Hoje Macau 20 MAR 2016 #3776

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

SEGUNDA-FEIRA 20 DE MARÇO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3776

Os recados de Pequim PÁGINA 8

TIAGO AFONSO

hojemacau

CHUI SAI ON

MOP$10

Porta fechada OPINIÃO RUI FLORES

PARQUÍMETROS

Quem dá explicações? PÁGINA 8

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h

Pinturas notáveis ZHANG YANYUAN

A barca da morte AMÉLIA VIEIRA

SOFIA MARGARIDA MOTA

RUI AFONSO (1947-2017)

OUYANG JIANGHE

O PESO DAS PALAVRAS AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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EVENTOS

Direito à liberdade PÁGINAS 2 A 5


2 ÓBITO

Faleceu na sexta-feira um homem cuja história pessoal e profissional é fundamental nas últimas décadas de Macau. Rui Afonso é recordado como uma figura incontornável, de grande elegância no trato e com princípios de correcção e ética inabaláveis. Ajudou a modernizar a legislação do território e a preparar a abertura de Macau ao mundo Sérgio de Almeida Correia categoriza Rui Afonso como “um homem de palavra, dos mais sérios e honestos que conheceu” em toda a sua vida

RUI AFONSO MACAU DE LUTO COM A MORTE DE ADVOGADO E ANTIGO DEPUTADO

UM LEGADO DE RESPEITO D

IFICILMENTE se encontra uma pessoa que reúna consensos. É coisa rara, ao alcance de poucos. Porém, Rui Afonso é uma dessas pessoas, granjeando um respeito transversal mesmo entre aqueles com quem discordou politicamente. Faleceu na passada sexta-feira uma figura incontornável aos últimos 30 anos em Macau, em particular durante o período de transição para a Administração chinesa. De uma correcção e finura reconhecida por todos, foi pai da abordagem do modelo político-constitucional e jurídico-administrativo português importado para o ordenamento de leis do território. Em termos pessoais, José Luís Sales Marques destaca Rui Afonso como uma “pessoa que sempre mereceu o maior respeito da sociedade de Macau”. Pouco tempo depois de ter chegado ao território foi nomeado director dos Serviços de Administração e Função Pública, ajudando a reformular a máquina administrativa. Assumiu as funções de deputado entre 1984 e 1997 na Assembleia Legislativa (AL), onde participou no desenho do ordenamento jurídico do território que, em parte, perdura até hoje. Foi, ainda, membro do Conselho Consultivo da Lei Básica e do Conselho Superior de Justiça de Macau. “O contributo do Rui Afonso para a modernização legislativa do território é inestimável, algo que aconteceu dentro e fora da Assembleia”, conta Anabela Ritchie, ex-presidente da AL. Neste papel, destaca o carácter “trabalhador, incansável e rigoroso” do deputado. Fica na memória da ex-parlamentar como uma pessoa

muito atenta, dialogante, estimado e respeitado por todos. O inteiro quadro legislativo que passou pela AL nos anos de transição foi “analisado por nós ao pormenor, a opinião de Rui Afonso era muito escutada”, recorda.

Uma das coisas que Rui Afonso mais abominava era a forma como os dinheiros públicos eram geridos na recta final da administração portuguesa do território Também no plano político foi alguém que ajudou a ex-presidente da AL a alcançar consensos, algo que era uma característica muito vincada na sua personalidade. Conseguia reunir harmonia naturalmente através da sua finura de trato e apurada argúcia. Rui Afonso foi uma das pessoas responsáveis pelo alargamento do sufrágio e imprimiu uma visão moderna a Macau, principalmente no que toca ao desenvolvimento de condições para a abertura do território ao mundo. Leonel Alves retrata a advogado como um “exímio parlamentar”. Neste detalhe, o histórico deputado na AL confessa não perceber porque Rui Afonso nunca seguiu a carreira política em Portugal. “Daria um bom deputado na Assembleia da República, e tinha perfil para fazer um

percurso governativo de relevo”, completa.

FINURA NA CRÍTICA

Mesmo na discórdia política granjeou o respeito dos seus pares. “Quer se concorde, ou não, ele teve uma influência importante em tudo o que nós vemos no próprio sistema político que herdámos destas últimas décadas”, comenta Miguel de Senna Fernandes. O deputado que substituiu Rui Afonso, depois deste ter pedido a demissão das suas funções na AL, acrescenta que o advogado “é uma figura histórica de Macau”. Uma das fases mais marcantes da acção de Rui Afonso em prol da transparência política em Macau deu-se quando entrou em choque com a administração do, à altura, Governador Rocha Vieira, nomeadamente com posições que tomou enquanto deputado na AL. Sérgio de Almeida Correia, amigo e colega de Rui Afonso destaca o amor incondicional que este tinha à liberdade. Algo que o advogado sentiu na pele numa altura em que assinava artigos de opinião muito críticos em relação à Administração de Rocha Vieira. “Cheguei a dizer-lhe que ia deixar de escrever porque achava que

“Daria um bom deputado na Assembleia da República, e tinha perfil para fazer um percurso governativo de relevo.” LEONEL ALVES

estava a criar problemas ao escritório”, conta o amigo de Rui Afonso. A resposta que recebeu foi: “nem pense nisso, porque aquilo que está a fazer é muito importante para os portugueses e para a população de Macau”. Sérgio de Almeida Correia salienta o carácter de um homem que abominava “trafulhices e golpadas”. Neste registo, o advogado categoriza Rui Afonso como “um homem de palavra, dos mais sérios e honestos que conheceu” em toda a sua vida. Enquanto deputado, era alguém muito atento aos reais problemas de Macau, ao que era necessário ser feito. Nesse aspecto, Sérgio de Almeida Correia recorda que Rui Afonso era implacável com promiscuidades entre a produção legislativa e os casos de justiça que corriam nos tribunais. Quando apareciam propostas de alterações pontuais às leis para favorecer um tribuno, ou um interesse que este representasse, a resposta de Rui Afonso era implacável. “O que vemos hoje já acontecia de forma velada, seja quando é aprovada legislação que lhes dá jeito, ou quando não aprovam legislação para não serem prejudicados nos seus negócios”, explica o advogado. Sérgio de Almeida Correia salienta que “antigamente isso não acontecia como acontece hoje, porque havia gente na AL como o Rui Afonso, que não o permitia”. Apesar do lamaçal que a política sempre envolveu, ainda havia defensores da legalidade, com uma conduta “do ponto de vista moral e ético de grande integridade”, explica.

DEFENSOR DA TRANSPARÊNCIA

Anabela Ritchie concorda com esta visão de rectidão, acrescentando


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acordo com a ex-presidente da AL, o seu amigo de 30 anos considerou o acontecimento como “algo que qualquer pessoa faria”. De resto, o advogado fica para a memória de quem privou com ele como uma pessoa de integridade inquestionável e afabilidade. Na esfera privada, era alguém que gostava de mimar os amigos, em especial à mesa, em torno de um bom queijo e uma garrafa de vinho.

Anabela Ritchie concorda com esta visão de rectidão, acrescentando que foi uma pessoa que “não levou os aspectos e interesses pessoais para dentro da AL.”

MANUEL CARDOSO

que foi uma pessoa que “não levou os aspectos e interesses pessoais para dentro da AL”. Esta característica intrépida ficou vincada no seu papel aquando do relatório à Fundação Oriente, em que ficou patente que os fundos que eram recebidos da indústria do jogo, “eram pura e simplesmente canalizados, na íntegra, para Portugal”, conta Sérgio de Almeida Correia. Algo que não agradava, naturalmente,

à população de Macau, em particular aos chineses. Nesse aspecto o advogado destaca o papel de Rui Afonso, que “foi a primeira pessoa a dizer que a única saída decente para aquilo era devolver o dinheiro a Macau”. De acordo com o amigo, uma das coisas que Rui Afonso mais abominava era a forma como os dinheiros públicos eram geridos na recta final da administração portuguesa do território.

Aliás, este grau de integridade valerem-lhe o respeito por todos os sectores da sociedade. “Foi uma peça importante para o estabelecimento de pontes entre as diversas comunidades, aliás, a comunidade chinesa tinha por ele um grande apreço por ele”, explica Leonel Alves.

BOMBEIRO DE SERVIÇO

A sua coragem não se ficou apenas na acção política, em particular

num episódio digno de um filme de super-heróis. Uma vez, em viagem numa auto-estrada portuguesa, Rui Afonso deparou-se com um veículo a arder. “Diz que nem pensou e agiu por impulso”, conta Anabela Ritchie. Saiu do seu carro e socorreu a pessoa que se encontrava no veículo em chamas. “Quando nos contou isso, não o fez como quem relata um acto heróico”. O episódio deixou-lhe queimaduras na mão e no rosto. De

“Era um ‘bon vivant’, gostava de ter a casa cheia, apreciava e sabia receber, era uma pessoa com uma simpatia fora de série”, conta Sérgio de Almeida Correia. Além dos prazeres da conversa à mesa, não dispensava uma caminhada domingueira pelos trilhos de Coloane, e não conseguia viver sem livros, cinema e música. Aliás, neste aspecto o amigo e vizinho recorda um episódio em que depois de uma manhã em que exagerou no volume da aparelhagem, apanha Rui Afonso e a mulher no elevador. Começaram por elogiar o gosto musical do vizinho. Comentando, em seguida, que não era preciso preocupar-se uma vez que também gostavam muito “de Brel e da Carmina Burana”. Sérgio de Almeida Correia conta este episódio com ternura, salientando a personalidade de Rui Afonso que, além da correcção extrema, tinha uma personalidade que punha qualquer pessoa à vontade. Deixa-nos alguém que ganhou o respeito de Macau, que não recusava casos no seu escritório, mesmo quando, por vezes, os clientes não conseguissem pagar os seus honorários, ou em situações de contratos rescindidos, ou processos disciplinares injustos movidos pela antiga Administração portuguesa. Sérgio de Almeida Correia conta que quem recorria ao seu escritório sabia que “ali ninguém tinha medo do Poder, ninguém tinha medo da Administração de Macau, algo que não se via em todos os escritórios”. Parte como chegou e como viveu: em liberdade e sem medo. João Luz

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4 ÓBITO

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O ardina

E ARQUIVO

U estava hospedado no central Metrópole. Já nos conhecíamos, mas naquele dia quente e húmido de Junho de 1993, ele veio buscar-me ao hotel para irmos jantar, no belíssimo Saab 900 turbo, azul escuro, com os estofos de cor creme, que me ficaria na retina e viria a ser o meu carro nos anos seguintes. Tratava-se de acertar os termos da minha contratação, qual mini-estrela do universo da advocacia lisboeta, com experiência anterior da Administração de Macau, referências de boa vizinhança nos anos em que cá residira, quando era apanhado logo pela manhã à porta do elevador com a sua mulher a dizer-me que a música era boa. E eu envergonhadíssimo pelo volume de som que saía das sinfónicas ou das vozes, então de Brel, Ferré e Brassens, que tomava conta do patamar de acesso aos elevadores, ali na Rodrigo Rodrigues. Sempre impecável na simpatia e na afabilidade do trato, acertámos o pouco que havia, verbalmente, como é timbre entre homens de bem, e passados dois meses eu desembarcava de novo em Macau para me atirar de corpo e alma ao escritório que nessa época ficava no edifício da Nam Kwong, na Almeida Ribeiro, onde éramos vizinhos do Grupo de Ligação Conjunto Luso-Chinês. Macau dera o salto da pequena vilória colonial da era pré-Almeidista, com pretensões a cidade, para a metrópole consolidada do final do século XX que crescera fora do espaço que lhe estava destinado, espremida entre a zona de aterros do porto exterior, mais a dos novos aterros e os que haveriam de vir a sê-lo mais alguns anos volvidos. Nesse tempo, a Assembleia Legislativa (AL) era uma máquina de produção legislativa, atenta, rigorosa e eficiente que causava problemas à inércia governativa, aos amanuenses da Praia Grande e gelava os paninhos quentes com que alguns queriam tratar dos assuntos que interessavam a Macau e aos seus cidadãos. Aqui demandavam os melhores e mais pragmáticos homens do direito. Não havia tempo a perder, nem lugar para protagonismos. Era tempo de combate. Era preciso tomar conta das acções em curso, preparar novas petições, analisar contratos, acompanhar as questões do aeroporto e da AL, ler os pareceres, formular uma opinião sobre os caminhos a seguir. E depois começaram as escrituras e impunha-se tomar conta daquilo tudo.

Não me perdi. Com o apoio de uma querida amiga, com o beneplácito do Rui, fui tratando de desempenhar as minhas tarefas com a competência e o brio de quem, acabado de chegar depois de um interregno de três anos, vinha disposto ao trabalho no escritório do parceiro contratante para que ele se pudesse dedicar por inteiro às questões da transição. Anos antes, depois de uma reunião no Palácio do Governo, onde também funcionava a AL, discutíramos as primeiras questões do bilinguismo e as perspectivas do Prof. Heuser (Heidelberg), e quando em Novembro de 1989 me predispusera a regressar à pátria, ele teve a gentileza de nos convidar – à saudosa Lurdes, ao meu amigo Pedro Horta e Costa e a mim, para almoçarmos na Galera, em jeito de despedida. Nesse primeiro interregno da minha vida macaense continuei a contactar com o Rui, com o Frederico e o com o Francisco, prestando alguns serviços avulsos para uma pequena sociedade que tinham em Portugal. Foi pouco no volume e no valor, muito na solidariedade e no apoio a quem queria ingressar, sozinho, no complicado mundo da advocacia lisboeta, respeitando escrupulosamente as regras deontológicas. Creio que nunca lhes agradeci devidamente o que então por mim fizeram. O regresso em 1993 foi, pois, mais fácil. Todas as questões se resolviam com uma aparente facilidade graças às referências que o Rui possuía e ao extenso conhecimento que tinha de leis, regulamentos, fontes e tudo o mais que era necessário num dia-a-dia onde não nos podíamos dar ao luxo de perder demasiado tempo com rodriguinhos. Havia o trabalho na AL, os actos notariais, os tribunais, o acompanhamento da imprensa, os contratos do aeroporto, as tertúlias e os tempos de descanso, que nisso o Rui tratava os trabalhadores como príncipes. Ninguém se queixava e ainda havia a sua eterna boa disposição. O pior era lá fora, na selva, onde o tráfico de influências, as negociatas, o compadrio, o clientelismo, os generais, os coronéis, os seus avençados e as seitas campeavam. Sabendo que o mundo não iria terminar no dia seguinte, e que a 1999 se seguiria 2000, a tudo isso o Rui resistiu. Com a maior das facilidades e sorrindo com desdém aos merceeiros que se deixavam vender por pataca e meia e uma quota num terreno. Depois, quando foi necessário assegurar informação credível e transparente lá surgiu o Futuro de Macau. Cumpriu a sua missão como seriedade. Outra coisa não seria de esperar.

Preocupado como estava com esse mesmo futuro, o Rui não se poupou a esforços. Eram leis e relatórios, múltiplas reuniões, mais o Conselho Superior de Justiça e até, por pouco tempo, a presença no Conselho Superior de Advocacia. Durou pouco a sua presença em tal órgão, de onde se demitiu. Fazer de corpo presente não era com ele. Hoje, alguns do que lamentam o seu trágico e prematuro fim foram os mesmos que ao melhor jeito estalinista eliminaram as suas referências na AAM. Como se ele não tivesse sido um dos primeiros, como se não tivesse, também ali, dado o seu melhor e não tivesse sido fundamental para que a AAM tivesse adquirido o estatuto que teve e, entretanto, tem vindo a perder. O Rui nunca ligou a essa desfeita que lhe fizeram. Eu protestei, sem sucesso, com os vários pastores que por lá passaram, mas estes nunca me deram resposta, e aquele rebanho seguiu pastando para onde o mandavam. Por isso, hoje, os tribunais estão como estão e o português assume cabisbaixo, não fora o esforço de alguns magistrados na sua preservação, o estatuto de língua morta perante a horda de ruminantes que dele tomou conta. Chorai, pois, que lenços não faltarão e sempre sobrarão as mangas das camisas quando aqueles forem levados pela corrente. O agravo não ficará com quem já partiu. Como director dos SAFP deu o pontapé de saída para a reforma da administração, para dotar Macau de quadros capazes, competentes e bilingues. Foi acima de tudo um homem preocupado com os problemas da localização e autonomização jurídicas de Macau. Para o Rui, seria impensável deixar um sistema à mercê do que viesse de Cantão ou Fuquien, ou sujeito aos humores de um qualquer serventuário do poder ou do partido. Macau e as suas gentes, de qualquer origem ou etnia, e a dignidade de Portugal e dos portugueses que aqui vivem e trabalham deviam ser os únicos referentes, a marca indelével dos séculos e dos que aqui nos precederam entrando e saindo de cabeça erguida. A revisão de 1990 do Estatuto Orgânico, a lei de imprensa, toda a legislação penal avulsa, dos animais às associações criminosas, a defesa intransigente dos direitos e garantias dos cidadãos de Macau, que se dúvidas houvesse ficou plasmada no relatório do financiamento da Fundação Oriente e, pouco depois, em 2000, quando nos estúdios da TDM sugeriu a devolução do dinheiro da Fundação Jorge Álvares à RAEM como úni-


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viajou ca saída decente para o esbulho feito às gentes de Macau. Da pouca vergonha do Instituto Internacional de Macau e do caminho seguido pela Escola Portuguesa é escusado falar agora. Também a Fundação D. Belchior Carneiro lhe deve hoje o belíssimo lar-residência de Oeiras, depois dele, do João Frazão e de eu próprio desbloquearmos o imbróglio do terreno que havia sido impingido aos irmãos da Santa Casa pelo belga, em leito de cheia e com o “aval”, como sempre, da Administração de Macau.

Até ao fim, sans Dieu ni maître, como cantou o Ferré, cá estaremos, Rui. Honrando a memória e o legado. (...) Como homens livres que sempre fomos. Até ao fim. Resistindo sem quebrar. Como o bambu. Como tu fizeste, como só tu soubeste ser. O melhor dos ardinas. Até ao fim, sorrindo, sorrindo sempre É bom recordar tudo isto agora que o último figurante da administração portuguesa, o reservista ao serviço da EDP, aqui desembarcou, iniciando nova romaria para rever a sua pandilha local a pretexto da Escola Portuguesa. Já se adivinha, de novo, o cheiro a barbecue. Enfim, que hei-de eu dizer nesta hora triste em que vejo partir um amigo que me acompanhou ao logo de trinta anos, que me ajudou na vida e na carreira, que contribuiu com as suas ideias e achegas para o meu sucesso académico e que me abriu sempre as portas de sua casa como se fosse a minha. O legado de um homem cujo sentido da honra e da dignidade estão acima dos circunstancialismos de conjuntura é sempre de difícil avaliação. Mas foram esses mesmos valores que o impediram de dobrar a cerviz a troco de medalhas, de tostões ou de milhões, como fez quando recusou ser advogado em regime de avença dos interesses do jogo. O Rui não estava para aturar tipos que acham

que os milhões que ganham lhes dão o direito de pedir favores e de telefonar às 3 ou 4 da manhã de um spa em Las Vegas para insultarem o advogado que não lhes reconheceu as assinaturas nuns contratos manhosos num inglês mal redigido e destinados a uma terra onde se fala em português e chinês. Negociatas de bordel, golpadas e moscambilhas nunca foi com ele. A gente anda na rua e fala com as pessoas. Quando se demitiu da AL, em ruptura com o soba colonial, estava preocupado com as questões da segurança, embora soubesse que Portugal se afundava em negociatas de sanitas, aquisições de quadros com dinheiros públicos por troca com facturas de livros e restauros de peças antigas que nunca regressaram, mas fê-lo com a lealdade de sempre. O Rui dispensava o comprometimento do seu nome e a reputação do escritório nos cambalachos de fim de ciclo do império. Por a CNN ou a imprensa estrangeira que vinha a Macau queriam conversar com ele. Da falta de alinhamento com as negociatas nos ressentimos todos lá no escritório, quando o trabalho escasseou à laia de represália. E também aí, nessa altura, não lhe foi ouvido um ai. Um senhor. Como também não foi ouvido quando numa auto-estrada, depois de um acidente, foi em auxílio dos outros, suportando a explosão de um outro carro em chamas para ver as mãos e a cara queimarem-se-lhe, sofrendo depois enxertos vários em Coimbra, para poder salvar uma mulher inconsciente que estava dentro de um veículo acidentado. Antes dos bombeiros chegarem. Ou agora, como ainda há dias o vi, lutando estoicamente, lutando como só um herói sabe fazer, mantendo sempre a compostura, a dignidade e o sorriso apesar de ver ali o seu próprio corpo ser corroído pela dor e a ingrata antecipação do fim a chegar. O Rui nunca foi de fazer fretes porque era um homem sério e honesto como poucos. Porque teve a consciência em todo o seu percurso da necessidade de se preservarem princípios e valores, porque sabia que estes, ao longo da vida, não necessitam de segurança pessoal, e dispensam a pertença a igrejas, a seitas, a partidos ou a associação discretas. Em rigor, o Rui comportava-se sempre como o verdadeiro anarquista que nunca foi mas que no íntimo lhe espreitava. Devo-lhe a amizade, a camaradagem, a confiança sem limite no meu trabalho, o estímulo e a palavra amiga na hora cer-

ta. E também o trabalho diário de ardina digital junto dos seus amigos, trabalho a que nem a doença retirava o humor após meses de sofrimento. Na primeira aberta, mesmo depois de doente e entre tratamentos, lá chegava o e-mail com o anexo e uma única frase: “o ardina está de volta”. Até ao fim, o Rui teve sentido de humor. O Rui foi um dos poucos duros que conheci em toda a vida, que sorria e inspirava qualquer que fosse o combate e o estado das tropas. Até a um céptico como eu. Três décadas de convívio depois, vendo-o partir assim, desta forma apressada, inacabada, sem jeito, com tantos livros para lermos e discutirmos (o último que aqui tenho é “O que resta da esquerda?”, do Nick Cohen), tantos filmes para comentarmos (irei ver o “Silêncio” logo que possa) sem tempo para ele poder assistir à discussão do trabalho que me consumiu, envelheceu e roubou horas ao nosso convívio dos últimos anos, torna-se mais imperioso do que nunca assegurar-lhe que iremos todos continuar a discutir os milhões que vão para a Universidade de Jinan, os que à custa do desinvestimento na saúde pública de Macau contribuem para dinamizar a incompetência grosseira, encher os bolsos de clínicas e hospitais privados de onde um dia começarão a nascer os cogumelos dos novos casinos. Esses e todos os outros. Enquanto os grilos locais tecem loas em seu nome e agitam a casaca negra entre missas, nós continuaremos a resistir. E a olhar por esse imenso legado. Na língua em que nos deixarem. Sem receio de perdermos alguns amendoins. Porque no fim, o que verdadeiramente importa, como sempre nos importou, são os nossos. Os nossos valores, os nossos princípios, a nossa gente, que são aqueles com quem nos cruzamos no dia-a-dia, os que nos vêm bater à porta com um pedido de ajuda, os injustiçados desta vida, os que todas as manhã nos dizem bom dia olhando-nos nos olhos. Até ao fim, sans Dieu ni maître, como cantou o Ferré, cá estaremos, Rui. Honrando a memória e o legado. Com os que estiverem connosco às sextas-feiras. E nos outros dias. À alvorada, se necessário. Continuando a percorrer os trilhos e as veredas incertas da vida com o mesmo à-vontade. Como homens livres que sempre fomos. Até ao fim. Resistindo sem quebrar. Como o bambu. Como tu fizeste, como só tu soubeste ser. O melhor dos ardinas. Até ao fim, sorrindo, sorrindo sempre. Sérgio de Almeida Correia Macau, 19 de Março de 2017

ÓBITO


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GCS

POLÍTICA

N

UMA altura em que o antigo procurador da RAEM, Ho Chio Meng, responde em tribunal pela acusação da prática de mais de 1500 crimes, Chui Sai On, Chefe do Executivo, chega de Pequim com mensagens claras para todos os que trabalham na Função Pública, sobretudo para quem tem responsabilidades de chefia. Segundo um comunicado oficial, o Chefe do Executivo fez na passada sexta-feira um balanço das reuniões da Assembleia Popular Nacional (APN) e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC). Citado pelo documento, Chui Sai On terá alertado para a necessidade de “acelerar a reforma legislativa e da administração pública”, bem como “melhorar a governação pública”. Foi ainda referido que “os dirigentes de todos os serviços da administração pública devem ser os primeiros a aprender e aprofundar o espírito das duas reuniões”. Chui Sai On considerou ainda que “os dirigentes de todos os serviços da administração pública devem concretizar, sem falhar no alvo, os objectivos do Governo Central e cumprir escrupulosamente a Constituição e a Lei Básica de Macau no exercício das suas funções”. Os funcionários devem ainda “defender, com firmeza e soberania, a segurança e os interesses

Pequim CHUI SAI ON TRAZ RECADOS PARA DIRIGENTES DO GOVERNO

Mensagens capitais

De dedo bem esticado: terminadas as reuniões da Assembleia Popular Nacional e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, o Chefe do Executivo trouxe um recado sério dirigido às chefias locais: “descentralização do poder” e “combate à corrupção” de desenvolvimento do país e aproveitar, de maneira eficiente, o regime de ‘Um País, Dois Sistemas’, as vantagens e características singulares de Macau”. Para Macau, considera o Chefe do Executivo, é fundamental “seguir escrupulosamente a Constituição e a Lei Básica, acelerar a reforma da administração pública, a descentralização do poder, o combate à corrupção e promover a integridade”.

ZONA A E TRÂNSITO

Chui Sai On falou ainda de quatro áreas importantes, às quais a sociedade local deve prestar atenção. Como líder de Governo, Chui Sai On disse ser necessário “dar prioridade às questões relacionadas com o bem-estar da população e a diversificação adequada da economia”, sem es-

quecer a implementação do Plano de Desenvolvimento Quinquenal de Macau. Devem concretizar-se, assim, “as medidas benéficas e a resolução dos problemas que afligem a população”. Além disso, deve “continuar a dar-se prioridade aos trabalhos que interessam à população, nomeadamente habitação e trânsito, entre outros”.

Sobre o projecto dos novos aterros, Chui Sai On entendeu ser fundamental “acelerar as obras de aterro da zona A, contribuindo para a criação de um lar e conforto para os residentes”, sem esquecer as restantes obras de infra-estruturas transfronteiriças, designadamente a ponte Hong Kong, Zhuhai Macau e os novos acessos entre Guangdong e Macau”.

PASSAGEM DE SABER PREOCUPA NG FOK

O

Chefe do Executivo reuniu “recentemente” com Ng Fok, conhecido empresário local, presidente da Associação de Amizade e Coordenação dos ex-Deputados da APN e ex-Membros da CCPPC. Segundo um comunicado, foram trocadas “ideias sobre o desenvolvimento da sociedade, da economia e assuntos dos jovens de Macau”. Os dirigentes associativos apresentaram o programa de actividades deste ano, tendo referido que é “importante a associação envolver os jovens”, de forma a “garantir a passagem de saber de geração em geração”.

O Chefe do Executivo falou ainda da necessidade de promover o lado empreendedor dos mais jovens, sempre com o foco na garantia da ideia de “amor à Pátria”.

O ANO DAS ELEIÇÕES

Edmund Ho, primeiro Chefe do Executivo da era RAEM e vice-presidente da CCPPC, também esteve presente na reunião, tendo feito referência “à nova concepção de governação, quer ao nível de ideologia, quer ao nível de mentalidades e estratégias”, contida no discurso do presidente chinês, Xi Jinping. Lembrando que 2017 é o ano de eleições legislativas, Edmund Ho referiu que “será importante criar e garantir um bom ambiente político e consequentemente impulsionar o desenvolvimento de todos os vectores da sociedade de Macau”. Wang Zhimin, director do Gabinete de Ligação do Governo Central na Região Administrativa Especial de Macau, revelou ainda “três desejos” para o território: que a sociedade local tenha “confiança no desenvolvimento do País e de Macau”, que possam “aproveitar as vantagens do segundo sistema”, em prol do “desenvolvimento sustentável da economia diversificada”. Para além disso, “todos os sectores da sociedade devem continuar a promover o amor à Pátria”. Andreia Sofia Silva

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POLÍTICA

Quero a minha percentagem

Eleições LINHA E PÁGINA DE DENÚNCIAS JÁ ESTÃO EM FUNCIONAMENTO

A

Os residentes do território já podem fazer denúncias de irregularidades relativas ao processo para as eleições legislativas deste ano. Entrou no passado sábado em funcionamento o mecanismo de comunicação partilhado que pretende garantir umas eleições justas

Actualização salarial por categorias avança este ano secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, garantiu que a proposta de actualização das remunerações por categorias na Função Pública possa ficar concluída ainda este ano. Segundo o Jornal do Cidadão, a secretária disse que a reforma das carreiras é o ponto principal desta proposta, sendo que o Governo irá levar a cabo, em primeiro lugar, o ajustamento do regime de carreiras. Só depois, passo a passo, é que o Governo irá incluir a possibilidade de existirem várias percentagens de aumento salarial, consoante as categorias desempenhadas na Administração. Sónia Chan adiantou ainda que o Governo irá analisar os exemplos das regiões vizinhas, bem como

o fluxo salarial do mercado. Recentemente o deputado Si Ka Lon inquiriu o Executivo sobre este assunto, sendo que Kou Peng Kuan, director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), garantiu que uma proposta inicial para implementar os aumentos por categorias deve ser apresentada no segundo semestre deste ano. Os SAFP prometem ainda realizar uma consulta junto dos funcionários públicos sobre o assunto, por forma a implementar o regime “passo a passo”. Já em 2015, numa resposta a outro deputado, Kou Peng Kuan alertou para as dificuldades de implementação da medida, dada a “alta complexidade” que seria uma total alteração da estrutura salarial da Administração Pública.

TURISMO PLANO DE DESENVOLVIMENTO CONCLUÍDO ESTE ANO

H

ELENA de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, disse ontem que o projecto final do Plano Geral do Desenvolvimento da Indústria do Turismo de Macau “será apresentado este ano”, sendo que, com base nesse documento, a direcção de serviços, “conforme os objectivos traçados, irá impulsionar as estratégias e medidas relacionadas”. Segundo um comunicado oficial, esta informação foi avançada no âmbito de um seminário de intercâmbio entre o Interior da China, Hong Kong e Macau, sobre Turismo Integrado e Polícia Turística. A responsável máxima pelos Serviços de Turismo disse ainda que “ao nível do desenvolvimento futuro do turismo integrado, Macau está empenhada no planeamento e políticas para impulsionar o desenvolvimento da indústria, e em como alargar os benefícios da indústria turística à sociedade em geral”. O plano a ser tornado público este ano “estipula quatro

grandes objectivos com vista à transformação da cidade num Centro Mundial de Turismo e Lazer, cada um dos quais com estratégias e medidas específicas, na mesma linha de desenvolvimento e numa extensão do conceito do turismo integrado”. O encontro, que decorreu ontem, contou com representantes da secretaria para os Assuntos Sociais e Cultura de Macau, bem como da Administração Nacional do Turismo da China (China National Tourism Administration – CNTA). Ip Peng Kin, chefe de gabinete do secretário Alexis Tam, disse que o Governo está empenhado “na realização faseada de diferentes trabalhos com vista a um desenvolvimento a longo prazo”. Relativamente à implementação da polícia turística no território, Ip Peng Kin disse que tal medida “permitirá prevenir e controlar a segurança pública nos pontos de atracção turística, manter a ordem nos locais públicos e realizar o controlo de multidões”.

Ora então diga-nos lá

E

NTROU em funcionamento no sábado passado a linha telefónica para a denúncia de irregularidades sobre o processo das eleições legislativas. Também já há um portal com o mesmo objectivo. A informação foi dada à comunicação social após um encontro entre a Comissão dos Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) e o Comissariado contra a Corrupção (CCAC). “Os meios de denúncia, como a linha aberta e a página electrónica, estão em funcionamento de 18 de Março a 17 de Setembro, e já temos a equipa de trabalho preparada para atender as queixas da população”, afirmou o presidente da CAEAL, Tong Hio Fong. Com a criação do mecanismo de comunicação entre os dois organismos pretende-se “um ambiente justo e imparcial durante o período das eleições”. André Cheong, comissário da CCAC, explicou que, a pensar nos dispositivos móveis, os interessados podem recorrer ao código QR que dá acesso à aplicação para denúncias. “A existência de uma página na Internet e de uma aplicação móvel serve para facilitar a vida dos mais jovens”, explicou.

DENUNCIAR SEM MEDO

O comissário frisou ainda a confidencialidade dos dados pessoais dos residentes que queiram proceder a queixas. “Temos uma série de regras para o tratamento das denúncias que funcionam de forma semelhante ao tratamento dos casos de corrupção”, disse, sublinhando que “todas as informações são encriptadas, incluindo os dados pessoais do queixoso, pelo que não é preciso ter medo”. Depois de recebidas as denúncias, o CCAC avalia se é um caso em que urge a acção imediata por parte do organismo. “Há casos que não necessitam de uma acção imediata, mas há outros que sim, porque se não forem tratados logo, as provas podem ser perdidas”, explicou. André Cheong deixou um exemplo: “Se alguém andar a distribuir dinheiro na rua, temos de agir o mais rápido possível”. A criação de um mecanismo de comunicação entre a CAEAL e o CCAC foi uma decisão tomada no

encontro entre os organismos a 1 de Março. “A comissão e o CCAC chegaram a consenso numa questão: depois de termos trocado várias opiniões, vamos disponibilizar uma linha uniformizada para facilitar à população a denúncia de qualquer irregularidade”, disse Tong Hio Fong. Para o responsável, estavam reunidas as condições para implementar

Os meios de denúncia, como a linha aberta e a página electrónica, estão em funcionamento até 17 de Setembro

o serviço que irá “evitar a repetição do uso nos recursos despendidos”. A linha telefónica insere-se num conjunto de mecanismos de comunicação entre as duas entidades. “Chegámos a consenso para que, aquando do começo dos procedimentos eleitorais, tenha início o funcionamento de uma rede de comunicação para assinalar qualquer irregularidade que possa acontecer nas eleições. Vamos trocar informações e, sempre que for detectada alguma infracção, estaremos em comunicação estreita com base nesse mecanismo”, disse Tong Hio Fong. A linha telefónica está em funcionamento 24 horas por dia através do número 28997733 e o site pode ser acedido no endereço, www.complaint2017.gov.mo. Sofia Margarida Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


8 SOCIEDADE

hoje macau segunda-feira 20.3.2017

Parquímetros AUMENTOS “GERAM DESCONFIANÇA NA SOCIEDADE”

Um estacionamento no inferno Au Kam San considera que o aumento dos custos relacionados com veículos pode reduzir a sua utilização, mas o Governo deve garantir, em primeiro lugar, a implementação de mais transportes públicos. O deputado disse que o serviço de autocarros melhorou, mas não há espaço suficiente para a sua circulação dos autocarros, o que diminui a sua eficiência do funcionamento. Para isso, Au Kam San pede que o Governo construa mais vias exclusivas para transportes públicos, por forma a oferecer mais espaço aos autocarros e para que se possa diminuir o uso de veículos privados. Hoi Long Tong, membro do Conselho Consultivo do Trânsito, concorda com a intenção do controlo de veículos do Governo, mas disse que este não pode alcançar o objectivo usando só meios económicos.

HOJE MACAU

Analistas referem que as pessoas continuam a não perceber o aumento súbito dos parquímetros, desconfiando da existência de “conluio” com empresários. Lam U Tou sugere aumentos graduais, a cada dois anos

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ÃO pára de gerar polémica o anúncio do Governo face ao aumento dos valores cobrados nos parquímetros. Opiniões recolhidas pelo Jornal do Cidadão revelam que não só a sociedade questiona as razões para essa política como suspeitam da existência de interesses de empresários ligados à área dos parques de estacionamento. Lam U Tou, presidente da Associação Sinergia de Macau, sugere que possa ser implementado um aumento gradual dos valores dos parquímetros, a cada dois anos. Isto a ver se sossegam os ânimos e as pessoas. O responsável considera que o aumento dos valores cobrados não é exagerado, uma vez que tem como base os preços praticados. No entanto, Lam U Tou defende que o Governo adoptou uma medida forte demais para controlar o número de veículos, não tendo considerado as opiniões dos cidadãos. O dirigente associativo considera, no entanto, que os aumentos podem melhorar o fluxo da utilização dos lugares de

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já amanhã que a Assembleia Legislativa (AL) reúne para votar a realização de um debate sobre o aumento das taxas de veículos, medida que entrou em vigor no passado dia 1 de Janeiro. O pedido de debate foi feito pelo deputado Leong Veng Chai, número dois de José Pereira Coutinho no hemiciclo.

LEIS EFICAZES OU À MEDIDA?

Au Kam San

estacionamento com parquímetro, bem como levar a uma redução das ilegalidades. O presidente da Associação Sinergia Macau lamenta que o Governo não divulgue melhor as informações sobre este tipo de medidas e que continue a discutir os aumentos apenas no seio do Conselho Consultivo do Trânsito. Lam U Tou defende que há muitos dados e informações que devem ser melhor divulgados junto do público.

QUE INTERESSES?

Por outro lado, Au Kam San, deputado à Assembleia Legislativa (AL), alerta para a tensão sentida

pela sociedade, a qual foi causada pelo Governo, pedindo para adiar o aumento dos valores de parquímetros. Au Kam San lembrou que recentemente o Governo avançou com várias medidas sobre o aumento das taxas e dos valores para veículos. No entanto, na visão do

deputado, os benefícios causados pelas medidas vão todos para as mãos dos empresários, sendo que tal merece uma discussão pública, pois, na sua visão, existe a possibilidade de conluio entre as entidades públicas e as concessionárias que gerem os parquímetros e parques de estacionamento.

Para Au Kam San, os benefícios causados pelas medidas vão todos para as mãos dos empresários e existe a possibilidade de conluio entre as entidades públicas e as concessionárias

Taxas de veículos

Pedido de debate de Leong Veng Chai é votado amanhã

Na proposta de debate entregue no hemiciclo, Leong Veng Chai questiona se “este aumento é razoável”, esperando que “todos os deputados possa apresentar as suas opiniões, de modo a ir ao encontro da opinião pública e evitar

suspeitas sobre a existência de transferência de interesses entre o Governo e as entidades privadas”. Para o deputado, a realização do debate com membros do Governo permitirá ao Chefe do Executivo, Chui Sai

On, “reunir amplamente os conhecimentos, a fim de tomar uma decisão resoluta”. “Os salários dos residentes não só não conseguem acompanhar a subida da inflação, como também vão ter de suportar a subida em flecha, cerca de

Sobre a inspecção de veículos, Hoi Long Tong explica que, para as Pequenas e Médias Empresas (PME) que tenham a necessidade de utilizar automóveis com regularidade, têm de suportar os aumentos das taxas. Relativamente aos cidadãos que tenham pouca vontade de andar de pé, mesmo com o aumento das taxas, não vão desistir de utilizar os seus veículos. Portanto, para Hoi Long Tong, as referidas medidas não só contrariam o objectivo de controlo de veículos, mas também trazem maior pressão económica aos cidadãos, sendo que muitos falam de um alegado conluio entre o Governo e os empresários. Para tal, Hoi Long Tong solicita que o Governo reveja a eficiência dos novos valores e medidas para a inspecção regular dos veículos e, sobretudo, divulgue mais dados junto do público. HM

13 vezes, do valor das taxas, aumentando assim cada vez mais o custo de vida das famílias”, argumenta ainda o deputado na nota justificativa. Leong Veng Chai considera ainda que a “a actual rede de trânsito é desequilibrada, os lugares de estacionamento são insuficientes e as taxas tiveram um aumento exagerado”, o deputado eleito por sufrágio

universal sustenta ainda que o Governo não melhorou a qualidade de vida da população, mas antes “aumentou as dificuldades dos cidadãos”. O debate de amanhã vai servir ainda para discutir a Conta de Gerência da AL relativa ao ano passado, bem como discutir e votar o 1.º Orçamento Suplementar da AL relativo ao ano económico de 2017.


9 hoje macau segunda-feira 20.3.2017

SOCIEDADE HOJE MACAU

Irregularidades GOVERNO RECUPERA HABITAÇÕES ECONÓMICAS

Passa para cá a chave Candidataram-se a uma habitação colocada à venda pelo Governo, a custos mais baixos, mas não vivem lá. Há ainda quem tenha alterado a finalidade da fracção ou feito do apartamento uma pensão ilegal. O Instituto de Habitação entrou em acção e há três compradores que já devolveram as casas

O

Instituto de Habitação (IH) detectou, no ano passado, 49 casos suspeitos de irregularidades na utilização de habitações económicas. O organismo fiscalizou 3267 fracções em 2016, tendo dado início aos procedimentos de resolução do contrato-promessa de compra e venda em relação a 40 casos. São situações em que se suspeita que os compradores não residem efectiva e permanentemente nos apartamentos cedidos pelo Governo, explica o IH, recordando que

se trata de uma das condições necessárias para a aquisição de uma habitação económica. Do total de casos suspeitos, sete promitentes-compradores já procederam à

3267

fracções foram fiscalizadas pelo Instituto de Habitação em 2016

devolução das fracções. Deste grupo, em três casos encontram-se concluídos os procedimentos de reembolso do preço e devolução das fracções, estando a ser acompanhado o procedimento administrativo relativo à devolução das fracções dos restantes casos. Em comunicado, o IH explica que foram abertos os procedimentos sancionatórios relativos a cinco casos suspeitos de cedência da habitação, a título gratuito, a outrem. Foram remetidos para acompanhamento pelas Obras Públicas dois casos suspeitos de alteração de finalidade da fracção para fins comerciais, e foram enviados para os Serviços de Turismo outros dois casos suspeitos de utilização das fracções para prestação ilegal de alojamento. O modo como alguns apartamentos integrados no conceito de habitação económica têm estado a ser utilizados é motivo de preocupação para alguns deputados à Assembleia Legislativa. Agora, o Instituto de Habitação vem garantir que vai continuar a fiscalizar, de forma contínua, as habitações económicas. “Caso se verifiquem situações de não cumprimento da lei da habitação económica, o IH irá proceder ao respectivo acompanhamento”, promete. Em situações em que termina o contrato, explica ainda o organismo, o promitente-comprador tem direito ao reembolso do preço pago pela compra da fracção, mas não na totalidade. É deduzido o montante em dívida a ser reembolsado à entidade credora, no caso de ser devedor de um empréstimo bancário para a compra da respectiva fracção, e o montante correspondente a um por cento do preço de venda da fracção, para compensação das despesas administrativas suportadas pelo IH. O comprador fica ainda sem o valor previsível das despesas com a execução das obras que sejam necessárias realizar para a reposição das condições de habitabilidade da fracção, tendo ainda de deixar dinheiro para despesas por pagar, como o condomínio, a água e a electricidade. HM

Escolas púdicas Criticada abordagem da educação sexual

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deputada Wong Kit Cheng interpelou o Governo sobre a adesão das escolas ao “Plano de apoio à educação sexual nas escolas”, alertando sobre a necessidade de mais instituições de ensino terem o dever de aderir a esta medida promovida pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). “Desde a implementação do referido plano, as escolas participantes representam apenas 70 por cento de todos os estabelecimentos de ensino de Macau”, lembra Wong Kit Cheng. Nesse sentido, a deputada, eleita pela União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM, ou Kaifong), deseja saber “como é que as autoridades vão garantir a participação de todas as escolas no referido plano, de modo a maximizar os seus efeitos?”, questionou. A deputada quer ainda saber como é que o Executivo “vai avaliar os resultados obtidos nos trabalhos ao nível da educação sexual”. Quanto à aplicação prática do referido plano, Wong Kit Cheng frisou que “as autoridades realizaram um inquérito para recolher opi-

niões dos respectivos docentes, verificando-se que o referido plano obtém o reconhecimento da maioria dos inquiridos”. Para além disso, “uma pequena parte deles continua a preocupar-se com a falta de técnicas de ensino de educação sexual, o que significa que o plano em causa pode melhorar as técnicas do ensino dos professores”, escreveu a deputada. Wong Kit Cheng fala ainda da existência de uma atitude conservadora na implementação deste plano. “De acordo com um estudo levado a cabo em 2013, os pais e as escolas de Macau têm uma atitude relativamente conservadora junto dos jovens quanto à educação sexual, sendo mais conservadora a atitude dos pais, e alguns jovens não falam com os professores ou os pais sobre questões sexuais.” “O que é que as autoridades já realizaram nos últimos anos para encorajar os pais a participarem nos trabalhos de educação sexual? Futuramente como vão aumentar o seu entusiasmo?”, questionou ainda Wong Kit Cheng. A.S.S.


10 SOCIEDADE

hoje macau segunda-feira 20.3.2017

CONDUÇÃO NOVOS SEMÁFOROS NO ACESSO À PONTE DA AMIZADE

Entram amanhã em funcionamento os semáforos instalados na zona de intersecção do viaduto de acesso à Ponte da Amizade junto do Terminal Marítimo do Porto Exterior. Além disso, vai ser ajustado para 60 km/h o limite de velocidade no troço entre a Rotunda da Amizade e a zona de intersecção do viaduto de acesso, em direcção à Taipa. Com estas alterações, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) espera que a circulação dos veículos consiga ser controlada de uma forma ordenada, reduzindo o congestionamento de trânsito. A DSAT explica que o fluxo de tráfego que se faz sentir, nas horas de ponta, na Ponte de Amizade, resulta, principalmente, do avultado número de veículos que vão da Zona Norte para a Taipa.

MOTOCICLOS MAIS DE 1700 JÁ SAÍRAM DA ESTRADA

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) apela aos interessados no plano de apoio financeiro ao abate de motociclos e ciclomotores com motor a dois tempos para que apresentem as suas candidaturas com a maior brevidade possível. No pedido, feito através de comunicado de imprensa, destaca-se ainda que, até à data, foram apresentadas cerca de 3100 candidaturas, e concluídos três mil processos de apreciação e aprovação. No total, já foram transportados cerca de 1700 veículos para o Centro de Inspecções de Motociclos em Macau, para efeitos de cancelamento e abate. O apelo à brevidade na entrega das candidaturas visa uma rápida conclusão de todo o processo. O plano em causa foi uma iniciativa lançada pelo Executivo, estando abertas as candidaturas até ao próximo dia 30 de Junho. PUB

O mistério das chamas Polícia Judiciária investiga causas de incêndio no Grand Lisboa Palace

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Polícia Judiciária (PJ) de Macau está a investigar as causas de um incêndio que deflagrou na noite de sexta-feira nos estaleiros de um hotel-casino em Macau obrigando à retirada de mais de 500 trabalhadores. O alerta de incêndio foi dado às 19:05 de sábado, disse fonte dos Bombeiros à agência Lusa, indicando que o fogo,

que deflagrou no Grand Lisboa Palace que se encontra em construção no Cotai, foi dado como extinto aproximadamente duas horas depois. Para o local foram enviados 52 bombeiros, apoiados por 17 viaturas, com o combate às chamas, que ocuparam uma área de 300 metros quadrados, a ser dificultado pelo facto de o incêndio ter deflagrado no 14.º

andar, onde não havia electricidade ou fontes de abastecimento de água, segundo explicou o responsável. Apesar de terem sido retirados 522 trabalhadores da obra, não foram registados feridos, indicou a fonte dos Bombeiros, afirmando que não encontraram uma causa aparente do incêndio, admitindo poder tratar-se de fogo posto, pelo que chama-

ram a PJ. À Lusa, fonte da PJ confirmou que aquela polícia está a investigar o caso. No local do incêndio estavam armazenados tintas e materiais de construção. Segundo informação recente à bolsa de Hong Kong, a construção do Grand Lisboa Palace, o empreendimento da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), começou em Fevereiro de 2014, devendo estar concluída no final deste ano e abrir no primeiro semestre de 2018.


11 hoje macau segunda-feira 20.3.2017

GEI FEI PODERÁ ESTAR PRESENTE EM 2018

Numa palavra: fantástico Cheng Yongxin, director da revista literária Harvest, editor e escritor, disse ao HM ter ficado surpreendido com a diversidade cultural que este festival conseguiu trazer. “Fiquei muito surpreendido quando recebi o convite e quando vi este festival, achava que Macau era um lugar só com casinos, mas este festival teve uma grande escala, com tantos escritores. A literatura tem uma grande influência em pessoas tão diferentes e de todo o mundo, então penso que este evento é muito importante.” Quanto aos autores de Macau, Hélder Beja referiu que é objectivo da direcção do festival continuar a convidar cerca de seis nomes por edição. “Há que ser muito estruturado em algumas coisas. Há três anos decidimos ter seis autores de Macau em cada edição, não achamos ser possível haver mais autores de Macau do que esse número, muitas vezes porque não há. Temos de fazer um trabalho de ir à procura de autores que não têm nada publicado numa outra língua que não seja o chinês. Queremos continuar a trazer autores de língua portuguesa de Macau, de língua chinesa e também autores internacionais que façam de Macau a sua casa.”

HOJE MACAU

Terminada mais uma edição do festival literário Rota das Letras, Hélder Beja, subdirector do evento, fala da diversidade de autores que passaram por Macau e levanta a ponta do véu para a próxima edição: Gei Fei, autor chinês contemporâneo, que começou a publicar na década de 80

ROTA DAS LETRAS

C

HEGOU ontem ao fim a edição deste ano do festival literário Rota das Letras, que durante duas semanas trouxe ao edifício do antigo tribunal uma panóplia de autores de vinte nacionalidades diferentes, sem esquecer os concertos e os espectáculos. Para Hélder Beja, subdirector do festival, essa diversidade cultural foi um dos pontos altos. “O ano passado tivemos várias nacionalidades mas este ano tivemos mais: cerca de vinte, uma coisa nova para Macau e para este festival. A maior parte das sessões tiveram bastante público. Esse para mim é o grande resumo: a diversidade resultou e o festival tem de continuar a ser essa ponte entre a China e os países de língua portuguesa, mas deve ser mais do que isso e, a partir de agora, vai ser ainda mais isso”, contou ao HM. A pensar nisso, Hélder Beja falou de um importante nome da literatura contemporânea chinesa que já foi convidado e que poderá mesmo marcar presença em 2018: Gei Fei. “Ainda não veio, há-de vir, está convidado. Queremos trazê-lo para o ano, mas tudo depende muito das agendas dos autores”, apontou Hélder Beja. “Os pontos altos desta edição foram os que esperávamos: a passagem por Macau de

“UM LIVRO EXCELENTE”

Hélder Beja

pessoas como o Pedro Mexia ou Yu Hua. Houve pontos altos surpreendentes, como a Jéssica Faleiro, uma autora que nos surpreendeu a nós e que recebeu a atenção do público, e Bruno Vieira do Amaral, por ser um autor com muita qualidade e por ter o dom da palavra, sem ser deselegante, o que é raro de encontrar”, acrescentou Hélder Beja. Ao nível dos espectáculos e performances, o subdirector do Rota das Letras destaca a presença de Sérgio Godinho, “como autor e como músico”, e ainda da “performance lindíssima da

Vera Paz, uma das mais lindas em seis anos de festival”.

PALAVRAS DO MUNDO

Num lugar onde vários idiomas se misturam, o subdirector do Rota das Letras considera que a ligação entre a literatura chinesa e os autores internacionais acaba por ser mais imediata, por comparação com o distanciamento físico da literatura portuguesa. “Esse encontro [da língua chinesa] é até mais fácil do que o encontro com a literatura em língua portuguesa. Isto porque os autores que trazemos aqui já estão traduzidos

para inglês, mas não estão em português. Na literatura em português há um maior desconhecimento, o que é

normal, porque os autores vivem noutro hemisfério, que passa mais pela língua portuguesa”, adiantou.

“Achava que Macau era um lugar só com casinos, mas este festival teve uma grande escala, com tantos escritores. A literatura tem uma grande influência em pessoas tão diferentes e de todo o mundo, então penso que este evento é muito importante.” CHENG YONGXIN DIRECTOR DA REVISTA HARVEST, EDITOR E ESCRITOR

Em relação ao concurso de contos, os vencedores foram João Carvalho da Silva, que, apesar de ser português, venceu na categoria de conto em inglês. A brasileira Adi Berenice e Silva venceu na categoria do conto escrito em português, enquanto que Chi Pang Loi foi o vencedor de língua chinesa. O livro com os contos vencedores e com contos escritos por alguns autores da edição 2016 do festival foi ontem lançado. “O concurso correu bem, não tivemos mais submissões do que o ano anterior. Estendemos o prazo e isso ajudou. Este quinto livro é excelente, tivemos muitas contribuições dos autores de 2016”, rematou Hélder Beja. Andreia Sofia Silva e Sofia Margarida Mota info@hojemacau.com.mo


12 EVENTOS

OUYANG JIANGHE

“Sou o que escr

Ouyang Jianghe é um dos poetas com mais relevo na China. Uma escrita simples, ritmada e de interpretação complexa marca o trabalho do autor que abandonou a exultação dos grandes acontecimentos históricos para se dedicar à expressão pessoal. O poeta falou ao HM do que escreve, dos desafios da tradução e da descoberta que fez

“O processo da tradução, seja qual for, vai resgatar as palavras e significados exilados.”

Nasceu em Sichuan, na altura da Revolução Cultural. Como é que nestas circunstâncias a poesia apareceu na sua vida? Penso que precisava de me descobrir e não sabia como. A poesia não é só um meio de expressão das opiniões acerca do sentido do mundo e da vida. O processo de escrita é uma descoberta que se confunde com a própria vida. Expressamos o que dentro de nós se transformou, na nossa forma de ver o que nos rodeia. Por outro lado, é nesse processo que aprendemos a moldar a própria vida. Acaba por ser a escrita que se impõe e que nos faz o que somos. Escrever acaba por se confundir com o que somos.

SOFIA MARGARIDA MOTA

POETA

Faz parte da segunda geração de autores que deixa a tradição histórica e recorre ao quotidiano. No seu caso, através de uma simplicidade de palavras que não corresponde à complexidade dos conteúdos. De facto, recorro aparentemente a vocabulário muito simples. Uso palavras que as pessoas podem realmente compreender a um nível superficial. Mas as ideias e pontos de vista subjacentes são outros. Faço um processo de condensação de ideias que se escondem em vocábulos. É também uma poesia muito visual em que uso os caracteres enquanto símbolos. É uma forma de encriptação de informação. A leitura passa a ser outro processo, o de interpretação dessa linguagem encriptada, o da procura e descoberta do que está omisso e secreto. Muita da minha poesia usa palavras muito simples, mas o processo é muito complexo. Podemos ainda fazer uso de grandes figuras como o Confúcio, e ressuscitá-las. É o “voltar a viver”. Mas a ideia principal é, de facto, esconder a complexidade atrás das palavras simples e é trabalho dos leitores interpretar o texto. O que nos leva a outra questão. Para o público estrangeiro, que lê as traduções, há outro elemento que é a própria tradução. Como é que vê o seu trabalho, tão específico na língua chinesa, traduzido? É realmente muito difícil traduzir o meu trabalho. A maior dificuldade, penso, é conseguir transmitir as ideias que estão ali condensadas. O processo de tradução engloba muitas camadas que se sobrepõem. Numa tradução mais superficial, e que deverá ser a primeira, é a tradução do significado básico da palavra. Estamos ao nível mais simples mas fundamental para uma primeira leitura. Um poema também tem muita técnica de escrita implícita, que inclui a expressão do imaginário e em que é usada, por exemplo, a metáfora. Encontramos aqui o segundo nível da tradução: o entendimento e

interpretação do imaginário. Fazer a sua tradução e encontrar um possível equivalente na língua de chegada que possa espalhar de alguma forma, a imagem do poema. Estamos perante um terceiro produto? O poeta e tradutor americano Forrest Gander assinala que, num poema, o que pode ser traduzido não é realmente a parte mais importante. O que não pode ser traduzido é o cerne. Quando um poema é traduzido é recriado. Deixa de ser o original e passa, de facto, a ser um novo produto com um novo significado e capaz

de ser interpretado por outra cultura, a que fala a língua de chegada. Podemos mesmo dizer que aparece numa espécie de terceira linguagem. A imagem dentro de cada poema só fica completa quando passa por uma tradução. A tradução acaba por findar um ciclo de criação. É também um processo feito a dois, durante o qual, na troca que proporciona, se consegue abranger as muitas interpretações possíveis. É tornar o poema completo de novo, até para o próprio poeta. Quando um poema é traduzido também pode perder o seu som, que um poema também é música. Mas pode ser criada uma

nova canção. O processo implica perdas, mas também implica uma nova criação e é capaz de dar ao texto uma nova vida. Outra questão relevante é que quando pensamos em tradução associamos sempre a línguas diferentes. Na verdade, os poemas podem ser traduzidos dentro do mesmo idioma. No chinês acontece frequentemente. Um poema tem de ser traduzido dentro da própria língua porque é necessário ir além do tal significado superficial e nem os nativos de chinês podem muitas vezes compreender o texto se não tiverem estas traduções. Acontece com muitos dos nossos


13 hoje macau segunda-feira 20.3.2017

revo”

grandes poetas, como Li Bai ou Du Fu. A razão é que a interpretação e compreensão das ideias que formam um poema exigem um conhecimento vasto e profundo de toda uma realidade linguística, cultural e histórica que não é acessível a todos. O processo da tradução, seja qual for, vai resgatar as palavras e significados exilados. Deixou de escrever durante uma década, o que marca dois períodos de criação com características diferentes. Porquê a paragem e o que é que aconteceu neste período para levar à mudança?

O período que abrange o momento em que comecei a escrever até ter decidido parar tem dois aspectos. Na primeira fase, ainda era muito jovem e escrevia em Sichuan, onde estava muito limitado à minha experiência pessoal, com as características culturais e sociais daquela província. A minha escrita não era tão pessoal mas mais dirigida às pessoas, o que fazia com que abordasse mais aspectos sociais e políticos e, talvez, mais rebeldes. A intenção era chegar a um público. Em 1993 fui para os Estados Unidos durante cinco anos. Não sabia inglês e a minha forma de expressão e pensamento mudou.

Como não falava a língua, não podia falar para os outros e tinha monólogos comigo próprio. Foi quando senti que alguma coisa estava a acontecer e a mudar. Ao falar comigo percebi que afinal falava com ninguém e, por vezes, com uma espécie de fantasma. Por vezes transformava esse fantasma em alguém que admirasse, como Li Bai. Expressava-me para o vazio e isso fez com que me visse obrigado a ouvir-me. Esta voz transformou-se, mais tarde, nos meus poemas. Se não tivesse ido para os Estados Unidos, se calhar nunca tinha percebido isso. Foi também ali que comecei a ver poesia em tudo. Recordo uma situação em que fui a um museu e vi uma moeda grega. Era dinheiro, mas sem valor e muito bonito. Pensei que podia escrever sobre este dinheiro transformado em arte e história e que, dadas as imagens e o relevo, era uma escultura com um padrão. Foi também quando comecei a trabalhar na rima e na sua integração no poema. Percebi que a minha poesia também podia ter forma, podia ser uma peça. Podia desenhar as palavras. A mudança que ocorreu em mim e no meu trabalho pode ser metaforizada numa conhecida história de um prisioneiro que gostava muito de jogar xadrez. Enquanto detido, fazia-o sozinho, até que conseguiu sair em liberdade. Foi quando percebeu o que tinha aprendido antes, na sua solidão. Ganhou os campeonatos em que participou. Quando parei de escrever desenvolveram-se muitas coisas dentro de mim, e os Estados Unidos acabaram por ser a minha prisão. Quando voltei à escrita, o que saiu foi o resultado dessas observações. A palavra e a rima chinesa transformaram-se nas minhas peças de xadrez que, quando jogadas, ganhavam asas.

da literatura chinesa assenta em dois pilares. Por um lado, a questão da tradução. Por outro, penso que há um mal-entendido entre Ocidente e China, e as pessoas que procuram a literatura chinesa não estão realmente interessadas nos livros, mas sim em procurar as circunstâncias políticas e económicas de um país. Procuram a controvérsia e querem ouvir as vozes que mais lhes convêm e o que esperam saber. Querem ouvir essencialmente vozes políticas. Não estão abertas a histórias que relatem uma sociedade contemporânea, buscam a confusão e não verdadeiramente um retrato descritivo. Penso que não têm realmente um interesse pela língua e literatura do país. A realidade de hoje não é só de hoje. O que vemos hoje tem passado e já abarca o futuro. A poesia é também isso, uma mostra do que foi, é e poderá ser a sociedade chinesa. No que faço também é isso que tento mostrar: o lado literário do que se faz hoje na China.

A China está a mudar e o Ocidente parece estar cada vez mais interessado na literatura que se faz no país. Como é que vê este interesse crescente? O desenvolvimento da China e o interesse por ela e pela sua literatura é de facto uma coisa relativamente nova, mas considero que é um fenómeno essencialmente político. Há pessoas que estão satisfeitas com isso e outras que nem tanto. Recordo que em 2008, enquanto falava com um tradutor sobre esta questão, ele dizia-me que o crescimento da China fez com que o país existisse para o mundo. Na sua opinião, essa é a razão que leva à necessidade de conhecimento acerca deste país, porque passou a representar um tipo de ameaça. Passou a ser importante saber o que era esta China que ganhava cada vez mais relevo económico no mundo. Qual era a raiz deste país? Até aí, havia muito poucas pessoas a querem saber da China. É aí que também entra a literatura enquanto forma de aceder à cultura chinesa. Por outro lado, a razão para a falta de conhecimento

Já não é a primeira vez em Macau. É a quarta. Mas a ocasião que mais me marcou aqui foi a terceira visita. Vim integrado numa comitiva para conversarmos acerca dos passos a dar no território para o desenvolvimento da arte contemporânea. Fiquei muito espantado porque a única coisa que se passou foi um almoço sem mais conteúdos. No entanto, Macau não deixa de ser uma inspiração, até mesmo devido aos casinos, e ao poder e significado do dinheiro. Já escrevi sobre isso. Aqui, quando se joga não se vê o dinheiro real, são tudo fichas. Mas por exemplo, quando se perde, o dinheiro que não se vê torna-se visível apesar de já não existir. O mesmo acontece com as palavras. Às vezes só ganham peso depois de desaparecerem.

“Há um mal-entendido entre Ocidente e China e as pessoas que procuram a literatura chinesa não estão realmente interessadas nos livros, mas sim em procurar as circunstâncias políticas e económicas de um país.”

Sofia Margarida Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

EVENTOS

IIM CONGRESSO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E LITERATURA

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já no próximo dia 27 de Março que o Instituto Internacional de Macau (IIM) acolhe o Congresso Internacional de Filosofia e Literatura, o qual decorre na sede desta instituição, na zona do NAPE. O evento irá tentar responder à questão “Lusofonia, Utopia Criadora?”, e terá como convidados Carlos André, do Instituto Politécnico de Macau, Inocência Mata, da Universidade de Macau, Maria Antónia Espadinha, da Universidade de São José, Celeste Natário, da Universidade do Porto e Jorge Rangel, presidente do próprio IIM. O congresso decorre entre o dia 27 e 31 de Março e “junta várias entidades organizadoras de Portugal e de Macau” e “variados eventos”, cujo objectivo é “ampliar a investigação sobre as culturas de língua portuguesa, e de promover a ponte com Macau, tendo em conta a sua matriz luso-oriental”. Segundo o IIM, o evento “foi organizado na sequência do “Congresso Internacional Errâncias de um Imaginário”, que teve lugar no Brasil em 2013, sem esquecer o “Congresso Internacional de Língua Portuguesa: Filosofia e Poesia”, bem como o “Congresso Internacional de Filosofia e Literatura: Fidelino de Figueiredo”, ambos realizados em Portugal em 2015 e no Brasil em 2016, respectivamente.


14 CHINA

hoje macau segunda-feira 20.3.2017

INVESTIMENTO ESTRANGEIRO SUBIU 9,2% EM FEVEREIRO

O

Investimento Directo Estrangeiro na China subiu 9,2%, em Fevereiro, face ao mesmo mês de 2016, após ter registado uma queda de 9,2%, em Janeiro, segundo dados do Ministério do Comércio. As empresas estrangeiras investiram, no total, 58.600 milhões de yuan no país asiático, no mês passado. No conjunto, estabeleceram-se no país 1.850 empresas com capital estrangeiro, um acréscimo de 33,3% em termos homólogos. Os dados económicos da China registam volatilidade no início do ano, devido às celebrações do ano novo lunar, a mais importante festa das famílias chinesas e o único período

HRW CHINA USA LEI ANTI-TERRORISMO COMO INSTRUMENTO POLÍTICO

Processos ensombrados

A

organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) culpou sexta-feira o Governo chinês por instrumentalizar a lei antiterrorista do país, visando “perseguir” actividades pacíficas incómodas para o regime. “Nenhuma informação pública disponível sobre as pessoas que foram punidas, em 2016, por crimes relacionados com terrorismo indica que estas perpetuaram, ou estiveram vinculadas a qualquer acção violenta”, afirmou a directora da HRW para a China, Sophie Richardson, em comunicado. “Enquanto os processos penais continuarem a ser opacos (…) as penas por terrorismo no país continuarão a gerar desconfiança”, lê-se na mesma nota. A HRW afirma que a luta antiterrorista na China, principalmente na região do Xinjiang, palco frequente de conflitos étnicos, permite abusos pela sua “ampla definição de terrorismo, falta de transparência e violações do direito a um julgamento justo”. Com uma área quase 18 vezes superior à de Portugal, a região do Xinjiang, onde habita a minoria muçulmana uigur, faz fronteira com o Afeganistão, Paquistão e Índia. Pequim vincula os conflitos que frequentemente ocorrem na região com grupos separatistas, como o

Movimento do Turquestão Oriental, enquanto peritos e grupos de defesa dos direitos humanos consideram que a política repressiva das autoridades relativamente à cultura e religião dos uigures alimenta as tensões. O Supremo Tribunal Popular da China revelou este mês, no seu relatório anual apresentado na Assembleia Nacional Popular, o legislativo chinês, que 1.419 pessoas foram condenadas, em 2015, por “ameaçar a segurança nacional, incitar ao separatismo e participar de actividades terroristas”.

ACESSO BLOQUEADO

“O Governo assegura estar a combater as ameaças terroristas, sobretudo na região do Xinjiang, mas oferece poucos detalhes, enquanto exerce um controlo

“Enquanto os processos penais continuarem a ser opacos (…) as penas por terrorismo no país continuarão a gerar desconfiança.” SOPHIE RICHARDSON DIRECTORA DA HRW PARA A CHINA

severo sobre a imprensa e outros actores independentes”, lamentou a responsável da HRW. A organização denunciou que o Executivo chinês bloqueia o acesso a investigadores independentes, tanto chineses como estrangeiros, incluindo aqueles que integram as Nações Unidas. A HRW revela que “apenas” quatro sentenças por casos relacionados com o terrorismo foram tornadas públicas, em 2016. Segundo os dados difundidos, os quatro condenados foram acusados por posse, acesso ou distribuição de material audiovisual relacionado com o terrorismo, através da Internet, redes sociais ou correio electrónico. O Supremo Tribunal obriga a publicar os veredictos judiciais, mas exclui todos aqueles que envolvam segredos de Estado, violem a privacidade pessoal ou sejam “desadequados” a tornarem-se de domínio público. A HRW detalha que houve uma dezena de casos no ano passado que envolveram multas e detenções por assistir, descarregar ou armazenar conteúdo audiovisual relacionado com terrorismo, “algo que não é suficientemente grave para constituir um acto criminal”.

de férias para milhões de trabalhadores. No total, nos dois primeiros meses do ano, o investimento estrangeiro recuou 2,3%. Em 2016, a China atraiu um total de 813.220 milhões de yuan em investimento estrangeiro, um aumento de 4,1%, face ao ano anterior. O ministério do Comércio chinês destacou que a maior parte do investimento estrangeiro no país destinou-se ao sector manufactureiro, mas que o capital investido no sector dos serviços quase triplicou, em termos homólogos. Entre Janeiro e Fevereiro, o investimento oriundo da União Europeia cresceu 13,8%, em termos homólogos.

HONG KONG MANIFESTANTES CONDENADOS A TRÊS ANOS DE PRISÃO POR MOTINS DE 2016

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RÊS jovens manifestantes de Hong Kong foram condenados sexta-feira a uma pena de três anos de prisão cada devido à sua participação nos tumultos que degeneraram em violentos confrontos em Fevereiro do ano passado. Os estudantes Hui Ka-ki, de 23 anos, e Mak Tsz-hei, de 20, e o cozinheiro Sit Tat-wing, de 33, foram os primeiros a serem condenados pelos motins ocorridos na zona comercial bastante movimentada de Mong Kok em Fevereiro do ano passado por ocasião do Ano Novo chinês. Os distúrbios, que surgiram na sequência de uma operação policial contra venda ambulante ilegal de comida, resvalaram em confrontos considerados os mais violentos dos últimos anos e a maior demonstração de descontentamento popular na antiga colónia britânica desde os protestos pró-democracia do final de 2014. Mais de 100 pessoas ficaram feridas, incluindo polícias, manifestantes e jornalistas, e 65 foram

detidas naquele que foi um raro surto de violência em Hong Kong. A defesa alegou que os três manifestantes agora condenados – e que incorriam numa pena máxima de dez anos de cadeia – estavam a expressar o seu descontentamento para com o governo de Hong Kong que activistas afirmam ser uma marioneta de Pequim. “Qualquer pessoa que participe nesse tipo de motins precisa de compreender que há um preço a pagar”, afirmou o juiz Sham Siu-man, apontando que “violência é violência”. A sentença tem lugar quando falta pouco mais de uma semana para as eleições para o chefe do Executivo de Hong Kong, marcadas para o próximo dia 26. O líder da Região Administrativa Especial de Hong Kong é escolhido por um comité eleitoral formado por 1.200 membros, representativos de diferentes sectores da sociedade, que é dominado por elites ou interesses pró-Pequim.


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Presidente chinês Xi Jinping e o secretário de Estado norte-americano Rex Tillerson comprometeram-se este domingo, em Pequim, a trabalhar para fortalecer os laços entre os seus países. Xi e Tillerson encontraram-se horas depois de a Coreia do Norte ter lançado um ‘rocket’ e quando decorrem negociações para uma cimeira no próximo mês com Xi e Donald Trump, nos Estados Unidos. Xi disse a Tillerson que ele e Trump decidiram, num telefonema no mês passado, “fazer um esforço conjunto para desenvolver a cooperação China-Estados Unidos”. “Acreditamos que podemos garantir que a relação vai avançar de forma construtiva para uma nova era”, afirmou. “Estou confiante que, desde que consigamos fazer isto, a relação pode certamente avançar na direcção certa”, acrescentou o Presidente chinês. A caminho de Pequim, Tillerson visitou o Japão e a Coreia do Sul, onde declarou que Washington vai abandonar a estratégia “falhada” de paciência diplomática com Pyongyang, algo que pode desagradar à China. Na sexta-feira, Trump escreveu no Twitter que a China não está a fazer o suficiente para controlar o vizinho e aliado histórico norte-coreano. As relações com Pequim foram também postas à prova com a instalação de um sistema de defesa antimísseis na Coreia do Sul, a que a China se opõe. Ainda assim, Tillerson adoptou uma postura conciliatória: “Sabemos que através do diálogo chegaremos a uma melhor compreensão, que conduzirá a um reforço dos laços entre a China e os Estados Unidos e definirá o tom da nossa futura relação de cooperação”.

ALTA TENSÃO

Washington e Pequim concordaram ainda que a tensão na península coreana alcançou um nível “bastante perigoso” e comprometeram-se a fazer “todo o possível” para evitar um conflito, afirmou o secretário de Estado dos Estados unidos.

XI JINPING E REX TILLERSON PROMETEM FORTALECER LAÇOS ENTRE OS PAÍSES

Os gigantes diplomáticos relação a Pyongyang e assegurou que todas as “opções estão abertas”. Em outras escalas desta viagem à Ásia, o secretário de Estado defendeu um novo plano para fazer frente aos avanços norte-coreanos após os seus últimos ensaios, mas não deu quaisquer detalhes. Na sexta-feira, o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson disse que uma acção militar dos Estados Unidos contra o regime de Pyongyang era “uma opção que está em cima da mesa”, após visitar a zona desmilitarizada que divide a península coreana.

“Sabemos que através do diálogo chegaremos a uma melhor compreensão, que conduzirá a um reforço dos laços entre a China e os EUA e definirá o tom da nossa futura relação de cooperação.” REX TILLERSON SECRETÁRIO DE ESTADO NORTE-AMERICANO

“Acreditamos que podemos garantir que a relação vai avançar de forma construtiva para uma nova era” XI JINPING PRESIDENTE CHINÊS

“Penso que partilhamos a opinião de que as tensões na península são agora bastante elevadas e de que as coisas alcançaram um nível bastante perigoso”, afirmou Tillerson numa conferência de imprensa depois de se reunir com o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi. “Comprometemo-nos a fazer tudo o que possamos para prevenir o rebentamento de qualquer conflito”, adiantou. Tillerson disse ainda que Washington e Pequim iriam trabalhar para ver se conseguiam convencer

Pyongyang a corrigir o percurso a afastar-se do desenvolvimento das armas nucleares. O secretário de Estado dos Estados Unidos debateu com o Governo chinês uma nova estratégia para lidar com a Coreia do Norte, naquela que é a primeira visita ao país asiático de um membro do gabinete de Trump. Rex Tillerson chegou este sábado a Pequim proveniente da Coreia do Sul e do Japão, onde lembrou a necessidade de mudar a estratégia de Washington em

“Nós não queremos que as coisas cheguem a um conflito militar”, disse Tillerson, acrescentando que se a Coreia do Norte incrementar “as ameaças”, as opções passam a ser militares. “Se eles [Coreia do Norte] elevarem a ameaça através do programa de armamento a um nível que, acreditamos, pode obrigar a uma acção [militar], então essa opção fica em cima da mesa”, afirmou o secretário de Estado norte-americano.

AMBIENTE PEQUIM ENCERRA ÚLTIMA GRANDE CENTRAL ENERGÉTICA A CARVÃO

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última grande central energética alimentada a carvão em Pequim suspendeu operações, com a electricidade da cidade a ser agora gerada por gás natural, informou a agência de notícias estatal. O encerramento da central térmica Huangneng Beijing

surge após a reunião anual legislativa, onde o primeiro-ministro Li Keqiang prometeu “tornar os céus novamente azuis”, num discurso transmitido em todo o país. De acordo com a agência Xinhua, Pequim tornou-se a primeira cidade do país

a ter todas as suas centrais energéticas alimentadas a gás natural, um objectivo traçado em 2013. A central Huangneng é a quarta a ser encerrada e substituída por centros de energia térmica a gás entre 2013 e 2017, cortando quase

10 milhões de toneladas em emissões de carvão, todos os anos. A notícia foi avançada pela Xinhua na noite anterior às autoridades municipais terem emitido um alerta azul por intensa poluição atmosférica, ontem.

O ‘smog’envolve a cidade há vários dias e espera-se que continue durante a semana. Desde o encerramento da Assembleia Popular Nacional, o encontro anual do parlamento chinês, na passada quarta-feira, o nível das perigosas partículas PM2,5 tem estado

entre os 200 e 330 microgramas por metro cúbico, muito acima do máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (25 microgramas por metro cúbico num período de 24 horas).


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Paulo Maia e Carmo tradução e ilustração

ZHANG YANYUAN «Lidai Ming Hua Ji»

Relação das Pinturas Notáveis Através da História Foi então que Lu Tanwei1 começou a usar o seu método da pincelada única, era um trabalho que ele executava com um traço contínuo, sem interrupções. Assim, ficou claro que o mesmo método pode ser usado na escrita e na pintura. A pincelada de Lu Tanwei era fina e afiada, sem deixar de ser suave e graciosa. Era bastante inovadora e estranha e inultrapassável na sua subtileza. A sua fama era grande durante a dinastia Song (420-479) e não havia nesse tempo ninguém que o igualasse. Zhang Sengyou2 utilizava pontos e traços curtos de um modo esquemático. Ele seguia o modelo da Senhora Wei3 no Bi zhendu (Esquema da Posição do Pincel); cada ponto e cada traço tinham o seu significado e carácter; eram como lanças albardadas e espadas afiadas, muito apertados e densos. Daqui, de novo, podemos ver que o pincel se usa do mesmo modo na escrita e na pintura.

1 - Lu Tanwei (m. c.485) era de Wu, viveu em Jiankang, actual Nanquim, fazia retratos e pintou temas budistas com muitas figuras, nomeadamente em paredes de templos, o seu traço livre diz-se influenciado pela caligrafia de Wang Xizhi. É o primeiro nome citado por Xie He (cerca do ano 500) no tratado Guhua Pinlu( que traduzimos por Memória e Classificação dos Pintores Antigos) entre a Primeira Classe de pintores, como «o único desde os tempos antigos ou modernos, o que permanece no mais alto grau; qualquer elogio que se lhe faça ficará sempre aquém.» 2 - Zhang Sengyou (activo c.490-540), da dinastia Liang, era de Wuzhong (actual Suzhou, na Província de Jiangsu). Ficou

h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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associado à técnica conhecida por «sem ossos», mogu: «Zhang Sengyou fazia pinturas sem ossos, ou seja inteiramente coloridas e desprovidas de «rugas», cun», conforme escreveu Tang Dai, pintor de paisagens, discípulo de Wang Yuanqi e muito apreciado pelo imperador Kangxi, activo no primeiro terço do século dezoito, no seu tratado Huishi Fawei, (1717), cfr. Pierre Ryckmans, Les propos sur la peinture du moine citrouille-amère, Plon, Paris, 2007, p.89. 3 - A Senhora Wei Chao (falecida em 140) era a esposa de Li Chu, juntos formavam um famoso casal de calígrafos da dinastia Han (206 a.C.-220). In Osvald Sirén, The chinese on the art of painting, Dover Publications, N.Y., 2014, p. 229.

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Amélia Vieira

A barca da morte estarmos vivos temos uma engrenagem parada em movimento permanente, podemos ter a gravidade dos iniciados quando desta Barca se tratar. É sempre bom para a alma contemplar outras entradas sem a visão das coisas ao redor e suas certezas, é bom sairmos deste local onde a nossa vida deixou de ter o interesse pretendido: morrendo, estamos morrendo/ agora só nos resta aceitar a morte/ e construir a barca/ agora, lança à água a pequena barca / agora, que o corpo morre e a vida parte, lança a alma frágil/na frágil barca da coragem, na arca da fé.

D.H. Lawrence e a sua esposa Frida, em Itália

D

. H. Lawrence tem um belo poema muito ao estilo de uma velha barcarola, com o título deste enunciado. Ele, que foi o escritor dos «Amores no Feno» e de toda uma atmosfera que o coroou de erótica neblina, ele - e talvez por isso fosse um desbravador indómito, poético, um arauto que se debruçou de forma muito bela sobre a morte, essa porta da iniciação que não está desligada da sexualidade e cujo movimento retorna ao ponto fixo de uma mesma força — lembro que lhe tocava em profundidade o orgasmo dos condenados à morte por enforcamento. Estes homens não tinham como hoje as respostas organizadas para todos os efeitos como se fossem a parte robótica de si mesmos. Eles estavam animados de uma película cuja deidade desconhecemos, nós, os transmissores de todos os fenómenos em que nunca acreditamos. Decerto que Lawrence, até devido à sua saúde frágil ao longo da vida, se interrogou acerca da morte e essa imensa indagação deu origem a belas reflexões como naquele pequeno conto, «O homem que morreu», é encantador e quase crístico pela forma como se levanta um defunto e se vai lembrando em seu redor (Jerusalém) dos cheiros e dos elementos. Isto tudo a partir de um estranho cantar de um Galo que à mesma hora em que é libertado acciona nele a ressurreição.... No seu belo poema «Canção da morte» formas tautológicas que tão emblematicamente o mantiveram como um mestre do suspense sedutor, mas foi nesta Barca que o seu dom se demorou um pouco mais, talvez até mais, que nas formas de uma mulher. Esta viagem parte do Outono, eufemisticamente, pois que é nele que embarcamos de forma compenetrada e silenciosa rumo a ela, e ele afirma que : é tempo de ir/ do adeus ao próprio eu/ de encontrar uma saída do eu caído/e, no ar, a morte, como um cheiro de cinzas!/ E no corpo ferido, a alma assustada/(...)

Sim, toda esta inquietude e formação de um outro ser que renasce na viagem para depor o eu vencido é bonita de celebrar como um rito muito puro de passagem, e inquire-nos de forma bastante frontal: Já construíste a tua barca da morte, a tua?/ Constrói a tua barca da morte, vais precisar dela. Todos vamos precisar de construir tal Barca e mesmo que os preconceitos do nosso tempo não assumam esta causa como uma condição articulada de profunda humanidade, ela deve ser trabalhada como a Arca da Aliança, com madeiras belas e ramos de acácia. Não devemos estar impreparados diante do desconhecido, dos desconhecidos, tudo o que é transpor um portal tem de ser “vivido” com um rito que quebre as formas saturadas. Daí, cada um, quando a vida começar a fechar o postigo das possibilidades, se deva abeirar daquele mar de dentro e, sem vontades pessoais, abrir espaço abstractamente para deixar passar a Barca. Morremos sempre por uma causa mas quase sempre nascemos por um mistério. Nós que já atravessámos tantos mares, que temos marcas de vida em permanência, que temos todas as cicatrizes como trunfos de uma guerra muita vezes inglória, que nem sempre escolhemos, pois que somos escolhidos na abrangência das decisões, que navegamos quando não é preciso e vivemos quando não faz falta, que de tanto

Talvez que a morte seja um Dilúvio e sejamos nós a construir a Arca, a Barca, para atravessar aquela grande provação de águas que galgam toda a firme certeza que tivéramos de haver terra...

Talvez que a morte seja um Dilúvio e sejamos nós a construir a Arca, a Barca, para atravessar aquela grande provação de águas que galgam toda a firme certeza que tivéramos de haver terra... talvez que tenhamos essa ideia profunda de voltar a navegar num oceano sem fim e só nesse fim a Pomba, a Luz, a Fonte sejam na nossa travessia tudo o que desejámos saber, contemplar. Se mudados atravessarmos tudo isto e renascermos, não seremos apenas o desejo pessoal de uma condição que ficou, pois que muitos nos tomaram para sermos e, na senda de ser abarcámos a Barca, como a insígnia mais pessoal do enviado que somos, que fomos, dos seres únicos em que cada um se tornou. É muito bonita a analogia com a passagem bíblica....- e Noé construiu uma Arca - constrói a tua Barca - a pomba voltou ainda com um ramo de oliveira para lembrar, talvez, a ressurreição... mas era cedo e Noé não desceu, mais tarde largou de novo a ave e ela não mais voltou. O pássaro da alma que vai tentar a vida uma outra vez dizendo que ela continua, indicando outro ciclo, esta é uma bela noção de imortalidade que, estando plasmada em nomes, símbolos e incompreensíveis formas, nós conhecemos como taumaturgos de um processo imenso... Temos medo, sim, do dilúvio, que a Barca se afunde pelo peso sombrio das nossas memórias deixadas, temos medo de atravessar esse imenso nevoeiro e não sabemos se a sombra da alma fará mais escura a travessia... se a bloqueia em porto incerto... mas os que estão livres das questões e não zelam pelo nada como parte descartável para uma vida que contaminou estes mares, entram nela como nas longas catedrais, plenos de respeito pela travessia. Saiba a nossa guardar intacto o assombro de merecer este Poema, tão cheio de vida, como esta morte que se anuncia às portas da Primavera. Lawrence, quase fecundou o momento - este momento - onde vamos descendo no grande e belíssimo instante da jornada. Desce o dilúvio, e o corpo como uma concha polida Emerge extraordinário e belo. E a pequena barca torna a casa, deslizando, trémula, E a frágil alma desembarca, volta a casa. Cheia de paz. O coração renovado embala-se na paz, Mesmo na do próprio esquecimento. Constrói a tua barca da morte, a tua! Vais precisar dela. espera-te a viagem do esquecimento.


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TEMPO

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AGUACEIROS

O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente EXPOSIÇÃO | “ANSCHLAG BERLIM DESENHO DE CARTAZES DE BERLIM” Galeria Tap Seac

MIN

18

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22

HUM

75-98%

EURO

8.59

BAHT

EXPOSIÇÃO “CONFUSION OF CONFUSIONS WORKS BY YOYO WONG” Armazém do Boi | Até 26/3

O CARTOON STEPH

EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017) EXPOSIÇÃO “ENTRE O OLHAR E A ALUCINAÇÃO” DE JOÃO MIGUEL BARROS Creative Macau (Até 25/3)

PROBLEMA 200

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 199

UM LIVRO HOJE C I N E M A

SILENCE SALA 1

KONG: SKULL ISLAND [C] Filme de: Jordan Vogt-Roberts Com: Tim Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson 14.30, 16.45, 21.30

KONG: SKULL ISLAND [C][3D] Filme de: Jordan Vogt-Roberts Com: Tim Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson 19:15 SALA 2

SILENCE [B] Filme de: Martin Scorsese

SUDOKU

DE

Cineteatro

YUAN

1.15

DA PERDA

EXPOSIÇÃO “WORKS BY LEI CHEOK MEI” Armazém do Boi | Até 26/3

EXPOSIÇÃO “SOLIDÃO”, FOTOGRAFIA DE HONG VONG HOI Museu de Arte de Macau

0.22 AQUI HÁ GATO

EXPOSIÇÃO “TRACING LINERS”, DE JOÃO PALLA Casa Garden

EXPOSIÇÃO “VELEJAR NO SONHO” DE KWOK WOON oficinas Navais N.º1 | Até 23/4

(F)UTILIDADES

Não somos bichos dados a muitos dramas. Morremos como vivemos, com preguiça, lassidão, sem excessos dramáticos. Quando sentimos falta, quando nos tiram o tapete debaixo das patas escondemo-nos durante uma semana debaixo de uma cama e reconhecemos, invariavelmente, a mão que nos alimenta. É o mínimo da decência felina. Já os humanos desfazem-se em coreografadas cerimónias aos que se desfazem biologicamente. Erguem templos piramidais, ateiam piras purificadoras, enterram pessoas em cápsulas de madeira depois de cortejos pintados a negro. Tudo muito protocolar, formal, a meio de erupções de choro. Vestem preto, velam corpos para que os espíritos maus não os poluam, trajam branco e dançam em sua honra, rebentam foguetes nos céus que ambicionam como destino. Inventam mitos que lhes tragam conforto no inevitável, inescapável, fim. Deliram com reencontros no além, que ficam sempre aquém da racionalidade. A biologia é cruel, não quer saber de amores ou desamores, e com a justiça só tem a cegueira em comum. Por isso choram lágrimas de saudade antecipada, choram momentos que ficaram por viver, palavras por dizer, abraços por dar. As despedidas são, normalmente, feitas aos urros, nos coros das carpideiras, no cheiro profuso de mixórdias botânicas. Eu só choro a minha castração e total desapego cirúrgico à trágica morte de ninhadas que nunca o chegaram a ser. Pu Yi

AS MINHAS AVENTURAS NO PAÍS DOS SOVIETES | JOSÉ MILHAZES | OFICINA DO LIVRO

Em 1977 José Milhazes era um jovem estudante de História que partia para a Rússia, à época União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Levou pouca roupa na mala e uma mão cheia de expectativas, mas depressa a roupa revelou ser pouca para tudo o que ia viver. Os anos deram-lhe uma vida cheia na URSS, onde aprendeu russo, se tornou jornalista correspondente e tradutor. Hoje, de regresso a Portugal, Milhazes recorda tudo o que viu sobre a queda de um regime e o surgimento de outro sistema. Um olhar sobre um país com uma história fascinante. Andreia Sofia Silva

Com: Andrew Garfield, Adam Driver, Liam Neeson 14.30,17.30, 20.30 SALA 3

THE GIRL WITH ALL THE GIFTS [C] Filme de: Colm McCarthy Com: Gemma Arterton, Sennia Nanua, Paddy Considine 14.30, 16.30, 21.30

LA LA LAND [B] Filme de: Damien Chazelle Com: Ryan Gosling, Emma Stone 19.15

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hoje macau segunda-feira 20.3.2017

AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL 1.

Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, chegou ao seu término, e, que de acordo com o artigo 53.º da Lei n.º 10/2013 «Lei de Terras», de 2 de Setembro, conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que devem os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Localização dos terrenos: - Estrada Nordeste da Taipa, n.ºs 292 a 384A e Largo da Baía, n.ºs 31 a 93, na Ilha da Taipa, (Edifício Pearl On The Lough) - Estrada do Governador Albano de Oliveira, n.ºs 528 a 950, Rua de Viseu, nºs 1A a 1D e Estrada Lou Lim Ieok, n.ºs 68 a 448, na Ilha da Taipa, (Edifício Star River. Windsor Arch); - Estrada Lou Lim Ieok, n.ºs 1085, na Ilha da Taipa; - Largo dos Bombeiros, n.º 3, na Ilha da Taipa;

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- Avenida Olímpica, n.ºs 522 a 608 e Rua Fernão Mendes Pinto, n.ºs 613 a 681, na Ilha da Taipa, (Edificio Va Nam San Chun); - Estrada de Cheoc Van,n.º 13, na Ilha de Coloane. Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam à Recebedoria destes serviços, situada no rés-do-chão do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Atendimento Taipa, para os efeitos do respectivo pagamento. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada. Aos, 21 de Fevereiro de 2017. O Director dos Serviços de Finanças, Iong Kong Leong

Dr. Rui Afonso (艾維斯) (1947 – 2017) A Associação dos Advogados de Macau vem, com profundo pesar, dar notícia do falecimento, em Lisboa, no passado dia 17, do seu associado, Dr. Rui Afonso (艾維斯).

AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL 1.

Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, chegou ao seu término, e, que de acordo com o artigo 53.º da Lei n.º 10/2013 «Lei de Terras», de 2 de Setembro, conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que devem os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Localização dos terrenos: - Rua de Malaca, n.ºs 46 a 186, Travessa da Amizade, n.ºs 16 a 90, Rua do Terminal Marítimo, n.ºs 55 a 121F e Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, n.ºs 1142K a 1142X, em Macau (Edifício Centro Internacional de Macau); - Avenida Marginal do Lam Mau, n.ºs 465 a 583, Avenida Marginal do Patane, n.ºs 623 a 655, Rua Sul do Patane, n.ºs 87 a 187 e Praça das Orquídeas, n.ºs 2 a 180, em Macau, (Edifício Van Sion Son Chun); - Rua da Gruta, n.ºs 37 a 83 e Travessa do Patane, n.ºs 3 a 7B, em

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Macau, (Edifício Jardim Camões); Rua do Almirante Sérgio, n.ºs 2 a 16, Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques, n.ºs 1 a 11 e Travessa do Lido, n.ºs 2 a 10, em Macau, (Edifício Tung Yick); - Avenida do Coronel Mesquita, n.ºs 87 a 97, em Macau, (Edifício Lido). Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam à Recebedoria destes serviços, situado no rés-do-chão do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Atendimento Taipa, para os efeitos do respectivo pagamento. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada. Aos, 21 de Fevereiro de 2017.

O Dr. Rui Afonso veio para Macau para exercer funções como Director dos Serviços de Administração e Função Pública, tendo contribuído para a modernização da administração pública. Em 1984 foi designado como Deputado para a Assembleia Legislativa de Macau, funções que exerceu até 1997, tendo participado na elaboração de relevante legislação, e onde foi membro da Comissão de Administração e Finanças Públicas. Em 1985 iniciou o exercício da advocacia, em Macau, e a partir de 1991 acumulou também funções notariais. Fez parte do Conselho Consultivo da Lei Básica, e foi membro do Conselho Superior de Justiça de Macau. Foi nomeado Vice-Presidente do Conselho Consultivo da Reforma Jurídica, em 2005, tendo sido agraciado em 2006, pelo Governo da RAEM, com a Medalha de Mérito Profissional. Como Advogado e como cidadão, o Dr. Rui Afonso granjeou o respeito e a estima de todos quantos tiveram o privilégio de o conhecer. A Associação dos Advogados de Macau lamenta sentidamente o desaparecimento do Colega, Dr. Rui Afonso, e associa-se ao desgosto da sua família, amigos e colegas de escritório.

O Director dos Serviços de Finanças, Iong Kong Leong

A Direcção

Teaching Fellows of Portuguese Language

The University of Macau (UMacau) is the flagship public university in Macao, which gives it a unique advantage when pursuing the goal of becoming a world-class university with regional characteristics. English is its working language. In recent years, the university has made great progress in various areas, gaining increasing international recognition for its teaching, research, and community service. With a state-of-the-art campus, the implementation of Asia’s largest residential college system, the establishment of new faculties and well-equipped laboratories, the increasing numbers of students and faculty members recruited from around the world, UMacau possesses great potential and provides exciting new possibilities for professional development The Department of Portuguese of University of Macau is seeking up to two qualified individuals for anticipated positions as ‘Teaching Fellow’. The purpose of the teaching fellow program is to provide Master’s degree graduates in Translation Studies, Second Language Acquisition in Portuguese or Applied Linguistics in Portuguese (or closely related field) with: a) teaching experience; b) the opportunity to work with faculty and the Department of Portuguese on special projects in an area of professional interest or expertise engagement in language and cultural exchange. Qualifications and Requirements Applicants should have a recent Master’s degree in a related field (e.g. Translation Studies, Second Language Acquisition in Portuguese, or Applied Linguistics in Portuguese) from an accredited program. Applicants with experience in teaching Portuguese will have an advantage. Applicants should have their degree in hand upon application. The successful candidates also need to possess excellent organizational abilities and communication skills. The candidate should also be willing to provide out-of-class activities to students in Portuguese as required. The selected candidate is expected to assume duty in August 2017. Position and Taxable Salary The position offered and taxable salary ranged from MOP20,480 to MOP28,670 (USD1 approx. = MOP8) shall be determined according to the appointee’s academic qualifications, current position, and professional experience. Teaching duty is required. *10-month appointment with possibility of a second 10-month contract upon mutual agreement. Application Procedure The application should include 1) a cover letter and an updated English curriculum vitae; 2) at least 3 recommendation letters; 3) teaching evaluations of recent two years (if any); 4) academic certificates and 5) graduate transcripts. Applicants should visit http://www.umac.mo/vacancy/ for more details (Reference No.: FAH/TF/DPORT/01/2017), and send your application to fah.portuguese@umac.mo on or before 31 March 2017. Applicants may consider their applications not successful if they were not invited for an interview within 3 months after the application deadline. Other contact points are: Department of Portuguese Faculty of Arts and Humanities University of Macau Room 3094, E21 Faculty of Arts and Humanities Building Avenida da Universidade, Taipa, Macau, China


23 hoje macau segunda-feira 20.3.2017

dissonâncias ruiflores.hojemacau@gmail.com

O

Porta fechada

recente aumento de tensão entre a União Europeia e a Turquia, a propósito de acções de campanha que alguns ministros de Erdogan queriam efectuar junto de comunidades turcas na Alemanha, Áustria e Holanda, e que foram travadas pelos governos europeus, veio pôr em evidência a impossibilidade de um acordo de adesão da Turquia à União Europeia. Isso ficou ainda mais acentuado, quando, neste fim-de-semana, o governo alemão autorizou uma manifestação de curdos anti-Erdogan em Frankfurt. O tom da retaliação de Ancara, que acusou os governos de Berlim, Haia e Viena de nazismo, é um sinal de que, nem no curto nem no médio prazos, o processo negocial sofrerá avanços. Desde que a Turquia requereu formalmente a entrada na União Europeia, em 1987, e a União Europeia lhe permitiu adquirir o estatuto de país-candidato, pouco ou nada tem avançado. É um facto que a União e Ancara estabeleceram um acordo aduaneiro, que está em vigor desde 1995. Mas dos 16 dossiers abertos (de um total de 33!) sobre as matérias respeitantes ao processo de adesão, as áreas de trabalho nas quais a Turquia teria de se aproximar aos padrões europeus para ser aceite no clube dos 28, apenas um chegou a bom porto. A questão dos direitos humanos, das liberdades fundamentais e da qualidade da democracia, sofreram um enorme revés com o golpe de estado do ano passado. A tentativa de golpe de 15 de Julho de 2016, abortada no dia seguinte, fez 241 mortos e perto de 2200 feridos, segundo os dados oficiais, e foi atribuída pelas autoridades ao movimento Fethullah Gülen. Gülen é um antigo imã, que se encontra radicado nos Estados Unidos, e que preside a uma rede global de escolas turcas. É considerado por alguns como “um dos rostos mais encorajadores do Islão hoje em dia” – escreveu-o, por exemplo, no Huffington Post, Graham Fuller, um destacado dirigente do National Intelligence Council norte-americano, um think tank que apoia as agências de informação americanas, com análise e tendências. É evidente que esta visão das coisas olha para o Islão como algo que deve ser dividido entre o radical e o moderado. A tentativa de golpe de estado e tudo o que se seguiu seriam episódios de um conflito interno turco, de uma aparente divisão transversal da sociedade entre duas forças antagónicas: de um lado, encontrar-se-ia uma visão mais liberal do Estado e, do outro, estaria uma visão mais autoritária da causa pública.

NICHOLAS RAY, KNOCK ON ANY DOOR

RUI FLORES

Com os desvios autoritários de Erdogan cada vez mais visíveis – a Freedom House coloca a democracia turca no grupo de países “parcialmente livres”, que tem, no entanto, uma imprensa “não livre” –, Güllen, sob protecção norte-americana (assim decreta a narrativa turca oficial), estaria a travar uma luta com Erdogan. Segundo alguns autores, acima de tudo, isto seria um ataque ao chamado “modelo de governo turco”, que combina o Islão com democracia e economia de mercado (um modelo que estaria na base das genericamente falhadas primaveras árabes). A resposta de Erdogan aos eventos do ano passado não deixa, de facto, dúvidas sobre o caminho que quer trilhar o presidente turco: a União Europeia, no seu relatório anual sobre a Turquia, publicado no final de Setembro, indica que a purga conduzida pelo presidente turco levou à detenção de cerca de 40 mil pessoas, 31 mil das quais permanecerão presas, incluindo 81 jornalistas. Na administração do Estado, 66 mil funcionários públicos continuavam suspensos e 63

Dos 16 dossiers abertos (de um total de 33!) sobre as matérias respeitantes ao processo de adesão, as áreas de trabalho nas quais a Turquia teria de se aproximar aos padrões europeus para ser aceite no clube dos 28, apenas um chegou a bom porto

mil tinham sido despedidos. Mais de 4.000 instituições e empresas foram encerradas e os seus bens apreendidos ou transferidos para instituições públicas. A tentativa de purga chegou mesmo à Europa, com Ancara a pedir a vários Estados-membros da União Europeia o encerramento de escolas ou instituições alegadamente ligadas ao movimento Gülen. Neste contexto, há relatos de que membros da diáspora turca que vivem na Europa estão sob pressão para relatar outros membros destas comunidades. Tal como Putin, Erdogan tem demonstrado um certo apego ao poder. Está na chefia do Estado turco há apenas três anos, mas serviu como primeiro-ministro de 2003 a 2014, após três rotundas vitórias eleitorais à frente do Partido da Justiça e do Desenvolvimento, que criou em 2001. Mais do que a comparação em termos de estilo, deve salientar-se a aproximação entre os dois líderes políticos. Depois de a Turquia ter pedido desculpas por ter abatido um caça russo no âmbito do conflito sírio, as relações Ancara-Moscovo foram normalizadas um mês antes do golpe de estado; numa altura, em que os turcos criticavam fortemente os Estados Unidos, seu aliado da NATO, pela falta de assistência na luta contra as forças curdas na Síria. Com os desvios autoritários de Erdogan cada vez mais visíveis, consubstanciados pela consulta popular de 16 de Abril, não espanta que outros Estados-membros venham, nesta Europa de 2017, das posições extremadas e da cedência fácil ao populismo, juntar a sua à voz da Áustria, que, que na sequência da purga de Erdogan requereu o fim do processo de adesão da Turquia à União Europeia. Mesmo com a União Europeia a pagar à Turquia para manter nas suas fronteiras cerca de 3 milhões refugiados sírios nas suas fronteiras.

OPINIÃO


“ LIVRO INFANTIL ESTRANGEIRO É 0 NOVO INIMIGO DA CHINA

Há uma saudade/sem dono/pressentida em cada palavra/anunciada/em cada palavra/ que não foi dita/apenas segredada/no bálsamo do sono...”

Jorge Arrimar

“Não há dívida nenhuma” Alemanha responde a Trump em polémica sobre a NATO

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PUB

Governo chinês quer proteger as suas crianças das influências do estrangeiro e elegeu como novo inimigo os livros infantis que chegam do exterior, que segundo um grupo de livreiros, vai começar a ser limitado. As autoridades de Pequim estão a preparar uma ordem pela qual será reduzido “drasticamente o número de contos infantis estrangeiros publicados no país”, segundo disseram várias fontes do sector editorial ao diário independente de Hong Kong South China Morning Post. Trata-se de uma campanha para reduzir a influência de ideias estrangeiras e melhorar o controlo ideológico das crianças, apesar de estes textos terem pouco ou nenhuma implicação política, referem. Segundo asseguram estas fontes, a administração estatal vai impor um sistema de quotas, como já existe, por exemplo, no mundo cinematográfico, que limita o número de contos estrangeiros que se publicam a cada ano na China. Esta medida, que até ao momento só foi transmitida aos livreiros de forma oral, irá pressionar as editoras a publicar mais contos escritos e ilustrados por autores chineses. Desta forma, um dos editores entrevistados pelo jornal assegura que os livros da Coreia do Sul e do Japão vão ter “poucas possibilidades” de serem publicados na China e que a permissão para a edição de livros de outros países será “muito limitada”. A China é um dos mercados mais atractivos para as editoras infantis, sendo que os livros de desenhos animados estrangeiros estão cada vez mais populares entre os 220 milhões de jovens leitores menores de 14 anos e são muito mais populares que os textos locais. O South China Morning Post assegurou que tentou contactar as autoridades de Pequim para confirmar a notícia avançada pelos livreiros, mas não obteve resposta.

segunda-feira 20.3.2017

ORLY PAI DE ATACANTE LIBERTADO

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PENAS um dia depois do encontro entre Angela Merkel e Donald Trump, os dois países já trocam acusações. O Presidente norte-americano escreveu já este domingo que a Alemanha “deve vastas somas de dinheiro” à NATO e aos EUA, e não ficou sem resposta. Poucas horas depois das declarações de Trump na rede social Twitter, a ministra alemã da Defesa, Ursula von der Leyen, disse que “não há nenhuma dívida à NATO”. Além de negar a dívida apontada por Trump, Leyen explicou que o objectivo dos membros da Aliança Atlântica de gastar 2% do PIB até 2023 em defesa não se traduzia apenas nas contribuições para a NATO. “As despesas com defesa vão também para missões de paz da ONU, nas nossas missões europeias e na nossa contribuição na luta como o terrorismo”, disse em comunicado.

De acordo com a Reuters, a despesa da Alemanha com Defesa aumentará para os 38,5 mil milhões de euros em 2018, o que representa 1,26% do PIB. E Merkel, no encontro que teve com Donald Trump, prometeu aumentar a fatia para os

A ministra alemã não foi a única a “explicar” a Donald Trump como funciona a NATO. O antigo embaixador dos EUA na NATO, Ivo Daalder, expôs os erros de interpretação do Presidente numa série de tweets

LISBOA MORREU UM DOS JOVENS BALEADOS EM DISCOTECA

2% que estão apenas previstos serem atingidos pelos estados signatários do Tratado do Atlântico Norte em 2024.

OUTROS COMENTÁRIOS

A ministra alemã não foi a única a “explicar” a Donald Trump como funciona a NATO. O antigo embaixador dos EUA na NATO, Ivo Daalder, expôs os erros de interpretação do Presidente numa série de tweets. O diplomata diz que “não é assim que as coisas funcionam”, explicando que cada país decide o que paga, sendo que está acordado que o objectivo é que contribuam com 2% do PIB. Daalder acrescenta que a Alemanha não deve nada aos EUA, porque o financiamento à NATO não é um financiamento aos Estados Unidos e cada contribuição que os países fazem não é para a segurança própria, mas para o bem comum. “Combatemos duas Guerras Mundiais na Europa e uma Guerra Fria. Manter a Europa inteira, livre e em paz é vital para os interesses dos EUA”, escreveu.

Um dos três jovens ontem baleados durante uma rixa à porta de uma discoteca na zona de Alcântara, em Lisboa, morreu no hospital, disse à agência Lusa fonte da PSP. Segundo a fonte do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, o jovem baleado foi transportado para o Hospital São Francisco Xavier e foi submetido a uma intervenção cirúrgica, mas acabou por morrer. A rixa à porta da discoteca na zona de Alcântara, em Lisboa, provocou ainda dois feridos, estando um deles em estado grave, afirmou a fonte da PSP, adiantando que estes dois baleados foram transportados para o Hospital de Santa Maria. De acordo com a PSP, o alerta foi dado às 06:20 da manhã de ontem e quando a polícia chegou ao local já não encontrou os autores dos disparos.

pai do homem abatido no sábado no aeroporto de Orly, perto de Paris, depois de ter atacado um militar foi libertado na noite de sábado e o irmão e o primo continuam detidos para interrogatório, foi anunciado este domingo. Segundo fontes judiciais, citadas pela Efe, os investigadores estão a tentar determinar as motivações do atacante identificado como Ziyed Ben Belgacem - de nacionalidade francesa e nascido em Paris - que depois de ter disparado contra uma agente num posto de controlo da polícia numa zona a norte de Paris se deslocou para a zona sul da capital até ao aeroporto de Orly, onde agrediu e derrubou a arma a uma militar do dispositivo antiterrorista. Depois de ter disparado contra a polícia, segundo um procurador, Belgacem telefonou ao pai e ao irmão e disse-lhes: “Fiz um disparate, disparei contra uma polícia”. Nas buscas do domicílio do agressor, na localidade de Garge les Gonesse, a mesma onde disparou contra a agente, foi encontrada uma pequena quantidade de cocaína e por isso os investigadores tentam determinar se terá consumido drogas. Belgacem, que tinha antecedentes criminais por roubo à mão armada e por tráfico de estupefacientes, tinha sido vigiado pelos serviços secretos franceses por se ter radicalizado na prisão. Contudo, buscas ao domicílio de Belgacem em 2015 não tiveram quaisquer resultados preocupantes e por isso não ficou referenciado pelos serviços secretos. Durante o ataque à militar no aeroporto de Orly, Belgacem afirmou aos outros membros da patrulha: “Tirem as armas, estou aqui para morrer por Alá, de qualquer forma vai haver mortos”. Posteriormente, foi abatido.


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