Hoje Macau 20 JAN 2016 #3496

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ PUB

O adeus de um histórico ALMEIDA SANTOS (1926-2016)

PRESIDENCIAIS CORRIDA A BELÉM NA RECTA FINAL

A olhar para o palácio Este domingo o país vota para eleger o próximo inquilino do Palácio de Belém nos cinco anos que aí vêm. Por cá, os portugueses seguem a tendência das sondagens que dão a vitória a Marcelo Rebelo de Sousa, mas há quem mantenha a esperança de uma segunda volta. GRANDE PLANO

CENTRO DE DOENÇAS

Mais achas para uma polémica PÁGINA 8

OPINIÃO Até mais PUB

ARNALDO GONÇALVES

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

ÓBITO

QUARTA-FEIRA 20 DE JANEIRO DE 2016 • ANO XV • Nº 3496


2 GRANDE PLANO

Marcelo Rebelo de Sousa reúne uma maioria de 54,8% dos votos nas últimas sondagens, mas há quem acredite que uma segunda volta reúna consenso num dos candidatos de Esquerda. As opiniões dividem-se, mesmo face às evidências

“As estatísticas, especialmente no caso das Presidenciais, têm um grau de incerteza maior e, nesta altura, é perfeitamente possível que os resultados levem a uma eventual segunda volta” TIAGO PEREIRA REPRESENTANTE DO PS DE MACAU

PRESIDENCIAIS PORTUGUESES DIVIDEM-SE ENTRE VITÓRIA DE MARCELO OU

A

PROFESSOR

S eleições presidenciais portuguesas, que têm lugar este domingo, integram dez candidatos mas, na opinião de portugueses contactados pelo HM, apenas três reúnem condições para seguir em frente. As opiniões dividem-se: enquanto alguns acreditam na vitória clara numa primeira ronda do professor e jurista Marcelo Rebelo de Sousa, outros prevêem que haja uma segunda volta, com um dos candidatos de Esquerda na linha da frente. À Direita – mas com um apoio popular maioritário – está Rebelo de Sousa, com António Sampaio da Nóvoa em segundo plano e Maria de Belém em terceiro lugar, ambos com ligações ao Partido Socialista (PS). O Primeiro-Ministro e líder do PS, António Costa, também já confirmou liberdade de voto aos seus militantes. É que neste caso específico, os militantes do partido dividem-se em termos de apoio, com uma maioria a suportar a candidatura de Sampaio da Nóvoa. Embora Maria de Belém seja adjectivada como “uma figura pouco carismática”, tem um passado marcante na política nacional, tendo já sido Ministra da Saúde, Secretária de Estado portuguesa e administradora da TDM, entre 1986 e 1987. Poucos estão confiantes na figura feminina para Presidente da República, ainda que a maioria acredite numa segunda volta.

TORNA A VIRAR

Para Tiago Pereira, representante do PS de Macau, as campanhas “não trouxeram questões especialmente controversas” e decorreram sem altos e baixos. Chegada a altura de prever os resultados do próximo domingo, o socialista manifesta esperança em que se siga para uma segunda ronda. “Estou confiante”, declarou ao HM. “As sondagens indicam uma presumível vitória de Marcelo Rebelo de Sousa, mas as estatís-

ticas, especialmente no caso das Presidenciais, têm um grau de incerteza maior e, nesta altura, é perfeitamente possível que os resultados levem a uma eventual segunda volta”, continuou. As posições de Maria de Belém e de Sampaio da Nóvoa, acrescenta Tiago Pereira, são semelhantes. “Maria de Belém é uma figura do PS que comanda enorme respeito perto de todos os socialistas e Sampaio da Nóvoa é uma pessoa de quem a simpatia com o PS é

conhecida, mas cuja candidatura é declaradamente independente”, avança. O PS, faz notar o representante da secção local, não apoia qualquer uma das candidaturas em termos formais. Há, no entanto, simpatizantes e militantes dentro do partido que se identificam com um dos dois. Filipa Rodrigues também se mostrou “confiante” numa segunda volta, estando no entanto indecisa sobre qual dos socialistas segue em

frente. A residente local espera ainda que haja “menos abstenção” do que em eleições anteriores. Embora tenha confessado não saber ainda em que vai votar, Filipa defende que “é preciso uma nova forma de ver o mundo”, sendo “interessante para o país” que fosse eleita uma mulher para o cargo de Presidente. “Se Marcelo Rebelo de Sousa tiver entre 30% e 40% numa primeira volta, isso obrigá-lo-á a uma segunda com um dos outros dois candidatos com uma percentagem semelhante”, prevê.

COMO NOS 80

A facção Socialista e simpatizante do sector da Esquerda acredita numa segunda volta, com uma maioria a crer que o frente a frente acontece entre o professor da Fa-


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SEGUNDA VOLTA

NO TOPO culdade de Direito da Universidade de Lisboa e Sampaio da Nóvoa. Nesta próxima ronda deixam de ter presença todos os restantes candidatos, com Maria de Belém a perder força e dar espaço ao concorrente Socialista. O cenário que se segue é uma vitória, tal como em 86, quando Mário Soares destrona Freitas do Amaral pela simples razão de toda a Esquerda ter apoiado a candidatura do socialista numa segunda volta. Gonçalo Pinheiro é um dos residentes que acredita neste cenário: “A minha dúvida é se só existe uma volta e penso que há necessidade de uma segunda. Se numa primeira volta Rebelo de Sousa se apresentar como um candidato destacadíssimo dos outros, pode acontecer como nos anos 80, quando Mário

“Se numa primeira volta Rebelo de Sousa se apresentar como um candidato destacadíssimo dos outros, pode acontecer como nos anos 80, quando Mário Soares foi o vencedor”

A ex-Ministra, o comentador e o senhor Reitor

GONÇALO PINHEIRO RESIDENTE

Soares foi o vencedor. Ou seja, a Direita arrisca-se a perder, porque a Esquerda vai votar toda num só, não no Marcelo”, explica o jornalista e fotógrafo.

de Sousa à primeira tentativa. Se assim não for, “certamente” à segunda, mas na probabilidade remota de se seguir para um regresso às urnas.

SEM HIPÓTESE

PROFESSOR AO PODER

Sebastião Gomes (nome fictício) afirma que não foi uma opção inteligente, por parte do PS, lançar aos leões dois candidatos. “Só se devia ter candidatado um militante, porque os resultados seriam muito mais marcantes”, esclarece. “O PS está todo repartido e o que fazia sentido era haver só um candidato”, continua. Para o português, Marcelo Rebelo de Sousa não reúne apenas os votos da Direita, mas também de outras facções da população, devido à sua simpatia e presença. Já Maria de Belém não tem, a seu ver, “carisma”, nem é a pessoa indicada para subir à Presidência. “Maria de Belém não tem hipótese”, reitera, em declarações ao HM. O residente e advogado crê realmente numa vitória de Rebelo

QUEM SÃO?

Conhecido pelos seus comentários semanais – primeiro na rádio TSF e, mais recentemente, no canal televisivo TVI – Marcelo Rebelo de Sousa tornou-se não só uma voz conhecida, como querida da população portuguesa. A arte da oratória e os comentários públicos de crítica (positiva e negativa) a atitudes e situações da vida política e social de Portugal fizeram-no conquistar um lugar na televisão nacional. No entanto, como nota Sebastião Gomes, “pouco se conhece de Rebelo de Sousa político”, ficando-se a familiaridade pelos comentários de domingo à noite. É o jurista que mais consenso reúne nas mais recentes sondagens realizadas pelo canal SIC, vencendo com maioria numa primeira volta.

• MARCELO REBELO DE SOUSA Previsões há muitas, mas apenas duas são expressivas: ou Rebelo de Sousa vence à primeira volta, ou terá um frente a frente com Sampaio da Nóvoa numa segunda volta. Nessa altura, surgem duas outras hipóteses: ou a maioria insiste no professor de Direito, ou a Esquerda se une para votar, de forma massiva, em Sampaio da Nóvoa. No entanto, três dos cinco residentes contactados focam um problema eterno: a abstenção. É que se for alta, pode tramar a vitória de Rebelo de Sousa e aproximar Sampaio da Nóvoa da meta. Questionado acerca da votação em Macau, Tiago Pereira acredita que as urnas terão afluência, já que, ao contrário das Legislativas, estão são presenciais. “Faz muito mais sentido que seja presencial, simplifica a vida a muita gente”, ressalva.

CAMPANHA SUI GENERIS

Para o militante Social-Democrata Óscar Madureira, houve na presente campanha uma certa “orfandade partidária”, no sentido em que nenhum candidato mostrou oficialmente as cores da sua vestimenta. O também jurista considera que “o número de candidatos é anormal”, o que não deu grande espaço para que cada um desse conta dos seus planos. Além disso, faz notar que os candidatos de esquerda são “fracos” e não têm a mesma presença de Rebelo de Sousa, com Maria de Belém a ser novamente caracterizada como não tendo “carisma suficiente”. Sampaio da Nóvoa teve uma máquina de campanha bem oleada, diz, mas não tem grande passado político e por isso, para Madureira, sobra o jurista da universidade alfacinha. Para o advogado, só um socialista podia ter feito frente ao professor: António Guterres. Portugal vai a votos no domingo. Leonor Sá Machado

leonor.machado@hojemacau.com.mo

Professor catedrático de profissão, lecciona Direito na Faculdade de Direito na Universidade de Lisboa. No entanto, é como comentador político e social – agora na TVI e antes na rádio TSF – que os portugueses o conhecem. Rebelo de Sousa é figura emblemática, cujo voz e presença é querida de vários portugueses. Está neste momento à frente nas últimas sondagens e é militante do PSD.

• ANTÓNIO SAMPAIO DA NÓVOA Conhecido pelo apelido, o candidato à Presidência traz na sacola um doutoramento em Ciências da Educação e outro em História Moderna e Contemporânea, ambos tirados lá fora. Actualmente, lecciona Educação no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Nascido em 1954, tem mais de 150 publicações da sua autoria, contando com o apoio de António Costa para as eleições de domingo.

• MARIA DE BELÉM ROSEIRA A única mulher na corrida à Presidência da República, tornou-se figura conhecida dos portugueses quando ocupou o cargo de Ministra da Saúde. Mais tarde, em 2011, apresentou-se como mandatária de Manuel Alegre às Presidenciais desse ano, mas cinco anos antes, o seu apoio foi para o então adversário de Alegre, Mário Soares. Além disso, cumpriu funções como presidente do PS. Nascida em 1949, entrou nas lides políticas com tenra idade e tem estado, desde sempre, associada ao Partido Socialista.


4 POLÍTICA

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Óbito ALMEIDA SANTOS RELEMBRADO COMO PEÇA IMPORTANTE PARA MACAU

Do princípio ao fim

António Almeida Santos, presidente honorário do PS, morreu aos 89 anos deixando para trás uma marca de “espírito jovem”, “diplomacia” e “integridade”. O socialista foi uma peça importante para Macau na “pequena revolução” trazida pela elaboração do Estatuto Orgânico

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INHA 89 anos de idade mas um “espírito muito jovem”. António Almeida Santos, figura histórica do Partido Socialista (PS) e um dos presidentes honorários do partido, morreu na noite de segunda feira, deixando para trás um exemplo de “diplomacia” e “integridade”. “Era uma pessoa muito íntegra, com valores muito fortes, um negociador e apaziguador que deixa um lugar que nunca será ocupado no Partido Socialista”, disse ao HM Vítor Moutinho, assessor, que trabalhou juntamente com o político. “Ele era presidente na altura em que trabalhei com os governos de [António] Guterres e José Sócrates. Em alguns congressos e campanhas, era uma voz sempre ouvida, sempre opinativa”, apontou, relembrando que “sempre que era necessário contar com uma opinião mais política e mais sensata [Almeida Santos] era sempre ouvido”. O assessor chega a dizer que em “situações extremas”, em que era necessário “bom senso político” e “diplomacia política”, Almeida Santos “era uma voz sempre auscultada e respeitada”.

PEQUENA REVOLUÇÃO

Em Macau, Almeida Santos teve um papel importante, nomeadamente em 1974, como Ministro da Coordenação Interterritorial durante os II, III e IV Governos Provisórios. “[Almeida Santos] teve a seu cargo a recolha de informações em relação à situação de Macau. Reuniu em Pequim para perceber [a situação]”, relembra Tiago Pereira, líder do PS Macau. “Foi peremptório quando declarou que Macau não era considerada uma colónia”, apontou. O presidente honorário socialista assumiu ainda um “papel fundamental” na elaboração do Estatuto Orgânico do território. “Conjuntamente com figuras locais, Almeida Santos teve um papel fundamental na elaboração deste Estatuto, que foi uma pequena revolução, acto muito significativo, porque trouxe à luz um conceito novo e uma nova forma de encarar a situação em Macau, no sentido em que estabeleceu uma reforma

profunda da Assembleia Legislativa (AL), com a sua democratização parcial”, referiu, frisando que o valor desse trabalho viu-se na sua duração, mantendo-se – apesar das ligeiras alterações – até 1999, altura da transição da soberania de Macau para a China. “Foi sem dúvida um trabalho muito bom”, remata. A sua ligação à empresa Geocapital, sediada em Macau, foi alvo de muitas críticas, tendo o ex-bastonário dos advogados, Marinho e Pinto,

“Sempre que era necessário contar com uma opinião mais política e mais sensata [Almeida Santos] era sempre ouvido”

APRENDER COM O EXEMPLO

VÍTOR MOUTINHO ASSESSOR

“Conjuntamente com figuras locais, Almeida Santos teve um papel fundamental na elaboração deste Estatuto (Orgânico do território), que foi uma pequena revolução” TIAGO PEREIRA LÍDER DO PS MACAU

“Custa muito saber da morte dele, uma figura para Portugal absolutamente incontornável, um ponto de referência” ANABELA RITCHIE EX-PRESIDENTE DA AL

da AL, recebeu a notícia. “Ainda há dois dias o víamos na campanha de Maria de Belém [candidata à Presidência da República] e estava muito bem. Custa muito saber da morte dele, uma figura para Portugal absolutamente incontornável, um ponto de referência”, defendeu. Para a ex-presidente da AL, Almeida Santos “teve um papel muito importante para Macau, não só nas diversas funções oficiais em que esteve envolvido, mas também a nível de amizades”. “Como tive uma carreira bastante comprida, pude acompanhar a disponibilidade e a dedicação que Almeida Santos tinha para com Macau e as suas questões, desde antes do 25 de Abril, como depois”, apontou. O conhecimento dos estatutos das antigas províncias ultramarinas permitiu ao socialista ter uma forte capacidade na elaboração do Estatuto Orgânico de Macau. “Sabia muito sobre as competências em que Macau estava investido e das competências que Macau devia adquirir com o Estatuto, com vista a uma autonomia desejável, com que ele sonhava e nós também”, argumentou. Uma pessoa sempre disponível sobre a qual Anabela Richie lamenta a “grande perda”.

acusado Almeida Santos de ser um dos advogados “que mais negócios fizera à custa do que é público”. O socialista disse, na altura, ter muito orgulho na sua participação da constituição da Geocapital. De apontar a

participação dos empresários Stanley Ho e Ambrose So na empresa.

REFERÊNCIA INCONTORNÁVEL

“Com muita emoção.” Foi assim que Anabela Ritchie, ex-presidente

Vítor Moutinho relembra o exemplo que Almeida Santos foi para a sua - e de tantos outros - aprendizagem. “É quase como quando estamos na escola e gostamos sempre de aprender com os mais velhos. Era uma aprendizagem de comportamentos. Há que diga que a velhice é um posto, mas neste caso os anos não passaram por Almeida Santos. Foi alguém que sempre aprendeu com os mais novos e gostava de estar a par das novas informações e de como funcionavam as novas tecnologias. Até podia não as usar muito, mas era interessado”, ilustrou. Ideia também partilhada por Tiago Pereira, que diz que esta “figura história do PS e da própria democracia portuguesa” carregava em si um “espírito jovem”. “Isso notava-se até pelas suas posições políticas mais recentes. Isto reflecte uma consciência clara da nova realidade, dos novos tempos e da forma como o mundo mudou. Espelha o entusiasmo pela vida política que nunca perdeu”, rematou. Almeida Santos, licenciado em Direito, pela Universidade de Coimbra, faria no próximo mês 90 anos. Morreu em sua casa, em Oeiras, depois de se ter sentido mal no final do jantar. Foi assistido no local, mas sem sucesso. Maria de Belém cancelou a campanha até ao funeral de Almeida Santos, que ainda não tem data marcada. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo


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ELLA LEI PEDE QUE ASSISTENTES SOCIAIS POSSAM INTERNAR

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LLA LEI pede, numa interpelação escrita, que seja dado mais poder de decisão aos assistentes sociais. Pedindo a criação de um serviço de apoio às famílias com deficientes mentais a seu cuidado, e chamando-lhe um serviço de “outreach”, a deputada acrescenta que é preciso rever a legislação que regulamenta o âmbito de actuação dos assistentes sociais: a ideia é permitir que estes tenham o poder de internar pacientes em instituições hospitalares caso seja necessário. A deputada indicou ainda que Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, já havia confirmado que o hospital Conde de São Januário tem já prontos os trabalhos para estes serviços há mais de dois anos, pelo que a intenção seria lançá-los este ano. “Em que pé está o processo de lançamento destas equipas e quando é estas começam a dar seguimento aos casos de pacientes mentais, monitorizando horários de consulta, uso de medicamentos e serviços urgentes?”, questionou. O processo de internamento forçado dos pacientes mentais é demasiado complicado e envolve necessidade de autorizações, em menos de 72 horas, do director dos Serviços de Saúde, do Ministério Público e do Tribunal, diz a deputada. Para aliviar o processo, Ella Lei propõe que “caso os doentes mentais não queiram ser internados no hospital para tratamento, os assistentes sociais tenham poder” para assinar uma autorização. “O Governo vai rever o regime da saúde mental, ou não?”, insistiu. T.C.

MAIS CINCO MIL NOVOS RECENSEADOS

Em 2015 mais 5057 novos pedidos de inscrição no recenseamento eleitoral de pessoas singulares deram entrada nos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP). Destes, 304 foram pedidos de inscrição antecipada de residentes permanentes com 17 anos de idade. Foram ainda canceladas 1646 inscrições de eleitores singulares por falecimento, sentença judicial ou doença do foro psicológico. Os dados são dos SAFP, que indicam ainda que, no total, até 31 de Dezembro do ano passado encontravam-se recenseadas em Macau 285.999 pessoas singulares, um acréscimo de 1,21% em comparação com o número de inscritos registados até ao final de 2014. No que às pessoas colectivas diz respeito, foram adicionadas seis novas inscrições em 2016. Outras quatro serão suspensas e três foram canceladas. Este ano existem 840 inscrições válidas neste grupo. Os SAFP têm até ao dia 28 deste mês os cadernos de recenseamento eleitoral em exposição no do Edifício de Administração Pública para que os interessados os consultem e reclamem sobre eventuais erros ou omissões.

POLÍTICA

Eleições GOVERNO DIZ NÃO TER CONDIÇÕES PARA VOTOS NO EXTERIOR

Anda cá, se quiseres

Zheng Anting pediu, mas o Governo diz que não. Os eleitores que não estão em Macau vão continuar sem poder votar, porque a Administração não tem condições para que isso aconteça ser eleitos, tal como dita a Lei Básica. “Já há muitas opiniões que apelam ao Governo para estudar o regime de votação à distância através da designação de locais de voto, para que os residentes possam participar nas eleições quando estão no estrangeiro. Actualmente vários países e regiões com sistemas mais democráticos usam este sistema”, lembrou o deputado.

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S residentes de Macau que moram no exterior vão continuar sem poder votar nas eleições para a Assembleia Legislativa (AL), uma vez que não existe mecanismo para que isso possa acontecer e não há condições para tal. Quem o diz é o Governo, numa resposta ao HM. “Para colocar pontos de votação fora do território é necessário considerar o transporte de votos, número de pontos de votação, a escolha da localização e os recursos humanos”, diz o Executivo,

que enumera ainda as despesas das eleições e a coordenação com as entidades de outras regiões, entre outros “factores incertos”, como justificações. “Antes de haver condições maduras, a RAEM não considera adicionar esse mecanismo na legislação eleitoral.” O esclarecimento dado ao HM surge depois de, numa interpelação escrita entregue no início do mês, o deputado Zheng Anting apelar ao Governo a implementação de um sistema que permita aos residentes de Macau no estrangeiro votar. O deputado

chega mesmo a pedir que seja realizada uma consulta pública sobre o assunto antes de 2017, altura das próximas eleições para a AL.

DIREITO DE TODOS

Existindo milhares de residentes de Macau a trabalhar ou estudar no estrangeiro, assim como idosos que se encontram a viver em lares do interior da China, o deputado argumentou os benefícios da implementação de um novo sistema de voto. Para Zheng Anting, estas pessoas usufruem dos mesmos direitos de eleger e

Queremos mais olhos nas águas Wong Kit Cheng preocupada com falta de recursos humanos na Alfândega

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deputada Wong Kit Cheng está preocupada com a falta de recursos humanos nos Serviços de Alfândega (SA) e por isso quer saber como é que as autoridades irão melhorar o regime de carreiras para preencher o que diz ser uma insuficiência. Numa interpelação escrita, Wong Kit Cheng lembrou que o Conselho de Estado da China confirmou, em Dezembro pas-

sado, a gestão a cargo de Macau de 85 quilómetros quadrados de águas marítimas, conotando-a como uma política que irá trazer grandes vantagens para o território. No entanto, o alargamento desse direito de gestão, diz, faz também aumentar a necessidade de mão-de-obra, instalações e regulamentos complementares. Segundo o quadro dos SA devem existir 1600 funcionários ao todo, algo que não acontece

actualmente, pois de momento os Serviços contam com 1100 trabalhadores, menos 500 do que os necessários. Apesar de um aumento de 37 funcionários alfandegários, que entraram para o Departamento de Inspecção, a deputada considera ser difícil lidar com todos os novos trabalhos. É necessário, apontou, melhorar o sistema e os equipamentos do pessoal para atrair mais trabalhadores.

“Antes de haver condições maduras, a RAEM não considera adicionar esse mecanismo na legislação eleitoral” GOVERNO O Governo explica, na resposta, que “a legislação eleitoral tem regulamentos claros sobre os procedimentos de votação, para assegurar a justiça e equidade” e que “ não existe um mecanismo de colocar pontos de votação em regiões fora de Macau”, nem vai haver. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

“O subdirector dos SA, Sin Wun Kao, admitiu durante o debate das Linhas de Acção Governativa (LAG) a falta de mão-de-obra e necessidade de revisão do regime de promoção [nas carreiras]. Pergunto como é que o organismo vai melhorar o regime para preencher a insuficiência do pessoal alfandegário?”, indagou. Além disso, Wong Kit Cheng quer ainda saber como é que a Alfândega irá aumentar a formação do pessoal, assegurando a capacidade de cumprir todos os trabalhos com a nova gestão sobre as águas. Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo


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ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO PARA “EMPREITADA DE MODIFICAÇÃO DO CENTRO COMERCIAL DA PRAÇA DO TAP SEAC” 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12.

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Entidade que põe a obra a concurso: Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Modalidade de concurso: Concurso Público. Local de execução da obra: Centro Comercial da Praça do Tap Seac. Objecto da Empreitada: Remodelação. Prazo máximo de execução:330 dias (trezentos e trinta dias) Prazo de validade das propostas: o prazo de validade das propostas é de noventa dias, a contar da data do encerramento do acto público do concurso, prorrogável, nos termos previstos no Programa de Concurso. Tipo de empreitada: a empreitada é por Série de Preços. Caução provisória: $660 000,00 (seiscentas e sessenta mil patacas), a prestar mediante depósito em dinheiro, garantia bancária ou seguro-caução aprovado nos termos legais. Caução definitiva: 5% do preço total da adjudicação (das importâncias que o empreiteiro tiver a receber, em cada um dos pagamentos parciais são deduzidos 5% para garantia do contrato, para reforço da caução definitiva a prestar). Preço Base: não há. Condições de Admissão: Serão admitidos como concorrentes as entidades inscritas na DSSOPT para execução de obras, bem como as que à data do concurso, tenham requerido a sua inscrição, neste último caso a admissão é condicionada ao deferimento do pedido de inscrição. Local, dia e hora limite para entrega das propostas: Local: Secção de Atendimento e Expediente Geral da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33, R/C, Macau; Dia e hora limite: dia 25 de Fevereiro de 2016 (Quinta-feira), até às 12:00 horas. Em caso de encerramento desta Direcção de Serviços na hora limite para a entrega de propostas acima mencionada por motivos de tufão ou de força maior, a data e a hora limites estabelecidas para a entrega de propostas serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Local, dia e hora do acto público do concurso : Local: Sala de reunião da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33, 5º andar, Macau; Dia e hora: dia 26 de Fevereiro de 2016 (Sexta-feira), pelas 9:30 horas. Em caso de adiamento da data limite para a entrega de propostas mencionada de acordo com o número 12 ou em caso de encerramento desta Direcção de Serviços na hora estabelecida para o acto público do concurso acima mencionada por motivos de tufão ou de força maior, a data e a hora estabelecidas para o acto público do concurso serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Os concorrentes ou seus representantes deverão estar presentes ao acto público do concurso para os efeitos previstos no artigo 80º do Decreto-Lei n.º74/99/M, e para esclarecer as eventuais dúvidas relativas aos documentos apresentados no concurso. Línguas a utilizar na redacção da proposta: Os documentos que instruem a proposta (com excepção dos catálogos de produtos) são obrigatoriamente redigidos numa das línguas oficiais da RAEM, caso os documentos acima referidos estiverem elaborados noutras línguas, deverão os mesmos ser acompanhados de tradução legalizada para língua oficial, e aquela tradução deverá ser válida para todos os efeitos. Local, hora e preço para obtenção da cópia e exame do processo: Local: Departamento de Edificações Públicas da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33, 17º andar, Macau; Hora: horário de expediente (Das 9:00 às 12:45 horas e das 14:30 às 17:00 horas) Na Secção de Contabilidade da DSSOPT, poderão ser solicitadas cópias do processo de concurso ao preço de $820,00 (oitocentas e vinte patacas). Critérios de apreciação de propostas e respectivos factores de ponderação: - Preço razoável 60%; - Plano de trabalhos 10%; - Experiência e qualidade em obras 18%; - Integridade e honestidade 12%. Junção de esclarecimentos: Os concorrentes poderão comparecer no Departamento de Edificações Públicas da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, nº 33,17º andar, Macau, a partir de 2 de Fevereiro de 2016 (inclusivé) e até à data limite para a entrega das propostas, para tomar conhecimento de eventuais esclarecimentos adicionais.

EDITAL Edital n.º Processo n.º Assunto Local

:17/E-BC/2016 :384/BC/2015/F :Início do procedimento de audiência pela infracção às respectivas disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) :Beco do Ganso n.º 2, Edf. The Macao Ginza Plaza, na parte superior do depósito de água da cobertura do edifício, Macau.

Cheong Ion Man, subdirector da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), no uso das competências delegadas pelo Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 38, II Série, de 23 de Setembro de 2015, faz saber por este meio ao dono da obra e ao proprietário do local acima indicado, cujas identidades se desconhecem, o seguinte: 1.

O agente de fiscalização desta DSSOPT constatou no local acima identificado a realização de obra sem licença, cuja descrição e situação é a seguinte: Obra 1.1

Sendo as escadas e corredores comuns e terraço do edifício considerados caminhos de evacuação, devem os mesmos conservar-se permanentemente desobstruídos e desimpedidos, de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 10.º do RSCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/95/M, de 9 de Junho. E o terraço acima referido é considerado como piso de refúgio, em caso de incêndio, não é permitida a sua ocupação ilícita com elementos construtivos, de acordo com o disposto no n.º 3 do artigo 29.º do RSCI. As alterações introduzidas pelo infractor nos referidos espaços, descritas no ponto 1 do presente edital, contrariam a função desses espaços enquanto caminhos de evacuação e piso de refúgio e comprometem a segurança de pessoas e bens em caso de incêndio. Assim, a obra executada não é susceptível de legalização pelo que terá necessariamente de ser determinada pela DSSOPT a sua demolição a fim de ser reintegrada a legalidade urbanística violada.

2.

Nos termos do n.º 3 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 4 do artigo 10.º é sancionável com multa de $4 000,00 a $40 000,00 patacas, e nos termos do n.º 7 do mesmo artigo, a infracção ao disposto no n.º 3 do artigo 29.º é sancionável com multa de $2 000,00 a $20 000,00 patacas. Além disso, de acordo com o n.º 4 do mesmo artigo, em caso de pejamento dos caminhos de evacuação, será solidariamente responsável a entidade que presta os serviços de administração ou segurança do edifício.

3.

Considerando a matéria referida nos pontos 2 e 3 do presente edital, podem os interessados, querendo, pronunciar-se por escrito sobre a mesma e demais questões objecto do procedimento, no prazo de 5 (cinco) dias contados a partir da data de publicação do presente edital, podendo requerer diligências complementares e oferecer os respectivos meios de prova, em conformidade com o disposto no n.º 1 do artigo 95.º do RSCI.

4.

O processo pode ser consultado durante as horas de expediente nas instalações da Divisão de Fiscalização do Departamento de Urbanização desta DSSOPT, situadas na Estrada de D. Maria II, n.º 33, 15.º andar, Macau (telefones nos 85977154 e 85977227).

Aos 15 de Janeiro de 2016

Macau, aos 14 de Janeiro de 2016. O Director dos Serviços Li Canfeng

Infracção ao RSCI e motivo da demolição

Construção de um compartimento não autorizado com janela Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de vidro, portão metálico e chapa metálica na parte comum. de evacuação.

Pelo Director dos Serviços O Subdirector Cheong Ion Man


7 SOCIEDADE

hoje macau quarta-feira 20.1.2016

Caso Dore MAIORIA DOS INVESTIDORES NÃO PÔS EMPRESA EM TRIBUNAL

Fora das barras

A “esperança” no Governo fez com que a maioria dos investidores da sala VIP da Dore – que ficaram sem dinheiro depois de um rombo de milhões – não tenha levado o caso a tribunal. A bola, dizem, está do lado de Paulo Chan

MAIS DUAS SUBESTAÇÕES PARA FORNECER ELECTRICIDADE Vão ser construídas mais duas subestações de electricidade em Zhuhai para o fornecimento de energia a Macau. Segundo a agência Xinhua, o departamento do fornecimento de energia de Zhuhai afirmou ontem que vai criar uma rede de electricidade com duas subestações com mais de 500 quilovolts, que se vão interligar às redes das cidades de Zhongshan e Jiangmen. Com estas duas, um total de nove subestações passarão a fornecer electricidade a Macau.

VOOS DE BAIXO CUSTO ATRAEM MAIS TURISTAS

Os turistas que chegaram a Macau por via aérea aumentaram devido aos voos de baixo custo. De acordo com o jornal Ou Mun, um analista do sector da aviação – que não é identificado pelo jornal – disse que o aumento de 6,4% no número de passageiros que passaram pelo aeroporto de 2014 para 2015 aconteceu devido à existência de mais companhias a operar em low cost, especialmente de e para regiões vizinhas de Macau.

A

maioria dos investidores da sala VIP da Dore no casino Wynn optou por deixar o caso fora das barras dos tribunais. Isso mesmo confirmou o porta-voz dos investidores ao HM, dizendo ainda que estes se sentem ignorados pelo Governo. Ontem, mais de duas dezenas de investidores entregaram uma carta à Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), pedindo informações sobre o ponto de situação da investigação. Os investidores afirmam querer encontrar-se com o novo director do organismo, Paulo Chan, até porque, dizem, as suas preces não têm sido ouvidas. “O caso já aconteceu há quatro meses e incomoda todos os lesados, que ainda estão à espera de uma resposta do Governo”, frisou Ip Kim Fong, porta-voz dos investidores que investiu um milhão de patacas na sala da Dore. “Um dos investidores sofreu um acidente cerebral por causa da perda do dinheiro. Espero ver esclarecida a verdade do caso e que se resolva a questão o mais rápido possível”. Seja como for, Ip Kim Fong afirmou ao HM que a maioria dos investidores não interpôs processo contra a empresa em tribunal. Ele próprio tomou essa opção, por considerar, apesar de tudo, que o Governo ainda vai tomar as rédeas do problema.

um rombo de mais de 300 milhões de dólares de Hong Kong, valor que foi “depositado” na sala VIP controlada pela Dore dentro do casino Wynn. O dinheiro foi desviado pela então contabilista, que se encontra em parte incerta. A Dore já disse não ter a responsabilidade e esperança reside agora no Executivo.

“Acredito no Governo. E acredito que o director Paulo Chan esclarecerá as verdades e as mentiras do caso, protegendo os direitos de investidores” IP KIM FONG, PORTA-VOZ DOS INVESTIDORES

“Acredito no Governo. E acredito que o director Paulo Chan esclarecerá as verdades e as mentiras do caso, protegendo os direitos de investidores”, explicou, admitindo contudo que “até ao momento nenhum departamento do Governo contactou as vítimas para esclarecer a situação”. “Nós temos recibos claros dos investimentos que fizemos na

Dore, por isso devemos recuperar o dinheiro.”

COM ESPERANÇA

Como Paulo Chan explicou na semana passada no programa “Macau Talk”, do canal chinês da Rádio Macau, a existência de uma parte das contas dos investidores já foi reconhecida pelo Governo e pela empresa Dore. O caso diz respeito a

À vontade e sem pressão

Governo acusado de falta de fiscalização em caso de abuso sexual

A

presidente da Associação de Educação Chinesa de Macau, Ho Sio Kam, e o reitor da escola primária da Ilha Verde consideram que os casos de abuso sexual na Associação das Águias Voadoras só aconteceu devido à falta de supervisão a estas associações. Ho Sio Kam, também ex-deputada, disse ao Jornal Ou Mun, que o sector de

educação está preocupado com a questão que envolve a Associação, onde um dos funcionários foi acusado de abuso sexual, e diz que a falta de supervisão às associações financiadas pelo Governo é um dos motivos para que casos destes aconteçam. “As actividades realizadas pela Associação são, normalmente, eventos fechados e é difícil que as escolas saibam os problemas

que possam ter acontecido durante essas actividades”, diz, relembrando que quando aconteceram os abusos sexuais as crianças estavam num acampamento.

PARA PREVENIR

A responsável sugere que as escolas possam garantir que casos destes não aconteçam através do envio de funcionários das próprias escolas com os alunos.

“Saí com [o meu irmão] para entregar a carta porque temos esperança no novo director da DICJ”, frisou uma das investidoras, de nome Tan, ontem ao HM. Esta é irmã de um outro investidor que sofreu um acidente vascular devido ao caso, segundo a família, que diz ter investido três milhões de dólares de Hong Kong desde Abril do ano passado.

Mas diz também que deve ser feita uma avaliação e supervisão às associações que ofereçam este tipo de serviços. A Associação Águias Voadoras, recorde-se, ficou sem o financiamento da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude depois de se ter descoberto o caso. Para o reitor da escola primária da Ilha Verde, contudo, o “corte dos apoios financeiros não é a melhor maneira de tratar do assunto, porque este caso envolveu o comportamento pessoal de um funcionário e não o da associação”.

Flora Fong (com J.F.)

flora.fong@hojemacau.com.mo

O reitor indicou ainda que a associação em causa “muito se dedicou ao sector da educação” durante o ano passado e, por isso, o Governo poderia dar mais uma oportunidade às Águias. O que existe, diz, é falta de supervisão dos departamentos governamentais às associações financiadas. T.C.


8 SOCIEDADE

hoje macau quarta-feira 20.1.2016

GONÇALO LOBO PINHEIRO

DEFENDIDA PROTECÇÃO DE ZONA ONDE VAI NASCER CENTRO DE DOENÇAS

Fachadas para manter Não basta a polémica em torno do objecto do novo Centro de Doenças Infecciosas: agora, dois analistas e membros do CPU, dizem que os prédios que o Governo quer destruir para erguer o Centro deveriam ser preservados

D

OIS analistas defenderam ontem que a zona em redor do local onde vai nascer o novo Centro de Doenças Infecciosas deveria ser protegida. Manuel Wu Lok Pui Ferreira, membro do Conselho do Planeamento Urbanístico, sugere duas novas ideias para a construção do edifício, ao lado do São Januário, e Lam Lek Chit, planeador urbanístico, pede que haja um equilíbrio entre a construção do novo e a manutenção do que é velho. Para Manuel Ferreira, a demolição dos dois edifícios ao lado do hospital – que pre-

cisarão de ser deitados abaixo para que se erga o Centro – não só não vai agradar à sociedade, como aliás já tem sido demonstrado através de assinaturas -, como vai também prejudicar o ambiente. O analista sugere que o Governo aproveite as fachadas – também elas históricas – da

mesma forma como fez com o prédio do BNU. “O Governo poderia imitar o caso da sede do Banco Nacional Ultramarino: manter a fachada dos edifícios e fazer a renovação por dentro ou cobrir as duas fachadas com vidros, de forma a conservá-las dentro do Centro”, refere

“O Governo poderia imitar o caso da sede do Banco Nacional Ultramarino: manter a fachada dos edifícios e fazer a renovação por dentro ou cobrir as duas fachadas com vidros” MANUEL FERREIRA CONSELHO DO PLANEAMENTO URBANÍSTICO PUB

ANÚNCIO Concurso Público n° 004/SZVJ/2015 “Prestação de Serviços de Arborização e Gestão de Zonas no Noroeste de Macau” Faz-se público que, por deliberação do Conselho de Administração do IACM, tomada em sessão de 27 de Novembro de 2015, se acha aberto o concurso público para a “Prestação de Serviços de Arborização e Gestão de Zonas no Noroeste de Macau”. O Programa de Concurso e o Caderno de Encargos podem ser obtidos, durante os dias úteis e dentro do horário normal de expediente, no Núcleo de Expediente e Arquivo do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), sito na Avenida de Almeida Ribeiro n.º 163, r/c, Macau. O prazo para a entrega das propostas termina às 17:00 horas do dia 5 de Fevereiro de 2016. Os concorrentes devem entregar as propostas e os documentos no Núcleo de Expediente e Arquivo do IACM e prestar uma caução provisória. A “Prestação de Serviços de Arborização e Gestão de Zonas no Noroeste de Macau” divide-se por 4 áreas, a caução provisória de cada área é de MOP15.000,00 (quinze mil patacas). A caução provisória pode ser efectuada na Tesouraria da Divisão de Contabilidade e Assuntos Financeiros do IACM, sita no rés-do-chão do mesmo edifício, por depósito em dinheiro, garantia bancária ou cheque, em nome do “Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais”. O acto público de abertura das propostas realizar-se-á no Centro de Formação do IACM, sito na Avenida da Praia Grande, Edifício China Plaza, 6.º andar, pelas 10:00 horas do dia 11 de Fevereiro de 2016. O IACM realizará uma sessão de esclarecimento que terá lugar às 10:00 horas do dia 25 de Janeiro de 2016 no Centro de Formação do IACM.

Manuel Ferreira, que considera que as suas propostas não iriam afectar o funcionamento do Centro.

EM NOME DA HISTÓRIA

O membro do Conselho do Planeamento Urbanístico avançou ainda que existem “algumas ruínas históricas ao lado desses edifícios [que vão abaixo]”, pelo que, defende, “a zona tem o seu valor histórico e o Governo deve preocupar-se com o design do edifício, além da avaliação do impacto ambiental” da construção. Lam Lek Chit, que também é o membro do mesmo Conselho, não se mostra satisfeito com a demolição e concorda com a preservação de parte dos edifícios. O responsável diz que a informação disponibilizada pelo Governo é “limitada”, que é normal que os residentes não concordem com a proposta de construção publicada pelo Governo. “Os cidadãos não podem participar, nem discutir, no plano de construção do Governo. É óbvio que se sentem nervosos e discordam da proposta. Se o Governo demolir os edifícios ao lado do Hospital e construir o novo edifício, a paisagem não se vai integrar e a decisão não vai ser harmoniosa”, defende, sugerindo que o Governo preserve as construções. Recorde-se, contudo, que a polémica contra a construção do Centro não se deve à preservação das fachadas em redor, mas sim ao tipo de espaço que ali vai nascer. Ontem, foi criada uma página no Facebook contra a construção, depois de ter sido entregue uma petição com mais de 700 assinaturas com o mesmo objectivo. Tomás Chio

Aos 14 de Janeiro de 2016.

info@hojemacau.com.mo

O Presidente do Conselho de Administração Vong Iao Lek WWW. IACM.GOV.MO

HOTEL ESTORIL GOVERNO DEVERÁ CONTRATAR PERITOS INTERNACIONAIS

O

Instituto Cultural (IC) deverá convidar peritos internacionais para a apreciação da proposta de classificação do Hotel Estoril como património, apresentada por mais de uma centena de cidadãos. Mas, até ao momento, como confirmou o organismo ao HM, ainda não foram endereçados os convites e o número de peritos poderá ser alterado. “Temos peritos que vão chegar para ver se há realmente valor ou não. Depois de eles acabarem este trabalho, nós é que vamos tomar uma decisão”, afirmou o presidente do IC, Guilherme Ung Vai Meng, depois da cerimónia de tomada de posse dos novos dirigentes do Instituto de Acção Social (IAS), que aconteceu na passada segunda-feira. O presidente chegou ainda a indicar que em

causa está o convite a três peritos de “nível internacional”, explicando que o ano passado o IC já tentara fazê-lo mas sem sucesso. Ontem, ao HM, o IC explicou que não existe convite oficial, para já e que está em aberto a possibilidade de virem mais ou menos peritos a Macau. “Temos planos para convidar, mas ainda não convidámos”, confirmou o IC ao HM, frisando: “para já queremos três, mas podemos mudar, depende dos convites”. Sem grandes certezas, permanece o mistério sobre o destino do Hotel Estoril. Uma vez mais, Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, indicou que a vontade do Governo é clara: construir um centro de actividades para jovens, um auto-silo e remodelar a piscina para que possa estar aberta todo o ano. F.A.


9 SOCIEDADE

hoje macau quarta-feira 20.1.2016

Os milhões necessários MUST Arrendamento do hospital mantém-se nas 910 mil patacas mensais

“Antes da conclusão e inauguração das instalações do hospital público nas Ilhas, o Hospital Universitário concorda em proporcionar aos SS instalações, permitindo ao Centro Hospitalar Conde de São Januário a criação, a gestão e o funcionamento dos serviços de urgência e do serviço hospitalar de reabilitação”, justificou na altura o organismo.

TIAGO ALCÂNTARA

Durante cinco anos de arrendamento, foram pagos mais de 50 milhões de patacas à MUST devido à utilização dos espaço pelo São Januário. O valor da renda não subiu e o espaço é para continuar até existir um hospital público nas ilhas

VALORES POLÉMICOS

O

S Serviços de Saúde (SS) garantiram ao HM que o valor da renda do espaço hospitalar na Universidade de Ciência e Tecnologia (MUST, na sigla inglesa) se mantém igual desde 2011. Numa resposta ao nosso jornal, o organismo assegura que o preço pelo arrendamento do espaço – que causou polémica – não se alterou ao longo dos anos. “A área arrendada é de cerca de 37 mil pés quadrados, sendo a renda mensal de 910 mil patacas, uma média de aproximadamente 24,62 patacas por pé quadrado. Somos a informar que os valores se mantêm inalterados”, pode ler-se na resposta ao HM. Fazendo as contas desde Fevereiro de 2011, data de assinatura do contrato, até Janeiro deste ano, o espaço do Posto de

Urgência das Ilhas do Centro Hospitalar Conde de São Januário - a funcionar sob dependência da MUST ainda que seja do Governo - custou aos cofres públicos 54,6 milhões de patacas. Os SS e a MUST celebraram um acordo de cooperação para a abertura do Posto em 2011, devido ao atraso na construção do novo hospital público das Ilhas, que ainda não começou sequer a ser construído.

54,6 milhões de patacas é o total pago pelo Governo em cinco anos de arrendamento

Corrida de obstáculos

Exposições Director de empresa denuncia dificuldades para pedir subsídios

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AI Yee Lap, director geral de uma empresa de exposições local, diz que o Governo está a complicar o desenvolvimento do sector das indústrias de exposições (MICE, na sigla inglesa). Segundo o Jornal Ou Mun, o responsável afirmou que o Governo elaborou um novo regulamento para pedidos de subsídios, que exige a apresentação do pedido três meses antes da realização das exposições. Mas não fica por aqui: o Governo tem agora poder discricionário, podendo rejeitar os pedidos. Para Lai Yee Lap, o prazo obrigatório de três meses é demasiado alargado, tendo este explicado que, depois

de se entregar a lista de empresas e de participantes em exposições, não são permitidas alterações nos nomes de convidados ou local, o que complica a situação, já que normalmente, os participantes só confirmam a sua presença um mês antes do evento em causa ter lugar.

NÃO HÁ CERTEZAS

Lai Yee Lap acrescentou que o facto dos pedidos não corresponderem aos requisitos pode influenciar o montante de subsídio oferecido pelo Governo. Para exemplificar, fala de um caso específico de uma cerimónia de abertura, para a qual foram pedidas cem mil patacas e foram recebidas “apenas 20 mil”. “O sector está preocupado com o facto de poderem haver cortes grandes de apoio financeiro, sobretudo quando o Governo tem poder discricionário. O sector já não consegue ter certezas sobre o montante de subsídios que vai receber em função dos pedidos que faz”, critica.

O dono da empresa espera que a apreciação de subsídios seja mais transparente e haja critérios para esclarecer o sector, que é uma das apostas do Executivo para a diversificação económica. Lai Yee Lap referiu que organizar exposições em Macau tem obstáculos como custos elevados de realização, que incluem o arrendamento de espaços e a contratação de mão-de-obra. Também o número de participantes se ressente, devido à falta de capacidade financeira para organizar uma iniciativa de maior envergadura. O director geral sugere que o Governo crie um mecanismo de avaliação de exposições, atribuindo mais subsídios para novas exposições e menos para as que já organizam eventos há vários anos. Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo

Apesar da MUST providenciar os espaços físicos, instalações médicas e equipamentos médicos – e destes estarem incluídos na renda paga pelo Governo – o valor pago levantou polémica. Entre outras razões, pelo facto do hospital estar dentro de uma universidade privada controlada por figuras políticas de Macau, como Liu Chak Wan, membro do Conselho Executivo, e por o terreno onde fica o hospital universitário ter sido cedido gratuitamente à MUST pelo Governo. Na altura do acordo, o Executivo disse que a escolha se deveu à “melhor conveniência geográfica”, além de “as instalações ao redor do Hospital Universitário serem relativamente mais completas” e dos vários apetrechamentos e equipamentos médicos existentes. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

ESTUDANTE QUE MATOU GATOS CASTIGADO PELA UNIVERSIDADE

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estudante de Macau que foi acusado de matar gatos em Taiwan foi castigado pela Universidade Nacional da ilha, onde estudava, por “erros graves” cometidos na instituição.Apesar de mais de uma centena de estudantes terem pedido a expulsão do residente de Macau da universidade, tal não aconteceu. Segundo o Apple Daily de Taiwan, a Comissão de Prémios e Punições da Universidade Nacional de Taiwan decidiu castigar o estudante de Macau por “duas infracções graves” e “duas pequenas”. Isso quer dizer que o jovem não pode cometer mais erros ou será excluído da universidade. O estudante de 23 anos e de apelido Chan foi detido

no final do ano passado pelas autoridades policiais da Formosa por matar vários gatos e violar a Lei de Protecção de Animais local. O jovem admitiu matar um gato mas não os outros e aguarda, agora, decisão do tribunal. A universidade referiu que vai organizar sessões de aconselhamento psicológico para o estudante. O jovem emitiu também um comunicado através da universidade onde pede desculpas ao público. Apontou ainda que matou o gato devido a um “descontrolo emocional”. Chan admite que “foi um acto cruel” e que lamenta. O estudante pediu ainda à sociedade uma oportunidade de correcção de comportamento.


10 hoje macau quarta-feira 20.1.2016

São dos mais antigos na quase inexistente cena musical de Macau e querem continuar a tentar mudar a forma como se faz e sente música no território. Os membros da MDMA organizam este sábado uma festa no Pacha e já se preparam para apresentar por cá um festival internacional de música

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ARKA, D-Hoo e Erick L. vão fazer a noite do próximo sábado no recentemente inaugurado Pacha, no Macau Studio City. Todos são Djs e pertencem ao colectivo local Macau Dance Music Association (MDAM). Não só prometem uma noite diferente para este fim-de-semana, como já têm na manga planos para trazer mais ao público de Macau. “Vai ser um grande desafio”, diz-nos Derek, ou D-Hoo, justificando com o facto do seu som não ser, normalmente, tão comercial como o que passa neste clube internacional. Os que se deslocarem ao Studio City no sábado devem esperar um lado mais profundo da música house, que progredirá para uma versão de estilo tech, batido com pitadas, aqui e ali, de trechos techno, para ver como o público reage.

DESDE 1999

D-Hoo, em conjunto com Roberto Osório, o seu “parceiro de crime” como o próprio define, são dos mais antigos organizadores de festas em Macau. Tudo começou em 1999, como diz D-Hoo ao HM: tinha vivido uns anos em Londres e, ao voltar para Macau, em 97, deparou-se com uma cena vibrante em Hong Kong e um deserto no território. Começaram, por isso, a tentar organizar festas

MDMA UNE-SE A PACHA PARA FESTA UNDERGROUND. FESTIVAL DE MÚSICA A CAMINHO

E preciso furar a cena ´

por estas bandas, com a primeira a acontecer em 1999. “Correu muito bem”, assegura D-Hoo, que nos diz que, depois houve mais umas quantas que não correram exactamente assim. Alguns anos de inactividade, até que, em 2012, os dois músicos resolveram constituir a MDMA - desde então as coisas têm começado a acontecer. O grande objectivo da associação é o de juntar as pessoas através da música e criar experiências para aliviar a tensão através da dança, já que “a vida em Macau é tão stressante nos dias de hoje”, como desabafa Derek. Mas, acima de tudo, o que pretendem é criar uma plataforma para expor artistas locais.

EDM vamos descobrir falsos DJs a tocarem barulho puro para uma nova geração de ‘clubbers’, a destruírem-lhes ouvidos e mente apenas para fazerem paletes de dinheiro. Uma música sem profundidade, sem história, mesmo sem qualidade.” Seguramente, isso não irá acontecer no próximo sábado. Para D-Hoo, a qualidade descobre-se mais a montante em personagens como Carl Cox que, diz-nos o DJ, “mesmo aos 53 anos continua forte com uma grande adesão”.

MDMA

EVENTOS

FESTIVAL INTERNACIONAL EM PREPARAÇÃO

O grande objectivo da associação é o de juntar as pessoas através da música e criar experiências para aliviar a tensão através da dança

CENA LOCAL? QUAL CENA?

Cox, recorde-se, foi grande estrela em Portugal na época das ‘rave parties’, tocando para milhares de pessoas em lugares icónicos como o Castelo de Vila da Feira ou os estaleiros navais de Figueira da Foz durante o mundial de surf aí organizado em 1996. Mas as influências de D-Hoo não ficam completas sem uma referência especial a um galês DJ, produtor, vencedor de vários Prémios Internacionais de Música de Dança e nomeado para os Grammies: Sascha. “Ele é mesmo o meu exemplo. Fez muito... Foi chamado ‘Filho de Deus’ em tempos e ouvir as suas misturas é pura alegria. Oiço-o há 20 anos e, de vez em quando, ainda me consegue surpreender. Assim sejamos também nós surpreendidos este sábado no Pacha. Até lá!” A entrada na festa da MDMA no mais novo clube de Macau custa 200 patacas e começa às 22h00. Para os “amigos do MDMA”, os bilhetes ficam a metade do preço.

Um dos grandes objectivos da MDMA é o de organizar um festival de música electrónica ao ar livre com músicos internacionais, DJs e bandas com um pendor alternativo. Ainda não sabem se será possível já em 2016, mas em 2017 esperam que a ideia venha mesmo a tornar-se realidade, assim que consigam os apoios públicos necessários. Entretanto, a MDMA pretende continuar a colocar os seus DJs em eventos importantes da região: Derek classifica como exemplos a Secret Island Party e o Clockenflap, em Hong Kong, ou o One Love Festival (Shenzhen), Labyrinth 2016 (Japão) e o Wonderfruit (Tailândia). O pior mesmo para Derek é a cena de música local. Quando confrontado com o seu potencial calibre, o Dj não foi de meias medidas: “Qual cena? A dos casinos? Ou a dos karaokes? Não há cena de clubbing. Uns andam demasiado ocupados a fazer dinheiro nos casinos e os outros a assinarem e a jogarem esses jogos estúpidos das salas de karaoke... Claro que existem pessoas que gostam de ir a um clube e eu vejo potencial de crescimento.

Mas a cena mesmo, a real, ainda é muito fraca por aqui”, diz ao HM.

EDM? COX E SASCHA!

Nos últimos anos tem ganho terreno junto de uma geração mais jovem um novo conceito de música de dança designado por EDM (Electronic Dance Music), um significado provavelmente abusivo pela caracterização genérica que apresenta. Mas a realidade é que define um estilo que, para Derek, se explica mais ou menos assim: “Se fizermos uma pesquisa no Google por

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7 ANOS DE MAU SEXO - CRÓNICAS CONSTRANGEDORAS • Ana Anes

A PRINCESA E O PRESIDENTE • Valéry Giscard d’Estaing

A maior parte das crónicas reunidas neste livro surgiram ao fim de dois anos de muita insistência por parte da autora à direcção do semanário O Independente, onde colaborava há cerca de três anos. Com o término dos suplementos anteriores, que deram lugar ao suplemento Vida, foi possível concretizar o que, mais do que um sonho, foi sempre uma certeza da autora - a de que iria «abanar os alicerces» de algumas mentalidades. Assim foi e, durante cerca de sete meses de duração da rubrica homónima, falou-se semanalmente, sem tabus, de sexo e relacionamentos, obviamente numa perspectiva autobiográfica (e não só, que os amigos deram ajudas preciosas com as respectivas experiências!), com humor, ironia e sentido de oportunidade e actualidade. Para além dessas, o livro reúne igualmente crónicas originais e outras da Perspectiva, da coluna Cambalhotas do Destak e da rubrica A Guerra dos Sexos da Maxmen. As crónicas estão organizadas num sistema crescente de «malaguetas»: as primeiras são relativamente toleráveis, mas para as mais picantes será conveniente prepararem o antídoto!

A Princesa e o Presidente conta a história entre Jacques-Henri Lambertye, Presidente de França, e Patrícia, a Princesa de Cardiff. Nestas páginas, o leitor assiste aos seus primeiros encontros e ao nascimento de um amor que, rapidamente, se tornará o centro das suas vidas agitadas. Tendo como pano de fundo os palácios da república francesa e da monarquia britânica, a aproximação entre ficção e realidade é evidente, fazendo-nos crer que, até hoje, ninguém saberia a verdadeira história de amor daquela que o autor apelida de Princesa de Cardiff.


11 hoje macau quarta-feira 20.1.2016

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12 CHINA

hoje macau quarta-feira 20.1.2016

O

S cidadãos de origem chinesa que aguardam a atribuição dos vistos Gold encontram-se com a “vida suspensa” porque o Estado português não está a cumprir o convite que formulou há cinco anos disse à Lusa o advogado Ângelo Monte. “A verdade é que as pessoas alteraram a vida delas porque o Estado português fez um convite aos cidadãos estrangeiros – uma autorização de residência para o investimento – e as pessoas vieram por causa disso e agora estão encalhadas”, disse à Lusa Ângelo Monte, advogado de vários cidadãos da República Popular da China que aguardam na zona de Lisboa a atribuição da autorização, muitos deles há mais de um ano. A Autorização da Residência para Actividade de Investimento (ARI) foi apresentada há cinco anos como uma possibilidade para os investidores estrangeiros requerem uma autorização de residência em Portugal para efeitos do exercício de uma actividade de investimento mediante determinados requisitos, nomeadamente a realização de transferência de capitais, criação de emprego ou compra de imóveis.

EM BANHO-MARIA

De acordo com o advogado, a situação é “muito grave” porque as pessoas em causa entenderam que podiam investir em Portugal mas encontram-se com os processos “parados” sem qualquer explicação por parte do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Segundo Ângelo Monte, no caso dos cidadãos chineses, o investimento em regra é a compra de habitação própria, sendo que a maior parte opta também pelo

CHINESES QUE AGUARDAM VISTOS GOLD “ENCALHADOS”

Vidas suspensas

reagrupamento familiar o que acaba por se tornar num problema “ainda maior” porque os atrasos nos processos obrigam à renovação de documentos que, entretanto, ficam caducados.

4

mil pedidos de vistos Gold à espera de aprovação

“Muitas vezes os familiares não podem vir para Portugal e também acontece que se algum deles tem necessidade de sair de Portugal já não pode regressar”, lamenta Ângelo Monte acrescentando que muitos requerentes pagam em Portugal, por exemplo, as mensalidades dos colégios para os filhos que continuam na China, cumprem o pagamento de impostos como o IMI e taxas de condomínio avultadas. O advogado diz que tem consciência de que a autorização (ARI) “é uma pequena parte” daquilo que é feito pelo SEF e que se trata de um problema “entre muitos” mas sublinha que os serviços desconhecem “de facto” o verdadeiro problema.

Fidelidade Primeira empresa portuguesa a poder investir na bolsa chinesa

A

Composto por 294 empresas, abrange os maiores bancos e seguradoras do mundo, desde os Estados Unidos à Austrália. “A Fidelidade passa assim a ser a companhia de seguros estrangeira com maior quota para investir no mercado de capitais chinês”, notou à Lusa Pedro Dinis, analista português da Z-Ben Advisors, uma consultora com sede em Xangai.

MAIS OFERTA

A empresa comprada à Caixa Geral de Depósitos (CGD) em 2014 pelo Fosun, considerado um dos mais lucrativos consórcios privados da China, detém cerca de 30% do mercado segurador português. “Este processo visa reduzir a exposição da Fidelidade ao Grupo

TRÂMITES E RECOMENDAÇÕES

O Ministério da Administração Interna (MAI) disse à Lusa em Dezembro que o atraso registado nas autorizações de vistos Gold “têm por base a descentralização da tramitação dos processos em resultado de recomendações da Inspecção Geral da Administração Interna”. Segundo o MAI, o atraso fica também a dever-se ao tratamento das autorizações (ARI) em “condições de igualdade face aos restantes processos”, acrescentando como outros motivos a suspensão “da tramitação, durante um mês, devido à recente alteração legislativa”, assim como deficiências na instrução dos processos por parte dos requerentes. “O SEF garante o escrupuloso cumprimento da lei na tramitação das Autorizações de Residência para Actividade de Investimento”, indicava ainda o Ministério da Administração Interna. Entretanto, o jornal Público, citando fonte oficial do MAI, indicava que no total, há mais de quatro mil pedidos de vistos Gold à espera de aprovação. “Segundo uma fonte próxima do processo, os pedidos apresentados em Janeiro de 2015 só vão começar a ser instruídos no próximo mês (Janeiro de 2016), ou seja, exactamente um ano depois de terem entrado no SEF”, escrevia o Público.

ECONOMIA NO RITMO MAIS LENTO DOS ÚLTIMOS 25 ANOS

Seguros vão a jogo seguradora Fidelidade tornou-se a primeira empresa portuguesa a ter exposição directa ao mercado de capitais chinês, após ter recebido uma quota de 700 milhões de dólares para investir nas bolsas de Xangai e de Shenzhen. Trata-se de uma quota superior à atribuída a “tubarões” como o Morgan Stanley, JP Morgan e Goldman Sachs, também autorizados a investir no mercado chinês através do mecanismo Qualified Foreign Institutional Investor (QFII). Aquele programa, criado em 2003, permite a um grupo restrito de entidades estrangeiras investir em ‘A Shares’ denominadas na moeda chinesa (yuan) e compreende 81,1 mil milhões de dólares em capital.

“As indicações que tenho dado aos meus clientes é o pedido de explicações junto do SEF sobre o que se passa e as diligências que foram desenvolvidas foram queixas na Provedoria de Justiça” explica. Em muitos casos foram feitas também reclamações em bloco nos livros de reclamações dos próprios serviços mas as respostas não são satisfatórias apesar de todas obrigações e formulários preenchidos e depois de ter sido efectuado o pagamento de todas as taxas. “Continuando há mais de um ano sem resposta admito recorrer aos tribunais não só para a obtenção dos direitos, mas também

para eventuais situações de ressarcimento por prejuízos”, afirma o advogado.

CGD, com o objectivo de passar a ser usada como um veículo de investimento do Fosun”, comentou Dinis. “A Fidelidade poderá agora oferecer aos clientes a possibilidade de investir no mercado de capitais chinês, desenhando produtos para tal, investir por si mesma, ou alugar parte da quota a outros grupos portugueses”, disse. O mercado de capitais chinês está entre os mais isolados do mundo, devido ao rigoroso controlo dos fluxos de capital imposto pelas autoridades do país. É também um dos mais voláteis: desde o início de 2016 desvalorizou-se quase 20% e em Agosto passado recuou 40%, depois de ter avançado 150% no espaço de quase um ano.

A economia chinesa cresceu 6,9% em 2015, o ritmo mais lento dos últimos 25 anos, anunciou ontem o Gabinete Nacional de Estatísticas da China. O Governo chinês confirmou o abrandamento da economia, de acordo com o esperado pelos analistas, mas dentro da meta fixada - “cerca de 7%”. Ao longo de 2015, a economia do “gigante” asiático continuou a abrandar progressivamente ao crescer 7%, no primeiro e segundo trimestre, 6,9% (terceiro) e 6,8% (quarto). A taxa registada no último trimestre do ano é a mais baixa desde o pico da crise financeira internacional, em 2008. “A economia cresceu a um ritmo moderado, mas estável e sólido”, assinalou um comunicado do Gabinete.


13 hoje macau quarta-feira 20.1.2016

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Per Bolund

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Governo da Suécia instou na segunda-feira as autoridades da China a permitirem um encontro com o livreiro de Hong Kong com nacionalidade sueca que no domingo apareceu na televisão chinesa após ter sido dado como desaparecido há três meses. “Encorajamos as autoridades chinesas a mostrarem abertura e a disponibilizarem informação e [facilitarem] contacto entre as autoridades suecas e o detido”, disse o vice-ministro das Finanças da Suécia, Per Bolund, em declarações ao jornal South China Morning Post, à margem do Fórum Financeiro Asiático, que decorreu em Hong Kong na segunda-feira. Gui Minhai, editor e dono da livraria Causeway Bay, célebre por vender obras críticas do regime comunista chinês, afirma numa gravação transmitida na televisão estatal chinesa CCTV que se entregou às autoridades em final de Outubro passado. No seu depoimento, declarou-se culpado pelo atropelamento e morte de uma jovem de 20 anos em 2004, na cidade de Ningbo, província chinesa de Zhejiang. O livreiro, que tem dupla nacionalidade, chinesa e sueca,

CHINA

Tudo em pratos limpos Hong Kong Suécia pede encontro com livreiro que apareceu em vídeo

afirmou ainda que conduzia embriagado, assumindo a culpa pelo acidente e o “desejo de ser punido”, pedindo às autoridades suecas para não interferirem no assunto. Apesar destas declarações, Bolund insistiu que Pequim deve “permitir às autoridades suecas que se encontrem com Gui Minhai”.

“Espero realmente que as autoridades chinesas se apercebam que tal é necessário e que seria a forma mais fácil de resolver todas estas questões que se levantaram”, afirmou.

EM CADEIA

O desaparecimento de Gui Minhai foi tornado público em 5 de Novembro pelo gerente da livra-

ALGURES NO PAÍS

A

s autoridades chinesas confirmaram às de Hong Kong que Lee Bo, o livreiro desta região desaparecido no final de Dezembro, se encontra na China, anunciou a polícia da ex-colónia britânica em comunicado. A polícia de Hong Kong recebeu uma carta do Gabinete de Ligação da Interpol do Departamento de Segurança Pública da província de Guangdong, que faz fronteira com a antiga colónia britânica, afirmando que “tem conhecimento de que Lee Bo se encontra no país”. A informação que chegou às autoridades de Hong Kong inclui uma carta escrita à mão por Bo, semelhante à recebida pela sua mulher no domingo, em que o livreiro confirmava que se encontrava na China. Através de um comunicado dado a conhecer perto da meia-noite de segunda-feira, a polícia de Hong Kong pediu às autoridades chinesas para se encontrar com Bo, de modo a esclarecer as circunstâncias do seu desaparecimento e a sua actual localização na China, já que os serviços de migração não têm qualquer registo de que tenha atravessado qualquer posto fronteiriço.

ria Causeway Bay, Lee Bo, que depois também desapareceu, no dia 1 de Janeiro. Quatro associados de Gui (Lee Boo, Lam Wing-kei, Lui Bo e Cheung Jiping) desapareceram depois de terem visitado, separadamente, o interior da China. A suspeita de que os livreiros foram detidos por homens ao serviço das autoridades chinesas desencadeou uma onda de revolta e preocupação em Hong Kong, por constituir uma flagrante violação do princípio “Um país, dois sistemas”. De acordo com esta fórmula, as políticas socialistas em vigor no resto da China não se aplicam em Hong Kong e Macau, (excepto nas áreas da Defesa e Relações Externas, que são da competência do governo central chinês) e os dois territórios gozam de “um alto grau de autonomia”. A livraria Causeway Books, entretanto de portas fechadas, vende obras críticas do regime comunista, proibidas no interior da China.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Integração regional e multilateralismo BRICS: novas instituições financeiras multilaterais

O

mundo está gradualmente mais inseguro, havendo factores de desequilíbrio que colocam novos desafios de impacto global. Assimetrias (nas armas, nas guerras e nas vontades políticas e religiosas) que se transformam em impasses duradouros, como no caso das Primaveras Árabes, não trouxeram estabilidade, antes um maior desacerto à segurança internacional. Riscos de uma espiral securitária, ainda relativamente contida, mercê de atentados dispersos que vão da Europa ao Norte de África, e beligerâncias regionais que geram milhares de refugiados agravando as condições de vida de populações indefesas. Num outro plano, a queda drástica do preço do petróleo veio pressionar fortemente os países produtores, afectando significativamente quem faz depender a sua performance económica e financeira das exportações (Rússia em particular). A China (internamente a braços com problemas adstritos a um crescimento tendencialmente menor e com elevados riscos advindos de bolhas no imobiliário e nas bolsas de valores, e com correcção de assimetrias no foro social), que vem tornando mais assertiva a sua estratégia de domínio regional (vejam-se acontecimentos no mar do Sul da China – iniciativa ASEAN para debate do tema em Abril de 2015), defendeum certo “pan-asiatismo”. Recordemos que, pela voz do seu presidente Xi Jinping, vem falar na cimeira da APEC em Novembro de 2014 no Asia Pacific Dream, defendendo “a Ásia para os Asiáticos”, e construindo o novo conceito sobre características económicas, o que pode ser contraditório com a sua estratégia global, quando aumenta a sua presença noutros continentes como a América Latina e África, e mais cirurgicamente na Europa (v. g. sectores estratégicos). A serem bem-sucedidas as duas orientações, poderá haver um momento de clivagem de interesses, acaso não consiga concertar os seus anseios com os dos membros do BRICS; como maior potência do bloco, entra numa nova

fase de integração financeira no mundo, levando os parceiros a dar passos que terão que ser decisivos para a afirmação do todo. Será pela via financeira que esse objectivo se poderá materializar, embora envolvendo o BRICS, mas fazendo parte de uma estratégia chinesa mais ampla e ambiciosa; daí ser relevante referir a criação de várias instituições financeiras, com maior relevo para dois bancos, um de desenvolvimento e outro especializado no financiamento de infraestruturas.

MÚLTIPLAS ENVOLVENTES FINANCEIRAS DE PEQUIM

Defendendo uma forma de cooperação sul-sul, a China anuncia em 2012 a criação do NBD, numa vontade manifestada pela Índia. Logo em 2014, e com vocação específica, a mesma China lidera a criação do BAII, Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas (AIIB). Pequim envolve-se em múltiplas vertentes, que estruturam a sua estratégia geopolítica pela via financeira internacional. Assim, no âmbito do BRICS, o Banco de Desenvolvimento, equiparado ao seu rival Banco Mundial (em que se integrou o BIRD), e ao Banco de De-

senvolvimento Asiático, criado no seio do grupo e para os membros, ainda que o seu carácter global se vincule à diversidade de continentes a que pertencem os cinco países. Complementarmente surge o Fundo de Contingência de Reservas Cambiais, com a lógica de um fundo na esfera monetária, na prática um claro contraponto ao Fundo Monetário Internacional. Fora da esfera de acção do BRICS, Pequim cria um megaprojecto estratégico, o Silk Road Economic Belt and the 21st. Century Maritime Silk Road Initiative, conhecido também como One Belt, One Road, procurando criar uma malha de infraestruturas ligando o ocidente chinês através da Ásia Central, seguindo as míticas ‘rotas da seda’ até ao Médio Oriente. A visita de Xi Jinping ao Paquistão, poucos dias depois de fechado o processo de admissão ao BAII, dando início à formalização das promessas de investimento naquele país, demonstram a vontade de realizar o sonho idealizado. Será o primeiro passo da ambiciosa estratégia regional chinesa, juntando um investimento de trinta e quatro

mil milhões de dólares em projectos de energia e onze mil milhões em vias rodoviárias, portuárias e outras infraestruturas de transportes, assim como o porto de Gwadar, onde começa um corredor que termina na região ocidental de Xinjiang (onde a China tem um dos principais focos de tensão interna); logo, para além de abrir uma via de comunicação fulcral para as trocas comerciais que se antecipam (aproximando ainda a região chinesa do Médio Oriente tão importante na perspectiva energética), estabelecerá, esperam, um mecanismo de segurança1 e estabilidade regional. O BAII ganha novo élan por conseguir juntar a maioria dos países asiáticos, muitos europeus, alguns do Médio Oriente, América Latina e África. Os EUA pressionaram os seus aliados no sentido da não-adesão, invocando a falta de confirmação do cumprimento de boas práticas internacionais, de transparência, de boa governance, mas não conseguiram suster a dinâmica chinesa. Mas uma (aparente) indecisão dos países aliados cai por terra porque no âmago da corrida está um Reino Unido que, aceitando o convite (ciente dos ganhos que assim poderia obter em negócios, o dossiê de cooperação nuclear, e, não menos importante, a sua aspiração a ser a plataforma de internacionalização do renmimbi), na prática abriu a porta aos outros países. Um alto funcionário americano criticou o que apelidou de “acomodação” britânica em declaraçõesao Financial Times. O Silk Road Fund (quarenta mil milhões de dólares) é um fundo de financiamento em infraestruturas e recursos, assim como para cooperação industrial e financeira, dado a conhecer aquando da Cimeira da APEC em Pequim, em 8 de Novembro de 2014, e destinado a investidores da Ásia. É um fundo complementar ao One Belt, One Road, vocacionado para o financiamento de eixos rodoviários e ferroviários, portos e aeroportos, com expressão na Ásia Central e do Sul, a partir da Rota da Seda, como eixo de acção. Para a SCO, a China avança com uma terceira ins-


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Rui PAiva

tituição, o Banco de Desenvolvimento da Organização de Cooperação de Xangai.

MEDIDAS INTERNAS DE REFORÇO

Na óptica interna, o governo chinês toma medidas de reforço de capitais e de gestão dos chamados policy banks, o China Development Bank (CDB), o Export-Import Bank of China (EIBC), e o Agricultural Development Bank of China (ADBC), bancos estatais que executam a política monetária e se viram para o financiamento de infraestruturas. De modo a garantir a capacidade financeira para o gigantesco projecto One Belt, One Road, destinou parte importante das suas reservas externas, sessenta e dois mil milhões de euros, para reforço de capital dos mesmos. Na óptica do BRICS é fundamental perceber como se articulam e qual a vantagem para a China em promover estes bancos, quando os membros têm os seus policy banks poderosos, mormente o China Development Bank, o Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social brasileiro ou o South African Industrial Development Corporation, da África do Sul.

A experiência será um valor acrescentado na implementação de políticas de ‘banca de desenvolvimento’, desta vez numa perspectiva mul-tilateral e com a vantagem de serem projectos novos, actualizados, renovados, demarcando-se o ascendente financeiro chinês, potenciando a dependência dos outros membros, e evitando o ónus de uma actuação bilateral mais aberta, ao aparecer integrada num grupo de países, diluindo assim o que poderia ser invocado como o seu domínio pelo seu peso desproporcionado, anulando eventuais críticas à sua acção enquanto potência dominante.

A DANÇA DAS ADESÕES

Dos acontecimentos de meados de Março de 2015 realça-se que, i) a China dá vantagem estratégica ao BAII, definindo um timing apertado; ii) o ministro das Finanças chinês a 15 de Abril anuncia a lista de cinquenta e sete membros fundadores, verificando-se que Taiwan e Coreia do Norte não foram aceites, enquanto EUA e Japão mantiveram-se firmes na decisão de não aderirem. Suécia, Israel, Polónia e África do Sul foram os últimos a ser aceites; iii) consegue assim um apoio alargado que transcende o âmbito geográfico, ao conseguir atrair para o seu projecto países

europeus (Reino Unido, seguido da França, Itália e Alemanha) e de outros quadrantes geográficos; iv) não menos importante, provoca uma aparente “cisão”, pelo menos diplomática, entre os EUA e os seus aliados depois do lobbying para que não houvesse uma adesão significativa, mormente entre os países europeus e asiáticos. A 12 de Março, uma data marcante, o Reino Unido decide avançar, alegadamente contra a vontade do Foreign Office, numa decisão de David Cameron e do Chancellor do Exchequer, George Osborne. Porque se deu a sucessão em catadupa? Em primeiro lugar porque a China, bem avisada, definiu uma dead-line para meados de Março por pretender organizar um encontro de alto nível no fim-de-semana (28-29 de Março), em Almatai no Cazaquistão; em segundo, a solidariedade é sacrificada por um posicionamento de oportunidade, pretendendo assim marcar presença num futuro e vantajoso negócio, para mais podendo vir a ser parte substancial em divisa chinesa. A China mandatou Jin Liqun seu ex-vice-ministro das Finanças e alto quadro do ADB para realizar um road-show tentando convencer os eventuais candidatos; e, em terceiro, os

países vão sabendo com alguma antecipação das sucessivas adesões. As decisões de adesão passaram essencialmente por um triângulo de questões em suspenso, a) escolha dos três membros ‘não regionais’ para o board (num total de quinze a vinte); b) quem acolherá o prestígio do escritório regional europeu?; c) a eventual caída de um poder de veto chinês. Este comportamento mostra a dependência económica e financeira face a Pequim e a falta de unidade e consenso entre os ‘ocidentais’ quando se perspectivam novas oportunidades financeiras, denotando sobreposição do sentido de negócio sobre o plano diplomático. É a primeira vez que a China questiona frontalmente a hegemonia dos EUA , e tem a possibilidade de gerir instituições financeiras internacionais, não obstante poder ter criado uma clivagem com impacto futuro entre os EUA e seus tradicionais aliados no processo de adesão ao BAII; mostra uma estratégia global clara e com ambição, enquanto agente de uma prática financeira, mas cimentando acima de tudo a sua projecção geopolítica, e revela complementaridade no funcionamento futuro dos três bancos, numa estratégia de reforma do sistema financeiro mundial.

Note-se que deste acordo nasce o fornecimento de oito submarinoschineses (USD 4/5 mil milhões) e a venda de mais de trinta jactos de guerra FC31, quando a Índia adquiriu a França 36 Rafale

Este comportamento mostra a dependência económica e financeira face a Pequim e a falta de unidade e consenso entre os ‘ocidentais’


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WANG CHONG

王充

OS DISCURSOS PONDERADOS DE WANG CHONG

A morte é a prova da vida.

Erros a respeito da Via – 30 & 31

O

S medicamentos podem realmente aliviarnos e reforçar o qi, mas não se conhecem exemplos de qualquer prolongamento de vida digno de nota por esse meio. Os medicamentos permitem curar a doença e, uma vez curada, o qi é reestabelecido e o corpo aliviado. Ao nascer, o corpo é por si mesmo ligeiro e o qi destinado naturalmente a durar muito. Contudo, pela exposição aos elementos, o homem contrai numerosas doenças que lhe tornam o corpo pesado e alteram o seu qi. Os medicamentos simplesmente permitem ao corpo e ao qi restabelecerem-se, não podendo tornar mais ligeiro um corpo demasiado pesado por natureza, ou fortalecer um qi demasiado ténue, pois esse corpo e esse qi assim são desde o momento em que foram recebidos [desde o nascimento]. Ao tomar medicamentos, é possível curar as doenças, é possível aliviar o corpo, fortalecer o seu qi, reestabelecer a sua própria natureza, mas como

poderíamos prolongar os nossos anos e sobreviver às gerações por esse meio?

* * *

Nas espécies de circulação sanguínea, nada existe que não tenha nascido e, entre os seres que nascem, nenhum há que não morra: do nascimento podemos deduzir a morte. O Céu e a Terra não nascem, nem tão pouco morrem. O yin e o yang não nascem, nem morrem. A morte é a prova da vida, a vida é a prova da morte. As coisas com começo têm de ter um fim; as coisas que têm um fim devem ter nelas um começo; só as coisas sem princípio nem fim vivem indefinidamente. Podemos comparar a vida humana à água. Quando a água gela, transforma-se em gelo; quando o qi se acumula, forma homens. No final do Inverno o gelo derrete [tornando-se de novo água] e, ao chegar aos cem anos, o homem morre [e torna-se de novo qi]. Será possível evitar a morte? Poderemos evitar o degelo?

Todos esses estudantes das técnicas de imortalidade falharão tão necessariamente como quem tentasse evitar o degelo no fim do Inverno! Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho

Wang Chong (王充), nasceu em Shangyu (actual Shaoxing, província de Zhejiang) no ano 27 da Era Comum e terá falecido por volta do ano 100, tendo vivido no período correspondente à Dinastia Han do Leste. A sua obra principal, Lùnhéng (論衡), ou Discursos Ponderados, oferece uma visão racional, secular e naturalista do mundo e do homem, constituindo uma reacção crítica àquilo que Wang entendia ser uma época dominada pela superstição e ritualismo. Segundo a sinóloga Anne Cheng, Wang terá sido “um espírito crítico particularmente audacioso”, um pensador independente situado nas margens do poder central. A versão portuguesa aqui apresentada baseia-se na tradução francesa em Wang Chong, Discussions Critiques, Gallimard: Paris, 1997.


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?

FUTILIDADES

TEMPO PERÍODOS DE CHUVA MIN 14 MAX 18 HUM 75-95% • EURO 8.77 BAHT 0.22 YUAN 1.22

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

BLISSFUL MARKET Grand Coloane Resort, 17h00 Entrada livre

AQUI HÁ GATO

O MISTÉRIO DE S. LOURENÇO

Sexta

NOITE DE PIANO NA GALERIA Fundação Rui Cunha, 18h00 Entrada livre

Sábado

SATURDAY NIGHT JAZZ Fundação Rui Cunha, 20h00 Entrada livre MDMA E PACHA PARTY Pacha Macau, Studio City Bilhetes a 200 patacas

O CARTOON STEPH

Diariamente

SUDOKU

DE

BIENAL DE DESIGN Museu da Transferência de Soberania Entrada livre EXPOSIÇÃO “MANUEL CARGALEIRO - 1954-2006” Casa Garden Entrada livre HISTÓRIA NAVAL Arquivo Histórico de Macau Entrada livre EXPOSIÇÃO “AGUADAS DA CIDADE PROIBIDA” (ATÉ 07/2016) Museu de Arte de Macau (MAM) Entrada a cinco patacas

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 12

PROBLEMA 13

HOJE HÁ FILME

Cineteatro

C I N E M A

STEVE JOBS SALA 1

SALA 3

Filme de: J. Blakeson Com: Chloe Grace Moretz, Nick Robinson, Ron Livingston 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLES Filme de: Wilson Yip Wai Shun Com: Donnie Yen, Lynn Xiong, Max Zhang 19.30

THE 5TH WAVE [B]

SALA 2

STEVE JOBS [B]

Filme de: Danny Boyle Com: Michael Fassbender, Kate Winslet, Seth Rogen 14.30, 16:45,19.15, 21.30

Que ruas são estas, que se cruzam e entrecruzam, palmilhadas por nacionalidades, naturalidades, etnias e cores tantas? Que traços urbanos são estes, que se fundem uns nos outros, com cuecas brancas sujas de tanto terem caído no chão enquanto secavam, com azulejos brilhantes da chuva torrencial de ontem? Eu adoro o bairro de S. Lourenço. Sim, chamo-lhe bairro enquanto outros apelidam aquela zona de distrito, outros de local. Bairro porque tem os cheiros da cidade, sentem-se almas e pessoas, passos e sons. A vizinha do segundo andar do número 15 toma duches às 2h00 da madrugada e canta enquanto a água quente lhe cai no corpo. Da banda sonora do Titanic à nova da Rihanna, os êxitos vão passando para este lado da janela, dando vida a qualquer alminha ensonada. Entre cantorias de sábado à noite e ventilações (muito) mal isoladas, as insónias vão imperando num espaço onde mora a felicidade. A felicidade mora lá sempre. Vivo sozinho, mas feliz. É que ter-se liberdade para trepar para a televisão, arranhar cortiças alheias e dormir na cadeira das minhas colegas é coisa que não tem preço. Hoje o frio gela-me as patas enquanto arejo a cauda à porta da redacção. Será saudade, isto que me fere por dentro? Pu Yi

“PRECIOUS” (LEE DANIELS, 2009)

De uma violência psicológica extrema, esta obra-prima do cinema conta como é ser invisível da pior forma possível. É a história de Precious, uma menina afro-americana com peso a mais e que, além de pouco valorizada, sofre abusos constantes da mulher que se diz sua mãe e do seu padrasto. Premiado no Festival de Cannes, “Precious” faz as lágrimas correr em qualquer rosto, com as interpretações de Mo Nique e Mariah Carey. Tal como (quase) todas as histórias, também esta tem uma moral. “Precious” é baseado em factos verídicos, na vida de uma rapariga que viveu num dos bairros mais pobres da Nova Iorque dos anos 80. De uma carga emocional imensa, este drama é capaz de fazer sentir o impensável: a dor de ser invisível. Leonor Sá Machado

IP MAN 3 [B]

SHERLOCK: THE ABOMINABLE BRIDE [C] Filme de: Douglas Mackinnon Com: Benedict Cumberbatch Martin Freenman 14.30, 16.45, 21.30

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; André Ritchie; Aurelio Porfiri; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos; Thomas Lim Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@ hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


18 OPINIÃO

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Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito.

G

FERNANDO PESSOA

UARDO para o mês de Janeiro o encerrar de um ciclo. O de anotador do quotidiano nas páginas do ‘Hoje Macau’. Um quotidiano por vezes frustrante, penoso, castrador de sonhos e utopias, mas também anunciador do dia novo e da esperança. Foram sete anos de escrita, muitas vezes intermitente, ao sabor da actualidade, a internacional que se me agiganta por mister académico e a nacional, do país distante, que deixei pela segunda vez já vão treze anos. Escrevi para mim, esperando que com as palavras que deixei espalhadas pela folha de Microsoft Word tocasse o dia-a-dia dos que tiveram a paciência de as ler, neste pequeno território do Mar do Sul da China. Aescrita só faz sentido se convidar à reflexão, à opinião, à tomada de partido. A escrita que é conformista nada acrescenta, pactua, ajoelha, é redundante. O mister do intelectual – categoria em que porventura me visiono – é de incomodar e alertar. Não com o sentido de fazer processos de intenção ou de disparar recriminações, mas pôr os pontos nos iis. Por isso o intelectual convive mal com o poder. Seja ele qual for. Das duas uma ou ele é um escriba do poder, um porta-voz, um altifalante ou é uma voz crítica. Ser crítico não significa dizer mal, por sistema, apelando aos instintos maledicentes de quem nos lê ou ouve. Significa ver a floresta e não apenas as árvores, não tergiversar em questões de princípio ou de valores cardinais. Ter opinião, fundamentá-la, mas evitar ser um Cavalo de Tróia das oposições ou dos interesses corporativos organizados e instalados. Porque eles têm um objectivo interesseiro: serem um dia poder ou pelo menos condicionarem o poder instalado. Ao longo deste trajecto, perguntei-me por vezes se faz sentido ser cronista numa língua que apesar de oficial é estatisticamente minoritária. Li por aí que apenas 2.4% da população de Macau lê ou fala o português. É manifestamente pouco, o que me suscita a questão de qual é exactamente o auditório dos jornais e órgãos de comunicação social, em língua portuguesa. Confesso que não sei responder. Tive sempre a ideia, porventura romântica, que quando temos essa predisposição para a escrita faz sempre sentido porque acrescentamos algo à vida das pessoas, ao seu conhecimento, à percepção da realidade. É como a profissão de professor. Passam-nos pelas mãos dezenas de jovens com

ARNALDO GONÇALVES

WILLIAM FRIEDKIN, THE FRENCH CONNECTION

Até mais

crepúsculo dos ídolos

expectativas diferentes do que fazer da vida, com um conhecimento reduzido do que se passa no mundo e por vezes na comunidade que os circunda. Não é que seja falta de curiosidade mas uma maneira diferente de estruturarem o seu pensamento, de definirem as suas prioridades e projectos de vida. As novas gerações são muito diferentes, têm um imediatismo de objectivos, um sentido de competitividade que outras anteriores não tiveram, ou priorizaram. Costumo dizer que na nossa geração (nascida na década de 1950) sonhámos, imaginámos poder construir um mundo melhor e mais perfeito. Criámos uma contra-cultura na música, na escrita, na arte, no vestir, no sistema de crenças. Fomos, à nossa maneira, revolucionários e ateus quanto às verdades absolutas ouque nos quiseram transmitir. As novas gerações são diferentes. Têm de se fazer a um mundo onde rareiam as oportunidades, onde a competição nas universidades e nas empresas é feroz, onde já não existem empregos para toda a vida, onde a mobilidade é a regra. Hoje está-se aqui; amanhã acolá. Nada, ou pouco, prende ao cais de partida ou de arribação. Talvez apenas a saudade dos bons momentos passados

com os amigos. Há que se fazer à vida sem olhar para trás. Pergunto-me também o que será Macau, dentro de décadas, à medida que nos afastamos da data da transição para a China. É difícil deixar de sentir alguma nostalgia por essa última década florescente do século que findou. Porque se imaginaram cenários de modernização e autonomia que não se concretizaram. Um pouco pelas circunstâncias, outro tanto porque a comunidade que é maioritária e que dirige Macau nunca o sentiu como fundamental. A ligação à Mãe-China foi sempre preponderante, definidora de uma maneira de estar e de uma convergência de destinos de que não imagino variação. E essa ancoragem é sempre lembrada, quando surgem dificuldades e hesitações. Confesso-me, a esse propósito, expectante e receoso. Expectante de que Macau consiga, por alguma forma, prolongar a situação de excepção que tem usufruído. Não falo na economia apenas. Falo na maneira de viver, nas condições de efectiva e valorizada liberdade. No pensamento, na escrita e na imprensa, na participação e organização cívica, na escolha de projectos de vida, na

A escrita só faz sentido se convidar à reflexão, à opinião, à tomada de partido. A escrita que é conformista nada acrescenta, pactua, ajoelha, é redundante. O mister do intelectual – categoria em que porventura me visiono – é de incomodar e alertar

defesa do trabalho e de condições dignas de vida, na crítica aberta e não censurada. Seria lamentável que isso fosse perdido por mero cálculo e tacticismo imaginando-se que com o silenciamento das opiniões próprias se poderá servir “melhor” um qualquer senhor distante ou partido iluminado. O que é mais difícil é fazer cumprir o espaço de liberdade que se imaginou e que se alcançou com grande esforço e empenho. Existe sempre a sedução do poder querer domar a liberdade para não ser posto em causa por ela. Os homens são, nesse particular, seres imperfeitos, limitados. A magnanimidade não existe na sua esfera. Pelo menos nunca a encontrei. Guardo para o fim um agradecimento ao Carlos Morais José, proprietário do “Hoje Macau”, pelo convite que me dirigiu, há sete anos, para ser cronista no seu jornal e aos directores, editores e jornalistas com quem tive o prazer de conviver e trabalhar. Ser jornalista é das profissões mais honrosas que conheço e uma das mais difíceis. Está-se normalmente do outro lado dos interesses instalados. E isso gera desconfiança, senão animosidade. É tempo de interregno, de parar. São praticamente duas décadas de crónicas em jornais de Lisboa e de Macau, olhares que deixei pontuados aqui e acolá. Fecho com Fernando Pessoa. “Para ser grande, sê inteiro. Nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha. Porque alta vive”. Até mais.


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ÓCIOSNEGÓCIOS

CAT CAVE, CAFÉ IVY LEI, SÓCIA

Um café com companhia são um problema meu, ao invés de estar sujeita a perder o meu salário porque a sala VIP fechou ou algo assim”, conta. Quando pensou em desistir do trabalho, Ivy Lei não tinha decidido que negócio abrir. Foi aí que surgiu a ideia: a jovem adora ir a cafés com amigos e adora animais. A ideia do “Cat Cave Café” surgiu pela sua cabeça em conjunto com os dois sócios. O “Cat Cave” é mais do que cafés e gatos: tem saladas, sopas, pratos de massa ou arroz, bem como sobremesas. Existe também um menu de almoço, com preços mais baratos. Ivy Lei confessa ao HM que a serradura é a sobremesa favorita de muitos clientes.

HOJE MACAU

Diz-se que os animais ajudam a acalmar o stress e o “Cat Cave” proporciona isso mesmo: quem quiser almoçar ou tomar café pode fazê-lo na companhia de felinos “tranquilos”, mas com personalidade

É

u m espaço para comer e tomar café, mas também dá para brincar com gatos. No “Cat Cave Café” os clientes nunca estão sozinhos: têm a companhia de animais simpáticos. Ivy Lei é uma dos três sócios do café. Ao HM, conta que o café está aberto há quatro meses, ainda que não tenha tido a inauguração oficial. A razão da abertura do café é, para a sócia, óbvia: Ivy adora animais e quer ter mais tempo para ficar junto dos seus gatos, mas não só. “Tenho o hábito de cuidar de animais e gosto muito deles. Aqui todos os gatos foram adoptados depois de serem abandonados. Além disso, também tentamos procurar mais adoptantes através do café, porque é provável que, quando os clientes cá vêm, comecem a gostar dos gatos e decidam adoptar uns. Assim, pelo menos ajudamos alguns animais abandonados”. Agora há sete gatos no “Cat Cave”. Ivy Lei é uma cuidadora experiente destes animais, algo que acontece desde que era criança e vivia com os avós. Tem dez gatos e um cão em casa. Mas os planos para o café que agora gere não eram apenas os de proporcionar companhia aos clientes. A ideia inicial de Ivy era abrir uma zona para venda de produtos para mães e bebés ao lado do café. No entanto, sem a concordância dos outros sócios, a ideia caiu. Ainda que, com no Cat Cave, o tema principal do café sejam os gatos, Ivy Lei diz que a vinda de clientes não é apenas por causa dos animais. “Aqui os clientes são também os moradores da zona, não só admiradores de gatos. Vêm os que não se importam ou que não tenham medo de gatos”, disse. Uma parte dos clientes, diz, chega ao café através da rede social Facebook. Localizado na Rua de Inácio Baptista, o “Cat Cave” é grande, tendo mais de 1400 pés quadrados. A entrada assemelha-se a uma caverna e nas paredes interiores estão desenhados cartoons de gatos - um está a

“Muitos clientes vêm ao café por gostarem de determinados gatos. Uns gostam de se sentar nas pernas de clientes, outros só deixam tocar-lhes”

vestir fato preto, outro tem um vestido branco. Outro está a fazer a rodagem de um filme. “Adopte em vez de comprar” é o slogan escrito na parede, para passar esta mensagem aos clientes. Ivy Lei confessa-nos que todos os desenhos são feitos por artistas locais. A renda mensal do espaço fica acima das 20 mil patacas, algo que, para a sócia, é aceitável. “Quando procurámos lojas para criar o café, vimos outras com rendas de 50 mil patacas na mesma zona”. A sócia refere ainda que o capital inicial do investimento foi grande, o que impede que, até agora, tenha sido recuperado o dinheiro investido. É necessário esperar mais meio ano, pelo menos, para equilibrar os custos e rendimentos, conta-nos Ivy. A jovem responsável trabalhava em Relações Públicas numa sala VIP de um

casino desde os 18 anos, as decidiu sair por considerar que o sector não está estável. “Trabalhei muitos anos no sector do Jogo e quando surgiu a ideia de sair alguns amigos sugeriram que trabalhasse para outra empresa junket, mas já não me apetecia. Assim, pensei em criar um negócio. Quanto há riscos sou eu que os enfrento,

As horas do lanche e os fins-de-semana são as mais procuradas pelos clientes. Ivy Lei observa que existem famílias que trazem os filhos de propósito para eles brincarem com os gatos. Outros tentam procurar o lado de mais lazer do café, lendo livros calmamente. Algo que podem fazer, assegura Lei. “Os nossos gatos são tranquilos, não gostam de chatear os clientes”. A responsável diz-nos que cada um gato tem a sua característica: uns gostam de se aproximar das pessoas, outros só gostam de se sentar nos seus lugares e esperar pela atenção dos clientes. Assim, cada um tem os seus fãs. “Muitos clientes vêm ao café por gostarem de determinados gatos. Uns gostam de se sentar nas pernas de clientes, outros só deixam tocar-lhes. Mas o mais famoso é o ‘Fat Boy’, o gato cinzento mais velho e gordo daqui”. Como existem tantos gatos no café, a parte da limpeza é essencial. “Temos de fazer limpeza e esterilização todos os dias quando abrimos e fechamos o café. O mais importante é limpar a caixa da areia dos gatos. Esses trabalhos são essenciais para manter o café higiénico.” O café dedica ainda um espaço à recolha de doações para a Sociedade Protectora dos Animais de Macau – ANIMA. Flora Fong

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“ DIREITO UNIVERSIDADE DE MACAU ESTUDA VIABILIDADE DE RECONHECIMENTO EM PORTUGAL

O Conselho Científico da Universidade de Macau (UM) vai estudar a hipótese do curso de Direito, da mesma instituição, voltar a ser automaticamente reconhecido em Portugal. A notícia é avançada pela Rádio Macau, que indica que a reunião para a decisão final acontecerá no dia 27 deste mês, informação confirmada pelo director associado da Faculdade de Direito, Augusto Teixeira Garcia. Com a introdução de alterações ao currículo do curso em causa, o reconhecimento deixou de ser automático, tendo a UM justificado, na altura, que o objectivo era formar “licenciados bilingues de grande qualidade”, indo ao encontro das “necessidades da sociedade de Macau”. A decisão levantou algumas vozes contra, chegando até a ser mencionada durante a apresentação das Linhas de Acção Governativa, na Assembleia Legislativa. No momento, o deputado Leonel Alves – advogado que fez referência ao assunto –, manifestou o desejo da UM retomar os mecanismos que permitem o reconhecimento dos cursos por Portugal.

FUTEBOL JOSÉ PESEIRO JÁ CHEGOU AO PORTO

José Peseiro chegou ontem de manhã à cidade do Porto, a fim de assinar contrato com os azuis e brancos, em princípio, válido por ano e meio. José Peseiro, 55 anos, rescindiu, na segundafeira, o vínculo que o ligava ao Al Ahly, do Egipto, para assumir o comando técnico dos dragões.

TAILÂNDIA APRESENTA ACUSAÇÃO FORMAL CONTRA PHILIP MORRIS

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O gabinete do procurador-geral da Tailândia apresentou ontem acusações formais contra a filial local da multinacional Philip Morris por alegada evasão de cerca de 20 mil milhões de baht (506 milhões de euros) em impostos. Segundo as autoridades tailandesas, oito dos executivos da tabaqueira norte-americana fizeram declarações falsas na importação, evadindo obrigações e impostos entre 2003 e 2006, informou o canal estatal Thai PBS.O porta-voz do gabinete do procurador-geral da Tailândia, Somnuek Siengkong, disse ontem em conferência de imprensa que na segunda-feira foram apresentadas as acusações num tribunal criminal por 272 ofensas, ao falsear o valor real de cigarros importados com a intenção de evadir o pagamento ao erário tailandês. A lei tailandesa estabelece que a evasão fiscal intencional está sujeita a uma multa quatro vezes superior ao montante desviado ou a uma pena de até dez anos de prisão ou ambas as coisas.

Regresso ao meu amor Macau, / Após mil falas, dez mil silêncios. / Na foz de um rio de pérolas, / A cidade cicia segredos, / envolta na bruma.

quarta-feira 20.1.2016

António Graça Abreu

LISBOA E BANGUECOQUE ALARGAM COOPERAÇÃO

A Ásia aqui tão perto Turismo, cultura e desporto são algumas das áreas contempladas num protocolo de cooperação entre as duas cidades. A iniciativa insere-se num compromisso que visa estreitar laços entre metrópoles asiáticas e europeias

A

Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a Administração Metropolitana de Banguecoque, Tailândia, comprometeram-se hoje a alargar a cooperação em sectores como o turismo, património cultural, desporto e comunicação. As duas partes assinaram um acordo de cooperação onde se comprometem a “alargar a sua cooperação ao domínio da gestão do turismo, da diversidade cultural, da preservação do património cultural e de outros valores arquitectónicos, intercâmbio em matéria de arte antiga e contemporânea, actividades para os jovens, formação profissional, desporto e comunicação”. Lisboa e Banguecoque acordaram também “partilhar experiências adquiridas nas áreas do desenvolvimento e planeamento urbano, políticas de habitação, gestão de tráfego e transporte, tratamento de águas residuais e protecção ambiental”, lê-se no acordo, a que a Lusa teve acesso. No âmbito da quarta reunião ASEM (para governadores e presidentes de câmara Ásia-Europa), que vai decorrer em Lisboa em 2017, as duas partes comprometeram-se ainda a “promover uma

plataforma multilateral que auxilie o estabelecimento de relações e o estreitar de laços entre cidades asiáticas e europeias”.

PASSADO E FUTURO

Na cerimónia de assinatura do acordo, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, recordou as ligações históricas entre os dois países e defendeu que a “melhor homenagem ao passado é construir o futuro, não é olhar para o passado e dizer que foi bom, é o que po-

Águia caída Morreu guitarrista dos Eagles

A

teoria da conspiração que aponta para a realização próxima de um grande espectáculo na outra dimensão parece ganhar cada vez mais consistência. Desta vez foi Glenn Frey, o guitarrista dos Eagles e membro do Rock and Roll Hall of Fame a deixar-nos. Tinha 67 anos e, segundo um comunicado

da banda, “lutou corajosamente durante várias semanas contra uma artrite reumatóide, uma colite ulcerosa aguda e pneumonia.” Nas palavras de Don Henley, ex-companheiro de Frey na lendária banda, “Glenn tinha um conhecimento enciclopédico de música

demos fazer juntos para as nossas sociedades”. Afirmando que a Ásia é “a zona onde muita coisa acontece no mundo e é essencial para Lisboa estar ligada a essa realidade”. “Este acordo tem um significado mais profundo: estreitar relações entre Lisboa e Banguecoque para que possamos aprender mais”, frisou. Por seu lado, o governador de Banguecoque, Sukhumbhand Paribatra, começou por dizer que o “acordo pode ter apenas alguns minutos mas os laços entre estes

dois países desenvolveram-se ao longo de quinhentos anos”. “Tenho a certeza de que este acordo será mais um passo importante nas relações entre os dois países e as duas cidades”, disse o governador, acrescentando que o “passado deu alicerces muito fortes para o futuro”. “Muitas pessoas dizem que o futuro pertence à Ásia, e até pode ser que sim, mas tenho a certeza que o futuro da Ásia depende da cooperação com o resto do mundo”, concluiu.

popular e uma ética de trabalho de que nunca desistiu”. Era engraçado, diz, teimoso, generoso, profundamente talentoso e motivado. A morte de Glenn Frey surge pouco depois dos Eagles terem encerrado no passado mês de Julho uma tournée de dois anos, intitulada “History of the Eagles”. Conhecidos pela grande maioria das pessoas pelo seu mega-sucesso “Hotel California”, de 1976, os Eagles apareceram pela primeira vez junto do grande público em 1972 com o álbum “self-titled LP”, onde

Frey e Jackson Browne escreveram temas como “Take It Easy” e Frey cantava “Peaceful Easy Feeling.” Foi “Eagles”, um dos 500 melhores álbuns de sempre para a revista Rolling Stone, que os catapultou para virem a ser uma das bandas com mais vendas de sempre. A solo, Frey teve também uma carreira prolífica onde se destacam, por exemplo, a composição da faixa para o filme Beverly Hills Cop “The Heat Is On” e “You Belong to the City” escrita para Miami Vice.


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