Hoje Macau 21 ABR 2020 # 4510

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TERÇA-FEIRA 21 DE ABRIL DE 2020 • ANO XIX • Nº4510

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GCS

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

LAG | REACÇÕES

AFINIDADES E ALERTAS

DISTRIBUIÇÃO DE MÁSCARAS PÁGINA 7

CHINA

UM TIGRE NA JAULA PÁGINA 11

GCS

PÁGINA 6

CRECHES

hojemacau

O futuro mora ali Ho Iat Seng apresentou ontem as suas primeiras Linhas de Acção Governativa. Aposta em Hengqin, cooperação regional e a possibilidade de, em breve, abrir as fronteiras, foram alguns dos pontos fortes do discurso do novo Chefe do Executivo, que elegeu também como prioridade do seu programa a reforma administrativa.

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PÁGINAS 2 A 5

BEETHOVEN, OPTIMISMO MUSICAL PURO MICHEL REIS

O DILEMA

PAULO JOSÉ MIRANDA


2020

Reconhecendo que as tentativas anteriores de diversificação económica de Macau não resultaram, o Chefe do Executivo referiu-se ontem, na apresentação das Linhas de Acção Governativa, a Hengqin, como um dos caminhos para novas oportunidades. Além da integração regional, um dos principais pontos do programa do líder do Governo passa pela reforma da Administração Pública

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URANTE a apresentação das Linhas de Acção Governativa para este ano, o Chefe do Executivo fez uma viagem ao passado, numa análise retrospectiva a Macau em que foram vários os problemas encontrados. A aposta em Hengqin foi apresentada como o caminho a seguir para dar resposta a muitos deles. “Queremos e esperamos que Hengqin se

SEGURANÇA NACIONAL

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pesar de não ter dado pormenores, o Chefe do Executivo deixou o compromisso de defender a segurança nacional através da criação de regulamentação e mecanismos de gestão e execução. “Sem segurança nacional não há segurança regional”, defendeu. O plano passa também por aumentar a capacidade de acção da polícia e o uso de tecnologia no seu trabalho. Por

outro lado, foi deixada a mensagem de que “as interferências do exterior e as influências negativas serão prevenidas, assegurando a estabilidade e a harmonia da RAEM”. Ho Iat Seng disse ainda que “através do reforço da criação de uma equipa de profissionais e das capacidades de prevenção e de resposta a situações de emergência, aperfeiçoaremos o trabalho antiterrorista”. PUB

Terra da

HENGQIN HO IAT SENG APONTA REGIÃO COMO ALTERNATIVA PARA O

torne numa segunda Macau. (...) Se calhar não podemos introduzir a legislação de Macau em Hengqin, mas podemos introduzir medidas de Macau em Hengqin para um desenvolvimento conjunto”, disse depois em conferência de imprensa. Ho Iat Seng descreveu que o tempo necessário para fazer mais aterros não se adequa à situação de Macau, já que a diversificação económica tem de ser desenvolvida a curto prazo. Espera-se assim que Hengqin seja a solução para a escassez de terrenos e um “adequado espaço para a sua diversificação económica”. “Em face das dificuldades existentes, tais como as limitações geográficas e a falta de recursos, a cooperação regional, nomeadamente ao nível do desenvolvimento conjunto de Hengqin, poderá proporcionar novos espaços e condições para a diversificação adequada da economia de Macau no sentido de não só produzir mais receitas e fortunas, mas também forjar uma base económica sólida para a estabilidade de Macau a longo prazo e encontrar novas oportunidades para o desenvolvimento da população, em particular dos jovens”, disse. A Ilha da Montanha foi mesmo referida como “alternativa para o futuro desenvolvimento de Macau, proporcionando novas oportunidades e esperanças”. Mas o Chefe do Executivo apontou em conferência de imprensa benefícios mútuos nesta aposta: “podemos levar as nossas vantagens para a ilha de Hengqin”. A par de uma maior ligação de infraestruturas entre as duas zonas, o Governo disse ontem que está a estudar a extensão para Hengqin dos cuidados de saúde e de segurança social de Macau, para os residentes que aí vivam. Há ainda planos para que o lado de lá da fronteira seja usado na plataforma entre a China e os países de língua

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2 LAG

Ho Iat Seng, Chefe do Executivo “A cooperação regional, nomeadamente ao nível do

portuguesa. Nesse sentido, foi dado como exemplo a criação de parcerias no âmbito da cooperação marítima ou das pescas. Ao nível da Grande Baía, fica expressa a vontade da facilitação de circulação de pessoas e fluxos logísticos, financeiros e de informações, para um “mercado unificado”. Além disso, Ho Iat Seng reiterou a importância da integração regional proactiva com um alerta para as consequências do contrário: “ser marginalizada ou substituída em algumas funções que lhe estão atribuídas”.

PROBLEMAS RECONHECIDOS

É preciso mais terreno para o desenvolvimento da economia por causa da dinamização das indústrias. “Antes dependíamos da

exportação, porque na altura tínhamos fábricas e por isso o sector da manufactura era o principal. Agora, com o PIB per capita que registámos ao longo do tempo, temos de criar mais espaços para diversificar adequadamente a nossa economia”. Os problemas decorrentes da dependência do jogo foram reconhecidos pelo Chefe do Executivo. “A estrutura económica é praticamente monolítica e o avanço do desenvolvimento diversificado da economia não é notório. Desde o retorno de Macau à Pátria, e apesar de se ter registado uma fase de crescimento económico relativamente acelerado, a situação de predominância da indústria do jogo não se alterou, tendo até se tornado mais evidente”, disse. Ho Iat Seng notou que apesar de os


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esperança

“FUTURO DESENVOLVIMENTO”

ços de Economia com o Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia e da Transferência Electrónica de Dados – Macau EDI Van, S.A.. Prevê-se também a integração das funções do Gabinete de Gestão de Crises do Turismo na Direcção dos Serviços de Turismo. Já a mudança dos Serviços de Turismo para a pasta da Economia foi justificada com uma “melhor integração com outros sectores, nomeadamente convenções e exposições, e assim aproveitar melhor os recursos”.

“Desde o retorno de Macau à Pátria, e apesar de se ter registado uma fase de crescimento económico relativamente acelerado, a situação de predominância da indústria do jogo não se alterou, tendo até se tornado mais evidente.” HO IAT SENG CHEFE DO EXECUTIVO

desenvolvimento conjunto de Hengqin, poderá proporcionar novos espaços e condições para a diversificação adequada da economia de Macau.”

esforços dos governos anteriores para concretizar essa diversificação, “não se registam resultados notórios”. Além disso, o sistema de transportes local e a rede para o exterior “apresentam-se gravemente desajustados às necessidades da construção de Macau enquanto centro mundial de turismo e lazer”. De resto, considerou-se que existe “um atraso significativo” na cidade inteligente em comparação às regiões vizinhas. Neste aspecto, uma das medidas destacadas pelo líder do Governo foi o pagamento electrónico: “por isso promovemos um consumo de 3 mil mais 5 mil patacas em cartão electrónico”. “Posso continuar a distribuir 10 mil patacas aos cidadãos. Mas não queremos só distribuir os che-

ques à população como na compensação pecuniária. O que queremos é que o sector empresarial possa ser beneficiado (...). Espero que este cartão, depois dos nossos dois planos, possa continuar a ser utilizado pela população”, disse. Escapou às críticas o sistema político democrático de Macau, que no entendimento de Ho Iat Seng “desenvolveu-se ordeiramente e os direitos e as liberdades dos residentes de

Macau definidos na lei estão amplamente garantidos”. Mas o mesmo não aconteceu com a Administração.

REFORMA ADMINISTRATIVA

“Os principais problemas são, designadamente, a sobreposição de serviços públicos e a falta de clareza das respectivas atribuições, a baixa eficiência administrativa e uma oferta de serviços pouco conveniente para os residentes, um processo de recrutamento de trabalha-

MAIS PATRIOTISMO U

m dos compromissos nas Linhas de Acção Governativa é o reforço da educação patriótica. “Intensificaremos o ensino da História da China e desenvolveremos actividades educativas relativas à cultura e etiqueta tradicionais chinesas, incutindo nos estudantes o sentimento de identidade com a Pátria e Nação”, disse Ho Iat Seng. O Governo vai criar “uma base de educação do amor pela Pátria e por Macau”, para as escolas e associações.

dores para a Administração Pública burocrático e moroso e uma incorrecta afectação de recursos humanos”, enumerou o Chefe do Executivo. E a lista continuou: “uma deficiente coordenação interdepartamental dos trabalhos sem assunção de responsabilidades, o regime de delegação de poderes e o regime de responsabilização dos titulares de cargos públicos a requererem melhoramentos, a necessidade do reforço da integridade na Administração Pública, a falta de fiscalização do uso dos recursos públicos e uma legislação desajustada às necessidades do desenvolvimento”. A reforma da Administração está entre as prioridades para 2020. Nesse âmbito vai, por exemplo, ter lugar a fusão da Direcção dos Servi-

“Não estou a dizer houve mandatos que fizeram mais do que outros. De acordo com a situação, fazem a fusão dos serviços públicos. Isto depende do trabalho de cada secretário. Através de algumas reuniões, os secretários vão anunciar quais os serviços públicos que vão ser fundidos. Estes não são os nossos últimos trabalhos, se calhar há segunda e terceira ronda”, comentou o líder da RAEM. Os trabalhos vão ainda passar pelo escrutínio da auditoria. “O Governo exige dos trabalhadores da Administração Pública integridade no exercício das suas funções e não tolerará qualquer corrupção”, disse, declarando uma “missão de combate à corrupção e de promoção da integridade”. Para isso, vai haver um alargamento daquilo que está sujeito a auditoria e mais fiscalização na implementação de políticas e uso de capitais públicos. Salomé Fernandes com P.A.

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PARA FAZER Administração e Justiça

• SETE PROPOSTAS de lei nas áreas da justiça, forças de segurança, segurança contra incêndios, medicina tradicional chinesa e formação de magistrados • Plano de REFORMA da Administração Pública no segundo trimestre • LANÇAMENTO de plataforma de informações sobre produção legislativa • INTEGRAÇÃO do Fundo de Indústrias Culturais no Instituto Cultural até final do ano

Apoios sociais • Início da CONSTRUÇÃO de um complexo de lazer em Hac-Sá este ano • NOVO planeamento educativo do ensino não superior até 2021, com consulta pública este ano • ESTABELECIMENTO de dois centros diurnos para idosos este ano • ELABORAÇÃO de plano piloto para subsídio a prestadores de cuidados de saúde • CRIAÇÃO de plataforma informativa sobre lares na Grande Baía • REALIZAÇÃO de um relatório sobre regime de previdência central não obrigatório

Transportes • PREPARAÇÃO para a entrada em funcionamento do heliporto do terminal marítimo da Taipa até 2021 • RESOLUÇÃO do contrato públicos dos autocarros até final do ano • ENTRADA em funcionamento de 200 táxis especiais até final do ano • DESENVOLVIMENTO da linha de Seac Pai Van do metro ligeiro até 2024 • DESENVOLVIMENTO da linha Taipa-Macau do metro ligeiro até 2023


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PARA FAZER Obras públicas

• CONCLUSÃO da obra de “box-culvert” da Estação Elevatória de Águas Pluviais do Norte do Porto Interior no 4º trimestre de 2021 e construção de válvulas de maré nas áreas costeiras da Taipa até final do ano • CONCLUSÃO da primeira fase de reordenamento dos bairros do Iao Hon e Areia Preta este ano • CONCLUSÃO do anteprojecto do edifício de apoio ao centro de formação e estágio de atletas e envio à DSSOPT até final do ano • CONCLUSÃO das obras e inauguração do novo Museu do Grande Prémio no segundo trimestre deste ano • ESTUDO E AVALIAÇÃO do ambiente ecológico das áreas costeiras até 2022 • CONSTRUÇÃO das estruturas principais da quarta ponte Macau-Taipa até 2024 • PLANEAMENTO da zona C dos Novos Aterros até 2021 • CONSTRUÇÃO das estruturas principais e arruamentos do novo hospital das ilhas até 2022 • DESENVOLVIMENTO da segunda fase das obras de ampliação da prisão até final do ano e também da terceira fase de obras

Economia e finanças

• INTEGRAÇÃO da Direcção dos Serviços de Turismo a partir do terceiro trimestre • REALIZAÇÃO de uma auditoria e e inspecções à tesouraria de Junkers a partir do terceiro trimestre • PREPARAÇÃO, até final do ano, da VI Reunião Ministerial do Fórum Macau • REVISÃO, até 2021, do Plano Geral de Desenvolvimento da Indústria de Turismo de Macau

Jogos com fronteiras TURISMO “DAQUI A 10 DIAS VAI HAVER MAIS CERTEZAS”

Nas suas primeiras Linhas de Acção Governativa, enquanto Chefe do Executivo, Ho Iat Seng afirma que não faz reformas “só por reformar”. O líder do Governo admite ainda abrir as fronteiras aos turistas do Interior da China até ao final do mês se a situação epidémica continuar estável

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ÃO estou aqui para fazer reformas só por reformar, tenho que saber o que é que nós temos de fazer a cada momento”, sublinhou Ho Iat Seng, por ocasião da conferência de imprensa que se seguiu à apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG). A resposta surgiu após o Chefe do Executivo ter sido abordado sobre a coerência dos mecanismos a longo prazo das LAG anunciadas ontem, com as do mandato anterior. "O Governo anterior não enfrentou esta epidemia de grande escala e por isso nós temos, de acordo com a evolução da situação (…), de adoptar as medidas mais realistas e práticas possíveis", referiu o líder do Governo. “O plano quinquenal é até este ano e por isso ainda faltam oito meses. Daí teremos de fazer uma revisão e o balanço dos resultados, para avançar com um novo plano quinquenal”, acrescentou. Depois de ter referido umas horas antes, durante a apresentação das LAG, que a situação provocada pela covid-19 é “mais grave crise de saúde pública vivida por Macau desde o seu retorno à pátria”, na conferência de imprensa, Ho Iat Seng admitiu que a abertura das fronteiras para os turistas do Interior da China pode ser uma realidade nas próximas duas semanas, se a evolução da epidemia assim o permitir.

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“Daqui a 10 dias vai haver mais certezas e vamos saber se vamos poder tomar essas medidas ou não. Porque após 22 dias consecutivos sem casos, podemos ter uma decisão nova. Espero que possamos tomar decisões novas o mais breve possível, para que tudo possa voltar à normalidade”, avançou o Chefe do Executivo. Afirmando que “vai dar o seu melhor para que tudo volte ao normal”, Ho Iat Seng reiterou que

Macau “está melhor que muitos países do mundo” e, inclusivamente, “já tem uma data para o reinício das aulas”. “Vamos abrir as escolas para ver se podemos retomar a vida normal”, concluiu. Durante a apresentação das LAG que antecedeu a conferência de imprensa, o Chefe do Executivo já tinha afirmado que “a situação epidémica está basicamente controlada, com resultados eficazes nas diferentes fases” e que, actualmente, as acções

de combate à covid-19 entraram na fase de “prevenir casos importados e evitar o ressurgimento interno”.

VISTOS ALARGADOS

Por ocasião da conferência de imprensa, o Chefe do Executivo disse ainda que Macau pretende pedir o alargamento da emissão de vistos individuais a partir de mais cidades do Interior da China. "O Governo da RAEM tem vindo a discutir com o Governo


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JOGO SEM BENESSES

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o Iat Seng afastou ontem a hipótese de reduzir o imposto sobre o jogo para ajudar os casinos, que estão a sofrer perdas recorde devido à pandemia. “Não há plano para a redução de impostos”, sublinhou o Chefe do Executivo em conferência de imprensa. Sobre o futuro das concessões de jogo que expiram em 2022, Ho Iat Seng mantém as regras do Governo anterior e descartou o cenário de prorrogação. “Qualquer pessoa pode candidatar-se ao concurso público. Não irá haver uma prorrogação automática”, afirmou Ho Iat Seng. Já sobre a revisão da lei do jogo, o Chefe do Executivo afirmou ainda que esta será submetida a consulta pública até ao final do ano.

central (...) e neste momento temos um feedback positivo. Se fizermos bem o nosso trabalho e não houver novos casos na comunidade, não tivermos de suspender o funcionamento dos casinos e dos restaurantes, podemos reforçar a confiança das pessoas e elas vão deslocar-se a Macau", apontou Ho Iat Seng. Ho Iat Seng revelou ainda que está a ser estudada a forma de entrada de turistas e que em cima da mesa está a obrigatoriedade de apresentação de declaração médica e de um código digital verde para verificar se a pessoa não teve contacto com pacientes confirmados ou suspeitos e se são ou não residentes de áreas de risco. Com o objectivo de recuperar o sector do turismo, além do alargamento da emissão de vistos, o Chefe do Executivo pretende ainda lançar planos turísticos destinados à população de Macau. “Quando a epidemia estiver, basicamente estabilizada e antes da retoma da emissão dos referidos vistos turísticos, lançaremos diversos planos turísticos destinados à população de Macau,

LEI SINDICAL AUSENTE

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lei sindical ficou de fora das LAG e, apesar de não ter sido alvo de qualquer referência por parte de Ho Iat Seng durante a apresentação das linhas do Governo para 2020, o Chefe do Executivo confirmou mais tarde, que está a ser elaborada uma proposta. “Não há qualquer conteúdo sobre a Lei Sindical nas LAG, mas temos de aperfeiçoar esta situação. A situação é clara e neste momento o Governo já está a proceder (…) à elaboração da proposta”, explicou Ho em conferência de imprensa. O líder do Governo não avançou, contudo, qualquer calendário para a proposta de lei.

designadamente o ‘turismo local’ e a ‘viagem a Hengqin e regiões vizinhas’, permitindo assim que a população de Macau tenha um conhecimento mais aprofundado do património cultural mundial de Macau e dos demais pontos turísticos locais, assim como de Hengqin”, pode ler-se no texto das LAG para 2020.

APOIO SUSPENSO

Ho Iat Seng anunciou ainda que este ano não vai haver Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo. A decisão surge depois das críticas do Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) em relação à falta de qualidade de muitos cursos e ao uso fraudulento do dinheiro. "Sei que muitas pessoas não utilizam as seis mil patacas e outras enganam o Governo (...) para lucrar com o programa de aprendizagem. Não quero dizer que vou parar de vez com o programa de aprendizagem contínua, mas temos de remodelar, no sentido de optimizar o programa, tendo em conta as recomendações do CCAC (...) uma vez que 1,78 mil milhões de patacas para os dois programas é muito dinheiro para a RAEM”, explicou Ho Iat Seng.

“O Governo anterior não enfrentou esta epidemia (…) e por isso temos (…) de adoptar as medidas mais realistas e práticas possíveis.“ HO IAT SENG CHEFE DO EXECUTIVO

Referindo-se a um “conceito novo”, o líder do Governo referiu-se ainda à forma como será enquadrada a classe média. "Em primeiro lugar temos de saber o que é a classe média porque isto é uma coisa nova e tem de ser debatida pela sociedade. Neste momento temos habitações sociais para as nossas classes mais desfavorecidas, temos habitações económicas e habitações privadas. Vamos acrescentar aqui uma classe média e vamos ter habitações para os idosos. Isto são medidas de diferentes níveis", apontou. Ho Iat Seng prometeu ainda acelerar a construção da habitação pública. Aqui, estão incluídas as 3011 fracções autónomas da zona A dos novos aterros mas também a construção da habitação social na Avenida de Venceslau de Morais, em Toi San, Mong-Há e no terreno Wai Long. Pedro Arede (com S.F.)

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O futuro aqui ao lado

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REACÇÕES HENGQIN E GRANDE BAÍA VISTAS COMO TÁBUA DE SALVAÇÃO A cooperação regional é um dos pontos fortes das Linhas de Acção Governativa para este ano. Leonel Alves destaca a necessidade de Macau ter outro tipo de relacionamento com Zhuhai, enquanto Chui Sai Peng considera que a covid-19 pode obrigar a sociedade a olhar para as oportunidades da cooperação regional. Coutinho e Sulu Sou deixam alertas

SEM CALENDÁRIO

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o Iat Seng não se comprometeu com uma data para avançar com a reforma política, o que desagradou a Sulu Sou. “Em todas as LAG não consegui encontrar conteúdos relacionados com a reforma política. [Ho Iat Seng] apenas mencionou que, nos últimos 20 anos, as instituições políticas da RAEM se desenvolveram de forma ordenada, mas eu discordo, porque o processo político avançou, mas muito devagar. Esperava que o Chefe do Executivo desse um calendário exacto. Vamos continuar a insistir com o Chefe do Executivo para fazer mais.” Também José Pereira Coutinho lamentou a falta de novidades nesta matéria. “Há questões que não foram ultrapassadas e que se prendem com a forma como vai ser desenvolvido o processo político de Macau. Temos um Chefe do Executivo eleito por 400 pessoas e uma Assembleia Legislativa que não é eleita por uma maioria democrática, então dificilmente serão resolvidas questões como o conflito de interesses e a máquina administrativa.”

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Governo quer diversificar a economia e a cooperação regional parece ser o meio para atingir esse fim. Aumentar a competitividade de Macau no contexto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e aproveitar as oportunidades que a Ilha de Hengqin representas, são alguns dos objectivos anunciados nas Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano. O advogado e ex-deputado Leonel Alves defende que, apesar da cooperação estar mais consolidada, o relacionamento com a China e a Ilha de Hengqin “exige muita criatividade e que o nosso quadro mental, porventura, ainda não atingiu”. Apesar de concordar com o que foi apresentado, Leonel Alves defende que é preciso mais tempo para ver algo concreto acontecer. “Não podemos ver até Dezembro deste ano coisas muito concretas e positivas, mas certamente que esta é a direcção correcta. Macau não pode viver constantemente dos novos aterros. Precisa de outro tipo de relacionamento com Zhuhai, através da Ilha de Hengqin, e de aproveitar os benefícios que podem surgir daí.”

No quadro legal, o ex-deputado defende a convergência entre a Constituição chinesa e a Lei Básica. "Não podemos pensar que só a Lei Básica é boa. A Constituição da República Popular da China também é boa. [É preciso analisar] como estes dois instrumentos constitucionais podem ter uma convergência para que surjam resultados concretos positivos para as populações.”

FORA DA CAIXA

Para Chui Sai Peng, a crise causada pelo novo tipo de coronavírus pode ser uma oportunidade para que o Governo e sociedade de Macau pensem além das receitas do jogo. “É muito difícil motivar as pessoas quando temos os casinos que pagam impostos. Com a crise do novo coronavírus, podemos parar e dizer ‘não é assim tão fácil’. Este é um

“A visão da cooperação é essencial”, tendo em conta que os recursos de terrenos e de recursos humanos “são muito limitados.” CHUI SAI PENG DEPUTADO

longo processo que exige tempo, determinação e oportunidades.” O deputado defende que “a visão da cooperação é essencial”, tendo em conta que os recursos de terrenos e de recursos humanos “são muito limitados”. “Olhando para a Hengqin, podemos ter um plano para a implementação de parcerias e penso que é um bom passo”, acrescentou. Sulu Sou receia que uma maior cooperação implique a perda de características singulares de Macau. “Por um lado, temos mais cooperação com a China, mas por outro podemos perder a nossa cultura específica. No passado disse que Ho Iat Seng iria ser o Chefe do Executivo de Macau e não da Grande Baía, por isso no futuro vou recordar novamente o Governo quanto a isso”, concluiu. Por sua vez, José Pereira Coutinho alertou para o facto da maior cooperação com a Grande Baía e a Ilha de Hengqin implicar que sejam “ultrapassados obstáculos ao nível da legislação, do sistema e da competitividade dos nossos recursos”. Andreia Sofia Silva e Salomé Fernandes info@hojemacau.com.mo

VONTADE DE COORDENAR

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osé Pereira Coutinho destacou o facto de Ho Iat Seng ter mostrado “vontade de coordenar os serviços e os secretários”. “Ele vai ser mais exigente e pragmático e acho que no futuro os secretários e directores de serviços vão ter maior pressão saudável para resolver problemas que advêm dos últimos 20 anos”, frisou Coutinho. No entanto, o deputado continua à espera de respostas para os problemas de longa data na Função Pública. Também Sulu Sou destacou o facto de Ho Iat Seng ter dedicado parte da apresentação das LAG aos problemas que permanecem sem solução. “O Governo quer estabelecer instituições que tenham um bom funcionamento ao nível da responsabilização. O Chefe do Executivo percebeu o que aconteceu nos últimos 20 anos. Temos uma lei sobre a responsabilização [na Administração] desde 2011, mas que não é funcional.”


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DECLARAÇÃO DE SAÚDE DEPUTADO QUER RECONHECIMENTO MÚTUO COM INTERIOR

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deputado Si Ka Lon pede cooperação entre os Governos de Macau e Guangdong para agilizar as declarações de saúde que permitam o regresso mais facilitado de visitantes do Interior, de acordo com o Jornal do Cidadão. O legislador sugeriu que as autoridades locais actualizem a declaração de saúde individual, que os residentes já fazem para entrar em locais públicos e casinos, em conjunto com as autoridades da província de Guangdong, para compatibilizar os dois sistemas. O objectivo é facilitar a vida aos residentes locais que moram e trabalham no Interior e aos trabalhadores não residentes de Guangdong que trabalhem em Macau. Também ao nível dos testes de ácido nucleico, o deputado sugere que Macau melhore a triagem de visitantes, através da cooperação entre empresas tecnológicas de Guangdong e hospitais privados e centros de saúde locais. Finalmente, e tendo em conta a expectativa de controlo da pandemia em Macau e na região vizinha do Interior, Si Ka Lon entende que os dois governos deveriam discutir a possibilidade de relaxar a medida de quarentena obrigatória de 14 dias para os residentes que circulem entre os dois territórios.

UM Anunciado recomeço gradual das aulas

A Universidade de Macau (UM) anunciou ontem o recomeço gradual das aulas, interrompidas desde final de Janeiro devido ao surto da covid-19. “Em resposta ao actual desenvolvimento da epidemia”, a UM “retomará parcialmente as aulas a partir de hoje [ontem]”, informou o estabelecimento de ensino superior em comunicado. Os alunos que se podem formar este ano são os primeiros a regressar à sala de aula. Já as defesas orais de doutoramentos e mestrados recomeçam a 4 de Maio, enquanto os restantes alunos vão continuar a ter aulas ‘online’ até ao final do semestre. Este domingo, as autoridades já tinham anunciado o recomeço das aulas do ensino secundário em Maio. Primeiro, o ensino secundário complementar, a 4 de Maio. Depois, o ensino secundário geral, a 11 de Maio. Uma decisão para a qual pesou não se registarem novos casos da covid-19 desde 9 de Abril.

CRECHES GOVERNO VAI DISTRIBUIR MÁSCARAS INFANTIS NAS ADMISSÕES

Extra pequena

Com o regresso às aulas ao virar da esquina, a DSEJ anunciou que vai distribuir máscaras infantis para crianças do registo central com vista ao início das entrevistas de admissão para as creches, que arrancam em Maio. Ontem, foram também anunciadas mais duas baixas hospitalares

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E PO IS da inscrição é só levantar. A simplicidade foi a toada da apresentação do plano de máscaras para crianças do registo central, apresentado ontem por Wong Ka Ki, representante da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), durante a conferência de imprensa diária dedicada ao acompanhamento da pandemia do novo tipo de coronavírus. “Cada criança pode ter seis máscaras”, especificou o responsável ao enquadrar a medida que pretende tornar mais seguras as entrevistas para admissão em creches, que têm data marcada para 2 de Maio. O prazo de inscrição para ter direito às máscaras infantis é curto. Começa hoje às 10h e termina amanhã, quarta-feira, às 23h59. Os interessados têm de visitar a página de internet da DSEJ e inserir

o bilhete de identidade da criança, o código de verificação do registo central, número de telemóvel e escolher uma data, hora e local para o levantamento das máscaras. No final do processo, será enviada uma SMS, no prazo de 24 horas, para o número de telemóvel indicado, que servirá para levantar as máscaras. Munidos com o BIR das crianças e código de levantamento,

O prazo de inscrição para ter direito às máscaras infantis é curto. Começa hoje às 10h e termina amanhã, quarta-feira, às 23h59. Os interessados têm de visitar a página de internet da DSEJ

os encarregados de educação têm cinco locais para levantar as máscaras, entre os dias 25 e 29 de Abril. A saber, os locais são o escritório da deputada Wong Kit Cheng, a Creche da Associação das Mulheres de Macau, a Escola da Associação Geral das Mulheres de Macau, o Centro de Apoio Familiar da Associação das Mulheres de Macau e o Centro de Apoio à Família “Alegria em Abundância”, da mesma associação.

VENHAM MAIS DUAS

Ontem assinalaram-se 12 dias consecutivos sem novos diagnósticos de infecção do novo tipo de coronavírus em Macau. Lo Iek Long, médico-adjunto da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ), deu conta ontem de duas altas hospitalares referentes a domingo. Os

pacientes foram ontem enviados para o Centro Clínico de Saúde Pública de Coloane para o período de isolamento da praxe de 14 dias. De momento, permanecem internados 23 doentes, todos com sintomas ligeiros e sem dificuldades respiratórias, enquanto que todos os indivíduos considerados de contacto próximo concluíram o período de isolamento. Um dos doentes com alta é uma jovem residente de 19 anos, que estuda no Reino Unido. No passado dia 15 de Março, chegou do Reino Unido a Hong Kong via Singapura e entrou em Macau no dia seguinte num veículo fretado. A jovem teria pela frente um período obrigatório de observação domiciliária, mas como deu positivo no teste de ácido nucleico foi internada na enfermaria de isolamento no dia 18 de Março. Após 34 dias de internamento e dois testes de ácido nucleico negativos, a estudante foi transferida para Coloane. O outro paciente que teve alta hospitalar é um jovem residente de 21 anos, que estuda em Londres. A 22 de Março, o estudante partiu de Londres com destino a Hong Kong. No dia seguinte, chegou a Macau num autocarro dourado e à chegada ao posto fronteiriço de Macau da Ponte HKZM queixou-se de febre e dores de cabeça. Após o teste positivo, o jovem esteve internado durante 29 dias, até ter alta. Ontem foi encaminhado para o Centro Clínico de Saúde Pública de Coloane. João Luz

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Acidente Encontrado navio que colidiu com Ponte Nobre de Carvalho

Um navio de carga que se preparava para entrar no canal do Porto Interior foi interceptado pelo Centro de Gestão do Tráfego Marítimo por suspeita de ter colidido com a Ponte Governador Nobre de Carvalho, de acordo com o Jornal Ou Mun. O acidente terá acontecido na madrugada do dia 9 de Março, quando o navio de carga se aproximava da ponte e, apesar dos alertas do sistema de anti-colisão por voz e do sistema de localização a embarcação acabou por colidir com a barreira de protecção da ponte. Depois do embate, o navio pôs-se em fuga. Às 8h do passado domingo, a embarcação foi avistada pelas autoridades quando se preparava para entrar nas águas do Porto Interior. De imediato, foi mandada parar num ancoradouro e autuada pelas autoridades.

SMG Aguaceiros e trovoadas a partir de amanhã

A partir de amanhã, uma fraca frente fria irá influenciar a região, levando a períodos de céu muito nublado, acompanhado de aguaceiros ocasionais e trovoadas, de acordo com os Serviços de Meteorológicos e Geofísicos. A juntar-se à precipitação, a partir de quinta-feira, as previsões apontam para a descida gradual da temperatura até ao fim-de-semana, com a temperatura mínima a descer até aos 16ºC.

Crime Homem detido por suspeita de assassínio da mulher

Uma chamada feita na manhã de ontem para o Corpo de Bombeiros (CB) levou à descoberta do cadáver de uma mulher de 66 anos, alegadamente assassinada pelo marido. O telefonema para o CB foi feito pelo próprio suspeito, que acabou detido pelas autoridades policiais que acompanharam os bombeiros. De acordo com o jornal Exmoo, a polícia classificou a morte como homicídio. Quando as autoridades chegaram ao apartamento, localizado no edifício Kwong Wa, na esquina da Avenida de Venceslau de Morais com a Avenida do Nordeste, a vítima já estava morta. A mulher foi encontrada deitada no chão da cozinha, com uma laceração na cabeça, presumivelmente provocada por uma faca. A Polícia Judiciária vai divulgar mais detalhes durante o dia de hoje.

AMBIENTE 2019 FOI O ANO DE MAIOR CALOR DESDE QUE EXISTEM REGISTOS

Quanto mais quente pior

O ano passado registou a temperatura média mais elevada, 23,6ºC, desde que Macau começou a recolher estes dados. Comparada com 2018, a temperatura média de 2019 subiu 0,8ºC. A insalubridade do ar também afectou no ano passado o território em mais dias do que em 2018, com mais 41 dias irrespiráveis

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ACAU está cada vez mais quente. O ano passado registou a mais elevada temperatura média, 23,6ºC, desde que se iniciou a anotação destes dados, em 1952, o que representou uma subida de 0,8ºC face a 2018. A conclusão abre o relatório das Estatísticas do Ambiente, divulgado ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Os meses de Julho e Agosto foram os mais quentes, com temperatura máxima de 35,7ºC, um pico que foi ligeiramente inferior (0,1ºC) ao registado no ano passado. No outro lado do espectro, Janeiro teve a temperatura mínima mais baixa, com 8,4ºC, ainda assim 3,8ºC mais quente do que em 2018. Outro recorde desde o início dos registos verificou-se na quantidade de dias frios, que no ano passado foram apenas 12. As Estatísticas do Ambiente consideram dias frios aqueles em que se registem temperaturas mínimas diárias inferior ou igual a 12ºC.

A chuva e sol, dois parâmetros aparentemente antagónicos, também aumentaram no ano passado, em comparação com 2018. “Quanto à insolação, observou-se um total de 1.791,6 horas, mais 47,2 horas, em termos anuais”, uma subida de quase dois dias inteiros de sol, com Novembro a bater o recorde anual. Quanto à precipitação, 2019 teve mais 14 dias de chuva em

Mais de quatro dezenas de dias com ar insalubre, quase um mês e meio, em 2019 foi um dos destaques negativos, com os piores resultados a verificarem-se nas estações de monitorização da estrada de Ká-Hó e Taipa

relação ao ano anterior. A precipitação total atingiu 2.248mm, um aumento de 452,4mm em relação a 2018, ou seja, choveu 25 por cento mais de um ano para o outro.

O AR QUE RESPIRAMOS

As Estatísticas do Ambiente destacam ainda a ocorrência de cinco tempestades tropicais em 2019 com destaque para a que obrigou as autoridades a içar do sinal nº8: o ciclone tropical Wipha, que passou pelo território no dia 31 de Julho. A rajada máxima da tempestade atingiu os 100,1 quilómetros por hora e a velocidade média do vento, durante 10 minutos, alcançou 67,3 quilómetros por hora. Mais de quatro dezenas de dias com ar insalubre, quase um mês e meio, em 2019 é outro dos números que salta à vista nas Estatísticas do Ambiente, As estações de monitorização com os piores resultados verificaram-se nas estações da estrada de Ká-Hó e na estação ambiental da Taipa, ambas 41 dias insalubres,

respectivamente mais 29 e 12 dias do que em 2018. Por outro lado, “quanto aos dias com ar bom, o número mais elevado de dias verificou-se na estação de alta densidade habitacional da Taipa, alcançando 249 dias”, lê-se no documento. Importa referir que o ozono foi o principal poluente atmosférico em Macau durante 2019. O ano passado foi também marcado pelo maior consumo de água, com um total de 92.815.000 m3, mais 2,1 por cento em termos anuais. Os organismos públicos foram os responsáveis pelo maior aumento do consumo de água (2,8 por cento), seguido pelo consumo doméstico (2,3 por cento) e consumo do comércio e indústria (1,8 por cento) Outro dado preocupante em termos de ambiente e saúde pública é o aumento da densidade populacional, que passou das 20.000 pessoas por km2 em 2018, para 20.400 por km2 no ano passado. João Luz

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10 china

21.4.2020 terça-feira

WUHAN LABORATÓRIO NEGA RESPONSABILIDADE PELO SURTO

O BANCO CENTRAL BAIXA DA TAXA DE REFERÊNCIA PARA EMPRÉSTIMOS A UM ANO

Uma bóia de salvação

O

banco central chinês anunciou ontem um corte de 20 pontos base na taxa de juro directora, para estimular a economia, que registou no primeiro trimestre do ano a maior contração desde 1970. O Banco Popular da China reduziu a taxa de referência para empréstimos a um ano para 3,85 por cento, o mínimo desde que há registo, a partir de 4,05 por cento, em Fevereiro e Março, e 4,15 por cento, nos três meses anteriores. A taxa é calculada a partir de contribuições para os preços de vários bancos, incluindo pequenos credores que tendem a ter maiores custos de financiamento e maior exposição a empréstimos malparados. A redução da taxa de juro visa "reflectir melhor as mudanças no mercado", diminuindo os custos de empréstimos para um

nível inferior e "apoiar, assim, a economia real", ou ajudar empresas afectadas pela queda na actividade económica e procura interna, segundo a agência noticiosa oficial Xinhua. Restrições sob a movimentação de centenas de milhões de pessoas ou o encerramento forçado de estabelecimentos e fábricas, como medida de prevenção contra o surto do novo coronavírus, ditaram a maior contracção na actividade económica do país em várias décadas. Em comunicado, a consultora Capital Economics assegurou que esta redução era já esperada,

após o banco central chinês ter reduzido, na semana passada, em 20 pontos base, de 3,15 por cento para 2,95 por cento, as taxas de serviços de empréstimos de médio prazo (MLF). "O banco central tem vindo a relaxar as condições monetárias através de uma ampla gama de instrumentos. É um sinal de que as autoridades levaram a sério a flexibilização monetária", disse o economista Martin Rasmussen. Segundo Rasmussen, "o emprego permanece fraco e a procura externa está a ser suprimida por medidas de quarentena" além-fronteiras, pelo que "mais medi-

A redução da taxa de juro visa “reflectir melhor as mudanças no mercado”, diminuindo os custos de empréstimos para um nível inferior e “apoiar, assim, a economia real”

COVID-19 PEQUIM CRITICA PEDIDO DE CAMBERRA

A

China criticou ontem o pedido da Austrália para a realização de uma investigação independente sobre o combate global contra o novo coronavírus, especialmente por parte de Pequim, afirmando que Camberra está a ignorar “os sacrifícios do povo chinês”. O pedido australiano está a ignorar “os enormes esforços e sacrifícios do povo chinês” para travar a propagação do novo coronavírus, afirmou o porta-voz do Mi-

nistério dos Negócios Estrangeiros chinês, Geng Shuang, em declarações à comunicação social. O mesmo porta-voz rejeitou qualquer acção que “coloque em causa a transparência da China na prevenção e no controlo da situação epide-

miológica" relacionada com a doença covid-19. No domingo, a ministra dos Negócios Estrangeiros australiana, Marise Payne, avançou, numa entrevista ao canal público australiano ABC, que Camberra ia pedir uma investigação indepen-

dente sobre a gestão global da actual crise sanitária, em particular sobre a forma como a China geriu a epidemia em Wuhan. "Precisamos de conhecer os detalhes que apenas um relatório independente nos permitirá compreender sobre qual a origem do vírus, como lidar com ele (e) sobre a transparência com que as informações foram partilhadas", declarou a ministra à emissora pública de televisão australiana, citada no domingo pelas agências internacionais.

das são esperadas do banco central para fortalecer a actividade" e garantir que o crédito continua a fluir, apesar das interrupções causadas pelo vírus.

LONGA RECUPERAÇÃO

A China sofreu a pior contracção económica desde 1970, no primeiro trimestre deste ano, após ter paralisado durante quase dois meses, devido às medidas de prevenção para travar a epidemia da covid-19. A economia chinesa, a segunda maior do mundo, contraiu 6,8 por cento, em termos homólogos, e a queda acentuada no consumo e actividade fabril sugerem que a recuperação será mais longa e difícil do que se previa. O objectivo de Pequim é evitar a recessão, de forma a que a economia chinesa cresça no segundo trimestre, em termos homólogos.

Instituto de Virologia de Wuhan desmentiu domingo as suspeitas dos Estados Unidos que apontam este laboratório como fonte do novo coronavírus e de ser responsável pela pandemia de covid-19 que já fez mais de 160 mil mortos. Depois de o Presidente dos EUA, Donald Trump, ter avisado no sábado a China para as possíveis consequências se for provada a responsabilidade do país na disseminação do SARS-CoV-2, o director do laboratório, Yuan Zhiming, referiu em entrevista ao canal de televisão CGTN que as acusações foram feitas “sem provas” e “para enganar as pessoas”. “É impossível que este vírus venha daqui”, afirmou Zhiming, citado pela agência AFP. De acordo com a maioria dos cientistas, o novo coronavírus foi provavelmente transmitido ao homem por um animal em Dezembro, associando-se a esta hipótese a existência de um mercado em Wuhan – a poucos quilómetros do Instituto de Virologia - que alegadamente vendeu animais selvagens vivos. Os EUA são o país mais atingido pela pandemia de covid-19, registando mais de 38 mil mortos e pelo menos 732 mil casos de infecção confirmados, segundo os números apurados pela Universidade Johns Hopkins.

PANDEMIA MERKEL PEDE TRANSPARÊNCIA SOBRE “A GÉNESE” DO CORONAVÍRUS

A

chanceler alemã, Angela Merkel, apelou ontem ao Governo chinês para ser transparente relativamente “à génese” do novo coronavírus, depois de França, Reino Unido e Estados Unidos terem manifestado suspeitas quanto à informação disponibilizada pela China. “Quanto mais a China prestar contas de maneira transparente da génese do vírus, melhor será para toda a gente no mundo”, para “retirar lições”, disse a chefe do Governo da Alemanha, numa conferência de imprensa. Em plena pandemia do novo vírus, Estados Unidos, Reino Unido e França manifestaram recentemente dúvidas quanto às informações divulgadas pela China, onde surgiu

o primeiro caso de infecção, em Dezembro, em Wuhan. O Presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou, numa entrevista ao Financial Times publicada na quinta-feira, que ninguém deve ser “ingénuo” e que “há manifestamente coisas que ocorreram que não se sabem” e recusando comparar a gestão da crise em países onde a informação circula livremente com outros onde isso não acontece. No mesmo dia, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab, afirmou que a China deve responder a “diversas questões difíceis” sobre a forma como começou a pandemia, frisando que o mundo precisa de saber o que aconteceu na China nesses primeiros dias.


china 11

terça-feira 21.4.2020

RECEITA PÚBLICA QUEDA DE 14,3% NO PRIMEIRO TRIMESTRE

A

S receitas do Governo chinês caíram 14,3%, nos primeiros três meses do ano, em termos homólogos, devido aos efeitos da epidemia do novo coronavírus e à redução da carga fiscal, como medida de estímulo económico. Segundo dados ontem divulgados pelo ministério das Finanças da China, em termos nominais, as receitas fixaram-se em 4,6 biliões de yuan. Em Janeiro, a queda foi de 3,9 por cento, em Fevereiro de 21,4 por cento e, em Março, de 26,1 por cento. Os encargos fiscais também diminuíram 5,7 por cento, no primeiro trimestre de 2020, para 5,53 biliões de yuan. A imprensa oficial salientou, no entanto, que os gastos com saúde aumentaram 4,8 por cento, para 497.600 milhões de yuan, entre Janeiro e Março. O ministério das Finanças da China atribuiu a queda nas receitas à desaceleração da actividade económica, que se deveu às medidas de prevenção para conter a propagação do novo coronavírus, que se prolongaram durante quase dois meses. O Governo reduziu ainda a carga fiscal, já depois de, em 2019, ter anunciado cortes adicionais nos impostos no valor de quase 300.000 milhões de dólares com o objectivo de sustentar o crescimento económico.

O

vice-ministro de Segurança Pública da China, encarregue da região semi-autónoma de Hong Kong, palco de protestos pró-democracia, foi colocado sob investigação pelo órgão máximo de inspecção e disciplina do Partido Comunista Chinês. Sun Lijun, de 51 anos, é suspeito de "graves violações da disciplina e da lei", eufemismos normalmente usados para casos de corrupção, mas também de violar regras internas do Partido. Hong Kong foi, no ano passado, palco de manifestações motivadas por uma proposta de lei que permitiria extraditar criminosos para países sem acordos prévios, como é o caso

Sun Lijun, de 51 anos, é suspeito de “graves violações da disciplina e da lei”, eufemismos normalmente usados para casos de corrupção, mas também de violar regras internas do Partido

A queda de um tigre Vice-ministro chinês encarregue de Hong Kong investigado por corrupção

da China continental. A proposta de lei foi, entretanto, retirada, mas o protesto transformou-se num movimento que exige reformas democráticas e se opõe à crescente interferência de Pequim no território. Os protestos assumiram contornos violentos, com actos de vandalismo e confrontos com as forças de segurança. O comunicado de imprensa, publicado no domingo à noite pela Comissão

de Inspeção e Disciplina, não avançou com mais detalhes.

MILHÕES AFASTADOS

Sun estava, desde Dezembro de 2017, encarregue de supervisionar os assuntos do ministério relacionados com Hong Kong, Macau e Taiwan. A campanha anticorrupção, lançada há cinco anos pelo Presidente chinês, Xi Jinping, puniu já mais de um milhão e meio de membros do Partido

Comunista e investigou centenas de altos quadros do regime, designados como tigres, em contraponto com funcionários médios e baixos, caracterizados como moscas. Críticos apontam que a campanha anticorrupção de Xi serviu para afastar rivais políticos, promovidos por outros grupos internos do PCC. Sun Lijun foi visto pela última vez em público em Março passado, em Wuhan, cidade com 11 milhões de habitantes onde começou a epidemia do novo coronavírus. Sun também visitou Hubei, província da qual Wuhan é capital, em Fevereiro passado, para incentivar o trabalho da polícia local, segundo a agência noticiosa oficial Xinhua.A investigação sobre Sun Lijun ocorre três meses depois de Meng Hongwei, ex-presidente da Interpol e também ex-vice-ministro de Segurança Pública da China, ter sido condenado a 13 anos de prisão por corrupção.

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12 coronavírus

(À HORA DO FECHO DA EDIÇÃO)

TOP 20 DOS PAÍSES

54306 Em estado crítico

2425437

636378

Infectados (total cumulativo)

COM MAIS CASOS 764265

Espanha

200210

Itália

178972

França

152894

Alemanha

145743

Reino Unido

120067

Turquia

86306

Irão

83505

China

82747

Rússia

47121

Bélgica

39983

Brasil

39144

Canadá

35056

Holanda

33405

Suiça

27944

Portugal

20863

Índia

17615

Perú

15621

Irlanda

15251

Áustria

14795

Suécia

14777

Curados

Co novel

1623001 Infectados

(total cumulativo)

E.U.A.

21.4.2020 terça-feira

(casos activos)

610 Curados

735 PORTUGAL

Mortos

PAÍSES LUSÓFONOS (total cumulativo)

Portugal

20863

Brasil

39144

Moçambique

39

Angola

24

Guiné-Bissau

50

Timor-Leste

22

Cabo Verde

67

São Tomé e Principe

4

PORTUGAL

países sem casos de nCov

Infectados (casos activos)

23 MACAU

PAÍSES ASIÁTICOS (total cumulativo)

China

82747

China | Macau

45

China | Hong Kong

1026

China | Taiwan

422

Coreia do Sul

10674

Japão

10797

Vietname

268

Laos

19

Cambodja

122

Tailândia

2792

Filipinas

6459

Myanmar

111

Malásia

5425

Indonésia

6760

Singapura

8014

Borneo

138

19518

países com casos de nCov

Infectados (casos activos)

22 Curados

HONG KONG

392 Infectados

Macau

(casos activos)

4

HONG KONG

630 Curados

Hong Kong

Mortos


coronavírus 13

terça-feira 21.4.2020

62902

ovid-19 l coronavírus

Casos suspeitos

161275 Mortos

0 1-9 10-99 100-499 500-999 FONTES:

+1000

• https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/ opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/emergencies/diseases/ novel-coronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/ index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/geographical-distribution-2019-ncov-cases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/pneumonia

Ocorrências nas áreas afectadas

Dados actualizados até à hora do fecho da edição

Covid-19 vs SARS

CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO

2.000.000 150.000 100.000 75.000 50.000 25.000 12.500 0

20

40

60

dias dias dias Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto

80

dias

100

dias

120

dias

REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Shandong Jiangsu Chongqing Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Guangxi

INFECTADOS 67801 1475 1276 1254 1018 990 935 760 631 576 538 480 414 337 318 296 294

MORTOS 2641 7 20 1 4 6 1 6 5 6 3 13 5 3 6 1 2

REGIÃO Shaanxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete

INFECTADOS 245 174 168 146 132 136 121 91 91 76 75 71 162 77 18 13 1

MORTOS 2 2 5 2 0 3 1 2 1 2 0 0 3 1 0 0 0


14

h

21.4.2020 terça-feira

Os pássaros fazem cantar as árvores

Compositores e Intérpretes através dos Tempos Michel Reis

Ludwig van Beethoven (1770-1827)

Optimismo musical puro

Sinfonia No 7 em Lá Maior, Op. 92

C

OMEMORA-SE este ano o 250o aniversário do nascimento de Ludwig van Beethoven, o génio musical alemão e um dos pilares da música ocidental, nascido em Bona, mas que viveu a maior parte da vida em Viena. Em 2016, o governo alemão declarou o compositor um “assunto de importância nacional”. A intenção foi realizar diversos tipos de preparações para comemorar os 250 anos do seu nascimento. O aniversário começou oficialmente no dia 16 de Dezembro de 2019, data que recorda a sua chegada ao mundo em 1770. Desde essa data e até ao dia 17 de Dezembro de 2020, Bona (cidade natal do músico) e o resto da Alemanha, organizam vários projectos comemorativos: concertos, ex-

posições, projectos cinematográficos, conferências e eventos, que culminarão com um concerto no edifício do parlamento, em Bona. Muitos outros países comemoram também este aniversário. Em Macau, a Orquestra de Macau, ao longo da sua temporada 2019-2020, dedica concertos ao compositor, incluindo os cinco concertos para piano pelo pianista austríaco Rudolf Buchbinder, no encerramento da mesma, entre outras obras. Uma das obras mais emblemáticas de Beethoven, a Sinfonia No 7 em Lá Maior, Op. 92, em quatro andamentos, foi composta ao longo de sete meses entre 1811 e 1812, enquanto o compositor tentava melhorar a sua saúde na cidade termal boémia de Teplice. A obra foi dedicada ao Conde Moritz von Fries. A obra foi estreada e dirigida pelo próprio Beethoven no dia 8 de Dezembro de 1813 em Viena, num concerto de caridade para os soldados feridos na Batalha de Hanau,

Descrita por Wagner como “a apoteose da dança”, a Sinfonia começa com uma introdução grave e sombria, a mais longa das introduções de Beethoven e, até agora, da história da sinfonia, antes de passar a uma música cineticamente energizada, que caracteriza toda a obra

nas Guerras Napoleónicas. O programa incluiu também a obra patriótica de Beethoven Wellington's Victory, exaltando a vitória dos ingleses sobre a França de Napoleão. O concertino da orquestra foi Ignaz Schuppanzigh, amigo de Beethoven, e o agrupamento incluiu alguns dos melhores músicos da época: o violinista Louis Spohr, os compositores e pianistas Johann Nepomuk Hummel, Giacomo Meyerbeer e Ignaz Moscheles, Antonio Salieri como maestro assistente, o fagotista Anton Romberg e o virtuoso italiano de contrabaixo Domenico Dragonetti, assim como o guitarrista italiano virtuoso Mauro Giuliani, que tocou violoncelo. A obra foi muito bem recebida e, na estreia, Beethoven terá mesmo dito que esta era uma das suas melhores obras. O segundo andamento, Allegretto, foi o andamento mais popular e teve que ser repetido. A popularidade imediata do Allegretto resultou na sua execução frequente separado da sinfonia completa. Após a estreia, os amigos de Beethoven organizaram rapidamente a repetição do concerto, que ocorreria 3 vezes nas 10 semanas seguintes, pela qual Beethoven foi aliviado das suas dificuldades financeiras. Descrita por Wagner como "a apoteose da dança", a Sinfonia começa com uma introdução grave e sombria, a mais longa das introduções de Beethoven e, até agora, da história da sinfonia, antes de passar a uma música cineticamente energizada, que caracteriza toda a obra. A introdução prevê as jornadas harmónicas que surgem no resto da Sinfonia, assim como o corpo principal do andamento prediz as suas obsessões rítmicas, e a surpreendente e ousada coda. O Allegretto que se segue - o trabalho não tem nenhum andamento realmente lento - possui a beleza solene de uma marcha fúnebre, intensificada por contraponto. O Scherzo é incrivelmente rápido, destacando o aspecto da dança ainda mais, com uma secção Trio muito mais lenta. Beethoven reverte algumas das surpresas dinâmicas para as secções repetidas e faz brincadeiras adicionais com a orquestração, incluindo uma fuga. Também muito rápido, o finale - Allegro con brio capta a impetuosidade iniciada no primeiro andamento e transforma-a numa loucura ofegante, mas cheia de alegria e prazer da vida, terminando com uma coda que espelha a besta agressiva que fecha o primeiro andamento. SUGESTÃO DE AUDIÇÃO: • Ludwig van Beethoven: Symphony No. 7 in A Major, Op. 92 Berliner Philharmoniker, Herbert von Karajan - DG, 1996


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

terça-feira 21.4.2020

uma asa no além Paulo José Miranda

H

Á uma história que se conta na Estónia chamada «Dilema de Kreutzwald» e com a qual o escritor estónio Andrus Nool começa o seu romance «Encurralado»: «Um homem vai ao médico e queixa-se de que quando bebe os outros ficam muito violentos. O médico diz-lhe “então não beba e deixe os outros beberem”. Ao que o homem responde “já tentei, mas depois sou eu que fico violento e eles não”.» Este dilema, que é uma espécie de piada na Estónia, ao que parece foi criada

O dilema pelo escritor e médico Friedrich Reinhold Kreutzwald (1803-1882), ou pelo menos a ele é atribuído e daí deriva o seu nome. Depois desta citação inicial, o romance de Nool continua: «É precisamente assim que vamos encontrar August Jaansen em frente ao espelho da sua casa de banho, num dilema em que faça o que fizer nada irá mudar, porque no fundo ele não quer que mude. Que dilema é esse? Não o sabemos. Mas ele existe e dá origem ao romance.» É um início impressionante, que nos remete para duas realidades completamente

distintas: por um lado, o lugar comum e a história de uma comunidade; por outro o mistério e o mais recôndito do indivíduo. Tal como no romance, que se move continuamente entre os outros, o comum, a História, também nós assim nos movemos. Lê-se à página 21: «Mais do que entre a vontade de deixar a empresa e a necessidade do emprego, August sentia-se encurralado entre não saber quem era e o que a comunidade e o país e a família fizeram dele.» O romance estende-se ao longo de 155 páginas e mostra-nos a segunda-feira de August Jaansen, homem de 32 anos que trabalha numa empresa de logística internacional. O dia em questão é em Fevereiro, o que faz com que não haja grande distinção entre dia e noite (um dia tem de uma a duas horas de luz). Lê-se à página 16: «A falta de luz de Fevereiro agradava-lhe. Reconhecia mais nuances no escuro que a maioria de nós. Talvez por amar a indistinção, o indefinido, ou simplesmente por assim sentir-se mais próximo da inexistência de qualquer possibilidade de Deus.» A narrativa segue o seu dia de trabalho – de telefonemas e introdução de dados e confirmação de outros no computador – e alguns aspectos da sua história pessoal, até ao regresso a casa, às 16h, momento em que começa a beber vodka. É agora que o narrador nos traça um pequeno retrato de August. Lê-se às páginas 70-1: «Apesar de ser um homem novo, sentia a vida como acabada. Tinha uma magreza esquelética desde criança que se acentuara desde que, no fim da adolescência, atingira um metro e noventa e três de altura, quando passou a parecer-se mais com uma cegonha. Bebia muito. Dormia mal e acordava pior. O seu estado de desinteresse era tão grande quanto a parte submersa de um iceberg. Em casa bebia, via televisão e pornografia, dividia rigorosamente o tempo entre esquecer e estar distraído. De manhã, em frente ao espelho, voltava o dilema. Ficava ali parado a olhar para si ou para quem via naquela imagem. Por vezes pensava que gostava de ter um gato tão grande quanto um urso. Lavava a cara, os dentes, despia-se e entrava no chuveiro. [...] Ia de carro para o trabalho. Apesar da vida, gostava do escuro da manhã como de uma chávena grande de café.» Evidentemente, neste momento o narrador conduz-nos por uma anacronia, pois August não saiu nem por um instante da sua sala de estar entre o esquecer-se e o distrair-se. A seguir à passagem supracitada, encontramo-lo sentado no sofá a ver um programa da televisão estónia. Não percebemos bem do que se trata, embora seja possível que um leitor

O livro continua com outra anacronia, a última, que mostra August pela manhã em frente ao espelho da casa de banho olhando-se a si mesmo tentando resolver o dilema, sentindo-se encurralado entre a imagem que via e aquilo que sentia dentro de si, entre o que via e o que um dia imaginara estónio identifique o programa, mas é uma espécie de concurso de perguntas e respostas. August vai ao frigorífico buscar mais vodka, muda de canal. Durante página e meia lemos o contínuo zapping que vai fazendo, sem qualquer reflexão acerca do mesmo. Apenas os sons e as imagens do que está a ver nos é mostrado. Depois volta o anacronismo. August num almoço de família, com os pais e o irmão, mais novo do que ele, em que todos falam de trivialidades. Não há sorrisos. E o pai lamenta que o filho tenha desistido de estudar direito. Percebemos que August sente culpa por isso. Sente que ter desistido do curso, mais do que uma derrota, foi uma traição ao pai, que esperava vê-lo a colaborar na sua empresa de advocacia. O filho mais novo tornou-se engenheiro e trabalha bem longe de casa, no Ártico Oriental, num dos poços de petróleo da petrolífera estatal russa Rosneft. Visita os pais duas vezes por ano. A mãe é dona de casa e, pela narrativa, parece invisível. Página 103: «Ana [a mãe] tinha dado à luz dois filhos, cuidado deles e do marido e agora ia tendo cada vez menos utilidade.» August continua a beber vodka pondo likes em posts de uma qualquer rede social. Não sorri com nada. Ali fica até quase se arrastar para a cama. A narrativa acaba ali, mas o livro continua com outra anacronia, a última, que mostra August pela manhã em frente ao espelho da casa de banho olhando-se a si mesmo tentando resolver o dilema, sentindo-se encurralado entre a imagem que via e aquilo que sentia dentro de si, entre o que via e o que um dia imaginara. Ao longo do livro, nunca ficamos a saber qual o dilema de August Jaansen, embora através da narrativa claustrofóbica de Andrus Nool tenhamos uma suspeita. Como tudo na vida, enfim.


16 (f)utilidades TEMPO

MUITO

21.4.2020 terça-feira

NUBLADO

MIN

AVISOS CONTRA O RELAXAMENTO 37

1 5

3

39

7 4

5

6

7

9 5 4 2 9 6 8

3 1

3 7 8

5 1 2

S 1U6 D 8 3O 7 2K4 U 5

6 2 8 1 3 5 4 9 7

3 8 9 2 1 4 6 7 5

42

5 1 7 9 4 2 8 3 6

9 2 6 8 5 8 1 1 4 7 3 6

5 6 6 4 1 2 1 8 9 3

2 5 1 8 6 7 9 4 3

7 4 6 5 9 3 1 8 2

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3 7 1 8 7 6 9 9 5 2

6 6 8 3 9 2 8 7 1 9 4

8 7 2 4 5 1 3 6 9

1 3 4 6 7 9 2 5 8

9 6 5 3 2 8 7 1 4

7 5 - 9 8´%

9

6

5 4

8.67

BAHT

0.24

YUAN

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VIDA DE CÃO

IRONIAS DO DESTINO Um olhar sobre os primeiros relatórios das Linhas de Acção Governativa apresentados por Edmund Ho e Chui Sai On, os dois primeiros Chefes do Executivo da RAEM, permitiu-me concluir que Edmund Ho e Ho Iat Seng partilham da necessidade de enfrentar duros desafios, ainda que com dimensões diferentes, enquanto que Chui Sai On foi um líder de manutenção. O jogo estava liberalizado, a economia crescia por si. Cabia-lhe construir mais habitação pública e uma melhor rede de transportes e a sociedade ficaria plenamente satisfeita, mas isso não aconteceu. Quando tomou posse, Edmund Ho teve de lidar com o processo de liberalização do jogo, um dossier difícil, e resolver o problema do desemprego e da insegurança. Por ironia do destino, ainda que a um outro nível, Ho Iat Seng também enfrenta o perigo de aumento da taxa de desemprego devido à pandemia da covid-19. A economia quase parou, não há turistas, as receitas brutas dos casinos caem a pique. Nunca Macau esteve assim. Edmund Ho inaugurou uma nova era, e acredito que Ho Iat Seng também o fará. A crise gerada pela covid-19 assim o obriga. É necessário rapidez de pensamento, estrutura política e, acima de tudo, coragem para fazer diferente. Mesmo que seja necessário ir contra os interesses instituídos. Andreia Sofia Silva

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tos, com os dirigentes do partido conservador, CDU. As fontes da AFP referem que Merkel apelou ao fim das “das discussões que são como orgias” na Alemanha sobre o fim total do confinamento acrescentando que está “muito preocupada” pela falta de respeito pelas regras de distância social.

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FALADO EM INGLÊS LEGENDADO EM CHINÊS Um filme de: Stephen Gaghan Com: Robert Downey Jr., Antonio Banderas, Michael Sheen 15.30, 21.00

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Um filme de: Cathy Yan Com: Margot Robbie, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollet-Bell 18.30

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A chanceler alemã Angela Merkel manifestou-se ontem “muito preocupada” quanto ao eventual relaxamento das restrições contra a propagação da pandemia do novo coronavírus. De acordo com a agência France-Presse, a chanceler alemã exprimiu preocupações durante uma reunião, por meios remo-

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Um filme de: Jeff Wadlow Com: Michael Peña, Maggie Q, Lucy Hale, Austin Stowell 14.30, 17.00, 20.45 SALA 3

Um filme de: Regis Roinsard Com: Lambert Wilson, Olga Kurylenko, Riccardo Scamarcio 15.00, 20.15

Um filme de: Floria Sigismondi Com: Mackenzie Davis, Finn Wolfhard, Brooklynn Prince, Barbara Marten 18.45

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macau visto de hong kong DAVID CHAN

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semana passada um deputado da Assembleia Legislativa chamou a atenção para as falhas de segurança de um software amplamente usado no ensino online. Na sequência da sua intervenção, sugeriu que o Governo da RAEM e as empresas de telecomunicações deveriam cooperar para estabelecer um sistema de vídeoconferências adaptado a Macau. Devido ao aparecimento de novos casos de infecção de Covid-19, o prazo para a reabertura das escolas primárias e secundárias foi outra vez adiado. No momento em que escrevo este artigo a nova data ainda não tinha sido estabelecida. Guiadas pelo princípio “parar as aulas mas não parar o ensimo”, as escolas adoptaram diferentes métodos para continuarem a formação dos seus alunos, sendo que o mais usado foi o ensino online, através de vídeo conferências. A vídeo conferência resulta melhor do que outra opções online, porque permite uma comunicação bilateral e reproduz melhor o ambiente da sala de aulas. O professor explica a matéria e os estudantes podem vê-lo e escutá-lo, mas também podem interevir e colocar as suas dúvidas. Algumas aplicações também permitem que os professores entreguem aos alunos testes em tempo real, bem como que os alunos os possam entregar aos professores depois de preenchidos. Infelizmente, no software M, provavelmente o mais usado no ensino online, foram detectadas vulnerabilidades de segurança, o que levou muitas escolas a manifestarem a sua preocupação. Este software já foi utilizado noutros países e há relatos do aparecimento de uma pessoa não identificada durante as aulas, que começou a dizer coisas disparatadas e, inclusivamente, chegou a mencionar o endereço de casa do professor. Certos hackers invadem a sala de aulas online, exibindo tatuagens nazis, e também pirateiam dados dos utilizadores do M, como endereços de email e passwords, que depois vendem noutros websites. Na internet são designados por “bombas”. A empresa que desenvolveu o software de vídeo conferências M declarou publicamente que, embora exista um sistema de encriptação entre os utilizadores e o servidor, essa encriptação não impede que os utilizadores do serviço possam ter acesso às sessões dos outros utilizadores; esta situação ocorre porque não existe encriptação para cada uma das sessões. Esta vulnerabilidade criou falhas de segurança que levaram alguns governos a desactivar o software M. Todos os softwares de vídeo conferência são vulneráveis. O facto de ter de se recorrer a esta tecnologia para efectuar o ensino online

Falhas de segurança

implica abrir a porta à vulberabilidade. Não é um problema exclusivo deste software. Face a esta situação, deveremos manter o ensino online? Macau implementou este método de ensino desde o início da epidemia. Para este fim a tecnologia de vídeo conferência revelou-se a mais eficaz. Não havendo de momento nenhuma previsão sobre o fim deste epidemia, e portanto sobre a data da reabertura das escolas, na ausência de métodos alternativos, o ensino online tem de continuar, ou seja, teremos de continuar a ter de lidar com as falhas de segurança decorrentes deste método. Solucionar estas brechas de segurança não está nas mãos do cidadão comum. É

A melhor forma de lidar com estas brechas de segurança é usar softwares de vídeo conferência com a tecnologia mais segura. Mas claro que é mais fácil produzir esta afirmação do que levá-la à prática. Que método devemos seguir? Quais terão de ser os critérios?

um assunto que terá de ser resolvido por peritos. No entanto, os estudantes devem proteger cuidadosamente os seus logins e as passwords e não passar esta informação a outras pessoas. Os professores devem desenvolver um método para lidar com os hackers durante as aulas; por exemplo, se um deles acede a uma aula online, a aula deve terminar imediatamente. Desde que os estudantes tenham sido informados com antecedência desta possibilidade não haverá margem para confusões. A melhor forma de lidar com estas brechas de segurança é usar softwares de vídeo conferência com a tecnologia mais segura. Mas claro que é mais fácil produzir esta afirmação do que levá-la à prática. Que método devemos seguir? Quais terão de ser os critérios? O Comissariado de Privacidade de Hong Kong tem desde sempre recomendado aos utilizadores a adopção dos conceitos de “privacidade estrutural” e de “privacidade por defeito”. A Comissão de Protecção de Dados Pessoais de Singapura e o Comissariado de Privacidade editaram em conjunto o “Guia para a Estruturação da Protecção de Dados nas TIC”, exortando as instituições a incluirem a protecção de dados na construção da informação e nos sistemas tecnológicos de comunicação desde o início. Para atingir o objectivo de prote-

ger a privacidade dos utilizadores, estes conselhos ajudam os consumidores a identificar as melhores formas de o fazer. As brechas de seguranças criadas pelos “bombas” de que falámos é considerada crime e está regulamentada pela Lei de Combate à Criminalidade Informática de Macau. Embora exista legislação específica nesta matéria, a internet é um mundo sem fronteiras. Se os infractores estiverem sediados fora de Macau, será muito difícil trazê-los para enfrentarem a justiça. Mas, mesmo antes que isso pudesse acontecer, seria necessário levar a cabo uma investigação e obter provas incriminatórias. Por isso, em vez de enveredar por intermináveis processos legais, o melhor é adoptar mais e melhores medidas preventivas, que são mais rápidas, mais eficazes e mais práticas. Para adoptar um software de vídeo conferência seguro é preciso estabelecer padrões de segurança. Os conselhos e directrizes de Hong Kong e de Singapura são boas referências. Com base nestes conselhos, podemos construir um sistema e um software de vídeo conferência seguros. O nosso próprio sistema pode ser usado pelo Governo de Macau e pelas nossas escolas. Pode promover serviços governamentais online, Ensino online e fazer com que os nossos cidadãos passem a funcionar mais desta forma.

Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/Instituto Politécnico de Macau • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau • legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


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21.4.2020 terça-feira

CHEN QINGQING E WANG WENWEN In Global Times

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Programa Fulbright - um programa internacional de intercâmbio educacional do Departamento de Estado dos EUA na Região Administrativa Especial de Hong Kong da China (HKSAR) - tornou-se uma plataforma fundamental para treinar estudantes como parte das forças anti-China enquanto intervém na educação local e manipula importantes cursos do ensino superior, num reflexo das “mãos negras” dos EUA por trás do caos na cidade. Por isso, a aprovação da lei de segurança nacional é altamente necessária, disseram analistas. Já em 2012, quando Hong Kong conduziu 334 reformas curriculares, o Consulado dos EUA enviou 25 académicos da Fulbright em nome da assistência à reforma na cidade, aconselhando e ajudando a elaborar um currículo de estudos liberais e treino relevante, que se tornou numa das principais maneiras de manipular cursos fundamentais do ensino superior em Hong Kong, informou o portal de notícias local wenweipo.com na passada quinta-feira. Embora o Programa Fulbright tenha sido originalmente projectado para ser uma plataforma de intercâmbio académico entre o continente chinês, os EUA e as RAEs de Hong Kong e Macau, desde que os EUA consideraram a China como o seu adversário número um, a plataforma de intercâmbio EUA-Hong Kong, que foi estabelecida e operar na região por muitos anos, transformou-se agora numa ferramenta anti-China, refere a notícia. Estudantes das escolas de Hong Kong foram os principais grupos em protestos contra a proposta de lei da extradição, desde Junho de 2019, que se transformaram em tumultos nas ruas e que duraram meses, arrastando o outrora próspero centro financeiro asiático para a estagnação a longo prazo. Os manifestantes, vestidos de preto, chegaram a transformar algumas universidades de Hong Kong em zonas de guerra em Novembro, forçando centenas de estudantes a fugir das universidades, como a Universidade Chinesa de Hong Kong e a Universidade da Cidade de Hong Kong, após confrontos entre activistas e polícias no campus. Wong Kam-leung, presidente da Federação dos Trabalhadores da Educação de Hong Kong, disse ao Global Times na passada sexta-feira que, desde o retorno de Hong Kong à China em 1997, a interferência

ANNA SALENKO

Intervenção dos EUA em Hong Kong mostram necessidade de lei de segurança nacional

estrangeira nos assuntos de Hong Kong tem sido visível e o ensino superior foi profundamente afectado. Wong observou que, durante o movimento Occupy Central em 2014, estudantes universitários realizaram protestos sob o incentivo de Benny Tai Yiu-ting, que agora ensina Direito na Universidade de Hong Kong. Tai foi acusado de receber fundos directamente do governo dos EUA e participou em fóruns e actividades organizadas pela National Endowment for Democracy e pelo National

“Hong Kong não pode ser um lugar que representa um perigo latente para a segurança nacional.” WONG KAM-LEUNG PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO DE HONG KONG

Democratic Institute. Tai também compilou e reviu livros didáticos de educação geral. “Os jovens de Hong Kong podem ser facilmente influenciados pelas forças locais, enquanto fundos e apoio estrangeiros estão por trás dessas mesmas forças”, disse Wong. O Hong Kong-American Center, liderado pelo Consulado dos EUA em Hong Kong, implementou lavagens cerebrais aos estudantes, enquanto académicos participavam do planeamento dos estudos liberais de Hong Kong e desfrutavam de altos salários e acomodações gratuitas, referiu o wenweipo. com, observando que de 2006 a 2012, 25 bolseiros do programa Fulbright ajudaram a financiar o programa de estudos liberais. Todo o projecto de educação geral, planeado por Washington, recebeu uma doação de HK$96 milhões, e três bolseiros foram designados para cada universidade, de acordo com o relatório, indicando que esses bolseiros são responsáveis pelo ensino

geral de oito universidades de Hong Kong, e trabalham em estreita colaboração com académicos locais em vários campos, como a estruturação de currículos, eficácia de programas de planeamento geral e métodos de avaliação, influenciando a educação local com as ideias americanas. Embora as forças externas tenham utilizado a liberdade existente em Hong Kong para conceber muitos protestos antigovernamentais, para anarquizar Hong Kong e materializar a cidade como base para desestabilizar o governo central, mais pedidos para apoiar a lei de segurança nacional emergiram, pois a região administrativa especial precisa melhorar o sistema legal de salvaguarda da segurança nacional. “Hong Kong não pode ser um lugar que representa um perigo latente para a segurança nacional. A educação sobre segurança nacional é necessária e a promulgação do artigo 23 é de grande urgência”, disse Wong.


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Como a doença amplia as dimensões internas do homem! PALAVRA DO DIA

Charles Lamb

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JAPÃO MÉDICOS ALERTAM PARA SOBRECARGA DO SISTEMA DE SAÚDE

GLOBAL MEDIA ‘LAY-OFF’ ABRANGE 538 TRABALHADORES DO GRUPO

À beira do colapso

25 Abril Jorge Sampaio não vai à sessão solene

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Timor-Leste Unicef entrega equipamento médico

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‘lay-off’ da Global Media, grupo que detém títulos como Diário de Notícias (DN), Jornal de Notícias (JN) e a rádio TSF, entre outros, vai abranger 538 trabalhadores, disse ontem à Lusa fonte ligada ao processo. A administração da Global Media afirmou ontem, num comunicado interno a que Lusa teve acesso, que o ‘lay-off’ aplicado à empresa afetca todos, “da base até ao topo do grupo”, e “permite defender” a sua sustentabilidade e os “seus quase 700 postos de trabalho directos”. Excluindo o grupo TSF (Rádio Notícias), o ‘lay-off’ abrange 438 pessoas, sendo 354 com uma diminuição média de 26,1% do horário de trabalho e 84 com suspensão do contrato, de acordo com a fonte. Para o grupo da rádio, num universo total de 100 abrangidos, 96 trabalhadores ficam com uma redução média de 24,4% do horário laboral e quatro com suspensão do contrato, segundo a mesma fonte. Os restantes trabalhadores, do universo de 700, pertencem a outras empresas do grupo que não foram afectadas pelas medidas, de acordo com fonte ligada ao processo. No comunicado interno, enviado esta tarde, a administração refere que a pandemia da covid-19 está “a afectar de forma decisiva toda a cadeia de valor do mercado dos media, imediatamente visível na drástica redução das receitas, provocada por uma massiva redução do investimento publicitário e por uma violenta quebra das vendas de jornais e revistas, face ao confinamento generalizado da população”. “Neste contexto, o Global Media Group decidiu acionar os mecanismos legais do chamado ‘lay-off’, devidamente ajustado a cada empresa, marca e área de produção ou serviços, com diferentes níveis de redução de horários, mas afectando todos, mas mesmo todos – da base até ao topo do grupo”, salienta. O grupo Global Media detém também os jornais O Jogo e o Açoriano Oriental, e o Dinheiro Vivo, entre outras empresas.

S médicos japoneses pediram às autoridades que se esforcem para evitar sobrecarregar o sistema de saúde do país, onde o número de casos da covid-19 ultrapassou os 10.000 neste fim de semana, apesar da adopção do estado de emergência. Os especialistas estão preocupados por, nas últimas semanas, haver centenas de casos de covid-19 detectados diariamente no arquipélago. Embora o número de infecções no Japão continue muito abaixo dos níveis atingidos pelos países europeus mais afectados e pelos Estados Unidos, o país tem actualmente o terceiro maior número de casos de covid-19 na Ásia, depois da China e da Índia. O último relatório do Ministério da Saúde do Japão registou 171 mortes em 10.751 casos desde o início da crise, dos quais quase 400 foram detectados nas últimas 24 horas. O país está, desde a semana passada, em estado de emergência, que abrange todo o território até 6 de Maio, depois de inicialmente ter sido limitado a sete regiões. Neste cenário, os japoneses estão em teletrabalho e devem ficar em casa o máximo possível, com o objectivo de reduzir em 70 a 80 por cento o contacto entre pessoas. O número de passageiros nos comboios

e metropolitanos da capital, que geralmente estão superlotados, diminuiu acentuadamente, mas muitas lojas e restaurantes permanecem abertos. A lei que determina o estado de emergência não obriga ao cumprimento das regras recomendadas, mas “a mensagem pode ser transmitida de maneira muito eficaz, rigorosa e constante, mesmo na ausência de sanções”, defendeu ontem o infecciologista da Universidade de Kobe, Kentaro Iwata. “Precisamos de medidas muito mais eficazes para proteger os hospitais”, acrescentou, durante uma conferência de imprensa online. “O sistema [de saúde japonês] está à beira do colapso em muitas

“O Japão não construiu um sistema no qual os hospitais comuns consigam receber doentes urgentes com doenças infecciosas, mas os hospitais especializados também não conseguem atender mais doentes.” HARUO OZAKI PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA DE TÓQUIO

partes do Japão”, alertou Kentaro Iwata, que criticou repetidamente a gestão da crise de saúde feita pelo Japão.

SEM PLANO B

A estratégia japonesa de limitar os testes e diminuir os contactos entre pessoas funcionou bem enquanto o número de casos foi baixo, disse. Mas “era preciso preparar tudo para o caso de a situação piorar e o número de casos aumentar. Era preciso uma mudança imediata de estratégia”, o que não aconteceu, criticou Kentaro Iwata. “No entanto, quer pela tradição, quer pela sua história, o Japão não é muito forte em mudanças de estratégia”, notou, referindo que o país “não sabe desenvolver planos B, porque pensar num plano B é admitir que o plano A não funcionou”. O ministro da Saúde japonês admitiu que, em alguns casos, os hospitais não recebem ambulâncias que transportam pacientes com suspeita de estarem infectados com o coronavírus. “O Japão não construiu um sistema no qual os hospitais comuns consigam receber doentes urgentes com doenças infecciosas, mas os hospitais especializados também não conseguem atender mais doentes”, alertou na sexta-feira o presidente da Associação Médica de Tóquio, Haruo Ozaki.

O antigo Presidente da República Jorge Sampaio não vai estar presente na sessão solene que assinala o 46.º aniversário do 25 de Abril, na Assembleia da República, por razões de saúde, disse à Lusa o seu gabinete. Jorge Sampaio, de 80 anos, não se vai deslocar ao parlamento no próximo sábado “por razões de saúde, de idade e da pandemia” de covid-19 porque “integra um grupo de risco”, mas “verá a cerimónia pela televisão”, explicou a fonte. O antigo chefe de Estado “já recebeu o convite e também já respondeu” que não iria estar presente. Devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19, a Assembleia da República decidiu na quarta-feira realizar a sessão solene do 25 de Abril no parlamento com um terço dos deputados (77 dos 230 parlamentares) e menos convidados, com o gabinete de Ferro Rodrigues a estimar que estejam presentes cerca de 130 pessoas, contra as 700 do ano passado.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) entregou ontem ao Governo timorense um conjunto de equipamento médico, incluindo camas, para reforço das condições do sistema de saúde na resposta à pandemia de covid-19, informou a organização. O material médico, que vai em parte ser usado para reforço das condições dos locais de isolamento, foi ontem entregue pela representante da Unicef em Timor-Leste, Valérie Taton, à directora geral dos Serviços de Saúde, Odete Viegas. “Este equipamento e material médico faz parte dos esforços de preparação e resposta, garantindo que as crianças e as suas famílias recebem os cuidados especializados que merecem, caso sejam afectados pelo coronavírus”, disse Taton, na cerimónia de entrega. Timor-Leste registou até ao momento 22 casos confirmados de covid-19, entre eles um recuperado.


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