Hoje Macau 19 AGO 2020 #4593

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BEIRUTE

MACAU SOLIDÁRIO

TRÍADES

GASOSA SEM GÁS PÁGINA 7

MACAU | PORTUGAL

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QUARTA-FEIRA 19 DE AGOSTO DE 2020 • ANO XIX • Nº4593

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

Posto de referência O novo posto fronteiriço de Hengqin foi ontem inaugurado. Tem capacidade para um movimento de 220 mil pessoas por dia, através de 70 canais de passagem. Ho Iat Seng salientou, na abertura, que a cooperação entre Guangdong e Macau na construção deste posto representa um “modelo sem precedentes” que demonstra a “vitalidade do princípio ‘um país, dois sistemas’” e que poderá servir de exemplo para o intercâmbio entre Macau e o Interior da China. PÁGINA 4

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UMA PALAVRA ONDE QUALQUER COISA

JOÃO PAULO COTRIM

ARTE DO REENCONTRO NUNO MIGUEL GUEDES


2 grande plano

19.8.2020 quarta-feira

DA FÁBRICA PARA O ATELIER ESTUDO

UMA CARREIRA SÓLIDA É CADA VEZ MAIS UMA REALIDADE PARA DESIGNERS DE MODA LOCAIS

Ana Cardoso, estilista e investigadora da Universidade de São José, publicou recentemente o estudo “Macau Fashion Industry in a Globalized Era: An Educational background Perspective”, onde se conclui que os designers locais têm cada vez mais a possibilidade de construir uma carreira com a sua marca, produzindo em Macau e na China e vendendo as suas colecções lá fora. Os apoios do Governo e a aposta em cursos universitários também ajudam ao fomento do sector

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IVER exclusivamente do mundo da moda em Macau e construir uma carreira nesta área é cada vez mais uma possibilidade para jovens designers. No estudo “Macau Fashion Industry in a Globalized Era: An Educational background Perspective” [A Indústria da Moda em Macau na Era da Globalização: Uma Perspectiva Educacional], Ana Cardoso, estilista e investigadora da Universidade de São José (USJ), conclui que o sector da moda em Macau está a conhecer grandes desenvolvimentos ao ponto de permitir a construção de novas carreiras e um mercado de vendas além-fronteiras.

“Hoje em dia os designers locais têm a sua profissão reconhecida enquanto carreira. Os designers trabalham a tempo inteiro nas suas próprias marcas para desenvolver uma produção em larga escala em fábricas situadas na China e com uma produção de pequena dimensão nos seus próprios ateliers a nível local”, lê-se no estudo recentemente publicado, ao qual o HM teve acesso. Ana Cardoso destaca ainda o facto de, no passado, Macau ser um território onde as fábricas têxteis tinham um grande peso na economia, algo que mudou nos últimos anos, sobretudo desde a liberalização do jogo. Hoje em dia,

a tecnologia está cada vez mais presente neste sector. “Existe uma procura pela tecnologia, além de que atravessar fronteiras é uma questão importante, uma vez que as marcas locais, além de venderem os seus produtos em Macau, também começaram a vendê-los em Hong Kong e na China”, pode ler-se no estudo. Outra das conclusões do estudo, levado a cabo por Ana Cardoso, é que o Governo tem um papel dinamizador desta área, ao promover eventos onde os designers podem mostrar as suas colecções, além dos subsídios concedidos. “As várias plataformas criadas pelo Governo visam ajudar os designers a melhorar a sua criatividade e as suas estratégias de marketing e vendas”, aponta a autora. “Nos últimos anos, o Instituto Cultural (IC) promoveu de forma activa a indústria criativa local em parceria com o CPTTM [Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau] através de desfiles de moda, exposições, eventos e outro tipo de iniciativas em cooperação com o sector do turismo de Macau, bem como com o sector do cinema e empresas privadas. [Tudo] para levar os designers a confeccionarem uniformes, acessórios ou outros itens promocionais.” Além desta ajuda na produção de roupa e acessórios, o IC também tem levado designers a participarem em exposições fora de Macau. Desta forma, estes podem ter “mais oportunidades para expandirem a sua marca e adquirirem mais experiência”. “O IC também dá apoio às instituições locais para atrair estudantes locais e orientar jovens designers para adquirirem maior conhecimento na área da moda”, conclui o estudo.

Ana Cardoso

A indústria da moda tem-se tornado, nos últimos anos, um dos vectores que pode contribuir para a diversificação económica, inserida na área das indústrias culturais e criativas. A fim de atingir este objectivo, o Executivo de Macau “criou um veículo que promove a moda local ao organizar diferentes tipos de eventos relacionados com a arte e moda”, além de ter desenvolvido o conceito de lojas pop-up, entre outras, “onde os designers locais e criadores podem colocar

“As Indústrias Criativas estão a fomentar a marca local ‘Made in Macau’, o que pode levar o território a construir uma identidade única e a promover uma enorme memória nos negócios do turismo.” ESTUDO

os seus artigos à venda”, destaca Ana Cardoso. Relativamente ao trabalho criativo, os designers locais são fortemente influenciados pelo panorama multicultural de Macau, aponta a investigadora. “A realidade multicultural de Macau teve um profundo impacto no sector de moda local. As criações dos designers locais, até um certo ponto, são uma influência do panorama cultural e isso pode ser uma vantagem para a inspiração no processo criativo.” Desta forma, “pode ser vista uma partilha cultural, impulsionada pela globalização e pelo contexto histórico da ligação entre a Ásia e a Europa existente em Macau”, acrescenta a autora.

PASSAGEM CRIATIVA

Para realizar este estudo, Ana Cardoso realizou entrevistas a docentes e a entidades de ensino e organismos institucionais, como é o caso do Instituto Cultural (IC), USJ e Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau (CPTTM). De frisar que estas duas instituições de ensino são as únicas que, em Macau, disponibilizam cursos de licenciatura na área da moda. Patrick Ho Hong Pan, chefe do departamento de promoção cultural e indústrias criativas do


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quarta-feira 19.8.2020

IC, falou do desenvolvimento que a indústria da moda teve nos últimos anos. “Macau, no passado, com a influência da cultura ocidental, teve um grande desenvolvimento na indústria de importação e exportação. Na década de 80, Macau era a base para uma economia manufactureira, onde a indústria funcionava com as encomendas da China, Europa e América. Nessa altura, Macau tinha muita produção de têxteis, jeans e malhas.” No entanto, ao longo dos anos, “a indústria da moda sofreu uma significativa reorganização devido aos novos desafios económicos, em particular com a competição dos baixos custos laborais e o aumento dos custos de produção num território pequeno com recursos industriais limitados”, descreve Patrick Ho Hong Pan. Com a saída das fábricas para a China, Macau deixou de ter uma indústria manufactureira para passar a ter um sector de moda ligado à criatividade. “Esperamos que

“O Governo de Macau e as instituições de ensino locais constituem um caminho importante para alimentar os novos designers e encorajar mais entradas nesta área.” ESTUDO

esta área continue a expandir-se”, apontou o responsável do IC. “Os designers vão produzir a uma larga escala ao invés de produzirem apenas uma ou duas peças, com estratégias de marketing focadas na procura de mercado. O comércio é também uma questão importante. Muitas marcas locais, além de venderem em Macau, também vendem em Hong Kong, Zhuhai e Pequim.

Ao colaborarem com o mercado internacional, [os designers] vão crescer profissionalmente”, frisou. Rita Tam, designer e professora no CPTTM, também considerou, em entrevista, que “o actual desenvolvimento da indústria da moda é crescente, e a grande mudança em Macau é que finalmente o território tem licenciaturas nesta área”. Nesse sentido, “alguns jovens designers formados no CPTTM, em cursos de design e produção de moda, já fundaram as suas próprias marcas, com os seus próprios ateliers e negócios que já se estendem a outros mercados, como é o caso de Hong Kong e da China”, conclui Rita Tam. A passagem de uma indústria têxtil e demasiado técnica para

“Hoje em dia os designers locais têm a sua profissão reconhecida enquanto carreira. Os designers trabalham a tempo inteiro nas suas próprias marcas para desenvolver uma produção em larga escala em fábricas situadas na China.” ESTUDO

um sector criativo em permanente expansão não se fez sem a vertente educacional, aponta Ana Cardoso. “O Governo de Macau e as instituições de ensino locais constituem um caminho importante para alimentar os novos designers e encorajar mais entradas nesta área. Ao longo dos anos, os cursos universitários têm vindo a adaptar-se às necessidades do mercado.” O estudo de Ana Cardoso dá conta que estas mudanças passam “por especializações em design de moda” do ponto de vista da manufactura até à “gestão de negócio, técnicas de produção e o campo mais vasto de cursos criativos”, o que permite aos estudantes acederem ao mercado “com um potencial mais completo”.

APOSTAR NO EXCLUSIVO

O estudo de Ana Cardoso deixa ainda uma sugestão para os designers de Macau, uma vez que estes “necessitam de encontrar formas de produzir produtos únicos e personalizados”. “Esta é a grande mudança na indústria de moda nos dias de hoje. O pequeno mercado local busca por qualidade e itens únicos feitos à mão. É importante que os designers encontrem um equilíbrio entre a criatividade e o mercado. Essencialmente o mercado comanda as vendas e limita a criatividade”, denota a investigadora. Ana Cardoso não termina o trabalho sem relembrar a cada

vez maior ligação que a indústria da moda, inserida no sector das indústrias criativas, tem com o selo “Made in Macau”. “As Indústrias Criativas estão a fomentar a marca local ‘Made in Macau’, o que pode levar o território a construir uma identidade única e a promover uma enorme memória nos negócios do turismo”, lê-se. A investigadora salienta o facto de o próprio Governo necessitar de estabelecer uma ligação entre o que é produzido localmente, a fim de criar uma diferenciação entre as marcas internacionais que invadiram o território. O segmento de luxo em Macau, desenvolvido lado a lado com a indústria do jogo e que se alimenta essencialmente dos turistas vindos da China, pode ser benéfico para aumentar a competitividade dos designers de Macau. “Com a abertura de mais lojas de luxo, Macau vai trazer mais marcas internacionais, o que ajuda a construir uma maior competição em todo o mercado da moda. Este investimento beneficia os compradores locais e promove novos mercados de turismo oriundos de Taiwan, sudeste asiático, Índia, Indonésia e o Médio Oriente, e que podem promover as marcas de Macau”, lê-se no estudo. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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GCS

19.8.2020 quarta-feira

Códigos de saúde Ho Iat Seng quer reconhecimento alargado

O Chefe do Executivo pediu, em Pequim, apoio à formação de profissionais de saúde e pessoal de gestão hospitalar ao director da Comissão Nacional de Saúde, Ma Xiaowei. Numa reunião na segunda feira, o último dia da sua visita à capital chines, Ho Iat Seng apontou que Macau é uma cidade pequena e tem falta de profissionais de saúde. Além disso, falou sobre o reconhecimento e transferência de códigos de saúde entre Macau e a Província de Guangdong para facilitar a passagem fronteiriça, “desejando que esta medida possa ser alargada às outras províncias e cidades do Interior da China”, indicou o Gabinete de Comunicação Social. De acordo com a nota, Ma Xiaowei “mostrou vontade de apoiar, de forma activa, a circulação gradual entre o Interior da China e Macau, acelerar a recuperação económica e a normalidade social”.

Autocarros Pedidos mecanismos de supervisão mais rigorosos

O discurso do Chefe do Executivo descreve que o posto de Hengqin demonstra a “vitalidade” do princípio “um país, dois sistemas”

HENGQIN POSTO FRONTEIRIÇO ABRE “NOVO CAPÍTULO”, DIZ HO IAT SENG

Estratégia central Com capacidade para um movimento diário de 220 mil pessoas, foi inaugurado ontem o novo posto fronteiriço de Hengqin. O Chefe do Executivo descreveu que o modelo adoptado para a sua gestão pode vir a servir de referência para a cooperação com o Interior da China

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OI ontem inaugurado o novo posto fronteiriço de Hengqin, que o Chefe do Executivo da RAEM descreveu como “um novo capítulo” na cooperação do desenvolvimento da Ilha da Montanha entre Guangdong e Macau. Ho Iat Seng considera que a construção e gestão do novo posto fronteiriço “adoptou um modelo de cooperação sem precedentes”, que pode servir como “nova referência” para o intercâmbio entre a RAEM e o Continente. O posto fronteiriço de Hengqin funciona 24 horas por dia

e de acordo com a agência Lusa está preparado para um movimento diário de 220 mil pessoas. Na primeira fase da abertura foram instalados perto de 70 canais de passagem de pessoas, bem como quatro corredores provisórios destinados à circulação de veículos. O objectivo passa por tornar Hengqin numa zona de comércio livre. O discurso do Chefe do Executivo salienta que o posto de Hengqin demonstra a “vitalidade” do princípio “um país, dois sistemas”. Nesse ponto, frisou que os postos de Guangdong e Macau funcionam no mesmo

edifício, com instalações e equipamento partilhados, e que durante o período de construção o pessoal dos dois lados trabalhou em conjunto. O líder da RAEM frisou as dificuldades ultrapassadas, incluindo a diferença de sistemas jurídicos.

APOSTA NA CONECTIVIDADE

Ho Iat Seng descreveu que “o desenvolvimento de Hengqin é uma decisão estratégica importante do Governo Central para apoiar o desenvolvimento de Macau”, e apontou a ilha como “a melhor plataforma” para a RAEM participar na construção da Grande Baía

e no desenvolvimento geral do país.Além do desenvolvimento de diferentes indústrias em Hengqin, recordou que é aí que se localiza o projecto “Novo Bairro de Macau”. Assim, observou que a abertura do posto fronteiriço vai atrair residentes de Macau para trabalhar, investir e viver na zona vizinha, além de facilitar o intercâmbio de pessoas e bens dos dois locais. Outro dos elementos destacados pelo Chefe do Executivo foi a “conectividade” com Zhuhai. O novo posto fronteiriço de Hengqin é encarado como um reforço da ligação das infra-estruturas das duas cidades, em conjunto com a sua segunda fase e o posto de Qingmao, que vai abrir no próximo ano. Por sua vez, o governador da Província de Guangdong, Ma Xingrui, referiu que a nova zona da Ilha de Hengqin é uma plataforma importante para a cooperação entre a província e a RAEM, com oportunidades e espaço para a diversificação de Macau, indica uma nota do Gabinete de Comunicação Social. Acrescentou ainda que a capacidade de trânsito nos postos fronteiriços entre Guangdong e Macau vai aumentar de 750 mil para 900 mil pessoas. Salomé Fernandes e Nunu Wu info@hojemacau.com.mo

No seguimento do anúncio dos novos contratos de concessão dos serviços de autocarros públicos da Transmac e TCM anunciados pelo Governo na semana passada, Leong Sun Iok considera necessária a aplicação de mecanismos de supervisão mais rigorosos. Segundo o jornal Ou Mun, o deputado pretende, desta forma, que seja assegurada a qualidade do serviço, nomeadamente, evitar reduções na frequência dos autocarros pelas concessionárias, reduzir custos e manter intactos os benefícios e os salários dos funcionários. Sublinhando que os novos contratos garantem que a frequência de autocarros está assegurada para os habitantes que vivem em zonas mais remotas, Leong Sun Iok quer que o Governo divulgue detalhes precisos sobre como será feita a operação. Além disso, o deputado sugere ainda que o Governo observe de perto o trabalho das concessionárias com o objectivo de evitar aumentos pouco razoáveis nos preços dos bilhetes.

Federação Chinesa da Juventude Alvis Lo eleito vice-presidente

O médico Alvis Lo foi eleito vice-presidente da Federação Chinesa da Juventude, a nível nacional, e prometeu desempenhar o cargo de acordo com o espírito de Xi Jinping. Segundo o jornal Ou Mun, a eleição decorreu na segunda-feira, no âmbito da 13ª edição do conselho da Federação Chinesa da Juventude, realizada em Pequim. Após ter sido eleito, Alvis Lo apontou como objectivos para o cargo o aumento da competitividade dos jovens formados na RAEM, de forma a que se preparem para a integração plena no Interior, e o reforço dos intercâmbios com associações juvenis do outro lado da fronteira, para que entendam melhor o país. Alvis Lo prometeu ainda manter-se fiel a Xi Jinping e à nova era do socialismo com características chinesas. Além de Alvis Lo, Macau conta com a representação de mais quatro vogais na Federação Chinesa da Juventude, nomeadamente os deputados da comunidade de Fujian, Si Ka Lon e Song Pek Kei, e ainda Ngan Iek Peng e Liu Cai Seng.


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quarta-feira 19.8.2020

Metro ligeiro Serviço retoma meia-hora após cancelamento do sinal 8 No seguimento da aproximação da tempestade tropical “Higos”, a Sociedade do Metro Ligeiro de Macau (MLM) esclareceu que durante a passagem do tufão, os serviços do metro ligeiro serão gradualmente retomados meia hora depois de o sinal 8 ou superior ser substituído pelo sinal 3, “após a inspecção da situação de circulação ao longo do traçado e a remoção dos,

eventuais, obstáculos”. Antes disso, após emissão do sinal 8 ou superior, são suspensos todos os serviços e encerradas todas as estações. “As últimas composições vão partir, respectivamente, da “Estação do Terminal Marítimo da Taipa” e da “Estação do Oceano” meia hora antes de içamento do sinal n.º 8”, pode ler-se num comunicado da MLM divulgado ontem.

Parque de pneus Joe Chan defende alteração do projecto Joe Chan, activista ambiental e presidente da Associação Macau Green Student Union, defendeu, segundo o Jornal do Cidadão, que o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) deveria alterar o projecto de construção de um parque de pneus na Taipa. O ambientalista considera que o

projecto não é mau, mas pensa que o IAM deveria criar mais zonas para guardar os pneus, para que estes não estejam directamente ao sol. Joe Chan defendeu que a colocação de pneus ao sol pode provocar a emissão de gases tóxicos, constituindo um perigo para a saúde pública.

BEIRUTE ASSOCIAÇÃO PROMOVE RECOLHA DE FUNDOS PARA AUXILIAR AFECTADOS PELAS EXPLOSÕES

Solidariedade internacional A Associação Internacional de Filantropia está a desenvolver uma acção de solidariedade em parceria com a congénere libanesa Achrafieh2020. O objectivo é ajudar cerca de 1.100 famílias de Beirute com necessidades imediatas, como a reparação de janelas

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Associação Internacional de Filantropia lançou uma campanha de recolha de fundos para ajudar os afectados pelas explosões de Beirute, que causaram cerca de 177 mortos e 300 mil desalojados. A iniciativa é desenvolvida em cooperação com a associação libanesa Achrafieh2020 e o objectivo passa por enviar dinheiro, tão depressa quanto possível, para fazer frente às necessidades mais urgentes, como reparação de janelas, enquanto se aguardam os apoios financeiros institucionais. Segundo a presidente, Lurdes de Souza, a associação local lançou-se na iniciativa porque faz parte das razões pelas quais foi criada, mas também porque há ligações pessoais com a Achrafieh2020 que permitem garantir que o dinheiro é efectivamente utilizado para assistir cerca de 1.100 famílias. “A Achrafieh2020 é uma associação comunitária, que ao longo do ano ajuda famílias carenciadas com apoios sociais, pagamento de cuidados médicos, entre outros. Antes das explosões eles já estavam a auxiliar 690 famílias, mas agora o número subiu para 1.100 famílias que estão a lidar com várias necessidades”, afirmou a representante da Associação Internacional de Filantropia. “Nesta altura a associação está a enfrentar muitos problemas financeiros porque estamos a falar de um país onde neste momento nem há divisas. Nós sabemos que eles vão receber ajuda internacional, que já foi prometida por governos ocidentais e até pelas agências da Organização das Nações Unidas.

Mas até o dinheiro chegar vão precisam de ajuda e é para isso que serve esta recolha”, explicou. Segundo a responsável, nesta altura o mais urgente é mesmo substituir cerca de 5 mil janelas, que foram destruídas com a explosão, para que as famílias possam regressar às suas casas.

AJUDA INTERNACIONAL

A Associação Internacional de Filantropia foi criada há cerca de um ano e o arranque foi afectado pela pandemia da covid-19. No entanto, a instituição tem como objectivo internacionalizar o espírito de solidariedade da população de Macau.

“Antes das explosões eles [Achrafieh2020] já estavam a auxiliar 690 famílias, mas agora o número subiu para 1.100 famílias que estão a lidar com necessidades” LURDES DE SOUZA PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE FILANTROPIA

Nesse sentido, a tragédia de Beirute foi encarada como uma altura para entrar em acção. Porém, a presidente, Lurdes de Souza, admite que o facto de ter ligações com o Líbano, através de amigos com quem frequentou a escola, quando morava em França, facilita a operação. “É uma campanha que também estou

a fazer a nível pessoal porque tenho uma ligação há décadas, por razões pessoais, com pessoas que vivem no Líbano. [...] São pessoas com quem andei na escola em França e com quem sempre mantive contacto”, apontou. Quanto ao espírito de solidariedade em Macau, Lurdes de Souza considera que está presente e que as pessoas são generosas, mas que há pouca mobilização para

causas mais globais. “As pessoas de Macau são generosas e sabem partilhar quando é necessário. Mas, não há muito o hábito de contribuir para causas humanitárias internacionais. O nosso desafio como associação é levar esta partilha para causas internacionais”, considerou. “Se Macau quer ser uma cidade internacional, também precisa de o ser a nível da solidariedade”, acrescentou.

Foi a 4 de Agosto que se registaram duas explosões em Beirute que causaram cerca de 177 mortos, 6 mil feridos, 300 mil desalojados e danos que se estimam possam chegar aos 15 mil milhões de dólares americanos. Segundo o Governo libanês as explosões tiveram origem em depósitos de armazenamento de nitrato de amónio. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo


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As medidas da China no combate à saída de fundos para o jogo estão a gerar preocupações com os canais de financiamento de junkets e a afectar a liquidez do sector VIP em Macau

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S acções das autoridades chinesas no combate ao jogo online para conter a saída de capital está a afectar a liquidez do segmento VIP de Macau, avançou ontem a Reuters. De acordo com a agência noticiosa, os executivos de casinos e operado-

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JOGO COMBATE À SAÍDA DE DINHEIRO NA CHINA AFECTA CLIENTES VIP EM MACAU

Fronteiras do capital

res de junkets no território dizem que esta política está a afectar os jogadores VIP devido a preocupações com

os canais de financiamento através de junkets. “Tem impacto na liquidez”, disse Lam Kai Kuong, PUB

Anúncio 【N.º 202008-1】 Torna-se público que, nos termos do artigo 29.º do Regulamento Administrativo n.º 5/2014 (Regulamentação da Lei do planeamento urbanístico), a DSSOPT vai proceder-se à recolha de opiniões dos interessados e da população respeitantes aos projectos de Planta de Condições Urbanísticas (PCU) elaborados para as zonas não abrangidas por plano de pormenor mas inseridas nos lotes abaixo indicados: ─ Processo N.º: 89A095, Terreno junto ao Caminho dos Artilheiros-Macau; ─ Processo N.º:90A346(B), Estrada de Hac Sá no178-Coloane; ─ Processo N.º: 92A110, Terreno junto à Avenida Son On e Rua Heng Long-Taipa (Aterro de Pac On-Lotes O4a e O4bTaipa); ─ Processo N.º: 93A014, Terreno junto à Estrada da Ponte de Pac On-Taipa; ─ Processo N.º: 96A086, Avenida de Almeida Ribeiro no453 e Rua da Barca da Lenha no13-Macau; ─ Processo N.º: 2003A012(b), Terreno junto à Avenida Xian Xing Hai-Macau; ─ Processo N.º: 2005A044, Terreno junto à Rua do Patane-Macau; ─ Processo N.º: 2008A111, Terreno junto à Rua Cidade do Porto e Rua Cidade de Braga Novos Aterros do Porto Exterior (NAPE) - Lote 12 (A2-G)-Macau; ─ Processo N.º: 2010A066, Rua dos Mercadores nº39E - Macau; ─ Processo N.º: 2012A076, Rua da Barca no1A e Rua de Manuel de Arriaga no28-Macau; ─ Processo N.º: 2019A042, Rua de Lei Pou Ch’ôn no291 e Travessa Um da Cidade Nova de T’oi Sán nos 4-134 – Escola Fukien – Macau; ─ Processo N.º: 2019A048, Pátio do Espinho no110-Macau; ─ Processo N.º: 2020A012, Pátio da Cordoaria no s 4-6 e Beco de Almeida Ribeiro nº4-Macau. Para efeitos de referência, os projectos de PCU para as zonas dos lotes supracitados que não estão abrangidas por plano de pormenor já estão disponíveis para consulta no Departamento de Planeamento Urbanístico, situado na Estrada de D. Maria II n.º 33, 19º andar, Macau, e encontram-se afixados na Rede de Informação de Planeamento Urbanístico desta Direcção de Serviços (http://urbanplanning.dssopt.gov.mo). O período de recolha de opiniões tem a duração de 15 dias e decorre entre 19 de Agosto de 2020 e 02 de Setembro de 2020. Caso os interessados e a população queiram apresentar as opiniões sobre os referidos projectos de PCU de zona do território não abrangida por plano de pormenor, deverão preencher o formulário O011,o qual pode ser descarregado nos websites http://urbanplanning.dssopt.gov.mo ou www.dssopt.gov.mo, ou levantado nesta Direcção de Serviços (Estrada de D. Maria II n.º 33, Macau), podendo submetê-lo no período de recolha de opiniões através dos seguintes meios: ─ Comparecendo pessoalmente: Estrada de D. Maria II n.º 33, Macau, durante o horário de expediente nos dias úteis ─ Correio: Estrada de D. Maria II n.º 33, Macau (o prazo limite de entrega é contado a partir da data de envio indicada no carimbo do correio) ─ Fax: 2834 0019 ─ Email: pcu@dssopt.gov.mo Serão consideradas as opiniões respeitantes aos projectos de PCU de zona do território não abrangida por plano de pormenor elaborados para os lotes, quando forem apresentadas de acordo com as exigências acima indicadas. Para mais informações podem pesquisar o website http://urbanplanning.dssopt.gov.mo e para qualquer informação adicional queiram contactar o Centro de Contacto desta Direcção de Serviços (8590 3800). Macau, aos 17 de Agosto de 2020 A Directora da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes Chan Pou Ha

director da Macau Junket Association, comentando que a indústria VIP pode não voltar aos níveis de receitas de há dois anos se a China continuar a combater este segmento do jogo. É apontado que Pequim identificou a passagem fronteiriça de fundos para

“O sector junket em Macau tem vivido de tempo emprestado há anos, e o fim está a aproximar-se.” ANTHONY LAWRENCE DIRECTOR-GERAL DA GREATER BAY INSIGHT

o jogo como um risco de segurança nacional em Junho, e que desde então os canais de financiamento usados no jogo online e as plataformas de empréstimo de criptomoeda foram cortados. As autoridades congelaram milhares de contas bancárias e apreenderam mais de 229 mil milhões de renminbis. Este mês, a Xinhua publicou que a polícia detectou um caso de jogo trans-fronteiriço a envolver 10 mil milhões de renminbis, que levou à detenção de 23 suspeitos. A agência oficial já em Abril indicava que o Ministério da Segurança Pública anunciou que ia intensificar o combate ao jogo trans-fronteiriço, bem

como a fraudes da internet, apontando que esses crimes cresceram durante o período da pandemia.

INTERMEDIÁRIOS EM RISCO

O sector junket VIP representa quase 50 por cento do total das receitas de Macau, que no ano passado atingiu 36,5 mil milhões de patacas. A Reuters explica que apesar de muitos junkets de topo não estarem directamente envolvidos no jogo online, há agentes a usar redes bancárias e canais clandestinos para pagar dívidas e providenciar crédito a apostadores de maior dimensão. “O sector junket em Macau tem vivido de tempo emprestado há anos, e o fim está a aproximar-se”, disse Anthony Lawrence, director geral da consultora Greater Bay Insight, à agência noticiosa. “A China claramente pretende eliminar estes intermediários e ganhar melhor controlo das saídas de renminbi através de Macau”. Vale a pena notar o impacto da pandemia na indústria do jogo. Entre o início do ano e o mês de Julho, houve 35 mil milhões de patacas em receitas acumuladas dos jogos de fortuna ou azar, que representam uma quebra de 79,8 por cento comparativamente ao mesmo período do ano passado. Os dados da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos mostram que a modalidade com uma receita bruta mais alta este ano é o jogo bacará VIP, que se fixou em 14,809 mil milhões de patacas no primeiro trimestre, e 1,503 mil milhões no segundo. Salomé Fernandes

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Trabalho Suspeitas de 54 ilegais em Julho

No mês passado houve acções de fiscalização em 541 locais, incluindo terrenos de obras de construção civil, residências e estabelecimentos comerciais e industriais. De acordo com o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), foram encontradas 54 pessoas suspeitas de serem trabalhadores ilegais. As operações foram feitas pelo CPSP, Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais e outros serviços.


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quarta-feira 19.8.2020

TRÍADES LÍDER DA GASOSA ENTREGUE A ZHUHAI POR SUSPEITA DE HOMICÍDIO

O peso da justiça Leite em pó Substâncias cancerígenas preocupam associação

A Aliança do Povo de Instituição de Macau fez ontem um apelo para que as famílias prestem atenção à escolha de marcas de leite em pó para bebés, depois de o Conselho de Consumidores de Hong Kong ter anunciado a descoberta de substâncias cancerígenas em 15 modelos. De acordo com o jornal Ou Mun, Si Lai Kuan, directora do conselho para os assuntos de mulheres e de crianças da Aliança do Povo, frisou que os compradores devem informar-se bem, através de fontes credíveis, acerca da composição dos produtos e que “a qualidade do produto, não tem necessariamente a ver com o preço”. A substância em questão é apelidada de 3-MCPD, um glicidol derivado do éster glicídico (GE) encontrado em gorduras e óleos, cuja presença nos modelos assinalados, pode levar ao consumo acima das doses recomendadas. De acordo com a mesma fonte, Si Lai Kuan sugere ainda que sejam feitas inspecções permanentes e com mais qualidade, aos produtos, tanto em Macau como em Zhuhai.

As autoridades de Zhuhai receberam denúncias de que Lai Tong Sang terá cometido vários crimes nos anos 90, entre os quais o homicídio de um empresário e da sua esposa, para força a venda de um terreno em Macau

Jogo Mulher burlada em esquema online

Uma mulher foi burlada e perdeu mais de 29 mil renminbis após ter feito um depósito num alegado portal online de jogo. Segundo o relato apresentado pelas autoridades, e citado pelo canal chinês da Rádio Macau, a mulher conheceu um homem através de uma aplicação de encontros online, no dia 2 de Agosto. Por indicação deste homem, foi aconselhada a fazer uma “compra” de pontos online, que com o passar do tempo poderiam ser convertidos em dinheiro, com lucro. Com esta indicação, a mulher decidiu depositar 29.493 renminbis na aplicação. No entanto, posteriormente a mulher apercebeu-se que poderia ter sido burlada e tentou recuperar o dinheiro, mas já não conseguiu. Nessa altura contactou as autoridades.

O

alegado líder da Gasosa, Lai Tong Sang, foi entregue pelas autoridades do Camboja, onde se encontrava, à Polícia de Zhuhai. É suspeito de ter cometido dois homicídios em Macau e vários outros crimes ligados à aquisição ilegal de terrenos. A notícia foi avançada pelo jornal Apple Daily, de Hong Kong, que nos últimos anos antes da transferência da soberania de Macau se destacou pelas fontes junto das tríades locais.

Segundo o relato da publicação, as autoridades do Interior receberam pelo menos uma denúncia ligada a Macau. O episódio terá acontecido em 1999 quando Lai

Em caso de condenação, mesmo que Lai Tong Sang evite a pena de morte, deverá enfrentar prisão perpétua

Tong Sang terá alegadamente contribuído para a venda forçada de terreno no território. O lote em causa não é identificado, apesar de ser dito que actualmente existe um hotel no local. Foi a 9 de Julho de 1999 que um empresário de nome Wong Kwai, também conhecido como Wong Iao Chai, foi baleado e morreu junto da sua viatura, em Macau, após ter recusado vender um terreno. Às autoridades, o denunciante disse que os disparos foram feitos por ordens de Lai.

Três meses após a primeira morte, a esposa da vítima, que tinha ficado como única proprietária do terreno, também apareceu morta, desta feita na sua residência na Taipa. A mulher, na altura com 61 anos, foi asfixiada com uma fita. A segunda morte foi crucial para que o terreno pudesse ser vendido, uma vez que foi reconhecido um “herdeiro legal” da confiança da rede criminosa que queria comprar o lote em Macau. Através desse reconhecimento foi possível vender o terreno.

LIGAÇÕES MAIORES

Além do caso mencionado, as autoridades do outro lado da fronteira terão recebido denúncias de mais seis mortes ligadas a Lai Tong Sang. A queda do homem que foi expulso do Canadá em 1996, por ser considerado o líder da Gasosa, surge na sequência da detenção de uma das pessoas mais ricas da China, Liang Jiarong. O empresário foi primeiro chinês a entrar na lista de milionários elaborada pelo Instituto de Pesquisa Hurun, em 2011, então com uma fortuna superior a 4,3 mil milhões de renminbi. Além disso, o é o principal responsável pela empresa Guangdong Shirong Zhaoye, que opera na área do imobiliário. A operação contra Liang foi tornada pública pelas autoridades de Zhuhai a 23 de Julho deste ano, e tudo começou com a investigação à prática de um crime de branqueamento de capitais, que terá ocorrido em 2016. Contudo, a polícia do Interior começou também a averiguar a forma como Liang Jiarong conseguiu controlar tantos terrenos em Zhuhai, em menos de 20 anos, porque acredita que é o resultado de vários crimes como agressões, extorsões, incitamento à desordem social, entre outros. Neste processo, Lai Tong Sang terá sido parte da rede criminosa criada para beneficiar Liang, sendo que os dois se conheceram durante os anos 80, quando o empresário do Interior vinha a Macau jogar nos casinos. Em caso de condenação, mesmo que Lai Tong Sang evite a pena de morte, deverá enfrentar prisão perpétua. João Santos Filipe Nunu Wu

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Cultura em português Finalmente lançada primeira pedra do centro de artes sino-lusófono em Macau

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ACAU assistiu ontem ao lançamento da primeira pedra de um centro de artes sino-lusófono, investimento particular que já atingiu quase 300 milhões de patacas, “para ajudar os artistas lusófonos”, disse à agência Lusa o benemérito, Ieong Tai Meng. O centro de artes vai funcionar também como uma residência artística, num edifício com mais de 20 pisos e uma galeria de exposições para trabalhos lusófonos, da China continental e de Macau. “O prédio vai ter mais de 20 andares. (…) Esperamos em 2022 ter obra feita e fazer exposições de arte”, num edifício que pode acolher mais de 100 pessoas, sendo que o investimento situa-se actualmente entre “250 e 300 milhões de patacas”, explicou Eduardo Ambrósio, presidente da Associação Comercial Internacional para os Mercados Lusófonos, durante o evento. “Todos os países lusófonos são bem-vindos a Macau” e há planos para subsidiar o transporte dos artistas, em especial daqueles que “são muito pobres, em início de carreira”, para reforçar “ainda mais a amizade com o povo de língua portuguesa”, acrescentou Eduardo Ambrósio, cuja associação deu apoio à organização do evento. Já o investidor chinês que financia inteiramente o projecto, afirmou que “como artista” conhece as dificuldades daqueles que estão a arrancar com a sua carreira e “quer oferecer a Macau o que ganhou com Macau”, salientou.

Nascido em Sanshui, na província de Guangdong, o benemérito Ieong Tai Meng é um dos artistas chineses mais conceituados e premiados internacionalmente, assim como um importante académico que tem desempenhado um papel fundamental na formação de novos talentos artísticos em Macau. “Este centro de arte está a ser preparado há mais de um ano e já fizemos um registo como Associação de Artista de Macau, China e Países Lusófonos. Através desta oportunidade, esperamos criar um centro, aumentando os encontros com as artistas dos países lusófonos”, afirmou Ieong Tai Meng, à margem do evento.

CASA DE ARTISTAS

Para o cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha-Alves, trata-se de um projecto “que vai cimentar (…) a cooperação cultural que já existe entre a China e os países de língua portuguesa”, sobretudo porque vai “passar a existir um sítio onde vai haver um centro de exposições onde os artistas podem ser acolhidos, onde podem tomar as suas refeições, onde podem ter encontros com outros artistas deste grupo de países”. “Penso que a questão da cultura e da língua são fundamentais para aprofundar as relações entre os povos. Prezo muito a diplomacia económica, (…) mas a diplomacia cultural é muito, muito importante, porque no fundo é aquela que vai permitir laços mais aprofundados entre os povos”, defendeu Paulo Cunha-Alves.

Higos IC alerta para protecção de património Com a passagem do tufão “Higos” por Macau, o Instituto Cultural alertou os responsáveis de edifícios patrimoniais para accionarem medidas de protecção, nomeadamente de prevenção de vento e inundações. Foi dado maior destaque para os locais nas zonas baixas.

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quarta-feira 19.8.2020

tos literários

RE PRESENÇA DA ÓPERA NA OBRA DE EÇA DE QUEIROZ APRESENTADA AMANHÃ

A sessão “Eça na Ópera” pretende explicar as ligações entre o texto literário do autor e referências a obras musicais nele patentes. A descodificação acontece amanhã na Fundação Rui Cunha e ficará a cargo de Ana Paula Dias e Shee Vá. “O Primo Basílio” será uma das obras em destaque, contou a docente ao HM

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Á música escrita nas entrelinhas das obras de Eça de Queiroz. Com o objectivo de compreender as intenções do autor nesse cruzamento entre a música e as palavras, a Fundação Rui Cunha recebe amanhã, a partir das 18h30, a sessão “Eça na Ópera”, integrada no programa comemorativo dos 120 anos da morte do escritor português. A sessão de amanhã será conduzida pela académica Ana

Paula Dias e o médico e escritor Shee Vá, com a primeira a debruçar-se sobre a vertente literária e a música a ficar a cargo do segundo convidado. “A Ópera (…) efectivamente aparece em quase todos os livros do Eça de Queiroz e há sempre referências aos serões musicais e a obras específicas. Eu vou falar mais da parte da literatura e o Dr. Shee Vá vai falar da ópera para, em conjunto, explicarmos que relações de intertextualidade que se estabelecem entre os livros e a ópera”, começou por dizer Ana Paula Dias ao HM. O objectivo, conta a docente, passa por “tentar descodificar um pouco as relações de sentido que se estabelecem entre os dois tipos de texto, o literário e o musical”. Para isso acontecer, serão citadas várias passagens da obra de Eça onde são feitas referências às óperas, sendo depois exibidos alguns excertos das peças em vídeo. Como exemplo, Ana Paula Dias faz referência à obra “As Farpas”, onde o autor se dirige por diversas ocasiões ao panorama musical português e à falta de formação na área. “Na fase inicial de ‘As Farpas’, o Eça aponta por diversas vezes como o panorama musical português é bastante pobre e faz várias referências a isso. Na altura, o teatro de São Carlos era o teatro da grande ópera e depois havia os teatros populares e ele critica muito o facto de não existir uma escola de canto, de formação musical em Portugal”, explica Ana Dias.

NO CENTRO DO PALCO

Contudo o principal foco da sessão de amanhã será ana-

GASTRONOMIA IC LANÇA PROGRAMA DE RECOLHA DE RECEITAS MACAENSES

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OM o objectivo de preservar e promover a gastronomia macaense, o Instituto Cultural (IC) lançou um programa de recolha de receitas junto da público, a fim serem guardadas na “Base de Dados da Cozinha Macaense” para uso público. A informação foi divulgada na segunda-feira através de uma nota oficial do IC. “O IC lançou (…) o programa ‘Apelo Internacional para o Envio de Receitas da Cozinha Macaense’, visando enriquecer a futura ‘Base de Dados da Cozinha Macaense’, a qual será criada pelo Governo da RAEM, tendo em vista a promoção do estudo e a consolidação do registo sobre as artes culinárias”, pode ler-se no comunicado.

As receitas poderão estar patentes em manuscritos ou formato digital, contribuindo, desta forma, para a ajudar na investigação e promoção da gastronomia Macaense. Os formulários de inscrição e declaração relativos ao programa podem ser descarregado através da página online do IC. Segundo o organismo, “ gastronomia macaense destaca-se pela sua singularidade e pelas suas respectivas artes culinárias, fazendo parte do valoroso património cultural intangível da cidade, desempenhando igualmente um papel importante para o desenvolvimento sustentável de Macau”. Macau foi designada Cidade Criativa da UNESCO na área da Gastronomia em 2017.

LIVRO JOSÉ LUÍS PEIXOTO VOLTA À POESIA

“R lisar a presença da ópera no romance “O Primo Basílio”, que possui uma ligação indissociável com várias peças musicais, incluindo as suas próprias caricaturas sociais patentes em personagens-tipo. “Curiosamente, ’O Primo Basílio’ é um romance construído, ele próprio, a par com as intrigas existentes nas óperas. Ou seja, tem personagens que são uma espécie de personagem-tipo da ópera, como o sedutor, o vilão sedutor, a dama romântica ou o marido enganado. As diversas fases da história vão

“Curiosamente, ’O Primo Basílio’ é um romance construído, ele próprio, a par com as intrigas existentes nas óperas.” ANA PAULA DIAS ACADÉMICA

sendo acompanhadas com o enredo das óperas”, vincou a professora. Sobre o modo de funcionamento da sessão, Ana Paula Dias explica que será “em função da reacção do público”, mas deverá passar por intercalar a leitura dos textos feitas por si, com a apresentação das óperas em vídeo, parte que ficará a cargo de Shee Vá. A sessão “Eça na Ópera” é a segunda do programa comemorativo dos 120 anos da morte de Eça de Queiroz, uma organização conjunta da Fundação Rui Cunha, Associação dos Amigos do Livro em Macau e o IPOR. A fechar o programa, no dia 1 de Setembro, também na Fundação Rui Cunha, o mote é a internacionalização, tradução e adaptação da obra do escritor, com a exibição do filme mexicano “O Crime do Padre Amaro”, do realizador Carlos Carrera, com Gael Garcia Bernal, Ana Claudia Talacon e Sancho Garcia. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com

EGRESSO a casa”, o mais recente livro de José Luís Peixoto, marca o seu retorno à poesia 12 anos depois, e é um mergulho na intimidade e no sentimentalismo, em tempos de confinamento. “São poemas que procuram uma dimensão pessoal. Entre os seus temas fundamentais está a família (um tema que tem estado presente em todos os meus livros, muito especialmente na poesia), a própria literatura (tanto as interrogações da escrita, como as da leitura), o mundo (as viagens) e a pertença a um espaço, a origem, a identidade”, explicou à Lusa o autor. Nas suas palavras, “Regresso a

casa” – editado pela Quetzal - é um livro onde os sentimentos evocados “têm muita importância”, propondo mesmo “uma reflexão” sobre esse tema, num poema intitulado “Sentimentalismo”. Segundo o autor, “a melancolia, a saudade e outros sentimentos que nascem do confronto entre o passado e o presente” são “propícios nesta leitura”. Trata-se de uma obra escrita durante o período de confinamento imposto pela pandemia de covid-19, circunstância que o empurrou para a poesia, um território a que não voltava desde 2008, quando publicou “Gaveta de papéis”.

Fotografia Trabalho de Carlos Dias apresentado online É hoje inaugurada uma exposição virtual com fotografias de Carlos Dias, à qual se pode aceder durante um ano através de um link publicado na página electrónica e facebook do Instituto Internacional de Macau (IIM). A mostra também vai estar disponível na China Continental. O trabalho de Carlos Dias é focado em Macau, “captando em especial cenas das ruelas e travessas, bem como eventos, festividades e mani-

festações tradicionais, únicas, que caracterizam esta terra”, descreveu o IIM. As fotografias nocturnas das ruas e em dias de chuva são apresentadas como a especialidade do fotógrafo. Há dois anos, o IIM expôs cerca de uma centena de fotografias de Carlos Dias, numa intitulada “A Magia das Ruas de Macau”. Tendo em conta o contexto da epidemia, desta vez a exposição assume um formato virtual.


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Região FILIPINAS SISMO FAZ UM MORTO E PROVOCA DANOS EM CASAS E ESTRADAS

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sismo que abalou ontem as Filipinas provocou pelo menos uma morte, além de estragos em casas, edifícios públicos e estradas, de acordo com o último balanço feito até ao fecho desta edição. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), o sismo, de 6,7 na escala de Richter, ocorreu às 8:03, a 68 quilómetros da ilha de Masbate, na região de Visayas, e 10 quilómetros abaixo da superfície da terra. Segundo o Instituto de Vulcanologia e Sismologia das Filipinas (Phivolcs), o epicentro situou-se a cinco quilómetros da localidade de Cataingan, onde foi sentido com intensidade destruidora, com o hipo-

centro a um quilómetro de profundidade. A delegação em Masbate do Centro Nacional de Redução de Riscos de Catástrofes informou num relatório preliminar que um homem morreu após o colapso da sua casa em Cataingan, enquanto a mulher ficou ferida. O gabinete da Cruz Vermelha nas Filipinas publicou imagens nas redes sociais das consequências do terramoto, que abriu fendas profundas em ruas e auto-estradas e causou danos nas fachadas de edifícios de apartamentos, provocando estragos no mercado público e no porto de Cataingan e derrubando dezenas de casas frágeis nas zonas mais pobres da costa.

COREIA DO SUL MAIS 183 INFECTADOS NO SURTO LIGADO A IGREJA

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AIS 183 pessoas infectadas pelo novo coronavírus foram ontem identificadas em Seul, todas ligadas à igreja presbiteriana Sarang Jeil, representando um total de 457 infecções neste surto na Coreia do Sul. As autoridades sul-coreanas sublinharam a sua preocupação com o maior surto que a capital enfrentou até agora durante a pandemia da covid-19. "Até à meia-noite de segunda-feira identificámos cerca de 4.000 pessoas ligadas a esta igreja. A maioria é residente de Seul", disse numa conferência de imprensa o director-geral do Centro Coreano para o Controlo e

Prevenção de Doenças Infecciosas (KCDC), Kwon Jung-wook, referindo-se aos esforços para rastrear e testar os fiéis. Este é o segundo maior surto que a Coreia do Sul experimenta desde Fevereiro, quando ocorreram os contágios ligados à igreja cristã Shincheonji, na cidade de Daegu (230 quilómetros a sudeste de Seul), que levou a mais de 5.000 infecções (um terço do total contabilizado no país asiático). O facto de haver seguidores da igreja Sarang Jeil em diferentes partes da geografia sul-coreana aumenta o temor de "uma expansão a nível nacional", enfatizou Kwon. O director-geral do KCDC alertou que as autoridades estão a considerar impor o distanciamento de nível 3 em Seul e nas regiões vizinhas, que registaram desde sexta-feira um aumento significativo no número de casos diários.

CHINA-RÚSSIA ARRANCA CONSTRUÇÃO DE PETROQUÍMICA NO EXTREMO ORIENTE

Gigantes unidos

A russa Sibur e a chinesa Sinopec unem esforços na construção de uma nova fábrica petroquímica de grandes dimensões junto à região de Amur. O primeiro-ministro russo falou ontem de um projecto que deverá gerar “milhares de empregos” e “crescimento económico” o primeiro-ministro russo, Mikhail Michoustine, que se encontra numa visita ao extremo oriente do país, saudou o projecto, que estimou criará "milhares de empregos" e "crescimento económico".

AVANÇOS NO OUTONO

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maior empresa petroquímica russa, a Sibur, iniciou ontem os trabalhos preliminares para a construção de uma gigantesca fábrica na região de Amur, no extremo oriente russo, numa parceria com a China. Um primeiro cone em cimento foi lentamente afundado no solo em Svobodnyy, cidade industrial a 150 quilómetros a nordeste de Blagovechtchensk, no rio Amur, que separa a Rússia da China. Esta nova fábrica, que deverá estar concluída em 2024, representa um investimento estimado de 10 a 11 mil milhões de dólares, que é realizado em parceria entre a Sibur (60 por cento) e a gigante chinesa Sinopec

Esta nova fábrica, que deverá estar concluída em 2024, representa um investimento estimado de 10 a 11 mil milhões de dólares, que é realizado em parceria entre a Sibur (60 por cento) e a gigante chinesa Sinopec (40 por cento)

(40 por cento), também accionista da Sibur. Em videoconferência desde Blagovechtchensk, PUB

Os trabalhos deverão começar após a aprovação das autorizações de construção, o que deverá acontecer já no Outono. A fábrica vai transformar produtos obtidos na extração de hidrocarbonetos em polímeros, grânulos usados para fabricar produtos

em plástico, cuja procura é grande no mundo, e especialmente na China. O extremo oriente alberga vários grandes projectos russos, materializando a intenção de Moscovo de aumentar a cooperação económica com a China. A fábrica da Sibur será aprovisionada por uma gigantesca fábrica da Gazprom também em construção em Svobodnyy, por sua vez ligada ao gasoduto Power of Siberia, inaugurado no final do ano passado em Blagovechtchensk e que abastece a China de gás natural.


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19.8.2020 quarta-feira

o meu corpo não é mais que uma cela ambulante

diário de um editor João Paulo Cotrim

ISABEL BARAHONA

Uma palavra onde qualquer coisa SANTA BÁRBARA, LISBOA, SEXTA, 3 JULHO Deu umas voltas, logo depois das que contém desenhadas. Diz o carimbo que é oriundo do Alto Minho, embora a assinatura marque Caldas da Rainha. Estou em crer que a matéria do meu corpo outra não é senão papel. São páginas do diário da Isabel Barahona (algures na página), reproduções enriquecidas de modo a que o objecto se torne único: rostos, casas riscadas, começos de textos, uma folha de papel copiador kores 420 fabricado em Portugal, com aquele azul tão especial, «turbulento negro e tónico/ poço fundo do ventre-coração», corpos em linha, rasuras, palavras manuscritas redondamente, aqui maiusculadas: «re-escrever re-começar». Há gente do lado de lá em busca de um rosto-casa, (des) inquietados por um qualquer sentido, uma demanda. Amizade será este modo de abrir janelas nestas paredes. Abandono-me neste espreitar. SANTA BÁRBARA, LISBOA, SEGUNDA, 3 AGOSTO No meu calendário, o ano veste à justa o confinamento. Logo cedo recebi mensagem de «força» do José Ricardo [Nunes] sob a forma deste redondo e apuradíssimo objecto, «Si dispensa dai fiori» (ed. Volta d’mar). Demorei tempo a lê-lo. Passei muito tempo com ele. Fez-se-me refrão, tatuagem: «a minha cabeça é o meu castelo// o meu corpo cabe à justa/ dentro destas paredes». O meu corpo exigiu atenções, foi-se (des)fazendo parede caiada, plena de fissuras magnéticas, até esconsos ressonantes. Segui as pontes de onde provinham os versos, a figura inquietante de Gesualdo, música e fantasma, a pintura de Caravaggio, carne e luz, modelo e tema, raiz concreta e imanência volátil, «até não me lembrar de nada/ estratégia nenhuma,/ tudo fazer parte/ não haver sempre». Deixei, de súbito, de ter o sempre que afinal não havia. Noutro poema, sempre em voo picado, encontro-me nos «manuscritos atirados para um canto/ deixados semanas sobre uma cadeira/ o espírito da carne/ os saltos bruscos no tempo/ os alongamentos da memória// tudo o que somos/ desfeito por tudo o que somos// sem ser conhecido início/ nem haver propriamente fim». Agrada-me esta perseguição, este jogo de escondidas com o espelho, a deitar a língua de fora à morte, a desfiar memórias com vista à ressurreição, a regar e dispensar flores, rasurando os monólogos interio-

res com que ajustamos contas, com que nos ajustamos. Contas feitas, «o que sobra de um homem/ é o seu início». Tens razão, pouco mais resta, mas podemos ainda por uma vez reiniciar, preparar a tela e acertar-lhe com a cor, inventar-lhe um corpo. Podemos ser homem só de inícios? Há muito encontrei uns quantos a quem a vida assenta como luva, que a vestem sem dor nem atrito, enquanto noutros só o gesto singelo de respirar implica esforço e balanço, ranger de arestas, dispêndio de energias. Vou continuar a regressar a estas goivas, de modo a amaciar o madeirame das paredes, que continuam a estender-se em castelo. Ou para lhe escavar os veios em busca de sinais no sangue. Ou com delicadeza para nelas marcar os dias. Para contagem posterior, talvez memória futura. SANTA BÁRBARA, LISBOA, SEGUNDA, 4 AGOSTO Chegamos ao livro pela autora, Nathalie Sarraute, antes mesmo de no detalhe encontrarmos Luísa Dacosta como tradutora com voz própria, ou (re)pararmos na capa de Sebastião Rodrigues, antes e depois da leitura, para perseguir a ideia movediça que se esconde na elegância das formas. Uma mão negra com as suas linhas marcadas e explicadas a branco, ligações aos ritmos e pulsações de um universo mai-las suas narrativas a pro-

meter facilidades, fios que suspenderão a marioneta. Mas não sei, confesso, se isto queria dizer o desenhador acerca de «Planetarium» (Editorial Minerva). O amarelo parece ter contaminado o miolo, com as páginas quebradiças, como se os olhos tivessem sido pequenos sóis a consumir o branco líquido das páginas. Alguns mistérios se conservam, para além do que as palavras contam, uma dança estonteante de subtilezas, de agudas observações à volta do que mobila as existências, portas e tapetes, cadeiras ou bibelots, assim mais objecto o coro de vozes que desvela modos de ver, as carambolas que resultam do entrechoque singelo entre cada um e o outro, o quase nada que pode tornar-se carne da existência. Cada monólogo um planeta em sistema nem sempre solar, rodando sobre si e projectando nos outros o olhar respectivo, visão com sombras. «Não há união completa com ninguém, são histórias que se contam nos romances – todos sabem que a intimidade mesmo a maior é sempre atravessada a todo momento por relâmpagos silenciosos de fria lucidez, de isolamento...» E o narrador faz de força gravítica, não o lemos apesar de omnipresente, ou só o lemos a ele, que lhe pertence a transparência onde o todo navega, se distende, procura e talvez encontre lugar. Assmi pele da casa – o espelho, por exemplo,

mas podia ser quadro ou jarra --, queda et pur em vibração. Encontro inusitado conforto nesta interpretação do título, talvez sítio de encostar a cabeça e ficar a olhar as revoluções dos planetas solitários em que cada um se pode fechar em movimento. Mas pensava há linhas atrás no enigma que me propõe aquela página rasgada ou esta outra por abrir. O anterior leitor saltou estes momentos? Não lhe faltaram o pensamento e a voz das personagens para avançar? Os dedos não soltaram estas duplas? E o rasgão resultou do descuido, de faca torcida, ou do avesso, navalha demasiado afiada para o papel? As páginas rangem agora de tão secas, libertam cheiro acre, soltam pequenos fragmentos, talvez hastes de uma letra, restos de pontuação, provável que seja apenas papel. «Sente-se descontraído, tem vontade de se abandonar», oiço dizer, lá para o final, o personagem (quase) principal. «A vida pode ser agradável. É loucura tomar as coisas demasiado ao trágico, caminhar sempre em cima de andas, empoleirado sobre grandes precipícios...» A vida pode ser tão só livro talvez velho e meio a desfazer-se. Sacudam-se os fiapos, talvez ecos de frase ou palavra, levantemo-nos do sofá e procuremos um objecto com o qual encetar diálogos. «Da mesma maneira que uma mulher abandonada nas ruínas da sua casa que uma bomba destruiu, fixa com olhar embotado no meio dos escombros seja o que for, um objecto qualquer, uma velha faca torcida, uma velha tampa de cafeteira em estanho toda cheia de mossas, e a apanha sem saber porquê, num gesto maquinal, e se põe a esfregá-la, fixa-a com olhar vazio, no meio da página inacabada, uma frase, uma palavra onde qualquer coisa... mas o quê?» HORTA SECA, LISBOA, QUARTA, 5 AGOSTO Tantos meses depois, regresso com corpo novo e quase não reconheço este. Diria que está tudo na mesma, mas descortino-lhe na (des)arrumação um ar de ruína. Obediente ao tema dos «arquivos pessoais» da próxima «Torpor», cometo o que me parece agora um erro. Vasculho nos arquivos, mergulho na correspondência. Dou de caras com olhares velhos de décadas projectados no que terei sido, ainda sou, empilho projectos fixados para sempre nisso mesmo, potencialidades sem mais fruto além do acto de semear. Esta fúria de fazer serviu para quê? Embrulho muito rapidamente umas partes, escolho uns livros (de poesia) por verificar que me acompanham há varias décadas e catástrofes e corro a fechar-me à justa na minha cabeça. Ainda não sei como regressar.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

quarta-feira 19.8.2020

divina Comédia Nuno Miguel Guedes

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LHEM, amigos: agora mesmo e enquanto escrevo esta crónica atipicamente não tenho mais nada que dizer que não seja o que me esforço por fazer passar. Não tenho episódios veraneantes, explicações da ausência, citações pretensiosas, indignações sortidas, confissões de estados de espírito ou, como é o estilo desta coluna, tudo isso misturado. Irá acontecer, não duvido. Mas por agora só esta vontade única e irreversível de me sentar convosco para conversar. A minha ambição como cronista é esta: olhar toda a gente nos olhos e conversar e ouvir. Talvez seja pouco mas sinceramente esta atitude tende a ser menos praticada. Seja por escrito seja na chamada “vida real”. Então, pela primeira vez desde que aqui estou não tive dúvidas: isto é um regresso e já aqui falei de como prefiro regressos a partidas e de como a segunda é essencial à primeira. É certo que o

A arte do reencontro

conceito não terá sido bem tratado pela literatura clássica e que Ulisses não teria necessidade de chacinar 42 pretendentes de Penélope (aceito correcções sobre o número de baixas, escrevo de cor) quando voltou a Ítaca. Mas quem sou eu? Respondo: sou o tipo que prometeu não fazer alusões pretensiosas no primeiro parágrafo. Enfim.

Sim, amigos: o regresso da amizade contém todos os regressos. Vinicius dizia, provavelmente com razão, que a vida é a arte do encontro. Eu acho que é a arte do reencontro

Ao que interessa, então. Numa destas crónicas tentei sinceramente partilhar o que é uma perda de amizade. Coisa dolorosa, maléfica e que tantas vezes deixa mais mazelas do que a perda romântica. Ainda continuo a acreditar no que escrevi. Mas e o reencontro com a amizade perdida, amigos? Esse momento extraordinário em que depois de tanto tempo e de argumentos de que já nem nos lembramos somos devolvidos de forma bruta mas ao mesmo tempo familiar ao que nunca nos terá deixado? Isso é precioso e feliz e quando acontece deparamos com uma estranha mistura de sentimentos, resumidos em duas frases: “O que aconteceu?” e “Agora quero lá saber”. A amizade é livre, mais livre do que o amor. Isso não a torna moral ou eticamente melhor, até porque seria falácia a comparação. No amor conseguimos perceber quando acaba ou falha; na amizade – e falo da grande amizade – não

é assim: a menos que de permeio exista pulhice à séria de uma das partes, fica-se num limbo de perguntas e respostas. E os dias, e as horas e os minutos vão passando. Nós vamos passando, passando como podemos com um vazio qualquer que nos chama nos momentos mais inoportunos e que são todos. Depois, se tivermos sorte, existe um instante mágico – esse do recomeço. E estranhamente tudo parece familiar, como se todo o tempo que passou tivesse sido congelado num frame da nossa vida e finalmente libertado por um demiurgo benigno. Sim, amigos: o regresso da amizade contém todos os regressos. Vinicius dizia, provavelmente com razão, que a vida é a arte do encontro. Eu acho que é a arte do reencontro. E apetece escrever ou reescrever o mundo. Ou mais simplesmente frases ditas no cinema, como agora o faço: acho que este é o reinício de uma bela amizade.


14 (f)utilidades TEMPO

19.8.2020 quarta-feira

AGUACEIROS

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MAX

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ATAQUE EM DIA DE FESTA

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3 4 8 0

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7 0 2 8 5 6 3 1 9 4

S8 9U5 1D3 6O0 4K2 U 7 6 0 0 3 2 4 1 7 6 5 1 9 9

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0 8 7 2 9 3 9 5 1 4 3

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2 6 7 3 7 9 4 8 4 0 1

1 2 9 6 6 8 1 4 0 7 3 3 5 5

4 3 0 3 5 7 1 6 8 5 9 2

9 2 8 2 6 3 9 0 7 4 5 7 1

1 4 8 0 7 3 5 2 9 0 6 7 2 8 4

5 9 7 1 9 8 6 0 0 8 2 4 7 1 3 4

7 4 2 3 9 5 5 0 1 6 8 6 0 2

7 1 6 9 8 0 2 4 5 5 3 1 4 07 3 5 4 0 1 3 7 8 9 2 68 1

8 1 5 1 4 7 6 6 3 9 3 2 7

3 9 6 11 0 2 73 8 5

8 1 9 6 7 9 4 8 2 53 3 0 75 6

9 7 3 5 2 0 6 4 12 5 8

5 9 3 42 9 17 81 0 70 6 8

0 27 8 5 68 32 1 9 43

2 6 8 50 1 36 85 7 07 4 9 9

0 8 7 4 57 9 3 2 6 1 0

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 3

3

4 6 7 5 7 0 8 3 1 4 2 6 8 3 5

PROBLEMA 4

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Cineteatro 2

8 9 5 FALADO EM CANTONÊS 6 4 2 LEGENDADO EM CHINÊS Um filme de: Mankyu 017.30,719.30, 21.00 6 14.30, 16.00, 3 5 7 BEYOND THE DREAM [C] FALADO EM JAPONÊS 2 0 3 4 8 9 7 1 4 5 2 8 1 6 0 9 3 1 SALA 1

SUMIKKOGURASHI:GOOD TO BE IN THE CORNER [A]

SALA 2

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C I N E M A 1 9 8 2 6 3 0 4 5 7

4 6 3 2 0 9 1 4 5 7 9 0 8 2 7 6 1 3 5 9 6 4 8 7 2 0 4 5 7 8 6 3 9 1 2 8 www. hojemacau. 3 com.mo 5 0 1

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3 1 4 0 7 5 9 6 2 8

LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Chow Kwun-wai Com: Terrance Lau, Cecilia Choi 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

6 0 4 2 7 7 8 3 5 0 DREAMBUILDERS 1 5 9 [A]3 2 FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO 9 1EM CHINÊS6 4 8 Um filme de: Kim Hagen Jensen, Tonni Zinck 14.30, 16.30, 19.00, 21.15 8 4 1 9 5 2 7 0 1 6 5 6 2 8 3 3 9 7 0 1 4 3 8 7 9 0 2 5 6 4

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Vários ‘rockets’ atingiram ontem Cabul durante as festividades do 101.º aniversário da independência do Afeganistão da influência do Reino Unido, declarou o Ministério do Interior do país. Os projécteis, disparados de dois veículos, atingiram casas em

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várias áreas de Cabul, ferindo dez pessoas, incluindo quatro crianças, disse Tareq Arian, porta-voz do Ministério do Interior. Os ataques ocorreram após uma cerimónia no palácio presidencial, com a presença do chefe de Estado afegão, Ashraf Ghani.

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amigo, mesmo que muitos deles não concordassem com as suas ideias. 9 Um filme essencial para compreen5 do 2 período 9 3 em 4 que 6 a8Itália 0 7 der1parte viveu sob 4a sombra 0 3 6 8 do 7 terrorismo. 5 9 2 1 Andreia Sofia Silva 6 7 5 4 1 2 3 0 8 9

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ALDO MORO, O PROFESSOR | FRANCESCO MICCICHÉ | 2018

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8 3 9 2 5 4 1 7 0 4 filme 1 7 0 6 8 que 2 retrata 3 9 Um documentário os 0últimos de vida 5 1 dias 3 7 9 6de4Aldo 8 Moro, primeiro-ministro de Itália 6 8 4 9 2 5 3 1 7 assassinado pelas Brigadas Verme2 no9ano8de 1978. 4 1 O0documentário 7 6 5 lhas de7 Francesco 0 5 Micciché 6 3 2 retrata 4 8o ou1 tro3lado de Moro, um dos líderes 6 2 8 0 1 9 5 4do movimento da Democracia Cristã 1 7nunca 0 faltou 5 9 a3uma 8 aula 2 6de e que Direito O político 5 4na3universidade. 7 8 6 0 9 2 é retratado como um professor pró9 2 6 1 4 7 5 0 3 ximo dos alunos, conselheiro e até

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opinião 15

quarta-feira 19.8.2020

MANUEL DE ALMEIDA (Texto & Ilustração)

Tudo é disperso, nada é inteiro “Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, Nem o que é mal nem o que é bem. (Que ânsia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro”

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Fernando Pessoa (1888 – 1935) em “Mensagem” ODOS sabemos que uma evidência não é absoluta garantia da extinção da polémica – “a nossa História pertence-nos é como a colonização: reprimiu-nos mas não nos roubou as almas, transformou-nos mas não nos mudou a identidade”. Uma divergência nunca se deve transformar numa dissidência. Por vezes o inaceitável é facilmente aceitável, fruto do sistema que criámos para “viver”. Não no que somos, mas sim como vivemos/pensamos. Um escândalo em câmara lenta vai deixando de escandalizar, de forma lenta – existe mas torna-se dissolúvel. Já poucas ou nenhumas forças nos restam para lutar. Não podemos viver de abstrações filosóficas ou doutrinárias. Temos de transgredir, transformar o presente. A vulneralidade não será uma experiência existencial? Omite-se a verdade conscientemente. Interrogação do poder fundador das palavras – crítica da linguagem (?) – ou palavras exaltadas. A sociedade civil tem de ter capacidade intectual para resolver alguns dos vários problemas que se nos colocam neste “mundo” contemporâneo. Não podemos esperar por ordens superiores para organizar diferentemente as “nossas” vidas. Valores, normas, estratégias, ética, criatividade, lazer, solidariedade, para combater causas “imperiais”, ambiente, património, racismo, xenofobia, repressão consumo, autoritarismo, capitalismo, globalização, energia, destroços, remendos do dia a dia,...... ou seja tornar o ilimitado limitado - sem silêncios discretos. Temos de procurar uma maior dignidade para as nossas vida. Não nos podemos excluir da mudança. Temos de saber cruzar, intersectar a consciência global com a inquietação individual (procurar um mundo de recolhimento intelectual). A ignorância é a causa podre do desrespeito. Respeitar é conhecer. Até porque nunca é tarde para emendar, mas é preciso corrigir o rumo. Falta-nos a capacidade da incapacidade. Temos de saber governar o “nosso” poder. Não podemos usar o “nosso” poder para nos destruirmos – usemos a “nossa” Voz. É o iludir da razão, desiludindo os pensamentos. Sem justificações.

As misérias vêm ter connosco. São as misérias que nos conhecem. O que estamos a viver e a forma como vivemos é um problema político, que exige respostas cívicas. É que não poucas vezes protegemos o atrevimento, a ignorância, o demérito, a incompetência, a deslealdade. Esta misteriosa continuidade entre aparição e dissolução, entre presença e indefinição. Fazemos escolhas por defeito. Desprezamos o pensamento. Improviso? Mudados os tempos, de tolerantes e livres, os tempos de ontem, a inflexíveis e obstruídos, os tempos de hoje...mudados os tempos. Temos de saber reinventar as nossas aspirações – “ com o optimismo de quem anseia alívio e sem a euforia de quem espera transformações”. Sociedade obediente, silenciosa e submersa como se nos estivessem a pagar a ociosidade e os previlégios (?). Sem modelo, nem definição. O grande problema são as visões monolíticas da sociedade. Não existem contradições (pensamentos).

Hesita-se muito entre a teoria e a prática, ou por outras palavras, entre a acção e o pensamento, mas, ao não se saber gerar pensamento, não se estimula o debate de ideias. Procuram-se... É preciso termos tolerância contra os dogmas e pragmatismo contra a utopia. Até porque não vamos incutir ao povo noções desajustadas da realidade. Como alguém disse: “Utopia é pensar que podemos continuar como até aqui, quando tudo indica o colapso de uma civilização baseada na competição, na ganância, na opressão, na exploração e na violência contra o outro, seja o humano, o animal ou a Terra”. Os pavões não dormem à noite e só gritam quando sentem o tigre..... “A tempestade não suspendeu a viagem, mas ofereceu a oportunidade para descobrir o que significa estarmos no mesmo barco.” Luís Vaz de Camões em “Os Lusíadas”, Canto IV


As obras de arte são de uma solidão infinita. Rainer Maria Rilke

SEGURANÇA NACIONAL LEONEL ALVES DIZ QUE MACAU NÃO DEVE COPIAR HONG KONG

HIGOS ALERTA DE INUNDAÇÕES GRAVES E FECHADOS PARQUES DE ESTACIONAMENTO

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antigo deputado e membro do conselho executivo, Leonel Alves, considera que Macau não deve seguir o exemplo de Hong Kong em matéria de segurança nacional. As declarações foram proferidas ontem, à margem do lançamento da primeira pedra do Centro de Artes da China, Macau e Países de Língua Portuguesa, avançou a TDM – Rádio Macau. “O modelo de Hong Kong poderá não ser o melhor para ser importado ipsis verbis para Macau. Macau tem as suas características e prioridades (…) e a sua própria dinâmica de desenvolvimento. São estes os factores fundamentais que estarão subjacentes numa futura análise, não só desta lei de segurança nacional, mas quaisquer outras que possam ter interesse para o desenvolvimento da estabilidade de Macau”, afirmou Leonel Alves. Segundo a mesma fonte, sobre a forma de actuar das autoridades na noite de 4 de Junho em que foram feitas várias detenções, o antigo deputado adiantou ainda que a comissão de fiscalização das forças de segurança não recebeu qualquer queixa. “Até à data, a comissão não recebeu nenhuma queixa, nenhuma carta anónima ou não-anónima. Na sequência dos poderes alargados que nós tivémos, a comissão de fiscalização tomou a iniciativa de, em relação a casos apresentados, encetar diligências de averiguação. Face aos resultados que vierem a ser apurados, poderemos então sugerir os procedimentos subsequentes que deverão ser encetados pelas corporações respectivas”, acrescentou o também presidente da comissão, Leonel Alves, segundo a TDM – Rádio Macau. Recorde-se que foi a primeira vez em 30 anos, que a vigília em memória do massacre de Tiananmen não foi realizada em Macau depois de ter sido proíbida pelas autoridade devido à pandemia. PUB

quarta-feira 19.8.2020

PALAVRA DO DIA

Apesar de haver voos comerciais, Leong Sun Iok aponta que os preços dispararam para valores “três a dez vezes” superiores aos que eram praticados antes da pandemia

Época de incertezas Deputado Leong Sun Iok pede ajuda para alunos que estudam em Portugal

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deputado Leong Sun Iok está preocupado com a evolução da pandemia na Europa e quer saber que medidas o Governo vai adoptar, para prestar auxílio aos estudantes de Macau que frequentam universidades em Portugal. O pedido foi feito pelo legislador ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) ao Executivo através de uma interpelação escrita, divulgada ontem. Uma das questões abordada pelo deputado é o preço das ligações aéreas para quem quer ir ou vir de Portugal. Apesar de haver voos comerciais, com escalas em Seul e Taipé, Leong Sun Iok aponta que os preços dispararam para valores “três a dez vezes” superiores aos que eram

praticados antes da pandemia. Neste sentido, o deputado quer saber se o Governo vai auxiliar monetariamente, mas não só, os estudantes que estão em Macau e que precisam de regressar a Portugal, para o recomeço das aulas agendado para meados de Setembro.

MATRÍCULAS E SEGURANÇA

Outro dos assuntos abordados passa pela hipótese dos alunos de Macau suspenderem as matrículas ou pedirem transferência para instituições locais, onde se sentem mais seguros. Segundo o legislador, os acordos que subsidiam os estudos nas instituições portuguesas não consideram a possibilidade de haver motivos de força maior para suspender as matrículas ou pedir transferência.

Por isso, Leong questiona quais são as soluções que vão ser propostas aos alunos e como se vai garantir que estes não vão ser prejudicados. Por último, Leong Sun Iok mostra-se preocupado com a evolução da pandemia em Portugal face à possibilidade de haver uma nova vaga de infecções em Outubro. Apesar de reconhecer que Portugal tem tido melhorias nas últimas semanas, Leong sublinha que diariamente “há mais de 200 infecções confirmadas” e que as autoridades europeias acreditam numa nova vaga no mês de Outubro. Perante este cenário de “imprevisibilidade”, Leong quer saber que mecanismos estão a ser equacionados para garantir que os estudantes no estrangeiro estão em segurança. J.S.F.

ACAU subiu ontem o alerta de inundações nas zonas baixas da cidade e anunciou o fecho de 20 parques de estacionamento, apelando à população que se resguarde em casa, devido à aproximação do ciclone tropical Higos. À hora do fecho desta edição os serviços meteorológicos anunciavam que iriam içar o sinal 8 de tempestade tropical. Este sinal implica o encerramento de parques de estacionamento, das pontes entre a península de Macau e a Taipa, e a suspensão dos transportes públicos e das ligações marítimas e aéreas. Razão pela qual as autoridades avisaram a população para o facto de todas as linhas de autocarro serem suspensas 20 minutos antes de ser içado o sinal 8, o que estava previsto acontecer pelas 23:30. Para esta madrugada e manhã, eram esperadas inundações graves nas zonas baixas da cidade, nomeadamente na área do Porto Interior, prevendo-se que a altura da água se venha a situar entre um e 1,5 metros, o que motivou as autoridades a emitirem o nível laranja de ‘storm surge’. Para este ano, as autoridades de Macau disseram prever quatro a seis tempestades tropicais no território, algumas delas podendo mesmo “atingir o nível de tufão severo ou super tufão”.

CICLISMO FABIO JAKOBSEN AGRADECE ESTAR VIVO

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holandês Fabio Jakobsen (Deceunick-QuickStep) agradeceu ontem por ter sobrevivido à grave queda na Volta a Polónia e por poder lutar pelo regresso ao ciclismo, embora ainda tenha de ser submetido a várias cirurgias ao rosto. Jakobsen, de 23 anos, abordou ontem pela primeira vez o incidente, sem nunca referir o nome do compatriota Dylan Groenewegen

(Jumbo-Visma), que o empurrou para as barreiras, na disputa ao ‘sprint’ da primeira etapa da Volta à Polónia, em 5 de Agosto. “Quero que todos saibam que estou muito agradecido por continuar vivo. Todas as mensagens e palavras de apoio deram-me uma força tremenda. Passo a passo, eu posso olhar, lentamente, para o futuro, e lutar pela recuperação”, escreveu o corredor, que esteve

dois dias em coma induzido. Na mensagem divulgada pela Deceunick-QuickStep, o campeão holandês expressou a imensa gratidão para com a equipa médica e de enfermagem que o trataram em Katowice, logo após a queda. “Estive uma semana na unidade de cuidados intensivo do hospital de Santa Bárbara, em Sosnowiec, onde me operaram imediatamente durante cinco

horas e me deram a hipótese de viver. Estou muito grato a todos do hospital”, prosseguiu Jakobsen, reconhecendo ter sido “difícil” e um “período negro”, em que “temia pela não sobrevivência”.


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