Hoje Macau 2 SET 2016 #3649

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

Dúvidas e dívidas PÁGINA 5

OPINIÃO O estado do sítio Viagem ao Ocidente ISABEL CASTRO

PAUL CHAN WAI CHI

hojemacau

O resto é silêncio O Cineteatro da vila da Taipa está abandonado há 40 anos. A população reclama o espaço mas o futuro continua a ser uma icógnita. GRANDE PLANO

CASAS MUSEU

NEM COMES NEM BEBES PÁGINA 6

BIBLIOTECA

Projectos descartados PÁGINA 7

h

Tropas amotinadas JOSÉ SIMÕES MORAIS

Absoluto real e ideal AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

ANABELA CANAS

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MOP$10 SOFIA MOTA

TERRENOS

SEXTA-FEIRA 2 DE SETEMBRO DE 2016 • ANO XV • Nº 3649


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TAIPA ABANDONADO DESDE 1975, CINETEATRO CONTINUA COM FUTURO INCERTO

O Cineteatro da Taipa passa quase despercebido. O edifício abandonado há tanto tempo que já nem se dá por ele, ainda mostra o resto dos néons que lhe davam nome. Sem classificação e com o futuro a ser ainda uma incógnita cabe a alguns desejar que volte a ser um palco da ilha. O proprietário vê a cor do dinheiro com finalidade comercial

P

AREDES meias com o Largo de Camões e a Rua de S. João, impõem-se as ruínas do antigo Cineteatro da Taipa. Há muito que ali está ao abandono a servir de armazém para materiais de construção. Para os curiosos que passem na rua resta uma porta entreaberta que deixa vislumbrar um anfiteatro em ruínas povoado por bambus e restos de um pouco de tudo. Nota-se que um dia foi equipado para que dele se fizesse um espaço de lazer e cultura. Reza a história documentada no livro “Cinemas de Macau” escrito por Wong Ha Pak e revelado pelo Instituto Cultural ao HM que o “Teatro da Taipa foi construído no dia 8 de Dezembro de 1965”. Da sala que estava equipada para uma lotação de 760 pessoas resta o registo do sucesso da projecção de “Happiness in the Hall”. A estrutura fecha, sem explicação em 1975. Diz a vizinhança que terá sido por falta de afluência. “Já não ia lá ninguém” refere João Isidro que se lembra do espaço enquanto miúdo, ao mesmo tempo que relembra os tempos anteriores em que, ali, se fazia fila à porta, “eram principalmente portugueses.” Mas depois tudo foi mudando e “há os casinos que têm destas coisas”.

HÁ VIDA NA ILHA

Se há 40 anos a população da ilha era reduzida, as estimativas actualizadas não mentem. Segundo os dados do Serviço de Estatísticas e Sensos de Macau, se em 2006 a Taipa acolhia cerca de 62 400

habitantes, em 2015 o número sobe em flecha para cerca de 103 mil. Não só devido à explosão de casinos no Cotai como de prédios habitacionais, a Taipa é actualmente um local com vida e dinâmicas próprias e detentora de uma população que “não deveria ter que se deslocar a Macau para ter momentos de lazer e cultura.” Esta é a opinião de uma proprietária vizinha do Cineteatro quando questionada acerca deste espaço. A também residente da ilha que prefere não se identificar reconhece que “seria bom voltar a ter ali um teatro” e faria parte do conjunto de actividades capazes de enriquecer este lugar que “tem a sua própria personalidade”. A reabilitação daquele espaço seria “muito boa” afirma, “não só para o negócio mas, e acima de tudo para a vila que já conta como local de eleição para visitas turísticas e que assim, tinham mais uma alternativa aos casinos”. Aponta para o negócio de bicicletas que

Para os curiosos que passem na rua resta uma porta entreaberta que deixa vislumbrar um anfiteatro em ruínas povoado por bambus e restos de um pouco de tudo

PALCO DE

SOFIA MOTA

GRANDE PLANO


3 hoje macau sexta-feira 2.9.2016 www.hojemacau.com.mo

NINGUEM ´

“Obviamente que, do ponto de vista do cidadão é uma boa estrutura e uma coisa para ponderar para ver o que se poderá eventualmente fazer”

MIGUEL SENNA FERNANDES FUNDADOR DO GRUPO DE TEATRO DÓÇI PAPIÁÇAM anima o largo e refere um mercado muito visitado nas redondezas para ilustrar que a grande afluência àqueles lugares é porque “não há mais nada para além dos casinos e as pessoas sentem necessidade de outras coisas sem ter que se deslocar à península”. Fica revoltada quando se resume a “sua vila a hotéis e casinos” mas, ainda assim, admite que infra-estruturas como o que poderia resultar da renovação daquele teatro acabariam até por beneficiar os “grandes” pois dariam aos seus clientes mais locais de atracção.

TEMPO DE MUDANÇA

O teatro em Macau não tem casa e Miguel Senna Fernandes, fundador do grupo de teatro Dóçi Papiáçam quando abordado pelo HM, não deixou de mostrar surpresa pela lembrança daquele espaço. Também para ele é um local esquecido, mas “importante”. O homem ligado aos Macaenses e ao Teatro “não sabe o que está previsto a nível de lazer e plano urbanístico para a Taipa” mas “obviamente que, do ponto de vista do cidadão é uma boa estrutura e uma coisa para ponderar para ver o que se poderá eventualmente fazer”. Hoje em dia na RAEM não existe a separação municipal que existiu noutros tempos. Miguel Senna Fernandes considera ainda que grande parte da população da Taipa ainda trabalha na península mas que já existe, efectivamente, muita gente a fazer a sua vida na ilha, pelo que

se justifica que haja um tratamento a nível local quanto à necessidade deste tipo de infra-estruturas e é neste contexto “que podemos questionar quais as estruturas que dão de si à Taipa”, afirma. “Porque não esta?” prossegue naquilo a que chamou de pensar alto, “está bem localizada e deveria pensar-se nalguma coisa para aquilo”.

QUE SIRVA DE ALENTO

Enquanto pessoa também ligada aos palcos e ao teatro Miguel Senna Fernandes recorda ainda os tempos em que os grupos ainda existiam em Macau mas que têm vindo a diminuir porque “não há estrutura para os albergar”. “É sempre muito complicado e mesmo frustrante, não conseguirmos nunca ter a ideia de como as peças em que trabalhamos vão resultar até à estreia” refere aludindo à falta de “casa” para que os grupos possam efectivamente criar as suas encenações. “Ensaiamos sempre noutros locais e nós temos tido a benesse da Escola Portuguesa que nos oferece o espaço para os ensaios, mas até ao dia de irmos ao Centro Cultural de Macau, onde são apresentadas as peças, não sabemos como vai ficar” sendo que trabalhar in loco é fundamental. Apesar da “preocupação por parte do IC” relativamente a esta situação, “ainda não é suficiente” e espera que o levantamento desta questão relativa ao teatro abandonado, “seja um novo alento para os novos grupos porque podia haver condições para a criação de companhias e há gente de qualidade”, deixando o apelo para

“As pessoas que ali têm vivido deveriam ter alguma mais valia e o espaço deveria ser aproveitado em prol dos residentes” SANTOS PINTO DONO DO RESTAURANTE SANTOS

“que venham os grupos porque o teatro é fantástico”.

DÉMODÉ

Já o proprietário do edifício não partilha do mesmo fascínio. O HM falou com Tang Kuok Meng dirigente da Associação Geral do Sector Imobiliário de Macau que alude ao teatro como actividade “fora de moda”. O proprietário que também tem o nome no dossier “Panamá Papers” põe fora de questão a reabilitação para fins culturais. “O teatro actualmente já não está na moda” afirma, pelo que o terreno terá, não se sabe quando “uma função comercial”. Para Tang Kuok Meng o fecho do teatro devido à falta de público, apesar de remontar há cerca de 40 anos, continua a ser uma questão actual. Indiferente às mudanças do quotidiano e da população, continua a achar que o teatro não é rentável e um “espaço comercial”

será o destino da estrutura, sem que sejam adiantados pormenores.

“MONO DE RATOS”

É naquela zona da Taipa Velha que Santos Pinto tem um restaurante e habita há mais de 25 anos. Não se recorda do funcionamento da estrutura mas lembra-se de ver ali desde sempre “aquele mono, ninho de ratos”. Pensar na reabilitação do cineteatro é coisa que “já devia ter sido feita há muito” e mesmo prioritariamente à construção dos casinos”. Sem eira nem beira , é um edifício que não está ali a fazer nada a não ser a “servir de casa para os ratos que depois afectam os vizinhos também”. Para além da saúde pública está também a segurança. Santos refere ainda um outro espaço mais recente também dotado ao abandono e refere que um dia “vem um tufão e leva os vidros deste edifícios, sem segurança nenhuma”. O proprietário do restaurante de comida portuguesa não tem duvidas quanto ao bom aproveitamento caso lhe seja devolvido o destino inicial. Não entende como é que está ali há tanto tempo

“O teatro actualmente já não está na moda” TANG KUOK MENG PROPRIETÁRIO DO EDIFÍCIO

“Qualquer ideia de recuperação será bem vinda pela população” CARLOS MARREIROS ARQUITECTO naquele estado visto que “assim não dá lucro a ninguém a não ser que seja para valorizar o terreno” e “aquilo deveria ser aproveitado e ser do beneficio das pessoas que têm vivido à sombra daquele monstro”. “As pessoas que ali têm vivido deveriam ter alguma mais valia e o espaço deveria ser aproveitado em prol dos residentes que coitados só assistem a este crescimento desmedido com grandes construções que não são pensadas para a população”.

FICHEIRO (NÃO) CLASSIFICADO

O edifício do cineteatro da Taipa é ainda referido na compilação de opiniões públicas recolhidas acerca dos dez imóveis propostos a classificação pelo IC. A análise já noticiada pelo HM há cerca de uma semana não deixa passar este espaço. Para João Palla Martins o edifício na Rua de S. João está nas sugestões “urgentes” para abertura de um processo de classificação. O Cineteatro junta-se a outras estruturas que segundo o arquitecto citado no HM “fazem parte da história de Macau” ou “estão em risco sério de desaparecimento”. A ideia de classificar e dar nova vida ao espaço não é nova. “Houve ideias bastante claras ao longo destes anos para que esse edifício fosse reabilitado para fins culturais”, relembra Carlos Marreiros ao HM. Na opinião do arquitecto haverá uma opinião local que quer apostar na indústria cinematográfica” por um lado, e por outro , para além da Cinemateca Paixão, não há muitos espaços no território, pelo que “este seria um local a considerar”. O edifício em si, não sendo um edifício de traça arquitectónica local, “traz claramente memórias colectivas associadas àquele local” pelo que “qualquer ideia de recuperação será bem vinda pela população”.

NÃO SABEMOS DE NADA

Questionado acerca do abandono do mesmo o IC “não sabe o motivo do seu encerramento”. “Não é um bem imóvel classificado”, afirmam e como tal cabe aos proprietários a responsabilidade pelo seu zelo. O IC não tem este edifício na lista de edifícios passíveis de vir a ser classificados, no entanto adianta ainda que para “determinar o seu valor cultural segundo a Lei de Salvaguarda do Património Cultural, será necessário recolher informações e proceder a um estudo”. Sofia Mota

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4 POLÍTICA

hoje macau sexta-feira 2.9.2016

O presidente da Associação Novo Macau considera que o relatório do Comissariado de Auditoria peca apenas por não divulgar os nomes dos proprietários dos edifícios arrendados pelo Governo. O provedor da SCM nega ter cobrado uma renda excessiva

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STUPIDEZ e ignorância. São estes os adjectivos utilizados pelo presidente da Associação Novo Macau (ANM), Scott Chiang, quanto ao facto do Governo ter gasto cinco mil milhões de patacas em arrendamentos e remodelações de escritórios privados para serviços públicos. Para o presidente da ANM, o relatório do Comissariado de Auditoria (CA) só peca por não divulgar os nomes dos proprietários. “É pura ignorância que não tenham reservado esse dinheiro para eles próprios e para nós também, no fundo. E nunca saberemos quais são os interesses de determinadas pessoas que estão em causa neste processo de arrendamento. O relatório falhou ao não divulgar quais são aqueles que estão a lucrar com tudo isto, continuamos a não saber quem são os grandes beneficiários. Mas os cidadãos sabem que deve ser alguém muito próximo do Governo. Temos de pôr as mãos nisso”, disse ao HM. Scott Chiang não deixou de comentar o atraso no desenvolvimento dos novos aterros e na divulgação de dados concretos. “É surpreendente que o Governo continue a fazer algo que não só

A

Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) confirmou ao deputado Chan Meng Kam que o novo regime de aquisição de bens e serviços deverá estar quase a dar entrada na Assembleia Legislativa (AL). Prevê-se a “alteração, através de regulamento administrativo, das normas relativas aos valores da aquisição de bens e serviços que

Relatório CA NOVO MACAU QUER SABER QUEM LUCRA COM RENDAS

Quem enche o cofre?

é estúpido como é lucrativo para alguém. Outros relatórios anteriores falavam da zona B dos novos aterros deveria ser destinada aos serviços administrativos, mas nos

“Nunca saberemos quais são os interesses de determinadas pessoas que estão em causa neste processo de arrendamento. O relatório falhou ao não divulgar quais são aqueles que estão a lucrar com tudo isto” SCOTT CHIANG PRESIDENTE DA ANM

últimos dez anos praticamente nada foi feito. Naturalmente não temos escritórios suficientes para a Função Pública e vêem-se obrigados a arrendar.”

(houve) “falhanço do Governo e também houve uma falta de planeamento em termos de acompanhamento do volume económico e das estruturas administrativas ANTÓNIO JOSÉ DE FREITAS PROVEDOR DA SCM

Para o futuro, é necessário, segundo o presidente da ANM, que “os projectos das zonas B, C e D dos novos aterros devam ser melhor analisados e divulgados junto da sociedade e não apenas junto de alguns promotores imobiliários”. “O Parisian está a ser inaugurado, e o Wynn Palace já inaugurou, e o Governo só aí consegue trabalhar rapidamente. Tem a ver com dinheiro e eficiência, porque há vários gastos e não é bom para os cidadãos que têm de lidar com esses departamentos, nem em termos de necessidades de transporte entre departamentos, não é bom para todo o desenvolvimento da cidade. A maioria dos serviços do Governo estão afastados do centro, o que contribuiu para congestionamentos”, referiu Scott Chiang.

FREITAS NEGA ACUSAÇÕES

António José de Freitas, provedor da Santa Casa da Misericórdia (SCM), proprietária do edifício que o Governo alugou durante anos para albergar o 1º Cartório Notarial, nega aquilo que foi publicado na imprensa chinesa, sobre o facto de ter, alegadamente, decretado um aumento de renda excessivo. “O que li na imprensa chinesa, e que terá sido extraído do rela-

Aperto de contas

Novo regime de aquisição de bens e serviços quase na AL

estão adoptadas há mais de duas décadas. A elaboração do mesmo encontra-se finalizada e em fase de processo legislativo”, pode ler-se na resposta dada à interpelação escrita do deputado. A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ)

está a colaborar em conjunto com a DSF na elaboração do projecto de lei a entregar aos deputados para discussão e aprovação. “A DSF está empenhada em adequar e agregar as instruções sobre o procedimento de aquisição de

tório, tem algumas inexactidões. Há um jornal que cita o espaço do cartório como se a instituição tivesse “aberto a boca do leão”, no sentido de encostar o Governo à parede, sem dar margem de manobra nas negociações. Esses dados não têm cabimento porque não podem existir prédios em Macau naquela zona com mil patacas por metro quadrado, só se for por pé quadrado”, explicou António José de Freitas, garantindo que sempre foram cobrados preços justos. Quanto às conclusões do relatório do CA, o provedor da SCM garante que houve “falhanço do Governo e também houve uma falta de planeamento em termos de acompanhamento do volume económico e das estruturas administrativas, bem como do número de funcionários”.

bens e serviços que foram divulgadas, e procede ao estudo da viabilidade da criação de uma base de dados que inclua uma listagem de fornecedores e construtores, bem como do carregamento das informações respeitantes aos concursos públicos e

ao ajuste directo das páginas electrónicas dos serviços públicos. Tudo na expectativa que possa ser mais optimizada a funcionalidade prática da aquisição de bens e serviços e que seja elevada a transparência das informações”, confirma o organismo. Quanto às orientações deixadas pelo Comissariado de Auditoria (CA) e pelo Comissariado contra

Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

EDIFÍCIO DO SENADO SEM ARRENDATÁRIO

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ntónio José de Freitas disse ainda ao HM que não foi encontrado um arrendatário que substitua o Governo. “Estamos a negociar, a falar com as pessoas, porque o momento não é o melhor. Teremos de encontrar alguém e não estamos interessados em encontrar um arrendatário que fique apenas por um ou dois anos.” O provedor não esquece a saída abrupta do Governo daquele espaço. “Não queremos nada com o Governo, em termos de aluguer do espaço. Podemos andar com o cinto apertado mas com o Governo não queremos mais nada. Está visto que houve maldade, não sei se da parte do Governo se da parte da Secretária Sónia Chan para com a Santa Casa”, rematou.

a Corrupção (CCAC), a DSF promete adoptar novas medidas. “O próximo passo será adoptar as propostas feitas pelo CA e CCAC, para continuar a estudar e a aperfeiçoar a regulamentação da aquisição de bens e serviços, e intensificar as formações internas dos trabalhadores da Função Pública.” A.S.S.


5 POLÍTICA

hoje macau sexta-feira 2.9.2016

PATERNIDADE FAOM NÃO QUER SOBREPOR FERIADOS E LICENÇA

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Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) começa hoje a recolher assinaturas junto ao jardim Iao Hon, na zona norte, a fim de exigir ao Governo que evite a sobreposição de feriados com os dias de licença de paternidade aquando da revisão da Lei Laboral. Em comunicado, a FAOM garante que a iniciativa deverá manter-se até Outubro.

A FAOM garante que actualmente a lei determina que cada empregado possui um total de 68 dias de férias (incluindo folgas semanais). Contudo, os feriados que são sobrepostos com os dias de folga não estão regulados, o que, para a associação, prejudica o direito dos trabalhadores a gozarem os feriados. A lei também só permite dois dias sem vencimento para que um traba-

lhador possa gozar de licença de paternidade. Em resposta a uma interpelação escrita da deputada Ella Lei, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) reconhece o consenso atingido junto da sociedade para a revisão destas vertentes na lei, afirmando que, “apesar de existirem controvérsias, o Governo vai empenhar-se no estudo da matéria”. A.K.

Terras CENTRO DIZ QUE DÍVIDAS DO EXECUTIVO PODEM NÃO EXISTIR

Violações rumo ao CCAC

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Governo está assumir dívidas de terra que não deveria. A ideia foi adiantada ontem pelo Centro da Política da Sabedoria de Macau (CWPC, na sigla inglesa) em conferência de imprensa onde apresentou o relatório da análise dos seis processos referidos pelo Executivo e dos quais constam as falhas contratuais nas terras em dívida. Para o organismo e após análise do processo facultado pelo Executivo relativo aos terrenos em dívida, as concessões originais que são o cerne das dívidas constituem “violações contratuais graves”. Entre as incoerências o CWPC destaca o facto dos terrenos não terem sido desenvolvidos ou aproveitados segundo o que estava estabelecido, não ter sido paga a diferença de montante quando se tratou de dimensões diferentes das propriedades ou não serem definidos eventuais encargos especiais. O relatório referente aos seis casos de “dívidas de terras” e mais dois que se prevê que venham a surgir, foram entregues ontem ao Governo. Ho Ion San exige que o Executivo, num acto voluntário, lhes dê o devido seguimento para o Comissariado Contra a Corrupção (CCAC). Caso isso não venha a acontecer será Ho Ion San a apresentar a queixa no organismo. Simultaneamente o deputado aguarda ainda que seja dada informação acerca destes casos à população.

LEVA PEQUENO E PAGA EM GRANDE

Os terrenos concedidos ao Wynn e MGM contam com uma área total de 25.920 metros quadrados e a dívida poderá ser saldada perante os concessionários originais através de terrenos situados na zona C e D do empreendimento designado por “Fecho da Baía da Praia Grande” ou de outros localizados com capacidade de edificação semelhante. Este processo pressupõe que, caso o

DSSOPT

Dívidas de terras poderão ser falsas, avança o CWPC. O Centro apresenta um relatório das violações das concessões originais e apela à entrega do documento ao CCAC

terreno esteja ligado a um processo de permuta, a área do mesmo não tem limites definitivos sendo que o Executivo poderá vir a retribuir uma área maior do que aquela que levou como emprestada, o que não se adapta à corrente Lei de Terras.

destes aspectos poderia constituir razão para a caducidade ou cancelamento do contrato”. Segundo o CWPC é claro que o Governo poderia ter tido a posse dos terrenos antes da permuta caso tivesse tido atenção a estas violações.

FALTA DE APROVEITAMENTO

PERMUTA REPENTINA

Os terrenos originais que deram origem à concessão destinada ao Galaxy e à habitação pública no Bairro da Ilha Verde já apresentavam violações antes mesmo do contrato de permuta. Ao contrário do previsto não foram devidamente aproveitados dentro dos prazos e a diferença de valor da concessão não foi paga atempadamente. Para Chan Ka Ieong “qualquer um

Nos casos referentes à Praça Flor de Lótus e ao Pak On o Governo não tinha autoridade sobre os mesmo pois não seguiu o processo de permuta como seria suposto e tomou directamente as terras. Por outro lado, e para o CWPC, pode existir a suspeita de que os concessionários originais não tenham também concluído o aproveitamento das terras o que

significa que as poderiam perder, e , mais uma vez, ser menos uma dívida do Executivo.

CASO ANTIGO

O problema com a Pedreira de Coloane é o já apontado por Au Kam San e que motivou uma petição recentemente. Na origem estão as dúvidas que têm sido levantadas e que deram origem em 2012 à entrega de uma queixa no CCAC por suspeitas de tráfico de influências. Em causa está um lote de terreno ainda em dívida a Liu Chak Wan. O proprietário na impossibilidade de ver a função dos terrenos alteradas para construção criou uma nova empresa, a New Hong Yee,

para que isso pudesse acontecer. Está neste momento planeada a construção de um edifício com cerca de 12 torres.

AINDA HÁ MAIS

Para além dos processos efectivos de dívida de terras existem ainda aqueles que podem vir a aparecer. As permutas que remontam a 2010 e 2003 referentes ao Armazém da Ilha Verde e ao estacionamento de shuttle bus nas Portas do Cerco podem vir a ser “mais dois processos a considerar” afirma Ho Ion San. Também para estes casos o CWPC esclarece que já passaram os 25 anos de concessão por arrendamento em 2014 e o Executivo já deveria ter anunciado a caducidade das mesmas.

O CWPC destaca o facto dos terrenos não terem sido desenvolvidos ou aproveitados segundo o que estava estabelecido, não ter sido paga a diferença de montante quando se tratou de dimensões diferentes das propriedades ou não serem definidos eventuais encargos especiais Dos seis processos em causa estão os casos relativos ao Wynn e MGM e ao Galaxy que foram contraídos “para a liberalização do jogo”, a habitação pública da Ilha Verde, a pedreira de Coloane, em articulação com o plano de construção de habitação pública, a Praça Flor de Lótus para construção pública e os lotes U2,U4 e U5 do Pac-On para ampliação da Incineradora de Resíduos Sólidos da Taipa. No total somam 88.806 metros quadrados a ser devolvidos aos anteriores concessionários dos terrenos originais. Angela Ka (com Sofia Mota) info@hojemacau.com.mo


6 SOCIEDADE

hoje macau sexta-feira 2.9.2016

FAOM RECEBIDAS 90 QUEIXAS NUM MÊS SOBRE FUMO NOS CASINOS

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Associação de Empregados das Empresas de Jogo de Macau, ligada à Federação das Associações de Operários de Macau (FAOM), entregou ontem mais uma petição junto do sede do Governo, exigindo que o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, reforce o objectivo do controlo dos tabacos nos casinos e que elimine as salas de fumo na totalidade.

Por forma a suportar o pedido, Choi Kam Fu, director-geral da associação, referiu que só num mês a associação recebeu um total de 90 queixas sobre incidentes de fumo nos casinos. Estes números surgiram após a abertura do posto de supervisão do controlo do tabaco do sector do Jogo em Julho. Estas queixas foram feitas pelos empregados dos casinos, sendo que só o novo Wynn Palace já gerou 50 queixas.

garantida a saúde dos funcionários. De acordo com os empregados dos casinos, a recepção de queixas por parte do Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo (GPCT) faz com que os fiscais se dirijam de imediato aos casinos para executar a lei. Para Choi Kam Fu, este modelo é mais eficiente e pode ter um maior efeito dissuasor, exigindo o seu alargamento. A.K.

No comunicado da associação Choi Kam Fu pede que o Executivo torne público o mapa da distribuição das áreas de fumo do Wynn Palace, bem como o número de espaços aprovados, para confirmar se não existem espaços utilizados sem autorização. A associação pede ainda que se retirem as mesas de jogo que estão próximas das salas de fumo, por forma a que seja

(revisto por A.S.S.)

TRANSPORTES GERAM CHUVA DE RECLAMAÇÕES

Dados da Polícia de Segurança Pública (PSP) mostram que só no mês de Agosto as aplicações móveis para acesso a transporte geraram um total de 114 queixas, de um total de 123 queixas feitas. Foram ainda registados 152 casos de abuso de cobrança de tarifa pelos taxistas e 129 casos em que foi recusado o transporte do passageiro. A PSP revelou que a proporção entre os abusos na cobrança de tarifas e recusa do transporte é grande, cerca de 79,6%.

Casas-Museu PROJECTO DE RESTAURANTE PORTUGUÊS SUSPENSO

Não há nada para ninguém Afinal já não vai haver um restaurante português no número cinco das Casas-Museu da Taipa. Dúvidas sobre que tipo de impacto ambiental teriam na zona as alterações às instalações actuais, deitaram por terra a iniciativa anunciada a semana passada

responsável, o Instituto para o Desenvolvimento e Qualidade de Macau, disse que “observando-se o cumprimento rigoroso das instruções relativas à protecção do ambiente de Macau no decurso da exploração na casa, o serviço de restauração não causará um grande impacto ao ambiente envolvente”. Mas desde então chegou-se à conclusão que a actual cozinha está a precisar de “umas alterações”. São exactamente essas “alterações” que levantam dúvidas sobre se afectam ou não, e de que maneira, o ambiente envolvente. Perante isto, decidiu-se “suspender o plano de introdução do projecto de restauração, mantendo-se a função original como casas de interesse turístico”, concluem.

TUDO EM ORDEM

A

possibilidade de haver um restaurante a funcionar numa das Casas-Museu da Taipa, saiu lograda. A razão apresentada para este desfecho prende-se com dúvidas existentes sobre o impacto ambiental que as obras a ser feitas na cozinha, construída em 1998 e 2000, terão na zona. Estas questões terão sido levantadas por um grupo de cidadãos que as fez chegar ao Instituto de Formação Turística, o órgão que avalia este assunto, de acordo com a informação dada pelo Governo. A notícia foi avançada ontem pela mesma fonte, que explicou que esta questão foi levantada

logo após ter sido dada a novidade do restaurante nas Casas-Taipa. De acordo com a informação “um número significativo de opiniões

de cidadãos preocupados com a possibilidade de o projecto poder afectar o ambiente envolvente”, terá chegado às mãos do grupo

“A questão ambiental não faz sentido porque a cozinha está construída na moradia número cinco, e licenciada com o número de mesas previsto, os esgotos estão ligados e dão para uma fossa séptica, há o local previsto para o gás, para as câmaras frigoríficas, tudo está previsto neste projecto e devidamente licenciado” MARIA JOSÉ DE FREITAS ARQUITECTA

que está a avaliar este assunto. Depois de analisada a situação o referido grupo, “decidiu suspender o respectivo plano, mantendo a função original do edifício como casas de interesse turístico”. De referir que o plano de optimização das Casas-Museu da Taipa é realizado em conjunto pelo Instituto Cultural, Direcção dos Serviços de Turismo e Instituto de Formação Turística.

SEM IMPACTO

De referir que já tinha sido pedida uma avaliação sobre o impacto ambiental que o funcionamento de um restaurante teria no local e, na altura, a entidade

Contactada pelo HM, Maria José de Freitas, a arquitecta responsável pela obra actualmente existente, explicou que “a questão ambiental não faz sentido porque a cozinha está construída na moradia número cinco, e licenciada com o número de mesas previsto, os esgotos estão ligados e dão para uma fossa séptica, há o local previsto para o gás, para as câmaras frigoríficas, tudo está previsto neste projecto e devidamente licenciado”. O espaço chegou mesmo a ser utilizado como restaurante “umas duas vezes, sendo que uma delas foi durante a visita de Xi Peng ainda antes de ser Presidente”. Neste momento as obras estão feitas e o que se está a discutir são os equipamentos que “após 15 anos precisam de ser substituídos, por isso nada disto afecta o ambiente e é uma questão que não se põe”, conclui. O HM tentou falar com Amélia António, presidente da Casa de Portugal, mas até ao fecho da edição não foi possível contactá-la. H.M.


7 hoje macau sexta-feira 2.9.2016

Biblioteca Central IC DESCARTA PROJECTOS DO CONCURSO DE 2008

Mesmo na posse dos direitos autorais dos projectos, o Instituto Cultural não vai utilizar as propostas para a Biblioteca Central que foram apresentadas a concurso público em 2008. Mário Duque, um dos participantes, diz que a DSSOPT não tem capacidade para fazer projectos

O

Instituto Cultural (IC) vai deitar fora as sete propostas que foram aprovadas para a Biblioteca Central no concurso público de 2008. A garantia foi dada pelo organismo à Rádio Macau, que disse ainda que não foi contratada nenhuma empresa de consultoria para o actual projecto. Contudo, o IC poderia utilizar estas propostas por deter os direitos autorais das mesmas, já que, segundo documentos fornecidos ao HM, os concorrentes tiveram de assinar uma declaração a autorizar o Governo a tomar posse desses direitos. “Eu (nome do arquitecto) declaro que a proposta apresentada é original e autorizo a sua exposição, publicação e/ou utilização pela organização em acções de promoção e outras actividades relacionadas com a presente iniciativa, sem necessidade de remuneração.”

TIAGO ALCÂNTARA

“Um processo atrapalhado”

SOCIEDADE PEARL HORIZON LESADOS EM PROTESTO DURANTE 15 DIAS

Os lesados do caso Pearl Horizon vão estar nos próximos quinze dias a protestar em frente ao banco Tai Fung, na zona da Areia Preta. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, o objectivo dos moradores é que consigam reduzir as taxas de juro dos empréstimos que contraíram para pagar os apartamentos que nunca chegaram a ser construídos. Lo, portavoz dos lesados, garantiu que já foram realizadas várias reuniões com os responsáveis do banco para pedir uma redução ou dispensa dos juros, sem que tenha havido resultados até ao momento. Lo espera que tanto o Governo como os bancos e os promotores imobiliários possam assumir as dificuldades dos pequenos proprietários. Segundo o que foi noticiado pelo canal chinês da Rádio Macau, o protesto não afectou as operações do banco, tendo estado presente alguns polícias para garantir a segurança do local.

DETECTADOS 38 TRABALHADORES ILEGAIS EM JULHO O arquitecto teria ainda de, caso a sua proposta fosse premiada, de ceder “à organização todos os direitos patrimoniais do autor sobre a mesma”, bem como autorizar “a organização a utilizá-la como base ou referência para o projecto arquitectónico da biblioteca, igualmente sem qualquer outra retribuição”. O IC garantiu à Rádio Macau que o novo projecto da Biblioteca Central é exclusivo do Governo, mas Mário Duque, arquitecto que participou no concurso de 2008, garante que a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), a quem foi entregue o projecto, não tem competência para o fazer. “O que é grave é que o IC passou seis anos supostamente a fazer o projecto, que não fez, envolveu a DSSOPT na questão em 2014, passaram-se dois anos e dessa parceria há apenas

um estudo preliminar. A DSSOPT é uma entidade que faz licenciamento de projecto e os supervisiona, não tem a capacidade, nem o brio nem o treino para fazer projectos. Nem é isso que se espera da DSSOPT. Ser a DSSOPT a fazer o projecto, nunca se viu”, disse ao HM.

PRÁTICA COMUM

Estávamos em 2008 quando o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) sugeriu o fim do concurso público feito pelo facto do projecto ter sido entregue a uma arquitecta do gabinete do deputado e engenheiro civil

José Chui Sai Peng, de nome Vong Man Ceng, conforme mostra o resultado da avaliação das propostas ao qual o HM teve acesso. Carlos Marreiros teve apenas direito a uma menção honrosa. O HM tentou chegar à fala com o arquitecto, mas até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer contacto. A atribuição foi polémica pelo facto da arquitecta trabalhar no gabinete do deputado Chui Sai Peng, o mesmo que tinha sido responsável pela consultoria do concurso público. Algo que, para Mário Duque, acabou por afectar a qua-

“A DSSOPT é uma entidade que faz licenciamento de projecto e os supervisiona, não tem a capacidade, nem o brio nem o treino para fazer projectos” MÁRIO DUQUE ARQUITECTO

lidade do processo e o seu calendário. “Uma coisa são os vícios, outra coisa é a realidade do que foi concluído. Por causa de vícios deita-se tudo fora, e em resultado disso não há projecto nenhum e nem se sabe como fazer. Oito anos para um projecto, para ainda estar numa fase preliminar, é muito tempo.” Mário Duque garantiu ainda que a obrigatoriedade de cedência dos direitos autorais é algo comum em todos os concursos públicos realizados pela Administração. “Todas as entidades que lançam projectos em Macau usam este expediente que é obrigar as pessoas a subscrever um documento onde autorizam a ceder os direitos à entidade a concurso. Todos os concursos públicos se fazem desta forma”, assegurou. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Os dados estatísticos referentes ao combate a trabalhadores ilegais, já são conhecidos para o mês de Julho. Sendo assim, em acções conjuntas e individuais entre o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) e a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) e outras entidades, foram detectados 38 trabalhadores em situação ilegal num total de 311 acções de fiscalização. As áreas investigadas foram terrenos de obras de construção civil, residências, estabelecimentos comerciais e industriais entre outros espaços.


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EDITAL

Notificação relativa à audiência sobre a reparação de prédio em mau estado de conservação Edital n.º :30/E-AR/2016 Processo n.º :55/AR/2016/F Local :Avenida de Sidónio Pais n.º 28-28D, EDF. Dragon Court, Bloco 2, Macau.

Li Canfeng, Director da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, faz saber que ficam notificados os condóminos, inquilinos ou demais ocupantes do edifício acima indicado, do seguinte: Em conformidade com o Auto de Vistoria da Comissão de Vistoria constante do processo em curso nesta Direcção de Serviços, as paredes exteriores do edifício acima indicado encontram-se em mau estado de conservação, pelo que, nos termos do n.º 2 do artigo 54.º do Decreto-Lei n.º 79/85/M (Regulamento Geral da Construção Urbana) de 21 de Agosto, foi instaurado o procedimento administrativo relativo à notificação da reparação da respectiva parede. No uso das competências delegadas pela alínea 12) do n.º 2 do Despacho n.º 11/SOTDIR/2016, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 21, II Série, de 25 de Maio de 2016 e por despacho de 29 de Agosto de 2016 do Chefe substituto do Departamento de Urbanização da DSSOPT, Pang Chi Meng, foi homologado o Auto de Vistoria acima indicado.

Notificam-se os interessados que no prazo de 10 (dez) dias, contados a partir da data da publicação do presente edital, devem dar cumprimento à ordem emanada no Auto de Vistoria, ou apresentar no mesmo prazo, conforme o disposto no artigo 94.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, as alegações escritas relativas à decisão do procedimento da reparação das paredes exteriores do edifício acima indicado, podendo requerer diligências complementares acompanhadas de documentos. Se findo o prazo acima referido os interessados não derem cumprimento à respectiva ordem nem apresentarem quaisquer alegações escritas, tal não afecta a decisão tomada por esta Direcção de Serviços. Além disso, caso necessário, esta Direcção de Serviços pode aplicar aos infractores a multa estabelecida nos artigos 66.º e 67.º do citado diploma legal. Os interessados podem consultar o processo durante as horas normais de expediente nas instalações da Divisão de Fiscalização do Departamento de Urbanização desta DSSOPT, situadas na Estrada de D. Maria II, n.º 33, 15.º andar, Macau. RAEM, 29 de Agosto de 2016 O Director dos Serviços Li Canfeng

FOR RENTAL • The Cond. has 150 m2, Fully Furnished. Located at One Oasis, Coloane. • It has 3 bedrooms, which one of them has turned into an office area. For viewing, call Mr. Leonel at 6668 8316 or sms to Maria at 6280 8834

ANÚNCIO 【N.º 71/2016】 Para os devidos efeitos vimos por este meio notificar o representante do agregado familiar da lista de candidatos a habitação social abaixo indicado, nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro: Nome N.º do boletim de candidatura FONG MEI MEI 31201306153 Após as verificações deste Instituto, notamos que o elemento do agregado familiar de candidatos a habitação social acima mencionado é proprietário de fracção autónoma na Região Administrativa Especial de Macau, desde o termo do prazo para entrega do boletim de candidatura até à data de assinatura do contrato de arrendamento com este Instituto e o representante do agregado familiar acima mencionado não apresentar os documentos mencionados no prazo fixado, pelo que, este não reúne os requisitos exigidos para a candidatura, nos termos das alíneas 2) do n.º 4 do artigo 3.º do Regulamento Administrativo n.º 25/2009(Atribuição, Arrendamento e Administração de Habitação Social), e do n.º 3 do artigo 9.º do Regulamento de Candidatura para Atribuição de Habitação Social, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 296/2009. De acordo com os artigos 93.º e 94.º do Código do Procedimento Administrativo, deve apresentar, por escrito, a sua interpretação e todas as provas testemunhais, materiais, documentais ou as demais provas, no prazo de 10 dias, a contar da data de publicação do presente anúncio. Se não apresentar a interpretação no prazo fixado ou a mesma não for aceite por este Instituto, a respectiva candidatura será excluída da lista geral de espera por IH, nos termos dos artigo 5.º, nº. 3 do artigo 9.º, alínea1), 2) do artigo 11.º do Regulamento de Candidatura para Atribuição de Habitação Social, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 296/2009, e n.º 2 do artigo 9.º do Regulamento de Candidatura para Atribuição de Habitação Social, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 296/2009, alterado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 141/2012. No caso de dúvidas, poderá dirigir-se ao IH, sito na Travessa Norte do Patane, n.º 102, Ilha Verde, Macau, durante as horas de expediente, ou contactar Sr. Wong, através o tel. n.º 2859 4875 (Ext. 372), para consulta do processo. Instituto de Habitação, aos 1 de Setembro de 2016. O Presidente, Arnaldo Santos


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LEI DO RUÍDO MAIS DE 12 MIL QUEIXAS NUM ANO

MACAU EM SÉTIMO NOS MAIS CAROS

A Lei de Prevenção e Controlo do Ruído Ambiental gerou mais de 12 mil queixas num ano, segundo disse ao canal chinês da Rádio Macau o vice-director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), Ip Kuong Lam. Contudo, cerca de 90% das queixas terão sido tratadas, garantiu o responsável. Apenas 1,4% das queixas estão relacionadas com os ruídos causados pelos animais domésticos, um total de 177 casos. Ip Kuong Lam referiu ainda que é necessário rever a lei, para que o diploma possa abranger os trabalhadores com turnos. “Se a sociedade defende que há essa necessidade, o organismo vai estudar e fazer a consulta pública. Vamos considerar a revisão da lei”, garantiu.

Macau está em sétimo lugar no ranking das cidades mais caras na zona Ásia Pacífico no que respeita a viagens de negócios. A informação é relativa a um estudo da ECA International que coloca ainda a vizinha Hong Kong a liderar a tabela de 10, sendo que em último está Perth na Austrália. Inversamente, Kuala Lumpur está no primeiro lugar no que respeita às cidades mais baratas para viagens em trabalho na mesma zona, seguida de Banguecoque, Phnom Penh e Bandar Seri Begawan. No entanto o ranking altera as posições se consideradas as despesas em alojamento. Sem hotéis incluídos Macau passa para décimo quarto lugar enquanto que Hong Kong para oitavo. No topo passam a liderar nos custos Seul, Tóquio e Sidney.

Sinal mais

Português PEREIRA COUTINHO QUER MAIOR INVESTIMENTO

Erros e travessuras

N

ÃO bastam promessas nem chegam os investimentos que têm sido anunciados nos últimos anos. Para o deputado José Pereira Coutinho, o Executivo precisa de fazer ainda mais pela promoção da outra língua oficial da RAEM. “Não obstante a proliferação de cursos de curta duração em língua portuguesa, não tem sido satisfatório, sendo poucos os falantes da língua portuguesa na Função Pública”, escreveu o deputado. “Que medidas vão ser implementadas pelo Governo para reforçar o ensino da língua portuguesa nas escolas públicas e melhorar a qualidade dos documentos em português da Administração pública, incluindo os recursos humanos habilitados e fluentes em língua portuguesa?”, questionou Coutinho, que deu como exemplo os erros encontrados aquando da discussão da Lei de Protecção dos Animais, que entrou ontem em vigor. “Vários deputados criticaram os graves erros de ortografia e gramaticais da versão portuguesa do referido projecto,

nunca antes vistos, o que demonstra que o Governo não dá importância ao ensino da língua portuguesa. Isto apesar do Governo Central da República Popular da China ter designado Macau como centro de formação de bilingues e como plataforma de cooperação”, frisou o deputado directo. “Que medidas vão ser tomadas para que não aconteçam situações como a que se verificou com o projecto de lei de protecção de animais”, questionou ainda Coutinho. Esta interpelação vem no seguimento de uma visita do conselheiro do Luxemburgo do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) a Macau, Rogério de Oliveira, o qual disse esperar uma maior expressão do idioma de Camões no território. Em declarações ao Jornal Tribuna de Macau, Rita Santos, conselheira do CCP, afirmou que “gostaria de chamar a atenção do Governo da RAEM de que precisa de definir uma estratégia sobre como é que vai ser o

Primeiro aumento de receitas de Jogo desde 2014

ensino do português. Até agora não vi nada. É preciso sensibilizar as escolas privadas a ensinar português”, frisou.

DE PEQUENINO

Para Rita Santos, “a estratégia bem delineada tem de partir da base, da escola primária, porque não se aprende português só ao entrar na universidade, aprende-se ao longo do tempo e com convívio com a comunidade portuguesa”. A ex-secretária-geral adjunta do Fórum Macau considerou ainda ao jornal português que essa é a grande razão para o facto de muitos licenciados em tradução terem dificuldades no seu trabalho. “Quando vão para o Politécnico ou Universidade de Macau, ou outras, têm muitas dificuldades porque não dominam.” “O Chefe do Executivo diz que só temos 200 intérpretes tradutores… é lamentável dizer isto”, rematou ainda. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

TIAGO ALCÂNTARA

O deputado José Pereira Coutinho garante que o Governo não tem feito os esforços necessários para a expansão da língua portuguesa em Macau, alertando para a necessidade de mais e melhores quadros bilingues

“Que medidas vão ser implementadas pelo Governo para reforçar o ensino da língua portuguesa nas escolas públicas e melhorar a qualidade dos documentos em português da Administração?” PEREIRA COUTINHO DEPUTADO

SOCIEDADE

O

mês de Agosto fecha com receitas dos casinos a aumentar. A subida acontece após 26 meses em quedas consecutivas. Comparativamente ao período homólogo no ano passado o aumento das receitas foi de 1,1%, valor baixo, mas positivo e único desde Junho de 2014. No total o montante de receitas de Agosto foi de 18.836 milhões de patacas. No entanto os analistas do sector ainda apresentam reservas. “Não é necessariamente o fim da crise”, afirmou Ben Lee, analista da consultora IGamix, para quem o resultado “positivo” foi inesperado e é devido à abertura de um novo casino, o Wynn Palace, cita a mesma agência. Por outro lado os próximos três a seis meses são de flutuação entre “ligeiras subidas e ligeiras descidas”. Grant Govertsen, analista da Union Gaming Research considera que este crescimento mostra ainda, e claramente, “os benefícios da nova oferta”, salvaguardando que foi uma “surpresa”, nomeadamente para os investi-

dores. Independentemente do futuro do sector, o analista considera que este aumento contribui para um “sentimento positivo”. “Penso que vamos ver novos níveis de crescimento nos próximos meses”, antecipou Grant Govertsen que também considera que o crescimento se venha a manter dada a abertura de novos casinos, nomeadamente o Parisian, da Sands China.

BOM INDICADOR

Já para o economista José Isaac Duarte o sinal positivo mantém-se referindo que este “não deixa de ser um bom sinal”. O economista avança ainda que este que pode vir a confirmar uma tendência para a estabilização que se tem vindo a desenhar. Lionel Leong, o Secretário para a Economia e Finanças, deu a conhecer no início de Junho que o Governo mantém a previsão de fecho de 2016 com receitas de Jogo na ordem dos 200.000 milhões de patacas, o que representa uma diminuição de 13,35% comparativamente ao ano passado. Segundo os dados publicados ontem pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), os casinos registaram, nos primeiros oito meses do ano, receitas de 144.396 milhões de patacas.


10 CHINA

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CONFIRMADOS QUE 21 DOS INFECTADOS COM ZIKA EM SINGAPURA SÃO CHINESES

A

China confirmou ontem que 21 dos 115 infectados com o vírus zika, em Singapura, são cidadãos chineses, e emitiu um alerta dirigido a quem planeia viajar para aquela cidade-estado do sudeste asiático.

Hua Chunying, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, revelou ontem que foi o ministério da Saúde de Singapura que informou a China sobre a situação. “Disseram que 21 cidadãos chineses foram infec-

tados com o vírus zika, pelo que lançamos um alerta aos viajantes e pedimos à população para que adopte precauções sobre esta doença contagiosa”, disse. As autoridades de Singapura confirmaram ontem o primeiro caso de infecção por

zika envolvendo uma mulher grávida, enquanto a imprensa local avançou que o número de infectados subiu para 115, desde que o primeiro caso foi detectado no sábado passado. Vários países, entre os quais os Estados Unidos da América, Austrália e Coreia

do Sul, emitiram também alertas dirigidos a quem vai viajar para Singapura. O Zika é transmitido pelo mosquito ‘Aedes aegypti’ e se a infecção acontecer durante a gravidez, pode provocar microcefalia no feto.

ou seja, querem um sistema político relativamente livre da intervenção de Pequim”, observou.

NO TERRENO

O

debate sobre a independência de Hong Kong reflecte a frustração política local e, 19 anos após a transição para a China, vai continuar após as eleições de domingo, apesar das tentativas do governo para erradicar o assunto, consideram académicos. Seis aspirantes a lugares de deputado ao Conselho Legislativo da Região Administrativa Especial chinesa foram impedidos de concorrer às eleições de domingo pelas suas posições pró-independência. A ideia da independência é considerada ilegal pelas autoridades locais e pelo governo central em Pequim e permanecia um tabu até à recente emergência de novos grupos políticos, designados ‘localists’ (localistas), que apelam para uma ruptura. Estas formações foram criadas por iniciativa de jovens desiludidos com a “revolta dos guarda-chuvas”, uma mobilização pela democracia que agitou Hong Kong em 2014, mas fracassou na tentativa de obter concessões políticas da China. “A independência nunca foi seriamente debatida nos anos 1980 ou 1990 [quando se estava a preparar a transferência da

Hong Kong DEBATE SOBRE INDEPENDÊNCIA ESTÁ PARA DURAR

Uma conversa afiada soberania da Grã-Bretanha para a China]”, disse à agência Lusa Chung Kim Wah, professor da Hong Kong Polytechnic University. O académico, então estudante universitário, recorda que apesar de a opção ter sido brevemente mencionada, nessa altura, “até os jovens acreditavam que era chegada a hora de apagar o passado colonial e voltar para a mãe-pátria”. “Desta vez é diferente porque os jovens têm vindo a perder a paciência com a reforma política de Hong Kong e muitos acreditam que os princípios ‘Hong Kong governado pelas suas gentes’ e ‘Hong Kong, um país, dois sistemas’ falharam totalmente por causa da intervenção de Pequim, por isso querem uma alternativa”, afirmou.

TEMORES DA TERRA

Desde a transferência da soberania em 1997 que Hong Kong beneficia

de um regime de “ampla autonomia” e teoricamente usufrui até 2047 de liberdades que não são aplicáveis no restante território da China, mas nos últimos anos tem aumentado a preocupação com a interferência de Pequim nos assuntos da região administrativa especial. Em Julho, uma sondagem da Chinese University of Hong Kong indicou que 17% dos cerca de mil inquiridos apoiam a independência. Observadores como Sonny Lo, da Education University, são,

no entanto, cautelosos na análise dos dados, porque o conceito de independência “continua ambíguo” e “apenas uma minoria parece falar da independência territorial, que viola a Lei Básica [miniconstituição] e foi a justificação usada para excluir candidatos às actuais eleições”. “Não sabemos o significado de independência, porque alguns dos 17% dos inquiridos identificam-na com um elevado grau de autonomia, não sendo uma separação territorial da China, mas mais a autonomia institucional da cidade,

“Os jovens têm vindo a perder a paciência com a reforma política de Hong Kong e muitos acreditam que os princípios ‘Hong Kong governado pelas suas gentes’ e ‘Hong Kong, um país, dois sistemas’ falharam” CHUNG KIM WAH PROFESSOR DA HONG KONG POLYTECHNIC UNIVERSITY

No início de Agosto, Hong Kong registou a primeira manifestação a favor da independência, com pelo menos mil pessoas concentradas num parque junto ao Conselho Legislativo, na presença de candidatos desqualificados, como Edward Leung, do grupo Hong Kong Indigenous. “O facto de o governo ter feito uso de funcionários públicos [da Comissão Eleitoral] para desqualificar candidaturas tornou o tema ainda mais quente nos fóruns eleitorais. (...) É uma reacção por causa da reacção tonta do governo”, disse Chung Kim Wah. “Mas enquanto os que defendem a independência não tiverem capacidade real para fazer alguma acção concreta, não constituem uma ameaça à soberania e futuro de Hong Kong”, acrescentou. Nas últimas semanas, estudantes do ensino secundário, incentivados por um novo grupo designado ‘Studentlocalism’, formaram mais de duas dezenas de grupos para discutir a independência, levando as autoridades locais a condenar os debates nas escolas. Para Phil C. W. Chan, do Institute for Security and Development Policy, a “reacção alarmista” dos governos local e central pode ser justificada pelo facto de o movimento pró-democracia desencadeado nos últimos anos ser liderado por jovens. Mas mesmo se estes activistas viessem a ser eleitos, o Conselho Legislativo “continuaria a ser dominado por deputados pró-negócios, pró-governo e pró-Pequim”, sublinhou o analista, observando ainda que “não há maior poder instalado em Hong Kong do que o do governo central da China”. “Hong Kong enquanto Estado independente não vai acontecer”, argumentou Phil C. W. Chan. “A autodeterminação, como vimos nos debates sobre a Escócia, Catalunha e Kosovo, é uma ideia atractiva, enquanto princípio, para as pessoas em Hong Kong. (…) Mas Hong Kong não é o Kosovo”, afirmou. “Hong Kong é um centro financeiro internacional rico, enquanto o Kosovo faz-nos lembrar a pobreza e a limpeza étnica”, concluiu. LUSA


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CHINA

Subida vertiginosa Actividade industrial sobe para nível mais alto em dois anos

E

M Agosto, e de acordo com as autoridades chinesas, o índice de produção na indústria subiu para o nível mais alto dos últimos dois anos. Os peritos que avaliaram a situação chegaram a este valor associando dois indicadores: procura e produção. O Purchasing Managers Index (PMI) fixou-se em 50,4%, em Agosto, o nível mais alto desde Outubro de 2014, detalham os dados do Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês. É um forte aumento face ao mês anterior, quando o índice se fixou em 49,9%, e supera largamente a previsão da agência Bloomberg, que apontou para os 49,8%. Quando se encontra acima dos 50 pontos, o PMI sugere uma expansão do sector, pelo que abaixo dessa barreira pressupõe uma contracção de actividade. O índice é tido como um importante indicador mensal do desenvolvimento da segunda maior economia do mundo.

ECONOMIA EM ALTA

O resultado “assinala uma recuperação na procura e produção e uma optimização da estrutura”, refere Zhao Qinghe, um analista do GNE, em comunicado. A actividade da indústria manufactureira da China, um importante motor de crescimento económico do país, tem vindo a revelar-se volátil desde há vários

meses, face à queda na procura global por produtos chineses e o excesso de capacidade industrial no sector secundário do país, após o fim do “boom” no sector da construção. Zhao apontou ainda para persistentes pressões descendentes nas exportações e importações, devido à frágil recuperação da economia mundial. Cerca de 40% das empresas inquiridas admitiram enfrentar dificuldades financeiras, enquanto cada vez mais firmas enfrentam a subida dos custos de mão-de-obra e da logística, referiu Zhao. Após a crise financeira de 2008, a China foi o principal motor da recuperação da economia mundial, mas, no ano passado, cresceu ao ritmo mais lento do último quarto de século , 6,9%, e voltou a abrandar na primeira metade de 2016. Pequim tem encontrado obstáculos no processo de reconfiguração do seu modelo económico, que visa apostar no consumo interno, em detrimento do investimento em infra-estruturas, como motor de crescimento. Os dados ontem difundidos pelo GNE revelam que as pequenas e médias empresas têm enfrentado maiores dificuldades do que os grandes grupos que têm acesso mais fácil a crédito e ao mercado.

EMPRESAS DA UE APELAM AO FIM DE TRATAMENTO “DESIGUAL”

Deixem-nos investir

A

C â m a r a do Comércio da União Europeia (UE) na China criticou ontem o “tratamento” desigual dado ao investimento no país e apelou ao fim das interdições impostas ao capital estrangeiro, ameaçado com o acesso ao mercado europeu. “Para os chineses, a Europa é um ‘buffet’ variado, onde tudo decorre com facilidade, enquanto [na China], para nós, são quatro pratos e uma sopa”, afirmou o presidente do grupo, Jorg Wuttke, em Pequim. O comentário surge numa altura em que grupos chineses fazem grandes aquisições em empresas, clubes de futebol, infra-estruturas, aeroportos ou portos europeus. Em Portugal, por exemplo, o país asiático tornou-se, nos últimos anos, um dos principais investidores, comprando participações importantes nas áreas da energia, dos seguros, da saúde e da banca. Mas, “enquanto a Europa dá as boas vidas ao investimento estrangeiro, a falta de reciprocidade é insustentável e poderá levar ao proteccionismo e ao aumento das tensões”, lê-se num comunicado difundido ontem pela Câmara do Comércio. A mesma nota refere que é do interesse da China aliviar as restrições e demonstrar que Pequim “apoia princípios aceites globalmente”.

VAI ÀS COMPRAS

O investimento chinês na Europa aumentou 44%, em 2015, face ao ano anterior, para 20 mil milhões de euros. O governo chinês tem encorajado as empresas do país a investir além-fronteiras, como forma de assegurar fontes confiáveis de retornos, face aos sinais de abrandamento na economia doméstica, e adquirir tecnologia avançada, visando tornar as empresas chinesas mais competitivas em sectores como a indústria aeroespacial, agro-industrial e robótica.

No primeiro semestre de 2016, a estatal China National Chemical Corp ofereceu 43 mil milhões de dólares pela gigante suíça de pesticidas e sementes Syngenta, no que será de longe a maior aquisição de sempre da China no exterior. Entre outros investimentos mediáticos protagonizados pela China constam o banco alemão Hauck & Aufhauser, o fabricante de pneus italiano Pirelli e a fornecedora de sistemas robóticos Kuka.

“Para os chineses, a Europa é um ‘buffet’ variado, onde tudo decorre com facilidade, enquanto [na China], para nós, são quatro pratos e uma sopa” JORG WUTTKE PRESIDENTE DA CÂMARA DO COMÉRCIO DA UE, NA CHINA No mês passado, o grupo de investimento chinês Fosun propôs comprar 16,7% do capital do banco português BCP, por um preço que deverá ser de 236 milhões de euros, e que poderá reforçar posteriormente a sua participação “para entre 20% a 30%”. Só em Portugal, aquele grupo detém já a Fidelidade, a Espírito Santo Saúde, reconvertida em Luz Saúde, e uma participação de 5,3% na REN (Redes Energéticas Nacionais).

VANTAGEM DE CÁ

A Câmara do Comércio da UE em Pequim afirma que “seria quase impossível imaginar” que investidores europeus fossem autorizados a investir em empresas chinesas

deste calibre, referindo-se ao paradigma actual como um resultado “benéfico para apenas um lado”. A China surge na 84.ª posição atrás da Arábia Saudita e da Ucrânia - no ranking do Banco Mundial que avalia a facilidade de fazer negócios em diferentes países. No relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a República Popular da China surge em penúltimo, no que toca às restrições impostas ao investimento estrangeiro. Caso Pequim não reduza as barreiras do mercado chinês, arrisca-se a perder o livre acesso ao mercado europeu, porque o contrário seria “politicamente inaceitável”, frisou Wuttke. “O contraste absoluto entre [o fluxo de investimento chinês para a Europa] e um mercado chinês vedado levará muitas pessoas a chegar à conclusão de que a China se está a aproveitar de nós”, disse. “Como vimos com o Brexit (o referendo que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia), a globalização também produz perdedores, e os perdedores têm uma voz política”, continuou. Alguns partidos na Europa poderão vencer eleições com “argumentos contra a China”, notou Wuttke, referindo-se aos protestos de milhares de trabalhadores da indústria do aço, em Bruxelas, contra o impacto negativo do país asiático no sector. A China produz hoje mais aço do que os outros quatro gigantes do sector - Japão, Índia, EUA e Rússia - combinados, levando à queda dos preços nos mercados internacionais. No mês passado, a UE aprovou medidas ‘antidumping’ (produção subsidiada) nas importações de aço laminado a frio da China. As exportações de aço da China para a Europa aumentaram 28%, no primeiro trimestre do ano, enquanto os preços recuaram mais de 30%.


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HOJE MACAU

Aventura UMA AMIZADE QUE NASCEU DE UM SONHO COMUM

Volta ao mundo a pedalar Dois homens, o mesmo sonho: percorrer o mundo de bicicleta. Um é chinês o outro português. Quis o destino que se cruzassem. Eric Feng pedalou da China até Portugal onde lhe roubaram a bicicleta. Depois de encontrá-la, Hernâni ajudou-o e quis devolvê-la. O reencontro aconteceu agora no Império do Meio

E

M 2012 o chinês Eric Feng decidiu concretizar um sonho, unir o seu país, China, a Portugal. Porquê? Porque sempre teve uma grande paixão pelo navegador Zheng Hen, natural da sua cidade natal Kunning. Como em Portugal há um outro navegador com feitos históricos, decidiu juntar o útil ao agradável e fez uma viagem de bicicleta como símbolo de união entre estes dois países. Tudo correu bem até à sua chegada a Portugal, após ter pedalado mas de 18 mil quilómetros e de ter atravessado dez países. Quando estava em Sines, durante a noite roubaram-lhe a “fiel companheira” de duas rodas. Apresentou queixa na polícia, mas teve mesmo de seguir viagem com uma bicicleta emprestada por um português chamado Hernâni, que fazia parte de uma rede de apoio a ciclistas. “Ainda esteve em minha casa em Almada e depois seguiu viagem”, diz o português. Podia ter sido o fim desta história, mas não foi. Já quando estava na China a bicicleta foi encontrada. A

questão era como trazê-la de volta. É aqui que a vida dos dois se volta a cruzar. Hernâni é um português que gosta de aventura e que, aproveitando a reforma, decidiu organizar uma grande viagem. “Ele falou comigo e manifestou vontade de reaver a bicicleta. Eu estava na altura a preparar a minha grande viagem de volta onde pretendia unir locais de interesse em comum com Portugal e ofereci-me para a levar”. Simples! “Avisei-o que ia demorar pois antes de chegar ao Oriente ainda ia a Marrocos, ao Golfo Pérsico, ao Irão e à Índia”. Durante dois anos e três meses pedalou a bicicleta do “amigo”. Foram 23 mil quilómetros bem contadinhos.

Índia. “Fui abalroado por um camião do exército Indiano na berma da estrada e embora tivesse substituído algumas peças, a bicicleta não aguentou”. Mesmo assim continua, “ainda resistiu a Kuala Lumpur e a Malaca onde comprei outra”. Foi então que a despachou para a China. O certo é que três meses depois, “já eu tinha andado pela indonésia, Singapura, Malásia, Tailândia, Myanmar e Camboja e ninguém sabia onde parava a bicicleta”. Após muitos telefonemas, foi encontrada e enviada para uma amiga do Eric em Kuala

Lumpur. Foi ela que a trouxe para Kunming.” Depois de entregue só faltava mesmo os dois amigos voltarem a encontrar-se. “Quando cheguei à casa dele a reacção foi extraordinária. Recebeu-me de braços abertos juntamente com a sua família e alguns amigos”. Hernâni vai ficar mais uns dias. Esta volta ao mundo era um sonho de criança e “quando me vi reformado tive a noção que não ia ficar parado em casa à espera que a morte chegasse. Vendi tudo, carro, mobílias, casa e decidi viajar”. Foi a concretização de um sonho de menino. H.M.

DAS PERIPÉCIAS

Hernâni Cardoso partiu de Guimarães no dia 20 de Maio de 2014 e chegou à fronteira do Vietname com a China no dia 25 de Agosto de 2016. Mas a bicicleta do amigo que lhe serviu de transporte durante uma grande parte do percurso, não resistiu a um acidente no norte da

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA MORTE EM VIENA • Daniel Silva

Restaurador de arte e espião ocasional, Gabriel Allon é enviado a Viena para desvendar a verdade por trás de um bombardeamento que deixou um velho amigo gravemente ferido. Entretanto é surpreendido por algo que vira o seu mundo do avesso - um rosto perturbadoramente familiar, um rosto que o gela até aos ossos. Na sua busca desesperada por respostas, Allon vai pôr a descoberto um modelo de maldade que se estende por sessenta anos e milhares de vidas - e no interior dos seus próprios pesadelos...

Arte para todos

Talentos de Macau expõem obras premiadas

É

hoje inaugurada a XXXII Exposição Colectiva dos Artistas de Macau. Com organização do Instituto Cultural, (IC) tem 56 obras premiadas e seleccionadas que podem ser vistas na Galeria de Exposições Temporárias do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), a partir das 18 horas. A exposição divide-se em três categorias ; Pintura chinesa, Pintura Ocidental e Caligrafia Chinesa e recebeu 260 trabalhos para esta edição. Um júri constituído por seis membros avaliou todo o material recebido durante o mês de Julho e seleccionou as obras que agora estão em exposição. Dos artistas participantes Lam Wun Keng recebeu o “Prémio Especial para a Melhor Criação” e o “Prémio de Melhor Execução- Pintura Ocidental” pelas três obras sobre a Casa do mandarim, Rua dos Ervanários e Hotel Estoril, refere o IC. Tam Chon Kit que participa todos os anos nesta exposição, conquistou o

“Prémio de Melhor Execução- Pintura Chinesa” para o trabalho intitulado “Conversas privadas no Jardim Lou Lim Ieoc”. “Fantasia” é o nome da obra de Leong Lampo e conquistou o “Prémio de Melhor Execução – Caligrafia Chinesa” sendo constituída pela escrita simples em chinês de dois caracteres mas “cujas pinceladas transbordam de contrastes e ritmo, a fim de expressar os limites da fantasia e buscando o forte sentido espiritual da filosofia de Laozi e Zhuangzi”. A atribuição de Prémios na categoria “Novos Talentos” serve para encorajar mais jovens “a prosseguirem a sua veia criativa”. Este ano foram atribuídos quatro destes prémios nas três categorias a Chan Chong Hei, na categoria de Pintura Chinesa, Chan In Iong, na categoria de Pintura Ocidental, e Un Ka Ian e Guan Seng Lok, ambos na categoria de Caligrafia Chinesa. A exposição vai manter-se até ao dia 30 de Outubro entre as 9 e as 21 horas. A entrada é livre.

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O OÁSIS ESCONDIDO • Paul Sussman

No ano de 2152 a.C., oitenta sacerdotes do Antigo Egipto usam a capa da noite para irem até ao deserto levando consigo um misterioso objeto envolto num pano. Quatro semanas mais tarde, ao chegarem ao seu destino, cortam em silêncio os pescoços uns dos outros. Quatro mil anos mais tarde, no Egito dos nossos dias, Freya Hannen, alpinista profissional, chega para ir ao funeral da irmã, Alex, uma exploradora do Sara. Desde o início que Freya desconfia das alegações de que a irmã se terá suicidado e decide investigar as verdadeiras causas da sua morte. Paul Sussman é jornalista e arqueólogo, atividade que o leva a passar vários meses por ano em escavações no Egipto. Autor best-seller de quatro thrillers, é um dos mais conceituados e populares autores do género.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Amotinadas tropas em Zhelin

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STABELECIDOS os portugueses em Macau pelo acordo de 1554, entre o Capitão-mor Leonel de Sousa e o mandarim Wang Bo (subintendente dos Assuntos de Defesa Costeira), como base temporária para comercializarem, passou a permanente estadia em 1557. Levado de Shanghuan para Goa o corpo de S. Francisco Xavier, perdeu a ilha o comercial interesse para Lampacau que, como porto de veniaga, só deixou de o ser para os portugueses em 1561/62. A rápida ascensão de Macau resultou “tanto da decisão chinesa de transferir o centro do comércio externo de Cantão, como da interdição imposta aos súbditos chineses de se deslocarem ao estrangeiro”, como indica Tien-Tsê Chang em O Comércio Sino-português entre 1514 e 1644, onde mais à frente refere, “Seguindo a tradicional política de permitir aos estrangeiros que viviam em grupo na China que mantivessem as suas estruturas de governo, de acordo com as suas leis e costumes conquanto estes não se mostrassem incompatíveis com a paz e a ordem da China, as autoridades cantonenses (se bem que de início não de um modo explícito) deram autorização para que os portugueses se governassem a si próprios. Sob a influência de alguns membros mais proeminentes da jovem colónia formou-se, em 1560, um governo rudimentar que consistia num Capitão da Terra, num Ouvidor, cujo poder era o mesmo dum Juiz de Paz, e num Bispo”. Assim com Macau, as autoridades chinesas colhiam “os benefícios do comércio externo sem permitir que os estrangeiros se deslocassem a Cantão ou que os chineses saíssem do país. Aqui, mesmo às portas de Cantão, erguia-se uma comunidade de estrangeiros que, de muito bom grado, levava o que a China tinha para oferecer aos outros países e trazia tudo o que ela precisava de fora, em termos que lhe eram satisfatórios”, segundo Tien-Tsê Chang. Entre 1558 e 1560 Diogo Pereira é “Capitão de terra nomeado pela população, governando com dois homens-bons, sem prejuízo para o Capitão da Viagem ao Japão, que se

sobrepõe enquanto permanece em Macau, e sempre na dependência do Vice-Rei da Índia”, segundo Beatriz Basto da Silva, que refere, “No período entre 1560 e 1564, sensivelmente, o poder português em Macau é alvo de uma luta civil entre moradores e mercadores, sendo que a família-empresa, (como lhe chama L. F. Barreto), de Diogo Pereira se encarrega de organizar o sistema de pagamento alfandegário que Guangdong aceita. É a família Pereira que aproveita o assentamento de Leonel de Sousa e o faz evoluir no quadro do triângulo mercantil Ocidente-China-Japão”. E seguindo pela História de Macau de Gonçalo Mesquitela, “...nas instruções que D. Francisco Coutinho, conde de Redondo, leva ao partir para a Índia, como vice-rei, constava a de que tornasse a mandar Diogo Pereira por Embaixador e Capitão

da China, com o presente necessário à Embaixada para a qual trazia de Portugal algumas peças de muita estima. Chegado a Goa em Setembro de 1561, verificou que Diogo Pereira estava na China. As instruções eram tão precisas que o conde de Redondo, logo na monção seguinte, em Abril (1562) mandou fazer prestes um galeão cujo comando confiou ao cunhado de Diogo Pereira, Gil de Góis” (...) “Chegados a Macau em 24 de Agosto de 1562, Diogo Pereira escolheu a capitania-mor (da Cidade do Nome de Deus no Porto de Amacau), passando a embaixada a Gil Góis”. Já com a embaixada recusada pelos mandarins, foi Diogo Pereira eleito a 23 de Agosto de 1562, “não oficialmente, para Capitão de Terra”, cargo abolido no ano seguinte pelo Vice-Rei da Índia. “Isto não implicou, porém, que Diogo Pereira con-

tinuasse a ser chefe da comunidade, tal era o seu prestígio”.

REBELIÃO DE TROPAS CHINESAS

“Uma rebelião interna nas costas da China, em Guangdong ocorreu em Abril de 1564, questões de salário fizeram amotinar as tropas em Zhelin e estas, unidas a traficantes de sal e piratas de Hainan, moveram corso no litoral e saque a Cantão. A resolução de tão grave perturbação coube à conjugação de esforços das autoridades militares de Guangdong e à artilharia naval dos portugueses de Macau. A vitória foi alcançada a 7 de Outubro seguinte”, segundo Beatriz Basto da Silva e os historiadores Jin Guo Ping, Wu Zhiliang e o padre Manuel Teixeira complementam, após o general cantonense Tang Kekuan vir a Macau pedir ajuda militar portuguesa para reprimir o motim


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José Simões morais

dos marinheiros de Zhelin. “E foi este acontecimento que implicitamente outorgou a posse de Macau aos portugueses, já que nenhum documento (chapa imperial) regista um tratado para conceder a posse”. “Os chineses apenas podiam permanecer durante o dia no território de Macau, devendo regressar às terras de origem ao anoitecer,” Beatriz Basto da Silva e continuando, assim é de 1564 “o primeiro acontecimento documentado em que as autoridades chinesas se referem ao ‘estatuto’ de Macau”, como Beatriz Basto da Silva cita da fonte Fok Kai Cheong, referindo este também para esse ano “um pormenorizado Memorial feito pelo Censor Provincial de Guangdong/Guanxi, Pang Shangpeng, para informar a autoridade imperial sobre Macau”. Gonçalo Mesquitela, sobre os factos “situados em 1564, 43.º ano do imperador Chia Ching refere que em Sam Moon e Che Ham, no Distrito de Tung Koon, perto de Cantão, houve um sério problema de pirataria. Citando o relatório de um tal Chan Yet Cheng dirigido a Ng Kwei Fong, comandante das forças, acerca do sucesso dos seus esforços para erradicar a área dos ladrões do mar japoneses mancomunados com foragidos chineses, diz: «Em Chiu Chow havia centenas de soldados cujo dever era o guardar os seus postos avançados, mas deitaram fora os seus elmos e rebelaram-se contra o governo. Embarcaram em barcos que tomaram e assaltaram o que encontravam. O assunto foi exposto à Corte e os mandarins, depois de discutido o assunto, dedicaram atacar os bandidos que cometiam depredações e roubavam o povo, fugindo depois. Falhando vários ataques, eles foram criando mais forças e a população de Cantão começou a desesperar... o povo não sabia como lidar com a situação e muitos dos letrados e funcionários expressavam o desejo de se retirarem para outros sítios. Se os piratas não fossem suprimidos toda a Província teria sido atirada para uma situação caótica...» Sobre o mesmo assunto, o autor referido (Chou Chien Lien), cita um memorial de Yue Tai Yan, intitulado Medidas para suprimir os bandidos: «Os preparativos para o ataque aos bandidos levaram mais de dez dias. Entre os barcos de Macau de Hueng Chan, seleccionei certo número de antigos e cansados, incluindo embarcações pertencentes a Lam Wung Chung. Estrangeiros ofereceram-se para auxiliar e se

“Uma rebelião interna nas costas da China, em Guangdong ocorreu em Abril de 1564, questões de salário fizeram amotinar as tropas em Zhelin e estas, unidas a traficantes de sal e piratas de Hainan, moveram corso no litoral e saque a Cantão. A resolução de tão grave perturbação coube à conjugação de esforços das autoridades militares de Guangdong e à artilharia naval dos portugueses de Macau. A vitória foi alcançada a 7 de Outubro seguinte” BEATRIZ BASTO DA SILVA a sua ajuda se revelasse eficaz, o seu chefe seria recompensado amplamente, embora não haja decreto imperial autorizando-o a pagar tributo. Logo que os barcos se aprontaram eles serão distribuídos entre as embarcações de Macau e os barcos de Pak Sek de Nam Tau. Indicarei então a data para a reunião das embarcações e será lançado a seguir o ataque aos piratas.» Descreve a seguir a batalha de Sam Moon, na qual Diogo Pereira venceu” os piratas.

SITUAÇÃO CAÓTICA

É do Padre António Franco a descrição desta crise, retirado de Gonçalo Mesquitela: “Pouco antes, tinham-se verificado intensos ataques japoneses à costa do Kwangtung (Guangdong). Retirados os wako, as tropas chinesas que para ali tinham sido destacadas, revoltaram-se por não serem pagas e saltaram em terra nos subúrbios de Cantam e os saquearam à vista dos mandarins que tendo gente prestes, o não o puderam remediar. Depois disto, os amotinados tomaram e fortificaram um porto distante uma jornada de Cantão. Armaram novos juncos e dedicaram-se à pirataria. Nas suas expedições destruíram os lugares maríti-

mos e a gente era obrigada a meter-se por terra dentro. Macau estava também arriscada”. (...) Diogo Pereira não deixou perder a ocasião que in extremis se lhe deparava. Certo de que os portugueses bateriam os piratas se os atacassem, “mandou um criado seu a Cantão para, da sua parte, prometer ao general de armas de Cantão ajuda contra os piratas. Tudo isto fez sem consultar João Pereira, o capitão-mor. Por isso, ao regressar o criado com a resposta do mandarim de <que estimava muito a oferta e a aceitavam>, criou-se forte tensão. O criado revelou a missão a que fora e o capitão-mor irou-se porque Diogo Pereira oferecera o auxílio de tropas comuns que não estavam sob o seu comando, mas que dependiam do capitão.” (...) “Mas a situação era tão grave e o auxílio tão necessário que, pouco depois, entrou um mandarim principal, pedindo auxílio, em nome do general de armas. Todos os portugueses concordaram, então, em atacar os piratas que também lhes eram daninhos e porque estavam em terras da China. <E que este serviço era de grande momento para afeitar muitas outras pretensões...>. Armaram-se 300 portugueses decididos, passaram a sua artilharia para os juncos dos chineses, para melhor enganarem os piratas. Formaram duas esquadras, uma sob o comando de Luís de Mello e outra de Diogo Pereira, simples moradores que chamaram a si a despesa da campanha. Nota-se como foi evitada a presença ostensiva de forças do capitão-mor representativas da Coroa. Adoptaram o plano do general de armas de Cantão, que era o de Diogo Pereira se colocar na saída do estreito enquanto Luís de Mello ia atacá-los.” E prosseguindo o relato de Mesquitela, “Os piratas, ao verem aproximar-se os juncos, tomaram-nos mais como presas do que como inimigos e prepararam-se para os abordar. Luís de Mello, <chegando-se perto e julgando a artilharia conheceram os piratas seu engano e que a cousa era com os portugueses. Entrou-lhes tal medo que das embarcações se lançaram a nadar e cada um só tratava de fugir. Em espaço de meia hora, sem perda alguma dos nossos, quase todos foram cativos>. A actuação dos portugueses impressionou fortemente o governador de armas. Mas outro conflito se ia originando quando pediu que lhe fossem entregues os juncos cativos. Os nossos recusaram-se a entregá-los. A

situação foi salva a tempo por Luís de Mello e Diogo Pereira que, diplomaticamente, explicaram ao general que os portugueses eram tão disciplinados que só aos seus capitães obedeciam. O general chinês subtilmente retorquiu: <Pois eu por isso os pedi, por entender que vos me havíeis logo de rogar que os aceitasse>”, segundo refere Gonçalo Mesquitela, que usou as informações do Padre António Franco para a descrição desta crise. Terminava assim tão grave perturbação criada desde Abril de 1564 pela rebelião interna na marinha imperial estacionada em Zhelin nos arredores de Cantão e a resolução coube à conjugação de esforços das autoridades militares de Guangdong e à artilharia naval dos portugueses de Macau, que a 7 de Outubro alcançaram em Dongguan uma vitória sobre os rebeldes. O general de armas chinês ficou tão afeiçoado a Diogo Pereira que autorizou os portugueses a irem a Cantão tratar de negócios.

General Ming


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h Do real absoluto. Do absoluto ideal

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STAS coisas dizem-se depois, se houver. A realidade daquela escarpa abissal à beira da cama. À beira do rio de mansidão à beira do travão do carro. Não se dizem. Mas é indiferente ao remorso. Hoje, no supermercado, comprei uvas com sulfitos. Não sei o que é mas deve ser uma coisa boa. Dizia ali. Provei-as mesmo sem lavar. Eu provo sempre a fruta no supermercado. Enfim, a de menor calibre. Lembro-me sempre de que ela, que aqui dorme ao meu lado no carro, dizia dantes que nos mercados de Tomar, de Tomar dantes, se dava sempre a fruta a provar. A fruta de antigamente. De tamanho variável e sem a alcunha pobre do calibre. De rugosidade variável e de brilho variável. De assimetrias a tornar cada peça uma coisa única da criação. Ela está aqui. Está e não está. Cada vez mais lhe vejo só o prateado do cabelo e menos o rosto. À medida que se vai curvando sobre si própria. Numa curva para dentro de um nada que começou há muito a invadir-lhe o interior. E à mesa, na minha frente, ainda. A minha recusa de a ver doente. Empurra a comida para o garfo com um dedinho infantil, inábil e um pouco trémulo, indeciso do efeito e da intenção. Começámos a comer muito lá atrás. Eu que como devagar, já fumo um cigarro na sua frente e observo-a dando-lhe espaço para alternar os seus estados de consciência. Dando-lhe todo o tempo. Parece uma criança. Cada vez mais. Cada vez mais pequena e próxima do prato por vezes irreconhecível. Às vezes só uma criança muito pequena. Outras vezes, como se com uma síndrome. E criança. De olhos toldados de incompreensão. Ponho-lhe uma taça na frente com um cachinho de uvas que ela adorava. Adorava, quando sabia que adorava. Lavadas agora e frescas. Pega nele, sabe-se lá se com a vaga memória de gostar, e pergunta se pode comer. Sempre. Pergunta sempre, agora. Quando se lembra do que se trata ali. E eu na frente já fumei dois cigarros e agora escrevo. A dar-lhe todo o tempo. A observar e a absorver o que ainda há. A

tentar entender. Não há tempo. O tempo do relógio não existe. Nada disto me é estranho porque ela não é uma estranha. É ela. Não sei onde, talvez no corpo, ou em mim. Ainda. É real? E o gato, há um gato de uma vizinhança de daqui a dois prédios, e que afinal é uma gata, e que passa como se fosse um spot rápido na televisão. Na minha janela. Uma janela no terceiro andar. Ou quinto. Como no outro sítio, o meu vizinho chinês, jovem de idade indefinida, passava de varanda para varanda quando me esquecia da chave dentro de casa. E esquecia tantas vezes. E ele sem vertigens. A passar de varanda para varanda. Como o gato. Que afinal é uma gata. Como eu num outro terceiro andar, miúda. Sem a noção de preço e de morte. A passar de varanda para varanda. Quando me esquecia da chave dentro de casa. E esquecia tantas vezes. É isso. Fragmentos abruptos e efémeros de irrealidade. Todo aquele céu, todo aquele rio, todo aquele silêncio parado. E nada. Falsamente nada. Porque as águas não param de correr, mansas, inexoráveis a querer dizer. Nada. Mais do que nós ali. Eu, a minha enorme indiferença, ela, a sua enorme anulação. E minha, nela, em mim, sem mim. Passamos no corredor. Ontem. Ao lado do móvel onde estão todas aquelas fotografias já quase impertinentes. Em que não reparo, no temor de cair por ali adentro. Ou ela. Naquela espécie de passo de dança indecisa, esquecida, lenta em que a ajudo. Diz as minhas filhas estão todas ali. Um acesso inusitado e estranho de uma lucidez rara, confusa e quase assustadora. De palavras. De profundidade. Do rio. Todas as idades delas, minhas, dela. Há muito tempo que não lhes vê diferença. De pessoa ou de tempo. E ela abandonada. Ali abandonada de todas nós, no banco dianteiro do carro, na cadeira, na cama. Abandono-a à única indiferença possível à sua desaparição imparável, por detrás do corpo sólido. Também a diminuir. Abandono-a comigo. Nela. E procuro na imensidão do espaço, a indiferença à indiferença. Na

diluição, no espaço, na dor. No vocabulário dentro. Do qual, tudo é possível. Começar, imaginar, cometer. De dentro para fora. Da desconstrução. Deve haver outra maneira de não olhar para a frente para todos os significados possíveis e aquela sensação delimitada. Do pé. Como uma louca a andar e janela em janela. Às vezes. Outras vezes. Na casa. A tentar sentir. O sabor do rio e ele ali. Pequenino, seguro, longínquo na janela pequenina. O rio. O mesmo de antes. Que estava ali à beira do carro. Na frente do carro. Não há silêncio maior do que o silêncio denso e insólito do verão. Do rio à beira do que quer que seja, no verão. Naquele local de silêncio que escolho longe de tudo. Menos de algumas pessoas que fazem coisas de tempo e de silêncio. Como pescar. Às vezes à noite. Famílias ou algo no género. Vizinhos, talvez. Várias idades, sem smartphone, vozes esparsas, ali, à beira rio. À pesca. Como noites de há muito, antes da televisão e de tudo. Não há silêncio maior do que o do calor do Verão, mais evocativo da planície se esquecer as cigarras. Mas é o tecido da planície. Do ar. Há um vazio especial no ar parado, na temperatura do calor tórrido, do ar. Na temperatura entorpecente do corpo à beira do abismo do rio como do carro à beira do rio sem barreiras, do carro para o rio, para mim. Onde quer que esteja naquele preciso momento. E a questão é sempre a do lugar. Estar ali, mais longe do que em qualquer país estrangeiro. Como um intervalo de sono. Ela ali sentada sumida ao meu lado no banco dianteiro. Cada vez menor. Dormita e de repente palra um pouco. Como antes de aprender a falar. E peço-lhe que me deixe calada. Que se deixe calada de novo e dormitar. Que me deixe esquecida. Concentrada na indiferença. O que sobra da dor. Do amor, digo. E ela passa-me na varanda todos os dias, para lá e depois para cá. Pára sempre e olha. Às vezes eu vejo. Já aconteceu estar dentro de casa e eu não reparar, não

saber e ela vem dali. Mas muitas vezes eu vejo. Num repente em que desvio os olhos do que penso ou para o que penso. E vejo. E quando vejo, é porque passou. Ali. Na varanda. E se vejo, suponho que existe. Há outras provas determinantes de realidade. E quando vejo, e porque é mansa, e nunca deixa de me olhar naquele fragmento de tempo em que me passa na janela aberta, fico contente com a vida que me faz caminho. E este gato vizinho, é real. Como aquele momento. A concentrar-me na pressão potencial no pedal, possível, a não fazer. Ainda. O pedal do lado da foz. Uma pequena pressão, só, o travão desengatado, e uma pequena pressão como num gatilho para um tiro surdo. Rápido. Com todo o percurso de eternidade de querer e de não querer e não fazer sentido uma coisa ou a outra. E ser só um momento aleatório de possibilidades. E a diferença entre fazer e não fazer é tanta ou tão pouca como a realidade deste gato. Gata. Eu sei. Cinzenta. Tigrada. Gordinha. Passou por ali um anjo. Dependendo do exacto momento, se determinável, se definido algures naquela paragem, de morte ou salvação. Mas não houve registo nítido desse fragmento na ordem das coisas. Não saber. Era preciso determinar com absoluto rigor. O imperceptível rumor. Que nem ouvi. E quando. Talvez uma ronda de rotina, afinal. Sem mais intencionalidade. E não sei porquê. Porque voltei, voltámos. Talvez porque restam os anjos. E se restam os anjos, é com eles que eu posso ser feliz. Há maneiras mais pobres de morrer. Mas restam os anjos. E se restam os anjos eu posso ser feliz. À maneira deles. Se restam os anjos. E, quando abro a janela e olho, e ela passa, sei que ainda me parece um resquício surreal e insólito. Mas é tão real como qualquer outra coisa. E fico contente, não sei porquê. E ali na beira do rio, também não sei porquê. Talvez porque restam os anjos. E, se restam os anjos, é com eles que eu ainda posso ser feliz. Se restam os anjos, eu posso ser feliz. Se restam os anjos.


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de tudo e de nada

Anabela Canas

ANABELA CANAS


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A

NDRÉ Couto conquistou o terceiro lugar da classe GT300 na prova rainha do campeonato Super GT, os 1000 quilómetros de Suzuka, no passado fim-de-semana. Este foi o melhor resultado de uma temporada que tem sido particularmente difícil para o piloto que é campeão em título da categoria. “Devemos estar satisfeitos porque foi um bom fim-de-semana no geral”, verbalizou Couto, que faz equipa este ano com o japonês Ryuichiro Tomita, no final da prova. Largando da sexta posição, para uma prova que teve mais de cinco horas de duração, Couto fez o primeiro turno de condução, entregando o carro ao seu companheiro de equipa já na segunda posição. Depois, Tomita teve um alegado contacto com o Subaru BRZ oficial e foi penalizado, caindo o Nissan do Team Gainer para fora dos dez primeiros. A corrida teria o seu primeiro momento de “Safety-Car” à 98ª volta já com Couto ao volante e o seu Nissan à frente da categoria GT300. Fruto de diferentes estratégias, Couto desceria para a segunda posição e depois, com a chuva a cair no final da corrida, o Nissan cinzento ainda haveria

COUTO FAZ O MELHOR RESULTADO DA ÉPOCA EM SUZUKA

Crescente de forma de perder mais uma posição, desta vez com o piloto nipónico novamente ao leme. Ainda assim o resultado do duo luso-nipónico foi visto como bastante positivo. “Foi o nosso primeiro pódio do ano esta temporada”, explicou Couto, acrescentando que “os 1000 quilómetros de Suzuka são a prova mais dura do campeonato e estamos orgulhosos deste resultado neste evento. Houve momentos de má sorte na corrida, mas também de sorte - e no fim fomos capazes de marcar pontos (13 pontos) também, o que é bom”. O campeonato Super GT regressa em Outubro para sua

única prova fora do Japão, no Circuito Internacional de Chang, em Buriram, na Tailândia, terminando em “casa”, no mês Novembro, com uma jornada dupla na pista japonesa de Motegi.

TEMPORADA DIFÍCIL

O ano passado Couto venceu na classe GT300 os 1000 quilómetros de Suzuka, colocando-se em posição privilegiada para ser campeão da categoria, o que viria a acontecer uma prova mais tarde. Contudo, hoje, Couto e Tomita têm apenas 24 pontos e ocupam apenas o nono lugar a 23 pontos

“Os 1000 quilómetros de Suzuka são a prova mais dura do campeonato e estamos orgulhosos deste resultado neste evento” ANDRÉ COUTO PILOTO

GONÇALO GUEDES PROMETIDO AO VALÊNCIA

Gonçalo Guedes está a ser negociado para o Valência a troco de 25 milhões de euros, verba a pagar em duas prestações iguais de 12,5 milhões de euros, pode ler-se na edição desta quinta-feira de A BOLA. No entanto, o extremo de 19 anos ficou, para já, no plantel do tricampeão nacional. A mudança para o emblema `che´ está agendada para Janeiro, altura em que o mercado de transferências reabre. A operação, que pode ser anunciada a qualquer momento, tem contornos semelhantes às do avançado Rodrigo Moreno e do médio André Gomes.

dos líderes do campeonato, a dupla japonesa da equipa oficial da Subaru, Takuto Iguchi/Hideki Yamauchi. Apesar de Tomita ser claramente inferior a Katsumasa Chiyo - o jovem japonês que o ano passado acompanhava o piloto da RAEM no Nissan do Team Gainer na maior parte das provas – há muitas outras razões para explicar os resultados mais modestos do GT-R Nismo GT3 Nº 0 esta temporada. A Dunlop, que equipa o Nissan de Couto, tem tido nas locais Yokohama e Bridgestone oposição à altura, sendo que nenhum dos fornecedores de pneus tem mostrado supremacia incontestável em relação aos seus rivais em nenhum ponto do campeonato. Ao contrário da BMW, Audi ou Ferrari, a Nissan não lançou um carro novo para esta época e continua a utilizar o mesmo carro de anos anteriores, apostando em pequenas actualizações para tentar

JOGADOR DE MACAU RUMA A BRAGA

DESPORTO

equiparar-se aos seus adversários. Depois, as atenções da Nissan parecem na classe GT300 estar focadas no carro nº3, entregue aos seus protegidos Kazuki Hoshino/ Jann Mardenborough. Igualmente, existe uma queixa recorrente que o Balanço de Performance (BOP – na sigla inglesa – que é responsável pelo equilíbrio de performance em pista de viaturas com princípios técnicos tão diferentes) é desfavorável às viaturas FIA GT3, como o Nissan de Couto, em comparação com as viaturas “made in Japão” JAF300, como é o caso do Subaru que lidera o campeonato. Couto tem sido cauteloso nas palavras sobre este assunto, mas nem todos os pilotos têm sido assim tão contidos. Nobuteru Taniguchi, que conduz um Mercedes-Benz AMG GT3, queixou-se depois da corrida de Suzuka que “só nas paragens boxes os JAF300 ganharam 20 a 30 segundos”. Uma ideia reforçada por Takashi Kobayashi, que tripula um BMW M6 GT3, para quem “o lastro que carregava, mais a restrição da compressão do turbo estipulada, fizeram parecer que conduzia um GT200...” Sérgio Fonseca

info@hojemacau.com.mo

David Kong Cardoso é, actualmente, uma das maiores referências do futebol de Macau a nível internacional. Depois de ter jogado pela equipa do Loures, Mafra e pelo Cova da Piedade, o jovem jogador foi agora contratado pelo Braga, para integrar o plantel da equipa B. David Kong Cardoso é natural de Macau e é filho do antigo treinador do Ka I e do Benfica. O jogador foi bi-campeão nacional de Portugal depois de ter conquistado o Campeonato de Portugal (ex- Campeonato Nacional de Seniores) pelo Mafra e repetiu o feito ao serviço do Clube da Cova da Piedade. Viu agora os esforços compensados ao integrar um dos grandes clubes de Portugal.


20 (F)UTILIDADES TEMPO

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AGUACEIROS

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

MIN

25

MAX

29

HUM

80-98%

EURO

8.90

BAHT

Sábado CONCERTO DIDÁCTICO DE BARROCO E CLÁSSICO Fundação Rui Cunha, 16h00

Diariamente EXPOSIÇÃO “THE RENAISSANCE OF PEN AND INK - CALLIGRAPHY AND LETTERING ART DE AQUINO DA SILVA Armazém do Boi (até 18/09)

O CARTOON STEPH

ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017) EXPOSIÇÃO “O PINTOR VIAJANTE NA COSTA SUL DA CHINA” DE AUGUSTE BORGET Museu de Arte de Macau (até 9/10) EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11) SOLUÇÃO DO PROBLEMA 71

C I N E M A

PROBLEMA 72

UM FILME HOJE

SUDOKU

DE

EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12)

Cineteatro

1.2

APETECE-ME PATANISCAS

FILME “UNA MIRADA AL MAR” (FESTIVAL LATINO MAPEAL) Universidade de Macau, 19h00

EXPOSIÇÃO “PREGAS E DOBRAS 3” DE NOËL DOLLA Galeria Tap Seac (até 09/10)

YUAN

AQUI HÁ GATO

INAUGURAÇÃO DE EXPOSIÇÃO COLECTIVA DE ARTISTAS DE MACAU (ATÉ 30/10) IACM, 18h00

EXPOSIÇÃO “ROSTOS DE UMA CIDADE – DUAS GERAÇÕES/ QUATRO ARTISTAS” Museu de Arte de Macau (até 23/10)

0.23

Eu tenho preocupações! Pode parecer que sou um gato descontraído e que há poucas coisas que me incomodam para além de ter a minha liteira limpa, o prato com comida e água na tigela. Mas desenganem-se! Considero-me um animal informado e mais do que tudo, preocupado com o mundo que me rodeia. Eu que já estava a esfregar as minhas patinhas, contente que estava, para ir comer umas pataniscas de bacalhau ao novo restaurante das Casas Museu da Taipa, e não é que o restaurante me saiu um espécie de “antes do ser já não o era”? Então mas não foi há pouco tempo que decidiram que sim, que ia haver um restaurante naquele espaço? Não se pode dormir uma sesta, que quando se acorda, parece que o mundo mudou. Fiquei desanimado e como tempo está de chuva, até um pouco deprimido. O que me vale é que estamos em véspera de fim-de-semana. Haja algo que me anime. E por falar em descanso, soube que vai haver um festival de pirotecnia aqui nas redondezas. Até gosto de ficar sentado em frente à janela a ver “as estrelinhas” de luz a “escorregarem” por ali abaixo no céu, mas confesso que tenho muito medo do barulho. Aquelas explosões ou rebentamentos, fazem disparar o meu pequeno coraçãozinho e fico cheio de ansiedade. Estou aqui num dilema...por outro lado acho que devemos ser fortes e combater os nossos medos, afinal de contas como diz aquela senhora muito bonita que é cantora, “what doens´t kill you makes you stronger”... Miaaauuuuuuuuuuuuu. Pu Yi

“SULLY” (CLINT EASTWOOD, 2016)

Sully é um drama biográfico que conta a história do Voo US Airways 1549 e do piloto Chesley Burnett Sullenberger III. Baseado na autobiografia de Highest Duty: My Search for What Really Matters, de Sullenberger e Jeffrey Zaslow a película tem início a 15 de Janeiro de 2009 quando um voo partiu do aeroporto LaGuardia e após três minutos ficou sem motores devido à colisão com um bando de gansos. Com 155 pessoas a bordo Sully consegue, numa missão de coragem, salvar a tripulação e passageiros e atingiu o estrelato pela acção. Mas, não tarda também a sua vida foi invadida pela imprensa. Angela Ka

TRAIN TO BUSAN SALA 1

TRAIN TO BUSAN [C]

FALADO EM COREANO LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Yeon Sang-ho Com: Gong Yoo, Ma Domng-Seok, Choi Woo-sik 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2

NERVE [C]

Filme de: Henry Joost, Ariel Schulman Com: Emma Roberts, Dave Franco, Emily Meade, Miles Heizer 14.30, 18.00, 19.30, 21.30

CHIBI MARUKO CHAN - A BOYFROM ITALY [B]

FALADO EM CANTONÊS Filme de: Jun Takagi 16.45 SALA 3

THE LETTERS [A]

Filme de: William Riead Com: Juliet Stevenson, Max Von Sydow, Rutger Hauer 14.30, 19.15

SHIN GODZILLA [B]

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Hideaki Anno Com: Yutaka Takenouchi, Hiroki Hasegawa, Satomi Ishihara 14.30, 16.45, 21.30

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


21 hoje macau sexta-feira 2.9.2016

OPINIÃO

contramão

ISABEL CASTRO

O estado do sítio

1. Vira o disco e toca o mesmo – mais uma ideia apresentada, mais uma ideia contestada. Desta vez não é um hotel, não é um centro de doenças infecto-contagiosas, não é uma biblioteca. É um restaurante. Um res-tau-ran-te. Um sítio onde se cozinha, onde se come e onde se bebe, numa das zonas mais interessantes da Taipa: as Casas-Museu, de traça portuguesa, uma área onde, à excepção da Festa da Lusofonia e das fotografias de casais de matrimónio contraído, mais um ou outro concerto de jazz, não se passa rigorosamente nada. Para quem gosta de passear por ali, para quem gosta de cidades e para quem gosta de Macau, um espaço de restauração naquela zona faz todo o sentido. Como faria sentido ter bares e esplanadas e sítios agradáveis espalhados por aí, para as pessoas daqui poderem ter uma vida que vá além da casa, do trabalho, da tasca e (para quem pode) dos restaurantes de luxo nos casinos. As Casas-Museu fechadas não servem a ninguém, assim como não servem a ninguém as trancas das portas de vários edifícios do Governo espalhados pelo território. A antiga Câmara Municipal das Ilhas é outro taipeiro exemplo, transformada que se encontra em algo sem acesso público, em algo sem qualquer interesse. O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura teve uma ideia – mais uma ideia – e achou por bem tentar dinamizar a zona do Carmo, dar outra vida às Casas-Museu, que se encontram em obras, as primeiras desde 1999. A intenção era receber, num dos edifícios, um “projecto de restauração de estilo português”. Sucede que, à semelhança de todas as intenções de Alexis Tam, também esta causou “uma discussão acalorada na sociedade”. Vai daí, anuncia-se que o projecto fica para depois, não se faz agora. Não há consenso. O chato do consenso. Começamos a ficar habituados a projectos anunciados, para serem cancelados uns dias ou uns meses depois. Como é claro para quem vai acompanhando a vida política da cidade, não há nada que venha do gabinete dos Assuntos Sociais e Cultura que mereça o consentimento silencioso de interesses diversos que por aí andam. Nem sequer um restaurante. Dizem-me que a explicação é de cariz ecológico, o que até teria piada se tudo isto não consubstanciasse a tristeza profunda que episódios como este representam: em Macau nada muda, nada muda para melhor, não há uma pequena ideia de melhoria de um espaço – com as repercussões que essas melhorias trazem para o cidadão que só quer beber um café enquanto passeia – que vingue. Não é por causa do croquete, do bacalhau ou da salada de polvo, perigosas ameaças aos mangais da Taipa, às espécies animais e vegetais da zona. Não é por causa do copo de vinho tinto do Douro, do queijo e do presunto, substâncias altamente po-

JAMES PARROTT, ANOTHER FINE MESS

isabelcorrreiadecastro@gmail.com

luentes. É por causa do que tudo isto nos deixa perceber. Chegou a hora de o Chefe do Executivo tomar uma decisão: Chui Sai On tem de pensar se quer ou não um secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Não precisa de fazer declarações à imprensa sobre as qualidades do político que escolheu para o cargo. Não precisa de lhe tecer elogios. Mas precisa de fazer o trabalho de casa. É que, vistas bem as coisas, as ideias de Alexis Tam fazem parte do caderno de encargos assumido pelo líder do Executivo. As Linhas de Acção Governativa são um compromisso anual de Chui Sai On. Durante anos, as promessas do Chefe não passavam do papel. Agora, com alguém que mostra vontade em materializá-las, também não passam. Deve ser Chui Sai On a garantir, pelas vias com que se faz a política local, que Alexis Tam não chega ao final do mandato como o secretário que mais projectos anunciou e menos conseguiu concretizar, por manifesta falta de apoio. Incluindo o do Chefe do Executivo. 2. Uns querem fazer e encontram obstáculos que não lembram ao diabo; outros não fazem o que já deveria ter sido pensado e feito há, pelo menos, uma década. Esta semana, o Comissariado da Auditoria anunciou que, entre 2004 e 2014, o Go-

verno gastou 5030 milhões de patacas em rendas e obras de remodelação para que 68 serviços públicos tivessem instalações. Há um grande culpado para o organismo de Ho Veng On – dá pelo nome de Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Pecou por inércia, por nada ter feito. Uma culpa que, digo eu, deveria ser partilhada com o secretário da tutela e com os chefes do Executivo que mandaram na terra durante o período a que diz respeito a auditoria feita.

“Chegou a hora de o Chefe do Executivo tomar uma decisão: Chui Sai On tem de pensar se quer ou não um secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. É que, vistas bem as coisas, as ideias de Alexis Tam fazem parte do caderno de encargos assumido pelo líder do Executivo.”

A falta de edifícios próprios para acolher os serviços públicos é de uma enorme conveniência para quem detém os imóveis arrendados à Administração. Há muita gente a ganhar dinheiro com esta situação – ou, se preferirmos, pouca gente a ganhar muito, mas muito dinheiro. Negociar renovações de arrendamentos com a Administração deve ser o sonho de qualquer senhorio: estar a mudar o serviço x ou o departamento y é uma maçada e uma grande despesa, sendo que também não cai nada bem em termos de opinião pública. O pobre do cidadão comum já se habituou a fazer as malas de dois em dois anos porque o que lhe pedem de aumento de renda não bate certo com o salário que cai na conta ao final do mês, pelo que toca a procurar uma opção mais em conta. Mas fazer mudanças de serviços públicos requer outra logística – e o arrendatário cede às pretensões do proprietário, como demonstra o gráfico do Comissariado da Auditoria sobre as despesas de arrendamento, com uma linha que sobe de ano para ano, e sobe muito. Não tenhamos ilusões: um grupo de descontentes com a possibilidade de um restaurante nas Casas-Museu trava um projecto, mas os relatórios da Auditoria não costumam ter repercussões significativas. É o estado do sítio: vira o disco e toca o mesmo, e fica tudo em águas de bacalhau.


22 OPINIÃO

hoje macau sexta-feira 2.9.2016

RUI TAVARES

SHAWN LEVY, DATE NIGHT

in Público

A

Uma pouca-vergonha

POSTO que nem nos seus sonhos mais loucos o leitor imaginou pagar apenas 50 cêntimos de impostos por cada mil euros de rendimento tributável. Agora imagine que as coisas lhe corriam particularmente bem e que, num ano em que tivesse ganho ainda mais dinheiro, o estado decidia cobrar-lhe dez vezes menos: cinco cêntimos por cada mil euros. Impossível, não é? Estas coisas simplesmente não acontecem aos cidadãos comuns. Mas aconteceram à então maior companhia do mundo, a Apple. Graças a um chamado “acordo de namorados” (sweetheart deal) com a República da Irlanda, a Apple começou por pagar 1% de imposto no início do milénio, passou para 0,5% no início da década e num dos seus melhores anos teve a extraordinária taxa de 0,005% aplicável a todo o lucro obtido em território da UE. Ou seja, por cada milhão de euros a Apple pagava 500 euros — menos do que paga um reformado português com uma pensão um pouco abaixo do salário médio nacional.

Mas em 2014, um dos anos em que obteve mais lucros, a Apple pagou só 50 euros por cada milhão. “Acordo de namorados”, uma ova. Isto é uma pouca-vergonha. Este é o dinheiro que falta às nossas escolas e hospitais, jardins e bibliotecas, pensionistas e desempregados, à ciência e às energias renováveis, para o investimento público e para o estímulo ao emprego, para o programa de reinstalação de refugiados e para o pagamento da dívida pública. Quando vos perguntarem onde está o dinheiro para novos programas sociais (ou simplesmente para manter os antigos) a resposta é simples: não é só a Apple, nem só a Irlanda, que estão metidas neste jogo imoral. Outras grandes companhias como a Google, a Amazon e a Facebook (para ficar só nas tecnológicas) pagam também uma fração de um por cento de impostos. Países como o Luxemburgo especializaram-se (no tempo do atual presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker) em ajudar as mul-

“A UE pode ser uma ferramenta para acabar com o maior escândalo económico do nosso tempo”

tinacionais a fazer “planeamento fiscal agressivo”, uma prática que desvia dos cofres públicos cerca de 700 mil milhões de euros todos os anos. Se lhe somarmos a fuga ao fisco propriamente dita, dá mais do que todo o orçamento da UE — para sete anos. E, claro, pelos Países Baixos voam alto os lucros das empresas portuguesas: no início da década perdíamos cada ano dinheiro suficiente para financiar metade do Serviço Nacional de Saúde. Ontem ouvi pela primeira vez uma comissária europeia, Margrethe Vestager, expor este simples raciocínio: se é ilegal distorcer o mercado com subsídios também tem de ser ilegal fazê-lo através de descontos especialíssimos nos impostos. À Apple a Comissão exigiu o pagamento de 13 mil milhões de euros em impostos atrasados. A UE costuma ser vista, com alguma razão, como uma construção neoliberal que se verga perante os interesses das multinacionais. Também há quem ache — e ontem vociferaram bastante — que a UE é uma conspiração socialista contra o mercado. Mas o que a UE pode ser — com o seu peso de 500 milhões de cidadãos — é uma ferramenta para acabar com o maior escândalo económico do nosso tempo. O dia de terça-feira prova que a luta pode valer a pena. Mas para compensar não pode ficar só por aqui. Esta pouca-vergonha tem de acabar.


23 hoje macau sexta-feira 2.9.2016

um grito no deserto

J

Viagem ao Ocidente

Á há muito tempo que não deixava o meu trabalho para trás e fazia uma viagem sozinho. Por isso, em Agosto inscrevi-me numa viagem organizada pela Diocese de Macau, uma peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, aos Caminhos de Santiago, em Espanha, e ao Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, em França. Depois disso ainda fiquei mais cinco dias, por minha conta, para não falar num dia adicional devido ao atraso no voo de regresso. Fiquei fora durante 20 dias, e compreendi que pode ser complicado estar ausente. Antes do regresso de Macau à soberania chinesa, tive duas oportunidades de visitar Portugal, enquanto professor e a convite da organização da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Mas por diversas razões, acabei por não poder aproveitá-las. Por isso inscrevi-me de imediato para participar nesta iniciativa da Diocese de Macau, organizada aquando do “Jubileu da Misericórdia” e dirigida pelo Padre Manuel Machado, em Portugal. Ao longo dos quatro mandatos do Chefe do Executivo de Macau, e da respectiva equipa, ficaram muitos problemas por resolver na cidade, que necessitam de resposta urgente. A morte da Directora-geral dos Serviços de Alfândega lançou uma sombra sobre o trabalho do Secretário para a Segurança. Até agora a “diversificação económica moderada” de Macau continua a ser apenas um slogan, a sua economia continua a depender em grande parte da indústria do jogo. Questões como a construção de um sistema de Metro Ligeiro, tráfico, transportes públicos e planeamento urbano têm atormentado Raimundo Arrais do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas. O caso da permuta de terrenos da Fábrica de Panchões (a investigação do Comissariado contra a Corrupção veio a revelar a confusão deixada após os dois mandatos do Secretário para os Transportes e Obras Públicas, que será difícil de resolver e de esquecer). A revisão da Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa demonstra claramente como a Secretaria para a Administração e Justiça tem estado omissa. Por causa disso, o processo eleitoral de 2017 para a Assembleia Legislativa pode vir a transformar-se num ringue de boxe. Num contexto pobre, do ponto de vista de cultura política, as previsões para o futuro de Macau dificilmente serão optimistas. Quanto ao Secretário Alexis Tam, que muito se gabou dos seus “cinco anos gloriosos”, tornou-se actualmente alvo das críticas da população e dos funcionários públicos, apesar de ter dado uma impressão positiva no início

(PARTE 1)

BILLE AUGUST, NIGHT TRAIN TO LISBON

PAUL CHAN WAI CHI

do seu mandato. Enquanto isto, o reeleito Chefe do Executivo, Chui Sai On, continua a representar o papel do “tipo simpático”. As “linhas de acção governativa orientadas para o povo” tornaram-se a carta que está sempre disposto a jogar. A minha curta viagem longe de Macau foi verdadeiramente uma escapadela ao aborrecimento que me trazem todos os problemas sociais desta cidade. Acabei por aproveitar este tempo de peregrinação para reflectir sobre a direcção a tomar no futu-

“Só estar ali, naquele cais, pode ser tão relaxante que nos esquecemos das nossas preocupações por algum tempo. Esta sensação transportou-me anos atrás, quando me sentava no cais da Praia Grande, sob a sombra das árvores, antes da reclamação dos terrenos da zona. Fiquei surpreendido por estas doces recordações de Macau dos anos 70 terem sido despertadas por Lisboa”

ro. Apanhámos o ferry para Hong Kong e voámos pela Swissair até Zurique, de onde seguimos para Lisboa, a primeira etapa da peregrinação. O check de segurança em Zurique deve ter sido bem feito, porque não precisámos de apresentar os documentos após levantar as malas no aeroporto de Lisboa. Como íamos para Fátima, almoçámos no Parque das Nações, que fica perto, e rumámos rapidamente ao nosso destino. Na verdade, o almoço foi bastante memorável. O Padre Manuel Machado tirou algum do seu tempo de férias para estar connosco, o que foi muito simpático da sua parte. Neste almoço foram servidos três pratos diferentes de bacalhau, acompanhados por vinhos tinto e branco, o que tornou encantador o início da nossa viagem. No exterior do restaurante existe uma esplanada muito relaxante, mesmo à beira do rio que banha Lisboa, tão largo que mais parece o mar. Não havia muita gente e o tempo estava mais fresco e menos húmido que em Macau. O design do restaurante, de inspiração náutica, demonstra claramente que Lisboa é uma cidade costeira. Só estar ali, naquele cais, pode ser tão relaxante que nos esquecemos das nossas preocupações por algum tempo. Esta sensação transportou-me anos atrás, quando me sentava no cais da Praia Grande, sob a sombra das árvores, antes da reclamação dos terrenos da zona. Fiquei surpreendido por estas doces recordações de Macau dos anos 70 terem sido despertadas por Lisboa. Então, digam-me lá, ao longo destes anos Macau evoluiu ou regrediu? Ex-deputado e membro da Associação Novo Macau Democrático

OPINIÃO


“ SEUL JAPÃO ENVIA 8,6 MILHÕES DE EUROS PARA FUNDAÇÃO DE ‘MULHERES DE CONFORTO

O

PUB

Japão enviou ontem 8,6 milhões de euros para uma fundação sul-coreana de antigas escravas sexuais do tempo da guerra com o Japão, como parte de um acordo para resolver a questão das ‘mulheres de conforto’. Historiadores dizem que cerca de 200 mil mulheres, a maioria da Coreia mas também de outras partes da Ásia, incluindo a China, foram forçadas a trabalhar em bordéis do exército japonês durante a II Guerra Mundial. A questão das chamadas ‘mulheres de conforto’ mancha, há décadas, as relações entre os dois países asiáticos, já que para muitos sul-coreanos simboliza os abusos do Japão durante o domínio colonial de 1910-45 sobre a península coreana. No passado mês de Dezembro, as duas nações chegaram a um acordo “final e irreversível” em que Tóquio ofereceu um pedido de desculpas e mil milhões de ienes para abrir uma fundação dedicada às ‘mulheres de conforto’ que ainda estão vivas. Tóquio transferiu oficialmente o dinheiro ontem para a Reconciliation and Healing Foundation, informou o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Seul. Segundo o Governo sul-coreano, o dinheiro será usado para financiar a assistência às vítimas, actualmente 40, e aos familiares das que já morreram. No entanto, este acordo foi criticado por algumas mulheres e activistas sul-coreanos que não aceitam a recusa do Japão de assumir responsabilidade formal e legal. Um grupo de 12 ‘mulheres de conforto’ apresentou um processo judicial contra Seul esta semana por ter aceite o acordo sem o seu consentimento.

Meus olhos apagados, / Vede a água cair. / Das beiras dos telhados, / Cair, / sempre cair. / Das beiras dos telhados, / Cair, / quase morrer... / Meus olhos apagados, / E cansados de ver./ Meus olhos, / afogai-vos / Na vã tristeza ambiente. / Caí e derramai-vos / Como a água morrente”

sexta-feira 2.9.2016

Camilo Pessanha

Tailândia LÍDER DE REDE DE TRÁFICO DE MIGRANTES CONDENADO A 35 ANOS DE PRISÃO

Vá directo para a cadeia

U

M tailandês acusado de liderar uma ampla rede de tráfico de migrantes, sobretudo pessoas da minoria rohingya (minoria muçulmana existente na Birmânia), foi condenado a 35 anos de prisão, divulgaram ontem as autoridades tailandesas. O homem, identificado como Sunand Saengthong, foi condenado na quarta-feira por um tribunal de Pak Phanang, no sul da Tailândia. Com base em testemunhos e nos registos bancários, o tribunal concluiu que o acusado era “um coordenador do tráfico de [migrantes] rohingya”. Na altura da sua detenção, em Janeiro, várias pessoas da minoria rohingya foram descobertas em veículos sobrelotados, algumas não resistiram e morreram de asfixia, segundo recordou a Comissão asiática de Direitos Humanos, que acompanhou o julgamento.

PONTO CHAVE

O sul da Tailândia, na fronteira com a Malásia, tem sido ao longo dos anos um importante ponto do tráfico ilegal de migrantes, em muito alimentado por pessoas da minoria rohingya que fogem da opressão de que são vítimas há décadas na Birmânia. Também é comum encontrar muitos cidadãos do Bangladesh que tentam fugir da pobreza. No entanto, desde 2015, a junta militar no poder em Banguecoque decidiu acabar com esta actividade muito lucrativa, na qual elementos das forças de segurança também estavam envolvidos.

FOGUETÃO EXPLODE NOS EUA

Uma explosão ocorreu esta quintafeira no centro espacial Kennedy, na Flórida, durante o lançamento de um foguetão pela empresa aeroespacial SpaceX. O aparelho, que não tem piloto, estava a ser preparado para a descolagem quando explodiu na plataforma de lançamento. Num comunicado enviado pela empresa responsável assegura-se que não houve feridos, mas que ocorreu uma “anomalia” durante o primeiro teste de fogo ao aparelho, o que resultou na

Na altura da sua detenção (..) várias pessoas da minoria rohingya foram descobertas em veículos sobrelotados, algumas não resistiram e morreram de asfixia perda do foguetão e do satélite de comunicações israelita que estava programado para levar para o espaço no fim-de-semana. Não há perigo para o público, garantiu ainda o gabinete de emergências de Brevard County. As imagens do local mostram uma enorme mancha de fumo a erguer-se sobre o Cabo Canaveral. A força da explosão fez tremer edifícios a vários quilómetros de distância. As autoridades locais descrevem o incidente como “catastrófico”.

Na sequência desta decisão, várias embarcações provenientes da Birmânia e do Bangladesh que transportavam migrantes foram abandonadas por passadores nas costas tailandesas em Maio de 2015. Também foram descobertos campos de transição na selva no sul da Tailândia, com sepulturas de migrantes que não terão resistido à longa viagem. Mais de uma centena de traficantes, incluindo um general, foram detidos na Tailândia no âmbito do endurecimento das medidas do governo tailandês. O secretário-geral da ONU pediu esta semana ao governo da líder birmanesa Aung San Suu Kyi para conceder a cidadania aos vários milhares de rohingya que vivem naquele país. “Transmito as preocupações da comunidade internacional sobre as dezenas de milhares de pessoas que vivem em condições muito duras em acampamentos há mais de quatro anos”, declarou Ban Ki-moon, durante uma conferência de imprensa conjunta com Aung San Suu Kyi em Naypyidaw, capital administrativa da Birmânia. A minoria rohingya, composta por cerca de um milhão de pessoas, continua ainda a ser considerada como uma comunidade de imigrantes ilegais do vizinho Bangladesh, apesar de alguns viverem na Birmânia há várias gerações. Muitos deles vivem em acampamentos na região oeste do país, depois dos incidentes intercomunitários de grande violência ocorridos em 2012.

TRÊS JORNALISTAS MORREM NUM ACIDENTE DE VIAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

Três jornalistas e um motorista morreram ontem, na província de Nampula, norte de Moçambique, quando a viatura em que seguiam para a cidade de Nacala capotou, próximo da vila sede do distrito de Monapo, informou a emissora Rádio Moçambique. Segundo a Rádio Moçambique, morreram no desastre os jornalistas Inocêncio João, da emissora pública, Leonardo Gasolina, do jornal @ verdade, e um repórter de imagem

da Rádio TV Gêmeas, identificado apenas pelo nome de Arsénio. Uma jornalista da Rádio TV Gêmeas, encontra-se em estado grave, na sequência do acidente, depois de inicialmente ter sido dada como morta, refere a Rádio Moçambique. Dados oficiais indicam que no primeiro semestre deste ano morreram nas estradas moçambicanas 743 pessoas em resultado de 1.470 acidentes de viação.


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