Hoje Macau 22 NOV 2016 #3701

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

TERÇA-FEIRA 22 DE NOVEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3701

MOP$10 LUSA

CIMEIRA DA APEC

Contra muros GRANDE PLANO

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Conexo marcado

hojemacau

PÁGINA 7

HABITAÇÃO DEPUTADOS CRITICAM INÉRCIA DO GOVERNO

EXPOSIÇÃO

ARTE AOS QUARTOS EVENTOS

ORÇAMENTO 2017

Aprovação geral PÁGINA 4

Poema não fala

h

TELHADOS DEVIDOS

Na apresentação das LAG Chui Sai On admitiu as dificuldades da classe média para adquirir casa, mas sem apresentar soluções para o problema. Agora, os deputados voltam à carga

e exigem acções concretas ao Governo para travar a especulação imobiliária. O aumento do imposto de selo, a exemplo do que foi feito em Hong Kong, é uma das medidas propostas.

PAULO JOSÉ MIRANDA

PÁGINA 6

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

CASO HO CHIO MENG


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CIMEIRA APEC CONTRA O PROTECCIONISMO E PELO COMÉRCIO LIVRE

Na cimeira da APEC houve unanimidade contra o proteccionismo e pela abertura dos mercados, dois pontos contrários às ideias expressas por Trump na sua campanha. Os países do Pacífico acreditam que há vida além dos EUA proteccionistas

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rante o fim de semana reuniu os líderes das 21 economias do bloco. A reunião terminou com uma declaração de alerta sobre os riscos de proteccionismo e com a defesa da integração económica, que coincidiu com o documento antecipado no sábado pela Agência Efe e que transformou Trump no protagonista involuntário desta cimeira, que serviu como despedida oficial de Barack Obama da cena internacional. Nas conclusões, os líderes mostraram preocupação porque “a globalização e os seus processos de integração associados são cada vez mais questionados, contribuindo para o surgimento de tendências proteccionis-

China exibiu em Lima a sua ambição de assumir a liderança das negociações de comércio livre na região Ásia-Pacífico, por oposição ao projecto proteccionista do presidente americano eleito Donald Trump. Após a eleição, a relação entre a China e os Estados Unidos estão “numa encruzilhada”, advertiu o presidente chinês, Xi Jinping, à margem da cimeira da APEC. “Espero que as duas partes trabalhem juntas para se concentrar na cooperação, gerir as nossas diferenças e assegurar que a transição ocorra sem problemas e que o relacionamento continue a crescer”, acrescentou o líder chinês no início da sua última reunião bilateral com Barack Obama, que realiza na capital peruana a sua última viagem oficial ao exterior.

tas”. “Reafirmamos o nosso compromisso de manter os nossos mercados abertos e de lutar contra todas as formas de proteccionismo”, asseguraram. Assim, os líderes da Apec mostraram-se decididos a “reverter medidas proteccionistas e distorcidas que debilitam o comércio e travam o progresso e a recuperação da economia internacional”. Estas mensagens foram também repetidas até à exaustão de forma pessoal pelos líderes presentes na reunião, liderados por Obama, pelo presidente da China Xi Jinping, pelo japonês Shinzo Abe e o canadiano Justin Trudeau.

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POR UMA ÁREA DE COMÉRCIO LIVRE

Além destas mensagens de ordem política, o Apec anunciou o seu desejo de avançar rumo à constituição de uma Área de Comércio Livre da Ásia Pacífico (FTAAP, em inglês) “de forma integral e sistemática”. Segundo a Declaração de Lima, divulgada no encerramento da cimeira, este compromisso será “um instrumento central

Olá cá estou eu China pretende substituir EUA proteccionistas

Barack Obama lançara um apelo ao mundo, pedindo “uma chance” para seu sucessor, dando-lhe tempo. “Nós nem sempre governamos como fazemos campanha”, observou o actual ocupante da Casa Branca. Por seu lado, Xi Jinping pediu aos líderes regionais para apoiar as iniciativas chinesas para o comércio livre na região, para preencher o vazio deixado pelo provável abandono do acordo de comércio livre (TPP) pelos Estados Unidos. “Nós não vamos fechar a porta ao mundo exterior, mas abri-la ain-

da mais”, garantiu. “A construção de uma Área de Livre Comércio da Ásia-Pacífico (FTAAP) é uma iniciativa estratégica vital para LUSA

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24ª Cimeira de Líderes do Fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (Apec) terminou neste domingo em Lima com a promessa de se transformar num muro contra o proteccionismo e avançar na criação de uma área de livre-comércio que abranja todos os seus membros. A incerteza causada após a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos marcou o tom e o conteúdo dos debates, e levou inclusivamente o presidente do Peru e anfitrião da reunião, Pedro Pablo Kuczynski, a falar de “um momento-chave da história económica” do mundo ao encerrar o evento, que du-

HA VIDA ALEM ´

LUSA

GRANDE PLANO

a prosperidade a longo prazo da região. Devemo-nos ater a este projecto com firmeza”. A iniciativa chinesa alternativa é um projecto de acordo de comércio livre entre a Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático), Austrália, China e Índia, mas sem os Estados Unidos. Pequim defende o tratado como um passo importante na construção da zona de comércio livre da Ásia-Pacífico (FTAAP), que reuniria todos os países membros da APEC e cuja conclusão levaria anos, se um dia for concluída. “Vamos investir plenamente na globalização da economia, apoiando o comércio multilateral, com o avanço do FTAAP, trabalhando no sentido de uma rápida conclusão das negociações sobre o CJPE”, declarou Xi Jinping.

AAustrália mostrou-se sensível à proposta chinesa CJPE. Mas o Japão, a outra potência regional da Ásia, é menos propensa a ceder a Pequim. O país continua, juntamente com outros, como Chile, a defender o TPP, mesmo sem os Estados Unidos. “O pacto chinês de comércio livre não vai compensar o fracasso do TPP, que representa um golpe para as perspectivas económicas da Ásia emergente”, comentou neste sábado o Capital Economics numa análise. “Os seus benefícios para a região tendem a ser muito menores”, especialmente para países como o Vietname ou a Malásia. No entanto, “a retirada dos Estados Unidos criou uma oportunidade para a China para expandir sua influência na Ásia”, acredita a Capital Economics.


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para aprofundar a agenda de integração económica regional”. O FTAAP desenvolver-se-á de forma “externa e paralela” à Apec e terá como fim não só conseguir a liberalização dos mercados regionais, mas que esta seja “integral e de alta qualidade”, além de incluir os “temas de comércio e investimento de segunda geração”. Este acordo deverá ser construído em função dos acordos de comércio livre entre as economias do bloco actualmente existentes, particularmente o Acordo de Cooperação Transpacífico (TPP) e o Acordo Integral Económico Regional (RCEP), para o que os líderes pediram que permaneçam “abertos, transparentes e inclusivos”. Os trabalhos preliminares para este objectivo deverão estar prontos até 2020.

TEMAS CONSENSUAIS

DUTERTE PUTIN, ARMAS E MULHERES

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presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, se encontrou no sábado com o homem que chama de herói, o chefe de Estado russo Vladimir Putin, com quem falou sobre a “hipocrisia” e o “bullying” que, na sua opinião, os Estados Unidos praticam no mundo. Duterte afirmou que a Guerra Fria continua entre Washington e Moscovo, e também contra as Filipinas, uma ex-colónia americana identificada historicamente com o Ocidente. “Foi bom enquanto durou”, disse Duterte a Putin a respeito do que ele chama de “separação” de Washington. “Ultimamente vejo muitas nações ocidentais perseguindo as pequenas nações. É muita hipocrisia”, afirmou durante o encontro de 45 minutos. “E parece que começam

uma guerra, mas têm medo de ir à guerra, este é o problema dos Estados Unidos. Travaram guerras em muitos lugares, no Vietname, noAfeganistão e no Iraque, sob a simples alegação de que havia armas de destruição maciça, e não havia nenhuma”, disse. Duterte acrescentou que Washington “obrigou” Manila a contribuir com soldados no Vietname e Iraque. Quando Manila retirou as tropas não combatentes que integravam a coligação liderada por Washington no Iraque em 2004, os americanos “dificultaram-nos a vida”, afirmou Duterte a Putin. O encontro foi divulgado pela presidência filipina. Duterte disse que compartilha com o presidente russo uma paixão por armas e mulheres.

LUSA

A declaração final da Cúpula de Líderes, de sete páginas, abordou também áreas específicas como o desenvolvimento das energias renováveis, o papel da mulher, o

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DE TRUMP

QUATRO MINUTOS QUE VIERAM DO FRIO papel das pequenas e médias empresas, a conectividade e a luta contra o terrorismo e a corrupção. Estas posições são completamente diferentes das promessas de campanha de Donald Trump, que defendeu ante o eleitorado americano um maior proteccionismo económico para proteger os empregos nas indústrias contra a concorrência da China ou do México, países com mão-de-obra mais barata. As economias que fazem parte da Apec são Austrália, Brunei, Canadá, Chile, China e Hong Kong, Estados Unidos, Indonésia, Japão, Coreia, Malásia, México, Nova Zelândia, Papua Nova Guiné, Peru, Filipinas, Rússia, Singapura, Taiwan, Tailândia e Vietname. Estas economias representam 54% do Produto Interno Bruto (PIB) global e 50,3% das exportações mundiais, e contam com um mercado de mais de 2,8 mil milhões de pessoas, equivalente a 40% da população mundial. EFE

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e seu homólogo russo, Vladimir Putin, conversaram cerca de quatro minutos neste domingo sobre a Síria e a Ucrânia, na capital peruana, disse uma fonte da Casa Branca. “O presidente instou o presidente Putin a cumprir os compromissos assumidos pela Rússia nos termos dos acordos de Minsk, sublinhando o compromisso dos EUA e dos nossos parceiros com a soberania da Ucrânia”, disse a autoridade. Obama também enfatizou a necessidade de os chanceleres dos dois países “continuarem a procurar iniciativas, junto com a comunidade internacional, para diminuir a violência e aliviar o sofrimento do povo sírio”, disse o funcionário.

CONSELHOS À LAGARDE

A directora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, disse neste domingo aos líderes das 21 economias que formam a APEC que o crescimento económico mundial “continuará baixo” pela incerteza diante da situação política e económica dos países avançados. Lagarde manteve um diálogo informal com os líderes reunidos em Lima, informou a presidência peruana em comunicado. A directora do FMI analisou o contexto económico internacional e disse que o crescimento seguirá baixo devido à incerteza acerca da situação política e económica dos países com economias avançadas, bem como pela desaceleração nos Estados Unidos, e pela saída do Reino Unido da União Europeia, conhecida como “Brexit”. A chefe do Fundo acrescentou que será importante fortalecer a promoção dos investimentos e do livrecomércio com as economias avançadas, especialmente para os emergentes da América Latina, para conseguir reduzir as desigualdades financeiras. Sobre a América Latina, Lagarde projectou uma reactivação económica para o próximo ano.

ABE TE SÉSAMO

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, disse durante a cimeira da APEC, que o comércio livre é uma fonte de crescimento económico global e que Tóquio pretende continuar a provê-lo, disse um porta-voz do governo japonês. O comentário vem na sequência da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais que afectou as esperanças de aprovação pelos EUA do acordo de comércio livre da Parceria TransPacífico (TPP). O acordo foi escrito para que não possa ser implementado sem os Estados Unidos.

OS JULGAMENTOS DE ZUCKERBERG

O fundador e director executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, defendeu a “revolução da conectividade”, durante a cimeira da APEC. A comparência de Mark Zuckerberg foi uma das actividades mais marcantes do encontro, no qual foi ouvido e recebido com reverência enquanto falava dos seus planos para a “conectividade global”. É a primeira vez que o criador do Facebook, rede social com 1,8 mil milhão de utilizadores em todo o planeta, participa numa cimeira da APEC. Zuckerberg disse que as gerações actuais vivem actualmente “para a grandeza” e têm a capacidade de “conseguir coisas maiores e maior prosperidade” caso se opte por “trabalhar para unir e ligar todos”. “Sou optimista e também realista em relação ao quão difícil isto será. Ligar as pessoas significa algumas coisas - compaixão, ajudar as pessoas, ajudá-las a unirem-se, transmitir ideias, expor-se a povos e culturas de todo o mundo, e significa também oportunidades”, acrescentou. Mark Zuckerberg assinalou que, para ter êxito e para “que todos cheguem a ter oportunidades”, essa conectividade global não pode “dar-se ao luxo de deixar ninguém para trás”, tem de aproveitar os seus benefícios e não deve promover as desigualdades económicas e sociais.


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TIAGO ALCÂNTARA

AL ORÇAMENTO DE 2017 APROVADO POR UNANIMIDADE

PIDDA a subir

Foi aprovado com luz verde de todos os deputados, mas ainda assim causou algumas dúvidas. O Orçamento de 2017 prevê o aumento em um terço do montante destinado ao PIDDA. Os deputados sugerem que seja financiado através da reserva extraordinária

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GCS

Orçamento da RAEM para 2017 foi aprovado ontem na generalidade. O diploma prevê um valor global da receita que supera os 102 milhões de patacas, traduzindo-se num decréscimo de 0,3 por cento relativamente a este ano, ou seja, menos cerca de 307 milhões de patacas face ao Orçamento inicial de 2016. Não obstante todos os deputados terem concordado com a proposta, houve dúvidas no hemiciclo, sobretudo por causa do aumento da despesa ser essencialmente devido à subida do valor do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA). Prevê-se mais de 15 milhões de patacas, em que o aumento, relativamente a este ano, é de quase um terço, estando acima dos quatro milhões de patacas. Para Chui Sai Cheong, as verbas destinadas ao PIDDA não deveriam ser incluídas no Orçamento, mas sim retiradas da reserva extraordinária do Governo. O deputado entende que este gasto não pode ser visto enquanto despesa, mas sim como investimento. “Enquanto investimento, o montante deve ser retirado das

verbas destinadas a despesas extraordinárias. Já estamos em tempo oportuno para dar o passo e (...) utilizar parte da reserva extraordinária para os investimentos da RAEM, não incluindo esses montantes na parte das despesas orçamentais”, defendeu. Já Ng Kuok Cheong pretende saber se as injecções de capital previstas no Orçamento para 2017 incluem o apoio a projectos privados. “Estou mais preocupado com o dinheiro das injecções de capital: se é para aplicações financeiras de usufruto privado ou para o que é que são.”

GASTAR NÃO FICA BEM

O facto de Macau estar a gastar mais do que recebe foi um problema levantado por Song Pek Kei, que

O facto de Macau estar a gastar mais do que recebe foi um problema levantado por Song Pek Kei

transmitiu o clima de desconfiança da população perante um Executivo que, mesmo com a situação económica actual, continua a aumentar a despesa pública e os gastos orçamentais. “Independentemente da situação económica de Macau o orçamento aumenta sempre. Mesmo com a actual situação continua a aumentar e a população pode questionar onde é que o dinheiro vai ser gasto”, advertiu. Na resposta, o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, garantiu que há cuidado nos cálculos do Executivo, ao sublinhar que, “quanto às finanças públicas, o Governo precisa de ser prudente e isso não depende de uma situação económica mais favorável”. Relativamente ao aumento do PIDDA, Lionel Leong frisou que “o Governo precisa de investir mais capitais para aumentar a economia, e por isso há mais dinheiro para o plano”. No que respeita às receitas vindas do sector do jogo, o montante será idêntico ao deste ano, podendo atingir os 70 mil milhões de patacas. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

O rolo despesista

Chan Meng Kam pede mais rigor nos concursos públicos

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Governo tem de avaliar com mais rigor as empresas que vencem os concursos públicos. O recado de Chan Meng Kam é especialmente dirigido à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, sendo que o deputado considera que a integridade das empresas candidatas a concurso deve ter um maior peso na avaliação final. “O erário público foi desperdiçado como se fosse papel higiénico”, afirmou ontem Chan Meng Kam na Assembleia Legislativa (AL), no período de antes da ordem do dia. A imagem foi usada para falar da quase triplicação dos gastos nos projectos de habitação social de Mong Há e do metro ligeiro, sendo que, para o deputado, se aplica a grande parte dos projectos da tutela das Obras Públicas. “Desde a transferência de soberania que os preços das grandes obras tem ultrapassado em muito os valores orçamentados, afectando a credibilidade e a dignidade do Governo”, afirmou. Para o deputado, o que está em causa é a ausência de um factor de avaliação associado à credibilidade e integridade aquando dos concursos públicos. “Os concursos públicos falham na cientificidade e no rigor, ignorando a importância da integridade e credibilidade dos concorrentes”, afirma. “O parâmetro ‘integridade e credibilidade’ vale cinco pontos e em muitos concursos nem aparece, e o custo representa entre 40 e 60 por cento. Por isso há lacunas”, defende. O deputado dá como exemplo o caso do antigo director da Sociedade de Investimento e Fomento Imobiliário Chon Tit, que foi condenado a pena

de prisão por subornar Ao Man Long nas obras da Ponte Sai Van. Ainda assim, a empresa ganhou concursos públicos posteriores ao processo. “Em Fevereiro, esta empresa venceu um concurso público realizado pela DSSOPT com um custo mais baixo de 440 milhões de patacas. O concurso era para o parque de estacionamento da Rua Seng Tou e não era preciso avaliar o item de integridade e credibilidade”, diz, sendo que “quando este é considerado, as empresas apresentam propostas conjuntas minimizando, assim, a sua penalização”.

O BARATO SAI CARO

Chan Meng Kam salienta ainda o facto de o custo mais baixo das propostas – critério que tem sido usado para seleccionar empresas em detrimento de outras – ter várias desvantagens. “Após a adjudicação da empreitada do Parque Central da Taipa, uma dezena de empresas concorrentes apresentaram uma reclamação ao Chefe do Executivo. A população queixa-se da utilização de material de construção que não corresponde ao preço pago e da baixa qualidade das obras”, exemplifica o deputado. Para Chan Meng Kam, a adjudicação de obras públicas não pode continuar a ser feita na tentativa de adivinhar o futuro. Apesar de salientar que “a construção de infra-estruturas representa uma forma de aumentar os postos de trabalho e a promoção do crescimento económico, o orçamento das obras, o concurso público e a adjudicação não podem ser por adivinhação”. S.M.

MAIS SUBSÍDIOS, MENOS AMBIENTE

A proposta de lei para a alteração do montante do subsídio de residência foi ontem aprovada por unanimidade pela Assembleia Legislativa. Os deputados, apesar de sugerirem a mesma revisão para outro tipo de apoios aos funcionários públicos, não deixaram de prestar o seu apoio ao diploma da Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan. Já a proposta de José Pereira Coutinho que defende a criação de uma reserva natural em Coloane foi chumbada pela terceira vez, 20 votos contra, 11 a favor e uma abstenção.


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Governo mãos largas

Notificação Edital Chan Weng Hong, Presidente da Autoridade de Aviação Civil, faz saber que, tendo-se esgotado todas as tentativas de notificação pessoal, nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA), aprovado pelo Decreto-Lei n. º 57/99/M de 11 de Outubro, procede-se à notificação edital de (1) Bian Shaobo, portador do Passaporte n. º W455xxxxx, emitido na República Popular da China, residente em (中 國天津市北辰區), (2) Ji Yongchao portador do Passaporte n. º E139xxxxx, emitido na República Popular da China, residente em (中國安徽省鳳陽縣), (3) Ying Tuhong portador do Passaporte n. º E015xxxxxx, emitido na República Popular da China, residente em (中國浙江省縉雲縣), (4) Ji, Yijian, portador do Passaporte n. º E167xxxxx, emitido na República Popular da China, residente em (中國陝西省清邊縣), (5) Man Changqi portador do Passaporte n. º E482xxxxx, emitido na República Popular da China, residente em ( 中國江西省南昌市), (6) Wei, Sheng portador do Passaporte n. º E386xxxxxx, emitido na República Popular da China, residente em (中國安徽省舒城縣), (7) Li, Shaoyan portadora do Passaporte n. º E783xxxxxx, emitido na República Popular da China, residente em (中國珠海斗門), e, (8) Xiong, Guoping portador do Passporte n. º E714xxxxx, emitido na República Popular da China, residente em (中國江西省南昌市) nos seguintes termos: (1) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 15 de Maio de 2015, foi instaurado procedimento administrativo a Bian Shaobo, para averiguação dos factos ocorridos no dia 7 de Maio de 2015, a bordo da aeronave da companhia aérea Air Macau, com a matrícula NX238, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 877/2015/DPA, datado de 7 de Maio de 2015, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 2 do n.º 1 do artigo 4. º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003.

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ideia da criação de um seguro de saúde por parte do Executivo que abranja todos os residentes de Macau foi apresentada ontem pelo deputado Si Ka Lon. No período de antes da ordem do dia da reunião plenária, o tribuno defendeu que, além das iniciativas que têm vindo a ser tomadas por parte dos Serviços de Saúde em que o investimento nos recursos do sector é visível, ainda falta qualidade, pelo que devem ser dadas outras garantias. “Nos últimos anos, o Governo investiu mais recursos na área da saúde (…) Porém, quanto ao tempo de espera e à qualidade, continua a haver uma certa distância em relação às expectativas dos cidadãos.” Para o deputado, ainda há muitos residentes “excluídos do sistema de protecção, levando a que muitos se sintam inseguros em relação aos cuidados de saúde”. Si Ka Lon dá como exemplos a “classe sanduíche” e as famílias mais carenciadas financeiramente, que sentem mais pressão no trabalho e que são as mais vulneráveis a doenças. No entanto, apontou, “são também as que não podem adoecer, pois sentem-se inseguras e com medo”. O deputado sustentou ainda a proposta com o caso de uma família que aufira um salário médio em Macau: após descontados os gastos mensais nas despesas correntes, o dinheiro que resta é pouco.Assim sendo, “as pessoas estão sempre muito preocupadas, porque se um (dos cônjuges)

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Si Ka Lon quer seguro universal de saúde

TIAGO ALCÂNTARA

A criação de um seguro para os residentes de Macau foi a sugestão deixada ontem por Si Ka Lon. O deputado considera que só assim a população pode ter confiança nos Serviços de Saúde e viver sem medo de adoecer

POLÍTICA

(2) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 13 de Julho de 2015, foi instaurado procedimento administrativo a Ji Yongchao, para averiguação dos factos ocorridos no dia 7 de Julho de 2015, a bordo da aeronave da companhia aérea Air Macau, com a matrícula NX875, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 1357/2015/DPA, datado de 8 de Julho de 2015, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 4 do n.º 1 do artigo 4. º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003. (3) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 24 de Novembro de 2015, foi instaurado procedimento administrativo a Ying Tuhong, para averiguação dos factos ocorridos no dia 14 de Novembro de 2015, a bordo da aeronave da companhia aérea Air Macau, com a matrícula NX875, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 2311/2015/DPA, datado de 14 de Novembro de 2015, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 2 do n.º 1 do artigo 4. º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003. (4) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 24 de Novembro de 2015, foi instaurado procedimento administrativo a Ji, Yijian, para averiguação dos factos ocorridos no dia 14 de Novembro de 2015, a bordo da aeronave da companhia aérea Air Macau, com a matrícula NX875, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 2312/2015/DPA, datado de 14 de Novembro de 2015, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 4 do n.º 1 do artigo 4. º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003. (5) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 24 de Novembro de 2015, foi instaurado procedimento administrativo a Man Changqi, para averiguação dos factos ocorridos no dia 5 de Novembro de 2015, a bordo da aeronave da companhia aérea Air Macau, com a matrícula NX897, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 2264/2015/DPA, datado de 6 de Novembro de 2015, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 2 do n.º 1 do artigo 4. º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003.

“Nos últimos anos, o Governo investiu mais recursos na área da saúde (…) Porém, quanto ao tempo de espera e à qualidade, continua a haver uma certa distância em relação às expectativas dos cidadãos.” SI KA LON DEPUTADO adoecer, a família fica sem um dos pilares económicos e ainda tem de pagar valores exorbitantes pelas custas da saúde, ficando numa situação muito vulnerável”. É necessário que o Governo continue a promover a construção de hospitais, a formação de talentos médicos e que reveja também as actuais políticas do sector e do regime social, disse.

Si Ka Lon quer ainda que seja criado “um regime de saúde médico para toda a população.” Para Si Ka Lon, a medida, “além de poder aliviar os encargos dos hospitais de Macau, controlando os custos médicos que estão em constante expansão, pode servir de garantia de saúde aos residentes”. Sofia Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

(6) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 5 de Abril de 2016, foi instaurado procedimento administrativo a Wei, Sheng, para averiguação dos factos ocorridos no dia 19 de Março de 2016, a bordo da aeronave da companhia aérea Air Macau, com a matrícula NX897, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 528/2016/DPA, datado de 19 de Março de 2016, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 2 do n.º 1 do artigo 4. º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003. (7) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 14 de Junho de 2016, foi instaurado procedimento administrativo a Li, Shaoyan, para averiguação dos factos ocorridos no dia 17 de Maio de 2016, a bordo da aeronave da companhia aérea Jin Air, com a matrícula LJ121, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 944/2016/DPA, datado de 17 de Maio de 2016, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 2 do n.º 1 do artigo 4. º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003. (8) Por decisão do Presidente da Autoridade de Aviação Civil, datada de 14 de Junho de 2016, foi instaurado procedimento administrativo a Xiong, Guoping, para averiguação dos factos ocorridos no dia 2 de Junho de 2016, a bordo da aeronave da companhia aérea Jet Star, com a matrícula BL688, objecto do relatório da Polícia de Segurança Pública (Divisão do Aeroporto) Ref. 1046/2016/DPA, datado de 3 de Junho de 2016, que são susceptíveis de constiuir infracção administrativa prevista e punida na alínea 2 do n.º 1 do artigo 4. º do Regulamento Administrativo n. º 31/2003. Mais se notifica que os processos podem ser consultados nas instalações da Autoridade de Aviação civil, sitas na Alameda Dr. Carlos D’Assumpção, 336-342, Centro Comercial Cheng Feng, 18º andar, em Macau, durante as horas normais de expediente. Notifica-se ainda, que nos termos do n.º 2 do artigo 87.º e do n.º 1 do artigo 93.º do CPA, os interessados dispõem de 25 dias a contar do dia seguinte ao dia da fixação do presente edital, para juntar documentos e pareceres ou requerer diligências de prova úteis para o esclarecimento dos factos com interesse para a decisão e para se pronunciarem sobre o conteúdo dos respectivos processos em audiência de interessados. E para constar, se lavrou o presente edital que vai se fixado nos lugares de estilo e publicado em dois jornais mais lidos da Região Administrativa Especial de Macau, um em língua chinesa, outro em língua portuguesa. Autoridade de Aviação Civil de Macau, aos 22 de Novembro de 2016 O Presidente, Chan Weng Hong


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Em prol da transição suave Ella Lei pede mais atenção aos trabalhadores das concessionárias

A Habitação GOVERNO ACUSADO DE INÉRCIA APÓS APRESENTAÇÃO DAS LAG

Olhemos para o céu

Vários deputados aproveitaram ontem o período de antes da ordem do dia para acusar o Governo de nada fazer para resolver o problema da falta de habitação e dos preços elevados no mercado. Foi exigido ao Executivo que aumente o imposto do selo, tal como fez Hong Kong

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HUI Sai On admitiu que a classe média está a sofrer os constrangimentos naturais de quem não consegue comprar uma casa, mas não lançou novas medidas para controlar os preços das casas no sector privado. Após a apresentação do relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano, os deputados utilizaram o período de antes da ordem do dia no hemiciclo para exigir acções concretas e imediatas ao Executivo. O deputado Ho Ion Sang falou do aumento de imposto do selo recentemente implementado em Hong Kong. “Macau está perante a mesma situação, mas o Governo apenas refere que vai actuar quando for necessário e que está atento aos desenvolvimentos do sector imobiliário. O mercado imobiliário de Hong Kong registou um aumento do preço das casas de 8,9 por cento em Agosto, uma diferença de apenas 3,5 por cento face ao seu máximo histórico. Em Macau, o preço de Setembro registou aumentos de 12,5 por cento, muito superior a Hong Kong.”

Para Ho Ion Sang, se Macau “não se ajustar ou articular as suas medidas com as regiões vizinhas atrairá, decerto, a circulação livre de capitais, e a entrada de capitais em Macau far-se-á num ritmo muito mais acelerado, e assim perderá a melhor altura para prevenir riscos”. O deputado pede, por isso, medidas imediatas para travar mais um período de especulação imobiliária. “Há que pensar em medidas preventivas para evitar que os efeitos de um vácuo político atraiam a afluência de capitais que estimulem mais uma vez o mercado imobiliário, no sentido de prevenir o disparo das oscilações dos preços dos imóveis. A fim de evitar bolhas no mercado imobiliário, mais vale prevenir do que remediar.” Também Song Pek Kei falou da necessidade de aumentar o imposto. “Para baixar os preços das casas foram tomadas medidas picantes de estabilidade. Em Hong Kong foi implementada a cobrança de um imposto do selo de 15 por cento para a aquisição de casa que não seja a primeira habitação. Mas em Macau, mesmo com as receitas do jogo a subir outra vez, o Go-

verno diz que ainda estamos na fase de observação, portanto a população só pode continuar a olhar para o céu.”

EMPRESA PÚBLICA PRECISA-SE

Zheng Anting optou por falar dos atrasos sucessivos na construção de habitação pública e sugeriu mesmo a criação de uma empresa pública para lidar com o assunto. “Deve-se criar uma empresa pública para promover e acelerar a construção de casas públicas, para garantir o desenvolvimento paralelo em termos de qualidade e quantidade”, defendeu na Assembleia Legislativa. O número dois de Mak Soi Kun alertou ainda para a necessidade de promover um estudo para que se analise o panorama do mercado. “Sugiro que se faça um estudo, pelo Secretário para a Economia e Finanças, por forma a que se estabeleçam medidas em relação ao mercado imobiliário e se proceda aos controlos do mercado para encontrar as suas insuficiências e se faça como nas regiões próximas, com a cobrança fiscal em forma de escada, para promover um desenvolvimento saudável do mercado privado.”

Acrítica à ausência de medidas no relatório das LAG também se fez ouvir da boca de ZhengAnting. “Nas LAG deste ano refere-se que se vai acelerar a oferta de habitação pública, mas não foi estabelecida nenhuma calendarização. O Governo deve estabelecer medidas eficazes e atempadas para promover um desenvolvimento paralelo entre o mercado privado e a construção de casas públicas, por forma a atingir o bem-estar de todos.” Já o deputado José Pereira Coutinho lembrou que, nos últimos dez anos, as LAG contêm muitas promessas que nunca são cumpridas. “Muita publicidade foi feita no sentido de promover a elevação da qualidade de vida dos cidadãos, construindo-se uma cidade com condições ideais de vida e melhoramento do bem-estar. Mas o que a população sente é exactamente o contrário. O Governo não se tem empenhado na questão habitacional e aumenta o número de jovens que são obrigados a viver com os pais e os avós numa casa”, rematou. Andreia Sofia Silva (com S.M.) andreia.silva@hojemacau.com.mo

deputada Ella Lei interpelou ontem o Governo sobre a necessidade de implementar melhores processos de renovação de contratos com as concessionárias de serviços públicos, no sentido de garantir a devida protecção dos trabalhadores. No período de interpelações antes da ordem do dia, a deputada falou do caso dos funcionários da ETAR. “Em finais de Setembro um grupo de trabalhadores da Estação de Tratamento de Águas Residuais da península de Macau pediu-me apoio, porque a gestão da ETAR seria transferida para outra empresa em menos de uma semana, e como não havia informações sobre o futuro do pessoal, estavam preocupados. Depois do acompanhamento do caso os trabalhadores conseguiram manter-se na empresa, mas isto demonstra que os trabalhadores podem ser afectados quando há pouco tempo para a transição entre as concessões públicas.” Ella Lei recorda ainda que “a renovação das concessões de serviços públicos e a transição entre concessões, além de afectarem a vida da sociedade e trazerem inconveniências para a população, também estão relacionadas com a transição dos trabalhadores e a protecção dos seus interesses”. A deputada falou do exemplo concreto da renovação dos contratos com as concessionárias de autocarros públicos. “O Governo deve retirar os ensinamentos do passado e rever o actual contrato de concessão, clarificando quanto antes o futuro do desenvolvimento desse serviço público. Deve preparar quanto antes os trabalhos do concurso de adjudicação para assegurar que o serviço prestado não venha a ser afectado graças a atrasos administrativos e para que os trabalhadores fiquem protegidos”, concluiu Ella Lei. A.S.S.


7 hoje macau terça-feira 22.11.2016

SOCIEDADE

Caso Ho Chio Meng JULGAMENTO DO PROCESSO CONEXO JÁ ESTÁ MARCADO

Já há data para o julgamento dos restantes arguidos do caso Ho Chio Meng. O Tribunal Judicial de Base começa a avaliar o processo no dia 17 de Fevereiro

ANTÓNIO FALCÃO

O dia dos outros nove

C

ERCA de dois meses e meio depois de o ex-procurador da RAEM começar a ser julgado no Tribunal de Última Instância (TUI), chegará a vez de, no Tribunal Judicial de Base (TJB), um colectivo de juízes dar início ao processo conexo. A data do julgamento dos nove arguidos foi ontem divulgada, em comunicado do Gabinete do Procurador. À semelhança do que aconteceu com o caso que envolveu o ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long, Ho Chio Meng não vai ser julgado em conjunto com os restantes suspeitos. Os factos são os mesmos, mas o antigo procurador responde em primeira instância no TUI, devido à natureza das funções que desempenhava aquando da alegada prática dos mais de 1500 crimes de que vai acusado. No passado dia 10, foi divulgada a data de início do julgamento de Ho Chio Meng: 5 de Dezembro. Ontem, o Ministério Público deu a conhecer que remeteu “há dias” o processo contra os outros nove arguidos para o TJB, tendo sido marcada a manhã de 17 de Janeiro para o início da audiência de julgamento.

U

M estudo realizado pelo Centro deAcolhimento sobre o Jogo e Apoio à Família Sheng Kung Hui revela que 6,3 por cento dos mais de 500 homens inquiridos admitem ser violentos com os seus familiares devido ao stress. Segundo o Jornal do Cidadão, 9,2 por cento dos inquiridos disseram que recorrem à violência “de vez em quando” ou “sempre”, ou que “tiveram conflitos com os seus membros da família”.

Há dois arguidos do processo conexo que estão em prisão preventiva. Respondem por vários crimes – com destaque para burla – em co-autoria com o antigo procurador. Aquando da detenção, o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) explicou que o caso envolve duas antigas chefias do Ministério Público, o ex-chefe do gabinete do procurador e um assessor, vários empresários locais e dois familiares de Ho Chio Meng. Ainda não são conhecidos detalhes sobre o que terá acontecido – sabe-se apenas que, em causa, está a adjudicação de quase duas mil obras nas instalações do Ministério Público, sempre às mesmas

empresas. Os crimes terão ocorrido entre 2004 e 2014, e as empresas envolvidas terão recebido um valor superior a 167 milhões de patacas. O CCAC acredita que, deste valor, 44 milhões terão sido encaixados pelos arguidos.

O APOIO DO MP

“Em relação aos dois processos criminais que envolvem Ho Chio Meng e os outros nove arguidos, acusados pela prática de vários crimes, o Ministério Público vai apoiar oficiosamente o tribunal na descoberta da verdade e cumprir, nos termos legais, as próprias funções de salvaguarda da integridade e legalidade consagradas

Chutos e pontapés

Homens justificam violência doméstica com stress

O estudo visou investigar “a gestão do stress e a expressão da emoção dos homens”, tendo sido realizado no início deste ano. Os entrevistados têm entre 30 a 55 anos. O stress é originado sobretudo pelo estado da economia, trabalho e família, sendo que estes factores atingem sobre-

tudo os homens com idades compreendidas entre os 30 e os 40 anos. A “satisfação das esperanças e expectativas dos familiares”, os “auto-requisitos” ou a “transição dos papéis familiares” também são factores apontados pelos inquiridos para terem maiores níveis de stress.

no sistema jurídico da RAEM”, promete o organismo no comunicado enviado. De recordar que o julgamento de Ho Chio Meng já fez correr tinta nos jornais. Os mandatários do antigo responsável máximo pelo Ministério Público deram conta à imprensa de que não tiveram a confiança do processo, o que está

Há dois arguidos do processo conexo que estão em prisão preventiva

Perante situações de “enorme stress” os homens têm, além da violência, outras opções, como “fazer exercício físico” ou “ouvir música”, seguindo-se “contar os problemas aos amigos”. Mais de 60 por cento dos entrevistados negam que “fumar e beber álcool sejam métodos usados pelos homens para expressarem as emoções”, enquanto 88 por cento não concordam que jogar “pode ajudar a avaliar os sentidos”.

a dificultar a defesa do arguido. As explicações surgiram um dia depois de o TUI ter garantido que “nunca o arguido ou os seus advogados se queixaram de falta de acesso ao processo”. Constituído por mais de 30 mil páginas, o processo tem 36 volumes da acusação principal e 81 volumes de apensos. Só o despacho de pronúncia tem mais de mil páginas – ao todo, o ex-procurador responde por 1536 crimes. No entanto, os advogados só podem consultar os documentos durante o horário de expediente do TUI. I.C.

Cerca de 40 por cento dos inquiridos têm por hábito fumar, beber álcool ou jogar, tendo maior tendência a esconder as suas emoções em

relação aos que não adoptam estes hábitos de consumo. Com base nos resultados referidos, os responsáveis pelo centro Sheng Kung Hui acreditam que devem ser tidas em conta as necessidades emocionais e psicológicas dos homens, além de se promover o fim dos rótulos e dos papéis que estes devem desempenhar perante a sociedade. Angela Ka (revisto por A.S.S.) angela.ka@hojemacau.com.mo


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SARA MEDINA

SOCIEDADE

“Queremos utilizar Macau como uma plataforma” CONSULTORA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

“Não existe nenhuma entidade de Macau que tenha recebido financiamento para participar no Horizon 2020.”

de ciência e tecnologia na China e as incubadoras de empresas. Temos uma rede de parceiros por toda a China Continental e queremos também poder utilizar Macau como uma plataforma, que também pode beneficiar deste centro que vai arrancar agora em 2017.

SOFIA MOTA

É uma das responsáveis da Sociedade Portuguesa de Inovação, empresa portuguesa com representação em Pequim desde 1999. Sara Medina veio a Macau falar da cooperação entre a União Europeia e a China, país que procura cada vez mais projecção ao nível internacional nas áreas da ciência, tecnologia e inovação. Macau tem espaço para crescer lá fora

Veio a Macau para um seminário sobre ciência, tecnologia e inovação na China, numa perspectiva europeia. A Europa e a China têm estado a cooperar nesta matéria. No programa que antecedeu o Horizon 2020, Pequim já tinha sido um parceiro importante. Como é que a China se posiciona neste momento? A China tem vindo a apostar muito nas temáticas da ciência, tecnologia e inovação. O 13o Plano Quinquenal aposta muito nessas temáticas e há uma participação nos programas da Comissão Europeia: a obtenção de financiamento, nomeadamente através do Horizon 2020, um programa que está com um financiamento disponível de 80 mil milhões de euros, entre 2016 e 2020. No programa anterior, o 7o Programa Quadro, já se posicionou de uma forma muito boa – estava em terceiro lugar, a seguir aos Estados Unidos e à Rússia. Neste momento, está também a apostar na cooperação com a Europa através da obtenção de financiamento no programa Horizon 2020. Em que moldes é que o Horizon 2020 se está a desenvolver? É um programa bastante sofisticado, não é de fácil acesso, é preciso compreender muito bem quais são as diferentes estruturas e oportunidades que existem. Há

oportunidades no agro-alimentar, na energia, na cooperação internacional – existem várias áreas que estão disponíveis. Através do financiamento que está também disponível através do Ministério da Ciência e Tecnologia chinês e da Academia de Ciências Chinesa, proporciona-se a instituições chinesas – universidades, centros de investigação e empresas – que possam candidatar-se e obter este tipo de apoio. O objectivo final é aumentar a cooperação com os Estados membros da União Europeia, que ainda são, neste momento, 28. Acaba por ser muito interessante, porque o financiamento disponível vai proporcionar encontros – vai haver reuniões na Europa e na China –, e ter acesso a fontes de informação que, de outra forma, não estariam disponíveis. Visa também a cooperação ao nível da transferência de tecnologia e nas temáticas da ciência, tecnologia e inovação. Trabalha há já vários anos com a China e com a Ásia. Os últimos anos têm sido muito importantes para a projecção da China nestas áreas, concorda? Certo. Trabalho na SPI (Sociedade Portuguesa de Inovação), uma empresa de consultadoria focada nas temáticas da ciência, tecnologia e inovação. A empresa foi criada

em 1996, pelo meu pai [Augusto Medina], professor catedrático da Universidade do Porto. Em 1996 surgiu o Livro Verde da Inovação da Comissão Europeia. Isso inspirou-o para a criação desta empresa, que faz uma ligação entre as empresas privadas, as universidades e as instituições de carácter científico e tecnológico, e as organizações internacionais. Temos, neste momento, 75 pessoas e estamos aqui na China desde 1999, com um escritório de representação em Pequim, e criámos em 2010 uma empresa aqui em Macau. Em Pequim, temos três consultores a tempo inteiro e temos estado a trabalhar muito nos programas de cooperação de ciência, tecnologia e inovação com a China. Temos vários projectos neste momento a decorrer, tanto na área das doenças epidemiológicas – um tema muito específico, muito técnico –, como ao nível do programa Dragon Star Plus [um programa de cooperação entre a União Europeia e a China nas áreas da pesquisa e da inovação]. Ganhámos agora um novo projecto para a criação de um centro de investigação e inovação na China, que vai ter a sede em Pequim, e tem também um conjunto de parceiros muito interessantes – entre eles o centro que faz parte do Ministério da Ciência e Tecnologia, responsável por todos os parques

Como é que surgiu esse interesse pela China? Há 17 anos, o país era muito diferente daquilo que é hoje. Na altura ainda não estava na SPI – estou desde 2003. O meu pai veio a uma reunião em Macau e foi a Xangai, e achou que isto era tão diferente que, para se trabalhar com o Oriente, era necessário termos presença física. Foi assim que se decidiu criar o escritório de representação em Pequim. Neste momento, já temos também um escritório em Singapura, por isso temos também projectos no Sudeste Asiático. Este escritório permite-nos alargar o trabalho à Indonésia, à Malásia... Esta região é muito interessante, está a fazer-se um trabalho muito interessante, e Macau é também um ponto crucial para nós. Que participação pode ter Macau nesta dinâmica da área da ciência, tecnologia e inovação? Existe o Fundo de Ciência e Tecnologia de Macau (FCTM) – tenho uma reunião marcada para hoje – que permite co-financiar entidades locais que queiram candidatar-se a projectos do Horizon 2020. Como na China Continental existe o Ministério da Ciência e Tecnologia e a Academia das Ciências Chinesa, aqui em Macau existe o FCTM. Por isso, entidades de Macau são incentivadas para poderem cooperar com a Europa. Penso que é uma área interessante e que, neste momento, está pouco explorada. A informação que tenho é que não existe nenhuma entidade de Macau que tenha recebido financiamento para participar no Horizon 2020. Na reunião vou ver até que ponto é que podemos trabalhar mais em conjunto com entidades locais para que aumentem a sua participação neste programa. Isabel Castro

isabel.castro@hojemacau.com.mo


9 hoje macau terça-feira 22.11.2016

SOCIEDADE

Crime HÁ MAIS DE CASOS DE ABUSO SEXUAL DE MENORES

Um ano muito negro Já houve mais cinco casos de abuso sexual de menores até agora do que em todo o ano de 2015. Entre Janeiro e Outubro, a Polícia Judiciária deu início a nove processos. No ano passado, tinham sido registados apenas quatro

INFORMAÇÕES FISCAIS ARRANCA HOJE MAIS UMA CONSULTA PÚBLICA

C

OMEÇA hoje mais uma consulta pública sobre o projecto de lei referente à “troca de informações em matéria fiscal”, processo que irá durar até ao dia 23 de Dezembro. Segundo um comunicado, o novo diploma “visa essencialmente alinhar o Governo com os padrões para a actualização da troca de informações a pedido (de outrem)” ou ainda sobre o “único padrão global da troca automática de informações sobre contas financeiras”, que foram elaboradas pelo Fórum Global sobre Transparência e Troca de Informações para Fins Fiscais da Organização para a Cooperação

e Desenvolvimento Económico (OCDE). Com o alargamento do âmbito da aplicação da lei em matéria de troca de informações, o Governo vai poder fazer uma execução inicial da troca de informações a pedido, bem como “as trocas automáticas e espontâneas” de informações. O novo diploma vai ainda permitir ao Executivo “ter uma base jurídica e condições suficientes para poder proceder em conformidade e ficar aprovado, na futura avaliação a ser realizada pelas organizações internacionais, em relação à capacidade de aplicação da troca de informações em matéria fiscal”.

OUTUBRO INFLAÇÃO CHEGA AOS 2,75 POR CENTO

A taxa de inflação em Outubro fixou-se em 2,75 por cento. Os dados oficiais indicam que a subida se deve sobretudo aos crescimentos verificados nos índices de preços das secções das bebidas alcoólicas e tabaco, da educação e dos transportes. No mês passado, a inflação subiu 1,33 por cento na comparação anual, com uma diminuição de 0,26 por cento em relação a Setembro.

TAIPA PEQUENA CONCLUÍDA OBRA DO MIRADOURO

Está pronta a construção do miradouro da Taipa Pequena. Segundo um comunicado oficial, a obra será vistoriada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) sendo depois “entregue à entidade gestora, que irá planear a sua entrada em funcionamento”. A empreitada inclui elevadores, abrigos para o sol e chuva, e instalações sanitárias, além de um pequeno parque de estacionamento para autocarros de turismo. O Pagode Tou Tei foi preservado.

NOVOS ATERROS ADJUDICADA PONTE DA ZONA A

Já foi escolhida a empresa que irá construir o acesso entre a península de Macau e a zona A dos novos aterros, composta por habitação pública. A Companhia de Engenharia Porto da China irá receber 305 milhões de patacas para construir a “via de acesso da zona A dos novos aterros urbanos para a península de Macau – empreitada de construção da ponte de ligação”, prevendo-se que a obra fique concluída em 2018.

TRÂNSITO UGAMM VAI DAR UMA AJUDA

A União Geral das Associações de Moradores (ou Kaifong) vai receber do Governo mais de quatro milhões de patacas para a prestação de “serviços de assistência de trânsito”, entre Janeiro e Dezembro do próximo ano. O despacho, assinado pelo Chefe do Executivo, não explica as razões por detrás da prestação deste tipo de serviços por parte de uma associação de cariz comunitário e político.

O

S dados da Polícia Judiciária foram ontem avançados pela Rádio Macau, na semana em que o Governo prometeu entregar, à Assembleia Legislativa, a proposta de revisão de crimes contra a liberdade sexual. Nos primeiros 10 meses do ano, a Polícia Judiciária (PJ) deu início a nove processos em há suspeitas de abuso sexual de menores. Já no que diz respeito aos crimes sexuais em geral, os dados da PJ demonstram que, até Outubro, foram iniciados 35 processos, o que, até agora, significa menos quatro casos do que os registados nos 12 meses de 2015. Para o director da Judiciária, o número não é muito preocupante. Ainda assim, Chau Wai Kuong apela às vítimas para denunciarem eventuais abusos. “Não são muitos casos. Mas acho que é melhor que o cidadão tenha coragem para denunciar os casos à PJ. Se

houver denúncia temos de actuar. Se o cidadão decidir não apoiar a PJ então isso é mau para as duas partes”, disse à emissora. Chau Wai Kuong admite que a PJ deu sugestões na fase de elaboração da proposta de revisão de crimes contra a liberdade sexual, mas não quis adiantar quais. De qualquer forma, reconhece que se a lei for aprovada irá ajudar a polícia a combater mais eficazmente os crimes sexuais.

No que diz respeito aos crimes sexuais em geral, os dados da Polícia Judiciária demonstram que, até Outubro, foram iniciados 35 processos

“O que vai acontecer no futuro não depende de nós, depende da Assembleia e da comunidade de Macau. Somos um órgão policial, executamos a lei, mas se tivermos um instrumento para combater esse tipo de crimes, então para nós óptimo”, disse o responsável, acrescentando que o mais importante é haver consenso. “Não cabe só à PJ dizer que sim ou não. É melhor haver um consenso social e ouvir-se a população. Nós damos a experiência profissional a esta lei.” De uma forma geral, e de acordo com a vontade da maioria expressa na consulta pública, a proposta do Governo determina que a violação em grupo passe a ser considerada uma circunstância agravante de violação e também que o constrangimento a sexo oral passe a constituir crime de violação. Todos os cidadãos inquiridos mostraram-se igualmente a favor da eliminação da diferenciação de género no crime de violação, em prol da igualdade sexual.


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EXPOSIÇÃO MAIS DE 60 ARTIST

EVENTOS

É

Prendas no Albergue

Mercado de Natal mostra trabalho de 16 artesãos locais

É

já no próximo dia 3 de Dezembro que o Albergue acolhe a primeira edição do Mercado de Natal, uma ideia que partiu de Cátia Silva, gestora da empresa de eventos Bad Bad Maria. São 16 os artesãos locais que vão mostrar os seus produtos, seja comida, artigos de decoração, roupas ou acessórios. “Este evento nasce precisamente da paixão que tenho por artesanato. Juntando três factores, a época do ano, um sítio lindíssimo como é o Albergue e esta vontade de fazer coisas novas, pensei em promover um evento que pudesse proporcionar um dia diferente”, contou ao HM Cátia Silva, que tem a responsabilidade da organização de toda a iniciativa, que tem o patrocínio do Albergue SCM.

“O projecto serve para apoiar os artesãos locais que fazem coisas à mão, quer seja roupa, comida, acessórios, decoração. Tentámos apoiá-los e promover um evento ligado à época natalícia, e aí surge esta sinergia. Espero que haja mais edições. O projecto foi apresentado há algum tempo e tem sido uma loucura (em termos de organização). Mas é efectivamente uma coisa que gosto de fazer”, disse ainda. A primeira edição não pretende, para já, apoiar projectos de cariz social, mas poderá fazê-lo um dia, confirmou a mentora do Mercado de Natal. “Enquanto projecto inicial não pensámos em acções de caridade, mas temos um participante, o Le Petit Chef, e os lucros dos produtos que venderem vão para uma obra de caridade.

O projecto inicial foi feito só para apoiar os artesãos locais e promover um evento de Natal. Mas nas próximas edições podemos pensar nisso.” Para Cátia Silva, são necessárias mais iniciativas deste género para promover o trabalho artesanal que é feito por muitas mãos, sem grande conhecimento do público. “É necessário este tipo de eventos para envolver a comunidade. Todas as pessoas que fazem estes trabalhos, a maior parte, não têm negócios, uma loja. É uma oportunidade única de mostrarem o trabalho que fazem ao longo do ano.” O Mercado de Natal tem entrada gratuita e as portas estão abertas entre as 11h e as 19h. A.S.S.

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA FLORES • Afonso Cruz

Prémio Autores para Melhor Ficção Narrativa, atribuído pela SPA em 2014. Um homem sofre desmesuradamente com as notícias que lê nos jornais, com todas as tragédias humanas a que assiste. Um dia depara-se com o facto de não se lembrar do seu primeiro beijo, dos jogos de bola nas ruas da aldeia ou de ver uma mulher nua. Outro homem, seu vizinho, passa bem com as desgraças do mundo, mas perde a cabeça quando vê um chapéu pousado no lugar errado. Contudo, talvez por se lembrar bem da magia do primeiro beijo – e constatar o quanto a sua vida se afastou dela – decide ajudar o vizinho a recuperar todas as memórias perdidas. Uma história inquietante sobre a memória e o que resta de nós quando a perdemos. Um romance comovente sobre o amor e o que este precisa de ser para merecer esse nome.

h a b i t ual verem-se obras de arte em galerias ou em espaços maiores de exposição, como feiras, mas desta vez os amantes da pintura poderão vivenciar a arte de outra forma. A partir desta quinta-feira e até domingo, o Hotel Regency, na Taipa, acolhe a segunda edição da “6075 Macau Hotel Art Fair”, onde quadros de cerca de 60 artistas, vindos de várias regiões da Ásia, estarão expostos nas paredes dos quartos e nos corredores. Após a primeira edição, organizada em Janeiro deste ano, os promotores decidiram apostar nas obras de arte de artistas nascidos após 1975 – daí os números “6075”. De Macau participam 11 entidades, sejam galerias de arte ou artistas em nome individual, incluindo a AFA – Art for All Society. De Hong Kong chegam trabalhos de quatro galerias, enquanto a China domina em termos de participações, com 15 entidades.Além de Taiwan, que também esteve representada na primeira edição, a Macau Hotel Art Fair contará com a presença dos trabalhos da Myanmar Ink Art Gallery, constituindo uma estreia no território. A segunda edição fica também marcada pelo lançamento de uma nova área artística, intitulada “Special Discovery”, e que se dedica a abordar apenas uma forma de arte. Esta conta este ano com a participação da Academia de Arte da China. Outra das novidades prende-se com a participação da Fundação Stanley Ho, que patrocina o prémio “Dr. Stanley Ho Foundation Art”. Este visa “seleccionar potenciais artistas com performances excepcionais por forma a apoiar o seu futuro desenvolvimento e encorajar novas criações”. O Governo faz-se representar através do apoio concedido pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) na divulgação de jovens artistas de Macau.

TERRA DINÂMICA

“Os artistas vão trazer vitalidade a cada quarto de hotel ao

QUADRO CORRED

Começa esta quinta-feira a se Hotel Art Fair”, que vai mos pelas paredes dos quartos do Fundação Stanley Ho partici

apresentar os seus projectos a solo. Ao exibir trabalhos de artistas emergentes e ao colaborar com galerias, tal como curadores e críticos, a segunda edição da 6075 Ma-

cau Art Fair irá estabelecer-se como uma plataforma de trocas culturais e de ligação com agentes e artistas de grande potencial”, apontam os organizadores.

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET

O SELVAGEM DA ÓPERA • Rubem Fonseca

Romance, biografia, argumento cinematográfico: “O Selvagem da Ópera” é tudo isto, pela pena brilhante de Rubem Fonseca. Tem como protagonista o compositor Antônio Carlos Gomes, autor de “O Guarani” e de outras óperas outrora famosas e hoje esquecidas, como “Fosca”, “Salvator Rosa”, “Maria Tudor” e “Il Schiavo”. Ao relatar a trajetória do músico brasileiro – a sua partida do Rio de Janeiro imperial, sob os auspícios do imperador D. Pedro II, a sua ida para Milão, os seus inúmeros casos amorosos, o reconhecimento da sua arte pelos maiores nomes da ópera de então, compositores, maestros e cantores, garantindo o seu lugar num mundo em que circulam Verdi, Puccini, Ponchielli e Wagner, e os difíceis anos finais marcados por tragédias familiares e esterilidade criativa –, Rubem Fonseca faz-nos entrar no extraordinário panorama do mundo operático do final do século XIX e descreve as vicissitudes da vida de um grande artista que, tal como nas grandes óperas dramáticas, tocou os extremos do êxito e da tragédia.


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TAS PARTICIPAM NA “6075 MACAU HOTEL ART FAIR”

ROS PELOS EDORES

egunda edição do evento “6075 Macau strar obras de arte de mais de 60 artistas o Hotel Regency. Pela primeira vez, a ipa ao patrocinar um prémio

O facto de o evento se realizar num hotel constitui “uma forma inovadora de mostrar a arte ao público, para que a audiência possa observar a arte de diferentes ângulos e perspectivas e estimular mais as emoções e a imaginação”. A organização deste evento está a cargo da leiloeira Poly Auction e da entidade SOCIL cultural, criada este ano para “expandir o desenvolvimento das indústrias da arte e cultura”, que pertence a Sabrina Ho, filha de Stanley Ho. O objectivo da exposição no Hotel Regency é proporcionar “uma plataforma para as trocas culturais e a conexão de

“Os artistas vão trazer vitalidade a cada quarto de hotel. Ao exibir trabalhos de artistas emergentes e ao colaborar com galerias, a 6075 Macau Art Fair irá estabelecer-se como uma plataforma”, diz a organização. coleccionadores de arte com obras de grande potencial”, além de tentar “promover o turismo local” e mostrar Macau como uma “capital artística jovem e dinâmica”. Quanto à primeira edição, os organizadores falam de “sucesso” em termos de

vendas, tendo sido vendidas cerca de 500 obras, sendo que atraiu “um notável número de visitantes, incluindo coleccionadores e entusiastas da arte”. A.S.S.

hoje macau terça-feira 22.11.2016

EVENTOS

HOJE NA CHÁVENA Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

Agrimónia NOME BOTÂNICO: AGRIMONIA EUPATORIA L. TAMBÉM SE UTILIZA A AGRIMONIA PROCERA WALLR. FAMÍLIA: ROSACEAE. NOMES POPULARES: ERVAAGRIMÓNIA; ERVA-DOSGREGOS; ERVA-EUPATÓRIA; ERVA-HEPÁTICA; EUPATÓRIA; EUPATÓRIA-DOS-GREGOS; NAMORICOS. Conhecida e apreciada desde a Antiguidade Clássica, a Agrimónia é uma planta régia. Mitrídates Eupator, médico e rei do Ponto (132-63 a.C.), actual Turquia, era um conhecedor do uso das plantas medicinais e, como a utilizava amplamente, baptizou-a com o seu apelido: Eupatória. Dioscórides, no século I d.C., empregava-a em compressas nas feridas de guerra e úlceras de difícil cicatrização. Foi ainda recomendada por Avicena, o grande médico árabe do século XI. Muito antigo é ainda o uso desta erva contra as mordeduras de serpente, conforme diz a tradição. Nativa da Europa, a Agrimónia é uma herbácea aromática que pode alcançar um metro de altura, nos seus caules erectos e penugentos. Apresenta folhas em roseta basal e caulinares, verdes na página superior e verde-prateadas na inferior, e as flores, amarelas, estão dispostas em cachos em forma de espiga; as sementes dos frutos têm uns “ganchinhos” aderindo à roupa de quem passa e ao pêlo dos animais. Em fitoterapia são usadas as partes aéreas floridas. Composição Taninos, flavonóides (hiperósido, luteolina, quercetina), compostos triterpénicos (ácido ursólico), ácido silícico, constituintes amargos, mucilagens, polissacáridos, fitosteróis, cumarinas e óleo essencial. Acção terapêutica Devido ao conteúdo em taninos, a Agrimónia é uma planta adstringente. Estes compostos, quando em contacto com a pele e mucosas, coagulam as proteínas formando uma camada protectora que impede a acção infecciosa dos microrganismos; também secam e endurecem os tecidos lesados, regenerando-os e tonificando-os, e detêm pequenas hemorragias. Por estes efeitos, esta erva é muito indicada em caso de diarreia e, pela sua acção suave, é adequada para crianças. É igualmente uma planta amarga, estimulando o apetite e as secreções digestivas, tonifica o estômago

e ajuda a expulsar os vermes intestinais; aumenta a produção de bílis pelo fígado e favorece a sua saída da vesícula para o duodeno; é ainda anti-inflamatória. É útil mas digestões difíceis, inflamações da mucosa gastrintestinal, inflamação da vesícula e litíase vesicular. Aos diabéticos contribui para reduzir as taxas de glicose no sangue. Com actividade diurética e depurativa, a Agrimónia favorece a eliminação urinária de ácido úrico e auxilia a dissolver os cálculos renais, sendo utilizada na retenção de líquidos, inflamação da bexiga, incontinência urinária, enurese nocturna, litíase, nefrite, gota e reumatismo. Outras propriedades Muito usada por via externa em virtude da sua acção adstringente, a Agrimónia também desinfecta, desinflama e cicatriza. Está indicada nas inflamações da boca e faringe (aftas, amigdalites, faringites, laringites), no tratamento de feridas de difícil cicatrização, úlceras varicosas e cutâneas, frieiras e ainda em caso de eczema, dermatite ou psoríase; os cantores, e outros profissionais da voz, empregam-na na rouquidão para suavizar a garganta e aclarar a voz. Em cosmética, é utilizada como antioxidante e reparadora do tecido cutâneo nas peles envelhecidas e para combater as rugas, olheiras e “bolsas” das pálpebras. Como tomar Uso interno: • Infusão das partes aéreas floridas: 1 colher de sobremesa por chávena de água fervente, 10 a 15 minutos de infusão. Tomar 3 chávenas por dia, adoçadas com mel caso se deseje. • Em xarope ou cápsulas, a Agrimónia integra fórmulas para as afecções digestivas e hepatobiliares. Uso externo: • Decocção das partes aéreas floridas: 100 gramas por litro de água, ferver em lume brando durante alguns minutos. Aplicar várias vezes ao dia, em bochechos, gargarejos (adoçar com mel), lavagens e compressas. Precauções Em pessoas sensíveis pode ocorrer obstipação. A planta fresca é fotossensibilizante por contacto, especialmente se a pele estiver húmida. Em doses elevadas, pode interagir com medicamentos anti-hipertensores e anticoagulantes. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.


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13 CHINA

hoje macau terça-feira 22.11.2016

CHINA E EUA DISCUTEM COLABORAÇÃO NA ÁREA DA JUSTIÇA

As teias da lei

C Ponha aqui o seu pezinho

Pequim convida Turquia a aderir à Organização de Cooperação de Xangai

A

China convidou ontem a Turquia a ponderar fazer parte da Organização de Cooperação de Xangai (OCS), grupo político e económico liderado pela China e Rússia, depois do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ter sugerido essa possibilidade. O porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Geng Shuang reagiu assim às declarações do líder turco, que afirmou que a União Europeia (UE) não é a única alternativa para o seu país. Pequim elogiou a cooperação que a Turquia mantém actualmente com a OCS, grupo político e económico formado em 1996 pela China, Rússia, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão e que integrou mais tarde o Uzbequistão, Índia e Paquistão. O porta-voz destacou a “importância” que o Governo chinês concede às aspirações de Ankara em aprofundar a sua relação com a organização, e ofereceu-se a mediar no sentido de facilitar a sua entrada. “Estamos dispostos a trabalhar e analisar com os outros membros da OCS,

baseando-nos nas normas e regulações da organização”, disse Geng.

SÓ VANTAGENS

Erdogan assegurou no domingo que o Presidente russo, Vladímir Putin, lhe assegurou que estava a avaliar a incorporação de Ankara e que a entrada na organização permitiria à Turquia “actuar de forma mais cómoda”. Erdogan criticou a UE por manter o seu país à espera, durante 53 anos, de entrar no clube da comunidade europeia, por não permitir que os turcos visitem a UE sem vistos e ameaçou não pagar os três mil milhões prometidos no acordo para a Turquia acolher refugiados deportados da União Europeia. O Presidente turco reiterou que se não houver progresso no processo de adesão da Turquia ainda este ano, o país deve definitivamente cancelar as negociações. “Vamos esperar até ao final do ano. Se isso acontecer, acontece. Caso contrário, fechamos este arquivo e a readmissão de refugiados”, disse.

HINA e Estados Unidos da América discutem desde ontem como fortalecer a cooperação em assuntos da justiça, tal como a repatriação de fugitivos, uma questão determinante para a campanha anti-corrupção lançada por Pequim. “As relações entre a China e os EUA são, sem dúvida nenhuma, umas das mais importantes no mundo”, afirmou ontem o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês Liu Zhenmin, na abertura do 14.º encontro entre os dois países para a cooperação em matéria de justiça. “O cumprimento da lei e a colaboração policial são uma parte muito importante dessas relações”, acrescentou. Durante o encontro, que ocorre até hoje em Pequim, e durante as quais participam o responsável norte-americano pela segurança e luta anti-droga, William Brownfield, Liu disse esperar que “os assuntos polémicos sejam tratados de forma adequada”. O vice-ministro chinês destacou, como resultado da cooperação, o regresso à China na semana passada da fugitiva mais procurada por Pequim, Yang Xiuzhu, “com a ajuda” dos EUA. “Este tipo de apoio insere-se nos compromissos alcançados entre o Presidente chinês, Xi Jinping, e o seu

Liu Zhenmin [vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês] disse esperar que “os assuntos polémicos sejam tratados de forma adequada”

Liu Zhenmin

homólogo norte-americano, Barack Obama, em Setembro passado, durante a reunião entre os líderes dos países do G20”, disse. Liu referiu ainda que Xi “falou na semana passada com o [Presidente eleito] Donald Trump e ambos pensam que falta alargar a cooperação a todos os aspectos”.

O mais mediático alvo da campanha é o empresário Ling Wancheng, irmão do ex-director do Comité Central do Partido Co-

munista Chinês e adjunto do antigo Presidente Hu Jintao, Ling Jihua, que foi condenado este ano à prisão perpétua.

PUB HM • 2ª VEZ • 22-11-16

LIGAÇÕES INTRINCADAS

David Rank, embaixador adjunto dos EUA, sublinhou que o encontro entre Xi e Obama, à margem da APEC, “demonstra o quão complexas são as relações, que abarcam desde a segurança à economia, alterações climáticas e reforço da lei”. “Isto inclui aumentar a cooperação na coordenação de investigações criminais, repatriações e luta contra os narcóticos”, afirmou. “Hoje estamos aqui para assegurar que os compromissos realizados entre os nossos Presidentes se levam a cabo”, acrescentou, numa altura em que o desenvolvimento futuro das relações é uma incógnita, após a vitória de Trump nas eleições. O fórum ocorre num período em que Pequim reforça a campanha “Skynet”, que visa repatriar suspeitos de corrupção que escaparam para o estrangeiro - a maioria por crimes económicos e muitos evadidos nos EUA.

ANÚNCIO Execução ordinária n.º

CV2-14-0134-CEO

2º Juízo Cível

Exequente: BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA CHINA(MACAU) S.A. 【中國工商銀行(澳門) 股份有限公司】, com sede em Macau, na Avenida da Amizade, n,º 555 – Macau Landmark, Torre ICBC, 18º andar. Executados: 1. TANG CHON KIT(鄧俊傑); e sua mulher 2. MELISSA JAYNE BARRATT TANG, ambos de nacionalidade chinesa, residentes em Macau, na Avenida Dr. Sun Yat Sen, n.º 23, - Edifício “Kingsville”, Bloco 1, R/C “I”. Nos autos supra identificados, foi designado o dia 09 de Dezembro de 2016, pelas 09:30 horas, neste Tribunal, para a venda por meio de propostas em carta fechada, do bem penhorado abaixo identificado. IMÓVEL A VENDER Verba nº. 1 Denominação da fracção autónoma: “R8”, 8º andar “R”. Situação: Em Macau, na Taipa, nºs 233 a 321 da Estrada Almirante Magalhães Correia, nºs 34 a 94 da Estrada Nordeste da Taipa, nºs 9 a 113 da Rua da Baía e nºs 1 a 74 do Beco da Baía. Fim: Para habitação. Número de matriz: nº. 040758 Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: nº 8870, a fls. 276 do Livro B25. O valor da base da venda: MOP$3.777.120,00(Três Milhões, Setecentas e Setenta e Sete Mil, Cento e Vinte Patacas). Verba nº.2 Denominação da fracção autónoma: “Q8”, 8º andar “Q”. Situação: Em Macau, na Taipa, nºs 233 a 321 da Estrada Almirante Magalhães Correia, nºs 34 a 94 da Estrada Nordeste da Taipa, nºs 9 a 113 da Rua da Baía e nºs 1 a 74 do Beco da Baía. Fim: Para habitação. Número de matriz: nº. 040758 Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: nº 8870, a fls. 276 do Livro B25. O valor da base da venda: MOP$3.777.120,00(Três Milhões, Setecentas e Setenta e Sete Mil, Cento e Vinte Patacas). O preço das propostas deve ser superior ao valor – base da venda acima indicado. *** Os interessados na compra devem entregar a sua proposta em carta fechada, com indicação nos envelopes das propostas, a seguinte expressão “proposta em carta fechada”, “2º Juízo Cível” e o “Processo Número: CV2-14-0134-CEO”, na Secção Central deste Tribunal, até o dia 07 de Dezembro de 2016, até 17: 45 horas, podendo os proponentes assistir ao acto da abertura das propostas. É fiel depositária a Sra. SUN FONG I, residente em Macau, na Estrada do Nordeste da Taipa, n.º 86, Jardim Hoi Wan, 8.º andar Q, Taipa, que está obrigada, durante o prazo dos edital e anúncio, a mostrar o bem imóvel a quem pretenda examiná-lo, podendo fixar as horas em que, durante o dia, facultará a inspecção. Quaisquer titulares de direito de preferência na alienação do imóvel supra referidos podem, querendo, exercer o seu direito no próprio acto da abertura das propostas, se alguma proposta for aceite, nos termos do artº 787º do C.P.C.M. Macau, aos 15 de Novembro de 2016. *****


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

14

O poema não fala MATILDE CAMPILHO

U

M livro de poesia com mais de cento e vinte páginas e primeiro livro de um autor, torna-se difícil de abordar, se formos honestos connosco mesmos. Assim, e como tenho feito, percorrerei apenas as linhas fenomenológicas dos poemas. Matilde Campilho publicou o seu primeiro livro, Jóquei, em 2014, pela Tinta da China. Viveu algum tempo no Rio de Janeiro, e algum outro tempo dividida entre Lisboa e a chamada cidade maravilhosa. Esta vivência além mar é visível no português híbrido com que os poemas foram escritos. Matilde Campilho é também a primeira poeta, das poetas e poetas acerca de quem tenho escrito aqui no Hoje Macau, a ter estado presente no importante Festival Literário de Macau – The Script Road –, e na sua última edição, em 2016. Em “O Príncipe no Roseiral”, segundo poema do livro, páginas 9-10, somos levados pela nossa imaginação kantiana à Grécia Antiga, a Parménides e à sua inversão de identidade entre pensar e ser. O poema começa assim: “Escute lá / isto é um poema / não fala de amor / não fala de cachecóis / azuis sobre os ombros (...)”. Por um lado “isto é um poema”, e por outro “não fala de”. Todo o poema enuncia aquilo de que não fala – do rolex, da bandeirola da federação uruguaia de esgrima, do lago drenado da floresta americana, de comoções na missa das sete, de tractores quebrados na floresta americana, da ideia de norte na cidade dos revolucionários, de choro, de virgens confusas, de publicitários de cotovelos gastos, de manadas de cervos, de amor, de santos, de Deus – mostrando assim duas coisas: o poema é para além do que diz e o poema não tem de saber nada de nada; por isso, pensar e ser faz curto-circuito entre ser e pensar, ao afirmar poder-se pensar o que não é, isto é, o poema pode trazer à flor da página e ao nossa consciência aquilo que ele mesmo não é, aquilo de que ele mesmo não fala, mas enunciando-o. Este curto-circuito da poesia, tal como é enunciado no poema de Campilho, fora já enunciado por Platão, no livro X de A República, isto é, o ponto de vista da falência do conhecimento que grassa a poesia. Escreve

o ateniense: “Assentemos, portanto, que, a principiar em Homero, todos os poetas são imitadores da imagem da virtude e dos restantes assuntos sobre os quais compõem, mas não atingem a verdade; (...) o poeta, por meio de palavras e frases, sabe colorir devidamente [tudo aquilo a que se refere] cada uma das artes, sem entender delas mais do que saber imitá-las (...)” (600e-601a). Matilde Campilho com este seu poema resolve de uma penada o problema da poesia em relação a Platão e a uma grande parte da filosofia tradicional. O poema não tem de saber nada, ele é um poema. E se o poema não tem de saber nada, assim também aquele que o faz, o poeta, não tem obrigação de mostrar conhecimento no seu poema. O poema não imita, nem bem nem mal, aquilo que não sabe; o poema é um poema, não fala de. Pôr um poema a falar de, seria o mesmo que fazer de alguém uma cidade. Escreve Campilho no início do poema “Mão Dupla”, às páginas 37-9: “Meu filho / tente não fazer de ninguém / uma cidade”. Poderíamos imitar Campilho e dizer: meu filho, tente não fazer do poema uma cidade. Evidentemente a resposta dada pela poeta, na sua forma negativa, como se a positiva fosse comum, é muito mais interessante do que o que aqui possamos escrever. Devemos sempre tentar fazer com que um poema não seja uma cidade, com que um poema não seja uma pessoa, com que o poema não seja uma aula de geometria, de gramática ou de arte. E também é evidente que o poema “Mão Dupla” não está a responder ao poema “O Príncipe no Roseiral”. E também parece ser evidente que Matilde Campilho não pensou ou sequer imaginou tal relação entre os seus dois poemas ou entre os seus poemas e Parménides ou Platão (embora aqui possa ser mais fácil de imaginar que o tenha feito). Mas é isso que a poeta nos diz, antes de mais, quando escreve o seu poema, enunciando o que ele não tem de falar. O poema não fala, ele é. E neste ser do poema, que curto-circuita ser e pensar em Parménides, e de lavada o problema da imitação da arte em Platão, abre todas as possibilidades. Talvez nunca tenha sido dito tão claramente como neste poema de Matilde Campilho, que a poesia não tem com-

plemento directo, nem determinativo, nem circunstancial, nem temporal. O poema é. Vemos agora que não se trata de uma inversão do ser em Parménides, talvez somente de um passar por cima, ou ao largo, porque o poema é o que pensa e o que não pensa. O poema, vimo-lo anteriormente, enuncia aquilo que não é, não enunciando nunca aquilo que é. O ser não pode não ser, diria o eleata, e o não-ser não pode ser.

Já perto do fim do livro, em “Pedra Explodida Na Mão Do Monge”, Campilho começa assim o poema: “Penso em astronautas / não penso em árvores chinesas / penso na contagem dos cabelos, / não penso em punhais (...)” Que quer dizer pensar aqui? Pode-se pensar em algo sem pensar. E é este o domínio do poema, o do pensar sem pensar, o do ser não sendo. Como se diz no Brasil, Campilho mata a cobra e o mostra


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máquina lírica

o pau. Mas voltemos ao poema que começamos a ler inicialmente: “Escute lá / isto é um poema / não fala de amor”. Este poema torna-se assim o motor de toda a poesia de Campilho, que nos surge verso a verso, página a página como se não lhe interessasse a reflexão, como se não lhe interessasse a tradição metafísica de olhar o poema. A reflexão na poesia de Matilde Campilho não chega chegando, feito carioca, aqui a reflexão é feito mineiro, come pelas beiradas, isto é, faz sem que ninguém perceba, faz pela calada, dir-se-ia em Portugal. Escreve Campilho, em “Conversa de Fim de Tarde Depois de Três Anos no Exílio” (pp. 51-2): “(...) é terrível a existência de duas retas / paralelas porque elas se cruzam no infinito / a verdade é que nunca nos interessou / a questão do infinito mas o resto (...)” A poesia de Campilho diz, se desdizendo,

como aquilo que a poeta ou quem nas suas páginas faz de poeta relata, ainda no mesmo poema: “(...) eu na verdade prefiro mais de mil vezes / sua chávena de chá ficando fria sobre a mesa / enquanto você fala sobre raízes quadradas / enquanto você fala sobre ladrões de figos / enquanto você fala sobre o tropeço da baleia / enquanto você fala (...)” Mais importante que a fala, mais importante que a reflexão é a beleza do mundo, a beleza das coisas, a descoberta das coisas, que passam longe da reflexão, elas são, acontecem. Viver a vida é estar disponível para as migalhas do pão sobre a mesa, disponível para a chávena de chá a arrefecer sobre a mesa, disponível para o silêncio das pessoas e a fala das coisas. E, por isso mesmo, ainda quando um poema parece terminar reflectindo, parece terminar como se nos quisesse fazer pensar alguma coisa, como

no final do poema que temos vindo a citar – “porque você e eu a gente é feito de matéria / escorregadia, i.e., manteiga, azeite, geleia / e espanto.” – ele só quer dizer o quanto é absurdo mostrar o que se pensa num poema, como alguém aos cinquenta anos aparecer vestido com a roupa de quando tinha vinte. Não deixa de poder ser verdade, o que estes últimos versos dizem, mas aquele “i.e.”, escrito assim à laia de artigo para professor de universidade ver, não deixa dúvidas quanto à ironia da poeta neste final de poema, e eu imagino-a até a escrevê-lo sorrindo e com um copo de caipirinha na mão, no Lucas, junto ao posto 6 de Copacabana, ainda que ela provavelmente o tenha escrito de manhã, bebendo uma xícara de café e de mau humor. Por tudo isto, quando à pagina 70 e seguintes, nos aparece o poema

Paulo José Miranda

“Principado Extinto”, num claro contraponto ao segundo poema do livro, “Príncipe no Roseiral”, dizendo “Isto é um poema / fala de amor (... ) Isto é que é poema / fala dos cheiros das flores / e da injustiça da existência / das flores na cidade (...)” este poema não tem a mesma força que até aqui foi propalada e ninguém o pode levar a sério, nem a poeta. É um poema como para ver se estávamos com atenção. Um poema que tem a sua resposta dada por Campilho, umas 13 páginas antes, na última estrofe do poema “Rua do Alecrim”: “Assisto a toda esta cena e penso que esta visão / real ou inventada, / é muito pior do que a verdade a bofetadas.” Porque o poema, ficámo-lo a saber por Matilde Campilho, não fala de; um poema que fala de é pior do que a verdade a bofetadas. O poema à página 70 é uma pegadinha. Pois se atentarmos bem, se lermos com a atenção que os dois poemas merecem, entendemos que, falar de ou não falar de, dá no mesmo. O poema enuncia, abre clareiras, faz ver, não necessariamente através da reflexão, que vem pela beirada, mas pela atenção, por iluminar uma frase, como por exemplo “fala da permanência inútil”, ou iluminar um acontecimento no mundo “fala da aparição do inverno / fala da fuga dos albatrozes”. O poema, adivinha-se, é uma máquina de inverter as coisas, como escreve Campilho à página 100, no início do poema “Rugove”: “Levantei-me para o contrário disto (...)” ou ainda à página 73: “acho que, quando a gente telefona / fora de época, é porque está dando / uma ligadinha para o passado. não / para a pessoa realmente.” Nesta inversão das coisas, que a poesia é, pelo menos para Matilde Campilho, o que fica sempre a claro é aquilo que não se sabe. O poema acrescenta não saber ao que já não se sabe. Depois da leitura de um poema, dizemos: “olha, mais uma coisa que eu não sei!” Ou, com versos da poeta: “(...) e – como disse Adams – bom mesmo é chegar / ao fim da estação sem nenhuma resposta.” Antes de terminar, digo que gostaria mais que este livro fosse dois, um mais vertical e outro mais horizontal. Mas aprender a ler, essa tarefa diária do leitor, é também aprender que as coisas não são como queremos. Feche-se hoje o bar com um poema de Matilde Campilho: “TWO-LANE BLACKTOP Aprenderei a amar as casas quando entender que as casas são feitas de gente que foi feita por gente e que contem em si a possibilidade de fazer gente.” (p. 106)


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Amélia Vieira

Esta é a voz da Europa N

O momento em que vivemos é importante a voz de Ezra Pound, esse chamado poeta maldito, designação que não passa de uma interpretação interpelada, interpelante, sempre pouco assertiva, dado que não são eles – ele, neste caso – a causa provável das maldições. Essas vêm de aparelhos com encantos que os povos sustentam e apoiam como formas de felicidade. Um anunciador de factos, mesmo extemporâneos, não pode constituir ameaça, a menos que seja um alucinado fabricante de teorias da conspiração. Neste caso temos um homem que trabalha em simultâneos tempos diversos e os articula com a velocidade visionária de uma mais vasta chamada de consciência. A sua voz ecoa nestes dias de americanas vitórias. Ezra Pound é o autor de «Cantares», um tratado de poesia absoluto, e o seu léxico não é aqui um exercício metafórico, abstracto: ele usa o chicote da linguagem directa numa forte aceleração cerebral como se de partículas se tratasse, com uma forte vitalidade da essência. Ele liga o Oriente e o Ocidente na forma trabalhada da matéria do poema; ele amplia a linguagem e diz que a poesia difere da prosa pelas cores concretas da sua dicção. O poder inovador é imenso, a sua importância, uma lembrança das melhores, sempre em oposição à ambiguidade de índole surrealista. Mas voltemos ao nosso instante, ao momento histórico onde, como nunca, ecoa a estranha voz de Pound. As Conversações Radiofónicas foram feitas em Itália, onde falava acerca dos falhanços da economia norte-americana no tempo de Roosevelt, ligando-o de certa forma a regimes que o tornariam impopular, pois que nada lhe fora indiferente. Tentou voltar ao seu país em 1941 mas tal desejo foi-lhe negado, achando que a guerra instalada era devida à Finança e ao que ele chamaria de Usurocracia, lembrando aqui o seu poema Usura, e nesta análise ele não estava só tendo mesmo a seu lado o Nobel Sir Frederico Joddy, numa altura em que tal prémio não era politizado. Eram vozes que deviam ter sido escutadas com uma maior acutilância e consideração, sem a marca, sem os evangelhos políticos transformados em nova religião, e quando as tropas norte-americanas chegaram a Itália tiveram como

preocupação imediata a sua captura e, pior, muito pior, que os seus já volumosos inimigos europeus foram sem dúvida os seus compatriotas: vai para uma cela para ser condenado à morte, é submetido a torturas e finalmente metido numa

“Alguma coisa aconteceu na Velha Europa, aconteceu alguma coisa na Europa e não sabeis o que foi. Não sabeis o que se passou, qualquer passo em direcção ao preço justo, ao controlo do mercado, é um acto de homenagem a Mussolini e a Hitler.”

jaula com barra de ferro deixada na floresta. Acusado em Tribunal, os juízes declaram-no, contudo, louco, e ordenam a sua reclusão num hospital psiquiátrico. A sua voz não era aquilo que hoje apelidamos de politicamente correcta, sabemos que aquele que se atravessa nos dogmas dos tempos é banido pelas suas épocas e sabemos também como é fácil criar anátemas perante algo que nem entendemos bem. As pessoas, ontem como hoje, são exactamente as mesmas e nem os seus pares - sobretudo os seus pares - não estão lá para acalentar quem os pode de certa forma destronar. Mas Pound resiste, um homem destes não se abate, volta a Itália e aqui chegado declara que saíra de um manicómio de cento e oitenta milhões de habitantes. Hoje são mais, e mais loucos também, mas esqueceram-se nas suas encíclicas neoliberais daqueles que alertaram para o efeito de repetição e a transitoriedade das verdades absolutas.

E andamos mais ou menos por aqui nesta impressionante tirada de Pound: “Americanos, nunca fizestes nada para vos curardes, maldição! Nada! Infestado o mundo, fez com que o nome da Inglaterra fosse maldito desde Pretória a Singapura até Calcutá. O seu centro é agora o outro lado do Atlântico por isso não vos devemos nenhuma gratidão se agora vos puserdes a devorar as energias vitais – Nem seria pecado se vos afundásseis afogados por um sistema que destroçou toda a cultura clássica... “Aqui Ezra Pound, que fala de Roma. O significado de Churchill e do bolchevismo encontra-se nas valas de Smolensko. E talvez tenhamos que ouvir certas vozes, mesmo à revelia dos tempos ou sem a sua concordância. Esperam-nos talvez súbitas revelações que sabemos ter escutado como um grito de advertência onde o eco se desvaneceu; nós, que tanto ouvimos e vemos, estamos em parte toldados para olhar um futuro comum e, no instante em que tudo for a selva da lei da sobrevivência e do mais forte, aí sentiremos a marca de todas as coisas anunciadas e elas repetem-se, como um longínquo coro grego que os nossos sentidos recordam. “Alguma coisa aconteceu na Velha Europa, aconteceu alguma coisa na Europa e não sabeis o que foi. Não sabeis o que se passou, qualquer passo em direcção ao preço justo, ao controlo do mercado, é um acto de homenagem a Mussolini e a Hitler.” Em tempos como este os escritores deviam era descer do pedestal e falar sem papas na língua. E lembra Céline: “L´homme n´est pas venu sur la terre pour devenir de la merde!» Toda esta desdita é o mais fidedigno exemplo da crueldade desta época de desconcerto, toda a saga do pensamento que se escuta rouco e em brasa não é passível de nos fazer entender os «Cantares» e, porque de surdos se trata, no receptor ouvimos agora surdamente os roncos de alguns tambores de guerra que ficam sempre presentes nos disfarçados ouvidos dos bárbaros. De que a Europa é feita! De que a América é feita! Até a um coro ensurdecedor que transformou o mundo num duro lamento. DAQUI A VOZ DA EUROPA. ESCUTO EZRA POUND.


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TEMPO

C H U VA

O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente VAFA - SALÃO DE OUTONO Casa Garden

? MIN

22

MAX

25

HUM

80-98%

EURO

8.48

BAHT

EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12) ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017)

O CARTOON STEPH

PROBLEMA 125

UM FILME HOJE

SUDOKU

DE

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 124

C I N E M A

YUAN

1.16

O FRETE

EXPOSIÇÃO “O ARAUTO DOS TEMPOS: O POETA F. HUA-LIN” Academia Jao Tsung-I (até 13/11)

Cineteatro

0.22

AQUI HÁ GATO

EXPOSIÇÃO “SE EU ESTIVESSE EM SÃO FRANCISCO/MACAU” Fundação Rui Cunha

EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11)

(F)UTILIDADES

Em fase de ressaca de mais uma edição de um dos maiores eventos do território, e depois de ter andado por lá à socapa para sentir os ares, fica o rescaldo do Grande Prémio de Macau. Não entendi aquilo dos hinos. Não são canções compridas, pelo que não entendo por que se cortam a meio. Começa o hino nacional do vencedor e, de repente, termina, enquanto uns e outros ficam a cantar para o ar. Em compensação, e sem entender muito bem como, duas das corridas põem a entoar os hinos das nacionalidades das construtoras de automóveis e fica tudo numa espécie de pausa. Ignorância minha mas, francamente, não entendi. À parte as canções, há outro lado que me ultrapassa. Quando vejo publicidade a comida felina, não se percebe muito bem o género dos gatos ou gatas convidados. São gatos que, penso, são considerados bonitos. Ali é um corre-corre estranho de mulheres que andam em tom plástico, e nem sempre de muito bom gosto, do alto dos seus 20 centímetros de saltos. Na cara, expressões de frete e nos passos o peso da obrigação. Sexismos de parte, visto apenas um lado da população ser considerado, mesmo com aqueles dois garotos loiros e iguais que se viam volta e meia, não é bonito de ver a promoção representada pela obrigação ou pela, muitas vezes, falta de gosto.. Pu Yi

CERTIFIED COPY | ABBAS KIAROSTAMI

Uma história quase comum. Um encontro na Tosaca entre um escritor britânico e uma Juliette Binoche no papel de Elle, uma galerista de carácter forte e independente. Um filme no feminino que parte de um amor encenado para o real. Uma película do realizador iraniano Abbas Kiarostami que, à semelhança de muita da sua obra, encanta quem o quiser ver. Sofia Mota

FANTASTIC BEASTS & WHERE TO FIND THEM SALA 1

SALA 3

FALADO EM CANTONENSE LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Makoto Shinkai 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

Filme de: Ron Howard Com: Tom Hanks, Felicity Jones, Irrfan Khan 14.15, 21.30

SALA 2

FANTASTIC BEASTS & WHERE TO FIND THEM [B] [3D]

YOUR NAME [B]

FANTASTIC BEASTS & WHERE TO FIND THEM [B] Filme de: David Yates Com: Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol, Erza Miller 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

INFERNO [B]

Filme de: David Yates Com: Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol, Erza Miller 16.30, 19.00

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18 OPINIÃO

hoje macau terça-feira 22.11.2016

macau visto de hong kong

Empregadas filipinas STEVE MCQUEEN, 12 YEARS A SLAVE

consciência da importância da vida humana é maior. Por isso, estas mortes acidentais geram grande polémica. As pessoas reclamam certamente por pesar, mas também porque desejam afirmar a “importância da vida”. Este acordo é aclamado pelos empregados domésticos filipinos, mas também pelos patrões de Hong Kong, que respeitem a importância da vida. A maior parte dos trabalhadores domésticos em Hong Kong são mulheres vindas das Filipinas. Muitas são casadas, nas deixam o seu País para virem para Hong Kong servir famílias locais e tomar conta de crianças e idosos. Mas as suas próprias famílias, filhos e pais ficam à guarda de outros familiares. Tudo isto revela o sacrifício que fazem para virem ocupar-se do bem-estar dos lares de Hong Kong. Em segundo lugar, vamos ver que medidas estarão previstas para garantir a segurança nestas situações, que ao certo ainda não se sabe bem quais serão. Alguns artigos afirmam que existem dois requisitos que os patrões terão de assegurar. A - As janelas terão de ter gradeamento exterior B - Ao limpar a janela, a única parte do corpo do trabalhador que pode ficar de fora é o braço.

N

O passado dia 29 de Outubro o Departamento do Trabalho do Governo da RAEHK chegou a um acordo com vários países. Neste acordo ficou consagrado que, mediante a garantia de condições de segurança, os empregados domésticos imigrados, oriundos desses países, podem lavar a parte exterior das janelas das casas onde trabalham. Este acordo é válido para trabalhadores filipinos, tailandeses, vietnamitas, indonésios, etc. Esta cláusula restritiva passará a estar inscrita no contrato de trabalho celebrado entre a entidade empregadora e o trabalhador. Os termos da cláusula foram elaborados pelo Governo da RAEHK e pelos diversos países que o assinaram. Esta medida foi tomada devido a um acidente fatal, ocorrido a 9 de Agosto deste ano, no qual Rinalyn Dulluog, empregada doméstica filipina, perdeu a vida por ter caído na rua quando estava a lavar a parte exterior de uma janela. Em Hong Kong, entre 2010 e 2016, ocorreram mais oito acidentes semelhantes.

Vários empregados domésticos filipinos deixaram claro que vieram para Hong Kong para trabalhar e não para morrer. Este sentimento é facilmente compreensível. Ninguém deseja morrer no posto de trabalho, por maior que seja a indemnização que os familiares venham a receber. Mas, efectivamente, a lavagem do exterior das janelas pode pôr a vida em perigo. Qualquer descuido pode resultar numa queda fatal.

“Cada pessoa é um ser único, seja rica ou pobre. A vida é um dom que não pode ser substituído” O presente acordo envolve vários aspectos que gostaria agora de salientar. Em primeiro lugar, as estatísticas demonstram que desde 2010 ocorreram nove acidentes deste género, e por isso esta cláusula passa a fazer parte dos contratos de trabalho do pessoal doméstico. O Governo da RAEHK implementou esta medida reflectindo a ideia da “importância da vida”. Cada pessoa é um ser único, seja rica ou pobre. A vida é um dom que não pode ser substituído. Nas sociedades actuais, com um nível de educação superior, a

Serão estas alíneas suficientemente claras? Não sabemos ao certo. É necessário implementar estas medidas para, na prática, termos uma ideia da sua eficácia. No entanto, podemos ter a certeza que a segurança não passa só pela instalação de gradeamento. Será também dever do empregador assegurar que são funcionais. Ou seja, a grade deve estar em boas condições e ser suficientemente sólida de forma a impedir quedas. Se não o for, esta medida é inútil. Logo, é uma acção que requer manutenção. Em terceiro lugar, já que esta cláusula foi elaborada pelo Governo da RAEHK e por outros países, espera-se que daí resulte prudência e justiça. Nem os patrões nem os empregados devem procurar lucrar com este contrato. Pelo que as querelas contratuais podem ser evitadas. Em quarto e último lugar, assinale-se que este acordo apenas introduz uma clausula no contrato de trabalho, não acrescenta uma alínea à lei laboral. Este acordo abrange apenas os trabalhadores imigrantes e não os locais. No entanto abre uma porta aos empregados domésticos de Hong Kong para estabelecerem com os seus patrões as mesmas condições de segurança. De forma geral esta acordo é bom, todos saem a ganhar, o Governo, os trabalhadores e os patrões. Em Macau também existem muitas empregadas domésticas filipinas. Este caso pode levar a que, também aqui, sejam adoptadas medidas semelhantes que garantam a sua segurança. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog

DAVID CHAN


19 hoje macau terça-feira 22.11.2016

sexanálise

Sexualidade ecológica

RICHARD THORPE, TARZAN FINDS A SON!

TÂNIA DOS SANTOS

S

E não andamos a pensar no perigo iminente das alterações climáticas, devíamos. Ainda há pessoal descrente que acha que as alterações climáticas são uma invenção chinesa. Os ‘indiferentes’não fazem nada em relação a isso e andam a desrespeitar todas as recomendações mundiais. E finalmente temos os ambientalistas, mais ou menos radicais, com ideias que obrigam as pessoas a pensarem o planeta e a protegê-lo. Os ecossexuais, a sexualidade ecológica, o eco-sex faz parte deste último grupo. Existem perto de 100.000 pessoas neste mundo que se auto-proclamam de ecossexuais. Alguns fazem desta categoria a real-definidora da sua identidade sexual e, sendo assim, preferem ter os seus orgasmos em interacção com os elementos do nosso querido planeta Terra. Um dos objectivos é mudar a metáfora da Mãe Terra para a Amante Terra. A explicação é de que se tratarmos a Terra como amante, faremos de tudo para não a trair, ofender ou magoar. A metáfora da Mãe Terra não é tão eficaz - como filhos achamo-nos no direito de fazer tudo o que nos apetecer, na esperança de que seremos sempre perdoados. Pois a Terra já não tem como nos perdoar, já não há grandes sistemas de regeneração que nos possam auxiliar. Por isso, se tratarmos a Terra como uma parceira romântica, espera-se que o cuidado seja maior. Nós

como grandes poluentes e destruidores que somos, merecíamos ser ‘deixados’. Se a Terra tivesse juízo e se estivesse a ser acompanhada por uma terapeuta casal, já se tinha livrado de nós. Os humanos são nocivos. Os ecossexuais tentam quebrar este ciclo. Eles amam o planeta e os seus constituintes e tentam reparar o ódio que já lhe foi lançado - e um futuro cenário apocalíptico de inundações, secas e desastres ecológicos poderá ser evitado. As grandes impulsionadoras deste movimento são Annie Sprinkle e Elizabeth Stephens que o têm divulgado com os mais variados tipos de eventos – e até escreveram um manifesto. Eco-sexualidade é identidade, comunidade, crença, estilo de vida, prática e activismo. Envolve muito amor, sem dúvida. Há abraços a árvores, massagens à Terra com os pés e conversas eróticas com as plantas. Há carícias a pedras, masturbação em cascatas e admiração das suas ‘curvas’. Estas duas artistas/activistas ainda organizam casamentos com a Terra, e nós podemos escolher com que elemento desejamos casar. Com o mar, com o ar ou com as estrelas, o

“Fazer amor com o planeta é uma ideia difícil de conceber (...) mas não se esqueçam que o amor – Respeito! – pelo ambiente natural que nos rodeia é absolutamente necessário”

importante é que seja para sempre ou, como elas dizem, ‘até que a eterna morte nos torne ainda mais próximos’. Para os que ainda acham a ideia de fazer amor com a Terra um pouco esquisita, não esquecer que a questão ecológica deve ser incluída nas nossas preocupações sexuais e amorosas de qualquer forma. Tem que haver consciência do nosso possível impacto ambiental, até na cama. Por mais cuidadosos e ecologicamente preocupados que sejamos não nos podemos esquecer dos contraceptivos e dos nossos brinquedos sexuais que contribuem para a dependência de combustíveis fósseis. Há um livro todo dedicado a estas questões ‘Eco-sex’ onde são discutidas questões de como ser verdadeiramente verde na cama e na vida amorosa. Já pensaram como um preservativo é poluente? Como não se degrada com facilidade? Talvez da próxima vez não o atirem pela sanita abaixo para não poluir outros ecossistemas. Querem oferecer uma prendinha? Façam decisões ecológicas e pensem duas vezes antes de comprar aquele ramo de flores que foi tratado com pesticidas cancerígenos em países onde se aproveitam de mão-de-obra barata. Tudo bem, fazer amor com o planeta é uma ideia difícil de conceber (para os curiosos houve um encontro de ecossexuais em Sidney há bem pouco tempo) mas não se esqueçam que o amor – Respeito! – pelo ambiente natural que nos rodeia é absolutamente necessário. Vivemos tempos onde a biodiversidade está em risco e onde os nossos filhos irão assistir em primeira mão ao dizimar da magia natural que nos criou e nos protegeu. Os ecossexuais acreditam que todo este amor pode ser usado para salvar-nos das catástrofes que nos esperam. E tu? O que já fizeste hoje para amar um pouco mais a tua Terra?

OPINIÃO


terça-feira 22.11.2016

Se Trump tivesse a experiência de Putin talvez se safasse Atlântido

GUTERRES VISITA PEQUIM NO FIM DO MÊS

O

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secretário-geral designado da ONU, António Guterres, visita a China a 28 e 29 de Novembro para reforçar a cooperação entre a organização, que vai liderar a partir de 2017, e o país, anunciou ontem o Governo chinês. A visita, a convite de Pequim, é a primeira de Guterres ao gigante asiático, desde que foi nomeado secretário-geral da ONU por aclamação, no mês passado. Em conferência de imprensa, Geng Shuang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, sublinhou “a importância” que Pequim atribui à visita de Guterres, acrescentando que o secretário-geral eleito da ONU vai reunir-se com líderes do país, sem especificar quais, e com o chefe da diplomacia, Wang Yi. “A China espera que a visita de Guterres melhore a confiança mútua, estabeleça consensos e olhe para o futuro”, disse Geng. O Governo chinês espera debater com o próximo secretário-geral da ONU a situação internacional, o futuro desenvolvimento das Nações Unidas e a cooperação entre esta organização e a China, explicou o porta-voz. A 12 de Dezembro, António Guterres presta juramento sobre a Carta das Nações Unidas numa cerimónia pública em Nova Iorque, na sala da Assembleia Geral da organização e perante representantes dos 193 Estados-membros. O mandato de cinco anos de António Guterres como secretário-geral começa a 1 de Janeiro.

A

China apelou à Birmânia para restaurar a paz na fronteira comum e evitar uma escalada no conflito entre as forças armadas e guerrilheiros, após uma bomba ter atingido território chinês. As autoridades chinesas puseram em marcha um dispositivo de emergência e reforçaram o contingente policial junto à fronteira. Pequim “espera que todas as partes implicadas participem no diálogo e consultas e façam esforços concretos para salvaguardar a paz”, afirmou um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Geng Shuang, em comunicado difundido na noite de domingo. Os combates entre as forças birmanesas e os guerrilheiros começaram na madrugada de domingo e o tiroteio podia ser escutado na cidade chinesa de Wanding, situada na fronteira. Uma das bombas atingiu uma aldeia chinesa, sem causar vitimas. Entretanto, um hospital chinês admitiu dois civis da Birmânia que ficaram feridos e em vários locais foram preparadas instalações para receber os refugiados do conflito. Escreve ontem a imprensa estatal da Birmânia que pelo menos oito pessoas morreram no noroeste do país nos confrontos no domingo entre o exército e guerrilhas de três minorias étnicas. Segundo o jornal Global New Light of Myanmar, os confrontos foram provocados por ataques a postos militares e da polícia por parte do Exército para a Independência Kachin, Exército de Libertação Nacional Ta’ang e milicianos da minoria kokang. Um soldado, três polícias, um membro da milícia

O

S sucessos dos pilotos portugueses António Félix da Costa, na Taça do Mundo FIA de Fórmula 3, e de Tiago Monteiro, na Corrida da Guia, na 63ª edição do Grande Prémio de Macau não passaram ao lado em Portugal. Ontem, o Presidente da República felicitou os dois pilotos lusos. “Foi com enorme satisfação que tomei conhecimento das vitórias dos pilotos Tiago Monteiro e António Félix da Costa no Grande Prémio de Macau”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, em nota publicada no portal da Presidência da

Birmânia PEQUIM APELA AO RESTAURO DA PAZ NA FRONTEIRA

Entre mortos e vivos civil e três moradores morreram e 29 pessoas ficaram feridas, incluindo nove polícias, segundo o mesmo diário. Na sequência da ofensiva, várias bombas caíram do lado chinês da fronteira, onde não foram registados feridos, segundo o jornal.

ACORDO DISTANTE

O recrudescimento da violência representa mais um golpe nos esforços da líder de facto do governo birmanês, Aung San Suu Kyi, para alcançar um acordo de paz com as guerrilhas. O governo organizou em Agosto uma conferência de paz, que reu-

niu 18 das 21 guerrilhas do país e terminou com uma declaração de boas intenções, mas sem grandes acordos. Os ta’ang e kokang não participaram no encontro, devido ao veto dos militares, ao contrário do que sucedeu com os kachin, que enviaram uma delegação. Os kachin, com cerca de 10.000 milicianos, enfrentam o exército desde 2011, após o fim de um cessar-fogo que durou 17 anos. Esse diálogo não deteve, contudo, a ofensiva levada a cabo na zona pelo exército birmanês, ao qual a Constituição concede amplos poderes, incluindo os ministérios

da Defesa, Interior e Fronteiras, e poder de veto no parlamento. Uma maior autonomia é a principal reivindicação de quase todas as minorias étnicas da Birmânia, incluindo a chin, kachin, karen, kokang, kayah, mon, rakain, shan e wa, as quais representam mais de 30% dos 48 milhões de habitantes do país. Em Maio de 2015, durante um conflito entre as tropas da Birmânia e guerrilheiros kokang, uma bomba atingiu também território chinês, causando a morte de cinco camponeses. A Birmânia pediu desculpas e pagou compensações pelo incidente.

Satisfação presidencial Marcelo felicita feitos dos pilotos lusos no GP Macau

República. “Neste circuito citadino e emblemático de Macau, e com enorme apoio da comunidade portuguesa e luso descendente, Tiago Monteiro tornou-se no primeiro português a ganhar a Corrida da Guia e que contou para o campeonato do mundo de WTCC, enquanto Félix da Costa, repetiu a vitória de 2012, vencendo a corrida de Fórmula 3, nesta que foi a 63ª edição do Grande Prémio de Macau”, acrescentou. “Em meu

nome pessoal e de todos os Portugueses felicito os pilotos Tiago Monteiro e António Félix da Costa por mais estas vitórias, que vêm consolidar a carreira de dois dos mais bem sucedidos pilotos portugueses, e que dão relevo a Portugal nos desportos motorizados”, concluiu Marcelo Rebelo de Sousa.

FPAK TAMBÉM GOSTOU

A Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting

(FPAK) também emitiu no final de domingo uma nota de imprensa, com as palavras do presidente da associação. “Ver os nossos pilotos a conseguirem títulos mundiais e a levarem o nome de Portugal aos quatro cantos do mundo é um enorme privilégio. Sabemos que temos alguns dos melhores pilotos do mundo e acreditamos que são estes sucessos que nos vão fazer continuar a trabalhar para formar mais pilotos de nível internacional”, referiu

Manuel de Mello Breyner, Presidente da Federação, que foi um dos convidados no 60º aniversário do evento. Para além de Félix da Costa e de Monteiro, o responsável máximo da FPAK e ex-praticante referia-se também ao piloto algarvio Rui Águas, cujo o irmão Paulo é capitão na Air Macau, e que este fim-de-semana venceu o troféu de pilotos da categoria GTE-Am do Campeonato do Mundo FIA de Endurance (WEC). Sérgio Fonseca

info@hojemacau.com.mo


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