Hoje Macau 19 JUN 2015 #3355

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s e x ta - f e i r a 1 9 d e j u n h o d e 2 0 1 5 • ANO X i v • N º 3 3 5 5

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gonçalo lobo pinheiro

Director carlos morais josé

executivo seis meses de governação

caso bella

A luta de ser normal

aberto para balanço reportagem Páginas 2-3

lusa

sociedade Página 9

hojemacau

Hong Kong reforma política chumbada

Passos em volta A implementação do sufrágio universal condicionado foi ontem chumbada no parlamento de Hong Kong. Com 28 votos contra, a sessão ficou marcada pela saída da sala de 31 deputados pró-Pequim a menos de um minuto da votação

Agência Comercial Pico • 28721006

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Ter para ler

Página 24

hoje macau

opinião

Zhou Yongkang e Xi Jinping arnaldo gonçalves

rodrigo quaresma

Com o sonho nas luvas Páginas 16-17

gonçalo lobo pinheiro

pub

páginas 4-6

h

Vizinhos lunares anabela canas


reportagem

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20 de Dezembro de 2014, cinco novos rostos do Executivo da RAEM levantavam a mão e prestavam juramento perante Xi Jinping, Presidente chinês. Seis meses depois, o que foi alterado em Macau com um Governo que herdou uma pesada herança? Se para o jurista António Katchi pouco mudou, Albano Martins, economista, Leonel Alves, deputado, e Eilo Yu, académico, falam de um Governo que está a tentar executar e a arrumar a casa. “Há pastas que - em seis meses, no cenário em que [os Secretários] as tomaram - é muito difícil dizer se as coisas estão ou não a correr bem. Há outras em que se nota que as coisas estão a andar para

O Secretário [das Obras Públicas] vai ter de reconstruir a equipa toda, que domine as quatro áreas de gestão. A casa está profundamente desorganizada dos tempos do Lau Si Io, que meteu pessoas que desconheciam a cultura da sua unidade de trabalho” Albano Martins Economista

Especialistas analisam primeiro semestre do novo Governo

O meu querido dia 20

Celebram-se amanhã os seis meses da tomada de posse do novo Governo. O fumo nos casinos, a área das Obras Públicas e os 3% de limite às mesas de Jogo são apontadas como as grandes questões de um Executivo que, para muitos, ainda tem vários problemas por resolver, mas que se tornou mais próximo da população. Raimundo do Rosário e Alexis Tam são consideradas as “estrelas” do Executivo. E também Li Gang a frente. Ainda é preciso fazer-se muito trabalho de casa e só ao final de um ano é que podemos dizer se o balanço é ou não positivo”, referiu ao HM o economista Albano Martins. O especialista defende, contudo, que a tutela das Obras Públicas é a área onde é bem mais difícil encontrar resultados em seis meses. “O Secretário vai ter de reconstruir a equipa toda, que domine as quatro áreas de gestão. A casa está profundamente desorganizada dos tempos do Lau Si Io, que meteu pessoas que desconheciam a cultura da sua unidade de trabalho”. Para Eilo Yu, o novo Executivo começou a seguir um plano e a mobilizar os directores dos departamentos para discutir as políticas. “Penso que têm estado a levar a cabo uma boa estratégia”, diz ao HM. O deputado Leonel Alves considera que, no final de seis meses de governação, estamos perante um Executivo que é “realmente

executivo”. “Na área social, ao nível do hospital, nota-se que há um ritmo bastante acelerado, para a resolução das questões mais prementes. A questão dos transportes, habitação, hospital e a questão social foram as áreas onde o Governo tem vindo a dar o seu melhor, quer com medidas administrativas, quer com um diálogo bastante intenso com a Assembleia Legislativa (AL), através das comissões de acompanhamento”, referiu ao HM.

“A questão dos transportes, habitação, hospital e a questão social foram as áreas onde o Governo tem vindo a dar o seu melhor” Leonel Alves Deputado

Apenas António Katchi, traça uma análise mais negativa. “Nestes primeiros seis meses do Governo de Li Gang/Chui Sai On, não observo qualquer mudança significativa. Sei que alguns jornalistas consideram que a postura dos novos Secretários perante a comunicação social é melhor que a dos anteriores; se assim for, congratulo-me evidentemente por isso. Poderá ter havido também um ou outro gesto positivo da parte dos novos Secretários, mas isso está longe de implicar ou sequer prenunciar uma mudança substancial de políticas, até porque as políticas seguidas ao longo dos últimos anos 15 anos - e mesmo antes - têm sido tão más que deveriam ser globalmente invertidas e não simplesmente ajustadas”, referiu por email ao HM.

As estrelas políticas

Do grupo dos cinco Secretários, estas personalidades destacam as

prestações de Raimundo do Rosário, Secretário das Obras Públicas e Transportes, e Alexis Tam, da pasta dos Assuntos Sociais e Cultura. “O Secretário das Obras Públicas, quer pela sua maneira de se expressar, quer pela acuidade das questões em que toca, parece-me que tem sido bastante inovador.

“As políticas seguidas ao longo dos últimos anos 15 anos - e mesmo antes - têm sido tão más que deveriam ser globalmente invertidas e não simplesmente ajustadas” António Katchi Jurista docente no IPM


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Fórum Macau “não funciona”, diz Albano Martins

Destaco-o pela diferença, sem prejuízo dos outros”, disse ao HM Leonel Alves. Eilo Yu destaca, “obviamente”, Alexis Tam, “que tem sido bastante comunicador com o público” e que também “tem estado a lidar com diversas questões”, como a Universidade de Macau (UM) ou os cuidados de saúde. “Parece-me que é aquele que está mais no centro das atenções em relação aos restantes Secretários. Mas tanto Alexis Tam, como Rosário têm uma imagem mais positiva junto do público, apesar do público não estar satisfeito com as questões da suas tutelas. Sónia Chan e Wong Sio Chak não estão a receber tanto a atenção dos média”, referiu o docente de Ciência Política da UM.

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ntónio Katchi não só não encontra mudanças no semestre político que passou, como vê uma continuidade “dos problemas mais candentes de Macau”, como a “monocultura do jogo, a carestia dos imóveis, o terceiro mundismo laboral, a bagunça no ensino e o regime político oligárquico”. Segundo o jurista, para nada disto “o Governo de Li Gang/Chui Sai On apresentou, até ao momento, vias de solução”. Já Albano Martins prefere destacar a medida do fim do fumo nos casinos como a “pedra no sapato” de Alexis Tam e do Executivo. “Tem de ser prudente. Há vícios com os quais não podemos ser moralistas e os nossos concorrentes, mesmo em Singapura, não estão a tomar as medidas draconianas que estamos a tomar. Em termos

“Tanto Alexis Tam, como Rosário têm uma imagem mais positiva junto do público, apesar do público não estar satisfeito com as questões das suas tutelas” Eilo Yu Docente de Ciência Política da UM

António Katchi prefere nomear Li Gang, director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, como a figura principal do novo Executivo. “A figura que se destaca é a eminência parda, Li Gang. Aliás, nas primeiras semanas do segundo mandato de Chui Sai On, praticamente não passava um dia sem que Li Gang aparecesse na televisão a emitir afirmações interpretáveis como directivas políticas. Entre outras coisas, afirmou que os chineses de Macau não eram patriotas e que, por isso, tinham de ser reeducados num sentido ‘patriótico’ e que Macau só teria uma economia diversificada daqui a 20 ou 30 anos.”

Um dos pontos negros do mandato de Lionel Leong à frente da tutela da Economia e Finanças é o funcionamento do Fórum Macau, o qual, para o economista Albano Martins, simplesmente “não funciona”. “A verdade tem de ser dita, custe o que custar. O Fórum não tem autonomia nenhuma, parece mais uma feira de vaidades em que as pessoas andam de um lado para o outro do que um local onde se juntam compradores, vendedores e empreendedores. Quem de facto sabe utilizar o Fórum é a China, mas a China tem os recursos necessários. O Fórum ainda tem muito que andar e Lionel Leong tem de conseguir dar o pontapé de saída.” Questionado sobre se o Fórum Macau pode funcionar melhor com Echo Chan, que substituiu Rita Santos no cargo de secretária-geral adjunta, Albano Martins afirma não querer “personalizar as questões”, mas acredita que Echo Chan “por experiência, tem outra perspectiva em relação ao que o Fórum deve ser”. Ainda assim, o economista diz que a própria estrutura do Fórum “não funciona”.

O jurista, docente do Instituto Politécnico de Macau (IPM), considera que a 20 de Dezembro não houve apenas uma mudança de Secretários, mas também um “reforço da intervenção das autoridades centrais” na governação de Macau. “Um dos instrumentos dessa intervenção foi, aliás, a própria escolha dos Secretários: tem sido dito por muitas pessoas que eles foram escolhidos (e não apenas nomeados) pelo Governo Central e tem sido igualmente observado que o percurso pessoal e escolar de alguns deles tem estado muito mais ligado à China continental do que sucedia com os seus antecessores”, ultimou. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

jogo, tabaco e imobiliário entre as grandes questões do semestre

Fumo nos casinos, essa “pedra no sapato” económicos não me parece que essa seja a medida mais correcta a tomar”, disse o economista. Na área da Administração e Justiça, Albano Martins defende que “é muito difícil fazer-se pior do que fez Florinda Chan”, sendo que “Sónia Chan vai ter de fazer uma aposta na resolução de questões na sua área, tem de fazer uma análise e tentar fazer até que ponto não será mais vantajoso ter mais técnicos recrutados por três ou quatro anos para resolver as questões jurídicas”. Os custos que serão mais agora terão mais benefícios no futuro, repara.

Na Segurança, Albano Martins considera que a tutela de Wong Sio Chak está a funcionar bem, já que o Secretário tem outra formação e é um indivíduo que está actuar. “Estou a ver tendências meio moralistas de intervenção mas acho que dominará melhor a máquina”.

Economia e imobiliário

Face ao trabalho do Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, Albano Martins volta a pedir flexibilidade quanto ao limite máximo de 3% para as mesas de jogo. “[Lionel Leong] tem uma política que não se consegue ver livre

dela e que surgiu para que os competidores não ganhassem mercado no jogo, mas neste momento isso afecta toda a indústria e a economia de Macau profundamente. Lionel Leong vai ter de ser mais flexível, a não ser que isso seja imposição de Pequim e ele não possa fazer nada, mas aí o segundo sistema devia ter autonomia necessária. De resto tudo na sua secretaria funciona razoavelmente bem.” Criticando a forma como o Governo quer diversificar a economia, por via do entretenimento, António Katchi fala ainda da questão do imobiliário, cujo arrefecimento dos

preços não se deve, na sua óptica, a medidas do Governo. “Isso, além de ser completamente insuficiente para a resolução do grave problema da carestia dos imóveis, não resultou de qualquer medida do Governo de Macau destinada a isso, antes representando um efeito colateral da chamada ‘campanha anti-corrupção’ em curso na China”, concluiu. Olhando para o quadro no geral, Leonel Alves acredita que este é o mandato “em que a população deposita mais confiança, no sentido dos governantes executarem todas as acções governativas que interessam à população”. A.S.S.


hong kong

Foi chumbada a proposta de C.Y.Leung que iria permitir a implementação de uma espécie de sufrágio universal. A população de Hong Kong poderia eleger o Chefe do Executivo em 2017, ainda que de entre três candidatos previamente seleccionados. Para os democratas esta é “uma falsa democracia”. Para os outros é totalmente de rejeitar e para alguns parece nem sequer ter interessado, já que abandonaram a sala

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uma votação que iria ficar para a “história”, como foi caracterizada pelos órgãos de comunicação social e pelos próprios intervenientes, o que foi como mais marcante foi a saída de mais de 30 deputados do LegCo. O deputado que terá incentivado à saída dos restantes colegas foi, de acordo com a imprensa da região vizinha, Jeffrey Lam Kin-fung. Este assumiu mesmo as culpas pelo sucedido, que diz ter sido uma falha na comunicação. Afinal, Kin-fung estava a tentar atrasar a votação para que um colega que estava fora pudesse regressar ao hemiciclo. “Peço desculpa, o Uncle Fat tem estado doente, mas ele sempre quis voltar para votar”, disse Lam ao South China Morning Post. “Queríamos deixá-lo satisfazer o seu desejo e, por isso, pedimos 15 minutos de suspensão. Mas, devido a uma falha na comunicação, alguns [dos deputados] acabaram por não sair.” O deputado, que tem 79 anos, faz parte do The Business and Professionals Alliance e queria fazer atrasar a votação para que Lau Wong-fat pudesse chegar ao LegCo.

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proposta de reforma política em Hong Kong foi ontem chumbada. O Conselho Legislativo de Hong Kong (LegCo) não aprovou a proposta apresentada pelo Governo, sendo que apenas oito deputados – pró-Governo votaram a favor e mais de 30 abandonaram mesmo a sala, levando a abstenções. No total, a proposta recebeu 28 votos contra. Como seria de esperar, à excepção de um, todos vieram do lado de deputados que integram partidos democratas. O único voto contra de um deputado considerado pró-Pequim chegou pelas mãos de Leung Ka-la. Segundo as agências de notícias e a imprensa da região vizinha, a votação ocorreu no segundo dia de debate da proposta, dez horas depois de um debate que só se esperava que acabasse hoje de manhã. A polémica proposta implicava uma reforma no sistema eleitoral do Chefe do Executivo, concedendo a hipótese de que a população de Hong Kong pudesse eleger através de sufrágio universal o próximo Chefe do Executivo. Contudo, a população só podia escolher entre três candidatos previamente designados por uma Comissão pró-Pequim, algo muito contestado pela ala pró-democrata. A menos de um minuto da votação, como referem os média da região, 31 deputados tidos como pró-Pequim abandonaram a sala, fazendo com que a proposta chumbasse com 32 abstenções. Entre esses deputados estavam

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HK Reforma política chumbada com mais de 30 deputados fora

Democracia sim, lusa

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Deputado que originou saídas diz que “esperava por colega” para votar

A “história” afinal é outra Segunda a imprensa presente no local, o alarme do Conselho Legislativo tocou para alertar os deputados que tinham cinco minutos para votar, sendo que o pedido de Lam aconteceu a menos de um minuto desta votação. Depois da rejeição do pedido de intervalo,

Lam “levantou-se em conjunto com Ip Kwok-him e este acenou aos colegas, que o seguiram na maioria para fora do LegCo”.

Imprudências

A saída dos deputados causou mais controvérsia do que a

própria votação. Por exemplo, salienta a BBC, Felix Chung Kwok-pan disse não ter conhecimento do plano para sair e criticou os colegas. “Mesmo se soubesse que estavam à espera do Uncle Fat teria ficado na mesma. Este é o momento de Hong Kong

e as pessoas estão à espera de um resultado em dez segundos. Como é que eles podem ter saído assim? Foi pouco esperto terem saído, até porque o voto de Uncle Fat não ia afectar o resultado.” Ao South China Morning Post, Tam Yiu-chung, antigo presidente da Democratic Alliance for the Betterment and Progress of Hong Kong, admitiu que a saída tinha sido “imprudente”. Este foi um dos que se juntou ao grupo. “Não somos miúdos a brincar aqui no LegCo. Alguns deles até disseram que este seria o voto mais importante da sua vida”, atirou ainda Emily Lau, presidente do Partido Democrático ao mesmo jornal. “Vergonhoso” foi outro dos nomes que deputados utilizaram para descrever a cena, com Lau a dizer mesmo que Pequim deveria repreender esta atitude. J.F.


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do LegCo

mas não desta apoiantes da Democratic Alliance for the Betterment and Progress of Hong Kong, da Federation of Trade Unions e da Business and Professionals Alliance. Também o presidente do LegCo, Jasper Tang, decidiu não votar na proposta apresentada por C.Y.Leung, Chefe do Executivo de Hong Kong.

A menos de um minuto da votação, 31 deputados tidos como pró-Pequim abandonaram a sala fazendo com que a proposta chumbasse com 32 abstenções “Este documento não obteve uma maioria de dois terços dos votos”, disse Jasper Tsang. “Anuncio que o texto foi vetado.”

Absurdo e surpreendente

A saída dos deputados surpreendeu tudo e todos, segundo declarações de membros do LegCo aos órgãos de comunicação social. “Não fazemos ideia do que aconteceu com

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ara a ala pró-democrata não há qualquer dúvida. A proposta de lei para a reforma política é nada mais nada menos do que “uma falsa democracia”, já que, na sua opinião, o Chefe do Executivo iria apenas ser escolhido entre três candidatos apontados da mesma forma como agora acontece. O líder do Partido Cívico, Alan Leong, afirmou que a votação da proposta de reforma política iria ficar para a história pelo facto de apenas oito pessoas terem votado a favor. E afirma também que as pessoas de Hong Kong não se deixaram enganar, posição contraria à do próprio Chefe do Executivo ter dito que a reprovação desiludiu a população. “A mensagem que estamos a enviar para o Governo Central e para o Governo de Hong Kong é a de que a população de Hong Kong não quer este pacote de falsa democracia”, afirmou. “Não queremos que os nossos votos sejam usados para legitimar a designação de um chefe do Executivo apoiado por interesses velados”, acrescentou ainda.

o resto do grupo, que decidiu de repente deixar o Conselho”, disse James Tien, do Liberal Party, também pró-Governo. “Decidimos ficar para votar.” Também a líder do Partido Democrático, Emily Lau disse à Reuters que a decisão destes membros do hemiciclo foi um “absurdo”, tendo em conta que “estas são as pessoas que deveriam ajudar a governar Hong Kong”. Para Lau, se “se olhar para este comportamento, não se pode evitar sentir pena” pela RAEHK. Mas, as justificações dos deputados que abandonaram a sala não tardaram, com alguns a dizer aos jornalistas que a saída se deveu “a um erro de comunicação”, uma vez que tinham pedido um intervalo de 15 minutos, algo que foi rejeitado. (ver texto abaixo) Para que a eleição de 2017 acontecesse como o Governo pretendia, a proposta teria de ter passado com 47 votos a favor. Apesar da Lei Básica de Hong Kong garantir a possibilidade de eleições através de sufrágio universal, ao contrário da de Macau, activistas pró-democracia caracterizam a sugestão de C.Y.Leung como sendo de “falsa democracia” (ver texto da página seguinte). Com esta votação, tudo fica na mesma: o Chefe do Executivo de Hong Kong em 2017 será escolhido pela Comissão que iria eleger os três candidatos, composta por 1200 pessoas de diferentes sectores, à semelhança do que acontece em Macau, ainda que em menor escala. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

Democratas acusam CE de tentar enganar população

“Falsa democracia” A votação foi acompanhada em directo por imagens de televisão, num ecrã gigante instalado no exterior do LegCo e o resultado foi recebido com aplausos e vaias pelas centenas de manifestantes de grupos rivais, separados por barreiras de metal e sob alto dispositivo de segurança. Durante o debate no LegCo, os pró-democratas argumentaram contra o plano eleitoral do governo, que segundo eles, nega às pessoas de Hong Kong uma “verdadeira escolha”, contrariando a posição dos adversários pró-Pequim que argumentaram que o plano de reforma constituía um grande passo em direcção à democracia.

Da filtragem

O processo de escolha foi, contudo, descrito pela ala democrata como uma “triagem”, sendo que Alan Leong se juntou a outros

deputados para mostrar cartazes e guarda-chuvas amarelos no final da votação. Guarda-chuvas que, recorde-se, são símbolo do forte movimento de contestação, que levou à ocupação de ruas em Hong Kong durante 79 dias o ano passado. As manifestações surgiram depois da decisão, no final de Agosto de 2014, do Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular sobre a reforma política, e os protestos tiveram o seu epicentro exactamente no complexo de Tamar, que alberga o gabinete do Chefe do Executivo, o Conselho Legislativo e as principais secretarias do Governo de Hong Kong. Mas, se os democratas consideram que a acção vai mostrar que as pessoas não acreditam no Governo, a opinião de académicos é diferente. Ouvido pelo South China Morning Post, o profes-

sor de Ciência Política da City University Cheung Chor-yung considerou que “o chumbo da reforma talvez possa fazer os pró-democratas sentirem-se bem, mas isso não aproxima Hong Kong da democracia”. “Pequim dificilmente vai suavizar a sua posição”, afirmou. O professor e director do Departamento de Ciências Sociais do Instituto de Educação de Hong Kong, Sonny Lo, também manifestou uma opinião similar: “Pequim encara a aprovação do plano de reforma como a pedra de toque do grau de lealdade política da população de Hong Kong.” Cá fora, estavam ainda apoiantes de Pequim, que fizeram um minuto de silêncio depois da reprovação da proposta e pediram que não se votasse em deputados democratas nas próximas eleições ao LegCo. J.F.

Reacções à votação

“Votaram contra a vontade de cinco milhões de pessoas e negaram-lhes a hipótese de um sufrágio universal para as próximas eleições do Chefe do Executivo, que foi agora bloqueado. O sufrágio universal para os membros do LegCo também se tornou incerto. Eu, o Governo e os milhões de pessoas de Hong Kong estamos desiludidos” • C.Y.Leung, Chefe do Executivo da RAEHK

“Promover o desenvolvimento democrático de Hong Kong e pôr em prática o objectivo de sufrágio universal para escolher o Chefe do Executivo é a posição consistente do Governo Central e a aspiração comum dos compatriotas de HK. Os governos da RAEHK e o Central têm feito um grande esforço neste sentido. Este resultado é algo que não queríamos ver” • Lu kang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China

“Se a proposta for reprovada, esta é uma grande perda para Hong Kong. [Quem votou a favor] não se incomoda a pensar que isto causará danos na confiança da população, se a oportunidade da reforma política se perder” • Editorial do jornal pró-Pequim Global Times


política

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líder do grupo Macau Consciência acredita que a reprovação da proposta de reforma política em Hong Kong poderá influenciar a implementação do voto individual também em Macau. Jason Chao esteve ontem na região vizinha, no dia em que o Conselho Legislativo da RAEHK reprovou a hipótese de que a população pudesse escolher um Chefe do Executivo entre três apresentados por uma comissão.

Sufrágio Chao desiludido com Ng Kuok Cheong e Au Kam San

Macaquinhos de imitação

“Vai afectar Macau, claro. Uma das possibilidades é que o Governo de Macau, à semelhança de Hong Kong, possa querer introduzir este falso sufrágio universal [e aprová-lo], como forma de se mostrar à RAEHK, ainda que sob a liderança do Governo Central”, começa por dizer Chao ao HM. “Nós rejeitamos

qualquer forma de falsos sufrágios universais.” A Macau Consciência enviou um comunicado às redacções na tarde de ontem, dizendo apoiar os democratas de Hong Kong contra a proposta de C.Y.Leung, por considerar que esta distorce o conceito de sufrágio universal. Para o grupo

de activistas de Macau, esta não é nada mais nada menos do que uma forma de “reforçar o poder e interesse da classe que lidera e de negar aos cidadãos a liberdade de escolher o Chefe de Governo”. Na nota, Chao diz que “os destinos políticos de Macau e Hong Kong estão intimamente relacionados”. Questionado sobre se a reprovação da proposta poderia servir de desculpa ao Governo local para a não implementação de sufrágio universal – algo que a Lei Básica não prevê na RAEM, ao contrário da de Hong Kong – Chao é peremptório. “Acho que o destino está nas mãos do Governo chinês, ainda que a acção seja do Governo de Macau, será seguindo a linha do que o Governo Central quiser. Mas, em Macau, não há sequer interesse nenhum em implementar qualquer forma de sufrágio”, aponta ao HM. “O referendo civil no ano passado foi exemplo disso mesmo”, acrescenta, referindo-se à acusação de ilegalidades de que foi alvo depois do inquérito feito pela sua associação indicar que a maioria da população queria votar no Chefe do Executivo. Algo contrário às opiniões do Governo.

Desiludido com deputados

Membro da Associação Novo Macau, da qual fazem parte os deputados pró-democratas Au Kam San e Ng Kuok Cheong, Jason Chao diz-se descontente com os colegas. A divisão entre associação e escritórios de deputados já foi feita há

Águas marítimas Chui fala em cooperação com Pequim

Tudo bem encaminhado C hui Sai On assegura que a questão da jurisdição das águas marítimas teve um grande avanço nas negociações no primeiro semestre, mas o Chefe do Executivo, que está em visita a Pequim, acredita que Pequim terá de ajudar Macau em termos de colaboração entre a RAEM e a China face a estratégias de desenvolvimento neste domínio das águas. “O máximo responsável da RAEM revelou que os trabalhos sobre a gestão das áreas marítimas sob jurisdição da RAEM

tiveram grande avanço no primeiro semestre do corrente ano”, escreveu o Governo num comunicado, ontem. Também as fronteiras terrestres foram tema de debate. No encontro com a Administração das Alfândegas da China, Chui Sai On mostrou vontade de “inovar o modelo de passagem de fronteira”. O líder do Governo espera que o novo mecanismo seja aprovado pelo Governo Central. O Chefe do Executivo frisou ainda a necessidade do apoio do Governo Central

ao nível da “tecnologia legislativa”. Além disso, Chui referiu às autoridades chinesas ter vontade que Macau integre os trabalhos da política “Uma Faixa, Uma Rota”, tendo a discussão entre os governos incidido sobre as áreas em que a RAEM irá desenvolver para esse efeito. “[Chui Sai On] revelou que o governo da RAEM vai manifestar junto do Governo Central quais são as áreas em que Macau pretender participar e será divulgado atempadamente ao público, caso esses planos avancem”,

assegura o Executivo em comunicado. Como já tinha sido referido, Chui Sai On acredita que os trabalhos relativos à gestão das águas marítimas possam estar totalmente concluídos até final deste ano. O Chefe do Executivo reuniu com a Administração Geral das Alfândegas e com a Administração Estatal Oceânica, entidades com as quais o Governo tem vindo a debater o alargamento do espaço de águas marítimas do território, bem como das fronteiras terrestres.

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A reprovação da proposta de reforma política em Hong Kong pode influenciar Macau no caminho para a democracia. Para Jason Chao, Pequim pode indicar à RAEM que implemente o mesmo tipo de sufrágio que se esperava em Hong Kong, ou pode também servir como desculpa para que não haja sequer a tentativa de se criar a hipótese de voto individual

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algum tempo, com as partes a não concordarem com alguns pontos de vista, e ontem Chao reafirmou o que já tinha vindo a dizer ao HM. “Não percebo porque é que Au Kam San e Ng Kuok Cheong apoiam este ‘falso sufrágio universal’ em Macau, como em Hong Kong. Eles apelaram a isso, dizendo que é melhor que nada, mas eu nao acredito nisto como forma de eleger o nosso Chefe do Executivo.”

“Acho que o destino está nas mãos do Governo chinês, ainda que a acção seja do Governo de Macau, será seguindo a linha do que o Governo Central quiser. Mas, em Macau, não há sequer interesse nenhum em implementar qualquer forma de sufrágio” Para a Macau Consciência, os cidadãos “das duas cidades” deveriam poder escolher de forma verdadeiramente livre. Chao diz-se muito satisfeito com o resultado da votação, já que “o caminho de Macau para o sufrágio universal seria mais complicado se Hong Kong adoptasse este falso sufrágio”. Ainda assim, acredita que uma proposta semelhante no território iria ser aprovada. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo


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Animais Multa por abandono é “pesada”

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s deputados que discutem a proposta de Lei da Protecção de Animais consideram que a multa para quem abandonar bichos é elevada. “É pesada esta multa e para outras infracções são só uns milhares”, disse a presidente da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL). Recorde-se que esta é segunda vez que os deputados consideram as punições elevadas, sendo que anteriormente o Governo cedeu ao pedido da Comissão em diminuir as penas para maus tratos a animais, que previam até três anos de prisão. Neste momento, a legislação propõe uma multa entre as 20 mil e as cem mil patacas para quem abandonar propositadamente os seus animais ou os libertar fora do seu habitat natural. “A última versão de trabalho não permitia a libertação, mas para respeitar as práticas tradicionais e costumes, a lei define que em certas situações isto se possa fazer, mas num habitat natural adequado”, referiu Kwan Tsui Hang. Ainda nada está definido sobre o valor das multas, sendo que Kwan referiu apenas que o assunto vai ser debatido na próxima reunião com o Governo, no dia 23 deste mês. Outra das novidades na lei passa pela permissão de utilizar cães e gatos para aplicações científicas. Os requerentes dos animais são obrigados a pedir autorização ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), mas será permitido a utilização destes animais em casos especiais em laboratório. O IACM terá ainda que ser avisado no caso da utilização de animais para “determinados fins”, como é o caso de espectáculos, incluindo circo. Já no que diz respeito à captura de animais selvagens, o Governo e os deputados chegaram, finalmente, a um consenso: será permitido criar animais importados de outros países, mas vai haver uma punição para quem tentar capturar bichos deste género no território, como é o caso de algumas aves. “Os animais que são importados não vão ser proibidos”, assegurou Kwan. Ficou ainda definido que é proibida, por lei, a incitação à luta entre animais ou pessoas e animais. Outro dos impedimentos é o de vender cães e gatos domésticos com idade inferior a três meses, tendo-se igualmente limitado a idade dos animais vendidos para consumo. Leonor Sá Machado

leonor.machado@hojemacau.com.mo

Tabaco Governo “não cede”. Proposta entregue ao Conselho Executivo

O que está dito, está dito

Tam decidiu: fumo nos casinos é para desaparecer, apesar do estudo das operadoras. O Secretário diz estar confiante e a Lei já foi entregue ao Conselho Executivo

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que nos importa é a saúde da população”, repetiu três vezes Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, quando questionado sobre a medida de proibição total de fumo nos casinos. Uma vez mais, ontem, o Secretário reforçou a intenção do Governo em não voltar atrás na sua decisão de proibição total do fumo nos casinos, sendo que Tam garante que a revisão da Lei de Prevenção e Controlo do Tabagismo já foi até entregue ao Conselho do Executivo. Depois de tornado público um estudo encomendado pelas seis operadoras que indica que 66% dos quase 35 mil funcionários dos casinos estão a favor das salas de fumo nos casinos, Alexis Tam diz que a decisão está tomada e prefere não comentar a posição das operadoras, que dizem que a proibição vai magoar a economia. “Já fizemos uma análise do estudo e temos a nossa resposta. Pessoalmente não vou dar a minha opinião em relação ao estudo feito

pelas seis operadoras do Jogo (...), não vou dar a minha opinião”, afirmou o Secretário, relembrando que no ano passado também o Governo avançou um estudo, realizado pela Universidade de Macau, sobre o mesmo tema, que indicava que “cerca de 70% da população de Macau estava a favor da proibição total do fumo nos casinos”. No estudo encomendado pelo Governo, os dados indicavam que mais de 80% dos turistas inquiridos não era contra a proibição, como relembrou o Secretário, insistindo que a única coisa que é importante é a “saúde dos cidadãos”.

“Macau é uma cidade saudável, por isso, quer seja nos recintos fechados, quer seja nos casinos, vamos aplicar esta política”

“Macau é uma cidade saudável, por isso, quer seja nos recintos fechados, quer seja nos casinos, vamos aplicar esta política”, reforçou Alexis Tam, enquanto falava à margem da 2.ª reunião plenária do Conselho de Acção Social. Recorde-se que os dados do estudo encomendado pelas operadoras indicavam que 32% dos clientes VIP confirmam que vão escolher outros países ou regiões para jogar devido à proibição total do fumo em Macau. Valores desvalorizados por Alexis Tam que contra argumentou com os dados do estudo do Governo, que indicava que apenas “10% dos fumadores disseram que, se calhar, não vinham”.

Mealheiro seguro

A proposta para a revisão da lei, indicou o Secretário, já foi entregue ao Conselho Executivo que aguarda agora por uma decisão. “Já apresentámos o nosso projecto ao Conselho Executivo e eles ainda estão a analisar, penso que muito em breve, até ao final do mês ou início de Julho, o porta-voz do Conselho Executivo

vai explicar à sociedade [a decisão]”, informou o Secretário, frisando que há um feedback positivo. A lei terá de ser depois aprovada pelos deputados da Assembleia Legislativa. Sobre a possibilidade desta medida prejudicar as receitas do Jogo, Alexis Tam não se mostrou preocupado, apresentando os incentivos ao turismo como uma alternativa. “O Governo de Macau, e eu, que sou economista, sabemos a importância das receitas financeiras, isso é muito importante para nós, mas o meu trabalho também é defender a saúde da população e temos que fazer um equilíbrio. Já disse várias vezes, o número de turistas no ano passado foi de 32 milhões, dos quais 22 milhões são da China, é uma pequena percentagem e podemos fazer mais, vamos fazer mais para atrair mais consumidores para Macau”, defendeu, descredibilizando as salas de fumo, que segundo o mesmo, não são uma solução viável. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo


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Anúncio 【N.º42/2015】 No uso da competência delegada pela alínea 4) do n.º 3 do Despacho n.º 71/IH/2015, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau n.º 22, II Série, de 3 de Junho de 2015, e nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, são por esta via notificados os proprietários das seguintes fracções: Endereço N.º do processo Fracção Chun Fok Village, Fase 2, Bloco 5, Wai Heng Kok

86/ADMHE/2014

Fai Chi Kei Vai Choi Garden, Bloco C

45/ADMHE/2015

4.º andar AM

15.º andar AA / 15.º andar AB/15.º andar AC

Proprietário

Infracção

U PEK HA

A instalação de estendais nas paredes exteriores viola o disposto na alínea h) do n.º 2 do artigo 16.º do Decreto-Lei n.º 41/95/M, de 21 de Agosto.

CHEONG IOK KUAN/ CHEANG POU IOK

A ocupação das áreas comuns e alteração da localização da porta do posto de resíduos violam o disposto nas alíneas c) e g) do n.º 2 do artigo 16.º do DecretoLei n.º 41/95/M, de 21 de Agosto.

Nos termos do n.º 1 do artigo 19.º do Decreto-Lei n.º 41/95/M, de 21 de Agosto, os proprietários das fracções supracitadas devem apresentar a sua defesa por escrito, bem como provas testemunhais, materiais, documentais ou demais provas, no prazo de dez dias, a partir da data de publicação do presente anúncio. Caso não apresentem a defesa por escrito dentro do prazo estipulado, ou a mesma não seja admitida por este Instituto, de acordo com o artigo 19.º do mesmo decreto-lei (processo de aplicação das multas), ficarão os proprietários acima referidos sujeitos à aplicação da multa de mil patacas (MOP 1 000,00), nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 18.º, e/ou à aplicação da multa de quinhentas patacas (MOP 500,00), nos termos da alínea b) do n.º 1 do artigo 18.º. Caso haja necessidade de consultar o processo, poderão dirigir-se ao Instituto de Habitação, sito na Travessa Norte do Patane, n.º 102, Ilha Verde, durante as horas de expediente, ou ligar para Sr.ª Lei através do n.º 2859 4875 (extensão n.º 747). O Chefe da Divisão de Assuntos Jurídicos, Nip Wa Ieng 16 de Junho de 2015


sociedade

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Caso Bella Ausência de nome feminino no BIR impede tratamentos

“Somos um grupo de pessoas normais”

“S

omos um grupo de pessoas normais, temos as nossas vidas como qualquer pessoa. Queremos mostrar à sociedade que há transexuais a viver em Macau com BIR.” De saia pronta, unhas cor-de-rosa e uma maquilhagem perfeita, Bella, a segunda transexual em Macau a dar a cara, conta ao HM que continua a viver diariamente as consequências de não poder mudar o nome no seu BIR. Por isso mesmo, a jovem não consegue ter um tratamento normal em questões como a saúde. A operação foi feita na Tailândia mas a continuação do processo de mudança de sexo, com a toma de hormonas, está a ser feita sem o devido acompanhamento médico, uma vez que no sector público ou privado não aceitam Bella numa consulta de ginecologia, por não ser mulher no papel. Para além disso, como conta, no dia-a-dia as pessoas suspeitam sempre da identidade da jovem. “Se sou mesmo a pessoa portadora do BIR... Tenho alguns inconvenientes, se for viajar, se for ao banco abrir uma conta”, contou ainda. Bella e Avery foram as primeiras transexuais de Macau a dar a cara pelo problema, mas Avery recusou dar uma entrevista ao HM, por se encontrar em Londres e “muito ocupada”.

gonçalo lobo pinheiro

O facto de Bella não ter o nome feminino no BIR faz com que não tenha acompanhamento médico na toma de hormonas e enfrente suspeitas diárias quanto à sua verdadeira identidade. A Associação Arco-Íris quer reunir com Sónia Chan. DSI confirma estar a estudar mudança de legislação

“Pensei em sair e desistir, mas acredito que viver uma boa vida aqui enquanto transexual não é impossível. Há algumas questões políticas e sociais que ainda não funcionam, mas acredito que no futuro Macau vai ser um melhor lugar”

Revisão confirmada

Para já, o Executivo parece estar, pelo menos, a dar atenção ao assunto. A Direcção dos Serviços de Identificação (DSI) já confirmou que “está a estudar” a mudança de legislação para permitir a mudança de nome. Jason Chao, da Associação Arco-Íris, disse também que enviaram uma carta ao Executivo para reunir com a Secretária para a Administração e Justiça. “Vamos ter um encontro com Sónia Chan ou com os seus representantes para falarmos do progresso de revisão da lei, porque esta questão deve ser tratada o mais depressa possível. Estes casos vão continuar a surgir e Macau precisa de ter legislação que reconheça a identidade dos transexuais. Não se pode evitar esta situação.” Bella acredita que, desta vez, o Governo vai mesmo fazer algo

“Pensei em sair e desistir, mas acredito que viver uma boa vida aqui enquanto transexual não é impossível. Há algumas questões políticas e sociais que ainda não funcionam, mas acredito que no futuro Macau vai ser um melhor lugar”, apontou. Se no início tinham receio, hoje os pais de Bella aceitam-na tal como é. “Os meus pais ficaram assustados no início, porque queriam que eu continuasse um rapaz. Também ficaram assustados, pois achavam que se eu mudasse de sexo teria de enfrentar a descriminação ou comportamentos estranhos por parte da sociedade.” A descriminação, essa, Bella sentiu-a na pele, mas conta que aprendeu a lidar com ela. “Quando eu andava na escola secundária as reacções dos meus professores e colegas eram bastante diferentes. Alguns achavam que era estranho, que não era aceitável, mas muitos deles consideravam-me normal e queriam que vivesse a minha vida feliz. Foi uma escolha pessoal a forma como lidei com essa discriminação.”

pelo seu processo e pelo de Avery. “O Governo está empenhado em ajudar-nos. Se olharmos para o que acontece nas outras partes do mundo, os procedimentos para a mudança de sexo já são muito comuns e fáceis. Olhando para a

tendência a nível global, penso que o processo também será fácil aqui em Macau.”

Lidar com a descriminação

Actualmente Bella encontra-se sem trabalho, mas por opção. Diz que-

rer parar para pensar. Já trabalhou numa loja de cosméticos e afirma que, caso o seu BIR tivesse o nome feminino, poderia ter maior abertura no local de trabalho local. A jovem chegou a ponderar sair de Macau, tal como fez Avery, mas decidiu ficar.

De unhas pintadas e cara maquilhada, Bella olha-nos e diz acreditar num futuro mais risonho para a comunidade LGBT em Macau. “Quando comparamos Macau com outros lugares do mundo, mesmo a China, Hong Kong ou Taiwan, a sociedade ainda é um pouco conservadora. Ainda acredito que no futuro os cidadãos vão ter formas de abrir as mentalidades e ter maiores conhecimentos sobre os nossos direitos”, conclui. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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Terrenos secretário para as obras públicas e transportes na AL para dar explicações

Os 16 trabalhos de Raimundo do Rosário das referidas decisões”, pode ler-se num comunicado enviado pelo Gabinete do Chefe do Executivo. Por isso mesmo, Raimundo do Rosário estará presente na Assembleia Legislativa, na próxima semana, para esclarecer a população sobre esta matéria. “Relativamente aos 16 lotes não classificados como terrenos com caducidade da concessão, Chui Sai On disse que o Governo é responsável por esclarecer os fundamentos legais e os motivos dessa opção, no sentido de dissipar as dúvidas do público”, escreve o Gabinete.

R

Decisão partilhada

aimundo do Rosário vai à Assembleia Legislativa (AL) para falar dos terrenos aos deputados. Isso mesmo disse Chui Sai On, Chefe do Executivo, que acredita que é “da responsabilidade do Governo” esclarecer as pessoas sobre os lotes que o Executivo diz não poder reaver. “O Governo tem acompanhado activamente as questões de terrenos desocupados e, seja o ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas seja o actual secretário, Raimundo do Rosário, ambos [trabalham] sob o mesmo Executivo, portanto, [Chui Sai On] considera que o Governo é responsável por esclarecer o público sobre os motivos e fundamentos legais

Recorde-se que, esta semana, o Secretário para os Transportes e Obras Públicas anunciou que o Executivo desistiu de recuperar 16 dos 48 terrenos cujo prazo de desenvolvimento chegou ao fim. O responsável não deu detalhes sobre a questão – tal como os locais, ou as concessionárias – justificando que estes não vão ser recuperados “porque não preenchem os requisitos de caducidade”. A decisão, acrescentou ainda Raimundo do Rosário, foi também de Lau Si Io, anterior Secretário da tutela. O Chefe do Executivo assegura que o Governo tem empenhado todos os esforços na execução de trabalhos destinados à resolução dos casos relativos aos 48 terrenos concedidos mas não aproveitados

“Relativamente aos 16 lotes não classificados como terrenos com caducidade da concessão, Chui Sai On disse que o Governo é responsável por esclarecer os fundamentos legais e os motivos dessa opção”

gcs

Raimundo do Rosário vai explicar porque é que o Governo decidiu retirar da lista de terrenos a reaver 16 lotes. Chui Sai On garante que foi tudo feito de acordo com a lei

comunicado do Gabinete do Chefe do Executivo

e afirma “que a utilidade dos mesmos terá sempre em consideração o interesse público”. De acordo com o líder do Governo, Lau Si Io não só abriu uma série de processos, nos serviços

Alexis Tam junta-se a grupo de jovens macaenses

competentes, como também criou um grupo de trabalho composto por especialistas para proceder a um estudo e revisão sobre os terrenos em questão. “Os casos são resolvidos de acordo com a legislação

Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

Cheques Valor mantém-se. Distribuição a partir de Julho

O

• Alexis Tam juntou-se ontem à Associação de Jovens Macaenses, que pretende ajudar ao desenvolvimento de Macau, como defendeu Duarte Alves, presidente da Associação ao HM. Este foi o terceiro encontro dos jovens e o primeiro com Alexis Tam como Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura.

e os diplomas vigentes”, garantiu Chui Sai On. O mesmo aconteceu com os terrenos que não vão, afinal, ser reavidos, afirma o Chefe do Executivo. “Quanto aos 16 casos dos terrenos não integrados no âmbito da declaração de caducidade, Chui Sai On indicou que todas as decisões atribuídas foram tomadas através de uma série de procedimentos e apreciações levadas a cabo por um grupo de juristas, ou seja, cada deliberação teve as suas causas.”

s montantes do Plano de Comparticipação Pecuniária vão manter-se iguais àqueles atribuídos no ano passado. Assim, cada residente permanente vai receber, entre Julho e Setembro deste ano, nove mil patacas, ficando os não permanentes com 5400, igualmente entregues durante o mesmo período. No total, o Governo vai despender cerca de 5,5 mil milhões de patacas com estes apoios. O porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, disse ontem que a queda das receitas em nada influencia o montante a atribuir aos residentes. “A descida das receitas de Jogo, na realidade, não afecta muito [a comparticipação pecuniária] porque há outros sectores a apoiar [a economia local]”, tranquilizou Leong. O representante deixou ainda claro que “não existe uma fórmula fixada para calcular” os montantes

atribuídos, estando tal dependente do orçamento governamental para o ano em questão. A novidade deste ano passa pela atribuição prioritária a quem optar por receber a devolução de impostos ou outros pagamentos da DSF através de transferência bancária. Para este grupo de pessoas, a atribuição pode ser feita directamente numa conta bancária a designar, a partir de 9 de Julho. São 60 mil os cidadãos beneficiados por esta opção. Em termos comparativos, o Executivo está este ano a gastar mais três mil milhões de patacas do que em 2008, aumento justificado pelo acréscimo do número de residentes permanentes e não permanentes e do aumento anual progressivo do valor. A atribuição é feita, tal como em anos anteriores, primeiro aos grupos mais carentes da sociedade e depois por idades. L.S.M.


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Assistentes Sociais Governo quer 150 profissionais

Polir com a prata da casa Gripe Surto aumenta e SS pedem prevenção

Os Serviços de Saúde (SS) pediram à população que tome medidas com o surto de gripe que teve início no início deste mês. De acordo com os dados destes serviços, só desde o começo de Junho foram declarados quase 650 casos de gripe, número que afirmam ser “duas vezes superior” aos 281 identificados em Maio. No mesmo período de 2014 foram detectados três centenas de casos, ou seja, cerca de metade daqueles identificados este ano. A taxa de vírus H3N2 deste mês é de 42,7%, comparando com os 11,9% do mês anterior. Mais de 80% dos casos registados em Junho ocorreram em instituições de ensino. Como medida de prevenção, os SS já prepararam 107 mil doses de vacinas contra a gripe sazonal e dez mil outras com antídoto para combater outras estirpes.

Lançado curso sobre doenças crónicas

Os Serviços de Saúde (SS) lançaram um curso de formação de “AutoGestão das Doenças Crónicas” para que os doentes consigam conviver com e aumentar a capacidade de auto-gestão da sua doença. O curso foi criado pelo Centro de Educação e Estudo dos Doentes da Faculdade de Medicina da Universidade Stanford dos EUA e é colocado em prática em vários países. “Este curso enfatiza, especialmente, a colaboração entre doente e médico, apoio ao doente, participação dos doentes e familiares e a auto-gestão dos doentes”, clarificam os SS em comunicado. Os destinatários deste curso são os doentes crónicos e seus familiares e as aulas serão lideradas por um coordenador com formação, para transmitir aos doentes os conhecimentos, habilidades e técnicas de comunicação com os profissionais de saúde. “Através deste curso os doentes podem aumentar a confiança nos auto-cuidados para enfrentar a vida sem sofrimento da doença por longo prazo, reduzir eventuais agravamentos e ocorrências de complicações, aumentar a qualidade de vida e diminuir os encargos pessoais e familiares”, esclarecem os SS.

Assistente Sociais são precisos, mas não são uma urgência e Macau tem capacidade para os contratar. Quem o diz é o presidente do IAS, que assegura que a contratação ao exterior pode ser uma hipótese mas só se for realmente necessário.

O

presidente do Instituto de Acção Social (IAS), Iong Kong Io, garantiu que neste momento não é necessário contratar assistentes sociais de fora do território. Numa conferência à imprensa depois da 2.ª Sessão plenária do Conselho de Acção Social, o presidente avançou que neste momento são necessários 150 novos profissionais da área. Feitas as contas, actualmente, existem 881 assistentes sociais em plena funções e 590 alunos da área, o que faz com que os necessários não ultrapassem as duas centenas. “Acho que precisamos de cerca de 150 assistentes sociais”, afirmou o presidente, indicando que em princípio não será necessária a contratação do exterior. “Não precisamos de recrutar pessoas de fora. Mas temos de ver o tipo de trabalho e dar mais atenção aos grupos de minorias”, argumentou Iong Kong Io, sublinhando que

este tipo de contratação poderá acontecer caso seja necessário para as comunidades estrangeiras. Algo que só se saberá depois de novos estudos.

Tudo como dantes

Durante a reunião foi discutida a segunda consulta pública sobre o Regime de Credenciação e Inscrição para o Exercício de Funções de Assistente Social, que decorreu entre Janeiro e Fevereiro do presente ano. A consulta, explica o Conselho, recolheu cerca de 600 opiniões do sector e um total de 3065 da população, mas ainda

“Não precisamos de recrutar pessoas de fora. Mas temos de ver o tipo de trabalho e dar mais atenção aos grupos de minorias” Iong Kong Io Presidente do Instituto de Acção Social

não existem resultados públicos. Os temas de maior atenção da população foram a composição do Conselho Profissional dos Assistentes Sociais e a forma de escolha dos seus membros, a criação do exame de avaliação, o estabelecimento de Regime de Grandfathering, o recrutamento de assistentes sociais não residentes, o mecanismo de recurso e o código de ética profissional. Recorde-se que têm sido muitas as reclamações sobre a necessidade de ser obrigatório um exame de avaliação para os assistentes sociais do público, algo que não existe para o privado. Já sobre o relatório de estudo sobre o mecanismo de ajustamento do nível da subsistência mínima, também discutido na reunião, o Conselho não irá mexer no montante, que está fixado nas 3800 patacas. “Caso o resultado da avaliação efectuada em meados de cada ano aponte para um diferença inferior a 3% entre a previsão da evolução do valor do risco social e o montante na altura em vigor, não haverá lugar a ajustamento. Nesta conformidade, dado que após a avaliação se constatou uma diferença de 1,96% entre a previsão e o valor de risco social actualmente em vigor, este não será alterado em Julho de 2015, mantendo-se portanto o seu actual valor até ao fim do corrente ano, altura em que se realizará uma nova avaliação”, justifica o IAS. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

Simulacro no aeroporto • O Aeroporto Internacional de Macau fez um exercício de simulacro do sequestro de uma aeronave no passado dia 18, onde foi criado um cenário onde um grupo político exterior terrorista se apodera dos comandos de um avião e exige ao Aeroporto autorização para aterrar numa das suas pistas. O exercício envolveu 250 participantes e teve um balanço positivo, de acordo com o comunicado da Autoridade de Aviação Civil.


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Balanço Até 31 de Dezembro de 2014 Patacas Activo Activo não corrente Propriedades, maquinaria e equipamento $39,969,502.00 Activo corrente Existências $18,613.00 Contas a receber $1,306,453.00 Contas antecipadas, depósitos e outras contas a receber $693,826.00 Caixa e depósitos bancários $19,871,614.00 Total do activo corrente $21,890,560.00 Total do activo $58,860,008.00 Capital próprio e passivo Capital próprio Capital social Reservas de reavaliação Resultados acumulados Passivo não corrente Custos de locação financeira a pagar

$40,000,000.00 $38,047,022.00 ($20,025,727.00) $58,860,008.00 $0.00

Passivo corrente Contas a pagar Custos a pagar e outras contas a pagar Custos de locação financeira a pagar Imposto Complementar de Rendimentos Total do passivo corrente Total do passivo Total do capital próprio e do passivo

Ano de 2014 Relatório do Conselho de Administração Em 2014, o Matadouro de Macau, S.A.R.L., registou de dezanove milhões, quinhentas e noventa e uma mil, duzentas e cinquenta e nove patacas e oitenta e quatro avos (MOP19,591,259.84). Em relação às despesas registaram-se dezoito milhões, seiscentas e doze mil, quatrocentas e noventa e nove patacas e sessenta e três avos (MOP18,612,499.63). O lucro líquido total é de setecentas e quarenta e uma mil, setecentas e trinta e seis patacas e vinte e um avo (MOP741,736.21). Futuramente, o Conselho de Administração irá esforçar-se por fazer o melhor possível para continuar a reforçar a sua capacidade de fiscalização da situação do Matadouro de Macau, S.A.R.L., quer na procura de mais formas de rentabilizar a sua actividade, quer na diminuição dos gastos, a

$188,416.00 $371,689.00 $0.00 $278,608.00 $838,713.00 $838,713.00 $58,860,008.00

fim de deixar de registar perdas estruturais e para que possa sobreviver a situações mais adversas. Representante do Conselho de Administração Macau, aos 19 de Março de 2015

Ano de 2014 Parecer do Conselho Fiscal O Conselho de Administração do Matadouro de Macau, S.A.R.L. (Sociedade) entregou o Relatório Financeiro de 2014, o Relatório de Examinação do auditor de contas externo, Tang Tim, e o Relatório Anual do Conselho de Administração ao Conselho Fiscal para apreciação. Este Conselho Fiscal, nos termos dos Estatutos desta Sociedade, analisou e examinou o Relatório Financeiro e as contas da Sociedade e compreendeu a situação do funcionamento e os respectivos regimes. Este Conselho Fiscal considera

que este Relatório mostra adequadamente todas as informações de contas e o estado financeiro da Sociedade. Além disso, o Relatório de Examinação do auditor externo já exprimiu que, em todos os pontos importantes do Relatório Financeiro da Sociedade, se demonstra o estado financeiro no dia 31 de Dezembro de 2014 desta Sociedade. Nestes termos, o presente Conselho Fiscal vai propor aos sócios a aprovação dos seguintes documentos: 1. 2. 3.

Relatório Financeiro de 2014 da Sociedade; Relatório Anual do Conselho de Administração, e Relatório de Examinação do auditor externo.

Conselho Fiscal Presidente : Ung Sau Hong Vice-Presidente : Li Shizhong Membro : Ho Mei Va Macau, aos 20 de Março de 2015


china

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Depois de vários anos no primeiro lugar dos fornecedores das importações angolanas, Portugal figura agora no terceiro posto, com uma quota de 10,9%

Portugal ultrapassado nas importações angolanas

China e Coreia na liderança Observatório Empresarial dos dois países. De acordo com informação do Governo angolano, este observatório vai acompanhar os investimentos portugueses em Angola e angolanos em Portugal, e, no mesmo dia, além da criação formal, terá lugar em Luanda a sua primeira reunião anual. “O Observatório tem como função principal acompanhar os processos de análise de candidaturas de investimento, identificar obstáculos e seleccionar vias ou instrumentos para ultrapassar os constrangimentos. E deverá também produzir, no final de cada exercício, uma contabilização dos fluxos de investimento”, explicou no final de Maio o Ministério da Economia angolano. A criação deste observatório insere-se no programa

A

China e a Coreia do Sul destronaram Portugal como principal fornecedor das importações angolanas, segundo a análise do Instituto Nacional de Estatística (INE) de Angola ao primeiro trimestre de 2015, consultada ontem pela Lusa. De acordo com o documento, relativo ao comércio externo, a Coreia do Sul foi o primeiro fornecedor de Angola neste período, com 1.034 milhões de euros de vendas, caso aparentemente pontual, tendo em conta os registos anteriores substancialmente inferiores. Já a China viu as importações para Angola subirem mais de 134 por cento nos primeiros três meses do ano, face ao mesmo período de 2014, para 809,1 milhões de euros, tendo agora uma quota de 16,8%. Para trás, nesta lista do INE, fica Portugal - após vários anos a liderar -, que figura agora no terceiro lugar das origens das importações por Angola, com uma quota de 10,9% e 526,6 milhões de euros de produtos vendidos no primeiro trimestre, traduzindo-se numa quebra homóloga de 2,1%. Nas exportações, a China mantém-se como principal destino dos produtos angolanos (essencialmente

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do primeiro Fórum Empresarial Angola-Portugal, que o Governo angolano afirma ser uma iniciativa para “promover as oportunidades de negócios num e noutro país”, e apelando “ao estabelecimento e aprofundamento de parcerias entre empresas angolanas e portuguesas”. No dia 23 de Junho, o fórum propriamente dito vai reunir na capital angolana cerca de 400 empresários dos dois países para discutir investimentos comuns em Angola e Portugal. De acordo com informação da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), a organização desta primeira edição do fórum instituído pelos dois países será da responsabilidade do Ministério da Economia de Angola, em colaboração com a embaixada de Portugal e daquela entidade pública. Mais de 9.000 empresas de Portugal exportam actualmente para Angola e cerca de 2.000, angolanas, são participadas por capital português, segundo dados da AICEP.

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Anúncio HM-2ª vez 19-6-15

petróleo) ao exterior, com uma quota de 43,9% e 2.899 milhões de euros de vendas, ainda assim uma quebra homóloga de 49,7%.

Seguem-se países como a Índia (quota de 7,7%), Espanha (7,6%) e França (5,7%). Portugal figura no sexto lugar dos destinos

Mais de 9.000 empresas de Portugal exportam actualmente para Angola e cerca de 2.000, angolanas, são participadas por capital português, segundo dados da AICEP

Embarcações civis adaptadas a militares

O Governo da China aprovou novas directivas que obrigam construtores navais civis a garantir que as suas embarcações podem ser usadas pelo exército em caso de conflito, escreve ontem a imprensa oficial. Os novos regulamentos requerem que cinco categorias de embarcações, incluindo navios de carga, sejam modificadas para “servir necessidades de defesa nacional”, escreve o jornal China Daily. Estas directivas “vão permitir à China converter o considerável potencial da sua frota civil para recurso militar”, disse. Segundo o jornal, a China tinha cerca de 172.000 navios civis no final do ano passado.

das exportações angolanas entre Janeiro e Março deste ano, tendo comprado 250 milhões de euros de produtos, equivalente a uma quota de 3,8%.

Acção de Interdição n.º CV2-15-0019-CPE 2º Juízo Cível Requerente: O Ministério Público. Requerido: Hong Fok Kun (洪福官), maior, filho de Hong Ho Toi e de Cheng Kuai Mui, residente na Rua 3 do Bairro da Areia Preta, nº 66, edf. San Mei On, bloco 2, 1º DG, Macau.

Acordo em Luanda

Os ministros da Economia de Angola, Abraão Gourgel, e Portugal, António Pires de Lima, presidem a 22 de Junho, em Luanda, à assinatura do memorando de entendimento de constituição do

Preço médio de novas casas cai 6,0%

O preço médio das novas casas registou uma queda de 6,0% em Maio face a Maio de 2014, segundo um levantamento em 70 cidades chinesas realizado pelo The Wall Street Journal e publicado esta segunda-feira. É o nono mês seguido que os preços caem nesse tipo de comparação.O resultado, no entanto, sinaliza que os preços de novas residências no país caíram de forma menos acentuada, depois de terem registado um recuo de 6,3% em Abril e 6,1% em Março, ambos na comparação anual. Em Maio, os preços apresentaram queda em 69 das 70 cidades pesquisadas, número igual ao de Março. Face a Abril, os preços avançaram 0,06% em Maio, revertendo o declínio de 0,12% em Abril face a Março.

*** FAZ SABER que foi distribuída ao 2º Juízo Cível do Tribunal Judicial de Base de R.A.E.M., a Acção acima mencionada, contra Hong Fok Kun (洪福官), para o efeito de ser declarada a sua interdição por anomalia psíquica.

Macau, aos 29 de Maio de 2015. *****


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eventos

Exposição Sandy-Leong U explora vivências em Macau no desenho

A artista local Sandy-Leong Sin U inaugura a sua primeira exposição a solo no Armazém do Boi, às 16h00 do próximo dia 5 de Julho. A entrada é livre. “Hey, listen” é composta por vários desenhos e ilustrações de livros que Sin U faz e inclui outros objectos multimédia e instalações. A artista nasceu e cresceu no território, tendo completado os estudos em Pequim e Hong Kong. “Tendo isto em conta, sentiu na pele o desenvolvimento e alterações destas cidades”, refere a organização em comunicado. A galeria está aberta ao público das 12h00 às 19h00 e encerra às terças-feiras.

Sheraton com pacote familiar para Academia do Kung Fu Panda

De 4 de Julho a 30 de Setembro, o Sheraton lança a Academia do Kung Fu Panda, um local que crianças e adultos podem frequentar. Divido em duas sessões por dia, este é um espaço interactivo onde os participantes são desafiados “a mostrar as suas habilidades físicas e a capacidade de resolver problemas”, por exemplo através de pistas de obstáculos. De acordo com a organização, a ideia é que tanto as crianças, como os pais aproveitem o dia juntos, a fazer desporto e a fazer uso da sua criatividade. As sessões começam das 11h00 às 12h30 e das 14h00 às 15h30, sendo que há a possibilidade de se frequentar apenas a academia – 200 patacas para uma criança e um adulto e cem para os restantes adultos – ou de ficar também duas noites no hotel, por 1498 patacas. A Academia do Kung Fu Panda é apenas temporária.

hoje macau sexta

Para a escritora portuguesa, receber o prémio Camões deste ano foi uma surpresa, já que Hélia Correia não acredita merecer o galardão. Mas há muitos que pensam o contrário e até a definem como a melhor autora a escrever em Português na actualidade

A

escritora portuguesa Hélia Correia foi a vencedora do Prémio Camões 2015, foi ontem no Rio de Janeiro. Hélia Correia, que nasceu em Lisboa em 1949, é autora de romances, novelas e contos e vai receber um prémio monetário de cem mil euros. A escolha de Hélia Correia para a 27.ª edição do Prémio Camões foi por unanimidade, numa reunião do júri, que contou com Rita Marnoto, professora na Universidade de Coimbra, Pedro Mexia, crítico literário e escritor, Inocência Mata, professora nas universidades de Lisboa e de Macau, e pelos escritores Afonso Romano de Sant’Anna, António Carlos Secchin e Mia Couto. Para a escritora, a escolha deixa-a feliz, mas Hélia Correia mostra-se surpresa. “Há grandes escritores de língua portuguesa com uma obra de muito maior impacto e fecundidade do que a minha”, disse à Agência Lusa, acrescentando que a atribuição foi “muito generosa e pouco severa”. “Não sinto que mereço. Nunca me vejo a fazer parte destas pessoas com probabilidade de obter estas distinções. Sinto-me muito fora das probabilidades de reconhecimento literário. “Não sinto que mereça,

À venda na Livraria Portuguesa

Hélia Correia vence Prémio Camões 2015

Honra e surpr porque sou muito preguiçosa e descuidada na minha relação com a projecção literária, vivo num mundo muito separado do mundo social que possa estar ligado à literatura. E de vez em quando, creio eu, há uns júris assim, que são mais movidos, creio eu, pelo afecto e pela generosidade”.

Merecido, sim

Já para a dramaturga Luísa Costa Gomes a escolha foi merecida e a autora considera a colega uma “romancista muito singular”, manifestan-

do o desejo de que a sua obra “seja mais lida, conhecida e discutida”. “Considero-a uma escritora de eleição, uma extraordinária contista, uma romancista muito singular, com um universo muito próprio, sabe escrever Português na língua dela, e isso é raro, muito precioso”, assinalou à Lusa. Luísa Costa Gomes foi vencedora do Grande Prémio de Literatura 2015, com a novela “Cláudio e Constantino”. A escolha de Hélia Correia – que se estreou na literatura

com o romance “O Separar das Águas” – foi também recebida com satisfação pelo editor da Relógio D´Água, Francisco Vale, que sublinhou “a grande imaginação e o português rico e dos mais elaborados, no espaço da Língua Portuguesa”, na obra da autora. “É um prémio merecido. É a autora que melhor está a escrever em Língua Portuguesa, actualmente”, sublinhou Francisco Vale, que publica a obra de Hélia Correia desde meados dos anos 1980. A

Rua de S. Domingos 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • mail@livrariaportuguesa.net

Occupy • Noam Chomsky

Cinerama Peruana • Rodrigo Magalhães

Desde o início do movimento Occupy, em 2011, Chomsky apoiou a crítica à corrupção empresarial e incentivou a participação cívica, em prol da igualdade económica, da democracia e da liberdade. Neste livro de protesto, um conjunto de intervenções e discursos dirigidos ao movimento Occupy, ilustrado por fotografias que retratam o ambiente vivido nas manifestações, o autor apresenta as exigências e os temas que levam gerações a manifestar-se, reflecte sobre as actuais desigualdades económicas e aponta vias para superar as políticas neoliberais e de austeridade.

Um aprendiz de alfaiate tornado ensaísta de reduzida fama e menor proveito: Harry Heels. Dois irmãos, gémeos idênticos, enlutados e enfadados. Três assassinos que atravessam fronteiras sem nunca deixarem de regressar a casa. De uma maturidade literária verdadeiramente excecional, Cinerama Peruana desenvolve e articula estes três universos através de um tema comum: o do discípulo que ultrapassa o mestre.
Uma voz nova e surpreendente no panorama ficcional português.


eventos 15

a-feira 19.6.2015

hoje na chávena Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

Groselheira-negra Nome botânico: Ribes nigrum L. Família: Saxifragaceae (Grossulariaceae). Nomes populares: Cassis. Arbusto que pode alcançar os 2 metros de altura, a Groselheira-negra apresenta ramos duros de cor clara e folhas palmeadas, divididas em 3 a 5 lóbulos triangulares, com várias glândulas resinosas na página inferior; as flores são pequenas e esverdeadas e os frutos, quando maduros, bagas negras. É espontâneo nas regiões temperadas do norte e centro da Europa e Ásia ocidental e central. Cultiva-se como ornamental e ainda pelo seu fruto agridoce. As suas folhas secas, picadas, foram empregues como substituto do tabaco. As bagas são ricas em vitamina C particularmente resistente ao calor e oxidação. A sua utilização medicinal perde-se no tempo, tendo já sido avaliada pelos investigadores. Em fitoterapia são usadas as folhas, gemas, frutos e o óleo das sementes.

resa Relógio D´Água vai reeditar agora todas as obras de Hélia Correia, que ficarem esgotadas no mercado, e ainda publicar um volume com obras escolhidas.

Camões sempre

Figura discreta da Literatura Portuguesa, que vive longe dos holofotes da fama, a escritora Hélia Correia, Prémio Camões 2015, tem uma obra literária premiada com os mais importantes galardões literários nacionais. Licenciada em Filologia Românica, Hélia Correia estudou teatro clássico e editou poesia nos anos 1980, mas foi como ficcionista “que se revelou como um dos nomes mais importantes e originais da sua geração”, como afirmava ontem a secretaria de Estado da Cultura. “Lillias Fraser”, um romance histórico passado entre Portugal e Escócia, publicado em 2001, foi o

que lhe valeu mais prémios literários: o Prémio de Ficção do Pen Club e Prémio D. Dinis. Antes desse, a autora tinha visto “A casa eterna” ser distinguido com o Prémio Máxima de Literatura, em 2000. Este ano, a obra “Vinte Degraus e Outros Contos” valeu-lhe o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, que lhe foi entregue na passada segunda-feira.

“Não sinto que mereça, porque sou muito preguiçosa e descuidada na minha relação com a projecção literária, vivo num mundo muito separado do mundo social que possa estar ligado à literatura”

Em 2013, quando recebeu o Prémio Correntes d’Escritas Casino da Póvoa, pelo livro de poesia “A Terceira Miséria”, Hélia Correia afirmava que não gosta muito de prémios e distinções. Nesse ano recebeu ainda o Prémio PEN Clube Português de Poesia e o Prémio Vergílio Ferreira 2013, pela Universidade de Évora. “Bastardia”, “O número dos vivos”, “Soma”, “A chegada de Twainy”, “A ilha encantada” (adaptação para os mais novos da peça “A tempestade”, de Shakespeare) e “Adoecer” são outros títulos publicados pela autora. O Prémio Camões foi instituído por Portugal e pelo Brasil em 1989 como forma de reconhecer autores “cuja obra contribua para a projecção e reconhecimento da literatura de Língua Portuguesa em todo o mundo”, sustenta a organização. O primeiro distinguido, em 1989, foi o escritor português Miguel Torga. Em 2014, o Prémio Camões foi atribuído ao historiador e ensaísta brasileiro Alberto da Costa e Silva. “Camões é um nome muito importante na minha vida. É a referência maior da Língua Portuguesa”, frisou a escritora. HM/Lusa

Composição • Folhas: Flavonoides em abundância, ácidos fenólicos, ácidos orgânicos, antocianósidos, taninos e pequena quantidade de óleo essencial; contêm ainda vitamina C e sais minerais. São muito aromáticas. • Gemas: Antocianósidos, flavonoides, vitamina C e aminoácidos. • Frutos: Antocianósidos responsáveis pela sua cor característica, flavonoides, carotenoides, ácidos fenólicos e seus ésteres, ácidos orgânicos, pectinas e pequena quantidade de taninos; açúcares, vitamina C e sais minerais. • Óleo das sementes: Rico em ácidos gordos ómega 3 e 6. Acção terapêutica • Folhas e gemas: Têm acção diurética e depurativa, aumentando a eliminação de ácido úrico e ureia. São usadas em curas primaveris (depurativas), edemas, obesidade acompanhada de retenção de líquidos, hipertensão arterial, níveis elevados de ácido úrico ou ureia, litíase renal e infecções urinárias. Estimulam as glândulas supra-renais, proporcionando efeitos anti-inflamatórios e anti-alérgicos semelhantes aos da cortisona, porém sem os seus efeitos secundários. São recomendadas no reumatismo, artrite, gota, dores articulares e inflamações osteoarti-

culares, beneficiando igualmente casos de asma, alergias e enxaquecas. Pelo efeito adstringente são empregues na diarreia. • Frutos: Têm forte acção antioxidante, protegem os vasos sanguíneos, diminuem a permeabilidade e aumentam a resistência dos vasos capilares, prevenindo os edemas e derrames; melhoram a microcirculação na retina (olho), favorecendo a acuidade visual e a visão nocturna; detêm as hemorragias. Por estes efeitos são usados nas manifestações de insuficiência venosa (edemas nos membros inferiores, varizes, hemorroidas, flebites), fragilidade capilar, retinite pigmentária, miopia progressiva, hemeralopia (cegueira nocturna), arteriosclerose e acidentes vasculares cerebrais. Pela acção vitamínica, anti-inflamatória e anti-viral, são empregues para prevenir e acelerar a recuperação das afecções respiratórias, sendo especialmente indicados para as crianças. • Óleo das sementes: Devido ao elevado teor em ácidos gordos essenciais tem acção anti-inflamatória, protege contra as doenças cardiovasculares, regula os ciclos menstruais e regenera a pele melhorando a sua textura. Tem indicação na artrite reumatóide e esclerose múltipla, colesterol elevado e prevenção da arteriosclerose, síndrome pré-menstrual e transtornos da peri menopausa. Como tomar • Uso interno Infusão das folhas: 1 colher de sobremesa por chávena de água fervente. Tomar 3 chávenas por dia, fora das refeições. Em ampolas, xarope, tintura ou cápsulas, em simples ou fórmulas, para inúmeras indicações. Tomar de acordo com a bula. • Frutos: Podem ser consumidos frescos, crus ou em sumo. Utilizam-se na confecção de geleias, compotas, marmeladas e xaropes. É famoso o licor de Cassis. Precauções Contra-indicada em caso de cardiopatias e insuficiência renal devido à actividade diurética poder provocar descompensações (folhas e gemas). Não se encontram descritos efeitos secundários nas doses terapêuticas. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.


desporto

A

os 23 anos, e a grande referência do plantel da Casa de Portugal. Com as suas seguras exibições, a equipa de matriz portuguesa conseguiu, pelo menos, o feito de chegar á última jornada da Liga de Elite e poder continuar a sonhar com a permanência. Rodrigo Quaresma acredita que a sorte está com os lusos. O guarda-redes português, nascido nos Açores, dá prioridade à vida académica mas não descarta o sonho da sua vida: chegar à I Liga portuguesa. Ao HM, revelou ser fã de Michel Preud’homme e acusa os dirigentes de acabarem com o futebol português.

Quem é o Rodrigo Quaresma? Sou um açoriano apaixonado pelo futebol. Considero-me uma pessoa humilde, mesmo almejando dar um passo gigante neste desporto. Seja como for, a prioridade está nos estudos e pretendo terminar o curso universitário. Sou tímido, um pouco introvertido mas, quando ganho confiança, torno-me mais amigo. Com que idade começou a jogar futebol federado? Com seis anos, no Santa Clara [dos Açores]. A minha família esteve sempre ligada ao clube. Aliás, um dos meus avôs chegou mesmo a ser presidente do clube. Ao longo da minha vida, foi com grande prazer que joguei pelo Santa Clara. Lá fiz toda a minha formação, desde os seis até aos 18 anos, ou seja, desde as escolinhas até aos juniores. E depois? No meu primeiro ano de faculdade, que correspondeu ao meu último ano de júnior no futebol, fui para Coimbra estudar. Parei dos 18 aos 19 anos, mas o bichinho estava sempre presente. Depois desse ano, fui jogar para o Tabuense, depois joguei no Arganil, onde tive um ano muito bom, até que cheguei ao Febres onde fiquei duas épocas até vir para Macau. Todo esse percurso que fez nesses clubes do distrito de Coimbra foi nos Distritais? Sim, certo. Basicamente, na Divisão de Honra de Coimbra que é a ‘pole’ de acesso ao Campeonato Nacional de Seniores, coisa que quase aconteceu quando estava no Febres, o ano passado. Acabámos o campeonato na segunda posição e vencemos a Taça de Coimbra. Ao termos vencido esse troféu, carimbámos a nossa presença na Taça de Portugal. Foi, até hoje, o momento mais alto da minha carreira como futebolista sénior. Falou em terminar o curso universitário. Como consegue conciliar os estudos com o futebol? Para ser honesto, sempre sonhei ser jogador de futebol. Contudo, tive a

sorte de ter uns pais que sempre me encaminharam para os estudos. O futebol, sempre paralelo, é um hobbie. Repare, por mais que queira singrar no mundo do futebol, sei que esse mundo é muito instável, ingrato e injusto. Nem todos serão jogadores de topo e, mesmo que o sejam, têm apenas 14/15 anos para ganhar dinheiro. Depois há ainda as lesões. Enfim, tendo estudos, as coisas podem tornar-se mais fáceis. É sempre mais uma muleta que possuo. Este é o meu plano B. Tentando perceber melhor o seu percurso. Quando chega aos juniores do Santa Clara, era titular? Porque não ficou e apostou ficar no clube, já que se trata de um emblema de II Liga? Na altura, tanto eu como o meu companheiro éramos os melhores guarda-redes da ilha de São Miguel. Ora jogava ele, ora jogava eu. Pessoalmente, as coisas começaram a correr melhor para ele, mas depois correram melhor a mim e acabei por ter directa influência na conquista da Taça de São Miguel, onde defendi três penáltis. Contudo, ele não tinha estudos e estava mais vocacionado para seguir o futebol. Os dirigentes sabiam que a minha prioridade era a escola. Naturalmente, que tenho desgosto de nunca ter representado a equipa sénior do Santa Clara mas julgo ter a porta aberta para um dia, quem sabe, regressar.

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Entrevista Rodrigo Quaresma, guarda-redes da Casa de Portugal

“Temos tudo para gonçalo lobo pinheiro

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Que curso é que está a frequentar? Ciências do Desporto. Parei agora, este semestre, para poder abraçar esta oportunidade que a Casa de Portugal me deu, mas tenho estado a estudar e vou fazer os exames de recurso assim que regressar a Portugal, no final do campeonato. Sendo que os seus pais sempre o fizeram ver que os estudos estavam primeiro, como é que reagiram a esta decisão de vir para Macau? A minha mãe, ao início, ficou em choque [risos]. Não estava à espera deste cenário. Contudo, depois de ter falado com ela a sério, deu-me todo o apoio. Já o meu pai, mostrou-se sempre mais à vontade desde

“Benfica, Ka I, Sporting, Monte Carlo ou Chao Pak Kei são equipas que despertam outro tipo de ilusão aos jogadores. Quem é que não gosta de jogar para ficar entre os primeiros?”

o primeiro instante. Ele entendeu que tinha uma oportunidade que não deveria ser deitada fora. Posto isso, não pensei duas vezes e vim para Macau, muito por culpa do Leonel [Carlos Leonel, jogador do Benfica de Macau, que jogou com Rodrigo no Febres na época 2013/2014]. Chegou a Macau com a época em andamento, numa altura em que a Casa de Portugal estava muito mal na classificação e as coisas têm corrido bem. A grande maioria do plantel é composta por jogadores amadores, que têm outras profissões e outras preocupações. Por isso, nem sempre levam a sério esta coisa de ser jogador de futebol. O mister Pelé pediu-me o máximo de trabalho e concentração na luta pela manuten-

ção na Liga de Elite. Pessoalmente, penso que tenho correspondido. O Rodrigo tem sido uma das boas surpresas do campeonato. Lá atrás sente o desequilíbrio que é notório no plantel da Casa de Portugal? É fácil ser guarda-redes nesta equipa? Vim para ajudar a equipa mas não é fácil, confesso. Há jogos em que me sinto incapaz e desamparado. Os meus companheiros da frente de ataque também falham muitas ocasiões de golo o que torna ainda mais difícil a luta contra os adversários. Mas o pior mesmo são as condições de trabalho. Em Portugal, mesmo que um clube seja minúsculo, tem sempre o seu terreno de jogo próprio. No Febres, treinava várias vezes por semana. Aqui, as coisas são bem diferentes.

Para piorar esse cenário, é quase impossível fazer um treino em que esteja o plantel todo reunido. Enfim, são situações que fazem parte deste futebol de Macau, às quais não estava habituado, mas que temos de saber encarar com a naturalidade possível. Macau é o que se pode chamar do reverso da moeda no futebol. Mas sente-se bem aqui. Muito bem. Quero, desde já, agradecer à Casa de Portugal por tudo o que tem feito por mim. Ao mister Pelé, ao Vilar, a todos os meus companheiros. Nada tenho a apontar, sempre me acolheram muito bem. Quando chegou, qual foi a primeira impressão do território? Em Portugal toda a gente sabe


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ficar na Liga de Elite” o que é Macau. Aliás, mesmo nos Açores, esta parte do mundo não é desconhecida. Sabia, mais ou menos, ao que vinha. Apesar disso, é sempre um choque quando se chega muito por culpa do clima. Penso que isso é o maior ponto negativo de Macau. Quando ao património, à comida, às pessoas só tenho a dizer bem. Apesar de ter chegado há pouco tempo, penso que me adaptei facilmente. Tem sido uma experiência muito boa. E é uma experiência para repetir? Não descarto. Vejo-me, perfeitamente, para o ano a vir jogar novamente a Liga de Elite. A Bolinha não me atrai. Sou jogador de futebol de 11, mas regressarei com todo o gosto para o ano, se surgirem convites. Penso que o campeonato de Macau tem potencial para ser muito melhor mas é preciso que a Associação de Futebol de Macau crie, urgentemente, condições para isso.

DADOS PESSOAIS Nome:

Rodrigo Araújo Goulart Quaresma

Data de Nascimento:

11-04-1992 (23 ANOS)

Nacionalidade: Portugal Altura: 178 cm Peso: 71 kg Posição: Guarda-redes

CLUBES POR ONDE PASSOU 2015 Casa de Portugal (MAC) 2014/15 Febres (POR) 2013/14 Febres (POR) 2012/13 Arganil (POR) 2011/12 Tabuense (POR) 2009/10 Santa Clara (POR) 2008/09 Santa Clara (POR) 2007/08 Santa Clara (POR) 2006/07 Santa Clara (POR) 2005/06 Santa Clara (POR) 2004/05 Santa Clara (POR)

Esse regresso a acontecer será para a Casa de Portugal ou almeja algo melhor? Tudo depende. Voltar a Macau só se me convidarem, naturalmente. Se os clubes daqui acreditarem em mim e no meu trabalho, oferecerem boas condições, terei todo o gosto em regressar. E nesse particular, tanto a Casa de Portugal como o Benfica ou o Ka I estão em igualdade. O futuro é uma incógnita. Tudo é possível. Mas agora que o guarda-redes do Benfica, Rui Nibra, assumiu que pretende regressar ao futebol português, o lugar dele não é tentador? [Risos]. Sou uma pessoa humilde. Não quero estar aqui a entrar por esse caminho e dizer que sou a pessoa ideal para substituir quem quer que seja. Vou esperar que as pessoas venham ter comigo e apresentem as suas condições. Mas, é óbvio, que Benfica, Ka I, Sporting, Monte Carlo ou Chao Pak Kei são equipas que despertam outro tipo de ilusão aos jogadores. Quem é que não gosta de jogar para ficar entre os primeiros? Neste momento, quais são os seus horizontes no mundo do futebol? Gostava de chegar à I Liga portuguesa mas sei que não é fácil. Em Portugal, há muitos jogadores de qualidade mas existe um grande problema. Os dirigentes

“Em Portugal, há muitos jogadores de qualidade mas existe um grande problema. Os dirigentes têm medo de apostar em jogadores portugueses e isso, a meu ver, é incompreensível” têm medo de apostar em jogadores portugueses e isso, a meu ver, é incompreensível. Assim, não vejo que seja fácil chegar alto no futebol. No entanto, sou novo, tenho 23 anos, e penso que, com trabalho e paciência, posso chegar mais alto. Veja isto que lhe vou dizer. O Rui Nibra é, claramente, o melhor guarda-redes a actuar em Macau e não é preciso perceber muito de futebol para ver que ele tem valor para jogar em melhores campeonatos, quem sabe chegar à I Liga portuguesa. Macau é pequeno demais para ele. Este ano, o futebol de Macau revelou bons guarda-redes. Destaque para o segundo bom ano de Rui Nibra mas também para as boas exibições de Batista, do Ka I, e as suas. Estes são os melhores de Macau na baliza? Pergunta difícil e ingrata [risos]. É muito complicado para mim falar sobre o meu trabalho. Penso que não o devo fazer. Deixo isso para outros, como por exemplo, para vocês jornalistas que gostam de fazer esse tipo de apreciações. Contudo, sei que tenho valor e os

“Nós só pensamos na vitória. E, como se costuma, dizer meio-a-zero chega. Estamos muito motivados e convictos de que vamos deixar a Casa de Portugal entre os maiores de Macau”

outros dois nomes que falou são excelentes profissionais. Vejo no Nibra e no Batista grandes guarda-redes, contudo o Rui é o melhor de todos. Falta uma jornada para o fim do campeonato. A Casa de Portugal está em posição de descida mas o calendário apresenta-se muito interessante para vocês. Sentem-se motivados? Temos tudo para ficar na Liga de Elite. Teoricamente, não dependemos apenas de nós, mas, se olharmos para o calendário, penso que dependemos exclusivamente de nós. Repare, o Benfica para ser campeão tem de vencer. Não há outra possibilidade, uma vez que o Ka I está apenas a um ponto. O Chuac Lun, ao perder com o Benfica – como esperamos -, fica à nossa mercê. O nosso jogo será último a ser realizado, no domingo. Vamos jogar contra o Lai Chi, equipa do nosso campeonato e a quem já vencemos na primeira volta. Eles estão descansados e penso que vão jogar tranquilamente. Nós só pensamos na vitória. E, como se costuma, dizer meio-a-zero chega. Estamos muito motivados e convictos de que vamos deixar a Casa de Portugal entre os maiores de Macau. Vai ser um jogo de matar ou morrer. Quem é o seu ídolo? Gosto de vários jogadores. Admiro o Iker Casillas, o Oliver Kahn e o Gianluigi Buffon. Contudo, e muito por culpa do meu pai que sempre me chamou esse nome, o guarda-redes mais importante da minha vida foi o Michel Preud’homme. A eterna discussão dos últimos anos. Quem é melhor: Ronaldo ou Messi? Penso que é o Cristiano Ronaldo. É o jogador mais completo. E, acima de tudo, temos de acreditar no que é nosso. Ronaldo é um trabalhador incansável. E está em alto nível em diversas situações, até mesmo nas suas acções da vida privada. É um jogador completo e, por isso, é o melhor do mundo. O Rodrigo é açoriano. O Pauleta é a maior referência do futebol do arquipélago? Com toda a certeza. O Pauleta é uma referência nacional e não regional. Aliás, até mesmo em França, é uma grande referência e um ídolo. Trata-se de uma pessoa muito humilde que chegou longe no futebol mundial. Até bem há pouco tempo, era o melhor marcador da Selecção de Portugal, já ultrapassado pelo Cristiano Ronaldo. É com muito orgulho que vejo um açoriano tornar-se num dos grandes nomes da história do futebol português. Gonçalo Lobo Pinheiro info@hojemacau.com.mo


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artes, letras e ideias

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DE GUANGZHOU ATÉ NANJING COM TOMÉ PIRES

“A

pesar de os Governadores de Cantão terem comunicado a Fernão Peres de Andrade, em 1518, que a embaixada fora aceite pela Corte Imperial, Tomé Pires aguardou quinze meses em Cantão” Gonçalo Mesquitela. A razão devia-se a Portugal não pertencer aos países tributários da China e por tal, para ser aceite em Cantão e obter autorização para ir à capital imperial, era necessário encontrar uma solução. Para ultrapassar tais impedimentos, os Governadores de Cantão aceitavam o Embaixador Tomé Pires como sendo oriundo de Malaca. Depois, já em Cantão, Fernão Peres terá ditado uma carta aos intérpretes, que a adaptaram com os termos tradicionais da diplomacia chinesa. Ficavam assim resolvidos os entraves iniciais para a Embaixada ser aceite em Cantão e poder seguir até Pequim. Fernão Peres de Andrade, antes da partida da sua frota para Portugal, disse aos Governadores de Cantão que, no ano seguinte, outro Capitão português iria com uma armada buscar o Embaixador. Fernão Peres chegou à Índia em finais de 1518 e o novo Governador das Índias, Diogo Lopes de Sequeira, que tomou posse em 27 de Dezembro, nomeou o sobrinho António Correia para ir com uma esquadra à China e trazer de volta Tomé Pires e seus companheiros. Mas o então Capitão do Mar, Simão de Andrade tinha escrito de Malaca em 10 de Agosto de 1518 ao Rei D. Manuel enumerando os bons serviços prestados. Segundo João Paulo Oliveira e Costa, Simão servira “a Coroa na Índia desde 1504, quando acompanhou Duarte Pacheco Pereira na defesa de Cochim contra as investidas do samorim de Calecut. Nos vinte anos que se seguiram, participou na maior parte das campanhas militares que levaram à criação do futuro Estado da Índia. Afonso de Albuquerque, por exemplo, cita-o sempre entre os combatentes mais aguerridos e os conselheiros mais temerários”. Fora um dos heróis da tomada de Malaca em 1511 conjuntamente com o seu irmão Fernão Peres. Pedia ao Rei para ser nomeado para um cargo mais importante. O Rei sabendo já do êxito da visita de Fernão Peres de Andrade à China, acedeu e enviou a Simão de Andrade um alvará autorizando a sua ida como Capi-

tão duma esquadra, quando seu irmão regressasse. Assim, Simão de Andrade com o alvará real foi enviado à China em lugar de António Correia, que parecia um homem muito mais qualificado para tal missão. Esta substituição revelou-se fatal tanto para a Embaixada de Tomé Pires, como foi causadora das desgraças que os portugueses sofreram na China durante os trinta anos seguintes. Contrastando com seu irmão Fernão, Simão de Andrade era homem de pouco tacto, caprichoso, violento, de um espírito conflituoso e muito cioso da sua posição social, características que os cronistas fazem salientar. Em Abril de 1519 partiu de Cochim para Malaca a esquadra comandada por Simão de Andrade e para além da sua nau, outros juncos acompanhavam-na cujos capitães eram “Jorge Botelho, Álvaro Fuzeiro, Jorge Álvares e Francisco Rodrigues (o cartógrafo),” segundo refere Gonçalo Mesquitela, que continua: “No entanto, Jorge Álvares ficou retido em Malaca por o seu junco ter aberto um veio de água, só conseguindo partir para a China no ano seguinte, com Diogo Couto.” Mas Armando Cortesão diz que à nau de Simão de Andrade só em Malaca se juntaram os três juncos. A pequena frota capitaneada por Simão de Andrade chegou a Tamão (que João de Barros chama Tumon, a actual Lin Tin) em Agosto do mesmo ano e “aí se instalou mas, devido à sua prepotência destruiria o trabalho pacientemente realizado por Fernão Andrade, criando uma situação muito embaraçosa na China para todos os portugueses” Gonçalo Mesquitela. “Simão de Andrade julgava, não sem razão, que quando chegasse a Tamão acharia Pires já de regresso de Pequim. Em vez disso, verificou que o Embaixador nem sequer tinha ainda partido de Cantão. Pires devia estar muito aborrecido com as insuportáveis demoras chinesas e certamente se queixou ao Capitão português. Acostumado ao prestígio e respeito então desfrutados pelos portugueses no Oriente, (Simão de) Andrade deve ter-se ressentido com tal procedimento, tomando-o como afronta ao brio lusitano. É natural que grande fosse a sua indignação e irritação. Isso, sem dúvida, contribuiu para os lamentáveis desmandos que cometeu – circunstância em que não atentaram tanto os historiadores do passado

como os do presente, embora essencial ao juízo deste muitas vezes discutido ponto da história” Armando Cortesão.

Fernão Peres com o Rei D. Manuel Após ter chegado ao Oriente como um dos Capitães da armada de 1505, Fernão Peres de Andrade, destacou-se nas campanhas contra Mombaça, Calecut, Cochim, Ormuz, Goa e Malaca e ainda, em 1513 na conquista da fortaleza de Upi, na Costa do Malabar, Índia. Apesar dos seus vinte e seis anos, Fernão Peres era já um veterano da Índia, onde servira a Coroa entre 1505 e 1513, enchendo-se de prestígio, primeiro sob o comando de D. Lourenço de Almeida, depois com D. Francisco de Almeida e por fim sobre a alçada do Governador Afonso de Albuquerque, que o deixou em Malaca como Capitão-mor do mar para defender a cidade recém-conquistada. Fernão regressou a Portugal onde esteve entre o Verão de 1514 e a Primavera de 1515, tendo a oportunidade de explicar ao Rei D. Manuel a importância do mercado chinês. Voltou Peres de novo ao Oriente, agora como comandante dum dos dezassete barcos da esquadra de Lopo Soares de Albergaria com duas missões, a de explorar o Golfo de Bengala (que não teve tempo de realizar) e de se dirigir a Cantão para deixar o Embaixador português, por ele escolhido na Índia, ao Imperador do Celeste Império. Tendo ficado catorze meses na China, aí deixou boas relações e uma boa imagem dos portugueses, causando um excelente efeito os pregões lançados na cidade antes de partir

para, se qualquer chinês tivesse recebido agravo de algum português ou algo lhe fosse devido, se lhe queixasse a fim de receber reparação ou pagamento. Saindo de Tamão em Setembro de 1518, Fernão Peres de Andrade chegou a Malaca onde “foi bem recebido e melhor festejado, assim pela riqueza que trazia a sua armada e provimento de munições de toda a sorte contra o Rei de Bintão. Resolvidas as coisas da guerra contra a sagacidade daquele rei, se partiu Fernão Peres com D. Aleixo de Menezes, capitão daqueles mares, e chegaram ambos a Goa a tempo que já tinha acabado seu governo o Governador Lopo Soares” Gonçalo Mesquitela. Demorou-se na Índia um ano, partindo em Janeiro de 1520 para Lisboa,


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José Simões Morais texto e foto

onde chegou em Julho. Damião de Góis diz: <por a cidade de Lisboa estar tocada de peste, se foi (Fernão Peres) a Évora, onde então El-Rei estava com a Rainha D. Leonor, sua derradeira mulher, dos quais foi mui bem recebido, e El-Rei lhe perguntava muitas vezes pelas coisas da China, e das outras províncias daquela região, ouvindo-as com muito gosto, porque de seu natural era curioso de saber o que passava pelo mundo, para disso tomar o que mais cumprisse ao governo de seu Estado, Reinos e Senhorios>. “Isto mostra o interesse que as minuciosas notícias da China – trazidas directamente por Andrade e seus companheiros – despertaram em Portugal e explica como os cronistas tiveram tanto material para as suas extensas descrições de Cantão, chegada de Pires e tudo o que se passou com Andrade e a sua esquadra” A Cortesão. E João Oliveira e Costa refere: “O sucesso da viagem de Fernão Peres de Andrade entusiasmou, certamente, D. Manuel I. O monarca via, assim, coroados de êxito os esforços de mais de

uma década, para levar os seus súbditos até aos limites do espaço que lhe cabia segundo o tratado de Tordesilhas. A partir de 1519, o rei promoveu um novo surto expansionista no Oriente, a que não escapou a China; convicto de que se conseguiria estabelecer um acordo com os chineses, D. Manuel concebeu para o mar da China o mesmo modelo de fixação que já resultara noutras regiões do Oriente.”...”estabelecimento de uma feitoria no Celeste Império, criação de uma armada da China e de outra para fazer a viagem entre Samatra e Cantão, construção de navios e de uma fortaleza na própria China.”

A razão da demora Simão de Andrade chegou a Tamão em 1519, para recolher de volta a Embaixada, mas Tomé Pires ainda se encontrava em Cantão. Segundo a leitura de Wu Zhiliang, após consultar um documento coreano, a morosidade burocrática de três anos do Tribunal dos Ritos, cujo responsável era natural de Cantão

“Durante a travessia das montanhas morreu Duarte Fernandes. Seguiram então para o norte, em direcção a Nanquim, mas não se sabe exactamente o caminho tomado. É de supor que a embaixada tenha feito percurso idêntico ao de outros viajantes europeus posteriores, como o padre Ricci, em fins do século XVI” e hostil aos portugueses, foi propositada. Uma das razões foram as palavras irreverentes sobre a pousada oficial que os portugueses acharam pouco digna para albergar a embaixada, o que deixou o Tribunal dos Ritos ofendido e por isso, atrasou o despacho para a sua recepção. Referindo-se às demoras impostas a Tomé Pires e sua Embaixada, João de Barros comenta: <É tanta a majestade deste Príncipe (o Rei da China), e os negócios desta qualidade são tão vagarosos, principalmente quando gente estrangeira há-de ir a ele, por tudo ser resguardos, e cautelas, que há mister muita paciência quem houver de esperar seus vagares>. Paciência não era a principal virtude de Simão de Andrade, e ele cometeu vários actos que as autoridades chinesas consideraram que infringiam as suas leis, tais como a construção dum forte de pedra e madeira em Tamão, sob pretexto de defesa contra os piratas, e o levantamento duma forca em que um marinheiro foi executado. Sobre o comportamento bárbaro de Simão de Andrade pesavam, a construção de uma fortaleza sem qualquer permissão da parte chinesa, ter roubado os mercadores que foi encontrando, ter matado um marinheiro e raptado crianças. Tais acções levaram os chineses a ficarem alarmados, tanto com a força das armas, como com o carácter velhaco dos portugueses e por isso passaram a olhá-los como “fan kwei” (em mandarim feng gui 疯鬼) - diabos estrangeiros. Não sabemos se estes e outros actos mais repreensíveis foram praticados antes de Pires ter partido de Cantão, mas sem dúvida tiveram a mais desastrosa repercussão em acontecimentos futuros.

Viagem até Nanjing A embaixada de Tomé Pires só em 23 de Janeiro de 1520 iniciou a viagem

até Beijing (北京, Pequim). No entanto, a meio caminho, em Nanjing (南 京, conhecida pelos portugueses por Nanquim) encontraram-se com o Imperador, nessa altura Zhengde (150521). De Cantão, Tomé Pires e o seu séquito partiram rio acima em três galés chinesas movidas a remos “com toldos de seda e desfraldando bandeiras portuguesas” segundo A. Cortesão, mas Rui Loureiro diz serem as bandeiras da Embaixada imperiais e representavam um dragão, que João de Barros chama “um leão rompente”. Continuando com A. Cortesão: “Ao chegarem ao sopé da serrania Norte da província de Kuantung (Guangdong), deixaram as galés e seguiram em liteiras, a cavalo e a pé, através do Passo de Meiling (Meiguan, 梅岭关), provavelmente de Nanhsiung (Nanxiong南雄) para Nan’an (南安).” Segundo Rui Loureiro: “a missão portuguesa apenas teve de desembarcar em Nanxiong, para a travessia das serras de Nanling, a que Barros chama Malenxam, que se estendem na fronteira entre as províncias de Guangdong, Jiangxi e Fujian. Daqui, Tomé Pires escreveu pela primeira vez a Simão de Andrade por um mensageiro chinês, comunicando-lhe os sucessos da jornada.” A. Cortesão refere que: “Durante a travessia das montanhas morreu Duarte Fernandes. Seguiram então para o norte, em direcção a Nanquim, mas não se sabe exactamente o caminho tomado. É de supor que a embaixada tenha feito percurso idêntico ao de outros viajantes europeus posteriores, como o padre Ricci, em fins do século XVI”. Essa jornada, após atravessada a passagem de Meiling e já em Nan’an, que hoje é a vila de Dayu (大余), de novo se voltava a embarcar e navegando primeiro pelo Zhangjiang (章江) passando por Nankang (南康) chegava-se a Ganzhou (赣州), onde o rio desaguava no Ganjiang (赣江), que era um afluente do Yangtzé (长江, Changjiang). Ao longo do percurso atravessava as povoações de Wan’an (万 安), Ji’an (吉安), Linjiang (临江, hoje conhecida por Zhangshu), Nanchang ( 南昌) e entrando pelo Lago Poyang ( 鄱阳湖) chegava à cidade de Jiujiang ( 九江), já banhada pelo Changjiang, o terceiro rio mais longo do mundo. Daí era só seguir navegando pelo Rio Yangtzé (nome por que é conhecido o Rio Chang pelos ocidentais) uns quinhentos quilómetros, para chegar a Nanjing. A Embaixada portuguesa levava já mais de três meses desde que saíra de Guangzhou, quando chegou em Maio de 1520 a Nanjing.


20

h

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Vizinhos lunares

A

esta hora em que começo a escrever, olho para o lado e há uma lua enorme e hipnótica sobre o telhado em frente. Em dois dias será lua cheia. Exactamente às 18:21:57. A precisão do tempo, tão contrária à ilusória precisão da percepção. Ou da mesma ordem. Este planeta tão vizinho e o fascínio que exerce sobre nós. Como um espelho de que precisamos, a dizer que existimos como ela ali solta no universo, e igualmente visíveis de fora. E pensei nos meus vizinhos lunares. Tenho um lugar na varanda das traseiras que curiosamente me dá uma enorme abstracção da minha vida. Talvez porque nele me sento geograficamente de costas para o meu pequeno mundo. O lugar de sair. De ficar horas pela noite fora a beber e a fumar cigarros colados uns aos outros. Gosto da ilusão de que não sou vista ali, nestas noites finalmente amenas. Dados: a minha vizinha das traseiras, Rosário, provavelmente um rosário de lágrimas por detrás desse nome. Vi-a perder os dentes, a tinta do cabelo ao longo de meses, o marido com cancro depois de muito tempo acamado, a mãe no andar de baixo. O pai, uma figura tristíssima e lenta a estender a roupa depois disso e mais tarde a perder as pernas, ele. Cruzávamo-nos muitas vezes as duas, naquele espaço apertado de saguão, a estender roupa. Ou a passar a ferro de janelas abertas. Eu no quarto do fundo e ali a quatro, cinco metros, ela, a passar pilhas imensas da roupa do restaurante e outra, com que ganhava a vida. Ouvia-lhe a máquina de lavar non stop pela noite adentro. Há muito que não a vejo. Mudou-se para o rés-do-chão com o pai depois da tragédia. Esse prédio de empena feia está tão silencioso desde há uns tempos. Não sei destes meus vizinhos que me ofereciam plantas. As últimas vezes que a vi foi na rua a distribuir aqueles papelinhos dos restaurantes. Uma vida difícil é assim. E aqueles, num outro pequeno prédio ali mesmo mas num recanto de difícil acesso ao olhar, de tal forma que nunca os vi, que cantavam em coro nas noites quentes do verão passado, belas canções numa língua de leste. Mesmo com o karaoke, quase bem de mais para ser verdade assim só, em reuniões de expatriados nostálgicos. E aquela figura de rapaz oriental enquadrada pelo rectângulo da janela, sempre frente ao computador, com um prato de comida sem mais. O outro ano após ano, mal as janelas começam a abrir, a improvisar notas num saxofone sem nunca evoluir numa melodia sequer. E a senhora que passeia entre a padaria e a mercearia em robe azul turquesa. Não sei se me interesso mais pelas almas ou pelos indivíduos. Num momento direi uma coisa e logo no momento seguinte a outra…suponho que pelos segundos talvez, mas a uma distância assim lunar. Mas a mais lunar figura de todas, aquela rapariga de ar renascentista, branca como não é possível ser mais, e que estendia uma toalha com gestos lentos e repetitivos, de emenda meticulosa. E nua. Nua e abstraída de toda a possibilidade de haver um mundo para além daquela toalha que levava uma eternidade a ser presa nas molas. Corrigida na posição, esticada. Vi-a mais do que uma vez assim.

Eternizou-se nos meus sentidos e na memória a figura extática, alheada, lenta, de olhos baixos. Até porque a via de cima. Depois pareceu-me ver no arredondado do ventre que talvez estivesse grávida o que explicaria esse lado lunar, talvez. Mas nunca entendi porquê nua. Sem sensualidade, sem pudor, sem consciência. Sem tempo. Sem realidade. Aquela rapariga de leste ou de Marte. Branca, etérea e suave até quase à transparência. Tão real ou tão pouco, como aquela minha figura querida, que vi em sonhos pendurada na janela em frente daquela, numa altura de ímpetos suicidas. Envolta numa luz de madrugada. Ambas vistas do mesmo canto da visão. Estes são os dados. Não sei bem o que é que a lua tem a ver com este meu deambular pela varanda das traseiras, exceptuando o facto de que à escala do universo também ela é simultaneamente próxima e inalcançável. Pomos os olhos nela e sonhamos. Nesse desfasamento de um segundo-luz que nos separa. Mas precisamos dessa distância satélite. Dados: eu, no bom tempo, sentada na varanda das traseiras, um microcosmos, a fumar e a beber cervejas. A não querer ser vista. A ver o que se oferece. Não espio, mas também não evito ver. Gosto de ver as pessoas. Os indivíduos interessam-me a essa distância orbital. Desconhecidos girando na órbita uns dos outros recobertos de camadas de sentido que permitem aproximações e afastamentos alternados. Outros mais aquém numa outra camada, aquém mesmo dos limites do tacto. Embora mesmo o olhar, à partida pareça possuir também esse sentido. Toda a vida me disseram distante, porque a proximidade é secreta. A minha. Aproximo as coisas com os olhos e escondo-o. Mas aproximo-as. Às vezes com uma carícia. e forja-se assim com estes e outros personagens uma órbita próxima, definida pela persistência do olhar, como uma corda esticada. Em camadas sucessivas a diferentes distâncias, medidas na intensidade da minha consciência delas. Mas não porque eu seja o centro deste sistema, nada gravita em meu torno que não sou centro de nenhuma força gravitacional. De nada. A distância é uma coisa relativa que se palmilha com os olhos. Na realidade nunca me senti o centro de nada. Sou mais uma personagem periférica. Ou talvez mesmo marginal. Com curtas incursões ao vórtice. Porque me prendem a atenção as pessoas na sua generalidade de indivíduos tanto como na sua especificidade de seres ou entes. Ou vice versa. Não porque eu as ache interessantes ou bonitas por defeito. Interessam-me na sua realidade por vezes estranha. Mas aquilo que as desfeia, aos meus olhos é a vida que as estraga. É uma expressão de antigamente esta de dizer da aparência de alguém envelhecido, que está estragado. Não sendo necessariamente a mesma coisa. A existência que desgasta e retira a dinâmica muscular que dá vida aos olhos, por exemplo. Nada tão revelador da alma como um certo encurvar dos ombros. Nada diz mais do indivíduo do que a forma como se apresenta fisicamente, como diz de si com o corpo, não: estou; mas: pesa-me. A alma imprime uma dinâmica

ao sentir e este é um motor corporal. E não existe forma sem expressão. E por isso o indivíduo é uma forma tocada de uma expressão própria ou uma impressão da alma nele enquanto forma em acção. O modo e o rítmo do andar. Com as mãos é a mesma coisa, sempre senti estranho o facto de tantas pessoas darem uma particular atenção a esta parte expressiva do corpo. Esteticamente. Nunca me aconteceu. Entendi porquê…O que me atrai é a forma como as pessoas movem os objectos, como se pressente a sua consciência do tacto. Como tocam as coisas e as tacteiam. E nas pessoas. Isso sim, fascina-me. E a boca. Interessa-me a relação da boca com ela própria, como pronúncio da sua vocação terna ou sensual. É tudo uma questão de autoconsciência. Observo a consciência de si numa boca, num gesto que se faz no próprio corpo…No andar. Muito mais do que a forma desse todo, é a sua gestão que me fascina… O segredo de muitos dos sintomas, diria da alma, está nessa existência muscular, na disciplina ou no desalento que ao longo do tempo franze em rugas, crispações, revira os sorrisos para baixo nos cantos. E aos sintomas, não adianta muito tratar. É como uma representação barata de um estar que não se confirma de dentro. Como na medicina oriental não se tratam os sintomas, no teatro, uma boa representação é aquela em que se interpreta não esses sintomas exteriores, mas se actua em função das causas, sentidas por dentro, vistas de dentro e traduzidas numa expressão que pode ser representada e como tal ilusória, mas é sentida. Há muitos anos alguém me referiu um livro, que na realidade nunca li, mas retive o nome em tradução livre: As escadas traseiras da Filosofia (“Die Philosophische Hintertreppe”, Wilhelm Weischedel, um livro de 1966). Não se trata de eu não encarar com alguma desconfiança, a tentativa de ler no quotidiano de alguém, aqui trinta e quatro filósofos, os sinais ou sintomas do seu interior intelectual, emocional, espiritual. Mas o próprio Wittgenstein, um dos filósofos referidos, afirma que nada é melhor do entender o indivíduo, para se lhe entender a alma. Geralmente pensamos o contrário. Mas a alma é de impossível acesso. É uma causa de que só se apreendem os sintomas ou sinais. Alguns. O caso de W. fascina-me porque se debruçou como ante o segredo de todas as coisas, sobre a linguagem e as suas armadilhas. As palavras como erro ou aparência. Nem estou bem certa de que ele tenha usado a palavra alma. Também não estou segura de ter grande apreço por esta, senão num sentido poético. Wittgenstein não é nada fácil, não é nada lúdico no seu discurso. Aliás nos seus diálogos socráticos. É preciso sentí-lo de dentro. De resto, a partir de uma certa altura na vida, as grandes revelações parecem vir por vezes de reflexos como num espelho que nos diz aquilo que já intuíramos. Uma empatia ou reconhecimento um pouco centrados na validação do que a humildade não trazia à consciência. Mas esta perspectiva da análise de grandes pensadores no seu quotidiano, antecede no fundo o conceito de inteligência emocional dos anos noventa. De como os factores não intelectuais influenciam o comportamento


artes, letras e ideias 21

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de tudo e de nada

Anabela Canas

anabela canas

inteligente. Mas já Darwin referia a importância da expressão emocional na sobrevivência e na adaptação. E esse lado privado da vida é parcialmente visível nas traseiras dos prédios. São um lugar de exposição não esperada, da privacidade das roupas interiores estendidas, no seu melhor e no seu pior. Dos cabelos despenteados ao acordar, das camisolas de alças transpiradas. Dos robes desbotados. Dos telefonemas de sedução, que oiço a vizinhos de várias gerações. Das discussões sem pudor porque se passam lá atrás. Dos cães fechados em varandas mínimas e que ladram e ganem a horas desorbitadas. E dos gatos, claro. Do lado da frente, da janela do meio tenho desde há meses a vizinhança um pouco desalinhada, meio andar mais abaixo, mas ali em frente, de uma nova habitante. O quarto, neste caso não é resguardado lá atrás, e é igual a todos os outros que vejo pelas outras janelas, as colchas iguais, a mesma síntese um pouco fria, a limpeza, e poucos objectos pessoais. Ela tem uma característica diferente das outras habitantes, é noctívaga como eu. E tem a janela aberta de dia e de noite. É um pouco embaraçoso mas eu vejo-a deitada na cama, a dormir. Pouco. De vez em quando. Gosto desta companhia. Não sei se ela me observa discretamente como eu a ela. Às vezes vou ver se já dorme e fico desapontada por que me parece que desistiu de esperar algo da noite. Ali fechada nada de especial pode acontecer mas ela espera. Se calhar só que o sono venha. É uma mulher com história de vida. Parece repleta. Fuma à janela e ouve um aparelho de rádio minúsculo às escuras. Não é nada nova mas tem postura de alguém que não encolheu nunca os ombros. Poderia ser uma actriz ou uma cantora de ópera, fantasio, pela figura volumosa mas empertigada. Com dignidade. Não é bonita, pareceme, mas mal a vejo. É de noite que está ali. Debruçada no parapeito e a fumar. Sempre. O que me perturba um pouco nestas vidas que se vão sucedendo nestes quartos, é o pouco que elas trazem consigo. Poucos objectos, poucas testemunhas físicas da vida vivida. Como se não tivesse sobrado nada ou fosse uma etapa passageira, como o é sempre, mas ali, um pouco mais. Pensando melhor, poderia ter sido dona de um bordel mediano, ou patroa de pensão, arrumadora num clube de encontros para lá de clandestinos, camareira num teatro ou mesmo actriz. Ou uma cantora de ópera de segundo plano. Tem volume e pose para isso tudo, volto a pensar. E neste país, tanto acabam num lar da Misericórdia uns como outros. Ou pior. Esquecidos em quartos, em casas mantidas a custo, numa vergonha do insucesso da velhice e da pobreza, nada mais que uma subvivência marginal. Tem um ar vivido. Sei lá eu porque é que naquela geração, uma mulher que fuma tem sempre um ar mais vivido. E o que significará isso a mais de existência. Mas de existência agora não lhe vejo camadas. Não lhe vejo gente, e só parece aparentar uma espera. Ou uma chegada, afinal. Não consigo deixar de pensar que a vida não lhe anda. Chegada à última estação. E sentir que é o fim da linha. E só. Tenho medo.


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EDITAL

EDITAL

Edital nº : 3/E-OI/2015 Processo nº : 287/OI/2012/F Assunto :Início do procedimento de audiência pela infracção às respectivas disposições do Regulamento Geral da Construção Urbana (RGCU) Local :Rua da Doca Seca n.º 62, Edf. The Praia T2, fracções 7.º andar G, 7.º andar K, 7.º andar MM, 8.º andar J, 8.º andar MM, 10.º andar J, 10.º andar MM, 13.º andar K, 16.º andar G, 16.º andar J, 17.º andar K, 21.º andar G, 26.º andar K, 27.º andar K, 45.º andar K, Macau. Cheong Ion Man, subdirector substituto da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), faz saber por este meio aos donos da obra ou seus mandatários, ao encarregado da obra, aos técnico responsável pela obra e executores da obra existente no local acima indicado, cujas identidades se desconhecem, o seguinte: O agente de fiscalização desta DSSOPT deslocou-se ao local acima indicado e verificou 1. a realização das obras abaixa indicadas que infringiram o disposto no nº 1 do artigo 3º do Decreto-Lei nº 79/85/M (RGCU) de 21 de Agosto, alterado pela Lei nº 6/99/M de 17 de Dezembro e pelo Regulamento Administrativo nº 24/2009 de 3 de Agosto, pelo que as obras são consideradas ilegais:

2.

Fracção

Andar

1.1

G

7

1.2

K

7

1.3

MM

7

1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13 1.14 1.15

J MM J MM K G J K G K K K

8 8 10 10 13 16 16 17 21 26 27 45

Nestas circunstâncias e nos termos dos artigos 52º e 65º do RGCU, pode ser ordenado que os infractores procedam à demolição das obras ilegais referidas no ponto 1, e à reposição da parte comum afectada do edifício (parede exterior do edifício) de acordo com o projecto aprovado por esta Direcção de Serviços, pelo que, são sancionáveis com multa de $1 000,00 a $20 000,00 patacas. Nos termos dos artigos 93º e 94º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei nº 57/99/M, de 11 de Outubro, os interessados podem apresentar a sua defesa por escrito e as demais provas para se pronunciar sobre as questões que constituem objecto do procedimento, bem como requerer diligências complementares no ponto 4 abaixo indicado, no prazo de 10 (dez) dias contados a partir da data de publicação do presente edital.

4.

No entanto, os interessados podem proceder à demolição das obras acima indicadas por iniciativa própria, devendo entregar previamente nestes Serviços a declaração de responsabilidade do construtor incumbido da obra de demolição e a apólice de seguro contra acidentes de trabalho e doenças profissionais, no prazo de 10 (dez) dias contados a partir da data de publicação do presente edital. O processo pode ser consultado durante as horas de expediente nas instalações da Divisão de Fiscalização do Departamento de Urbanização desta DSSOPT, situadas na Estrada de D. Maria II, nº 33, 15º andar, Macau. (telefones nos 85977154 e 85977227)

Aos 15 de Maio de 2015

: 4/E-BC/2015 :362/BC/2012/F :Início do procedimento de audiência pela infracção às respectivas disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) : Rua da Doca Seca n.º 62, Edf. The Praia T2, fracções 9.º andar M, 13.º andar M, 13.º andar J, 25.º andar K, 27.º andar K, 27.º andar L, 27.º andar M, 27.º andar MM, 28.º andar M, 30.º andar G, 31.º andar G, 31.º andar I, 45.º andar G, 47.º andar MM, Macau.

Cheong Ion Man, subdirector substituto da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), faz saber por este meio aos donos da obra e aos proprietários, das obras existentes no local acima indicado, o seguinte: 1. O agente de fiscalização desta DSSOPT constatou no local acima identificado a realização de obra sem licença, cuja descrição e situação é a seguinte:

Obra Instalação de suporte metálico e pala plástica na parede exterior. Instalação de suporte metálico e pala plástica na parede exterior. Instalação de suporte metálico e pala plástica na parede exterior. Instalação de pala metálica na parede exterior. Instalação de pala metálica na parede exterior. Instalação de pala plástica na parede exterior. Instalação de pala metálica na parede exterior. Instalação de pala metálica na parede exterior. Instalação de pala metálica na parede exterior. Instalação de pala metálica na parede exterior. Instalação de pala metálica na parede exterior. Instalação de pala metálica na parede exterior. Instalação de pala metálica na parede exterior. Instalação de pala metálica na parede exterior. Instalação de pala plástica na parede exterior.

3.

5.

Edital n.º Processo n.º Assunto Local

Fracção

Andar

1.1

M

9

·

1.2

J

13

·

1.3 1.4

M K

13 25

· ·

1.5

K

27

·

1.6 1.7 1.8 1.9

L M MM M

27 27 27 28

· · · ·

1.10

G

30

·

Infracção ao RSCI e motivo da demolição Instalação de gradeamento metálico junto à Obs.1 janela da fracção na parede exterior. Instalação da gaiola metálica junto à janela do Obs.1 pátio da fracção na parede exterior do edifício. Instalação de portão metálico no corredor comum. Obs.2 Instalação da gaiola metálica junto à janela Obs.1 do pátio da fracção na parede exterior do edifício. Instalação de portão metálico no corredor Obs.2 comum. Instalação de portão metálico no corredor comum. Obs.2 Instalação de portão metálico no corredor comum. Obs.2 Instalação de portão metálico no corredor comum. Obs.2 Instalação de gradeamento metálico junto à Obs.1 janela da fracção na parede exterior. Instalação de portão metálico e portão de Obs.2 vidro no corredor comum. Instalação de gaiola metálica junto à janela da Obs.1 fracção na parede exterior. Instalação da gaiola metálica junto à janela do Obs.1 pátio da fracção na parede exterior do edifício. Instalação de portão metálico no corredor Obs.2 comum. Instalação da gaiola metálica junto à janela do Obs.1 pátio da fracção na parede exterior do edifício. Instalação da gaiola metálica junto à janela do Obs.1 pátio da fracção na parede exterior do edifício. Obra

· 1.11

G

31

·

1.12

I

31

·

1.13

G

45

·

1.14

MM

47

·

Obs.1: Infracção ao n.º 12 do artigo 8.º, obstrução do acesso aos pontos de penetração no edifício. Obs.2: Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de evacuação. 2.

3.

4.

5.

Sendo as escadas e corredores comuns e terraço do edifício considerados caminhos de evacuação, devem os mesmos conservar-se permanentemente desobstruídos e desimpedidos, de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 10.º do RSCI. Além disso as janelas acima referidas são consideradas como pontos de penetração para realização de operações de salvamento de pessoas e de combate a incêndios, não podendo ser obstruído com elementos fixos (gaiolas, gradeamentos, etc.) de acordo com o disposto no n.º 12 do artigo 8.º. As alterações introduzidas pelo infractor nos referidos espaços, descritas no ponto 1 do presente edital, contrariam a função desses espaços enquanto caminhos de evacuação e pontos de penetração no edifício e comprometem a segurança de pessoas e bens em caso de incêndio. Assim, as obras executadas não são susceptíveis de legalização pelo que terão necessariamente de serem determinadas pela DSSOPT a sua demolição a fim de ser reintegrada a legalidade urbanística violada. Nos termos do n.º 3 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 4 do artigo 10.º é sancionável com multa de $4 000,00 a $40 000,00 patacas, e nos termos do n.º 7 do mesmo artigo, a infracção ao disposto no n.º 12 do artigo 8.º, é sancionável com multa de $2 000,00 a $20 000,00 patacas. Além disso, de acordo com o n.º 4 do mesmo artigo, em caso de pejamento dos caminhos de evacuação, será solidariamente responsável a entidade que presta os serviços de administração ou segurança do edifício. Considerando a matéria referida nos pontos 2 e 3 do presente edital, podem os interessados, querendo, pronunciar-se por escrito sobre a mesma e demais questões objecto do procedimento, no prazo de 5 (cinco) dias contados a partir da data de publicação do presente edital, podendo requerer diligências complementares e oferecer os respectivos meios de prova, em conformidade com o disposto no n.º 1 do artigo 95.º do RSCI. O processo pode ser consultado durante as horas de expediente nas instalações da Divisão de Fiscalização do Departamento de Urbanização desta DSSOPT, situadas na Estrada de D. Maria II, n.º 33, 15.º andar, Macau (telefones n.os 85977154 e 85977227).

Aos 15 de Maio de 2015

Pelo Director dos Serviços O Subdirector, Subst.º

Pelo Director dos Serviços O Subdirector, Subst.º

Eng.º Cheong Ion Man

Eng.º Cheong Ion Man


( F ) utilidades

hoje macau sexta-feira 19.6.2015

tempo

pouco

?

nublado

min

28

max

33

hum

60-90%

euro

9.12

baht

0.23

Cineteatro

O que fazer esta semana

the last five years Sala 1

jurassic world [b]

jurassic world [3d] [b]

Filme de: Colin Trevorrow Com: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Irrfan Khan 19.15 Sala 2

Amanhã

spl 2: a times for consequences [c]

falado em cantonês/mandarim legendado

Corrida de barcos-dragão Lagos Nam Van Entrada livre

Domingo

Exposição “Saudade” (até 30/9) MGM Macau Entrada livre “A Arte de Imprimir” (até Dezembro) Centro de Ciência de Macau Entrada livre Exposição “Ao Risco da Cor - Claude Viallat e Franck Chalendard” Galeria do Tap Seac (até 9/08) Entrada livre Exposição “Who Cares” (até 28/07) Armazém do Boi, 16h00 Entrada livre

Exposição “Murmúrio da Impermanência”, Pinturas a óleo de André Lui Chak Keong (até 27/06) Fundação Rui Cunha Entrada livre Exposição “Valquíria”, de Joana Vasconcelos (até 31 de Outubro) MGM Macau, Grande Praça Entrada livre

Sala 3

the last five years [b] Filme de: Richard Lagravenese Com: Anna Kendrick, Jeremy Jordan 14.15, 16.00, 17.45, 21.30

san andreas [b]

Filme de: Brad Peyton Com: Dwayne Johnson, Kylie Minogue Carla Gugino 19.30

19 de JUNHO

Começa a Batalha do Mar das Filipinas, no âmbito da Segunda Guerra Mundial

Diariamente

Musical “A Bela e o Monstro” (até 26/6, de quinta a domingo) Venetian Macau Bilhetes entre as 280 a 680 patacas

em chinês e inglês Filme de: Cheang Pou-soi Com: Tony Jaa, Louis Koo, Simon Yam, Wu Jing, Zhang Jin 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

Aconteceu Hoje

Dia Mundial do Yoga com aulas, palestras e filmes Yogaloft, a partir das 15h00 Entrada livre

Exposição de Artes Visuais de Macau (até 2/8) Pintura e Caligrafia Chinesas Edifício do antigo tribunal, 10h00 às 20h00 Entrada livre

1.28

C i nem a

Filme de: Colin Trevorrow Com: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Irrfan Khan 14.30, 16.45, 21.30

Exposição “De Lorient ao Oriente - Cidades Portuárias da China e França na Rota Marítima da Seda” Museu de Macau (até 30/08) Entrada livre

yuan

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U m d i s co ho j e “20th Century Masters: The Best of The Commodores” (The Commodores, 2013) É um clássico. O álbum mais recente dos The Commodores alinha tudo o que de melhor – ou mais famoso – a banda de funk/soul norte-americana – já fez. Depois de ter o prazer de os ver em Macau ao vivo, nada melhor do que relembrar algumas das músicas que mais fazem mexer o corpo, como é o caso de “Brick House” ou “Nightshift”, ou outras como “Three Times a Lady”. Estão lá todas. Joana Freitas

• Esta foi uma batalha aeronaval que teve lugar durante a Guerra do Pacífico, na Segunda Guerra Mundial. Envolveu a Marinha Imperial Japonesa e a Marinha dos Estados Unidos da América. Teve como palco o Mar das Filipinas, próximo às Ilhas Marianas, entre os dias 19 e 20 de Junho de 1944, durante a ocupação pelas tropas norte-americanas da ilha de Saipan para posteriormente invadir as ilhas de Guam e Tinian. Estas são as três maiores ilhas que compõem as Ilhas Marianas do Norte. Tudo começou com o desembarque de tropas norte-americanas na ilha de Saipan, então ocupada por tropas japonesas sob o comando do general Yoshitsugu Saito, após um pesado bombardeio naval norte-americano. Apesar da destruição de diversos carros de assalto anfíbios por parte dos japoneses, as tropas americanas desembarcadas conseguiram ocupar uma extensão de seis quilómetros na praia e iniciar o avanço para o aeroporto da ilha, abandonado pelos defensores três dias após o início dos combates. Sem a possibilidade de reforço militar nem de mantimentos ou munição, a batalha era negativa para os japoneses. No entanto, o general Saito resolveu defender a ilha até o último homem, espalhando as suas tropas pelas crateras vulcânicas do interior da ilha e pelo terreno montanhoso ao redor do Monte Tapotchau, escondendo-se durante o dia e realizando ataques localizados durante a noite. Estes apenas seriam expulsos e vencidos após duros e prolongados combates, onde os invasores norte-americanos foram obrigados a usar lança-chamas e artilharia pesada para destruir a resistência nas cavernas da ilha. A batalha, que se encaixa no quadro da Operação Forager, foi finalizada por um completo desastre das forças armadas japonesas, que perderam quase a totalidade de sua aviação naval embarcada, assim como metade dos porta-aviões participantes da batalha. Tanto é que chegou ao ponto dos pilotos norte-americanos empregarem a expressão: “The Great Marianas Turkey Shoot” (em português: O tiro ao pato das Marianas).

fonte da inveja

Não sejas Mao para mim, diz ela. Não, serei Estaline.

João Corvo


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opinião

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Arnaldo Gonçalves

crepúsculo dos ídolos

A

condenação de Zhou Yongkang, o poderoso membro do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês e antigo chefe dos serviços de segurança da China à pena de prisão perpétua por crimes de aceitação de subornos, abuso de poder e revelação de segredos de Estado despertou enorme atenção da imprensa internacional e propicia importantes leituras. O perfil do arguido, os termos invulgares da condenação e a sua ligação à campanha anti-corrupção promovida pelo presidente Xi Jinping revelam que o tema ‘corrupção’ se tornou uma prioridade essencial da liderança chinesa para as próximas décadas. Revelam, ao mesmo tempo, as dificuldades de compatibilizar o desígnio da construção de um estado de direito com a preservação do domínio do Partido Comunista no Estado. Coloca dúvidas incontornáveis quanto aos limites da campanha em curso. Zhou é o mais proeminente membro do Politburo a ser alguma vez condenado por crimes desta gravidade, em seis décadas de vida do PCC. O seu julgamento segue-se ao processo mediático de Bo Xilai e à condenação por crimes de idêntica natureza de ministros, generais do Exército, CEO de empresas estatais, responsáveis provinciais da RPC e dezenas de milhares de dirigentes comunistas. Secretário da Comissão de Assuntos Jurídicos e Políticos do Politburo entre 2007 e 2012, Ministro da Segurança Pública desde 2002, Zhou foi um homem de confiança de Hu Jintao, presidindo ao vastíssimo sistema de segurança interna e de justiça da China. A sua condenação, a projecção pública interna que foi dada `a sentença, mostra que o regime quis fazer do caso ‘Zhou Yongkang’ um exemplo de que não recuará no propósito de punir ‘tigres e moscas’ (como Xi Jinping gosta de referir) por actos de indisciplina que atentem contra os interesses do Estado, a probidade no desempenho de funções públicas e a imagem interna e externa da China. Mas coloca, ao mesmo tempo, importantes incertezas. Desde logo a questão do poder e de quem o detém. Visa a condenação de Bo Xilai e agora de Zhou Yongkang a limpeza do aparelho do Estado e do partido de dirigentes corruptos e subornáveis? Ou é apenas um pretexto para o reforço do poder pessoal de Xi Jinping, em termos que não se viam desde o período de liderança de Deng Xiaoping e para o apartamento do princípio da responsabilidade colectiva na direcção política do partido e do Estado? Se assim é, o que distingue, afinal, Xi Jinping de Mao Zedong? Depois a questão do alcance da campanha anti-corrupção. Segundo a acusação, Zhou Yongkang terá recebido subornos de Jiang Jiemin, presidente da China National Petroleum Corporation no valor de 118 000

Howard hawks, the big sleep

Zhou Yongkang e Xi Jinping

US (cerca de um milhão de patacas). Jornais de referência afirmaram que Zhou e o círculo familiar detêm uma fortuna avaliada em 160 milhões de dólares (1.2 biliões de patacas) não contando com contas bancárias, propriedades e aplicações financeiras. Longe de ser um caso isolado, as mesmas fontes afirmam que outros dirigentes seniores do PCC – desde logo o ex-Primeiro-Ministro Wen Jiabao, o ex-presidente da Comissão Politica e Consultiva do Povo Chinês, Jia Qinglin e a família próxima de Xi Jinping – detêm patrimónios de montante várias vezes superior ao apontado a Zhou. A pergunta que se coloca é como pode a campanha anti-corrupção ‘caçar outros tigres’ sem atingir o núcleo essencial do poder na China e das famílias que manifestamente o co-partilham? Ou é a campanha selectiva e dirigida apenas contra inimigos internos? A delicadeza da questão, o facto de Zhou Yongkang deter, seguramente, informações relevantes que não interessa que sejam tornadas públicas, levou a que fosse feita uma excepção à regra anunciada em Março, pelo Tribunal Superior da China, de que os julgamentos

A pergunta que se coloca é como pode a campanha anti-corrupção ‘caçar outros tigres’ sem atingir o núcleo essencial do poder na China e das famílias que manifestamente o co-partilham? Ou é a campanha selectiva e dirigida apenas contra inimigos internos?

de quadros seniores do partido serão abertos ao público. O julgamento foi feito à porta fechada e apenas a confissão de Zhou quanto aos crimes de que era acusado foi gravada e retransmitida pela televisão chinesa. Segundo alguns observadores, o segredo que rodeou o julgamento pode ser sinal que Zhou não terá cooperado com as autoridades tanto quanto se esperaria e que a sentença terá sido combinada ainda antes de o julgamento começar. Com arguidos desta proeminência, a decisão nunca é deixada à polícia, à procuradoria e aos magistrados. É tomada pela liderança política em consulta com os ex-lideres, num processo de consensualização da decisão que singulariza o sistema político chinês. Qual a extensão da corrupção na China e em que medida pode pôr em causa a sobrevivência do regime chinês? É difícil responder à questão. Desde logo, porque não há dados fiáveis quanto à grandeza do problema. O país tem surgido nos rankings de Transparency International’s Corruption Perceptions Index (que organiza os países de 0 a 100, dos mais corruptos aos mais transparentes) no meio da tabela. Em 2014 foi-lhe atribuída a pontuação de 36, o que coloca a China em 100 lugar, num conjunto de 174 países, a par da Indonésia e do Vietname. Quanto à realidade concreta do problema e às possíveis soluções as opiniões dividem-se. Fareed Zakaria, jornalista e especialista em relações internacionais, tem defendido que a corrupção na China é diferente da que se verifica em países em vias de desenvolvimento como a Índia e a Indonésia (é aqui crónica, alargada, massiva). A corrupção na China, diz Fareed, envolve gente bem posicionada que recebe tratamento preferencial em empréstimos do Estado, investimentos e contratos públicos.1 Minxin Pei, especialista em questões chinesas e director do Centro de Estudos Estratégicos do Claremont McKenna College, tem uma posição contrária e diz que a corrupção na China é um problema histórico e endémico,

transversal à sociedade e que põe em perigo o futuro da China’. Minxin adianta ainda que, por razões internas, a actual liderança chinesa será incapaz de levar a campanha anti-corrupção muito mais longe do que o fez até agora2. Tenho uma posição mais próxima de Roderik MacFarquhar, professor de relações internacionais na Universidade de Harvard. É demasiado cedo para perceber até onde quererá Xi Jinping levar a campanha em curso. Por um lado, porque o julgamento de Zhou Yongkang foi recente e não é ainda perceptível qual o seu impacto na opinião pública interna. Barómetro a que a actual liderança dá muita atenção. O carisma e a confiança do cidadão comum na liderança de Xi Jinping parece não ter sido atingida. Ele incorpora o ideal popular do político íntegro que combate o nepotismo e o favorecimento ilegítimo onde quer que ele se esconda. Mas, por outro lado, o presidente da China não pode alargar excessivamente a ‘caça aos tigres’ sem pôr em risco a legitimidade do partido, a natureza monopolista do seu poder e a própria coesão da liderança. Mao - figura que manifestamente o inspira – soube, quase sempre, parar as ‘campanhas de rectificação de massas’ quando elas corriam o risco de destruir o partido. A Revolução Cultural revelou os limites da sua obsessão em aniquilar os inimigos internos. Xi Jinping é um líder forte como há muito tempo não se via na China. Mas o sistema de cooptação de líderes em que assenta a máquina do PCC tem as suas próprias limitações. Xi Jinping nunca governará contra os interesses do partido e da sua elite dirigente. Xi não é Gorbatchov, como muitas vezes tem referido. A perestroika não faz parte do seu vocabulário. 1 - Fareed Zakaria, ‘How Bad is Corruption in China?’, New York Times, 20.10. 2012 2 Minxin Pei, ‘Fallen Tiger, Shaken Dragon’, 14.03.2014, in www.project-syndicate.org


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paul chan wai chi*

um grito no deserto

A

Associação Novo Macau vai organizar um jantar de recolha de fundos no dia 11 de Julho, altura em que celebra o seu 23º aniversário. Como é normal neste tipo de eventos, todas as receitas obtidas nessa noite, uma vez subtraída a quantia necessária para cobrir as despesas de produção do evento, vão ser aplicadas num fundo para apoiar o desenvolvimento futuro da Novo Macau. Um amigo meu chegou mesmo a ligar-me para descobrir se já havia organizado este tipo de eventos no passado, mas no meu caso, esta será a primeira vez. Para dizer a verdade, a Associação do Novo Macau já organizou jantares para recolha de fundos no passado, mas sempre na altura antecedendo as eleições para a Assembleia Legislativa. Em 2012, por exemplo, quando o Novo Macau celebrou o seu 20º aniversário, eu mesmo sugeri que se marcasse a ocasião com um jantar celebrativo, mas nessa altura ninguém apoiou a ideia. Já em 2015, os novo líderes da Associação propuseram mais uma vez este género de iniciativa, mas desta vez com data e local previamente estabelecido. Desta vez a ideia mereceu o apoio da maioria dos nossos membros, o que me faz feliz tendo em conta que nos últimos anos tivemos de enfrentar inúmeras dificuldades. Para além de terem de aguentar as críticas debilitantes que nos são dirigidas, os nossos apoiantes têm se mostrado preocupados com os persistentes rumores acerca da nossa falta de coesão e ainda sobre os nossos conflitos internos. Entendo assim que a melhor resposta que posso dar a estas questões é mesmo a minha comparência no banquete que está agendado para o mês de Julho. Devo fazer notar aos nossos leitores que dentro da Associação existem facções democráticas modernas e conservadoras, o que aliás considero ser um fenómeno natural no desenvolvimento normal de qualquer organização. Até em Hong Kong, encontramos hoje duas frentes dentro do Campo Pró-Democracia da RAEHK. Enquanto que uma promove “a paz e a lógica ao mesmo tempo que recusa a violência e o obsceno”, a outra apela aos seus apoiantes para “ousarem lutar”. Podemos assim observar que, em Hong Kong, os diferentes grupos políticos são bem definidos e distintos uns dos outros, enquanto que em Macau se agrupam todos “dentro de um só barco”. Eu tenho o privilégio de ser um dos membros fundadores da Associação Novo Macau quando esta foi criada em 1992. Na altura, a principal motivação para esta iniciativa era assistir Ng Kuok Cheong na sua candidatura

shakespeare/Fred Manckiewicz, Julius cesar

Facções democráticas modernas e conservadoras

O jantar comemorativo para a celebração do 23º aniversário da Associação representa uma boa oportunidade para as novas e as velhas facções democráticas do Novo Macau se juntarem à mesa e confraternizarem, ao mesmo tempo que serve de teste para a prática da democracia para as eleições da Assembleia Legislativa, que iam ter lugar nesse mesmo ano. Assim, Ng concorreu com uma lista apelidada de Associação do Novo Macau Democrático, e acabou mesmo por assegurar um assento na AL. Uma vez decorrido o acto eleitoral, a Associação deixou de ser uma simples plataforma de angariação de votos e assumiu um papel de supervisão e fiscalização. Para o efeito, Ng desviou uma parte do seu salário de deputado para cobrir as despesas de operação do Novo Macau.

Aliás, esta prática foi igualmente adoptada por Au Kam San quando o mesmo foi eleito deputado da Assembleia Legislativa através do suporte da Associação. Quando em 2009 se formou a quarta AL, foi decidido atribuir um subsídio equivalente a 65% do salário dos deputados para que estes pudessem arrendar um escritório e contratar um assistente pessoal. Para receber esta ajuda, o deputado só precisava de declarar o montante que pagava mensalmente em rendas, assim como o salário mensal da pessoa que

preenche a função de assistente. Quando esta medida foi implementada, eu acumulava a posição de deputado com a de presidente da Comissão Executiva do Novo Macau, por isso propôs que se mantivesse a já tradicional medida de usar parte do salário do deputado por nós eleito para pagar as despesas da Associação. Já em relação ao subsídio que eu, Ng e Au tínhamos direito de receber, o montante total que requisitamos da AL foi estabelecido pela própria Associação, de modo a que sua operação ficasse garantida. Além disso, foram criadas contas suplementares de modo a preencher os pré-requisitos necessários para que cada um dos deputados pudesse gozar desta mesma regalia. Escolhemos proceder desta maneira de modo a evitar qualquer repercussão desfavorável caso cada deputado ficasse encarregado de gerir este montante a seu bel-prazer, ao mesmo tempo que desejávamos ter uma gestão adequada e correcta das finanças, sabendo nós de antemão que dinheiro e poder conseguem corromper qualquer indivíduo. No que diz respeito às eleições para a AL de 2013, o Novo Macau concorreu com três listas diferentes, mas conseguiu obter apenas dois lugares. Há muitas razões que levaram a este insucesso e à consequente perda de um dos prévios três assentos, mas não tenciono discutir essa questão neste artigo. Basta dizer que no dia 15 de Outubro de 2013, eu já não exercia as funções de deputado da Assembleia Legislativa. Ao mesmo tempo, decidi abandonar a minha posição na Comissão Executiva da Associação, de modo a dar oportunidade a outros mas também para reflectir sobre a nossa posição naquele momento. Durante a Assembleia Geral do Novo Macau que teve lugar em 2014, ofereci-me como voluntário para fornecer relatórios sobre o trabalho empreendido pelos nossos deputados (eu, Ng e Au) antes e durante o ano de 2013, de acordo com o papel de supervisão que a Associação agora assumia. Decidi também nessa altura não me candidatar para nenhuma das posições de liderança quando esses lugares foram alvo de uma nova eleição. Na verdade, o número dois da lista de Au para as eleições da AL de 2013 foi eleito o novo presidente da Comissão Executiva, e assim previa-se que não houvesse qualquer problema em garantir a cooperação entre os novos e os velhos líderes da Associação. E, mesmo que alguma divergência viesse a se manifestar, certamente que isso não seria mais do que pontos de vista díspares e também diferente estilos de gestão praticados pelos diferentes membros. O rumo do desenvolvimento não costuma estar dependente das boas intenções de um indivíduo. Mas, no mínimo, não se deveria divergir nem tão pouco abandonar os ideias originais pelo caminho. O jantar comemorativo para a celebração do 23º aniversário da Associação representa uma boa oportunidade para as novas e as velhas facções democráticas do Novo Macau se juntarem à mesa e confraternizarem, ao mesmo tempo que serve de teste para a prática da democracia. *Ex-deputado e membro da Associação Novo Macau Democrático


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Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com

contramão

A culpa é do primo

A

Jonathan Lynn, My Cousin Vinny

dmito: numa terra em que uns são primos dos outros e vice-versa, será difícil, à partida, fazer prova do mérito. Se para alguns é de uma enorme conveniência ter irmãos, primos e tios espalhados em locais estratégicos, para outros será uma dor de cabeça ter a genealogia em constante perseguição. Mas a vida é feita destas coisas e de muitas outras chatices: já todos nós, em situações diversas, tivemos de abdicar da nossa vontade para evitar acusações injustas. É aquela velha história do ser e do parecer. E a verdade é que em Macau, quando há negócios que não parecem bem, por norma há um tio, um primo, um cunhado e talvez uma amiga à mistura. No final de Abril, numa invulgar posição política, Alexis Tam afastou um vogal do Fundo das Indústrias Culturais, de seu nome Chao Son U. A decisão do secretário para

O irmão de Chao Son U podia não se ter candidatado ao apoio financeiro da instituição onde trabalha o filho da mesma mãe e/ou do mesmo pai, podia ter ido bater à porta de outro fundo ou fundação, que dinheiro é o que não falta por aí, mas calhou assim e não calhou bem os Assuntos Sociais e Cultura foi motivada por falta de confiança política, na sequência de uma história que, para a opinião pública, se contou da seguinte forma: uma empresa de familiares de Chao Son U concorreu aos apoios financeiros dados pelo Fundo das Indústrias Culturais. Concorreu e ganhou. A dada altura do processo, a coisa não correu bem lá para os lados de Chao Son U. O caso chegou a ser enviado para o Comissariado contra a Corrupção que, em tempo recorde nos anos de vida que levo de Macau, analisou, investigou, discutiu e engavetou o processo: nada a apontar a

Chao Son U. A rapidez da justiça mereceu reparos – de quem conviveu com o antigo vogal – e foi louvada com críticas ferozes de algumas forças políticas locais. É, sem dúvida, uma decisão que abre um precedente em termos de celeridade. O assunto dava um texto – ou vários. Voltemos a Chao Son U, um ilustre desconhecido da nossa imprensa até Abril. Esta semana, em declarações aos jornalistas, o presidente do Fundo das Indústrias Culturais confirmou que a empresa detida pelos familiares do antigo vogal consta da lista de seleccionadas aos apoios aprovados no ano

passado. Leong Heng Teng, o presidente do fundo – que o leitor mais distraído conhecerá dos outros 2500 cargos que desempenha, homem com longa carreira política em várias frentes –, ficou aparentemente surpreendido com a insistência dos jornalistas, que quiseram saber se houve uma reavaliação da candidatura do familiar de Chao Son U, reponderação essa depois de o caso ter sido tornado público. Leong Heng Teng explicou que não, que não houve qualquer reavaliação da candidatura. Garantiu também que tudo correu como mandam as regras, que não houve qualquer irregularidade, que já não há caso. Ou seja, o caso Chao são águas passadas. Leong Heng Teng não identificou o nome da empresa detida pelos familiares do antigo vogal mas, na sequência destas declarações, o jornal Ponto Final foi à procura e descobriu que pertence ao irmão de Chao Son U. O irmão de Chao Son U não tem culpa de ter irmãos. E também não será culpado de ter irmãos com importância suficiente para pertencerem a entidades que mexem com dinheiros públicos em áreas – as coincidências são tramadas – que têm que ver com a actividade profissional que lhe ocupa os dias. O irmão de Chao Son U podia não se ter candidatado ao apoio financeiro da instituição onde trabalha o filho da mesma mãe e/ou do mesmo pai, podia ter ido bater à porta de outro fundo ou fundação, que dinheiro é o que não falta por aí, mas calhou assim e não calhou bem. Ter irmãos e primos e tios e compadres é bom, mas nem sempre. Toda esta história é estranha: não acredito que Alexis Tam tenha acordado uma manhã com vontade de andar a dizer por aí que houve alguém que podia ter estado melhor, que é preciso rigor e transparência – e vai daí toca a escrever um despacho e afastar quem fez o que não devia. No meio de tudo isto, já depois de conhecida a supersónica decisão do CCAC, chegou a declaração conjunta de quem trabalhou com o antigo vogal: oito funcionários do Fundo das Indústrias Culturais vieram para os jornais dizer que foram pressionados por Chao Son U para que não revelassem detalhes durante a investigação levada a cabo pelo gabinete de Alexis Tam. Toda esta história é estranha e acredito que, bem lá no fundo, sejam todos bons rapazes, um irmão e o outro, apesar de, não os conhecendo, me parecer que têm ambos falta de jeito. Leong Heng Teng diz que está tudo bem e a gente acredita, os milhões já estão distribuídos e as regras foram cumpridas à risca, mas há que começar a pensar em redesenhá-las para evitar as confusões entre tios e primos, irmãos e irmãs, sobrinhos e afilhados. A culpa é dos primos. É o que dá ter muitas tias.

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


Perfil

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Ricardo Alves, Chef de cozinha

“Sinto-me bem aqui” S

e lhe falarmos sobre os bifes tão famosos da cervejaria mais conhecida de Macau, a Portugália saberá identificar qual é a cara por trás do sabor? O HM esclarece. Chama-se Ricardo Alves e é o chef que guarda o segredo do molho que conquista apreciadores gastronómicos há 85 anos. Engane-se quem acredita que para a cozinha só é bom quem nasceu com o gosto. Ricardo Alves é exemplo disso. Formado em Engenharia Mecânica, o engenheiro trocou os fios por panelas, abandonou a produção de máquina para se dedicar por inteiro à produção gastronómica. “Cheguei a um ponto enquanto estava a tirar o curso de Engenharia que me sentia completamente desiludido com a área, percebi que não era de todo aquilo que queria fazer”, começa por contar Ricardo Alves. A cozinha não era uma paixão “mas tornou-se depois”. O que aconteceu é que o jovem chef abraçou uma “oportunidade que surgiu” na área da cozinha e, como é curioso, foi experimentando. “Gostei muito e já lá vão 15 anos de cozinha”, relembra. Já fez um ano que o chef chegou ao território e não se arrepende nada do ‘sim’ que disse quando recebeu o convite para embarcar nesta aventura. Antes de

chegar a Macau, Ricardo Alves já fazia parte da equipa da cervejaria há mais de cinco anos. “Trabalhava na Portugália no departamento de inovação e desenvolvimento, como cozinheiro criativo. Depois disso passei para a chefia da cervejaria da Almirante Reis [Lisboa] e foi aí que me foi apresentado o convite da empresa para vir para [Macau]”, conta o chef ao HM.

Degrau a degrau

Separar a figura de Ricardo Alves à cervejaria não faria sentido. Envoltos sobre o azulejo português que serviu como mote de decoração para o restaurante, acolhido numa das ruas mais típicas da Taipa, Ricardo Alves explica ao HM as dificuldades que sentiu com o projecto. “O primeiro impacto foi o estranhar tudo, adaptar-me a um cenário completamente diferente, tanto profissional como pessoalmente. Foi preciso conhecer o mercado, que é muito diferente”, relembra Ricardo Alves. Quando chegou, o chef pensou que seria mais fácil e rápido abrir a cervejaria. “Houve todo o tipo de imprevistos que podiam existir, desde burocráticos a técnicos de obra, tudo o que tinha que correr mal, correu”, recorda, sorrindo agora, enquanto relembra o verdadeiro desafio que foi. Por todos esses obstáculos no cami-

nho, a inauguração do espaço sofreu um atraso de seis meses, mas o dia e a casa cheia compensaram tudo. “O momento mais glorioso que tive desde que aqui estou, foi, obviamente, a abertura da Portugália”, conta com o sentimento de dever cumprido.

Mercado de duas faces

Completamente absorvido pelo trabalho, Ricardo Alves, aproveita o muito escasso tempo livre que tem para se passear por Macau. Não há um sítio preferido, até porque tudo se torna bom quando o tempo para aproveitar é pouco. Mesmo com pequenas arestas a limar no que diz respeito às questões logísticas que um restaurante implica, Ricardo Alves não esconde a excelente oportunidade que Macau proporciona principalmente nesta área”, em que a oferta é tão vasta. “A grande diferença aqui, neste lado do mundo, é como as coisas funcionam. A interligação com o fornecedor, os clientes... Mas o trabalho de chef é exactamente o mesmo”, explica Ricardo, destacando o contacto com os clientes que tem sido muito gratificante.

Aqui estamos bem

Deste chef, que se mostra adepto de qualquer gastronomia, pode esperar-se muito,

principalmente criatividade. De espírito curioso, Ricardo Alves não esconde as surpresas que gosta de implementar nos seus menus e isso mesmo vai acontecer no restaurante onde trabalha. “Apesar de estar preso a um conceito neste momento, gosto muito de experimentar coisas novas. Especialmente no início da carreira tentei experimentar gastronomia diferente, desde coreana, vietnamita, francesa, italiana... tentei beber de todas as fontes. Experimentar, conhecer outros trabalhos e tentar adaptar tudo”, enumera, admitindo que não há um tipo de prato que prefira fazer, mas a cozinha tradicional portuguesa é uma das suas escolhas. “O que eu gosto é de mostrar os vários pratos, das várias gastronomias”, brinca. Por norma, Ricardo Alves é o tipo de pessoa que deixa a vida acontecer, sem excessivas preocupações, ciente que tudo pode mudar. Por isso, à pergunta sobre o futuro, o chef sorri e diz: neste momento é estabilizar este restaurante e depois logo se vê. “Não sou pessoa de fazer planos a longo prazo e de ter uma meta traçada, estou tranquilo aqui”, afirma, rematando a conversa com um “estou bem neste lado do mundo. Sinto-me bem aqui”. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo


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Arqueologia IC com sistemas de enchimentos em Coloane

Finalmente o Instituto Cultural anunciou que o método usado para preservar os vestígios arqueológicos encontrados em Coloane vai ser de enchimento, não tendo avançado mais pormenores sobre a questão. “Segundo os pareceres de especialistas, o IC planeia usar métodos de enchimento para consolidar e proteger os vestígios desenterrados”, avança a entidade em comunicado. O IC adiantou ainda que a segunda fase dos estudos e escavações dos bens encontrados na Rua do Estaleiro já foi concluída. No total, fazem parte desta zona agora protegida um parque de estacionamento, onde foi encontrado um fornilho, e um campo de futebol. Este último local foi descrito como sendo a zona principal, ficando o estacionamento categorizado como periferia. O IC assegurou anunciar mais novidades o mais breve possível.

Pai garante que Nélson Oliveira quer impor-se no Benfica

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Depois de na última época ter estado emprestado ao Swansea, Nélson Oliveira pretende imporse no Benfica. A garantia é dada pelo pai do avançado, lembrando que o seu filho poderá ter mais oportunidades de jogar com Rui Vitória. O jogador, de 23 anos, tem sido sucessivamente emprestado (Rio Ave, Paços de Ferreira, Corunha, Rennes e Swansea), mas a ideia é agora «impor-se no Benfica». «O Nélson gostava de ficar e além disso é benfiquista. Acho que será mais natural que fique no plantel, pois o Rui Vitória aposta mais na formação», afirmou Adélio Oliveira, em declarações prestadas à Renascença.

cartoon por Stephff

David Chow finaliza projecto de Cabo Verde em Julho

O

China acusa seis empresas estatais de corrupção

Histórias de subornos O órgão anti-corrupção chinês acusou ontem seis empresas estatais do país, incluindo do sector energético, de corrupção e violações de disciplina após meses de investigação pelas autoridades chinesas. As seis empresas são a China National Nuclear Corporation, China Nuclear Engineering Corporation, Dongfang Electric Corporation, China Electronics Technology Group Corporation, China Electronics Corporation e China General Technology, refere em comunicado a Comissão Central para a Inspecção de Disciplina, o órgão que investiga a corrupção, segundo a agência Efe. Todas apresentaram buracos financeiros, que causaram grandes perdas de activos estatais, principalmente no estrangeiro, aponta a Comissão Central para a Inspecção de Disciplina, acrescentando que os subornos comerciais e o nepotismo eram uma prática basicamente generalizada. Em concreto, refere a agência Efe, duas empresas nucleares infringiram várias práticas financeiras e investiram em projectos de alto risco no estrangeiro devido à falta de estudo de mercado prévio e à má gestão.

Por sua vez, alguns directores da Dongfang Electric Corporation receberam subornos de fornecedores, enquanto as companhias eléctricas falharam na supervisão do seu capital fora do país e alguns altos dirigentes abusaram do seu poder para defraudar activos estatais. A Comissão iniciou a inspecção a 26 empresas estatais em Março passado, sobretudo na área da energia e da comunicação, e começou a publicar os resultados este mês.

Liao Yongyuan

No dia 12 de junho, tinha denunciado as más práticas de outras seis empresas, incluindo o China Huaneng Group e Baosteel Group, e quatro dias mais tarde acrescentou à lista as petrolíferas China National Petroleum Corporation (CNPC), a maior produtora de petróleo do país, e a China National Offshore Oil Corporation. Ontem acrescentou que os resultados das cinco empresas restantes, cujos nomes não foram divulgados, vão ser publicados nos próximos dias. Não foi especificado, contudo, quais são as medidas a tomar contra as empresas após as infracções, cuja revelação é o resultado da campanha anti-corrupção levada a cabo pelo Presidente Xi Jinping desde o final de 2012. Na quinta-feira, as autoridades chinesas anunciaram que estão a investigar por corrupção o director-geral da petrolífera estatal chinesa CNPC, Liao Yongyuan, menos de uma semana depois de terem condenado a prisão perpétua por esse mesmo crime e por revelar segredos de Estado o antigo ministro e máximo responsável da companhia, Zhou Yongkang.

empresário David Chow deverá chegar em Julho a Cabo Verde para finalizar o acordo de construção de um complexo turístico de luxo no ilhéu de Santa Maria, na Cidade da Praia, noticiou ontem a do país. Segundo a edição electrónica do jornal A Semana, que cita Leonesa Fortes, Ministra do Turismo, Indústria e Energia, Chow, que apresentou o projecto na Cidade da Praia a 29 de Janeiro de 2014, pretende assinar um acordo de parceria que prevê um investimento de 230 milhões de euros. “Chow pode chegar no início de Julho, por altura das festividades da independência (05 de Julho), mas só se o Governo conseguir fechar o dossiê sobre o impacto ambiental do projecto no ilhéu de Santa Maria”, escreve o jornal, indicando que Leonesa Fortes disse que o empresário macaense “mantém vivo” o interesse no empreendimento.

O empresário pretende construir um hotel de elevada qualidade, que englobará casino, centro internacional de convenções, ‘spa’, uma marina e uma ponte a ligar o ilhéu a terra, além de requalificar toda a orla marítima na zona da Gamboa. A 29 de Janeiro de 2014, durante a estada na Cidade da Praia, o também cônsul honorário de Cabo Verde em Macau indicou estarem criadas as condições para que a capital cabo-verdiana seja dotada de um hotel de “grande qualidade” e que as obras, se as negociações com o Governo local chegassem a bom porto, poderiam iniciar-se no mesmo ano.


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