Hoje Macau 2 DEZ 2020 #4683

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UM CASO ÚNICO PÁGINA 8

LAURENTLESAX

GONÇALO LOBO PINHEIRO

MUST | ESPAÇO

MOP$10

QUARTA-FEIRA 2 DE DEZEMBRO DE 2020 • ANO XX • Nº4663

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

CASO SAUTEDÉ

COVID-19 | LISBOA

PROVA DE DANOS

SEXO NA CIDADE

PÁGINA 9

ESPECIAL REPORTAGEM

ÓBITO

EDUARDO LOURENÇO (1923-2020)

hojemacau www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

ANOS

‘‘

Nunca fomos bem recebidos em Macau h

ENTREVISTA

DA MEMÓRIA NUNO MIGUEL GUEDES

DAS VIDAS DA VIDA JOÃO PAULO COTRIM


2 ENTREVISTA

CARLOS CASTANHEIRA ARQUITECTO E PARCEIRO DE SIZA VIEIRA, SOBRE CASO DO HOTEL ESTORIL

“Foi extremamente A dupla de arquitectos Siza Vieira-Castanheira acaba de ver inaugurado na cidade chinesa de Ningbo um novo projecto. Mas Carlos Castanheira não esquece a atitude “extremamente deselegante” do ex-secretário Alexis Tam sobre a retirada do convite para recuperar o antigo Hotel Estoril. Por concretizar, ficou também a exposição sobre o trabalho da dupla, que esteve na Fundação de Serralves, e que não foi incluída no orçamento do Instituto Cultural Recentemente foi inaugurado na China o MoAE - Huamao Museum of Art and Education. Como aconteceu este projecto? Recebemos um convite para fazer cinco vilas. O nosso cliente está a desenvolver uma urbanização junto a um lago que incluía um hotel, um centro de congressos, 25 vilas e um museu. Começamos a trabalhar nas vilas e na terceira visita houve a hipótese de pegarmos no museu. O programa já existia, o senhor já tinha um outro museu no centro da cidade, onde tinha parte da sua colecção. Mas como ele está ligado à educação, pois tem uma série de colégios, queria que através da arte se fizesse educação, e daí o MoAE. Há uma parte do piso inferior que é muito relacionada com as exposições de escolas e depois ao subir vai-se subindo também na qualidade da arte para se perceber como é a evolução do mundo através da arte.

Quase todos os edifícios que fazemos são únicos, mas vemos que há ali semelhanças, porque são coisas feitas pelos mesmos arquitectos. Não podemos esquecermo-nos do nosso passado e fazer coisas completamente novas.

Houve divergências em termos de ideias? Trabalhamos em conjunto. Neste caso era muito claro que o espaço existente era relativamente pequeno para o programa que o cliente pretendia, daí ser necessário colocá-lo em altura, com alguns pisos. Depois tínhamos a sorte de ter uma colina com muita presença. Esse programa era muito parecido com um outro que o Siza Vieira já tinha feito no Brasil, e foi possível usar algumas dessas experiências neste projecto. Mas este não é o mesmo do Brasil.

É difícil trabalhar com alguém muito mais velho, mas também alguém que foi seu professor? É um bocado difícil de explicar. Ele tem esta capacidade incrível de se equiparar a nós. E somos nós que mantemos o respeito. Quando trabalho com ele aqui no atelier, muitas vezes tenho colaboradores comigo, e ele sempre com o devido respeito, fala com eles quase de igual para igual. Disse quase.

O território também não é igual. Não, o cliente e as suas aspirações não são iguais. Temos de nos empenhar para dar uma resposta especifica aquele cliente, e é por isso que eu penso que este edifício é único.

Também já existe uma expectativa em relação à dupla Siza Vieira-Castanheira. Há uma carga que, de certa maneira, é positiva, mas às vezes não é. É uma carga de que tudo o que se faz tem de ser sempre muito bom. Há uma certa pressão. Há uma pressão muito grande que também nos dá alento e responsabilidade de querer fazer bem. Queremos sempre fazer bem, não por termos essa carga. Não digo que há um estilo Siza Vieira-Castanheira. Há uma maneira de fazer, um respeito mútuo muito grande.

Há sempre uma diferença. Exactamente. Ele é o maior brincalhão, conta umas anedotas. Mas tem esta capacidade de saber trabalhar em conjunto. O Siza faz tudo, desenhos à mão, corta maquetes. Obviamente que a idade pesa, conheço-o há 44 anos e claro que ele mudou alguma coisa, mas só fisicamente. Agora temos um

projecto novo para a Coreia, ele diz “vamos lá começar isto”. Tem entusiasmo, sempre com vontade de fazer mais e melhor. E há uma coisa em que se calhar sou diferente dos outros, porque quando não gosto digo e temos esse relacionamento muito claro.

Infelizmente, ao fim destes anos todos, não construímos nada lá, e estamos com expectativas em relação a este novo trabalho. Gostamos muito de trabalhar na Coreia, são muito cumpridores. Em Taiwan também, onde só trabalhamos com um cliente.

Não é submisso. Não sou um co-autor que diz que tudo está bem. Até porque ele é muito diferente, mas não é Deus. Mesmo que ele não concorde eu digo o que penso e isso cria um relacionamento de muita confiança. Estou extremamente contente com o trabalho que temos feito, porque as pessoas continuam a pedir-nos trabalho, e temos trabalhos novos, apesar da crise.

Quando fala dos desafios de Macau refere-se ao projecto para o antigo Hotel Estoril que nunca aconteceu? Também, mas não só. Umas pessoas de Macau desafiaram-me para um projecto e eu fui até lá. Tinham um hotel [Hotel Best Western Sun Sun], que vinha do pai. Começamos a desenvolver esse projecto e foi só problemas, só faltou dizerem que não queriam que trabalhássemos em Macau.

“Não vale a pena ter rancor, se o Hotel Estoril fosse o único projecto no mundo, tinha, mas não é.”

Problemas da parte de quem? Das Obras Públicas, e por causa do património. Eles [os proprietários] queriam muito, tinham muita influência, mas mesmo assim aquilo foi complicado. E estávamos ainda a trabalhar nesse projecto quando fui chamado para ter uma reunião com Alexis Tam [ex-secretário para os Assuntos Sociais e Cultura] para desenvolver o projecto do Hotel Estoril. Fomos visitar o edifício, tirei desenhos, o Alexis Tam veio ao Porto, disseram-nos que tinham pressa em andar com o projecto. Entretanto saiu a notícia de que o Governo ia convidar o Siza Vieira para fazer aquilo, começou a haver alguma reacção dos arquitectos, e quando voltei a Macau tive uma reunião com Alexis Tam e ele, com um ar tranquilíssimo, disse-me que o projecto já não ia para a frente. Eu fiquei muito surpreendido, foi extremamente deselegante. E logo a seguir vim a saber que

Para a Ásia? Sim, para a Ásia também. Vamos focarmo-nos no trabalho da Coreia e do Japão, estamos mesmo a começar. Neste conjunto de trabalhos que já fizeram na Ásia trabalharam com mercados diferentes. Qual é o mais desafiante? Desafiante mesmo é trabalhar em Macau. É extremamente difícil. Mas a China é desafiante. O Japão é um mercado muito difícil por questões culturais, eles têm uma maneira muito própria de trabalhar, mas somos bem recebidos.

iam contratar um arquitecto local e que depois houve um outro concurso e que convidaram outros arquitectos. Fiquei com a ideia que o Álvaro Siza Vieira não era bem visto. Chegaram a fazer alguns gastos neste projecto? Ainda não tínhamos nada feito, mas foi por pouco. Tinha a palavra dele [de Alexis Tam]. Na Ásia há muito essa coisa de que, sem um contrato, não se faz nada. Nós, muitas vezes, basta-nos a palavra do cliente para avançar. Já havia discussões se iríamos manter o edifício todo ou parcial, havia um tempo gasto, mas nada que pudéssemos reclamar honorários. E o que achou Siza Vieira? Também achou deselegante. Represento-o a ele e a mim próprio.


3 quarta-feira 2.12.2020 www.hojemacau.com.mo

e deselegante”

rários são adequados ao trabalho que desenvolvemos e à qualidade, e pagam. Somos respeitados como arquitectos. Também temos os nossos problemas, de comunicação, culturais, mas há sempre uma relação com os clientes e equipas locais bastante saudável. Temos tido a sorte, e também tem a ver com o nosso passado, de termos sido convidados para fazer projectos interessantes. Havia na China a ideia de destruir o que é velho para fazer de novo. Isso alterou-se? Voltamos à questão cultural. Aqui [em Portugal] temos um relacionamento com o património fundamentalista, exagerado. Acho que o bom está no equilíbrio das coisas, e há coisas que têm mesmo de ser destruídas. Na China há outra atitude. Depois constrói-se tão depressa, e isso é talvez a coisa mais criticável na China. Eu nunca me atrasei na China, eles nunca esperaram por mim. E depois constroem muito mal. Por exemplo, na Coreia eles acham que um edifício com 20 anos é velho, e têm uma teoria que se um edifício ao fim de 20 anos não se pagou a si próprio, foi um mau negócio.

Mas para essas coisas escrevem-se cartas, fazem-se telefonemas. A educação não é cara, mas há males que vêm por bem. Muito sinceramente acho que nunca fomos bem recebidos em Macau e se calhar a culpa é muito dos arquitectos. Há sempre uma inveja. Na altura o convite foi retirado porque se defendia um concurso público para a participação de arquitectos locais. O convite a determinadas arquitectos, e não falo de nós, podem ser entendidos como uma majoração da profissão. Não sei como está a situação agora na pandemia, mas tenho tido alguns contactos com pessoas daí e se havia sítio onde não havia trabalho era em Macau. Também há alguns arquitectos que querem fazer tudo e sentiram esse incómodo. Quem não ganhou nada com isso foi o território. E

aquela praça continua com aquele objecto, eu não queria aquilo na minha casa. Se tivesse aquilo, com muito dinheiro no banco, e não fosse capaz de resolver… alguma coisa se passaria. E também não há problemas de eleições. Houve uma falta de personalidade, de carácter. Depois fomos convidados para fazer uma exposição, na

“Se Macau tivesse tido melhor arquitectura, que não fosse só ganhar dinheiro, o respeito que teria pelos arquitectos internacionais seria maior.”

sequência da mostra que houve aqui [no Porto] em Serralves. Houve contactos com o Instituto Cultural, queriam importar a exposição [para o Museu de Arte de Macau] e fazer um acrescento com os projectos da Ásia. Isso estava praticamente resolvido, já tinham cá vindo escolher os desenhos. Mas chegou a pandemia e foi tudo cancelado. Entretanto chegou um novo Governo, com um novo orçamento, e essa exposição não foi incluída. Ainda não perdi essa esperança, mas não vai ser para já. Porque acha que há toda essa complicação nas Obras Públicas? Macau ainda tem algum português, há esta pequena questão miudinha que é ser português, de não pensar em grande. Se Macau tivesse tido melhor arquitectura, que não fosse só ganhar dinheiro, o

respeito que teria pelos arquitectos internacionais seria maior. E assim continua a ser uma vila portuguesa pequena na Ásia com um enorme playground. Cria muito dinheiro, postos de trabalho, mas que não é característico. Do ponto de vista de arquitectura, é um fogo de artifício. Têm a sensação que Macau nunca vos recebe bem? Arranje-me uma prova em contrário. Nem com a exposição correu bem, mas foi a questão da pandemia. Havia ali uma vontade de Alexis Tam de se redimir, mas ele acabou por não ficar no Governo. Porque é que a China é tão desafiante? Desafia-nos a fazer projectos diferentes. Alguns deles têm algum tamanho e só são possíveis de concretizar na China. Os hono-

É uma visão materialista da arquitectura. No centro de Seul estão constantemente a deitarem-se coisas abaixo. Há uma energia, uma vitalidade que cá não temos, nem conseguimos. Ainda construímos castelos para os nossos trinetos. Eles querem gozar as coisas, e depois logo se vê. Há uma atitude cultural diferente. Mas nestes 15 anos a China mudou completamente, a nível processual, tudo. Uma coisa que me espanta é que mudou completamente a nível ambiental. Para melhor? Para melhor. Têm uma capacidade para dar ordens e escutar. Talvez seja criticável, mas pronto. Vai estar atento ao projecto para o edifício do antigo Hotel Estoril? Não. Vi as propostas do concurso internacional. Não vale a pena ter rancor, se o Hotel Estoril fosse o único projecto no mundo, tinha, mas não é. E também não é a primeira vez que nos passam a perna. Apesar de tudo isto, e não sei explicar, mas gosto muito de Macau, acho interessante. Gostava de chegar à praça do Tap Seac e ver um belo edifício, não importa de quem seja o projecto. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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2.12.2020 quarta-feira

ANÚNCIO

VENDA EM HASTA PÚBLICA

ANÚNCIO Faz-se saber que, por despacho do Exmo. Senhor Secretário para a Economia e Finanças, de 19 de Outubro de 2020, foi determinada a abertura do Concurso Público n.º 01/CP/DSF-DAF/2020, para a prestação de serviços de limpeza às instalações e equipamentos da Direcção dos Serviços de Finanças. O respectivo programa do concurso e o caderno de encargos encontram-se disponíveis, para efeitos de consulta durante o horário de expediente, no 14.º andar do Edifício Finanças, sito na Avenida da Praia Grande, n.ºs 575, 579 e 585, em Macau, a partir da data de publicação deste anúncio no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau, e também disponíveis gratuitamente, a partir da mesma data, na página oficial desta Direcção de Serviços (http:// www.dsf.gov.mo). Os interessados poderão participar na inspecção dos locais conforme a data e hora referidas nas propostas. As propostas devem ser entregues até às 12 horas da manhã do dia 15 de Janeiro de 2021, na Divisão Administrativa e Financeira da Direcção dos Serviços de Finanças, sita no 14.º andar do Edifício Finanças. É obrigatória a prestação de uma caução provisória a favor da RAEM, no valor de MOP96.000,00 (noventa e seis mil patacas), a qual garantirá o exacto e pontual cumprimento das obrigações que assumem com a apresentação da proposta. A caução provisória poderá ser feita por depósito em dinheiro, devendo solicitar a respectiva guia de depósito junto da Divisão Administrativa e Financeira da Direcção dos Serviços de Finanças, ou mediante garantia bancária. O acto público do concurso realizar-se-á no dia 18 de Janeiro de 2021, pelas 10h00, na Cave do Edifício Finanças, sito na Avenida da Praia Grande, n.º 575, 579 e 585, em Macau. Em caso de encerramento destes serviços por causa de tempestade ou de outros motivos de força maior, o termo do prazo de entrega das propostas ou a data e a hora estabelecidas para o acto público do concurso, serão transferidos para o primeiro dia útil seguinte. No critério que preside à adjudicação intervêm os seguintes factores com a ponderação que se indica: a) b) c) d) e) f) g) h) i)

Preço proposto (45 %); Certificado ISO (5 %); Formação Profissional na área da actividade a concurso, que seja reconhecida, do pessoal a empregar (10 %); Declaração de compromisso de emprego em exclusivo de trabalhadores residentes (10 %) ou Declaração de compromisso de emprego maioritariamente de trabalhadores residentes (5 %); Instrumentos próprios de limpeza (8 %); Os detergentes de limpeza prestados devem corresponder aos critérios ecológicos (8 %); Experiência (6 %); Número de trabalhadores (Dimensão da empresa) (5 %); Cartas de recomendação (3 %).

Macau, aos 12 de Novembro de 2020 O Director dos Serviços, Iong Kong Leong

Faz-se público que se vai realizar uma venda em hasta pública de sucata resultante de veículos, de bens e de sucata de bens, que reverteram a favor da Região Administrativa Especial de Macau nos termos da lei ou que foram abatidos à carga pelos serviços públicos. Os locais, dias e horas marcadas para visualização dos bens agora colocados à venda, para efeitos de prestação da caução e da hasta pública propriamente dita, são os seguintes: Visualização dos bens 1. Sucata resultante de veículos, bens e sucata de bens Na tabela abaixo indicada encontram-se discriminados os lotes de sucata resultante de veículos, de bens e de sucata de bens colocados à venda, bem como, a respectiva data, hora e local para visualização dos mesmos na presença de trabalhadores da Direcção dos Serviços de Finanças: No. de lote VS01 (parte), VS02 MS01, MS02, MS03 ML02 (parte) VS01 (parte), IS01 (I) L01 (parte) BL01, BL02 (parte) B01 L01 (parte), L02 BL03 B02, B03 Nota (1) (2)

Data de identificação

Horário (1)

10/12/2020

10:00

Macau

10/12/2020

15:00

Parque de Estacionamento do Edf. San On (Avenida da Amizade, n.º 875, Macau)

Macau

11/12/2020

10:00

Armazém de Ilha Verde da DSF (Estrada Marginal da Ilha Verde, Rua das Camélias, Macau)

Taipa e Coloane

11/12/2020

15:00

Ed. Multifuncional do Governo Pac On (Rua da Felicidade, Taipa)

Local de armazenamento Taipa e Coloane

Local (2) Parque de estacionamento provisório para veículos abandonados (Estrada de Flor de Lotus, Coloane)

A visualização de sucata resultante de veículos, de bens e de sucata de bens inicia-se, impreterivelmente, quinze minutos após a hora marcada, não sendo disponibilizada uma outra oportunidade para o efeito. Os interessados devem providenciar meio de transporte para se deslocarem ao local de armazenamento de cada lote. Para se dirigirem aos locais de armazenamento de sucata resultante de veículos, de bens e de sucata de bens, devem os interessados concentrar-se nos locais acima indicados.

Não há lugar à visualização de sucata resultante de veículos, de bens e de sucata de bens no dia da realização da hasta pública, mas são projectadas fotografias dos mesmos através de computador. 2. As listas de bens podem ser consultadas na sobreloja do Edifício “Finanças”, ou na página electrónica desta Direcção dos Serviços (website: http://www.dsf.gov.mo). As listas dos bens com descrição pormenorizada podem ser consultadas no 8.º andar do Edifício “Finanças”, sala 803. Prestação de caução Período: Montante: Modo de prestação da caução

Desde a data do anúncio até ao dia 15 de Dezembro de 2020 $5,000.00 (cinco mil patacas) - Por depósito em numerário ou cheque, o qual será efectuado mediante a respectiva guia de depósito e paga em instituição bancária nela indicada. A referida guia de depósito será obtida na sala 803 do 8.º andar do Edifício “Finanças”, sito em Macau na Avenida da Praia Grande, n.ºs 575, 579 e 585; ou, - Por garantia bancária, de acordo com o modelo constante do anexo I das Condições de Venda

Realização da Hasta Pública Data: Horário: Local:

16 de Dezembro de 2020 (quarta-feira) Às 09:00 horas – registo de presenças Às 10:00 horas – início da hasta pública Auditório, na Cave do Edifício “Finanças”, sito em Macau na Avenida da Praia Grande, n.º 575, 579 e 585.

Consulta das Condições de Venda As Condições de Venda podem ser: - obtidas na sala 803 do 8.º andar do Edifício “Finanças”, sito em Macau na Avenida da Praia Grande, n.ºs 575, 579 e 585; - consultadas na sobreloja do Edifício “Finanças”, ou na página electrónica da Direcção dos Serviços de Finanças (website: http://www.dsf.gov.mo). O Director dos Serviços Iong Kong Leong


política 5

quarta-feira 2.12.2020

AL GOVERNO SUGERE AFASTAMENTO SEM PRAZO DE PROFESSORES DESPEDIDOS POR VIA DISCIPLINAR

Saem cartões vermelhos

O

Governo pretende que os professores que sejam despedidos depois de processo disciplinar deixem de poder exercer nas escolas oficiais mesmo que sejam reabilitados. Esta é uma das medidas que consta da proposta de alteração ao Estatuto do Pessoal Docente das Escolas Oficiais. “A maioria dos deputados disse que temos de perguntar ao Governo porque foi aditada a ressalva e alguns membros da comissão não concordam com esta norma, entendendo que isto é muito grave”, disse ontem o presidente da 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa. O Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau (ETAPM) define que, em caso de demissão, os interessados só podem pedir reabilitação cinco anos depois da aplicação da pena. Vong Hin Fai indicou que na lei penal há penas acessórias que estabelecem que um profissional pode ser impedido de exercer durante um período, mas que é necessário fixar um prazo. Quando há reabilitação, numa lei penal dá-se “uma oportunidade à pessoa”. Alguns deputados questionaram ainda porque os professores impedidos de concorrer ou exercer funções nas escolas públicas podem dar aulas nas instituições privadas. Por outro lado, a forma de avaliação do desempenho dos docentes vai ser definida por regulamento administrativo complementar, mas não se sabe quando entra em vigor. “Será que vai entrar em vigor no mesmo dia que esta proposta de lei?”, questionou Vong Hin Fai. Para o deputado, parece que o

RÓMULO SANTOS

Alguns deputados consideram “grave” a proposta de afastar permanentemente docentes que sejam despedidos de escolas públicas no seguimento de processos disciplinares. A comissão da Assembleia Legislativa quer mais dados sobre o regulamento que vai definir a avaliação do desempenho dos professores

Lazer Lam Lon Wai quer calendário para planeamento de Hác Sá

Lam Lon Wai quer que o Governo use os dados sobre espaços recreativos para planear e actualizar essas zonas. Em interpelação escrita, o deputado questionou quando é que o planeamento de Hác Sá vai ser terminado, indicando que com a epidemia os cidadãos têm mais dificuldade em sair do território e sentiram que faltam espaços ao ar-livre e instalações exteriores. De acordo com o canal chinês da TDM - Rádio Macau, Lam Lon Wai reconheceu que o Governo tem desenvolvido, activamente, espaços recreativos nos últimos anos, mas que isso é feito de forma aleatória. Como exemplo, o deputado indicou que os terrenos recuperados são considerados espaços ao ar-livre.

Encontro Ho Iat Seng reúne com membro da Academia de Ciências da China

A proposta sugere que as faltas justificadas sejam as mesmas do ETAPM. No entanto, alguns motivos não são reconhecidos no diploma, como as faltas para fazer exames ou reuniões de avaliação dos alunos

regime “não vai ser elaborado” a curto prazo.

FALTA DE POSIÇÃO

A proposta sugere que as faltas justificadas dos professores sejam as mesmas do ETAPM. No entanto, alguns motivos para faltas não são reconhecidos no diploma, como as faltas para fazer exames ou reuniões de avaliação dos alunos, à semelhança do que acontece no regime actual. O Governo deixa de fora cenários como o exercício de

actividade sindical, a doação de sangue ou a formação académica profissional e linguística. De acordo com Vong Hin Fai, é preciso perguntar porque foi criado um regime diferente da função pública: “não nos estamos a opor a isto, mas temos de saber o motivo do Governo”. Em resposta aos jornalistas, disse que os membros da Comissão não manifestaram opinião em relação à medida. Há outro ponto de divergência em relação ao regime geral da fun-

ção pública. Os docentes passam a ter de compensar o tempo gasto em consultas, por iniciativa própria ou por prescrição médica. No caso do ETAPM, as consultas por prescrição médica não implicam compensação. Além disso, a proposta prevê que o dever de compensar cessa com o ano lectivo, uma situação que a comissão quer esclarecer. “Como é que isto funciona?”, perguntou Vong Hin Fai. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo

Ho Iat Seng reuniu ontem com Bai Chunli, membro da Academia de Ciências da China e presidente da Aliança de Organizações Científicas Internacionais (ANSO). Segundo um comunicado, o encontro serviu trocar impressões “sobre o desenvolvimento da industrialização da medicina tradicional chinesa em Macau e o reforço da cooperação científica”. O Chefe do Executivo declarou que, num contexto de pandemia, é necessário apostar na diversificação económica e que a medicina tradicional chinesa pode ser uma das vias. “O Governo da RAEM vai empenhar-se na promoção da diversificação económica, com o principal foco a recair sobre a indústria da medicina tradicional chinesa, o sector financeiro moderno e o mercado de obrigações”, lê-se no comunicado. Bai Chunli destacou “o excelente desempenho de Macau no combate à pandemia”, e mostrou-se impressionado “com os resultados alcançados em termos de desenvolvimento económico e formação de quadros qualificados”.

EMPREGO PARQUE DE MEDICINA TRADICIONAL EMPREGA 33 FUNCIONÁRIOS DE MACAU

O

Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa para a Cooperação entre Guangdong-Macau deu emprego a 33 residentes da RAEM. É o que indica a presidente do Conselho de Administração da Macau Investimento e Desenvolvimento S.A., Lu

Hong, em resposta a uma interpelação escrita. O deputado Chan Iek Lap quis saber a utilidade do parque em termos de emprego, e a necessidade de ajustar a posição do parque industrial face à sobreposição de funções com a de novos centros a surgir em Hengqin.

Apesar de oferecer aos empregados de Macau políticas preferenciais como um subsídio distrital e outro de transporte e alimentação, há factores menos atractivos. “Devido a várias razões, tais como a passagem alfandegária e a diferença nas políticas do imposto sobre o rendimento

(...), ainda é preciso estimular a vontade dos jovens de Macau para trabalharem no parque”, respondeu Lu Hong. A responsável indica que foi contratada uma empresa para planear a secção da indústria de saúde. Um dos projectos-chave é um resort temático focado na “gestão

de doenças crónicas, tratamento médico preventivo e cuidados de saúde, com o suporte de instalações hoteleiras, prestando serviços a pessoas saudáveis”. Na resposta, Lu Hong indica que se espera que o Hospital Central de Hengqin afiliado à Universidade Mé-

dica de Guangzhou e Centro Internacional de Ciências da Vida de Zhihe de Hengqin – que começou a ser planeado e construído este ano – entre em operação em 2023. A ideia é que nesse momento forme “um efeito de marca” juntamente com o projecto de resort. S.F.


6 sociedade

2.12.2020 quarta-feira

JOGO RECEITAS DE NOVEMBRO SÃO O SEGUNDO MELHOR REGISTO DE 2020

Sem semana dourada As receitas de jogo em Novembro foram de 6,7 mil milhões de patacas, uma quebra superior a 70 por cento em relação ao ano anterior. Ainda assim, em termos mensais, este é o segundo melhor desempenho do ano, só ultrapassado por Outubro quando as receitas foram superiores a sete mil milhões de patacas

N De Janeiro a Novembro, as receitas das operadoras foram de 52mil milhões de patacas

UM ano atípico para o sector do jogo, Novembro tornou-se no mês com o segundo melhor desempenho de receitas desde que a pandemia começou. Ainda assim, estas foram apenas na ordem dos 6,7 mil milhões de patacas, o que representa uma queda de 70,5 por cento em relação a igual período do ano passado, revelam dados divulgados ontem pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). Para se ter uma ideia, em Novembro de

2019 as receitas atingiram 22,877 milhões de patacas. A receita bruta acumulada entre Janeiro e Novembro foi de 52,62 mil milhões de patacas, uma queda anual de 80,5 por cento. No ano passado, as receitas anuais das seis concessionárias foram de 292,4 mil milhões de patacas. A forte quebra nos números do jogo explica-se pelas restrições de circulação de pessoas nas fronteiras devido à pandemia da covid-19. A recuperação do turismo tem sido muito gradual, uma vez que só em finais

de Setembro as autoridades chinesas retomaram a emissão de vistos individuais em todo o país com destino a Macau.

PREVISÃO CERTEIRA

Segundo o portal informativo GGRAsia, a consultora JP Morgan Securities (Asia Pacific) emitiu um comunicado na semana passada a prever a quebra de 70 por cento nas receitas do jogo, com base no desempenho dos primeiros 22 dias do mês. “Mais importante”, apontou a consultora, os resultados “falham em mostrar uma

subida sequencial” desde Outubro. Nesse mês, Macau recebeu 582 mil visitantes, uma aumento de 29,6 por cento em relação a Setembro. A média de ocupação hoteleira nesse mês aumentou 40 por cento. Várias personalidades do sector do jogo e analistas depositam esperanças na recuperação mais rápida nos próximos três meses, tendo em conta a chegada das férias de Natal e do Ano Novo Chinês, em Fevereiro do próximo ano. André Sofia Silva

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Está de volta a casa AVISO N.° 43/AI/2020 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se os infractores abaixo discriminados:-------------------------- 1. Mandado de Notificação n.° 648/AI/2020:TO TAK LUK, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente de Hong Kong n.° A8437xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 24/DI-AI/2019, levantado pela DST a 16.01.2019, e por despacho da signatária de 09.11.2020, exarado no Relatório n.° 668/DI/2020, de 03.11.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua de Paris n.° 167, Seng Hoi Hou Teng, Bloco 4, 13.° andar S onde se prestava alojamento ilegal.--------------------------------------------- 2. Mandado de Notificação n.° 914/AI/2020:LEI MAN FAI, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.° 51326XX(X), que na sequência do Auto de Notícia n.° 228/DI-AI/2018, levantado pela DST a 27.11.2018, e por despacho da signatária de 07.08.2020, exarado no Relatório n.° 508/DI/2020, de 02.07.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua de Bruxelas n.os 168-170, Jardim Hang Kei, Bloco 4, 11.° andar T, Macau onde se prestava alojamento ilegal.------------------------- 3. Mandado de Notificação n.° 915/AI/2020:CHAN HENG CHEONG, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.º 12733xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 9/DI-AI/2019, levantado pela DST a 06.01.2019, e por despacho da signatária de 30.07.2020, exarado no Relatório n.° 505/ DI/2020, de 01.07.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua de Berlim n.° 168, Edf. Seng Hoi Hou Teng, Bloco 3, 10.° andar M onde se prestava alojamento ilegal.---------------------------------Pelo mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ---------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-----------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 25 de Novembro de 2020. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

Devolvida à China escultura em bronze usurpada e comprada por Stanley Ho

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MA escultura em bronze que pertencia ao Antigo Palácio de Verão, em Pequim, e que foi comprada, em 2007, pelo bilionário Stanley Ho, retornou ao local de origem, 160 anos após ter sido usurpada por um contingente militar anglo-francês, reportou a agência Lusa. A obra, uma cabeça de cavalo esculpida em bronze, é a primeira a ser devolvida aoAntigo Palácio de Verão a partir do exterior, segundo a agência noticiosa oficial Xinhua, que lista a peça como o “último tesouro perdido” do recinto. A peça foi desenhada pelo jesuíta italiano Giuseppe Castiglione (1688-1766), um missionário que trabalhou durante mais

de meio século para a corte dos Qing, a última dinastia imperial a governar a China. Apeça foi saqueada por tropas estrangeiras até ser comprada em leilão por Stanley Ho, por um valor equivalente a cerca de 70 milhões patacas. A Administração do Património Cultural Nacional da China (NCHA) reivindicou a peça e, em 2019, Stanley Ho doou-a ao Estado chinês. O empresário, que morreu em Maio deste ano, disse estar “honrado por ter desempenhado um papel importante” no “resgate de relíquias chinesas do exterior”.

MISSÃO HISTÓRICA

Nos últimos anos, o NCHA intensificou esforços para lo-

calizar relíquias perdidas e, a partir de 2019, recuperou cerca de 140.000 peças do exterior, através de cooperação policial, acções judiciais, negociações e doações. Construído no início do século XVIII, o Antigo Palácio de Verão (Yuanmingyuan) era um complexo de edifícios e jardins que alternavam arquitectura tradicional chinesa com a arquitectura europeia da época, realizada por Castiglione. O palácio foi saqueado e destruído por soldados franceses e ingleses, em 1860, no contexto da Segunda Guerra do Ópio, por ordem do vice-rei britânico na Índia, Lord Elgin, que justificou esta decisão com a tortura e execução de alguns membros da uma delegação britânica que se tinham deslocado à China para negociarem com os líderes chineses. Nas últimas décadas, várias vozes apelaram à reconstrução do palácio, para recuperar o património imperial e impulsionar o turismo, mas as autoridades preferem mantê-lo em ruínas para que continue a ser um símbolo das invasões estrangeiras, sofridas pela China nos séculos XIX e XX.

Tak Chun Grupo termina esquema de demissões voluntárias

O grupo Tak Chun, empresa de promotores de jogo, pôs fim ao esquema de demissões voluntárias, aponta um comunicado ontem publicado. O grupo disse ainda que sempre assumiu as suas responsabilidades sociais como empresa e que apoia as Linhas de Acção Governativa para o próximo ano. Numa nota publicada esta segunda-feira, a Tak Chun disse que o esquema de demissões voluntárias constituía “uma opção viável para o planeamento dos trabalhadores, tendo em conta as actuais condições de mercado”. Além disso, a empresa declarou “não ter, de momento, qualquer outra medida ou política extraordinária para os trabalhadores”.


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quarta-feira 2.12.2020

OBRAS PEDIDO RIGOR NA REMODELAÇÃO DE CASAS-DE-BANHO PÚBLICAS DA CIDADE

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Serviços de Saúde “Os factos estudados comprovam que o estigma, discriminação, desigualdade social e exclusão social são os principais obstáculos na luta contra a SIDA.”

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NTEM assinalou-se o Dia Mundial de Luta Contra a Sida, e os Serviços de Saúde (SS) aproveitaram a data para anunciar que vão lançar “em breve” um programa piloto de autoteste do HIV, que permite fazer o teste em casa e ter de imediato resultado. O objectivo é “proteger, ainda mais, a privacidade”. Também ontem foi revelado que este ano dois residentes morreram na sequência da infecção com o vírus da SIDA. Entre Janeiro e Outubro deste ano, registaram-se 36 casos de infecção pelo vírus da SIDA, dos quais 20 eram residentes do sexo masculino. “Entre estes 20 casos, 18 casos estão a ser acompanhados pelo Centro Hospitalar Conde de São Januário e os restantes dois casos morreram”, indicaram as autoridades de saúde. De acordo com os SS, a maioria das infecções deu-se através de contacto homossexual ou intersexual, representando 15 casos. Seguiu-se o contacto heterossexual com três casos e ainda está a ser determinada a via de transmissão dos restantes dois. Oito dos casos foram diagnosticados na faixa etária dos 20 aos 29, e dez em indivíduos com idades entre os 30 e os 39 anos.

SIDA DIAGNOSTICADOS 36 NOVOS CASOS ENTRE JANEIRO E OUTUBRO DESTE ANO

Laços vermelhos e negros

No ano passado, morreram no mundo inteiro 690 mil pessoas devido a doenças relacionadas com o vírus da SIDA. Em Macau, registaram-se 36 novos casos de infecção nos dez primeiros meses de 2020 e morreram dois residentes

“Desde 2015, os residentes locais infectados pelo vírus da SIDA através de contacto homossexual ou intersexual têm vindo a aumentar”, comunicaram os SS. Para fazer face ao

aumento, têm sido publicados anúncios sobre testes periódicos em páginas electrónicas e aplicações de telemóvel, bem como disponibilizados preservativos e lubrificantes

em locais nocturnos onde “é conhecida a frequência” de homossexuais.

OBSTÁCULOS AO PROGRESSO

A nível global, os SS indicam que a luta contra a SIDA tem sido “notável, mas desigual”, nomeadamente na expansão do tratamento anti-retroviral. No ano passado, 690 mil pessoas morreram de doenças relacionadas com a SIDA e 12,6 milhões não conseguiram ter acesso ao tratamento. Em 2019, o número de infecções foi três vezes superior à meta, com cerca de 62 por cento das novas infecções em grupos como homens homossexuais, transgénero, trabalhadores do sexo ou prisioneiros. “Os factos estudados comprovam que o estigma, discriminação, desigualdade social e exclusão social são os principais obstáculos na luta contra a SIDA”, pode ler-se. Os SS acrescentam que a pandemia “tem provocado efeitos graves e atrasado, ainda mais, o trabalho no combate à SIDA”. O objectivo de 90 por cento de infectados serem diagnosticadas, receberem tratamento e do vírus ser suprimido na mesma percentagem de pessoas não vai ser cumprido este ano. Salomé Fernandes

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Saúde Gastroenterite colectiva afectou nove crianças Foi detectado um caso de infecção colectiva de gastroenterite numa creche de Mong-Há, na Avenida de Venceslau de Morais, que afectou nove crianças com idades entre um e dois anos. De acordo com os Serviços de Saúde, que foram notificados na segunda-feira, foi excluída a possibilidade de gastroenterite alimentar. “Conforme a hora de

ocorrência da doença, os sintomas e o período de incubação, é provável que o agente patogénico esteja relacionado com uma infecção viral”, comunicaram as autoridades. Algumas das crianças afectadas recorreram a instituições médicas, mas não se registou qualquer caso grave. A situação está a ser investigada.

EONG Hong Sai, membro do Conselho Consultivo para os Assuntos Municipais, concorda com o projecto de melhorar as casas-de-banho públicas, mas defende um aumento do rigor para avaliar as obras feitas, noticiou o jornal Ou Mun. O objectivo é evitar falhas relacionadas com a privacidade e preparar bem as renovações antes do arranque das obras. Ao mesmo tempo, o conselheiro entende que as tubagens devem ser melhoradas enquanto as casas-de-banho estão a ser remodeladas, para evitar o cheiro causado pela sucção frequente do esgoto. Ron Lam, também membro do conselho, diz que recebeu muitas queixas de residentes a referir que quase todas as obras a sanitários públicos foram realizadas ao mesmo tempo. A remodelação de instalações que tinham sido renovadas há pouco tempo ou que estavam em bom estado foi também alvo de crítica de Ron Lam. Além disso, pediu ao Instituto para os Assuntos Municipais para publicar o orçamento destas obras, bem como a data da remodelação, para o público avaliar se o projecto é razoável. N.W. PUB

AVISO N.° 45/AI/2020 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se os infractores abaixo discriminados:--------------------------------------------- 1. Mandado de Notificação n.° 681/AI/2020:YU SHUBIN, portadora do Passaporte da RPC n.° E13656xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 52/DI-AI/2019, levantado pela DST a 07.03.2019, e por despacho da signatária de 08.10.2020, exarado no Relatório n.° 701/DI/2020, de 24.08.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.° 469, Kuan Hei Kok, 8.° andar C onde se prestava alojamento ilegal.---------------------------------------------------------------- 2. Mandado de Notificação n.° 902/AI/2020:CHAN HENG CHEONG, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.º 12733xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 215/DI-AI/2018, levantado pela DST a 12.11.2018, e por despacho da signatária de 29.06.2020, exarado no Relatório n.° 344/DI/2020, de 21.05.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Avenida da Amizade n.° 1321, Edf. Hung On Center, Bloco 3, 11.° andar U onde se prestava alojamento ilegal.----------------------------------------------------------- 3. Mandado de Notificação n.° 903/AI/2020:ZHANG JIANFANG, portadora do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° C18665xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 31.1/DI-AI/2019, levantado pela DST a 30.01.2019, e por despacho do Director dos Serviços de Turismo, Substituto, de 28.09.2020, exarado no Relatório n.° 593/DI/2020, de 17.09.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Rua de Canto, n.° 72-R, I San Kok, 28.° andar E.---------------------------------------------------------------------Pelo mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ------------------------------------------------------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.-----O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 25 de Novembro de 2020. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes


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2.12.2020 quarta-feira

MUST INAUGURADOS LABORATÓRIOS DE ASTROBIOLOGIA E COSMOQUÍMICA PARA ANÁLISE DE AMOSTRAS ESPACIAIS

Um grande passo para Macau As plataformas experimentais inauguradas ontem na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST) são únicas em todo a China e dão a Macau argumentos para receber e analisar amostras espaciais. Para André Antunes, investigador português que lidera a equipa de astrobiologia da MUST, este pode ser o primeiro passo para tornar Macau numa referência global

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ODE ter sido um pequeno passo para Macau, mas é certamente um grande passo para a investigação espacial de toda a China, e não só. Quem o diz éAndré Antunes, investigador português que lidera a equipa de Astrobiologia da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST). Segundo o investigador, as plataformas experimentais deAstrobiologia e Cosmoquímica inauguradas ontem na MUST através do Laboratório Estatal de Referência das Ciências Lunares e Planetárias (State Key Lab) é único em toda a China e tem, por isso, o condão de fazer de Macau “um centro e referência global” e “o ponto focal para este tipo de actividades para toda a China”. “Macau tem estado muito envolvido nas missões à Lua e tido algum envolvimento nas missões a Marte. A abertura destas plataformas experimentais é mais um passo nesta direcção, ou seja, de aumentar o contributo que Macau dá para a exploração espacial chinesa”, começou por dizer André Antunes. Para o também coordenador das plataformas de Astrobiologia e Cosmoquímica da MUST, os

dois novos laboratórios permitem que o contributo que Macau dá à investigação espacial deixe de ser apenas ligado “à análide e dados e modelação”, mas também à “componente experimental”. “O facto de criarmos estas plataformas experimentais permite-nos ter outro tipo de dinâmica e aceder a outro tipo de áreas. Criámos aqui a capacidade laboratorial para receber e analisar amostras, fazer trabalho com elas e dar contributos mais relevantes para a ciência”, acrescentou.

UNIVERSO É O LIMITE

Do lado da Astrobiologia, os novos equipamentos que habitam agora na MUST irão permitir, através do estudo de ambientes na Terra que partilham semelhanças com Marte ou com luas do Sistema Solar, “recolher informação vital para planear futuras missões chinesas”, destinadas, por exemplo, a recolher amostras de Marte. O objectivo último passa, eventualmente, por conseguir “detectar a presença de vida”, através do estudo das amostras. “Os estudos que fazemos no nosso planeta irão ser úteis para condicionar parcialmente que sítios serão apropriados para recolher amostras no futuro e isso é

Plástico Recolhidas 74 mil garrafas desde Outubro de 2019

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) já instalou um total de 42 máquinas de recolha de garrafas de plástico que funcionam em locais como as estações do Metro Ligeiro ou postos de migração. Com esta medida, já foram recolhidas 74 mil garrafas de plástico desde Outubro do ano passado. As garrafas de plástico a depositar nas máquinas de recolha devem ter uma capacidade até 1,5 litros e um diâmetro inferior a 12 centímetros, estar devidamente lavadas, ser de categoria 1 (PET/PETE), ter tampas e rótulos de código de barras.

importante, não só para a agência espacial chinesa, mas também para o mundo da investigação em geral”, apontou André Antunes.

“Criámos aqui a capacidade laboratorial para receber e analisar amostras (…) e dar contributos mais relevantes para a ciência.” ANDRÉ ANTUNES INVESTIGADOR

À margem da inauguração dos novos espaços que contou com a presença, entre outros, do presidente da MUST, Liu Liang, e do subdirector da Direcção dos Serviços do Ensino Superior (DSES), Che Weng Keong, o investigador português afirmou esperar que o contributo que os novos laboratórios vão dar a futuras missões a Marte irá aumentar. Isto, tendo em conta que a missão chinesa a Marte, Tianwen-1, que já se encontra em curso, conta apenas “com alguns componentes” que ficaram a cargo da unidade da MUST. Sobre a missão propriamente dita, que não deverá chegar a Marte antes de Junho de 2021,

André Antunes diz que “está a correr tudo bem”. Também à margem da inauguração, Shaolin Li, investigador que lidera a área da Cosmoquímica da MUST, apontou que os três novos equipamentos do laboratório do seu departamento irão permitir armazenar, analisar e interagir com amostras, sobretudo lunares, que não podem entrar em contacto com o ar, pois “correriam o risco de ver as suas características físicas e químicas alteradas”.

TURISMO SERVIÇOS LANÇAM NOVO WEBSITE E NOVA APLICAÇÃO

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Direcção dos Serviços de Turismo (DST) lançou esta segunda-feira um novo website intitulado “Planeador de Viagem Inteligente” e uma aplicação “non-stop” para telemóveis. O objectivo é proporcionar aos visitantes “uma melhor experiência e a promoção do desenvolvimento do turismo inteligente de Macau”. As três aplicações da DST para telemóveis, “Expe-

rience Macao”, “What’s On, Macao” e “Step Out, Macao”, foram convertidas numa só, que apresenta “informações turísticas de uma forma mais abrangente”. Quanto ao website, são divulgadas informações sobre os transportes públicos, além de que é permitido “conceber percursos turísticos especialmente adaptados para utilizadores com diferentes interesses”.

Estão também disponíveis dados sobre trânsito, restauração, compras, actividades e aglomeração de pessoas, bem como actividades nas proximidades do itinerário, horários de abertura dos pontos turísticos e de transportes de circulação entre os pontos de atracção. O website pode ser visitado em: http://tripplanner.macaotourism.gov.mo e, para já, apenas funciona em chinês.

Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com


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quarta-feira 2.12.2020

ARMAS DESCOBERTA VENDA DE ARMAMENTO PROIBIDO NO ÂMBITO DE CASO DE VIOLAÇÃO

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M caso de violação, coacção grave e sequestro, ocorrido em Julho, levou a Polícia Judiciária (PJ) a descobrir um negócio de venda de armas ilegais em Macau por parte do mesmo indivíduo que terá cometido o crime de violação contra a namorada. Enquanto

decorria a investigação sobre a violação, as autoridades policiais detectaram a presença de armas proibidas na casa do suspeito. Esta segunda-feira, a PJ descobriu um arsenal de armas proibidas na casa do homem, onde se incluem cinco armas de arco e flecha,

duas facas de combate, uma espada, uma arma de electrochoque, um bastão e 246 setas de diferentes tamanhos. APJ revela que o suspeitou fundou sozinho uma empresa em 2016, através da qual adquiriu online na China armas proibidas. “Os materiais fo-

ram entregues em Macau por uma empresa de logística”, tendo o homem “vendido [as armas] para clientes locais e estrangeiros”. O suspeito admitiu a posse das armas, mas recusou prestar mais informações sobre o negócio. O homem é suspeito da prática

do crime de posse de armas proibidas e substâncias explosivas, podendo incorrer numa pena de prisão entre dois a oito anos. O Ministério Público já está a acompanhar o caso, estando as autoridades a tentar perceber se há mais pessoas envolvidas neste caso.

USJ TRIBUNAL DÁ COMO PROVADO QUE SAUTEDÉ FOI LESADO POR DESPEDIMENTO

A Polícia Judiciária (PJ) deteve um cidadão chinês de 27 anos suspeito da prática de assalto depois de ter perdido dinheiro no jogo. Segundo um comunicado, o caso ocorreu no passado dia 7 de Novembro, tendo o suspeito sido ajudado por outra pessoa. Foi feita uma tentativa de arrombamento de duas lojas de manhã cedo, incluindo uma loja de roupa na avenida do Almirante Lacerda. A porta de ferro estava aberta e os indivíduos terão levado 30 mil yuan em dinheiro. A PJ só descobriu os indivíduos graças à instalação das câmaras de videovigilância. O suspeito de 27 anos regressou a Macau há quatro dias, tendo sido detido quando se preparava para deixar novamente o território.

Animais Funeral budista para cães e gatos abatidos

Um grupo de defensores dos animais realizou ontem à tarde um funeral onde entoaram escrituras budistas, com vista a orientar as almas dos cães e gatos abatidos no Canil Municipal para o paraíso. Em comunicado, criticaram o abate de milhares de animais abandonados pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) e indicaram que o organismo viola a lei de protecção dos animais e não respeita as vidas dos bichos. Uma participante na cerimónia, de nome Yoyo, disse que o IAM deveria ter um espaço onde pudesse cuidar dos animais abandonados, depois de serem esterilizados, recrutando voluntários para tratar deles até ao fim da vida. “Os animais abandonados são inocentes, porque é que uma cidade tão grande não consegue proteger estas pequenas vidas?”, perguntou.

A matéria dos factos

O Tribunal Judicial de Base anunciou ontem o que considerou provado, antes da decisão do processo que opõe Éric Sautedé à Universidade de São José. O juiz deu como provado que o académico depois de ser despedido não conseguiu encontrar outro emprego na mesma área em Macau e que sofreu psicologicamente com a situação

O

caso que coloca em confronto, no Tribunal Judicial de Base (TJB), o académico Éric Saudeté e a Universidade de São José (USJ) está perto do fim, depois de ontem terem sido lidas as decisões do juiz sobre o que considerou estar provado nos factos alegados pelas partes. Entre os pontos que podem justificar a decisão do tribunal, é de realçar a confirmação que depois de o contrato de Saudeté ter cessado o académico não conseguiu encontrar outro trabalho na mesma área em Macau. Recorde-se que a área de ensino a que se dedicava era a Ciência Política. O juiz chegou mesmo a referir que Peter Stilwell, à altura reitor

Saudeté pede mais de 1,3 milhões de patacas por danos patrimoniais e morais. Tendo em conta que se aproximam as férias judiciais, é possível que a decisão final apenas seja conhecida pelas partes já em 2021

Hoje em dia, o académico trabalha em Hong Kong.

GONÇALO LOBO PINHEIRO

PJ Perdas ao jogo levam a assalto em lojas

ARTIGOS DE OPINIÃO

da universidade, confessou num artigo publicado no jornal Ponto Final que o motivo para o despedimento de Saudeté foi político. O tribunal não atendeu à alegação de que o académico teria passado a ser rotulado, depois do despedimento, como activista político, ou causador de problemas, e que essas teriam sido razões para não conseguir emprego

noutras instituições de ensino superior de Macau. Porém, foi dado como provado que em resultado do fim de contrato com a USJ, Éric Saudeté sofreu um grande desgosto, sentiu insegurança e angústia e que na sequência de depressão e instabilidade psicológica teve necessidade de se isolar e deixar de conviver.

Um dos quesitos, argumentos apresentados pelas partes, que não foi dado como provado está relacionado com a ligação entre o académico e o Jornal Macau Daily Times, onde foi colaborador. A USJ argumentou que a ligação à comunicação social terá sido usada por Saudeté para reforçar a sua posição na opinião pública. O juiz não considerou o facto provado. No cômputo geral, a maioria das alegações apresentadas pelo académico foram dadas como provadas, algo que a defesa da USJ considera não trazer nada de novo ao caso, tendo em conta, principalmente, que não foram postas em causa as palavras de Peter Stilwell, antigo reitor da USJ, quanto às circunstâncias do despedimento. Éric Saudeté pede mais de 1,3 milhões de patacas de indeminização para compensar danos patrimoniais e morais. Tendo em conta que se aproximam as férias judiciais, é possível que a decisão final do juiz apenas seja conhecida pelas partes já em 2021. João Luz

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2.12.2020 quarta-feira

“Se parar, como é q Os trabalhadores do sexo estão dependentes de cada cliente e não recebem apoios do Estado. Por isso passam ao lado da covid-19 — e os clientes fazem o mesmo. Têm receios, mas dizem-se habituados a muitas outras doenças. Como é viver do sexo em época de máscaras e distanciamento?

TEXTO Bruno Horta

A

mais famosa rua de prostituição de Lisboa era já uma sombra do passado e a pandemia fez o resto. Sandra vive aqui perto, por isso é num café do Conde Redondo, onde esteve a almoçar, que aceita encontrar-se comigo ao início de uma tarde de Outubro. Está sozinha numa mesa e larga o telemóvel para me estender a mão. Do empregado aos clien-

tes, o dia de chuva esmoreceu humores. Sento-me e peço um café, tiro a máscara da cara e Sandra abre logo o jogo: “Assumo tudo o que faço, sou muito transparente.” Sandra, de 37 anos, vive do sexo há duas décadas. Semblante amigável mas astuto, longos cabelos que de certo lhe ocupam horas em cuidados, mudou de sexo há menos de quatro anos e até já tem os documentos com nome feminino. Nasceu no Barreiro e cresceu em Santa Iria da Azóia, arredores da PUB

capital. Saiu cedo para viver à sua maneira, precisamente aos 16. Fala-me dos pais e da infância marcada por alcoolismo, violência doméstica e prostituição da mãe. Sou levado pela curiosidade. Pergunto-lhe também quando percebeu que queria mudar de sexo, diz-me que “foi de um momento para o outro”. Só a custo voltamos ao assunto que nos juntou esta tarde. O relato é uma torrente. “Pouco antes de darem o primeiro Estado de Emergência, estava na Suíça e tive de voltar para Lisboa. Estava um bocado assustada e fiquei a viver das poupanças durante dois meses, mas tinha cada vez mais chamadas dos clientes que viam os meus anúncios na internet e, em vez de os atender, em casa optei por videochamadas. Só que as brasileiras estavam aflitas e começaram a baixar o preço da câmara. Eles queriam pagar 10, 15 euros, eu disse não. Em Portugal, é fraco. Prefiro ir para fora, ganha-se mais e não te chateias tanto. Na Holanda rodo uma semana em cada cidade: Amesterdão, Roterdão, por aí fora. Estava em Friburgo quando começou isto tudo e tive de me vir embora.” A pandemia, que assola a Europa desde o início do ano, tem vindo a alterar uma por uma todas as certezas que demos por garantidas. Em Portugal, onde as “medidas de contingência” colhem consenso político alargado, mas são cada vez mais contestadas pela sociedade civil, que possivelmente à boa maneira portuguesa cumpre tudo à vista de todos e quase nada longe de olhares indiscretos, o tecido social vai-se rompendo perante a estagnação compulsiva. Há empresas e empregos destruídos e serviços de saúde incapazes de responder a outras doenças. A saúde mental e a paz de espírito estão em sobressalto, os cofres do Estado vão-se esvaziando, espreitam tragédias sociais de alcance desconhecido. Até as relações familiares estão sob ameaça neste Outono, com

LAURENTLESAX

COVID-19 A PANDEMIA VISTA POR CINCO PROSTITUTOS LGBT DE LISBOA

as autoridades a exibirem gráficos que alegadamente demonstram explosões de contágios entre pais, filhos, irmãos, tios, primos e avós. São os dias da hipervigilância, da quarentena, do recolher obrigatório, da ilegalização do encontro, do prazer e do afecto. Porém,

ao mesmo tempo, dias de realidades paralelas e comportamentos desalinhados ou, em certos momentos, criminais, conforme as excepções legislativas que as autoridades vão aprovando ao sabor dos números. Boletim em inícios de Novembro: mais de três mil mortos em

Portugal, contados em função do “evento final” mais próximo do óbito e não a partir da causa primária (são mortos com covid-19 e não apenas por covid-19, critério que não se verifica em todos os países da União Europeia). Se as festas furtivas de adolescentes rebeldes dão


especial reportagem 11

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que pago a renda?”

testemunho das realidades paralelas, também a intimidade comercial entra na lista. Foi o que me garantiram cinco prostitutos de Lisboa com quem falei ao longo de quatro semanas: três homossexuais, um bissexual e uma transexual. Relataram algum receio da covid-19

ao início, mas logo acrescentaram que suspender a actividade é simplesmente inconcebível. Dependem de cada cliente para ganharem dinheiro e não têm outros rendimentos ou apoios do Estado, como o “lay-off” simplificado ou as prestações assistenciais.

Regresso a Sandra num café do Conde Redondo. No primeiro confinamento, em Março, os “clientes estavam desesperados”, diz-me. E não era com medo do vírus. Continuaram a querer combinar encontros, sem que ela cedesse. Muitos optaram pelo Parque Eduardo VII, conhecida zona de prostituição. Viu Sandra várias vezes. “Mais até do que noutras alturas e sem protecção”, garante. Aponta ao dedo à “falta de noção” e acrescenta que não teme a covid por aí além, por se considerar uma pessoa de boa saúde. Aliás, com vaidade, diz que em duas décadas de sexo remunerado nunca apanhou sífilis, hepatites ou outras doenças venéreas. Pega no telemóvel. “Vou-te mostrar uma fotografia minha de rapazinho”. Em vésperas da transição, tinha um ar fechado, que não perdeu por inteiro. “Agora assumo-me como mulher, sou considerada transexual”, descreve. “Como rapaz, era tímido. Agora sou desinibida, vou a todo o lado, ninguém me ofende nos cafés, as velhotas adoram-me. Há 20 anos comecei como gay, uma amiga disse-me que vinha para o Conde Redondo, que ganhava bem e conhecia rapazes bonitos. Comecei a vir e gostei. De dia trabalhava na Casa das Sandes e à noite vinha para aqui. Foi até hoje. Mas a rua já morreu, há por aí quatro ou cinco a trabalhar. E os clientes pagam pouco, também já não há tantos. Se era assim antes da covid, agora pior ainda. Ganhavas 50, 100 euros, mas gastavas logo 20 ou 30, o que é que juntavas? Nada. Na Holanda, se for preciso, fazes mil por dia.” “Preferes a rua ou o atendimento em casa?”, pergunto. “Apesar de tudo, gosto muito mais da rua, porque sou exibicionista. Em casa posso atender dois ou três, depois desligo o telefone e descanso”, responde com calma, mas à velocidade de quem está com muita pressa. O depoimento de Sandra, a que não tarda se juntará o de um amigo travesti aparecido por acaso à mesma hora no

café, indicia o segredo mal guardado: na prostituição, como no resto da vida social, os receios da covid-19 desanuviaram-se ao longo do tempo. Um mês antes, no Príncipe Real, estive como outro prostituto da cidade, um brasileiro de 26 anos nascido em Curitiba. É o Ricardo. Põe a necessidade de ganhar a vida acima de tudo. Aparece de calções e “t-shirt”, o cabelo muito penteado, talvez alguma maquilhagem. Aproveita o início da conversa para se queixar dos primeiros tempos em Lisboa. Está por cá há três anos e meio.

“A clientela continua. Talvez não todos os dias, como antigamente, mas de dois em dois dias com certeza. RICARDO PROSTITUTO

“Comecei trabalhando num café onde sofria ataques de xenofobia dos clientes. Nunca esperei isto num país europeu que recebe imigrantes de vários países. Diziam ‘volta para a tua terra’ e coisas assim. Estava sozinho e precisava daquele trabalho para me manter legal. Hoje estou mais forte, naquela altura dependia muito e não podia responder. Aqui em Portugal fui despejado duas vezes, tive de dormir na recepção de um hotel, fingindo ser um cliente

“Se me perguntares se tenho muitos cuidados com o coronavírus, respondo já que não tenho. Não há distância social nem máscara, é impossível numa actividade destas.” HUGO ACOMPANHANTE DE LUXO

à espera. Já passei fome e grandes dificuldades.” “Foi por isso que te dedicaste à prostituição?” “Lógico. Foi a forma de dar a volta por cima. Um amigo cabeleireiro, que vivia muito bem, disse-me que fazia uns serviços por fora e comecei também. Hoje como em bons restaurantes, de alguns nem sei dizer o nome. Já fui ao JncQuoi, na Avenida. Como boa comida, como nunca imaginei, e nem preciso de pagar a conta. Vou com os clientes, pagam tudo e ainda me pagam a mim para estar com eles. Cheguei há pouco dias de uma longa viagem à Áustria e à Alemanha, tenho tido experiências incríveis.” Animado, inteligente, directo. Começou em 2018 e numa hora ganhava o equivalente a três dias no café. Conta-me que foi criado por uma avó, entretanto falecida, e pouca relação tem com a família. Recorda o Brasil e deixa o sublinhado: “Morro de vergonha do presidente”, Jair Bolsonaro. Pergunto-lhe se esteve a trabalhar durante as semanas do primeiro confinamento. A resposta sai disparada. “Claro. Se parar, como é que pago a renda de casa? Eu vi os números sempre a crescer, as fronteiras a fechar…” “E pensaste o quê?” “Que ia ter alguma dificuldade, porque o número de clientes iria baixar. E baixou. Muitos deles têm mais de 45, 50 anos e é normal que quisessem ficar em casa. Perdi muitos, com certeza, mas consegui outros. A clientela continua. Talvez não todos os dias, como antigamente, mas de dois em dois dias com certeza”, diz-me, como quem se sente guardado por uma força maior que é filha da necessidade. “Que pensas do coronavírus?” “É só mais um risco. Não tenho outra maneira de ir buscar dinheiro, tenho de comer, viajar, pagar a renda”, repete Ricardo.” Ninguém tem nenhum cuidado especial, aqui, na Áustria ou na Alemanha.” Há números a confirmar esta versão. Na verdade, a

oferta e a procura só registaram quebras no início da primeira vaga. O responsável pelo ClassificadosX.net, uma das mais conhecidas plataformas de anúncios para adultos em Portugal, fonte de angariação de clientes para centenas de trabalhadores do sexo, partilhou comigo alguns dados. Comecemos pela oferta. A 2 de Março — nove dias antes de a Organização Mundial da Saúde assumir a covid-19 como pandemia e muitos antes de Portugal ter declarado o Estado de Emergência e o confinamento geral obrigatório, o que veio a acontecer entre 18 de Março e 2 de Maio — o ClassificadosX tinha quase 14 mil anúncios registados. A 6 de Abril, eram pouco mais de 11 mil. Neste período, as receitas reduziram-se para metade, até porque os administradores do “site” pediram directamente aos anunciantes para “colocarem os anúncios em pausa” até “as coisas voltarem à normalidade”. Por “e-mail” até fizeram “recomendações para trabalhadores do sexo contra o coronavírus”, caso não pudessem mesmo parar. Por exemplo: “Use luvas e preservativo em todos os actos sexuais”, “antes e após o atendimento deverá higienizar-se com água e sabão”, “minimize o contacto corporal, usando posições de menor contacto” e “evite beijos e aproximação facial”, etc. Acontece que seis meses mais tarde, a 6 de Outubro, a oferta já tinha voltado ao normal, com cerca de 15 mil anúncios. Do lado da procura, a mesma coisa. Os gráficos mostram cerca de 36 mil visitas (“unique visitors”) ao ClassificadosX a 2 de Março, perto de 22 mil a 6 de Abril e mais de 38 mil a 6 de Outubro. A comparação tem por base a escolha de dias da semana iguais e inícios do mês. Por duas razões: porque, por exemplo, à segunda-feira há mais utilizadores do que à quarta (e muito mais do que ao domingo ou num feriado), Continua na página seguinte


12 especial reportagem

FATIMA SALCEDO

e no início do mês há sempre picos (quando os portugueses têm mais dinheiro disponível para gastar). Hugo, de 26 anos, tem um anúncio activo naquele “site”. Apresenta-se como acompanhante de luxo. Contactei-o através do WhatsApp e encontrámo-nos duas vezes. Primeiro numa esplanada, onde falámos longamente. “Trabalho sexual, fazemos todos, mas para mim prostituição aplica-se a quem está na rua por necessidade e faz por qualquer preço. Sou acompanhante, tenho anúncios na internet, recebo em casa ou vou a casa. Normalmente, faço viagens ao estrangeiro: Suíça, Alemanha, França, Espanha, Noruega. É outro tipo de serviço. Posso seleccionar a pessoa e às vezes só tenho de fazer massagens ou acompanhar o cliente a um jantar ou uma festa, o que pode ou não acabar em sexo”, conta-me, acrescentado que a mãe e a irmã mais velha estão a par e até são ajudadas por ele. Em Janeiro esteve na Áustria. Com a crise global de saúde regressou a Lisboa. Passou três meses por cá, quase parado, e sentiu uma “redução drástica” da procura, tendo-lhe valido a “almofada financeira”, que tinha de parte, “já a pensar em imprevistos”. Depois a abertura do espaço aéreo e o aligeirar de restrições legais, levaram-no até Zurique, no início do Verão, onde não viu ninguém de máscara a não ser dentro dos transportes públicos. Manteve os preços e não cedeu à pressão de clientes que pretendiam pagar um pouco menos nesta fase atípica. São 60 euros por um momento rápido ou até 700 euros por uma noite, conforme o poder de compra do país que Hugo visita. “Não tenho medo do coronavírus porque não faço parte de um grupo de risco. Corro um risco relativo, todos corremos riscos”, afirma. “Mas se estiveste parado em Março e Abril é porque também tinhas receio”, contraponho. “De certa forma, só que depois as coisas voltaram ao normal. É um dilema, mas não posso deixar de trabalhar. Tenho a minha médica, faço o PrEP [profilaxia pré-exposição, um medicamento que pode dar protecção contra o vírus da sida], paguei as minhas injecções contra a hepatite e o HPV. Sou uma pessoa com cabeça, nunca me relaxo nos cuidados, porque esta profissão é o que é. E um cliente é sempre um cliente, eles é que nos podem trazer alguma doença. Se me perguntares se tenho muitos cuidados com o coronavírus, respondo já que não tenho. Não há distância social nem máscara, é impossível numa actividade destas.” Hugo tem uma presença pacata e mostra-se atencioso, confidencia laços de amizade com alguns fregueses assíduos que, por vezes, nem lhe pedem sexo, antes pre-

2.12.2020 quarta-feira

ferem desabafar sobre problemas com as mulheres, os filhos, o trabalho, as contas. Nasceu em Vila Franca de Xira, a meia-hora de Lisboa, veio estudar gestão hoteleira e decidiu começar um dia por influência de um namorado que já se dedicava à actividade. Tem bem presente a data: Agosto de 2018. Trabalhava à época num hotel da Avenida da Liberdade, “mas os ordenados portugueses não são os melhores” e não conseguia ter “uma vida minimamente estável”. Uma semana depois desta conversa, abriu-me as portas de casa, na zona de Arroios. Estava de chinelos, calções fluorescentes e uma camisola de alças. Mostrou-me o Gucci, um cão recém-nascido que cabe na palma da mão. Na maçaneta da porta vi pendurado o saco de desporto com que vai quase todos os dias ao ginásio, daí o físico robusto de que claramente se orgulha. O quarto é acolhedor. Sento-me na cama, vejo um televisor na parede e uma gravura com A Criação de Adão, de Miguel Ângelo. Hugo assume que toma Viagra antes de alguns encontros, “para que nada falhe”. Gosta de ter sempre música ambiente quando anda por casa. Fica-me gravada esta frase: “Atender um cliente é entrar na viagem dele.” Quando lhe falo da crise económica provocada pela covid-19, Hugo sentencia: “Um apoio do Estado por causa da pandemia? Até podia ser útil, mas não seria justo. Sei ver o que é certo e o que é errado. Se não pagamos impostos sobre o que ganhamos com este trabalho, porque é que vamos pedir ajuda ao Estado?” Pela mesma altura, encontro-me no café da Ribeira das Naus com um rapaz negro que nasceu no Brasil, perto do Recife, e vive nos subúrbios de Lisboa desde que aqui chegou, há nove anos: Jonas, 23 anos, bissexual que só trabalha com homens. Revela uma visão muito aguçada das circunstâncias e do percurso que lhe é dado viver. Num sotaque brasileiro já muito

apagado, dá-me detalhes sobre alguns traumas familiares. Diz que ainda não tem nacionalidade portuguesa porque atravessou “uma fase muito difícil” e não pôde tratar da documentação. “Queres falar dessa fase?” “Você é o jornalista, o que achar mais interessante para o seu artigo, pode perguntar. Nunca fui entrevistado e acho interessante”. Depois entra na biografia: “Aos 18 anos caí numa depressão, foi quando comecei a viver sozinho, uma fase de álcool, drogas, de sair todas as noites. Por essa altura, descobri também que havia uma forma de ganhar uns trocos, tendo prazer. Tive um companheiro e ao fim de três meses percebi que ele estava nesta vida. Foi uma queda ainda maior para mim, afundei-me ainda mais, mas a semente ficou plantada na minha mente. Descobri que era possível e um dia acabei por entrar, também por necessidade, porque vivia sozinho e estava mal. Pus um anúncio numa app, foi o caminho mais fácil.” Considera-se acompanhante e sobretudo faz massagens eróticas, até por causa da pandemia, assim evitando o contacto físico directo. Puxa de um cigarro. Tem uma presença tímida e segura ao mesmo tempo. Explica-me que ainda hoje toma antidepressivos e admite ter fases mais cavadas, o que também lhe afecta a líbido. Daí o uso de “medicações naturais”, para “dar energia extra à mente e ao corpo”. Jonas trabalhou em cozinhas e cafés. De forma intermitente regressa à prostituição, sempre em casa dos clientes, muitos dos quais homens solitários com mais de 50 ou 60 anos. Para além dos fixos, que chega a visitar duas vezes por semana, tem visto aumentar o número de novas solicitações nos últimos meses. Contactam-no a partir de anúncios na internet. “Fiquei chocado por não terem deixado de pedir. Não tiveram medo, mesmo os que pertencem a grupos de risco. Por isso não deixei de trabalhar. Também não posso,

preciso de sobreviver. Simplesmente tomo as minhas medidas: um banho antes de qualquer contacto e não pode haver troca de saliva, mesmo que insistam. Há pessoas que forçam o beijo, aí é o livre-arbítrio de cada um, mas eu aviso sempre que não”, conta Jonas, cuja atenção é de repente desviada para o ecrã do telemóvel, um cliente que lhe liga e ele decide ignorar. Atalho a conversa, ele parece estar com pressa. Antes de se levantar e desaparecer em direcção ao Terreiro do Paço, diz que vai apostar cada vez mais nas “massagens eróticas com final feliz”. Está até convencido de que a covid-19 pode levar outros trabalhadores do sexo à mesma decisão, como forma de se protegerem. Andará muito assustado com as notícias? Nem tanto. “Mais me assusta o HIV”, justifica. A comparação parece ter lógica e surgiu noutros depoimentos que recolhi. O vírus da sida é um espectro sobre as sexualidades e terá moldado o comportamento de duas ou três gerações, mesmo se a infecção pode hoje ser tratada e até prevenida por meio de medicação. Tornou-se um perigo com que se lida, sem se evitar, mais ainda no caso dos trabalhadores sexuais. Eles estão familiarizados com esta e outras infecções sexualmente transmissíveis. Concluo que isso os torna menos inseguros face a um coronavírus que em muitos casos não provoca sintomas.

“Ainda não perdi o medo, mas tenho de trabalhar e estou outra vez na rua. Trabalho vestido de mulher, nunca consegui ser acompanhante como homem, não tenho coragem.” JOÃO PROSTITUTO

Estes indivíduos praticam uma actividade posta à margem, valorizam mais a liberdade pessoal do que a segurança e evidentemente tendem a desconfiar das autoridades, que consideram fonte de problemas e repressão. Sem dificuldade encontrei na internet um estudo publicado emAbril na revista “Nature”, segundo o qual quem tem pouca empatia com o sistema dificilmente cumpre recomendações e ordens de médicos ou governantes. De resto, só um dos entrevistados disse ter sido contactado nos últimos meses por alguma entidade que lhe tivesse dado conselhos e informações específicas sobre a covid-19. Hugo recebeu alertas no telemóvel “sobre o que fazer com

os clientes durante a pandemia”, através de mensagens do Espaço Intendente, projecto gerido por uma organização não-governamental e a funcionar desde 2016, onde pessoas envolvidas em sexo comercial podem fazer rastreio gratuito de doenças venéreas e receber aconselhamento. Ainda o Conde Redondo. Agora, sim, entra o amigo de Sandra, que só trabalha na rua e há muito deixou de anunciar na internet. Chama-se João, 26 anos, natural da Amadora, na vida desde os 18. A conversa é longa, mas contém principalmente pormenores sobre o percurso de um rapaz frágil que aos 21 anos foi contactado pela mãe pela primeira vez. Alinha no discurso da amiga: que a rua “está muito mal”, mas ainda “dá para pagar as contas e sobreviver”. “Estive fechado em casa durante três meses, completamente fechada”, recorda, trocando o feminino pelo masculino, ainda que se identifique como homem e homossexual. “Parei de fumar e tudo, porque não queria gastar dinheiro. Ainda não perdi o medo, mas tenho de trabalhar e estou outra vez na rua. Trabalho vestido de mulher, nunca consegui ser acompanhante como homem, não tenho coragem.” Sem surpresa, as conversas alongam-se menos na covid do que nas questões morais e legais que a prostituição levanta. Numa esplanada da Ribeira das Naus, Jonas mostrou-se bem informado sobre o enquadramento da actividade e lembrou que “há uma lacuna na lei portuguesa”, que “não está lá nada escrito nem contra nem a favor” da prostituição (é assim desde o Código Penal de 1982). Depois ganhou asas e ofereceu-me esta reflexão: “Isto acontece desde os primórdios da humanidade, não cometo nenhum crime, estou de bem comigo e com as pessoas. Não é a vida mais segura, principalmente ao nível da saúde e porque podes encontrar de tudo. Graças a Deus, até hoje todos os meus clientes foram impecáveis, até os que dizem que faltam cinco euros e não podem pagar tudo. Se calhar tenho boa intuição e um bom anjo-da-guarda. Não é vida que se deva ter às escondidas da esposa ou do marido, como muitas vezes acontece, mas enquanto estiver solteiro tenho o direito de fazer o que quiser. Se não ferir ninguém e houver consentimento de ambas as partes, é apenas uma troca de prazer que é paga.” Os dilemas hão-de continuar vivos. Exploração, vício, sobrevivência. Liberdade, autonomia, prazer. A prostituição faz o seu caminho, flutua sobre convenções. As da moral e as da saúde, como sempre.


china 13

quarta-feira 2.12.2020

A

China difundiu dados mais optimistas do que os estágios iniciais do surto do novo coronavírus sugeriam e tardou em confirmar casos já diagnosticados, segundo documentos internos das autoridades citados pela cadeia televisiva norte-americana CNN. As conclusões avançadas pela CNN têm como base a análise de documentos internos das autoridades de saúde do país asiático. No total, são 117 páginas vazadas do Centro para Controlo e Prevenção de Doenças da Província de Hubei, onde foram diagnosticados os primeiros casos de covid-19. Num relatório marcado com as palavras "documento interno, mantenham o sigilo", as autoridades de saúde locais listam um total de 5.918 novos casos, detectados em 10 de Fevereiro, mais do que o dobro do número público oficial de casos confirmados nesse dia. Este número nunca foi revelado na altura, já que o sistema de contabilidade da China parecia, no caos das primeiras semanas da pandemia, minimizar a gravidade do surto. Um relatório produzido no início de Março apontou que as autoridades estavam a demorar, em média, 23 dias a confirmar o diagnóstico de pacientes que já apresentavam sintomas. Erros de teste significaram ainda que a maioria das pessoas infectadas recebeu resultados negativos em 10 de Janeiro. As primeiras medidas de contenção do surto foram prejudicadas pela falta de fundos e pessoal e uma burocracia complexa, que complicou o sistema de emergência da China, segundo as auditorias internas a que a CNN teve acesso. A CNN afirmou também que houve um grande

CNN DOCUMENTOS REVELAM FALHAS NA GESTÃO INICIAL DO SURTO DE COVID-19

Uma tragédia de enganos surto de gripe, no início de Dezembro, na província de Hubei, que não foi divulgado anteriormente. Os documentos, que cobrem um período incompleto entre Outubro de 2019 e Abril deste ano, revelam o que parece ser um sistema de saúde "inflexível, limitado por uma burocracia organizada do cimo para baixo e procedimentos rígidos, inapropriados para lidar com a crise", apontou a CNN.

“Em vários momentos críticos da fase inicial da pandemia, os documentos apontam evidências de erros claros e um padrão de falhas institucionais.” CNN "Em vários momentos críticos da fase inicial da pandemia, os documentos apontam evidências de erros claros e um padrão de falhas institucionais", acrescentou.

NEGAÇÃO SÍNICA

O Governo chinês rejeitou veementemente as acusações dos Estados Unidos e de outros governos ocidentais de que deliberadamente reteve informações sobre o vírus. Em Junho passado, o Conselho de Estado da China defendeu que o Governo chinês sempre publicou in-

Hong Kong Complexo desportivo da polícia atacado com bombas incendiárias Um complexo desportivo da polícia de Hong Kong foi ontem alvo do arremesso de bombas incendiárias, um ataque raro à imposição de Pequim da lei de segurança nacional na antiga colónia britânica. A polícia disse ter recebido informações de que três homens vestidos de preto tinham atirado 'cocktails molotov' para o parque de estacionamento do Clube de Desporto e Lazer da Polícia em Mongkok, um bairro

que tem sido palco de numerosos confrontos entre radicais e a polícia antimotim durante os protestos pródemocracia e antigovernamentais de 2019. Os meios de comunicação locais divulgaram imagens de um camião com a parte da frente queimada, mas não foram noticiados mais danos. Um homem de 18 anos foi detido perto do clube com granadas de gás lacrimogéneo, mas não se sabe se é considerado suspeito.

formações sobre a epidemia de "forma oportuna, aberta e transparente". "Ao fazer um esforço total para conter o vírus, a China também agiu com grande sentido de responsabilidade para com a humanidade, o seu povo, a posteridade e a comunidade internacional. Forneceu informações sobre a covid-19 de forma totalmente profissional e eficiente e divulgou informações confiáveis e detalhadas o mais cedo possível numa base regular", acrescentou. Segundo a CNN, embora os documentos não ofereçam evidências de uma tentativa deliberada de ocultar informação, estes revelam várias inconsistências sobre o que as autoridades acreditavam que estava a acontecer e o que foi revelado publicamente. Ontem, fez um ano desde que o primeiro paciente co-

nhecido apresentou sintomas da doença em Wuhan, a capital da província de Hubei, segundo um estudo publicado no jornal médico Lancet. As revelações ocorrem numa altura em que EUA e União Europeia pressionam a China a cooperar totalmen-

te com uma investigação da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre as origens do vírus, que infectou já mais de 60 milhões de pessoas e matou 1,46 milhões em todo o mundo. Até à data, no entanto, o acesso de especialistas

internacionais aos registos médicos dos hospitais e dados em Hubei foi limitado. A OMS disse, na semana passada, que recebeu "garantias do Governo chinês de que uma viagem ao terreno" seria concedida como parte da sua investigação. Os arquivos foram apresentados à CNN por denunciantes que pediram anonimato, segundo a cadeia televisiva. As fontes disseram trabalhar no sistema de saúde chinês e serem patriotas que desejam expor factos que foram censurados e homenagear os colegas que falaram anteriormente. Os documentos foram verificados por seis especialistas independentes que examinaram a veracidade de seu conteúdo, segundo a CNN.

PUB HM • 2ª VEZ • 2-12-20

HM • 2ª VEZ • 2-12-20

公告 ANÚNCIO

公告 ANÚNCIO

簡易執行裁判案 第 PC1-14-0671-COP-A 號 輕微民事案件法庭 Execução Sumária de Sentença n.º Juízo de Pequenas Causas Cíveis

簡易執行裁判案 第 PC1-16-0490-COP-A 號 輕微民事案件法庭 Execução Sumária de Sentença n.º Juízo de Pequenas Causas Cíveis

Exequente: BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA CHINA (MACAU) S.A., com sede em Macau, na Avenida da Amizade, Nº 555, Macau Landmark, Torre ICBC, 18º andar. Executado: ZHANG SHENGLU, com última residência conhecida em Macau, na Beco da Alegria no 61 Chong Fok Fa Un Liking Court Nice Court 11-D, ora ausente em parte incerta. * FAZ-SE SABER que nos autos acima indicados são citados os credores desconhecidos do executado para, no prazo de quinze dias, que começa a correr depois de finda a dilação de vinte dias, contada da data da segunda e última publicação do anúncio, reclamarem o pagamento dos seus créditos pelo produto dos bens penhorados sobre que tenham garantia real e que são os seguintes: Bens penhorados Verba n.º 1 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2016 Saldo: MOP$4.200,00 (Quatro Mil, Duzentas Patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. Verba n.º 2 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2017 Saldo: MOP$9.000,00 (nove mil patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. Verba n.º 3 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2018 Saldo: MOP$9.000,00 (nove mil patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. Verba n.º 4 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2020 Saldo: MOP$10.000,00 (Dez Mil Patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. RAEM, 03 de Novembro de 2020. *

Exequente: BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA CHINA (MACAU) S.A., com sede em Macau, na Avenida da Amizade, Nº 555, Macau Landmark, Torre ICBC, 18º andar. Executado: LAM IAT MENG, com residência em Macau, 得勝馬路8-10號江都 花園3樓C座. * Faz-se saber que nos autos acima indicados são citados os credores desconhecidos do executado para, no prazo de quinze dias, que começa a correr depois de finda a dilação de vinte dias, contada da data da segunda e última publicação do anúncio, reclamarem o pagamento dos seus créditos pelo produto dos bens penhorados sobre que tenham garantia real e que são os seguintes: Bens penhorados Verba n.º 1 Dinheiro Saldo: HKD$133,49 (Cento e Trinta e Três Dólares de Hong Kong e Quarenta e Nove Avos), que se encontra depositado actualmente no Banco da China (Macau Sucursal), à ordem dos presentes autos. Verba n.º 2 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2017 Saldo: MOP$9.000,00 (nove mil patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. Verba n.º 3 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2018 Saldo: MOP$9.000,00 (nove mil patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. Verba n.º 4 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2019 Saldo: MOP$10.000,00 (Dez Mil Patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. Verba n.º 5 Comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico para o ano de 2020 Saldo: MOP$10.000,00 (Dez Mil Patacas), que se encontra depositado actualmente no Banco Nacional Ultramarino, S.A., à ordem dos presentes autos. RAEM, 16 de Outubro de 2020. *


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2.12.2020 quarta-feira

escuto o rumor da

Da memória

Divina Comédia Nuno Miguel Guedes

A memória é a consciência inserida no tempo Fernando Pessoa

Q

UER dizer: sabemos que ninguém rejuvenesce nesta vida. Que os nomes, os lugares, as coisas, os dias começam inapelavelmente a escaparem-se de modo a que muito do que vivemos, bom e mau, se transforma em paisagens impressionistas e distantes. Francamente não me parece que isso seja uma má notícia do ponto de vista individual. Desde que escapemos à tragédia de patologias cruéis, em que lúcidos deixamos de reconhecer quem mais amamos, a erosão do que lembramos pode ser até salvífica. Quem sabe mesmo um mecanismo de evolução natural. Que a memória pode ser selectiva é um facto conhecido; o pouco que se pode lamentar ou louvar é o critério dessa selecção. Interessará que apenas me lembre dos melhores momentos da minha vida ou irei angustiar-me porque não os consigo lembrar? Qualquer que seja a resposta há um facto irreversível: não me lembro mas vivi-os. Isso, acho eu, deveria bastar. Mas a este nível a questão leva a escolhas ou traços de carácter. Se lamentamos um paraíso perdido, lembramo-lo como uma redenção melancólica e inútil; se houver um acontecimento terrível que nos assombre, continuamos presos. “O passado é um país estrangeiro”, diz uma das mais famosas aberturas da literatura. Sim, certamente; e o ser humano divide-se entre aqueles que persistem em habitá-lo e os outros que aceitam que fez parte de um caminho que veio dar até agora mesmo. Eu faço parte destes últimos. Mas se dou valor ao agora é porque tenho a possibilidade de lembrar o ontem e aprender com ele. A memória, como David Hume escreveu, serve também para conservar as ideias e a sua ordem. E é por tudo isto que me custa viver num mundo e mais particularmente num país cada vez mais amnésico. Serei sincero: se há coisa que Portugal não tem é uma cultura de memória. Não se pode atribuir isto apenas aos ares do tempo e ao actual modo de pensar basta-juntar-água. Infelizmente o meu país tem rastilho curto no que ao lembrar diz respeito. Lembram-se ocasiões grandiosas, celebram-se efemérides; mas esquecemos os pequenos actos que podem mudar um destino colectivo. Muitas vezes até as grandes infâmias são levadas pela torrente do presente. É certo que quando se trata de factos históricos os fantasmas estarão sempre `disposição dos vencedores. Mas o que custa é o contraditório ter quase desparecido,

RODNEY SMITH

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Serei sincero: se há coisa que Portugal não tem é uma cultura de memória. Não se pode atribuir isto apenas aos ares do tempo e ao actual modo de pensar basta-juntarágua. Infelizmente o meu país tem rastilho curto no que ao lembrar diz respeito existirem poucos que digam “isso não terá sido assim”. Esta ausência de memória colectiva leva a outro efeito mais grave: não honrar quem já não está. Para não variar socorro-me de António Vieira: «O efeito da memória é levar-nos aos ausentes, para que estejamos com eles, e trazê-los a eles a nós, para que estejam connosco». Estes ausentes, neste contexto de país, são aqueles que se notabilizaram pelo bem comum. E são honrados não apenas pela lembrança individual mas

sobretudo pela conservação de registos materiais de vária ordem que este país parece desprezar. Livros, documentos, fotografias – ou estão em lugar incerto ou é o próprio país que muitas vezes não os deseja nem protege. A memória, é certo, pode ser nossa inimiga mas tem que existir. É um factor de civilização essencial que por aqui está em défice. E mais do que isso: são as migalhas deixadas no chão dos tempos que nos ajudam a encontrar a saída do labirinto dos dias.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

quarta-feira 2.12.2020

terra molhada

João Paulo Cotrim www.torpor.abysmo.pt

HORTA SECA, LISBOA, TERÇA, 10 NOVEMBRO Atravessamos tempo e lugar de nós mais ou menos cegos, nuvens pesadas a fazerem-se chão duro de palmilhar, vidro moído, areias movediças, pântanos sulfurosos; ao nível dos olhos instalou-se nevoeiro compacto de nos tirar horizonte, as bússolas ora baças ora em doida rotação; no entorno aquele vociferar contínuo de bandeiras misturado com o sussurrar de desgraças íntimas, a fome a morder calcanhares, o inesperado anunciado em relatórios dos serviços de inteligência a insistir que nada nos está nunca garantido, portanto. Quantas palavras serão precisas para dizer continuar? Este texto não saiu do lote dos atrasados, dos em falta, dos ardentes. Veio de uma das muitas crises que a crise vai desovando, e estava longe de imaginar, quando conheci final e pessoalmente o Luís Cardoso há um ano redondo, que estaria agora nesta dança com ele. Gentil, desde o primeiro momento. «O plantador de abóboras (sonata para uma neblina)» envolve-nos a partir da primeira palavra-frase, possui ritmos de encantamento, leva-nos aos cenários mais ásperos como aos de seda, faz-nos trocar de pele com personagens fortíssimas, mulher, homens, e nelas incluo fauna e flora, burro, ganso, café, abóboras, rosas. Sem nunca cometer o pecado do óbvio, sem tentar explicar, demonizar ou até descrever, mas assumindo a delicadeza do mistério vai fundo nas teias do colonialismo, como a aguarelar até a dor. Na linhagem ancestral dos grandes contadores, tudo se oferece com simplicidade líquida, de rio a rumorejar para humedecer os diálogos, para lavar o sangue, para desenhar destinos. Ergue-se devagar para dizer dessoutro doloroso processo de depuração que desembocou em país. Conta-nos de Timor, e assim não haverá outro livro, por só agora acontecer. Timor nasce neste livro. Nada mais que uma história, mas, digo eu, sem peso, nem conta ou medida, que fará História. Não há países sem pessoas, e acompanhámos, ao longe mas com intensidade, quantas se perderam para que Timor Lorosae o fosse. Como não há nações sem literatura, sem textos fundadores, rios e montanhas, marés e árvores, mão e pensamento, vontade e esforço, gestos de semear, de rasgar, de acariciar, de erguer, passos e visões. Tudo acontece por causa da gente vivíssima que aqui habita, que morrerá jamais graças ao laborioso discorrer do autor. É de crises feita a nossa paisagem, a íntima e a outra. Jamais deixaremos de andar sobre brasas, de atravessar tempestades, de nos perdermos na floresta, de olhar cada rosto da violência, de tratar o medo por tu. É a puta da vida. Seja ela maior do que

Das vidas da vida direcção da não-violência. Reconhecemo-nos agora pondo as mãos na violência. Depois a poesia, que me atirou para as órbitas da infância, esse astro escaldante. O José Ricardo [Nunes] vem amadurecendo volume com afã de jardineiro, atentíssimo à dimensão dos canteiros, ao convívio das espécies, ocupado a distribuir as luxúrias, sem maltratar as daninhas. Incluiu os astronautas e foi isso que me pôs a voar. Mas a partilha de leituras no lugar fresco da generosidade, a trocar truques para excitar a cor do antúrio ou garantir que o carvalho atravessa o verão, na caça ao advérbio ou aos anti-climax, nos alinhamentos que servem o baixo contínuo, na perseguição do título justo, permitiu-me a mim ver mais. Sobre a cosmonáutica e o arrastar dos pés.

ANA JACINTO NUNES

Diário de um editor

a própria vida. Há que dizê-lo cuspindo nas trombas da vida: cresce e aparece! Assim afastaremos a morte, ainda que por brevíssimos instantes. Desabafo tonto: nenhuma lição se retira dos livros. Ou melhor: o editor tira, sim. O modo como as figuras maiores deste romance andavam pelo meio das plantações, como habitavam as casas, as varandas, pegavam nos livros, se vestiam e despiam, mas também como tocavam na vida animal e vegetal, sugeriram-me de imediato a Ana [Jacinto Nunes] para pintar as portas e janelas do habitual na nossa colecção (a da capa, aqui na página). Devo confessar, com tanto desacerto a acontecer-me, que assisti em delícia ao resultado do seu encontro com o texto. O que parecia primeira proposta, revelou-se esboço e depois nova série e outra ainda, cada uma trazendo olhar distinto, em investigação de leitor a reler, a detectar o pormenor de um olhar, um sobrolho a carregar-se, sempre o rosto como palco. A escolha estava feita, mas a Ana continuou a ler com o corpo todo no papel. Se dúvidas tivesse acerca

das potestades que se escondem nestas páginas estavam desfeitas a pincel. SEQUEIRO, LISBOA, SEXTA, 13 NOVEMBRO Acolho a nefasta memória deste dia com almoço que só não é como antes, porque a nova normalidade tende a expulsar-nos dessas maneiras de ser. Vivi nos bastidores de alguns textos, por estes dias. Alguma dor os habita, por tratarem da matéria de que somos feitos. Deixemos para depois. Quero trazer o registo contabilístico de conversas acerca da construção do texto, prazer, portanto. Prosa, primeiro. O Joaquim [Paulo Nogueira] surpreendeu-me com romance que força os limites dos mecanismos narrativos, de recusar a reflexão sobre a forma, nem excluir o que lhe interessa, também no teatro, desconfio, a aproximação à vida, sabendo que será inevitavelmente outra coisa, que nunca a agarrará. Como em trabalho de dramaturgia, vi-me a empurrá-lo para o risco, para o entusiasmo, para o fulgor. Conhecemo-nos há muito em contexto de trabalho vivificador na

HORTA SECA, LISBOA, QUINTA, 26 NOVEMBRO Não se entra impunemente nos livros de José Emílio-Nelson. Deviam mesmo ser proibidos, garantindo assim as leituras que merecem. Ao «Putrefacção e fósforo», que me é dedicado ferindo o meu pudor, que quase sangrou agradado, segue-se «Coração Cru», intervalados com os desenhos libertinos da Bárbara [Fonte]. Libertinos, não tanto pela abundante e convivente genitália, mas pela absoluta liberdade no redesenho dos corpos. As obsessões tocam-nos ou deixam-nos, entram e saem. Uma delícia, se quereis saber. O voluminho contém a energia do mais potente explosivo, somando reflexão erudita, prosa poética, versos, momentos de puro teatro. Um índice pontiagudo com o qual assinalar a pele dos temas mais excruciantes da nossa vida conventual, portanto doce e castigada. Habitamos os corpos como lugares do sagrado, mas saberemos qual o lugar neles para a oração? Nenhum sabor, por acre ou pestilento, está excluído. Não conheço ponte mais virtuosa e desafiante que nos ligue ao absoluto. A partir da inevitabilidade marmórea do cadáver. HORTA SECA, LISBOA, SEXTA, 27 NOVEMBRO Puxo duas semanas e sento-me. Nos ares rodopiam os bumerangues: lista de traduções a pulsar na direcção de várias línguas, com o Arno Schmidt à cabeça, uma ideia de texto que me queima, as conversas na margem de Deus, as micro-narrativas com o André [da Loba], o velho infanto-juvenil também com ele, a confirmação do documentário sobre livraria onde o antigo vem à tona respirar, o projecto de puro gozo a partir da cerveja, aquela colecção nova a celebrar a memória, e, por falar nisso, a investigação sobre os passos dados por Jean Moulin em Lisboa, as possibilidades entusiasmantes que chegam a cada almoço pausado há séculos e os primeiros traços firmes no desenho associativo das editoras independentes. Fuga para frente, mas às arrecuas.


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2.12.2020 quarta-feira

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 21/P/20

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 39/P/20

ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 40/P/20

Faz-se público que, por despacho de Sua Excelência, o Chefe do Executivo, de 24 de Setembro de 2020, se encontra aberto o Concurso Público para o «Fornecimento de Gases Medicinais e Laboratoriais aos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 2 de Dezembro de 2020, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edificio Broadway Center, 3.º Andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP 49,00 (quarenta e nove patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S. (www.ssm.gov.mo). Para compreender as condições gerais existentes nas instalações do fornecimento de gases medicinais e laboratoriais, os concorrentes deverão comparecer no Departamento de Instalações e Equipamentos do Centro Hospitalar Conde de São Januário às 15,00 horas do dia 7 de Dezembro de 2020, para visitar as respectivas instalações do fornecimento de gases. As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 29 de Dezembro de 2020. O acto público deste concurso terá lugar no dia 30 de Dezembro de 2020, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP1.080.000,00 (um milhão, e oitenta mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/ Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 26 de Novembro de 2020 O Director dos Serviços Lei Chin Ion

Faz-se público que, por despacho da Ex.ma Senhora Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, de 23 de Novembro de 2020, se encontra aberto o Concurso Público para «Serviços de Actualização de Direito de Utilização de Software da Microsoft», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 2 de Dezembro de 2020, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP 32,00 (trinta e duas patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S. (www.ssm.gov.mo).

Faz-se público que, por despacho da Ex.ma Senhora Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, de 19 de Novembro de 2020, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento e Instalação do Sistema Informático de “Software” de Gestão de Sangue ao Centro de Transfusões de Sangue dos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 2 de Dezembro de 2020, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP80,00 (oitenta patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S. (www.ssm.gov.mo).

As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 29 de Dezembro de 2020. O acto público deste concurso terá lugar no dia 30 de Dezembro de 2020, pelas 15,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP30.000,00 (trinta mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 26 de Novembro de 2020 O Director dos Serviços Lei Chin Ion

Notificação n.º 47/DLA/DHAL/2020

Notificação de instauração de procedimento sancionatório administrativo Considerando que não é possível notificar directamente os interessados, por ofício ou outras formas, para efeito dos artigos 10.º, 58.º e 94.º do “Código do Procedimento Administrativo”, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, notifico, pela presente, de acordo com o n.º 2 do artigo 72.º do mesmo Código, os interessados abaixo mencionados de que, por haverem instalado material publicitário sem licença válida emitida pelo IAM, são suspeitos de terem violado o previsto no n.º 1 do artigo 19.º da Lei n.º 7/89/M. Nos termos da alínea d) do n.º 1 do artigo 27.º e alínea c) do artigo 31.º da mesma Lei, nada impede este Instituto de aplicar aos interessados decisões sancionatórias, cujas multas variam entre as duas mil (MOP 2.000,00) e as doze mil patacas (MOP 12.000,00) e, nos termos do n.º 2 do artigo 21.º da mesma Lei, este Instituto tem o direito de ordenar a remoção do material publicitário ilícito:

Nome do interessado

N.º do Bilhete de Identidade/Inscrição de empresa comercial, pessoa colectiva n.º

Denominação do estabelecimento

N.º do auto de notícia

Data do auto

U FAI

N.º de Bilhete de Identidade de Residente de Macau: 1290XXX(X)

FACE TO FACE INTERIOR DESIGN

305/DFHAL/ DHAL/2019

14/03/2019

KIT CHEUNG QUINQUILHARIA, SOCIEDADE UNIPESSOAL LIMITADA

Inscrição de empresa comercial, pessoa colectiva n.º: 64504 SO

KIT CHEUNG DEPARTMENT STORE MACAO DUTY FREE

595/DFHAL/ DHAL/2019

19/06/2019

Os interessados supramencionados poderão apresentar a sua audiência por escrito, no prazo de 10 dias, contados a partir do dia seguinte ao da publicação da presente notificação, no Centro de Serviços ou nos Centros de Prestação de Serviços ao Público do IAM. Para consulta e mais informações sobre os respectivos processos, os interessados poderão dirigir-se à Divisão de Licenciamento Administrativo do Departamento de Higiene Ambiental e Licenciamento, sita na Avenida da Praia Grande, n.os 762-804, Edifício China Plaza, 2.º andar, zona B do Centro de Serviços do IAM, Macau. Aos 20 de Novembro de 2020 O Chefe do Departamento de Higiene Ambiental e Licenciamento Fong Vai Seng www. iam.gov.mo

AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL 1. Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, chegou ao seu término, e, que de acordo com o artigo 53.º da Lei n.º 10/2013 <<Lei de Terras>>, de 2 de Setembro, conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que devem os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Localização dos terrenos: - Rua Graciosa, n.ºs 3 a 91, Avenida Leste do Hipódromo, n.ºs 79 a 89 e Rua Alegre, n.ºs 74 a 102, em Macau, (Edifício Complexo Industrial Chiao Kuang); - Rua da Fábrica, n.ºs 144 a 222, Rua dos Currais, n.ºs 103 a 135, Travessa dos Currais, n.ºs 8 a 70 e Travessa do Canal das Hortas, n.ºs 64 e 70, em Macau, (Edifício Macau – Torre C, Torre D, Torre E); - Avenida de Artur Tamagnini Barbosa, n.ºs 72 a 90, Istmo de Ferreira do Amaral, n.ºs 23 a 31, Rua Central de T´oi San, n.ºs 2 a 18 e Rua Nova de T´oi San, n.ºs 1 a 15, em Macau, (Edifício Bairro Económico Litoral);

As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 4 de Janeiro de 2021.

- Avenida do Almirante Lacerda, n.º 121, em Macau;

O acto público deste concurso terá lugar no dia 5 de Janeiro de 2021, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau.

- Travessa da Capitania dos Portos, n.ºs 1 a 15, em Macau;

A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP44.000,00 (quarenta e quatro mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/ Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 26 de Novembro de 2020 O Director dos Serviços Lei Chin Ion

- Avenida do Almirante Lacerda, n.ºs 121A e 121B, em Macau, (Edifício A Chao (Asia));

- Junto à Estrada de Seac Pai Van, Lote G2, na Ilha de Coloane. 2. Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam à Recebedoria destes serviços, situado no rés-do-chão do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Serviços da RAEM das Ilhas, para os efeitos do respectivo pagamento. 3. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada. Aos, 5 de Novembro de 2020.

O Director dos Serviços de Finanças Iong Kong Leong


(f)utilidades 17

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HUM

C I N E M A

FIND YOUR VOICE [B] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Adrian Kwan Com: Andy Lau, Lowell Lo, MArk Lui, Hugo Ng 14.30

THE MOVIE DEMON SLAYER: KIMETSU NO YAIBA MUGEN TRAIN [C]

FIND YOUR VOICE [B]

FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Adrian Kwan Com: Andy Lau, Lowell Lo, MArk Lui, Hugo Ng 17.00 SALA 3

THE CALLING OF A BUS DRIVER [B] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Patrick Kong Com: Ivana Wong, Phillip,Keung, Edmond Leung, Jacky Cai 14.30, 16.45, 19.15

i WeirDO [B]

FIND YOUR VOICE [B]

FALADO EM PUTONGHUA LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Liao Ming-yi Com: Austin Lin, Nikki Hsich 14.30, 19.30, 21.30

FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Adrian Kwan Com: Andy Lau, Lowell Lo, MArk Lui, Hugo Ng 21.30

14 SOLUÇÃO DO PROBLEMA 13

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Cineteatro SALA 1

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A primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, afirmou ontem que pretende organizar em 2021 um segundo referendo sobre a independência desta província britânica caso o partido que lidera vença as eleições locais de

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS Um filme de: Sotozaki Haruo 16.45, 19.15, 21.30

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Maio próximo. “No próximo mês de Maio, pediremos ao povo escocês que nos dê confiança para continuar a construir um país melhor. Solicitarei a vossa aprovação, e de mais ninguém, para que seja organizado rapida-

UM LIVRO HOJE A editora portuguesa Assírio eAlvim, responsável pela publicação de grandes autores na área da poesia mas não só, recolheu recentemente os melhores poemas do contemporâneo António Ramos Rosa, falecido em 2013. Em dois extensos volumes é possível conhecer os escritos do autor de “Poema dum Funcionário Cansado” [retrato de muitos dos nossos dias] e “Não posso adiar o amor” [quase 19 como se fosse uma urgência]. Andreia Sofia Silva

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mente um referendo sobre a independência, assim que o novo parlamento for formado”, afirmou Sturgeon ao discursar perante os delegados no congresso anual do Partido Independentista Escocês (SCP, na sigla inglesa).

ANTÓNIO RAMOS ROSA - OBRA POÉTICA I E II | ASSÍRIO E ALVIM

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2.12.2020 quarta-feira

sexanálise

TÂNIA DOS SANTOS

O sexo já não se faz no escuro

H

Á muito que ainda não se sabe sobre o sexo e isso reflecte alguma, digamos, negligência por parte da ciência. Um exemplo doloroso foi que só no início deste milénio que o clitóris foi totalmente mapeado. Temas do sexo estiveram escondidos nas gavetas dos cientistas que, por desinteresse mais ou menos consciente, atrasaram o desenvolvimento de uma reflexão crítica do sexo. Nunca foi prioridade. O sexo continua a ser tabu, os vieses são mais que muitos e as queixas não param de rolar. Mas há uma luz ao fundo do túnel. Estou a depositar a minha esperança nas muitas pessoas que agora andam a falar sobre o sexo nos mais diversos canais: são sexólogos, terapeutas, educadores sexuais, cientistas, activistas e pessoas que falam a título pessoal das suas experiências. Há um sentido de urgência em tornar público aquilo que acontece na escuridão do quarto - a intimidade não precisa de deixar de ser menos íntima, mas pode deixar de ser uma completa incógnita. As redes sociais vieram ajudar muito na disseminação informal. As pessoas têm

o poder de partilhar a sua visão do sexo e ajudar a criar comunidades onde a normalidade é o sexo positivo. Normalizar esse acesso também é essencial para que as pessoas possam fazer escolhas sobre o seu corpo, sexo e prazer. Um empoderamento sexual necessário para pôr em perspectiva as indústrias, medicina e até as ciências. A ejaculação da vagina ilustra esta dinâmica. Quando um recente estudo concluiu que se tratava de urina (e nada mais), houve uma onda de contestação nas redes sociais. Diz quem já experienciou e já viu acontecer que não podia discordar mais. O que não quer dizer que não devemos confiar na ciência, mas que a ciência precisa de escutar a experiência das pessoas – e provavelmente não está a fazê-lo. A Hite tentou fazer isso no seu estudo icónico de perceber o que dava prazer às mulheres. Mas claro, fazer ciência com base na fenomenologia já é cunhada por “pseudo-ciência” pelos críticos. A experiência pessoal do sexo tem sido ignorada em detrimento de um conhecimento supostamente não enviesado. Isso só provoca mais enviesamento. As experiências de uma suposta maioria são tidas como as únicas

Há muito pouco que justifique andar às escuras no sexo. Acendam as luzes, pelo amor das deusas

experiências legitimas. Isso exclui todas as outras conversas que se mantêm secretas, longe do vislumbre da esfera pública. Muita gente vive a sua sexualidade com muita solidão e desinformação. Mas não tem que ser assim. Não sabes como se masturbam as vulvas ou os pénis? Há vídeos que ajudam a explicar isso. Achas que a tua vulva é forma do normal? Vai olhar os muitos murais com a diversidade de vulvas que existem. Gostarias de experimentar sexo anal? Há vídeos e artigos para desmistificar os medos e explicar, passo a passo, os cuidados a ter. Achas que podes ser assexual? Junta-te à comunidade online. Fantasias com chuva dourada? Fala com terapeutas que te ajudam a perceber que, com consentimento, todo o sexo é normal. Podem recomendar-se livros, blogs e publicações que fazem um trabalho precioso, muitos deles em língua portuguesa, em abrir a discussão do sexo. Estes têm sido, ao longo do tempo, fontes de inspiração para a minha (também) tentativa de disseminar uma sexualidade positiva. As contas @carmogepereira, @prontoadespir, @omeuutero ou @taniiagraca são algumas contas de instagram que refrescam as tradicionais ideias do sexo. Sempre com um pezito na ciência, estas contas avaliam de forma critica aquilo que vem cá para fora. Há muito pouco que justifique andar às escuras no sexo. Acendam as luzes, pelo amor das deusas.


opinião 19

quarta-feira 2.12.2020

MÁRIO DUARTE DUQUE

Plano Director VI

D

DA MORFOLOGIA URBANA ATERROS DA BAÍA DA PRAIA GRANDE E todas as áreas de intervenção do Projecto de Plano Director, os Aterros da Baía da Praia Grande é aquela que teve génese ou desenvolvimento menos espontâneos, e que mais importa interpretar o que presidiu a essa génese. O Plano de Reordenamento da Baía da Praia Grande, prosseguiu as orientações que remontam e resultaram ainda do levantamento exaustivo das condições hidrológicas feitas por Adolpho Loureiro no final do Sec. XIX, que à data tinha em vista aliviar o assoreamento, que sempre constituiu tormento para a utilização e gestão do domínio hídrico em torno do território, nomeadamente de acesso ao Porto Interior. Tais orientações tinham em vista estreitar o estuário entre a península de Macau e a ilha da Taipa, acelerando o caudal fluvial e de maré, para limpeza de fundos e para alívio da manutenção do canal do denominado “rada”. Presentemente a realidade não é mais a mesma, não pelo agravamento do assoreamento das margens, mas pela urbanização do estuário a montante, ao ponto de o estuário não mais se poder espraiar e acomodar as situações extremas de caudal fluvial e de maré, passando as orlas urbanas mais antigas e mais baixas a ser recorrentemente fustigadas por inundações. Presentemente um sistema ainda por compreender nas suas características actuais, e que hoje se faz por modelos numéricos de simulação, para informar e orientar futuras intervenções urbanísticas. À questão geomorfológica sucede o modelo urbano de ocupação, e aquilo que mais releva para o desenho da cidade. Ao contrário dos outros aterros efectuados no passado, que vêm substituindo sucessivamente os contornos do litoral, o Plano de Reordenamento da Baía da Praia Grande manteve grande parte da morfologia original da margem, nomeadamente na Av. da República, gerando “ao largo” grande parte do solo novo. Disso resultou que os contornos da baía passaram a poder ser apreciados mais de perto, que não apenas da ilha da Taipa, como também dessas margens poderia ser apreciada a morfologia de uma nova ilha. Ou seja, diversas possibilidades de gerar nova paisagem e de apreciar a já existente. Para isso, a regra da malha urbana pautou-se por uma rede viária de diferentes hierarquias, onde são interiores as vias de trânsito mais intenso, e são periféri-

Projecto de Plano Director na UOPG Zona do Porto Exterior – 2

Plano de Reordenamento da Baía da Praia Grande

cas as de trânsito local. Disso espera-se que as margens do aterro mantenham o equilíbrio das suas características, mesmo que o trânsito de circulação mais geral se intensifique. Disso resulta resguardo para as imagens de contorno litoral, visualmente ricas de reflexos urbanos na água, sem que essas imagens fossem cortadas por grandes vias marginais ou que as mesmas viessem a ser intensificadas e difíceis de atravessar. Foram ainda previstas situações em que a própria edificação existisse directamente sobre a água para perfeita continuação do seu reflexo, como é o caso do edifício da Assembleia Legislativa. Da mesma malha urbana existem ainda vias transversais de direcções aparentemente aleatórias que captam outros avistamentos distantes no interior daquela nova “ilha”. E como efectivamente se trata de uma “ilha” artificial, admitiu-se um núcleo de construção mais elevada que decresce em três frentes de água, como se uma colina artificial se elevasse dos lagos, por analogia à morfologia natural da península e das demais ilhas em redor. As encostas dessa “ilha” artificial formam-se pelos os pisos que acrescem ao edifício imediatamente em frente.

A Torre de Macau não fora prevista no plano, mas serve a mesma morfologia, como algo especial que acresce ao cimo de uma de uma elevação. Nesse plano foi ainda prevista a possibilidade de intervenções icónicas, por via de dois “colossos” com a fisionomia de duas torres de base elíptica que marcavam a entrada nesta “ilha”, pelo “istmo” por onde se acedia a partir do N.A.P.E. Entretanto, o aterro na zona Sul desta “ilha” foi acrescentado e aquele acesso em “istmo” perdeu expressão ou preponderância. Presentemente essa preponderância reside exclusivamente no eixo da ponte Nobre de Carvalho, mas que o Projecto de Plano Director não aproveitou para ladear por algo que fosse mais que um “descampado”, nomeadamente reposicionando os dois “colossos” previstos no plano inicial, para que enquadrassem perspecticamente a abordagem da Praça Ferreira do Amaral pela ponte Nobre de Carvalho. O projecto de Plano Director prevê para esta zona a concentração de elementos comerciais, turísticos e de diversões, pela construção de diversas instalações públicas e instalações turísticas e culturais, mas também instalações governamentais, sem, contudo, enunciar um guião para toda essa articulação funcional.

Pretende ainda integrar esta zona num percurso de atributos paisagísticos ao longo da costa a que chama “Cintura de Turismo Histórico na Zona Costeira” que, todavia, já existe, se bem que em trechos de temas e características diferentes, e que nem sempre é periférico. Possivelmente a intervenção pertinente seria antes a interpretação e a caracterização de cada um desses trechos existentes, a forma de os articular, para que se transitasse de um segmento para outro segmento, e se lhes desse continuidade. O Projecto de Plano Director admite que nesta zona as construções possam atingir a altura da colina da Penha até ao máximo de 62,7 metros (aproximadamente 20 pisos) mas não diz com que partido plástico de distribuição volumétrica, sendo certo que não foi isso o que se representou nas imagens prospécticas adiantadas pelo plano, que antes se pautam pela contenção da altura. Em verdade, a contenção das alturas nas orlas dos planos de água retira oportunidade de reflexo da arquitectura no plano da água que são sempre atributos das cidades costeiras ou litorais. A preocupação em causa aparentemente prendeu-se com a salvaguarda dos avistamentos notáveis, todavia, a notoriedade dos avistamentos resulta tanto do objecto avistado como do partido que disso se tira do local de onde é avistado. É por essa razão que os pontos de avistamento se seleccionam e se salvaguardam do próprio objecto avistado. Isso porque tudo o que daí se avista, significa que esse objecto é daí igualmente avistado. É antes sobre essa vista revertida que é possível tomar decisões sobre onde é importante que um avistamento chegue, para limitar a altura da construção a edificar por meio, assim como decidir onde se pode prescindir desse avistamento, para que nesse sector a edificação em altura possa acontecer e não resulte danosa. À preocupação de conter a cidade na sua altura, deveria antes prevalecer a preocupação de definir significativamente a cidade na sua volumetria, que está ao alcance de um plano de intervenção. Não somente de contenção que é antes atribuição de medida cautelar, na ausência de plano de intervenção. O Projecto de Plano Director pretende “sublinhar a imagem de cidade costeira”, mas nenhuma morfologia significativa sustentou à escala dessa paisagem costeira, que é aquela que tem capacidade de ser percepcionada a grande distância. O mesmo é dizer que pretende sublinhar palavras que não escreveu. E estamos a falar da silhueta que tem capacidade de definir o icon gráfico por que uma cidade se identifica, que vem sido construído na RAEM aleatoriamente, e que um plano director tem capacidade de aferir e de aperfeiçoar (vd. Cidades atentas ao seu “skyline”, in HojeMacau, 05-102007).


Quem não sabe a arte, não a estima. Camões

PALAVRA DO DIA

UEFA Quatro portugueses nomeados para equipa do ano

Os portugueses Anthony Lopes, Bruno Fernandes, Cristiano Ronaldo e João Félix integram a lista de 50 nomeados para a equipa do ano da UEFA, anunciou ontem o organismo que tutela o futebol europeu. Cristiano Ronaldo está pela 17.ª vez entre os nomeados e tenta a 15.ª presença - 14.ª consecutiva - na equipa do ano. O médio Bruno Fernandes, que se mudou em Janeiro do Sporting para o Manchester United, repete a presença nos nomeados, depois de um ano em que se impôs como um indiscutível nos ‘red devils’. O guarda-redes Anthony Lopes, do Lyon, e o avançado João Félix, do Atlético de Madrid, são dois dos 21 estreantes entre os nomeados. O Bayern Munique, campeão europeu, é a equipa mais representada na lista, com 10 dos 50 nomeados, seguido de Liverpool e Paris Saint-Germain, com oito, com a Alemanha a ser o país com mais jogadores (oito). Os onzes do ano da UEFA, tanto masculino como feminino, vão ser escolhidos por votação dos adeptos no site do organismo.

Fórmula 1 Lewis Hamilton com teste positivo à covid-19

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O piloto britânico Lewis Hamilton (Mercedes) testou positivo à covid-19 e não vai participar no Grande Prémio de Sakhir do próximo fim de semana, anunciaram ontem a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e a sua equipa. Lewis Hamilton “acordou na segunda-feira de manhã com sintomas ligeiros e foi informado ao mesmo tempo que um dos seus contactos antes de chegar ao Bahrein [na semana anterior] tinha dado positivo”, informou a Mercedes num comunicado citado pela agência France-Presse. “Assim, Lewis fez um teste que deu positivo. Isto foi, entretanto, confirmado por outro teste”, acrescentou a equipa do campeão mundial de F1.

quarta-feira 2.12.2020

Alemanha Dois mortos após veículo invadir área pedonal

Duas pessoas morreram atropeladas e várias ficaram feridas depois de um veículo ter avançado sobre uma zona pedonal da cidade de Trier, no sudoeste da Alemanha, de acordo com a polícia local. O motorista foi detido e o veículo apreendido, segundo uma mensagem publicada pela polícia de Trier na rede social Twitter. A polícia e as equipas de resgate pediram às pessoas para evitarem o centro da cidade, desconhecendo-se até ao fecho desta edição mais pormenores sobre o incidente.

Covid-19 Von der Leyen vê “luz ao fundo do túnel”

O poeta do pensamento Eduardo Lourenço faleceu em Lisboa aos 97 anos

O

ensaísta Eduardo Lourenço, de 97 anos, morreu ontem, em Lisboa, confirmou à agência Lusa fonte da Presidência da República. Professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa. Eduardo Lourenço Faria nasceu em 23 de Maio de 1923, em S. Pedro do Rio Seco, no concelho de Almeida, no distrito da Guarda, Beira Alta. Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas, na Universidade de Coimbra, em 1946, aí inicia o seu percurso, como assistente e como autor, com a publicação de “Heterodoxia” (1949). Seguir-se-iam as funções de Leitor de Cultura Portuguesa, nas universidades de Hamburgo e Heidelberg, em Montpellier e no Brasil, até se fixar na cidade francesa de Vence, em 1965, com actividade pedagógica nas principais universidades francesas. Foi conselheiro cultural da Embaixada Portuguesa em Roma. Em 1999, passou a administrador não executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, em

Lisboa, que tem em curso a publicação da sua obra integral. Autor de mais de 40 títulos, possuiu desde sempre “um olhar inquietante sobre a realidade”, como destacaram os seus pares. “O Labirinto da Saudade”, “Fernando, Rei da Nossa Baviera” são algumas das suas principais obras. Eduardo Lourenço recebeu o Prémio Camões (1996) e o Prémio Pessoa (2011). Entre outras distinções, recebeu as insígnias de Grande Oficial e a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Era Oficial da Ordem Nacional do Mérito, Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras e da Legião de Honra de França. “Na verdade, falo de mim em todos os textos”, disse Eduardo Lourenço sobre a sua obra, citado pelo Centro Nacional de Cultura, nas páginas que lhe dedica ‘online’. “Cada um dos assuntos por que me interesso daria para ocupar várias pessoas durante toda a vida. [Mas como] não possuo vocação heteronímica, tenho procura-

do encontrar um nexo entre as minhas diversas abordagens da realidade”.

LUTO NACIONAL

O Presidente da República afirmou ontem que Portugal está muito grato ao ensaísta Eduardo Lourenço, ao ter dedicado “praticamente um século de serviço” ao país. “Portugal está-lhe muito, muito grato. Foi praticamente um século de serviço à nossa pátria”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, que falava aos jornalistas no final das comemorações do 1.º de Dezembro, em Lisboa. O Presidente da República realçou a “coincidência simbólica” de “o maior pensador sobre Portugal vivo” ter morrido no dia da Restauração da Independência. “Quase que parecia que teria que ser assim”, acrescentou. O primeiro-ministro, António Costa, anunciou ontem que esta quarta-feira será dia de luto nacional, pela morte do ensaísta Eduardo Lourenço. “Amanhã [quarta-feira] será dia de luto nacional, no dia em que dos despediremos do professor Eduardo Lourenço”, disse António Costa, que falava aos jornalistas à margem das comemorações do 1.º de Dezembro, em Lisboa.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse ontem ver “uma luz ao fundo do túnel” para a pandemia, por as primeiras vacinas poderem chegar à União Europeia ainda este ano, mas pediu disciplina. “Existe uma luz ao fundo do túnel, mas temos de continuar a ser disciplinados até termos atingido um nível de vacinação suficiente para erradicar este vírus”, declarou Ursula von der Leyen, falando numa videoconferência da Conferência dos Órgãos Especializados em Assuntos da União dos Parlamentos da União Europeia (UE), organizado pela presidência alemã da União. No dia em que se assinala o primeiro ano do mandato de Ursula von der Leyen, a líder do executivo comunitário notou que, “se tudo correr bem, os primeiros cidadãos a receberem a vacina poderão já ser vacinados antes do final de Dezembro”. “E isto será um grande passo em direcção a uma vida normal”, vincou.


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