Hoje Macau 21 OUT 2016 #3680

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

SEXTA-FEIRA 21 DE OUTUBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3680

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hojemacau

SOFIA MOTA

CALÇADA PORTUGUESA

Pedras para andar Foi lançada uma petição para que a calçada portuguesa seja património mundial. Macau espera pela candidatura

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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GRANDE PLANO

MIF

ILHA VERDE

TUFÃO

Negócios A colina Ventania na mesa da saudade anunciada PÁGINA 7

PÁGINA 8

PÁGINA 9

OPINIÃO

Macau a brincar ISABEL CASTRO

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Oceano Pacífico JOSÉ SIMÕES MORAIS


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CALÇADA PORTUGUESA MACAU AGUARDA CANDIDATURA DE PORTUGAL À UNESCO

Um calceteiro em Portugal resolveu lançar uma petição para promover a calçada portuguesa a património mundial imaterial, numa altura em que tem sido removida de muitas ruas lisboetas. Em Macau aponta-se a falta de formação e de calceteiros, mas defende-se que a classificação da UNESCO poderia valorizar ainda mais a calçada

SOFIA MOTA

GRANDE PLANO

ESTAS PEDRAS QUE PISAMOS F

ERNANDO Correia começou uma luta pela preservação da calçada portuguesa, mas não está sozinho. Criou uma petição, já recebida pela Assembleia da República, que pede que Portugal faça uma candidatura à UNESCO para que a calçada seja património mundial imaterial. “A calçada portuguesa é um património que faz parte da nossa história e preservá-la não só nos difere de todo o resto do mundo, como nos caracteriza a nós, portugueses, uma nação que evidencia e constrói um tipo de

arte tão apreciada além-fronteiras. Portugal é um dos países mais visitados pelo turismo internacional, sendo a calçada portuguesa um dos temas mais apreciados”, escreveu na petição.

O calceteiro de profissão que, até ao fecho desta edição, não respondeu às perguntas do HM, alerta ainda para o desaparecimento gradual da calçada portuguesa de muitas das ruas de Lisboa. Esta tem sido, para

“Em Macau tivemos cerca de 20 calceteiros portugueses e ninguém sabe sobre isto. Aqui ninguém fala, ninguém sabe quem foram os autores das calçadas, acho que houve uma falta de memória.” FERNANDO SIMÕES O ÚNICO CALCETEIRO PORTUGUÊS A VIVER EM MACAU

Fernando Correia, substituída “por um tipo de pavimento que, diga-se de passagem, carece de um forte aspecto visual e de durabilidade duvidosa”. “Existem diversos casos, como o Terreiro do Paço em Lisboa, que tinha uma calçada portuguesa toda executada em desenhos, tendo sido removida e colocado posteriormente um pavimento que, passado poucos anos, já se encontra bastante deteriorado, não se enquadrando com a restante arquitectura na zona da baixa Pombalina”, acrescentou. Fernando Correia explica na sua petição que os constrangimentos advindos da calçada portuguesa


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ASSOCIAÇÕES CHINESAS DEFENDEM PROTECÇÃO E EFICÁCIA

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O lado das associações chinesas ligadas ao património, a inclusão da calçada portuguesa na lista do património mundial imaterial da UNESCO é vista como uma mais-valia. “Penso que será muito possível que a calçada portuguesa entre na lista, mas será difícil

para a UNESCO porque cada cidade portuguesa tem a sua calçada. Do ponto de vista do imobiliário ou do cenário de uma cidade, a UNESCO não pode incluir só as calçadas de Lisboa e não as de Coimbra, por exemplo”, disse Nero Liu, presidente da associação dos

podem ser contornados. “Uma das maiores dificuldades que as pessoas relatam tem que ver com o facto de que a calçada escorrega. É um facto aceitável. Contudo, existem diversos tipos de calçada antiderrapante, tal como a calçada em granito.” Macau, provavelmente um dos lugares fora de Portugal onde mais existe calçada portuguesa, diz apoiar esta candidatura, caso seja essa a vontade do Governo português. “A calçada portuguesa é um tipo de arte do pavimento característico a aplicar na estrada, deixando a Portugal uma imagem urbana diferente de outras cidades europeias. Macau é uma cidade que foi influenciada pela cultura portuguesa ao longo prazo, onde há muitas estradas deste tipo como existem nas outras cidades, as quais constituem uma paisagem urbana única de Macau. Assim, se Portugal pretender candidatar para que a calçada portuguesa seja património mundial, o Governo da RAEM irá

embaixadores do património de Macau. Lam Cheok Ho, vice-secretário geral da Associação para a Reinvenção de Estudos do Património Cultural de Macau, defendeu que “convém Portugal candidatar-se”. “Mas a nossa associação considera que

apoiar e participar nesta iniciativa e ficará feliz de ver quando isso acontecer”, disse o Instituto Cultural ao HM, em resposta escrita.

UMA ARTE A DESAPARECER

Fernando Simões, o único calceteiro português a residir em Macau, aprendeu o ofício com 14 anos e veio para o território com 27. Hoje diz que o território perdeu grande parte dos seus calceteiros e que há falta de formação. Há, sobretudo, falta de informação sobre as pedras e os desenhos que diariamente são pisados por milhares de pessoas. “Em Macau tivemos cerca de 20 calceteiros portugueses e ninguém sabe sobre isto. Aqui ninguém fala,

Macau também deve proteger a calçada, incluindo-a na lista do património local ou do interior da China, para que a forma de protecção seja mais eficaz.” “Pensamos que a inclusão da calçada portuguesa na lista de património local seria aprovada porque há

ninguém sabe quem foram os autores das calçadas, acho que houve uma falta de memória. Pode ser que com esta nomeação para património mundial mude o panorama. E será bom para Macau, porque é capaz de ser dos sítios onde há mais calçada portuguesa. E não há registos, ninguém sabe”, contou ao HM. Fernando Simões esteve ligado à pavimentação da zona da Barra, bairro de São Lázaro e o antigo palácio do Governador, hoje sede do Governo. “A petição e a candidatura serão bons para as pessoas valorizarem a calçada, porque é algo que se está a perder. Hoje as pessoas optam por outro tipo de trabalhos.”

É uma arte que está a ser desvalorizada, sobretudo em Portugal. Dá-se mais valor à calçada portuguesa fora do país do que cá.” MANUEL BARBOSA RESPONSÁVEL PELA PAVIMENTAÇÃO DO LEAL SENADO

muitos turistas que têm dúvidas sobre a calçada. Penso que uma inclusão da calçada portuguesa numa lista local de protecção de património seria mais rápida do que a inclusão na lista da UNESCO”, acrescentou. “Além de existir calçada portuguesa em Macau,

O calceteiro afirma que não há novos projectos com calçada portuguesa e o IC também nada disse sobre o assunto. “Neste momento estou a fazer trabalhos de pintura e escultura. Macau é pequeno, mas há um grande mercado na China e há vários arquitectos que estão interessados. Mas há muita gente que não conhece a calçada portuguesa.” Manuel Barbosa coordenou o grupo que pavimentou o Leal Senado em 1993. Actualmente a residir em Portugal, também aplaude a petição lançada pelo seu colega de profissão, tendo uma visão pessimista sobre a sua profissão. “Está a haver muito movimento sobre isso [em Portugal] e é de louvar que isso esteja a acontecer, porque é uma arte que fazemos. É uma arte que está a ser desvalorizada, sobretudo em Portugal. Dá-se mais valor à calçada portuguesa fora do país do que cá”, contou. Manuel Barbosa, que durante um período vinha todos os anos a

também há na Índia e noutros lugares que foram antigas colónias portuguesas, e isso serve de registo da história e cultura da colonização portuguesa. Deste ponto de vista é possível que a candidatura seja bem sucedida”, concluiu Lam Cheok Ho. A.S.S./A.K.

Macau de propósito para vários projectos de instalação de calçada portuguesa, garante que “se dá mais valor à calçada portuguesa” no território. “Todos os anos fui aí fazer projectos do Francisco Caldeira Cabral, arquitecto paisagista. Via que o povo asiático e os macaenses gostavam da calçada portuguesa, e diziam que tínhamos uns belos passeios. Tenho falado com pessoas que estão em Macau e todos me dizem que as ruas têm mais calçadas, que o povo todo gosta e que o território ficará mais valorizado se a calçada portuguesa for património mundial.” Contudo, há “falta de formação, porque se houvesse sempre portugueses a acompanhar os calceteiros chineses, seria uma mais valia. Isso é que faz falta. Vê-se que há muita calçada feita em Macau mas falta qualidade, se houvesse formação isso ia acontecer”, garantiu Manuel Barbosa. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


4 POLÍTICA

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ELEIÇÕES SÓNIA CHAN ESPERA COLABORAR COM “RICAS REDES COMUNITÁRIAS”

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Metro ligeiro PERCURSO NA PENÍNSULA AINDA NÃO REÚNE CONSENSO

Trajecto até ao fim do ano Linha do metro em Macau não tem rumo nem concórdia. Raimundo do Rosário garante definição de trajecto até ao final do ano e deputados continuam a manifestar opiniões relutantes

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Secretário para os Transportes e Obras Públicas garantiu, na passada terça-feira, que até ao final do ano iria dar a conhecer, detalhadamente, o percurso do metro ligeiro na Península de Macau. O deputado Ho Ion San, em reacção às declarações, referiu ao Jornal Ou Mun que, depois da confusão provocada pela construção do metro ligeiro e condicionamento das principais vias da Taipa, a população espera que, aquando das obras na península, o Governo seja capaz de tomar medidas referentes aos congestionamentos do trânsito. “Teria sido bom que os deputados que se insurgiram contra o trajecto na península, tivessem também apresentado outro tipo de sugestões”, lamenta ao mesmo tempo que acrescenta que “agora não é altura para pôr em causa a construção da infra-estrutura na medida em que vai ser necessária tanto aos turistas que tendem a registar um crescendo na região, como à população que podem usar este transporte para ultrapassar os congestionamentos de trânsito”.

Ainda com o trânsito na mira, o deputado considera que a actual situação do tráfego na península não é adequada à circulação do metro. Ho Ion San salienta também a importância do aproveitamento da área costeira para o trajecto, e de forma a conseguir diminuir as preocupações da população no que se refere a congestionamentos e emissões de ruídos. Ho Ion San alerta ainda que o projecto tem sido sistematicamente adiado e que é tempo de ser realizado.

MAIS UMA FONTE DE PROBLEMAS

Já o deputado Si Ka Lon, em declarações ao canal MASTV, manifesta o seu apoio ao cancelamento da linha de metro na cidade de Macau. A seu ver, não há vantagens na construção da infra-estrutura: durante a construção vai causar problemas,

nomeadamente relativos ao trânsito e depois de concluído não traz vantagens de relevo à população, nem vai aliviar os problemas de trânsito”, afirma Si Ka Lon. O deputado aponta ainda as despesas como factor a ter em conta. “O Executivo não se pode esquecer que o metro ligeiro acarreta também gastos de manutenção que ainda são desconhecidos”. O Grupo Root Planning que tem trabalho feito na área comunitária, falou com o Jornal Cheng Pou acerca da agora polémica linha de metro na península. O porta-voz da associação salienta que se a península e a Taipa tiverem sistemas diferentes, também o sistema electromecânico de manutenção, de sinal e de comboio não será aplicável a ambos, “o que vai aumentar substancialmente o custo”. Tal como foi noticiado na passada terça-feira, três deputados à Assembleia Legislativa defenderam, no período de antes da ordem do dia, que o Governo deve repensar o plano que tem para o metro ligeiro do território. Kou Hoi In, Cheang Chi Keong e Chui Sai Cheong entendem mes-

“Teria sido bom que os deputados que se insurgiram contra o trajecto na península, tivessem também apresentado outro tipo de sugestões” HO ION SAN DEPUTADO

mo que não vale a pena avançar com o metro em Macau: basta fazer a ligação entre a Taipa e a estação da Barra.

PERÍODO NEGRO

Os tribunos sustentaram a teoria com a morosidade e transtorno causados pela construção do projecto. “As obras do traçado do metro ligeiro da Taipa são lentas e a população tem de tolerar, mais três anos, um período negro de trânsito”, salientaram. “Se a mesma situação acontecer na península de Macau, é de crer que serão mais graves os congestionamentos de transeuntes e de carros.” Vai daí, os deputados afirmaram que “não vale a pena a construção [do metro] na península de Macau e basta ligar o troço da Taipa à estação da Barra”, sendo que pedem ao Governo que “pondere com cautela” a sugestão deixada. No início desta semana, três deputados ligados à construção civil, Kou Hoi In, Cheang Chi Keong e Chui Sai Cheong defenderam à Assembleia Legislativa (AL) a construção do monocarril em vez do metro ligeiro na Península. em vista do traçado do metro ligeiro na Taipa ainda necessitar de pelo menos três anos para ser concluído, e se a mesma situação acontecer na península de Macau, é de crer que serão mais graves os congestionamentos de transeuntes e de carros. Angela Ka (com SM) info@hojemacau.com.mo

Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, esteve ontem reunida com várias associações para o debate da acção do Governo, onde se incluem a Associação Comercial de Macau, a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) e a União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM), entre outras. Segundo um comunicado oficial, a Secretária quer poder contar com o trabalho das associações para uma maior ligação da população à política. Sónia Chan “espera que, com as ricas redes comunitárias das associações, se possa reforçar o conhecimento dos cidadãos sobre o sistema eleitoral e a consciência de eleições íntegras”, sendo que com a nova lei eleitoral o Governo pretende “assegurar os princípios básicos da equidade, justiça, transparência e integridade nas eleições”. O encontro, que ocorreu no âmbito da realização de reuniões com associações para a preparação das Linhas de Acção Governativa, serviu ainda para debater temas como a criação de órgãos municipais sem poder político, a “reestruturação administrativa, a optimização do sistema dos órgãos consultivos, a promoção do governo electrónico ou a elevação do nível dos serviços públicos”. Foram ainda abordados temas como a necessidade de “ajustamento das funções dos serviços, do reforço da gestão do pessoal da administração pública, da concretização da centralização da coordenação dos trabalhos legislativos e da simplificação do procedimento administrativo de autorização de licenciamento”. Quanto à Lei Básica, Sónia Chan prometeu a divulgação “de forma inovadora, com mais flexibilidade, detalhes e aproximação à vida, na base da actual comunicação estreita e boa cooperação com as associações”.

CHUI SAI ON GARANTE PROTECÇÃO À LIBERDADE DE IMPRENSA

O Chefe do Executivo disse ontem que o Governo “irá continuar a proteger a liberdade de imprensa e de expressão, de acordo com a lei, e apoiar ao trabalho e a formação executado pelo sector local”. De acordo com um comunicado, as palavras de Chui Sai On foram proferidas no âmbito da cerimónia de entrega de prémios de antiguidade da Associação dos Trabalhadores da Comunicação Social de Macau. Foi referida a “determinação do Governo da RAEM na protecção da liberdade de imprensa e de expressão e, de acordo com a lei, o apoio do trabalho e acções de formação, realizadas pelo sector local, que têm como objectivo promover a relação entre o Governo, comunicação social e população, de forma a permitir oferecer serviços de informação mais diversificados”.


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Chui Sai On PORMENORES DOS NOVOS ATERROS NO FINAL DE REUNIÃO DO CPU

PARCERIA DE COOPERAÇÃO MACAU-PEQUIM GEROU SEIS PROTOCOLOS

CHAN MENG KAM PEDE MAIS ATENÇÃO ÀS ANÁLISES DOS TERRENOS

O deputado Chan Meng Kam interpelou o Governo sobre a necessidade de se dar mais atenção às análises realizadas aos terrenos antes da realização de obras. Chan Meng Kam citou os exemplos do Complexo Municipal dos Serviços Comunitários da Praia do Manduco, a habitação pública da Ilha Verde e o parque de materiais e oficinas do Metro Ligeiro, que foram adiados por causa das condições dos solos, por diferirem dos relatórios apresentados. “Segundo as indicações dos profissionais, os relatórios elaborados pelo Governo são meramente informáticos e faltam análises elaboradas por engenheiros geotécnicos. Para além de uma análise ao solo falta também a história geológica do terreno, para que se possa fazer uma avaliação geral”, apontou. Chan Meng Kam questiona, assim, se a formação dos engenheiros geotécnicos do Governo é suficiente, pedindo mais explicações sobre as razões dos atrasos das obras, bem como as alterações que são feitas.

MERCADO VERMELHO COUTINHO QUESTIONA DIREITOS DOS FUNCIONÁRIOS DA BIBLIOTECA

O deputado José Pereira Coutinho entregou uma interpelação escrita ao Governo onde questiona a manutenção de regalias aos funcionários do Instituto Cultural (IC) que terão de trabalhar durante a noite na biblioteca do Mercado Vermelho, numa altura em que estará aberta durante 24 horas. “Os trabalhadores da biblioteca do Mercado Vermelho vão receber subsídio de turnos e ter compensações de horários?”, questionou o deputado, que critica a decisão do IC de ter um espaço aberto 24 horas, ainda que de forma experimental. “As pessoas podem requisitar livros durante o dia e ler à noite. Em geral, os livros demoram vários dias ou semanas a ler, pelo que uma pessoa que esteja muito ocupada durante o dia, se requisitar um livro, só terá de ir à biblioteca de vez em quando. É duvidoso que haja muita gente a ir à biblioteca entre a meia-noite e as nove da manhã. É muito bom que se promova a leitura, mas haverá outros meios”, rematou o deputado.

Por aqui tudo legal

A construção nos terrenos ao lado da torre de Macau vai continuar em segredo e mais desenvolvimentos só depois de feita a análise no Conselho de Planeamento Urbanístico. Quem o diz é Chui Sai On, que garante que todos os processos são completamente legais FERNANDO PIRES

Macau e Pequim assinaram ontem seis protocolos no âmbito da Parceria de Cooperação Macau-Pequim, cuja cerimónia decorreu à margem da Feira Internacional de Macau. O Chefe do Executivo, Chui Sai On, reuniu depois com Wang Anshun, presidente do município de Pequim, onde foi discutida a cooperação com a capital chinesa. Segundo um comunicado oficial, Wang Anshun admitiu que “caso o município de Pequim queira um desenvolvimento sustentável, terá de aproveitar o papel de Macau como porta para o exterior”.

POLÍTICA

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situação dos terrenos da zona B dos novos aterros só vai ter desenvolvimentos e divulgação de pormenores após análise no Conselho de Planeamento Urbanístico (CPU). A informação é dada por Chui Sai On, que sublinha a legalidade de todos os processos relacionados com a Lei de Terras. O Chefe do Executivo participou ontem na cerimónia de inauguração da Feira Internacional de Macau e, em resposta a perguntas de jornalistas sobre o desenvolvimento da zona B dos novos aterros, disse que já foi explicado pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, que o seu desenvolvimento pontual, antes da entrada em vigor do planeamento geral, cumpre escrupulosamente a lei das terras, a lei do planeamento urbanístico e a lei de salvaguarda do património cultural. “O planeamento, que também cumpre os regulamentos das legislações vigentes e o projecto de desenvolvimento, irá ser debatido no seio do Conselho do Planeamento Urbanístico, altura em que o Governo apresentará em detalhe o conteúdo da mesma discussão”, explicou. Quanto ao planeamento global, o líder do Governo salientou que as medidas e os respectivos trabalhos estão a ser cumpridos “dentro dos trâmites inseridos na lei do planeamento urbanístico”. Chui Sai On acrescentou ainda que, de acordo com o entendimento do Governo, o CPU permite efectuar debate e análise de cada construção antes da entrada em vigor do planeamento global.

UM PROBLEMA DE SOMBRAS

Em causa está a polémica que tem feito levantar

vozes por parte de vários deputados e membros da população quanto à altura autorizada para a construção de habitação. O vice-director substituto da DSSOPT, Cheong Ion Man, já defendeu anteriormente que a construção naquela zona está em primeiro lugar na lista de trabalhos dos novos aterros, sendo este o local onde vão ficar os edifícios destinados a órgãos políticos e judiciais. O responsável diz que foi tida em conta a vista da colina e até a chamada “lei da sombra”. Face ao limite de altura, Cheong assegurou que, quando o plano director dos novos aterros foi elaborado, foram considerados os factores de questões aeronáuticas e a visibilidade do património mundial, que não pode – de acordo com a UNESCO – ser tapado. Cheong Ion Man disse ainda que foi feita uma análise por um grupo interdepartamental e especialistas que mostra que “a Zona B tem condições técnicas para se construírem prédios altos”, sobretudo nos espaços perto da Torre Macau, e que “já foram analisadas as propostas mais viáveis”.

CUIDADOS COM A SAÚDE

Chui Sai On aproveitou a ocasião para agradecer a atenção que tem recebido pelo seu estado de saúde. Revelou que contraiu uma gripe e que esteve com uma “leve indisposição por causa de dores musculares, na zona lombar inferior, que foram devidamente diagnosticadas e tratadas”. Agora sente-se “bem e recuperado”, diz, pelo que irá resumir as suas tarefas, “sem necessitar de descanso adicional”, mas estará ainda sob as instruções do médico, que aconselham “exercício físico e uma alimentação mais saudável”. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


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MIF NO PAVILHÃO DO PAÍS PARCEIRO CABE MODA, LICOR BEIRÃO E ELECTRÓNICA

Ai Portugal, Portugal

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m a n h ã começou animada para os lados do pavilhão de Portugal na 21ª edição da Feira Internacional de Macau (MIF, na sigla inglesa). A tuna académica da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa tocava para empresários lusos e chineses, à medida que os expositores começavam a mostrar aquilo que é português. Paulo Alexandre Ferreira, secretário de Estado Adjunto e do Comércio de Portugal, falou da maior presença lusa em Macau neste certame, com cerca de 70 empresas. “Não quisemos trazer só produtos agro-alimentares, no sentido de mostrar que Portugal tem mais para oferecer além disso. Destacaria os produtos tecnológicos, pois é uma área em que Portugal está a dar cartas ao nível mundial e queremos mostrar a inovação que está a acontecer à China.” Paulo Alexandre Ferreira garantiu querer manter uma linha orientadora de cooperação após a visita do primeiro-ministro português, António Costa. “Queremos dar a continuidade a essa cooperação. O facto de sermos o primeiro país parceiro, a par de Pequim que é a cidade parceira, dá-nos uma notoriedade acima do normal”, acrescentou. O pavilhão português tem tudo aquilo que se espera dele. Tem as representações de vinhos, dos queijos, dos chouriços e dos pastéis de nata. Mas há uma aposta notória em outras áreas de investimento, sendo que a moda é uma delas. Fátima Lopes, uma das mais internacionais designers portuguesas, presente na Semana da Moda de Paris há mais de uma década, está pela primeira vez na MIF a mostrar as suas colecções. “É uma aposta num mercado que considero muito importante, com uma dimensão que, para quem trabalha com moda, é fundamental. Portugal é muito interessante, estou na Europa, estou na Semana de Moda de Paris há muitos anos, e não só Macau mas toda a China é um mercado muito interessante. A marca Fátima Lopes tem capaci-

FERNANDO PIRES

Arrancou ontem mais uma edição da Feira Internacional de Macau onde, pela primeira vez, Portugal é o “país parceiro”. No pavilhão mais participado de sempre cabe tudo o que é português: a moda de Fátima Lopes, os vinhos, o Licor Beirão e os produtos alimentares, sem esquecer o futebol e as touradas

SOCIEDADE

electrónicos e é uma das grandes apostas, e esta ligação com a China é muito importante para atrairmos novos investidores nesta área em Portugal”, disse ao HM. Há muito que o Licor Beirão se bebe em Macau, mas esta é a primeira vez que a marca participa directamente na MIF. Nuno Rocha, gestor de exportação da marca, referiu que quiseram ir além da ligação que já têm com um importador local. “Estamos aqui para promover o produto e explicar um pouco mais sobre a marca mais famosa de licor em Portugal. Temos orgulho de sermos um licor transversal, que chega a qualquer pessoa que aprecia um produto de qualidade. Estamos a trabalhar aos poucos na China e, ao contrário do que muita gente pensa, é um mercado que implica muito trabalho, investimento e promoção.”

“Portugal é um país com indústrias de muita qualidade. Este é o momento certo para apostar neste mercado. Já estou no mercado japonês há muitos anos e faz todo o sentido estar aqui.” FÁTIMA LOPES DESIGNER DE MODA Pelo que já viu na China, os chineses gostam deste licor frutado. “A aceitação é quase total. Para quem gosta de coisas doces é um licor muito agradável de beber, mas com a versatilidade de cocktails, adapta-se a qualquer gosto.”

FUTEBOL E TOURADAS

dade para a dimensão da China, porque a moda não tem limites. Portugal é um país com indústrias de muita qualidade. Este é o momento certo para apostar neste mercado, por exemplo já estou no mercado japonês há muitos anos e faz todo o sentido estar aqui”, contou ao HM. A cortiça, que há muito transpôs fronteiras, também está presente na MIF com a Najha. Há muito que a cortiça, extraída do sobreiro, existe em Portugal nas rolhas do vinho,

mas só há poucos anos começou a ser aliada ao design, com a produção de vestuário, calçado, malas e guarda-chuvas. “Ainda não chegamos ao mercado chinês, estamos a fazer os primeiros contactos e prospecções. O facto de estarmos na feira é bom. Já fizemos algumas participações de feiras na Europa. Portugal tem muito para oferecer ao mundo e não devem ser apenas a China e Macau a darem essa importância ao país. Temos de ser nós próprios”,

contou Daniela Sá, gestora da marca, ao HM.

EM NOME DA ELECTRÓNICA

Telmo Silva veio para a MIF com a Virtualmente e a associação GrowUp Gaming, projectos que espelham as palavras do secretário de Estado português. A aposta feita na área dos jogos electrónicos chegou a Macau em Agosto do ano passado, com a Grow uP E-Sports Macau. “O mercado chinês está bastante evoluído em termos de desportos

Pela primeira vez a MIF tem também uma representação do Museu do Futebol Clube do Porto, que tem vindo a ganhar muitos visitantes – 40 por cento são estrangeiros, disse Luís Valente, comercial. A ideia é mostrar um projecto que, além do clube de futebol, conta a história da própria cidade do Porto. A MIF mostra ainda as touradas, através da Sociedade de Renovação do Campo Pequeno. A praça de touros de Lisboa tem recebido muitos turistas e quer receber ainda mais, sobretudo chineses, “que gostam de ver corridas”, disse ao HM Paula Resende, administradora. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


8 SOCIEDADE

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planeamento e os trabalhos de conservação da zona da Ilha Verde voltaram a ser alvo de críticas, desta vez por parte do Centro da Política de Sabedoria Colectiva, ligado à União Geral das Associações de Moradores de Macau (Kaifong). Isto porque o Governo apresentou, em 2011, o planeamento do ordenamento urbanístico da Ilha Verde, na expectativa de transformar a zona num novo bairro comunitário. Contudo, cinco anos depois nada aconteceu, tendo sido esse o tema de debate de um seminário organizado pelo centro. O deputado Ho Ion Sang, dos Kaifong, criticou o lento progresso na concretização do plano, lembrando que com a conclusão do novo posto transfronteiriço Guangdong-Macau o projecto deverá ser reajustado, por forma a acompanhar a nova entrada dos turistas, já que ali irá surgir um novo fluxo de visitantes para além das Portas do Cerco. Ho Ion Sang referiu ainda que, após a conclusão das habitações públicas e a reconstrução de algumas vias, não houve qualquer progresso quanto à protecção da colina, onde existe um convento jesuíta abandonado, e depósitos de produtos de combustível e oficinas, que funcionarão sem licença. Lei Ip Fei, académico e membro do Conselho do Património Cultural, descreveu a colina da Ilha Verde como um espaço “cheio de tesouros”, lamentando que as árvores antigas existentes na zona não tenham sido incluídas na recente lista de salvaguarda de árvores antigas, promovida pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). “A colina tem 36 árvores de reconhecido valor. Existe um património histórico de 400 anos, datado das dinastias Ming e Qing, bem como um mosteiro construído há cerca de 180 anos, e outros achados históricos com falta de protecção”, adiantou Lei Ip Fei.

Ilha Verde KAIFONG EXIGEM CONSERVAÇÃO E NOVO PLANEAMENTO

Guarda-me a colina O Centro da Política de Sabedoria Colectiva questionou o Governo sobre a ausência de um novo ordenamento urbanístico da Ilha Verde. O centro, ligado aos Kaifong, pede que a colina existente na zona, com um convento jesuíta abandonado, não seja esquecida

Para Chan Ka Leong, vogal do centro, defendeu que “a colina da Ilha Verde será relva ou tesouro, dependendo do reconhecimento das autoridades”. A responsável disse ainda, citando as explicações do Governo, que a lei do planeamento urbanístico determina que, antes da elaboração de planos de pormenor, é necessário criar um plano director do território, algo que só deverá ser implementado em 2020. “Antes de ser feito o plano director vamos continuar sentados à espera?”, questionou Chan Ka Leong. Angela Ka (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo

UM ORGANIZA PALESTRA SOBRE COLONIALISMO PORTUGUÊS

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NTRE a próxima terça e sexta-feira a Universidade de Macau (UM) acolhe a palestra com o tema “Discursos Memorialistas e Construção da História”, organizada em parceria com o departamento de português da UM e o Centro de Investigação de Estudos Luso-Asiáticos (CIELA). Segundo

um comunicado, a conferência irá servir para “questionamento teórico e epistemológico das memórias, entendidas como ‘locais de construção da nação’, dos actores políticos nos processos históricos em Macau e nos países africanos de língua portuguesa (nos períodos coloniais e pós-independência).

Será dado um “particular destaque ao ‘lugar incomum’que Macau ocupa nas margens dos países de língua portuguesa, bem como aos seus actores políticos e seus escritos memorialistas, contribuindo para mapear os seus ‘lugares de memória”. No encontro participam académicos oriundos de vários países de língua portuguesa,

tais como Lourenço do Rosário, da Universidade Politécnica de Moçambique, que irá falar sobre “Memória, História e Ficção: o significado das autobiografias”, enquanto que o professor Rogério Puga, da Universidade Nova de Lisboa, vem falar do “Papel Pioneiro de Macau nas Relações Sino-Ocidentais: o Primeiro Museu

(1829-1834) e a Biblioteca de Língua Inglesa (1806-1834)”. Já Valdemir Zamparoni vem da Universidade Federal da Bahia, Brasil, para falar sobre “África e Africanos: Caminhos da Identidade Brasileira”. Todas as sessões da palestra vão decorrer na sala G035, edifício E22 do campus da UM.


9 hoje macau sexta-feira 21.10.2016

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M cinco dias, dois tufões – e o que à hora de fecho desta edição se estava a aproximar de Macau promete ventos e chuvas mais fortes do que a tempestade tropical do início desta semana. Ontem, ao final do dia, os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) explicaram ao HM que só durante a noite iria ser considerada a possibilidade de elevar o sinal para 3, “consoante a situação meteorológica”. A aproximação do Haima fez com que, logo pelas 10h, tenha sido içado o sinal 1. Ainda de acordo com as informações conhecidas ao princípio da noite de ontem, a trajectória do tufão levava a crer que hoje se vai aproximar “da costa leste do Estuário do Rio das Pérolas e encaminhar-se para a província de Guangdong”. O tufão ficará mais perto de Macau “entre a tarde e a noite” de hoje. “É provável que cruze a região a cerca de 200 quilómetros a leste” do território, explicaram os SMG. Quanto à previsão meteorológica para os próximos dias, o tempo será instável. “O céu vai apresentar-se muito nublado, havendo aguaceiros, às vezes muito fortes, acompanhados de vento muito forte”, dizem os serviços. “No fim-de-semana, vai afastar-se da região e, após atingir terra novamente, espera-se que o Haima fique mais fraco e os ventos enfraqueçam.” No sábado deverá chover, com aguaceiros ocasionais e vento com rajadas, mas para domingo são esperados períodos de sol. Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos aconselham à população que preste atenção e acompanhe as informações que vão sendo divulgadas, para que possam ser tomadas medidas preventivas. Entretanto, o Instituto Cultural apelou ontem aos responsáveis de edifícios históricos e patrimoniais para estarem atentos às consequências da aproximação do tufão, para que possam ser tomadas as medidas de protecção necessárias. Além do adiamento do Festival da Lusofonia para o próximo fim-de-semana – deveria começar hoje – há mais eventos a serem cancelados no território. O Fundo

SOCIEDADE

TUFÃO VAI ESTAR PERTO DE MACAU ENTRE A TARDE E A NOITE DE HOJE

Haima a quanto obrigas É um fim-de-semana com vento e chuva fortes mas, se tudo correr como as previsões, o sol deverá voltar lá para domingo. O tufão Haima deverá fazer-se sentir com força durante o dia de hoje em Macau. Para trás, nas Filipinas, deixou mortos e muitos estragos

Nas Filipinas, a tempestade tropical fez, pelo menos, quatro vítimas mortais e destruiu casas, escolas e árvores de grande porte de Segurança Social decidiu desmarcar o “Dia de promoção do regime da segurança social 2016”, agendado para amanhã no Jardim do Mercado Municipal de Iao Hon. Há já uma nova data: vai realizar-se no dia 29. O mesmo acontece com o dia da abertura ao público da Assembleia Legislativa, que deveria acontecer estes sábado e foi adiado uma semana. Também a organização da Feira Internacional de Macau tomou e divulgou medidas de prevenção que passam sobretudo pelas horas de abertura do certame

a participantes e público em geral.

VENTOS FATAIS

O Haima é descrito pelas agências internacionais de notícias como um dos tufões com maior força a atingir as Filipinas. A tempestade tropical fez, pelo menos, quatro vítimas mortais e destruiu casas, escolas e árvores de grande porte, tendo ainda arrasado zonas agrícolas, com estragos que estão ainda por calcular. O super-tufão chegou ao país na quarta-feira à noite com ventos semelhantes aos sentidos por altura do tufão Haiyan, em 2013, que matou 7350 pessoas. O Haima atingiu sobretudo as cidades costeiras do Oceano Pacífico, com ventos de 225 quilómetros por hora e rajadas que chegaram aos 315 quilómetros. Durante a noite, o tufão perdeu força e encaminhou-se para o Mar do Sul da China.

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10 CHINA

hoje macau sexta-feira 21.10.2016

Rodrigo Duterte DUTERTE ANUNCIA EM PEQUIM SEPARAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS decidiu em Pequim proclamar o distanciamento dos Estados Unidos, virando-se agora uma forte deterioração na sequên- que Manila considera parte da sua de então, uma volta de 180 graus cia do diferendo sobre a soberania zona económica exclusiva. E, no ano à política externa filipina. para a China seguinte, as Filipinas iniciaram um de ilhas no mar do Sul da China. procedimento contra a China junto VAMOS AO QUE INTERESSA Rodrigo Duterte afirmou querer como o principal “adiar (este dossier) para outra Tribunal deArbitragem Permanente. “Tudo o que quero são negócios”, parceiro na área O tribunal internacional, com disse o chefe de Estado filipino, altura” para dar prioridade à cooperação económica, e declarou sede em Haia, deu razão às Filipi- numa conferência de imprensa, na dos negócios. As na televisão chinesa procurar “a nas em Julho último. noite de quarta-feira, em Pequim, Apesar do veredicto favorável, ajuda” do grande vizinho neste questões territoriais domínio. Rodrigo Duterte, que tomou posse do Mar do Sul da Essa posição foi saudada pela em Junho, decidiu deixá-lo de parte “Anuncio a minha China, cujo presidente, Xi Jinping, e reiniciar o diálogo bilateral com China parecem, para recebeu Duterte no Palácio do a China, tal como quer Pequim. separação “As raízes dos nossos laços são na praça Tiananmen. já, ter passado para Povo, “É importante tratar com muito profundas e não podem ser dados Estados Unidos” segundo plano diálogo e consultas bilaterais as nificadas facilmente”, disse Duterte.

Toca a virar agulhas

O

presidente das Filipinas anunciou ontem, em Pequim, “a separação dos Estados Unidos”, aliado tradicional do arquipélago, e uma aproximação da China. “Anuncio a minha separação dos Estados Unidos”, declarou Rodrigo Duterte durante um fórum económico, desencadeando os aplausos do público. Duterte realiza uma visita de Estado de quatro dias à China, acompanhado por uma delegação de 400 membros. O relacionamento entre os dois países registou, nos últimos anos,

divergências sobre a questão do Mar do Sul da China”, declarou Xi, citado pelo ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. O chefe de Estado chinês afirmou estar pronto a “deixar temporariamente de lado as questões difíceis”. Duterte qualificou a reunião com Xi Jinping de histórica: “Ela vai melhorar e desenvolver as relações entre os nossos dois países”, considerou. A disputa territorial no mar do Sul da China (pelo atol de Scarborough ou ilhas do arquipélago das Spratly) tem inibido as relações bilaterais nos últimos anos. A tensão agravou-se em 2012 depois de Pequim ter ocupado áreas

MARCO HISTÓRICO

O Presidente das Filipinas foi recebido com honras em Pequim pelo homólogo chinês, que qualificou a visita como um “marco” nas relações entre os dois países. “Isto é verdadeiramente um marco para as relações sino-filipinas”, afirmou Xi Jinping, ao reunir-se com Rodrigo Duterte após a clássica cerimónia militar com a qual a China dá as boas-vindas aos líderes estrangeiros. Após a recepção, reuniram-se com a única presença de um tradutor, no seu primeiro encontro oficial desde que Duterte tomou posse, em Junho, e deu, a partir

(Pequim) “apoia o novo governo filipino na luta contra a droga, terrorismo e criminalidade, e está disposto a cooperar com Manila nestas questões” RODRIGO DUTERTE PRESIDENTE FILIPINO

acrescentando que não iria abordar com os líderes chineses a questão das tensões territoriais, a não ser que os próprios abordassem o tema, por “cortesia oriental”. Após o encontro, Duterte e Xi testemunharam a assinatura de uma série de acordos de cooperação, com o líder filipino interessado sobretudo em empréstimos “brandos” que possam ser pagos “num calendário generoso”, reconheceu na mesma conferência de imprensa. A visita de Duterte à China – a primeira que realiza ao estrangeiro à margem da cimeira da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) - reflecte o interesse do actual Presidente filipino em aproximar-se de Pequim, enquanto multiplica as críticas aos Estados Unidos, o seu principal parceiro comercial e de apoio no domínio da segurança no último século. Criticado pelos Estados Unidos, UE e ONU pela campanha anti-criminalidade, que já fez mais de 3.700 mortos - indica uma contagem oficial - Duterte pode contar com o apoio da China. Pequim “apoia o novo governo filipino na luta contra a droga, terrorismo e criminalidade, e está disposto a cooperar com Manila nestas questões”, disse o ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. Duterte reuniu-se ainda com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e com o presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), Zhang Dejiang.


11 hoje macau sexta-feira 21.10.2016

A

rede americana Starbucks parece estar confiante no desenvolvimento dos negócios na China, aponta o site CNN Money. De acordo com o site, os planos da companhia são de abrir uma nova loja por dia na segunda maior economia do mundo nos próximos cinco anos, totalizando quase duas mil novas unidades no país. O CEO da empresa Howard Schultz parece não estar preocupado com o facto da economia chinesa estar em no menor ritmo

Vêm aí os americanos Starbucks planeia abrir duas mil lojas em cinco anos

dos últimos 25 anos. “Penso que se olhar para os 45 anos de história da nossa companhia, uma das coisas que nós temos feito bem é planearmos sempre a longo prazo”, disse numa entrevista em Xangai. A reportagem da CNN comenta que o Starbucks abriu a primeira loja na China há 17 anos, desacreditado pelo mercado que não acreditava que a operação resultaria. Actualmente, a expectativa é de que, eventualmente, a China supere os EUA como o maior mercado da empresa, sendo que já é o segundo. “Uma das coisas que penso que temos feito muito bem é que temos investido significativamente acima da curva de crescimento em pessoas

e em sistemas.Acabamos de terminar um fantástico ano na China onde os resultados foram mais fortes do que nunca”, comenta o executivo. “Tanto numa cidade pequena como numa grande cidade, pensamos que a maneira de ser bem sucedido é se as lojas são operadas

pelo pessoal do Starbucks”, disse em referência a outras marcas americanas de alimentação que procuram parceiros de fora para cuidar das suas operações na China, como a McDonalds e o KFC. “Acreditamos que o futuro do Starbucks na China ainda está a começar”.

“Acreditamos que o futuro do Starbucks na China ainda está a começar” HOWARD SCHULTZ CEO DA STARBUCKS

CHINA

CONSÓRCIO CHINÊS NEGOCEIA AQUISIÇÃO DO HULL CITY

Um consórcio chinês chegou a um acordo preliminar para comprar o clube de futebol inglês Hull City, por 130 milhões de libras (cerca de 145 milhões de euros), revelou ontem a bolsa de Hong Kong. Condicionada à aprovação das autoridades do futebol inglês, os directores das duas empresas interessadas, sediadas em Hong Kong e China, acreditam na “expansão e diversificação de negócios e receitas” do clube no Médio Oriente. O Hull City, 16.º classificado da liga, foi colocado à venda em 2014, mas, na altura, a oferta foi rejeitada pelo presidente da Federação inglesa, por não aprovar a mudança do nome da equipa para ‘Hull Tigers’. A oferta para a aquisição do clube inglês surge depois do grupo chinês ‘Trillion Asia Trophy’ ter comprado o Birmingham City, do segundo escalão, na segunda-feira.

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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 533/AI/2016

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 543/AI/2016

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor CHAN WA TENG, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.° 73933xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 52/DI-AI/2014 levantado pela DST a 07.05.2014, e por despacho da signatária de 11.10.2016, exarado no Relatório n.° 633/DI/2016, de 19.09.2016, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Rua do Terminal Marítimo n.° 93-103, Edf. Centro Internacional de Macau, Bloco 4, 2.° andar H, Macau onde se prestava alojamento ilegal.--------------------------------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.--------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 30 dias, conforme o disposto na alínea a) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.--------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.----------------------------

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor XIANG SHENGZHONG, portador do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° W43004xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 97/DI-AI/2014 levantado pela DST a 11.08.2014, e por despacho da signatária de 11.10.2016, exarado no Relatório n.° 638/ DI/2016, de 21.09.2016, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Rua do Regedor n.° 259, Chun Fok Village - 1 Fase, 6.° andar X, na Taipa onde se prestava alojamento ilegal.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.--------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.--------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.----------------------------

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 11 de Outubro de 2016.

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 11 de Outubro de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 544/AI/2016

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 583/AI/2016

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora LING YANQIU, portadora do Passaporte da RPC n.° E03656xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 97/DI-AI/2014 levantado pela DST a 11.08.2014, e por despacho da signatária de 11.10.2016, exarado no Relatório n.° 639/DI/2016, de 21.09.2016, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por controlar a fracção autónoma situada na Rua do Regedor n.° 259, Chun Fok Village - 1 Fase, 6.° andar X, na Taipa onde se prestava alojamento ilegal.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.--------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Desta decisão pode a infractora, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.--------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.----------------------------

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor CHEN DAJUN, portador do Salvo-conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° W52395xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 41.2/DI-AI/2015, levantado pela DST a 21.04.2015, e por despacho da signatária de 21.07.2016, exarado no Relatório n.° 452/DI/2016, de 27.06.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, Edf. Royal Centre, 14.° andar F.-------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010.----------------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 11 de Outubro de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 11 de Outubro de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes


12 FIMM FIM-DE-SEMANA COM OFERTA PARA TODOS OS GOSTOS

EVENTOS

O

Festival com mil faces DocLisboa convoca Bowie, Mapplethorpe, Álvaro Siza e Muhammad Ali

D

OCUMENTÁRIOS sobre o artista visual Robert Mapplethorpe e o pugilista Muhammad Ali, uma conversa filmada com o arquitecto Álvaro Siza e um filme que segue o rasto da carreira de David Bowie integram a secção “Heartbeat”, do festival DocLisboa. A secção, não competitiva, abre na sexta-feira com o filme “Sons do gueto”, dos britânicos Tim & Barry, sobre a editora Príncipe Discos, que deu visibilidade nacional e internacional a um movimento da música electrónica portuguesa, de influência africana, feita nos subúrbios e bairros sociais de Lisboa. Desde 2012, a editora já deu a conhecer nomes como DJ Marfox, Photonz, DJ Nigga Fox, Nídia Minaj e Puto Anderson tanto em edições discográficas como na programação de actuações regulares no Musicbox, em Lisboa, intituladas “Noites Príncipe”. Até ao dia 30, o DocLisboa exibirá no “Heartbeat” cerca de vinte filmes, entre os quais “Bowie, man with a hundred faces or the phantom of Hérouville”, do francês Gaetan Chataigner, feito em 2015 e encomendado pelo canal France 4 pouco antes da morte de David Bowie. Com recurso a imagens de arquivo e entrevistas, o filme recupera a

época em que David Bowie esteve, na década de 1970, na casa/estúdio Château d’Hérouville, onde gravou os álbuns “Pin Ups” e “Low”. Foram seleccionados ainda “Having a cigarette with Álvaro Siza”, de Iain Dilthey, “David Lynch: The art life”, de Jon Nguyen, Olivia Neergaard-Holm e Rick Barnes, “Mapplethorpe: Look at the pictures”, de Fenton Bailey e Randy Barbato, e “Muhammad Ali, the greatest”, filme de 1974 de William Klein sobre o puglista Cassius Clay, que morreu em Junho passado. Destaque ainda para a curta-metragem “O dia em que a música morreu”, uma ideia do grupo Linda Martini filmada por Bruno Ferreira com os mineiros de Aljustrel, para “Junun”, de Paul Thomas Anderson, sobre a gravação de um álbum no Rajastão, e “Inside the mind of favela funk”, de Fleur Beeemster e Elise Roodenburg, rodado no Rio de Janeiro. O 14º DocLisboa, o festival internacional dedicado ao documentário, começou ontem em várias salas da capital, como a Culturgest e o cinema São Jorge, e termina no dia 30.

QUE A CHUVA DEIXE A caminho do final de mais uma edição do Festival Internacional de Música de Macau, o cartaz não podia ser mais diversificado. Piano, jazz e orquestra russa são a ementa musical para três dias

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA OS JUDEUS DO PAPA • Gordon Thomas

Um livro revelador que demonstra como o Vaticano salvou milhares de judeus durante o Holocausto e elucida por que razão a história deve reabilitar o Papa Pio XII. Acusado de não ter condenado Hitler pelo fanatismo e ódio racial com que o führer governava a Alemanha, o chefe da Igreja Católica Romana ficou conhecido, durante a Segunda Guerra Mundial, como «o Papa que se manteve em silêncio durante o Holocausto». Contudo, Thomas Gordon apresenta neste livro provas que refutam totalmente essas acusações.

piano de Adriano Jordão, o jazz de Roy Hargrove e de nomes da cena asiática, e os sons da Orquestra do Teatro Mariinsky são as opções para mais um cartaz do Festival Internacional de Música de Macau (FIMM). A noite de hoje traz composições clássicas ao piano e trompetes a dar tom ao jazz. O palco do Teatro D. Pedro V enche-se com “Reencontros”, num concerto que assinala o regresso a Macau do fundador do FIMM, Adriano Jordão. Num repertório composto por obras clássicas de compositores alemães e austríacos, o serão é passado entre Schumann ou Beethoven num espectáculo que, segundo o intérprete, “é mais uma criação única”. Simultaneamente, a Fortaleza do Monte acolhe o norte-americano Roy Hargrove. O músico descrito pela organização como “la créme de la créme” dos trompetistas de jazz da era contemporânea foi reconhecido por Wynton Marsalis e, actualmente, combina, nas suas interpretações, sonoridades do hip hop, blues ou RB. O sucesso que tem é atribuído à paixão pelo jazz e às imprevisões que lhe são únicas. Neste espectáculo, o trompete é dedicado, especialmente a Miles Davis, que celebraria, este ano, o nonagésimo aniversário.

TUDO AO PALCO

O fim-de-semana soma e segue, no mesmo sítio e com o mesmo género musical. Desta feita, a tarde de sábado abre na Fortaleza do Monte às 16h com a reunião em palco de músicos locais que se juntam a talentos de Taiwan e Hong Hong. Não faltará a presença do próprio Hargrove que se junta aos colegas asiáticos. A música clássica regressa aos palcos nessa mesma noite, desta feita com a Orquestra do Teatro Mariinsky no Centro Cultural, pelas 20h. São os clássicos russos que vão dar vida à batuta do maestro Valery Gergiev. A orquestra já tem sucesso adquirido por interpretar compositores como Prokofiev e Shostakovich, autores das peças que vão encher o palco do CCM. Os concertos são em dose dupla e domingo conta com mais uma apresentação da orquestra. “Da Rússia com amor” é o tema para as composições neoclássicas que preenchem o primeiro dia da autoria de Prokofiev, e o segundo dá lugar a “Lendas Russas” com as obras do “artista do povo”, Shostakovich. Sofia Mota

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DEUS RI • James Martin

O padre jesuíta James Martin convida crentes e não crentes a redescobrir a importância do humor e do riso na vida quotidiana, e a aderir a uma verdade essencial: o humor conduz à alegria. Apresentando-nos inúmeros exemplos de humor saudável e leveza intencional nas histórias dos grandes heróis e heroínas da Bíblia, bem como nas vidas dos santos e grandes mestres espirituais, permite-nos conhecer a alegria e boa disposição de muitos deles. O autor mostra-nos além disso como as parábolas contêm excelente material de comédia, e como os Evangelhos nos revelam Jesus como um homem manifestamente alegre e até brincalhão.


13 hoje macau sexta-feira 21.10.2016 PUB

IC ABERTAS INSCRIÇÕES PARA VENDA DE PRODUTOS NA CASA DO MANDARIM

E

STÃO abertas as inscrições para integrar a Base de Dados das Indústrias Culturais e Criativas de Macau na Casa do Mandarim. A iniciativa, promovida anualmente pelo Instituto Cultural (IC), destina-se a comercializar, não apenas lembranças temáticas alusivas à Casa do Mandarim e ao património cultural de Macau, mas também publicações e artigos de design e produtos de marcas de Macau. Da oferta podem constar artigos de design, anime e banda

desenhada, materiais audiovisuais e impressos, ou outros que sejam considerados adequados. Os critérios de selecção englobam a originalidade, o potencial industrial e de mercado, a qualidade da imagem de marca, a capacidade de desenvolvimento sustentável e a relevância em relação ao tema da Casa do Mandarim. As entidades têm até 11 de Novembro para entregar as candidaturas de modo a terem os seus produtos disponíveis no ano de 2017. As empresas que foram aprovadas para 2016 mantem automaticamente a sua inscrição, podendo, no entanto, apresentar ao IC quaisquer actualizações ou informações complementares, antes do final do prazo referido. S.M.

UM VIOLINO NORUEGUÊS

É

violinista, compositor e director artístico da Orquestra de Câmara Filarmónica do Ártico. Considerado um dos grandes nomes do norte da Europa, Henning Kraggerud vem ao território a convite do Instituto Cultural (IC) para um concerto com a Orquestra de Macau, agendado para 12 de Novembro, no Grande Auditório do Centro Cultural. “Henning Interpreta Mozart” tem direcção do maestro Lü Jia. Em nota à imprensa, o IC destaca que o violinista norueguês “é famoso pela sua execução precisa e intensa”, e cita o Arts Desk, que considerou que “a interpretação de Kraggerud é sempre maravilhosa”. O instrumentista é frequentemente convidado para colaborar com as grandes orquestras do mundo, incluindo a Orquestra Sinfónica de Toronto, Orquestra Sinfónica de Vancouver e a Orquestra Sinfónica Nacional da Dinamarca.

A interpretação de obras de Mozart tem sido aclamada pela crítica especializada, tendo já sido louvada como “o ponto alto da noite”, acrescenta ainda a organização do concerto de Novembro. Em Macau, Henning Kraggerud o Adagio em Mi Maior para Violino e Orquestra e o Concerto N.º 5 para Violino e Orquestra (“Turco”), “fazendo deste um concerto imperdível para qualquer amante da música”, promete o IC. Em linha com o tema da temporada de concertos, “O Meu Tempo com a Música”, é ainda organizada uma sessão com o violinista, destinada aos Amigos da Orquestra de Macau. O encontro com o músico terá lugar a 11 de Novembro.

EVENTOS


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Agitação no Oceano Pacífico

O

Príncipe de Yu, cujo nome era Aisin-gioro Duoduo, famoso general manchu que ajudou à fundação da dinastia Qing em 1644, seguiu com o seu exército para Nanjing onde entrou no Verão de 1645, terminando com o primeiro regime da dinastia Ming do Sul, que teve um ano de existência. “Dois meses após a queda de Nanjing, dois outros regimes Ming do Sul emergiram, em Fujian e Zhejiang, respectivamente. Huang Daozhou e Zheng Zhilong suportavam o Príncipe de Tang (Zhu Yujian) como imperador em Fujian, e Qian Suyue e Zhang Huangyan suportavam o Príncipe de Lu (Zhu Yihai) como ‘Nacional Supervisor’ em Shaoxing, Zhejiang. Zheng Zhilong (que na semana anterior esteve em destaque) era quem tinha o real poder no regime do Príncipe de Tang, mas apenas sabia explorar as pessoas e nada mais; consequentemente não havia grande esperança. No Verão de 1646, o exército Qing atacava Fujian e Zheng Zhilong rendeu-se”, Bai Shouyi. Após a conquista pelos manchus de Fuzhou (Fujian) em Outubro de 1646 e executado o Imperador Long Wu (Zhu Yujian, príncipe de Tang), o seu irmão mais novo, Zhu Yuyue escapando de barco chegou a Guangzhou onde fundou um estado Ming, tendo em 11 de Dezembro de 1646 ficado com o título de reinado Shao Wu. Mas Youlang também se entronizara imperador, guerreando-se ambos pelo trono, e após pouco mais de um mês, Li Chengdong, um ex-comandante da dinastia Ming do Sul que liderava um pequeno grupo de tropas Qing, aí capturou e matou Shao Wu. Sobrava Zhu Youlang, que desde 18 de Novembro de 1646 ostentava o título de Imperador Yong Li e foi para Zhaoqing (Guangdong) devido ao suporte que recebeu de Qu Shisi, Oficial Ming de alta patente que tinha a cargo a defesa de Guangdong e Guangxi. Os manchus ocuparam Cantão em Janeiro de 1647, onde se encontrava Yong Li, que fugiu para Guilin, seguindo os manchus no seu encalço. Aí, entre Março e Julho esteve cercado mas, com a ajuda de trezentos portugueses de um contingente comandado por Nicolau Ferreira, após cinco meses, os manchus retiraram-se. A desistência dos manchus de cercar Guillin, animou a revolta e sete províncias no Sul da China puseram-se à ordem de Yong Li.

O Príncipe de Yongming (Zhu Youlang), como Imperador Yong Li (16461662), conseguiu aguentar o regime por um período de quinze anos, devido à cooperação que lhe foi prestada pelo exército armado de camponeses e o heroísmo de alguns dos seus generais. Andando sempre em fuga, Yong Li foi capturado já na Birmânia (hoje Myanmar) em Dezembro de 1661 e morreu a 1 de Junho de 1662, sendo o quarto e último Imperador da dinastia Ming do Sul.

TIRAR DA COSTA A POPULAÇÃO

A dinastia Qing entregou um cargo da governação de Guangzhou (Cantão) a Li Chengdong, mas este, desiludido com os novos senhores da China, apoiou Yong Li colocando de novo a cidade sobre o domínio Ming. Então, os manchus aí montarem durante dez meses um cerco, que terminou em 24 de Novembro de 1650, provocando 70 mil mortos. Foi a grande machadada na resistência Ming, que na parte Oriental da China ficou confinada ao mar. Aí, o General Comandante da Armada, Zheng Chenggong, é derrotado em 1659, no estuário do Rio Yangtzé. Após esta batalha, o pirata cujos europeus chamavam Coxinga voltou a Fujian e daí partiu à frente de 25 mil pessoas para Taiwan, onde tomaram a ilha aos holandeses e para onde muitos habitantes de Fujian foram viver. “O cerco a Nanquim, em 1659, e as vitórias no mar de Cheng Cheng Lung e de seu filho, Coxinga (Cheng Cheng Kung) amedrontaram os manchus e, analisando as possíveis causas da força rebelde, designadamente as dos meios económicos em que apoiavam o seu poderio, concluíram que eles provinham do comércio marítimo que havia muitos anos conduziam livremente entre o Japão, o Ainão (Hainan) e a costa chinesa. E também dos saques dos navios que comerciavam entre os portos da China e do estrangeiro, dos quais as armadas de Coxinga se apoderavam. Esta conclusão levou ao decreto imperial publicado na 8.ª lua de 1661 que ordenou a retirada de todas as populações de cinco províncias marítimas (entre elas a de Kwangtung, Guangdong em mandarim) para um mínimo de 30 lis da costa (cerca de quatro léguas). Criava assim a terra queimada que evitaria contactos com Coxinga, esgotando as suas possibilidades de

negociar com chineses e de aliciar seguidores dos Ming. A pena para os que desobedecessem era a morte”, segundo refere Gonçalo Mesquitela. Em 1661, a resistência dos han Ming aos manchus quebrou e os novos governantes não tinham grandes relações com o mar. Segundo Victor F. S. Sit, “Na dinastia Qing (1644-1911), a política de interdição das actividades marítimas levou à evacuação forçada das regiões costeiras. Ao longo de grande parte do período em que essa dinastia imperou, o comércio marítimo só foi permitido numa única área, a de Macau – Cantão, embora outros três portos tivessem permanecido abertos durante algum tempo. Desse modo, a enorme rede de tráfego marítimo entre a China e o ultramar, ficou praticamente extinta entre meados do séc. XVI e meados do séc. XIX. O que sobrevivia não passava de algumas actividades de comércio ilegal. Foi exactamente nessas circunstâncias que Macau emergiu como praticamente o único entreposto

comercial legal entre a China e os países estrangeiros, através de Cantão”.

RENASCIMENTO DE MACAU

Em 17 de Abril de 1708 saiu de Macau, com destino a Manila, uma chalupa de Luís de Abreu conduzindo alguns padres dominicanos expulsos das missões da China pelo cardeal De Tournon. Ao passar na ilha dos Ladrões foi a embarcação assaltada pelos chineses, tendo acudido várias lorchas da cidade que aprisionaram os piratas. Na dinastia Qing, em 1718 o Imperador Kang Xi (1662-1722) proibiu severamente todos os seus vassalos de usar a navegação marítima, de sorte que por força daquele Decreto se arruinou inteiramente o comércio da Holanda naquele Império; porque, como lhes não era permitido entrar nos seus portos, mandavam todos os anos a Cantão muitas Somas; que eram embarcações de comércio conduzidas pelos chineses moradores em Batávia; e como estes eram vassalos do Imperador não podiam, sob pena de morte, entrar


15 hoje macau sexta-feira 21.10.2016

José Simões Morais

no seu Império, se reduziu a célebre e riquíssima Companhia da Holanda a não ter géneros da China, senão pelas embarcações portuguesas de Macau. Como consequência deste édito do Imperador, o número de navios registados ou equipados em Macau aumentou de nove para vinte e três em um só ano. Esta proibição de navegação, ou antes a sua limitação a Macau, só durou até 1723. Informações de José Ignácio de Andrade. O governo chinês pensou em estabelecer um monopólio do comércio marítimo do império com o estrangeiro em Macau, enviando para lá residirem os mercadores da Companhia Inglesa que moravam em Cantão. O Senado rejeitou a proposta, segundo parece por instâncias do Bispo e clero que não viram com bons olhos o estabelecimento de tantos hereges na Cidade do Santo Nome de Deus, decisão esta que foi mui asperamente censurada pelo Vice-rei da Índia, Conde da Ericeira.

DE DESEMPREGADOS A PIRATAS

“Com efeito, a província de Guangdong assistira na segunda metade do século XVIII a um enorme surto de desenvolvimento populacional que não foi acompanhado por igual expansão dos seus recursos económicos. (...) O aumento do número de deserdados e a sua concentração junto à costa, impli-

cou o surgimento de um vasto núcleo de indivíduos potencialmente predispostos a dedicarem-se a qualquer tipo de actividades marginais, transformando-se, por isso, num grande centro de recrutamento de populações para as esquadras de piratas que cruzavam a região”, segundo Vítor Luís Gaspar Rodrigues, que continua, “Se a estes factores adicionarmos outros, de ordem geográfica (o grande número de ilhas que bordejavam a costa e a presença de numerosos estuários de rios que permitiam um fácil refúgio a piratas e ladrões) e económica (presença de um rico e vultoso comércio operado por navios chineses e europeus, muito facilitado pelas óptimas ligações fluviais; importância de Guangdong, que se havia tornado desde 1756 no único porto do império chinês aberto às trocas comerciais com os ocidentais), teremos uma ideia aproximada das razões que conduziram a uma rápida proliferação do número de piratas nas costas sul do mar da China, com particular incidência em torno de Guangdong e Macau.” Jorge de Abreu Arrimar refere, “É interessante ver como as relações da China com o Vietname, um país seu tributário, a leva a apoiar o imperador Lee quando este se vê confrontado com a revolta que, a partir de 1773,

“Seis meses mais tarde, em 8 de Julho de 1793, porque as embarcações dos piratas ameaçassem já, de alguma forma, o comércio de Macau, esses mesmos cidadãos mostraram-se prontos a colaborar com os seus barcos para uma expedição proposta pelo Governador da cidade, composta por três navios destinados a andar de guarda-costa até meados de Setembro” VÍTOR LUÍS GASPAR RODRIGUES uma família de comerciantes da província de Binh Dinh inicia, e que ficou conhecida por revolta de Tay-son. Contra esta rebelião o imperador da China enviou ajuda militar ao imperador Lee, o qual, apesar de sérios revezes, acabaria por expulsar definitivamente do território os seguidores de Tay-son, em 1802. Ora, durante as três décadas de guerra entre os seguidores de Tay-son e os do imperador Lee, aqueles foram estabelecendo muitos laços de dependência com os piratas, que desde sempre existiam naquela região, integrando os diversos e dispersos bandos e organizando as suas forças como se fosse um exército.” E Vítor Luís Gaspar Rodrigues adita, “As acções dos piratas nas costas da província de Guangdong só passaram a revestir-se de alguma importância a partir da década de noventa (17911792), quando os Toy-Son (...) necessitando de debelar a grave crise económica e financeira que atravessavam, passaram a enviá-los em expedições mais ou menos regulares para o sul da China com o intuito de aí procederem à arrecadação de géneros e dinheiro ao mesmo tempo que recrutavam mais gente (...), estes raides, vitais para a sustentação dos exércitos Tay-Son, tinham lugar, em regra, por volta do quarto mês lunar, regressando ao Vietname, entre o nono e o décimo mês, depois de atingirem, nalguns casos, as províncias de Fujian e de Zhejiang onde, a exemplo do que sucedia por

vezes em Guangdong, se coligavam com bandidos locais”.

APRONTAR EMBARCAÇÕES

Com grande afluência de bandidos da Cochinchina e da Formosa (como os portugueses chamavam a Taiwan), então em rebelião, sendo muitos provenientes da participação na revolta de Tay-son, os piratas ameaçavam a costa da província de Guangdong. Por isso, “Já em 1792, o mandarim de Heangshan desejou que Macau equipasse dois barcos para proteger os acessos marítimos a Cantão. A proposta foi feita em nome do bem-estar público; mas tais considerações passaram para último plano quando, em troca, Macau estipulou a restituição dos seus antigos privilégios, cuja usurpação os mandarins evidentemente preferiam ao bem-estar de uma grande população marítima sob a sua legítima jurisdição e ineficiente protecção. As negociações fracassaram face à exigência portuguesa...”, Montalto de Jesus. “Não obstante todas estas reservas colocadas por alguns elementos presentes (do Senado), assentaram, a 16 de Fevereiro de 1792, que se aprontassem as embarcações, para o que procederam à compra da chalupa inglesa <Gustavus> por 13 mil patacas. No entanto, poucos meses depois, e quando só faltava aprestar a tripulação <declarou o mandarim que não era preciso o socorro, ficando a despesa feita e a cidade sem privilégios>”, como refere Vítor Gaspar Rodrigues, e com ele continuando, “o Senado que, em conjunto, e contra o parecer do Governador, passou a defender a manutenção de uma política não intervencionista” e convencidos das vantagens que lhes adivinham de uma presença forte de piratas nas imediações, pelos problemas que causavam à navegação chinesa, viriam a opor-se ao Governador quando este, em Dezembro de 1792, insistiu para que se armassem duas embarcações por conta da Fazenda Real para fazer uma acção de guerra”. Perante a recusa do Senado, foi o Gustavus vendido em Dezembro. “Seis meses mais tarde, em 8 de Julho de 1793, porque as embarcações dos piratas ameaçassem já, de alguma forma, o comércio de Macau, esses mesmos cidadãos mostraram-se prontos a colaborar com os seus barcos para uma expedição proposta pelo Governador da cidade, composta por três navios destinados a andar de guarda-costa até meados de Setembro”, Vítor Luís Gaspar Rodrigues no livro Estudos de História do Relacionamento Luso-Chinês – Séculos XVI-XIX, com organização e coordenação de António Vasconcelos de Saldanha e Jorge Manuel dos Santos Alves, Colecção Memórias do Oriente, 1995, IPOR.


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h

P

ARECER. Não. Nunca, em lugar de ser, parecer. Dizia , lugar. Em lugar de ser, lugar. Em lugar de ser lugar. Passe a repetição e a exaustão. Portanto, lugar. E ser lugar como privilégio de ser e porvir. Equação. Dilema ou possibilidade. Ou simplesmente o vago lugar, confortável, a visitar, a alugar, a habitar. A querer. Sei lá. Paradigma. Casa. Corpo. Pele ou pêlo a cobrir. Casa ou espelho. De envolver ou ver na passagem. Esta é a diferença. O pé que se tem nas coisas. Mesmo sólidas de estado. Só depois as metáforas. A deriva gasosa e impermanente da Psique. A fuga, as metástases da matemática e dos conceitos a formatar discos e a desfazer e refazer sinapses. O que está escrito nas estrelas, como destino inalterável, e com uma vaga impressão de transcendência. Um apelo da fé nas coisas ocultas, talvez como consolo para a eterna questão insatisfeita. O que fazemos aqui, de onde viemos e para que desconhecido nos movemos. Ou, pelo contrário, aquele que é o lugar da ciência. O rigor firme que afinal, em cada momento vem a verificar em si próprio a falibilidade e a repôr novas ordens para a concepção do mundo. Estranha deriva no lugar em que menos se poderia esperar encontrá-la. No fundo queremos sempre saber o futuro. Oscilamos entre o temor e a tentação. Pensando em alguns edifícios conceptuais quase inalcançáveis, ao ponto de se situarem num universo ficcional, intelectual e estranho, em que, para realidades complexas se criam instrumentos intelectuais específicos, instrumentos de medida e localização de ordem tão abstrata para os sentidos, quase sinto a tentação de acreditar no divino. De tão inimaginável, a crença, a fé, quase me parece mais fácil do que abarcar toda a complexidade em que nos perdemos face a uma dimensão física do mundo. A Cosmologia em mutação ao longo da História do humano. A mente a divergir e a complexificar mecanismos de entendimento de si própria. A tentar explicar por palavras e fórmulas dessa imensa construção que é o universo matemático, aquilo que a mente não consegue visualizar ou imaginar facilmente. O antes. O depois. Do nada. E no meio, um universo a expandir-se afinal aceleradamente. Uma certeza científica com cinco anos. Nada, na ordem de grandeza do espaço-tempo do universo. E até ver. Ao contrário de uma certa esperança científica ou meramente existencial, de que este abrandasse. Sossegasse o futuro incerto numa certa forma de estabilidade. Seria o eterno presente do universo. Talvez. Na realidade não sei de todo de que estou a falar. Talvez da deriva cósmica, a tentar encontrar uma equivalência à deriva existencial em que explodimos do nada para uma infância de também eterno presente, por uns tempos, e daí para um futuro em que a idade e a percepção do tempo, pa-

ANABELA CANAS

Em lugar de ser

recem ir-se definindo e sentindo em aceleração constante. O humano em deriva constante, é o que sinto. Uma procura imparável de localização numa métrica de coordenadas ao alcance do próprio humano. Na

sua dimensão mista. Pequena, ao alcance da medida dos objectos, ou enorme, vaga e não mensurável, em procura pelo vazio dos espaços cósmico da alma, do espírito ou do intelecto. Sim, às vezes não sei bem


17 hoje macau sexta-feira 21.10.2016

de tudo e de nada

de que estou a falar senão de uma sensação enorme de desconforto que me ultrapassa. Ou desta ideia de que um dia destes, começo a acreditar numa origem divina para explicar o universo e tudo nele. Porque

é mais fácil. E uma ideia plena de esperança. Sem problemas de tempo ou espaço. Isto, digo eu por preguiça. De continuar a tentar uma ideia confortável para os dias. A sucessão dos dias.

Anabela Canas

Comecei a dizer. E depois, nada. E nada. E bem lá no fundo, onde tudo está sepultado – depositado, digo – digo. É ali e dali que tudo vem e vai como refluxo. Mas volta. Vira-se, adormece. Ao de cima, por vezes. Porque lá no fundo, tudo acordado na espertina eterna. Um dia, hei-de ir de mim para fora por exaustão. Um dia qualquer. Esperando encontrar outro em que viver em paz. Não em mim. Isto digo eu. Confinada a mim. E só por dizer. Diz a ciência, então, que a expansão crescente do universo continua a agigantar o que já era imenso. Que uma força desconhecida e imensa o estica imparável e continuará a esticar até ao fim. Embutida no tecido do espaço, energia escura, afinal predominante. Imensa de tamanho e poder. O maior dos enigmas. Quase uma expressão poética e assustadora no que afinal é só uma descrição de ordem física. A cor do medo. E pensar que parti do erro de paralaxe. Movemo-nos e pensamos que é o universo que se move independente de nós. Porque parece. Porque é a ilusão do olhar. Ou a paralaxe cognitiva, o eixo da construção teórica a deslocar-se do eixo de experiencia humana real. Como em Kant, a incognoscibilidade da “coisa em si”, do ponto de vista material, e a sua pura existência como fenómeno. Como aparência. Ou que nunca estamos no mesmo lugar, nesta deriva consonante com o universo. E com os sentidos. Em que o que se move, é numa realidade qualquer fervilhante de organismo monstruoso. Podemos não estar de facto nunca no mesmo lugar. Mas há pontes constantes entre tudo e tudo. Rígidas ou flexíveis e ajustáveis. Rupturas, também. Estrelas cadentes como se o fossem, quando, afina, ínfimas poeiras. Movemo-nos. Olhamos o mundo. Parece que se moveu. Uma megalomania planetária de que tudo o mais fossem satélites. Movemo-nos e reclamamos do mundo. Ou sonho de árvore. Que para cair, precisa de uma doença grave que lhe corroa as raízes entranhadas no lugar, ou dentes afiados do homem, por detrás dos braços, por detrás de uma serra. Ou que a terra se revolva em convulsão de reajuste. Interino. Ou na fúria cega dos elementos sazonais. De resto, fica. Sossegada e acolhedora na sua sombra. Precisar de um lugar. Por isso a casa. Pele da pele. E precisar de me sentar a uma mesa de madeira sólida, pousar as mãos na memória refeita de uma árvore desconhecida, estender uma toalha branca escrita a bordados suaves por outras mãos, e beber uma chávena de chá. Quente. A pensar no futuro de gelo que a ciência adivinha para o universo. Um depois impreciso mas certo. Mas não agora.


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hoje macau sexta-feira 21.10.2016

ANNOUNCEMENT 1. Objective: Open invitation to one tender. 2. Procuring entity: Macao Science Center Limited. 3. Address of Macao Science Center Limited, Avenida Dr. Sun Yat Sen, procuring entity: Macao Science Center. 4. Works, goods Design and Construction of Playground for the Family and services to Time-out Corner of Macao Science Center be procured: PA-16-165 5. Location Macao Science Center. of service provision: 6. Conditions of Registered supplier under relevant categories of Macao entry: Science Center Limited. 7. Method for Registered suppliers can send in your request through email obtaining tender to tender@msc.org.mo. For suppliers not yet registered, documentation: please attach with commercial registration documents & contact details. 8. Tender submission location, deadline and deliver:

9. Tender opening location and time:

10. Validity period of the tender: 11. Provisional guarantee: 12. Definitive guarantee: 13. Selection Criteria:

14. Additional information:

15. Base price:

Location: Deadline:

Avenida Dr. Sun Yat Sen, Macao Science Center. The 31st day starting from the date of Deliver: announcement or 21st November, 2016 (Monday) at 5:00 pm (Macao time). Please refer to “article 5”- Chapter II Tender Scheme - Open Consultation Document. Location: Avenida Dr. Sun Yat Sen, Macao Science Center. Time of phase 1: The first working day after the deadline or 22nd November, 2016 (Tuesday) at 3:00 pm (Macao time). Time of phase 2: Date and time will be decided later after assessment of the ‘Documents’ and the ‘Proposal’ have been completed. Bidders who are qualified to proceed to phase 2 will be notified by email. Bidder or its representative shall be present at the Tender Opening Meeting for clarification of possible questions arisen from submitted tenders. 90 days starting from the date of tender opening (the validity period may be extended according to the Tender Scheme). Exempted. By bank guarantee, 5% of the total contract value of service. After fulfilling the requirements in Chapter IV (Technical Requirement) of the tender documents and going through the following two phases of assessment, bidder with the highest total score will be awarded the tender. Assessment criteria is as below with 100points (100%) as maximum score: Phase 1: Proposal – 60 points (60%) Phase 2: Price – 40 points (40%) ( Please refer to “article 10” - Chapter II Tender Scheme – Open Consultation Document for details) All related information will be uploaded to the Macao Science Center website (http://www.msc.org.mo) from the day following the publication of this announcement until the tender closing date. Bidders are responsible to visit the website for additional information. No base price.

Macao Science Center Limited 21st October, 2016

FESTA DE NATAL DOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS DE 2016 Comunica-se a todos os aposentados e pensionistas dos serviços públicos, aque o tradicional jantar da Festa de Natal deste ano, como habitual à moda chinesa, se realizará no Restaurante Plaza, respectivamente nos dias 1 de Dezembro (5a feira) e 2 de Dezembro (6a feira). O tempo do primeiro dia da inscrição - 23 de Outubro (Domingo) será instável, pelo que para garantir a segurança dos interessados, comunica-se que a inscrição da Festa de Natal deste Fundo será alterada para o seguinte: (Novo) Data e hora de inscrição - Sem interrupção

Local de inscrição: Avenida Panorâmica do Lago Nam Van, n.os 796 - 818, Fortuna Business Centre (FBC), Macau (Ao lado do silo do “New Yaohan”) 13.º andar Fundo de Pensões

30 de Outubro (Domingo) Das 9:00 às 17:00 31 de Outubro (2a feira) Das 9:00 às 18:15 14.º andar Fundo de Pensões a 1 de Novembro (3 feira) Obs:Favor seleccionar, entre as duas datas, a data do jantar que pretende participar, antes da sua inscrição. As vagas esgotam-se após preenchidas. Os interessados devem apresentar o original de um dos seguintes documentos pessoais para tratarem da sua inscrição: • Cartão de Identificação de Subscritor do Fundo de Pensões; • Bilhete de Identidade de Residente de Macau e nota de abonos. Mais se comunica que cada pessoa, para além da sua própria inscrição, poderá ainda proceder à inscrição, no máximo, de mais 2 titulares de pensão. Para informações, é favor de ligar para o n.° 2835 6556 ou aceder à página electrónica deste Fundo www.fp.gov.mo.

Assine-o TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo

www.hojemacau.com.mo


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OPINIÃO

a canhota

PAUL PAVIOT, PANTOMIMES (1956)

FA SEONG 花想

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A arte de rua é mal vinda

ROMOVER as indústrias culturais, criativas e artísticas tem sido recentemente uma meta do Governo de Macau, ou, talvez mais, um “slogan”. Neste sentido, são muitos os festivais, espectáculos e outro tipo de eventos, que acontecem para aumentar o valor artístico da cidade. No entanto e também verdade, é que nem todos os tipos de arte são bem vistos pelas autoridades, sobretudo quando se fala de arte de rua. Vários são os casos em que turistas ou artistas estrangeiros acabaram detidos por estarem a mostrar as suas competências artísticas nas ruas da cidade. Uns dançam, outros cantam, tocam

ou pintam, mas, aos olhos das autoridades estão a violar a lei da “obrigatoriedade de notificação ou licença”. É esta execução da lei que tem estado no centro de algumas polémicas, tanto na comunicação social como no mundo virtual. Ao que parece, na base do descontentamento está a incompreensão das detenções e da razoabilidade destas acções. Actualmente, todas as actividades realizadas em espaços públicos devem ser requeridas ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). Só em Abril deste ano é que apareceu a notícia do aparecimento de uma proposta de lei que regulamente os espectáculos de rua. Alexis Tam, por exemplo, considera que Macau

pode aprender com os países estrangeiros onde este tipo de espectáculos são comuns. Penso que apesar de Macau ser muito pequeno, atrai turistas estrangeiros que escolhem este território. Ao tocar nas nossas ruas trazem alguma felicidade para a população local enquanto satisfazem o seu espírito artístico. Macau deve aproveitar este encanto o que está para além do brilho do jogo. Contudo, na proposta de lei proposta pelo Governo, os interessados em fazer espectáculos de rua têm que entregar um requerimento a pedir autorização que será avaliado pelas entidades competentes. Paralelamente será também criada uma comissão de apreciação para avaliar o local,

Não entendo, não concordo e não penso que seja lógico que a arte de rua seja restringida. Como é que é possível um artista viajar para Macau e fazer um pedido ao Governo para cantar uma canção?

a forma e o conteúdo tanto da proposta, da sua “adequação” ao público e da segurança dos equipamentos associados. Não entendo, não concordo e não penso que seja lógico que a arte de rua seja restringida. Como é que é possível um artista viajar para Macau e fazer um pedido ao Governo para cantar uma canção? Como é que um turista que quer mostrar e partilhar os seus dotes na sua passagem pelo território tem possibilidades de fazer de fazer este tipo de pedidos? A regulamentação é sempre boa na perspectiva do Executivo mas, na realidade, não beneficia o desenvolvimento das artes de rua, nem ajuda a quebrar o impasse que os artistas encontram. Talvez a segurança pública tenha que manter as ruas sem qualquer actividade não autorizada, mas não considero que Macau mereça o nome de Centro Mundial de Turismo e Lazer quando não consegue acolher espectáculos ou performances simples, muitas vezes sem fins lucrativos, e que não representam qualquer risco para a população.


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contramão

ISABEL CASTRO

Macau a brincar VICTOR FLEMING, MERVYN LEROY, GEORGE CUKOR, NORMAN TAUROG, KING VIDOR, THE WIZARD OF OZ

isabelcorrreiadecastro@gmail.com

O

jornal que tem nas mãos contou esta semana uma história sobre a qual vale a pena reflectir: um licenciado em Macau que pretenda dar aulas, independentemente da formação de base que tenha, garante facilmente o acesso à carreira de docente com uma pós-graduação de apenas um ano. O curso é leccionado na Universidade de São José e fortemente incentivado pelos Serviços de Educação e Juventude, que contribuem com parte substancial das propinas. Não discuto a qualidade da universidade e da pós-graduação, o modo como o programa é dado ou o sentido de oportunidade de quem, não tendo estudado para professor, aproveita para mudar de vida através deste curso. Tenho a certeza de que há pós-graduados com uma indiscutível vocação para o ensino – e por isso mesmo é que voltam aos livros, depois de terem concluído licenciaturas em áreas como o Marketing e o Design, para poderem abandonar os computadores e as reuniões de adultos chatos, e ganharem instrumentos para lidarem com crianças, os únicos seres mais ou menos puros que encontramos por aí.

Já as intenções dos Serviços de Educação e Juventude me suscitam dúvidas, das mais profundas. É óbvio que o Governo, ao apoiar de forma tão expressiva a pós-graduação em causa, tentou (e aparentemente conseguiu) uma saída airosa para um problema grave de Macau: a falta de professores. E está a dar a volta a este difícil texto indo ao encontro dos desejos proteccionistas de alguns sectores – formam-se professores à pressão e evita-se, deste modo, a contratação ao exterior. Por melhor que seja o curso, um ano não são quatro nem cinco, o tempo que um professor passa numa universidade. Noventa horas de estágio não são um ano de estágio. Por melhor que seja o aluno da pós-graduação e por muito talento que tenha, é impossível que termine o curso da Universidade de São José com o mesmo nível de preparação de pessoas que passaram vários anos a estudar para depois poderem ensinar. A questão política: ao não exigirem um elevado nível de preparação académica aos docentes de Macau, os Serviços de Educação e Juventude estão a banalizar a profissão. E ao banalizarem a profissão, estão a desvalorizar uma das áreas mais importantes do

“A educação é importante porque sem ela é difícil termos boas pessoas e bons cidadãos.”

funcionamento de uma sociedade. A educação é tão importante quanto a medicina, porque um aluno sem uma boa formação jamais poderá salvar vidas; a educação é tão importante quanto o direito, porque um aluno mal formado jamais poderá ser um juiz ponderado; a educação é tão importante quanto a engenharia, porque jamais um aluno com dificuldade em fazer contas será capaz de pensar numa ponte ou num prédio. A educação é importante porque sem ela é difícil termos boas pessoas e bons cidadãos. Eu, jornalista de profissão mas também de formação, posso frequentar uma pós-graduação em Direito. No entanto, este curso não me garante – e ainda bem que assim é – o acesso à advocacia, nem faz de mim jurista. Seria um escândalo se tal acontecesse. Não consigo entender por que razão não é um escândalo que a formação dos nossos filhos e dos filhos dos nossos vizinhos possa estar nas mãos de quem – mais uma vez, independentemente do talento, vocação e conhecimentos – não passou uns bons anos a estudar para ser educador de infância ou professor. A história da pós-graduação da Universidade de São José é, de certo modo, um bom exemplo de como Macau funciona em diversos aspectos: isto é tudo mais ou menos a brincar, que a malta é porreira e não se passa nada. Assobia-se para o lado e para se tapar um buraco destapa-se outro, que a manta é curta. Mas isso depois logo se vê – aqui entre nós que ninguém nos ouve, pode ser que passe entre os pingos da chuva.

OPINIÃO


22 (F)UTILIDADES TEMPO

T3

hoje macau sexta-feira 21.10.2016

?

AGUACEIROS

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

FIMM | ADRIANO JORDÃO Teatro D. Pedro V, 20h00 FIMM | ROY HARGROVE Fortaleza do Monte, 20h00

MIN

22

MAX

26

HUM

80-98%

EURO

8.77

BAHT

CINEMA | VI NY PORTUGUESE SHORT FILM FESTIVAL Fundação Oriente, 17h00 FIMM | JAZZ X JAZZ Fortaleza do Monte, 16h00

Domingo

FIMM | JAZZ Fortaleza do Monte, 16h00

O CARTOON STEPH DE

OKTOBER FEST MGM EXPOSIÇÃO “SE EU ESTIVESSE EM SÃO FRANCISCO/MACAU” Fundação Rui Cunha EXPOSIÇÃO DE PINTURA LUSÓFONA Clube Militar (até 23/10) EXPOSIÇÃO “O ARAUTO DOS TEMPOS: O POETA F. HUA-LIN” Academia Jao Tsung-I (até 13/11) EXPOSIÇÃO COLECTIVA DE ARTISTAS DE MACAU IACM (até 30/10) EXPOSIÇÃO “ROSTOS DE UMA CIDADE – DUAS GERAÇÕES /QUATRO ARTISTAS” Museu de Arte de Macau (até 23/10) EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12) ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017) EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11)

Cineteatro

C I N E M A

JACK REACHER: NEVER GO BACK SALA 1

JACK REACHER: NEVER GO BACK [C] Filme de: Edward Zwick Com: Tom Cruise, Cobie Smulders, Danika Yarosh, Austin Hebert 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2

SALA 3

THE AGE OF SHADOWS [C] FALADO EM COREANO LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Kim Jee Woon Com: Song Kang-Ho, Gong Yoo, Han Ji-Min, Lee Byung-Hun 14.15, 16.45, 19.15

HEARTFALL ARISES [C]

SADAKO VS KAYAKO [C]

FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Ken Wu Com: Nicholas Tse, Sean Lau 14.30, 16.30, 19.30 21.30

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADOEM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Koji Shiraishi Com: Mizuki Yamamoto, Tina Tamashiro, Masanobu Ando 21.45

PROBLEMA 105

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 104

UM FILME HOJE

SUDOKU

EXPOSIÇÃO WORLD PRESS PHOTO Casa Garden

1.18

UMA ODE LUSITANA

Amanhã

Diariamente

YUAN

AQUI HÁ GATO

CINEMA | VI NY PORTUGUESE SHORT FILM FESTIVAL Fundação Oriente, 19h30

FIMM | ORQUESTRA DO TEATRO MARIINSKY Centro Cultural de Macau, 20h00

0.22

Quem disser que o português não trabalha não está a ver bem o cenário. Podem não trabalhar tantas horas como os chineses ou os japoneses, mas trabalham, apesar de gostarem muito dos feriados, pontes e 14 meses de salário por ano. Mas adiante, que as mentalidades estão a mudar, caros amigos. Quem passear pela Feira Internacional de Macau poderá ver o quão trabalhadores os portugueses são, e pego num exemplo muito simples. O Licor Beirão é uma bebida feita no centro de Portugal desde a década 30 do século passado e há um bom par de anos ninguém ouvia falar nele. A bebida continuava a ser saborosa, mas parou no tempo. Alguém jovem pegou na marca e fez dela aquilo que ela é hoje, tão importante que até quer entrar na China. O mesmo se passa com a arquitectura, os sabonetes artesanais que existem nos melhores hotéis do mundo, os vinhos, e poderia continuar a dar exemplos. O problema dos portugueses é serem tendencialmente depressivos, pouco optimistas e saudosistas, que no tempo da outra senhora é que era bom, mas se calhar não era assim tão bom. Deixemos de ter orgulho quando aparecemos apenas nas capas do New York Times e tenhamos visão e ousadia de arriscar. . Pu Yi

HUNT FOR THE WILDERPEOPLE | TAIKA WAITITI | 2016

Um filme que mostra as maravilhas da Nova Zelândia e que conta a história de um rapaz rebelde, internado numa instituição e que procura uma família que o acolha. Um casal que vive na montanha acolhe-o e inicialmente, apenas a esposa lhe dava carinho e atenção. A sua morte vai levar a que o marido viúvo acabe por se tornar próximo do miúdo, tão próximo que começa aí a aventura das suas vidas contra os serviços sociais do país. Triste e engraçado ao mesmo tempo, o filme só peca por, a certa altura, se tornar algo ridículo.

Andreia Sofia Silva

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


23 PERFIL

RITA AMORIM O

hoje macau sexta-feira 21.10.2016

RITA AMORIM O, PSICÓLOGA CLÍNICA

R

Uma mulher de família

ITA Amorim O é psicóloga clínica mas, e acima de tudo, é uma mulher de família. Chegou a Macau há cinco anos. Casada com um designer com ligações ao território, foi opção conjunta, após o nascimento da primeira filha, tentar a vida neste lado do mundo. “O início foi muito complicado”, afirma Rita Amorim O, ao recordar a chegada com um bebé nos braços. Apesar de já conhecer a cidade, “mas só de passar férias”, os primeiros tempos foram marcados principalmente pelas dificuldades enquanto jovem mãe. No entanto, e rapidamente, ambientou-se, até porque considera que “o ser humano tem uma capacidade de adaptação muito maior do que se imagina” e hoje vê Macau como sendo também a sua casa. “É uma cidade muito generosa”, principalmente para quem tem filhos. Para a psicóloga, Macau é um lugar onde existe tempo. “Vinha de Lisboa, uma capital onde só se corre de um lado para o outro e com uma outra dimensão, enquanto aqui está tudo muito mais à mão.” Para ilustrar a qualidade de vida com que foi surpreendida, Rita

Amorim O lembra que, “na altura, conseguia almoçar todos os dias em casa, aproveitava muito a bebé”. A vida mudou e o tempo também mas Macau continua a ter mais-valias. “Continuo a achar que esta terra é muito generosa para quem tem filhos pequeninos, por exemplo”, apesar de muita gente ter o hábito de se queixar de que não há nada para fazer. “Claro que as actividades que fazemos dependem um bocadinho da rede social que nos envolve mas, por exemplo, em Portugal temos de partilhar o nosso tempo com a nossa família e o fim-de-semana por vezes é passado com almoços entre pais e sogros” e o tempo para os amigos escasseia. O mesmo não acontece em Macau. Com menos família a requisitar horas “conseguimos partilhar melhor o tempo com toda a gente”, explica Rita Amorim O. “Conseguimos combinar sempre coisas diferentes: uma ida ao parque ou mesmo a estes casinos todos que já contam também com espaços dedicados a quem tem filhos.” Por outro lado, e para a mãe de família, o tempo pode passar-se muito bem por cá e mesmo a usufruir de actividades ao ar livre.

“A Taipa tem agora uma marginal espectacular e, se quisermos, passa-se ali uma tarde com as crianças a andar de bicicleta, numa zona bonita e a aproveitar um programa de que todos gostamos”, ilustra, acrescentando que “isto são coisas que nos ajudam muito mais do que aquilo que possamos imaginar.

DE MÃE PARA MÃE

Rita Amorim O não separa a vida pessoal da escolha profissional. A psicóloga é uma das fundadoras da “Moms”, um projecto ao qual dá o coração para ajudar as famílias da terra. A iniciativa surgiu da necessidade que a própria sentiu quando cá chegou relativamente ao apoio à parentalidade. “Temos vários projectos que vão desde a preparação para o parto ao apoio às rotinas do bebé. Também fazemos cursos de massagens a crianças e formação para quem dedica a vida a tomar conta dos mais pequenos.” Paralelamente, também dá consultas no âmbito da psicologia da família. “A maternidade está realmente sempre presente, na vida e na profissão” conta, ao mesmo tempo que recorda que “acabou por acontecer naturalmente, apesar de sempre

ter sido muito maternal”. No fundo, o projecto começou com o nascimento da segunda filha, “correu tudo muito bem mas, pelo facto de não falar chinês, senti-me pouco apoiada”. Juntou-se a Maria Sá da Bandeira, que é sua sócia, e optaram por trabalhar nesta área, de modo a ajudar as mães que não falam chinês. Com a iniciativa, a “Moms” acaba por ser pioneira neste tipo de iniciativas que cada vez mais recebem mulheres chinesas. Para já, são apenas casos cujo cônjuge é ocidental, mas já representa uma nova etapa. Para o futuro é o sucesso da “Moms” que ocupa as preocupações de Rita Amorim O. Tal como ver um filho a desenvolver-se, o desejo da psicóloga é ver este projecto também a crescer. “Nem tudo acontece, por vezes, no tempo que queremos e há momentos em que as coisas não são fáceis, mas continuaremos a fazer tudo pelo sucesso da ‘Moms’”, remata. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com


“ RÚSSIA OFERECE NOVA TRÉGUA EM ALEPPO

A

Rússia ofereceu à ONU um cessar-fogo de quatro dias, durante 11 horas diárias, sobre o leste de Aleppo, a começar desde ontem, para evacuações médicas urgentes e a entrada da ajuda humanitária através de corredores controlados pelas forças russas. «A Rússia confirmou-nos que temos onze horas diárias, durante quatro dias. Primeiro disseram que seriam oito, mas nós explicámos que era muito curto e complicado, e eles aceitaram», anunciou o coordenador da ajuda humanitária para a Síria, Jan Egeland.

Porém, o enviado especial para a Síria, Staffan de Mistura, disse que «a trégua temporária foi uma decisão unilateral e não corresponde ao plano formulado pela ONU para aliviar a crise humanitária nessa parte da cidade». «Definitivamente damos as boas-vindas a esta pausa humanitária unilateral, mas isto não é o início do plano delineado pela ONU para produzir uma paragem permanente das hostilidades em Aleppo», declarou De Mistura à imprensa. O enviado especial também disse que a ONU não tem nada a ver com os chamados «corredores humanitários» estabelecidos pela Rússia, com o suposto fim de permitir a evacuação de civis, declarando que esta também foi uma iniciativa unilateral russa.

LONDRES JOVEM PORTUGUÊS DESAPARECIDO ENCONTRADO EM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO O jovem português Volodymyr Lavriv, filho de imigrantes ucranianos, e que estava desaparecido em Londres desde o passado dia 4 de Outubro, foi encontrado esta quinta-feira num hospital psiquiátrico. Segundo a SIC Notícias, o estudante de medicina já estaria no hospital há alguns dias, mas a sua identidade apenas foi confirmada ontem pelo padrasto que se deslocou ao local onde está o enteado. O estado de saúde do jovem ainda é desconhecido e também não se conhecem mais detalhes sobre o caso. Volodymyr Lavriv tinha falado com a mãe pela última vez no passado dia 4, quando disse apenas que ia viajar e que depois daria notícias, embora tivesse ficado em silêncio até ao dia de ontem.

BENFICA GONÇALO GUEDES SAI LESIONADO DE KIEV

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Gonçalo Guedes foi substituído perto do final da partida com o Dínamo Kiev, com fortes queixas pé direito, tocando a zona do tornozelo. O jogador de 19 anos, que até esteve em destaque na partida ao «arrancar» a grande penalidade que resultaria no primeiro golo dos encarnados, não pareceu gerar preocupações de maior, mas será examinado no regresso a Lisboa. O próximo jogo dos encarnados, recorde-se, está marcado para domingo, frente ao Belenenses, no Restelo.

sexta-feira 21.10.2016

eis quase no horizonte o sinal pando/a tremular ao sol de nau em nau:/o teu nome sem nome/ó Deus/Macau.”

José Augusto Seabra

EUA TRUMP RECUSA DIZER SE VAI ACEITAR RESULTADO DAS ELEIÇÕES

Mantendo o suspense O candidato republicano à Casa Branca afirmou no debate desta quarta-feira, em Las Vegas, que só vai decidir no “devido momento” se aceita o resultado das eleições presidenciais de 8 de Novembro

“V

OU ver isso na altura”, respondeu Donald Trump, ao ser questionado pelo moderador do terceiro e último debate entre os dois candidatos à Presidência dos Estados Unidos sobre se vai aceitar ou não o resultado. “Vou mantê-lo em ‘suspense’, ok?”, afirmou. Trump aproveitou o momento para lembrar que há “milhões de pessoas registadas para votar que não deveriam estar”, e voltou a afirmar que as eleições presidenciais estão manipuladas a favor de Hillary Clinton. A candidata democrata manifestou-se incrédula com a resposta sobre se aceitará os resultados das eleições: “Vamos ser claros relativamente ao que ele está dizer e sobre o que significa”, e acusou Trump de “denegrir” a democracia norte-americana com as suas contínuas insinuações. A recusa de Trump em dizer se aceitará os resultados “contradiz” as declarações do seu “número dois”, que garantiu que ambos aceitariam a vontade do povo norte-americano. A filha Ivanka Trump também afirmou que o pai “fará o correcto”. Já a chefe de campanha, Kellyanne Conway, afirmou que Trump vai aceitar, sem qualquer problema, os resultados das eleições, “porque vai ganhá-las”.

DE “MALDOSA” À “MARIONETA” DE PUTIN

Foi um debate azedo. Donald Trump apelidou Hillary Clinton de “maldosa” (“nasty woman”, no original) enquanto a candidata democrata respondia a uma pergunta sobre o aumento dos impostos aos

mais ricos. Por sua vez, Clinton afirmou que o Presidente russo, Vladimir Putin, quer “uma marioneta” como Donald Trump na Casa Branca e que por isso tenta “interferir” nas eleições norte-americanas. Trump reconheceu o seu respeito pela “firmeza” do Presidente russo, respondendo que a “marioneta” é Hillary Clinton, já que Putin foi “mais inteligente” na Síria e na

Ucrânia do que o Governo do Presidente norte-americano, Barack Obama, do qual Clinton foi secretária de Estado.

PLANO DE DEPORTAÇÕES VAI “DILACERAR” O PAÍS

“Eu não quero ver a deportação forçada de que Donald [Trump] tem falado”, disse Clinton, sublinhando: “Eu penso que é uma ideia que vai dilacerar o nosso país”.

Trump defendeu os seus planos, afirmando que existem alguns “maus ‘hombres’” no país que devem ser enviados para a sua terra-natal, e insistiu na construção de um muro que separe os Estados Unidos do México. “Quero o muro, temos que parar a droga. Temos ‘hombres’ [homens] maus que têm de ir [embora]. Quando a fronteira estiver segura, vamos tomar uma decisão sobre o resto”, disse o republicano, acusando a rival de querer “fronteiras abertas”, algo que Clinton negou, assegurando que o que pretende é uma fronteira segura e uma reforma migratória.

SONDAGEM DÁ VITÓRIA A HILLARY CLINTON

A

candidata democrata Hillary Clinton venceu o terceiro e último debate presidencial nos Estados Unidos, segundo uma sondagem rápida da CNN. Cerca de 52% dos inquiridos consideram que a democrata esteve melhor, enquanto 39% defende que foi Donald Trump a ganhar o debate. As mesmas sondagens rápidas da CNN, que permitem ter uma primeira ideia sobre o debate, já tinham dado a vitória a Hillary Clinton nos anteriores dois debates. Num debate menos polémico do que o anterior, a mesma sondagem da CNN diz que

60% dos inquiridos consideram que Trump atacou mais Clinton, enquanto 23% pensam que foi a democrata que esteve mais ao ataque – 15% defendem que os dois candidatos atacaram em igual medida. Nas sondagens realizadas nas últimas semanas, a candidata democrata aparece à frente de Donald Trump. O modelo de previsões do New York Times dá 92% de hipóteses de vitória a Hillary Clinton contra 8% de Donald Trump, enquanto o site Five Thirty Eight dá 87,3% de possibilidades de vencer a Clinton e 12,6% a Trump.


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