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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ • QUARTA-FEIRA 21 DE DEZEMBRO DE 2011 • ANO XI • Nº 2517
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Padre Luís Sequeira, referência da Igreja na Ásia
“Não atirem pedras à China”
O antigo Superior dos Jesuítas chama a atenção para as atitudes dos Ocidentais no passado, no quadro do actual diferendo entre o Vaticano e a China. Aos 60 anos, sábio, confessa: “ainda estou a aprender”. > PÁGINAS 12 E 13
RODRIGUES DOS SANTOS E A ESCRITA
DAVID CHOW SOBRE TERMINAL MARÍTIMO
• PÁGINA 23
• PÁGINAS 28 E 29
“NÃO TENHO ÍDOLOS EM PARTE ALGUMA” China apoia sucessão na Coreia do Norte
O PRÍNCIPE, OS GENERAIS E O “HOMEM DE MACAU” • Páginas 2 e 3
COMISSÃO ELEITORAL DEVE SER AUSCULTADA
QUARTA-FEIRA 21.12.2011 www.hojemacau.com.mo
2 ÁRVORE DE NATAL CANCELADA A Coreia do Sul expressou ontem as suas “condolências ao povo norte-coreano. O ministro da Defesa sul-coreano afirmou também que o seu governo vai reavaliar o projecto de grupos religiosos para a instalação de uma árvore de Natal perto da fronteira com o Norte, após a morte do líder norte-coreano Kim Jong-il. “Vou reavaliar [o projecto] porque o mesmo não é oportuno na situação actual”, declarou Kim Kwanjin. O regime comunista norte-coreano opôs-se veemente ao projecto de grupos religiosos do Sul de erguerem uma árvore de Natal junto à fronteira, que seria iluminada sexta-feira, alegando que tal situação seria mais uma agravante da “guerra psicológica” desenvolvida pelo seu vizinho capitalista e tinha alertado para “consequências inesperadas” caso a árvore fosse iluminada.
SEUL E EUA VÃO MANTER POSTURA DEFENSIVA O ministro da Defesa da Coreia do Sul, Kim Kwan-jin, e o secretário da Defesa norte-americano, Leon Panetta, acordaram ontem manter uma postura defensiva forte sobre Pyongyang após o anúncio da morte do líder norte-coreano. Os responsáveis da Defesa da Coreia do Sul e Estados Unidos tiveram uma conversa telefónica, durante a qual acordaram estabelecer uma estreita coordenação e vigilância sobre o regime comunista do Norte neste momento de incerteza política, informou a agência noticiosa sul-coreana Yonhap. Após a morte do líder norte-coreano, o governo de Seul ordenou o reforço da vigilância militar na fronteira com o Norte e declarou o estado de emergência. CHINA DEVE “INFLUENCIAR” COREIA DO NORTE, MAS “SEM INTERFERIR” Um jornal oficial chinês defendeu ontem que “a China deve influenciar a evolução da política da Coreia do Norte, mas sem interferir nos seus assuntos internos”. A Coreia do Norte “é um especial parceiro estratégico da China (...) Desistir da influência sobre (aquele) país pode resultar na violação dos interesses da China”, diz o Global Times num editorial sobre a sucessão de Kim Jong-il. “Tão cedo quanto possível”, a China deve enviar “uma missão de alto nível” à Coreia do Norte para “manter uma estreita comunicação com o novo líder e dar um forte sinal a Pyongyang e ao mundo”, propõe o jornal, uma publicação do Grupo Diário do Povo. “A China deve um poderoso e seguro apoio a uma transição de poderes sem sobressaltos na Coreia do Norte”, acrescenta o jornal.
ACTUAL China confirma apoio a Kim Jong-un como novo líder norte coreano
O tempo do Grande Sucessor
O
governo da China manifestou ontem o seu apoio expresso a Kim Jong-un, terceiro filho do falecido líder Kim Jong-il, como novo soberano da Coreia do Norte, assinalando que “é um grande líder do povo” e abrindo as portas para uma visita ao território chinês. “Kim Jong-un é um grande líder da República Popular Democrática da Coreia, assim como um bom amigo do povo chinês, que contribuiu muito para o desenvolvimento do socialismo”, assegurou o porta-voz do Ministério da Relações Exteriores chinês, Liu Weimin.
A Coreia do Norte elogiou o seu novo líder, Kim Jongun, com os órgãos de comunicação estatais a saudarem-no como “nascido do céu”. “Na vanguarda da revolução ergue-se o camarada respeitado Kim Jong-un”, salientou a televisão. “Acreditamos que sob a liderança de Kim Jong-un serão promovidos esforços para construir um forte país socialista e alcançar a paz na Península Coreana”, acrescentou a fonte oficial. O porta-voz das Relações Exteriores informou que o chefe da diplomacia chinesa, Yang Jiechi, falou por telefone com os
seus homólogos da Coreia do Sul, Kim Sung-hwan, e dos Estados Unidos, Hillary Clinton, para coordenar posições sobre a situação regional depois da troca de poder na Coreia do Norte. “Yang disse que a paz e a estabilidade na Península Coreana são o interesse comum de todas as partes, e que a China fará todos os esforços
possíveis para mantê-las”, assinalou Liu.
NASCIDO PARA MANDAR
Kim Jong-Un, nascido em 1983 ou 1984, só o ano passado entrou para a direcção da Comissão Militar Central, com o posto de vice-presidente. Como o pai, Kim Jong-Un permanece um personagem misterioso. A sua mãe, a bailarina Ko Yong Hui, falecida em 2004, foi a terceira mulher de Kim Jong-il. Diz-se que o jovem Kim estudou na Suíça, mas quando regressou à Coreia do Norte terá optado por um curso de “ciência militar”.
O QUE NÃO VAI MUDAR NA COREIA DO NORTE
Um regime de generais A
responsável pela secção China da Amnistia Internacional em Portugal considera que a morte do líder coreano Kim Jong-il pode não significar grandes mudanças no país porque quem manda é uma élite de generais. “A evolução é imprevisível porque também não é o filho do ‘querido líder’ que morreu que vai deter o poder. Ele tem-no formalmente mas, na realidade, há um conjunto de generais que é de facto quem manda no país”, disse à Lusa Teresa Nogueira da Amnistia Internacional. “Não sabemos qual deles [dos generais] é que é preponderante e, portanto, tudo depende do que pensam aqueles que vão efectivamente governar o país: se podem ou não continuar com uma situação em que a população dificilmente sobrevive”, acrescentou. Sublinhando que existem poucos dados sobre a situação interna da Coreia do Norte, até porque a Amnistia Internacional “está impedida de lá entrar”, a responsável afirma que não existem direitos políticos nem direitos económicos porque a população morre à fome. “Muitas vezes as pessoas vão buscar raízes para comer, quando as têm. Há meia dúzia de pessoas
afectas ao regime que têm a alimentação assegurada, mas o resto da população não tem”, disse. “Daí a necessidade que a Coreia do Norte tem de abrir, de vez em quando, uns diálogos com a Coreia do Sul para obter alguns alimentos em troca”, referiu. Para Teresa Nogueira, a evolução da situação na Coreia do Norte também vai depender da pressão que a China exercer. A China “é, de facto, o único amigo que lhes resta e que tem alguma influência sobre eles”, afirmou, lembrando que “em Mianmar a China fez pressão para que os generais se abrissem um pouco mais - pelo menos ficticiamente - para que a pressão internacional sobre o regime abrandasse”. No entanto, admitiu, o futuro da Coreia do Norte é “uma incógnita” até porque “a élite de generais que tem poder sobre tudo não está interessada se a população morre à fome ou não”. “Aquilo é um país de escravos em todos os aspetos”, sublinhou, referindo ser muito significativo que os poucos norte-coreanos que fogem, o façam para a China. “Apesar de ser um país muito repressivo, a China representa para os coreanos uma melhoria”, concluiu
MORTE DE KIM DOMINA IMPRENSA DE PEQUIM A morte do líder norte coreano Kim Jong-il ocupou ontem as primeiras páginas dos jornais de Pequim. “Partida de um amigo”, diz a manchete do China Daily a toda a largura da primeira página, ilustrada com uma fotografia de Kim Jong-il. O Global Times proclama que “Pequim continua ao lado de Pyongyang depois da morte de Kim”. “A Coreia do Norte chora, o mundo está circunspecto”, diz ainda o Global Times, num subtítulo. Uma fotografia de Kim Jong-il acompanhado pelo filho mais novo e designado sucessor, Kim Jong-un, enche a primeira página do “Notícias de Pequim”, um dos mais populares jornais da cidade.
Saiu um artigo em Portugal, no jornal i, que insulta quem exerce em Português a profissão de jornalista em Macau. Num caso que gera unanimidade e em que toda a classe foi humilhada, é imprescindível que a direcção da AIPIM – Associação da Imprensa em Português e Inglês de Macau – tome uma posição sobre o assunto junto do referido diário. Se não o quiserem fazer, não se expliquem: demitam-se. Carlos Morais José P. 31
Joana Freitas *
E
joana.freitas@hojemacau.com.mo
M 2001, Kim Jung-nam tentou entrar no Japão para visitar a Disneylândia de Tóquio com o filho de seis anos e duas mulheres. Mas o passaporte falso que trazia – da República Dominicana – fez com que fosse expulso do país nipónico e provocasse a ira do “querido líder”. A relação entre Kim Jung-il e o seu primogénito caiu, então, em desgraça, transformando todo um destino apontado para Kim Jung-nam. O “pequeno general” – como era conhecido -, que durante anos fora o previsível sucessor do pai, deixa Pyongyang e passa a viver entre a China e Macau. O grande sinal da sua exclusão da rota do poder aconteceu em 2004, quando chegou sozinho, sem guarda-costas nem comité de recepção, ao aeroporto de Pequim. Nesse ano, Kim Jung-nam muda-se com os dois filhos e a mulher para o território, onde terá, alegadamente, duas casas. Uma delas, segundo a AFP, fica em Coloane, virada para o mar do sul da China. “O filho mais velho? Sim, mora numa dessas casas, mas não sei exactamente qual”, diz um taxista citado pela agência francesa. De Kim Jung-nam, tal como de toda a família norte-coreana, pouco se sabe. Mas a simplicidade do “pequeno general”, que apanha táxis e autocarros sem guarda-costas quando passeia por Macau, permite levantar um pouco do véu. “Kim Jung-nam passa os seus dias a comer e a beber nos restaurantes de cinco estrelas da antiga colónia portuguesa, a apostar nas mesas de jogo e a gastar alguns dos seus 500 mil dólares de subsídio anual nas lojas de marcas luxuosas do território”, escreve a AFP. A envolvência com a lusofonia também não fica de fora, tendo mesmo os seus dois filhos – um rapaz com 14 anos e uma menina de 10 – frequentado os escuteiros lusófonos. A vida privilegiada que Kim Jung-nam terá no
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Quem é Kim Jung-nam, o filho mais velho, o “de Macau”?
O homem que não queria ser rei Não é com ele que a dinastia comunista norte-coreana se vai manter, mas de Kim Jong-nam também narra a história. O filho mais velho do “querido líder” da Coreia do Norte não foi só, durante anos, o suposto sucessor de Kim Jung-il. Kim Jong-nam marcou o seu lugar em Macau, com o território também a ser fruto de uma relação constante entre China e Coreia do Norte. roupa não se assemelha, contudo, ao estilo de vida que Kim Jung-nam alegadamente leva. Presença forte no hotel Altira – onde foi visto num pequeno-almoço tardio com uma mulher na casa dos vinte anos -, o filho mais velho do “querido líder” gosta de tudo aquilo “que o dinheiro pode comprar”, escreve a AP. “Passa as noites em casinos ou karaokes e tem um casa na península, onde dorme depois de noites tardias e onde vivem os três guarda-costas”. Um empregado de balcão do Altira conhece o “senhor Kim Jung-nam”, que passa “algumas vezes pelo hotel”. Dele, sabe que fala francês e inglês.
O CAMINHO ATÉ NÃO SER SUCESSOR
território foi descrita ao pormenor pela imprensa em 2010, quando se começa a delinear a previsão da sucessão ao poder da Coreia do Norte por Kim Jung-un, meio irmão de Kim Jung-nam e filho mais novo do “querido líder”. Em Macau, contudo, “Kim Jung-nam não é convidado para eventos do Governo e é tratado como um cidadão privado”, escreve a
AFP, citando Ricardo Pinto, jornalista do território.
NÃO LHE CHAMEM FUGITIVO
Kim Jung-nam nunca aceitou a acusação de estar exilado no território. Nas poucas palavras que cedeu aos jornalistas em Macau, o “pequeno general” limitou-se a caracterizar-se como um turista. “Sou só o filho de Kim Jung-il. Se fosse o sucessor, acham que
me viam em Macau com este look casual e de férias? Sou um cidadão norte-coreano que tem direito a viver em Macau e na China”, disse ao Joong Ang Daily, jornal sul-coreano. “Chamarem-me fugitivo da Coreia do Norte é completamente incorrecto.” As calças de ganga e a camisa listada que vestia à porta do hotel onde foi rodeado pela imprensa estão descritas em todas as notícias. O estilo da
O multilinguismo, Kim Jung-nam aprendeu em Genebra, onde estudou a partir dos 10 anos. Filho de uma relação extra-marital de Kim Jong-il com Sung Hae-rim – uma estrela de cinema que morreu em 2002 -, o “pequeno líder” cresceu rodeado de luxos, mas num isolamento quase total – semelhante ao regime fechado do país. Enquanto o povo norte-coreano morria de fome, Kim Jong-nam estudou em casa com professores particulares e brincava numa sala com 990 metros quadrados, recheada de brinquedos que as equipas especiais de compras de presentes do pai traziam do estrangeiro, segundo o livro “Kim Jong-il, o Querido Líder da Coreia do Norte”, de Michael Breen. Ainda antes de fazer 30 anos, Kim Jong-nam começou a estudar economia e tornou-se responsável pela agência informática do Estado norte-coreano. No caminho como supos-
to sucessor de Kim Jung-il, Kim Jung-nam ocupou importantes cargos em Pyongyang. Depois de lugares de chefia na política, foi nomeado general e chefe da polícia secreta. É talvez por isso, que analistas do pais norte-coreano acreditam que o “pequeno general” tem mais capacidade do que o irmão para suceder ao falecido líder. Mas Kim Jung-un sabe que é o escolhido para continuar a dinastia comunista norte-coreana, já desde 2001. E relatos não confirmados da imprensa coreana apontam para complôs elaborados pelo irmão mais novo de Kim Jung-nam – a eliminação dos apoiantes do irmão e o assassinato de Kim Jung-nam. Os jornais falam mesmo em tentativas falhadas em Outubro de 2004 e em 2010, sem sucesso devido à intervenção do pai e do tio dos jovens Kim. As alegadas tentativas de homicídio terão sido, então, o motivo do exílio do “pequeno general”. Depois de Singapura, Pequim – onde tem uma casa – e Macau, os rumores apontavam a Europa como próximo destino de Kim Jung-nam. Ele nega. “Não tenho planos para ir para a Europa. Porque iria? Posso ir férias”, disse à AP. Ajornalistas japoneses, em Macau, o filho mais velho de Kim Jung-il descartou o interesse pela política e afirmou apenas querer viver com tranquilidade. Essa mensagem terá sido indirectamente destinada a Pyongyang, que o acusava de criar estratagemas políticos. Foi das poucas vezes que falou à imprensa, a quem permitia que o fotografassem mas prestava apenas respostas curtas. “Tenho passado bem e agora estão satisfeitos?” * com agências
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4 ANÚNCIO
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11.
CONCURSO PÚBLICO PARA «EMPREITADA DE CONSTRUÇÃO DE PASSAGEM SUPERIOR PEDONAL NA ESTRADA CORONEL NICOLAU DE MESQUITA, NA TAIPA»
Entidade que põe a obra a concurso: Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas. Modalidade de concurso: concurso público. Local de execução da obra: situa-se na Estrada Coronel Nicolau de Mesquita, Taipa. Objecto da Empreitada: equipamento de apoio à comunidade, ligando a habitação económica do lote TN27 e o Jardim do Lago. Prazo máximo de execução: 210 (duzentos e dez) dias. Prazo de validade das propostas: o prazo de validade das propostas é de noventa dias, a contar da data do acto público do concurso, prorrogável, nos termos previstos no programa do concurso. Tipo de empreitada: a empreitada é por série de preços. Caução provisória: $280 000,00 (duzentas e oitenta mil patacas), a prestar mediante depósito em dinheiro, garantia bancária ou seguro-caução aprovados nos termos legais. Caução definitiva: 5% do preço total da adjudicação (das importâncias que o empreiteiro tiver a receber em cada um dos pagamentos parciais são deduzidos 5% para garantia do contrato, para reforço da caução definitiva a prestar). Preço base: não há. Condições de admissão: serão admitidos como concorrentes as entidades inscritas na DSSOPT para execução de obras, bem como as que à data do concurso tenham requerido a sua inscrição, neste último caso a admissão é condicionada ao deferimento do pedido de inscrição. 12. Local, dia e hora limite para entrega das propostas: Local: sede do GDI, sita na Av. do Dr. Rodrigo Rodrigues, Edifício Nam Kwong, 10.º andar; Dia e hora limite: dia 12 de Janeiro de 2012, quinta-feira, até às 17,00 horas. 13. Local, dia e hora do acto público: Local: sede do GDI, sita na Av. do Dr. Rodrigo Rodrigues, Edifício Nam Kwong, 10.º andar, sala de reunião; Dia e hora: dia 13 de Janeiro de 2012, sexta-feira, pelas 9,30 horas. Os concorrentes ou seus representantes deverão estar presentes ao acto público de abertura de propostas para os efeitos previstos no artigo 80.º do Decreto-Lei n.º 74/99/M e para esclarecer as eventuais dúvidas relativas aos documentos apresentados no concurso. 14. Local, hora e preço para obtenção da cópia e exame do processo: Local: sede do GDI, sita na Av. do Dr. Rodrigo Rodrigues, Edifício Nam Kwong, 10.º andar; Hora: horário de expediente; Preço: $1 000,00 (mil patacas). 15. Critérios de apreciação de propostas e respectivos factores de ponderação: - Preço razoável 60%; - Plano de trabalhos 10%; - Experiência e qualidade em obras 18%; - Integridade e honestidade 12%; 16. Junção de esclarecimentos: Os concorrentes poderão comparecer na sede do GDI, sita na Av. do Dr. Rodrigo Rodrigues, Edifício Nam Kwong, 10.º andar, a partir de 4 de Janeiro de 2012 (inclusive) e até à data limite para a entrega das propostas, para tomar conhecimento de eventuais esclarecimentos adicionais. Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas, aos 7 de Dezembro de 2011. O Coordenador do Gabinete Chan Hon Kit
AVISO
[Nº1141/2011]
ASSOCIAÇÃO DOS TRABALHADORES DA FUNÇÃO PÚBLICA DE MACAU
FELICITA A REGIÃO ADMINISTRATIVA ESPECIAL DE MACAU PELA PASSAGEM DO 12.º ANIVERSÁRIO DO SEU ESTABELECIMENTO
Avisam-se os arrendatários e seus herdeiros abaixo mencionados que os objectos existentes nas fracções abaixo mencionadas foram, temporáriamente, guardados pelo Instituto de Habitação: Lai Shee Kai – 7ºandar sala B, do Edifício Lei Man, sito na Rua de Tai Lin, em Taipa; Leong Weng At – 3ºandar sala L, do Bloco 17, do Edifício San Seng Si Fa Un, sito na Avenida Artur Tamagnini Barbosa, em Macau; Chan Wai Fat – 5ºandar sala AD, do Bloco C, do Edifício Vai Yin, sito na Rua Norte do Canal das Hortas, em Macau; Kuok Kin Nam – 4ºandar sala E, do Bloco 2, do Edifício Jardim do Mar do Sul, sito no Istmo Ferreira do Amaral, em Macau; Chao Man Heng – 12ºandar sala F, do Edifício Cheng Chun, da Habitação Social da Ilha Verde, sito na Estrada Nova da Ilha Verde, em Macau; Caso queiram reclamar os referidos objectos, deverão dirigir-se à Divisão de Fiscalização Habitacional do IH, sita no nº 102 da Travessa Norte do Patane, no prazo de 30 dias, a contar da publicação do presente aviso. Se não reclamarem os objectos acima mencionados dentro do prazo estabelecido, o IH tratará, como melhor entender, os mesmos. Macau, aos 14 de Dezembro de 2011 O Presidente, Tam Kuong Man
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NUCLEAR | ESTADOS UNIDOS AMEAÇAM IRÃO
Numa entrevista à cadeia de televisão CBS, o Secretário de Defesa dos Estados Unidos disse que era inaceitável o Irão possuir uma bomba nuclear e que o seu governo nunca iria permitir essa situação. No entanto, Leon Panetta reconheceu que o cenário pode ser uma realidade em menos de um ano. Anúncio de uma invasão militar ao Irão?
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ACTUAL
Escolha da figura do ano abriu a polémica
China censura acesso à revista Time Maria João Belchior
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manifestante como figura do ano 2011 não agradou a Pequim. E para evitar que a notícia seja espalhe pela Internet, o acesso à figura do ano está censurada pelas autoridades que controlam a rede. Uma ligação sem saída na Internet diz apenas que a página não pode ser aberta. E a revista em papel só chega a diplomatas ou empresas privadas estrangeiras que recebam a “Time”. Areportagem que percorre todas as revoluções, e tentativas, durante este ano mostra um mapa mundial onde Pequim figura entre as manifestações. Apartir de Abril deste ano emails e sms circularam no país chamando a uma manifestação num Domin-
go na rua comercial de Pequim Wangfujing e na praça do povo em Xangai. Consciente desta tentativa, o governo ordenou a deslocação de um grande aparato policial para os respectivos lugares ao qual se juntou um verdadeiro exército de agentes à paisana responsáveis por afastarem quem quer que parecesse “suspeito”. Com a primeira mensagem a avisar “se não conseguirmos este Domingo, tentamos no próximo”, a possibilidade de uma manifestação chegou para preocupar Pequim. As dezenas de jornalistas que se deslocaram ao local no primeiro Domingo tiveram de apresentar a identificação e foram depois chamados à polícia central para um interrogatório. O aviso foi claro dizendo que à primeira se anotavam os nomes, à segunda se abria um processo, e à terceira seriam convidados a sair do
país. Uma mensagem que foi dita em privado a cada um dos interrogados na polícia central.
O MEDO DA PRIMAVERA
O receio de criar um rastilho com a ideia de uma primavera árabe adaptada à China levou ainda à alteração das regras para trabalhar no país. Todos os jornalistas estrangeiros receberam um telefonema
personalizado da polícia alertando para o novo regulamento, publicado inicialmente no jornal “China Daily” e no “Diário do Povo”. A partir de 2011 deixou de ser permitido conduzir entrevistas sem ter uma autorização prévia. Vaga o suficiente, a nova regra definia apenas que a autorização deveria vir da unidade responsável. Um método para afastar tanto manifestantes
PEQUIM EQUACIONA PERMITIR MAIS INVESTIMENTO DOS SEUS CIDADÃOS NO EXTERIOR
POPULAÇÃO URBANA SUPERA A RURAL PELA PRIMEIRA VEZ
Reservas saem do banco A
China está a estudar seriamente adoptar medidas para facilitar que os seus cidadãos invistam no exterior directamente, como parte dos seu esforço para diversificar as gigantescas reservas internacionais do país. Mas há grandes obstáculos para uma mudança deste tipo, como os temores da saída excessiva de capital motivada pela actual desaceleração da economia chinesa. A Agência Estatal de Câmbio, autoridade que fiscaliza o mercado monetário do país e que é parte do banco central, estuda expandir gradualmente o limite de moeda estrangeira que os chineses podem adquirir anualmente para investir no exterior. Os chineses, actualmente só podem trocar yuans pelo equivalente a cerca de MOP 390.000 em moeda estrangeira para investir no exterior.
A AEC não respondeu aos pedidos para comentar a questão. Aumentar a cota cambial para as pessoas representaria um passo pequeno, mas significativo para abrir a conta corrente da China, controlada estritamente pelas autoridades como uma maneira de administrar o câmbio e evitar fluxos especulativos. As autoridades chinesas de regulamentação geralmente têm de aprovar qualquer volume considerável de fluxo monetário – em moeda estrangeira ou local – que entra ou sai do país.
YUAN A CAIR
A iniciativa surge num momento em que a moeda chinesa, antes vista como a aposta mais segura do mercado financeiro, enfrenta a pressão de queda em relação ao dólar, já que os investidores e as empresas diminuíram as suas expectativas de
valorização do yuan, pois apostam que o declínio na procura pelas exportações do país forçará Pequim a reduzir ou até paralisar a valorização da moeda para tentar evitar o crescimento do desemprego. As oscilações recentes no câmbio do yuan, dizem muitos observadores, são um sinal de amadurecimento do mercado do país e indicam que as famílias chinesas estão mais dispostas a diversificar os seus rendimentos com aplicações em moedas estrangeiras como o dólar. A flutuação em ambos
os sentidos “deve criar uma condição excelente para permitir uma abertura razoável da conta corrente”, disse num evento sexta-feira Li Daokui, consultor do Banco Popular da China. “Podemos incentivar as famílias a aplicar em dólares ou a comprar activos no exterior, como acções de empresas americanas, por intermédio de bancos comerciais.” Li enfatizou também a necessidade de contar com uma “válvula” para bloquear grandes fugas de capital do país caso a China suavize as suas medidas para controlar o fluxo de capital. Os reformistas chineses esperam que a mudança na política ajude a melhorar o retorno das reservas internacionais do país que hoje estão aplicadas principalmente em papéis com baixo retorno, como os títulos de dívida do Tesouro americano.
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como jornalistas das ruas escolhidas e que não terminou sem a detenção de vários chineses e agressões a jornalistas estrangeiros. Naquela que é o último número da “Time” este ano há ainda uma lista de quatro figuras escolhidas como a pessoa do ano. E aqui, a escolha de Ai Weiwei contribui ainda mais para o censurar da revista. Entrevistado na sua casa, o dissidente continua a não ter medo de falar e dizer que a China não é o sucesso que parece. Razões mais que suficientes para que a revista em papel não se venda em nenhum lugar na China continental e que, perante a ameaça de muita divulgação na internet, se tenha bloqueado o acesso numa semana em que as manifestações de Wuhan vieram mostrar que em muitos locais a estabilidade e a harmonia social estão longe de ser alcançadas.
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A revolução silenciosa
ELA primeira vez na sua história milenar, a população urbana da China irá superar a rural, e isso acontecerá já no final deste ano, aponta um estudo da Academia Chinesa de Ciências Sociais divulgado ontem pela imprensa oficial chinesa. A mudança “é um ponto significativo de ruptura para a China, que altera uma estrutura de domínio da população camponesa que durou milénios”, destaca o documento, cujos dados são apresentados nesta terça pelo “China Daily”. Esta alteração não só significará uma mudança estatística, assinalam os especialistas da principal academia estatal, mas “representará profundas mu-
danças nos estilos de vida, de emprego, consumo e inclusive nos valores”. Calcula-se que cerca de 240 milhões de pessoas deixaram o campo e emigraram para as cidades, apesar dos centros urbanos terem um sistema de registo que muitas vezes discrimina estes imigrantes rurais, com menores oportunidades de acesso, por exemplo, à saúde e à educação. O Plano Quinquenal relativo ao período entre 2011 e 2015, aprovado em Março deste ano e que planeia a política económica da China durante esses cinco anos, já previa que a população urbana superaria a rural pela primeira vez na história, mas não esperava que acontecesse já no seu primeiro ano de aplicação.
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12 MACAU anos
HOJE MACAU
QUARTA-FEIRA 21.12.2011
Duas centenas de manifestantes assinalam 12º. aniversário da RAEM
Rejuvenescida luta pela democracia Virginia Leung
E
virginia.leung@hojemacau.com.mo
NQUANTO milhares de pessoas assistiam ao desfile de comemoração dos 12 anos da RAEM, cerca de 200 inconformados decidiram antes juntar a sua voz à da Associação Novo Macau Democrático (ANMD), na já tradicional acção de protesto por mais democracia. Os responsáveis da associação que tem como meta a introdução de eleições directas
em Macau assinalaram que na manifestação deste ano foi possível observar uma maior presença de jovens, reflexo da sua crescente preocupação com as questões sociais e da governação. Sob o lema “Combater a corrupção, lutar pela democracia e garantir a subsistência”, duas centenas de manifestantes gritaram palavras de ordem e viram os líderes da ANMD apresentar, nas margens do lago Nam Wan, uma cerimónia de abertura de mais uma cruzada pela
democracia, assinalada com a entrega de uma petição no Gabinete do Chefe do Executivo. “Começámos a manifestação na data do aniversário do estabelecimento da RAEM em 2007, para expressar os apelos do combate à inflação, da luta pela democracia e pelo nível de vida”, lembrou António Ng Kuok Cheong, deputado da ANMD na Assembleia Legislativa (AL). “O principal apelo democrático para este ano é para exigir ao Governo que proceda à
reforma do sistema político e caminhe tendencialmente para as eleições gerais.” No entanto, o futuro dessas reformas no sistema político não pode depender das manifestações, mas sim de uma maior participação dos residentes nas consultas públicas e na sua vigorosa expressão de opinião favorável à reforma do sistema político, apelou Ng.
DEMOCRACIA CONTRA A CORRUPÇÃO
Paul Chan Wai Chi, colega
de António Ng na frente pró-democrata dentro da AL, sublinhou a importância da democracia no combate às crescentes disparidades económico-sociais em Macau. “Nos 12 anos que se seguiram à transferência, pudemos sentir com toda a clareza o sucesso económico, mas ao mesmo tempo também sentimos os problemas sociais a ficarem cada vez mais graves. A razão para esses problemas sociais não estarem a ser resolvidos é a ausência de democracia
em Macau.” Isto, explicou, porque o défice democrático pode ser uma fonte de actos corruptos. “A avaliação e prestação de contas dos funcionários do Governo é uma mentira. Nenhum dos funcionários do Governo se demite com base em má avaliação ou responsabilização por más práticas. O conluio entre responsáveis governamentais e empresários com transferência de interesses leva à corrupção. Se não houver democracia, a aplicação de políticas pelo Governo não
FISCALIZAÇÃO CONTÍNUA DE ENXOFRE NO GASÓLEO PARA VEÍCULOS
A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental recolheu vinte amostras de gasóleo para veículos, comercializado nas bombas de combustíveis e no Depósito de Combustíveis de Ká-Hó, para serem analisadas num laboratório especializado. Dos resultados obtidos verificou-se que o teor de enxofre nas vinte amostras recolhidas se situava entre 0,0012% e 0,0020%, em peso, não ultrapassando, portanto, 0,005% em peso, pelo que os valores estão de acordo com o estipulado na Ordem Executiva n.º 4/2006. A DSPA continuará a proceder à recolha de amostras não periódica para analisar o teor de enxofre no gasóleo para veículos, para fiscalização e, assim, melhorar a qualidade do ar.
se pode basear nos interesses do povo. O fornecimento insuficiente de habitação pública, a aproximação dos preços da habitação económica em relação à habitação de luxo, a inflação e o monopólio são os factores que levam a vida os residentes a piorar, dia após dia. Paul Chan também não poupou a política “areia para os olhos” da distribuição de cheques pelos residentes. “As sete mil patacas que o Governo dá podem aumentar o nível de satisfação dos residentes com o Governo, mas durante quanto tempo mais este poderá continuar a dar as sete mil patacas?” O que o Governo deveria dar às pessoas, considera, é democracia e o direito de decidir. “Não estamos apenas a exigir ao Governo para
que mude alguma coisa no sistema eleitoral para os anos de 2012 e 2013. Também apelamos ao Governo para que tenda a estender as eleições gerais também à escolha do Chefe do Executivo.”
OS 200 IRREDUTÍVEIS
Por muito legítimas que sejam todas as reivindicações dos políticos da ANMD, a verdade é que apenas 200 pessoas se prestaram a participar na manifestação. “Nunca nos passou pela cabeça que uma única manifestação pudesse reflectir a força da nossa razão e pudesse levar o Governo a implementar eleições gerais imediatamente”, explicou Au Kam San, que completa o trio de deputados da ANMD na AL. “Enfatizamos que as nossas manifestações ao lon-
go de anos devem ser vistas de forma acumulada”, afirmou, lembrando a origem destas acções de protesto. “A razão porque começámos com estas manifestações foi porque o Governo disse, na altura, que não ouvia nenhumas vozes na sociedade a pedir a democracia em Macau. Por isso, começámos a levar a cabo estes protestos todos os anos para permitir que o Governo ouça os apelos da sociedade pela democracia.” Au Kam San foi mais longe e destacou a importância de se proceder urgentemente à democratização do sistema, e fê-lo usando as palavras de nada menos do que o próprio primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao. “Quando a economia está desenvolvida e o sistema político não pode se desen-
volver em sincronia, isso é como ter uma perna mais comprida do que a outra. Não se pode caminhar correctamente e nem sequer ficar de pé de forma estável. Por isso, Macau está num momento muito importante para desenvolver o seu sistema político.”
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Na manifestação de ontem, uma das coisas que mais chamou a atenção foram os Pais Natal insufláveis com as caras dos secretários do Governo, incluindo Francis Tam Pak Yuen, titular da pasta da Economia e Finanças; Cheong Kuoc Vá (Segurança); Cheong U (Assuntos
Sociais e Cultura); Lau Si Io (Transportes e Obras Públicas); e Florinda Chan (Administração e Justiça); com as pessoas a poderem escolher no seu “secretário favorito”... para esmurrar. Os bonecos mais agredidos foram os de Lau Si Io e Florinda Chan.
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Vimos, por este meio, informar que a empresa EXTREMOproduções Limitada, em chinês “EXTREMOproducoes有限公司” foi encerrada no final do mês de Novembro do corrente ano. O ex-Administrador Rui Carreiro
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MACAU E GUANGDONG ASSINAM PROTOCOLOS DE COOPERAÇÃO No âmbito do “Acordo-Quadro de Cooperação Guandong-Macau”, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) assinou dois “Protocolos de Cooperação entre Macau e Guangdong” para melhorar a política de recursos humanos e gestão de pessoal. O objectivo é o de elevar o nível de técnicas profissionais dos residentes de Macau, aproximando-se gradualmente do nível internacional, e aumentar as oportunidades de progressão nas suas carreiras profissionais para que possuam um desenvolvimento sustentável e um certificado de técnicas profissionais inter-regional.
Chefe do Executivo discursa no aniversário da transferência
Joana Freitas
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joana.freitas@hojemacau.com.mo
desenvolvimento económico e a melhoria das condições de vida vão continuar a ser as prioridades do Governo de Macau, afirmou ontem o chefe do Executivo, ao garantir “novas medidas de apoio” se houver subida de preços. “Caso a taxa de inflação continue a subir, o Governo irá lançar, atempadamente, novas medidas de apoio”, disse Fernando Chui Sai On na cerimónia que marcou o 12.º aniversário da transferência de administração de Portugal para a China. O Executivo de Macau, prosseguiu, “continuará a acompanhar de perto a situação dos preços dos produtos, irá abrir mais canais de importação de produtos alimentícios e irá concretizar diversas políticas de apoio”. Chui Sai On invocou também, como prioridades do Governo, a conclusão da construção de 19 mil habitações públicas, melhorias no trânsito, desenvolvimento de acções de protecção ambiental, reforço dos apoios aos idosos e camadas vulneráveis, e implementação de regimes eficientes no âmbito da segurança social. Por outro lado, o líder do Governo antecipou “oportunidades e desafios” para o próximo ano, mas considerou que “apesar da complexidade e instabilidade da conjuntura económica a nível internacional”, Macau conseguirá “enfrentar os desafios” e “acumular bases sólidas para o desenvolvimento a longo prazo”. O Chefe do Executivo de Macau voltou ainda a sublinhar o seu empenho na “transformação de Macau num centro mundial de turismo e de lazer”, na aposta no “papel de plataforma de serviços de cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa”, e na “diversificação da economia”.
A prioridade é o Povo
INSTITUIÇÕES PORTUGUESAS E INDIVIDUALIDADES MACAENSES RECEBEM PRÉMIOS DO GOVERNO
Um futuro “com mais responsabilidade” A
Casa de Portugal em Macau e o Banco Nacional Ultramarino foram duas das 38 instituições e personalidades distinguidas ontem pelo Governo da RAEM. No dia em que se comemoraram 12 anos da transferência de Macau para a China, a Casa de Portugal foi listada para receber a medalha de Mérito
Cultural e o BNU a de Mérito Industrial e Comercial. Apesar das condecorações estarem apenas apontadas para Janeiro, Maria Amélia António – presidente da Casa de Portugal -, falou ao Hoje Macau. “Isto significa que temos muito trabalho pela frente e agora mais acrescido de responsabilidade.”
A nomeação da associação implica, refere a responsável, continuar a desenvolver actividades para divulgar a cultura portuguesa e formar pessoas, de forma a que esta não se esvaneça não só no dia-a-dia, como também na identidade de Macau. “Esse é o papel principal da Casa de Portugal.”
O cônsul de Portugal em Macau, Manuel Cansado Carvalho, disse à agência Lusa estar “muito satisfeito” pela distinção feita às duas entidades. «Fiquei muito satisfeito, são duas instituições que são estruturantes da presença portuguesa aqui em Macau e fico não só satisfeito pelas instituições, mas pelo reco-
nhecimento que receberam das autoridades da RAEM.” A lista inclui ainda três individualidades: a tradutora Manuela Sousa Aguiar - Medalha de Dedicação -, o arquitecto Nuno Jorge - Medalha de Mérito Altruístico - e o advogado António Dias Azedo - Medalha de Mérito Profissional.
Manuela Sousa Aguiar, tradutora há 20 anos, afirmou à TDM estar surpreendida pela nomeação. “Para mim é um grande reconhecimento do Governo ao que tenho feito. É uma honra, porque nunca imaginei poder ser agraciada. Hoje consigo ver reconhecimento.” - J.F.
POSTOS FRONTEIRIÇOS MARÍTIMOS COM ALTERAÇÕES NA ÉPOCA NATALÍCIA
A Capitania dos Portos (CP) prevê que o fluxo de pessoas nas fronteiras marítimas tenha um aumento de 10% em comparação com o ano passado, prevendo que também se registe um total de cerca de 380 mil visitantes chegados e saídos por via marítimo. A CP vai exigir às empresas de navegação que aumentem as viagens marítimas e adicionem mais trabalhadores para acelerar o fluxo de turistas. Paralelamente, haverá duas faixas para separar os passageiros em dois tipos, um tipo dos residentes de Macau e dos passageiros que possam utilizar o Canal-e, e outro tipo dos turistas titulares de documentos de viagem, com o propósito de reduzir o tempo de espera.
TRANSFERÊNCIA | 12 ANOS DEPOIS, QUE FUTURO?
Mudar para melhor Joana Freitas
joana.freitas@hojemacau.com.mo
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Hoje Macau quis conhecer o balanço que algumas individualidades do território fazem de 12 anos de governação chinesa. Maria Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau, e José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus, partilharam o que consideram ser os aspectos mais importantes. Para ambos, o desenvolvimento económico foi o factor mais marcante. “De todas as mudanças, a principal foi a economia”, referiu Sales Marques. “O desenvolvimento do sector do jogo - o novo modelo - está a trazer um crescimento imenso a Macau, com todas as coisas boas e menos boas.” Para a responsável da Casa de Portugal, as coisas menos boas prendem-se com a falta de distribuição PUB
equitativa do dinheiro. “O desenvolvimento económico aumentou, mas também aumentaram as assimetrias. A população viu-se um pouco frustrada por considerar não estar a par do desenvolvimento económico, as PME também se viram com dificuldades acrescidas devido à falta de mão de obra. Não houve criação de novas oportunidades de trabalho. Foi uma moeda com duas faces.” Em retrospectiva, Maria Amélia António fala sobre as reacções da comunidade portuguesa à mudança de Administração. “Durante estes 12 anos, houve períodos de incerteza e dúvidas de como iam correr as coisas no futuro. Depois, houve momentos de uma certa estabilidade para a comunidade portuguesa, com o reconhecimento do Governo Central da importância da Língua Portuguesa. Isso abriu novas oportunidades.” Também falando de aspectos po-
sitivos, Sales Marques aprecia uma das estratégias políticas da nova Administração. “A estratégia de integrar Macau no Delta do Rio das Pérolas é muito positiva. No futuro, vamos ver uma maior ligação entre Cantão e a economia da nossa região.” Depois de uma Macau com um Governo estrangeiro, a RAEM “governada pelas suas gentes” resulta. “Há uma relação entre Governo e população que não existia, com a prevalência do modelo de auscultação. Este é um princípio positivo. Esta relação não existia antes, porque apesar da componente local, o Governo não deixava de ser estrangeiro. Agora, a maior ligação entre população e Governo mostra até uma consequência visível: a população está mais exigente face a uma Administração com a tal ‘gente de Macau’. Esta relação mais próxima traz vantagens, porque melhora a governação.»
Maria Amélia António
José Luís Sales Marques
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ENTREVISTA
Padre Luís Sequeira e a importância do segundo sistema para Macau e Hong Kong
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URANTE anos superior dos jesuítas em Macau, Luís Sequeira é subdirector do Instituto Matteo Ricci desde 1976. Falou das relações da igreja com as civilizações e de como a política chinesa se revelou um surpreendente achado ecuménico. O que pensa do conceito “um país, dois sistemas”? Penso que Deng Xiaoping foi um homem genial. Sem grandes politiquices, foi de uma visão genial neste sentido: toca a realidade e abre para o futuro, dizendo que os dois sistemas, à nossa maneira, seja a imperial ou do tipo comunista marxistaleninista, ou um socialismo à chinesa, formam uma realidade. Não podemos negar que este segundo sistema expresso para Macau e Hong Kong, significa um respeito por povos, culturas, e religiões diferentes. Veja-se a questão do património cultural reconhecido pela UNESCO. Os portugueses também tinham essa preocupação. Sim. Mas quando a China solicitou aquele reconhecimento a uma organização internacional, fê-lo com muito mais força, influência e impacto do que se tivesse sido proposto pelos portugueses, o que é perfeitamente natural. Voltando ao conceito “um país, dois sistemas”, a China assumiu a existência, e respeitou-a, de povos, religiões e culturas diferentes vivendo no seu país. Um belo passo da China na geopolítica mundial. É quando Macau surge como plataforma muito mais forte entre a China e os países de língua portuguesa. Com “um país, dois sistemas” a China assinala o respeito pelos povos de culturas diferentes, pelas ideias religiosas e pelo direito. Essa plataforma pode ter sido pensada pelos portugueses, mas não havia “canetas” para realmente a realizar. Ainda está no começo, este tipo de ligação, através de Macau, da China com esses países lusófonos. Quando se der maior conteúdo irá crescer em importância e em dimensão. A Igreja Católica é cada vez mais política? Será sempre política, no sentido que tem significado para a polis.
GONÇALO LOBO PINHEIRO
“Significa um respeito por povos, culturas
O que não deve ser é política de partido. O não relacionamento entre o Vaticano e a chamada Igreja patriótica no continente chinês é assunto político? É política, mas mais uma vez temos de parar um bocadinho e não atirar pedras à China. Por exemplo, o que se fez em finais do século XIX foi uma vergonha dos ocidentais com a China. A “guerra do ópio”, o obrigar a China a comprar ópio para a sua própria degradação, para além da exploração de um povo no pior sentido colonial, são exemplos terríveis. Aquele século XIX levou a que hoje se celebre a fundação da República em 1911 e foi também dar a outro extremo que foi a revolução comunista em 1949. São consequências de uma China que deseja ser autónoma e própria. Recentemente, foi pública a sua emoção ao falar de dois missionários salesianos, mártires
“Tenho um grande gosto em dialogar com todos, incluindo os religiosamente diferentes. A expressão cristã é fundamental, tenho-a praticado em todo o lado, orientando retiros, passando a mensagem o mais possível” na China nas primeiras décadas do século passado, a propósito de dois livros então editados. Os missionários italianos Luigi Versiglia e Calisto Caravario, sendo que o primeiro era bispo. Foram missionários e mártires num período conturbado da história da China, a fundação da República Popular, no meio das lutas entre os chamados revolucionários vermelhos e os nacionalistas. Essa
situação colocou-os em grande perigo, pois assumiram a defesa dos que os acompanhavam. Pagaram tragicamente por isso. A Igreja Católica de hoje ainda tem necessidade de missionários, designadamente no Oriente? Ainda há missionários por tantos países, a Ocidente e a Oriente, na Índia, inclusive. Na América Latina temos jesuítas que morreram pela sua fé. Muitos, de origem europeia ou americana, chegam ao Oriente nitidamente na dimensão tradicional de missionários. Embora reconheça que no tempo presente partam também do Oriente para Europa, África e América. Quem, por exemplo? Coreanos, filipinos e outros. Direi que a Igreja, por si, é missionária, não pode ficar fechada em si mesma sem ir ao encontro dos outros. Isso significa sempre a proclamação da fé ou da mensagem cristã, do Evangelho,
que sente obrigação de proclamar. Continua a haver esse movimento missionário, no sentido em que há sacerdotes a deixar as suas origens para fazer a proclamação aos outros daquilo que acreditam e experimentam. Antes eram ocidentais os missionários a caminhar para Oriente, mas hoje constata-se então o movimento inverso? Desde o século XVI que esse movimento de missionários da Europa para América, Ásia e África se realiza. O que hoje claramente acontece é a existência de missões constituídas pela Igreja fora do antigo lugar de origem, com grande capacidade de poderem ser missionárias. Por exemplo na Índia, apesar de reduzida no contexto populacional local, a missão tem enorme dinâmica de Igreja, com teólogos, com homens preparadíssimos. Tal como filipinos ou coreanos, que cresceram bastante e se espalham
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com Helder Fernando
e religiões diferentes” para outros continentes. Uma defesa de valores. Sim, cuja dimensão mais profunda é a defesa do acreditar, da fé em Deus, através de Jesus Cristo. Pratica o diálogo ecuménico por dever? Tenho um grande gosto em dialogar com todos, incluindo os religiosamente diferentes. A expressão cristã é fundamental, tenho-a praticado em todo o lado, orientando retiros, passando a mensagem o mais possível. Agora, fico feliz com a vinda até aqui de novos grupos com a mesma missão, nesta dinâmica profunda do mundo humano e o mundo divino que existe em cada pessoa. Que aplicação tem a “dimensão civilizacional portuguesa” que costuma mencionar como subjacente à dimensão espiritual? Tem um sentido muito profundo. Esse tipo de dimensão existe, por exemplo, no âmbito dos antigos impérios espanhol, inglês ou francês, mas tem o seu lado marcante no que toca a Portugal. Temos uma característica particular que é a abertura ao mundo. Quem abriu os horizontes da Europa ao mundo fomos nós, portugueses. Portanto, essa dimensão ninguém nos tira. Como aconteceu a contribuição? Nessa dimensão civilizacional que foi a nossa contribuição para o progresso da humanidade, através da época dos Descobrimentos, esse encontro realmente profundo de culturas e povos, não podemos alienar a nossa característica, nem negar que tem uma dimensão totalmente cristã. A nossa presença em Macau, na China, traz sempre esse valores. Na mesma nau vinha o zé povo, soldado e marinheiro, o político que era o governador, o capitão, o comerciante, o cientista, o literato, e finalmente, o padre, com a dimensão missionária. Na nossa barca sempre foi assim. Não podemos negar a dimensão civilizacional que aplico à dimensão espiritual e religiosa. Esse é o sentido da nossa própria História, pois fomos instrumentos dessa expressão. Trouxemos a dimensão da religião através da Fé cristã. Realça o papel dos jesuítas nessa obra? A companhia de Jesus surge na
época das Descobertas. A primeira província da companhia de Jesus foi a província de Portugal. O grande rei que ajudou a expansão dos jesuítas pelo mundo foi D. João III. As imensas cartas escritas ao nosso rei confirmam a relação muito a fundo. Mesmo com algum exagero de um ou outro português no início, a companhia de Jesus está intimamente ligada à expansão portuguesa. Diria que foi a lusofonia a trazer o cristianismo ao Oriente? Ao Oriente e a todos esses povos, do Brasil a Angola, de Moçambique à Guiné, de São Tomé e Príncipe até Timor. Timor, aliás, é a última expressão da dimensão cristã radicada extraordinariamente. A Igreja está muito ligada à identidade de Timor-Leste, tal como Portugal. Veja-se a enorme força interior daquele povo, mesmo estando nós agora um bocado despassarados quanto à consideração política desta dimensão de Portugal com Timor. Essa ligação histórica entre os povos está muito mais profunda do que nos políticos. Timor-Leste é profundamente cristão neste Oriente tão variado em religiões. Povos cristãos, em vários continentes, continuam a ser parte dos mais carenciados. Outros, onde porventura não tenha chegado a dimensão espiritual do catolicismo com tanta influência, atingiram um desenvolvimento bastante maior dos pontos de vista financeiro e da estrutura social. Até diria que o cristianismo de tradição protestante tem um sentido mais programático. Pergunto: será uma questão religiosa ou por outras características, pela idiossincrasia de certos povos? Mesmo na Europa, os mais desenvolvidos são os nórdicos. Por serem mais inteligentes do que os do sul? Claro que não. Os italianos, por exemplo, têm figuras geniais em várias épocas, tal como os espanhóis, os gregos, etc.. Então, são os povos católicos mais pobres do que outros, neste caso de tradição protestante? São? Na linha da nossa idiossincrasia, damos um sentido mais acentuado às coisas do coração, da alegria.
Os nórdicos, além de virem buscar a boa comida, buscam a música e as boas praias para um sentido de vida. Neste contexto, para alguns povos do sul, nem sempre o trabalhar e organizar ajuda. Os do norte não pensam assim. Por outro lado, pergunto se a mensagem cristã, que também deve ser proclamada aos mais pobres, aos que estão em situações dificílimas, chega da maneira mais eficaz. Não nego que os ingleses tiveram sempre apetência e capacidade administrativa, uma coisa que os latinos não se habituaram. Mas também há latinos geniais nessa matéria. Não faltam exemplos. Sem dúvida. Quase brincando um bocadinho: a pessoa mais especulativa, mais sistemática, da filosofia e da teologia, é um italiano do sul, S. Tomás de Aquino. Tempos atrás, o ecónomo-geral da companhia de Jesus era um filipino que sucedeu a um alemão. Por mérito, claro. Vamos à nossa emigração em França, Suíça ou outro qualquer país - pessoas consideradas do melhor que há em termos profissionais. Por vezes
colocamo-nos perante estereótipos e ficamos presos neles. Existem fracturas na interpretação da matriz cristã em países da União Europeia. Sou sensível a essas dimensões profundas a nível de história e civilização. A construção da Europa é feita pelos grandes mosteiros e por tudo o que era motivado pela dimensão cristã. Por vezes ouvimos chamar à Idade Média um atraso de vida, mas eu digo: como pode ser um atraso de vida com as belíssimas catedrais que cada um desses países tem? As críticas à Idade Média referemse mais a questões relacionadas com enormes carências sociais e a existência de três classes distintas, de forma hierárquica. Sendo que o povo era a última. Observando por aí, reconheço. Mas não devemos esquecer a construção dessas comunidades à volta dos grandes mosteiros, de modo a sedimentar a formação das cidades. Há um releitura a dever ser feita, pelo menos ao nível do vulgo. Um verdadeiro intelectual, historiador, sabe colocar as coisas no seu lugar. E depois há a evolução da própria História, não estaríamos como estamos se não tivéssemos o nosso passado. Há dimensões de pensamento que, reflectindo, chamam a atenção dos valores. Assim como o oposto. Também existe um certo degenerar da própria civilização europeia
“O taoísmo tem um livrinho sobre o caminho da perfeição que é de facto belíssimo, apercebemo-nos da interioridade descrita, embora o taoísmo actualmente seja muito supersticioso, muito mediatista”
13 que pode estar em crise como pode criar novas coisas. Aceito o caos, pois dele pode surgir uma nova criação. Agora, esta negação do cristianismo é talvez por um excesso, isto é, por causa de algumas circunstâncias em que a igreja domina excessivamente. A dimensão religiosa e divina é profunda na nossa humanidade cristã, mas não nego que o humano tem carne e osso, uma história, inclinações ordenadas ou desordenadas, valores e contravalores. Pode especificar? Algumas vezes, quando entramos numa certa dimensão espiritualista ou clerical, em que tudo é igreja, pode-se perder o sentido da liberdade pessoal e comunitária, ou seja, a criatividade e a dinâmica da evolução. Aí já ponho as minhas questões, pois acredito que o divino só abre horizontes. Mais humanos nos tornamos, mais perfeitos temos tendência a ser. Porque em nós há uma dimensão divina. Tenho admiração pelo hinduísmo quando toca na profundidade do domínio e conhecimento do seu próprio corpo, que agora a neurociência vem dizer que é a expressão de uma vivência que prepara a pessoa para a relação com o divino ou com o transcendente. Como o budismo? Como o budismo, que não sendo exactamente uma religião, tem uma tonalidade que abre à religião, tal como as artes marciais, todos com conhecimento profundo do crescimento pessoal. Em termos clássicos, há coisas belíssimas escritas sobre a natureza humana, o nosso mundo interior. O taoísmo tem um livrinho sobre o caminho da perfeição que é de facto belíssimo, apercebemo-nos da interioridade descrita, embora o taoísmo actualmente seja muito supersticioso, muito mediatista. Continua optimista em relação às coisas espirituais e do mundo em geral? Continuo. Apesar desta cruz, deste meu lado esquerdo do corpo estar algo limitado [sequela de um AVC]. Estou a aprender, primeiro com este abandono muito grande a Deus, Ele é que é o Senhor, deu-me a vida, também sabe a minha presente limitação. Sinto tendências de melhorar, mas esta cruz dá-me uma consciência que se calhar não possuía: ter 60 anos e sentir a fragilidade humana e sentir ainda mais a eternidade de Deus. Este abandono mais profundo - estou nas mãos de Deus, estou a aprender.
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MACAU
CIDADE LATINA
Celebrações da RAEM promoveram união cultural
A festa dos 12 anos Lia Coelho
Chile, Venezuela, Peru, Equador, Costa Rica, entre outros países.
ENTE, gente e mais gente juntou-se ao “Desfile por Macau, Cidade Latina”. Um evento que marcou mais um aniversário da transferência de soberania de Macau de Portugal para a China. A cerimónia aconteceu depois de serem lançados os tradicionais confetes dourados. No cimo das Ruínas de São Paulo, os participantes preparavam-se para dar início à mostra da variedade cultural da agora RAEM. Seguindo o roteiro do tema, o cortejo passou pelos locais que se revelam características da presença latina. Os bairros latinos da cidade foram percorridos por artistas e curiosos, enchendo-se de cor, alegria e música. De bandeiras coloridas na mão acenava-se aos artistas. Eles reagiam dançando a sua cultura. Se Macau é uma convergência de povos, isso ficou ontem bem presente – tanto na dimensão da festa, como na diversidade de países e artes representadas. Foram mais de 20 grupos com diferentes origens, como Interior da China, Portugal, Brasil, França, Itália, Colômbia,
A HARMONIA DE CULTURAS
G
lia.coelho@hojemacau.com.mo
Há 12 anos, o vigésimo dia de Dezembro marcou uma nova etapa no desenvolvimento do território. Guilherme Ung Vai Meng, Presidente do Instituto Cultural (IC), afirma que as comemorações deste ano marcam o passo que Macau quer dar como cidade internacional de turismo. “Este evento quer ser a junção da cultura internacional.” No ponto final do desfile - Praça Tap Seac - os diferentes grupos subiram ao palco com demonstrações representando as cores e as tradições dos seus países. O director do IC destacou a singularidade de Macau como cidade de encontro de culturas, dado que se cruzam uma panóplia de identidades globais. “Na Ásia não há outro sítio como este.” Macau apresenta-se como foi feito há cerca de 500 anos – um lugar especial, rico culturalmente, um ponto de encontro e tolerância entre diversos povos, religiões e tradições. A parada quis mostrar a identidade própria de Macau – uma festa latina demonstrando a diferença da cidade face ao resto do país.
Mestre de capoeira, Eddie Murphy, cospe fogo para gáudio dos espectadores
GONÇALO LOBO PINHEIRO
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A RAEM foi o palco de tudo isto e mais. A sua história ficou contada, do ontem e do hoje. “Um território cada vez mais aberto”, como descreve Ana Lo, nascida e a residir em Macau.
QUE VAI SER DO PORTUGUÊS?
Até 2049, Portugal ainda goza de um estatuto especial na região. O Hoje Macau perguntou aos cidadãos o que vai ser da presença portuguesa depois dessa data. A opinião é unânime: o português vai ter sempre lugar neste canto asiático, porque é uma das características de Macau, mas é preciso alertar para a necessidade de aprender o chinês. Mas fala-se de língua e não de um povo. As incontornáveis relações económicas são a base da actual lusofonia, mas a promoção cultural começa a dar cartas. Nas palavras de Ung Vai Meng, dentro do Executivo há duas orientações: aproximação à China e potenciar a cultura e a História de Macau. “Temos de coordenar a região com as zonas adjacentes para ganhar mais organização, mais técnica e, por outro lado, olhar para trás, para a nossa identidade, e aproveitar e promover, porque a diferença é contribuição.”
O samba brasileiro foi alvo das objectivas dos fotógrafos
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A Praรงa do Tap Seac engalanou-se a preceito para receber a latinidade
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PUB. O CONSULADO GERAL DA REPÚBLICA DE ANGOLA NA REGIÃO ADMINISTRATIVA ESPECIAL DE MACAU DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA, FELICITA O GOVERNO E OS RESIDENTES NA REGIÃO ADMINISTRATIVA ESPECIAL DE MACAU, PELO 12º ANIVERSÁRIO DO ESTABELECIMENTO DA RAEM, E AUGURA OS MELHORES VOTOS DE FELIZ NATAL E BOAS FESTAS
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vida
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China | Produtos falsificados marcam presença nas compras de Natal
Vai um presunto ibérico do Yunnan?
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OVAS imitações de produtos europeus de luxo, comestíveis e não comestíveis foram colocados à venda na China nas últimas semanas, seja nas prateleiras das lojas ou pela internet, para aproveitar o apelo comercial das festas natalinas. Nas lojas gourmet do centro de Pequim, os consumidores podem encontrar até presuntos chineses, do “tipo ibérico” e no “mais puro estilo Parma”, ambos com osso - o que não é permitido na importação dos espanhóis e dos italianos com a denominação de origem - e por metade do preço dos verdadeiros. O presunto é considerado um produto de luxo na sociedade chinesa e, por isso, é recebido como um presente magnífico nessas festas, já que são até vendidos junto com instruções de como cortá-los, prepará-los e consumi-los. Porém, a autenticidade do alimento não parece ter muita importância. A produção tradicional de presunto chinês na província de Yunnan, de sabor mais salgado, uniu-se nos últimos meses ao “Bamaha” (imitação fonética de “Parma Ham”, presunto de Parma) da
região de Hangzhou, onde a empresa produz peças de 6 kg, 7 kg e 7,5 kg, que custam entre US$ 71 e US$ 87. Para convencer o eventual comprador da sua semelhança com
o autêntico, o folheto do presunto aparece uma formosa imagem do amanhecer numa cidade italiana de arquitectura medieval e belas florestas. Outro produto falso que se pro-
lifera durante o Natal na China são as malas e sacos que imitam conhecidas marcas da moda europeia. “O importante é enviar um sinal que indique luxo. Se dá de presente ou usa uma, as pessoas tratam-no melhor”, diz uma mulher de apelido Chen em declarações ao Diário do Comércio de Chongqing. “Às vezes, posso-me encontrar com clientes muito exigentes e difíceis de tratar, mas, se levo uma bolsa com a marca Gucci, Chanel ou Dior, respeitam-me mais”, acrescenta Chen, que trabalha numa agência de publicidade. Segundo Shi Er, funcionária da mesma agência, “Chen utiliza malas da Hermès para levar o seu pequeno almoço para o escritório. Eu também uso malas de marcas quando levo o trabalho para casa”. “Não me importa que me chamem vaidosa ou que digam que finjo ser rica, pois não posso comprar os produtos de luxo que estão no mercado, como os exemplares verdadeiros dessas mesmas bolsas”, afirma Shi. Em Yueyang, na província de Hunan, uma fábrica lançou-se com sucesso ao fabricar cópias de malas de marcas famosas, como Dior, Chanel, Gucci e Hermès, entre outras, as quais são vendidas com pequenas variações de preço entre elas.
Um dos vendedores pela internet, de pseudónimo Xiamihappy, diz que o negócio ainda é muito jovem e ainda não é muito conhecido e, por isso, “a maioria dos clientes compra uma ou duas malas apenas para uso pessoal”. Essas aquisições incluem um pagamento extra de taxas de envio, mas, se os clientes comprarem dez, a entrega é gratuita. Segundo Xiamihappy, a fábrica também oferecerá malas de outras marcas famosas, “pois muitas pessoas não podem comprar as verdadeiras, consideradas verdadeiros artigos de luxo”. A internauta Zhang Xi admite comprar malas falsas como sinal de luxo, principalmente da marca Chanel. Ela diz entregar todos os seus presentes nessas malas, “pois assim ficam com uma aparência melhor”. Outra internauta, com pseudónimo de Yazi, revela a sua vontade de comprar essas malas, mas só para as usar. “As malas simbolizam um poder maior quando a mesma entra numa loja para comprar algo, já que os vendedores acabam por prestar mais atenção”. “As bolsas de marcas famosas transmitem um sinal sobre a capacidade de consumo de quem as tem e ajudam a despertar um interesse positivo nas pessoas. Não importa que não sejam as verdadeiras”, acrescenta Yazi.
PERU | DESCOBERTO LOCAL MILENAR DE SACRIFÍCIOS HUMANOS Investigadores identificaram uma tumba colectiva numa região do norte do País com restos de 60 pessoas. O cenário é o Bosque de Pomac, no Vale Lambayeque, ao longo das margens do rio Leche, no Norte do Peru. Ali, há 1400 anos, desenvolveu-se a majestosa civilização Sican pré-inca, governada por reis-sacerdotes, que trabalhou os têxteis, a metalurgia e as cerâmicas. Construtores de pirâmides, os Sican faziam, como agora se verifica, sacrifícios humanos.
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que sobe tem tendência a descer. É o caso do mercúrio, um metal altamente venenoso que está constantemente a ser libertado para a atmosfera durante o uso de combustíveis. Cientistas dos EUA descobriram que a camada superior da atmosfera oxida este elemento e deixa-o pronto para voltar a cair na superfície terrestre onde pode entrar na cadeia alimentar, escreve o jornal Público. “A atmosfera superior está a funcionar como um reactor químico que torna o mercúrio mais capaz de entrar nos ecossistemas”, disse em comunicado Seth
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ATMOSFERA PRODUZ MERCÚRIO QUE PODE INFILTRAR-SE NOS ECOSSISTEMAS
Cadeia alimentar contaminada Lyman. O investigador pertencia à Universidade de Washington e é co-autor do artigo que descreve este estudo publicado nesta segunda-feira na revista Nature Geoscience. “Muito do mercúrio emitido é depositado longe das suas fontes originais”, acrescentou. O cientista trabalhou com Daniel Jaffe, da mesma universidade. Juntos estudaram esta dinâmica com a aju-
DERRETE-SE NA BOCA? Se vir um M&M a saltar, não estranhe - é a mais pequena rã do mundo a querer brincar consigo. Pode também significar que está na Papua Nova Guiné, pois foi numa das mais recônditas zonas desta região que se descobriram as duas novas espécies anfíbias que bateram o recorde de pequenez. A mais pequena das pequenas chama-se Paedophryne dekot, mede de 8.5 a 9 milímetros e é simultaneamente o mais diminuto dos vertebrados de quatro patas. A amiga um pouco maior - de 8.8 a 9.3 milímetros - é a P. verrucosa. O anterior recorde também era de uma rã do género Paedophryne , com 10 milímetros. A descoberta pertenceu ao zoólogo Fred Kraus, que as encontrou, assim como a inúmeras outras novas espécies, numa expedição feita este ano a uma montanha isolada no sul da Papua Nova Guiné. Para dar com elas, o zoólogo e a sua equipa orientaram-se pelo coaxar dos animais. E mesmo assim, garantem, não eram nada fáceis de apanhar.
da de um avião em voos que aconteceram em Outubro e Novembro de 2010. O avião passou por cima da América do Norte e da Europa a altitudes de 5700 e 6900 metros e utilizou uma máquina para medir amostras de ar que, pela primeira vez, conseguia analisar formas diferentes de mercúrio na mesma amostra. A máquina fez medidas a cada dois minutos e meio. Várias vezes conseguiu en-
contrar ao mesmo tempo elementos de mercúrio e elementos de mercúrio oxidado em correntes de ar que vinham de camadas superiores da atmosfera. Os cientistas calculam que esta transformação química se dê na atmosfera superior, embora o processo pelo qual aconteça ainda seja desconhecido. O mercúrio oxidado cai facilmente na superfície terrestre durante a queda de chuva
ou de neve. Aqui, as bactérias são capazes de transformar este mercúrio oxidado numa forma orgânica capaz de entrar nas cadeias alimentares e no mar, chegar aos peixes. Os autores do estudo sublinham que o local onde esta substância acaba por ser depositada pode estar muito afastado de onde o mercúrio foi emitido. “O mercúrio emitido do outro lado do mundo pode ser
depositado no nosso jardim, dependendo de onde e como foi transportado, de como foi quimicamente transformado e alterado”, disse Lyman.
Sabia que... A marinha mercante mundial lança
diariamente no mar 450 mil
recipientes de plástico?
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CULTURA A carreira de jornalista começou em 1981 na Rádio Macau. Hoje, os seus livros vendem aos milhares por (quase) todo o mundo. Está velho para ter ídolos jornalísticos, mas assume preferência literária por Paul Auster e Eça de Queiroz, entre outros. O Zé de Macau está de volta. Gonçalo Lobo Pinheiro glp@hojemacau.com.mo
Veio para Macau viver há mais de 30 anos. Porquê? O meu pai era médico e foi contratado para director dos Serviços de Saúde, em 1979. Fui com ele. Como era o seu dia-a-dia em Macau? Fui estudar para o liceu Infante D. Henrique, à frente do Hotel Lisboa, onde agora é um arranha-céus do Banco da China. Vivia na Avenida do Coronel Mesquita, numas vivendas à frente do cemitério. E ia muitas vezes almoçar à cantina do hospital Conde São Januário, na Guia. Adorei viver em Macau. Aos 17 anos foi entrevistado por Judite de Sousa, sua colega posteriormente na RTP. Como foi o início na Rádio Macau? A Rádio Macau queria estagiários e a minha professora do liceu sugeriu o meu nome. Isto foi em 1981. Comecei a tratar dos arquivos e depois fui para o desporto. A certa altura comecei a fazer noticiários. Foi na altura da guerra das Falklands. Uma experiência fantástica. Farteime de fazer disparates e aprendi muito com eles. Voltou a Portugal para estudar. É verdade que nos tempos de faculdade o tratavam por “Zé de Macau”? Tinha umas t-shirts da Rádio Macau e na minha turma havia
José Rodrigues dos Santos volta ao território que bem conhece
“Quem sabe se não fecho um negócio em Macau?”
uns três ou quatro ‘Zés’. Era preciso distinguir os ‘zés’ uns dos outros. Como eu tinha as camisas da Rádio Macau, fiquei Zé de Macau. Podiam chamarme Zé Orelhas, mas foram simpáticos e ficaram-se por Zé de Macau. Nestes anos todos que passaram, é a primeira vez que regressa? Voltei em 1999 para o ‘handover’. Quando cheguei não reconheci o sítio. Tinha ruas novas. Mas a minha casa ainda existia. A RTP podia criar mais parcerias com a TDM, trazendo outro “know how” que a emissora de Macau não tem? Eventualmente. Desconheço as necessidades da TDM, mas estou certo que a RTP colaboraria se para isso fosse solicitada. BBC, RTP, CNN. Das televisões de topo só lhe falta mesmo a Al Jazeera? Fui uma vez convidado para director de uma televisão do Dubai, mas confesso que a ideia não me seduziu. O que ia eu fazer para o Dubai?
As experiências de guerra são sempre muito fugazes e intensas, quase surreais. Não são sítios agradáveis para estar e muito menos para recordar. Como é estar nos principais palcos de guerra do mundo, nos últimos anos? Não sei o que conte, confesso. As experiências de guerra são sempre muito fugazes e intensas, quase surreais. Não são sítios agradáveis para estar e muito menos para recordar. Tem sido um dos rostos do Telejornal estes anos todos. Como é entrar pela casa de milhões de pessoas? Nunca penso nisso. Procuro estar a falar para a câmara como se estivesse a falar para uma única pessoa. Quais as suas referências jornalísticas, os seus ídolos? Ídolos? Não tenho ídolos em parte alguma, já estou demasiado velho para isso. Disse uma vez que “ainda não percebo porque é que o meu boneco do Contra Informação tem as orelhas tão grandes…”. Já percebeu? Ainda não.
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23 Iniciou-se na literatura de ficção com “A Ilha das Trevas”. Sempre quis ser escritor? Foi um mero acidente. Escrevi um conto por cortesia para um amigo e, quando dei por ela, estava viciado na escrita ficcional. “O Codex 632”, o seu livro mais vendido, é que o torna mais conhecido nas lides literárias. Até Hollywood comprou os direitos para uma possível adaptação ao cinema. Como vê essa realidade? Sem grande excitação. A minha vida é escrever romances, não é filmá-los. Quais os seus escritores favoritos? Os internacionais são William Somerset Maugham, Amin Maalouf e Paul Auster. Os portugueses são Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco e José Saramago. Como é que jornalismo e literatura confluem nos seus livros? Procuro em ambos escrever a verdade. Mas suspeito que sou mais eficaz nos romances. Os temas que escolhe para
A Rádio Macau queria estagiários e a minha professora do liceu sugeriu o meu nome. Isto foi em 1981. Comecei a tratar dos arquivos e depois fui para o desporto. os seus livros alguma vez, e de alguma maneira, se relacionaram com Macau? Ainda não aconteceu. Mas não quer dizer que não venha a acontecer. Quais as suas expectativas para o 1.º Festival Literário de Macau? Não sei. Gosto de surpresas. Desde que sejam agradáveis, claro. O que penso será o caso. Um dos desafios do Festival Literário de Macau é ter que escrever um conto sobre Macau. Um conto sobre Macau? Ninguém me disse nada! Está a ver? Há sempre surpresas!... Já tem obra traduzida para chinês? Não tenho nada publicado em chinês, receio bem. Sei que houve uma editora que esteve a negociar com a minha agente, mas parece que não houve acordo. Quem sabe se não fecho um negócio em Macau?
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CULTURA
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fado “Já não estar”, interpretado por Camané no documentário “José & Pilar”, de Miguel Gonçalves Mendes, foi pré-selecionado para o Oscar de “melhor canção original”, anunciou ontem a Academia que atribui os prémios. AAcademia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos anunciou a lista de 39 temas candidatos a uma nomeação para o Oscar de “melhor canção original” e o fado “Já não estar”, com letra de Manuela de Freitas e música de José Mário Branco, interpretado por Camané, foi seleccionado. O fado integra o documentário “José & Pilar”, que Miguel Gonçalves Mendes fez sobre o escritor português, Nobel da Literatura em 1998, sobre o processo criativo, sobre a relação com a mulher, Pilar del Río, com os leitores e com o mundo. Grande parte da banda sonora do filme português foi composta por David Santos (noiserv), mas inclui ainda temas interpretados por Camané, Paco Ibañez, Pedro Granato ou Adriana Calcanhotto, e já foi editada em CD.
REEDIÇÃO DE «MEDITERRÂNEO, AMBIENTE E TRADIÇÃO»
A obra «Mediterrâneo, Ambiente e Tradição», escrita na década de 1960 pelo geógrafo Orlando Ribeiro, acaba de ser reeditada pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), 43 anos depois de ter sido pela primeira vez publicada. Este «livro, em que o geógrafo Orlando Ribeiro retratou, há meio século, o ‘Mundo Mediterrâneo’, foi concebido de modo original, reflexo directo da sua personalidade portuguesa», afirma na introdução da obra a viúva do autor, a geógrafa Suzanne Daveau, que fará a apresentação do título na terça-feira na FCG, em Lisboa. O livro, afirma a geógrafa, «mantém todo o interesse, ao lembrar quais são as raízes fundas e sólidas de que surtos de renovo voltam, sucessiva e inesperadamente, a brotar».
Oscars | Fado em “José & Pilar” pré-nomeado
Chegou a hora de Camané
A pré-seleção desta canção acontece semanas depois do Fado ter sido considerado Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO. A academia divulgou ainda a
lista das 265 longas-metragens aceites para uma possível nomeação para o Oscar de “Melhor Filme”, e dela faz parte o documentário de “José & Pilar”, por cumprir os requisitos, como ter PUB
BANCO NACIONAL ULTRAMARINO Felicita a Região Administrativa Especial de Macau
tido estreia comercial nos Estados Unidos e ter estado pelo menos sete dias consecutivos em cartaz. O documentário é ainda o candidato de Portugal a uma no-
«MISTÉRIOS DE LISBOA» MAIS UM PRÉMIO NOS EUA A longa-metragem «Os mistérios de Lisboa», de Raul Ruiz, conquistou mais um prémio nos Estados Unidos ao ser eleito o melhor filme estrangeiro pela Academia da Imprensa Internacional, revelou hoje a Clap Filmes. Além de melhor filme estrangeiro, «Os mistérios de Lisboa» estava também nomeado para os prémios Golden Satellite de melhor direcção artística e melhor guardaroupa, para Isabel Branco. A Academia de Imprensa Internacional reúne jornalistas estrangeiros radicados nos Estados Unidos.
pela passagem do seu 12º aniversário e deseja a todos Boas Festas e Feliz Ano Novo GLOBOS DE OURO SCORSESE E WOODY ALLEN NOMEADOS Martin Scorsese foi nomeado esta quintafeira ao Globo de Ouro de melhor realizador por «A Invenção de Hugo Cabret», - a sua estreia no cinema 3D -, e concorrerá ao prémio com Woody Allen, de «Meia-Noite em Paris». Também disputarão a estatueta, no dia 15 de Janeiro, Alexander Payne, por «Os Descendentes»; Michel Hazanavicius, por «O Artista»; e George Clooney, por «Tudo
meação para o Oscar de “Melhor Filme Estrangeiro”. A84.ª edição dos Oscars decorrerá a 26 de fevereiro em Los Angeles, Califórnia, mas os nomeados serão divulgados a 24 de janeiro.-SS.
pelo Poder». «A Invenção de Hugo Cabret», baseada no livro homónimo, e ambientada na Paris dos anos 30, conta a história de um menino órfão com muita imaginação, e que um dia se vê envolvido na resolução de um mistério deixado pelo seu pai. Scorsese, que recebeu oito nomeações ao prémio ao longo da sua carreira, ganhou duas estatuetas por «Os Infiltrados» (2006) e «Gangues de Nova Iorque» (2002) -, e em 2010 recebeu o Globo de Ouro honorífico em reconhecimento pela sua carreira. Por sua vez, Woody Allen, com 11 nomeações na carreira, ganhou em 1985 com «A Rosa Púrpura do Cairo», e concorrerá nesta ocasião com «Meia-Noite em Paris», protagonizado por Owen Wilson, Rachel McAdams e Marion Cotillard. FILMES DE HONG KONG EM LISBOA Entre 11 e 15 de Janeiro 2012, a Mostra de Cinema de Hong Kong regressa a Lisboa para a sua terceira edição. No Cinema City Classic Alvalade serão exibidos sete filmes produzidos nesta Região Administrativa Especial da China, que estão integrados numa programação que percorrerá várias cidades europeias nos próximos meses. A organização é da Zero em Comportamento. Em 2012, a selecção da Mostra de Cinema de Hong Kong centra-se em algumas das comédias mais destacadas produzidas nesta região, apresentado ainda um filme de acção e um drama. A abertura, a 11 de Janeiro, cabe a «All About Love», da realizadora Ann Hui e, nos dias seguintes, o programa apresenta «Break Up Club» de Barbara Wong, «Crossing Hennessy» de Ivy Ho, «The Drunkard» de Freddie Wong, «La Comédie Humaine» de Chan Hing-kai e Janet Chun, «Echoes of the Rainbow» de Alex Law e «Gallants» de Derek Kwok.
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OPINIÃO
Balanço da recolha de opiniões sobre a transferência David Chow
O
facto de a península de Macau ser o centro político, económico e cultural da RegiãoAdministrativa Especial de Macau (RAEM), de nela viver cerca de 85,2% da população da RAEM e de 99% de um total de cerca de 15.000 pequenas e médias empresas aqui se encontrarem estabelecidas, demonstra, à saciedade, a razão de nela se concentrarem as deslocações ao exterior para efeitos de turismo, negócios ou visitas, bem como a quase totalidade das actividades quotidianas dos residentes. É, por conseguinte, neste contexto que a eventual transferência do Terminal Marítimo do Porto Exterior (TMPE) pode trazer sérios inconvenientes ao seu quotidiano. Para além disso, pois digno de todo o respeito, também o património mundial do Centro Histórico, cartaz de atracção turística, de que tanto nos orgulhamos, está situado na sua totalidade na península, o que significa que, com a eventual transferência do TMPE para a ilha da Taipa, os visitantes teriam de utilizar as pontes de ligação Macau-Taipa para se deslocarem à zona velha, o que contrariaria o princípio do desvio do fluxo da circulação preconizado no planeamento urbanístico, logo, por mais ligações que se façam, em nada se resolveria o problema. Importa salientar, acima de tudo, que, sendo o TMPE uma importante infra-estrutura portuária que faz a ligação entre Macau-Guangdong-Hong Kong, a sua eventual transferência para a ilha da Taipa equivaleria a uma mudança para esta do centro económico e político da RAEM, transferindo-se, deste modo, paulatinamente, a posição vantajosa da zona velha (península de Macau) para a zona nova (ilha da Taipa). Criar-se-ia, assim, a impressão de se tratar de uma política desequilibrada em benefício das empresas do jogo no Cotai. A grande maioria das pequenas e médias empresas estabelecidas e consolidadas na península de Macau teria então de enfrentar, inevitavelmente, grandes dificuldades na manutenção e prossecução das suas actividades, o que corresponderia, por conseguinte, a um retrocesso económico, a uma desvalorização do tecido urbano e a uma clara perda de competitividade. Em jeito de balanço sobre os resultados do inquérito, pode afirmar-se que foram postos a descoberto os mais diversos problemas suscitados na consulta lançada para auscultação de opiniões sobre o Plano Director das Novas Zonas deAterro. 1. Consulta restrita com destinatários pré-determinados A primeira fase da consulta pública sobre o Plano Director das Novas Zonas de Aterro, promovida pelo Governo da RAEM, foi realizada durante um período de dois meses, com início em 18 de Junho e conclusão em 18 de Agosto de 2010. Segundo o relatório, foram realizadas 40 sessões de consulta pública e um colóquio, tendo sido recolhidas 1.879 opiniões, cobrindo um total de 14 sectores de actividade. Contudo, a opinião pública não corresponde à simples opinião do sector da construção, não devendo o Governo tomar o resultado obtido na reunião que teve com este sector como opinião corrente, na medida em que estariam em causa apenas os interesses deste sector e os da actividade comercial. Portanto, para afastar quaisquer susceptibilidades, bem devia
o sector ter invocado o regime de impedimento, pois só assim evitaria ser acusado de ter celebrado um pacto à porta fechada. Mesmo que se contasse apenas com a intervenção e participação do sector da construção, teriam ainda de ser escrupulosamente observados os procedimentos relativos ao Planeamento Urbanístico, uma vez que, segundo alguns autores (Wikipedia), podem aqueles ser divididos em seis etapas, a saber: Levantamento e recolha de informações fundamentais e necessárias para estudo do planeamento urbanístico; Definição do desenvolvimento e da área ocupada pela cidade, bem como dos diversos índices técnico-económicos relativos ao desenvolvimento urbano (incluindo a elaboração de plantas e a divisão das funções a serem desenvolvidas em cada uma das áreas); Aproveitamento racional dos solos, determinação da estrutura do plano urbanístico e projecção do rumo de desenvolvimento a longo prazo, bem como o planeamento das infra-estruturas (água, electricidade, comunicações, correios, telecomunicações, gás natural ou butano e terraplanagens); Definição dos princípios, dos procedimentos e das formas de aproveitamento (das zonas velhas) da reurbanização (realização de consulta pública e articulação com o desenvolvimento sustentável da sociedade); Definição dos princípios e das características técnicas a serem observados nas obras de construção ou nos empreendimentos e equipamentos municipais (incluindo, o levantamento topográfico e prospecção geotécnica relativos ao projecto das obras); Organização de projectos específicos mais actualizados, segundo o plano de construção urbana (elaboração da respectiva maqueta e plantas de pormenor de desenvolvimento). Para além disso, registou-se, naquela consulta, um grande desvio na forma como as opiniões foram recolhidas, pelo que não podem ser, como tal, consideradas, uma vez que a esmagadora maioria dos residentes se remeteu ao silêncio, situação esta decorrente do desinteresse que se criou, pelo facto de as opiniões terem sido constantemente preteridas, pela falta de divulgação ou de acesso às informações ou até pelos seus afazeres. As pessoas não se manifestaram, mas isso não quer dizer que não tenham uma opinião. Por outras palavras, generalizaram-se as opiniões recolhidas, o que, para além de se tratar de uma “consulta fictícia”, prova que esta serviu apenas de pretexto para vincar a posição do Governo. Para que se faça e possa ouvir a opinião das pessoas, há ainda um longo caminho a percorrer, que passa pela promoção da educação cívica. A Associação Comercial de Macau, o mais importante grémio da classe em Macau, salientou, aquando do debate sobre o Plano Director das Novas Zonas de Aterro, que o “TMPE continuará a ter um papel importante nos próximos cinco a dez anos” e que a sua transferência “não só implica a mudança propriamente dita do terminal, mas também afecta directamente a sobrevivência, em termos económicos, de toda uma zona, bem como as facilidades nas deslocações dos residentes, em termos de transporte” (“Jornal Ou Mun”, edição de 23 de Novembro de 2011, página C5). Por sua vez, a Associação das Pequenas e
Médias Empresas referiu, na sessão de consulta, que “não se opõe à transferência do TMPE” (“Jornal Ou Mun”, edição de 24 de Novembro de 2011, página C). Será que esta afirmação representa a vontade das mais de 15.000 pequenas e médias empresas? É duvidoso que aquela afirmação de Stanley Au, feita na qualidade de presidente da Associação, possa representar a maioria das pequenas e médias empresas. Se for uma mera opinião pessoal, espero que a referida Associação se esforce mais, no sentido de se conseguir a adesão de mais associados, prestando-lhes mais atenção e inteirando-se melhor das dificuldades das pequenas e médias empresas, pois só assim se consegue prosseguir, perseguindo, o objectivo de servir os associados. Portanto, qualquer que seja a consulta, importa perceber se a opinião recolhida foi legitimada e se é real, caso contrário, nada mais terá sido do que um parecer informal e descontextualizado da realidade. 2. Inoperância dos canais de recolha da opinião pública Que os benefícios integrais a serem retirados do desenvolvimento das novas zonas urbanas é um tema complexo, quer em termos económicos, quer em termos sociológicos, comprova-o a característica incontornável do próprio facto. Portanto, há que adoptar, no seu planeamento, como base para a realização de um inquérito sistemático e
de recolha de opiniões e da prestação de um serviço aos residentes. Funcionam, na máquina administrativa, mais de 35 órgãos de consulta. Será que estes conseguem exercer, com a devida competência, essa sua função? E terá o Governo auscultado a sua opinião? É sabido que as associações e as organizações cívicas são também excelentes meios para apoiar o Governo na recolha de opiniões junto do público. Para que as estratégias políticas e os projectos de empreendimentos se coadunem com os interesses e necessidades dos residentes, a longo prazo, bem devia o Governo, através daquelas organizações, recolher a opinião dos seus associados ou membros e promover uma participação alargada a todos os estratos sociais. 3. Posição pré-determinada e burocratismo Das informações relacionadas com o Plano Director das Novas Zonas de Aterro, sabe-se que já havia uma posição pré-formada, pois, em 23 de Outubro do corrente ano, ou seja, no segundo dia após o lançamento da consulta, já o Chefe do Gabinete do Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Sr. Wong Chan Tong, fazia a apresentação do plano com “high profile” e, no dia 23 do mês findo, afirmava, ao abordar o tema da relação entre o planeamento urbanístico e o clima de negócios, que a solução a dar ao TMPE, referida no anteprojecto do Plano Director, não
Nestes doze anos após o estabelecimento da RAEM, as consultas feitas pelo Governo, apesar de se assemelharem a uma proliferação de cogumelos na Primavera, são uma mera formalidade, designadamente, as consultas sobre o reordenamento dos bairros antigos, a actualização das tarifas de energia eléctrica e a lei de imprensa e de radiotelevisão universal, dados já provados cientificamente. Contudo, do processo de consulta lançado pelo Governo, fica provado que os canais de consulta são reduzidos e que as soluções avançadas resultam de posições pré-assumidas. Será que esta forma de consulta consegue ser acolhida por todos? Nestes doze anos após o estabelecimento da RAEM, as consultas feitas pelo Governo, apesar de se assemelharem a uma proliferação de cogumelos na Primavera, são uma mera formalidade, designadamente, as consultas sobre o reordenamento dos bairros antigos, a actualização das tarifas de energia eléctrica e a lei de imprensa e de radiotelevisão. Invoca-se amiúde que é para auscultar, de forma alargada, a opinião pública, mas, na realidade, não há qualquer incentivo à participação do público, nem se respeitam as opiniões dadas. As chamadas consultas não passam de armas para justificar as opções ou as soluções a adoptar, pois as opiniões recolhidas, quer nas sessões de consulta, quer através das linhas abertas ou da Internet, são filtradas, acabando apenas uma parte delas por ser consideradas como opinião pública. No fundo, o Governo fabrica as opiniões, conforme melhor entende, para depois nelas se poder escudar. Por isso, deve o Governo da RAEM reorganizar ou reajustar os canais de consulta, de forma a que o processo surta o desejado efeito de função
era uma posição pré-formada. Ora, se assim for, porque é que o terminal marítimo do Pac On vai sofrer uma ampliação quatro vezes maior do que estava previsto, conforme foi referido pelo Deputado Chan Meng Kam, no Plenário de 25 de Julho de 2011? Os que têm uma última palavra a dizer sobre o planeamento e os empreendimentos, que envolvem custos superiores a centenas de milhar de milhões de patacas, durante os próximos dez anos, devem antes respeitar a opinião pública. Parece que os dirigentes relegam isto para o domínio do esquecimento e que assumem atitudes arrogantes, especialmente o Sr. Lao Iong, Chefe do Departamento de Planeamento Urbano, da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Apesar de ser apenas um dos membros do Grupo de Trabalho para o Plano Director das Novas Zonas de Aterro, a verdade é que coordena todos os trabalhos de consulta, sendo que os seus poderes, atitudes e posições se encontram acima de um subdirector, director, Secretário ou até do próprio Chefe do Executivo, chegando mesmo ao ponto de, em declarações públicas, confessar “não ter medo de ameaças”, ao referir-se às associações e organizações cívicas ou aos indivíduos que acompanham de perto as opiniões do público, assumindo, portanto, uma atitude que, para além de demonstrar irresponsabilidade, desprezo pelas opiniões e
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Terminal Marítimo do Porto Exterior
burocratismo, não é digna de um responsável ao serviço de um “Governo íntegro”. Caso venha a ser reconduzido, com toda esta incompetência, num cargo em que se exige tanta responsabilidade, Macau cairá num poço, sem mais daí sair. Para o bem de Macau, deve demitir-se imediatamente, se quiser manter ainda um mínimo de dignidade. Parece que aquelas palavras e actos de Lao Iong passam despercebidos aos ouvidos e aos olhos de Wong Chan Tong, coordenador do referido Grupo de Trabalho, o que, afinal, apenas demonstra que são pessoas da mesma laia. Para além disso, afirma-se que determinada associação ou organização cívica também tem uma posição pré-formada sobre a questão. De facto, um acto ou uma omissão também pode revelar-se como equivalendo a uma determinada posição. Pois bem, quando o Governo coloca todas as informações da consulta sobre o Plano Director das Novas Zonas de Aterros no Centro de Ciência de Macau, também é, tendencialmente, per se, uma posição pré-formada. Ou não será? Quando uma associação cívica, movida pela preocupação com o futuro desenvolvimento de Macau, promove a participação e o envolvimento dos seus associados em questões de natureza social, em ordem a dinamizar a sua função social, convocando uma reunião de assembleia geral ou de direcção e conselho fiscal para recolher as opiniões dos seus associados ou promover a recolha, de forma alargada, de opiniões junto do público, será que esta sua opinião é uma posição pré-formada? Na realidade, um inquérito, qualquer que seja, desde que tenha uma vasta cobertura e contenha questões objectivas, o seu resultado pode ser considerado como uma base da opinião pública. 4. A boca dos “especialistas” a induzir os residentes em erro Com a gradual e contínua internacionalização de Macau e para se articular com os diversos planos de grandes empreendimentos, temos assistido, nestes últimos anos, a constantes obras de construção civil, mas, o Governo, para enganar o público, recorre com frequência à contratação de empresas internacionais de consultoria, sem ser aquela precedida de concurso público, e divulga depois o perfil das empresas ou dos especialistas contratados, nomeadamente, quanto a estes, no que se refere à experiência profissional, currículo e habilitações. Só quando algo corre mal e lesa os interesses dos residentes é que o Governo se escuda no parecer das empresas de consultoria ou dos especialistas, ainda que o seu relatório nunca seja divulgado. O fenómeno reflecte a paranóica arrogância de determinados governantes em colocarem, acima de tudo, a “necessidade das obras” e o “gosto pessoal”, sem atenderem à opinião do público, ou de recorrerem às empresas para encobrirem a sua “incompetência” ou para “não serem queimados”, por falta de auto-confiança sobre as suas próprias capacidades profissionais. Leng Ka Kan, ex-presidente da Associação dos Projectistas de Hong Kong, serviu-se, como exemplo, da experiência colhida na análise sobre o destino a dar ao antigo aeroporto de Kai Tak para sustentar que, no que concerne ao TMPE, há apenas duas soluções: a transferência ou a manutenção. Ng Sio Meng, engenheiro e subdi-
rector-geral do Instituto de Estudos Hídricos do Rio das Pérolas, afirmou que, apenas do ponto de vista da ciência do engenheiro, o TMPE deve ser transferido. Estes académicos e especialistas exprimiram apenas o que pensavam, mas, se estas opiniões valem mais do que a opinião pública, então são os interesses globais da sociedade que, em última instância, acabam por ser prejudicados. O Governo “convidou” intencionalmente estes especialistas do exterior para falarem da sua experiência relativamente àquele projecto, mas, o que acontece é que nada conhecem das realidades locais, nem tão pouco das suas tendências de desenvolvimento e das necessidades dos residentes locais. Perante estas “opiniões, ditas de experiência”, não é de estranhar que se duvide da autoridade daquelas afirmações. Aproveita-se o Governo da boca destes “especialistas” para induzir em erro a população, com palavras bonitas, proferidas com toda a pompa e circunstância, mas fora da realidade e sem estarem escoradas em dados e em justificações plausíveis. A sua intenção, apesar de velada, também não escapa aos olhos do público. Um projecto de tamanha envergadura, que diz respeito ao bem-estar da população e que devia ser implementado, tendo por base a defesa dos seus interesses, merece, de facto, um outro tratamento, qual seja o de corresponder à vontade expressa de todos os residentes, colhida num inquérito universal, ou à opinião de individualidades com a necessária representatividade, a colher num inquérito aleatório, a ser realizado com toda a cientificidade. 5. Reformar a estrutura já obsoleta da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes Esta prepotente posição do Grupo de Trabalho para o Planeamento Urbanístico das Novas Zonas de Aterro, em termos de política, que afecta os interesses de 560 mil habitantes e de cerca de 15.000 pequenas e médias empresas, nada mais é do que uma arma para atingir os 25 milhões de visitantes que aqui aportam anualmente, camuflando-se o megalómano investimento feito no projecto de construção do Terminal Marítimo do Pac On, cujos objectivos e intenções muito preocupam a população. Segundo os dados estatítiscos divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos, entre 2006 e Outubro de 2011, num período de pouco mais de 6 anos, cerca de 6 milhões de pessoas utilizaram o TMPE para as suas deslocações. Com uma taxa de utilização pouco elevada, registando mesmo uma tendência de quebra, o facto reflecte claramente que o TMPE se encontra longe de estar saturado e, por conseguinte, a construção e a ampliação de um outro terminal para o substituir não passa de despesismo. Sendo o TMPE a principal ponte-cais utilizada pelos residentes e visitantes para as suas deslocações entre Guangdong-Hong Kong-Macau, como é que o Governo pode “menosprezar” estes dados e factos, tanto mais que a Ponte Zhuhai-Hong Kong-Macau só entrará em funcionamento em 2016, sendo só a partir daí que o papel do TMPE pode ser mais reduzido? Sendo assim, não será redundante a transferência do TMPE ou a ampliação do Terminal Marítimo do Pac On? Por outro lado, vários foram os Deputados
que expressaram a sua opinião sobre a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, advogando que esta deve reforçar a sua gestão e fiscalização, reajustando a sua estrutura e reavaliando o desempenho do seu pessoal e dos especialistas contratados, só assim se garantindo a justiça e a imparcialidade das decisões e o respeito pelas opiniões do público. Aumentar a eficácia administrativa e executar o que está firmado na Carta de Qualidade são, portanto, as linhas de orientação a ser prosseguidas. Caso contrário, como é que pode ser erradicada da Administração a imagem deixada pelo caso de corrupção do ex-Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Au Man Long? 6. Maximizar o papel da Comissão Eleitoral na sua função de auscultação da opinião pública A Comissão Eleitoral da RAEM, supremo órgão eleitoral, composta por 300 residentes permanentes, todos eles provenientes do sector político, financeiro, empresarial, cultural e educativo e laboral, portanto, com um vasto leque de representatividade, que vai desde governantes até às classes sociais de base, tem um papel muito importante, tal como a sua congénere da Região Administrativa Especial de Hong Kong (RAEHK), composta por 1.200 membros provenientes daqueles mesmos quatro sectores, no processo de eleição do Chefe do Executivo e na apresentação das opiniões do público, junto do Governo Regional e do Governo Central. Foi, precisamente, pelo facto de a transferência do TMPE dizer respeito ao futuro desenvolvimento de Macau que o Governo da RAEM organizou um colóquio com “especialistas”. Mas, porque não auscultou a opinião da Comissão Eleitoral? Cada um dos seus membros, sem margem para qualquer dúvida, representa um determinado sector e a vontade de determinado estrato social, logo, deve o Governo, na tomada de decisão perante esta tão relevante estratégia política, envolvê-los, convidando-os ou encorajando-os a terem uma participação mais activa, de forma a que possam dinamizar os seus próprios canais para auscultar a opinião pública. Sendo a reforma política irreversível, cabe agora ao Governo pensar no modo de maximizar o papel a desempenhar pela Comissão Eleitoral na prestação de serviços à sociedade e na auscultação do público. 7. Respeitar a opinião pública para servir a população Com a liberalização do sector do jogo e com o crescimento exponencial das receitas provenientes desta indústria, o Governo da RAEM passou a usufruir de uma saudável situação financeira. E projectou o rendimento mediano dos residentes para as onze mil patacas, ocupando a primeira posição na lista, em termos de Produto Interno Bruto, per capita, dos países da Ásia. Até finais de Outubro de 2010, estimava-se em 253,400 milhares de milhões de patacas o valor do Fundo de Reservas Cambiais da RAEM. Se bem que as monstruosas receitas do jogo permitam um maior espaço de manobra para se poder resolver as questões que afligem os residentes e a sociedade, é bom não esquecer que isto não significa que todas as preocupações estejam afastadas à
partida, pois não poucos abastados países do Médio Oriente, onde a população vive com fartura e em que nada lhes falta, motivo de inveja de muitos outros, também enfrentam, devido à política autoritária e tirânica dos governantes, sucessivos problemas com manifestações e greves que põem em causa a estabilidade social, razão por que deve esta situação servir de exemplo ao Governo da RAEM. A transferência, ou não, do TMPE tem impactos directos na vida quotidiana da população, sendo natural, por isso, que seja este o seu foco de atenção e sejam as suas opiniões uma forma de se pronunciarem sobre a política e sobre os projectos de empreendimentos a lançar pelo Governo, enquanto mecanismo de manifestação de confiança e de apoio ao Governo. É por isso que as políticas que tenham uma relação com a vida da população devem incorporar e respeitar a sua opinião, de forma a grangear o seu envolvimento, através de uma participação, activa e eficaz, nos assuntos públicos, e, consequentemente, assegurar o direito à informação, à participação e à fiscalizacão. É esta, afinal, a base de um serviço à população. 8. Apoiar sem reservas a criação de um Governo transparente Macau é uma sociedade onde impera o sistema de democracia baseado na “política associativa”. Estão aqui presentes, hoje, os responsáveis de mais de 50 associações cívicas, enquanto elemento da sociedade de Macau. O motivo que nos levou a promover esta recolha da opinião pública, de uma forma alargada, visa apenas ajudar o Governo a auscultar, de uma forma integral, científica e aprofundada, as opinões da sociedade, na esperança de podermos dar o nosso contributo para a criação de um canal eficaz e sem obstáculos para o efeito, junto do Governo, de modo a que todos os assuntos de relevância para a sociedade e relacionados com a vida pública possam ser decididos de forma adequada e conveniente. Ou seja, acolhendo prioritariamente a opinião do público e esforçando-se por implementar as políticas e acções, tomando-as como referência. Fica hoje mais que demonstrado pelos factos que é através desta forma de consulta que se conseguem mais de 62 mil respostas a um inquérito, o que prova que o público não se remete, pura e simplesmente, ao silêncio ou se mantém indiferente aos assuntos que lhe dizem respeito, desde que as suas opiniões sejam respeitadas. É, portanto, através deste estado de espírito da população que podem ser lançados os alicerces para a construção de uma sociedade harmoniosa. Tratou-se, pois, do maior inquérito jamais realizado na história de Macau, servindo os seus resultados não só de referência para o Governo na definição das linhas de acção governativa, mas também como forma de expressão do modo como pode ser construído um Governo transparente e uma sociedade com um desenvolvimento sustentável. Por último, não posso deixar de agradecer aos responsáveis das associações, aos amigos da comunicação social e aos ilustres convidados aqui presentes que se associaram a este evento e quiseram assim manifestar o seu interesse no futuro desenvolvimento de Macau. Bem haja a todos.
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OPINIÃO
30 à f l or d a p el e Helder Fernando
A “morna”, por instantes, gelou I Quando há uns três anos a notícia vinda de Melbourne dizia que a cantora sofrera derrame cerebral, temeu-se imediatamente que a voz de Cesária, a sua presença nos palcos do mundo, tinham os dias contados. Teimosa como sempre, recuperou e insistiu os sons da sua terra estavam antes de tudo, mesmo antes do final. No ano passado, mês de Maio, o coração falhou, a operação de urgência realizada em Paris não podia fazer muito mais. Ainda agendou mais umas apresentações, mas 3 meses depois, em Setembro, já com 70 anos, a embaixatriz da morna e de outros ritmos de Cabo Verde, contrariada, mandou anular concertos na Arménia, Roménia, França, Suíça, Reino Unido, escolhendo despedir-se e acolher-se. Sábado, Cesária Évora partiu perante a nossa eterna saudade. Não é comum, nas biografias publicadas por todo o lado, ler-se que Cesária Évora actuou em Macau. Fê-lo salvo erro por duas vezes. Inesquecível para mim, pela inesperada e fraternal abertura, a entrevista que me deu (para a rádio), minutos antes de subir, a custo, os degraus dos bastidores em direcção ao palco do Fórum onde já a esperavam os músicos e, como sempre, olhar para a multidão como se os recebesse em casa, com aquele sorriso maroto que nos (en)cantava. A língua de Cabo Verde, encantador crioulo, teve em Cesária um enorme instrumento de divulgação. A Ilha de S. Vicente, donde ela viajou para os palcos do mundo, está de luto; Cabo Verde está de luto, todos os que amam a música também. E África! II Um jornal em Portugal, o “i”, publicou há poucos dias, 17 de Dezembro, um texto assinado por um jornalista que já viveu e trabalhou em Macau, embora por período relativamente curto, no muito “paroquial” tempo da administração portuguesa. Um tempo em que alguns jornalistas portugueses foram alvo de gravíssimas perseguições e metidos num avião de regresso a Portugal – os que não puderam resistir ou não estiveram para isso. Creio que, felizmente, não foi o caso desse jornalista. Gente que ficou momentaneamente com a vida feita em farrapos, apenas porque eram desalinhados em relação às conveniências do poder. Na circunstância, actos de solidariedade activa entre a classe no seu colectivo, então, só por adivinhação. Curiosamente, perspectivando para o tempo presente, se me perguntarem digo que não sei, mas acredito. Refiro brevemente, aqui, esta questão, porque a memória todos os dias se perde; como se Macau e, neste caso, os meios de
Agora, é o chefe do governo que manda os professores emigrarem, pois não existem alternativas para os portugueses em Portugal. Porque não sairão eles, os que mandam os cidadãos para a emigração? O engraçado (com algum esforço) é a direcção do PS criticar todos os dias a troika. Haveria crédito se não se resumisse a um exercício espurco destinado a ofuscar, insultando, a memória dos cidadãos.
Não é comum, nas biografias publicadas por todo o lado, ler-se que Cesária Évora actuou em Macau. Fê-lo salvo erro por duas vezes. Inesquecível para mim, pela inesperada e fraternal abertura, a entrevista que me deu (para a rádio), minutos antes de subir, a custo, os degraus dos bastidores em direcção ao palco do Fórum onde já a esperavam os músicos e, como sempre, olhar para a multidão como se os recebesse em casa, com aquele sorriso maroto que nos (en)cantava. comunicação social, só passassem a existir após o desembarque de algumas criaturas. As mesmas que desejarão memória e respeito quando o hoje se transformar em ontem. Depois do ano 2000 até ao presente, as relações estabelecidas pelo poder com a comunicação social de língua portuguesa menciono apenas esta - têm sido bastante diferentes das do passado. Por variados motivos, é certo, sobre os quais também será conveniente reflectir. Voltando ao texto intitulado “Liberdade Ameaçada em Macau”, o autor, que na semana passada parece que passou fugazmente por aqui, faz as considerações que entende e tem direito, evoca as “fontes” a que quis socorrer-se, amesquinha os profissionais locais, delibera o “atavismo da imprensa portuguesa” (não existe imprensa portuguesa em Macau, o que existe são jornais, rádio e televisão de Macau em língua portuguesa), considerando-a de “dimensão paroquial destinada a menos de 1% da população do território”. Estará esse jornalista habituado a ser lido por quantos por cento da população portuguesa em Portugal que lê o “i”? Esqueceu-se de fazer as contas. Ainda mais estranho é este pedaço de
prosa: “De facto, os últimos anos da presença de Portugal no Oriente nunca conseguiram fomentar uma identidade própria em Macau suficientemente musculada para enfrentar o futuro, contrariamente ao que os ingleses consolidaram na sua antiga colónia”. Decididamente, o homem não estava nos seus dias, acontece a todos. Por cá sabemos bem como o país Portugal está suficientemente musculado nos seus enfrentamentos com as troikas e companhia, e até para enfrentar o futuro que se adivinha muito risonho mesmo. E sabemos como a comunicação social anda musculada para enfrentar o seu próprio futuro e o emprego dos seus jornalistas. Mesmo sendo eu, lamentavelmente, um tipo de pouca-fé, não resisto: Valho-o Deus! III Em Portugal, os inteligentes que dizem governar, insistem em dizer às pessoas para resolverem os problemas de desemprego fora do País. Outro dia um ilustre secretário de estado disse aos jovens para irem lá para fora pois dentro não havia lugar para eles. Como se vai sabendo, é o regresso ao ter de ir “para a rua gritar que é já tempo d’embalar a trouxa e zarpar”.
IV A revista “Time” teve o mérito de escolher os manifestantes do mundo inteiro para tema de capa na semana passada, elegendo-os como personalidade do ano. Realmente, neste ano agora no fim, foi dominante a quantidade, a abrangência e a forma cada vez mais dramática dos protestos à escala quase mundial. Independentemente de como se observem esses protestos. Muitas vezes, a “Time” destacou um estadista, alguém da cultura, das artes. Este ano não foi assim, pela razão de, convenhamos, ninguém ter individualmente sobressaído no meio de tantas manifestações que derrubaram governos, mas ainda não regimes. Algum de nós, há poucos anos e até meses, imaginaria o derrube, por vezes tão humilhante, de alguns líderes? E as manifestações que ainda não derrubaram governos ou regimes já estiveram mais longe de conseguir os objectivos. De Wall Street a Moscovo. Sabemos todos que por entre os legitimados manifestantes há os provocadores profissionais, os infiltrados para lançar confusão e justificar os abusos de autoridade. Na génese, quem protesta não tem relação com “bandos de malfeitores” ou “bandidos desocupados” como alguns jornais norte-americanos chamam aos que se manifestam em Nova Iorque e em outras cidades do país. Há uma grande força motivadora nesses protestos: a ideia que muitos poderes têm em fazer regressar os cidadãos à época medieval, saindo os responsáveis impunes perante as trafulhices, as negociatas, as mentiras. Até parece confirmar-se a existência de uma “trilateral” que acorrenta o planeta para benefício de um tenebroso grupo de privilegiados. Os tais “ventos de mudança” partiram, fundamentalmente, do norte do continente africano. Terão inspirado e motivado os crescentes protestos na Europa, nos Estados Unidos, na Rússia. Cresce a corrupção, aumenta o desemprego, o caos financeiro provocado pelos poderosos retira por completo a capacidade de os governos obedientes saírem das crises sem fim. O Médio Oriente vai mudar, já está muito lentamente a mudar. O ocidente ainda não. Lamentavelmente, parece que precisa de mais sangue.
Ciclone
De cão morto fogem pulgas e carraças deixando lugar às moscas. Por Fernando
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OPINIÃO ed i t or i a l Carlos Morais José
Doze anos depois Doze anos passaram. E equivocamse os que pensam e afirmam ter Macau perdido a sua identidade, pois nunca ela foi tão forte, na sua diferença, na sua originalidade e até, se quisermos, na presença da lusofonia. Sobretudo, se pensarmos na qualidade dessa presença. Finalmente livre do fantasma de ter sido administração deste território, a comunidade portuguesa encontra hoje um espaço de criatividade e afirmação, longe da modorra histérica de Portugal, que a relança como farol da contemporaneidade no Macau de hoje e do futuro. Os portugueses são a Europa da cultura, do bom gosto e também da normalidade nas relações, como mais nenhum outro povo ocidental aqui conseguiu ou conseguirá. Trazemos a literatura e o vinho. A liberdade e o estilo. Eventualmente, o amor... Que mais se pode pedir a um povo que se desloca de um lado ao outro do mundo? * Doze anos depois, o que dizer da governação da RAEM? Passou, é certo, a fase de aprendizagem, em que a “falta de experiência” foi abundantemente utilizada para justificar os erros. Já não pega. Contudo, poder-se-ão assacar erros terminais? Certamente que não. Aliás, os sucessivos governos pecam mais pelo que não fazem do que, propriamente, por fazerem mal o pouco em que se cometem. Torna-se inexplicável como pode um Executivo, com o orçamento mais luxuoso do mundo, manter a sua população privada de uma estrutura de apoio social que permita prescindir do engodo dos cheques anuais. E, na sua inexistência, de como não se vislumbra uma estratégia coerente para o futuro. Não se compreende, nomeadamente, como pode uma cidade destas ter níveis ambientais lamentáveis, um sistema de saúde público vacilante e tantas outras contradições que espelham algum desnorte governativo. Entendemos o caso Ao Man Long como um sintoma de uma doença de um sistema que, sem ser a causa directa, facilita ou possibilita ainda a emergência destes fenómenos, cuja irradicação só será realmente conseguida através de uma profunda reforma metodológica. Ora este caso que, ao invés de ter sido resolvido de forma adulta e frontal, continua a pairar como um fantasma nas instâncias administrativas e decisórias, tem obstruído grande
parte da criatividade política e refreado a audácia governativa. Ainda recentemente, restos e vestígios do caso foram de novo chamados à colação, lançando algum pânico e mal-estar num Governo que ainda parece refém deste passado mal resolvido. Esta situação deve e tem que acabar, para o bem comum. O que o Governo precisa rapidamente de sinalizar é que se interessa realmente pelo futuro desta população e não que remenda o barco cada vez que um tripulante faz um furo. Precisa de despoluir a península de Macau e criar mais e melhores acessos à Taipa, sem a transformar num espaço mal amanhado. Precisa de proteger Coloane. Precisa de garantir a saúde viária da cidade. Precisa de diversificar realmente a economia. Precisa de não se enredar no logro em que se transformou o conceito de indústrias criativas. Precisa de... fazer tantas, tantas coisas... * Kim morto, Kim posto. E, ao contrário da maior parte dos analistas, não me parece
O que o Governo precisa rapidamente de sinalizar é que se interessa realmente pelo futuro desta população e não que remenda o barco cada vez que um tripulante faz um furo. que tudo ficará na mesma. Ou seja, a sinificação do país terá agora de ocorrer de forma galopante. É assim que leio os pesares e as homenagens de Pequim à dinastia norte-coreana. A China aposta no longo prazo mas uma coisa é certa: não lhe apetece prescindir da sua influência, agora e no futuro, naquela parte da península coreana. Daí que tenha aturado as desfeitas dos generais dos Kim. Quem foi esperto, no meio disto tudo, foi Kim Jong-nam, o filho mais velho e velho conhecido de Macau. Ele não está para estas coisas das lutas de poder e
das políticas e prefere gastar o dinheiro extorquido ao povo pelos casinos e hotéis de luxo do mundo. Eles deviam era ser todos presos... * Doze anos passaram. E agora, assim do nada, saiu um artigo em Portugal, no jornal i, que insulta quem exerce em Português a profissão de jornalista em Macau. É giro porque nunca li um elogio ao facto de nós por aqui mantermos vivos língua e valores ao fim de uma dúzia de anos. Diz muito sobre Portugal. Mas não pode ser cada jornalista individualmente a manifestar-se, pois é para isso que somos representados. Num caso que gera unanimidade e em que toda a classe foi humilhada, é imprescindível que a direcção da AIPIM – Associação da Imprensa em Português e Inglês de Macau – tome uma posição sobre o assunto junto do referido diário. Se não o quiserem fazer, não se expliquem: demitam-se.
Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Redacção Gonçalo Lobo Pinheiro; Joana Freitas; Lia Coelho; Nuno G. Pereira; Rodrigo de Matos; Virginia Leung Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Carlos Picassinos; Hugo Pinto; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros; Vanessa Amaro Colunistas Arnaldo Gonçalves; Carlos M. Cordeiro; Boi Luxo; Correia Marques; Hélder Fernando; Jorge Rodrigues Simão; José I. Duarte, José Pereira Coutinho, Marinho de Bastos; Paul Chan Wai Chi; Pedro Correia; Peng Zhonglian Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia António Falcão, Gonçalo Lobo Pinheiro; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Laurentina Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
c a r t o on
TUFÃO WASHI
por Steff MACAU GCS POSTO EM CAUSA A Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) protestou contra o sistema de “stand by”. “No dia 15 do corrente mês, o Gabinete de Comunicação Social (GCS) emitiu uma nota de imprensa justificando o programa de trabalho fora do horário de expediente e durante os dias de festividade e feriados.” A ATFPM diz que os trabalhadores do GCS estão a ser obrigados, sistematicamente, a cumprir ordens ilegais provenientes da direcção do GCS para permanecerem em casa em regime ‘stand by’. “Este regime ilegal impede os trabalhadores de se ausentarem da RAEM, nomeadamente deslocaremse à Região Administrativa Especial de Hong Kong, (RAEHK) e Zhuhai, uma vez que, podem ser chamados a apresentarem-se nos seus postos de trabalho a qualquer momento. Entendemos que esta situação prejudica fortemente os direitos fundamentais dos trabalhadores.” COMPETITIVIDADE MACAU CAI DOIS LUGARES Macau está a perder competitividade. O território caiu dois lugares no ranking anual elaborado pelo Instituto de Competitividade das Cidades da China, ocupando agora a 13ª posição. Segundo a notícia avançada ontem pelo Jornal Tribuna de Macau, os especialistas responsáveis pela avaliação atribuem a descida da RAEM à à excessiva dependência do sector do jogo e à persistência de problemas como a escassez dos recursos humanos. No capítulo referente ao potencial de crescimento, Macau não vai além do 17º lugar. A tabela das cidades chinesas mais competitivas é liderada por Hong Kong, seguido de Xangai e Pequim. Nos primeiros dez lugares da lista estão ainda cidades como Shenzhen – na quarta posição -, Cantão – no quinto lugar – ou Taipé, no nono.
HOJE MACAU BRILHA AINDA MAIS
O Natal está à porta, lembrando-nos, mais do que o consumismo, que é tempo de esperança e concórdia. Por isso, a equipa do Hoje Macau deseja a todos os leitores um Natal celebrado com
família no coração e optimismo. Aos amigos
(incluindo os da saudável concorrência), boas festas e bons presentes.
Já há substituta para o lugar de Chu Kin
“Escolha sem reparos”
S
ONG Man Lei será a próxima presidente do Tribunal de Última Instância (TUI), segundo notícia avançada pela Rádio Macau. A designação da actual procuradora-adjunta do
Ministério Público foi levada a cabo pela comissão independente responsável pela indigitação dos juízes. O canal de rádio da TDM afirma que a comissão vai fazer a sugestão
ao Chefe do Executivo. Entretanto, Jorge Neto Valente, presidente da Associação dos Advogados de Macau (AAM) disse à rádio que este era um cargo merecido. “É uma das magistradas mais prestigiadas e estou convencido que é uma boa escolha. Quem fica lesado é o MP. Mas esta é uma pessoa que, indiscutivelmente, sabe direito e tem mérito. A escolha não merece reparos.” Song Man Lei vai substituir o juiz Chu Kin, falecido em Novembro, depois de um acidente de viação que o deixou em coma durante mais de dois meses. A nova presidente licenciou-se na China e tirou um curso de língua e cultura portuguesas em Lisboa. Foi das primeiras magistradas locais de Macau.- J.F.
CURSOS DE DOUTORAMENTO EM LÍNGUA PORTUGUESA
Estreitar relações entre China e PALOP é um dos objectivos
E
M Janeiro do novo ano vão arrancar dois cursos de doutoramento em Língua e Cultura Portuguesa e Administração Pública em Macau. Segundo Luciano de Almeida, coordenador de ambos os programas académicos, “o curso de doutoramento em Língua e Cultura Portuguesa corresponde a uma necessidade que é sentida, não só em Macau pelas instituições de ensino superior, como na China Continental, pelas instituições de ensino superior que ministram cursos de língua e cultura portuguesa - e neste momento já são 16 - e sentem necessidade de qualificar o seu
corpo docente nestes domínios”. A criação do curso pretende “dar resposta a essa necessidade numa área que se considera estratégica para o estreitamento de relações entre a China e os países e regiões de língua oficial portuguesa”, disse o professor do Instituto Politécnico de Macau. Já o doutoramento em Administração Pública vem conferir o último grau académico numa área que o docente considera importante dada a natureza da administração pública de Macau que “tem uma matriz fortemente inspirada ainda na matriz portuguesa”.
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CHINA ONU PREOCUPADA COM ACTIVISTA DESAPARECIDO A ONU manifestou ontem preocupação pelo activista chinês de direitos humanos Gao Zhisheng, que voltou à prisão por um período de três anos após cumprir quase cinco anos de liberdade condicional em local secreto. A organização também denunciou o processo de revisão da lei processual penal da China, que pode permitir a legalização dos centros de detenção secretos, afirmou Rupert Colville, porta-voz do Gabinete do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos. «O gabinete do Alto Comissariado considera que este seria um grande retrocesso, contraditório com os esforços feitos na última década pelo governo chinês para ratificar o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos», defendeu o porta-voz. Para a ONU, o caso ilustra a tendência de desaparecimento forçado e detenção em locais secretos de defensores dos direitos humanos, uma vez que a situação não é um caso isolado na China.
POLÍCIA BRITÂNICA PODERÁ UTILIZAR ARMAS A polícia britânica poderá utilizar legalmente armas de fogo em determinadas circunstâncias durante distúrbios como os que se registaram em Inglaterra em agosto, indica um relatório oficial hoje publicado. De acordo com o estudo, elaborado pelo corpo de inspectores da polícia, que supervisiona a actividade das forças de segurança, os agentes poderão disparar em função «do risco e da gravidade das consequências» de cada situação. Como exemplo, poderão disparar quando um incêndio de origem criminosa puser em perigo a vida de pessoas, como ocorreu durante os distúrbios de Londres no caso do fogo ateado em lojas situadas por baixo de casas residenciais. IMPLANTES MAMÁRIOS ASSUSTAM EM FRANÇA As autoridades de saúde francesas vão pedir às 30.000 portadoras de implantes mamários da marca PIP (Poly Implants Prothèses), em França e no estrangeiro, que os retirem, informou ontem o jornal Libération. Esta “decisão única na história da cirurgia plástica” será anunciada antes do próximo dia 24, segundo o diário francês, que referiu ainda que a medida não tem carácter urgente, existindo como medida de precaução. As próteses da marca francesa PIP “apresentam defeitos, suspeitando-se que tenham causado a morte de pelo menos uma mulher”.