MOP$10
QUINTA-FEIRA 22 DE OUTUBRO DE 2020 • ANO XX • Nº 4636
DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
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ANOS
Sensibilidade e bom senso
“Estamos numa ordem jurídica diferente, com valores e sensibilidades próprias”. As palavras são do embaixador português em Pequim, José Augusto Duarte, que chama ainda a atenção para a necessidade de “saber onde estamos e se estamos
ou não a ferir susceptibilidades. (...) É o chamado senso normal”. As declarações do diplomata português surgiram quando questionado sobre a possível violação da Lei Básica no fim abrupto da exposição World Press Photo.
CHINA | TRUMP
OS NEGÓCIOS DE DONALD GRANDE PLANO
LAG
Diversificar é preciso PÁGINA 4
COVID-19
Casa de ferreiro PÁGINA 7
OPINIÃO
XIONG’AN
JORGE RODRIGUES SIMÃO
PÁGINA 5
CONTRABANDO
Chá escocês PÁGINA 6
AO MAN LONG | COLOANE
Portugal por um canudo ÚLTIMA
KINO | EXCELÊNCIA DO CINEMA ALEMÃO EVENTOS
ENCRUZILHADAS ANTÓNIO CABRITA
A CENTÉSIMA LUÍS CARMELO
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2 grande plano
22.10.2020 quinta-feira
INVESTIGAÇÃO
NEGOCIOS A Ao longo de 10 anos, Donald Trump tentou investir na China, chegando mesmo a abrir um escritório em Xangai em parceria com uma das maiores empresas estatais chinesas, à qual esteve ligado até 2017, segundo apurou o The New York Times. As declarações fiscais mostram que entre 2013 e 2015 o Presidente norte-americano pagou muito mais impostos na China do que nos Estados Unidos, quase 200 mil dólares
posição de Washington face à China tem sido um dos principais tópicos da campanha de Donald Trump, que acusa sempre que tem um microfone à frente, ou um telemóvel nas mãos, o opositor na corrida à Casa Branca, Joe Biden, de ser brando com Pequim. Bem ao género de um drama televisivo, o The New York Times revelou ontem o novo episódio com um artigo de investigação, baseado nas declarações fiscais do Presidente norte-americano, que levanta o véu sobre as tentativas de negócio de Trump na China. Parte dos argumentos dos republicanos quanto à posição de fraqueza de Biden face a Pequim assenta nos negócios do filho do antigo vice-Presidente. Inclusive foi escrito num relatório de uma investigação do Senado norte-americano, liderada por senadores leais à Casa Branca, que Hunter Biden “abriu uma conta bancária com um empresário chinês”, algo que foi elencado como “uma de inúmeras ligações com estrangeiros e governos estrangeiros pelo mundo fora”. Porém, um artigo publicado ontem no The New York Times detalha o historial de negócios de Donald Trump. Com base nas declarações fiscais do Presidente norte-americano, o jornal demonstra como tentou durante uma década investir, sem sucesso, em vários projectos na China. Aliás, durante a primeira campanha eleitoral na corrida à Casa Branca, e já depois de ser eleito, Trump tinha um escritório em Xangai e assinou uma parceria com uma empresa controlada pelo Governo chinês. Outro detalhe revelado pelas declarações fiscais é que, afinal, a China é o terceiro país onde Donald Trump tem contas bancárias, além do Reino Unido e Irlanda. Estas contas não surgem na informação financeira pública do alegado magnata, onde estão listados os bens que detém, uma vez que pertencem a pessoas colectivas. Sem que se conheça qual a instituição financeira, os docu-
TRUMP TENTOU INVESTIR NO MERCADO CHINÊS DURANTE
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mentos revelados pelo The New York Times indicam que a conta bancária chinesa é controlada pela International Hotels Management L.L.C., e que foram pagos 188.561 dólares em impostos ao Estado chinês devido a negócios para tentar comprar licenças entre 2013 e 2015. Os registos fiscais do Presidente não detalham quanto dinheiro terá passado entre contas no estrangeiro, apesar de o fisco norte-americano obrigar os contribuintes a declarar rendimentos que tenham sido apurados noutros países. O jornal nova-iorquino indica que as contas britânicas e irlandesas são usadas por empresas que operam os campos de golfe do universo empresarial de Trump na Escócia e Irlanda, e que estes declaram regularmente rendimentos na ordem dos milhões de dólares. Porém, a Trump International Hotels Management apenas declarou quantias na casa dos milhares de dólares na sequência dos negócios na China.
PATENTES EM MACAU
Em Agosto de 2017, menos de um ano depois de ser eleito, foi noticiado pela agência Reuters que uma companhia ligada a Donald Trump conseguira a aprovação de várias marcas registadas em Macau. A DTTM Operations LLC, com endereço fiscal na Trump Tower, 5ª Avenida em Nova Iorque, recebeu a aprovação de quatro registo de marcas, segundo documentos publicados pelo Governo de Macau. As marcas referem-se a negócios nas áreas do imobiliário, constru-
Donald Trump deve 211 milhões de dólares ao Bank of China, dívida que vence a meio do segundo mandato, se for reeleito. O banco arrendou três andares na Trump Tower em Nova Iorque
ção, propriedade hoteleira, comidas e bebidas e infra-estruturas para conferências. O licenciamento em Macau de marcas ligadas a Donald Trump data do ano de 2005, quando este registou a empresa DTTM and Trump Companhia Limitada. Em Novembro de 2018, em plenas negociações da Guerra Comercial, o Gabinete de Registo de Marcas chinês aprovou 34 novas marcas, 16 delas em nome da Ivanka Trump Marks LLC.
BICHO DA CONTA
Em resposta às questões endereçadas pelo The New York Times, um advogado da Trump Organization, Alan Garten, afirmou que a empresa “abriu uma conta num banco chinês, com balcões nos Estados Unidos, para poder pagar impostos” associados aos “esforços” para estabelecer negócios na China. A conta foi aberta depois do escritório estabelecido em Xangai para explorar a possibilidade investir no sector hoteleiro. “Nenhum negócio, transacção ou actividade de negócio alguma vez se materializou e, desde 2015, o escritório está inactivo apesar da conta bancária permanecer aberta, sem ter sido usada para outro propósito”, adiantou o advogado ao jornal nova-iorquino. Alan Garten não esclareceu qual o banco chinês onde o Presidente norte-americano tem a conta. Importa recordar que, até ao ano passado, o Bank of China, a maior instituição bancária controlada pelo Estado chinês, arrendou três andares na Trump Tower, num acordo milionário que levantou suspeitas de conflito de interesses. Outro dado, noticiado em Abril pelo jornal Politico, é que Donald Trump deve 211 milhões de dólares ao Bank of China, dívida que vence a meio do segundo mandato, se for reeleito.
TORRE EM CANTÃO
Em 2008, Trump tentou negociar a construção de uma torre de escritórios em Guangzhou, um projecto que não chegou a sair do papel. Os esforços foram revigorados com a abertura do escritório em Xangai,
grande plano 3
quinta-feira 22.10.2020
S DA CHINA UMA DÉCADA
em 2012, com a informação fiscal a que o The New York Times teve acesso a mostrar que a THC China Development L.L.C. fez 84.000 dólares em deduções nesse ano com viagens, taxas legais e custos de escritório. Depois de entrar na China, a empresa de Trump assinou uma parceria com a State Grid Corporation, uma das maiores companhias estatais, controlada pelo Governo Central, com o intuito de desenvolver um projecto em Pequim. Mesmo durante os primeiros tempos na Casa Branca, Trump tentou levar avante o projecto, mas o escândalo de corrupção em que a empresa estatal chinesa se envolveu acabaria por colocar um ponto final no negócio. PUB
Segundo os dados fiscais, e apesar de ser impossível determinar com precisão a quantidade de dinheiro gasto para fazer negócios
Em 2008, Trump tentou construir uma torre de escritórios em Guangzhou, projecto que não chegou a sair do papel. Os esforços para se estabelecer na capital de Guangdong foram revigorados com a abertura do escritório em Xangai, em 2012
na China, os registos mostram que terão sido investidos, pelo menos, 192.000 dólares em cinco pequenas empresas. Estas companhias pagaram impostos ao Estado chinês até 2018, através da THC China Development L.L.C., que as detinha. Porém, a larga maioria dos negócios em solo chinês foi feita através da Trump International Hotels Management.
DÉJÀ-VU ELEITORAL
Durante a campanha para as eleições de 2016, uma empresa de fachada controlada por um casal chinês comprou 11 fracções num prédio em Las Vegas de que Donald Trump é um dos proprietários, por 3,1 milhões de dólares.
Um empresário do sector financeiro sediado em Las Vegas contou ao The New York Times que fora visitado por dois agentes do FBI sobre a compra das fracções, uma vez que a empresa compradora terá usado a sua morada como o endereço oficial. Não foi apurado
se a investigação prosseguiu, mas Alan Garten afirmou ao jornal de Nova Iorque que nunca foi contactado pelo FBI e não tem conhecimento de estar em curso qualquer investigação. João Luz com agências info@hojemacau.com.mo
4 política
22.10.2020 quinta-feira
LAG DIVERSIFICAÇÃO DISCUTIDA ENTRE HO IAT SENG E MEMBROS DE MACAU À APN
Milagre da multiplicação DSAL Subsídio para trabalhadores com deficiência para breve
Cerca de uma semana e meia antes de entrar em vigor a lei do salário mínimo para os trabalhadores em geral, o subdiretor da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais disse que o regulamento administrativo para salvaguardar os interesses dos trabalhadores com deficiência vai ser conhecido “em breve”, antes da nova lei entrar em vigor. Em Março, o Governo garantiu que ia assegurar aos portadores de deficiência um rendimento equivalente ao salário mínimo, através de um regulamento administrativo a entrar em vigor no mesmo dia da lei. A ideia era atribuir-lhes um subsídio para colmatar a diferença entre o que recebem e o salário mínimo.
A reunião entre o Chefe do Executivo e os representantes de Macau à Assembleia Popular Nacional focou-se na urgência de diversificar a economia. Ho Iat Seng revelou que a medicina tradicional chinesa e o desenvolvimento do sector financeiro são as prioridades. Já a reforma administrativa não deve avançar “só por fazer”
O
Chefe do Executivo considera que o desenvolvimento da medicina tradicional chinesa e do sector financeiro devem ser os pilares da diversificação económica de Macau, aquando da elaboração das Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano. A intenção foi divulgada ontem. Na terça-feira, Ho Iat Seng reuniu na Sede do Governo com os onze representantes de Macau à Assembleia Popular Nacional (APN). Kou Hoi In começou PUB
ANÚNCIO CONCURSO PÚBLICO N.o 30/P/20 Faz-se público que, por despacho da Ex. Senhora Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, de 29 de Setembro de 2020, se encontra aberto o Concurso Público para «Fornecimento de Material de Consumo Clínico para a Secção de Esterilização dos Serviços de Saúde», cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 21 de Outubro de 2020, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de MOP47,00 (quarenta e sete patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria dos Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet na página electrónica dos S.S. (www.ssm.gov. mo ). ma
As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,30 horas do dia 20 de Novembro de 2020. O acto público deste concurso terá lugar no dia 23 de Novembro de 2020, pelas 10,00 horas, na “Sala de Reunião”, sita na Rua do Campo, n.º 258, Edifício Broadway Center, 3.º andar C, Macau. A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de MOP100.000,00 (cem mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente. Serviços de Saúde, aos 14 de Outubro de 2020. O Director dos Serviços Lei Chin Ion
integrada e consoante a situação de emprego dos residentes locais, para determinar a quantidade adequada de forma moderada”, pode ler-se em comunicado.
FAZER BEM FEITO
por frisar que o impacto da epidemia “evidenciou o problema da indústria única” e que, para o resolver,
o Governo deve introduzir políticas que permitam receber quadros qualificados “o mais rápido possível” e
Mais que fazer Empresas ofereceram 720 estágios, apenas 436 jovens apareceram
A
S empresas que apoiaram o “Plano de experiência no local de trabalho” direccionado a recém-graduados e lançado pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), disponibilizaram oportunidades de estágio a mais de 720 jovens. No entanto, apenas 436 recém-graduados compareceram, ou seja, 39,4 por cento não fez estágio. A DSAL explicou ontem que o número de recém-graduados que fez o estágio nas empresas foi inferior ao número de pessoas admitidas pelas empresas porque alguns conseguiram emprego, optaram por continuar os estudos, não se adaptaram ao trabalho por turnos, ou a função não coincidia com a especialidade que estudaram. Além disso, o organismo explicou que nem todos os recém-graduados compareceram nas empresas para fazer o estágio e alguns desistiram antes de o concluir. O plano, que pretende criar melhores perspectivas de trabalho, registou 1350 inscrições que preenchiam os requisitos. Os 436 jovens que estagiaram passaram
por áreas como tecnologia de informação para infra-estruturas, engenharia, desenvolvimento do mercado e operações hoteleiras. Chan Un Tong, subdiretor da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), reconheceu ontem em conferência de imprensa que os jovens pretendem ser trabalhadores efectivos.
MÉDIA DE 15.000 PATACAS
No final de Outubro, os estágios chegaram ao fim, e a DSAL está a recolher informações nas empresas sobre a situação do estágio e da eventual contratação. “As empresas já mostraram interesse em contratar 344 dos 436 estagiários, ou seja, mais de 70 por cento serão contratados após o estágio”, indicou uma nota do organismo. Entre as funções que vão assumir contam-se cargos como técnico de tecnologia de informação ou administrativo na secção financeira. A remuneração inicial média para esses cargos é de 15 mil patacas, que a DSAL diz que “corresponde ao nível do mercado”. Salomé Fernandes
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apenas para aqueles “que são necessários”. Ho Iat Seng respondeu que a diversificação das indústrias de Macau é um trabalho que tem decorrido “sem interrupção”, sendo que a actual prioridade passa por desenvolver a medicina tradicional chinesa. Para sustentar a opção, o Chefe do Executivo disse ainda que o diploma sobre a proposta de lei intitulada “Regime jurídico do registo e gestão de medicamentos tradicionais chineses” será entregue na Assembleia Legislativa “o mais rápido possível” e que no futuro tal irá contribuir para atrair capitais. Segundo Ho, outra aposta para o próximo ano será o desenvolvimento do sector financeiro, área onde serão legislados vários diplomas complementares. Acerca dos quadros qualificados Ho Iat Seng garantiu que estão a ser aperfeiçoados os respectivos mecanismos de apreciação e aprovação, mas que em primeiro lugar estará sempre o emprego dos residentes. “Os quadros qualificados que vierem para Macau têm de contribuir concretamente para a sociedade, além disso, a ponderação terá de ser feita de forma
Perante a proposta de “intensificação e aceleramento” da reforma da administração pública sugerida por Lao Ngai Leong, o Chefe do Executivo referiu que os problemas da administrativa pública vêm de trás e devido à complexidade, “será impossível concluir a sua reforma em um ou dois anos”.
“Os quadros qualificados que vierem para Macau têm de contribuir concretamente para a sociedade.” HO IAT SENG
Defendendo que é preciso tempo e que a reforma administrativa deve ser feita de forma “ordenada”, Ho considera necessário “ser pragmático e não proceder com a reforma só por fazer”. Além disso, não deve ser descurado o impulso da Governação Electrónica. Durante o encontro foram ainda abordados temas como o investimento em infra-estruturas, renovação urbana, promoção da imagem de Macau no exterior enquanto cidade segura e saudável, cheques pecuniários e sector do jogo. Pedro Arede
pedro.arede.hojemacau@gmail.com
política 5
quinta-feira 22.10.2020
O
encerramento súbito da World Press Photo não constitui para o embaixador português em Pequim, José Augusto Duarte, uma clara violação da Lei Básica e dos acordos assinados entre Portugal e a China relativamente ao direito de liberdade de expressão. “Para falar em violação do que está estabelecido entre Portugal e a China acho que tem de acontecer muito mais do que isso. Tem de acontecer uma prova muito mais directa entre as autoridades de Macau e o acto que é praticado”, disse o embaixador em entrevista à TDM Canal Macau, transmitida esta terça-feira. José Augusto Duarte referiu também o patrocínio da Fundação Macau (FM) da exposição, que, anualmente, é organizada pela Casa de Portugal em Macau (CPM). “A fundação é de direito privado, pode ter os fundos de onde quer que seja… mas isso nem sequer é único. Em todos os países do mundo quem patrocina gosta de patrocinar qualquer coisa na qual se reveja. Não estou a dizer que concordo ou não, mas do ponto de vista legal, para afirmar que há uma violação dos princípios acordados, é complicado. As coisas teriam de ter ligações mais
WORLD PRESS PHOTO EMBAIXADOR PORTUGUÊS ALERTA PARA “ORDEM JURÍDICA DIFERENTE”
Revelação fotográfica
José Augusto Duarte, embaixador português em Pequim, disse à TDM Canal Macau que “é complicado” afirmar se houve violação da Lei Básica no caso da suspensão da World Press Photo. O diplomata alerta para o facto de Macau ser uma “terra onde somos convidados”. “Estamos numa ordem jurídica diferente, com valores e sensibilidades próprias”, frisou fortes. Não vejo uma relação de causa-efeito.” O diplomata disse ainda que, neste caso, “não importam apenas os nossos valores”, pois “estamos numa ordem jurídica diferente, com valores e sensibilidades próprias”. “Gosto de ver uma exposição com a liberdade e o contraditório, pois isso só pode consolidar as minhas opiniões, mas eu não estou em Portugal. Estou numa realidade específica. E mesmo estando em Portugal, se estou a fazer uma exposição e ela é financiada por terceiros, é normal que os terceiros gostem de ter a sua opinião sobre aquilo que está a ser exposto. Isso faz parte das regras do jogo em qualquer lado.” José Augusto Duarte declarou que é necessário “saber onde estamos e se estamos ou
não a ferir susceptibilidades de terceiros para podermos estar com alguma tranquilidade”. “É o chamado senso normal de quem quer conviver numa terra onde somos convidados”, acrescentou.
ACOMPANHAMENTO DIÁRIO
O diplomata foi também questionado sobre o caso do cidadão português detido em Shenzhen. Sem avançar detalhes, José Augusto Duarte assegurou que as autoridades portuguesas fazem um “acompanhamento diário”. “Posso assegurar que o assunto é acompanhado diariamente pelas autoridades portuguesas em Lisboa. Mantemos contacto estreito com os nossos interlocutores chineses e não deixaremos de acompanhar o caso e cumprir o que é a
IC TSI DÁ RAZÃO A CHEFE DE DIVISÃO SUSPENSA PELO GOVERNO Fórum Macau Relatório de avaliação externa dá nota positiva
O Relatório da Avaliação Externa do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa refere que o organismo “criou uma nova forma de cooperação intergovernamental entre vários países”, comunicou o gabinete de apoio permanente do Fórum Macau. O Secretariado Permanente do Fórum aprovou ontem o programa de actividades para o quarto trimestre deste ano. O chefe da delegação chinesa apresentou propostas sobre os trabalhos contra a epidemia, a envolverem cooperação internacional com os países de língua portuguesa. As delegações destes países confirmaram a disponibilidade para colaborar e apelaram ao reforço da “cooperação para o desenvolvimento e a recuperação económica no período pós-pandemia”.
O
já sabia antes de ser detido”. “Ele [Tsz Lun Kok] nunca abdicou da nacionalidade chinesa e por isso, ao ter cometido um acto ilegal face à lei chinesa, é detido e tratado de acordo com as leis e normas da China. E, portanto, nós, o que podemos fazer, é zelar pelo acompanhamento humanitário desse caso e manter contacto político-diplomático com as autoridades chinesas”, rematou.
Tribunal de Segunda Instância (TSI) decidiu a favor de uma ex-chefe da DivisãoAdministrativa e Financeira do Instituto Cultural (IC), Lo Lai Mei, que esteve suspensa 30 dias devido à contratação de trabalhadores de forma irregular. Segundo o acórdão ontem tornado público, devia ter sido aplicada “pena disciplinar de multa” ao invés da suspensão de funções. Isto porque “o IC adoptou o regime de contratação de prestação de serviços desde a década de 90 do século passado; os contratos foram apreciados por juristas e/ou notários privativos do IC; a recorrente não tem formação jurídica”
e estava convencida da adequação legal da contratação. O caso ocorreu a 29 de Março de 2018, quando foi instaurado um processo disciplinar a Lo Lai Mei por “ter contratado, aquando do exercício do cargo de dirigente do serviço no Instituto Cultural, por ajuste directo e com dispensa de consulta, trabalhadores através de ‘acordo de prestação de serviços’”. O relatório relativo ao processo foi concluído a 29 de Março do ano passado, tendo o Chefe do Executivo reconhecido que a chefe de divisão “violara o dever de zelo e os deveres específicos a que está sujeito o pessoal de direcção e chefia”.
nossa obrigação face a esse cidadão. Mas teremos de respeitar e conviver com as leis da China.” PUB
José Augusto Duarte lembrou que a China não aceita a dupla nacionalidade, sendo “algo que este cidadão
Andreia Sofia Silva
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6 sociedade
22.10.2020 quinta-feira
BURLA RESIDENTE PERDE 138 MIL PATACAS A TENTAR LEVAR UÍSQUE PARA A CHINA
No rules, great scotch
A
Polícia Judiciária (PJ) deteve um residente de 32 anos na terça-feira por suspeita de burlar um amigo de 31 anos, também ele residente, depois de ter oferecido ajuda para transportar, através de um contrabandista da sua confiança, sete garrafas de uísque avaliadas em 138 mil patacas. O uísque nunca chegou ao destino e o valor da mercadoria acabaria por ser usado pelo suspeito para saldar dívidas de jogo. De acordo com informações avançadas ontem pela PJ em conferência de imprensa, tudo começou quando a vítima comprou sete garrafas de uísque escocês da marca Macallan, com o intuito de as fazer chegar a um amigo que vive no Interior da China e que trabalha como funcionário no departamento de catering de um hotel. A garrafa mais cara, cujo conteúdo inclui uísque envelhecido durante 30 anos, está avaliada em 38 mil dólares de Hong Kong, ao passo que as restantes seis foram avaliadas em cerca de 16 mil dólares de Hong Kong, cada uma.
A
POLÍCIA JUDICIÁRIA
Um residente de Macau foi burlado em 138 mil patacas após ter confiado num amigo que lhe prometeu transportar sete garrafas de uísque para o Interior da China através de um alegado contrabandista. Contudo, as garrafas nunca chegaram ao destino e o valor do precioso conteúdo acabou por ser usado para pagar dívidas de jogo. A garrafa mais cara está avaliada em 38 mil dólares de Hong Kong
De forma a contornar o pagamento de impostos sobre a mercadoria, que o transporte fronteiriço implica, a vítima entrou em contacto com um outro amigo em Macau, que lhe prometeu fazer chegar o uísque à morada de destino no Interior da China, através de um contrabandista e mediante o pagamento de 300 patacas por cada garrafa.
A vítima aceitou e seguindo as instruções do suspeito, deixou as sete garrafas numa loja localizada num centro comercial perto das Portas do Cerco, para que o transporte da mercadoria fosse feito como combinado, ou seja, recorrendo ao serviço de um contrabandista. Porém, o suspeito viria a contactar a vítima no dia 13
O suspeito terá vendido as sete garrafas avaliadas em 138 mil patacas, por 100 mil patacas (…) para saldar dívidas relacionadas com o jogo
T É 20 de Outubro o Corpo de Bombeiros (CB) transportou 2.852 pessoas suspeitas de estarem infectadas por Covid-19, num total 2.114 casos. Os dados foram avançados ontem pelo CB, em conferência de imprensa de balanço da actividade. “Entre Janeiro e 20 de Outubro de 2020, o CB procedeu ao transporte dos 2.114 casos suspeitos, contando com 2.852 pessoas”, consta no documento distribuído. Entre as 2.852 pessoas transportadas com suspeitas de Covid-19, 1.438 são do sexo masculino e 1.413 do feminino.
de Agosto, informando-o de que tinha perdido o rasto do alegado contrabandista e que nunca mais tinha conseguido falar com ele. No seguimento da conversa, vítima e suspeito, foram juntos apresentar queixa na PJ, levando consigo uma fotografia do Bilhete de Identidade de Residente (BIR) do suposto contrabandista.
SEM LIQUIDEZ
A partir da queixa, a PJ viria a descobrir que os dados do BIR apresentado eram falsos e que o suspeito mentiu quanto à existência do contrabandista, já que através
Tinóni e companhia Corpo de Bombeiros transportou 2.852 suspeitos de infecção por Covid-19 até 20 de Outubro
Desde o início da pandemia, Macau registou 46 casos de infecção por covid-19, sem que tenham sido registadas vítimas mortais. Segundo os dados avançados pelo chefe substituto da Divisão de Sensibilização, Divulgação e Relações Públicas, Lao Hou Wai, nos primeiros nove meses do ano o número de operações em que os bombeiros estiveram envolvidos
foi de 32.303, uma diminuição de 4.174 ocorrências face ao período homólogo, quando ocorreram 36.477 operações. Os incêndios contribuíram para a tendência de redução de casos. Até Setembro houve 606 fogos em Macau, uma redução de 79 casos, face ao mesmo período do ano passado. O principal motivo dos incêndios foi o esquecimento da
da consulta das imagens das câmaras de videovigilância ficou provado que o homem se dirigiu com as garrafas a um segundo estabelecimento de venda de bebidas alcoólicas situada na zona norte. De acordo com a polícia, no segundo estabelecimento, o suspeito terá vendido as sete garrafas avaliadas em 138 mil patacas, por 100 mil patacas ao proprietário da loja, dizendo-lhe que precisava do dinheiro para saldar dívidas relacionadas com o jogo. Depois de ter usado todo o dinheiro angariado com a burla para saldar dívidas pessoais relacionadas com o jogo, o suspeito viria a ser detido na passada terça-feira ao tentar sair de Macau pelas Portas do Cerco. Após a detenção, o suspeito admitiu o crime e o facto de ter usado um contrabandista “fantasma” para burlar a vítima. O caso já seguiu para o Ministério Público (MP), onde o homem terá de responder pela prática do crime de burla de valor consideravelmente elevado, podendo ser punido com pena de prisão entre 2 a 10 anos. Pedro Arede
pedro.arede.hojemacau@gmail.com
comida ao lume no fogão, com 113 ocorrências, seguido da queima de papéis votivos com 65 casos e ainda de curtos-circuitos, 52 ocorrências.
MENOS SAÍDAS
Também o número de saídas de ambulâncias teve uma redução passando de 30.113 veículos para 27.544 casos, quando no passado tinha sido de 38.623 saídas de veículos para 31.700 casos. “Consideram-se que as causas da diminuição foram causadas pelo impacto da epidemia, pela redução do número de pessoas que visitou Macau e pela diminuição
Agiotagem Sequestrado com dívida de 50.000 HKD
A Polícia Judiciária (PJ) deteve um homem de 30 anos oriundo do Interior da China por suspeita do crime de agiotagem e de sequestro. Segundo o canal chinês da TDM – Rádio Macau, o homem foi detido enquanto tentava entrar em Macau pelas Portas do Cerco e após denúncia da própria vítima, que alegou ter sido sequestrado numa fracção no NAPE quatro dias depois de ter contraído uma dívida de jogo no valor de 50 mil dólares de Hong Kong. Segundo a PJ, a vítima só foi libertada depois de ter sido forçada a transferir 28 mil yuans.
Casamento falso Mulher detida após denúncia
A Polícia Judiciária (PJ) deteve uma mulher de 54 anos após ter recebido uma denúncia onde esta é acusada de ter casado com um homem do Interior da China com o objectivo de o ajudar a obter o Bilhete de Identidade e Residência (BIR) não permanente. Segundo o canal chinês da TDM Rádio Macau, a mulher foi detida quando tentava entrar em Macau através do posto fronteiriço das Portas do Cerco, vindo de seguida a admitir o crime. O homem, na posse do BIR não permanente desde Agosto de 2019, continua a monte. A suspeita foi encaminhada para o Ministério Público (MP).
significativa dos habitantes de Macau que usaram os serviços de ambulância”, foi explicado. No polo oposto à tendência de diminuição, o Corpo de Bombeiros prestou mais “serviços especiais”, como a abertura de portas ou a remoção de combustíveis da estradas após acidentes de viação. Assim nos primeiros meses deste ano foram registados 3.119 casos, mais 68 ocorrências do que no ano passado, quando se verificaram 3.051 casos. J.S.F.
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quinta-feira 22.10.2020
SS RESIDENTE VINDO DE QINGDAO EM ISOLAMENTO
O
S Serviços de Saúde (SS) comunicaram que na terça-feira impuseram o isolamento obrigatório a um residente, por ter ocultado que visitou Qingdao quando entrou em Macau. No passado dia 15, os SS receberam uma denúncia a alertar que alguém que, estando em Macau, tinha publicado nas redes sociais uma fotografia de uma viagem recente à cidade de Qingdao. Algo que poderia indiciar que a pessoa ocultou a ida a essa cidade na declaração de saúde à entrada no território. Após investigação do Corpo da Polícia de Segurança Pública, o residente de 35 anos terá admitido que quando entrou em Macau, no dia 14, não indicou na declaração do Código de Saúde que esteve em Qingdao entre os dias 9 e 13 de Outubro. Vale a pena notar que os SS tinham determinado que a partir de 13 de Outubro quem tivesse estado em Qingdao nos 14 dias anteriores à entrada em Macau ficava sujeito a quarentena. “Os Serviços de Saúde decidiram aplicar a medida de isolamento obrigatório contra este residente de Macau e cabe, agora, ao CPSP acompanhar de forma mais aprofundada as alegadas infracções cometidas por este indivíduo”, diz a nota. Além disso, os SS apontam que a lei de prevenção, controlo e tratamento de doenças transmissíveis prevê que as pessoas devem prestar declarações de saúde com fidelidade ao entrarem na RAEM e que os infractores podem ser punidos com pena de prisão até 6 meses ou pena de multa até 60 dias.
COVID-19 MÉDICO SUSPENSO POR NÃO CUMPRIR NORMAS DE PREVENÇÃO
Falha de protocolo
Um médico do hospital público não avisou o seu superior de que tinha visitado Qingdao e não apresentou o código de saúde amarelo ao entrar ao serviço. O caso está a ser investigado
U
M cirurgião plástico do Centro Hospitalar Conde São Januário (CHCSJ) foi suspenso no seguimento de não ter avisado o seu superior de que tinha visitado a cidade de Qingdao entre 25 de Setembro e 5 de Outubro. O profissional de saúde foi ainda submetido a observação médica por sete dias e está a ser alvo de uma investigação, comunicaram os Serviços de Saúde (SS). A situação epidémica em Qingdao levou os SS a determinar que a partir do dia 13 de Outubro, todos os indivíduos que nos 14
dias anteriores à entrada em Macau tivessem estado na cidade deviam ser sujeitos a observação médica. Além disso, o código de saúde de quem tinha visitado Qingdao nos 14 dias anteriores à entrada no território passou a ter cor amarela.
Os dois testes de ácido nucleico que fez deram negativo, e o exame aos anticorpos do vírus revelou que “não foi infectado”
Estas pessoas deviam ainda seguir as normas de “precauções sobre autogestão da saúde”. Quando esta decisão foi tomada, o médico do CHCSJ já tinha regressado ao serviço. Mas de acordo com os SS, deveria ter declarado a sua situação ao seu superior hierárquico para o trabalho ser reajustado e ter feito autogestão de saúde. “Além de não ter declarado a situação à chefia, (...) continuou o seu trabalho clínico, nem apresentou o código de saúde diário, no momento da entrada no serviço, conforme está estabelecido, pelo que, não foi oportunamente identificado que
o seu código de saúde era da cor amarela”, diz a nota.
TESTES NEGATIVOS
Já passaram 14 dias desde que o médico saiu de Qingdao e até à noite de terça para quarta-feira o profissional não tinha manifestado qualquer indisposição. Os dois testes de ácido nucleico que fez deram negativo, e o exame aos anticorpos do vírus revelou que “não foi infectado”. Assim, os SS classificam como “baixa” a possibilidade de infecção de colegas ou doentes com quem teve contacto, e que também foram submetidos a testes de ácido nucleico. Este caso levou os SS a exigir às chefias de todos os serviços que verifiquem se os funcionários estiveram em áreas de incidência epidémica nos últimos 14 dias. “Devem, ainda, ser implementadas regras rigorosas para a exibição do código de saúde quando os colaboradores entram no local de trabalho”, salientaram. As tarefas dos funcionários com código de saúde amarelo devem ser organizadas de modo a minimizar o contacto com outras pessoas. Salomé Fernandes
info@hojemacau.com.mo
IAM ADOPTADAS MEDIDAS PARA EVITAR PROPAGAÇÃO DE COVID-19
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vice-presidente da câmara da cidade de Qingdao, Luan Xin indicou, na terça-feira que foram encontradas provas suficientes para justificar que a covid-19 pode infectar pessoas através de objectos, na sequência da suspeita de que um funcionário que trabalhava com cargas numa cadeia de frio foi a fonte de infecção de várias pessoas. A afirmação surgiu numa conferência de
imprensa, em que a governadora acrescentou que os vírus podem sobreviver a longo prazo em ambiente frio. Em resposta à Exmoo, o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) disse que reforçou os trabalhos de prevenção da pandemia quanto aos alimentos que envolvem cadeias de frio, e funcionários que aí trabalhem. As embalagens dos produtos alimentares congelados são
desinfectadas quando chegam ao território, e depois sujeitas a controlo sanitário, enquanto os alimentos em si só podem entrar no mercado depois de apresentarem resultado negativo no teste de ácido nucleico. O IAM afirmou que até Setembro analisou mais de 4.000 amostras alimentares e ambientais, tendo todas passado no teste de ácido nucleico. Apesar do reforço de testes de ácido nucleico
nos espaços de alimentos envolvidos em cadeias de frio – como mercados ou armazéns de refrigeração – não se detectaram anormalidades. Além disso, a entrada e saída dos funcionários nos espaços é registada, estando os vendilhões de peixe do mercado e os distribuidores sujeitos também a teste. Não se detectaram casos nas oito rondas de teste de ácido nucleico já realiza-
das, que envolveram mais de 800 funcionários destes sectores. Para monitorizar as fontes, mercadorias e fluxo dos alimentos, foi lançado em Setembro o Sistema de Rastreio dos Produtos Alimentares da cadeia de frio. O IAM afirmou que o risco de infecção por essa via é baixo, à semelhança do que indicou o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China. N.W.
8 eventos
KINO
22.10.2020 quinta-feira
FESTIVAL EX-GESTORA DA CINEMATECA PAIXÃO REGRESSA AO NOVO CINEMA ALEMÃO
A CUT Co. Lda volta a juntar-se ao Instituto Goethe, em Hong Kong, para trazer o KINO - Festival de Cinema Alemão a Macau entre os dias 6 e 16 de Novembro. A edição deste ano do festival homenageia três cineastas do chamado Novo Cinema Alemão, como é o caso de Margarethe Von Trotta, Wim Wenders e Rainer Werner Fassbinder
está de volta Far Away
Enfant Terrible
Marianne and Juliane
Hannah Arendt
A
PESAR de ausente das operações de gestão da Cinemateca Paixão, a Cut Co. Lda continua a trazer para Macau algumas das iniciativas a que habituou os amantes do cinema aquando da gestão do espaço. Prova disso é a realização de uma nova edição do KINO - Festival do Cinema Alemão, que, em parceria com o Instituto Goethe de Hong Kong, acontece entre os dias 6 e 12 de Novembro. Nomes como Wim Wenders, Margarette Von Trotta e Rainer Werner Fassbinder vão estar em exibição.
Ao HM, Rita Wong, responsável da Cut, explicou que a exibição do KINO em Macau se faz em condições mais favoráveis do que em Hong Kong, uma vez que, devido à pandemia, grande parte dos filmes foram exibidos online. “Estamos numa situação difícil este ano e muitos festivais foram cancelados.Asituação de Macau é mais estável e temos sorte em poder organizar um festival de cinema de pequena escala. Temos 12 filmes, mas vamos exibi-los apenas uma única vez. Mas em termos do número de filmes a escala não é assim tão pequena, pois estamos a trazer um festival abrangente para o público de Macau.” Desta forma, o KINO “vai continuar a acontecer na sua forma física tendo em conta a situação da cidade, exibindo um total de 12 filmes alemães, sendo que seis deles são novos trabalhos que cobrem uma variedade de assuntos”. O programa da edição deste ano “continua o compromisso de ter uma sessão Director-in-Focus, que apresenta três grandes filmes de Margarethe Von Trotta em fases diferentes, sendo esta uma das mais significantes cineastas e a única mulher cineasta no período do Novo Cinema Alemão”. Von Trotta começou a fazer produções independentes na década de 70. Hoje, com 78 anos, a cineasta já escreveu e realizou mais de 10 filmes, incluindo títulos como "Marianne and Juliane (1981), Rosa Luxemburg (1986), Rosenstrasse (2003) and Hannah Arendt (2012). A cineasta procurou ter nos seus filmes personagens femininas que não só quebram os estereótipos tradicionais em torno do género, mas também exploram aspectos espirituais, intelectuais e independentes ligados ao universo feminino. O KINO aborda também o trabalho de Wim Wenders e apresenta o documentário “Desperado”, lançado em Julho deste ano como celebração dos 75 anos do realizador. Será também exibido o filme “Faraway, So Close!”, que venceu o Grande Prémio do Júri no Festival de Cinema de Cannes em 1993. “Temos uma sessão com Wim Wenders que, claro, é um ícone. Na primeira edição do KINO em Macau exibimos os filmes de Wim Wenders na sessão Director-in-Focus e, desta vez, não queríamos repetir os filmes que já tínhamos exibido. Seleccionámos dois filmes e um deles é novo, penso que é bom para o novo público que virá ao festival”, explicou Rita Wong.
FASSBINDER REGRESSA
Goldfishe
Desperado
Rita Wong confessou também que, numa edição marcada pela diversidade, espera-se também que o KINO seja mais interactivo com o seu público
Os filmes do realizador Rainer Werner Fassbinder estão também de regresso a Macau, depois da exibição na Cinemateca Paixão em 2018. O filme de abertura do KINO é “Enfant Terrible”, realizado por Oskar Roehler que conta a história do realizador que faleceu muito jovem, em 1982, com apenas 37 anos. O filme de Roehler começa com o filme de estreia de Fassbinder, “O
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quinta-feira 22.10.2020
Amor é mais Frio do que a Morte”, de 1969, até “Querelle”, feito em 1982. “Mesmo que o público tenha visto os seus filmes na sessão Director-in-Focus do KINO Macau 2018, podem, desta vez, conhecer mais sobre este talento do cinema sob outras perspectivas. O que é mais emocionante na exibição de ‘Enfant Terrible’ é que se trata da estreia do filme na Ásia depois da sua exibição mundial no Festival de Cinema de Cannes”, lê-se na nota da Cut. “Estamos muito orgulhosos em ter esta estreia a nível asiático”, acrescenta Rita Wong.
UMA ALEGRIA
Wim Wenders
O KINO - Festival de Cinema Alemão será exibido nas salas do Cinema Alegria e no Macao Cardinal Newman Center for Culture and Performing Arts, um novo local que “proporciona um ambiente sereno para a exibição dos quatro grandes filmes do festival - incluindo ‘System Crasher’, ‘Rosa Luxemburg’, ‘Marianne and Juliane’ and ‘Faraway, So Close!’”.
O KINO aborda também o trabalho de Wim Wenders e a apresentação do documentário “Desperado”, lançado em Julho deste ano como celebração dos 75 anos do realizador
Margarette Von Trotta
Rainer Werner Fassbinder
O KINO - Festival de Cinema Alemão será exibido nas salas do Cinema Alegria e no Macao Cardinal Newman Center for Culture and Performing Arts
Após a exibição das películas, o público poderá participar em conversas sobre as mesmas com a presença de críticos de cinema como Quinton Tang, de Macau, ou Joyce Yang, de Hong Kong. Derek Lam, académico ligado à área do cinema, também estará presente. “Do We All Have the Banality of Evil? — Hannah Arendt’s Philosophy”, “Theatre and Rainer Werner Fassbinder”, “Literature — Peter Handke and Wim Wenders”, e “Judith Kerr’s World of Picture Books” serão os temas destas conversas. A Cut recorda que esta edição do KINO “é a primeira apresentada desde o fim das suas operações na Cinemateca Paixão”. “Estamos gratos pela continuação do apoio do Instituto Goethe de Hong Kong para que o KINO Macau pudesse acontecer novamente. É um desafio organizar um festival de cinema com a falta de salas, financiamento e patrocínios, mas felizmente que existe um grupo de vigorosos e diligentes entusiastas do cinema que trabalham lado a lado para atingir os melhores resultados e enfrentar os desafios”, acrescenta a Cut. Numa edição marcada pela diversidade, espera-se também que o KINO seja mais interactivo com o seu público, confessou Rita Wong. Andreia Sofia Silva e Pedro Arede info@hojemacau.com.mo
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22.10.2020 quinta-feira
REDE 5G PEQUIM AMEAÇA EMPRESAS SUECAS COM RETALIAÇÕES POR EXCLUSÃO DE HUAWEI
Cá se fazem, cá se pagam
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China disse ontem que a exclusão das empresas chinesas Huawei e ZTE da futura rede de telecomunicações 5G na Suécia, em nome da segurança nacional, pode ter consequências para as empresas do país escandinavo na China. Depois do Reino Unido em meados de Julho, a Suécia foi o segundo país da Europa e o primeiro da União Europeia a banir explicitamente a Huawei de quase toda a infraestrutura necessária para operar sua rede 5G, a rede de Internet móvel de quinta geração. Na Suécia, os equipamentos da Huawei já instalados que possam ser usados para a rede 5G terão que ser retirados de serviço até 1 de janeiro de 2025, prazo ainda mais curto do que o estabelecido por Londres, que deu até 2027, em medidas que também afectam a ZTE. Pequim criticou o carácter político da decisão comercial sueca, alegando que a seguran-
ça nacional era uma "desculpa para desacreditar" as empresas chinesas. "A Suécia deve adoptar uma atitude objectiva e imparcial, reverter a sua má decisão, a fim de evitar um impacto negativo [...] para as
actividades das empresas suecas na China", disse ontem o porta-voz da diplomacia chinesa Zhao Lijian.
INTERESSES DE VULTO
O primeiro-ministro sueco, Stefan Lofven, assegurou que a decisão
“A Suécia deve adoptar uma atitude objectiva e imparcial, reverter a sua má decisão, a fim de evitar um impacto negativo [...] para as actividades das empresas suecas na China.” ZHAO LIJIAN PORTA-VOZ DO MNE CHINÊS
não tinha como alvo a China. "O próprio propósito da legislação é garantir a segurança aqui na Suécia (...) mas nunca a direccionamos a nenhum país", disse Lofven. “São as autoridades que avaliam o que é possível e o que não é possível. E é óbvio que confiamos na (sua) avaliação”, acrescentou o chefe de Governo sueco. A Suécia tem interesses significativos na China: a Ikea, marca emblemática do país na área mobiliária, tem 35 lojas na China, tantas quanto na França. O Governo do país da Ericsson, principal concorrente da Huawei em 5G com a finlandesa Nokia, tomou a decisão perante a Huawei e a ZTE após um alerta do seu regulador de telecomunicações, alertando para os riscos militares e de inteligência, na senda dos avisos feitos na Europa pelas autoridades dos EUA.
Alemanha Concedido estatuto de refugiada a activista de Hong Kong
A Alemanha concedeu o estatuto de refugiada a uma estudante natural de Hong Kong e activista pró-democracia, que disse ter protestado contra a lei da extradição no território, noticiou ontem a Associated Press (AP). Confrontado com a afirmação de Elaine, a jovem de 22 anos que se recusou a dar mais dados pessoais por recear represálias à família em Hong Kong, o Gabinete Federal de Migração e Refugiados alemão não confirmou nem negou a concessão de asilo à activista, citando as rígidas leis de privacidade do país. Segundo a AP, Elaine mostrou os documentos em que se pode confirmar que o estatuto de refugiada foi atribuído a 14 deste mês. A Alemanha foi o primeiro país europeu a dar asilo a activistas de Hong Kong, quando, em 2018, o concedeu a dois deles, Ray Wong e Alan Li Tung Sing. A decisão causou algum atrito entre Berlim e Pequim e levou a líder de Hong Kong, Carrie Lam, a convocar o cônsul alemão para pedir esclarecimentos.
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COVID-19 SHAOXING COMEÇA A DISPONIBILIZAR VACINAS PARA SATISFAZER RESIDENTES
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S autoridades de saúde em Shaoxing, cidade do leste da China, começaram a aceitar pedidos de residentes para receberem a vacina contra a covid-19, até agora limitada a casos especiais e trabalhadores de alto risco. A comissão municipal de saúde informou que, embora os grupos de alto risco continuem a ter prioridade, também vai oferecer a vacina, dependendo da sua disponibilidade, a quem quiser ser vacinado "voluntariamente". Aagência não especifica qual
a vacina que vai administrar nenhuma empresa tem ainda licença para comercialização - nem quando começará a fazê-lo, mas o anúncio significa que mais pessoas poderão ter acesso a esta. A China tem usado a vacina para certos casos excepcionais, como "protecção de pessoal de saúde, funcionários de programas de prevenção, inspectores portuários e funcionários do serviço público". Os residentes que tenham que realizar viagens imprescindíveis ao exterior também
integram esse grupo, segundo a imprensa local. Em Jiaxing, outra cidade da província de Zhejiang, os cidadãos que "precisam de vacinas de urgência" podem marcar uma consulta em clínicas comunitárias na cidade, disse a autoridade de saúde local, na semana passada. Nas duas cidades, a vacina será fornecida a pessoas entre os 18 e os 59 anos, a um preço total de 400 yuan, por duas doses, a serem administradas com um intervalo de entre 14 a 28 dias.
quinta-feira 22.10.2020
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
diário de Próspero
António Cabrita
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EPOIS dos Mestres Cantores eis os Mestres Decapitadores: é uma fanfarra enleada em bosta de cão, na farsa deste século que tropeça nos próprios pés. O pai de uma aluna e um militante islamita radical emitiram uma “fatwa” contra Samuel Paty, o professor decapitado na sexta-feira na região de Paris. É um ver se te avias de fátuas e peregrinas arrogâncias, depois dos 15 segundos de Fama do Andy Warhol temos os 15 segundos de Empolamento do Poder Divino. Dizem os testemunhos, Samuel tratou com deferência os seus alunos islâmicos e antes de mostrar as caricaturas de Maomé nas aulas explicou-lhes porque teria de as mostrar aos outros colegas, não os desrespeitou nem o seu gesto tinha um carácter denegridor. Em 2006, por ingenuidade minha, na universidade em Maputo, querendo mostrar como as nossas escolhas quanto à identidade sexual que assumimos têm o seu quê de construção social, passei nas aulas o filme Crying Games/Jogo de Lágrimas, de Neil Jordan, um dos mais belos filmes que conheço sobre o amor e os conflitos que este pode gerar se toma uma feição desviante em relação à intratabilidade da educação que nos condicionou. Fui depois chamado à direcção do departamento: para um grupo de estudantes islâmicos eu havia “pecado” ao mostrar um transsexual nas aulas e ao falar desassombradamente de sexo. Chocou-me não terem sido frontais, o espírito de baixa bufaria entranhado. Foram umas semanas de tensão no relacionamento com os alunos. Chegado de outras coordenadas não imaginava que o filme chocasse jovens universitários e supus que as virtualidades do debate que o filme suscitaria seriam vantagens sobre qualquer melindre. Tive sorte, o então coordenador do curso meteu-se do meu lado e “decapitou” logo a avançada moralista; estou incerto sobre se o resultado seria o mesmo agora – e este retrocesso é uma realidade descoroçoadora. Hoje, na fronteira norte, supostamente a 3000 km de uma ilusória geografia, decapitam-se pessoas por dá aquela palha. Esta semana, a minha amiga Aliete Matias, postou no fb esta fotografia de Jessica Antola, de uma Mãe Mursi (uma etnia da Etiópia) armada, e comentou “não encontro palavras para esta foto”. Também não encontro, mas aquela arma é para defender o filho nos portais do inferno com que aquela mulher se depara regularmente. Agora que um filho da mãe de um burguês – a ouvir no leitor de cds de um Peugeot da última gama o mais recente disco da Fatoumata Diawara, baixado do
Encruzilhadas Youtube – enquanto aguarda nos semáforos, decida lançar uma fatwa sobre um professor (tudo o indica) que não quis provocar, de modos delicados, num país que não reconhece a alegação da apostasia, é demasiado cínico e macabro. “Um dos nossos compatriotas foi morto hoje porque ensinou a liberdade para acreditar e não acreditar”, acrescen-
tou Emmanuel Macron. Como deve proceder a democracia diante de quem enfia o garfo no coração dos seus direitos mais profundos e o revolve? Como reagir face aos que usam a liberdade para negar a dos outros e não sabem viver senão em suposto apostolado? Há um aforismo do poeta Wallace Stevens que talvez aqui caiba: «A intolerância
Esta semana, a minha amiga Aliete Matias, postou no fb esta fotografia de Jessica Antola, de uma Mãe Mursi (uma etnia da Etiópia) armada, e comentou “não encontro palavras para esta foto”. Também não encontro, mas aquela arma é para defender o filho nos portais do inferno com que aquela mulher se depara regularmente
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a respeito da religião dos demais é tolerância comparada com a intolerância a respeito da arte dos demais». Ou seja: talvez não seja só a nossa liberdade que está em jogo como também a nossa arte, vista à luz dos radicais islâmicos. Lembremo-nos das estátuas dos Budas em Gandara. Se o apelo da preservação da liberdade não for suficiente como reacção civilizacional que ao menos o da defesa da arte seja uma razão suficiente para a urgência de pensar e articular uma resposta para estes problemas, sem esquecer que é no vazio do pensamento que se localiza o ninho da víbora. Sem isso, só se seguirá aquilo que Houellebecq previu: a obediência. E já que chamei o poeta à liça aproveito para apresentar uma primeira selecção dos 289 adágios ou provérbios que o Wallace Stevens deixou e a que os organizadores, num livrinho póstumo, deram o nome de Adagia. Esta é uma primeira selecção de entre os cento e cinco primeiros. A tradução é minha: Cada era é uma casinha no pombal. Dos vermes, faz o poeta trajes de seda. Os poetas de mérito são tão aborrecidos como a gente de mérito. O pensamento é uma infecção. No caso de certos pensamentos converte-se em epidemia. Parece o poeta outorgar a sua identidade ao leitor. É mais fácil reconhecer isto quando se ouve música. Refiro-me ao seguinte: à transferência. A imaginação deseja que a consintam. A coisas vistas são as coisas como são vistas. Tem em conta: I. Que o mundo inteiro é matéria para a poesia; II. Que não existe nenhuma matéria especificamente poética. O poeta é o intermediário entre as pessoas e o mundo em que vivem, e também entre as pessoas entre si; mas não entre a gente e algum outro mundo. A poesia não é o mesmo que a imaginação tomada isoladamente. As coisas são em virtude de interrelações ou de interacções. A poesia deve ser algo mais que uma concepção da mente. Deve ser uma revelação da natureza. As concepções são artificiais. As percepções são essenciais. Ler um poema deveria ser uma experiência, como quando se experimenta um acto. A morte de um deus é a morte de todos. Em presença da facticidade extraordinária, a consciência toma o lugar da imaginação. Tudo tende a tornar-se real; o todo move-se na direcção da realidade. (à suivre)
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Retrovisor Luís Carmelo
22.10.2020 quinta-feira
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A centésima vem-se como a primeira
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SCREVO hoje a centésima crónica no ‘Hoje Macau’ e podia ser a primeira. Todos os faunos têm cem anos. Para comemorar, recorro à grande literatura, mais concretamente, a Lawrence Durrell e ao seu ‘Quarteto de Alexandria’. Espero poder dedicar a crónica nº 200 ao ‘Quinteto de Avignon’, mas só no caso - fica desde já o repto - de algum editor atacar a tarefa de, até lá, o verter em língua portuguesa. A abrir o capítulo III do quarto volume da tetralogia (‘Clea’), uma poderosa reflexão surge a interromper a história, ou melhor, o caudal turbulento das muitas - e inevitavelmente inacabadas - histórias que unem ‘Justine’ a ‘Balthazar’ e este segundo tomo, depois, a ‘Mountolive’ e a ‘Clea’. Trata-se de um capítulo em que se dão a ler trechos salteados de um caderno que o escritor Pursewaarden, personagem amiúde ausente mas exaustivamente citado e referido em todos os volumes do quarteto, foi redigindo à margem das suas obras. Começa assim o capítulo: “Volto como a ponta da língua a um dente esburacado - ao velho tema da arte de escrever! Será que os escritores não sabem falar de mais nada? Não.” À doce ironia, segue-se o cortejo com meia dúzia de figurantes que passo - com muito prazer - a apresentar nesta festa da centésima crónica. Primeiro figurante, ou aquele que procura na profundidade (e não nas achas imediatas do quotidiano) um reflexo que permita desencantar a música de fundo dos dias e nela entrever o mistério que afinal nos anima, ainda que barricado, é claro, pela impaciência que é a primeira morada da finitude e, claro, da nossa própria morte ainda em vida: “Keats que se embebedava com palavras, procurava nos sons vocálicos as ressonâncias do seu ser íntimo. Batia na tumba vazia da sua morte precoce com um dedo impaciente, escutando os pálidos ecos da sua imortalidade” Segundo figurante, ou aquele que entende piamente que somos falados através da linguagem e não o contrário, apesar de nela se poder intervir sem as ilusões próprias daqueles que Ortega Y Gasset designou por “señoritos satisfechos” ou “hombres-masa”. A arte da escrita pressupõe, de facto, a existência de um mago que o próprio não vislumbra e que os “señoritos” vêem por todo o lado, como se fossem excertos de videoclipes, de podcasts, de palestras via zoom e de tudo o mais que do fluxo da moda - e da necessidade - se faz agora produto (“pro-
confunde com um poço da morte recheado de vaselina; já o vaticinava Pope: “Alexander Pope, numa angústia de método, como um menino com prisão de ventre, lima as suas superfícies para torná-las escorregadias aos nossos pés” Quinto figurante, ou aquele que sabiamente reconhece que, na grande literatura e na grande poesia, o que se narra também se apaga. Mais do que os enredos, há fantasmas que ficam no ar, nuvens circulares que levitam dentro do esófago ou silhuetas imaginativas que nada devem a quem quer literal e mecanicamente entender o mundo. O mal reside nesse instinto de saber subir nas alturas com muita leveza, sorrindo para a imensidão e para a pequenez que nela (tantas vezes involuntariamente) reina. Na há, pois, grande literatura e grande poesia sem mal:
duto” que, na alta voragem, desaparece minutos depois de se ter enunciado): “Byron era hábil com o inglês tratando-o de senhor para servo; mas como a linguagem não é um lacaio, as palavras cresciam como lianas tropicais entre as fendas dos seus versos, quase estrangulando o homem” (...) “sob a ficção do seu eu passional existia um mago, embora ele próprio não tivesse consciência do facto”. Terceiro figurante, ou aquele que sabe que a verdade é o espaldar do absoluto. Já se sabe que nos nossos dias o que se procura é apenas a oscilante fibra do sentido. No entanto, a verdade, subtraída à dioptria platónica, podia confundir-se com uma espécie de invisível rasgo que, por vezes, empurra o texto para onde menos se espera. Há autores que têm empatia com estes solavancos ‘iluminados’ e até os dominam ao jeito dos praticantes de aikido
que sabem converter a energia de quem ataca na energia de quem se defende. No caso de John Donne é a imagem do “coice” que assiste ao grande momento do “nervo”, ou seja, ao instante em que a linguagem e a sua sombra se vêm ao mesmo tempo por puro sortilégio: “Donne parava quando alcançava o nervo, fazendo ranger todo o crânio. A verdade devia fazer-nos escoucinhar, pensava ele” Quarto figurante, ou aquele que advoga que existe quem fique acocorado e tremendo diante da sua escrita (lembro-me muito de José Régio, neste caso) e acabe depois por compensar esse facto e essa inércia (da criação) ao jeito de um Bernardim Ribeiro: frases de muito fôlego, longas e aprazíveis na sua geometria de modo a que quem delas se aproprie (o leitor) possa ter a ilusão de que a patinagem artística é um modo de leitura que se
Dir-se-ia que ser pioneiro, à moda de Lawrence, é conseguir antever a própria morte da literatura e sobre o seu cadáver conseguir rescrevê-la, mesmo que a cegueira domine a insciência das bancadas do grande estádio onde hoje tudo se joga a olhar redundantemente apenas para o dia de hoje, ou para o agora
“Os grandes estilistas são os que menos têm a certeza dos seus efeitos. Ignoram que o seu mal é nada terem para dizer” Sexto figurante, ou aquele senhor chamado James Joyce que, talvez por puro modismo, é quase sempre um caso à parte. Sabe-se que tinha que dar aulas para ganhar a vida “à razão de um xelim e seis dinheiros por hora”. Por isso, sobre a rabugice que se lhe conhecia, acrescenta ainda o nosso Pursewaarden: “devia ter-lhe sido facultada protecção contra os inefáveis da sua espécie que julgam estar a arte ao alcance de qualquer parlapatão; que a considerem um elemento do dote de prendas sociais, uma aptidão de classe, como as aguarelas para as damas vitorianas”. Este naco de prosa sobre Joyce é particularmente sensível, pois, embora as aptidões de hoje sejam diferentes das de há sete décadas, a tentação persiste. Razão por que o escritor Pursewaarden havia de referir, mais à frente, que “Elliot aplicava um tampão de clorofórmio gelado sobre um espírito encerrado numa selva de dados”. As iliteracias próprias do tempo da rede já por aqui afocinhavam, como se vê. Dir-se-ia que ser pioneiro, à moda de Lawrence, é conseguir antever a própria morte da literatura e sobre o seu cadáver conseguir rescrevê-la, mesmo que a cegueira domine a insciência das bancadas do grande estádio onde hoje tudo se joga a olhar redundantemente apenas para o dia de hoje, ou para o agora - ápice - instante - isso - único (e eu aqui, embalado no sermão da centésima, a piscar o olho ao grande António Maria Lisboa, Saravá!).
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SOLUÇÃO DO PROBLEMA 46
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PROBLEMA 47
S 5 U 4 6D2 O 7 K 1 3U 47 7 4 3 2 6 3 6 1
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Cineteatro SALA 1
VIOLET EVERGARDEN: THE MOVIE [B] Um filme de: Ishidate Taichi 14.15, 21.15
Um filme de: Marco Pontecorvo Com: Stephanie Gil, Sonia Braga, Joaquim de Almeida, Goran Visnjie 19.30
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Um filme de: Ric Roman Waugh Com: Gerard Butler, Morena Baccarin, Scott Glenn 14.15, 21.30
GREENLAND [B]
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Um filme de: Tim Hill Com: Robert de Niro, Uma Thurman, Christopher Walken 16.30, 19.15
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THE WAR WITH GRANDPA
www. hojemacau. com.mo
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THE KENTUCKY DERBY IS DECADENT AND DEPRAVED | HUNTER S. THOMPSON
A cobertura de uma das provas rainhas de corridas de cavalos nos Estados Unidos, o Kentucky Derby, foi o ponto de partida para uma revolução na escrita literária e jornalística. O cocktail composto pela genialidade da escrita de Hunter Thompson e dos ferozes cartoons de Ralph Steadman transformou a cobertura jornalística numa orgia bêbeda de excesso, decadência e exposição do que há de mais grotesco na natureza humana. De quando em vez, viajo até ao âmago deste caleidoscópio de horror e factualidade política que é a escrita de Thompson. Regresso sempre convicto de que hoje em dia, mais que nunca, precisamos da lucidez de alguém que foi até ao outro extremo e mergulhou na demência da actualidade. João Luz
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THE WAR WITH GRANDPA [B]
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terça-feira, mas cujo resultado foi apenas revelado durante a noite – os eurodeputados aprovaram três iniciativas que prevêem novas regras no domínio da inteligência artificial em “matéria de ética, responsabilidade e direitos de propriedade intelectual”, refere o PE em nota de imprensa.
UM ARTIGO HOJE
FATIMA [B]
FALADO EM CANTONENSE Um filme de: Imai Kazuaki 16.45, 19.00
Um filme de: Ryuhei Kitamura Com: Ruby Rose, Jean Reno, Louis Mandylor, Rupert Evans 14.30, 16.30, 21.45
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THE DOORMAN [C]
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DORAEMON THE MOVIE: NOBITA’S NEW DINOSAUR [A]
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C I N E M A 48
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O Parlamento Europeu (PE) aprovou, na terça-feira, um pacote de novas iniciativas legislativas que visam uma maior regulamentação da Inteligência Artificial na União Europeia de maneira a assegurar que a tecnologia respeita princípios éticos e de confiança. No voto - que teve lugar na
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HUM
Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Namora; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
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22.10.2020 quinta-feira
O modelo “A smart city is an intelligent town that provides enormous possibilities for human growth through art, culture, social, architectural, economic, political, environmental, and scientific flowering with the optimal mix of nature, technology, humanity, and arts.” Amit Ray Peace Bliss Beauty and Truth: Living with Positivity
A
entrada dos escritórios da Terminus, em Pequim é feita com reconhecimento facial. O átrio é completamente branco, assim como as cortinas, as janelas, balcões de recepção e duas poltronas de forma futurista. O corte em ziguezague das portas que permitem as entradas em espaços abertos é o que recordamos nos filmes de ficção científica e nas populares séries da Guerra das Estrelas. A ideia a transmitir é a de “futuro” mais ou menos imaginado e conhecido, porque a Terminus, fundada em 2015, é uma das muitas das estrelas chinesas que rapidamente se tornaram notadas para além dos mil milhões de dólares do seu valor e o futuro está a manipulá-la para a tornar extremamente “presente”. O seu objectivo é, de facto, fornecer em nome do governo a gestão “inteligente” de compostos e bairros inteiros, reunindo tanto como o actual menu em Inteligência artificial e Internet das Coisas (IoT) permite. Os distritos da cidade conseguiram pela Terminus fornecer todo o tipo de informações sobre os residentes e transeuntes e todos os dados que provêm do silêncio e incessante trabalho de câmaras inteligentes, através de sistemas de reconhecimento de impressões faciais, geolocalização e de voz, impressões digitais de áudio em que a união de toda esta informação flui em frente de ecrãs controlados. A China está a projectar e aperfeiçoar a vida das cidades inteligentes que estão em construção. Este é um mercado próspero. A Terminus já teria completado cerca de sete mil projectos de cidades inteligentes na China. As suas soluções cobririam uma área total de quinhentos e cinquenta milhões de metros quadrados para uma população de mais de oito milhões de pessoas. O esforço explicado nos escritórios da Terminus é o de poder aplicar conceitos “inteligentes” aos edifícios residenciais. Mas o que é uma cidade inteligente? Existe uma extensa literatura sobre o assunto, bem como exemplos de cidades inteligentes, ou distritos “inteligentes”, também na Europa. A “cidade inteligente” é a “expressão actualmente utilizada para estratégias de planeamento urbano relacionadas com a inovação e em particular com as oportunidades oferecidas
pelas novas tecnologias de comunicação para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos”. Na China pode-se observar alguns projectos de cidades inteligentes. Olhando para slides e renderings, vêm-se lugares de clareza tranquilizadora. Os projectos descrevem territórios com ruas limpas, pontes estilizadas sobre cursos de água, árvores por todo o lado e imensos espaços verdes, dentro dos quais os complexos residenciais parecem ser muito eficientes. Olhando para os desenhos dos projectos, é de imaginar os carros eléctricos a percorrer as ruas sem a sombra de buracos, e que há uma pessoa dentro dos veículos, porque os carros são semi-autónomos. Ainda é necessário um ser humano dentro do veículo para lidar com situações onde o bom senso é necessário, um elemento que emergiu de um mapa mental humano que os carros são actualmente incapazes de processar. Observando os projectos é de imaginar cidades silenciosas, ritmadas pelo zumbido dos motores eléctricos, sulcadas por edifícios precisos e serviços do mais alto nível, escolas, hospitais e serviços públicos. Todos os projectos de cidades inteligentes são eco-sustentáveis onde não se encontrará sequer o mais pequeno vestígio de carvão, nem mesmo no canto mais remoto de um edifício. As cidades inteligentes representam a ideia de um mundo eficiente, belo e sustentável. Mas quantas pessoas poderão desfrutar destes paraísos terrestres ultra-tecnológicos? E quais serão os parâmetros que lhes permitirão viver nesses locais? Quem poderá viver ali e quem não o poderá fazer? Para além dos tecno-entusiastas ou governantes fascinados pela possibilidade de ter cidades totalmente “sob controlo”, as cidades inteligentes correm o risco de se tornarem um dispositivo de desigualdade. Na China, estão a imaginar cidades de 2,5 milhões de pessoas. O que irá acontecer ao resto da população? Em que tipo de cidade irão viver? No Ocidente, o número destas cidades está a diminuir. O risco é que apenas algumas pessoas possam habitar em cidades inteligentes, presumivelmente suficientemente ricas para poderem viver e utilizar recursos que não estarão disponíveis a todos. A série de televisão brasileira “3%” dá-nos um exemplo perturbador do que uma cidade inteligente pode vir a ser. Nos seus episódios são-nos apresentados dois lugares; um chama-se Maralto, o outro chama-se Entroterra. O primeiro é uma espécie de lugar perfeito com natureza e espaços verdes por todo o lado, tecnologia eficiente e de alto nível, uma perspectiva vertiginosamente elevada da vida, a possibilidade de cura de possíveis doenças com tratamentos futuristas. No segundo vivem os marginais, que estão completamente atrasados em termos de tecnologia e recursos. Todos os anos o Maralto organiza o Proceso, uma espécie de grande exame que permite aos jovens de vinte anos do interior serem seleccionados, pelos seus méritos, para viverem no Maralto.
Apenas “3%” poderão “merecê-lo”. E uma vez no paraíso, os mais merecedores terão de se esterilizar. No Maralto não há lugar para todos e acima de tudo o paraíso não pode ser herdado, deve ser merecido. Para além da crítica que a série também coloca ao conceito de meritocracia, o Maralto é uma transfiguração distópica do que poderia tornar-se as nossas cidades futuras, ou melhor, as cidades inteligentes para aqueles que as podem pagar. Maralto, de facto, é, para todos os efeitos, o que entendemos por cidades inteligentes. Para além dos aspectos mais distópicos, ou talvez simplesmente mais pessimistas, existem duas ordens de raciocínio que mantêm unidos os fios invisíveis que ligam os projectos de cidades inteligentes chinesas aos ocidentais; a escassez de recursos que permitirão a vida nas cidades inteligentes e a conveniência nos mercados mundiais de todas aquelas ferramentas tecnológicas que permitirão a sua realização. Em ambos os casos, a China é favorecida; em primeiro lugar porque os recursos necessários para desenvolver cidades inteligentes estão principalmente em território chinês; em segundo lugar porque toda a tecnologia que fará funcionar as cidades inteligentes, mesmo na Europa e nos Estados Unidos, já existe na China, está testada e é competitiva nos mercados mundiais. Os projectos de cidades inteligentes ocidentais, todos baseados num futuro eco-sustentável, dependerão cada vez mais da utilização e eficiência de certos elementos. Por exemplo, as baterias bem como a maioria dos bens tecnológicos necessários para gerir uma cidade inteligente, precisam das chamadas “terras raras” para serem construídas e que país tem mais recursos para as terras raras? A China tem quase o monopólio de todos aqueles metais raros essenciais para a energia com baixo teor de carbono e tudo o que está relacionado com o digital. A chamada “guerra dos metais” ou a corrida para encontrar estas terras raras dá-se sempre que possível, basta pensar na nova corrida à Gronelândia que se desenvolveu na última década e que mostra como o destino das tecnologias verdes e digitais do Ocidente está nas mãos de um único país, a China. Além disso, os metais raros são essenciais para a criação das nossas cidades do futuro, verdes e sustentáveis, mas a extracção destes metais, incrustados na rocha, é um processo complicado. E não é um processo “limpo”, pelo contrário, porque a refinação, como os peritos salientam, requer a trituração de pedras e depois a utilização de uma série de reagentes químicos, tais como ácido sulfúrico e nítrico, para não mencionar que para purificar cada tonelada de terras raras são necessários pelo menos duzentos metros cúbicos de água. Além disso, a água é poluída pela presença de ácidos e metais pesados. Uma minoria viverá em cidades sustentáveis, a grande maioria em locais poluídos. O segundo ponto que liga as cidades inteligentes da China ao nosso mundo diz
respeito ao desenvolvimento de cidades inteligentes na China, pois desenvolveu tantos projectos de cidades inteligentes e tão à frente do Ocidente que tem a possibilidade de vender os produtos tecnológicos necessários para criar cidades inteligentes a preços competitivos nos mercados internacionais, incluindo os mercados ocidentais. A este respeito, deve recordar-se que as origens do projecto chinês datam de meados da década de 1990. Nessa altura, foi lançado um mega plano urbano; depois, em 2011, as iniciativas da cidade inteligente foram incluídas no então décimo segundo plano quinquenal. Em 2018, a China desenvolveu cerca de quinhentas experiências e tudo isto é mais do que todos os outros países juntos. Um elemento do passado, o desenvolvimento económico e a poluição que originou, e um do futuro, a corrida tecnológica que dura há anos, obrigaram basicamente a China a repensar o seu desenvolvimento urbano, perseguindo o modelo de cidade inteligente, capaz de desenvolver ao máximo a IoT e permitir qualquer tipo de controlo. O objectivo do governo chinês é entregar cidades seguras à sua população de dois pontos de vista que são a sustentabilidade ambiental, em nome do novo mantra da “civilização ecológica”, e segurança pessoal. O documento sobre o plano de construção da cidade inteligente de Xangai 2011-2013 afirma que o desenvolvimento inovador e
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perspectivas
JORGE RODRIGUES SIMÃO
de Xiong’an
transformador requer um sistema de infra-estruturas de informação avançado internacionalmente, um sistema de informação e inteligência eficaz, uma indústria de TI de próxima geração e um sistema de segurança de informação regional fiável. Para desempenhar plenamente o papel do mercado, e seguindo a orientação do governo, uma cidade inteligente deve ter as características chave da digitalização, do trabalho em rede e da inteligência para elevar o nível de modernização global da cidade e permitir aos cidadãos partilhar os benefícios. Esta abordagem, também confirmada por vários documentos governamentais produzidos a partir de 2014, visa, portanto, a construção de cidades de média dimensão, hiperligadas e capazes de tirar partido das novas tecnologias para controlar questões ambientais, de tráfego e populacionais, justificadas pela necessidade de erradicar a criminalidade nas cidades chinesas. Este último elemento é amplamente tido em conta pela população, por exemplo, em Longgang, um distrito de Shenzhen bastante famoso em todo o país pelas suas elevadas taxas de criminalidade, casos de roubo e furto que caíram mais de metade graças a sete mil novas câmaras de alta definição, equipadas com inteligência artificial, em todo o distrito. Mas entre estes pressupostos benéficos, surge uma preocupação de como podem os cidadãos proteger a sua privacidade quando os
sensores recolhem dados sobre tudo o que os rodeia? Claro que tudo isto tem um impacto e terá também nas nossas futuras cidades inteligentes em questões relacionadas com os dados pessoais dos cidadãos. E alguns casos também deveriam ser um aviso para o Ocidente. Em Março de 2019, a declaração de Robin Li, CEO da Baidu, o mais importante motor de busca chinês, sobre a protecção de dados e privacidade dos cidadãos chineses lançou um alarme de que os chineses são relativamente mais abertos e menos sensíveis à utilização de dados pessoais. Se tiverem a capacidade de trocar privacidade por segurança, conveniência ou eficiência, em muitos casos estão dispostos a fazê-lo. A lei de 2017 sobre cibersegurança chinesa também tem a sua importância, que
A cidade de Xiong’an será “verde e inteligente” e estará concluída em 2035. Mas há também alguns problemas relacionados com tecnologia e controlo, segurança e mobilidade. O que é que falta? A arte, a cultura, o sonho, a experiência
anuncia que quer proteger os dados dos cidadãos. É preciso esclarecer qual o papel dos governos ou o que acontece aos dados recolhidos pelo cruzamento de diferentes tecnologias. A questão da privacidade colocada pela recolha e processamento dos dados dos cidadãos extraídos em cidades inteligentes parece estar a anos-luz da Europa. Mas em breve se tornará muito actual, especialmente se pensarmos que a China já está a finalizar o que deveria ser o “projecto dos projectos”. O Presidente Xi Jinping indicou o local e a hora para fazer de Xiong’an, a cerca de cem quilómetros de Pequim, o modelo global de cidade inteligente em que existirão dois milhões e meio de habitantes para uma área que deveria tornar-se o farol, guia, exemplo para todo o planeta, do que se entende por cidade inteligente. Tudo começou em 2017, quando chegou o primeiro anúncio apresentando Xiong’an como uma nova cidade, o fulcro da “estratégia para um novo milénio”, uma área capaz de demonstrar um modelo urbano sustentável, moderno e inovador não só à China, mas a toda a Ásia (que hoje é o continente mais avançado e em breve aquele onde será produzida a maior riqueza do mundo). Em Junho de 2017, o Presidente Xi Jinping presidiu a uma reunião do Partido Comunista sobre planeamento urbano em Pequim, na qual afirmou que enquanto a capital deveria permanecer
o centro da política nacional, cultural, intercâmbios internacionais e inovação científica, todas as outras funções deveriam ser transferidas para outros lugares, como Xiong’an. Entretanto, o presidente Xi promoveu uma série de funcionários experientes para este desiderato, em particular, o presidente da Câmara Municipal de Shenzhen de 2010 a 2017, que foi nomeado governador de Hebei, a região que irá acolher a nova cidade. O tecnocrata, Chen Gang, que supervisionou as indústrias de alta tecnologia de Pequim, tornou-se o primeiro líder da Nova Área de Xiong’an. Então, como será Xiong’an? Será arrumada, limpa, terá mobilidade sob controlo constante em termos de transporte público eléctrico e algoritmos prontos para organizar melhor o tráfego, que será escasso. Será uma cidade hiper-controlada. Além disso, e isto é de grande interesse, não será apenas o resultado da investigação chinesa pois os países europeus e a própria União Europeia também participarão no projecto “cidade inteligente das cidades inteligentes”. Na China, de facto, está-se a trabalhar para construir uma cidade ideal, para ser adaptada também às características ocidentais. Uma cidade que custa, mas a China não pretende poupar esforços pois estima-se que serão necessários quinhentos e oitenta mil milhões de dólares para construir a nova cidade, enquanto outros noventa e um mil milhões de dólares serão gastos para criar a imensa quantidade de infra-estruturas necessárias para o transporte (dentro e fora da cidade). O objectivo é transformar Xiong’an num novo pólo tecnológico financeiro em que 80 por cento do crescimento económico na nova área dependerá em grande parte das indústrias de ponta, com prioridade dada ao investimento em biotecnologia e ao estudo de novos materiais. Não serão perdidos os mais importantes gigantes chineses de alta tecnologia, tais como o Baidu, Alibaba e Tencent, que anunciaram a sua intenção de estabelecer ali as suas filiais. Da mesma forma, as principais empresas chinesas de telecomunicações, incluindo a China Mobile, Unicom e Telecom, irão testar as novas redes sem fios 5G em Xiong’an. A cidade de Xiong’an será “verde e inteligente” e estará concluída em 2035. Mas há também alguns problemas relacionados com tecnologia e controlo, segurança e mobilidade. O que é que falta? A arte, a cultura, o sonho, a experiência. Xiong’an, como muitas outras “novas” cidades chinesas, arrisca o seu destino habitual, ter necessário espaço, limpo, organizado mas desabitado. Ou, se for habitado, como será o projecto se alguma vez se tornar realidade? A ideia é animar a futura cidade inteligente com inserções, hotspots de natureza artística, capazes de transmitir interacção e informação, e para prenunciar uma ligação com o resto do país e do mundo através daquilo que hoje, na China, parece por vezes um fetiche que é a herança cultural.
O que o dinheiro faz por nós não compensa o que fazemos por ele. Gustave Flaubert
PALAVRA DO DIA
GGR Asia Austrália considera que Alvin Chao tem “histórico” de criminalidade
IAM Reabertos churrascos na Taipa e Hac-Sá
O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) decidiu reabrir ao público, a partir de sexta-feira, as zonas de churrasco no Parque Natural da Taipa Grande e Parque Natural da Barragem de Hac-Sá. Desde ontem que é possível fazer a marcação prévia para os lugares, tendo em conta as regras da pandemia da covid-19. Estão disponíveis 78 gralhadores nestes dois lugares e também na zona de churrasco junto à praia de Hac-Sá, em Coloane. Podem ser marcadas duas sessões prévias diariamente, sendo os horários de utilização das 11h30 às 17h30 e das 18h00 às 23h59. O IAM, “após avaliar a situação de gestão e utilização das instalações, decidiu aumentar o número máximo de utilizadores para oito pessoas por cada grelhador para churrasco, a partir de hoje”. Os indivíduos que entrem na zona de churrasco têm de exibir o Código de Saúde de Macau válido do próprio dia, submeter-se à medição de temperatura corporal no local e usar máscara, bem como manter a distância social de, pelo menos, um metro. É proibida a entrada na zona de churrasco a indivíduos que tenham febre ou sintomas de dificuldade respiratória.
Táxis Dados das tarifas postos em causa
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A empresa responsável pela instalação do sistema de terminais inteligentes nos táxis de Macau confirmou ontem ao jornal Ou Mun ter recebido queixas de alguns taxistas sobre o sistema de cálculo de tarifas de viagem. Contudo, garante que o problema já foi resolvido através da instalação de estabilizadores. Segundo a mesma fonte, Ngai Chi Kit, responsável pela empresa fornecedora, esclareceu que as anomalias detectadas ficaram a dever-se à transmissão incorrecta de informação proveniente das rotações dos pneus, originada pela instabilidade do sinal de rede presente nas ligações de transmissão dos dados de quilometragem. O responsável da New Leader Tecnologia Informática (Macau) LDA vincou ainda que depois da instalação de estabilizadores nos veículos, não foram detectados mais problemas no cálculo das tarifas. Segundo a nova lei dos táxis, todos os veículos estão obrigados a instalar o sistema até ao dia 3 de Dezembro.
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Procuradoria Geral da República Portuguesa “O pedido de transferência do cidadão não obteve o consenso do Estado que condenou porque foi considerado que tem nacionalidade chinesa, assim não cumpriu as condições para a transferência.”
Daqui ninguém me tira Autoridades de Macau recusam transferência de Ao Man Long para Portugal
A
S autoridades de Macau recusaram a transferência para Portugal do ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long. A notícia foi avançada ontem pela Macau News Agency, que cita fontes governamentais portuguesas, a quem a decisão já terá sido comunicada. No entanto, o advogado que está a conduzir o processo, Álvaro Rodrigues, diz desconhecer qualquer desfecho. A data da decisão não foi tornada pública, assim como também não foi explicado se partiu de Macau ou de Pequim. Segundo o acordo de transferência de prisioneiros assinado entre Portugal e Macau, o Governo de Pequim é
sempre consultado e as decisões não são estritamente legais, podendo ser tomadas com base em motivos políticos. No entanto, segundo a Macau News Agency, a nega ao ex-secretário, que está a cumprir uma pena de 29 anos, foi justificada com o facto de ter sido considerado que se trata de um cidadão com nacionalidade chinesa. “O pedido de transferência do cidadão não obteve o consenso do Estado que condenou porque foi considerado que tem nacionalidade chinesa, assim não cumpriu as condições para a transferência”, citando fonte da Procuradoria Geral da República Portuguesa. O processo estava a ser conduzido pelo advogado Álvaro Rodrigues, que
ontem afirmou, ao HM, desconhecer qualquer decisão. “Eu não sei de nada. Não me vou pronunciar sobre uma decisão que não conheço”, afirmou. A negação da transferência por qualquer das partes envolvidas implica automaticamente a recusa. Isto também porque este tipo de decisão não aceita qualquer tipo de recurso.
ALTAS PENAS
Foi em 2008, após o julgamento mais mediático da RAEM até então, que Ao Man Long foi condenado a uma pena de prisão de 29 anos pela prática dos crimes de corrupção passiva e branqueamento de capitais. Até 2008 o ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas tinha sido o único titular de
alto cargo na RAEM a ser condenado na Justiça. A colega de Governo de Ao, a secretária para a Administração e Justiça, Florinda Chan, também chegou a ser investigada por alegados crimes de falsificação de documentos, abuso de poder e prevaricação relacionados com documentos de atribuição de sepulturas, mas o Ministério Público considerou, ainda na fase de instrução, que não havia matéria para a levar a julgamento. Posteriormente, em 2017, Ho Chio Meng foi o mais recente titular de alto cargo a ser condenado pelos tribunais, neste caso pela prática de 1.092 crimes, entre os quais a fundação de associação criminosa e corrupção. J.S.F.
M estrangeiro “politicamente exposto” e com um “histórico criminal considerável”. Foi desta forma que a autoridade de criminalidade financeira AUSTRAC (acrónimo para Centro Australiano de Denúncia e Análise de Transacções) definiu Alvin Chao, presidente do Grupo Suncity, num email enviado à empresa Crown. A revelação foi feita, segundo o portal GGR Asia, durante mais uma sessão do inquérito das autoridades de Nova Gales do Sul para apurar se a empresa Crown Resorts reúne as condições para manter a licença de jogo, que lhe vai permitir abrir um casino em Sidney. A comunicação da AUSTRAC à Crown foi revelada por um dos advogados envolvidos no inquérito e feita em 2017. A data é especialmente relevante para o caso, uma vez que mostra que apesar de ter sido alertada para as ligações de Alvin Chao, a Crown garantiu à bolsa de valores australiana, já em 2019, que tinha um processo “robusto” de análise dos junkets com quem trabalhava. A Crown foi parceira da Suncity no casino de Melbourne até esse ano. Na mesma sessão foi também referido que as próprias investigações internas da Crown sobre Alvin Chao resultaram em indícios de que teria sido um dos membros da tríade 14 quilates, nos anos 90 em Macau. Segundo os relatos da imprensa internacional, neste momento Alvin Chao encontra-se impedido de entrar na Austrália. J.S.F.