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O olhar da cópia
A galeria Art Space, na vila da Taipa, acolhe a partir de hoje a exposição “O Primeiro Museu de Arte Contemporânea de Macau”, da autoria do jovem artista residente Félix Vong. A viver em Portugal, o artista fez uma espécie de apropriação de obras de artistas conhecidos para lhes dar uma roupagem nova, muito sua. Vong colaborou ainda com artistas portugueses
NA sua primeira exposição a título individual, Félix Vong aventurou-se em dar novas perspectivas e interpretações a obras de arte bem conhecidas de todos. Assim, em “O Primeiro Museu de Arte Contemporânea de Macau”, apresenta-se, por exemplo, com algum bom humor e originalidade, uma nova versão de um quadro de pop art, com “Explosions (after Roy Lichtenstein)”.
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Ao HM, o artista revelou que desde o primeiro momento queria “apresentar algo que nunca tivesse sido apresentado ou que não tenha existido em Macau, algo específico para a cidade onde nasci e cresci”.
Isto porque, na visão do artista, “não existe um museu em Macau puramente dedicado à arte contemporânea, ao mesmo tempo que o estudo das artes visuais, no meio académico, é muito escasso”, daí a opção pelos estudos superiores em Lisboa.
Nesta mostra, o artista coloca questões como o que
“Ele dá a volta ao projecto visual desta exposição, pois copia e assume que faz essa cópia, apresentando-a como se fosse uma obra de arte. Há um assumir da cópia de forma descarada, mas com uma nova interpretação e novas questões.”
JOÃO Ó CURADOR
é um museu de arte ou aquilo que podemos entender como arte contemporânea, ou até aquilo que pode, ou não, ser considerado arte. “Pensei em ‘fingir’ tudo, porque acho que é uma boa ideia permitir que as pessoas recomecem a pensar na arte contemporânea e na nossa cultura e história, ou ainda na nossa identidade, existência e futuro”, frisou.
Félix Vong não se inspirou num artista em particular, pois assume inspirar-se também na sociedade, política, dinheiro, Internet, conflitos bélicos ou mesmo nos seres humanos, animais e religiões. Ou seja, todas as componentes da vida humana e da sua existência. Como inspirações podem ainda incluir-se o cinema, a física ou a astrologia, entre muitos outros, adiantou. Para esta mostra, colaborou ainda com 12 artistas portugueses, nomeadamente Ana
Pessoa, Diogo Costa, Eduardo Fonseca e Silva, Gil Ferrão, Hugo Teixeira, João Fonte Santa, Martîm, Pedro Gramaxo, Rafael Raposo Pires, Samuel Duarte & Rita Anuar, bem como Sara Mealha.
Todos eles colaboraram numa obra de arte que não foi criada por Félix Vong, mas da qual ele se considera artista integrante. “Este gesto visa questionar a autoria das obras de arte. É algo desafiante, porque precisas de muito estudo e visitas para escolher quem vais convidar, quem é a melhor pessoa para o projecto e que tipo de trabalho pode enquadrar-se. Há muita comunicação e energia [gastos] neste processo.”
Para descrever este processo colaborativo, Félix Vong cita uma frase de Gavin Turk, artista visual: “A minha arte é sempre a arte dos outros, mas gostaria de dizer que a inevitabilidade da arte con- temporânea é que é sempre, e também, um auto-retrato.” que é uma ideia permitir que as pessoas recomecem a pensar na arte
Assumir a cópia Convidado a descrever as suas próprias peças, Félix Vong refere-se a elas como, simplesmente, “obras de arte”, defendendo que caberá ao público definir aquilo que vai ver. No entanto, não deixa de citar Salvador Dali, grande nome do surrealismo: “Aqueles que não querem imitar nada, produzem nada”.
A voz da rádio
Portugal fixa quota de música nacional em 30%
Oministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, assinou a portaria que repõe a quota mínima de música portuguesa na rádio nos 30 por cento, durante um ano, tendo o diploma seguido para publicação em Diário da República, anunciou segunda-feira o ministério.
“A programação musical dos serviços de programas de radiodifusão sonora é obrigatoriamente preenchida com a quota mínima de 30 por cento de música portuguesa”, lê-se no texto da portaria à qual a Lusa teve acesso.
A portaria deve entrar em vigor a 01 de Setembro próximo, “produzindo efeitos pelo período de um ano”.
O ministério justifica a medida pela relevância que “a produção de música portuguesa apresenta hoje” e a “vitalidade que permite às rádios cumprir o regime de quotas, sem comprometer a diversidade e a coerência do projeto editorial de cada serviço de programas”.
O ministério salienta que o espectro radioeléctrico é um recurso público limitado, e “o Estado tem legitimidade para determinar o cumprimento de obrigações específicas, em nome do interesse colectivo”.
“Note-se que a rádio por via hertziana terrestre continua a ser o principal meio de escuta de música para um número elevado de pessoas e que a emissão radiofónica, apoiada por um sistema de quotas, contribui para a diversidade da oferta musical”, lê-se na portaria.
Conversas parlamentares
No início do mês, a 05 de Julho, no Parlamento, o ministro demonstrara disponibilidade para fixar a quota mínima obrigatória de música portuguesa nas rádios em 30 por cento, enquanto se aguardava pela proposta de revisão da lei da rádio, a apresentar pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).
Pedro Adão e Silva sugeriu então que o Parlamento aguardasse “pela proposta de revisão da Lei da Rádio da ERC”, já que o processo legislativo que se tinha iniciado dificilmente terminaria este mês, em que encerrou a actual sessão legislativa.
“O Governo, nos termos que a lei prevê, isto é, ouvindo e consultando o sector, pode fixar por portaria, e essa é a minha disponibilidade, os 30 por cento [quota mínima obri- gatória de música portuguesa nas rádios]”, adiantou então Pedro Adão e Silva.
A quota mínima obrigatória de música portuguesa nas rádios, prevista na Lei da Rádio, entrou em vigor em 2009. Nessa altura, foi estabelecido que seria de 25 por cento, mas o valor subiu para 30 por cento em Março de 2021, como uma medida de resposta à pandemia da covid-19.
Um ano depois, em 2022, a quota mínima regressou aos 25 por cento e esta decisão do Governo acabou por ser criticada publicamente pelo sector, nomeadamente por dezenas de artistas portugueses.
João Ó, arquitecto e dirigente da galeria Art Space, revela que o convite para esta mostra foi feito há cerca de um ano, e que o artista “aceitou de forma reticente porque ainda estava a estudar”.
“Disse-lhe então que o meu papel enquanto curador é para incentivar a mostrar o trabalho de artistas locais, e a ideia era dar coragem à realização da sua primeira exposição a nível local”, acrescentou.
Para o curador, esta mostra constitui um exemplo de como “um aluno europeu interpreta a história de arte”. “Ele pega em todos os artistas que estudou e viu da arte contemporânea europeia e ocidental. Na minha perspectiva, está a aprender copiando os outros, mas ele dá a volta ao projecto visual desta exposição, pois copia e assume que faz essa cópia, apresentando-a como se fosse uma obra de arte. Há um assumir da cópia de forma descarada, mas com uma nova interpretação e novas questões”, adiantou. Esta é uma apresentação “não convencional” de um artista que se considera conceptual, descreve João Ó. A exposição pode ser vista até ao dia 22 de Setembro. Andreia Sofia Silva
AUnesco recomendou segunda-feira colocar Veneza na lista do património mundial em perigo, perante as medidas insuficientes tomadas pelas autoridades italianas para combater a deterioração do local, devido ao excesso de turismo ou aos efeitos do aquecimento global.
“O desenvolvimento contínuo [de Veneza], os impactos das alterações climáticas e o turismo de massa ameaçam causar mudanças irreversíveis no valor universal excepcional do bem”, observa o Comité do Património Mundial, da Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura (Unesco, na sigla em inglês).
A elevação do nível do mar e outros “fenómenos climáticos extremos” ligados ao aquecimento global ameaçam a integridade do local, alerta ainda a Unesco.
O ministro da Cultura italiano esteve segunda-feira em Veneza para visitar o gueto judeu, o primeiro da história, mas não comentou o anúncio da Unesco.
O autarca de Veneza, Luigi Brugnaro, referiu, por sua vez, que o diálogo com a Unesco é da responsabili-
Os mares de gente
Excesso de turismo e clima ameaçam Veneza dade do governo e não do município.
Para que Veneza seja incluída na lista de patrimónios em perigo, será necessária a aprovação dos Estados-membros numa reunião do Comité do Património Mundial, que decorrerá entre 10 a 25 de Setembro em Riade.
Em Veneza, alguns moradores e visitantes admitiram perceber a opinião do comité da Unesco, em especial perante a afluência de milhões de turistas ao ‘saturado’ centro histórico.
“É incontrolável”, sublinhou à agência France-Presse (AFP) o gondoleiro
Antonio Vertotto, que criticou os sucessivos governos por não terem feito nada nos últimos anos para reduzir o fluxo.
Para Valmir Reznik, um suíço de 34 anos de visita à cidade com a mulher, sem dúvida que há “muitos turistas”, mesmo numa segunda-feira.
A resolução destes “antigos mas urgentes” problemas é “impedida pela ausência de uma visão estratégica global comum” e pela “baixa eficiência e coordenação” das autoridades locais e nacionais italianas, refere também o comité, que considera que a cidade é confrontada com “um perigo comprovado”.
A Unesco espera que “esta inscrição conduza a um maior empenho e mobilização dos actores locais, nacionais e internacionais”.
Obra-prima
Veneza, uma cidade insular fundada no século V, que se tornou uma grande potência marítima no século X, estende-se por 118 ilhotas, segundo a Unesco, tendo-se tornado Património da Humanidade em 1987. “Veneza como um todo é uma obra-prima arquitectónica extraordinária porque até o menor monumento contém obras de alguns dos maiores artistas do mundo, como Giorgione, Ticiano, Tintoretto, Veronese e outros”, explica a organização das Nações Unidas.
É também uma das cidades mais visitadas do mundo, com 100.000 turistas a pernoitarem em Veneza no pico do turismo, além de dezenas de milhares de visitantes diários.
As autoridades locais falam há anos sobre a introdução de reservas obrigatórias para turistas, mas não a implementaram.