DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
hojemacau
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HOJE MACAU
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
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QUINTA-FEIRA 21 DE JANEIRO DE 2016 • ANO XV • Nº 3497
Ter para ler
LEI SINDICAL VOLTA A SER CHUMBADA
Sétimo selo ÓBITO
Arquitectura perde brilho NUNO TEOTÓNIO PEREIRA (1926-2016)
EMPREGO
Quem quer vir trabalhar? GRANDE PLANO
OPINIÃO Ser macaio Como a gente (é) muda... FERNANDO ELOY
LEOCARDO
PORTO INTERIOR
Barcos sem fronteiras PÁGINA 6
ENSINO SUPERIOR
Vinde a nós estrangeiros PÁGINA 7
Pela sétima vez um projecto de Lei Sindical subiu à Assembleia Legislativa para aprovação e pela sétima vez foi rejeitado. O documento recebeu 12 votos a favor, 18 contra e contou ainda com a abstenção do deputado Leonel Alves. PÁGINA 4 www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau
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EMPREGO GRUPOS EMPRESARIAIS COM VAGAS SEM NINGUÉM PARA AS PREENCHER
A feira de emprego do IFT começou ontem e acaba hoje. As empresas representadas não têm dúvidas: há uma série de vagas, mas ninguém para as preencher. E a culpa é da “competitividade do mercado”
“Às vezes deparamo-nos com a falta de pessoal que não se importa de começar por baixo, em posições abaixo da administração. A ideia geral dos recém-formados é que os lugares de administração e gerência estão abertos para todos os qualificados, mas a indústria hoteleira não funciona assim” EMILY TANG, GERENTE ASSISTENTE DE RECURSOS HUMANOS DO SOFITEL
“Por alguma razão que desconheço, é bastante difícil contratar pessoal a tempo inteiro, seja devido à baixa taxa de desemprego ou à posição oferecida” REPRESENTANTE DE UM GRUPO HOTELEIRO
IFT
GRANDE PLANO
ONDE ANDAS, H
Á, na indústria hoteleira local, bastante procura de pessoal qualificado na área de Gestão, Culinária e Logística. No entanto, poucos têm disponibilidade para trabalhar a tempo inteiro e por isso mesmo as empresas começam a resignar-se e abrir vagas de part-time para atrair talento local. Mas nem sempre são bem sucedidas. É o que defendem alguns empresários ouvidos pelo HM. O Instituto de Formação Turística (IFT) organiza, desde ontem e até hoje à tarde, uma feira de emprego destinada à indústria hoteleira local que procura a fornada anual de recém-formados desta instituição. Em declarações à imprensa, a presidente do IFT, Fanny Vong, disse estar “confiante” de que uma iniciativa deste género possa ajudar à aproximação entre patronato e recém-licenciados. “Há mais hotéis a abrir no futuro e estes vão precisar de mão-de-obra. A acrescentar a isso está o facto de que a taxa de empregabilidade aqui ser muito reduzida”, começou por dizer. “Temos vários alunos do 3º ano a fazer estágios, o que lhes dá vantagem sobre aqueles que tentam entrar sem experiência.” Mas, a verdade é que são basicamente sete cães a um osso, de acordo com a explicação de Tommy Cheang, da empresa de retalho Richemont. Tanto este como um outro grupo hoteleiro presente na feira – que prefere não ser identificado – lidam com um problema imperceptível a olho nu. “Estamos à procura de estudantes que estejam a frequentar cursos relacionados com a indústria hoteleira e que pretendam integrar a nossa equipa. Esta é uma das áreas de mercado mais competitiva e, infelizmente, só o IFT é realmente profissional ao nível da Hotelaria”, começa por explicar. Além da esmagadora maioria dos jovens só terem o certificado na mão no Verão, poucos pretendem arranjar um emprego a tempo inteiro. O representante da empresa em anonimato confessa, por isso, que o público-alvo da feira são os
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TALENTO LOCAL?
COMEÇAR POR BAIXO
A experiência, confessam, é essencial para iniciar uma carreira na área, mas há muitas oportunidades e torna-se difícil escolher. Isso mesmo disse Angela Lo, finalista do curso de Gestão Hoteleira. “Para já, prefiro arranjar um trabalho que me permita conhecer a indústria,
O
Inglês é, cada vez mais, uma ferramenta essencial quando chega a altura de passar o currículo para as mãos da entidade empregadora. Isso mesmo confirmam candidatos e empresas. Tommy Cheang acredita que conhecimentos de inglês ao nível da fluência são sempre uma mais valia. O gerente de uma outra cadeia, que preferiu não ser identificado, confessa que é no IFT que se encontram os alunos com melhores qualificações linguísticas. “Vimos procurar aqui no IFT porque é a escola que mais conhecimentos passa aos alunos”, confessa, não descredibilizando, contudo, o ensino oferecido em instituições académicas como a Universidade de Macau ou o Instituto Politécnico. Ainda assim, várias das vagas que podem ser encontradas online dão prioridade ao Cantonês e ao Mandarim como línguas essenciais, muitas vezes colocando o Inglês como opcional. O mesmo profissional defende que o que interessa é o contrário. “Tudo na nossa empresa é feito em Inglês, incluindo comunicados de imprensa, notas de administração aos trabalhadores e outras formas de comunicação, pela simples razão de que o patronato é geralmente nativo de Inglês”, esclarece. Estes podem ser australianos, britânicos, norte-americanos,
mas que não me ocupe a semana inteira”, confessou. Ao HM, disse ainda que procura trabalho na área administrativa, podendo ser em Comunicação, Eventos ou Relações Públicas. No entanto, de acordo com a gerente assistente de Recursos Humanos do Sofitel, Emily Tang, tal vontade pode constituir um problema. “Às vezes deparamo-nos com a falta de pessoal que não se importa de começar por baixo, em posições abaixo da administração. A ideia geral dos recém-formados é que os lugares de administração e gerência estão abertos para todos os qualificados, mas a indústria hoteleira não funciona assim”, explica. “É preciso começar por baixo, funciona muito com o esquema de
promoção por reconhecimento”, remata.
DE RECEPCIONISTA SE TORCE O TALENTO
Na feira estavam presentes não mais do que 15 stands, a esmagadora maioria de grupos hoteleiros e relacionados com a indústria do Jogo. Exemplo disso são a Accor – que detém o Sofitel em Macau e vários outros hotéis a nível internacional –, a Galaxy, a Sands China, a Melco Crown, o Louis XIII, hotel ainda por inaugurar, e a Richemont, entre outras. Algumas pretendiam somente promover-se no seio de potenciais empregadores, não estando neste momento a contratar pessoal. Havia ainda quem preferisse conhecer os interessados primeiro
e só depois proceder ao envio de um email com pedido de currículo. No entanto, grande parte estava a contratar pessoal através da entrega, no local, de currículo e outros documentos de identificação. Sarah e Anson chegaram juntos à feira e conheceram-se no IFT, onde completam agora o quarto ano. Finalistas, portanto. Ambos estavam ali para encontrar um “bom emprego”, mas, ao contrário do que Emily Tang explicou, nenhum se mostrou importado com o facto de ter que começar por baixo. “Estou à procura de emprego na área de assistente e administração, mas amanhã (hoje) quero apostar na entrega de currículos à Air Macau e ao St. Regis, para as posições de apoio ao cliente
TIAGO ALCÂNTARA
estudantes com vontade de trabalhar a tempo parcial. “Por alguma razão que desconheço, é bastante difícil contratar pessoal a tempo inteiro, seja devido à baixa taxa de desemprego ou à posição oferecida”, lamenta. A opção de part-time vem, assim, trazer aos alunos “a oportunidade de conhecerem o mundo hoteleiro” e “engordarem o mealheiro”.
Para estrangeiro ouvir Língua inglesa é cada vez mais pioritária
mas também da Malásia, Singapura e outros locais onde o Chinês não é a língua principal. O problema para a falta de falantes de língua inglesa em Macau está, na opinião do mesmo responsável, na falta de empenho das escolas básicas e secundárias.
“Acho que deve ser uma aposta das próprias escolas, porque as únicas línguas são o Mandarim e o Cantonês. Não é que isto seja mau, mas deve ser reforçado o ensino da língua”, defendeu. O dialecto de Shakespeare passa então para terceiro e até
quarto plano quando, na opinião de alguns profissionais da feira, deve ser essencial para promover Macau. Questionado sobre que trabalhadores devem saber Inglês, o gerente aponta uma necessidade premente para o pessoal de apoio ao cliente, porteiros, recepcionistas e pessoal de Comunicação.
EMPREGABILIDADE MÁXIMA
O Inglês é, para Sarah, a “primeira e mais importante língua” para quem
ou recepcionista”, afirmou Sarah, quando questionada pelo HM sobre o objectivo da visita à feira. O seu colega Anson está à procura de uma oportunidade a tempo inteiro, mas só depois de findo o curso. “Queria trabalhar na área de operações hoteleiras, desde recepcionista a empregado de F&B”, começa por dizer. Também o jovem considera que arranjar trabalho em Macau é “muito fácil”, já que “há sempre falta de pessoal qualificado”. Tal constitui uma mais-valia para ambos os lados: as empresas têm muito por onde escolher e os recém-licenciados vários endereços para onde enviar currículos. Leonor Sá Machado
leonor.machado@hojemacau.com.mo
pretender ocupar cargos de gestão e atendimento ao cliente, mesmo com uma percentagem maioritária de turistas do continente. “A segunda creio que seja o Mandarim, devido à quantidade de turistas da China”, continua. A finalizar a sua licenciatura, a aluna acredita que “é bastante fácil” encontrar emprego na região. A estudante atribui esta facilidade à quantidade avultada de casinos e hotéis. Alex Lu é das poucas empresas que ali está com efectiva intenção de contratar pessoal. Tanto para a empresa da qual é director-executivo, como para seus clientes. A Engage funciona como consultora de recursos humanos, agregando currículos e servindo de ponte entre empregados e empregadores. Até ao encerramento da feira, Lu prevê a entrega de cerca de centenas de currículos, mas apenas conta empregar cerca de dez pessoas. “Seis ou sete destas pessoas serão para a nossa empresa e os restantes, para empresas nossas clientes”, disse. Primeiro é preciso falar pessoalmente com cada um, depois proceder à selecção e perceber que posição se adequa a cada um.” Também aqui o Inglês desempenha um papel essencial. Lu aponta mesmo para uma importância “semelhante à do Mandarim”. L.S.M.
4 hoje macau quinta-feira 21.1.2016
Eles tentam, mas não conseguem. O projecto de Lei Sindical continua a não agradar aos deputados. Momento inoportuno, complicações para o investimento, pressões muitas foram as justificações dadas para reprovarem pela sétima vez o diploma
A
INDA não foi desta que o projecto relativo à Lei Sindical convenceu a Assembleia Legislativa (AL). Esta é a sétima vez que um projecto sobre este assunto é chumbado pelos deputados e desta vez não foi excepção: da responsabilidade dos deputados Kwan Tsui Hang, Ella Lei e Lam Heong Sang, o projecto reuniu 12 votos a favor, 18 contra e uma abstenção do deputado Leonel Alves. O estado da economia e, para alguns deputados, o facto dos direitos dos trabalhadores “já estarem” salvaguardados deram as justificações para mais um chumbo. Muitas foram as vozes que se elevaram contra a existência dessa lei, recorrendo a todas as razões possíveis. O deputado Tsui Wai Kwan, por exemplo, afirmou que a esta “lei vai afectar o investimento” numa altura em que Macau passa por uma “situação económica” frágil. O deputado nomeado pelo Chefe do Executivo acredita que regulamentar esta lei “em nada contribui para a promoção do trabalho”, tendo em
ARGUMENTOS
LEI SINDICAL REPROVADA POR 18 DEPUTADOS
“Ainda não é oportuno” conta que o que Macau precisa neste momento é de investimentos. “Se aprovarmos esta lei vamos assustar [os investidores]”, apontou. Não sendo o momento “oportuno” para os deputados – justificação que tem sido, aliás, a principal para a reprovação de projectos anteriores - esta lei vem ainda mexer, defendeu Tsui Wai Kwan, com a “relação patronal e laboral” que vive agora “uma fase harmoniosa”. “Não é a altura certa”, rematou. Por sua vez, o deputado Ma Chi Seng defendeu que esta lei deve surgir de uma vontade tanto do Governo como das partes interessadas. “Este projecto não convém ser apresentado só por uma das partes”, indicou o deputado nomeado, referindo-se ao facto dos deputados que apresentaram a proposta serem do sector Operário. O deputado sublinhou a necessidade desta ser uma legislação da vontade de todos.
DOIDOS À MESA
Com um discurso muito polémico e provocador esteve o
resolver” os problemas. “Ele [o Governo] não é inútil”, frisou.
PREJUDICAR OUTROS
Num discurso que parecia de apoio, a deputada Melinda Chan mostrou várias preocupações quanto à interferência que o projecto de lei poderá ter para com as “mais de seis mil associações do território”. “Isto poderá afectar os interesses das associações, não podemos afectar os interesses das outras associações que estão a funcionar há muito tempo. Também não podemos obrigar as associações a construir uniões”, refutou. Gabriel Tong também se mostrou muito reticente ao projecto apresentado pelos três deputados. “Acho que é preciso ter em conta a realidade de Macau. A vida das associações... é preciso ver. O que é que deve ser melhorado? Esta é a grande pergunta”, apontava, frisando que na sua opinião o projecto apresentado não era maduro o suficiente para aprovação. “É um bom direito, mas ainda precisa de maturidade, acho que há muitas
questões para seguir para a especialidade”, apontou. O autor de cinco projectos sobre o assunto, José Pereira Coutinho, não se mostrou muito convencido. “Este projecto tem coisas diferentes daqueles que já apresentei”, disse em plenário, aplaudindo, ainda assim, a iniciativa e mostrando-se completamente a favor. “Claro que aprovo, apesar do conteúdo ser diferente. Este é um passo dado para conseguir cumprir o dever e responsabilidade da Lei Básica”, disse, referindo-se ao artigo 27, que determina a liberdade dos residentes de Macau em “organizar e participar em associações sindicais e em greves”. “Somos legisladores, temos essa responsabilidade”, frisou. O deputadoAu Kam San assumiu que esta é uma lei que deve ser regulada e que a resposta ao momento certo nunca será encontrada. “Quando é que podemos avançar com a lei, então?”, indagou o hemiciclo. Au Kam San admitiu que nenhum projecto é perfeito na sua primeira apresentação, por isso é que depois existe a avaliação na especialidade. “Podemos discutir para melhorar a lei, para cuidar dos direitos dos trabalhadores e empregadores”, referiu. Ng Kuok Cheong, deputado, foi ainda mais longe e disse que se, caso a lei não fosse aprovada – como não foi –, o Governo deveria assumir a sua responsabilidade e avançar com uma proposta, cumprindo o que a própria Lei Básica indica. “Isto é lamentável”, apontou, referindo ao desinteresse claro por parte de alguns deputados. O Governo já disse ao HM, recorde-se, que está “aberto” à possibilidade, mas que ainda se encontra a estudar a ideia. Filipa Araújo
filipa.araujo@hojemacau.com.mo
• “Será mesmo necessário legislar? Já passaram tantos anos, não sei se isto é um vazio legal, porque se fosse já tínhamos sido pressionados pelo Governo Central. Será que estamos a violar a Lei Básica? Se tivéssemos, o país dizia alguma coisa” CHAN CHAK MO
tura da AL, onde a maioria dos deputados não foi escolhido por sufrágio universal e, por isso, não apoia [a lei]. Por outro lado, porque é que o Governo nunca apresentou a proposta de Lei Sindical? Porque não está a assumir a sua responsabilidade” NG KUOK CHEONG
• “Não são só os trabalhadores que levam uma vida árdua, os patrões também” FONG CHI KEONG
• “Noutras jurisdições nota-se que a Lei Sindical estimula o crescimento económico. Estão todos a olhar para esta lei como se fosse um mostrengo. Um sindicato não é uma arma”
• “Se a economia já esteve em alta e não se produziu esta lei, então só posso chegar à conclusão que se deve à estru-
deputado Fong Chi Keong que chegou a perguntar em plena sessão plenária se os deputados que apresentaram o projecto estavam “doidos”, “malucos” ou “tolos”. Começando o seu discurso com um “espero que esta lei seja aprovada” - mas não para já – Fong Chi Keong criticou severamente o projecto em causa. “Todo o conteúdo deste projecto... qualquer pessoa inteligente irá discordar destes artigos”, apontou. Referindo vários problemas, desde a dispensa de trabalho para participarem em reuniões sindicais, por exemplo, o deputado defendeu que esta não é altura para aprovar a lei. “Em Macau os trabalhadores nunca foram descriminados. Nunca foram tratados de forma injusta. Isto é uma realidade, verdade. É verídico”, apontou. Não existe, para o deputado, necessidade de recorrer a sindicatos quando o “Governo consegue
GCS
POLÍTICA
LAM HEONG SANG
UM DOS PROMOTORES DO PROJECTO
• “Disse que há empregados que se suicidam ou ameaçam suicidar-se por causa dos salários? Os empregadores também se suicidam por causa da falta de dinheiro. Deve ser o Governo a ser o interlocutor [entre os conflitos laborais]. Há sindicatos que são seitas, como no Japão” TSUI WAI KWAN • “Associações e sindicatos são coisas diferentes, as regras são diferentes e há leis diferentes. Não deve haver comparações entre as duas figuras, se não é perigoso. Podia ser que,
com a Lei Sindical, os trabalhadores a quem são devidos salários deixassem de ter de ir ao Gabinete de Ligação do Governo Central” LEONG VENG CHAI • “A lei não resolve o problema, mas a Lei Sindical só vai dar mais trabalho à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais e ao Conselho de Concertação Social” CHAN CHAK MO
√
VOTOS A FAVOR Ng Kuok Cheong, Kwan Tsui Hang, Ho Ion Sang, Leong Veng Chai, Si Ka Lon, Ella Lei, Song Pek Kei, Au Kam San, José Pereira Coutinho, Lam Heong Sang, Chan Meng Kam e Wong Kit Cheong
X
VOTOS CONTRA Zheng Anting, Ma Chi Seng, Lau Veng Seng, Sio Chi Wai, Mak Soi Kun, Melinda Chan, Gabriel Tong, Chan Iek Lap, Tsui Wai Kwan, Chan Chak Mo, Cheong Chi Keong, Vong Hin Fai, José Chui Sai Peng, Angela Leong, Vitor Cheong, Fong Chi Keong e Chui Sai Cheong
5 hoje macau quinta-feira 21.1.2016
Está aprovada na generalidade a revisão que vai fazer subir as penas para o consumo e tráfico de droga e para implementar testes de urina como prova. Gabriel Tong absteve-se, Leonel Alves pediu atenção às disparidades das penas
Droga DEPUTADOS APROVAM AUMENTO DE PENAS, MAS DEIXAM ALERTAS
Cerco mais apertado
abertura para um maior diálogo em sede de análise na especialidade. Em explicações, indicou que a revisão tem como propósito aumentar as penas para obrigar os consumidores a recorrerem ao processo de desintoxicação. “Agora a pena é curta e poucos optam pela suspensão e vão para a prisão”, apontou, adiantando ainda que a definição de cinco doses diárias poderá resolver uma das maiores dificuldades desta lei, que é como definir consumo de tráfico. Para os Serviços dos Assuntos de Justiça este método foi introduzido porque muitos traficantes estavam a conseguir ludibriar as autoridades e receber uma pena mais leve. Recorde-se que em causa está a elevação do limite mínimo de penas do consumo de três meses para três meses a um ano e do crime de tráfico de droga de três para cinco anos, mas mantendo o máximo de 15 anos. O crime de detenção indevida de utensílios ou equipamentos passa a ser considerado como o crime de consumo.
A
revisão à Lei de Proibição da Produção, do Tráfico e do Consumo Ilícitos de Estupefacientes e de Substâncias Psicotrópicas foi, sem surpresas, aprovada na generalidade com uma única abstenção do deputado Gabriel Tong. O diploma agrava as penas do consumo até um ano e do tráfico até 15 anos, introduzindo testes de urina como método de prova, mas deixou alguns deputados de pé atrás. “Abstive-me porque entendo que o tratamento para as situações [do consumo de droga] não é o ideal, porque limita-se a aumentar apenas a moldura penal. Parece-me que as penas são demasiado elevadas”, defendeu Tong, durante a declaração de voto, em sessão plenária da Assembleia Legislativa (AL), ontem, ainda que assegurasse concordar com as restantes normas. Em discussão no plenário esteve a recolha de urina, os locais de investigação e a introdução da definição da quantidade – a revisão propõe que caso alguém tenha em sua posse cinco vezes mais do que a quantidade do mapa de referência. O deputado LeonelAlves apontou algumas questões relativas à definição de artigos, mas, no mesmo registo pediu uma maior reflexão quanto ao que diz ser a disparidades das penas. “Na especialidade é preciso reflectir com mais ponderação. O artigo diz que o mero consumo dá azo a uma pena de prisão de três meses a um ano, mas o consumidor com [quantidade superior a] cinco vezes, incorrerá numa pena de cinco a 15 anos. Uma milésima a mais [origina esta pena]. Acho que há uma discrepância muito grande”, apontou.
ABERTOS À DISCUSSÃO
Sónia Chan, Secretária para Administração e Justiça, garantiu
POLÍTICA
Filipa Araújo
filipa.araujo@hojemacau.com.mo
A
deputada Song Pek Kei apontou o dedo ao Governo devido aos gastos de erário público em arrendamentos para as instalações dos serviços da Administração. Numa altura em que o Governo assumiu uma postura de “austeridade”, a deputada não percebe porque é que o orçamento para o arrendamento de escritório subiu “em flecha”, passando dos 646 milhões de patacas, em 2014, para 788 milhões de patacas no ano passado. “Passaram vários anos e, apesar de o Governo ter construído alguns edifícios de escritórios e da queda das rendas, estas despesas, em vez de diminuírem, dispararam, o que é, de facto, lamentável. No orçamento deste ano, as despesas dos serviços públicos simples destinadas ao arrendamento de imóveis totalizam 640 milhões de patacas, um aumento de 58% em relação ao ano passado. No caso dos serviços com autonomia, por exemplo o IACM, mesmo depois da transferências das actividades desportivas e culturais, o montante subiu de
Perdeu a cabeça
Song Pek Kei ataca Governo por gastos com arrendamento
43,2 milhões para 58 milhões, um aumento de 34%”, apontou.
ABRAÇA A LUZ
A deputada classificou a situação como “anormal”, reforçando que se o Governo quer assumir uma postura de transparência então não poderá “temer a luz”. “Afinal, o que é que o Governo tem a esconder sobre o arrenda-
mento? Será que está a manipular o mercado? Ou será que perdeu a cabeça por ter muito dinheiro? Na minha opinião, [gastar] volumosos montantes no arrendamento de escritórios só poder ser visão curta e omissão do Governo”, criticou Song Pek Kei. A deputada defende que Macau tem espaço suficiente para acolher os edifícios pú-
blicos e diz que ainda existem vários espaços que não estão a ser aproveitados, por exemplo, a antiga sede do tribunal, ou as antigas instalações do Gabinete de Comunicação Social (GCS), na Rua de S. Domingos. “Macau não carece, de facto, nem de terrenos nem de dinheiro para a construção de edifícios para os diversos serviços públicos, carece sim de vontade para agir e assumir responsabilidades. Que herança é que este Governo inteligente vai deixar a Macau?”, indagou a deputada. F.A.
ELLA LEI ACUSA O EXECUTIVO DE NÃO APROVEITAR ESPAÇOS
A
deputada Ella Lei entrou quase pelo mesmo caminho da colega do hemiciclo e quis fazer saber que o Governo não está a aproveitar adequadamente os espaços que arrenda pois faz contratos com o privado em vez de aproveitar o que tem à sua disposição. “Não é por falta de solos, de património ou de espaço que o Governo tem de despender avultados fundos públicos para arrendar ao sector privado espaços
para instalar serviços públicos ou para responder às necessidades dos residentes em termos de áreas para actividades ou estacionamentos”, argumentou a deputada. O Governo, diz, não deveria levar a cabo este tipo de contratos quando tem espaços disponíveis. A deputada deu como exemplo o centro de comidas do edifício dos vendilhões do Mercado do Iao Hon, que entrou em funcionamento em Outubro de
2012 e o parque para motociclos, com mil lugares de estacionamento, na Rotunda Ferreira do Amaral criado há seis anos, desocupado e sem planos ou projectos para o seu aproveitamento. O Governo deve, apontou, rever a situação para aproveitar os espaços arrendados, mas desocupados, bem como tornar pública a relação dos espaços desocupados arrendados e integrados no património do Estado.
6 POLÍTICA
hoje macau quinta-feira 21.1.2016
A
CHAN HONG PEDE CALENDÁRIO PARA COMPLEXO MONG HÁ
Chan Hong questionou o Governo sobre o processo de construção do Complexo de Mong Há e se o Executivo já sabe o orçamento final das obras. Depois de um atraso desde que começou a ser projectado em 2010, e deveria ter terminado em 2014, a construção mantém-se atrasada devido a problemas com os empreiteiros – que poderão mesmo chegar a tribunal. Mas o Governo ainda não lançou um novo calendário para o projecto nem deu informações sobre a abertura de um novo concurso público, para além de não fornecer dados sobre se o orçamento aumentou ou não.
ENCERRAMENTO DE FRONTEIRA DO PORTO INTERIOR INCOMODA DEPUTADOS
E a comunicação?
O encerramento da fronteira de Wanchai que fazia a ligação, de barco, com o Porto Interior incomodou alguns deputados que querem que o Governo apresente justificações e soluções para a questão e criticam a falta de comunicação entre os dois lados. Com a saturação das outras fronteiras, defendem, é preciso manter esta hipótese em aberto resolver a situação, logo agora, tão perto do Ano Novo Chinês, altura de maior entrada de turistas.
TIAGO ALCÂNTARA
semana começou com as autoridades de Zhuhai a anunciar o encerramento do posto fronteiriço de Wanchai, também conhecido por Ilha da Lapa, terminando com as rotas marítimas que diariamente transportavam centenas de utentes, residentes e turistas. As autoridades de Macau anunciaram que receberam um anúncio por parte da região vizinha justificando o encerramento devia a problemas de segurança, mas os deputados não se mostram satisfeitos com a “impotência” do lado de cá. Mak Soi Kun, deputado, considerou a postura das autoridades de Macau deficitárias, algo que, diz, mostra que as partes envolvidas, Zhuhai e Macau, não estão a comunicar como seria suposto. Citando o Acordo-Quadro de Cooperação Guangdong-Macau, o deputado indica que o “encerramento do posto fronteiriço, por ser um assunto relevante, devia, supostamente, ser anunciado e justificado”. “Porque é que só um dia antes da suspensão do funcionamento do posto fronteiriço da Ilha da Lapa é que foi divulgada a respectiva notícia e os cidadãos e turistas apenas ficaram a saber através do aviso afixado no posto?”, indagou durante a sua intervenção em sessão de plenário na Assembleia Legislativa (AL). Para o deputado, este encerramento veio trazer “enormes inconvenientes” tanto a cidadãos como turistas, mas mais que isso dá a entender que o Governo não estaria inteirado da situação. “Será que existem problemas no próprio mecanismo de comunicação ou há outras razões? Será este um mecanismo apropriado de comunicação e cooperação entre Zhuhai e Macau?”, questionou. Mak Soi Kun considera que é essencial que o Governo assuma o problema e tome medidas para
MENOS QUE É MAIS
“O Porto Interior é a fronteira que fica mais perto da zona central da cidade. O reforço das suas funções e aperfeiçoamento das instalações periféricas e de transporte pode contribuir para reduzir a utilização dos transportes públicos, por exemplo, um turista que chegue pelo Porto Interior pode deslocar-se a e pé”, começou por argumentar Kou Hoi In, durante a sua intervenção,
“Será que existem problemas no próprio mecanismo de comunicação ou há outras razões? Será este um mecanismo apropriado de comunicação e cooperação entre Zhuhai e Macau?” MAK SOI KUNDEPUTADO
C
HAN Ka Leong, chefe da Comissão deAssuntos Sociais da União Geral das Associações dos Moradores de Macau (Kaifong), pede que sejam melhorados os regimes para a constituição de Conselhos Consultivos. O responsável aponta, como tem vindo a ser defendido por deputados, que continua a haver casos em que uma pessoa detém diversos cargos em diferentes Conselhos e diz que se mantém a falta de transparência. Ao jornal Ou Mun, Chan Ka Leong defendeu que “o número de Conselhos Consultivos aumentou em seis vezes nos últimos 15 anos” e que “as pessoas mais conhecidos desdobram-se em cargos em Conselhos de várias áreas”. Para o responsável, isto “influencia a
apoiada também pelos deputados José Chui Sai Peng e Cheang Chi Keong. Apesar da taxa de utilização desta fronteira ser a mais baixa de todas as outras disponíveis, tal como as Portas do Cerco ou a Flor de Lótus, representando apenas 0,47% do número total, é mais rápida, demorando-se apenas três a cinco minutos para fazer a travessia. Os deputados assumem que existem dois problemas que fazem com que aquele posto fronteiriço não seja mais atractivo: os horários dos barcos e a insuficiência de equipamentos. E, mais uma vez, pedem a Macau que faça algo. “Apelamos novamente às autoridades de Macau para acelerar as conversações com os serviços competentes do interior da China, no sentido de melhorar, quanto antes, as actuais instalações do posto fronteiriço de Wanchai, para o seu aproveitamento adequado, assim como para reabrir esse posto com um horário mais prolongado, sem intervalo e com mais carreiras”, argumentaram. Os deputados apelam ainda a que o Governo de Macau aperfeiçoe as comunicações com as autoridades para a melhor gestão do serviço. Filipa Araújo
filipa.araujo@hojemacau.com.mo
Os mesmos de sempre
Kaifong pela revisão à constituição de Conselhos Consultivos
diversidade consultiva de Macau e leva a que os residentes comecem a desacreditar nos resultados dos estudos ou das investigações feitos por estes Conselhos, porque são feitos pelas mesmas pessoas”. Chan Ka Leong sugere que o Governo reveja o Regime que cria os Conselhos Consultivos e ajuste o mandato dos membros até um máximo de dois ou três anos, para que cada Conselho tenha o seu profissional.
TUDO COMO DANTES
Recentemente, o Governo assegurou que iria rever esta questão,
mas até agora ainda não houve quaisquer novidades. Chan Ka Leong acusa, por isso, o Executivo de falta de transparência porque diz não ser possível perceber se as sugestões feitas por deputados e associações são ponderadas pelo Governo. “Assim, os residentes terão a ideia que o Governo aceita todas as sugestões, mas não as aplica.” O responsável queixa-se ainda de não serem publicadas informações sobre os trabalhos dos Conselhos Consultivo e insta a que isso seja feito através de um sistema,
não só para que os trabalhos sejam alvo de reacções da sociedade, como para que também se possam apontar responsabilidades à elaboração de determinados estudos ou falta deles. Tudo, diz, para que a sociedade possa testemunhar que os trabalhos dos Conselhos e do Governo não são apenas “um show político”. Tomás Chio
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7 hoje macau quinta-feira 21.1.2016
SOCIEDADE
Ensino Superior IDEIA DE ATRAIR ESTUDANTES ESTRANGEIROS DIVIDE OPINIÕES
Cesto pequeno para tanta uva?
O
Secretário para os Assuntos Socais e Cultura, Alexis Tam, quer atrair mais estudantes da China continental e de outros países para as universidades e instituições de ensino superior em Macau, mas académicos dividem-se quanto à ideia. Para Teresa Vong, da Universidade de Macau, há ainda dúvidas quanto à orientação e planeamento do ensino superior local como ele está actualmente. A professora aponta preocupações, enquanto o deputado Si Ka Lon diz que é necessário pensar-se primeiro em reforçar as características do ensino da RAEM. Seja como for, para Vong a ideia é capaz de ser positiva por um lado financeiro: mais alunos, menos custos. “Com a mudança do novo campus da UM para a Ilha da Montanha, o tamanho aumentou 20 vezes comparativamente ao espaço antigo e temos que admitir estudantes suficientes para corresponder aos custos de formar estudantes. Para manter o funcionamento
“Temos de colocar este assunto no plano de desenvolvimento de cada universidade, porque se apenas abrimos mais a porta a estudantes estrangeiros, isso pode incomodar a aprendizagem dos estudantes locais e não trazer vantagens” TERESA VONG ACADÉMICA
“É necessário reforçar as características de ensino em Macau, bem como ter rigor na qualidade do ensino” SI KA LON DEPUTADO
Macau vai precisar de estudantes de fora se quiser preencher as vagas nas instituições superiores locais, mas é preciso pensar primeiro cá dentro antes de receber quem vem lá de fora, dizem analistas normal [do espaço] vai ser necessário atrair mais estudantes porque cada vez menos estudantes locais vão frequentar universidades em Macau”, aponta ao HM. A académica não deixa de apontar, contudo, a questão “da orientação do ensino superior de Macau”. Ainda que, na sua opinião, a apresentação da medida de Alexis Tam seja apenas para corresponder à política “Uma faixa, Uma rota” do Governo Central, é preciso pensar se trazer mais alunos de fora não vai contrariar o ensino superior local. “Macau é um sítio tão pequeno que o desenvolvimento é facilmente afectado pelas regiões vizinhas. Preocupo-me, neste momento, com qual é o plano local. Se não sabemos qual é a perspectiva e o desenvolvimento de cá é perigoso [trazer mais alunos de fora] porque o ensino superior é o que suporta o desenvolvimento sustentável de Macau e fornece talentos profissionais”, diz, acrescentando ter dúvidas sobre se as instituições do ensino superior de Macau estão preparadas e atentas ao “desenvolvimento internacional e global”.
QUESTÃO DE EQUILÍBRIO
O Secretário para Assuntos Socais e Cultura afirmou recentemente que em cinco anos vão existir apenas 3500 finalistas de escolas secundárias ao ano, número que não satisfaz a necessidade de admissão de estudantes nas instituições do ensino superior da RAEM. O Governo apresentou, por isso, ao Ministério de Educação do Governo Central uma proposta para que sejam alargadas as vagas dedicadas aos estudantes do continente, até porque há universidades, como a de São José, onde esses alunos não podem entrar. Para Teresa Vong, contudo, é também preciso equilibrar a necessidade de globalização com a do desenvolvimento de Macau. “Temos de colocar este assunto no plano de desenvolvimento de cada universidade, porque se apenas abrimos mais a porta a estudantes estrangeiros, isso pode incomodar a aprendizagem dos estudantes locais e não trazer vantagens”, indicou.
Segundo informações do Gabinete de Apoio a Ensino Superior (GAES), os estudantes estrangeiros nas dez instituições de ensino superior de Macau ocupam 36% do bolo total, sendo mais de dez mil.
MAIS RIGOR
Si Ka Lon relembra que, actualmente, nas instituições públicas, a admissão de estudantes não residentes não pode ultrapassar 10% do total e nas instituições privadas não pode superar os 50%. Mesmo assim, cada ano Macau tem cerca de seis mil finalistas de escolas secundárias e 80% deles frequentam universidades - mas metade sai de Macau, o que faz com que menos de três mil estudem no território. O deputado elogia, por isso, a ideia de se aumentarem as vagas de estudantes estrangeiros e não apenas da China, para se “quebrar com a mesma fonte” de estudantes de sempre, que é, neste momento, o continente. “Actualmente 90% dos estudantes estrangeiros de Macau são da China continental e isso não é bom para o desenvolvimento dos estudantes, nem para criar um centro mundial de lazer e turismo”, diz.
O deputado considera que Macau pode ter como referência Taiwan, onde o Governo tem um papel principal na atracção de estudantes de fora. Mas alerta. “É necessário reforçar as características de ensino em Macau, bem como ter rigor na qualidade do ensino”. Si Ka Lon considera ainda que, para já, é importante ter em conta como estão a ser atribuídos os subsídios às instituições de ensino superior.
“Além das instituições públicas, as privadas podem ser também sem fins lucrativos? As propinas, os subsídios e as contas podem ser mais transparentes para que a sociedade as compreenda? Porque para formar um estudante, as despesas que cada instituição cobre é diferente, mas os subsídios atribuídos são sempre valores altos”, rematou.
RECÉM-LICENCIADOS COM SALÁRIOS INFERIORES AOS CROUPIERS
Flora Fong
flora.fong@hojemacau.com.mo
Um inquérito realizado pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior mostra que o primeiro salário dos recém-licenciados de Macau é, na maior parte dos casos, inferior à remuneração média dos trabalhadores do jogo ou mesmo dos croupiers, diz a Rádio Macau. Entre os licenciados, 29% têm um primeiro ordenado de dez mil e a 14 mil patacas, enquanto para 25% o rendimento mensal logo após a conclusão da licenciatura se situa entre as 14 e as 18 mil patacas. Segundo a rádio, os números ficam aquém da remuneração média do sector do Jogo, que se situa, segundo os dados mais recentes, nas 21.480 patacas. No caso dos croupiers, o salário médio ronda as 18.500 patacas. Entre os quase dois mil estudantes entrevistados, 85,4% disseram estar empregados enquanto 3,4% continuava a prosseguir os estudos, sendo que Educação, Administração Pública e Banca são os sectores com mais estudantes a trabalhar.
8 SOCIEDADE
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CPU PEDE PLANO GERAL DAS ZONAS EM VEZ DE ANÁLISE CASO A CASO
Pensar em grande
W
U Chou Kit, membro do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU), pediu ontem que o Governo se dedicasse a fazer um planeamento alargado das zonas, em vez de se analisarem os projectos para novos imóveis caso a caso, como tem acontecido desde a entrada em vigor da Lei do Planeamento Urbanístico. Na primeira reunião do CPU, que decorreu ontem e onde estavam em discussão a atribuição de licenças de construção a 14 imóveis em Macau e
nas ilhas, Wu Chou Kit alertou para necessidade de existência de um plano alargado por zona, de forma a que se perceba o que está a ser avaliado. A Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) respondeu vagamente, referindo apenas que, no futuro, quando existirem mais dados recolhidos, essa opção poderá ser adoptada. Foi também discutido na reunião o poder vinculativo, ou não, dos pareceres do Instituto Cultural (IC) sobre as construções, já que na prática, como disse Wu Chou Kit,
os construtores acabam por fazer o “que bem entendem”. Relativamente a este assunto, o Secretário para as Obras Públicas e Transportes Raimundo do Rosário, também presidente da Comissão, assegurou que se as indicações do IC estiverem na planta os construtores têm tendência a segui-las.
CUIDADO COM AS IMITAÇÕES
O arquitecto Rui Leão, outro dos membros da Comissão, manifestou-se contra a vinculação obrigatória no que às linhas arquitectónicas dos
EDIFÍCIO DE 93 METROS NO CENTRO DA CIDADE?
O
egundo notícia ontem avançada pelo jornal Tribuna de Macau, o lote na Av. Dr. Mário Soares ao lado do hotel Grand Emperor, que foi excluído da lista de terrenos cuja concessão iria caducar, poderá albergar um edifício até 93 metros de altura nos 41.69 metros quadrados disponíveis. O imóvel será destinado a
comércio, escritórios e estacionamento e está agora em consulta pública a viabilidade da sua construção. É ainda referido no projecto que a futura construção terá o mérito “de melhorar a paisagem na Travessa Central da Praia Grande pois irá providenciar a manutenção dos canteiros”.
imóveis diz respeito, alertando para o problema da autenticidade pois, conforme disse, “descobriu-se em várias cidades que esse método era um erro pois dava origem à criação de obras falsas e à eventual demolição das originais por já não estarem ao nível daquelas que entretanto vão sendo construídas.” Em discussão ontem estiveram diversas construções, como o caso de um terreno junto ao Largo da Ponte, na Taipa, que terá sido o que mais comentários suscitou, quer da parte dos conselheiros, quer por via da consulta pública. Como o terreno em causa é público – e é apenas uma parcela de um terreno maior e desocupado vários conselheiros voltaram a trazer à discussão a necessidade de um planeamento geral, interrogando-se porque se avalia apenas aquela parcela e não o terreno todo.
JOGO RECEITAS DESCEM 34% EM 2015. GALGOS NO FIM DA LISTA
A
S receitas do jogo VIP sofreram uma quebra de 39,86% em 2015, atingindo 127.818 milhões de patacas, indicam dados oficiais. Segundo dados publicados no portal da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), os proventos do jogo VIP representaram 55,3% das receitas brutas arrecadadas pelos casinos em 2015, quando no cômputo de 2014, a proporção correspondeu a 60,4%.
Já o segmento de massas sofreu uma quebra de 25,8% em 2015 – por comparação com 2014 –, de acordo com os mesmos dados, totalizando 103.022 milhões de patacas.
Os casinos fecharam 2015 com receitas de 230.840 milhões de patacas sofrendo um tombo de 34,3%. Tratou-se do segundo ano consecutivo de quebra das receitas dos casinos depois de, em 2014, terem sofrido uma diminuição de 2,6%. As corridas de galgos continuam em último lugar no que às receitas de apostas diz respeito. Em primeiro figuraram as apostas nos jogos de futebol
que, ao longo do ano passado, renderam 503 milhões de patacas. Seguiram-se as receitas das apostas nos jogos de basquetebol, com 170 milhões, que ultrapassaram as das corridas de cavalos, com 166 milhões de patacas e as corridas de galgos com 125 milhões de patacas. Em 2015, Macau contava com 5957 mesas de jogo e 14.578 slot machines distribuídas por um universo de 36 casinos.
Ministério do Comércio da China pediu ao Governo local que seja feita uma fiscalização mais apertada à qualidade dos produtos alimentares importados. A sugestão teve lugar durante a visita do director do departamento dos Assuntos de Taiwan, Hong Kong e Macau do Ministério do Comércio chinês, Sun Tong. O responsável pede ainda uma “intensificação da coordenação dos serviços prestados” e o arranque de um “plano de contingência” e de ligação entre departamentos no sentido de assegurar que a quadra festiva do Ano Novo Chinês – no início de Fevereiro – decorre sem problemas. “Durante a estadia na cidade, a comitiva reuniu-se com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e as empresas de agenciamento dos respectivos produtos locais, tendo ainda realizado uma visita a mercados no sentido de se inteirar in loco da situação do abastecimento dos ditos produtos”, informa o Ministério em comunicado. A visita teve o objectivo de esclarecer o departamento quanto ao poder de Macau em satisfazer as necessidades da população e turistas que nessa altura estarão na região. Em causa está a importação de produtos alimentares como farinha, legumes, cereais, ovos, leite, água potável, entre outros. “Apenas os produtos provenientes dos viveiros de criação de animais e das hortas que tenham sido registados nas autoridades de inspecção e quarentena estatais são permitidos ser exportados para Macau”, define o Ministério. Além disso, é sublinhado o “cumprimento escrupuloso” das normas, que até aqui tem ditado a forma de fazer comércio em Macau. No ano passado, vieram da China 110 mil porcos, 1800 vacas e 2,6 milhões de galinhas. Os números, avança o mesmo Ministério, “corresponderam a 100% da procura” no território. TIAGO ALCÂNTARA
S
Alimentos China pede mais fiscalização e qualidade de produtos
TIAGO ALCÂNTARA
A análise a determinados terrenos ou construções leva a que não se possa ter a ideia total do que vai nascer em algumas zonas de Macau. Membros do CPU pedem, por isso, que se analisem planos gerais
Diz-me o que comes
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O
professor e economista Bruce Hall desvaloriza a queda do dólar de Hong Kong que nos últimos cinco dias tem feito tremer bolsas e investidores. Hall fala, até, de “possíveis consequências positivas” para a RAEM, como a promoção de turismo estrangeiro, agora que compensa converter patacas. “Não me parece que seja razão para alarme, até porque ficaria receoso era se o dólar norte-americano aumentasse rapidamente, principalmente contra o reminbi”, acrescenta. No entanto, faz previsões negras para o mercado chinês que, por sua vez, afectarão todos os outros. “A China vai continuar a sentir-se pressionada a reduzir as suas taxas de conversão para maximizar as exportações, mas isto vai implicar negativamente o valor do reminbi face a moedas como a pataca”, defende. Ao HM, o académico da Universidade de Macau explicou que a presente queda do HKD é pouco expressiva face ao que se está a passar na China. O HKD caiu 0,79% nos últimos cinco dias, de acordo com o índice Hang Seng (bolsa de Hong Kong), pelo que 1 dólar norte-americano valia ontem 7,8 HKD em vez de valer os 7,76 HKD do passado dia 13. Questionado sobre esta tendência da moeda, o economista local Albano Martins não se mostra preocupado, já que, diz, “está dentro do limite” estabelecido na década de 80. “Não me parece que vá haver grande intervenção [da RAEHK]”, acrescentou. O valor ontem registado será o mais baixo desde 2007, ano que antecedeu uma das mais profundas
SOCIEDADE
DESVALORIZAÇÃO DO DÓLAR DE HONG KONG NÃO PREOCUPA ECONOMISTAS LOCAIS
A crise (só) mora ao lado
O dólar de Hong Kong apresentou ontem os valores mais baixos desde 2007, mas economistas locais afastam receios. Mostram, no entanto, reservas quanto à saúde da economia chinesa e das RAEs
crises económicas do milénio. No entanto, Albano Martins olha para os números como estando “dentro do limite” do aceitável, não sendo assim necessário amparar a queda. A descida do HKD é atribuída à subida das taxas de juro nos EUA e à crise mundial. “Os EUA estão a implementar medidas restritivas como subir as taxas de juro, para fazer com que as empresas e pessoas paguem
DOENÇA TERMINAL LEVA LIVREIRA A PEDIR AJUDA NA COMPRA DE LIVROS
Uma residente de Hong Kong radicada no território e que abriu uma livraria em Macau há 11 anos está a pedir, através das redes sociais, clientes para comprarem todos os seus livros. O objectivo é encerrar o mais rápido possível a livraria que detém há mais de uma década, de nome Creative Culture, uma vez que a mulher tem cancro e está em fase terminal. Vivian tem ainda que cuidar do pai idoso e necessita, por isso, de regressar a Hong Kong, onde vai também fazer o resto do tratamento. Segundo a Macau Concealers, Vivian tinha um comprador para todos os livros, mas este desistiu da promessa. A Creative Culture fica na Rua Nova de São Lázaro.
mais para importar crédito, numa altura em que Macau está em recessão e Hong Kong também não está numa fase famosa”, lembra Albano Martins.
SOLUÇÕES À VISTA
Martins explica que, no caso da reserva financeira vizinha ter de largar os cordões à bolsa e ceder USD, tal não será um problema, uma vez que “Hong Kong tem
biliões na sua reserva”. O cenário de um apoio não está colocado de parte: “Se a Autoridade Monetária de Hong Kong entender que esse limite mínimo do valor do HKD está a querer ser ultrapassado, intervirá comprando USD ou actuando no sentido de evitar a especulação pela subida das taxas de juro”, explica o economista. Publicações como a Bloomberg ou o Wall Street Journal (WSJ) tinham ontem títulos que indicavam um futuro negro baseado na descida do HKD. Para Ira Iosebashvili e Carolyn Cui do WSJ, a presente crise da moeda chinesa chegou, na passada terça, a um limite e tal é “o mais recente sinal de que os problemas da economia chinesa estão agora a contaminar” os mercados mundiais. “Alguns investidores acreditam que Hong Kong vai ser forçada a abandonar a relação cambial que se mantém há 30 anos”, escrevem. Já Albano Martins tem vindo a defender que a pataca e o HKD deviam passar a estar indexados ao reminbi, dada a proximidade do país e as estruturas social e económica que imperam nos três locais. No entanto, o problema mantém-se: a moeda chinesa não
é ainda convertível, impossibilitando qualquer indexação.
O PODER QUE SE ESVAI
Hall também apoia a tese do economista português, embora justifique a sua despreocupação com outros factores. Um deles é a queda – já visível – da economia chinesa. O enorme fomento ao investimento e a dívida são dois dos males. “A China já esgotou todo o potencial do modelo de negócios que implementou: o Governo Central percebeu que a procura, por parte da Europa e dos EUA, tenderia a diminuir e era preciso ir buscar capital a algum lado.” As pessoas, diz, deixaram de “querer comprar o bom e barato da China”, pelo que o país teve que se virar para onde pôde: mercados de investimentos, com enfoque em projectos de desenvolvimento. “Como consequência, temos hoje cidades e aeroportos-fantasma, com a China a somar o mesmo que cinco Nova Iorques em apartamentos construídos, mas abandonados”, repara. Leonor Sá Machado
leonor.machado@hojemacau.com.mo
CANCRO DOS OVÁRIOS COLOCA MULHERES DE MACAU EM RISCO
A
Associação de Oncologia de Macau alertou ontem para o facto do cancro dos ovários ser um dos dez cancros com maior taxa de mortalidade em Macau. O grande problema, refere a Associação, é que a maioria das mulheres não tem noção sobre o risco que corre, sendo que 70% das pacientes diagnosticadas com este tipo de cancro só o foi já na fase terminal. A Associação deu esta semana a conhecer o relatório da tendência recente de mortalidade e tratamento do cancro dos ovários no interior da China, Hong Kong e Macau. Wong Io Pan, chefe do Departa-
mento de Ginecologia do Hospital Kiang Wu, referiu que o cancro dos ovários é muito encontrado em mulheres que têm entre os 50 e os 70 anos de idade. “Entre os tipos de doenças ginecológicas malignas, os casos não são muitos, mas a mortalidade é elevada”, explicou. O médico acrescentou que os sintomas do cancro dos ovários incluem barriga inchada, indigestão, dores ao urinar, dores abdominais e lombares. Os sintomas são semelhantes a outras doenças e as pacientes podem não ter consciência do risco que correm, pelo
que os especialistas apelam às mulheres com mais de 50 anos que façam o exame periodicamente. “Tive uma paciente cujo tumor tinha um diâmetro de 20 centímetros, semelhante a uma bola”, exemplificou. Cao Ya Bing, médico de Oncologia, afirmou que no ano passado foram diagnosticados 33 casos, 70% deles já na fase terminal e 30% foram alvo de mutações mais comuns. Wong Io Pan considera que a maioria das mulheres não tem conhecimentos suficientes sobre o cancro dos ovários. F.F.
10 EVENTOS
Branco mais branco não há
Óscares Michael Moore junta-se ao boicote. Whoopi Goldberg torce o nariz parte de um sistema que não muda? Ou devo ficar e tentar mudá-lo?”
NÃO ALINHADA
D
EPOIS do bombástico instagram de Spike Lee onde o realizador apelidava os Óscares de “brancos como lírios” protestando contra a ausência de nomeação de actores negros pelo segundo ano consecutivo - é agora a vez de Michael Moore, também ele membro da Academia, ainda que no sector de documentários, declarar o seu boicote à edição deste ano. Em declarações telefónicas ontem ao “The Wrap”, Michael Moore disse apoiar todos os que boicotam e disse mesmo estar “naturalmente disposto” a juntar-se a eles. “Estive a pensar nisto o dia todo e decidi que não vou ao espectáculo, não vou assistir pela TV e não vou a nenhuma festa”, frisou o polémico realizador, que acredita, no entanto, que o verdadeiro problema da diversidade reside mais na indústria e menos na Academia. Para Moore “o peixe apodrece a partir da cabeça e a cabeça é esta indústria”. “O problema tem de ser resolvido neste sistema dos estúdios que têm sido dominados desde sempre por homens brancos”, disse. Apesar de tudo, Moore acredita que a Academia esteja a dar passos para mudar ainda que ele tenha considerado demitir-se do Comité Executivo na passada segunda-feira. “Pensei muito sobre isso e interrogo-me: quero fazer
Quem não alinha no boicote é Whoopi Goldberg, vencedora de um Óscar em 1990 com “Ghost” e ex-apresentadora do evento. Segundo Whoopi, “boicotes não funcionam e este ainda por cima é uma bofetada em Chris Rock”, como se sabe o apresentador da cerimónia. Whoopi vai ainda mais longe dizendo que a “irrita todos os anos a mesma história, pois só se lembram disto na altura da entrega dos prémios”. Para Goldberg seria muito mais importante que a discussão sobre a diversidade fosse feita ao longo do ano e não apenas agora, acreditando a actriz que a diversidade se mede muito mais pelo apoio às pequenas empresas produtoras “que são muito mais diversas do que qualquer outra coisa.” Ice Cube, que este ano lançou o filme “Straight Outta Compton”, resolve com um encolher de ombros a não nomeação do seu filme em todas as categorias: “Não estou nada chateado. Não estou surpreendido. São os Óscares, eles fazem o que querem. As pessoas adoraram o filme e apoiaram-no. Foi número um nas bilheteiras e fez mais de 200 milhões de dólares pelo mundo fora. Não dá para ficar zangado.” Entretanto a hashtag “#OscarsSoWhite”, que voltou a ser recuperada após as declarações de Spike Lee, continua em alta na internet reunindo já perto de quatro milhões de resultados numa pesquisa do Google.
Cinema DOCLISBOA ATÉ 5 DE FEVEREIRO NO CONSULADO DE PORTUGAL
OBRAS LUSAS E CÁ DA CASA De 27 de Janeiro a 5 de Fevereiro vai poder assistir a filmes de realizadores portugueses e chineses de Macau. O DocLisboa regressa pela terceira vez ao território e traz consigo uma dezena de filmes
À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA O TEMPO ENVELHECE DEPRESSA • António Tabucchi
Todas as personagens deste livro parecem estar empenhadas numa confrontação com o Tempo: o tempo dos acontecimentos que viveram ou estão a viver e o tempo da memória ou da consciência. Mas é como se uma tempestade de areia se tivesse levantado nas suas clepsidras: o tempo foge e detém-se, gira sobre si próprio, esconde-se, reaparece a pedir contas. Do passado emergem estranhos fantasmas, as coisas que antigamente eram incompatíveis agora parecem harmonizar-se, as versões oficiais e os destinos individuais não coincidem. Um ex-agente da defunta República Democrática Alemã que durante anos espiou Bertold Brecht, vagueia sem destino por Berlim até ir ter ao túmulo do escritor para lhe confiar um segredo. Numa localidade de férias da ex-Jugoslávia, um oficial italiano da ONU que durante a guerra do Kosovo sofreu as radiações do urânio empobrecido ensina a uma miúda a arte de ler o futuro nas nuvens. Um homem que engana a sua solidão contando histórias a si próprio torna-se protagonista de uma aventura que inventara numa noite de insónia. Sensível às convulsões da História recente, Antonio Tabucchi mede-se com o nosso Tempo «desnorteado», em que se os ponteiros do relógio da nossa consciência parecem indicar uma hora diferente daquela que vivemos.
RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET
PEREGRINAÇÃO DE ENMANUEL JHESUS • Pedro Rosa Mendes
Como fez com o Mapa Cor-de-Rosa em Baía dos Tigres, Pedro Rosa Mendes reinventa, nesta “Peregrinação de Enmanuel Jhesus”, um espaço nobre da literatura portuguesa, de Fernão Mendes Pinto a Ruy Cinatti: o arquipélago malaio, imenso território de aventura, onde as caravelas chegaram há exactamente 500 anos. Passagens de História, memórias políticas, cadernos da guerrilha, tratados breves de diplomacia, debates teológicos, cenas de artes marciais, cartografia antiga, observações de botânica, notas de geologia, ritos de sagração, sortes tauromáquicas, até um fado perdido (por Amália?) lá em «Outramar»: abundantes são os tesouros que nos acompanham nesta viagem. Uma vertigem de personagens desfilam e falam a várias vozes. O resultado é um romance em diário de bordo, uma ficção de portulano, «suma accidental em que da conta de mvitas e mvito estranhas cousas que vio e ouvio nos reynos do Achém, Çamatra, Sunda, Jaua, Flores y Servião y Bellos, que vulgarmente se chamam Timor, homde nace o sandollo».
11 EVENTOS
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ARTISTA DE MACAU EXPÕE NO CASINO ESTORIL
C
Mio Pang Fei
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Festival Internacional DocLisboa chega pela terceira vez a Macau, através de uma extensão trazida pelo Instituto Português no Oriente (IPOR), e este ano integra também uma secção dedicada às produções e realizadores de Macau. De 27 de Janeiro a 5 de Fevereiro são exibidos no Consulado-Geral de Portugal os nove filmes de realizadores portugueses que competiram no DocLisboa’14 e os vencedores das edições de 2014 das competições locais Sound & Image Challenge e European Union Short Film Challenge, além de uma sessão para outros realizadores de Macau. O festival abre com “Mio Pang Fei”, um documentário do realizador de Macau Pedro Cardeira sobre o conceituado artista plástico chinês que se interessou pela arte moderna numa época em que esta era considerada anti-revolucionária pelo regime do continente. Mio Pang Fei acabou por se refugiar em Macau onde desenvolveu um novo estilo de pintura “baseado no cruzamento das técnicas artísticas ocidentais com o espírito cultural chinês, a que chamou Neo-Orientalismo”, segundo explica o IPO. No dia 28 é exibido “Volta à Terra”, do português João Pedro
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g r u p o de hip hop Macau Blacklist apresenta, esta sexta-feira, o seu mais recente EP. Composto por LH, Key, Tickman, AK e 7DC, o colectivo junta-se a outros músicos e artistas para uma festa no Golden Bar do casino Kam Pek.
Volta à Terra
Plácido, que estará presente para falar sobre o filme e responder às perguntas da audiência. A película conta a história de uma “comunidade em extinção”, de 49 camponeses que praticam agricultura de subsistência numa aldeia, Uz, nas montanhas do norte de Portugal. A terceira sessão, no dia 29, é dedicada ao filme “Fado Camané”, de Bruno de Almeida, sobre o processo de criação do artista, e a quarta, a 2 de Fevereiro, “As Cidades e as Trocas”, aborda a chegada da economia de escala a Cabo Verde e os efeitos que esta teve na transformação da paisagem física e humana da ilha.
TRÊS EM UM
Na quinta sessão vão ser exibidos três filmes, dois de Portugal – “Triângulo Dourado”, de Miguel Clara Vasconcelos, e “Da Meia Noite para o Dia”, de Vanessa Duarte – e um de Macau, “Um Olhar sobre os Deficientes”, de Zélia Lai. “Triângulo Dourado” dá voz às “memórias, encontros e sentimentos” das viagens que levaram a personagem principal até Paris e “Da Meia Noite para o Dia” lança um olhar sobre a “memória colectiva e sentido de identidade dos trabalhadores fabris da Covilhã”. Por fim, “Um Olhar sobre os Deficientes”,
vencedor do Sound & Image Challenge, reflecte sobre as dificuldades dos portadores de deficiência. No dia 4 de Fevereiro é exibido “Flor Azul”, do português Raul Domingues, e “São”, de Susana Valadas, sobre um dia na vida de uma operária fabril.
PARA ACABAR
O último dia é dedicado a três obras: “O Pesadelo de João”, do português Francisco Botelho, e “Western Star” e “Fonting the City”, dos realizadores de Macau Wu Hao I e Wallace Chan, respectivamente. “Western Star”, vencedor do European Union Short Film Challenge, relata o encontro de “uma mulher natural de Macau, que tem feito a sua vida no estrangeiro, com um homem” que conhece na sua cidade natal, quando a visita como turista. “Fonting the City” conta a história de um grupo de designers que percorre Macau em busca de “caligrafias esquecidas”, encontrando “letreiros de lojas antigas, caracteres manuscritos de antigos artesãos e até exemplos de caligrafia pós-década de 80 numa ementa de chá”. As sessões decorrem às 18h30 no auditório do Consulado-geral de Portugal em Macau e têm entrada livre. LUSA/HM
A lista negra local
Hip hop com artistas da RAEM para apresentação de EP
Composto por cinco músicas, o EP – intitulado “União”, na tradução literal para Português – vai ser dado a conhecer ao público ao lado do grupo local Macau Human Beatbox, que utiliza o próprio corpo para fazer música, e de outros convidados. Rocklee é um deles. Desde os 15 anos a fazer breakdance, o também DJ é um apaixonado por hip hop, mas também r&b, funk, soul e música dos anos 70, o que o leva a apresentar uma mistura de “velha e nova escola”. Luka é outros dos convidados, este vindo de Hong Kong. Influenciado por rock & roll desde jovem, o músico começou também a interessar-se por música étnica, coleccionando inclusive
instrumentos musicais utilizadas por minorias. Entre outros convidados, está ainda o grupo Fission, que tem como membros Kreezy, Ah Tong e Mu Ben, rappers que assumem um estilo “diverso”, e o músico Kwokkin. O Macau Blacklist começou por ser composto por AK e Key 0713, passando depois a integrar o rapper LH e MC Tikman. Desde 2014 que 7DC integra o colectivo, que produz músicas originais desde o beat à letra. O concerto de dia 22, marcado para as 21h00, é o primeiro para a apresentação do EP dos Blacklist, que se deslocam a Guangdong no dia a seguir. Os bilhetes custam entre 80 a 150 patacas.
ANAL Cheong Jagerroos, artista plástica nascida em Macau mas radicada na Finlândia, vai expor na Galeria de Arte do Casino Estoril, em Portugal, no próximo dia 20. A exposição, designada por “Pura Afeição II”, inaugura pelas 19h00 e acontece a convite da Fundação Rui Cunha. Formada em Belas Artes pela Associação de Arte de Macau e pela Academia de Belas Artes de Cantão e em Design Gráfico pela Universidade Aberta de Hong Kong, Canal é uma artista de renome internacional, surgindo o seu perfil nas mais prestigiadas secções de arte mundiais. Tem trabalhos presentes em colecções públicas de entidades como o Instituto Cultural e a Fundação Rui Cunha e em mais de 400 colecções privadas espalhadas pelo mundo fora.
Os trabalhos de Canal, como ela própria afirma, “são inspirados em antigas filosofias chinesas, poemas, a natureza e as estações do ano.” A artista pinta em múltiplas camadas de papel de arroz com acrílicos, óleos e tinta da China combinados na tela para conseguir um efeito de profundidade. Em 2013 foi convidada pela Global Art Foundation para participar na 55ª edição da Bienal de Veneza para a exposição colectiva “Estruturas Pessoais”. Além deste prestigiado certame, Canal já teve os seus trabalhos apresentados em mais de 50 exposições individuais e colectivas um pouco por todo o mundo, tendo sido a primeira realizada em Macau, em 1986, na Exposição de Arte Júnior e as outras passado por Miami e Tóquio.
TRIBUTO A KATY PERRY E MAROON 5 NO HARD ROCK Se é fã de Katy Perry ou Maroon 5 saiba que o Hard Rock Café propõe uma noite de tributo este sábado aos dois artistas. Katy Perry vendeu mais de 11 milhões de álbuns na sua carreira e cerca de 81 milhões de singles. Os Maroon 5 estimam as suas vendas em 20 milhões de álbuns e 70 milhões de singles. O espectáculo será protagonizado pela banda residente do Hard Rock e deverá começar por volta das 21h45, sendo a entrada livre.
12 CHINA
hoje macau quinta-feira 21.1.2016
Aposta por fora
Investimento no estrangeiro sobe 14,7% em 2015
O
Peter Dahlin
UE EXORTA PEQUIM A PERMITIR CONTACTO COM EUROPEUS DETIDOS
Acesso vedado
O
embaixador da União Europeia (UE) em Pequim exortou ontem a China a permitir o acesso de diplomatas aos suecos Peter Dahlin e Gui Minhai, e ao britânico Lee Bo, que se encontram detidos pelas autoridades. “Gostaríamos de ter um acesso completo e que haja total transparência”, sublinhou Hans Dietmar Schweisgut, nunca conferência de imprensa que serviu para reiterar o “apoio total” da UE às autoridades suecas e britânicas nos contactos com Pequim. Schweisgut notou a “profunda preocupação” que os casos de Gui e Lee, ambos com residência em Hong Kong, e Dahlin geraram na UE. Peter Dahlin, co-fundador da organização não-governamental (ONG) China Action e detido no início do mês, apareceu terça-feira na televisão estatal chinesa numa confissão considerada por membros da sua organização como “falsa” e “absurda”. A cadeia de televisão CCTV argumenta que Dahlin trabalhou na China como uma espécie de agente estrangeiro enviado por forças hostis, com o objectivo de minar o poder do Partido Comunista Chinês e atentar contra a segurança do Estado.
“Violei a lei da China com as minhas acções. Prejudiquei o Governo chinês e feri os sentimentos do povo chinês. Peço sinceras desculpas por tudo”, afirmou Dahlin na gravação. Por outro lado, Gui e Lee são dois dos cinco editores e livreiros desaparecidos misteriosamente nos últimos meses e célebres por vender obras críticas do regime comunista chinês em Hong Kong. Ambos comunicaram recentemente aos seus familiares que estão na China, com Gui a surgir também na televisão estatal chinesa a confessar-se culpado pelo atropelamento e morte de uma jovem de 20 anos em 2003, na cidade de Ningbo, província chinesa de Zhejiang.
CONFISSÕES E VIOLAÇÕES
Defensores dos direitos humanos e familiares de Gui já disseram duvidar da veracidade da sua alegada confissão.
“Gostaríamos de ter um acesso completo e que haja total transparência” HANS DIETMAR SCHWEISGUT EMBAIXADOR DA UNIÃO EUROPEIA EM PEQUIM
Schweisgut afirmou que para lá da questão dos direitos humanos, estes dois casos constituem uma flagrante violação do princípio “um país, dois sistemas”. De acordo com aquela fórmula, as políticas socialistas em vigor no resto da China não se aplicam em Hong Kong e Macau, (excepto nas áreas da Defesa e Relações Externas, que são da competência do governo central chinês) e os dois territórios gozam de “um alto grau de autonomia”. O diplomata assinalou que estes dois casos, somados à recente expulsão da jornalista francesa Ursula Gauthier por um artigo sobre os conflitos na região do Xinjiang, nordeste da China, abrem um “precedente extremamente preocupante”. E referiu a “séria inquietude” da UE com a aprovação da nova lei sobre ONG estrangeiras a operar na China, e que limitará as suas actividades, nomeadamente o financiamento oriundo do exterior e a contratação de efectivos. As relações entre a UE e Pequim atravessam um período “muito bom” em questões envolvendo política externa e comércio, ressalvou o embaixador, lembrando que nem por isso a parte europeia deixará de manifestar a sua posição nestes casos. “Não podemos, nem iremos ficar calados”, concluiu.
Investimento Direto Estrangeiro (IDE) chinês, que exclui o sector financeiro, subiu 14,7% em 2015, face ao ano anterior, para 735.080 milhões de yuan, informou ontem o Ministério do Comércio chinês. Por outro lado, o país recebeu no ano passado 109.127 milhões de euros em IDE, à medida que o sector dos serviços se expandiu, assegurando a posição da China como receptora de capital, mas com uma margem cada vez mais estreita. Só em Portugal, a China injectou mais de 10 mil milhões de euros desde 2012. Em Dezembro, a tendência foi mesmo inversa, com o capital investido por Pequim além-fronteiras a superar o investimento estrangeiro no país. O “gigante” asiático investiu 13.890 milhões de dólares no último mês do ano, um acréscimo de 6,1% face a 2014, enquanto o capital externo injectado no país caiu 5,8%, para 12.230 milhões de dólares. No conjunto do ano, o IDE oriundo da China aumentou sobretudo em países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), com um acréscimo de 60,7%, em termos
homólogos, e nos Estados Unidos (60,1%). Hong Kong, as ilhas Caimão e os Estados Unidos da América (EUA) são os principais destinos do investimento chinês além-fronteiras. Já o IDE chinês nos países que integram a iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”, um gigante plano de infra-estruturas que pretende reactivar a antiga Rota da Seda entre a China e a Europa através da Ásia Central, a costa leste de África e o sudeste asiático, aumentou 18,2%. Este plano, que inclui a construção de uma malha ferroviária de alta velocidade entre a China e a Europa, vai abranger 65 países e 4,4 mil milhões de pessoas - cerca de 60% da humanidade. O investimento na China oriundo de países da União Europeia aumentou 4,6%, em termos homólogos, enquanto o proveniente da ASEAN subiu 22,1%. Já o investimento japonês e norte-americano na China recuou 25,2% e 2%, respectivamente. O sector dos serviços foi o principal beneficiado do IDE na China, com uma expansão de 16%, em termos homólogos, para 77,2 mil milhões de dólares.
13 hoje macau quinta-feira 21.1.2016
U
MA em cada quatro empresas norte-americanas com negócios na China encerrou parte das suas operações no país, ou irá fazê-lo, num período em que a segunda maior economia mundial cresce ao ritmo mais baixo dos últimos 25 anos. O investimento estrangeiro foi um elemento chave do trepidante crescimento da China nas últimas três décadas, transformando um país pobre e isolado na “fábrica do mundo” e maior potência comercial do planeta. Nos últimos anos, a acentuada contracção da população em idade activa no país e rápido aumento dos salários têm conduzido à deslocação de várias indústrias de mão-de-obra intensiva. Segundo a Câmara do Comércio dos EUA na China, 77% dos inquiridos no levantamento anual sobre o clima de negócios no país dizem ter-se sentido “menos bem-vindos” no ano passado. É um acréscimo significativo, face aos 47% registados em 2014, e ocorre num período em que uma ampla campanha anti-monopólio atingiu várias empresas estrangeiras, com algumas a pagar avultadas multas às autoridades chinesas. Entre as empresas que já deslocaram algumas das suas operações ou estão a planear fazê-lo, a maioria apontam o au-
UM QUARTO DE EMPRESAS NORTE-AMERICANAS DEIXAM A CHINA
Ventos de mudança
77 percentagem dos inquiridos no levantamento anual [da Câmara do Comércio dos EUA] sobre o clima de negócios no país dizem ter-se sentido “menos bem-vindos” em 2105
mento dos custos laborais como principal motivo.
POUCA REDE
A restrição imposta a vários ‘sites’ estrangeiros teve também um impacto negativo para 80% das empresas inquiridas, que assumem dificuldades em aceder a portais e informações cruciais para os seus negócios. Redes sociais e ferramentas ‘online’, como o Facebook, Twitter, Google, Youtube ou Dropbox, estão banidas na China. Entre as empresas que deslocaram as suas operações, quase metade optou por outros países asiáticos, enquanto 38% escolheu a América do Norte. A economia chinesa, a segunda maior do mundo, cresceu 6,9 % em 2015, o ritmo mais lento dos últimos 25 anos, mas dentro da meta fixada pelo Governo - “cerca de 7%”. A volatilidade no mercado de capitais, o excesso de capacidade industrial e um mercado imobiliário em fraco crescimento são outros dos desafios que o “gigante” asiático enfrenta. Já o sector dos serviços representou em 2015 pela primeira vez mais de metade do Produto Interno Bruto chinês, à frente da indústria e agricultura, ilustrando a transição económica preconizada pela liderança do país. O 18.º levantamento anual da Câmara do Comércio dos EUA inclui as respostas de 496 dos seus 961 membros.
POLUIÇÃO EM 300 CIDADES ACIMA DOS NÍVEIS RECOMENDADOS
POPULAÇÃO EM IDADE ACTIVA COM MAIOR QUEDA DE SEMPRE
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A
S níveis de poluição em quase 300 cidades chinesas excederam amplamente os padrões de qualidade nacionais em 2015, apesar de ligeiras melhorias registadas nas áreas mais poluídas, disse ontem a organização ambientalista Greenpeace. Segundo os padrões chineses, o máximo recomendado de concentração de partículas PM2.5 - as mais finas e susceptíveis de se infiltrarem nos pulmões - é de 35 microgramas por metro cúbico. O nível de poluição nas 366 cidades testadas foi também cinco vezes superior ao máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) - 25 microgramas por metro cúbico. O uso de carvão como fonte de energia é generalizado e emissões da indústria pesada regularmente cobrem as cidades chinesas num manto de poluição, que causa todos os anos centenas de milhares de mortes prematuras. Pequim foi a 27.º cidade mais poluída, com uma média de 80,4 microgramas por metro cúbico, uma diminuição de 3,3% face a 2014. Os meses de Novembro e Dezembro foram mesmo os piores dos últimos três anos
na capital chinesa. Na província vizinha de Hebei, a cidade industrial de Baoding foi a segunda cidade com mais altos níveis de poluição no ano passado - uma média de 107 microgramas por metro cúbico. “As causas da frequente incidência de nuvens de poluição em Pequim e nas regiões vizinhas foram o vento e humidade”, lê-se no comunicado da Greenpeace. “Apesar das condições climatéricas ajudarem a explicar a poluição, a principal origem continua a ser o excessivo uso do carvão no norte da China”, acrescenta. A cidade mais poluída foi Kashgar, na região autónoma de Xinjiang, no noroeste da China, com uma média de 119,1 microgramas por metro cúbico.
população em idade activa na China registou em 2015 a maior contracção de sempre na História moderna do país, reforçando a pressão sobre as autoridades chinesas face ao rápido envelhecimento da sociedade. Aquele grupo etário - que a China coloca entre os 16 e 60 anos - perdeu 4,87 milhões de pessoas, para 911 milhões, ou 66,3% da população chinesa, indicou o Gabinete Nacional de Estatísticas. Em 2011, o número de chineses em idade de poder trabalhar era de 941 milhões (69,8% da população). “Esta queda afecta tudo, desde o mercado imobiliário e automóvel a questões mais abrangentes, como a inovação e indústrias criativas”, disse ao jornal oficial China Daily o demógrafo chinês Liang Jianzhang. Segundo Liang, foram as mudanças na estrutura etária do país que abriram caminho à abolição da política de “um casal, um filho”, anunciada no ano passado por Pequim. Na prática, o fim do rígido controlo da natalidade que durava desde 1980, passou a limitar o agregado chinês a duas crianças,
CHINA
mas o planeamento familiar continua a ser visto como um “interesse fundamental do Estado”. Já o movimento da população, um fenómeno que ocorre na China a um ritmo sem paralelo na História moderna devido à rápida industrialização do país, abrandou em 2015. No total, 247 milhões de pessoas deslocaram-se do campo para a cidade, ou de uma cidade para outra, uma descida de 5,68 milhões, face a 2014. O sector dos serviços representou pela primeira vez mais de metade do PIB chinês, à frente da indústria e agricultura, ilustrando a transição económica preconizada pela liderança do país. Com 1.374 milhões de habitantes - cerca de 18% da humanidade - a China é o país mais populoso do mundo.
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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Fichas de leitura
Manuel Afonso Costa
Demiurgo incondicionado
“Tenho ainda um bocado de vida a cumprir, foi-me guardado pelo destino. Sobrou do que me roubaram, o destino guardou-me como um bocado de pão.” Vergílio Ferreira, Até ao Fim
Ferreira, Virgílio, Até ao Fim, Quetzal, Lisboa, 2009 Descritores: Romance, Morte, Existência, Memória. ISBN: 9789725647745
A
história do romance, a intriga, é enquanto ponto de partida para a narrativa, muito simples, embora pouco óbvia, até porque pouco verosímil. É um pretexto. Um homem, Cláudio, vela o corpo do filho, numa capela sobre o mar. Está só, apenas ele faz o velório. Na sua solidão acompanhada pela presença-ausência do filho, ele passa em revisita a sua vida. É um balanço, que Cláudio quer partilhar, com aquele que já não partilha. A verdade é que partilhar ou não, não depende de Miguel, e sendo assim também a questão de poder considerar a obra como um longo monólogo interior ou um diálogo me parece uma falsa questão. Para mim trata-se de um diálogo, uma vez que é o narrador omnisciente que assim o decide. Este é um ponto em que o leitor pouco ou nada manda. Há um diálogo entre um pai vivo e um filho morto. Eles encontram-se ali justamente porque um está vivo e vela, o outro está morto e ouve, ainda que não ouça nada. Mas ouve até porque responde e responde porque Vergílio Ferreira o escreveu. Mas isso não importa. A partir de Para Sempre Vergílio Ferreira abandonou muitas das questões subordinadas aos critérios diegéticos tradicionais, como tempos, verosimilhança, diálogos fictícios e monólogos que possuem apenas a função de proporcionar os diálogos impossíveis, etc. Há recursos notáveis que o autor passa a cultivar e que continuará a usar até ao
fim da sua vida e da sua obra. O mais interessante para mim tem a ver com o modo como os personagens entram e saem do cenário, vindos do seu exterior, às vezes vindo de uma exterioridade que não é apenas espacial, mas que é sobretudo temporal e muitas vezes mesmo vindos de uma outra dimensão da existência; da morte por exemplo. A erupção dos personagens atenta contra o tempo e é na maior parte dos casos anacrónica de forma múltipla. O modo como o autor os justifica e integra, o modo como os manipula e condiciona,
VERGÍLIO FERREIRA nasceu na aldeia de Melo, no Distrito da Guarda a 28 de janeiro de 1916 e faleceu em Lisboa no dia 1 de Março de 1996. Formou-se na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em Filologia Românica. Em 1942 começou a sua carreira como professor de Português, Latim e Grego. Em 1953 publicou a sua primeira colecção de contos, “A Face Sangrenta”. Em 1959 publicou a “Aparição”, livro com o qual ganhou o Prémio “Camilo Castelo Branco” da Sociedade Portuguesa de Escritores. Em 1984, foi eleito sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras. As suas obras vão do neo-realismo ao existencialismo. Considera-se geralmente que o romance Mudança assinala justamente a mudança de uma fase para outra. Na fase final da sua carreira pode-se dizer que Vergílio Ferreira tocou as fronteiras de um puro niilismo. Em 1992 foi eleito para a Academia das Ciências de Lisboa e além disso, recebeu o Prémio Camões, no mesmo ano. Obras principais: Mudança (1949), Manhã Submersa (1954), Aparição (1959), Para Sempre (1983), Até ao Fim (1987), Em Nome da Terra (1990) e Na tua Face (1993). O autor faleceu em 1996, em Lisboa. Deixou uma obra incompleta, Cartas a Sandra, que foi publicada após a sua morte. A partir de 1980 e até 1994 foram sendo publicados os seus diários, com a designação de Conta Corrente. Deve ainda salientar-se a publicação do conjunto de ensaios intitulado O Espaço do Invisível entre 1965 e 1987.
a vida que lhes dá e a vida que lhes retira, o modo como os subordina ou não às questões de verosimilhança é o que de mais notável o autor inaugurou nesta fase do seu estilo, o chamado estilo tardio. Só com um estilo assim, um autor assume com plenitude o seu estatuto de demiurgo. A partir de Para Sempre Vergílio Ferreira torna-se um demiurgo incondicionado, absoluto, usando sem parcimónia todo o seu imenso império. O narrador possui os personagens tal como o bonecreiro possui os seus fantoches ou marionetas e dispõe deles como muito bem entende, contudo por vezes os bonecos parecem ganhar vida e agitam-se e dão sinais de querer entrar ou sair de cena de forma extemporânea pondo em causa a fluidez lógica da narrativa. O modo como o narrador os domestica, digamos assim, quase sempre com uma infinita tolerância e ternura, para os integrar na narrativa sentimental de uma maneira particular, constitui também um dos segredos estilísticos relevantes e em certa medida experimentais da última fase da obra de Vergílio Ferreira. No fim de contas acabamos por não considerar os personagens divididos em verdadeiros e fictícios, pois são todos verdadeiros e ao mesmo tempo todos fictícios igualmente. Isto que digo prende-se com a questão da
ausência e da presença enquanto modos dinâmicos da realidade. No romance Na Tua Face, mais ainda do que em Para Sempre ou em Até ao Fim, Vergílio Ferreira desenvolve uma ideia nuclear, ou seja, a ideia de que o que vemos se complementa com o que nos olha, ou muito simplesmente a ideia de que aquilo que nos olha através do que vemos, pois é disso que se trata, configura um outro mundo que não se resume ao que ver acrescenta, mas antes ao que no acto de ver, convoca a partir do ser o que nos falta, aquilo que sendo ausência e vazio, possui uma existência inalienável. Eu quero aqui ressalvar estes dois aspectos de uma mesma realidade, este aspecto que acabei de referir e que possui uma dimensão ontológico e um outro que é o modo estilístico de lhe dar vida no interior de uma narrativa. Para Vergílio Ferreira estão todos ali, estando ali ou noutro qualquer lugar da Terra, estando vivos ou mortos, podendo estar ou não em função do tempo parcelar de cada parte da narrativa. Estão todos ali porque os presentes os convocam de forma irrecusável. Estão todos ali porque o narrador os faz entrar em cena na altura em que muito bem entende, faça sentido ou não. A verdade é que só depende do narrador que faça sentido ou não. O sentido aqui não é o sentido da lógica ou da verosimilhança, integra uma outra economia, puramente sentimental e rememorativa. Mas dizia eu, o modo como o autor entretém essa tensão entre a sua disciplina enquanto narrador e a agitação dos personagens, exige recursos que Vergílio Ferreira nunca terá usado antes. “Talvez venha a chamá-las. Mas não agora”. “Clara. Mas não é ainda tempo de haver sol. Não é ainda tempo de tu vires”. E muitas outras expressões, … espera, não é ainda a tua vez, … agora não, depois, agora ainda tenho outras coisas para dizer… e assim infinitamente… o caudal suporta e não suporta estas erupções, … Foi no Para Sempre que isto começou e começou em boa hora! *No quadro da colaboração de Manuel Afonso Costa com a Biblioteca Central de Macau-Instituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de Leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.
15 hoje macau quinta-feira 21.1.2016
Amélia Vieira
A
S sociedades são matérias em transformação constante mas com grandes reservatórios de memória condensada e enquanto à superfície avançam indemnes as ideias, o pensamento e as trocas, as suas estruturas mais pesadas encontram-se inamovíveis. São aterradoramente paradas e silenciosas, imperceptíveis para os apaixonados e aqueles que manejam os futuros, pois que não navegam jamais no oceano gentil dos entusiasmos e sabem suportar até à monotonia o ciclo biológico da vida. Pensamento é acrescentar à realidade definida outros elementos que não estavam lá, dado que o Homem não é exactamente como a natureza: faz-se Humano, inventando-se. Andar pelo caminho do leve é já o princípio natural das sociedades, desmaterializar, tentar combater a escravidão das bolsas atávicas nessa base que não canse por tão imperecível e estática... Estamos no momento transformado e isso sente-se diante dos que marcham adiante. Vem este primeiro prólogo a propósito das eleições presidenciais, deste entrançado de tempos que não culmina numa visão de ecrã único e tridimensional, mas num regresso de fundo que tresanda a mofo. Tal como nas operações físicas, o corpo melhora com... vamos chamar-lhes, novos ares... dado que transformações são revoluções, onde podem ser implantados órgãos novos e membros, transformando para sempre a primeira condição. Se experimentamos uma rinoplastia, passado uns anos o septo está de novo torto na mesma direcção, o efeito dura poucos anos, só o tempo dele restruturar a sua memória, ora, olhando para isto, para o que se vai passar, quarenta anos volvidos sobre aquela “operação cirúrgica”, o organismo social capitulou: eis que vêm todos agora ainda mais veementes ocupar a cena social. Acresce mesmo que não faltam Marcelos, Senhoras de Belém e até Padres. Poder-se-ia dizer — eis um acaso — só que não o é, e numa linha muito estóica permito-me agora considerar: ordenada é a Natureza permeada de racionalidade e nós o princípio passivo que sofremos a acção de uma razão maior, o que faz com que a haver um fio condutor inquebrantável ele se deva a tal desígnio dessa memória que permeia todas as coisas. A memória que criámos de
HIERONYMUS BOSCH, A NAVE DOS LOUCOS
A memória do corpo
um “pathos” vai certamente marcar toda a estrutura do tema. Por uma qualquer falha do pensamento colectivo, a Nação não tem uma sã consciência da morte, essa noção de rigor e de limite que lhe daria um sentido da prioridade — não, não deseja essa abordagem — bem como desistir
Quarenta anos volvidos sobre aquela “operação cirúrgica”, o organismo social capitulou: eis que vêm todos agora ainda mais veementes ocupar a cena social. Acresce mesmo que não faltam Marcelos, Senhoras de Belém e até Padres
dos ciclos que passaram. Somos amigos dos que se foram e não raro mantemos com eles relações de continuidade tais que é difícil saber-se onde ficam nos nossos tempos. É assim no amor, no trabalho, nos pequenos e grandes artefactos, seguros que estamos que toda esta tralha acumulada, não só é riqueza, como requerida por alguém nalgum tempo, e em qualquer lugar. O corpo, na sua memória, não tem espaço para inovar, e uma coisa é consumir o que nos deu o progresso e outra é mudar as rotas do seu sangue. A Nação encontra-se bizarramente no mesmo lugar de há quarenta anos. Até acho que mesmo sem “Revolução” se tinha produzido pela inevitável marcha dos tempos internacionais os mesmos resultados, ou melhor, talvez até tivéssemos exactamente no mesmo lugar volvidos quarenta anos, dado que uma senhora das missões, um afilhado de um ditador e um ex-seminarista , é tudo o que sobrou para a representar.
Efectivamente não há mais, não há mais por onde escolher mas, neste mesmo lugar que de quarentena em quarentena se nos apresenta vazio, o século vinte, no início, deu sinais de ser vivo e passível de entendimento revolucionário de vanguarda, em dez anos mataram um rei e um presidente, houve «Orpheu» de Almada, Pessoa, Sá-Carneiro, existiu envolvimento que poderia ter impulsionado o futuro, mas uma avareza insaciável apossa-se de cada um e lá vem o Santo Ofício mascarado em Pide e o Povo fazer o que sempre soube de melhor: guardar a sua herança parada. As leis físicas são alarmantes, sobretudo num local de gente frágil e medrosa pela sua condição estrutural e também pela sua fragilíssima condição social que prefere não ousar naquilo a que tem direito. Nunca esquecem o passado, mas negligenciam o presente e esquecem o futuro. Este corpo, com estados de progresso e de avanços conseguido, o corpo que cresce, onde por vezes as pernas se tornam gigantes e saem da moldura, como disse Eugénio de Andrade, este corpo lembra-se de nós sempre pequenos e nós apenas quiséramos sair da moldura, e ficar, um pouco lá, só no coração, mas não enfiados dentro dela, e então, ele trazendo todos os ecos de antanho, meios mortos, meios arquétipos, vem dizer algo de medonho: pensaram andar, mas basicamente ainda estão parados; e queremos tirar este sangue denso que nos cobre de atraso e lei, como se arrancássemos um órgão congelado. Devia haver um mantra que nos permitisse dizer: — Nação, nenhum de nós forçará a tua morte todos te ensinaremos a morrer, nenhum dissipará teus anos, mas te oferecerá os seus. Fomos guiados para aqui no momento em que não sonhávamos que iria entrar nas nossas vidas este sistema tão programado como os ciclos banais. E nem há que olhar mais para o que está. Tal como o Barco de Peter Pan : eu acho que já o vi este navio há muito tempo, mas nesse tempo eu era feliz. Fatigantes e atormentadas provas nos trazem invariavelmente aos mesmos lugares, e não vale a pena acrescentar que não quero ninguém que se candidate desta maneira, por que esta maneira, mesmo a do tempo em que era feliz, também por isso, ou sobretudo por isso, não quero voltar a lembrar.
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hoje macau quinta-feira 21.1.2016
José Simões Morais
DeslumbrAR acontecimento F
ASCINANTE reflexão do Estar. Há cerca de uma semana ocorreu o lançamento da revista Órfão, homenagem à Cidade de um Artista, Poeta e Escritor, para além de Jornalista, que resultou num Momento Cultural em Macau de plena Arte. O local? Livraria Portuguesa, mas para escapar ao enterrar sobre o peso dos livros que às nossas cabeças se sobrepõem, somos fugidiamente levados para dentro da cave. O anúncio está à descida, por escadas, ao Outro Mundo e provado no veneno, entra-se de golada. A negridão da sala, avivada branco luz negra, recebe com um obrigado por ter vindo e como boas-vindas à entrada, para entrar, oferece um copo de acolhimento. Há a escolha entre o álcool, dois de destilação cerealífera e um de fermentação de fruta. Bebido num golo, então está-se entrado. Aos olhos, o Momento esperou para, depois de o todo, comprimido na multidão do compartimento, expandir e abrir-se à representação. As figuras difusas ali se aglomeravam a preencher o Espaço. Esperava-se algo! Viajante volatizo para os fins de um canto encontrado, tal o número de pessoas que tiveram o privilégio de ao vivo assistir a este Acontecimento. Acontecimento já a acontecer na sala cheia, não de sombras, mas pela difusa luz negra que soleirava na sombra os espectadores, muitos sentados e os que de pé ficaram, sobre um ambiente que retirava a comunicação às pessoas e por isso, não se falava e entre si cochichavam. Na sala já não se repara e do negro Aparece. Sentado, capa e máscara negras, atrás da mesa. Medita para chamar o que está para trás e com alma (ling) vai qual mar Pessoalizando-as em etapas com focos no seu bordado do Céu. Assinalando o despir das personagens, des-cobrindo-as ao retirar as roupagens de cada figurino representante de si mesmo, chega à camisa branca englobado no Surrealismo sem Política e por isso, Sobre-Real. Chama dos fundos os viajantes e, um pelo órfão do Orfeu, escutando os murmúrios do reconhecer o acolher de quem recebe, distribui novos copos de ligação.
RESSUSCITAR 1
As palmas emocionadas bateram-se e abertas as brancas luzes com mais en-
são de o ficar sem nada, não há narrativa e repesca-se no Autor. Argonauta Órfão Macao, o cenário para recriar ainda no quotidiano, o Paraíso de um reavivar Universo que já acabou e apenas pelos que reconhecem... um palco de Excelência no acto da Criação. Uma Obra. Arte! Ficou de fora quem não esteve e esse momento de comunhão nas catacumbas de uma livraria serrou estares, sem erros da perspectiva com que se projectou e esmiuçando se perspectivou num fundo de personagens. Colocou-se fora do ponto feito apenas pelos nossos olhos, escutado e lido atrás das palavras, pois pelo resto dos sentidos, ele deu-nos o Vivo. Confundiu a imagem mental no que os nossos olhos não vêem e foi construindo-a para isso. Foi num Sábado a ocorrência do Acontecimento, tão (im)pressionante momento realizado por CARLOS MORAIS JOSÉ onde vincada esteve a Arte mágica do Estar. Verdadeiro, tão que se despediu representado já no relógio daquela peça num Domingo, extensão que levamos para casa como Órfão. Por esse momento que se expandiu até hoje, deixo aqui o proibido Olhar para trás, sabendo reviver apenas em memória as que se seguirão para de novo trazer um momento à Cidade, como Este, que acontece há uma semana. Momento que nos revê e faz, sentido de quem tem a direcção em dois sentidos.
Um Bem Haja! Obrigado Carlos. tusiasmo ecoaram, hora chegada das perguntas. Apareceu o Brilho das respostas num estádio elástico de espaço de conhecimento, primorosamente abarcado pela criança que, sem o intelectual, traz o instinto do ser Arte, no acto artístico de Estar. Arte essa que pela definição da Natureza espartilha-a em significados cuja imagem mental reflecte pela sabedoria do Todo, pois já não se distancia para se olhar/observar/ver a observar-se.
Sim, Está. E foi o Escritor, o Actor, o Editor e Produtor, Homem dos sete ofícios e artes, que se desenovelou como só quem é criança tem em si. Fora do si próprio (do subconsciente), envolve um ambiente de uma viagem a um todo que é o estar em criação e representando-se atinge o seu melhor nas respostas às perguntas. E das suas? Envolveu-se no ser Órfão, onde perdidas as referências qual morte no Ovo, está sem pais, não os biológicos, mas como artista na disper-
NOTA: Por razões éticas profissionais prolonguei esta reflexão do acontecimento que presenciei e esperançado de o ver registado em Outros jornais, já que pela aceitação da descriminação positiva para contrapor à negativa, hoje se vê pelo que É. Demonstrada em competição num mundo de reinóis, ou de multinacionais redes que não alinham no Universo sem o viva Al e El do dinheiro. Macaus, onde a dialéctica do positivo para contrariar o negativo, não deixa de ser de uma comercial herança, mas crendo porque a Arte não traz competição, faltaram mais projecções e os jornais ficaram em silêncio. Falta de Ética era não deixar registado o Acontecimento que presenciei na Livraria Portuguesa no sábado, 9 de Janeiro de 2016.
17 hoje macau quinta-feira 21.1.2016
?
FUTILIDADES
TEMPO PERÍODOS DE CHUVA MIN 14 MAX 17 HUM 85-98% • EURO 8.81 BAHT 0.22 YUAN 1.22
O QUE FAZER ESTA SEMANA Amanhã
NOITE DE PIANO NA GALERIA Fundação Rui Cunha, 18h00 Entrada livre
AQUI HÁ GATO
ERROS. E ENTÃO?
Sábado
SATURDAY NIGHT JAZZ Fundação Rui Cunha, 20h00 Entrada livre MDMA E PACHA PARTY Pacha Macau, Studio City Bilhetes a 200 patacas
Diariamente
BIENAL DE DESIGN Museu da Transferência de Soberania Entrada livre
O CARTOON STEPH
EXPOSIÇÃO “MANUEL CARGALEIRO - 1954-2006” Casa Garden Entrada livre
SUDOKU
DE
HISTÓRIA NAVAL Arquivo Histórico de Macau Entrada livre EXPOSIÇÃO “AGUADAS DA CIDADE PROIBIDA” (ATÉ 07/2016) Museu de Arte de Macau (MAM) Entrada a cinco patacas
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 13
PROBLEMA 14
HOJE HÁ FILME
Cineteatro
C I N E M A
THE 5TH WAVE SALA 1
16.45, 21.30
Filme de: J. Blakeson Com: Chloe Grace Moretz, Nick Robinson, Ron Livingston 14.30, 16.45, 19.15, 21.30
SALA 3
THE 5TH WAVE [B]
SALA 2
STEVE JOBS [B]
Filme de: Danny Boyle Com: Michael Fassbender, Kate Winslet, Seth Rogen 14.30, 19.15
THE BIG SHORT [C]
Filme de: Adam Mckay Com: Christian Bale, Brad Pitt, Ryan Gosling, Steve Carell
THE BIG BEE [C]
FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLES Filme de: Yukihiko Tsutsumi Com: Yosuke Eguchi, Masahiro Motoki, Yukie Nakama 14.15, 16.45, 21.30
“21” (ROBERT LUKETIC, 2008)
Hoje é dia de Kevin Spacey. Sim, existem actores tão bons que merecem ter um dia. “21” é o mesmo que dizer Blackjack, mas é também o nome de um filme de Robert Luketic. Protagonizado pelo gigante de K-Pax, conta a história de um grupo de alunos que trabalha para um professor universitário do MIT. Mas em circunstâncias pouco legais. É que Jim Sturgess lidera uma equipa de jovens cuja mestria é fazer batota à mesa de casinos. Parte do dinheiro vai para os génios e outra cai nos bolsos do professor. O filme ganha contornos menos felizes quando a fortuna deixa de rolar para o lado certo. Leonor Sá Machado
SALA 3
IP MAN 3 [C]
FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLES Filme de: Wilson Yip Wai Shun Com: Donnie Yen, Lynn Xiong, Max Zhang 19.30
Toda a gente comete erros. Tanto pequenos como grandes. Uns erros afectam apenas quem os comete, outros prejudicam terceiros. Tanto na vida, como no trabalho e na sociedade, todos nós fazemos erros. Uns erros podem ser corrigidos depois, se quisermos, outros fazem-nos perder oportunidades. Outros são irreparáveis, sobretudo quando magoamos alguém ou algo. Quando somos pequeninos, existem sempre mais oportunidades para corrigir o que foi feito de mal. É mais fácil pedir perdão aos outros, porque “somos novos e precisamos de aprender”. Mas depois crescemos. E ao crescer, cometer erros passa a ser algo a evitar porque somos adultos e temos conhecimentos, somos profissionais, somos experientes. Digo sempre a mim próprio para ter cuidado e não cometer erros. Mas, como é óbvio, às vezes é inevitável: pode ser por ignorância, mas também pode ser da disposição do dia-a-dia. Se estamos mais tristes ou chateados é mais fácil cometer erros. Há quem fique muito zangado com erros – porque não cometê-los é o seu princípio de vida – e há quem não se importe tanto. Mas acredito que não importa quantos erros se façam, é preciso compreender, perdoar e ajudar a que não se repitam. O mais importante é, claramente, aprender e crescer através deles, sendo esta uma fase natural da vida. Pu Yi
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18 OPINIÃO
hoje macau quinta-feira 21.1.2016
FOTO ELIA KAZAN, ON THE WATERFRONT
chá (muito) verde
E
MACAIOS UNI-VOS!
U sou macaio. Senão pergunto-me: alguém no seu perfeito juízo, estando ou sendo da terra, se pretender dar-se ao respeito poderá ser outra coisa que não macaio? Macaio tem muito mais “tchan” do que macaense, macaísta ou macaês. É bem melhor que português ou mesmo chinês. Não se compara com norueguês e muito menos com tailandês. Macaio rima com malaio e só alguém de mente “canhês” pensará em meter-se com um malaio. Não se brinca com um malaio, como não se brinca com um macaio! O macaio dá-se ao respeito. O macaio não é parvo. Catraio talvez, mas não é parvo. O macaio olha de soslaio com um riso “mambaio”. Como macaio eu atraio, falo com o aio e com o catraio e depois saio. Como macaio eu vaio de Maio até Maio até que me dê o badagaio. Macaio rima com paraguaio. Para quê? Para guaio! Como macaio não sou lacaio mas também não desmaio. Macaio rima com paio e viver sem paio não é viver, c’um raio! Só como macaio rimo com paio. Como macaio eu ensaio e reensaio, e depois sobressaio. Por isso, somos todos macaios. Que me interessa a mim de onde vens ou para onde vais se aqui vives e aqui respiras, aqui te agasalhas e aqui procrias, se aqui comes e aqui amas, se aqui esmoreces e aqui rejuvenesces, se aqui estás, é tudo o que me interessa. É preciso ser macaio para sentir Macau. Quem não sente... “c’um raio!” Não é filho de bom macaio. O macaio é da terra, adoptou a terra, é daqui, está aqui. Calcorreia da San Ma Lo à Areia Preta, de Hac Sa ao Venetian. Os macaios são tugas, são filipinos ou portugueses, chineses, indonésios, cabo-verdianos, moçambicanos, angolanos e outros africanos; são os italianos, os franceses, os japoneses, os tailandeses, gajos de Hong Kong, gajos de Fukien, os vietnamitas, gajos com mais disto, gajas com mais daquilo. São Han, são isto, são aquilo e qualquer outra coisa de impensável.Até são macaenses. Os macaios são daqui. Os macaios vivem aqui. Os macaios
FERNANDO ELOY | 义來
Um manifesto
É preciso ser macaio para sentir Macau. Quem não sente... “c’um raio!” Não é filho de bom macaio. O macaio é da terra, adoptou a terra, é daqui, está aqui. somos nós. Eu sou macaio! “Guetos”, dizem uns, quiçá momentaneamente esquecidos das lições da sociologia ou temporariamente arrebatados por uma crise epidérmica. A prática também mostra, se quisermos ver, como os grupos não se juntam por nacionalidades mas por afinidades. Eu, por exemplo, recuso a dar-me com microcéfalos, campestres, esgalgados e outros parvos chapados. Por isso não me misturo nesse gueto, como os desse gueto não se misturam no meu por o acharem ainda pior do que eu acho o deles. Guetos?... só os forçados me incomodam. Como macaio eu ensaio e reensaio, e depois sobressaio. Posso ser garraio mas prefiro ser macaio. Borrifo-me nos “enses” e nos “eses” e em todos os outros que não rimarem macaio. Sou fundamentalista. Racista, quiçá. Ou se é macaio ou se é estrangeiro, mas os macaios dão-se bem com os estrangeiros porque todos os macaios são estrangeiros. E estamos zangados. Macaios e outros aios, estamos zangados.Aterra mudou, mudou como um raio. Foram-se as rimas e os espaços, os sagrados e os profanos, foram-se as tradições da comarca, como também foram as da Dinamarca. Eles lá se queixarão.... Mas talvez na Dinamarca não se tenham encantado com jorros de ouro, nem alguém tivesse trocado forma de vida por vida de forma. Mas que sei eu da Dinamarca? Sei que as tradições mudam
e que a coisa também não vai bem. Também sei, ou desconfio que sei: quando o ar fica espesso, quando o espaço não chega, macaio ou paraguaio, tailandês ou finlandês, a todos nos dá para bater no freguês. Alguns batem na mulher. Outros levam da mulher. Mas normalmente batemos, figurada ou literalmente, nos que nos estão mais perto. Talvez na esperança do perdão por afinidade. Do amor, quiçá... Afinal de contas a culpa não é nossa. É da cena. É de tudo, nós somos apenas umas vítimas das circunstâncias... mas entretanto já arriámos o malho! Já dissemos o que não queríamos. Podíamos até partir a cara àquela outra figura desconhecida, àquele cara de “chupa-ôvo”, mas não - porque esse não nos ia perdoar. À partida. Mais vale bater a quem nos está próximo, talvez porque o perdão sabe tão bem. Como mel para urso. Grave ou menos grave, os agressores precisam sempre de ajuda e os que reagem também. Como o bebé chora para pedir colo, pedir mama. A pedir compreensão ou apenas um carinho. Pois. Isn’t that a bitch? Como macaio eu ensaio e reensaio, e depois sobressaio. O macaio desde há muito, muito tempo habituou-se a viver o mundo, pelo que só lhe resta vivê-lo. Esta disciplina? Aquela? Aprendemos isto ou aquilo? O macaio aprende tudo e depois vai para o gandaio. “Boeuf”.. diria o francês, por ente odores de Beaujoulais, olhado de soslaio pelo macaio mas com um sorriso catraio, como um brasiliguaio, a pensar no desmaio. Ser macaio é ser tudo. Poderemos nós ser menos do que tudo? Qual seria o gozo de semelhante cambaio? Macaios uni-vos!
MÚSICA DA SEMANA David Bowie – “Scary Monsters (And Super Creeps)” (...) She could’ve been a killer if she didn’t walk the way she do, and she do She opened strange doors that we’d never close again She began to wail jealousies scream Waiting at the light know what I mean [CHORUS (twice)] Scary monsters, super creeps Keep me running, running scared (...)
19 hoje macau quinta-feira 21.1.2016
bairro do oriente
Como a gente (é) muda... I Muito daquilo que NÃO se faz em Macau se deve a uma espécie de “tilt” administrativo, algo que não vemos, não sentimos, é inodoro e não-tóxico, mas que está lá, isso está. Cada vez que se apregoam chavões do tipo “capacidade de decisão”, “liderança” ou “meritocracia” (deixa-me rir), é sinal de que realmente há ou havia algo de que estávamos à espera desde que a RAEM viu a luz da noite de 19 para 20 do doze dos noventa e nove. O novo hospital público, eis um exemplo tão perfeito que nos grita aos ouvidos. Eu não acredito por um segundo que as calendas que se vêem gregas para as quais atiraram essa infra-estrutura que tanta falta nos faz, tão doentinhos que somos, pobrezinhos, se devem (ou deviam) a falta de terreno para montar a barraca hospitalar. Mesmo aquele argumento da falta de pessoal médico, ou de técnicos que operem o material hospitalar XPTO de que dizem dispor deixa-me com muitas dúvidas – não que seja mentira, atenção, mas com toda a certeza há dinheiro de sobra para tapar o problema que não é problema nenhum. O que faz falta é quem decida, quem assuma, quem dê um murro na mesa, em suma, quem afirme alto e bom som: “Sim! Fui eu quem mandou fazer esta treta, e depois? Acordaste hoje com vontade de levar nas ventas? Uh?” (Passo mais uma vez o exagero). O que temos são serviçais, e para que não se pense que estou a cometer alguma inconfidência, ou mandar larachas à socapa, acrescento que esses serviçais somos todos nós, sem excepção. É verdade que aqui a coisa pública funciona muitas vezes mal, ou não funciona, e isto pode-se talvez explicar pela falta de “fé na Santa” logo à partida, com pouca ou nenhuma confiança por parte da administração anterior (pré-transição, entenda-se), que sempre que tinha oportunidade sussurrava-nos entre dentes: “pisguem-se mas é daqui para fora”. Digamos que logo aí fica posta de parte a vertente romântica do “gostar por amor”. Eu pessoalmente julgo que muitos de nós – senão mesmo a maioria – ficaram na base do “...até me chatearem”. O que ficou, bem, é o que há, e aqui entre o ulular angustiante dos queixumes do costume temos como ruído de fundo os murmúrios que a nada de estranho nos soam: “...elevado grau de autonomia”, “Macau governado pelas suas gentes” – e este último já nem da cassete oficial consta, de tão ilusório e torto que nasceu, coitadito. E no fim com tudo descascado, lavado e temperado, temos o prato principal: ninguém decide, com medo de morrer decida (subtil, tão subtil). E quem decide? “É a China” – resposta padrão, como quem diz “cala-te e come a sopa”. E é isso mesmo que “China”
SIDNEY LUMET, 12 ANGRY MEN
LEOCARDO
aqui representa, uma palavra que nos poupa a considerações, conjecturações, teorizações das conspirações, todos esses “ões” que até ajudam a engolir mais depressa o comprimido – “ Ah pois...a China. Como é que me fui esquecer de uma coisa tão grande”. E pronto, quando quiserem a reforma administrativa, a “meritocracia” (outra vez e em internetês: LOL) e todas essas patranhas que queríamos ver por aí à solta descascadinhas e de cabelos ao vento, mas sempre soubemos que eram só gases, perguntem antes, ahem, “à China”. (Piscar de olhos). II Vamos ter eleições presidenciais em Portugal, e parece que é já este Domingo. Ou no próximo. Sei lá? Juro pelo que quiserem que estava convencido que eram só para o ano que vem, imaginem só. E de facto a figura do Presidente da República de Portugal parece ter entrado no vasto leque de “coisas que não
O que faz falta é quem decida, quem assuma, quem dê um murro na mesa, em suma, quem afirme alto e bom som: “Sim! Fui eu quem mandou fazer esta treta, e depois?
dão dinheiro, só chatices”. Para apicantar as coisas (ou torná-las insuportavelmente insonsas), tivemos lá nos últimos dez anos um figurão que fazia lembrar a Morte, ceifeira das almas. O Exmo. E Revendíssimo Cavalheiro a que me refiro (afinal, haja um bocadinho de respeito, bois. Perdão, “pois”) andou uma década aparentando estar a passar por um tormento, daqueles destinados aos danados do Inferno, deixados às mãos do próprio Demo, e que através do seu olhar fechado e impenetrável nos parecia querer mostrar que não há esperança. Ser presidente de Portugal é uma coisa que ninguém quer, mas “tem que ser”. E aquele santo que agora nos deixa, e vai tarde desde a primeira hora, resolveu sacrificar-se por nós, pecadores, e mesmo não sendo da Galileia, é de Boliqueime, que é mais ou menos o mesmo. Têm ambas as letras “a”, “i” e “e”, como podem ver. Ah, já agora, este ano temos 10 (dez) candidatos! Uau, e se antes era tudo resolvido entre candidatos indigitados pelos crónicos e alternantes funileiros do tachismo lusitano, estes agora marimbam-se para essa “seca” e temos dez patetas alegres, tão maus, que qualquer um que ganhe me deixa com vontade de me tornar apátrida. Desde que me lembro de assistir às Presidenciais (leia-se 1985, rei Marocas I), havia pelo menos um candidato que eu me importava menos se ganhasse. Hoje penso que aquela gente que tem vindo para a televisão dizer aqueles disparates e entrar em peixeiradas mil devia era ser toda presa. É como se vê, como a gente (é) muda.
OPINIÃO
“
O
arquitecto Nuno Teotónio Pereira, que faleceu ontem, em Lisboa, aos 93 anos, foi um dos pioneiros da habitação social, contestou a arquitectura do regime de Salazar e defendeu a importância da beleza e do bem-estar nos edifícios. Com mais de 60 anos de carreira, o arquitecto nascido em Lisboa, em 1922, foi homenageado pelos pares na Ordem dos Arquitectos, em 2010, e recebeu no ano passado o Prémio Universidade de Lisboa. Na altura, a Universidade destacou o exercício “brilhante” na área da arquitectura e apontou-o como uma “figura ética”. Nuno Teotónio Pereira, que faria 94 anos a 30 de Janeiro, foi galardoado por três vezes com o Prémio Valmor para edifícios como a Torre de Habitação Social, nos Olivais Norte, o chamado Edifício “Franjinhas” e a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, todos em Lisboa. Pioneiro na área da habitação social, foi também um activista dos direitos cívicos e políticos, integrando o movimento dos chamados “católicos progressistas”, que o levou por várias vezes à prisão no regime ditatorial do Estado Novo. Participou no 1.º Congresso Nacional de Arquitectura, em 1948, afirmando-se como um dos
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Não está ainda definido um regime definitivo, nem fixado um calendário para a implementação do acesso de automóveis de Macau à Ilha da Montanha. Mais uma vez, e depois de tal ter acontecido anteriormente, as autoridades de Zhuhai avançaram esta semana que a medida será implementada em breve e que a proposta para tal foi já apresentada, mas o Executivo de Macau diz que nada está definido e que o Governo divulgará formalmente as informações quando estas forem definidas”.
NUNO FERREIRA SANTOS, PÚBLICO
ENTRADA DE CARROS NA ILHA DA MONTANHA SEM PRAZO
Luís de Camões, Os Lusíadas, CXXIX
Pioneiro e activista
TAP SEAC CONCURSO PÚBLICO PARA REMODELAÇÃO DA CASA DE VIDRO A Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) abriu um concurso público para a remodelação da Casa de Vidro do Tap Seac. De acordo com um despacho ontem publicado em Boletim Oficial, e assinado pelo director do organismo, Li Canfeng, é dado um prazo máximo de 330 dias para a remodelação do “Centro Comercial da Praça do Tap Seac”, conhecido como a Casa de Vidro, sendo que as empresas interessadas têm até 25 de Fevereiro para apresentar as propostas. A caução para as empresas é de 660 mil patacas mas não há um preço base para a remodelação. O Executivo diz que vai ter em conta o preço, o plano de trabalhos, a experiência e qualidade das obras e a integridade e honestidade para avaliar as empresas. Guilherme Ung Vai Meng, presidente do Instituto Cultutal, disse na apresentação das Linhas de Acção Governativa que o espaço será usado para exposições e acolher obras do Macau Ideas, ficando também aberto a actividades de escolas e outras entidades.
quinta-feira 21.1.2016
Óbito NUNO TEOTÓNIO PEREIRA (1922-2016)
TEMPERATURAS PODEM DESCER PARA 7ºC OU MENOS
Os Serviços de Saúde alertam para a necessidade de prevenir a hipotermia, uma vez que as temperaturas mínimas deverão descer nos próximos dias para 7ºC ou menos, de acordo com os Serviços Meteorológicos e Geofísicos. A hipotermia ocorre quando a temperatura corporal do organismo cai abaixo dos 35ºC, sendo o principal motivo a falta de roupa quente adequada ou a exposição prolongada ao frio. Os outros factores de risco incluem doenças crónicas, traumatismo, infecção, consumo de álcool, abuso de medicamentos ou substâncias similares e permanência prolongada na água.
Vês: corre a costa que Champá se chama, / Cuja mata é do pau cheiroso ornada; / Vês: Cauchichina está, de escura fama, / E de Ainão vê a incógnita enseada; / Aqui o soberbo Império, que se afama / Com terras e riqueza não cuidada, / Da China corre, e ocupa o senhorio / Desde o Trópico ardente ao Cinto frio.
opositores à estética do regime de Salazar, nomeadamente contra a ideia de uma “arquitectura portuguesa” típica. Assinou, ao longo da vida, dezenas de projectos em nome próprio ou em co-autoria com arquitectos como Bartolomeu da Costa Cabral, Nuno Portas, João Braula Reis e Gonçalo Byrne, entre outros.
AMOR ALFACINHA
O histórico arquitecto, continuava a declarar “um grande amor por Lisboa”, uma cidade onde procurou sempre “contribuir para a beleza do espaço e o bem-estar das pessoas”. “A construção está quase parada em Portugal. Há pouco dinheiro, mas um projecto feito por um arquitecto competente sai mais económico do que se for feito por um arquitecto incompetente”, comentou, em 2010, numa entrevista à agência Lusa. Formado na Escola de Belas Artes de Lisboa, recordou que, “antigamente, havia um conceito errado ao recorrer aos arquitectos apenas para criar obras sumptuosas”. “Hoje, os arquitectos devem fazer desde as obras mais modestas às mais grandiosas”. Com uma experiência de vinte anos na área da habitação social, defendeu que este conceito “continua a fazer sentido,
enquanto houver pessoas ou famílias sem casa digna”. “Estou esperançado que acabem com os bairros de lata no país”, comentou o co-autor do projecto de Habitação Social para Olivais Norte, que viria a receber o Prémio Valmor em 1968. Defendia, contudo, que a habitação social devia ter certas características, como não se diferenciar da restante paisagem urbana para evitar ser de imediato classificada como “casa dos pobres”, e fugir à criação de “ilhas” sociais.
BOAS INFLUÊNCIAS
Nuno Teotónio Pereira decidiu seguir arquitectura contagiado pelo entusiasmo de um colega, Carlos Manuel Ramos (filho do arquitecto Carlos Ramos), numa altura em que se sentia mais inclinado pela Geografia. A paixão pela arquitectura manteve-se ao longo da carreira, mas “houve momentos difíceis”, sobretudo durante o regime salazarista, quando foi preso várias vezes pela PIDE, a polícia política da ditadura. Teotónio Pereira repudiava as pressões para alterar projectos conforme o gosto do regime: “Sempre defendi que os edifícios devem ser construídos de acordo com o seu próprio tempo. Eles queriam que se construísse tudo no estilo antigo”.
SAÚDE SÃO JANUÁRIO, O ETERNO PREFERIDO
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EI Chin Ion acredita que o hospital Conde S. Januário vai continuar a ser aquele a quem mais a população recorre. Pelo menos nos próximos dez anos. O director dos Serviços de Saúde (SS) disse de sua sentença ontem, no programa Macau Talk do canal chinês da TDM. A afirmação surgiu durante um debate sobre a construção do Complexo das Ilhas. “Caso o Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas seja concluído em breve, os residentes vão continuar a ir ao S. Januário porque já têm esse hábito, até porque o Centro de Doenças Infecciosas vai lá ficar ao lado”, disse. No mesmo programa, alguns ouvintes mostraram-se preocupados com o facto das instalações do futuro Centro não serem seguras. A estes, Lei disse que será organizada uma visita prévia ao prédio em questão. “Os SS vão organizar uma visita às instalações do Centro que está já construído em Coloane para que as pessoas percebam como será este próximo”, disse. O responsável garantiu ainda que serão seguidos “todos os padrões indicados pela Organização Mundial da Saúde”. T.C.
FREDERICO DO ROSÁRIO E JOHN LAI CONTINUAM NA TDM Foram renovadas as nomeações dos membros do Conselho de Administração da TDM Frederico do Rosário e John Lai. A decisão de renovar teve lugar em Dezembro passado e tem a duração de um ano. Ambos cumprem funções na direcção da TDM desde 2011, altura em que foram nomeados directoresexecutivos da empresa. A nomeação dos dois responsáveis tem sido renovada anualmente e o anúncio foi publicado em Boletim Oficial.