Hoje Macau 20 JUN 2016 #3595

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segunda-feira 20 de junho de 2016 • ANO Xv • Nº 3595

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Director carlos morais josé

Um adeus inglês grande plano

notários

Hovione

nuclear

Extradição

opinião

Neto Valente O lago No melhor A lei que Benesses defende dos maus dos ainda proposta cheiros mundos não foi Yeats vs. Pessoa david Chan

páginas 6-7

página 9

última

Página 5

China

h

Amélia Vieira

Os livreiros que saíram do frio Página 13


2 grande plano

A Europa vai passar por algo nunca antes visto. Na quintafeira, o Reino Unido vota a permanência e ninguém sabe o que pode acontecer em caso de saída. De terríveis consequências a um mar de rosas ouve-se de tudo. As sondagens, depois de mostrarem o Brexit a liderar várias semanas, mostram agora um empate após o recente assassínio de Jo Cox. O resumo das campanhas hoje poderá ser decisivo para o resultado final. Por estes lados, vigora o ‘tanto se me dá como se me deu’

BREXIT Reino Unido na corda bamba. Fica ou sai da União?

N

a próxima quinta-feira, dia 23, os cidadãos britânicos vão decidir se sim, ou não, o Reino Unido (RU) fica na Europa. Nas últimas semanas, as sondagens têm mostrado uma clara tendência de saída. Todavia, o assassínio da deputada Jo Cox por um activista de extrema direita pode ter inclinado a balança a favor dos que pretendem ficar. Mas os resultados divergem. A Survation, com resultados publicados no diário inglês Daily Mail ontem, indica a inversão da tendência com 45% a favor da permanência e 42% contra. Outra sondagem, realizada pela YouGov para o Sunday Times, também publicada ontem, mostra 44% contra os 43% que preferem sair. Por outro lado, a decisão do jornal conservador Mail on Sunday ter instado os leitores a votarem “não” também pode vir a ter alguma influência na decisão final. Para já, o que parece mais certo é uma nação fracturada em relação à decisão a tomar na quinta-feira. A “poll of polls” do Financial Times indica mesmo um empate a 44% com 12% de indecisos. Ou seja, ninguém está muito certo do que vai acontecer na quinta-feira e, após os brutais erros das sondagens das legislativas de 2015, estes estudos arriscam-se a não servirem mesmo como mero indicador.

Campanhas suspensas

Para além do impacto imediato que terá gerado nos britânicos a morte de Jo Cox, a tragédia obrigou ainda à suspensão das duas campanhas pelo que, ao resumirem hoje, espera-se com ansiedade as tomadas de posição que poderão influenciar decisivamente os eleitores. Os partidários do “fica” têm receio que a suspensão possa diminuir-lhes o tempo útil para convencerem os eleitores, mas o silêncio dos apologistas do Brexit como Boris Johnson, Michael Gove e Nigel Farage pode sugerir um estado de nervos perante a situação. O lado do Brexit pode vir a ter mais dificuldade em prosseguir a política “anti-establishment” e o outro lado tentará rentabilizar a morte da deputada.

União pouco pacífica

Tudo começou a 20 de Fevereiro deste ano quando David Cameron marcou o dia 23 de Junho como data para o referendo, uma velha promessa para a ala eurocéptica do Partido Conservador. O anúncio dividiu logo as águas, com uns ministros a

Saída de

apoiarem uma solução e outros a apoiarem outra. Quiçá convencido que uma saída do Reino Unido nunca passaria num referendo, ele que é contra, Cameron rapidamente percebeu ter aberto a Caixa de Pandora, quando personagens como o Ministro da Justiça, Michael Gove, e o ainda presidente da Câmara de Londres, Boris Johnson, se colocaram ao lado dos partidários do Brexit. Mas a relação do Reino Unido com a Europa nunca foi um mar de rosas. Mesmo quando se alega que Winston Churchill imaginou uns “Estados Unidos da Europa” para consolidar muitos pensam que ele não imaginava o RU como parte dessa união. Doze anos antes da entrada do RU na Comunidade, o princípio britânico já era de retracção não tendo participado em qualquer das negociações anteriores, nomeadamente as que levaram à fundação da União Europeia do Carvão e do Aço em 1951 nem mesmo nas que levaram à formação da então Comunidade Económica Europeia (CEE), percursora da actual União. Formaram, isso sim, um contrapeso chamado Associação Europeia de Comércio Livre em 1960. Apenas durante a década de 60, ao passar por uma situação económica grave, o RU começou a dar passos no sentido da integração o que viria a acontecer em 1973, apesar de dois vetos do Presidente francês Charles de Gaulle.

Realidade que surpreende

Hoje, com a Inglaterra de novo a passar por uma situação económica difícil pede-se a saída. Mas não é

Para já, o que parece mais certo é uma nação fracturada em relação à decisão a tomar na quinta-feira

novo só que antes mais de 67% votaram na permanência. Foi logo a seguir ao tratado de União, em 1975, que se realizou o primeiro referendo à Europa. Tal como então, em 2015, quando Cameron recuperou a promessa eleitoral do referendo para “calar” as alas mais radicais do partido, nada indicaria que o Brexit pudesse ganhar, mas o mundo mudou. O Partido Conservador, pedia o referendo para ter uma arma para combater o UKIP de Nigel Farage e as suas propostas proteccionistas motivadas pela imigração massiva de cidadãos do Leste da Europa. Os 13% conquistados nas ultimas eleições, a presença de um deputado na Câmara dos Comuns e a subida de três deputados no Parlamento Europeu em 1999 para os actuais 25 foram sinais de alerta. Cameron tinha poucas hipóteses de evitar o referendo. Mas a grande crise de refugiados do médio oriente, ainda não tinha acontecido e isso mudou tudo.

Rios de mel?

A corrente onda internacional contra os poderes estabelecidos, que tem resultado numa grande desconfiança das populações ocidentais em relação aos que os governam, capitães de indústria e bancos, tem sido terreno fértil para a evolução dos que pretendem sair da União Europeia. Para além disso, questões como o orçamento da comunidade para o qual o RU é um contribuidor líquido com $12 mil milhões de dólares (mais do que recebeu) o que, apesar de representar de apenas 1% do PIB, é um dos assuntos que mais tem irritado os apoiantes do Brexit. Sair mudará tudo para melhor, é nisso que acreditam os separatistas como Boris Johnson, “Vai ser maravilhoso podermos negociar por nós próprios outra vez. Estávamos a ficar moles nos negócios”, disse Johnson em declarações à BBC. Para o ainda presidente da Câmara londrino a saída será melhor e os acordos comerciais serão todos repostos apesar de o RU fazer parte

de cerca de 66 acordos de comércio via UE, agora postos em causa. “Há muito tempo para negociar acordos de comércio” garante Boris alegando ao período de dois anos entre a decisão e a saída de facto. Para ele, o “RU vai conseguir um estatuto especial com a União que lhe permita aceder ao mercado comum sem restrições”. Opinião diferente tem José Luís Sales Marques, economista e presidente do Instituto para os Estudos Europeus de Macau. “Existem receios (...) Por isso, vários dirigentes europeus já vieram dizer que, em caso de Brexit, o RU deve ser fortemente penalizado. Isto é, não haverá ‘soft landing’, pois isso poderia encorajar outros Estados membros”. Uma opinião de alguma forma partilhada por António Guterres que, em entrevista à CNN, disse que “O Reino Unido sozinho terá dificuldades em ter uma grande influência no que são os assuntos globais no mundo actual”. Para tentar conquistar os defensores do Brexit para o seu lado, David Cameron propôs um acordo especial com a União Europeia que, para os eurocépticos ficou aquém do esperado e “não vai resolver nada”, como disse Boris Johnson. Isto apesar de Cameron ter conseguido que a UE cedesse na possibilidade de o RU optar por não participar numa “união mais próxima” dando mais poderes aos parlamentos

“Vários dirigentes europeus já vieram dizer que, em caso de Brexit, o RU deve ser fortemente penalizado. Isto é, não haverá ‘soft landing’” Sales Marques economista


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Pandora nacionais, questão fundamental para os secessionistas. Não conseguiu, porém, tudo o que pretendia noutras áreas como os benefícios de segurança social para populações migrantes outra das questões sensíveis neste balanço entre o “fica” e o “não fica”.

Meio mundo contra

O facto de grande parte das instituições mundiais odiadas por todos aqueles que se vêm a revoltar contra os poderes instituídos estarem contra o Brexit não tem ajudado muito a causa da permanência. Ainda esta semana o FMI lançou um alerta contra a saída do RU alertando para “um expectável abrandamento do crescimento económico e uma subida da taxa de desemprego nas ilhas britânicas nos próximos anos” mas, claro está, o relatório também concede que a lista dos ‘estragos’ apenas poderá ser finalizada quando os termos do acordo de secessão forem conhecidos. Ontem, segundo o diário japonês Nikkei, também os bancos centrais da Europa, dos Estados Unidos e do Japão começaram a discutir uma acção concertada de injecção de liquidez em dólares no mercado. Ou seja, poderão implementar um mecanismo de urgência para abastecer o mercado com dólares para evitar eventuais problemas no caso de os britânicos decidirem sair da União Europeia fazendo adivinhar uma possível agitação nos mercados.

A China e a face do líder

No caso chinês, já foram várias as vezes que Xi Jingping e outros responsáveis se manifestaram contra o Brexit. Mas, na opinião de alguns especialistas, isso poderá ter mais a ver com a manutenção da imagem do líder chinês, pois este tem apostado fortemente no mercado britânico e levado muitos investidores chineses para aquelas bandas. Como disse John Zai à BBC, o líder da Cocoon Networks, um grupo de venture capital com planos para investir em empresas tecnológicas na Europa, “os empresários chineses podem começar

a achar que apostaram no cavalo errado.” Contudo, outros entendem que a China preferirá acordos com a UE a apenas com o RU, um mercado muito mais pequeno. Mas os investidores privados podem ter outras ideias. “Sinceramente, acho que livre dos regulamentos europeus, será mais atraente para os investidores chineses um Reino Unido fora do que dentro” diz William Cheung, professor da Faculdade de Finanças e Negócios da Universidade de Macau. “A ideia que tenho é existirem muitos investidores locais à espera da saída, pensando que a queda de preços que se seguirá será óptima para especular”, adianta ainda o académico especialista em Comportamentos de Negócios e Bolsa de Hong Kong, não esperando qualquer tipo de comoção no índice bolsita da RAEK, quer o RU fique, quer saia. Sales Marques também concorda com o princípio de que os negócios por este lados pouco irão sofrer mas não tem a mesma leitura face aos mercados financeiros. “Estão a ocorrer ajustamentos nos mercados e há muita incerteza

mas o ambiente de negócios na RAEM não sofrerá grande impacto directo, com a excepção para os investimentos nos mercados financeiros e variações cambiais na libra e no Euro”, diz o economista.

Dois anos para uma nova realidade

Aconteça o que acontecer na próxima quinta-feira, passarão dois anos até que se perceba que Europa resultará de uma eventual saída do RU da união. Será aquele o tempo que demorará a negociar o novo estatuto britânico ditando novas relações comerciais e de negócios, estatutos de cidadãos, obtenção de vistos entre muitas outras possíveis mudanças, Os apoiantes do Brexit acreditam que vai ser um mar de rosas e vão conseguir um estatuto especial mas, mesmo que o “hard landing” não aconteça, poucos acreditam que qualquer acordo comercial venha a dispensar a livre circulação de pessoas, um dos pontos que mais irrita os apoiantes do Brexit. Manuel Nunes

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Imigrantes, a grande incógnita

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egundo o grupo Migrantes Unidos, a população migrante portuguesa no RU praticamente dobrou nos últimos quatro anos devido à crise económica que atingiu Portugal, e só agora dá sinais de arrefecimento. De acordo com a organização, 30 mil portugueses chegam anualmente no Reino Unido desde 2011. “Calculamos em cerca de 300 mil, dos quais pelo menos 100 mil vivem em Londres. Desses, cerca de 120 mil chegaram nos últimos quatro anos”, afirma Paulo Costa, um dos responsáveis da organização, em declarações ao sítio “noticias em Português” baseado no RU. Para estes, a grande questão que se coloca é o que lhes vai acontecer quando terminar, se terminar, a política de livre circulação. Macau, onde grande parte dos residentes ostentam passaportes da UE, também poderá ser afectado. Nada acontecerá de um dia para o outro mas Sales Marques aconselha precaução: “devem estar atentos ao futuro, pensarem em planos B, mas não entrar em pânico. Muitos já são residentes do RU e quanto a estudantes, só os que usufruem de estatuto de comunitário quanto ao pagamento de propinas podem sofrer com um aumento das mesmas, no futuro”. Para o presidente do Macao Youth League das Nações Unidas (finalista da medicina na Universidade de Edimburgo), em declarações recentes ao Jornal Ou Mun, “a saída UE não vai implicar com descontos em propinas para os estudantes de Macau pois já as estão a pagar a preço internacional embora tenham passaporte de Portugal”. A maior diferença para o líder estudantil vai notar-se na “conveniência de solicitação de visto, no ranking das universidades britânicas porque influencia o intercâmbio de docentes”.


4 POLÍTICA

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Caso Jinan Criticada investigação feita a Scott Chiang

Cerco mais apertado? Especialistas consideram que a investigação que as autoridades policiais estão a fazer ao presidente da Associação Novo Macau é negativa para a imagem internacional da RAEM, revela alguma intimidação e põe em causa o segundo sistema

O

protesto organizado pela Associação Novo Macau (ANM) contra a doação de 100 milhões de renmimbi à Universidade de Jinan obrigou o seu presidente, Scott Chiang, a ir à Polícia de Segurança Pública (PSP) prestar declarações, estando a ser investigado por alegada desobediência.

Ao HM, especialistas consideram que esta reacção das autoridades policiais só revela a existência de um cerco mais apertado ao activismo local. “Esta não é a maneira mais correcta para lidar com este caso, especialmente se tivermos em conta a imagem internacional de Macau em termos políticos. Em Macau e Hong Kong temos liberdade de expressão e também a liberdade de manifestação, as quais estão defendidas no conceito de “Um país, dois sistemas” e na Lei Básica”, disse Larry So, ex-docente do Instituto Politécnico de Macau (IPM).

“Não diria que passou a ser proibido participar numa manifestação, mas parece que o Governo cria muitas dificuldades e entraves que desencorajam as pessoas a participar nestas iniciativas. Vejo que o Governo está a criar cada vez mais restrições e a espremer as pessoas (no sentido de lhes retirar mais informações)”, adiantou Larry So.

Pela transparência

O deputado Ng Kuok Cheong, que já não pertence à ANM mas que luta por uma maior clarificação do caso Jinan, referiu ao HM que o Executivo “tem de parar com este tipo de

procedimentos”. Sobre a doação feita à universidade chinesa, Ng Kuok Cheong continua à espera. “O Governo não é claro com uma questão que tem a ver com o interesse público. É necessária mais informação sobre este caso mas o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) já me confirmou que neste momento não pode divulgar quaisquer dados”, acrescentou o deputado à Assembleia Legislativa (AL). O académico Eric Sautedé recorda uma “participação massiva da polícia, maior do que o habitual” num protesto que juntou três mil pessoas nas ruas. “Podemos ver que nos últimos anos, e sobretudo desde o protesto contra o Regime de Garantias, que as autoridades dão mais atenção a este grupo. Não diria que há intimidação de forma directa mas há uma maior atenção dada para alguns grupos sociais.” “Há uma grande pressão política à volta do caso da Universidade de Jinan”, destacou o politólogo e ex-docente da Universidade de São José. “Deveria haver maior independência, mas caberá aos tribunais decidirem. Quanto à existência de maior intimidação, (os membros da ANM) estão a ser mais pressionados e não é apenas uma percepção, é a realidade”, referiu o académico. A investigação de que Scott Chiang está a ser alvo prende-se com uma alegada desobediência durante o protesto de 15 de Junho, tendo sido poste-

“Esta não é a maneira mais correcta para lidar com este caso, especialmente se tivermos em conta a imagem internacional de Macau” Larry So académico

riormente contactado pela PSP para se dirigir à esquadra prestar declarações, juntamente com outros membros da associação pró-democrata. À agência Lusa a PSP confirmou que o presidente da ANM é “acusado de agravação de desobediência à polícia”. Já foi entregue um relatório ao Ministério Público (MP), que ordenou “mais averiguações”. No dia 15 de Junho a PSP bloqueou o acesso a uma rua mas o grupo, segundo a polícia, “não obedecendo à decisão do Tribunal de Última Instância, nem às instruções indicadas por esta polícia, recusou utilizar os passeios que os agentes no local indicaram, obstando deliberadamente o trânsito (…) e provocando momentos de disputa com os condutores”. De frisar que o mesmo protesto pedia a demissão de Chui Sai On do lugar de Chefe do Executivo. Andreia Sofia Silva

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Filipa Araújo

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E do velho se fez novo Alexis Tam quer levar turismo para a zona de Ka-Hó

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Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, pretende revitalizar a zona de Ka-Hó, em Coloane. Segundo um comunicado, o responsável terá referido que é objectivo “explorar novos projectos turísticos, dinamizando e salvaguardando as velhas povoações”.Alexis Tam terá mesmo avançado com um calendário. “O trabalho relativo à salvaguarda e à dinamização da Povoação de Ka Ho estará previsto nas Linhas de Acção Governativas para a área dos assuntos sociais e culturais, para o próximo ano”, confirmou. Alexis Tam referiu “o seu desejo em salvaguardar essas povoações através da criação de visitas, estabelecendo ligações terrestres e marítimas, a fim de proporcionar aos residentes de Macau e aos turistas um ponto turístico de lazer ou passeio de interesse turístico”. O Secretário acrescentou que “o Governo irá transformar as zonas da Povoação de Ka-Hó e da Vila da

Nossa Senhora em projectos de turismo e lazer, através da revitalização e do reaproveitamento, desenvolvendo sinergias entre o Instituto Cultural (IC), a Direcção dos Serviços de Turismo e outros serviços competentes, ponderando, ao mesmo tempo, as reivindicações dos habitantes da Povoação de Ka Hó e demais interessados, com o objectivo de salvaguardar as povoações antigas”. Alexis Tam deu ainda explicações para o facto de o Governo não ter ainda levado a cabo qualquer preservação do local. “Anteriormente o IC estava condicionado com limites financeiros e era, ao mesmo tempo, responsável por trabalhos em diversas áreas culturais, e por isso, conseguiu apenas, até agora, restaurar as paredes exteriores de uma casa pequena”, pode ler-se. O Secretário terá garantido que irá “dotar o IC de mais recursos, de forma a poder restaurar a construção nessa zona”. A.S.S.

Olhos no Cartório

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visita a Ka-Hó serviu também para o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura comentar a saída do 1º Cartório Notarial do edifício da Santa Casa da Misericórdia (SCM), localizado no Largo do Senado, para a zona norte. Alexis Tam terá referido que a mudança é boa porque “não é apenas conveniente para a população como permite também poupar o erário público”. Alexis Tam promete dar atenção à preservação do edifício classificado como monumento. “O edifício da SCM foi classificado como monumento, pelo que não é permitido colocar ou instalar qualquer objecto promocional, incluindo cartazes de publicidade, já que pode afectar a aparência do edifício. O IC irá prestar total atenção ao plano de utilização futuro da SCM, de forma a proteger o património cultural em Macau”, pode ler-se.


5 POLÍTICA

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Extradição Governo retira lei da AL. Deputados divididos

O Governo decidiu retirar do hemiciclo a proposta de lei de assistência judiciária interregional em matéria penal com Hong Kong e China, por forma a melhorar a lei. Deputados dizem não conhecer conteúdo do diploma

Tiago Alcaântara

Entre o normal e o obscuro

Processo natural

Opinião contrária tem Gabriel Tong, deputado nomeado. “É uma maneira de cooperação e trabalho entre o Governo e a AL. Neste ponto ainda não pensei bem no processo normal e não tenho qualquer comentário. A Secretária disse que tudo se deveu às diferenças (jurídicas) entre as partes e o Governo ainda tem de ponderar mais”, afirmou.

“É bastante estranho que esta lei tenha sido retirada antes de ser distribuída pelos deputados’

A

lei sobre os acordos de extradição dos infractores em fuga a celebrar com a China e Hong Kong, intitulada “lei de assistência judiciária inter-regional em matéria penal” foi retirada pelo Governo da Assembleia Legislativa (AL), um mês após a sua entrega. Segundo um comunicado oficial, Sónia Chan, Secretária para a Administração e Justiça, justificou a decisão com a necessidade de fazer melhorias na lei. “Devido às grandes diferenças no regime de jurisdição de Macau, interior da China e Hong Kong, o tempo necessário para as negociações no âmbito de assistência judiciária em matéria penal tem requerido mais tempo do que o previsto. Para que a lei da assistência judiciária inter-regional em matéria penal possa ser funcional, foi decidido alterar a

Pereira Coutinho deputado

estratégia e o processo legislativo”, pode ler-se. Tudo para que a lei tenha mais operacionalidade, apontou ainda Sónia Chan. De frisar que há cerca de um mês o presidente da AL, Ho Iat Seng, disse à Rádio Macau que o

hemiciclo tinha rejeitado o diploma por conter falhas técnicas. Os deputados com quem o HM falou afirmam desconhecer o conteúdo da lei, mas nem todos criticam a acção do Governo. José Pereira Coutinho e o seu número

Mais de 250 milhões de patacas por levantar

O

Governo inicia, no próximo mês, nova ronda de distribuição de cheques pela população, quando o equivalente a mais de 250 milhões de patacas nunca foram depositados pelos residentes desde o lançamento da medida, em 2008. Segundo dados da Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) facultados à agência Lusa, desde 2008 e até ao final de 2015, um total de 37.866 cheques não foram levantados/depositados, cujo montante global ascende a 251,1 milhões de patacas, conforme o HM também já

antes consultar outros deputados. Acho que este é um mau precedente, todos temos interesse em conhecer o conteúdo original do projecto de lei do Governo”, disse Pereira Coutinho. “Nunca tivemos nenhum contacto com a lei”, referiu Leong Veng Chai. “Não consigo adivinhar as razões pelas quais o Governo tirou a lei. Claro que o Governo não foi transparente o suficiente”, apontou ainda.

tinha noticiado. Só no ano passado, e até meados do corrente mês, 13.446 cheques estavam por depositar, no valor total de 110,05 milhões de patacas (12,2 milhões de euros). O número de cheques por ‘encaixar’ tem vindo a aumentar anualmente: em 2008 foram 2.319 e em 2014, por exemplo, 5.967. Houve apenas uma pequena diminuição de 2010 para 2011, quando o número de cheques não depositados passou de 3.513 para 3.050. No próximo mês, inicia-se uma nova ronda de distribuição de che-

ques pela população, cujo montante fica inalterado face ao ano anterior: 9.000 patacas para os permanentes e 5.400 para os não permanentes. O pagamento arranca a 4 de Julho para quem recebe por transferência bancária, como funcionários públicos ou beneficiários de subsídios, seguindo-se o envio dos cheques cruzados para a caixa de correio consoante a data de nascimento dos residentes. Este ano, a medida vai custar mais de 5.946 milhões de patacas aos cofres públicos. LUSA/HM

dois, Leong Veng Chai, são os mais críticos. “É bastante estranho que esta lei tenha sido retirada antes de ser distribuída pelos deputados. O presidente da AL não está numa situação de poder para sugerir e tomas decisões sem

Também Zheng Anting, eleito pela via directa, considerou normal este processo de retirada do diploma. “O Governo tem as suas considerações, porque é uma lei que envolve o interior da China e Hong Kong, com diferentes jurisdições. Penso que é melhor que haja mais tempo para o Governo considerar melhor, a retirada da lei foi devidamente pensada. Se não há razões que sustentem o lançamento da lei se calhar este não é o momento certo para a apresentar. Não há problemas”, disse o deputado. Andreia Sofia Silva (com A.K.)

andreia.silva@hojemacau.com.mo

UM Chui Sai On quer estudantes no estrangeiro a VOLTAr ParA MACAU O Chefe do Executivo, Chui Sai On, referiu que a Universidade de Macau (UM), enquanto “instituição de ensino pública, tem a responsabilidade de produzir licenciados de forma exemplar e introduzir novos talentos no território”. O Chefe do Executivo disse ainda, segundo um comunicado oficial, que “espera que a UM possa reforçar o seu papel na atracção de mais estudantes que estão fora de Macau para que regressem e sirvam as necessidades da UM e da comunidade local”. Estas declarações foram proferidas no âmbito de uma reunião entre a assembleia-geral da UM e o Conselho da mesma universidade.


6 Política

Notários privados de Macau não se mostram contra limites impostos pelo Governo para novo Estatuto dos profissionais. Uma profissão que exige muita idoneidade, rigor e que está cada vez mais difícil. Neto Valente não acha elevado o número de sanções na última década

Notários privados Advogados não estão contra limites do Governo

Idóneos e rebeldes N

a passada semana, 23 advogados entregarem uma carta à 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), manifestando-se contra os limites, definidos pelo Governo, na candidatura para o curso de notário, a abrir ainda em data indefinida. Em causa está, especificamente, a barreira na candidatura a todos os advogados que tenham sido condenados com pena disciplinar acima da censura. Ana Fonseca, advogada e notária, está de acordo com as exigências do Governo. “Compreendo que se seja muito exigente em relação à idoneidade. A mim não me repugna que não se permita a advogados que tenham qualquer pena disciplinar superior a censura que lhes seja vedado o acesso ao notariado”, explica ao HM. É para na visão da profissional “ser notário implica uma idoneidade mais exigente”, algo que sempre esteve em discussão. “Repare, a questão vem já do passado, quando foi criado o notário privado, com a própria acumulação de funções de advogado com notário privado. Ao ser-se advogado é suposto estar a intervir e a defender uma parte, como notário [o profissional age] como uma espécie de magistrado, com isenção e imparcialidade a documentar o negócio que ambas as partes querem”, referiu. Uma decisão do Governo que “até faz sentido”, até porque, diz, com tantos possíveis candidatos é

natural que o Governo queira seleccionar aqueles que nunca foram sancionados. “A partido momento que existe um universo de candidatos mais do que suficiente para as necessidades, ou para o número de vagas que possivelmente existirá, faz todo o sentido que eles [o Governo] estejam a limitar, ou a fazer passar à frente aqueles advogados que nunca foram objectos da sanção disciplinar”, refutou. Ideia que não é partilhada pelo advogado Jorge Neto Valente que acredita que “com tantas exigências” a que a função de notário obriga não “haverá muitos interessados”.

Cara do Executivo

O ser-se idóneo parece ser o argumento mais forte para justificar a escolha do Governo. Diz o advogado Luís Almeida Pinto concordar com a decisão, sendo que é preciso frisar que “independentemente do dispositivo legal que venha a ser aprovado nesta matéria, a relevância social do exercício de tais funções de natureza pública, e a fé e credibilidade de que devem revestir todos os actos dos Notários Privados, exige que os Advogados em exercício de tais funções tenham um registo disciplinar muito próximo do impoluto, sob pena de se poderem estabelecer suspeições e incertezas sobre os actos por si praticados, em absoluto prejuízo da autenticidade e fé pública que os actos notariais têm que merecer. Um notário representará sempre o Governo, aponta, e isso é crucial para o desenvolvimento

da sua profissão. “O exercício da função de notário privado, em Macau, terá sempre que ser aferida pelas exigências e regras de competência e credibilidade das funções dos Notários Públicos. Jamais nos poderemos esquecer que o advogado que é notário privado representa o Estado, a RAEM, e que, em nome desta, assegura o controlo da legalidade e que a vontade das partes está de acordo com a lei aplicável ao acto, dando garantia de autenticidade aos actos em que intervém, como depositário e afirmador da fé pública, a qual é uma prerrogativa exclusiva do Estado, da RAEM”, apontou. Nessa medida, todas as exigências de controlo e fiscalização terão que ser admitidas relativamente a esses profissionais, mas “tão somente quanto aos actos e exercício das suas funções de notário”. “O advogado que confunda o exercício da sua profissão liberal com a de notário, ou que incumpra regras fundamentais do exercício de autoridade pública delegada, pondo em causa a fé pública dos seus actos notariais, deverá ser sancionado e impedido de exercer tais funções de natureza pública. Tanto pelo órgão público tutelar, como pelaAssociação deAdvogados de Macau (AAM), porque o advogado terá incorrido também, nesse caso, em incumprimento de regras deontológicas da profissão”, reforça.

Números em destaque

Jorge Neto Valente explica ainda ao HM que a “AAM limitou-se a concordar com o Governo”. “Não sei quem são [os advogados que

assinaram e entregaram a carta] mas desconfio que seja para proteger alguém em especial”. Para o advogado a argumentação, por parte dos assinantes da carta, de que a associação a que preside atribui multas com muita frequência, não é verdadeira. “Há muita gente que pensa que punimos pouco. Eu até acho que há penas que não são muito penalizadoras. Não acho que nos últimos dez anos tenham sido muitas”, explicou. Entre 2006 a 2016, houve 17 casos de sanções disciplinares, envolvendo nove advogados e um estagiário. Registaram-se ainda sete suspensões de exercício de actividade


7 hoje macau segunda-feira 20.6.2016

Política

“Não me repugna que não se permita a advogados que tenham qualquer pena disciplinar superior a censura que lhes seja vedado o acesso ao notariado” Ana Fonseca advogada e notária

“É preciso estabelecer que pessoas que tenham um currículo disciplinar que não se coaduna com a profissão, não possam exercer essa função” João Encarnação advogado

envolvendo cinco advogados e um estagiário a quem não foi atribuída idoneidade para a prática da profissão. “Se há sanções é porque os advogados fizeram asneiras”, reforça ainda Neto Valente.

Um ponto de partida

Para o advogado João Encarnação é preciso ver a questão de uma forma mais ampla. “Os requisitos para admissão ao curso de notário e à sua função têm de ser definidos em algum ponto, se é na pena de advertência, multa, censura ou suspensão, em alguma delas terá de ser. Obviamente que

“Não sei quem são [os advogados que assinaram e entregaram a carta] mas desconfio que seja para proteger alguém em especial” do

Jorge Neto Valente advoga

os advogados e notários praticam uma função essencial à sociedade, nomeadamente os notários têm determinadas responsabilidades que lhes exige um grau de idoneidade muito elevado. Tem de exigir confiança por parte do Governo, portanto é preciso estabelecer que pessoas que tenham um currículo disciplinar que não se coaduna com a profissão, não possam exercer essa função”, começa por apontar. João Encarnação assume que não tem um “padrão” para definir esse ponto, porque a argumentação pode atribuir razões a várias possibilidades. “Teremos sempre razões

para achar que [os limites ao curso] devem ser a partir da advertência, multa ou mesmo só para quem tenha sido suspenso. Eu diria que a multa é um meio termo, a advertência seria muito pouco, porque toda a gente se pode enganar e às vezes a advertência surge por um descuido ou um engano praticado pelo advogado. A suspensão só existe por actos bastantes graves. E no meio está a multa. No meio está a virtude e é capaz de não ser mal pensado”, argumentou, admitindo que não tem uma opinião inflexível. O mesmo diz Pedro Leal, também advogado, que defende que “a

“Jamais nos poderemos esquecer que o advogado que é notário privado representa o Estado, a RAEM, e que, em nome desta, assegura o controlo da legalidade” do

Luís Almeida Pinto advoga

generalização que é feita, qualquer pena acima da censura pode não ter a ver com a qualidade técnica do profissional”, algo que dependeria de cada caso. “Analisar caso a caso, para perceber qual a causa da censura, iria implicar um esforço muito grande, mas deveria ser feito, porque há casos em que este tipo de sanção poderá não estar ligado à qualidade.”

No mesmo saco

João Encarnação faz notar a amplitude da aprovação da proposta. É que estas alterações vão fazer-se sentir em todos os profissionais, ao contrário do que a população poderá

pensar. “Isto é um requisito que se vai aplicar a todos os advogados. Também se aplicará a todos os que já estão em funções, embora só a penas que tenham sido aplicadas já depois da entrada da proposta em vigor. Mas, qualquer que seja a determinação do Governo aplicar-se-á a todos os notários, sendo que a mim também, por isso, posso afirmar que não me repugna que o limite seja a partir da multa, mas poderia ser a partir da suspensão. É uma questão de ver quais são os argumentos do Governo”, rematou. Filipa Araújo

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8 Sociedade

hoje macau segunda-feira 20.6.2016

Saúde Maior inspecção depois de cancelado serviços sem licença

Perigosa beleza

Depois de alguns médicos advertirem para o risco da saúde pública nas cirurgias estéticas, devido à falta de lei, os SS dizem que vão reforçar as inspecções. A decisão acontece depois de ter sido detectada a prestação de um serviço de botox sem licença. O caso segue para investigação

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Tio patinhas na RAEM Parque da Disney em Xangai não influencia Macau

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director executivo da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) defendeu ser pouco provável que o parque temático da Disney em Xangai, que abriu na quinta-feira, belisque o negócio local dos casinos. As declarações de Ambrose So foram feitas à margem de assembleia geral de accionistas da SJM, na quinta-feira, em Hong Kong, de acordo com o portal especializado em jogo GGRAsia.

Ambrose So afirmou que os ‘resorts’ de Macau têm um escopo de negócios e um perfil de clientes diferente comparativamente aos parques temáticos. Para o director executivo da SJM, a abertura em Macau – este ano e no próximo – de mais hotéis-casinos pode vir a dar algum estímulo ao mercado de jogo e atrair um maior número de visitantes à cidade, apesar de reconhecer que esse benefício será “relativamente pequeno” em face da actual conjuntura.

s Serviços de Saúde, em cooperação com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) vão reforçar as inspecções aos estabelecimentos de beleza depois de terem detectado ilegalidades na prestação de serviços de mesoterapia num espaço de beleza. “Perante esta situação os SS e o IACM irão reforçar a inspecção aos estabelecimentos de beleza de forma a prevenir a prestação ilegal de serviços médicos prejudicando os interesses públicos”, indicaram as autoridades em comunicado à imprensa. No documento pode ainda ler-se que, depois de uma inspecção, os SS detectaram que o espaço em causa está a prestar serviços de mesoterapia – através de um sistema denominado por Vital Injector – sem licença. As autoridades indicaram que neste momento estão à aguardar a emissão de ofício, passado pelo IACM, para notificar o espaço de beleza e avançar com uma investigação. O Vital , explicam, é um aparelho computorizado que através do uso de micro-agulhas aplica na pele soluções injectáveis (nomeadamente toxina botulínica vulgo botox - ácido hialurónico ou outros componentes) com o intuito de hidratar e atenuar

rugas. Antes da intervenção é utilizado um creme [Lidocaína] anestésico que pode provocar efeitos secundários, entre os quais reacções alérgicas. “Acresce que a utilização do Vital Injector provoca nas áreas onde é utilizado inúmeras perfurações onde são aplicados os injectáveis além de provocar furos ensanguentados. A aplicação inadequada destes procedimentos pode causar infecções, ou cicatrizes permanentes em casos graves”, acrescentam os SS. Mesmo não sendo considerados medicamentos, estes produtos e a operação invasiva são considerados procedimentos médicos que devem ser “obrigatoriamente executados por médicos inscritos em estabelecimentos de prestação de serviços

A SJM assina um dos projectos que vai abrir portas no futuro próximo na ‘strip’ do Cotai. Segundo indicou, citado pelo mesmo portal, a construção do “Grand Lisboa Palace” deve estar concluída no final de 2017. Ambrose So afirmou

esperar que, por essa altura, os casinos já tenham ‘virado o jogo’, coincidindo com a data projectada para a inauguração da ponte que vai ligar Hong Kong, Macau e Zhuhai, uma cidade chinesa. O director executivo da SJM indicou ainda que a empresa espera poder ter “500 a 600” mesas de jogo no novo complexo, o qual vai ser o primeiro da empresa fundada pelo magnata do jogo Stanley Ho no Cotai.

“Os SS e o IACM irão reforçar a inspecção aos estabelecimentos de beleza de forma a prevenir a prestação ilegal de serviços médicos”

Verdadeira ameaça?

Um inquérito recente, com uma amostra de mil apostadores chineses, realizado pela AlphaWise,

de cuidados de saúde”. “(...) caso os estabelecimentos de beleza proporcionem medicamentos (incluindo estupefacientes) aos seus pacientes podem violar as disposições referentes ao exercício das profissões e das actividades farmacêuticas”, apontam, frisando que “a prestação de serviços médicos por alguém que não está habilitado ou não possua licença de médico é considerada crime”.

Alerta de riscos

O caso acontece depois do HM ter publicado um artigo que defendia que os residentes de Macau correm risco de vida quando recorrem a este tipo de serviços, pois não existe legislação. “Em Macau qualquer curioso vai a um Centro de beleza e faz a cirurgia. Os procedimentos que têm de ser feitos pelos especialistas, por exemplo o botox, é feito por qualquer curioso, em qualquer lado. Portanto qualquer acto médico em Macau é feito sem responsabilidade nenhuma porque ninguém assina papéis”, advertiu o médico Rui Furtado, reforçando que a saúde pública está em risco. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

unidade de pesquisa do banco de investimento Morgan Stanley, indicava a Disney de Xangai como uma das “ameaças a curto prazo” para Macau. Segundo os resultados, divulgados no início do mês, 30% dos inquiridos afirmou que poderia visitar Macau com menos frequência após a abertura do parque temático, sendo que 1% disse mesmo que deixaria de se deslocar a Macau. O parque temático de Xangai é o primeiro da Disney na China continental, mas existe um em Hong Kong que, à semelhança de Macau, é uma Região Administrativa Especial da China. LUSA/HM


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sociedade

Governo renova com CTM até 2021

A Direcção dos Serviços de Regulação de Telecomunicações (DSRT) confirmou ao jornal Ou Mun que o contrato de concessão com a Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) vai ser renovado automaticamente até Dezembro de 2021, salvo se a empresa “violar seriamente a lei ou cometa actos que violem o interesse público”.

DICJ quer proibir trabalhadores dos casinos de jogar

A Direcção dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) vai discutir com associações do sector a possibilidade de proibir todos os trabalhadores dos casinos de jogar. Segundo a Rádio Macau, Paulo Chan, director da DICJ, considera a medida “viável”. “Vamos ver que opiniões as associações nos vão transmitir para decidir o que fazer, tendo em conta a análise que será feita pelos nossos juristas. Ainda não começamos oficialmente a ouvir estes grupos, por isso não sei dizer que opinião têm.”

Dome IACM vai realizar poda de árvores

O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) vai realizar uma acção de poda de árvores de pagode, as quais estão localizadas na Avenida dos Jogos da Ásia Oriental, junto ao Dome. A poda será realizada para “aumentar a resistência das árvores ao vento e reduzir o impacto dos tufões sobre as mesmas”. O trânsito será sujeito a alterações, avisa o IACM.

Pavilhão dos pandas fechado até 11 de Julho

O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) vai encerrar o Pavilhão do Panda Gigante, em Seac Pai Van, Coloane, até ao dia 11 de Julho. O encerramento deve-se à necessidade de “verificação física regular dos pandas gigantes “Kai Kai” e “Xin Xin” e à recolha de dados de reprodução para análise, a fim de facilitar o seu processo de reprodução”. Segundo um comunicado, “os especialistas vão estabelecer um plano de treinos de comportamentos apropriados dos pandas gigantes, disponibilizando-lhes condições favoráveis e preparando-os para a reprodução”.

Cada vez mais jovens com diabetes

Cheung Chun Wen, director do hospital Kiang Wu, disse que os doentes diagnosticados com diabetes tendem a ser cada vez mais jovens. Citado pelo jornal Ou Mun, o director do hospital privado garantiu que factores como maiores níveis de stress e mudanças para hábitos de vida mais sedentários levam a que haja doentes mais jovens com esta patologia. À margem de um seminário sobre o tema, Cheung Chun Wen referiu que entre 2011 e 2013 foram registados mais de 35 mil pessoas no Centro de Prevenção da Diabetes do hospital Kiang Wu. Dados dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) também mostram que a diabetes é já uma das dez causas de morte em Macau. Só em 2014 foram registados, no Kiang Wu e hospital Conde de São Januário, cerca de 21.129 doentes.

Hovione PharmaScience (Google Maps)

Hovione Moradores do Edifício do Lago queixam-se do fumo

Poluição à janela Numa altura em que a empresa do sector farmacêutico se prepara para entregar um plano de expansão ao Governo, os moradores da habitação pública na Taipa mostram-se descontentes com os fumos da fábrica. Hovione garante que não são tóxicos

O

s moradores do Edifício do Lago, complexo de habitação pública na Taipa, estão preocupados com os fumos que diariamente saem das chaminés da Hovione, empresa local do ramo farmacêutico. Contudo, e segundo o canal chinês da Rádio Macau, a empresa descarta qualquer toxicidade dos fumos expelidos. Eddy Leong, director-executivo da fábrica da Hovione,

explicou que o fumo é oriundo “do sistema de abastecimento de gás”, sendo que nos dias em que os valores de humidade relativa no ar são mais elevados “é normal sair algum fumo branco”. “Passa-se o mesmo nos hotéis de luxo. Já apresentamos várias explicações junto do público e o Governo tem conhecimento disto”, referiu. Johnny Cheong, responsável pela parte de produção, referiu que é normal que o fumo contenha maus cheiro devido à

utilização de alguns materiais, sendo que a Hovione faz testes antes da emissão dos fumos. Johnny Cheong também confirmou que os fumos não são tóxicos nem perigosos para a população. O director-executivo frisou que é feita uma fiscalização rigorosa das instalações, sendo que a inspecção de segurança é feita por uma entidade de Hong Kong. A Hovione mantém ainda contactos estreitos com os Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), enviando relatórios de forma regular ao Executivo, disse Eddy Leong.

Expansão em curso

A Hovione está entretanto a preparar a expansão da fábrica, tendo Eddy Leong confirmado ao canal chinês da Rádio Macau que o pedido está a ser feito ao Governo. A expansão será feita com recurso a um espaço vazio que a Hovione já possui, sendo

que o processo tem vindo a ser pedido ao Governo desde 2001. Eddy Leong explicou que tanto a produção como o número de trabalhadores têm vindo a aumentar nos últimos anos, pelo que a Hovione necessita de mais espaço. A empresa promete não pedir mais terrenos ao Governo, e planeia a abertura de mais laboratórios. O director-executivo espera que a operação da Hovione possa continuar em Macau, pelo facto da maioria dos seus trabalhadores serem locais, afastando, para já, a hipótese de expansão para o interior da China. Eddy Leong referiu, contudo, que está aberto a outras localizações, esperando pelas condições que o Executivo irá oferecer no futuro. Segundo o website da empresa, a Hovione emprega cerca de 140 pessoas de Macau. Tomás Chio (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo


10 entrevista

Manuel Wiborg Encenador e actor

O actor e encenador português Manuel Wiborg esteve em cena ontem no Teatro D. Pedro V com “O jantar com o André”, peça que tem sofrido algumas peripécias e que aborda em si o pensar o próprio teatro e os seus actores

“Ainda não sei se as culturas diferentes que aqui vivem coabitam em harmonia ou não, mas deve haver quem viva e quem não viva.”

Como é que começou nos palcos? Foi por acaso. Sou o oitavo de dez irmãos e os meus pais sempre cultivaram em nós o gosto pelas artes. Assistia às coisas que iam aparecendo novas em Lisboa desde a Pina Bausch ao François Truffaut. Os meus irmãos mais velhos pintavam, tocavam ou faziam artesanato , todos tínhamos um gosto pelas artes mas não no sentido profissional. Aos 17 anos no liceu também fiz a minha banda de rock com que estive cinco anos e demos vários concertos. Não éramos profissionais apesar de ganharmos já algum dinheiro com a música. Era também o vocalista e muito tímido. Dávamos os concertos mas achava que não fazia a performance que se deve fazer. Em 1988 surgem em Portugal os primeiros cursos de teatro apoiados pelos fundo social europeu. Frequentei um destes cursos, de dois meses, no Teatro Espaço, para me desinibir enquanto performer e cantor e é aí que me apaixono pelo teatro. Faço esse curso e aquilo começa a fazer mais sentido para mim. Trocou a música pelo teatro? Ser actor começou a fazer mais sentido do que ser cantor . Depois saltei para outro curso, entro para o conservatório, faço o primeiro ano e começo a receber convites para trabalhar o que fez com que o segundo ano tivesse três inscrições sem nunca o ter terminado. Comecei a trabalhar muito, tanto na televisão como no cinema. Comecei nas telenovelas na NBP, estive no nascimento dos Artistas Unidos, fiz parte do teatro da Malaposta e crio a minha própria companhia - Actores e Produtores Associados – em 97. Aos 40 anos fechei a companhia e agora sou freelancer. Desde 2008, a crise económica é grande e os subsídios são poucos mas lá vou fazendo as minhas peças. As dificuldades de dar início a uma vida de artista são muito conhecidas, mas parece que no seu caso não se aplicam... Na vida de um artista há sempre sorte. Ser bom ou mau nestas coisas é uma coisa relativa, porque depende da opinião de quem financia e do público. Essa é a fragilidade de um artista porque não se sabe se vão gostar do nosso trabalho ou se vai ser comprado. Mas a sorte cria-se, como diz o ditado “a sorte favorece os audazes” é preciso ser audaz também. Sempre fui uma pessoa muito disciplinada no trabalho, sempre trabalhei muito exactamente porque sei que é uma profissão de grande risco. Gosto muito dela e gosto de

Sofia Mota

“ O teatro serve para fa

fazer as coisas à minha maneira e por isso senti a necessidade de criar a minha própria companhia para poder escolher com quem queria trabalhar. Acho que também sou um privilegiado.

muito teatro diferente. Temos que nos conhecer neste meio e perceber o que é o nosso gosto. Isso não é evidente nem surge de repente, vai-se aprendendo e refinando e temos que lutar por isso.

Que conselho deixaria a esta gente nova que se está a ver “aflita”? A única coisa que posso dizer é que não fiquem em casa à espera que os chamem para trabalhar. Esse é o grande problema dos actores: ficarem à espera que os chamem. Eu comecei como actor e tive a curiosidade de também fazer um curso de produção para aprender um bocadinho sobre isso e fiz o meu próprio projecto. Umas vezes batemos em portas e levamos negas, outras nem por isso. O conselho é esse, não podemos ficar á espera. Temos que perceber o que queremos fazer no teatro porque há

Como é que apareceu esta peça que traz a Macau? O interesse nasceu em 2002 quando ainda tinha a companhia. Achei na altura uma peça muito interessante mas não a produzi logo porque achava que não seria o momento mais pertinente para a fazer. Em

“A arte muda o mundo, muda as pessoas e serve para isso”

2013 quando o teatro começou a ser menos convencional e começaram a aparecer muitas coisas também ligadas à performance é também quando começa a aparecer um debate mais ligado ao próprio teatro. Ao observar esse fenómeno que acontecia em Portugal, e julgo, em todo o mundo, é que esta peça começou a fazer sentido. A peça é um jantar entre dois artistas. Um, é um encenador de grande sucesso mas que chega a um determinado momento da vida e começa a colocar-se questões existenciais por achar que o que faz já não faz sentido. Abandona o teatro e vai em busca do desconhecido à procura de um sentido da vida e do teatro. O outro é um tipo que não tem dinheiro, um dramaturgo que não consegue vender as peças que faz e que também é actor para poder ganhar a vida. São dois


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entrevista

azer as pessoas pensar” entenda bem. Penso que as pessoas não se sentirão muito defraudadas se ouvirem esta peça e se entrarem dentro da cabeça dos personagens. Mas claro que quando dizemos que é uma leitura encenada e não um espectáculo as pessoas ficam a pensar que é menos. Mas não quer dizer que seja porque esta peça vive muito da audição do texto. Conseguem contracenar tratando-se de uma leitura? Sim. Quer dizer ele não poderá olhar muito para os meus olhos porque tem que olhar para o texto e isso perde-se mas estamo-nos a ouvir e a contracena passa muito por aí. E o ouvir é fundamental. Isso é a principal contracena. Como escolhe as peças que faz? Gosto de fazer peças sobretudo por duas razões. Uma é o que é que elas me dizem a mim, ou seja, muitas peças que encenei e em que era protagonista eram escolhidas porque gostava daquele papel. Outra das razões é conforme o que se passa no mundo, na sociedade e na arte, achar que determinado texto faz sentido ser levado naquele momento a cena.

artistas e actores muito diferentes mas que são amigos porque os dois pensam o teatro e colocam-no em causa. Numa altura em que se fazia isso em Portugal, fez-me sentido fazer a peça. Era previsto “O meu jantar com o André” ser com o Diogo Dória... Esta peça é uma grande história. Estreei-a em Novembro de 2013 no Teatro Taborda e inicialmente foi feita com o actor António Filipe. Entretanto, em 2015, tivemos um apoio à internacionalização mas o António adoeceu com um cancro quando já tínhamos agendado ir, em Abril, aos Estados Unidos e vir cá em Junho. Queira manter o António, adiei as apresentações internacionais para ver se ele recuperava e a podia fazer. A DGArtes dá-me um adiamento de seis meses, mas não foi o

suficiente para poder tê-lo de volta. Solicito novo adiamento de mais seis meses e chamo o Diogo Dória para fazer a substituição. O texto é muito grande e muito complexo e demora muito tempo a decorar. Nos Estados Unidos fizemos uma leitura encenada mas prevíamos que aqui já apresentássemos o espectáculo acabado. O Diogo teve dificuldades em decorar o texto, acho que foi por isso, e de um momento para outro penso que por estar muito nervoso e inseguro , a uma semana de virmos para Macau, diz-me que não quer vir. Fiquei completamente em choque porque tenho os compromissos com uma série de instituições mas não podia fazer nada em relação ao Diogo. Liguei para Macau a saber se era possível fazer um espectáculo ainda não acabado. Disse à Ana Paula Cleto que dadas as características

do espectáculo não se perderia muito em fazer uma leitura encenada em vez de uma peça acabada. Desde que a história se ouça bem as pessoas ficariam presas à peça e entrariam bem dentro da cabeça dos personagens. AAna Paula achou que sim e pronto. Chamei o João Vaz e cá estamos. Perguntei também ao João se conseguiria decorar o texto em um mês e dez dias para que o levemos completo ao Porto , onde não pode ser uma leitura encenada. Ele disse que sim e já está também a trabalhar nisso . Não tem receio de que desta forma desiluda o público que aqui o veio ver? Depende das expectativas do público. Mas não sei bem responder a isso. Julgo que não, desde que a leitura seja muito bem feita e se

Fazer teatro televisão ou cinema, tudo a mesma coisa? É exactamente como se eu tivesse três filhos. Gosto dos três e tenho que trocar a fralda aos três, porque esse é o mercado de trabalho de um actor. Mas há sempre um que se gosta mais que o outro, mesmo que isso não seja politicamente correcto. De facto, gosto mais do teatro porque tem a grande diferença de ser ao vivo, não há cortes. Aqui está-se em directo com o espectador. Sente-se a vibração do público e isso dá uma outra maneira de estar e mexe connosco a nível de energia. O actor muda em função desse feedback. Essa relação energética, abstracta enublada que não sei definir é realmente uma coisa completamente diferente. Para escolher as personagens e as peças que faz, qual o critério? Porque gosto e porque me identifico. Nas personagens cativa-me o que são e o que dizem. Identifico-me com o que aquele personagem representa. Esse é o meu critério. Outro é porque acho que o que a sociedade está a viver tem a ver com aquele texto. O teatro serve para isso. Para fazer as pessoas pensar. Como assim... A arte no seu sentido mais essencial tem a haver com generosidade. A arte muda o mundo, muda as pes-

“O que o palco tem de fantástico é que ali posso ser absolutamente verdadeiro” soas e serve para isso. Os artistas além de um ego forte têm que não se sentir confortáveis no mundo em que vivem, têm que inventar um novo mundo. Sinto isso, que vivo mais harmoniosamente no mundo da arte do que no real. Há também a necessidade de comunicar alguma coisa que sentimos no nosso íntimo e que não podemos fazer na vida real. Há quem diga que representamos na vida real porque estamos dentro de convenções e não podemos andar na rua a dizer tudo o que pensamos. O que o palco tem de fantástico é que ali posso ser absolutamente verdadeiro. Posso fazer e dizer o que me der na cabeça porque é um espaço sagrado e estou defendido. Ninguém me pode atacar por isso. Até posso fumar! Primeira vez em Macau... Em Macau e na China. O mais oriente que estive foi em Moçambique e ainda não tive oportunidade de conhecer Macau. Mas estou a gostar porque gosto muito de outras culturas. Aqui ainda estou a descobrir o que é isto e a tentar usufruir um bocadinho disso. Ainda não sei se as culturas diferentes que aqui vivem coabitam em harmonia ou não, mas deve haver quem viva e quem não viva. Também tem ADN de outras culturas... Sim e desde pequenino que sinto isso. Aliás acho que o meu gosto pela miscigenação e por outras culturas tem muito a haver com isso. O meu bisavô era norueguês e apaixonou-se por uma portuguesa. Não o conheci mas conheci a filha, a minha avó. Mas sempre senti que tenho aqui uma coisa diferente do português comum. Sou um português e sinto-me como tal mas acho que tenho uma costela de uma coisa que é nórdica. Em que sentido? Digamos que os nórdicos pensam mais à protestante e os portugueses à católico. O protestante é mais responsável pelos seus próprios actos e o católico tem sempre o perdão de Deus. Tenho um bocadinho dos dois. HM


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Xi Jinping visita Sérvia, Polónia e Uzbequistão

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Inquérito Mais de 60% das famílias ricas chinesas querem emigrar

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A procura da sorte grande São ricos e sonham emigrar para Portugal, Estados Unidos ou Canadá. As restrições à fuga de capitais contornam-se muitas vezes recorrendo ao mundo offshore

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ma pesquisa recente do Banco da China revelou que 60% dos chineses com uma fortuna superior a 1,3 milhões de euros (quase 12 milhões de patacas) estão no processo de emigrar ou a considerar fazê-lo. Estados Unidos da América e Canadá são os destinos de eleição, mas desde o início da crise na zona euro vários países europeus criaram programas destinados a atrair esta imigração “dourada”. Portugal não é excepção. Os cidadãos chineses compõem 87% dos estrangeiros que investem no âmbito da Autorização de Residência para Investimento (ARI) - os chamados vistos ‘Gold’ - instituída em 2012. “Querem levar os filhos para fora daqui”, explicou à Lusa o advogado português Tiago Mateus, que presta em Pequim serviços de consultoria para investidores chineses. “Acima de tudo, procuram países sem

poluição e com mais liberdades”, disse. No caso de Portugal, são ainda atraídos pela “hospitalidade dos portugueses”, o “livre acesso ao Espaço Schengen” e a “segurança”. O abrandamento económico, a actual volatilidade no mercado financeiro e a campanha anti-corrupção actualmente em curso no país estimularam ainda mais o desejo de adquirir activos além-fronteiras. “Sentem-se agora mais seguros com o dinheiro na Europa”, disse Mateus. No último ano e meio, o país asiático registou uma fuga de capitais privados recorde, estimada pela agência de ‘rating’ Fitch em um bilião de dólares. Pequim limita a quantia que pode ser transferida além-fronteiras, anualmente, por pessoa, a 50.000 dólares, mas existem formas (legais ou não) de contornar as restrições. Segundo vários empresários ouvidos pela Lusa, pedir a familiares

ou amigos para transferirem parte do dinheiro será a via mais utilizada. Um outro esquema recorre ao sistema financeiro Hong Kong, mais aberto e desregulado do que o da China continental.Através da subfacturação de bens exportados a partir do território ou da subvalorização das importações, é possível obter dinheiro extra em moedas estrangeiras junto dos bancos chineses. O capital é depois depositado em contas “offshore” registadas localmente, e a partir daí movimentado para qualquer parte do mundo. Junto segue, mais tarde, a família, na procura por uma qualidade de vida que, na China, nem o dinheiro pode comprar.

Problemas de Terceiro Mundo

Na China, o êxodo de famílias abastadas para o ocidente é um

“Acima de tudo, procuram países sem poluição e com mais liberdades” Tiago Mateus advogado

fenómeno em crescimento, expondo as contradições de um país onde, apesar do sucesso económico ímpar, persistem problemas ‘terceiro-mundistas’ e um Estado autoritário. Durante as últimas três décadas, a economia chinesa avançou, em média, quase 10% ao ano, tornando-se a segunda maior do mundo. No entanto, a corrupção, níveis de poluição, e escândalos de saúde pública terão aumentado ainda mais. As principais cidades do país, repletas de arranha-céus e equipadas com modernas infra-estruturas, são regularmente cobertas por um espesso manto de poluição. Fragilidades internas, como a recente descoberta de uma rede de venda ilegal de vacinas, parecem também obscurecer a rápida ascensão internacional do país. Em 2008, ano em que Pequim acolheu uma memorável edição dos Jogos Olímpicos, por exemplo, a adulteração de leite infantil com melanina por 22 marcas locais resultou na morte de seis bebés e em 300 mil intoxicações. Perante estes paradoxos, a estagnação económica que afecta o ocidente parecerá um mal menor para as classes abastadas do país. LUSA/HM

Presidente chinês, Xi Jinping, iniciou sexta-feira uma viagem de oito dias em que visitará a Sérvia, Polónia e Uzbequistão e assistirá à cimeira da Organização para a Cooperação de Xangai (OCS), na cidade uzbeque de Tashkent. Xi partiu sexta-feira acompanhado da mulher, Peng Liyuan, e de uma delegação de políticos chineses, entre os quais o conselheiro de Estado Yang Jiechi, noticiou a agência oficial chinesa Xinhua. O líder chinês passará primeiro pela Sérvia e Polónia, seguindo depois para o Uzbequistão, onde assistirá à cimeira de chefes de Estado da OCS, nos dias 23 e 24. A OCS integra a China, o Cazaquistão, o Quirguistão, a Rússia, o Tajiquistão e o Uzbequistão. Na última cimeira, realizada na cidade russa de Ufa, foi também iniciado o procedimento para admitir a Índia e o Paquistão, países que, como o Afeganistão, Bielorrússia, Irão e Mongólia, têm estatuto de observadores. Aviagem de Xi à Sérvia e Polónia marca o início de um “novo capítulo” nas relações entre a China e os países da Europa central e do leste, lê-se no Diário do Povo, o órgão central do Partido Comunista Chinês. Segundo o jornal, a visita constituirá um marco e espera-se que impulsione o comércio bilateral, no contexto da nova Rota da Seda, um gigante plano de infra-estruturas, lançado por Xi, que pretende unir a Ásia e o Mediterrâneo. Após regressar à China, Xi deverá receber o seu homólogo russo, Vladimir Putin, mas as datas não foram ainda anunciadas.

Homem sobrevive após ter ficado empalado numa barra de aço

Um trabalhador da construção civil sobreviveu após ter ficado empalado numa barra de aço de 1,5 metros, que perfurou o seu corpo desde a virilha até ao crânio, na província de Shandong, leste da China. Zhang, de 46 anos, caiu de uma altura de cinco metros, quando estava a trabalhar, e aterrou de pé na barra, segundo escreveu a agência oficial Xinhua. Os bombeiros terão levado o homem até ao hospital, onde foi sujeito a uma operação de sete horas, para retirar a barra. A radiografia mostrou que o objecto não tinha perfurado o crânio, traqueia, coração, fígado e artéria carótida. “Felizmente, mal tocou os órgãos vitais”, afirmou um dos médicos, citado pela Xinhua. “Seria preciso apenas um movimento em falso e a operação teria falhado”, disse.


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China

Hong Kong Milhares saíram à rua e pedem clarificações

Dois dias de luta

A população de Hong Kong saiu à rua na sexta-feira e no sábado em protesto pelo desaparecimento de cinco livreiros. Acusações ao Governo de CY Leung estiveram em destaque

H

ong Kong viveu no sábado o segundo dia de protestos sobre o caso dos cinco livreiros desaparecidos no final do ano passado e que mais tarde reapareceram sob custódia das autoridades chinesas. Os deputados pró-democratas de Hong Kong acusaram o Governo de ser uma marioneta de Pequim e instaram as autoridades locais a responder às preocupações dos cidadãos da antiga colónia britânica, numa altura em que aumentam os receios quanto à alegada interferência de Pequim nos assuntos internos da cidade. “Pensávamos que o Governo de Hong Kong podia proteger as pessoas de Hong Kong. Não pode”, disse o deputado pró-democracia Frederick Fung, citado pela agência Lusa. “Exijo que o Governo explique claramente o que fez para ajudar Lam ou os outros funcionários da livraria Causeway Bay nos últimos oito meses. Se eles não o fizerem, não são o nosso Governo”, acrescentou. Na sexta-feira, o Secretário das Finanças de Hong Kong, John Tsang, que entretanto assumiu funções de chefe do executivo interino, escusou-se a dar uma resposta directa sobre a forma como o Governo vai proteger os direitos e a liberdade do livreiro Lam Wing-kee, segundo a imprensa local. Membros do Partido Democrata escreveram uma carta aberta ao

Presidente chinês, Xi Jinping, na qual afirmam que as autoridades do interior da China “violaram gravemente” o sistema semi-autónomo de Hong Kong e o princípio “Um país, dois sistemas”. O caso dos livreiros desaparecidos voltou novamente à luz do dia esta semana, depois de Lam Wing-Kee – um dos cinco ‘desaparecidos’ – ter regressado a Hong Kong e de ter feito revelações surpreendentes sobre os oito meses em que esteve detido no interior da China. Os cinco livreiros trabalhavam na mesma editora de Hong Kong, conhecida por publicar livros sobre a vida privada de líderes chineses e intrigas políticas na cúpula do poder, os quais são proibidos no interior da China. Os cinco desapareceram entre Outubro e Dezembro do ano passado - três dos quais quando se encontravam no interior da China, e outros dois quando estavam em Hong Kong e na Tailândia.

Cerca de seis mil

Lam Wing-kee, que na quinta-feira revelou pormenores da sua detenção numa conferência de imprensa em Hong Kong (ver texto secundário) liderou a marcha participada por vários deputados pró-democratas, entre a zona comercial de Causeway Bay e o Gabinete de Ligação da China. A organização da manifestação estimou em 6.000 o número de participantes, enquanto a

polícia indicou um máximo de 1.800 pessoas no período de maior adesão ao protesto. Manifestantes acusaram Pequim de violar o princípio ‘Um país, dois sistemas” por alegada aplicação da legislação da China em Hong Kong e actividade de agentes de segurança chineses na antiga colónia britânica.

“Pensávamos que o Governo de Hong Kong podia proteger as pessoas de Hong Kong. Não pode” Frederick Fung deputado pró-democracia “A livraria está localizada em Hong Kong, um sítio onde a Liberdade de expressão e de publicação é protegida. E o país (a China) está a usar a violência para destruir isso, porque quer reprimir a liberdade dos residentes de Hong Kong gradualmente. Não deixem isso acabar aqui”, disse Lam Wing-kee no sábado, durante a manifestação, segundo o jornal South China Morning Post. LUSA/HM

Detalhes revelados

Confissão de livreiro terá sido preparada pelas autoridades chinesas

L

am Wing-Kee, de 61 anos, alega que foi detido depois de passar a fronteira de Hong Kong para a cidade chinesa de Shenzhen, à qual se deslocava para visitar a namorada. O livreiro diz que lhe foi comunicado que ele tinha cometido o crime de distribuição e envio de livros proibidos para a China. Depois de voltar esta semana a Hong Kong, Lam Wing-Kee deu na quinta-feira uma

conferência de imprensa, revelando pormenores dos oito meses em que permaneceu detido sem acesso a advogado ou ao contacto com a família. Afirmou ainda que a sua confissão de crimes, transmitida na televisão estatal, foi orquestrada pelas autoridades chinesas. Lam Wing-Kee disse que tinha sido autorizado a regressar a Hong Kong na terça-feira sob a condição

de dois dias mais tarde atravessar novamente a fronteira para a China, com o disco rígido do computador com a lista de clientes da livraria. O livreiro diz que desobedeceu às ordens de Pequim, preferindo não entregar os registos dos clientes e falar abertamente do seu caso.

Palavras ditas

Pequim rejeitou as acusações de Lam, argumentando que o

livreiro violou a legislação da China e que por isso tem o direito de prosseguir com o caso. Por sua vez, Lee Bo, o único livreiro que desapareceu a partir de Hong Kong, sem que haja registo de que atravessou a fronteira, mantém o que já tinha dito anteriormente à imprensa sobre o seu caso, afirmando que está simplesmente a ajudar a investigação das autoridades chinesas.

Novamente em Hong Kong, Lee Bo refutou as declarações de Lam, negando que tenha sido levado para o interior da China contra a sua vontade. O caso de Lee Bo gerou especial polémica por receios de que tivesse sido sequestrado por agentes chineses no território de Hong Kong, o que constituiria uma violação da declaração conjunta assinada com Pequim para a transferência da soberania, que protege o modo de vida de Hong Kong até 2047.


h artes, letras e ideias

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Paulo Maia e Carmo tradução e ilustração

guo xi

Tem sido dito pelos antigos que «a poesia é uma pintura invisível, e a pintura é um poema visível»1. Muitas vezes os filósofos discutiram este tema e ele tem sido o meu princípio orientador. De tal modo que nas minhas horas de ócio, eu muitas vezes procurei a poesia das dinastias Qin e Tang bem como dos modernos, e assim descobri que nalgumas destas mais belas linhas estão inteiramente expressos os mais profundos pensamentos da alma humana, ou os que mais vivamente descrevem o panorama que se apresenta diante dos olhos humanos. No entanto, a não ser que eu esteja em paz e sentado descontraidamente, com janelas limpas, uma mesa sem pó, o incenso a arder e dez mil preocupações afogadas e amansadas, não serei capaz de entrar na disposição e no sentido íntimo das mais belas linhas, ter pensamentos valiosos, e imaginar os sentimentos subtis que nelas se exprimem. O mesmo é verdade em relação à pintura. Não é fácil entender o seu sentido. Quando estou receptivo e unido ao que me rodeia, e consegui a coordenação perfeita entre o espírito e a mão2, então começo a pintar livre e habilmente tal como exige o critério próprio da arte. Os homens de hoje em dia, porém, deixam-se levar pelos seus impulsos e sentimentos, e precipitam-se ao finalizarem as suas obras.

1 - Tópico que se irá tornar habitual na literatura sobre a pintura e que aqui é exemplar. Se é certo que o assunto passa para a língua corrente onde é comum o uso da metáfora «poema mudo» ou «poema visível» para dizer «pintura», a verdade é que a relação complementar entre aa duas artes é complexa. De notar que a crítica de pintura valorizará o vazio «xu» enquanto a crítica literária acentua o valor do concreto, ou cheio «shi» do mundo visível.

2 - Zhuangzi: «O que a mão realiza responde ao que lhe dita o coração.», (Cap. XIII) Conclusão que se retira de algumas narrativas que se encontram em Zhuangzi e que mostram que aquilo que é percebido como uma habilidade não deriva de uma técnica que se aprenda mas resulta de uma operação do espírito, como a do cozinheiro do príncipe Wen Hui que usava a faca de forma assombrosa, ou o trabalho do carpinteiro que fazia rodas tão perfeitas que não saberia ensiná-lo a nenhum discípulo, nem mesmo ao seu filho.

«Linquan Gaozhi»

A Grande Mensagem Sobre Florestas e Nascentes


15 hoje macau segunda-feira 20.6.2016

Amélia Vieira

W.B. Yeats versus Fernando Pessoa D

IA 13 de Junho assinala o nascimento de dois poetas que marcaram o seu tempo e a modernidade da sua época: Yeats e Pessoa. O primeiro nasceu em 1865, o segundo em 1888; vinte e três anos de diferença na segunda metade de um século absolutamente prodigioso em gentes; um, irlandês protestante, outro, português com grande influência inglesa. Evidentemente que estamos na presença de dois co-aniversariantes lendários e com muitíssimas afinidades, não tanto na obra mas na maneira como a perspectivaram. Yeats era um protestante de minoria, dado que era irlandês; Pessoa um judeu de origem beirã, outra minoria, ambos grandes esotéricos, fazendo parte, Yeats, da « Dublin Hermetic Society» e da rosacruciana «Hermetic Order Of Golden Dawn». Nestes temas se debruçou também até à saciedade Pessoa. Ambos politicamente conservadores tendo deixado testemunho nos ensaios de pensamento social. Este conservadorismo tem muito pouco de político, entenda-se, e nada de retrógrado no sentido documental. Têm da poesia uma concepção clara e leve, tanto, que o branco abunda em Yeats, a matéria de asa e de ave, e Pessoa, uma profunda harmonia transparente num descarnamento tão belo, que só quem está povoado de espírito pode assim manifestar-se. São por vezes um pouco magos quando apresentam os seus brancos fantasmas - pois que todos eles são brancos - e quase sempre essa figura demiúrgica do sábio nos avassala em várias destas leituras, tendo ficado a dever o segundo à influência anglo-saxónica nestas lides que o ligam ao outro. No nosso imaginário existe sempre um povo vestido de branco com transposições de Magos Merlin, Genevièves e cavaleiros... E foi Afonso III quem nos legou em parte a matéria da Bretanha, até pela unificação do seu reinado. Com ela vieram os nevoeiros e também o leito do rio imaginário até Sebastião, embora muitos afirmem que é de origem messiânica, certo é que a luz se coou enquanto matéria onírica. Pessoa irá fazer dele um anátema - Portugal, hoje és nevoeiro. É a Hora ; Yeats, remete-nos para as “Aves Brancas voando sobre a espuma do mar”. Mais inefável que a imagem dos poetas não há, lembrar contudo que a Terra já fora algures um fino invólucro de gases e que essa memória pode ainda estar inscrita,

“A nona sinfonia não é mais que uma fase da Lua, a virgindade renovase com ela. E de sinfonia a novena, vai o olhar dos poetas caminhando” também, em raros deles.” Encoberto” talvez, por uma matéria gasosa cuja finitude é igual a outra qualquer matéria. Se para muitos o hermetismo Pessoano é quase severamente desconhecido, mesmo literalmente, certo é que o de Yeats não o é menos, e para tanto vamos a outra faceta que uniu também os dois homens: a escrita automática. Foi nela que eles permaneceram algum tempo como revelação conotados ao escritor desconhecido de si mesmos. Yeats desenvolve um sistema de símbolos geométricos apontando o que as “vozes” lhe ditavam e Pessoa descobre-a naquele 8 de Março depois de chegar a casa onde de um folego escreve então trinta e tal poemas. Os

símbolos de Yeats dão lugar aos símbolos zodiacais de Pessoa e de tal ordem o paralelismo é grande que aqui, e sobretudo aqui, eles separam-se do resto das coisas vãs. Perscrutando, sabemos das suas ausências no meio de todos, pois que tinham estabelecido linguagens apuradíssimas com elementos onde alguma solidão impera. O mundo, e muito bem, não está para grandes desvios ou mesmo perda de tempo com o incognoscível. Daí ser tudo muito interessante, mas se há mais poetas para que complicar o que é simples? Não. Não há nada mais poetas, estes são-no, excepcionalmente, e por outro lado nada é simples, dado que nada das outras gentes assim catalogadas têm ou terão al-

guma coisa a ver com isto. Nesse lixo transversal que envergonhará certamente no além os seus nomes, o adjectivar quer dizer ainda alguma coisa. A treze, sim, e sem Pastorinhos, que muito me admiro do silêncio de Pessoa perante tal fenómeno... talvez o ultrapassasse, um poeta é já uma aparição, um fenómeno no cimo da árvore da vida rodeado de meninos, dado que o melhor do mundo são as crianças, não será? Mas, e pensando no impacto social, não me espantaria se ainda pudesse aparecer qualquer coisa neste sentido, Pessoa, como sabem, está sempre a acontecer, a escrever, a dizer, o facto de ter morrido nada interessa, os poetas não morrem e mais outras verdades simples e muita frase errada tentado passar-se por ele. Em «Uma Visão», Yeats cria uma chave interpretativa na forma de um sistema de símbolos e diagramas para a sua poesia, combinando também sistemas astrológicos, mas sobretudo ocultistas, sim, são tabelas inteiras com as fases da Lua, e com passagens iniciáticas por fases numéricas. Pessoa escreve versos na base do conhecimento da sua carta astral, sobretudo a posição de Saturno, e quando nos aparece a expressão súbita do “astro baço” ou os três anéis nós sabemos que pensa em Gomes Leal, nascido neste dia e à mesma hora e que Saturno está presente como uma lâmina e que ele não sai de um certo saturnismo. Para tanto é preciso ir conhecê-los aos fundos abismos e estar com eles como se fôramos irmãos. Nada sei do Saturno de Yeats, mas parece-me bem mais feliz, ele, que viajou, casou, andou, proclamou, mas sempre com a alma branca de um fantasma celta, tão nórdico, como sefardita era a sombra de Pessoa, e nesta via mágica, neste deambular de sonhos, dado que vivemos por ele, há um dia que os une na encruzilhada de um desígnio. Pensei neles com carinho, como se faz com as sombras, indelevelmente e sem enunciar, não fosse trocar alguma pergunta que só um pudesse dar, afinal o dia é aziago.. E se o é, há azares muito bons, e males que felizmente perduram. A nona sinfonia não é mais que uma fase da Lua, a virgindade renova-se com ela. E de sinfonia a novena, vai o olhar dos poetas caminhando. « Já chegou a tua hora, já sopram os teus ventos, Longínqua, tão secreta e inviolada Rosa?».


16 Publicidade

hoje macau segunda-feira 20.6.2016

AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO PREDIAL URBANA 1.

A única prestação da Contribuição Predial Urbana referente ao exercício de 2015, é cobrada nos meses de Junho, Julho e Agosto do ano corrente.

2.

No mês de pagamento, se os Srs. contribuintes não tiverem recebido o conhecimento de cobrança, agradece-se que se dirijam ao NÚCLEO DE INFORMAÇÕES FISCAIS, situado no r/c do Edifício “Finanças”, ao Centro de Atendimento Taipa ou ao Centro de Serviços da RAEM, trazendo consigo o conhecimento de cobrança ou fotocópia do ano anterior, para efeitos de emissão de 2.ª via do mesmo. Por outro lado, os contribuintes, que sejam titulares do Bilhete de Identidade de Residente da RAEM, podem recorrer aos quiosques desta Direcção dos Serviços para efectuarem a impressão de 2.ª via do conhecimento de cobrança pessoal. O pagamento pode ser efectuado, até ao último dia do mês indicado no conhecimento de cobrança (Junho, Julho ou Agosto), nos seguintes locais: - Nas Recebedorias do Edifício “Finanças”, do Centro de Atendimento Taipa, do Centro de Serviços da RAEM ou do Edifício Long Cheng; - Os impostos/contribuições podem ser pagos por intermédio de cartão de crédito ou de débito emitidos pelo Banco da China ou pelo Banco Nacional Ultramarino (incluindo “Maestro” e “UnionPay”). O valor total de pagamento não pode ser superior a MOP$100.000,00 (cem mil patacas), sendo apenas permitido utilizar na operação um único cartão. Pode-se também optar pelo pagamento através do cartão “Quick Pass”, sendo que o valor total de pagamento não pode ser superior a MOP$1.000,00 (mil patacas). - Nos balcões dos Bancos a seguir discriminados: Banco da China Banco Comercial de Macau Banco Delta Ásia Banco Industrial e Comercial da China Banco Luso Internacional Banco Nacional Ultramarino Banco Tai Fung Banco OCBC Weng Hang Nas máquimas ATM da rede Jetco de Macau, assinaladas com a indicação <<Jet payment>>; - - Por pagamento electrónico [“banca-on-line”]: Banco da China Banco Luso Internacional Banco Nacional Ultramarino Banco Tai Fung Banco OCBC Weng Hang - Por pagamento telefónico “banca por telefone” : Banco da China Banco Tai Fung Se o pagamento for efetuado por meio de cheque, a data de emissão não pode ser anterior, em mais de três dias, à da sua entrega nas Recebedorias da DSF, e deve ser emitido a favor da <<Direcção dos Serviços de Finanças>>, nos termos das alíneas 2) e 3) do n.º 1 do Artigo 4.º do Regulamento Administrativo n.º 22/2008. Se o valor do cheque for igual ou superior a MOP$ 50.000,00, deverá o mesmo ser visado, nos termos da alínea 4) do Artigo 5.º do Regulamento Administrativo acima mencionado. Os contribuintes podem também efectuar o pagamento através do envio de ordem de caixa, cheque bancário ou cheque por correio registado para a Caixa Postal 3030. Não é possível enviar dinheiro, mas apenas ordem de caixa, cheque bancário ou cheque, devendo incluir-se um envelope devidamente selado e endereçado ao próprio contribuinte, a fim de se enviar posteriormente o respectivo conhecimento, comprovativo do pagamento. Note-se que devem ser respeitadas as regras descritas no ponto 4, relativamente aos cheques: - O envio para a caixa postal deve ser feito 5 dias úteis antes do termo do prazo de pagamento indicado no conhecimento de cobrança. Nenhum dos métodos acima mencionados acarreta quaisquer encargos adicionais aos contribuintes pela prestação do serviço de cobrança. Para a sua comodidade, evite pagar os impostos nos últimos dias do prazo. Aos 27 de Maio de 2016.

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O Director dos Serviços Iong Kong Leong


17 hoje macau segunda-feira 20.6.2016

tempo

?

nebulado

O que fazer esta semana Diariamente

min

28

max

32

hum

65-90%

euro

9.01

baht

Exposição “Arts Fly” Broadway Macau (até 28/06) Exposição “Artes Visuais de Macau” Instituto Cultural (até 07/08) Exposição “Tibet Revealed” Galeria Iao Hin (até 20/06)

o cartoon steph

Exposição – “Traços de Tinta sem Pincel” – Yang Yimo Centro Unesco de Macau – (até 21/06) Exposição “Exposição do 70º Aniversário” - Han Tianheng Centro Unesco de Macau – (até 07/08)

C i n e m a

Solução do problema 109

problema 110

Um DISCO hoje

Sudoku

de

Exposição – “Cnidoscolus Quercifolius” - Alexandre Marreiros Museu de Arte de Macau (até 31/07)

Cineteatro

yuan

1.21

As coisas cá da terra

Exposição “Edgar Degas – Figures in Motion” MGM Macau

Exposição “Reminescent – Portugal Macau” Galeria Dare to Dream (até 22/07)

0.22

aqui há gato

Exposição “Unamed” e concerto de Sylvie Xing Chen Fundação Rui Cunha (até 25/06)

Exposição “Dinossauros em carne e osso” Centro de Ciência de Macau (até 11/09)

(f)utilidades

Poderia supor-se que numa terra que dá dinheiro aos seus residentes (provavelmente a única no mundo!) todos iriam a correr buscar esse dinheiro. Mas aqui o que é óbvio para o resto do mundo não o é para nós. A verdade é que há ainda 250 milhões de patacas por levantar em dinheiro dos cheques pecuniários. 250 milhões! Quem é que ganha assim tão bem que descarta um cheque dado de mão beijada? Pois eu respondo: todos os que ganham bons salários (e são muitos) e que não precisam deste quinhão que Chui Sai On continua a querer dar-nos. Cá na terra continuam a ouvir-se umas vozinhas pequeninas de austeridade (deixem-me rir) e continuam a cortar-se em muitas coisas sem nexo, mas mantém-se os cheques que servem todos, mesmo aqueles que não precisam desse dinheiro. Para quando um abrir de olhos? A Suíça chegou a propor a cedência de cerca de 20 mil patacas a cada residente como subsídio, mas a população recusou em referendo. Seria fácil garantir a subsistência de todos dessa forma, mas ainda assim recusou-se. Dá que pensar! Macau precisa de se pensar a si própria também porque, ao fim ao cabo, este dinheiro pode, de facto, ajudar muita gente, mas não seria melhor canalizá-lo para melhores sistemas educativos e de saúde? 250 milhões de patacas por levantar é mais uma das formas de desperdício. Pu Yi

The Black Keys (Turn Blue,2014)

Weight of Love é a música que abre o álbum Turn Blue, o oitavo trabalho, em estúdio, de The Black Keys. Foi um dos álbuns mais vendidos, nos Estados Unidos da América, em 2014, ano em que foi lançado. Mas outros países também se renderam ao trabalho deste duo de guitarrista e baterista, como por exemplo, o Reino Unido e a Austrália. “Fever” foi o primeiro single, que previa um excelente trabalho. Filipa Araújo

Now you see me 2 Sala 1

now you see me 2 [b] Filme de: Jon M. Chu Com: Mark Ruffalo, Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Lizzy Caplan 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 Sala 2

Alice through the looking glass [b] Filme de: James Bobin Com: Johnny Depp, Anne Hathaway, Mia Wasikowska 14.30, 16.30, 21.30

Alice through the looking glass [b][3d] Filme de: James Bobin Com: Johnny Depp, Anne Hathaway, Mia Wasikowska 19.30 Sala 3

Warcraft: The Beginning [c] Filme de: Duncan Jones Com: Travis Fimmel, Paula Patton, Ben Foster 14.30, 16.45, 21.30

Warcraft: The Beginning [c][3d] Filme de: Duncan Jones Com: Travis Fimmel, Paula Patton, Ben Foster 19:15

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Manuel Nunes; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


18 opinião

hoje macau segunda-feira 20.6.2016

José Pacheco Pereira in Público

John Huston, Victory (1981)

A Saturnália portuguesa

A

Pátria, que estava enfunada como um navio ao vento do largo, agora está de velas murchas pelo “empate”. Ronaldo disse umas gabarolices, nada de novo no contínuo linguajar de presidentes dos clubes, treinadores, jogadores, e recebeu a resposta que merecia do treinador islandês: “Queriam ganhar? Jogassem melhor”. Parece-me sensato. Mas a sensatez tem pequeno papel nestes dias. Parece que até no exame de filosofia se

“Indiferentes à sucessiva entrega de Portugal às fatias aos angolanos e aos chineses e mesmo aos espanhóis, guardamos a nossa fanfarronice para a bola salvífica” falou de futebol e do “igualitarismo”. Não vi o ponto, à data em que escrevo, mas conheço bem demais a questão que periodicamente os intelectuais do futebol, que há muitos, trazem

para justificar tudo: o futebol iguala os ricos e os pobres na mesma Saturnália emocional e irracional, uma espécie de espasmo, para não lhe chamar outra coisa, colectivo, que revela a “alma” de um povo que, de um modo geral, está dividido e desalmado. A sucessão de imagens fabulosas dos políticos portugueses a prestarem honras a esta nova forma de altar da Pátria, a bola, é o sinal de um unanimismo desejado que, como é evidente, a democracia não contém no plano político. Deixou de haver Benfica, Sporting, Porto, somos todos da Selecção, esse local ideal da ausência do conflito, da paz perpétua. Mas que fabuloso retrato de Marcelo e Costa, na encarnação do Senhor Feliz e do Senhor Contente, nos autógrafos ao Ronaldo e de Passos Coelho zangado, firme e hirto numa sucessão de fotografias que o PSD

colocou no seu site e que é um dos melhores espelhos do “estado” do partido. Nelas, na sede do PSD, em sucessão hierárquica de importância medida pela distância de cada mesa e cadeira ao Poder, sem qualquer espontaneidade, numa postura norte-coreana, destoa apenas um homem sem cachecol, o verdadeiro líder, Passos Coelho fardado de Primeiro-ministro com a célebre bandeirinha à lapela. Pôr cachecol tornava-o igual aos outros, tirava-o do pedestal. Ao ver estas fotos, apeteceu-me gritar “volta Lopes, estás perdoado!” Se me pedirem que descreva o Portugal político destes dias, aqui está ele em todo o seu esplendor – Quem lhe tirou o la minute foi o futebol. Mas pobre retrato este, dos retratados e do fotógrafo invisível. No pacote vêm todas as ambiguidades da nossa vida colectiva, povo, media e política, todos demasiado iguais na objectiva futebolística, mistura de oportunismo, ou seja, escolha de oportunidades que não se podem falhar, cegueira, apologia da irracionalidade numa sociedade que tanta falta tem de racionalidade, brutalidade, e alarvidade, desculpa pela violência, encolher de ombros perante a alternância bipolar entre a gabarolice antes e a depressão depois, como se o destino de tudo dependesse do sucesso do futebol, para Portugal ser grande de novo. Indiferentes à sucessiva entrega de Portugal às fatias aos angolanos e aos chineses e mesmo aos espanhóis, fazendo de conta que não vêem que já somos governados por gente em que não votamos e que não controlamos e que não responde perante os portugueses, guardamos a nossa fanfarronice para a bola salvífica. Não somos únicos nesta atitude, mas com os males dos outros eu cuido, mas não agora. Agora é com os nossos males escondidos atrás dos urros, da cerveja, do folclore do vestuário, dos vikings de cornos de borracha. A ideia peregrina e até um pouco salazarista, embora com expressão também à esquerda, de que na “festa” se encontram os “desiguais”, está bem para a gentry inglesa ou para os vários Lampedusa do sul ou para a nossa nobreza cavalar que bebe uns copos entre cavaleiros tauromáquicos de nome velho (ou que parece velho, como me dizia o meu avô) e os campinos e os forcados, mas é puramente ilusória, ou melhor, intencionalmente ilusória. O que é “desigual” continua desigual. E basta olhar para as imagens das gentes à saída ou à entrada dos jogos, para ver as tias e os betos e o mecânico de automóveis e a caixa de supermercado, mesmo quando todos estão de cachecol, cara pintada, e de chapéus com cornos. A desigualdade é uma coisa tramada, cola-se à pele e não há maneira de a tirar, a não ser “igualando”.


19 hoje macau segunda-feira 20.6.2016

opinião

macau visto de hong kong

Chovem Benesses

Eric Darnell, Madagascar 3: Europe’s Most Wanted (2012)

david chan

N

o passado dia 5 o website “Yahoo, Hong Kong” anunciou que na Suíça tinha sido apresentada uma proposta para distribuição de 2.500 USD mensais aos cidadãos. Este valor seria atribuído a todos os maiores de 18 anos. Aos menores caberia a quantia mensal de 625 dólares. Mesmo as pessoas com emprego teriam direito ao subsídio. A proposta data de 2013. A legislação suíça prevê que no caso de uma proposta de lei ter sido assinada por um mínimo de100.000 pessoas, deverá ser submetida a sufrágio nacional. Os apoiantes da proposta defendiam que este valor poderia garantir a manutenção dos direitos básicos e da dignidade dos cidadãos. A partir do momento em que recebessem este valor, as pessoas poderiam deixar de trabalhar e passar a dedicar-se a qualquer actividade que desejassem; como por exemplo,

o estudo, o empresariado ou, simplesmente, usufruir da companhia dos familiares. Os defensores da ideia acreditavam ainda que a proposta poderia reduzir a carga de responsabilidades do Governo no que concerne à gestão do fundo de aposentações, seguros laborais e Segurança Social. O ano passado, os adeptos da moção organizaram um sorteio para promover a ideia e Carole foi a vencedora. O prémio consistia na atribuição mensal de 2.500 dólares, ao longo de 12 meses. Logo após receber esta benesse Carole voltou a estudar. Actualmente, o subsídio de sobrevivência na Suíça é de 2.219 dólares mensais e abrange cerca de um oitavo da população. Mas os opositores da ideia argumentaram que a distribuição desta soma aumentaria muito a carga financeira do Governo, avaliada para 2016 em 660 biliões de dólares. Se a proposta tivesse sido aprovada a despesa teria aumentado para 2.080 biliões. Sabem qual foi o veredicto final? “Rejeitada”. Mais de 70% dos cidadãos opôs-se à proposta de distribuição de dinheiro. Mas a história não se fica por aqui. Na Finlândia será apresentada uma proposta semelhante em 2017, mas a quantia a distribuir será inferior e a atribuição condicional.

Por outras palavras, a distribuição ficará dependente de certas condições. Não é surpreendente que este projecto de lei tenha sido rejeitado. O resultado indica claramente que a maior parte dos cidadãos é consciente. É fácil perceber que se toda a gente tiver dinheiro sem precisar de trabalhar, o Governo não vai conseguir angariar impostos. Imaginemos que depois de descontar os impostos o contribuinte fica apenas com 25% dos seus ganhos, os outros 75% vão para o Estado. Se você estivesse na pele deste contribuinte teria motivação para continuar a trabalhar? Perante esta situação toda a economia do País colapsaria. É sabido que em Macau todos os residentes recebem anualmente uma certa quantia. Nos últimos anos o valor tem rondado as 9.000 patacas per capita. No entanto este valor não se compara aos 2.500 dólares mensais da proposta suíça. Em primeiro lugar, o valor distribuído em Macau é encarado como um bónus, ou subsídio. Não é um pagamento mensal e não permite que as pessoas deixem de trabalhar. A distribuição desta verba aos residentes não aumenta a despesa do Governo de Macau. Em segundo lugar, ninguém está à espera das 9.000 patacas anuais para sobreviver, é um

valor que os residentes podem poupar ou gastar, como melhor entenderem. Esta distribuição é um acto benéfico para os habitantes de Macau. Contudo, é necessário voltarmos um pouco atrás. Este tipo de pagamento proporciona felicidade aos residentes individualmente, mas não beneficia de forma significativa a sociedade em geral. Por exemplo, se colocássemos o total destas verbas na Segurança Social, garantiríamos melhor qualidade de vida aos cidadãos com mais de 65 anos. Nessa altura as 9.000 patacas darão provavelmente mais jeito. Independentemente da forma como é feita, a distribuição de dinheiro é sempre boa para os residentes. Mas se se transformar num pagamento regular a longo prazo, passa a ser negativa. E se este pagamento acarretar um grande aumento da despesa do Governo, então será muito mau para a sociedade em geral. A ideia de distribuição de dinheiro na Suíça é boa, mas dá origem a muitos problemas. É o tipo de distribuição que não pode ser facilmente implementado.

Consultor Jurídico da Associação de Promoção do Jazz de Macau legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


“ Tóquio adverte Pequim contra nova incursão nas águas territoriais

O

pub

Governo do Japão advertiu Pequim de possíveis medidas militares se algum navio chinês voltar a aproximar-se ou entrar nas suas águas territoriais, disseram fontes de Tóquio à agência nipónica Kyodo. A mensagem foi transmitida pelo vice-ministro japonês dos Negócios Estrangeiros, Akitaka Saiki, ao embaixador da China no Japão, Cheng Yonghua, durante uma conversa mantida entre ambos, no dia 9 de Junho, após a aproximação de uma fragata chinesa às disputadas ilhas Senkaku/Diaoyu, segundo as citadas fontes governamentais. O responsável japonês aludiu assim à possibilidade de o exército intervir e poder recorrer a armas em casos que representam uma ameaça para a demarcação territorial do país. Na quinta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros japonês, Fumio Kishida, manifestou preocupação pela “escalada unilateral das acções da China” em águas próximas ao Japão, e advertiu que o país está “plenamente preparado para proteger o seu território”. A 15 de Junho, um navio chinês militar realizou uma breve incursão em águas nipónicas japonesas perto da pequena ilha de Kuchinoerabu (sudoeste do país), uma semana depois da aproximação às ilhas Senkaku/ Diaoyu, cuja soberania é disputada por ambos os países. A disputa territorial entre a China e o Japão em torno das ilhas tem décadas, mas agravou-se em Setembro de 2012, depois de Tóquio ter anunciado a compra de três dos cinco ilhotes do pequeno arquipélago, de apenas sete quilómetros quadrados, administrado, de facto, pelo Governo japonês. O arquipélago desabitado, mas potencialmente rico em recursos minerais, fica no Mar da China Oriental, a cerca de 120 milhas náuticas de Taiwan, que também reclama a sua soberania, e a 200 milhas náuticas de Okinawa, no extremo sul do Japão.

“Parto amanhã / mas fica o resto de mim / que não levo / comigo / e vocês / que não vão / PEÇO / cuidem bem / do meu bem / que cá fica / doado /a este caminho / nosso” Carolina de Jesus

Nuclear GOVERNO PÕE AS MÃOS NO NÚCLEO

Taishan, meu amor O Executivo trouxe os responsáveis da Central de Taishan para descansar a população. Estes dizem ter gasto milhões em segurança e não vêem perigo. Wong Sio Chak garante que Macau não precisa de plano de evacuação apenas de descontaminação.

O

G o v e r n o de Macau disse na passada sexta-feira que a região está preparada para responder a um eventual acidente nas centrais nucleares chinesas, embora precise de novos equipamentos para medir os índices de radioactividade, tendo já ordenado a sua aquisição. Os esclarecimentos foram dados pelo Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, num encontro com jornalistas sobre a construção da central nuclear de Taishan, que tem gerado preocupação em Macau e Hong Kong, depois de meios de comunicação social terem noticiado que a unidade apresenta problemas que podem levar à ocorrência de acidentes. Wong Sio Chak insistiu em que Macau tem um plano de contingência em caso de acidente nuclear que foi revisto pela última vez em 2011 e que está disponível nas páginas oficias do Governo de Macau, mas apenas em chinês que, assegurou, será em breve traduzido e disponibilizado também em português. O HM foi à procura do plano em chinês mas apenas descobriu um enunciado onde se refere que

“como Macau se situa 20 quilómetros fora da zona de exclusão definida pela Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA) não tem planos de evacuação mas apenas de descontaminação para alimentos e importados dos lugares onde situados numa área de 100 quilómetros”. Apesar dos detalhes do plano não serem ainda conhecidos, o Secretário disse que vai de novo ser revisto, num processo que envolve mais de 40 entidades, mas garantiu que o documento tem como referência as directrizes internacionais no que toca à segurança nuclear.

De primeiro nível

Neste encontro com jornalistas estiveram responsáveis do consórcio que está a construir a central nuclear de Taishan e especialistas da China (do Ministério de Protecção Ambiental, da Agência Nacional de Energia e do Gabinete de Gestão de Emergência da Autoridade de Energia Nuclear). Todos garantiram a segurança da central, sublinhando que todo o processo de construção, inspecção, testes e avaliação segue os padrões internacionais, não tendo sido, até agora, detectado qualquer problema.

Questionados sobre a mudança legislativa em França determinada por terem sido detectadas potenciais falhas nos reactores adquiridos para Taishan (fornecidos pela francesa AREVA) os responsáveis não foram explícitos na resposta. Ou seja, os reactores terão sido adquiridos antes das falhas terem sido notadas e, agora instalados, não podem ser submetidos a testes pois estes são destrutivos. Em contrapartida, disseram apenas que os reactores têm três coberturas de protecção e oito níveis de segurança com um recipiente especial concebido para o caso do núcleo derreter, garantindo terem investido “milhões de renminbis em segurança. A central de Taishan, é um projecto fruto de uma parceria sino-francesa – entre a China Guangdong NuclearPower (CGN) e a Électricité de France (EDF) –, pretende iniciar operações dos dois reactores no próximo ano. A 1 de Junho, a maior associação pró-democracia de Macau acusou o Governo de não ter noção do risco de um eventual problema na central e exigiu o anúncio de planos de contingência. Manuel Nunes

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segunda-feira 20.6.2016

Rússia Naufrágio de dois barcos em lago mata 10 crianças

Pelo menos dez crianças morreram ontem após o naufrágio de dois barcos num lago de Karelia, região no noroeste da Rússia, um acidente possivelmente provocado pelo mau tempo que atinge a zona, informaram fontes locais. Outras 11 pessoas, na maioria crianças, conseguiram sair com vida do incidente, segundo um porta-voz do Ministério para as Situações de Emergência da Rússia, citado pela agência Interfax. As equipas de resgate continuam à procura de sobreviventes, já que, segundo várias fontes, ainda estão desaparecidas cinco pessoas. Uma fonte policial disse à Interfax que uma adolescente de 16 anos conseguiu chegar nadando à margem do lago. Até agora, segundo a fonte, foram recuperados os corpos de seis vítimas do acidente. Segundo o Ministério para Situações de Emergência na Rússia, os dois barcos faziam uma excursão turística. Os responsáveis pelo serviço não informaram as autoridades sobre o passeio, apesar da divulgação de um aviso de condições atmosféricas adversas na região. «Havia tempestade. Tinha sido enviado com antecedência, por SMS, um aviso sobre as más condições», disse um porta-voz do ministério.

Paquistão Casal morto por familiares por questão de honra

Uma mulher grávida e o marido foram raptados e mortos a tiro por familiares que não aprovaram o seu casamento, foi ontem anunciado pela polícia como sendo o último de vários casos de morte no Paquistão por questões «de honra». O casal foi morto na quarta-feira perto da aldeia de Thikriwala, na província do Punjab, e os corpos foram encontrados posteriormente, durante a limpeza de um canal. A mulher, Aqsa Bibi, tinha 22 anos, e o homem, Shakeel Ahmed, tinha 26. Trabalhavam ambos na farmácia local e tinham casado há quatro anos, numa cerimónia civil.


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