Hoje Macau 19 FEV 2020 # 4469

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MOP$10

QUARTA-FEIRA 19 DE FEVEREIRO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4469

hojemacau

TIAGO ALCÂNTARA

SOFIA MARGARIDA MOTA

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

TNR | FRONTEIRAS

CONTRA-RELÓGIO

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RÓMULO SANTOS

PÁGINA 5

APOIOS FINANCEIROS

OS PEDIDOS DE SONG PEK KEI GONÇALO LOBO PINHEIRO

PÁGINA 7

Dar voz aos vulneráveis O secretário-geral da Caritas, Paul Pun, alerta para a necessidade de se apoiar os grupos mais desamparados da sociedade, como os trabalhadores migrantes ou os portadores de deficiência, que pouco beneficiam das ajudas do Governo face à crise do coronavírus.

UNIVERSIDADE DE MACAU

JANELAS DE ENSINO PÁGINA 9

OPINIÃO

DIA-V

TÂNIA DOS SANTOS ENTREVISTA


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PAUL PUN SECRETÁRIO-GERAL DA CARITAS, SOBRE CRISE DO CORONAVÍRUS

O surto do Covid-19 agitou a sociedade e a economia de Macau. Paul Pun, secretário-geral da Caritas, alerta para o facto de grupos sociais mais vulneráveis, como os trabalhadores migrantes ou os portadores de deficiência, estarem a passar dificuldades para as quais o Governo não dá resposta. Paul Pun assegura que, nos últimos dias, os pedidos de ajuda na linha de apoio psicológico não aumentaram, mas as questões mudaram: “Antes tínhamos muitas pessoas a falar de suicídio, mas agora têm medo do futuro, estão preocupadas”, assegura

“É um teste à nossa sociedade” Como tem sido o trabalho da Caritas nas últimas semanas? O surto do novo coronavírus trouxe uma crise generalizada? Sem dúvida que todas as pessoas de todas as comunidades estão a sentir algum tipo de efeito. Os mais vulneráveis são os que sofrem mais. Quando falo dos mais vulneráveis refiro-me a pessoas com baixos salários ou que têm recursos limitados. O Governo anunciou um plano para estimular a economia e para assistir os indivíduos, financiando as despesas de electricidade e de consumo de água. Isso vai trazer alguns benefícios, mas os mais vulneráveis continuam a ter de lidar com esta crise e a ter menor capacidade para ter boas condições de vida. Sugiro então que o Governo pense em como pode dar assistência às pessoas ligadas às Pequenas e Médias Empresas (PME), aos seus funcionários, dar alguma atenção especial. Claro que as PME já estão abrangidas por políticas específicas, mas falo dos seus empregados. Há algo que tem de ser feito. Os grupos mais vulneráveis vão ter acesso a apoios mensais, mas os empregados que trabalham e não pedem ajuda financeira ao Governo, vão ter dificuldades. As PME de Macau não vêem futuro no negócio e estão a reduzir o número de funcionários, ou podem exigir licenças sem vencimento. Ninguém tem certezas de quanto tempo esta situação vai durar e quando estas empresas podem recuperar. Os portadores de deficiência, por exemplo, estão agora numa situação ainda mais vulnerável? As pessoas com deficiência também são afectadas, pois se o mercado não é forte, normalmente estas pessoas não conseguem assegurar o seu trabalho ou não conseguem ter trabalho porque não conseguem

“Em circunstâncias normais os portadores de deficiência já estão numa situação de risco porque eles não conseguem competir de igual forma dadas as suas limitações.”

competir de igual forma com os trabalhadores sem deficiência. Não são considerados como prioridade para os seus patrões, então estão mais sujeitos a despedimentos, licenças sem vencimento ou ao cumprimento de menos horas de trabalho. É uma tendência normal na sociedade neste momento. Podemos ver mais casos de discriminação? Não diria, mas podem ser um dos alvos [dos patrões]. Mas tudo depende da relação que têm com o patrão. Em circunstâncias normais os portadores de deficiência já estão numa situação de risco porque eles não conseguem competir de igual forma dadas as suas limitações. Falemos agora das ONG que fazem trabalho social. O Governo deveria criar medidas especiais para estas entidades, uma vez que já enfrentam dificuldades? Actualmente, na Caritas, a principal preocupação é ajudar as pessoas. Não estamos a pensar em nós próprios. Mas a questão é se

“[Esta crise] é um teste à sociedade, pensamos apenas sobre nós próprios ou sobre os outros também?”

o Governo deveria pensar em nós (risos). Actualmente, usamos os nossos recursos e tentamos maximizá-los ao máximo para ajudar um maior número de pessoas. Não estamos a fazer dinheiro, não temos os lucros como objectivo. Muitas pessoas, quando têm problemas, não pedem ajuda ao Governo mesmo que tenham esse direito, pedem ajuda às associações. E aqueles que não vão pedir ajuda nesta fase não vão conseguir ter um financiamento extra para lidar com esta crise, só têm ajuda para pagar a água e a luz. No que diz respeito às ONG têm de encontrar formas de pagar aos seus trabalhadores. Para aqueles que regressaram da China providenciamos alimentação e temos de encontrar alojamento. O Governo decretou medidas de quarentena e muitos dos que ficaram em casa continuaram a receber o seu salário. Mas para quem trabalha em lares, a providenciar alimentação às outras pessoas… decidi que mesmo quem fica em casa recebe um dia de salário. Claro que não podemos continuar com esta medida para sempre, apenas durante a crise do coronavírus. Tentamos manter os trabalhadores para que não façam viagens arriscadas, gastamos mais dinheiro para os manter em Macau. Mas não temos medidas específicas. Acredita que a Caritas vai ter mais trabalho no apoio às famílias? Espera mais pedidos de ajuda junto do Banco Alimentar? Penso que mais pessoas podem passar a fazer parte desta categoria, porque ficam sem trabalho e sem salário. Neste momento estou no meu escritório, localizado no primeiro andar, e no rés-do-chão estamos a empacotar cabazes de comida doada para levar para as pessoas que não têm elevador em casa, famílias ou idosos que

SOFIA MARGARIDA MOTA

ENTREVISTA

não têm como sair de casa. Cada vez mais vamos ter de fazer este tipo de trabalho para pessoas que precisam. A Caritas tem uma linha de apoio psicológico. Durante os dias de quarentena, têm recebido mais chamadas do que o normal? Não. Notamos um aumento ligeiro, mas as dúvidas e os problemas apresentados são diferentes. Antes tínhamos muitas pessoas a falar de suicídio, mas agora as pessoas têm medo do futuro, estão preocupadas. Falam desta incerteza pelo facto de estar tudo fechado. Não quer dizer que tenham sido afectados pelo vírus, mas querem ter uma ideia do que vai acontecer. São pessoas que têm estado em casa todos os dias, sem trabalho, com os filhos. Muitas vezes ficavam


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apenas uma hora em casa, ou só iam a casa dormir. No que diz respeito aos trabalhadores migrantes, estão ainda mais vulneráveis do que no passado. O que pode ser feito neste sentido? São um dos grupos vulneráveis. Têm de cuidar da família no seu país natal e algumas pessoas não são pagas devidamente, ou estão com dias de férias. Há uma maior incerteza junto dos trabalhadores migrantes, porque em Macau muitas pessoas não sabem como pedir ajuda. Estão numa situação ainda pior. Muitos locais estão com licenças sem vencimento, mas podem ter a ajuda das famílias e dos amigos. Os trabalhadores migrantes pedem ajudam aos seus amigos que estão na mesma situação. Há quatro dias quatro pessoas vieram aqui dizer que não conseguiam ir para as Filipinas e que estavam a ficar sem

dinheiro, então dei-lhes alguma comida. Acredito que mais pessoas vão deixar Macau nestes dias. Seria bom haver alguma ajuda para os trabalhadores migrantes. A Cáritas dá, mas os nossos recursos são limitados. As medidas do Governo não abrangem os trabalhadores migrantes, então estes precisam de uma maior ajuda das comunidades onde se integram. Mas a nossa ajuda é sempre limitada. Estamos a falar de pessoas que têm sempre de ajudar outros. Acredita que as autoridades locais, e também as autoridades das Filipinas ou da Indonésia deveriam fazer mais para ajudar estas pessoas. Sem dúvida, e se não o conseguem fazer directamente devem trabalhar com as ONG. Muitas vezes o Governo não consegue trabalhar dessa forma directa mas as ONG podem fazê-lo, porque não temos

de cumprir tantas obrigações. Só temos de dar assistência e garantir que as pessoas não estão em risco. Nenhuma autoridade nos contactou ainda, mas pelo que percebi eles próprios estão muito ocupados. Mas trabalhar de forma conjunta é a melhor forma de combater o surto do coronavírus. Qual o impacto do surto no funcionamento da Caritas? Vai

“Muitas pessoas estão preocupadas com a economia. Mas para mim o próximo passo é olharmos para a forma como cuidamos uns dos outros.”

necessitar de mais fundos ou recursos humanos? Muitas vezes não peço mais fundos, mas digo que temos de aprender como resolver os problemas em conjunto. Esta crise expôs ainda mais os problemas sociais de Macau. O Governo precisa de mudar a sua mentalidade, criando políticas mais modernas para lidar com estas questões? Este é o foco principal neste momento, e muitas pessoas estão preocupadas com a economia. Mas para mim o próximo passo é olharmos para a forma como cuidamos uns dos outros. E a razão é muito simples: há uma semana as pessoas começaram a comprar tudo nos supermercados e não pensaram naqueles que não tinham nada. Se eu tirar mais do que aquilo que preciso não é bom.

É importante pensar nos outros para construir uma sociedade mais forte. Macau deve ser um sítio onde não pensamos apenas em nós próprios, e há uma hora estava a pensar nisso mesmo. Temos de ser cidadãos do mundo e não pensar apenas em nós, em construir Macau, mas olhar para outros países e as suas dificuldades? Esta crise é um teste ao novo Governo? Não. Isto não é um teste. Todos os governos devem fazer coisas pela sociedade, é a sua responsabilidade. É um teste à sociedade, pensamos apenas sobre nós próprios ou sobre os outros também? Não nos podemos esquecer dos outros. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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19.2.2020 quarta-feira

ANÚNCIO Concurso Público N.º 002/DGF/2020 Aquisição, pelo IAM, de cinco veículos de passageiros (van)

ANÚNCIO Concurso Público N.º 003/DGF/2020 Aquisição, pelo IAM, de quatro viaturas pesadas com caixa basculante

Relativamente ao Concurso Público N.º 002/DGF/2020 - Aquisição, pelo IAM, de cinco veículos de passageiros (van), publicado no Boletim Oficial, n.º 3, II Série, de 15 de Janeiro de 2020, devido à situação actual do novo tipo de coronavírus, bem como ao acompanhamento do trabalho do Governo da RAEM na prevenção e controlo, a data do termo do prazo para a entrega das propostas e a do acto público do concurso foram adiadas. A data original do termo do prazo para entrega de propostas do referido concurso público era 18 de Fevereiro de 2020, às 17h00, e foi agora adiada para 10 de Março de 2020, às 17h00. O acto público do concurso estava marcado para as 10h00 de 19 de Fevereiro, no Centro de Formação do IAM, sito na Avenida da Praia Grande, n.o 804, Edifício China Plaza, 6.º andar, Macau, tendo sido agora adiado para as 10h00 de 11 de Março de 2020, no mesmo local. Para as informações sobre as alterações das datas do termo do prazo para a entrega de propostas e do acto público do concurso, queira aceder à página electrónica do IAM (http://www.iam.gov.mo), para o seu descarregamento gratuito. Caso os concorrentes interessados descarreguem os referidos documentos da página do IAM, têm a responsabilidade de consultar, dentro do prazo para a entrega de propostas, as informações acerca de actualizações ou correcções, na página do IAM.

Relativamente ao Concurso Público N.º 003/DGF/2020 - Aquisição, pelo IAM, de quatro viaturas pesadas com caixa basculante, publicado no Boletim Oficial, n.º 3, II Série, de 15 de Janeiro de 2020, devido à situação actual do novo tipo de coronavírus, bem como ao acompanhamento do trabalho do Governo da RAEM na prevenção e controlo, a data do termo do prazo para a entrega de propostas e a do acto público do concurso foram adiadas. A data original do termo do prazo para entrega de propostas do referido concurso público era 18 de Fevereiro de 2020, às 17h00, e foi agora adiada para 10 de Março de 2020, às 17h00. O acto público do concurso estava marcado para as 15h00 de 19 de Fevereiro, no Centro de Formação do IAM, sito na Avenida da Praia Grande, n.o 804, Edifício China Plaza, 6.º andar, Macau, tendo sido agora adiado para as 15h00 de 11 de Março de 2020, no mesmo local. Para as informações sobre as alterações das datas do término do prazo para a entrega de propostas e do acto público do concurso, queira aceder à página electrónica do IAM (http://www.iam.gov.mo), para o seu descarregamento gratuito. Caso os concorrentes interessados descarreguem os referidos documentos da página do IAM, têm a responsabilidade de consultar, dentro do prazo para a entrega de propostas, as informações acerca de actualizações ou correcções, na página do IAM.

Aos 12 de Fevereiro de 2020

Aos 12 de Fevereiro de 2020 Administrador do Conselho de Administração para os Assuntos Municipais Mak Kim Meng www. iam.gov.mo

ANÚNCIO Concurso Público N.º 004/DGF/2020 Aquisição, pelo IAM, de 19 (dezanove) viaturas ligeiras hatchback Relativamente ao Concurso Público N.º 004/DGF/2020 - Aquisição, pelo IAM, de 19 (dezanove) viaturas ligeiras hatchback, publicado no Boletim Oficial, n.º 3, II Série, de 15 de Janeiro de 2020, devido à situação actual do novo tipo de coronavírus, bem como ao acompanhamento do trabalho do Governo da RAEM na prevenção e controlo, a data do termo do prazo para a entrega de propostas e a do acto público do concurso foram adiadas. A data original do termo do prazo para entrega de propostas do referido concurso público era 18 de Fevereiro de 2020, às 17h00, e foi agora adiada para 10 de Março de 2020, às 17h00. O acto público do concurso estava marcado para as 10h00 de 20 de Fevereiro, no Centro de Formação do IAM, sito na Avenida da Praia Grande, n.o 804, Edifício China Plaza, 6.º andar, Macau, tendo sido agora adiado para as 10h00 de 12 de Março de 2020, no mesmo local. Para as informações sobre as alterações das datas do termo do prazo para a entrega de propostas e do acto público do concurso, queira aceder à página electrónica do IAM (http:// www.iam.gov.mo), para o seu descarregamento gratuito. Caso os concorrentes interessados descarreguem os referidos documentos da página do IAM, têm a responsabilidade de consultar, dentro do prazo para a entrega das propostas, as informações acerca de actualizações ou correcções, na página do IAM. Aos 12 de Fevereiro de 2020 Administrador do Conselho de Administração para os Assuntos Municipais Mak Kim Meng www. iam.gov.mo

Administrador do Conselho de Administração para os Assuntos Municipais Mak Kim Meng www. iam.gov.mo


coronavírus 5

TIAGO ALCÂNTARA

quarta-feira 19.2.2020

Ma Chio Hong, Corpo de Polícia de Segurança Pública “Existe uma subida no número de entradas porque as empresas pararam o funcionamento e agora estão a regressar à actividade, não se deve apenas às medidas anunciadas.”

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PÓS o anúncio das medidas de quarentena, entraram mais 5 mil trabalhadores não-residentes (TNR), o que representa um aumento de um terço, ou 33 por cento. Segundo os dados fornecidos ontem por Ma Chio Hong, chefe de Divisão de Operações e Comunicações do Corpo de Polícia de Segurança Pública, até às 16h00 de segunda-feira, antes do anúncio das medidas, tinham entrado no território 15 mil TNR. No entanto, ontem, pela mesma hora, o número já era de 20 mil TNR. Ainda de acordo com os números apresentados pelo CPSP, o número de entradas de TNR, ontem pelas 16h00, já praticamente ultrapassava o valor total de segunda-feira, quando tinham entrado 21 mil TNR. “Existe uma subida no número de entradas porque as empresas pararam o funcionamento e agora estão a regressar à actividade, não se deve apenas às medidas anunciadas ontem [segunda-feira], mas à reabertura das empresas”, afirmou Wong Kim Hong, chefe-substituto

TNR NÚMERO DE ENTRADAS AUMENTA APÓS ANÚNCIO DE MEDIDAS

Último comboio

Até às 16h de ontem tinham entrado quase tantos trabalhadores não-residentes em Macau como no dia anterior. A tendência deverá continuar durante o dia de hoje, prazo limite para que os TNR vindos do Interior entrem na RAEM sem serem obrigados a cumprir a uma quarentena de 14 dias

do Departamento para os Assuntos de Residência e Permanência do CPSP. Ainda no mesmo período, em relação às saídas, também houve um aumento, mas a um ritmo mais lento. Assim, até às 16h00 tinham saído 4 mil TNR de Macau, número que subiu para 7,1 mil até às 16h00 de ontem. Contudo, o CPSP negou que houvesse uma corrida às Portas

do Cerco, como surgiu num vídeo a circular através das redes sociais: “Não houve uma grande concentração nas Portas do Cerco, como mostra um vídeo que anda a circular. Essas imagens foram gravadas noutro dia”, alertou Wong. “As pessoas podem acompanhar a situação das fronteiras através da aplicação do CPSP que tem imagens em tempo real da situação nas fronteiras”, foi acrescentado.

Apartir da meia noite de amanhã, ou seja esta madrugada, entra em vigor a quarentena para todos os TNR que venham do Interior da China. O CPSP não tem uma estimativa para o número de entradas que se espera para o dia de hoje, mas garante que a situação vai ser acompanhada.

as autoridades prometem estar atentas ao fenómeno das pensões ilegais, assim como da conversão de edifícios industriais em dormitórios. Em relação a esta questão, as autoridades prometem apertar a fiscalização, mas pedem aos residentes que denunciem as situações, caso tenham conhecimento das mesmas. “Desde 27 de Janeiro que os Serviços de Polícia Unitários, o Corpo de Polícia de Segurança Pública e a Polícia Judiciária fizeram 441 operações sobre alojamento ilegal. Em 31 dos casos verificou-se suspeitas em fracções autónomas. Vamos continuar a fazer a fiscalização”, assegurou Wong Kim Hong. “Sabemos que os edifícios industriais têm uma finalidade que não é habitacional. Por isso, mesmo que não haja porteiros nesses espaços, pedimos aos residentes que denunciem as situações”, apelou.

PENSÕES ILEGAIS

Com a estadia em Macau de mais TNR, que precisam de alojamento,

8.750 PATACAS POR QUARENTENA

CASINOS RECEBEM VOTO DE CONFIANÇA

s trabalhadores não-residentes (TNR) que tiverem estado nos últimos 14 dias no Interior e cumpram o período de quarentena em Macau vão ter de pagar 8.750 patacas, segundo a informação avançada ontem pelo Governo. O isolamento é feito no hotel Pousada Marina Infante, propriedade do

o contrário dos casinos, espaços como bares, discotecas, ginásios, entre outros, vão continuar proibidos de operar. A adopção de um critério diferente foi justificada por Inês Chan, representante da DST, com o facto de o Governo ter mais confiança nas concessionárias do jogo do que nas Pequenas e Médias Empresas. “A nossa decisão teve por base a capacidade de resposta a situações de risco e a competência

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deputado Vitor Cheung Lap Kwan e está arrendado para efeitos de quarentena desde que o surto do coronavírus chegou a Macau. Durante este período, segundo os números da Direcção de Serviços de Turismo, a taxa de ocupação dos hotéis que se mantiveram em funcionamento é de 16 por cento.

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João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

para lidar com essas situações. Quando falamos das concessionárias são empresas que conhecemos muito bem e sobre quem temos todos os dados, por isso estão autorizadas a operar”, apontou. “Entre as Pequenas e Médias Empresas também há aquelas com capacidade de lidarem com situações de risco, mas nós temos menos informação sobre elas. Por isso nesta fase apenas vamos ter os casinos a funcionar”, justificou.


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19.2.2020 quarta-feira

QUARENTENA TRATAMENTO DIFERENCIADO PARA RESIDENTES EM ZHUHAI VISTO COMO ACEITÁVEL

O diferente impacto para a economia de trabalhadores residentes e não-residentes e a protecção dos locais fazem com que a decisão de limitar a quarentena aos TNR seja encarada por José Sales Marques e Miguel de Senna Fernandes como acertada, nesta fase

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partir de amanhã entra em vigor o regime de quarentena obrigatória de 14 dias para os trabalhadores não-residentes (TNR) que tentem entrar em Macau vindos do Interior da China. A medida deixa de fora os residentes que vivem em Zhuhai e que todos os dias atravessam a fronteira, numa opção que é tida

“Toda a gente concorda que é preciso precaução nas entradas e saídas, inclusive com os residentes. Mas há que começar por algum lado e, como é óbvio, em Macau coloca-se os residentes em primeiro lugar.” MIGUEL DE SENNA FERNANDES ADVOGADO

como compreensível para Miguel de Senna Fernandes, advogado e presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, e José Sales Marques, economista e presidente do Instituto de Estudos Europeus. Ao HM, Miguel de Senna Fernandes admitiu ainda estar a “digerir” a diferenciação e admite mudar de opinião no futuro, à luz de novos factos, mas por enquanto aceita o tratamento diferenciado. “Não vou dramatizar e vou tentar evitar entrar na perspectiva da existência uma discriminação”, começou por ressalvar. “Mas acho que é preciso constatar que muitos trabalhadores não-residentes vivem em Zhuhai e em outras zonas do Interior. Por isso, são pessoas que muitas vezes estão fora do controlo sanitário de Macau. Por esta razão e por precaução foi tomada esta medida”, apontou. Miguel de Senna Fernandes fala de realidades diferentes entre residentes e não-residentes, mas prevê que a medida vai ser estendida a todos, caso a situação da epidemia se agrave. “Tento perceber é que esta medida é faseada. Toda a gente concorda que é preciso precaução nas entradas e saídas, inclusive com os residentes. Mas há que começar por algum lado e, como é óbvio, em Macau coloca-se os residentes em primeiro lugar”, afirmou. A medida é igualmente apoiada por José Sales Marques, para quem o Governo teve em conta nesta decisão o impacto que os residentes de Macau que vivem em Zhuhai têm na economia da RAEM. “Parece-me que esta medida do Governo de ainda não impor uma quarentena a estes residentes, embora isso não seja posto de parte, é acertada”, opinou. “Não digo que os TNR não sejam importantes, obviamente que são, mas quando falamos de residentes de Macau estamos a falar de outro tipo de empregos e lugares que ocupam

GCS

A ordem natural das coisas

num serviço ou numa empresa”, considerou. José Sales Marques avisou ainda contra uma eventual quarentena dos residentes a viver em Zhuhai: “Se o Governo, com a informação e avaliação do risco

“Se o Governo, com a informação e avaliação do risco que tem, sente que a circulação dos residentes ainda é possível, então acho que deve ser mantida.” JOSÉ SALES MARQUES ECONOMISTA

que tem, sente que a circulação dos residentes ainda é possível, então acho que deve ser mantida. Mas se, por outro motivo, passarem a considerar que não é possível a circulação desses residentes, não há nada que se possa fazer a não ser implementar”, reconheceu. “Mas posso garantir que essa medida vai colocar muitos problemas no funcionamento normal de empresas, serviços públicos e outras instituições, como o próprio Instituto de Estudos Europeus”, avisou.

ELOGIO DA TRANSPARÊNCIA

Também consensual para Miguel de Senna Fernandes e José Sales Marques é o desempenho do Governo de Ho Iat Seng, principalmente pela forma como tem

mostrado disponibilidade para comunicar e responder às perguntas sobre as diferentes decisões. “O Governo está bastante bem. Sinto que em Macau há uma avaliação muito positiva, não só pela competência, que é muito importante, mas pelo bom senso. Há uma vontade de comunicar, que é fundamental. O que vemos é que as conferências de imprensa são diárias e, mesmo que não seja todos os dias, às vezes chegam a ter três secretários”, sublinhou Sales Marques. “É uma postura muito boa e isso dá confiança aos cidadãos. Vemos que o Governo está a seguir os acontecimentos ao segundo e a procurar as melhores soluções possíveis”, completou. O modelo de abertura para enfrentar as questões foi igualmente elogiado por Senna Fernandes. “A imagem do Governo com a conferência de imprensa diária, sempre à mesma hora e com uma equipa para responder à imprensa, demonstra uma vontade de colaborar e estar sujeito a qualquer tipo de perguntas. Mostra-se tudo o que se sabe sobre o coronavírus”, considerou. “Há uma imagem de transparência a 100 por cento”, apontou. O advogado sublinhou ainda a coragem nas medidas adoptadas, que se reflectiram no encerramento dos casinos. “Tem sido adoptada uma atitude muito frontal e corajosa. E é isso que é preciso num Chefe do Executivo. Acho que isso ficou bem visto com a paragem do jogo”, opinou. “O jogo é o coração da economia de Macau, quando pára o jogo pára a economia e pára tudo. E ter uma posição tão firme face ao encerramento dos casinos exige muita coragem, porque todos percebemos que há muita coisa que está em jogo, nos aspectos financeiros, laborais, sociais. [...] E essa atitude aconteceu e não foi contrariada, pelo contrário toda a gente concordou”, completou.

DIAMOND PRINCESS HABITANTES DE MACAU REGRESSAM E FICAM SOB OBSERVAÇÃO MÉDICA

O

s residentes de Macau a bordo do cruzeiro Diamond Princess serão repatriados em voos fretados, numa medida organizada pelo Governo de Hong Kong. A decisão foi anunciada ontem em comunicado oficial.

“O Governo da RAEHK planeia repatriar os seus residentes que se encontram a bordo do navio de cruzeiro Diamond Princess através de voos fretados. O Governo da RAEM recebeu todo o apoio e assistência do Governo da RAEHK, e com o con-

sentimento dos residentes de Macau a bordo do navio Diamond Princess, confiou ao Governo da RAEHK a assistência na organização do regresso destes residentes de Macau”, pode ler-se. Assim, os residentes podem chegar durante o dia de

hoje a Macau.Afim de assegurar a total prevenção de novos contágios com o Covid-19, estes residentes “serão colocados sob observação médica e quarentena após a sua chegada por um período de 14 dias, em local designado de acordo com a exigência dos Serviços

de Saúde de Macau”, informa o Governo. Actualmente, há cinco residentes de Macau a bordo do navio, dois homens e três mulheres, com idades compreendidas entre 24 e 82 anos, sendo que três pessoas possuem a residência de Macau e Hong Kong.

João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo


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quarta-feira 19.2.2020

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VIR À TONA

Sobre os vales de consumo de três mil patacas anunciados no pacote de medidas de apoio económico, Song Pek Kei aponta que o Governo não especificou todos os sectores

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deputado José Pereira Coutinho enviou uma interpelação escrita ao Governo onde questiona o pagamento de uma indemnização de 530 milhões de patacas à empresa quem tem vindo a explorar, em regime de monopólio, o heliporto. “Pela simples mudança do terreno público, situado nas ilhas, para um outro terreno que também será do Estado serão pagas somas elevadas. Acresce que este montante foi calculado sem se saber para que local será transferida esta oficina que, supostamente, repara helicópteros”, lê-se. Dessa forma, Pereira Coutinho, que é também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, pretende saber “quais foram as principais contrapartidas aceites por ambas as partes para atingir

ECONOMIA SONG PEK KEI PEDE EXPLICAÇÕES SOBRE MEDIDAS DE APOIO

Ir mais longe RÓMULO SANTOS

deputada à Assembleia Legislativa Song Pek Kei pretende que o Governo aprofunde e esclareça algumas das medidas incluídas no pacote de apoio económico anunciado na semana passada pelo secretário para a Economia e Finanças Lei Wai Nong. De acordo com Song Pek Kei, perante a crise provocada pelo Covid- 19 e pelas consequentes medidas de prevenção aplicadas, muitos negócios relacionados com a restauração, comércio a retalho e outros serviços estão a lutar pela sobrevivência já que se encontram dependentes dos “dois pilares da economia de Macau”, que são o turismo e o jogo, ambos inexistentes nas últimas semanas. “A fim de responder ao apelo do Governo (…) tanto concessionárias e grandes empresas, como pequenas e médias empresas [PME], cessaram actividade para se proteger da epidemia, contribuindo eficazmente para reduzir o movimento de pessoas e controlar o surto em Macau. Mas, ao mesmo tempo (…) os residentes de Macau estão muito preocupados com a reactivação da sociedade e com a forma como as micro e pequenas empresas e médias empresas podem sobreviver a esta situação”, contextualizou a deputada numa interpelação oral dirigida ao Governo. Song Pek Kei espera ainda que o Governo “continue a aprofundar os estudos de impacto económico da epidemia” e que tenha em conta “a capacidade dos diferentes sectores e empresas para assumir riscos”, de forma a optimizar as políticas a implementar.

especificar quais são as indústrias que vão beneficiar com esta medida?”, questiona ainda a deputada. Sobre as PME, Song Pek Kei pede ao Governo que ajude a “aliviar a pressão”, já que, apesar de estas empresas poderem vir a beneficiar de créditos com condições especiais previstos no pacote de medidas, muitas “já se encontram endividadas”, podendo um novo empréstimo contribuir para agravar as dificuldades no pagamento de rendas e salários.

“Muitas PME foram obrigadas a contrair empréstimos durante o Tufão Hato e agora para além dos custos operacionais estão sob pressão para pagar as suas dívidas.” SONG PEK KEI DEPUTADA

onde será possível gastar esse valor, afirmando que há sectores como o da cosmética ou dos táxis que necessitam de apoio e temem não estar abrangidos pela medida de recuperação do Governo que prevê

um investimento de 2,2 mil milhões de patacas no mercado. Recorde-se que, na altura, o Governo referiu apenas que os vales “podem ser utilizados nos restaurantes, no retalho, entre outras despesas”.

Heliporto gera dúvidas Coutinho questiona indemnização paga a empresa

o montante de 530 milhões de patacas”. Além disso, o deputado coloca ainda outras questões, como “qual a área e a localização da nova oficina, e quais as condições exigidas pela empresa detentora do monopólio para esta super indemnização”. Pereira Coutinho deseja também que o Governo lhe explique “qual a natureza desta oficina de reparação comparada com as congéneres de Hong Kong e as que existem no interior da China, em Cantão”.

TROCA POR TROCA

O novo heliporto vai nascer no lote LT7 da Zona E dos

novos aterros, num terreno concedido, por arrendamento, à sociedade Linhas Aéreas Ásia Oriental, que tem como administradoras Pansy Ho e Ina Chan, respectivamente, filha e terceira mulher do magnata de jogo Stanley Ho. A parcela de terreno foi concedida em troca, pela cedência, livre de quaisquer ónus e encargos, a favor da RAEM, dos direitos resultantes da concessão de outro terreno que fica na Estrada do Altinho de Ká Hó, em Coloane. Aí existe uma base de serviço de manutenção de helicópteros, destinada a integrar o domínio privado do Estado. Essa par-

“Sectores como a cosmética, a formação e dos táxis também foram afectadas e necessitam de apoio das autoridades, mas temem não ser abrangidos”, aponta Song Pek Kei. “Será que o Governo pode

cela, segundo o contrato, tem um valor atribuído de 23,9 mil milhões de patacas. À luz do contrato, publicado em Janeiro de 2018, em Boletim Oficial, o Governo tem de pagar à Linhas Aéreas Ásia Oriental os custos de relocalização da base-serviço de manutenção, incluindo os gastos de sondagem geotécnica, execução da obra, demolição da actual base-serviços, obras de terraplanagem, transporte e logística, bem como custos de emergência e despesas adicionais pela redução do prazo de execução da obra. Em causa figura uma compensação de 535,7 milhões de patacas, paga em tranches à medida do andamento das obras. A.S.S.

“Muitas PME foram obrigadas a contrair empréstimos durante o Tufão Hato e agora para além dos custos operacionais estão sob pressão para pagar as suas dívidas. Será que autoridades irão coordenar-se com o sector bancário para suspender temporariament o pagamento de créditos, por forma a que as PME consigam, neste período, difícil continuar a pagar as suas dívidas?”, pode ler-se na interpelação. Face às dificuldades sentidas pelas micro, pequenas e médias empresas, a deputada questiona ainda se o Governo está considerar “mais medidas de apoio, para além da consessão de empréstimos sem juros”. Pedro Arede

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Construção civil Mak Soi Kun exige medidas para o sector

O deputado Mak Soi Kun interpelou ontem o Governo sobre a necessidade de criar medidas que revitalizem a força laboral na área da construção civil, muito afectada pela crise causada pelo surto do novo coronavírus, o Covid-19. “O Governo tem vindo a implementar, num curto prazo de tempo, medidas que visam ajudar os cidadãos a resolver os seus problemas de subsistência. No entanto, alguns tipos de trabalhadores, como no sector da construção civil, que é um sector muito importante, [sentem dificuldades]”, apontou. Para o deputado, é necessário criar mais cursos de formação. “O sector da construção civil necessita de muitos talentos ao nível da gestão. Propõe-se que, após a epidemia, o Governo possa aproveitar ao máximo para ajudar os trabalhadores a elevar as suas capacidades profissionais.”


8 sociedade

19.2.2020 quarta-feira

PJ APREENDIDA COCAÍNA NO VALOR DE 6,8 MILHÕES

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Changbin Wang, IPM “Acho que tanto o mercado VIP [grandes apostadores] quanto o de massas serão fortemente afectados durante este tempo”

CASINOS ANALISTAS DIZEM QUE FECHO PODE TRAZER EXIGÊNCIAS ÀS OPERADORAS

As novas apostas

Os casinos abrem portas amanhã. Analistas consideram que a crise causada pelo surto do novo coronavírus pode levar a novas exigências das operadoras de jogo, relacionadas com medidas para lidar com crises semelhantes no futuro

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NALISTAS admitiram esta terça-feira, a pouco mais de 24 horas da reabertura dos casinos, que podem surgir novas reivindicações das concessionárias para as licenças de jogo, em 2022, para se precaverem de situações excepcionais como o surto do novo coronavírus. O analista de jogo David Green disse à Lusa que “esta interrupção afectará a nova licitação ou renegociação das concessões dos casinos”, numa referência à decisão tomada, em 4 de Fevereiro, pelo Governo de fechar os casinos durante 15 dias. “Os operadores de jogo estarão muito menos inclinados a assumir compromissos adicionais de investimento ou a pagar uma grande taxa inicial pela atribuição de uma nova concessão”, frisou o fundador da consultora especializada em regulação de

jogos em Macau Newpage Consulting. Já o economista José Luís de Sales Marques apontou ser ainda cedo para prever alterações que podem constar no caderno de encargos, ou até na própria lei. “Agora, sem dúvida, qualquer investidor reage perante os dados que são o histórico da sua actividade e também o que eles prevêem que seja o futuro. E o facto de os casinos estarem fechados não constava do histórico da actividade do jogo em Macau”, sublinhou. “A partir de agora passa a fazer parte do histórico e, portanto, isso vai ter algumas implicações, quer queiramos, quer não”, frisou o presidente do Instituto de Estudos Europeus (IEE).

CRISE PROLONGADA

A atribuição de novas licenças na capital mundial do jogo será feita em 2022, tendo o Governo prometido

a realização de um concurso público. O território é o único local na China onde o jogo em casino é legal, contando seis concessionárias e subconcessionárias, Sociedade de Jogos de Macau, fundada pelo magnata Stanley Ho, Galaxy, Venetian (Sands China), Melco Resorts, Wynn e MGM. O Governo de Macau deu aos casinos um período de transição de 30 dias, a partir da meia-noite de hoje para poderem começar a abrir as portas. Findo esse período, todos os casinos devem estar abertos, indicou. As operadoras de jogo, que durante os 15 dias de encerramento dos casinos perderam 1,5 mil milhões dólares, segundo agência de notação financeira Fitch Rating, vão continuar com receitas muito baixas a curto prazo, devido ao reduzido número de turistas no território, sustentaram analistas ouvidos pela Lusa.

“Acho que tanto o mercado VIP [grandes apostadores] quanto o de massas serão fortemente afectados durante este tempo”, afirmou à Lusa o director do Centro de Pesquisa e Ensino do Jogo do IPM, Changbin Wang. Uma situação que se vai manter após o surto em Macau ficar controlado, frisou. “Não consigo ver o sinal de recuperação rápida. A economia chinesa vai desacelerar ainda mais”, defendeu. Também David Green disse acreditar que os danos económicos infligidos pelo surto de coronavírus afectarão significativamente o jogo de massas”, mas também o mercado das grandes apostas “por medo de serem expostos a infeções ou serem involuntariamente colocados em quarentena”. Em 2019, os casinos obtiveram receitas de 292,46 milhões de patacas, menos 3,4 por cento do que no ano anterior.

UAS mulheres de nacionalidade guineense foram interceptadas à chegada a Macau, por transportar no corpo pequenos sacos de cocaína, com valor total de 6,8 milhões de patacas. A informação foi divulgada ontem pela Polícia Judiciária através de um comunicado enviado ao HM. As duas mulheres foram detidas na passada segunda-feira por volta das duas da manhã quando, à saída de um voo proveniente de Banguecoque, o aparelho de raio-x mostrou que ambas possuiam inúmeros objectos ovais escondidos em cavidades corporais. De acordo com a PJ, as mulheres acabaram por admitir que os objectos serviam o propósito de transportar droga e que no dia 14 de Fevereiro apanharam um voo da Guiné em direccção à Etiópia, local onde terão engolido os invólucros. As duas mulheres foram de imediato levadas para o hospital onde,

após 18 horas, foram retirados, respectivamente, 54 e 76 pacotes de cocaína que estavam no interior dos seus corpos. Segundo a PJ, a cocaína transportada pelas mulheres pesava, no total, 2,08 kg e o seu valor estimado é de 6,8 milhões de patacas. A PJ informou ainda que as duas mulheres terão cometido o crime devido a problemas financeiras, tendo recebido 1800 dólares americanos antes de deixarem a Guiné e ter-lhes sido prometido o pagamento de mais quatro mil, aquando do seu regresso. As duas mulheres foram enviadas ontem para o Ministério Público. Segundo a PJ, a detenção das duas mulheres vem no seguimento do reforço do patrulhamento dos passageiros que chegam a Macau, pois “muitos traficantes internacionais tentam fazer entrar droga nesta altura, por acreditarem que as autoridades estão ocupadas a lidar com o surto do Covid- 19”.

AVIAÇÃO GOVERNO DIZ RESPEITAR POSIÇÃO DE COMPANHIAS AÉREAS

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Governo diz respeitar a posição de algumas companhias aéreas que continuam com voos suspensos para Macau, apesar do território não registar novos casos de infecção com o novo coronavírus há mais de uma semana e da maioria dos doentes infectados já ter tido alta. Tal medida tem vindo a afectar muitos trabalhadores migrantes que vivem em Macau e que não conseguem regressar aos seus países de origem. “O Governo da RAEM verificou que alguns países e regiões suspenderam voos para Macau e, devido ao ajustamento de voos por companhias aéreas, cerca de 400 trabalhadores e visitantes filipinos que se encontram em Macau

manifestaram que não conseguir regressar ao seu país de origem por motivo do termo do contrato ou finda da viagem.” Nesse sentido, “o Governo respeita as disposições das companhias aéreas em resposta à redução do tráfego de passageiros, daí que os cidadãos dos países e regiões em causa podem optar por regressar ao seu país de origem fazendo escala em outros locais”. O mesmo comunicado dá conta que, “até ao momento, todos os voos entre Macau e as Filipinas foram cancelados até Março, enquanto em Hong Kong há três voos diários para Manila e voos para Cebu todas as sextas-feiras”.


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quarta-feira 19.2.2020

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aula é em português. Hoje é dia de gramática e a matéria é o Pretérito Perfeito do Conjuntivo. Carson, tenta encontrar o melhor ângulo na mesa da sala para posicionar o computador e enquadrar-se na imagem. Faltam cinco minutos para as 13 horas. Como ele, toda uma turma do curso de Estudos Portugueses prepara-se para mais uma aula da cadeira de compreensão escrita. Cada um em sua casa. Desde que as aulas foram suspensas como medida de prevenção ao combate do novo tipo de coronavírus, têm sido várias as instituições de ensino superior e não superior que optaram por recorrer a plataformas de ensino à distância para dar continuidade aos seus planos de estudo. Ainda sem data prevista para o retorno à normalidade, a Universidade de Macau (UM) é um dos estabelecimentos de ensino que tem seguido as orientações do Governo para fazer face ao combate epidémico e ministrar aulas online. Ao HM, a UM esclareceu mesmo que mais 90 por cento das licenciaturas e pós-graduações estão actualmente a ser ministradas online e que todos os alunos dos cursos têm assistido às aulas a partir de casa. Carson é residente de Macau, e está no segundo ano da licenciatura. No computador, um documento com apontamentos sobre a matéria fornecido pelo professor ocupa lugar de destaque no ecrã. O professor, numa janela do lado direito do ecrã, mais pequena, vai dando a aula em directo, também ele em sua casa. Os alunos, podem a qualquer momento colocar questões e interagir durante a lição. “Ao todo são 23 alunos na mesma ‘sala de aula’”, partilhou Carson com o HM. “Tenho aulas duas vezes por dia, uma sobre compreensão escrita e outra sobre compreensão oral”, acrescenta. Acerca do sistema que está a ser implementado face ao novo tipo de coronavírus, o estudante da UM mostra-se satisfeito e diz mesmo existirem algumas vantagens. “Sinto que consigo aprender e que o sistema está a funcionar porque fazemos execícios todos os dias e acho que são os mesmos que faríamos se fossemos à Universidade. Até agora tenho gostado muito do sistema até porque poupo tempo e posso fazer mais coisas em casa”.

PROFESSORES PREPARADOS

Para tornar o ensino à distância possível, a UM está a usar várias

UM MAIS DE 90 POR CENTO DOS CURSOS ESTÃO A SER MINISTRADOS ONLINE

Alunos de pequeno ecrã

Apesar do Covid- 19, o ensino não parou. O HM acompanhou um aluno da Universidade de Macau (UM) durante uma aula leccionada à distância, incluída no programa de Estudos Portugueses. A UM afirma que os professores tiveram formação específica para o efeito e admite, caso necessário, promover aulas de compensação quando o surto terminar

UM “Vamos oferecer aulas de compensação para assegurar que os padrões de qualidade do ensino estão de acordo com o habitual.”

estratégias pedagógicas, sendo a principal, a utilização da plataforma de formação à distância “Moodle”, em conjunto com o software de videoconferência “Zoom”. Do tipo de aulas que os alunos podem aceder fazem parte as aulas em directo, em que professores e alunos estão ao mesmo tempo conectados (aulas síncronas) e aulas desfazadas temporalmente (ou assíncronas), em que o professor prepara materiais que os alunos podem aceder mais tarde. “Solicitamos aos professores que proporcionem aulas síncronas e assíncronas através da ferramenta Zoom ou que carreguem materiais de aprendizagem como PowerPoints narrados ou gravações de áudio das lições (…) na ferramenta Moodle, uma popular plataforma de ensino e aprendizagem subscrita pela nossa e por muitas outras universidades”, explicou a Universidade de Macau ao HM. O estudante da UM comprova isso mesmo, referindo que, apesar de a maior parte das aulas

serem em directo, existem também muitos vídeos disponíveis online e que as aulas podem ser revisitadas mais tarde. “Todas as aulas são gravadas e depois são disponibilizadas na internet. Por isso podemos vê-las todas as vezes que quisermos, se tivermos perdido ou não tenhamos percebido alguma coisa”, explicou. A UM assegurou que devido à situação do ensino à distância, os professores receberam formação específica, ministrada pelo CTLE

(Centre for Teaching and Learning Enhancement), para além de terem sido fornecidas “orientações e demonstrações em vídeo” para ensinar os docentes a utilizar as plataformas e a adicionar narrações às apresentações.

A REPETIR

Sobre o eventual impacto que as aulas à distância, ou melhor dizendo, a não frequência de aulas presenciais, podem vir a ter na aprendizagem e na aquisição

de conhecimentos por parte dos alunos, Carson admite que não é o ideal mas, dada a situação, acredita que não irá afectar a sua aprendizagem. “Estudo menos do que antes e isso não é propriamente bom. No entanto acho que a escola está a fazer um bom trabalho e acho que os conteúdos que estamos a aprender são exactamente os mesmos que estaríamos a receber em sala de aula. Por isso acredito que não irá afectar o processo de aprendizagem durante este ano lectivo”, partilhou o aluno de Estudos Portugueses da UM. Por seu turno, a UM afirmou a este jornal que após a terminada a suspensão irá “reunir o feedback de estudantes e alunos” e, caso venha a ser necessário, irá “oferecer aulas de compensação para assegurar que os padrões de qualidade do ensino estão de acordo com o habitual”. Olhando para o futuro, a Universidade de Macau está optimista que a utilização de ferramentas de ensino à distância “irá crescer após terminada a crise” como suporte ao ensino regular, pois a situação está a possibilitar que, sobretuto, muitos professores “estejam a ter um primeiro contacto com várias ferramentas de formação online”. Pedro Arede

info@hojemacau.com.mo

Religião Procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos adiada Estava marcada para os dias 29 de Fevereiro e 1 de Março, mas já não vai acontecer devido ao surto causado pelo novo coronavírus. A Diocese de Macau decidiu suspender a Procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos e todas as outras actividades religiosas até ao dia 6 de Março, segundo uma nota divulgada ontem nas redes sociais. “Todas as Missas públicas e outras actividades liturgias nas paróquias e comunidades continuam suspensas (incluindo

a liturgia da Quarta-feira de Cinzas e a Procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos) até 6 de Março de 2020.” O mesmo comunicado dá conta que “as igrejas permanecerão fechadas” e que “os fiéis são aconselhados a diminuir a participação em actividades e reuniões ao ar livre”. Desta forma, a Diocese de Macau vai continuar a assegurar a transmissão online das missas. Prevê-se que os funcionários diocesanos regressem ao trabalho esta quinta-feira.


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19.2.2020 quarta-feira

73336 Infectados

11741

Covi novel cor

6242

Em estado crítico

Casos suspeitos

FONTES: • https://gisanddata.maps.arcgis.com/ apps/opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/ emergencies/diseases/novelcoronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019ncov/index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/ geographical-distribution-2019-ncovcases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/ new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/ pneumonia

OUTROS

INFECTADOS POR PAÍS / REGIÃO 72438 77 66 61 35 31 22 22 16 16 15 15 12 10

Interior da China Singapura Japão Hong Kong Tailândia Coreia do Sul Malásia Taiwan Alemanha Vietname Austrália EUA França Macau

9

Reino Unido

9 8 3 3 3 2 2 1 1 1 1 1 1 1

Emiratos Árabes Unidos Canadá Itália Filipinas Índia Rússia Espanha Nepal Cambodja Bélgica Egipto Finlândia Sri Lanka Suécia

454

Cruzeiro Diamond Princess países com casos de nCov países sem casos de nCov

Infectados

7

MACAU

Infectados

3 Curados

Macau

61 HONG KONG

Infectados

1

HONG KONG

1

Curado

Hong Kong

Morto


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quarta-feira 19.2.2020

id-19 ronavírus

1874

12950

HOJE NA CHÁVENA

Curados

Mortos

1-99 10-99 100-499 500-999 1000-9999 +10000 Ocorrências nas áreas afectadas

Dados actualizados até à hora do fecho da edição

Covid-19 vs SARS

CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO

72,000 12,000 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0

20

dias

40

dias

60

dias

Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto

80

dias

100

dias

120

dias

REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Jiangsu Chongqing Shandong Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Shaanxi

INFECTADOS 59989 1328 1257 1172 1007 982 933 629 553 543 508 464 387 333 302 292 240

MORTOS 1789 4 19 0 3 6 1 0 5 3 3 11 4 1 4 0 1

REGIÃO Guangxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete

INFECTADOS 242 172 163 146 130 127 121 91 89 76 73 70 61 22 18 8 1

MORTOS 2 0 4 1 0 3 1 2 1 1 0 0 1 0 0 0 0


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19.2.2020 quarta-feira

APPLE PREVISÕES DE RECEITAS NÃO VÃO SER CUMPRIDAS

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M activista e professor de Direito chinês que fez duras críticas ao sistema político da China e à forma como Pequim geriu o surto do coronavírus foi preso, revelou ontem a Amnistia Internacional. Xu Zhiyong, antigo professor de Direito na Universidade Qinghua, uma das mais prestigiadas do país, mas afastado após criticar abertamente o Presidente chinês, Xi Jinping, foi preso no sábado, segundo a organização de defesa dos Direitos Humanos. O activista, que esteve preso entre 2014 e 2017, viveu nos últimos dois meses em sítios diferentes, para evitar ser detido, depois de ter organizado uma reunião entre apoiantes de reformas democráticas, em Xiamen, na costa leste do país, no final de Dezembro. Após o surto do novo coronavírus, designado Covid-19, se ter alastrado pelo país, Xu Zhiyong escreveu um ensaio, intitulado "Alerta Viral: Quando a Fúria Ultrapassa o Medo", no qual argumentava que a obsessão do regime com a estabilidade e a centralização do poder em torno de Xi Jinping estavam a paralisar e incapacitar a burocracia do país, impedindo uma resposta rápida e eficaz ao vírus. "Nada - nem a liberdade, dignidade ou felicidade do povo chinês - é mais importante do que manter a estabilidade", acusou. No mesmo ensaio, Xu disse que, devido à ausência de liberdade

AI ACTIVISTA DETIDO APÓS CRITICAR AUTORITARISMO DO PODER POLÍTICO

Risco de infecção de expressão e de um sistema burocrático moderno, o líder chinês "não tem restrições" e a Comissão de Segurança Nacional, que foi estabelecida por Xi, "domina com punho de ferro cada camada da burocracia", que responde ao seu superior "até atingir, no topo, A Única Pessoa Responsável". "No entanto, esse indivíduo é apenas um homem de carne e osso que não pode estar presente em todos os aspectos da governação", resumiu, no ensaio, publicado ‘online’, em 4 de Fevereiro, onde apelou à demissão de Xi Jinping. "A guerra do Governo chinês contra o coronavírus não o desviou da sua ofensiva generalizada contra vozes dissidentes", considerou a Amnistia.

OUTRAS “CONFUSÕES”

O desaparecimento de Xu surge numa altura de indignação pela morte de Li Wenliang, o médico que alertou inicialmente para o novo coronavírus, mas que foi repreendido pela polícia, que o obrigou a assinar um documento no qual denunciava o aviso como um boato "infundado e ilegal".

Pang Kun, um outro advogado e defensor dos direitos dos trabalhadores, foi também detido, na semana passada, e, entretanto, libertado, depois de as autoridades o acusarem de "provocar confusão", acusação frequentemente usada contra activistas na China. Pang terá organizado uma petição para assinalar a morte de Li Wenliang. Perante o crescente descontentamento popular pelo surto

Xu Zhiyong escreveu um ensaio (...) no qual argumentava que a obsessão do regime com a estabilidade e a centralização do poder em torno de Xi Jinping estavam a paralisar e incapacitar a burocracia do país, impedindo uma resposta rápida e eficaz ao vírus

do coronavírus, Xi Jinping citou a necessidade de "fortalecer a orientação da opinião pública", um termo que geralmente sugere o bloqueio de fontes de informação não dominadas pelo Estado e a censura de comentários críticos nas redes sociais chinesas. Dois jornalistas independentes que estavam em Wuhan, epicentro do novo coronavírus, também desapareceram, nas últimas duas semanas, e mais de 350 pessoas em todo o país foram punidas por "espalhar boatos", segundo a organização de defesa dos Direitos Humanos Chinese Human Defensors. As autoridades chinesas têm ainda restringido o acesso à Internet. Os serviços VPN (Virtual Proxy Network) - um mecanismo que permite aceder à rede através de um servidor localizado fora da China -, usados para contornar a censura na rede chinesa, foram alvo de ataques, tornando mais difícil o acesso a ‘sites’ estrangeiros bloqueados no país, incluindo Google e Twitter, ou a órgãos de imprensa estrangeiros.

SÃO VICENTE DOIS TRABALHADORES CHINESES EM QUARENTENA VOLUNTÁRIA

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OIS trabalhadores chineses na ilha cabo-verdiana de São Vicente estão há 12 dias a cumprir uma quarentena voluntária para despistar qualquer presença do coronavírus, disse à Lusa o delegado de Saúde local, Elísio Silva.

A legislação cabo-verdiana não prevê quarentenas compulsivas, pelo que os dois trabalhadores, que chegaram este mês da China para um trabalho pontual no Mindelo, a segunda maior cidade de Cabo Verde, foram acompanhados

pelo departamento de saúde e aceitaram um período de quarentena voluntária. De acordo com Elísio Silva, estão num apartamento do Mindelo, com acompanhamento diário dos serviços de saúde, e o período de quarentena

termina na quinta-feira, 20 de Fevereiro. “Agora se estão a trabalhar, não depende dos serviços de saúde. Estamos a fazer a nossa parte, a quarentena é voluntária”, disse ainda. Os dois trabalhadores chineses já tinham

cumprido um período de quarentena na China. Cabo Verde recebeu este mês, pelo menos, 28 viajantes da China, incluindo estudantes cabo-verdianos e cabo-verdianos residentes na China, mas também chineses.

Apple anunciou na segunda-feira que a sua previsão de volume de negócios para o segundo trimestre não vai ser atingida devido à epidemia provocada pelo novo coronavírus aparecido na China, país crucial para a empresa norte-americana. Em comunicado, a empresa tecnológica cita dificuldades de aprovisionamento de iPhone, fabricados na China, e na procura dos seus produtos, uma vez que os seus armazéns estão fechados no país. “O trabalho começa a recuperar, mas o regresso às condições normais está a levar mais tempo do que tínhamos antecipado”, detalhou o grupo californiano, apontando uma “penúria de iPhones, que vai afectar temporariamente” as receitas no mundo. No final de Janeiro, ao apresentar resultados recordes, graças a uma forte procura para a gama de iPhone 11 que tinha sido lançada para a época das festas de fim de ano, a Apple tinha prevenido que a grave crise sanitária implicava consequências. O grupo já tinha avançado um intervalo de previsões para o seu volume de negócios mais largo do que o habitual, situado entre 63 mil milhões e 67 mil milhões de dólares.

Automóvel Adiado Auto China 2020

O salão do automóvel da China, um dos maiores eventos internacionais do setor, foi adiado devido ao surto do novo coronavírus (Covid-19), anunciou ontem a organização. Em comunicado, a organização do Auto China 2020 indicou que o evento, previsto para decorrer entre 21 e 30 de Abril próximo, em Pequim, foi adiado para data indeterminada. Este evento bianual assumiu crescente importância à medida que a China se converteu no maior mercado mundial do sector automóvel. O Grande Prémio da China, prova fórmula 1 que se realiza no circuito de Xangai, ou o festival de arte contemporânea Art Babel, em Hong Kong, foram outros dos eventos internacionais adiados devido ao surto. A Assembleia Nacional Popular, órgão máximo legislativo da China, deve também adiar a sessão plenária, o mais importante evento anual da agenda política chinesa, que devia começar em 5 de Março.


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quarta-feira 19.2.2020

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China anunciou ontem que vai isentar de taxas alfandegárias, impostas no contexto da guerra comercial com Washington, vários bens norte-americanos, incluindo equipamento médico, soja ou energia, numa altura em que enfrenta uma pneumonia viral. Importações de equipamento utilizado para transfusões sanguíneas ou medição da pressão arterial vão ser isentas de taxas alfandegárias, a partir de 2 de Março, segundo a lista publicada pelas alfândegas do país. A lista inclui ainda categorias de carne bovina e suína congelada, ou derivados de petróleo e gás natural liquefeito. Certas categorias de cereais, como o trigo e o sorgo, também beneficiarão de isenção de taxas. A isenção não será, no entanto, automática: os importadores chineses terão que solicitar especificamente por cada ordem feita. O objectivo é "atender melhor à crescente procura pelos consumidores chineses", afirmou a Comissão das Alfândegas, em comunicado, sem mencionar o surto do novo coronavírus, que paralisou o país, forçando o encerramento de fábricas e o bloqueio de cidades e estradas.

Imposições virais

Wuhan Director de hospital morre infectado pela doença

Taxas sobre bens dos EUA reduzidas face a paralisia doméstica

Hospitais em toda a China, onde o surto infectou mais de 72.000 pessoas e matou quase 1.900, enfrentam ainda grave escassez de suprimentos médicos.

ABATES MÚLTIPLOS

A informação surge um dia depois de a China ter confirmado que vai importar frangos vivos dos Estados Unidos, devido à escassez de alimentos provocadas pelo surto do novo coronavírus, designado covid-19. O bloqueio de acessos interrompeu o fornecimento logístico em várias zonas do país. Criadores foram assim obrigados a abater

milhões de aves ainda novas, por não terem ração animal. Um relatório produzido por Wang Zhongqiang, ex-director da

Importações de equipamento utilizado para transfusões sanguíneas ou medição da pressão arterial vão ser isentas de taxas alfandegárias, a partir de 2 de Março

Associação de Pecuária Animal da China, e Ning Zhonghua, professor da Universidade Agrícola da China, estima que os criadores chineses abateram pelo menos 100 milhões de galinhas jovens, numa tendência que se deve manter, ao longo das próximas semanas, enquanto forem mantidas restrições nas viagens internas. O abate de aves segue-se ao abate de milhões de porcos, ao longo do último ano e meio, devido a um surto de peste suína que se alastrou por todo o país, e que fez o preço da carne de porco, principal fonte de proteína animal na cozinha chinesa, subir mais de 100 por cento. Os governos de China e Estados Unidos impuseram taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de euros de bens importados um do outro, numa guerra comercial que começou no Verão de 2018.

O director do hospital Wuchang, na cidade chinesa de Wuhan, centro do novo coronavírus, morreu ontem de uma pneumonia resultante do Covid-19, informou o Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista Chinês. Liu Zhiming, neurocirurgião de 50 anos, é o primeiro director de um hospital a sucumbir à doença, indicou o jornal. O hospital administrado por Liu é um dos centros médicos especificamente designados para o atendimento de pacientes de Covid-19, na capital da província de Hubei, que foi colocada sob quarentena, em 23 deJjaneiro, com entradas e saída interditas. Cerca de dois mil profissionais de saúde chineses foram infectados pelo novo coronavírus, e vários morreram, incluindo o médico Li Wenliang, que tentou alertar os colegas para um possível surto, mas que foi repreendido pelas autoridades chinesas por "espalhar boatos".

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Anúncio Concurso Público N.º 2/ID/2020 «Serviços de gestão das piscinas ao ar livre situadas em Macau afectas ao Instituto do Desporto» Nos termos previstos no artigo 13.o do Decreto-Lei n.o 63/85/M, de 6 de Julho, e em conformidade com o despacho do Ex.ma Senhora Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, de 24 de Janeiro de 2020, o Instituto do Desporto, vem proceder, em representação do adjudicante, à abertura do concurso público para os serviços de gestão das seguintes piscinas ao ar livre situadas em Macau afectas ao Instituto do Desporto: Designação das piscinas ao ar livre Período da prestação de serviços 1 Piscina Estoril 1 de Abril a 30 de Novembro de 2020 2 Piscina Dr. Sun Iat Sen 1 de Maio a 31 de Outubro de 2020 A partir da data da publicação do presente anúncio, os concorrentes podem dirigir-se ao balcão de atendimento da sede do Instituto do Desporto, sito na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, n.º 818, em Macau, no horário de expediente, das 9,00 às 13,00 e das 14,30 às 17,30 horas, para consulta do processo de concurso ou para obtenção da cópia do processo, mediante o pagamento de $500,00 (quinhentas) patacas. Pode ainda ser feita a transferência gratuita de ficheiros pela internet na área de «Informação relativa à aquisição» da página electrónica do Instituto do Desporto: www.sport.gov.mo. Os concorrentes devem comparecer na sede do Instituto do Desporto até à data limite para a apresentação das propostas para tomarem conhecimento sobre eventuais esclarecimentos adicionais. A sessão de esclarecimento terá lugar no dia 21 de Fevereiro de 2020, sexta-feira, pelas 11,00 horas, no Pavilhão Polidesportivo Tap Seac, sito na Rua de Ferreira do Amaral, em Macau, a que se segue a sessão de inspecção do local das respectivas piscinas. Em caso de encerramento do Instituto do Desporto na data e hora da sessão de esclarecimento por motivos de tufão ou de força maior, a data e a hora estabelecidas para a sessão de esclarecimento serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. O prazo para a apresentação das propostas termina às 12,00 horas do dia 9 de Março de 2020, segunda-feira, não sendo admitidas propostas fora do prazo. Em caso de encerramento do Instituto do Desporto na data e hora limites para a apresentação das propostas acima mencionadas, por motivos de tufão ou de força maior, a data e a hora limites estabelecidas para a apresentação das propostas serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Os concorrentes devem apresentar a sua proposta dentro do prazo estabelecido, na sede do Instituto do Desporto, no endereço acima referido, acompanhada de uma caução provisória no valor de $200 000,00 (duzentas mil) patacas. Caso o concorrente opte por garantia bancária, esta deve ser emitida por um estabelecimento bancário legalmente autorizado a exercer actividade na Região Administrativa e Eespecial de Macau e à ordem do Fundo do Desporto ou efectuar um depósito em numerário ou em cheque emitido a favor do Fundo do Desporto na mesma quantia, a entregar na Divisão Financeira e Patrimonial, sita na sede do Instituto do Desporto. O acto público do concurso terá lugar no dia 10 de Março de 2020, terça-feira, pelas 9,30 horas, no auditório da sede do Instituto do Desporto, sito na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, n.o 818, em Macau. Em caso de encerramento do Instituto do Desporto na data e hora para o acto público do concurso acima mencionadas, por motivos de tufão ou de força maior, ou em caso de adiamento na data e hora limites para a apresentação das propostas, por motivos de tufão ou de força maior, a data e hora estabelecidas para o acto público do concurso serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. As propostas são válidas durante 90 dias a contar da data da sua abertura. Instituto do Desporto, aos 19 de Fevereiro de 2020. O Presidente, Pun Weng Kun

Anúncio Concurso Público N.º 1/ID/2020 « Serviços de segurança e de venda de bilhetes nas piscinas ao ar livre afectas ao Instituto do Desporto » Faz-se público que o prazo para entrega das propostas no âmbito deste concurso foi prolongado por mais 26 (vinte e seis) dias, passando a data limite para entrega das propostas para o dia 11 de Março de 2020, até às 12,00 horas, e a data de realização do acto público para o dia 12 de Março de 2020, pelas 9,30 horas. Instituto do Desporto, aos 19 de Fevereiro de 2020. O Presidente, Pun Weng Kun

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19.2.2020 quarta-feira

A nenhuma parte a minha ânsia me levará

Elementos de ética, visões do Caminho

Xunzi

Nada Impróprio

PARTE I

E

M questões de conduta a pessoa exemplar não dá valor a feitos difíceis, mas que sejam impróprios. Em questões de reputação não dá valor a fama imprópria. Estima apenas o que é próprio. Lançar-se a um rio agarrado a uma pedra pesada é coisa difícil de fazer, mas Shentu Di1 conseguiu fazê-lo. No entanto, a pessoa exemplar não estima tal conduta, pois esta não é conforme a ritual e yi [justiça]. Afirmações do género “As montanhas e vales são planos”, “O Céu e a Terra estão mesmo nível”, “Qi e Qin são adjacentes”2, “Entra pelos ouvidos e sai pela boca”, “As mulheres têm bigodes”, “Os ovos têm penas”, constituem argumentos difíceis de defender, mas Hui Shi e Deng Shi conseguiam fazê-lo. No entanto, a pessoa exemplar não estima tais argumentos, pois não são conformes a ritual e yi [justiça; propriedade]. O ladrão Zhi era suficientemente assustador para fazer as pessoas tremer, mas a sua reputação é tão conhecida como a do sol e da lua e transmitida sem cessar junto com a dos sábios Shun e Yu3. No entanto, a pessoa exemplar não estima tal reputação, pois esta não é conforme a ritual e yi. Por isso digo: em questões de conduta, a pessoa exemplar não dá valor a feitos difíceis, mas que sejam impróprios. Em questões de argumentação,

não dá valor a investigações impróprias. Em questões de reputação, não dá valor à fama imprópria. Só dá valor ao que é próprio. As Odes dizem: Coisas boas recebe muitas, Mas apenas no tempo certo. Isto exprime o que quero dizer. A pessoa exemplar é fácil de conhecer, mas é difícil criar intimidade com ela. Com facilidade fica apreensiva, mas é difícil de intimidar. Teme os problemas, mas não evita morrer em nome daquilo que é yi [justo;próprio]. Deseja o que é benéfico, mas não fará o que considera errado. Ao associar-se a outros, preza a amizade sem ser parcial. Ao falar, argumenta bem sem fazer jogos de palavras. Como é vasta a diferença entre as suas maneiras e o resto do mundo! A pessoa exemplar é aprazível quando talentosa e continua a ser aprazível mesmo quando não é talentosa. O homem mesquinho é repugnante quando talentoso e continua a ser repugnante quanto não é talentoso. Quando a pessoa exemplar é talentosa, imbuída de paciente espírito aberto e vasta probidade, educa e guia outras pessoas. Se não

for talentosa, com respeito e modéstia serve os outros cuidadosamente. Quando o homem mesquinho é talentoso, com arrogância e perversidade se orgulha de suplantar as outras pessoas. Se não for talentoso, com inveja e queixas caluniosas tenta arruinar os outros. Por isso digo: quando a pessoa exemplar é talentosa, as outras pessoas sentem-se honradas por aprender com ela. Quando não é talentosa, os outros sentem-se felizes por poder instruí-la. Quando o homem mesquinho é talentoso, as outras pessoas consideram baixo aprender com ele. Se não for talentoso, os outros têm vergonha de o instruir. É esta a diferença entre a pessoa exemplar e o homem mesquinho.

1 - Pouco se sabe acerca de Shengtu Di, mas contava-se que se teria suicidado por afogamento como forma de protesto contra os males sociais e políticos do seu tempo. 2 - Qi era o estado mais occidental e Qin o mais oriental, separados por outros estados. 3 - Shun começara por ser um ministro de Yao, sucedendo-lhe no trono e distinguindo-se como rei-sage. Yu foi ministro de Shun, sucedendo-lhe na governação.

Tradução de Rui Cascais Xunzi (荀子, Mestre Xun; de seu nome Xun Kuang, 荀況) viveu no século III Antes da Era Comum (circa 310 ACE - 238 ACE). Filósofo confucionista, é considerado, juntamente com o próprio Confúcio e Mencius, como o terceiro expoente mais importante daquela corrente fundadora do pensamento e ética chineses. Todavia, como vários autores assinalam, Xunzi só muito recentemente obteve o devido reconhecimento no contexto do pensamento chinês, o que talvez se deva à sua rejeição da perspectiva de Mencius relativamente aos ensinamentos e doutrina de Mestre Kong. A versão agora apresentada baseia-se na tradução de Eric L. Hutton publicada pela Princeton University Press em 2016.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

quarta-feira 19.2.2020

Divina Comédia Nuno Miguel Guedes

A nova era ptolomaica

É

provável que estas duas notícias de que vos falarei agora apenas pareçam ter ligação para este cronista. Mas fiquem comigo mais um pouco, amigos. Primeiro, foi a morte de George Coyne, um sacerdote jesuíta que era astrónomo no Vaticano. Durante a sua vida provou que a Fé e Ciência não são de todo incompatíveis e defendeu Galileu e Darwin contra as opiniões mais reaccionárias da Igreja. O seu olhar, por convicção e vocação, era do tamanho do universo e nesse olhar todos cabiam. A outra notícia seria um fait-divers mas teve direito a parangonas e, como agora se diz, tornou-se viral: um rapazinho teve um acto de fair play e lealdade durante um jogo de futsal, corrigindo o árbitro sobre uma infracção que iria beneficiar de maneira importante a sua própria equipa. Ora eu até acredito que isto aconteça todos os dias e em vários lugares – é o facto de nos surpreender e comover que me espanta e diz bastante daquilo em que nos tornamos. Ou talvez tenha sempre sido assim, não sei. O que sei é que a ortodoxia vigente neste lado do globo é uma espécie de uma visão ptolomaica dos afectos e do indivíduo – uma metáfora só para aproveitar o facto de ter George Coyne a dar brilho a estas pobres linhas. O Outro foi abandonado pela visão de que nós – eu – somos o centro do universo e que tudo orbita à nossa volta. Há pessoas assim e eu conheço algumas. Mas que isto se torne numa constatação global é que me entristece. O postulado parece ser: o centro sou eu . Não só das relações como de toda a Humanidade. Mesmo que não seja sobre mim é sempre sobre mim. Nota-se facilmente por todo o lado. Nas redes sociais – essa fiel depositária de todas as qualidades e defeitos da natureza humana – a lupa é implacável e facilmente se chega lá. Desde os obituários de famosos que por lá surgem, e que em vez de prestar tributo aproveita-se para falar de um episódio em que se conheceu o defunto, até à mais arrogante e irritante formulação do “Quem me conhece sabe”. A sério? E então para onde vamos nós, os que não conhecem nem querem conhecer? Quem assim escreve pede uma atenção – pior: pensa que lhe está devida – que ninguém quer dar. Podiam apenas ser meras irritações mas olhando para os sinais, que já têm décadas, receio que esta atitude esteja para ficar. Mesmo os movimentos colectivos que se dirigem ao outro refugiam-se muitas vezes no cinzento do anonimato e no conforto da sala. Como há medo ou incómodo de en-

frentar um rosto dá-se a ilusão de que a solidariedade é real e próxima. A cultura confessional que Robert Hughes diagnosticou nos anos 90 – uma outra

forma de dizer cultura de vitimização - terá criado também este monstro paradoxal (outro, mais conhecido, é o do politicamente correcto).

O Outro foi abandonado pela visão de que nós – eu – somos o centro do universo e que tudo orbita à nossa volta. Há pessoas assim e eu conheço algumas. Mas que isto se torne numa constatação global é que me entristece

Não venho aqui apresentar soluções, amigos. Não sei, não posso. Registo apenas sinais que fazem desta crónica um lamento mais do que outra coisa. Mas fico-me pelos pequenos gestos como o do rapazinho. Ou a grandeza do homem que defendeu que somos nós que orbitamos algo maior, mesmo contra muito do que lhe disseram para pensar. Enquanto houver este legado nos nossos dias, a nossa viagem finita há-de ser sempre um pouco mais leve. E isso é melhor do que nada. Melhor do que nós.


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Tratamento contra o corona vírus José Simões Morais

O

mundo acordou para um problema sério de saúde pública, quando o governo chinês declarou existir em Wuhan uma epidemia de um novo tipo de vírus de gripe. Estava-se em plena celebração do Ano Novo Chinês, o que apanhou mais de mil milhões de pessoas em movimento para irem à terra festejar, levando as autoridades chinesas a lançarem um alerta na tentativa de suster a propagação do Corona vírus (Covid-19), denominação dessa nova gripe, que apesar de ser mais contagiosa que a SARS se revelava menos fatal. Até então, pouco se sabia sobre o meio de contágio e só pessoas idosas com problemas graves de saúde tinham falecido. Mobilizados os médicos de medicina ocidental, os resultados foram, no entanto, desmoralizadores e como foi dito não existir nenhum medicamento para tratar, as pessoas ficaram verdadeiramente assustadas. Nas redes sociais, os “médicos” de Medicina Tradicional Chinesa (MTC) apresentavam sugestões de tratamentos, referindo existir já desde a dinastia Ming (1368-1644) a explicação do que estava a acontecer no livro Wenyi Lun (温疫 论, On Plague Diseases) escrito por Wu You Ke (吴又可). Este médico referia que em 1641 aparecera uma peste nas províncias de Shandong, Henan e Zhejiang que originou a morte de muitas pessoas, levando-o a deslocar-se ao terreno para tentar curar os infectados e procurar as razões de tão grande mortandade. Descobriu que a maioria ficara doente não por causa do vento, frio, calor, humidade, secura ou calor interior, mas porque entre o Céu e a Terra havia uma energia (qi) anormal para a época do ano, que criava problemas ao ser humano e se transmitia pelas pessoas através da respiração e pelas mãos. Quem era apanhado por essa má energia (疫气, yi qi ou疠气, li qi), primeiro sentia muito frio, depois febre, dores de cabeça e dores por todo o corpo, aparecendo problemas de estômago, com vómitos e diarreia. O médico questionava-se: <Se todos respiravam o mesmo ar, porque é que uns apanhavam e outros não?> Constatou tal dever-se ao poder de resistência de cada um, actualmente reconhecido por imunidade. Registou no livro todas as etapas da doença e para cada uma delas deixou escritas as fórmulas das receitas para as tratar.

ANO GENGZI

O actual surto aparecera várias vezes na História e já o livro dos livros da Medicina Chinesa, “Tratado de Medicina Interna do Imperador Amarelo” (Huang Di Nei Jing, 黄帝内经), do século III a.n.E., referia que no final do ano de Ji Hai (己

亥, Ano do Porco) o último dos seis Qi (energia) do ano [correspondente aos cinco últimos termos solares do Calendário do Agricultor (农历, Nong Li), que compreende o período entre Xiaoxue (Leve nevão) e Dahan (Grande frio), e em 2019 ocorre entre 22 de Novembro e 20 de Janeiro de 2020], tem o Inverno

mais quente que o normal, provocando o desabrochar antecipado das plantas e o despertar dos animais que se encontram a hibernar. A água, ao contrário do normal, não congela e também antecipando a Primavera, o qi proveniente da terra começa a crescer. O corpo do ser humano por este anormal qi facilmen-

Evite comer e beber em excesso, não ingira alimentos frios, nem ácidos e sem estarem cozinhados. Não esteja muito tempo sentado, evite gastar a sua energia em sexo e deite-se cedo. A saúde do seu corpo tem a ver com a força do seu qi

te apanha Wen Li (温厉, febre sazonal/ doenças patológicas febris), segundo o Nei Jing, pois o normal é, <semear na Primavera, crescer no Verão, colher no Outono e guardar no Inverno>. Ligado com o corpo do ser humano, o qi interior é guardado no Inverno, que este ano mais pareceu ser Primavera e por isso, o nosso corpo abriu mais cedo, desprotegendo-se, deixando o frio entrar facilmente, a provocar a doença sazonal de febre (Wen Li). Esta constipação com tosse se durar longo tempo entra directamente nos pulmões [pois o interior Fogo (o mau qi, ou li qi, 疠气) controla o Metal (pulmões)]. Tal ocorreu até ao termo solar Dahan (Grande frio) a 20 de Janeiro de 2020, quando se estava no período do sexto qi. Segundo Huang Di Nei Jing, ao mudar do último qi do ano Ji Hai (己亥, Ano do Porco) para o primeiro qi do ano Geng Zi, (de 20 de Janeiro a 20 de Março de 2020, entre os termos solares Dahan a Chunfen) o qi controla (está contra) yun [normalmente deveria ser o Céu a controlar a Terra (Yun controla o qi)], significando um ano com grandes oscilações no clima, sendo a Primavera mais fria do que é normal, parecendo estarmos no Inverno e por isso se sente o frio a chegar e os animais voltam a ir dormir, a água gela e o vento torna-se mais forte e tudo isto controla o yang do qi. Assim pode-se prever a partir de agora a chegada de constipações e gripes devido ao frio que vêm substituir a anterior febre provocada pelo calor antecipado. Evite comer e beber em excesso, não ingira alimentos frios, nem ácidos e sem estarem cozinhados. Não esteja muito tempo sentado, evite gastar a sua energia em sexo e deite-se cedo. A saúde do seu corpo tem a ver com a força do seu qi. Não importa o quão complicadas são as mudanças patológicas das doenças, pois todas estão incluídas na predominância ou declínio do yin e yang. Pela Teoria do Wu Yun Liu Qi, que num próximo artigo iremos falar e aqui ficou ao de leve explicada, a epidemia do coronavírus estará controlada nos finais de Fevereiro. Pelo Yi Jing, fogo e trovão são os elementos para controlar esta epidemia e foram eles usados nos símbolos dos dois hospitais construídos em poucos dias em Wuhan para albergar esses doentes. Como últimas notícias, a 3 de Fevereiro, em Wuhan aos pacientes infectados que se encontravam nos hospitais foi dado beber um chá preparado pela fórmula do médico Professor da Universidade de Medicina Tradicional Chinesa de Beijing, Tong Xiaolin (仝小林院士). Em Guangzhou, a equipa do médico académico Zhong Nan Shan (钟南山) apresentou a 5 de Fevereiro uma fórmula preparada à base da MTC para prevenir e tratar esta gripe, especialmente para os habitantes de Guangdong.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 17

quarta-feira 19.2.2020

Teorias do Céu Rosa Coutinho Cabral

“Olhos de transeuntes da loucura: em vós desaguam os restantes olhares” Paul Celan

(AGUARELA/ ROSA COUTINHO CABRAL, 2019)

H

Á um brilho no tempo que cega. A cintilação é-nos dirigida e nunca atinge o presente, segundo Agamben. E os amaldiçoados que não se deixam cegar pelas luzes do século só podem ver de longe. Do alto. Do Céu. Talvez por isso tenha gostado sempre do título Teorias do Céu. E roubo-o para este e outros textos que hão-de vir a trote e a galope de cavalo. O ar fresco lava-me a cara, enquanto o passeio montado ganha asas. Posso gritar a plenos pulmões: obrigada Kant, doce inimigo de alguns. Deliro porque lhe roubei um enunciado tão belo. Que ousadia a minha! Escorrego vertiginosamente no tempo. É urgente! Tenho de chegar precisamente às 15h a Konigsberg. Não posso deixar de rir. Parece um sonho, eu sei – mas, como sabemos, dos sonhos só é preciso despertar – desagrilhoar. Vou despedir-me do filósofo que libertou a razão de Deus, lançando a moral dele, daquele desavindo Deus, na experiência. Golpe baixo na metafísica — a bem do pensamento, o mal da vida! Como Bartleby, preferia não receber nenhuma moral prescrita por aquele Deus. Prefiro não o ter por companhia eterna. Volto a ser arrastada para os céus. O movimento alado deixar-me-ia descansar? O mundo escureceria o suficiente para eu adormecer, sonhar, despertar de novo para ver melhor? E seria despertada por quem? Por Duchamp? Adorava! Contando que ele tivesse a infinita delicadeza de me olhar com aqueles olhos de águia embelezados de inteligência, e nos deliciássemos a comentar a forma pertinente como laminou e revolucionou o princípio do nosso século XX. Ou ser desperta por Marx, acusando-me de sonhar a história em vez de ter consciência dela! Se assim fosse, acatava. Como podia discordar do homem que criminalizou a burguesia por afogar o velho mundo nas “águas geladas do cálculo egoísta”? Como podia recusar um beijo ao homem que sonhou a simbolização igualitária e emancipatória? Sucumbiria perante as barbas, o cheiro a velho e passaria a noite a tentar perceber porque falhou o projecto comunista! Há quem diga que foi assassinado, o projecto. Onde estávamos todos, os que podiam ter feito alguma coisa? Lamentavelmente quando o modelo antropológico é fracturado, nem sempre conseguimos ser contemporâneos. A anomia resultante gera guerrilhas incalculáveis. E muitas vezes os fantasmas é que lutam sozinhos nestes campos de batalha onde elementos pregnantes, entre sangue e pranto, geram um mundo novo. Marx estava ciente da violência deste nascimento. O óbito do passado ficaria como fantasma resiliente pronto a atacar em qualquer momento

O meu cavalo chama-se Nietzsche

em que os contemporâneos descansassem e fechassem os olhos. É preciso ser águia e falcão ao mesmo tempo. Ver sem qualquer miopia estéril. Ter o gesto tão afiado politicamente e preciso eticamente, como uma lâmina de bisturi para não falhar o compromisso contemporâneo com a ruptura. Não, não há descanso possível. Levantamos voo de novo. Como Montesquieu, Nietzsche e tantos outros, é preciso aprender a ver montado nas estrelas. O meu olho esquerdo olha para trás, enquanto nos esgueiramos em força para a frente. O meu olho direito para a frente. Os dois, estrabicamente, convergem no

presente. É um grande esforço atar estas duas órbitas, estes dois arquivos, um morto e um por viver, e dar-lhes, oximaramente, um sentido. Uma coisa é certa, na tarefa difícil do etnógrafo do presente, prefiro não fazer parte dos legisladores do pensamento e fixar-me nos estilhaços que fundam a crise, que estão ali por ligar, rematar, completar ou ser indiferente. A constelação que resulta de tudo isso é infixa, o referencial que a move é infixo. O verbo que a comanda é imprevisível. Instala-se um boomerang imparável, um caleidoscópio imparável, um ruminar imparável, como se mastigássemos o tempo

Como se estivesse num Western, o meu cavalo relincha, abre as asas de Pégaso e leva-me de volta ao mar. É bom sobrevoá-lo, cheirá-lo e fechar os olhos sob a plúmbea superfície, antes das rebeldes espumas esbranquiçadas anunciarem as grandes vagas e medonhos abysmos

e o regurgitássemos. Não é um caso de subjectividade, mas de urgência de “voltar a um presente em que jamais estivemos”. O cavalo finalmente adormeceu. Imagino que sonha. Quando quiser partir desperto-o e peço-lhe que conte o seu sonho na língua da natureza a que ambos pertencemos. Estremece, coitado. Deito-me no seu dorso, não tanto para ter calor, mas para o sossegar. Não o quero ver sofrer. Entre as coisas do mundo, algumas merecem amor. Adormeci no seu colo. Sonhei com Nietzsche. Melhor, sonhei que o meu cavalo falava comigo intempestivamente, dizendo que a sua época padecia de um mal, “um defeito do qual justamente se orgulha”. E também que um tal Barthes iria dizer que “o contemporâneo é intempestivo” e não um momento cronológico da história. Bem me parecia que não podemos ensacar o tempo na eternidade linear porque ele não é objecto de domesticação. Como se estivesse num Western, o meu cavalo relincha, abre as asas de Pégaso e leva-me de volta ao mar. É bom sobrevoá-lo, cheirá-lo e fechar os olhos sob a plúmbea superfície, antes das rebeldes espumas esbranquiçadas anunciarem as grandes vagas e medonhos abysmos. Mesmo de longe sinto receio quando a superfície coesa e pacífica do oceano se altera, desenhando outro mapeamento e outro enredamento, porque não sei se o mundo é o mar que se agita ou o meu corpo que receia. A veloz besta em que se tinha tornado a minha montada, não me permitia parar. Queria repousar deste desassossego, mas assalta-me um poema de Celan: “vejo tanta coisa de vós/ que não vejo mais / do que ver”, como se tivesse na bagagem um telescópio inoportuno que me libertasse do real pelo próprio acto de ver. Como uma Poeisis, o contemporâneo liberta-se da história, e enquadra o real onde os mortos “brotam e florescem” como modificadores de tempo em acontecimentos a-históricos. Dir-se-ia que o tempo morre no presente, por isso não se pode parar para olhá-lo frente-a-frente. É-se condenado a um olhar distante para assistir ao luto do tempo que se despede de outro tempo no próprio presente, numa kronostipia efervescente e desregrada. Neste desesperado exílio qualquer reflexo devolve ao olhar trágico do contemporâneo um requiem ao humanismo. Somos agora um rosto informe, fractal à procura de um mundo que nos deseje e reconheça os sinais como a ama de Ulisses. Mas as minhas mãos, as minhas orelhas, os meus olhos, os meus pés desconfiam uns dos outros. Que rosto é aquele que olha fixamente os fantasmas do tempo que refulgem no presente? Que reclama pelo não vivido ainda? Que se materializa no que está por acontecer? Que olhos são aqueles que são capazes de mergulhar o olhar nas trevas do presente? Na dor, na lancinante dor? É esta a almejada condição de ser contemporânea?


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Nada é privado é um documentário que aborda o poder dos dados digitais e a forma como a sua utilização indevida pode ter consequências incontornáveis. Acompanhando a história e a evolução de quatro perfis directamente envolvidos no caso, é colocada em causa a forma como, a Cambridge Analytica, empresa responsável pala campanha digital de Donald Trump em 2016, os dados de milhões de utilizadores provenientes dos seus perfis de Facebook foram utilizados, sem qualquer tipo de consentimento, para direccionar mensagens de promoção do candidato e de descredibilização de Hillary Clinton. Pedro Arede

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2 3 7 1 6 5 3 7 4 5 1 2 6 2 3 4 5 6 www. hojemacau. 7 4 1 com.mo

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poderão incluir centenas de milhares de membros da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB). “Anúncio que os exercícios militares ‘Escudo Bolivariano

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PROBLEMA 60

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O Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciou ontem que o país fará exercícios militares “de surpresa” e de maneira permanente, em manobras que

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2020’ permanecerão activos e vamos surpreender. A partir de hoje (ontem), não avisaremos o dia do exercício militar ou a região”, disse.

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VIDA DE CÃO

MALABARISMOS CALCULADOS A dupla tomada de posição do Governo no que diz respeito à reabertura dos casinos e a obrigatoriedade de quarentena para trabalhadores não residentes provenientes do Interior da China é tão surpreendente quanto, à partida, incoerente. Lei Wai Nong justificou a aparente incoerência de reabrir casinos numa altura em que se continua a pedir que a população fique em casa e que atravessar fronteiras passa a ser mais difícil, com a procura de um “ponto de equilíbrio” que tenta colocar nos pratos da balança, a segurança da população, saúde económica e o bem-estar social possível, permitindo que milhares de trabalhadores voltem a trabalhar e a receber salário. Depois de superada a primeira batalha ao nível da prevenção, acredito que o Governo da RAEM está claramente a tomar os seus riscos para tentar sair ainda mais por cima, da crise provocada pelo novo coronavírus. No entanto, um risco é sempre um risco e apesar de este até ser, à partida, calculado (quem serão os clientes dos casinos depois do reforço das medidas nas fronteiras?), o próprio Governo já admitiu voltar atrás “caso haja algum incidente”. Espero sinceramente que, nesta fase de aparente estabilização da situação clínica relativa ao coronavírus em Macau, este não seja um passo maior que a perna. Sobretudo, quando a medida de quarentena obrigatória de entrada no território não abrange (para já) nem residentes nem turistas, cidadãos esses imunes a qualquer vírus. Pedro Arede

NADA É PRIVADO, O ESCÂNDALO DE CAMBRIDGE ANALYTICA | KARIM AMER E JEHANE NOUJAIM

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6 5 1 4 3 2 4 7 5 6 2 1 4 7 6 3 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; ; João Santos Filipe; Pedro Arede Colaboradores 1 4 7 5 Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda 7 Rui1Cascais;3Rui Filipe2Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Duarte; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada 2 3 5 6 de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


opinião 19

quarta-feira 19.2.2020

sexanálise

Dia-V

KOBRA

TÂNIA DOS SANTOS

N

OS Estados Unidos, o dia de São Valentim de 2020 foi o mais consumista de todos com um gasto de 27.4 mil milhões de dólares. Houve mais jantares, mais presentes, mais dinheiro gasto. Mais amor consumista que se espalhou. Amor é amor. Mas o Dia V pode referir-se a outras coisas. No Dia-V o mundo também se chateia com a violência contra as mulheres e raparigas. Assédio, violação e mutilação genital feminina. No dia do amor e dos namorados aproveita-se para falar de coisas sérias. E há quem estique a discussão para a violência no namoro em particular, já que é o dia de se celebrar a relação amorosa. O amor é tão inequivocamente claro nas campanhas de marketing. Ninguém imaginaria que com ele também vem outro pacote de emoções e dificuldades que são difíceis de ser identificadas. Por vezes, e infelizmente, o amor é confundido com formas de violência, abuso e controlo. Ainda há pouco tempo decidi ver uma série romântica chinesa onde o amor obsessivo e controlador era de alguma forma legitimado. Um homem cheio de dinheiro faz uma miúda acreditar que ela tem leucemia e que ele é o único dador compatível para se aproximarem. De alguma forma isto foi

entendido – depois de alguma zanga – como um gesto romântico. O amor é assim, faz-nos fazer coisas incompreensíveis, como às vezes nos querem fazer acreditar: ‘sempre para o bem do outro’. Amor bem-intencionado, era como se chamava a série em inglês. As estatísticas sobre a violência no namoro continuam más. A UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta) em Portugal fez um inquérito onde 67% dos inquiridos naturalizavam alguma forma de violência no namoro e também onde 58% identificou já ter sofrido alguma forma de abuso. É muito. E como é que se identifica o abuso? Há o erro de pensar que as relações de antigamente é que estavam cheias destas confusões, de papéis de género ultrapassados, do tapa na cara quando o jantar não está pronto a tempo e horas. O

O amor destas gentes jovens e emancipadas pode não ser ultrapassado, mas carrega alguns legados que são traduzidos para as práticas sociais contemporâneas. Um novo milénio de telemóveis e híper-conectividade que em vez de libertar criou outras formas sofisticadas de controlo e de abuso. Sempre com o pretexto que o amor é bem-intencionado

amor destas gentes jovens e emancipadas pode não ser ultrapassado, mas carrega alguns legados que são traduzidos para as práticas sociais contemporâneas. Um novo milénio de telemóveis e híper-conectividade que em vez de libertar criou outras formas sofisticadas de controlo e de abuso. Sempre com o pretexto que o amor é bem-intencionado. Há quem entenda o Dia-V como o dia da vagina, se quiserem ainda o tom reivindicativo, mas menos violento. Um dia para o amor próprio para quem tem vaginas (que não precisa de ser necessariamente uma mulher, já cobrimos isso) e para quem não tem e que se identifica com a causa. Todas as vaginas precisam de uma dedicada atenção se quiserem atingir o seu potencial máximo. Vaginas de dinâmicas complicadas, onde é ainda difícil falar do prazer e de saúde. Onde se possa discutir as menstruações porque são um símbolo de transformação corporal que muitos preferem ignorar (em alguns países do mundo pessoas a menstruar têm que ser isoladas de tudo). Tantos direitos ainda por serem garantidos por esse mundo de gentes com vaginas menstruantes. Os dias especiais podem ser apropriados para re-significações importantes. No dia catorze de fevereiro, mergulhar na loucura de honrar namoros perfeitos com jantares perfeitos em restaurantes perfeitos é tão antiquado. Celebrar o amor, claro, e discutir abertamente as suas dinâmicas que vão desde à forma como se entende o sexo e o género às suas relações de poder. Discutir o amor até que nos sintamos confortáveis para praticá-lo nas suas formas relacionais, sociais e políticas.


Quando viajamos demais tornamo-nos estrangeiros no nosso próprio país. PALAVRA DO DIA

René Descartes

MOODY’S PREVISÕES DE CRESCIMENTO DA ECONOMIA CHINESA REVISTAS EM BAIXA

APOMAC ANGARIADAS MÁSCARAS EM PORTUGAL, CANADÁ E AUSTRÁLIA

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agência de notação financeira Moody’s reduziu ontem a previsão de crescimento da economia chinesa, em 2020, de 5,8 por cento para 5,2 por cento, devido ao surto do novo coronavírus, designado COVID-19, que está a paralisar o país. No relatório “Ásia-Pacífico: Actualização da Previsão de Crescimento Após o Surto do Coronavírus”, o vice-presidente da Moody’s, Christian de Guzman, considera que o surto vai ter um “impacto grave, mas de curta duração”, destacando o efeito “dominó” no resto da região. “A nossa previsão é que os efeitos do surto do coronavírus se prolongarão por algumas semanas até permitirem uma retoma da actividade económica”, aponta De Guzman. Moody’s apontou que os efeitos estão a ser sentidos, sobretudo, no comércio e no turismo, e nas cadeias de fornecimento de mercadorias e nas exportações. As autoridades tailandesas estimaram ontem que, se o surto se prolongar por três meses, o país receberá menos 1,6 milhão de turistas chineses do que no ano anterior, o que acarretará perdas para o sector equivalentes a 2,3 mil milhões de euros, ou 0,4 por cento do Produto Interno Bruto tailandês.ATailândia é o maior destino para turistas chineses, com cerca de 11 milhões de visitas em 2019, quase um terço do total. Várias companhias aéreas suspenderam voos para e a partir da China. Rússia, Coreia do Norte e Vietname encerraram as fronteiras com o país e vários países pararam de emitir vistos para cidadãos chineses. Na China, cidades inteiras foram colocadas sob quarentena e aldeias ergueram muros e bloquearam estradas para impedir a entrada de forasteiros. Milhões de trabalhadores deveriam ter já regressado das suas terras natais, mas a rápida propagação do vírus levou muitos a permanecerem em casa, impedindo a reabertura de fábricas e negócios, com consequências imprevisíveis para o tecido empresarial da segunda maior economia do mundo. PUB

quarta-feira 19.2.2020

Ao fundo do túnel Economista José Sales Marques prevê recuperação económica depois do Verão

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economista José Sales Marques disse à agência Lusa que a recuperação económica do território e da actividade do jogo devido ao impacto do coronavírus Covid-19 deverá arrastar-se para além do Verão. “A recuperação deverá necessariamente levar algum tempo, muito provavelmente para além do Verão”, afirmou o presidente do Instituto de Estudos Europeus (IEE). “Ainda vivemos uma situação de indefinição” e “a própria OMS [Organização Mundial de Saúde] diz que é imprevisível” saber quando o surto poderá ser contido na China, assinalou. Razão pela qual Sales Marques elogiou a gestão feita pelo Governo de Macau para reduzir tanto o risco de contágio do coronavírus Covid-19 no território, como as medidas de apoio social e económico para responder ao impacto do surto. “Estamos expostos a grandes ameaças, do ponto de vista da facilidade com que esse vírus é propagado, e por isso justificam-se as medidas de contenção do número de visitantes, as medidas que estão a ser aplicadas no que diz respeito ao acesso dos chine-

ses do continente a Macau”, sustentou. “E, também, obviamente, a medida que é quase inédita do encerramento dos casinos”, adiantou, para concluir: entre as acções de prevenção por razões de saúde pública e de salvaguarda da economia “há um certo equilíbrio”.

MAIS MEDIDAS

Sales Marques defendeu também, na mesma entrevista, que devem ser implementadas mais medidas de apoio à população além das que já foram anunciadas pelo Executivo. Para o economista, o Governo deverá avançar para uma nova ‘vaga’ de medidas de incentivo ao consumo e até de promoção de Macau enquanto destino turístico, sustentou. “Felizmente, o Governo de Macau tem uma reserva financei-

“A recuperação deverá necessariamente levar algum tempo, muito provavelmente para além do Verão.” JOSÉ SALES MARQUES PRESIDENTE DO INSTITUTO DE ESTUDOS EUROPEUS

ra assinalável e [que], obviamente, vai ter de ser chamada a acudir às necessidades”, sublinhou. “Terá de haver outro tipo de medidas, nomeadamente até de promoção, porque Macau ficou encerrado para o turismo já há quase um mês (…) e esse impacto é muito grande e são precisas medidas de promoção de Macau enquanto destino turismo”, sustentou. Sales Marques admitiu que essa promoção terá de ser articulada entre o Governo e os grandes beneficiários da exploração do jogo e do turismo no território, nomeadamente as operadoras de casinos. Por outro lado, “o Governo, paulatinamente vai ter de introduzir (…) medidas que ajudem, que facilitem, convidem ou incentivem ao consumo”, mas sem que “necessariamente agravem a situação orçamental”. Isto porque, apontou, “provavelmente a situação orçamental deste ano será anormal”, sobretudo se tivermos em conta que Macau habitualmente regista excedentes “a partir do sexto ou sétimo mês, ou até antes”. Lusa

Associação de Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC) está a angariar máscaras em Portugal, Canadá e Austrália para prevenir falhas no fornecimento governamental causadas pela crescente procura devido ao coronavírus Covid-19, disse o seu presidente à Lusa. “Tivemos de pensar que, se por acaso, um dia, o Governo tiver dificuldade em fornecer (…) nós temos de ter máscaras em número suficiente para os nossos associados”, que ascendem a cerca de um milhar, explicou Jorge Fão, dirigente da APOMAC. À APOMAC chegaram já 350 máscaras e ontem terão chegado mais meio milhar, com Portugal e Austrália a serem os países de origem dos donativos seguintes. “Tem havido muito trabalho, (…) tivemos de trabalhar nos bastidores”, sublinhou o presidente da associação, destacando o esforço da APOMAC desde que Macau passou a viver o surto do novo coronavírus, através do reforço no apoio domiciliário junto dos associados que possuem maiores dificuldades ao nível da mobilidade. “Temos mais de 300 associados para cima dos 80 anos de idade, [que] já praticamente não saem, uns acamados… E nós temos estado a prestar assistência a essas pessoas, daí que também tivemos de angariar essas máscaras, esse álcool e gel [desinfectante]”, assinalou. A ajuda prestada aos reformados e pensionistas traduz-se no transporte ao hospital e no apoio médico e de enfermagem. Por outro lado, com as pessoas mais fechadas em casas, após os apelos do Governo de Macau para que só saíssem à rua em situações excepcionais, motivou “mais solicitações” para se levar as refeições para os respectivos domicílios, “para se evitar o [risco de] contágio” perante o surto do coronavírus Covid-19, frisou Jorge Fão.


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