Hoje Macau 20 FEV 2020 # 4470

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˜ DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

ANIMA

TIAGO ALCÂNTARA

HOTÉIS

MORTE AO MATADOURO

Pacotes atractivos PÁGINAS 2-3

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ECONOMIA

HOJE MACAU

QUINTA-FEIRA 20 DE FEVEREIRO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4470

O mau e o péssimo PÁGINA 6

hojemacau www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

Cartas na mesa Ao fim de 15 dias de clausura, os casinos voltam a abrir portas, debaixo de apertadas medidas de prevenção contra o Covid-19. Dos 41 espaços de jogo, só 29 regressaram ao activo e apenas com 30 por cento de mesas abertas. Também nas fronteiras, as medidas preventivas foram reforçadas com a instalação de um posto de rastreio para entradas de alto risco.

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LETRAS RESPONSÁVEIS ANTÓNIO CABRITA

SAUDADES DAS CARTAS E ALMEIDA FARIA LUÍS CARMELO


2 coronavírus

20.2.2020 quinta-feira

MUDANCA DE ´ IMOBILIÁRIO

HOTÉIS CRIAM PACOTES DE 30 DIAS A PENSAR EM TRABALHADORES NÃO-RESIDENTES

A medida que obriga TNR vindos do Interior da China a cumprir uma quarentena criou oportunidades para o sector da hotelaria, que procura receitas alternativas face à redução do número de turistas. Por exemplo, uma estadia de 30 noites no hotel Grand Coloane fica por cerca de 12 mil patacas

A

redução do número de turistas e a imposição de um período de quarentena para todos os trabalhadores não-residentes (TNR) vindos do Interior levou os hotéis a criarem pacotes de aluguer de quartos por períodos de 30 dias. Esta é uma solução que pretende não só aproveitar a onda de TNR que vai ficar em Macau a partir de hoje, mas também para gerar receitas numa altura em que a ocupação dos hotéis sofreu quebras significativas, devido à epidemia do novo coronavírus. Um dos espaços que oferece pacotes de 30 noites por 9.999 patacas, mais 1.500 patacas em impostos, é o Grand Coloane, como explicou Elda Lemos, agente imobiliária na JML Property. “Era um pacote de 30 noites que já tinha existido no passado e que agora, face à situação que se vive, volta ao mercado. É uma oferta a pensar não só nos TNR que vão precisar de ficar em Macau, mas também nas pessoas que vivem em zonas habitacionais mais ocupadas e que tentam fugir à confusão”, disse Elda Lemos, ao HM. Além desta oferta, a agente imobiliária sente que nos últimos dias houve mais hotéis a apostarem no mercado de arrendamento de breve duração: “Estou a sentir que há outros hotéis que para sobreviverem

e manterem os seus trabalhadores procuram gerar receitas com produtos alternativos. Não só a pensar nos turistas, mas nos trabalhadores não-residentes ou mesmo nos residentes”, indicou. “Há hotéis que para 30 noites têm preços ao nível de um estúdio, ou seja são preços muito semelhantes, mas que ainda incluem os serviços de hotel. São pacotes altamente atractivos e que se fossem mantidos ao longo do ano haveria muita gente a querer morar nos hotéis”, apontou. A agente imobiliária da JML Property revelou igualmente que após ter sido anunciado pelo Governo a obrigatoriedade de quarentena que foi abordada por empresas à procura de soluções de curta duração.

LUXO À PARTE

O cenário traçado por Elda Lemos foi igualmente descrito ao HM por

“A procura tem sido maior devido às empresas que procuram espaços para os TNR. Mas os nossos preços vão manter-se.” RICHARD CAI CO-LIVING

uma fonte conhecedora do sector imobiliário, que pediu para permanecer anónima. “Os hotéis estão numa fase complicada e alguns começaram a arrendar quartos a trabalhadores não-residentes. Há ‘pacotes’ criados para este tipo de trabalhadores e em alguns casos foram acordados com empresas da construção civil, que têm muitos trabalhadores”, foi relatado, ao HM. Segundo os dados da Direcção de Serviços de Turismo (DST), até sábado cerca de 29 hotéis tinham suspendido as operações devido à falta de clientes. Estas suspensões envolvem cerca de 3 mil quartos e alguns dos hotéis mais luxuosos como MGM Macau e o “13”. Porém, a fonte ouvida pelo HM acredita que os hotéis de luxo vão evitar o segmento dos TNR nos próximos dias, por uma questão de marca. “Esse tipo de oferta para TNR tem aparecido no mercado, mas não acredito que chegue aos hotéis de cinco estrelas, como nos espaços geridos pelo MGM ou o Wynn, por exemplo. Não acredito que vão procurar receber trabalhadores não-residentes. Vão antes focar os esforços na redução das despesas e procurar outras fontes de clientes”, considerou. No entanto, a tarefa não se avizinha fácil: “Não vai ser nada fácil gerar receitas alternativas no turismo, uma vez que a epidemia está a afectar o mundo, o que dificulta das viagens para Macau”, acrescentou.

ESPAÇOS PARTILHADOS

Mas a procura de espaços para acomodar os TNR não tem crescido apenas nos hotéis, o mesmo acontece nos edifícios geridos pela empresa Co-Living Macau, que adoptam o estilo de vida em comunidade, ou seja onde as pessoas arrendam um quarto e partilham os espaços comuns com outros moradores. Segundo Robert Cai, líder do projecto, nos últimos dias houve um amento da procura gerado por empresas, que procuram espaços para alojar os TNR. Este aspecto levou mesmo a empresa a mudar a política de admissões. Enquanto antes apenas aceitava contratos com a duração mínima de três

“É uma oferta [de 30 noites] a pensar não só nos TNR que vão precisar de ficar em Macau, mas também nas pessoas que vivem em zonas habitacionais mais ocupadas e que tentam fugir à confusão.” ELDA LEMOS JML PROPERTY

meses, agora permite que a duração mínima seja de um mês. “Durante este período especial, em que todas as pessoas precisam de um lugar para ficar, permitimos que o arrendamento seja apenas de um mês. Antes, exigíamos que um período mínimo fosse de três meses”, admitiu Robert Cai, ao HM. “A procura tem sido maior devido às empresas que procuram espaços para os TNR. Mas os nossos preços vão manter-se, vamos cobrar pelos contratos de um mês o mesmo valor mensal que cobrávamos pelos contratos de três meses, porque estamos num período com medidas excepcionais”, garantiu. No que diz respeito a receber TNR vindos do Interior, Robert Cai sublinha que a política do Co-Living passa apenas por aceitá-los depois de terem estado 14 dias seguidos em Macau, sem saírem, e

“Esse tipo de oferta para TNR tem aparecido no mercado, mas não acredito que chegue aos hotéis de cinco estrelas, como nos espaços geridos pelo MGM ou o Wynn, por exemplo.” ESPECIALISTA NO SECTOR IMOBILIÁRIO

terem um comprovativo que prova estarem bem de saúde. Mesmo assim, o responsável acredita que neste período a taxa de ocupação dos espaços que gere suba dos actuais 50 por cento para os 70 por cento.

“ALTERNATIVA DIVERTIDA”

Mas nem todos os hotéis colocados no mercado têm em mente os


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quinta-feira 20.2.2020

E RUMO

Abana, mas não cai Gregory Ku, director-geral da JLL em Macau, não vê quebras nas vendas

A

PESAR da epidemia do coronavírus, Gregory Ku, director-geral da representação de Macau da JLL, empresa do ramo imobiliário, não vê quebras no valor das transacções das casas. Pelo menos não é essa a realidade que se regista no mercado, neste momento, contou ao HM. “A curto prazo não vamos ver uma grande redução nas vendas. Não vejo que estejam a ser feitas muitas vendas a preço reduzido. Talvez haja casos pontuais, uma ou outra transacção, mas não é uma tendência”, disse Gregory Ku. “A nível das transacções de habitações não podemos dizer que, por agora, haja um reflexo muito claro no mercado”, acrescentou. Uma situação diferente pode acontecer no sector das rendas, principalmente devido aos contratos com uma duração reduzida, virados para os trabalhadores não-residentes. Estes apresentam valores mais elevados do que comparados com os contratos mais longos, de três anos. “Estes arrendamentos com uma duração mais curta têm preços mais caros. Por exemplo, se antes o custo do contrato era de 8 mil patacas por mês, agora para um contrato de um mês ou dois meses vai ser de 10 mil patacas por mês”, relatou. “É normal que por um período mais curto e com mais procura estas rendas sejam mais altas”, frisou. Contudo, o representante da JLL não acredita que os preços destes contratos venham para ficar. “São ofertas de curta duração que vão regressar à normalidade logo após a situação de epidemia chegar ao fim. Até porque os não-residentes preferem regressar a Zhuhai

onde os preços de arrendamento são mais baratos”, justificou.

MERCADO PARADO

Por sua vez, Elda Lemos, agente da JML Property, vê o mercado de arrendamento a registar quebras: “Antes do vírus, o mercado estava estável, talvez houvesse uma quebra mesmo muito ligeira, que me leva a dizer que se pode considerar que a situação estava estável. Mas com o coronavírus o arrendamento está em quebra”, reconheceu. Elda Lemos conta episódios de senhorios que fizeram descontos de 50 por cento do valor da renda aos inquilinos, que com os trabalhos “suspensos” deixaram de ter capacidade para pagar o montante da renda acordados. Em outros casos, houve mesmo pessoas que deixaram os espaços arrendados. Ainda de acordo com a agente do imobiliário, nesta altura não é possível perceber bem o mercado de venda habitações, porque os serviços do Governo estão encerrados. “Em termos de transacções não podemos falar porque os serviços públicos têm estado fechados e está tudo suspenso, a nível de compras e vendas, mas também de escrituras”, explicou.

DSAL Três mil quartos para não-residentes

não-residentes, há quem também esteja focado nos residentes e no facto de não poderem sair de casa. É este um dos grandes argumentos do Grand Coloane, que pretende captar residentes com a oferta de espaços onde as crianças se possam divertir. “Os serviços dos hotéis estão a funcionar, os clubhouses estão a funcionar o que é bom para as

pessoas com crianças pequenas que já não sabem o que fazer para entretê-las. Têm ainda os jardins e os espaços para brincar. Permite às pessoas que já passaram muito tempo em casa fugirem e ficarem isoladas noutro espaço”, afirmou Elda Lemos. “É um ambiente limpo, controlado e desinfectado. Isto numa altura em que além das

escolas, também os parques e espaços comuns dos prédios estão fechados, o que faz com que sejam uma boa alternativa para a famílias”, completou a agente imobiliária. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

A Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais disponibilizou 3.000 quartos em hotéis para trabalhadores não-residentes “por um preço mais baixo”, de acordo com um comunicado emitido ontem. Segundo o Governo, este foi o resultado de negociações “durante dias, com os sectores profissionais e associações comerciais”. No entanto, a DSAL deixou um apelo para que mais hotéis assumam a sua responsabilidade social: “Esperamos que mais hotéis participem nesta iniciativa, proporcionando mais quartos, para assumirmos conjuntamente a responsabilidade social e atravessarmos juntos este momento difícil, satisfazendo a necessidade de alojamento de trabalhadores não residentes face à implementação de medidas durante este período”, foi apelado.


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20.2.2020 quinta-feira

SEXTA ALTA O

CASINOS PORTAS ABERTAS COM MENOS DE 30% DE MESAS

Os dados possíveis

s Serviços de Saúde (SS) deram ontem alta a mais um paciente infectado pelo coronavírus Covid- 19, elevando assim para seis o número de doentes que já saíram do hospital. Trata-se de um homem de 66 anos, que esteve 28 dias hospitalizado, oriundo da cidade chinesa de Wuhan, que entrou em Macau através de Zhuhai. “Após o tratamento [o paciente] já não tem febre, nem sintomas respiratórios e fez dois testes de ácido nucleico na faringe (...) que deram negativo. A taxa de cura é de 47.333 patacas, mas o paciente disse que não podia pagar de imediato”, explicou Lo Iek Long, médico adjunto da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário. Dos 10 casos registados em Macau, quatro pessoas continuam internadas.

Dos 41 casinos de Macau, 29 voltaram a abrir portas desde a meia-noite e 12 continuam fechados. Em dia de novas medidas nas fronteiras, o Governo anunciou ainda a criação de postos de inspecção provisórios para controlar visitantes provenientes de zonas de risco e os residentes que cruzam a fronteira com frequência

A

PESAR de a maioria dos casinos estar de portas abertas, é um regresso tímido aquele que assinala o regresso à actividade do sector do jogo. Reabriram hoje, em Macau, 29 casinos, após terminado o prazo de suspensão de 15 dias decretado pelo Governo como forma de prevenção do novo tipo de coronavírus, o Covid- 19, no território. Os restantes 12 casinos solicitaram um prorrogamento do prazo, tendo agora de voltar a abrir portas, no máximo, dentro de 30 dias. Os detalhes da reabertura foram dados ontem por Paulo Martins Chan, director do organismo responsável pela Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), que fez questão de assinalar que a reabertura está a acontecer debaixo de fortes medidas de prevenção e que, à data de hoje, o número de mesas abertas será inferior a 1800, menos de 30 por cento da capacidade total existente no território. “Considerámos vários factores, esperando que tanto as pessoas, como trabalhadores e turistas, possam manter uma certa distância e, por este motivo, mesmo que existam 29 casinos abertos, o número total das mesas de jogo representa apenas menos de 30 por cento, totalizando menos de 1800 mesas de

jogo. Fizemos vários arranjos relativos à prevenção e controlo da epidemia e nos últimos dias a nossa direcção de serviços reuniu com os Serviços de Saúde (SS) e as seis concessionárias, e [a partir daí] os SS emitiram orientações e instruções”, frisou o responsável da DICJ. Da lista de 12 casinos que pediram ao Governo para adiar a sua abertura constam o Macau Palace, Greek Mythology, Oceanus, Casino Taipa, Casino Macau Jockey Club, Sands Cotai Central, Waldo, Rio, President,Altira, Golden Dragon e o Eastern. Todos os outros casinos do território voltaram assim a abrir portas e, contas feitas, são apenas duas as operadoras que iniciaram as operações em todos os seus casinos: Wynn e MGM. Detalhando as medidas de prevenção e aquilo que

Paulo Martins Chan, Director DICJ “Mesmo que existam 29 casinos abertos, o número total das mesas de jogo representa apenas menos de 30 por cento, totalizando menos de 1800 mesas de jogo”

mudou no interior dos casinos, a DICJ reforçou ontem que os espaços vão ser frequentemente desinfectados e todos os funcionários e visitantes são obrigados a usar máscara, apresentar

JARDINS VOLTAM A ABRIR

O

s jardins e os parques públicos de Macau estão desde hoje parcialmente abertos, anunciou ontem, Ao Leong U, secretária para os Assuntos Sociais e Cultura. A medida foi justificada pelo facto de o território não apresentar novos casos há 15 dias e pela atenuação da taxa de propagação do novo tipo de coronavírus em regiões vizinhas, como Zhuhai. Os detalhes da reabertura dos espaços foram dados

pelo presidente do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), José Tavares. “Parques de lazer e algumas estâncias ao ar livre serão reabertas amanhã [hoje] e o seu horário de funcionamento também será ajustado para um horário entre as 6 da manhã e as 7 da tarde”, explicou o responsável. Apesar da reabertura anunciada, algumas zonas dos parques públicos continuam vedadas, como as instalações desportivas.

uma declaração de saúde e sujeitar-se à medição de temperatura. A própria forma de jogar está condicionada, sendo que as mesas de jogo vão estar mais afastadas umas das outras e não será permitido fazer apostas de pé.

FRONTEIRAS: REFORÇO DUPLO

Vai ser ainda criado em Macau um posto de inspecção provisório para efectuar rastreios a pessoas que entram no território, provenientes de zonas consideradas de alto risco. A medida, entra em vigor no mesmo dia em que os trabalhadores não residentes (TNR) que tenham estado no Interior da China nos últimos 14 dias passam a estar submetidos a uma quarentena obrigatória e foi anunciada ontem por Ao

Leong U, secretária para os Assuntos Sociais e Cultura. A medida, explicou a secretária, foi tomada com o objectivo de “dar continuidade de forma séria ao controlo epidémico” e abrange também os residentes de Macau que cruzem a fronteira pelo menos três vezes por dia. “As pessoas que vêm de zonas onde a epidemia é mais grave (...) serão sujeitas a um rastreio para podermos assegurar a saúde e a segurança da população. Vamos proceder a um rastreio aos residentes de Macau que vão e vêm de Zhuhai várias vezes durante o dia”, referiu Ao Leong U, por ocasião da conferência diária sobre a situação do novo tipo de coronavírus. Sobre aquilo que pode ser considerada uma “zona

de alto risco”, Lei Chin Ion director dos Serviços de Sáude, explicou ontem que a classificação será actualizada numa base diária e de acordo com o número de casos registados nas regiões em questão. Para já, Hong Kong não é considerado um local de alto risco. “As zonas de alto risco epidémico variam diariamente e dependem da situação epidemiológica do local. Por exemplo, em Cantão existem mais de mil casos e continuam a existir novos casos confirmados e por isso é classificado como um ponto onde o surto epidémico é elevado. Já no interior da Mongólia, foram registados apenas 75 casos (...) e, por isso, não temos a mesma exigência”, explicou o responsável dos SS. Segundo Lei Chin Ion a realização dos testes nos postos de inspecção provisórios pode levar agumas horas e, caso a pessoa se recuse a colaborar pode ser imposto um isolamento obrigatório ou a aplicação de sanções. “O teste pode levar algumas horas, mas o tempo concreto é decidido pelo médico ou equipa de enfermeiros. Após a observação médica, se a pessoa não apresentou qualquer sintoma, será libertada. Caso recusem a observação médica, os visitantes (...) poderão ser sancionados ou sujeitos a isolamento obrigatório”, esclareceu Lei Chin Ion. Pedro Arede com Lusa info@hojemacau.com.mo


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quinta-feira 20.2.2020

COVID-19 JORGE SALES MARQUES DIZ QUE MACAU É UM BOM EXEMPLO PARA A ÁSIA

Imaculada prevenção

J

ORGE Sales Marques, médico pediatra dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), deu uma entrevista à Lusa onde fez o ponto de situação das medidas de combate ao novo coronavírus, o Covid-19, por parte do Governo. Na entrevista, o médico macaense disse que não se pode concluir que fechar ou reabrir casinos determine mais ou menos casos de infecção pelo Covid-19. “Os casinos foram fechados há duas semanas e, quando estavam abertos, não tínhamos assim tantos casos, só a partir do nono ou décimo caso é que foram encerrados”, lembrou o pediatra que integra a equipa médica de Macau envolvida na linha da frente do combate ao surto do novo coronavírus. “Ao fecharmos os casinos, o risco poderá ter diminuído, mas não se pode concluir que foi a partir daí que deixámos de ter casos, porque há outras medidas que foram tomadas, (..) importantes”, argumentou. “A reabertura dos casinos não significa que vá haver mais casos, mas também não se pode concluir que o fecho dos casinos foi o motivo para deixarmos de ter casos”, frisou o chefe do serviço de pediatria do Centro Hospitalar Conde São Januário.

MÁSCARAS PARA TODOS

Jorge Sales Marques disse ainda que “a cobertura de máscaras tanto para adultos como para crianças está garantida”. “Não vamos ter falhas nas máscaras (…) não vamos ter esse problema”, sublinhou o médico, num momento em que o território continua a impor a venda racionada deste produto, depois de ter garantido uma encomenda inicial de 20 milhões. Sales Marques salientou que, de facto, as autoridades foram confrontadas com muitas dificuldades para comprar máscaras que assegurassem o fornecimento à população, sobretudo “nesta altura em que existe uma

GONÇALO LOBO PINHEIRO

O médico representante dos Serviços de Saúde de Macau disse à Lusa que fechar ou reabrir casinos não determina o número de infectados com o novo coronavírus. Jorge Sales Marques afirmou ainda que o fornecimento de máscaras é suficiente e que a reabertura de escolas não é, para já, uma possibilidade

crítico”. “Nas escolas as pessoas estão completamente aglomeradas em espaços pequenos, o intervalo entre as carteiras é extremamente pequeno”, o que potencia o risco de infecção, precisou o pediatra. No que diz respeito às medidas de prevenção, o médico considera Macau “como exemplo ao nível da Ásia e de outros países, (…) em relação não só às recomendações que foram dadas, como também ao cumprimento [por parte] da população”. Sales Marques elogiou tanto as medidas tomadas pelas autoridades para conter a propagação da epidemia como “o comportamento impecável da população”, que tem seguido os apelos das entidades competentes “à risca”.

PESSOAL MÉDICO LIVRE

Jorge Sales Marques, médico “Ao fecharmos os casinos, o risco poderá ter diminuído, mas não se pode concluir que foi a partir daí que deixámos de ter casos, porque há outras medidas que foram tomadas.”

epidemia” e “as máscaras são procuradas em todas as partes do mundo”. De resto, “em Portugal há cidades, nomeadamente Lisboa, em que não existem máscaras”, exemplificou. “Mesmo [com] as máscaras para crianças tivemos alguma dificuldade, mas foi praticamente em tempo recorde que conseguimos adquirir um milhão (…), o que é óptimo”, considerou. Recentemente, Jorge Sales Marques publicou um artigo numa revista científica nos Estados Unidos no qual concluiu que o facto de as crianças serem menos afectadas pelo coronavírus Covid-19 tem a ver com a estimulação do sistema imunológico, através das vacinas e respectivo reforço junto da população até aos 13 anos. O especialista assinalou que os primeiros estudos apontavam desde logo para o facto de o grupo mais afectado ser aquele que integra pessoas com mais de 55 anos, pelo que

a prioridade das autoridades de saúde de Macau foi sempre o de assegurar máscaras para os adultos.

ESCOLAS FECHADAS

No que diz respeito às escolas, Jorge Sales Marques disse que a sua reabertura “não está, para já, em cima da mesa”. “Se as aulas vão começar no final do mês, ou início do próximo, este é um pormenor que para já não está

em cima da mesa porque temos de ter mais dados objectivos para chegarmos a uma conclusão, de facto, sobre o ‘timing’ ideal”, afirmou. O especialista explicou que continuam a existir razões objectivas para o facto de as escolas ainda não terem reiniciado as aulas após os feriados do Ano Novo Lunar. “É difícil” indicar uma data para o reinício das aulas, apontou, “porque se está ainda num período

O médico destacou lembrou também a qualidade e quantidade dos equipamentos nos SSM, com a existência em número suficiente de material para exames para o rastreio do vírus. “A prova provada é que não temos casos nem em enfermeiros, nem em médicos. (…) Por alguma razão é”, argumentou, destacando o trabalho efectuado pela equipa de 23 médicos e 60 enfermeiros “que trabalha com as pessoas que têm mais probabilidade de serem infectadas”. O chefe dos serviços de pediatria do hospital público aproveitou para deixar um alerta, apesar dos “resultados fantásticos de Macau”, há 14 dias sem registar novos casos: “Isto ainda não acabou. Macau é uma cidade de 600, 700 mil habitantes, mas estamos rodeados por milhões, tanto do lado de Hong Kong, como pelo lado da China”. Jorge Sales Marques salientou que “esta é uma luta que não envolve só os serviços de saúde, os profissionais de saúde a as entidades competentes, é uma luta da população em geral contra este vírus, porque é um vírus de muito fácil contágio”. Lusa

Serviços de Saúde Lei Chin Ion na liderança até 2022

O director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, vai manter-se no cargo pelo menos durante mais dois anos, de acordo com um despacho publicado ontem no Boletim Oficial. O documento renova a comissão de mandato por mais dois anos, com efeitos a partir de 1 de Abril. A decisão é justificada com “experiência e capacidade profissional adequadas” ao exercício das funções. Lei Chin Ion ingressou nos SSM em 1985 e após o estabelecimento da RAEM, em 2001, chegou à posição de director do Centro Hospitalar Conde São Januário. Em 2007 já desempenhava as funções de director substituto do SSM, até que em 2008 tornou-se o director permanente, posição que tem mantido até aos dias de hoje.


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20.2.2020 quinta-feira

EPIDEMIA JORGE NETO VALENTE FALA EM DESASTRE ECONÓMICO

Olhar para a frente

O empresário diz que o impacto económico resultante do surto do novo tipo de coronavírus “está entre o mau e o péssimo” e alerta para as dificuldades que o sector logístico pode vir a sentir com a implementação das novas medidas à entrada das fronteiras a menos mau”, apontou Jorge Neto Valente.

QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA

Quanto ao pacote de medidas de apoio económico anunciado na semana passada pelo Governo e que inclui, entre outras, a isenção ou diminuição de impostos e abertura de uma linha de empréstimo com juros bonificados para as PME,

o empresário é da opinião que são fundamentais para “ajudar a revitalizar e construir o futuro das empresas quando o vírus passar” e que já terão impedido, no imediato, muitas outras de fechar portas. “Vi muitas PME que já estavam a pensar fechar o negócio ou abrir falência e com as medidas estão, pelo menos, a tentar sobreviver.

“Uma medida em que devemos todos pensar é chegar a um acordo com os senhorios e arrendatários, segundo directivas do Governo, para diminuir temporariamente as rendas dos privados”, avançou.

PREOCUPAÇÕES LOGÍSTICAS

Com o anúncio de que a partir de hoje os trabalhadores não residentes que tenham estado no Interior da China nos últimos 14 dias serão submetidos a uma quarentena obrigatória, Jorge Neto Valente não teme que as empresas venham a sofrer um impacto directo ou fechem portas. Mas receia, no entanto, eventuais problemas que possam surgir no sector logístico.

“Uma medida em que devemos todos pensar é chegar a um acordo com os senhorios e arrendatários, segundo directivas do Governo, para diminuir temporariamente as rendas dos privados.” JORGE NETO VALENTE EMPRESÁRIO

“O único sector que receio bastante que venha a ter muitos problemas é o da logística. Macau vive de muita coisa importada (...) e não sei se a lei vai ser muito bem implementada, no sentido de permitir que tudo o que é preciso vai conseguir entrar em Macau. Se começarmos a ver que há falhas de material ou as coisas a ficarem muito caras, aí vai começar a vida a complicar-se muito”, disse o empresário ao HM. “Disso eu tenho mais medo, porque afecta a população, acrescentou. Pedro Arede

info@hojemacau.com.mo

MGM China Operadora doa 500.000 máscaras ao Governo de Macau A MGM China anunciou ontem a doação de 500.000 máscaras cirúrgicas ao Governo de Macau de forma a dotar o território de mais meios de prevenção do novo coronavírus. “Devido à crescente procura na cidade por máscaras faciais, a MGM doou ontem 500.000 máscaras cirúrgicas

Ou seja, é entre o acabar já ou ter mais uma oportunidade para que daqui a um ou dois anos já tenham recuperado”, explicou. No entanto, o empresário acredita que o Governo “devia reforçar que estes apoios envolvem sempre um risco”, pois o dinheiro tem sempre de ser devolvido e nesta fase “quem pede empréstimos só para tapar buracos e pagar

HOJE MACAU

“O

impacto que esta crise está a ter no tecido empresarial de Macau está entre o mau e o péssimo. São coisas da vida e estamos todos bem de saúde, mas em termos económicos é um desastre. Agora temos de sobreviver”, disse ao HM o empresário Jorge Neto Valente, filho do presidente da Associação dos Advogados de Macau com quem partilha o mesmo nome. O empresário de Macau, envolvido na gestão de vários negócios, mostra-se preocupado com a actual situação derivada da crise e das medidas de prevenção tomadas pelo Governo e considera mesmo que, ao contrário do que aconteceu na altura do SARS, os impactos do coronavírus ainda serão sentidos em Macau durante algum tempo e que aquilo que se perdeu é irrecuperável. “Desta vez acho que vai ser mais a sério. Isto não nos vai só afectar agora, porque não se sabe quando é que o surto acaba e porque creio que não haverá uma recuperação como aconteceu depois do SARS, onde ao fim de seis meses, a economia já tinha recuperado por completo. O que se perdeu a nível económico, ou seja, o consumo que se perdeu, não vai ser recuperado. Quando a economia começar a regenerar será do mau

as rendas, à partida não terá o dinheiro necessário para fazer os investimentos para construir o seu futuro”, defende. Confrontado com a opinião avançada há dias pela advogada Manuela António à TDM Rádio Macau, onde defendeu que o Governo deve contribuir directamente para que as PME consigam pagar salários, o empresário defende que “seriam mais os problemas que iriam ser criados que aqueles que iam ser resolvidos”, pelo facto de abrir a porta a irregularidades e pelo nível de complexidade envolvido já que “seria muito difícil de fazer a auditoria para saber onde deve ir esse dinheiro”. O empresário acredita, no entanto, que o Governo deve ajudar privados e arrendatários a alcançar um acordo para atenuar o pagamento de rendas, tal como já vai acontecer no sector público.

ao Governo de Macau para apoiar as suas iniciativas antiepidémicas”, apontou a operadora de jogo, em comunicado. Na mesma nota, a MGM China acrescentou ainda que ofereceu máscaras às equipas da linha de frente de várias instituições sociais do território, como a Federa-

ção das Associações dos Operários de Macau, a União Geral das Associações de Vizinhança de Macau e a Caritas Macau. “Acredito firmemente que venceremos esta batalha contra a epidemia”, apontou a co-presidente e directora executiva da MGM China, Pansy Ho.

Caritas BNU dá 100 mil patacas e abre conta para angariar fundos O Banco Nacional Ultramarino doou à Caritas 100 mil patacas e abriu uma conta de angariação de fundos para apoiar a instituição no combate ao surto do novo coronavírus. “O presidente da Comissão Executiva do BNU, Carlos Álvares, encontrou-se com o secretário-geral da Caritas Macau, Paul Pun, para entregar a doação”, indicou, em comunicado. Na mesma

nota, o BNU destacou a abertura de “uma conta para angariar fundos para as actividades anti-epidemia da Caritas, tais como, a compra de material médico e assistência na prestação de cuidados de saúde e protecção para evitar a propagação do vírus”. “Os fundos angariados serão transferidos para a Caritas Macau”, frisou o BNU.


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quinta-feira 20.2.2020

C

SOFIA MARGARIDA MOTA

LOEE Chao, dirigente da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo, entregou ontem uma carta na sede do Governo contra a reabertura dos casinos, que estiveram fechados durante 15 dias devido ao surto do novo coronavírus, o Covid-19. De acordo com a TDM Rádio Macau, a associação entende que, com a decisão de reabertura dos casinos, decretada desde a meia noite de ontem, a segurança e saúde dos trabalhadores estão em risco. Cloee Chao entende que a decisão do Governo é "apressada”, “inexplicável” e “irresponsável”, uma vez que a reabertura dos casinos vai permitir a concentração de muitas pessoas, sobretudo nas horas em que os trabalhadores se deslocam ou saem do trabalho ou à hora de almoço. Além disso, como as escolas permanecem fechadas, os trabalhadores do sector do jogo não têm onde deixar as crianças. No que diz respeito às questões laborais, a carta entregue por Cloee Chao alerta para o facto de muitas operadoras de jogo se estarem a preparar para impor férias não pagas aos seus trabalhadores, além de existir uma empresa que decidiu obrigar os funcionários a anteciparem as férias do próximo ano. Na carta, são também exigidas mais medidas preventivas contra o vírus nos espaços de jogo.

A

Sociedade Protectora dos Animais de Macau (ANIMA) enviou uma carta ao secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, a fim de exigir o fecho do matadouro, dado os perigos para a saúde pública que o seu funcionamento gera. “Nesta fase complicada da vida de Macau, com o surto do Covid-19, a ANIMA coloca como uma das suas prioridades para o ano de 2020 convencer vossa excelência e o Chefe do Executivo que não há razão alguma para manter em Macau qualquer tipo de matadouro”, lê-se na missiva. Esta iniciativa acontece depois da ANIMA ter

MATADOURO ANIMA REITERA EXIGÊNCIA DE FECHO JUNTO DE LEI WAI NONG

Pedido de abate

pelas nossas autoridades sanitárias, sem quarentena”.

TIAGO ALCÂNTARA

CASINOS ASSOCIAÇÃO ENTREGA PETIÇÃO CONTRA REABERTURA

Sem resposta do Instituto para os Assuntos Municipais sobre o pedido de encerramento do matadouro, a ANIMA decidiu entregar uma nova carta ao secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong. Albano Martins, presidente da ANIMA, destaca o facto de a crise originada pelo surto do novo coronavírus ter evidenciado ainda mais os perigos de saúde pública que o matadouro acarreta

20 MILHÕES DE PREJUÍZOS

feito o mesmo pedido junto do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), em finais do ano passado. A ANIMA não recebeu, até à data, qualquer resposta por parte do IAM. São vários os argumentos enumerados pela ANIMA para o fecho do matadouro, localizado na Ilha Verde, tal como “o bem-

-estar animal, as condições em que se encontram, os métodos antiquados de abate desses animais e as condições de transporte para Macau”. São também referidas “questões de saúde pública que cumpre acautelar, como a propagação de doenças perigosas provenientes de animais vivos vindos de áreas não controladas

A carta enviada pela ANIMA dá ainda conta de que o matadouro é um espaço que, desde há muito, apresenta enormes prejuízos ao invés de lucros, com uma “inviabilidade económica traduzida em prejuízos acumulados ao longo dos anos de mais de 20 milhões de patacas”

A carta enviada pela ANIMA dá ainda conta de que o matadouro é um espaço que, desde há muito, apresenta enormes prejuízos ao invés de lucros, com uma "inviabilidade económica traduzida em prejuízos acumulados ao longo dos anos de mais de 20 milhões de patacas, não contribuindo para os cofres públicos através de impostos”. “Antes pelo contrário, tratando-se de uma actividade que constantemente suga dinheiros públicos”, complementa a missiva. Albano Martins, acrescenta o facto de os activos do matadouro estarem “a ser reavaliados, sempre que necessário, para cima, para esconderem um capital social que está constantemente a ser comido, o que pela lei comercial de Macau obrigaria à sua reposição se não fossem estas manobras de cosmética contabilística”. Para a ANIMA, o espaço onde se situa o matadouro poderia ser usado para fins comunitários, sem esquecer os problemas ambientais que origina, como “a poluição das águas circundantes”, uma vez que “os esgotos e os resíduos vão directamente escoar para as águas contíguas, sem qualquer tipo de tratamento, [tratando-se de ]características do próprio empreendimento”. Dessa forma, “não faz sentido que, sendo a produção desses animais feita na China não sejam aí abatidos”. De frisar que, antes de ser nomeado secretário, Lei Wai Nong fez parte do conselho de administração do IAM, na qualidade de vice-presidente. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

REDES SOCIAIS DICJ ESCLARECE VÍDEO SOBRE ALOJAMENTO DE FUNCIONÁRIOS

T

EM vindo a circular nas redes sociais um vídeo onde se vê camas dispostas em salas de hotéis, alegadamente para servirem de alojamento temporário aos trabalhadores não residentes (TNR) das concessionárias de jogo. No entanto, a Direcção dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) esclareceu ontem, em comunicado, que tais espaços não servem para alojar TNR nesta altura em que Macau combate o novo coronavírus,

tendo sido criados para épocas de tufão. “Na realidade, o vídeo que circula on-line, que alegadamente exibe a colocação de camas em hotéis, em elevada densidade, para alojamento temporário dos TNR pelas concessionárias / subconcessionárias, trata-se afinal do local de descanso temporário providenciado pelas concessionárias / subconcessionárias para os seus trabalhadores que no passado ficaram retidos nas suas instalações devido ao vento e à

chuva, durante a passagem de tufões por Macau.” No que diz respeito ao alojamento de TNR nesta fase, “as seis operadoras de jogo manifestaram o seu apoio, correspondendo ao apelo do Governo da RAEM, quanto a providenciarem melhores medidas para o alojamento dos seus TNR que vivem fora das fronteiras de Macau, cumprindo as suas responsabilidades sociais nos trabalhos de prevenção e controlo da epidemia na comunidade”.


8 coronavírus

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75280 Infectados

11977

Covi novel cor

5248

Em estado crítico

Casos suspeitos

FONTES: • https://gisanddata.maps.arcgis.com/ apps/opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/ emergencies/diseases/novelcoronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019ncov/index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/ geographical-distribution-2019-ncovcases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/ new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/ pneumonia

OUTROS

INFECTADOS POR PAÍS / REGIÃO 74186 81 74 63 35 31 29 23 22 16 16 15 12 4

Interior da China Singapura Japão Hong Kong Tailândia Coreia do Sul EUA Taiwan Malásia Vietname Alemanha Austrália França Macau

9

Reino Unido

9 8 3 3 3 2 2 1 1 1 1 1 1 1

Emiratos Árabes Unidos Canadá Itália Filipinas Índia Rússia Espanha Nepal Cambodja Bélgica Egipto Finlândia Sri Lanka Suécia

621

Cruzeiro Diamond Princess países com casos de nCov países sem casos de nCov

Infectados

4 MACAU

Infectados

6 Curados

Macau

62 HONG KONG

Infectados

2

HONG KONG

1

Curado

Hong Kong

Mortos


coronavírus 9

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id-19 ronavírus

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HOJE NA CHÁVENA

Curados

Mortos

1-99 10-99 100-499 500-999 1000-9999 +10000 Ocorrências nas áreas afectadas

Dados actualizados até à hora do fecho da edição

Covid-19 vs SARS

CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO

74,000 12,000 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0

20

dias

40

dias

60

dias

Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto

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dias

100

dias

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dias

REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Jiangsu Chongqing Shandong Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Shaanxi

INFECTADOS 61682 1331 1246 1174 1008 986 934 631 555 544 514 470 393 333 306 293 242

MORTOS 1789 4 19 0 3 6 1 0 5 3 3 11 4 1 4 0 1

REGIÃO Guangxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete

INFECTADOS 244 173 163 146 131 128 121 91 90 76 75 71 63 23 18 4 1

MORTOS 2 0 4 1 0 3 1 2 1 1 0 0 1 0 0 0 0


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WALL STREET JOURNAL GOVERNO CANCELA LICENÇAS DE TRÊS CORRESPONDENTES

Ordem para revogar

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Governo chinês confirmou ontem que vai cancelar as credenciais de imprensa de três correspondentes do Wall Street Journal no país, devido a uma manchete que classificou como “racista e difamatória”. “O povo chinês não dá as boas-vindas a órgãos de imprensa que usam termos raciais discriminatórios e atacam maliciosamente a China”, defendeu Geng Shuang, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, em conferência de imprensa. “Nesse sentido, decidimos que, a partir de hoje (ontem), as credenciais de três jornalistas do Wall Street Journal vão ser revogadas», anunciou. A decisão surge após um artigo de opinião assinado por Walter Russell Mead, e publicado pelo jornal norte-americano, em 7 de Fevereiro passado, com o título “A China é o Verdadeiro Homem Doente da Ásia”. O artigo de opinião apontou as debilidades do país em responder inicialmente ao surto do novo coronavírus, designado Covid-19, e advertiu para os riscos no sistema financeiro chinês, devido a décadas de excessivo investimento estatal, uma bolha imobiliária ou excesso de capacidade produtiva nas principais indústrias. O termo “Homem Doente da Ásia” é, no entanto, associado na China ao período de ocupação estrangeira, entre o final do século XIX e início do século XX, quando as potências ocidentais o usavam para se referir às pobres condições de higiene e saúde no país. As autoridades chinesas afirmaram terem exigido um pedido de desculpas público ao jornal e a punição de Russell Mead, académico e conselheiro do antigo secretário de Estado norte-americano, Henry A. Kissinger, mas dizem que a

A decisão surge após um artigo de opinião assinado por Walter Russell Mead, e publicado pelo jornal norte-americano, em 7 de Fevereiro passado, com o título “A China é o Verdadeiro Homem Doente da Ásia”

direcção do Wall Street Journal optou por “esquivar-se das suas responsabilidades”. Em Agosto passado, um outro jornalista do mesmo jornal foi expulso do país após a publicação de um artigo sobre o primo do Presidente chinês, Xi Jingping. Chun Han Wong escreveu sobre como os negócios de Ming Chai, primo de Xi, estavam a ser investigados pelas autoridades australianas, por suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro.

POR OUTRO LADO

A decisão de Pequim surge ainda no mesmo dia em que os Estados Unidos anunciaram que os meios de comunicação social estatais chineses a operar no país vão

precisar da aprovação do Departamento de Estado norte-americano e de identificar os funcionários regularmente. Cinco meios de comunicação, incluindo a agência noticiosa oficial Xinhua e a televisão estatal CGTN, vão passar a estar obrigados a cumprir com os mesmos regulamentos que as missões diplomáticas nos Estados Unidos. A medida não implica, contudo, restrições ao trabalho dos jornalistas daqueles órgãos no país, ressalvou o Departamento de Estado, que apontou que os órgãos visados “estão efectivamente ao serviço do Governo chinês” e “aceitam ordens vindas diretamente do topo”. A China

considerou “inaceitáveis” as novas regras impostas por Washington à imprensa estatal chinesa. “Os Estados Unidos sempre se gabaram da sua liberdade de imprensa, mas estas exigências interferem no funcionamento dos órgãos chineses nos Estados Unidos e dificultam o seu trabalho”, disse Geng Shuang. O porta-voz advertiu que a China tem agora o “direito de retaliar” contra a decisão norte-americana. A relação entre China e EUA deteriorou-se, nos últimos anos, com Washington a definir o país como a sua “principal ameaça” e a apostar numa estratégia de contenção das ambições chinesas, que ameaça bipolarizar o cenário internacional.

EPIDEMIA XI JINPING AGRADECE APOIO DA FRANÇA NO COMBATE AO CORONAVÍRUS

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Presidente chinês, Xi Jinping, agradeceu ontem ao homólogo francês, Emmanuel Macron, o “apoio prestado pela França” à China no combate ao surto do novo coronavírus, designado Covid-19, anunciou a agência noticiosa oficial Xinhua. Durante o telefonema entre os dois líderes, Xi agradeceu o apoio prestado por Paris, afirmando que

demonstra “plenamente” a “profunda amizade” entre os dois países e o “alto nível” da parceria estratégica abrangente entre Pequim e Paris, acrescentou. Xi Jinping disse que a China “definitivamente vencerá a batalha” contra o vírus, devido à “forte capacidade” de mobilização e “experiência” em lidar com crises de saúde pública.

Emanuel Macron disse que está pronto a providenciar mais assistência, segundo a Xinhua. A crise paralisa há quase um mês a economia chinesa, mas Xi garantiu a Emmanuel Macron que o impacto “é temporário”. “Estou convencido de que, graças aos nossos esforços, seremos capazes de atingir os objectivos de desenvolvimento económico e

social estabelecidos para este ano”, afirmou, citado pela Xinhua. A economia chinesa cresceu 6,1 por cento, no ano passado, o menor ritmo em três décadas, e os especialistas esperam um novo declínio este ano. A agência de notícias chinesa indicou que Macron elogiou a “rápida acção da China e o alto grau de abertura e transparência que demonstrou» durante a crise.

Portugal Surto afecta PME que exportam para a China

O surto do coronavírus Covid-19 está a afectar pequenas e médias empresas (PME) portuguesas, sobretudo do sector agroalimentar, e o primeiro trimestre está praticamente perdido, disse à Lusa o presidente da Associação de Jovens Empresários China-Portugal. “Está a ter impacto económico nas PME portuguesas, sobretudo aquelas do sector agroalimentar ligadas à exportação”, afirmou Alberto Carvalho Neto. “A situação está a afectar as exportações de produtos que na China essencialmente são consumidos socialmente, como é o caso do vinho, muito por causa da redução drástica de eventos sociais e empresariais”, explicou. O empresário adiantou que “foram cancelados e adiados eventos de Janeiro, Fevereiro e Março” na China continental e em Macau. O único sector que “subiu a pique, obviamente”, precisou, foi o que está ligado às empresas portuguesas que exportam material médico, “normalmente para países como Moçambique e Angola, por exemplo, e que canalizaram as vendas para a China e Macau”.

Hong Kong Segunda vítima mortal do Covid-19

Um homem de 70 anos infectado com o novo coronavírus morreu ontem em Hong Kong, anunciou a emissora pública RTHK, elevando-se a duas o número de vítimas mortais do Covid-19 na região administrativa especial chinesa. De acordo com fonte do hospital Princesa Margarida, o homem era o 55.º caso confirmado da doença no território. Responsáveis dos serviços de saúde tinham indicado anteriormente que o homem tinha problemas de saúde e vivia sozinho em Kwai Chung, na zona dos Novos Territórios, no norte da região. O homem foi hospitalizado há uma semana, na sequência de uma queda sofrida em casa. Ao chegar ao hospital, disse aos médicos ter sentido falta de ar e que tinha tosse desde o dia 2 de Fevereiro. No dia 22 de Janeiro, o paciente realizou uma visita à China.


quinta-feira 20.2.2020

Magoei os pés no chão onde nasci

diário de Próspero

António Cabrita

Letras responsáveis

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ESTE frenesim de palavras ocas em que o mundo se tornou, consta que os castores da América do Norte se apresentam desdentados, a neve (há quem diga que por espírito de síntese) agora só cai sobre quem tem gabardina, o próprio silêncio procura o osso perdido das origens. Desde que se instalou este estado de coisas as conversas morrem a meio, as vacas e os filósofos ruminam mas não engolem (as vacas começaram a levitar, os filósofos enterram-se a prumo com o peso das escórias) e descobriu-se que o corona é a vingança do pangolim. Muitos propõem remédio mas no melhor dos casos só se detectam paliativos. E só enxergo uma saída, a aventada por Simone Weil quando assegura que a pura observação pode ser transformadora desde que empreguemos devidamente a sua melhor arma: a atenção. A solução não está no cultivo das identidades, na inquietude ou na competição performativa, na elaboração de listas de tarefas pendentes, no bombardeio com que somos emboscados pelo mercado, no deve e haver sobre crimes passados (como alguém que já só sabe revolver o lodo), na indulgência que obtemos da nossa tribo nas redes sociais: não. Mas, em voltando a subir os índices da nossa capacidade para ficar atentos, para permanecermos atentos, para finalmente nos concentrarmos no que fazemos, esta balbúrdia das velocidades contemporâneas que nos aturde e provoca sonolência atenua-se. Só o desejo de luz produz luz, dizia a senhorita Weil, e esta para ser vista necessita de um esforço da atenção. Não se conte com o que não custa esforço. Será isto alguma vez reflectido? Entretanto, num livro autobiográfico que acabei e que incide sobre a infância e os imediatos anos de aprendizagem, escrevi este parágrafo: «O meu pai, que começara por ser trolha, entrou como aprendiz de linotipista no Diário Popular e seguiu o ofício. Na época, consideravam-se os linotipistas os intelectuais do operariado, por incarnarem em chumbo os livros de outros; enfim, uma consideração abstracta, demasiado generalista, esse confronto com as ideias dependeria da qualidade do que haveria a digitar, seria diferente ser o tipógrafo de Carlos Oliveira ou do Augusto Abelaira ou sê-lo de um prestamista do regime. Todavia acreditava-se que por osmose ou circulação dos fluidos se vazava a sabedoria de uns para outros e o meu pai, lacónico até à medula, devia passar por muito profundo.» Voltemos à frase sublinhada: os linotipistas/tipógrafos incarnavam em chumbo os livros de outros. As palavras

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moldavam-se em chumbo, dessas páginas em baixo relevo de chumbo resultavam as matrizes que seriam depois impressas, duplicadas, no papel. Havia um mano a mano com a densidade material, a cada palavra lida antecipava-a o seu peso, um grave e oblíquo labor responsável. Cada palavra antes de ser lida fora um artefacto material, era um fruto de um processo lento e de uma compac-

tidade que, inesperadamente, tornava o pensamento profuso. Pergunto-me hoje se que isso não transmitiria à palavra uma qualidade, uma substância, um compromisso que a leveza, a rapidez, a facilidade de rasura e permuta do texto digital volatizam e desresponsabilizam; se quando a matriz da palavra tinha um peso não teríamos menos cobertas de croché.

Que tipo de eflúvios se libertaria daquele elemento químico com que se criavam as letras da tipografia e da “arte negra” - a caixa de metal em que se justapunham as letras de chumbo, linha a linha, para a composição de cada página –, como se a toxidade do chumbo fizesse o pensamento reagir, elevando-o, contrariando o desconforto da matéria?

Li há pouco tempo um ensaísta literário que dizia que a poesia portuguesa dos anos 90 se produzira contra a densidade de alguns poetas anteriores, como a Fiama Hasse Pais Brandão. De facto, e também na prosa, muito pouco hoje me parece estar à altura das densidades de A Noite e Riso, de Nuno Bragança, de Maina Mendes e Casas Pardas, de Maria Velho da Costa, ou de Novas Visões do Passado, Homenagemàliteratura, ou Área Branca, de Fiama, escritos na época do chumbo ou ainda sob influência do chumbo. Quem hoje se entregaria ao entusiasmo de ler As Quibíricas ou A Arca, de João Pedro Grabato Dias? Que tipo de eflúvios se libertaria daquele elemento químico com que se criavam as letras da tipografia e da “arte negra” - a caixa de metal em que se justapunham as letras de chumbo, linha a linha, para a composição de cada página –, como se a toxidade do chumbo fizesse o pensamento reagir, elevando-o, contrariando o desconforto da matéria? Escreveu a Velho da Costa em O Mapa Cor de Rosa, um dos seus livros de crónicas: «Metamorfose do tempo que faz lá fora, eu sei talvez porque me assola hoje, ou mais se atiça, a retórica da melancolia e do desânimo. A crónica é desse género que tem encruzilhadas a biografia e a escrita – só a ficção protege, em dias assim, ou a epistolografia íntima, desatada. Mas os poetas, Senhor. Ou os cronistas de reinos, desunidos. A senhora Amália, um supor, que vivia em Montes Velhos, ai Nena, um lembrar. Vivia e nem mal, nem bem, vivia. Bateu-lhe à porta uma cigana que trazia um menino aos peitos caídos, rilhado de um porco, disse bem, rilhado. Eu disse que a ficção defende e a crónica desabriga, e só a poesia obriga a trabalhar – juro-vos que esta história é londrina, desgostos portugueses, lá iremos». Como é que se diz tanto em tão pouco, sem nunca descurar o ritmo, o sabor da língua, ou a riqueza de vocabulário? É muito mais do que exibir a opinião: Eu disse que a ficção defende e a crónica desabriga, e só a poesia obriga a trabalhar – é conhecimento. Como é que esta estupenda autora não tem um único livro traduzido e hoje é lida somente por uma minoria? Atravesso a noite a reler-lhe os livros de crónicas e eis-me siderado. Eu que tanto aprendi com ela, quando escrevíamos filmes juntos, continua a ensinar-me. Havia um brio em fazer melhor, em comunicar com o máximo de recursos, e hoje faz-se da preguiça norma de decência e de uma língua de trapos chave de leitura. E, mais frívolos e desatentos, deseducamos o leitor.


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retrovisor Luís Carmelo

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POWER OF WORDS, ANTONIO LITTERIO

AS cartas existe um silêncio que não tem qualquer ressonância nos universos WhatsApp ou Messenger. As cartas relevam uma outra demora, uma ocupação íntima da memória e de horizontes não necessariamente imediatos ou urgentes. As cartas desenharam o grande plano da existência e não apenas um ‘frame’ que se consome a si mesmo. Quando a literatura se começou a entender enquanto literatura, a partir da segunda metade do século XVIII, é óbvio que recorreu logo à tradição epistolográfica, pois ela tinha em si o genoma preciso de que a literatura havia de ser feita. Jacques Rougeot encontrou em ‘Les lettres portugaises’ de Guilleragues (1669) a primeira obra do chamado romance epistolar e em ‘Les Liaisons Sangereuses’ de Laclos (1782) a última. Seja como for, setecentos foi período áureo do romance epistolográfico e em Portugal, embora não haja nada comparável a umas ‘Lettres Persanes’ de Montesquieu (1721) ou a umas ‘Lettres Moscovites’ de Localelli (1736), há casos muito interessantes como, por exemplo, as ‘Cartas sobre a Educação da Mocidade’ (1760) de António Ribeiro Sanches, as ‘Cartas Familiares, Históricas, Políticas e Críticas’ (1742) de Cavaleiro de Oliveira, as cartas de D. Francisco Manuel de Melo – ou as ‘Memórias das Viagens’ (1741), escritas na Holanda (e que Artur Portela considerou como uma descoberta do “caminho terrestre para a Europa”) ou ainda as ‘Lettre Bohémiennes’ de Matias Aires e as ‘Cartas Curiosas’ do Abade António da Costa (estas últimas apenas publicadas em 1879). Como Andrée Rocha sublinhou, o ofício era realmente perigoso. Verney não deixou de frisar a necessidade de se destruírem as suas próprias cartas, não fos-

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Saudades das cartas e o caso Almeida Faria sem elas cair nas mãos da santa inquisição (do mesmo modo que negou ser o autor do ‘Verdadeiro Método’). Estes riscos, a par do vazio iluminista que cruzou de lés a lés Portugal, contribuíram para que o voo epistolar fosse rasteiro entre nós. Como que a preencher esta lacuna da história literária portuguesa, Almeida Faria, ao longo da sua ‘Tetralogia Lusitana’ (1964-1983), não apenas revisitou o género epistolográfico, como parodiou habilmente as suas traves mestras. Sobretudo na segunda parte da obra, em ‘Lusitânia’ (1980) e em ‘Cavaleiro Andante’ (1983), o ‘romance da distância’ cumpriu-se na sua plenitude, através de uma polifonia anfitriã de registos íntimos e pícaros, caldeados por uma série de calculadas intertextualidades. É por isso que a paisagem de Veneza, inscrita nas epístolas da protagonista Marta, mobiliza uma espécie de monomania apaixonada e um apego raro

pelo que se poderia caracterizar como a alegria estética do mundo. A tradição do ‘pathos’ amoroso e do emaravilhamento diluem-se na opacidade e na distância geradas pelo universo das cartas. Este tipo de interface existencial fora já claramente observado em ‘La Nouvelle Héloise’ de Rousseau, obra de 1758. A espontaneidade de forma, a verosimilhança das trocas epistolares, a ininterrupta actualização da matéria sentimental, a confissão reflexiva, os exames de consciência, os discursos didácticos, a sátira e as longas “rêveries” remetiam já para aquilo que Versini classificou como sendo a cripta da mais “pure comunication”. Na primeira metade do século XX, há dois nomes que se distinguiram na renovação do romance epistolar: Gide e Motherland. O primeiro, sobretudo em ‘Les Faux-Monnayeurs’ (1927) por causa dos requisitos formais (tratamento da simultaneidade, da multiplicação dos

As cartas relevam uma outra demora, uma ocupação íntima da memória e de horizontes não necessariamente imediatos ou urgentes. As cartas desenharam o grande plano da existência e não apenas um ‘frame’ que se consome a si mesmo

pontos de vista e do requinte dos jogos de espelhos); o segundo, sobretudo na tetralogia ‘Les Jeunes Filles’ (1930-39), por ter atingido aquilo que Michel Raimond caracterizou por “complexidade dostoievskiana da consciência”. Num repentino acesso metadiscursivo, Sónia, uma das personagens da ‘Tetralogia Lusitana’ de Almeida Faria, deu a conhecer nas páginas do romance ‘Lusitânia’ algumas das funções das cartas, sob o pretexto irónico de nelas se citarem alguns “apontamentos daquelas venerandas aulas na iletrada faculdade de letras”: “… não é um elemento formal para o romance picaresco do século dezasseis, porém mais tarde torna-se um simples processo que pode ter funções diversas, permitindo ao autor ligar diferentes situações conservando o mesmo herói (primeira função), exprimir suas impressões sobre diversos lugares visitados (segunda função), apresentar retratos de personagens que de outro modo não seriam compatíveis na mesma narrativa (terceira função). Isto associado à forma epistolográfica ou telegráfica, conforme o tempo de cada caracter, seria um método capaz de dar, pelas astúcias da mimese, algumas facetas da complexidade em que nos movemos”. O eco espistolográfico da Tetralogia Lusitana é obviamente paródico como tudo o que surgiu no decair da modernidade, mas permite ainda hoje, não apenas focar uma diversidade de mundos em disrupção acelerada como também inscrever o leitor na densidade do tempo que enunciou a obra. Sobre esta perspectiva plural, a escrita de Almeida Faria, discursivamente riquíssima, continua a ser única no modo como movimenta aquilo que é o fundamento do continente literário, tal como o entendemos há já três séculos.


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a noite, o navio humanitário resgatou 98 pessoas que estavam num bote pneumático], “no momento em que as condições climáticas estavam a agravar-se”. Algumas horas antes, o Ocean Viking havia resgatado outros 84 migrantes a cerca de 114 quilómetros da Líbia.

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PROBLEMA 1

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YUAN

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VIDA DE CÃO

RINS E MORCEGOS É triste ouvir, por estes dias, em Portugal, as maiores barbaridades sobre o novo coronavírus e os hábitos alimentares dos chineses. Há quem pense que, por entrar numa “loja de chineses” e experimentar roupas e sapatos que fica infectado com o Covid-19. Por toda a parte se ouve “ai, eu agora entrar nos chineses, nem pensar! Ainda me pegam o vírus”. E quando tentamos explicar como o vírus se transmite, ignoram-nos e duvidam do que dizemos. É gritante a desinformação e a falta de interesse em saber a verdadeira origem deste problema. Os portugueses também estão a deixar de ir a restaurantes chineses por pensarem que, por comer o crepe chinês ou o arroz chau chau (a falsa comida chinesa, como todos sabemos) ficam infectados. E no campo dos hábitos alimentares, recordo-me das palavras que o artista José Drummond, a residir em Xangai, escreveu na sua página de Facebook. Nós, portugueses, comemos rins e coração de porco como petisco a acompanhar uma cerveja, lampreia, tripas à moda do Porto, pés de porco de coentrada e pratos onde usamos o sangue do porco acabado de matar. Eu não como, porque sempre odiei. Ok, não comemos cobras, morcegos ou pangolins porque não faz parte dos nossos hábitos europeus. Devemos pensar em nós, primeiro, antes de criticarmos o outro só porque é para nós um corpo estranho e vive a milhares de quilómetros. A comunidade chinesa em Portugal e no mundo necessita, por estes dias, de muita solidariedade e apoio face à discriminação de que é alvo. Andreia Sofia Silva

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MAX

O navio Ocean Viking, operado pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF) e SOS Mediterranée, tem a bordo 182 migrantes no Mediterrâneo central, depois de fazer o seu segundo resgate em 24 horas, anunciaram ontem as duas organizações nas suas redes sociais. Durante

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UM FILME HOJE 2

Pablo Neruda, poeta7chileno que todas as mulheres veneram, 8chega a4uma pequena ilha em Itália 3 de exílio. em contexto Na terra, quase todos são 8 5 de7 analfabetos à excepção um jovem desempregado 1 5emprego 3 9 que encontra como carteiro. É a ele 3 8 de que o chefe da estação correios atribui a tarefa de entregar as cartas ao poeta, uma 4 actividade 7 que leva a uma bonita relação de amizade, sem esquecer as conversas sobre a poesia e o poder das palavras. Andreia Sofia Silva

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O CARTEIRO DE PABLO NERUDA | MICHAEL RADFORD (1994)

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; ; João Santos Filipe; Pedro Arede Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo

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14 opinião

20.2.2020 quinta-feira

O COVID-19 e a “A virus is more powerful in creating political, social and economic upheaval than any terrorist attack.” Tedros Adhanom Ghebreyesus, Director-General of the World Health Organization

O

COVID-19, declarado “Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII na sigla em língua inglesa), a 30 de Janeiro de 2020 pela “Organização Mundial de Saúde (OMS)” tinha até 17 de Fevereiro de 2020, tinha infectado cerca de setenta e uma mil e trezentas e vinte e seis pessoas, continuando o seu número a aumentar diariamente, a grande maioria delas na China, tendo matado mais de mil e setecentas e setenta e cinco pessoas, tendo sido curadas dez mil e seiscentas e dez pessoas e espalhou-se por quase 30 países. Dada a enorme importância da China para a economia global, o efeito de propagação poderá ser agitado e duradouro. A China é demasiado importante para a economia global, dado o seu extraordinário crescimento económico nos últimos quarenta anos, que a tornou na segunda maior economia mundial, com um PIB de treze triliões e seiscentos mil milhões de dólares comparados com o PIB dos Estados Unidos de vinte triliões e quinhentos mil milhões de dólares. O crescimento anual de 7 por cento ou superior, muito além da capacidade das economias desenvolvidas tornou-se a regra. A China alcançou esta posição ao suplantar os Estados Unidos como o sustentáculo do comércio global. A China é o maior negociante de mercadorias do mundo, e está rapidamente a alcançar os Estados Unidos em serviços comerciais após um ímpeto de crescimento de 18 por cento em 2018. A longa prática de fornecimento de componentes e dispositivos electrónicos de empresas chinesas, e o vasto e crescente mercado interno do país, tem encorajado milhares de empresas estrangeiras a abrirem as suas fábricas e lojas no país, e a juntarem-se às redes de distribuição locais. A China também é fulcral para uma gama diversificada de cadeias de abastecimento global, pois grande parte das matérias-primas do mundo viaja para a China antes de ser transformada num produto manufacturado. A guerra de 2019 com os Estados Unidos sobre as tarifas de importação de bens no valor de milhares de milhões de dólares ilustrou o poder da economia chinesa para abalar as previsões globais. A maioria das indústrias na China fechou durante duas semanas devido ao ano novo lunar e não se esperava que a maioria das fábricas reatassem a actividade novamente até ao dia 9 de Fevereiro de 2020 e muitas protelaram a sua abertura até 14 de Fevereiro de 2020 como precaução, uma vez que dezenas

de milhões de pessoas permaneceram fechadas em dezenas de cidades de todo o país. Os fabricantes de automóveis estão a fechar as fábricas, as portas de cafeterias estão encerradas e os portos estão muito mais silenciosos do que o habitual. Sabe-se que as pequenas e médias empresas, que operam com contratos de curto prazo e apenas com pequenas reservas financeiras e físicas, estão com problemas. Os relatórios de regiões do cinturão fabril central da China falam de criadores de gado a esgotarem as reservas de rações. A cidade de Wuhan, com cerca de onze milhões de habitantes e centro do surto, é um grande centro industrial regional, sendo uma engrenagem importante na indústria automóvel e um magnete para as empresas estrangeiras. É a terceira maior base educacional e científica da China, com duas das dez principais universidades. É impossível pensar que semanas de paralisação não terão um impacto considerável na produção económica. O presidente Xi Jinping, reconheceu tal facto, e em resposta, as autoridades redobraram os esforços para apoiar a economia, diminuindo ou eliminando tarifas sobre as importações dos Estados Unidos e tornando os empréstimos mais baratos para as empresas e consumidores. A economia chinesa cresceu 6 por cento em 2019, conforme relatado pela autoridade oficial de estatísticas do país, sendo a taxa mais baixa em quase trinta anos e uma grande queda em relação aos 10,2 por cento alcançados em 2010. Havia esperanças de que 2020 seria um período de recuperação, após uma prolongada guerra comercial durante 2019 com a administração Trump. O COVID-19 torna essa possibilidade improvável.Amaioria dos analistas ainda prevê um crescimento acima de 5 por cento para a economia chinesa, com base no que é conhecido até agora sobre a propagação do vírus, e o provável impacto sobre os consumidores, empresas e governo. O cenário parece no momento sombrio sem se saber qual o hospedeiro animal transmissor do vírus ao ser humano e o tratamento e cura das dezenas de milhares de infectados. A possibilidade da descoberta de uma vacina levaria cerca de dezoito meses. A Academia Chinesa de Ciências Sociais da China acredita ainda que o crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2020 pode ser de cerca de 5 por cento, não podendo descartar a possibilidade de ser menor. Há quem sustente que a taxa de crescimento real da China para 2019 foi provavelmente muito próxima de 3,7 por cento e em 2020 será inferior. O pior cenário pode ser a contracção económica. É importante notar que os investidores que esperam uma recuperação decisiva quando o surto for contido, provavelmente ficarão desapontados. É de realçar o enorme saldo de dívidas incobráveis que assola as indústrias estatais da China, que estão a envelhecer, como um obstáculo ao crescimento ao longo de vários anos. O banco central da China começou a injectar fundos extra na economia para manter os empréstimos enquanto o vírus se instala, principalmente para impulsionar o investimento empresarial, mas estes fundos, embora sejam baratos e abundantes, são usados principalmen-

te para evitar a falência de empresas “zombie” que representam 13 por cento das empresas mundiais, e assim denominadas por terem um baixo nível de rentabilidade e cuja única forma de sobreviverem é refinanciando a sua dívida quantas vezes for necessário, mesmo se essa operação for mais prejudicial que a dissolução das mesmas empresas. Adentro deste cenário quais são as indústrias mais vulneráveis? Os primeiros sectores a serem recuperados do surto será o sector do turismo e serão as indústrias de viagens e turismo, que geralmente desfrutaram apesar de tudo de um crescimento acentuado em 2019. Os voos cancelados e as reservas de hotéis na China e na região da Ásia, que depende dos turistas chineses, seguiram a restrição das viagens de e para as grandes cidades da cintura central da China e até mesmo do continente para Hong Kong e Macau.As companhias aéreas reduziram os seus serviços e por exemplo a Cathay Pacific planeia diminuir o número de voos em um terço nas próximas semanas e tem encorajado o pessoal a tirar semanas de férias não remuneradas de duvidosa legalidade. O número de passageiros diminui 55 por cento em comparação com o período lunar do ano novo em 2019. Os turistas chineses passam muito tempo em países asiáticos e o custo das restrições de viagens serão sentidos em toda a região. Se a crise persistir, o efeito global será palpável.

Os chineses fizeram cento e setenta e três milhões de visitas de Setembro de 2018 a Setembro de 2019 e gastaram mais duzentos e cinquenta milhares de milhões de dólares, mais do que qualquer outro país. As cadeias inteiras de abastecimento, como a automóvel, electrónica e industrial estão a começar a gemer. As companhias de navegação relatam uma queda acentuada no volume de contentores. A China também tem um enorme mercado doméstico para o retalho, alimentos e bebidas e um indicador atingiu uma profunda derrapagem, em parte como resultado do vírus, que foi o preço do grão do café que caiu 20 por cento. A Starbucks tem quatro mil pontos de venda na China e mais de metade foram encerrados pelo surto. Quanto ao mercado de acções e outros indicadores-chave, os mercados de acções asiáticos sofreram turbulência na primeira semana de Fevereiro de 2020, por causa de uma queda no retalho, serviços ao consumidor e negócios de transporte, antes de recuperarem devido à esperança de que o surto do vírus pudesse ser contido. Os mercados ocidentais em grande parte seguiram o mesmo exemplo. Os preços do petróleo também estiveram sob pressão, devido à expectativa de um abrandamento da procura global, assim como outras matérias-primas. A China é o maior importador mundial de petróleo bruto e também um grande consumidor de metais como o cobre e o minério de ferro. As


opinião 15

quinta-feira 20.2.2020

perspectivas

JORGE RODRIGUES SIMÃO

economia global

empresas de viagens, fabricantes de automóveis e lojas de produtos de luxo estavam entre os sectores mais voláteis. Quanto ao provável custo económico quanto comparado com a situação semelhante anterior, revela que em 2002-2003, a “Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS na sigla em língua inglesa) espalhou-se praticamente sem controlo por trinta e sete países, causando o pânico global, infectando mais de oito mil pessoas e matando cerca de oitocentas pessoas. É de recordar que as estimativas atribuíram os danos da SARS entre os trinta e os cinquenta mil milhões de dólares e que apesar de serem grandes números, foram uma gota no oceano em comparação com o PIB global que, mesmo assim, valia cerca de trinta e cinco triliões de dólares. O COVID-19 está a espalhar-se a um ritmo seis vezes mais rápido que o de SARS, principalmente através do contacto humano entre pessoas que ainda não apresentam sintomas. A China é uma economia muito mais aberta do que era em 2002, e por isso é de esperar que a perturbação seja maior do que a causada pela SARS. É de prever que muitas empresas sejam afectadas por uma recessão na China, pois imensas empresas globais dependem de fornecedores sediados na China, como por exemplo, duzentos e noventa dos oitocentos fornecedores da

Apple, e o país é responsável por 9 por cento da produção global de televisões. É de recordar que 50 por cento de toda a fabricação em Wuhan está relacionada com a indústria automóvel e 25 por cento com suprimentos de tecnologia da região. Os líderes da indústria automóvel da Europa e dos Estados Unidos têm apenas peças para umas semanas. A Hyundai cessou as actividades na Coreia do Sul devido à falta de peças provenientes da China. Apenas para indicar a integração de algumas empresas estrangeiras na China, a fabricante americana de vidro industrial e cerâmica Corning Inc., com mais

As previsões mais sombrias, alertam se o vírus continuar a espalhar-se e a actividade chinesa permanecer profundamente perturbada durante meses, uma contracção da economia global é possível, particularmente porque os bancos centrais têm poucas provisões monetárias eficazes para emergências

de cento e sessenta e cinco anos, que combinou a sua incomparável experiência em ciência do vidro, cerâmica e física óptica com profundas capacidades de fabricação e engenharia para desenvolver inovações e produtos que alteram o estilo de vida, construiu dezanove fábricas em todo o país e tem mais de cinco mil trabalhadores chineses. A empresa está a planear aumentar a sua presença depois de ter dispendido um milhar de milhão de dólares em uma instalação para produzir a sua última geração de dez polegadas e meia em vidro preto usado para painéis LCD. A Apple é fornecida a partir de fábricas na China e tem uma rede de quarenta e nove lojas e escritórios que permaneceram encerrados até 9 de Fevereiro de 2020, bem como outros retalhistas americanos, como a Starbucks com quatro mil e duzentas lojas e a Levi’s que encerrou metade das suas lojas e o país represente apenas 3 por cento das suas vendas globais. O Sudeste Asiático é o mais atingido, daí que as economias locais estão fortemente ligadas ao gigante chinês. É de recordar que a pior crise financeira do pós-guerra asiático, em 1997-1998, foi parcialmente atribuída à desvalorização da moeda chinesa. O Japão pode ser uma economia mais rica, mas também será afectada. A China é um grande comprador de máquinas industriais, carros e camiões e dos bens de consumo tecnologicamente avançados do Japão.As peças de fabrico chinês alimentam as fábricas japonesas com componentes e há que considerar os milhões de turistas chineses que visitam o seu vizinho oriental todos os anos. O Japão prepara-se para o cancelamento de viagens de quatrocentos mil turistas chineses no primeiro trimestre de 2020. A economia australiana também está estreitamente interligada com a China, e a situação terá um peso real na economia. As universidades australianas estão a sofrer porque muito menos estudantes chineses retornaram para se matricular no novo ano académico. O Reino Unido, tal como outros países europeus, está em posição de limitar o fluxo de visitantes chineses com um enorme impacto na economia, embora os centros comerciais de “design”, como os da cidade de Bicester sofram uma forte queda se os visitantes chineses permanecerem afastados por algum tempo. O impacto mais amplo será sentido se o comércio global, como esperado, começar a abrandar. O Reino Unido está ligado a todas as grandes economias e por essa razão sempre se constipa quando a economia global espirra e principalmente a chinesa como locomotiva da globalização económica. A indústria manufatureira britânica entrou em recessão em 2019, em resposta à guerra tarifária entre os Estados Unidos e a China, que atingiu o comércio global. Será que poderia descarrilar a economia dos Estados Unidos, o suficiente para afectar as eleições deste outono? Há provas anedóticas de que o impacto do vírus está a espalhar-se pelas pequenas empresas americanas. As empresas americanas podem ter dificuldade no acesso a componentes para os seus produtos manufacturados, enviando um sector da manufactura em recuperação, de

volta à longa recessão que sofreu em 2019. O encerramento de fábricas nos estados de Ohio e Pensilvânia pode causar problemas à campanha de reeleição de Donald Trump, que depende muito da criação de empregos industriais nesses estados, mas Novembro de 2020 ainda está a nove meses de distância, e ainda é difícil dizer se os efeitos do COVID-19 vão durar tanto tempo. Qual seria na realidade o impacto na economia global? As previsões cautelosas é de cerca de 0,3 por cento de diminuição do crescimento global, embora deva permanecer à volta dos 3 por cento. As previsões mais sombrias, alertam se o vírus continuar a espalhar-se e a actividade chinesa permanecer profundamente perturbada durante meses, uma contracção da economia global é possível, particularmente porque os bancos centrais têm poucas provisões monetárias eficazes para emergências. Há o risco de que um mecanismo de “feedback” adverso e um espaço limitado para resposta política, poderia empurrar a economia global para a recessão. Mais que os danos económicos é preciso pensar nos incalculáveis danos sociais que está a criar. O COVID-19 é um nome para a doença, não para o vírus que a causa, que tinha um apelido temporário de “2019-nCoV”, significando que era um novo coronavírus que surgiu em 2019. Mas o patógeno também recebeu uma nova designação, sendo que o vírus é uma variante do coronavírus que causou o surto da SARS e por isso foi designado o novo “coronavírus 2” relacionado à síndrome respiratória aguda grave do patógeno, ou “SARS-CoV-2”. Todavia, esse não é um nome com o qual a OMS se sentisse feliz. Assim, do ponto de vista das comunicações de risco, o uso do nome SARS podia ter consequências indesejadas em termos de criar medo desnecessário para algumas populações, especialmente na Ásia, que foi mais afectada pelo surto de SARS em 2003 e por esse motivo e outros, nas comunicações públicas, a OMS passou a referir-se ao “vírus responsável pelo COVID-19” ou “ao vírus COVID-19”, mas nenhuma dessas designações pretende substituir o nome oficial do vírus. A sequência genética que tinham dos vírus da SARS e do “Síndroma Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) parece revelar que são da mesma família do coronavírus e muito semelhantes. O objectivo será identificar proteínas que facilitam a entrada do vírus na célula. Os estudos até ao momento realizados mostraram que a estrutura terciária do isolado de poliproteína “COVID-19 _HKU-SZ-001_2020” tinha 98,94 por cento de identidade com “SARS-Coronavírus NSP12” ligado a co-factores “NSP7 e NSP8”. A comunidade científica não conseguiu produzir uma vacina e um tratamento eficaz para os dois primeiros coronavírus, mesmo que um novo surto dos mesmos pudesse ter surgido e sem contar com as mutações que possam sofrer. Imobilismo científico ou outros obscuros interesses?Alguns medicamentos são testados contra o coronavírus. Estão a ser usadas para tratamento drogas experimentais inicialmente desenvolvidas contra a SARS e outros coronavírus, e até mesmo um medicamento usado no tratamento do HIV.


Se não existissem más pessoas, não haveria bons advogados.

DIAMOND PRINCESS SOBE PARA 621 O NÚMERO DE PASSAGEIROS INFECTADOS

TAILÂNDIA DETIDO SUSPEITO DE MATAR A TIRO A EX-MULHER

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número de passageiros infectados pelo novo coronavírus (Covid-19) que estão a bordo navio de cruzeiro Diamond Princess, em quarentena em Yokohama, no Japão, subiu para 621, anunciou ontem o Ministério da Saúde japonês. Os testes realizados pelas autoridades de saúde japonesas nos passageiros do navio de cruzeiro revelaram ontem 79 novos casos de infecção pelo novo coronavírus. Este novo balanço foi divulgado no dia em que o primeiro grupo de passageiros deixou o navio, depois de 14 dias de quarentena e com resultado negativo do teste para o novo coronavírus. Pelas 11:00 saíram os primeiros passageiros do navio, que se encontra em quarentena desde 3 de Fevereiro, depois de ter sido detectado pelo menos um caso de infeção com o Covid-19. Ao longo do dia, as autoridades previam a saída de cerca de 500 passageiros, sempre e quando o resultado das análises realizadas seja negativo para o coronavírus. A operação de desembarque vai prolongar-se até sexta-feira. A bordo do Diamond Princess chegaram a estar 3.711 pessoas, 2.666 passageiros, de meia centena de nacionalidades, e 1.045 tripulantes. Os infecctados no Diamond Princess foram levados para centros médicos no Japão, enquanto dezenas que não estavam doentes foram repatriados pelos Governos dos seus países.

Receita antivírus Professor recomenda alimentação correcta, descanso e “boas emoções”

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M professor de medicina tradicional chinesa afirmou ontem que uma alimentação correcta, descanso e “boas emoções” são a aposta para proteger o sistema imunitário do novo coronavírus. O professor do Instituto de Ciências Médicas Chinesas da Universidade de Macau (UM) Yonghua Zhao disse à Lusa que o Governo de Macau não deu orientações quando ao uso de medicamentos tradicionais chineses no tratamento do Covid-19. “De acordo com o meu entendimento, muitos residentes de Macau não consomem remédios de ervas chineses para melhorar a imunidade contra a infecção do novo coronavírus”, acrescentou. Zhao justificou que a medicina tradicional chinesa não está a ser utilizada como modo de prevenção e fortalecimento imunitário contra o Covid-19 porque o “Governo de Macau e o departamento de saúde não divulgaram as directrizes para o uso de fitoterápicos chineses como método preventivo do novo coronavírus”.

Defesa Ex-vice da AL na Comissão de Segurança do Estado

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Lam Heong Sang, ex-vice-presidente da Assembleia Legislativa, foi nomeado para a Comissão de Defesa e Segurança do Estado, pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng. A nomeação foi

quinta-feira 20.2.2020

PALAVRA DO DIA

Charles Dickens

publicada ontem no Boletim Oficial e Lam Heong Sang é nomeado enquanto assessor do Gabinete do Chefe do Executivo. Lam, histórico da Federação das Associações dos Operários de Macau, fez

parte da equipa de candidatura de Ho Iat Seng ao cargo de líder do Governo, depois de ter sido vice-presidente da AL, na altura em que o actual Chefe do Executivo era presidente.

Desta forma, “os melhores métodos para melhorar a imunidade são garantir tempo suficiente para dormir, alimentos saudáveis e nutrientes (por exemplo, vegetais com maior teor de fibras: cenouras, beterrabas e brócolos), além de boa emoção”, disse. “Muitos estudos indicam que o ‘butirato da microbiota’ intestinal que fermenta em alguns vegetais ricos em fibras pode regular a nossa imunidade contra infecções respiratórias”, explicou. O professor do Instituto de Ciências Médicas Chinesas da UM frisou ainda que medicamentos da medicina tradicional chinesa só devem ser utilizados sob orientação de um especialista e que o cidadão comum não se deve automedicar. O melhor para o cidadão é mesmo uma alimentação saudável: “acho que os alimentos saudáveis são superiores aos fitoterápicos chineses para residentes comuns”, enfatizou.

SÓ VITÓRIAS

Na segunda-feira, a agência de notícias estatal chinesa Xinhua citou um funcionário da

Administração da Medicina Tradicional Chinesa para indicar que “a medicina tradicional chinesa tem-se mostrado eficaz na cura de pacientes do novo coronavírus”. A fórmula “Qingfei Paidutang” foi utilizada no tratamento de 701 casos confirmados em dez províncias, dos quais 130 foram curados, destacou o funcionário da Administração de Medicina Tradicional Chinesa, Li Yu. Os sintomas desapareceram em 51 casos e melhoraram em 268, com outros 212 a permaneceram em situação estável, disse Li, acrescentando que o “Qingfei Paidutang” foi recomendada para instituições médicas em todo o país em 6 de Fevereiro. Ontem, a Xinhua destacou que a medicina tradicional chinesa “nunca perdeu uma luta contra epidemias na história” do país. As fórmulas “clássicas mostraram evidência suficiente na cura de doenças epidémicas como a varíola nos milhares de anos passados”, apontou a agência estatal chinesa. LUSA

polícia tailandesa deteve ontem um homem suspeito de matar a ex-mulher, no último caso de violência com armas em centros comerciais no país. O suspeito, um vendedor de um centro comercial em Banguecoque, confessou ter matado a ex-mulher, funcionária de uma clínica de beleza num outro centro comercial na capital tailandesa, o Century Plaza, onde deixou ferida uma outra trabalhadora, afirmou o porta-voz da polícia Krissana Pattanacharoen. Este foi o terceiro tiroteio em seis semanas num centro comercial e ocorreu cerca de uma semana depois de um soldado ter matado 29 pessoas a tiro em Nakhon Ratchasima, no nordeste, antes de ser morto pelas forças de segurança tailandesas numa operação que durou 16 horas. ATailândia regista um elevado número de armas ‘per capita’ em mãos civis e um elevado número de mortos a tiro. De acordo com o grupo de investigação SmallArms Survey, em 2018 existiam mais de 15 armas por 100 pessoas, o nível mais elevado no SudesteAsiático. Em Janeiro, um atirador encapuzado matou três pessoas e feriu quatro num assalto a uma ourivesaria, com uma arma de mão equipado com silenciador. Uma das vítimas mortais foi uma criança de dois anos. Em menos de duas semanas, a polícia deteve um director de uma escola que confessou o assalto.

Instituto do Desporto Pun Weng Kun à frente do organismo até 2022 Pun Weng Kun vai permanecer à frente do Instituto do Desporto durante mais dois anos depois de a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura lhe ter renovado a comissão de serviço. A decisão foi tomada no dia 16 de Janeiro de

2020 e publicada ontem através de um despacho que vem assinado por Ho Ioc San, chefe do Gabinete da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura. Pun Weng Kun era vice-presidente do ID e assumiu a pasta do Desporto em 2016, quan-

do Alex Vong se tornou director dos Serviços de Alfândega. Esta última mudança aconteceu pouco tempo depois da morte trágica de Lai Man Wa, directora dos SA que foi encontrada morta numa casa-de-banho pública.


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