Hoje Macau 20 MAI 2016 #3575

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

Deputados aplicados

hojemacau

PÁGINA 4

CANÍDROMO

O estudo dos jornais GCS

PÁGINA 8

ASSEMBLEIA

DEBATES DE SEMPRE

GRANDE PLANO

EDUCAÇÃO SEXUAL

Cada um sabe de si PÁGINA 6

h

4 de Fevereiro Como um mantra JOSÉ SIMÕES MORAIS

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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ANABELA CANAS

CHAPAS SÍNICAS PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE

Memórias do mundo

São mais de 3600 documentos que testemunham a importância de Macau para o encontro entre o Oriente e o Ocidente. Passam agora a estar classificados pela UNESCO como integrantes no património documental da humanidade. PÁGINA 9

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GONÇALO LOBO PINHEIRO

UBER

MOP$10

SEXTA-FEIRA 20 DE MAIO DE 2016 • ANO XV • Nº 3575


2 GRANDE PLANO

Contam-se pelos dedos das mãos os pedidos de debate e audições feitos pelos deputados no hemiciclo nos últimos 15 anos. A maioria deles foi chumbada. Os deputados do campo pródemocrata têm sido protagonistas, mas o panorama parece estar a mudar

E

STÁVAMOS no ano de 2000 quando a Assembleia Legislativa (AL) acolheu o seu primeiro debate proposto por três deputados. João Manuel Baptista Leão, deputado nomeado, juntou-se aos deputados eleitos pela via directa Cheong Vai Kei, Iong Weng Ian e Kou Hoi In. O objectivo seria debater a criação de uma lei que obrigasse os jovens com menos de 16 anos a andarem na rua acompanhados pelos seus pais ou tutores após a meia-noite. “Achamos que este tema suscita a atenção de todos. Espero que possamos ouvir amplamente as vossas opiniões para atingirmos o objectivo do debate com a maior brevidade possível. Desejo obter os vossos apoios”, disse Cheong Vai Kei, a quem coube a apresentação da proposta. O debate acabaria por ser aprovado, mas a lei nunca foi feita. Uma análise aos diários dos plenários da AL desde o estabelecimento da RAEM permite chegar à conclusão que as aprovações dos debates não têm sido o prato forte do

AL MAIORIA DOS PEDIDOS DE DEBATE CHUMBADA. PRÓ-DEMOCRATAS LIDERAM

O SILENCIO DOS CULPADOS ˆ

hemiciclo. A preservação de Coloane, terrenos, a atribuição das campas no cemitério de São MiguelArcanjo, a inflação, o fim do monopólio dos produtos alimentares, a necessidade da AL fiscalizar melhor as contas públicas, a implementação do sufrágio universal. Todos estes temas já foram propostos para debate e foram chumbados. Muitos problemas que não foram analisados permanecem por resolver em Macau, como é o caso da elevada inflação e do alegado monopólio existente no sector dos alimentos e telecomunicações, temas levantados por Au Kam San já em 2000. Olhando para os diários do hemiciclo, três nomes saltam à vista. Ng Kuok Cheong, Au Kam San e Paul Chan Wai Chi, que não conseguiu ser reeleito em 2013, lideram os pedidos de debate feitos nos últimos 15 anos. Todos estes são da bancada pró-democrata e foram escolhidos pela população.

BATATAS QUENTE

Nem sempre os temas foram pacíficos e muitas vezes os deputados

foram acusados de confundir o hemiciclo com o tribunal. Veja-se o exemplo do pedido de debate feito em 2012 por Ng Kuok Cheong e Paul Chan Wai Chi sobre os terrenos em frente ao aeroporto, envolvidos no caso La Scala. “Acho estranho que os dois colegas tenham proposto a realização da audição sobre um assunto que tinha sido tratado nos órgãos judiciários, na situação em que o senhor deputado Au Kam San, que pertence à mesma associação dos mesmos deputados (Associação Novo Macau), tinha participado o caso junto do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) e do Ministério Público”, disse o deputado Tsui Wai Kwan, na altura. No pedido de debate sobre a atribuição de dez sepulturas

perpétuas no cemitério de São Miguel Arcanjo (caso onde a ex-Secretária Florinda Chan acabou por ser ilibada), em Novembro de 2011, houve mais uma farpa aos proponentes do debate. “Tendo em consideração o facto de o Ministério Público ter instruído o processo penal sobre a mencionada atribuição de dez sepulturas perpétuas, assim como o apuramento dos respectivos factos se ter tornado o objecto de um processo judicial, acho que é inconveniente à AL proceder a uma audição para o esclarecimento do assunto”, apontou a deputada directa Angela Leong. Quando as acusações se fizeram ouvir no pedido de debate sobre a demolição violenta feita ao bairro

Olhando para os diários do hemiciclo, três nomes saltam à vista. Ng Kuok Cheong, Au Kam San e Paul Chan Wai Chi, (...) lideram os pedidos de debate feitos nos últimos 15 anos

de lata da Ilha Verde, realizado em 2011, Paul Chan Wai Chi não se calou. “Trata-se apenas de um pedido de audição, não é um julgamento em tribunal. Sou novato aqui, mas, por sorte, temos cá uns veteranos, isto quando se fala na incongruência entre o regulamento das audições e o regimento da AL. Por este andar ainda teremos de mexer nas coisas, ao nível interno do funcionamento”, alertou.

DESDE SEMPRE

Levar assuntos que interessam à sociedade ao hemiciclo “sempre foi uma intenção dos democratas”, como conta ao HM Ng Kuok Cheong. “Quando entrei na AL, em 1992, sempre tentámos várias formas para levar o hemiciclo a


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GCS

debater os assuntos sociais. Na altura os deputados não propunham debates e quase não falavam e o Governo português também não respondia.” No meio dos chumbos houve pedidos bem sucedidos, como foi o caso do ensino secundário gratuito, já implementado, e sobre o metro ligeiro. “Nos últimos anos começou a haver maior probabilidade dos debates serem aprovados. Há dois anos um debate sobre o metro foi aprovado e só aqui se soube que a construção ia ser adiada”, lembrou Ng Kuok Cheong.

HONG KONG COMEÇOU

João Manuel Baptista Leão, um dos proponentes do primeiro debate de sempre na AL, já não se recorda daquilo que gostaria de debater com o Governo, pois deixou de ser deputado em 2002. Fala de um tempo em que os próprios deputados não sabiam bem qual seria o seu papel no hemiciclo após 1999. Questionado sobre o facto de muitos dos pedidos de debate acabarem chumbados, João Manuel Baptista Leão é directo. “Bom, isso é democracia, a maioria vence. Se um deputado propõe um moção tudo vai depender da votação. Temos de aceitar o método.” O antigo deputado nomeado diz que é sempre importante à AL acolher pedidos de debate. “Qualquer entidade ou organização carece sempre de debates para que se explique bem aos membros o estado das diversas coisas.” Jorge Fão, que foi deputado entre 2001 e 2005, recorda que “antes da [transferência] nunca houve qualquer pedido de debate”, sendo que após 1999, “começou a surgir uma ténue experiência de pedir debates com a presença do Governo para discutir os problemas”, algo que, segundo Fão, aconteceu por influência de Hong Kong. “Estes pedidos envolviam matérias muito sensíveis e como Macau não estava preparada os deputados não aprovavam sequer esses pedi-

“Quando entrei na AL, em 1992, sempre tentámos várias formas para levar o hemiciclo a debater os assuntos sociais. Na altura os deputados não propunham debates e quase não falavam e o Governo português também não respondia” “Nos últimos anos começou a haver maior probabilidade dos debates serem aprovados” NG KUOK CHEONG DEPUTADO dos. Houve pedidos e alguns não foram aprovados, outros acabaram por decorrer. A verdade é que de facto, apesar de existir um maior número de debates, não significa que foram encontradas as melhores soluções para o tema em causa. Não vejo nesses debates o encontro de melhores soluções, por parte do Executivo e da própria Assembleia, proponentes e deputados, que não estavam preparados para este tipo de debates”, defendeu. Jorge Fão fala de um hemiciclo que precisa de amadurecer. “O debate em si é útil, na maneira em que devem existir mais. Mesmo que não se encontrem as melhores soluções, é sempre lícito que o Governo seja chamado para dar explicações sobre matérias menos transparentes. Essa é a função da própria AL e dos deputados. Sobretudo para mostrar ao mundo que Macau tem uma Assembleia que funciona. Temos de dar tempo ao tempo e reconhecer esse aspecto (falta de maturidade).”

NOVAS FACÇÕES

Nos últimos tempos deputados de outras áreas têm vindo a pedir debates, nomeadamente Ella Lei, eleita pela via indirecta em representação da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), ou até os parceiros políticos de Chan Meng Kam, como Song Pek Kei e Si Ka Lon. Leong Veng Chai, Mak

Soi Kun e Zheng Anting também fizeram as suas propostas. Os vários pedidos de debate sobre o edifício de doenças infecto-contagiosas, que aconteceu esta semana, foi um dos raros exemplos de aprovação ao qual o hemiciclo assistiu. Para Jorge Fão, os pedidos vindos de outras facções são um sinal de que há assentos a manter. “Talvez nos primórdios fosse o campo pró-democrata (a pedir debates), mas nas últimas duas sessões legislativas os mais tradicionais também estão a pedir debates, como a FAOM. E porquê? Porque todos eles sabem que precisam de fazer esse trabalho. São pessoas eleitas pela via directa. Se tal não viesse a acontecer correriam o risco de perder o assento amanhã. Não tem a ver apenas com o assunto, mas com a sua própria representação. Os deputados indirectos têm uma menor responsabilidade, os nomeados não têm”, rematou. Paul Chan Wai considera que a “cultura começou a mudar”. “A alteração ao regimento da AL fez com que o pedido de audição seja mais rigoroso e os deputados podem ter chegado à conclusão que podem expressar melhor as suas ideias através de um debate, tal como aconteceu com o edifício das doenças.” Andreia Sofia Silva (com Flora Fong) andreia.silva@hojemacau.com.mo

“Fazemos um braço-de-ferro” Defendida fim da votação para diálogo com o Governo

“É

preciso mudar. Porque é que os debates têm de receber a aprovação do plenário? Antes a apresentação de interpelações orais também precisava de aprovação, mas isso mudou com a entrada de Susana Chou para a presidência. Deve existir o mesmo modelo para os debates, para que se possa eliminar essa barreira e tornar os debates uma coisa comum. Os debates não são bichos de sete cabeças, é apenas um diálogo com o Governo”, considerou Au Kam San ao HM, quando questionado sobre o assunto. “Os debates sobre temas sociais são uma função muito importante para a AL. No passado era difícil aprovar os debates, porque é preciso obter a maioria. Esta dificuldade faz com que uma parte dos deputados não considere esta uma ferramenta importante, optando por obter informações do Governo através das associações”, acrescentou o deputado.

A RAÍZ DO PROBLEMA

Au Kam San apresenta uma explicação para tantos chumbos nos últimos anos. Os problemas repetem-se, diz, e continuam a

acontecer porque há “grandes interesses por detrás deles”. O deputado recorda um pedido de debate que fez para a implementação do ensino secundário gratuito, no qual “foi bem sucedido, talvez porque essa medida não prejudique os interesses de ninguém”. “Mas sobre a construção de habitação pública ou a diminuição do número de não residentes alguém pode perder, então surgem muitos obstáculos.” Ng Kuok Cheong opta por dizer que os pró-democratas fazem “um braço-de-ferro”. “O sistema deve ser aperfeiçoado. Os deputados que apoiam o Governo continuam a ocupar o espaço e só temos a hipótese de apresentar uma audição depois de um debate. Há problemas que continuam por resolver há muitos anos e o problema está no regime político. O Chefe do Executivo é eleito por um pequeno grupo de pessoas, os deputados não são todos eleitos e estão mais preocupados com os interesses das pessoas com riqueza e poder”, referiu. “Consegue-se ver que os temas mais sensíveis não foram aprovados e os menos sensíveis conseguiram ser aprovados. Os deputados não deixaram que fossem aprovados”, alertou Paul Chan Wai Chi. “Mesmo que os debates não tragam soluções claras para os problemas, mas isso faz com que os residentes conheçam melhor as questões e conheçam o desempenho dos deputados”, referiu ainda. A.S.S. (com Flora Fong)

andreia.silva@hojemacau.com.mo


4 POLÍTICA

hoje macau sexta-feira 20.5.2016

ECHO CHAN ASSESSORA DE LIONEL LEONG

Echo Chan está de regresso a Macau. A ex-coordenadora do Fórum Macau assume agora funções como assessora do secretário para a Economia e Finanças, indica a Rádio Macau. Echo Chan pediu licença sem vencimento em Outubro de 2015, sete meses depois de ter assumido o cargo de coordenadora do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os países de língua portuguesa, em substituição de Rita Santos, depois de vários anos no Instituto de Promoção e Comércio e Investimento de Macau. Echo Chan justificou a saída súbita do Fórum Macau com motivos pessoais.

TRIBUNAL MACAU RECEBE PRESIDENTE DO SUPREMO PORTUGUÊS António Silva Henriques Gaspar, presidente do Supremo Tribunal de Justiça de Portugal, vai estar em Macau este fim-de-semana. Segundo a Rádio Macau, estão agendados encontros com o Chefe do Executivo, Chui Sai On, bem como com os responsáveis do Tribunal de Última Instância e do Ministério Público. A vinda a Macau de António Silva Henriques Gaspar está inserida numa viagem oficial à China, sendo que, em Pequim, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça assinou um memorando de entendimento com o Supremo Tribunal Popular do continente.

Últimos retoques

Uber DEPUTADOS SUGEREM LEGALIZAÇÃO DA APLICAÇÃO MÓVEL

Quase sobre rodas

Sanções no ensino superior só para privadas

S

ANÇÕES? Só para privadas. Quem o diz é Chan Chak Mo, presidente da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), que está a analisar, na especialidade, a proposta de Lei para o Ensino Superior. Quando questionado sobre a aplicação do Regime Sancionatório, definido no artigo 53º do articulado, o deputado diz que as sanções podem ir até um milhão e meio de patacas, mas não são para todos. “As sanções são só para as privadas (...) As públicas não vale a pena porque o dinheiro também é público”, justificou o presidente da Comissão. O que acontecerá é que as instituições de ensino público serão submetidas a um processo disciplinar em caso de violação da lei, sendo que o castigo máximo será “a demissão do reitor”, exemplificou. Define a lei que é o Chefe do Executivo, Chui Sai On, o responsável pela aplicação das sanções previstas na lei, mas considera a Comissão ser necessário que o Governo “elabore um documento para sabermos em que situações se aplicam estas sanções”.

O Governo deverá analisar a possibilidade de legalizar a Uber e de criar uma aplicação móvel semelhante para o transporte de passageiros. As sugestões foram feitas pelos deputados do hemiciclo

A

legalização da aplicação de telemóvel que permite obter transporte em poucos minutos poderá acontecer no futuro. É a ideia que sobressai do mais recente relatório da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública sobre a situação dos táxis. Segundo o documento, alguns deputados sugeriram ao Governo para, tendo em conta a procura de serviços de táxis por parte do público, estabelecer através da internet uma plataforma para a chamada de carros, assim como criar condições para a abertura dessa plataforma. “Tudo para que com base nisto se possa conseguir alcançar a meta da partilha conjunta de recursos, uma vez que isso facilita a vida aos passageiros e motoristas. Mais ainda, permite resolver a questão da exploração dos veículos de aluguer não licenciados”, pode ler-se no relatório da Comissão que analisa a nova lei de táxis. Os deputados lembraram o Governo que, apesar de ser

considerada ilegal aos olhos da lei, a Uber tem recebido a adesão dos residentes. “Apesar de este tipo de transporte de passageiros não satisfazer as disposições da lei vigente, o certo é que obteve o reconhecimento dos cidadãos que o têm utilizado. Na opinião

destes a qualidade do serviço é muito melhor do que a dos táxis normais, o serviço é rápido e resolve, eficazmente, as necessidades ao nível das deslocações”, pode ler-se. Inicialmente, quando a Uber chegou ao mercado, o Governo disse “ver com

“Apesar de este tipo de transporte de passageiros não satisfazer as disposições da lei vigente, o certo é que obteve o reconhecimento dos cidadãos que o têm utilizado” RELATÓRIO

grande importância” e manter-se atento relativamente ao lançamento da aplicação móvel para smartphones da empresa, tendo igualmente ordenado às autoridades para acompanhar de perto a situação e “combaterem de forma séria a prestação ilegal de serviços por parte desses veículos.” O Executivo dizia que a Uber não é um “meio para colmatar a insuficiência de automóveis de aluguer”, já que será difícil “regular o funcionamento e a remuneração do serviço cobrado”. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

FIM AOS ERROS

Durante a reunião de ontem foi ainda discutido o artigo que define o encerramento compulsivo das instituições. Chan Chak Mo cita a lei indicando que serão alvo de encerramento escolas ou cursos que manifestem degradação pedagógica ou de grave violação da lei.

“Pode o Chefe do Executivo, por decisão fundamentada, através de ordem executiva, determinar o encerramento compulsivo da instituição ou dos cursos por esta ministrado”, pode ler-se na proposta. Chan Chak Mo explicou aos jornalistas que estas situações são raras, mas em caso de acontecer cabe ao Governo garantir a continuidade dos estudos aos alunos em causa. Os alunos podem ser transferidos para outras instituições de ensino, ou pode ser “contratado alguém para gerir até que os alunos terminem o curso”. Casos os docentes, por alguma razão, desistirem também de leccionar serão substituídos ou os alunos transferidos. Apesar de Chan Chak Mo, no mês passado, ter admitido que a análise desta lei iria arrastar-se até 2017, é possível que aconteça mais cedo. “Segundo este andamento, já estamos no artigo 53, só nos faltam sete artigos. (...) depois o Governo vai-nos entregar uma versão alternativa (...) não sei quando é que vai conseguir entregar o novo texto de trabalho para podermos apreciar”, explicou adiantando que se o texto for elaborado de forma correcta então a Comissão demorará menos tempo na apreciação. No entanto, não é possível saber se este trabalho estará concluído até ao fim desta sessão legislativa. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo


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Animais AÇAIME PODE NÃO SER OBRIGATÓRIO. ESTERILIZAÇÃO MAIS BARATA

A análise à proposta de Lei de Protecção dos Animais está quase terminada, faltando apenas uma reunião com associações. Um ano de prisão é mesmo a pena máxima decidida, bem como o uso de açaime para cães com ou mais de 23 quilos, sendo que podem existir excepções. As esterilizações serão mais baratas

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ADA a fazer. Por muitas queixas que o Governo e a 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) tenha recebido contra as definições da proposta de Lei de Protecção dos Animais, a Administração vai mesmo avançar. De fora está a obrigatoriedade de aplicar um chip aos gatos e o aumento das penas para todos aqueles que praticarem abusos contra os animais. “A Comissão concorda com as alterações introduzidas”, afirma Kwan Tsui Hang, presidente do grupo que analisa a proposta.

A um passo do fim

O impasse entre três anos – tal como definia a primeira proposta – e um ano de prisão como pena máxima terminou com a escolha da última opção. Mas já uma grande alteração, no polémico uso de açaime nos cães com mais de 23 quilos. Depois de retirar a ideia de tornar o açaime obrigatório, o Governo abre excepções. Com a aprovação da lei, que “em princípio acontecerá a 1 de Setembro”, conforme explica Kwan

GALGOS IGNORADOS

Q

uestionada sobre a polémica que envolve o Canídromo e o transporte dos galgos para o território – impedido na semana passada por activista irlandeses e ingleses - Kwan Tsui Hang diz que a Comissão não discutiu o assunto. A proposta de lei em causa nada especifica sobre o tratamento deste animais usados nas corridas e também não o vai fazer, conforme garantiu a presidente. Os animais ficam protegidos por esta lei, conforme todos os outros cães. “Não chegamos a discutir esta questão, a proposta também não fala especificamente sobre este tipo de cães, por isso, nunca discutimos o assunto com o Governo”, argumentou. “Quanto aos galgos, nomeadamente as condições em que estão instalados ou se são torturados, também podem ser abrangidos por este diploma. Acho que o IACM tem a responsabilidade de fiscalizar, mas se o fez ou não, não é uma matéria incluída neste diploma”, rematou.

Tsui Hang, os donos dos cães terão, nos 90 dias seguintes, a oportunidade de requerer junto do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) a dispensa do uso do açaime no seu animal de estimação. “Se o dono achar que o animal é manso pode pedir ao IACM que faça uma avaliação para não usar o açaime”, explicou a presidente. Ao passar nessa avaliação, que implica a verificação da raça, um teste à obediência do animal ao dono e à sua reacção com outras pessoas, o animal ficará certificado como não sendo perigoso.

BARATO, BARATINHO

Kwan Tsui Hang indicou ainda que a Comissão recebeu várias queixas sobre a necessidade de aplicar a lei de forma correcta, como por exemplo na fiscalização e limpeza do espaço público. Relativamente às queixas sobre os cães que estão nos estaleiros – muitas vezes deixados pelos donos como cães de guarda – a presidente explicou que a esterilização será

“Se o dono achar que o animal é manso pode pedir ao IACM que faça uma avaliação para não usar o açaime” KWAN TSUI HANG PRESIDENTE DO GRUPO QUE ANALISA A PROPOSTA obrigatória, bem como o uso de trela durante o dia. “Da parte do dia, estes cães têm de ter uma trela (...) e da parte da noite (...) não podem sair dos estaleiros. No caso de violação da lei, os donos dos estaleiros serão sancionados”, explicou. Com a nova lei, diz a presidente, o Governo terá forma para fiscalizar situações dos cães dos estaleiros, dos cães vadios e todas as outras situações. Apesar da esterilização ser obrigatória para os cães que

DÚVIDAS SOBRE RECURSOS PARA RESOLVER ACIDENTES MARÍTIMOS

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POLÍTICA

deputado Mak Soi Kun entregou uma interpelação escrita ao Governo a questionar os equipamentos e recursos humanos existentes para resolver os acidentes ou incêndios que possam ocorrer nas zonas marítimas administradas por Macau. Mak Soi Kun lembrou um incêndio ocorrido na zona do Porto Interior, onde

os trabalhos de salvamento foram feitos pelos departamentos marítimos do interior da China, Serviços de Alfândega e Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA). Com a aprovação da gestão das águas marítimas pelo Governo Central, o deputado considera que o Governo deve ter a inteira responsabilidade na gestão destas áreas.

Para Mak Soi Kun, o Governo deve fazer a orientação completa dos trabalhos de salvação, quer incluam embarcações de Macau ou do estrangeiro, questionando a sua experiência sobre o assunto. O deputado pretende ainda saber se o Governo vai apostar na cooperação regional para resolver os acidentes. T.C. (revisto por A.S.S.)

estão nos estaleiros, não o será para os domésticos. Ainda assim, como forma de incentivo à esterilização, o Governo irá baixar os preços do processo.

VOZ ACTIVA

O parecer será elaborado depois de uma última reunião, agendada para o próximo dia 24, terça-feira. A Comissão irá receber membros de associações de protecção dos animais e alguns membros do Governo. Ainda assim, Kwan Tsui Hang afasta a hipótese de o Executivo mudar de ideias sobre as alterações agora definidas. Muitas associações defendem que a pena de prisão deve ir até três anos mas o Governo já respondeu que esta moldura penal é a solução mais equilibrada, argumentou a deputada quando questionada sobre a possível abertura tanto do grupo de trabalho, como do Governo aos pedidos das associações. Filipa Araújo

Filipa.araujo@hojemacau.com.mo


6 SOCIEDADE

hoje macau sexta-feira 20.5.2016

Sexo. O Governo esclarece que cada escola que tem que se esforçar para passar os conceitos correctos aos alunos. Seguindo as suas próprias filosofias, as escolas não podem ignorar a tendência e os professores têm “de perder a vergonha de falar” sobre o assunto. É o que defende a DSEJ, que diz que a Educação Sexual não será uma disciplina independente

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EPOIS de algumas escolas criticarem a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) – mais precisamente o Centro de Educação Moral – quanto aos materiais escolares “desactualizados” sobre Educação Moral e Cívica, onde se inclui a sexualidade, o mesmo organismo reage: diz que tem os materiais adequados e existem formações para os docentes. Mas, frisa, é preciso que as escolas se dediquem também. “O docente é um profissional, os manuais servem apenas como referência. O docente pode fazer um ajustamento ao que ensina. Este manual não é feito para uma escola, mas sim para todas. Acredito que algumas escolas possam achar que os recursos possam ser desactualizados. Mas é precisamente nestas situações que os docentes têm de fazer um trabalho de ajuste”, reagiu Leong I On, director do Centro, num encontro com o HM espoletado pela reportagem que indicava desagrado na forma como se ensina a matéria às crianças e jovens. O primeiro esclarecimento começa na linha educativa escolhida pelo próprio Governo. Pelas palavras de Leong I On, a tarefa de ir ao encontro de todas as crenças e ideologias seguidas pelas escolas de Macau, não “é fácil”. Por isso, foi preciso que o Governo, depois de alguns estudos, criasse uma

Ensino Sexual DSEJ DIZ QUE CADA ESCOLA TEM DE FAZER O SEU TRABALHO

A papinha feita linha de sugestão de ensino que “agradasse a todos”. É necessário, aponta o responsável, perceber que existem escolas em Macau de conotação religiosa, outras de valores chineses mais tradicionais e até escolas que seguem as linhas educativas ocidentais. “A Educação Sexual não é muito falada em Macau e é preciso darmos alguma importância para romper com este assunto que ainda é tabu”, começa por explicar o director ao HM, reforçando a ideia de “ponto em comum” entre as escolas. “Como se sabe Macau tem diferentes escolas, de diferentes origens, chinesas, portuguesas, internacionais. Quando fizemos este trabalho tivemos de encontrar um ponto em comum entre todas. Tentámos também encontrar na nossa sociedade os valores de família e do sexo”, acrescentou.

DOS NÚMEROS

Trabalho que culminou em vários recursos auxiliares, para o ensino infantil, primário, secundário geral e complementar. Feitas as contas, no ano lectivo de 2015/2016, 95%

das escolas de ensino infantil receberam os manuais doados pelo Centro, 82% das escolas de ensino primário também. Nos dois tipos de ensino secundário a percentagem de escolas a aceitar este manuais não ultrapassou os 70%. Sobre os cursos de formação para instrutores de Educação Sexual, que se dividem em três níveis - básico, avançado e prático, até 2015 e desde 2013, 630 docentes receberam formação. Até ao ano passado, “mais de 80% das escolas formaram grupos” de trabalho de Educação Moral nas escolas. Quanto ao plano de apoio da DSEJ sobre a Educação Sexual, os números mostram que 60% das escolas participaram nesses traba-

lhos, contando com a presença de cinco mil participantes, docentes ou não. Posto isto, o director é claro: os manuais disponibilizados e as formações cedidas têm conteúdos sobre a sexualidade, no entanto é preciso “que os professores percam a vergonha de falar de sexo”. “É preciso que os professores estejam preparados. É preciso que eles conheçam valores diferentes sobre sexo, por isso é que também organizamos encontros entre eles e homossexuais, ou pessoas que se dedicam à prostituição, entre outros”, esclarece. Apesar disto, reforça, a abordagem do tema vai depender sempre da ideologia escolhida por cada escola, sendo

“Macau tem diferentes escolas, de diferentes origens, chinesas, portuguesas, internacionais. Quando fizemos este trabalho tivemos de encontrar um ponto em comum entre todas. Tentámos também encontrar na nossa sociedade os valores de família e do sexo”

que não compete ao Governo essa última decisão.

AMOR DESTACADO

Quando questionado sobre a ausência de abordagem de questões práticas, como a aplicação de um preservativo, ou o uso de outro tipos de contraceptivos, Leong I On explica que algumas dessas informações estão nos materiais doados às escolas, mas é preciso perceber que a ideologia em Macau é vocacionada para o “conceito de amor”. Ou seja, são abordados temas como família, harmonia, respeito pelo outro, sentimentos para com outra pessoa. “O que pretendemos é criar noções de valores. Esta também foi a conclusão que chegamos sobre o que pensa a sociedade. Eles querem isto. Volto a salientar, [a linha educativa escolhida permite] que o jovem tome as suas decisões, tem liberdade no que faz. Por isso queremos introduzir valores correctos [morais e cívicos] e eles tomam as suas decisões”, esclareceu. À pergunta sobre se há possibilidade de criar Educação Sexual como uma disciplina independente, Leong I On afasta a hipótese. “Há muita gente que levanta essa questão. Não achamos que exista essa necessidade. Não serão apenas umas aulas que irão ajudar os alunos a ter conhecimentos sobre este tema. O que nós consideramos é que este processo é duradouro e acumulativo, isto é, o aluno aprende através de diferentes formas, pela família, na escola, na sociedade, com todos os programas que o Governo consegue oferecer (grupos de trabalho, actividades de aconselhamento de educação sexual, entre outros)”, argumentou. Caso o Governo optasse por introduzir a disciplina de Educação Sexual nos programas curriculares “estava a limitar as escolas na suas opções de ensino”, dos conteúdos que cada direcção escolhe. Apesar desta liberdade de cada instituição, o director garante que o Governo tem as suas exigências e essas são cumpridas pelas escolas. Depois há outra questão: comparar ensino oriental com ocidental é um erro. “Não posso dizer que um está certo e outro errado. Não, mas são diferentes. São culturas diferentes” e, por isso, os conceitos, métodos e abordagem também são diferentes. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo


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SOCIEDADE

TIAGO ALCÂNTARA

No segredo dos deuses Governo não revela números nem diz que operadoras dão alojamento a TNR

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Livro MACAU “PIONEIRO” NO TRATAMENTO DE DEPENDÊNCIAS FACE A PORTUGAL

Foi aqui que tudo começou João Pedro Augusto, autor do livro “Tratamento de Dependências – Evolução do Sistema Português 19582014”, considera Macau como um território pioneiro para os tratamentos adoptados em Portugal e fala de um aumento de residentes a procurar apoio no seu centro

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ACAU foi um território pioneiro no tratamento de dependências como o álcool ou a droga, tendo ajudado na adopção do modelo de cura em Portugal. Quem o diz é João Pedro Augusto, autor do livro “Tratamento de Dependências – Evolução do Sistema Português 1958-2014”, lançado no mês passado em Lisboa. “Essa foi uma das constatações deste trabalho de pesquisa”, contou o autor ao HM, por e-mail. “As primeiras estruturas de tratamento surgiram em Macau no decorrer da década de 60 do século XX (no Centro de Recuperação Social da Ilha de Taipa) e

CONFERÊNCIA SOBRE DROGA EM 2017

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Organização das Famílias para a Ásia-Pacífico, que tem o estatuto especial consultivo junto da Organização das Nações Unidas, volta a organizar em Macau uma conferência internacional sobre a problemática da droga, à semelhança do que foi feito em 2013. Segundo confirmou Nuno Roque Jorge, o evento terá lugar em Novembro de 2017.

os profissionais que são escolhidos numa primeira fase pós 25 de Abril para liderar em Portugal as estruturas governamentais de tratamento de drogas são pessoas que obtiveram essa experiência profissional precisamente em Macau, como por exemplo, o psiquiatra Alberto Cotta Guerra”, revelou João Pedro Augusto. O autor, que é responsável pelo departamento de admissões de uma unidade de tratamento em Portugal, alerta para um aumento de residentes que procuram os serviços fora da RAEM, defendendo que os actuais recursos e estruturas não serão as mais ideais. “Da minha experiência enquanto responsável por uma unidade de tratamento que por vezes é procurada por pacientes provenientes de Macau, não me parece que [a existência de recursos ideais e suficientes] suceda neste momento. Para além dos problemas mais tradicionais de dependências químicas (álcool e drogas), nos últimos anos o problema da dependência do jogo tem aumentado consideravelmente na RAEM”, apontou. João Pedro Augusto fala de quase uma dezena de pessoas que já procuraram tratamento no seu centro e não apenas portugueses. “O que se nota de forma clara é que

nos últimos dois a três anos há uma procura cada vez maior por parte dos residentes de Macau de pedidos de informação sobre os nossos tratamentos. Isso acontece por vários motivos, seja por não confiarem nos serviços de tratamento existentes na RAEM, ou por questões compreensíveis de tentativa de manutenção do anonimato.”

Gabinete dos Recursos Humanos (GRH) não diz quantas e quais as operadoras de Jogo que estão a garantir alojamento ao trabalhadores não residentes (TNR) contratados por estas empresas de jogo. Em resposta ao HM, o GRH preferiu não divulgar, reafirmando apenas que este é um direito dos TNR. A responsabilidade, apontou, é das operadoras ou das agências de trabalho que os recrutam, que podem ainda garantir este direito através de um subsídio de alojamento. O bem-estar dos TNR é um factor que o organismo diz considerar para a apreciação do pedido de vagas para as empresas, acrescenta ainda o Gabinete. O organismo explica que a garantia de alojamento é uma “instrução clara” conforme um despacho do Chefe do Executivo, Chui Sai On, sendo que o local deve ter uma área útil não inferior a 3,5 metros quadrados por cada pessoa, “dispor de cama, ventoinha, casa de banho, máquina de lavar roupa”, entre outras comodidades. “Quando a entidade entrega o pedido de autorização de contratação de TNR ao GRH, é preciso escolher se vai oferecer alojamento ou subsídio de alojamento para os trabalhadores que quer contratar”, explicou na resposta ao HM, sendo que esta medida cumpre um dos pontos avançado na apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG) para o ano 2015, que exigia ainda a garantia de transporte para os TNR.

BEM COMPORTADOS

A MAIOR RAZÃO

Augusto Nogueira, presidente da Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM), garante que a procura se deve mais pela busca do anonimato. “Não temos dados das pessoas que pedem apoio a Portugal, porque talvez sejam pessoas que nos telefonam de forma anónima à procura de soluções. Macau tem respostas e apoios para o tratamento dos locais. Temos boas capacidades. Se essas pessoas procuram outros sítios é porque querem esconder o que se passa na sua casa, porque Macau é um meio pequeno, muitas vezes passa por isso”, disse ao HM. Nuno Roque Jorge, presidente da Organização das Famílias para a Ásia-Pacífico, também defende a existência de boas estruturas em Macau na resposta a estes casos. “Não há um grande problema em relação à qualidade do tratamento, mas pode ser de facto em relação ao anonimato. Macau é uma terra muito pequena”, rematou. “O sector público tem dado resposta”, disse ainda Nuno Roque Jorge. O HM tentou obter dados de tratamento junto dos Serviços de Saúde mas até ao fecho desta edição não foi possível. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

No início de Maio, o deputado Ho Ion Sang quis saber o que estava a ser feito para obrigar as operadoras de Jogo a assumir esta responsabilidade. O deputado perguntou ainda se o cumprimento desta responsabilidade será uma condição na apreciação e renovação das vagas para TNR a que as empresas terão direito. Ao HM, o GRH esclarece que a apreciação das quotas é considerada pela oferta e procura do mercado de trabalho, sendo ainda avaliado o funcionamento da empresa que apresenta o pedido e o seu histórico de contratação de trabalhadores. As condições que a entidade que requer os TNR oferece aos mesmos é também tida em conta, garante. Uma vez mais, o Gabinete volta a aconselhar a hipótese das operadores aproveitarem os horários de funcionamento do posto fronteiriço do Cotai (24 horas) e apostar na oferta de alojamento em Zhuhai e na Ilha da Montanha, com preços mais baratos e mais oferta no sector imobiliário. Flora Fong (revisto por F.A.) Flora.fong@hojemacau.com.mo


8 SOCIEDADE

hoje macau sexta-feira 20.5.2016

Agentes do património

Canídromo ESTUDO ANALISOU “CARTAS E OPINIÕES NOS JORNAIS”

Sem conversa directa

A

Polícia de Segurança Pública (PSP) deverá implementar este ano a “polícia turística”, sendo que uma equipa de patrulha especial já está em operações desde o ano passado. O projecto da “polícia turística” foi apresentado no relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano, na tutela da Segurança. Este novo tipo de polícia será responsável por evitar e combater o crime nas zonas turísticas, o controlo do fluxo de turistas e eventuais roubos. Numa resposta ao HM, a PSP disse que ainda não há uma data oficial para a implementação deste novo tipo de polícia. Quanto à equipa de patrulha especial, tem operado sobre-

tudo na zona das Ruínas de São Paulo. A PSP considera que já possui experiência suficiente para implementar as novas equipas. “Na fase inicial da criação da polícia turística, está prevista a patrulha em zonas como as Ruínas de São Paulo, praça Flor de Lótus, templo de A-Má e zona do Leal Senado”, referiu, não estando afastada a hipótese de colocar mais patrulhas noutros locais. Leong Man Cheong, director da PSP, prometeu disponibilizar equipas de polícias que dominem outras línguas alem do Chinês, num total de 30 agentes. No entanto, a PSP nada avançou sobre isso na resposta ao HM. Flora Fong (revisto por A.S.S.)

flora.fong@hojemacau.com.mo

SERVIÇOS DE SAÚDE ALERTAM PARA AUMENTO DE ENTEROVÍRUS

Um comunicado dos Serviços de Saúde (SS) alerta para a ocorrência de 473 casos de enterovírus desde o início deste mês, o que representa o dobro dos casos registados em Abril (216 casos). Trata-se de um “ligeiro aumento” de casos em relação ao mesmo período de 2015. Os SS apontam que “até ao momento não foi registado nenhum caso grave nem mortal”.

“Tenho que esclarecer que não fui ouvir as opiniões da sociedade. Nós não fomos directamente saber as opiniões de associações porque não sabemos quantas entidades [são] e são várias”

HOJE MACAU

“Polícia turística” criada ainda este ano

N

UNCA foi dito que o Instituto de Estudos sobre a indústria do Jogo da Universidade de Macau (UM) iria “ouvir” opiniões das associações de protecção animal sobre o encerramento do Canídromo. É assim que Davis Fong, director do Instituto responsável pelo estudo encomendado pelo Governo sobre o espaço da Yat Yuen, explica ao HM por que razão a principal promotora do encerramento do Canídromo diz não ter sido ouvida. Ontem, numa resposta por telefone ao HM, o responsável do Instituto explicou que há uma diferença PUB

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 262/AI/2016 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora NGUYEN THI THUY, portadora do passaporte de Vietnam n.° B900xxxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 62/DI-AI/2014, levantado pela DST a 31.05.2014, e por despacho da signatária de 27.04.2016, exarado no Relatório n.° 296/DI/2016, de 18.04.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Rua Cinco Bairro Iao Hon, n.° 39, Edf. Mau Tan, 1.° andar C (D143), Macau.----------------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010.------------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 27 de Abril de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

entre “consultar” e “ouvir” as opiniões. As opiniões de associações de protecção animal foram tidas em conta, como frisou Davis Fong no programa Macau Talk da rádio chinesa esta semana, mas não por contacto directo. “Tenho que esclarecer que não fui ouvir as opiniões da sociedade. Nós não fomos directamente saber as opiniões de associações porque não sabemos quantas entidades [são] e são várias. Penso que [as associações que defendem] os galgos e animais são uma boa parte. Portanto, não temos uma

DAVIS FONG DIRECTOR DO INSTITUTO RESPONSÁVEL PELO ESTUDO lista para [saber como] consultar as associações”, indicou ao HM. Davis Fong afirmou que, ao invés disso, analisou as opiniões das associações “através dos conteúdos de jornais e das cartas enviadas para o Governo”. A ANIMA disse esta semana ao HM não ter sido ouvida. O HM tentou perceber junto da Associação de Protecção aos Animais Abandonados de Macau se foi ouvida, mas não foi possível.

Este estudo – cujo montante ainda é desconhecido – foi encomendado pelo Governo à UM depois de ter sido decidida a prorrogação do contrato com a Yat Yuen – Companhia do Canídromo, em Dezembro de 2015, por mais um ano. As conclusões, dizia na altura, o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, só iriam ser conhecidas no final deste ano e teriam como base a decisão sobre a manutenção ou encerramento do Canídromo.

INCÓGNITAS

Ao HM, Davis Fong não quis levantar a ponta do véu sobre a análise feita, por não ser “adequado”. A ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais ainda chegou a criticar o facto de o estudo não ter sido “feito antes”, uma vez que o Canídromo funciona há 50 anos. Segundo as associações de protecção animal locais todos os anos 400 galgos morrem ou são abatidos no Canídromo, considerado como “o pior” do mundo. Recentemente, diversas associações e imprensa à volta do mundo têm pressionado o Governo a encerrar o espaço. As receitas das corridas de galgos encontram-se em acentuada queda. Joana Freitas (com Flora Fong) Joana.freitas@hojemacau.com.mo

QUEM QUER TRAMAR O SÃO JANUÁRIO?

O

Centro Hospitalar Conde de São Januário tem estado a ser vítima de acusações falsas. É o que diz o próprio hospital, que indica num comunicado que a colocação de lixo alegadamente médico na via pública terá sido “provocado por alguém que intencionalmente depositou os resíduos” na rua. Nos últimos dias tem circulado na internet uma foto de um saco plástico vermelho com as palavras “Resíduos Médicos”, que colocou o hospital sob suspeita de abandono de resíduos nas ruas. Já em Março, o São Januário tinha recebido uma foto idêntica, sendo que o cidadão que apresentou a imagem disse que o saco plástico estava colocado junto ao Edificio Merry Court, na Estrada do Visconde de S. Januário. O hospital, que “não usa sacos plásticos vermelhos para resíduos médicos”, iniciou

uma investigação mas não sabe ainda quem possa ser o autor da acção. “A colocação intencional de lixo em vias públicas é um comportamento que afecta a saúde pública, censurado pelo hospital que se reserva no direito de pedir a responsabilidade. O CHCSJ possui procedimentos rigorosos de eliminação de resíduos, todos os serviços da acção médica pedem mensalmente três tipos de sacos de lixos, nomeadamente, sacos pretos para resíduos gerais, sacos amarelos para resíduos médicos e sacos verdes para documentos confidenciais com necessidade de ser triturados antes de ser destruídos.” O hospital público diz ainda que após a recolha dos resíduos, os sacos são selados, pesados e registados, sendo ainda transportados por veículos especializados.


9 hoje macau sexta-feira 20.5.2016

UNESCO “CHAPAS SÍNICAS” NO REGISTO DA MEMÓRIA DO MUNDO

DESMANTELADO GRUPO DE APOSTAS ILÍCITAS

Documentos intocáveis Os mais de 3600 documentos que compõem as Chapas Sínicas e que falam das relações entre Portugal e Macau são agora parte do património documental da humanidade. A decisão foi ontem aprovada pela UNESCO, meses depois da candidatura “Os mais recorrentes são as questões de justiça e de jurisdição, os assuntos económicos e de comércio (a proibição do ópio, contrabando, mercadores), os problemas religiosos (a missão clandestina na China, a repressão contra os católicos chineses), as relações diplomáticas (entre Macau e os países asiáticos e europeus, nomeadamente a Inglaterra e a sua presença em Macau, circulação de estrangeiros, o envio de embaixadas), a navegação dos mares e utilização de portos (combate à pirataria, embarcações, naufrágios e náufragos, tributos à navegação). São igualmente frequentes as situações referentes a obras em edificações, quer civis quer militares, e a construção clandestina”, explica o documento.

O encontro, que decorre desde dia 18 até amanhã no Vietname, contou com a presença da directora do Arquivo Histórico, Lau Fong, que se mostra satisfeita com a aprovação da UNESCO. “Estes valiosos documentos apelidados de ‘Chapas Sínicas’ agora distinguidos pela UNESCO como ‘Registo da Memória do Mundo da Ásia – Pacífico’ constituem um testemunho autêntico do rico e importantíssimo legado histórico de Macau, enquanto

plataforma fundamental para a globalização e encontro entre o Ocidente e o Oriente. O resultado desta candidatura muito prestigia e dignifica Macau”, frisou, citada num comunicado a que o HM teve acesso. No final deste mês vai ainda ser entregue uma segunda candidatura à UNESCO, do mesmo acervo documental, mas para uma aplicação a nível mundial. Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

GAIVOTAS NO LAGO NAM VAN FACEBOOK

A

S Chapas Sínicas são, agora, património. A decisão saiu da última reunião geral do Programa Memória do Mundo da UNESCO para Ásia e Pacífico, depois de uma candidatura conjunta de Portugal e Macau, em Outubro do ano passado. Ao que o HM apurou, as Chapas Sínicas passaram agora a estar classificados pela UNESCO a “nível regional como integrantes no Registo da Memória do Mundo”. As Chapas Sínicas são compostas por mais de 3600 documentos individuais e em forma de registo, provenientes da antiga Procuratura do Leal Senado de Macau e fazem parte do acervo do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. A candidatura dos documentos tinha sido feita pelo Arquivo de Macau juntamente com esta instituição. Os documentos ilustram as relações luso-chinesas desenvolvidas entre o procurador do Leal Senado e as diversas autoridades chinesas, abrangendo um período entre 1693 e 1886, sendo que os assuntos e temas referem-se a diversos aspectos das relações entre as duas autoridades.

SOCIEDADE

SATISFAÇÃO AO MÁXIMO

A candidatura ao programa da UNESCO iniciado em 1992 e cujo objectivo é preservar a herança documental da Humanidade, tinha sido feito em Outubro do ano passado. Nessa altura, o Instituto Cultural selou um memorando de entendimento no Arquivo da Torre do Tombo para a candidatura.

A

S autoridades de Macau, Hong Kong e Guangdong desmantelaram um grupo de apostas de jogo ilegais online. Segundo o canal Mastv, este grupo terá cometido o crime de branqueamento de capitais através de algumas salas VIP de Macau. Qian Bo, responsável pelo Departamento de Segurança da Província de Cantão, indicou que o grupo possuía vários escritórios em Guangdong com ligações a agências, sendo que membros de seitas estariam no controlo do grupo. As autoridades desmantelaram ainda dois pontos de jogo ilícito online, confiscando um montante superior a 20 milhões de renmimbi e tendo também desmantelado quatro bancos ilegais que operariam com este grupo, na cidade de Dongguan. Aqui as operações foram superiores a 20 mil milhões de renmimbi. A imprensa chinesa fala do branqueamento de capitais como o recurso mais usado por este grupo para a obtenção de dinheiro, sendo que terá ajudado muitos cidadãos “chineses ricos” a enviar o seu capital para fora da China. O grupo seria ainda responsável pela compra de fichas de jogo, sendo que os junkets poderiam depois trocar essas fichas por dinheiro. O grupo também terá obtido interesses com a troca de dinheiro em renmimbi, patacas e dólares de Hong Kong nos mesmos bancos ilegais. T.C. (revisto por A.S.S.)

MANUEL VICENTE VAI SER NOME DE RUA

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acau vai mesmo ter uma rua com o nome do arquitecto Manuel Vicente. O pedido foi feito através de uma petição pública lançada pelo Jornal Tribuna de Macau já há três anos, tendo sido depois entregue ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). Nada se sabia sobre a decisão, mas o organismo confirma agora que a ideia é para avançar. “O IACM recebeu a petição pública e o nome do arquitecto Manuel Vicente está na lista de nomes a atribuir a ruas de Macau”, começou por confirmar ao HM o organismo. O IACM explica que o processo de atribuição de nomes a ruas de Macau é “avaliado caso a caso”, consoante o surgimento de novas ruas na cidade. A lista de nomes inclui personalidades, cidades e lugares, não se sabendo em que lugar está o nome de Manuel Vicente. A petição foi lançada logo a seguir à morte do arquitecto, em 2013. Manuel Vicente foi o responsável por projectos como o plano da Baía da Praia Grande, o World Trade Centre, o projecto de habitação social do Fai Chi Kei, as Torres da Barra, o edifício da CEM em Coloane e o edifício do orfanato Helen Liang, entre outros. O profissional era denominado um Mestre da Arquitectura, mas também “o arquitecto de Macau”.

HOMEM ENCONTRADO MORTO NO LAGO SAI VAN

• Além do pato perto do Centro de Ciência, surgem agora gaivotas no Lago Nam Van. Os barcos a pedal têm como objectivo adicionar mais actividades de lazer e de desporto para residentes de turistas nas águas perto da Torre de Macau. A Direcção dos Serviços de Turismo prevê iniciar o projecto em Junho.

O corpo de um homem foi encontrado no Lago Sai Van, ontem, sendo que a causa da morte ainda estará a ser investigada. Segundo a Polícia Judiciária (PJ), o aviso terá chegado através do Corpo de Bombeiros. Na análise preliminar ao corpo não foram encontradas feridas nem quaisquer documentos de identificação, sendo que o homem teria entre 30 a 40 anos de idade. A PJ afasta suspeitas de homicídio.


10 CHINA

hoje macau sexta-feira 20.5.2016

PEQUIM PEDE A WASHINGTON PARA MUDAR DE IDEIAS SOBRE TAIWAN

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M

AIS de um terço da população chinesa e indiana sofre de problemas mentais, mas apenas uma pequena fracção recebe tratamento médico adequado, indicam estudos ontem divulgados pela revista britânica “The Lancet”. Há mais pessoas com problemas mentais, neurológicos ou relacionados com o uso de substâncias nos dois países mais populosos do mundo do que em todos as economias desenvolvidas combinadas, indicam as investigações. Este problema agravar-se-á nas próximas décadas, especialmente na Índia, onde deverá afectar um quarto da população em 2025. A China está já a enfrentar uma rápida subida de problemas de demência, uma tendência relacionada com o envelhecimento da população, fruto das políticas de controlo da natalidade iniciadas há mais de 35 anos.

NÃO HÁ CONDIÇÕES

Nenhum dos dois países está equipado adequadamente para enfrentar as necessidades relacionadas com a saúde mental, de acordo com relatórios publicados nas publicações médicas “The Lancet” e “The Lancet Psychiatry” e “China-India Men-

CHINA E ÍNDIA ENFRENTAM VASTO PROBLEMA DE SAÚDE MENTAL

A cabeça às voltas tal Health Alliance”, divulgados pela agência France Presse. Na China, apenas 6% das pessoas com problemas de saúde mental, como depressão, desordens relacionadas com a ansiedade, ou com o abuso de substâncias e demência procurou ajuda médica, indicam as investigações. “A falta de assistência médica nas zonas rurais” é especialmente grave, explica Michael Phillips, um dos coordenadores das investigações e professor na Emory University em Atlanta e na Jiao Tong University em Shangai. Mais de metade dos doentes com desordens psicóticas graves,

como a esquizofrenia, não são diagnosticados e muitos menos recebem tratamento, acrescenta o investigador. Na Índia, a percentagem da população com problemas mentais que recebe tratamento é igualmente pequena, o que contrasta com taxas acima de 70% verificadas nos países desenvolvidos.

NO CAMPO AINDA É PIOR

A divisão entre as economias desenvolvidas e estes gigantes populacionais é também expressiva no que concerne os orçamentos empregues no tratamento das doenças mentais. Enquanto na China e na Índia, os orçamentos

A China está já a enfrentar uma rápida subida de problemas de demência, uma tendência relacionada com o envelhecimento da população, fruto das políticas de controlo da natalidade iniciadas há mais de 35 anos

de saúde consagram menos de 1% à saúde mental, nos Estados Unidos, por exemplo, este valor ascende quase a 6% e em França e na Alemanha alcança os dois dígitos. Tanto a Índia como a China lançaram recentemente políticas de supressão de necessidades relacionadas com as doenças mentais, mas a realidade no terreno mostra que há ainda muito caminho a percorrer. “As carências de tratamento, especialmente nas zonas rurais, são muito grandes”, afirma a propósito da Índia Vikram Patel, um professor na London School of Hygiene and Tropical Medicine. Mas na China a realidade não é diferente. Deverá demorar décadas para que cada um destes países resolva estas necessidades, concluem os estudos. Os investigadores sugerem que um largo conjunto de praticantes tradicionais na Índia e na China podem ser treinados para reconhecer problemas de saúde mental e ajudar com tratamento.

China instou os Estados Unidos a revogar uma resolução que reitera o Acto das Relações e as Seis Garantias como base das relações entre os EUA e Taiwan. A Câmara dos Representantes dos EUA aprovou tal resolução na última segunda-feira. Em 1982, o então presidente norte-americano, Ronald Reagan, emitiu as “Seis Garantias”, que estipulam que os Estados Unidos não reconhecem “formalmente a soberania chinesa sobre Taiwan”. O porta-voz da chancelaria chinesa, Hong Lei, afirmou numa conferência de imprensa ordinária que os Estados Unidos devem adoptar medidas efectivas para eliminar os efeitos negativos da resolução vigente. Hong expressou firmemente a oposição da China face a essa situação: “O assunto de Taiwan diz absolutamente respeito ao foro doméstico da China. O Acto das Relações com Taiwan, entre outros compromissos aprovados nos EUA, viola os três comunicados conjuntos sino-americanos e a política de ‘Uma Só China’. A China opõe-se contra a intervenção externa nos assuntos domésticos do país e contra a resolução em questão, aprovada pela Câmara dos Representantes americana. ” O porta-voz instou, por fim, os Estados Unidos a respeitarem o compromisso de oposição à “independência de Taiwan”.

TUDO EM PAZ

O departamento de comunicação do Ministério da Defesa da China anunciou na sua conta oficial do Sina Weibo, que os vários exercícios militares que têm tido lugar no Mar do Sul da China não se destinam a nenhum objectivo concreto. Alguns meios da imprensa comentaram a possibilidade da concentração das várias unidades do Exército de Libertação Popular (ELP) no Mar do Sul da China, onde se têm realizado vários exercícios militares, estar relacionada com as circunstâncias actuais. Os responsáveis pelo Ministério da Defesa esclareceram que os exercícios referidos se tratam de uma operação de rotina para dotar o exército de capacidade de resposta eficiente em caso de ameaça. Mais acrescentou que a deslocação àquela área geográfica consta no plano anual de actividades do exército, não tendo por isso nenhum objectivo em concreto, pelo que desvalorizou a necessidade de encontrar segundas interpretações para o acontecimento.


11 hoje macau sexta-feira 20.5.2016

MAR DO SUL DA CHINA ROTA DE “COLISÃO”

Dois aviões chineses aproximaram-se na terça-feira de maneira “perigosa” de um avião de reconhecimento norte-americano no sul do Mar da China, afirmou ontem um porta-voz do Pentágono. O incidente ocorreu no “espaço aéreo internacional” durante uma “patrulha de rotina” do avião norte-americano, disse o major Jamie Davis, porta-voz do Pentágono. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos utilizou os “canais diplomáticos e militares apropriados” para responder ao incidente”, disse o porta-voz. Os Estados Unidos e a China têm medido forças sobre a questão do sul do Mar da China, uma área estratégica para o comércio mundial. Pequim reivindicou o direito soberano para quase todo o mar da China e realizou grandes operações para a ocupação de ilhas e ilhotas, transformando recifes de corais em portos, construindo pistas de aterragem e outras infra-estruturas. O Vietname, Filipinas, Brunei, Malásia e Taiwan também reivindicam uma parte daquela zona. Aqueles países e os Estados Unidos estão preocupados com a demonstração de força que a China tem feito naquela zona.

PARCERIA ASSINADA COM MOÇAMBIQUE É ÚNICA FORA DA ÁSIA

Grandes amigos

Pequim assinou um acordo de cooperação com Moçambique como nunca foi visto fora da Ásia. Esta amizade, que vem desde a guerra de independência, resulta agora em apoios sínicos que vão do armamento a um gigante plano de infra-estruturas colocando Moçambique como um ponto vital da nova Rota da Seda

O

Acordo de Parceria e Cooperação Estratégica Global, assinado na quarta-feira pelo Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, e pelo seu homólogo chinês, Xi Jinping, torna Maputo num caso único para a diplomacia chinesa fora da Ásia. Além do país africano, apenas Camboja, Laos, Birmânia, Tailândia e Vietname - todos países vizinhos da China - celebraram o mesmo tipo de acordo com Pequim. Aquele documento, que estabelece os 14 princípios que deverão nortear as relações bilaterais, prevê fortalecer os contactos entre o exército, polícia e serviços de inteligência dos dois países. Pequim compromete-se assim a ajudar Maputo a reforçar a capacidade de Defesa nacional, salvaguardar a estabilidade do país e formar pessoal militar. Estipula ainda o comércio de armamento, equipamento e tecnologia, numa altura de renovada tensão político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo). Durante as conversações entre Xi e Nyusi, decorridas no Grande Palácio do Povo, no centro de Pequim, o Presidente chinês lembrou o papel da China na libertação nacional de Moçambique. “A amizade [entre os dois países] surgiu da luta conjunta contra

o imperialismo e o colonialismo”, sublinhou. A China apoiou os guerrilheiros da Frelimo na luta contra a administração portuguesa e foi um dos primeiros países a estabelecer relações diplomáticas com Moçambique, logo no próprio dia da independência, 25 de Junho de 1975.

ACORDO DE PRIMEIRA

No aspecto económico e comercial, o mesmo acordo dedica ainda uma cláusula à iniciativa chinesa Rota Marítima da Seda do século XXI. Aquele termo refere-se a um gigante plano de infra-estruturas que pretende reactivar a antiga Rota da Seda entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e sudeste Asiático. Neste sentido, os dois países devem cooperar nas áreas transporte marítimo, construção de portos e zonas industriais portuárias,

“A China vai ajudar [Moçambique] neste momento difícil (…) fornecendo tecnologia, equipamento e até apoio financeiro” ZHANG MING VICE-MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS CHINÊS

aquacultura em mar aberto e pesca oceânica. A China divide em 16 categorias os acordos de parceria que estabelece com países estrangeiros. No caso de Portugal, por exemplo, Pequim assinou, em 2005, um Acordo de Parceria Estratégica Global, note-se, sem o termo cooperação. Filipe Nyusi realiza esta semana a sua primeira visita oficial à China, o principal credor de Moçambique. Desde 2012, a China aumentou em 160% o financiamento a Maputo, segundo dados citados pela imprensa moçambicana. A descoberta recente de empréstimos de 1,4 mil milhões de dólares que não foram contabilizados nas contas públicas ou reportados ao Fundo Monetário Internacional (FMI) descredibilizou Moçambique perante os mercados financeiros e doadores internacionais. Já a descida do preço das matérias-primas levou a uma depreciação de 35% da moeda local, enquanto as reservas em moeda estrangeira caíram 25% no ano passado. Em declarações aos jornalistas, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhang Ming, disse na quarta-feira que “a China vai ajudar [Moçambique] neste momento difícil (…) fornecendo tecnologia, equipamento e até apoio financeiro”. Zhang recusou-se, no entanto, a adiantar valores: “Como não se pergunta a idade a uma mulher, não se pergunta o valor a um comerciante”, justificou.

PROIBIDA MAS COM LUZ

CHINA

A Cidade Proibida, ou Palácio Museu, no centro da capital chinesa, ligou na quarta-feira os novos sistemas de iluminação do interior dos seus seis pavilhões principais, onde se incluem o Pavilhão da Harmonia Suprema (Taihe Dian) e o Pavilhão da Harmonia Central (Zhonghe Dian), para assim dar uma melhor perspectiva aos visitantes que queiram apreciar os móveis e pinturas instalados no interior. Um projecto pioneiro nos quase 600 anos de vida da Cidade Proibida. Segundo um responsável do Museu, o sistema de iluminação não prejudica as antiguidades. Prevê-se que até 2020, os restantes pavilhões deste complexo histórico sejam equipados com sistemas de iluminação.


12 EVENTOS

Arte também se aprende

PARIS AO FIM DO DIA NO SOFITEL

Workshops InspirARTE no CCM

Este domingo, o Sofitel traz uma proposta diferente para o terraço. Ao vivo estarão os Paris Combo. Natural da cidade-luz, esta banda ecléctica vai levá-lo ao mundo da “chanson” francesa numa viagem com passagens pelo jazz americano, o swing, a música italiana e até mesmo aos sons do norte de África. Por alguma razão se consideram uma banda de música do mundo. Domingo, 22, a partir das 18h00. As entradas custam cem patacas e dão direito a uma bebida.

GINÁSTICA EM COMPETIÇÃO

O Gymnastics Club Macau vai organizar uma competição de ginástica, denominada Gymnastics Club Cup 2016. O evento decorre este sábado, dia 21, nas instalações da Escola Internacional de Macau (TIS, na sigla inglesa). A competição vai ser composta pelas disciplinas de Mini-Trampolim e Tumbling em quatro escalões etários diferentes: Infantis (9 e 10 anos), Iniciados (11 e 12 anos), Juvenis (13 e 14 anos), Juniores (≥15 anos). A competição para os escalões de Iniciados, Juvenis e Juniores decorrerá na parte da manhã e a competição dos Infantis na parte da tarde. As cerimónias de entrega de prémios acontecerão no final de cada período. A prova prevê a participação de cerca de 70 ginastas provenientes de diversas escolas de Macau como a Escola Portuguesa, Colégio Anglicano e o próprio Gymnastics Club. Sábado das 8h30 às 12h30 e das 14h00 às 17h30. A entrada é livre.

O

Centro Cultural de Macau (CCM) vai organizar uma série de workshops para incentivar a criatividade. As pré-inscrições para as 35 oficinas intensivas com mais de 200 sessões começam hoje. A acção decorre de Junho até ao final de Agosto. Os workshops vão ser orientados por profissionais de diversos países e prevêem a participação de pessoas de todas as idades. Objectivo: desenvolver o talento e interesse pelas artes performativas. Da Polónia à Holanda e Escócia, da Rússia à Austrália e também de Macau, um grupo de aclamados artistas trazem uma série de actividades criativas e jogos, da acrobacia e marionetas aos palhaços e à dança. “Levar as crianças para um mundo de inspiração” é a proposta do CCM. Os participantes vão, por exemplo, poder recriar as caras dos seus animais favoritos numa oficina de maquilhagem ou produ-

zir o seu próprio livro de histórias desdobrável, entre muitas outras actividades como o teatro físico ou a música. A fechar o InspirARTE, as crianças terão a oportunidade de subir ao palco para mostrarem as novas habilidades adquiridas. Previstos estão ainda workshops familiares para reforçar as relações entre pais e filhos. Os adolescentes também foram previstos nesta acção, pelo que podem contar com actores profissionais a demonstrarem técnicas de teatro musical, utilizando clássicos da Broadway como exemplo. Mas há mais, como um workshop de iPad Musical, para os participantes aprenderem a produzir as suas próprias músicas, workshops de dança e outros, mais técnicos, como direcção de cena ou iluminação. As pré-inscrições já aí estão mas as inscrições de facto decorrem apenas de 27 de Maio a 14 de Junho.

FRC OBRA SOBRE DIREITO DO JOGO EM MACAU

O que é, como Saber mais sobre a legislação da principal indústria de Macau é o objectivo de Rui Cunha e Gonçalo Cabral, que apresentam na próxima semana um livro da autoria de Jorge Godinho

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UI Cunha e Gonçalo Cabral vão apresentar, no próximo dia 25, o primeiro de três volumes sobre a sistematização e aprofundamento do Direito do Jogo de Macau, da autoria de Jorge Godinho. O primeiro volume aborda esta área específica do Direito, nomeadamente como se delimita e quais são as suas principais fontes, bem como as questões e perspectivas em que assenta. Em suma, a obra fornece a chave do entendimento interdisciplinar da disciplina e da articulação dos seus três grandes vectores: o Direito dos Contratos, o Direito Administrativo e o Direito Penal.

Inclui também um esboço, parcial, da história do jogo em Macau, do início até ao período da década de 1930. A obra recorta ainda os contratos de jogo no âmbito aleatório e aponta os elementos essenciais. Por outro lado, estabelece uma tipologia destes contratos. São ainda tecidas considerações gerais sobre a indústria do jogo e o aspecto central do Direito do Jogo moderno. O segundo volume incidirá sobre a regulamentação específica dos

DU FU ANTOLOGIA EM PORTUGUÊS POR ANTÓNIO GRAÇA ABREU

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STÁ já disponível nas livrarias de Macau a primeira edição bilingue da Antologia de Du Fu. Lançada pelo Instituto Cultural (IC), tem por objectivo promover o intercâmbio literário entre as letras chinesas e portuguesas. Esta edição, integrada na colecção “Escritores Chineses e Lusófonos”, inclui uma selecção de 180 poemas de Du Fu traduzidos por António Graça de Abreu, professor

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA POESIA REUNIDA • Maria do Rosário Pedreira

“(…) Estamos perante uma visão do mundo de feição romântica, que concentra no amor a justificação da existência. É certo que o romantismo nunca deixou de influenciar a poesia portuguesa, e que os neo-confessionalismos recuperaram o tema do sofrimento passional, mas as poetas têm-se mostrado reticentes a esse discurso que o feminismo estigmatizou, acusando-o de idealizar a mulher ou mitificar o homem, tornando-os criaturas falsas, alienadas. Em autoras mais novas, o lirismo amoroso, mesmo quando é sugerido, vê-se logo ironizado ou sabotado. Nesse sentido, a poética de Maria do Rosário Pedreira parece deslocada no tempo, e assume todos os riscos «intempestivos» de um aparente confessionalismo sentimental.” Do Prefácio, de Pedro Mexia

de Sinologia na Universidade de Aveiro, constituindo a primeira grande antologia do poeta em Língua Portuguesa. Du Fu (712-770), cuja fama se iguala à do poeta Li Bai (701-762), era muito apreciado e foi aclamado como o “santo da poesia”. A sua obra constitui a mais elevada expressão da arte poética, enraizada no quotidiano de uma antiga civilização, de um povo marcado

pelo sofrimento, pelas guerras, pelo exílio, pela serena comunhão com a natureza, pelo amor e pela alegria. Du Fu viveu e testemunhou tudo isso, como relembra a organização. A colecção “Escritores Chineses e Lusófonos” pretende fazer com que autores e leitores ultrapassem as barreiras linguísticas, reconhecendo outro mundo literário. A Antologia de Du Fu encontra-se à venda pelo valor de cem patacas.

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET

A MINHA PRIMEIRA AMÁLIA RODRIGUES • Maria do Rosário Pedreira Ilustrações de João Fazenda

Amália Rodrigues nasceu em Lisboa em 1920, oriunda de uma família modesta, e morreu em 1999, também em Lisboa, depois de ter conquistado fama internacional. Esta cantora invulgarmente brilhante reunia em si tudo aquilo que é necessário para se ser um bom artista: talento, sensibilidade, inteligência e capacidade de trabalho.Muitos consideram que foi a sua voz que levou a cultura e a alma nacionais pelo mundo fora e que o fado não seria hoje Património da Humanidade sem a sua decisiva contribuição. Com este livro, Maria do Rosário Pedreira quis contar aos mais novos quem foi esta portuguesa notável e João Fazenda ilustrou com arte e originalidade todo o texto.


13 hoje macau sexta-feira 20.5.2016

WU LI NA UNIVERSIDADE DE MACAU

NA QUARTA-FEIRA

se controla a prevenção do branqueamento de capitais na indústria do jogo.

PERFIL

jogos de fortuna ou azar, das apostas e das lotarias e o terceiro volume abordará matéria penal, incluindo os crimes de jogo e PUB

EVENTOS

Jorge Godinho chegou ao território em 1991 e lecciona Direito do Jogo desde 2005 na Universidade de Macau, onde foi o primeiro coordenador do mestrado e pós-graduação em International Business Law. Foi igualmente coordenador das disciplinas jurídicas oferecidas na Faculdade de Gestão de Empresas. É doutorado em Direito pelo Instituto Universitário Europeu de Florença, mestre em Direito pela Universidade de Macau e licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. A apresentação será proferida em Português e acontece na próxima quarta-feira, dia 25, pelas 18h30, na sede da Fundação Rui Cunha. A entrada é livre.

A Universidade de Macau, no âmbito do seu programa de estudos europeus, vai apresentar o filme de James Jacinto “As Crónicas de Wu Li no Colégio de São Paulo”, hoje, pelas 18h30. As ruínas com o mesmo nome, agora local classificado da UNESCO, são o que resta da igreja construída pela Sociedade de Jesus há 400, tendo então albergado a primeira universidade ocidental na China – a Universidade de São Paulo, instituição que viria a desempenhar um importante papel no intercâmbio cultural entre a China e o ocidente. Wu Li era um renomado poeta e pintor da dinastia Qing, que frequentou a universidade na segunda metade do séc. XVII. Através do seu percurso em Macau podemos aperceber-nos da história que as ruínas de São Paulo encerram. No final da projecção acontecerá uma troca de ideias com o realizador do documentário. Hoje, no Tai Fung Lecture Hall da Universidade Macau. A entrada é gratuita.

“NÃO DIGAS AO PAPÁ” NO STUDIO CITY

O Studio City vai albergar o que intitula como “a festa mais maluca” do mundo e que se chama “Don’t Let Daddy Know” (DLDK). Produzido pela DJ Revolution, o evento contará com a participação confirmada de Steve Angello, Showtek, Moti, Borgeous, Dannic, Sem Vox e Carta. A DLDK é conhecida por ser uma das maiores marcas de música electrónica do mundo, organizando eventos em grandes recintos com visuais extravagantes e DJs de primeira linha. Começou em Ibiza 2012 e chega pela primeira vez a Macau, este Verão, depois de ter passado por Hong Kong, Santiago do Chile, Manchester, Antuérpia, Istambul e, naturalmente, Ibiza. Segundo a organização, a proposta é a de “um lugar sem limites onde as pessoas podem perder o controlo à vontade e serem eles próprias”. No dia 1 de Julho no Studio City. Os bilhetes estão à venda e custam 650 a 1500 patacas.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Acontecimentos de 4 de Fevereiro

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M Londres encontrava-se o escocês William Jardine, para conseguiu do governo britânico o auxílio militar aos grupos de comerciantes ligados ao negócio do ópio na China. Já no Celestial Império, a 23 de Janeiro de 1840, os súbditos britânicos obrigaram os portugueses a ter de os aceitar em Macau para aí residirem e armazenarem as mercadorias e como convidados, aí deixaram as suas famílias, enquanto continuavam nos seus actos de pirataria na embocadura do Zhujiang. Nessa constante provocação ao poder chinês, segundo Alfredo Gomes Dias refere, “Os acontecimentos de 4 de Fevereiro, provocados pela entrada no porto de Macau da corveta Hyacinth, sob as ordens do capitão inglês Smith, constituem um exemplo da prática política britânica dominante naquela região e naquele tempo e permitem fazer uma primeira aproximação às posições da diplomacia do Estabelecimento ao longo do conflito sino-britânico”. “À falta de expressas e adequadas instruções do Governo de Lisboa, o Governo de Macau viu-se obrigado a manter contactos com as autoridades locais de Cantão, num esforço de ganhar tempo junto dos ingleses. A Inglaterra, nada satisfeita com esta atitude do Governo de Macau, chegou a acusar os portugueses de hostilidade para com o seu aliado. A recusa de autorização de ancoragem do navio inglês Hyacinth, que já entrara no Rio em 4 de Fevereiro de 1840, levou Londres a protestar energicamente junto de Lisboa, o que colocou o Governo Português em maus lençóis.” E continuando com Wu Zhiliang, “As autoridades de Macau, pobres em recursos, não tinham a coragem de exceder muito na sua atitude para com os ingleses para evitar qualquer possível vingança britânica, o que os levou a não pensar na possibilidade de expulsar os ingleses que ainda se encontravam em Macau. Face a esta situação, o Comissário Imperial Lin Zexu mandou suspender o comércio com Macau deixando a população macaense numa enorme perturbação”. Comércio que só foi restabelecido a 9 de Março, após as autoridades portuguesas, em observância da ordem do Comissário Imperial, terem ordenado

aos ingleses que saíssem de Macau e logo no mês seguinte chegaram duzentos efectivos chineses, que aqui ficaram aquartelados. Ideias e citações retiradas do livro Segredos da Sobrevivência – História Política de Macau escrito por Wu Zhiliang e onde se refere: “Durante este tempo, Charles Elliot amadurecia a sua ideia de ocupar Macau, e cada vez com mais pormenores. Acabou mesmo por apresentar, em 9 de Abril, o referido projecto de ocupação militar. Devido às drásticas mudanças da situação, as forças inglesas avançaram para Norte e sitiaram-se na Cidade de Cantão. Deste modo, o foco do conflito sino-britânico deslocou-se de Macau, mas nem por isso os portugueses podiam estar mais tranquilos. Em 23 de Junho, Charles Elliot escreveu uma carta ao Governador de Macau”, onde expõe as condições em que Macau fica posicionada, amparada pelos ingleses e sobre o seu domínio. Sendo Macau uma Cidade de Guarnição, sem consentimento do Governador e do Leal Senado não era possível aos ingleses desembarcar aí tropas, pois tal procedimento era contrário a todos os tratados e estipulações entre Inglaterra e Portugal e violava os direitos de uma nação independente. Mas como remata Wu Zhiliang, os ingleses estavam em vias de perder o interesse por Macau.

CORRESPONDÊNCIA TROCADA NO DIA

A 4 de Fevereiro de 1840, os ingleses forçaram a entrada do porto de Macau, sem dar conhecimento ao Governador Acácio da Silveira Pinto (1837-1843), após Elliot receber uma resposta negativa à pretensão de ter uma guarda para proteger a sua pessoa e bens britânicos. E aqui seguiremos com o que refere Alfredo Gomes ao citar, as cartas trocadas no dia 4 de Fevereiro, assim como passagens do Ofício n. 123 de 3 de Abril de 1840, do Governador Adrião Acácio da Silveira Pinto para o Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar. É deste documento, retalhando-o e entrosando com as cartas inglesas, que temos o relato dos acontecimentos desse dia 4 pela visão do Governador de Macau. <Há muito havia eu conhecido grandes desejos em o Superintendente de introduzir alguma força Inglesa nesta Cidade com o

aparente fim de proteger o Estabelecimento escondendo o real que era estabelecerem-se eles mesmos aqui ao que tendo-me eu sempre oposto do modo mais positivo veio depois requisitando, depositar aqui as fazendas que se achavam a bordo dos seus Navios para estes poderem partir, e prognosticando grandes futuros bens para o Estabelecimento, mas eu conheci o fim verdadeiro, e o declarei em o Leal Senado, e era ele a exigência positiva de fazer

introduzir forças dentro de Macau para defenderem as suas propriedades quando nós tivéssemos caído em conceder-lhe o depósito requerido conseguidamente respondi negativamente>; (...) <Não decorreu muito tempo como V. Exª verá em as datas dos Ofícios, que as minhas conjecturas se não verificassem porquanto o Comandante das Forças Navais Britânicas surtas nestes mares sem me consultar, e imprevistamente, fez mover para dentro do Rio de Ma-


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José Simões morais

cau uma das Corvetas que se achavam à sua disposição o que deu causa a outra correspondência que se acha inserta em o N° 21 do Português na China> (...) <O Comandante das Forças Navais Britânicas, como já levo dito em 4 de Fevereiro passado fez mover para dentro do Rio a Corveta Hyacinth comunicando-me uma tal determinação quando ela já se achava nas proximidades da Fortaleza da Barra.> Segundo escreve Alfredo Dias, “No primeiro ofício que o comandante dos navios britânicos na China, capitão H. Smith, enviou a Silveira Pinto são adiantados os motivos que levaram as forças inglesas a tal acção. Centravam-se na defesa de pessoas e bens britânicos presentes na Cidade ameaçados to-

dos os dias pelos editais chineses. Tudo isto em nome da neutralidade que Macau desejava salvaguardar: <Como o navio de S. Majestade entrou no Porto com nenhumas intensões hostis, estou persuadido que esta medida reforçará as mãos de V. Ex.a para manter a estreita neutralidade, a qual estou convencido que vós quereis conservar>”. Nesse dia o Governador de Macau encontrava-se adoentado, <e de cama, mas respondendo sem demora à sua comunicação levantei-me, e convocando o Senado ali me dirigi para se decidir do modo que mais útil, e conveniente fosse um caso tão ponderoso para este estabelecimento, sendo aliás em si sumamente insignificante. Este movimento causou o maior abalo em as Autoridades Chinesas, entre os mesmos Chinas de todas as classes, e muito especialmente entre a gente de Macau que julgou ser este o seu dia de juízo.>

ASSEGURAR A NEUTRALIDADE DE MACAU

Assim o Protesto, “feito e expedido em Sessão do Leal Senado do Santo Nome de Deus de Macau, sob selo do mesmo, aos 4 de Fevereiro de 1840” diz, <O Governador e o Leal Senado surpreendidos pelo facto de, há pouco praticado, pelo Capitão Smith Comandante da Fragata Volage de S. Majestade Britânica, em fazer entrar dentro deste Porto de Macau, a Corveta Hyacinth, não ignorando, e devendo saber, que tal entrada é vedada a todas as Embarcações, que não sejam do comércio português, ou espanhol de Manila, por virtude dos regulamentos peculiares deste Estabelecimento, regulados por antiquíssimos tratados com o Imperador da China; entrada esta, que acarreta comprometimento desta Cidade, e que mesmo quando a Inglaterra estivesse em guerra aberta com a China, não podia tal fazer>; (...) <procedimento tendente pelos seus efeitos a perturbar a neutralidade que a Governança tem querido manter; por todos estes motivos protesta a Governança em Nome de S. Majestade Fidelíssima, solenemente contra o referido procedimento do dito Comandante, e contra todos os resultados presentes e futuros; danos, perdas, e prejuízos públicos, e particulares, e por tudo o mais, que directa e indirectamente um tal facto arbitrário, e impolítico tiver dado motivo, e causa; e finalmente protesta contra todos que para tal facto tiverem concorrido. E para que este Protesto possa produzir os devidos efeitos, será intimado, comunicando-o oficialmente tanto ao dito Comandante, como ao Superintendente do comércio britânico na China>.

A 4 de Fevereiro de 1840, os ingleses forçaram a entrada do porto de Macau, sem dar conhecimento ao Governador Acácio da Silveira Pinto (18371843), após Elliot receber uma resposta negativa à pretensão de ter uma guarda para proteger a sua pessoa e bens britânicos “Perante esta reacção violenta do governador de Macau, o comandante H. Smith muda de tom e, no seu segundo ofício, começou logo por chamar a atenção de Silveira Pinto para os incómodos que os ingleses têm sofrido: <... e peço licença para perguntar a V. Exa. se estais inclinado para dar protecção aos Súbditos de S. Majestade Britânica, agora residentes sob a Bandeira de Portugal, ou se vos permitireis que eles sejam incomodados de modo como o têm sido nestes últimos meses>”. E continuando com Alfredo Dias, que refere “a agressividade de uma pergunta que tinha por fim chamar a atenção da autoridade máxima da Cidade para com os seus deveres” e a resposta, num discurso mais firme e incisivo, enviada pelo governador A. A. da Silveira Pinto a este segundo ofício do capitão inglês. “Salientou os dissabores que a Cidade tem sofrido devido à presença inglesa, acabando por concluir que os súbditos britânicos eram livres de partir caso não se sentissem seguros sob a protecção portuguesa”.

LIN ZEXU NOMEADO VICE-REI

“Mas a correspondência trocada entre as autoridades administrativas de Macau e o comandante naval britânico naquele dia 4 de Fevereiro não ficou por aqui. Um terceiro ofício, agora mais calmo e conciliador foi enviado a Silveira Pinto, onde se questionava o vigor das autoridades de Macau perante o poder imperial chinês e, simultaneamente, anunciava a retirada da corveta do porto, colocando-se às ordens do governador caso este julgasse o seu auxílio necessário”, como refere Alfredo Dias. Assim o Governador de Macau, trabalhando em colaboração com o Leal

Senado, a 4 de Fevereiro de 1840 conseguiu manter a neutralidade da Cidade no conflito sino-britânico. “Finalmente, o governador responde ao capitão H. Smith anunciando a retirada das forças chinesas que se encontravam junto ao Pagode da Barra, prova de que o governo de Macau soube levar à prática a sua política de neutralidade” e no dia seguinte (passado vinte e quatro horas) “verificou-se a retirada da corveta Hyacinth tal como o comandante inglês tinha prometido”, Alfredo Dias. E com ele continuando, a 20 de Março abre o porto de Macau, por Edital chinês. Ainda no Ofício de 3 de Abril de 1840, do Governador Silveira Pinto para o Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, encontram-se outras informações relevantes como, <A Corveta havendo entrado pelas doze horas do dia acima, saiu logo na manhã seguinte, (...) não devendo omitir por esta ocasião que o Comandante da Corveta não quis obedecer à Ordem que se intimou na Fortaleza da Barra para que desse fundo. No dia seguinte, 5 de Fevereiro, em resposta o Governador agradeceu o não bloqueio da via marítima entre Macau e Cantão e assegurou a continuidade de uma igual protecção entre ambos. A 6 de Fevereiro de 1840, Lin Zexu foi nomeado Vice-Rei de Liangguang e não foi preciso uma semana para em Edital ser mandado fechar o comércio em Macau e ameaçar destruir a Cidade por as autoridades portuguesas permitirem aí a presença de Elliot. Ainda a 11 de Fevereiro de 1840, em nome do comissário imperial, um édito especial do mandarim de Chinsan ordenou, então, a prisão de Elliot, expressando considerável espanto pela sua tentativa arbitrária de excluir as embarcações americanas de Macau”, segundo Montalto de Jesus. Percebe-se agora melhor a ousadia da resposta de 19 de Fevereiro, feita pelo Procurador José Vicente Jorge às autoridades chinesas, ao compreender não terem estes capacidade para repelir de Macau os indesejáveis ingleses. E se assim era apenas com os grupos de comerciantes ligados ao lucrativo negócio do ópio e Charles Elliot como superintendente do comércio britânico, como seria quando chegasse a armada britânica ao Mar da China? Num breve espreitar para o que virá a seguir, já com “a esquadra inglesa, surta no rio de Cantão”, como refere Marques Pereira, a 9 de Junho de 1840 os chineses tentam, através da táctica de Zhuge Liang, (estratega do século III), “por meio de jangadas incendiadas, destruir a esquadra inglesa”.


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h Como um mantra

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contudo. Gosto de começar no pressuposto de todas as outras vertentes, encostas e desfiladeiros por onde resvalo ao longo dos dias sem forma de me suster na queda. De todas as borrascas. As pessoas. De todos os sustos em cada trovão inesperado, de todas as aragens bruscas e entrópicas que desnorteiam. Outras vezes tão mais subtis. Uma estranha sensação. Olho em volta e tudo igual a umas horas atrás. A mesma luz, quase. O mesmo abatimento de domingo. Ou de outro dia qualquer. Os mesmos ruídos esparsos, de dia de descanso para muitos. Ou das rotinas do bairro. E, no entanto, é como se a terra se tivesse movido num eixo diferente. Uma paragem brusca. Uma alteração nítida no polo magnético. E tudo diferente, a seguir. Talvez por isso a meteorologia diz nestes dias coisas estranhas. Para estes dias. Algo se deslocou no universo. As cores mudam de saturação e violência, a alegria e vivacidade ou vice-versa. Palavras. Sem transição. Dizer, e no entanto. O que significa que também, por outro lado e convivendo com outros estados de alma, às vezes, aquela sensação de euforia. Não que invoque um estado histriónico. Não é esse terreno de desconforto. É um frémito de bem- estar que vem de repente ou em virtude de um olhar particular. Sem plurais retóricos, ou majestáticos ou de modéstia, a induzir cumplicidades ou universalidades e a aliviar convicções pessoais. Privadas. No limite do que pode ser privado. Sinto. Uma branda, nítida e secreta sensação de estar bem. Como um oásis. As diferentes formas do tédio como as definiu Heidegger, nomeadamente o tédio profundo sem causa determinada e que cobre todas as coisas e a nós mesmos como uma névoa de ausência de sentido, uma indeterminação ou indiferença, sim, o tédio. Muitas vezes senti algumas formas desse sem sentido, sem energia e sem alma. Esse estado presente em si, ilustrativo dos “caminhos que não levam a parte alguma”. De que basta percorrer o caminho inverso ao tempo para chegar a um início e só por si ser sentido. Ou, de volta a qualquer

estação da vida, o estar, o simples estar ou ser, tão bem sintetizados num mesmo verbo na língua inglesa. Mas agora raro, o tédio. Mais raro. Naquele momento lá atrás, nasci. Em todos os outros momentos, também. Usa-se de facto inúmeras vezes essa metáfora e muitas outras de vida e morte. Nomeadamente no amor. Tantas mortes anunciadas e ninguém deixa de estar cá para as anunciar e repetir. Como cartas de suicídio falhado. Ou arrependido. Ou pior ainda, de homicídio. Literário. Menos vezes, passional. Mata-se e morre-se, aparentemente com a facilidade de um jogo infantil. Em que alguns meninos “eram mortos” mas não morriam… insurgindo-se face às regras do jogo. Não se morre facilmente por amor. O que é pena. Morrese por acaso, como num dos paradigmas das grandes histórias de amor, “Romeu e Julieta”. Quanto muito vem a vontade como uma camada que tudo parece encobrir, ou aquela enorme indiferença pela morte. Às vezes. O tamanho que me falta não é o muito que não tenho. Não é o muito que não sei. É o que não sinto. Como senti-lo se não o sei, ou sabê-lo se não o tacteio em mim. Melhor dizendo, o que não sei, posso por vezes imaginar e o que não sinto, também. Por empatia ou projecção. Mas sentir mesmo é outra coisa. O tamanho que me falta, vislumbro-o às vezes na possibilidade. O tamanho que não sinto, sei-o, de outras vezes no relance de um olhar. Mas de novo se evola como um fumo discreto de que duvido a fugacidade da existência. Duvido do olhar porque muito o turva. Duvido do saber porque se recobre de velaturas parciais, de que só o todo da sobreposição revela a imagem. Quase opaca por vezes. E no entanto feita de cobertura de muitas tintas finas, delicadas e frágeis de incompletude. É esse saber-me nos outros de que duvido sempre quando não sinto. Um tamanho que me falta. Ainda a propósito de pequenos pensamentos. Aqueles ínfimos, à escala das preocupações globais que muitas vezes são também o mar de preocupações em que não se consegue nem quer deixar

de nadar, aquelas ditadas pelas inúmeras empatias que se sentem pelos outros pelo bem-estar dos outros, pelo futuro dos que queremos bem de perto ou de longe, e dos outros que queremos bem só porque são pessoas em sofrimento, e o futuro das coisas que prezamos e admiramos e da história que é a memória que nos estrutura também. Para além da pequenez desses pequenos pensamentos, que não se comparam em importância a tantos outros, é o amor que dá, na sua omnipresença, uma enorme forma de motivação e sofrimento. Não fosse a alma ser de uma plasticidade enorme que a tantas coisas dá espaço e ainda mais que fossem, e o coração, onde cabe tanto sem tirar o lugar a nada, e a razão, que sobre tanta coisa se debruça, e diria que é o amor que nos toma de súbito ou lentamente e de mansinho, nos ataca à traição quando menos se espera por vezes, e domina. E domina sempre. E é também, ou talvez por essa obsessão, fonte de um enorme pudor. De falar de admitir a relevância na vida, a importância abismal. Como se não fosse um dos grandes temas da humanidade e aquele em que se revela um todo. Mesmo se virado só para o interior. As pessoas amam por razões tão diferentes. De maneiras diferentes, também. Talvez. Que sei eu sobre o amor que não é o que sinto? Não amar por carência, não amar por necessidade de salvação, não amar por solidão e desamparo. Por dependência. Por vazio existencial. Mesmo que tudo isso possa coexistir. Mas depois penso que, a necessidade do amor, o gosto específico de amar ocupa um lugar único que não é preenchível por qualquer outra paixão. Não é em mim. Por isso preciso de amar. Quando amo. Sinto que quero e me faria falta havendo o não amar. É uma expectativa que se cumpre em si. Em mim. Sobretudo. Não me parece pouco. Uma sorte estranha e solitária quando o é e mesmo assim, querida. Reservada dos desapontamentos de outras expectativas. Não. A memória não é o lugar melhor do amor. Mas começa aí a história. Pequeninos, íamos sozinhos de com-

boio até Lisboa, a uma loja de filatelia na rua 1º de Dezembro. Aos sábados de manhã. Ver os selos. Às vezes comprar, mas mais ver. Coleccionávamos selos, mas com carimbo. Que tinham um encanto maior por terem percorrido a distância entre uma terra por vezes distante e outra, e nós. O fascínio da lonjura ali centrada num rectângulo picotado e tão pequeno. Que depois trocávamos entre nós em casa. Numa dessas viagens, a minha primeira paixão. Um homem jovem sentado na minha frente com a roupa da marinha. Não de oficial. A roupa comum de marinheiro. Branca. Nunca gostei de fardas, não lhes entendo o encanto. Uniformes, palavra e conceito horrível. Mas as roupas da marinha são outra coisa. Brancas. Ou azuis. O mar e a viagem no meio do nada. Sempre me suscitaram alguma nostalgia. Mas só se fosse de vidas passadas. Não era bonito. Nem feio. Ele. Nem agradável e nem tão pouco desagradável. Tinha uma postura firme. Uma atitude dos ombros, do queixo. Mas tinha nos olhos um brilho de lágrimas que não rolavam. Um brilho subtil de lágrimas. Os olhos que cruzaram os meus, miúda. Talvez na lembrança de uma criança longe. De um amor desfeito. De uma partida inevitável. Acho que me apaixonei. Por aquele olhar húmido de melancolia. Talvez reencontrado bem mais tarde em Corto Maltese, sem o marejado das lágrimas e com um cépticismo já tocado de um romantismo vago. Da inevitabilidade da viagem. Apaixonei-me. Talvez para sempre por homens que chorem por amor. Que consigam chorar por amor. Ou a quem, mesmo só, os olhos se marejem de um brilho que não seca facilmente quando assaltados por um desgosto ou uma recordação. Foi a minha primeira paixão e durou o tempo de uma viagem curta no comboio de Lisboa-Sintra. Mas ficou-me na memória até hoje. Antes, ou depois, já não sei, o meu primeiro amor. Éramos seis. O meu irmão, o meu amigo de infância, os três primos dele. Um mais pequeno, o outro antipático e o terceiro, o do meio, o meu amor. Rosado de apelido e tez. Pupilos do exército na ausência


17 hoje macau sexta-feira 20.5.2016

Anabela Canas

ANABELA CANAS

de tudo e de nada

dos pais, no ultramar. Vicissitudes da guerra. Mas aqueles uniformes eram registo de uma certa prisão. E a memória daquela mão que se me estendia nos caminhos mais rudes e a pique, naqueles fins- de- semana a perder de vista e tão desejados. Talvez por isso até hoje e mesmo metaforicamente pensando, o estender de uma mão, a sensação boa de uma mão, me é tão querida. Sem idade. Construções. E antes de tudo o meu pai. Paradigma de algum modo edificado para sempre, que Freud explicaria e nem quero saber. Antes de tudo o meu pai, aquela longa e difícil aprendizagem do amor, àquele

testemunho de imperfeição, mesclada de alegria infantil e negrume. De paixão pelas coisas pequeninas e das grandes fúrias secretas e irracionais. Sempre presente e distante. Pequeno mas poderoso. Ao ponto de ter deixado quando partiu, um enorme buraco, recortado com o seu contorno, no sofá do costume, em frente à televisão. Que levou tanto tempo a reabsorver a ausência e voltar à forma inicial. Há uma memória impressa nas coisas. Plástica, mutante. Dois palmos à frente, no chão de madeira corrida, gravado o som do baque seco da queda. Que o levou do coração. Ele tinha que ir por aí.

Tantas coisas. Que senti e sinto. Nem o corpo nem a alma - a razão - me são solitários. Só o coração. Mas não do lado do sentir. O lado de cá. Para além da inultrapassável solidão do corpo, da alma e do coração nas suas reservas mais irredutíveis. E difíceis de habitar. Pelo outro. Aqui, como antes, o imensurável abismo entre o real do dizer, na sua realidade, o real do sentir, na sua reconhecível e palpável realidade, e a enorme ambivalência e imperfeição de ambos. Tenho sorte no acaso daqueles que a vida me trouxe aos dias de hoje. Um vidro tripartido em que me encontro reflectida. Mas também aí não vejo

a arrogância do mérito. Talvez alguma da inevitável identidade. Há um território, o que sinto. Como uma espécie de enorme privilégio. Diria uma bênção se houvesse um pouco mais de religiosidade ao meu alcance. E por isso aquela sensação que me chega de vez em quando. Quando sei que é melhor não esperar nada. O que tenho. Tenho sorte, tenho sorte, tenho sorte. Repito. Às vezes surpreendida. Principalmente nos dias de sol e em algumas noites de lua, como a de há três dias, estrelada, inesperadamente cálida e de estrelas cadentes. Tenho sorte. Repito. Como um mantra.


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hoje macau sexta-feira 20.5.2016

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 239/AI/2016 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor YANG BO, portador do passaporte da RPC n.° E02703xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 25/DI-AI/2014 levantado pela DST a 17.02.2014, e por despacho da signatária de 27.04.2016, exarado no Relatório n.° 275/DI/2016, de 22.04.2016, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Rua Cidade de Coimbra n.° 416, Edf. Jardim Brilhantismo, 9.° andar AB onde se prestava alojamento ilegal.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.--------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.---------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 27 de Abril de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

Open Tender Notice Request for Proposal – MIA - Replacement of Ceiling and Flooring at Arrival Airside of Passenger Terminal Building (RFQ-228) 1.

Company: Macau International Airport Co. Ltd. (CAM)

2.

Tendering method: Open tendering

4.

Request for tender documents:

3.

Objective: To select a Contractor for the replacement work of Ceiling and Flooring at Arrival Airside of Passenger Terminal Building at Macau International Airport. Tender Notice and Tender Document can be downloaded from the website www. camacau.com until 7 days prior to the deadline for submission of Bidders’ tenders. Please regularly check the website for any clarification or changes/ modification/ amendment in the Tender Document.

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 267/AI/2016 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora FANG YUZHEN, portadora do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° W65553xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 129/DI-AI/2014 levantado pela DST a 13.10.2014, e por despacho da signatária de 27.04.2016, exarado no Relatório n.° 303/DI/2016, de 22.04.2016, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Avenida Doutor Mario Soares n.° 239, Edf. Va Iong, 18.° andar E.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.---------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.--------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.--------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 27 de Abril de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

5.

Location and deadline for submission of Bidders’ tenders: Macau International Airport Co. Ltd. (CAM) 4th Floor, CAM Office Building, Av. Wai Long, Taipa, Macau Before 12:00 noon on 24 June 2016 (Macau Time) The addressee of the tender shall be Mr. Deng Jun – Chairman of the Executive Committee. The tenders received after the stipulated date and time will not be accepted.

6.

CAM reserves the right to reject any tender in full or in part without stating any reasons. -END-

Assine-o TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo

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19 hoje macau sexta-feira 20.5.2016

DESPORTO

SEVILHA CONQUISTA LIGA EUROPA PELA TERCEIRA VEZ CONSECUTIVA

O

GP Macau FIA PODERÁ CHUMBAR PARTICIPAÇÃO DE PIQUET

O sobrenome da polémica

N

O automobilismo o sobrenome Piquet sempre esteve associado a polémica e a história volta hoje a repetir-se, mas desta vez não tem a cunha de Nelsão. A Federação Internacional do Automóvel (FIA) recusou a participação de Nelson Piquet Jr no passado fim-de-semana no Grande Prémio de Pau de Fórmula 3. Contudo, o ex-piloto de Fórmula 1 de 31 anos ainda pode sonhar com um regresso ao Circuito da Guia no mês de Novembro. Sem ambições de vencer à geral, o piloto brasileiro planeava participar com a equipa Carlin na prova francesa com o intuito de preparar uma eventual “perninha” na prova da RAEM em Novembro, mas viu a FIA negar-lhe inesperadamente a inscrição. Esta decisão do órgão máximo decisório do automobilismo mundial gerou uma onda de apupos nas redes sociais e fortes críticas na imprensa, principalmente da anglófona. “Obrigado pelo apoio e carinho de todos depois da notícia chata. Sou piloto e queria apenas correr”, escreveu o filho do tri-campeão do mundo de Fórmula 1 Nelson Piquet na rede social Twitter. A alegação da FIA para recusar a participação do campeão da Fórmula E baseou-se no artigo 4.7 do Campeonato da Europa FIA de Fórmula 3, para a qual o Grande Prémio de Pau pon-

tua, que diz que “qualquer inscrição no campeonato será estudada pela FIA, sendo esta aceite ou rejeitada a seu critério absoluto”. Piquet Jr e a Carlin recorreram da decisão, mas Stefano Domenicali, o presidente da Comissão de Monolugares da FIA, instruiu uma nova votação sobre o tema, refutando o apelo, pois a participação de Piquet Jr iria violar “o espírito do campeonato caso a FIA aprovasse a presença na grelha de partida de um piloto altamente credenciado e experiente como Nelson Piquet Jr – campeão FIA Fórmula E, piloto da categoria LMP1 no Campeonato do Mundo FIA de Endurance (WEC) e que realizou 28 corridas na Fórmula 1”. Esta alínea foi introduzida ao regulamento do campeonato para evitar que certos pilotos permaneçam anos a fio na disciplina, como aconteceu com Félix Rosenqvist, vencedor por duas ocasiões do Grande Prémio de Macau, que

competiu cinco anos consecutivos no europeu da especialidade.

E AGORA MACAU?

Dizem os regulamentos da prova do território que um piloto só pode ser convidado para a prova se disputar um evento de um campeonato de Fórmula 3, um critério que para Piquet Jr não será difícil de obter, pois a equipa Carlin tem três monolugares a participar no campeonato Euroformula Open (ex-Campeonato de Espanha de Fórmula 3). Apesar da corrida de Macau não ser uma prova organizada directamente pela FIA, a federação internacional atribui o título de Taça Intercontinental FIA de Fórmula 3 à prova e pode ter uma palavra a dizer na selecção dos pilotos. Questionado pelos jornalistas em Pau, Domenicali disse que “falando de uma forma geral a corrida (de Macau) está a ficar mais forte. Portanto eu direi que teremos que revisitar a situação

“Eu acredito que a recusa da FIA foi direccionada para a participação no campeonato FIA F3 e, como tal, espero que o Grande Prémio de Macau seja uma história diferente” BARRY BLAND CO-COORDENADOR DA CORRIDA DE FÓRMULA 3 DO GPM

(dos inscritos). Não está ainda na nossa agenda mas eu penso que a Comissão irá discutir isso”.

BARRY BLAND CONFIANTE

Apesar das nuvens cinzentas pairarem no ar, Barry Bland, o co-coordenador da corrida de Fórmula 3 do Grande Prémio de Macau, espera não ter problemas em Novembro caso o piloto lusófono confirme as suas intenções de participar na prova. “Eu acredito que a recusa da FIA foi direccionada para a participação no campeonato FIA F3 e, como tal, espero que o Grande Prémio de Macau seja uma história diferente”, disse o inglês ao portal de automobilismo português SportMotores.com. Caso a inscrição de Piquet Jr no Grande Prémio do território seja recusada poderá abrir um precedente negativo, isto numa altura em que a corrida de Fórmula 3 está em crescente fase de popularidade. Ex-vencedores da prova como o português António Félix da Costa ou o espanhol Daniel Juncadella não se coibiram de regressar ao evento já depois de deixarem a Fórmula 3 rumo a outras paragens. O 63º Grande Prémio de Macau será realizado entre os dias 17 e 20 de Novembro, mas como é tradição, os inscritos costumam ser conhecidos no final de Outubro. Sérgio Fonseca

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Sevilha protagonizou ontem uma reviravolta e assegurou a conquista pelo terceiro ano consecutivo da Liga Europa de futebol, ao derrotar na final de Basileia, Suíça, o Liverpool por 3-1. Num encontro em que contaram com o defesa-cental Daniel Carriço durante os 90 minutos, os espanhóis chegaram ao intervalo a perder por 1-0, depois Sturridge dar vantagem aos ingleses, aos 35 minutos, mas deram a volta na segunda metade, com golos de Gameiro, aos 46, e de Koke, aos 64 e 70. Após uma primeira fase de partida equilibrada, o Liverpool pegou no jogo e passou a dominar as operações, tendo nessa fase, e ainda antes de inaugurar o marcador, dispôs de boas oportunidades para marcar. O ascendente dos ‘reds’ na partida deu os seus frutos aos 35 minutos, num remate de trivela de Sturridge, que correspondeu da melhor maneira a uma assistência do brasileiro Coutinho. A entrada dos espanhóis na segunda metade foi demolidora, com o Sevilha a chegar à igualdade logo na primeira jogada, através de Kevin Gameiro, aos 46, que correspondeu da melhor maneira a um cruzamento rasteiro do lateral-direito Mariano, autor de uma bela jogada pelo seu flanco. O golo a abrir a segunda parte deu ânimo aos espanhóis e parece ter afectado os ‘reds’, tendo a equipa andaluza tomado conta das operações e, após várias ameaças, colocou-se mesmo em vantagem. Aos 64 minutos, Koke colocou a sua equipa na frente do marcador, jogador que viria a ‘bisar’ volvidos seis minutos, dando assim uma ‘estocada’ final nas aspirações britânicas. Esta foi a quinta vez que a formação espanhola - que com este triunfo assegurou a presença na fase de grupos da próxima Liga dos Campeões conquistou a prova, as duas primeiras ainda com a designação de Taça UEFA, em 2006 e 2007, enquanto o Liverpool falhou a possibilidade de chegar ao quarto título na competição.


20 OPINIÃO

hoje macau sexta-feira 20.5.2016

“The realization of the Chinese dream needs both constant economic development and progress in all aspects of society. Along with the increase in economic production and improvement in people’s living standards, the key factors for selecting China’s course turn to the constraints of resources and environment and the decrease of the gap between the rich and poor.” The China Dream and the China Path Tianyong Zhou

O

sonho chinês seguido por mil e trezentos e sessenta milhões de pessoas é objecto de numerosos estudos. Se falarmos da actual China, poderá parecer um pouco estranho, que não exista nenhuma referência ao sonho chinês. Se falarmos dele a chineses de meia-idade, muitos certamente se recordarão dos sonhos da sua infância, talvez o tenham realizado, se apagaram na bruma do esquecimento, ou enriqueceram com o passar do tempo. Quais teriam sido os sonhos das crianças chinesas há cinquenta anos? Muitos esqueceram, ou talvez não tivessem nenhuns. Existe um sonho comum a muitas crianças desse tempo perdido, o dos pais insistirem como em qualquer outro país, que estudassem muito, pois assim poderiam arranjar um bom trabalho e terem molho de soja para misturar com o arroz. Era um tempo em que poucas pessoas sabiam ler e escrever, e ninguém sabia o que eram bancos ou editoras. Era a época em que se estabeleceram as comunas populares, por toda a zona rural do país. Os chineses, nem ainda tinham começado a primeira fase da escola secundária, e tinham de trabalhar a terra dos pais. A comida produzida nas comunas não era suficiente, e mesmo durante as estações sem alterações climatéricas, com colheitas normais, existia carência de alimentos. Na primavera, em geral, ficavam sem comida. Era lógico, que os pais sonhassem que os seus filhos, quando chegassem à idade adulta tivessem a barriga cheia. A soja estava disponível para alguns, mas raras vezes viam nas suas mesas. Só aparecia na “Festa da Primavera”, para uso de alguns convidados importantes. Era actualmente, como as lesmas, abalones e pepinos-do-mar. As décadas de 1960 e 1970, não foram propícias aos chineses para terem grandes sonhos, pois apenas se importavam em ter comida para o dia seguinte, mas o tempo passou, e em 2009 realizou-se uma grande sondagem na China, sobre os

PETER CHAN, AMERICAN DREAMS IN CHINA

O sonho chinês

sonhos e sonhar. Os resultados mostraram que antes da reforma e abertura de 1978, o sonho dos chineses era sobretudo, ter suficiente comida e roupa. A aspiração dos pais nesses tempos idos era normal e legítima. As crianças que nasceram nesse tempo, em algumas pequenas cidades do Norte da China, tiveram a sorte de poder ler a imprensa da capital, mesmo não sendo diariamente, enquanto outras crianças que nasceram em pequenas vilas no sul do país, a primeira vez que viram o que denominavam por diário, foi no ano do falecimento de Mao Tsé-Tung, e apesar da falta de informação e do vazio cultural, nunca renunciaram ao objectivo de estudar conscienciosamente.

O estudo nos últimos mil anos tem sido a referência para que milhões de chineses mudem os seus destinos, e sigam os seus sonhos e muitos matricularam-se nas universidades das grandes cidades, viram o mundo e começaram a conhecer pessoas, que não apenas sonhavam, mas também conseguiam transformar os seus sonhos em realidade. Muitos começaram também a ter os seus sonhos. Falavam deles, e contavam as suas aspirações a outros jovens. O tempo voa e depois de trinta anos de reforma, abertura e acelerado desenvolvimento, produziram-se grandes mudanças no sonho chinês, e assim o demonstram diversas sondagens e estudos efectuados.

Os sonhos chineses actuais, contam com a criação de uma empresa e manter uma boa saúde, que permita viver até aos 100 anos e viajar à volta do mundo. Muitos estrangeiros consideram a China como sua casa, fazendo parte, desse modo, do sonho chinês e são livres de projectar o que desejem, levando à verdadeira essência do sonho chinês, de todos terem o direito a sonhar e a oportunidade de o tornar realidade. A China tem o sonho chinês, os Estados Unidos o sonho americano, A União Europeia, o sonho europeu e a África, o sonho africano. O sonho dos diferentes países e grupos étnicos têm pontos comuns, mas também, diferenças significativas, que são próprias


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OPINIÃO perspectivas

JORGE RODRIGUES SIMÃO

de um mundo plural. O sonho chinês nunca irá contra o de outros países, e caracteriza-se pela inovação, inclusão e dinamismo, e anda de mãos dadas com o desenvolvimento do mundo. Todavia, existem diversos mal-entendidos, tais como, o facto de alguns meios de comunicação, terem interpretado o sono chinês como sendo o sonho da China, ao invés do sonho do povo chinês, e inclusive

“O que é exactamente o sonho chinês no século XXI? Numa só frase, é ter um mundo comum”

ligam a um sonho que se consegue à custa dos interesses do povo chinês, tratando-se de uma interpretação restritiva do termo. O segundo mal - entendido é de que o sonho chinês irá substituir o sonho americano “american dream”, que é uma parte importante do “soft power” dos Estados Unidos. Muitos consideram as relações sino - americanas, como relações entre o número dois e o número um do mundo, e receiam que o sonho chinês substitua o americano. A China, de facto, não interfere na realização do sonho dos outros países. O terceiro mal-entendido é de que s sonho chinês é uma nova utopia. O termo utopia, no vocabulário chinês, faz referência a um

sonho inalcançável, e alguns consideram que o sonho chinês, é como uma droga espiritual, que faz os chineses perderem a consciência reformista. O quarto mal-entendido é de o sonho chinês, significar que a China tenha abandonado o ideal comunista. A China, na realidade é um país socialista, dirigido pelo Partido Comunista, e procura a prosperidade comum, que é o objectivo principal do sistema socialista. O sonho chinês não só não exclui o ideal comunista, mas dedica-se a alcançar de uma forma mais pragmática, o progresso. Pode-se dizer que o sonho chinês, é um sonho de prosperidade comum, entre os

diversos grupos étnicos da China, e dos povos do mundo. O quinto mal-entendido demonstra que a China, deixou a prática de passar o rio apalpando pedras, que é um caminho de reforma. O sonho chinês não afasta a reforma e abertura, e é uma purificação sistemática. O sexto mal-entendido é de que o sonho chinês, é um sonho de constitucionalismo, de direitos humanos e democracia. Trata-se de uma interpretação restritiva, pois o sonho chinês para alguns tem uma conotação muito mais ampla. O sétimo mal-entendido é de que o sonho chinês é um sonho de modernização. A modernização é um sonho da China moderna, e não obstante, algumas pessoas querem que a China se ocidentalize, totalmente. O sonho chinês, não é só a prática do modelo e dos conceitos modernos ocidentais na China, mas a realização do marxismo, combinando as condições nacionais, com a criação de um caminho socialista com peculiaridades chinesas. O oitavo mal-entendido, é de que o sonho chinês, é um sonho de renascimento, e alguns países temem que a China restaure a prosperidade das dinastias Han e Tang, compreendendo o sistema de tributos e o render homenagens a uma pessoa determinada. Este mal-entendido pode alimentar as teorias sobre uma possível ameaça chinesa. A China é um país detentor de uma civilização antiga, e o principal significado do sonho chinês, é a revitalização e a renovação da sua civilização, para promover a transformação da civilização humana, e materializar o desenvolvimento sustentável. O nono mal-entendido, é o de alguns pensarem que o sonho chinês é igual à ascensão da China, que apenas dá atenção à posição, preocupações e sentimentos, depois do seu ressurgimento, como potência mundial. O décimo mal-entendido, é de que o sonho chinês, não só não exclui o sonho dos outros países, mas que os ajudará, em particular, os que estão em desenvolvimento, a realizar os seus sonhos. O sonho chinês é, em primeiro lugar, o sonho do povo chinês, ou seja, o seu objectivo é o bem-estar do povo. Em segundo lugar, a sua meta é consolidar a prosperidade e a liberdade no país. Além disso, o sonho da civilização chinesa, ao conseguir um desenvolvimento económico sem paralelo na história, é o de proporcionar à humanidade um outro tipo de riqueza. O que é exactamente o sonho chinês no século XXI? Numa só frase, é ter um mundo comum. Actualmente mais de sete mil milhões de pessoas de milhares de grupos étnicos, vivem em duzentos e trinta e nove países e regiões do mundo. Construir uma sociedade modestamente acomodada, um país rico e poderoso e um povo dinâmico e feliz, assim definiu o presidente chinês Xi Jinping, aquando da sua eleição.


22 (F)UTILIDADES TEMPO

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?

AGUACEIROS

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

DANÇA “OBSESSÃO” DE SABURO TESHIGAWARA E RIHOKO SATO (FAM) Centro Cultural de Macau, 20h00 Bilhetes entre as 120 e as 300 patacas

MIN

23

MAX

26

HUM

80-98%

EURO

8.96

BAHT

Amanhã

TEATRO “CÍRCULO” (FAM) Edifício do Antigo Tribunal, 20h00 Bilhetes a 180 patacas

O CARTOON STEPH

TEATRO “A ÚLTIMA GRAVAÇÃO DE KRAPP” (FAM) Centro Cultural de Macau, 20h00 Bilhetes a 150 e 200 patacas

Domingo

“VIAGEM À ÚLTIMA FRONTEIRA” (FAM) Teatro Dom Pedro V, 15h00 Bilhetes entre as 150 e 180 patacas

CONCERTO DE MULLOVA COM ORQUESTRA DE MACAU (FAM) Centro Cultural de Macau, 20h00 Bilhetes entre as cem e as 350 patacas “CÍRCULO” (FAM) Edifício do Antigo Tribunal, 20h00 Bilhetes a 180 patacas

Diariamente

EXPOSIÇÃO “MACAU ID” (ALUNOS DA USJ) Fundação Rui Cunha (até 21/05) EXPOSIÇÃO DE TIPOGRAFIA “WEINGART” Galeria Tap Seac (até 12/06) EXPOSIÇÃO “AGUADAS DA CIDADE PROIBIDA”, DE CHARLES CHAUDERLOT Museu de Arte de Macau (até 12/06) EXPOSIÇÃO “TIBET REVEALED” Galeria Iao Hin (até 20/06)

Cineteatro

C I N E M A

SALA 1

X-MEN: APOCALYPSE [C] Filme de: Bryan Singer Com: James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence 14.30, 16.40, 21.50

X-MEN: APOCALYPSE [C][3D] Filme de: Bryan Singer Com: James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence 19.15 SALA 2

MONEY MONSTER [C] Filme de: Jodie Foster

Com: George Clooney, Julia Roberts, Jack O’connell 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 91

PROBLEMA 92

UM FILME HOJE

SUDOKU

DE

“TOGETHER WE DANCE” (FESTA DA MDMA COM DJ JOHN-E) Pacha Macau, 22h00

“A ÚLTIMA GRAVAÇÃO DE KRAPP” (FAM) Centro Cultural de Macau, 20h00 Bilhetes entre as 150 e as 200 patacas

1.22

O QUE SERÁ?

“CÍRCULO” (FAM) Edifício do Antigo Tribunal, 20h00 Bilhetes a 180 patacas

PALESTRA “O ENCANTO DOS EFEITOS SONOROS CINEMATOGRÁFICOS” Cinemateca Paixão, 15h00 Livre mas com reserva de lugares

YUAN

AQUI HÁ GATO

“COUNTERCULTURE” (FESTA DA HI+TECH-TRIBE COM DJ SININHO) Sofitel Hotel, Ponte 16, 19h00 Bilhetes a 150 patacas com duas bebidas

MÚSICA “VIAGEM À ÚLTIMA FRONTEIRA” (FAM) Teatro Dom Pedro V, 20h00 Bilhetes entre as 150 e 180 patacas

0.22

Hoje o hemiciclo vota, na especialidade, a proposta de Lei de Combate e Prevenção da Violência Doméstica. Nos últimos dois anos este tema ocupou muitas horas de destaque na praça pública. Associações lutaram por aquilo em que acreditavam, as vítimas saíram à rua e trouxeram histórias que todos sabíamos existirem, mas nada fazíamos. A comissão responsável pela avaliação, presidida por uma mulher – na esmagadora maioria dos casos de violência doméstica em Macau a vítima é mulher –, teve em mãos um trabalho demorado e de difícil consenso. Durante meses e meses foram organizados seminários, palestras, formações. O Governo sofreu pressões de todas as frentes. Macau precisa de uma lei que proteja as vítimas, que puna os agressores e que permita à sociedade fazer algo por aqueles que não podem, ou não conseguem. Não é só Macau, é o mundo. Eu como gato espanto-me, como é que vocês ainda precisam disto. Não serão civilizados o suficiente para perceber que a violência - seja ela de que tipo for – é errada? Pobres coitados, depois os selvagens somos nós. Bem, de qualquer foram, esta tarde o futuro de Macau é decido e sinceramente estou ansioso por ouvir as barbaridades que certo e determinado deputado irá vomitar. Esfrego as minhas patinhas de ânsia. Pu Yi

“TERRA FORMARS” (TAKASHI MIIKE, 2016)

Em 2599, uma superpopulação surge na Terra e os recursos estão completamente esgotados. Algumas pessoas acham que Marte é o segundo planeta para residir, portanto, o doutor Honda começa um projecto para mudar o ambiente de Marte, de forma a que fique apto para os humanos. Quinze presos são os escolhidos para serem mandados para Marte, mas são atacados por alguns corpos modificados de grandes insectos. Escondem-se no veículo espacial para sobreviver, mas ainda correm riscos. A única forma de sobreviver é mudarem, também eles, o seu corpo... Tomás Chio

SALA 3

TERRA FORMARS [C] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Takashi Miike Com: Hideaki Itô, Tomohisa Yamashita, Shun Oguri 14.30, 16.30, 21.30

CAPTAIN AMERICA: CIVIL WAR Filme de: Anthony & Joe Russo Com: Chris Evans, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson, Sebastian Stan 18.45

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Manuel Nunes; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


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PERFIL

ANA CHOI, RELAÇÕES PÚBLICAS

E

“A vida é curta e posso tentar mais”

STUDOU e trabalha no ramo do Turismo e “tem uma boa imagem” para se mostrar a outros, como relações públicas que é. Ana Choi apresenta-se ao HM: explica que trabalha num hotel mas teve “uma experiência extraordinária” num concurso de beleza. Há três anos, a jovem natural de Macau acabou o curso em Turismo e Gestão de Eventos na Suíça, num parte do país onde se falava Alemão, que acabou por aprender. Lá foi ainda o local onde praticou o Inglês: para Ana tratou-se de um desafio. A jovem trabalha agora num resort, sendo o seu trabalho o de apresentar as instalações aos clientes e organizar de eventos. Mas a sua forma de pensar mudou muito, depois de ter vencido o concurso onde participou. Ana gosta de estudar Turismo porque considera esta uma área “viva”. Não fez os trabalhos de casa como os estudantes comuns: organizou eventos verdadeiros. Não estudou Filosofia “fixa”, até porque “os conhecimentos mudam” e o turismo tem a ver com pessoas e com movimentos. Os professores, diz, partilharam experiências, problemas para os quais encontraram soluções. “Na universidade, penso que a situação é semelhante a Macau, porque a Língua

Portuguesa é muito utilizada. Na Suíça, o alemão é também encontrado nos supermercados, nas ruas”, conta-nos Ana, que lamenta que quando voltou para Macau, não teve muitas oportunidades de falar Alemão e esqueceu-se. O trabalho da Ana parece satisfazer a jovem e fazer surgir ideias para várias tentativas. Sendo uma seguidora do Macau Pageant Alliance, no ano passado Ana começou a pensar em participar em concursos de beleza, porque considera uma experiência interessante e especial. “É muito raro ser possível representar uma região num concurso internacional. Mas fiz entrevistas e fui seleccionada”, conta-nos. Ana participou no ano passado pela primeira vez no concurso de beleza, o Miss International, que teve lugar no Japão. Foi considerada uma “Ambassador beauty” por um patrocinador. Antes de começar o concurso, Ana não tinha grande esperança. “Porque Macau não é foco dos concursos de beleza, mesmo que nos esforcemos muito. Treinamos a força física, aprendemos como fazer maquilhagem, etiqueta e como falar. Não fazia muito este tipo de trabalho, mas pensei em como a vida é curta e como posso tentar mais [coisas]”.

Ana recorda-se que o concurso foi cansativo, mas valeu a pena, diz, quanto mais não seja porque conseguiu fazer coisas que nunca pensou conseguir. A jovem diz-nos que durante as três semanas do concurso, conseguiu conhecer todos os dias novas amigas provenientes de 70 países diferentes, o que fez com que não ficasse sozinha e pudesse partilhar histórias. Há também outras vantagens. “Agora posso ir visitar muitos sítios onde moram as minhas amigas. Amizade foi o que ganhei no concurso”. Depois da participação no concurso, Ana voltou ao mesmo trabalho, mas a forma como pensa a jovem mudou. “No concurso, aprendi como enfrentar [os problemas] e comunicar melhor com as pessoas, no meu trabalho é também preciso isso”. O concurso foi importante paraAna porque a jovem ficou, diz, menos cobarde. “Como estudei numa escola onde estudam só meninas, muitas vezes não tinha coragem de falar, de expressar opiniões. Depois do concurso, estou mais corajosa em expressar ideias, porque cada pessoa tem diferentes opiniões”, disse. Fora do trabalho e do palco, Ana gosta de fazer desporto nos tempos livres. De correr, de nadar. Mas o que lhe interessa mais é a dança.

“Gosto de dançar Jazz, já aprendi há dois anos. Esta actividade é boa porque quando sigo os ritmos, estou muito concentrada nisso e fico relaxada, deixando as coisas más para trás. Sinto-me também um sucesso quando decoro uma coreografia e aprendo outra nova”. Actualmente há pessoas que preferem a antiga Macau, que era mais calma e confortável. Mas para Ana, não é preciso dividir a antiga ou a actual Macau: a jovem gosta da forma como o território é em todas as épocas. “Antigamente Macau parecia mais livre, mais relaxado, com estilo português. Saía de casa e as ruas estavam mais vazias mas eram mais seguras, porque as pessoas conheciam-se umas às outras, brincávamos sempre em casa dos vizinhos mas agora há uma distância”. Mas se Macau não se tivesse desenvolvido tanto, continuaAna, não teríamos tantas oportunidades de conhecer mais o resto do mundo e o mundo não conheceria Macau. “Não podemos sempre ficar com as coisas antigas.” Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo


“ UM CURSO DE VERÃO DE PORTUGUÊS EXCEDE EXPECTATIVAS

Escrevo nas constelações / o espaço abolido / no flanco de um naufrágio / sem barco e sem mar, / a liberdade de uma aliança / entre mim e o reflexo / da lua a pratear / na tempestade / estrelas de bonança...”

Jorge Arrimar

HK CINCO DETIDOS DURANTE VISITA DE DIRIGENTE CHINÊS

Protesto amordaçado

O

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Curso de Verão de Língua e Cultura Portuguesa da Universidade de Macau, que vai decorrer entre os dias 18 de Julho e 5 de Agosto, vai exceder o objectivo de 500 alunos traçado para a 30.ª edição. A informação foi avançada pelo Departamento de Português da Faculdade de Artes e Humanidades da UM, que organiza o curso que visa dar aos participantes de diferentes países uma oportunidade para melhorar habilidades em Português ou para começar a aprender a língua. Até ontem foram contabilizados 275 alunos do exterior, a somar a 90 estudantes locais, mas ainda falta processar mais de 200 inscrições, pelo que o objectivo de 500 alunos traçado para a 30.ª edição vai ser excedido, indicou o Departamento de Português à Lusa. A maior parte dos inscritos no curso vem da China, seguindo-se Coreia do Sul, Vietname ou Japão. De Timor-Leste vão chegar dois alunos com o apoio da Fundação Oriente. Em anos anteriores chegaram a ser registadas mais de 500 candidaturas, mas o máximo de admissões, ponderado com base em factores como o contingente de professores ou na capacidade de alojamento e alimentação era bastante inferior, pelo que a selecção deixava de fora um maior número de candidatos. A título de exemplo, em 2014 candidataram-se mais de 500 estudantes, mas apenas foram admitidos 370. No ano passado, o curso contou com aproximadamente menos cem alunos do que em 2014 (270), nomeadamente devido ao surto da Síndrome Respiratória do Médio Oriente na Coreia do Sul. Ao longo de 30 anos, foram formados aproximadamente seis mil estudantes de todo o mundo, um terço dos quais oriundos de Macau. LUSA/HM

sexta-feira 20.5.2016

C

INCO pessoas foram detidas ontem em Hong Kong, num protesto relacionado com a visita do “número três” do regime chinês. Entre os detidos está um líder estudantil de um movimento pró-democracia, Joshua Wong. Os cinco foram detidos quando se preparavam para tentar deter uma caravana de carros onde seguia Zhang Dejiang, o presidente da Assembleia Nacional Popular da China que ontem terminou uma visita a Hong Kong. Os cinco detidos entraram, a correr, numa estrada que tinha sido evacuada para a caravana passar. Joshua Wong tinha um cartaz com a palavra “autodeterminação” e os cinco manifestantes foram detidos antes da chegada dos carros. Todos pertencem ao movimento criado por Joshua Wong,

que confirmou as detenções e colocou na internet um vídeo com o ocorrido.

OUTRAS DETENÇÕES

Na terça-feira, a polícia tinha também detido sete membros do partido pró-democracia Liga dos Sociais Democratas por colocarem faixas de protesto em espaços públicos, incluindo colinas e viadutos. Zhang Dejiang disse na quarta-feira que a autonomia de Hong Kong será preservada. Num jantar com deputados da região, a que não compareceram os pró-democratas, o dirigente chinês garantiu que Hong Kong não será “continentalizada” por Pequim. O princípio “’um país, dois sistemas’ é do maior interesse para o país e para Hong Kong. O Governo central vai implementá-lo sem hesitação. A sociedade de Hong

MELCO INSATISFEITA COM NEGÓCIO DO STUDIO CITY

Lawrence Ho, director-executivo da Melco Crown, afirmou que não está satisfeito com o resultado do negócio do Studio City e considera que é preciso “esforçar-se mais”. Segundo o Jornal Ou Mun, Lawrence Ho disse ontem, depois de uma conferência sobre um programa da compras com a cooperação das pequenas e médias empresas, que o casino do Studio City é dedicado totalmente ao jogo de massas e o movimento de clientes não é alto. Como não tem salas VIP, diz, não atrai clientes de alto consumo. O director-executivo disse ainda que espera partilhar o uso de shuttle-bus com outras operadoras de Jogo, como forma de diminuir o número destes autocarros e facilitar o transporte entre os vários casinos e hotéis. No entanto, afirmou que “há operadoras que não têm essa vontade”.

Kong pode estar completamente descansada”, afirmou. Antes do jantar, o dirigente chinês reuniu-se com deputados, incluindo quatro pró-democratas que no final do encontro disseram que “a atmosfera geral foi muito civilizada” mas não houve nada de novo. Cerca de 200 manifestantes pró-democracia e pró-China juntaram-se na quarta-feira nas imediações do local onde Zhang jantou. Outras 100 tinham-se já manifestado de manhã noutro local onde estava Zhang. A associação de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch disse na quarta-feira que as autoridades de Hong Kong “limitaram fortemente” a oportunidade da população expressar as suas críticas durante a visita do “número três” do regime chinês. A organização disse também que as autoridades locais deviam desafiar Zhang Dejiang a “assumir compromissos concretos para respeitar a autonomia de Hong Kong em matéria de direitos humanos e democracia”. A visita de Zhang Dejiang é a primeira deslocação de um importante responsável chinês ao território desde os protestos pró-democracia que paralisaram partes da cidade em 2014. A deslocação a Hong Kong ocorre numa altura em que aumenta a preocupação na região de que as liberdades possam estar em risco e em que a falta de reformas políticas gerou novos grupos que defendem a ideia da independência da cidade.

EGYPTAIR CONFIRMADO PORTUGUÊS A BORDO DO APARELHO QUE CAIU

A

secretaria de Estado das Comunidades confirmou ontem à agência Lusa a existência de um português a bordo do avião da EgyptAir, que voava de Paris para o Cairo e que se terá despenhado no Mediterrâneo. Uma fonte da secretaria de Estado das Comunidades disse à Lusa que “já há uma confirmação oficial da nacionalidade do passageiro”. “Ainda não sabemos mais pormenores. Só temos a confirmação de que há um passageiro de nacionalidade portuguesa”, salientou a mesma fonte. O avião da EgyptAir, com 66 pessoas a bordo, desapareceu dos radares ontem de madrugada, enquanto efectuava um voo entre Paris e o Cairo, informou a transportadora. A maioria dos passageiros e tripulação eram egípcios (30) e franceses (15). No avião, que voava de Paris para o Cairo, viajavam também dois iraquianos, um britânico, um belga, um kuwaitiano, um saudita, um sudanês, um chadiano, um argelino e um canadiano. Uma fonte aeroportuária grega disse entretanto que o aparelho se despenhou ao largo da ilha grega de Karpathos, no Mediterrâneo. Num comunicado divulgado através das redes sociais, a EgyptAir informou que o voo 804, do avião Boeing 737-800, partiu do aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, na quarta-feira à noite, e devia chegar ao aeroporto internacional do Cairo na madrugada de ontem. O avião desapareceu dos radares depois de entrar dentro do espaço aéreo egípcio, segundo a companhia aérea.


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