Hoje Macau 20 DEZ 2016 #3720

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TERÇA-FEIRA 20 DE DEZEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3720

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

hojemacau

MOP$10 PUB

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

JULGAMENTO

OS 1001 CONTRATOS PÁGINA 9

TÁXIS

Sementes de violência www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

PÁGINA 7

JOSÉ DRUMMOND

O fim da inocência PUB

GRANDE PLANO

EVENTOS

TEATRO DA LUZ EVENTOS

PROTESTOS

As marchas da cidade

h PÁGINA 4

Tijolos PAULO JOSÉ MIRANDA


2 GRANDE PLANO

Faz hoje 17 anos que Rocha Vieira entregou a administração de Macau a Pequim. Fê-lo abraçado a uma bandeira portuguesa, numa transição emocionada. O HM ouviu vários testemunhos que nos fizeram o balanço da vida da RAEM

ANÁLISE TRANSFERÊNCIA DE ADMINISTRAÇÃO FOI HÁ 17 ANOS

A BEIRA DA MA `

N

O início eram as descobertas. O espírito aventureiro dos navegadores portugueses chegou aos Mares do Sul da China, e aqui ficaram a administrar o território durante mais de quatro séculos. Até 1999, quando se deu a transferência de administração para a República Popular da China, nascendo a Região Administrativa Especial de Macau. Em dia de aniversário, ouvimos as opiniões de quem aqui vive, para um balanço destes 17 anos. O designer Manuel Correia da Silva considera que podemos olhar para a idade da RAEM como olhamos para o crescimento de uma pessoa. Houve uma infância e, hoje em dia, estamos à beira da maioridade mas ainda a atravessar uma fase tardia da adolescência. “Espero que a maturidade chegue a todas as figuras de poder desta cidade, não só ao Governo local, mas também à sociedade civil”, comenta. A ideia de chegar à idade adulta é intimamente ligada a um sentido de autonomia, “já podemos sair sozinhos”, como comenta Correia da Silva. A ideia é uma maior capacidade de autogestão que permita a internacionalização, o envolvimento com a região. O designer não se refere apenas a factores comerciais. Nesse aspecto houve, realmente, maior abertura ao exterior, mas a um novo olhar político, uma nova forma de pensar o território. Nesse sentido, considera que a RAEM devia “olhar para as lusofonias como um bom canal de internacionalização”, na forma como a marca Macau se pode instituir lá fora. Para tal, será necessário projectar uma imagem mais graúda, “e isso tem que ver com responsabilidade”. Hoje em dia, Macau é uma cidade mais cosmopolita, que oferece maior liberdade de movimentos aos cidadãos, mais ligada ao que se passa em seu redor. “Nós já estávamos envolvidos neste Delta, uma zona do mundo especialmente activa nestes últimos 10 anos”, algo que melhorou com “as políticas de abertura da China para o resto do mundo”.

“Espero que a maturidade chegue a todas as figuras de poder desta cidade, não só ao Governo, mas também à sociedade civil.” MANUEL CORREIA DA SILVA DESIGNER

Factos políticos com impacto, e que forçaram a competitividade e inovação.

BOOM VERTIGINOSO

Portugal entregou Macau à China com os cofres em situação modesta. “Quando passou a administração tínhamos apenas um fundo de 10 biliões de patacas, o que não dava para alimentar sequer um ano de Orçamento”, lembra o economista Albano Martins. Neste momento, o Governo tem os cofres cheios. Facto que é incontornável neste balanço de aniversário, assim como os números do desemprego. Aquando da transferência, Macau tinha uma taxa de mais de sete por cento, hoje em dia está abaixo dos dois por cento, um número que representa pleno emprego. Au Kam San, deputado à Assembleia Legislativa, aponta a óbvia “liberalização do jogo de

grau limitado e a política de visto individual oferecida pelo Governo Central”, como “factores decisivos para o desenvolvimento a grande velocidade”. Estes foram os pilares que enriqueceram a administração da RAEM, e que possibilitaram o investimento numa série de infra-estruturas que enriqueceram o nível de vida dos habitantes de Macau. Albano Martins acrescenta que “os grandes desenvolvimentos se deram durante a administração de Edmund Ho que foi, de facto, a grande dinamizadora”. O economista considera que durante esse período houve coragem para tomar decisões mas, infelizmente, o segundo mandato ficou manchado pelo escândalo Ao Man Long. “Nesta última administração pouca coisa se fez, tirando uma ligeira acção neste último mandato, embora sempre com um atraso que não era


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IORIDADE “As comunidades portuguesa e macaense continuam dinâmicas, são partes fortes do sistema, e merecem o reconhecimento devido pelos Governos Central e local.” CARLOS MARREIROS ARQUITECTO

expectável dadas as capacidades financeiras que a administração de Macau hoje tem”, comenta o economista, que vive há quase 40 anos no território. O arquitecto Carlos Marreiros reforça este ponto, acrescentando que “a administração não soube acompanhar a dinâmica do investimento, a uma escala gigantesca, à qual não estávamos acostumados”. Também no panorama regional, a inacção governativa levou à perda de competitividade. A inércia administrativa é algo palpável, a que a população reage. “A população tem um relacionamento muito crispado com a administração. O que a administração faz é sempre mau, o que não é verdade, também há coisas muito positivas”, acrescenta. Nesse aspecto, salienta a classificação pela UNESCO do centro histórico de Macau como

património mundial e o investimento recente na educação. “O acesso ao ensino melhorou bastante, é gratuito e estendido a todas as idades com um apoio pecuniário para quem queira continuar a estudar.” Apesar destas melhorias, a apatia generalizada do poder local é sentida pelo povo, levando a “um processo de pré-divórcio, como uma comunicação impossível, alicerçada no conflito que não resulta em consenso, mas numa sociedade fracturante”. “Isso não é bom numa terra pequena, é mau para a criação de soluções e para o diálogo”, acrescenta o arquitecto nascido em Macau. Para a deputada Melinda Chan, “uma das vantagens que vieram com a transição foi a melhoria na segurança”. Chan elenca ainda nos aspectos positivos o reconhecimento da RAEM ao nível

internacional, “que se sentiu com a entrada de grandes empresas e investimento, e com o aumento de turistas”.

NEM TUDO SÃO ROSAS

A prosperidade trouxe por arrasto alguns problemas, particularmente no que diz respeito à poluição, ao crescimento desordenado, ao trânsito e à habitação. Este último capítulo é destacado por Lam U Tou que considera que, anteriormente, “a população mais pobre conseguia com algumas poupanças ter as suas próprias casas”, algo que o boom no mercado do imobiliário veio dificultar. Para o membro do Conselho Consultivo dos Serviços Comunitários da Zona Central, esta é a maior falha do Executivo e o factor de maior desagrado da população. Já o deputado Au Kam San vê na corrupção o pior efeito secundário do boom económico, com consequências muito nefastas para a sociedade. “Durante a administração portuguesa havia problemas de corrupção, mas eram de menor dimensão. Hoje, o problema cresceu à medida que o Governo ficou mais rico, como exemplificou o caso Ao Man Long”. O pró-democrata acha que a promiscuidade entre oficiais da administração e grupos empresariais atinge maiores proporções. Uma das razões apontadas por Au Kam San prende-se com o deficit de democracia, com os quadros governativos a ocupar muito tempo o poder. Este é um problema que “sacrifica o interesse dos pequenos cidadãos”, acrescenta. No rol de aspectos negativos, Albano Martins destaca a ausência de “um sistema de reformas digno desse nome, adequado aos rendimentos do Governo”, não esquecendo as problemáticas questões do trânsito, cultura e a poluição. Para o economista, é como se a administração da RAEM não soubesse lidar com o crescimento exponencial. “A solução encontrada parece ser parar esse crescimento.” Carlos Marreiros olha para este quadro socioeconómico com alguma preocupação, num panorama em que “as pequenas e médias empresas têm dificuldade em se imporem”. Para tal, tem contribuído um desenvolvimento mal distribuído, “nem sempre para benefício do povo”. Mas o arquitecto também vê o copo meio cheio, e faz “um balanço globalmente positivo”. “As comunidades portuguesa e macaense continuam dinâmicas, são partes fortes do sistema, e merecem o reconhecimento devido pelos Governos Central e local. Nestes 17 anos não deixámos de participar, fomos fazedores do passado de Macau, um passado com mais de quatro séculos, estamos a fazer o presente e a projectar o futuro de todos nós”, comenta o arquitecto. Neste aspecto, o sabor

diferente que a portugalidade oferece à região torna Macau num local diferente do resto da China, sendo que “uma das principais razões é a existência desta universalidade que é a cultura portuguesa, miscigenada localmente a vários níveis, e que cria originalidade na ponta desta enorme China”.

“Durante a administração portuguesa havia problemas de corrupção, mas eram de menor dimensão. Hoje, o problema cresceu à medida que o Governo ficou mais rico, como exemplificou o caso Ao Man Long.” AU KAM SAN DEPUTADO Não obstante os 17 anos da transferência de administração de Macau para a China, a alma lusitana ainda se faz sentir na universalidade de que Carlos Marreiros fala. Um bom exemplo desse aspecto fluido culturalmente é a própria vida de Manuel Correia da Silva. Há três anos, o designer viu-se na iminência de ter de mudar de cidade, empurrado pelo desconforto que sentia, pela deterioração da qualidade de vida e a subida vertiginosa da inflação. As circunstâncias empurraram-no para lá das Portas do Cerco e a procurar outra vida em Zhuhai. “Para mim isto também já é Macau, apesar de existir aqui uma fronteira administrativa que é preciso ultrapassar. Macau vem comigo para este lado da fronteira e o mesmo acontece no sentido inverso. É uma fronteira um bocado orgânica, ela vai e volta comigo”, explica. Uma fluidez que parece ser a metáfora perfeita para simbolizar Macau.


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POLÍTICA

RECENSEAMENTO DEZ DIAS PARA PODER VOTAR NAS LEGISLATIVAS

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ALTAM menos de duas semanas para terminar o recenseamento eleitoral. Os residentes permanentes de Macau que, embora preenchendo os requisitos, não tenham ainda efectuado a inscrição para poderem participar nas eleições legislativas do próximo ano podem fazê-lo até o dia 30 deste mês. Numa nota à imprensa, os Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) explicam que hoje e amanhã, apesar de serem dias

feriados, há postos móveis de recenseamento a funcionar, sendo que vão estar ainda disponíveis mais pontos de serviço automático. Nestes dois dias, a inscrição pode ser feita na zona de lazer de Lok Yeung Fa Yuen e na zona de lazer da Rotunda de Carlos da Maia (Três Candeeiros), entre as 14h e as 19h. Para facilitar o processo de recenseamento, os SAFP, em colaboração com os Serviços de Identificação,

aumentaram o número de quiosques automáticos para o efeito: há neste momento 39 locais que prestam o serviço. Além disso, há seis

postos onde é possível fazer a inscrição 24 horas por dia: no edifício da Administração Pública, no átrio do edifício China Plaza, no Terminal Marítimo do Porto Exterior, no edifício da Direcção dos Serviços de Finanças, no átrio do Centro Hospitalar Conde São Januário e no Centro de Serviços da RAEM. Os SAFP sublinham que os residentes que já efectuaram o recenseamento eleitoral não necessitam de se reinscrever.

Pelos santos da casa São as reivindicações do costume pelas associações de sempre. Não à mão-de-obra importada, contra os não-residentes. Também a associação que luta pela reunião das famílias vai passar em frente ao Palácio

J

Á faz parte do programa das festas: várias associações saem hoje à rua para se manifestarem contra determinadas medidas do Governo, com destaque para a autorização de trabalhadores do exterior. De acordo com as informações divulgadas pela polícia, este ano há seis associações que pediram autorização para marcharem pelas ruas da cidade, sendo que há ainda dois residentes que também convocaram protestos.

Este ano há seis associações que pediram autorização para marcharem pelas ruas da cidade Contactado pelo HM, o presidente da Associação da Garantia dos Interesses de Emprego dos Operários Locais, Lui Fai Long, explicou que a manifestação de hoje tem como reivindicações principais

“a garantia ao emprego dos operários locais” e “a oposição à importação da mão-de-obra não residente”. A organização prevê que mais de mil pessoas se juntem aos protestos.

A Associação de Activismo para a Democracia, aAssociação deArmadores de Ferro e Aço, e a Associação da Linha da Frente dos Povos de Macau vão juntar-se para protestar contra a

introdução de trabalhadores não residentes no sector de transportes, tendo como ponto de partida o Jardim de Iao Hon. A questão dos motoristas – profissão que, até à data, está reservada

O Governo promove hoje uma série de actividades para assinalar o 17.º aniversário da Região Administrativa Especial de Macau. Logo pela manhã, às 8h, realiza-se a cerimónia solene do içar das bandeiras, na Praça de Lótus Dourado. Uma hora e meia depois, na Torre de Macau, começa a recepção oficial que assinala a transferência de administração. Vários serviços organizam actividades direccionadas para a população em geral, com destaque para um “sarau desportivo e cultural” no Estádio da Taipa, às 14h. À noite, pelas 21h, há um espectáculo de fogo-de-artifício.

apenas a residentes – voltou a estar recentemente na ordem do dia.

GCS

Aniversário SEIS ASSOCIAÇÕES SAEM HOJE PARA A RUA

TRANSFERÊNCIA FOGUETES E OUTRAS FESTAS

TRAZER PARA CÁ

Lei Yok Lam, líder da Associação da Reunião Familiar de Macau, também vai voltar a sair para a rua, para reivindicar a autorização da fixação de residência em Macau dos filhos maiores de idade. É uma luta antiga: são residentes do território que, à data da mudança da China para Macau, deixaram filhos menores no Continente que, entretanto, não conseguiram permissão para viverem cá. A associação entregou uma petição em Novembro pedindo um encontro com o Governo no início deste mês. O Executivo já respondeu e prometeu que o caso vai ser seguido pela secretária para a Administração e Justiça. “Vamos ficar à espera”, diz Lei Yok Lam. Só depois é que a associação irá pensar em novas formas de protesto, caso haja necessidade disso. Para já, manifestam hoje o seu desagrado em relação ao modo como o Executivo tem lidado com a questão. Em casa vai ficar este ano a Associação Novo Macau, que desde 2007 costuma convocar uma marcha no dia em que se assinala a transferência de Macau. Em declarações à imprensa chinesa, Jason Chao explicou que, atendendo a que muitas associações se manifestam nesta data, a Novo Macau entendeu que o protesto teria pouco significado. “Vamos convocar manifestações conforme as situações com que nos formos deparando”, prometeu. Angela Ka

info@hojemacau.com.mo

LAG 2017 JOVENS MAS SATISFEITOS

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UASE 53 por cento dos adultos com menos de 45 anos consideram satisfatório o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2017, apresentado por Chui Sai On no mês passado, segundo um inquérito divulgado pela Comissão dos Assuntos da Juventude dos Kaifong (União Geral das Associações de Moradores de Macau). Vong Lai I, responsável pela comissão, explicou em declarações reproduzidas pelo jornal O Cidadão que, apesar do grau de satisfação geral obtido ainda ser relativo, a confiança dos entrevistados em relação à governação mostra uma “tendência positiva e estável”, na comparação com os anos anteriores. Ainda de acordo com as respostas ao questionário, as áreas que receberam notas mais positivas são a segurança social e as políticas de previdência, os serviços médicos e a educação cultural. Entre os graus de avaliação de cada sector, a segurança social e as políticas de previdência, e os serviços médicos subiram nove por cento e cinco por cento em relação às LAG para 2016. Por outro lado, os aspectos que menos agradam são os transportes, a habitação e as medidas contra inflação. O questionário foi conduzido depois da apresentação das LAG na Assembleia Legislativa no mês passado. Participaram no inquérito 1031 pessoas, com idades entre os 18 e os 45 anos.


6 Um sistema de avaliação física dos alunos do ensino não superior para que as escolas adaptem adequadamente as suas actividades é uma das medidas para implementar em 2017 pela DSEJ. A iniciativa foi anunciada ontem, após a reunião plenária do Conselho de Educação

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DSEJ ESCOLAS VÃO TER CURRÍCULOS MAIS ADAPTADOS AOS ALUNOS

Conhecer quem se ensina

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Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) vai lançar, já no próximo ano, a Plataforma das Orientações de Educação para a Saúde dos Alunos. A ideia foi revelada ontem, após uma reunião plenária do Conselho de Educação para o Ensino Não Superior, e pretende adaptar os currículos escolares à condição física dos alunos de cada instituição de ensino. Para o efeito, a DSEJ “pretende, de uma forma científica e sistemática, conhecer as informações físicas dos seus alunos para serem estudadas e analisadas”, disse o chefe de Departamento de Estudos e Recursos Educativos, Wong Kin Mou. O objectivo é a obtenção de dados de forma a “orientar a execução das

actividades de cada estabelecimento de ensino para que sejam as mais adequadas aos seus alunos”, explicou. Em debate estiveram também as medidas que tiveram início no passado ano lectivo e que têm o futuro ditado pela continuidade. Fazem parte do rol iniciativas que continuem a promover o ensino especial. Leong Vai Kei, chefe do Departamento de Ensino, deu um exemplo do que diz serem os esforços do Executivo: “Foi criado um centro de avaliação de necessidades especiais no Centro Hospitalar Conde de São Januário que reduziu o tempo de avaliação para crianças até aos seis anos”. O reforço do pessoal docente e a futura actualização dos currículos escolares são projectos para continuar a serem trabalhados, sendo que Leong Vai Kei ressalvou PUB

A Universidade de Macau felicita a Região Administrativa Especial de Macau pela passagem do seu 17.º aniversário

que se trata de processos morosos. “Construir diferentes planos adaptados às diferentes capacidades e faixas etárias ainda vai demorar”, frisou. No entanto, apontou 2017 como data para levar à Assembleia Legislativa a nova proposta de lei relativa ao ensino especial.

TIAGO ALCÂNTARA

SOCIEDADE

MAIS PORTUGUÊS PARA OS INTERESSADOS

Outra medida apontada para o próximo ano é a “formação da capacidade linguística dos alunos”. Sem carácter obrigatório, a iniciativa pretende motivar os jovens residentes para a aprendizagem de português. “As escolas particulares que assim o pretenderem podem requerer pessoal docente da língua portuguesa, subsidiado pelo Fundo de Desenvolvimento Educativo (FDE)”, disse a chefe do Departamento de Ensino. “Se as escolas quiserem ensinar português aos alunos podem abrir uma disciplina regular ou criar cursos complementares, sendo que primeiro é necessário um primeiro contacto com a língua para avaliar o interesse dos alunos na sua aprendizagem”, considerou. Já foi pedida ajuda à Escola Portuguesa de Macau para ensinar os interessados do 9º ao 12º anos. Ainda no âmbito da formação linguística, Leong Vai Kei destacou os intercâmbios que a DSEJ tem vindo a promover entre alunos de Macau e de Portugal. “Nestes intercâmbios, além do encontro pessoal que acontece, há a continuidade da comunicação virtual que contribui para o desenvolvimento das competências escritas e da fala”, explicou. Quanto ao programa da aprendizagem contínua, a terceira fase vai começar em 2017, sendo que não tem ainda data marcada. O projecto “céu azul” também foi discutido. Tal com anunciado recentemente, já foram transferidos

A DSEJ pretende, de uma forma científica e sistemática, conhecer as informações físicas dos seus alunos para serem estudadas e analisadas três estabelecimentos de ensino de um total de 15 que estão na calha. “Não é só mudar escolas, há muitos trabalhos a fazer”, referiu Wong Kin Mou. O chefe do Departamento de Estudos dos Recursos Educativos salientou ainda que há instituições que têm de ser remodeladas de forma a unificar os serviços que se encontram espalhados em diferentes localizações e

outros estabelecimentos que necessitam de reconstrução. A necessidade de esperar por terrenos para novas construções foi também apontada. “Nos projectos a longo prazo, temos planos que implicam a exploração de novos terrenos para o ensino que, muitas vezes são processos demorados”, sublinhou. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


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SOCIEDADE

Táxis AGRESSÃO DE MOTORISTAS LEVA CLIENTE AO HOSPITAL

Era para as urgências, por favor Um residente de Macau foi agredido no passado fim-de-semana por vários motoristas no Cotai, junto ao Galaxy. O caso foi parar à esquadra e ao hospital. É mais uma história em que o sector não fica bem na fotografia

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ÃO é a primeira vez que se ouvem relatos do género – tanto assim é que o descontentamento com o serviço prestado pelos táxis de Macau deu origem a uma página no Facebook que acabou por se transformar numa associação. Desta vez, o episódio envolveu o gestor de uma galeria de arte e aconteceu na madrugada do passado domingo. Simon Lam, que contou o que passou ao HM, acabou por ser levado para o hospital. Simon Lam e alguns colegas de trabalho tinham estado na inauguração de um bar na Broadway, no Cotai. Por volta das duas da manhã, o grupo decidiu sair do local e atravessou a estrada para apanhar um táxi junto ao Galaxy. “Estavam vários táxis parados com a indicação de que estavam livres, pelo que entrámos no primeiro da fila, que se recusou a transportar-nos”, relata. O mesmo aconteceu com o segundo veículo onde entraram. A terceira tentativa correu ainda pior. Já dentro da viatura, explica o gestor da galeria IAOHiN, o taxista disse que não transportava os clientes, mas Simon Lam recusou-se a abandonar o carro e exigiu que o serviço fosse prestado. “Foi então que pelo menos três motoristas me tiraram do táxi, agrediram-me na

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ÃO 711 os projectos de execução de obras viárias agendados para o próximo ano. Por se situarem em artérias importantes do território e ocuparem grandes extensões durante períodos de tempo prolongados, os Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), através do Grupo de Coordenação de Obras Viárias, promete optimizar a gestão e coordenação das obras através da implementação de dez medidas. Em comunicado enviado à comunicação social, os serviços dão a conhecer as iniciativas a colocar no terreno no próximo ano, a começar pelo aumento do valor da taxa de licença para a abertura de valas, de modo a encorajar

cara, atiraram-me ao chão e deram-me pontapés.” A vítima acredita que a agressão ficou registada no sistema de videovigilância.

O residente, de nacionalidade polaca, garante que não teve capacidade de resposta, até “porque ficou em choque” e os

“Foi então que pelo menos três motoristas me tiraram do táxi, agrediram-me na cara, atiraram-me ao chão e deram-me pontapés” SIMON LAM CLIENTE AGREDIDO

agressores eram muitos. A polícia acabou por intervir rapidamente e foram todos transportados para a esquadra. “Levaram-me para o hospital, recolheram os depoimentos dos motoristas e dos meus colegas.” Só às seis da manhã é que puderam ir, finalmente, para casa.

QUEM É QUEM?

Ainda de acordo com o relato de Lam, o agredido conseguiu

Um ano de obras sem fim Governo promete medidas para diminuir incómodos

os empreiteiros a reduzir a extensão de pavimento que ocupam e a duração das obras. Depois, vai ser feita a classifi-

cação da rede rodoviária por nível hierárquico: as obras poderão decorrer durante a noite, domingos e feriados,

identificar o primeiro taxista agressor, sendo que a polícia perguntou se queria apresentar queixa – a resposta foi afirmativa. Ao HM, Simon Lam diz que, apesar de terem chegado ao local com rapidez, não se sentiu tratado como vítima pela polícia. “Mantiveram-me durante muito tempo, pediram-me para pagar a conta do hospital, pediram a minha identificação e tentaram desencorajar-me de apresentar queixa várias vezes”, explica. À semelhança de muitos residentes e turistas de Macau, o gestor já tinha tido experiências desagradáveis com taxistas, mas “nunca ao ponto de envolverem violência”. Para já, ainda não decidiu o que vai fazer. “Ainda estou abalado com tudo isto. Quero focar-me no ginásio e ficar mais forte para uma futura situação do género”, ironiza. “Sair à noite pode ser perigoso.” Quanto ao recurso a meios legais, Lam tem dúvidas acerca dos resultados. “Não tenho qualquer informação acerca de quem são, não foram detidos, a polícia apenas lhes pediu a identificação e os transportou para o hospital”, remata. I.C.

de modo a encurtar o tempo de execução e vai ser exigido aos empreiteiros que seja feito trabalho nocturno de modo a atenuar o impacto no trânsito. Promete-se ainda um reforço da divulgação das obras, sobretudo junto dos moradores das proximidades dos estaleiros, através da publicação na imprensa ou da distribuição de folhetos; e a criação de um mecanismo de prémio e sanção relativo às obras viárias, propondo aos serviços públicos e concessionárias que agravem as sanções por atrasos e aumentem o prémio para as

conclusões de empreitadas antes do tempo. A proposta de renovação de equipamentos e ferramentas; o controlo do número de obras em cada zona, para que não exista mais do que uma obra de grande dimensão num mesmo período; a coordenação entre empreiteiros para evitar a repetição de escavações, encurtando o tempo de ocupação do pavimento; a realização de estatísticas acerca do fluxo de tráfego antes de realizar qualquer obra de grande dimensão, tendo em vista a melhor preparação de um plano de condicionamento provisório de trânsito; e a responsabilização dos subempreiteiros no que respeita à qualidade das construções,

com dados divulgados online, constam ainda das medidas anunciadas. Depois da reunião em que foram definidas as medidas de optimização do tráfego, o director da DSAT, Lam Hin San, garantiu, ao canal de rádio em língua chinesa, que “as obras vão ser iniciadas segundo o grau de prioridade”. “Se não for necessário iniciar no próximo ano, os serviços adiarão a data para tempo oportuno. Se for uma execução directamente ligada ao bem-estar da população, há, efectivamente, necessidade de a executar”, explicou. Lam Hin San salientou ainda que a zona norte deverá ser aquela com mais intervenções em simultâneo, apelando à compreensão da população. HM


8 SOCIEDADE

hoje macau terça-feira 20.12.2016

HABITAÇÃO NÚMERO DE CASAS VENDIDAS DISPARA S transacções de imóveis destinados a habitação em Macau subiram 122 por cento no mês passado, em comparação com o período homólogo de 2015, acompanhadas por uma subida de 21 por cento do preço do metro quadrado. Estatísticas disponibilizadas no portal dos Serviços

de Finanças revelam que em Novembro deste ano foram transaccionadas 1144 fracções, muito acima das 515 vendidas no mesmo mês do ano passado. Foi na Taipa que se verificou o maior aumento de venda de fracções para habitação, com 239 transaccionadas este ano face às 79 em 2015, uma subida de 202

O Canídromo de Macau, considerado uma das mais cruéis pistas de corrida de galgos do mundo por organizações internacionais, foi autorizado a funcionar até meados de Julho de 2018. Já se esperava pela renovação da concessão, mas Albano Martins lamenta que assim seja

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EVERÁ ser a última re -novação da concessão dada à Yat Yuen, empresa do universo da Sociedade de Jogos de Macau que explora o Canídromo de Macau. Uma ordem executiva, publicada ontem em Boletim Oficial, delega poderes no secretário para a Economia e Finanças “na escritura pública de prorrogação do prazo até 20 de Julho de 2018 e alteração do contrato de concessão celebrado entre a RAEM e a Companhia de Corridas de Galgos Macau (Yat Yuen), S.A., para a exploração, em regime de exclusivo, das corridas de galgos”. A ordem executiva vem formalizar o anúncio do Governo que, em Julho, informou que a Yat Yuen teria de decidir entre terminar a exploração da actividade ou relocalizá-la no prazo de dois anos. O Executivo indicou na altura que, a optar pelo encerramento, a empresa terá de pagar todas as indemnizações aos trabalhadores e assegurar o destino final dos galgos que tem em seu poder. Caso escolha a relocalização, “terá de

por cento. Na península de Macau, foram vendidas 818 habitações, mais 114 por cento na comparação anual. O aumento das transacções foi acompanhado por uma subida dos preços de 21 por cento, em termos gerais, para 90.428 patacas por metro quadrado. Na Taipa, a subida foi mais acentuada,

32 por cento, de 76.189 patacas por metro quadrado para 100.571 patacas. Amenor subida em termos percentuais, 14,9 por cento, verificou-se na zona com os preços mais altos, Coloane, onde o metro quadrado atingiu em Novembro 125.237 patacas, mais que as 108.999 patacas desse mês em 2015.

Desde a liberalização de facto do jogo em Macau, em 2004, com a abertura do primeiro casino fora do universo do magnata Stanley Ho, o sector imobiliário tem estado sempre em alta. No entanto, os preços começaram a cair no início de 2015, registando desde então flutuações.

O preço médio do metro quadrado das casas em Macau caiu 13 por cento no cômputo do ano passado face a 2014.

Animais CANÍDROMO DE MACAU AUTORIZADO A FUNCIONAR ATÉ JULHO DE 2018

A última renovação ANTÓNIO FALCÃO

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melhorar as condições de criação e tratamento dos galgos”, “em conformidade com os padrões internacionais”, e adequar-se aos “planos urbanísticos”. A operar há mais de 50 anos, o Canídromo de Macau viu a licença renovada por dez anos em 2005, pelo que se gerou a expectativa de que pudesse encerrar no final de 2015. No entanto, o contrato de concessão de exploração da Companhia de Corridas de Galgos de Macau (Yat Yuen) – do universo da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), fundada pelo magnata de jogo Stanley Ho – foi renovado por mais um ano, até 31 de Dezembro de 2016, com o argumento de que não seria justo encerrar o espaço “de um dia para o outro”. Em paralelo, foi encomendado um estudo ao Instituto de Estudo sobre a Indústria do Jogo da Universidade de Macau, que concluiu que “existem diferentes opiniões da sociedade sobre a renovação ou não do contrato de exploração de corridas de galgos”. Em Julho, a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos

de Macau indicou ter optado pelo prazo de dois anos para um desfecho em relação ao Canídromo depois de considerar “o contributo” das corridas de galgos “para o posicionamento” da cidade como “centro mundial de turismo e lazer” e para a diversificação do sector do jogo, assim como as “expectativas da sociedade” e as conclusões do referido estudo.

CORRIDAS SEM INTERESSE

As receitas do Canídromo, localizado numa zona de elevada densidade populacional, têm vindo a cair há vários anos. Em 2015, cifraram-se em 125 milhões de patacas – menos 13,7 por cento do que em 2014, e menos 63 por cento do que em 2010 – representando 0,05 por cento do total arrecadado por todo o sector do jogo de Macau. O Canídromo tem motivado protestos internacionais, que pedem o seu encerramento, na sequência de uma campanha impulsionada pela Anima – Sociedade Protectora dos Animais de Macau, com organizações de

defesa dos direitos dos animais a considerá-lo o “pior do mundo” ao denunciar que nenhum cão sai vivo daquele espaço. Segundo cálculos da Anima, “as mortes rondarão este ano ‘apenas’ os 50 animais, o que constitui uma grande vitória face às ‘normais’ 30 mortes por mês, características de um passado não muito distante, que deve ter dizimado entre 16 mil a 19 mil animais ao longo dessa longa tradição cultural”, escreveu o presidente da associação, Albano Martins, num artigo de opinião publicado na sexta-feira no Jornal Tribuna de Macau.

“Até 2018, a concessão tem de ser renovada, se entretanto os animais não estiveram já todos mortos” ALBANO MARTINS PRESIDENTE DA ANIMA

Para tal, terá contribuído o bloqueio da importação de galgos da Austrália e da Irlanda, o que, escreve Albano Martins, fez com que o Canídromo tivesse de reduzir o número de corridas. Em declarações ao HM em reacção à esperada renovação do contrato, o presidente da Anima não deixa de mostrar preocupação com os animais que, até 2018, vão continuar a estar no Canídromo. “Até 2018, a concessão tem de ser renovada, se entretanto os animais não estiveram já todos mortos”, diz, relativizando o argumento dado pelo Governo em relação ao tempo dado à empresa para arranjar uma solução para o negócio. O responsável pela Sociedade Protectora dos Animais de Macau lamenta ainda que “o Governo não tenha em consideração que, se se quer uma cidade moderna, isso não se faz com o sofrimento de animais que não têm culpa alguma”. “Este tipo de jogo já não é interessante para ninguém”, remata. Lusa/ HM


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A acusação fazem parte mais de mil contratos celebrados pelo Ministério Público (MP) durante os anos em que Ho Chio Meng esteve à frente da estrutura. Ontem, de acordo com o relato feito pela Rádio Macau, foram analisados mais de 300. Dizem todos respeito ao funcionamento do MP e a lista é vasta: da compra de fotocopiadoras a aluguer de bonsais, passando pela limpeza de tapetes, manutenção de extintores e fornecimento de água e luz. Segundo a emissora, o antigo procurador fez questão de responder por cada um dos contratos em que a acusação encontra indícios de crime. O colectivo de juízes do Tribunal de Última Instância, onde Ho Chio Meng está a ser julgado, ainda perguntou ao arguido se negava, de forma geral, os crimes de burla e associação criminosa associados a estes contratos, mas o ex-procurador fez questão de refutar os factos um a um. A acusação entende que os 1300 contratos em questão terão dado, a Ho Chio Meng, 50 milhões de patacas, um valor acumulado ao fim de dez anos. O arguido recuperou um argumento que tinha usado já na sessão anterior: é absurdo pensar que um procurador iria criar uma associação criminosa para obter vantagens tão reduzidas. Nalguns destes contratos, os benefícios detectados pela acusação não chegam a 500 patacas. O ex-procurador garantiu que não recebeu um avo e reiterou a inocência. Ho Chio Meng assegurou que não violou qualquer princípio, não indicou fornecedores, não participou de forma alguma nos alegados falsos concursos e não retirou qualquer vantagem.

OLHEM OS LAPSOS

De acordo com a acusação, as empresas que beneficiaram deste esquema – dez no total – eram controladas por um irmão e um cunhado de Ho Chio Meng através de dois testas de ferro, todos eles arguidos no processo. Segundo a rádio, Ho Chio

SOCIEDADE

Justiça HO CHIO MENG CONTINUA A RESPONDER POR CONTRATOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Não, tudo tintim por tintim

Em mais uma sessão do julgamento do antigo procurador da RAEM, o arguido continuou a alegar a inocência dos crimes que lhe são imputados. O tribunal tentou obter respostas gerais sobre os contratos em que terá havido crime, mas Ho Chio Meng foi aos pormenores Meng disse que não assinou a maioria dos contratos, nem teve conhecimento dos factos. Os valores dos contratos em análise são muito variados. Entre 2011 e 2014, o MP gastou 300 mil patacas com fotocopiadoras. Estes contratos terão resultado numa contrapartida de 36 mil patacas atribuídas a Ho Chio Meng e a mais sete pessoas ao longo de três anos. Já com os aparelhos de ar condicionado, a alegada associação criminosa terá obtido três milhões de patacas em vantagens.

Ho Chio Meng diz que é absurdo pensar que um procurador iria criar uma associação criminosa para obter vantagens tão reduzidas A acusação explica que estas contrapartidas eram conseguidas através de um esquema de subempreitadas: as empresas contratadas pelo MP subcontratavam outras empresas mais baratas para executar o serviço. Durante a sessão de ontem, Ho Chio Meng aproveitou para corrigir alguns pontos da acusação, como cálculos de percentagens e nomes trocados. O tribunal admitiu haver lapsos. O julgamento é retomado depois das férias judiciais, a 4 de Janeiro do próximo ano. Ho Chio Meng vai acusado de mais de 1500 crimes.

RESTAURAÇÃO DIAS POUCO DOURADOS

Apenas 26 por cento dos proprietários de restaurantes entrevistados pelos Serviços de Estatística e Censos obtiveram melhores resultados em Outubro deste ano do que no mês anterior. Outubro é o mês de feriados por causa da implantação da República Popular da China e, logo, de mais turistas em Macau, mas o reflexo do aumento de visitantes não se fez sentir em todo o sector. A fatia com melhores resultados registou um aumento de cinco pontos percentuais em relação a Setembro. A maioria – 49 por cento – dedica-se à gastronomia chinesa. Já 51 por cento dos proprietários viram o volume de negócios diminuir em Outubro, com menos 12 pontos percentuais do que no mês anterior. Os restaurantes ocidentais foram aqueles que mais sofreram, com uma queda de 26 pontos. Quanto ao comércio a retalho, só 35 por cento dos inquiridos é que disseram ter feito mais vendas, com 58 por cento dos entrevistados a falarem de uma diminuição, em média, de um ponto percentual no volume de negócios.


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A CAM felicita a Regiรฃo Administrativa Especial de Macau pela passagem do 17.ยบ aniversรกrio do seu estabelecimento


11 CHINA

hoje macau terça-feira 20.12.2016

MAIS DE VINTE CIDADES SOB ALERTA MÁXIMO DE POLUIÇÃO

No meio das nuvens Escolas e fábricas fechadas, voos cancelados. Mais de duas dezenas de cidades chinesas estão cobertas de fumo com os índices de poluição a registarem valores muito acima dos recomendados pela Organização Mundial de Saúde

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ELO menos 23 cidades do Norte da China estão sob alerta vermelho, devido à poluição, que obrigou ao encerramento de escolas e fábricas e cancelamento de voos, enquanto um manto de fumo cobre a região. Em Pequim, a qualidade do ar na tarde de ontem era melhor do que o previsto, com a concentração de partículas PM2.5 - as mais finas e susceptíveis de se infiltrarem nos pulmões - a atingir os 250 microgramas por metro cúbico. Trata-se de um nível nove vezes mais alto ao máximo

DESCONTENTAMENTO GERAL

China usou ontem o caso do drone norte-americano capturado no Mar do Sul da China para denunciar que barcos e aviões dos Estados Unidos entram regularmente nas suas águas em operações de vigilância. “Navios e aviões dos EUA realizam operações de reconhecimento e vigilância” em “águas costeiras da China”, afirmou ontem uma porta-voz do Mi-

nistério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying. Pequim pediu a Washington para que “pare com essas operações”, afirmando que a China “continuará atenta”, disse Hua, em conferência de imprensa. Segundo a China, aquelas operações realizam-se desde há “muito tempo” e “colocam em perigo” a segurança da navegação na zona.

Aporta-voz rejeitou confirmar, contudo, se o drone aquático norte-americano capturado pela marinha chinesa, no Mar do Sul da China, estava a realizar operações de espionagem. O Pentágono afirmou que o drone servia para pesquisas científicas e foi capturado pela Marinha chinesa em águas internacionais. A porta-voz do MNE rejeitou confirmar a versão norte-

“The Great Wall” é a primeira co-produção entre a China e os Estados Unidos da produtora de Hollywood Legendary, adquirida no início deste ano por Wang Jianlin, o homem mais rico da China e presidente do grupo Wanda Group, que tem a maior rede de distribuição cinematográfica do mundo. Um outro filme da mesma produtora, estreado este ano, o “Warcraft”, arrecadou quase 92 milhões de euros no seu primeiro fim de semana nos cinemas chineses, e alcançou receitas finais de 201 milhões de euros. A obra com melhores resultados na estreia, este ano, na China, o “The Mermaid”, alcançou uma receita de bilheteira final de 466 milhões de euros, o melhor resultado de sempre no país.

PUB HM • 2ª VEZ • 20-12-16

ANÚNCIO Execução Ordinária n.º

A maioria das emissões poluentes vem da queima do carvão, que sobe no Inverno, com o aumento da procura por aquecimento, gerando nuvens de poluição

BARCOS E AVIÕES DOS EUA ESPIAM EM ÁGUAS CHINESAS

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filme mais caro da história do cinema chinês, “The Great Wall”, protagonizado pelo norte-americano Matt Damon, arrecadou 465 milhões de yuan, no primeiro fim de semana em que foi projectado. Segundo os cálculos elaborados em tempo real pelo portal China Box Office, o filme registou o quarto melhor início deste ano no mercado chinês de cinema, o segundo maior do mundo. A obra, dirigida pelo chinês Zhang Yimou, custou mais de 140 milhões de euros, e relata as aventuras de um mercenário inglês, interpretado por Damon. A história remete para uma China imaginária, onde a Grande Muralha, o monumento mais conhecido do país, foi edificada para deter a invasão por monstros que comem carne humana.

recomendado pela Organização Mundial de Saúde, mas ainda assim é menos de metade do máximo registado na cidade em 2015, quando superou os 600. O alerta vermelho, o nível máximo de um sistema de quatro cores, foi emitido na sexta-feira e dura até quarta-feira, esperando-se que a poluição se agrave ao longo dos próximos dias. Em Shijiazhuang, capital de Hebei, a província que confina com Pequim, a concentração de partículas PM2.5 atingiu ontem à tarde 701 microgramas por metro cúbico. Na cidade portuária de Tianjin, a 150 quilómetros da capital, mais de 180 voos foram cancelados, desde que o alerta foi emitido, segundo a televisão estatal CCTV. As auto-estradas na cidade foram também encerradas. Vários hospitais em Tianjin registaram um aumento do número de pacientes com doenças respiratórias como a asma, de acordo o jornal oficial Diário do Povo. É a primeira vez este ano que Pequim emite o alerta vermelho. A maioria das emissões poluentes vem da queima do carvão, que sobe no Inverno, com o aumento da procura por aquecimento, gerando nuvens de poluição. Nos últimos anos, a poluição tornou-se uma das principais fontes de descontentamento popular na China, a par da corrupção e das crescentes desigualdades sociais.

FILME CHINÊS MAIS CARO DE SEMPRE ARRECADA 64 MILHÕES DE EUROS NA ESTREIA

-americana, dizendo que os detalhes concretos pertencem ao Ministério da Defesa chinês. Na rede social Twitter, o Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, acusou a China de ter roubado o drone e afirmou que Pequim podia ficar com ele. “Não gostamos da palavra ‘roubar’ porque não foi isso que se passou”, reagiu Hua Chunying.

O jornal Global Times considerou ontem que estes comentários revelam que falta a Trump “bom senso para liderar uma superpotência”. Segundo Washington, o incidente ocorreu a cerca de 50 milhas náuticas a noroeste da base naval norte-americana na Baía de Subic, nas Filipinas, numa zona reclamada por Pequim e vários países vizinhos.

CV2-16-0117-CEO

2º Juízo Cível

Exequente: INTERNACIONAL PROMOTOR DE JOGO SOCIEDADE UNIPESSOAL LIMITADA (國際博彩中介人一人有限公司), com sede em Macau, na Avenida da Amizade, nº 201, Edifício San Kin Yip Comercial Centre, 8º andar J Executado: LI JUN (季軍), masculino, maior, com última residência conhecida na China, 中國北京市朝陽區京順路109號院2號樓, ora ausente em parte incerta. *** Correm éditos de trinta (30) dias, a contar da segunda e última publicação do anúncio, citando o LI JUN, para no prazo de vinte (20) dias, decorrido que seja o dos éditos, pagar ao exequente a quantia de MOP$25.787.500,00 (Vinte e Cinco Milhões, Setecentas e Oitenta e Sete Mil, Quinhentas Patacas), o montante acima aludido deve ser acrescido de juros, à taxa anual de 29,25% e 2% de juros comerciais, a contar de 1 de Março de 2014 até ao pagamento integral da dívida. Até no dia 10 de Junho de 2016, o executado deve pagar ao exequente os juros, no valor de MOP18.391.256, 42. Pedido alternativo: Caso o Mm. o Juiz não entender que os juros moratórios dos dois recibos de MARKER devem ser acrescidos a 2% juros comerciais, assim calcula-se os juros de mora fixados pelo exequente e executado (ou seja o triplo de juro legal estabelecido em Macau, ou seja 29,25%) até à data do pagamento integral da dívida. Até no dia 10 de Junho de 2016, o executado deve pagar ao exequente os juros, no valor de MOP$17.214.216,01. Condenar ao executado o pagamento das custas judiciais, designadamente os honorários da mandatária do exequente, ou no mesmo prazo, deduzirem oposição por embargos ou nomearem bens à penhora, sob pena de, não o fazendo, ser devolvido ao exequente o direito de nomeação de bens à penhora, seguindo o processo os ulteriores termos até final à sua revelia. Tudo conforme melhor consta do duplicado da petição inicial que neste 2º Juízo Cível se encontra à sua disposição e que poderá ser levantado nesta Secretaria Judicial nas horas normais de expediente. E ainda que é obrigatória a constituição de advogado caso sejam opostos embargos ou tenha lugar a qualquer outro procedimento que siga os termos do processo declarativo. Macau, aos 24 de Novembro de 2016. ***


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14 EVENTOS

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É a terceira vez que José Drummond, artista plástico português radicado em Macau, é nomeado para o prémio mais importante da região vizinha na área das artes. O reconhecimento lá fora não acompanha o que se passa em casa

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RATA-SE de uma nomeação directa, conquistada pela presença este ano no Sovereign Asian Art Prize. José Drummond foi finalista na edição de 2016, tendo o seu trabalho sido mostrado na Christie’s, garantindo um lugar na competição do próximo ano. Regressa ao mais importante prémio das artes em Hong Kong com três trabalhos, todos eles feitos com caixas de luz. É a terceira vez que o artista português, a viver em Macau há mais de 20 anos, entra na lista daqueles que a organização entende serem os melhores da Ásia. “É sempre bom. Não acho que os prémios sejam completamente reveladores do trabalho que as pessoas fazem no trajecto da sua carreira, mas são veículos de reconhecimento que acabam por ser importantes, especialmente nos dias de hoje”, comenta José Drummond ao HM. “Nesse sentido, é óptimo.” Organizado anualmente, o Sovereign Asian Art Prize convida artistas contemporâneos, que estejam a meio da carreira, para submeterem três trabalhos online. As obras são depois avaliadas por um júri da região constituído por especialistas em arte, que escolhem os 30 melhores trabalhos. É esta selecção que vai estar exposta num local público em Hong Kong, sendo que se segue depois uma nova apreciação. O artista vencedor recebe 30 mil dólares

Prémio JOSÉ DRUMMOND NOMEADO PARA O SOVEREIGN ASIAN ART PRIZE 2017

A luz em Hong Kong norte-americanos. À excepção da obra vencedora, os restantes trabalhos são leiloados durante a gala de atribuição dos prémios. Além da obra seleccionada pelo júri, é ainda distinguido o trabalho que mais votos recebeu do público que foi ver a exposição. “É um dos prémios mais importantes da região Ásia-Pacífico”, contextualiza José Drummond. “Já começo a ser um repetente, é a terceira vez que estou nesta fase. Penso que será a primeira vez que acontece a um artista de Macau.” O artista português foi o único do território presente na fase final da iniciativa.

paz é quase morte, naquele sentido. Depois de toda a excitação e do excesso que possa ter havido, há depois este momento, completamente oposto”, mostra. “Esta dualidade entre vida e morte é um lado que tenho andado a explorar. É muito difícil falar sobre a morte e registá-la. Nunca conseguimos fazer uma boa representação da morte porque não sentimos a nossa; só a sentimos através da morte dos outros.”

LÁ FORA

DA NOITE E DO DIA

Na edição de 2017, Drummond concorre com um media que tem uma presença importante na sua obra: as caixas de luz. “Tem que ver com o meu interesse em espelhar todos estes conceitos à volta da luz e da sombra. Depois, embora sejam fotografias tiradas no momento, há sempre nos meus trabalhos uma condição teatral, cenográfica, quase encenada. É por isso que tenho optado, para estas séries, pelas caixas de luz.” As três obras a concurso resultam de fotografias tiradas à noite, um momento em que a cidade se transfigura. Na sequência de um trabalho que tem vindo a fazer, as imagens obedecem a uma narrativa poética, que “tem que ver com o estado de desassossego, com a insónia”. No primeiro trabalho, “Think of the saddest thing in your life”, vê-se uma fotografia tirada num lago. “É só água. Digo, a determinada altura no texto, como a água pode ser tão opaca quanto a vida. Temos esta ideia de que a água é transparente, mas não é”, observa. “Mais uma vez, tem que ver com a teoria da luz, com as cores. Nesse trabalho usei luz que transformasse a cor normal do lago. Ficou azul porque forcei a que ficasse assim.”

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA O SEGREDO DO RIO • Miguel Sousa Tavares

Uma referência obrigatória na literatura infantil em Portugal. À inquietação de um dos filhos em saber por que é que as estrelas não caem do céu, Miguel Sousa Tavares escreveu O Segredo do Rio, um conto que é já uma referência obrigatória na literatura infantil em Portugal. Mas que segredos pode esconder um rio? À primeira vista, esta é a história de amizade entre um rapaz que vive sozinho no campo e um peixe (uma carpa) que vive no ribeiro para onde o rapaz ia brincar. No final, percebemos que o grande segredo do rio está consagrado na gratidão que os une. Esta é uma obra de aprendizagem da vida e dos seus mistérios, das relações humanas e da descoberta de sentimentos.

“All those moments at night when you’re not with me”, a segunda fotografia, “é mais próxima de um instantâneo” e está relacionada com uma investigação que o artista plástico tem estado a fazer, associada à ideia da “ausência do outro, que nos leva a deambular pelas ruas”. Trata-se de uma série em que José Drummond procurou captar situações que entende serem interessantes na cidade. A imagem em questão mostra o recanto de uma pessoa que “colecciona coi-

“Não acho que os prémios sejam completamente reveladores (...), mas são veículos de reconhecimento que acabam por ser importantes.” JOSÉ DRUMMOND ARTISTA PLÁSTICO

sas inúteis que recolhe do lixo”. “Colecciona garrafas de plástico e pendura-as à entrada de casa. Tem as portas de casa abertas e consegue-se ver tudo o que se passa lá dentro.” Há uma certa organização no espaço fotografado, explica: “Tem uma cadeira pendurada, há uma lógica muito pessoal que nos faz confusão. Esta pessoa em especial tem sido objecto da minha investigação há algum tempo, com fotografias em diferentes momentos do dia e com objectos diferentes”. A fotografia enviada para Hong Kong tem “um ar quase de ficção científica”. “Não tenho qualquer intervenção na imagem, a não ser clicar”, refere. No entanto, o lado cénico mantém-se. “Tudo aquilo é encenado, mas por outra pessoa.” A fotografia insere-se numa série em que Drummond vai à procura de pessoas que estão, de certa forma, fora do que é convencional, “personagens que são deixadas para trás” na sociedade. O último trabalho, “When my hands make your heads spin”, tem a morte como subtexto. “É uma reflexão. São dois ravers no final de uma festa. O final da festa significa também quase o final do corpo. A

Nos últimos anos, José Drummond tem sido mais valorizado fora de Macau do que em casa. “De algum modo, parece que o meu trabalho vai sendo mais reconhecido fora de Macau do que aqui”, diz. Além do lugar conquistado entre os finalistas da edição de 2016 do Sovereign Asian Art Prize, o artista teve o seu trabalho exposto na Berlin Transart Trienalle, em Agosto passado. Durante este ano, participou em festivais de vídeo de Portugal, Espanha e Áustria. Juntamente com a artista Peng Yun, teve uma obra no Rosalux Project Space em Berlim. Por cá, fez um trabalho especificamente para a última edição do Festival Literário Rota das Letras. José Drummond teve ainda um ano muito activo enquanto curador. Foi responsável por mais uma edição do VAFA e do festival de vídeo experimental EXIM, além do papel desempenhado na selecção de obras para a exposição que assinala o nono aniversário da Art For All, cuja inauguração está marcada para esta semana. O ano do artista plástico termina com uma projecção de um trabalho na Cinemateca Paixão, no próximo dia 28, que serve de introdução à obra que, em Janeiro de 2017, vai apresentar. Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com

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A INCRÍVEL E TRISTE HISTÓRIA DA CÂNDIDA ERÉNDIRA E DA SUA AVÓ DESALMADA • Gabriel García Márquez

Bem ao estilo de Gabriel García Márquez, este livro reúne sete histórias mágicas que reflectem a cultura sul-americana. As primeiras, um conjunto de seis contos fantásticos onde se misturam acontecimentos surreais e detalhes do quotidiano, contam-nos as alterações sofridas por pequenas e pobres povoações após estranhos acontecimentos que mudam a vida de todos os habitantes. A última, a novela curta que dá título ao livro, conta a história de Eréndira, uma adolescente obrigada a prostituir-se pela própria avó para a recompensar das perdas decorrentes de um incêndio acidental – um bizarro mas poderoso exemplo do realismo mágico de García Márquez.


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U

M professor de português e tradutor de Macau lançou um dicionário ‘online’ português-chinês e procura voluntários para poder crescer. “Abrir a base de dados do dicionário e o código de programa da página na Internet aos utilizadores que se interessem pelo desenvolvimento contínuo” do dicionário figura entre as possibilidades que Iao Kam Kong equaciona, já que tem tratado de “tudo sozinho”, desde o lançamento desta plataforma, em meados de 2014. O “Dicionário Iao” (disponível em http:// www.iao-dicionario. com/) conta com quase 200 mil dados – mais de 90 mil entradas chinesas e mais de 100 mil portuguesas –, oferecendo definições de termos em português e em chinês, incluindo, por exemplo, nomes de ruas da cidade.

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Diz-me como falas Dicionário ‘online’ português-chinês à procura de voluntários

A ideia de criar o dicionário surgiu depois de constatar a falta de dicionários práticos e actualizados de português-chinês e chinês-português, explica Iao

Kam Kong, de 54 anos, que dedica o seu tempo livre ao dicionário. Segundo Iao Kam Kong, o portal recebeu aproximadamente 50 mil

visitas este ano, um número que supera as do cômputo do ano passado. A interactividade é, no entanto, maior na página

do Facebook que criou, sublinha à Agência Lusa.

OUTRAS IDEIAS

Na procura de um termo em língua portuguesa, o portal vai ‘buscar’ o significado a uma série de outros ‘sites’como ao Priberam ou ao Dicionário da Porto Editora; enquanto para o chinês usa, por exemplo, o Moedict. Para ambas as pesquisas, recorre ao dicionário multilingue Glosbe chinês-português/português-chinês. Com a base de dados que dispõe, Iao considera que o projecto pode continuar a desenvolver-se no sentido de até vir a dar um dia origem a uma aplicação de telemóvel. A curto/médio prazo, Iao tem outras ideias para o dicionário. Depois de terem incluído, este ano, sinónimos e antónimos em português, o professor do Centro de Difusão

EVENTOS

O Dicionário Iao conta com quase 200 mil dados: mais de 90 mil entradas chinesas e mais de 100 mil portuguesas de Línguas dos Serviços de Educação e Juventude de Macau gostaria também de “desenvolver uma base de dados áudio”, mas isso carece de um outro sistema informático que não domina. No ‘site’ é já possível ouvir a pronúncia de palavras, em português e em chinês, nomeadamente através da plataforma Forvo. Excluída não está também a possibilidade de desenvolver um banco de imagens, com léxico de plantas e animais, por exemplo, adianta Iao Kam Kong.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

16

I

MAGINAI uma casa ou um edifício sem portas, sem janelas, apenas com espaço interior fechado em si mesmo, como se alguém tivesse posto tijolos a fechar as janelas e as portas, para que ninguém mais possa entrar! Como aqueles edifícios que encontramos nas partes antigas da cidade, que já foram espaços com alegria e hoje são vazios, como unhas ocas. Uma casa totalmente fechada no seu interior, como um humano sem portas e sem janelas para outro. E agora imaginai que isso é um livro de poesia: A Habitação de Jonas, de Inês Fonseca Santos; que o edifício é uma baleia e que no espaço, lá dentro, há um homem. Jonas habita a baleia, a solidão, o isolamento eterno a que está votado; foi condenado a ser só como todos nós. “Jonas caminhava por procurar outro. / Talvez ele existisse: / o homem dos sinos. / Talvez ele fosse um homem infinito.” (p.13) Neste início de poema, o VI da parte “Primeiro Dia Primeira Noite” dá-nos a confirmação de que habitação se fala aqui neste livro. Uma habitação fechada para a rua e onde se caminha por procurar outro. Procurar outro não é um fim. Jonas não caminha “para” outro ou para procurar outro, Jonas caminha “por” procurar outro, Jonas caminha como quem vai ser só para sempre. Jonas é um infinito de só, uma casa completamente fechada, sem portas, sem janelas, uma casa para nada. No poema II (p. 9) lê-se: “Apenas uma sílaba com som: dor. // Jonas soube: não existia / na cidade outro

A vida fech

homem.” Esta condição de Jonas, esta imagem do humano enquanto Jonas, que está só, completamente só na cidade, caminhando por procurar outro é uma imagética profunda do que é o ser humano, uma parábola à dimensão do paradoxo da existência. Devemos repeti-la, porque a cada esquina nos é repetida. Devemos repetir, porque a cada página nos é repetida, a cada verso. E não há parábola sem a febre da imagem e um horizonte de sentido, ainda que longínquo, ou que possa parecer longínquo. Leia-se o segundo poema do livro (p. 8): “Jonas chegou a casa: no lugar da porta, a boca do peixe. Empurrou um dente, entrou. Sentou-se na enorme afta daquela língua desconhecida que habitava. Olhou em volta: um lugar em ruínas, não uma casa em ruínas; uma boca tentando ser uma cidade inabitada. Na primeira cidade com hálito, os sinos soavam de quarto em quarto de hora.” E é aqui que estamos, no livro como na vida: num lugar em ruínas, não numa casa, mas num lugar.

“Jonas levantou-se. / Queria arrumar o coração no lugar / certo, descer por ele até mais do que uma sílaba: / até uma palavra.” (p. 10) Em todas as páginas, em todos os versos ao longo deste precioso livro escutamos as nossas próprias vidas, mais próximas do que se fosse dela mesma, a nossa, que a poeta escrevesse, tão mais próximo como só a imaginação que transfigura o sentimento o pode fazer. A demanda de Jonas é a nossa demanda. E o outro é o próprio, que busca outro como a si mesmo. Uma palavra basta, uma palavra. Mas onde escutar essa palavra? Onde há essa palavra, que se houver nos basta? O que seguir, que caminho seguir para encontrá-la? Não será essa palavra uma boca, um beijo, um coração puro a palpitar nas mãos de todos os nossos sonhos, eternamente sonhos? Os dias, aquilo que deram a Ruy Belo, ao invés da vida – Eu vinha para a vida e dão-me dias (Ruy Belo in Homem de Palavra[s]) – é o que nos dão a todos, o que dão a Jonas, nesta boca, nesta cidade, neste livro. Quem ao andar na rua não sente agora as paredes altas do céu da boca da baleia, o tecto opaco da vida, o badalo do sino antes da descida vertiginosa para o estômago do animal? A cada esquina que viramos ouvimos os sinos, a anunciação de nenhuma palavra, a lembrança do silêncio que nos veste como uma farda. “Era uma voz / de abismo, de fundo de copo, / E repetiu: dor.” (p. 11) Lisboa, a baleia por onde ando, por onde a poeta escreve,


17 hoje macau terça-feira 20.12.2016

máquina lírica

Paulo José Miranda

ada a tijolos não me escrevas mais estes versos: “eram pedaços de intestino, / onde também dói / quando tudo o que resta / é uma porta fechada // sobre a memória, / sobre ela / sobre mim.” (p. 28) A vida fechada como uma casa onde puseram tijolos no lugar de portas, onde puseram tijolos no lugar de janelas, onde puseram tempo no lugar de braços, onde puseram dor no lugar de um horizonte. Este é um livro de descida ao mais íntimo dos medos, à mais íntima das solidões, como só quem escreve sentimentos sobre a lâmina da imaginação o sabe. Se esta minha leitura vos parece um enorme “só”, é porque este livro é isso mesmo. Imaginai Jonas no interior da baleia! Imaginai-vos, cada um de vós, no interior da existência! O livro, que é um objecto de arte, traz ainda um conjunto de ilustrações de Ana Ventura, cuja beleza não mitiga o terror da escrita. Termino com um poema da poeta Inês Fonseca Santos, último da segunda parte do livro “Segundo Dia Segunda Noite”:

a cidade onde não há outro homem. Em nenhuma cidade há outro homem, mas esta é a minha baleia. Esta é a minha baleia, grita por um livro inteiro a poeta Inês Fonseca Santos. Lisboa, a minha baleia; eu, Jonas, a caminhar por procurar outro. “As paredes, ao se afastarem os móveis, / erguem-se, despidas, coradas até à raiz dos rodapés, / como paredes sem móveis: demasiado brancas (...)” (p. 5) A loucura não é a vertigem do álcool, o voo das drogas, a euforia dos corpos, um armazém chinês com tudo o que não nos faz falta. A loucura é a casa vazia, sem janelas, sem porta, as paredes brancas de nada, os móveis velhos e gastos, afastados dos rodapés, mostrando os anos que passaram, os anos que passaram para nada, pois nada se viu, nada vimos, nada aprendemos, nada cresceu dentro de nós, como cresce no interior de uma grávida. Só engravidando não somos sós. Só engravidando não somos um vazio puro, uma ruína. E depois? E depois da gravidez? De novo um ruína de nós mesmos, uma ruína da infância. Uma ruína do que poderia ter sido, sem que na realidade alguma vez pudesse ter sido, pudesse ser. “VIII Jonas só compreendeu a palavra ‘ferida’ ao alcançar o topo da língua. Assistiu, do monte, à invasão da cidade: coágulos de sangue cobrindo a grande boca.

Jonas sufocou. Pôs sobre os olhos as mãos. E desejou nos ouvidos o toque dos sinos.” (p. 15) Desejamos. Desejar é uma pele, uma segunda farda, a farda dos dias de festa, a farda com que vamos aos dias de gala, para além da farda do silêncio do dia a dia. Esta é a nossa vida, grita Jonas, pôr as mãos sobre os olhos e desejar o toque dos sinos. Que sabemos de nós? Como caminhar por procurar outro e não sabermos quem somos? Como não desejar a música dos sinos, as palavras silenciosas da música, que nos tocam, literalmente nos tocam, que nos fazem vibrar como o tempo vibra numa ruína. “Paredes, estais hoje mais velhas do que nós”, escreve num verso, a poeta. Nós estamos mais velhos do que nós, escrevo eu. As ruínas, as paredes, o tempo a descascar a vida, a descascar a vida e a deixar marcas nos dedos sujos, desta nossa consciência a assistir a tudo. “A nossa vida, disse ela, / aqui de cima.” (p. 22) A nossa vida, diz a consciência, aqui de cima. E o que a consciência se dá mal com os dias! E o que a consciência se dá mal com as ruínas! E o que a consciência se dá mal com a sua própria ruína! Jonas, sou eu agora que te peço, eu o teu leitor, eu aquele que te traz aqui à beira de seres outro, à beira da estrada de seres outro, não me mostres mais o que é a vida,

“XI As minhas dúvidas, como poderei saber se são as mesmas, se são as minhas? Perguntou-lhe ele, erguendo-se uma última vez. Sentada diante dele, ela agarrou a certeza como ele agarrou as pedras: na boca e nos ouvidos, o toque dos sinos e só então a voz. Eu sei, como tu sabes, quem é esse que habita as paredes da casa. Eu sei, como tu sabes, que única mão é essa que folheia os livros, que apanha as pedras. E eu sei, como tu sabes, que ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos assim tão pequenas. Mas eu olho, como tu olhas, essa mão minúscula cosendo um corredor de almofadas, aguardando que sobre elas durma. E eu sei, como tu sabes, que essa mão translúcida comanda os versos, abusando de pensamentos e palavras, actos e omissões. Sabes? Antes de mim, antes de ti, já existia este jardim.” (p. 30)


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hoje macau terça-feira 20.12.2016

FELICITA A REGIÃO ADMINISTRATIVA ESPECIAL DE MACAU PELA PASSAGEM DO SEU 17.º ANIVERSÁRIO E DESEJA A TODOS BOAS FESTAS E FELIZ ANO NOVO

A ASSOCIAÇÃO DOS APOSENTADOS, REFORMADOS E PENSIONISTAS DE MACAU FELICITA A REGIÃO ADMINISTRATIVA ESPECIAL DE MACAU PELA PASSAGEM DO 17.º ANIVERSÁRIO DO SEU ESTABELECIMENTO

A SANTA CASA DA MISERICÓRDIA FELICITA A REGIÃO ADMINISTRATIVA ESPECIAL DE MACAU PELA PASSAGEM DO SEU 17.º ANIVERSÁRIO E DESEJA A TODOS UM FELIZ NATAL


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Anúncio 〔N.º 110/2016〕 Nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, são notificados por esta via os seguintes mediadores imobiliários: N.º do processo 65/MI/2015

O INSTITUTO POLITÉCNICO DE MACAU FELICITA A REGIÃO ADMINISTRATIVA ESPECIAL DE MACAU PELA PASSAGEM DO 17.º ANIVERSÁRIO DO SEU ESTABELECIMENTO

Designação do mediador imobiliário

N.º da licença provisória

Companhia de Fomento Imobiliário Shenshou Lda

MI-10001560-8

1. De acordo com a Proposta n.o 0145/DLF/DFA/2015 e com os factos constantes do seu anexo, verificou-se que o mediador imobiliário acima mencionado não comunicou, no prazo legal, ao Instituto de Habitação, adiante designado por IH, o facto de não dispor de estabelecimento comerciala. 2. O mediador imobiliário foi notificado, por este Instituto, através do ofício n.º 1507160019/DAJ, de 20 de Julho de 2015, da acusação, não tendo apresentado defesa escrita dentro do prazo. 3. Tendo em conta que os respectivos actos constituem infracção prevista na subalínea 1) da alínea 1) do artigo 22º da Lei n.º 16/2012 (Lei da actividade de mediação imobiliária), alterada pela Lei n.º 7/2014, o presidente do IH no exercício da competência prevista no n.º 2 do artigo 29.º da mesma lei, decidiu pela aplicação de uma multa de cinco mil patacas (MOP 5 000,00) ao mediador imobiliário acima mencionado, nos termos do n.º 3 do artigo 31.º da mesma lei e do despacho exarado na Prop. n.º 0696/DAJ/2016. 4. Assim, o mediador imobiliário acima mencionado deve dirigir-se ao IH, sito na Travessa Norte do Patane, n.º 102, Ilha Verde, Macau, para pagar a multa, no prazo de 15 dias, a contar da data da publicação do presente anúncio, sob pena de cobrança coerciva por via de processo de execução fiscal. 5. Nos termos do artigo 149.º do Código do Procedimento Administrativo, cabe reclamação da decisão acima referida (sem efeito suspensivo) para o presidente do IH, no prazo de 15 dias, a contar da data da publicação do presente anúncio, ou/e, nos termos do artigo 25.º do Código do Processo Administrativo Contencioso, cabe recurso da decisão acima referida para o Tribunal Administrativo. Publique-se Instituto de Habitação, aos 13 de Dezembro de 2016. O Chefe da Divisão de Assuntos Jurídicos, Nip Wa Ieng

ANÚNCIO [N.º 111/2016] Para os devidos efeitos vimos por este meio notificar os candidatos de habitação económica abaixo indicados, nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo DecretoLei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro:

Assine-o TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo

www.hojemacau.com.mo

Nome

N.º do Boletim de candidatura

WONG NGAN SIM

82201318216

SIO WUN WENG

82201328027

LAO CHI HOU

82201324353

CHAN HIU CHING

82201334340

CHE SAO CHUN

82201301949

HO SAO FONG

82201326116

Dado que os candidatos acima indicados foram seleccionados na lista com a ordenação, nos termos do artigo 26.º da Lei n.º 10/2011 (Lei da habitação económica), alterada pela Lei n.º 11/2015, é necessário realizar-se a apreciação substancial, pelo que este Instituto informou os candidatos acima indicados, através de ofícios, para se dirigirem pessoalmente ao Instituto de Habitação (IH) às horas fixadas nos respectivos ofícios, para apresentarem os originais dos documentos comprovativos, no sentido de efectuar a verificação das informações declaradas nos boletins de candidatura, porém, os ofícios não foram recebidos e foram devolvidos. Assim, os candidatos acima indicados devem dirigir-se pessoalmente ao IH (junto da Escola Primária Luso-Chinesa do Bairro Norte), sito na Travessa Norte do Patane, n.º 102, Ilha Verde, Macau, antes do dia 20 de Janeiro de 2017, para apresentarem os originais dos documentos comprovativos, no sentido de efectuar a verificação das informações declaradas nos boletins de candidatura. Nos termos da alínea 2) do n.º 1 do artigo 28.º da lei acima indicada, caso verifique que os candidatos não apresentem os documentos indicados, dentro do prazo fixado, os adquirentes seleccionados serão excluídos do concurso. Para mais informações poderão dirigir-se pessoalmente ao IH, nas horas de expediente ou consultar através do telefone n.o 2859 4875. Instituto de Habitação, aos 16 de Dezembro de 2016 O Presidente, Arnaldo Santos


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22 (F)UTILIDADES TEMPO

C H U VA

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O QUE FAZER ESTA SEMANA Sexta-feira

EXPOSIÇÃO “ART FOR ALL , 9º ANIVERSÁRIO” Macau Art Garden (Até 22/01)

Diariamente

?

FRACA

MIN

18

MAX

23

HUM

70-95%

EURO

8.35

BAHT

EXPOSIÇÃO “O TEMPO CORRE” DE LAI SIO KIT Casa Garden (Até 08/01) EXPOSIÇÃO “33 ANOS NA RÁDIO DO LOCUTOR LEONG SONG FONG” Academia Jao Tsung-I (Até 05/02)

O CARTOON STEPH

EXPOSIÇÃO “SOLIDÃO”, FOTOGRAFIA DE HONG VONG HOI Museu de Arte de Macau EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)

PROBLEMA 143

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 142

ROUGE ONE: A STAR WAR STORY

Filme de: Gareth Edwards Com: Felicity Jones, Diego Luna, Ben Mendelsohn, Donnie Yen 14.15, 16.45, 19.15, 21.45

ALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Ryota Nakano Com: Rie Miyazawa, Joe Odagiri, Tori Matsuzaka, Hana Sugisaki 14.15, 19.15

SALA 2

SING [A]

SALA 1

ROUGE ONE: A STAR WAR STORY [B]

DEATH NOTE: LIGHT UP THE NEW WORLD [C] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Shinsuke Sato Com: Tatsuya Fujiwara, Kenichi Matsuyama, 14.15, 16.45, 19.15, 21.45 SALA 3

HER LOVE BOILS BATHWATER [B]

UM LIVRO HOJE

Filme de: Gareth Edwards Com: Felicity Jones, Diego Luna, Ben Mendelsohn, Donnie Yen 21.30

Tenho o nariz entupido. E os bigodes também. Esta cidade é estranha, tão estranha: é quando o céu fica mais azul e o sol atravessa as janelas desta redacção que a poluição na rua dispara para níveis que, dizem os humanos entendidos, são um atentado à saúde das pessoas. E dos animais. A luz é só uma ilusão de uma normalidade que não existe. Tenho os bigodes entupidos e isso não me faz bem. Ando à toa aqui a bater nas esquinas e nas cadeiras e nas mesas e não gosto. Fui à rua e arrependi-me, como quase sempre que ouso esgueirar-me pela porta mal fechada ou por entre as pernas de quem entra e sai. Tenho o nariz entupido e não gosto deste torpor em que fico quando os sentidos não me respondem. Pela janela espreito e vejo que há festa, há muitas festas no calendário das pessoas e eu, gato preto pintalgado de branco, estou tudo menos para aí virado. Apetece-me que fiquei frio para me enroscar e dormir. E que venha chuva, para lavar o ar. O céu azul não me volta a apanhar na conversa de que é bonito e me ilumina. Pu Yi

“NA PRAIA DE CHESIL” | IAN MCEWAN

É difícil escolher um livro de Ian McEwan, romancista que consegue, a cada obra, inventar novos cenários, situações diferentes, contextos muito distintos. “Na Praia de Chesil” é o exemplo, talvez perfeito, da capacidade de, em poucas páginas, transportar o leitor para outro tempo. Num pequeno romance, Ian McEwan recua à década de 60 para contar a história de Edward e Florence, jovens inocentes recém-casados, em lua-de-mel. Uma narrativa intensa, feita de medos, de palavras que não se dizem e de gestos que não se têm, com consequências impossíveis de imaginar. H.M.

FALADO EM CANTONENSE Filme de: Garth Jennings 16.30

ROUGE ONE: A STAR WAR STORY[3D] [B]

SUDOKU

DE

C I N E M A

1.14

ESTRANHO CÉU AZUL

EXPOSIÇÃO “CHANGE OF TIMES” DE ERIC FOK Galeria do IFT

Cineteatro

YUAN

AQUI HÁ GATO

EXPOSIÇÃO DE KRISTINA MAR E GERALDE ESTADIEU Creative Macau, (Até 30/12)

EXPOSIÇÃO “52ª EXPOSIÇÃO DO FOTÓGRAFO DA VIDA SELVAGEM DO ANO” Centro de Ciência (Até 21/02)

0.22

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Cabrita; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


23 hoje macau terça-feira 20.12.2016

sexanálise

Sexus Festivus

JERRY SEINFELD, LARRY DAVID, SEINFELD

TÂNIA DOS SANTOS

P

ARA os que estão cansados do tradicional Natal e que gostavam de ter uma alternativa, aqui está uma proposta: o Festivus do Sexo. A inspiração vem directamente da celebração inventada pela família de um dos escritores da série Seinfeld, que acabou por incluí-la num episódio e torná-la muito popular. No enredo conta-se a história de como o pai do George inventou uma nova celebração para Dezembro, de forma a substituir o Natal. O dia não é o mesmo, mas o de 23 de Dezembro, e para quem nunca acompanhou a série e não sabe o que raio é o Festivus, uma explicação detalhada é requerida. O Natal, apesar da original condição religiosa, tem sobrevivido com uma crescente dependência consumista. As crianças querem ver um Pai Natal generoso e as pessoas querer agradar a tudo e a todos com prendas, prendas e mais prendas. O Festivus resultou de muita frustração natalícia, o que levou a uma família a criar seu próprio feriado com tradições muito peculiares associadas. Não há árvore de Natal, mas sim um poste de alumínio completamente nu, desprovido de qualquer decoração. Antes de começar o jantar, que não tem um menu específico, cada pessoa tem direito a verbalizar as suas queixas e frustrações em relação aos presentes

nesta celebração. Se um filho não dá atenção suficiente aos pais, os pais que lhe digam na cara! Se a sogra é um pesadelo, a nora que se queixe! No fundo esta é uma tentativa de oficializar e tornar tradição a má disposição que também é tão típica natalícia, apesar da expectativa ser sempre a contrária. Ainda há mais uma tradição, as proezas de forças, onde o anfitrião desafia um convidado para uma luta de corpo a corpo, até que um seja declarado o vencedor. Para os casais solitários a passar um Natal a dois (que acontece a muitos quando estão fora dos seus países de origem) e não há família alargada por perto, a proposta é de um Sexus Festivus. Esta será uma festa crítica ao consumismo natalício mas altamente sexual. O poste de alumínio tradicional, podia-se converter num strip pole. Este seria o símbolo do Sexus Festivus e o incentivo para o pessoal tirar a roupa, de forma sensual, acompanhada da sua música favorita. Homens e mulheres por igual. O objectivo é despirem-se por completo. Claro que o tradicional ‘momento de queixas’ não se encaixa no espírito deste meu evento criado. A minha proposta seria mais sensual e simpática. Em vez de queixas,

“Acho que todos concordamos que o Natal até pode ser divertido, mas não há nada como criar a nossa festa cheia de tradição sexual.”

devem elogiar o seu parceiro por todas os momentos sexuais proporcionados no último ano, detalhadamente. Para mostrar que se preocupam e que estão de facto agradecidos por terem um parceiro tão sexualmente gratificante (não há nada como reforçar o bom comportamento). As proezas de forças é que não se alteraria muito do formato original, não seria uma luta de corpo a corpo, mas sexo de corpo a corpo, do mais desenfreado e inspirado. Ganha quem mais conseguir proporcionar orgasmos, se quiserem manter o factor competitivo na equação. O jantar para o Sexus Festivus ficaria à descrição das mentes sexualmente inspiradas. Poderiam querer alimentos de especiarias afrodisíacas, ou mesmo formas fálicas e vulvares criadas pelas frutas e legumes de eleição. A imaginação poderia ainda sugerir fazerem um daqueles jantares de ‘sushi body’ onde o corpo nu seria utilizado como a plataforma onde a comida é apresentada, neste caso, sushi. Mas poderia ser de outra coisa qualquer! Esta seria a altura ideal para todos os aficionados por sitofilia (sexo+comida), ou simplesmente curiosos, misturarem o sexo com os prazeres do estômago num jantar muito especial. O jantar Sexus Festivus! Acho que todos concordamos que o Natal até pode ser divertido, mas não há nada como criar a nossa festa cheia de tradição sexual. Um exclusivo para os que podem, porque muitos que até querem terão que se contentar com o bacalhau, as couves, as rabanadas, as prendas pouco inspiradas e as intrigas familiares. Desejo-vos a todos um feliz e tranquilo Natal, e os que se atreverem, um muito orgásmico Sexus Festivus.

OPINIÃO



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