Hoje Macau 20 ABR 2020 # 4509

Page 1

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

SEGUNDA-FEIRA 20 DE ABRIL DE 2020 • ANO XIX • Nº 4509

hojemacau LAG

LINHAS DA MEMÓRIA

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

TIAGO ALCÂNTARA

GRANDE PLANO

HABITAÇÃO ECONÓMICA

DIVISÕES ETÁRIAS

HOJE MACAU

PÁGINA 5

Os alunos do ensino secundário vão finalmente poder sair de casa e voltar às aulas a partir do mês que vem. O secundário complementar volta ao activo no dia 4 de Maio e o geral uma semana depois, no dia 11. O recomeço dos restantes níveis de ensino serão anunciados posteriormente. Para já, estima-se que cerca de 20 mil alunos regressem às salas de aula. PÁGINA 4

ERIC SAUTEDÉ VOLTA À BARRA PÁGINA 7

IVAN AIVAZOVSKY

Regresso à escola

JUSTIÇA

OPINIÃO

SEGUNDA VAGA JOÃO LUZ


2 grande plano

20.4.2020 segunda-feira

LAG RECORDAÇÕES DAS PRIMEIRAS MEDIDAS DE EDMUND HO E CHUI SAI ON

TRES EM LINHA ˆ

Ho Iat Seng, terceiro Chefe do Executivo da RAEM, apresenta hoje as Linhas de Acção Governativa. Recordamos as primeiras LAG apresentadaspelosseusantecessores. Edmund Ho deparava-se, em 2000, com a necessidade de resolver a elevada taxa de desemprego e de preparar a liberalização do jogo. Em 2010, Chui Sai On falava, pela primeira vez, no Metro Ligeiro, no Hospital das Ilhas e da necessidade de investir em habitação pública

N

O dia em que Ho Iat Seng, Chefe do Executivo, vai à Assembleia Legislativa (AL) apresentar o primeiro relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) do seu mandato, recordamos as primeiras LAG apresentadas pelos seus antecessores. Se o primeiro relatório das LAG de Edmund Ho para o ano de 2001, apresentado a 9 de Novembro de 2000, simbolizava o início de uma nova era e a vontade de mudança, o relatório das LAG apresentado por Chui Sai On, em 16 de Março de 2010, revelava a solidez do sistema. Acabado de chegar à liderança do Governo, Chui Sai On destacou o crescimento económico que o território registou nos últimos anos e deixou transparecer um olhar preocupado com as necessidades básicas da população ao nível de habitação, transportes e meio ambiente. Em 2001, num território que ainda não tinha concessionárias de jogo estrangeiras, era difícil encontrar emprego. Contudo, Edmund

À época, Edmund Ho recorreu a uma metáfora para classificar a economia local: “como se fosse uma pessoa a recuperar de uma doença longa e que ainda se encontra muito fraca.”

Ho tranquilizou os deputados e a população ao afirmar que os piores tempos pareciam estar a passar. “Podemos hoje afirmar que não houve nenhuma quebra no funcionamento normal do Governo, que foi garantida a estabilidade social, que houve crescimento económico, que a justiça cumpriu a sua função, que se verificou uma notável melhoria da situação de segurança e que a crise do desemprego, que atingiu proporções alarmantes em

dado momento, viu os seus efeitos reduzidos.” À época, Edmund Ho recorreu a uma metáfora para classificar a economia local: “como se fosse uma pessoa a recuperar de uma doença longa e que ainda se encontra muito fraca”. Uma das soluções apontadas era o empenho do Governo “nas condições de mercado”. Para isso, apostou-se no início do estudo sobre a liberalização do jogo, que aconteceu em Fevereiro de 2002. “Após a liberalização dos mercados de telemóveis e de Internet, o regime de exploração exclusiva dos jogos de fortuna e azar, que tem grande influência no desenvolvimento económico e social de Macau, irá ser resolvido com base numa análise científica.” O Executivo prometia ser “prático e realista, procedendo metodicamente”. Ficou o compromisso de, no final desse ano ou no início de 2002, lançar o concurso público “para a construção do novo posto fronteiriço das Portas do Cerco”,


grande plano 3

segunda-feira 20.4.2020

além de que "as infra-estruturas no COTAI, já iniciadas”, seriam “aceleradas”. Ainda a nível económico, Edmund Ho demonstrou vontade de aumentar a cooperação económica com a China e desenvolver o sector do turismo. “Volvidos mais de dez meses desde a criação da RAEM, beneficiando da recuperação económica do exterior, do crescimento acelerado e contínuo da economia do continente chinês, do aperfeiçoamento progressivo das condições próprias de Macau e dos esforços envidados pelos empresários e trabalhadores, a economia começa a ver a ‘luz ao fundo do túnel’”, denotou Edmund Ho.

MAIS SEGURANÇA

Depois das lutas entre tríades que marcaram os finais da década de 90, Macau fez progressos na área da segurança. E disso deu conta Edmund Ho. “Antes da reunificação, Macau atravessou um período assaz difícil no aspecto da segurança pública. A situação levou a que os investidores externos e os turistas hesitassem antes de escolher Macau como destino, com consequências negativas para o desenvolvimento económico e para a confiança da população em relação ao futuro. Desde a criação da RAEM o Governo assumiu a melhoria das condições de segurança pública como uma prioridade política de primeira ordem.” Na área da Administração Pública, o então Chefe do Executivo destacou a melhoria da comunicação entre funcionários públicos e população, apesar de haver arestas por limar. "Nos primeiros tempos

“No domínio dos transportes, são designadamente tarefas deste Governo a dinamização da construção do Metro Ligeiro.” LAG APRESENTADAS POR CHUI SAI ON EM 2010

da criação da RAEM não foi aconselhável proceder-se a uma reforma profunda da estrutura e do sistema de Administração Pública. Por essa razão, o funcionamento do sistema de Administração Pública é ainda semelhante ao do passado. Uma parte dos trabalhadores, incluindo os da direcção e de chefia, ainda não conseguiram articular, de forma adequada, o seu pensamento com os princípios básicos de ‘Um País, Dois Sistemas’ e ‘Macau governado pelas suas gentes’”. Em 2001, José Pereira Coutinho não era ainda deputado (foi eleito pela primeira vez em 2005), mas recorda que as expectativas em relação ao trabalho de Edmund Ho “eram enormíssimas face à possibilidade da abertura do mercado do jogo”. O deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau recorda, no entanto, a polémica das subconcessões. “Lembro-me que a Assembleia Legislativa autorizou pela via legal três licenças e que o Governo, pelas portas das traseiras, inventou uma ficção jurídica

autorizando mais três subconcessões que, na prática, se trataram de concessões, uma vez que eram totalmente independentes daquelas que foram autorizadas pela AL.” Apesar da vontade de Edmund Ho, Coutinho considera que se “negligenciou a reforma administrativa”, além de que “a corrupção aumentou e, de uma maneira feral, a carestia de vida aumentou também face à contínua monopolização dos bens de primeira necessidade”.

ERA CHUI SAI ON

Terminado o segundo mandato de quatro anos, Edmund Ho sai de cena e Chui Sai On toma posse como Chefe do Executivo a 20 de Dezembro de 2009, depois de alguns anos como deputado e de ocupar o cargo de secretário para os Assuntos Sociais e Cultura desde a criação da RAEM. As primeiras LAG de Chui Sai On foram um somatório das medidas e objectivos que foi repetindo ao longo dos anos à frente do Governo, alguns sem conclusão. Um deles é o Metro Ligeiro, que apenas funciona na Taipa, e o Hospital das Ilhas, que está por terminar. “No domínio dos transportes, são designadamente tarefas deste Governo a dinamização da construção do Metro Ligeiro”, lê-se no relatório. Relativamente ao novo hospital, em construção no COTAI, Chui Sai On constatava “a sobrecarga das instalações de cuidados de saúde e dos serviços médicos, em virtude do acelerado desenvolvimento de Macau”, razões pelas quais lançaria, “em breve, a construção de um comple-

xo hospitalar nas Ilhas”. A infra-estrutura já tinha plano definido, que incluía a construção de “um edifício de serviços de urgência e um edifício de serviços médicos integrados”. A economia estava, no entanto, bem melhor do que aquela que Edmund Ho encontrou nos primórdios da RAEM. “A adequada implementação pelo Governo da RAEM da política de liberalização da indústria do jogo permitiu um rápido desenvolvimento e evolução deste sector dominante de Macau e um crescimento contínuo da economia.”

19 MIL CASAS PÚBLICAS

No primeiro ano de mandato, Chui Sai On mostrou-se “determinado em dar continuidade às acções já

“Após a liberalização dos mercados de telemóveis e de Internet, o regime de exploração exclusiva dos jogos de fortuna e azar, que tem grande influência no desenvolvimento económico e social de Macau, irá ser resolvido com base numa análise científica.” LAG APRESENTADAS POR EDMUND HO EM 2001

iniciadas e em lançar novos projectos em diferentes domínios”. Um desses projectos era a aosta na habitação pública, uma política que sempre teve grande destaque nos discursos do ex-Chefe do Executivo. “A aceleração da construção de habitações públicas reveste-se de particular importância na melhoria da vida quotidiana dos cidadãos e na promoção da harmonia e tranquilidade sociais. Daí que, no corrente ano e num futuro próximo, o Governo da RAEM pretenda centrar a sua atenção e dar prioridade ao fomento da construção de habitação pública.” Nessas LAG ficou a promessa de construir 19 mil habitações públicas, objectivo que ficou por cumprir. Além da habitação, Chui Sai On prometeu ampliar os apoios sociais, sobretudo para os mais idosos, “aumentando o respectivo número de lares, prestando-lhes mais serviços de apoio domiciliário e apoiando e incentivando a política de manutenção dos idosos no domicílio”. Nas primeiras LAG, Chui Sai On deu também o mote para um dos dossiers mais polémicos dos seus dois mandatos: a revisão da Lei de Terras. “Pretendemos dinamizar os trabalhos de revisão da Lei de Terras e aperfeiçoar o Regime de Concessão de Terras, aumentando a transparência do respectivo circuito procedimental e reforçando a fiscalização pós-concessão.” Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


4 coronavírus

20.4.2020 segunda-feira

COVID-19 PEREIRA COUTINHO QUER ALARGAMENTO DE TESTES NA POPULAÇÃO

“D

Lou Pak Sang, director dos Serviços de Educação e Juventude “Continuamos com as aulas online por enquanto, e recomendamos às escolas para tratarem as notas de uma forma mais flexível.”

ENSINO ESTUDANTES DO SECUNDÁRIO VOLTAM ÀS AULAS EM MAIO

Os dias do recomeço

Foi ontem anunciado que os estudantes do ensino secundário vão regressar às aulas em Maio. Ainda não se avançam datas para o ensino primário, infantil e especial

A

S aulas do ensino secundário complementar recomeçam dia 4 de Maio, enquanto as do ensino secundário geral têm início dia 11 do mesmo mês. A informação foi ontem avançada pelo director dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Lou Pak Sang na conferência habitual sobre a covid-19.Ainda está por anunciar a data de recomeço das aulas do ensino primário, educação infantil e ensino especial. “O recomeço das aulas dos jardins de infância e das escolas de ensino especial é tratado com maior flexibilidade, não estando descartada a hipótese de as aulas dessas escolas não serem retomadas neste ano lectivo”, alerta a DSEJ. A medida vai levar ao regresso às aulas de cerca de vinte mil alunos. Se houver um surto na comunidade ou novos casos importados, as datas de reinício das aulas podem ser adiadas, e caso já estejam a decorr podem ser parcialmente ou totalmente suspensas. “Continuamos com as aulas online por enquanto, e recomen-

damos às escolas para tratarem as notas de uma forma mais flexível”, disse Lou Pak Sang, reiterando que se mantém a posição da DSEJ quanto à passagem de ano lectivo. Caso haja tempo suficiente depois do reinício das aulas, a avaliação poderá incluir uma nota antes da suspensão e posterior ao reinício. Mas se depois de as aulas recomeçarem o tempo for escasso “não é recomendável realizar avaliações sumativas nem a retenção de ano”, indica o organismo. A DSEJ vai ainda recomendar às escolas para aceitarem os pedidos de justificação de faltas, mediante a situação dos encarregados de educação e dos filhos.

Não há uma orientação definida sobre se as escolas devem fazer exames finais. “É por decisão da própria escola. O que recomendamos é não correr atrás da matéria e desvalorizar outros aspectos porque a aprendizagem é um percurso muito longo e podemos complementar com tempo as informações mais estruturais”, defendeu Lou Pak Sang.

APELO AO REGRESSO

Lou Pak Sang apelou aos professores e alunos que estão fora de Macau a regressarem ao território o mais cedo possível, apontando que podem pedir apoio se tiverem problemas. Face aos cerca de três

SEGURANÇA ONLINE

A

Direcção dos Serviços para a Educação e Juventude (DSEJ) entrou em contacto com o Gabinete de Protecção de Dados Pessoais (GPDP) face aos problemas do uso de dados pessoais da plataforma Zoom, tendo na altura contactado as 14 escolas que usavam este dispositivo. “No futuro a DSEJ espera que a aprendizagem online possa ocorrer de forma segura. (...) E no novo ano lectivo estamos preparados para adoptar uma plataforma online segura ou adoptarmos uma plataforma uniformizada para aprendizagem ou outras necessidades das escolas”, declarou ontem Lou Pak Sang.

mil alunos transfronteiriços existentes, o responsável disse que Macau está em contacto com as autoridades competentes. “Vamos ver se temos condições para os alunos que se encontram em sítios mais remotos na China regressarem. Já entrámos em contacto com as 28 escolas desses alunos transfronteiriços. Se precisarem de apoio estamos prontos a prestá-lo”, disse. Vão ser escolhidos professores para fazerem simulações de acordo com as directrizes para o reinício das aulas. Cada escola deve agendar a sua data para os simulacros, embora a DSEJ sugira que decorram entre 20 e 29 de Abril. Para apoiar os estabelecimentos de ensino, a DSEJ já instalou 43 equipamentos de medição de temperatura. Há também gel desinfectante e máscaras em números suficientes, com 628.800 para adultos e 659.300 para crianças. No total, cerca de 708 mil protecções foram compradas pelo organismo, enquanto as restantes resultam de donativos. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo

ISPÕEM as autoridades sanitárias, neste momento, de kits de testes em número suficiente para testar toda a população, considerando que o Covid-19 tem uma elevada taxa de transmissão?”, questionou Pereira Coutinho em interpelação escrita ao Governo. O deputado mostrou-se preocupado com os casos assintomáticos não detectados, defendendo que o número de casos confirmados a nível mundial “é uma parte mínima do número total de infecções”. Para além disso, o presidente da direcção da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau entende que sem os casos totais e sem saber quantas pessoas foram infectadas na RAEM ou contraíram o vírus no exterior, “é impossível ter a certeza da taxa de letalidade”. Depois de já ter recomendado por escrito que se fizessem testes aos 40 mil trabalhadores da função pública, O deputado vem agora pedir mais opções de rastreamento para o resto da população. Pereira Coutinho descreveu que o Conselho de Estado do Governo Central emitiu instruções para o tratamento de casos assintomáticos da covid-19, que passaram a ter de ser reportados no espaço de duas horas, e reiterou o risco de contágio a terceiros por parte dessas pessoas. Assim, quis saber que medidas é que as autoridades sanitárias de Macau vão implementar “para identificar os doentes assintomáticos e verificar a taxa de letalidade”. Entre as sugestões apresentadas estão o rastreio ao pessoal das Forças de Segurança de Macau, seguindo-se toda a função pública, bem como a possibilidade de os particulares tomarem a iniciativa de fazer testes em laboratórios ou clínicas credenciadas pelas autoridades.

SS Mais três altas

Ontem, o 11º dia consecutivo sem novos casos de infecção pelo novo tipo de coronavírus, tiveram alta mais três pacientes de covid-19, anunciaram as autoridades de saúde. Os pacientes recuperados encontram-se estáveis, sem febre ou sintomas respiratórios. Vão agora cumprir o período de 14 dias de convalescença no Alto de Coloane. São eles um homem de 43 anos que esteve nas Filipinas, a sua filha de nove anos, bem como uma mulher que esteve em Lisboa. Ou seja, o 34º, 39º e 43º casos confirmados, respectivamente. Ontem encontravam-se sob observação médica 215 pessoas nos hotéis designados, dos quais 127 residentes e 65 trabalhadores não residentes.


polítca 5

segunda-feira 20.4.2020

HABITAÇÃO ECONÓMICA CLASSIFICAÇÕES ETÁRIAS DIVIDEM DEPUTADOS

Idades dos porquês

O Governo já cedeu, mas a idade mínima de candidatura a habitação económica continua a não ser unânime entre os deputados, com alguns a defenderem que os 18 anos devem ser a idade mínima para todos os casos. Raimundo do Rosário diz que a solução passa por encontrar um meio-termo TIAGO ALCÂNTARA

A

idade mínima dos candidatos à habitação económica continua a dividir os deputados que estão a analisar a proposta de alteração da lei na especialidade. Em causa, está a sugestão do Governo que define os 23 anos como idade mínima para apresentar candidaturas individuais, já que há quem defenda que a fasquia deve ser colocada nos 18 anos. Apesar de o Governo já ter reduzido em dois anos a idade exigida para estes casos, a solução encontrada continua a não agradar a muitos deputados. Sobretudo, porque o Executivo aceitou reduzir para os 18 anos a idade mínima dos candidatos que concorrem por um agregado familiar, como atestou Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas. “A nossa proposta inicial era de 25 anos e (…) a proposta que está agora em cima da mesa é que, se a pessoa for

solteira, a idade mínima são 23 anos e se for casada, de 18 anos. Por isso o Governo já deu esse passo. Arranjar um consenso não está a ser fácil, portanto, haverá sempre sempre opiniões diferentes sobre o assunto. Agora o que estamos a tentar com a assembleia é um meio-termo que seja aceitável por todos”, explicou o secretário na passada sexta-feira, à saída da reunião da 1º Comissão

Permanente da Assembleia Legislativa (AL). Segundo Ho Ion Sang, que preside à Comissão, os argumentos de quem defende que as candidaturas individuais devem ser autorizadas a partir dos 18 anos prendem-se com o facto de a proposta do Governo deixar de fora os jovens “entre os 18 e os 22 anos”, por considerarem que estas pessoas já são maiores de

idade e ainda por estarem obrigados a cumprir requisitos económicos, ao contrário da habitação social. “Como o candidato tem de ter um determinado nível de rendimento, é diferente [do caso] da habitação social. A habitação económica prevê um rendimento mínimo para a candidatura, então os jovens precisam de ter um plano de vida, vão constituir família e devem ter esta opor-

tunidade de se candidatar”, transmitiu Ho Ion Sang. Do outro lado da barricada, os que defendem os 23 anos, alegam “existir falta de recursos” e que, idealmente, os jovens universitários, que por norma têm menos de 23 anos, “só devem começar a trabalhar e constituir família” depois de concluir os estudos, explicou o presidente da Comissão.

GARANTIR A OFERTA

Após a reunião, Ho Ion Sang revelou ainda que o Governo se comprometeu a garantir a oferta de habitação económica a médio e longo prazo. Para o efeito, o Executivo assegurou que pretende acelerar os trabalhos em curso para construcção de novas fracções públicas. “O Governo vai continuar a trabalhar e acelerar a construção de habitação económica na Zona A dos novos aterros. Em relação aos outros terrenos (...) o Governo vai acelerar os trabalhos. A ideia colmatar falta de recursos no âmbito da habitação económica a curto prazo já que a oferta é zero, mas a médio e longo prazo o Governo está confiante confiança”, referiu Ho Ion Sang. Um calendário mais detalhado poderá ser apresentado já na próxima semana, durante a apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG), disse ainda o deputado. Quanto à conclusão da discussão da actual proposta de Lei, Ho Ion Sang defendeu que “é preciso dar tempo

Concursos Ella Lei pede redução do limite mínimo de rendimento

A deputada Ella Lei interpelou o Governo sobre a necessidade de reduzir o limite mínimo do rendimento das famílias candidatas a uma habitação económica, para que mais agregados familiares possam estar abrangidos pelos concursos do Governo. A deputada alega que muitas famílias com necessidades de habitação acabam por ter o valor do seu património abaixo do limite mínimo de rendimentos para se candidatar à compra de uma casa económica. Ainda assim, Ella Lei destaca o facto de o limite mínimo de rendimento mensal ter passado de 7.820 patacas, em 2013, para as actuais 11.640 patacas, sendo semelhante ao limite máximo para se ter acesso a uma habitação social. No entanto, Ella Lei defende que estes valores acabam por não abranger todas as famílias necessitadas com médios e baixos rendimentos. Desta forma, a deputada exige também mudanças no limite máximo de rendimentos para se ter acesso a uma habitação social.

ao Governo”, sublinhando que este é um diploma que merece ser revisto periodicamente porque tem de acompanhar “as mudanças da sociedade”. Pedro Arede

info@hojemacau.com.mo

ORÇAMENTO EMPRESAS DE CAPITAL PÚBLICO RECEBERAM 10 MIL MILHÕES EM 2018

AEROPORTO PEDIDA NOVA ESTRATÉGIA PARA APOSTA NA AVIAÇÃO EXECUTIVA

O todo, em 2018, o Governo injectou verbas no valor de 9,9 mil milhões de patacas, nas 14 empresas de capitais públicos de Macau. A revelação foi feita na passada sexta-feira após a assinatura do parecer relativo à apreciação do relatório sobre a execução orçamental de 2018. Segundo Chan Chak Mo, presidente da 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), das 14 empresas visadas, duas assumiram um lugar de destaque: a Macau Investimento e Desenvolvimento e a CAM – Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau. “Das empresas com capitais públicos, duas contaram com mais dinheiro do Governo. Em 2018, o

Deputado Mak Soi Kun interpelou o Governo sobre a necessidade de redefinir a utilização do aeroporto internacional de Macau, tendo em conta que o aeroporto internacional de Hong Kong acaba por ser mais utilizado por passageiros em voos comerciais. Neste sentido, o deputado recomenda que seja expandido o hangar destinado ao uso de aeronaves executivas, para que Macau se torne num sítio de excelência no sul da China e sudeste asiático para a aviação executiva. Assim, esta actividade económica poderia servir para diversificar mais a economia num contexto de crise causada pela pandemia da covid-19, frisou o deputado. “Alguns especialistas sugeriram que a aviação

A

Governo injectou na Macau Investimento e Desenvolvimento 7,2 mil milhões de patacas.Aoutra empresa é a CAM e, por causa das obras de expansão e construção, o Governo injectou até 2018, 1,6 mil milhões de patacas”, referiu Chan Chak Mo. Além destas, das empresas de capitais públicos fazem parte a WTC, TDM, UMTEC, Sociedade para o Desenvolvimento dos Parques Industriais de Macau, Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau, Transferência Electrónica de Dados – Macau EDI Van, Canais de Televisão Básicos de Macau, Macau Renovação Urbana, Sociedade do Metro Ligeiro de Macau, Centro de Ciência de Macau, Matadouro de Macau e o

Instituto para o Desenvolvimento e Qualidade. Quanto aos organismos especiais, Chan Chak Mo, referiu que o Fundo de Pensões apresentou um crescimento negativo em 2018 de 1,1 mil milhões de patacas. Sem referir montantes, o deputado acrescentou que, a partir desse ano, e por causa disso, “o Governo começou a injectar verbas para o fundo.” Referindo-se à Fundação Macau, Chan Chak Mo transmitiu ainda que, de acordo com o Regime Jurídico da Exploração de Jogos de Fortuna ou Azar, em 2018, foram injectados no organismo 3,5 milhões de patacas, correspondentes a 2,0 por cento das receitas brutas de jogo desse ano. P.A.

O

executiva deve ser uma prioridade para o desenvolvimento de Macau, pelo que o aeroporto deve ser orientado para que haja um centro de manutenção e reparação de aeronaves, para que se possa contribuir para a construção de Macau como centro mundial de turismo e lazer. Qual é a resposta do Governo?”, questionou o deputado. De frisar que, num relatório recente do Comissariado da Auditoria, foram evidenciadas falhas de planeamento e de gestão financeira no projecto de expansão do hangar destinado a aeronaves executivas. Actualmente, o hangar provisório do aeroporto serve apenas para estacionar aeronaves, estando com uma taxa de ocupação inferior a 75 por cento.


6 publicidade

20.4.2020 segunda-feira

Assine-o TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo

www.hojemacau.com.mo


sociedade 7

segunda-feira 20.4.2020

Corpo de Polícia Detectados 53 trabalhadores ilegais

nismos. Em Fevereiro, foram sinalizadas sete pessoas em 10 locais, enquanto no mês passado foram encontrados 46 “trabalhadores ilegais suspeitos” no seguimento da fiscalização a 255 locais. As operações de fiscalização incluem terrenos de obras de construção civil, residências, bem como estabelecimentos comerciais e industriais.

Instituto Politécnico de Macau Criado glossário trilingue sobre pandemia Vai ser lançado pelo Instituto Politécnico de Macau (IPM) um glossário trilingue chinês-português-inglês, que inclui as 200 expressões e termos usados com mais frequência no âmbito da pandemia da covid-19. O glossário “tem como objectivo apoiar Macau e outros países e regiões no desenvolvimento dos trabalhos de combate e de

prevenção da epidemia”, comunicou o IPM, acrescentando que o documento está dividido em cinco partes: combate à epidemia em Macau, instituições de prevenção da epidemia, aspectos clínicos da doença, controlo e prevenção, bem como medidas de combate. São incluídas as entidades e expressões das medidas de prevenção

e controlo da epidemia no território, para “promover a experiência” da RAEM na luta contra a epidemia. Para além disso, o glossário abrange “as manifestações clínicas e vocabulário sobre as doenças epidémicas, as medidas de prevenção e controlo e os materiais e produtos de protecção e higiene”.

GONÇALO LOBO PINHEIRO

Em Fevereiro e Março foram encontrados 53 trabalhadores ilegais suspeitos, revelam dados do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP). Foram anunciadas as informações estatísticas sobre o combate ao trabalho ilegal dos dois últimos meses, resultantes das operações feitas pelo CPSP, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais e outros orga-

E

R I C Sautedé vai ver, pela primeira vez, um tribunal da RAEM julgar se o seu despedimento da Universidade de São José (USJ) foi ou não legal e se ocorreu por questões políticas. Segundo o acórdão do Tribunal de Última Instância (TUI) a que o HM teve acesso, entende-se que o despedimento deve julgado pelo Tribunal Judicial de Base (TJB) para que se verifique se violou ou não direitos e princípios fundamentais presentes na Lei Básica e na lei laboral. Em causa estão os direitos à liberdade de expressão, de igualdade dos residentes perante a lei e liberdade de exercer actividades de educação e de investigação académica, sem esquecer os princípios da igualdade e de boa fé. O TUI entende que “a decisão recorrida não se pode manter, impondo-se a sua revogação com a devolução dos presentes autos ao TJB para a incluir na Base Instrutória e proceder em conformidade”. Sautedé foi despedido a 4 de Junho de 2014 e colocou

JUSTIÇA TJB VAI TER DE JULGAR DESPEDIMENTO DE ÉRIC SAUTEDÉ PELA USJ

Baralha e volta a dar O Tribunal de Última Instância entende que o Tribunal Judicial de Base deve julgar se o despedimento do académico Eric Sautedé da Universidade de São José violou direitos e princípios fundamentais constantes na Lei Básica da RAEM e na lei das relações do trabalho a USJ em tribunal com base em declarações proferidas por Peter Stilweel, reitor da USJ, ao diário Ponto Final. Este disse que os comentários políticos feitos publicamente por Sautedé contrariavam os princípios da Igreja Católica, uma vez que esta sempre assumiu a posição de não intervir em questões políticas. O despedimento nunca foi julgado porque o TJB entendeu não ter competência para tal argumentando, em primeiro lugar, que as declarações do reitor foram feitas depois da USJ terminar o contrato com o docente.

O TJB referiu ainda que, em processo laborais, “se discutem sempre questões de natureza intrinsecamente patrimonial, por exemplo,

O TUI entende que “a decisão recorrida não se pode manter, impondo-se a sua revogação com a devolução dos presentes autos ao TJB” ACÓRDÃO

subsídio de alimentação, (...) e não questões de natureza não patrimonial (moral)”, uma vez que a lei laboral permite o despedimento sem justa causa. O TUI considerou esta posição errada porque não só Peter Stilwell falou à imprensa quando Sautedé ainda estava na USJ como este alega que essas declarações ao jornal constituem “as verdadeiras razões” para o despedimento. O TUI entende que o TJB tem competência para julgar “todos os litígios que surjam durante a vigência da relação laboral”, até porque

Sautedé alega que a USJ teve “condutas atentatórias de direitos (fundamentais) seus”, além de que a cessação do contrato de trabalho “ocorreu de forma ‘camuflada’ e irregular”. É reconhecido, no acórdão, que “na referida comunicação escrita [a Sautedé], a ré [USJ] não adiantou qualquer razão ou fundamento que justificasse o motivo pelo qual fazia cessar o contrato”, conforme determina a lei laboral.

REGRESSO AO TRABALHO

No recurso apresentado por Eric Sautedé consta o pedido

de pagamento de uma “quantia diária nunca inferior a 10 mil patacas” como “sanção pecuniária compulsória por cada dia de atraso na efectiva reintegração do autor no seu posto de trabalho”. Por danos patrimoniais é exigido o pagamento de cerca de 885 mil patacas e “uma quantia nunca inferior a 500 mil patacas” por “danos morais em virtude do sofrimento, do abalo e da denegrição pública da imagem do autor junto da comunidade local e internacional”. Pede-se também que a USJ apresente “publicamente um pedido de desculpas ao autor, a publicar num dos jornais mais lidos em Macau, em língua chinesa, portuguesa e inglesa, em virtude do seu comportamento abusivo e ofensivo para com o autor”. Aquando do despedimento, a universidade privada pagou a Eric Sautedé a quantia de 48 mil patacas como compensação. O professor universitário foi contratado a 4 de Julho de 2007. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


8 sociedade

20.4.2020 segunda-feira

À semelhança de outras partes do mundo, a qualidade do ar em Macau também melhorou com o impacto do novo tipo de coronavírus. Trinta dias depois do Ano Novo Chinês, registou-se um aumento de 190% dos dias com boa qualidade do ar, em comparação com o mesmo período de tempo antes dos feriados

O

AMBIENTE POLUIÇÃO BAIXOU ATÉ 39 POR CENTO DEPOIS DO ANO NOVO CHINÊS

Um pouco mais de azul

impacto do novo tipo de coronavírus traduziu-se em cidades isoladas, negócios fechados e restrições a viagens. A paragem económica e social provocada pela crise de saúde pública tem sido associada ao decréscimo da poluição do ar em diferentes pontos do mundo. Dados da Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) mostram sinais do mesmo fenómeno em Macau. Entre 26 de Dezembro e 24 de Janeiro, registaram-se nove dias com boa qualidade do ar. Nos 30 dias seguintes, esse número subiu para 26, o que representa um aumento de 190 por cento. “Verificou-se que após o Ano Novo Chinês, as concentrações médias de PM 2,5 e dióxido de azoto (NO2) apresentaram uma descida significativa sendo que os principais motivos foram a diminuição do fluxo de tráfego e a redução

O

Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) anunciou na passada sexta-feira o lançamento de mais de 60 obras públicas a partir de Maio, orçamentadas em mais de 100 milhões de patacas. Estimando oferecer emprego a mais de 700 trabalhadores, o IAM anunciou ainda ter criado um regime optimizado de concurso público que permite a participação de um número maior de pequenas e médias empresas (PME) nas obras de remodelação e

da emissão de gases provenientes de veículos automóveis”, indicam informações na página online do organismo. Ainda assim, os SMG apontam que a variação não se pode explicar apenas de uma perspectiva, já que as condições meteorológicas também afectam a qualidade do ar. No caso das partículas PM 2,5 a descida foi de 39 por cento, enquanto a concentração média do dióxido de azoto baixou 29 por cento. O dióxido de azoto é um gás que vem sobretudo da queima de combustíveis fósseis, como nos motores de veículos ou processos industriais, e pode levar a problemas do foro respiratório. De acordo com a Agência Espacial Europeia, dados de um satélite do programa Copernicus mostram que algumas cidades registaram uma diminuição de 45 a 50 por cento nos índices de dióxido de azoto, em comparação com o ano passado.

Os SMG indicam ainda que com a redução generalizada de actividades sociais depois do Ano Novo Chinês era expectável que o dióxido de carbono diminuísse ligeiramente.

FECHO DOS CASINOS

Thomas Lei, um aluno de doutoramento da Universidade de São José (USJ), disse ao HM que “com o fecho dos casinos vimos uma quebra muito significativa de todos os poluentes em Macau”.

“Com o fecho dos casinos vimos uma quebra muito significativa de todos os poluentes em Macau.” THOMAS LEI DOUTORANDO

A soma das partes Obras do IAM procuram salvaguardar trabalhadores locais

optimização da cidade. “Estas 60 obras públicas custam 100 milhões de patacas providenciando mais de 700 trabalhos às PME. Mesmo que sejam obras de maior escala, vamos dividi-las em pequenas partes para beneficiar mais PME na lista de candidatos”, referiu o IAM. Além disso, para motivar a contratação de trabalhado-

res locais, o IAM anunciou também a introdução de uma taxa de contratação obrigatória de 25 por cento de colaboradores residentes. “Anteriormente, noutras obras, considerávamos primeiro o preço mais baixo, mas desta vez consideramos, em primeiro lugar, o mecanismo especial de contratação. Os 25 por cento são para garantir

Durante os 15 dias em que os casinos fecharam em Fevereiro, como parte das medidas preventivas emitidas pelo Governo para prevenir a propagação da covid-19, a concentração de partículas PM 2.5 diminuiu para valores muito baixos. No entanto, desde que as restrições foram levantadas os valores têm recuperado. “Devagarinho vai voltar ao normal, porque tudo está a retomar”, comentou Thomas Lei, reiterando que “a suspensão das actividades sociais realmente melhorou a qualidade do ar”. Questionado sobre o que pode a RAEM fazer para manter os níveis de poluição mais baixos, apontou para o exemplo das medidas tomadas na Europa. O estudante deu como exemplo a criação de zonas de baixa emissão em Lisboa como, por exemplo, a Avenida da Liberdade onde não podem circular carros com mais de oito anos. “O

a participação de trabalhadores locais”, explicou o IAM. As mais de 60 obras previstas para Maio incluem a optimização de sanitários públicos, a renovação e reparação de vedações metálicas das vias públicas, a renovação de todas as placas de numeração policial da cidade, a repavimentação de

Governo pode definir algo assim, talvez na Rua do Campo ou áreas muito congestionadas em Macau”, observou. Para além disso, o doutorando sugere mais incentivos na compra de veículos eléctricos e no uso de transportes públicos. De acordo com uma resposta dada pela Sociedade do Aeroporto de Macau (CAM) ao HM em Março, devido à situação epidémica, o número de voos de Macau reduziu desde o final de Janeiro. “As companhias aéreas cancelaram cerca de 90 por cento dos voos e estão agora a operar cerca de 20 voos por dia.” O cancelamento de viagens de avião, no entender de Thomas Lei, também faz diferença. A esse nível, apontou que se pode encorajar mais trabalho remoto para diminuir a quantidade de viagens.

vias públicas e ainda a manutenção de sarjetas e esgotos. O plano de remodelações divide-se em três fases, cada uma dividida por oito zonas, com início sucessivo a partir de Maio.

A TEMPO DO COMBATE

Relativamente ao plano de optimização de sanitários públicos, intervenção avaliada em seis milhões de patacas, o IAM pretende acelerar as obras com o objectivo de “acompanhar os trabalhos de prevenção e combate à pandemia”. No total, foram

Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo

finalizados os primeiros 20 projectos, estando a conclusão dos restantes 40 prevista para o mês de Maio. Para além da renovação estéctica dos espaços e de mais ventilação natural, está ainda contemplada a criação de áreas para pais e filhos, a instalação de sensores para evitar o contacto com os equipamentos e salas de amamentação. Pedro Arede

info@hojemacau.com.mo


sociedade 9

segunda-feira 20.4.2020

JOGO SANDS CHINA NÃO RECOMENDA DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS DE 2019

IC Canhão desenterrado em obras de canalização

Durante as obras de canalização na Avenida de Demétrio Cinatti foi encontrado um canhão antigo, comunicou o Instituto Cultural (IC). O objecto desenterrado foi transportado para um armazém e vai ser estudado. O IC registou os pormenores do ambiente do local e o estado do canhão, que foi sujeito a scaneamento tridimensional. Como não foram encontrados outros vestígios ou relíquias na área em redor, as obras foram retomadas.

Jogo G2E Asia adiado para Dezembro

O maior evento da indústria do jogo que se realiza em Macau, o Global Gaming Expo Asia (G2E Asia), foi novamente adiado para Dezembro, devido à pandemia da covid-19, foi anunciado na sexta-feira. “Com base na nossa monitorização contínua da crise global da saúde, e em consulta com os nossos clientes e o Governo de Macau, tomamos a difícil decisão de adiar o G2E da Ásia para Dezembro”, indicou a organização, em comunicado. O evento, previsto para Maio, tinha sido inicialmente adiado para Julho. O certame está agora marcado para os dias 1,2 e 3 de Dezembro, mantendo-se o ‘resort’ Venetian Macau como local escolhido. “Infelizmente, devido à pandemia da covid-19 e às restrições contínuas de viagens comerciais, não é possível manter o G2E Ásia em Julho”, acrescentou.

Lou Kau Obras até fim de Junho

A casa de Lou Kau, na Travessa da Sé, vai receber obras de restauro até ao final de Junho. A intervenção começou na passada sexta-feira e de acordo com uma nota do Instituto Cultural (IC), tem como objectivo “a manutenção e preservação do interior da casa”. O espaço estará, no entanto, aberto ao público, prevendose o encerramento de algumas áreas de acordo com o desenrolar dos trabalhos.

IAM Plano para expandir Pavilhão do Panda Gigante

O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) está a planear expandir o Pavilhão do Panda Gigante, em Seac Pai Van, por considerar que a actual infra-estrutura não responde ao desenvolvimento da comunidade de pandas no futuro. Segundo informação do canal chinês da TDM - Rádio Macau, os pandas residentes no pavilhão, com os nomes Kai Kai e Xin Xin, podem vir a procriar no futuro, explicou Mok Weng Han, técnica da Divisão de Parques do Departamento de Zonas Verdes e Jardins do IAM. A ideia é que, no futuro, se possa desenvolver o Projecto Nacional de Procriação de Pandas Gigantes, depois de a China ter oferecido à RAEM, em 2019, um par de pandas gémeos, de nomes Jian Jian e Kong Kong, com quase quatro anos de idade.

Mais vale estar quieto

O conselho de administração da Sands China decidiu não recomendar a distribuição de lucros do exercício de 2019 pelos accionistas, devido ao impacto económico da covid-19. A operadora sublinhou ainda o compromisso com os investimentos em curso no território

N

A reunião do conselho de administração “os membros decidiram não recomendar o pagamento de um dividendo final referente ao exercício encerrado em 31 de Dezembro de 2019”, de acordo com um comunicado. O conselho de administração “reconhece o impacto material actual e potencial (...) da pandemia na economia global e o importante papel que a empresa desempenha na ajuda a Macau”, indicou a operadora, que explora cinco casinos em Macau. “A companhia possui um forte capital, financiamento e liquidez e continua comprometida com a execução dos seus inves-

timentos em curso em Macau”, sublinhou a mesma nota. De acordo com os dados divulgados esta semana pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), as receitas brutas do jogo VIP no primeiro trimestre deste ano caíram em Macau mais de 60 por cento em relação a igual período do ano passado. As receitas angariadas nas salas de grandes apostas nos três primeiros meses do ano foram de 14,8 mil milhões de patacas, contra os 37,2 mil milhões de patacas angariados no primeiro trimestre de 2019.

CONTEXTO DE CRISE

Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou

que a economia de Macau deverá regredir 29,6 por cento este ano, devido à pandemia da covid-19. Com uma economia altamente dependente do jogo, Macau viu as

“A companhia possui um forte capital, financiamento e liquidez e continua comprometida com a execução dos seus investimentos em curso em Macau.” SANDS CHINA

receitas totais do jogo caírem em Março 79,7 por cento, em relação a igual período de 2019, mês em que medidas para conter o surto da covid-19 praticamente encerraram as fronteiras do território. Os últimos dados oficiais apontam também uma descida de 60 por cento nos três primeiros meses do ano, depois de em Fevereiro se terem registado perdas históricas nas receitas do jogo, quando os casinos estiveram fechados durante 15 dias. Os casinos de Macau fecharam 2019 com receitas de 292,46 mil milhões de patacas.


10 coronavírus

(À HORA DO FECHO DA EDIÇÃO)

TOP 20 DOS PAÍSES

55141 Em estado crítico

2351163

606208

Infectados (total cumulativo)

COM MAIS CASOS 738923

Espanha

195944

Itália

175925

França

151793

Alemanha

134753

Reino Unido

98476

China

82431

Turquia

77995

Irão

69392

Rússia

34809

Bélgica

29214

Brasil

29015

Canadá

28379

Holanda

27938

Suiça

26422

Portugal

18841

Índia

14412

Irlanda

12591

Áustria

12547

Perú

12540

Suécia

12456

Curados

Co novel

1583680 Infectados

(total cumulativo)

E.U.A.

20.4.2020 segunda-feira

(casos activos)

610 Curados

714 PORTUGAL

Mortos

PAÍSES LUSÓFONOS (total cumulativo)

Portugal

20206

Brasil

36925

Moçambique

39

Angola

29

Guiné-Bissau

46

Timor-Leste

19

Cabo Verde

61

São Tomé e Principe

4

PORTUGAL

países sem casos de nCov

Infectados (casos activos)

29 MACAU

PAÍSES ASIÁTICOS (total cumulativo)

China

82735

China | Macau

45

China | Hong Kong

1026

China | Taiwan

420

Coreia do Sul

10661

Japão

10296

Vietname

268

Laos

19

Cambodja

122

Tailândia

2765

Filipinas

6259

Myanmar

107

Malásia

5389

Indonésia

6575

Singapura

6588

Borneo

138

18882

países com casos de nCov

Infectados (casos activos)

16 Curados

HONG KONG

420 Infectados

Macau

(casos activos)

4

HONG KONG

602 Curados

Hong Kong

Mortos


coronavírus 11

segunda-feira 20.4.2020

62902

ovid-19 l coronavírus

Casos suspeitos

161275 Mortos

0 1-9 10-99 100-499 500-999 FONTES:

+1000

• https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/ opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/emergencies/diseases/ novel-coronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/ index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/geographical-distribution-2019-ncov-cases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/pneumonia

Ocorrências nas áreas afectadas

Dados actualizados até à hora do fecho da edição

Covid-19 vs SARS

CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO

2.000.000 150.000 100.000 75.000 50.000 25.000 12.500 0

20

40

60

dias dias dias Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto

80

dias

100

dias

120

dias

REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Shandong Jiangsu Chongqing Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Guangxi

INFECTADOS 67801 1475 1276 1254 1018 990 935 760 631 576 538 480 414 337 318 296 294

MORTOS 2641 7 20 1 4 6 1 6 5 6 3 13 5 3 6 1 2

REGIÃO Shaanxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete

INFECTADOS 245 174 168 146 132 136 121 91 91 76 75 71 162 77 18 13 1

MORTOS 2 2 5 2 0 3 1 2 1 2 0 0 3 1 0 0 0


12 china

Apesar de não haver registos oficiais, portugueses residentes em Guangdong queixam-se também de serem vítimas de atitudes discriminatórias. A comunidade africana continua, no entanto, a ser a mais afectada

20.4.2020 segunda-feira

HRW DENUNCIADA DISCRIMINAÇÃO PARA COM ESTRANGEIROS

Ninguém escapa

P

ORTUGUESES a residirem na China queixaram-se à Lusa de discriminação por parte de chineses por medo da covid-19, uma realidade que afecta a comunidade estrangeira e ignorada por Pequim, confirmou a organização não-governamental Human Rights Watch (HRW). “O Governo central tem o dever de proteger toda a gente (…) Este racismo tem de ser parado”, afirmou ontem à agência Lusa o vice-director da HRW para a Ásia, acrescentando que a organização não-governamental (ONG) tem recebido várias denúncias de estrangeiros barrados em vários serviços e que estão a sofrer ataques xenófobos nas ruas e nas redes sociais do país. A China desde há várias semanas que tem registado cada vez menos casos da doença e estes têm sido, na maioria das vezes, provenientes do exterior, os chamados casos importados. Ao contrário, o resto do mundo, sobretudo fora da Ásia, tem visto o número de infectados a subir exponencialmente. A desconfiança para com os estrangeiros vem precisamente por essa razão, explicou Phil Robertson, acrescentando que estes incidentes se agudizam porque nem o Governo central nem as autoridades provinciais estão a

ELO MAIS FRACO

agir para prevenir esses comportamentos. Na província chinesa de Guangdong, dois portugueses, que pediram à Lusa para não serem identificados, denunciaram vários incidentes discriminatórios de que têm sido alvo. Um dos portugueses disse ter sido impedido de alugar espaços desportivos pela simples razão de ser estrangeiro. Os dois queixam-se de vários comportamentos discriminatórios. Entre alguns exemplos, contam que os chineses saem propositadamente do elevador quando eles entram.

Apesar de os casos mais graves não terem acontecido com eles, os dois contam vários relatos que têm recebido de amigos próximos,

Dos 203 portugueses registados no consulado [de Cantão], apenas 20 responderam e nenhum deles comunicou ter sofrido de comportamentos discriminatórios

como o impedimento de entrar na loja da multinacional norte-americana Walmart em Zhuhai, ou de outros que foram expulsos de um hotel. Questionado ontem pela Lusa, o cônsul português na cidade chinesa de Cantão afirmou ter conhecimento de casos discriminatórios para com estrangeiros, mas garantiu que não lhe foi reportado qualquer queixa de cidadãos portugueses. “O consulado enviou um questionário a todos os cidadãos que estão aqui registados a perguntar se têm tido problemas”, disse André Sobral Cordeiro. Dos 203 portu-

LUSOFONIA EXPORTAÇÕES CAEM 14,33 POR CENTO NO MÊS DE JANEIRO

O

S países lusófonos diminuíram em 14,33 por cento as exportações para a China em Janeiro, em comparação com o período homólogo de 2019, segundo dados oficiais divulgados sexta-feira. De acordo com os dados dos Serviços de Alfândega chineses, as trocas comerciais entre a China e os países lusófonos fixaram-se em 12,5 mil milhões de dólares em Janeiro, verificando-se uma diminuição homóloga de 5,91 por cento. Apesar da diminuição de 14,33 por cento, as exportações dos paí-

gueses registados no consulado, apenas 20 responderam e nenhum deles comunicou ter sofrido de comportamentos discriminatórios. “Têm acontecido, de facto, algumas situações [discriminatórias para com estrangeiros], mas, em relação aos cidadãos portugueses, eles têm que nos dizer”, sublinhou, apelando para que os portugueses lhe comuniquem essas situações de forma a que o consulado possa responder e intervir. “Caso contrário, não temos como saber”, reforçou. André Sobral Cordeiro explicou ainda que estão a ser discutidos entre vários Estados “uma acção comum” sobre a forma como vão agir, acrescentando que nessa altura a comunidade será informada.

ses lusófonos representam a maior parte deste valor: 8,27 mil milhões de dólares. Já as importações de produtos chineses para os países lusófonos registaram um aumento homólogo de 16,03 por cento, no valor de 4,3 mil milhões de dólares. O Brasil continua a ser o principal parceiro da China no âmbito do bloco lusófono, tendo registado trocas comerciais de 9,84 mil milhões de dólares, menos 0,32 por cento em relação ao mesmo período do ano passado.

Brasília exportou para Pequim, no primeiro semestre do ano, produtos no valor de 6,28 mil milhões de dólares, menos 9,85%, com o Brasil a adquirir à China bens no valor de 3,56 mil milhões de dólares, um aumento de 22,46 por cento. Portugal exportou em Janeiro para a China produtos no valor de 183,9 milhões de dólares, menos 10,1 por cento, relativamente ao período homólogo de 2019. Já as importações de produtos chineses aumentaram 2,28 por

cento, em relação ao mesmo período do ano passado. Portugal importou da China bens no valor de aproximadamente 386,6 milhões de dólares. De acordo com dados oficiais publicados no portal do Fórum Macau, com base nas estatísticas dos Serviços de Alfândega chineses, as trocas comerciais entre Lisboa e Pequim ascenderam a 570 milhões de dólares, quando em Janeiro do ano passado tinham sido de mais 582 milhões de dólares.

O grupo que tem sofrido mais xenofobia é o africano. Fotografias e vídeos difundidos, na semana passada, em redes sociais, mostravam jovens e famílias de africanos a dormirem na rua em Cantão, no sul da China, após terem sido forçados a deixar casas e hotéis pelas autoridades, e proibidos de entrarem em lojas e em restaurantes. Como consequência, vários governos africanos convocaram os embaixadores chineses nos respectivos países para manifestar preocupação, ao mesmo tempo que os embaixadores africanos na China escreveram uma carta conjunta ao ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, e ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas a denunciar a "discriminação e estigmatização" dos africanos em Cantão. “A xenofobia e o racismo não têm lugar num país civilizado”, afirmou o responsável da HRW. Da mesma forma, quando a situação da pandemia estava invertida (com mais casos na China do que no resto do mundo), Pequim criticou actos xenófobos e discriminatórios para com os asiáticos. “Não pode agora olhar para o lado”, frisou Phil Robertson.


china 13

segunda-feira 20.4.2020

A

polícia de Hong Kong deteve pelo menos 14 activistas do movimento pró-democrático acusados pela organização de protestos não autorizados em 2019, avançou a imprensa no sábado. O partido político da Liga dos Social-Democratas confirmou na rede social Facebook que o seu presidente, Raphael Wong, o vice-presidente Leung Kwok-hung e o secretário-geral Avery Ng estão entre os detidos, segundo a EFE. Também foram detidos ex-legisladores como Martin Lee Chu-ming e Lee Cheuk-yan, que antes pertenciam ao Partido Democrático, e Figo Chan Ho-wun, vice-coordenador da Frente Civil de Direitos Humanos, segundo o diário Hong Kong Free Press. Foi ainda detido Jimmy Lai Chee-ying, fundador do jornal Apple Daily, conhecido pelo seu apoio ao movimento pró-democracia e pela sua oposição ao Governo pró-Pequim. Todos os detidos estão acusados de organizarem os protestos proibidos realizados a 18 de Agosto, 1 de Outubro e 20 de Outubro do ano passado, avança o jornal. Alguns deles já tinham sido detidos devido à manifestação proibida de 31 de Agosto, que PUB

Regresso à política Detidos pelo menos 14 activistas em Hong Kong por protestos em 2019

marcou o décimo terceiro fim de semana consecutivo de protestos em Hong Kong e teve a participação de dezenas de milhares de pessoas apesar da chuva intensa desse dia. Foi nesse dia que a polícia decidiu usar canhões de água tingida de azul pela primeira vez. O protesto de 1 de Outubro, que decorreu enquanto Pequim comemorava o 70.º aniversário da fundação da República Popular China, acabou com uma pessoa baleada em estado crítico, dezenas de detidos e lançamento de gás lacrimogéneo. Mais tarde, no dia 20 do mesmo mês, teve lugar outro protesto que pedia uma reforma do corpo policial e acabou igualmente com feridos graves, estradas bloqueadas e lançamento de cocktails molotov.

INTERVALO PANDÉMICO

Nos últimos meses, as autoridades de Hong Kong intensificaram os seus esforços para pressionar os

dissidentes e, desde que começaram os protestos, em Março do ano passado, detiveram ou multaram numerosos activistas e figuras proeminentes da luta pró-democracia. Os protestos começaram como oposição a uma polémica proposta de lei de extradição que, segundo os activistas, podia permitir que Pequim acedesse a "fugitivos" refugiados na antiga colónia britânica, mas os motivos acabaram por alargar-se. Os manifestantes apresentam cinco reivindicações: a retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão da chefe de governo Carrie Lam e sufrágio universal nas eleições para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong. As manifestações mobilizaram centenas de milhares de pessoas e registaram graves confrontos com a polícia. Os protestos foram, entretanto, suspensos devido à pandemia de covid-19, mas os seguidores do movimento pró-democrático avisaram já que quando a crise de saúde terminar tencionam voltar às ruas para novas manifestações.


14

h

20.4.2020 segunda-feira

já não possuo a brancura oculta das palavras

A Sublime Ambição de Fang Congyi

Paulo Maia e Carmo texto e ilustração

Z

HANG Yanyuan durante a dinastia Tang, escrevendo sobre o pintor Gu Kaizhi (c.345-c.406) relata que ao pintar num mural a figura de Vimalakirti (Weimojie), só considerou a obra terminada quando colocou os dois pontos nos olhos do sábio. Esse carácter mágico do pincel que confere vida a figuras pintadas perdura na cultura popular até hoje. Mas aplicados à prática da pintura os pontos (dian), de que Guo Xi fala de modo descritivo: «um ponto é o que efectua a ponta do pincel apoiado na superfície», adquiriria na linguagem dos pintores um carácter de técnica fundamental. Embora os entendidos soubessem que todas as regras se deveriam submeter ao «sopro» qiyun, que era o que equiparava a pintura ao fluir da natureza. Essa era a sublime ambição, que está bem presente na biografia e nas obras de um sacerdote daoísta que se dedicou à pintura e que viveu durante a dinastia Yuan chamado Fang Congyi (1302-1393). Nascido em Guixi, na Província de Jiangxi desde cedo iniciado nos mistérios da filosofia de Laozi, num lugar conhecido como o berço do Daoísmo, a montanha Longhu (Jiangxi), um facto influenciaria de modo radical o seu trajecto vital: a perda do seu mestre Jin Pengtou (1276-1341). A partir desse momento viajou sozinho ao longo do rio Yangzi, subindo depois até à capital Khanbaliq (Pequim) tomando então a arte do pincel. Os letrados de então, herdeiros da cultura da anterior dinastia Song, desenvolviam um

sofisticado vocabulário de figuras, alusões e até nomes com que assinavam as pinturas. Fang Fanghu foi um desses nomes alternativos com que Fang Congyi assinou pinturas e que tinham sentidos complexos. O significado de «Fanghu» é «Jarro quadrado» mas este era também o nome de uma das lendárias ilhas dos imortais do Daoísmo e a escolha revelava uma intenção. Com esse nome ele assinou a pintura «Remando no meio do monte Wuyi», rolo horizontal em tinta sobre papel (74,4 x 27,8 cm) que se encontra no Museu do Palácio, em Pequim, no qual se pode observar uma minúscula representação de duas figuras numa embarcação no meio de uma paisagem luxuriante. O monte Wuyi, que Fang terá conhecido através do seu mestre, era um conhecido lugar de culto dos antepassados, um lugar de reencontro. E é essa ideia que é afirmada na caligrafia aposta na pintura, na dedicação ao seu amigo Zhou Shujin, em que o gesto do escritor e do pintor são indistintos. Escreveu: «Estando separado dele há mais de um ano imaginei o nosso reencontro, por isso seguindo as ideias do pincel de Juran, pintei isto para oferecer a Zhong Xuan (Shujin), na esperança que chegue até ele.» Ao recriar na fragilidade do papel essa centelha de vida, revivendo encontros que ficaram perdidos no passado, ele conferia à pintura essa estranha sensação que podemos entender na concepção daoísta da unidade dos opostos, a impressão de uma alegria flébil.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

segunda-feira 20.4.2020

Anabela Canas

3. Lux De alma cheia, no caminho de regresso. A sonhar paisagens, embalada pelo ronronar mecânico e muito mais pelas palavras que ficaram a ecoar. Há entre o Antártico e o Atlântico sul uma rota conhecida dos icebergs. Daqueles que, descomunais, se desprendem e encetam uma deriva como enormes jangadas de gelo. Brancos, vazios e silenciosos. Sem nada. Simplesmente uma rota de suicídio neste aquecimento global. Desertos em busca de fragmentação e diluição nos mares mais temperados. Um perigo para a navegação, estas derivas gigantes. Penso no amor. E em toda a intensidade com que se torna avassalador, como uma obra de arte total, em que tudo se investe de sentido. Como o tentamos entender, definir, explicar e aperfeiçoar. E é como se aterrasse de súbito em Bayreuth, para a temporada de Wagner. Espectadores em fato de cerimónia para a gala total. Esse excesso de tudo, que Wagner teorizou no conceito de obra de arte total, Gesamtkunstwerk. O ideal plurissensorial da unidade absoluta entre drama e música, com todas as expressões interligadas em torno de uma única ideia dramática, ultrapassando as fronteiras da individualidade de cada arte. Dança, teatro, canto, cenografia, figurinos, artes plásticas e a luz, ao serviço da ideia. Na sua luta contra o frívolo e efémero, produziu um novo conceito de ópera, esmagador e completo. A totalidade pelo excesso. Um perfeccionismo de cortar a respiração. O que me lembra os gelos cortantes de outro romântico, Caspar David Friedrich. E aquele quadro em particular, que se chama “A Morte da esperança” ou “Mar de gelo”, tão premonitório. Ninguém como ele traduziu essa visão romântica do dramatismo da natureza e do homem face à natureza. Onde estamos, no momento, sem parecer ver. Noutros quadros, sempre as figuras de costas, que escondendo o olhar, de algum modo dão a ver. Uma luz melancólica. E a luz é o que torna visível com uma tonalidade e uma expressão própria. Mesmo aquela luz mais a norte. A impiedosa luz total a recusar o apaziguamento das trevas nocturnas como cama para o sono. Que não vem. Faltam as trevas. E o desejo, nelas, do dia-luz seguinte. A luz demais do dia polar com noites brancas e os dias demasiado escuros da noite polar. Em ciclos longos demais para o que estamos habituados. A natureza e a crueldade da luz. Por isso penso depois nessa serena, majestosa, branca e antagónica natureza muito a norte, em suicídio progressivo e imparável. Há que resolver essa equação de

Trilogia ANABELA CANAS

Cartografias

opostos. O melhor que o homem produz, talvez a arte, e o perigo de morte no pior que o homem faz e deixa acontecer, como se nada fosse. O melhor e o pior. Esse monstruoso peregrinar dos gigantes do Ártico, que vêm como baleias suicidar-se à vista da Terra Nova, para entretenimento de turistas que lhes fazem o último retrato, antes que acabem por submergir nas águas salgadas a sua essência visível. E mergulhar no nada. Esse perigoso nada. Como se deus a dizer és água e à água tens de voltar. Naquele frio intenso a que pouco resiste, algo faz derreter mesmo o gelo mais antigo. Mostram o rosto mas não mostram o coração. Os icebergs. Há contudo uma beleza escondida mesmo na imensa parte invisível. Um dia destes, um deles

As lâminas cortantes de gelo de Friedrich lembram-me a luz. A luz que é razão e foco. A utopia, essa, corre. A luz é o contrário, capta e incide. E no entanto, em inglês, luz é sinónimo de “leve”. A luz intensa não é macia e doce. É cortante

deu uma reviravolta sobre si, talvez em agonia, dando a ver uma cristalização diferente e inesperada entre azuis e verdes. E ficamos a saber que um mundo colorido pode existir abaixo da superfície das águas e para lá daquele deserto de brancos. Às vezes eu digo, vida, que não precisas de esperar ir ao fundo, tão fundo, para algo te tocar. E o amor não tem que ser a obra de arte total, razão e estética, mas a natureza. Dos sentimentos. Ou mesmo dos sentidos. As lâminas cortantes de gelo de Friedrich lembram-me a luz. A luz que é razão e foco. A utopia, essa, corre. A luz é o contrário, capta e incide. E no entanto, em inglês, luz é sinónimo de “leve”. A luz intensa não é macia e doce. É cortante. Uma luz macia atenua as formas, esmorece as sensações. Às vezes queremos uma realidade coada. Que não fere. Mas é no balanço entre a suavidade de um meio e a pujança de uma forma saturada em cor, que se emociona a alma. Ou mesmo o contrário, a veemência do meio em contraste com a delicadeza das formas em cores diluídas. Contrastes. O que será a luz senão um ponto de encontro entre o inexistente para os olhos e a alquimia do que é revelado – a cor - daquilo que afinal existe. Potencial. Tão importante como o visível, é o que existe. Tão importante, quanto lhe demos importância para além do olhar. Mas saber o volume e a textura que sobra para além do olhar é diferente de saber a cor, as sombras inerentes e produzidas. A luz revela. O que existe incolor num quarto escuro e não o colorido invisível, o que não existe.

Mas não tudo. Ao produzir existência visível do que é possível tornar visível e no recobrir o inacessível aos olhos. O que, do que não se vê, existe? As cores, ao contrário da zona submersa dos icebergs, das pessoas, não. Da luz que incide, reflecte-se apenas uma parte, uma cor, resguardando outras. Como uma máscara do visível, a luz. Como um olhar. Penso como tudo afinal se centra no olhar mergulhado noutro olhar, a tornar visível o outro, como existência. E não na utopia de ver as mesmas miragens nas mesmas dunas dos mesmos desertos. Que somos todos. Essa é talvez a única luz e a luz possível do olhar. A profundidade subjacente que se lhe intui de desconhecido para lá da superfície da córnea. Ver o outro e ser visto, é o momento do encontro. Ao mesmo tempo e no mesmo lugar mas frente a frente. Paisagem da paisagem. O olhar que habita o olhar outro. Tudo o resto, a ponta submersa do iceberg. Mesmo se desconhecida, sinal de que este vive nas suas águas e não enceta o caminho para a diluição no todo. Reduzido então a nada. O que importa não é o dar a ver mais do que o outro ser visto, ver no outro um espaço. Dizer-se habitar e habitado. Uma interioridade para além do visível. Lugares. Marco um pontinho no mapa. Qualquer lugar. E deixo-o entalado no livro sobre a mesa do vagão-restaurante, esperando que o desconhecido volte para uma bebida quente e o retome do mesmo lugar onde o deixou. E de repente ali está ele a olhar-me, como se tivesse adivinhado tudo até ao pontinho preto no mapa. Como se me visse em perspectiva desde que nasci, tão persistente o seu olhar. De pudor, poiso os olhos em fuga daqueles, no livro e vejo perplexa que o título mudou: A biblioteca de Icebergs de B. Arrepio-me a pensar que é para essa morada póstuma que tendem. Com um nome, uma letra e um número de referência como livros mortos numa biblioteca. Para memória. Como em B. a ausência do olhar não significa não ver. O desconhecido pegou lentamente no livro dizendo baixo preciso dele. Com um sorriso quase imperceptível, como se emergindo do mais invisível e, quase juraria, até à parte submersa de mim. Icebergs, disse. E o poder cortante da luz, quando o meu mundo parou ali, partido em dois. Ou o tempo. E já não desviei os olhos curiosamente presos sem remédio. Como se na linha e caminho de um raio de luz. A luz são os olhos a tornar visível. Pensando ainda em Wagner e na tetralogia, pensei que afinal faltava a estas narrativas a quarta dimensão.


h

José Simões Morais

A

Comissão Especial, presidida pelo governador do bispado padre Jorge António Lopes da Silva, tendo como secretário o Dr. Lúcio Augusto da Silva e entre os restantes membros estava o também médico Vicente de Paula S. Pitter, apresentou ao Governador de Macau o Relatório das necessidades e problemas da Santa Casa da Misericórdia, com soluções para a viabilizar financeiramente. No Boletim do Governo de Macau de 11 de Fevereiro de 1867, o Governador de Macau José Maria da Ponte e Horta mandou a 8 de Fevereiro publicar: <Havendo a comissão nomeada por portaria deste governo de 8 de Novembro de 1866 concluído o relatório dos seus trabalhos, com respeito ao assunto que lhe fora cometido: hei por conveniente dissolver a referida comissão, louvando-a pelo judicioso e bem fundamentado das conclusões em que resumiu o seu mui importante estudo.> A Comissão propôs que se fizesse algum conserto e asseio de que carecia aquela Casa dos Expostos; provendo também de roupa, tanto, para as crianças, como para as criadas, que serviam naquele estabelecimento. Promoveu a sua educação, mandando para a Escola Macaense um dos expostos, menino de 9 para 10 anos, e recomendando à regente o ensino das primeiras letras às meninas e mesmo as que estavam ali servindo de criadas. Mas “só em 1876 foi, por fim, possível assentar as bases de solução mais estável e duradoira, primeiro quanto a enjeitadas jovens, depois mesmo os de mama, na altura eram quatro as raparigas expostas a cargo das Irmãs de Caridade no Colégio da Imaculada Conceição de uns e outros acabaram por ser encarregadas <as Filhas da Congregação de Caridade Canossiana>, de princípio no próprio edifício dos Expostos, depois no Asilo de St.a Infância, por elas em certa altura instalado em Santo António, mercê de subscrição pública.” O Bispo Diocesano D. Manuel Bernardo de Sousa Enes, chegado a Macau a 2 de Janeiro de 1877, adquiriu a Casa de Beneficência, na Praça Luís de Camões, para as religiosas “Canossianas, que tomaram a seu cargo o problema das crianças nessa situação, para o cuidado e manutenção das quais a Santa Casa ficou a dar um contributo, ao tempo, de 750 patacas. Também ficou estabelecido que, se a Ordem de Madalena de Canossa saísse de Macau, a Misericórdia viria a reassumir o primitivo encargo de protecção. A Superiora das Canossianas reduziu a escrito os termos do acordo, na parte dessas raparigas enjeitadas: <Para evitar qualquer equívoco e fazer as coisas duráveis, permita V. Ex. repetir aqui as condições: 1- Que a contribuição anual da Santa Casa não será menor de 750 pata-

20.4.2020 segunda-feira

´

Solução Estável para os Expostos ARQUIVO DE MACAU

16

cas anuais, só para sustento e vestuário. Qualquer despesa extra ficará a cargo da Santa Casa. 2- Que a Comissão Administrativa se obriga a receber de volta as enjeitadas, se por qualquer eventualidade as religiosas canossianas se retirarem de Macau, ou quando as enjeitadas, uma vez chegadas à idade de se emanciparem, quiserem voltar à Santa Casa, ou se esta Administração faltar ao pagamento devido da anual contribuição. 3- Que a contribuição não será diminuída, no caso de alguma morrer ou ser colocada a servir. 4- Com a dita contribuição obriga-se esta congregação a sustentar não menos de 20 enjeitadas, deixando toda a faculdade de substituir outras, que sejam, porém, de bons costumes. 5- Em caso de doença o custo dos medicamentos será à conta da Santa Casa

e se o mal for contagioso será permitido enviá-la ao Hospital da Misericórdia. 6A congregação obriga-se a dar educação gratuita às enjeitadas, segundo a condição delas, isto é, instrução catequística, estudo simplesmente elementar, trabalhos de agulha e manuais... Julga-se inútil pôr aqui que as enjeitadas... devem vir providas das coisas necessárias para uso próprio.> Arquivo da Misericórdia. Uma vez alojadas em Santo António, sempre a Misericórdia manteve o subsídio, progressivamente elevado a 1440 patacas anuais, e quanto aos recém-nascidos passariam à conta do Asilo de St.ª Infância, com a finalidade mais religiosa, mas nem os abnegados esforços daquelas Madres, nem sobretudo os fracos recursos materiais disponíveis, iam permitir-lhes enfrentarem todos os aspectos

A roda dos expostos acaba; mas com esta necessária medida, só poderão perder os que à sombra da beneficência abusavam dela de um modo inaudito. Os pobres, e os doentes, esses lucram muito pelas medidas adoptadas, e a Santa Casa ficará sendo o que deve ser, um estabelecimento de caridade

do difícil problema que continuaria, por conseguinte, do mesmo modo bem mal, nos seus conceitos iniciais – médica e socialmente discutíveis ou senão errados”, segundo José Caetano Soares.

ASILO PARA ÓRFÃOS

O redactor do Boletim Oficial a 11 de Fevereiro de 1867 refere, “As medidas do governo, sobretudo as que se dirigem a impedir que a Santa Casa continue a receber em seu seio essas crianças desgraçadas, pela maior parte levando em si o gérmen de mil doenças, sem esperança de se salvarem, e consumindo ao mesmo tempo uma boa parte dos vencimentos do estabelecimento, eram medidas há muito reclamadas, e bem hajam aqueles que não hesitaram um instante em descobrir abusos que, a título de beneficência, se iam perpetuando na colónia, para sua vergonha e desdouro.” “Até aqui a Misericórdia não atendia aos verdadeiros deveres da sua instituição. A população pobre portuguesa não recebia o mais pequeno benefício deste estabelecimento, achando-se o seu hospital desprovido do mais ordinário conforto. As medidas do governo tendem a tornar a Santa Casa da Misericórdia no que deve ser, colocando aquele pio estabelecimento em pé de acudir aos pobres portugueses acossados pela fome, abrindo o seu hospital à humanidade aflita, para nele encontrar conforto e curativo. A roda dos expostos acaba; mas com esta necessária medida, só poderão perder os que à sombra da beneficência abusavam dela de um modo inaudito. Os pobres, e os doentes, esses lucram muito pelas medidas adoptadas, e a Santa Casa ficará sendo o que deve ser, um estabelecimento de caridade. A tudo atendeu o governo local, e ao passo que tirou à Santa Casa da Misericórdia a faculdade de receber raparigas abandonadas, abriu uma subscrição, como se vê pela parte oficial deste número, onde o Governador apelando ao patriotismo dos macaenses, em que confia, abre uma subscrição na colónia com o fim de se criar na cidade, sob os auspícios, de uma ou mais senhoras de boa vontade e de sentimentos caridosos, um asilo para órfãos, raparigas abandonadas, ou outras que por virtude de suas circunstâncias devidamente comprovadas, tenham direito ao benefício da caridade pública.” O primeiro a dar foi o Governador Ponte e Horta, que ofereceu $50. “Aguardamos com tanta ansiedade como interesse o resultado desta subscrição, para a qual é honroso concorrer com qualquer subsídio que seja. Sabemos também que S. Exa. o Governador tem resolvido estabelecer uma escola pública gratuita, de instrução primária portuguesa, para o ensino das crianças chinesas. Aplaudimos de todo o coração esta medida, porque vemos nela um pensamento todo patriótico. A direcção desta escola deve ser confiada a um professor que entenda a língua sínica, para bem explicar aos chineses o português.”


desporto 17

segunda-feira 20.4.2020

Sporting Academia aberta para trabalho individualizado

O Sporting vai abrir a Academia de Alcochete aos seus futebolistas, para que estes possam trabalhar de forma individual no relvado, disse à agência Lusa fonte do clube da I Liga profissional de futebol. A mesma fonte garantiu que não haverá qualquer regresso aos treinos, apenas serão disponibilizados os seis relvados para os jogadores do plantel principal poderem trabalhar, sempre de forma individual. Os jogadores serão, de acordo com a mesma fonte, colocados em metades diferentes dos relvados e nunca contactarão uns com os outros. Esta medida serve para os jogadores poderem voltar a trabalhar e a correr no relvado, que é muito mais seguro do que correrem na rua, como alguns atletas têm feito. O regresso aos treinos apenas será equacionado, segundo a mesma fonte, após o levantamento do estado de emergência, devido à pandemia da covid-19, que durará, pelo menos, até 2 de Maio.

FC Porto Lourency debaixo de olho

O nome de Lourency foi associado ao Sporting em Janeiro mas os leões optaram por uma única investida ao mercado para contratar Sporar e agora, segundo A BOLA apurou, o brasileiro recrutado no início desta temporada à Chapecoense está no radar dos portistas, com a SAD azul e branca a fazer saber junto dos responsáveis gilistas para os informarem, caso surja alguma proposta do estrangeiro para o jogador, no sentido de ponderarem se estão interessados em cobrir os números colocados em cima da mesa. Lourency, 24 anos, é um dos responsáveis pela época absolutamente tranquila que os gilistas estão a realizar e com um valor de mercado a rondar os 600 mil euros e uma margem de progressão interessante, pode saltar para a primeira linha de opções dos portistas, sempre atentos aos valores que despontam internamente.

África Adiadas finais da Liga dos Campeões e da Taça das Confederações

“As finais da Taça das Confederações [segunda prova de clubes mais importante do continente africano] e da Liga dos Campeões de 2019/20 foram suspensas até novo aviso”, afirmou a CAF em comunicado. A cidade portuária de Douala, nos Camarões, foi a escolhida para organizar a final da Liga dos Campeões, inicialmente em 29 de Maio, no Estádio Japoma, com capacidade para 50 mil lugares, e que pela primeira vez decorre num só jogo. Quanto à final da Taça das Confederações, esta seria disputada no dia 24 de Maio, no estádio Prince Moulay-Abdallah, em Rabat, em Marrocos. “O novo cronograma será comunicado em devido tempo, após consulta com os vários intervenientes”, refere o comunicado da CAF, que também já havia adiado as meias-finais.

THEODORE RACING EQUIPA VAI FOCAR-SE TOTALMENTE EM MACAU

Objectivo RAEM

A Theodore Racing vai cingir esta temporada o seu programa desportivo ao Grande Prémio de Macau, depois de nas últimas épocas ter estado presente nos Campeonatos FIA de Fórmula 3 e de Fórmula 2 em parceria com a equipa italiana Prema Powerteam

P

ARA 2020, o foco da Theodore Racing é Macau, enquanto examinamos oportunidades em todo o desporto motorizado para 2021 e depois”, explicou Teddy Yip Jr ao HM, ele que ressuscitou o nome da equipa do seu pai no final de 2013. A opção de reduzir o seu programa desportivo este ano não surgiu devido aos acontecimentos provocados pela propagação da covid-19, apesar de Teddy Yip Jr reconhecer que tomou esta decisão mais ou menos na mesma altura. “Julgo que a OMS declarou a pandemia um dia, talvez dois, antes do Grande Prémio da Austrália ser cancelado. Ficou claro nesse ponto que a interrupção na temporada regular seria dramática”, explicou o sobrinho de Stanley Ho. Tal como o seu pai, que manteve a Theodore Racing no activo desde 1978 a 1992, Teddy Yip Jr sempre teve um gosto especial

pelas corridas de monolugares. Embora tenha descartado por várias vezes um regresso à Fórmula 1 da equipa, devido aos elevados custos, quanto a projectos futuros, Teddy Yip Jr admitiu por diversas vezes um especial interesse pelo campeonato japonês Super Formula (ex-Fórmula Nippon). ASJM Prema Theodore Racing inscreveu três carros na edição transacta do Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 - Taça do Mundo de Fórmula 3 da FIA. A equipa que se tinha sagrado campeã de Fórmula 3, com Robert Shwartzman, e que tinha dois pilotos favoritos à vitória ficou aquém das expectativas em termos de resultados, tendo Marcus Armstrong sido o melhor dos carros

vermelhos e brancos ao terminar no oitavo lugar, depois de Shwartzman ter abandonado com um furo logo nos primeiros metros da croddia.

CALENDÁRIO COMPLICADO

Segundo apurou o HM, os carros de Fórmula 3 encontram-se todos ainda no Bahrein. Depois do Grande Prémio de Macau do ano passado, os monolugares e material das equipas regressou à Europa, tendo sido transportado para o país do Médio Oriente para os primeiros testes oficiais do campeonato no início de Março. A primeira prova da temporada deveria ter decorrido no Circuito Internacional do Bahrein quinze dias depois, mas a rápida propaga-

“Julgo que a OMS declarou a pandemia um dia, talvez dois, antes do Grande Prémio da Austrália ser cancelado. Ficou claro nesse ponto que a interrupção na temporada regular seria dramática.” TEDDY YIP JR

ção da COVID-19 adiou a corrida e até agora impediu o regresso dos membros das equipas ao pequeno país do Golfo Pérsico para empacotar o material e enviá-lo para a Europa. O Campeonato FIA de Fórmula 3, categoria que corre nos mesmos fins-de-semana da Fórmula 1, está neste momento sem um calendário, nem as equipas e pilotos sabem sequer quando, e em que moldes, arrancará a nova temporada. A primeira das nove provas previstas poderá ser no circuito de Spielberg, na Áustria, no primeiro fim-de-semana de Julho, visto que as autoridades austríacas não se importam de realizar o Grande Prémio de Fórmula 1 do seu país nessa data, logo que se realize à porta fechada. A competição deveria terminar em Setembro, na Rússia, para dar tempo às equipas para preparar a visita ao Circuito da Guia, algo que agora é difícil perceber se é viável. Na teoria, a Taça do Mundo de Fórmula 3 da FIA deveria ser a última prova do ano, sendo realizada após o término do campeonato. Questionada pelo HM sobre se o futuro calendário do campeonato está a ser feito tendo em consideração o Grande Prémio, fonte oficial da FIA clarificou que neste momento é impossível dar uma resposta concreta, pois a federação internacional está a trabalhar com todos os promotores locais para encontrar uma solução para recomeçar o desporto sem colocar a saúde dos intervenientes em causa. Sérgio Fonseca

info@hojemacau.com.mo


18 (f)utilidades TEMPO

MUITO

20.4.2020 segunda-feira

NUBLADO

MIN

23

MAX

ORTODOXOS EM CASA

38

9 3

6 7 2 9 37 2 6 40 7 4 6 9 3 3 9 3 8 7 7 5 1 8 1 2 6 5 4 8 9 7 39 5 1 42 8 9 4 3 7 1 6 2 8 9 9 7 3 2 6 3 6 5 7 4 3 1 2 41

4 7 1 3

9

4

9 2 4 6 5 3 8 3 1 7

6 8 4 8 1 9 5 5 7 2

2 1 5 4 6 7 3 8 2 6

6 5 3 8 4 1 3 9 3 5 7 4 2 6 6

6 5 3 7 8 8 1 6 2 4 3 5 9

7

9 3 1 2 6 7 4 6 8 1 5

2 1 9 4 5 8 9 6 7 3

4 6 5 2 2 7 3 9 8 3 1

9

8 5 2 5 3 6 4 9 1 1

3 7 8 5 9 6 1 5 4 7 2 6

38 Cineteatro DOLITTLE 9 [A] 1 8 4 5 3 2 5 BIRDS OF PREY [C] 6 8 3 7 FANTASY 4 ISLAND6 [C] 7 2 1 9 SALA 1

C I N E M A

6 2 7 9 1 4 5 3 8

FALADO EM INGLÊS LEGENDADO EM CHINÊS Um filme de: Stephen Gaghan Com: Robert Downey Jr., Antonio Banderas, Michael Sheen 15.30, 21.00

8 1 4 7 3 9 2 6 5

Um filme de: Cathy Yan Com: Margot Robbie, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollet-Bell 18.30 SALA 2

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 39

7 2 6 5 8 3 2 4 1 9 8

Mais de 260 milhões de cristãos ortodoxos celebraram ontem a Páscoa em condições excepcionais, devido ao pedido feito pelas autoridades para que as pessoas permaneçam em casa para limitar a propagação da covid-19. Para

EURO

8.68

BAHT

assinalar a data, os crentes ortodoxos, que celebram a ressurreição de Cristo uma semana depois dos católicos e dos protestantes, tinham programado festividades para diversos locais que ficaram quase desertos.

7 6 2

PROBLEMA 40

1 6 5 7 2 8 6 9 7 4 3

7 0 - 1 0 0´%

8

S U1 D 8 5O 4 3K9 U 7 3 7 1 9 2 4 1 6 2 6 5

HUM

7

1 8 3 9 8

5 8 4 6 2 7 2 3 8 9

29

40 4 6 5 9 2 1 3 8 7 7 1 9 8 3 4 6 5 2 5 4 8 2 www. 9 3 hojemacau. 1com.mo 7 6 42

3 8 9 2 1 4 6 7 5

YUAN

1.12

VIDA DE CÃO

CAÇA ÀS BRUXAS A força da natureza deu ao Governo de Hong Kong um período de interregno dos protestos que devia ter sido aproveitado para repensar como gerir o descontentamento político na região. O novo tipo de coronavírus conseguiu o que nenhuma outra medida ao longo de meses atingiu: fechar as pessoas em casa e motivar saídas à rua com uma distância de segurança. Mas ainda que a saúde pública seja o tema dominante da actualidade, a detenção de mais de uma dúzia de activistas do movimento pró-democrático por parte da polícia de Hong Kong dificilmente vai passar em branco. Tanto que já foi condenada pelos EUA e pelo Reino Unido. Por muito que o argumento usado tenha sido a organização e participação em protestos não autorizados no ano passado, não deixa de ter um cunho político associado. Uma iniciativa desta dimensão parece uma tentativa de intimidação para reprimir a oposição – e com ela liberdades fundamentais. Mas tendo em conta a resistência da população face a gás lacrimogéneo e pimenta, é de esperar que este tipo de acção leve a uma maior revolta, em vez do silêncio desejado. É difícil não temer pelos w “dois sistemas” prometidos. Esperemos que a Justiça proceda de forma transparente de forma a restaurar alguma confiança no sistema e na protecção dos cidadãos contra abusos de poder. Salomé Fernandes

44 ACTOS HUMANOS | HAN KANG 9 3 4 1 8 7 2 5 7 8 2 4 6 3 1 2 6 9 5 3 8 7 9 2 5 6 8 1 6 4 5 3 1 2 9 8 1 3 7 9 4 6 4 8 9 6 3 5 7 2 6 1 4 7 9 5 3 5 7 8 2 1 4

6 1 4 3 7 5 2 8 9

5 9 7 4 8 2 1 3 6

45 46 2 7 8 1 9 3 5 7 1 9 6 4 8 2 1 8 9 4 5 6 7 5 4 7 3 6 8 9 4 5 2 7 1 3 6 5 7 6 9 3 2 4 1 6 2 4 5 6 1 2 3 4 8 9 5 7 2 3 4 1 8 7 5 DOLITTLE 8 5 4 6 3 5 7 9 4 1 3 6 2 8 8 4 5 7 6 9 3 6 9 5 7 2 2 4 6 7 8 5 3 1 9 7 9 2 3 1 8 6 7 3 Fábrica 1 de9Notícias, 8 Lda Director Carlos Morais 1 José 8 Editores 3 João 2 Luz;6José C.9Mendes7Redacção 4 5 3 Filipe; 6 Pedro 1 Arede; 5 Salomé 2 Fernandes 4 8 Propriedade Andreia Sofia Silva; João Santos Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; 9 1 3 2 4 José 6 Drummond; 8 9José Navarro 3 2de Andrade; 5 José 7 Simões 1 Morais; Luis Carmelo;6Michel2Reis; Nuno 3 Miguel 8 Guedes; 7 Paulo 1 José9 Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo7M.Tavares; João Paulo Cotrim; Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; 4 Romão; 8 Jorge6Rodrigues 5 Simão; 1 Olavo Rasquinho; Paul 7 Chan2Wai Chi; 1 Paula 6Bicho;5Tânia4dos Santos 8 Grafismo 9 3Paulo Borges, Rómulo Santos 9 Agências 5 7Lusa;2 3 Hoje1 João Xinhua4 Fotografia Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare 3 Calçada 2 9deSanto8Agostinho, 4 n.º19,CentroComercial 9 Nam3Yue,6.º5andar8A,Macau7Telefone 1 28752401 2 6Fax28752405 4 e-mailinfo@hojemacau.com.mo 4 1 8Sítiowww.hojemacau.com.mo 6 9 5 2 Morada

3 1 6 2 4 9 5 8 7

2 8 9 1 5 7 4 6 3

3 7 2 4 9 5 7 3 2 TRANSLATORS 6 9 [B]1 THE 6 4 1 8 5 2 4 7 THE TURNING [C] 8 1 5 6 1 8 3 9 4 9 8 5 7 3 6 2

Um filme de: Jeff Wadlow Com: Michael Peña, Maggie Q, Lucy Hale, Austin Stowell 14.30, 17.00, 20.45 SALA 3

Um filme de: Regis Roinsard Com: Lambert Wilson, Olga Kurylenko, Riccardo Scamarcio 15.00, 20.15

Um filme de: Floria Sigismondi Com: Mackenzie Davis, Finn Wolfhard, Brooklynn Prince, Barbara Marten 18.45

5 6 8 3 9 2 7 1 4

43

0.24

UM7 LIVRO HOJE 4 2 1 8 9 3

6 5 5 9 8 2 3 6 1 7 4 Um livro brilhante sobre o massacre levado a cabo 1por6forças 3 governamentais 7 5 4 em 2 Gwan9 8 gju, na Coreia do Sul, em 1980. Focado num 8estudante 1 6 e nas 4 pessoas 7 5que9cruzaram 3 2 jovem a sua vida, é um romance que aborda a re7 9pela6liberdade 2 3de 5expressão 8 1 volta4estudantil e que2aflora também a luta por direitos 3 5 9 1 8 6 4 la-7 borais. A obra acaba por incluir também a ligação a Gwangju 9 da2família 7 da 3 autora 4 1 8 5 e o6 período abordado. A capacidade descritiva 3 5transporta-nos 1 8 6para7um 4mundo 2 de9 da autora luto, censura, tortura e violência contra as 6 8que 4não 5 9 2indiferentes 7 1 à3 mulheres nos deixa luta pela justiça retratada. Salomé Fernandes

47

48


opinião 19

segunda-feira 20.4.2020

reencarnações

JOÃO LUZ

IVAN AIVAZOVSKY

M

ODELOS, referências e padrões são trunfos da neurociência e psicologia comportamental que são jogados com displicência nos dias que correm. A repetição de algo que conhecemos, o paradigma habitual, representam conforto e segurança face ao imprevisto de novos contextos. Mesmo que o comportamento seja destrutivo, se fizer parte de um padrão a que estamos habituados é racionalizado como seguro. Por vezes, uma abrupta alteração de circunstâncias transforma o normal comportamento padronizado num perigo, principalmente quando a vida se transforma numa excepção. Neste momento, seja por medo ou cansaço, o mundo inteiro anseia pelo regresso à normalidade. Todos desejam voltar a sair sem receios, viver como antes, sem restrições, saltitar de nenúfar em nenúfar com a leveza de um anjo. Negócios querem voltar aos lucros, as famílias aspiram à reunião, os rios querem vazar na foz. Queremos o retorno da inocência do contacto próximo. Mas será que a retoma dos dias previsíveis se pode fazer nos mesmos moldes? Ou teremos de inventar uma nova normalidade? Em Macau, o novo normal implica máscara, desinfectante e disciplina de não ceder à sedução inebriante do lucro. Recordo que em Macau, até agora, ninguém morreu deste bicho, apesar de ser uma das regiões com maior densidade populacional a braços com um vírus altamente contagioso e que se camufla assintomaticamente. Ainda assim, a grande indústria do território permanece seca, sem matéria-prima (jogadores ou turistas, como lhe quiserem chamar). De resto, os locais continuam a encher restaurantes, mercados, trilhos na natureza e a cara destapada passou a ser uma vergonha social e um avistamento aberrante. Dou este contexto para alertar o resto do mundo que anseia o retorno aos dias que já lá vão, quando ainda lidam com surtos comunitários. Compreendo que seja mais fácil depender informativamente de memes, ancorados em bodes expiatórios e relativização, mas a microbiologia não atende a caprichos pessoais, inclinação política e não existe vacina contra a realidade e a estupidez. Parece cada vez mais evidente cientificamente, que a infecção pode voltar a quem já recuperou da covid-19. Pela vossa e nossa saúde, tenham isso em consideração. Uma segunda vaga nunca é boa notícia. Como a segunda onda de tsunami, ou a cauda de um tufão. A primeira vaga rebenta tudo enquanto a segunda transforma destroços em aladas armas mortíferas. A segunda vaga de covid-19 pode ser o coup de grâce, o golpe final, em sistemas de saúde altamente

A segunda vaga

debilitados. Sem vacina ou cura à vista, o retorno da curva à sinuosidade que se queria achatada pode ser trágica. Na perspectiva mais míope e economicista, uma segunda vaga significa paralisação ainda mais prolongada, se não tivermos apenas como intenção a breve satisfação de um orgasmo de pico bolsita. Hokkaido, no Japão, e Daegu na Coreia do Sul também se fartaram da disciplina e decidiram reabrir as portas de casa à normalidade. Por arrasto veio a segunda vaga. Claro que o Ocidente ainda pensa que a Ásia é outro planeta, algures entre Marte e Júpiter, e vai, outra vez, ignorar os avisos da experiência.

As duas cidades responderam de forma diferente à segunda onda. Daegu apercebeu-se do erro e iniciou testes em larga escala, isolou pessoas que contactaram infectados e voltou à quarentena. Hokkaido fez exactamente o contrário, o que resultou numa vertiginosa subida de infecções, que implica a paralisação total da ilha. Compreendo o desejo fantasioso de quem quer tratar a realidade como um pesadelo do qual se pode acordar. Mas, a menos que se queira voltar à estaca zero, é fundamental controlar os surtos comunitários antes de ambicionar qualquer regresso à normalidade como a conhecíamos. Ou querem voltar à

Uma segunda vaga nunca é boa notícia. Como a segunda onda de tsunami, ou a cauda de um tufão. A primeira vaga rebenta tudo enquanto a segunda transforma destroços em aladas armas mortíferas. A segunda vaga de covid-19 pode ser o coup de grâce em sistemas de saúde altamente debilitados

animalesca equação entre o valor da vida e o valor do dólar? Se tiveres sequer uma centelha de dúvida sobre o que é mais valioso, faz um favor à decência e nunca mais voltes a pôr os pés numa igreja, a intitulares-te como pró-vida, ser humano ou pessoa de bem. A pandemia colocou-nos num barco muito precário. Infelizmente, muitos, os do costume, vão passar por enormes problemas económicos e sociais, o pão vai faltar. Mas é aqui que se torna fundamental ter um Estado, um Governo. Lamento libertários, o lucro jamais terá esta incumbência de tábua de salvação, a indústria nunca terá a vida como prioridade e não são raros os casos em que a morte é a base do rendimento, a perfídia a estrela do norte que guia o cifrão. Se me permitem o descaramento, peço um momento de reflexão. Querem mesmo voltar à estaca zero e deitar por terra todos os esforços e sacrifícios que fizeram? Quanto custará ao mundo a vossa petulante teimosia?


Todas as revoluções começam na rua e terminam à mesa.

LISBOA AVIÃO CHEGA COM 65 VENTILADORES E EQUIPAMENTO MÉDICO

S

PUB

ESSENTA e cinco ventiladores comprados pelo Governo português a uma empresa chinesa chegaram ontem a Lisboa, num avião fretado, junto com outro equipamento médico, incluindo máscaras de protecção respiratória, para tratamento da epidemia, anunciou a embaixada portuguesa. A entrega dos ventiladores estava prevista realizar-se na semana passada, mas devido à “forte competição entre Estados pelo acesso a equipamento” e “interrupções nas cadeias de fornecimento”, incluindo no acesso a componentes, numa altura em que vários países se encontram em estado e emergência, a produção atrasou-se, explicou a mesma fonte. A forte procura por ventiladores criou disfunções no mercado, numa altura em que a crise de saúde pública, que começou em Wuhan, no centro da China, se alastrou à Europa, Estados Unidos e outras regiões do planeta, resultando numa escassez global. "Todas as diligências junto de diversas entidades têm sido feitas no sentido de garantir, neste quadro adverso, a entrega dos equipamentos dentro da janela temporal adequada às necessidades médicas do nosso país", ressalvou a embaixada. Há uma semana, a ministra da Saúde portuguesa disse que a entrega de 508 ventiladores encomendados à China estava atrasada.

Mãozinha à imprensa Portugal anuncia compra de publicidade institucional no valor de 15 milhões de euros

A

ministra da Cultura, Graça Fonseca, anunciou como medida de apoio à comunicação social a compra antecipada de "espaço para publicidade institucional" no valor de 15 milhões de euros, sendo esta apresentada "através de televisão e rádio, em programas generalistas e temáticos informativos e através de publicações periódicas de informação geral”. Segundo Graça Fonseca, a utilização futura desta publicidade "será feita nos termos da Lei da Publicidade Institucional", sendo que 25 por cento do valor total será destinado à "imprensa regional e local, através da adopção de critérios que permitam uma distribuição proporcional entre as empresas e grupos que compõem o sector nacional da comunicação social.” Recordando que "todos os anos o Estado investe em campanhas instituicionais", a ministra da Cultura avisou que não só em 2020, como também em 2021 “será necessário investir ainda mais em publicidade institucional”. Questionada sobre quando é que a medida começa a ter impacto nas empresas de media, a ministra disse esperar que ainda "durante este mês". "A Lusa e RTP não estão incluídas nesta compra antecipada", afirmou, quando questionada sobre o tema, recordando, todavia, que a Lei da Publicidade Institucional visa estabelecer critérios como "a distribuição das campanhas em diferentes órgãos de comunicação social, no sentido de assegurar a distribuição de forma proporcional". Este processo será articulado com a Entidade Reguladora para a Comunicação Social, foi anunciado.

PILARES DO SISTEMA

Com esta medida, a ministra da Cultura disse que o Estado "está a actuar em nome do interesse público", desde logo ao assumir "de forma transversal ao Governo a comunicação institucional com os cidadãos nestes tempos particularmente inéditos”, mas também aos "órgãos de comunicação social, considerados desde sempre, e neste momento em particular, um pilar fundamental da nossa democracia". "Precisamos mais do que nunca de ter jornalismo

segunda-feira 20.4.2020

PALAVRA DO DIA

L. Longanesi

JAPÃO GRÁVIDAS RECEBEM MÁSCARAS SUJAS DO GOVERNO

C livre, independente e plural, num tempo em que precisamos mesmo de combater a desinformação”, sublinhou. O anúncio, feito na Presidência do Conselho de Ministros, contou ainda com as presenças da ministra Mariana Vieira da Silva, e do secretário do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva. A ministra de Estado e da Presidência anunciou que a compra "será organizada de forma a todos os serviços da administração pública que precisem de comunicar de forma organizada regras de funcionamento e informação diversa sobre estes assuntos”. A publicidade institucional alocada, esclareceu Graça Fonseca, será "orientada para campanhas da Direcção-Geral da Saúde e de

O Estado “está a actuar em nome do interesse público”, desde logo ao assumir “de forma transversal ao Governo a comunicação institucional com os cidadãos nestes tempos particularmente inéditos”, mas também aos “órgãos de comunicação social, considerados desde sempre, e neste momento em particular, um pilar fundamental da nossa democracia”

outras entidades na área da saúde pública", assim como para "campanhas a favor de causas sociais e humanitárias, como o combate à violência doméstica". Parte do espaço alocado também ser destinado à literacia mediática, para "garantir que as pessoas acedem à informação fidedigna e combatendo em simultâneo a desinformação" e também para "campanhas para a divulgação de atividades e programação cultural e campanhas para a retoma das atividades económicas e sociais”, completou a ministra da Cultura.

OLHAR PARA A FRENTE

O secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, adiantou ter estado ao longo das últimas semanas em "diálogo com as associações representativas do sector da comunicação social”, visando perceber quais os problemas que " o sector da comunicação social tem sentido". No entanto, o responsável diz que, mais do que o presente, a sua secretaria está "sobretudo a pensar no futuro da comunicação social", sendo que "este tempo tem funcionado como um acelerador do que pode ser o questionar do estado dos media em Portugal". Quanto às medidas que têm sido tomadas pelo Governo, Mariana Vieira da Silva frisou que desde o início do surto estas têm sido "tomadas progressivamente e avaliadas constantemente quanto aos seus efeitos", tendo vindo a ser "melhoradas, vistas e corrigidas". Para além desta medida, Graça Fonseca recordou que as medidas transversais de apoio às empresas decretadas pelo Governo também se aplicam ao sector da comunicação social.

ENTENAS de mulheres grávidas japonesas queixaram-se este fim de semana de terem recebido máscaras de protecção sujas enviadas pelo Governo na sequência da medida do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, de reutilizar vestuário antigo para produzir máscaras de protecção. O ministro da Saúde disse que recebeu pelo menos 1.900 casos de problemas de máscaras que foram enviadas com manchas, poeiras e outras contaminações, noticia a agência de notícias Associated Press (AP). Estas peças estavam entre o milhão de máscaras que o Governo japonês começou a enviar a mulheres grávidas na semana passada de forma prioritária. A promessa do primeiro-ministro japonês de enviar duas máscaras reutilizáveis de pano para cada lar do país de forma a travar a pandemia de covid-19 foi feita a 1 de Abril e responde à falta de ‘stock’ de máscaras de protecção individual no país. Este problema com as máscaras provocou novos constrangimentos para o Governo de Shinzo Abe, que tem sido muito criticado pela adopção de medidas para combater o novo coronavírus consideradas inadequadas e atrasadas. As máscaras de pano também parecem ter um problema de tamanho, segundo a AP.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.