DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
MOP$10
QUINTA-FEIRA 2 DE JULHO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4559
hojemacau OFFSHORES
MAGRAS REMESSAS
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TIAGO ALCÂNTARA
GRANDE PLANO
DSEJ
MAIS VALE PREVENIR PÁGINA 5
Conta-gotas Os números do jogo no mês de Junho são os mais anémicos alguma vez registados. As receitas de apenas 716 milhões de patacas não passam de uma gota em comparação com a fartura arrecadada no período homólogo do ano passado, no valor de 23,8 mil milhões de patacas. Se a situação se mantiver, os despedimentos no sector irão continuar, dizem os especialistas.
TEATRO
BILHETE DE IDENTIDADE EVENTOS
OPINIÃO
TEMPO E CLIMA NO CINEMA OLAVO RASQUINHO
PÁGINA 7
2 grande plano
OFFSHORES
2.7.2020 quinta-feira
QUEDAS CAPITAIS
REMESSAS DE DINHEIRO DE PORTUGAL PARA MACAU EM QUEBRA DESDE 2017
Estatísticas da Autoridade Tributária e Aduaneira em Portugal revelam que entre 2017 e 2019 uma quebra no capital enviado para Macau. O ano passado foram transferidos para Macau cerca de 271 milhões de euros, número mais baixo desde 2016. Segundo analistas ouvidos pelo HM, a redução pode dever-se às taxas de juro, dificuldades económicas em Portugal ou ao “desinteresse” sobre o mundo offshore
O
volume de dinheiro enviado de Portugal para Macau tem diminuído desde 2017. É o que revelam as estatísticas oficiais divulgadas pela Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) em Portugal relativamente ao capital enviado para territórios que são considerados paraísos fiscais. Em 2016, registaram-se um total de 1774 operações para Macau, num valor superior a 360 milhões de euros. No ano seguinte realizaram-se 1914 operações, num valor acima dos 596 milhões de euros. Desde aí que se tem registado uma quebra: em 2018 realizaram-se 1779 operações, avaliadas acima dos 493 milhões de euros, enquanto que o ano passado as operações totalizaram 1720, num total transferido de 271 milhões de euros. De frisar que só a
partir de 2016 Macau passou a estar na lista dos territórios onde os bancos têm o dever de comunicar transacções à AT, tal como a Suíça, daí que não seja possível ter acesso aos dados anteriores a 2016. Ainda que Macau deixe de ter actividade offshore a partir de Janeiro do próximo ano, a verdade é que este diploma não é a principal causa para a redução das transacções, como explicou ao HM o economista José Pãosinho. “Estes números têm a ver com o facto de Macau estar a pagar taxas de juro muito baixas face ao que pagava no
passado. O imposto já não faz muita diferença”, adiantou, afirmando que, por comparação aos restantes territórios offshore, Macau apresenta montantes muito baixos. “Sempre foram números pouco significativos. Valores como 200 ou 300 milhões de euros em fundos offshore não são nada.” Por esse motivo, o economista acredita que “o fim das actividades offshore não vai trazer um grande impacto”. “Em Macau o fim das offshore é para empresas e não está relacionado com contas bancárias”, acrescenta Pãosinho.
“Não compreendo como é que um território que foi ocupado por portugueses durante 500 anos e que é tão importante, porque a China é a segunda maior economia do mundo, é tratado pelos portugueses como offshore” TIAGO GUERREIRO ADVOGADO
O economista, ligado à banca, fala de um mercado offshore onde fundamentalmente operam “empresas que têm negócios em Macau ou na China, ou particulares que têm investimentos em empresas daqui, ou que estão a fazer compras da China para a Europa”. “Também há pessoas que estão a tentar evitar impostos, mas hoje em dia com as novas leis isso deixou de ter significado. Os bancos são obrigados a reportar todos os dados”, frisou. Esta é uma das explicações de Tiago Guerreiro, advogado especialista em assuntos fiscais e offshores. “Uma das razões para a redução das remessas para Macau poderá ser as próprias dificuldades da economia e também o desinteresse que existe sobre o offshore”, defendeu ao HM.
Para o advogado, esse desinteresse explica-se com a “perseguição” em relação aos paraísos fiscais, quando muitos “cumprem as regras da OCDE e são totalmente transparentes, mas são todos tratados da mesma maneira”. “Hoje em dia, vão alargando [a classificação de território offshore] a países da União Europeia (UE) de forma indevida, e qualquer dia começam a qualificar-nos a nós [Portugal] como offshore, ou algo do género, para nos prejudicar, porque os países retaliam, uma vez que nenhum país gosta de ser qualificado assim”, ironiza.
MAU TRATAMENTO
O advogado português destaca o facto de Macau “ter um regime fiscal competitivo, com impostos baixos, mesmo sem ser offshore”. “É mais competitivo face à maior parte dos países
da UE, nomeadamente Portugal. Acho que muitos capitais se deslocam para aí porque é onde está a actividade económica e é onde estão as transacções e mais operações comerciais de importação e exportação”, adiantou. Ainda assim, Tiago Guerreiro não deixa de tecer uma crítica ao facto de as autoridades portuguesas terem permitido que Macau continuasse a ser um território offshore depois da transferência de administração. “Não compreendo como é que um território que foi ocupado por portugueses durante 500 anos e que é tão importante, porque a China é a segunda maior economia do mundo, é tratado pelos portugueses como offshore. É de uma imbecilidade e de uma falta de visão única. Um território com o qual nós temos ligação com a segunda
grande plano 3
quinta-feira 2.7.2020
Fora da lista negra Da resposta às exigências da OCDE ao apoio à reconversão das empresas “offshore”
A
HONG KONG NO TOP
Os dados divulgados pela AT revelam que Hong Kong continua a estar no topo da lista de territórios que mais dinheiro receberam de Portugal. Desde 2015, o território tem ocupado a segunda posição de uma lista que sempre foi liderada pela Suíça, à excepção de 2015, quando os bancos do país não estavam obrigados a fornecer informações à AT. Nesse ano, Bahamas era líder nas transacções feitas de Portugal.
Hong Kong, com valores bem mais significativos em matéria de transferências face a Macau, também registou uma maior quebra entre 2018 e 2019. Em 2015 realizaram-se 9.809 transacções, num valor total de 1.371 milhões de euros. No ano seguinte realizaram-se 26.354 transferências no valor ligeiramente mais baixo de 1.306 milhões de euros. Em 2017, nova queda no montante, que caiu para 1.208 milhões de euros, num total de 29.074 transacções. Segue-se, em 2018, um total
de 29.872 transacções com um valor de 1.240 milhões, enquanto que o ano passado o montante baixou para os 909 milhões de euros transferido através de 27.100 transacções. Falar de Hong Kong como território offshore é falar de uma praça financeira de renome mundial, como denota Tiago Guerreiro. “É uma praça financeira muito maior, mais desenvolvida, numa zona do mundo com um crescimento económico elevadíssimo. Parece continuar nesse rumo
“Estes números [menos dinheiro transferido]têm a ver com o facto de Macau estar a pagar taxas de juro muito baixas face ao que pagava no passado. O imposto já não faz muita diferença” JOSÉ PÃOSINHO ECONOMISTA
e as pessoas sentem-se mais seguras com as instituições, apesar de outras questões que se colocam aí.” O fiscalista não tem dúvidas de que, perante uma nova onda de crise económica em Portugal Hong Kong poderá continuar a ser um destino de eleição para o dinheiro português. “Quando isto começar a dar para o torto, muito dinheiro vai voltar a sair de Portugal, porque não foram feitas poupanças, a dívida pública portuguesa está a explodir e isso vai afectar os bancos. O dinheiro vai voltar a sair por uma questão de segurança. Basta ver o que aconteceu com o Banco Privado Português e com o Banco Espírito Santo”, rematou. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
RÓMULO SANTOS
maior economia do mundo tratamo-lo nós mal.” Recorde-se que, além das empresas, alguns bancos portugueses chegaram a operar em regime offshore em Macau. Foi o caso da Caixa Geral de Depósitos, que actuou neste regime entre 2013 e 2018, e o BPI, que operou com offshore entre 2005 e 2018.
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) exigiu ao Governo da RAEM que acabasse com as “offshore” no território. O Executivo de Chui Sai On acedeu às exigências e começou, em 2018, a legislar o fim destas instituições em Macau. “As instituições ‘offshore’ existentes podem continuar a exercer actividade (…) até ao final de 2020 e, a partir do dia 1 de Janeiro de 2021, as autorizações (…) que ainda não tenham cessado serão caducadas”, referia o Conselho Executivo de Macau, em comunicado, depois de concluir a discussão da proposta de lei em Setembro de 2018. A ideia do Executivo da RAEM era preparar-se para reforçar a cooperação “com as organizações internacionais no combate conjunto à fuga e à evasão fiscal transfronteiriça e a promover, de forma activa, o aperfeiçoamento da transparência fiscal e da justiça tributária”. Aliás, a União Europeia no final de 2017 categorizou Macau como uma de 17 jurisdições não cooperantes em termos fiscais, uma medida que viria a ser revertida cerca de um mês depois. No início de 2018, as autorizações concedidas à Caixa Geral de Depósitos (CGD) e ao Banco Português de Investimento (BPI) para o estabelecimento de instituição
financeira ‘offshore’ sob a forma de sucursal em Macau foram revogadas, a do BPI em Fevereiro e a da CGD igualmente no mesmo mês. A CGD e o BPI eram os dois únicos bancos portugueses a operar uma licença ‘offshore’em Macau, tendo sido ambas as autorizações concedidas em 2005. Para ajudar ao processo de transição de empresas que antes funcionavam como offshore, ou para minimizar o impacto no desemprego do fim desta actividade económica em Macau, o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) e a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) abriram um serviço de apoio. O IPIM passou a fornecer serviços “one-stop” para ajudar as instituições a transformarem-se em empresas gerais em Macau, continuando a explorarem negócios e recrutarem trabalhadores no território. A ideia era incentivar os investidores destas instituições a continuarem a sua actividade comercial em Macau, através de isenção de impostos, taxas de serviços de notariado e emolumentos de registo às instituições ao fazerem alteração da sua firma e objecto social. Antes da acção do Governo, existiam em Macau 360 entidades offshores que empregavam a cerca de 1700 trabalhadores. J.L. com agências
4 política
2.7.2020 quinta-feira
Serviços de Identificação Novas chefias tomaram posse
A nova chefe do Departamento de Assuntos Genéricos da Direcção dos Serviços de Identificação, Van Kit Lam, e a nova chefe da Divisão de Bilhete de Identidade, Wong Chi Lon, tomaram ontem posse, numa cerimónia que contou com a presença de Wong Pou Ieng, directora da DSI. Van Kit Lam é licenciada em Estudos Japoneses e Gestão de Empresas, tem um mestrado em Administração Pública, e está na DSI desde 2004. Já era chefe do Departamento de Assuntos Genéricos desde 1 de Abril de 2020, mas em regime de substituição. Por sua vez, Wong Chi Lon, tem um bacharelato em Serviço Social pelo Instituto Politécnico de Macau e ingressou na DSI em Abril de 2006.
A Youth Entrepreneurship Valley tem parcerias firmadas com mais de 30 entidades, como a Incubadora Nacional de Empresas de Ciência e Tecnologia e a Base para a Inovação e Empreendedorismo da Juventude de Macau e Guangdong
HENQGIN INCUBADORA RECEBEU 244 STARTUPS DE MACAU E HONG KONG
O vale mais fértil
Em cinco anos, o espaço na Ilha da Montanha dedicado a startups, recebeu 244 empresas das regiões administrativas especiais vocacionadas para as áreas tecnológicas. O número foi avançado no quinto aniversário do projecto durante o Seminário do Empreendedorismo da Área de Grande Baía
M
AIS de 500 milhões de yuan financiaram 50 empresas de tecnologia de ponta e outras 30 outras companhias, entre as 244 startups de Macau e Hong Kong que, nos últimos cinco anos, decidiram fixar as suas operações no Youth Entrepreneurship Valley, em Hengqin, de acordo com um comunicado divulgado pela página do Governo de Zhuhai.
Esta zona incubadora situada em Hengqin, também designada por Inno Valley HQ, é explorada pela Da Heng Qin Development, uma empresa estatal sedeada em Zhuhai, estabelecida em 2013 com um capital social de 460 milhões de yuan. As estatísticas foram reveladas por Wu Chuangwei, vice-director do Comité Administrativo da Nova Área de Hengqin, durante a cerimónia de celebração do quinto aniversário do estabelecimento do Youth
Entrepreneurship Valley, que se realizou na passada segunda-feira. A Youth Entrepreneurship Valley tem parcerias firmadas com mais de 30 entidades, como a Incubadora Nacional de Empresas de Ciência e Tecnologia e a Base para a Inovação e Empreendedorismo da Juventude de Macau e Guangdong, conseguindo, de acordo com o governo de Zhuhai, tornar-se num parque industrial de renome nacional. Outra das valências do organismo
é potenciar as relações entre empresas e profissionais no âmbito do projecto da Grande Baía, de forma a desenvolver operações orientadas para o comércio, que cumpram os standards internacionais.
MILHÕES NA BAÍA
De forma a apoiar o desenvolvimento do espírito inovador e empreendedor entre a juventude de Macau, Hengqin lançou um conjunto de medidas de incentivo, tais como concursos de ciências e tecnologia, programas de estágios de Verão, e feiras de emprego para os estudantes universitários de Macau. Estas medidas procuram promover um saudável ambiente de negócios e integração regional. Esta é uma das zonas industriais que procuram captar jovens empresários de Macau e Hong Kong. Há sensivelmente três semanas, o departamento de ciência e tecnologia do município de Guangzhou, anunciava a expansão de um programa que disponibiliza 4,5 milhões de yuan em subsídios para os empresários das regiões administrativas especiais fixarem negócios na capital de província. João Luz
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ILHA DA MONTANHA VICTOR CHAN NA MACAU INVESTIMENTO E DESENVOLVIMENTO
O
ex-director do Gabinete de Comunicação Social, Victor Chan, foi nomeado administrador do Conselho de Administração da Macau Investimento e Desenvolvimento, segundo um comunicado emitido pelo próprio fundo.
A nomeação, determinada pela Assembleia-Geral de Accionistas da Macau Investimento e Desenvolvimento, faz com que Victor Chan acumule este cargo com o de assessor do Gabinete do Secretário para a Economia e Finanças.
Actualmente, a RAEM tem 22 empresas de capitais públicos constituídas, com capitais sociais que rondam os 13 mil milhões de patacas. Deste universo, a Macau Investimento e Desenvolvimento S.A. é, de longe, a que recebeu
mais dinheiro do erário público, somando 9,2 mil milhões de patacas. Victor Chan entra assim na administração da empresa responsável pelos investimentos Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa e a
Incubadora de Empresas Científicas e Tecnológicas, em Hengqin. Importa recordar também que o Governo congelou a injecção de capitais nestas empresas, devido ao contexto de crise económica.
Emprego Ella Lei em defesa dos cozinheiros locais
A deputada Ella Lei pediu ao Governo que intervenha e proteja o emprego dos cozinheiros locais. Numa interpelação escrita, a legisladora com ligações aos Operários apontou que neste momento as concessionárias têm 2.841 cozinheiros, mas que o número de trabalhadores não-residentes no sector precisa de ser limitado. Isto, porque segundo várias queixas recebidas, os profissionais do sector temem que após a reabertura das fronteiras os residentes sejam despedidos para contratar TNR, que recebem salários mais baixos. Face a este cenário, Ella Lei pede também às operadoras que se coordenem com o Executivo para participarem nos cursos de requalificação profissional para os empregados que se encontrem a gozar de licença com vencimento e que tenham os postos em risco.
Ensino superior Esperado desenvolvimento da investigação científica
Zhong Nanshan, membro da Academia Chinesa de Engenharia (ACE), director clínico do centro de investigação para doenças respiratórias e chefe da equipa de peritos em doenças infecciosas da Comissão Nacional de Saúde da China defendeu que Macau pode “fomentar projectos de investigação científica e inovação, realizados pelas instituições do ensino superior”. Num encontro com o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng e o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, Zhong Nanshan defendeu ainda a aposta do território na medicina tradicional chinesa como um veículo para a diversificação económica, aponta um comunicado. O encontro com as autoridades aconteceu no âmbito de uma visita da ACE a Macau.
sociedade 5
quinta-feira 2.7.2020
Crime Estudante detido por violar e agredir namorada Um estudante de Macau de 24 anos foi detido por ser suspeito de violar e agredir a namorada com quem vivia, após ser confrontado com o fim da relação. De acordo com o jornal Exmoo, a relação começou em Abril e perante um primeiro pedido de separação meses mais tarde, o homem terá ameaçado a vítima com uma faca, para não o fazer. À segunda vez que a mulher tentou terminar a relação, a 25 de Junho, o estudante terá agredido a namorada com um taco
de basebol. Além disso, segundo a mesma fonte, o homem terá forçado a mulher a ter relações sexuais por três ocasiões. A vítima viria mais tarde a apresentar queixa à Polícia Judiciária (PJ) num dia em que saiu de casa para ir trabalhar. O caso foi encaminhado para o Ministério Público, sendo o homem suspeito da prática dos crimes de ofensa simples à integridade física, coacção grave, sequestro, violação e posse de armas proibidas.
PJ Duas pessoas detidas por contrabando de xarope A polícia deteve dois residentes que estão indiciados pela prática do crime de tráfico ilícito de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas, por terem ajudado no envio para o Interior de frascos de xarope com codeína, um opiáceo. O caso foi detectado num primeiro momento pela polícia de Zhuhai, quando interceptou duas pessoas com xarope. Os detidos explicaram que estavam a fazer os bens passar
pela fronteira a pedido de uma mulher de Macau. Esta informação levou a uma investigação em Macau e as autoridades da RAEM acabaram mesmo por deter uma mulher de apelido Wong, dona de uma loja no Norte da cidade, assim como um empregado, por tráfico de droga. Os suspeitos confirmaram que haviam enviado nove caixas de xarope para o Interior, mas negaram saber que os produtos tivessem droga.
TIAGO ALCÂNTARA
cação sexual, de forma a promover o desenvolvimento integral das crianças e dos jovens, dos seus conhecimentos e da sua capacidade de autoprotecção neste âmbito”, pode ler-se na nota da DSEJ. Detalhando, do currículo de educação sexual destinado aos alunos, fazem parte recursos didáticos destinados a transmitir “conceitos de saúde física, de protecção do direito à autodeterminação do próprio corpo, de prevenção do assédio e abuso sexual”. Através da mobilização de pessoal especializado, a DSEJ aponta ainda que continua a desenvolver actividades de aconselhamento e prevenção com o objectivo de ajudar os alunos “na construção de conceitos de sexualidade e valores correctos”, a respeitar o seu corpo e o corpo dos outros e ainda, “na ampliação da coragem de saber recusar as exigências irracionais de outros”.
TRABALHO CONJUNTO
VIOLAÇÃO DSEJ REFORÇA PREVENÇÃO APÓS CASO DE ABUSO DE ALUNA
Plano de contingência Numa nota enviada ao HM, a DSEJ escusa-se a comentar o caso do professor de educação física suspeito de abusar sexualmente de uma aluna menor, para não interferir na investigação. Para já, o organismo vai apostar na sensibilização de pais, alunos e professores. Em 2019, foram reportados 11 casos de abuso sexual de menores
A
Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) considera “não ser adequado” tecer comentários sobre o caso do professor de educação física da Escola para Filhos e Irmãos dos Operários, no Fai Chi Kei, suspeito de ter abusado sexualmente de uma aluna menor. Numa nota enviada ao HM, na sequência de um pedido de
esclarecimentos acerca do alegado encobrimento por parte da escola, o organismo justifica o facto de não poder dar respostas com a necessidade de “respeitar o segredo de justiça” e de evitar que a investigação criminal, levada a cabo pela Polícia Judiciária (PJ), “venha a ser afectada”. Recorde-se que o caso veio a lume após um email anónimo enviado por um professor da mes-
ma escola para vários órgãos de comunicação social a denunciar o caso. A PJ viria depois a confirmar a situação, anunciando a detenção do professor que, no dia 8 de Junho, foi presente ao Ministério Público, pela prática dos crimes de abuso sexual de crianças e de educandos e dependentes. De acordo com informações da PJ citadas na resposta da DSEJ, em 2019 foram registaram-se 11 casos
de abuso sexual de crianças em Macau e em 2020 estão em curso dois processos relacionados com a prática do mesmo crime. Perante a situação e no seguimento do caso, a DSEJ afirma que procura resposta para prevenir e educar encarregados de educação, alunos e professores através da “promoção da educação sexual a vários níveis”. O objectivo é criar um “ambiente de difusão da edu-
A DSEJ aponta ainda que a educação destinada aos pais deve ser reforçada. Para tal, o organismo afirma que vai continuar a realizar actividades educativas como palestras que pretendem “elevar as técnicas de comunicação entre pais e filhos”, ajudar a identificar problemas dos filhos e ainda “reforçar a consciência dos filhos para a necessidade da autoprotecção”. Quanto aos professores e restante pessoal docente, a DSEJ afirma que, para além do prestar apoio ao nível da formação profissional através de subsídios, tem vindo a realizar acções para “fortalecer a sua capacidade e ética profissional e incrementar as técnicas de aconselhamento”. O organismo refere ainda que “exige-se aos docentes que sirvam de exemplo, preservem a sua imagem profissional, sigam escrupulosamente os valores morais e a conduta da sua categoria profissional e revelem respeito, cortesia e comportamento agradável no seu contacto com os alunos”. Por fim, a DSEJ compromete-se a promover a educação sexual no futuro e que irá aperfeiçoar os conteúdos relativos às normas e orientações destinadas aos professores, para que sirvam de referência para as escolas. Pedro Arede
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6 sociedade
2.7.2020 quinta-feira
COVID-19 ALVIS LO DEFENDE QUE NEGOCIAÇÕES COM HK NÃO FORAM EM VÃO
Tudo isto vale a pena
O
médico Alvis Lo afirmou que o anúncio de Hong Kong em prolongar a medida de isolamento até 7 de Agosto não significa que as negociações feitas foram em vão. “É apenas uma continuação das medidas actuais, não vai afectar as negociações que tivemos com Hong Kong e também não vai afectar as novas possibilidades de circulação entre Hong Kong e Macau”, declarou. Na habitual conferência da saúde indicou, porém, que ainda não há uma decisão final. O corredor especial criado entre o aeroporto de Hong Kong e o terminal marítimo do Pac On já trouxe ao território 940 pessoas de barco, de um total de 1481 registadas. No sentido inverso, 499 pessoas já partiram de barco, havendo no total 910 bilhetes vendidos para a saída do território. Ontem à noite estava prevista a saída de quatro pessoas e a entrada de 14. Questionado sobre o prazo para a situação voltar à normalidade, Alvis Lo descreveu que a política de prevenção e controlo da epidemia é “muito difícil de implementar”, indicando que “o mais importante” é ter sido elaborado um plano de contingência para enfrentar a situação, bem como a colaboração com diferentes sectores e as regiões
WINSON WONG
As negociações tidas com Hong Kong não são afectadas pelo anúncio da extensão das medidas de isolamento na região vizinha, disse ontem o médico Alvis Lo. Na conferência da saúde foi ainda indicado que 20 pessoas foram afectadas por restrições de Hong Kong a alguns voos
vizinhas. “Estamos a discutir como podemos levantar essas políticas restritivas de entrada e saída da nossa população. (...) Claro que também esperamos no futuro ter esta vacina ou medicamento para combater a epidemia”, disse, sem adiantar um calendário. Por outro lado, foi adiantado que mais de mil estudantes em Taiwan se registaram no sistema para regressarem a Macau e ficarem isentos de apresentar resultado do teste de ácido nucleico antes de embarcarem.
Leong Iek Hou referiu que “vamos analisar os seus dados pessoais para aprovar um a um”, acrescentando que alguns já receberam luz verde.
VIAGENS EM CHEQUE
Cerca de 20 pessoas foram afectadas pelas novas restrições impostas pelas autoridades de Hong Kong, para evitar que passageiros em trânsito fiquem no aeroporto em Hong Kong. A informação foi prestada ontem Lau Fong Chi, da Direcção dos Serviços de Turismo (DST).
Máscaras Total de vendas quase nos 94 milhões de unidades “Por enquanto, não devemos baixar a guarda”, afirmou Leong Iek Hou em relação ao uso de máscara. A coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença reiterou que são feitas revisões relativamente à instrução para o uso de máscara, mas que perante novos casos que surgiram em Pequim é preciso verificar se pode afectar
Macau e as regiões vizinhas. Neste âmbito, o médico Alvis Lo reiterou a necessidade de se avaliar a situação mundial, e disse que, até ao momento, já foram vendidas cerca de 93,8 milhões de máscaras ao abrigo do programa lançado pelo Governo. Garantiu ainda que caso haja intenção de suspender o plano de fornecimento, haverá aviso com antecedência.
A TDM-Rádio Macau avançou que o Gabinete de Gestão de Crises de Turismo recebeu informações de que a KLM, a Emirates e a Turkish Airlines estavam, a partir de ontem, impedidas de transportar passageiros que chegam a Hong Kong em trânsito. Penalizações que se seguiram a passageiros que deviam estar em trânsito não terem apanhado a ligação e ficado retidos no aeroporto de Hong Kong. Na conferência de imprensa, a responsável da DST indicou que Macau recebeu informações por parte de Hong Kong da adopção de medidas especiais para determinados voos. Foram afectadas pessoas que pretendiam regressar a Macau, mas não quem sai do território. Lau Fong Chi disse que já comunicaram com os passageiros registados no sistema e que pretendem regressar a Macau para tomarem conhecimento da medida. Em alternativa, é sugerido que optem por outros voos para chegarem à região vizinha e, a partir, daí fazer uso do corredor especial para regressar a Macau: “contactámos estas pessoas e elas podem apanhar outros voos que não estão na lista das autoridades de Hong Kong”. Salomé Fernandes
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Sem fumo à vista
Serviços de Saúde dizem que controlo do tabagismo está a “amadurecer”
O
director dos Serviços de Saúde (SS) fez um balanço positivo das restrições ao consumo de tabaco nos casinos. “Segundo estatísticas, as medidas de controlo do tabagismo nos casinos têm gradualmente alcançado resultados, e o mecanismo de cooperação dos departamentos que aplicam a lei de controlo do tabagismo tem vindo gradualmente a amadurecer”, disse Lei Chin Ion. A Linha Directa de Controlo do Tabagismo atendeu mais de 1.500 reclamações de casinos, uma redução de 4.450 casos de ano a ano, atingindo 75 por cento. Na resposta dada por Lei Chin On a uma interpelação escrita de Ho Ion Sang, explica-se que desde a proibição total do tabagismo e da implementação das salas de fumadores nos casinos, a DICJ constatou uma “tendência decrescente do número de multas e de queixas de situação de fumo ilegal, o que evidencia a execução ordenada e eficaz dos trabalhos de prevenção e controlo do tabagismo nos casinos”. Em meados do mês de Maio de 2020, os Serviços de Saúde receberam um total de 714 pedidos de criação de salas de fumadores de 36 casinos. Entre esses, 686 pedidos apresentados por 35 casinos foram autorizados, e 28 ainda estão a ser analisados. No ano passado, realizaram-se mais de 300 inspecções em casinos, mas ainda assim o número de acusações diminuiu mais de 300 casos.
IMPORTAÇÃO EM QUEDA
Num balanço sobre a situação do tabagismo desde o ano de 2000, Lei Chin Ion indicou que desde então houve uma diminuição de cerca de 60 por cento do volume de importação de tabaco até 2019. “O volume de importação do tabaco tem apresentado uma tendência de diminuição, e após o aumento da taxa do consumo, a situação tornou-se mais evidente”, pode ler-se. A taxa de consumo passou de 0,05 patacas por unidade em 2000 para 1,5 patacas por unidade em 2015 e o volume de importação de tabaco baixou de 950 milhões de patacas para menos de 400 milhões em 2019. De acordo com o responsável, os SS estão a recolher opiniões dos residentes e dos sectores, para analisar temas como os impostos sobre os cigarros, cigarros electrónicos e embalagens de produtos do tabaco. Está prevista para 2021 a conclusão e publicação do terceiro relatório sobre o controlo do tabagismo de 2018 a 2020. S.F.
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quinta-feira 2.7.2020
INSTITUTO PARA OS ASSUNTOS MUNICIPAIS 30% DOS ANIMAIS VADIOS ACABAM ABATIDOS
JUSTIÇA TRIBUNAIS VALIDAM DECISÕES DE RECUPERAR DOIS TERRENOS
M resposta a uma interpelação escrita enviada pelo deputado José Pereira Coutinho, o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) revela que, segundo as estatísticas, mais de 70 por cento dos animais vadios capturados acabam por ser adoptados. O número faz com que os restantes cerca de 30 por cento, correspondam aos animais abatidos ou, como refere o IAM, “sujeitos a ser tratados por meios humanitários”.
Tribunal de Última Instância validou a decisão do ex-Chefe do Executivo, Chui Sai On, quando decidiu recuperar um terreno em Seac Pai Van à Sociedade de Desenvolvimento e Fomento Predial Kin Chit, Limitada. O terreno foi recuperado em Dezembro de 2014, depois do Governo de Chui Sai On ter considerado que o mesmo não tinha sido aproveitado durante o prazo de concessão, que era de 25 anos, por motivos da responsabilidade da empresa.
E
A
suspensão da emissão vistos individuais de turismo pelas autoridades do Interior, na sequência da pandemia da covid-19, e o fecho das fronteiras de Macau a cidadãos estrangeiros levaram a uma quebra de 97 por cento das receitas do jogo em Junho. De acordo com os dados apresentados ontem pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, em Junho os casinos registaram receitas de 716 milhões de patacas, que contrastam com os 23,8 mil milhões de patacas em Junho do ano passado. Em relação à primeira metade do ano, as receitas foram de 33,7 mil milhões, o que significa uma redução de 77,4 por cento face ao primeiro semestre de 2019, quando os casinos tinham tido receitas brutas de 149,5 mil milhões de patacas. Em relação aos números deste ano, Junho foi mesmo o pior do ano, conseguindo bater o registo de Abril, quando as receitas tinham ficado na marca de 754 milhões de patacas. Segundo Pedro Cortés, advogado especialista na área do jogo, o resultado mostra a necessidade de diversificar a economia. “É um desastre para a indústria do jogo e, em particular, para a economia de Macau”, afirmou à Lusa. “Macau tem de começar a pensar seriamente em mudar a estratégia porque senão o desastre para a economia será ainda maior”, acrescentou. Por sua vez, o advogado Carlos Eduardo Coelho acredita que face a estes resultados os despedimentos vão conti-
Perante o pedido de esclarecimento do deputado sobre as medidas a adoptar pelo organismo para limar as lacunas existentes na actual Lei de protecção dos animais ao nível das penas previstas para o abandono de animais e da estratégia pouco “humana”, o IAM responde que tem promovido acções de sensibilização da esterilização. O IAM lembra ainda que as sanções para os donos que abandonam
animais podem ir das 20 mil às 100 mil patacas. Acerca da regulamentação sobre cães criados e usados para vigiar as entradas nos estaleiros de obras, questão levantada por Pereira Coutinho, o IAM esclarece que os donos destes animais são obrigados a proceder à sua esterlização e oferecer “cuidados apropriados” e que serão reforçados os trabalhos de fiscalização nestes casos. P.A.
O
A parcela de terra tem uma área de 5.288 metros quadrados, é designada como lote SJ e este caso ficou encerrado a 13 de Maio. Também ontem, os tribunais divulgaram em comunicado a decisão do Tribunal de Segunda Instância (TSI) que validou a recuperação de um terreno na Rua de Viseu, na Baixa da Taipa identificado como lote 14. Este terreno tem uma área de 2.732 metros quadrados e estava concessionado à empresa Pacífico Infortécnica - Computadores e Serviços de Gestão, Limitada.
JOGO RECEITAS AFUNDAM 97 POR CENTO. NÍVEL MAIS BAIXO DESDE QUE HÁ REGISTO
Época de recordes
Os casinos tiveram receitas de 716 milhões de patacas este mês e os especialistas na área apontam que a este ritmo os despedimentos no sector deverão continuar
O prazo de aproveitamento no contrato de concessão era de 30 meses e expirou em Junho de 1991. No entanto, a ordem de recuperação do terreno só foi emitida pelo Executivo de Chui Sai On em Março de 2015. A primeira decisão dos tribunais vem agora validar a decisão do Governo, mas ainda poderá haver recurso. O TSI considerou que, também neste caso, o facto do terreno não ter sido aproveitado se ficou exclusivamente a dever à responsabilidade da empresa.
MGM China e Sands China, com capitais americanos, organizaram sessões para os trabalhadores, com a presença de membros do Governo Central, em que explicaram as conclusões e o “espírito” dos dois encontros. “Foi como se tivesse carregado no botão de pânico. Elas não têm outra escolha que não seja organizarem estes projectos prestigiantes”, considerou Eilo Yu, à IAG.
“É um desastre para a indústria do jogo e, em particular, para a economia de Macau.” PEDRO CORTÉS ADVOGADO
nuar: “para as concessionárias de jogo é provável que estes resultados levem à continuação da implementação de medidas de corte de custos operacionais, incluindo despedimentos e paragem de actividades consideradas não essenciais”, disse à Lusa. Coelho apontou também que a RAEM só não está a sofrer mais com a situação da economia devido “ao excedente orçamental acumulado nos anos transactos”
OPERADORAS EM PÂNICO
Mas não são só as receitas que preocupam as opera-
doras. Também as tensões da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos levaram as empresas com capitais norte-americanos a activarem o botão de pânico.
Em declarações à publicação Inside Asian Gaming, Eilo Yu defendeu esta ideia com o facto de as operadoras terem realizado actividades para explicarem aos traba-
lhadores as conclusões das duas reuniões magnas, que decorreram em Pequim, no mês de Maio. Após estas reuniões, as operadoras Wynn Macau,
O académico defendeu também que nesta fase as operadoras estão numa situação complicada, uma vez que precisam de agradar tanto aos EUA como à China, o que as coloca numa fase periclitante face às renovações das licenças de jogo, que devem ocorrer em 2022. João Santos Filipe
joaof@hojemacau.com.mo
Casinos Milionário de Taiwan bafejado pela sorte
A sorte de um milionário de Taiwan que está preso em Macau desde Fevereiro e que tem sido um dos grandes contribuidores para as receitas do jogo foi um dos factores que justificam a quebra de 97 por cento nas receitas em Junho. Segundo o portal Allin, o homem influenciou negativamente as receitas da indústria, uma vez que se mudou de um dos casinos da Melco para um dos espaços da operadora Wynn e começou a ganhar. O portal não divulga os ganhos deste milionário, mas aponta que mesmo com o mês positivo as perdas são muito superiores aos lucros.
8 eventos
2.7.2020 quinta-feira
EXPOSIÇÃO CULTURA EM HOMENAGEM AO COMBATE À COVID-19 EM MACAU
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partir do dia 9 de Julho, o Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau vai acolher a iniciativa “Todos Juntos no Combate à Epidemia com a Cultura - Exposição de Arte de Macau”. Segundo uma nota divulgada ontem pelo Instituto Cultural (IC) a ideia da exposição, onde serão exibidas mais de 100 obras de pintura, caligrafia e cartazes, passa por “prestar tributo ao pessoal da linha da frente, que se dedica plenamente à luta contra a epidemia”. Ao mesmo tempo, “transmitindo a todos os quadrantes da sociedade uma energia positiva da verdade, da bondade e da beleza”, as obras
da exposição têm como objectivo documentar “imagens e momentos históricos da luta contra a pandemia, com solidariedade e resistência, em toda a cidade”. A exposição, co-organizado pelo IC e o Gabinete de Ligação do Governo Popular Central na Região Administrativa Especial de Macau, inaugura no dia 8 de Julho e estará aberta ao público no Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau entre 9 e 18 de Julho. O evento estará também disponível online simultaneamente para os visitantes nacionais e estrangeiros com obras não expostas in loco.
ARTE TRÍPTICO DE FRANCIS BACON VENDIDO POR 84,6 MILHÕES DE DÓLARES EM LEILÃO DA SOTHEBY’S
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M tríptico do artista irlandês Francis Bacon foi vendido por 84,6 milhões de dólares num leilão realizado na segunda-feira pela Sotheby’s, em Londres, mas sem presença de público. O tríptico, inspirado no clássico grego “Oresteia”, as tragédias de Ésquilo reunidas na chamada “Trilogia de Orestes”, é um dos 28 de grande formato pintados por Bacon entre 1962 e 1991, e foi vendido num leilão considerado “histórico” pelo presidente da Sotheby’s Europa, Oliver Barker, que apresentou o evento. Desde 1984 na posse do coleccionador norueguês Hans Rasmus Astrup, a obra foi à praça com uma estimativa entre 60 milhões e os 80 milhões de dólares. Foi vendida após cerca de dez minutos de disputa entre um comprador da China e um anónimo, que acabou por comprá-la por aquele valor.
Outro tríptico de Bacon, “Três estudos de Lucian Freud”, tinha sido vendido por 142,4 milhões de dólares em 2013, num leilão da Christie’s, em Nova Iorque, colocando-o na lista dos 10 quadros mais caros vendidos em leilão. O balanço deste leilão da Sotheby’s ascendeu a 363,2 milhões de dólares, incluindo a colecção de arte da norte-americana Ginny Williamns, vendida por 65,5 milhões de dólares. Apesar de a pandemia covid-19 estar a impedir as vendas presenciais, os leilões continuam também pela via ‘online’, a atrair o interesse dos coleccionadores. A Sotheby´s anunciou ter vendido ‘online’ um desenho de Jean-Michel Basquiat, “Untitled (Head)”, por 15,2 milhões de dólares, e um quadro de Joan Mitchell, “Garden Party”, por 7,9 milhões de dólares.
Identidad TEATRO “A NUMBER” SOBE AO PALCO ENTRE 10 E 12 DE JULHO
A adaptação da obra da britânica Caryl Churchill se do Antigo Tribunal, pela companhia Dirks Theatre. clonagem serve de pretexto para abordar a condição dados da era digital. As quatro personagens de “A N
A
“
Number” estará em cena entre os dias 10 e 12 de Julho no Teatro Caixa Preta, no Edifício do Antigo Tribunal. A peça sobe ao palco pelas mãos da companhia de teatro local, Dirks Theatre, e conta com as interpretações de Ip Ka Man e Wong Pak Hou para dar vida às quatro personagens da obra. Abordando a temática da identidade e da clonagem humana no advento da Era digital, a obra de
Caryl Churchill foi a escolhida para ser adaptada pelo grupo. Ao HM os encenadores Ip Ka Man, que também entra na peça como actor, e Wu May Bo apontaram as razões dessa decisão. “A Caryl Churchill é uma das dramaturgas mais influentes desde a década de 80. Com a sua perspectiva revolucionária é capaz de reinventar o teatro vezes sem conta através do uso da linguagem, da forma e da sua preocupação com a condição humana”.
Vincando que um dos pontos de interesse da performance passa pela interpretação de quatro personagens apenas por dois actores, facto que os encenadores consideram “muito interessante e desafiante para os artistas”, o grupo aponta ainda a importância de abordar o tema da identidade, especialmente num mundo globalizado e digitalizado, em que “os nossos pensamentos são muitas vezes moldados de forma inconsciente por dados, conteúdos e até publicidade”. “A resposta à
eventos 9
quinta-feira 2.7.2020
FESTIVAL FRINGE IC RECEBE PROPOSTAS ATÉ FINAL DO MÊS
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des ocas
erá levada à cena durante três dias no Edifício . Com o tema da identidade em pano de fundo, a o humana perante as incertezas e a avalanche de Number” estão a cargo de dois actores pergunta ‘quem sou eu’ parece estar a tornar-se mais complicada, acrescentam Ip Ka Man e Wu May Bo. Outras questões para as quais a peça quer alertar o público, passam pela tendência constante de categorizar as pessoas pelo valor que têm para os outros e para a sociedade, ao invés dessa definição ser tomada a partir do contacto com os sentimentos e o rumo das suas vida. “Não deveria bastar sermos apenas nós próprios? Conhecemo-nos realmente a nós próprios?”,
questionaram os responsáveis pela encenação. Ao HM, Ip Ka Man e Wu May Bo partilharam ainda as dificuldades
“A Caryl Churchill é uma das dramaturgas mais influentes desde a década de 80” IP KA MAN E WU MAY BO ENCENADORES DA DIRKS THEATRE
que passaram para encontrar actores de meia idade em Macau, sobretudo quando a obra explora as diferenças ao nível das tomadas de decisão de acordo com a experiência de vida de cada um, neste caso de um pai e dos filhos.
TEMPOS DIFÍCEIS
Questionada sobre os desafios encontrados durante a produção de um espectáculo em plena crise pandémica, a companhia refere que as incertezas encontradas têm sido
inúmeras e que ainda persistem dúvidas sobre a forma de execução do espectáculo. “A nossa equipa de produção está a trabalhar arduamente para criar planos alternativos relativos à disposição do público, bilheteira, marketing e questões de higiene. No entanto, temos visto nestas dificuldades uma oportunidade para crescer (…) e estamos preparados para dar o nosso melhor, de forma a assegurar a qualidade do espectáculo”, apontam Ip Ka Man e Wu May Bo. Outro dos constrangimentos, que resultou da situação provocada pelo novo tipo de coronavírus, prende-se com as restrições financeiras, situação que forçou a Dirks Theatre a optar por não incluir legendagem em inglês ou português durante o espectáculo. “Era algo que queríamos concretizar (…) mas infelizmente, devido ao coronavírus, estamos a enfrentar circunstâncias rígidas, tanto a nível de design, como de orçamento. Por isso tivemos de deixar cair alguns dos nossos planos originais, como a legendagem. Pedimos desculpa por isso”, explicam os encenadores. Andreia Sofia Silva e Pedro Arede info@hojemacau.com.mo
Instituto Cultural (IC) está a aceitar propostas de programas e locais de espectáculo para a próxima edição do Festival Fringe, que acontece em Janeiro do próximo ano. Segundo um comunicado ontem divulgado, os projectos são aceites até às 17h do dia 31 de Julho. Deverão ser entregues propostas que difundam um “espírito criativo, inovador e aventureiro”, devendo os artistas criar “obras que evidenciem as características e os elementos culturais da cidade a partir de múltiplas perspectivas”. As candidaturas estão abertas a todos os artistas de Macau e associações culturais e artísticas sem fins lucrativos registadas na Direcção dos Serviços de Identificação. Serão recebidas propostas para qualquer tipo de arte cénica ou actividade artística, incluindo obras locais, obras do exterior ou obras de colaborações inter-regionais. O IC promete dar primazia às produções locais, produções artísticas num local específico e produções ligadas à cultura e ao contexto de desenvolvimento dos bairros comunitários locais. Os interessados poderão também enviar propostas para o projecto “Créme de la Fringe”, no âmbito do qual os participantes devem organizar um “mini-festival” associados a um bairro comunitário ou a uma comunidade, ou a um tema específico à sua escolha. Com este programa o IC “espera atrair a participação de um maior número de produtores e curadores locais e incentivar produções ligadas à cultura e ao contexto de desenvolvimento dos bairros comunitários locais”. O IC adianta ainda que as produções locais e inter-regionais do 20.º Festival Fringe da Cidade de Macau “com maior potencial” terão a possibilidade de ser apresentadas no âmbito do XXXII Festival de Artes de Macau.
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2.7.2020 quinta-feira
HONG KONG POLÍCIA DE HONG KONG FAZ 180 DETENÇÕES DURANTE MANIFESTAÇÕES
Primeiras infracções No dia em que se assinalaram os 23 anos da transferência de soberania de Hong Kong para a China, milhares de manifestantes saíram à rua em protesto contra a nova Lei de Segurança nacional. A polícia usou canhões de água para dispersar os manifestantes e fez 180 detenções, sete das quais com acusações de desrespeito da nova lei
A
polícia de Hong Kong deteve ontem 180 pessoas, entre as quais sete acusadas de transgressão à nova lei da segurança nacional, durante manifestações de protesto que juntaram milhares de pessoas. As manifestações na Região Administrativa Especial de Hong Kong assinalaram os 23 anos da transferência de soberania (01 de julho de 1997) desafiando a nova legislação de segurança nacional aprovada terça-feira pela Assembleia Nacional Popular, em Pequim. Os manifestantes foram detidos “por participação em concentrações não autorizadas, perturbação da ordem pública, posse de ‘armas perigosas’, entre outras infracções”, referiu a polícia do território através da rede social Twitter. De acordo com a mesma mensagem, sete pessoas foram detidas por “alegadamente” terem violado a lei de segurança nacional. Poucas horas antes desta mensagem, a polícia comunicava a primeira detenção por violação da nova legislação que já foi promulgada pelo chefe de Estado Xi Jinping. O primeiro detido transportava um cartaz com a palavra de ordem “independência para Hong Kong” escrita em
COVID-19 ENTRADA DE CIDADÃOS EUROPEUS NO PAÍS AINDA SEM DATA
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China, que consta de modo condicional na lista de países terceiros cujos cidadãos podem entrar novamente no espaço comunitário após proibição imposta devido à covid-19, prometeu ontem restabelecer a entrada de cidadãos europeus, mas sem avançar uma data. Os 27 Estados-membros da União Europeia (UE) anunciaram na terça-feira que iam reabrir as fronteiras externas, desde ontem, a 15 países terceiros cuja situação epidemiológica da doença covid-19 foi considerada satisfatória. A China figura nessa lista de países, mas sob uma condição: Pequim terá de garantir a reciprocidade e permitir a entrada de cidadãos europeus em solo chinês além das viagens classificadas como “essenciais”. Questionado ontem sobre as intenções de
Pequim em relação a esta matéria, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian, deu uma resposta vaga. “Desde que possamos garantir a segurança contra a epidemia, a China restabelecerá gradualmente o fluxo de pessoas entre a China e a UE de forma ordenada e por meios seguros”, respondeu o porta-voz, durante uma conferência de imprensa. A par da China, a lista divulgada na terça-feira pela UE integra outros 14 países: Argélia, Austrália, Canadá, Geórgia, Japão, Montenegro, Marrocos, Nova Zelândia, Ruanda, Sérvia, Coreia do Sul, Tailândia, Tunísia e Uruguai. Países como a Rússia, Estados Unidos e Brasil estão excluídos da lista, que será revista a cada 15 dias.
GRIPE SUÍNA MINIMIZADO PERIGO DE NOVA PANDEMIA chinês e inglês. Ontem, um forte dispositivo policial foi projectado nas ruas da cidade na mesma altura em que se organizavam as tradicionais manifestações que marcam todos os anos a data da transferência da ex-colónia britânica para a China. Pela primeira vez os desfiles e manifestações de 1 de Julho foram proibidos pelas autoridades. Para a oposição política de Hong Kong a nova legislação constitui um sério retrocesso em matéria de direitos, liberdades e garantias. Durante as manifestações a polícia de Hong Kong dispersou com jactos de água
os grupos de manifestantes reunidos em Causeway Bay, no centro da cidade.
MAIS FORTES
Entretanto, o governo da República Popular da China disse que a lei de segurança nacional de Hong Kong, “fortalece a fórmula ‘um país, dois sistemas’”, além de garantir “prosperidade e estabilidade” na região. “A legislação é a segunda mais importante depois da Lei Básica [a miniconstituição da cidade], e é um marco na política do Governo central em relação a Hong Kong”, apontou o vice-director do Gabinete de
Ligação de Pequim em Hong Kong, Zhang Xiaoming. Zhang definiu o texto como uma “abordagem firme e flexível da situação na cidade” considerando “normal que as pessoas em Hong Kong tenham dúvidas” sobre a lei, mas enfatizando que a lei “vai fortalecer claramente” o modelo de governação ‘um país, dois sistemas’, que garante a autonomia da cidade em relação à China continental. Da mesma forma, o Governo de Macau manifestou “forte apoio à legislação” aprovada por Pequim para Hong Kong, elogiando a “defesa resoluta da segurança nacional”.
Imprensa Pequim retalia contra meios de comunicação dos EUA O governo chinês anunciou ontem represálias contra quatro órgãos de comunicação norteamericanos que operam no país, depois de medidas semelhantes tomadas pelos Estados Unidos contra a imprensa estatal chinesa. As agências Associated Press (AP) e United Press International (UPI), a televisão CBS e rádio NPR vão ter que fornecer, dentro de sete dias, a lista dos seus funcionários, imóveis e contabilidade na China, anunciou
Zhao Lijian, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China. Trata-se de uma “retaliação muito necessária à repressão irracional [exercida pelo Governo dos EUA] contra a imprensa chinesa”, justificou. Em Junho passado, pela segunda vez, os EUA designaram meios de comunicação chineses como entidades estrangeiras, exigindo que se submetam às regras e regulamentos que cobrem as missões diplomáticas.
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S autoridades chinesas minimizaram ontem o perigo de uma nova pandemia a partir de uma estirpe do vírus da gripe suína descoberta no país por investigadores que o relataram num estudo publicado na segunda-feira na revista científica norte-americana PNAS. Os vírus, detectados por cientistas de universidades chinesas e do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças da China, foram designados G4, descendem geneticamente da estirpe H1N1, e possuem “todas as características essenciais, mostrando alta adaptabilidade para contaminar seres humanos”, tendo por isso potencial para provocar uma nova pandemia como a que o mundo enfrenta actualmente.
Um porta-voz da diplomacia chinesa, Zhao Lijian, afirmou que “os especialistas concluíram que o tamanho da amostra citada no relatório é pequeno e não representativo”, garantindo que o país continuará a “monitorizar a doença, dará o alerta se for necessário e tratá-la-á a tempo”. Entre 2011 e 2018, os cientistas recolheram 30.000 amostras em porcos mantidos em matadouros nas 10 províncias chinesas e num hospital veterinário e conseguiram isolar 179 vírus da gripe suína, concluindo que 10,4 por cento das pessoas que estiveram em contacto com os animais foram infectadas. Contudo, ainda não têm provas de que, para já, os vírus G4 tenham capacidade de se transmitirem de humano para humano.
quinta-feira 2.7.2020
Na minha terra, não há terra, há ruas
diario de prospero António Cabrita
No outro lado do espelho
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notícia dos últimos dias, nos jornais e na televisão. O título é invariavel: Em Maputo, bebé nasce sem ânus. Irresistível chamada; lida a notícia vemos que há uma imprecisão na parangona, a desembocadura do intestino existe, houve apenas um desvio de rumo e o dito cujo “floresceu” no abdómen. Não consegui apurar onde, excita-me a ideia de que se localize no umbigo, seria de uma ironia insolúvel, mas o que interessa ressaltar é a dificuldade de nomear o que é. A coisa até me diverte, embora às vezes me enfureça. Pergunto ao gabiru: Brada, a loja das fotocópias? Pai, está a ver o restaurante chinês, ali na esquina? Restaurante chinês? — Eu fartinho de saber que é um restaurante português e ele, que trabalha a vinte metros devia saber igualmente. Mas repete — O restaurante chinês, da esquina… Para quê contrariá-lo? Sim, pai, a tabacaria é ao lado… Encaminho-me na direcção do dito restaurante, chinês do Minho. Na estante atrás do balcão, na tabacaria, dispõem-se várias caixas com canetas, de variegadas marcas, feitio e cor. Contudo, a prateleira só exibe um preço marcado, sob a caixa que arruma as esferográficas vermelhas. Gosto das vermelhas e do preço, 15 meticais, mas prefiro outras que estão ao lado. Pego em duas e nas fotocópias e proponho-me pagar. E diz-me a dona: São 395 meticais. Engasgo-me: Como, se as fotocópias são 15 e as canetas 30? Não…- Esclarece pronta — As de 15, são só as vermelhas… estas, são 190 cada… - Ah, bom não se adivinhava. Dado que só tem marcado um preço por prateleira… - É para facilitar... Não facilita e gaguejo, face àquela lógica invertida ou manca de rigor; envergonhado: - Nesse caso levo uma vermelha… Esta característica de uma outra orientação na ordem das coisas também às vezes a encontro em casa. Pede-me a minha mulher: - … se vais passar por lá, preciso que me troques cem dólares na tabacaria. - Na tabacaria? - Indago, conhecendo a “peça”. - Na tabacaria! – Confirma - A que fica ao frente ao BCI. Está claro? - Está claríssimo! Meia hora depois a situação está enevoada. Para trás e para a frente no rasto
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tabacaria. Enfim, troco o dinheiro em frente ao BCI, numa perfumaria. Para que confio eu em ti, se há vinte anos que sei, quando dizes Está na gaveta direita, está na gaveta esquerda… –, queixo-me em casa. Os “tiques” de cada casal. Não há, em Maputo, uma localização que pergunte na rua que não conheça percalços, uma probabilidade altíssima da indicação estar errada. Fiz um livro de entrevistas com uma figura interessante, um médico que já foi ministro da saúde e director do Hospital Central de Maputo e com muitas histórias para contar. A primeira vez que fui a casa dele, orientararam-me, com solenidade:
- Na rua X, mesmo, mesmo, em frente à esquadra da polícia. Lá estive a rabiar, eram 80 metros à esquerda. Pior se pergunto a um “cinzentinho” (como popularmente se chama aos polícias), com toda a convicção do mundo manda-me para os antípodas do pretendido. Toda a gente “sabe” e não confessa que não sabe… Pelo motivo mais simpaticamente estulto: considera-se má educação não corresponder a uma solicitação, sendo preferível dar uma indicação errada do que não a dar. Uma vez fui perguntando por um endereço em Nampula e quase cheguei a Quelimane.
No aeroporto de Nampula nenhuma loja correspondia ao que se anunciava no lettring. Se estava Agência de Viagens vendia-se artesanato, se dizia Boutique de Senhora vendiam-se embalagens de comida para cães, etc. Bom, em Nampula, a minha preferida é a Livraria Central que tem motos na montra e, lá dentro, pneus e peças para tractor. No Gurué a única livraria da cidade vende todo o tipo de colchões, fronhas e lençóis
Corolariamente, no aeroporto de Nampula nenhuma loja correspondia ao que se anunciava no lettring. Se estava Agência de Viagens vendia-se artesanato, se dizia Boutique de Senhora vendiam-se embalagens de comida para cães, etc. Bom, em Nampula, a minha preferida é a Livraria Central que tem motos na montra e, lá dentro, pneus e peças para tractor. No Gurué a única livraria da cidade vende todo o tipo de colchões, fronhas e lençóis. Livros, talvez, em sonhos. Estas inversões lógicas estendem-se à cronologia e à noção da própria idade. Numa entrevista, perguntámos a uma miúda a idade e respondeu para a câmara, muito serena: - Tenho noventa e nove anos. Estivémos dez minutos a explicar-lhe por a+b que isso era impossível, ela contou então que nascera num ano que em que houvera muita produção de melancia. Voltámos a gravar o depoimento, ela, muito espontânea apresentou-se e depois concluiu: - … tenho dezanove anos… assim serve? De outra vez, em Quelimane, onde dei aulas, numa esplanada, uma miúda que dizia ter dezanove anos (parecia ter quinze) meteu-se comigo com intenções peregrinas. Para a dissuadir perguntei-lhe: - Sabes que idade é que eu tenho? Ela olhou-me fixamente e depois atirou: - Tens oitenta e oito, é isso! Numa gargalhada, contrapuz o argumento final: num homem de oitenta e oito o guindaste está avariado. Popularmente, em Maputo, os verbos significam o seu oposto: trazer por levar, ir por vir, buscar por levar, emprestar por pedir emprestado, etc. Conto isto porque hoje encontrei uma citação de Evelyn Baring, que governou o Egipto por mandato da coroa britânica entre 1883 e 1907 e que a dado momento da sua volumosa história do Egipto escreve: A falta de precisão, que degenera facilmente em falsidade, é, de facto, a principal característica do espírito oriental (…) o espírito oriental, tal como as suas ruas pitorescas tem uma absoluta falta de simetria. É uma generalização absolutamente abusiva, que convém relativizar, embora — vá lá saber-se como funcionam os meandros do espírito — me desperte uma hipótese ontológica atordoadora, a de existir uma simetria psíquica planetária e oculta: Eles, os que vivem deste lado oriental (e digo eles, porque é diferente cá morar momentaneamente ou pertencer-se) vivem afinal no seu lado certo do planeta, a nossa cabeça, como a da Alice, é que ainda está no outro lado do espelho.
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retrovisor Luís Carmelo
2.7.2020 quinta-feira
A descaracterização da nossa Casablanca
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A década que precedeu a pandemia, a massificação do turismo tornou-se num tema que agora parece esquecido. A memória tem cartilagens frágeis. Foram inúmeras as crónicas que evocaram a venezilândia irrespirável em que se estavam a transformar as cidades portuguesas com as mochilas a militarizarem o nomadismo insaciado dos alojamentos locais. Este cansaço, de que o eléctrico 28 a rebentar pelas costuras foi um símbolo vivo em Lisboa, teve os seus antecedentes. Embora a atmosfera fosse de fuga dramática e não de um lúdico à procura de sentido, o início da segunda grande guerra mundial fez de Lisboa, como escreveu Alfred Dölin em ‘Viagem ao Destino’, “uma grande fábrica de produção de barulho”*. Alves Redol, no seu romance ‘O Cavalo Espantado’ (1960), deu conta das grande novidades que a guerra abruptamente trouxera a Lisboa: “O relógio do Carmo insinuava as horas. Foi então, aí por 1939, que do outro lado da praça, e a pedido dos estrangeiros sem sol para os aquecer na vida, se puseram cadeiras no passeio” (…) “E as estrangeiras sentaram-se por ali” (…) “atando o tempo de ansiedade naquele trampolim que tanto podia levá-las mais depressa ao lar abandonado, como atirá-las para um exílio em terras americanas” (…) “Ficou ali uma montra de pernas e de coxas para todas as gulas lisboetas, sem pudores recalcados”. Para além do aeroporto marítimo de Cabo Ruivo, era a Sintra, no aeródromo da Granja do Marquês, que muitos dos refugiados chegavam. Josephine Baker reportou essas primeiras chegadas, numa das várias vezes que aterrou em Portugal: “Quando se abriu a carlinga estávamos em Portugal, em Sintra. Estava bom tempo. As pessoas sorriam. Já não era um cenário de guerra”. Só em Outubro de 1942, com a abertura do aeroporto da Portela, o movimento aéreo seria transferido de vez para Lisboa. Entre o verão de 1940 e o fim do outono do ano seguinte, Nova Iorque era o grande objectivo. Não para todos, é claro. Mas grande parte das vanguardas artísticas da época não se eximiu à peregrinação. Antes de embarcar em Lisboa no transatlântico “Excambion”, na companhia de Salvador Dalí e de René Clair, Man Ray, tal como foi registado por Maria João Castro (num artigo que merece ser lido do princípio ao fim*), “passou o tempo por entre os cafés, os museus, a nadar nas piscinas e a ouvir música em night-clubs”. Antoine de Saint-Exupéry, que esteva alojado no
Hotel Atlântico do Estoril, deu duas conferências e depois partiu lado a lado com Jean Renoir que chegara a Lisboa vindo do norte de África. Peggy Guggenheim, Max Ernst e respectivas famílias passaram igualmente algumas semanas em Lisboa, enquanto esperavam por lu-
Depois da pandemia, as venezilândias regressarão e com elas regressará também o tema recorrente da “descaracterização”. Com toda a certeza, sem a “bóia de salvação” que Alfred Döblin tanto sublinhou no seu tempo. A verdade é que só se ama em Casablanca uma única vez na vida
gar no Clipper. A 13 de Julho de 1941 voaram todos para a América. Dois meses antes, tinha chegado a Lisboa Marc Chagall oriundo de França e fugido à gestapo. O impacto destas travessias na vida local, que, como se sabe, iam muito para além dos artistas do século, mereceram eco internacional. Numa reportagem escrita em 1940 (‘In Lissabon gestrandet’), Erika Mann, filha de Thomas Mann, deixava claro que Lisboa era “o único porto livre e neutral da Europa, tendo-se transformado no ponto de encontro e na sala de espera de todos aqueles que fogem de Hitler. De facto, não foi nem uma exposição universal, nem um festival o que atraiu tantas pessoas para estas ruas. São exilados, apátridas, aqueles que aqui se concentram. O seu número oscila, mas nunca deixam de ser milhares: sem bagagem, sem dinheiro, muitas vezes sem papéis, é assim que os refugiados aqui chegam. E que coisa podem fazer? Apenas uma: ficar cá enquanto tiverem autorização para isso. Apenas esperar. E por quê? Pelo navio salvador que os levará daqui, para qualquer lugar, desde que seja longe, o mais longe possível do inimi-
go, que lhes ia no encalço para onde quer que fossem”. Três dias depois do ataque a Pearl Harbour, a 10 de Dezembro de 1941, a American Export Lines cancelou a partida de um navio pronto a deixar o porto de Nova Iorque com destino a Lisboa e anunciou que todas as futuras viagens estavam canceladas. Era a guerra a chegar também aos EUA e o início do fim da grande e tantas vezes trágica transumância. Talvez o registo mais carregado de nostalgia desta breve irrupção pertença a Antoine de Saint-Exupéry, enigmaticamente fascinado com a “Exposição do Mundo Português”, que se realizara entre Junho e Dezembro de 1940, como se o mundo estivesse a viver um momento de júbilo e não de catástrofe. Em ‘Lettre à un Otage’, livro escrito em 1942 já durante o seu exílio no Estados Unidos, o autor de O Principezinho afirmava que Lisboa lhe aparecera “como uma espécie de paraíso claro e triste” (…) “Lisboa, que edificara a mais deslumbrante exposição que já houve no Mundo, sorria com um sorriso um tanto pálido” (…) “Lisboa em festa desafiava a Europa. Eu errava, pois, todas as noites, com melancolia, por entre os êxitos daquela exposição de um gosto extremo, em que tudo roçava a perfeição. E achava Lisboa, sob o seu sorriso, mais triste que as minhas cidades apagadas”*. Essa tristeza crespuscular manteve-se viva e aos olhos de todos quase até ao fim do século XX. O que a alterou foi a abertura de portas, a liberdade e os muitos covis e delírios que têm atado aos velhos altares a tecnologia, a globalização, as novas mobilidades e, por vezes, algum dinheiro fácil. Depois da pandemia, as venezilândias regressarão e com elas regressará também o tema recorrente da “descaracterização”. Com toda a certeza, sem a “bóia de salvação” que Alfred Döblin tanto sublinhou no seu tempo. A verdade é que só se ama em Casablanca uma única vez na vida.
*Castro, Maria João. ‘Por entre a bruma do cais da Europa: ecos estrangeiros na Lisboa da segunda grande guerra mundial’ em Colóquio ‘Arte & Discursos: dos factos aos relatos construídos por estrangeiros acerca de Portugal’, FCSH-Nova, Lisboa, 2014. Disponível em http://www.fcsh.unl.pt/artravel/ pdf/brumadocais.pdf [Consult. 18/06/2020]. *Döblin, Alfred. ‘Viagem ao Destino’, Asa, Lisboa, 1997. *Saint-Exupéry, Antoine de. ‘Carta a um Refém’, Relógio D’Água, Lisboa, 2015.
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28 Cineteatro SALA 1
A Alemanha, a Áustria e a República Checa mantêm fechadas as fronteiras com países incluídos na lista de 15 Estados com os quais a União Europeia
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Um filme de: Tod Robinson Com: Sebastian Stan, William Hurt, Christopher Plummer 14.30, 16.45, 19.00, 21.30 SALA 2
# LAMHERE [B]
FUKUSHIMA 50 [B]
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EURO
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BAHT
(UE) decidiu na terça-feira levantar restrições. A Alemanha anunciou ontem o alívio das restrições aos viajantes de 11 países – Austrália, Canadá, China, Coreia
0.25
YUAN
1.12
doSul,Geórgia,Japão,Montenegro,Nova Zelândia, Tailândia, Tunísia e Uruguai -, desde que também permitam a entrada de alemães.
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THE WIND RISES | HAYAO MIYAZAKI | 2013
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FALADO EM JAPONÊS LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Setsuro Wakamatsu Com: Koichi Sato, Ken Watanabe 16.45, 19.00 SALA 3
BEYOND THE DREAM [C] Um filme de: Chow Kwun-wai Com: Terence Lau, Cecilia Choi 14.30, 17.00, 19.15
INHERITANCE [C]
Um filme de: Vaughn Stein Com: Lily Collins, Simon Pegg, Connie Nielsen 21.30
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C I N E M A
THE LAST FULL MEASURE [C]
FALADO EM FRANCÊS LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Eric Lartigau Com: Alain Chabat,, Doona Bae, Blanche Gardin 14.30, 19.30
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dial o Japão procura desenvolver um avião militar, tipo caça, para o exército. Impedido de concretizar o sonho de criança de ser piloto de aviões devido a problemas de visão, Jiro Horikoshi acaba por dedicar-se à engenharia aeronática. Já a trabalhar na Mitsubishi e inspirado desde sempre pela beleza dos modelos desenvolvidos pelo italiano Giovanni Caproni, Jiro é imcumbido da tarefa criar o caça A5M, que viria a ser mais utilizado durante o conflito mundial. Dividido entre a paixão pela aviação35 e o dever bélico que ela implica Jiro vê-se constamente entregue a decisões difíceis, que resultam do conflito interno que existe dentro de si. The Wind Rises é baseado numa história verídica e foi executado pelo afamado Estúdio Ghibli. Pedro Arede
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14 opinião
2.7.2020 quinta-feira
MANUEL DE ALMEIDA (texto e ilustração)
N
A ditadura dos números
ÚMEROS, percentagens, estatísticas “usa-se a estatística como um bêbado usa os postos de iluminação – mais para se agarrar do que para ter luz”, na opinião de Andrew Lang (1844 – 1912)”. A mim quando me querem enganar apresentam-me estatísticas, percentagens, números. Valores, preços, índices, inflação, queda, compra, venda, dívida, mercados, cifras, bolsa, Pib, é a linguagem corriqueira do dia a dia – usa-se e deita-se fora – é descartável. Mas o que não me dão a conhecer são os números das empresas públicas, os números de quanto recebem – institutos, associações, academias, organizações... -, os que realmente me interessam, assim já não seria tão facilmente manipulado/enganado. Todos aqueles que recebem dinheiro do Governo/Fundação Macau deveriam ser obrigados a publicar anualmente o seu relatório de contas – transparência. O enquadramento económico em que vivemos valoriza mais os números que as palavras. Tudo o que desejamos e conhecemos é mediado ou condicionado pelo dinheiro – é o quotidiano da economia/ gestão. Deixámo-nos guetizar demasiado pelos números – existem mas não são nossos Amigos. Os números serão servos, não os senhores, num futuro não muito distante. É o caminho da História. Eu sei, escusam de me lembrar, quando se dão os primeiros passos na escola, começa-se pelos números, vindo depois a leitura, mas isso é uma degeneração da escola. Depois, existe o discurso económino dominante, que “arranjou uma novilíngua orwelliana recheada de anglicismos que afastam o cidadão do contéudo do discurso – yields, credit default swaps, hedge, bonds, etc.” – o que numa sociedade de grande iliteracia económica, mantém-nos ignorantes, aterrorizados, eu diria que, ameaçados. É um tsunami. Nesta sociedade de soberba e de números, o futuro será violento. Um capitalismo abstracto e devorador (existe o pecado da gula). O mundo tem de girar em sentido contrário - 1% da polulação detém a riqueza mundial. Mas o filme que se segue é de terror. A poluição vai aumentar de maneira desenfreada – as metas do Protocolo de Paris esqueçam - , vai-se procurar recuperar de maneira inconsciente o tempo perdido, nada
será programado, nada será estudado. A mudança devia ser feita de forma gradual, global e planeada. Nenhum país, nenhum governo, tomará medidas estruturantes da sociedade
(e eram fáceis ) – será o cada um por si e salve-se quem puder- será um caos. Já era, agora será pior, o mundo vai assentar só no pressuposto dos valores económicos e na pro-
Deixámo-nos guetizar demasiado pelos números – existem mas não são nossos Amigos. Os números serão servos, não os senhores, num futuro não muito distante. É o caminho da História
cura incessante pelo lucro, vão – sem dó nem piedade -, substituir os valores humanistas – pelo poder da irracionalidade. Hoje, na dúdiva entre vida e dinheiro, sobrepõe-se o dinheiro. Não há objectivos públicos, há sim interesses económicos. O Mundo passou a ser matéria-prima – é desolador. A selva já era grande – em Macau então, não há palavras -, ter ou manter um trabalho vai ter um grande custo - frustação, ansiedade, irracionalidade, perseguição, solidão -, já que o trabalho não respeita, nem nunca mais respeitará a fragilidade da vida. É como diz a doutrina social da Igreja, “o trabalho é para o homem e não o homem (apenas) para o trabalho” – uma das medidas estruturantes da sociedade passaria por corrigir, emendar, aliviar, algumas medidas das actuais normas de trabalho – algumas normas actuais, ainda são reguladas como se estivéssemos nos princípios do séc. XVIII - e, lembrem-se das palavras de Michel Foucault, quando ele se referia ao século citado: “A vida não existe. Existem apenas seres vivos”, os “senhores mandam, os súbditos obedecem”. O que agora nos aconteceu – pandemia - é apenas uma pequena parte do assustador mundo que temos pela frente. As quatro grandes ameaças do século XXI – segundo Stephen Hawking (1942 – 2018), “por ordem de importância: a inteligência artificial, uma guerra nuclear, as alterações climáticas e a questão demográfica”. É altura de todas as Nações do mundo se unirem em objectivos comuns. O Mundo requer um novo olhar, um “misto de pragmatismo, flexibilidade e solidariedade”. Há deveres, não há direitos – a desumanização da vida! “Escrever é também não falar. É calar-se. É gritar sem ruído”. Marguerite Duras (1914 – 1996)
opinião 15
quinta-feira 2.7.2020
a propósito de
OLAVO RASQUINHO*
O
O Tempo e o Clima no cinema
tempo e o clima são temas que permitem aos realizadores cinematográficos obter efeitos estéticos que enriquecem as histórias que pretendem narrar. Deixando de parte os documentários didáticos e científicos, é interessante relembrar alguns filmes que envolvem estes temas. É o caso de “O Feiticeiro de Oz” (de Victor Fleming-1939), em que a personagem principal, desempenhada por Judy Garland, é arrastada por um tornado, juntamente com a sua casa, para o país de Oz. O filme “Twister” (Jan de Bont, 1996) narra as dificuldades que cientistas enfrentam para colocar equipamentos no interior de tornados a fim de quantificar as variáveis meteorológicas, entre elas o vento. Na realidade, os anemómetros têm conseguido resistir aos ventos de furacões e tufões, no entanto, ainda não foi possível medir o vento associado aos tornados, pelo simples facto de que nenhum instrumento consegue resistir a ventos tão intensos. Apenas se consegue estimar que os ventos podem atingir valores superiores a 500 km/h. Na escala de intensidade dos tornados, adotada internacionalmente, a intensidade F-5 corresponde a ventos entre 117 e 142 m/s, ou seja, entre 421 e 511 km/h, o suficiente para arrancar uma casa das suas fundações, ou arrastar camiões pelos ares. Os realizadores do “Feiticeiro de Oz” e do “Twister” bem sabiam disso. Ficou na história do cinema, pela espetacularidade dos efeitos especiais, o filme “Hurricane” (John Ford – 1937), premiado com três óscares, em que uma ilha da Polinésia Francesa é devastada pela maré de tempestade e ventos associados a um ciclone tropical. Os tornados são considerados os fenómenos meteorológicos mais violentos. Tal como os ciclones tropicais (tufões, furacões ou ciclones), são caracterizados pelo deslocamento do ar em espiral. A grande diferença consiste principalmente nas suas dimensões.
Exemplo de um ciclone tropical (Super-tufão Maria, 9 de julho 2018)
Enquanto que os tornados têm um diâmetro de algumas dezenas ou centenas de metros, o diâmetro dos ciclones tropicais pode atingir milhares de quilómetros. As tempestades de areia são também fenómenos meteorológicos que, pela sua espetacularidade, são frequentemente aproveitados no cinema. Assim, em filmes como a “A Múmia” (Stephen Sommers, 1999), “Missão Impossível: Operação Fantasma” (Brad Bird-2011) e “Mad Max-Estrada da Fúria” (George Miller, 2015), estas tempestades contribuem para dar maior dramaticidade às cenas. As tempestades de areia ocorrem em zonas desérticas e, em determinadas condições meteorológicas, podem transportar areia a grandes distâncias como, por exemplo, do deserto do Saara até às lhas Canárias, Cabo Verde, Mar das Caraíbas e sueste dos EUA.
Tempestade de areia em Cartum - Sudão
Exemplo de um tornado
Em “Um dia de Chuva em Nova Iorque” (Woody Allen, 2019) a forte precipitação que se abate sobre a cidade ajuda a criar um clima propício ao desenrolar do enredo. No filme “O Nevoeiro” (John Carpenter – 1980), o fenómeno meteorológico assim designado serve de pretexto para que fantasmas de marinheiros invadam uma pequena cidade americana do litoral. Considerado inicialmente com uma obra menor, hoje é um filme de culto e está incluído em 77º lugar na lista dos 100 melhores filmes de terror, elaborada pela revista cosmopolita Time Out.
O enredo do filme “The Day After Tomorrow” (Roland Emmerich, 2004) anda à volta de perturbações da corrente do Golfo. Sem esta corrente marítima, que transporta água relativamente quente das regiões subtropicais para latitudes mais altas, o clima dos EUA e do Canadá, assim como o da Europa ocidental, seria caracterizado por invernos muito mais rigorosos. Perante esta realidade o realizador especula sobre as consequências da interrupção desta corrente marítima, sucedendo-se, no filme, fenómenos meteorológicos de grande intensidade, mergulhando o planeta numa nova era do gelo. Em “Tempestade Perfeita” (Wolfgang Petersen – 2000), a narrativa é baseada num acontecimento real que ocorreu em outubro de 1991, que consistiu na junção de uma depressão extratropical associada a uma frente fria que se deslocava de oeste para leste, sobre a América do Norte, com o furacão Grace, já em fase de dissipação, vindo do Mar das Caraíbas. Do choque de massas de ar com características termodinâmicas completamente diferentes resultou uma situação meteorológica devastadora, com ventos muito fortes que provocaram ondas com cerca de 30 metros. O filme é baseado no naufrágio do navio pesqueiro Andrea Gail, causado por esta tempestade. Um outro filme tendo a meteorologia como motivo principal, considerado um clássico, é “O Feitiço do Tempo” (Groundhog Day, de Harold Ramis – 1993), com o conhecido ator Bill Murray, celebrizado pelos filmes “Ghostbusters” (1984) e “Lost in translation” (2003). Inicialmente não granjeou grande sucesso, no entanto, em 2016, foi classificado pelo United States National Film Registry como “cultural, histórica e esteticamente significativo”. O título, se fosse traduzido literalmente para português, seria “O Dia da Marmota”. O filme tem como motivo principal a previsão do tempo feita por uma marmota, roedor da família dos esquilos, característico das regiões montanhosas do hemisfério norte. Apesar da fraca qualidade do animal como meteorologista, a realidade é que se reúnem anualmente milhares de pessoas para participarem no Festival da
Marmota. O filme relata as desventuras de um meteorologista, Phil Connors, apresentador da informação meteorológica numa estação televisiva regional dos Estados unidos da América, que fora incumbido de fazer a reportagem sobre a cerimónia em que o roedor procede à previsão do tempo. De acordo com a tradição (que teve início na pequena cidade norte-americana Punxsutawney, na Pensilvânia, em 2 de fevereiro de1887), se a marmota, ao ser retirada da sua casota, vir a sua sombra e voltar a entrar, é prenúncio de que o tempo vai continuar invernoso nas próximas seis semanas. Caso contrário, será sinal que o tempo primaveril se fará sentir precocemente. Para não haver dúvidas, o presidente do Clube da Marmota simula interrogar o roedor, e anuncia ao público a previsão. O filme não informa se as previsões são acertadas ou não, mas uma breve pesquisa leva-nos a saber que a fama do roedor como meteorologista não é muito lisonjeira, pois o número de previsões certas não atinge 40%, inferior à probabilidade de acerto, no lançamento de uma moeda ao ar, se é cara ou coroa. O meteorologista Phil Connors, indivíduo arrogante, uma vez feita a reportagem do acontecimento, prepara-se para regressar ao estúdio de TV, mas é impedido por a uma forte tempestade de neve.
Cartaz publicitando o filme Groundhog Day
Tendo voltado ao hotel, parece ser vítima de um feitiço. O tempo parou, para ele, no dia 2 de fevereiro. As cenas repetem-se todos os dias, o que faz com que o arrogante Connors entre em desespero, incompreensivelmente preso numa longa pausa do tempo. O feitiço apenas desaparece quando o meteorologista passa a adotar um comportamento humilde. Muitos outros filmes com o tempo e o clima como temas principais se poderiam mencionar. No entanto, ficamos por aqui… *Meteorologista. O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
O homem é um animal que finge - e nunca é tão autêntico como quando interpreta um papel. William Hazlitt
PALAVRA DO DIA
quinta-feira 2.7.2020
CULTURA MUSEU DE ÁLVARO SIZA NA CHINA ABRE EM NOVEMBRO
O
primeiro museu de educação artística da China, desenhado pelo arquitecto português Álvaro Siza, deverá abrir portas ao público em Novembro, na província de Zhejiang. As obras de construção do Museu de Educação Artística Huamao já terminaram, anunciaram no domingo as autoridades de Yinzhou, um dos distritos da cidade de Ningbo, no leste da China. O museu, situado junto ao Lago Dongqian, tem uma área de mais de seis mil metros quadrados, revelou o Departamento de Informação do Comité Distrital de Yinzhou, do Partido Comunista Chinês. Num comunicado publicado no portal oficial, o Departamento sublinha que, em vez de escadas, o edifício, com uma altura de 25 metros, tem uma rampa sem barreiras a ligar os cinco andares e é iluminado apenas por janelas situadas no rés-do-chão e no topo do museu. O edifício, um projecto do grupo privado chinês Huamao Group, terá uma área interactiva onde os visitantes poderão experimentar escultura, impressão a três dimensões e copiar pinturas famosas. O Huamao já investiu mais de 2,5 mil milhões de yuan no projecto, que inclui um hotel, um centro de conferências e 22 estúdios para artistas, cinco dos quais foram também desenhados por Álvaro Siza Vieira. O presidente do Huamao Group, Xu Wanmao, refere no comunicado que decidiu convidar Álvaro Siza Vieira a liderar o projecto após visitar o Museu de Arte Contemporânea, que o arquitecto desenhou para a Fundação Serralves, no Porto. A primeira obra de Siza Vieira na China - um edifício de escritórios, desenhado em parceria com o arquitecto Carlos Castanheira - foi inaugurado em Agosto de 2014, no leste do país. Na altura, foi anunciada a adjudicação do projecto do museu ao arquitecto português.
Futebol Superliga chinesa arranca em 25 de julho
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A Superliga chinesa, a prova máxima do futebol na China, arranca em 25 de Julho, com mais de cinco meses de atraso, devido à pandemia da covid-19, avançou ontem a Associação Chinesa de Futebol. Por motivos de prevenção, as 16 equipas que disputam o campeonato vão jogar em apenas dois lugares: a cidade portuária de Dalian, nordeste da China, e a cidade de Suzhou, na costa leste, detalhou a Associação em comunicado. Vários jogadores estrangeiros, no entanto, poderão não competir, já que a China baniu a entrada de cidadãos estrangeiros devido à pandemia. O Shanghai SIPG, um dos candidatos a vencer a Superliga, é treinado pelo português Vítor Pereira.
“Vidas palestinianas importam” Milhares em protesto nas ruas de Gaza contra plano de anexação de parte da Cisjordânia
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ILHARES de palestinianos protestaram ontem na cidade de Gaza contra o plano dos Estados Unidos para o Médio Oriente, que prevê a anexação de territórios na Cisjordânia ocupada por Israel. O Governo israelita deve, em princípio, pronunciar-se em breve sobre a implementação do plano, que também prevê a criação de um Estado palestiniano desmilitarizado num território fragmentado e sem Jerusalém Oriental como capital. Em Gaza, um enclave palestiniano a cerca de 50 quilómetros da Cisjordânia ocupada, milhares de pessoas entoaram palavras de ordem contra o plano norte-
-americano durante um comício de Yahya Sinouar, um dos líderes do movimento Hamas, que governa este território. Os manifestantes ergueram bandeiras e cartazes em que se lia “Não à anexação” e “Vidas palestinianas importam”, em referência ao movimento anti-racismo “Vidas negras importam” dos Estados Unidos, segundo os jornalistas da agência de notícias AFP no local. “A resistência deve ser retomada, apenas o uso da força assusta Israel”, disse o manifestante Rafiq Inaiah.
OUTRAS CONVERSAS
Na manhã de ontem, o Hamas lançou cerca de 20 foguetes de teste no mar Mediterrâneo
como um aviso, disseram à AFP fontes do movimento islâmico, envolvido em três guerras com Israel desde 2008. O Estado hebreu impôs um bloqueio estrito na Faixa de Gaza há mais de 10 anos, para, segundo os israelitas, conter o movimento armado. Uma manifestação contra o projecto de anexação também ocorreu em Jericó, a maior cidade palestiniana no vale do Jordão, e outro protesto está planeado em Ramallah, sede da Autoridade Palestiniana. Os palestinianos estão a tentar obter apoio contra o projecto de anexação de territórios da Cisjordânia ocupada que, segundo os palestinianos, destrói a solução de “dois Es-
tados”, uma Palestina viável ao lado de Israel. Os palestinianos dizem que estão prontos para reabrir negociações directas com os israelitas, mas não com base neste plano do Governo do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, grande aliado de Israel. “Não nos vamos sentar numa mesa de negociação em que a anexação ou o plano Trump é proposto, porque não é um plano de paz, mas um projecto para legitimar a ocupação”, disse à AFP o negociador palestiniano Saëb Erakat.
ONU POLÍTICOS PEDEM ACÇÃO SOBRE ALEGADA ESTERILIZAÇÃO DE UIGURES
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OLÍTICOS de todo o mundo apelaram na terça-feira para uma investigação por parte das Nações Unidas (ONU) à alegada campanha do Governo chinês que visa reduzir as taxas de natalidade entre membros da minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigure. O Governo de Pequim negou as acusações e disse que trata todas as etnias de acordo com a lei,
noticia a agência AP, que divulgou uma investigação na segunda-feira na qual revelou uma prática sistemática no sentido de reduzir a natalidade entre chineses muçulmanos, depois de mulheres uigures terem denunciado o controlo forçado da natalidade. A Aliança Interparlamentar da China e um grupo de políticos europeus, australianos, norte-
-americanos e japoneses de várias ideologias políticas exigiram uma investigação independente da ONU. “O mundo não pode permanecer calado diante das atrocidades”, destacou o grupo em comunicado. Os Estados Unidos, através do chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, apelaram na segunda-feira à China para que “pare imediata-
mente” com a esterilização forçada aos muçulmanos uigures. Em comunicado, Pompeo apelou “ao Partido Comunista Chinês para parar imediatamente com estas práticas terríveis” e desafiou “todos os países a unirem-se aos Estados Unidos para pedir o fim destes abusos desumanos”. O porta-voz do ministério dos Negócios
Estrangeiros da China, Zhao Lijian, reagiu na terça-feira às acusações e apelidou Mike Pompeo de “mentiroso descarado”. A China disse mesmo que a população uigure mais que duplicou desde 1978. “Se Pompeo está a dizer a verdade, como pode explicar o grande aumento da população uigure?”, questionou Zhao Lijian.