui Hang, e dita que todos os animais vão estar incluídos na questão dos maus tratos. Depois da reunião de ontem, que contou com a Secretária de Administração e Justiça, Sónia Chan, Kwan Tsui Hang explicou que a nova versão estende a pena de prisão

até um ano a quem maltrate qualquer animal. “Por exemplo, se alguém tratar mal um coelho poderá cumprir uma pena de prisão”, exemplificou, indicando que ainda não foram discutidos o tipo de sanções para cada crime. Sem ainda se debruçarem sobre o articulado da proposta de lei, Kwan Tsui Hang explicou que a nova versão, além de definir claramente a proibição de matar cães e gatos para comer, define as questões relativas aos animais dos mercados para alimentação. “O homem tem de consumir animais para

Que força é esta? FACEBOOK

IACM impede adopção de animais e diz a cidadãos que finjam ser donos

GATOS FUGIDIOS

Relativamente ao registo dos cães – como já acontece – e dos gatos, a Comissão entende que é preciso que a lei seja “justa”. Kwan Tsui Hang explicou que a Comissão quer que os gatos sejam alvo de registo, tal como acontece com os cães, para que assim possa ser possível aplicar a lei. Contudo, parece que o Executivo tem outra ideia. “Apresentámos essa ideia ao Governo e o Executivo aceitou a nossa opinião, mas disse que é muito difí-

SELVAGENS DE FORA

Outra novidade foi a retirada do artigo que definia e legislava os animais selvagens, que sem a existência de uma lista oficial, não há como legislar. “Foi eliminada a definição dos animais selvagens. Não existe uma lista em Macau, portanto não vamos falar mais de animais selvagens”, apontou. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

GCS

O

Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) estará a impedir pessoas de adoptarem animais que se encontram no canil, no corredor da morte. A alegação não é nova, mas acontece novamente, desta vez vinda de um grupo de pessoas interessadas em adoptar seis cães que vão, hoje, ser abatidos. Ao que o HM apurou, através da Associação para os Cães de Rua e Bem Estar Animal (MASDAW), que esteve a tentar ajudar os cidadãos, o IACM terá negado os pedidos de adopção. Ao invés disso, disse aos interessados que, se quisessem salvar os animais, teriam de “dizer que eram os donos dos cães”. O problema não reside apenas no facto do IACM estar a pedir aos residentes interessados em adoptar animais para mentir, nem no facto de, segundo uma das representantes da MASDAW, ser uma prática comum não permitir a adopção em detrimento da eutanásia. Neste caso, o problema principal está na questão de ter de se pagar 500 patacas para adoptar um animal no canil, relativas à taxa de licenciamento, mas o IACM terá ontem pedido “mais de três mil patacas em multas por cada cão”. “Porque não deixar adoptar cães que vão morrer e não lhes pertencem? Até quando é que este tipo de chantagem vai continuar a acontecer?”, questiona a MASDAW. Para Fátima Galvão, da MASDAW, “isto é um abuso cometido contra as pessoas que gostam realmente

a sua alimentação. Os animais para consumo (...) a lei não vai regular, porque neste aspectos aplica-se os regulamentos do IACM [Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais]”, explicou.

cil registar os gatos porque eles fogem muito”, afirmou a deputada. Questionada sobre a colocação de chips de identificação nos gatos – obrigatória aos cães devido à raiva –, a presidente reforçou a dificuldade que o Governo alega ter. “Achamos que o gatos devem ter um registo. O Governo disse que existe muita dificuldade [para registar] (...) Se conseguirmos o registo, conseguimos o chip”, rematou, admitindo no entanto que sem registo é “muito difícil” aplicar a lei. “Não podemos punir o dono do gato se o gato for maltratado”.

de animais”, até porque abandonar um cão no canil nem sequer dá multa.

À ESCOLHA DO FREGUÊS

Os alegados impedimentos de adopção pelo IACM já foram noticiados pelo HM e as associações de animais continuam a queixar-se que as circunstâncias mudam consoante a pessoa que atende quem quer adoptar. “Os cães abandonados estarão automática e geralmente aptos para ser adoptados, mas o que o canil faz há muito, quando percebe que as pessoas querem salvar os animais, é dar duas hipóteses: ou dizem que o cão é deles e pagam uma data de dinheiro de multas, ou então que os cães têm de estar quatro meses à espera para serem avaliados”, explica Fátima Galvão ao HM, acrescentando que a outra hipótese é dizer que os cães não estão em condições de ser adoptados. “São medidas absolutamente discricionárias. Já aconteceu uma pessoa ter de pagar seis mil patacas para adoptar uma cadela.” O grupo de pessoas interessadas em adoptar os cães de ontem conseguiu juntar dinheiro para salvar três dos animais, mas teme fazer queixa da actuação do IACM com medo de represálias. O HM tentou obter reacção do IACM, mas devido ao avançado da hora não foi possível. Recorde-se que Macau continua a discutir aquela que será a primeira Lei de Protecção dos Animais. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

SÓNIA CHAN APRESENTA PROPOSTA DE ACORDOS JUDICIÁRIOS EM JULHO

A Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, indicou que o Governo está a “tentar apresentar a proposta relativa aos acordos de extradição “no próximo mês de Julho” à Assembleia Legislativa (AL). Durante a apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG), em Novembro de 2015, Sónia Chan afirmou que a sua pasta iria “encetar negociações com outros países, tendo por base o acordo-tipo sobre a transferência de pessoas condenadas e a cooperação judiciária em matéria cível e comercial aprovado pelo Governo Central, dando prioridade às negociações com os países lusófonos”. Portugal é o único país que tem, actualmente, um acordo sobre “transferência de pessoas condenadas” com Macau, assinado em 1999, poucos dias antes da transferência da soberania do território de Portugal para a China.


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Lei da Droga DEPUTADOS DUVIDAM DAS MOLDURAS PENAIS

Para ti ou para os outros? mes, se calhar, os problemas não se verificam”, apontou Cheang Chi Keong.

REINSERÇÃO É PRECISO

trânsito e entrada de droga e, por isso, havia a necessidade de rever a lei. Neste ponto estamos de acordo. Mas na proposta de lei não se verifica uma norma específica para estes crimes e não se vê qualquer aumento da moldura penal. Os crimes transfronteiriços são a fonte da criminalidade e, sem esses cri-

O deputado referiu ainda que o aumento das penas para o consumo pode não ser a melhor arma para acabar com o problema dos estupefacientes. “A sociedade entende que os consumidores também são vítimas do crime da droga e, a nível da politica criminal, são pessoas que merecem a nossa simpatia e temos de os ajudar a abster-se da droga, em vez de os meter na prisão. A nossa intenção é para a reinserção social dessas pessoas. Na proposta de lei ficamos com a ideia errada, porque para o consumo da droga o limite mínimo é de três meses mas a proposta aumenta para um ano. Será que esta política é favorável à reinserção social dos consumidores? Será que o aumento vai contribuir para que haja efeitos dissuasores?”, apontou Cheang Chi Keong.

Agenda vazia

Habitação Económica Não há condições para mais candidatos, diz DSSOPT

escrita do deputado Chan Meng Kam, que questionou o Governo sobre a previsão para a abertura do próximo concurso para habitação pública, bem como sobre a ideia de implementar um sistema de candidatura constante. Li Canfeng, director da DSSOPT, afirmou que além

dos planos de construção de quatro mil fracções em cinco dos terrenos que viram declarada a sua caducidade e das 28 mil casas públicas na Zona A dos novos aterros, o Governo diz estar a braços com outros planos: é preciso resolver primeiro os terrenos que estão com a concessão caducada e só depois dar

prioridade à criação de mais prédios de habitação pública. Ainda assim, mesmo que isto não fosse necessário, o director frisou que não existem condições para abrir mais concursos. “De acordo com a Lei da Habitação Económica, apenas existem condições

O presidente da 3.ª Comissão lembrou que, aquando da primeira aprovação da lei, em 2009, o Governo recuou na sua decisão ao nível da moldura penal. “Comparando há seis anos, aquando da aprovação da lei, o Governo apresentou o limite mínimo para o consumo de seis meses. Mas, durante a discussão, o Governo e a Comissão da AL acharam que os consumidores devem merecer a nossa ajuda e esse limite foi ajustado para três meses. Porque é que agora elevamos para um ano?”, referiu. A actual proposta de lei determina ainda que, em qualquer lugar e sob autorização prévia das autoridades, os suspeitos de consumo de droga podem ser submetidos a testes de análise da urina, algo que também levantou questões. “Segundo a nossa assessoria, é provável que as medidas de recolha de amostra da urina possam ofender os direitos humanos. Aplicar uma medida tão forte como a análise à urina, não sabemos se é adequado”, disse Cheang Chi Keong. A Comissão vai ainda pedir ao Governo que revele o relatório da discussão da Comissão de Luta contra a Droga, ao qual ainda não teve acesso. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

de começar os processos de candidatura quando concluirmos o design e planeamento dos terrenos específicos para a habitação económica e depois de publicarmos a localização, número, tipos, preços e a taxa de subvenção das fracções. Portanto, na fase actual não existem condições. Quanto à candidatura de habitação social é também dependente dos recursos que podem ser planeados”, afirmou. F.F.

HOJE MACAU

A

Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) admite que não tem condições para receber mais candidatos para fracções em prédios de habitação económica. A direcção diz estar a tratar de terrenos cujo aproveitamento não foi feito dentro do prazo estipulado e só depois dará prioridade à construção de habitação pública. O anúncio foi feito numa resposta a uma interpelação

N

A revisão da Lei de Proibição da Produção, Tráfico e Consumo Ilícitos de Estupefacientes e de Substâncias Psicotrópicas as molduras penais mínimas para o consumo passam de três meses a um ano, mas não há alterações significativas nas penas aplicadas a quem faz tráfico de droga ao nível transfronteiriço. Esta questão levantou ontem dúvidas junto dos deputados da 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), que começou a analisar o diploma na especialidade. “A proposta de lei tem como foco os crimes de droga ou os crimes transfronteiriços? O Governo tem de explicar à Comissão qual a sua intenção legislativa”, questionou Cheang Chi Keong, presidente do grupo. “O Governo deixou um ponto claro, de que esta lei visa combater os crimes transfronteiriços de droga e a possibilidade de Macau se tornar num lugar de

GCS

Os deputados da 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa querem que o Governo explique se a nova Lei de Combate à Droga visa penalizar o consumo ou o tráfico de estupefacientes, já que as penas para o tráfico transfronteiriço não aumentaram

POLÍTICA

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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 59/AI/2016

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 61/AI/2016

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora CHEN XIUQING, portadora do Passaporte da R.P.C. n.° E13779xxx, que, na sequência do Auto de Notícia n.° 53.2/DI-AI/2014 levantado pela DST a 07.05.2014, e por despacho da signatária de 01.02.2016, exarado no Relatório n.° 82/DI/2016, de 21.01.2016, em conformidade com o disposto no n.° 2 do artigo 10.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $20.000,00 (vinte mil patacas) por angariar pessoas com vista ao seu alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Rua Cinco Bairro Iao Hon n.° 39, Mau Tan, 1.° andar B (D142).-----------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-----------------------------------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo DecretoLei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.-------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.----------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 01 de Fevereiro de 2016.

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora CHEN XIUQING, portadora do Passaporte da R.P.C. n.° E13779xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 53.1/DI-AI/2014 levantado pela DST a 07.05.2014, e por despacho da signatária de 01.02.2016, exarado no Relatório n.° 84/DI/2016, de 21.01.2016, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Rua Cinco Bairro Iao Hon, n.° 39, Mau Tan, 1.° andar B (D142).------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-----------------------------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.---------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.----------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 01 de Fevereiro de 2016.

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes


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hoje macau sexta-feira 19.2.2016

Aviso De acordo com o Despacho do Chefe do Executivo n.° 109/2005, os requerimentos visando a renovação de licenças anuais, a emitir pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, devem ser tratados, anualmente, entre Janeiro e Fevereiro, salvo se outro prazo estiver fixado em disposição legal. Na falta de regime especial, a não renovação da licença anual no supramencionado prazo implica a cessação da actividade licenciada, salvo se o interessado proceder à respectiva regularização no prazo de 90 dias. Caso efectue o pedido de renovação da licença anual no período de regularização de 90 dias, fica sujeito a uma taxa adicional calculada nos seguintes termos: • • •

Dentro de 30 dias, a contar do termo do prazo para a apresentação do pedido de renovação da licença: 30% da taxa da licença em causa; Dentro de 60 dias, a contar do termo do prazo para a apresentação do pedido de renovação da licença: 60% da taxa da licença em causa; Dentro de 90 dias, a contar do termo do prazo para a apresentação do pedido de renovação da licença: 100% da taxa da licença em causa.

Para um melhor conhecimento dos titulares de licença, é apresentada a seguinte tabela descritiva com o tipo de licenças a renovar entre 1 de Janeiro e 29 de Fevereiro de 2016: Tipos de Licença

Local de tratamento das formalidades

Licença para estabelecimentos de venda a retalho de aves de capoeira vivas Licença para estabelecimentos de venda a Centro de Serviços / Todos os retalho de animais de estimação Centros de Prestação de Serviços Licença de venda a retalho de carnes ao Público / frescas, refrigeradas ou congeladas Postos de Atendimento e Licença de venda a retalho de vegetais Informação / Núcleo de Licença de venda a retalho de pescado Expediente e Arquivo Licenciamento para animais de competição Licenciamento de outros animais – cavalo, machos ou burros Canil Municipal / Posto de Atendimento Itinerante para o Requerimento e Renovação da Licença do Cão de Estimação/ Centro de Serviços * / Todos os Licença anual do cão de companhia ou de Centros de Prestação de Serviços estimação ao Público * * é necessário ainda marcar uma data para a vacinação anti-rábica e, na data combinada, transportar o cão ao Canil Municipal Licença anual de lugares avulsos no mercado Licença de vendilhões Centro de Serviços / Todos os Licença de afixação de publicidade e Centros de Prestação de Serviços propaganda ao Público Licença de reclamos em veículos Licença especial de pejamento de carácter permanente

Centro de Serviços / Centro de Prestação de Serviços ao Público das Ilhas

Licença de esplanada

Os locais e as horas de expediente, para o tratamento de requerimentos de renovação de licenças, são os seguintes: Centro de Serviços do IACM: Avenida da Praia Grande, n.° 804, Edf. China Plaza, 2° andar, Macau. - 2.ª a 6.ª feira: das 9:00 às 18:00 horas (Funciona durante as horas de almoço). Centros de Prestação de Serviços ao Público: Centro de Prestação de Serviços ao Público da Zona Norte Rua Nova da Areia Preta, n.º 52, Centro de Serviços da RAEM, Macau. Centro de Prestação de Serviços ao Público das Ilhas Rua da Ponte Negra, Bairro Social da Taipa, n.º 75K, Taipa. Centro de Prestação de Serviços ao Público da Zona Central Rotunda de Carlos da Maia, Nos .5 e 7 , Complexo da Rotunda de Carlos da Maia, 3º andar, Macau. - 2.ª a 6.ª feira: das 9:00 às 18:00 horas (Funciona durante as horas de almoço). Postos de Atendimento e Informação: Posto de Atendimento e Informação Central Avenida da Praia Grande, n.° 804, Edf. China Plaza, 2° andar, Macau. Posto de Atendimento e Informação Toi San Avenida de Artur Tamagnini Barbosa n.º 127, Edf. Dona Julieta Nobre de Carvalho, Torre B, r/c, Macau. Posto de Atendimento e Informação de S. Lourenço Rua de João Lecaros, Complexo Municipal do Mercado de S. Lourenço, 4°andar, Macau. - 2.ª a 6.ª feira: das 9:00 às 19:00 horas (Funciona durante as horas de almoço). Núcleo de Expediente e Arquivo: Avenida de Almeida Ribeiro, n.°163, r/c, Macau. - 2.ª a 5.ª feira: das 9:00 às 13:00; das 14:30 às 17:45 horas. - 6.ª feira: das 9:00 às 13:00; das 14:30 às 17:30 horas. Canil Municipal de Macau: Avenida do Almirante Lacerda, Macau. - 2.ª a 6.ª feira: das 9:00 às 17:00 horas (Funciona durante as horas de almoço). Canil Municipal de Coloane: Estrada de Cheoc Van, Coloane. - 2.ª feira: das 10:00 às 15:00 horas (Funciona durante as horas de almoço). Os formulários de pedido de renovação das supramencionadas licenças (excepto para a Licença de Vendilhões) poderão ser obtidos no website do IACM (www.iacm.gov.mo). Para mais informações, queira ligar para a Linha do Cidadão do IACM, através do telefone no 2833 7676. Macau, 07 de Dezembro de 2015

WWW. IACM.GOV.MO

O Presidente do Conselho de Administração, Vong Iao Lek


7 hoje macau sexta-feira 19.2.2016

DETECTADO CASO DE FEBRE DA DENGUE

Os Serviços de Saúde (SS) confirmaram um caso de febre de dengue numa mulher de 52 anos de idade, residente na Rua do Regedor, na Taipa. O caso foi detectado depois da paciente ter realizado uma viagem a Kuala Lumpur, na Malásia, onde a irmã mais jovem foi tratada com a mesma doença. Para já a mulher está internada a receber tratamento, estando numa situação clínica estável.

SOCIEDADE

ABERTURA DO MGM COTAI PODE SER AJUSTADA

O director-executivo da MGM China, Grant Bowie, afirmou que a data da abertura do projecto do MGM no Cotai pode ser alterada, algo que depende “da situação do mercado e das datas de abertura de projectos de outras operadoras de Jogo também no Cotai”. Estava previsto o novo resort abrir no quarto trimestre deste ano, mas, segundo o Jornal Ou Mun, Grant Bowie admitiu que o actual ambiente da indústria de Jogo influencia a abertura e, sem dar datas certas para tal, diz apenas que vai anunciar a nova data “num momento oportuno”. O director-executivo prevê que vai precisar de recrutar entre mais quatro a cinco mil funcionários.

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Ensino USJ AVANÇA COM CURSO DE PORTUGUÊS. UCM CONTORNA SITUAÇÃO

Por caminhos lusitanos

“T

EMOS quase 99,9% de que vamos abrir a licenciatura [de Português] este ano”. As declarações são de Maria Antónia Espadinha, directora do Departamento de Português da Universidade de São José (USJ), que esclarece que neste “momento só falta a confirmação do [Gabinete de Apoio ao Ensino Superior]”. A responsável diz ao HM “acreditar” que este ano a universidade já possa ter a licenciatura, mas deixa o alerta que de esta é apenas destinada a estudantes que não saibam ainda falar Português. “Esta licenciatura é para chineses, ou [alunos] de outras nacionalidades. Não podem é ser pessoas que saibam falar Português”, esclareceu Maria Antónia Espadinha. Actualmente, a licenciatura está pensada para ser em regime diurno, sendo que poderá ter uma turma nocturna se existirem pedidos e alunos para isso. Terá de ter “no mínimo 14 pessoas”, sendo que até 20 será uma turma. “Mais do que isso, iremos dividir, porque para ser intensivo não pode ter muita gente”, explica a responsável. Como alternativa, os interessados podem ainda inscrever-se num curso extra

TIAGO ALCÂNTARA

Falta 1% para a USJ confirmar a licenciatura de Português já no próximo ano lectivo. Tudo está preparado para receber os novos alunos, que não podem saber já falar a língua de Camões. No leque das ofertas existem outras opções para os interessados curricular de Português na USJ. “O curso já está a decorrer, mas para já não conta com muitos inscritos”, conta MariaAntónia Espadinha. Este está disponível em dois regimes, diurno e nocturno, com duração de um e dois anos, respectivamente, e os alunos recebem um certificado que lhes poderá dar acesso a licenciaturas disponíveis na universidade.

POR OPÇÃO

Questionado pelo HM, Rui Rocha, director do Departamento de Português da Universidade Cidade de Macau (UCM), indicou que a instituição não vai abrir a licenciatura de Português para já, como já tinha sido anunciado anteriormente. Relembrando que este curso terminou há dois anos “por opções internas”, Rui Rocha explica que, como alternativa, os alunos têm à sua disposição cursos extracurriculares “e o Português como disciplina opcional para todos os cursos”. No entanto, a UCM garantiu ainda que vai desenvolver cursos de promoção ao estudo sobre os Países de Língua Portuguesa, formando estudantes em áreas linguísticas, históricas, sociais e culturais (ver entrevista páginas 2/3). Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

O fim ao virar da esquina

PME Comerciantes optam por fechar caso negócios não melhorem

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LGUNS proprietários de centros comerciais da zona central da cidade disseram ao jornal Ou Mun que o volume de negócios deverá cair muito, sendo que as rendas, pelo contrário, não baixaram, algo que os vai levar a optar pelo fim do negócio. Um proprietário, que não foi identificado na reportagem, referiu que a mobilidade das pessoas é o factor mais importante para o centro comercial, mas garantiu que os visitantes estão a desaparecer, inclusivamente ao nível dos turistas. Dado que as rendas não deverão baixar nos próximos tempos, este comerciante garantiu que vai fechar portas, sendo que “outras lojas do mesmo centro comercial estão a passar pela mesma situação”. A senhora Tam, proprietária de uma loja de roupa no bairro San Kio,

disse que “cada loja usa técnicas de saldos para atrair mais clientes, o que traz uma má competição ao sector. O ambiente de mercado não é bom para as PME, e embora as rendas tenham baixado ligeiramente, isso não é suficiente para compensar o declínio do volume de negócios. Juntamente com a situação económica, tenho uma perspectiva muito negativa do futuro da minha loja”, disse ao Ou Mun. Chang, dona de uma loja no mesmo bairro, defendeu que embora o nível do consumo tenha diminuído, acredita que a economia vai melhorar. Chang assinou recentemente novo contrato de arrendamento com o mesmo valor de renda, pelo que tem intenções de pedir subsídio ao Governo para manter o negócio. Tomás Chio

info@hojemacau.com.mo


8 SOCIEDADE

hoje macau sexta-feira 19.2.2016

Mais abastecimento eléctrico e menos tarifas

Trânsito SHUTTLE BUS REDUZIDO EM 20%

CEM Novas instalações e despesas a descer

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UN Iok Meng, Vice-Presidente da Comissão de Ligação CEM-Clientes, defendeu que a Companhia de Electricidade de Macau (CEM) planeia adicionar mais dez estações de carregamento de carros eléctricos em parques de estacionamento público. Numa reunião da Comissão de Ligação, na última quarta-feira, o responsável anunciou ainda que a tarifa de electricidade deverá diminuir em Abril. Em declarações ao jornal Ou Mun, Iun Iok Meng anunciou que a CEM planeia adicionar entre sete a dez estações de carregamento para os carros eléctricos nos parques de estacionamentos público ainda este ano, já que só existem duas destas estações actualmente. A empresa quer ainda que estas estações sejam também instaladas nos prédios privados, sendo que dois terços dos proprietários de um dos edifícios previstos já concordaram com a instalação. “Espero que se simplifiquem os processo administrativos relativos a essas instalações”, apelou o responsável. O vice-presidente, que também é assessor da Comissão Executiva da CEM, avançou que as estações vão ser instaladas para responder às medidas governamentais e ajudar ao aumento dos veículos eléctricos em Macau.

Iun Iok Meng prevê ainda que as despesas de electricidade diminuam por causa da depreciação do Renminbi.

REDE DE CONSULTAS

Na mesma reunião, Billy Chan, director de Operação e Manutenção da Rede da CEM, explicou que os projectos da empresa a curto-prazo envolvem um consulta sobre a utilização de electricidade - como o valor e a forma de utilização, o projecto de instalação de subestações e a utilização de carros eléctricos - e um estudo para utilização dos espaços subterrâneo públicos – bem como a possibilidade de implementar subestações subterrâneas e o projecto de instalação de cabos electrónicos. Viena Ng, directora do Departamento de Desenvolvimento da CEM, sublinhou que o resultado de um relatório sobre a satisfação face aos serviços da CEM, que feito em Julho eAgosto, demonstrou que 86% entrevistados se sentem satisfeitos com os serviços. Tomás Chio

info@hojemacau.com.mo

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Menos fichas na estrada Governo e operadoras de Jogo estão a iniciar a redução da circulação dos autocarros dos casinos, sendo que só uma operadora irá reduzir os shuttle bus em 20%. O corredor exclusivo para autocarros públicos começa a funcionar a título experimental em Maio

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EPOIS de muita discussão, o Governo vai mesmo avançar com a redução da do número de autocarros dos casinos que diariamente circulam no território. Ko Kun Pan, membro do Conselho Consultivo do Trânsito, confirmou ontem aos jornalistas, à margem de mais uma reunião, que “das 80 carreiras que existem actualmente vão ser reduzidos 20%, para já só de uma operadora”. A redução por parte de cada operadora é diferente e outras operadoras conseguem reduzir com uma margem menor, avançou ainda. “Há mesmo necessidade de acompanhar a redução dos shuttle bus”, afirmou, sem avançar mais números concretos ou o nome da operadora em causa.

O HM questionou ainda Ko Kun Pan sobre a possibilidade de serem criadas multas para as operadoras que não cumprirem com os desígnios do Governo, mas o responsável garantiu que “este é um bom começo”, escusando-se a comentar mais medidas. Outra das novidades saída da reunião de ontem prende-se com a entrada em funcionamento, em Maio e a título experimental, do corredor exclusivo para autocarros públicos. Vão existir três percursos diferentes compreendidos entre a zona da Barra, Doca do Lam Mau e Ribeira do Patane. “Alguns membros sugeriram a abertura do corredor a outros veículos ou táxis, mas achamos que, para já, este corredor deve ser destinado apenas aos autocarros”, garantiu Ko Kun Pan. Ainda não há um calendário para o funcionamento em definitivo deste corredor, que deverá beneficiar 30 dos 280 mil passageiros diários de autocarros. “Foi feita uma simulação da implementação do corredor exclusivo, mas para sabermos os resultados concretos tudo vai depender da sua implementação efectiva. Quanto a eventuais congestionamentos podem surgir, porque há cerca de 30 carreiras e 280 mil passageiros por dia que usam o transporte público. Temos de satisfazer as necessidades de transporte público especialmente no período de hora de ponta”, frisou Ko Kun Pun.

Após algumas críticas, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) resolveu reduzir o período de funcionamento do corredor de oito para sete horas, que vai funcionar entre as 7h30 e 9h00 e as 18h00 e 19h00. “Não sabemos se vai ter os resultados pretendidos, se lançarmos o corredor nos dias de semana podemos não conseguir responder às necessidades. Temos de saber os dados das deslocações primeiro”, disse, explicando que caso outros veículos circularem no corredor podem incorrer numa multa de 600 patacas. A DSAT vai ainda lançar já no próximo mês o concurso público para a atribuição de mais 250 alvarás de táxi, a acrescentar aos 1300 veículos já em circulação.

CARREIRAS A NORTE MUDADAS

A DSAT vai também fazer mexidas nas carreiras de autocarros públicos na zona norte, sendo que mais de uma dezena deve ser alvo de formulação, incluindo o desaparecimento de três paragens. “A DSAT fez um estudo sobre o aperfeiçoamento das paragens e entendeu que na zona norte, como há muitos passageiros, decidiu eliminar algumas paragens e fazer com que as carreiras se desloquem de melhor forma. Apresentamos algumas sugestões e depois vamos apresentar uma solução mais concreta”, rematou. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


9 hoje macau sexta-feira 19.2.2016

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Para debaixo do tapete Lou Kao IC ainda “avalia causa” do acidente

A empresa de Engenharia Soi Kun tem de limpar os estragos que fez na Casa de Lou Kao, mas o Instituto Cultural (IC) ainda não sabe se esta vai ou não pagar os danos infligidos no património

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UMA resposta ao HM, o IC diz que já avisou a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, no dia do incidente, “para suspender a obra no local”. Actualmente, o Instituto e a direcção dizem estar a exigir ao construtor, cuja empresa é do deputado Mak Soi Kun, a “tomada de medidas de urgência”, de forma a que sejam limpos os “azulejos e lama” que caíram no local classificado. A ideia, contudo, passa por “assegurar a segurança da Casa de Lou Kao”, sendo que os trabalhos de limpeza “são da responsabilidade do construtor”. No entanto, o IC desconhece quanto tempo e quanto dinheiro vai custar a reparação, bem como se Mak Soi Kun terá de pagar por ela. “O IC vai verificar a situação da Casa de Lou Kao junto com a DSSOPT, sob as condições actuais e vai elaborar um plano de reparação avançado. Na fase actual não conseguimos prever o montante necessário e a causa do acidente está ainda a ser

investigada, pelo que não há conclusão final”, pode ler-se na resposta ao HM.

A PLANTA NÃO ENGANA

No local vai ser construído um centro comercial com cinco pisos e foi desta obra que saiu o objecto que danificou paredes e janelas da Casa de Lou Kau, no início do mês. Ao que o HM apurou, a dona da obra é uma empresa de Hong Kong, sendo uma companhia do deputado Mak Soi Kun quem está responsável pela construção do prédio. Este foi ontem questionado sobre a responsabilidade face aos estragos provocados no património, mas esquivou-se à pergunta. Seja como for, a Planta de Condições Urbanísticas não engana: a construtora é responsável pela manutenção do imóvel protegido. “A tipologia arquitectónica e/ou obras de qualquer natureza [neste local] têm de garantir a absoluta manutenção das condições de estabilidade e protecção da (…) Casa de Lou Kao, não sendo

permitido quaisquer intervenções que possam causar efeitos de erosão do solo, não sendo admitidos efeitos adversos sobre as fundações, estrutura ou arquitectura deste edifício classificado.” Também a licença da obra indica que este fica numa zona protegida de Macau e o local está – de acordo com a planta – “titulado pela Lei de Salvaguarda do Património Cultural”. Isso significa que, em caso de danos a bens ou imóveis classificados, os responsáveis têm de pagar sanções. Também Mak Soi Kun foi questionado sobre a responsabilidade no caso. A resposta do deputado? “A sociedade não pode apenas focar-se apenas num ponto, mas olhar para questões de forma completa. É preciso resolver os problemas na fonte. Em Macau muitos edifícios antigos não são reparados e o Governo deve tomar medidas preventivas, fazendo inspecção aos prédios de forma obrigatória.” Joana Freitas (com F.F.)

joana.freitas@hojemacau.com.mo

SOCIEDADE


10 CHINA

hoje macau sexta-feira 19.2.2016

APPLE LANÇA SISTEMA DE PAGAMENTO MÓVEL

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norte-americana Apple lançou ontem o sistema de pagamento móvel Apple Pay na China, numa tentativa de conquistar espaço no maior mercado mundial do sector e onde há já vários operadores locais. A segunda maior economia do mundo é um mercado crucial para a empresa sediada na Califórnia. A aplicação Apple Pay está disponível apenas em alguns países,

incluindo os Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Austrália. “A Apple Pay foi lançada hoje (ontem) na China. Espero com entusiasmo que tentem para ver o quão incrivelmente fácil é de utilizar!”, afirmou o CEO da Apple, Tim Cook, através de um comentário numa rede social chinesa. Em 2015, as transacções via dispositivos móveis na China atingiram

os 9,31 biliões de yuan, mais 57% do que no ano anterior. Segundo o China Internet Network Information Center, organismo regulador do sector, o “gigante” asiático tinha, em meados de 2015, 359 milhões de utilizadores de serviços de pagamento ‘online’, um aumento de 18% no espaço de seis meses. O gigante chinês do comércio electrónico Alibaba tem quase 75%

de quota de mercado, seguido pela Tencent, detentora da rede social ‘WeChat’ (o ‘Whatsapp’ chinês), com 17,4%, segundo o instituto de pesquisa com sede em Pequim BigData Research. O número de chineses ligados à Internet aumentou para quase 700 milhões no ano passado, mais do dobro de há cinco anos, e 90 por cento acedem à rede através de ‘smartphone.

Cantigas de sempre

Mar do Sul Confirmado “armamento” em ilhas disputadas

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GRUPO ACCIONISTA DA TAP COMPRA DISTRIBUIDORA MUNDIAL DE TECNOLOGIA

Negócios emergentes

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grupo chinês HNA - empresa matriz da companhia aérea Hainan Airlines e futuros accionistas da TAP - vão comprar a distribuidora de tecnologia norte-americana Ingram Micro, por 6.000 milhões de dólares. A HNA pagará 38,90 dólares por cada acção do Ingram Micro - um valor 31% acima da cotação actual - segundo um comunicado emitido ontem pelo grupo listado em Nova Iorque. “Com a ajuda do Ingram Micro, o HNA Group terá acesso a oportunidades de negócio em mercados emergentes, com altas taxas de crescimento e retornos”, reagiu, entretanto, o CEO da empresa chinesa, Adam Tan. Segundo um comunicado emitido há dias pelo HNA, o grupo compromete-se a realizar um empréstimo de 120 milhões de euros à companhia aérea brasileira Azul, destinado à compra de obrigações convertíveis da TAP a 10 anos.

A empresa assegurará assim 6,4% do direito de voto na TAP e 55% dos benefícios económicos, lê-se na mesma nota. Além desse empréstimo, com maturidade de 181 dias e taxa de juros anual fixada em 14,25%, o HNA prevê mais um financiamento de 300 milhões de dólares

“Com a ajuda do Ingram Micro, o HNA Group terá acesso a oportunidades de negócio em mercados emergentes, com altas taxas de crescimento e retornos” ADAM TAN CEO DA EMPRESA CHINESA

à Azul, visando tornar-se accionista da empresa.

APOSTAR LÁ FORA

Pequim tem encorajado as empresas do país a investir além-fronteiras, como forma de assegurar matérias-primas e fontes confiáveis de retornos, face aos sinais de abrandamento na economia doméstica. A estatal chinesa China National Chemical Corp. ofereceu este mês 43 mil milhões de dólares pela gigante suíça de pesticidas e sementes Syngenta, no que se poderá tornar na maior aquisição de sempre da China no exterior. A Ingram Micro é responsável pela distribuição de produtos da Apple, Microsoft, IBM e Cisco, entre outras firmas do sector, e tem 200 mil clientes espalhados por cerca de 160 países, segundo o ‘site’ oficial. A HNA compromete-se ainda a manter a sede da empresa no Estado norte-americano da Califórnia e os actuais membros da administração.

China confirmou que mantém armamento numa ilha disputada no Mar do Sul da China, avançou ontem a imprensa estatal, depois de o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, acusar Pequim de “militarizar” um território estrategicamente vital. O ministério chinês da Defesa confirma que o país “mantém armamento na ilha há muito tempo”, escreve o Global Times, jornal em língua inglesa do grupo do Diário do Povo, órgão central do Partido Comunista Chinês (PCC). O mesmo artigo não especifica qual o tipo de armamento. A cadeia norte-americana Fox News avançou na quarta-feira que a China instalou na semana passada um sistema de lançamento de mísseis terra-ar na ilha Woody, que faz parte do arquipélago Paracel. Alegadamente rico em petróleo e gás natural, a soberania daquele território é reivindicada por Pequim, Taiwan e Vietname. “A China tem o direito legal e justo de colocar instalações defensivas nas fronteiras do seu território”, acrescenta o Global Times, acusando a imprensa ocidental de tocar “a mesma cantiga de sempre”, sobre “a ameaça chinesa”.

DA SOBERANIA

O “gigante” asiático insiste que tem direitos de soberania sobre a quase totalidade do Mar do Sul da China, uma via marítima estratégica pela qual passam um terço do petróleo negociado internacionalmente. Nos últimos meses, tem construído ilhas artificiais capazes de receber instalações militares em recifes do arquipélago Spratly, a sul do Paracel, e alvo de disputa pela China, Vietname, Taiwan, Filipinas, Malásia e Brunei. “Existem evidências, todos os dias, de que há um reforço da militarização de um género ou outro”, disse Kerry na quarta-feira à imprensa em Washington. Em editorial, o Global Times reagiu, acusando os EUA de instalar a “maioria dos elementos militares na região”. Se a China de facto colocou mísseis terra-ar na ilha, “talvez sirvam para desencorajar aviões de combate norte-americanos de realizar voos provocativos na região. Para nós, é um ótimo resultado”, conclui.


11 hoje macau sexta-feira 19.2.2016

Amigos para siempre ICBC Pequim diz-se disposta a cooperar com Espanha

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China está disposta a colaborar com Espanha na investigação à sede do banco chinês ICBC em Madrid, por alegado branqueamento de capitais, e espera que as autoridades espanholas actuem de acordo com a lei. “Estamos dispostos a manter a comunicação com o lado espanhol”, afirmou ontem um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hong Lei, numa conferência de imprensa em Pequim. Hong apelou à justiça espanhola para tratar deste assunto “de acordo com a lei” e recordou que Pequim sempre urge as empresas chineses no exterior a cumprir estritamente com as leis chinesas e do país onde operam.

OPERAÇÃO SERPENTE

A Guarda Civil espanhola deteve na quarta-feira cinco directores do banco estatal chinês ICBC em Madrid, todos de nacionalidade chinesa, e entre os quais consta o diretor-geral da sucursal. Em causa está uma operação coordenada pela procuradoria

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O banco é suspeito de operar uma estrutura criminal que se dedicava a transferir dinheiro para a China, obtido através de contrabando, fraude fiscal e exploração de mão-de-obra

anti-corrupção de Espanha e que a imprensa espanhola diz estar relacionada com a investigação Snake, contra a máfia chinesa na região madrilena de Cobo Calleja. O banco é suspeito de operar uma estrutura criminal que se dedicava a transferir dinheiro para a China, obtido através de contrabando, fraude fiscal e exploração de mão-de-obra, “de maneira a que parecesse legal”. Executivos e advogados do ICBC deslocaram-se entretanto a Madrid, para cooperar com as autoridades, informou ontem a instituição num comunicado citado pela imprensa chinesa. A mesma nota acrescenta que o banco sempre cumpriu “com os princípios básicos de gestão e regulamentos contra a lavagem de dinheiro”. O ICBC abriu portas na capital espanhola em 2011 e opera sob a tutela da central europeia, no Luxemburgo. Está também presente em Lisboa há alguns anos, mas através de um escritório de representação, sendo conhecida a sua vontade de abrir uma sucursal no país a curto prazo. Trata-se da maior instituição bancária do mundo em capitalização em bolsa e por depósitos.

CHINA

INFLAÇÃO CRESCEU 1,8% EM JANEIRO

O Índice de Preços no Consumidor (IPC) na China, um dos principais indicadores da inflação, subiu 1,8% em Janeiro, face ao mesmo mês do ano passado, anunciou esta quinta-feira o Gabinete Nacional de Estatísticas. No mesmo período, o Índice de Preços ao Produtor, principal indicador da inflação no sector grossista, caiu 5,3%, em termos homólogos, o 47.º mês consecutivo em queda.


12 EVENTOS

hoje macau sexta-feira 19.2.2016

Música, caligrafia e lua cheia

Festival das Lanternas de volta ao Albergue SCM

É

já na próxima segunda-feira, dia 22, que o Albergue SCM inaugura o festival anual de lanternas. A festa começa às 18h30 e prolonga-se até às 22h00. Este ano, o programa integra uma série de actividades comemorativas com destaque para a Exposição de Caligrafia Chinesa do Mestre Choi Chun Heng, patente ao público de 22 a 29 de Fevereiro, música ao vivo pela Tong Chong Arts Troupe, ópera chinesa, e pela Banda Sunny Side Up, trio acústico que tocará temas alusivos à época e algum repertório do seu álbum de estreia “Tributo a Macau”. Tal como nos anos anteriores, o aclamado calígrafo Choi Chun Heng é convidado a escrever papéis votivos “fai-chun”, sendo que haverá o habitual jogo das lanternas com a resolução de enigmas e serão distribuídas lanternas do coelhinho às crianças. O Albergue SCM vai ainda distribuir 300 caixas

com doces tradicionais alusivos à época por via de senhas que podem ser levantadas no local a partir das 18h00. A Celebração do Festival das Lanternas é comemorada no 15º dia, do primeiro mês do calendário lunar e marca o fim da celebração do Ano Novo Chinês, sendo a primeira noite de lua cheia do novo ano lunar. Tradicionalmente, o Festival teve origem na Dinastia Han, mas a celebração transformou-se gradualmente num evento romântico e é também popularmente conhecido como o “Dia dos namorados chinês”. Os casais poderão escrever as suas juras de amor em corações de papel e pendurá-los nas duas árvores emblemáticas (as canforeiras entrelaçadas) no centro do pátio. No mesmo espaço, continua a funcionar o “Poço dos Desejos” que estará a recolher donativos para a ANIMA até ao dia 5 de Março. A entrada é livre.

PROFESSORA DE DANÇA APRESENTA NOVO ESTILO EM MACAU COM AULA ABERT

“O Lindy Hop faz as Vem decidida a espalhar um bicho, “um bicho bom”, como diz. Chamase Lindy Hop. Ou Swing. Ou Swing Jazz. Nasceu na “loucura” dos anos 20, quando as pessoas pensavam que as guerras tinham acabado para sempre. É uma febre na Ásia, especialmente na Coreia, e em Hong Kong já existe uma comunidade forte, mas em Macau não. Sara Castro, professora, pretende mudar isso. Já a partir deste sábado

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ESCOBRIU a prática do Lindy Hop há cerca de dois anos, mas “desde miúda” que tem um fascínio pela época, pela música, pelos filmes da época, a dança, o glamour. Um dia, “depois de ter ido a umas festas de Swing, em Lisboa e no Porto, Sara Castro percebeu “que havia muita gente a dançar bem” e resolveu aprender, como confessa ao HM. Uma experiência que se veio a revelar intensa ao ponto de Sara já a considerar um modo de vida. E transformadora porque, como a própria admite, “o Lindy Hop faz as pessoas felizes”. “Praticamente vejo a minha vida como antes e depois do Lindy Hop. É completamente diferente, sinto-me cada vez mais feliz.”

ÂNIMO E CONEXÃO PARA TODOS

“Um dos meus melhores amigos, um inglês de quase 80 anos, é também um dos melhores dançarinos que conheço”, assegura Sara Castro para explicar que esta dança é mesmo para

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA A FILHA DO PAPA • Luís Miguel Rocha

Será o anti-semitismo a verdadeira razão para o Papa Pio XII não ter sido beatificado? Quando Niklas, um jovem padre, é raptado, ninguém imagina que esse acontecimento é apenas o início de uma grande conspiração que tem como objectivo acabar com um dos segredos mais bem guardados do Vaticano - a filha do Papa Pio XII. Rafael, um agente da Santa Sé fiel à sua Igreja e à sua fé, tem como missão descobrir quem se esconde por detrás de todos os crimes que se sucedem e evitar a todo o custo que algo aconteça à filha do Papa. Conseguirá Rafael ser uma vez mais bem-sucedido? Ou desta vez a Igreja Católica não será poupada?

todos, sendo que a professora tem até alunos das mais variadas idades. “É muito divertido”, reflecte, adiantando que o Swing pode ser “lento, rápido, mais ou menos sexy, mas é sempre divertido, as pessoas brincam muito”. É desta necessária cumplicidade que sai o que Sara Castro considera como o elemento mais importante deste tipo de dança: “a conexão”, revela, “as pessoas dançam em pares e trocam entre eles e têm de estabelecer um elo de ligação forte”, o que, para Sara, muda as pessoas. “É uma escola de sociabilidade”, diz, adiantando que mesmo do ponto de vista técnico, “nesta dança trabalha-se muito essa ligação, porque o par tem de conectar muito.”

ENAMORADA POR MACAU

Sara Castro está há apenas cinco meses em Macau, mas nunca lhe foi um lugar completamente estranho por via das conversas do irmão (Joaquim Magalhães de Castro). Um dia, decidiu vir ver a terra com os próprios olhos,

porque, como confessa, segue muito mais aquilo que sente do que aquilo que pensa. “Estava muito feliz em Portugal, mas senti que precisava de uma experiência nova, fora de portas e foi a altura.” O convite da Associação Macau no Coração, que cedeu o espaço para a actividade de sábado, veio a calhar e proporcionou-lhe a oportunidade de se dedicar à sua paixão. Mas Macau requer um processo de adaptação que, admite, “tem tido as dificuldades próprias de se vir para um lado novo com outra cultura e onde não se conhece ninguém”. Sara confessa que está enamorada e a adorar a experiência. Para o futuro, tem alguns planos ligados à produção de outros projectos artísticos, apesar de não gostar muito do longo, nem sequer do médio prazo. “Gosto de planear mês a mês”, diz-nos bem humorada. Para já, o seu grande foco é o de “lançar o bicho do Lindy Hop em Macau”, explica. Já tem pessoas interessadas e espera vir a ter mais depois desta primeira aula. Espera também conseguir convencer algumas escolas a anexarem classes extracurriculares de Swing que, garante, seriam óptimas “para aumentar os níveis de sociabilidade e bem estar geral das crianças”, ou não tenha sido ela professora durante grande parte da sua

“Vejo a minha vida como antes e depois do Lindy Hop. É completamente diferente, sinto-me cada vez mais feliz”

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET

RENDIDA • Sylvia Day

Gideon Cross apareceu na minha vida como uma luz na escuridão. Um homem lindo, fascinante, um pouco louco e muito sedutor. A atração que sentia por ele era diferente de tudo o que tinha experimentado na minha vida até então. Eu desejava-o como a uma droga que me enfraquecia dia após dia. Gideon encontrou-me fragilizada e carente e entrou facilmente na minha vida. Descobri que também ele tinha os seus próprios demónios. Tornámo-nos o espelho um do outro; éramos o reflexo das nossas mais profundas cicatrizes e... desejos. Este amor transformou-me, mesmo que ainda hoje continue a rezar para que os pesadelos do passado não voltem para nos atormentar.


13 EVENTOS

TA

s pessoas felizes” NANDINHO, HEAVEN SWINGFEST

vida do 1º ciclo e de Expressões Artísticas (das artes plásticas à dança) para adultos e crianças.

APRESENTAR O LINDY

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SIE

SIS

Para o próximo sábado, Sara Castro apresenta uma dança que já é comum na região vizinha e que a professora quer, então, ver em Macau. O que se prepara é “um convite aberto à cidade”, diz Sara, para as pessoas experimentarem as delícias do Lindy Hop e aumentar o número de praticantes. “Já tenho alguns alunos mas gostava que fossemos muitos mais”, diz a professora. A sessão propriamente dita, começará com uma aula aberta para que as pessoas se apercebam dos movimentos básicos e continuará para um momento mais social onde, explica Sara, “as pessoas podem beber um copo, um snack, confraternizarem e aplicarem os movimentos aprendidos na aula”. De resto, a professora sente-se confiante que, tal como noutros países asiáticos, o Lindy Hop também pegue de estaca por aqui, dando até o exemplo de Hong Kong onde “existe há cerca de dez anos e tem vindo a crescer muito”. A demonstração vai acontecer no próximo sábado, dia 20, no espaço da Associação Macau no Coração, entre as 19h00 e as 21h30. A Associação fica na rua 4 do Bairro do Iao Hon, nº 50, Edif. Industrial Iao Seng, bloco 1 - 4º B. A entrada é livre. Manuel Nunes

info@hojemacau.com.mo

ID CONVIDA POPULAÇÃO PARA SÁBADO

O Instituto do Desporto (ID) não desiste de incentivar a população para a prática de exercício físico e tem vindo a organizar todos os meses o Dia do Desporto para Todos nalguns jardins e instalações recreativas públicas da cidade. Introduzindo conhecimentos básicos de modalidades como hóquei, gatebol, ténis-de-mesa, bowling, chiquia, salto à corda, xadrez e rouliqiu, o ID promete ainda “prémios atractivos.” Este mês acontece já este sábado e entre as 15h00 e as 17h30, na Zona de Lazer contígua aos edifícios Wang Hoi e Wang Kin.

RECREAÇÃO NO TAP SEAC EM NOVA FASE DE INSCRIÇÕES

Se pretende participar nas classes de recreação e manutenção no Pavilhão do Tap Seac organizadas pelo Instituto do Desporto (ID), a segunda fase de inscrições (Março e Abril) terá início em breve, no próprio local, e processam-se em três passos: registo, sorteio e inscrição. Aos contemplados no sorteio, o ID avisa que a inscrição terá lugar no dia 21 de Fevereiro (domingo), das 09h00 até às 17h00, no Pavilhão Polidesportivo Tap Seac, sendo que devem trazer consigo o comprovativo de inscrição e o cartão de sócio “Sport Easy”. Os que não forem contemplados no sorteio, poderão inscrever-se nas vagas existentes nos dias 22 e 23 de Fevereiro também no mesmo local.

LOJA POP-UP EM MACAU COM TEMA SOBRE CANADÁ

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EGUINDO a tendência das lojas pop-up, antes apenas populares no mundo anglófono mas cada vez uma febre mundial, o Consulado Geral do Canadá em Hong Kong vai organizar a primeira “Pop-Up Canada!” em Macau. Vai ser no Hotel Grand Lapa e servirá para o público local participar em diversos eventos e seminários sobre o Canadá, onde se incluem palestras sobre estudar naquele país, ou mesmo para lá emigrar, além de turismo, negócios e investimento. O evento conta também com comida e por isso estão incluídos uma série de ingredientes bem canadianos no menu do Café Bela Vista daquele hotel desde ontem e até ao dia 6 de Março. A “Pop-Up Canada!” estará aberta do dia 22

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(segunda-feira) até 24 no Lobby do Grand Lapa com o seguinte horário: dia 22 das 14h00 às 17h00, dia 23 das 10h30 às 18h00 e dia 24 das 10h30 às 14h00. A entrada é livre. Lojas Pop-Up são lojas temporárias (de um dia a três meses) onde qualquer coisa pode ser vendida. Um movimento que terá surgido nos finais dos anos 90 em Los Angeles, num evento criado pelo ‘marketeer’ Patrick Courrielche, na Ritual Expo, e na altura designado por “o derradeiro centro comercial hipster.” A moda, pela aproximação que gerou aos consumidores, pegou junto das grandes marcas e logo a AT&T, a Levi-Strauss e a Motorola lançaram em conjunto com Courrielche lojas Pop Up pelos EUA fora.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Os primeiros cristãos na China C

OMO lenda, o Apóstolo S. Tomé teria visitado a China no século I, onde dessa data há pedras gravadas com desenhos em baixos-relevos de histórias bíblicas. Já certo é os cristãos nestorianos, após fugirem da Pérsia, terem chegado à China no ano 635, sendo a sua estadia aprovada pelo Imperador Tai Zong da dinastia Tang, onde ficaram conhecidos com o nome de Jing Qiao, Religião Luminosa. É importante dizer que China é um país de Filosofia e não de religiões. Viviam os chineses no Dao, quando há cinco mil anos Fu Xi, o primeiro dos chefes ancestrais da China, explicou matematicamente essa Filosofia do Dao Jia, mas foi com Lao Zi e Kong Fu Zi que, ao sistematizarem as suas cosmovisões sobre a Natureza de Dao, dão a teoria filosófica ao quotidiano viver chinês no século VI a.n.E.. Lao Zi, sobre o espírito da vida e Kong Zi, na governação do país, fizeram-se escolas de pensar no Período dos Reinos Combatentes, durante a dinastia Zhou do Leste. Por altura da existência de Lao Zi e Kong Zi (Confúcio) encontravase Sidarta Gautama (conhecido na China por Shakyamuni) a filosofar o Ser Humano e percebendo pela meditação que o sofrimento advém do mundo dos desejos, pelas quatro nobres verdades tentou reorientar o Ser Humano para o estar integrado num todo e só pelo Outro se conseguiria ver, realizando-se assim pela não-forma. O Confucionismo filosofando pela ética e moral do Ser Humano, quando pensado em De (Virtude), tentou criar a ordem na sociedade, tal como mais tarde as religiões tiveram necessidade de o fazer. Com o aparecimento neste país do Budismo no século I, a população chinesa aderiu massivamente a esta religião, já que, pela falta da imagem do Espírito na Filosofia de Dao, o povo nada tinha de concreto para acreditar. Por isso os filósofos chineses, ao perceberem que estavam a perder o suporte dos seus conterrâneos, tiveram que transfigurar a filosofia e reorientá-la em religião. Assim nasceu a única religião proveniente da China, o Dauismo (Dao Jiao), onde se conjugaram imagens budistas para criar um panteão de deuses, expressão das virtudes e seu contrário, de forças mágicas com que os Cinco Elementos lavram o Ser e sem distinção com o mundo, está nesse todo acausal.

Se o Budismo rapidamente se expandira no Oriente, para Ocidente não foi capaz pois, como movimento de solidariedade entre a população pobre, teve a enfrentá-lo o Judaísmo, uma Religião reformada (nessa altura) para a competição e guerra. Por isso, a Filosofia a que Jesus estava ligado, foi com Paulo transformada e no Concílio de Niceia, em 325, a mensagem do Cristianismo criada por S. Paulo ganhou ao Jesus histórico dos Alexandrinos. O inquisidor judeu Paulo de Tarso reorientou a figura histórica de Jesus, sem nunca com ele ter privado. Paulo ao encontrar um imenso movimento ecuménico, que começava a pôr em causa as instituições tanto políticas, representadas no Império Romano, como religiosas, onde os sacerdotes com uma hierarquia hereditária se tinham afastado da procura do Verbo para apenas se representarem a si mesmos e vendo o seu poder a desaparecer, tiveram a ideia de, já que nada podiam contra esse movimento ecuménico, reorientá-lo para a religião do Livro e assim conseguir mais crentes, mas sem misturas. Paulo, que nunca conheceu Jesus, ficou encarregue dessa transfiguração. Assim, subvertendo os valores, criou o Cristianismo como meio de pela reencarnação poder criar uma segunda Religião, onde eram colocados os convertidos, já que os não nascidos judeus não poderiam entrar no Judaísmo. Como era preciso unir os infinitos deuses pagãos num Superior, nada melhor do que escrever a Bíblia, partindo da essência do Livro, aditando novos Testamentos para que houvesse referências próximas, na memória História. (Esta versão do movimento da História das Religiões monoteístas, por não estar de acordo com o que é normalmente transmitido, poderá causar estranheza e mesmo uma certa reacção negativa a quem, como Cristão, nela não se revê, mas creia que a escrevo sem a mínima ponta de provocação, mas sim, como uma possível visão feita pelas leituras e conversas com outras doutrinas cristãs.)

IGREJA DE S. TOMÉ

Os Caminhos da Seda, que pela Ásia tinham levado a um contacto, a maior parte indirecto, entre as três Civilizações (Egípcia, Indiana e Chinesa), eram percorridos pelos povos que viviam entre a China e as fronteiras com o Império Romano. Nesses caminhos terrestres e

pelas rotas marítimas, muitos viajantes se foram aventurando e enriquecendo através do comércio, assim como, muitos monges budistas aproveitaram e partindo da Índia foram espalhar para Oriente a Filosofia de Buda. Já o Cristianismo saiu do Médio Oriente e avançou sobre o Ocidente, sendo S. Tomé dos poucos missionários que partiu para o Oriente em missão ecuménica para evangelizar. Nos anos 50 do primeiro século, coube ao Apóstolo S. Tomé pregar o Evangelho no Oriente e saindo de Jerusalém, navegou depois pelo Mar Vermelho em direcção à Índia. No Oceano Índico, veio ter à Ilha de

Socotorá, onde uma tormenta o fez encalhar. Sem barco para prosseguir viagem, aqui ficou a converter e baptizar os moradores da ilha, situada à entrada do Mar Vermelho. Após ordenar ministros do culto para que estes cultivassem e sustentassem esta cristandade, embarcou para o estreito da Pérsia onde cristianizou os Partos, Persas e Medos. Descendo depois pelo Mar Arábico rumou para Kerala, naquele tempo Malabar, no Sudoeste da Índia. Luce Boulnois refere: “Segundo uma lenda registada em Edessa, contada por um embaixador indiano que por aí passou a caminho de Roma, S. Tomé,


15 hoje macau sexta-feira 19.2.2016

José Simões morais

Texto e foto José Simões Morais

um irmão gémeo de Cristo, também ele carpinteiro, tinha sido comprado por Abbanes, um mercador indiano, por três libras em lingotes de prata. Levado para a Índia ficou ao serviço do rei indiano Gondopharès, a quem S. Tomé de forma miraculosa construiu um palácio, convertendo assim o rei. Pregava o celibato cristão e um príncipe ao sentir que S. Tomé desviava os seus súbditos dos deveres de procriação, mandou-o matar.” “Outra lenda, indiana de Kerala, de Travencore e de Cochin, onde uma comunidade cristã remonta à chegada deste apóstolo fala do desembarque que S. Tomé fez em Malankara, próximo de Cranganore. Aí pregou e baptizou os habitantes locais, onde se construiu sete igrejas e ordenou dois sacerdotes antes de ter partido para Meliapor (Mailapore, actualmente arredores de Madras, hoje chamada Chennai). Em Meliapor, na costa de Coromandel, converteu o rei e o povo e partiu para a China. Depois voltou a Meliapor onde a

inveja de brâmanes o teriam apedrejado e trespassado com uma lança.” Morreu no ano de 72, segundo a lenda, em Meliapor, onde foi sepultado. Se o apóstolo Tomé parece ter sido o primeiro a pregar na Índia, outra das hipóteses é a de o Cristianismo se ter espalhado só posteriormente pela Ásia no Oriente a partir da Pérsia e que o nome de cristãos de S. Tomé provenha do Mâr Tomé, que viveu no século VIII e não do Apóstolo. O que parecia ter poucas hipóteses de ser uma realidade, a lenda sobre a chegada à China de S. Tomé ganhou uma nova actualidade quando Wang Weifan, mestre estudioso da História do Primitivo Cristianismo assim como de Arte e Cultura Chinesa, ao analisar as pedras em baixo-relevo de dois túmulos da dinastia Han do Leste (25-220) encontradas em Xuzhou, na província de Jiangsu, nelas descobriu representados episódios Bíblicos. Se os estudos provarem que Wang Weifan tem razão, então a chegada do Cristianismo à China recua para o final do século I, quinhentos anos antes do que até hoje se pensava.

OS NESTORIANOS NA CHINA

Existiam comunidades cristãs espalhadas pelo Sul da Índia e evangelizadas por S. Tomé quando os nestorianos se espalharam pelas costas do Decão, Índia e pela Ásia Central até à Mongólia. Havia outros reinos cristãos (os monofisistas) situados na Geórgia e Arménia, que se tinham separado da Igreja de Roma no Concílio de Calcedónia em 451. A primeira referência a nestorianos na China é do ano 552 quando, durante o reinado bizantino do Imperador Justiniano (527-565), dois monges nestorianos persas, que viveram longo tempo na China, daí conseguiram sair com os segredos da produção de seda. Certo foi os nestorianos terem ficado a viver na China desde a aprovação do Imperador Tai Zong (626-649) no ano de 635, como consta numa estela encontrada perto de Chang’an (Xian) e que actualmente está no Museu da Floresta de Estelas. Foram os padres jesuítas portugueses Álvaro Semedo (1586-1657) e Manuel Dias Júnior (15741659) quem traduziram a estela, que se revelou nestoriana e que os precedia mil anos. Na Memória da Diocese de Macau vem o seguinte: “O célebre monumento syro-sinico de Si-ngan- fú (西安府, Xian fu) descoberto em 1625, e interpretado em linguagem chinesa vulgar pelo missionário jesuíta português P. Manuel Dias, dá claro testemunho da existência do Cristianismo na China, apresentando uma narração sumária da propagação do Evangelho neste país desde o ano de 635 até 781 da nossa era. Efectivamente, em 1625, provavelmente em princípios de Março, foi desenterrada uma grande

A primeira referência a nestorianos na China é do ano 552 quando, durante o reinado bizantino do Imperador Justiniano (527-565), dois monges nestorianos persas, que viveram longo tempo na China, daí conseguiram sair com os segredos da produção de seda lápide de pedra, no arrabalde ocidental de Xian, no Shaanxi” que havia sido erigida pelo nestoriano Zazdbozed, do clero secular, natural da cidade de Balk no Turquestão, na reunião anual do Inverno de 780-781, como se vê do final da inscrição nela gravada: “Erigida no segundo ano do período Kien-Chung (781) da grande dinastia Tang, estando o ano em Tso-yo, no sétimo dia do primeiro mês, que foi Domingo”. No topo da lápide está uma cruz, sob a qual foram gravados nove caracteres em três colunas que dizem: “Monumento comemorativo da nobre lei de Ta-Tsin no Império do Meio”. Segundo o texto, Alopen chegou a Si-ngan-fu (Xian) em 635, vindo do país de Ta-Chin (大秦, Daqin era o nome que os chineses davam ao Império Romano) provavelmente a Pérsia; o Imperador Tai-Tsong (太宗, Tai Zong) enviou o seu ministro Fang Huang ling a recebêlo e conduzi-lo ao palácio e, depois de se convencer da verdade da sua religião, favoreceu a sua propagação e por ordem do mesmo Imperador, foi construído, em 638, um mosteiro nestoriano; outros se construíram no reinado do seu sucessor Kao Tsong (高宗, Gao Zong) (650683) e Alopen foi promovido a Grande Senhor Espiritual, Protector do Império. A placa de Si-ngan-fu tem gravada uma inscrição com 1780 caracteres”, segundo o Padre Manuel Teixeira. A História dos Nestorianos teve a sua origem em Antioquia, cidade na actual Turquia. Na Escola de Antioquia formou-se Nestorius, que foi Patriarca de Constantinopla de 428 a 431. Esta Escola advogava a separação das duas Naturezas de Cristo, a humana e a divina, e por consequência consideravam que Maria, a Nossa Senhora, não era Mãe de Deus, mas do Homem, Jesus. Tal ia contra o que os Alexandrinos defendiam. A Igreja de Alexandria era de tradição neo-platónica e fazia a interpretação simbólica da Bíblia, contemplando mais

o Verbo Divino do que a humanidade de Cristo. O pensamento grego fundiuse com a herança da revelação cristã e Cirilo venceu os nestorianos, em 431 no terceiro Concílio em Éfeso, com a tese (monofisista) de que em Cristo há uma só pessoa numa dupla Natureza (humana e divina). Era a Natureza de Cristo que se debatia no Concílio de Éfeso, ao qual Nestório não compareceu, tendo prevalecido a doutrina da Natureza divina de Cristo, defendida pelo Patriarca de Alexandria, S. Cirilo. Condenado pelo Concílio de Éfeso, o Patriarca de Constantinopla, Nestório foi excomungado em 431 e deposto pelo Imperador exilou-se no Egipto. A sua doutrina expandiu-se para Oriente, de Edessa, os nestorianos daí expulsos fugiram para a Pérsia. Ctesifonte (uma das quatro capitais persas) tornou-se o seu principal centro, que aceitou estes cristãos fugidos do Império Romano. Após Roma ter abraçado a Religião Cristã, na Pérsia os cristãos passaram a ser considerados inimigos e começaram a ser perseguidos. Muitos foram mortos, o que os levou a empreender nova viagem para mais longe, passando a Igreja do Oriente para a Índia e pelos países da Ásia Central, chegaram ao Extremo Oriente. Vivia o Nestorianismo (Jing Qiao) na China há mais de dois séculos quando, a 30 de Setembro de 845, por decreto do Imperador Wu Zong da dinastia Tang foram proscritas no país as religiões estrangeiras. Tal se deveu sobretudo aos templos budistas serem detentores de imensas fortunas, quando os cofres do Estado estavam na penúria. Já os cristãos nestorianos, referenciados na estela do século VIII enterrada pouco depois do Decreto de proibição das religiões, viram-se forçados a fugir para as estepes do Norte, juntando-se a algumas tribos mongóis que, por volta do ano mil foram por eles convertidas. As tribos mongóis foram unificadas por Gengis Khan e mais tarde tomaram o poder na China, como dinastia Yuan. Os irmãos Polo encontraram-se com nestorianos quando chegaram em comércio ao reino dos mongóis. Uma pedra com o nome de quatro monges nestorianos, encontrada no templo budista Yunju, no distrito de Fangshan, subúrbios de Beijing comprova a sua estadia aí, assim como um documento árabe que fala de dois monges vindos de Beijing que chegaram à Pérsia em 1275. As comunidades de nestorianos desapareciam rapidamente das costas indianas, substituídas pelas dos muçulmanos. Nos finais do século XIII, quando a paz foi restabelecida com Roma, já os nestorianos estavam a sucumbir, atacados pelo Islamismo, assim como as igrejas nestorianas na Síria e Pérsia. No entanto continuaram a existir comunidades na Índia e China até ao século XVI.


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h Nem em dia, nem em dia nenhum

E

U pequenina e sempre com otites. Mais tarde amigdalites. Antes chorava muito, depois era tudo mais subtil e estóico, até aparecerem gânglios visíveis, febre. Assim. Numa dessas, entra-me a minha mãe abruptamente em casa de enfermeira amiga em punho, para as terríficas injecções de penicilina. Terror. Gritos. Eu, ínfima no canto mais oposto do quarto: puta, puta…Eu sabia que era uma ofensa terrível, já então. Mais tarde comecei a pensar que qualquer pessoa tem o direito de vender o que tiver e lhe pertencer. Mesmo a alma. Tudo limpo, visível. Quanto a palavrões, palavras grossas, sempre fui púdica e reservada. Mas só a partir daí. A percentagem dos que disse, mesmo para mim, situa-se claramente na segunda metade da última década. Quando a demência próxima me começou a impregnar de desespero e revolta acima de qualquer tempo ou medida. Ou quando dei a mim mesma o direito de desconstruir, desabafar, destruir o que me consome. Mas ali, era no fundo também o desespero inglório e impotente, face ao poder inevitável. De manusear a agulha. E para bem da infecção. Ainda hoje sou assim com tratamentos de choque. Eu queria mimos e que ela me dissesse, dança que vai passar. Que me desse um beijinho para passar. O beijinho para mim e a agulha para o resto. Talvez um sorriso de uma, da outra, ou de ambas. Mas a enfermeira era impenetrável e só queria apertar o êmbolo e ir à sua vida. Claro que essa enfermeira ficou para sempre uma personagem a evitar. Eu, muito pequenina, sem saber como contornar o orgulho e a vergonha. Os dois. E a ofensa. A dela e a minha. E depois a história do cão. Ou antes. Não sei.. Mas acho que foi depois. Nós tínhamos um cão, ela tinha um filho. Os dois cruzaram-se no azar de uma escada e do mau feitio do bichinho. Que de soslaio, fitou de cabeça baixa e pensamentos insondáveis, à passagem do

que descia e dos que subiam, num encontro de acaso, em que só um degrau em comum e patas acima, pernas abaixo, se cruzaram dois indivíduos pequenos e de espécies diferentes. Acabou na contracção da mandíbula de um na canela de outro. Jesus… E porque a raiva, isto. E porque as vacinas contra a raiva, aquilo. E vacinas em dia não havia. Nem em dia, nem em dia nenhum. Nunca houvera. O cabo dos trabalhos e o currículo a avolumar. O meu, o da enfermeira, o do cão, o do miúdo abocanhado. Santo Deus. Não era raiva. Era só um mau feitio aleatório. E o desconforto a aumentar. É assim às vezes, com as pessoas. Peugeot, foi o primeiro carro que tivemos, lindo de morrer, nos anos sessenta. Vindo dos cinquenta, finais de quarenta. 203. Em segunda mão e mesmo à época já um carro quase démodé. Primeiro negro e depois cinza azulado ou vice- versa. Estacionado à frente da casa de tios do lado paterno. Ou em frente, mas do outro lado da estrada, da casa de tios do lado materno. O que vai dar ao mesmo. E em fundo, Beatles. A minha música de infância. Ouvida na rádio. E a rádio em todos os lugares, em pano de fundo. A ninhada era de meia dúzia mas aquele mais peludo, ruivo e um pouco frisadinho, uma raposinha minúscula, foi connosco no carro e para casa. Vindo de casa dos tios paternos e baptizado com o nome do carro novo, que é como quem diz, pelos tios maternos. Como se sintetizam dois ramos de familiares, um cão, um carro, e os Beatles. E, assim de mansinho e de caminho, falar da tia Angélica. Essa tia que tinha uma cadela e uma ninhada de meia dúzia de rafeirinhos, entre os quais escolhi o mais peludo. E um marido violento, e três filhos, e casas pequeninas, e mais tarde vários netos. Lindos de vários tons. Uma sibila pequenina que falava com cães, gatos, passarinhos e anjos. Na verdade acho que falava com tudo o

que existia e não existia. E nem era que falasse muito. Vida sofrida. Mas sempre um fundo de riso por detrás dos olhos. E nas comissuras da boca. Alguma ironia. Sibilina, lembro-me. Mas de uma enorme ternura. Só muitos anos depois me dei racionalmente conta de como era condizente com o nome que tinha. Na altura só sentia. Quando deixei de lhe ouvir o nome como tal, de sonoridade metálica, e lhe reparei na força da adjectivação. E o encantamento com que a lembro desde que partiu, fechou-se num círculo doce e perfeito. E ficou Peugeot. Assim. Durante anos não sabia como lhe escrever o nome nas cartas para África, que na versão dita pelo tio, não soava ao que dizia. E mais tarde fincou o miúdo. E aterrorizava de morte o meu amigo TóJó do andar de baixo. O que tornava a circulação difícil no prédio, com cenas emotivas e a porta fechar-se com força para descermos. Mais folclore que realidade. E o contacto físico nunca se deu, afinal. E havia pouco depois um gato da mesma cor e também com malhinhas brancas. E eram amigos de infância, e passavam ambos os dias a espreitar a rua em cima de um banco de marceneiro do avô que vivia na varanda. O banco. Ambos com as patinhas na balaustrada de mármore da varanda das traseiras, poucos centímetros acima do dito banco, e um dia caíram do terceiro andar. Um dia, um, outro dia qualquer, sem nada a ver, o outro. O gato não voltou. O cão, por entre gritos de transeuntes, este cão parece que caiu daí de cima…pois, não seria do céu, estarrecido do voo, encharcado como se saído do banho – os nervos - de cabeça baixa, queixo esfolado e aquele seu ar meio zangado meio infantil, deu a volta ao quarteirão a correr e veio para casa. E o que haja de filosófico aqui, nada. Ou talvez só a queda dos bichos. Do terceiro andar. Não do céu. Não como revelação ou descida aos infernos. Mas queda no mundo, talvez não a do gato.

Fuga ou distracção. Uma gata gira que passou em baixo, a natureza e o apelo. E a do cão, não sei foi queda também. Talvez se tenha atirado ou caído. De fúria. Que tinha mau feitio. Um caiu e não voltou. O outro caiu e voltou. Por razões que se prendem com as razões que os fizeram cair ou mergulhar e que nunca se saberão. Como do café com leite na caneca da manhã, nunca se saberá se quer ser bebido, e sabendo-se que a questão não se coloca porque não se trata de um ser mas de uma coisa sem atributos ontológicos, reflexo na sua existência material e só, da vontade que é minha, poupa-se grandes dilemas. Até aí. Daí para a frente no dia, é difícil não adoptar a posição do outro lado do espelho. E nessa altura, por isso paradigmática ainda não encetara esta obsessão por entender as coisas. Este enorme porquê que me invade a alma e me ocupa sem produto que valha a pena. Até àquele dia em que me caiu a ideia de morte em cima. Uma noite. De aniversário. E tudo se desfez num rumo de altos e baixos em função dessa noção implícita, umas vezes, explícita e avassaladora, de outras. O que é esta realidade que procuro entender exaustivamente, para além dos factos? Factos, acontecimentos que sabem bem ou que fazem mal. Factos, como interruptores de sentimentos, mas que parecem estar ligados a circuitos errados. Os interruptores e os sentimentos, diferentes circuitos. Sempre. Não ligam e desligam senão a emoção certa, que é contrária aos sentimentos ou de sinal oposto. Por vezes. Ou ao querer. Começa a doer esta possibilidade de leitura por camadas, sentidos, interpretações e causas. Os porquês que atormentam para além da simples verificação dos factos objectivos, escorreitos e inequívocos. Factos, deixei que ter vontade de passear o meu cão. Moí-me de remorsos pelos anos fora. Hoje, como gostaria de ter um cão que pelas suas neces-


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de tudo e de nada

Anabela Canas

ANABELA CANAS

sidades básicas me arrastasse todos os dias naquelas longas caminhadas que me fazem bem à alma. Para despoluir de tantas ideias. De tantas palavras. E depois, há a questão dos sonhos. Ao longo da vida sonhei deveras comovida que voltava. Ele. Perdido um

dia mais do que outros nas ruas, e que não voltou. Mas voltou em sonhos muitas vezes. E é isso que os sonhos têm de diferente das fantasias. É que mesmo por dentro da ficção do sonho, sabe-se que um cão não volta passados vinte, trinta anos. Não volta passados

quarenta anos. Um dia passou a colocar-se, em termos oníricos a sensação difusa de uma camada de realidade, se nos sonhos se pode chamar-lhe isso Sabe-se isso no sonho embora ele esteja ali, a voltar dos confins da memória, do remorso e das ruas. Porque um dia

se deixou de ter paciência para o acompanhar à rua. E ele ia e vinha. Ia e vinha. Ia e vinha, e demorava numa volta cada vez mais larga, talvez a descobrir mundo. E ia e vinha e ia e vinha. E um dia não veio. Só voltou, bem mais tarde em sonhos.


18 (F)UTILIDADES TEMPO

C H U VA

hoje macau sexta-feira 19.2.2016

?

FRACA

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje EXIBIÇÃO 3D DE VÍDEO-MAPPING Casas-Museu da Taipa, 19h00 Entrada livre

MIN

12

MAX

15

HUM

75-98%

EURO

8.89

BAHT

Domingo CONCERTO MADONNA “REBEL HEART TOUR” Studio City, 20h00 Bilhetes entre as 2600 e as 10.600 patacas

Diariamente

O CARTOON STEPH DE

SUDOKU

EXPOSIÇÃO “MANUEL CARGALEIRO” (ATÉ 3/03) Casa Garden Entrada livre HISTÓRIA NAVAL (ATÉ 9/04) Arquivo Histórico de Macau Entrada livre EXPOSIÇÃO “CAIXA DE MÚSICA” (ATÉ 3/04) Museu da Transferência Entrada a cinco patacas SOLUÇÃO DO PROBLEMA 31 “LONGRUN”, DO GRUPO DE TEATRO HUI KOK KUN Edifício do Antigo Tribunal, 20h00 Bilhetes a 150 patacas

Cineteatro

MERMAID SALA 1

MERMAID [B]

FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Stephen Chow Com: Deng Chao, Show Lo, Zhang Yu Qi Jelly Lin 14.15, 16.00, 17.45, 21.30

ALVIN AND THE CHIPMUNKS: ROAD CHIP [A] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Walt Becker 19.30 SALA 2

FROM VEGAS TO MACAU III [B] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Andrew Lau, Wong Jing

PROBLEMA 32

UM FILME HOJE

C I N E M A

1.22

BOA EDUCAÇÃO

CONCERTO MADONNA “REBEL HEART TOUR” Studio City, 20h00 Bilhetes entre as 2600 e as 10.600 patacas

EXPOSIÇÃO “UM SÉCULO DE ARTE AUSTRÍACA” (ATÉ 3/04) Museu de Arte de Macau Entrada livre

YUAN

AQUI HÁ GATO

Amanhã

ESPECTÁCULO DE LUZES (ATÉ 29/02) Casas-Museu da Taipa, 18h00 às 22h00

0.22

Não é novidade – já vos tinha dito – que tenho um cesto novo. Comecemos por clarificar: é efectivamente um cesto que assume funções de alcofa para gatos. Veio cheio de frutas e bolachas para presentear o jornal, e a equipa, no novo ano chinês. É um gesto simpático, mas mais do que isso, cumpre a tradição. Sim esta história dos Lai Si é uma questão cultural. Não é suborno. No outro dia, numa conversa sobre o assunto, uma das jornalistas defendia que o Código Deontológico, e os seus valores morais, não lhe permitiam aceitar, mas que se sentia altamente desconfortável quando alguém de sorriso rasgado e mãos estendidas vinha ao seu encontro com um “Kung Hei Fat Choi.” Ao ouvir, alguém na redacção disse de forma clara e pura: o suborno dependerá sempre da tua integridade. “Se eu te oferecer um carro, um casa ou 20 ‘lecas’, os teus textos serão diferentes? Evitarás escrever a verdade? É um envelope com cem ‘lecas’ que coloca em causa o teu profissionalismo e os teus valores? Estás em Macau, não estás em Portugal”. As palavras trouxeram o silêncio pesado. A verdade é esta. A cultura dita que é má educação rejeitar um Lai Si, que por si é um gesto espiritual de oferenda. É como rejeitar a oração da avó quando vai à igreja. Vocês fazem isso? Querer ou não usar o dinheiro em beneficio próprio já depende de cada um. Eu, gato de bigodes velhos, ajudo-vos: aceitem. Aceitem de bom grado, de boa intenção e de sorriso na cara. Depois peguem nesse dinheiro e distribuam àqueles a quem o dinheiro faz muita falta. Se precisarem de nomes de associações leiam o nosso jornal, temos muitos casos desses. Fácil. Pu Yi

“THE MONKEY KING 2” (CHEANG POU-SOI, 2016)

No ano do Macaco, podemos ver um filme sobre este animal :“The Monkey King 2”. Baseado em parte no romance mitológico “Jornada ao Oeste”, que é uma das quatro obras-primas da China e do escritor chinês Wu Chengen, o filme conta a história do protagonista Sun Wukong (Rei Macaco), a quem foi pedido pelo Buda que proteja o monge Tang Xuanzang durante a sua jornada para o Templo Leiyin, na Índia. Na Jornada, encontram mais três companheiros, Zhu Bajie, Sha WuJing e um cavalo branco. Contudo, há um inimigo principal que é demoníaco... Tomás Chio

Com: Chow Yun Fat, Andy Lau, Nick Cheung, Jacky Cheung 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 3

CROUCHING TIGER, HIDDEN DRAGON: SWORD OF DESTINY[B] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Yuen Woo-Peng Com: Donnie Yen, Michelle Yeoh 14.15,16.00, 17.45, 21.45

THE MONKEY KING 2 [B][B]

FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Pou-Soi Cheang Com: Li Gong, Aaron Kwok, Shaofeng Feng 19.30

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


19 hoje macau sexta-feira 19.2.2016

OPINIÃO

sorrindo sempre

ANDRÉ RITCHIE

T

AMBÉM fui rebelde na minha juventude. Participei em manifestações estudantis. Gritei slogans de protesto e dei murros no ar. Defendi os meus ideais com firmeza e nunca fugi das discussões que, sabia de antemão, acabavam em confronto e luta. Para marcar a minha posição utilizava consciente e propositadamente argumentos desmesurados. Fazia-me de desentendido quando os meus adversários esclareciam os seus pontos de vista. Extrapolava do discurso deles o que verdadeiramente não tinham dito, mas tomava como palavras suas que utilizava depois para pôr em causa o que diziam. Explorava as contradições por mais irrelevantes que fossem para o assunto em discussão. Era agressivo e aguerrido. Tinha sangue na guelra. Mas a minha agressividade limitava-se às palavras. Nunca bati em ninguém. *** Na minha juventude tinha amigos que eram contra o capitalismo, o corporativismo, as empresas multinacionais, os governos, enfim, todas as grandes organizações que, no entendimento deles, exploram os mais fracos, controlam as massas para atingir fins ilegítimos e, em geral, praticam o mal e contribuem para a injustiça no mundo. Em casa dos meus amigos ouvia-se Bob Marley, Ben Harper e Rage Against the Machine. Tinham também uma cassette com baladas do tempo da revolução cubana e temas que homenageavam Che Guevara. Um dos meus amigos enveredou-se pela política e de vez em quando vejo-o na televisão. É inteligente e eloquente, tem um discurso fluido. Mas na sequência das últimas eleições sou capaz de o ver menos. Um outro amigo decidiu adoptar um modo de vida alternativo. De vez em quando falamos pela internet e não compreende como é que fui capaz de trabalhar os anos que trabalhei para o governo, ocupando a posição que ocupei. E diz que muito menos me compreende agora, uma vez que trabalho na empresa onde trabalho. Diz-me que chegou a recusar boas ofertas de trabalho porque os empregadores eram grandes organizações que lhe metem nojo. Não deve ser mentira porque se trata de um sujeito com boa formação, bases sólidas e muito boa cabeça. Aliás, sempre o tive como um indivíduo acima da média. E admiro-o por conseguir viver pacificamente

e coerentemente à sua maneira, sem ter de trair nem impor os seus ideais. *** Gosto muito de yu tan (*). No mercado existem, essencialmente, três tipos de yu tan: o branco, o amarelo e o dourado. Não tenho nenhuma preferência porque para mim são todos bons. O yu tan faz parte da minha infância. Quando era miúdo, ia frequentemente com a minha empregada ao mercado do Há Van Kai (Manduco). Os vendilhões de lá tinham o que, para mim, eram os melhores yu tan de Macau. Nesses tempos era também vulgar em Hong Kong a utilização da expressão yu tan mui (**) para designar uma categoria particular de prostitutas. Não vou explicar a razão de ser dessa expressão por ser aqui inapropriado. Mas o que é certo é que essa expressão – e a yu tan mui também – caiu entretanto em desuso. Mas o yu tan em si sobreviveu aos tempos e ainda hoje é popular. Prova disso é que esse petisco pode ser saboreado não apenas nos vendilhões de rua, mas também em inúmeras lojecas que foram surgindo em diversos cantos da cidade e ainda nas lojas de conveniência: o Circle K e o 7 Eleven desde cedo se aperceberam do seu potencial, incluindo-o nas suas ementas de fast food. Portanto, ninguém duvida que o yu tan faz parte da cultura popular de Macau e Hong Kong e que, por isso, deve ser protegido. *** O que se passou em Mong Kok foi um perfeito disparate. Um grupo de anarquistas pseudo-defensores da democracia que pegam no yu tan como pretexto para criar um motim orquestrado via redes sociais. E com a agravante de ser em pleno Ano Novo Chinês – que laia de gente é essa? Inicialmente era em defesa dos vendilhões ambulantes. Mas esses esclareceram desde logo que nada tinham a ver com a con-

“Esses “Scholaristas” e “Localistas” não são mais que um bando de oportunistas políticos sem qualquer solidez intelectual e que, só por isso, não me convencem e não merecem o meu mínimo respeito – à semelhança de uns quantos pseudo-políticos aqui do nosso Macau”

STANLEY KUBRICK, CLOCKWORK ORANGE

Rebeldes do Yu Tan

fusão e que não se faziam representar pelos anarquistas. Estavam apenas interessados em vender yu tan e fazer algum dinheiro extra nos dias do Ano Novo Chinês. E mais nada. Depois já eram as questões políticas, económicas e sociais de Hong Kong. O problema da habitação, a distância cada vez maior entre os ricos e os pobres, a falta de democracia, o sufrágio universal... Essas coisas. Dias a seguir as justificações passaram a ser ainda mais indeterminadas: a incompetência do CY, as interferências de Pequim nos assuntos internos de Hong Kong, a frustração acumulada da população, a marginalização da geração mais jovem. Finalmente a cereja no topo do bolo: a incapacidade do governo em ouvir a voz da população na sequência do Occupy Central. Tudo isto é dito por sábios com ar filosófico e a olhar de lado para a câmara. Devo ser tosco e obtuso pois nada disso para mim faz sentido. Quem me dera ser um pensador profundo como muitos desses sábios que andam por aí para conseguir compreender essas explicações todas. Confesso que tive alguma dificuldade em alcançar o Occupy Central. Pelo que essa Revolução do Yu Tan custa-me ainda mais compreender. Muito mais.

PORQUÊ?

Porque o que vejo é uma cambada de ignorantes e sujeitos deficientemente formados que nem falar direito sabem e que procuram justificar os seus actos de puro vandalismo e cobardia com discursos incoerentes e raciocínios desarticulados, minados de contradições. Uma cambada de imbecis que se aproveitaram da contínua atitude submissa das autoridades. Atitude essa que, progressivamente, levou a que se permitisse atirar bananas dentro da Legco, bem como outros excessos e atropelos que passaram a ser vulgares. Com medo de serem condenados pela população, antes de actuar contra multidões irracionalmente agressivas a polícia até precisa de exibir um cartaz onde se lê “Stop Charging or We Use Force”. Uma luta desigual porque os anarquistas podem fazer e dizer tudo o que lhes apetece

e lhes vem à cabeça. No entanto a polícia é prontamente condenada pelo uso excessivo da força por causa de um inofensivo gás pimenta ou por ter dado uma ou outra bastonada a mais. (Tal como nas minhas consultas públicas do passado em que se tolerava que fosse insultado pelo povão, mas que tinha ainda assim de mostrar um sorriso e dizer “muito obrigado pela sua valiosa opinião”, pois seria imediatamente crucificado se me atrevesse a responder à letra ou a humilhar alguém à frente das câmaras pela idiotice técnica da opinião que o Zé da esquina me dava).

AO QUE JÁ CHEGÁMOS.

Portanto, caríssimo leitor, ainda que não seja do meu estilo colocar as coisas em termos absolutos e redutores, e mesmo não negando que Hong Kong tem de facto problemas profundos que afectam a população e sobre os quais o governo parece não ter soluções, tenho a dizer que para mim esses “Scholaristas” e “Localistas” não são mais que um bando de oportunistas políticos sem qualquer solidez intelectual e que, só por isso, não me convencem e não merecem o meu mínimo respeito – à semelhança de uns quantos pseudo-políticos aqui do nosso Macau. Contudo, pior que isso tudo é aperceber-me que, em geral, as pessoas são incapazes de analisar esses acontecimentos de forma objectiva, sem a interferência de preconceitos – actualmente parece que só se pode ser integralmente e fervorosamente a favor ou contra. Com isso tudo, posso apenas concluir que existe algo de fundamentalmente errado em Hong Kong nos dias que correm. E, até certo ponto, em Macau também.

SORRINDO SEMPRE

O anarquista Ray Wong Toi-yeung, representante do movimento “Localists” de Hong Kong, afirmou numa entrevista que atirar calhaus contra a polícia não é um acto violento. Sorrindo sempre. (*) 魚蛋 : bola de peixe ou fishball, petisco de rua típico do Sul da China. (**) 魚蛋妹 : menina do yu tan, em tradução directa.


20 OPINIÃO

hoje macau sexta-feira 19.2.2016

“Populations around the world are rapidly ageing. These older populations are a significant human and social resource, and this demographic transition therefore presents enormous opportunities to society. In general, health systems will need to find effective strategies to extend health care and respond to the needs of older adults” Health in 2015: from MDGs, Millennium Development Goals to SDGs, Sustainable Development Goals World Health Organization 2015

MICHAEL HANEKE, AMOUR

O direito fundamental dos idosos à saúde

A

“Pesquisa Económica e Social Mundial 2007”, sobre o “Desenvolvimento do Envelhecimento da População Mundial”, elaborado pela ONU, menciona que o aumento da esperança de vida e a redução das taxas de fertilidade, são os principais factores que determinam a “transição demográfica”. À escala mundial, a esperança de vida passou de 47 anos, entre 1950 e 1965 para 65 anos, entre 2000 e 2005, e deverá atingir os 75 anos, entre 2045 e 2050. Assim, as pessoas podem pela primeira vez, esperar viver mais que os 65 anos. A maior esperança de vida, adicionada às importantes quedas das taxas de fecundidade é a causa do rápido envelhecimento das populações de todo o mundo. As mudanças são grandiosas e as implicações enormes, pois uma criança nascida em diferentes latitudes quer seja no Brasil ou em Myanmar, em 2015, pode esperar viver mais vinte anos, que uma criança nascida há cinquenta anos. É notável que na República Islâmica do Irão, em 2015, uma pessoa, em cada dez, tenha sessenta anos. Esta taxa terá aumentado para um em cada três, em apenas trinta e cinco anos, sendo o ritmo de envelhecimento da população muito mais rápido que no passado, pois uma vida mais longa é um recurso extremamente valioso, permitindo a oportunidade de repensar, não apenas, como viver a velhice, mas também como poderia desenvolver-se toda a nossa vida. O curso da vida, em muitas partes do mundo, por exemplo, circunscreve-se a um conjunto rígido de fases, como a primeira infância, os anos escolares, um período definido de anos de trabalho e a reforma. A partir desta perspectiva, é costume dar como aceite que os anos adicionais, simplesmente são acrescentados ao final da vida, permitindo uma reforma mais prolongada. Todavia, existem estudos que demonstram que muitas pessoas reconsideram este enquadramento das suas vidas, à medida que cada vez mais pessoas vivem até uma idade avançada. Pensam em mudança, e passar os anos adicionais de outra forma, talvez em continuar os estudos, iniciar uma nova actividade ou

dedicar-se a um passatempo abandonado há muito tempo. É de considerar que as pessoas mais jovens esperam viver mais tempo, podendo planear as suas vidas de forma diferente, como por exemplo, em primeiro lugar, dedicar mais tempo à constituição de uma família e depois, pensar na melhoria da sua carreira profissional. Alcançar uma maior longevidade dependerá, em grande medida, de um factor chave que é a saúde. Se as pessoas vivem esses anos adicionais, com um bom estado de saúde, a sua capacidade para realizar o que valorizam, será apenas diferente de uma pessoa mais jovem. Porém, se os anos adicionais se caracterizarem por uma diminuição da capacidade física e mental, as consequências para os idosos e para a sociedade serão muito mais negativas, pese o facto, que por vezes, faz julgar que o aumento da longevidade, vem acompanhado de um período prolongado de boa saúde, mas lamentavelmente existem poucas provas de que os idosos, actualmente, gozem de melhor saúde que os seus pais quando tinham a mesma idade.

A falta de saúde não tem de ser uma característica predominante da idade avançada. A maioria dos problemas que enfrentam os idosos está associada a doenças crónicas, em particular, doenças não transmissíveis que se podem prevenir ou retardar, com a adopção de hábitos saudáveis, e outros problemas de saúde podem ser tratados se forem detectados a tempo. As pessoas que sofrem de incapacidade física podem ter uma vida digna e de permanente crescimento pessoal em condições favoráveis e adequadas. O mundo infelizmente, está muito afastado desses ideais paradigmáticos. O envelhecimento da população exige uma resposta integral de saúde pública, e não se tem discutido o suficiente para encontrar as respostas adequadas, acrescentado do facto de existirem poucos dados empíricos do que se poderia fazer, o que não significa nada fazer de imediato, pelo que é urgente passar à acção. As mudanças que constituem e influenciam o envelhecimento são complexas, e no plano biológico, o envelhecimento está

associado com a acumulação de uma grande variedade de danos moleculares e celulares, e com o tempo reduzem gradualmente as reservas fisiológicas, aumentando o risco de muitas doenças e diminuindo, em geral, a capacidade intrínseca do indivíduo. A longo prazo sobrevêm a morte, pelo que tais alterações não são nem lineares, nem uniformes e só se associam vagamente com a idade de uma pessoa, após decorridos alguns anos. A idade avançada com frequência trás alterações consideráveis, para além das perdas biológicas. Trata-se de alterações nas funções e atitudes sociais e na necessidade de enfrentar a perda das relações mais estreitas. Os idosos, perante esta situação, concentram-se em atingir menos objectivos e actividades, mas dedicam-se aos que sejam mais significativos, além de optimizar as suas capacidades, através da prática e recurso a novas tecnologias, compensando a perda de algumas aptidões, com outras formas de realizar tarefas. Assim, os objectivos, prioridades e preferências, também parecem mudar.


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OPINIÃO perspectivas

JORGE RODRIGUES SIMÃO

Ainda que, algumas dessas alterações possam ser o resultado da adaptação à perda, outros reflectem o desenvolvimento psicológico, permanente em idade avançada, que pode estar associado com o desenvolvimento de novos papéis, ponto de vista e vários contextos sociais interligados.As alterações psicológicas podem explicar o motivo porque em muitas sociedades a velhice, pode ser um período de bem-estar subjectivo agudo. É importante que ao elaborar uma resposta de saúde pública ao envelhecimento, não apenas sejam consideradas estratégias que contrariem as perdas associadas com a idade avançada, e que reforcem a resiliência e o crescimento psicossocial. A sociedade, apesar de não existir um idoso típico, muitas das vezes encara-os de forma estereotipada que pode induzir à discriminação de pessoas ou grupos, apenas pela sua idade, denominada de discriminação por motivos de idade, e é possível que actualmente, seja uma forma mais generalizada de discriminação que o sexismo ou o racismo. O conceito generalizado e relacionado com a velhice, é o de que as pessoas idosas são

dependentes ou representam uma carga, fazendo que, aquando da formulação das políticas sociais, se entenda que a despesa com os idosos seja apenas uma sangria para as economias e se dê ênfase à contenção de custos. As conjecturas acerca da dependência devido à idade ignoram as numerosas contribuições que os idosos fazem para a economia. O Reino Unido realizou uma investigação, em 2011, e calculou que depois de compensar os gastos das pensões, bem-estar social e saúde com as contribuições realizadas através de impostos, despesas de

consumo e outras actividades de valor económico, os idosos faziam uma contribuição líquida à sociedade de quase quarenta mil milhões de libras, e que atingirá setenta e sete mil milhões de libras em 2030. Ainda que, não existam muitos dados disponíveis dos países com baixo e médio rendimento, a contribuição dos idosos é significativa. A idade média dos pequenos agricultores do Quénia, por exemplo, ultrapassa os 60 anos. As pessoas idosas podem ser fundamentais para manter a segurança alimentar no Quénia e em outros locais da África Subsariana, realizando também, uma função crucial de apoio a outras gerações. A Zâmbia calcula que um terço das idosas, são as que provêem e cuidam das crianças, cujos pais faleceram devido à epidemia do VIH, ou emigraram para trabalhar. Assim, em todos os meios, sem contar o nível dos recursos, os idosos contribuem de diversas formas que são menos tangíveis economicamente, ao prestar apoio emocional em momentos de ansiedade ou aconselhar sobre problemas de difícil resolução. As políticas sociais devem ser desenhadas de forma a fomentar a capacidade dos idosos, para que realizem estas múltiplas contribuições. O envelhecimento da população aumentará a despesa na saúde, mas não tanto como se pensava, existindo a ideia de que as necessidades crescentes do envelhecimento das populações darão lugar a um aumento insustentável das despesas na saúde. O panorama, não é tão claro, porque ainda que a idade avançada seja associada, em geral, com maiores necessidades de assistência sanitária, a relação entre a utilização do sistema de saúde e a despesa na saúde é variável. A despesa na saúde por pessoa, em alguns países de altos rendimentos, reduz-se de forma considerável depois dos 75 anos, enquanto aumenta o custo em cuidados a longo prazo, dado que cada vez mais pessoas chegam a idades avançadas, permitindo que tenham uma vida longa e saudável, podendo aliviar as pressões inflacionárias com os gastos na saúde. O sistema de saúde influi em grande medida na relação entre a idade e a despesa na saúde. É muito provável que essa influência reflicta as diferenças nos sistemas, incentivos e abordagens das intervenções dos prestadores no que diz respeito aos idosos com saúde débil e normas culturais, sobretudo acerca do momento da morte. O período de vida relacionado com os maiores gastos na saúde, sem importar a idade que se tenha, corresponde ao último ano, ou dois últimos anos de vida, sendo

O envelhecimento da população exige uma resposta integral de saúde pública, e não se tem discutido o suficiente para encontrar as respostas adequadas, acrescentado do facto de existirem poucos dados empíricos do que se poderia fazer, o que não significa nada fazer de imediato, pelo que é urgente passar à acção

que esta relação varia consideravelmente, entre os países, sendo por exemplo, de 10 por cento do total de gastos na saúde na Austrália e Holanda, e de 22 por cento nos Estados Unidos, devido aos cuidados de pessoas no último ano da sua vida. O aumento dos custos associados aos últimos anos de vida, parece ser menor nos grupos de idade mais avançada, que nos grupos de menor idade. Prever os gastos futuros na saúde a partir da idade da população tem um valor questionável. É de ter em conta que algumas investigações históricas, somam-se a estas interrogações, ao indicar que o envelhecimento tem muito menos influência nos gastos da saúde que outros factores. Os Estados Unido, viveram um período, entre 1940 e 1990, em que se deu o envelhecimento da população mais rápido de sempre, contribuindo em 2 por cento para o aumento dos gastos na saúde, enquanto as mudanças relacionadas com a tecnologia, foram responsáveis entre 38 por cento e 65 por cento. As despesas nos sistemas de saúde, os cuidados a longo prazo e maiores condições favoráveis são usuais serem apresentados como custos. A visão deve ser diferente. Estas despesas devem ser consideradas como investimentos que desenvolvem a capacidade, e portanto, o bem-estar e a contribuição dos idosos e ajudam as sociedades a cumprir as suas obrigações no que diz respeito aos direitos fundamentais dessas pessoas. O retorno desses investimentos, em alguns casos é directo, pois melhores sistemas de saúde permitem melhores condições de saúde, que por sua vez favorece a participação e o bem-estar; em outros casos, o retorno pode ser menos óbvio, porque requer a mesma atenção. O investimento nos cuidados de saúde, por exemplo, a longo prazo ajudará as pessoas idosas, com perda significativa da capacidade a manter uma vida digna, podendo permitir também, que as mulheres possam trabalhar, além de incentivar a coesão social, ao partilhar os riscos dentro da comunidade. O repensar da justificação económica para esta forma de agir, desloca a discussão da visão típica de minimizar os ditos custos, que violam os direitos fundamentais não apenas dos idosos, mas de toda a população, para uma análise que tem em conta os benefícios que se podem perder, se as sociedades não conseguirem fazer as adaptações e os investimentos adequados. Quantificar e considerar rigorosamente a magnitude dos investimentos e dividendos que produzem, será crucial para que os responsáveis pela tomada de decisões, concebam políticas bem fundadas, que são também, uma das preocupações e recomendações da Organização Mundial de Saúde, reiteradamente efectuada, e de novo consubstanciado no relatório “Health in 2015: from MDGs, Millennium Development Goals to SDGs, Sustainable Development Goals”, de 8 de Dezembro de 2015 aos Estados-membros, e que muitos paradoxalmente, continuam a fazer ouvidos de mercados, não apenas nesta matéria, como em todas as outras.


22 OPINIÃO

hoje macau sexta-feira 19.2.2016

um grito no deserto

U

Uma palavra aos mais jovens

TERRENCE MALICK, THE TREE OF LIFE

M certo jovem regressou a Macau depois de ter terminado os estudos em Taiwan. Como pretendia iniciar actividades de cariz social, pediu-me que o recebesse para escutar a minha opinião sobre o assunto. Fico sempre feliz por poder aconselhar e apoiar jovens estudiosos e empenhados em intervir socialmente. Numa pequena cidade como Macau, com mais de 500.000 habitantes, as relações interpessoais são de certo modo complexas, especialmente quando se trata de falar sobre os interesses de cada um, pode haver lugar a mal-entendidos.

É por isso necessário que nos preparemos mentalmente, caso contrário podemos provocar o efeito contrário do desejado. Quando recebi este jovem, a primeira pergunta que lhe coloquei foi “o que é que o leva a desejar envolver-se socialmente?” Respondeu-me que desejava alargar os seus conhecimentos para estar mais bem preparado para o futuro. Penso que esta é a resposta correcta, basta recordarmos a palavras do Dr. Sun Yat-sen, quando

aconselhava os jovens a “envolverem-se em projectos grandiosos em vez de apenas ambicionarem a cargos oficiais”. Era uma forma de admoestação, ao alertar os jovens para não se deixarem fascinar por cargos superiores, muito bem pagos, esquecendo as intenções originais, que seriam servir o povo. A este jovem lembrei a quatro metas ontológicas definidas por Zhang Zai, um estudioso chinês da Dinastia Song, a serem

Como nos últimos tempos a cena política macaense tem estado confrontada com diversas questões problemáticas, os jovens devem tentar ser observadores destas situações, analisá-las e aprender com elas, já que depois de “entrarmos na montanha” deixamos de conseguir ver a montanha como ela é

PAUL CHAN WAI CHI

alcançadas por todos os intelectuais. A formação superior deverá “levar as pessoas a agirem de forma benevolente, para mostrar ao cidadão comum um caminho a seguir e provocar a sua admiração, respeitar e desenvolver os ensinamentos dos mestres ancestrais (ex. Confúcio e Mêncio), e lançar as bases para que as gerações seguintes desfrutem de uma paz duradoura”. Em Setembro de 2006, quando o ex-Primeiro Ministro Wen Jiabao visitou a Europa, durante uma entrevista citou estas palavras de Zhang. É sempre mais fácil falar sobre ideais do que realizá-los. As dificuldades que se encontram neste percurso não serão tanto motivadas por razões de ordem externa, mas mais por razões de ordem interna, trata-se sobretudo de vontade pessoal e perseverança. Quando alguém decide participar socialmente, quer seja a nível do serviço público quer seja a nível de uma organização privada, quanto maior for o seu envolvimento, mais elevada a sua posição e mais importante a natureza do seu trabalho, tanto maior será a pressão com que terá de lidar e, igualmente, maiores serão as tentações com que se irá deparar. Se não possuir grande fé nas suas convicções, pode facilmente deixar-se ir ao sabor da corrente e os seus ideais verem-se consumidos pela “feira das vaidades” do dia-a-dia. Mesmo a faca mais afiada acabará por ficar romba se “pensar” que não precisa dos cuidados do amolador. Quem quiser envolver-se social e politicamente terá de estar em alerta constante. É importantíssimo que se atenha à sua fé e às suas virtudes. Quando pessoas talentosas, mas sem qualidades morais, sobem ao Poder provocam mais danos que benefícios. Assim, as virtudes são um pré-requisito para o trabalho social e político. São sem dúvida de louvar todos os jovens que pretendam dedicar-se a um trabalho em prol do bem comum. Mas antes de se envolverem, devem estar muito bem preparados, para saberem lidar eficazmente com desafios e adversidades futuras. As palavras de Zhang têm servido de orientação aos intelectuais chineses ao longo de milhares de anos. Sob estes ensinamentos, dispõem-se a sacrificar-se pelo bem comum. Não procuram ganhos pessoais, colocam sempre o bem-estar do povo em primeiro lugar. Esta atitude incorpora os princípios de lealdade e tolerância da doutrina de Confúcio, e os princípios do amor universal e do “caminho” defendidos por Mêncio. Como nos últimos tempos a cena política macaense tem estado confrontada com diversas questões problemáticas, os jovens devem tentar ser observadores destas situações, analisá-las e aprender com elas, já que depois de “entrarmos na montanha” deixamos de conseguir ver a montanha como ela é.


23 hoje macau sexta-feira 19.2.2016

PERFIL

GENEVEVA RODRIGUES, GESTORA DE MARKETING

“O meu trabalho é a minha sala de diversões”

D

E riso fácil e ar jovial, Geneveva Rodrigues veio a Macau apenas para renovar o BIR, porque a tia disso a lembrou, mas um assunto que era para uma semana transformou-se numa aventura de dois anos. “Estava uma óptima temperatura em Macau, apesar de ser Janeiro, há meses que estava um frio horrível em Portugal... e fui deixando-me ficar”, relembra ao HM. “Isto era tudo novo para mim, era como descobrir uma cidade nova e prorroguei a partida por mais três semanas”. Surge entretanto uma oferta de emprego como gestora de vendas, e depois de contas, de uma empresa de marketing digital, a Hogo. Ainda cá está, agora como gestora de marketing do Clube Pacha. Mas, tudo começou há 35 anos, quando Geneveva nasceu em Hong Kong. “Nos anos 80 isso era normal”, explica, “as pessoas não tinham muita confiança em ter bebés aqui e a minha mãe foi a Hong Kong”. Tem sangue chinês do lado do pai mas nunca o conheceu nem pretendeu alongar-se sobre o assunto. Depois seguiu-se a vida em Macau que durou até cerca dos 18 anos quando voltou para Portugal. “Não tenho muitas recordações dessa altura”, diz-nos. A confissão deixa-nos um pouco surpreendidos, mas resolvemos tentar voltar ao assunto mais tarde. Entretanto tínhamos sabido que é do signo do Macaco, o que nos fez pensar em desejos para o ano.

“Queria que me saísse o euromilhões”. Pelo dinheiro apenas?, quisemos saber. “Não, para dar volta ao mundo, pois não quero ter de trabalhar pelos sítios por onde passo” e isso “custa dinheiro”. É que, para Geneveva, mochila às costas... “Não! Isso não faz parte do meu género”, garante entre gargalhadas, reconhecendo que este é um sonho distante.

FESTAS COMO TRABALHO

Quando voltou a Portugal voltou de vez. “Fui a última da família a voltar, já lá estavam todos, por isso, quando fui, nunca pensei em voltar”. Foi estudar Farmácia porque estava na área de Saúde na secundária e tinha horror a sangue, pelo que Farmácia não lhe oferecia esse confronto. É farmacêutica, portanto, e foi formadora de delegados de propaganda médica. E responde com um “não faço comentários sobre isso” quando lhe perguntamos se acha a indústria farmacêutica saudável. O seu coração, contudo, esteve sempre noutro lado: “A minha principal actividade sempre foi outra”, revela de repente. “Em boa verdade o que eu sempre fiz mais foi relações públicas e organização de festas”. Organizou-as em Lisboa, no Algarve mas também em Miami onde viveu algum tempo. “A noite esteve sempre aliada a mim, desde os 16, 17 anos....” Aí apanhámo-la e

voltámos ao assunto ‘crescer em Macau’: a palavra mágica, “noite”, tinha sido proferida e, de repente, as recordações da adolescência em Macau começaram a surgir em catadupa na cabeça de Geneveva. “Era mais em Hong Kong”, garante, “mas em Macau também havia festa”, reconhece, “era a altura da discoteca Mundial”... Os tempos eram mais passados com os amigos, em Lan Kwai Fong, quando “aquilo se resumia a uma rua”, diz-nos. “Mas tinha o 97, o JJ, o Manhattan...”, revela com emoção. Agora percebíamos melhor como o Pacha se enquadra na sua vida. “O Pacha é uma velha paixão”, revela, adiantando que “quando morava em Portugal foi durante dez anos consecutivos ao Grand Opening em Ibiza”. Por isso mesmo, para Geneveva, trabalhar no Pacha é um sonho tornado realidade ao ponto de considerar: “o meu local de trabalho é a minha sala de diversões”. Mas é também um desafio: “vamos ter de adaptar mais o clube à clientela asiática”, revela, reconhecendo que trabalhar no mercado asiático é uma experiência nova, além de “estarmos numa cidade muito particular, pois as pessoas vêm mais para o jogo do que propriamente para o entretenimento”. “Em Hong Kong seria diferente”, garante. Contribuir para aperfeiçoar o plano de marketing do clube é uma das suas missões e a nova ponte não será a solução porque, diz, são precisos resultados agora”. “Não

podemos ficar à espera da ponte, as soluções temos de as achar agora”, revela assumindo de repente um tom mais solene e garantindo que esse desafio é o que a agarra a Macau. A jovem pretende poder dizer “missão cumprida”, mas não será por muito tempo. “Talvez mais um ano”, pensa, “mas ficar aqui não tenciono”, garante. “Tenho umas saudades imensas do mar, dos meus amigos, das festas nos terraços”... Geneveva pareceu-nos convencida de que um dia vai mesmo ter de voltar para o reencontro com o Atlântico e com os amigos que não dispensa. E bebés?, pretendemos saber para fim de conversa. “Nunca tive esse desejo”, revela, “desde pequena nunca foi uma coisa importante para mim, de modo nenhum”, confessa, apesar de admitir que numa situação especial, com a pessoa certa, isso poderia acontecer. Nunca teve o sonho de ser mãe e continua “a não ter”, assegurou. E deixámo-la como a encontrámos: no salão de beleza, a terminar o criterioso tratamento de unhas que percebemos não dispensar, num momento de pausa, onde acedeu falar connosco, na vida agitada de uma ‘marketeer’ do entretenimento. MANUEL NUNES

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“ “CASINO DO ANO” FICA EM MACAU

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Studio City foi distinguido comoprémio“casino/’resort’ integrado do ano” nos International Gaming Awards, atribuídos em Londres, revelou ontem a operadora de jogo Melco Crown. O empreendimento Studio City abriu a 27 de Outubro do ano passado em Macau totalmente focado no mercado de massas e, sobretudo, na classe média chinesa, numa altura em que as receitas do jogo caem continuamente há mais de um ano e em que operadoras e autoridades locais querem reduzir a dependência tradicional do sector dos grandes apostadores (“jogo VIP”), que aparentemente a campanha anti-corrupção lançada por Pequim tem estado a afastar do território. O objectivo das autoridades do território é tornar Macau num pólo de atracção do mercado turístico de massas, através de oferta diversificada ao nível do lazer. Assim, além do casino, o Studio City, inspirado no mundo do cinema, inclui um centro comercial, a maior roda-gigante em forma de oito do mundo, duas torres dedicadas a hotéis, com 1.600 quartos, mais de 30 restaurantes, um centro de eventos com 5.000 lugares, salas de espectáculos e um parque com um simulador de voo 4D, dedicado ao Batman, e uma ‘fun zone’ interior subordinada à Warner Bros. Num comunicado divulgado ontem, a dona do projecto, a Melco Crown, congratula-se com o prémio de “casino/’resort integrado do ano” que conseguiu nos International Gaming Awards, promovidos anualmente pela empresa Clever Duck Media, organizadora de eventos e proprietária da publicação ‘online’ iGaming Post. Os prémios são, sublinham os seus promotores, apoiados e reconhecidos pela indústria do jogo. Os International Gaming Awards deste ano reconheceram ainda a Wynn como operadora de jogo do ano na América e a Melco Crown recebeu o mesmo prémio mas para a região da Ásia e Austrália.

Um velho, à sombra, discorre, / Diante de muitos bocejos: / O meu espírito morre / Sem saudades nem desejos”

Padre Benjamim Videira Pires

Timor PRIMEIRO DICIONÁRIO PORTUGUÊS-TETUM APRESENTADO

Bem vindo à língua

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primeiro dicionário timorense de Português-Tetum, elaborado por uma equipa de 12 pessoas do Departamento de Português da Universidade Nacional de Timor Lorosae nos últimos quatro anos, foi ontem apresentado em Díli. “Os dicionários anteriores não seguiam o tétum padronizado e este segue o tétum padronizado do Instituto Linguístico”, explicou à Lusa Benvinda Lemos Oliveira, docente daquele departamento da UNTL coordenadora e co-autora do dicionário. Filha de pai cabo-verdiano e mãe timorense, nascida em Timor-Leste - onde completou o mestrado - Benvinda Oliveira explica que mais do que procurar cimentar o padrão do tétum, uma

língua ainda em grande evolução, o dicionário procurou responder às carências que se sentiam nesta matéria. “Vemos diariamente as dificuldades dos nossos estudantes no terreno. Muitas vezes têm algum conhecimento do português, conhecem o seu valor semântico até mas não o conseguem encaixar numa situação adequada”, explicou. O objectivo era conseguir produzir uma edição com preço acessível para os alunos timorenses mas os custos associados ao projecto não permitem que isso seja para já possível. A primeira edição, da Lidel, com cerca de 2.600 cópias enviadas para Timor-Leste, está já a ser revista pelo que, disse a docente, só depois de concluído esse processo

“Vemos diariamente as dificuldades dos nossos estudantes no terreno. Muitas vezes têm algum conhecimento do português, conhecem o seu valor semântico até mas não o conseguem encaixar numa situação adequada” BENVINDA LEMOS OLIVEIRA DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE PORTUGUÊS DA UNIVERSIDADE NACIONAL DE TIMOR LOROSAE

se poderá iniciar um outro, o de fazer a versão Tétum-Português. Trabalhos como este, argumentou, são “muito importantes para ajudar a cimentar as duas línguas” oficiais em Timor-Leste, sendo que no caso do tétum ainda há que fazer muito trabalho para garantir o desenvolvimento pleno da língua. “Não há ainda muito trabalho acerca do tétum. Por isso acho que esta obra vai ser útil não apenas para os nossos estudantes, mas para todos os amantes da língua”, frisou.

MUDA A ANTENA

Actualmente, o Departamento de Português da UNTL tem 11 docentes timorenses apoiados por oito professores portugueses, contando anualmente com mais de 100 alunos. Benvinda Lemos Oliveira considerou que é vital ampliar o trabalho que está a ser feito no país para fomentar as duas línguas oficiais, português e tétum, investindo na formação, mas também na sua divulgação. “Tem sido feito muito pouco. Os programas televisivos têm pouco de interessante em português e tétum para captar o interesse dos jovens. E por isso a antena parabólica está sempre mais virada apenas para o país vizinho”, referiu como exemplo.

sexta-feira 19.2.2016

HONG KONG LIONEL LEONG QUER REFORÇAR COOPERAÇÃO

Raymond Tam, Secretário para os Assuntos Constitucionais e do Continente em Hong Kong, realizou uma visita a Macau, tendo reunido com o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong. Segundo um comunicado oficial, ambos afirmaram ser necessário “o fortalecimento do contacto e da cooperação entre os dois território, perante o ajustamento que as duas economias estão a atravessar”. Para os dois governantes, tanto Macau como Hong Kong devem agarrar “as oportunidades provenientes do novo desenvolvimento da economia do Interior da China, para, no espírito da entreajuda e da colaboração mútua, alcançar o objectivo “win-win”.

SUBSÍDIOS ID EXIGE “PRECISÃO” DAS ASSOCIAÇÕES

José Tavares, presidente do Instituto do Desporto (ID), disse, citado pela Rádio Macau, que tem havido “imprecisão” na forma como as associações têm utilizado os subsídios atribuídos pelo Governo. “Fiz um reparo apenas sobre os subsídios que neste ano tiveram um valor inferior ao do ano passado. Isto reflecte uma certa imprecisão por parte das associações ao elaborarem os seus projectos visto que não conseguiram executar a 100 por cento aquilo que previam (...) são mais que 30 associações com menos 50 por cento de execução. Chamei a atenção para este aspecto de forma a evitá-lo no futuro porque pode implicar uma redução nos subsídios para o próximo ano, é que as Finanças quando cortam é logo à partida os excessos que vieram a ser detectados”, disse José Tavares depois de uma reunião do Conselho do Desporto. O responsável confirmou que até Maio vão ser lançados todos os concursos para a realização de mais uma edição do Grande Prémio de Macau, estando ainda a ser planeada a reestruturação de vários quintais desportivos.

DOIS CASOS DE HIPOTERMIA NO SÃO JANUÁRIO

Os Serviços de Saúde registaram mais dois casos ligeiros de hipotermia em dois homens, com 46 e 90 anos de idade. Apesar de estarem a ser observados no hospital, o seu estado clínico é considerado estável, avança o organismo. Desde o início da corrente de ar frio que houve quase uma dezena de casos de hipotermia nos dois hospitais de Macau, sendo que três pessoas morreram devido a complicações derivadas do problema.


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